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Curso de Direito DIREITO AO ESQUECIMENTO x DIREITO À INFORMAÇÃO: SOB UMA ANÁLISE DA PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL DE DIREITO RIGHT TO FORGETFULNESS x RIGHT TO INFORMATION: UNDER AN ANALYSIS OF THE CONSTITUTIONAL PERSPECTIVE OF LAW Linketynei Souza de Freitas 1 , Adilson Souza Santos 2 1 Aluna do Curso de Direito 2 Aluno regular do Curso Intensivo Posgrado de Doutorado em Direito Constitucional Universidad de Buenos Aires, Mestre em Ciência Política – ênfase em Direitos Humanos, Cidadania e Violência, especialista em Direito Público, Especialista em Direito Penal e Especialista em Gestão de Sala de Aula em Nível Superior, Bacharel em Direito e Análise de Sistemas RESUMO A presente pesquisa tem como problema o seguinte questionamento: analisar até que ponto o Direito ao Esquecimento fere o Direito à informação? Para busca da solução, buscou-se como objetivo geral analisar até que ponto um fere o outro direito. No que tange aos objetivos específicos o presente estudo visa a esclarecer no contexto cibernético, o surgimento de um novo direito ainda não previsto expressamente na Constituição Federal de 1988, o chamado “direito ao esquecimento.”; Identificando os limites do direito ao esquecimento e o direito à informação no que tange ao prejuízo por parte dos sujeitos que tem seu direito à privacidade violado; e verificar se o direito à privacidade tem sido suficientemente protegido e se tem sido assegurado ao indivíduo o poder de escolher o que pode ou não ser divulgado e até quando. O fito deste estudo é buscar analisar o equilíbrio nas soluções para tais conflitos e perceber no estudo de caso, qual desses direitos irá prevalecer sobre o outro. No estudo de caso os resultados obtidos foram na conclusão de que quando não haja violação do direito da dignidade da pessoa humana tal informação poderá ser divulgada e o direito a informação irá prevalecer sobre o direito ao esquecimento. Quantos aos aspectos metodológicos, a presente pesquisa será bibliográfica, com a seguinte noção procurando informações em livros, artigos e demais trabalhos científicos (Severino, 2007, p. 70) e explicativa que segundo Lúcia da Silva e Estera Muszkat Menezes “visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o “porquê” das coisas.” (2005, p.21). Sobre a abordagem, utilizar-se-á a pesquisa qualitativa, que segundo Lakatos e Marconi (2008, p. 269): “a metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano”. Em relação aos objetivos, a pesquisa é descritiva visando descrever características de determinado fenômeno (Silva e Menezes, 2005, p.21), buscando aprimoramento de ideias, a partir de estudo de caso, conforme Yin (2001) o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo em abordagens específicas de coletas e análise de dados. Quando a divulgação de algumas informações gerarem prejuízo à honra, à privacidade, e a paz do indivíduo tais informações não deverão mais serem divulgadas. O fito deste estudo será analisar o equilíbrio nas soluções para tais conflitos e perceber no estudo de caso, qual desses direitos irá prevalecer sobre o outro. Palavras-Chave: Direito ao esquecimento; Direito à informação; Dignidade da pessoa humana; Privacidade; Direito à honra; Garantias Constitucionais. ABSTRACT The present research has as problem the following questioning: analyze up to which point the Right to For- getfulness damages the Right to Information. Concerning the specific objective the present study aims to clarify in the cybernetic context, the outbreak of a new right still not expressly expected in the Federal Consti- tution of 1988, the so called “right to forgetfulness”. Identifying the limits of the right to forgetfulness concern- ing the damage caused to those who have their right to privacy violated; and verify if the right to privacy has been protected enough and if it has been assured to the individual the power to choose what may and what may not be published and for how long. The objective of this study is searching to analyze the balance in the solutions to such conflicts and realize in the case study, which of these rights will prevail over the other. In the case study, the results obtained were in the conclusion that as long as there is no violation of the right to

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DIREITO AO ESQUECIMENTO x DIREITO À INFORMAÇÃO: SOB UMA ANÁLISE DA

PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL DE DIREITO

RIGHT TO FORGETFULNESS x RIGHT TO INFORMATION: UNDER AN ANALYSIS OF THE CONSTITUTIONAL PERSPECTIVE OF LAW

Linketynei Souza de Freitas1, Adilson Souza Santos2 1 Aluna do Curso de Direito 2 Aluno regular do Curso Intensivo Posgrado de Doutorado em Direito Constitucional Universidad de Buenos Aires, Mestre em Ciência Política – ênfase em Direitos Humanos, Cidadania e Violência, especialista em Direito Público, Especialista em Direito Penal e Especialista em Gestão de Sala de Aula em Nível Superior, Bacharel em Direito e Análise de Sistemas

RESUMO

A presente pesquisa tem como problema o seguinte questionamento: analisar até que ponto o Direito ao Esquecimento fere o Direito à informação? Para busca da solução, buscou-se como objetivo geral analisar até que ponto um fere o outro direito. No que tange aos objetivos específicos o presente estudo visa a esclarecer no contexto cibernético, o surgimento de um novo direito ainda não previsto expressamente na Constituição Federal de 1988, o chamado “direito ao esquecimento.”; Identificando os limites do direito ao esquecimento e o direito à informação no que tange ao prejuízo por parte dos sujeitos que tem seu direito à privacidade violado; e verificar se o direito à privacidade tem sido suficientemente protegido e se tem sido assegurado ao indivíduo o poder de escolher o que pode ou não ser divulgado e até quando. O fito deste estudo é buscar analisar o equilíbrio nas soluções para tais conflitos e perceber no estudo de caso, qual desses direitos irá prevalecer sobre o outro. No estudo de caso os resultados obtidos foram na conclusão de que quando não haja violação do direito da dignidade da pessoa humana tal informação poderá ser divulgada e o direito a informação irá prevalecer sobre o direito ao esquecimento. Quantos aos aspectos metodológicos, a presente pesquisa será bibliográfica, com a seguinte noção procurando informações em livros, artigos e demais trabalhos científicos (Severino, 2007, p. 70) e explicativa que segundo Lúcia da Silva e Estera Muszkat Menezes “visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o “porquê” das coisas.” (2005, p.21). Sobre a abordagem, utilizar-se-á a pesquisa qualitativa, que segundo Lakatos e Marconi (2008, p. 269): “a metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano”. Em relação aos objetivos, a pesquisa é descritiva visando descrever características de determinado fenômeno (Silva e Menezes, 2005, p.21), buscando aprimoramento de ideias, a partir de estudo de caso, conforme Yin (2001) o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo em abordagens específicas de coletas e análise de dados. Quando a divulgação de algumas informações gerarem prejuízo à honra, à privacidade, e a paz do indivíduo tais informações não deverão mais serem divulgadas. O fito deste estudo será analisar o equilíbrio nas soluções para tais conflitos e perceber no estudo de caso, qual desses direitos irá prevalecer sobre o outro. Palavras-Chave: Direito ao esquecimento; Direito à informação; Dignidade da pessoa humana; Privacidade; Direito à honra; Garantias Constitucionais. ABSTRACT

The present research has as problem the following questioning: analyze up to which point the Right to For-getfulness damages the Right to Information. Concerning the specific objective the present study aims to clarify in the cybernetic context, the outbreak of a new right still not expressly expected in the Federal Consti-tution of 1988, the so called “right to forgetfulness”. Identifying the limits of the right to forgetfulness concern-ing the damage caused to those who have their right to privacy violated; and verify if the right to privacy has been protected enough and if it has been assured to the individual the power to choose what may and what may not be published and for how long. The objective of this study is searching to analyze the balance in the solutions to such conflicts and realize in the case study, which of these rights will prevail over the other. In the case study, the results obtained were in the conclusion that as long as there is no violation of the right to

dignity of the human person such information may be released and the right to information will prevail over the right to forgetfulness.

