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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E
GESTÃO DO SUAS
MODULO 3
M3 D2: GESTÃO FINANCEIRA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
PROFESSOR AUTOR: FERNANDO BRANDÃO
PROFESSOR TELEPRESENCIAL: FERNANDO BRANDÃO
COORDENADOR DE CONTEÚDO: MARCELO GARCIA
DIRETORA PEDAGÓGICA: MARIA UMBELINA C. SALGADO
MAIO DE 2012
2
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA “GESTÃO FINANCEIRA DA
ASSISTÊNCIA SOCIAL”
Caro aluno, cara aluna,
Na aula do dia 09 de Maio, vamos iniciar os estudos da disciplina
“Gestão Financeira da Assistência Social”. Este texto tem a finalidade de
propiciar uma avaliação do papel desempenhado pelo financiamento na
estruturação da política de assistência social, bem como avaliar o progresso e
os desafios que hoje se apresentam.
Na Parte I, vamos resgatar os conceitos básicos utilizados no
planejamento e na execução do orçamento público, também iremos abordar os
conceitos utilizados pela contabilidade na classificação das despesas. Estes
conceitos serão relevantes à compreensão, avaliação e análise da constituição
e evolução do financiamento público à política de assistência social.
Na Parte II, focalizaremos o modo como o processo de reestruturação
da política de assistência social, a partir do ano de 2005, altera a sistemática
de financiamento federal. Também, abordaremos as diretrizes da PNAS/2004
para a organização na nova lógica para o financiamento.
Na parte III, faremos o dimensionamento do gasto público com a política
de assistência social, analisaremos os avanços e principalmente, os desafios e
acertos de rumos que já se fazem necessários.
Saiba Mais!
O financiamento da política de assistência social é responsabilidade
compartilhada pelos entes federados, conforme estabelece a Constituição
Federal e a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei 8.742/93). Esta
responsabilidade compartilhada é denominada – “Cofinanciamento”.
Constituição Federal, Art. 204 – As ações governamentais na área de assistência social
serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no Art. 195, além
de outras fontes (...)
Lei 8.742/93 – Art. 28 – O financiamento dos benéficos, serviços, programas e projetos
estabelecidos nesta lei far-se-á com os recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, das demais contribuições sociais previstas no art. 195 da Constituição
Federal, além daqueles que compõem o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS);
(...) § 3º - O financiamento da assistência social no Suas, deve ser efetuado mediante
cofinanciamento dos 3 (três) entes federados, devendo os recursos alocados nos fundos de
assistência social ser voltados à organização, prestação, aprimoramento e viabilização dos
serviços, programas e projetos e benefícios desta política – (Incluído pela Lei 12.435 de 2011)
3
METODOLOGIA TELEPRESENCIAL
Como nas demais disciplinas, são fundamentais para sua aprendizagem,
a leitura cuidadosa do Guia de Estudo e o estudo dos textos complementares
de leitura obrigatória indicados para o Estudo Individual Orientado (EIO).
Aulas telepresenciais
A proposta da metodologia telepresencial é que você acompanhe as
aulas por meio dos slides que, posteriormente, são disponibilizados no Espaço
do aluno. É importante que participe das aulas e apresente Suas dúvidas para
que o professor possa ajudá-lo (a) a situar-se melhor e a desenvolver bem o
Estudo Individual Orientado.
Estudo Individual Orientado
O Guia de Estudo orienta seu trabalho individual a distância,
apresentando uma síntese da aula telepresencial, de modo a permitir-lhe
refletir, com mais tranquilidade, sobre os temas tratados e apropriar-se deles
para sua prática.
Textos Complementares de Leitura Obrigatória
Os textos complementares de leitura obrigatória visam ao
enriquecimento ou à exemplificação/contextualização do tema tratado em cada
aula. Para cada parte do Guia de Estudo você tem a indicação de um texto
complementar, cuja leitura é indispensável e deve preceder a resposta da Lista
de Exercícios correspondente.
Listas de Exercícios
As Listas de Exercícios constituem um elemento de avaliação formativa,
isto é, ao mesmo tempo em que permitem caracterizar seu desempenho na
disciplina, oferecem grande oportunidade de estudo e de apropriação da
temática de cada aula.
É importante resolver os exercícios com atenção e não deixá-los para a
última hora. Você terá sempre três semanas para completar cada lista. Confira
o dia de entrega cada uma no fim deste tópico, no quadro Calendário
Atualizado da Disciplina. Caso haja algum imprevisto que resulte em atraso na
postagem de uma lista, a data de entrega será prorrogada por tempo igual.
4
Fórum
O Fórum constitui um espaço de interação e debate. Ao longo de cada
Módulo serão postados ao menos quatro tópicos e você deve escrever um
comentário para cada um deles. Portanto, serão necessários quatro
comentários para que você obtenha a pontuação mínima de 70% do total dos
40 pontos correspondentes ao Fórum, em cada módulo. Esses 40 pontos são
distribuídos igualmente pelas quatro disciplinas, ou seja, 10 pontos para cada
uma.
Calendário Atualizado da Disciplina
Datas Aulas Tele
Guia de
Estudo Textos Complementares de Leitura Obrigatória
No Lista
Exercícios Data
Postagem Data Final
23 de maio de
2012
20h30 às
22h30
Parte I
MINISTÉIRO DO ORÇAMENTO, PLANEJAMENTO E GESTÃO, Secretaria do de Orçamento Federal. Manual técnico de orçamento MTO, Versão 2012. Brasília, 2011.
https://www.portalsof.planejamento.gov.br/bib/MTO/MTO_2012.pdf
BOSCHETTI, Ivanete e OLIVEIRA, Sandra. Imprecisão conceitual e pulverização dos recursos federais na Função Assistência Social, Revista Ser Social, no. 12 – UNB – Universidade de Brasília, 2002.
