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http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e1/Brueghel-tower-of-babel.jpg Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio Rede São Paulo de Filosofia da Linguagem d06

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Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESPEnsino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Rede Satildeo Paulo de

Filosofia da Linguagem d06

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

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PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCACcedilAtildeO DE SAtildeO PAULO (SEESP) praccedila da repuacuteblica 53 - Centro - Cep 01045-903 - satildeo paulo - sp - brasil - pabx (11)3218-2000

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Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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BLOCO 1

Sumaacuterio

1 A unidade do sentido 7

11 O significado das palavras e a unidade do sentido 7

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem 9

2 O sentido proposicional 13

21 O conceito de proposiccedilatildeo 13

22 Loacutegica x gramaacutetica 15

24 A estrutura formal da proposiccedilatildeo 18

3 Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill 24

31 Supostos histoacutericos 24

32 O conceitualismo de Locke 26

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo 29

4 Frege e Wittgenstein35

41 Sentido e referecircncia 35

42 O que pode ser dito 40

43 Jogos de linguagem 43

Bibliografia 47

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Filosofia da linguagem

a) Sobre o autor

Luacutecio Lourenccedilo Prado possui graduaccedilatildeo (1994) mestrado (1998) e doutorado (2006) pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Eacute professor efetivo do Departamento de Filo-sofia da Unesp-Mariacutelia desde 2004 e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filosofia da mesma universidade desde 2006 Realiza pesquisas na aacuterea de Filosofia da Linguagem com ecircnfase nas origens da filosofia contemporacircnea

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b) Ementa da disciplina

A disciplina Filosofia da Linguagem visa apresentar alguns problemas filosoacuteficos decorren-tes de investigaccedilotildees acerca da natureza da linguagem Os principais problemas que norteiam o desenvolvimento programaacutetico eacute o da unidade de sentido e o da oposiccedilatildeo entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Filosofia da Linguagem

Tema 1Unidade do Sentido

11 O significado das palavras e a unidade de sentido

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Tema 2 O sentido

proposicional

21 O conceito de proposiccedilatildeo

22 Loacutegica x Gramaacutetica - Sintaxe e semacircntica

23 A estrutura formal da proposiccedilatildeo

Tema 3 Filosofia e linguagem

no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 Pressupostos histoacutericos

32 O conceitualismo e Locke

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo - Teoria da conotaccedilatildeo

Tema 4 Frege e Wittgenstein

41 Sentido e referecircncia

42 O que pode ser dito

43 Significado como uso

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TEMA 1

A unidade do sentido

11 ndash O significado das palavras e a unidade do sentido

Certamente soaraacute estranha a afirmaccedilatildeo a seguir mas a sua compreensatildeo seraacute fundamental para comeccedilarmos a entender os problemas que se colocaratildeo em nossa disciplina com relaccedilatildeo ao processo de significaccedilatildeo e de interaccedilatildeo linguiacutestica

Embora utilizemos as palavras no ato comunicativo (ou pelo menos no ato comunicativo discur-sivo) as palavras natildeo tecircm o poder de comunicar ou seja noacutes natildeo nos comunicamos pelas palavras e atraveacutes de seus significados

Natildeo estamos fazendo aqui alusatildeo a alguma espeacutecie de comunicaccedilatildeo natildeo-discursiva que poderiacuteamos talvez postular Natildeo estamos falando de alguma suposta lsquolinguagem corporalrsquo ou lsquolinguagem dos gestosrsquo ou a alguma possiacutevel lsquolinguagem intuitivarsquo cujos conteuacutedos pudessem

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talvez de forma imediata sem a mediaccedilatildeo simboacutelica ser comunicados de mente para mente Natildeo eacute isso Nossa afirmaccedilatildeo diz respeito tanto agrave linguagem que estamos todos acostumados a usar a linguagem do dia-a-dia a linguagem natural quanto agraves linguagens formais das ciecircncias Nossa afirmaccedilatildeo manteacutem portanto que os processos de interaccedilatildeo intersubjetiva que realizamos linguisticamente em nossa vida real natildeo tecircm as palavras ou seus significados como objetos uacuteltimos a serem comunicados Por uma razatildeo muito simples embora a palavra ao seu modo tenha propriamente um (ou mais de um no caso dos termos equiacutevocos) significado este sig-nificado isoladamente natildeo eacute suficiente (salvo rariacutessimas exceccedilotildees de ordem contextual) para constituir um conteuacutedo a ser comunicado Eacute preciso mais do que palavras isoladas e seus signifi-cados para que algo possa ter seu sentido constituiacutedo

Por exemplo conhecemos o significado da palavra ldquocarrordquo No entanto suponha que algueacutem chegue ateacute noacutes e diga ldquocarrordquo Se a situaccedilatildeo for considerada em si mesma isolada de quaisquer especificaccedilotildees de ordem contextual se natildeo supusermos por exemplo que algueacutem tenha feito uma pergunta antes ou que se trata de algum jogo se tomarmos a situaccedilatildeo como um lsquoiniacutecio de conversarsquo o que se pode entender sobre o que disse o interlocutor O que algueacutem pode querer comunicar quando enuncia simplesmente a palavra ldquocarrordquo mesmo supondo que todos seus interlocutores conheccedilam seu significado A resposta eacute elementar nada Palavras isoladamente natildeo comunicam nada

No entanto se a pessoa disser por exemplo ldquomeu carro estaacute quebradordquo a situaccedilatildeo torna-se diferente pois um conteuacutedo objetivo seraacute expresso Algo que possui uma unidade de sentido seraacute comunicado e por causa disso algo tambeacutem poderaacute ser compreendido Pode-se assim estabelecer a relaccedilatildeo mais elementar do processo comunicativo a comunicaccedilatildeo de conteuacutedos que natildeo satildeo propriamente os conteuacutedos semacircnticos isolados das palavras mas unidades de sentido que se constituem a partir das palavras

Parece claro a partir do exemplo fornecido que o problema do significado eacute algo muito mais complicado do que aquele que se estabelece quando perguntamos simplesmente pela relaccedilatildeo referencial que existe entre as palavras e as coisas Este embora natildeo seja isento de dificuldades eacute muito menos complexo e tem menos consequecircncias do que o problema que envolve a pergunta pela constituiccedilatildeo do sentido E eacute exatamente isso o que exprimimos de fato quando nos comu-nicamos em qualquer que seja a circunstacircncia sentidos uma unidade complexa de significado As

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                            27. Paacutegina 38
                                            28. Paacutegina 39
                                            29. Paacutegina 40
                                            30. Paacutegina 41
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                                              1. Bot_Tema3
                                                1. Paacutegina 1
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                                                5. Paacutegina 5
                                                6. Paacutegina 6
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                                                8. Paacutegina 8
                                                9. Paacutegina 9
                                                10. Paacutegina 10
                                                11. Paacutegina 11
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                                                14. Paacutegina 14
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                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
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                                                        37. Paacutegina 38
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                                                            2. Paacutegina 3
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                                                                2. Paacutegina 5
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                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
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                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
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                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
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                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
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                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
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                                                                            7. Paacutegina 38
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                                                                                1. Paacutegina 44
Page 2: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

2012

copy 2012 by Unesp - Universidade estadUal paUlista

PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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TEMASU

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oacutedulo III bull Disciplina 06

BLOCO 1

Sumaacuterio

1 A unidade do sentido 7

11 O significado das palavras e a unidade do sentido 7

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem 9

2 O sentido proposicional 13

21 O conceito de proposiccedilatildeo 13

22 Loacutegica x gramaacutetica 15

24 A estrutura formal da proposiccedilatildeo 18

3 Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill 24

31 Supostos histoacutericos 24

32 O conceitualismo de Locke 26

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo 29

4 Frege e Wittgenstein35

41 Sentido e referecircncia 35

42 O que pode ser dito 40

43 Jogos de linguagem 43

Bibliografia 47

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BLOCO 2

Filosofia da linguagem

a) Sobre o autor

Luacutecio Lourenccedilo Prado possui graduaccedilatildeo (1994) mestrado (1998) e doutorado (2006) pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Eacute professor efetivo do Departamento de Filo-sofia da Unesp-Mariacutelia desde 2004 e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filosofia da mesma universidade desde 2006 Realiza pesquisas na aacuterea de Filosofia da Linguagem com ecircnfase nas origens da filosofia contemporacircnea

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b) Ementa da disciplina

A disciplina Filosofia da Linguagem visa apresentar alguns problemas filosoacuteficos decorren-tes de investigaccedilotildees acerca da natureza da linguagem Os principais problemas que norteiam o desenvolvimento programaacutetico eacute o da unidade de sentido e o da oposiccedilatildeo entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Filosofia da Linguagem

Tema 1Unidade do Sentido

11 O significado das palavras e a unidade de sentido

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Tema 2 O sentido

proposicional

21 O conceito de proposiccedilatildeo

22 Loacutegica x Gramaacutetica - Sintaxe e semacircntica

23 A estrutura formal da proposiccedilatildeo

Tema 3 Filosofia e linguagem

no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 Pressupostos histoacutericos

32 O conceitualismo e Locke

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo - Teoria da conotaccedilatildeo

Tema 4 Frege e Wittgenstein

41 Sentido e referecircncia

42 O que pode ser dito

43 Significado como uso

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TEMA 1

A unidade do sentido

11 ndash O significado das palavras e a unidade do sentido

Certamente soaraacute estranha a afirmaccedilatildeo a seguir mas a sua compreensatildeo seraacute fundamental para comeccedilarmos a entender os problemas que se colocaratildeo em nossa disciplina com relaccedilatildeo ao processo de significaccedilatildeo e de interaccedilatildeo linguiacutestica

Embora utilizemos as palavras no ato comunicativo (ou pelo menos no ato comunicativo discur-sivo) as palavras natildeo tecircm o poder de comunicar ou seja noacutes natildeo nos comunicamos pelas palavras e atraveacutes de seus significados

Natildeo estamos fazendo aqui alusatildeo a alguma espeacutecie de comunicaccedilatildeo natildeo-discursiva que poderiacuteamos talvez postular Natildeo estamos falando de alguma suposta lsquolinguagem corporalrsquo ou lsquolinguagem dos gestosrsquo ou a alguma possiacutevel lsquolinguagem intuitivarsquo cujos conteuacutedos pudessem

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talvez de forma imediata sem a mediaccedilatildeo simboacutelica ser comunicados de mente para mente Natildeo eacute isso Nossa afirmaccedilatildeo diz respeito tanto agrave linguagem que estamos todos acostumados a usar a linguagem do dia-a-dia a linguagem natural quanto agraves linguagens formais das ciecircncias Nossa afirmaccedilatildeo manteacutem portanto que os processos de interaccedilatildeo intersubjetiva que realizamos linguisticamente em nossa vida real natildeo tecircm as palavras ou seus significados como objetos uacuteltimos a serem comunicados Por uma razatildeo muito simples embora a palavra ao seu modo tenha propriamente um (ou mais de um no caso dos termos equiacutevocos) significado este sig-nificado isoladamente natildeo eacute suficiente (salvo rariacutessimas exceccedilotildees de ordem contextual) para constituir um conteuacutedo a ser comunicado Eacute preciso mais do que palavras isoladas e seus signifi-cados para que algo possa ter seu sentido constituiacutedo

Por exemplo conhecemos o significado da palavra ldquocarrordquo No entanto suponha que algueacutem chegue ateacute noacutes e diga ldquocarrordquo Se a situaccedilatildeo for considerada em si mesma isolada de quaisquer especificaccedilotildees de ordem contextual se natildeo supusermos por exemplo que algueacutem tenha feito uma pergunta antes ou que se trata de algum jogo se tomarmos a situaccedilatildeo como um lsquoiniacutecio de conversarsquo o que se pode entender sobre o que disse o interlocutor O que algueacutem pode querer comunicar quando enuncia simplesmente a palavra ldquocarrordquo mesmo supondo que todos seus interlocutores conheccedilam seu significado A resposta eacute elementar nada Palavras isoladamente natildeo comunicam nada

No entanto se a pessoa disser por exemplo ldquomeu carro estaacute quebradordquo a situaccedilatildeo torna-se diferente pois um conteuacutedo objetivo seraacute expresso Algo que possui uma unidade de sentido seraacute comunicado e por causa disso algo tambeacutem poderaacute ser compreendido Pode-se assim estabelecer a relaccedilatildeo mais elementar do processo comunicativo a comunicaccedilatildeo de conteuacutedos que natildeo satildeo propriamente os conteuacutedos semacircnticos isolados das palavras mas unidades de sentido que se constituem a partir das palavras

Parece claro a partir do exemplo fornecido que o problema do significado eacute algo muito mais complicado do que aquele que se estabelece quando perguntamos simplesmente pela relaccedilatildeo referencial que existe entre as palavras e as coisas Este embora natildeo seja isento de dificuldades eacute muito menos complexo e tem menos consequecircncias do que o problema que envolve a pergunta pela constituiccedilatildeo do sentido E eacute exatamente isso o que exprimimos de fato quando nos comu-nicamos em qualquer que seja a circunstacircncia sentidos uma unidade complexa de significado As

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                                                        1. Paacutegina 21
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Page 3: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

copy 2012 by Unesp - Universidade estadUal paUlista

PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCACcedilAtildeO DE SAtildeO PAULO (SEESP) praccedila da repuacuteblica 53 - Centro - Cep 01045-903 - satildeo paulo - sp - brasil - pabx (11)3218-2000

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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TEMASU

