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Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas COMPARAÇÃO ANALÍTICA E PRÁTICA DA TEMPERATURA MÁXIMA ATINGIDA EM UM DISCO DE FREIO NO REGIME DE FRENAGEM CONTÍNUA. Carlos André de Paula Medeiros Itatiba – São Paulo – Brasil Junho de 2009

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Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas

COMPARAÇÃO ANALÍTICA E PRÁTICA DA TEMPERATURA

MÁXIMA ATINGIDA EM UM DISCO DE FREIO NO REGIME

DE FRENAGEM CONTÍNUA.

Carlos André de Paula Medeiros

Itatiba – São Paulo – Brasil

Junho de 2009

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Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas

COMPARAÇÃO ANALÍTICA E PRÁTICA DA TEMPERATURA

MÁXIMA ATINGIDA EM UM DISCO DE FREIO NO REGIME

DE FRENAGEM CONTÍNUA.

Carlos André de Paula Medeiros

Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas da Universidade São Francisco, sob a orientação do Prof. Dr. Eduardo Balster Martins, como exigência parcial para conclusão do curso de graduação. Orientador : Prof. Dr. Eduardo Balster Martins

Itatiba – São Paulo – Brasil

Junho de 2009

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COMPARAÇÃO ANALÍTICA E PRÁTICA DA TEMPERATURA

MÁXIMA ATINGIDA EM UM DISCO DE FREIO NO REGIME

DE FRENAGEM CONTÍNUA.

Carlos André de Paula Medeiros

Monografia defendida e aprovada em 13 de junho de 2009 pela Banca

Examinadora assim constituída:

Prof. Dr. Eduardo Balster Martins (Orientador)

USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP.

Prof. Ms. Paulo Eduardo Silveira

USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP.

Prof. Dr. Guilherme Bezzon

USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP.

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Toda ciência nada mais é que o refinamento de

pensamentos cotidianos.

(Albert Einsten)

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v

A meus pais João Soares de Medeiros e Maria

Lúcia, sem os quais não chegaria até aqui.

A minha namorada Priscila, que com seu amor,

paciência e apoio, me deram forças para acreditar

em meu potencial.

A meus amigos que sempre confiaram em mim e

me proporcionaram momentos de alegrias,

descontração e companheirismo todos estes

anos.

Sou eternamente grato a todos.

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.Agradecimentos

Agradeço primeiramente ao Professor Eduardo Baslter, meu orientador, que acreditou em

mim e incentivou-me para a conclusão deste trabalho, face aos inúmeros percalços do trajeto.

Alguns experimentos e vários “entendimentos” não teriam sido possíveis sem a colaboração

da empresa Vulkan-Sime.

Eu agradeço fraternalmente a todos.

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Sumário

Nomenclatura ......................................................................................................................... viii

Lista de Figuras ........................................................................................................................ x

Lista de Tabelas ....................................................................................................................... xi

Resumo .................................................................................................................................... xii

Abstract .................................................................................................................................. xiii

1 Introdução ........................................................................................................................ 14

1.1 Objetivos ..................................................................................................................... 15 1.2 Justificativas ................................................................................................................ 15

2 Revisão bibliográfica ....................................................................................................... 16 2.1 Definição de freio ........................................................................................................ 16

2.1.1 Freios de cinta ou fita ........................................................................................... 17 2.1.2 Freios de tambor ou cinta ..................................................................................... 18 2.1.3 Freio a disco ......................................................................................................... 19

2.2 Conseqüências do aquecimento causado pela frenagem ............................................. 19

2.2.1 Redução do coeficiente de atrito .......................................................................... 19 2.2.2 Distorções de forma ondulada em discos ............................................................. 20

2.2.3 Instabilidade termoelástica ................................................................................... 20 2.3 Vantagens do freio a disco .......................................................................................... 21 2.4 Força de frenagem e coeficiente de atrito cinético ...................................................... 21

2.5 Torque de frenagem .................................................................................................... 22 2.6 Potência de frenagem .................................................................................................. 22 2.7 Escoamento e convecção em discos rotativos ............................................................. 23

3 Materiais e métodos ........................................................................................................ 26 3.1 Descrição da Bancada de testes SIME ........................................................................ 26 3.2 Relato dos ensaios ....................................................................................................... 30 3.3 Modelamento térmico do freio .................................................................................... 30 3.4 Determinação do coeficiente convectivo médio ......................................................... 32

4 Resultados e discussão ..................................................................................................... 36 4.1 Resultados experimentais ............................................................................................ 36 4.2 Resultados do modelamento........................................................................................ 38 4.3 Discussão ..................................................................................................................... 39

5 conclusão ........................................................................................................................... 40

Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 41

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Nomenclatura

Letras Latinas

a Constante para o regime de escoamento laminar

DA Área total de troca térmica do disco m²

b Constante para o regime de escoamento de transição

c Constante para o regime de escoamento turbulento

pc Calor específico do disco J/kg.K

dW Trabalho de eixo J

D Diâmetro do disco m

DE Energia armazenada no disco J

eE& Taxa de entrada de energia no volume de controle W

gE& Taxa de energia térmica gerada dentro do volume de controle W

sE& Taxa de energia que sai do volume de controle W

kf Força de atrito cinético N

NF Força normal a superfície do disco N

h Coeficiente convectivo local W/m².K

h Coeficiente convectivo médio W/m².K

k Condutividade térmica do ar W/m.K

pL Largura da pastilha de freio m

Nu Número de Nusselt

fP Potência de frenagem W

Pot Potência motriz W

r Distância ao centro para um raio qualquer sobre o disco m

0r Raio do disco m

1r Raio onde ocorre o regime de escoamento laminar m

2r Raio onde ocorre o regime de escoamento de transição m

0q Taxa de transferência de calor W

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convq Taxa de transferência por convecção W

radq Taxa de transferência por radiação W

R Raio real do disco de freio m

Re Número de Reynolds

1Re Máximo valor do número de Reynolds para o regime laminar

2Re Máximo valor do número de Reynolds para de transição

T Temperatura da superfície do disco em regime permanente K

0T Temperatura K

ambT Temperatura ambiente K

FT Torque de frenagem Nm

xV Componente da velocidade na direção x m/s

Letras gregas

ω Velocidade angular rad/s

kµ Coeficiente de atrito cinético

ν Viscosidade do ar m²/s

τ Torque Nm

δ Espessura da camada limite m

ρ Densidade do ar kg/m³

ε Emissividade do superfície do disco

σ Constante de Stefan-Boltzmann J/m².K

Siglas

CLP Controlador Lógico Programável

CPU Central Processing Unit

USB Universal Serial Bus

VC Volume de controle

RP Regime permanente

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Lista de Figuras

FIGURA 2-1 – FREIO DE CINTA OU FITA (CORTESIA DA SIME DO BRASIL) ..................................... 17

FIGURA 2-2 – FREIO DE SAPATAS COM ATUAÇÃO INTERNA (CORTESIA DA SIME DO BRASIL) ....... 18

FIGURA 2-3 – FREIO DE SAPATAS COM ATUAÇÃO EXTERNA (CORTESIA DA SIME DO BRASIL) ...... 18

FIGURA 2-4 – FREIO A DISCO POR ATUAÇÃO PNEUMÁTICA (CORTESIA DA SIME DO BRASIL) ....... 19

FIGURA 2-5 – ONDULAÇÕES CAUSADAS POR TENSÕES TÉRMICAS .............................................. 20

FIGURA 2-6 – PERFIL DE VELOCIDADE E CAMADA LIMITE PARA UM DISCO GIRANDO NO AR. ..... 24

FIGURA 3-1 – BANCADA DE TESTES SIME .................................................................................. 26

FIGURA 3-2 – FREIO MODELO 790P ........................................................................................... 27

FIGURA 3-3 – PAINEL DE AJUSTE DA VELOCIDADE DA BANCADA - INVERSOR DE FREQÜÊNCIA .. 28

FIGURA 3-4 – TERMÔMETRO FLUKE .......................................................................................... 28

FIGURA 3-5 – SENSOR DE TEMPERATURA .................................................................................. 28

FIGURA 3-6 – SOFTWARE DE AQUISIÇÃO DE DADOS RSLOGIX 500 ........................................... 29

FIGURA 3-7 – REGIÕES DE ESCOAMENTO EM UM DISCO GIRANDO NO AR. .................................. 33

FIGURA 4-1 – TESTE 1 - VELOCIDADE 15RAD/S .......................................................................... 37

FIGURA 4-2 – TESTE 6 - VELOCIDADE 53,4RAD/S ....................................................................... 37

FIGURA 4-3 – COMPARAÇÃO DOS VALORES DE TEMPERATURA .................................................. 39

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Lista de Tabelas

TABELA 3-1 – CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO FREIO 790P (CORTESIA DA SIME DO BRASIL)..... 27

TABELA 4-1 – RESULTADOS OBTIDOS PARA OS SEIS ENSAIOS NA BANCADA .............................. 36

TABELA 4-2 – RESULTADOS CALCULADOS PARA OS SEIS CASOS ................................................ 38

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Resumo

Esta monografia teve como objetivo obter experimentalmente os valores de temperatura

atingida na superfície de um disco, no regime permanente, provocado pelo atrito das pastilhas

do freio contra o disco. Os ensaios foram realizados levando-se em conta valores de

velocidades diferentes para o mesmo torque de frenagem. Foi feito um modelamento analítico

para obter a temperatura para cada ensaio. Os valores de temperatura medidos nos ensaios

foram comparados com os valores obtidos no modelamento analítico.

PALAVRAS-CHAVE: Disco girante, freio, convecção, radiação

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Abstract

This monograph aimed to obtain experimentally the values of surface temperature of a disc in

the steady state regime, caused by the friction of the brake pads against the disc brake. The

tests were performed taking into account values of different speeds for the same braking

torque. Was made an analytical model for the temperature for each test. The values of

temperature measured in the tests were compared with values obtained in the analytical

model.

KEY WORDS: Rotating discs, brake, convection, radiation

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1 INTRODUÇÃO

Há décadas a indústria tem se deparado com necessidades que a levaram ao

desenvolvimento de soluções práticas e satisfatórias. A mediada que surgem novas

descobertas estas trazem novas necessidades direcionadas ao conforto, segurança e avanço

tecnológico. Com a modernização do setor de movimentação e transporte, nas mais variadas

formas, é possível deslocar cargas cada vez maiores, mais pesadas e mais rapidamente. No

entanto é necessário um dispositivo para parar estas cargas, tal dispositivo é conhecido como

freio.

