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Conteúdo

Parte geral: direito processual penal .................................................................... Pág.6

Inquérito Policial ................................................................................................... Pág.8

Ação Penal ........................................................................................................... Pág.12

Ação Civil ex Delicto............................................................................................. Pág.23

Jurisdição ............................................................................................................. Pág.24

Competência ........................................................................................................ Pág.25

Questões e Processos Incidentes ........................................................................ Pág.31

Prova .................................................................................................................... Pág.40

Sujeitos Processuais ............................................................................................ Pág.53

Prisão, Das Medidas Cautelares e Liberdade Provisória ..................................... Pág.57

Citações e Intimações .......................................................................................... Pág.69

Sentença .............................................................................................................. Pág.72

Procedimentos em Espécie .................................................................................. Pág.76

Nulidades ............................................................................................................. Pág.98

Recursos ............................................................................................................... Pág.102

Juizados Especiais Criminais ................................................................................. Pág.121

Bibliografia ........................................................................................................... Pág.127

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1. Parte geral: direito processual penal

O direito processual penal é ramo do direito público. Sua finalidade é a de funcionar como instrumento de aplicação da normal penal. É através do processo que o Estado concretiza, em relação ao particular, a previsão abstrata de direito material, contida no Código Penal ou em legislação penal especial.

Cometido o fato típico, o Estado só pode exercer seu poder-dever de punir mediante o devido processo legal, conforme determinação constitucional. Como o direito penal está relacionado à privação ou restrição de direitos fundamentais, antes de qualquer medida concreta, deve-se conceder ao particular um amplo direito de defesa.

Sobre a competência legislativa em processo penal, a Constituição da República de 1988 conferiu competência privativa à União, nos termos do seu artigo 22, inciso I. No entanto, conforme disposição contida no parágrafo único do mencionado dispositivo existe a possibilidade de, mediante lei complementar, ser conferida autorização para que os Estados possam legislarem sobre matéria específica, relacionada ao direito processual penal.

1.1 Lei processual no tempo

Assim como ocorre com o processo civil, para o processo penal vige o princípio tempus regit actum. Diferentemente do que ocorrem com as regras de direito material penal, que podem ser retroativas em benefício do réu, as regras processuais aplicam-se imediatamente após o início de sua vigência, tragam elas benefício ou prejuízo à situação do réu.

Portanto, em matéria processual penal não há que se falar em retroatividade benéfica da lei, mas tão somente em irretroatividade.

No entanto, questão peculiar diz respeito às normas híbridas, isto é, normas que tem disciplina material e processual. Quando uma lei abordar matérias relativas ao direito material penal e também ao direito processual penal, entende-se que há possibilidade de retroatividade ou ultratividade dos dispositivos que abordem matérias de direito material, o que não ocorre em relação aos dispositivos que abordem apenas regras de direito processual. Quanto a este assunto, porém, não está pacífico na doutrina.

1.2 Lei processual no espaço

O Código de Processo Penal tem vigência em todo o território nacional, logo, quaisquer infrações penais aqui cometidas sujeitar-se-ão a norma processual penal pátria. Mas o próprio Código de Processo Penal apresenta uma ressalva, admitindo que o processo penal que tramite no Brasil seja regido por tratados, convenções e regras de direito internacional. Dessa forma, do mesmo modo em que ocorre no direito penal, também no direito processual vige a regra da territorialidade temperada.

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1.3 Lei processual em relação às pessoas

A lei processual atinge todas as pessoas, em consagração ao princípio da isonomia. Contudo, não viola este princípio a existência de imunidades, destinada a determinadas pessoas que ocupam posições que exigem essa garantia. Dentre as imunidades, existem:

a) a diplomática; e b) a parlamentar.

A imunidade diplomática alcança os embaixadores, todos os

funcionários da respectiva embaixada e se estende, também, aos familiares do embaixador. Essa imunidade se aplica em relação a todos os crimes cometidos em território brasileiro. Nesse caso, embora o crime tenha sido cometido aqui, será processado e julgado pela lei do país de origem da embaixada. Essa imunidade alcança, também, os chefes de Estado estrangeiros e membros de organizações de abrangência internacional, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), por exemplo.

Já a imunidade parlamentar, extremamente mais restrita, tanto em relação às pessoas que alcança como em relação aos crimes a que se destina, dirige-se aos parlamentares (deputados e senadores) quando no exercício de suas funções, em relação aos crimes de opinião. A imunidade parlamentar tem início com a diplomação e se encerra na data de término do mandato. Essa imunidade impede que os parlamentares sejam presos, salvo mediante flagrante-delito, por crime inafiançável.

A imunidade em relação aos crimes de opinião, que é aquela que impede a responsabilização penal do parlamentar que, no exercício de suas funções, estiver no exercício de sua liberdade de expressão, é chamada de imunidade material. Essa imunidade alcança também os vereadores, no âmbito do respectivo Município.

A imunidade em relação à impossibilidade de prisão, desde a diplomação até o término do mandato, salvo por flagrante delito caso o crime seja inafiançável, é chamada de imunidade formal. Essa imunidade, diferentemente da material, não alcança os vereadores.

Essas imunidades não beneficiam o parlamentar ou o agente diplomático como pessoas, mas destinam-se ao exercício livre e desembaraçado das funções inerentes ao cargo que elas ocupam. Dessa forma, não é dado ao parlamentar, nem ao agente diplomático a faculdade de renunciar as suas imunidades, que, como visto, não são suas, mas do cargo que ocupam.

1.4 Persecução penal

A persecução penal é o caminho trilhado, desde a fase investigatória

até a fase processual, de modo a concluir-se pela condenação à absolvição do acusado.

A persecução penal tem início com o inquérito policial, fase em que são realizadas as investigações que podem dar ao Ministério Público ou ao

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querelante os requisitos necessários ao oferecimento da denúncia ou queixa-crime. Como será oportunamente analisado, esses requisitos são: prova da materialidade e indícios de autoria.

Preenchidos os requisitos, nasce para o Ministério Público o dever de oferecer a denúncia que, se recebida, instaura a ação penal pública, e para o ofendido a faculdade de oferecer a queixa-crime que, se recebida, instaura a ação penal privada. Com o recebimento da denúncia ou da queixa, tem início a segunda fase da persecução penal, que é a fase judicial.

Após o trâmite da ação penal, com a condenação ou absolvição do acusado, tem-se por encerrada a persecução penal.

persecução penal extrajudicial persecução penal judicial

Inquérito Policial Ação Penal

2. Inquérito Policial

O inquérito policial abre a persecução penal e destina-se à investigação da situação criminosa, de modo a obter prova da materialidade delitiva e indícios de autoria, requisitos indispensáveis à instauração da ação penal pública ou privada.

Quem realiza as investigações na fase inquisitiva é a autoridade policial. Dessa forma, o inquérito policial não resguarda a garantia do contraditório, da forma como prescrita na Constituição Federal de 1988, isto porque o inquérito policial não se destina a aplicação de punição ao acusado, competência restrita ao âmbito judiciário, após a instauração de uma ação penal. A finalidade do inquérito policial é a investigação, sendo que o resultado dessa investigação é que será ponderado pelo Ministério Público como suficiente, ou não, à instauração de uma ação penal.

Embora não resguarde o direito ao contraditório, o inquérito policial pode ser acompanhado pelo advogado do averiguado ou indiciado a todo tempo, assunto por sobre o qual o Supremo Tribunal Federal editou a súmula vinculante n.º 14, que dispõe: “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

É importante frisar, também, que devido a finalidade do inquérito policial (obter prova da materialidade delituosa e indícios de autoria), ele é dispensável caso o Ministério Público (no caso de ação penal pública) ou o querelante (no caso de ação penal privada) já possuam as provas que bastem ao oferecimento da denúncia (no caso do Ministério Público) ou da queixa-crime (no caso do querelante).

O inquérito policial também é dispensável no âmbito dos Juizados Especiais Criminais, eis que substituído pelo termo circunstanciado, em consagração ao princípio da celeridade, que rege os Juizados.

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Concluído o inquérito policial, se ele trouxer prova da materialidade delitiva e suficientes indícios de autoria, o Ministério Publico ou o querelante oferecerão a denúncia ou queixa, respectivamente, e uma vez instaurada a ação penal, os autos do inquérito ficarão apensos aos autos do processo penal.

Instaurada a ação penal, o valor das provas produzidas na fase inquisitiva adquirem caráter relativo, e em hipótese alguma podem fundamentar, com exclusividade, a decisão do juiz pela condenação do acusado. Isto ocorre, pois as provas produzidas na fase inquisitiva não observam o contraditório e tem por objetivo, apenas, fundamentar a instauração da ação penal, mas não a condenação do acusado. Nesse sentido é a redação do artigo 15 do Código de Processo Penal:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Só há que se falar em condenação do acusado mediante a produção

de provas em juízo, após o exercício amplo do direito de defesa. As oitivas de testemunhas feitas na fase inquisitiva, por exemplo, devem ser todas repetidas na fase judicial.

2.1 Instauração do Inquérito Policial

O inquérito policial é dirigido pela polícia judiciária, que é exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e tem por finalidade a apuração das infrações penais e de sua autoria. Essa atribuição, no entanto, não exclui a de autoridades administrativas que, por lei, tenham a mesma função. No âmbito da polícia judiciária, quem preside o inquérito é o delegado de polícia de carreira.

O inquérito policial tem início:

a) de ofício;

b) mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público; ou

c) a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

O inquérito policial é instaurado de ofício sempre que a autoridade policial tomar conhecimento, diretamente, de alguma prática criminosa. Nesse caso, a instauração do inquérito policial se formaliza por meio da portaria, que é a peça inaugural do mesmo.

Tanto o Ministério Público como os juízes possuem autoridade para determinar à autoridade policial, a instauração de inquérito. Note-se que a lei fala de requisição, em nítido sentido de ordem. Assim, sempre que o Ministério Público ou os juízes identificarem alguma prática criminosa, devem requerer à autoridade policial que instaure o inquérito policial. Nesse

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caso, a instauração do inquérito policial se formaliza com o próprio documento de requisição, seja do Ministério Público ou da autoridade judiciária.

E o ofendido também pode requerer a instauração de inquérito policial, assim como seu representante legal. Note-se, contudo, que a lei fala em requerimento, no sentido de mera solicitação. Nesse caso, se a autoridade policial constatar a necessidade de instauração, o inquérito terá como peça de abertura o próprio requerimento do ofendido. Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito cabe recurso para o chefe de polícia (art. 5º, §2º, do CPP).

A teor do parágrafo terceiro do artigo 5º, do Código de Processo Penal, qualquer pessoa que tiver conhecimento acerca da existência de infração penal em que caiba ação pública pode, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, deve mandar instaurar inquérito. Esse parágrafo trata, pois, da notitia criminis. Mas não há que se falar em notitia criminis apenas nos moldes descritos, pois a notícia do crime também pode ser obtida de forma espontânea, como mera decorrência do trabalho policial, ou de forma provocada, como nos casos de requisição para instauração de inquérito pela autoridade judiciária ou pelo Ministério Público, ou, ainda, por meio de cognição coercitiva, isto é, quando a autoridade policial toma ciência da prática criminosa logo após a realização de uma prisão em flagrante.

Sempre que a ação penal depender de representação (ação penal pública condicionada), não poderá ser instaurado inquérito policial sem que esta representação tenha sido apresentada. Quando o Ministério Público apresenta requisição para instauração de inquérito, e o crime é ensejador de ação penal condicionada, essa requisição deve se fazer acompanhar da representação, obrigatoriamente.

E nos casos de ação penal privada, só há que se falar em instauração de inquérito policial mediante requerimento daquele que possua legitimidade para oferecer a queixa-crime.

Por derradeiro, conforme prevê ao artigo 6º do Código de Processo Penal, assim que a autoridade policial tomar ciência da prática de uma infração penal, ela deve:

a) dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

b) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;

c) colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;

d) ouvir o ofendido;

e) ouvir o indiciado (com observância, no que for aplicável, das regras relativas ao interrogatório do acusado), devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;

f) proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

g) determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;

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h) ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

i) averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.

2.2 Prazos e conclusão do inquérito policial

O prazo para encerramento do inquérito policial é de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou se estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela (art. 10, do CPP).

Findo o inquérito, a autoridade policial deve elaborar minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviar os autos ao juiz competente. Caso existam testemunhas que não tenham sido inquiridas, a autoridade policial deve indicá-las no relatório, mencionando o local em que elas possam ser encontradas.

Em sendo o fato de difícil elucidação, e o indiciado estando solto, a autoridade policial pode requerer ao juiz a devolução dos autos para ulteriores diligências, que devem então ser realizadas no prazo que o juiz fixar (art. 10, §3º, do CPP).

Devem acompanhar o inquérito, os instrumentos do crime, assim como os objetos que interessarem à prova, conforme estipula o artigo 11 do Código de Processo Penal.

O inquérito policial deve sempre acompanhar a denúncia ou a queixa, sempre que lhes servir de base, ficando apenso aos autos da ação judicial.

Conforme redação do artigo 13 do Código de Processo Penal, é incumbência da autoridade policial:

a) fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos;

b) realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;

c) cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;

d) representar acerca da prisão preventiva.

Quando o ofendido ou seu representante legal, assim como quando o indiciado façam requerimento de qualquer diligência, esta pode ou não ser realizada, a critério da autoridade policial (art. 14, do CPP).

Quando o Ministério Público faça a devolução do inquérito à autoridade policial, para realização de novas diligências, estas devem ser imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, nos termos do artigo 16 do Código de Processo Penal.

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A autoridade policial não possui legitimidade para mandar arquivar os autos de inquérito policial, conforme orientação do artigo 17 do Código de Processo Penal.

E quando o arquivamento tiver sido determinado pela autoridade judiciária, por reputar insuficientes as provas que serviriam de base à denúncia, a autoridade policial tem legitimidade para proceder a novas pesquisas, desde que tenha notícia acerca de outras provas da prática criminosa (art. 18 do CPP).

Nos crimes de ação penal privada, os autos do inquérito policial serão remetidos ao juízo competente após a conclusão, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante tratado (art. 19, do CPP).

Por fim, cumpre mencionar que é dever da autoridade policial assegurar o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Nos casos em que houver solicitação de atestados de antecedentes, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes, exceto no caso de existir condenação anterior (art. 20, parágrafo único, do CPP).

3. Ação Penal

É por meio da ação penal que o Estado processa e julga o acusado de alguma prática criminosa, ao final absolvendo-o ou condenando-o. Nas palavras de Fernando Capez, “é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo, com a consequente satisfação da pretensão punitiva” (2010, p. 153).

3.1 Princípios informadores do processo penal

São princípios que regem as relações de direito processual penal:

a) princípio do devido processo legal; b) princípio da legalidade; c) princípio da oficialidade; d) princípio da oficiosidade; e) princípio da indisponibilidade; f) princípio da publicidade; g) princípio do contraditório; h) princípio da ampla defesa; i) princípio da verdade real; e j) princípio da presunção de inocência.

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A seguir, serão sucintamente analisados cada um dos princípios supra mencionados.

3.1.1 Princípio do devido processo legal

A garantia do devido processo legal consta do inciso LIV do artigo 5º

da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.

O princípio do devido processo legal garante a observância da marcha processual legalmente prevista, sem atropelos ou inversões tumultuárias, de maneira a sempre garantir ao acusado, dentre outros, o exercício de seus direitos ao contraditório e a ampla defesa.

3.1.2 Princípio da verdade real

No processo penal, diferentemente do processo civil, impera o princípio da verdade real, por meio do qual impede-se que o juiz se satisfaça com a mera verdade trazida pelas partes aos autos. Para efetivação desse princípio garante-se ao juiz ampla liberdade quanto à produção probatória, pois objetiva-se que ele busque, a todo momento, identificar o que realmente aconteceu no mundo dos fatos.

Portanto, não há que se falar em inércia do juiz em relação a dilação probatória, uma vez que este tem o dever de obter para os autos a verdade real em relação ao que se apura.

3.1.3 Princípio da oficialidade

Como a ação penal é pública, a persecução penal deve ser manejada

por órgãos também públicos. É por isso que o inquérito policial é presidido pela autoridade policial, e a ação penal pública pelo Ministério Público.

As exceções ao principio a oficialidade mostram-se no caso da ação penal privada e da ação penal popular, da Lei n.º 1.079/50.

3.1.4 Princípio da oficiosidade

O princípio da oficiosidade, que não se confunde com o da oficialidade, determina que os órgãos públicos incumbidos da persecução penal não devem aguardar qualquer provocação para proceder ao que for necessário, devendo, pois, atuar de ofício.

As exceções ocorrem em relação a ação penal privada e a ação penal pública condicionada a representação, pois nestas só há que se falar em atuação do Estado após a manifestação do ofendido.

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3.1.5 Princípio da indisponibilidade

A persecução penal não está na esfera de disponibilidade da autoridade policial e do Ministério Público. Ambos tem o dever de atuar de ofício (oficiosidade) e não podem, sem fundamentação, optar pelo arquivamento do inquérito (no caso da autoridade policial) ou pela desistência da ação (no caso do Ministério Público).

A repreensão penal é de interesse público, a sociedade tem o direito de assistir à punição daqueles que descumprem a lei penal, e os órgãos incumbidos dessas atribuições, por não atuarem em nome próprio, não podem dispor sobre a persecução penal.

No entanto, o princípio da indisponibilidade não se aplica em relação a ação penal privada, para a qual vigora o princípio da disponibilidade, uma vez que cabe ao ofendido decidir pelo ajuizamento ou não da ação penal.

3.1.6 Princípio da publicidade

As audiências, sessões e os atos processuais devem ser, via de regra, públicos e devem se realizar nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivãs, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados, conforme dispõe o artigo 792, caput, do Código de Processo Penal.

No entanto, se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, pode, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes (art. 792, §1º, do CPP).

3.1.7 Princípio do contraditório e da ampla defesa

É importante salientar que o princípio do contraditório não se

confunde com o princípio da ampla defesa. São dois princípios tratados frequentemente em conjunto por conveniência acadêmica.

Basicamente, enquanto o contraditório reflete a necessidade de entrega de prazo à parte contrária, para que discuta as alegações ou provas produzidas pela outra parte, a ampla defesa reflete a impossibilidade de vedação no uso dos mais variados métodos de defesa, desde que lícitos, evidentemente, ou, em outras palavras, a produção e articulação da defesa deve ter a maior magnitude possível, permitindo às partes a exposição fática e probatória que mais lhes seja adequada às pretensões que manifestem.

O princípio do contraditório e o princípio da ampla defesa estão consagrados no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal de 1988, que dispõe: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

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3.1.8 Princípio da presunção de inocência

É também mandamento constitucional que “ninguém será

considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (art. 5º, LVII, da CRFB/88).

Conforma expõe Fernando Capez, o princípio da presunção de inocência desdobra-se em três aspectos: “a) no momento da instrução processual, como presunção legal relativa de não culpabilidade, invertendo-se o ônus da prova; b) no momento de avaliação da prova, valorando-a em favor do acusado quando houver dúvida; c) no curso do processo penal, como paradigma de tratamento do imputado, especialmente no que concerne à análise da necessidade da prisão processual” (2010, p. 81).

É pelo princípio da presunção da inocência que se diz que o juiz só pode condenar o réu quando possuir plana convicção acerca da autoria delitiva, bastando a dúvida a respeito da sua culpa para absolvê-lo.

3.2 Elementos, condições e pressupostos da ação penal

Assim como ocorre no processo civil, no processo penal a ação é

composta de elementos. Os sujeitos processuais (autor, réu e juiz), a causa de pedir e o objeto são, pois, os elementos da ação penal.

Já as condições da ação, em matéria processual penal são as seguintes:

a) possibilidade jurídica do pedido; b) interesse de agir; c) legitimação para agir; e d) justa causa.

A possibilidade jurídica do pedido é a exigência de que o fato que é

imputado ao acusado seja típico, pois se não houver previsão legal para puni-lo, não há que se falar possibilidade jurídica.

O interesse de agir é a necessidade de demonstração, na denúncia ou queixa, de prova da materialidade delitiva e de indícios suficientes de autoria, sem o que faltará interesse de agir para a ação penal.

Apenas o Estado é detentor do direito de punir, direito que ele exerce por meio do Ministério Público e, em alguns casos, mediante autorização dada ao particular, para que este intente a ação penal.

Já a justa causa é a demonstração clara da fumaça do bom direito (fumus boni iuris) para que o juiz possa receber a denúncia ou queixa, requisito que se faz presente quando há nítida apresentação da materialidade delitiva e dos suficientes indícios de autoria delitiva. Por isso, muitos defendem que a justa causa compõe o interesse de agir.

Os pressupostos processuais em matéria processual penal, por sua vez, dividem-se em objetivos e subjetivos. Os pressupostos subjetivos são classificados pela doutrina majoritária quanto ao juiz e quanto as partes. Já os pressupostos objetivos são classificados em extrínsecos e intrínsecos.

São pressupostos processuais subjetivos, quanto ao juiz:

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a) a investidura; b) a competência; e c) a imparcialidade.

E quanto as partes, são pressupostos processuais subjetivos:

a) capacidade de ser parte; b) capacidade processual; e c) capacidade postulatória.

Já os pressupostos processuais objetivos extrínsecos são:

a) a existência de fatos impeditivos; b) a litispendência; e c) a coisa julgada.

E, por derradeiro, é pressuposto processual objetivo intrínseco:

a) a regularidade do procedimento.

3.3 Classificação da ação penal

Em matéria processual penal, a ação é classificada, segundo a sua

titularidade, em pública ou privada. A ação penal pública, de titularidade do Ministério Público, pode ser:

a) ação penal pública incondicionada; b) ação penal pública condicionada à representação; e c) ação penal pública condicionada à requisição.

Enquanto a ação penal pública incondicionada pode ser ajuizada pelo

Ministério Público, independentemente da participação de qualquer pessoa, o mesmo não ocorre quando a ação depende de representação ou requisição.

A ação penal pública condicionada à representação só pode ser ajuizada pelo Ministério Público mediante a feitura do pedido/autorização pelo ofendido ou por seu representante legal, e no caso de morte, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do ofendido.

Já a ação penal pública condicionada à requisição só pode ser ajuizada pelo Ministério Público quando houver requisição do Ministro da Justiça.

Por sua vez, a ação penal privada pode ser:

a) ação penal privada propriamente dita; b) ação penal privada personalíssima; e c) ação penal privada subsidiária da pública.

Pode ajuizar a ação penal privada propriamente dita, o ofendido ou

seu representante legal, assim como seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

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Já a ação penal privada personalíssima, como é sugestiva a expressão, só pode ser ajuizada pelo próprio ofendido.

Por derradeiro, a ação penal privada subsidiária da pública é aquela que pode ser ajuizada pelo ofendido ou seu representante legal, assim como pelo seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, no caso de inércia do Ministério Público em relação ao oferecimento da denúncia no prazo legal.

3.4 Ação penal pública

O caput do artigo 24 do Código de Processo Penal abre o Título que trata da “Ação Penal” dispondo que “nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo”.

No caso de morte do ofendido ou quando este for declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 24, §1º, do CPP).

Conforme salienta o artigo 25 do Código de Processo Penal, uma vez apresentada a representação, esta é irretratável após o oferecimento da denúncia, nada obstando, portanto, a retratação antes desse momento.

A representação é a autorização do ofendido, ou no caso de sua morte ou ausência declarada judicialmente, do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Sem essa autorização não pode ter início a persecução penal.

Nos casos em que somente se procede mediante ação penal pública condicionada, o Código Penal é expresso, sendo que em relação aos demais vige a regra da ação pública incondicionada.

O prazo para representação, de natureza decadencial, é de 6 (seis) meses, contados a partir do conhecimento da autoria do crime.

O direito de representação pode ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, deve ser reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida (art. 39, §1º, do CPP).

A representação deve conter todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria criminosa.

Tão logo seja oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial deve proceder ao inquérito, ou, se não for competente, deve remetê-la à autoridade que o seja. Quando feita ao juiz ou perante a este reduzida a termo, a representação deve ser remetida à autoridade policial para que este proceda ao inquérito.

No entanto, admite-se que o Ministério Público dispense o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, caso em que a denúncia deve ser oferecida no prazo de 15 (quinze) dias, conforme determina o parágrafo quinto do Código de Processo Penal.

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Estipula o parágrafo segundo do artigo 24 do Código de Processo Penal que, seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado, Distrito Federal e Município, a ação penal a ser adotada é a pública incondicionada.

Conforme prevê o artigo 27 do Código de Processo Penal, qualquer pessoa do povo pode provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. A partir daí, é dever o Ministério Público proceder ao necessário para apuração do fato noticiado.

Quando o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, caso considere improcedentes as razões invocadas, deve remeter os autos do inquérito ou das peças de informação ao procurador-geral, que oferecerá a denúncia em substituição ao órgão que requereu o arquivamento, ou designará outro órgão do Ministério Público para que a ofereça, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender (art. 28, do CPP).

Como se vê, o juiz não é obrigado a aceitar o pedido de arquivamento de um inquérito policial ou de peças informativas do Ministério Público. Se ele entender que há indícios suficientes de autoria e materialidade, ou que estes podem ser obtidos com novas diligências, ele deve remeter os autos ao procurador-geral, que pode adotar três condutas:

a) oferecer a denúncia, imediatamente; b) designar outro órgão do Ministério Público para que a ofereça; ou

c) insistir no pedido de arquivamento do inquérito ou das peças

informativas.

No último caso o juiz estará obrigado a atender o pedido de arquivamento, não podendo adotar outra conduta.

O prazo para oferecimento da denúncia, conforme prevê o artigo 46 do Código de Processo Penal, estando o réu preso, é de 5 (cinco) dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 (quinze) dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial para novas diligências, contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos, conforme dispõe o caput do artigo 46 do Código de Processo Penal. Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação (art. 46, §1º, do CPP).

Antes de oferecer a denúncia, se o Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e documentos complementares ou novos elementos de convicção, deve requisitá-los, diretamente, de quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los (art. 47, do CPP).

Se não forem respeitados os prazos supra mencionados para oferecimento da denúncia, o Código de Processo Penal faculta ao ofendido ou a seu representante legal, e no caso de morte, ao cônjuge, ascendente,

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descendente ou irmão o oferecimento de queixa substitutiva da denúncia (ação penal privada subsidiária da pública), como será analisado no tópico seguinte, referente às ações penais privadas.

3.5 Ação penal privada

Em algumas situações, o Estado autoriza que o particular ocupe o pólo ativo da ação penal, situações em que se pode dizer que o interesse do ofendido se sobrepõe ao próprio interesse público. Isso não quer dizer, naturalmente, que o Estado não exerça com exclusividade a atividade punitiva, pois em caso de condenação na ação penal privada, é apenas o Estado quem poderá aplicar a punição ao condenado.

Conforme prevê o artigo 30 do Código de Processo Penal, ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo cabe intentar a ação penal privada. E o artigo 31 completa o raciocínio ao dispor que em caso de morte do ofendido ou quando este for declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, tem preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31 do Código de Processo Penal, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone.

Nos crimes de ação penal privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar sua pobreza, deve nomear advogado para promover a ação penal. Considera-se pobre a pessoa que não possa prover às despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família (art. 32, §1º, do CPP). Como prova da pobreza basta o atestado da autoridade policial em cuja circunscrição residir o ofendido.