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BLOCO 1

Sumaacuterio

1 A unidade do sentido 7

11 O significado das palavras e a unidade do sentido 7

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem 9

2 O sentido proposicional 13

21 O conceito de proposiccedilatildeo 13

22 Loacutegica x gramaacutetica 15

24 A estrutura formal da proposiccedilatildeo 18

3 Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill 24

31 Supostos histoacutericos 24

32 O conceitualismo de Locke 26

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo 29

4 Frege e Wittgenstein35

41 Sentido e referecircncia 35

42 O que pode ser dito 40

43 Jogos de linguagem 43

Bibliografia 47

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BLOCO 2

Filosofia da linguagem

a) Sobre o autor

Luacutecio Lourenccedilo Prado possui graduaccedilatildeo (1994) mestrado (1998) e doutorado (2006) pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Eacute professor efetivo do Departamento de Filo-sofia da Unesp-Mariacutelia desde 2004 e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filosofia da mesma universidade desde 2006 Realiza pesquisas na aacuterea de Filosofia da Linguagem com ecircnfase nas origens da filosofia contemporacircnea

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b) Ementa da disciplina

A disciplina Filosofia da Linguagem visa apresentar alguns problemas filosoacuteficos decorren-tes de investigaccedilotildees acerca da natureza da linguagem Os principais problemas que norteiam o desenvolvimento programaacutetico eacute o da unidade de sentido e o da oposiccedilatildeo entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Filosofia da Linguagem

Tema 1Unidade do Sentido

11 O significado das palavras e a unidade de sentido

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Tema 2 O sentido

proposicional

21 O conceito de proposiccedilatildeo

22 Loacutegica x Gramaacutetica - Sintaxe e semacircntica

23 A estrutura formal da proposiccedilatildeo

Tema 3 Filosofia e linguagem

no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 Pressupostos histoacutericos

32 O conceitualismo e Locke

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo - Teoria da conotaccedilatildeo

Tema 4 Frege e Wittgenstein

41 Sentido e referecircncia

42 O que pode ser dito

43 Significado como uso

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TEMA 1

A unidade do sentido

11 ndash O significado das palavras e a unidade do sentido

Certamente soaraacute estranha a afirmaccedilatildeo a seguir mas a sua compreensatildeo seraacute fundamental para comeccedilarmos a entender os problemas que se colocaratildeo em nossa disciplina com relaccedilatildeo ao processo de significaccedilatildeo e de interaccedilatildeo linguiacutestica

Embora utilizemos as palavras no ato comunicativo (ou pelo menos no ato comunicativo discur-sivo) as palavras natildeo tecircm o poder de comunicar ou seja noacutes natildeo nos comunicamos pelas palavras e atraveacutes de seus significados

Natildeo estamos fazendo aqui alusatildeo a alguma espeacutecie de comunicaccedilatildeo natildeo-discursiva que poderiacuteamos talvez postular Natildeo estamos falando de alguma suposta lsquolinguagem corporalrsquo ou lsquolinguagem dos gestosrsquo ou a alguma possiacutevel lsquolinguagem intuitivarsquo cujos conteuacutedos pudessem

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talvez de forma imediata sem a mediaccedilatildeo simboacutelica ser comunicados de mente para mente Natildeo eacute isso Nossa afirmaccedilatildeo diz respeito tanto agrave linguagem que estamos todos acostumados a usar a linguagem do dia-a-dia a linguagem natural quanto agraves linguagens formais das ciecircncias Nossa afirmaccedilatildeo manteacutem portanto que os processos de interaccedilatildeo intersubjetiva que realizamos linguisticamente em nossa vida real natildeo tecircm as palavras ou seus significados como objetos uacuteltimos a serem comunicados Por uma razatildeo muito simples embora a palavra ao seu modo tenha propriamente um (ou mais de um no caso dos termos equiacutevocos) significado este sig-nificado isoladamente natildeo eacute suficiente (salvo rariacutessimas exceccedilotildees de ordem contextual) para constituir um conteuacutedo a ser comunicado Eacute preciso mais do que palavras isoladas e seus signifi-cados para que algo possa ter seu sentido constituiacutedo

Por exemplo conhecemos o significado da palavra ldquocarrordquo No entanto suponha que algueacutem chegue ateacute noacutes e diga ldquocarrordquo Se a situaccedilatildeo for considerada em si mesma isolada de quaisquer especificaccedilotildees de ordem contextual se natildeo supusermos por exemplo que algueacutem tenha feito uma pergunta antes ou que se trata de algum jogo se tomarmos a situaccedilatildeo como um lsquoiniacutecio de conversarsquo o que se pode entender sobre o que disse o interlocutor O que algueacutem pode querer comunicar quando enuncia simplesmente a palavra ldquocarrordquo mesmo supondo que todos seus interlocutores conheccedilam seu significado A resposta eacute elementar nada Palavras isoladamente natildeo comunicam nada

No entanto se a pessoa disser por exemplo ldquomeu carro estaacute quebradordquo a situaccedilatildeo torna-se diferente pois um conteuacutedo objetivo seraacute expresso Algo que possui uma unidade de sentido seraacute comunicado e por causa disso algo tambeacutem poderaacute ser compreendido Pode-se assim estabelecer a relaccedilatildeo mais elementar do processo comunicativo a comunicaccedilatildeo de conteuacutedos que natildeo satildeo propriamente os conteuacutedos semacircnticos isolados das palavras mas unidades de sentido que se constituem a partir das palavras

Parece claro a partir do exemplo fornecido que o problema do significado eacute algo muito mais complicado do que aquele que se estabelece quando perguntamos simplesmente pela relaccedilatildeo referencial que existe entre as palavras e as coisas Este embora natildeo seja isento de dificuldades eacute muito menos complexo e tem menos consequecircncias do que o problema que envolve a pergunta pela constituiccedilatildeo do sentido E eacute exatamente isso o que exprimimos de fato quando nos comu-nicamos em qualquer que seja a circunstacircncia sentidos uma unidade complexa de significado As

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

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bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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Page 4: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

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BLOCO 1

Sumaacuterio

1 A unidade do sentido 7

11 O significado das palavras e a unidade do sentido 7

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem 9

2 O sentido proposicional 13

21 O conceito de proposiccedilatildeo 13

22 Loacutegica x gramaacutetica 15

24 A estrutura formal da proposiccedilatildeo 18

3 Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill 24

31 Supostos histoacutericos 24

32 O conceitualismo de Locke 26

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo 29

4 Frege e Wittgenstein35

41 Sentido e referecircncia 35

42 O que pode ser dito 40

43 Jogos de linguagem 43

Bibliografia 47

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BLOCO 2

Filosofia da linguagem

a) Sobre o autor

Luacutecio Lourenccedilo Prado possui graduaccedilatildeo (1994) mestrado (1998) e doutorado (2006) pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Eacute professor efetivo do Departamento de Filo-sofia da Unesp-Mariacutelia desde 2004 e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filosofia da mesma universidade desde 2006 Realiza pesquisas na aacuterea de Filosofia da Linguagem com ecircnfase nas origens da filosofia contemporacircnea

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b) Ementa da disciplina

A disciplina Filosofia da Linguagem visa apresentar alguns problemas filosoacuteficos decorren-tes de investigaccedilotildees acerca da natureza da linguagem Os principais problemas que norteiam o desenvolvimento programaacutetico eacute o da unidade de sentido e o da oposiccedilatildeo entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Filosofia da Linguagem

Tema 1Unidade do Sentido

11 O significado das palavras e a unidade de sentido

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Tema 2 O sentido

proposicional

21 O conceito de proposiccedilatildeo

22 Loacutegica x Gramaacutetica - Sintaxe e semacircntica

23 A estrutura formal da proposiccedilatildeo

Tema 3 Filosofia e linguagem

no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 Pressupostos histoacutericos

32 O conceitualismo e Locke

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo - Teoria da conotaccedilatildeo

Tema 4 Frege e Wittgenstein

41 Sentido e referecircncia

42 O que pode ser dito

43 Significado como uso

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TEMA 1

A unidade do sentido

11 ndash O significado das palavras e a unidade do sentido

Certamente soaraacute estranha a afirmaccedilatildeo a seguir mas a sua compreensatildeo seraacute fundamental para comeccedilarmos a entender os problemas que se colocaratildeo em nossa disciplina com relaccedilatildeo ao processo de significaccedilatildeo e de interaccedilatildeo linguiacutestica

Embora utilizemos as palavras no ato comunicativo (ou pelo menos no ato comunicativo discur-sivo) as palavras natildeo tecircm o poder de comunicar ou seja noacutes natildeo nos comunicamos pelas palavras e atraveacutes de seus significados

Natildeo estamos fazendo aqui alusatildeo a alguma espeacutecie de comunicaccedilatildeo natildeo-discursiva que poderiacuteamos talvez postular Natildeo estamos falando de alguma suposta lsquolinguagem corporalrsquo ou lsquolinguagem dos gestosrsquo ou a alguma possiacutevel lsquolinguagem intuitivarsquo cujos conteuacutedos pudessem

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talvez de forma imediata sem a mediaccedilatildeo simboacutelica ser comunicados de mente para mente Natildeo eacute isso Nossa afirmaccedilatildeo diz respeito tanto agrave linguagem que estamos todos acostumados a usar a linguagem do dia-a-dia a linguagem natural quanto agraves linguagens formais das ciecircncias Nossa afirmaccedilatildeo manteacutem portanto que os processos de interaccedilatildeo intersubjetiva que realizamos linguisticamente em nossa vida real natildeo tecircm as palavras ou seus significados como objetos uacuteltimos a serem comunicados Por uma razatildeo muito simples embora a palavra ao seu modo tenha propriamente um (ou mais de um no caso dos termos equiacutevocos) significado este sig-nificado isoladamente natildeo eacute suficiente (salvo rariacutessimas exceccedilotildees de ordem contextual) para constituir um conteuacutedo a ser comunicado Eacute preciso mais do que palavras isoladas e seus signifi-cados para que algo possa ter seu sentido constituiacutedo

Por exemplo conhecemos o significado da palavra ldquocarrordquo No entanto suponha que algueacutem chegue ateacute noacutes e diga ldquocarrordquo Se a situaccedilatildeo for considerada em si mesma isolada de quaisquer especificaccedilotildees de ordem contextual se natildeo supusermos por exemplo que algueacutem tenha feito uma pergunta antes ou que se trata de algum jogo se tomarmos a situaccedilatildeo como um lsquoiniacutecio de conversarsquo o que se pode entender sobre o que disse o interlocutor O que algueacutem pode querer comunicar quando enuncia simplesmente a palavra ldquocarrordquo mesmo supondo que todos seus interlocutores conheccedilam seu significado A resposta eacute elementar nada Palavras isoladamente natildeo comunicam nada

No entanto se a pessoa disser por exemplo ldquomeu carro estaacute quebradordquo a situaccedilatildeo torna-se diferente pois um conteuacutedo objetivo seraacute expresso Algo que possui uma unidade de sentido seraacute comunicado e por causa disso algo tambeacutem poderaacute ser compreendido Pode-se assim estabelecer a relaccedilatildeo mais elementar do processo comunicativo a comunicaccedilatildeo de conteuacutedos que natildeo satildeo propriamente os conteuacutedos semacircnticos isolados das palavras mas unidades de sentido que se constituem a partir das palavras

Parece claro a partir do exemplo fornecido que o problema do significado eacute algo muito mais complicado do que aquele que se estabelece quando perguntamos simplesmente pela relaccedilatildeo referencial que existe entre as palavras e as coisas Este embora natildeo seja isento de dificuldades eacute muito menos complexo e tem menos consequecircncias do que o problema que envolve a pergunta pela constituiccedilatildeo do sentido E eacute exatamente isso o que exprimimos de fato quando nos comu-nicamos em qualquer que seja a circunstacircncia sentidos uma unidade complexa de significado As

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

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bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 5: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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BLOCO 2

Filosofia da linguagem

a) Sobre o autor

Luacutecio Lourenccedilo Prado possui graduaccedilatildeo (1994) mestrado (1998) e doutorado (2006) pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Eacute professor efetivo do Departamento de Filo-sofia da Unesp-Mariacutelia desde 2004 e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filosofia da mesma universidade desde 2006 Realiza pesquisas na aacuterea de Filosofia da Linguagem com ecircnfase nas origens da filosofia contemporacircnea

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b) Ementa da disciplina

A disciplina Filosofia da Linguagem visa apresentar alguns problemas filosoacuteficos decorren-tes de investigaccedilotildees acerca da natureza da linguagem Os principais problemas que norteiam o desenvolvimento programaacutetico eacute o da unidade de sentido e o da oposiccedilatildeo entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Filosofia da Linguagem

Tema 1Unidade do Sentido

11 O significado das palavras e a unidade de sentido

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Tema 2 O sentido

proposicional

21 O conceito de proposiccedilatildeo

22 Loacutegica x Gramaacutetica - Sintaxe e semacircntica

23 A estrutura formal da proposiccedilatildeo

Tema 3 Filosofia e linguagem

no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 Pressupostos histoacutericos

32 O conceitualismo e Locke

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo - Teoria da conotaccedilatildeo

Tema 4 Frege e Wittgenstein

41 Sentido e referecircncia

42 O que pode ser dito

43 Significado como uso

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TEMA 1

A unidade do sentido

11 ndash O significado das palavras e a unidade do sentido

Certamente soaraacute estranha a afirmaccedilatildeo a seguir mas a sua compreensatildeo seraacute fundamental para comeccedilarmos a entender os problemas que se colocaratildeo em nossa disciplina com relaccedilatildeo ao processo de significaccedilatildeo e de interaccedilatildeo linguiacutestica

Embora utilizemos as palavras no ato comunicativo (ou pelo menos no ato comunicativo discur-sivo) as palavras natildeo tecircm o poder de comunicar ou seja noacutes natildeo nos comunicamos pelas palavras e atraveacutes de seus significados