O freio mais usado na indústria, para a movimentação de cargas, é o freio de atrito a disco

ou simplesmente freio a disco.

Normalmente quando membros rotantes de uma máquina e massas em translação são

forçados a parar pela ação de um freio, a energia cinética total da máquina deve ser absorvida

pelo sistema de freio. Tal energia é dissipada em calor.

Nos freios de atrito o torque de frenagem depende do coeficiente de fricção do material

das pastilhas e de uma pressão específica, ou seja, a força de aplicação sobre a área do

material da pastilha. Contudo, a capacidade de frenagem de um freio de atrito é limitada por

dois fatores: as características do material de fricção e a facilidade de dissipar a energia

térmica.

Estudos demonstram que a temperatura influencia no sentido de reduzir o coeficiente de

fricção e isso ocorre de duas formas: simplesmente atuando sobre a propriedade ou

modificando a estrutura do material de fricção fazendo com que esta fique mais dura e lisa. A

segunda forma, também conhecida como vitrificação, é bem mais significativa, é a principal

responsável por caminhões e ônibus perderem os freios em descidas longas, pois a energia

térmica gerada proporciona uma temperatura acima da especificada para o material de fricção

e, conseqüentemente, a perda da força de frenagem.

A capacidade de dissipação térmica dos sistemas de freios a disco tem de ser planejada

para evitar que temperaturas de disco e pastilhas de freio, acima das permitidas,

comprometam a performance do conjunto.

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1.1 Objetivos

Elaborar um estudo que permita calcular, satisfatoriamente, a temperatura máxima em um

disco de freio, a fim de evitar temperaturas acima da especificada para um determinado

projeto.

1.2 Justificativas

Sistemas de frenagem operando acima da temperatura especificada para o projeto podem

apresentar perda da capacidade de frenagem em função da redução do coeficiente de fricção.

Os freios são tidos como equipamentos de segurança que devem apresentar total

confiabilidade cabendo ao engenheiro realizar a análise térmica do conjunto e evitar colocar

em risco a integridade física das pessoas que estão nos arredores do equipamento.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Definição de freio

Os freios são dispositivos utilizados para travar, parar ou retardar o movimento de

qualquer mecanismo, veículo ou máquina. Com eles se converte a energia cinética ou

potencial em energia térmica que é transferida na forma de calor para o meio externo.

Segundo LIMPERT (1992), os freios devem ser dimensionados atendendo a geração de

energia térmica, duração das guarnições, segurança do serviço, fator de freio e desaceleração

admissível desejada do regime de trabalho. O disco e tambor de frenagem são partes

responsáveis pela dissipação da energia térmica gerada durante a frenagem, e têm papel

preponderante no desempenho do freio.

LIMPERT (1992) define como sendo fator de freio a razão entre a força de frenagem

produzida no contato entre lonas e tambor ou pastilhas e disco e a força aplicada para

comprimir as lonas contra o tambor ou as pastilhas contra o disco, respectivamente.

Existem várias alternativas em termos do tipo de dispositivo a ser usado para frear um

equipamento. A forma de aplicação das superfícies de atrito pode separar os freios em freios

de contração e de expansão.

Os principais freios são classificados como:

Freios de cinta ou fita;

Freios de tambor ou polia e

Freios a disco.

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2.1.1 Freios de cinta ou fita

Os freios de cinta ou fita (figura 2-1) são apresentados com detalhes por RÓDITCHEV

apud WIDMER (1987). A frenagem por contração ocorre quando uma das superfícies de

atrito entra em contato com a polia rotativa, solidária ao eixo em movimento, produzindo a

frenagem por atrito. Este tipo de freio é usado em veículos ferroviários e em alguns veículos e

máquinas agrícolas.

Figura 2-1 – Freio de cinta ou fita (Cortesia da Sime do Brasil)

O freio de cinta apresenta limitações de atuação tais como torque de frenagem, tempo de

resposta e durabilidade das guarnições. (SIME, 2008)

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2.1.2 Freios de tambor ou polia

O freio de polia é constituído, basicamente, por um tambor solidário ao eixo de

acionamento em rotação, que é freado pela aplicação radial de lonas em sua superfície interna

(figura 2-2) ou externa. Geralmente o freio a tambor, com atuação interna, é utilizado em

automóveis e instalado para cada roda já o freio a tambor com atuação externa (figura 2-3) é

utilizado amplamente na indústria.

Figura 2-2 – Freio de sapatas com atuação interna (Cortesia da Sime do Brasil)

Figura 2-3 – Freio de sapatas com atuação externa (Cortesia da Sime do Brasil)

Na construção do freio de polia são usadas, em geral, duas sapatas com várias

possibilidades de arranjo. Sobre as sapatas são fixadas as lonas por diversas maneiras

(coladas, rebitadas ou refil).