seer.bce.unb.br/index.php/SER_Social/article/download/279/108
18 24 de
Maio de 2012
05 de Junho
de 2012
06 de Junho
de 2012 20h30
às 22h30
Parte II, III
MDS, Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação; Secretaria Nacional de Assistência Social - Caderno SUAS V: financiamento da assistência social no Brasil.- Brasília, DF:, 2011. http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/secretaria-nacional-de-assistencia-social-snas/cadernos/cadernos-suas-financiamento-da-assistencia-social-no-brasil/cadernos-suas-financiamento-da-assistencia-social-no-brasil
IPEA, Texto para discussão 1724 – Cofinanciamento e responsabilidade federativa na política de assistência social – Brasil, DF. 2012
http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/TD_1724.pdf
19 05 de
Junho de 2012
03 de Julho
de 2012
Prova: 12 de Setembro de 2012
OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
Os objetivos específicos norteiam o resultado desejado, indicando os
aspectos que os coordenadores do curso e o professor da disciplina
consideram mais relevantes para sua formação como Especialista em Gestão
5
do Suas. Leia cada um deles atentamente e verifique, ao longo das aulas e do
EIO, se você está apresentando o desempenho esperado. Desse modo, você
poderá monitorar seu próprio progresso nos estudos.
Ao concluir o estudo desta disciplina, esperamos que você demonstre
capacidade para:
1. Conhecer os conceitos básicos aplicados ao planejamento e
execução do orçamento público;
2. Conhecer o processo de planejamento público PPA – Plano
Plurianual, LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias e LOA - Lei de
Orçamento;
3. Explicar os princípios e diretrizes do Suas no financiamento dos
benefícios, serviços, programas e projetos socioassistenciais;
4. Descrever a classificação utilizada pelo Suas para orientar o
fortalecimento da política pública por meio do financiamento – os
Pisos;
5. Explicar as normas legais aplicáveis ao financiamento público da
política de assistência social;
6. Conhecer a evolução do financiamento público à política de
assistência social;
7. Analisar os avanços obtidos no campo do financiamento da
política de assistência social e apontar os limites a serem
superados, tendo por referência as diretrizes e princípios da
política de assistência social.
CONTEÚDO
Ementa da disciplina
Breve Histórico do Orçamento Público. Gestão Orçamentária e
Financeira: princípios orçamentários; objetivos da política orçamentária.
Orçamento Programa. O Ciclo Orçamentário. Instrumentos de Planejamento: o
Plano Plurianual (PPA); a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); a Lei
Orçamentária Anual (LOA); créditos adicionais. Planejamento e Orçamento no
Campo da Assistência Social.
Os Fundos no Sistema Único de Assistência Social. Instrumentos de
Gestão dos Fundos de Assistência Social. Gestão Orçamentária e Financeira.
Transferência entre Níveis de Governo. Controle e Prestação de Contas das
Transferências para os Municípios. Captação de Recursos.
6
PARTE I - DESVENDANDO O ORÇAMENTO PÚBLICO – INTRODUÇÃO
AOS CONCEITOS ORÇAMENTÁRIOS E À CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA
PÚBLICA.
1.1. INTRODUÇÃO
Conta a história do mundo ocidental que o orçamento público teve
origem na revolta dos barões ingleses contra seu rei - João Sem Terra.
Segundo os historiadores, ao assinar a Carta Magna em 1215, o rei se
comprometeu a não lançar novos impostos sem a autorização de um senhor
feudal. Posteriormente, os interesses dos barões ingleses e do povo
materializaram-se no parlamento que passou a disciplinar a arrecadação de
tributos, fortalecido pelos interesses da nova classe que se formou – a
burguesia, assim ampliaram os poderes do parlamento sobre o controle das
despesas do reino.
No Brasil, o conflito entre a ânsia de arrecadação da Metrópole e os
interesses privados da Colônia esteve presente em vários momentos, sendo o
episódio da “Inconfidência Mineira” o mais marcante. Porém, a organização das
finanças nacionais se deu com a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil.
Diante da abertura dos portos brasileiros às demais nações, a necessidade de
organização da tributação aduaneira se fez. O Erário Público (tesouro) e o
regime de contabilidade foram criados no ano de 1808.
Se anteriormente o orçamento serviu para limitar o ímpeto
arrecadador do rei, no mundo atual o orçamento público desempenha papel
importante no equilíbrio das finanças dos países moderno. A ação dos
governos por meio da política fiscal (arrecadação e gasto público) obedece a
três funções básicas:
a) alocativa – que busca superar a ineficiência na alocação de recursos
pelo sistema de mercado mediante a compra de serviços ou
investimentos em setores que não são rentáveis à iniciativa privada;
b) distributiva – promove ajustamento na distribuição de renda entre os
pares, por exemplo, institui impostos progressivos sobre a classe de
renda mais elevada com transferência para aquelas classes de renda
7
mais baixa. Outro exemplo é a concessão de subsídios a bens de
consumo popular financiado por impostos sobre produtos
consumidos pelas classes de maior renda e gastos nas áreas sociais
(saúde, educação, assistência, habitação etc.);
c) estabilizadora – esta função busca a manutenção dos níveis de
emprego, a estabilidade dos preços, o equilíbrio do balanço de
pagamentos, elevadas taxa de crescimento econômico e estabilidade
nas transações com o exterior.
Importante!
Os programas de transferência de renda, Benefício de Prestação Continuada
(BPC) e Programa Bolsa Família (PBF), cumprem função distributiva, “têm bom
desempenho em comparações internacionais e apresentam custos compatíveis com
a capacidade orçamentária brasileira sem, aparentemente, ter efeito negativos sobre
os incentivos para o trabalho e a contribuição previdenciária” 1.
1.2. CONCEITOS ORÇAMENTÁRIOS
Os conceitos orçamentários fundamentam-se no “Direito Financeiro”
- que é a disciplina jurídica para as atividades financeiras do Estado (receitas,
despesas e crédito públicos), e no “Direito Tributário” - que é a disciplina
jurídica para a origem primária das receitas do Estado, o tributo.
Saiba Mais!