Natildeo estamos fazendo aqui alusatildeo a alguma espeacutecie de comunicaccedilatildeo natildeo-discursiva que poderiacuteamos talvez postular Natildeo estamos falando de alguma suposta lsquolinguagem corporalrsquo ou lsquolinguagem dos gestosrsquo ou a alguma possiacutevel lsquolinguagem intuitivarsquo cujos conteuacutedos pudessem

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talvez de forma imediata sem a mediaccedilatildeo simboacutelica ser comunicados de mente para mente Natildeo eacute isso Nossa afirmaccedilatildeo diz respeito tanto agrave linguagem que estamos todos acostumados a usar a linguagem do dia-a-dia a linguagem natural quanto agraves linguagens formais das ciecircncias Nossa afirmaccedilatildeo manteacutem portanto que os processos de interaccedilatildeo intersubjetiva que realizamos linguisticamente em nossa vida real natildeo tecircm as palavras ou seus significados como objetos uacuteltimos a serem comunicados Por uma razatildeo muito simples embora a palavra ao seu modo tenha propriamente um (ou mais de um no caso dos termos equiacutevocos) significado este sig-nificado isoladamente natildeo eacute suficiente (salvo rariacutessimas exceccedilotildees de ordem contextual) para constituir um conteuacutedo a ser comunicado Eacute preciso mais do que palavras isoladas e seus signifi-cados para que algo possa ter seu sentido constituiacutedo

Por exemplo conhecemos o significado da palavra ldquocarrordquo No entanto suponha que algueacutem chegue ateacute noacutes e diga ldquocarrordquo Se a situaccedilatildeo for considerada em si mesma isolada de quaisquer especificaccedilotildees de ordem contextual se natildeo supusermos por exemplo que algueacutem tenha feito uma pergunta antes ou que se trata de algum jogo se tomarmos a situaccedilatildeo como um lsquoiniacutecio de conversarsquo o que se pode entender sobre o que disse o interlocutor O que algueacutem pode querer comunicar quando enuncia simplesmente a palavra ldquocarrordquo mesmo supondo que todos seus interlocutores conheccedilam seu significado A resposta eacute elementar nada Palavras isoladamente natildeo comunicam nada

No entanto se a pessoa disser por exemplo ldquomeu carro estaacute quebradordquo a situaccedilatildeo torna-se diferente pois um conteuacutedo objetivo seraacute expresso Algo que possui uma unidade de sentido seraacute comunicado e por causa disso algo tambeacutem poderaacute ser compreendido Pode-se assim estabelecer a relaccedilatildeo mais elementar do processo comunicativo a comunicaccedilatildeo de conteuacutedos que natildeo satildeo propriamente os conteuacutedos semacircnticos isolados das palavras mas unidades de sentido que se constituem a partir das palavras

Parece claro a partir do exemplo fornecido que o problema do significado eacute algo muito mais complicado do que aquele que se estabelece quando perguntamos simplesmente pela relaccedilatildeo referencial que existe entre as palavras e as coisas Este embora natildeo seja isento de dificuldades eacute muito menos complexo e tem menos consequecircncias do que o problema que envolve a pergunta pela constituiccedilatildeo do sentido E eacute exatamente isso o que exprimimos de fato quando nos comu-nicamos em qualquer que seja a circunstacircncia sentidos uma unidade complexa de significado As

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 6: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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b) Ementa da disciplina

A disciplina Filosofia da Linguagem visa apresentar alguns problemas filosoacuteficos decorren-tes de investigaccedilotildees acerca da natureza da linguagem Os principais problemas que norteiam o desenvolvimento programaacutetico eacute o da unidade de sentido e o da oposiccedilatildeo entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Filosofia da Linguagem

Tema 1Unidade do Sentido

11 O significado das palavras e a unidade de sentido

12 Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Tema 2 O sentido

proposicional

21 O conceito de proposiccedilatildeo

22 Loacutegica x Gramaacutetica - Sintaxe e semacircntica

23 A estrutura formal da proposiccedilatildeo

Tema 3 Filosofia e linguagem

no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 Pressupostos histoacutericos

32 O conceitualismo e Locke

33 Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo - Teoria da conotaccedilatildeo

Tema 4 Frege e Wittgenstein

41 Sentido e referecircncia

42 O que pode ser dito

43 Significado como uso

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TEMA 1

A unidade do sentido

11 ndash O significado das palavras e a unidade do sentido

Certamente soaraacute estranha a afirmaccedilatildeo a seguir mas a sua compreensatildeo seraacute fundamental para comeccedilarmos a entender os problemas que se colocaratildeo em nossa disciplina com relaccedilatildeo ao processo de significaccedilatildeo e de interaccedilatildeo linguiacutestica

Embora utilizemos as palavras no ato comunicativo (ou pelo menos no ato comunicativo discur-sivo) as palavras natildeo tecircm o poder de comunicar ou seja noacutes natildeo nos comunicamos pelas palavras e atraveacutes de seus significados

Natildeo estamos fazendo aqui alusatildeo a alguma espeacutecie de comunicaccedilatildeo natildeo-discursiva que poderiacuteamos talvez postular Natildeo estamos falando de alguma suposta lsquolinguagem corporalrsquo ou lsquolinguagem dos gestosrsquo ou a alguma possiacutevel lsquolinguagem intuitivarsquo cujos conteuacutedos pudessem

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talvez de forma imediata sem a mediaccedilatildeo simboacutelica ser comunicados de mente para mente Natildeo eacute isso Nossa afirmaccedilatildeo diz respeito tanto agrave linguagem que estamos todos acostumados a usar a linguagem do dia-a-dia a linguagem natural quanto agraves linguagens formais das ciecircncias Nossa afirmaccedilatildeo manteacutem portanto que os processos de interaccedilatildeo intersubjetiva que realizamos linguisticamente em nossa vida real natildeo tecircm as palavras ou seus significados como objetos uacuteltimos a serem comunicados Por uma razatildeo muito simples embora a palavra ao seu modo tenha propriamente um (ou mais de um no caso dos termos equiacutevocos) significado este sig-nificado isoladamente natildeo eacute suficiente (salvo rariacutessimas exceccedilotildees de ordem contextual) para constituir um conteuacutedo a ser comunicado Eacute preciso mais do que palavras isoladas e seus signifi-cados para que algo possa ter seu sentido constituiacutedo

Por exemplo conhecemos o significado da palavra ldquocarrordquo No entanto suponha que algueacutem chegue ateacute noacutes e diga ldquocarrordquo Se a situaccedilatildeo for considerada em si mesma isolada de quaisquer especificaccedilotildees de ordem contextual se natildeo supusermos por exemplo que algueacutem tenha feito uma pergunta antes ou que se trata de algum jogo se tomarmos a situaccedilatildeo como um lsquoiniacutecio de conversarsquo o que se pode entender sobre o que disse o interlocutor O que algueacutem pode querer comunicar quando enuncia simplesmente a palavra ldquocarrordquo mesmo supondo que todos seus interlocutores conheccedilam seu significado A resposta eacute elementar nada Palavras isoladamente natildeo comunicam nada

No entanto se a pessoa disser por exemplo ldquomeu carro estaacute quebradordquo a situaccedilatildeo torna-se diferente pois um conteuacutedo objetivo seraacute expresso Algo que possui uma unidade de sentido seraacute comunicado e por causa disso algo tambeacutem poderaacute ser compreendido Pode-se assim estabelecer a relaccedilatildeo mais elementar do processo comunicativo a comunicaccedilatildeo de conteuacutedos que natildeo satildeo propriamente os conteuacutedos semacircnticos isolados das palavras mas unidades de sentido que se constituem a partir das palavras

Parece claro a partir do exemplo fornecido que o problema do significado eacute algo muito mais complicado do que aquele que se estabelece quando perguntamos simplesmente pela relaccedilatildeo referencial que existe entre as palavras e as coisas Este embora natildeo seja isento de dificuldades eacute muito menos complexo e tem menos consequecircncias do que o problema que envolve a pergunta pela constituiccedilatildeo do sentido E eacute exatamente isso o que exprimimos de fato quando nos comu-nicamos em qualquer que seja a circunstacircncia sentidos uma unidade complexa de significado As

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Page 7: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMA 1

A unidade do sentido

11 ndash O significado das palavras e a unidade do sentido

Certamente soaraacute estranha a afirmaccedilatildeo a seguir mas a sua compreensatildeo seraacute fundamental para comeccedilarmos a entender os problemas que se colocaratildeo em nossa disciplina com relaccedilatildeo ao processo de significaccedilatildeo e de interaccedilatildeo linguiacutestica

Embora utilizemos as palavras no ato comunicativo (ou pelo menos no ato comunicativo discur-sivo) as palavras natildeo tecircm o poder de comunicar ou seja noacutes natildeo nos comunicamos pelas palavras e atraveacutes de seus significados

Natildeo estamos fazendo aqui alusatildeo a alguma espeacutecie de comunicaccedilatildeo natildeo-discursiva que poderiacuteamos talvez postular Natildeo estamos falando de alguma suposta lsquolinguagem corporalrsquo ou lsquolinguagem dos gestosrsquo ou a alguma possiacutevel lsquolinguagem intuitivarsquo cujos conteuacutedos pudessem

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talvez de forma imediata sem a mediaccedilatildeo simboacutelica ser comunicados de mente para mente Natildeo eacute isso Nossa afirmaccedilatildeo diz respeito tanto agrave linguagem que estamos todos acostumados a usar a linguagem do dia-a-dia a linguagem natural quanto agraves linguagens formais das ciecircncias Nossa afirmaccedilatildeo manteacutem portanto que os processos de interaccedilatildeo intersubjetiva que realizamos linguisticamente em nossa vida real natildeo tecircm as palavras ou seus significados como objetos uacuteltimos a serem comunicados Por uma razatildeo muito simples embora a palavra ao seu modo tenha propriamente um (ou mais de um no caso dos termos equiacutevocos) significado este sig-nificado isoladamente natildeo eacute suficiente (salvo rariacutessimas exceccedilotildees de ordem contextual) para constituir um conteuacutedo a ser comunicado Eacute preciso mais do que palavras isoladas e seus signifi-cados para que algo possa ter seu sentido constituiacutedo

Por exemplo conhecemos o significado da palavra ldquocarrordquo No entanto suponha que algueacutem chegue ateacute noacutes e diga ldquocarrordquo Se a situaccedilatildeo for considerada em si mesma isolada de quaisquer especificaccedilotildees de ordem contextual se natildeo supusermos por exemplo que algueacutem tenha feito uma pergunta antes ou que se trata de algum jogo se tomarmos a situaccedilatildeo como um lsquoiniacutecio de conversarsquo o que se pode entender sobre o que disse o interlocutor O que algueacutem pode querer comunicar quando enuncia simplesmente a palavra ldquocarrordquo mesmo supondo que todos seus interlocutores conheccedilam seu significado A resposta eacute elementar nada Palavras isoladamente natildeo comunicam nada

No entanto se a pessoa disser por exemplo ldquomeu carro estaacute quebradordquo a situaccedilatildeo torna-se diferente pois um conteuacutedo objetivo seraacute expresso Algo que possui uma unidade de sentido seraacute comunicado e por causa disso algo tambeacutem poderaacute ser compreendido Pode-se assim estabelecer a relaccedilatildeo mais elementar do processo comunicativo a comunicaccedilatildeo de conteuacutedos que natildeo satildeo propriamente os conteuacutedos semacircnticos isolados das palavras mas unidades de sentido que se constituem a partir das palavras

Parece claro a partir do exemplo fornecido que o problema do significado eacute algo muito mais complicado do que aquele que se estabelece quando perguntamos simplesmente pela relaccedilatildeo referencial que existe entre as palavras e as coisas Este embora natildeo seja isento de dificuldades eacute muito menos complexo e tem menos consequecircncias do que o problema que envolve a pergunta pela constituiccedilatildeo do sentido E eacute exatamente isso o que exprimimos de fato quando nos comu-nicamos em qualquer que seja a circunstacircncia sentidos uma unidade complexa de significado As

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Page 8: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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talvez de forma imediata sem a mediaccedilatildeo simboacutelica ser comunicados de mente para mente Natildeo eacute isso Nossa afirmaccedilatildeo diz respeito tanto agrave linguagem que estamos todos acostumados a usar a linguagem do dia-a-dia a linguagem natural quanto agraves linguagens formais das ciecircncias Nossa afirmaccedilatildeo manteacutem portanto que os processos de interaccedilatildeo intersubjetiva que realizamos linguisticamente em nossa vida real natildeo tecircm as palavras ou seus significados como objetos uacuteltimos a serem comunicados Por uma razatildeo muito simples embora a palavra ao seu modo tenha propriamente um (ou mais de um no caso dos termos equiacutevocos) significado este sig-nificado isoladamente natildeo eacute suficiente (salvo rariacutessimas exceccedilotildees de ordem contextual) para constituir um conteuacutedo a ser comunicado Eacute preciso mais do que palavras isoladas e seus signifi-cados para que algo possa ter seu sentido constituiacutedo

Por exemplo conhecemos o significado da palavra ldquocarrordquo No entanto suponha que algueacutem chegue ateacute noacutes e diga ldquocarrordquo Se a situaccedilatildeo for considerada em si mesma isolada de quaisquer especificaccedilotildees de ordem contextual se natildeo supusermos por exemplo que algueacutem tenha feito uma pergunta antes ou que se trata de algum jogo se tomarmos a situaccedilatildeo como um lsquoiniacutecio de conversarsquo o que se pode entender sobre o que disse o interlocutor O que algueacutem pode querer comunicar quando enuncia simplesmente a palavra ldquocarrordquo mesmo supondo que todos seus interlocutores conheccedilam seu significado A resposta eacute elementar nada Palavras isoladamente natildeo comunicam nada