Para a ação penal privada vige o princípio da disponibilidade, isto é, o ofendido tem a faculdade de oferecer a queixa, e não a obrigatoriedade, como ocorre com o Ministério Público em relação a ação penal pública incondicionada e em relação a ação penal pública condicionada quando o ofendido faz a representação. A consagração do mencionado princípio resulta:

a) na possibilidade do ofendido renunciar ao direito de queixa; b) na possibilidade do ofendido perdoar o agente; c) na possibilidade de se verificar perempção; e

d) na possibilidade de se verificar a perda do direito de intentar a ação

penal privada, pela decadência.

Em qualquer desses casos, opera-se a extinção da punibilidade do agente, todos melhor abordados no tópico seguinte.

Outro aspecto importante acerca da ação penal privada é a indivisibilidade, ou seja, o ofendido não pode optar por oferecer a queixa em relação a apenas um ou alguns, dentre os autores do crime contra ele cometido. O artigo 48 do Código de Processo Penal prevê que a queixa

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contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade. Nesse sentido, o artigo 49 do Código de Processo Penal dispõe que a renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estende. E mais, dispõe o artigo 51 do Código de Processo Penal que o perdão concedido a um dos querelados aproveita a todos, salvo em relação àquele que o recusar.

Quanto ao prazo, salvo disposição em contrário, o ofendido ou seu representante legal tem 6 (seis) meses, contados do dia em que se tomar ciência de quem é o autor do crime, para o oferecimento da queixa-crime, sob pena de decadência, com o que estará extinta a punibilidade do autor do crime. No caso da ação penal privada subsidiária da pública, esse prazo de 6 (seis) meses tem início no dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia, pelo Ministério Público.

Por derradeiro, há que se mencionar que dentre as espécies da ação em estudo, a regra é a utilização da ação penal privada propriamente dita, que pode ser ajuizada pelo ofendido ou por seu representante legal, e no caso de morte, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. A ação penal privada personalíssima, atualmente, tem apenas uma hipótese de utilização, que é no crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento, do artigo 236 do Código Penal. Quanto ao assunto, veja-se a transcrição do referido tipo penal:

Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.

Por fim, a ação penal privada subsidiária da pública é passível de ser

utilizada quando o Ministério Público não observar os prazos legais para oferecimento da denúncia, caso em que o ofendido pode oferecer a queixa-crime, substitutiva da denúncia. Nesse caso, a ação penal não perde seu caráter público, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal, conforme previsão legal do artigo 29 do Código de Processo Penal. Essa ação, é importante frisar, possui previsão constitucional, no artigo 5º, inciso LIX, que dispõe: “será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”.

3.5.1 Causas extintivas da punibilidade nas ações penais privadas

Como mencionado, a consagração do princípio da disponibilidade em

sede das ações penais privadas resulta:

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a) na possibilidade do ofendido renunciar ao direito de queixa; b) na possibilidade do ofendido perdoar o agente; c) na possibilidade de se verificar perempção; e

d) na possibilidade de se verificar a perda do direito de intentar a ação

penal privada, pela decadência.

Em todos esses casos, há extinção da punibilidade do agente. Contudo, frise-se que essas hipóteses extintivas da punibilidade não alcançam a ação penal privada subsidiária da pública, pois como mencionado, essa ação não perde seu caráter público, logo, não se submete ao princípio da disponibilidade e às consequências dele resultantes.

3.5.1.1 Renúncia ao direito de queixa

A renúncia ao direito de queixa pode ser tácita ou expressa. Será tácita quando o ofendido deixar transcorrer o prazo in albis para o oferecimento da queixa (decadência), assim como quando praticar ato incompatível com ela. E será expressa quando constar de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais.

Portanto, a renúncia é ato anterior ao oferecimento da queixa, e uma vez operada em relação a um dos autores do crime, a todos se estende.

3.5.1.2 Perdão do ofendido

Enquanto a renúncia ao direito de queixa provoca a extinção da punibilidade do agente, antes do início da ação penal, o perdão do ofendido destina-se a extinguir a punibilidade daquele quando a ação já estiver em curso, desde que ainda não tenha transitado em julgado a decisão condenatória.

O perdão do ofendido só produz efeitos em relação ao querelado que o aceitar, sem o que não há que se falar em extinção da punibilidade.

O perdão concedido a um dos querelados aproveita a todos, exceto em relação ao que o recusar (art. 51, do CPP).

Conforme prevê o artigo 55 do Código de Processo Penal, o perdão só pode ser aceito por procurador quando a este tiverem sido conferido poderes especiais.

Tanto nos casos de renúncia tácita quando nos de perdão tácito, admitem-se todos os meios de prova (art. 57, do CPP).

Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado deve ser intimado a dizer, dentro de 3 (três) dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação (art. 58, caput, do CPP). Aceito o perdão, está extinta a punibilidade.

Por derradeiro, conforme dispõe o artigo 59 do Código de Processo Penal, a aceitação do perdão fora do processo deve constar, obrigatoriamente, de declaração assinada pelo querelado, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais.

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3.5.1.3 Perempção

Nos casos em que se procede somente mediante queixa-crime,

considera-se perempta a ação penal:

a) quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 (trinta) dias seguidos;

b) quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36 do Código de Processo Penal;

c) quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

d) quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

Caso a ação penal privada seja personalíssima e ocorra a morte do querelante, ela será extinta pela perempção e o querelado terá extinta sua punibilidade.

No caso de ação penal privada subsidiária da pública, a inércia do querelante nada mais causa que a retomada da titularidade da ação penal pelo Ministério Público.

3.5.1.4 Decadência

A decadência é a perda do direito de oferecimento da queixa-crime,

em razão da inércia do ofendido. Via de regra, o prazo para oferecimento da queixa é de 6 (seis)

meses, contados:

a) da data em que o ofendido tomou ciência sobre quem seja o autor do crime; ou

b) da data em que venceu o prazo legal para o Ministério Público oferecer denúncia em relação a um crime de ação penal pública.

Nesse último caso, no entanto, o que ocorre é apenas a perda do direito do ofendido oferecer queixa substitutiva da denúncia, mas não o direito do Ministério Público oferecer denúncia. Tão menos há que se falar, quanto a esta hipótese, de extinção da punibilidade, uma vez que essa só ocorre (pela inércia do ofendido) em relação a crimes que sejam exclusivos de ação penal privada, e não em relação a crimes de ação penal pública.

3.6 Denúncia e queixa-crime

A denúncia, se recebida, é a peça processual que instaura a ação penal pública, ao passo que a queixa-crime, se recebida, é a peça processual que instaura a ação penal privada.

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Conforme previsão legal do artigo 41 do Código de Processo Penal, são requisitos da denúncia, assim como da queixa-crime:

a) a descrição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias;

b) a qualificação do acusado ou o fornecimento de elementos que permitam identificá-lo;

c) a classificação do crime; e d) se necessário, o rol de testemunhas.

Ausente qualquer desses requisitos, considera-se inepta a denúncia

ou queixa (art. 395, I, do CPP). No caso da queixa-crime, alguns requisitos devem ser acrescidos,

conforme determinação do artigo 44 do Código de Processo Penal, que exige poderes especiais do procurador que oferecer a queixa-crime, devendo constar do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.

Admite-se que a queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, seja aditada pelo Ministério Público, salvo para imputar ao querelado novos crimes ou para nela incluir novos ofensores (art. 45, do CPP).

As hipótese de rejeição da denúncia ou queixa, antes descritas no artigo 43 do Código de Processo Penal, passaram a ser descritas no artigo 395 do mesmo Códex, após a reforma processual operada pela Lei n.º 11.719/08.

Dessa forma, a denúncia ou queixa deve ser rejeitada quando:

a) for manifestamente inepta; b) faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação

penal; ou c) faltar justa causa para o exercício da ação penal.

4. Ação Civil ex Delicto

A ação civil ex delicto é aquela destina a ressarcir o ofendido ou seus familiares pelos prejuízos materiais ou imateriais que sofreram em razão da prática de um crime.

Proferida sentença penal condenatória, possuem legitimidade para requerer a reparação de danos: o ofendido, seu representante legal, ou seus herdeiros. A sentença em questão é título executivo judicial, e a execução segue rito processual próprio, autônomo, perante o juízo cível.

A ação civil ex delicto, portanto, é a ação executiva destinada a entregar ao ofendido ou familiares os valores ressarcitórios devidos em razão da prática criminosa.

A ação civil ex delicto pode ser ajuizada contra o autor do crime, e, se for o caso, contra o responsável civil (art. 64, do CPP).

Ao proferir sentença penal condenatória, o juiz deve fixar o valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, considerando

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os prejuízos sofridos pelo ofendido, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido.

A sentença penal que reconhece ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito faz coisa julgada também na órbita civil (art. 65, do CPP).

Inobstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser ajuizada quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência do fato, conforme orienta o artigo 66 do Código de Processo Penal.

Por fim, há que se mencionar que não impedem, igualmente a propositura da ação civil:

a) o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;

b) a decisão que julgar extinta a punibilidade; e

c) a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.

5. Jurisdição

O Estado é o legítimo detentor da atividade jurisdicional. É dele a

função de solucionar os conflitos após ser provocado pelas partes nele envolvidas.

A jurisdição penal é exercida pelos juízes e tribunais, que atuam em nome do Estado nessa atividade. A divisão desses juízes e tribunais, de modo que a cada um seja dada uma parcela de atribuições em relação à atividade jurisdicional, ocorre mediante a delimitação das regras de competência, regras estas objeto de estudo no próximo capítulo.

A jurisdição rege-se por princípios, quais sejam:

a) investidura; b) indelegabilidade; c) inevitabilidade; d) inafastabilidade; e) juiz natural; f) inércia; e g) correlação.

O princípio da investidura fixa a regra de que só pode exercer uma

parcela de jurisdição aquele que estiver regularmente investido no cargo de juiz.

Por meio do princípio da indelegabilidade, veda-se que qualquer órgão do Poder Judiciário delegue suas atribuições. No entanto, há que se fazer ressalva quanto às cartas precatórias, rogatórias e cartas de ordem.

O princípio da inevitabilidade dá às partes a condição de pura sujeição perante o Estado-juiz, já que elas não podem evitar, nem recusar a

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atividade jurisdicional por ele exercida. Ressalva seja feita em relação aos casos de impedimento, suspeição e incompetência.

Está constitucionalmente garantido que a lei não pode excluir da apreciação do poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV), consagrando, pois o princípio da inafastabilidade. Por ele, o juiz está obrigado a prestar a tutela jurisdicional ainda que haja lacuna na lei.

O princípio do juiz natural garante a inexistência de juízos ou tribunais de exceção, isto é, juízos ou tribunais criados após a ocorrência de determinada infração criminal com o propósito exclusivo de julgá-la, conforme prevê o artigo 5º, inciso XXXVII da Constituição Federal de 1988. E esse princípio se forma completamente com a aglutinação da regra contida no artigo 5º, inciso LIII, também da Constituição Federal, que consagra que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.

O princípio da inércia garante que só haverá instauração de ações penais mediante provocação de quem seja legitimado. Dessa forma, veda-se a instauração de ações ex officio. Esse princípio, frise-se, aplica-se a fase inicial do processo penal, isto é, em relação a instauração do mesmo, mas não na dilação probatória, quando o juiz pode e deve atuar de ofício, pretendendo o maior número de provas que lhe permitam encontrar a verdade real.

Por derradeiro, o princípio da correlação impede o julgamento fora dos limites pré-determinados na peça acusatória. Com o pedido apresentado pelo Ministério Público ou pelo querelante, o juiz fica a ele restrito, não podendo proferir sentença ultra, extra ou infra petita.

6. Competência

Determina a competência jurisdicional, conforme estipulação do artigo

69 do Código de Processo Penal:

a) o lugar da infração: b) o domicílio ou residência do réu; c) a natureza da infração; d) a distribuição; e) a conexão ou continência; f) a prevenção; g) a prerrogativa de função.

6.1 Competência pelo lugar da infração

Via de regra, a competência para a ação penal é determinada pelo

lugar em que se consuma a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que foi praticado o último ato de execução (art. 70, caput, do CPP).

Se a execução do crime tiver início no Brasil e se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no

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Brasil, o último ato de execução, conforme determina o parágrafo primeiro, do artigo 70 do Código de Processo Penal.

Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado (art. 70, §2º, do CPP).

Se incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção (art. 70, §3º, do CPP).

Por fim. tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência também firmar-se-á pela prevenção (art. 71 do CPP).

6.2 Competência pelo domicílio ou residência do réu

Se não for conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu, conforme determina o caput do artigo 72 do Código Penal. Caso o réu tenha mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção. Mas se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato (art. 72, §2º, do CPP).

Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante pode preferir o foro do domicílio ou da residência do réu, ainda que conhecido o lugar da infração, conforme orienta a hipótese excepcional do artigo 73 do Código de Processo Penal.

6.3 Competência pela natureza da infração

A competência para a ação penal também pode ser firmada pela

natureza da infração. Nesses casos, a competência será firmada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.

Conforme orienta o artigo 74, parágrafo primeiro do Código de Processo Penal, é competente o Tribunal do Júri para o julgamento dos seguintes crimes (todos dolosos, contra a vida):

a) homicídio simples, privilegiado ou qualificado (art. 121, §§1º e 2º, do CP);

b) induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122, parágrafo único, do CP);

c) infanticídio (art. 123, do CP);

d) aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124, do CP);

e) aborto provocado por terceiro (arts. 125, 126 e 127 do CP).

Em qualquer caso, serão julgados perante o Tribunal do Júri os crimes supra mencionados, sejam eles consumados ou tentados.

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Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da competência de outro, a este deve ser remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada (art. 74, §2º, do CPP).

Se o juiz da pronúncia, que é o juiz da primeira fase do procedimento do júri, desclassificar a infração para outra atribuída à competência de juiz singular, a ele deve remeter os autos, observando o artigo 419 do Código de Processo Civil; mas se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá proferir sentença (art. 492, §1º, do CPP).

6.4 Competência por distribuição

A competência para ação penal também pode ser fixada pela distribuição. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente (art. 75, caput, do CPP).

A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal, conforme disposição do parágrafo único do artigo 75 do Código de Processo Penal.

6.5 Competência por conexão ou continência

A competência é determinada pela conexão:

a) se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;

b) se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

c) quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

Conforme a lição de Fernando Capez, “conexão é o vínculo, o liame, o nexo que se estabelece entre dois ou mais fatos, que os torna entrelaçados por algum motivo, sugerindo a sua reunião no mesmo processo, a fim de que sejam julgados pelo mesmo juiz, diante do mesmo compêndio probatório e com isso se evitem decisões contraditórias”.

Por sua vez, a competência é determinada pela continência quando:

a) duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;

b) no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 70, primeira parte, do Código Penal (concurso formal), 73, parte final, do Código Penal (aberratio ictus) e 74, parte final, também do Código Penal (aberratio criminis).

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A continência, quando verificada, não possibilita que haja mais de um processo, pois a causa de um está contida noutro. Isso ocorre quando duas ou mais pessoas são acusadas pela mesma prática criminosa, ou quando se está diante de hipóteses de concurso formal de crimes, aberratio ictus ou aberratio criminis.

Para a determinação da competência por conexão ou continência, devem ser observadas as seguintes regras:

I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri;

Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:

a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;

b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número

de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;

III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a

de maior graduação;

IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá

esta.

Conforme disposição do artigo 79 do Código de Processo Civil, tanto a conexão como a continência importam em unidade de processo e julgamento, exceto:

a) no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

b) no concurso entre a jurisdição comum e a da infância e juventude. Nesse caso, há regras próprias no Estatuto da Criança e do Adolescente, em relação aos atos infracionais praticados por adolescentes.

Se sobrevir doença mental a algum co-réu, o processo deve permanecer suspenso em relação a ele, e deve prosseguir quanto aos demais, cessando, obrigatoriamente, a unidade do processo, seja ela decorrente de conexão ou continência.

A unidade do processo não importa na unidade de julgamento, quando houver co-réu foragido que não possa ser julgado à revelia, bem como na hipótese do artigo 469 do Código de Processo Civil, que trata da recusa de jurados para a composição do Tribunal do Júri, quando forem dois ou mais os acusados. Nesses casos, também é obrigatória a separação dos processos.

Em contrapartida, é facultativa a separação dos processos:

a) quando as infrações tiverem sido cometidas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes;

b) quando houver excessivo número de acusados; c) para não prolongar a prisão provisória de nenhum dos réus; ou d) por outro motivo relevante.

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Reconhecida inicialmente ao Tribunal do Júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração, impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua essa competência, deverá remeter o processo ao juízo competente (art. 81, parágrafo único, do CPP).

Se, inobstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deve avocar os processos que corram perante os outros juízes, exceto se já estiverem com sentença definitiva, caso em que a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas (art. 82 do CPP).

6.6 Competência por prevenção

A determinação da competência pela prevenção ocorre toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido ao outro na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa.

6.7 Competência pela prerrogativa de função

A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade.

É importante frisar que a competência por prerrogativa de função não prevale sobre a competência do Tribunal do Júri quando a primeira tiver sido fixada, com exclusividade, por Constituição Estadual, entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal (súmula n.º 721).

Ao Supremo Tribunal Federal compete processar e julgar, originariamente:

a) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; e

b) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, da CRFB/88, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente.

Ao Superior Tribunal de Justiça compete processar e julgar, originariamente:

a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal; e

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b) nos crimes comuns e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais.

Os Tribunais Regionais Federais, por sua vez, tem competência para processar e julgar, originariamente:

a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

Por derradeiro, compete aos Tribunais de Justiça dos Estados processar e julgar:

a) os Prefeitos Municipais, os Juízes de Direito, os Juízes Auditores da Justiça Militar e os membros do Ministério Público.

É importante, frise-se, não esquecer que o Senado Federal também possui competência para processar e julgar:

a) o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; e

b) os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade.

Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que a Constituição Federal sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Justiça, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade, conforme redação legal do artigo 85 do Código de Processo Penal, redação que trata de questão prejudicial ao julgamento de mérito.

Por derradeiro, o artigo 86 do Código de Processo Penal dispõe que compete, privativamente, ao Supremo Tribunal Federal, processar e julgar:

a) os seus ministros, nos crimes comuns;

b) os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do Presidente da República;

c) o procurador-geral da República, os desembargadores dos Tribunais de Apelação, os ministros do Tribunal de Contas e os embaixadores e ministros diplomáticos, nos crimes comuns e de responsabilidade.

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6.8 Modificação da competência

Fala-se em modificação da competência para a ação penal sob as

seguintes modalidades:

a) prorrogação; b) delegação; e c) desaforamento.

A prorrogação da competência ocorre quando há substituição de um

juízo por outro. Assim como ocorre no processo civil, se a ação penal for ajuizada em foro relativamente incompetente e não for oposta exceção de incompetência no prazo previsto, o foro que era incompetente torna-se competente por prorrogação. Também há prorrogação nos casos de conexão e continência.

A delegação, em verdade, é de atribuições relativas a ação penal e não da competência. Diz-se que há delegação interna quando um juiz pratica, no lugar de outro, atos relativos à ação penal, como o faz o juiz substituto durante as férias do juiz titular. E diz-se que há delegação externa quando há solicitação da prática de atos relativos à ação penal a outro juízo, como ocorre nas cartas precatórias e rogatórias.

O desaforamento ocorre nos crimes de competência do Tribunal do Júri, quando se altera a comarca de julgamento. O desaforamento ocorrerá:

a) quando houver interesse de ordem pública; b) quando houver dúvida sobre a imparcialidade do júri; c) quando necessário à segurança do acusado; ou

d) quando houver excesso de serviço, situação em que deve ser

ouvido o juiz presidente e a parte contrária, desde que o julgamento não possa ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da pronúncia.

O pedido para realização do julgamento em outra comarca pode ser feito mediante requerimento, pelo Ministério Público, pelo assistente ou pelo querelante ou mediante representação, pelo próprio juiz. O pedido de desaforamento deve ser dirigido ao Tribunal de Justiça.

Enquanto a competência territorial (ratione loci) pode sofrer modificação, a competência em razão da matéria (ratione materiae), assim como a competência por prerrogativa de função (ratione personae) não o podem, já que as últimas traduzem causas de ordem pública.

7. Questões e Processos Incidentes

As questões e os processos incidentes traduzem a previsão legal de situações excepcionais que podem surgir durante o trâmite da ação penal e que lhe prejudicam a análise meritória. Fernando Capez escreve que, “em sentido jurídico, as questões e os processos incidentes são soluções dadas pela lei processual para as variadas eventualidades que podem ocorrer no

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processo e que devem ser resolvidas pelo juiz antes da solução da causa principal” (2010, p. 454).

7.1 Questões prejudiciais

Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute série e fundada sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal deve permanecer suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, no entanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente (art. 92 do CPP).

Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da supra mencionada, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, ao juiz criminal é conferida a faculdade, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente (art. 93, caput, do CPP).

Nesse caso, o juiz deve marcar o prazo da suspensão, que pode ser razoavelmente prorrogado, desde que a demora não seja imputável à parte. Expirado o prazo sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal deve fazer prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa (art. 93, §1º, do CPP).

Conforme disposição do parágrafo segundo do artigo 93 do Código de Processo Penal, é irrecorrível o despacho que denega a suspensão do processo.

Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbe ao Ministério Público intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento (art. 93, §3º, do CPP).

A suspensão do curso da ação penal, nas hipóteses supra mencionadas, deve ser decretada pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes (art. 94 do CPP).

7.2 Exceções

Segundo o artigo 95 do Código de Processo Penal, podem ser

opostas exceções de:

a) suspeição; b) incompetência de juízo; c) litispendência; d) ilegitimidade de parte; e) coisa julgada

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7.2.1 Suspeição

A arguição de suspeição precede a qualquer outra, salvo quando

fundada em motivo superveniente (art. 96 do CPP). Quando o juiz afirmar espontaneamente a suspeição, deve fazê-lo por

escrito, oportunidade em que deve declarar o motivo legal e remeter imediatamente o processo ao seu substituto, intimando as partes (art. 97, do CPP).

Sempre que uma das partes pretender recusar o juiz, deve fazê-lo em petição assinada por ela própria ou por procurador com poderes especiais, aduzindo as suas razões acompanhadas de prova documental ou do rol de testemunhas.

Nesse caso, se o juiz reconhecer a suspeição, deve sustar a marcha processual, mandando juntar aos autos a petição do recusante com os documentos que a instruam, e por despacho deve declarar-se suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto. Em contrapartida, se não aceitar a suspeição, o juiz deve mandar autuar em apartado a petição, dando resposta em 3 (três) dias, podendo instruí-la e oferecer testemunhas, para, em seguida determinar a remessa dos autos, em 24 (vinte e quatro) horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento, conforme dispõe o caput do artigo 100 do Código de Processo Penal.

Uma vez reconhecida, preliminarmente, a relevância da arguição, o juiz ou o tribunal, com citação das partes, deve marcar dia e hora para a inquirição das testemunhas, seguindo-se o julgamento, independentemente de mais alegações (art. 100, §1º, do CPP).

Em contrapartida, se a suspeição for de manifesta improcedência, o juiz ou relator deve rejeitá-la liminarmente (art. 100, §2º, do CPP).

Se a exceção de suspeição for julgada procedente, ficarão nulos os atos do processo principal, sendo o pagamento das custas de incumbência do juiz, no caso de erro inescusável. Mas, se a exceção for rejeitada, evidenciando-se a malícia do excipiente, a este será imposta multa.

Na hipótese da parte contrária reconhecer a procedência da arguição, a seu requerimento, o processo principal pode ser suspenso até que se julgue o incidente da suspeição (art. 102, do CPP).

Se arguida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de ouvi-lo, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no prazo de 3 (três) dias (art. 104, do CPP).

As parte também podem arguir como suspeitos os peritos, os intérpretes e os serventuários ou funcionários de justiça, decidindo o juiz de plano, em decisão irrecorrível, à vista da matéria alegada e prova imediata (art. 105, do CPP).

Em se tratando da suspeição de jurados, ela deverá ser arguida oralmente, decidindo de plano o presidente do Tribunal do Júri, que a rejeitará se, negada pelo recusado, não for imediatamente comprovada, o que tudo deve constar da ata (art. 106, do CPP).

Em relação as autoridades policiais, quanto aos atos do inquérito, não poderá ser oposta suspeição, mas elas tem o dever de declarar-se suspeitas, sempre que ocorrer algum motivo legal (art. 107, do CPP).

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7.2.2 Incompetência

A exceção de incompetência do juízo pode ser oposta de forma verbal

ou escrita, mas apenas no prazo para defesa, sob pena de preclusão e prorrogação do foro relativamente incompetente.

Se, ouvido o Ministério Público, for aceita a exceção declinatória de competência, o feito deve ser remetido ao juízo competente, onde, ratificados os atos anteriores, o processo terá seu normal prosseguimento (art. 108, §1º, do CPP).

Em contrapartida, se a exceção de incompetência for recusada, o juiz continuará no feito, fazendo tomar por termo a declinatória, se ela tiver sido formulada de forma verbal.

Conforme disposição do artigo 109 do Código de Processo Penal, se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, deve declará-lo nos autos, haja ou não alegação da parte nesse sentido.

7.2.3 Litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada

Consabido, litispendência é o ajuizamento de ação que apresenta as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo objeto, em relação a outra ação que já está em curso perante o mesmo ou em juízo diverso. A litispendência, consabido, é um pressuposto processual negativo, isto é, se verificado dá causa à extinção do processo posterior sem julgamento de mérito.

A coisa julgada, de maneira semelhante, também é um pressuposto processual negativo que, uma vez identificado, dá causa à extinção do processo sem julgamento de mérito. A coisa julgada é o ajuizamento de ação, com as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo objeto, em relação a um processo já definitivamente julgado. Conforme orienta o parágrafo segundo do artigo 110, do Código de Processo Penal, a exceção de coisa julgada somente poderá ser oposta em relação ao fato principal, que tiver sido objeto da sentença.

Já a ilegitimidade de parte, é uma condição da ação, sem a qual haverá extinção do processo sem julgamento de mérito. Há ilegitimidade de parte, por exemplo, quando o Ministério Público ajuíza ação penal em face de pessoa errada, não relacionada à prática criminosa objeto do processo penal.

Nas exceções de litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada, observa-se, no que pertinente for, o disposto sobre a exceção de incompetência do juízo (art. 110, do CPP).

Sempre que a parte tenha de ajuizar mais de uma exceção, ela deve fazê-lo em apenas uma petição ou articulado, conforme determina o parágrafo primeiro do artigo 110 do Código de Processo Penal.

Em todos os casos, as exceções devem ser processadas em autos apartados e, via de regra, não suspendem o andamento da ação penal.

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7.2.4 Incompatibilidades e impedimentos

O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou funcionários de justiça e os peritos ou intérpretes tem o dever de abster-se de servir no processo, sempre que houver incompatibilidade ou impedimento legal, que deve ser declarado nos autos.

Se a abstenção não ocorrer, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser arguido pelas partes, seguindo-se o mesmo procedimento estabelecido para a exceção de suspeição.

7.3 Conflito de jurisdição

Além da exceção, as questões atinentes à competência podem ser

resolvidas pelo conflito positivo ou negativo de juridição (art. 113, do CPP). O conflito de jurisdição é positivo quando duas ou mais autoridades

judiciárias se considerarem competentes para conhecer do mesmo fato criminoso.