As normas básicas referentes ao Direito Financeiro e ao Tributário encontram-se na
CF; na Lei no 4.320, de 17 de março de 1964; na Lei no 5.172, de 25 de outubro de
1966 (CTN); na Lei Complementar No. 101, de 4 de maio de 2000 (LRF); e no
Decreto no 93.872, de 24 de dezembro de 1986 2.
Os incisos I e II do art. 24 da CF estabelecem competência concorrente para legislar
direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; e orçamento.
1.3 – PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS
1 Marcelo Medeiros, Tatiana Brito e Fábio Soares – Transferência de Renda no Brasil, Novos
Estudos CEBRAP, Nov. 2007, São Paulo, SP.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-33002007000300001&script=sci_arttext
2 MINISTÉIRO DO ORÇAMENTO, PLANEJAMENTO E GESTÃO, Secretaria do de Orçamento
Federal. Manual técnico de orçamento MTO, Versão 2012. Brasília, 2011.
8
Os princípios orçamentários buscam estabelecer regras básicas com
o objetivo de dar racionalidade, eficiência e transparência aos processos de
elaboração, execução e controle do orçamento público. Esses princípios são
estabelecidos por normas constitucionais e infraconstitucionais e, também,
pelas doutrinas. Os princípios são:
a) Unidade ou totalidade - requer que cada ente federado tenha reunido
em um único documento legal as receitas previstas e as despesas
fixadas em cada exercício financeiro: LOA3 . Visa evitar que uma
única pessoa política tenha múltiplos orçamentos (caput do art. 2º da
Lei 4.320/64);
b) Universalidade - requer que a LOA de cada ente federado contenha
todas as receitas e as despesas de todos os Poderes, órgãos,
entidades, fundos e fundações públicas (caput do art. 2o da Lei no
4.320, de 1964; c 5o do art. 165 da CF);
c) Anualidade ou periodicidade – estabelece que o exercício
financeiro seja o período de tempo ao qual se referem à previsão de
receitas e a fixação de despesas registradas na LOA. Este período é
o ano civil (1º de Janeiro a 31 de dezembro) conforme estabelece o
art. 34 da Lei 4.320/64;
d) Exclusividade – por este princípio estabelecido no § 8o do art. 165
da CF, o conteúdo da LOA deve ser exclusivo para a previsão da
receita e a fixação das despesas, não se admitindo dispositivos
estranhos, exceto para a abertura de créditos suplementares e a
contratação de operações de crédito.
e) Orçamento bruto – este princípio está previsto no art. 6º da Lei
4.320/64 e preconiza o registro das receitas e despesas na LOA pelo
seu valor total bruto sem quaisquer deduções;
f) Não vinculação da receita de impostos - estabelecido pelo inciso
IV do art. 167 da CF, este princípio veda a vinculação da receita de
3 A LOA – Lei Orçamentária Anual é estabelecida por proposição do executivo ao legislativo e
reúne os orçamentos do executivo, do legislativo, do judiciário das autarquias e empresas públicas.
9
impostos a órgão, fundo ou despesa, salvo exceções estabelecidas
pela própria CF.
Importante!
Na LOA – Lei orçamentária anual, a receita é prevista e as despesas fixadas. Assim,
as despesas só podem ser executadas após a confirmação da realização da receita,
portanto é comum que os sistemas de controle da execução orçamentária adotem a
sistemática de liberação do gasto em cota duodecimais. Havendo redução da receita
em relação à previsão, as despesas também devem ser reduzidas, em prol do
equilíbrio fiscal.
1.4 – CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA
Para a compreensão do orçamento, faz-se necessário o
conhecimento de sua estrutura e organização, que são implantadas por meio
de um sistema estruturado de classificação. Esse sistema busca atender as
exigências dos interessados nas questões de finanças públicas.
Na estrutura atual do orçamento público, as programações estão
estruturadas em “programas de trabalho” que contêm as informações
qualitativas e quantitativas, sejam na forma física ou financeira. O programa de
trabalho define qualitativamente a programação orçamentária e responde às
perguntas clássicas que caracterizam o orçamento, tais como: Quem faz? ;
Qual o tema da política pública? ; O que será feito? ; Como fazer? ; Como
mensurar os resultados? ; etc.4
Importante!
O Orçamento-programa foi introduzido no Brasil pelo Decreto-Lei nº 200/67 para
integrar as funções de planejamento e de orçamento público em resposta à
necessidade de se planejar a ações, antes de executar o Orçamento. Era preciso,
antes de fixar as despesas ou distribuir as receitas, identificar as necessidades da
população e categorizar e qualificar as ações necessárias à correção ou minimização
dos problemas apontados.
1.5 – CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA POR ESFERA ORÇAMENTÁRIA
4 Ver MTO/2012 – Manual Técnico de Orçamento, item 5.1, páginas 33 e 34.
10
Na linguagem corrente, é comum ouvir dizer que há três
orçamentos, porém o correto é dizer que há apenas um orçamento dividido em
três esferas que são Orçamento Fiscal, Orçamento da Seguridade Social e
Orçamento de Investimentos.
O Orçamento Fiscal refere-se aos gastos dos fundos, órgãos e
entidades da administração direta e indireta e fundações instituídas e mantidas
pelo poder público; o Orçamento da Seguridade Social abarca entidades e
órgãos, fundos e fundações vinculados á seguridade social seja na
administração direta ou indireta; e, o Orçamento de Investimento reúne o
orçamento das empresas públicas em que o poder público, direta ou
indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto.
Importante!
O § 2o do art. 195 da CF estabelece que a proposta de Orçamento da Seguridade
Social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde,
previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades
estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentária, assegurada a cada área a gestão de
seus recursos.
1.6 – CLASSIFICAÇÃO INSTITUCIONAL
A classificação institucional reflete as estruturas organizacional e
administrativa dos entes federados e compreendem dois níveis: órgão
orçamentário e unidade orçamentária (UO). As dotações orçamentárias
(recursos), especificadas por categoria de programação em seu menor nível,
são consignadas às unidades orçamentárias (UOs) que são as
responsáveis pela realização das ações. Órgão orçamentário é o
agrupamento de uma ou mais UOs.
