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Curso de Medicina Veterinária USO DA AUTO-HEMOTERAPIA EM CÃO COM DEMODICOSE USE OF SELF-HEMOTHERAPY IN DOGS WITH DEMODEIC Rafael Martins Fernandes 1 , Suelen Leite Souza 1 , Edilaine Sarlo Fernandes 2 1 Alunos do Curso de Medicina Veterinária 2 Professora MSc do Curso de Medicina Veterinária RESUMO A sarna demodécica é uma dermatose comum nas clínicas veterinárias e tem como etiologia o ácaro Demodex canis, parasito natural da pele dos cães. O ácaro é encontrado no interior do folículo piloso, e quando com proliferação exagerada leva ao aparecimento das lesões: foliculite, alopecia, furunculose e piodermite. O presente estudo verifica a eficácia da ivermectina, e da auto-hemoterapia no tratamento da demodicose canina, utilizando dois cães, SRD, positivos para demodicose. No cão 1 utilizou-se protocolo convencional com ivermectina (0,04ml/kg/SC) e banho com amitraz a cada 7 dias. No cão 2 utilizou-se tratamento alternativo com auto-hemoterapia a cada 7 dias, ambos durante 8 semanas. A melhora das lesões ocorreu após 30 dias de tratamento. No cão 1 houve desaparecimento das lesões crostosas e crescimento do pelo. No cão 2 as feridas apresentaram diminuição das crostas, diminuição do prurido e início do crescimento dos pelos. Nos protocolos utilizados, os animais apresentaram melhora considerável após 30 dias de tratamento, porém o convencional mostrou-se superior a auto-hemoterapia, neste as lesões diminuíram e no animal tratado de maneira convencional as lesões praticamente desapareceram após 4 semanas. A auto-hemoterapia, apesar de mais dispendiosa ao proprietário é um tratamento mais prático; já o protocolo convencional é mais barato, porém depende da dedicação do proprietário para o sucesso. De tal forma, a auto-hemoterapia necessita de maiores estudos para comprovação de sua eficácia e o tratamento convencional já está consolidado na prática da clinica veterinária. Palavras-Chave: Ivermectina; Auto-hemoterapia; Demodicose; Tratamento. ABSTRACT Scabies demodecica is a common skin disease in veterinary clinics and its etiology is Demodex canis , natural parasites of dogs skin. The mite found inside the hair follicle while with exaggerated proliferation leads to the appearance of the lesions: folliculitis, alopecia, furunculosis and pyoderma. This study will compare the efficacy of ivermectin, and autohemotherapy in the treatment of canine demodicosis using two mongrel dogs, positive for demodicosis. In the dog 1 was used standard protocol with ivermectin (0,04ml / kg / SC) and bath with amitraz every 7 days. In the dog 2 was used with alternative treatment autohemotherapy every 7 days, both for 8 weeks. The improvement of the lesions occurred after 30 days of treatment. The dog 1 was disappearance of crusted lesions and hair growth. In the dog 2 wounds showed a decrease of crusts, decreased itching and beginning of hair growth. Protocols used, animals showed considerable improvement after 30 days of treatment, but conventional was better than autohemotherapy, in the lesions decreased and the treated animal in a conventional manner the lesions almost disappeared after 4 weeks. The autohemotherapy, although more costly to the owner and a more practical treatment; since the conventional protocol is cheaper, but depends on the dedication of the owner to success. As such, the autohemotherapy needs more studies to prove its effectiveness and conventional treatment is already consolidated in the practice of veterinary clinic. Keywords: Ivermectin; Autohemotherapy; Demodicosis; Treatment Contato: [email protected]

Curso de Medicina Veterinária - unidesc.edu.br · A auto-hemoterapia promove a ativação do SMF através do aumento da taxa de macrófagos de 5% para 22% mantendo esta taxa por

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Curso de Medicina Veterinária

USO DA AUTO-HEMOTERAPIA EM CÃO COM DEMODICOSE

USE OF SELF-HEMOTHERAPY IN DOGS WITH DEMODEIC Rafael Martins Fernandes1, Suelen Leite Souza1, Edilaine Sarlo Fernandes2 1 Alunos do Curso de Medicina Veterinária 2 Professora MSc do Curso de Medicina Veterinária

