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CURSO SUZANA LUZ UNEMAT 2019 Literatura Prof. Dr. Paulo Sesar Pimentel IFMT Campus Cuiabá Bela Vista

CURSO SUZANA LUZ · de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremos e familiares, que pareciam

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CURSOSUZANALUZ

UNEMAT– 2019Literatura

Prof.Dr.PauloSesarPimentelIFMT–CampusCuiabáBelaVista

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RELAÇÃODASOBRAS:Memóriasdeumsargentodemilícias-ManuelA.deAlmeidaMemóriaspóstumasdeBrásCubas-MachadodeAssisArenacontaZumbi-GianfrancescoGuarnierieAugustoBoalEstóriasabensonhadas-MiaCoutoDona-LucieneCarvalho

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Memórias de um Sargento de Milícias (1852/1853/1854/1855/1863)

Manuel Antônio de Almeida

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Tema:

•  Retrata as classes baixa, média e alta, traçando um painel da sociedade carioca do séc. XIX.

•  Mostra o grupo dos portugueses que povoam o Rio de Janeiro da época, com seus costumes e peculiaridades.

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Época: romance tem início no começo do século XIX, em uma viagem de navio. Período: •  romance se passa na época de Dom João VI

Espaço: Apresenta-se a vida suburbana do Rio de Janeiro, os subúrbios cariocas constituem o espaço estilizado, em contraste com a vida da corte.

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Linguagem: A linguagem é popular, coloquial, mais de acordo com pessoas de nível cultural inferior, pertencente a camadas sociais simples. Uso da linguagem conotativa ou figurada. Metalinguagem: Aparecem diversas explicações sobre a obra na própria obra, o que demonstra o uso da metalinguagem pelo autor. São tentativas de explicar o porquê de se contar essa história.

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Foco narrativo O foco narrativo é em terceira pessoa, com um narrador onisciente que interfere no texto, faz observações e busca contato com o leitor (tentativa de diálogo). Contraste: Contraste entre posturas moralizantes e atitudes que vão contra os preceitos morais (Aristocracia vs. Populacho). A crítica social pode ser sentida no desenvolvimento da trama.

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Humor na obra Forte presença do humor na obra. O caricatural, o que faz rir, a ironia, misturam-se em um conjunto que retrata o ridículo de diversas situações retratadas. Tempo Não há o predomínio da linearidade na obra, pois acontecem digressões e a quebra do enredo para comentários.

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As tramas Várias tramas desenvolvem-se ao mesmo tempo, sendo Leonardo, o personagem central, responsável por atá-las tornando-se o elo entre elas, o que permite que seja denominada também de novela.

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Visão de mundo: Distancia-se, em parte, dos modelos românticos que prevaleciam na época de sua publicação: a visão de mundo que ele expressa não é marcada por traços idealizados e sentimentalistas.

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Estilo de texto: O autor se vale de um estilo, em vários momentos, objetivo e realista, semelhante ao das crônicas históricas e de costumes.

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Objetivo e realista O autor faz questão de deixar claro: a) a data ("Era no tempo do rei." - no caso, dom João 6º); b) o local ("Uma das quatro esquinas que formam as Ruas do Ouvidor e da Quitanda (...)”.

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Tipos populares: O Romance focaliza, caricaturalmente, os tipos populares. A sociedade brasileira é vista pela perspectiva dos pobres. Obs.: Isto é o oposto do que ocorre nas obras de Joaquim Manuel de Macedo ou nos romances urbanos de José de Alencar.

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•  Romance picaresco:

•  Memórias de um Sargento de Milícias filia-se à tradição do romance picaresco, que se origina na Espanha, com a publicação de Lazarillo de Tormes (1554).

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A origem da expressão picareta A expressão “pícaro” refere-se “àqueles que vivem de astúcias, trapaças”. Neste sentido, origina-se um dos sentidos da palavra “picareta”.

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Pícaro ou picareta O pícaro ou picareta vale-se de expedientes excusos a fim de garantir sua sobrevivência. Apresenta, também, uma visão cínica da realidade que o cerca.

