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Curso de Direito
PEDÁGIO – ELEMENTO QUE CONSTITUI A DEFINIÇÃO DE SUA NATUREZA
JURÍDICA: TAXA OU TARIFA?
TOLL – ELEMENT THAT CONSTITUTES THE DEFINITION OF THEIR LEGAL NATURE: RATE OR FARE? Marcos Gerson do Nascimento1, Adilson Santos2
1 Aluno do Curso de Direito 2 Aluno Regular do Curso Intensivo Posgrado de Doutorado em Direito Constitucional Universidad de Buenos Aires. Mestre em Ciência Política - ênfase em Dir. Humanos, Cidadania e Violência. Especialista em Direito Público, Especialista em Direito Penal e Especialista em Gestão de Sala de Aula em Nível Superior. Bacharel em Direito e Análise de Sistemas. Professor do Curso de Direito do Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro Oeste.
RESUMO
O presente trabalho tem por intuito verificar se a natureza jurídica do pedágio é tributo na modalidade
de taxa ou tarifa. Chama-se pedágio, o pagamento que é feito como um direito para ser capaz de
circular ao longo de um caminho, ou seja, é um direito de passagem. A finalidade do pedágio é
custear a conservação das vias de transporte. Diante toda essa dicotomia ao analisar sua natureza
jurídica se faz necessário entender os conceitos de tributo, taxa e tarifa. Desta forma, aponta-se que o
tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito instituído em lei e cobrado mediante atividade administrativa
plenamente vinculada. Já a tarifa é o preço público pago pela utilização de serviços facultativos que a
Administração Pública ou seus delegados disponibilizam a população. Analisada a temática proposta
faz-se necessário abordar minuciosamente o problema referente à natureza jurídica do pedágio.
Cabe salientar que há grande divergência doutrinaria no que se refere à natureza jurídica do pedágio.
Há entendimentos de que sua natureza jurídica seria de um tributo, na espécie taxa. Por outro lado há
posicionamentos de que é tarifa e ainda há entendimento que a natureza jurídica apresenta figura
híbrida, podendo ser de taxa ou de tarifa.
Palavras-Chave: Pedágio; Taxa; Tarifa; Natureza Jurídica.
ABSTRACT This work has for objective verify the legal nature of the toll is tribute in fee or rate. It's called toll, the payment is made as a right to be able to move along a path, i.e. a right of way. The purpose of the Fund is the conservation of toll routes of transport. On the whole this dichotomy by analyzing its legal nature it is necessary to understand the concepts of tax, fee and tariff. In this way, points out that the tribute is all compulsory pecuniary, or currency whose value it can express, which does not constitute sanction of tort established in law and charged by administrative activity fully linked. Already the fare is the price paid by the public use of voluntary services to the Public Administration or their delegates provide the population. Analyzed the subject proposal is necessary to address the problem concerning the legal nature of the toll. Keywords: Toll; Tribute; Rate; Legal Nature.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por intuito analisar a problemática do pedágio no
Brasil sob a ótica da constituição de sua natureza jurídica. O problema de pesquisa
está embasado na seguinte pergunta: Qual o elemento que constitui a definição da
natureza jurídica do Pedágio no Brasil?
O Objetivo Geral é analisar o pedágio no Brasil sob a ótica da constituição de
sua natureza jurídica.
Quanto aos objetivos específicos, estes consistem em analisar os
pressupostos constitucionais acerca do Pedágio, identificar o elemento que constitui
a definição da natureza jurídica do Pedágio, apresentar a dicotomia existente entre
tributo na modalidade taxa e tarifa e empreender um estudo de revisão sobre a
natureza jurídica do Pedágio.
Em observância aos objetivos específicos, pretende-se analisar os
pressupostos constitucionais acerca do Pedágio e apontar se sua natureza jurídica
está embasada e protegida pelos princípios constitucionais tributários, pois estes
são definidos como vigas mestres que norteiam e sustentam o ordenamento jurídico
e que devido à sua natureza constitucional, se sobrepõe as demais normas, além de
articular todo sistema tributário.
Cabe ressaltar que os princípios constitucionais tributários existem para
proteger o cidadão contra abusos do poder e o intérprete que tem consciência dessa
finalidade vislumbra nos princípios no campo tributário a proteção do contribuinte na
relação jurídico-tributária. Os princípios constituem regras que servem de
interpretação de normas jurídicas de todo ordenamento pátrio caminhando ao
legislador a melhor forma de aplicação da lei, ou seja, fundamenta um alicerce na
estrutura jurídica e constitui garantia constitucional aos contribuintes que o legislador
deve resguardá-las.
Em seguida, almeja-se apresentar a dicotomia existente entre taxa e tarifa por
constituirem elementos que podem concretizar o tema em escopo que é natureza
jurídica do Pedágio. Ressalta-se que a voluntariedade e a compulsoriedade do uso
do serviço constituem parâmetros para se distinguir taxa de tarifa. Todavia, com o
propósito de dirimir as possíveis indagações e dúvidas a respeito das diferenças
entre os institutos destacados serão apresentados posicionamentos doutrinários
sobre o tema proposto.
Em prol de consubstanciar um dos objetivos específicos, infere-se
empreender um estudo de revisão sobre a natureza jurídica do Pedágio, pois torná-
se necessário no processo de investigação e pesquisa científica organizar uma linha
do tempo com informações e resultados já obtidos, em prol da organização
sistemática de ideias que desenvolva integração e promova um conhecimento
solidificado por meio das diferentes perspectivas investigadas, dos estudos
recorrentes, das lacunas e das contradições.