RESUMO

A sarna demodécica é uma dermatose comum nas clínicas veterinárias e tem como etiologia o ácaro Demodex canis, parasito natural da pele dos cães. O ácaro é encontrado no interior do folículo piloso, e quando com proliferação exagerada leva ao aparecimento das lesões: foliculite, alopecia, furunculose e piodermite. O presente estudo verifica a eficácia da ivermectina, e da auto-hemoterapia no tratamento da demodicose canina, utilizando dois cães, SRD, positivos para demodicose. No cão 1 utilizou-se protocolo convencional com ivermectina (0,04ml/kg/SC) e banho com amitraz a cada 7 dias. No cão 2 utilizou-se tratamento alternativo com auto-hemoterapia a cada 7 dias, ambos durante 8 semanas. A melhora das lesões ocorreu após 30 dias de tratamento. No cão 1 houve desaparecimento das lesões crostosas e crescimento do pelo. No cão 2 as feridas apresentaram diminuição das crostas, diminuição do prurido e início do crescimento dos pelos. Nos protocolos utilizados, os animais apresentaram melhora considerável após 30 dias de tratamento, porém o convencional mostrou-se superior a auto-hemoterapia, neste as lesões diminuíram e no animal tratado de maneira convencional as lesões praticamente desapareceram após 4 semanas. A auto-hemoterapia, apesar de mais dispendiosa ao proprietário é um tratamento mais prático; já o protocolo convencional é mais barato, porém depende da dedicação do proprietário para o sucesso. De tal forma, a auto-hemoterapia necessita de maiores estudos para comprovação de sua eficácia e o tratamento convencional já está consolidado na prática da clinica veterinária.

Palavras-Chave: Ivermectina; Auto-hemoterapia; Demodicose; Tratamento.

ABSTRACT

Scabies demodecica is a common skin disease in veterinary clinics and its etiology is Demodex canis , natural parasites of dogs skin. The mite found inside the hair follicle while with exaggerated proliferation leads to the appearance of the lesions: folliculitis, alopecia, furunculosis and pyoderma. This study will compare the efficacy of ivermectin, and autohemotherapy in the treatment of canine demodicosis using two mongrel dogs, positive for demodicosis. In the dog 1 was used standard protocol with ivermectin (0,04ml / kg / SC) and bath with amitraz every 7 days. In the dog 2 was used with alternative treatment autohemotherapy every 7 days, both for 8 weeks. The improvement of the lesions occurred after 30 days of treatment. The dog 1 was disappearance of crusted lesions and hair growth. In the dog 2 wounds showed a decrease of crusts, decreased itching and beginning of hair growth. Protocols used, animals showed considerable improvement after 30 days of treatment, but conventional was better than autohemotherapy, in the lesions decreased and the treated animal in a conventional manner the lesions almost disappeared after 4 weeks. The autohemotherapy, although more costly to the owner and a more practical treatment; since the conventional protocol is cheaper, but depends on the dedication of the owner to success. As such, the autohemotherapy needs more studies to prove its effectiveness and conventional treatment is already consolidated in the practice of veterinary clinic. Keywords: Ivermectin; Autohemotherapy; Demodicosis; Treatment Contato: [email protected]

INTRODUÇÃO

A sarna demodécica é uma dermatopatia comum na clínica veterinária decorrente

da proliferação de ácaros Demodex canis. no interior dos folículos pilosos. Geralmente

esta doença se apresenta com áreas focais ou multifocais de alopecia (FORSYTHE;

PATEL, 2010).

Os ácaros Demodex são habitantes naturais da pele dos caninos e adquiridos da

fêmea durante a fase de amamentação, estando ligada a deficiência do sistema

imunológico (CARLTON; MAC GAVIN, 2003).

A doença clínica acontece por acúmulo de grandes quantidades de ácaros dentro

dos folículos pilosos, resultando inicialmente em foliculite e perda de pelo, e

subsequentemente pode ocorrer furunculose e piodermite profunda (FORSYTHE; PATEL,

2010)

O ciclo de vida do ácaro se passa no hospedeiro e consiste em quatro estágios

principais: ovo, larva, ninfa e adulto, levando em média de 20 a 35 dias para se

completar, podendo ser encontrados os quatro estágios no raspado de pele (SCOTT;

MILLER; GRIFFIN, 2001).

A dermatopatia pode se apresentar em duas formas: Demodicose localizada e

Demodicose generalizada, atingindo todas as raças de cães, acometendo todas as idades

sendo os filhotes os mais predispostos (BICHARD; SHERDING, 2003).

Lemarie; Hosgood; Foil (1996) e Mueller (2000) citam que a demodicose

generalizada é mais influenciada por estresse, fatores genéticos, nutricionais, raciais,

parasitismo intenso, falha na resposta imune (hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo),

leishmaniose, neoplasias, diabetes melito, corticoterapia, quimioterapia ou processos

idiopáticos sem causa específica de imunossupressão.

