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CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
JOAQUIM PEDRO NOGUEIRA DANIEL
ANTEPROJETO DE UM CENTRO DE ENSINO DE GASTRONOMIA
NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
Campos dos Goytacazes/RJ
2017
2
JOAQUIM PEDRO NOGUEIRA DANIEL
ANTEPROJETO DE UM CENTRO DE ENSINO DE GASTRONOMIA
NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
Trabalho Final de Graduação apresentado ao
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Fluminense Campus Campos – Centro
como requisito parcial para graduação do Curso de
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Regina Coeli Martins Paes
Aquino
Campos dos Goytacazes/RJ
2017
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, por me apoiarem em todas as decisões que tomei e por sempre
me ajudarem quando preciso, não só durante o curso, mas em toda a minha vida.
À minha orientadora Regina Coeli M. P. Aquino, por sua dedicação e carinho durante o
curso, e por ter me auxiliado na elaboração deste trabalho através de seus conselhos, incentivo
e críticas.
Aos meus colegas de turma e professores do Instituto Federal Fluminense, que
contribuíram direita ou indiretamente no decorrer do meu caminho, por todos os ensinamentos,
conversas, risos e companhia, muito obrigado.
E um agradecimento especial a Aline, que esteve do meu lado durante todo o curso e foi
sem dúvida a maior responsável por eu ter conseguido chegar até aqui. Obrigado por toda a
paciência, parceria, e por sempre acreditar em mim.
5
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo apresentar um anteprojeto para implantação de um Centro
de Ensino Gastronômico no município de Campos dos Goytacazes – RJ. A escolha desse tema
se deu após a percepção da falta de mão de obra qualificada para atuar no setor da gastronomia,
além da ausência de instituições que ofereçam cursos de nível superior acerca do tema na região.
Sendo assim, este anteprojeto teve como base a qualificação de profissionais para atuação na
área de gastronomia. Os métodos utilizados para a elaboração deste trabalho são embasados em
pesquisas bibliográficas, pesquisa documental da legislação local e legislações pertinentes. O
trabalho aborda o histórico da gastronomia no Brasil e no mundo, destacando a relação entre a
humanidade e o alimento, e o quanto o mesmo está conectado a evolução da espécie. Além de
mostrar como surgiu e se desenvolveu o ensino da Gastronomia ao redor do mundo. Espera-se
que este trabalho contribua tanto para ressaltar o potencial da região para a implantação de um
Centro de Ensino Gastronômico, quanto para valorizar a qualificação profissional na área.
Palavras-chave: Gastronomia. Ensino. Restaurante. Faculdade. Alimentação.
6
ABSTRACT
The objective of this work is to presente a draft for implementation of a Center of Gastronomy
Study in the city of Campos dos Goytacazes – RJ. The choice of this theme was given by na
absence of qualificated labor in the sector of Gastronomy. Beyond the absence of institutions
that offer higher education about this theme in the region. Therefore, this draft had as base the
professional skills to act in the gastronomy area. The chosen methods to elaborate this work
area grounded in bibliographic research, and documental studies of local and current legislation.
The work approaches the gastronomy history in Brazil and the world, highlighting the
relanshionship between humanity and the foodm and how much they are connected to evolution
of mankind. Also, it’s showing the starting and development of the study of gastronomy across
the world. Hopefully this work will contribute as much for reinforce the potential of the region
to implemente a Center of Gastronomy studym as to value the professional qualification in the
area.
Keywords: Gastronomy. Study. Restaurant. College. Food.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Prato executivo do chef Alex Atala……………………………………………...…16
Figura 2. Evolução da logo da Escola Le Cordon Bleu de 1895 a 2015………...……………17
Figura 3. Entrada do bloco que abriga a maior parte da Escola de Gastronomia do Centro
Universitário…………………………………………………………………………………..22
Figura 4. Planta baixa do pavimento inferior do bloco de ensino de Gastronomia…………..23
Figura 5. Planta baixa do pavimento superior do bloco de ensino de Gastronomia………….24
Figura 6. Entrada do pátio Westfarmes na Universidade Curtin……………………………...25
Figura 7. Vista interna do pátio Westfarmes na Universidade Curtin………………………...26
Figura 8. Fachada voltada para a rua do Instituto Brincante………………………………....27
Figura 9. Fachada voltada para a rua do Instituto Brincante…………………………………27
Figura 10. Visão interna dos brises de madeira que compõe o muro da edificação………….27
Figura 11. Visão geral da Escola Jules Verne…………………………………………………28
Figura 12. Cobertura do bloco acrescentado………………………………………………….29
Figura 13. Mapa do Brasil com o estado do Rio de Janeiro em destaque e mapa do estado do
Rio de Janeiro com o município de Campos dos Goytacazes em destaque…………………..31
Figura 14. Terreno em destaque na cidade de Campos dos Goytacazes……………………...31
Figura 15. Terreno em destaque no mapa de Uso e Ocupação do Solo de Campos dos
Goytacazes…………………..………………………………………………………………..32
Figura 16. Mapa ilustrando os acessos ao terreno……………………………………………33
Figura 17. Estudos de insolação, ventilação e ruídos feitos no terreno………………………34
Figura 18. Vistas para as Avenidas Dr Artur Bernardes e Alberto Lamego respectivamente...34
Figura 19. Vistas para as Avenidas Dr Artur Bernardes e Alberto Lamego respectivamente...34
Figura 20. Mapa de uso e ocupação do solo no entorno do terreno escolhido……………….35
Figura 21. Mapa do gabarito das construções no entorno do terreno escolhido ..……………36
Figura 22. Exemplo de um desenho geométrico utilizado na alquimia………………………37
Figura 23. Estudos iniciais de implantação e volumetria do projeto…………………………38
Figura 24. Estudos iniciais de implantação e volumetria do projeto……….………………...38
Figura 25. Setorização e principais acessos…………………………………………………..44
Figura 26. Fluxos utilizados a partir da entrada, de acordo com o usuário…………………..44
Figura 27. Implantação do Centro de Ensino de Gastronomia……………………………….45
Figura 28. Lado direito do térreo do bloco A………………………………………………...46
8
Figura 29. Lado esquerdo do térreo do bloco A………………………………………………47
Figura 30. Lado direito do mezanino do bloco A…………………………………………….47
Figura 31. Lado esquerdo do mezanino do bloco A………………………………………….48
Figura 32. Lado direito do piso superior do bloco A…………………………………………48
Figura 33. Lado esquerdo do piso superior do bloco A……………………………………....49
Figura 34. Lado direito do piso térreo do bloco B…………………………………………....50
Figura 35. Lado esquerdo do piso térreo do bloco B…………………………………………51
Figura 36. Lado esquerdo do piso superior do bloco B………………………………………51
Figura 37. Lado direito do piso superior do bloco B………………………………………....52
Figura 38. Lado esquerdo do piso térreo do bloco C…………………………………………53
Figura 39. Lado direito do térreo do bloco C…………………………………………………54
Figura 40. Lado esquerdo do primeiro andar do bloco C…………………………………….55
Figura 41. Lado direito do primeiro andar do bloco C…………………………………..…...56
Figura 42. Lado esquerdo do segundo andar do bloco C……………………………………..57
Figura 43. Lado direito do segundo andar do bloco C………………………………………..58
Figura 44. Layout padrão da guarita do Centro de Ensino de Gastronomia………………….58
Figura 45. Depósito exclusivo para equipamentos da horta………………………………….59
Figura 46. Vista aérea da volumetria do Centro de Ensino de Gastronomia………………....59
Figura 47. Pátio central……………………………………………………………………….60
Figura 48. Vista do pátio para o bloco C……………………………………………………...61
Figura 49. Área de estudos ao lado da biblioteca (edifício a direita)…………………………61
Figura 50. Fachada voltada para a Av. Alberto Lamego……………………………………...62
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
1. HISTÓRIA DA GASTRONOMIA ................................................................................... 13
1.1 PRÉ-HISTÓRIA ................................................................................................................. 13
1.2 IDADE ANTIGA ............................................................................................................... 14
1.3 IDADE MÉDIA .................................................................................................................. 14
1.4 IDADE MODERNA .......................................................................................................... 15
1.5 IDADE CONTEMPORÂNEA ........................................................................................... 16
2. DESENVOLVIMENTO DA GASTRONOMIA NO BRASIL ....................................... 17
3. O ENSINO DA GASTRONOMIA .................................................................................... 20
3.1 O ENSINO DA GASTRONOMIA NO MUNDO ............................................................. 20
3.2 O ENSINO DA GASTRONOMIA NO BRASIL .............................................................. 22
4. REFERENCIAIS PROJETUAIS ...................................................................................... 24
4.1. REFERENCIAL FUNCIONAL: CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC – ÁGUAS DE
SÃO PEDRO ............................................................................................................................ 24
4.2 REFERENCIAL TIPOLÓGICO: PÁTIO WESTFARMES NA UNIVERSIDADE CUR-
TIN ........................................................................................................................................... 26
4.3 REFERENCIAL PLÁSTICO: INSTITUTO BRINCANTE .............................................. 28
4.4 REFERENCIAL TECNOLÓGICO: ESCOLA JULES VERNE ....................................... 30
5. O PROJETO ARQUITETÔNICO ................................................................................... 32
5.1 LOCALIZAÇÃO ................................................................................................................ 32
10
5.1.1 Legislação de uso e ocupação do solo ............................................................................. 33
5.1.2 Acessos ............................................................................................................................ 34
5.1.3 Insolação, ventilação e ruídos .......................................................................................... 35
5.1.4 Aspectos físicos ............................................................................................................... 36
5.1.5 Entorno ............................................................................................................................ 37
5.1.6 Gabarito ........................................................................................................................... 38
5.2 CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO................................................................. 39
5.3 LEGISLAÇÃO E NORMAS ESPECÍFICAS .................................................................... 40
5.4 PARÂMETROS PROJETUAIS: CAPACIDADE E FUNCIONAMENTO ..................... 40
5.5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ............................ 43
5.6 SETORIZAÇÃO E FLUXOS ............................................................................................ 45
5.7 IMPLANTAÇÃO ............................................................................................................... 47
5.8 BLOCO A ........................................................................................................................... 48
5.9 BLOCO B ........................................................................................................................... 52
5.10 BLOCO C ......................................................................................................................... 54
5.11 GUARITAS E DEPÓSITO .............................................................................................. 60
5.12 VOLUMETRIA ................................................................................................................ 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 65
ANEXOS ................................................................................................................................. 67
ANEXO I: GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM GASTRONOMIA
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ ........................................ 68
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 71
11
INTRODUÇÃO
O tema selecionado para a elaboração projetual, deste trabalho final de graduação, em
nível de anteprojeto, é um Centro de Ensino de Gastronomia na cidade de Campos dos
Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro. O ato de cozinhar é uma das mais antigas
atividades humanas, sendo a única espécie do planeta a fazer o mesmo. O início de tal atividade
data-se há quase 2 milhões de anos, com a descoberta de que o alimento se torna mais saboroso
e de fácil absorção através do uso do fogo. Com relação ao ofício de cozinheiro, não se sabe ao
certo quando se iniciou, o que se tem como relato mais antigo são os grandes banquetes na corte
da Mesopotâmia por volta de 3000 a.C., o que vem a ligar a possível existência de uma ou um
grupo determinado de pessoas responsáveis por cozinhar toda a comida sempre que necessário
(WRANGHAM, apud COMERLATO, 2011; OLIVEIRA, 2016). Não há nenhuma atividade
mais humana que cozinhar. O ato de se reunir para comer é uma das mais importantes atividades
sociais da humanidade desde os tempos antigos, e conforme a tecnologia avança, as cidades
crescem, e o tempo fica cada vez mais escasso, as pessoas tem menos tempo para cozinhar e
até mesmo para comer. No entanto, a existência de restaurantes, lanchonetes e bares só aumenta
conforme as pessoas passam cada vez menos tempo em casa.
