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1 Compilação e organização de Pr Adriano Prist Pb Vivaldo de Albuquerque Pinto Igreja do Porto PORTO VELHO, 2013

CURSO FORMAÇÃO TEOLOGIA BÁSICA - MÓDULO I

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

1

Compilação e organização de

Pr Adriano Prist

Pb Vivaldo de Albuquerque Pinto

Igreja do Porto

PORTO VELHO, 2013

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO À BÍBLIA 3

2 O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO 6

3 HISTÓRIA DE ISRAEL 10

4 PANORAMA GERAL DO PENTATEUCO 23

5 INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS 29

6 INTRODUÇÃO AOS LIVROS POÉTICOS 32

7 PROFETISMO 49

8 OUTRAS DISCIPLINAS DO ANTIGO TESTAMENTO 52

9 MÉTODO DE ESTUDO DO ANTIGO TESTAMENTO 54

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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1 INTRODUÇÃO À BÍBLIA

A Bíblia é um livro antigo. O vocábulo "Bíblia" vem do grego. À folha de

papiro preparada para a escrita davam o nome de Biblos. Um rolo de Papiro de

tamanho pequeno era chamado de Biblion e vários formavam uma Bíblia,

"coleção de livros pequenos". Os livros antigos tinham a forma de rolos (Ez

3.2), eram feitos de papiro ou pergaminho.

O papiro era uma planta aquática que crescia junto aos rios, lagos e

banhados do Oriente Próximo, cuja entrecasca servia para a escrita (Ex 2.3; Jo

8.11; Is 18.2). Papiro deriva-se a nossa palavra papel. Seu uso na escrita vem

de 3.000 a.C.

O pergaminho é a pele de animais, curtida e polida, utilizada na escrita. É

melhor material que o papiro (2 Tm 4.13).

1.1 É Necessário Estudarmos a Bíblia

Estudar é mais do que ler, é aplicar a mente a um assunto de modo

sistemático e constante (1 Pe 3.15; 2 Tm 2. 15; Is 34.16; SI 119.130).

Não basta dizer que temos o Espírito Santo e não conhecermos a

Palavra, isso conduz ao fanatismo, por outro lado, conhecer a Palavra e não ter

o Espírito conduz ao formalismo, estes dois extremos são igualmente

perigosos.

Tudo que Deus tem para o ser humano é o que precisamos saber

espiritualmente sobre a Salvação, conduta cristã e vida vitoriosa, tudo está

revelada na Bíblia, tudo o que o homem tem a fazer é tomar o livro e apropriar-

se dele pela fé.

A Bíblia um livro divino, é nos dado por canais humanos tornando-se

assim divina e humana, como também o é a Palavra Viva - Cristo (Ap 1.13; Jo

1.1). Para fazer-se compreender, Deus vestiu a Bíblia da nossa linguagem,

bem como de nosso modo de pensar. Por isso, o autor da Bíblia é Deus e os

escritores foram pessoas humanas, assim como sua forma.

Em resumo notam-se na Bíblia duas coisas: o Livro e a Mensagem. O

estudo da Bíblia tem por finalidade precípua o conhecimento de Deus. Isso é

visto desde o primeiro versículo dela, no qual vemos que tudo tem o seu centro

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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em Deus. Portanto, a causa motivante de ensinar a Bíblia aos outros, deve ser

a de lavá-los a conhecer a Deus.

Ela é o manual do crente na vida cristã e no trabalho do Senhor (1 Pe 2.9;

Ef 2.10). A Bíblia o livro texto do/a discípulo/a de Jesus é imperioso que este/a

maneje bem para o eficiente desempenho de sua missão (2 Tm 2.15), pois um

bom profissional sabe empregar bem as ferramentas de seus ofícios.

Ela é o instrumento que o Espírito Santo usa (Ef 6.17). A Palavra de Deus

produz fé em nós (Rm 10.17).

Ela alimenta a nossa alma. Não há duvidas, o estudo da palavra de Deus

traz nutrição e crescimento espiritual. É tão indispensável à alma quanto o pão

é ao corpo. Ter bom apetite pela Bíblia é sinal de saúde espiritual. ( Mt 4.4; Jr.

15.16 ; 1 Pe 2.1-2). Embora possamos tomá-la em doses pequenas para não

prejudicar na absorção.

O presente século é caracterizado por ceticismo, racionalismo,

materialismo e outros. A Bíblia em meio a tais sistemas sempre sofre

perversão. Até a pouco tempo, a luta do Diabo visava destruir o próprio Livro,

mas vendo que não conseguia isso, mudou de tática e agora procura perverter

a mensagem do Livro. Seitas e doutrinas falsas proliferam por toda parte

coadjuvadas pelo fanatismo e ignorância prevalecentes em muitos lugares.

Nossa crença na Bíblia deve ser convicta, sólida e fundamental. Por tudo isto,

ler, meditar e estudar a Palavra de Deus é necessário.

1.2 Inspiração e Revelação

Voltemos aquelas questões iniciais do primeiro módulo:

Porque dizemos que a Bíblia é a Palavra de Deus?

O que quer dizer “toda Escritura é inspirada por Deus”?

O que diferencia a Bíblia de todos os demais livros do mundo é sua

inspiração divina (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.20,21; Jó 32.8 ). É devido à inspiração

divina que ela é chamada de Palavra de Deus. Mas, o que vem a ser

inspiração divina?

É a influencia sobrenatural do Espírito Santo como um sopro na vida

dos escritores da Bíblia. Foi o Espírito de Deus quem falou através dos

escritores (Is 51.15; SI 78.1; Zc 7.9,12). Os escritores por sua vez evidenciaram

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ter inspiração divina (Ne 9.30; 2 Rs 17.13; At 1.6; 3.21; 1 Co 2.113; 14.37; 2 Pe

3.2; Hb 1.1; Mt 2.15).

Quanto à inspiração da Bíblia há várias teorias falsas, as quais o

estudante da Bíblia não deve ignorar.

Inspiração Natural - a Bíblia foi escrita por homens dotados de gênio e

força intelectual especial. É uma comparação simplista. Consideram Moisés

como Platão, por exemplo. Embora seja uma verdade, a inspiração é mais que

uma genialidade humana.

Inspiração comum - a inspiração dos escritores da Bíblia é a mesma que

hoje nos vem quando oramos, pregamos, cantamos, ensinamos, andamos em

comunhão com Deus, etc. embora seja verdade que é o mesmo Espírito que

opera em nós, a inspiração é especial, pois tratou de registros únicos.

Inspiração Parcial - algumas partes da Bíblia são inspiradas, outras não;

que a Bíblia não é a palavra de Deus, mas apenas contém a palavra de Deus.

Esta teoria pode ser aplicada a alguns tipos de bíblias, ou seja, há muito

dos escritores e ideologias inseridos nas bíblias. Porém, não se pode dizer o

mesmo do texto original da Bíblia.

Inspiração Verbal - Ensina que a inspiração da Bíblia é só quanto às

palavras, não deixando lugar para a atividade e estilo do escritor. Esta falsa

teoria faz dos escritores verdadeiras máquinas.

Diante disso, cabe a quem deseja conhecer a Deus, que ore pedindo

orientação de seu autor, e leia-a com muita sinceridade e respeito. Conhecer o

seu Autor é a melhor maneira de estudar. O autor de um livro pode explicá-lo

melhor do que ninguém. Mas, leia diariamente (Dt 17.19).

Aprofundando o Assunto:

1) Quanto ao combate espiritual, qual a importância de sabermos usar a Palavra de Deus? Mt 4.1-11

2) Dê um exemplo de revelação e inspiração divina?

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2 O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

Cânon ou Escrituras Canônicas é a coleção completa dos livros

divinamente inspirados. Cânon, do grego, que significa literalmente "vara reta

de medir", no sentido religioso, aquilo que serve de norma, regra. A Bíblia como

cânon é a norma ou regra de fé e prática (Gl 6.16; 2 Co 10.13-15; Fp 3.16).

Diz-se dos livros da Bíblia que são canônicos para diferençá-los dos apócrifos

(informações à frente). O emprego do cânon foi primeiramente aplicado aos

livros da Bíblia por Orígenes (185–255 d.C.).

Na época patriarcal a revelação divina era transmitida oralmente, mas a

escrita já era conhecida na Palestina, séculos antes de Moisés, a arqueologia

tem provado isto, inclusive tem encontrado inúmeras placas e documentos

antediluvianos.

O Cânon do AT foi fechado desde o tempo de Esdras (após 445 a.C.),

embora também se defenda que só pelos meados do II a.C. é que foi

definitivamente definida esta questão.

2.1 A Estrutura da Bíblia

A Bíblia está dividida em Antigo e Novo Testamento. A palavra

“Testamento’ vem do termo grego diatheke e significa: aliança ou concerto.

Testamento, isto é, um documento contendo a última vontade de alguém,

quanto à distribuição de seus bens após a morte ( Lc 22.20 ). No AT a palavra

usada é berith que significa apenas Concerto (Hb 9.15-17). Com a morte do

Testador (Cristo) ratificou ou selou a Nova Aliança.

Existem diferenças básicas entre Antigo e Novo Testamento: o AT conta

a história do povo de Deus antes do nascimento de Jesus Cristo; já o NT conta

a história do nascimento de Cristo e o surgimento das primeiras comunidades

cristãs. O AT foi escrito na língua hebraica em sua maioria. Já o Novo

Testamento foi escrito na língua grega. No AT, o povo de Deus é chamado,

povo de Israel ou israelita. Já no NT, Jesus rompe a barreira do povo de Israel.

Quer dizer, o povo de Deus passa a se chamar Igreja.

O AT, para os judeus, tinha três divisões, as quais Jesus citou em Lc

24.44: Leis, Profetas e Escritos. A lei era formada dos cinco primeiros livros

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(Pentateuco); os profetas continham uma quantidade maior, profetas anteriores

(Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis) e os profetas posteriores (Isaias,

Jeremias, Ezequiel, e os livros de Oséias a Malaquias); e os Escritos eram

formados pelo restante escritos após o cativeiro babilônico (Salmos,

Provérbios, Jó, Cantares, Rute, lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel,

Esdras, Neemias, 1 e 2 Crônicas).

Os livros da Bíblia originalmente não eram divididos em capítulos e

versículos. A divisão em capítulos foi feita somente no século XIII, e a divisão

em versículos no século VXI.

Há, porém, outra divisão do AT que diferencia do texto em hebraico

(Bíblia Hebraica), incorporada por judeus piedosos que traduziram os 39 livros

do AT, que estava em hebraico para o Grego. Esta tradução é conhecida como

Septuaginta (LXX), e traz duas novas contribuições: uma nova estrutura

dividindo o AT em: da Lei (Pentateuco), Históricos (Josué a Ester), Poéticos (Jó

a Eclesiastes) e Proféticos (Oséias a Malaquias). A segunda contribuição foi o

acréscimo de sete livros conhecidos como Apócrifos (Tobias, Judite, Sabedoria

de Salomão, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2 Macabeus).

A disposição ou ordem dos livros no cânon hebraico é também diferente

da nossa. Convém ter em mente que toda cronologia Bíblica é apenas

aproximada. Além de dividir AT conforme os períodos históricos, podemos

dividi-los cronologicamente.

Período das Origens Gênesis 1-11

Período dos Patriarcas Gênesis 12-50

Período de Moisés Êxodo a Deuteronômio

Período da Conquista (ou Tribal) Josué e Juízes

Período da Monarquia 1 e 2 Samuel a 1 e Crônicas, etc.

Período do Exílio Babilônico Daniel, Ezequiel, etc.

Período Pós - Exílico Esdras, Neemias, Malaquias, etc.

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2.2 Autoridade das Escrituras

Na Bíblia de edição Católica Romana, o total de livros é 73 porque a

Igreja Romana, desde o Concílio de Trento em 1546 d.C., inclui oficialmente no

Cânon do AT sete livros “apócrifos”, além de quatro acréscimos ou apêndice a

livros canônicos, sendo assim um total de onze escritos.1

Desde sua aplicação por Jerônimo (sec. IV), nunca foram reconhecidos

pela Igreja Primitiva. Jerônimo, Agostinho, Atanásio e outros homens de valor

dentre os primitivos cristãos, se lhes opuseram como livros inspirados. Aparece

pela primeira vez na Septuaginta, a tradução grega do AT.

Jerônimo traduziu a Vulgata no início do século V (405 d.C.) onde inclui

os apócrifos oriundos da Septuaginta, através da antiga versão Latina de 170

d.C.2

Os sete livros apócrifos constantes da Bíblia de edição Católica Romana

são: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2

Macabeus. Os quatro acréscimos ou apêndice a livros canônicos são: Ester

(Ester 10.4; 16.24); Cânticos dos Três Santos Filhos (Dn. 3.24) História de

Suzana (Dn 13); Bel e o Dragão (Dn 14 ).

A igreja romana aprovou os apócrifos em 18 de abril de 1546 como meio

de combater a reforma protestante, então recente. Nessa época os

protestantes combatiam violentamente as novas doutrinas romanistas do

purgatório, oração pelos mortos, salvação mediante obras, etc. Os romanistas

viam nos “apócrifos” base para tais doutrinas, e apelaram para eles,

aprovando-os como canônicos.

Os debates sobre os apócrifos motivaram ataques dos Dominicanos

contra os Africanos. O cardeal Pallavacini em sua "História Eclesiásticas"

declara que em pleno concílio, 40 bispos dos 49 presentes travaram luta

corporal, agarrados, as barbas e batinas uns dos outros... Foi nesse ambiente

"espiritual" que os apócrifos foram aprovados. A primeira edição da Bíblia

1 Leia com atenção as introduções sobre cada livro apócrifo na Bíblia de Jerusalém para outras

informações. 2 Cf. ARCHER, JR. Gleason L. Merece Confiança o Antigo Testamento. Trad. Gordon Chown.

São Paulo: Vida Nova, 2005, pp. 76-85; ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1993, vol. 1, pp. 175-177.

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católico-romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do papa

Clemente VI.3

Os apócrifos não são inspirados, não eram aceitos pelas sinagogas, não

foram usados por Jesus e nem pelos apóstolos, são livros que seus conteúdos

são duvidosos, e existe muita lenda, fatos e expressões falíveis.

Os canônicos são inspirados, eram aceitos, foram usados por Jesus e

pelos apóstolos, não são duvidosos. Não há o que discutir sobre isto.

Aprofundando o Assunto: 1) Por que se diz Antigo e Novo Testamento? 2) Há pelos menos dois tipos de divisão ou classificação dos livros do

Antigo Testamento, uma com três divisões e a outra com cinco divisões. Explique.

3) Como se chamam os sete períodos da história bíblica?

4) Cite um personagem principal de cada período bíblico? 5) Em sua opinião por que a Bíblia Católica aceitou os livros

apócrifos? 6) Por que nós metodistas são consideramos inspirados por Deus os

apócrifos?

3Texto disponível no site: http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-

InspiracApologetCriacionis/PqRecusaApocrifos-DefesaFeICP.htm. Acesso em 02/11/2009.

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3 HISTÓRIA DE ISRAEL

3.1 Os Primórdios da História

Por milênios Deus se revelou ao homem através de suas obras, isto é, a

criação (Rm 1.20; SI 19.1-6). Porém segundo seu propósito, chegou o tempo

em que desejou alcançar o homem com uma revelação maior, o que fez em

forma dupla: Através da Bíblia (Palavra Escrita) e, através de Jesus Cristo –

(Palavra Viva).

Deus revelou a Abraão como ele criou todas as coisas, Moisés descreveu

tudo em Gênesis. De acordo com a Bíblia, Deus criou o mundo e as demais

coisas em seis dias e no sétimo dia ele descansou de sua obra criadora. Após

a criação, Deus colocou o primeiro casal (Adão e Eva) no Éden e ordenou que

O adorassem. Determinou que governassem a terra, que não comessem da

fruta do conhecimento do bem e do mal. Todavia, a desobediência nasceu do

coração deles e da indução da serpente, que culminou com o pecado,

iniciando-se uma vida de miséria e morte. Após a Queda, Deus lhe prometeu

um REDENTOR, que salvaria e restauraria a relação entre a criatura e o

Criador, também, prometeu anular a obra de Satanás (Gênesis 3.15).

Após a morte de Abel, Deus deu a Adão e Eva outro filho de nome "Sete",

que tomou o lugar de AbeI. O redentor do mundo viria da família de "Sete".

Paralelamente a Bíblia mostra que o filho de Caim, Lameque, herdou os maus

caminhos do pai. O mal se espalhou por toda a humanidade (Gn 6.1-4), em

consequência, Deus mandou o dilúvio para castigar toda a humanidade

pecaminosa, este foi o mais importante acontecimento do período antigo. Deus,

entretanto, preservou a vida de Noé e de sua família, para que se cumprisse a

promessa de redimir a raça humana (2 Pe 3.2). Através de Noé, descreveu o

curso da história subsequente. Um fato importante aconteceu antes de Abrão

entrar em cena. Orgulhosos moradores tentaram chegar ao céu mediante a

construção de uma torre de BabeI (Gn 11), mas Deus castigou esses modos

arrogantes dividindo-os em várias línguas e espalhando-os depois para regiões

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diferentes. Foi assim que se iniciaram as nações do mundo.

3.2 O Período Patriarcal

O AT conta a história de um povo que está em busca de uma nova terra.

Essa história começa por volta de 2.000 anos a.C. Começa com Abrão e Sarai

[que tem seus nomes mudados para Abraão e Sara] que recebem um chamado

de Deus (Gênesis 12.1-9), isto por volta de 1.800 a.C.

Na cidade de Ur, capital do antigo reino de Suméria, Deus escolheu a

família de Abrão para trazer salvação ao restante da humanidade e prometeu-

lhe um filho e fazer de sua descendência uma grande nação (Gn 12.2-3 e 17.1-

6). Por amor a Abraão, Deus escolheu a Jacó, filho de lsaque, Jacó tem seu

nome mudado para Israel (Gn 35.1-15), para herdar as promessas de trazer ao

mundo o redentor.

Por volta do ano 2.000 a.C., as coisas andavam difíceis na Mesopotâmia

(terra de Abrão), acontece então uma grande migração em direção ao Egito

(Gn 11.31). Com Abrão e Sarai se inicia a história do povo de Deus. Nessa

época, Deus se apresentou a Abrão e Sarai e lhe faz três grandes promessas:

terra, família e benção (Gn 12.1-3).

Porém, no tempo de Jacó, há uma grande fome na terra de Canaã. Eles

são obrigados a descer ao Egito para buscar alimento. Não sabem, porém, que

o irmão que venderam para os mercadores tinha se tornado um governador no

Egito, seu nome era José (Gn 37-50). José perdoa seus irmãos, acolhe-os e dá

uma terra nas proximidades do rio Nilo para que pudessem viver em paz.

Ali no Egito, os descendentes de Jacó (Israel) se multiplicam e geram

preocupação aos faróis, que impõe serviço escravo sobre todo o povo. E por

muito tempo (400 anos aproximadamente) o povo de Israel é escravo na terra

do Egito, sem, contudo, ter condições de voltar à terra de onde saíram.

3.3 Período Mosaico

Os reis do Egito, chamados Faraós, temendo os descendentes de Jacó

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de que tomem conta do país, começam a escravizar os hebreus (Ex 1 e 2). O

povo era obrigado a trabalhar de graça para Faraó (Ex 1.11). A opressão não

tinha limites (Ex 1.8-22; 2.23-25; 5.1-23). Esta escravidão dura uns 400 anos

(Ex 12.40).

Os faraós escravizaram o povo e ordenaram a morte de recém-nascidos.

E neste ambiente de escravidão, uma jovem esconde seu bebe e quando não

pôde mais, lança-o no rio, que milagrosamente é tirado da água pela filha de

faraó. A princesa egípcia cria aquele menino com a ajuda de sua própria mãe e

irmã (Joquebede e Miriã) como se fosse seu próprio filho.

Quando Moisés estava jovem começou a incomodar-se com o sofrimento

de seu povo e desejava livrá-lo da escravidão (Ex 2.11; At 7.24-25). Aos 40

anos matou um egípcio e fugiu para o deserto de Midiã (Ex 2.14,15), onde

casou com a filha de Jetro, sacerdote pagão. Após 40 anos, Deus se revelou a

Moisés e o convocou a voltar ao Egito, e conduzisse os israelitas a Palestina

(Ex 3).

Moisés cumpriu a missão, entretanto, Faraó recusou-se a deixá-los ir. Foi

quando Deus enviou sobre o Egito dez terríveis pragas. Com a saída do povo,

Deus mandou celebrar a festa da Páscoa (Ex 12), e o seu povo foi conduzido

ao Mar Vermelho, onde partiu as águas e eles puderam atravessá-lo.