E será negativo o conflito de jurisdição quando duas ou mais autoridades judiciárias se considerarem incompetentes para conhecer do mesmo fato criminoso.

Conforme disposição do artigo 115 do Código de Processo Penal, o conflito pode ser suscitado:

a) pela parte interessada; b) pelos órgãos do Ministério Público junto a qualquer dos juízos em

dissídio; c) por qualquer dos juízes ou tribunais em causa.

Os juízes e tribunais, sob a forma de representação, e a parte

interessada, mediante requerimento, devem dar forma escrita e circunstanciada do conflito, perante o tribunal competente, expondo os fundamentos e juntando os documentos comprobatórios. Se o conflito for negativo, os juízes e tribunais podem suscitá-los nos próprios autos do processo. No entanto, distribuído o feito, se o conflito for positivo, o relator poderá determinar imediatamente que se suspenda o andamento do processo.

Expedida ou não a ordem de suspensão, o relator deve requisitar informações às autoridades em conflito, remetendo-lhes cópias do requerimento ou representação. Essas informações devem ser prestadas no prazo que o relator assinalar. Recebidas as informações, e depois de ouvido o procurador-geral, o conflito será decidido na primeira sessão, salvo se a instrução do feito depender da realização de alguma diligência.

Proferida a decisão, as cópias necessárias devem ser remetidas, para a sua execução, às autoridades contra as quais tiver sido levantado o conflito ou que o houverem suscitado.

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7.4 Restituição das coisas apreendidas

Orienta o artigo 118 do Código de Processo Penal, que antes de

transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo.

Alguns objetos, no entanto, mesmo depois do trânsito em julgado da sentença final não serão devolvidos (ressalvado os direitos do lesado e do terceiro de boa-fé), tais como:

a) os instrumentos do crime, quando consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;

b) o produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.

Nessas hipóteses, a pena de perdimento será decretada em favor da

União. A restituição, quando cabível, pode ser ordenada pela autoridade

policial ou pelo juiz, mediante termo nos autos, desde que não haja dúvida quanto ao direito do reclamante (art. 120, caput, do CPP). Se esse direito for duvidoso, o pedido de restituição deve ser autuado em apartado, assinando-se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a produção de prova. Nesse caso, apenas o juiz criminal pode decidir sobre o incidente (art. 120, §1º, do CPP).

Esse incidente de restituição também deverá ser autuado em apartado e só pode ser resolvido pela autoridade judicial, se as coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, que deve ser intimado para alegar e provar o seu direito, em prazo igual e sucessivo ao do reclamante, tendo um e outro 2 (dois) dias para arrazoar (art. 120, §2º, do CPP).

Acerca do pedido de restituição, o Ministério Público deve sempre ser ouvido, em observância à determinação contida no parágrafo terceiro do artigo 120 do Código de Processo Penal.

No caso de dúvida sobre quem seja o verdadeiro dono, o juiz deve remeter as partes para o juízo cível, e ordenar o depósito das coisas em mãos de depositário ou do próprio terceiro que as detinha, se for pessoa idônea (art. 120, §4º, do CPP). No caso de coisas facilmente deterioráveis, devem ser avaliadas e levadas a leilão, depositando-se o dinheiro apurado, ou entregues ao terceiro que as detinha, se este for pessoa idônea e assinar termo de responsabilidade (art. 120, §5º, do CPP).

No caso de apreensão de coisa adquirida com os proventos da infração criminosa, transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, deve determinar a avaliação e a venda dos bens em leilão, e o dinheiro apurado deve ser entregue ao lesado ou ao terceiro de boa-fé, e o que não lhes couber deve ser recolhido ao Tesouro Nacional.

Por derradeiro, quanto aos instrumentos do crime, cuja perda em favor da União for decretada, e quanto as coisas confiscadas, devem ser inutilizadas e recolhidas a museu criminal, caso haja interesse na sua conservação (art. 124, do CPP).

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7.5 Medidas assecuratórias

As medidas assecuratórias foram previstas pelo legislador para

assegurar a efetiva reparação de danos, em benefício de todos os que tenham sofrido com a prática delituosa.

São medidas assecuratórias previstas pelo Código de Processo

Penal:

a) o sequestro; b) a hipoteca legal; e c) o arresto.

7.5.1 Sequestro

Caberá o sequestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com

os proventos da infração, ainda que tenham sido transferidos a terceiro. Basta, para a declaração do sequestro, a existência de indícios

veementes da proveniência ilícita dos bens, conforme estipula o artigo 126 do Código de Processo Penal.

O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou mediante representação da autoridade policial, pode ordenar o sequestro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa.

Realizado o sequestro, o juiz deve ordenar sua inscrição perante o competente Cartório de Registro de imóveis.

O sequestro deve ser autuado em apartado, e admite a interposição de embargos de terceiro. Conforme disposição do artigo 130 do Código de Processo Penal, o sequestro poderá ainda ser embargado:

a) pelo acusado, sob o fundamento de não terem os bens sido adquiridos com os proventos da infração;

b) pelo terceiro, a quem houverem os bens sido transferidos a título oneroso, sob o fundamento de tê-los adquirido de boa-fé.

Contudo, a decisão dos embargos de terceiro, nesses casos, não poderá ser pronunciada antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

Conforme estipulação do artigo 131 do Código de Processo Penal, o sequestro será levantado:

a) se a ação penal não for intentada no prazo de sessenta dias, contado da data em que ficar concluída a diligência;

b) se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os bens, prestar caução que assegure a aplicação do disposto no art. 91, II, “b”, do Código Penal;

c) se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença transitada em julgado.

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Com o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, deve determinar a avaliação e a venda dos bens em leilão, e o dinheiro apurado deve ser entregue ao lesado ou a terceiro de boa-fé, devendo ser recolhido o Tesouro Nacional aquilo que não lhes couber.

7.5.2 Hipoteca legal

A hipoteca legal, que recai sobre os bens imóveis do indiciado, pode

ser requerida pelo ofendido em qualquer fase do processo, desde que haja certeza da infração e indícios suficientes de autoria.

Se requerida mediante requerimento, a parte deve estimar o valor da responsabilidade civil, assim como designar e estimar o imóvel ou imóveis que terão de ficar especialmente hipotecados, com o que o juiz deve mandar logo que se proceda ao arbitramento do valor da responsabilidade e da avaliação do imóveis ou imóveis (art. 135, caput, do CPP).

A petição de requerimento da hipoteca legal deve ser instruída com as provas ou com a indicação das provas em que se funda a estimação da responsabilidade, com a relação dos imóveis que o responsável possuir, se outros tiver, além dos indicados no requerimento, e com os documentos comprobatórios do domínio (art. 135, §1º, do CPP).

O arbitramento do valor da responsabilidade e a avaliação dos imóveis designados devem ser feitos por perito nomeado pelo juiz, onde não houver avaliador judicial, sendo-lhe facultada a consulta dos autos do processo respectivo (art. 135, §2º, do CPP).

O juiz deve autorizar, tão somente, a inscrição da hipoteca do imóvel ou imóveis que sejam necessários à garantia da responsabilidade. O valor dessa responsabilidade deve ser liquidado de forma definitiva após a condenação, oportunidade em que pode ser requerido novo arbitramento se qualquer das partes não se conformar com o arbitramento anterior à sentença condenatória (art. 135, §5º, do CPP).

Cumpre mencionar, ainda, que é lícito ao réu oferecer caução suficiente, em dinheiro ou em títulos de dívida pública, pelo valor de sua cotação em Bolsa, situação em que o juiz pode deixar de mandar proceder à inscrição da hipoteca legal (art. 135, §6º, do CPP).

Por derradeiro, será cancelada a hipoteca se, por sentença transitada em julgado, o réu for absolvido ou lhe for julgada extinta a punibilidade (art. 141, do CPP).

7.5.3 Arresto

O arresto é medida assecuratória destinada a apreensão de bens

móveis. A apreensão desses bens deve respeitar o limite necessário à garantia da responsabilidade.

O depósito e a administração dos bens arrestados ficarão sujeitos ao regime do processo civil, conforme orienta o artigo 139 do Código de Processo Penal.

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As garantias do ressarcimento do dano alcançarão também as despesas processuais e as penas pecuniárias, tendo preferência sobre estas, porém, a reparação do dano ao ofendido (art. 140, do CPP).

O arresto poderá ser levantado se, por sentença transitada em julgado, o réu for absolvido ou lhe for julgada extinta a punibilidade (art. 141, do CPP).

7.6 Incidente de falsidade

O incidente de falsidade deve ser apresentado em escrito, situação

em que o juiz observará o seguinte processo:

a) mandará autuar em apartado a impugnação, e em seguida ouvirá a parte contrária, que, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, oferecerá resposta;

b) assinará o prazo de 3 (três) dias, sucessivamente, a cada uma das partes, para prova de suas alegações;

c) conclusos os autos, poderá ordenar as diligências que entender necessárias;

d) se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, mandará desentranhar o documento e remetê-lo, com os autos do processo incidente, ao Ministério Público.

Para que o procurador faça a arguição de falsidade, a procuração deve conter poderes especiais, obrigatoriamente, conforme determina o artigo 146 do Código de Processo Penal.

Também pode o juiz, de ofício, proceder à verificação da falsidade (art. 147, do CPP).

Independentemente da decisão proferida acerca da falsidade, ela não produz coisa julgada em prejuízo de ulterior processo, seja de natureza penal ou civil.

7.7 Insanidade mental do acusado

Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz deve ordenar, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, que seja este submetido a exame médico-legal (art. 149, caput, do CPP).

Esse exame pode ser ordenado, inclusive, na fase do inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente (art. 149, §1º, do CPP).

Quando determinar o exame, o juiz deve nomear curador ao acusado, ficando suspenso o processo, se já iniciada a ação penal, exceto quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento (art. 149, §2º, do CPP).

Conforme disciplina o artigo 150, caput, do Código de Processo Penal, para o efeito do exame, o acusado, se estiver preso, deve ser

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internado em manicômio judiciário, onde houver, ou, se estiver solto, e o requererem os peritos, em estabelecimento adequado que o juiz designar. O exame não poderá durara mais de 45 (quarenta e cinco) dias, salvo se os peritos demonstrarem a necessidade de prazo maior. Desde que não haja prejuízo para a marcha do processo, o juiz poderá autorizar que os autos sejam entregues aos peritos, com a finalidade de facilitar a realização do exame.

Caso os peritos concluam que o acusado era, ao tempo da infração, inimputável (art. 26, do CP), o processo penal deve prosseguir com a presença do curador, conforme disposição do artigo 151 do Código de Processo Penal.

Em contrapartida, se for verificado que a doença mental sobreveio à infração, o processo penal permanecerá suspenso até que o acusado se restabeleça, hipótese em que o juiz pode determinar a internação do mesmo em hospital especializado, se necessário. O processo retomará seu curso, desde que o acusado se restabeleça, ficando-lhe assegurada a faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença (art. 152, §2º, do CPP).

O incidente de insanidade mental deve ser processado em apartado, que será apenso aos autos principais apenas depois da apresentação do laudo.

Se a insanidade mental sobrevier apenas durante o cumprimento da pena, o juiz pode, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público, substituir a pena por medida de segurança.

8. Prova

Todos os tipos de provas são admitidos no processo penal, desde que lícitas. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

Também inadmissíveis são as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não ficar evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por meio de uma fonte independente das primeiras (art. 157, §1º, do CPP). Conforme a redação do parágrafo segundo, do artigo 157 do Código de Processo Penal, considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.

O juiz deve formar sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas (art. 155, caput, do CPP).

A prova da alegação, segundo o artigo 156 do Código de Processo Penal, incumbe a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:

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a) ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;

b) determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

8.1 Exame do corpo de delito e perícias em geral

Quando o crime for não transeunte, isto é, quando deixar vestígios, é

indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

O exame de corpo de delito e outras perícias deve ser realizado por perito oficial, portador de diploma de curso superior (art. 159, caput, do CPP). Na falta de perito oficial, o exame deve ser realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame (art. 159, §1º, do CPP). Os peritos não oficiais devem prestar o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo.

Ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado, faculta-se a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. A atuação do assistente técnico tem início com sua admissão pelo juiz, e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, devendo as partes serem intimadas acerca dessa decisão.

Durante o trâmite processual, permite-se às partes, quanto à perícia:

a) requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar;

b) indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.

Quando se tratar de perícia complexa, abrangente de mais de uma área de conhecimento especializado, pode se redesignada a atuação de mais de um perito oficial, assim como a parte pode indicar mais de um assistente técnico, nos mesmos moldes (art. 159, §7º, do CPP).

Conforme autorização do artigo 161 do Código de Processo Penal, o exame de corpo de delito pode ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

Quanto à autópsia, deve ser realizada pelo menos 6 (seis) horas após o óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que devem declarar no auto. Nos casos de morte violenta, basta o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal a apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

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Como mencionado, o exame de corpo de delito é indispensável. Contudo, excepcionalmente, se for impossível sua realização, por haverem desaparecidos os vestígios, a prova testemunhal pode suprir-lhe a falta.

Na hipótese do crime de lesões corporais, se o primeiro exame pericial for realizado de forma incompleta, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor (art. 168, caput, do CPP). Nesse exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo. Por expressa disposição legal, a falta de exame complementar pode ser suprida pela prova testemunhal (art. 168, §3º, do CPP).

No que tange ao exame do local onde tenha se realizado a prática criminosa, a autoridade deve providenciar imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que podem instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. É dever dos peritos, ademais, registrar no laudo quaisquer alterações do estado das coisas, assim como discutir, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

Quando se tratar de exame para o reconhecimento de escritos (grafotécnico), por comparação de letra, observar-se-á o seguinte:

a) a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for encontrada;

b) para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida;

c) a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados;

d) quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.

Em qualquer caso, é lícito às partes e à autoridade formular quesitos até o ato da diligência.

No caso de exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz deprecante. Nessas hipóteses, os quesitos do juiz e das partes devem seguir transcritos na precatória.

Elaborado o laudo, o juiz não fica adstrito a ele, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, total ou parcialmente (art. 182, do CPP).

Ressalvado caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial poderá negar a perícia requerida pelas partes, quando for desnecessária ao esclarecimento da verdade.

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8.2 Interrogatório do acusado

O interrogatório pode ser realizado a qualquer momento, basta que o acusado compareça perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, oportunidade em que será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.

Acerca do interrogatório, recentes alterações foram incluídas no Código de Processo Penal pela Lei n.º 11.900/2009.

Segundo redação do parágrafo primeiro do artigo 185 do Código de Processo Penal, com redação dada pela lei supra mencionada, o interrogatório do réu preso deve ser realizado, em sala própria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público e dos auxiliares, bem como a presença do defensor e a publicidade do ato.

Excepcionalmente, a teor da nova redação do parágrafo segundo do artigo em referência, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, pode realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades:

a) prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;

b) viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;

c) impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código;

d) responder à gravíssima questão de ordem pública.

Proferida decisão que determina a realização de interrogatório por videoconferência, as partes devem ser intimadas com 10 (dez) dias de antecedência (art. 185, §3º, do CPP).

Antes de ser interrogado por videoconferência, o preso tem direito de acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência una, de instrução e julgamento de que tratam os artigos 400, 411 e 531 do Código de Processo Penal. Há que se lembrar que na nova sistemática, toda a instrução processual penal é realizada em apenas uma audiência, sendo que o interrogatório do réu é o ato que fecha a sequência dos atos instrutórios.

Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz deve garantir ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor. Se o interrogatório for realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e também entre este e o preso (art. 185, §5º, do CPP).

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A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais por sistema de videoconferência deve ser fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, assim como pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil (art. 185, §6º, do CPP).

Quando o interrogatório não puder ser realizado no estabelecimento em que o preso estiver recolhido, nem por videoconferência, sua presença será requisitada em juízo, conforme orientação do parágrafo sétimo do artigo 185 do Código de Processo Penal.

E o parágrafo oitavo, do artigo em estudo, cuidou ainda de garantir que os recursos tecnológicos não se prestam apenas à realização de videoconferência, mas também podem ser utilizados para prática de outros atos processuais que dependam da participação da pessoa presa, tal como possível acareação, reconhecimento de pessoas e coisas e inquirição de testemunha ou tomada de declarações do ofendido. Nesse caso, garante-se o acompanhamento do ato processual pelo acusado e por seu defensor.

8.2.1 Procedimento do interrogatório

Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. O silêncio, consabido, não importa em confissão e não pode ser interpretado em prejuízo da defesa.

O interrogatório se constitui de duas partes:

1º) sobre a pessoa do acusado; e

2º) sobre os fatos.

Na primeira parte o interrogando deve ser questionado sobre a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu, sem prejuízo de outros dados familiares e sociais (art. 187, §1º, do CPP).

Já na segunda parte o interrogando deve ser questionado sobre:

a) ser verdadeira a acusação que lhe é feita;

b) não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela;

c) onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta;

d) as provas já apuradas;

e) se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas;

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f) se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreendido;

g) todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração;

h) se tem algo mais a alegar em sua defesa.

Após proceder ao interrogatório, o juiz deve indagar das partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se entender pertinente e relevante.

Caso o interrogando negue a acusação, total ou parcialmente, pode prestar esclarecimentos e indicar provas (art. 189, do CPP).

Em contrapartida, se ele confessar a autoria, será indagado acerca dos motivos e circunstâncias do fato, assim como se outras pessoas concorreram para a infração, e quais sejam (art. 190, do CPP).

Havendo mais de um acusado, eles devem ser interrogados separadamente, por expressa determinação legal.

O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo deve ser realizado da seguinte maneira:

a) ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente;

b) ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito;

c) ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as respostas.

Se o interrogando não souber ler ou escrever, deve intervir no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo (art. 192, parágrafo único, do CPP).

Também se faz necessária a presença de um intérprete quando interrogando não falar a língua nacional.

Caso o interrogado não saiba, não possa ou não queira assinar, tal fato deve ser consignado no termo.

Por derradeiro, a todo tempo o juiz pode proceder a novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes.

8.3 Confissão

Por meio da confissão, o acusado assume que praticou, total ou parcialmente, a infração criminosa. O valor da confissão se verifica pelos critérios adotados para os demais elementos de prova do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.

O silêncio do acusado não importa em confissão, mas isso não impede que constitua elemento para a formação da convicção do juiz, a teor da disposição contida no artigo 198 do Código de Processo Penal.

A confissão, uma vez feita fora do interrogatório, deve ser tomada por termo nos autos, e se o acusado não souber escrever, não puder ou não quiser assinar, tal fato também deverá ser consignado no termo.

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A confissão, conforme estipula o artigo 200 do Código de Processo Penal, é divisível e retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em conjunto. Com isso se nota que o acusado pode confessar no todo ou em parte a prática da infração criminosa, assim como pode se retratar total ou parcialmente sobre ela. 8.4 Ofendido

Sempre que possível, o ofendido deve ser qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações (art. 201, caput, do CPP). Caso o ofendido seja intimado para esse fim e deixe de comparecer sem motivo justo, lhe pode ser determinada a condução à presença da autoridade.

O ofendido deve ser comunicado acerca dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem (art. 201, §2º, do CPP). As comunicações ao ofendido devem ser feitas no endereço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico (art. 201, §3º, do CPP).

Deve-se reservar para o ofendido, antes do início da audiência e durante a sua realização, espaço reservado, no qual não tenha contato com o acusado.

Se o juiz entender necessário, pode encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado (art. 201, §5º, do CPP).

Também é dever do juiz adotar as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação (art. 201, §2º, do CPP).

8.5 Testemunhas

Conforme redação do artigo 202 do Código de Processo Penal, toda

pessoa pode ser testemunha. A testemunha deve fazer, sob palavra de honra, a promessa de dizer

a verdade do que souber e do que Ihe for perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa ser avaliada sua credibilidade (art. 203, do CPP).

O depoimento prestado pela testemunha não pode ser por escrito, sendo obrigatório que seja prestado oralmente. No entanto, não se veda à testemunha que faça breve consulta a apontamentos.

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Quando houver dúvida acerca da identidade da testemunha, o juiz deve proceder à verificação pelos meios que estiverem ao seu alcance, podendo, entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo (art. 205, do CPP).

Não se admite que a testemunha se exima de sua obrigação de depor. Contudo, podem recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que divorciado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias (art. 206, do CPP).

São proibidas de depois as pessoas que, em razão da função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. Os padres, no exercício de seu ministério, configuram típico exemplo de pessoas proibidas de depor.

Toda testemunha tem o dever de dizer a verdade, sob pena de falso testemunho, conduta tipificada no artigo 342 do Código Penal. Não tem o compromisso com a verdade, no entanto, os doentes e deficientes mentais, os menores de 14 (quatorze) anos, nem o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que divorciado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado.

O juiz, se julgar necessário, pode ouvir testemunhas que não tenham sido indicadas pelas partes, podendo, também, ouvir quaisquer pessoas a que as testemunhas se referirem, desde que lhe pareça conveniente. Por orientação do parágrafo segundo do artigo 209 do Código de Processo Penal, a pessoa ouvida que nada souber sobre algo que interesse à decisão da causa, não deve ser computada como testemunha.

A inquirição das testemunhas deve ser feita de per si, não podendo que umas ouçam ou saibam o depoimento das outras, sendo dever do juiz adverti-las, sempre, sobre as penas cominadas ao delito de falso testemunho. Para tanto, antes do início da audiência e durante a sua realização, devem ser reservados espaços separados para que se garanta a incomunicabilidade das testemunhas.

Não é dada à testemunha a faculdade de mentir, negar ou calar a verdade. Se ao proferir sentença, o juiz constatar que alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a verdade, deve remeter cópia do depoimento à autoridade policial para a instauração de inquérito. Quando o depoimento tenha sido prestado em plenário de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão na audiência (art. 538, §2º, do CPP), o tribunal (art. 561, do CPP), ou o conselho de sentença, após a votação dos quesitos, poderá fazer a apresentação imediata da testemunha à autoridade policial.

As perguntas à testemunha devem ser formuladas diretamente pelas partes, e o juiz deve estar atento para não permitir aquelas que possam induzir resposta, que não tenham relação com a causa ou que importarem na repetição de outra já respondida. Se o juiz constatar, após a inquirição da testemunha pelas partes, que há pontos não esclarecidos, pode ele complementar com os questionamentos que reputar pertinentes.

Segundo orienta o artigo 213 do Código de Processo Penal, o juiz não deve permitir que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo se estas forem inseparáveis da narrativa do fato.

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Antes do início do depoimento, as partes podem contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade ou indigna de fé. A contradita, portanto, deve ser feita logo após a qualificação da testemunha, e é o ato por meio do qual se impugna a oitiva de uma testemunha, por ser ela impedida, suspeita ou incapaz. Apresentada a contradita, a testemunha pode aceitá-la, ou negá-la, quando deverá então provar que não se encontra na situação alegada pela parte contrária.

Feita a contradita ou arguição, o juiz deve consigná-la, juntamente com a resposta da testemunha, mas só deve excluir a testemunha ou não lhe deferir o compromisso de dizer a verdade quando constatar que quem está a depor é pessoa proibida (art. 207, do CPP) ou doentes e deficientes mentais, ou menores de 14 (quatorze) anos, ou o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que divorciado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado.

Na relação do depoimento, o juiz deve cingir-se, tanto quanto possível, às expressões utilizadas pelas testemunhas, reproduzindo fielmente as suas frases.

O depoimento da testemunha deve ser reduzido a termo, assinado por ela, pelo juiz e também pelas partes. Caso a testemunha não saiba assinar, ou não possa fazê-lo, deve pedir a alguém que o faça por ela, depois de lido o depoimento na presença de ambos.

Sempre que o juiz constatar que a presença do réu pode causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a veracidade do depoimento, deve fazer a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, deve determinar a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença de seu defensor. A adoção de qualquer dessas medidas, conforme orientação do parágrafo único do artigo 217 do Código de Processo Penal, deve constar do termo, assim como seus motivos determinantes.

Quando a testemunha deixar de comparecer, sem motivo justo, inobstante ter sido regulamente intimada, pode o juiz requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar que ela seja conduzida por oficial de justiça, que pode solicitar o auxílio da força pública quando necessário.

À testemunha faltosa o juiz pode aplicar multa, nos termos do artigo 453 do Código de Processo Penal, sem prejuízo da ação penal em razão do crime de desobediência, assim como condená-la ao pagamento das custas da diligência.

Conforme disposição do artigo 220 do Código de Processo Penal, as pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para depor, devem ser inquiridas onde estiverem.

O Presidente, o Vice-Presidente da República, os senadores, os deputados federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos dos Municípios, os deputados das Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz (art. 221, caput, do CPP).

No caso do Presidente e do Vice-Presidente da República, dos presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo

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Tribunal Federal, a eles é conferida a faculdade de prestarem depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.

No que tange aos militares, sua intimação ocorre mediante requisição à autoridade superior.

Quanto aos funcionários públicos, a intimação deve ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com a indicação do dia e da hora marcados para o depoimento, de modo que o serviço público não sofra qualquer prejuízo.

Se a testemunha morar fora da jurisdição do juiz, deve ser inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo, para essa finalidade, carta precatória, com prazo razoável e intimação das partes. A expedição da precatória não suspende a instrução criminal (art. 222, §2º, do CPP). Encerrado o prazo marcado, sem a devolução da precatória, o juiz pode realizar o julgamento, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, deve ser juntada aos autos.

Outra inovação da Lei n.º 11.900/2009 foi o parágrafo terceiro do artigo 222 do Código de Processo Penal. Por ele, confere-se alternativa valiosa ao juiz, que pode deixar de optar pela carta precatória, nos moldes antigos, para requerer a oitiva de testemunha por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e julgamento.

No caso das cartas rogatórias, isto é, aquelas destinadas à inquirição de testemunhas que estejam fora do país, só devem ser expedidas quando previamente demonstrada a sua imprescindibilidade, arcando a parte com os custos do envio.

Sempre que a testemunha não conheça a língua nacional, deve lhe ser nomeado intérprete para tradução das perguntas e respostas.

Se a testemunha for surda, a ela serão apresentadas por escrito as perguntas, que ela deverá responder oralmente. Se a testemunha for muda, e ela serão feitas oralmente as perguntas, que ela responderá por escrito. E se a testemunha for surda-muda, as perguntas serão a ela formuladas por escrito, e a respostas devem ser apresentadas do mesmo modo.

É também dever das testemunhas, comunicar ao juiz, dentro de 1 (um) ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples omissão, às mesmas penas do não-comparecimento (art. 224, do CPP).

Por derradeiro, se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz pode, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

8.6 Reconhecimento de pessoas e coisas

Sempre que houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de

pessoa, deve-se proceder da seguinte forma:

a) a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;

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b) a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;

c ) se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela (esta disposição não se aplica na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento);

d) do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

E para o reconhecimento de objeto, deve-se proceder com as mesmas cautelas supra mencionadas, naquilo que compatível.

Quando várias pessoas forem chamadas a realizar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma deve fazê-lo em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas (art. 228, do CPP).

8.7 Acareação

A acareação é o meio pelo qual se procura afastar a contradição entre depoimentos, situação na qual uma pessoa é posta frente a outra. Quando uma testemunha diz que o acusado estava em sua casa no momento do crime, e outra diz que ele estava em sua companhia, em uma lanchonete, por exemplo, há que se fazer uma acareação entre as duas, para que se identifique qual está faltando com a verdade.