As características clínicas são bastante variáveis (HARVEY; McKEEVER; 2004),

geralmente os sinais clínicos começam com lesões eritematosas e alopécicas na cabeça

e membros, podendo haver prurido e descamação, crostas, tamponamento folicular e

hiperpigmentação (SCOTT; MILLER; GRIFFIN; 2001).

A ação do ácaro permite que a pele se torne patogênica, sendo que o

Staphylococcus intermedius é o agente Gram-positivo mais comum, presente em 90% dos

casos, mas também ocorrem Gram-negativos como Pseudomonas spp. Proteus mirabilis

e Escherichia coli (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001, 2006).

A técnica de escolha para o diagnóstico é o exame parasitológico do material

colhido por raspagem cutânea profunda (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001).

O uso da ivermectina como opção terapêutica foi relatado nos anos 80

(MEDLEAU; RISTIC; MCELVEEN, 1996; RISTIC et al., 1995). As ivermectinas são

produtos obtidos pela fermentação de fungos do gênero Streptomyces avermitilis,

classificada como semissintético, antihelmíntica e ectoparasiticidas (ALMEIDA; AYRES,

2006); altamente lipossolúveis, distribuindo-se amplamente pelo organismo. A principal

via de excreção é biliar, sendo eliminado pelas fezes (SPINOSA, 2008)

Segundo Andrade et al (2002) a ivermectina é uma medicação antiparasitária com

ação neurotóxica aos parasitas, é um agonista do receptor GABA (ácido gama-

aminobutírico), neurotransmissor inibitório que fica no sistema nervoso central (SNC),

causando paralisia dos ácaros, que não possuem barreira hematoencefálica.

O GABA causa hiperpolarização do neurônio, inibindo a passagem do estímulo

nervoso. Sua ativação promove influxo desses íons com consequente hiperpolarização,

desenvolvimento de paralisia flácida e morte do parasito, efeito causado tanto sob a

administração oral como parental (BOOTH; McDONALD 1992). Os mamíferos são

protegidos desses efeitos, pois o SNC não costuma ser exposto a altas concentrações

desses agentes devido à barreira hematocefálica que previne o acúmulo dessas drogas

no cérebro, exceto os dolicocefalicos, pois há relatos de casos de intoxicação fatal por

ivermectina em cães usualmente Collies, Boder Colleis, Pastores de Shetland e mestiços

dessas raças (PARADIS, 1998).

O amitraz também usado no tratamento para sarna demodécica, é um

acaricida/inseticida da família das formamidinas e foi o primeiro produto licenciado para o

tratamento de demodicose generalizada (LEMARIE, 1996; MEDLEAU; RISTIC;

MCELVEEN, 1996; GRUBASH, 2006), disponível para utilização tópica em medicina

veterinária nas apresentações líquida para diluição, shampoos e coleiras para cães e

gatos (BLACKBURN; LINDSAY, 2003).

As apresentações comerciais devem ser diluídas adequadamente para a utilização

tópica. A diluição recomendada para o tratamento em cães é de 4 (quatro) ml de amitraz

para cada 1 (hum) litro de água, concentração recomendada para tratamento de

escabiose e demodicose. (SCOTT et al., 1996)

A auto-hemoterapia trata-se da retirada do sangue venoso e reinjeção

intramuscular; esta prática teve seu primeiro relato de uso em 1911, com François Ravaut

e desde então tem sido utilizada em várias doenças, inclusive dermatopatias (LEITE,

2008).

Segundo Cesarino et al (2009) a auto-hemoterapia consiste na aplicação do

sangue autólogo por via intramuscular, com o objetivo de estimular o sistema imunológico

através da ativação do sistema mononuclear fagocitário (SMF) e sua eficácia foi

comprovada no tratamento de papilomatose canina e bovina. A técnica também permite a

redução de células neoplásicas em cães (DRUMONT, 2009)

A auto-hemoterapia promove a ativação do SMF através do aumento da taxa de

macrófagos de 5% para 22% mantendo esta taxa por 5 dias, logo em seguida a taxa

começa a declinar, voltando ao seu valor basal no sétimo dia, sendo indicado a repetição

a cada 7 dias (MOURA; 2011)

O sangue venoso extraído é rico em CO² (gás carbônico) e em contato com a

seringa (corpo estranho) provoca modificações físico-químicas na estrutura da hemácia,

por isso quando injetado no organismo atua como uma proteína estranha. As proteínas

por sua vez, tem efeito estimulante sobre o sistema simpático e parassimpático,

desencadeando reações vasomotoras e teciduais em todo organismo, assim como a ação

do SMF estimulado pela auto-hemoterapia (TEIXEIRA, 1940)

Satin; Brito (2004) citam que os produtos da degradação eritrocitária estimulam

eritropoiese a ativar o sistema imune, permitindo a manutenção da homeostasia.