A missão de Deus era dá a “terra que mana leite e mel” ao seu povo,

porém, o povo não teve fé nem coragem para possuir a terra. Ao espiarem a

terra (Nm 14) dez dos dozes espias trouxeram um relatório negativo. Disseram

que não poderia conquistar a terra, pois ali habitavam os gigantes e as

muralhas eram muito grandes e fortificadas. Apenas Josué e Calebe tinham fé

e coragem, mas não conseguiram convencer o povo.

Sob a liderança dos irmãos Moisés, Aarão e Miriam, o povo caminha 40

anos pelo deserto em direção à terra prometida em Canaã. E neste tempo

muitas coisas aconteceram. Destaco apenas três fundamentais para este

estudo.

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1) Ex 16.1-30 = O maná. Eis aqui uma tentação de vender a liberdade “a

preço de banana”. O povo deseja voltar ao Egito por causa de comida.

Mostram claramente não confiar em Deus. Entretanto, Deus ensina o principio

da igualdade de distribuição de maná, na administração em não acumular, e

sobre a importância de ter um dia de descanso, o sábado sagrado.

2) Ex 18.13-27 = o discipulado. Jetro ensina Moisés repartir o poder.

Neste evento entendemos que um líder deve ter as seguintes qualidades:

capacidade, temor a Deus, segurança. Aqui também observamos a importância

do discipulado.

3) Ex 20.1-21 = Os dez mandamentos. Deus no monte Sinai ensina como

devem agir na terra prometida, para não voltarem a serem escravos como no

Egito. Estes 40 anos são um tempo de namoro de Deus com o povo e o povo

com Deus.

Moisés morre antes de o povo entrar na terra, a liderança passa para

Josué que introduz o povo na terra de Canaã (Js 1 a 3). Moisés despediu-se do

povo por não poder entrar na terra prometida, desobedecera a Deus em

Meribá, morreu no monte Nebo (Nm 20.12; Dt 34)

3.4 Período da Conquista (Tribal)

O povo de Deus nesta caminhada, do Egito à Canaã, se encontra com

outros grupos que também fizeram uma experiência semelhante: O grupo das

montanhas (apirús), o grupo dos pastores, o grupo do Sinai (e provavelmente

outros).

A entrada em Canaã não foi fácil (Js 12.7-24). Os hebreus encontraram

nas cidades-estado o mesmo esquema de injustiça do Egito: impostos,

violência e opressão. O jeito foi lutar por uma nova sociedade, baseada na

igualdade. Os hebreus, liderados por Josué, se aliaram aos diversos grupos

que resistiam contra a opressão em Canaã (Js 2.3-6).

O povo é organizado em 12 tribos, cada uma tinha o nome de um dos

filhos de Jacó: Rúben, Simeão, Levi, e Judá, Issacar, Zabulon e Benjamim, Dã

e Neftali, Gad, Aser e José (Ex 1.1-5). Cada tribo recebe pelo sistema de

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sorteio a sua terra, menos a tribo de Levi, por ser a tribo sacerdotal (Js 18.6-7;

Nm 18.20).

Josué organiza com eles a assembléia de Siquém e todos decidem

colocar em comum: a experiência da opressão, a produção, as tradições e a fé

num único Deus (Js 24). Liderados por juízes e juízas, o povo faz a experiência

de um sistema fraterno e igualitário: o sistema tribal. O último dos juízes foi

Samuel.

3.4.1 Situação social, política e econômica de Canaã

Hicsos: Importantes por causa da organização e espírito guerreiro. Hicsos

povos seminômades que vão ocupando o Egito - Delta do Nilo. Além de bons

administradores, eles formam uma casta militar dominante. Introduziram

cavalos e carros de guerra.

Rota de Comércio: A terra de Israel intermedeia o comércio internacional.

É passagem de produtos que do Egito e dirigem à Síria e Mesopotâmia ou

vice-versa.

Egípcios herdaram dos hicsos o sistema de cidade-estado. Através deles

realizaram sua dominação. Em Canaã, essas cidades-estado faziam parte do

império do Egito, e pagavam tributo ao Faraó. E os camponeses tinham

também que arcar com parte desse tributo.

3.4.2 As Cidades-Estado

Era uma cidade governada por um rei. Era independente, como se fosse

um pequeno país, cercada de muralhas, para evitar as invasões dos inimigos.

Ao redor da cidade havia terras cultivadas por camponeses, que aí

moravam em casas pequenas, eles eram desprotegidos, pois estavam fora das

muralhas. O rei dava certa proteção com soldados, mas exigia em troca

completa submissão. Com seu trabalho e lavoura esses camponeses

sustentavam os grandes, que viviam na parte alta, pagando a eles tributo.

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3.4.3 O Sistema Egípcio e Cananeu

1. Sociedade desigual, fundada no interesse particular e organizada a

partir de cima: rei, funcionários, soldados e camponeses (Js 11-12).

2. Exploração da força de trabalho. A terra pertence ao rei e o povo é

obrigado a se empregar sob as duras condições impostas pelo rei,

que se apropria do excedente da produção dos camponeses (Ex

5.6-18).

3. Poder centralizado no rei. O rei é dono de tudo e decide sobre tudo

(1 Sm 8.11-17).

4. Exército estável de mercenários. O rei mantém exércitos regulares,

que lhe garantem a dominação e a repressão (1 Sm 6.11-12).

5. As leis defendem o interesse do rei: Graças ao poder, a palavra do

rei é lei para o povo (Ex 1.8-10,22; 5.6-9).

6. Vários deuses, manipulados e impostos pelo rei, a fim de legitimar

e promover a exploração e a opressão: Baal, Astarte e outros (Js

24.14-15).

7. Culto centralizado para celebrar o mito que legitima o poder do rei.

Poderoso poder de dominação, sujeito a um esquema rigoroso.

Nada deve mudar (1 Sm 5; 1 Rs 11.1-8).

8. Sacerdotes a serviço do sistema. Os sacerdotes, ricos e donos de

terra, são também os intermediários entre o povo e os deuses,

colocando-se inteiramente a serviço do sistema (Gn 47.20-22).

3.5 Período Monárquico 3.5.1 O Reino Unido

O povo hebreu começava a invejar o sistema dos outros povos e pede

para Samuel que lhe dê um rei (1 Sm 8.1-22). Samuel alerta o povo para os

perigos da monarquia. Os primeiros reis de Israel são: Saul, Davi e Salomão.

Saul (1040 – 1010 a.C.) -– Seu governo é muito breve, de transição (1 Sm

10 a 14.7ss). Não tem estrutura de governo, nem palácio. Rejeitou parte do

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

16

sistema tribal e a profecia. Em seus primeiros anos, Saul parecia um homem

humilde e seguro, mas aos poucos seu caráter mudou e tomou-se

desobediente a Deus e como consequência odiava a Davi, um jovem íntegro e

fiel a Deus.

Davi (1010 – 970 a.C.). Inicialmente se tornou chefe de bando (1 Sm

22.5). A Bíblia diz que ele governou segundo o coração de Deus, mas peca

também (2 Sm 5.1-4 e 12.1-13). Mantém um pé no sistema tribal e o outro no

monárquico. Conquista as rotas comerciais (2 Sm 8.1-14). Leva a arca a

Jerusalém com o apoio do Norte. Casa-se com fins políticos (1 Sm 18; 2 Sm

6.20; 1 Sm 25). Davi tinha todas as qualidades que o povo buscava em um rei

e isso resultou em ascensão para Israel, tornando a nação mais forte e segura

que antes.

Salomão (970 – 931 a.C.). Atingiu o apogeu do poder monárquico e da

exploração. Sobe ao trono a partir das intrigas palacianas (1 Rs 1-2). Elimina

os remanescentes tribais próximos da corte. Ele constrói o palácio e o templo.

Chama à Corte os sábios para que comessem a escrever a história do povo de

Israel. Um rei sábio e orgulhoso. Contrai muitas dívidas à custa do povo. Para

sustentar seu trono faz aliança com os reis vizinhos e casa-se com muitas

mulheres estrangeiras. Assim começou a introduzir em Israel a idolatria (1 Rs

11.1-12) e o sistema tributário (1 Rs 5.1). Com a morte de Salomão, por volta

de 930 a.C., o reino de Israel é dividido em dois: ao Norte com o nome de

Israel e ao Sul com o nome de Judá (1 Rs 12.12-24).

3.5.2 O Reino Dividido

O Reino de Israel: Reino do Norte

Neste período, após Salomão, o Reino do Norte, Israel (a partir de 922 a

722), estes reinos independentes começam com o líder Jeroboão I, chefe de

corvéia,4 apoiado pelo profeta Aías de Siló, com a futura capital Samaria. O

4 Corvéia era uma instituição formada por escravos. Entretanto, a corvéia só foi organizada em

Israel no período monárquico. Para outras informações, cf. VAUX, Roland de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. Trad. Daniel de Oliveira. São Paulo: Vida Nova, 2004, pp. 173-175.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Reino do Sul, Judá (922 – 586) tem como líder Roboão, filho de Salomão,

apoiado pelo "povo da terra”,5 com a capital Jerusalém (1 Rs 12).6

Os profetas eram defensores das exigências da Aliança, defendiam o

projeto de Deus. Samuel é visto como o primeiro profeta-líder de um

movimento contra a Monarquia.7

Acabe (1 Rs 16.23-33) constitui o núcleo de afastamento de Deus.

Constrói Samaria, faz aliança com os fenícios, implanta o mercantilismo,

fortifica a cidade com bases militares, importa o deus Baal. Constrói santuários

para as divindades (Baais) e coloca bezerros de ouro, símbolos da força, como

representação divina. Assim, os reis de Israel levam o povo ao pecado da

idolatria e quebram a aliança com Javé.

Por volta do ano 722 a.C. a Assíria, querendo expandir seu império e

castigar Israel que não queria mais lhe pagar impostos, invade o reino do Norte

e toma posse daquela região. A classe alta é deportada para a Assíria. Israel

desaparece tornando-se província da Assíria (1 Rs17.7-18). Alguns conseguem

fugir para o Sul levando consigo os “escritos” que já possuem.

Destaca-se deste tempo a luta espiritual de Elias com Jezabel.8

O momento do ministério do profeta Elias é um tempo de apostasia, “...

tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios e foi, e serviu a

Baal, e o adorou” (1 Rs 16.31). Eles trocaram a adoração a Deus pelos ídolos:

Baal (masculino)= poder e sexo; e Astarote (feminino) = fertilidade, amor e

5 Sobre os vários significados desta expressão cf. VAUX, op. cit., pp. 95, 96. 6 O desenrolar monárquico posterior destaca Amri e Acab, entre 885 - 843 a.C. (1 Rs 16.23-

33), que constroem Samaria, fazem aliança com os fenícios, implantam o mercantilismo, fortificam a cidade com bases militares e importam o deus Baal. Este é um tempo de construção de impérios, de exploração e injustiça social, é tempo de um profetismo popular e não oficial.

7 Sobre o início do profetismo em Israel cf. VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento: teologia das tradições históricas de Israel. Trad. F. Catão. São Paulo: ASTE, 1986, vol. 2, pp. 10-35.

8 COIMBRA FILHO, João. Batalha Espiritual Contra o Espírito de Engano, pp. 22-23. Cf. JACKSON, John Paul. Desmascarando o Espírito de Jezabel. Rio de Janeiro: Danprewan. Texto disponível em: http://www.scribd.com/doc/3383971/John-Paul-Jackson-Desmascarando-o-Espirito-de-Jezabel-rev

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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guerra. A adoração aos deuses envolvia a prática sexual e sacrifício humano.

Contra esta apostasia Deus levantou o profeta Elias, mas Satanás levanta

Jezabel para silenciar a voz profética.

Neste tempo Elias reúne para exortar Israel, diz ele, “até quando

claudicareis entre dois pensamentos se Baal é Deus adorai, mas se o Senhor é

Deus segui-o”, afinal de contas o povo estava perdido não sabiam quem era

Deus. Por que o povo não sabe discernir sobre que deus seguir, se Baal ou

Javé? A resposta é que Israel estava sob maldição. Acabe estava sob

maldição, e Jezabel é a principal influência destas maldições. Todos estão sob

encantamento, como que dopados e anestesiados, não conseguindo sair.

Estas ações de engano e desgraça em Israel começaram com uma

Aliança Profana. Onri, o sexto rei de Israel, para ampliar seu reino, casou seu

filho Acabe com uma jovem de Tiro, seu nome era Jezabel. O objetivo era um

tratado de paz. Porém, Acabe se vendeu à idolatria pela iniciação de Jezabel.

Ele passou a participar dos cultos idólatras e das festas profanas e imorais. O

autor do primeiro livro dos Reis diz que “ninguém houve, pois, como Acabe que

se vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor, porque Jezabel, sua

mulher, o instigava” (1 Rs 21.25). É claro que iria acontecer isso, Jezabel

operava sob influência maligna, e o espírito de Jezabel profana tudo o que

toca. Em seguida veja o que aconteceu.

Jezabel levou suas práticas para Israel. Jezabel tendo conquistado a

liderança principal (o rei), coloca ídolos em todo lugar, inclusive no templo. O

testemunho bíblico afirma que “Jezabel, sua mulher, o instigava; que fez

grandes abominações, seguindo os ídolos, segundo tudo o que fizeram os

amorreus, os quais o Senhor lançou de diante dos filhos de Israel’’ (1 Rs

21.25c-26). Ela era prostituta e adúltera, e também praticava bruxaria, foi o que

afirmou Jeú: “...que paz, enquanto perduram as prostituições de tua mãe

Jezabel e as suas muitas feitiçarias” (2 Rs 9.22). Também Jezabel tinha

características que envolvia: manipulação, controle, perversão sexual e

idolatria.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Jezabel tinha forte determinação nos seus planos, isso aprendeu com seu

pai (Etbaal), capaz de tirar vidas para alcançar seus objetivos. Ela tentou

seduzir o rei Jeú (2 Rs 9.6,7), mas Jeú agiu pela profecia. Como líderes que

somos devemos escolher sermos como Jeú ou como Acabe.

Há dois tipos de Líderes. Vejamos qual a diferença entre estes dois reis.

O espírito de Acabe simboliza a abdicação da autoridade, ou, pelo menos, a

autoridade passiva. Ele se apresenta com uma mentalidade que evita os

confrontos e não assume os erros. Ele promove a paz fazendo alianças

profanas. Não se importa com o futuro, mesmo que venha desgraçar seu povo,

mesmo que venha trazer maldição sobre sua família. Acabe tolerava os

decretos e práticas abomináveis de sua esposa.

Não se pode adotar atitude de indecisão e evitar o confronto por medo de

dividir a igreja. Não se pode tolerar o inimigo. A Palavra nos adverte sobre isso

em Apocalipse 2.10, 20-24.

O fruto desta tolerância é ser vendido ao inimigo: “Não houve, porém,

ninguém como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau aos olhos do

Senhor, sendo instigado por Jezabel, sua mulher” (1 Rs 21.25). Por isso, o mal

veio sobre a família de Acabe, e morreu ele e seus filhos pela maldição de

Jezabel.

O outro modelo é Jeú. Deus levanta um rei para vingar o sangue dos

profetas (2 Rs 9.6,7). Ele veio para remover o espírito de Jezabel.

O Reino de Judá: Reino do Sul.

O reino do Sul/Judá (930 – 587 a. C.), também comete muitos pecados.

Apesar da ação dos profetas os reis de Judá quebram a aliança com Deus,

introduzem a idolatria e desobedecem aos Mandamentos (2 Rs 21.10-16). Mais

ou menos 150 anos depois da destruição de Israel, o império da Babilônia

vence a Assíria e começa a exercer seu domínio sobre Judá. Os reis lutam

para sustentar o reino do Sul e reagem contra as invasões do império

Babilônico.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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3.6 Período do Exílio9

É tempo de crise e de novidades (587 - 539 a.C.). Leia Ez 37.1-14. Vale

dos ossos secos. Quando falamos sobre o Exílio, não estamos falando do

Reino do Norte (Israel), mas do Reino do Sul (Judá), do cativeiro de Judá na

Babilônia que durou setenta anos. Porém, este castigo foi consequência

também dos pecados do reino do Norte, como se viu.

Num primeiro tempo, o rei e sua família são presos e levados para a

Babilônia. Num segundo tempo a Babilônia invade Jerusalém, destrói o templo

e a cidade (2 Rs 25.8-12). Os babilônios levam os líderes e boa parte da

população para a Babilônia, onde permanecem uns 50 anos (587-539 a.C.). É

o tempo do Exílio. Este é o período mais duro da história de Israel, pois perdem

sua própria identidade. Porém, é também o período mais rico de sua fé e do

reconhecimento de quanto Deus os ama (Sl 137; Ez 37.1-14).

3.7 Pós-Exílio

Mas a Babilônia, por sua vez, é vencida pela Pérsia. Ciro, o rei dos

persas, deixa o povo Judeu voltar para a sua terra, porém o mantém sob o seu

domínio político. É tempo de reconstrução da aliança com Deus (538–333

a.C.). É o tempo da reconstrução do templo, da cidade de Jerusalém, dos

palácios, das Leis, da religião, da identidade. É tempo também de purificação

do povo através da prática da lei.

Religiosamente o povo no cativeiro teve três fases citadas em Jeremias

29, Ezequiel 17.11-24, outra em Ezequiel 36-38 e uma de esperança

reivindicada ou revivida no tempo de Daniel. Os judeus regressaram do exílio

em duas ocasiões: o grupo de Sesbazar e Zorobabel - Esdras 1.8-2.70 e o

grupo de Esdras e Neemias - Esdras 8.1-14. 9 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. Trad. Euclides da Silva. São Paulo: Paulus, 1978, pp.

463-547. Compreende-se o tempo do Exílio entre 587-539 a.C. (Ibidem, p. 464). Chama-se Pós-Exílio o período bíblico que vai da volta dos exilados – repatriados – (538 a.C.) com o Decreto de Ciro rei dos Persas e o nascimento de Jesus Cristo. Nesse tempo o povo está sob a dominação dos persas e volta à sua terra (GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. Trad. Anacleto Alvarez. São Paulo: Paulinas, 1988, pp. 394s; cf. Também SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. Trad. João Marques Bentes. São Paulo: Vida Nova, 1977, pp. 219-263).

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Poucos retornaram à palestina, e só em 539 a.C. é que termina o Exílio, e

que a Babilônia está subjugada definitivamente pelos persas. O templo como

símbolo maior (Ed 1.7-11; 3.8-13) está sob o governo persa que criam uma

eficiente burocracia e política religiosa tolerante.

Politicamente, o povo se descobre como uma pequena comunidade

étnica (racial e cultural), perdida na imensidão de um império. Não são mais

independentes, são obrigados a pagar contínuos impostos. Convivem com

exército que ocupa seu território. Não há esperança de independência política

imediata. O povo de Deus deixa de ser israelita independente para ser judeu

colonizado.

O centro de tudo é o Templo de Deus. Em meio a essa realidade Esdras

(símbolo da lei) organiza o povo exigindo a expulsão dos estrangeiros (pureza

racial) e Neemias constrói as muralhas, o Templo, fechando as perspectivas

para se realizar o projeto de reforma. Este é o tempo em que o Pentateuco foi

concluído, após o Exílio.10

Em continuidade a esta nova fase do povo, agora chamado de Judeu, daí

a expressão judaísmo, passam a defender sua Identidade. Este período vai de

333–63 a. C. tempo do helenismo, a cultura grega domina o mundo. Em 333

a.C., a Palestina toda é conquistada pelo general grego, Alexandre Magno, rei

dos macedônios. Com a morte de Alexandre seus três generais dividem entre

si o grande império grego.

De 177 a 163 a.C. os judeus passam por outro período de grande

provação e perseguição debaixo do domínio grego e egípcio. É a época dos

defensores da fé, período dos Macabeus (2 Mc 7.1-41) e da expansão da

cultura grega.

10 Cf. quadro em PIXLEY, Jorge. Êxodo. Trad. J. Rezende costa. São Paulo: Paulinas, 1987, pp. 96s; HARRINGTON, Wilfrid John. Chave Para a Bíblia: a revelação: a promessa: a realização. Trad. Josué Xavier e Alexandre Macintyre. São Paulo: Paulus, 1985, pp. 23-24.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

22

Em seguida, há uma resistência final (63-135 d.C.). No ano 63 a.C.