Uma UO não corresponde obrigatoriamente a uma estrutura
administrativa, como, por exemplo, os fundos de assistência social que são
vinculados aos órgãos gestores da política (secretária, departamentos, outros).
De mesma forma, a maioria dos fundos especiais não correspondem à uma
unidade administrativa.
11
Saiba Mais!
Segundo a NOB-SUAS um dos critérios para habilitação dos municípios aos níveis de
gestão é a alocação e execução de recursos financeiros próprios no Fundo de
Assistência Social, constituído na forma de Unidade Orçamentária (UO)
1.7 – CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DA DESPESA
A classificação funcional busca responder em que área de atuação
do Estado a despesa será realizada, por exemplo, defesa, saúde, educação,
cultura, etc.
A classificação funcional são duas: função e subfunção, sendo que
a função é o maior nível de agregação das despesas nas diversas áreas de
atuação do setor público. Geralmente está vinculada à competência
institucional do órgão que se incumbe da ação governamental. A subfunção
representa o nível de agregação imediatamente inferior à função e busca
identificar a natureza da atuação do governo.
Todas as ações governamentais estão conectadas às subfunções,
entretanto, não existe uma conexão direta entre função e subfunção. Por
exemplo: a subfunção de número “244 – Assistência Comunitária” na tabela
está conectada diretamente à função de número “08 – Assistência Social”,
porém pode ser conectada a quaisquer outras funções, tais como, saúde,
educação, habitação etc.
Figura 1 – Funções e Subfunções na área de Assistência Social
1.8 – A ESTRUTURA PROGRAMÁTICA
Como já vimos anteriormente, todas as ações do governo estão
estruturadas em programas voltados para a realização e consecução dos
objetivos de curto, médio e longo, incluídos no planejamento.
12
A primeira classificação da estrutura programática identifica o padrão
do programa a que a ações estão vinculados, que são: “Temáticos”, quando
representam os temas das diversas políticas públicas; e, de “Gestão,
Manutenção e Serviços ao Estado” quando destinados ao apoio à gestão e a
manutenção das ações do Estado.
A segunda classificação denominada “Ação” é definida como sendo
as operações das quais resultam os bens e serviços que contribuem para
atenderem os objetivos dos programas.
A tipificação de uma “Ação” requer alguns atributos, quais sejam:
Título; Finalidade; Descrição; Produto; Unidade de medida;
Especificação do produto; Tipo de ação; Forma de implementação;
Detalhamento da implementação; Base legal; Unidade responsável;
Custo total estimado; Total físico; Duração do projeto; Justificativa
para a repercussão financeira sobre o custeio da União; e Etapas
(específicos para os projetos).
Um dos atributos utilizado na classificação por “Ação” gerou um
profundo debate no campo do financiamento à Política de Assistência Social.
Este atributo é a “forma de implementação da ação”.
Há três tipos possíveis:
a) Direta – executada diretamente pela unidade responsável ou por
contratação de terceiros, sem que ocorra transferência de recursos;
b) Descentralizada – quando a atividade ou projeto, na área de
competência da União é executado por outro ente da Federação
(Estados-Membros, Municípios ou Distrito Federal) com recursos da
União;
c) Transferências: c.1 - Obrigatória – quando há uma operação
especial que transfere recursos, por determinação constitucional ou
legal, aos Estados, Distrito Federal ou Municípios; c.2 – Outras –
quando há uma operação especial que transfere recursos a
entidades privadas sem fins lucrativos, organizações não
13
governamentais, e outras instituições. Destas operações se diz
chamar - “voluntárias”.
d) Linha de crédito – aquelas realizadas por empréstimo de recursos
aos beneficiários da Ação.
A relevância do debate sobre a “Ação implementada por
transferência obrigatória” será analisada, posteriormente, em tópico específico.
1.9 - A CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSFERÊNCIAS FUNDO A FUNDO NA ESTRUTURA
ORÇAMENTÁRIA
A estrutura programática do orçamento classifica a despesa por
“Ação”, definida como: bens e serviços que contribuem para atender ao
objetivo de um programa. Ocorre que as transferências entre níveis de
governos também são classificadas no orçamento como “Ação”, melhor
dizendo, a transferência entre governo é uma “forma de implementação de uma
ação”, um dos seus atributos classificatório. Por exemplo, no campo da política
de Assistência Social, uma das ações definidas no orçamento da União é
denominada “Proteção Social Básica – código 1384”, a forma de
implementação desta ação é por transferência entre níveis de governo.
2.0 – COMPONENTES DA PROGRAMAÇÃO FINANCEIRA
A norma que regulamenta o processo de elaboração e execução do
orçamento público (Lei 4.320/64) dispõe que os itens da discriminação da
despesa serão identificados por números de código decimal na forma
específica em regulamentação inferior 5. O conjunto de informação que forma
o código é conhecido com “classificação por natureza da despesa” e informa a
“categoria econômica”, o “grupo” a que ela pertence, a “modalidade de
aplicação” e o “elemento” da despesa.
5 Portaria Interministerial STN/SOF no. 163, 4 de maio de 2.001.
14
Figura 2 – Classificação por natureza da despesa – MTO/SOF.
A categoria econômica se desdobra em “Despesas correntes” – que
são aquelas que não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição
de bens de capital (serviços e bens de consumo); e as “Despesas de capital” –
que são aquelas que contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição
de bens.
O grupo de natureza de despesa (GND) é o agregador de
“elementos” de despesa que possuem as mesmas características quanto ao
objeto do gasto.
