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CURSO ESCOLA DA DEFENSORIA PÚBLICA Nº38 DATA 25/09/15 DISCIPLINA LEIS PENAIS ESPECIAIS (NOITE) PROFESSOR MARCELO LEBRE MONITORA WALKYRIA SILVA E SILVA AULA 04/06 Ementa: Na aula de hoje serão abordados os seguintes pontos: Lei nº 9.503/97 - Código de Trânsito Brasileiro - Crimes de Trânsito Lei nº 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais Lei nº 8.069/90 - ECA Lei nº 9.503/97: CTB Crimes de trânsito Artigos 291 a 312 do Código de Trânsito Brasileiro. b) Artigo 303: Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do § 1o do art. 302. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) Resultado lesão corporal (leve, grave, gravíssima) em decorrência da condução de veículo automotor. Classificação Jurídica: Comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo especial condição do agente. Material: a consumação depende do resultado lesão ao bem jurídico da vítima. Unissubjetivo: o crime pode ser praticado por uma única pessoa. Instantâneo. Essencialmente culposo. Caso o crime seja praticado na condução de veículo automotor, de forma dolosa, o agente responderá conforme artigo 129 do CP.

CURSO ESCOLA DA DEFENSORIA PÚBLICA Nº38 DATA … · AULA 04/06 Ementa: Na aula de hoje serão abordados os seguintes pontos: Lei nº 9.503/97 - Código de Trânsito Brasileiro -

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CURSO – ESCOLA DA DEFENSORIA PÚBLICA Nº38 DATA – 25/09/15 DISCIPLINA – LEIS PENAIS ESPECIAIS (NOITE) PROFESSOR – MARCELO LEBRE MONITORA – WALKYRIA SILVA E SILVA AULA 04/06

Ementa:

Na aula de hoje serão abordados os seguintes pontos:

Lei nº 9.503/97 - Código de Trânsito Brasileiro - Crimes de Trânsito

Lei nº 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais

Lei nº 8.069/90 - ECA

Lei nº 9.503/97: CTB – Crimes de trânsito

Artigos 291 a 312 do Código de Trânsito Brasileiro.

b) Artigo 303:

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do § 1o do art. 302. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

Resultado lesão corporal (leve, grave, gravíssima) em decorrência da condução de veículo

automotor.

Classificação Jurídica:

Comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo especial condição do

agente.

Material: a consumação depende do resultado lesão ao bem jurídico da vítima.

Unissubjetivo: o crime pode ser praticado por uma única pessoa.

Instantâneo.

Essencialmente culposo.

Caso o crime seja praticado na condução de veículo automotor, de forma dolosa, o agente

responderá conforme artigo 129 do CP.

Pena

Detenção de 6 meses a dois anos além de suspensão ou proibição de habilitação.

Majorante da pena

Conforme parágrafo único, do artigo 303, do CTB, a pena aumentará de 1/3 a ½, se:

o agente for inabilitado;

cometido na faixa de pedestre ou calçada;

o agente deixar de prestar socorro, podendo fazê-lo;

o agente estiver em serviço de transporte de pessoas.

A redação do parágrafo único, do artigo 303, do CTB, foi alterada recentemente (Lei nº

12.971/14) e trata-se de norma de repetição, já que se refere às hipóteses do §1º, do artigo 302,

do CTB.

Ressalta-se que as qualificadoras do artigo 302 do CTB não estão previstas neste tipo penal.

Artigo 291, §1º, do CTB:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. § 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 2008) I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) § 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policial para a investigação da infração penal. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

Além de determinar a aplicação subsidiária do CPP e CP, estabelece que, para os crimes lesão

corporal culposa na condução de veículo automotor é cabível a composição civil dos danos

(conciliação entre as partes), a transação penal, e a ação penal é pública condicionada à

representação do ofendido.

Ocorre que, não caberá composição civil, tampouco transação penal, e a ação penal será

pública incondicionada se sobrevier alguma das hipóteses dos incisos I a III, do §1º, do artigo 303,

do CTB (cláusulas de exceção às prerrogativas do §1º, do artigo 291, do CTB):

I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

Embora não seja expressamente previsto no CTB o perdão judicial para lesão corporal culposa

na condução de veículo automotor, permite-se a aplicação deste benefício por analogia in bonan

partem ao artigo 129, §8º, do CP, que traz a hipótese de perdão judicial para lesão corporal

culposa.

c) Artigo 304 – Omissão de socorro

Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave. Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.

Existe outro tipo penal que possui o mesmo nomen iuris, conforme artigo 135 do CP:

Omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Sujeitos do crime:

É crime próprio, exige uma especial condição do sujeito ativo. É através deste elemento que

diferenciamos o crime de omissão de socorro do CTB e do CP.

Situação 1: João, conduzindo um veículo automotor de modo prudente, e seguindo todas as

normas de trânsito teve seu veículo abalroado por Lucas, que ultrapassou o sinal vermelho. João

não teve ferimentos, mas Lucas, que deu causa ao acidente, sofreu ferimentos.

João deve prestar auxilio, e caso se omita, responderá nos termos do artigo 304 do CTB.