Por fim, vislumbra-se identificar o elemento que constitui a definição da
natureza jurídica do Pedágio e um dos parâmetros para esta identificação se dá pela
subclassificação dos serviços: serviços “uti singuli”, ou individualizáveis, dividem-se
em compulsórios ou facultativos. Os facultativos são remunerados por tarifa ou
preço público, podendo ser suspensos por falta de pagamento. Já os compulsórios
são os serviços que o beneficiário não pode recusar, como o serviço de esgoto e
são remunerados por taxa. A partir desta análise e dos pressupostos que serão
discutidos no presente trabalho será possível compreender a natureza jurídica do
Pedágio.
A temática proposta justifica-se pela abordagem que a problemática referente
à natureza jurídica do pedágio se consubstanciou no sistema jurídico. Cabe salientar
que há grande divergência doutrinária no que se refere à natureza jurídica do
pedágio. Há entendimentos de que sua natureza jurídica seria de um tributo, na
espécie taxa. Por outro lado, há posicionamentos de que a natureza jurídica do
pedágio é tarifa e ainda há entendimento que a natureza jurídica apresenta figura
híbrida, podendo ser de taxa ou de tarifa.
Ademais a súmula 545 do Supremo Tribunal Federal, disciplina que preço
público e taxas não se confundem, pois as taxas diferentemente do preço público
são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização
orçamentária, em relação à lei que as instituiu. Porém, o Supremo Tribunal Federal,
em seu enunciado 750, apontou a natureza jurídica do Pedágio, preceito que será
debatido após análise de toda a pesquisa. O tema em foco é de grande relevância
para o mundo acadêmico e para sociedade, pois os assuntos tratados em relação ao
pedágio constituem uma gama de conhecimentos que embasam posicionamentos
apresentados pelos autores e favorecerá o entendimento da sociedade quanto à
natureza jurídica do pedágio.
Será utilizada a técnica de pesquisa bibliográfica (Lakatos e Marconi, 2007),
com a análise do levantamento de bibliografia já publicada referente ao tema, em
forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita para elucidar as
ações dos objetivos da pesquisa e estudo de revisão (Soares e Maciel, 2000), com o
propósito de organizar uma linha do tempo com informações e resultados já obtidos,
em prol da organização sistemática de ideias que desenvolvam integração e
promovam um conhecimento solidificado por meio das diferentes perspectivas
investigadas, dos estudos recorrentes, das lacunas e das contradições.
Pretende-se utilizar o método de pesquisa dedutivo (Araújo, 2000), pois
traduz um caminho das consequências e há uma cadeia de raciocínios em conexão
descendente, ou seja, deduções do aspecto geral para o particular que levam à
conclusão. De acordo com esse método, partindo-se de teorias e leis gerais, pode-
se chegar à determinação ou previsão de fenômeno ou fatos particulares
específicos.
1. A ORIGEM HISTÓRICA DO PEDÁGIO
Historicamente, constatou-se que o pedágio é uma instituição milenar que
surgiu com a ideia de direitos de passagem. Cabia aos detentores de poderes a
organização e cobrança desse direito de passagem perante a sociedade sem sequer
estabelecer para qual finalidade seria destinada o produto da arrecadação.
Conforme Fourquini (1987), na idade média, duques, marqueses e
independentes, detinham ocomitatus, isto é, um conjunto das prerrogativas que seus
antepassados tinham exercido em nome do rei. Esses Poderes eram de origem
judicial, militar e econômica, exercido em nome dos condes, dentre os poderes
econômicos encontrava-se a cobrança do direito de passagem em proveito do
conde.
Segundo Coêlho (2001), o termo “direitos de passagem” é fato velho na
história da humanidade. O império dos Incas tinha caminhos pelos cimos e altiplanos
da cordilheira andina desde a atual Colômbia até o Chile, ao sul. No esplendor do
Cuzco, para onde convergiam todas as estradas àquela época, já se cobrava, salvo
dos estafetas do serviço postal imperial. Os impérios de antanho, quase todos,
conheceram e cobraram pedágios. Roma os exigia. Na Idade Média os senhores
medievais cobravam “direitos de passagem”, prática abusiva, que na época da
florescência das feiras e da intensificação dos fluxos de comércio os embaraçava
muito, dificultando os negócios. Com o fortalecimento das coroas e, mais tarde, com
o surgimento dos “Estados Nacionais”, os barões perderam o privilégio de exigi-los
dos passantes.
Segundo Miranda (1995), o pedágio, forma de cobrança feita para se
conceder o direito de passagem a um veículo em uma estrada, ponte ou saída de
rodovia, foi primeiramente implantado na Inglaterra. Por lá, os pedágios começaram
a ser autorizados em 1346. Depois disso, a cobrança foi introduzida nos Estados
Unidos e demais nações, demonstrando o interesse comercial das cidades. A
primeira estrada com pedágio na América foi implantada na Virginia, Estados
Unidos, em 1785. Já a primeira estrada totalmente construída e operada por
empresas privadas foi a rodovia de Lancaster, na Pensilvânia, aberta à circulação de
veículos em 1792.