O projeto de um Centro de Ensino Gastronômico tem como função ensinar os ofícios
básicos e avançados para a preparação dos profissionais da cozinha, sendo os mesmos capazes
de continuar com a tradição humana de manipulação dos alimentos para criar não só pratos,
mas experiências sociais que são muito importantes para o bem-estar físico e mental das pessoas.
Além disso, o centro também contará com aulas, workshops e palestras sobre a importância dos
alimentos e do ato de cozinhar na nossa vida e história, ensinando não só os profissionais, mas
a população como um todo.
A falta de capacitação tem sido um problema em diversas áreas de trabalho no Brasil, e
na gastronomia não é diferente. Por não haver exigência de um diploma para se atuar na cozinha,
estabelecimentos tem tido dificuldade em encontrar profissionais capazes de atuarem de forma
eficiente e eficaz aumentando a produtividade, qualidade e lucro dos locais nos quais eles estão
inseridos. Grande parte desses estabelecimentos se dá em restaurantes, muitas vezes localizados
em hotéis.
O estado do Rio de Janeiro, segundo o Ministério do Turismo, possui duas das mais
visitadas cidades do país por turistas que viajam a lazer, sendo a cidade do Rio de Janeiro em
2º lugar, e a cidade de Búzios em 5º, nos anos de 2014 e 2015, além de diversas outras cidades
12
da região das Baixadas Litorâneas como Cabo Frio e Arraial do Cabo, da Costa Verde como
Paraty e Angra dos Reis, e cidades da Região Serrana como Petrópolis e Nova Friburgo. Estes
são só alguns exemplos das diversas cidades visitadas por turistas do Brasil e do mundo. Em
contrapartida, só existem instituições de ensino superior em gastronomia na cidade do Rio de
Janeiro, nos demais locais há apenas cursos de nível técnico.
Portanto, Campos dos Goytacazes, a maior cidade do interior do estado, com mais de
400 mil habitantes (IBGE, 2010), é um ótimo local para a instalação de um centro de ensino
que visa capacitar profissionais para atuar nas diversas áreas da gastronomia. Além disso, na
cidade existem apenas duas instituições que oferecem cursos de gastronomia de nível técnico,
sendo o Senac e o Instituto Gastronômico das Américas (IGA).
O objetivo geral deste trabalho consiste na elaboração de um anteprojeto arquitetônico
de um Centro de Ensino de Gastronomia no município de Campos dos Goytacazes, que ofereça
o ensino de todas as habilidades e conhecimentos necessários que um profissional do ramo de
gastronomia precisa para atuar no mercado de trabalho e aproximar as pessoas da culinária e
dos alimentos.
Os objetivos específicos são: conscientizar as pessoas da importância dos alimentos;
capacitar profissionais em diversas áreas da gastronomia, como bebidas, materiais, culinária e
cultura dos alimentos; melhorar a qualidade de vida das pessoas através da comida. Além disso,
criar espaços de aprendizado que permitam o contato dos alunos com os utensílios tanto com
os alimentos, com hortas e plantações na instituição.
Para realizar o levantamento de dados que auxiliaram no desenvolvimento do
anteprojeto e ajudar a entender melhor o tema, foi realizada pesquisa bibliográfica para aprender
sobre o ensino da gastronomia, os alimentos em geral, a relação das pessoas com a comida e os
espaços e tecnologias aplicados ao ensino da gastronomia; estudo da legislação pertinente,
incluindo leis urbanísticas para adequação das propostas de projeto nas leis vigentes do
município. E por fim, foi pesquisado e escolhido referenciais projetuais que foram utilizados
como inspiração ao projeto.
Este trabalho está estruturado em cinco capítulos. No capítulo um é apresentada a
história da Gastronomia, o capítulo dois discorre brevemente sobre a história da Gastronomia
no Brasil e o capítulo três enfatiza o desenvolvimento do ensino da Gastronomia. No capítulo
quatro são apresentados os referenciais de projeto, suas características e aplicabilidades no
projeto que será realizado. O capítulo cinco apresenta o terreno escolhido para a implantação
do Centro de Ensino de Gastronomia, assim como os estudos feitos sobre o mesmo, além do
desenvolvimento projetual.
13
1. HISTÓRIA DA GASTRONOMIA
Neste capítulo é apresentado um breve histórico da Gastronomia, correlacionando sua
evolução junto a história do ser humano, mostrando-se frequentemente parte essencial do
desenvolvimento da civilização.
1.1 Pré-História
O primeiro contato do ser humano com a culinária tem sua origem na pré-história, com
a descoberta do fogo. Foi a partir desse elemento primordial que a atividade mais humana que
já existiu se criou, cozinhar.
Não há nenhum outro animal que cozinhe, por isso é uma atividade tão especial para
nossa espécie. Antes mesmo de se saber o que é sal ou de se cultivar alimentos em plantações,
o ser humano, de alguma forma, descobriu que colocar carne perto do fogo não só fazia ela
mais fácil de se mastigar, como a tornava muito mais nutritiva que a sua versão crua, deixando-
o saciado por mais tempo. Além de tornar sua conservação maior, evitando o apodrecimento
em alguns dias e permitindo o armazenamento de mais comida nas épocas mais difíceis de se
conseguir alimento.
Após esse primeiro contato, uma das ferramentas essenciais para o desenvolvimento da
culinária foram os utensílios de barro e pedra criados por nossos ancestrais, assim como diz
Franco:
Os primórdios da arte culinária estão associados à invenção dos utensílios de
pedra e de barro. Graças a eles, diferentes processos de cozimento permitiram
maior variedade na dieta humana. As preparações culinárias não passariam
dos níveis mais simples sem vasilhame para ferver líquidos e manter alimentos
sólidos em temperatura constante (FRANCO, 2006, p.18).
Além disso, com o início da domesticação de animais e criação de plantações, o uso de
diferentes ingredientes na alimentação foram começando a moldar o que chamamos hoje de
gastronomia.
14
1.2 Idade Antiga
Foi na Idade Antiga que surgiu o termo Gastronomia, uma palavra composta por Gaster
(ventre, estômago), Nomo (lei) e do sufixo ia, formando esse substantivo, que significa o estudo
das leis do estômago (FRANCO, 2006, p.37).
Os primeiros registros escritos sobre gastronomia que se tem conhecimento vieram da
Grécia Antiga, com relatos de experiências, descobertas culinárias e até mesmo algumas
receitas. A Grécia ficou conhecida por sua culinária principalmente por conta de seus padeiros,
que utilizavam um método similar aos egípcios, que misturavam água, sal, farinha e levedo,
porém adicionando ervas, temperos, frutas, criando novas receitas de acordo com sua
criatividade e curiosidade.
Contudo, foi só mais tarde que tal atividade passou a ser de fato um ofício, até então os
cozinheiros eram os anfitriões das casas que produziam as refeições junto a seus convidados.
Foi no império romano enfim que surge o cozinheiro, após vários anos aprendendo técnicas,
descobrindo ingredientes, que os romanos começaram a desenvolver com seriedade a arte de
cozinhar. Aprenderam com os gregos a criar seus pães, descobriram diferentes costumes e
ingredientes na área onde hoje é o oriente médio, e desenvolveram técnicas de servir que são
utilizadas até hoje, como a separação das refeições em três partes (entrada, prato principal e
sobremesa) e a disposição dos convidados no banquete, assim como cita Franco:
Observavam-se regras rigorosas de procedência na colocação dos convidados
no triclínio. O anfitrião reclinava-se no leito central-lectus medius- e, à sua
direita, o convidado de honra, como ainda hoje é de praxe em nossas mesas
(FRANCO, 2006, p.45).
Foi assim, então, que o cozinheiro começou a ganhar destaque e se tornou uma figura
importante nas casas de pessoas com alto poder aquisitivo, tornando uma refeição muito mais
do que apenas algo necessário para a sobrevivência.
1.3 Idade Média
O principal grupo responsável pelo desenvolvimento da culinária na Idade Média foram,
sem dúvidas, os religiosos. Mosteiros se tornaram comuns nessa época e nele eram
15
desenvolvidos e cultivados vários tipos de alimentos, como vinho, cerveja, cidra, queijos entre
outros.