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As vantagens do uso de duas sapatas são o aproveitamento da maior parte da superfície

do tambor para frear e o equilíbrio dos esforços nos apoios, o que permite o uso de mancais

menores. Nos freios a tambor podem ocorrer variações no fator de freio, devido à mudança no

coeficiente de atrito entre a lona e o tambor ocasionados pelo aumento de temperatura da

polia (LIMPERT, 1992).

2.1.3 Freios a disco

Os freios a disco são constituídos, basicamente, de um disco solidário com o eixo de

acionamento em rotação, que é freado pela aplicação axial de pastilhas em sua superfície

lateral (figura 2-4). Atualmente os freios a disco estão substituindo os freios a tambor em

diversas aplicações. Os automóveis mais modernos possuem freio a disco nas quatro rodas, de

ambos os eixos, os caminhões leves já utilizam freio a disco no eixo dianteiro e nos

caminhões pesados ainda predomina o uso do freio a tambor, mas no futuro poderão ser

equipados com freio a disco.

Figura 2-4 – Freio a disco por atuação pneumática (Cortesia da Sime do Brasil)

2.2 Conseqüências do aquecimento causado pela frena gem

2.2.1 Redução do coeficiente de atrito

Segundo LIMPERT (1992), um fator limitante do desempenho do freio é a

temperatura das faces que se atritam. Isto porque o coeficiente de atrito entre elas decresce

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com o aumento da temperatura, diminuindo conseqüentemente o fator de freio e o torque de

frenagem. Além disto, um aumento exagerado da temperatura diminui a resistência à abrasão

das pastilhas e lonas, diminuindo com isto sua vida útil. Podemos dizer então que no projeto

dos freios os limites de temperatura dos materiais que se atritam devem ser observados.

2.2.2 Distorções de forma ondulada em discos

O aquecimento causado pela frenagem nos discos faz com que ocorram distorções de

forma ondulada, causadas pelas tensões térmicas não compensadas provocadas pela dilatação

do material do disco (Harstock e Fash, 2000) conforme a figura 2-5.

Figura 2-5 – Ondulações causadas por tensões térmicas

Essas ondulações produzem regiões mais elevadas nas faces laterais de atrito do disco,

aumentando localmente a pressão de contato entre pastilhas e o disco, e concentrando a

geração e condução de calor nessa região mais elevada, levando ao incremento da temperatura

localizada, dando origem aos denominados "pontos quentes". Vale observar que, no caso do

disco sólido, ocorre simetricamente a este elevado um "vale" na face oposta, agravando o

fenômeno. Essas diferenças de temperaturas e dilatações podem levar ao aparecimento de

trincas térmicas, que podem progredir levando à falha total do disco.

2.2.3 Instabilidade termoelástica

Barbear (1969) demonstrou em seu trabalho, que o aparecimento de pontos quentes nas

pastilhas de freios era devido à ausência de um perfeito contato entre as superfícies de atrito.

Isso levava à concentração da pressão nesses pontos, concentrando a geração de energia

térmica por atrito nessas regiões e à conseqüente dilatação localizada. Durante o trabalho,

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esses pontos quentes se desgastavam e o contato se deslocava para outra região de pontos

altos, repetindo o mecanismo de pressão de contato alta, aquecimento, dilatação, desgaste

excessivo e perturbações sonoras.

2.3 Vantagens do freio a disco

Vantagens do freio a disco segundo LIMPERT (1992) apud WIDMER:

• Maior facilidade de ventilação que os freios de polia,

• Suportam temperaturas maiores,

• O fator de freio e, portanto, o torque de frenagem é pouco afetado pelo coeficiente de

atrito entre pastilha e disco,

• A variação das dimensões do disco com a temperatura (dilatação térmica) provoca

alterações na folga entre pastilha e disco bem inferior que as alterações na folga entre

lona e polia,

• Possibilidade de discos especiais, como por exemplo, disco autoventilados. (SIME,

2008)

No futuro, a tendência de utilizar freios a disco não é somente devido a apresentar menor

custo de manutenção (KARCZEWSKI, 1992), mas também ao melhor desempenho de

dissipação térmica em relação ao freio a tambor.

2.4 Força de frenagem e coeficiente de atrito cinét ico

Quando empurra-se um corpo, com uma força considerável sobre uma superfície ocorre

um escorregamento. No escorregamento, ligações entre as moléculas formam-se e rompem-se

continuamente, e pequeninos fragmentos das superfícies são arrancados. O efeito destes

complexos fenômenos chama-se atrito cinético ou atrito de escorregamento fk, que se opõe ao

movimento. No intuito de manter o escorregamento a velocidade constante, é necessário

aplicar sobre o corpo uma força de módulo igual ao da força de atrito cinético, porém de

direção contrária (TIPLER, 2000).

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No estudo em questão o força de atrito cinético kf é dada por:

Nkk Ff µ2= Equação 2-1

Onde NF é a força normal à superfície de atrito e kµ é o coeficiente de atrito cinético,

grandeza adimensional que depende da natureza das superfícies em contato.