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Protagonista: Leonardo/Leonardinho (anti-herói): Enjeitado pelos pais pouco depois do nascimento, criado pelo padrinho e, depois, pela madrinha. Possui um caráter folgado e malandro.

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A história: O romance narra as aventuras e desventuras na baixa sociedade fluminense. Em determinado momento, o protagonista é preso pelo Major Vidigal - personagem que realmente existiu (Miguel Nunes Vidigal, chefe da Guarda Real, criada pelo rei em 1809, para policiar o Rio de Janeiro).

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Vidigal: Símbolo da repressão arbitrária e socialmente injusta. Temido por quem, tendo ou não problemas com a lei, é pobres e não possui amizade com alguém da nobreza.

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Sargento da milícia: Por conta da intervenção da madrinha de Leonardo e de uma amiga sua (ex-amante do major Vidigal), Leonardo ingressa na milícia e é promovido ao cargo de sargento a que se refere o título.

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Valor da obra: Valor documental e sociológico; Valor literário (Romantismo e antecipações realistas), em uma narrativa divertida e bem humorada.

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Final da obra e Desdobramentos: Ao final da obra, o que impera é a ordem sobre a desordem, fechando-se o processo de carnavalização. Curiosidade: Leonardo foi um precursor de Macunaíma, o qual só surgiria no Modernismo.

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"Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia namorando cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos". (ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.10-11).

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MachadodeAssis(1839–1908)

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FASES:-ROMÂNTICA:•Ressureição•Amãoealuva•IaiáGarcia•Helena

-REALISTA•MemóriasPóstumasdeBrásCubas(1881)•QuincasBorba(1891)•DomCasmurro(1899)•EsaúeJacó(1904)•MemorialdeAires(1908)

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PRODUÇÃO:ROMANCESCONTOSCRÔNICASPOEMASPEÇASDETEATROCRÍTICALITERÁRIACRÍTICATEATRALCRÍTICACULTURAL

TRADUÇÃO

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PRODUÇÃOREALISTA:CARACTERÍSTICAS

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CRÍTICAAOCIENTIFICISMO:Daíapoucodemoscomumabrigadecães,fatoqueaosolhosdeumhomemvulgarnão teriavalor.QuincasBorba fez-meparareobservaros cães.Eramdous.Notouqueaopédelesestavaumosso,motivodaguerra,enãodeixoude chamar a minha atenção para a circunstância de que o osso não tinhacarne.Umsimplesossonu.Oscãesmordiam-se, rosnavam,como furornosolhos. . . Quincas Borba meteu a bengala debaixo do braço, e parecia emêxtase.--Quebeloque isto é! dizia ele dequandoemquando.Quis arrancá-lo dali,masnãopude;eleestavaarraigadoaochão,esócontinuouaandar,quandoabrigacessouinteiramente,eumdoscães,mordidoevencido,foi levarasuafomeaoutraparte.Noteiqueficarasinceramentealegre,postocontivesseaalegria,segundoconvinhaaumgrandefilósofo.Fez-meobservarabelezadoespetáculo,relembrouoobjetodaluta,concluiuqueoscãestinhamfomemasaprivaçãodoalimentoeranadaparaosefeitosgeraisdafilosofia.Nemdeixouderecordarqueemalgumaspartesdoglobooespetáculomaiségrandioso:as criaturas humanas é que disputam aos cães os ossos e outros manjaresmenos apetecíveis luta que se complica muito, porque entra em ação ainteligênciadohomem,comtodooacúmulodesagacidadequelhederamosséculos,etc.

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AFORISMOS:•Suporta-secompaciênciaacólicadopróximo.•Matamosotempo;otemponosenterra.•Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto dacarruagem seria diminuto, se todos andassem decarruagem.•Crêemti;masnemsempreduvidesdosoutros.•Nãosecompreendequeumbotocudofureobeiçoparaenfeitá-locomumpedaçodepau.Estareflexãoédeumjoalheiro.• Não te irrites se te pagaremmal um benefício: antescairdasnuvens,quedeumterceiroandar.