A acareação pode ser feita entre acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes (art. 229, do CPP).

Na acareação, os acareados devem ser reperguntados, para que expliquem os pontos de divergência, reduzindo-se a termo o ato de acareação.

Se estiver ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer os pontos da divergência, consignando-se no auto o que for explicado ou observado. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se as declarações desta e as da testemunha presente, nos pontos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida para a testemunha presente. Esta diligência só deve ser realizada, porém, quando não importar demora prejudicial ao processo, e desde que o juiz a entenda conveniente (art. 230, do CPP).

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8.8 Documentos

Via de regra, as partes podem apresentar documentos em qualquer

fase do processo penal. Documentos são quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos

ou particulares. Equivale e produz o mesmo valor do original, desde que devidamente autenticada, a foto do documento (art. 232, parágrafo único, do CPP).

Por expressa disposição legal, as cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios criminosos, não são admitidas em juízo. No entanto, as cartas podem ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não haja o consentimento do signatário.

Sempre que o juiz tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, deve providenciar, independente de requerimento de qualquer das partes, a sua juntada aos autos, se possível (art. 234, do CPP).

A exibição, no plenário do Tribunal do Júri, de documento do qual não se tenha dado ciência às partes é prova ilegítima e gera a nulidade do julgamento. No entanto, dada impede que, posteriormente, essa prova seja utilizada.

Se contestada a autenticidade de letra ou firma dos documentos particulares, estes devem ser submetidos a exame pericial (art. 235, do CPP).

Findo o processo, mediante requerimento, os documentos originais podem ser entregues à parte que os produziu, ficando traslado nos autos, desde que inexista motivo relevante que justifique a sua conservação nos autos e que o Ministério Público seja previamente ouvido.

8.9 Indícios

Indício, conforme redação legal do artigo 239 do Código de Processo Penal, é a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autoriza, por indução, concluir-se pela existência de outra(s) circunstância(s).

A prova indiciária, frise-se, possui valor probante como qualquer outra prova, já que o Código Processual Penal pátrio não consagra regras de hierarquia de provas.

8.10 Busca e apreensão

A busca pode ser domiciliar ou pessoal (art. 240, caput, do CPP). Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a

autorizarem para:

a) prender criminosos; b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;

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c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;

d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso;

e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;

f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;

g) apreender pessoas vítimas de crimes; h) colher qualquer elemento de convicção.

Por sua vez, proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada

suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nos itens “b” a “f” e “h”, supra mencionados.

Quando a busca domiciliar não for realizada pessoalmente pela própria autoridade policial ou judiciária, deve ser precedida de expedição de mandado (art. 241, do CPP).

O procedimento de busca pode ser determinado de ofício ou a requerimento de qualquer das partes.

Conforme redação do artigo 243 do Código de Processo Penal, o mandado de busca deve:

a) indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;

b) mencionar o motivo e os fins da diligência; c) ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer

expedir.

Caso haja ordem de prisão, esta deve constar do próprio texto do mandado de busca.

É importante frisar, que não se admite a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito.

Independe de mandado a busca pessoal, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar (art. 244, do CPP).

Também autoriza-se a realização da busca quando o morador autorize o ingresso da autoridade policial em sua moradia, durante o dia ou a noite, com ou sem mandado judicial.

As buscas domiciliares devem ser realizadas de dia, exceto se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores tem o dever de mostrar e ler o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta (art. 245, caput, do CPP). Em caso de desobediência, a porta deve ser arrombada e forçada a entrada (art. 245, §1º, do CPP). Se o morador resistir, insistindo em atos

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de desobediência, autoriza-se o emprego de força contra coisas existentes no interior da casa, para o descobrimento do que se procura (art. 245, §2º, do CPP).

Autoriza-se o arrombamento e o emprego de força contra coisas existentes no interior da casa, também quando ausentes os moradores, caso em que deve ser intimado qualquer vizinho, se houver e estiver presente, para que assista a diligência.

Quando for determinada a pessoa ou coisa que se está a procurar, o morador deve ser intimado a mostrá-la.

Tão logo seja descoberta a pessoa ou coisa buscada, será imediatamente apreendida e posta sob a custódia da autoridade ou de seus agentes.

Ao encerrar a diligência, os executores devem lavrar auto circunstanciado, assinando-o juntamente com 2 (duas) testemunhas presenciais, e com o vizinho que acompanhou a diligência, na hipótese do morador estar ausente.

Se não for encontrada a pessoa ou coisa procurada, os motivos da diligência devem ser comunicados a quem tiver suportado a busca, se o requerer (art. 247, do CPP).

Em casa habitada, a busca deve ser realizada de modo que não moleste os moradores mais do que o indispensável para o êxito da diligência (art. 248, do CPP).

Se a busca tiver de ser feita em mulher, ela deverá ser feita por outra mulher, desde que não implique em retardamento ou prejuízo da diligência.

Conforme disposição do artigo 250 do Código de Processo Penal, a autoridade ou seus agentes podem penetrar no território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a urgência desta.

Entende-se que a autoridade ou seus agentes estão em seguimento da pessoa ou coisa quando:

a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista;

b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo removida ou transportada em determinada direção, forem ao seu encalço.

Caso as autoridades locais tenham fundadas razões para duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que apresentarem, podem exigir as provas dessa legitimidade, mas de modo que não se frustre a diligência (art. 250, §2º, do CPP). 9. Sujeitos Processuais

Os sujeitos processuais são aqueles que atuam no processo penal. A

doutrina costuma dividi-los em dois grupos:

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a) sujeitos principais; e b) sujeitos acessórios.

Os sujeitos principais são as partes (autor e réu) e o juiz. Enquanto as

partes são chamadas de sujeitos processuais parciais, o juiz é chamado de sujeito processual imparcial.

Já os sujeitos acessórios são aqueles que não são indispensáveis ao processo, porém nele intervém de alguma maneira, como os auxiliares da justiça, assistentes e o próprio ofendido.

9.1 Juiz

O juiz exerce a jurisdição do Estado, sendo responsável pela efetivação dos direitos que o ordenamento jurídico pátrio consagra a todos do povo. Ao juiz cabe o dever de manter a regularidade e a ordem processual no curso dos respectivos atos, podendo, para esse fim, requisitar a força pública.

Os juízes gozam das garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, garantias que lhes dão autonomia e independência para o desempenho de suas atribuições.

Consoante orienta o artigo 252 do Código de Processo Penal, o juiz está impedido, isto é, ele não pode exercer juridição no processo em que:

a) tenha funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;

b) ele próprio tenha desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;

c) tenha funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;

d) ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, seja parte ou esteja diretamente interessado no feito.

E nos juízos coletivos, não podem servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o 3º (terceiro) grau, inclusive.

O artigo 254 do Código de Processo Penal, por sua vez, estipula que o juiz deve se declarar suspeito no processo:

a) se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;

b) se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

c) se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;

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d) se tiver aconselhado qualquer das partes; e) se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;

f) se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no

processo.

Tanto o impedimento como a suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessa com a dissolução do casamento que lhe tiver dado causa, exceto sobrevindo descendentes. Contudo, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não poderá funcionar como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo (art. 255, do CPP).

É importante salientar que a suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la.

9.2 Ministério Público

O Ministério Público tem dupla finalidade:

a) promover, privativamente, a ação penal pública; e b) fiscalizar a execução da lei.

Como garantias institucionais, o Ministério Público possui autonomia

funcional, administrativa e financeira. E como garantias funcionais, tem a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de subsídios.

Conforme estipula o artigo 258 do Código de Processo Penal, os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes seja seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o 3º (terceiro) grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes seja aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.

9.3 Acusado e seu defensor

O sujeito ativo do crime ocupa o polo passivo na ação penal. E em

nenhuma hipótese admite-se que alguém responda a um processo penal sem defensor, ainda que o acusado esteja ausente ou foragido.

Havendo impossibilidade na identificação do acusado com seu verdadeiro nome ou outros qualificativos, não há que se retardar a ação penal, desde que seja certa a identidade física. Assim, a qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termos, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.

O acusado tem o dever de comparecer para ser interrogado, para participar de ato de reconhecimento ou de qualquer outro que, sem ele, não possa ser realizado. No entanto, se regularmente intimado ele não atender à determinação, poderá ser conduzido mediante o emprego de força policial.

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Quando o acusado não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado um pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, desde que possua habilitação. Quando o acusado não for pobre, estará obrigado ao pagamento dos honorários do defensor dativo, que serão arbitrados pelo juiz.

O defensor não pode abandonar o processo, salvo por motivo imperioso, comunicado de maneira prévia ao juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos e sem prejuízo das demais sanções pertinentes (art. 265, do CPP).

Admite-se, conforme disposição do parágrafo primeiro do artigo 265 do Código de Processo Penal, que a audiência seja adiada, por motivo justificado, quando o defensor não puder comparecer. Nesse caso, incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiência, pois se não o fizer, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do processo, dando normal prosseguimento ao feito após nomear, ainda que provisoriamente, defensor substituto.

Se indicado por ocasião do interrogatório, a constituição do defensor independe de instrumento de mandato, mas este deve não pode deixar de ser juntado posteriormente.

9.4 Assistentes

Em qualquer fase da ação penal, pode intervir como assistente do

Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na sua falta, o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do de cujus ou ausente.

Em similitude ao que ocorre no processo civil, o assistente no processo penal pode ser admitido enquanto não passar em julgado a sentença e receberá a causa no estado em que a mesma se encontrar.

Antes da admissão do assistente, é obrigatória a oitiva do Ministério Público (art. 272, do CPP).

Do despacho que admite, ou não, o assistente, não cabe recurso, devendo, entretanto, constar dos autos o pedido e a decisão (art. 273, do CPP).

Aquele que figurar como co-réu no mesmo processo não pode intervir como assistente do Ministério Público, conforme expressa proibição do artigo 270 do Código de Processo Penal.

É conferido ao assistente propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos artigos 584, §1º e 598 do Código de Processo Penal. Quando o assistente propuser meios de prova, o juiz, ouvido o Ministério Público, deve decidir acerca da realização das mesmas.

Se o assistente, regularmente intimado, não comparecer a qualquer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado, o processo terá prosseguimento independentemente de nova intimação para ele.

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9.5 Auxiliares da Justiça

Os auxiliares da justiça são divididos, basicamente, em dois grupos:

a) permanentes; e b) variáveis.

Enquanto os permanente são aqueles que tem sua participação como

essencial no processo, os variáveis nele intervém em situações específicas. Por exemplo, enquanto, o escrivão é auxiliar permanente da justiça, o perito é auxiliar variável.

Aos serventuários e funcionários da justiça estendem-se as prescrição sobre suspeição dos juízes, no que lhes for cabível.

Quanto ao perito, sua nomeação deve ser feita pelo juiz, não devendo intervir as partes (art. 276, do CPP). O perito, uma vez nomeado pela autoridade está obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa, salvo de apresentar escusa justificada. Também incorre na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imediatamente:

a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade; b) não comparecer no dia e local designados para o exame;

c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita,

nos prazos estabelecidos.

Se o perito não comparecer, tão pouco apresentar justa causa, a autoridade pode determinar sua condução.

10. Prisão, Das Medidas Cautelares e da Liberdade Provisória

A prisão opera a privação da liberdade de locomoção do sujeito. No Brasil, é a sanção mais severa em relação a restrição de direitos fundamentais, excetuada a pena de morte em caso de guerra declarada, naturalmente.

A prisão pode ser penal ou processual. É penal a prisão para o cumprimento de pena, enquanto é processual a prisão provisória. A primeira ocorre depois do trânsito em julgado da sentença condenatória, enquanto que a última ocorre antes do trânsito em julgado.

À exceção do flagrante delito, a prisão não poderá efetuar-se senão em virtude de mandado, isto é, mediante ordem escrita da autoridade competente.

A prisão pode ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, mas devem sempre ser respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio. Se a hipótese for de prisão em flagrante, poderá ocorrer a violação ao domicílio do autor, ainda que contra a sua vontade. E se a hipótese for de prisão mediante mandado, ela pode se realizar independentemente de consentimento do morador durante o dia, e apenas com o consentimento deste durante a noite.

Quanto ao emprego de força, só é permitido no casos de resistência ou tentativa de fuga do preso.

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O artigo 282 informa que as medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:

I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;

II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.

§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente.

§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.

§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo.

§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único).

§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar.

Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva (Art. 283).

§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade.

§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio.

Sendo assim, não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso. (Art.284).

Conforme disposição do artigo 285 do Código de Processo Penal, a autoridade que ordenar a prisão deve também expedir o respectivo mandado, que deve observar os seguintes requisitos:

a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;

b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, alcunha ou sinais característicos;

c) mencionará a infração penal que motivar a prisão; d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a infração; e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução.

Elaborado o mandado, ele deve ser impresso em duas vias, sendo

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que uma o executor entregará ao preso, logo depois da prisão, e a outra será anexada aos autos, no qual deve ser colhido recibo do preso. Caso ele recuse, não saiba ou não possa escrever, o fato deve ser mencionado em declaração, assinada por duas testemunhas.

Quando a infração for inafiançável, a falta de exibição do mandado não obsta à prisão, e o preso, em tal caso, deve ser imediatamente apresentado ao juiz que tenha expedido o mandado (art. 287, do CPP). Em sentido oposto, se a infração for afiançável, só há que se falar em prisão mediante exibição do mandado.

Dessa forma, ninguém poderá ser recolhido à prisão sem que seja exibido o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem deve ser entregue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entrega do preso, com declaração de dia e hora, sob pena de cometimento do crime de abuso de autoridade.

A prisão pode ser deprecada, conforme prevê o artigo 289 do Código de Processo Penal, quando o réu estiver no território nacional, mas em local estranho ao da jurisdição da autoridade que determinou sua prisão, hipótese em que a precatória deve conter o inteiro teor do mandado. Se houver urgência, o juiz pode requisitar a prisão por telegrama, do qual deve constar o motivo da prisão, assim como se afiançável a infração, o valor da fiança. Na via original, levada à agência telegráfica, deve ser autenticada a firma do juiz, o que também deve ser mencionado no telegrama.

Dispõe o artigo 290 do Código de Processo Civil que, se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autoridade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagrante, providenciará o necessário para a remoção do preso. Entende-se que o executor está em perseguição do réu, quando:

a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora depois o tenha perdido de vista;

b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for no seu encalço.

É lícito às autoridades locais, quando tiverem fundadas razões para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalidade do mandado que apresentar, pôr em custódia o réu, até que fique esclarecida a dúvida (art. 290, §2º, do CPP).

Reputa-se realizada a prisão em virtude de mandado desde que o executor, fazendo-se conhecer pelo réu, lhe apresente o mandado e o intime a acompanhá-lo (art. 291, do CPP).

Caso haja, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas (art. 292, do CPP).

Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador deve ser intimado a entregá-lo,

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em razão da ordem de prisão. Se não houver imediata obediência, o executor deve convocar 2 (duas) testemunhas e, sendo dia, deve entrar à força na casa, arrombando as portas, se necessário. No entanto, se for noite, o executor, depois de intimar o morador, caso não seja atendido, deve fazer guardar todas as saídas, de modo a tornar a casa incomunicável, e, logo que amanheça, deve arrombar as portas e efetuar a prisão. Nesses casos, o morador que se recusar a entregar o réu oculto em sua casa deve ser levado à presença da autoridade, para que se proceda contra ele como for de direito.

Algumas pessoas, por expressa previsão legal, sujeitam-se a uma prisão especial. Segundo o artigo 295 do Código de Processo Penal, serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva:

a) os ministros de Estado;

b) os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia;

c) os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Economia Nacional e das Assembléias Legislativas dos Estados;

d) os cidadãos inscritos no "Livro de Mérito";

e) os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;

f) os magistrados;

g) os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República;

h) os ministros de confissão religiosa; i) os ministros do Tribunal de Contas;

j) os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de

jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela função;

k) os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e Territórios, ativos e inativos.

Essa “prisão especial” consiste, exclusivamente, no recolhimento em local distinto da prisão comum. Se não houver estabelecimento específico para o preso especial, este deve ser recolhido em cela distinta na prisão comum. Acresça-se, porém, que o preso especial também não pode ser transportado com o preso comum.

A cela especial pode consistir em alojamento coletivo, atendidos os requisitos da salubridade do ambiente, pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequados à existência humana (art. 295, §3º, do CPP).

Para dar cumprimento ao mandado expedido pela autoridade judiciária, a autoridade policial pode expedir tantos outros quantos necessários às diligências, devendo neles ser fielmente reproduzido o teor do mandado original (art. 297, do CPP).

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Entenda que a captura poderá ser requisitada, à vista de mandado judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autoridade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para averiguar a autenticidade desta (art. 299, do CPP).

Conforme determinação legal, sempre que possível, as pessoas presas provisoriamente devem ficar separadas das que já estiverem definitivamente condenadas.

10.1 Prisão em flagrante

A prisão em flagrante ocorre em relação ao crime que está sendo praticado ou que acabou de sê-lo, de modo que se vislumbre com facilidade a prática recente de uma infração, donde se extrai a legitimidade para realização da prisão.

Qualquer do povo pode e as autoridades policiais e seus agentes devem prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Quando a prisão em flagrante é feita por qualquer do povo, se diz que há flagrante facultativo, enquanto que quando ela é feita por quem tem o dever de prender, se diz que há flagrante obrigatório.

Consoante artigo 302 do Código de Processo Penal, considera-se em flagrante delito quem:

a) está cometendo a infração penal (flagrante próprio); b) acaba de cometê-la (flagrante próprio);

c) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por

qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração (flagrante impróprio);

d) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração (flagrante presumido).

No caso dos crimes permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência (art. 303, do CPP).

Há também que se mencionar as figuras dos flagrantes preparado, esperado e forjado.

O flagrante preparado ocorre quando alguém induz outrem a prática do crime, já tendo colocado a autoridade policial em posição para surpreendê-lo. Nesse caso, a súmula n.º 145 do Supremo Tribunal Federal dispõe que “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”. A hipótese, portanto, é de crime impossível.

O flagrante esperado ocorre quando a autoridade policial, ciente da prática de crimes em determinado local, aguarda o agente praticá-lo, sem induzi-lo, hipótese em que a prisão em flagrante é absolutamente válida.

O flagrante forjado, por sua vez, como é sugestiva a expressão, ocorre quando há criação de provas em relação a um agente que não praticou a infração criminosa. Tanto a autoridade policial como terceiros podem forjar o flagrante, como no caso do policial que coloca drogas no

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veículo, para prender em flagrante o condutor, por exemplo. O flagrante forjado pode dar ensejo a diversos crimes por quem o pratica, a depender do ato que foi praticado.

Após a feitura da prisão em flagrante, o preso deve ser apresentado à autoridade competente, que deve ouvir o condutor e colher, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, a autoridade deve proceder à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, então, o auto.

Se das respostas resultar fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade deve mandar recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e deve prosseguir nos autos do inquérito ou processo, se para isso for competente, e, se não for, deve enviar os autos à autoridade que o seja.

A falta de testemunhas da infração não impede o auto de prisão em flagrante, mas, nesse caso, juntamente com o condutor, devem assinar ao menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, do CPP).

Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante deve ser assinado por duas testemunhas que tenham ouvido sua leitura na presença deste.

O artigo 306 do Código de Processo Penal apresenta importante garantia a todo aquele que for preso em flagrante delito. Segundo mencionado dispositivo, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre devem ser comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. Dentro de 24 (vinte e quatro) horas depois da prisão, deve ser encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante acompanhado de todas as oitivas colhidas e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral deve ser remetida para a Defensoria Pública.

Se o fato for praticado em presença da autoridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, deve constar do auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto (art. 307, do CPP).

Feita a prisão em flagrante, o preso pode ser liberado mediante o requerimento:

a) do relaxamento da prisão, caso esta seja ilegal; ou b) de liberdade provisória, caso a prisão seja legal.

Considera-se que o flagrante é ilegal e, portanto, que a prisão é

passível de relaxamento, quando for desrespeitada alguma formalidade indispensável na lavratura do auto, quando fato não constitua conduta típica, quando o flagrante tenha sido provocado ou forjado, ou, ainda, quando o prazo da prisão exceder o razoável em razão da demora na instrução do processo.

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Por outro lado, a prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial. (art. 317, do CPP).

Apresentado o pedido de relaxamento da prisão em flagrante, se ele for indeferido não há que se falar em recurso, embora nada obste a impetração de habeas corpus. Em contrapartida, da decisão que defere o relaxamento da prisão cabe recurso em sentido estrito, nos moldes do artigo 581, inciso V, do Código de Processo Penal.

10.2 Prisão preventiva

A prisão preventiva pode ser decretada em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, ou do querelante, ou do assistente, ou por representação da autoridade policial.

A prisão preventiva pode ser decretada:

a) como garantia da ordem pública; b) como garantia da ordem econômica; c) por conveniência da instrução criminal; ou d) para assegurar a aplicação da lei penal.

Em qualquer caso, exige-se prova da existência do crime

(materialidade) e indício suficiente de autoria. Mas não apenas, já que só há que se falar em prisão preventiva nos

crimes dolosos:

a) punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4(quatro) anos;

b) se o réu tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64, do Código Penal.

c) se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,

criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

Portanto, não há como se admitir a prisão provisória por crimes culposos, por contravenções penais, mediante os casos em que o réu se livra se solto e quando o juiz verificar pelas provas constantes dos autos, que o agente tenha praticado o fato mediante alguma excludente de licitude (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito).

O despacho que decreta ou denega a prisão preventiva deve ser sempre motivada, conforme determina o artigo 315 do Código de Processo Penal.

Se, no curso do processo o juiz constatar a ausência de motivo para manutenção da prisão preventiva, deve revogá-la imediatamente, podendo decretá-la novamente, no entanto, se sobrevierem razões que a justifiquem (art. 316, do CPP).

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10.3 Prisão temporária

A prisão temporária é tratada por meio da Lei n.º 7.960/89. Sua finalidade é a prisão, por tempo determinado, de acusados por infrações criminosas graves, apenas durante a fase inquisitiva, isto é, apenas durante o inquérito policial. Dessa forma, instaurada a ação penal, não há mais que se falar em prisão temporária.

Conforme dispõe o artigo 1º da Lei n.º 7.960/89, cabe a prisão temporária:

I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;

II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;

III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e

2°); c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);

e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);

f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223,

caput, e parágrafo único);

g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);

h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput,

e parágrafo único); i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);

j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou

medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);

l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;

m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889/56), em qualquer de sua formas típicas;

n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368/76); o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492/86).

A prisão temporária pode ser decretada pelo juiz, após representação

da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público (portanto, não há que se falar em decretação de prisão temporária de ofício, pelo juiz), e tem o prazo determinado de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. Contudo, em se tratando

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de crimes hediondos, crime de tortura, tráfico ilícito de drogas e terrorismo, dispõe o artigo 2º, parágrafo quarto, da Lei n.º 8.072/90, que o prazo para a prisão temporária é de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

Quando a autoridade policial apresentar representação ao juiz, este deve ouvir previamente o Ministério Público, para somente então decidir (art. 2º, §1º, da Lei n.º 7.960/89).

O despacho que decreta a prisão temporária deve ser fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da representação (da autoridade policial) ou do requerimento (do Ministério Público).

O juiz pode, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito (art. 2º, §3º, da Lei n.º 7.960/89).

Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de prisão, em duas vias, uma das quais deve ser entregue ao indiciado e servirá como nota de culpa.

Conforme expressa disposição legal, só há que se executar a prisão temporária após a expedição do mandado judicial (art. 2º, §5º, da Lei n.º 7.960/89).

Conforme estipula o artigo 3º da lei em análise, os presos temporários devem ser mantidos, obrigatoriamente, separados dos demais detentos.

Decorrido o prazo de 5 (cinco) dias de detenção, o preso deve ser posto imediatamente em liberdade, exceto se já tiver sido decretada sua prisão preventiva.

Por derradeiro, há que se mencionar que constitui abuso de autoridade, conforme artigo 4º, alínea “i”, da Lei n.º 4.898/65, prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.

10.4 Liberdade provisória

Enquanto o relaxamento da prisão destina-se à concessão da liberdade em relação àquele que foi preso em flagrante de forma ilegal, a liberdade provisória destina-se à concessão da liberdade àquele que foi preso mediante a observância de todos os requisitos legais.

Conforme redação legal do artigo 321 do Código de Processo Penal, ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP e observar os critérios constantes do art. 282 do CPP.

Em verdade, a liberdade provisória pode ser concedida aos crimes passíveis de fiança, assim como para o inafiançáveis.

Determina o Código de Processo Penal que a liberdade provisória deve ser concedida ao preso sempre que não estiverem presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva.

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Nesses casos, concedida a liberdade provisória, o acusado deve se submeter às seguintes condições:

a) comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento (art. 327, do CPP);

b) não mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade processante (art. 328, do CPP);

c) não se ausentar por mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar à autoridade processante o lugar onde pode ser encontrado (art. 328, do CPP).

Se não observar essas condições, o acusado perderá o benefício da liberdade provisória e voltará à ter sua liberdade privada.

No entanto, nos casos de prisão em flagrante pela prática de crime contra a economia popular ou de crime de sonegação fiscal, não se concede a liberdade provisória, por expressa disposição do artigo 325, parágrafo segundo, do Código de Processo Penal.

10.5 Fiança

A fiança, em matéria penal, é a prestação de uma garantia que

possibilita ao acusado ser posto ou permanecer em liberdade até que uma sentença lhe absolva ou lhe condene, definitivamente.

Segundo o caput do artigo 322 do Código de Processo Penal, a autoridade policial somente pode conceder fiança nos casos de infração punida com detenção ou prisão simples.

Conforme prevê o artigo 323 do Código de Processo Penal, não se concede a fiança:

a) nos crimes de racismo;

b) nos crimes de torturas, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos com crimes hediondos;

c) nos crimes cometidos por grupos armados, civis, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

E prossegue o artigo 324 do Código de Processo Penal mencionando que, igualmente, não se concede fiança:

a) aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se refere os arts. 327 e 328 do CPP;

b) em caso de prisão cível ou militar;

c) quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva.

Portanto são inafiançáveis os crimes hediondos, de tortura, de terrorismo, de racismo, de tráfico ilícito de entorpecentes e nos casos de ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o

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Estado Democrático, conforme determinação constitucional. O valor da fiança, consoante dispõe o artigo 325 do Código de

Processo Penal, deve ser fixado pela autoridade que a conceder, nos seguintes limites:

a) de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a 4(quatro) anos;

b) de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, qunado o máximo da pena privativa de liberdade cominda for superior a 4 (quatro) anos.

Se assim recomendar a situação econômica do réu, a fiança pode

ser: a) dispensada, na forma do art. 350 do CPP;

b) reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); c) aumentada em até 1.000(mil) vezes.

Para determinar o valor da fiança, a autoridade deve ter em

consideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas do processo, até final julgamento (art. 326, do CPP).

Quando a fiança for tomada por termo, obriga o afiançado a comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para atos do inquérito e da instrução criminal, assim como para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebrada, nos termos do artigo 327 do Código de Processo Penal.

O réu afiançado também não pode, sob pena de quebramento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde poderá ser encontrado (art. 328, do CPP).