Situação 2: Rafael, pedestre, ao andar na rua, testemunha um acidente envolvendo dois

veículos automotores, com vítimas em ambos os veículos. Em que pese ter a possibilidade de

chamar socorro, Rafael se omitiu, respondendo nos termos do artigo 135 do CP.

O crime de omissão de socorro previsto no CP é crime comum, já o crime de omissão de

socorro do CTB é crime próprio, o agente deve estar envolvido no acidente.

Ressalta-se que, além do agente ter que estar envolvido no acidente, ele não deve ter dado

causa a ele.

Caso o agente tenha dado causa ao acidente e, podendo, se omite a prestar socorro,

responderá na forma dos artigos 302, §1º ou 303, parágrafo único, do CTB, a depender do caso –

omissão como majorante da pena dos crimes de homicídio culposo ou lesão corporal culposa na

condução de veículo automotor.

Portanto há três situações a partir da análise do sujeito ativo do crime:

- agente envolvido em acidente, o qual não deu causa, se omite: artigo 304 do CTB.

- agente não envolvido no acidente, que, presenciando-o, omite socorro: artigo 135 do CP.

- agente que, além de envolvido, deu causa ao acidente e omite socorro: artigo 302, §1º ou

artigo 303, parágrafo único, do CTB, a depender do resultado (homicídio culposo ou lesão

corporal culposa na condução de veículo automotor).

Classificação jurídica:

Crime próprio: o agente deve estar envolvido em acidente de trânsito ao qual não deu

causa

Crime doloso: o agente, percebendo que havia alguém ferido, não prestou auxílio. Caso

o agente não tenha percebido, por negligência, imprudência ou imperícia que havia

alguém ferido, não responderá por este crime.

Crime omissivo puro: “deixar de prestar auxílio”. Por ser omissivo puro/próprio, não

admite tentativa.

Pena:

O agente terá como pena: detenção de 6 meses a um ano ou multa.

A aplicação das penas é alternativa, e não cumulativa.

“... caso o fato não constitua elemento de crime mais grave”: o artigo 304 do CTB é crime

subsidiário. O agente só responderá por esse tipo penal, caso não responda por crime mais grave

(ex: artigo 302 ou 303).

Caso o agente não possa prestar auxílio, mas comunique as autoridades, a conduta se torna

atípica.

Atenção:

Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.

Situação: João está envolvido em acidente para o qual não deu causa e o condutor do veículo

que causou o acidente tem morte instantânea. Ainda sim João tem o dever de prestar auxílio e

comunicar as autoridades, sob pena de responder conforme parágrafo único, do artigo 304, do

CTB.

Se o condutor do veículo que deu causa ao acidente tiver lesões corporais graves, ou se,

alguma testemunha prestar socorro e comunicar às autoridades o fato, João tem o dever, ainda

sim, de prestar auxílio e comunicar às autoridades.

O parágrafo único, do artigo 304, do CTB, é alvo de grandes críticas: se as autoridades já

foram comunicadas, o envolvido no acidente, para o qual não deu causa, não deve ser obrigado a

comunicá-las novamente, tampouco deverá prestar socorro à vítima já morta.

A doutrina sustenta que nessas hipóteses o agente não responderia, por inexigibilidade de

conduta diversa, o que afasta a culpabilidade (matéria de defesa).

d) Artigo 305:

Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

O agente que foge do local do acidente responde nos termos deste artigo.

e) Artigo 306: embriaguez ao volante

A redação atual do artigo 306 é a seguinte:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) § 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) § 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) § 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) § 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

Ocorre que essa nem sempre foi a redação do tipo penal.

Esse crime existe desde o advento do CTB, em 1997, e já sofreu duas grandes reformas, ou

seja, o crime de embriaguez ao volante é uma norma penal de terceira geração (já é o terceiro

tratamento legislativo diferente conferido ao artigo 306 do CTB).

Em 1997, o crime de embriaguez ao volante era crime de perigo concreto: o agente só seria

punido caso o MP demostrasse que além de alcoolizado, sua conduta estava expondo à potencial

risco a incolumidade de outras pessoas.

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Evidente a falha do legislador ao classificar o crime de embriaguez ao volante como crime de

perigo concreto.

Após o advento da Lei Seca, Lei nº 11.705/08, o crime de embriaguez ao volante passou a ser

crime de perigo abstrato, no qual se pune a conduta de risco do agente: o perigo já é presumido

pelo próprio legislador.

Na prática, não era mais necessário demonstrar que a conduta do agente expunha a dano

potencial a incolumidade de outrem, bastando a prova de que o agente estava sob efeito de álcool

ou outra substância psicoativa que determine dependência:

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008) Regulamento Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

Em que pese o avanço legislativo ao tratar o crime de embriaguez ao volante como de perigo

abstrato, o legislador falhou ao exigir a comprovação de que o condutor esteja com concentração

de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas.

A mera constatação ocular não é suficiente para apurar a concentração de álcool por litro de

sangue do agente. Para caracterização do crime, sua materialidade, fazia-se imprescindível a

realização de perícia sanguínea ou alveolar (bafômetro).