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NARRAÇÃOEM1ªPESSOA

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NARRATIVANÃ0-LINEAR

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HOMENSFRACOSMULHERESFORTESEMÁS

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ERUDITISMOEDOMÍNIODANORMACULTA

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ERUDITISMO,DOMÍNIODANORMACULTA

EAPARÊNCIAXESSÊNCIA

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Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. (Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas)

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IRONIA:“Aoverme,queprimeiroroeuas friascarnesdemeucadáver,dedicocomosaudosalembrançaessasmemóriaspóstumas!”

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“(...)Marcelaamou-medurantequinzemeseseonze contosderéis(...)”

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ANÁLISEPSICOLÓGICA

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DIÁLOGOCOMOLEITOR:“Vejaoleitoracomparaçãoquemelhorlhequadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-meonariz,sóporqueaindanãochegamosà parte narrativa destas memórias. Láiremos. Creio que prefere a anedota àreflexão, como os outros leitores, seusconfrades,eachoquefazmuitobem”.

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NEGATIVISMO/NIILISMO:CapítuloCLX-Dasnegativas

Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessosnarrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção doemplastoBrásCubas,quemorreucomigo,porcausadamoléstiaqueapanhei.Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima daciência e da riqueza, porque eras a genuína e directa inspiração do céu. Oacasodeterminouocontrário;eaívosficaiseternamentehipocondríacos.

Este último capítulo é tododenegativas.Não alcancei a celebridadedoemplasto,nãofuiministro,nãofuicalifa,nãoconheciocasamento.Verdadeéque,aoladodessasfaltas,coube-meaboafortunadenãocompraropãocomosuordomeurosto.Mais;nãopadeciamortedeDonaPlácida,nemasemi-demênciadoQuincasBorba.Somadasumascousaseoutras,qualquerpessoaimaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente que saíquite com a vida. E imaginarámal; porque ao chegar a este outro lado domistério,achei-mecomumpequenosaldo,queéaderradeiranegativadestecapítulodenegativas: --Nãotive filhos,nãotransmitianenhumacreaturaolegadodanossamiséria.

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INOVAÇÕESESTILÍSTICAS:

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CapítuloLV-OVelhoDiálogodeAdãoeEvaBrásCubas:.....?Virgília:......BrásCubas:................................Virgília:.....!BrásCubas:.......Virgília:................................

...............?................................................

BrásCubas:..................Virgília:.......BrásCubas:..................!Virgília.................?BrásCubas.......!Virgília.......!

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CapítuloCXXXIX-Decomonãofuiministrod'Estado........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................CapítuloCXL-QueexplicaoanteriorHÁ COUSAS que melhor se dizem calando; tal é amatériadocapítuloanterior.

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ArenacontaZumbiGianfrancescoGuarnierieAugustoBoal

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AgipTrop

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Sínteseentreoteatrodocumentárioeoteatrodepesquisahistórica

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GangaZumba(1962)-JoãoFelíciodosSantos

OQuilombodosPalmares(1946)-EdisonCarneiro

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BoaleGuarnieriaproveitaraminúmerosmateriaisdonoticiário(como

declaraçõesdosgenerais)eostransformaramemtextosdos

personagenshistóricos.

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OsistemaCoringapropostoporAugustoBoalpodeserexplicado,deformasimplificada,comoumapropostadeencenaçãonaqualdiferentesatorespodemassumirummesmopersonagem.Estamaneiradeveraatuaçãopropõeumdistanciamentodoatoremrelaçãoaopersonagem,jáqueaopoderassumirdiferentespersonagens,oatornãoseidentificariacomnenhumdelesemespecífico.