2.5 Torque de frenagem

O torque de frenagem é proporcional ao produto da força de atrito cinético do freio pelo

raio médio do disco de frenagem conforme equação 2-2 (SIME, 2008)

−=

2P

kF

LDfT Equação 2-2

Onde: fT é o torque de frenagem, D é o diâmetro do disco e PL é a largura da pastilha do

freio;

2.6 Potência de frenagem

As forças não-conservativas estão sempre presentes nos problemas de mecânica, sendo

mais comuns as forças de atrito, que contribuem para diminuir a energia mecânica. Esta

diminuição, porém, é igual ao aumento da energia térmica gerada pela força de atrito cinético

(TIPLER, 2000).

Para manter o escorregamento a velocidade constante, é necessário aplicar sobre o corpo

uma força de módulo igual ao da força de atrito cinético, porém de direção contrária

(TIPLER, 2000).

O freio a disco é um freio de atrito que dissipa a energia mecânica em calor. A

intensidade desse calor depende do intervalo de tempo em que ocorre a dissipação da energia

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mecânica e no caso de frenagem contínua, onde a velocidade é constante e há trabalho de eixo

constante, podemos dizer que o trabalho do torque τ quando o eixo gira varrendo pequeno

ângulo θd é (TIPLER, 2000):

θτddW = Equação 2-3

A taxa temporal do trabalho efetuado pelo torque é a potência:

dt

d

dt

dWPot

θτ== ou τω=Pot Equação 2-4

Ajustando a equação 2-4 adota-se que potência Pot será chamada de potência de frenagem fP

e o torque τ será chamado de torque de frenagem TF, então a equação fica:

ωFf TP = Equação 2-5

Onde ω é a velocidade angular do disco.

2.7 Escoamento e convecção em discos rotativos

O conhecimento dos processos de transferência de calor é de suma importância para a

análise térmica da transmissão de calor de um disco de freio para os eixos, volantes, rotores

de motores e turbinas, entre outros componentes rotativos de diversas máquinas.

Segundo KREITH (1956), o escoamento junto ao disco é induzido pela resistência de

atrito e pelas forças centrífugas associadas que tendem a expulsar o ar radialmente para fora.

Os perfis de velocidade e da camada limite do escoamento são ilustrados na figura 2-6. A

camada limite formada sobre o disco é laminar e de espessura uniforme, para números de

Reynolds rotacionais:

52

105,2 xr <

νω

Equação 2-6

Onde r é o raio local e ν é a viscosidade do ar.

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A convecção natural pura, semelhante àquela para uma placa aquecida estacionária,

torna-se desprezível para números de Reynolds > 3 x 104. Para números de Reynolds maiores,

o calor transferido do disco para o ar é removido na borda pela componente radial de

velocidade como energia armazenada no fluido, neste caso o ar.

Figura 2-6 – Perfil de velocidade e camada limite para um disco girando no ar (KREITH).

A transmissão total de calor do disco para o ar pode ser expressa por:

[ ]dyyTcyVrrq px∫=δ

ρππ0

02

00 )()(2 Equação 2-7

Onde 0q é a quantidade de calor, 0r é o raio do disco, XV é componente da velocidade na

direção x, pc é o calor específico do ar, ρ é a densidade do ar, T é a temperatura e δ é a

espessura da camada limite.

Para um disco girando envolto por ar, para Re<2,6x105, WAGNER (1948) calculou a integral

da equação para o regime laminar e encontrou:

2

12

==

νωr

ak

hrNu Equação 2-8

Onde h é o coeficiente de convecção local e k é a condutividade térmica do ar.

A dependência do número de Nusselt em relação ao número de Reynolds também pode ser

representada por:

ReaNu = Equação 2-9

Onde a é uma constante igual a 0,335 para Prandtl igual a 0,74.

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O valor do número de Nusselt local para o escoamento em transição, entre

55 102,3Re106,2 ×<<× , é aproximadamente (Cardone, Astarita e Carlomagno, 1993):

8,214 Re1001,8 −×=Nu Equação 2-10

KREITH (1956) também cita que no regime de escoamento turbulento de um disco girando

no ar, o valor local do número de Nusselt no raio é dado por aproximadamente:

8,02

0195,0

==

νωr

k

hrNu Equação 2-11

Cobb e Saunders (1956), através de testes utilizando um disco nas velocidades de 30 a

2500rpm, apresentaram um trabalho experimental sobre o coeficiente médio de transferência

de calor submetido aos escoamentos laminar, em transição e turbulento. Em seu estudo o

menor número de Reynolds obtido no disco foi de 105. Os seus dados mostraram uma

dependência entre o número de Nusselt e o número de Reynolds com um expoente que parece

menor que 0,5. E, eles afirmaram que, no regime laminar, os resultados experimentais

encaixam na equação 2-9, sendo a constante a igual a 0,36. Além disso, para o menor número

de Reynolds, seus resultados encontrados foram muito maiores do que aqueles previstos

utilizando a equação 2-9. Isto se deve à influencia da convecção natural ao redor do disco que

deve ser levada em consideração para rotações baixas em seus testes. Cobb e Saunders

identificaram o início da transição para o fluxo turbulento a partir do número de Reynolds

aproximadamente igual a 2,4 x 105. Ainda em seu estudo eles apresentaram a seguinte

equação que relaciona o número de Nusselt e o número de Reynolds para o regime turbulento:

8,0Re0193,0=Nu Equação 2-12

Segundo Cobb e Saunders a equação acima foi obtida pela analogia clássica de Reynolds e

pelos dados do coeficiente do momento de fricção fornecidos por Theodorsen e Regier

(1944).