Keywords: Right to forgetfulness. Right to information. Dignity of the human person. Privacy. Right to honor. Right to image. Constitutional Guarantees.

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa trata do direito ao esquecimento e ao direito à

informação. Primeiramente, é importante descrever do que se trata cada um

deles, eis que o primeiro caracteriza-se na possibilidade de impedir a

divulgação de informações, que mesmo sendo verdadeiras, causem prejuízo a

determinada pessoa, bem como o segundo trata-se de um direito fundamental,

inscrito na Constituição de 1988. Portanto, surge a seguinte problemática: Até

que ponto o Direito ao esquecimento irá prevalecer sobre o direito à

informação?

O assunto que será abordado, “Direito ao Esquecimento x Direito à

informação: Sob uma análise da Perspectiva Constitucional de Direito”, tem sua

origem no campo do Direito Constitucional, Direito Civil, estando também no

campo do Direito Penal. Tem como objetivo geral analisar até que ponto o

Direito ao Esquecimento fere o Direito à informação, estando ambos

assegurados pela Constituição Federal de 1988.

No que tange aos objetivos específicos o presente estudo visa a

esclarecer no contexto cibernético, o surgimento de um novo direito ainda não

previsto expressamente na Constituição Federal de 1988, o chamado “direito

ao esquecimento.”; Identificar os limites do direito ao esquecimento e o direito à

informação no que tange ao prejuízo por parte dos sujeitos que tem seu direito

à privacidade violado; e verificar se o direito à privacidade tem sido

suficientemente protegido e se tem sido assegurado ao indivíduo o poder de

escolher o que pode ou não ser divulgado e até quando.

Portanto, o fito deste estudo será analisar o equilíbrio nas soluções

para tais conflitos e perceber no estudo de caso, qual desses direitos irá

prevalecer sobre o outro.

Justifica-se o estudo do presente tema, eis que sem dúvida alguma, os

tempos atuais são outros, com o avanço da internet e da telecomunição a

sociedade começou a viver de outra forma e a se relacionar uns com os outros

de uma forma digital, o que modificou profundamente a vida das pessoas.

Esta forma como as mesmas levam a vida e como se relacionam entre

si, modificou consequentemente as instituições, possibilitando a conexão entre

as pessoas numa rede de informações, que na maioria das vezes, é quase

ilimitada, gerando de certa forma, benefícios e também prejuízos, dependendo

da informação que é divulgada.

Sob o aspecto da justificativa teórica, o foco deste estudo está no tema

que é de extrema relevância por já ter sido abordado na 6ª Jornada de Direito

Civil no enunciado 531, exemplo disso é que recentemente o STJ julgou dois

casos envolvendo o Direito ao Esquecimento, que foi um marco histórico para a

justiça brasileira.

Com isso, percebe-se que o tema vem ganhando repercussão no

Brasil, até podemos mencionar que os tribunais vem construindo uma

jurisprudência para a resolução destes conflitos. Vale ressaltar, que o tema

atualmente já possui repercussão geral, gerando desta forma um direito às

pessoas de serem esquecidas pela opinião pública, e os atos que praticaram

no passado não podem ecoar para sempre como se fossem punições eternas.

Muitos destes casos estão relacionados a fatos de pessoas que

cometeram algum delito no passado, foram alvos de holofotes, cumpriram a

pena imposta, estão em liberdade, porém em alguns casos estes fatos voltam

a ecoar na vida destas pessoas, impedindo que elas possam construir uma

nova perspectiva de vida.

Quantos aos aspectos metodológicos, a presente pesquisa será

bibliográfica, com a seguinte noção procurando informações em livros, artigos e

demais trabalhos científicos (Severino, 2007, p. 70) e explicativa que segundo

Lúcia da Silva e Estera Muszkat Menezes “visa identificar os fatores que

determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. aprofunda o

conhecimento da realidade porque explica a razão, o “porquê” das coisas.”

(2005, p.21). Sobre a abordagem, utilizar-se-á a pesquisa qualitativa, que

segundo Lakatos e Marconi (2008, p. 269): “a metodologia qualitativa

preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a

complexidade do comportamento humano”. Em relação aos objetivos, a

pesquisa é descritiva visando descrever características de determinado

fenômeno (Silva e Menezes, 2005, p.21), buscando aprimoramento de ideias, a

partir de estudo de caso, conforme Yin (2001) o estudo de caso é uma

estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo em

abordagens específicas de coletas e análise de dados.

1. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O DIREITO AO

ESQUECIMENTO

Primeiramente, é importante conceituar o Direito ao Esquecimento,

que caracteriza-se na possibilidade de impedir a divulgação de informações,

que mesmo sendo verdadeiras, causem prejuízos a determinada pessoa. Um

direito ainda não previsto expressamente na Constituição Federal de 1988,

porém vem sendo reconhecido em alguns casos quando provado que tal

divulgação pode trazer prejuízos a uma determinada pessoa.

Importante destacar também, no que consiste o Direito à informação,

que é um direito previsto na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º,

um direito fundamental, sendo que pode ser considerado como princípio básico

de controle social, por meio do qual o povo exerce sobre a administração

pública, monitorando ações de gestão pública.

Para embasar o referido estudo, buscar-se-á apoio nos artigos e

pesquisas de especialistas da área do Direito, bem como em dois julgados

recentes de tribunais superiores a respeito do tema. Buscando uma discussão

de ideias apartir da edição do Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil do

Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal.

Portanto, a partir da edição do Enunciado 531, o entendimento a

respeito do tema, vem sendo tratado como orientação doutrinária, ao qual

doutrinadores convocados, ao interpretarem o Código Civil, nesse caso,

incluíram o direito ao esquecimento como um direito de personalidade

(BRASIL, 2002).

Já há autores que abordam o tema, o qual se relaciona com o direito à

liberdade de expressão, direito à informação e direitos da personalidade.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, houve uma nova or-

dem constitucional, pautada no estado constitucional de Direito, pautado em

princípios fundamentais, como o Princípio da dignidade da pessoa humana.