Além do desenvolvimento de novas bebidas e comidas, os mosteiros eram, de acordo
com Franco (2006) locais de abrigo e fonte de alimento para diversos viajantes, que
desfrutavam da hospitalidade dos beneditinos, o que contribuía para a transmissão de tradições
culinárias.
Foi também nessa época em que o uso das especiarias orientais começaram a encher as
casas dos nobres e ricos, trazidas por mercadores aventureiros, como o açúcar, noz-moscada,
hortelã, gengibre e outros.
1.4 Idade Moderna
O uso de especiarias crescia cada vez mais na Europa, fator que teve grande parte na
motivação para as expedições marítimas, que traziam de diversos locais os mais variados
ingredientes. Foi durante esse período que houve a descoberta da América, o que contribuiu
ainda mais para a expansão dos sabores, alimentos nunca antes vistos começaram a encher os
olhos e barrigas dos europeus, permitindo uma dieta muito mais rica e variada.
A influência das importações para a Europa nesse período perdura até hoje, como o uso
do chá nas tardes britânicas, ou os diversos cafés, que hoje fazem parte do dia a dia de milhões
de pessoas ao redor do mundo, além da criação de novos utensílios para auxiliar nas refeições,
como o garfo, que fora inventado para se pegar o alimento e levá-lo até a colher, para depois
ser consumido, assim como cita Leal:
Facas e colheres são utensílios que o homem utiliza desde a pré-história, mas
o garfo só apareceu depois e com a finalidade de fixar os alimentos e não levá-
los à boca. Foi nesse período, na idade moderna, que o uso de talheres se
generalizou (LEAL, 1998, p.35).
A França começou a desempenhar seu papel fundamental na evolução da gastronomia
e transmite para diversas regiões da Europa o gosto por molhos, alimentos bem cortados, uso
abundante de manteiga e porções minimalistas, que viriam a se tornar os pilares da nova era do
desenvolvimento, criação e estudo de novos pratos, sabores e aromas ao redor do mundo.
16
1.5 Idade Contemporânea
Após séculos de desenvolvimento, a gastronomia chegou aos dias atuais mais rica e
diversificada do que jamais se sonhou. O uso de ingredientes deixou de depender de localização
ou sazonalidade e uma quantidade incontável de alimentos se tornou acessível não só aos ricos
e poderosos, mas para a população em geral, apesar de ainda existirem especiarias e
ingredientes extremamente caros e de uso quase exclusivo de uma pequena parcela das pessoas
ao redor do mundo.
Com um leque de opções tão grande, vários chefs começaram a buscar exatamente o
oposto do que se desenvolveu na Idade Moderna e passaram a utilizar apenas ingredientes locais
como diferencial, assim como Bassi explica:
Ao mesmo tempo em que a cozinha internacional ia se firmando, uma grande
importância e atenção começaram a ser dispensadas por parte dos diferentes
países aos seus pratos regionais, gerando a criação e propagação de
incontáveis restaurantes e livros de receitas especializadas em cozinha
francesa, italiana, chinesa, japonesa, alemã, portuguesa, entre outros (ETUR,
2006, p. Artigos).
Contudo, o avanço industrial e a produção de alimentos em grande escala começam a
retirar das pessoas o hábito de cozinhar, que tratam as refeições com cada vez menos
importância e querem tudo rápido e prático para o dia a dia atarefado e cheio de compromissos.
As redes de fast-food se tornam cada vez mais populares em ordem de que oferecem uma opção
barata e rápida se comparado aos restaurantes convencionais.
Concluindo, é preciso então, acima de tudo, conscientizar as pessoas e lembrá-las de
que o ato de cozinhar é muito importante para nós como espécie, e que além de ser indispensável
para uma vida mais ativa e saudável, é também uma forma de se conectar com outros seres
humanos e aprender que comer uma boa refeição, feita por uma pessoa, seja ela um profissional,
um familiar, um amigo, ou você mesmo, é uma das melhores experiências que existe.
17
2. DESENVOLVIMENTO DA GASTRONOMIA NO BRASIL
Tendo conhecimento sobre a história da Gastronomia como um todo, é importante
ressaltar a trajetória que o Brasil percorreu desde a colonização até o século XXI, mostrando
mais uma vez a relação que os alimentos possuem com o desenvolvimento da civilização.
Até a chegada dos portugueses, a cultura alimentar brasileira era somente indígena, que
apesar de pouco desenvolvida, era rica devido à diversidade da fauna e flora do país. Os nativos,
segundo Carvalho (2010), se alimentavam de diversas frutas, peixes, pimenta, palmito, batata-
doce, amendoim, milho, cará e principalmente mandioca, base de muitos dos pratos indígenas.
No início do séc. XVI, após o desembarque dos portugueses e africanos, trazidos como
escravos, a culinária brasileira começou a se formar a partir da fusão dos conhecimentos,
técnicas e ingredientes típicos desses três povos.
A variedade dos ingredientes disponíveis no Brasil aumentou consideravelmente graças
aos colonizadores, Leal explica:
Os portugueses trouxeram ao Brasil animais como bois, vacas, touros, ovelhas,
cabras, carneiros, porcos, galinhas, patos, gansos e outros que criavam nos
quintais e currais que faziam em suas fazendas. Além disso foram os
responsáveis por plantar uma enorme quantidade de frutas, legumes, vegetais,
cereais e temperos (LEAL, 1998, p. 71).
Também foram os portugueses os responsáveis por ensinar as técnicas de plantio para
os índios, que até então utilizavam somente o que a natureza lhes proporcionava. Somado
também aos ingredientes típicos africanos como a banana, o coco, quiabo e muitos outros que
até então não existiam no território brasileiro (BASSI, 2006).
Com a criação dos engenhos de açúcar deram-se início ao desenvolvimento de doces no
país, com o conhecimento trazido pelas portuguesas e a grande variedade de frutas e ovos
disponíveis, a culinária brasileira começa a tomar forma em diversas sobremesas nunca antes
criadas. Bassi (2006) cita que com os amendoins e as castanhas dos cajus as portuguesas faziam
doces que originalmente levavam amêndoas e pinhões em sua receita. Os cajus e as bananas-
da-terra, também eram cozidos com açúcar e canela ou secos ao sol.
O arroz e feijão, ingredientes típicos da cozinha brasileira, também surgem graças a
fusão das culturas. O arroz foi trazido pelos portugueses e o feijão, apesar de já ser consumido
pelos índios, só ganha destaque por conta dos africanos, que o utilizavam para a criação de um
18
dos pratos mais famosos do Brasil, a feijoada. Em sua criação, a feijoada era composta por
feijão preto cozido com as partes menos nobres do porco, que eram descartadas pelos
portugueses e dadas aos escravos. Hoje ela ganha destaque e é feita com diversas carnes, não
só as consideradas indesejáveis, além de outros temperos e formas de cozimento que foram se
desenvolvendo com o passar do tempo.
Com a chegada do Príncipe Regente de Portugal, D. João VI, no início do séc. XIX, que
estava fugindo temendo a ocupação de Portugal por tropas de Napoleão Bonaparte, vieram
ingredientes europeus diferenciados, como vinhos, licores, patês, cervejas e chás, a fim de
satisfazer o paladar da corte enquanto estivessem no país. Não demorou para que tais
ingredientes começassem a compor a mesa de pessoas com maior poder aquisitivo do país e
que logo se tornariam parte da culinária diária do brasileiro. Nessa mesma época, surgiram os
primeiros restaurantes, confeitarias e sorveterias no Brasil (BASSI, 2006).
Após a queda e abandono da produção de açúcar por diversos produtores, o café tomou
o lugar de destaque nos engenhos pelo país, principalmente na área onde hoje é o estado de São
Paulo. O café se torna o produto mais exportado do Brasil, tamanha a sua produção, Leal (1998)
cita que seu uso se espalha internamente no país de tal forma que é dado seu nome a primeira
refeição. Além disso, com o fim da escravidão em meados do séc. XIX, a imigração de europeus
para trabalharem nos cafezais trouxe diversos povos e novas culturas, em sua grande maioria
italianos, que a partir de então começaram a contribuir e influenciar na gastronomia brasileira
de forma visível até os dias atuais. Dentre as contribuições italianas estão, segundo Bassi :
Os italianos foram campeões nessa contribuição à culinária com os molhos –
pesto e bolonhesa, por exemplo –, com as sopas como o minestrone, com as
polentas, nhoques, carnes à milanesa, panetones, risotos, berinjelas picantes e
pizzas que aqui se popularizaram muito e sofreram variações e adaptações
(ETUR, 2006, p. Artigos).
Nos dias atuais, são diversos os profissionais brasileiros que se destacam ao redor do
mundo no ramo da Gastronomia, dentre eles, pode-se destacar o chef Alex Atala. Conhecido
por utilizar ingredientes típicos do Brasil, como a tapioca, o peixe filhote, o tucupi, a priprioca,
o palmito pupunha, o jambu, a beldroega, o baru, a canjiquinha, entre outros
(DOMRESTAURANTE, 2013).
Um dos mais famosos pratos do menu de seu restaurante, é o prato executivo (Figura
1), versão do chef do “prato feito brasileiro”, que é servido com arroz branco, feijões preto e
19
roxinho, couve, farofa com bacon e batata e possui três opções de proteína, sendo elas peito de
frango, escalopinho de filé ou peixe, todos acompanhados com banana fatiada (DÁVILA, 2013).
O prato remonta ao costume do almoço brasileiro e mostra que por mais simples que seja a
refeição, ela merece estar em um restaurante de alto prestígio.
Figura 1: Prato executivo do chef Alex Atala.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, 2013.
Muitos dos ingredientes utilizadas por Alex Atala são desconhecidos para a maior parte,
não só do mundo, como dos próprios brasileiros, são raízes, frutas, animais que eram
amplamente consumidos por índios e/ou foram sendo descobertos com o passar do tempo
(DOMRESTAURANTE, 2013). O chef também procura por pequenos produtores, que
possuem algo diferente a acrescentar ao seu menu, buscando fomentar culturas regionais e
mostrar ao mundo o que a culinária brasileira pode oferecer.