Segundo Vasquez (1997), a primeira via de rodagem do Brasil, a estrada
“União e Indústria”, foi concedida por força do Decreto do Governo Imperial de nº
1.301/1852. Ainda em 1848, a Lei nº 451 da província de Minas Gerais, já havia
autorizado a contratação de investidor privado para a construção e exploração da
ponte sobre o rio São Francisco.
Segundo Savaris (2008), por meio da Lei nº 1.260/51, o Poder Executivo
paulista foi autorizado a cobrar taxa de pedágio dos usuários da Via Anhanguera,
nos trechos São Paulo Jundiaí e Jundiaí-Campinas. Até o final de 1960, o pedágio já
era cobrado em outros Estados como Bahia (estrada Itabuna-Ilhéus) e Rio Grande
do Sul (estrada Porto Alegre-São Leopoldo).
Atualmente, no Brasil o pedágio é uma cobrança de tarifa feita por
concessionárias determinadas por licitação pelo poder público com o objetivo de
conservação das vias urbanas para melhor atender a sociedade.
2.1 PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO TRIBUTÁRIO
Os princípios são vigas mestres que norteiam e sustentam o ordenamento
jurídico e que devido à sua natureza constitucional, se sobrepõe as demais normas,
além de articular todo sistema tributário. Para Hugo de Brito (2009), os princípios
constitucionais tributários existem para proteger o cidadão contra abusos do poder e
o intérprete que tem consciência dessa finalidade vislumbra nos princípios no campo
tributário a proteção do contribuinte na relação jurídico-tributária e estes também
constituem regras que servem de interpretação de normas jurídicas de todo
ordenamento pátrio caminhando ao legislador a melhor forma de aplicação da lei, ou
seja, fundamenta um alicerce na estrutura jurídica e constitui garantia constitucional
aos contribuintes que o legislador deve resguardá-las.
No que se referem aos princípios tributários presentes na Constituição
Federal, tem-se como os principais: o princípio da isonomia, não confisco, liberdade
de tráfego, legalidade, não surpresa, dentre outros.
2.1.1 PRINCÍPIO DA ISONOMIA
Este princípio encontra-se no caput do artigo 5º da Constituição Federal de
1988, definindo que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade.
O princípio em comento engloba todos os ramos do direito, inclusive no direito
tributário, o qual encontra previsão no artigo 150, inciso II da Constituição Federal,
que preceitua:
Artigo 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. II – Instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.
Sobre o referido princípio, Guilherme Crepaldi e Silvio Crepaldi (2007)
utilizando-se das palavras de Coelho (2004), definem que o princípio da igualdade
da tributação impõe ao legislador discriminar adequadamente os desiguais na
medida de suas desigualdades; não discriminar os iguais que devem ser tratados
igualmente.
Desse modo verifica-se que os entes federativos devem buscar o tratamento
igual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, sendo vedada
qualquer distinção. O legislador deve primar pela criação de normas que se
coadunam com o principio da isonomia.
2.1.2 PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO
Conforme o texto da Constituição Federal em seu artigo 150, inciso IV, é
vedado a União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios utilizar tributos
com efeito de confisco. Desta forma, cabe ressaltar que o referido princípio objetiva
evitar que por meio do tributo o Estado anule a riqueza do individuo. Pois, este
princípio atua em consonância com o da capacidade contributiva que traz em seu
bojo preservar a capacidade econômica do indivíduo.
2.1.3 PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO
O princípio da liberdade de tráfego encontra previsão no artigo 150, inciso V
da Constituição Federal, que define:
Art. 150, inciso V da CF/88: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvado a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo poder público.
No que se refere a esse princípio, Borba (2002) afirma que:
Esse princípio busca a defesa da unidade federativa, evitando que Estados e municípios façam uso de tributos de suas competências na busca de privilégios para suas jurisdições. Este princípio leva em conta que o Brasil é uma federação e não uma confederação, que permitiria tais barreiras alfandegárias.
Entende-se, diante disso, que o referido princípio ratifica a previsão
constitucional da liberdade de locomoção, cabendo entender que seria
inconstitucional o fato gerador de qualquer tributo não ser distinto de transposição de
municípios e Estados, por prejudicar o tráfego de pessoas e bens no território
nacional.
2.1.4 PRINCÍPIO DA NÃO SURPRESA
O presente princípio visa garantir o direito do contribuinte à segurança jurídica. Ele compreende os postulados da irretroatividade, da anterioridade anual e da anterioridade nonagesimal.
Desta forma por este princípio a Constituição Federal estabelece que os
tributos devam ser cobrados a partir da entrada em vigor da lei que os aumentou,
isto é, não podendo incidir sobre fatos geradores ocorridos antes do inicio da
vigência da lei que os instituiu.
Segundo Sabbag (2011), “o princípio da anterioridade anual determina que os
entes tributantes não podem cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que
tenha sido publicada a lei majorada ou instituidora do tributo”. Porém, Amaro (2002)
destaca que alguns tributos escapam à aplicação do princípio da anterioridade tendo
em vista que há exceções por atenderem aos objetivos da extrafiscalidade, tais
como a política monetária e a política de comércio exterior que necessitam de maior
flexibilidade e demandam rápidas alterações.
2.1.5 PRINCIPIO DA LEGALIDADE
No que tange o princípio da legalidade, o mesmo está previsto no artigo 150,
inciso I da Constituição Federal, o qual versa que sem prejuízo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Ou seja, para
que um tributo seja instituído ou majorado é necessária uma lei prevendo tal medida.