Partindo deste pressuposto, o direito à informação constitui valor fun-

damental pois está ligado diretamente à liberdade de expressão, como dispõe

o artigo 5º, inciso XIV , da CF/88, desta forma, o direito de transmitir ou auferir

informação não pode ser restringido, exceto no que tange à matéria sigilosa,

porém, encontra-se um contraponto de que como os direitos fundamentais à

privacidade, à honra e à intimidade, estão garantidos expressamente no artigo

5º, inciso X, da CF/88, os indivíduos possuem o direito subjetivo público de evi-

tar que sua vida privada seja exposta, sendo assegurado a cada indivíduo direi-

to à honra, à privacidade e à intimidade, vedada qualquer forma de violação

destes direitos, inclusive a divulgação de informações.

No Sistema jurídico brasileiro, o direito ao esquecimento possui prote-

ção no âmbito do direito de personalidade. Mesmo não estando expresso na

Constituição Federal, ganhou notoriedade no julgamento, pelo Tribunal Consti-

tucional Alemão, do “caso Lebach”, que, quando da saída de um dos respon-

sáveis pelo crime, iria ao ar um documentário sobre o caso em uma emissora

da televisão alemã, sendo que, na análise do pedido para impedir que o docu-

mentário fosse ao ar, o Tribunal Constitucional alemão proibiu sua exibição,

levando em consideração que o fato já não era de interesse da sociedade, e

que geraria diversos prejuízos ao autor da ação, neste caso o princípio da pro-

teção da personalidade preponderou sobre a liberdade da informação.

O que não foi dado mesmo entendimento, no caso do RECURSO ES-

PECIAL Nº 1.335.153 - RJ (2011/0057428-0), que tratava da vinculação da his-

tória de Aída Curi que foi ao ar em um programa transmitido por uma transmis-

sora de TV brasileira. Os irmãos da falecida pleitearam indenização por danos

morais em decorrência da transmissão e vinculação da imagem de Aída Cury,

alegando que o programa fez os autores reviverem a dor do passado, por en-

tenderem que a exploração do caso pela emissora, depois de passados tantos

anos, foi ilícita, neste caso o direito à informação preponderou sobre o direito

ao esquecimento, posto que a argumentação do ministro foi no sentido de que

a vinculação de única imagem não constituiu um chamariz de audiência, nem

causou dano a dignidade à falecida e nem aos familiares.

No caso do RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.097 - RJ (2012/0144910-

7) o caso Chacina da Candelária, o autor pleiteou indenização por terem vincu-

lados seu nome na reportagem, alegou que o programa Linha Direta da TV

GLOBO o procurou antes que o programa fosse ao ar com intuito de entrevistá-

lo mas que não aceitou dar entrevista por que era um caso que havia ficado no

passado, que foi absolvido por negativa de autoria por unanimidade do conse-

lho de sentença. O episódio gerou prejuízos ao autor do recurso pois levou à

público fato já superado, reascendendo a revolta e o ódio da comunidade onde

reside, enfatizando a imagem de chacinador.

Neste último caso, o prejuízo causado ao autor foi sobremaneira que

violou seu direito à paz e a privacidade, prejudicou sua vida profissional por

não conseguir mais arrumar emprego, além de ter tido que desfazer de seus

bens e abandonar a comunidade onde vivia por medo dos “justiceiros” que a-

meaçaram ceifar sua vida e de seus familiares. A vinculação do nome e ima-

gem do autor foi ilícita, entendendo assim o STJ.

Desta forma, o autor requereu indenização por danos morais e pleiteou

o direito ao esquecimento, o entendimento do STJ foi na tese de que a vincula-

ção do caso em rede nacional trouxe diversos prejuízos ao direito à honra e à

privacidade do autor e que o mesmo tem o direito de não ter mais seu nome e

imagem vinculados ao acontecimento, se a pessoa deixou de ter notoriedade,

desaparecendo o interesse público em torno dela, merece ser deixada de lado,

como desejar.

Portanto, quando há um conflito aparente entre o direito à informação e

direito à privacidade e haja interesse à população em dar publicidade, o fato

será divulgado, desde que se preserve dados íntimos das pessoas envolvidas.

O Direito ao Esquecimento, foi discutido em dois recursos especiais

julgados pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, as decisões foram u-

nânimes, o que marca a primeira vez que o tema é discutido no Brasil.

Foram dois recursos ajuizados contra reportagens de uma transmisso-

ra de tv brasileira, sendo um promovido por um dos acusados que foi absolvi-

do, pelo episódio conhecido como a Chacina da Candelária e o outro pela famí-

lia de Aída Curi. Os casos foram à justiça porque os personagens da notícia, no

caso de Aída, os familiares, acharam que não tinha necessidade de resgatar

uma notícia que ocorreu no passado e já não fazia mais parte do conhecimento

da população.

A grande dificuldade de discussão deste direito, se encontra no fato de

que não se pode falar em regras ou em tese, dependendo muito do caso con-

creto, porém há que se dizer que ninguém é obrigado a conviver para sempre

com seu passado.

Um dos grandes argumentos, contra a aplicação do direito ao esque-

cimento a certos casos concretos, é a de que se um fato é lícito quando acon-

teceu, o passar do tempo não pode o tornar ilícito.

O Ministro Luiz Felipe Salomão explica, que o passar do tempo no Di-

reito permite a “estabilização do passado”, sendo ilícito sim, trazer à tona, fatos

que já estão sepultados.

No caso Aída Curi, o Ministro também reconheceu o direito ao esque-

cimento aos familiares, que sem dúvida alguma, a reportagem da TV GLOBO

trouxe à tona sentimentos de dor, angústia e revolta diante de um crime que

ocorreu há mais de 60 anos.

3. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

O direito ao esquecimento está totalmente ligado aos princípios e

garantias listados na Constituição Federal 1988, o primeiro deles, o princípio da

dignidade da pessoa humana está totalmente ligado à honra, à privacidade, e

consiste no valor supremo de ordem jurídica constitucional e infraconstitucional.

Como a Constituição Federal é norma suprema tanto o direito ao esquecimento

quanto o direito à informação estão no mesmo par de igualdade, não havendo

hierarquia entre estes dois direitos, abaixo iremos abordar alguns princípios de

interpretação constitucional.

3.1- Princípio da Supremacia da Constituição

Peña de Moraes (2013, p. 119) explica que este princípio denota que a

Constituição é um dispositivo jurídico de “normas jurídicas de máxima

hierarquia no Sistema de Direito Positivo” neste caso, no ordenamento jurídico

Brasileiro todas as outras normas de direito estão abaixo das normas

constitucionais.

Portanto, “a Constituição é suprema diante das outras espécies

normativas” (PEÑA DE MORAES, 2013, p. 120), e qualquer norma que afronte

a supremacia do texto constitucional pode ser considerada inválida, passando

por um processo rígido de controle de constitucionalidade, desta forma, tudo

que for considerado inconstitucional estará classificado como norma inválida.

3.2- Princípio da Unidade da Constituição

Designa que normas constitucionais, com natureza de princípio, que

são normas carregadas de valores, ou regras, concretizadoras de princípios

sendo passíveis de controle coercitivo, como são advindas da mesma ordem

constitucional, podemos concluir que não há hierarquia normativa entre os

princípios, visto que, são oriundos da mesma ordem constitucional.