No entanto se a pessoa disser por exemplo ldquomeu carro estaacute quebradordquo a situaccedilatildeo torna-se diferente pois um conteuacutedo objetivo seraacute expresso Algo que possui uma unidade de sentido seraacute comunicado e por causa disso algo tambeacutem poderaacute ser compreendido Pode-se assim estabelecer a relaccedilatildeo mais elementar do processo comunicativo a comunicaccedilatildeo de conteuacutedos que natildeo satildeo propriamente os conteuacutedos semacircnticos isolados das palavras mas unidades de sentido que se constituem a partir das palavras

Parece claro a partir do exemplo fornecido que o problema do significado eacute algo muito mais complicado do que aquele que se estabelece quando perguntamos simplesmente pela relaccedilatildeo referencial que existe entre as palavras e as coisas Este embora natildeo seja isento de dificuldades eacute muito menos complexo e tem menos consequecircncias do que o problema que envolve a pergunta pela constituiccedilatildeo do sentido E eacute exatamente isso o que exprimimos de fato quando nos comu-nicamos em qualquer que seja a circunstacircncia sentidos uma unidade complexa de significado As

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 9: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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palavras com seus significados especiacuteficos por sua vez satildeo as lsquoferramentasrsquo que utilizamos para constituir e expressar os sentidos seus significados contribuem para a constituiccedilatildeo do sentido mas isoladamente natildeo podem expressar pensamentos literalmente natildeo fazem sentido

Se encararmos as coisas a partir deste ponto de vista muitos problemas se colocam para o filoacutesofo da linguagem

a) Por que determinadas palavras dispostas de forma diferente podem exprimir o mesmo sentido Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo satildeo arranjos diferentes de palavras que exprimem o mesmo sentido

b) Por que em outras situaccedilotildees a disposiccedilatildeo diferente dos termos exprime sentidos dife-rentes Por exemplo ldquoJoatildeo ama Mariardquo tem um sentido distinto de ldquoMaria ama Joatildeordquo

c) Por que determinadas palavras quando agrupadas exprime um sentido e outras natildeo Por que ldquoBrasil quarta-feira cantarrdquo natildeo significa nada embora todas as palavras empregadas tenham significado

d) Como eacute possiacutevel que os significados isolados de cada palavra possam lsquose unirrsquo a outros significados para em uacuteltima instacircncia significar uma uacutenica coisa ou seja exprimir um uacutenico sentido Por que e como os significado isolados das palavras ldquoordquo ldquocarrordquo ldquoeacuterdquo e ldquoazulrdquo quando lsquoagrupadosrsquo significam uma uacutenica coisa a saber o sentido da proposiccedilatildeo ldquoo carro eacute azulrdquo

e) Qual a natureza e o estatuto deste conteuacutedo objetivo que comunicamos Eacute uma enti-dade psiacutequica ou uma entidade racional e objetiva

Esses e alguns outros problemas deles decorrentes seratildeo abordados no decorrer da presente disciplina Comeccedilaremos abordando alguns pontos de vista a partir dos quais a filosofia pode enxergar o papel (ou os papeacuteis) da linguagem no conjunto das atividades humanas a fim de compreendermos em que sentidos podemos dizer que a linguagem eacute um instrumento capaz de expressar conteuacutedos

12 ndash Abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem

Certamente a linguagem tem vaacuterias finalidades na vida humana O fato de podermos arti-cular sons ou sinais graacuteficos dotando-os de significaccedilatildeo e tornando-os capazes de comunicar

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

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bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 10: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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conteuacutedos eacute algo muito uacutetil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito e para muitas coisas Somente no seacuteculo XX a partir do pensamento tardio de Wittgenstein a filosofia parece ter compreendido este caraacuteter multifacetado da linguagem da forma mais abrangente Ateacute entatildeo os filoacutesofos tendiam a privilegiar uma ou outra caracteriacutestica e fina-lidade da linguagem para fornecer suas teorias semacircnticas E dependendo do ponto de vista adotado quanto agrave finalidade uacuteltima da linguagem no conjunto das accedilotildees humanas diferentes teorias acerca do significado linguiacutestico seratildeo produzidas

De um modo geral praticamente todos concordam que a linguagem eacute um instrumento uma ferramenta Mas eacute uma ferramenta que serve para vaacuterias coisas Duas dessas lsquoutilidadesrsquo da linguagem foram privilegiadas pelos filoacutesofos ao longo dos seacuteculos de modo que podemos facilmente identificar duas tendecircncias bem definidas de pensamento quando estudamos as teorias sobre a linguagem atraveacutes da histoacuteria

a) Abordagem psico-socioloacutegica aquela que aborda a linguagem como instrumento de inte-raccedilatildeo inter-subjetiva privilegiando assim o papel por ela exercido na comunicaccedilatildeo humana ordinaacuteria busca desta forma explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de exteriorizar o conteuacutedos da vida psiacutequica dos sujeitos e assim entre outras coisas proporcio-nar aos homens a possibilidade da constituiccedilatildeo do pacto social dos acordos que supostamente fundamentam a vida em sociedade uma vez que esses acordos somente podem ser estabeleci-dos por meio de uma linguagem

b) Abordagem loacutegico-veritiva da linguagem eacute aquela que deteacutem seu foco de atenccedilatildeo na caracterizaccedilatildeo da linguagem como instrumento da ciecircncia assim seu problema principal con-siste em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo Este ponto de vista tende a priorizar a investigaccedilatildeo acerca do conceito de proposiccedilatildeo e sempre estaraacute submetida a teorias formais da verdade

Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relaccedilatildeo ao papel que exerce no conjunto das atividades humanas tem consequecircncias importantes pois levaraacute a dois modelos distintos de teorias semacircnticas

Como foi mencionado a comunicaccedilatildeo linguiacutestica se daacute por meio da expressatildeo de sentidos de unidades complexas de significados que se constituem a partir da significaccedilatildeo de suas partes

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                                                        1. Paacutegina 21
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Page 11: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

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Uma pergunta importante que temos que fazer eacute o que eacute este conteuacutedo objetivo comunicado Qual seu estatuto Satildeo entidades mentais de natureza subjetiva e portanto privada como nossas ideacuteias e representaccedilotildees Ou satildeo conteuacutedos objetivos com validade proacutepria que inde-pendem das mentes que os compreendem e que por isso satildeo comuns a todos os sujeitos Seraacute que algo pode expressar um sentido mesmo que natildeo houvesse nenhuma mente para compre-endecirc-lo ou seraacute que o sentido somente se manifesta na medida em que eacute compreendido por alguma mente De acordo com o ponto de vista com o qual abordamos a linguagem seremos inclinados a direcionar nossas respostas agraves questotildees colocadas para uma ou outra direccedilatildeo Se a linguagem eacute abordada a partir da caracteriacutestica que possui de ser o instrumento privilegiado da interaccedilatildeo intersubjetiva necessaacuterio entre outras coisas ao estabelecimento do pacto social parece razoaacutevel afirmar como alguns idealistas1 que a linguagem tem por objetivo exteriorizar por meio de signos sensiacuteveis os conteuacutedos subjetivo da consciecircncia nossas ideacuteias Como natildeo eacute possiacutevel ter acesso direto agravequilo que meu interlocutor estaacute pensando uma vez que suas ideacuteias natildeo satildeo sensiacuteveis (isto eacute natildeo podem ser percebidas pelos cinco sentidos) se faz necessaacuteria a uti-lizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis capazes de substituir as ideacuteias natildeo-sensiacuteveis Os termos da lingua-gem satildeo pois de acordo com eles signos de nossas ideacuteias E soacute podemos estabelecer qualquer tipo de acordo e estabelecer os fundamentos do pacto social se literalmente formos capazes de trocar ideacuteias e soacute por meio da linguagem somos capazes de realizar tal proeza

Adotado este ponto de vista somos levados a compreender a linguagem como algo que tem como referecircncia direta natildeo o mundo mas nossas ideacuteias sobre o mundo Em uacuteltima anaacutelise natildeo pretendo comunicar o que se passa no mundo quando me comunico linguisticamente mas aquilo que se passa na minha cabeccedila Mesmo quando pareccedilo falar do mundo estou na verdade falando de minhas ideais acerca do mundo Deste ponto de vista a linguagem eacute tida como algo que versa sobre o universo subjetivo e psiacutequico e natildeo sobre o mundo exterior Haacute certamente um forte elemento idealista aqui Este ponto de vista estaacute diretamente vinculado agrave tese muito difundida durante a filosofia moderna de que os sujeitos natildeo tecircm nenhum tipo de acesso cognitivo ao mundo exterior mas o fazem por meio de lsquosubstitutosrsquo que satildeo nossas ideacuteias Ou seja natildeo conhecemos diretamente o mundo mas somente por intermeacutedio de nossas ideacuteias acerca dele Nesse sentido nada mais natural para os idealistas do que afirmar que a linguagem refere-se prioritariamente aos conteuacutedos de nossas mentes e natildeo a lsquomundo realrsquo 2

1 Falaremosumpoucodasteoriassemacircnticasdessesfiloacutesofosidealistas no Tema 3

2 SobreesteassuntofalaremosdeformaumpoucomaisdetidanoTema3

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                                16. Paacutegina 16
                                                17. Paacutegina 17
                                                18. Paacutegina 18
                                                19. Paacutegina 19
                                                20. Paacutegina 20
                                                21. Paacutegina 32
                                                22. Paacutegina 33
                                                23. Paacutegina 34
                                                24. Paacutegina 35
                                                25. Paacutegina 36
                                                26. Paacutegina 37
                                                27. Paacutegina 38
                                                28. Paacutegina 39
                                                29. Paacutegina 40
                                                30. Paacutegina 41
                                                31. Paacutegina 42
                                                32. Paacutegina 43
                                                33. Paacutegina 44
                                                  1. Bot_Bloco6
                                                    1. Paacutegina 1
                                                      1. Bot_Bloco1
                                                        1. Paacutegina 2
                                                        2. Paacutegina 3
                                                        3. Paacutegina 4
                                                        4. Paacutegina 5
                                                        5. Paacutegina 6
                                                        6. Paacutegina 7
                                                        7. Paacutegina 8
                                                        8. Paacutegina 9
                                                        9. Paacutegina 10
                                                        10. Paacutegina 11
                                                        11. Paacutegina 12
                                                        12. Paacutegina 13
                                                        13. Paacutegina 14
                                                        14. Paacutegina 15
                                                        15. Paacutegina 16
                                                        16. Paacutegina 17
                                                        17. Paacutegina 18
                                                        18. Paacutegina 19
                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
                                                        21. Paacutegina 22
                                                        22. Paacutegina 23
                                                        23. Paacutegina 24
                                                        24. Paacutegina 25
                                                        25. Paacutegina 26
                                                        26. Paacutegina 27
                                                        27. Paacutegina 28
                                                        28. Paacutegina 29
                                                        29. Paacutegina 30
                                                        30. Paacutegina 31
                                                        31. Paacutegina 32
                                                        32. Paacutegina 33
                                                        33. Paacutegina 34
                                                        34. Paacutegina 35
                                                        35. Paacutegina 36
                                                        36. Paacutegina 37
                                                        37. Paacutegina 38
                                                        38. Paacutegina 39
                                                        39. Paacutegina 40
                                                        40. Paacutegina 41
                                                        41. Paacutegina 42
                                                        42. Paacutegina 43
                                                        43. Paacutegina 44
                                                          1. Bot_Bloco7
                                                            1. Paacutegina 2
                                                            2. Paacutegina 3
                                                              1. Bot_Tema6
                                                                1. Paacutegina 4
                                                                2. Paacutegina 5
                                                                3. Paacutegina 6
                                                                4. Paacutegina 7
                                                                5. Paacutegina 8
                                                                6. Paacutegina 9
                                                                  1. Bot_Tema7
                                                                    1. Paacutegina 10
                                                                    2. Paacutegina 11
                                                                    3. Paacutegina 12
                                                                    4. Paacutegina 13
                                                                    5. Paacutegina 14
                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
                                                                        1. Paacutegina 21
                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
                                                                            6. Paacutegina 37
                                                                            7. Paacutegina 38
                                                                            8. Paacutegina 39
                                                                            9. Paacutegina 40
                                                                            10. Paacutegina 41
                                                                            11. Paacutegina 42
                                                                            12. Paacutegina 43
                                                                              1. Bot_Bloco8
                                                                                1. Paacutegina 44
Page 12: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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Por outro lado os filoacutesofos que se preocuparam prioritariamente em oferecer teorias semacircn-ticas capazes de explicar a capacidade que a linguagem possui de expressar verdades acerca do mundo tenderatildeo a postular que a constituiccedilatildeo dos sentidos independe das mentes que os com-preendem pois estes sentidos devem expressar de alguma forma o comportamento do mundo Assim os sentidos expressos pela linguagem devem possuir algum tipo de objetividade que exigiraacute em uacuteltima instacircncia uma conexatildeo necessaacuteria com o mundo do qual se estaacute falando A linguagem sobre este enfoque deve ser encarada como um instrumento para falar do mundo e natildeo do universo psiacutequico Esses filoacutesofos tenderatildeo tambeacutem a priorizar a investigaccedilatildeo acerca da loacutegica da linguagem isto eacute da legalidade objetiva e racional que permeia toda a linguagem enunciativa que pretende dizer algo acerca do mundo Se a linguagem eacute uma ferramenta ade-quada para enunciar verdades sobre o mundo ela deve ter uma estrutura tal deve obedecer a princiacutepios tais que possa de representar a ordem do proacuteprio mundo tido como objeto do dis-curso Devo conhecer a loacutegica da linguagem a fim de compreender os mecanismos semacircnticos que possibilitam a conexatildeo da linguagem com o mundo O discurso torna-se assim discurso sobre o mundo e natildeo sobre as ideacuteias nas mentes dos sujeitos