Deve-se salientar, porém, que o princípio suprarreferido não é absoluto, como
todos os outros princípios. O artigo 153, parágrafo 1º da Constituição Federal faculta
ao Poder Executivo, atendido as condições e os limites legais, alterar as alíquotas
dos seguintes impostos: importação de produtos estrangeiros; exportação, para o
exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; imposto sobre produtos
industrializados; operações de crédito, câmbio e seguro; ou relativas a título ou
valores mobiliários. Diante disso, verifica-se que o princípio da legalidade admite
exceções no que se refere à majoração dos tributos supracitados devendo ocorrer,
contudo, dentro dos limites fixados em lei.
Após análise dos principais princípios constitucionais tributários, percebe-se
que estes assumem um papel de suma importância na aplicabilidade do direito
tributário, uma vez que limitam o poder de tributar do Estado, configurando
instrumentos capazes que visem garantir direitos mínimos na relação jurídica ao
contribuinte relacionada ao poder de tributar do fisco.
3. AS ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS
Com o intuito de identificar a espécie tributária relativa ao caso pesquisado
faz-se necessário analisar o conceito de tributo de forma minuciosa. Segundo o
Código Tributário Nacional, em seu artigo 3º, tributo é toda prestação pecuniária
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua
sanção de ato ilícito, instituída em lei, e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada.
Carrazza (2001), seguindo esse conceito taxativo de tributo, tendo por base o
artigo 5º do Código Tributário Nacional e 145 da Constituição Federal de 1988,
defende a corrente que são espécies tributárias apenas o imposto, a taxa e as
contribuições de melhoria. Porém, cabe ressaltar que a classificação do tributo
quanto às suas espécies é alvo de divergências. Machado (2004), afirma que se
torna obscura adotar a teoria tripartite quanto às espécies tributárias, baseando-se
como tributo apenas os impostos, taxas e contribuições de melhoria, tendo em vista
que a própria Constituição Federal de 1988 em seu texto previu a figura do
empréstimo compulsório e da contribuição especial, sendo espécies tributárias
autônomas, ostentando natureza jurídica própria que as distingue dos impostos,
taxas e contribuições de melhoria. Desta forma Machado (2004), defende a ideia de
que há no ordenamento jurídico a Teoria pentapartite, que é a corrente majoritária.
A teoria pentapartite é a adotada pelo Supremo Tribunal Federal,
classificando os tributos em impostos, taxas, contribuições de melhoria,
contribuições sociais e empréstimos compulsórios, vez que, segundo sua
jurisprudência, os empréstimos compulsórios (Recurso Extraordinário nº
111.954/PR, DJU 24/06/1988) e as contribuições especiais (AI-AgR 658576/RS,
Relator Ministro Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, Julgamento em 27/11/2007; AI-
AgR 679355/RS, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, Julgamento em
27/11/2007) são espécies tributárias autônomas, ostentando natureza jurídica
própria que as distingue dos impostos, taxas e contribuições de melhoria.
A teoria pentapartite preconiza que os tributos são divididos em cinco
espécies, são elas: impostos, taxas, contribuição de melhoria, empréstimo
compulsório e contribuições especiais. O imposto, a taxa e a contribuição de
melhoria estão previstos no artigo 5º do Código Tributário Nacional. Por sua vez, o
empréstimo compulsório é de competência exclusiva da União que pode ser
instituído somente mediante Lei Complementar e as Contribuições Especiais estão
fundamentadas no artigo 149 da Constituição Federal.
4. A DICOTOMIA EXISTENTE ENTRE TAXA E TARIFA
Segundo o Código Tributário Nacional, taxa é um tributo relacionado com a
prestação de algum serviço público para um beneficiário identificado ou identificável.
A taxa é um tributo federal, estadual e municipal instituída por lei ordinária. A taxa
tem por hipótese de incidência o exercício regular do poder de polícia ou a
utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição. Evidenciado está que somente a prestação
de um serviço público ou a prática de ato de poder de polícia são hipóteses de
incidência deste tributo. Sua arrecadação é destinada a custear o serviço público
prestado ou a atividade com fins de fiscalização.
Conforme Carrazza (2001):
O princípio norteador das taxas é o da retributividade. Isto é, por intermédio da taxa a pessoa política se ressarce, compensa- se dos gastos que teve para prestar o serviço público ou para praticar o ato de polícia. Sendo este o princípio que dá base à sua cobrança, é lógica a necessidade de existência de correlação entre o custo do serviço e o valor da taxa, tendo-se por vetor, também, certo critério de razoabilidade.
Cabe destacar que as taxas não poderão ter base de cálculo própria de
impostos conforme expressa o artigo 145, parágrafo 2º, da Constituição Federal. Em
razão desta vedação constitucional da taxa em relação à base de cálculo foi editada
a súmula vinculante 29, que trouxe em seu bojo o entendimento de que é
constitucional a adoção no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da
base de cálculo própria de determinado imposto, de forma que não haja integral
identidade entre uma base e outra.
A tarifa é o preço público pago pela utilização de serviços facultativos que a
Administração Pública ou seus delegados disponibilizam a população. A tarifa não
possui natureza jurídica de tributo, isto quer dizer que não está subordinada aos
princípios e regras do Direito Tributário.