Fi
gura 3 – Grupo de Natureza de Despesa – MTO/SOF
Outro componente importante na programação financeira da
despesa é a “modalidade de aplicação” que tem por objetivo evitar a dupla
contagem dos recursos descentralizados. As modalidades de aplicação são
Transferências à União, Execução delegada; Transferências a Estados;
Transferências a municípios; Transferências a Instituições privadas;
Transferências a instituições multigovernamentais; Transferências a
consórcios; Transferências ao exterior e Aplicação direta.
15
Saiba Mais!
No âmbito da política de assistência social, nos orçamentos estaduais e
federal as aplicações são feitas na modalidade transferência “fundo a fundo”,
conforme faculta a Lei Federal 9.604/98. Nos orçamentos municipais a execução se
dá por aplicação direta ou transferência a instituições privadas. Para uma melhor
classificação foram criados códigos específicos para as “transferências fundo a
fundo”.
Por fim, acho importante entendermos a componente “elemento de
despesa” que tem por finalidade identificar os objetos de gasto (salários,
diárias, material de consumo, serviços de terceiros, obras, instalações,
equipamentos, material permanente etc.)
Os códigos de elementos de despesa estão definidos pela “Portaria
Interministerial STN/SOF No. 163 de 4/05/2001”. A descrição dos elementos
contida na Portaria pode não contemplar todas as despesas a eles inerentes,
portanto devemos entendê-la, em alguns casos, como exemplificativa. Alguns
municípios produzem seus próprios classificadores tendo como base a citada
portaria.
2.1 – O CICLO ORÇAMENTÁRIO E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO PÚBLICO
O ciclo orçamentário é um processo contínuo no qual se discute,
elabora, aprova, executa, controla, e avalia os programas e ações do setor
público em seus aspectos físicos e financeiros.
Esse processo, definido pela CF, compreende o Plano Plurianual –
PPA, a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária Anual –
LOA.
m 200 , por meio da ei omplementar N 131, introduziu-se no
ciclo orçamentário o incentivo à participação popular e a realização de
audiências públicas durante o processo de elaboração e discussão dos planos,
lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos.
Os PPAs são instrumentos de planejamento de médio prazo dos
governos (quatro anos) e estabelecem de forma setorizada as diretrizes,
objetivos e metas. Elaborados no primeiro ano de um mandato, geralmente,
16
incorporam o programa de governo sufragado aos programas de duração
continuada.
A LDO é o instrumento norteador da elaboração da LOA, pois
dispõe, para cada exercício financeiro, sobre: prioridades, metas, estrutura,
organização, regras para elaboração, execução, revisão e outras diretrizes. A
Lei de Responsabilidade Fiscal atribuiu à LDO a incumbência de tratar de
matérias relacionadas ao equilíbrio fiscal dos orçamentos (metas, critérios,
etc.).
A LOA estima as receitas e fixa as despesas para cada exercício
financeiro. De iniciativa do executivo, que elabora o PLOA – (Proposta de Lei
Orçamentária Anual) as receitas e despesas são apresentadas à apreciação e
posterior aprovação Legislativo, de forma estruturada e detalhada.
Figura 4 – Ciclo Orçamentário
No âmbito da política de assistência social, organizada na forma de
sistema, o ciclo orçamentário deve incluir ainda:
a) as diretrizes do sistema SUAS;
b) as metas estabelecidas pelo Plano Decenal da Assistência Social;
c) os objetivos, diretrizes e metas do Plano de assistência social local;
d) as deliberações das Conferências, locais, estadual e nacional.
e) a participação popular, em todas as fases do planejamento e da
execução, representada pelos Conselhos de Assistência Social que
devem aprovar a proposta orçamentária antes de ser encaminhada
ao legislativo.
17
Saiba Mais!
LOAS – Art. 17 § 4º - Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV do art. 16,
com competência para acompanhar a execução da política de assistência social,
apreciar e aprovar a proposta orçamentária, em consonância com as diretrizes das
conferências nacionais, estaduais, distrital e municipais, de acordo com seu âmbito de
atuação, deverão ser instituídos, respectivamente, pelos Estados, pelo Distrito
Federal e pelos Municípios, mediante lei específica (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011)
Figura 5 – Ciclo Orçamentário da política de Assistência Social
18
PARTE II - A ORGANIZAÇÃO DO FINANCIAMENTO DA ASSISTÊNCIA
SOCIAL NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO.
2.1 INTRODUÇÃO
A Constituição Federal (Art. 195) estabelece que a seguridade social
seja financiada por toda a sociedade, mediante recursos provenientes dos
Orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e que
os termos da lei definirão os critérios de transferência da União para os
Estados, o Distrito Federal e Municípios e dos Estados para os Municípios (§10
Art. 195).
A Lei Orgânica da Assistência Social (Lei 8.742/93) dispõe que o
financiamento à Assistência Social, de responsabilidade da União, será feito
com os recursos aportados no Fundo Nacionais de Assistência Social (Art. 28).
Estabelece, também, que é condição para receber recursos em transferência
aos Estados, Distrito Federal e Municípios (§10, Art. 195, CF) a efetiva
instituição e funcionamento de: Conselho de Assistência Social de composição
paritária entre governo e sociedade civil; Fundo de Assistência Social com
orientação e controle dos respectivos Conselhos de Assistência Social; Plano
de Assistência Social; e a comprovação de aporte de recursos próprios
alocadas nos respectivos fundos de assistência social (Art.30).
O financiamento do orçamento federal à assistência social, no
período que antecede a LOAS e também nos anos imediatamente posteriores,
é destinado a ações desarticuladas, paralelas e sobrepostas entregues a vários
órgãos. As rubricas que recebem recursos sob o título de Assistência Social
contêm ações e programas que não entram no escopo estabelecido pela
OAS. ”Estas ações (...) não se regem pelo disposto na LOAS. Tem-se como
exemplo, na saúde, as ações de distribuição de medicamentos, bolsa-
alimentação, aparelhos de órteses e próteses, e passes para transporte
coletivo; na educação a distribuição de material didático, merenda escolar e,
recentemente, os programas de bolsa-escola...” (BOSCHETTI & OLIVEIRA,
2002).