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26

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Para os ensaios experimentais, foi utilizada a Bancada de testes SIME (figura 3-1) em

conjunto com um sistema de aquisição de dados.

Foram efetuados testes de frenagem contínua, variando apenas a velocidade do disco e

mantendo a força de frenagem constante.

3.1 Descrição da Bancada de testes SIME

A bancada de testes de frenagem SIME (figura 3-1) é composta de um eixo horizontal

sobre o qual está montado um volante de inércia, cujo valor do momento de inércia é de

50,5kg.m2. Numa extremidade está fixado um disco de freio de 705mm de diâmetro,

momento de inércia de 5,92kg.m2, fabricado em aço 1045 sobre o qual atuam as pastilhas do

freio pneumático.

Este eixo é acionado por um motor elétrico de corrente alternada com as seguintes

características: potência de 15cv, 880rpm, 60Hz e através de uma redução por polias com

relações de transmissão 1:2.

Figura 3-1 – Bancada de testes SIME

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27

O freio utilizado é do tipo pneumático, modelo 790P (Figura 3-2).

Este tipo de freio é normal aberto, ou seja, a frenagem é feita por emissão pneumática, e a

desfrenagem por alívio de pressão e molas de retorno.

O freio 790P acionado com a pressão ajustada em 5bar e com um disco de 705mm de

diâmetro resultará em um torque de frenagem de 79Nm. Detalhes sobre este freio são

apresentados na tabela 3-1.

Figura 3-2 – Freio modelo 790P

Tabela 3-1 – Características técnicas do freio 790P (Cortesia da SIME do Brasil)

Diâmetro do cilindro 32 mm Área do cilindro 8,04 cm² Quantidade de pistões 2 Pressão de trabalho 5 bar Coeficiente atrito 0,33 Rendimento pistão 0,9 Relação de alavanca dos braços 1,00 Diâmetro externo do disco 705 mm Largura das pastilhas 34 mm Esforço frenagem 234 N Torque frenagem 79 Nm

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A mudança da velocidade do motor foi feita através de um inversor de freqüência da

marca TOSHIBA (Figura 3-3).

Figura 3-3 – Painel de ajuste da velocidade da bancada - inversor de freqüência

A temperatura ambiente (nos arredores da bancada) foi medida com um termômetro

digital FLUKE 62 mini (Figura 3-4).

Figura 3-4 – Termômetro Fluke

A temperatura no disco foi medida através de um sensor de temperatura infravermelho,

marca RAYTEK (figura 3-5).

Figura 3-5 – Sensor de temperatura

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O sensor mede a temperatura do disco a cada segundo, e disponibiliza um sinal analógico

de tensão, em sua saída, de 0 a 5V. A figura 3-6 mostra a resolução ótica do sensor.

Figura 3-6 – Resolução ótica do sensor de temperatura (Cortesia da Raytek)

A temperatura foi monitorada no disco até que a mesma não variasse em função do

tempo, ou seja, atingisse o regime permanente (RP).

O sinal analógico de tensão, enviado pelo sensor de temperatura foi coletado, via USB,

pelo software de aquisição de dados RSLogix 500 (Figura 3-6) em conjunto com o CLP

Rockwell Micrologix 1200 CPU, série C sendo o cartão de entrada analógica de tensão.

Figura 3-7 – Software de Aquisição de dados RSLogix 500

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30

3.2 Relato dos ensaios

Foram realizados, na bancada SIME, seis ensaios para seis velocidades diferentes

mantendo a mesma força de frenagem conforme parâmetros abaixo:

1 – O torque do freio foi regulado para 79Nm e mantido para todas as velocidades;

2 – As velocidades variaram de 15 a 53,4rad/s, o que implicou em potência de frenagem

variando de 1.242W a 4.219W;

3 – A temperatura lida no disco foi plotada em um gráfico de temperatura x tempo;

4 – A temperatura ambiente (aos arredores da bancada) foi medida com o termômetro

digital.

O sensor de temperatura foi posicionado a 280mm de distância do centro do disco e a

40mm de distância da superfície do disco.

3.3 Modelamento térmico do freio

O aumento de temperatura no disco inicia-se quando as pastilhas entram em contato com

o mesmo, dissipando toda a energia mecânica do sistema em energia térmica. Quando a taxa

de geração de energia térmica for igual à taxa de transferência de calor para as vizinhanças

tem-se a condição de regime permanente, quando não há mais aumento de temperatura.

Um balanço de energia em um volume de controle (VC) que inclui somente o disco dá:

dt

dEEEE D

sge =−+ &&& Equação 3-1

Onde: eE& é taxa de entrada de energia no VC, gE& é a taxa de geração de energia térmica

dentro do VC e sE& é a taxa de saída de energia térmica do VC; o termo do segundo membro é

a taxa de variação da energia térmica armazenada no disco. No regime permanente este termo

é nulo (Incropera, 1996).