Podemos pois considerar que as duas posiccedilotildees apontadas acima constituem uma aborda-gem loacutegica e outra psicoloacutegica da linguagem Uma busca entender a linguagem utilizada pelo ser humano real no mundo na medida em que interage com seus semelhantes e exterioriza na medida do possiacutevel aquilo que pensa o conteuacutedo de sua vida mental A outra compreende a linguagem como algo que pode de alguma forma simular situaccedilotildees possiacuteveis do mundo simulaccedilotildees essas que devem poder ser comparadas com proacuteprio mundo a fim de se verificar sua verdade ou falsidade

Em linhas gerais foram apresentados acima dois modelos que se entrecruzaratildeo no decorrer da disciplina Compreender a tensatildeo e a disputa entre as abordagens loacutegica e psicoloacutegica da linguagem seraacute um dos nossos principais objetivos O proacuteximo Tema trataraacute prioritariamente da noccedilatildeo de sentido proposicional e adotaraacute claramente uma perspectiva loacutegico-veritativa Nos Temas seguintes a tensatildeo entre os modelos loacutegico e psicoloacutegico apareceraacute de forma bas-tante efetiva

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 13: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMA 2

O sentido proposicional

21 - O conceito de proposiccedilatildeo

Entre os inuacutemeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem uma classe deles tem uma caracteriacutestica peculiar que os tornam por assim dizer especiais Alguns sentidos tecircm a capacidade de serem verdadeiros ou falsos podem acomodar valores de verdade

Consideremos as oraccedilotildees abaixo

(a) Qual a distacircncia entre o sol e a terra

(b) Natildeo se exponha ao sol sem proteccedilatildeo

(c) Que calor

(d) O sol natildeo eacute uma estrela

(e) O sol eacute fundamental para a vida na terra

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
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                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
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Page 14: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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Analisando-as podemos notar que duas delas possuem uma caracteriacutestica que as distingue das demais Somente as oraccedilotildees (d) e (e) exprimem sentidos que podem ser verdadeiros ou falsos No caso (d) e falso e (e) verdadeiro

As demais natildeo exprimem conteuacutedos verificaacuteveis embora certamente tenham significado

(a) eacute uma pergunta e perguntas nunca satildeo verdadeiras ou falsas somente as respostas as perguntas podem ser bem ou mal formuladas pertinentes ou natildeo mas jamais possuir valores de verdade

(b) eacute uma oraccedilatildeo imperativa haacute ali uma ordem uma determinaccedilatildeo acerca de como se com-portar o interlocutor pode ou natildeo acatar o que foi sugerido pedido ou ordenado mas isso natildeo significa que o enunciado possa ser considerado verdadeiro ou falso

(c) eacute uma exclamaccedilatildeo embora sejamos tentados a considerar que haacute uma afirmaccedilatildeo ao menos impliacutecita ali Temos poreacutem que atentar para o fato de que o enunciado natildeo eacute ldquoestaacute calorrdquo pois este sim seria passiacutevel de verdade ou falsidade O enunciado (c) possui uma carac-teriacutestica diferente da mera afirmaccedilatildeo acerca do clima ou da temperatura o que eacute determinado pela funccedilatildeo exercida pelo ponto de exclamaccedilatildeo O ldquoque calorrdquo eacute equivalente a um ldquopocircxa vidardquo ou um ldquocarambardquo

(d) e (e) satildeo oraccedilotildees declarativas Essas podem ser afirmativas ou negativas Ou seja umas buscam dizer como o mundo eacute ou como as coisas estatildeo e outras ao contraacuterio dizem como o mundo natildeo eacute ou como as coisas natildeo estatildeo Somente essas podem ser ditas verdadeiras ou falsas Portanto somente essas interessaratildeo particularmente agrave abordagem loacutegico-veritativa da lin-guagem Se elas dizem que o mundo eacute como de fato eacute ou se dizem que o mundo natildeo eacute como de fato natildeo eacute seratildeo verdadeiras Ao contraacuterio se dizem que o mundo eacute como ele de fato natildeo eacute ou dizem que o mundo natildeo eacute como ele de fato eacute seratildeo falsas

De uma maneira ainda introdutoacuteria e imprecisa podemos dizer diante do exposto que somente (d) e (c) expressam sentidos proposicionais As proposiccedilotildees satildeo os sentidos expres-sos pelas oraccedilotildees declarativas pelas afirmaccedilotildees e negaccedilotildees Somente elas podem em sentido estrito ser verdadeiras ou falsas A proposiccedilatildeo eacute a uacutenica portadora legiacutetima da verdade e da falsidade Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que natildeo sejam pro-posiccedilotildees somente o seratildeo num sentido improacuteprio e impreciso da palavra Ideacuteias argumentos

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO

GovernadorGeraldo alckmin

seCretaria estadUal da edUCaCcedilAtildeO de sAtildeO paUlO (seesp)

SecretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

Universidade estadUal paUlistaVice-Reitor no Exerciacutecio da Reitoria Julio Cezar duriganChefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-Reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de pinhoProacute-Reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeProacute-Reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-Reitora de Extensatildeo UniversitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejoProacute-Reitor de Administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rachedSecretaacuteria GeralMaria dalva silva pagotto

FUndUnesp

Diretor Presidente luiz antonio vane

rede sAtildeO paUlO de FOrMaCcedilAtildeO dOCenteProacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeCoordenadora Acadecircmicaelisa tomoe Moriya schluumlnzenSub-coordenadorantocircnio Cezar leal (FCtpresidente prudente)Equipe Coordenadoraana Maria Martins da Costa santosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e silvarogeacuterio luiz buccelliCoordenadores dos CursosArterejane Galvatildeo Coutinho (iaUnesp)Filosofialuacutecio lourenccedilo prado (FFCMariacutelia)Geografiaraul borges Guimaratildees (FCtpresidente prudente)InglecircsMariangela braga norte (FFCMariacutelia)QuiacutemicaOlga Maria M de Faria Oliveira (iQ araraquara)SecretariaAdministraccedilatildeovera reisEquipe Teacutecnica - Sistema de Controle Acadecircmicoari araldo Xavier de Camargovalentim aparecido parisrosemar rosa de Carvalho brena

nUacuteCleO de edUCaCcedilAtildeO a distAcircnCia da UnespCoordenador Geral Klaus schluumlnzen Junior SecretariaAdministraccedilatildeosueli Maiellaro Fernandesaline Gama GomesJessica pappJoatildeo Menezes Mussolinisuellen arauacutejosueli Maiellaro FernandesTecnologia e Infraestruturapierre archag iskenderian andreacute luiacutes rodrigues Ferreiraariel tadami siena HirataGuilherme de andrade lemeszenskiMarcos roberto Greinerpedro Caacutessio bissettirodolfo Mac Kay Martinez parenteProduccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialCauecirc Guimaratildeeselisandra andreacute Maranheerik rafael alves FerreiraFabiana aparecida rodriguesJeacutessica Miwa Joatildeo Castro barbosa de souzalia tiemi Hiratomilili lungarezi de Oliveiraluciano nunes Malheiro Maacutercia debieux Marcos leonel de souzapamela bianca Gouveia tuacuteliorafael Canoletti buciottirodolfo paganelli Jaquettosoraia Marino salum

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Page 15: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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sonhos objetos nunca satildeo verdadeiros ou falsos somente as proposiccedilotildees Em suma sentidos proposicionais satildeo aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos

22 ndash Loacutegica x gramaacutetica

Alguns filoacutesofos3 ao longo da histoacuteria atentaram para o fato de que a verdadeira loacutegica capaz de exprimir a correta legalidade da razatildeo natildeo pode estar por assim dizer contaminada por elementos de ordem gramaticais tomados impropriamente emprestados da estrutura da linguagem natural Ou seja as estruturas loacutegico-formais do pensamento natildeo seriam de acordo com este ponto de vista as mesmas estruturas sintaacuteticas pertencentes agrave linguagem

Tomemos um exemplo jaacute mencionado no texto do Tema anterior

(a) Joatildeo ama Maria

(b) Maria eacute amada por Joatildeo

O que temos quando satildeo comparados os dois enunciados Trata-se claramente de duas oraccedilotildees distintas uma tem trecircs palavras a outra tem cinco Numa ldquoJoatildeordquo eacute o sujeito gramatical na outra eacute ldquoMariardquo O verbo estaacute conjugado de forma diferente nos dois casos Ou seja do ponto de vista estritamente gramatical no que diz respeito as estruturas formais da linguagem natural tratam-se de duas oraccedilotildees certamente distintas No entanto desconsideradas essas diferenccedilas de ordem gramatical ou estiliacutestica pode-se notar que ambas dizem exatamente a mesma coisa informam o mesmo fato E isto eacute claro pois facilmente notamos que as mesmas condiccedilotildees que tornaratildeo uma verdadeira tornaratildeo a outra verdadeira tambeacutem Ambas as ora-ccedilotildees exprimem o mesmo sentido possuem as mesmas condiccedilotildees de verdade

Outros exemplos tiacutepicos de mesmo conteuacutedo expressos de maneiras diferentes satildeo os que envolvem proposiccedilotildees com quantificadores loacutegicos O enunciado ldquoTodo homem eacute mortalrdquo diz exatamente a mesma coisa que ldquonatildeo existem homens que natildeo sejam mortaisrdquo ldquonenhum homem natildeo eacute mortalrdquo ldquopara todo x se x eacute homem entatildeo x eacute mortalrdquo Satildeo todas maneiras diferentes de se expressar o mesmo sentido o mesmo conteuacutedo

3 Leibnizfoitalvezoprimeirofiloacutesofoqueapontouparaanecessidadedecriar-seumalinguagemformalcapazde

expressarpensamentosenatildeopalavrasFoiFregeporeacutemaquelequelevouadiantedeformamaiscontundenteatarefa

decriarumalinguagemconceitualprecisaeisentadeambiguidadesformais

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                            27. Paacutegina 38
                                            28. Paacutegina 39
                                            29. Paacutegina 40
                                            30. Paacutegina 41
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                                              1. Bot_Tema3
                                                1. Paacutegina 1
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                                                5. Paacutegina 5
                                                6. Paacutegina 6
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                                                8. Paacutegina 8
                                                9. Paacutegina 9
                                                10. Paacutegina 10
                                                11. Paacutegina 11
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                                                14. Paacutegina 14
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                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
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                                                        37. Paacutegina 38
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                                                            2. Paacutegina 3
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                                                                2. Paacutegina 5
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                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
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                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
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                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
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                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
                                                                            6. Paacutegina 37
                                                                            7. Paacutegina 38
                                                                            8. Paacutegina 39
                                                                            9. Paacutegina 40
                                                                            10. Paacutegina 41
                                                                            11. Paacutegina 42
                                                                            12. Paacutegina 43
                                                                              1. Bot_Bloco8
                                                                                1. Paacutegina 44
Page 16: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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O que foi dito acima eacute fundamental para se compreender de forma correta o que eacute uma proposiccedilatildeo ela natildeo eacute uma entidade linguiacutestica mas uma entidade loacutegica ela natildeo eacute a oraccedilatildeo decla-rativa mas o sentido expresso pela oraccedilatildeo declarativa Quando dizemos que uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira natildeo estamos atribuindo verdade agrave oraccedilatildeo que enuncia o sentido mas ao proacuteprio sentido que eacute enunciado pela oraccedilatildeo Ou seja nos exemplos acima temos oraccedilotildees distintas expressando uma uacutenica proposiccedilatildeo A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades estiliacutesticas tecircm a peculiar caracteriacutestica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferen-tes Portanto mesmas proposiccedilotildees podem na linguagem natural serem enunciadas de formas diferentes Do ponto de vista gramatical diferentes estruturas sintaacuteticas podem ter o mesmo conteuacutedo semacircntico

Sintaxe e semacircntica

Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simboacutelicas temos que diferenciar dois niacuteveis elementares a sintaxe e a semacircntica De modo bem resumido podemos dizer que a sintaxe estaacute relacionada agrave forma e a semacircntica ao conteuacutedo Comparando as duas oraccedilotildees do primeiro exemplo do Tema anterior (ldquoJoatildeo ama Mariardquo e ldquoMaria eacute amada por Joatildeordquo) podemos entatildeo dizer que ambas do ponto de vista gramatical possuem diferentes estruturas sintaacuteticas mas o mesmo conteuacutedo semacircntico ou seja de forma diferente elas dizem o mesmo

Da mesma foram podemos conceber situaccedilotildees em que ocorre o inverso estruturas sintaacuteti-cas anaacutelogas exprimindo conteuacutedos semacircnticos distintos

(c) se chover vou ao cinema

(d) se nevar vou ao teatro

Satildeo oraccedilotildees que claramente possuem uma estrutura formal anaacuteloga uma mesma sintaxe que pode ser traduzida pela forma ldquose isto entatildeo aquilordquo Em loacutegica formal chamamos esses casos de enunciados condicionais Entretanto ao contraacuterio do exemplo anterior ambas dizem coisas diferentes exprimem sentidos diferentes possuem diferentes condiccedilotildees de verdade

Se como vimos a pouco consideramos que a linguagem natural possui mecanismos estiliacutes-ticos que tornam possiacutevel exprimir conteuacutedos idecircnticos de formas diferentes somos levados a concluir a linguagem comum possui peculiaridades sintaacuteticas proacuteprias que natildeo eacute a mesma