19
A LOAS veio delimitar o espaço de atuação, os objetivos das ações
e programas de assistência social, apontar aquelas práticas que não se
constituem objeto da política. Então, esperava-se que pelo Fundo Nacional de
Assistência Social, sob “comando único”, transitasse todo o recurso federal
aportado à função Assistência Social. “Entretanto, ao se verificarem as ações
que receberam recursos federais da função Assistência Social, no período
1996-2003, percebe-se que um percentual elevado destes continuou
transitando fora do Fundo” (PINHEIRO, 2005).
Nesse contexto, a PNAS/2004 e a Norma Operacional Básica –
NOB/SUAS/2005 objetiva, no campo do financiamento, enfrentar, pelo menos,
três grandes desafios:
a) Agrupar todos os recursos dos orçamentos públicos destinados à
Assistência Social em unidades orçamentárias específicas, nos três
níveis de governo;
b) Estruturar e dar capacidade de gestão aos Fundos de Assistência
Social para que possam garantir financiamento, de forma continuada,
aos serviços, programas e ações de assistência social, assim,
eliminando por vez a descontinuidade e a ineficácia no gasto público;
c) Consolidar, mediante incentivos financeiros, a estruturação de
serviços e programas em consonância com os princípios e diretrizes
da LOAS, afastando as práticas assistencialistas e clientelistas.
2.2 A ESTRUTURAÇÃO DOS FUNDOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
Os fundos especiais estão previstos na Lei Federal 4.320/64, e são
definidos como:
Produto de receitas especificadas que, por lei, se vinculam à
realização de determinados objetos ou serviços, facultada a adoção
de normas peculiares de aplicação.
Dotados de contabilidade própria, organizada mediante segregação
de contas, pelas quais se produzirão informações específicas sobre a
sua gestão, com vistas ao controle e à avaliação de desempenho;
20
O saldo financeiro, apurado em balanço do exercício encerrado,
constitui-se em receita do exercício seguinte;
Devem ser criados por lei específica.
No âmbito da Assistência Social têm por finalidade agrupar os
recursos dos orçamentos públicos destinados à política, portanto sua
implantação e efetivo funcionamento é condição essencial para a habilitação
dos entes federados ao Sistema Único de Assistência Social (LOAS, Art.30).
Também, por disposição legal, tais fundos estão sobre orientação e controle
dos Conselhos de Assistência Social, em suas respectivas esferas.
Para além da atribuição de agrupar recursos, os Fundos de
Assistência Social têm por objetivo, dentre outros: vincular recursos à política;
garantir a regularidade do fluxo financeiro; materializar o pacto de
“cofinanciamento”; aproximar a participação popular do processo de
planejamento e de execução das ações socioassistenciais.
A estruturação dos fundos de assistência social teve início a partir do
ano de 2005, iniciando-se pela revisão da atuação do Fundo Nacional de
Assistência Social. Foi necessário unificar e organizar os recursos
orçamentários aportados à política de Assistência Social em dotações que
representassem a estrutura organizada por níveis de proteção, estabelecida
pela PNAS/2004.
Para além da reorganização orçamentária, a PNAS/2004 havia
formulado críticas aos critérios, então vigente, para alocação do financiamento,
tais como:
Iniquidade das distribuições dos recursos, concentração no
financiamento de serviços nas médias e grandes cidades e nas
regiões sul e sudeste;
Excessiva segmentação do financiamento por faixa etária, ciclo de
vida e vulnerabilidade específicas;
Fixação de valores per capita, que atribuíam recursos com base no
número total de atendimentos e não na conformação do serviços às
necessidades da população;
21
Recursos financeiros “engessados” por uma série histórica de
beneficiados;
Uma relação complexa, demorada e descontinuada no
estabelecimento de convênios para repasse de recursos;
Exigência de uma prestação de contas detalhada e complexa sem
nenhuma efetividade em mensurar a consecução dos objetivos
financiados.
Em resposta às diretrizes apontadas pela PNAS/2004, por meio da
NOB-SUAS, o sistema único (SUAS) foi organizado em quatros instâncias com
atribuições e competências relacionadas; dentre estas estão incluídos os
Fundos de Assistência Social, de forma hierarquizada.
A alocação e distribuição dos recursos a serem transferidos aos
Estados e Municípios passam a ser definidas pelas instâncias de formação de
pacto (CIT/CIB e CNAS), com base em indicadores de base territorial, que
consideram o porte dos municípios e a complexidade dos serviços ofertados.
Este processo de alocação de recursos é denominado “partilha”.
Na operacionalização das transferências financeiras aos Estados e
Municípios as operações do Fundo Nacional de Assistência Social são
simplificadas, informatizadas e organizadas em três níveis: Benefícios – pagos
na forma de transferência automática direto a pessoas, por meio da rede
bancária (BPC, RMV, Bolsa Família); Serviços, programas e gestão - pagos
por meio de transferência automática – (‘transferência legal’ ou fundo a fundo) ;
Investimentos (projetos) – pagos por meio de convênios firmados com os
fundos de assistência social dos Municípios e Estados. Estes procedimentos
visaram, principalmente, acabar com a descontinuidade do cofinanciamento
federal.
Por fim, o fluxo de recursos financeiros, transferidos pelo FNAS, foi
agrupado. Esta organização, denominada “PISOS”6, teve como referência os
níveis de proteções da PNAS/2004 (PSB e PSE), e posteriormente, a
“Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais”. Os objetivos foram:
organizar, orientar e avaliar o volume de recursos aplicados em cada nível de
6 Ver mais informações em http://www.mds.gov.br/assistenciasocial
22
proteção da política nacional; garantir a efetividade das alocações financeiras
pactuadas nas instâncias de deliberação (CIT, CIB); focalizar em nível regional
ou nacional os esforços financeiros de enfretamentos das questões urgentes;
colaborar com a transparência e com atuação dos Conselhos em sua atribuição
de fiscalização.