Segundo Crepaldi (2007), as principais características da tarifa encontra-se
que esta não constitui um tributo, sua criação é por meio de contrato, a obrigação é
ex voluntate (voluntária), facultativa, possui receita originária, admite-se rescisão, o
pagamento é proporcional à utilização e não se sujeita aos princípios tributários.
É importante destacar que serviços “uti singuli”, ou individualizáveis, dividem-
se em compulsórios ou facultativos. Os facultativos são remunerados por tarifa ou
preço público, podendo ser suspensos por falta de pagamento. Já os compulsórios
são os serviços que o beneficiário não pode recusar, como o serviço de esgoto e
são remunerados por tributo.
4.1 PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE TAXA E TARIFA
Segundo Crepaldi (2007), a voluntariedade e a compulsoriedade do uso do
serviço constituem parâmetros para se distinguir taxa de tarifa. Todavia, com o
propósito de dirimir as possíveis indagações e dúvidas a respeito das diferenças
entre os institutos destacados, o quadro abaixo apresenta de forma sucinta as
características de cada um deles:
TAXA TARIFA OU PREÇO PÚBLICO Sujeita a regime jurídico de direito público.
Sujeita a regime jurídico de direito privado.
Éspécie de tributo. Não é receita tributária. Trata-se de receita derivada. Trata-se de receita originária. Instituída e majorada por lei. Ato de vontade bilateral, independe de
lei (instituída por contrato).
Independe de vontade (é compulsória).
Dotada de voluntariedade.
O fundamento para sua cobrança é o princípio da retributividade.
O fundamento para sua cobrança é a manutenção do equilíbrio econômico e financeiro dos contratos.
Obediência à anterioridade e aos demais princípios tributários.
Não se submete ao princípio da anterioridade nem aos demais princípios tributários.
Natureza legal-tributária (não admite rescisão).
Natureza contratual (admite rescisão).
O serviço à disposição autoriza a cobrança.
A cobrança só ocorre com o uso do serviço.
Ex: custas judiciais Ex: serviço de fornecimento de água. Fonte do quadro: ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 38.
É importante destacar que a diferença entre os institutos da taxa e da tarifa é
objeto da Súmula 545 do Supremo Tribunal Federal, in verbis:
Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu.
Com isso, verificou-se a partir das ideias apresentadas no quadro
comparativo que existe diferença entre taxa e tarifa, porém cada uma contém
especificidades diversas que modificam a consequência jurídica.
5. A NATUREZA JURÍDICA DO PEDÁGIO
Chama-se pedágio, o pagamento que é feito como um direito para ser capaz
de circular ao longo de um caminho, ou seja, é um direito de passagem. Essa
quantia é paga a um órgão ou entidade da administração pública, ou então como é
mais comum, a uma empresa privada concessionária que faz a exploração da via. A
finalidade do pedágio é custear a conservação das vias de transporte.
A previsão constitucional do pedágio encontra-se respaldada no dispositivo
que trata das limitações do poder de tributar. Dispõe o artigo 150, inciso V:
Art. 150: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios: V – estabelecer limitações ao trafego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo poder público.
Verifica-se que há uma definição concreta no que tange ao pedágio, a
problemática consiste em identificar qual seria sua natureza jurídica, o que será
demonstrado logo a seguir. Definir a natureza jurídica de um instituto significa dizer o
que é ela para o direito.
No entanto, o que aqui se pretende não é analisar a definição do tributo, mas,
a sua determinação. Conforme dispõe o art. 4º do CTN a natureza jurídica
específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação. In
verbis:
Art. 4. A natureza jurídica especifica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I- a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II- a destinação legal do produto da sua arrecadação.
Analisada a temática proposta faz-se necessário abordar minuciosamente o
problema referente à natureza jurídica do pedágio.
Cabe salientar que há grande divergência doutrinaria no que se refere à
natureza jurídica do pedágio. Há entendimentos de que sua natureza jurídica seria
de um tributo, na espécie taxa. Por outro lado há posicionamentos de que a natureza
jurídica se consubstancia em tarifa e ainda há entendimento que o pedágio
apresenta-se como figura híbrida.
5.1 A DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA ENTRE TAXA E TARIFA
Segundo Leonetti (2004), consideram a natureza jurídica do pedágio como
um tributo, tornando-o suscetível aos princípios, normas e limitações do sistema
jurídico tributário os autores Leandro Paulsen (2008), Roque Antônio Carrazza
(2002), Bernardo Ribeiro de Moraes (1996), Misabel Derzi e Aliomar Baleeiro (2001)
e Luciano Amaro (2002), dentre outros.
O artigo 3º do Código Tributário Nacional traz a definição de tributo, o qual
versa que: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. (Brasil, 2015).
Segundo o Código Tributário Nacional, taxa é um tributo relacionado com a
prestação de algum serviço público para um beneficiário identificado ou identificável.
A taxa é um tributo federal, estadual e municipal instituída por lei ordinária. A taxa
tem por hipótese de incidência o exercício regular do poder de polícia ou a
utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição. (Brasil, 2015).
Não obstante essa definição disposta no Código Tributário Nacional, alguns
doutrinadores apresentam sua própria definição do que seria taxa.
Destacam-se as ideias de Crepaldi (2007), que define taxa como:
Uma receita derivada compulsoriamente lançada e arrecadada pelo Estado, na forma da lei, em moeda corrente ou em valor que por ela se possa exprimir sem contraprestação diretamente equivalente, cujo montante é aplicado na execução das finalidades que lhe são próprias.