Pompeu, general do exército romano, invade a Palestina e a reduz a uma

província romana. Nesta situação de frustração e sofrimento o povo sente

ainda mais viva a esperança de um Messias. Um novo Davi, que venha

governar com justiça e salvar o povo de tanta opressão (Is 42.1-9) é esperado.

Neste tempo nasce JESUS.

Aprofundando o Assunto:

Você percebe uma unidade (salvação-pecado-punição) nos textos da Queda (Gn 3), do Dilúvio (Gn 6) e da torre de Babel (Gn 11)? Como se vê a presença de Deus neste início?

Qual a importância de Abraão para se iniciar um povo? Podemos usar este mesmo principio de fé para começarmos uma igreja? [Rm 4.17-21]

O preparo de Moisés foi fundamental para o exercício de seu ministério. Que tipo de preparo Moisés recebeu nos seus primeiros 40

anos? E nos próximos 40 anos?

Estando no deserto Moisés liderou o povo com muita determinação e paciência. Cite pelo menos um momento de crise que Moisés passou

com o povo no deserto.

No deserto Deus ministrou muitas lições. Destaque quais as lições que podemos aplicar ao nosso ministério do maná que caia do céu, do conselho de Jetro e do bezerro de ouro que fizeram no pé do monte Sinai.

Na Conquista da terra prometida quais os grandes desafios de Josué?

O que eram as cidades-estado?

No período Monárquico houve uma divisão. Qual era?

Quem foi Jezabel e que mal ela fez ao povo de Isarel?

Que período aconteceu o Exílio Babilônico? Cite alguns profetas que viveram neste período.

Em suma, o que aconteceu no pós–Exílio?

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

23

4 PENTATEUCO

O Pentateuco diz respeito aos primeiros cinco livros da Bíblia atribuídos

a Moisés (Gn, Ex, Lv, Nm, Dt). A palavra significa literalmente “livro de cinco

volumes”. É designado no TM como “a Lei – hattôrâ”.

No Antigo Testamento o Pentateuco é chamado de:

Lei – Js 8.34; Ed 10.3.

Livro da Lei – Js 1.8; II Rs 22.8.

Livro da Lei de Moisés – Js 8.31; Ne 8.1.

Livro de Moisés – Ed 6.18; II Cr 25.4.

Lei do Senhor – Ed 7.10; I Cr 16.40.

Lei de Deus - Ne 10.28,29.

Livro da Lei de Deus – Js 24.26; Ne 8.18.

Livro da Lei do Senhor – II Cr 17.9; 34.14.

Livro da Lei do Senhor seu Deus – Ne 9.3.

Lei de Moisés, servo de Deus – Dn 9.11;Ml 4.4.

No Novo Testamento o Pentateuco é chamado de:

Livro da Lei – Gl 3.10.

Livro de Moisés – Mc 12.26.

Lei – Mt 12.5; Lc 16.16; Jo 7.19.

Lei de Moisés – Lc 2.22; Jo 7.23. (5) Lei do Senhor – Lc 2.23,24.

Embora não possamos afirmar categoricamente que todas estas

referências e outras mais sejam explícitas ao Pentateuco é difícil fazer tal

ligação.

O termo Pentateuco foi utilizado a primeira vez por Orígenes em seu

comentário de Jo 4.25 “do Pentateuco de Moisés”; e Tertuliano em sua obra

“Contra Márcion 1.10”.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

24

4.1 A Autoria do Pentateuco:

Há evidência Bíblica suficiente para crermos que Moisés foi o autor

humano do Pentateuco. Isso não quer dizer que Moisés tenha escrito cada

palavra como temos hoje, mas que é seu autor fundamental e real. É possível

que Moisés tenha se utilizado de fontes anteriores e que revisões posteriores

tenham ocorrido debaixo da inspiração do Espírito Santo, atualizando

informações geográficas e históricas para facilitar sua leitura e entendimento.

a) No próprio Pentateuco: Ex 17.14, 24.4-8, 34.27; Nm 33.1,2; Dt 31.9,22 e

ainda Dt 1.1,5.

b) No restante do AT: Josué está repleto (8.31,32,34;11.15,20; 14.2; 21.2,

22.5,9; 23.6 dentre outras); Jz 3.4, I Rs 2.3; II Rs 14.6; II Rs 21.8; Ed

6.18; II Cr 34.14; Dn 9.11-13.

c) No NT: Mt 10.5; Mt 19.8; Mc 1.44; Lc 5.14; At 3.22; Rm 10.5-9; I Co 9.9;

Ap 15.3.

LIVRO AUTOR DATA AÇÃO VERSO

CHAVE TEMA DIVISÃO

Gênesis Moisés 1.445 4.004 a 1.805 a.C.

1.1 Os princípios. Primórdios. Patriarcas. Providência.

Êxodo Moisés 1.444 1.444 a.C

3.10 Libertação pelo sangue.

Libertação. Locomoção. Legislação.

Levítico Moisés 1.444 1.444 a.C.

19.2 Santidade. Sacrifício. Sacerdócio. Saúde. Separação. Solenidade.

Números Moisés 1.405 1.444 a 1.405 a.C.

33.1 Peregrinação. Sinai. Sinai a Cades. A Moabe.

Deuteronômio Moisés 1.405 1.405 a.C.

12.1 Obediência. Recorda! Obedece!

4.2 Análise de Gênesis

4.2.1 Nome, Autoria e Data Na Torá (TM): Bereshit – “No Princípio”. Na LXX: Genesij (Gênesis –

origem, fonte, geração). Autor e data: Moisés, cerca de 1.450 a.C.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

25

4.2.2 Propósito

Fornecer um breve sumário da história da revelação divina, desde o

princípio até que os israelitas foram levados para o Egito e estavam prontos

para se tornarem uma nação teocrática.

4.2.3 Esboços

Capítulo Personagens Assuntos Lições

1-2 Deus Criação Deus é o criador de tudo.

3-5 Adão Queda Deus é santo.

6-10 Noé Dilúvio Deus é justo.

11 Os povos Babel Deus é o governante dos povos.

12-25 Abraão A Aliança Deus elege.

26-27 Isaque A promessa Deus é fiel.

28-36 Jacó Israel Deus cuida com paciência.

37-50 José Conservação

da promessa

Deus intervêm.

CRIAÇÃO QUEDA DILÚVIO NOVO COMEÇO

1 – 2 3 - 6.10 6.11 - 8.19 8.20 - 11

4.2.4 A Criação

A duração dos dias da criação ainda é ponto discutido:

Eles nunca existiram – evolucionista.

Os dias representam eras (Evolucionista-Teísta).

Os dias são literais – 24 horas.

1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia 6º dia 7º dia

Luz. Firmamento Separação

de terra e

mar

Luminária

nos céus

Criaturas

marinhas e

as aves

Os animais

terrestres

e o homem

Deus

terminou

seus atos

criativos e

descansou.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

26

4.2.5 A Queda

O pecado da queda foi a desobediência motivada por um desejo de

tornar-se como Deus.

“Deus proveu peles de animais para lhes servirem de vestes, o que

envolveu o abate de animais, em favor do homem pecaminoso”11

Caim O primeiro homicida.

Lameque O primeiro polígano.

Enos Começa-se a invocar a Deus (oração)

Enoque Foi arrebatado.

Jubal Invenção da música através de instrumentos musicais.

4.2.6 Dilúvio

Medida da Arca. Tomando-se o côvado como 46 cm = !37 m.

(comprimento) / 22,5 m. (largura) e13,5 m. (altura). Deslocamento de água de

50 mil toneladas.

4.2.7 Novo Começo

Terminado o dilúvio, começam as oferendas sacrificiais11. Deus

estabelece a pena de morte para o homicídio e estabeleceu o arco-íris como

promessa de mais destruir a terra com dilúvio.

Destaque para a construção da torre de Babel, quando Deus confundiu

as línguas para que o povo se dispersasse pelo mundo.

4.2.8 Distribuição dos povos

Sem Cão Jafé

Região do golfo Pérsico África e Palestina. Costa

do Mar Mediterrâneo

Europa e Ásia

A lição que aprendemos desse período é que a corrupção do pecado se

espalhou e contaminou a todos de forma crescente.

11 Samuel J. Shultz, A História de Israel no AT, p. 14.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

27

4.2.9 A Era Patriarcal

A narrativa desse período está contida em Gênesis 12-50. Novas

descobertas arqueológicas (Mari, Nuzi e Ugarite) têm trazido luz para esse

período. O mundo patriarcal está identificado com o “Crescente Fértil”

(Mesopotâmia, Palestina e Egito).Sua história está associada aos

desenvolvimentos dos Sumérios e acadianos na Mesopotâmia e dos Egípcios

no Egito.

Quatro personagens bíblicos recebem destaque: Abraão, Isaque, Jacó e

José.

A vida de Abraão tem três fases distintas:

1. Partida de Ur e estabelecimento em Canaã (12.1 – 14.24).

2. Espera do filho prometido (15.1 –22.24).

3. Provimento para sua posteridade (23.1 – 25.18).

A vida de Isaque se mistura ao relato da vida de Jacó (25.19 – 35.29).

A vida de Jacó:

1. Jacó adquire de Esaú a Primogenitura – cap. 25.

2. Jacó rouba a Benção de Esaú – cap.27.

3. Jacó e Labão – cap. 28 – 32.

4. Jacó retorna a Canaã – cap.32 – 35.

Os Filhos de Jacó (Gn 35.23-26)

Ruben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulom. (filhos de Lia)

José e Benjamim. (Filhos de Raquel)

Gade e Aser. (filhos de Zilpa, serva de Lia)

Dã e Naftali. (filhos de Bila, serva de Raquel)

4.3 Implicações do Livro

4.3.1 Gênesis questiona

1. O ateísmo – Existe um Deus que é criador de tudo.

2. O Panteísmo – Deus, embora imanente (presente na criação), é

transcendente a ela (é separado da criação). Deus não é a criação, a

natureza.

3. O politeísmo – Existe apenas um Deus, que é o SENHOR (Javé).

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

28

4. O Deísmo – Esse Deus intervêm na história da sua criação e a

governa.

5. O materialismo – Deus não é a matéria, mas o seu criador (Ex nihilo –

do nada).

4.3.2 A queda do homem explica

1. A miséria do homem.

2. O vazio existencial do homem (quem sou? Donde vim ? Para onde

vou ?).

3. A perdição e corrupção humana.

4. A existência da morte.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

29

5 INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS

5.1 Composição

Os livros históricos compreendem doze livros, que vão de Josué a Ester.

A organização do TM segue uma linha diferente. Diferem do Pentateuco quanto

à sua ênfase. O Pentateuco traça a história redentora da criação à morte de

Moisés, destacando à aliança da Lei e aos alicerces legislativos de Israel como

povo da aliança. Os livros históricos, por outro lado demonstram o movimento

histórico de Israel na Palestina na sua obediência ou não à Lei e à aliança

divina.

Josué, Juízes, I e II Samuel, I e II Reis = Os Profetas Anteriores

(Primeiros Profetas). Essa designação é feita para contrastar com os

profetas posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas

menores). O termo não se refere a uma cronologia histórica, mas

simplesmente ao seu lugar no cânon. “Enfatiza o fato de que

apresentam uma história religiosa ou com um objetivo religioso. Eles

“contém dados históricos escolhidos numa perspectiva profética”12. O

elemento histórico está sempre ligado à mensagem espiritual. Os

primeiros Profetas são históricos; os Últimos são exortativos”13 Os

Profetas Anteriores enfatizam o assentamento em Canaã e à Monarquia,

os Profetas Posteriores enfatizam os séculos finais dos dois reinos,

especialmente Judá. A diferença fundamental entre ambos está no fato

de os Anteriores serem “constituídos de narrativas”14.

Esdras, Neemias, Ester, I e II Crônicas = Os Escritos.

Rute é contado entre os cinco Rolos.

5.2 Autoria

Os livros históricos têm em sua maioria autoria anônima, porém

certamente foram compilados por: Josué, Samuel, Jeremias e Esdras. Também

haviam cronistas que eram oficialmente encarregados de relatar os fatos

históricos para registro oficial; além do que, há outros escritores que narraram

histórias específicas.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

30

Davi = Samuel, Natã e Gade (I Cr 29.29).

Salomão = Natã, Aías e Ido (II Cr 9.29).

Roboão = Semaías e Ido (II Cr 12.15).

Baruque era o escrivão de Jeremias. Outros documentos históricos, não

inspirados, foram utilizados como fonte (Js 10.13 – O livro dos Justos. I

Rs – A História dos Reis de Israel e Judá).

5.3 Divisão Histórica do Período

No Período Duração Datas

1º Juizado Da entrada em Canaã até o estabelecimento

da Monarquia

1.406 – 1.044

a.C.

2º Monarquia 1) O Reino Unido: Saul, Davi e Salomão.

1.044 – 931 a.C.

2) O Reino divido ou Período Profético.

931 – 536 a.C.

1.044 – 536 a.C.

3º Restauração Do Cativeiro Babilônico até a Silêncio

Profético.

536 – 400 a.C.

5.4 Divisão Literária do Período

LIVRO DATA APROXIMADA

TEMA OUTROS POVOS

ANTES DO REINADO – 1.406 – 1.044 a.C.

Josué 1.406 – 1.375 Ocupação da terra

prometida

Pouca influência egípcia

na Palestina

Juízes 1.375 – 1.044 Bênçãos pela obediência

e castigo pela

desobediência conforme

a aliança.

Chegada dos Filisteus à

Palestina.

Rute 1.330 A linha davídica abrange

os gentios por intermédio

de Rute.

Período de paz entre

Israel e Moabe. Época

dos Juízes.

ASCENSÃO E QUEDA DDO REINO – 1.044 – 586 a.C.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

31

I e II

Samuel

1.100 – 970 Estabelecimento do

Reinado.

Filisteus: Os maiores

inimigos de Israel.

I e II Reis 970 – 586 A história do reino pelo

prisma da aliança.

Cativeiro sob a Assíria

(Israel) e Babilônia

(Judá).

I e II

Crônicas

Adão – 586 A história do reino com

ênfase em Judá. O

Templo de Salomão.

“Reinos e impérios

vizinhos erguem-se e

caem conforme o

desígnio de Deus para o

reino dravídico.”

PÓS-EXÍLIO (PERÍODO PERSA) – 537 – 432 a.C.

Esdras 537 – 458 Reconstrução do templo

e reforma do culto

O Novo Império Persa.

Retorno dos exilados.

Neemias 445 – 430 Reconstrução do templo

e reforma do culto

A boa vontade dos

governos persas

permitem uma relativa

paz.

Ester 483 – 473 Deus é providente para

com seu povo mesmo

longe da terra prometida.

A Pérsia governa da Índia

ao Helesponto.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

32

6 INTRODUÇÃO AOS LIVROS POÉTICOS

O Velho Testamento está dividido entre os Livros Históricos, os Livros

Poéticos e os Livros Proféticos.

1. Livros Históricos. – 17. Pentateuco - 5: Gênesis a Deuteronômio. Livros da

História de Israel - 12: Josué a Ester. Pentateuco dá a história bíblica da

criação do universo até o fim da vida de Moisés. Os doze Livros Históricos dão

a história de Israel desde a conquista da terra prometida até os cativeiros de

Israel e de Judá.

2. Livros Proféticos - 17. Profetas Maiores - 5: Isaías a Daniel. Profetas

Menores - 12: Oséias a Malaquias. Estes livros todos dão a história e a

condição espiritual de Israel nas suas várias épocas históricas. Inclusive; antes,

durante e depois dos cativeiros das nações de Israel e de Judá.

3. Livros Poéticos – 5. Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de

Salomão. Estes cinco livros que ficam no meio dos livros históricos e proféticos

são muitos diferentes do que aqueles que vem antes ou depois deles. Os livros

poéticos não são históricos. Os outros livros são históricos: contam a história

do povo de Israel. Estes livros são experimentais. Os livros históricos falam de

uma nação como tal, da nação hebraica. Os livors poéticos não tratam da

nação de Israel, mas tratam de assuntos individuais do coração. Os livros

poéticos falam de indivíduos como tais, do coração humano. Os livros poéticos

não são a única poesia encontrada no Velho Testamento. Estes livros são o

grupo poético de livros. Os livros poéticos falam das experiências da vida, da

relação do coração com Deus e da intimidade que o salvo tem com Deus.

4. Observe os livros poéticos individuais. Jó nos ensina como vencer no

sofrimento e morrer a nós mesmos. Salmos nos ensinam como é a vida nova

em Cristo que se manifesta em várias virtudes divinas. Provérbios nos ensinam

a sabedoria divina aplicada para nossa vida aqui na terra. Eclesiastes nos

ensina que nada aqui em baixo do sol dá a satisfação e felicidade verdadeira.

Mas que o sentimento certo da vida é temer a Deus e guardar os seus

mandamentos. Este é o dever de todo o homem. Cantares de Salomão nos

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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ensina de maneira simbólica como é o amor e a intimidade da comunhão com

Cristo aqui no mundo. Nenhum crente (salvo) chega para esta comunhão com

Cristo sem passar pelas outras coisas primeiro. Revise tudo para ver. É um

progresso espiritual que devemos observar.

5. Veja a quantia da poesia hebraica. É óbvio que o povo hebraico escreveu

muita poesia sobre muitos assuntos variados. Nem toda a poesia que eles

escreveram chegou para fazer parte da Bíblia. Exemplos: I Reis 4:29-33,

Números 21:14, Josué 10:13. poesia era a maneira popular para escrever em

Israel e chegou uma grande quantia.

6.1 Poesia Hebraica

Devemos dizer algumas palavras sobre a natureza da poesia hebraica.

Porque ela difere muito da poesia encontrada no mundo em vários dos seus

aspectos.

Uma grande parte da poesia do mundo apóia-se na rima (no paralelismo

sonoro) e no ritmo de tempo. Na rima atingimos o prazer da concordância

fonética. No ritmo atingimos o prazer da concordância métrica. Mas na poesia

hebraica não é a rima nem o ritmo de sons, mas é o paralelismo de idéias ou

verdades. Isso pode ser de três maneiras: completivo, contrastante e

construtivo.

1. Exemplos do completivo (progressivo): Salmo 92:12, Salmo 46:1, Salmo

19:7 e Salmo 30:11. O segundo pensamento coincide com o primeiro, mas não

é igual, porque desenvolve, enriquece, completa e colore o primeiro

pensamento. Observe Salmo 1:1 que faz isso três vezes, isso é chamado

ternário. O Salmo 1 é um bom exemplo do completivo ternário (triplo).

2. Exemplos do contrastante (antitético ou contrário). O livro de Provérbios

contém muitos deles. Provérbios 3:5, Provérbios 27:6, Salmo 30:5, Provérbios

14:11, Salmo 32:10. Pode ver que o segundo pensamento contrasta com o

primeiro pensamento. Algumas vezes também há dois pensamentos

(versículos) que contrastam entre si. Salmo 37:10-11. Veja o exemplo de uma

sucessão de paralelos contrastantes. Isaías 65:13.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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3. Exemplos do sinônimo: Salmo 2:4, Provérbios 1:8. Nestes versículos a

segunda linha repete o mesmo pensamento da primeira linha em outras

palavras. Este exemplo é quase igual ao exemplo 1, o completivo,

4. Exemplos do construtivo: Provérbios 30:17, Salmo 21:1-2, Salmo20:7-8. O

belo desenvolvimento dos versículos é facilmente perceptível. Naturalmente,

ainda tratando dos paralelos construtivos, devemos observar que existem

variedades deles. Por exemplo, há o paralelismo introvertido. Salmo 135:15-18.

Veja em baixo. Vemos aqui que o primeiro versículo corresponde ao último,

pois no primeiro lemos os ídolos dos gentios e no último aparece simplesmente

um outro nome para os gentios, a saber, todos os que confiam neles (nos

ídolos). A seguir, observamos que o segundo versículo corresponde ao

penúltimo, pois ambos falam da feitura de ídolos (num caso, a obra; no outro,

os feitores).

Os ídolos dos gentios são prata o ouro,

Obra das mãos dos homens.

Têm boca, mas não falam;

Têm olhos, mas não vêem,

Têm ouvidos, mas não ouvem,

Nem há respiro algum nas suas bocas.

Semelhantes a eles se tornem os que os fazem,

E todos os que confiam neles.

5. A compreensão desse paralelismo hebraico não é somente poeticamente

interessante, mas muito importante para a interpretação da Bíblia. Os

elementos correspondentes em cada paralelo esclarecem uns aos outros. Com

freqüência as palavras obscuras são explicadas desse modo, pois a mesma

idéia geralmente é encontrado na base de ambos os termos do paralelo.