Também julga-se quebrada a fiança quando o réu, legalmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem provar, incontinenti, motivo justo, ou quando, na vigência da fiança, praticar outra infração penal.

Caso seja reformado o julgamento em que declarou quebrada a fiança, esta subsistirá para todos os efeitos (art. 342 do CPP).

Prevê o artigo 343 do Código de Processo Penal que o quebramento injustificado da fiança importará na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação da prisão preventiva. E o artigo 344 complementa o raciocínio ao dispor que deve ser perdido, na totalidade, o valor da fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do cumprimento da pena definitivamente imposta.. Perdida a fiança, depois de deduzidas as custas e demais encargos a que o réu estiver obrigado, o saldo será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.

A fiança, que deve ser sempre definitiva, consiste em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. A

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avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais preciosos deve ser feita imediatamente por perito nomeado pela autoridade (art. 330, §1º, do CPP). Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor deve ser determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus (art. 330, §2º, do CPP).

No caso da prisão em flagrante, é competente para conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e, em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a prisão (art. 332, do CPP).

Depois de prestada a fiança, que deve ser concedida independentemente de audiência do Ministério Público, a este deve ser dada vista do processo para que possa requerer o que julgar conveniente.

Conforme autoriza o artigo 334 do Código de Processo Penal, a fiança pode ser prestada enquanto não transitar a sentença condenatória.

Quando a autoridade policial recusar ou demorar para conceder a fiança, o preso, ou alguém por ele, pode prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz competente, que deve decidir, depois de ouvir aquela autoridade.

Prevê o artigo 336 do Código de Processo Penal que o dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecuniária e da multa, se o réu for condenado.

Caso a fiança seja declarada sem efeito ou caso transite em julgado a sentença que tenha absolvido o réu ou declarado extinta a ação penal, o valor que a constituiu deve ser restituído sem desconto.

Quando se reconheça que a fiança não era cabível na espécie, ela deve ser cassada em qualquer fase do processo, o que determina a devolução integral da mesma.

Também deve ser cassada a fiança quando reconhecida a existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classificação do delito.

Já o reforço da fiança, pode ser exigido:

a) quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente;

b) quando houver depreciação material ou perecimento dos bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou pedras preciosas;

c) quando for inovada a classificação do delito.

A fiança fica sem efeito e o réu deve ser recolhido à prisão, quando, uma vez exigido, o reforço da fiança não for prestado (art. 340, parágrafo único, do CPP).

Por derradeiro, a teor da disposição do artigo 350 do Código de Processo Penal, nos casos em que couber fiança, e o juiz, verificando ser impossível ao réu prestá-la, por motivo de pobreza, pode conceder-lhe a liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 do mesmo Códex. No entanto, se o réu infringir, sem motivo justo, qualquer das obrigações que lhe forem fixadas ou praticar outra infração penal, terá revogado o benefício.

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11. Citações e Intimações

11.1 Citações

A citação é o ato por meio do qual se chama o réu ao processo. Com a efetivação da citação válida ocorre a triangularização do processo. Portanto, se fala em citação apenas em relação a ação penal, não havendo que se falar em citação na fase do inquérito policial.

No processo penal, a citação pode ocorrer:

Via de regra, a citação do réu deve ser feita por mandado,

desde que ele esteja no território sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado. A citação por mandado é a que se realiza mediante oficial de justiça. Segundo o artigo 357 do Código de Processo Penal, são requisitos da citação por mandado:

a) leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da

contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação; b) declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa.

Conforme disposição do artigo 352 do Código de Processo Penal, o

mandado de citação deve indicar:

a) o nome do juiz; b) o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;

c) o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais

característicos; d) a residência do réu, se for conhecida; e) o fim para que é feita a citação; f) o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer; g) a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.

A citação por carta precatória ocorre quando o réu está em território

não sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado, caso em que ela se realiza por cooperação de outro juízo, dentro do território nacional. Conforme redação do artigo 354 do Código de Processo Penal, a carta precatória deve indicar:

a) o juiz deprecado e o juiz deprecante;

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b) a sede da jurisdição de um e de outro; c) o fim para que é feita a citação, com todas as especificações; d) o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer.

A precatória deve ser devolvida ao juiz deprecante,

independentemente de traslado, depois de lançado o “cumpra-se” e de feita a citação por mandado do juiz deprecado. Se for constatado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a este devem ser remetidos os autos para efetivação da diligência, por conduta do juiz deprecado, desde que haja tempo para fazer-se a citação. E, certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, a precatória deve ser imediatamente devolvida, para que se possa proceder à citação por hora certa.

Quando houver urgência, a precatória deve conter, resumidamente, os requisitos do artigo 354 do Código de Processo Penal (supra mencionados), caso em que pode ser expedida por via telegráfica, depois de reconhecida a firma do juiz.

A citação por carta rogatória ocorre quando o réu também está em território não sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado. Nesse caso, a citação também se realiza por cooperação, mas de órgão de outro país, já que o réu se encontra fora do território nacional. Nesse caso, o acusado tem de estar em local sabido, e o processo, assim como o curso do prazo prescricional ficará suspenso até o cumprimento da carta rogatória. Só há que se falar em carta rogatória em relação aos países com os quais o Brasil possua relações diplomáticas, com esse específico propósito, sem o que não será possível citá-lo dessa forma.

Já a citação por carta de ordem ocorre nas ações de competência originária dos tribunais, situações em que estes determinam que a citação se faça pelo juízo do território onde estiver o réu. Note-se, enquanto a precatória é uma carta com nítido sentido de “favor” entre um e outro juízo, a carta de ordem apresenta o sentido de “determinação”, como se extrai da literalidade da expressão.

A citação por edital, assim como a citação por hora certa, são hipóteses excepcionais de se chamar o réu ao processo, pois são formas fictas de fazê-lo.

Quando o réu não for encontrado, deve ser citado por edital, com o prazo de 15 (quinze) dias, conforme determina o artigo 361 do Código de Processo Penal.

No entanto, quando o oficial de justiça verificar que o réu se oculta para não ser citado, ele deve certificar tal ocorrência e proceder à citação com hora certa, nos mesmos moldes do processo civil.

Quando, por 3 (três) vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar.

Dessa forma, no dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, deve comparecer ao domicílio ou residência do citando, a fim de realizar a diligência (art. 228, do CPC). Se o

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citando não estiver presente, o oficial de justiça deve procurar informar-se acerca das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca. Feita a certificação, o oficial de justiça deve deixar contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.

Efetuada a citação por hora certa, o escrivão deve enviar carta ao réu, em que lhe dê ciência de tudo o que foi realizado.

Uma vez completada a citação por hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo (art. 362, parágrafo único, do CPP).

Se não for caso de ocultação, mas de não-localização, o acusado deve ser citado por edital. Conforme determina o artigo 365 do Código de Processo Penal, o edital de citação deve indicar:

a) o nome do juiz que a determinar;

b) o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão, se constarem do processo;

c) o fim para que é feita a citação; d) o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer;

e) o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na

imprensa, se houver, ou da sua afixação.

O edital deve ser afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e deve ser publicado pela imprensa, onde houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial que a tiver feito e a publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do escrivão, da qual conste a página do jornal com a data da publicação (art. 365, parágrafo único, do CPP).

Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficam suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal.

No caso do militar, a citação deve ser feita por intermédio do chefe do respectivo serviço (art. 358, do CPP).

Em se tratando de funcionário público, o chefe de sua repartição deve ser notificado previamente, para que possa proceder com o necessário para que não ocorra prejuízo à prestação do serviço público.

Sempre que o réu estiver preso, é obrigatória sua citação pessoal, conforme determina o artigo 360 do Código de Processo Penal.

Ademais, é determinação do artigo 367 do Código de Processo Penal que o processo deve seguir sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.

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11.2 Intimações

Para as intimações dos acusados, das testemunhas e demais

pessoas que devam tomar conhecimento de qualquer ato, deve-se observar, no que pertinente, as mesmas disposições relativas à citação.

A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado (art. 370, §1º, do CPP). Contudo, dispensa-se a intimação por publicação quando esta for realizada pessoalmente, pelo escrivão.

Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na comarca, a intimação deve ser realizada diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo (art. 370, §2º, do CPP).

Conforme determinação legal, a intimação do Ministério Público e do defensor nomeado deve ser realizada pessoalmente (art. 370, §4º, do CPP).

A falta de intimação para a realização de atos processuais os torna nulos, haja visto o cerceamento de defesa.

12. Sentença

12.1 Classificação das decisões

No processo penal, a doutrina costuma classificar as espécies de

decisões em:

a) interlocutórias simples; b) interlocutórias mistas; e

As decisões interlocutórias simples são aquelas que não se

relacionam diretamente com o mérito da causa. Tanto a decisão do juiz que recebe a denúncia como a que decreta a prisão preventiva, por exemplo, são decisões interlocutórias simples. Essas decisões são irrecorríveis, embora possam ser alvo da impetração de habeas corpus.

As decisões interlocutórias mistas encerram uma etapa processual ou o próprio processo, mas sem decidir acerca do mérito. Essas decisões subdividem-se em:

a) interlocutórias mistas não terminativas, que são aquelas que encerram apenas uma etapa do processo, como a decisão de pronúncia nos crimes de competência do Tribunal do Júri, por exemplo; e

b) interlocutórias mistas terminativas, que são as que dão causa à extinção do processo, mas sem julgamento de mérito, como a decisão do juiz que rejeita a denúncia, por exemplo.

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12.2 Sentença

A sentença é o ato que põe termo ao processo em primeira instância, é o provimento de mérito pretendido quando se exerce o direito de ação. Na seara penal, a sentença de mérito pode ser condenatória, absolutória ou terminativa de mérito. A sentença condenatória é aquela que reconhece no todo ou em parte a acusação apresentada na denúncia ou queixa. A sentença absolutória, por sua vez, é aquela que reconhece a improcedência da denúncia ou queixa, caso em que é chamada de sentença absolutória própria; ou que determina a imposição de medida de segurança ao acusado, caso em que é chamada de sentença absolutória imprópria. Já a sentença terminativa de mérito é aquela que julga o mérito sem condenar ou absolver o réu, como quando reconhece a extinção da punibilidade pela prescrição, por exemplo.

São requisitos da sentença:

a) os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las;

b) a exposição sucinta da acusação e da defesa; c) a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a

decisão; d) a indicação dos artigos de lei aplicados; e) o dispositivo; f) a data e a assinatura do juiz.

Proferida sentença com obscuridade, ambiguidade, contradição ou

omissão, qualquer das partes pode, no prazo de 2 (dois) dias, interpor embargos de declaração, pedindo ao juiz que sane a falha.

Também é requisito da sentença, caso o juiz absolva o réu, que mencione, na parte dispositiva, o reconhecimento de algum dos seguintes motivos:

a) estar provada a inexistência do fato; b) não haver prova da existência do fato; c) não constituir o fato infração penal; d) estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; e) não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;

f) existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de

pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e §1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência;

g) não existir prova suficiente para a condenação.

E na sentença absolutória, o juiz deve, ainda:

a) mandar, se for o caso, pôr o réu em liberdade;

b) ordenar a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas;

c) aplicar medida de segurança, se cabível.

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Já ao proferir sentença condenatória, o juiz deve:

a) mencionar as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer;

b) mencionar as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos arts. 59 e 60 do Código Penal;

c) aplicar as penas de acordo com essas conclusões; d) fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pela

infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;

e) atender, quanto à aplicação provisória de interdições de direitos e medidas de segurança, ao disposto nos Título Xl do Código de Processo Penal;

f) determinar se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e designar o jornal em que será feita a publicação.

Nesse caso, o juiz deve decidir, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta.

O querelante ou o assistente deve ser intimado da sentença, pessoalmente ou na pessoa de seu advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do juízo, a intimação deve ser feita mediante edital com o prazo de 10 (dez) dias, afixado no lugar de costume (art. 391, do CPP).

Prevê o artigo 392 do Código de Processo penal que a intimação da sentença deve ser feita:

a) ao réu, pessoalmente, se estiver preso;

b) ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança;

c) ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;

d) mediante edital, nos casos do item “b”, se o réu e o defensor que houver constituído não forem encontrados, e assim o certificar o oficial de justiça;

e) mediante edital, nos casos do item “c”, se o defensor que o réu houver constituído também não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;

f) mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça.

No caso de edital, o prazo deste deve ser de 90 (noventa) dias, se tiver sido imposta pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 (um) ano, e de 60 (sessenta) dias, nos outros casos. Nessa hipótese, o prazo para apelação corre após o término do prazo fixado no edital, salvo se, no curso deste, for feita a intimação por qualquer das outras modalidades supra mencionadas.

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Por derradeiro, a teor da disposição do artigo 393 do Código de Processo Penal, é efeito da sentença condenatória recorrível: ser o réu preso ou conservado na prisão, assim nas infrações inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto não prestar fiança. 12.2.1 Emendatio libelli

Quando o Ministério Público ou o querelante oferece a denúncia ou queixa, eles descrevem os fatos criminosos e apresentam a capitulação legal para os mesmos. Dessa forma, o réu não se defende da capitulação, mas sim dos fatos a ele imputados.

Diante disso, o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poder atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.

Se o Ministério Público denuncia alguém por furto, mas o juiz, ao analisar os fatos descritos na denúncia, entende ser mais adequada a capitulação pelo crime de roubo, pode perfeitamente realizar a modificação, uma vez que, como mencionado, o réu não se defende da capitulação, mas sim dos fatos que a ele foram atribuídos.

Frise-se que a principal característica da emendatio libelli é a adstrição do juiz aos fatos descritos na denúncia, hipótese em que há mera alteração da capitulação legal do crime, sem alteração dos fatos. Nesse caso, a única alteração é de entendimento, pois o juiz constata capitulação diferente da identificada pelo Ministério Público ou querelante no momento do oferecimento da denúncia ou queixa.

Quando o juiz, após alterar a capitulação legal do fato, constate ser possível a aplicação da suspensão condicional do processo (do artigo 89, da Lei n.º 9.099/95), deve oferecê-lo ao acusado, obrigatoriamente.

Por fim, se ao alterar a capitulação legal do fato, o juiz constatar que se trata de infração da competência de outro juízo, a este deve ser encaminhado o processo.

12.2.2 Mutatio libelli

A diferença fundamental entre a emendatio e a mutatio libelli é que, enquanto na primeira há mera alteração da capitulação legal do fato, pelo juiz, com base nos fatos descritos na própria denúncia, na última, essa alteração ocorre em decorrência de novas provas obtidas durante o curso do processo e que, portanto, não constavam da denúncia.

No caso de serem obtidos novos elementos de prova, de modo que se altere a capitulação legal do fato, o juiz deve determinar que o Ministério Público adite a denúncia, no prazo de 5 (cinco) dias, admitindo-se, também, que esse aditamento seja realizado de forma oral, quando deverá ser reduzido a termo.

Se o juiz determinar o aditamento e o Ministério Público se recusar, adota-se o procedimento do artigo 28 do Código de Processo Penal, isto é, os autos seguem para o procurador-geral, que pode aditar diretamente a

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denúncia, designar outro órgão do Ministério Público para que o faça, ou decidir pela desnecessidade de aditamento, caso em que o processo deve seguir com a capitulação inicialmente apontada na denúncia.

Na sequência, deve ser ouvido o defensor do acusado, também no prazo de 5 (cinco) dias, e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, deve designar dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento.

Assim como ocorre em relação à emendatio libelli, se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz deve oferecer o benefício ao réu.

Por fim, caso a alteração da capitulação decorrente das novas provas altere também a competência do juízo, os autos devem ser remetidos àquele que seja competente.

13. Procedimentos em Espécie

Em matéria processual penal, o procedimento pode ser comum ou

especial. O procedimento comum pode ser:

a) ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;

b) sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;

c) sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.

O procedimento comum é aplicável a todos o processos, salvo disposição em sentido contrário, presente no próprio Código de Processo Penal ou em legislação especial.

Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observa procedimento específico, como se analisará oportunamente.

Há que se mencionar, ademais, que aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário (art. 395, §2º, do CPP).

13.1 Procedimento ordinário

Após o oferecimento da denúncia ou queixa, ela pode ser rejeitada

imediatamente quando:

a) for manifestamente inepta; b) faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação

penal; ou c) faltar justa causa para o exercício da ação penal.

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É inepta a denúncia ou queixa quando se deixa de expor o fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, com a devida qualificação do acusado ou dos esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, com a devida classificação do crime e, quando necessário, com o rol de testemunhas (art. 41, do CPP).

É também causa de rejeição da denúncia a ausência de pressuposto processual de existência e de validade, assim como a ausência de qualquer condição para o exercício da ação penal.

A justa causa, por sua vez, é a presença de prova da materialidade delitiva, somado a suficientes indícios de autoria.

Em qualquer desses casos, uma vez sanada a falha que motivou a rejeição da denúncia ou queixa, esta pode ser novamente oferecida.

Em contrapartida, se recebida a denúncia ou queixa, o juiz deve determinar a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começa a fluir apenas depois do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído, ficando o processo suspenso se o acusado não tiver constituído defensor.

Na resposta, o acusado pode arguir preliminares e alegar tudo o que interessar a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário (art. 396-A, caput, do CPP).

Se houver necessidade de oposição de qualquer exceção (de suspeição, incompetência, litispendência, ilegitimidade de parte ou coisa julgada), esta deve ser processada em apartado, conforme determina o parágrafo primeiro, do artigo 396-A do Código de Processo Penal.

Caso não apresentada resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz deve nomear defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.

Após apresentação da resposta à acusação, o juiz deve absolver sumariamente o acusado quando verificar:

a) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;

b) a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;

c) que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou d) extinta a punibilidade do agente.

No entanto, se não for caso de absolvição sumária e o juiz receber a

denúncia ou queixa, ele deve também designar dia e hora para a audiência una, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente (art. 399, caput, do CPP).

O acusado preso deve ser requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação (art. 399, §1º, do CPP).

Em consagração à regra da identidade física do juiz, o juiz que presidir a instrução deve também proferir sentença, conforme determinação do artigo 399, parágrafo segundo, do Código de Processo Penal.

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Na audiência de instrução e julgamento, que deve ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 do Código de Processo Penal (oitiva de testemunha mediante carta precatória), bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado (art. 400, caput, do CPP).

As provas tem de ser produzidas em uma única audiência, cabendo ao juiz indeferir as que considerar irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (art. 400, §1º, do CPP). No caso de esclarecimentos dos peritos, há que haver prévio requerimento das partes (art. 400, §2º, do CPP).

Na audiência, podem ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação e 8 (oito) arroladas pela defesa, conforme autorização do artigo 401 do Código de Processo Penal. Nesse número, porém, não se incluem as pessoas que não prestam compromisso e as referidas. Apenas para esclarecer, testemunha referida é um terceiro, apontado por uma testemunha regularmente arrolada que, ao prestar depoimento, indica esse terceiro como detentor de informações importantes à ação penal. Nesse caso, ao ser intimado para prestar depoimento, esse terceiro é chamado de testemunha referida.

É lítico à parte que arrolou a testemunha dela desistir, mas o juiz pode ouvi-la, se julgar conveniente e necessário à instrução.

Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligência cuja necessidade tenha origem em circunstâncias ou fatos apurados na instrução (art. 402, do CPP).

Se não houver tal requerimento, ou se este for indeferido, devem ser oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença (art. 403, do CPP). Se houver mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um deve ser individual.

Também ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos , prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa (art. 403, §2º, do CPP).

É facultado ao juiz, dada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, o juiz tem o prazo (impróprio) de 10 (dez) dias para proferir sentença.

No entanto, quando for ordenada diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a audiência deve ser concluída sem as alegações finais (art. 404, caput, do CPP). Nesse caso, tão logo seja realizada a diligência, as partes devem apresentar, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo (impróprio) de 10 (dez) dias, o juiz deve proferir sentença.

Por derradeiro, conforme determina o artigo 405 do Código de Processo Penal, do ocorrido em audiência deve ser lavrado termo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos. Sempre que possível, o registro dos depoimentos

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do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas deve ser feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações (art. 405, §1º, do CPP). No caso de registro por meio audiovisual, deve ser encaminhado às partes cópia do registro original, sem necessidade de transcrição (art. 405, §2º, do CPP).

13.2 Procedimento sumário

De início, é importante salientar que o procedimento sumário deve ser

adotado apenas se não for possível a utilização do procedimento sumaríssimo, dos Juizados Especiais.

Assim, adota-se o procedimento sumário em relação aos crimes cuja pena máxima seja de 4 (quatro) anos, recordando-se que a competência dos Juizados Especiais ocorre apenas em relação aos crimes ou contravenções que tenham pena máxima cominada de 2 (dois) anos, seja esta cumulada ou não com a pena de multa.

Ademais, adota-se o procedimento sumário em relação às infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o Juizado Especial encaminhar os autos ao juízo comum para adoção de outro procedimento, em razão da complexidade da causa, por exemplo.

Conforme dispõe o artigo 531 do Código de Processo Penal, no procedimento sumário deve ser realizada uma audiência única, na qual se procederá à tomada de declarações do ofendido, se for possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, salvo as que tiverem de ser ouvidas mediante carta precatória, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se, finalmente, ao debate.

Para a instrução, no procedimento sumário, podem ser arroladas até 5 (cinco) testemunhas pela acusação e 5 (cinco) pela defesa.

Assim como ocorre no procedimento ordinário, também no sumário as provas devem ser produzidas numa só audiência, sendo lícito ao juiz indeferir as que considerar irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. Quando as partes desejarem obter esclarecimentos dos peritos, ela devem apresentar prévio requerimento, conforme determina o parágrafo segundo do artigo 400 do Código de Processo Penal.

Após a produção de provas, ocorre o momento das alegações finais na audiência una, alegações que devem ser orais, primeiramente pela acusação e depois pela defesa, cada uma com o prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, na sequência, sentença.

Se houver mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de um deve ser computado individualmente (art. 534, §1º, do CPP).

No caso do assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, devem lhe ser concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa (art. 534, §2º, do CPP).

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Nenhum ato processual deve ser adiado, salvo quando a prova faltante for imprescindível, situação em que o juiz deve determinar a condução coercitiva de quem deva comparecer.

13.3 Procedimento sumaríssimo

O procedimento sumaríssimo é o procedimento dos Juizados

Especiais, e terá abordagem em capítulo próprio.

13.4 Procedimentos especiais 13.4.1 Procedimento relativo aos processos da competência do Tribunal do Júri

O procedimento do júri é um procedimento especial, que não se

confunde com os demais. O juiz, ao receber a denúncia ou queixa, deve ordenar a citação do

acusado para responder à acusação, por escrito no prazo de 10 (dez) dias. Esse prazo deve ser contado a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no caso de citação inválida ou por edital (art. 406, §1º, do CPP).

Caso a acusação arrole testemunhas, deve fazê-lo na denúncia ou queixa, até o máximo de 8 (oito).

Na resposta, o acusado pode arguir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, também até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.

Caso sejam cabíveis exceções, estas devem ser opostas no prazo para resposta e processadas em apartado.

Se não for apresentada a resposta no prazo legal, o juiz deve nomear defensor para oferecê-la em até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos.

Em contrapartida, apresentada a defesa, o juiz deve ouvir o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, no prazo de 5 (cinco) dias, conforme dispõe o artigo 409 do Código de Processo Penal.

O juiz deve, ainda, determinar a inquirição das testemunhas e a realização das diligências requeridas pelas partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias.

Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se ao debate (art. 411, caput, do CPP).

As provas devem ser produzidas em audiência única, podendo o juiz indeferir as que considerar irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

Após a instrução, as alegações devem ser orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte)

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minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez). Se houver mais de um acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa de cada um deles deve ser individual.

Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, devem ser concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.

Conforme determina o parágrafo sétimo do artigo 411 do Código de Processo Penal, nenhum ato deve ser adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.

Findos os debates, o juiz deve proferir imediatamente sua decisão, ou deve fazê-lo no prazo (impróprio) de 10 (dez) duas, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.

Segundo disposição do artigo 412 do Código de Processo Penal, o procedimento deve ser concluído no prazo máximo de 90 (noventa) dias.

13.4.1.1 Pronúncia, impronúncia e absolvição sumária

Encerrada a instrução preliminar do procedimento do júri, o juiz deve

proferir decisão de:

a) pronúncia; b) impronúncia; c) desclassificação; ou d) absolvição sumária.

13.4.1.1.1 Pronúncia

Quando convencido da materialidade do fato e da existência de

indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz deve, fundamentadamente, pronunciar o acusado (art. 413, caput, do CPP).

A fundamentação da sentença de pronúncia deve se limitar à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena (art. 413, §1º, do CPP).

Se o crime for afiançável, o juiz deve arbitrar o valor da fiança para a concessão ou a manutenção da liberdade provisória, consoante dispõe o parágrafo segundo do artigo 413 do Código de Processo Penal.

No caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada, o juiz deve decidir motivadamente, e, tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das medidas do Título que trata da prisão e da liberdade provisória, no Código de Processo Penal .

Da decisão de pronúncia, cabe recurso em sentido estrito. A intimação dessa decisão deve ser feita:

a) pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério

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Público;

b) ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, por meio de publicação na imprensa oficial.

Caso o acusado esteja solto e não seja encontrado, sua intimação deverá ser realizada por edital.

13.4.1.1.2 Impronúncia

Caso não se convença da materialidade do fato ou da existência de indícios suficiente de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, deve impronunciar o acusado (art. 414, caput, do CPP). Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, nada impede que seja formulada nova denúncia ou queixa, desde que haja prova nova (art. 414, parágrafo único, do CPP).

Da sentença de impronúncia, cabe o recurso de apelação.

13.4.1.1.3 Absolvição sumária

O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado,

quando:

a) provada a inexistência do fato; b) provado não ser ele autor ou partícipe do fato; c) o fato não constituir infração penal; d) demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.

Contudo, conforme expressa ressalva legal (art. 415, parágrafo único,

do CPP), não se aplica o conteúdo do item “d” ao caso de inimputabilidade, exceto se esta for a única tese de defesa. Em outras palavras, quando a inimputabilidade for a única tese da defesa, o juiz, concluindo pela existência da causa excludente de culpabilidade (a inimputabilidade), pode absolver sumariamente o réu. No entanto, se a tese da inimputabilidade concorrer com outras, o juiz deve proferir sentença de pronúncia, levando o réu ao julgamento pelo Plenário do Tribunal do Júri.

Proferida sentença de absolvição sumária, cabe apelação.

13.4.1.1.4 Desclassificação

Se o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime de competência do Tribunal do Júri e não for competente para o julgamento, deve remeter os autos ao juiz que o seja (art. 419, caput, do CPP). Quando se verificar essa situação, o juiz deve proferir sentença de desclassificação, remetendo, na sequência, os autos para o juiz que seja competente para o julgamento da infração que por ele foi considerada como

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existente, em detrimento àquela inicialmente apontada pela acusação na denúncia ou queixa.

Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado que estiver preso.

13.4.1.2 Da preparação do processo para julgamento em plenário

Preclusa a decisão de pronúncia, os autos devem ser encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. Contudo, ainda que preclusa a decisão, caso surja circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz deve ordenar que os autos sejam remetidos ao Ministério Público, para aditamento da denúncia, e, após, seguirão conclusos ao juiz para decisão.

Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri deve determinar a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que podem juntar documentos e requerer diligências (art. 422, do CPP).