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Upa,neguinho(1965)EduLoboeGianfrancescoGuarnieri(...)Upa,neguinhonaestradaUpa,praláepracáVirge!Quecoisamaislinda!UpaneguinhoComeçandoaandarComeçandoaandarUpa,neguinhonaestradaUpa,praláepracáVirge!Quecoisamaislinda!UpaneguinhoComeçandoaandarComeçandoaandarComeçandoaandarEjácomeçaapanhar

Cresce,neguinhoEmeabraçaCresceemeensinaacantarEuVimdetantadesgraçaMasmuitotepossoensinarMasmuitotepossoensinarCapoeira!PossoensinarZiquizira!PossotirarValentia!PossoemprestarMasliberdadeSópossoesperar...(...)

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Zambimeupai,Zambimeurei,ÚltimaprecequerezouFoidabelezadeviver,Olorumdidê.Longe,numtãolongealémdomarMeureiguerreirodizadeusaquemvaificar.Dizprásuagentenãodesesperar,Zambimorreu,sefoi,masvaivoltaremcadanegrinhoquechorar.

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ESTÓRIASABENSONHADASMiaCouto

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Contexto:pós-guerraComposição:26ContosTemas:amor,traição,casamento,raiva,nascimento,saudade,educação,violência.AnodePublicação:1994

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Prefácio(...)Estasestóriasfalamdesseterritórioondenosvamosrefazendoevamosmolhandodeesperançaorostodachuva,águaabensonhada.Desseterritórioondetodohomeméigual,assim:fingindoqueestá,sonhandoquevai,inventandoquevolta.

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LiteraturaFantástica:GabrielGarcíaMarquez;GuimarãesRosa;ManoeldeBarros;MiaCoutorecria.*Recriaçãodarealidaderessaltandosituaçõescomtonsdemagia.*Nadaébanal.*Situaçõesfantásticasemlinguagemderuptura.

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*Livroformadoporfigurascomoosangueeaguerra,elementosdehistóriasderecomeçoeiluminações.*Asnarrativastratamaspersonagenscomoseelasestivessemaprendendoaveraluznovamente.*Processodecontínuareconstruçãodesuasrotinas.

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NasÁguasdoTempo,o/aleitor/leitoraéapresentadoàmagiadorelato.Destaca-seaimportânciadafiguradoavô,umsímbolodocontadordehistórias.Oavôconduzonetoparaqueelevejaalémdeumladodorio,visitadotodososdias,comosfantasmasdaguerraaindacirculandopelaregião.Elesdevemserrespeitados.Háapresençamaciçadamitologiadaregião,representadaporfigurasepalavrastípicasdaoralidadeetransformadasemestiloporMiaCouto.

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“Nomaisoumenos,elefalouassim:nóstemosolhosqueseabremparadentro,essesqueusamosparaverossonhos.Oqueacontece,meufilho,équequasetodosestãocegos,deixaramdeveressesoutrosquenosvisitam.Osoutros?sim,essesquenosacenamdaoutramargem.Eassimlhescausamosumatotaltristeza.Eulevo-lhelánospântanosparaquevocêaprendaaver.Nãopossoseroúltimoaservisitadopelospanos”.(p.13)

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Emoutroscontos,comoemOCegoEstrelinho,éaforçadapalavraquerecriaimagensnuncavistas.Comrefinadasensibilidade,aspersonagenstêmnomessugestivos,comoéocasodeEstrelinhoque,orientadopelasmãosdeGigito,éapresentadoaummundofantástico.QuandoGigitoéconvocadoàguerra–“matadoradeesperançasecores”–ocegopassaaserorientadopelairmã,aInfelizminaquenãovênadademaisnomundoalifora.

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“Oerrodapessoaépensarqueossilênciossãotodosiguais.Enquantonão:hádistintasqualidadesdesilêncio.Éassimoescuro,estenadaapagadoqueestesmeusolhostocam:cadauméum,desbotadoàsuamaneira.Entende,manoGigito?”(p.23)

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EmEstóriasAbensonhadas,aspersonagenspossuempares:estescontrabalançamafaltadeesperança.Duaspessoassãocapazesdeiniciarumaguerra(AGuerradosPalhaços):doispalhaçosbrincantes,numaacaloradadiscussão,começamumaguerraentreosespectadoresquetentaminterpretaracena.Textocurto,masrepletodealegoriassobreaestupidezdeumconflito.