Algumas vezes, um elemento expressa a idéia figuradamente, enquanto o

outro a expressa literalmente. Outras vezes, um elemento a expressa

positivamente e o outro, negativamente. É possível também que um membro

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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exprima o pensamento de um modo que a nós soa como fraseologia obscura,

enquanto o outro o faz em palavras bastante claras, não deixando nenhuma

dúvida. Por exemplo, quando lemos “O Senhor está no seu santo templo”.

Salmo 135:4. Talvez nos perguntemos: “Que templo é este, o terreno ou o

celestial?” Mas quando interpretamos essa declaração em seu paralelo poético

vemos que está indicando o templo celestial. “O trono do Senhor está nos

céus”.

6. Queremos comentar somente mais uma coisa sobre esta poesia hebraica de

ideias paralelas. O caráter peculiar torna-se incrivelmente adequada à tradução

para qualquer língua. É importante entender isso porque temos uma tradução

da Bíblia de hebraico para português. Nada é mais difícil do que traduzir certos

tipos de poesia de uma língua para outra. Quando tentamos transpor rima e

ritmo de uma língua para outra, enfrentamos obstáculos quase intransponíveis

e impossíveis. Mas a poesia hebraica pode ser traduzida para qualquer língua

sem diminuir sua beleza ou força. E Deus soube disso, porque a Bíblia ia ser

traduzida para centenas de línguas diferentes. O Deus soberano e onisciente

está atrás desta maravilhosa poesia.

6.2 Livro de Jó

6.2.1 Introdução do livro.

Data do livro

O livro de Gênesis é o primeiro livro da nossa Bíblia, mas isso não quer dizer

ele seja o primeiro para ser escrito. Há várias razões para crer que o livro de Jó

seja de uma data anterior. Talvez o livro de Jó seja o livro mais antigo do

mundo. Vamos observar algumas dessas razões.

1. A cabeça da família na época de Jó serviu também como o sacerdote da

família. 1:5. Foi assim também na época de Abraão, Isaque e Jacó. Isso indica

que Jó viveu na época deles.

2. Parece que não foi um livro divino escrito para o povo de Deus ainda, porque

Jó pediu um livro assim em oração. 31:35. Não é uma menção nesse livro dos

dez mandamentos nem da lei de Moisés. Também não é uma menção de

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Moisés, Abraão, dos juízes, dos reis de Israel nem dos profetas de Israel. Essa

é outra indicação que o livro de Jó foi escrito antes que Moisés escreveu o

Pentateuco.

3. No livro de Jó não vemos uma certa nação que é foi separada por Deus para

ser a sua nação particular, como Israel. Então é uma razão para crer que Jó

viveu antes da época da nação de Israel.

4. O tempo total que Jó viveu foi 200 anos ou mais. 1:2, 32:6, 42:16. Se fosse,

isso indicaria que Jó viveu perto da época do dilúvio e Noé e Sem. Noé viveu

350 anos depois do dilúvio e Sem 502 anos depois do dilúvio. Então é possível

que uma parte da sua vida de Jó sobrepôs a vida de Noé e Sem.

5. Também no livro de Jó achamos muitas coisas sobre a criação do universo.

Até Jó falou sobre Beemote e Leviatã. Mostra que a ele teve contato com as

pessoas que conheceram esta história pessoalmente. Estes animais gigantes

(dinossauros) ainda estavam na terra na época de Jó? Tudo indica que seja.

Então isso mostra que estes animais não estavam extintos ainda totalmente.

Porque a extinção destes animais levou um bom tempo depois do dilúvio.

Terra de Uz

Onde ficou a terra de Uz não é sabido com certeza absoluta. Lamentações

4:21 diz: “Regozija-te e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz”.

Este versículo indica que a terra de Uz ficou em Edom (a terra de Esaú). Edom,

que foi depois chamado Iduméia, ficou para o sudoeste e sudeste do Mar

Morto. Então parece que a terra de Uz ficou nesta região.

Quem foi Jó?

Provavelmente viveu no tempo de Abraão ou um pouco mais cedo. A

septuaginta diz que Jó é igual ao rei Joabe em Gênesis 36:33. É a verdade?

Veja os quatro amigos de Jó. Elifaz: Gênesis 36:11, parente de Esaú? Bildade:

Gênesis 25:2, descendente de Abraão? Zofar: o naamatita, habitante de

Naama? Eliú: o buzita, Gênesis 22:20-21. Parente de Abraão? Observa

também o nome Uz. Qual tipo de homem foi Jó? Veja Jó 1:1-5.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Autor do livro

Do jeito que o autor escreve sobre as conversas entre Jó e seus amigos indica

que o autor foi uma testemunha ocular. Muitos acham que o autor foi Moisés.

Mas isso é improvável por causa da razão falada acima. Faz mais sentido que

Jó mesmo é o autor do livro. Jó mesmo falou seu desejo que passou na vida

dele fosse escrito. Jó 19:23-24.

Propósito do livro

Há várias opiniões sobre este assunto, o propósito do livro. O propósito que faz

mais sentido é: o mistério do sofrimento. Jó sofreu, isso é óbvio. Mas, para Jó,

o seu sofrimento era um mistério. Ele não soube a conversa entre Deus e Jó

que provocou seu sofrimento. Deus não revelou a ele o propósito do seu

sofrimento nem quando estava no meio dele. Se Jó é o autor do livro, ele não

soube nada disso até o fim da vida dele. Muita coisa passa na vida do crente

sem saber o que Deus faz. Temos que seguir e agüentar pela fé. Se soubesse,

não seria fé. Também nós os crentes temos que entender que Deus é

soberano e não a nós explicações. Deus tem direito soberano para fazer

conforme a Sua vontade!

Também neste livro vemos outros propósitos secundários. Por exemplo: a

necessidade de uma revelação, 31:35. Sem uma revelação inspirada por Deus

não há como conhecer o mistério da vida. Outro exemplo: mostrar a

necessidade de árbitro, mediador, redentor, que nos leva a Deus e nos dá o

entendimento e a revelação que é a verdade. 9:33, 19:25-27, 23:3-9. A

revelação divina nos dá a verdade e certeza sobre estas coisas. Outro exemplo

é a criação. Observe algumas coisas faladas no livro de Jó. A queda e a

maldição do homem. Jó 5:7, 10:9, 14:1-4, 25:4, 31:33, 34:14-15. Estes

versículos combinam com Gênesis 3:16-19. O Dilúvio. Jó 9:5-8, 12:14-15,

14:11-12, 22:15-17, 26:11-14, 38:8-11. A criação das estrelas as hostes do céu.

Jó 9:8-9, 26:13, 38:4, 12-14. A criação de animais, aves e peixes. Jó 12:7-10,

38:39-41, 39: 1-30, 40:124, 41:1-34. Observe as criaturas de Deus

mencionadas neste livro. Alimárias, aves, peixes, leão, corvo, cabra montesa,

cerva, jumento montês, boi selvagem (unicórnio), avestruz, cavalo, gavião,

águia, coelho, beemote e leviatã. Beemote e Leviatã são dinossauros.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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O livro de Jó é uma drama

É a maior drama do Velho Testamento. Não é simplesmente um relatório dos

eventos da vida de Jó. Ninguém que está no estado mental e emocional de que

Jó estava neste livro, esperaria paciente e cortesmente para cada homem falar

e depois responder cada um deles de sua vez em forma poética, fazendo isso

três vezes. Então pela inspiração de Deus o livro de Jó foi escrito desta forma

poética para que possamos entender melhor o que o livro ensina.

O esboço do livro de Jó.

Prólogo – Capítulos 1-2.

1. Jó – sua piedade na prosperidade. 1:1-5.

2. Satanás – sua mentira e maldade. 1:6-19.

3. Jó – sua piedade na adversidade. 1:20-22.

4. Satanás – sua maldade posterior. 2:1-8.

5. Jó – sua piedade ma miséria. 2:9-13.

Diálogo – Capítulos 3:1-42:6.

1. Primeiro Grupo de Discursos.

Elifaz versus Jó. 4-7.

Bildade versus Jó. 8-10.

Zofar versus Jó. 11-14.

2. Segundo Grupo de Discursos.

Elifaz versus Jó. 15-17.

Bildade versus Jó. 18-19.

Zofar versus Jó. 20-21.

3. Terceiro Grupo de Discursos.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

39

Elifaz versus Jó. 22-24.

Bildade versus Jó. 25-31.

Eliú fala. 32-37.

4. Deus fala: Intervenção Final. 38-41.

Epílogo – Capítulo 42.

1. Jó – se julga. 42:1-6.

2. Jó – sua integridade provada. 42:7

3. Amigos de Jó – sua perversidade censurada. 42:8.

4. Jó – fim de seu cativeiro. 42:10.

5. Jó e sua família – sua reintegração na sociedade. 42:11.

6. Jó – sua prosperidade final. 42:12-17.

O livro explicado abreviadamente.

Prólogo – Capítulos 1-2.

1. Capítulo 1:1-5. Jó e sua família.

Diz que era homem íntegro, reto, temente a Deus e desviava-se do mal. Foi um

bom pai e marido. Ofereceu sacrifícios ao Senhor por se mesmo e pela família

fiel e continuamente. Jó teve sete filhos e três filhas. Ele foi muito abençoado

por Deus e seus filhos também. Foi uma família unida e que viveu em paz. Jó

era maior do que todos os homens do oriente.

2. Capítulo 1:6-12. O encontro de Satanás e Deus.

O encontro de Satanás e Deus, descrito nestes versículos, é certamente,

à primeira vista, uma das partes mais estranhas da Bíblia. Temos que lembrar

que qualquer conhecimento que os homens têm do reino invisível só pode ser

obtido pelo meio de revelação sobrenatural. Então ou é revelado divinamente

neste livro a nós, ou não passa de pura invenção do escritor. Se foi por

revelação divina, a conversa entre Deus e Satanás realmente aconteceu. Se,

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

40

pelo contrário, é a pura invenção do escritor, o livro todo perde o seu sentido.

Isso também cria dúvida sobre a Bíblia toda. Com certeza Jó relatou o que de

verdade aconteceu, apesar do fato que parece para nós um pouco esquisito.

Esta passagem revela que em ocasiões estipuladas por Deus, Satanás

tem que se apresentar perante Deus. (1:6, 2:1). Os anjos eleitos e caídos têm

que fazer reportagem (prestar contas) a Deus sobre as suas atividades. Deus é

seu soberano e eles são responsáveis a Ele. (1:7, 2:2). As atividades de

Satanás são limitadas à terra. Satanás não tem trabalho no céu, somente entra

lá para fazer reportagem. Deus obriga Satanás fazer, Satanás não aparece por

curiosidade, nem audácia, mas por obrigação.

Deus elogiou o seu servo Jó por causa da sua fidelidade e perguntou

Satanás o que pensava dele. Deus iniciou esta conversa, porque sabia já que

ia fazer. Também observe que Deus conhece a vida de cada um dos seus

servos.

Satanás acusou Jó, ele acusa os santos do Senhor. (1:8-11, 2:3-5). Veja

Apocalipse 12:10. Zacarias 3:1-2. Lucas 22:31-32. Satanás tem uma grande

parte na maldade que acontece no mundo. Satanás não é onipresente, mas

tem milhares de demônios para fazer o seu mal. Porque Satanás disse que

estava rodeando a terra, e passeando por ela. Veja também que não devemos

subestimar o Diabo, porque ele tem o poder para fazer o que está escrito aqui.

Nem devemos superestimar o Diabo, porque ele está controlado pelo Senhor

Todo-Poderoso.

O homem servirá o Senhor na pobreza tanto quanto na prosperidade?

(1:9-11). Satanás disse que Jó serviu o Senhor porque estava cercado pela

proteção divina e não podia tocar nele. Satanás só pode afligir os santos com a

permissão de Deus. Graças a Deus por isso. Satanás afirmou que se deixar

tocar em tudo quanto que Jó teve, que ele blasfemava Deus na sua face. Deus

deu a sua permissão para tocar em tudo quanto que Jó teve, só não contra Jó

mesmo (sua pessoa ou vida). Satanás saiu correndo para fazer a sua maldade.

Note que Jó não sofreu por causa de uma coisa que fez. (2:3).

3. Capítulo 1:13-19. O primeiro assalto de Satanás.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

41

Satanás não perdeu tempo para tentar provar a sua teoria. Satanás nem

teve pena, mas fez ao máximo que Deus permitiu. O primeiro mensageiro veio

dizer a Jó que os sabeus tomaram os bois e as jumentas e mataram todos os

servos. O segundo mensageiro veio dizer a Jó que o fogo de Deus saiu do céu

e queimou as ovelhas e mataram todos os servos. O terceiro mensageiro veio

dizer a Jó que os caldeus tomaram os camelos e mataram todos os servos. O

quarto mensageiro veio dizer a Jó que o vento fez a casa cair em cima dos

seus filhos e todos morreram.

Pode imaginar o choque que Jó levou? Ele soube nada sobre a

conversa entre Satanás e Deus. Não foi explicado nada para ele porque estava

acontecendo tudo isso. Deus permitiu tudo isso acontecer sem explicar nada

para Jó. A vida não é assim? Muitas vezes acontece na vida coisas que não

temos nenhuma explicação. Temos que confiar no Senhor nesta hora, como

Jó.

4. Capítulo 1:20-21. A reação de Jó.

Jó rasgou a sua roupa e rapou a sua cabeça como sinais da sua

lamentação, pranto, angústia e tristeza, como foi o costume daquela época. O

sofrimento foi real e duro, como vem na vida de qualquer um dos servos de

Deus. Mas, note o resto que Jó fez nesta hora, adorou a Deus. Jó louvou o

Senhor Deus nesta hora difícil com fé e confiança. Também note a integridade

e sinceridade dele no v. 21.

5. Capítulo 1:22. A fidelidade de Jó.

Deus permitiu Satanás abusar Jó para provar que o servo verdadeiro de

Deus não serve o Senhor pelas coisas que Deus dá a ele. Jó não pecou contra

Deus, nem acusou Deus de fazer errado. Satanás perdeu.

6. Capítulo 2:1-6. O segundo encontro de Satanás e Deus.

De novo Satanás se apresenta no céu para prestar contas a Deus. Deus

levantou o assunto de Jó novamente e elogiou a sua fidelidade e perguntou

Satanás que pensava dele. Satanás ainda ficou insistindo que Jó servia o

Senhor por causa das bênçãos. Satanás pediu permissão a Deus para tirar a

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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sua saúde e Deus deu. Mas Deus deu a permissão para tocar na saúde de Jó

com limite, não podia tomar a vida dele.

7. Capítulo 2:7-8. O o segundo assalto de Satanás.

Satanás feriu Jó com úlceras malignas na pele no corpo todo. Jó tomou

um caco para se raspar com ele. Isso quer dizer para raspar a infecção que

estava saindo das úlceras. Jó se assentou no meio da cinza (sinal de tristeza e

lamentação), mas ainda sem pecar nem atribuir a Deus falta alguma. Jó não

blasfemou Deus como Satanás disse que ia fazer. Há crente sincero e fiel a

Deus apesar de tudo que vem na vida. Satanás ainda está perdendo.

8. Capítulo 2:9-10. A esposa de Jó.

A esposa de Jó ainda estava viva e agora ele fala com seu marido. Seria

bem melhor se ela não tivesse falado nada. As vezes quando o crente está no

sofrimento o seu amigo fala a pior besteira possível. Ela sugeriu a Jó para

amaldiçoar Deus e morrer. Note a diferença na integridade dos dois. Jó ficou

firme na sua integridade e chamou a sua esposa de doida. Em tudo isso Jó não

pecou com seus lábios. Que bom! A tentação nessa hora assim é abrir a boca

e dizer muita coisa que não devemos. Observe a grande verdade que Jó falou

no v. 10: “Receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” Confiar

em Deus sempre é a coisa certa, Ele sabe que faz quando nós não sabemos!

9. Capítulo 2:11-13. A chegada dos três de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar.

Note que a sua dor era muito grande. Devemos ter muito cuidado em

desprezar e fazer aparecer pouco a dor que os outros têm, quando não

sabemos o que passa na vida deles. É melhor tentar mostrar simpatia,

compaixão e amor, não desinteresse.

Diálogo: Os Três Discursos – Capítulos 3-41.

1. Capítulo 3. Jó fala primeiramente.

Observe a lamentação de Jó. Lamentou porque nasceu, v. 1-10.

Lamentou porque não morreu desde a madre, v. 11-15. Lamentou porque não

houve um aborto, v. 16-19. Lamentou porque não podia morrer naquele

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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momento, v. 20-26. Jó estava deprimido profundamente. Jó falou de morte

como sendo um alívio, está dormindo, está sossegado, com conselheiros,

como bebês não nascidos, sem problemas por causa dos ímpios e da opressão

dos malignos. Jó quis uma morte rápida, mas não suicídio. Já ficou também

deprimido assim por causa dos problemas de vida? Já quis morrer?

2. Capítulos 4-5, 15, 22. Elifaz versus Jó.

Observe que Elifaz é o homem que falou muito sobre “ver” as coisas

especiais, 4:8, 5:3, 5:27. Falou também “uma visão secreta”, 4:12-16. Também

a sabedoria dos seus predecessores temanitas, 15:17-18. Em suma, podemos

dizer que Elifaz baseou o seu argumento na “experiência”. Elifaz seria talvez

agora hoje em dia um pentecostal.

Veja a análise de Elifaz. Os seus conceitos podem ser resumidos como

segue. 1 - Apóia sua filosofia de vida especialmente nas próprias observações

e experiências, 4:8, 12, 5:3. 2 - Está preso a uma teoria fixa e defeituosa, 5:3-7,

5:12-16, 15:20-35. 3 – Esta teoria fixa e rígida está expressa de modo especial

em 4:7. 4 – Este ponto de vista, como aplicado a Jó, encontra seu foco em

5:17. A conclusão de Elifaz? Jó sofre por ter pecado.

3. Capítulos 8, 18, 25. Bildade versus Jó.

Veja agora as palavras de Bildade. Ele não tem o mesmo aspecto de

cortesia de Elifaz. Bildade é um declamador direto e não um argumentador

reflexivo. Sua fala é bem mais severa que a de Elifaz.

Ao contrário de Elifaz, que apóia sua filosofia de vida sobre a

observação e a experiência, Bildade baseia-se na tradição. Veja 8:8-10, 18:5-

20. Seus discursos parecem ser apenas uma lista de máximas e provérbios

extraídos da sabedoria de todos do Oriente. Em Bildade, portanto, temos a voz

da “tradição”. Ele seria talvez hoje em dia um católico.

Veja a análise de Bildade. 1 – Sua perspectiva de vida é caracterizada e

limitada pela tradição, 8:8, 18:15-20. 2 – Está preso a uma idéia muito rígida da

providência, 8:11-19, 18:5. 3 – Essa teoria limitada encontra expressão em

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

44

8:20. 4 – Essa teoria, aplicada a Jó, tem seu foco em 8:6. A conclusão de

Bildade? Jó é um hipócrita.

4. Capítulos 11 e 20. Zofar versus Jó.

O que dizer agora Zofar? Zofar é menos delicado e mais drástico do que

Elifaz e Bildade. As primeiras palavras de Zofar indicam que ele já se sente

irritado, 11:2-3. Zofar contenta-se com uma simples suposição. Existe pelo

menos uma dedução racional em Elifaz e ortodoxia em Bildade, mas Zofar

presume e expõe com uma firmeza que tornaria pecado até mesmo a ousadia

de Jó de divergir. Ele é um dogmatista puro. Ele fala “sabe, pois” e “tu sabes”

em 11:6 e 20:4. Ele seria tavez hoje em dia um sabichão e uma mente fechada.

Veja a análise de Zofar. 1 – É um dogmatista religioso, 11:6, 20:4. 2 –

Do mesmo modo que Elifaz e Bildade, é mentalmente limitado por uma idéia

excessivamente rígida da providência, 11:13-20, 20:5. 3 – Seu dogmatismo

limitado encontra expressão em 20:5. 4 – A teoria, quando aplicada a Jó, está

em 11:6. A conclusão de Zofar? Deus exigiu de Jó menos do que mereceu a

iniqüidade dele.

5. Os três amigos comparados e contrastados.

Elifaz apóia sua opinião das coisas na observação. Bildade apóia sua

opinião das coisas na tradição. Zofar apóia sua opinião das coisas na

suposição. Elifaz é o moralista religioso, Bildade é o legalista religioso e Zofar é

o dogmatista religioso. Elifaz defende a hipotética idéia de que se Jó não fosse

pecador, sua dificuldade não teria surgido. Bildade adota a posição de que Jó

deve ser pecador, uma vez que a dificuldade realmente veio. Zofar começa

com a suposição de que Jó é pecador e merece sua aflição. Todos três

defendem uma teoria fixa de vida que é: 1 – Sofrimento sempre é o resultado

direto do pecado, 2 – Estão tão certos de que seu ponto de vista está correto

que consideram a resistência a ele como resistência a Deus, 3 – A bondade e a

perversidade são sempre recompensadas e punidas nesta vida, 4 - Todos

condenam Jó. Nenhum deles consegue dar uma resposta real ou convincente

a Jó. Veja 32:3, 5, 11, 12.