Com uma diversidade de ingredientes e culturas mescladas, o Brasil é um dos países
mais ricos em termos de cultura gastronômica, e merece ter profissionais aptos a representar
essa cultura e desenvolvê-la para que o mundo possa apreciar a culinária brasileira.
20
3. O ENSINO DA GASTRONOMIA
Neste capítulo é feito um breve relato sobre a evolução do ensino da Gastronomia no
mundo e no Brasil, colocando em destaque o ensino profissionalizante de escolas que são
referência para todos aqueles que estudam o tema.
3.1 O Ensino da Gastronomia no Mundo
Entre os séculos V a XI, as principais detentoras e propagadoras de conhecimentos
envolvendo a culinária foram as ordens religiosas. Os mosteiros eram locais em que o
desenvolvimento da culinária se dava diariamente não só por conta dos monges, mas também
por causa dos diversos viajantes que passavam e se abrigavam por lá. Eram também nos
mosteiros em que haviam as poucas bibliotecas existentes, tornando-os os únicos centros de
estudo até a criação das universidades no séc. XI.
Além dos mosteiros, pode-se dizer que os conhecimentos acerca das técnicas e
produções culinárias foi transmitido de geração em geração verbalmente ou por meio de
manuais ou livros de receitas, coisa que acontece até os dias atuais, com as receitas de família
passadas de pai pra filho, de avó para neto, e assim por diante.
Foi somente no séc. XIX entretanto, que a culinária passou a ser tema de discussões
filosóficas e começou a se tornar mais do que algo necessário a sobrevivência, e foi nesse
período em que surge a primeira escola de Gastronomia do mundo, a Le Cordon Bleu (Figura
2), em Paris, capital da França. Inicialmente a escola era destinada apenas a ensinar a cozinha
francesa às filhas das famílias ricas. Atualmente, a Le Cordon Bleu possui 26 instituições em
15 países, e é reconhecida ao redor do mundo sendo procurada por diversos cozinheiros, desde
amadores a profissionais.
Figura 2: Evolução da logo da Escola Le Cordon Bleu de 1895 a 2015.
Fonte: LE CORDON BLEU, 2015
A Le Cordon Bleu atual conta com diversos cursos, dentre eles pode-se destacar:
21
• Le Grand Diplôme: Curso mais intensivo de todos, combina os diplomas dos cursos de
Cuisine e Pastry & Confectionery.
• Cuisine: Curso que ensina do básico ao avançado das técnicas culinárias que podem ser
aplicadas em qualquer estilo de cozinha.
• Pastry & Confectionery: Curso voltado para a criação de variados bolos e doces.
• Hotel, Restaurante & Culinary Management: Curso para aqueles que querem aprender
a gerenciar um hotel, resort, restaurante ou qualquer tipo de negócio no ramo culinário.
• Gastronomy & Nutrition: Curso que ensina técnicas práticas da culinária aliadas aos
princípios na nutrição, para criação de receitas voltadas não somente ao paladar, mas ao
corpo todo.
• Bakery, Danish Pastries & Artisan Breads: Curso voltado para criação de diversos tipos
de pães.
• Gourmet & Short Courses: Curso rápido para iniciantes e entusiastas, com técnicas
práticas e simples voltadas para o dia a dia.
• Wine & Spirits: Curso que estuda diversas bebidas alcoólicas para melhor servir e
apreciá-las.
• Cheese: Curso voltado para o estudo de queijos, desde métodos de produção até sua
utilização nas refeições.
• Les Petits Cordon Bleus: Curso especial destinado às crianças, onde poderão
desenvolver sua criatividade e gosto.
As escolas francesas contribuíram de forma significativa para o ensino da Gastronomia
ao redor do mundo, sendo esta por meio da criação de códigos, ou um vocabulário próprio, para
a denominação de procedimentos na preparação de alimentos, como o tipo de corte que deve
ser efetuado, método de cocção, entre outras técnicas que antes eram feitas e transmitidas de
forma confusa e desorganizada, e que foram padronizadas para melhor aproveitamento do
tempo e de cada alimento dentro da cozinha.
Ao longo do séc. XX surgiram diversas outras escolas ao redor do mundo com o intuito
de preparar cozinheiros, confeiteiros e padeiros para o mercado de trabalho, desenvolvendo
técnicas culinárias e dando ênfase no aprendizado de habilidades práticas dentro da cozinha.
22
3.2 O Ensino da Gastronomia no Brasil
No Brasil, a primeira escola de formação profissional para cozinheiros que se tem
notícia foi na Escola Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) “Lauro Cardoso
de Almeida”, em 1964, na cidade de São Paulo. Alguns anos depois o Senac disponibilizou em
outra cidade ainda no estado de São Paulo, na cidade de Águas de São Pedro, um curso de
cozinheiro gratuito destinado a pessoas carentes financeiramente.
Em 1994 a mesma escola Senac em Águas de São Pedro criou o primeiro curso de
qualificação profissional internacional, em parceria com uma instituição norte-americana, a
C.I.A. (The Culinary Institute of America). Metade do corpo docente eram chefes de cozinha
americanos, vindos da C.I.A. com vasta experiência profissional. A outra metade era composta
por renomados chefes brasileiros e estrangeiros, atraindo para o curso, que era pago, um novo
público. De acordo com Campos:
Dos 32 primeiros alunos [16 em cada período], apenas 02 não tinham um curso
superior completo. 50% do grupo vinha do estado de São Paulo e o restante
de estados como Paraná, Alagoas, Rio Grande do Norte e outros. Criou-se
assim dentro do hotel escola um novo estrato social de cozinheiros: os
pagantes, que aprendem bastantes coisas de cozinha e os do curso gratuito 18
que aprendem o trivial da cozinha do hotel (CAMPOS, 2000, p. 129).
O custo da mensalidade era de 700 dólares americanos, e diferente do curso de
cozinheiro, não incluía alojamento, o que aumentava o custo do curso, já que a maioria dos
alunos não residiam na cidade. Fatores que mostram a valorização dessa categoria profissional
no país a partir desse período.
No fim do séc. XX, no ano de 1999, surgem os primeiros cursos superiores de
Gastronomia no Brasil concentrados principalmente nos estados de São Paulo e Santa Catarina
e até 2006 já eram mais de 20 cursos de nível superior ao redor do país, que variam entre pagos
e gratuitos.
De acordo com o Ministério da Educação (E-MEC, 2015), há 146 cursos de gastronomia
no Brasil, sendo 137 deles na modalidade de tecnólogo e 09 de bacharelado. Segundo o
levantamento de dados, a maioria das instituições de ensino são privadas, visto que apenas 14
dos 146 cursos são de instituições públicas. No gráfico 01, pode-se observar o crescimento da
oferta de cursos de gastronomia no Brasil nos últimos anos, e a carência de cursos de
gastronomia nas instituições públicas no país.
23
Gráfico 01: Cursos de gastronomia em atividade por categoria administrativa.
*compreende os anos de 1999 a 2015
Fonte: Acervo pessoal, 2017. Dados do BRASIL, 2014 (apud ROCHA, 2016) e E-MEC, 2015.
O bacharelado em Gastronomia é composto por disciplinas práticas e teóricas. As
disciplinas teóricas são: história da gastronomia; bioquímica; microbiologia; segurança dos
alimentos; funcionamento de restaurantes; desenvolvimento de pessoal e higiene; sociologia;
matemática; estatística; psicologia; direito; legislação aplicada e gestão financeira. As práticas
se aprensentam no ensino de: elaboração de coquetéis e drinques; panificação; sobremesas;
confeitaria; cozinhas brasileira e internacional; arte em frutas e legumes; enologia; café da
manhã e serviço de quarto e cozinha alternativa. Além disso, algumas instituições oferecem
curso de idiomas (GUIA DO ESTUDANTE, 2014, apud ROCHA, 2016).
A principal diferença entre o bacharelado e o tecnólogo é o enfoque do curso. O de
Tecnólogo, maioria dos oferecidos no Brasil, dá ênfase no aprendizado de habilidades práticas,
fazendo com que o aluno passe mais tempo na cozinha, e aprenda somente o básico da teoria.
A tendência ao ensino prático é refletida na pós-graduação, que, de acordo com Rocha (2016),
não há programas voltados para a área acadêmica em gastronomia, apenas assuntos
relacionados, como nutrição e hotelaria. Sendo assim, percebe-se a importância de criação de
espaços físicos públicos que contemplem e incentivem o crescimento da rede de ensino
gastronômica, compreendendo, não somente o mercado de trabalho, mas também a produção
de pesquisas científicas na área.
2 0 3 4 611
2026
38
55
63
74
83
9297
101
132
0 0 0 0 0 0 1 2 2 2 4 610 10 11 11 14
99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15*
0
20
40
60
80
100
120
140
Privado
Público
24
4. REFERENCIAIS PROJETUAIS
Nesse capítulo são apresentados os referenciais funcionais, tipológico, plástico e
tecnológico que serviram como inspiração para o desenvolvimento do projeto apresentado neste
trabalho.
4.1. Referencial Funcional: Centro Universitário Senac – Águas de São Pedro
Local do projeto: Águas de São Pedro – SP. Brasil
Autor do projeto: M/PA Pedreira de Freitas Arquitetos
O projeto foi concebido devido a necessidade da universidade de um espaço adequado
para o ensino da gastronomia. Neste contexto, foi projetado esse pavilhão de dois andares
(Figura 3) para atender às necessidades do curso e ao mesmo tempo se misturar aos edifícios
vizinhos, para que todo o campus permanecesse com a mesma identidade visual.
Figura 3: Entrada do bloco que abriga a maior parte da Escola de Gastronomia do Centro
Universitário.
Fonte: SENAC, 2017.