Os suspeitos ao serem abordados na blitz, não obstante visivelmente alcoolizados, não se

submetiam ao exame de bafômetro, alegando não serem obrigados a produzirem provas contra

eles próprios, o que impedia que se atestasse a materialidade do delito.

Essa falha legislativa possibilitou um alto índice de absolvições, por falta de materialidade, já

que outros tipos de provas não poderiam ser produzidas, face a exigência de constatação mínima

de 6 (seis) decigramas de álcool por litro de sangue.

Com a chegada da Lei nº 12.971/14, a falha contida na alteração oriunda da Lei Seca foi

corrigida.

A atual redação mantem o crime como de perigo abstrato e inova: para caracterização do crime

não é mais necessário provar a que o agente está com concentração igual ou superior a 6 (seis)

decigramas de álcool por litro de sangue, bastando comprovar que o agente está sob influência de

álcool ou de qualquer substância psicoativa que determine dependência, por qualquer meio de

prova, inclusive prova testemunhal (§§ 1º e 2º, do artigo 306, do CP):

§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) § 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) § 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

O inciso II, do §1º, do 306, do CTB, é norma penal em branco que depende de

complementação do Contran.

Ou seja, atualmente, a simples palavra do policial já é tida como prova: “o flagrado se

encontrava com olhos avermelhados, odor etílico, sonolência, fala turva, desconexão entre

palavras e gestos...”.

Em certa medida, conferir esse poder aos policiais é temerário. Em contrapartida, o fato de

deixar em aberto os meios de prova, acaba coibindo a prática do crime.

A Lei nº 12.971/14 tornou mais rígida a punição da conduta.

Dirigir embragado é também infração de trânsito.

A contraprova pode ser feita através de perícia particular.

Atenção: a atual redação não exige que o crime seja cometido em via pública.

f) Artigo 307:

Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código: Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.

g) Artigo 308:

Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada: Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada: (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) § 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de natureza grave, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) § 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

Esse crime também estava previsto na redação originária do CTB, e sofreu recentemente

alterações pela Lei nº 12.971/14.

A doutrina entende que quando a expressão “em via pública” não estiver contida no tipo, ele

poderá ser praticado em qualquer lugar.

O crime do artigo 308 deve ser praticado em via pública.

É crime de perigo concreto: além de comprovar que o agente estava participando de racha,

imprescindível que se comprove, ainda, que a conduta do agente gerou risco à incolumidade

pública ou privada. Se não comprovado o risco, a conduta será atípica.

Situação: agente que estava participando de racha de madrugada, sem ninguém na rua = pode

ser considerado conduta atípica, por não gerar risco à incolumidade de outrem.

É crime plurissubjetivo: não pode ser praticado por apenas uma pessoa, deverão haver no

mínimo duas pessoas. São raros os crimes plurissubjetivos.

É crime de mão própria: não pode ser praticado por qualquer pessoa, apenas por aquele que

estava participando do racha. Não admite coautoria, embora admita participação (quem instiga,

por exemplo).

Hipóteses preterdolosas do delito - §§ 1º e 2º, do artigo 308, do CTB:

§ 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de natureza grave, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) § 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

Crime preterdoloso é espécie de crime qualificado pelo resultado, no qual se tem dolo na

conduta primária, mas com ela se produz resultado a mais, que foi produzido a título culposo,

gerado por uma quebra de cuidado: negligência, imprudência e imperícia.

Ausente o dolo direito (“o agente não quis o resultado”) ou eventual (“não assumiu o risco de

produzir o resultado”), o agente responderá pelo artigo 308, §1º ou §2º, do CTB.

Presente o dolo, o agente responderá em concurso de crimes:

- artigo 308 do CTB, combinado com artigo 121 do CP, ou

- artigo 308 do CTB, combinado com artigo 129 do CP.

h) Artigo 309: dirigir sem habilitação

Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Sempre será infração de trânsito dirigir veículo automotor sem CNH.

Será crime, caso o agente:

- conduza veículo automotor em via pública;

- sem CNH;

- e gere perigo de dano (caracterizadora da conduta criminosa).

Sobre o tema, temos a súmula 720 do STF:

SÚMULA 720 O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.

Artigo 32 da Lei de Contravenções Penais:

Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a motor em águas públicas: Pena - multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

O artigo 309 do CTB derrogou o artigo 32 da Lei de Contravenções Penais:

- caso o agente esteja dirigindo veículo automotor sem CNH responderá conforme artigo

309 do CTB;

- caso o agente esteja dirigindo embarcação a motor, sem a devida habilitação, responderá

conforme artigo 32 da Lei de Contravenções Penais.

i) Artigo 310:

Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. Art. 310-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)

j) Artigo 311:

Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

k) Artigo 312: inovação artificiosa

Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

Situação: o sujeito que causou acidente de trânsito promove a mudança do local dos veículos

ou das vítimas, visando dificultar a perícia, para demonstrar que não teve culpa no acidente.

É um crime autônomo, o agente poderá responder por ele e mais algum dos crimes de trânsito.

Dicas finais:

Agravantes da pena – artigo 298

Traz rol de agravantes para qualquer crime de trânsito, agravantes genéricas:

Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração: I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas; III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo; V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de carga; VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante; VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres.