6. Capítulos 6-7, 9-10, 12-14, 16-17, 19, 21, 23-24, 26-31. Jó contra os três.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

45

No que se refere à mera argumentação, Jó sem dúvida é o melhor. É certo que

ele dá espaço, aqui e ali, a pronunciamentos são precipitados, mas isso é

simplesmente extraído dele em momentos de terrível tensão, quando, além de

seu já extremo sofrimento mental e físico, foi levado à ira pela injustiça

obstinada e pela verdadeira falta de solidariedade por parte dos três que se

diziam solidários. Jó estava sofrendo demais para querer somente ganhar uma

discussão.

Faça uma revisão das palavras dos três amigos. Os três se uniram na

opinião de que Deus sempre faz prosperar os retos e castiga os perversos. Jó

respondeu que sua própria experiência prova que as palavras deles são sem

fundamento, pois ele é reto e ainda está afligido. A verdade é que não só o

perverso sofre, o justo também sofre. Nem o perverso sofre sempre, muitos

parecem escapar do sofrimento no mundo. A prosperidade do perverso não é

sempre curta, pois muitas vezes continua até a morte e estende-se aos filhos

que ficam.

A discussão se esgota assim num verdadeiro impasse. Deus, mais

tarde, dá o seu veredicto a favor de Jó e censura os amigos de Jó.

7. Capítulos 32-37. Eliú fala.

O último versículo de capítulo 31 marca uma interrupção importante:

“Acabaram-se as palavras de Jó”. Um homem bem mais jovem que os outros

(32:6) agora fala. Até agora ele ficou só ouvindo, dando respeito aos mais

velhos (32:4, 6-7). O discurso de Eliú era mais cortês de todos os outros e sem

dúvida superou os outros em seu discernimento espiritual. Em relação ao

problema em questão, o mais importante é que são introduzidos três fatores

novos. Eliú deu uma nova abordgem, uma nova resposta e um novo apelo.

A Nova Abordagem. Jó queria um mediador, quem podia atuar entre ele

e Deus (9:33). Eliú disse que era ele que podia servir nesta capacidade (33:6).

De qual maneira falou isso? Elifaz, Bildade e Zofar quiseram servir de juízes;

enquanto Eliú quis ser irmão e amigo.

A Nova Resposta. Observe o pensamento de Jó. Eliú disse que Deus é

maior do que o homem, e por isso não tem direito nem autoridade para exigir

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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uma explicação dEle (33:12-13). Algumas coisas que Deus faz

necessariamente têm que ser incompreensíveis para o homem. O que faltava

era um intérprete, e parece claro que Eliú se considerou a pessoa adequada

para isso (33:29-33). Eliú julgou que o sofrimento de Jó era instrutivo (capítulo

33). Sem dúvida, Eliú atingiu um nível mais alto do que os outros três. Nos

capítulos 36-37 Eliú chega ao desenvolvimento final de sua resposta. O que faz

a resposta de Eliú inédita e distinta? Eliú viu no sofrimento um propósito

diferente e superior àquele observado por Elifaz, Bildade e Zofar. O sofrimento

não é só punitivo, mas é também corretivo. Não é só penal, é também moral.

Não é só para castigar, mas é também para restaurar. Não é sempre para

punir, mas é também para purificar. Não é só a vara do juiz, mas é também o

cajado do pastor. 33:16-18, 19-20, 23-28, 34:10, 17-19, 21-23, 24, 27, 31-32,

33, 35:13-14, 36:5-12, 15-16, 18-21, 37:11-13.

O Apelo Novo. O apelo de Elifaz, Bildade e Zofar é: “Admita o fato que

pecou e deixe de ser hipócrita”. Elifaz, Bildade e Zofar insistiram em falar sobre

um suposto comportamento pecaminoso do passado. Eliú preocupa-se com

uma postura errada do presente. Portanto, de acordo com esta opinião, o

sofrimento de Jó é corretivo e educativo em lugar de judicial e punitivo e seu

apelo é para que Jó se humilhe, aceitando o ensinamento. Segundo Eliú, essa

foi a principal falha de Jó.

O que dizer da fala de Eliú como um todo? A sua fala alcança um nível

superior aos outros. Eliú tem uma compreensão espiritual mais ampla e uma

percepção espiritual mais verdadeira. Mas, também Eliú comete alguns erros e

é também insatisfatório. Ele diz que uma reação sincera à aflição sempre traz

de volta a restituição da prosperidade (33:23-30). A filosofia de Eliú não

abrange certamente toda a questão; porque ele ignora certamente sua causa

real, que é a calúnia de Satanás e o desafio do Senhor, da mesma forma dos

outros também. Lógico porque a causa real do sofrimento de Jó Deus revelou a

ninguém. Há coisa na vida do crente que só Deus mesmo pode responder. Nós

nem devemos tentar. Tentar é só especular em vão.

8. Deus fala: Intervenção Final. 38-41.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

47

Jó não respondeu a Eliú. O Senhor Deus respondeu em nome de Jó

(38:1). De repente Deus falou de um redemoinho. Neste momento os cincos

homens ficaram mudos e espantados enquanto a voz de Deus desce sobre

eles. Deus censurou Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú. Quando vamos esperando

encontrar alguns versículos que dê a Jó, finalmente e de uma vez por todas, a

solução divina para seu problema, ficamos claramente desapontados. Não

encontramos nenhuma palavra de Deus de explicar o sofrimento de Jó ou

resolver a questão da providência provocada por essa angústia. Deus é

soberano e faz com os homens da terra conforme a sua vontade perfeita. Nós

somos as suas criaturas e temos que confiar na sua providência soberana e

perfeita.

Deus nem faz uma discussão das coisas que aconteceram. Deus faz

muitas perguntas a eles, e por elas Deus está mostrando, com ironia, que Ele é

Deus e sabe que faz. Capítulos 38 e 39 são quase todos as perguntas que

Deus faz a estes homens. A resposta é que o homem não sabe, mas Deus

sabe sim, então devemos deixar com Ele as coisas encobertas aos homens.

Então, quais são as lições da Palavra de Deus nos capítulos 38-41.

Primeiro; Jó não deveria conhecer a razão de seus sofrimentos. Se

conhecesse o motivo do seu sofrimento, isso influenciaria a reação dele para

tornar-se artificial. Não haveria teste verdadeiro de seu caráter. Não havia lugar

para o exercício e o aperfeiçoamento genuíno da sua fé. Existem certas coisas

sobre o sofrimento humano que Deus não pode explicar sem destruir o próprio

objetivo que estão destinadas a cumprir. Segundo; mostra o interesse divino

pelas coisas de Jó (também nós). Embora Deus não condescendesse em dar

uma explicação, Ele evidenciou que estava observando, ouvindo e cuidando. É

bom demais saber disso. Terceiro, o plano de Deus é levar Jó a apoiar-se no

próprio Deus, independentemente de explicações. Se Jó pudesse ser levado

para o ponto de confiar em Deus como um ser absolutamente justo e

benevolente em oposição a todas as adversidades misteriosas, então, a

acusação de Satanás seria revelada como sendo infundada e o diabo seria

derrotado. Funcionou, porque Jó venceu pela fé no Seu bom Deus. Ter fé em

Deus é confiar em Deus apesar de todas as aparentes contradições e mesmo

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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não tendo nenhuma explicação no momento. A vitória de fé é apoiar-se em

Deus com plena confiança (Jó 13:15). Então a fé foi confirmada.

Veja o que Jó falou quando ele ouviu o Senhor Deus falar (40:3-5).

Sempre é assim quando o homem vê Deus em verdade.

Epílogo – Capítulo 42.

1. Jó – se julga, é vindicado e honrado por Deus . 42.

Veja o homem Jó sincero com Deus apesar de tudo. Ele perdeu toda a

sua riqueza. Também perdeu todos os seus filhos. Depois disso, perdeu a

saúde. Além de tudo isso, perdeu a amizade da sua esposa. Também perdeu a

compaixão dos seus três amigos. Ele perdeu até o seu sentimento de

dignidade. O resultado de tudo isso na vida de Jó é uma poderosa percepção

da infinita sabedoria, autoridade, santidade e bondade de Deus (42:5-6).

Deus censurou os amigos de Jó e honrou Jó (v. 7). Deus mandou os

amigos de Jó oferecer ao Senhor sete bezerros e sete carneiros. Porque Deus

não estava agradado por eles. E o Senhor virou o cativeiro de Jó. Observe que

Deus fez isso quando orava pelos seus amigos. É uma boa lição para nós. O

Senhor abençoou o último estado de Jó, mais do que o primeiro. Deus é bom e

fiel para com o seu povo. Devemos confiar nEle.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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7 PROFETISMO

Profeta é a pessoa que anuncia a voz, o interesse, o projeto, o anseio e a

vida de Deus. É esta experiência de Deus e o compromisso com a causa do

grupo que sustenta e impulsiona o falar e o agir profético. Considerando o lugar

social, podemos destacar dois grupos de profetas:

O período dos reis de Israel é também o tempo dos profetas, porém, o

profetismo é anterior ao tempo da monarquia. Há dois tipos de profetas: os pré-

literários e os literários. Os profetas que não tem livros são chamados de pré-

literários são da profecia oral: Gad (1 Sm 22.5); Natã (2 Sm 2.2-17); Aías de

Silo (1 Rs 11.29-30); Jeú (1 Rs 19.16); Elias (1 Rs 17.1); Eliseu (1 Rs 19-21);

Micaías (1 Rs 22.8-22). E os profetas que tem livros são chamados de

Literários, são os da profecia escrita: Isaías, Jeremias e Lamentações,

Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum,

Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, e Malaquias.

Os livros de Isaías, Jeremias, Ezequiel, e Daniel são chamados de

“Profetas Maiores” os demais de “Profetas Menores”.

Podemos classificar os profetas também em urbanos: os conselheiros do

rei (1 Sm 7; 1 Rs 1.11-26; 2 Rs 19.5-7; 22.11-20) e, em geral, são pagos (Mq

3.11). Entretanto, são sensíveis às situações de injustiças vividas pelo povo e

por isso critica e denuncia os agentes do sistema e, muitas vezes, paga com a

própria vida o preço de suas denúncias. Contudo, não conseguem propor uma

mudança estrutural, como é o caso do Isaías (Is 9.5). Existem aqueles que

defendem a elite dominante que também são seus interesses. Por exemplo, o

profeta Amasias (Am 7.10-17), Hananias (Jr 27-28), e os profetas de Baal. E

profetas camponeses: seu lugar social e seu grupo de apoio estão na periferia.

A partir de sua experiência no meio do povo, combatem o abuso do poder e

propõe mudança no sistema. Por isso, são perseguidos, presos e até

assassinados (1 Rs 19; Am 7.10-14; Os 9.7-9). Exemplo: Elias, Amós, Oséias.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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No início, tanto em Israel e Judá, como nos outros povos, os profetas

surgiam como pessoas ou grupos de pessoas ligadas às divindades do povo e

aos líderes do povo. Porém, os profetas de Javé, tinham um diferencial.

Para poder anunciar e denunciar, o profeta tinha um duplo quadro de

referência. O diferencial profético do profetismo do Antigo Testamento é: 1)

uma experiência profunda com Deus; 2) e uma experiência profunda com o

povo.

A experiência de fé em Deus é o principal referencial profético. O profeta

experimenta a presença de Javé (Is 52.6; 58.9; 65.1). sua experiência com

Deus é para ter condições de despertar a memória e o afeto do povo como

resposta a Palavra de Deus. Para isto usa de recursos diversos, por exemplo, o

Êxodo (Ex 22.20). Deus deseja conversão verdadeira, nisto o profeta exigir

fidelidade à aliança (Ex 19.6).

Também tem uma profunda experiência do pecado. Experiência daquilo

que o povo deveria ser e não é (Is 6.5), da infidelidade e da certeza do

julgamento. Além disso, o profeta convive com grupos marginalizados na

comunidade (Dt 14.29; 16.11-14; 24.14-22). O que revela um povo ferido, com

uma chaga viva (Is 1.6; Jr 30.12-15; 14.17-18; 15.18).

O profeta indica os caminhos da mudança. Primeiramente, Deus não

resiste a um coração quebrantado, isso indica o caminho da mística. É preciso

mudar o modo de pensar, e recriar a consciência a partir da comunhão com

Deus, da oração e da Palavra. O que mais se pode fazer para se crescer

espiritualmente?

O profeta indica o caminho da justiça. Não basta ter fé, é preciso ter

prática. É necessário mudar estruturas injustas, e transformar a sociedade. A

justiça acontece quando tudo está no lugar onde Deus o quer; quando tudo é

como deve ser. E o caminho da solidariedade, da necessidade de mudar o

relacionamento, de renovar a comunidade (Dt 15.1-18).

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Aprofundando o Assunto:

Quais os tipos de profetas do Antigo Testamento?

Existe alguma semelhança com os profetas de hoje?

Qual o referencial profético que serve de modelo para nós

hoje?

Analisando a nossa realidade, os caminhos de mudança

continuam necessários? Explique.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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8 OUTRAS DISCIPLINAS DE ANTIGO TESTAMENTO

8.1 Introdução a Literatura do Antigo Testamento

a) Introdução aos grandes agrupamentos dos livros do AT tais como:

Pentateuco; Livros Históricos; Literatura Poética e Sapiencial; Profetas

Maiores; Profetas Menores.

b) Introdução ao estudo e síntese dos livros individuais do AT. Onde se

discute autoria, data ou período de redação, circunstâncias históricas,

destinatários, propósito, lugar no cânon, gênero literário, etc.

c) Apresentação de uma ordem cronológica provável para o surgimento

dos livros do AT.

d) Análise teórica racionalista sobre o desenvolvimento da religião de Israel

e sobre a autoria do Pentateuco.

8.2 Teologia do Antigo Testamento

a) Estudo dos temas e doutrinas principais do AT: a Criação, as origens, a

Lei, a monarquia, o tribalismo, o profetismo, messianismo, etc.

b) Explorar temas tais como: Deus, o homem, a vocação de Israel, as

bênçãos e maldições, o pecado, o exílio, a salvação, o reino de Deus, a

esperança messiânica, a vida além, etc.

c) Os principais enfoques e contribuições teológicas dos escritores, dos

livros ou dos conjuntos de livros do AT.

d) A relevância do AT para o Novo e para os cristãos.

8.3 História de Israel

a) Um estudo panorâmico da nação de Israel, desde sua formação em

Abraão até o fim do segundo século da Era Cristã.

b) Usar os relatos bíblicos como base, mas referendar também obras não

inspiradas como os livros dos Macabeus, Josefo e outros.

c) Apresentar uma cronologia para todos os eventos principais do AT e

discutir as diferenças entre várias cronologias propostas na literatura.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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d) Itens históricos que merecerão especial tratamento: a chamada de

Abrão; a data do Êxodo; o pacto no Sinai; a religião de Israel; o ministério dos

profetas; a reforma de Josias; o exílio e a restauração; os grandes impérios que

dominaram o crescente fértil, desde Abraão até o segundo século A.D.; a

formação de grupos judaicos no período inter-bíblico; a queda de Jerusalém

em 70 A.D.; o afastamento dos judeus do cristianismo.

e) Usar fartamente as informações arqueológicas para mostrar a

veracidade da história bíblica e para ilustrar o contexto histórico dos

acontecimentos.

f) Lições práticas espirituais da história de Israel para a igreja e os cristãos

de hoje.

g) Discutir teorias liberais sobre a origem e desenvolvimento da nação de

Israel.

8.4 Exegese Bíblica

a) Esta disciplina proporciona um aprofundamento aos métodos

exegéticos, com ênfase na abordagem teológico-pastoral, tendo por meta

capacitar estudantes para uma interpretação autônoma de textos do Antigo

Testamento.

b) Com os objetivos de compreender e aplicar os principais procedimentos

metodológicos da exegese; Interpretar de forma crítica e relevante um texto

bíblico;

c) Construir uma atitude de fidelidade à Palavra de Deus testemunhada na

Escritura, demonstrada primariamente através da sua apropriação pessoal na

ação e proclamação de forma relevante e coerente.

d) O conteúdo: Divisão dos passos da Exegese; Identificação da perícope e

observação do texto bíblico; Análise dos gêneros literários; Análise do texto;

Observação da estrutura e movimento; Paralelos e comparações bíblicas;

Análise histórico-contextual; A filologia – análise gramatical; A Interpretação do

texto – os significados; A análise teológica.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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9 MÉTODO DE ESTUDO DO ANTIGO TESTAMENTO

9.1 Introdução

9.1.1 Por que estudar a Bíblia?

O estudo da Bíblia, por excelência, torna o cristão mais capacitado a

utilizá-la com eficácia. Partindo de vários exemplos bíblicos, vemos que muitos

personagens não só liam como meditavam na Lei do Senhor, dia e noite. Jesus

utilizou-se dela contra as investidas de Satanás durante o seu retiro no deserto

(Mt 4), demonstrando profundo conhecimento sobre a Palavra e suas

implicações. Lucas, em At 17, refere-se aos moradores de Beréia como mais

nobres que os de Tessalônica, porque examinavam avidamente as Escrituras

para saberem se as coisas eram, de fato, como Paulo as falava.

O estudo pessoal da Bíblia traz benefícios próprios. Ao estudar, você é,

com toda a certeza, o mais beneficiado, pois fortalece o coração e o

entendimento, ganhando assim forças para lutar contra as artimanhas do

diabo. Não devemos apenas ter a Espada do Espírito (Ef 6), mas aprender a

manejá-la bem (2 Tm 2:15); pode ajudar com mais sabedoria aos irmãos que

necessitam de esclarecimento; protege-se contra as heresias e erros

teológicos. Quando o apóstolo Paulo escreve para Timóteo, ele pede que lhe

traga livros e pergaminhos para que estudasse as Escrituras. Apesar de alguns

dizerem que estudar a Bíblia é pecado, pois precisamos depender do Espírito,

não estudar a Bíblia é que é pecado.

O estudo pessoa da Bíblia também trás muitos benefícios comunitários.

Você, quando se aprofunda na Palavra de Deus, passa a ter um conhecimento

precioso para esclarecer aos que precisam de ajuda bíblica; tem condições de

defender a Igreja das heresias e pode ser que, além disso tudo, seja usado por

Deus para ensinar o que tem aprendido aos outros.

Este conhecimento, entretanto, é conseguido com esforço e dedicação,

tempo para ler e escrever. As recompensas são muitas como vimos. Então não

esmoreça e não estudo a Palavra somente durante o curso, mas crie na sua

vida o hábito de “garimpar” a Palavra de Deus.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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9.1.2 Métodos de estudo bíblico.

Existem vários métodos e formas de se estudar a Bíblia. Neste curso

apresentaremos três deles que são dos mais importantes:

a) Método de estudo temático, que busca compreender a Palavra por meio

da análise de personagens, palavras, locais, simbologias, etc.

Dividiremos esta parte em estudo de personagens ou como alguns

chamam de “estudo biográfico” (Jô, Débora, Moisés, etc.); estudo de

lugares ou “estudo geográfico” (Monte Sinai, Babilônia, Samaria, etc.); e

o estudo de palavras ou “estudo tópico”, que pode envolver um grande

número de palavras como “cruz”, “igreja”, “paz”, “esperança”, etc.

b) Método de estudo expositivo ou “estudo analítico”, que é mais complexo,

profundo e, por isso mesmo, mais completo. No método expositivo,

pesquisamos questões como “tipo literário”, “contexto”, “autoria”,

“destinatários”, “pano-de-fundo”, etc.

A escolha do método utilizado pelo estudante depende do seu objetivo.

Muitas vezes, um bom estudo torna-se um bom sermão, mas vale lembrar que

este curso apresenta apenas uma ferramenta. Estamos dando a “vara para

pescar” com o objetivo de que o estudante possa dar seus próprios passos no

seu aprofundamento nas Escrituras.

Isto, claro, depende de dois fatores essências:

Aquele que deseja estudar e se aprofundar nas Escrituras precisa ter um

investimento de tempo. Não se cava um poço de uma hora para outra, e nem

se perfura um poço de petróleo sem uma grande disponibilidade de tempo. O

sacrifício do tempo é essencial para o bom estudante.