Figura 6 – Instâncias do Sistema Único de Assistência Social
Figura 7 – Modalidades e instrumentos para o cofinanciamento
Ficou sobre a responsabilidade do Fundo Nacional o apoio técnico
aos demais Fundos Estaduais e Municipais na estruturação do planejamento,
na organização do orçamento, do fluxo financeiro e das demais funcionalidades
requeridas pelo SUAS.
2.3 AS TRANSFERÊNCIAS FUNDO A FUNDO
Instituída no âmbito da política de Assistência Social pela Lei
Federal 9.604/98, a faculdade de transferir recursos do Fundo Nacional de
23
Assistência Social aos Fundos de Assistência Social dos Estados e Municípios,
só veio a ser efetivada a partir do ano de 2005.
A lei dispôs como condição para a efetivação dos repasses a
apresentação de planos de assistência social aprovados pelos respectivos
conselhos. Estes planos definiriam a finalidade e prioridade para a aplicação
dos recursos7.
A utilização do repasse automático, quando da implantação do
SUAS objetivou superar as interrupções no financiamento e a descontinuidade
na prestação dos serviços. Estas interrupções eram comuns em decorrências
dos trâmites complexos e demorados que eram determinados pelo sistema de
convênios então utilizado.
Diante da necessidade de estruturar os serviços socioassistenciais
preconizados pela PNAS/2004 e erradicar as prestações (benefícios e
serviços) que não observavam os princípios e diretrizes da LOAS, fez-se
necessário segmentar as transferências instituindo finalidades específicas,
mediante portarias ou resoluções, para cada segmento do repasse, além de
regras para a sua utilização – os pisos e suas respectivas portarias.
Observa-se que, na definição dos objetivos (finalidade) do gasto
financiado com transferência do FNAS a NOB-SUAS, retirou-se dos municípios
a possibilidade de programar seus gastos, em contrário ao que estabeleceu a
lei que instituiu a transferência “fundo a fundo”. sta medida foi prudente e
necessária, pois, naquela época poucos municípios reuniam condições para
planejar e programar seus gastos em consonância com as diretrizes e
princípios instituídos pela LOAS. Um grande número de municípios sequer
tinham em efetivo funcionamento as condições básicas para receber as
7 Lei 9.604/98 - Art. 2º Os recursos poderão ser repassados automaticamente para o fundo
estadual, do Distrito Federal ou municipal, independentemente de celebração de convênio, ajuste, acordo ou contrato, desde que atendidas as exigências deste artigo pelo respectivo Estado, Distrito Federal ou Município. Parágrafo único. Os recursos do Fundo Nacional de Assistência Social, recebidos pelos fundos estaduais, municipais ou do Distrito Federal, na forma prevista no caput, serão aplicados segundo as prioridades estabelecidas nos planos de assistência social aprovados, pelos respectivos conselhos, buscando, no caso de transferência aos fundos municipais, a compatibilização no plano estadual e respeito ao princípio de
equidade.
24
transferências, que são: funcionamento de conselho, fundo e plano de
assistência social.
2.4 AS ORIENTAÇÕES PARA ESTRUTURAÇÃO DOS FUNDOS
Os anos que se seguiram à implantação da sistemática “fundo a
fundo” exigiram modificações no planejamento e na execução orçamentária da
União, dos Estados e dos Municípios.
Os esforços para organizar as funcionalidades básicas para os
fundos de assistência social apontaram pelo menos três aspectos estruturantes
a serem orientados aos Estados e Municípios:
a) Aspectos legais – criar, por meio de lei, o Fundo e o Conselho de
Assistência Social, com competência para controle e orientação da
política; estabelecer, por meio de decreto, as competências e
atribuições na gestão do Fundo; inscrever o Fundo no CNPJ,
conforme determinação da Secretaria da Receita Federal; aportar
recursos de fonte própria na política de assistência social.
b) Aspectos organizacionais – instituir no orçamento a unidade
orçamentária para a programação e execução do Fundo; organizá-los
em consonância com as orientações da PNAS/2004 - alterando ou
incluindo novas funcionais programáticas; organizar a programação
financeira e orçamentária garantindo a continuidade dos serviços
implantados; organizar a guarda dos documentos inerentes à
execução do fundo, separadamente, e se possível organizar
contabilidade própria; organizar o controle patrimonial e os estoques
adquiridos com recursos do fundo; monitorar, avaliar e controlar a
prestação de serviços indireta (rede socioassistencial); prestar contas
ao Conselho, à sociedade e aos órgãos transferidores de recursos
em relatório escritos em linguagem de fácil compreensão.
c) Aspectos político-administrativos - instituir como gestor do fundo o
agente responsável pela política de assistência social; conceder ao
gestor autonomia administrativa e financeira, incluindo autonomia
para contratações e aquisições. Utilizar o fundo como instrumento de
vinculação de recursos à política de assistência social.
25
Na implantação do SUAS a habilitação dos municípios para gestão
ficou a cargo das CIB´s em seus respectivos Estados. A verificação do efetivo
funcionamento dos Fundos, Conselhos e a existência de um Plano de
Assistência foram feitas por declaração, se houve fiscalização “in loco” foram
poucas. Efetivamente, ainda hoje, pouco mais da metade dos municípios
reúne condições efetiva para uma eficiente gestão orçamentária e financeira
dos recursos da política de Assistência Social.