Para Amaro (2011), “tributo é a prestação pecuniária não sancionatória de ato
ilícito, instituído em lei e devido ao Estado ou a entidade não estatais de fim de
interesse público”.
Definir a natureza jurídica de um instituto significa dizer o que é ela para o
direito. No entanto, o que aqui se pretende não é analisar a definição do tributo,
mas, a sua determinação. Conforme dispõe o art. 4º do CTN a natureza jurídica
específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação. In
verbis:
Art. 4. A natureza jurídica especifica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I- a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II- a destinação legal do produto da sua arrecadação.
Entendendo ser a natureza jurídica de taxa assevera Carrazza (1997), “que o
pedágio tipifica verdadeira taxa de serviço, por força no que prescreve o artigo 150,
inciso V da Constituição Federal”. Corroborando o posicionamento acima preceitua
Amaro (2002): “Que o pedágio seria tributo não só pelo fato de estar inserto em
capítulo que trata somente de tributos, mas também em razão de ser uma exceção à
regra que versa a propósito de restrições quanto à instituição e utilização de
tributos”.
Nesse sentido, Geraldo Ataliba (2002) efetua análise dos textos legais que
regulamentam as duas figuras e conclui que realmente ambas possuem
consonância em suas hipóteses de incidência já que consistem em uma utilização
sendo esta referente às rodovias conservadas ou a serviço público específico e
divisível. Conclui seu posicionamento a respeito desta corrente, contribuindo com a
premissa de que o pedágio seria taxa porque remunera o serviço de conservação
das estradas na medida em que se dá o desgaste através da utilização. Desta
forma, conforme Ataliba (2002), o pedágio enquadrar-se-ia como taxa na medida em
que é vinculada a uma atuação do Estado, em razão de conter previsão
constitucional no dispositivo que trata de tributos e pelo entendimento do pedágio
constituir o pagamento pela utilização de um serviço específico ou divisível, prestado
ao contribuinte ou posto à sua disposição.
Em oposição ao posicionamento da natureza jurídica do Pedágio ser definida
por taxa, há doutrinadores que entendem que o pedágio se consubstancia em tarifa,
dentre eles se destacam Sacha Calmon Navarro Coêlho (2001), Ricardo Lobo
Torres (2004), Hely Lopes Meirelles (2001) e Ricardo Alexandre (2011), que
indagam os seguintes apontamentos:
Seguindo as ideias de Coêlho (2001):
O pedágio ou rodágio, como queira o pranteado Aliomar Baleeiro, é o preço que se paga para passar. Preço público se cobrado pelo Estado. Preço privado se cobrado por concessionárias (empresas privadas) ainda que sujeita-se as regras derivadas de contratos administrativos reguladoras do preço.
Na mesma linha de raciocínio define Alexandre (2011):
O pedágio tem sido cobrado por particulares em regime de concessão permissão ou autorização. O regime inerente a tais formas de delegação a entidade de direito privado é o contratual. Também terá natureza contratual o pedágio cobrado, que, em tais casos, terá natureza de preço público ou tarifa.
A partir das ideias acima referidas, o pedágio enquanto tarifa se dá por não
possuir o caráter compulsório, apresentar condição facultativa, sua exigibilidade
decorrer da vontade do particular de utilizar a via e optando por utilizá-la arcará com
as devidas obrigações conforme uma relação contratual.
O fundamento da cobrança da tarifa para o pedágio é a manutenção do
equilíbrio econômico e esta cobrança só ocorre com a utilização do serviço. Cabe
ressaltar que a simples menção do pedágio no texto constitucional na parte do
Sistema Tributário, não assegura a sua natureza quanto a um tributo tendo em vista
que ele não preenche os pressupostos referidos ao tributo constantes no artigo 3º do
Código Tributário Nacional.
É importante destacar que há um posicionamento interdiário no que tange a
natureza jurídica do Pedágio, construído por meio de ideias retiradas dos
posicionamentos contrários e conflitantes. São adeptos a esta corrente os autores
Savaris (2004), Velloso (2006) e Leonetti (2006). Conforme esse posicionamento
considera-se que a natureza jurídica do Pedágio pode ser tanto de tributo quanto de
tarifa, partindo do pressuposto que para uns a definição da natureza do pedágio
depende da análise do caso concreto para que se observe o regime jurídico utilizado
e para outros depende da existência de via alternativa, que irá definir o caráter
compulsório ou não da exação.
5.2 O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A NATUREZA JURÍDICA DO PEDÁGIO
O Supremo Tribunal Federal é a instância máxima para decidir questões
controversas de matéria constitucional, como o pedágio encontra-se presente na
seção da Constituição que versa sobre as limitações do poder de tributar nada mais
coerente de que demonstrar como vem sendo discutido o tema a respeito de sua
natureza jurídica. Antes de apreciar o mérito da natureza jurídica do pedágio a
fundo, cabe ressaltar que há julgados do Supremo Tribunal Federal que se refere ao
tema abordado, que também é controverso pelo fato de haver posicionamentos
acerca das duas previsões.