Portanto, Peña de Moraes explica que antinomias aparentes entre

normas devem ser solucionadas de duas formas, a primeira diz que, como

provém de um mesmo sistema de Direito Positivo, seriam vigentes no mesmo

espaço e tempo, e a solução de tais conflitos aparentes seriam solucionados na

dimensão de peso, pela aplicação do critério de ponderação de valores que

estariam em jogo, ao passo que os conflitos entre regras seriam solucionados

na dimensão da validez, pela aplicação do critério hierárquico (PEÑA DE

MORAES, 2013, p.122).

3.3-Princípio da correção funcional

Este princípio exige que o juízo ou tribunal, ao proceder a

interpretação, deve garantir o equilíbrio entre os poderes do Estado assim

como delineado na Constituição, garantindo plenamente o respeito aos direitos

fundamentais. (PEÑA DE MORAES, 2013, p.123).

3.4. Princípio da interpretação conforme a Constituição

Dispõe que quando existir dúvida em relação à constitucionalidade de

uma norma jurídica plurissignificativa ou muitas interpretações é resolvida

mantendo-se a conservação do texto constitucional (PEÑA DE MORAES, 2013,

p.123) ou seja, interpretação rígida da Constituição.

4. HISTORICIDADE DO DIREITO AO ESQUECIMENTO E DIREITO À

INFORMAÇÃO

O direito ao esquecimento tem sua provável origem por volta do ano

1931, em que num julgamento pelo Tribunal de Justiça da Califórnia nos

Estados Unidos, ficou definido que uma ex-prostituta1 que havia constituído

1 No caso Melvin v. Reid decidido em 1931, por exemplo, uma dona de casa que trabalhava como prostituta e fora acusada de

homicídio, tornou-se protagonista de um longa metragem (“O kimono Vermelho”), sete anos após sua absorvição, este baseado em

família e abandonado os velhos costumes tinha direito ao esquecimento em

relação a fatos de seu passado, pois quando ainda era prostituta se viu

envolvida em um homicídio, caso este que foi esclarecido e a mesma foi

inocentada. (Tribunal Norte Americano do Estado da Califórnia, Caso Melvin vs.

Reid, 1931). (DOTTI, 1980).

O tempo passou, a ex-prostituta havia constituído família e levava uma

vida exemplar e digna, e justamente por conta disso, seu marido ingressou na

Corte pleiteando o direito de sua esposa ser esquecida por aqueles fatos, para

que a comunidade não viesse saber sobre tal acontecimento, até mesmo pelo

fato de que tudo já havia se esclarecido, o pedido foi fundamentado pois um

filme estava para ser publicado sobre tal acontecido, inclusive citando o nome

dela, a profissão que a mesma tinha na época, e seu envolvimento no crime.

Mesmo que no filme estava a ressalva de que ela havia sido inocentada,

causou grande dor e desconforto a ela e a sua família com a possibilidade da

publicação deste filme.

Sendo assim a Corte concedeu a ela o direito de ser esquecida, bem

como, declarou o esquecimento dos fatos, e desta forma o filme foi impedido

de ser divulgado.

Há diversas discussões a respeito do fato de que até que ponto o

direito ao esquecimento iria prejudicar a efetividade de exercer o direito à

informação. Toda sociedade tem sua história e todo indivíduo tem assegurado

o acesso à informação. Portanto, ao privar a possibilidade de publicação de

algum filme, ou livro etc, isso poderia estar violando ou privando o direito ao

acesso à informação.

Pedro Lenza (2013, p.1065) afirma que “é assegurado a todos o

acesso à informação, e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao

exercício profissional. Trata-se do direito de informar e de ser informado.”

A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 5º XXXIII dispõe acerca

do tema:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberda-

seu julgamento. Apesar de não ter havido a referência específica ao direito ao esquecimento, a Corte permitiu a açãocontra o cineas-

tra, nestes termos: “um dos maiores objetivos da sociedade hoje constituída, e da administração do nosso sistema penal, é a reabili-

tação daquele que falhou e a reformação do criminoso”. A corte considerou desnecessário o uso do nome verdadeiro desta inibindo

o seu direito de reabilitação.

de, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos se-guintes. (...)

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (BRASIL, 1988).

O Direito à Informação surge no mundo juntamente com o Estado

Democrático de Direito.

Vê-se que sob essa análise, o constitucionalismo surgiu como medida

de limitação ao poder estatal, eis que para a construção dos valores ligados ao

direito à informação que hoje é apresentado foi necessário uma discussão e

amadurecimento teórico ligados ao modelo democrático de direito.

Há várias correntes que divergem sobre quando surgiu pela primeira vez

um mecanismo que tinha por objetivo a limitação do poder do Estado. “grosso

modo, o constitucionalismo tem como origem formal as Constituições norte-

Americana de 1787 e a francesa de 1791” que teve como preâmbulo a

Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789,

movimento deflagrado durante o Iluminismo em contraposição ao Iluminismo

reinante. (Pedro Lenza, p. 60, 2013)

Por outro lado, segundo Pedro Lenza (2013, p. 59), parafraseando Karl

Loewenstein (Teoria de la constitución, p. 154) considera que a primeira

Constituição teria surgido ainda na sociedade hebraica, com a instituição da

“Lei de Deus” (Torah). O autor alemão aponta que, naquele Estado Teocrático,

a “Lei de Deus” limitava de alguma forma o poder dos governantes (chamados,

naquela época, de “Juízes”).

Pedro Lenza, (p. 59, 2013) explica que na antiguidade clássica, Karl

Loewenstein identificou, entre os hebreus, timidamente o surgimento do

constitucionalismo, estabelecendo-se no Estado teocrático limitações ao poder

político ao assegurar aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atos

governamentais que extrapolassem os limites bíblicos.

A doutrina tradicional, sendo ela a maioria dos autores, defende que as

primeiras vertigens do Constitucionalismo surgiu com o advento da Magna

Carta de 1215, assinada pelo rei João Sem-Terra (Inglaterra, 1215).

Documento este, que foi imposto ao Rei pelos barões feudais ingleses, que

estabelecia grande proteção a importantes direitos individuais, sendo um marco

para o Constitucionalismo. (LENZA, p. 59, 2013)

Dessa forma, a primeira Carta Magna Constitucionalista marcando desta

forma o Constitucionalismo durante a Idade Moderna seria o Bill of Rights

(Inglaterra, 1688/1689), que previa direitos para todos os cidadãos, e não

somente destinada a uma classe. (LENZA, p.59, 2013)

Por fim, para o Constitucionalismo moderno, dois são os marcos

históricos e formais do constitucionalismo: a Constituição norte-americana, de

1787 e a francesa de 1791. (Pedro Lenza, p. 60, 2013.)

Portanto, como pode-se ver há divergências quanto à origem dos

primeiros direitos e garantias individuais constitucionais, desta forma, a

conclusão é que desde as primeiras civilizações, já existiam mecanismos de

controle do poder Estatal.

5. O DIREITO À PRIVACIDADE E O PODER DE ESCOLHA

A privacidade, como direito, possui como regra geral que caracteriza-se

na possibilidade de constranger os outros a adentrar sua vida pessoal e da

violação do que lhe diz respeito, ou seja do que lhe é próprio, isto é, são

aquelas situações que lhe são vitais, e que por fazerem parte somente de sua

vida particular, o indivíduo tem a faculdade de manter somente para si tal

informação.