25
Sendo o Senac a mais antiga escola de culinária do Brasil, a escolha de sua sede em
Águas de São Pedro, como precedente projetual funcional neste trabalho, se deu por conta não
só da sua importância no contexto histórico do ensino, mas também por abrigar de forma
simples e eficiente as áreas mais importantes para se aprender o que é necessário para ser um
Tecnólogo em Gastronomia.
No pavimento inferior (Figura 4), estão localizados os vestiários, duas salas de aula,
sala de professores, depósito de equipamentos e restaurante pedagógico, que é frequentado por
moradores locais, que consomem a preços reduzidos o que é feito nas aulas práticas nos
laboratórios do piso superior.
Figura 4: Planta baixa do pavimento inferior do bloco de ensino de Gastronomia.
Fonte: SENAC, 2017.
No piso superior (Figura 5), estão os três laboratórios para aulas práticas: dois são
destinados a aulas de culinária de modo geral e um especializado em confeitaria e padaria. Além
disso, conta também com câmaras frias. O layout dos laboratórios foi efetuado por uma equipe
do próprio Senac, que dá ênfase à exaustão, através de coifas cujos dutos vão até chaminés
situadas acima do bloco.
26
Figura 5: Planta baixa do pavimento superior do bloco de ensino de Gastronomia.
Fonte: SENAC, 2017.
4.2 Referencial Tipológico: Pátio Westfarmes na Universidade Curtin
Ano do projeto: 2015
Local do projeto: Bentley, Austrália.
Autor do projeto: JCY Architects and Urban Designers
Criado a partir da revitalização de um espaço na universidade Curtin na Austrália, este
pátio (Figura 6) tem como função conectar os blocos onde estão as salas de aula e proporcionar
um espaço de convivência para os alunos que por ali passam. Mesmo sendo uma revitalização,
o pátio consegue criar na universidade um referencial espacial e acabou se tornando o ponto
principal da mesma, já que foi projetado um caminho da entrada até o pátio, para que todos que
entrem na universidade passem por ele antes de ir para qualquer outro local.
A escolha desse projeto se deu, não só pela setorização criada a partir dele, onde um
local se torna o ponto central que conecta todos os outros setores da construção, mas também
pela quantidade de usos e recursos que foram atribuídos a ele.
27
Figura 6: Entrada do pátio Westfarmes na Universidade Curtin.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Uma estrutura de aço abrange todo o pátio definindo o espaço que é cercado por telas
perfuradas e uma cobertura móvel que se adapta as condições climáticas. Como pode ser visto
na figura 7, o pátio é equipado com uma tela de mídia para eventos e apresentações, aquecedores
e iluminação, além do mobiliário disposto ser totalmente móvel, podendo ser retirado para
diversos tipos de eventos, como palestras e apresentações musicais.
28
Figura 7: Vista interna do pátio Westfarmes na Universidade Curtin.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
4.3 Referencial Plástico: Instituto Brincante
Ano do projeto: 2016
Local do projeto: São Paulo, Brasil.
Autor do projeto: Bernardes Arquitetura
O projeto de Bernardes Arquitetura para a nova sede do Instituto Brincante (Figuras 8 e
9) tem como principal ponto a comunicação do edifício com rua e o bairro, que abriga o Instituto
há décadas. Tal comunicação é feita por meio de um pátio que se funde a construção por meio
do salão aberto na entrada, que abriga a escada e da acesso ao auditório, além de brises de
madeira no lugar do muro (Figura 10), o que chama a atenção para o interior da construção.
A escolha desse projeto se deu por conta da fachada, que além de possuir brises móveis
que auxiliam no conforto térmico e luminoso da construção, tornam-se imperceptíveis quando
fechados, por serem revestidos do mesmo material da fachada.
29
Figuras 8 e 9: Fachada do Instituto Brincante voltada para a rua.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
Figura 10: Visão interna dos brises de madeira que compõe o muro da edificação.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
O principal eixo de circulação é uma escada helicoidal que se encontra logo no salão da
entrada, ela dá acesso aos três pavimentos do edifício, o térreo, o mezanino e o pavimento
superior. No térreo encontra-se, além do salão, um auditório com capacidade para cerca de 80
pessoas. O mezanino é uma área de transição e permanência ligada ao auditório, que tem como
30
objetivo ampliar o mesmo e se conectar ao jardim na parte posterior da construção. E por fim,
no pavimento superior há uma sala de reunião, escritório, copa, vestiário e uma sala multiuso
que pode ser vista na fachada a noite conforme mostra a figura 7. A sala multiuso possui um
pano de vidro em toda a extensão de uma de suas paredes, que é protegida por pelos brises já
citados anteriormente. Desta forma, a volumetria gerada por estes espaços e os elementos de
fachada elencados fundamentam a escolha deste precedente projetual.
4.4 Referencial Tecnológico: Escola Jules Verne
Ano do projeto: 2016
Local do projeto: Châtenay-Malabry, França.
Autores do projeto: archi5
A reforma da Escola Jules Verne (Figura 11) teve como principal objetivo o conforto
dos seus usuários, ou seja, as crianças. Os arquitetos do escritório archi5 unificaram todos os
setores da escola por meio de um bloco sinuoso feito inteiramente em estrutura de madeira pré-
fabricada, que dá uma identidade única ao complexo, porém mantendo a independência de cada
um dos blocos.
Figura 11: Visão geral da Escola Jules Verne.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
31
A estrutura de madeira e o teto verde (Figura 12) foram escolhidos por conta da leveza
que trazem para o edifício, fator que ajudou na construção do mesmo, por ser em um terreno já
ocupado, além do conforto térmico e isolamento acústico dentro das salas.
A escolha desse projeto se deu pela utilização do teto verde, que proporciona ao projeto
maior conforto térmico e isolamento acústico, e que pode ser utilizado para a criação de hortas,
elementos essenciais dentro da proposta apresentada.
Figura 12: Cobertura do bloco acrescentado.
Fonte: ARCHDAILY, 2017.
32
5. O PROJETO ARQUITETÔNICO
A proposta de anteprojeto, objeto de estudo deste trabalho, é um Centro de Ensino de
Gastronomia. Este centro visa a capacitação no ramo da culinária em suas diversas áreas, dando
destaque ao profissional que atua em restaurantes. Além disso, o projeto tem como proposta o
uso da instituição como local de disseminação da cultura que envolve os alimentos, dando
espaço para palestras, cursos e incentivando a população local a frequentar a escola.
Neste capítulo, será apresentado o anteprojeto conforme a ordem de sua elaboração.
Serão apresentados os estudos realizados no terreno, o conceito e partido, implantação,
programa de necessidade e pré-dimensionamento, setorização, fluxos, plantas baixas e
volumetria.
5.1 Localização
Para implantação do anteprojeto arquitetônico proposto neste trabalho, a escolha do
terreno foi feita a partir de sua localização, dimensão, aspectos físicos e sociais, ruídos,
insolação e vegetação existente, a fim de proporcionar o local ideal para estudantes,
funcionários e visitantes do Centro de Ensino de Gastronomia.
O terreno escolhido está localizado entre as Avenidas Alberto Lamego e Doutor Arthur
Bernardes, no município de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, Brasil
(Figuras 13 e 14). A área do terreno é de 10392,76 m².
A escolha do terreno se deu por conta do conjunto de fatores que o compõe, favorecendo
a implantação de um Centro de Ensino de Gastronomia. A área está de acordo com o Centro de
Vigilância Sanitária (CVS, 1999), sendo livre de insalubridade, não apresenta lixo ou objeto em
desuso, animais, insetos ou roedores. O entorno também não oferece condições para
proliferação de insetos e roedores. Além disso, está em frente a Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), com um total de 1555 alunos ativos segundo dados da
Secretaria Acadêmica da UENF (2015), sendo um local de grande concentração de estudantes.
O local do terreno é afastado do centro 3,5 quilômetros, porém possui quatro linhas de ônibus
ativas na Avenida Alberto Lamego, além das duas avenidas possuírem ciclovias que percorrem
diversos bairros e se conectam com a Avenida 28 de Março, um dos principais eixos de
circulação da cidade de Campos, o que facilita o acesso de grande parte da população. Por se
encontrar em um bairro de maioria residencial e sua localidade ser afastada de outras
33
construções, o Centro de Ensino será favorecido por iluminação natural durante todo o dia e
ventilação abundante por conta da falta de barreiras físicas ao redor do terreno.
Figura 13: Mapa do Brasil com o estado do Rio de Janeiro em destaque e mapa do estado do Rio de
Janeiro com o município de Campos dos Goytacazes em evidência.
Fonte: WIKIPEDIA, 2017. Modificado pelo autor.
Figura 14: Terreno em destaque na cidade de Campos dos Goytacazes.
Fonte: GOOGLE MAPS, 2017. Modificado pelo autor.
5.1.1 Legislação de uso e ocupação do solo
De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo do município de Campos dos
Goytacazes, o terreno está localizado entre as Zonas Residenciais 3 e 4, e as duas vias de acesso
ao mesmo (Avenida Alberto Lamego e Avenida Dr. Arthur Bernardes) são Eixos de Comércio
Terreno
34
e Serviço 3, destinado ao comércio e serviço principal e ao uso residencial unifamiliar e
multifamiliar, conforme é destacado na figura 15.
Conforme é descrito na Lei de Uso e Ocupação do Solo, a Zona Residencial utilizada
para a construção do Centro de Ensino de Gastronomia será a ZR-4 (Zona Residencial 4), que,
de acordo com o Anexo II desta mesma Lei, os terrenos na ZR-4 possuem taxa de ocupação de
80% e coeficiente de aproveitamento de 5, por se tratar de uma construção com grau e impacto
3.
Figura 15: Terreno em destaque no mapa de Uso e Ocupação do Solo de Campos dos Goytacazes.
ECS-3 ZR-3 ZR-4 Terreno
Fonte: MAPA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO, 2007. Modificado pelo autor.