O Supremo Tribunal Federal se posicionou no sentido de que o pedágio tem
natureza jurídica de tarifa. Tal embasamento está disposto na ADIN - Ação direta de
inconstitucionalidade nº 800, em que o plenário do STF julgou improcedente pedido
formulado em ação direta ajuizada contra o Decreto 34.417/1992, do Estado do Rio
Grande do Sul, que autorizou a cobrança de pedágio em rodovia estadual. Desta
forma, perante ADIN 800 em sede de liminar, o STF indeferiu a Medida Cautelar
requerida pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em desfavor do Governador do
Estado do Rio Grande do Sul.
Com a decisão a favor do Decreto 34.417/1992, do Estado do Rio Grande do
Sul, o STF definiu pedágio sendo um preço público, por sua vez admitindo que sua
cobrança pudesse ser possível por um simples decreto, por não possuir natureza
tributária e não observar princípios constitucionais tributários.
Em entendimento diverso, já prolatando o segundo acórdão, a Suprema Corte
modificou seu entendimento passando a entender que o pedágio possui natureza
jurídica de taxa. Esse julgado se refere ao recurso extraordinário de número
181.475-6/RS em que teve como relator o ministro Carlos Velloso. Segue o trecho
do voto do relator:
“Primeiro que tudo deixo expresso o meu entendimento no sentido de que o pedágio, objeto da causa é espécie tributária, constitui-se numa taxa. O fato de ter sido o pedágio tratado no sistema tributário nacional exatamente nas limitações ao poder de tributar (CF art. 150, inciso V) é significativo. Ora, incluído numa ressalva a uma limitação à tributação, se fosse preço, a ressalva não teria sentido. É dizer, se está a Constituição tratando de limitações a tributação não haveria sentido em por limitação a um preço (tarifa) que tem caráter contratual, assim incluída no regime de direito privado”.
A partir do julgado apresentado e as indagações do relator, o Supremo
Tribunal Federal passou a entender que a natureza jurídica do pedágio é tributo na
espécie taxa. Diante os julgados supracitados percebe-se a divergência do Supremo
Tribunal Federal quanto à natureza jurídica do pedágio.
É imprescindível destacar, todavia, que o atual entendimento da Suprema
Corte é no sentido de que o pedágio tem natureza jurídica de tarifa. É o que se
verifica no informativo número 750 do Supremo Tribunal Federal, in verbis:
ADI: pedágio e preço público - 1 O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias não tem natureza tributária, mas de preço público, consequentemente, não está sujeito ao princípio da legalidade estrita. Com base nesse entendimento, o Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada contra o Decreto 34.417/1992, do Estado do Rio Grande do Sul, que autoriza a cobrança de pedágio em rodovia estadual. O Tribunal recordou que a Constituição autoriza a cobrança de pedágio (“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: XV - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público”). Rememorou que essa norma reproduziria, em linhas gerais, regra semelhante contida nas Constituições de 1946 e 1967. Ressalvou, contudo, que a EC 1/1969 não repetira a parte final dessa disposição (“Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: ... II - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou mercadorias, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais”). Ressaltou que a falta de referência à cobrança de pedágio, no regime constitucional precedente despertara a controvérsia a respeito da natureza dessa exação — se tributária ou não tributária —, divergência que persistiria, especialmente no âmbito doutrinário. Afirmou que os defensores da natureza tributária, da subespécie taxa, o fariam sob os seguintes fundamentos: a) a referência ao pedágio, nas limitações constitucionais ao poder de tributar; b) o pagamento de um serviço específico ou divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição; e c) a impossibilidade de remunerar serviços públicos por meio outro que não o de taxa. Aludiu, entretanto, que os defensores da natureza contratual da exação como preço público o fariam com base nas seguintes considerações: a) a inclusão no texto constitucional apenas esclareceria que, apesar de não incidir tributo sobre o tráfego de pessoas ou bens, poderia, excepcionalmente, ser cobrado o pedágio, espécie jurídica diferenciada; b) a ausência de compulsoriedade na utilização de rodovias; e c) a cobrança se
daria em virtude da utilização efetiva do serviço, e não seria devida com base no seu oferecimento potencial. ADI 800/RS, rel. Min. Teori Zavascki, 11.6.2014. (ADI-800) ADI: pedágio e preço público - 2 A Corte realçou que essa discussão teria sido contaminada pela figura do denominado “selo-pedágio”, prevista na Lei 7.712/1988, reconhecido como taxa pelo STF. Lembrou, porém, que essa exação seria compulsória a todos os usuários de rodovias federais, por meio de pagamento renovável mensalmente, independentemente da frequência de uso, cobrada antecipadamente, como contrapartida a serviço específico ou divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. Consignou haver profundas diferenças entre o citado “selo-pedágio” e o pedágio, na forma em que atualmente disciplinado. Asseverou que esse último somente seria cobrado se, quando e cada vez que houvesse efetivo uso da rodovia, o que não ocorreria com o “selo-pedágio”, que seria exigido em valor fixo, independentemente do número de vezes que o contribuinte fizesse uso das estradas durante o mês. Destacou que o enquadramento do pedágio como taxa ou preço público independeria de sua localização topológica no texto constitucional, mas seria relacionado ao preenchimento, ou não, dos requisitos previstos no art. 3º do CTN (“Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”). ADI 