Prisão em flagrante

Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.

É cabível prisão em flagrante exceto se o agente prestar socorro à vítima.

A proibição da prisão em flagrante para aquele que presta auxilio só abrange os crimes

previstos nos artigos 302 e 303, do CTB.

Artigo 292:

Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

Lei nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais

1) Noções gerais:

1.1) Natureza jurídica

A lei não é estritamente penal, possui natureza híbrida, trazendo além de aspectos penais,

aspectos processuais.

1.2) Objetividade jurídica

O bem jurídico aqui tutelado é o meio ambiente lato sensu, espaço ocupado pelos seres vivos,

incluindo três perspectivas:

Meio ambiente natural: solo, água, ar, fauna, flora etc.

Meio ambiente cultural: patrimônio artístico, histórico, arqueológico etc.

Meio ambiente artificial: espaços urbanos, edificações etc.

1.3) Objeto material

Objeto sobre o qual recai a conduta criminosa. O objeto aqui é variado (flora, edificações etc.) e

dependerá do crime praticado.

A lei de Crimes Ambientais poderá ser dividida em duas partes:

Parte geral: traz noções, sanções, bem jurídico tutelado, dentre outros;

Parte especial: trata dos crimes. A divisão da parte especial é feita a de acordo com o

objeto material:

o Crimes contra a fauna

o Crimes contra a flora

o Crimes de poluição

o Crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural

o Crimes contra a administração ambiental

1.4) Fundamentos da proteção e esferas de responsabilidade

O meio ambiente é objeto de proteção constitucional: artigo 225 da CR/88:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento) II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento) III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; (Regulamento) IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento) V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento) VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (Regulamento) § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. (Regulamento) (Regulamento)

§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

É uma cláusula constitucional de proteção ao meio ambiente. O §3º, do artigo 225, da CR/88,

determina que os infratores de crimes ambientais poderão ser pessoas físicas ou jurídicas, e

ainda deflagra três esferas de responsabilidade:

- esfera cível,

- esfera administrativa

- esfera criminal.

São esferas autônomas de responsabilidade, que podem incidir cumulativamente. Os artigos 2º

e 3º da Lei também preveem esse conteúdo:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Há norma constitucional e infraconstitucional que expressamente autoriza a responsabilização

de pessoas jurídicas por dano ambiental. Deste modo, é possível a responsabilização criminal de

pessoa jurídica por crime ambiental.

Há discussão na doutrina de como essa responsabilização se dará:

Alguns doutrinadores sustentam que a atual estrutura jurídica não comporta essa

responsabilização, não há como operabilizá-la, a partir do entendimento de que sociedades não

delinquem.

Outros, defendem que os operadores jurídicos devem concretizar as normas constitucionais e

infraconstitucionais.

A partir dessa perspectiva surgiram várias teorias que visaram possibilitar a aplicação de

penalidade criminal à pessoa jurídica, como a Teoria da Imputação Objetiva (seja a de Jacobs,

seja a de Roxin).

A teoria da imputação objetiva é uma teoria de nexo causal. Ressalta-se que ela não foi

encapada pelo CP, que adotou a teoria do equivalente dos antecedentes, conforme artigo 13 do

CP.

O STF e STJ adotaram a “Teoria da dupla imputação”: a pessoa jurídica sozinha não senta no

banco dos réus. O MP, ao ofertar uma denúncia contra pessoa jurídica, necessariamente deverá

denunciar o sócio, gestor, administrador ou equivalente. Essa regra está explicitada no artigo 2º

da Lei.

Sobre o tema, em 2013 a 1ª turma do STF proferiu a seguinte decisão: absolveu a pessoa

física e manteve a condenação da pessoa jurídica.

Crime ambiental: absolvição de pessoa física e responsabilidade penal de pessoa jurídica - 2 No mérito, anotou-se que a tese do STJ, no sentido de que a persecução penal dos entes morais somente se poderia ocorrer se houvesse, concomitantemente, a descrição e imputação de uma ação humana individual, sem o que não seria

admissível a responsabilização da pessoa jurídica, afrontaria o art. 225, § 3º, da CF. Sublinhou-se que, ao se condicionar a imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa humana, estar-se-ia quase que a subordinar a responsabilização jurídico-criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física. Ressaltou-se que, ainda que se concluísse que o legislador ordinário não estabelecera por completo os critérios de imputação da pessoa jurídica por crimes ambientais, não haveria como pretender transpor o paradigma de imputação das pessoas físicas aos entes coletivos. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que negavam provimento ao extraordinário. Afirmavam que o art. 225, § 3º, da CF não teria criado a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Para o Min. Luiz Fux, a mencionada regra constitucional, ao afirmar que os ilícitos ambientais sujeitariam “os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas”, teria apenas imposto sanções administrativas às pessoas jurídicas. Discorria, ainda, que o art. 5º, XLV, da CF teria trazido o princípio da pessoalidade da pena, o que vedaria qualquer exegese a implicar a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Por fim, reputava que a pena visaria à ressocialização, o que tornaria impossível o seu alcance em relação às pessoas jurídicas. RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013.(RE-548181)

Alguns doutrinadores afirmaram que o STF teria abandonado a teoria da dupla imputação, e

passou a adotar a teoria da imputação objetiva.