MATERIAIS E MÉTODOS

No presente trabalho, foram utilizados dois cães SRD (sem raça definida) da rotina

do HOVET (Hospital-Escola Universitário do UNIDESC). O cão 1 (Trovão), SRD,

Macho,inteiro, 2 anos, 13 kg e o cão 2 (Sophia), SRD, fêmea inteira, 6 anos, 16 kg. Os

animais foram levados ao HOVET no dia 6 de setembro de 2016, com queixa de

apresentar feridas por todo o corpo. No cão 1, foi observado ao exame clinico áreas de

alopecia bilateral, simétrica, hiperpigmentação, presença de crostas e secreção

sanguinolenta nas feridas. Proprietário relatou que animal foi resgatado há 2 meses e já

apresentava as lesões. O cão 2 apresentava alopecia em membros anteriores e

posteriores, cabeça, e pescoço, as feridas eram crostosas e com hiperqueratose. A

proprietária relatou que o animal apresentou as mesmas lesões há um ano atrás, foi

tratada, houve melhora, porém agora estava pior. Foram realizados em ambos os animais

raspado de pele profundo e hemograma. No raspado de pele foi observada a presença do

ácaro Demodex canis. (Figura 1). Para o cão 1 foi prescrito tratamento convencional com

banhos semanais com sabonete de enxofre , ensaboando bem e deixando agir por 10

(dez) minutos e posteriormente enxaguando, shampoo a base de peróxido de benzoíla

deixando agir por 10 (dez) minutos e enxaguando, por último utilizou-se amitraz diluído 4

(quatro) ml para cada 1 (hum) litro de água, passado no animal e deixando secar

naturalmente. A ivermectina 1% (0,04 ml/kg/SC) foi administrada a cada 7 (sete) dias, em

total de 8 (oito) aplicações

Figura 1: a) Resultado do raspado de pele positivo para Demodex canis (Cão 1) (Circulo vermelho), b)

Ácaro Demodex canis presente na lâmina após raspado de pele (Cão 2) (Seta preta). Fonte: HOVET

Unidesc

a) b)

No cão 2 foi utilizado o tratamento alternativo com auto-hemoterapia, onde retirou-

se 5 (cinco) ml de sangue da veia cefálica e imediatamente injetado entre o músculo

semitendinoso e semimembranoso, preconizando um total de 8 (oito) aplicações.

Os animais foram acompanhados semanalmente durante 8 (oito) semanas,

realizando-se avaliação clínica semanal, observação visual das lesões, raspado de pele

profundo a cada 4 semanas e o hemograma foi repetido após 60 dias de tratamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dois animais avaliados, apresentavam lesões com crostas, alopecia,

hiperpigmentação (Figura 2) e mais de cinco áreas afetadas, caracterizando demodicose

generalizada, condizente com o aspecto clínico descrito por Caswell et al. (1997).

jhhhhhhhhhhhhh

Figura 2: a) Trovão (Cão 1) apresentando áreas de alopecia por todo corpo, hiperpigmentação e secreção

sanguinolenta (Círculo amarelo), b) Sophia (Cão 2) apresentando lesões crostosas, alopecia e hiperpigmentação.

(Circulo verde). Fonte: HOVET Unidesc

A confirmação do diagnóstico veio através do raspado de pele profundo positivo

para a doença (Figura 1 A e B) onde se observou a presença de D. canis, além do

hemograma completo para verificar o estado geral de saúde dos animais e em seguida

iniciando o tratamento (MEDLEAU; HNILICA, 2005)

No cão 1 o tratamento foi realizado com ivermectina 1% (0,04 ml/kg/SC), uma vez

a cada 7(sete) dias em um total de 8 aplicações e banhos semanais, conforme descrito

a) b)

por Ristic et al. (1995) e Medleau; Ristic; McEleveen (1996). A melhora das lesões ocorreu

após 30 dias de tratamento (Figura 3), onde foram observados desaparecimento das

lesões crostosas e crescimento do pelo em 80 % das áreas de alopecia, fato também

observado por Forsythe; Patel (2010).