5.1.2 Acessos
Os acessos ao terreno são por meio de duas vias, a Avenida Alberto Lamego e a Avenida
Dr. Arthur Bernardes, conforme ilustrado na figura 16. O Acesso principal se dará pela Avenida
Alberto Lamego, sendo esta a entrada de alunos e visitantes. O acesso dos funcionários, serviço
e estacionamento serão através da Avenida Dr. Arthur Bernardes.
35
Figura 16: Mapa ilustrando os acessos ao terreno.
Avenida Dr. Arthur Bernardes
Avenida Alberto Lamego
Terreno
Acesso de serviço
Acesso de principal
Fonte: GOOGLE MAPS, 2017. Modificado pelo autor.
5.1.3 Insolação, ventilação e ruídos
A figura 17 demonstra a orientação do sol, conforme estudos realizados no local,
orientação dos ventos, que são provenientes do Nordeste, predominantes na área do município
de Campos dos Goytacazes, e principais fontes de ruídos, oriundas de veículos que transitam
pelas duas avenidas.
36
Figura 17: Estudos de insolação, ventilação e ruídos feitos no terreno.
Sol Nascente Ventos (Nordeste)
Sol Poente Ruídos
Fonte: GOOGLE MAPS, 2017. Modificado pelo autor.
5.1.4 Aspectos físicos
O terreno é plano e possui formato trapezoidal por conta da interseção das duas avenidas.
O recorte escolhido do terreno possui aproximadamente 10000 m². Abaixo são exibidas nas
figuras 18 e 19 as vistas imediatas do terreno nas duas avenidas de acesso.
Figuras 18 e 19: Vistas para as Avenidas Dr Artur Bernardes e Alberto Lamego respectivamente.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
37
5.1.5 Entorno
Foi realizado um estudo do uso dos terrenos no entorno para melhor avaliação da
aplicabilidade de um Centro de Ensino de Gastronomia no local. Conforme ilustrado na figura
20, o entorno se caracteriza por uso residencial e institucional, sendo constituído em sua maioria
por condomínios fechados e pelo campus da Universidade Estadual Norte Fluminense.
Figura 20: Mapa de uso e ocupação do solo no entorno do terreno escolhido.
Residencial
Comércio e Serviço
Institucional
Misto
Terreno
Fonte: GOOGLE MAPS, 2017. Modificado pelo autor
38
5.1.6 Gabarito
O gabarito das construções no entorno do terreno também foi analisado, sendo bem
diversificado conforme exibido na figura 21. Apesar de a UENF ser caracterizada por
construções de três pavimentos, a distância entre estes e o terreno escolhido não permite
quaisquer influências no que se refere a insolação e ventilação. O restante é dominado por
condomínios com apartamentos de quatro pavimentos e residências entre um e dois pavimentos,
todos afastados do terreno onde será implantado o Centro de Ensino Gastronômico.
Figura 21: Mapa do Gabarito das construções no entorno do terreno escolhido.
1 a 2 pavimentos
1 a 3 pavimentos
4 pavimentos
Terreno
Fonte: GOOGLE MAPS, 2017. Modificado pelo autor.
39
5.2 Conceito e Partido Arquitetônico
A alquimia foi uma prática medieval conhecida por ser a antecessora da química,
contudo envolvia outros campos de estudo como a filosofia, religião, astrologia, física, arte,
medicina, entre outros. A alquimia foi uma prática medieval conhecida por ser a antecessora da
química, contudo envolvia outros campos de estudo como a filosofia, religião, astrologia, física,
arte, medicina, entre outros. Os alquimistas, indivíduos que estudavam a alquimia, possuíam
dois objetivos principais em suas práticas, sendo um deles a transformação de materiais simples
em outros mais complexos e o outro a busca pelo chamado “elixir da vida”, que eles
acreditavam ser o remédio universal, que curaria todos os males físicos e espirituais e
prolongaria a vida daqueles que o ingerissem.
Pouco se sabe sobre as práticas dos alquimistas, estudiosos tentam entender como eram
realizados os “rituais de alquimia”, que ora pareciam experimentos científicos, ora rituais de
magia. Alguns desses rituais eram realizados utilizando desenhos circulares geométricos com
diversos símbolos (Figura 22) que, ao que parece, eram representações dos “ingredientes”
necessários para ocorrer a transformação desejada, como uma espécie de manual para que o
alquimista soubesse o que utilizar.
Figura 22: Exemplo de um desenho geométrico utilizado na alquimia.
Fonte: ALCHEMY PLAYGROUND, 2013.
40
O processo de criação de um prato gastronômico pode ser comparado ao processo de
transformação na alquimia, sendo a junção de materiais simples para criar algo diferente e
complexo. Sendo assim, o conceito se forma a partir da ideia de transformação realizada dentro
de uma cozinha, que, para os olhares não treinados, parece magia.
Levando isso em consideração, o partido arquitetônico adotado na implantação do
Centro de Ensino Gastronômico (Figuras 23 e 24) foi elaborado de forma a remeter os desenhos
utilizados pelos alquimistas, tendo seus blocos formando um círculo quando unidos, com um
espaço de convivência ao centro, remetendo a junção dos “ingredientes” para a criação do
alimento, que também pode ser traduzido como o remédio universal, a cura para todos os males,
assim como disse o filósofo Hipócrates: “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento
seja seu remédio.”
Figuras 23 e 24: Estudos iniciais de implantação e volumetria do projeto.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.3 Legislação e normas específicas
O projeto foi elaborado de forma a atender as normas e legislações vigentes para
ambientes escolares, cozinhas industriais e edificações em geral.
5.4 Parâmetros projetuais: capacidade e funcionamento
41
Para que as decisões de projeto pudessem ser tomadas, foram levados em consideração
alguns aspectos, que serviram como parâmetros projetuais, como a proposta de capacidade e
funcionamento do centro de ensino de gastronomia, além da possível grade curricular. Tais
parâmetros serviram como base para a formulação do programa de necessidades e pré-
dimensionamento, e os arranjos físicos dos ambientes do projeto.
O centro de ensino de gastronomia é uma instituição pública, que oferece o curso de
bacharelado em gastronomia e cursos livres na área. O público-alvo do curso de bacharelado é
composto por jovens e adultos, que atuam ou não no setor gastronômico, enquanto o dos cursos
livres são todas as pessoas que se interessarem pelo setor alimentício, independentemente do
nível de escolaridade ou envolvimento profissional na área, podendo ser admitidas pessoas
maiores de 15 anos.
O principal objetivo dos cursos livres é oferecer possibilidade de gerar empregos para
as classes desfavorecidas, além de maior aproximação entre as pessoas e os alimentos. Tal
aproximação será trabalhada também a partir da promoção de palestras, eventos, workshops e
divulgação de práticas de cultivo, cuidados, manuseio e produção de alimentos, podendo assim
melhorar a qualidade de vida da população, além de conscientizá-las da importância dos
alimentos.
Os cursos livres são voltados para a panificação, confeitaria, manuseio de carnes,
vegetais, hortas, aulas práticas de culinária e fabricação de utensílios artesanais, que acontecem
no período vespertino e noturno, tendo duração e carga horária que variam de acordo com o
objetivo de cada curso. O curso de bacharelado ocorre no período integral (matutino e
vespertino), é dividido em 8 períodos, tendo duração prevista de 4 anos. A matriz curricular do
mesmo foi baseada na do bacharelado de gastronomia ministrado na Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), que pode ser visto no anexo 1.
A capacidade de alunos por turma é um fator determinante para a criação dos ambientes
de ensino. Sendo assim, determinou-se como 36 o número de alunos por turma do curso de
bacharelado, sendo um número par, para facilitar a divisão da turma em dois grupos menores
para realização de aulas práticas em salas e laboratórios específicos. Nos cursos livres, preferiu-
se adotar o número máximo de 20 alunos, para que não fosse necessária a divisão da turma em
grupos menores.
Após a definição de cursos e disciplinas propostas e a capacidade de alunos do centro
de ensino de gastronomia, definiu-se as salas de aula (teóricas e práticas), laboratórios e espaços
adicionais para atender a demanda e gerar aprendizado. Na tabela 1 estão listados os principais
espaços de aprendizado que compõem o centro de ensino, a capacidade destes espaços, e a
42
justificativa dos mesmos, evidenciando onde será explicado como os alunos utilizarão os
ambientes.
Tabela 1: Principais espaços de aprendizado que compõe o Centro de Ensino
Ambiente Capacidade Componentes Justificativa
Sala de aula teórica 40 alunos Mesas individuais com quadro e
TV.
Onde são ministradas
aulas teóricas e de
idiomas.
Laboratório geral 20 alunos
Mesas de trabalho e estudo em
grupo, armário com equipamentos
de análise, pias e fogão.
Onde são ministradas
aulas de nutrição,
gastronomia molecular e
tecnologia do alimento.
Laboratório de
Informática 30 alunos
Mesas com computadores e
quadro.
Onde são ministradas
aulas de marketing e
aulas teóricas necessitem
de pesquisa.
Miniauditório/ Sala de
Demonstração 77 alunos
Cadeiras, grande bancada com
fogão e pia e mas com computador
para projetor.
Ambiente destinado a
exibição de receitas e
demonstrações de pratos
mais elaborados,
minicursos e palestras
para pequeno grupo.
Cozinha quente 20 alunos
Pias na entrada para higienização,
bancada central para exposição dos
pratos feitos na aula, e 10 estações
de trabalho para duplas de alunos,
compostas por fogão, bancada e
pia.
Cozinha destinado para
realização de pratos que
envolvem cozimento.
Cozinha fria 20 alunos
Pias na entrada para higienização,
2 grandes bancadas para manuseio
de alimentos, armários e geladeiras
para armazenamento intermediário
de alimentos, 3 pias para lavagem
e higienização dos alimentos e 1
fogão pequeno para casos
específicos, envolvendo água
quente ou algum vegetal cozido.
Cozinha destinada para
aprendizado de técnicas
de corte, utilização de
alimentos que não
envolvam cozimento, e
criação de pratos frios.