Ocorre que a lógica permaneceu a mesma. A pessoa física e a pessoa jurídica são pessoas

distintas. Caso a pessoa física se valha, por exemplo, de uma causa exclusão do crime (ex: erro

de proibição), que lhe seja particular, ela deverá ser absolvida, e não necessariamente implicará

na absolvição da pessoa jurídica. A pessoa jurídica não se beneficiará da causa particular de

exclusão do crime.

Essa era a hipótese do julgado acima. O MP observou a teoria da dupla imputação ao

denunciar tanto a pessoa jurídica, quanto a pessoa física, mas no momento do julgamento, a

causa de exclusão do crime particular da pessoa física não foi aproveitada pela pessoa jurídica.

Após esse julgado paradigmático, voltou à tona a discussão sobre a necessidade de a pessoa

física acompanhar a pessoa jurídica no banco dos réus. Devemos ficar atentos aos próximos

julgados sobre a matéria.

1.5) Desconsideração da personalidade jurídica – artigo 4º

Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

A premissa básica da Lei de Crimes Ambientais consiste em que “todo dano ambiental

causado deverá ser reparado”.

A pessoa jurídica que estiver insolvente, sem condições de reparar o dano por ela causado,

poderá ter sua personalidade jurídica desconsiderada, conforme artigo 4º da Lei.

Ocorre que, sob a luz do princípio da pessoalidade das penas, ou da intranscendência: a pena

não passará da pessoa do acusado, previsto constitucionalmente no artigo 5º, inciso XLV, da

CR/88, alguns doutrinadores entenderam que o artigo 4º da Lei feria esse princípio.

O STF, instado a se manifestar sobre o tema, declarou constitucional o artigo 4º da Lei, sob o

argumento de que o dispositivo não tem natureza essencialmente penal, e sim cível, ou

administrativa, e nessas esferas é possível a desconsideração da personalidade jurídica.

2) Sanções aplicáveis

a) Critérios para aplicação das penas

O critério trifásico previsto no artigo 68 do CP deve ser observado pelo juiz.

Além dele, o artigo 6º da Lei determina critérios complementares para graduação da

penalidade:

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências para a saúde pública e para o meio ambiente;

II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

Critérios complementares balizadores:

Gravidade do fato

Antecedentes

Situação econômica do agente

b) Agravantes e atenuantes

As agravantes e atenuantes genéricas previstas nos artigos 61 a 66 do CP também se aplicam

para crimes ambientais.

Além delas, existem as agravantes e atenuantes especificas determinadas nos artigos 14 e 15

da Lei:

Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena: I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da degradação ambiental causada; III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental; IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental. Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - reincidência nos crimes de natureza ambiental; II - ter o agente cometido a infração: a) para obter vantagem pecuniária; b) coagindo outrem para a execução material da infração; c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente; d) concorrendo para danos à propriedade alheia; e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso; f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos; g) em período de defeso à fauna; h) em domingos ou feriados; i) à noite; j) em épocas de seca ou inundações; l) no interior do espaço territorial especialmente protegido; m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais; n) mediante fraude ou abuso de confiança; o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental; p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais; q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes; r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

Existe alguma agravante da pena se o crime for cometido domingo ou feriado? Sim, artigo 15,

inciso II, alínea h, da Lei, prevê essa agravante, por se tratar de situação na qual a fiscalização

ambiental é menor.

c) Espécies de pena

Para as pessoas físicas:

o Privativa de liberdade: artigos 10 a 13

o Restritiva de direito: artigos 7º e 8º (cai mais em prova)

o Multa: artigo 18

Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos; II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída. Art. 8º As penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de atividades; IV - prestação pecuniária; V - recolhimento domiciliar.

Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos. Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais. Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator. Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória. Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.

Para as pessoas jurídicas: artigo 21 a 23

o Restritiva de direito: artigo 22

o Multa: artigo 21

o Prestação de serviço comunitário: na Lei de Crimes Ambientais não é espécie

de pena restritiva de direito, é pena autônoma – artigo 23.

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são: I - multa; II - restritivas de direitos; III - prestação de serviços à comunidade. Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I - suspensão parcial ou total de atividades; II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. § 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. § 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. § 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos. Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em: I - custeio de programas e de projetos ambientais; II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas; III - manutenção de espaços públicos; IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

d) Liquidação forçada – artigo 24

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.

A pessoa jurídica que é constituída precipuamente para a prática de crimes ambientais será

obrigada a fechar as portas.

A Lei de Crimes Ambientais não estabelece os critérios para liquidação.

A doutrina questionou a constitucionalidade do artigo 24 face o rol de penas proibidas

constitucionalmente, conforme artigo 5º, inciso XLVII, da CR/88:

XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;

Penalizar a pessoa jurídica a cessar suas atividades seria o mesmo que condená-la a pena de

morte.