É preciso também ser insistente e perseverante. Em alguns momentos

parecerá que as coisas não estão caminhando. Alguns textos são difíceis e é

preciso “quebrar a cabeça” para compreendê-los. Não devemos desanimar

perante as dificuldades encontradas. Lembre-se: a promessa para quem cava

a mina é encontrar ouro. Seja perseverante como quem busca o seu tesouro.

E, por fim, faz-se necessário um investimento financeiro. Um bom estudo

depende de bons livros à disposição, e estes custam algum dinheiro. Bons

dicionários, comentários, manuais e outros materiais são ferramentas

essenciais e indispensáveis para o estudante. Abrir mão de algo para adquirir

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

56

um livro deve ser algo presente na vida daquele que deseja aprofundamento

bíblico.

9.2 Materiais de Estudo Bíblico

Alguns materiais são essenciais para o estudo bíblico, outros são

opcionais.

9.2.1 Alguns tipos de Bíblia.

Algumas Bíblias possuem ferramentas especiais para o estudo.

Conheça algumas:

a) Bíblia Vida Nova: possui pequenos comentários de rodapé e versículos

em cadeia temática;

b) Bíblia Shedd: Possui os mesmo comentários de rodapé da Bíblia Vida

Nova e uma pequena chave bíblica no final;

c) Bíblia Apologética: Apresenta os textos mais comuns usados pelas

seitas para defenderem suas heresias com o respectivo esclarecimento;

d) Bíblia Thompson: Considerada uma das mais completas, possui:

versículos em cadeia temática; estudo esboçado dos livros; estudo de

diversos personagens; harmonia bíblica; suplemento arqueológico;

concordância bíblica e mapas;

e) Bíblia de estudo pentecostal: Possui muitos recursos, como a

Thompson, com comentários baseados na doutrina pentecostal.

Precisamos lembrar que um estudo começa pela definição do tipo de

linguagem que você utilizará. Leve em conta a clareza da linguagem e a

utilização dela pelas pessoas a quem o estudo se dirige. A Nova Tradução na

Linguagem de Hoje é melhor do que a Linguagem de Hoje. A Revista e

Atualizada é melhor que a Revista e Corrigida ou Revista e Fiel. Isto é de

extrema importância, principalmente no que diz respeito às palavras que vocês

estudará (amor ou caridade?) e quem acompanhará seu estudo.

Lembre-se também que algumas Bíblias possuem tendências

doutrinárias em seus comentários. Isto ocorre, por exemplo, com a Thompson

(que espiritualiza alguns assuntos) e a Pentecostal (que possui comentários

baseados na doutrina pentecostal).

Estabeleça, então, qual será a Bíblia que você utilizará em seu estudo.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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9.2.2 Materiais essenciais para o estudo.

a) Chave Bíblica ou Concordância: Possui uma lista de todos os versículos

divididos pelas palavras e em ordem alfabética. Existem concordâncias

em grego, hebraico e português. Também existem concordâncias sobre

o Novo e o Velho Testamentos separados e de toda a Bíblia. As mais

completas concordâncias são as chamadas “exaustivas”. Quando for

utilizar uma concordância bíblica é importante saber sobre versão ela

utiliza (LH, RA, RC, NTLH, NVI), pois algumas palavras são diferentes

de acordo com as traduções. Um exemplo é 1 Co 13, que na RA é

“amor” e na RC é “caridade”. O ideal é ter disponível uma bíblia na

linguagem da concordância.

b) Dicionário: O dicionário traz as explicações sobre lugares, pessoas,

palavras e outras questões bíblicas. Dê preferências aos dicionários em

que os verbetes são mais explicados. Neste caso, o tamanho do

dicionário é importante.

c) Manual bíblico: É semelhante ao dicionário, trazendo alguns outros

recursos que não apenas as explicações das palavras. Alguns trazem

questões de autoria bíblica, arqueologia, esboços de livros, história, etc.

Um dos mais utilizados é o “Manual Bíblico Harley” da editora Vida

Nova.

d) Comentário bíblico: Os comentários são recursos importantes na

elaboração de um estudo bíblico. Eles analisam o texto procurando

esclarecer seu significado para o leito. Alguns são simples e outros se

aprofundam nos textos gregos e hebraicos.

9.2.3 Materiais complementares.

a) Estudo de personagens: Estes livros trazem biografias de personagens

bíblicos. Podem fazer análises puramente históricas ou acrescentar

comentários devocionais.

b) Geografia bíblica: Todos os eventos históricos contidos nas Escrituras

ocorrem em determinados espaços físicos – desertos, mar, casa,

templo, monte, etc. O conhecimento destes locais não só enriquece o

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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estudo como pode levar à uma compreensão maior do que relata a

Bíblia.

c) Manual de costumes bíblicos: A Bíblia foi escrita dentro de uma cultura

específica. Compreender esta cultura enriquece e esclarece o estudo.

Muitos eventos encontrados nas Escrituras fazem referências a hábitos,

costumes e práticas presentes nos povos relatados.

d) Manual de história bíblica: Alguns livros contam as narrativas bíblicas de

forma histórica e cronológica. Apresentam a história de reis, profetas e

até do desenvolvimento da igreja cristã a partir de Atos. Uma

contextualização histórica também é importante no estudo bíblico.

e) Manual de doutrina: Explicam as doutrinas com a citação de versículos.

Dúvidas são retiradas com a consulta e pesquisa das doutrinas cristãs.

Erros podem ser evitados se estudarmos com atenção a teologia.

f) Estudo de palavras: Se você desejar aprofundar mais seu estudo, uma

consulta ao original grego ou hebraico pode ser feita mediante um

estudo da palavra. Saber seu significado ou tempo verbal torna mais

claro o estudo. Existem livros especializados em explicar o significado

das palavras, como os dicionários de grego e hebraico e os léxicos.

g) Bíblia digitais: Para quem tem acesso a computadores, este recurso

prático e eficiente. Normalmente, você tem em uma Bíblia digital o

recurso de busca de palavras, o que a torna uma chave bíblica. Uma

das Bíblia digitais mais poderosas em português é a “Bíblia On-Line” da

Sociedade Bíblica do Brasil, que possui várias versões portuguesas, a

Vulgata, Septuaginta, Velho Testamento em hebraico e o Novo

Testamento em grego, possuem léxico, mapas, dicionário e muito mais.

Se você ainda não possui livros à sua disposição, será interessante que

inicie a criação de uma biblioteca básica com alguns materiais citados acima.

Exercícios:

1. Quais razões você poderia apontar para o estudo da Bíblia?

2. O que devemos levar em conta quando vamos escolher uma linguagem da

Bíblia para estudar?

3. Qual o objetivo da consulta de materiais no estudo bíblico?

Page 59: CURSO FORMAÇÃO TEOLOGIA BÁSICA - MÓDULO I

MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

59

9.3 Método de Estudo Temático

9.3.1 Estudo de personagens ou biográfico.

Esta espécie de estudo bíblico tem importância pelo fato de sondar a

história e o caráter de personagens. Ele pode ser básico ou avançado.

Vamos iniciar com o estudo básico:

Passo 1. Escolha o personagem bíblico que você irá estudar e estabeleça os

limites de seu estudo. Se for um personagem que apareça em muitos textos,

será interessante você limitar o estudo a determinado período de tempo, livro

ou assunto. Se for estudar sobre Davi, por exemplo: Davi antes do adultério;

Davi antes de tornar-se rei, etc. Entretanto, pode ser sobre toda a vida do

personagem. Tendo escolhido o personagem e estabelecido o os limites de seu

estudo, procure numa concordância bíblica os quais textos nos quais ele

aparece e anote em uma folha separada fazendo também alguma observação.

Como exemplo, usaremos a figura de Raabe.

Raabe – Referências

Josué 2:1 – Ela era uma prostituta residente em Jericó;

Josué 2:3 – O rei de Jericó manda tomar informações sobre os espias;

Josué 2:4 – Raabe esconde os espias e mente ao rei;

Josué 2:5 – Ela, de propósito, desvia dali os homens da cidade;

Josué 2:6 – Raabe esconde os espias sob as canas de linho;

Josué 2:8, 9 – Raabe reconhece que o Senhor tomará posse de Jericó;

Josué 2:10 – Raabe relata os rumores do êxodo e da vitória sobre os

amorreus;

Josué 2:11 – Ela relata o medo do povo e o fato de que o Senhor é Deus de

todos e de tudo;

Josué 2:12, 13 – Raabe roga segurança para si e para a sua família;

Josué 2:14 – Os espias fazem a promessa a Raabe;

Josué 2:15 – Raabe lhes providencia um meio de fuga;

Josué 2:16 – Raabe lhes dá um plano de segurança;

Josué 2:17-20 – Os espias planejam a segurança de Raabe;

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

60

Josué 2:21 – O sinal do compromisso de Raabe;

Josué 6:22, 23 – O salvamento de Raabe e de sua família;

Mateus 1:5 – Raabe tem lugar na genealogia de Jesus Cristo;

Hebreus 11:31 – Raabe é citada como uma heroína da fé;

Tiago 2:25 – Ela foi justificada por sua ação de fazer partir em paz os espias.

Passo 2. Tome uma folha de papel e anote OBSERVAÇÕES no alto. Use esta

folha durante o estudo todo. Nesta folha você anotará:

a) Observações: Anote tudo e qualquer pormenor que notar sobre essa

pessoa. Quem era? Onde morava? Quando viveu? Por que fez o que

fez? Como o levou a efeito? Anote todos os detalhes que você perceber

sobre ela e seu caráter.

b) Dificuldades: Escreva o que você não entendeu ou não ficou claro

acerca dessa pessoa e de acontecimentos em sua vida.

c) Aplicações possível: Anote várias destas aplicações durante o

transcurso do seu estudo. Na conclusão você voltará a estas aplicações

possíveis. Deus pode falar muito com você neste momento.

OBSERVAÇÕES

Raabe era uma prostituta que morava em Jericó.

Por temor, escondeu os espias e mentiu para o rei de Jericó. Sua atitude

demonstra que ela tinha conhecimento do que Deus tinha feito com Israel.

Era esperta e decidida.

Não entendi o que são as “canas de linho” descritas no texto. Não

compreendi, também, como a mentira de Raabe é chamada de fé em

Hebreus.

Aplicações possíveis:

A fé de Raabe foi baseada em rumores. No que está baseada a minha fé?

Raabe aproveitou a oportunidade de salvação ao proteger os espias. Como

estou aprovei-tando as oportunidades que o Senhor me tem dado?

Page 61: CURSO FORMAÇÃO TEOLOGIA BÁSICA - MÓDULO I

MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

61

Passo 3. Com divisão em parágrafos, escreva um breve esboço da vida do

personagem que você está estudando. Inclua os acontecimentos, fatos

importantes, atitudes dignas de nota e outras características que são essências

e que descrevem bem a pessoa. Procure escrever, o quanto for possível, em

ordem cronológica. Acrescente, também, algumas conclusões, principalmente

se houver ocorrências de personagens do Velho Testamento no Novo

Testamento, como acontece com: Jonas, Abraão, Isaías, Moisés e outros

heróis da fé. Se eles estão sendo citados no Novo Testamento, deve haver

algum motivo importante. Não esqueça, então, de acrescentar a este esboço.

Raabe – Esboço da sua vida

Raabe era uma prostituta da cidade de Jericó, situada além do Rio Jordão na

terra de Canaã. Ela e outros membros da sua comunidade tinham ouvido

como Deus tinha permitido que os israelitas atravessassem o Mar Vermelho

em terra seca, e também como tinham derrotado os dois reis amorreus.

Quando os espias chegaram à sua porta, ela os acolheu em paz e os

escondeu do rei de Jericó, que buscava suas vidas. Ela mentiu ao rei dizendo

que não estavam ali, e mandou os homens da cidade com falsa pista atrás

deles.

Raabe solicitou segurança aos espias, para si e para a sua família, dando-

lhes testemunho de que cria que o Deus de Israel era o Deus do céu e da

terra, baseada no que tinha ouvido dos Seus atos.

Os espias lhe prometeram salvamento se ela não revelasse o paradeiro

deles, e que teria a sua família em casa quando tomassem Jericó. A prova do

compromisso mútuo era um cordão vermelho pendente em sua janela.

A vida de Raabe foi poupada na queda de Jericó e mais tarde a vemos como

trisavô do rei Davi e, assim, na linhagem de Jesus.

O Novo Testamento registra ainda a sua fé e justificação por seu ato de

acolhida aos espias.

Passo 4. Registre as virtudes e as fraquezas da pessoa. Por que Deus a

considerou grande? Quando ela falhou?

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

62

Raabe – Virtudes e fraquezas

Virtudes: Baseada em bem pequeno conhecimento (rumores), Raabe

apostou toda a sua vida e a vida da sua família no que ouviu. Aplicou o que

sabia. Deus considera grandeza isto – crer nEle e agir com o que você tem.

O povo de Raabe recebera a mesma informação e, contudo, não creu.

Fraquezas: Raabe foi prostituta, mentirosa e traidora da pátria.

Passo 5. Escolha o versículo-chave para a vida do personagem. Trata-se do

versículo que, mais que qualquer outro, sintetiza a orientação da vida daquela

pessoa. Exponha a realização ou contribuição que coroa aquela vida. Escolher

esse versículo pode ser algo bem pessoal, isto é, varia de estudante para

estudante. Concentre-se naquele que melhor fala do motivo deste personagem

ser citado nas Escrituras.

Raabe – Versículo-chave

“Pela fé Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque

acolheu com paz os espias” (Hebreus 11:31).

Sua fé foi exercida enquanto ela era meretriz, e Deus a considera grande

naquele estágio da sua vida, não somente depois de ser aceita na

comunidade judaica. Com base no escasso conhecimento que tinha, ela agiu

ocultando os espias e creu que Jeová era o verdadeiro Deus.

Passo 6. Das aplicações possíveis registradas em suas observações, escolha

aquela que Deus quer que você ponha em ação.

Raabe – Aplicação

É fácil cair no hábito de ler a Bíblia para obter novas compreensões, e omitir

os aspectos da aplicação que transformam a vida. Sou culpado disto.

Desde que o segredo de uma vida transformada está em aplicar a Palavra de

Deus à minha vida, e não somente em aumentar o meu conhecimento, vou

orar e me comprometo a aplicar a verdade da Escritura toda vez que eu A ler.

Page 63: CURSO FORMAÇÃO TEOLOGIA BÁSICA - MÓDULO I

MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

63

O estudo avançado:

Os seguintes passos podem ser acrescentados se e quando você achar

que o ajudarão em seus estudos biográficos. São facultativos e só devem ser

incluídos progressivamente, à medida que você ganha confiança e prática.

Passo 7. Trace o fundo histórico da pessoa. Use um dicionário bíblico para

ampliar este passo quando for necessário. As seguintes perguntas ajudarão a

estimular seu pensamento:

a) Quando viveu o personagem? Quais eram as condições políticas,

sociais, religiosas e econômicas de sua época?

b) Onde a pessoa nasceu? Quem foram seus pais? Houve alguma coisa

incomum em torno do seu nascimento e da sua infância?

c) Qual sua vocação? Era mestre, agricultor, ou tinha alguma outra

ocupação? Isto influenciou sua vida de alguma maneira? Como?

d) Quem foi seu esposo ou esposa? Tiveram filhos? Como eram eles? Este

cônjuge ou filhos ajudou ou atrapalharam a vida e o ministério da

pessoa?

e) Como morreu? Houve alguma coisa extraordinária em sua vida?

Obviamente, nem todas as perguntas acima serão respondidas com

todos os personagens, mas procure encontrar respostas para todas as

perguntas acima.

Raabe – Fundo histórico

Jericó, a Cidade das Palmeiras, ficava na terra de Canaã. Ficava na rota das

caravanas do deserto entre o Egito, ao sul, e a Babilônia, ao norte. Canaã

consistia de pequenos reinos, cada um com cidades fortificadas e um rei (ver

Josué 9:1, 2). Jericó era fortificada por uma muralha dupla, e a casa de

Raabe era sobre essa muralha.

Os cananeus eram descendentes de Cão (ver Gênesis 19:18-25), e seu culto

consistia de idolatria, ritos celebrando a fertilidade e sacrifícios humanos a

Baal.

Desde a hora em que os residentes em Jericó ouviram falar do Êxodo, viviam

com medo. O coração dos homens da cidade “desmaiou” dentro deles.

De acordo com o relato bíblico, o linho tinha sido colhido recentemente, visto

que es-tava no teto para secar, o que coloca o início da história no fim de

Page 64: CURSO FORMAÇÃO TEOLOGIA BÁSICA - MÓDULO I

MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

64

março ou princípio de abril.

Mais tarde Raabe casou-se com Salmon e teve um filho, Boaz. Boaz casou-

se com a gentia Rute, que dá nome ao conhecido livro do Velho Testamento.

O filho deles, Obede, gerou a Jessé, que foi o pai do maior rei de Israel, Davi.

Exercício 1:

Seguindo todos os passos descritos no “método de estudo de personagens”,

pesquise sobre a vida de alguém na Bíblia. Não esqueça de limitar sua

pesquisa.

9.3.2 Estudo de lugares ou geográfico.

Alguns podem pensar que o estudo geográfico seja sem tanta

importância. Ao contrário disso, saber o local em que as histórias bíblicas se

passam e quais as características do lugar tem se mostrado bastante relevante

para uma compreensão maior. A pergunta “Onde ocorreu determinado

evento?“, pode levar a conclusões mais claras sobre o texto em si e, um

aprofundamento com a pergunta “Como era este lugar?”, pode trazer uma

incrível compreensão ao estudante.

Este estudo é mais simples, mas que necessita de mais pesquisa em

maior quantidade de materiais.

Passo 1. A primeira coisa a fazer é determinar o lugar bíblico que você irá

estudar. Da mesma forma que o estudo biográfico abordado anteriormente,

poderá ser limitado em um livro, em determinado período de tempo ou ocasião

para facilitar, mas, por algumas vezes, talvez seja necessário o estudo mais

completo.

Veja alguns exemplos de locais para estudar: O Egito na época da

escravidão dos israelitas; Jerusalém na época do rei Davi e A cidade de Jericó

no Novo Testamento.

Tendo escolhido o tema e delimitado o estudo, relacione todos os

versículos e faça ao lado de cada um deles um breve comentário. Como

exemplo nós estudaremos “O Monte das Oliveiras no Novo Testamento”.

Preste atenção a referências quanto à localização e história. Como no estudo

de personagens, utilize uma folha separada.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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O Monte das Oliveiras – Referências

Mt 21:1 – Daqui Jesus entra em Jerusalém montado em um jumento (Mc

11:1, Lc 29:29);

Mt 24:3 – Neste lugar, Jesus fala sobre os acontecimentos futuros e sua

vinda (Mc 13:3);

Mt 26:30 – Jesus e seus discípulos vieram para cá após a última ceia (Mc

14:26);

Lc 9:37 – O povo recebe a Jesus com alegria ao entrar em Jerusalém;

Lc 21:37 – Para ali, Jesus se retirava após ensinar em Jerusalém;

Lc 22:39 – Era costume de Jesus se retirar a este lugar para a oração (v. 40);

Jo 8:1 – Enquanto os outros vão para casa, Jesus vai para lá;

At 1:12 – Foi deste monte que Jesus subiu aos céus após a ressurreição (v.

9).

Perceba que no caso do Novo Testamento há a presença de muitos

textos parecidos nos evangelhos. Não é necessário citar todos, mas apenas

aqueles que apresentam eventos diferentes. Faça a citação no final e entre

parênteses.

Passo 2. Faça a análise geográfica e histórica. Neste passo você precisará de

um dicionário bíblico para responder as seguintes questões (você pode criar

outras se achar relevante):

a) Que tipo de lugar era?

b) Onde se localizava?

c) O que significa seu nome? ou Por que foi chamado assim?

d) Alguma outra característica ou fato importante (do passado ou futuro)

está ligado a este lugar? Há alguma profecia que se cumpriu ou irá se

cumprir nele?

O Monte das Oliveiras – Análise geográfica e histórica

a. Que tipo de lugar era?

O local é uma pequena elevação com quatro cumes. O mais alto atinge a

altura de 830 metros. É cerca de 90 metros mais alto que o monte do templo.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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b. Onde se localizava?

Estava de frente para Jerusalém e para o cômodo do templo do outro lado do

vale de Cedrom e do poço de Siloé, para o lado leste.

c. O que significa seu nome? Por que foi chamado assim?