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

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bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 17: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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sintaxe da loacutegica Ter isso claro eacute um preceito metodoloacutegico importantiacutessimo pois muitas vezes podemos ser enganados pelas sutilezas estiliacutesticas tiacutepicas da linguagem natural ao natildeo nos darmos conta da verdadeira estrutura loacutegica dos enunciados Tomemos os seguintes enun-ciados

(e) Joatildeo e Maria satildeo estudantes

(f ) Joatildeo e Maria satildeo namorados

Algo parece nos levar de forma tentadora a acreditar que ambos enunciados possuem a mesma estrutura sintaacutetica diferindo em seus conteuacutedos semacircnticos Parece que a uacutenica dife-renccedila existente entre os dois enunciados eacute aquela relativa aos significados das palavras ldquoestu-dantesrdquo e ldquonamoradosrdquo Portanto do ponto de vista sintaacutetico e formal os enunciados seriam equivalentes a diferenccedila seria portanto de ordem eminentemente semacircntica

No entanto esta suposta similaridade formal entre os dois enunciados eacute apenas aparente e estaacute diretamente relacionada agrave maneira como na linguagem natural podemos construir os enunciados e expressar as proposiccedilotildees e seus sentidos Poreacutem uma pequena anaacutelise loacutegica dos enunciados nos mostraraacute um quadro bastante diferente

Comecemos com uma pergunta simples e elementar quantas lsquocoisasrsquo satildeo afirmadas no enun-ciado (e) e quantas no (f ) Aqui a aparente similaridade sintaacutetica dos enunciados comeccedila a cair por terra Claramente a proposiccedilatildeo (e) afirma duas coisas a saber que Joatildeo eacute estudante e que Maria eacute estudante Trata-se em loacutegica de uma proposiccedilatildeo molecular uma proposiccedilatildeo que na verdade eacute composta por duas proposiccedilotildees atocircmicas unidas pelo conectivo loacutegico ldquoerdquo tambeacutem chamado de conjunccedilatildeo Em termos logicamente precisos a proposiccedilatildeo tem a forma ldquoP ^ Qrdquo ou seja ldquoJoatildeo eacute estudante e Maria eacute estudanterdquo E de acordo com os ditames da loacutegica formal a proposiccedilatildeo como um todo somente seraacute verdadeira se ambas as proposiccedilotildees atocircmicas que a compotildeem tambeacutem o forem se de fato Joatildeo for estudante e Maria for estudante Se apenas um deles for estudante ou nenhum o for a proposiccedilatildeo seraacute falsa

O enunciado (f ) por sua vez natildeo conteacutem uma afirmaccedilatildeo sobre Joatildeo e outra sobre Maria como o enunciado (e) Ao inveacutes disso afirma uma uacutenica coisa que envolve Joatildeo e Maria Estabelece uma relaccedilatildeo entre ambos o que eacute muito diferente do que dizer que ambos pos-suem um mesmo predicado O enunciado (f ) natildeo exprime uma proposiccedilatildeo molecular Natildeo eacute um enunciado complexo composto por dois enunciados simples conectados mas eacute um uacutenico

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enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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nespRedefor bull M

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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Page 18: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

enunciado Em termos precisos natildeo se trata de dois enunciados predicativos como no caso de (e) mas de um uacutenico enunciado relacional Natildeo afirma propriedade de objetos mas uma relaccedilatildeo entre objetos ldquoNamoradordquo eacute um termo relacional sempre se eacute namorado de algueacutem Portanto qualquer proposiccedilatildeo que enunciar a relaccedilatildeo lsquoser namorado dersquo sempre deveraacute possuir dois termos relacionados Natildeo de trata de duas proposiccedilotildees cada qual com seu sujeito como no enunciado (e) mas pode-se dizer de uma proposiccedilatildeo com dois sujeitos

Por conta de fenocircmenos como o que acabou de ser exposto e de outros muito mais com-plexos importantes filoacutesofos4 passaram a adotar uma postura criacutetica com relaccedilatildeo agrave linguagem A linguagem natural eacute um terreno bastante propiacutecio a ambiguidades E a filosofia que traba-lha exclusivamente com conceitos e por isso mesmo possui uma muito estreita relaccedilatildeo com a linguagem deve se preocupar com a determinaccedilatildeo da verdadeira estrutura loacutegica de seus proacuteprios enunciados Eacute somente na linguagem que esses conceitos os proacuteprios objetos da filo-sofia podem ser expressos conhecidos e determinados Por isso um importante momento do saber filosoacutefico deve consistir na filosofia enquanto instrumento de anaacutelise da linguagem Se num exemplo tatildeo banal quanto os mencionados acima a linguagem natural quase nos pregou uma peccedila nos complexos emaranhados conceituais do saber filosoacutefico isso se torna ainda mais dramaacutetico Uma pergunta metodoloacutegica importante que devemos fazer nesse sentido eacute o que o enunciado efetivamente diz Qual o sentido ou os sentidos efetivamente expressos por eles Mais ainda este enunciado de fato expressa algum sentido

23 ndash A estrutura formal da proposiccedilatildeo

O primeiro filoacutesofo a fornecer uma teoria sistemaacutetica da proposiccedilatildeo foi Aristoacuteteles5 Para ele e para mais de 2000 anos de histoacuteria da filosofia a proposiccedilatildeo possui a forma ldquoS eacute Prdquo e seus principais componentes satildeo o termo sujeito e o termo predicado Desta forma a proposiccedilatildeo eacute concebida como um conteuacutedo objetivo que afirma ou nega de algo de algo Se digo por exem-plo ldquoa casa eacute brancardquo estou a afirmando a brancura da casa se digo que ldquocatildeo natildeo eacute mansordquo estou

4 Fregeeacuteconsideradopormuitoscomoofundadordachamadafilosofia analiacuteticaqueseestabeleceemlinhas

geraissegundooprimadodeotrabalhofundamentaldosaberfilosoacuteficoeacuteodaanaacuteliseloacutegicadalinguagemWittgenstein

CarnapMooreAyerentreoutrossatildeoexpoentesdestaescolafilosoacutefica

5 PlatatildeoantesdeAristoacutetelesjaacutehaviaapontadoparaoproblemaproposicionaleesboccediladoumateoriadapropo-

siccedilatildeonoSofista Noentantodopontodevistaestritamenteformalaspassagensplatocircnicassatildeoaindaesboccedilosmuito

rudimentaresdaquiloqueAristoacutetelesapresentaraacutenoseuOrganonsobreaestruturadaproposiccedilatildeo

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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                                                3. Paacutegina 3
                                                4. Paacutegina 4
                                                5. Paacutegina 5
                                                6. Paacutegina 6
                                                7. Paacutegina 7
                                                8. Paacutegina 8
                                                9. Paacutegina 9
                                                10. Paacutegina 10
                                                11. Paacutegina 11
                                                12. Paacutegina 12
                                                13. Paacutegina 13
                                                14. Paacutegina 14
                                                15. Paacutegina 15
                                                16. Paacutegina 16
                                                17. Paacutegina 17
                                                18. Paacutegina 18
                                                19. Paacutegina 19
                                                20. Paacutegina 20
                                                21. Paacutegina 32
                                                22. Paacutegina 33
                                                23. Paacutegina 34
                                                24. Paacutegina 35
                                                25. Paacutegina 36
                                                26. Paacutegina 37
                                                27. Paacutegina 38
                                                28. Paacutegina 39
                                                29. Paacutegina 40
                                                30. Paacutegina 41
                                                31. Paacutegina 42
                                                32. Paacutegina 43
                                                33. Paacutegina 44
                                                  1. Bot_Bloco6
                                                    1. Paacutegina 1
                                                      1. Bot_Bloco1
                                                        1. Paacutegina 2
                                                        2. Paacutegina 3
                                                        3. Paacutegina 4
                                                        4. Paacutegina 5
                                                        5. Paacutegina 6
                                                        6. Paacutegina 7
                                                        7. Paacutegina 8
                                                        8. Paacutegina 9
                                                        9. Paacutegina 10
                                                        10. Paacutegina 11
                                                        11. Paacutegina 12
                                                        12. Paacutegina 13
                                                        13. Paacutegina 14
                                                        14. Paacutegina 15
                                                        15. Paacutegina 16
                                                        16. Paacutegina 17
                                                        17. Paacutegina 18
                                                        18. Paacutegina 19
                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
                                                        21. Paacutegina 22
                                                        22. Paacutegina 23
                                                        23. Paacutegina 24
                                                        24. Paacutegina 25
                                                        25. Paacutegina 26
                                                        26. Paacutegina 27
                                                        27. Paacutegina 28
                                                        28. Paacutegina 29
                                                        29. Paacutegina 30
                                                        30. Paacutegina 31
                                                        31. Paacutegina 32
                                                        32. Paacutegina 33
                                                        33. Paacutegina 34
                                                        34. Paacutegina 35
                                                        35. Paacutegina 36
                                                        36. Paacutegina 37
                                                        37. Paacutegina 38
                                                        38. Paacutegina 39
                                                        39. Paacutegina 40
                                                        40. Paacutegina 41
                                                        41. Paacutegina 42
                                                        42. Paacutegina 43
                                                        43. Paacutegina 44
                                                          1. Bot_Bloco7
                                                            1. Paacutegina 2
                                                            2. Paacutegina 3
                                                              1. Bot_Tema6
                                                                1. Paacutegina 4
                                                                2. Paacutegina 5
                                                                3. Paacutegina 6
                                                                4. Paacutegina 7
                                                                5. Paacutegina 8
                                                                6. Paacutegina 9
                                                                  1. Bot_Tema7
                                                                    1. Paacutegina 10
                                                                    2. Paacutegina 11
                                                                    3. Paacutegina 12
                                                                    4. Paacutegina 13
                                                                    5. Paacutegina 14
                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
                                                                        1. Paacutegina 21
                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
                                                                            6. Paacutegina 37
                                                                            7. Paacutegina 38
                                                                            8. Paacutegina 39
                                                                            9. Paacutegina 40
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                                                                            11. Paacutegina 42
                                                                            12. Paacutegina 43
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                                                                                1. Paacutegina 44
Page 19: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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negando a mansidatildeo do catildeo Uma caracteriacutestica importante desta teoria da proposiccedilatildeo eacute o fato dela ser anaacuteloga agrave estrutura gramatical que tambeacutem se estabelece sob a forma sujeitopredicado

Haacute uma pressuposiccedilatildeo de ordem ontoloacutegica sustentando esta estrutura sintaacutetica propo-sicional a concepccedilatildeo de que o mundo eacute composto por substacircncias e que estas substacircncias possuem atributos propriedades Neste sentido nada parece mais apropriado para expressar verdades acerca do mundo do que um mecanismo loacutegico-formal apto a expressar propriedades de substacircncias e a estrutura sujeitopredicado eacute certamente muito adequada para isso

A filosofia aristoteacutelica deixou ademais um muito eficaz esquema de classificaccedilatildeo e ordena-ccedilatildeo do mundo baseado nas categorias de gecircneros e espeacutecies6 Este esquema eacute tatildeo poderoso que ateacute hoje muitas ciecircncias ainda o utilizam para catalogar suas descobertas A classificaccedilatildeo por gecircneros e espeacutecies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses Assim por exemplo animal eacute um gecircnero do qual homem cavalo e lagartixa satildeo espeacutecies ou primata eacute um gecircnero do qual homem chimpanzeacutes e babuiacutenos satildeo espeacutecies De maneira formal pode-se dizer que o gecircnero eacute uma classe que inclui vaacuterias outras subclasses dentre dela e a espeacutecie eacute uma dessas subclasses contidas dentro do gecircnero De modo geral o esquema gecircneroespeacutecie eacute muito uacutetil para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificaccedilatildeo ou seja da compar-timentaccedilatildeo do mundo em classes e subclasses A partir desta relaccedilatildeo existente entre as diversas classes e subclasses seraacute baseada e fundamentada tambeacutem a silogiacutestica aristoteacutelica a teoria da inferecircncia que seraacute o coraccedilatildeo da loacutegica durante mais de 2000 anos histoacuteria As inferecircncias silogiacutesticas satildeo todas baseadas nas relaccedilotildees de inclusatildeo ou exclusatildeo de classes em outras classes classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito termo predicado e termo meacutedio7

Para este procedimento classificatoacuterio como eacute possiacutevel notar o esquema proposicional baseado nas categorias de sujeito e predicado parece muito eficaz Seraacute poreacutem necessaacuterio intro-duzir outro elemento de ordem formal na estrutura proposicional o quantificador No esquema formal proposto pela loacutegica aristoteacutelica os quantificadores satildeo expressos pelos termos ldquotodordquo e ldquoalgumrdquo ldquonenhumrdquo tambeacutem eacute utilizado como quantificador mas ele nada mais eacute do que a nega-ccedilatildeo do ldquotodordquo ou seja ldquotodo natildeo eacuterdquo equivale a dizer ldquonenhum eacuterdquo 6 Segundoa tradiccedilatildeoaristoteacutelica existemcincopredicaacuteveis oumodosgerais deatribuiccedilatildeo gecircnero espeacutecie

diferenccedilaproacuteprioeacidenteOGecircneroeacuteapartedaessecircnciaqueeacutecomumavaacuteriasespeacutecieseaespeacutecierepresentaa

essecircnciadoser

7 Na disciplina Loacutegica e filosofia da ciecircnciaqueocorreraacutenoterceiromoacutedulodocursomaiscoisasdeveratildeoser

ditasarespeitodasilogiacutesticaaristoteacutelica

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De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
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                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
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                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
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                                                                              1. Bot_Bloco8
                                                                                1. Paacutegina 44
Page 20: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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oacutedulo III bull Disciplina 06