O STF declarou constitucional o artigo 24 da Lei, por ter natureza cível e administrativa e não

de direito penal. Nas esferas cível e administrativa é possível a liquidação forçada, que deverá

observar os ditames do artigo 761 do CPP, o que reitera a natureza cível da penalidade.

3) Questões processuais

SURSIS:

SURSIS é a suspensão condicional da pena: benefício de natureza penal, e não processual,

previsto no artigo 77 do CP:

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. § 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício § 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.

É possível a aplicação do SURSIS para crimes ambientais, dependendo da quantidade de

pena que venha a ser aplicada, conforme artigos 16 e 17 da Lei:

Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos. Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do art. 78 do Código Penal será feita mediante laudo de reparação do dano ambiental, e as condições a serem impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção ao meio ambiente.

Perícia ambiental

A grande maioria dos crimes ambientais deixa vestígio.

A realização da perícia é imprescindível, não só para verificação da materialidade, mas

também para quantificação da reparação do dano:

Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa. Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.

O parágrafo único, do artigo 19, da Lei, permite o incidente de prova emprestada.

Reparação do dano

A reparação do dano ambiental é matéria de especial relevância para esse tipo de delito, e é

tratado no artigo 20 da Lei.

Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente. Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido.

O inciso IV, do artigo 387, do CPP, foi inserido após reforma do diploma em 2008, e expressa

norma reflexa à contida no artigo 20 da Lei de Crimes Ambientais (de 1998).

Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: (Vide Lei nº 11.719, de 2008) (...) IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

No tocante a crimes ambientais, a fixação de valor mínimo correspondente à reparação dos

danos causados pelo agente já era prevista desde 1998, a cláusula do CPP estendeu o alcance

dessa norma para os demais crimes, partir de 2008.

Suspensão condicional do processo

Não podemos confundir a suspensão condicional da pena, que é benefício penal, com a

suspensão condicional do processo, de natureza processual, prevista no artigo 89 da Lei nº

9.099/85:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal ). § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de freqüentar determinados lugares; III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos

A depender do crime ambiental, será possível a aplicação da suspensão condicional do

processo, nos termos do artigo 28 da Lei:

Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo; II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição; III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput; IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano.

Transação penal

A transação penal está prevista no artigo 76 da Lei nº 9.099/95:

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida. § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei. § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível

Essa prerrogativa será admitida na Lei de Crimes Ambientais, desde que haja prévia

composição do dano ambiental pelo agente, conforme artigo 27 da Lei:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

Ação penal e ritos - artigo 26

Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública incondicionada. Parágrafo único. (VETADO)

Nos crimes ambientais a ação penal sempre será pública incondicionada, até porque o bem

jurídico pela Lei tutelado é supraindividual.

O rito dependerá da quantidade de pena, conforme lógica do artigo 394 do CPP:

Art. 394. O procedimento será comum ou especial. § 1o O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo: I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei. § 2o Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em contrário deste Código ou de lei especial. § 3o Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código. § 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. § 5o Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.

Competência

Em regra a competência para julgar e processar os crimes ambientais será da justiça estadual,

salvo interesse direto da União, conforme artigo 109, da CR/88.

Situação: abate indevido de animal silvestre em uma unidade de conservação mantida pela

União. Nesse caso a competência se deslocará para a justiça federal.

Atenção: a súmula 91 do STJ, relacionada ao tema, foi cancelada.

CANCELADA. Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna

Entendia-se que havia interesse da União na proteção dos animais. Não prospera esse

entendimento.

Apreensão do produto – artigo 25 da Lei

Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos. § 1º Os animais serão libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de técnicos habilitados. § 1o Os animais serão prioritariamente libertados em seu habitat ou, sendo tal medida inviável ou não recomendável por questões sanitárias, entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e cuidados sob a responsabilidade de técnicos habilitados. (Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014) § 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. (Vide Medida provisória nº 62, de 2002) § 2o Tratando-se de produtos perecíveis, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. (Redação dada pela Medida provisória nº 62, de 2002) Prejudicada § 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. (Vide Medida provisória nº 62, de 2002) § 2o Até que os animais sejam entregues às instituições mencionadas no § 1o deste artigo, o órgão autuante zelará para que eles sejam mantidos em condições adequadas de acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-estar físico. (Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014) § 3º Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais. § 4º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua descaracterização por meio da reciclagem. § 5o Tratando-se de madeiras, serão levadas a leilão, e o valor arrecadado, revertido ao órgão ambiental responsável por sua apreensão. (Incluído pela Medida provisória nº 62, de 2002) Prejudicada

Aplicação subsidiária do CP e CPP – artigo 79 da Lei

Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal

4) Dos Crimes Ambientais

A parte especial da Lei é dividida em 5 grandes tópicos, de acordo com o objeto material (bem

jurídico tutelado):

Crime Ambiental Artigo

Crimes contra a fauna 29 a 37

Crimes contra a flora 38 a 53

Crimes de poluição 54 a 61

Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural 62 a 65

Crimes contra a administração ambiental 66 e 69-A

A) Crimes contra a fauna

Fauna é o conjunto de animais sejam eles terrestres ou aquáticos.