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Não há entrada de energia no disco (eE& = 0). A taxa de geração de energia térmica

corresponde à potência de frenagem provocada pelo atrito das pastilhas do freio contra o disco

que é dada pela equação 2-5. Considerou-se que a saída de energia se dá por transferência de

calor por convecção e por radiação para as vizinhanças. Assim, para o disco em regime

permanente, a equação 3-1 fica:

radconvf qqP += Equação 3-2

convq é a taxa de transferência de calor por convecção dada por:

( )ambDconv TTAhq −= Equação 3-3

Onde h é o coeficiente convectivo médio sobre a superfície do disco, DA é a área de troca

térmica da superfície do disco, T é a temperatura da superfície do disco e ambT é a temperatura

ambiente.

radq é a taxa de transferência de calor por radiação dada por:

( )44ambDrad TTAq −= εσ Equação 3-4

Ondeε é a emissividade do disco e σ é a constante de Stefan-Boltzmann.

Substituindo convq e radq na equação 3-2 teremos:

( ) ( )44ambDambDf TTATTAhP −+−= εσ Equação 3-5

No regime permanente a temperatura máxima atingida pelo disco pode ser obtida resolvendo

a equação 3-5, que pode ser arranjada na forma abaixo:

044 =−+−+ fambDambDDD PTAhTATAhTA εσεσ Equação 3-6

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Contudo, para a resolução da equação 3-6 é necessário primeiramente determinar o

coeficiente convectivo médio, __

h .

3.4 Determinação do coeficiente convectivo médio

Para a determinação do coeficiente convectivo médio foram adotadas as seguintes

correlações para o número de Nusselt local para os três regimes de escoamento (Cardone,

Astarita e Carlomagno, 1993):

→ Para o regime laminar ( )5106,2Re ×<

2

1

ReaNu = Equação 3-7a

Onde 35,0=a

→ Para o regime de transição ( )55 102,3Re106,2 ×<<×

8,2RebNu = Equação 3-7b

Onde 141001,8 −×=b

→ Para o regime turbulento ( )5102,3Re ×>

8,0RecNu = Equação 3-7c

Onde 0163,0=c

Nestas equações 3-7 o numero de Reynolds (Re) é um valor local definido por:

νω 2

Rer= Equação 3-8

r é a distância ao centro para um ponto qualquer sobre o disco

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e Nusselt (Nu) é um valor local dado por:

k

hrNu = Equação 3-9

hé o coeficiente convectivo local para este ponto.

O escoamento sobre o disco, dependendo do valor do número de Reynolds (Re) na

periferia do disco, pode ser totalmente laminar, parte laminar e parte de transição, ou os três

regimes, laminar, de transição e turbulento podem estar presentes.

O escoamento laminar ocorrerá até uma distância do centro igual a:

ων1

1

Re=r Equação 3-8

Onde 51 106,2Re ×= , o máximo valor do número de Reynolds para o regime laminar.

O escoamento de transferência de calor ocorrerá na região do disco tal que 21 rrr << onde:

ων2

2

Re=r Equação 3-9

Sendo 52 102,3Re ×= , o máximo valor do número de Reynolds para o regime de transição.

Figura 3-8 – Regiões de escoamento em um disco girando no ar.

δTurbulento δLaminar

Transição

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O escoamento turbulento ocorrerá na região do disco tal que 2rr > .

A taxa de transferência de calor por convecção de todo o disco é dada por:

( ) rrdTThqRr

r ambconv ∫=

=−=

02π Equação 3-10

Considerando um coeficiente convectivo médio h , esta taxa também pode ser calculada por:

( )ambDconv TTAhq −= Equação 3-11

Comparando as equações 3-10 e 3-11 tem-se, após algumas manipulações algébricas:

drhrR

hRr

r∫=

=

=0

2

2 Equação 3-12

Os valores de h local na equação 3-14 podem ser obtidos a partir das correlações das

equações 3-7.

→ Para o regime laminar ( )1ReRe<

2

1

=νω

akh Equação 3-13a

→ Para o regime de transição ( )21 ReReRe <<

6,48,2

rbkh

=νω

Equação 3-15b

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35

→ Para o regime turbulento ( )2ReRe>

6,08,0

rckh

=νω

Equação 3-15c

Introduzindo as equações 3-15 na equação 3-14 e realizando-se a integração tem-se:

→ Para o escoamento laminar sobre todo o disco

= 22

1

2 2

2R

ak

Rh

νω

Equação 3-16

→ Para o escoamento parte laminar e parte de transição:

( )

+

= 6,61

6,68,2

21

2

1

2 6,62

2rR

bkr

ak

Rh

νω

νω

Equação 3-17

→ Para os casos em que os três regimes de escoamentos estão presentes:

( ) ( )

+−

+

= 6,22

6,28,0

6,61

6,62

8,22

1

2

1

2 6,26,62

2rR

ckrr

bkr

ak

Rh

νω

νω

νω

Equação 3-18

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Resultados experimentais

Na tabela 4-1 são apresentados os valores levantados nos ensaios realizados na bancada de

testes SIME.