De posse dos termos sujeito e predicado dos quantificadores e da coacutepula (a partiacutecula que une o sujeito e o predicado e que determina se a proposiccedilatildeo eacute afirmativa ou negativa ldquoeacuterdquo e ldquonatildeo eacuterdquo) a proposiccedilatildeo torna-se um poderoso instrumento para estabelecer a classificaccedilatildeo do mundo a partir das categorias de gecircnero e espeacutecie e para estabelecer as inferecircncias silogiacutesticas Isso porque podemos criar quatro formas proposicionais baacutesicas chamadas de proposiccedilotildees categoacutericas capa-zes de abarcar todos os casos possiacuteveis de classificaccedilatildeo e de relaccedilatildeo ente classes e subclasses essas formas proposicionais receberam os nomes A E I e O

A - Todo A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal afirmativa afirma que a classe denotada pelo termo A estaacute totalmente contida na classe denotada pelo termo B Por exemplo quando afir-mamos que ldquotodo homem eacute mortalrdquo estamos dizendo que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais

E ndash Nenhum A eacute B eacute uma proposiccedilatildeo universal negativa afirma que a nenhum elemento da classe denotada pelo termo A estaacute faz parte da classe denotada por B Por exemplo ldquonenhum homem eacute abacaxirdquo afirma que natildeo existe nenhum elemento que pertenccedila agrave classe dos homens e dos abacaxis ou seja que a classe dos homens estaacute totalmente excluiacuteda da classe dos abacaxis

I ndash Algum A eacute B eacute a forma de uma proposiccedilatildeo singular afirmativa Ela afirma uma inclusatildeo de classe no entanto ao contraacuterio da universal afirmativa o quantificador algum indica que esta inclusatildeo eacute apenas parcial e natildeo total Dizemos pois que a classe denotada por A estaacute par-cialmente contida na classe denotada por B

O ndash Algum A natildeo eacute B eacute uma proposiccedilatildeo singular negativa Afirma uma exclusatildeo parcial a classe denotada por A estaacute parcialmente excluiacuteda da classe denotada por B

Podemos notar a partir dos exemplos acima que a estrutura proposicional baseada nas categorias de sujeito e predicado eacute muito eficaz para atribuir propriedades a objetos e para estabelecer relaccedilotildees de pertinecircncia ou natildeo pertinecircncia de objetos a classes e de subclasses a classes Com o auxiacutelio da coacutepula (que determina se a proposiccedilatildeo expressa uma inclusatildeo ou exclusatildeo) e dos quantificadores que diz se inclusatildeo ou exclusatildeo eacute parcial ou total parece que os casos previstos acerca do que pode ser expresso verdadeiramente pela linguagem estatildeo todos contemplados

No entanto apenas parece Eacute certo e natildeo haacute como negar que de fato as coisas possuem

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atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                            27. Paacutegina 38
                                            28. Paacutegina 39
                                            29. Paacutegina 40
                                            30. Paacutegina 41
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                                              1. Bot_Tema3
                                                1. Paacutegina 1
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                                                5. Paacutegina 5
                                                6. Paacutegina 6
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                                                8. Paacutegina 8
                                                9. Paacutegina 9
                                                10. Paacutegina 10
                                                11. Paacutegina 11
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                                                14. Paacutegina 14
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                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
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                                                        37. Paacutegina 38
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                                                            2. Paacutegina 3
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                                                                2. Paacutegina 5
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                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
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                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
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                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
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                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
                                                                            6. Paacutegina 37
                                                                            7. Paacutegina 38
                                                                            8. Paacutegina 39
                                                                            9. Paacutegina 40
                                                                            10. Paacutegina 41
                                                                            11. Paacutegina 42
                                                                            12. Paacutegina 43
                                                                              1. Bot_Bloco8
                                                                                1. Paacutegina 44
Page 21: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

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oacutedulo III bull Disciplina 06

atributos e que expressar esses atributos acerca das coisas eacute uma funccedilatildeo agrave qual a proposiccedilatildeo deve estar apta Eacute certo tambeacutem que a posse de atributos especiacuteficos eacute capaz de subdividir o mundo em classes Se algo possui um determinado atributo entatildeo faz sentido dizer que este algo pertence agrave classe das coisas que possuem aquele atributo Se a grama eacute verde ela pertence agrave classe das coisas verdes se toda grama eacute verde entatildeo a classe das coisas que satildeo consideradas grama estaacute totalmente contida na classe das coisas verdes Elementar

No entanto as coisas do mundo aleacutem de possuiacuterem propriedades estatildeo tambeacutem umas para as outras elas tambeacutem se relacionam Eacute claro que o carro pode ser amarelo grande espaccediloso luxuoso etc etc mas ele tambeacutem pode estar ao lado de outro carro dentro da garagem em cima da calccedilada pode ser mais velho que outro carro maior que um outro ainda ele pode estar agrave direita ou agrave esquerda da aacutervore em cima ou embaixo do viaduto Enfim aleacutem de ser capaz de afirmar as propriedades que as coisas possuem a proposiccedilatildeo tambeacutem deve estar apta a expressar as relaccedilotildees que os objetos do mundo manteacutem uns para com os outros E aqui a ineficaacutecia da estrutura sintaacutetica baseada nas categorias de sujeito e predicado comeccedila a se apre-sentar Tomemos o seguinte exemplo

(g) Joatildeo eacute irmatildeo de Maria

ldquoSer irmatildeordquo eacute uma relaccedilatildeo lsquosimeacutetricarsquo ou seja a relaccedilatildeo vale num sentido e no outro Neste caso podemos dizer tambeacutem

(h) Maria eacute irmatilde de Joatildeo

Ambos enunciados expressam o mesmo sentido Fica pois a pergunta qual eacute sujeito da proposiccedilatildeo e qual eacute o predicado Do ponto de vista gramatical eacute oacutebvio que no primeiro exem-plo o sujeito eacute ldquoJoatildeordquo e no segundo eacute ldquoMariardquo Mas conforme foi dito as proposiccedilotildees dizem o mesmo expressam o mesmo sentido Como eacute possiacutevel entatildeo que oraccedilotildees que tenham sujeitos e predicados distintos signifiquem o mesmo A resposta eacute inevitaacutevel ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo em cada caso satildeo os sujeitos gramaticais da oraccedilatildeo e natildeo os sujeitos loacutegicos da proposiccedilatildeo Do ponto de vista loacutegico ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo natildeo expressa uma propriedade de Joatildeo de Maria ou de ambos Ao contraacuterio expressa uma relaccedilatildeo entre eles Trata-se de um caso no qual em certo sentido pode-se dizer que a proposiccedilatildeo tem dois sujeitos porque a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo exige que haja um elemento de cada lado Natildeo temos como seria natural pensar se seguiacutessemos o esquema sujeitopredicado lsquoJoatildeorsquo como sujeito e lsquoser irmatildeo de Mariarsquo como predicado conforme

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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                                                3. Paacutegina 3
                                                4. Paacutegina 4
                                                5. Paacutegina 5
                                                6. Paacutegina 6
                                                7. Paacutegina 7
                                                8. Paacutegina 8
                                                9. Paacutegina 9
                                                10. Paacutegina 10
                                                11. Paacutegina 11
                                                12. Paacutegina 12
                                                13. Paacutegina 13
                                                14. Paacutegina 14
                                                15. Paacutegina 15
                                                16. Paacutegina 16
                                                17. Paacutegina 17
                                                18. Paacutegina 18
                                                19. Paacutegina 19
                                                20. Paacutegina 20
                                                21. Paacutegina 32
                                                22. Paacutegina 33
                                                23. Paacutegina 34
                                                24. Paacutegina 35
                                                25. Paacutegina 36
                                                26. Paacutegina 37
                                                27. Paacutegina 38
                                                28. Paacutegina 39
                                                29. Paacutegina 40
                                                30. Paacutegina 41
                                                31. Paacutegina 42
                                                32. Paacutegina 43
                                                33. Paacutegina 44
                                                  1. Bot_Bloco6
                                                    1. Paacutegina 1
                                                      1. Bot_Bloco1
                                                        1. Paacutegina 2
                                                        2. Paacutegina 3
                                                        3. Paacutegina 4
                                                        4. Paacutegina 5
                                                        5. Paacutegina 6
                                                        6. Paacutegina 7
                                                        7. Paacutegina 8
                                                        8. Paacutegina 9
                                                        9. Paacutegina 10
                                                        10. Paacutegina 11
                                                        11. Paacutegina 12
                                                        12. Paacutegina 13
                                                        13. Paacutegina 14
                                                        14. Paacutegina 15
                                                        15. Paacutegina 16
                                                        16. Paacutegina 17
                                                        17. Paacutegina 18
                                                        18. Paacutegina 19
                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
                                                        21. Paacutegina 22
                                                        22. Paacutegina 23
                                                        23. Paacutegina 24
                                                        24. Paacutegina 25
                                                        25. Paacutegina 26
                                                        26. Paacutegina 27
                                                        27. Paacutegina 28
                                                        28. Paacutegina 29
                                                        29. Paacutegina 30
                                                        30. Paacutegina 31
                                                        31. Paacutegina 32
                                                        32. Paacutegina 33
                                                        33. Paacutegina 34
                                                        34. Paacutegina 35
                                                        35. Paacutegina 36
                                                        36. Paacutegina 37
                                                        37. Paacutegina 38
                                                        38. Paacutegina 39
                                                        39. Paacutegina 40
                                                        40. Paacutegina 41
                                                        41. Paacutegina 42
                                                        42. Paacutegina 43
                                                        43. Paacutegina 44
                                                          1. Bot_Bloco7
                                                            1. Paacutegina 2
                                                            2. Paacutegina 3
                                                              1. Bot_Tema6
                                                                1. Paacutegina 4
                                                                2. Paacutegina 5
                                                                3. Paacutegina 6
                                                                4. Paacutegina 7
                                                                5. Paacutegina 8
                                                                6. Paacutegina 9
                                                                  1. Bot_Tema7
                                                                    1. Paacutegina 10
                                                                    2. Paacutegina 11
                                                                    3. Paacutegina 12
                                                                    4. Paacutegina 13
                                                                    5. Paacutegina 14
                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
                                                                        1. Paacutegina 21
                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
                                                                            6. Paacutegina 37
                                                                            7. Paacutegina 38
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Page 22: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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nos ensinaria a professora de gramaacutetica temos a relaccedilatildeo lsquoser irmatildeorsquo ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo seus termos

Natildeo vamos adentrar nos mecanismos formais da loacutegica para estabelecermos de modo for-malmente preciso as estruturas da sintaxe loacutegica em oposiccedilatildeo agrave sintaxe gramatical pois exigiria um curso soacute para isso O importante eacute sabermos que existe uma distinccedilatildeo que deve ser obede-cida entre a estrutura gramatical e a estrutura loacutegica

O filoacutesofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsaacutevel pela reformulaccedilatildeo dos mecanismos sintaacuteticos da loacutegica foi Gottlob Frege8 De acordo com Frege a sintaxe loacutegica da proposiccedilatildeo eacute baseada nas categorias de conceito e objeto natildeo sujeito e predicado Um conceito Para Frege eacute uma entidade insaturada que possui um espaccedilo vazio que precisa ser preenchido para formar uma proposiccedilatildeo e adquirir significado Por exemplo ldquo__ eacute irmatildeo de __ldquo eacute um conceito ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo satildeo os objetos ldquoJoatildeordquo e ldquoMariardquo preenchem o conceito em nosso exemplo acima produzindo a proposiccedilatildeo ldquoJoatildeo eacute irmatildeo de Mariardquo Da mesma forma num enunciado predicativo ldquo___ eacute filoacutesofordquo eacute o conceito ldquoSoacutecratesrdquo eacute o objeto quando Soacutecrates assume o lugar vazio existente no conceito teremos a proposiccedilatildeo com sentido ldquoSoacutecrates eacute filoacute-sofordquo

Tambeacutem problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da propo-siccedilatildeo seratildeo resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege Enunciados que possuem quantificaccedilatildeo muacuteltipla onde natildeo soacute o sujeito mas tambeacutem o predi-cado satildeo quantificados (por exemplo ldquotodo homem ama alguma mulherrdquo) que eram problemaacuteti-cos e recebiam explicaccedilotildees muito insatisfatoacuterias e artificiosas dentro do esquema aristoteacutelico passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano Com isso a loacutegica que de acordo com Kant9 jaacute estava pronta e acabada desde Aristoacuteteles seraacute fundada novamente por Frege e se mostraraacute uma ciecircncia com ainda muito a evoluir

Estas questotildees entretanto infelizmente natildeo cabem no conteuacutedo da presente disciplina e

8 GotllobFrege(1848-1925)foiumimportantefiloacutesofoematemaacuteticoalematildeoConsideradoofundadordaloacutegica

matemaacuteticacontemporacircneaFregefoitambeacutemumdosimportantesfiloacutesofosdalinguagemdahistoacuteriadopensamento

9 KantnoprefaacuteciodaCriacutetica da Razatildeo Puraaofalarsobreoqueelechamadelsquoviaseguradaciecircnciarsquoaponta

paraofatodequeaLoacutegicaemboracomvalidadenecessaacuteriaeuniversalcomoexigeoconceitokantianodeciecircncia

natildeoerapropriamenteumaciecircnciaporjaacuteestarprontaeacabadapornatildeolsquoevoluirrsquoprogredireavanccedilarConhecimento

cientiacuteficoparaKanteacuteconhecimentoqueseacumulaeaLoacutegicaporestarprontaeacabadanatildeoobedeciaestecriteacuterio