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DONALucieneCarvalho

(2018)

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Partes:1ª:Espelho2ª:CaixadePandora3ª:Chave4ª:Semáforo5ª:Mandala

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NADANÃOMoça,seeutecontassecomoéquemepercebofaceaface,talvezabalassesuaestrutura.Seiquevocêandaocupadacommusculatura,comafaculdade,prafazerfigura.Masmoça,sevocêparasseemeouvisseumpouco,veriaqueomundo

éumtantoloucoquenemtudoandacomooprojetado.Bobagem!Esqueceoqueeudisse,sigaseucaminho,façamaquiagem,pós-graduação:marqueseunoivado,marqueumamassagem,esqueçaoqueeudissenãoénadanão.(p.30)

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MENOSEUMenoseuQuetemitodosomedosquepudeNãoalardeeiserumpoçodevirtudeMenoseuMenoseuQuenãomedeiporexemploNãobatonopeitodentrodeumtemploMenoseuMenoseuQuenãoformeiumabelíssimafamíliaQuenãopenseiserhoradetrocarmobíliaMenoseu

MenoseuQuenãofuicomprarroupaparaespantarotédioQuenãoconsumicomoformaderemédioMenoseuMenoseuQuenãoescondiportrásdaeducaçãoosdefeitosQuenãotenhonadaquesejaperfeitoMenoseuMenoseuQuetivequeentraremmimpramuitoalémdasalaQuetenhoumahistóriaqueespantaeabalaMenoseu(p.46)

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IRINEIANAJANELA(ParaLucindaPersona)

MoravapertodaquelaestaçãodetremIrineia–15anosealgunsdias.Umdiaacordouassim:“Meuamado,meuamado,épelotremqueelevem...”.Pôsvestido,deixousoltoocabelo,recostou-senajanela,olhouostrilhos,olhouparasuamãeeperguntoupraela:“Seráquehojeelevem?”.Ouviuoapitodotrem.Suamãe,recém-viúva,agasalhadanomedo,respondeu:“Aindaécedo...”.

Irineia,17,tododiaamesmaideiacomoapitodotrem:“Seráqueelevem?Seráqueelevem?”.Feztrançaedajanelaperguntouparaamãedelaviúvaemuitotriste:“Seráqueelevem?Seráqueeleexiste?”.Amãe,comonumsegredo,sussurou:“aindaécedo”.

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Irineia,20anos,tododianajanelaemromariasoltavaumpequenogritoquandoescutavaoapito:“Ah!Meuamado!”Eimaginava:Seráqueelevem?Seráqueébonito?Diziaparasuamãe:“Àsvezes,nemacredito...”.Suamãesentiapenaerespondia:“Voulhefazerumvestido!”

Irineia,32,jásetornaramulher,secolocavaàjaneladeformaumtantodiscretapensando:“Seráqueelenãomequer?”.Suamãe,apósoapito,dizia:“Euacredito.Sehojeelenãovier,entãoelevemdepois”.

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Irineia,40epoucos,corpojáquaseloucogritandoaoouvirobarulhodotrempassandonotrilho:“Seráquesónuncaelevirá?”Eperguntavapramãe:“Épraissoquenasci,praficarencalhada?”.Amãeficavacalada.

Irineiafez50.Suaalmajánãoaguentaotrem,aespera,ailusão.Olhapramãecomoprasuaprisão.Ajanelaficaaberta...aoeternodoapito;sóseupeitoaindaaperta.Suamãeentãolhediz:“Seiquevocênãoéfeliz.Mas,seelevierlhebuscar,quementãovaimecuidar?”.

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Irineiafez60.Suamãemorreu,foiumchoque.Ela,sentadanacama,fezumterço,fezumcoque;jánãoerasentinela,jánãopensavanotrem.Elafechouajanela,elasabe:ninguémvem.(p.62)