O objeto discutido é o bem protegido, que pode ser tanto um direito real,

algo físico, seja ele um imóvel por exemplo, ou um interesse que é caso dos

direitos pessoais. No direito à privacidade, o objeto é, principalmente a

proteção da integridade moral do sujeito.

O direito à privacidade encontra conteúdo no art. 12 da Declaração

Universal dos Direitos do Homem de 1948, conforme letra da lei: "Ninguém

sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu

domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação.

Contra tais intromissões ou ataques toda pessoa tem direito à proteção da lei".

Desta forma, é vedado qualquer abuso ou difusão de informações ou

ideias, que possam gerar responsabilidade civil à pessoa que divulgou tais

informações, que sejam consideradas abusivas e possam trazer algum prejuízo

a honra ou a moral do indivíduo.

Caso especial ocorre com os jornalistas e pessoas que escrevem

críticas na internet, os tribunais entendem que deve haver maior tolerância

nesses casos, em virtude da garantia expressa na Constituição Federal de

1988 sobre liberdade de imprensa, porém tudo depende da forma como foram

expressas tais informações, e em caso de abuso, tal conduta pode ser

configurada como crime.

De acordo com a Lei 12.965/2014, em seu artigo 3º, dispõe que um dos

princípios da disciplina do uso da internet, é a proteção da privacidade,

proteção de dados pessoais, tendo como objetivo a promoção do acesso à

informação, direito ao acesso da internet2 à todos, sendo uma das formas de

propagação de conhecimento.

Portanto, veja-se o Art. 7º da Lei 12.965/2014:

Art. 7o O acesso à internet é essencial ao exercício da cidada-nia, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas ar-mazenadas, salvo por ordem judicial;

Todas as vezes que alguém tiver sua vida privada e intimidade violadas,

terão direito à indenização pelo dano material e moral sofrido decorrente da

violação da privacidade.

É difícil identificar o que é adentrar a privacidade de um indivíduo, pois

cada um tem seus limites pessoais, e o que pode ser um abuso para um indiví-

duo pode não ser para outro, desta forma, privacidade é ter controle sobre as

informações existentes sobre si e exercer este controle de forma consistente

com seus interesses e valores pessoais.

O direito à privacidade juntamente com o direito à imagem, são direitos

individuais protegidos constitucionalmente pela legislação brasileira. Sua divul-

gação baseia-se na prevalência do interesse social, assim, levando ao enten-

dimento que o direito coletivo se sobrepõe ao direito individual. Se a pessoa é

pública/famosa, é livre a divulgação de sua imagem somente para fins de in-

2 Internet é uma rede mundial de computadores, cujo acesso se dá pelos meios eletrônicos, onde os usuá-

rios podem conectar-se a outros usuários. (NASCIMENTO, 2006).

formação, não sendo permitida para fins comerciais. Tais excludentes tornam a

utilização da imagem, mesmo que sem o consentimento do retratado em atos

lícitos.

Portanto, qualquer outro uso de imagem sem autorização do titular cons-

titui violação ao direito de imagem. Alguns doutrinadores pátrios classificam as

violações ao direito à imagem, quanto ao consentimento, quanto ao uso e por

fim quanto à ausência de finalidade que justifiquem à exceção, conforme for a

violação ao direito à imagem é imposta ao transgressor a obrigação de reparar

os danos eventuais sofridos que pode ser tanto restauração do equilíbrio patri-

monial quanto compensação do prejuízo moral.

Ou seja, existem alguns limites que devem ser observados, neste caso,

a divulgação/publicação deve se limitar aos acontecimentos a ele vinculados.

Reproduzir imagens captadas em local público, ou em eventos de interesse

coletivos, constituem-se em exceções, desde que a pessoa retratada, seja um

acessório do acontecimento. Existe ainda, a possibilidade de reproduzir a

imagem sem consentimento do retratado nos casos de segurança pública,

conforme já mencionado.

6. O CONTEXTO CIBERNÉTICO COMO NOVO DIREITO LIGADO À

INFORMAÇÃO

Com o surgimento do mundo virtual, houve uma grande mudança na

forma como as pessoas estão se relacionando nesse novo contexto social.

Desta forma, o ciberespaço e o Direito começaram a manter uma proximidade

de relações, como forma de coibir os excessos e abusos causados pela

rapidez e disseminação de dados na internet.

Desta forma, é necessário desenvolver formas legais capazes de coibir,

e identificar os criminosos, que usam a internet para se beneficarem e

cometerem crimes, que muitas vezes se escondem através de perfis falsos, os

mais conhecidos como fakes, mantendo sua identidade desconhecida, o que

dificulta desta forma, a punição destes indivíduos.

As normas jurídicas não podem permanecer estáteis frente ao novo

contexto cibernético e o grande desenvolvimento tecnológico, devendo

desenvolver formas e leis capazes de coibir e punir abusos, buscando uma

aplicação eficaz para proteção dos direitos individuais de forma geral.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º Inciso XXXIX,

evidencia a importância da tipificação expressa dos ilícitos penais: “Art. 5º

Inciso XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem

prévia cominação legal.”

Portanto, como preceitua o artigo acima, é de extrema importância o

princípio da Legalidade, pois não seria possível que o Estado punisse um

indivíduo por um ilícito que não esteja tipificado em lei anterior.

No mundo virtual as relações se dão de forma indireta, onde não se

sabe se a comunicação estabelecida foi intermediada através de dispositivos

eletrônicos ou diretamente por humanos, dificultando desta forma, a

identificação e punição do indivíduo que cometeu um ilícito penal ou abuso.

Com o avanço da internet e o desenvolvimento deste novo mundo surgiu

também no imaginário popular uma ideia equivocada de que uma das grandes

vantagens desse novo contexto digital era o anonimato, principalmente, para

aqueles indivíduos que agem com má-fé, e portanto, a falta de regulamentação

específica no Brasil, abre preceito para que os criminosos cibernéticos fiquem

impune, visto que, a legislação vigente não os alcança.

Desta forma, é necessário que o legislador constituinte derivado crie

uma legislação eficaz capaz de coibir, e identificar os sujeitos que afrontem o

conteúdo normativo específico, tipificando tais condutas tidas por ilicítas como

crime, com a aplicação da pena correspondente.

7. OS LIMITES DO DIREITO AO ESQUECIMENTO E DO DIREITO À

INFORMAÇÃO

Primeiramente, tanto o tema do direito ao esquecimento, quanto o

direito à informação estão ligados à princípios constitucionais de extrema

importância e relevância no Direito Brasileiro. Portanto, há de ser feita uma

análise bem detalhada sobre a aplicação de seus limites.

O direito ao esquecimento caracteriza-se na possibilidade de impedir a

divulgação de informações, que mesmo sendo verdadeiras, causem prejuízo a

determinada pessoa, e desta forma, confronta-se com o direito à informação,

ao qual todos tem direito de receber informações que são de seu interesse

particular, ambos garantidos na Constituição Federal de 1988. (Enunciado 531,

Artigo 11 da VI Jornada de Direito Civil do Centro de Estudos Judiciários do

Conselho da Justiça Federal)

A classificação dos fatos de interesse público em contraposição ao

direito ao esquecimento depende da ponderação dos princípios em cada caso

concreto, o que não quer dizer que a incidência de um suprima o outro.