Na época de Jesus este monte era densamente arborizado, rico em oliveiras

(tal fato deu nome ao lugar). As oliveiras no tempo do imperador Tito foram

retiradas. O monte tem qua-tro cimos: (1) O Galileu ou Viri Galilae (Homens

da Galiléia), o tradicional lugar sobre o qual os anjos falaram “Varões

galileus” (At 1:11); (2) o tradicional “Monte da Ascensão”; (3) os “Profetas”,

nome derivado duma singular gruta, chamada “os túmulos dos profetas”; (4)

“O Monte da Ofensa”, por ser ali que Salomão edificou um alto (1 Rs 11:7 e 2

Rs 23:13).

d. Alguma outra característica ou fato importante (do passado ou futuro) está

ligado a este lugar? Há alguma profecia a se cumprir nele?

Existem referências no Velho Testamento sobre o Monte das Oliveiras em 2

Sm 15:30, Ne 8:15, Ez 11:23, mas são superficiais. Pelo Monte das Oliveiras

subiu Davi para fugir de Absalão (2 Sm 15:30 e 16: 1, 13). Em 1 Rs 11:7 e 2

Rs 23:13, se referem à idolatria de Sa-lomão, à ereção de lugares altos

dedicados a Camos e Moloque, o que provavelmente fez que um dos cumes

fosse cognominado de Monte das Ofensas. No futuro (profecia), Deus dividirá

o Monte das Oliveiras em duas partes, ao vir pôr-se de pé sobre o mesmo (Zc

14:4).

Referências:

O Novo Dicionário da Bíblia. Editora Vida Nova, 2ª ed. pg. 1143-1144.

Dicionário Bíblico Universal. Editora Vida, 1992. pg. 311.

Como você pôde perceber, é importante anotar o nome dos livros que

você utilizou para a sua pesquisa.

Passo 3. É o resumo. Relacione agora, de forma textual, os fatos relacionados

ao lugar em questão. Procure manter certa ordem cronológica. Faça uma

explanação de todos os ventos, fatos e registros bíblicos sobre o local que você

escolheu estudar. Veja o nosso exemplo do passo 3.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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O Monte das Oliveiras – Resumo

O Monte das Oliveiras faz parte da história de Jesus, pois ele tinha o hábito

de estar lá constantemente para a oração quando estava na região de

Jerusalém. Estando neste monte, Jesus entrou triunfante em Jerusalém.

Neste mesmo monte Ele pregou sobre o futuro, a destruição de Jerusalém e

seu retorno. O Getsêmane ficava no Monte das Oliveiras, e foi ali que Jesus

orou após a última ceia, chorou e foi entregue por Jesus. Deste monte Ele

subiu aos céus. Existem profecias que indicam ser este monte o local de seu

retorno.

Um outro exemplo de estudo geográfico é o estudo de povos, cidades,

nações e regiões. Este estudo é um pouco diferente do estudo de lugares. Siga

os passos.

Passo 1. Primeiramente, como em todos os casos anteriores, inicie escolhendo

o que irá estudar e fazendo a delimitação. Exemplos: O povo de Israel no Egito;

Os samaritanos no Novo Testamento; A pregação do evangelho na região da

Macedônia, etc.

Como exemplo utilizaremos “Os filipenses para quem Paulo escreveu

sua epístola”.

Passo 2. Relacione todos os versículos em que aparece a referência e faça um

comentário sobre cada versículo. No caso de “filipenses”, precisamos

acrescentar em nossa busca o termo “Filipos”. Caso fizéssemos sobre os

“assírios”, deveremos incluir “Assíria” na busca. Escreva os resultados em uma

folha.

Filipenses – Referências

Fp 4:14 – Quando estava na região da Macedônia, Paulo foi ajudado

somente pelos irmãos filipenses.

Filipos – Referências

At 16:12 – Primeira cidade da Macedônia e colônia romana. Paulo passou

alguns dias nesta cidade;

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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At 20:6 – Depois dos dias dos pães asmos, partiram desta cidade para

Trôade;

Fp 1:1 – Paulo endereça uma carta aos cristãos desta cidade;

1 Ts 2:2 – Paulo revela aos tessalonicenses que foi maltratado em Filipos;

Passo 3. Com a ajuda de um dicionário bíblico, responda as seguintes

questões:

a) Onde vivia este povo? (Onde ficava esta região?)

b) Quais os fatos mais importantes em sua história?

c) Quais seus hábitos e costumes (religião, festas, cultura, etc.)?

d) Quais fatos revelados por este povo são importantes para a nossa

compreensão da Bíblia?

Proceda pesquisando as respostas e fazendo as anotações.

Filipenses – Análise histórica e geográfica

a. Onde vivia esse povo?

Este povo vivia na cidade de Filipos, que tem seu nome em homenagem a

Filipe, rei da Macedônia e pai de Alexandre Magno, que a reedificou e

embelezou. Era rica em ouro e nela foram cunhadas moedas com o nome de

Filipe. Hoje não passa de ruínas.

b. Quais foram os fatos importantes em sua história?

Filipe da Macedônia a conquistou dos tásios cerca de 300 a.C. Em 168 a.C.,

depois da batalha de Pidna, a cidade foi anexada pelos romanos e dividida

em quatro porções administrativas (distritos). Em 42 a.C., a batalha de Filipos

teve lugar entre Antônio e Otaviano por uma lado e Bruto e Cesário por outro.

Depois disso a cidade foi anexada com a vinda de colonos. A cidade cresceu

ainda mais quando em 31 a.C., depois da batalha de Áctio, na qual Otaviano

derrotou as forças conjuntas de Antônio e Cleópatra. Após isto os colonos

romanos continuaram a ter os seus direitos, até mesmo o de votar nas

assembleias romanas.

c. Quais seus hábitos e costumes (religião, festas, cultura, etc.)?

Eram muito orgulhosos de sua história. Como colônia romana, tinham

práticas idólatras.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

69

d. Quais fatos revelados por este povo são importantes para a nossa

compreensão da Bíblia?

Paulo, cidadão romano, não cita sua cidadania na epístola, apesar de isto

parecer importante para os filipenses. Em Fp 1:27, é ressaltada a importância

da cidadania celestial sobre a cidadania romana.

Estas informações anteriores podem ser colhidas em dicionários ou

manuais bíblicos. Anote as referências dos livros em que você pesquisou.

Passo 4. Agora, procure na Bíblia as histórias que ocorrem com determinado

povo ou nação. No caso dos filipenses, podemos ler os textos que falam da

criação da igreja em Atos 16 e a própria epístola escrita.

Filipenses – Fatos e narrativas bíblicas

At 16:12 – Paulo e Silas passam alguns dias na colônia de Filipos;

At 16:13 – Num sábado, Paulo prega para algumas mulheres à beira de um

rio;

At 16:14 – Entre estas mulheres estava Lídia, vendedora de púrpura da

cidade de Tiatira;

At 16:15 – Lídia creu e foi batizada. Ela fez com que Paulo ficasse em sua

casa;

At 16:16-18 – Paulo expulsa o espírito de advinha de uma mulher;

At 16:19-21 – Paulo e Silas são levados perante os magistrados;

At 16:22, 23 – Paulo e Silas são açoitados e presos;

At 16:25, 26 – Durante a noite, enquanto cantavam, são libertos de forma

milagrosa;

At 16:27 – 34 – O carcereiro e toda a sua família se convertem;

At 16:35, 36 – Os magistrados libertam Paulo e Silas;

At 16:37, 39 – Os magistrados pedem a Paulo e Silas que partam, pois são

cidadãos romanos. A cidadania romana era importante;

At 16:40 – Paulo e Silas partem de Filipos;

At 20:6 – Paulo volta a Filipos e passa cinco dias;

Fp 1:1 – Paulo escreve uma epístola para os irmãos daquela cidade;

Fp 1:5 – Os filipenses cooperavam com Paulo para a propagação do

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

70

evangelho;

Fp 1:7 – Eles ajudaram Paulo no momento em que ele fora preso;

Fp 1:27 – A superioridade da cidadania celestial que os filipenses receberam;

Fp 1:29, 30 – Os filipenses estavam passando por dificuldades, assim como

Paulo;

Fp 2:3 – Parece haver algumas brigas na igreja em Filipos;

Fp 2:19 – Paulo quer mandar Timóteo para saber como eles estão;

Fp 2:24 – Paulo desejava voltar a Filipos e vê-los pessoalmente;

Fp 2:25 – Epafrodito é enviado á Filipos levando esta carta;

Fp 2:26 – Epafrodito estava, literalmente, morrendo de saudades dos

filipenses;

Fp 3:2 – Parece que os filipenses estavam recebendo falsos obreiros (cf.

1:14-19);

Fp 3:3 – Estes falsos obreiros estavam exigindo que eles fossem

circuncidados;

Fp 3:20 – A nacionalidade do Reino de Deus é maior;

Fp 4:2 – Duas mulheres estava causando desunião na igreja. Evódia e

Síntique;

Fp 4:15 – Paulo relembra o fato dos filipenses terem sido os únicos a

prestarem auxílio financeiro na Macedônia;

Fp 4:18 – Mesmo não estando em Filipos, os cristãos de lá enviaram suas

ofertas.

Passo 5. Faça um resumo utilizando os versículos colhidos. Se surgir alguma

dúvida, procure suas respostas em dicionários ou comentários bíblicos.

Procure criar um texto que explique bem o que você pesquisou.

Filipenses – Resumo

Os filipenses ouviram o evangelho por intermédio de Paulo durante a sua

primeira viagem pela Europa. Fundada cerca de 40 d.C. no princípio de sua

segunda viagem missionária. Lídia e o carcereiro estavam entre os novos

convertidos. O Manual Bíblico Harley cita Lucas como seu primeiro pastor e

responsável pelo desenvolvimento daquela igreja.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

71

Paulo cita a igreja dos filipenses como cooperadores nas suas dificuldades e

eles mesmos perseguidos por causa do evangelho, inclusive quando fora

preso. Contribuíram financeiramente com Paulo várias vezes para o seu

ministério. Havia um problema de divi-são da igreja, o que faz Paulo citar

muitas vezes a necessidade de unidade, principalmente de Evódia e Síntique,

duas líderes da igreja, mas que estavam causando dissensão pelas

discordâncias que tinham.

Exercício 2:

Utilizando os passos apresentados no método de estudo geográfico, escolha

um povo, lugar, nação, cidade ou região e faça a sua pesquisa.

9.3.3 Estudo de Palavras ou tópico.

O estudo de palavras ou tópico é um dos mais complexos e trabalhosos,

mas que produz bons resultados. Pelo fato de neles estarem envolvidos muitos

passos, aconselhamos que o iniciante limite bem o alcance do seu estudo.

Exemplos: O pecado em Romanos; A obediência em 1 João; A alegria em

Filipenses; O sacerdócio em Hebreus. Um local para fazer bons estudos é no

livro de Provérbios. Exemplos: A preguiça em Provérbios; O adultério em

Provérbios; A sabedoria em Provérbio.

Para este estudo serão importantes os seguintes materiais:

a) Um léxico, chave-bíblica ou concordância, para encontrar em quais

textos estão as palavras que você quer estudar;

b) Um dicionário (de preferência bíblico) para buscar as definições da

palavra;

c) Manual de doutrina para tirar dúvidas com, por exemplo, se você estudar

sobre a palavra “salvação”;

d) Se tiver acesso, tenha em mãos algum livro que traga explicações das

palavras em grego ou hebraico, pois podem ampliar sua compreensão.

Passo 1. Defina a palavra e limite o estudo. Neste estudo você poderá utilizar

quaisquer palavras em português, grego ou hebraico. Aconselhamos a limitar o

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

72

estudo, pois algumas palavras são muito utilizadas nas Escrituras com, por

exemplo, a palavra “salvação”. Obviamente o estudante poderá estudar em

toda a Bíblia, mas deve estar consciente de que maior será seu trabalho. Como

exemplo em nosso estudo vamos usar a palavra “justificação”. A limitação será

o livro de Romanos. Então, o título do nosso estudo será “A justificação em

Romanos”.

Como você fez anteriormente, procure no livro de Romanos os

versículos onde encontramos a palavra “justificação”. Anote a referência e faça

uma observação ao lado. Talvez seja importante ler o contexto no qual se

encontra o versículo para compreendê-lo totalmente.

A justificação em Romanos

Rm 4:25 – Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa

justificação;

Rm 5:16 – A justificação veio pela graça, apesar de todos os nossos

pecados;

Rm 5:18 – A condenação veio por um homem, e a justificação por um

homem, também;

Rm 9:30 – A justificação dos gentios pela fé;

Passo 2. Procure também pelas palavras relacionadas, como conjugações

verbais (ex: salvação – salvar, salvou, salvo). Da mesma forma que no quadro

anterior, anote o versículo e a observação ao lado.

A justificação em Romanos – Palavras relacionadas

Justificou:

Rm 8:30 – Foi Deus quem nos predestinou, chamou, justificou e glorificou;

Justificará:

Rm 3:30 – É Deus quem justificará tanto o judeu como o não-judeu;

Justifica:

Rm 4:5 – A justiça vem pela fé, e não pelas obras;

Rm 8:33 – Não há acusação para aquele que é justificado por Deus;

Justificado:

Rm 3:20 – O homem é justificado pela fé e não pelas obras;

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Rm 3:28 – Novamente, o homem é justificado pela fé, independente das

obras;

Justificador:

Rm 3:26 – Deus é justo e justifica aquele que tem fé em Jesus; Justo:

Rm 3:10 – Não há ninguém justo;

Justificados:

Rm 2:13 – Será justificado aquele que pratica a lei (?);

Rm 3:24 – A justificação é gratuita, pela graça de Deus;

Rm 5:1 – A justificação é por meio da fé;

Rm 5:9 – Somos justificados pelo sangue de Cristo e seremos salvos da ira;

Justiça:

Rm 1:17 – O justo viverá pela fé;

Rm 3:22 – A justiça mediante Jesus;

Rm 4:3 – Abraão foi justificado pela fé;

Rm 4:5 – A justiça vem pela fé;

Rm 4:6 – Deus justifica independente das obras;

Rm 4:11 – Abraão creu antes de ser circuncidado. É o pai da fé;

Rm 4:13 – A justiça vem pela fé;

Rm 5:21 – A graça reina pela justiça para a eternidade;

Rm 6:18 – Ao sermos libertos do pecado, somos servos da justiça;

Rm 6:19 – Devemos nos oferecer para servir à justiça para a santificação;

Rm 10:4 – O fim da lei é Cristo, para justiça de todo o que crê;

Rm 10:10 – Com o coração se crê para a justiça;

Passo 3. Agora que você já selecionou os textos onde aparecem a palavra

“justificação” e as relacionadas, procure as definições em um dicionário bíblico.

Procure se ater aos comentários sobre as palavras no Novo Testamento e, se

for possível, no próprio limite de seu estudo.

Neste exemplo, vamos procurar a definição para a palavra “justificação”

no Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, da Ed. Vida

Nova. Poderemos anotar trechos, ideias ou fazer pequenos resumos que

facilitem nossa compreensão.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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A justificação em Romanos – Definição

É Paulo quem faz o emprego mais frequente de dikaios, dando-lhe sua gama

mais larga de sentidos. De todos os escritores do NT, é ele quem estabelece

a conexão mais estreita com o AT, ao falar da justiça de Deus, e da

justificação dos pecadores, da parte de Deus. A justiça de Deus é

essencialmente Seu modo de tratar Seu povo, baseado na Sua aliança, que

assim se constitui em uma nova humanidade, um novo Israel, composto de

judeus e gentios juntamente. Esta justiça divina se revela pelo fato de que os

propósitos de Deus não são frustrados pelo pecado do homem, pelo

contrário, Ele continua sendo onipotente, tanto co-mo Senhor quanto como

Salvador, a despeito da rebeldia do homem.

A transgressão e a incredulidade trouxeram ao mundo a descrença, com o

resultado que todos os homens caíram sob a condenação divina. Agora,

porém, o ato justo (dikaioma) de um só homem (Cristo), Sua confiança total

naquele que justifica os ímpios, desafia a maldição do pecado ao trazer para

o mundo a possibilidade de uma confiança em Deus. O resultado, na vinda

de Cristo, será a absolvição, o “declarar justo”, de todos aqueles que são

membros da nova humanidade (Rm 5:16-19).

Ninguém pode ser justificado pela obediência à lei, pois se isto fosse possível

não seria necessária a morte de Cristo. O homem só pode ser justificado

mediante a fé em Cristo (Rm 3:26), isto é, mediante o confiar total e

exclusivamente na graça de deus, a qual, por sua definição, tem que ser um

dom gratuito (Rm 3:24). Esta justificação pela fé é tanto para judeus como

para gentios. Agora, já que o crente morreu com Cristo no que diz respeito ao

pecado, e agora é justificado (Rm 6:7), vive somente para deus (Rm 6:11). O

cristão deve pertencer somente a Deus.

A justificação do indivíduo, portanto, tem sua origem naquela de todos os

homens (Rm 5:19), de tal modo que não somos nós que possuímos a justiça

– pelo contrário, é a justiça que nos possui; nós somos servos dela (Rm

6:18). Nossa justificação não somente nos advém da parte do futuro: também

se estende para o futuro.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Passo 4. Se ao relacionar os versículos restar alguma dúvida sobre algum

significado, você pode procurar em algum comentário bíblico o versículo

específico para esclarecer. Um exemplo que podemos usar neste estudo é Rm

2:13. Neste texto, Paulo diz que “... os simples ouvidores da lei não são justos

diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados”. Paulo

parece afirmar que o que somente aquele que pratica a lei será justificado, mas

isto estaria em contradição com a doutrina de que a salvação não vem pela

obediência à lei. Qual seria a resposta? A resposta busquei no Novo

Testamento Interpretado Versículo por Versículo, de R. N. Champlim da Ed.

Candeia.

A justificação em Romanos – Rm 2:13

A resposta para este texto é de que Paulo fala do resultado da pessoa

justificada. Quem foi justificado procura obedecer a Lei de Deus, como é dito

nos vv. 7 e 10. Ele diz que a obediência à Lei “só pode ser conseguida

mediante a redenção que há em Cristo”. “É verdade que os verdadeiros

discípulos de Cristo, sendo transformados em Sua imagem moral e

metafísica, eventualmente poderão cumprir as justas exigências da lei... a

justificação deles não se deverá ao fato de que cumpriram tão perfeitamente

a lei mosaica, e, sim, porque Cristo foi perfeitamente formado neles, e um

subproduto disso será o cumprimento da lei”.

Passo 5. Cuidado com palavras iguais e significados diferentes. Algumas

palavras são iguais, mas que seu significado é diferente. Um exemplo é a

palavra “salvação”, que pode significar salvação da condenação eterna ou a

salvação de um castigo iminente ou salvação física. A palavra “dormir” também

pode significar “estar dormindo” ou “estar morto”. Dizer “Jesus veio em carne”

não quer dizer que Ele veio em pecado, mas que se fez em natureza humana.

Então, muito cuidado com a utilização da palavra no texto que você está lendo.

Se você se deparou com alguma palavra que não cabe dentro do seu propósito

de estudo, pode retirá-la. Se você pretende falar da salvação eterna, não

convém utilizar textos que falam da salvação de uma guerra, de uma doença

ou coisa parecida. Incluir estes textos em seu estudo pode provocar muitas

distorções, conclusões erradas, erros teológicos e até heresias.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Passo 6. Atenção nas palavras doutrinárias. Outro cuidado que devemos ter é

com a doutrina na qual a palavra pode estar inserida. Este é o caso da palavra

“justificação”, que é parte essencial da doutrina da salvação. Consultar um bom

manual de doutrina é essencial para compreender e evitar erros de

interpretação.

Algumas outras palavras não fazem referência à doutrina alguma ou não

são essenciais dentro de algum ponto teológico. Estudar sobre animais,

plantas, instrumentos musicais, objetos, entre outros, não nos trazem o

trabalho da pesquisa mais aprofundada em comentários bíblicos.

Passo 7. Escreva um texto final com suas conclusões. Procure acrescentar

neste texto algo prático ou de que forma Deus tem falado com você através

deste estudo. Apesar de ser apenas um resumo, exponha suas ideias de forma

clara e coerente, de forma que tanto você como outra pessoa possam se

utilizar dele.

A justificação em Romanos – Resumo

O apóstolo Paulo escreveu muito sobre a justificação em Romanos.

Ninguém pode ser justificado pela prática da lei, seja ele judeu ou gentio. O

próprio Abraão foi justificado pela fé, antes de ser circuncidado, tornando-se o

pai da fé, de judeus e gentios. É pela graça de Deus, através da fé em Jesus

Cristo, que o homem alcança a justificação. Esta justificação é que garante

ao homem que ele é aceito por Deus, e será salva da Sua ira.