Tabela 4-1 – Resultados obtidos para os seis ensaios na bancada

Ensaio ω [rad/s]

Pf [W]

Re Tamb

[⁰C] T

[⁰C] T – Tamb

[⁰C] h

[W/m².⁰C] 1 15,0 1.183 9,35x104 20 120 100 8,28 2 22,7 1.797 1,32x105 25 136 111 14,18 3 30,3 2.391 1,67x105 25 156 131 14,00 4 38,6 3.049 2,05x105 21 173 152 15,66 5 45,8 3.615 2,29x105 28 162 134 24,32

6 53,4 4.219 2,72x105 21 178 157 23,78

Onde

fP foi obtida da equação 2-5

ωFf TP = Equação 2-5

Re foi obtido da equação 3-8

νω 2

Rer= Equação 3-8

h foi obtido da equação 3-3.

( )ambDconv TTAhq −= Equação 3-3

Na equação 3-3 a taxa de transferência de calor por convecção é igual à potência gerada

menos a taxa de transferência de calor por radiação.

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Foram levantados gráficos da evolução da temperatura ao longo dos ensaios até o regime

permanente. Para cada ensaio eles foram obtidos pelo sensor de temperatura e pelo CLP. A

seguir são apresentados os gráficos para o ensaio 1 e ensaio 6, onde o tempo tem 15 minutos

por divisão.

Figura 4-1 – Teste 1 - velocidade 15rad/s

Figura 4-2 – Teste 6 - velocidade 53,4rad/s

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4.2 Resultados do modelamento

Foram calculados os valores h para as condições dos seis ensaios utilizando as equações:

→ Para o escoamento laminar

= 22

1

2 2

2R

ak

Rh

νω

Equação 3-16

→ Para o escoamento parte laminar e parte de transição:

( )

+

= 6,61

6,68,2

21

2

1

2 6,62

2rR

bkr

ak

Rh

νω

νω

Equação 3-17

→ Para os casos que os três regimes de escoamentos estão presentes:

( ) ( )

+−

+

= 6,22

6,28,0

6,61

6,62

8,22

1

2

1

2 6,26,62

2rR

ckrr

bkr

ak

Rh

νω

νω

νω

Equação 3-18

O valor de h foi introduzido na equação 3-6 que foi resolvida para cada ensaio usando uma

calculadora HP50g e obtido o valor de T para cada caso.

044 =−+−+ fambDambDDD PTAhTATAhTA εσεσ Equação 3-6

Na tabela 4-2 são apresentados os valores obtidos analiticamente.

Tabela 4-2 – Resultados calculados para os seis casos

Ensaio ω

[rad/s] Pf

[W] Re Tamb

[ºC] T

[ºC] T – Tamb

[ºC] h

[W/m².ºC] 1 15,0 1.183 9,35x104 20 114 94 8,88 2 22,7 1.797 1,32x105 25 148 123 10,94 3 30,3 2.391 1,67x105 25 159 134 12,62 4 38,6 3.049 2,05x105 21 171 150 15,21 5 45,8 3.615 2,29x105 28 195 167 15,54

6 53,4 4.219 2,72x105 21 218 157 14,39

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4.3 Discussão

Os valores obtidos na bancada de testes foram comparados com os valores obtidos do

modelamento conforme apresentado no gráfico 4-3

Figura 4-3 – Comparação dos valores de temperatura

O número de Reynolds na borda do disco para os quatro primeiros ensaios é inferior a

2,6x105. Para essa faixa o regime de escoamento sobre um disco girante é laminar. Os

números de Reynolds na borda do disco para os dois últimos ensaios estão na faixa de 2,6x105

e 3,26x105 e nessa faixa o escoamento é de transição.

Observa-se que os resultados experimentais e os do modelamento apresentam boa

concordância na faixa de Reynolds correspondente ao regime laminar.

Para os dois últimos casos os resultados do modelamento são superiores aos resultados

medidos em 33°C e 40°C respectivamente. Estes dois casos correspondem a números de

Reynolds para os quais ocorre o regime de escoamento de transição em parte do disco. Uma

explicação para o desvio dos resultados calculados é que o escoamento no disco real tenha-se

tornado turbulento, esta hipótese é plausível visto que o aparato, no local onde está instalado,

esta sujeito a muitas perturbações externas. Contudo o modelo mostra-se satisfatório para a

avaliação da temperatura máxima no regime permanente, visto que nos casos que os valores

calculados afastam-se dos valores experimentais o fazem a favor da segurança.

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5 CONCLUSÃO

Foi desenvolvido um modelo matemático baseado em resultados obtidos da literatura a

despeito da transferência de calor em discos girantes.

Os ensaios foram realizados numa bancada de testes e os resultados do modelamento

concordaram com os experimentais na faixa de número de Reynolds para qual se espera um

escoamento laminar no disco.

Para os casos em que o número de Reynolds encontra-se na faixa de escoamento de

transição o modelo superestimou a temperatura do disco no regime permanente. É possível

que isto tenha ocorrido por uma instabilização do escoamento.

Devido à limitação do aparato experimental, não foi possível ensaiar o freio com

velocidades que correspondessem a valores de número de Reynolds no regime turbulento.

Sugere-se que como trabalho futuro estender os ensaios para velocidades mais altas que

resultem em número de Reynolds na faixa do regime de escoamento turbulento para verificar

o comportamento do modelo neste regime, pois é possível que o modelo tenha se descolado

do real apenas na faixa de escoamento de transição.

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Referências Bibliográficas

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