Apresentados os requerimentos de provas, o juiz deve sobre eles deliberar, além de ordenar as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa, e elaborar relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta de reunião do Tribunal do Júri, com o que se encerra a fase de saneamento do processo.

Quando a lei local de organização judiciária não atribuir ao presidente do Tribunal do Júri o preparo para julgamento, o juiz competente remeter-lhe-á os autos do processo preparado até 5 (cinco) dias antes do sorteio a que se refere o art. 433 do Código de Processo Penal (dos 25 jurados, para a reunião periódica ou extraordinária).

13.4.1.3 Alistamento dos jurados

Conforme dispõe o artigo 425 do Código de Processo Penal,

anualmente, devem ser alistados pelo presidente do Tribunal do Júri:

a) de 800 (oitocentos) a 1.500 (mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um milhão) de habitantes;

b) de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de 100.000 (cem mil) habitantes; e

c) de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor população.

Nas comarcas onde houver necessidade, pode haver o aumento do número de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas necessárias.

O juiz presidente deve requisitar às autoridades locais, associações de classe e de bairro, entidades associativas e culturais, instituições de

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ensino em geral, universidades, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as condições para exercer a função de jurado (art. 425, §2º, do CPP).

A lista geral dos jurados deve indicar as respectivas profissões e deve ser publicada pela imprensa até o dia 10 (dez) de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do Júri (art. 426, caput, do CPP). Essa lista pode ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10 (dez) de novembro, data de sua publicação definitiva.

Após alistamento, os nomes e endereços das pessoas, em cartões iguais, após serem verificados na presença do Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem dos Advogados do Brasil e de defensor indicado pelas Defensorias Públicas competentes, permanecerão guardados em urna fechada a chave, sob a responsabilidade do juiz presidente (art. 426, §3º, do CPP).

Conforme orienta o parágrafo quarto do artigo 426 do Código de Processo Penal, o jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído. Anualmente, a lista geral de jurados deve ser, obrigatoriamente, completada.

13.4.1.4 Desaforamento

Desaforamento é a alteração do local do julgamento, para outra

comarca da mesma região, onde não existam os motivos que deram causa ao pedido de transferência.

Conforme dispõe o Código de Processo Penal, são motivos que autorizam o desaforamento:

a) o interesse de ordem pública (art. 427, do CPP); b) a dúvida sobre a imparcialidade do júri (art. 427, do CPP); c) a segurança pessoal do acusado (art. 427, do CPP); ou

d) a demora de julgamento, excedente a 6 (seis) meses, contados

do trânsito em julgado da decisão de pronúncia (art. 428, do CPP).

Pode requerer ao Tribunal o desaforamento, o Ministério Público, o assistente, o querelante ou acusado, assim como o juiz, mediante representação.

Na escolha da comarca que efetuará o julgamento em substituição à originalmente competente, deve-se dar preferência às de localidade mais próxima.

Apresentado o pedido de desaforamento, este tem distribuição imediata e preferência de julgamento na Câmara ou Turma competente, conforme orienta o parágrafo primeiro do artigo 427 do Código de Processo Penal.

Se forem relevantes os motivos alegados, o relator pode determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri (art. 427, §2º, do CPP).

Quando o desaforamento não tenha sido solicitado pelo juiz

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presidente, é obrigatório que ele seja ouvido antes da decisão que defere ou não o pedido.

Disposição importante consta do parágrafo quarto do artigo 427 do Código de Processo Penal, segundo o qual: na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julgamento, não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado.

Na hipótese de desaforamento por excesso de serviço, de modo que o julgamento não seja realizado no prazo de 6 (seis) meses, contados do trânsito em julgado da decisão de pronúncia, é obrigatório que sejam previamente ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, só com o que se poderá decidir sobre o pedido apresentado. Conforme leciona a súmula n.º 712 do Supremo Tribunal Federal, é nula a decisão que determina o desaforamento do processo da competência do júri sem audiência da defesa. Para a contagem do referido prazo, não se computa o tempo de adiamentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa.

Por derradeiro, não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguardando julgamento em quantidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões periódicas previstas para o exercício, o acusado pode requerer ao Tribunal que determine a imediata realização do julgamento (art. 428, §2º, do CPP).

13.4.1.5 Organização da pauta

Dispõe o artigo 429 do Código de Processo Penal que, salvo motivo relevante que autorize a alteração na ordem dos julgamentos, tem preferência:

1º) os acusados presos; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

2º) dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;

3º) em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.

O assistente só pode ser admitido se requerer sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da sessão na qual pretenda atuar (art. 430, do CPP).

Se o processo estiver em ordem, o juiz presidente deve mandar intimar as partes, o ofendido, se for possível, as testemunhas e os peritos, quando houver requerimento, para a sessão de instrução e julgamento, observando, no que couber, as regras de intimação previstas no artigo 420 do Código de Processo Penal (intimação pessoal ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público, e pela imprensa oficial ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público).

13.4.1.6 Sorteio e convocação dos jurados

Organizada a pauta, o juiz presidente deve determinar a intimação do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defensoria

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Pública para acompanharem, em dia e hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão em reunião periódica (art. 432, do CPP).

O sorteio, que deve ser presidido pelo juiz, deve ser realizado a portas abertas, cabendo-lhe retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados, para a reunião periódica ou extraordinária (art. 433, caput, do CPP). Esse sorteio deve ser realizado entre o 15º (décimo quinto) e o 10º (décimo) dia útil antecedente à instalação da reunião. A audiência não será adiada apenas pelo não comparecimento das partes (art. 433, §2º, do CPP).

Sorteados os jurados, estes devem ser convocados pelo correio ou por qualquer outro meio hábil para comparecer no dia e hora designados para a reunião, sob as penas da lei (art. 434, caput, do CPP).

Por derradeiro, conforme determina o artigo 435 do Código de Processo Penal, é obrigatória a afixação na porta do edifício do Tribunal do Júri, a relação dos jurados convocados, os nomes do acusado e dos procuradores das partes, além do dia, hora e local das sessões de instrução e julgamento.

13.4.1.7 Função do jurado

Podem se alistar para servirem como jurados os maiores de 18 (dezoito) anos de idade, que possuam notória idoneidade. O serviço do júri é obrigatório, conforme salienta o caput do artigo 436 do Código de Processo Penal. Nenhum cidadão pode ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução.

Por ser obrigatório, caso haja recusa injustificada ao serviço do júri, o recusante sujeita-se ao pagamento de multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado (art. 436, §2º, do CPP).

São isentos do serviço do júri, por expressa disposição legal:

a) o Presidente da República e os Ministros de Estado; b) os Governadores e seus respectivos Secretários;

c) os membros do Congresso Nacional, das Assembléias

Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais; d) os Prefeitos Municipais; e) os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria

Pública;

f) os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública;

g) as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública; h) os militares em serviço ativo;

i) os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua

dispensa; j) aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.

É lícita a recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa,

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filosófica ou política. Nesse caso, porém, o recusante sujeita-se à prestação de serviço alternativo, sob pena de suspensão de seus direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

O exercício da função de jurado constitui serviço público relevante, e estabelece a presunção de idoneidade moral, além de assegurar prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo (art. 439, do CPP).

Também constitui direito do jurado, preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública, assim como nos casos de promoção funcional ou remoção voluntária (art. 440, do CPP).

Conforme estipula o artigo 442 do Código de Processo penal, ao jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer no dia marcado para a sessão ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente, deve ser aplicada multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a sua condição econômica.

Somente se aceita a escusa do jurado quando fundada em motivo relevante, devidamente comprovado e desde que apresentada, ressalvadas as hipóteses de força maior, até o momento da chamada dos jurados.

Frise-se, que só há que se falar em dispensa do jurado mediante decisão motivada do juiz presidente, a qual deve ser consignada na ata dos trabalhos.

O jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, passa a ser responsável criminalmente nos mesmos termos em que o são os juízes togados. 13.4.1.8 Composição do Tribunal do Júri e formação do Conselho de Sentença

O Tribunal do júri é composto por:

a) 1 (um) juiz togado, seu presidente; e b) 25 (vinte e cinco) jurados.

Desses 25 (vinte e cinco) jurados, que serão sorteados dentre os

alistados, 7 (sete) constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento.

Conforme expressa proibição legal, são impedidos de servir no mesmo Conselho (art. 448, do CPP):

a) marido e mulher; b) ascendente e descendente; c) sogro e genro ou nora; d) irmãos e cunhados, durante o cunhado; e) tio e sobrinho; f) padrasto, madrasta ou enteado.

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O mesmo impedimento se verifica em relação ás pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar (art. 448, §1º, do CPP).

Aos jurados aplica-se o disposto sobre impedimentos, suspeição e incompatibilidade de juízes togados (art. 448, §2º, do CPP).

Também não pode servir o jurado que:

a) tenha funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do julgamento posterior;

b) no caso do concurso de pessoas, haja integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado;

c) tenha manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado.

Daqueles que forem impedidos entre si por parentesco ou relação de convivência, deve ser apontado para servir aquele que houver sido sorteado em 1º (primeiro) lugar. Por exemplo, se para compor o mesmo Conselho de Sentença foram sorteados os cônjuges “A” e “B”, comporá o Conselho apenas o que tenha sido sorteado primeiro, estando o segundo excluído por impedimento.

Por derradeiro, a teor da disposição do artigo 452 do Código de Processo Penal, admite-se que um mesmo Conselho de Sentença conheça de mais de um processo, no mesmo dia, desde que as partes o aceitem, hipótese em que seus integrantes devem prestar novo compromisso.

13.4.1.9 Instrução em plenário

Prestado o compromisso pelos jurados, deve ser dado início à instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado devem tomar, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirir as testemunhas arroladas pela acusação (art. 473, caput, do CPP).

Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado deve formular as perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios supra mencionados (art. 473, §1º, do CPP).

Os jurados podem formular perguntas ao ofendido, assim como às testemunhas, sempre por intermédio do juiz presidente.

Tanto as partes como os jurados podem requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.

Ato seguinte, deve o acusado ser interrogado, caso esteja presente. As perguntas a serem feitas pelo acusado devem observar a seguinte ordem:

1º) o Ministério Público;

2º) o assistente;

3º) o querelante;

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4º) o defensor.

Os jurados também podem formular perguntas ao acusado, mas também por intermédio do juiz presidente.

Durante o período em que permanecer o plenário do júri, não mais se permite o uso de algemas no acusado, exceto se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes (art. 474, §3º, do CPP).

A súmula vinculante n.º 11, do Supremo Tribunal Federal corrobora o mencionado, dispondo que só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

O registro dos depoimentos e do interrogatório deve ser realizado pelos meios ou recursos de gravação magnética, eletrônica, estenotipia ou técnica similar, destinada a obter maior fidelidade e celeridade na colheita da prova (art. 475, caput, do CPP).

13.4.1.10 Debates

Encerrada a instrução, a palavra será concedida ao Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante, conforme prevê o artigo 476 do Código de Processo Penal. Pela ordem do mencionado artigo, o assistente deve falar após o Ministério Público.

Quando se tratar de ação penal privada subsidiária da pública, quem fala em primeiro lugar é o querelante e, em seguida, o Ministério Público, salvo se este houver retomado a titularidade da ação.

Após a acusação, a palavra será concedida à defesa, consoante prevê o parágrafo terceiro do artigo 476 do Código de Processo Penal.

Após a defesa, a acusação pode replicar e, após a réplica, a defesa pode treplicar, sendo admitida a reinquirição de testemunha que já tenha sido ouvida em plenário.

Quanto ao tempo, prevê o artigo 477 do Código de Processo Penal que será de:

a) uma hora e meia para a acusação e para a defesa; b) uma hora para a réplica; e c) uma hora para a tréplica.

Quando houver mais de acusador ou mais de um defensor, eles

devem combinar entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, deve ser dividido pelo juiz presidente, de forma a não exceder o tempo supra mencionado.

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Se houver mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a defesa deve ser acrescido de uma hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, conforme previsão do parágrafo segundo, do artigo 477 do Código de Processo Penal.

Durante os debates, é vedado às partes, sob pena de nulidade, fazer referências:

a) à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado;

b) ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo.

Durante o julgamento também não se permite a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tenha sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte (art. 479, caput, do Código de Processo Penal). Nessa proibição inclui-se a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.

A exibição, no plenário do Tribunal do Júri, de documento do qual não se tenha dado ciência às partes é prova ilegítima e gera a nulidade do julgamento. No entanto, dada impede que, posteriormente, essa prova seja utilizada.

Tanto a acusação como a defesa podem, a qualquer momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado (art. 480, caput, do CPP).

Com o final dos debates, o juiz presidente deve indagar aos jurados se eles estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos. Caso haja dúvida sobre questão de fato, o presidente deve prestar esclarecimento à vista dos autos.

Nesta fase do procedimento, conforme prevê o parágrafo terceiro do artigo 480 do Código de Processo Penal, os jurados podem ter acesso aos autos e aos instrumentos do crime, desde que solicitem ao juiz presidente.

Caso a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o julgamento da causa, não possa ser realizada imediatamente, o juiz presidente deve dissolver o Conselho de Sentença e ordenar a realização das diligências entendidas como necessárias. Se essa diligência consistir na produção de prova pericial, o juiz presidente, imediatamente, deve nomear perito e formular quesitos, sendo facultado às partes também formulá-los e indicar assistentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias.

13.4.1.11 Questionário e votação

Finda a instrução e os debates, o Conselho de Sentença deve ser questionado sobre matéria de fato e se acusado deve ser absolvido (art.

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482, caput, do CPP). Os quesitos devem ser redigidos em proposições afirmativas, simples

e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente deve se ater aos termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram

admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes (art. 482, parágrafo único, do CPP).

A ordem dos quesitos deve observar a indagação sobre:

1º) a materialidade do fato;

2º) a autoria ou participação; 3º) se o acusado deve ser absolvido; 4º) se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

5º) se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de

pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, ou seja, de 4 (quatro) ou mais jurados, aos quesitos formulados acerca da materialidade e autoria ou participação encerra a votação e implica na absolvição do acusado.

Se houver resposta afirmativa por mais de 3 (três) jurados aos quesitos formulados acerca da materialidade e autoria ou participação, deve ser formulado quesito com a seguinte indagação: “o jurado absolve o acusado?”.

Caso os jurados decidam pela condenação, o julgamento deve prosseguir, devendo então ser formulados quesitos sobre:

a) causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

b) circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

Uma vez sustentada a desclassificação da infração para outra de competência de juiz singular, deve ser formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2º (segundo) ou 3º (terceiro) quesito, conforme o caso.

No entanto, se for sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou se houver divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz deve formular quesito sobre estas questões, o qual deve ser respondido após o 2º (segundo) quesito.

Quando houver mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos devem ser formulados em séries distintas, conforme estipula o parágrafo sexto do artigo 483 do Código de Processo Penal.

Na sequência do procedimento, deve o juiz ler os quesitos e indagar das partes se elas possuem algum requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, assim como sua decisão, ser incluído na ata (art. 484, caput, do CPP).

Ainda em plenário o juiz deve explicar aos jurados o significado de

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cada quesito e, se não houver dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação.

Se não houver sala especial, o juiz deve determinar que o público se retire, permanecendo apenas as pessoas supra mencionadas. Deve o juiz, ainda, advertir as partes de que é vedada qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifestação do Conselho de Sentença, devendo mandar retirar da sala aquele que se portar de modo inconveniente.

Antes de dar início à votação, o juiz presidente deve mandar distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra “SIM”, e 7 (sete) a palavra “NÃO”.

Com a finalidade de assegurar o sigilo do voto, o oficial de justiça deve recolher em urnas separadas as cédulas correspondentes aos votos, bem como as não utilizadas (art. 487, do CPP).

Após as respostas, verificados os votos e as cédulas não utilizadas, o presidente deve determinar que o escrivão registre no termo a votação de cada quesito, bem como o resultado do julgamento, termo que também deve mencionar a conferência das cédulas não utilizadas.

Caso a resposta de qualquer dos quesitos esteja em contradição com outra ou outras já dadas, o presidente, explicando aos jurados em que consiste a contradição, deve submeter novamente à votação os quesitos a que se referirem tais respostas (art. 490, caput, do CPP). Se, pela resposta dada a um dos quesitos, o presidente verificar que ficam prejudicados os seguintes, assim deve declará-los, dando então por encerrada a votação.

Encerrada a votação, o juiz presidente, os jurados e as partes devem assinar o termo. No Tribunal do Júri, as decisões são tomadas pela maioria dos votos, consoante salienta o artigo 489 do Código de Processo Penal.

13.4.1.12 A Sentença

Com o encerramento da votação, o juiz presidente deve proferir

sentença que:

I) no caso de condenação: a) fixará a pena-base;

b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas

nos debates;

c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às causas admitidas pelo júri;

d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;

e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva;

f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da condenação;

II – no caso de absolvição:

a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver preso;

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b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas; c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.

Por disposição do parágrafo primeiro do artigo 492 do Código de

Processo Penal, na hipótese de haver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri cabe proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos artigos 69 e seguintes da Lei dos Juizados Especiais (Lei n.º 9.099/95). E, em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida deve ser julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no parágrafo primeiro do artigo 492 do Código de Processo Penal.

Proferida a sentença, esta deve ser lida em plenário pelo presidente antes de ser encerrada a sessão de instrução e julgamento (art. 493, do CPP).

13.4.1.13 Ata dos trabalhos

De cada sessão de julgamento, o escrivão deve lavrar ata, a qual deve ser assinada pelo juiz presidente e também pelas partes. Essa ata deve descrever com fidelidade todas as ocorrências, e deve mencionar obrigatoriamente:

a) a data e a hora da instalação dos trabalhos; b) o magistrado que presidiu a sessão e os jurados presentes;

c) os jurados que deixaram de comparecer, com escusa ou sem

ela, e as sanções aplicadas; d) o ofício ou requerimento de isenção ou dispensa; e) o sorteio dos jurados suplentes; f) o adiamento da sessão, se houver ocorrido, com a indicação do

motivo;

g) a abertura da sessão e a presença do Ministério Público, do querelante e do assistente, se houver, e a do defensor do acusado;

h) o pregão e a sanção imposta, no caso de não comparecimento; i) as testemunhas dispensadas de depor;

j) o recolhimento das testemunhas a lugar de onde umas não

pudessem ouvir o depoimento das outras; k) a verificação das cédulas pelo juiz presidente;

l) a formação do Conselho de Sentença, com o registro dos

nomes dos jurados sorteados e recusas; m) o compromisso e o interrogatório, com simples referência ao

termo;

n) os debates e as alegações das partes com os respectivos fundamentos;

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o) os incidentes; p) o julgamento da causa;

q) a publicidade dos atos da instrução plenária, das diligências e

da sentença.

A falta da ata sujeita o responsável a sanções de natureza

administrativa e penal, conforme estipula o artigo 496 do Código de Processo Penal.

13.4.1.14 Atribuições do presidente do Tribunal do Júri

Por derradeiro, fechando o tópico sobre o procedimento do Tribunal

do Júri, o Código de Processo Penal prevê como atribuições do juiz presidente, sem prejuízo de outras expressamente referidas no mencionado Códex:

a) regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;

b) requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva autoridade;

c) dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de linguagem ou mediante requerimento de uma das partes;

d) resolver as questões incidentes que não dependam de pronunciamento do júri;

e) nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor;

f) mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização do julgamento, o qual prosseguirá sem a sua presença;

g) suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das diligências requeridas ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados;

h) interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença e para repouso ou refeição dos jurados;

i) decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa, ou a requerimento de qualquer destes, a arguição de extinção de punibilidade;

j) resolver as questões de direito suscitadas no curso do julgamento;

k) determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de qualquer jurado, as diligências destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o esclarecimento da verdade;

l) regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.

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13.4.2 Procedimento nos crimes dos funcionários públicos

É importante iniciar mencionando que não são todos os crimes

praticados por funcionários públicos que seguem o procedimento descrito nos artigos 513 a 518 do Código de Processo Penal. Em verdade, esse procedimento deve ser seguido apenas se não for o caso de processamento perante os Juizados Especiais.

O ponto peculiar no procedimento da ação penal em relação aos

crimes praticados por funcionários públicos é a possibilidade de oferecimento da defesa preliminar.

Embora o artigo 513 do Código de Processo Penal faça menção a crimes de responsabilidade, há impropriedade na expressão, uma vez que estes são infrações político-administrativas, não afetas a presente matéria de estudo.

Em se tratando de crime praticado por funcionário público, cujo processo e julgamento competir aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia deve ser instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada acerca da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas.

No caso de crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz deve mandar autuá-la e ordenar a notificação do acusado, para que responda por escrito, dentro do prazo de 15 (quinze) dias (art. 514, caput, do CPP). Apenas depois de analisar o teor da defesa preliminar é que o juiz deve decidir se recebe ou não a denúncia. O juiz deve rejeitar a denúncia ou a queixa, em despacho fundamentado, quando ficar convencido, pela resposta do acusado ou do seu defensor, acerca da inexistência do crime ou da improcedência da ação.

Já no caso de crimes inafiançáveis, não há que se falar em oportunidade para apresentação de defesa preliminar, observando-se, pois, o procedimento ordinário.

Quando não for conhecida a residência do acusado, ou quando este se encontrar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem cabe apresentar a defesa preliminar (art. 514, parágrafo único, do CPP).

Essa defesa preliminar pode ser instruída com documentos e justificações, a teor do que dispõe o parágrafo único do artigo 515 do Código de Processo Penal.

Em qualquer caso, recebida a denúncia ou queixa, o procedimento a ser observado é o ordinário.

Por derradeiro, é importante mencionar o teor da súmula n.º 330 do Superior Tribunal de Justiça, que informa: “é desnecessária a resposta preliminar de que trata o art. 514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial”.

13.4.3 Procedimento nos crimes contra a honra

É importante iniciar mencionando, assim como ocorre nos crimes

praticados por funcionários públicos, que não são todos os crimes praticados

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contra a honra que seguem procedimento especial. Em verdade, esse procedimento deve ser seguido apenas se não for o caso de processamento perante os Juizados Especiais.

Embora o artigo 519 do Código de Processo Penal mencione apenas as expressões calúnia e injúria, o procedimento descrito nos artigos 519 a 523 do mencionado Códex abrange todos os crimes contra a honra, inclusive a difamação.

Em observância ao artigo 520 do Código de Processo Penal, antes de receber a queixa, o juiz deve oferecer às partes oportunidade para se reconciliarem, fazendo-se comparecer em juízo e ouvindo-as, separadamente, sem a presença dos seus advogados, não se lavrando termo.

Apenas depois de ouvir o querelante e o querelado, se o juiz achar provável a reconciliação, deve promover o entendimento entre eles, na sua presença.

No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo de desistência, a queixa deve ser arquivada.

Em contrapartida, caso não haja reconciliação, o juiz deve receber a queixa e dar prosseguimento à ação penal, pelo rito ordinário.

Ponto relevante em relação ao procedimento especial dos crimes contra a honra atine a exceção da verdade, que é prova da veracidade sobre os fatos apontados como caluniosos ou difamatórios. Sobre ela, dispõe o artigo 523 do Código de Processo Penal que, quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante pode contestar a exceção no prazo de 2 (dois) dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.

13.4.4 Procedimento nos crimes contra a propriedade imaterial

É importante iniciar mencionando, assim como ocorre nos crimes

praticados por funcionários públicos e nos crimes contra a honra, que não são todos os crimes contra a propriedade imaterial que seguem procedimento especial. Em verdade, esse procedimento deve ser seguido apenas se não for o caso de processamento perante os Juizados Especiais.

Enquanto o disposto nos artigos 524 a 530 é aplicável aos crimes em que se procede mediante queixa (ação penal privada), o disposto nos artigos 530-B a 530-H diz respeito ao procedimento pertinente aos crimes de ação penal pública.

No caso de haver o crime deixado vestígio (não-transeunte), a queixa ou a denúncia não deve ser recebida se não estiver instruída com o exame pericial dos objetos que constituíram o corpo de delito.

Sem a prova de direito à ação, dispõe o artigo 526 do Código de Processo Penal, não será recebida a queixa, nem ordenada qualquer diligência preliminarmente requerida pelo ofendido.

No caso de diligência de busca e apreensão, esta deve ser realizada por dois peritos nomeados pelo juiz, os quais devem verificar a existência de

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fundamento para a apreensão, e quer esta se realize, quer não, o laudo pericial deve ser apresentado dentro de 3 (três) dias após o encerramento da diligência.

Encerradas as diligências, os autos devem seguir conclusos ao juiz para homologação do laudo (art. 528, do CPP).

Nos crimes de ação privativa do ofendido, não se admite queixa com fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 (trinta) dias, após a homologação do laudo (art. 529, caput do CPP). Quando se tratar de crime de ação pública e não tiver sido oferecida queixa no mencionado prazo de 30 (trinta) dias, deve ser dada vista dos autos de busca e apreensão (requeridas pelo ofendido) ao Ministério Público.

Se ocorrer prisão em flagrante e o réu não for posto em liberdade, o prazo para oferecimento da queixa será de 8 (oito) dias.

Nos casos das infrações previstas nos parágrafos primeiro, segundo e terceiro do artigo 184 do Código penal, a autoridade policial deve proceder à apreensão dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos, em sua totalidade, juntamente com os equipamentos, suportes e materiais que possibilitaram a sua existência, desde que estes se destinem precipuamente à prática do ilícito (art. 530-B, do CPP).

Por ocasião da apreensão deve ser lavrado termo, que deve ser assinado por 2 (duas) ou mais testemunhas, com a descrição de todos os bens apreendidos e informações sobre suas origens, o qual deve integrar o inquérito policial ou o processo (art. 530-C, do CPP).

Ato seguinte à apreensão, deve ser realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens apreendidos e elaborado o laudo que deve integrar o inquérito policial ou o processo (art. 530-D, do CPP).

Os titulares de direito do autos e os que lhe são conexos serão os fiéis depositários de todos os bens que sejam apreendidos, devendo colocá-los à disposição do juiz quando do ajuizamento da ação (art. 530-E, do CPP).

Excetuada a possibilidade de se preservar o corpo de delito, o juiz pode determinar, a requerimento da vítima, a destruição da produção ou reprodução apreendida quando não houver impugnação quanto à sua ilicitude ou quando a ação penal não puder ser iniciada por falta de determinação de quem seja o autor do ilícito (art. 530-F, do CPP).

O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, pode determinar a destruição dos bens que tenham sido ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos equipamentos apreendidos, desde que precipuamente destinados à produção e reprodução dos bens, em favor da Fazenda Nacional, que deve destruí-los ou doá-los aos Estados, Municípios e Distrito Federal, a instituições públicas de ensino e pesquisa ou de assistência social, bem como incorporá-los, por economia ou interesse público, ao patrimônio da União, que não podem retorná-los aos canais de comércio (art. 530-G, do CPP).

Por derradeiro, as associações de titulares de direitos de autor e os que lhes são conexos podem, em seu próprio nome, funcionar como assistente da acusação nos crimes previstos no artigo 184 do Código Penal, quando praticado em detrimento de qualquer de seus associados (art. 530-

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H, do CPP). 14. Nulidades

Nulidade, segundo Fernando Capez, “é um vício processual

decorrente da inobservância de exigências legais capaz de invalidar o processo no todo ou em parte” (2010, p. 674).