Artigo 29 – crimes contra animais silvestres

Animais silvestres são animais selvagens, e representam o oposto de animais domésticos.

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas: I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida; II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural; III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. § 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. § 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado: I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração; II - em período proibido à caça; III - durante a noite; IV - com abuso de licença; V - em unidade de conservação; VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa. § 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional. § 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.

Artigo 31

Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

O crime visa evitar a extinção de alguma espécie. O animal trazido sem autorização pode ser

predador de alguma determinada espécie brasileira, podendo originar sua extinção.

Artigo 32 – maus tratos

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Ainda que a experiência seja para fins científicos ou didáticos, quando existirem outros

recursos, aquele que realiza experiência dolorosa e cruel com animal vivo responde por maus

tratos, nos termos do parágrafo único, do artigo 32, da Lei.

Caso não haja outro meio para realização da experiência, a conduta será atípica.

Esse tipo de experiência chama-se vivissecção.

Artigos 34 e 35 – crimes de pesca

Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos; II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos; III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas. Art. 35. Pescar mediante a utilização de: I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena - reclusão de um ano a cinco anos.

Veda a pesca predatória, em locais proibidos/interditados, dentre outros.

O artigo 36 da Lei é norma explicativa e conceitua o que é pesca:

Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.

Não inclui os cetáceos: baleia, boto, golfinho. Os cetáceos já estão protegidos pela Lei

7.643/87, e são mamíferos, e não peixes.

Causas de exclusão do crime – artigo 37

O abate de animal não será crime:

o Em caso de estado de necessidade para matar a fome do agente e sua família;

o Para proteção de lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória, desde que

autorizado expressamente pela autoridade competente;

o Por ser o animal nocivo.

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III – (VETADO) IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.

Natureza jurídica das excludentes:

O inciso I é, sem dúvidas, uma causa de exclusão da ilicitude, já os incisos II e IV a doutrina

diverge, causa de isenção de pena ou de exclusão da ilicitude.

B) Crimes contra a flora

Artigo 39 – corte de árvores em floresta de preservação permanente sem autorização

Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Artigo 41 – crime de incêndio

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa.

O crime de incêndio desta Lei se refere ao ateio de fogo em mata ou floresta, já o crime de

incêndio previsto no CP, no artigo 250, por critério de exclusão (princípio da especialidade),

abrangerá o incêndio em qualquer outro lugar:

Incêndio Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.

Artigo 45 – corte de madeira de lei (madeiras nobres)

Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, econômica ou não, em desacordo com as determinações legais: Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa.

Artigo 53 – majorantes da pena

Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um terço se: I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação do regime climático; II - o crime é cometido: a) no período de queda das sementes; b) no período de formação de vegetações; c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra somente no local da infração; d) em época de seca ou inundação;

e) durante a noite, em domingo ou feriado.

C) Crimes de poluição

Artigo 54

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

Poderá ser doloso ou culposo. Objetiva proteger o ar, a água, o solo, os animais e vegetais.

D) Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural

Artigo 65 – crime de pichação

Art. 65. Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de seis meses a um ano de detenção, e multa. Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: (Redação dada pela Lei nº 12.408, de 2011) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.408, de 2011) § 1o Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 12.408, de 2011) § 2o Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. (Incluído pela Lei nº 12.408, de 2011)

Conspurcar se refere a qualquer forma de degradação.

E) Crimes contra a Administração Ambiental

Na sua grande maioria são crimes próprios, a serem cometidos por funcionários da

administração ambiental: ex. aquele que concede autorização indevida, ilegítima.

Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:

Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano, sem prejuízo da multa. Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão: (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006) Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006) § 1o Se o crime é culposo: (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006) Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006) § 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se há dano significativo ao meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)

OBSERVAÇÕES:

I) Artigos 70 a 76 da Lei – infrações administrativas

A Lei de Crimes Ambientais, além de prever crimes, prevê infrações administrativas.

O professor recomenda a simples leitura.

II) Princípio da insignificância

Até meados de 2009, prevalecia o entendimento no STJ e STF de que não era cabível o

princípio da insignificância para os crimes ambientais, considerando o bem jurídico tutelado.

Atualmente, entende-se que, a depender do crime praticado, é possível a aplicação do

princípio da insignificância.

Ex: maltrato de planta ornamental – artigo 49

Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa.

Ex: pesca de 12 camarões pequenos, mas com rede de pesca em local proibido.

ECA – Lei nº 8.069/90

Parte Geral

o Noções preliminares

o Direitos fundamentais

o Sistema preventivo

Parte Especial

o Políticas de atendimento

o Medidas protetivas

o Ato infracional

o Medida socioeducativa

o Crimes contra crianças e adolescentes

Parte penal propriamente dita.

1) Noções preliminares

A) Proteção legal

As crianças e adolescentes são alvo de proteção não apenas do ECA, mas de uma série de

tratados e convenções internacionais (ex: Declaração Universal Dos Direitos das Crianças de

1959 da ONU, Convenção Internacional sobre os aspectos civis do sequestro internacional da

criança, regras mínimas da ONU de proteção a jovens privados de liberdade, dentre outros), além

de proteção constitucional, nos termos do artigo 227:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. § 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola; III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins. VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. § 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. § 7º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á em consideração o disposto no art. 204. § 8º A lei estabelecerá: (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens; (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas. (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)

Destarte, a proteção conferida a crianças e adolescentes é de âmbito externo e interno (de

âmbito constitucional e infraconstitucional).