Cozinha de
confeitaria/
panificação
20 alunos
Pias na entrada para higienização,
2 grandes bancadas para manuseio
de massas e doces, 2 fornos
industriais, grande bancada com
diversos equipamentos como
batedeiras e liquidificadores,
geladeiras e armário para
armazenagem intermediária de
alimentos e pias para higienização
de alimentos.
Cozinha destinada para
aprendizado de técnicas
de panificação e
confeitaria, e confecção
de diversos pães, bolos e
doces.
43
Laboratório de
enologia 20 alunos
Pias na entrada para higienização,
mesas com pia central para 2
alunos cada, bancada com pia para
professor, armário e geladeira para
armazenamento de bebidas.
Ambiente para
degustação e estudo de
bebidas alcoólicas, onde
alunos e professores
provam o sabor e
expelem a bebida.
Horta/Pomar
-
Espaço com terra fértil para
plantio.
Espaço para plantação e
cultivo de frutas,
legumes, vegetais, ervas
e temperos. Pretende-se
ensinar o cultivo e o
cuidado que se deve ter
com os alimentos, e
como este processo
influencia no sabor dos
mesmos.
Minimercado -
Bancada para vendedor, com
computador, lavabo, e prateleiras
para exibição de alimentos.
Espaço onde pretende-se
ensinar a forma correta
de armazenar alimentos e
determinar validades.
Este minimercado visa
gerar renda a partir de
produtos feitos na
universidade e cultivados
na horta e pomar
Restaurante -
Cozinha industrial, setor
administrativo, café e salão para
consumidores.
Espaço destinado para a
prática de algumas aulas
relacionadas com gestão
de restaurantes e
hotelaria, atendimento ao
cliente. Além de
proporcionar um público
aos alunos, que podem
testar suas próprias
receitas, oferece pratos
sofisticados com baixo
custo para a região.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
5.5 Programa de necessidades e pré-dimensionamento
O programa de necessidades foi elaborado a partir de pesquisas bibliográficas e análise
de referenciais projetuais, tendo como foco principal a criação de espaços adequados para o
ensino prático do manuseio de alimentos, de acordo com as normas e legislações vigentes para
44
ambientes escolares, cozinhas industriais e edificações em geral. As salas foram pensadas de
modo que pudessem atender um número um pouco maior de alunos do que o previsto por turma,
para casos especiais.
A tabela 2 apresenta o programa e pré-dimensionamento do Centro de Ensino
Gastronômico.
Tabela 2: Programa de necessidades e pré-dimensionamento.
PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO
Ambiente Quantidade
Área un.
(m²)
Área total
(m²)
AD
MIN
IST
RA
ÇÃ
O
Recepção 1 40 40
Mecanografia 1 10 10
Secretaria 1 20 20
Coordenação 1 10 10
Enfermaria 1 20 20
Sala de funcionários 1 20 20
Vestiário dos funcionários 2 20 40
Almoxarifado secundário 1 10 10
Sala dos professores 1 40 40
Diretoria 1 20 20
Arquivo morto 1 15 15
Sala de reuniões 1 50 50
Depósito 1 50 50
Depósito de material de limpeza 2 10 20
Banheiro 4 10 40
Sala de manutenção 1 30 30
Departamento de compras 1 10 10
Lixo 2 5 10
Atendimento ao aluno 1 10 10
EN
SIN
O
Sala de aula teórica 3 50 150
Cozinha quente 2 80 160
Cozinha fria 1 50 50
Depósito alimentos secundário 1 15 15
Cozinha de confeitaria/panificação 1 80 80
Laboratório de enologia 1 50 50
Laboratório geral 1 50 50
Sala de demonstração 1 80 80
45
Laboratório de informática 1 50 50
Biblioteca 1 100 100
Adm. da biblioteca 1 10 10
Banheiro 6 10 60
Controle de carga e descarga 1 5 5
Higienização 1 20 20
Depósito de alimentos geral 1 100 100
Câmara fria geral 1 30 30
Depósito de utensílios 1 20 20
Adega geral 1 20 20
Almoxarifado geral 1 50 50
PÚ
BL
ICO
Foyer 1 100 100
Minimercado 1 50 50
Banheiro 4 10 40
Auditório 1 200 200
Camarim 1 10 10
Depósito do auditório 1 5 5
Apoio técnico 1 10 10
Restaurante 1 150 150
Café 1 10 10
Lavagem de utensílios 1 10 10
Depósito de utensílios 1 10 10
Adm. do restaurante 1 15 15
Lixo 2 5 10
Depósito rápido 1 10 10
Câmara fria 1 10 10
Cozinha quente 1 30 30
Cozinha fria 1 30 30
Depósito de alimentos 1 45 45
Adega 1 5 5
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
5.6 Setorização e Fluxos
Após a determinação da implantação e criação do programa, o projeto foi setorizado e
teve seus acessos definidos (Figura 25). Com estes foram possíveis determinar os fluxos (Figura
46
26) utilizados ao entrar na instituição por alunos, funcionários, visitantes, clientes ou
convidados e de carga e descarga.
Figura 25: Setorização e principais acessos.
Público
Ensino
Administração
Acesso principal
Acesso p/ clientes
Acesso serviço
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 26: Fluxos utilizados a partir da entrada, de acordo com o usuário.
Funcionários
Visitantes
Clientes
Alunos
Carga e descarga
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
47
5.7 Implantação
A implantação do projeto se dá por três blocos principais e um anexo. Os blocos estão
divididos em três setores: O bloco A, que abriga o setor público, possui 1095,72 m² de área
construída distribuída em três pavimentos, o bloco B, que abriga o setor administrativo, possui
704,78 m² de área construída distribuída em dois pavimentos, e o bloco C, que abriga o setor
de ensino, possui 1772,67 m² de área construída distribuída em três pavimentos. Há ainda um
bloco anexo que é composto apenas por um depósito para equipamentos utilizados na horta e
duas guaritas nas entradas de veículo e de carga e descarga.
A figura 27 apresenta a locação dos blocos A, B e C, anexo e guaritas, além da
localização da horta. Também podem ser observados os estacionamentos do restaurante e do
Centro de Ensino, compostos por 10 vagas sendo uma acessível, e 51 vagas sendo 2 acessíveis
respectivamente. O estacionamento do Centro de Ensino também possui 12 vagas para motos.
Figura 27: Implantação do Centro de Ensino de Gastronomia.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
48
5.8 Bloco A
O acesso ao Bloco A se dá através do foyer e do mercado (Figura 28). O mercado, que
possui um pequeno depósito e lavabo, vende alimentos cultivados dentro do centro de ensino,
utensílios feitos em cursos livres, doces, bolos e pães produzidos pelos alunos. O foyer conta
com banheiros, depósito de materiais de limpeza, um elevador e uma escada que levam o
visitante ao mezanino.
Figura 28: Foyer e Mercado no bloco A.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
No lado esquerdo do bloco A, conforme exibido na figura 29, ainda no térreo há o
auditório com capacidade para 185 pessoas. O acesso principal ao auditório é feito através do
mezanino, contudo há outra porta que serve tanto como acesso pelo térreo como saída de
emergência. Atrás do palco há um camarim, um lavabo e um depósito. No canto inferior
esquerdo há também um monta-cargas que dá acesso direto ao último andar.
49
Figura 29: Auditório no térreo do bloco A.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
O foyer, no térreo, dá acesso a outro no mezanino, que leva tanto paro o auditório quanto
para o restaurante, no piso acima. O auditório conta com uma sala de apoio, conforme exibido
na figura 30.
Figura 30: Lado direito do mezanino do bloco A.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
50
Acima do camarim encontra-se uma laje técnica (Figura 31), que assim como a sala de
apoio, mostrada na figura 30, também auxilia nas apresentações realizadas no auditório. Ela é
acessada através de uma pequena porta acima da porta que dá acesso ao camarim.
Figura 31: Lado esquerdo do mezanino do bloco A.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
No piso superior do bloco A encontra-se o restaurante (Figura 32). Ele pode ser acessado
através do elevador no térreo e mezanino ou por escadas vindas do mezanino. Possui área para
refeições e café, separadas por um cobogó. Conta também com banheiros e um depósito de
material de limpeza, que dá acesso à cobertura do bloco através de um alçapão.
Figura 32: Café e restaurante no piso superior do bloco A.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
51
No lado esquerdo do piso superior do bloco A encontra-se o setor logístico do
restaurante (Figura 33). Ele conta com um depósito geral, por onde sai o monta-cargas
localizado no térreo, área de preparo de alimentos, depósito rápido para armazenagem dos
alimentos utilizados durante o dia, câmara fria, espaço destinado ao lixo seco e úmido,
administração, lavagem de utensílios e depósito para os mesmos. Há ainda uma área de preparo
exclusivo do café, que também conta com um depósito que atende somente a esse setor. Esse
restaurante foi pensado de modo que os alunos pudessem utilizá-lo em aulas práticas, tanto de
preparo, quanto de gestão de um negócio que envolve alimentação. O restaurante é aberto ao
público com refeições sendo servidas através de um menu do dia, no horário do almoço e do
jantar. O café funciona durante todo o horário letivo, servindo apenas alimentos produzidos
dentro do Centro de Ensino.
Figura 33: Lado esquerdo do piso superior do bloco A.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
52
5.9 Bloco B
O acesso principal ao Bloco B se dá através da recepção (Figura 34). Após a mesma, há
um corredor que percorre o bloco e dá acesso à secretaria, ao setor de atendimento ao aluno, à
coordenação, à extensão, à mecanografia, e ao departamento de compras. O bloco também
conta com banheiros, um depósito de material de limpeza e um almoxarifado.
Figura 34: Lado direito do piso térreo do bloco B.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Há outros dois acessos ao bloco B através do pátio pela esquerda e através do
estacionamento pela direita (Figura 35). O bloco B também conta com enfermaria que atende
principalmente a acidentes dentro das cozinhas, uma sala de manutenção, um depósito geral do
centro de ensino e locais para armazenagem de lixo seco e úmido.