800/RS, rel. Min. Teori Zavascki, 11.6.2014. (ADI-800) ADI: pedágio e preço público - 3 O Plenário sublinhou que seria irrelevante também, para a definição da natureza jurídica do pedágio, a existência, ou não, de via alternativa gratuita para o usuário trafegar. Reconheceu que a cobrança de pedágio poderia, indiretamente, limitar o tráfego de pessoas. Observou, todavia, que essa restrição seria agravada quando, por insuficiência de recursos, o Estado não construísse rodovias ou não conservasse adequadamente as existentes. Ponderou que, diante dessa realidade, a Constituição autorizara a cobrança de pedágio em rodovias conservadas pelo Poder Público, inobstante a limitação de tráfego que essa cobrança pudesse eventualmente acarretar. Registrou, assim, que a contrapartida de oferecimento de via alternativa gratuita como condição para a cobrança de pedágio não seria uma exigência constitucional, tampouco estaria prevista em lei ordinária. Consignou que o elemento nuclear para identificar e distinguir taxa e preço público seria o da compulsoriedade, presente na primeira e ausente na segunda espécie. Nesse sentido, mencionou o Enunciado 545 da Súmula do STF (“Preços de serviços públicos e taxas não se
confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu”). ADI 800/RS, rel. Min. Teori Zavascki, 11.6.2014. (ADI-800)
Diante o exposto verifica-se que havia divergência quanto à natureza jurídica
do pedágio também no Supremo Tribunal Federal, no entanto, o atual entendimento
consolidado por este tribunal é que a natureza jurídica do pedágio é tarifa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A problemática do presente trabalho pretendia-se analisar o pedágio no Brasil
sob a ótica da constituição de sua natureza jurídica. Analisada a temática proposta
fez-se necessário abordar minuciosamente o problema referente à natureza jurídica
do pedágio diante a dicotomia existente entre os conceitos de taxa e tarifa e
observou-se que há grande divergência doutrinaria no que se refere à natureza
jurídica do pedágio e para melhor defini-la tornou-se necessário adentrar na análise
dos pressupostos constitucionais quanto aos princípios, na dicotomia existente entre
taxa e tarifa, empreender um estudo de revisão sob o tema e após utilizar a técnica
da pesquisa bibliográfica e o estudo de revisão e o método dedutivo de pesquisa foi
possível identificar a natureza jurídica do pedágio objeto primordial de pesquisa
deste trabalho.
Pretendeu-se analisar os pressupostos constitucionais acerca do Pedágio e
apontar se sua natureza jurídica está embasada e protegida pelos princípios
constitucionais tributários.
Concluiu-se que a natureza jurídica do Pedágio não está consubstanciada nos
princípios constutucionais tributários, pois a denominação que caracteriza sua
natureza jurídica não se dá mediante a compulsoriedade, requisito pertinente dos
tributos. Portanto, a natureza jurídica do Pedágio não encontra-se como tributo, sua
criação é por meio de contrato, a obrigação é ex voluntate (voluntária), facultativa,
possui receita originária, admite-se rescisão, o pagamento é proporcional à
utilização e não se sujeita aos princípios tributários.
Almejou-se apresentar a dicotomia existente entre taxa e tarifa por
constituirem elementos que podem concretizar o tema em escopo que é natureza
jurídica do Pedágio. Observou-se que a natureza jurídica está pautada na
voluntariedade e não na compulsoriedade do uso do serviço. Desta forma, ressalta-
se que a natureza jurídica do Pedágio se dá por não possuir o caráter compulsório,
apresentar condição facultativa, sua exigibilidade decorrer da vontade do particular
de utilizar a via e optando por utilizá-la arcará com as devidas obrigações conforme
uma relação contratual. Constatou-se que o fundamento da cobrança do pedágio é a
manutenção do equilíbrio econômico e esta cobrança só ocorre com a utilização do
serviço, caracterizando a facultatividade de utilizar o serviço e não a obrigatoriedade.
Cabe ressaltar que a simples menção do pedágio no texto constitucional na parte do
Sistema Tributário, não assegurou a sua natureza quanto a um tributo, tendo em
vista que não preenche os pressupostos referidos ao tributo constantes no artigo 3º
do Código Tributário Nacional.
Inferiu-se empreender um estudo de revisão sobre a natureza jurídica do
Pedágio, conclui-se que que há uma linha do tempo com informações e resultados já
obtidos e isso possibilitou a organização sistemática de ideias e promoveu um
conhecimento solidificado por meio das diferentes perspectivas investigadas e
assegurou identificar a natureza jurídica do Pedágio.
Vislumbrou-se identificar o elemento que constitui a definição da natureza
jurídica do Pedágio e constatou-se que após analisar que não existe o requisito da
compulsoriedade da obrigação, logo a natureza jurídica se consubstancia em tarifa
tendo em vista que há na verdade facultatividade. Ademais, é importante destacar
que a compulsoriedade é objeto da súmula 545 do STF e é o que diferencia taxa de
tarifa. A Súmula define que preços de serviços públicos e taxas não se confundem,
porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança
condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu.
Após análise da jurisprudência da Suprema Corte, constatou-se por meio do
seu informativo 750 que natureza jurídica do pedágio se consagrou como tarifa, pois
o pedágio traz em seu bojo a ausência da compulsoriedade na utilização de rodovias
e a cobrança se daria em virtude da utilização efetiva do serviço, e não seria devida
com base no seu oferecimento potencial. Sendo assim, não há de se falar em
princípios constitucionais tributários tendo em vista que a natureza da tarifa é
contratual.
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