Basicamente, quatro são as modalidades de atos processuais praticados com algum vício:

a) irregularidade; b) nulidade relativa; c) nulidade absolta; e d) inexistência.

A irregularidade é inobservância de regras formais que não

apresentam relevância processual a ponto de prejudicar alguma das partes. Combinando o conceito com a redação legal do artigo 563 do Código de Processo Penal, segundo o qual nenhum ato deve ser declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa, tem-se que o ato meramente irregular não tem o condão de invalidar o próprio ato, tão menos o processo.

A nulidade relativa, diferentemente da irregularidade, pode gerar certo prejuízo a alguma das partes. No entanto, esse prejuízo não é de ordem pública, mas sim relativo a uma das partes processuais, razão pela qual deve ser arguido e provado oportunamente, sem o que não poderá mais sê-lo (preclusão).

Já a nulidade absoluta traduz uma presunção de prejuízo por ofensa a norma de ordem pública, cujo interesse se sobrepõe ao mero interesse das partes. Quando há nulidade absoluta, verifica-se lesão à Constituição Federal, diferentemente da irregularidade e nulidade relativa, que traduzem lesão à normas infraconstitucionais. A nulidade absoluta, diferentemente da relativa, não preclui, e pode ser arguida pelas partes ou reconhecida pelo juiz, de ofício.

Por derradeiro, ato inexistente é aquele que não reúne os requisitos mínimos para que seja reputado como existente, juridicamente falando. É inexistente, por exemplo, uma sentença sem a parte dispositiva. 14.1 Princípios atinentes às nulidades 14.1.1 Princípio do prejuízo

A consagração do princípio do prejuízo é trazida por meio do artigo 563 do Código de Processo Penal, que dispõe: “nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”.

Esse princípio aplica-se em relação as irregularidades e nulidades relativas, mas não se aplica em relação as nulidades absolutas e atos inexistentes. Não se aplica em relação as nulidades absolutas pois em

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relação a estas há presunção de prejuízo devido a lesão ao texto constitucional, e não se aplica em relação aos atos inexistentes pois estes sequer chegam a esfera jurídica de existência. 14.1.2 Princípio da instrumentalidade

O processo não deve ser considerado mais do que mero instrumento

de satisfação de direitos materiais. Dessa forma, não deve o processo obstar a consagração de direitos por meros formalismos.

O artigo 566 do Código de Processo Penal dispõe que não se deve declarar a nulidade de ato processual que não tenha influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa, em consagração ao princípio em estudo.

No mesmo sentido, o artigo 572, inciso II, do Código de Processo Penal, dispõe que não se deve declarar uma nulidade se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido a sua finalidade.

Esse princípio, assim como o anterior, aplica-se apenas em relação aos atos irregulares e nulidades relativas, mas não em relação as nulidades absolutas e atos inexistentes.

14.1.3 Princípio da causalidade (ou consequência, ou sequencialidade)

Segundo esse princípio, a declaração de nulidade de um ato

contamina todos aqueles que lhe forem posteriores e com ele mantiverem uma relação de dependência.

A consagração do princípio em estudo é feita pelo parágrafo primeiro do artigo 573 do Código de Processo Penal, que dispõe que a nulidade de um ato, uma vez declarada, dá causa à dos atos que dele diretamente dependam ou seja consequência. Nesse caso, o juiz que pronunciar a nulidade deve declarar os atos a que ela se estende (art. 573, §2º, do CPP)

14.1.4 Princípio do interesse

Segundo o princípio do interesse, só quem não deu causa à nulidade é que pode requerê-la. O artigo 565 do Código de Processo Penal consagra o princípio em estudo e dispõe que nenhuma das partes pode arguir nulidade:

a) a que haja dado causa; b) para que tenha concorrido; ou c) referente a formalidade cuja observância só a parte contrária

interesse.

Portanto, só pode arguir a nulidade a parte que tenha sucumbido em razão dela, e mais, desde que a própria parte não tenha a ela dado causa, nem para ela tenha concorrido. 14.1.5 Princípio da convalidação

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O princípio da convalidação permite que sejam sanados os vícios de

atos irregulares e relativamente nulos. Com a correção do vício, o ato torna-se perfeitamente válido.

O artigo 569 do Código de Processo Penal dispõe que as omissões da denúncia ou da queixa, da representação, ou, nos processos das contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante, podem ser supridas a todo o tempo, antes da sentença final.

Também o artigo 570 do Código de Processo Penal estipula que a falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de arguí-la. Nesse caso, o juiz deve ordenar a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.

A teor da disposição do artigo 571 do Código de Processo Penal, as nulidades devem ser arguidas, sob pena de preclusão e, consequentemente, convalidação do ato viciado:

a) as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o art. 406 (alegações finais orais);

b) as da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos processos especiais, no prazo para alegações finais orais ou memoriais escritos;

c) as do processo sumário, no prazo para resposta escrita, ou, se verificadas depois desse prazo, logo depois de aberta a audiência e apregoadas as partes;

d) as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes;

e) se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes;

f) as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.

E o artigo 572 também estipula que, se não arguidas oportunamente, de acordo com o artigo anterior, reputam-se sanadas as nulidades.

14.2 Nulidades em espécie

O artigo 564 do Código de Processo Penal informa que a nulidade

ocorre nos seguintes casos:

I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz: se a incompetência for territorial, a nulidade será relativa, mas se for material, funcional ou por prerrogativa de função, será absoluta. A suspeição e o suborno também são causas de nulidade absoluta;

II - por ilegitimidade de parte: se a ilegitimidade de parte for para a

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causa (ad causam) há nulidade absoluta, mas se for para o processo (ad processum) será relativa;

III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante: nesse caso, há nulidade absoluta;

b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios,

ressalvado o disposto no Art. 167: nesse caso, há nulidade absoluta;

c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos: considerando a redução da maioridade, não é mais necessária a presença de curador ao maior de 18 anos de idade. E há que se considerar, ainda, a súmula n.º 523 do Supremo Tribunal Federal, que dispõe: “no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”;

d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da

ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública: nesse caso, há nulidade relativa, pois há possibilidade de convalidação;

e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório,

quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa: nesse caso, há nulidade absoluta;

f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva

cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri: no caso da falta de sentença de pronúncia há nulidade absoluta, enquanto que os demais foram extintos pela Lei n.º 11.689/08;

g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal

do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia: nesse caso, há nulidade absoluta;

h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na

contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei: nesse caso, há nulidade relativa, guardada a adaptação necessária após o advento da Lei n.º 11.689/08, que trata da intimação das testemunhas não mais no libelo, que foi por ela extinto;

i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do

júri: nesse caso, há nulidade absoluta;

j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade: nesse caso, há nulidade absoluta;

k) os quesitos e as respectivas respostas: nesse caso, há

nulidade absoluta;

l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento: nesse caso, há nulidade absoluta;

m) a sentença: nesse caso, há nulidade absoluta;

n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha

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estabelecido: nesse caso, há mera postergação do trânsito em julgado da decisão, enquanto não interposto o recurso de ofício;

o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência

de sentenças e despachos de que caiba recurso: nesse caso, há nulidade absoluta;

p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o

quorum legal para o julgamento: nesse caso, há nulidade absoluta;

IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato: nesse caso, há nulidade absoluta.

Verifica-se a ocorrência de nulidade também por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição entre estas, conforme salienta o parágrafo único do artigo 564 do Código de Processo Penal.

Anulado o processo, parcial ou totalmente, é cabível a interposição do recurso em sentido estrito.

15. Recursos

Os recursos decorrem da estrutura de organização judiciária constitucionalmente estabelecida. O princípio do duplo grau de jurisdição está implícito na Constituição Federal e decorre, pois, dessa estrutura judiciária.

O recurso possibilita ao recorrente a reanálise de uma decisão, seja pelo mesmo julgador, seja por julgador diverso, a depender do recurso que se estiver a interpor. Segundo Fernando Capez, “recurso é a providência legal imposta ao juiz ou concedida à parte interessada, consistente em um meio de se obter nova apreciação da decisão ou situação processual, com o fim de corrigi-la, modificá-la ou confirmá-la”.

Assim como o processo tem de preencher determinados pressupostos, só com o que se reputa existente e válido, também os recursos tem de preencher os pressupostos recursais. Os pressupostos recursais dividem-se em objetivos e subjetivos.

São pressupostos recursais objetivos:

a) o cabimento; b) a adequação; c) a tempestividade; d) a regularidade; e) a inexistência de fato impeditivo ou extintivo.

E são pressupostos recursais subjetivos:

a) o interesse jurídico; e b) a legitimidade para recorrer.

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15.1 Pressupostos objetivos

O primeiro dos pressupostos recursais objetivos é o cabimento, isto é,

o recurso interposto tem de ser previsto em lei, não podendo ser fruto da invenção do recorrente.

Na sequência, a adequação traduz a necessidade de ser interposto o recurso adequado à decisão recorrida. A lei processual prevê, exatamente, qual o recurso pertinente para atacar cada espécie de decisão proferida, sendo dever do recorrente observar essas determinações legais, sob pena de não ter seu recurso recebido, tão menos analisado.

Quanto a adequação, é importante mencionar a existência do princípio da fungibilidade, por meio do qual pode ser admitido um recurso pelo outro, desde que o recurso impertinente tenha sido interposto no prazo do recurso adequado e desde que não haja má-fé do recorrente. Nesse sentido, o artigo 579 do Código de Processo Penal dispõe que, salvo a hipótese de má-fé, a parte não deve ser prejudicada pela interposição de um recurso por outro.

Já o pressuposto tempestividade relaciona-se com a necessidade de observância do prazo legalmente previsto para interposição da peça recursal, sem o que ele não será recebido. Os prazos tem sua contagem iniciada no dia útil seguinte ao da intimação judicial, e segundo orienta a súmula n.º 710 do Supremo Tribunal Federal: “no processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da untada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem”.

O penúltimo pressuposto recursal objetivo é a regularidade, que diz respeito à forma. Segundo determina o artigo 578 do Código de Processo Penal, o recurso deve ser interposto por petição ou por termo nos autos, assinado pelo recorrente ou por seu representante. Caso o réu não saiba ou não possa assinar o nome, o termo deve ser assinado por alguém, a seu rogo, na presença de 2 (duas) testemunhas (art. 578, §1º, do CPP).

A observância da regularidade formal é indispensável ao recurso, sob pena de não-recebimento. Conforme dispõe o parágrafo segundo do artigo 578 do Código de Processo Penal, a petição de interposição do recurso, com o despacho do juiz, deve ser, até o dia seguinte ao último do prazo, entregue aos escrivão, que deve certificar no termo da juntada a data da entrega. Interposto por termo o recurso, o escrivão, sob pena de suspensão por 10 (dez) a 30 (trinta) dias, deve fazer conclusos os autos ao juiz, até o dia seguinte ao último do prazo.

Por derradeiro, para que se fale no preenchimento dos pressupostos recursais, há que estarem ausentes fatos impeditivos e extintivos do direito de recorrer. Enquanto a renúncia impede o exercício do direito de recorrer, a desistência e a deserção extinguem esse direito.

No entanto, é importante conhecer o teor da súmula n.º 705 do Supremo Tribunal Federal: “a renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta”. Isso ocorre, pois é o defensor que possui conhecimento técnico para identificar a pertinência, ou não, da renúncia ao direito de recorrer.

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Em contrapartida, também é entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal (súmula n.º 708), que: “é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro”.

A deserção decorre da falta de pagamento das custas processuais (preparo), conforme salienta o parágrafo segundo do artigo 806 do Código de Processo Penal. A deserção, no entanto, se refere exclusivamente à apelação, vez que em relação a outros recursos em matéria processual penal ela não se aplica.

15.2 Pressupostos subjetivos

O primeiro dos pressupostos recursais subjetivos é o interesse jurídico para a interposição do recurso. Conforme prevê o parágrafo único do artigo 577 do Código de Processo Penal, não se admite o recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão.

Para que se fale em interesse recursal, há que se falar em sucumbência, que pode ser total ou parcial. A sucumbência pode, ainda, ser apenas de uma das partes (única), pode ser apenas dos co-réus (paralela), ou pode ser do autor e do réu (recíproca).

Quanto à legitimidade, “o recurso deve coincidir com a posição processual da parte” (CAPEZ, 2010, p. 739).

Segundo dispõe o artigo 577 do Código de Processo Penal, o recurso pode ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor. E quanto ao Ministério Público, o artigo 576 do mencionado Códex apresenta uma peculiaridade ao dispor que o Parquet não tem a faculdade de desistir do recurso que haja interposto.

15.3 Interposição

A interposição do recurso pode ser feita:

a) por petição; ou b) por termo nos autos.

A interposição por termo nos autos é aquela realizada verbalmente,

passível de ser verificada no recurso em sentido estrito e no recurso de apelação.

A interposição do recurso por termo não tem maiores requisitos, diferentemente da interposição por petição, que deve obedecer a regularidade formal.

O recurso especial, o extraordinário, os embargos infringentes, os embargos declaratórios, a correição parcial e a carta testemunhável não admitem interposição por termo, só podendo ser interpostos por petição.

Há que se mencionar, ainda, o recurso de ofício (ex officio), que é aquele interposto pelo próprio juiz, logo após a prolação de decisão a ele sujeita. Conforme orienta o artigo 574 do Código de Processo Penal, eles devem ser interpostos, de ofício, pelo juiz:

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a) da sentença que conceder habeas corpus;

b) da sentença que absolver sumariamente o réu (com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena). Após o advento da Lei n.º 11.689/08, há divergência doutrinária sobre a revogação tácita, ou não, acerca do inciso II, do artigo 574 do Código de Processo Penal.

Mas não apenas, já que também deve sofrer recurso de ofício a sentença que conceder reabilitação criminal, nos termos do artigo 746 do Código de Processo Penal, da sentença concessiva de habeas corpus, assim como do despacho que determinar o arquivamento e das sentenças absolutórias no caso dos crimes praticados contra a economia popular, nos termos do artigo 7º, da Lei n.º 1.521/51.

Nesses casos (de recurso ex officio), entende-se que, em verdade, não há recurso, pois este instrumento reflete a insatisfação da parte sucumbente em relação a algum ponto da decisão recorrida, logo, não se pode concluir como plausível que o próprio juiz prolator da decisão dela recorra por este motivo. Assim, melhor expressão seria a de reexame necessário, já que a situação verificada é apenas a de necessidade de reexame da decisão em razão da sua relevância.

15.4 Juízo de admissibilidade e de mérito dos recursos

Interposto o recurso, este passa, primeiramente, por uma análise de admissibilidade, também chamada de juízo de prelibação. Nesta etapa, verifica-se se o recurso preenche os pressupostos recursais. Se não preencher, o recurso não será recebido.

Há recursos que passam pelo juízo de admissibilidade no órgão a quo (no momento em que ele é interposto) e também no órgão ad quem (antes de proceder ao seu julgamento), enquanto há outros que passam por esse juízo apenas no órgão ad quem.

Se o recurso passar pelo juízo de admissibilidade, ele sofrerá o juízo (ou julgamento) de mérito, objetivo real de todo aquele que interpõe um recurso. O julgamento de mérito nada mais é que a análise do pedido de reforma ou anulação da decisão recorrida. Se o pedido não for acolhido, o juízo de admissibilidade será positivo e o de mérito negativo, e, se o pedido for acolhido será positivo o juízo de admissibilidade e também o de mérito.

15.5 Efeitos dos recursos

São efeitos dos recursos:

a) o devolutivo; b) o suspensivo; c) o extensivo; e

d) o regressivo

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O efeito devolutivo é regra, incidente sobre todos os recursos, ele traduz a devolução, ao Poder Judiciário, da matéria recorrida.

O efeito suspensivo é aquele que impede que a decisão recorrida produza efeitos até que o recurso seja examinado pelo órgão competente. Diferentemente do que ocorre no processo civil, no processo penal o efeito suspensivo não é regra, só havendo que se falar na sua presença quando expressamente previsto.

O efeito extensivo opera-se no caso de concurso de agentes, quando a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveita aos demais, conforme prevê o artigo 580 do Código de Processo Penal.

Por fim, o efeito regressivo é restrito aos recursos que permitem ao juiz prolator da decisão recorrida, efetuar um juízo de retratação. Esse efeito se faz presente, por exemplo, no recurso em sentido estrito.

15.6 Recursos em espécie

A seguir serão individualmente analisados:

a) recurso em sentido estrito; b) apelação; c) embargos; d) recurso especial; e) recurso extraordinário; f) carta testemunhável; g) correição parcial; h) revisão criminal; i) habeas corpus; j) mandado de segurança; e k) agravo em execução.

15.6.1 Recurso em sentido estrito

O ponto peculiar do recurso em sentido estrito é o efeito regressivo, que permite ao juiz prolator da decisão recorrida se retratar, alterando-a e, consequentemente, prejudicando o encaminhamento das razões do recurso ao órgão ad quem.

O recurso em sentido estrito é cabível, consoante dispõe o artigo 581 do Código de Processo Penal, da decisão, despacho ou sentença:

I - que não receber a denúncia ou a queixa; II

- que concluir pela incompetência do juízo; III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

IV – que pronunciar o réu (em contrapartida, da decisão de

impronúncia cabe apelação);

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V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;

VI – revogado (atualmente, da decisão de absolvição sumária cabe apelação).

VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;

IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade;

X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus, em 1ª (primeira) instância;

XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da

pena;

XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional (nesse caso, o recurso pertinente é o agravo em execução, em observância ao artigo 197 da Lei n.º 7.210/84);

XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em

parte;

XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;

XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão

prejudicial;

XVII - que decidir sobre a unificação de penas (nesse caso, o recurso pertinente é o agravo em execução, em observância ao artigo 197 da Lei n.º 7.210/84);

XVIII - que decidir o incidente de falsidade;

XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado (nesse caso, o recurso pertinente é o agravo em execução, em observância ao artigo 197 da Lei n.º 7.210/84);

XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra (nesse caso, o recurso pertinente é o agravo em execução, em observância ao artigo 197 da Lei n.º 7.210/84);

XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774 (nesse caso, o recurso pertinente é o agravo em execução, em observância ao artigo 197 da Lei n.º 7.210/84);

XXII - que revogar a medida de segurança (nesse caso, o recurso pertinente é o agravo em execução, em observância ao artigo 197 da Lei n.º 7.210/84);

XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação (nesse caso, o recurso pertinente é o agravo em execução, em observância ao artigo 197 da Lei n.º 7.210/84);

XXIV – revogado com o advento da Lei n.º 9.268/96.

O recurso em sentido estrito tem efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão de livramento condicional, quando houver

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denegação da apelação ou quando a mesma for julgada deserta, ou, ainda, quando decidir sobre a unificação das penas, conforme orienta o caput do artigo 584 do Código de Processo Penal. O recurso da pronúncia suspende apenas o julgamento, ao passo que o recurso do despacho que julgar quebrada a fiança suspende unicamente o efeito de perda da metade do seu valor.

No caso de interposição de recurso em relação à sentença de impronúncia, ou no caso de sentença que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade, não se pode impedir que o réu seja imediatamente posto em liberdade, a teor da conjugação dos artigos 584, parágrafo primeiro, 581, inciso VIII, 596 e 598, todos do Código de Processo Penal.

O recurso em sentido estrito deve ser interposto mediante o órgão a quo, e suas razões endereçadas ao órgão ad quem.

O prazo para a interposição do recurso em sentido estrito é de 5 (cinco) dias, contados da intimação da sentença, conforme previsão do caput do artigo 586 do Código de Processo Penal. Contudo, esse prazo é de 20 (vinte) dias no caso de decisão que inclui jurado na lista geral ou desta o exclui, conforme previsão do parágrafo único do artigo 586 do Código de Processo Penal.

Após a interposição, dentro de 2 (dois) dias, contados desta, ou do dia em que o escrivão, extraído o traslado, o fizer com vista ao recorrente, este deve oferecer as razões do recurso em sentido estrito e, em seguida, será aberta vista ao recorrido por igual prazo.

Após a apresentação das contrarrazões, os autos seguem conclusos ao juiz, para que exerça o juízo de retratação. Assim, o juiz pode reformar ou sustentar a decisão recorrida. Se sustentá-la, o recurso sobe para o órgão ad quem. Contudo, se o juiz reformar a decisão recorrida, a parte contrária, por simples petição, pode recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, o recurso deve subir nos próprios autos ou em traslado (art. 589, parágrafo único, do CPP).

A jurisprudência entende, embora haja controvérsia, que o não oferecimento das razões, assim como o não oferecimento das contrarrazões do recurso em sentido estrito não obsta seu conhecimento pelo órgão ad quem. Acerca do assunto, é importante conhecer o teor da súmula n.º 707 do Supremo Tribunal Federal: “constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”.

E o recurso em sentido estrito pode ser processado sob duas maneiras:

a) nos próprios autos; ou b) mediante a formação de instrumento.

O recurso em sentido estrito sobe nos próprios autos:

a) quando interposto de decisão que não receber a denúncia ou a

queixa (art. 581, I, do CPP);

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b) quando interposto de decisão que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição (art. 581, III, do CPP);

c) quando interposto de decisão que pronunciar o réu (art. 581, IV, do CPP);

d) quando interposto de decisão que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade (art. 581, VIII, do CPP);

e) quando interposto de decisão que conceder ou negar a ordem de habeas corpus (art. 581, X, do CPP); e

f) quando não prejudicar o andamento do processo (art. 583, III, do CPP).

Em contrapartida, o recurso em sentido estrito será processado mediante instrumento:

a) nas demais hipóteses do artigo 581 do Código de Processo Penal; b) no caso de recurso ex officio; e

c) quando, havendo dois ou mais réus, a sentença de pronúncia tenha

transitado em julgado apenas para algum deles.

Quando o recurso houver de subir por instrumento, a parte deve indicar, no respectivo termo, ou em requerimento avulso, as peças dos autos de que pretenda traslado. O traslado deve ser extraído, conferido e concertado no prazo de 5 (cinco) dias, e dele devem constar sempre:

a) a decisão recorrida;

b) a certidão de sua intimação, se por outra forma não for possível verificar-se a oportunidade do recurso; e

c) o termo de interposição.

15.6.2 Apelação

Apelação, segundo Fernando Capez, é o “recurso interposto da sentença definitiva ou com força de definitiva, para a segunda instância, com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a consequente modificação parcial ou total da decisão”.

Embora não se permita que a parte formule novos pedidos na apelação, esse recurso é dos mais amplos, permitindo a reanálise de todo o conteúdo objeto da decisão de primeira instância (apelação plena), ou apenas em relação a parte dele (apelação limitada), conforme redação legal do artigo 599 do Código de Processo Penal, que consagra o princípio tantum devolutum quantum appellatum. Há entendimento, no entanto, que o órgão ad quem pode reexaminar a decisão recorrida, mesmo em relação a pontos não requeridos, desde que para favorecimento do réu.

Dispõe o artigo 593 do Código de Processo Penal, que cabe apelação, no prazo de 5 (cinco) dias:

I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;

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II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos em que não couber recurso em sentido estrito;

III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;

b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à

decisão dos jurados;

c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;

d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

Diante do conteúdo do inciso II do artigo 593 do Código de Processo Penal, conclui-se que a apelação tem caráter residual em relação ao recurso em sentido estrito, pois ela só é cabível nas decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular, quando não for cabível o recurso em sentido estrito. E conforme redação do artigo 593, parágrafo quarto, quando for cabível a apelação, não pode ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte decisão se recorra, ou em outras palavras, se a decisão recorrida não estiver contemplada no rol do artigo 581 do Código de Processo Penal, ainda que parte dela se enquadre em alguma das matérias nele previstas, o recurso cabível é o de apelação.

Conforme se conclui da redação do artigo 597 do Código de Processo Penal, a apelação tem efeito suspensivo.

O prazo para interposição do recurso em estudo é de 5 (cinco) dias, contados da decisão de intimação da sentença. Interposta a apelação, ela passa por juízo de admissibilidade e, se recebida, intima-se o apelante para que apresente as razões do recurso, no prazo de 8 (oito) dias, salvo nos processos de contravenção, em que esse prazo é de 3 (três) dias. Apresentadas as razões, o juiz deve intimar o recorrido, para que apresente contrarrazões. Se houver assistente, este deve arrazoar, no prazo de 3 (três) dias, após o Ministério Público. E se a ação penal for movida pela parte ofendida, ao Ministério Público deve ser dada vista dos autos, para arrazoar ou contra-arrazoar o recurso.

Quando forem dois ou mais os apelantes ou apelados, os prazos devem ser comuns (art. 600, §3º, do CPP).

Se o apelante declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na superior instância os autos devem ser remetidos ao tribunal ad quem onde será aberta vista às partes, observados os prazos legais, notificadas as partes pela publicação oficial. 15.6.2.1 Processo e julgamento do recurso em sentido estrito e da apelação nos tribunais

Nos tribunais, o recurso em sentido estrito e a apelação podem adotar

dois diferentes procedimentos, o ordinário e o sumário. Será adotado o procedimento sumário em relação ao recurso em

sentido estrito ou apelação interpostos das sentenças em processos de

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contravenção ou de crime a que a lei comine pena de detenção. Nesses casos, os autos seguem imediatamente com vista para o Procurador-Geral de Justiça, pelo prazo de 5 (cinco) dias, para emissão de parecer, e, em seguida, passam, por igual prazo, ao relator, que deve pedir designação de dia para o julgamento (art. 610, caput, do CPP). Anunciado o julgamento pelo presidente, e apregoadas as partes, com a presença desta ou à sua revelia, o relator deve fazer a exposição do feito e, em seguida, o presidente deve conceder, pelo prazo de 10 (dez) minutos, a palavra aos advogados ou às partes que a solicitarem e ao Procurador-Geral, quando o requerer, por igual prazo.

Já o procedimento ordinário será adotado em relação ao recurso em sentido estrito ou apelação interpostos das sentenças em processo por crime a que a lei comine pena de reclusão. Nesses casos, os autos também seguem imediatamente com vista para o Procurador-Geral de Justiça, mas pelo prazo de 10 (dez) dias, para que ele ofereça parecer, e, em seguida, passam, por igual prazo (10 dias), ao relator, que deve elaborar relatório e passar ao revisor, que tem igual prazo para o exame do processo, elaboração de parecer e pedido de dia para realização do julgamento. No dia do julgamento, o presidente da turma deve apregoar as partes, e o relator deve prestar relatório oral acerca do processo, abrindo-se prazo para que as partes possam realizar sustentação oral, pelo prazo de 15 (quinze) minutos cada. Com o término dos debates, os desembargadores devem proferir voto para, na sequência, ser lavrado o respectivo acórdão.

Por derradeiro, a teor da disposição do artigo 616 do Código de Processo Penal, no julgamento das apelações pode o tribunal, câmara ou turma proceder a novo interrogatório do acusado, reinquirir testemunhas ou determinar outras diligências.

15.6.3 Embargos

O Código de Processo Penal trata dos embargos infringentes e de

nulidade, no artigo 609, parágrafo único, e também trata dos embargos de declaração nos artigos 382, 619 e 620.

15.6.3.1 Embargos infringentes e de nulidade

Os embargos infringente e de nulidade são cabíveis para atacar decisão não-unânime de segunda instância, desfavorável ao réu. O prazo para interposição é de 10 (dez) dias, contados da data de publicação do acórdão, na forma do artigo 613 do Código de Processo Penal.