(SCHREIBER, p. 36, 2008)

A ideia fincada no conflito entre direitos e bens constitucionalmente

protegidos tem sua ligação na base constitucional, cuja análise busca proteger

certos bens jurídicos como por exemplo o direito ao esquecimento e o direito à

informação, que possam vir a colidir-se. Assim, para tanto, busca-se a solução

para o conflito, através da compatibilização das normas constitucionais,

justamente para que a aplicabilidade tenha eficácia conforme a intenção do

legislador constituinte originário. (MORAES, p.14, 2008)

Conforme preceitua Robert Alexy tanto regras como princípios são

normas porque ambos dizem o que deve ser (2008, p.85). Desta forma,

existem diversos critérios para diferenciar regras de princípios, porém é

provável que o que seja utilizado com mais frequência é o da generalidade

(2008, p.87).

Ponderar é um modo de solução de qualquer conflito normativo

(SCHREIBER, p. 36, 2008), quando houver conflito entre dois ou mais direitos

ou garantias fundamentais, o intérprete deve utilizar-se do critério da

ponderação de forma a coordenar, evitando desta forma o sacrifício total de uns

em relação à outros, observando qual deles tem maior peso no caso concreto

(ALEXY, p. 95, 2008).

A ponderação de princípios tem seu âmbito de análise construído a

partir da separação de cada um dos princípios. Quando se separa cada um

deles, analisa-se individualmente o conteúdo ínsito a função nele

consubstanciada, para ao final empreender um exercício de ponderação. Ou

seja, verificar-se-á qual deles terá que se dar mais vazão em detrimento da

aplicação do outro. Neste caso ponderação significa dizer, quando há normas

de igual estrutura mesma hierarquia, cronologia e especialidade. (SCHREIBER,

p. 36, 2008)

O critério de harmonização entre normas deve ser feito caso a caso,

observando a natureza dos assuntos tratados, como por exemplo, os crimes

contra os direitos humanos, estes não deveriam ser esquecidos pela opinião

pública, pois pela gravidade que possuem, não tem condão de deixar o

indivíduo estigmatizado3 e sim manter tal fato, vivo na memória da sociedade

para que tais condutas não sejam repetidas.

Assim, toda premissa construída a partir da norma constitucional deve

desempenhar uma função útil no ordenamento jurídico, eis que sob o aspecto

interpretativo, deve-se buscar efetivar o princípio da dignidade da pessoa

humana inscrita como fundamento do Estado de Direito.

Portanto, o que deve ser feito é uma ponderação na aplicação dos

princípios explicitados acerca do direito ao esquecimento e ao direito à

informação, que neste caso deve buscar solução dos conflitos normativos que

envolvem valores, com fito de dar eficácia ao princípio da dignidade da pessoa

humana, observando os direitos da personalidade como honra, imagem e neste

caso, proteger a imagem do indivíduo para que não fique estigmatizado

eternamente.

8. ANÁLISE CONSTITUCIONAL SOBRE AS IMPLICAÇÕES DO

DIREITO AO ESQUECIMENTO E DO DIREITO À INFORMAÇÃO

Conforme explica Mario, A.R Midón, há uma área altamente sensível à

liberdade de imprensa, representada pela privacidade dos indivíduos. (Midón,

p. 352, 2013).

Atualmente, com o avanço da tecnologia, a sociedade também mudou

e consequentemente a forma como as pessoas vem interagindo umas com as

outras, desta forma há uma dificuldade por parte do Estado, na garantia de

efetividade dos direitos fundamentais, ora ou outra, conforme explica Simone

Schreiber, encontra conflitos normativos envolvendo valores em tensão,

insuperáveis pelas formas hermenêuticas tradicionais (p. 36, 2008).

Conforme o livro “A Constituição e o Supremo”, o ministro Cezar Peluso

discorre sobre o tema da análise constitucional acerca das implicações e

desafios na aplicação e garantia de efetividade dos direitos fundamentais:

Passados mais de vinte anos da promulgação da Constituição de 1988, a sociedade brasileira continua a enfrentar o permanente desafio de garantir a efetividade dos direitos fundamentais. A obra que o leitor tem neste

3Conceito de estigma: Erving Goffman foi o pioneiro em pensar o conceito de estigma numa perspectiva

social. Para Goffman, estigma é uma relação entre atributo e estereótipo, e tem sua origem ligada à cons-

trução social dos significados através da interação. (1891,ano, p. 06)

momento nas mãos – A Constituição e o Supremo – representa estímulo adicional à inafastável reflexão acerca da concretização e atualização da Constituição Cidadã. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal constitui um conjunto de decisões essenciais para a preservação das garantias expressas no texto constitucional. Além disso, a plena aplicação da Constituição tem o poder de apaziguar os conflitos sociais ao reforçar regras que possibilitam a adoção de soluções eficazes para demandas sociais cada vez mais complexas. (BRASIL, 2011)

Desta forma, desde a promulgação da Constituição de 1988, muita coisa

mudou, principalmente, com o avanço tecnológico. A propagação da

informação, alcançou vários setores. Por meio de suas decisões o Supremo

Tribunal Federal, vem exercendo um papel inigualável quanto a garantia da

democracia constitucional.

A maior dificuldade se encontra na forma como o STF vem lidando com

vários desafios ao ter que se deparar com conflitos envolvendo temas

referentes ao direito de garantia à intimidade e o direito à informação.

Neste sentido, o STF, no julgamento da ADPF 130 (ADPF 130, Rel. Min.

Ayres Britto, julgamento em 30-4-2009, Plenário, DJE de 6-11-2009.), afirmou

ser impossível “definir previamente o que pode ou não ser dito por indivíduos e

jornalistas”, porém, caso seja cometido algum excesso ou abuso, o indivíduo

pode sofrer consequências e responsabilizações pelo excesso cometido e ser

penalizado a pagar indenização ao ofendido.

Logo, não cabe ao Estado, por qualquer dos seus órgãos, definir previamente o que pode ou o que não pode ser dito por indivíduos e jornalistas. As matérias reflexamente de imprensa, suscetíveis, portanto, de conformação legislativa, são as indicadas pela própria Constituição (...). (Ministro Gilmar Mendes, A Constituição e o Supremo, p. 99, 2011).

Sem dúvida alguma, há uma necessidade da preservação da prática da

liberdade de informação, resguardando desta forma o direito de crítica

resguardado à imprensa, o que por consequência confere uma liberdade de

expressão emanada do próprio regime democrático de Direito Brasileiro.

O STF tem destacado, de modo singular, em seu magistério jurisprudencial, a necessidade de preservar -se a prática da liberdade de informação, resguardando -se, inclusive, o exercício do direito de crítica que dela emana, por tratar -se de prerrogativa essencial que se qualifica

como um dos suportes axiológicos que conferem legitimação material à própria concepção do regime democrático. (A Constituição e o Supremo, p.99, 2011).