Figura 3:a) Lesões apresentadas antes do inicio do tratamento(seta amarela), b) Desaparecimento das

lesões crostosas (seta vermelha) e crescimento de pêlo nas áreas de alopecia em aproximadamente 80%

(seta branca).

No cão 2 optou-se pela auto- hemoterapia em decorrência da recidiva das lesões,

tratadas há um ano com ivermectina, havendo melhora, porém agora voltando pior. Nesta

ocasião esclareceu-se a opção pela terapêutica como experimento, havendo o

consentimento da proprietária.

As sessões de auto-hemoterapia foram feitas uma vez a cada 7 (sete) dias em um

total de 8 aplicações, retirando 5 (cinco) ml de sangue da veia cefálica e injetando por via

intramuscular (Figura 4) (CESARINO et al 2009).

a)

b)

Figura 4: a) Retirada de 5 ml de sangue da via cefálica (Circulo azul), b) Injeção de 5 ml de sangue entre os

músculos semitendinoso e semimembranoso (Circulo rosa). Fonte: Arquivo pessoal

A melhora das lesões no cão 2, foi observada após a 4ª sessão de auto-

hemoterapia (Figura 5), onde as feridas apresentaram diminuição das crostas, diminuição

do prurido e início do crescimento dos pelos. De acordo com Leite (2008), a frequência

crescente da utilização da auto-hemoterapia comprova a eficácia do tratamento, apesar

de tal protocolo ser ainda utilizado de maneira experimental.

a) b)

Figura 5: a) Lesões antes do tratamento, b) Diminuição das lesões, crostas e crescimento de pêlo após a

quarta sessão de auto hemoterapia. Fonte: HOVET Unidesc.

O raspado de pele demonstrou-se negativo no cão 1 aos 30 dias e no cão 2 aos 28

dias, praticamente sem diferença significativa, fato que não negativa a infestação segundo

descrito por Bichard; Sherding (2003), uma vez que a demodicose canina não possui cura

e sim controle.

O hemograma realizado 60 dias após o inicio do tratamento do cão 1 demonstrou-

se dentro normal (Figura 6) e do cão 2 apresentou leucocitose (Figura 7), fato explicado

por Teixeira (1940) e Satin; Brito (2004) que justificam tal alteração como resposta

imunológica com estimulação eritrocitária e manutenção da homeostasia, uma vez que o

organismo responde elevando os níveis leucocitários.

a) b)

Figura 6: Resultado do hemograma (Cão 1) repetido após 60 dias de tratamento. Fonte: HOVET Unidesc.

Figura 7: Resultado do hemograma (Cão 2) repetido após 60 dias de tratamento. Animal apresentou

leucicitose, conforme esperado. Fonte: HOVET Unidesc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A demodicose canina é um grande desafio para a medicina veterinária pois apesar

de ser diagnosticada facilmente não possui cura e sim controle. Nos dois protocolos

utilizados, os animais apresentaram melhora considerável após 30 dias de tratamento,

porém o protocolo convencional mostrou-se superior a auto-hemoterapia; pois no referido

estudo, o animal tratado de maneira convencional as lesões praticamente desapareceram

após 4 semanas, enquanto na auto-hemoterapia, as lesões diminuíram. Vale ressaltar que

a auto-hemoterapia, apesar de mais dispendiosa, demanda de um tratamento mais fácil

para o proprietário; já o protocolo convencional é mais barato que o anterior, porém

depende da dedicação do proprietário para o sucesso do tratamento. De tal forma, a auto-

hemoterapia necessita de maiores estudos para comprovação de sua eficácia e o

tratamento convencional já está consolidado na prática da clinica veterinária.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus, por nos conceder a vida como um dom e estar conosco em

cada passo dado. À nossa família, que sempre nos apoiou direta ou indiretamente, sendo

nossa base e incentivo diário. Aos animais, simplesmente por serem como são, e por nos

inspirarem ao aprendizado.

À nossa orientadora Edilaine Sarlo Fernandes, por toda paciência, dedicação,

ensinamento e oportunidade que nos foi concedida.

Obrigado também ao HOVET – Hospital Escola Veterinário do Unidesc, que

abraçou nosso trabalho, e proporcionou momentos inesquecíveis de aprendizado.

Ao Centro Universitário de Desenvolvimento do Centro Oeste – UNIDESC pelo

apoio ao longo desses anos.

Por fim a todos que nos incentivaram e que acreditam no nosso sonho. Obrigado

por tornarem a caminhada mais leve e bonita.

REFERÊNCIAS

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