B) Criança ≠ Adolescente – artigo 2º do ECA

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Criança é aquela que tem até 12 anos incompletos.

Adolescente é aquele que tem de 12 a 18 anos incompletos.

Excepcionalmente, é possível aplicar os ditames do ECA para maiores de 18 anos.

Ex: Renato com 17 anos e 11 meses comete ato infracional, quando a sentença é proferida

determinando o cumprimento de medida socioeducativa, Renato já tinha 18 anos. Mesmo assim

Renato deverá cumprir a medida.

Os ditames do ECA nunca poderão ser aplicados para jovem maior de 21 anos.

C) Doutrinas adotadas

Antes da existência do ECA a legislação que regulamentava o tema chamava-se Código de

Menores (não distinguia criança e adolescentes) de 1927.

A doutrina que balizava os ditames dessa codificação era denominada como “Doutrina da

situação irregular”. Os menores só tinham interesse para o direito caso estivessem em situação

irregular cível (criança adotada de forma irregular) ou criminal (menor matando alguém).

Após a CR/88 (artigo 227) e com inspiração nos tratados e convenções internacionais, foi

encampada a Doutrina da Proteção Integral.

O ECA também encampou essa doutrina: as crianças e adolescente passaram a ser

considerados verdadeiros sujeitos de direitos e obrigações, que estão em especial fase de

consolidação da sua personalidade, razão pela qual devem recebem tratamento especial do

Estado, família e sociedade.

A Doutrina da Proteção Integral originou dois princípios que norteiam todos os ditames do ECA:

Princípio da prioridade absoluta

Princípio do melhor interesse: Orienta a decisão do operador do direito que sempre

deverá analisar no caso concreto o que é melhor para criança ou adolescente, e não

para sua família ou sociedade, ou administração pública.

Ex: artigos 4ª e 5º do ECA:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Situação:

Juiz único na comarca que deve julgar dois processos: um que envolve criança ou adolescente

e outro que envolve réu preso por excesso de prazo. O juiz deverá julgar o que envolve criança e

adolescente em primeiro lugar.

Há apenas uma vaga no hospital e uma criança e um idoso em grave estado estão

aguardando. A prioridade de atendimento será da criança ou adolescente.

Prefeito de uma cidade, que disponibilizando de orçamento, está em dúvida na construção de

uma creche ou de um aeroporto. Ele deverá destinar o dinheiro para a construção de uma creche.

2) Direitos fundamentais

Artigo 3º

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Todos os direitos fundamentais previstos na constituição são também previstos para as

crianças e adolescentes.

O ECA, além daqueles, arrola direitos fundamentais específicos para criança e para o

adolescente conforme as seguintes perspectivas:

Direito a vida e a saúde: artigos 7º à 14

Direito à liberdade, respeito e dignidade: artigos 15 a 18

Direito à convivência familiar e comunitária: artigos 19 a 52

Direito à educação, cultura, esporte e lazer: artigos 53 a 59

Direito à profissionalização e proteção no trabalho: artigos 60 a 69 do ECA e artigo 7º,

inciso XXXIII da CR/88:

XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

3) Sistema preventivo – artigo 70 a 85 do ECA:

O ECA cria um sistema para evitar lesões aos direitos fundamentais das crianças e dos

adolescentes.

Especificidades do Sistema Protetivo:

Quanto à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos (artigos 74 a 80);

Ex: classificação de programas de TV.

produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento

(artigos 81 e 82);

Proibição de venda de bebidas alcoólica, armas, brinquedos com classificação etária.

Autorização para viajar (artigos 83 a 85).

Nenhuma criança pode viajar para fora da comarca onde reside desacompanha dos pais ou

responsáveis sem autorização judicial.

Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial. § 1º A autorização não será exigida quando: a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; b) a criança estiver acompanhada: 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco; 2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável. § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por dois anos. Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida. Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

4) Políticas de atendimento – artigos 86 a 97

O professor aconselha a simples leitura dos artigos.

5) Medidas protetivas – artigos 98 a 102

As medidas de proteção são aplicáveis sempre que for reconhecida ameaça ou lesão dos

direitos das crianças ou adolescentes, seja por ação ou omissão do Estado, família ou

comunidade.

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

III - em razão de sua conduta.

O artigo 101 determina quais são as medidas protetivas:

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - abrigo em entidade; VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência VIII - colocação em família substituta. VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade. § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 5o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 6o Constarão do plano individual, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de acolhimento.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Não confundir medidas protetivas (não possui natureza penal) com medidas socioeducativas

(possui natureza penal).

Dispositivos penais do ECA

6) Ato infracional – artigo 103

7) Medidas socioeducativas – artigo 112

8) Crimes contra menores – artigo 288 a 244 (praticados por maiores contra menores)

Esses tópicos serão tratados na próxima aula.