53
Figura 35: Lado esquerdo do piso térreo do bloco B.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
No piso superior do Bloco B, estão a sala dos professores, o arquivo morto e a sala dos
funcionários com vestiários, conforme exibido na figura 36.
Figura 36: Apoio aos professores e funcionários no piso superior do bloco B.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
54
Há também no piso superior (Figura 37) uma sala de reuniões, a diretoria, banheiros e
um depósito de material de limpeza, que dá acesso, através de um alçapão, à cobertura do bloco.
A sala de reuniões possui um pano de vidro que se beneficia da luz vinda do mezanino da
recepção.
Figura 37: Direção e apoio no piso superior do bloco B.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
5.10 Bloco C
O acesso principal ao bloco C se dá por meio de uma circulação, que conecta os andares
através de uma escada e uma plataforma elevatória, além de abrigar os banheiros. No térreo
(Figura 38), há também um depósito de material de limpeza e a sala de enologia, espaço
55
destinado ao estudo e degustação de bebidas alcoólicas. A biblioteca é acessada diretamente
pelo pátio interno, com acervo de 8240 livros, recepção, administração e um lavabo.
Figura 38: Biblioteca no piso térreo do bloco C.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Ainda no térreo do bloco C (Figura 39), há o almoxarifado geral do centro de ensino, o
controle de carga e descarga, um depósito de utensílios, uma sala para lavagem e higienização
dos alimentos que chegam ao centro, e o depósito geral de alimentos. Dentro do depósito geral,
há a adega e a câmara fria, que por sua vez é separada em três compartimentos, para armazenar
alimentos em diferentes temperaturas, e um monta-cargas, que envia os alimentos diretamente
ao último pavimento da construção. Os acessos ao bloco se dão por um corredor que liga o pátio
central ao setor de carga e descarga e o depósito pode ser acessado tanto por este mesmo
corredor quanto pela área de circulação vertical do bloco C. Há também um acesso que leva a
56
uma circulação vertical no lado direito do bloco, projetada para auxiliar o tráfego de alunos e
funcionários levando em consideração uma possível expansão do bloco.
Figura 39: Depósitos e Almoxarifado no térreo do bloco C.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
No primeiro andar do bloco C estão concentradas as salas de aula destinadas a
disciplinas teóricas. Na figura 40 é exibido o miniauditório, que atende a até 77 alunos e pode
ser utilizado como sala de demonstração, para que o professor ou convidado elabore um prato
na frente dos mesmos. Há também uma sala de informática para auxiliar os alunos em
disciplinas que envolvam a produção de trabalhos teóricos, além de sanitários, escada e
plataforma elevatória. O primeiro andar possui um longo corredor, que dá acesso as salas de
aula, e por sua vez, este corredor possui uma série de esquadrias que iluminam todo o local
quando abertas.
57
Figura 40: Mini Auditório e Sala de Informática no primeiro andar do bloco C.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Ainda no primeiro andar do bloco C (Figura 41) estão três salas de aula teórica com
capacidade para até 40 alunos, e um laboratório geral equipado com pias, fogão, armário e
mesas. Há também a circulação vertical no canto direito que dá apoio ao tráfego de alunos
conforme explicado anteriormente.
58
Figura 41: Salas de Aula no primeiro andar do bloco C.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
No segundo andar do bloco C encontram-se as salas de aula destinadas ao aprendizado
prático. Como pode ser visto na figura 42, há uma sala destinada ao estudo e produção de bolos,
pães e doces, com os equipamentos necessários e grandes bancadas de trabalho. Há também, o
espaço de aprendizado nomeado de cozinha fria, onde os alunos aprendem sobre os diferentes
tipos de corte dos alimentos, a utilização de vegetais, entre outras atividades onde não se faz
necessário o uso constante do fogão. Assim como nos outros andares, os banheiros, escada e
plataforma elevatória se fazem presente no segundo e último andar do bloco C.
59
Figura 42: Salas de Aulas Práticas no segundo andar do bloco C.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Concluindo o segundo andar do bloco C (Figura 43) estão o setor de lavagem e depósito
de alimentos, que por sua vez recebe diretamente do depósito geral no térreo os materiais
necessários para as aulas, através de um monta-cargas. Além disso, há duas salas de aprendizado
denominadas cozinhas quentes, onde os alunos podem manusear e preparar alimentos de
diversas formas. Cada cozinha conta com dez estações de trabalho, compostas por um fogão
industrial, uma bancada e pia, incentivando os alunos a trabalharem em duplas, aprendendo não
só a cozinhar, como a trabalhar em equipe. Por fim, novamente, há a circulação vertical na parte
direita do bloco.
60
Figura 43: Cozinhas quentes no segundo andar do bloco C.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
5.11 Guaritas e depósito
Além dos blocos, o projeto possui duas guaritas localizadas nas entradas de veículos e
de carga e descarga, sendo a da entrada de veículos exibida na figura 44, que contam com lavabo.
E um depósito (Figura 45) exclusivo para equipamentos utilizados na horta.
Figura 44: Layout padrão da guarita do Centro de Ensino de Gastronomia.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
61
Figura 45: Depósito exclusivo para equipamentos da horta.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
5.12 Volumetria
A volumetria do projeto (Figura 46) foi pensada de modo que a construção exibisse a
transformação que se desejava alcançar na alquimia em diversos pontos, complementando o
conceito onde os blocos, que são os ingredientes, precisam se transformar para que algo simples,
como uma construção, se torne algo complexo, como uma arquitetura que não só cumpre seu
papel funcional, mas agrada tanto em estética quanto em conforto aqueles que a utilizam.
Figura 46: Vista aérea da volumetria do Centro de Ensino de Gastronomia.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
62
O pátio interno (Figura 47), possui mobiliários feitos com materiais leves, que podem
ser movimentados de acordo com a necessidade do local ou vontade dos usuários. O centro do
pátio é protegido por uma cobertura retrátil e os caminhos que levam aos blocos, por uma
cobertura verde. A utilização do telhado verde para as passarelas foi feita de modo a auxiliar no
conforto térmico e fazer com que a construção esteja sempre em mudança, com o crescimento
da vegetação acima dos usuários.
Figura 47: Pátio central.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Na figura 48, pode-se observar as esquadrias utilizadas nos corredores do bloco C, que
quando abertas, trazem luz para dentro da construção, e quando fechadas, se misturam com a
fachada revestida de ripas de madeira e se tornam quase imperceptíveis. Isso faz com que o
edifício nunca seja o mesmo, está em constante transformação de acordo com a abertura e
fechamento dessas esquadrias.
63
Figura 48: Vista do pátio para o bloco C.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
Há também no pátio interno uma área com mesas ao lado da biblioteca (Figura 49) que
serve tanto como área de estudos ao ar livre como local de convivência para os alunos.
Figura 49: Área de estudos ao lado da biblioteca (edifício a direita).
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
64
Em alguns pontos dos blocos, conforme já foi exibido na figura anterior, e também pode
ser visto na fachada do bloco A (Figura 50), que fica de frente para a Avenida Alberto Lamego,
foram feitos panos de vidro que, em suas extremidades, são cobertos pelas ripas de madeira de
forma a parecer que elas foram arrancadas da fachada aleatoriamente, exibindo novamente a
transformação que se buscou alcançar através da arquitetura.
Figura 50: Fachada voltada para a Av. Alberto Lamego.
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresentado teve como tema a implantação de um Centro de Ensino de
Gastronomia no município de Campos dos Goytacazes, como forma de desenvolver um
anteprojeto arquitetônico destinado a qualificação profissional e acadêmica, além de contribuir
com o aumento da qualidade de vida da população, através de cursos livres e palestras.
O tema escolhido teve como base a falta de qualificação profissional no setor
gastronômico no Brasil, por não haver necessidade de comprovação de conhecimentos para
atuação no mesmo. Levando em consideração a necessidade de uma alimentação saudável
foram projetados espaços para que o Centro de Ensino também possa auxiliar a conscientizar
as pessoas da importância de se conhecer o alimento.
A revisão bibliográfica a respeito do desenvolvimento da Gastronomia auxiliou na
compreensão da relação que o ser humano sempre teve com o alimento, e porque é importante
ensinar, não só aos futuros profissionais, mas também a população como um todo, para que a
implantação deste projeto possa contribuir tanto economicamente quanto para melhoria da
qualidade de vida. Assim como a pesquisa acerca do ensino da Gastronomia através de seu
histórico, referenciais projetuais e leis vigentes, contribuiu para a criação de espaços adequados
ao aprendizado das técnicas necessárias a formação dos alunos.
As maiores dificuldades encontradas foram as de criar um local com a infraestrutura
necessária ao ensino dos diversos campos da gastronomia, levando em consideração a
quantidade de alunos por turma e suas principais atividades e disciplinas. As principais fontes
que auxiliaram nessa etapa foram as normas e legislações vigentes para ambientes escolares,
cozinhas industriais e edificações em geral, além da matriz curricular do bacharelado de
gastronomia ministrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Durante a realização do trabalho, diversos conhecimentos foram adquiridos e
aprofundados através da pesquisa acerca do tema, além da prática do que foi aprendido no curso
de Arquitetura e Urbanismo. Pode-se afirmar que o objetivo inicial foi alcançado, tendo como
principal fonte de contribuição os referenciais projetuais, que auxiliaram na escolha de
revestimentos, tecnologias e espaços para que o projeto pudesse se tornar o ambiente ideal
proposto pelo tema.
O Centro de Ensino foi pensado de forma a criar espaços que atendessem as
necessidades específicas relacionadas ao manuseio dos alimentos, e que também fosse um local
66
agradável de se aprender e frequentar, levando em consideração que o conforto ergonômico e
estético são fundamentais para que a arquitetura contribua com o aprendizado. O trabalho
consegue se consolidar por mostrar que é possível a criação de uma instituição de ensino capaz
de atender ao objetivo inicial, e pode ser utilizado como fonte de consulta para a criação de
projetos semelhantes.
68
ANEXO I: GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
GASTRONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ
71
REFERÊNCIAS
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73
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