Portanto, são requisitos dos embargos infringentes e de nulidade:

a) decisão não unânime;

b) proferida em segunda instância, em razão de julgamento de apelação ou do recurso em sentido estrito; e

c) desfavorável ao réu.

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Como se vê, os embargos infringentes e de nulidade são exclusivos para a defesa. Enquanto os embargos infringentes destinam-se ao pedido de reexame da decisão de mérito, os embargos de nulidade atacam algum vício de forma, isto é, alguma falha processual.

Admite-se que os embargos infringentes e de nulidade possam atacar a totalidade da decisão recorrida, ou apenas parte dela, caso em que os embargos ficam restritos à matéria objeto da divergência, conforme determina o parágrafo único, segunda parte, do artigo 609 do Código de Processo Penal.

15.6.3.2 Embargos de declaração

Os embargos de declaração se prestam para garantir às partes o direito de obter uma decisão clara, precisa e coerente. Proferida uma sentença sem alguma dessas qualidades, é lícito às partes interpor embargos de declaração, no prazo de 2 (dois) dias, contados da publicação da decisão embargada.

É possível interpor embargos de declaração quando a sentença apresentar:

a) ambiguidade; b) obscuridade; c) contradição; ou d) omissão.

Interpostos os embargos de declaração, há interrupção do prazo para

interposição de outros recursos, diferentemente do que ocorre no âmbito dos Juizados Especiais, onde há mera suspensão do prazo.

Os embargos de declaração, em primeira instância, encontram previsão no artigo 382 do Código de Processo Penal, o qual dispõe que estes devem ser interpostos perante o juiz prolator da sentença embargada.

Já os embargos de declaração, em segunda instância, encontram previsão no artigo 619 do Código de Processo Penal, e devem ser interpostos perante o relator do acórdão recorrido.

Ponto importante é que, enquanto os embargos interpostos em primeira instância dispensam a intimação da parte contrária para manifestação, os embargos interpostos em segunda instância exigem essa intimação.

15.6.4 Recurso especial

Embora não previsto expressamento no Código de Processo Penal, o

recurso especial está previsto na Constituição Federal de 1988. Dispõe o artigo 105, inciso III, da Constituição Federal, que compete

ao Superior Tribunal de Justiça julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais

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ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;

c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja

atribuído outro tribunal.

O prazo para interposição do recurso especial é de 15 dias, e ele não possui efeito suspensivo.

Se houver necessidade de utilização do recurso especial e também do extraordinário, deve haver interposição simultânea, perante o Tribunal recorrido, em petições distintas.

Quando o recurso tiver fundamento em dissídio entre a interpretação da lei federal adotada pelo julgado recorrido e a que lhe haja dado outro Tribunal, o recorrente deve fazer prova da divergência mediante certidão, ou indicação do número e da página do jornal oficial, ou do repertório autorizado de jurisprudência, que o houver publicado, conforme determinação do parágrafo único, do artigo 26 da Lei n.º 8.038/90.

Recebida a petição pela Secretaria do Tribunal e aí protocolada, deve ser intimado o recorrido, abrindo-lhe vista pelo prazo de 15 (quinze) dias para apresentar contrarrazões. Encerrado esse prazo, os autos seguem conclusos para admissão ou não do recurso, no prazo (impróprio) de cinco dias. Quando ambos os recursos forem admitidos, os autos seguem para o Superior Tribunal de Justiça. Concluído o julgamento do recurso especial, os autos devem ser remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, desde que este já não esteja prejudicado em razão do acolhimento do recurso especial.

Há também a possibilidade do relator do recurso especial considerar que é o recurso extraordinário que é prejudicial em relação àquele, quando então deve remeter os autos ao Supremo Tribunal Federal, para julgamento, primeiramente, do recurso extraordinário (art. 27, §5º, do CPP). Nesse caso, se o relator do recurso extraordinário não o considerar prejudicial, deve devolver os autos ao Superior Tribunal de Justiça, para que julgue o recurso especial (art. 27, §6º, do CPP). Em ambos os casos, os despachos dos relatores são irrecorríveis.

Da denegação do recurso especial cabe agravo de instrumento, no prazo de 5 (cinco) dias, para o Superior Tribunal de Justiça.

Esse agravo de instrumento deve ser instruído com as peças que forem indicadas pelo agravante e pelo agravado, dele constando, obrigatoriamente, a decisão agravada, a certidão da respectiva intimação, as procurações outorgadas aos advogados do agravante e agravado, o acórdão recorrido, a petição de interposição do recurso e as contrarrazões, se houver (art. 28, §1º, do CPP). Tão logo seja distribuído o agravo de instrumento, o relator deve proferir decisão.

Conforme dispõe o parágrafo terceiro do artigo 28 da Lei n.º 8.038/90, na hipótese de provimento, se o instrumento contiver os elementos necessários ao julgamento do mérito do recurso especial, o relator pode determinar, desde logo, sua inclusão em pauta, observando-se, daí por diante, o procedimento relativo àqueles recursos, admitida a sustentação

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oral. O mesmo se diga em relação ao agravo de instrumento contra denegação de recurso extraordinário, salvo quando, na mesma causa, houver recurso especial admitido e que deva ser julgado em primeiro lugar (art. 28, §4º, do CPP).

Da decisão do relator que nega seguimento ou provimento ao agravo de instrumento, cabe agravo (interno) para o órgão julgador no prazo de 5 (cinco) dias, conforme previsão legal do parágrafo quinto do artigo 28 da Lei n.º 8.038/90.

Por derradeiro, a teor do artigo 29 da lei 8.038/90, é embargável, no prazo de 15 (quinze) dias, a decisão da turma que, em recurso especial, divergir do julgamento de outra turma, da seção ou do órgão especial, observando-se o procedimento estabelecido no regimento interno.

15.6.5 Recurso extraordinário

Dispõe o artigo 102, inciso III, da Constituição Federal, que compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face

desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

O prazo para interposição do recurso extraordinário, assim como o do

recurso especial é de 15 dias, e ele também não possui efeito suspensivo. Como já salientado, caso haja necessidade de utilização do recurso

especial e também do extraordinário, deve haver interposição simultânea, perante o Tribunal recorrido, em petições distintas.

O procedimento do recurso extraordinário é o mesmo do recurso especial. Recebida a petição pela Secretaria do Tribunal, deve-se intimar o recorrido para que apresente contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias. Encerrado o prazo, os autos seguem conclusos para admissão ou não do recurso. Quando ambos os recursos forem admitidos, os autos seguem para o Superior Tribunal de Justiça. Concluído o julgamento do recurso especial, os autos devem ser remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, desde que este já não esteja prejudicado em razão do acolhimento do recurso especial.

Há também a possibilidade do relator do recurso especial considerar que é o recurso extraordinário que é prejudicial em relação àquele, quando então deve remeter os autos ao Supremo Tribunal Federal, para julgamento do recurso extraordinário (art. 27, §5º, do CPP). Nesse caso, se o relator do recurso extraordinário não o considerar prejudicial, deve devolver os autos ao Superior Tribunal de Justiça, para que julgue o recurso especial (art. 27, §6º, do CPP). Em ambos os casos, os despachos dos relatores são irrecorríveis.

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Da denegação do recurso extraordinário cabe agravo de instrumento, no prazo de 5 (cinco) dias, para o Supremo Tribunal Federal.

Esse agravo de instrumento deve ser instruído com as peças que forem indicadas pelo agravante e pelo agravado, dele constando, obrigatoriamente, a decisão agravada, a certidão da respectiva intimação, as procurações outorgadas aos advogados do agravante e agravado, o acórdão recorrido, a petição de interposição do recurso e as contrarrazões, se houver (art. 28, §1º, do CPP). Tão logo seja distribuído o agravo de instrumento, o relator deve proferir decisão.

Da decisão do relator que nega seguimento ou provimento ao agravo de instrumento, cabe agravo (interno) para o órgão julgador no prazo de 5 (cinco) dias, conforme previsão legal do parágrafo quinto, do artigo 28 da Lei n.º 8.038/90.

Tanto o recurso especial como o extraordinário exigem o prequestionamento da matéria recorrida, perante as instâncias inferiores, sem o que não poderá ser conhecida a matéria recorrida.

E no caso do recurso extraordinário, há, ainda, outro requisito, que é necessidade de demonstração de repercussão geral, nos termos do parágrafo terceiro, do artigo 102 da Constituição Federal. Conforme determina mencionado dispositivo constitucional, o Tribunal somente pode recusar o exame do recuso, por ausência de repercussão geral, mediante manifestação de 2/3 (dois terços) dos seus membros.

15.6.6 Carta testemunhável

A carta testemunhável é uma espécie recursal tendente a obter a reanálise de uma decisão que tenha negado recebimento ou que tenha impedido prosseguimento do recurso em sentido estrito ou do agravo em execução ao órgão ad quem. Em outras palavras, é “um recurso que tem por finalidade exclusiva promover a subida de outro recurso à segunda instância” (CAPEZ, 2010, p. 788).

Conforme estipula o artigo 639 do Código de Processo Penal, é cabível a utilização da carta testemunhável:

a) da decisão que denegar o recurso;

b) da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo ad quem.

A carta testemunhável deve ser requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal, conforme o caso, nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, cabendo ao requerente indicar as peças do processo que deverão ser trasladadas (art. 640, do CPP).

Ato contínuo, o escrivão ou secretário deve proferir recibo da petição à parte, e, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, deve fazer a entrega da carta, devidamente conferida e concertada, conforme determina o artigo 641 do Código de Processo Penal.

O Tribunal, câmara ou turma a quem competir o julgamento da carta, se desta tomar conhecimento, mandará processar o recurso, ou, se estiver

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suficientemente instruída, poderá decidir imediatamente acerca do mérito (art. 644, do CPP).

Na instância superior, o processo da carta testemunhável segue o processo do recurso denegado (art. 645, do CPP).

Por derradeiro, a teor da disposição do artigo 646 do Código de Processo Penal, a carta testemunhável não possui efeito suspensivo.

15.6.7 Correição parcial

É controvertida a natureza jurídica da correição parcial. Alguns

apontam que se trata efetivamente de um recurso, já outros entendem se tratar de mera medida administrativa, de natureza disciplinar.

Consoante a doutrina de Fernando Capez, “correição parcial é uma providência administrativo-judiciária contra despachos do juiz que importem em inversão tumultuária do processo, sempre que não houver recurso específico previsto em lei” (2010, p. 790).

A previsão legal da correição parcial não está no Código de Processo Penal, mas nos regimentos internos dos tribunais.

Possui legitimidade ativa para interposição da correição parcial:

a) o réu; b) o Ministério Público; c) o querelante; e d) o assistente da acusação.

O objetivo do recurso (ou medida administrativa) em estudo é sanar a

inversão tumultuária nos atos do processo, praticada pelo juiz. Portanto, só há que se falar em correição parcial em relação aos erros de procedimento, de forma (error in procedendo) e não em relação aos erros de julgamento (error in judicando).

Embora o tema não seja pacífico, é predominante o entendimento de que a correição parcial segue o mesmo procedimento do agravo de instrumento. Logo, o prazo para sua interposição é de 10 (dez) dias.

Por derradeiro, há que se frisar que a correição parcial não possui efeito suspensivo.

15.6.8 Revisão criminal A revisão criminal, embora abordada no tópico relativo aos recursos,

possui natureza jurídica de ação autônoma, de cunho cognitivo, cuja sentença é de natureza constitutivo-negativa. O objetivo da revisão criminal é demonstrar que a condenação penal proferida em outro processo foi indevida, motivo pelo qual deve ser revista para, consequentemente, ser desconstituída.

Apenas o réu possui legitimidade para ajuizar a revisão criminal, já que, conforme redação legal do parágrafo único do artigo 626 do Código de Processo Penal, não se admite o agravamento da pena imposta ao réu.

Estipula o artigo 621 do Código de Processo Penal que a revisão dos

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processos findos será admitida:

a) quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos;

b) quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos;

c) quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

A revisão criminal pode ser requerida a qualquer tempo, ante ou depois da extinção da pena (art. 622, caput, do CPP). Não se admite, contudo, a reiteração do pedido de revisão, salvo se fundado em novas provas.

A revisão criminal pode ser pleiteada pelo próprio réu ou por seu procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do réu (art. 623, do CPP).

É competente para processar e julgar a revisão criminal:

a) o Supremo Tribunal Federal, quanto às condenações por ele proferidas;

b) o Superior Tribunal de Justiça, Tribunais de Justiça, nos demais casos.

No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça o processo e julgamento obedecem ao que estiver estabelecido no respectivo regimento interno.

Já nos Tribunais de Justiça, o julgamento deve ser efetuado pelas câmaras ou turmas criminais, reunidas em sessão conjunta, quando houver mais de uma, e, no caso contrário, pelo tribunal pleno.

Embora dirigido ao presidente do Tribunal, a revisão criminal é distribuída a um relator e a um revisor, devendo funcionar como relator um desembargador que não tenha pronunciado decisão em qualquer fase do processo originário (art. 625, caput, do CPP). O pedido de revisão deve ser instruído com a certidão de haver transitado em julgado a sentença condenatória e com as peças necessárias à comprovação dos fatos arguidos. Ato contínuo, o relator pode determinar que se apensem os autos originais aos autos da ação de revisão, desde que não advenha dificuldade à execução normal da sentença (art. 625, §2º, do CPP).

Quando o relator julgar que o pedido está insuficientemente instruído e que é inconveniente ao interesse da justiça que se apensem os autos originais aos autos da revisão, deve indeferi-lo liminarmente. Em contrapartida, se não houver indeferimento liminar, deve ser aberta vista dos autos ao Procurador-Geral, que deve proferir parecer no prazo de 10 (dez) dias. Na sequência, examinados os autos, sucessivamente, em igual prazo, pelo relator e revisor, julgar-se-á o pedido na sessão que o presidente designar (art. 625, §5º, do CPP).

Se o Tribunal julgar procedente a revisão, pode haver:

a) a alteração da classificação da infração;

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b) a absolvição do réu; c) a modificação da pena; ou d) a anulação do processo.

Como já salientado, em qualquer hipótese, não pode ser agravada a

pena imposta pela decisão revista. A absolvição do réu implica no restabelecimento de todos os direitos

perdidos em virtude da condenação, devendo o tribunal, se for o caso, impor a medida de segurança cabível (art. 627, do CPP).

Incumbe aos regimentos internos dos Tribunais de Justiça estabelecer as normas complementares para o processo e julgamento das revisões criminais, conforme prevê o artigo 628 do Código de Processo Penal.

Transitada em julgado o acórdão que cassar a sentença condenatória prolatada nos autos originais, o juiz deve mandar juntar certidão desse acórdão naqueles autos, imediatamente, para inteiro cumprimento da decisão (art. 629, do CPP).

Por derradeiro, há que se mencionar que, embora haja divergência, é predominante o entendimento de que por meio de revisão criminal é possível alterar o julgamento proferido pelo Tribunal do Júri, uma vez que não se admite que a soberania dos vereditos, constitucionalmente garantida, prevaleça sobre determinados direitos fundamentais do acusado.

15.6.9 Habeas corpus

O habeas corpus é uma ação de natureza autônoma,

constitucionalmente prevista, e não um recurso. O habeas corpus é cabível “sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”, conforme prevê o artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal de 1988.

O artigo 647 do Código de Processo Penal dispõe que é cabível o habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir. Portanto, o habeas corpus pode ser impetrado:

a) de forma preventiva; e b) de forma repressiva.

Enquanto o habeas corpus preventivo destina-se a evitar que seu

paciente sofra coação em sua liberdade de locomoção, o repressivo (ou liberatório) destina-se a afastar o constrangimento já efetivado contra o paciente.

Em sede do habeas corpus, são partes:

a) o paciente, isto é, aquele que sofreu ou está na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade;

b) o impetrante, isto é, aquele responsável pela impetração do writ;

c) o impetrado (ou coator), isto é, aquele que praticou a coação ou o

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constrangimento.

Nada impede, no caso do habeas corpus, que paciente e impetrante sejam a mesma pessoa, mesmo que o paciente não seja advogado, pois não se exige capacidade postulatória para impetração desse writ.

Conforme prevê o artigo 648 do Código de Processo Penal, a coação considera-se ilegal:

a) quando não houver justa causa; b) quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a

lei; c) quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; d) quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;

e) quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em

que a lei a autoriza; f) quando o processo for manifestamente nulo; g) quando extinta a punibilidade.

A competência para processar e julgar o habeas corpus é da

autoridade imediatamente superior à autoridade coatora. Por exemplo, quando o juiz de direito comete o abuso, o Tribunal de Justiça é o órgão competente para processar e julgar o habeas corpus respectivo.

15.6.10 Mandado de segurança

O mandado de segurança é uma ação autônoma, de índole

constitucional, e não um recurso. Prevê o artigo 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal de 1988, que “conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público”.

Direito líquido e certo é aquele perfeitamente delimitado e existente, pronto para ser satisfeito no momento da impetração do mandado de segurança, independente de dilação probatória.

Atualmente, a lei que regulamenta o mandado de segurança é a Lei n.º 12.016/09, cujo artigo 1º reitera o mandamento constitucional e estipula: “conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça”.

Equiparam-se às autoridades, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições (art. 1º, §1º, da Lei n.º 12.016/09).

Só há que se falar na presença de interesse de agir em relação ao

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mandado de segurança, quando não haja recurso passível de utilização, o que demonstra o caráter subsidiário do mandamus. No entanto, é pacífico o entendimento acerca da possibilidade de utilização do mandado de segurança para obtenção de efeito suspensivo para o recurso que não o tenha.

Conforme determina o artigo 6º da Lei n.º 12.016/09, a petição inicial do mandado de segurança deve preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, deve ser apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e deve indicar, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições. Caso o documento necessário à prova do alegado se ache em repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz deve ordenar, preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e deve marcar, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias (art. 6º, §1º, da Lei n.º 12.016/09).

Ao despachar a inicial, o juiz deve ordenar:

a) que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;

b) que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito;

c) que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

Da decisão judicial que conceder ou denegar a liminar cabe agravo de instrumento, observados os requisitos e procedimentos do Código de Processo Civil. Tão logo seja deferida a liminar, o mandamus adquire prioridade de julgamento (art. 7º, §4º, da Lei n.º 12.016/09).

Para que se possa identificar corretamente a competência para impetração do mandado de segurança, deve-se verificar a quem incumbiria julgar eventual recurso interposto em razão da decisão coatora proferida. Por exemplo, se o ato for praticado pelo juiz de direito, em primeira instância, a impetração do mandado de segurança deve ser feita perante o Tribunal de Justiça.

15.6.11 Agravo em execução

O agravo em execução é o recurso utilizado na fase da execução

penal, pertinente para impugnação das decisões proferidas pelo juiz dessa fase processual.

Conforme estipula o artigo 197 da Lei de Execução Penal (Lei n.º

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7.210/84), das decisões proferidas pelo juiz cabe o recurso de agravo em execução, sem efeito suspensivo.

Ademais, são decisões recorríveis mediante agravo em execução:

a) que conceder, negar ou revogar livramento condicional (art. 581, XII, do CPP);

b) que decidir sobre a unificação de penas (art. 581, XVII, do CPP);

c) que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado (art. 581, XIX, do CPP);

d) que impuser medida de segurança por transgressão de outra (art. 581, XX, do CPP);

e) que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774 (art. 581, XXI, do CPP);

f) que revogar a medida de segurança (art. 581, XXII, do CPP);

g) que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação (art. 581, XXIII, do CPP).

O prazo para interposição do agravo em execução é de 5 (cinco) dias, a teor do enunciado da súmula n.º 700 do Supremo Tribunal Federal, podendo ser feita por escrito ou por termo nos autos (verbalmente). Por observar o procedimento do recurso em sentido estrito, após apresentação da peça de interposição, há prazo de 2 (dois) dias para apresentação das razões recursais.

Por derradeiro, ponto peculiar do agravo em execução é o efeito regressivo, isto é, a possibilidade do juiz prolator da decisão recorrida dela se retratar e evitar a remessa das razões do recurso ao órgão ad quem.

16. Juizados Especiais Criminais

Os Juizados Especiais Criminais possuem competência para a

conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.

Quando for necessária a reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, não devem deixar de ser observados os institutos da transação penal e da composição dos danos civis (art. 60, parágrafo único, do CPP).

Para os efeitos da Lei n.º 9.099/95, consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

São princípios regentes dos processos perante o Juizados Especiais Criminais:

a) a oralidade; b) a informalidade; c) a economia processual; e d) a celeridade.

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E constituem objetivos da lei em estudo, sempre que possível, a

reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

16.1 Competência e atos processuais

Determina-se a competência dos Juizados Especiais pelo lugar em

que foi praticada a infração penal. Conforme lição do artigo 64 da Lei n.º 9.099/95, os atos atos

processuais praticados sob a égide dessa lei, devem ser públicos e podem ser realizados em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

Em se tratando do processo dos Juizados Especiais, não se deve pronunciar qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo (art. 65, §1º, da Lei n.º 9.099/95).

Quanto a prática de atos processuais em outras comarcas, a solicitação do juízo deprecante ao deprecado pode ocorrer por qualquer meio hábil.

Nos Juizados Especiais a citação deve ser feita de forma pessoal e no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado. Contudo, se o acusado não for encontrado para ser citado, o juiz deve encaminhar as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei (art. 66, parágrafo único, da Lei n.º 9.099/95).

A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que deve ser obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação (art. 67, caput, da Lei n.º 9.099/95).

E conforme expressa menção do parágrafo único do artigo 67 da lei em estudo, dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.

16.2 Fase preliminar

A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência deve

lavrar termo circunstanciado e o encaminhar imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários (art. 69, caput, da Lei n.º 9.099/95).

Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima (art. 69, parágrafo único, da Lei n.º 9.099/95).

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No procedimento dos Juizados, como se vê, não se fala em inquérito

policial, mas em termo circunstanciado, que lhe faz as vezes em consagração ao princípio da celeridade.

Quando comparecerem o autor do fato e a vítima, mas não for possível a realização imediata de audiência preliminar, deve ser designada data próxima, da qual ambos sairão cientes.

Se qualquer dos envolvidos não comparecer, a Secretaria deve providenciar a sua intimação, e, se for o caso, a do responsável civil.

Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o juiz deve esclarecer sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade (art. 72, da Lei n.º 9.099/95). Como já se teve a oportunidade de mencionar, a aplicação de pena não privativa de liberdade é um dos objetivos dos Juizados Especiais, e deve, pois, ser sempre perseguida.

A audiência de conciliação pode ser conduzida:

a) por um juiz; ou b) por um conciliador sob sua orientação.

Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei

local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.

Obtida a composição dos danos civis, esta deve ser reduzida a escrito e, homologada pelo juiz mediante sentença irrecorrível, adquirindo eficácia de título a ser executado no juízo civil competente (art. 74, caput, da Lei n.º 9.099/95). Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.

No entanto, se não for obtida a composição dos danos civis, deve ser dada ao ofendido, imediatamente, a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo. Frisa o parágrafo único do artigo 75 da Lei n.º 9.099/95, que o não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.

Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta (art. 76, caput, da Lei n.º 9.099/95).

Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.

Conforme orienta o parágrafo segundo do artigo 76 da lei em estudo, não se admite a proposta se ficar comprovado:

a) ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

b) ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

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c) não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

Se ausentes os impedimentos supra mencionados, o Ministério Público deve fazer a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, e, se aceita pelo autor da infração e seu defensor, deve ser submetida à apreciação do juiz.

Caso o juiz acolha a proposta feita pelo Ministério Público e aceita pelo autor da infração, ele deve aplicar a pena restritiva de direitos ou multa, que não deve importar em reincidência, sendo registrada apenas para impedir nova concessão do mesmo benefício no prazo de 5 (cinco) anos. Dessa sentença proferida pelo juiz, cabe o recurso de apelação (art. 76, §5º, da Lei n.º 9.099/95).

16.3 Procedimento sumaríssimo

Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela impossibilidade de oferecimento da proposta de aplicação de pena restritiva de direitos ou multas, o Ministério Público deve oferecer ao juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis (art. 77, caput, da Lei n.º 9.099/95).

Para o oferecimento da denúncia, que deve ser elaborada com base no termo circunstanciado, dispensado o inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.

Caso a complexidade ou circunstâncias do caso não permitam a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes ao juízo comum, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.

Oferecida a denúncia ou queixa, esta deve ser reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados (art. 78, caput, da Lei n.º 9.099/95). Prevê o parágrafo primeiro do artigo 78 da lei em estudo que, se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68 da Lei n.º 9.099/95 (por mandado) e cientificado da data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo 5 (cinco) dias antes de sua realização. Se não estiverem presentes o ofendido e o responsável legal, eles devem ser intimados por correspondência, para comparecerem à audiência de instrução e julgamento. As testemunhas arroladas também devem ser intimadas por correspondência (art. 78, §3º, da Lei n.º 9.099/95).

No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de oferecimento de proposta pelo Ministério Público, estes

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procedimentos devem então ser adotados, se possível, nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.

Prevê o artigo 80 da lei em estudo, que nenhum ato deve ser adiado, determinando o juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.

Aberta a audiência, deve ser concedida a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa. Caso receba, devem ser ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença (art. 81, caput, da Lei n.º 9.099/95).

Todas as provas devem ser produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias. De todo o ocorrido na audiência deve ser lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença (art. 81, §2º, da Lei n.º 9.099/95).

Nos Juizados Especiais, a sentença pode ser elaborada sem o relatório, haja visto dispensa conferida pelo parágrafo terceiro do artigo 81 da lei em estudo.

Da decisão que rejeita a denúncia ou queixa e da sentença cabe apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. Essa apelação deve ser interposta no prazo de 10 (dez) dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. Interposta apelação, o recorrido deve ser intimado para oferecer resposta escrita no prazo de 10 (dez) dias. Quando a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, dispõe o parágrafo quinto do artigo 82 da lei em estudo, que a súmula do julgamento servirá de acórdão.

Proferida sentença ou acórdão com obscuridade, contradição, omissão ou dúvida, cabem embargos de declaração, que podem ser interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da ciência da decisão. Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para o recurso.

É importante encerrar mencionando que os meros erros materiais não dependem de embargos para serem corrigidos, podendo sê-los de ofício (art. 83, §3º, da Lei n.º 9.099/95).

16.4 Suspensão condicional do processo

Ponto importante em relação a Lei dos Juizados Especiais é a

possibilidade de suspensão condicional do processo. Segundo o artigo 89 da lei em estudo, nos crimes em que a pena

mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os

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demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Aceita a proposta de suspensão do processo, o juiz submeterá o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:

a) reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; b) proibição de frequentar determinados lugares; c) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização

do Juiz;

d) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

O juiz pode, ainda, especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

A suspensão condicional do processo deve ser revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano (art. 89, §3º, da Lei n.º 9.099/95).

E a suspensão condicional do processo pode ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta (art. 89, §4º, da Lei n.º 9.099/95).

Em contrapartida, expirado o prazo sem revogação, o juiz deve declarar extinta a punibilidade do acusado.

Conforme prevê o parágrafo sexto do artigo 89 da lei em estudo, não corre a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

Por derradeiro, é importante mencionar que a suspensão condicional do processo é uma proposta feita pelo Ministério Público e que depende de aceitação do autor do fato, mas se este recusá-la, o processo deve prosseguir normalmente.

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