Pelo que estudei, apesar de não ser justificado pela lei, preciso obedecer a

Deus e à Sua Palavra como resultado da minha salvação. Paulo diz que sou

um servo da justiça, e não posso permitir que eu seja usado para a

desobediência. Realmente, preciso ter uma vida grata a Deus, pois a

justificação – perdão e salvação – só se tornaram possíveis mediante o

sacrifício espontâneo de Cristo.

Exercício:

Seguindo os passos que você aprendeu no método de estudo de palavras,

esco-lha uma para exercitar seu aprendizado. Como este estudo é um pouco

mais complexo que os demais, procure escolher uma palavra que não envolva

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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teologia ou doutrina e que possa ser bem delimitada. Que tal estudar alguma

palavra no livro de Provérbios?

9.4 Método de Estudo Expositivo

9.4.1Método de estudo expositivo ou analítico.

O método de estudo expositivo ou analítico é um dos mais difíceis e

completos que pode ser feito pelo estudante iniciante. Quando vocês estudar

grego e hebraico, descobrirá que existe um outro método que é tido como o

mais profundo. É a chamada exegese, que necessita de maior domínio das

estruturas linguísticas do Novo e do Velho Testamento.

Este método de estudo expositivo é utilizado na pesquisa de livros ou

versículos. Quando é feito a partir de um versículo ele é denominado de

“sintético”, e quando o fazemos a partir de um livro, o chamamos de “analítico”.

Nesta apostila estudaremos apenas o método analítico, por tornar o

estudante mais hábil na compreensão dos versículos de forma isolada, posto

que é feito a partir da totalidade.

Passo 1. A primeira coisa a ser feita é escolher qual livro você irá estudar.

Visto que este é um método que preza pela inteireza do texto, não poderá ser

delimitado o estudo. Após fazer esta escolha, busque responder as questões

abaixo. Como exemplo, estudaremos o livro de Filemom.

a) Qual o estilo do livro? (epístola, profético, poético, histórico, etc...) Os

livros possuem características diferentes, e isto você aprenderá em

hermenêutica.

b) Quem escreveu o livro? Quem foi o autor do livro em questão.

c) Quando escreveu?

d) Onde e como estava quando escreveu?

e) Para quem escreveu? Como eram os destinatários?

f) Por que escreveu? O que o motivou a escrever? Quais são os

problemas ou dificuldades apontados?

g) Há nele alguma informação importante? Algo que é dito sobre o livro que

deva ser citado?

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Em uma folha separada, responda estas questões. Caso surjam mais

dúvidas, proceda a uma pesquisa mais profunda sobre estas questões.

A Epístola de Paulo a Filemom - Informações

a. Qual o estilo do livro? O livro é uma carta (epístola).

b. Quem escreveu? Foi o apóstolo Paulo.

c. Quando escreveu? Cerca de 62 d.C.

d. Onde e como estava quando escreveu? Paulo estava aprisionado em

Roma (1ª prisão).

e. Para quem escreveu? Escreveu para Filemom, cristão de Colossos dos

convertidos de Paulo. Era uma pessoa abastada. Em sua casa reunia-se uma

igreja. Parece que ele e Paulo eram amigos íntimos. Paulo nunca visitou

Colossos (Cl 2:1), e deve ter conhecido Filemom em outra parte,

provavelmente em Éfeso. A mulher de Filemom chamava-se Afia e seu fi-lho,

Arquipo.

f. Por que escreveu? Filemom possuía um escravo chamado Onésimo que

teria roubado ao seu senhor e fugido para Roma. Lá encontrou Paulo e se

converteu. Paulo queria tê-lo em Roma como seu ajudante, mas não sem o

consentimento de Filemom e sentiu a necessidade de enviá-lo de volta ao

seu senhor. Um escravo fugitivo poderia ser punido como o seu se-nhor

quisesse e quem o retivesse deveria pagar pelo tempo que ele deixou de

trabalhar. O objetivo da carta era pedir a Filemom que perdoasse o escravo

fugitivo e o recebesse como irmão em Cristo, oferecendo-se Paulo para

restituir o dinheiro furtado. A carta tem uma tonalidade muito cortês,

culminando com um comovente apelo a Filemom para que recebesse a

Onésimo como se fosse o próprio apóstolo Paulo.

g. Há alguma outra informação importante? Onésimo foi mandado a Colossos

com Tíquico. A Bíblia não dá nenhuma ideia de como esse senhor recebeu o

escravo de volta. Há, porém, uma tradição que diz ter sido recebido por

Filemom que, compreendendo qual era a intenção de Paulo, deu-lhe a

liberdade. É assim que o Evangelho faz. Cristo, no coração do escravo, fê-lo

reconhecer as praxes sociais de sua época e voltar a seu senhor, resolvido a

ser um bom escravo como irmão na fé e dar-lhe a liberdade. Há uma tradição

de que Onésimo veio a ser bispo da igreja em Beréia.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Livros pesquisados:

O Novo Comentário da Bíblia. Ed. Vida Nova, 3 ed. pg. 1339 – 1340.

Bíblia Thompson. Ed. Vida, pg. 1428.

Dicionário Bíblico Universal Buckland. Ed. Vida, 1992, pg. 162.

O Novo Dicionário da Bíblia. Ed. Vida Nova, 2 ed. pg. 620 – 621.

Manual Bíblico Harley. Ed. Vida Nova, 4 ed. pg. 569.

Passo 2. Faça um esboço do livro. Muitas Bíblias trazem um pronto. Os

comentários e alguns dicionários e manuais o trazem também. Você pode

encontrar muitos esboços diferentes. Procure colocar aquele que for mais

utilizado ou que for mais claro. O esboço fará você compreender melhor o

pensamento do autor e o que ele queria dizer. O esboço também beneficia na

subdivisão dos parágrafos e no estabelecimento do contexto.

Para o livro de Filemom, entre muitos esboços pesquisados, utilizamos o

do Novo Comentário da Bíblia.

A Epístola de Paulo a Filemom - Esboço

O Novo Comentário da Bíblia, pg. 1340.

I. Saudação (v 1 a 3);

II. Ação de graças e oração por Filemom (v 4 a 7);

III. Justificativa por Onésimo (v. 8 a 21);

IV. Saudações finais e bênçãos (v 22 a 25).

Passo 3. Esboço comentado. Faça observações sobre cada versículo, dentro

de cada parte do esboço. Anote até os pequenos detalhes, como formas de

tratamento, nomes, sentimentos, etc. Preste muita atenção no que chamamos

de “conectivos” (portanto, todavia, por isso, logo, então, a fim de que, visto que,

etc.), pois fazem uma profunda relação com o contexto. Veja o exemplo dos vs.

8 e 9.

A Epístola de Paulo a Filemom – Esboço comentado

I. Saudação (v 1 a 3);

v. 1 – Paulo, que está aprisionado por causa de Jesus, juntamente com

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Timóteo, escrevem para o cooperador Filemom;

v. 2 – Dirigem a epístola a Afia (esposa) e Arquipo (filho), a quem chamam de

“camarada”. Na casa deles se reúne uma igreja;

v. 3 – Os Saúdam com a graça e a paz;

II. Ação de graças e oração por Filemom (v 4 a 7);

v. 4 – Paulo sempre lembra de filemom em suas orações e agradece a Deus

por ele;

v. 5 – Filemom se faz notável pelo amor a Deus e pelos seus irmãos e pela

grande fé;

v. 6 – Paulo ora para que Filemom possa comunicar o evangelho

eficazmente;

v. 7 – Paulo sente alegria e consolo por saber que Filemom socorre aos que

precisam;

III. Justificativa de Onésimo (v. 8 a 21);

v. 8 – Por causa deste amor que Filemom tem pelas pessoas (por isso) ele

escreve a epístola. Paulo diz que ele poderia mandar, ordenar a fazer o que

deve ser feito;

v. 9 – Entretanto (todavia) ele não age assim. Pede o que pede por amor.

Está velho e preso;

v. 10 – Seu pedido é por Onésimo, que foi convertido quando Paulo estava

preso;

v. 11 – Paulo cita que Onésimo, apesar de escravo, era inútil (pode querer

dizer que era um escravo preguiçoso e relapso). Hoje era útil para Paulo e

para Filemom. Paulo enviou Onésimo de volta (quem levou esta epístola foi o

próprio Onésimo);

v. 12 – Onésimo leva consigo o amor de Paulo (coração);

v. 13 – Paulo queria que Onésimo ficasse com ele para que este o servisse

no lugar de Filemom;

v. 14 – Paulo quer que Onésimo fique, mas só se Filemom concordar;

v. 15 – Paulo demonstra a soberania de Deus, que permitiu que Onésimo

deixasse seu senhor para que ambos pertencessem um ao outro por toda a

eternidade;

v. 16 – Não mais como escravo, mas como um querido irmãos em Cristo;

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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v. 17 – Paulo pede, por consideração a ele, que receba Onésimo como se

estivesse recebendo a ele mesmo;

v. 18 – Paulo assume as dívidas de Onésimo. Esse “ponha na conta” pode

lembrar a Filemom aquilo que o próprio Paulo já fez por ele;

v. 19 – Paulo escreve do próprio punho que pagará o que Onésimo deve. No

entanto ele lembra a Filemom que este lhe deve a própria vida;

v. 20 – Filemom deve receber a Onésimo por amor a Cristo e para alegrar o

coração de Paulo;

v. 21 – Paulo diz que tem certeza de que ele obedecerá e que ainda fará

mais. Que “mais” será esse?

IV. Saudações finais e bênçãos (v. 22 a 25);

v. 22 – Paulo pede que preparem, pela fé, a sua ida até eles;

v. 23 – Epafras, preso com Paulo, saúda a Filemom;

v. 24 – Saúdam também Marcos, Aristarco, Demas e Lucas;

v. 25 – Paulo encerra desejando que a graça de Cristo esteja com eles.

Passo 4. Anote dúvidas ou observações que precisam ser aprofundadas. Ao

fazer o esboço comentado, podem surgir questões que precisam ser

esclarecidas. Talvez sejam nomes citados, expressões, promessas, questões

de cultura, lugares, eventos históricos ou coisas do tipo. Ao procurar esclarecer

estes fatos, o estudo é bastante enriquecido.

Lembre-se que o estudo bíblico é como garimpar ou cavar um poço:

sempre ir mais fundo. É, com toda a certeza, uma investigação.

A Epístola de Paulo a Filemom – Dúvidas

Os nomes “Afia” e “Arquipo” são citados em outros lugares?

Paulo deveria ter quantos anos quando escreveu esta carta?

O que se deveria fazer com um escravo fugitivo?

Por que Paulo faz questão de declarar que escreve a epístola de próprio

punho?

Paulo visitou Filemom como diz o v. 22?

Os nomes citados nos vs. 23 e 24 aparecem em outras ocasiões?

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Se este exercício de sondagem for realizado, poderá descobrir que era

um hábito comum de Paulo citar as suas epístolas para que um amanuense as

escrevesse. Saberia, também, que um senhor poderia até matar o seu escravo

se estivesse descontente com ele (esta lei era diferente em Israel, pois um

judeu não poderia maltratar um escravo). Dos nomes citados nos versículos 23

e 24, descobrirá que Demas, a certa altura do ministério, abandona a Paulo.

Passo 5. Tire conclusões práticas do seu estudo e faça aplicações pessoais.

A Epístola de Paulo a Filemom – Conclusão

A mudança que Cristo trouxe para o coração de Onésimo, que se arrependeu

após ter roubado seu dono e fugido. Decidiu fazer o que era certo e voltar

para ele, assumindo todos os riscos. Devo fazer o que é certo, mesmo

sofrendo consequências. Preciso assumir meus erros e concertá-los.

A mudança que Cristo trouxe para o coração de Filemom, que recebeu a

Onésimo não mais como escravo, mas como um irmão em Cristo, dando-lhe

a liberdade. Preciso amar a todas as pessoas com o sincero amor de Cristo.

A mudança que Cristo trouxe para a sociedade, pois numa época tão

escravista, o amor de Cristo se sobressaiu a ponto de unir duas pessoas tão

diferentes como Filemom e Onésimo. Não devo temer ao mundo, pois o amor

de Cristo é muito amor.

Exercício:

Faça o mesmo com um livro da Bíblia. Aconselhamos a iniciar com um livro

que tenha um capítulo só ou, no máximo, dois capítulos.

9.5 Método de Estudo das Dificuldades Bíblicas

O apóstolo Pedro já dizia: “Por essa razão, pois, amados, esperando

estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e

irrepreensíveis, e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como

igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria

que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer

em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender,

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais

Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pedro 3:14-16).

Perceba que o apóstolo Pedro reconhece que algumas coisas que Paulo

escreve são difíceis de entender, principalmente para os “ignorantes”, isto é, os

que não tem conhecimento, e para os instáveis, que são as pessoas sem moral

cristã, sem espiritualidade. O próprio Pedro reconhece essas dificuldades e, da

mesma forma, precisamos tomar muito cuidado ao interpretar certos trechos

das Escrituras.

Este método de estudo das dificuldades bíblicas tem o propósito de lhe

chamar a atenção para alguns pontos que precisamos ter em mente quando

nos deparamos com algum texto mais complicado ou com alguma aparente

“contradição” da Bíblia.

A primeira coisa a se fazer é lembrar que, para nós crentes, a Bíblia é a

Palavra de Deus, ausente de erros e contradições, infalível e perfeita. A nossa

única regra de fé e prática. Mas talvez você questione agora: De onde surgem

estas dificuldades? Para isto nós temos algumas respostas.

a) O abismo temporal: querendo ou não, existe um tempo decorrido entre a

época em que os livros foram escritos e nossos dias de hoje. Isto implica

em conhecer a história pela qual perpassa as narrativas bíblicas.

Compreender a história de reis, profetas, povos, pessoas e da própria

nação de Israel é essencial para compreendermos melhor as Escrituras;

b) O abismo cultural: A nossa cultura é completamente diferente da cultura

dos povos citados na Bíblia. Não vemos em nossa cidade o sacrifício de

crianças a Moloque, não temos templos com prostitutas cultuais, não

presenciamos apedrejamentos ou crucificações, nossa cidade não tem

como lei a Bíblia e outras questões relativas à cultura. Então, algumas

coisas nós não compreendemos por causa da distância cultural. Um

exemplo é o do casamento que é tanto citado no Novo Testamento. Se

não soubermos como acontecia um casamento judaico, não

compreenderemos totalmente o que o Senhor Jesus queria dizer;

c) O abismo linguístico: A Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego.

Para termos uma ideia de como isso é significativo, devemos pensar em

como é diferente o português falado no Brasil do que é falado em

Portugal. Existem expressões características da língua hebraica, e por

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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trás dela existe uma forma de comunicar que é particular a eles. A falta

de compreensão pode vir por causa da nossa falta de conhecimento

destas línguas;

Diante dessas dificuldades, aconselhamos ao estudante um

aprofundamento cada vez maior na cultura, língua e história bíblica. De

qualquer forma, é importante lembrar que se há alguma contradição na Bíblia é

porque você não entendeu direito. Algumas outras coisas nós simplesmente

não temos como saber, pois não temos dados suficientes para interpretar

certas passagens. O que damos aqui são alguns conselhos na tentativa de

ajudá-lo a tirar suas dúvidas por meio do estudo da Bíblia.

Passo 1. Estabeleça qual dificuldade você irá estudar. Ao se deparar com um

problema, uma incompreensão ou aparente contradição, anote os versículos e

quais são suas dúvidas. Como exemplo, estudaremos dois textos que entram

em aparente contradição em Atos.

Estudo de At 9:7 e At 22:9

Em At 9:7 diz que os companheiros de Paulo ouviram a voz e não viram a

ninguém.

Em At 22:9 diz que os companheiros de Paulo viram a luz, mas não ouviram

a voz.

Há aqui uma aparente contradição, pois em At 9:7 há a confirmação de que

os homens que escoltam Paulo para Damasco ouvem a foz e não vêem

ninguém. Já em At 22:9 vemos que estes mesmos homens vêem a luz e não

ouvem nenhuma voz. Existe uma contradição neste texto? Afinal, os homens

ouviram ou não a voz? Viram ou não a luz?

Passo 2. Defina as questões de autoria. Você precisa fazer uma pergunta:

Quem escreveu os textos em questão? Estão em livros diferentes ou no

mesmo livro? Esta questão é especial, principalmente no Novo Testamento e

nos Evangelhos, pois são fatos narrados por observadores diferentes. Em

muitas curas de Jesus vemos um número diferente entre os Evangelhos: uns

citam a cura de um cego, outros dois. Erro? Não! A intenção de um autor era

mostrar a atitude do cego que intercedeu pela cura dos dois.

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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No caso do nosso exemplo, a dificuldade permanece, pois os dois textos

se encontram no mesmo livro e foram escritos pelo mesmo autor: Lucas.

Passo 3. Verifique as indicações dadas pelo próprio texto. Procure indícios e

direcionamentos que podem estar contidos no texto, principalmente no

contexto (versículos anteriores e posteriores). Talvez algo tenha passado

desapercebido. Leia várias vezes até perceber cada detalhe. Anote as

respostas que podem surgir neste momento. Veja o que podemos descobrir a

mais nestes dois textos de Atos.

Estudo de At 9:7 e At 22:9

O texto de At 9:7 é uma narração de Lucas sobre algo que aconteceu com

Paulo. Aqui é o fato narrado por Lucas sobre a conversão de Paulo. Em At

22:9 é o fato narrado pelo próprio Paulo. É o seu testemunho pessoal. Paulo

está falando da revelação que recebeu de Jesus.

Talvez, o que Lucas quis mostrar é que algo aconteceu com Paulo que

aqueles homens viram e ouviram, mas não conseguiram identificar. Paulo,

falando deste acontecimento em At 22:9 e referindo-se ao que lhe tinha sido

dito pelo Senhor Jesus, diz que somente ele pode ver ao Senhor e ouvir o

que Ele falava.

Passo 4. Procure apoio para sua resposta provisória. Existem alguns

comentários voltados para resolver estas questões de aparentes contradições

na Bíblia e outros comentários que podem ser úteis para lhe trazer um

esclarecimento final.

Olhar o comentário deve sempre ser precedido por uma meditação e

busca própria por esclarecimento. O último passo é a utilização do comentário,

e isto se for necessário, pois, talvez, nem seja necessário. Além do mais, não é

pecado estudar comentário bíblico, pois Deus capacitou alguns homens com

sabedoria e inteligência para estudarem e escreverem livros que nos servissem

de ajuda a apoio, para que não desviássemos e verdade revela na Palavra.

Passo 5. Escreveu a conclusão de sua pesquisa. Caso não tenha conseguido

encontrar a solução e a dúvida permanece, não se preocupe, pois não é pelo

fato de não conseguir explicar um texto que a Bíblia deixa de ser a Palavra de

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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

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Deus e, enfim, o próprio apóstolo Pedro dizia que existem coisas difíceis de

entender.

Estudo de At 9:7 e At 22:9

O que conclui com minha pesquisa é que quando Lucas (At 9:7) nos conta

que os homens que acompanhavam Paulo ouviram uma voz e não viram a

ninguém, estava dizendo que eles ouviram algo, mas não compreenderam o

que era; apesar de virem algo, não viram ninguém falando.

Esta narrativa não entra em confronto com a de Paulo que, contando seu

testemunho (At 22:9), diz que os homens que o acompanhava viram uma luz,

mas quando ouviram um som não puderam identifica se era alguém que

falava ou o que falava. Então, eles puderam ver uma luz, mas não viram ao

Senhor como Paulo. Ouviram um som, mas não puderam perceber que eram

palavras humanas.

Por aqui terminamos o nosso curso de Métodos de Estudo Bíblico.

Esperamos que este ajude aos irmãos na pesquisa e estudo da Palavra de

Deus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FILHO, Rev. João Coimbra. Introdução ao Estudo do Antigo Testamento. REMA, 2005.

SILVA, Rev. Hélio O. Panorama Bíblico – Antigo e Novo Testamento. Goiânia: Seminário Presbiteriano Brasil Central, 2003.

ZUHARS JR, David Alfred. ESTUDOS RESUMIDOS NOS LIVROS POÉTICOS. Disponível em <http://www.palavraprudente.com.br/estudos/david_z/livrospoeticos/cap01.html>. Acesso em 23 ago. 2013.

XAVIER. Pr. Handerson. Métodos de Estudo Bíblico. Disponível em < http://www.slideshare.net/pastorhanderson/metodos-de-estudo-bblico >. Acesso em 23 ago. 2013.