Portanto, é importante haver uma ponderação na forma de garantir a

proteção aos direitos fundamentais de privacidade, honra e imagem para que o

princípio da livre manifestação de pensamento e ideias não seja suprimido,

bem como o direito à informação, pois o Estado - inclusive juízes e tribunais –

não possuem poder algum sobre a palavra e livre manifestação de ideias dos

indivíduos.

Arbitrária, desse modo, e inconciliável com a proteção constitucional da informação, a repressão à crítica jornalística, pois o Estado – inclusive seus juízes e tribunais – não dispõe de poder algum sobre a palavra, sobre as ideias e sobre as convicções manifestadas pelos profissionais da imprensa.” (AI 705.630‐AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 22-3-2011, Segunda Turma, DJE de 6-4-2011.) (A Constituição e o Supremo, p.101, 2011).

Por fim, as liberdades públicas, devem ser exercidas de forma

harmônica, observados os limites definidos na própria Constituição Federal de

1988. Desta forma, ao divulgar uma informação, seja ela via rádio, televisão ou

por meio de redes sociais e/ou internet de forma geral, devem se atentar ao

fato, de que qualquer informação que extrapole os limites e ofenda a

integridade moral de um indivíduo podem ser consideradas abusivas gerando

desta forma responsabilidades e penalizações, desde que tipificadas em lei,

em decorrência do excesso cometido.

9. ESTUDO DE CASO: AÍDA CURY E CHACINA DE CANDELÁRIA

O Direito ao Esquecimento, embora ainda não positivado na legislação

Brasileira, teve garantida sua aplicação, possibilidade de discussão e uso,

discutidas graças à 6ª Jornada de Direito Civil no enunciado 531, discussão

esta ligada à fatos pretéritos, acerca da forma e finalidade pelo qual são

tratados:

ENUNCIADO 531 – A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento. Artigo: 11 do Código Civil Justificativa: Os danos provocados pelas novas tecnologias de informação

vêm-se acumulando nos dias atuais. O direito ao esquecimento tem sua origem histórica no campo das condenações criminais. Surge como parcela importante do direito do ex-detento à ressocialização. Não atribui a ninguém o direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas apenas assegura a possibilidade de discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo e a finalidade com que são lembrados.

O direito ao esquecimento, vem sendo reconhecido em alguns casos

quando provado que tal divulgação pode trazer prejuízos a uma determinada

pessoa. No presente tópico, a pesquisa discutirá a respeito de dois casos,

recentemente julgados pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, ao qual

as decisões foram unânimes.

Desta forma, no caso do RECURSO ESPECIAL Nº 1.335.153 - RJ

(2011/0057428-0), que tratava da vinculação da história de Aída Curi que foi ao

ar em um programa transmitido por uma transmissora de TV brasileira. Os ir-

mãos da falecida Nelson Curi, Roberto Curi, Waldir Cury e Maurício Curi, ajui-

zaram ação de reparação de danos morais, materiais e à imagem em face da

transmissora de tv, em decorrência da transmissão e vinculação da imagem de

Aida Curi, vítima de homicídio no ano de 1958, crime que ficou nacionalmente

conhecido, pela forma que foi noticiado na época alegando que o programa fez

com que os autores revivessem a dor do passado, pelo fato do crime ter sido

esquecido com o passar dos anos. Os autores entenderam que a exploração

do caso pela emissora, depois de passados tantos anos, foi ilícita.( RECURSO

ESPECIAL Nº 1.335.153 - RJ (2011/0057428-0, p.01), o Juízo de Direito da 47ª

Vara Cível da Comarca da Capital/RJ julgou improcedentes os pedidos dos

autores (fls. 854-869), tendo a sentença sido mantida em grau de apelação.

“É inegável que o conflito aparente entre a liberdade de ex-pressão/informação, ora materializada na liberdade de impren-sa, e atributos individuais da pessoa humana - como intimida-de, privacidade e honra -, possui estatura constitucional (art. 5º, incisos IV, V, IX, X e XIV, arts. 220 e 221 da Constituição Fede-ral), não sendo raras as decisões apoiadas predominantemente no cotejo hermenêutico entre os valores constitucionais em confronto.” (RECURSO ESPECIAL Nº 1.335.153 - RJ (2011/0057428-0, p. 03)

Neste caso o direito à informação preponderou sobre o direito ao esque-

cimento, posto que a argumentação do ministro Luis Felipe Salomão foi no sen-

tido de que a vinculação de única imagem não constituiu um chamariz de audi-

ência, servindo como forma meramente informativa e que não causou dano à

dignidade à falecida e nem aos familiares.

“Na verdade, os próprios recorrentes afirmam que, durante to-da a matéria, o caso Aida Curi foi retratado mediante dramati-zações realizadas por atores contratados, tendo havido uma única exposição da imagem real da falecida. Tal circunstância reforça a conclusão de que – diferentemente de uma biografia não autorizada, em que se persegue a vida privada do retrata-do – o cerne do programa foi mesmo o crime em si, e não a ví-tima ou sua imagem. No caso, a imagem da vítima não consti-tuiu um chamariz de audiência, mostrando-se improvável que uma única fotografia ocasionaria um decréscimo ou acréscimo na receptividade da reconstituição pelo público expectador.” (RECURSO ESPECIAL Nº 1.335.153 - RJ (2011/0057428-0, p. 42)

No caso do RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.097 - RJ (2012/0144910-

7) o caso “Chacina da Candelária”, o autor ajuizou ação de reparação de danos

morais em face da transmissora de tv brasileira que veiculou a informação. In-

formou que foi indiciado como coautor/partícipe da sequência de homicídios

ocorridos em 23 de julho de 1993, na cidade do Rio de Janeiro, conhecidos

como "Chacina da Candelária", mas que, ao final, submetido a júri, foi absolvi-

do por negativa de autoria pela unanimidade dos membros do Conselho de

Sentença.

O autor pleiteou indenização por terem vinculados seu nome na repor-

tagem, alegou que a equipe de reportagem o procurou antes que o programa

fosse ao ar com intuito de entrevistá-lo, mas que não aceitou dar entrevista

pois não tinha interesse que sua imagem fosse veiculada em rede nacional.

Porém, em junho de 2006, foi ao ar o programa, tendo sido o autor apontado

como um dos envolvidos na chacina, mas que fora absolvido. O episódio gerou

graves prejuízos ao autor do recurso pois levou à público fato já superado, re-

ascendendo a revolta e o ódio da comunidade onde reside, enfatizando a ima-

gem de chacinador.

Neste último caso, o prejuízo causado ao autor foi sobremaneira de-

sastroso, eis que violou seu direito à paz, ao anonimato e à privacidade, preju-

dicou sua vida profissional por não conseguir mais arrumar emprego, além de

ter tido que desfazer de seus bens e abandonar a comunidade onde vivia por

medo dos “justiceiros” que ameaçaram ceifar sua vida e de seus familiares.(

RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.097 - RJ (2012/0144910-7, p. 01)

“O Juízo de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca da Capital/RJ, entendendo, de um lado, o interesse público da notícia acerca de "evento traumático da história nacional" e que repercutiu "de forma desastrosa na imagem do país junto à comunidade inter-nacional", e, de outro, o "direito ao anonimato e ao esqueci-mento" do autor, entendeu por bem mitigar o segundo, julgando improcedente o pedido indenizatório (fls. 130-137)”

Porém em grau de apelação a sentença foi reformada, porém opostos

embargos infringentes, também por maioria, foram rejeitados, opostos embar-

gos de declaração, foram eles rejeitados. Sobrevieram, assim, recursos espe-

cial e extraordinário.