No plano federal os esforços foram concentrados em transferir para
o orçamento do Fundo Nacional os recursos destinados à política de
Assistência Social na Função 08; fazer valer no planejamento e na execução
orçamentária a natureza obrigatória das transferências a Estados e Municípios,
implantar no orçamento da União a organização das prestações públicas na
forma de serviços, programas e benefícios, conforme determinava a LOAS;
reestruturar as classificações orçamentárias e apresentar aos órgãos de
controle interno e externo a fundamentação legal para a “responsabilidade
compartilhada” que se implantava na execução das ações da política, no
âmbito do SUAS;
Figura 8 – Orientações do FNAS para organização dos FAS
26
PARTE III - DIMENSIONAMENTO DO GASTO PÚBLICO COM A POLÍTICA
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E AVANÇOS E DESAFIOS PARA O
FORTALECIIMENTO DO FINANCIAMENTO
3.1 DIMENSIONAMENTO DO GASTO PÚBLICO
O Caderno SUAS, no. 5 de 2010, calcula o gasto total na política de
assistência social em 49,5 bilhões, assim distribuídos: 38,9 bilhões gastos pela
União (78%); 3,5 bilhões gastos pelos Estados (7,5 %); e, 7,1 bilhões gastos
pelos municípios (14,1%). xiste a possibilidade de “contagem dobrada” na
contabilidade dos dados e nos valores declarados pelos Estados e Municípios,
pressupõe-se terem sido os recursos aplicados em serviços e benefícios
socioassistenciais cofinanciados pela União e recomendado pelo SUAS. A
certeza não se pode ter, pelo contrário, há indicativos de que não, conforme
relatos do Tribunal de Contas da União.8 Outro indicativo se fundamenta na
interpretação que se depreende da pesquisa MUNIC 2009, que nos informa
que 85,6% dos municípios declararam ter implantado o Serviço de Atenção
Integral à Família – PAIF ao mesmo tempo em que 67,9% declaram possuir
“plantão social”, desta forma, sugerindo que as novas e velhas práticas de
“assistência" continuam a conviver dentro do sistema.
Apesar de impreciso quanto ao volume e incompreensível quanto a
destinação a participação dos estados e municípios no cofinanciamento vem se
mantendo estável ao longo da série 2004 a 2010, conforme se depreende da
análise da tabela 9 que integra o Caderno SUAS no.5.
8 Ver relatório de resultado da auditoria operacional procedida pelo Tribunal de Contas da
União, em 2009, Processo no. 024.821/2008-5.
27
Figura 9 – Participação de entes no financiamento da AS
3.2 - AVANÇOS E DESAFIOS PARA O FORTALECIMENTO DO FINANCIAMENTO
Sem dúvida, os grandes avanços na estruturação do financiamento
da política de Assistência Social podem ser assim enumerados: (i) a
estruturação dos Fundos como o “lugar” onde se materializa o gasto público
com a política; (ii) a organização dos “pisos” como orientadores dos gastos em
consonância com as diretrizes da PNAS/2004; e (iii) a sistemática de
transferência “fundo a fundo” e a “partilha” como instrumentos de regularidade
e viabilizadores do cofinanciamento federal.
Contudo, da mesma forma que estas estratégias permitiram
significativo avanço no plano federal não foi possível conseguir o mesmo
resultado no plano subnacional.
O provimento das capacidades técnicas e operativas aos fundos
Estaduais e Municipais ainda é um desafio ao Sistema, em muitos Municípios
os fundos são utilizados apenas para receber os recursos da transferência
federal, o cofinanciamento municipal, quando existe, é executado em outras
unidades orçamentárias que não a do fundo. Muito embora a legislação exija
que os recursos de cofinanciamento dos três entes ali sejam alocados.
O cofinanciamento mediante transferência “fundo a fundo” está
estruturado em uns poucos Estados, a maioria dos Estados ainda utilizam a
sistemática de convênio e não conseguiram estabelecer um fluxo automático
de transferências as seus respectivos Municípios.
Os “Pisos”, com suas regras específicas de aplicação, acabaram por
suscitar dúvidas sobre a correta aplicação. Muitos gestores, diante da ausência
de capacitação técnica ou conhecimento da correta aplicação das normativas,
acabaram por deixar de oferecer, ou subdimensionaram a oferta dos serviços
socioassistenciais por eles financiados.
Esta incapacidade para superar as dúvidas ou impedimentos
técnicos à utilização dos recursos transferidos tem gerado acúmulo de saldos
financeiros nas contas dos Municípios. Muitas vezes questões simples como a
suplementação de dotações ou abertura de créditos adicionais, em alguns
municípios, tornam-se grandes barreiras ao gasto eficiente e oportuno.
28
As dificuldades ainda são muitas, vão deste a simples adequação da
estrutura programática nos orçamentos municipais a questões mais complexas
como a formação de um quadro técnico capaz de operar o sistema na
complexidade que ele requer. Talvez o maior desafio do Sistema seja a
formação de um quadro de técnicos em política publica apto a operá-lo.
REFERÊNCIAS
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1950.
GIACOMONI, JAMES, ORÇAMENTO PÚBLICO, SÃO PAULO. EDITORA ATLAS. 14ª
EDIÇÃO. 2007
MINISTÉIRO DO ORÇAMENTO, PLANEJAMENTO E GESTÃO, SECRETARIA DO
DE ORÇAMENTO FEDERAL. MANUAL TÉCNICO DE ORÇAMENTO MTO, VERSÃO 2012.
BRASÍLIA, 2011.
BOSCHETTI, IVANETE E OLIVEIRA, SANDRA. IMPRECISÃO CONCEITUAL E
PULVERIZAÇÃO DOS RECURSOS FEDERAIS NA FUNÇÃO ASSISTÊNCIA SOCIAL, REVISTA
SER SOCIAL, NO. 12 – UNB – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2002.
PINHEIRO, LESSI I.F., FUNDO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: DA TEORIA À
PRÁTICA SOCIAL; REVISTA VIRTUAL TEXTO & CONTEXTO, NO 4 , 2005.
MDS, SECRETARIA DE AVALIAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO; SECRETARIA NACIONAL
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, CADERNO SUAS V: FINANCIAMENTO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
NO BRASIL, BRASÍLIA, DF, 2011.
IPEA, TEXTO PARA DISCUSSÃO 1724 – COFINANCIAMENTO E RESPONSABILIDADE
FEDERATIVA NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – DF, BRASIL. – 2012.
BRANDAO, F. – NOTAS INFORMATIVAS, MDS, FNAS/DGSUAS, BRASÍLIA, BRASIL –
2009 - 2011