Aduz, por outro lado, não ter havido nenhuma invasão à priva-cidade/intimidade do autor, porque os fatos noticiados já eram públicos e fartamente discutidos na sociedade, fazendo parte do acervo histórico do povo. Argumenta que se tratou de pro-grama jornalístico, sob forma de documentário, acerca de a-contecimento de relevante interesse público, tendo a emissora se limitado a narrar os fatos tais como ocorridos, sem dirigir nenhuma ofensa à pessoa do autor, ao contrário, deixando cla-ro que teria sido inocentado. Assim, mostrar-se-ia incabível o acolhimento de "um direito ao esquecimento ou o direito de ser deixado em paz", que sobrepujaria o direito de informar da re-corrente. .(RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.097 - RJ (2012/0144910-7, p. 04)

A vinculação do nome e imagem do autor foi ilícita, argumentando as-

sim o STJ, que a história seria bem contada sem que para isso fosse necessá-

ria a divulgação da imagem e o nome do autor fossem expostos em rede na-

cional.

“A despeito de a Chacina da Candelária ter se tornado – com muita razão – um fato histórico, que expôs as chagas do País ao mundo, tornando-se símbolo da precária proteção estatal conferida aos direitos humanos da criança e do adolescente em situação de risco, o certo é que a fatídica história seria bem contada e de forma fidedigna sem que para isso a imagem e o nome do autor precisassem ser expostos em rede nacional.” .(RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.097 - RJ (2012/0144910-7, p. 39)

Desta forma, o autor requereu indenização por danos morais e pleiteou

o direito ao esquecimento, o entendimento do STJ foi na tese de que a vincula-

ção do caso em rede nacional trouxe diversos prejuízos ao direito à honra e à

privacidade do autor e que o mesmo tem o direito de não ter mais seu nome e

imagem vinculados ao acontecimento, se a pessoa deixou de ter notoriedade,

desaparecendo o interesse público em torno dela, merece ser deixada de lado,

como desejar.

“No caso, permitir nova veiculação do fato com a indicação precisa do nome e imagem do autor, significaria a permissão de uma segunda ofensa à sua dignidade, só porque a primeira já ocorrera, porquanto, como bem reconheceu o acórdão recor-rido, além do crime em si, o inquérito policial consubstanciou uma reconhecida "vergonha" nacional”.(RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.097 - RJ (2012/0144910-7, p. 39)

Portanto, diante de um conflito aparente entre o direito à informação e

o direito ao esquecimento, deve prevalecer valores específicos caso a caso.

Conforme os casos discutidos acima, quando a divulgação de tal infor-

mação gerar prejuízo à honra, a moral, ao direito à paz, ao direito ao anonimato

e ao direito à privacidade de um indivíduo, tais informações não deverão mais

ser divulgadas.

No caso Aida Curi, o STJ entendeu que não violou o direito a dignidade

da falecida visto que sua imagem foi veiculada somente uma vez e a divulga-

ção em rede nacional teve intenção meramente informativa, não havendo lesão

de direito.

Porém, no caso Chacina da Candelária, o autor do Recurso Especial te-

ve garantia do direito de ser esquecido, o que foi um marco para o Direito Bra-

sileiro, pois neste caso, teve grave prejuízo em decorrência da divulgação de

tais informações, teve seu direito à paz, à moral, honra e a privacidade viola-

dos, além de ter que abandonar a residência ao qual morava em uma comuni-

dade e teve sua imagem desfigurada para “chacinador”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como resultado da pesquisa verificou-se o surgimento de um novo

direito ainda não previsto expressamente na Constituição Federal de 1988,

porém teve garantida sua aplicação, possibilidade de discussão e uso na VI

Jornada de Direito Civil no enunciado 531 do Centro de Estudos Judiciários do

Conselho da Justiça Federal.

No que tange aos limites e prejuízos por parte dos sujeitos que tem seu

direito à privacidade violado, encontra-se no fato de que o direito à informação

irá prevalecer sobre o direito ao esquecimento, quando a divulgação de tal

informação não gerar danos a alguns direitos fundamentais do indivíduo, como

a proteção da honra, moral e privacidade.

No que tange à problemática pesquisada como resposta a ela verificou-

se que quando a divulgação de algumas informações gerarem prejuízo à

honra, à privacidade, e a paz do indivíduo tais informações não deverão mais

serem divulgadas, portanto, cada situação deverá ser bem analisada

detalhadamente, para que um direito não suprima o outro.

Quanto ao direito à privacidade, no mundo em que se vive atualmente,

é difícil dizer que um indivíduo tem seu direito à privacidade plenamente

garantido, pois a disseminação de dados e informações através da internet é

muito rápida.

Quanto a proteção à privacidade, dizem respeito à aquelas situações

que lhe são vitais, e que por fazerem parte somente de sua vida particular, o

indivíduo tem a faculdade de manter somente para si tal informação. Porém,

quando divulgadas algumas informações que possam trazer prejuízos a

determinada pessoa, o divulgador poderá suportar alguns prejuízos e pagar

algum tipo de indenização pelo abuso cometido, pois o objeto principal do

direito à privacidade é a proteção à honra e intimidade do indivíduo.

Ou seja, existem alguns limites quanto a proteção à privacidade que

devem ser observados, neste caso, a divulgação/publicação deve se limitar aos

acontecimentos a ele vinculados. A divulgação de imagem deve-se limitar à

intenção estrita de divulgação de informação e não uma divulgação difamatória,

que possa ferir a integridade moral do indivíduo.

No estudo de caso, os resultados obtidos foram na conclusão de que

quando não haja violação de direito da dignidade da pessoa humana tal

informação poderá ser divulgada, desde que haja uma harmonização para que

nenhum abuso seja cometido como foi o caso do julgamento proferido pelo

STJ, relacionado ao caso Aída Curi, pois como a imagem da falecida foi

divulgada somente uma vez em um programa de televisão brasileira, não gerou

danos nem à família e nem à memória da mesma. Neste caso, o direito à

informação prevaleceu sobre o direito ao esquecimento.

Já no caso do Recurso Especial Chacina da Candelária a interpretação

do STJ foi diferente, pois como a divulgação do nome do autor trouxe diversos

prejuízos a sua privacidade e honra, cujo direito ao esquecimento foi

reconhecido a ele. Desta forma, o direito ao esquecimento prevaleceu sobre o

direito à informação.

Assim, conseguiu-se atingir os objetivos propostos na pesquisa, eis que

foram a partir de uma perspectiva constitucional de Direito, a partir dos estudos

de caso percebeu-se que o direito ao esquecimento irá prevalecer sobre o

direito à informação quando a divulgação da informação gerar prejuízo à

pessoa que tiver seu direito à privacidade, direito à honra, direito à imagem

violados.

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