Fregeseencarregouderefutarestaposiccedilatildeokantianaedemonstrouquealoacutegicasimpodeselsquoexpandirrsquo

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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Page 23: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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estatildeo sendo apenas mencionadas Sobre os aspectos loacutegico-formais da revoluccedilatildeo operada por Frege na loacutegica natildeo falaremos mais De algumas implicaccedilotildees semacircnticas disso falaremos do Tema 4 Poreacutem apesar de natildeo nos aprofundarmos nisso eacute importante atentar para o fato de que a estrutura formal do pensamento e as estrutura formal da linguagem e da gramaacutetica natildeo satildeo propriamente equivalentes e isso Frege nos ensinou melhor que ningueacutem Foi um erro loacutegico e filosoacutefico milenar acreditar ser possiacutevel analisar e decompor as proposiccedilotildees os senti-dos expressos pelos enunciados afirmativos ou negativos utilizando o instrumental analiacutetico da gramaacutetica Ao contraacuterio a trabalho de anaacutelise loacutegica da linguagem deve servir para desvelar o sentido preciso das proposiccedilotildees algumas vezes encobertos pelas sutilezas estiliacutesticas da lin-guagem natural

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 24: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMA 3

Filosofia e linguagem no empirismo britacircnico Locke e Mill

31 ndash Supostos histoacutericos

A filosofia moderna10 foi fortemente marcada pelo idealismo Vaacuterios filoacutesofos modernos racionalistas ou empiristas continentais ou insulares compartilhavam em linhas gerais uma mesma tese de natureza epistemoloacutegica natildeo temos acesso cognitivo direto agraves coisas do mundo mas conhecemos somente seus representantes ou seja as ideacuteias que somos capazes de formar acerca dessas coisas11 Haacute dentro do contexto filosoacutefico moderno uma suposiccedilatildeo que daacute sustentaccedilatildeo agrave tese

10 Ahistoacuteriadafilosofiaeacutecomumenteemquatrograndesperiacuteodosfilosofia antiga medieval moderna e contem-

poracircnea Por filosofia modernaentende-sepoisaperiacuteododecercadedoisemeioseacuteculosqueabrangesobretudoos

seacuteculosXVIIeXVII

11 NamodernidadedeDescartesateacuteKantpraticamentetodososfiloacutesofosaceitavamateoriaepistemoloacutegicade

queoacessocognitivoquetemosagravescoisasdomundosedaacuteporintermeacutediodeentidadesdeordemsubjetivaquepode-se

dizer representam as coisas do mundo

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idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                                                        1. Paacutegina 21
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Page 25: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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oacutedulo III bull Disciplina 06

idealista nossa consciecircncia dadas sua estrutura e natureza natildeo pode ter as coisas mesmas do universo fiacutesico como objetos cognitivos uma vez que essas coisas natildeo lsquocabemrsquo na consciecircncia A consciecircncia tem uma estrutura tal e uma natureza tal que pedras madeiras metais corpos vivos etc natildeo podem lsquoentrarrsquo dentro dela Embora eu veja um caderno eu segure um laacutepis ou uma borracha o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se daacute pela posse de lsquorepresentantesrsquo ideais desses objetos ou seja as ideacuteias dos objetos estas sim aptas a lsquohabitarrsquo o universo cogni-tivo de um sujeito No mundo fiacutesico habitam objetos fiacutesicos no mundo psiacutequico da consciecircn-cia somente pode haver objetos psiacutequicos ou seja ideacuteias

O chamado empirismo inglecircs moderno fundamenta-se claramente na tese idealista man-tendo que os uacutenicos objetos que somos capazes de lsquoportarrsquo em nossas mentes satildeo ideacuteias e que essas satildeo obtidas exclusivamente a partir da experiecircncia sensiacutevel Eacute muito famosa a analogia proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa a uma folha de papel em branco na qual as ideacuteias se imprimem na medida em que temos experiecircncias empiacutericas12 Aliaacutes o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justa-mente aacute pergunta acerca da natureza e origem de nossas ideacuteias Os racionalistas defendendo a existecircncia de ideacuteias inatas (isto eacute natildeo adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas ideacuteias satildeo obtidas por meio da experiecircncia

A filosofia moderna de origem britacircnica seraacute fortemente marcada pelo primado idealista e isso iraacute refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que seratildeo produzidas pelos filoacutesofos anglo-saxotildees Aleacutem do apego ao primado idealista a filosofia inglesa nutriu tambeacutem um interesse particular pela linguagem Jaacute na idade meacutedia o filoacutesofo britacircnico Guilherme de Ockham13 e seu nominalismo apontava de forma sistemaacutetica para a importacircncia das reflexotildees filosoacuteficas acerca da linguagem e de certa forma colocava o problema de se elaborar uma teoria do significado como elemento capaz de dar sustentaccedilatildeo teoacuterica e sistemaacutetica para toda filosofia Ockham foi por assim dizer o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filo-sofia britacircnica Sua famosa lsquonavalharsquo que buscava lsquocortarrsquo das consideraccedilotildees ontoloacutegicas todas as supostas entidades que natildeo fossem coisas individuais foi a pedra de toque da filosofia britacircnica 12 LockededicaosdoisprimeiroslivrosdesuagrandeobraEnsaio acerca do entendimento humanoagraveconsidera-

ccedilatildeodasideacuteiasNolivroIoautordefendeainexistecircnciadeideacuteiasinatastesefundamentaldoempirismoNoLivroIIdescrecirc

minuciosamenteosprocessosdeaquisiccedilatildeodeideacuteiassimplespormeiodaexperiecircnciaelsquoprocessamentorsquodessasideias

simplesnaproduccedilatildeodeideacuteiascomplexas

13 GuilhermedeOckham(1225-1349)foiumteoacutelogoefiloacutesofoinglecircsMuitosoconsideramolsquofundadorrsquodafilosofia

britacircnica baseada no empirismo no nominalismoeconsequentementenumgrandeapreccedilopelalinguagem

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posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 26: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

posterior que em geral defendia que somente existiam coisas individuais no mundo negando assim a existecircncia dos universais Finca-se com isso uma das bases da filosofia empirista tipi-camente britacircnica uma vez que a experiecircncia somente pode nos dar acesso a coisas individuais e jamais a entidades gerais

A existecircncia ou natildeo dos universais foi o centro da jaacute mencionada polecircmica entre realismo e nominalismo tatildeo importante na filosofia medieval A pergunta que move a disputa tal disputa eacute aquela com relaccedilatildeo ao estatuto dos universais ou seja das supostas naturezas gerais comuns a vaacuterias coisas individuais Como foi visto anteriormente a proposiccedilatildeo de acordo com a estru-tura formal aristoteacutelica eacute composta pelos termos sujeito e predicado E esses termos conforme foi visto tambeacutem tecircm o poder de estabelecer na proposiccedilatildeo relaccedilotildees entre classes Ou seja dizer ldquotodo homem eacute mortalrdquo significa dizer no universo da sintaxe loacutegica aristoteacutelica que a classe dos homens estaacute totalmente contida na classe dos mortais Ora parece inevitaacutevel para o filoacutesofo dentro deste contexto perguntar pela da natureza dessas classes desses supostos objetos universais A resposta realista diraacute que as classes tecircm existecircncia e satildeo reais ao passo que os nominalistas como Ockham diratildeo que somente existem coisas individuais no mundo e que a uacutenica coisa que os objetos pertencentes a uma mesma classe tecircm em comum eacute o nome geral comum que atribuiacutemos a eles Parece pois natural mesmo dito assim de forma tatildeo geneacuterica e superficial que o nominalismo dirigiraacute a filosofia na direccedilatildeo da linguagem e da natureza do processo de significaccedilatildeo pois estaraacute nos nomes os elementos capazes de explicar o fenocircmeno da generalizaccedilatildeo

Idealismo nominalismo unitarismo ontoloacutegico empirismo e interesse pela linguagem eis as bases de sustentaccedilatildeo da filosofia inglesa que emergiu na modernidade

32 ndash O conceitualismo de Locke

Aleacutem das caracteriacutesticas mencionadas logo acima tambeacutem o contratualismo foi uma carac-teriacutestica marcante da filosofia britacircnica moderna Tanto Hobbes14 quanto Locke15 cada qual

14 ThomasHobbes(1588-1679)foiumimportantefiloacutesofomatemaacuteticoelinguistamodernoSeupensamentoin-

fluencioudecisivamenteafilosofiabritacircnicanamodernidade

15 JohnLocke(1632-1704)foiomaisimportanteeinfluentefiloacutesofodamodernidadebritacircnicaSeuEnsaio acerca

do entendimento humanoinfluencioutodopensamentomodernoempiristaounatildeo(tantoqueoracionalistaLeibnizescre-

veuseusNovos ensaios comoumarespostasalivrodeLocke)OLivroIIIdoEnsaio Sobre as palavraseacuteconsideradoo

primeiro tratado de semacircntica moderno

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nespRedefor bull M

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

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bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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Page 27: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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agrave sua maneira defenderatildeo que o processo civilizatoacuterio pode se dar por conta de um acordo de um pacto de um contrato estipulado pelos homens o que tambeacutem leva necessariamente a uma valorizaccedilatildeo sistemaacutetica do fenocircmeno da linguagem no conjunto das atividades humanas uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos Tal estado de coisas acabou por impor aos filoacutesofos mencionados a necessidade de se criar uma teoria formal do significado baseada na mediaccedilatildeo de elementos de natureza psiacutequica para que possa se dar o processo significativo Agrave tese que afirma que o significado se daacute pela mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semacircntico

Embora Thomas Hobbes16 tenha antes de Locke esboccedilado uma muito interessante teoria do signo e uma teoria psicoloacutegica do significado o primeiro grande modelo de teoria psicoloacute-gica da linguagem que temos na modernidade eacute o Livro III do Ensaio acerca do entendimento humano de John Locke Ali pela primeira vez na modernidade temos um livro inteiro dedi-cado ao processo de significaccedilatildeo linguumliacutestica Este de acordo com Locke eacute determinado pela mediaccedilatildeo realizada pelas ideacuteias no estabelecimento da relaccedilatildeo que deve haver entre o signo e o mundo entre as palavras e as coisas Somente de forma indireta e mediata as palavras em algum sentido referem-se agraves coisas somente na medida em que supomos que nossas ideacuteias representam coisas lsquoreaisrsquo De forma direta e imediata no entanto as palavras satildeo signos de nossas ideacuteias refere-se ao universo psiacutequico e natildeo agraves coisas mesmas O argumento lockeano eacute bastante plausiacutevel segundo ele a necessidade que temos de entrar em acordo de nos enten-dermos leva a necessidade de se criar signos sensiacuteveis capazes de comunicar nossos pensa-mentos nossas ideacuteias Se focircssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso direto e imediato agraves ideacuteias nas mentes de outros homens natildeo seria necessaacuteria a linguagem Como poreacutem de acordo com os pressupostos empiristas de Locke somente podemos conhe-cer aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos e esse natildeo eacute o caso das entidades psiacutequicas que ele chama de ideacuteia faz-se necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de signos sensiacuteveis para externar essas ideacuteias Sendo assim nada mais apropriado do que a utilizaccedilatildeo dos sons arti-culados que somos capazes de emitir como signos (isto eacute substitutos) das ideacuteias Se o mundo

16 EmborapossuaumaconcepccedilatildeodesignobastantediferentedadeLockeHobbesdefendeemlinhasgerais

ummodelosemacircnticoqueseraacutemantidoporeaperfeiccediloadoporLockebaseadonarelaccedilatildeoimediataentresignoseideacuteias

ldquoUm nome eacute uma palavra tomada ao acaso para suscitar em nosso espiacuterito um pensamento semelhante a algum outro

pensamento que tivemos antes e que sendo formulado ante os demais homens eacute para eles um signo do pensamento

que havia no espiacuterito do interlocutor antes de falarrdquo (HOBBES1996)CaacutelculoouloacutegicacapiacutetuloII

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somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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nespRedefor bull M

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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Page 28: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

somente pode ser conhecido indiretamente por intermeacutedio da ideacuteia17 essas ideacuteias por sua vez somente podem ser comunicadas indiretamente por intermeacutedio das palavras Locke nos diz

Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos dos quais tanto os outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer todos eles entretanto estatildeo no inte-rior de si mesmo invisiacuteveis e escondidos dos outros e natildeo podem se manifestar por si mesmos Como o bem estar e a vantagem da sociedade natildeo satildeo realizaacuteveis sem a comunicaccedilatildeo de pen-samentos foi necessaacuterio ao homem desvendar certos sinais sensiacuteveis externos por meio dos quais estas ideacuteias invisiacuteveis dos quais seus pensamentos satildeo formados pudessem ser conheci-das por outros18

A principal consequecircncia que a tese de Locke traz para nossos propoacutesitos eacute o fato de que a relaccedilatildeo semacircntica que deve haver entre as palavras e as coisas do mundo se daacute por meio da mediaccedilatildeo de entidades psiacutequicas pois soacute essas satildeo diretamente denotadas pela linguagem que eacute um ldquoveiacuteculo do pensamentordquo Sendo assim podemos afirmar que em Locke haacute uma semacircn-tica psicoloacutegica ou mais que isso que a semacircntica se reduz agrave psicologia Se queremos estudar e explicar os mecanismos que fazem com que a partir de um signo dado podemos identificar um objeto supostamente real como sua referecircncia devemos lanccedilar matildeo de categorias de ordem psicoloacutegica e subjetiva Natildeo existem aqui categorias conceituais de ordem propriamente lin-guiacutestica ou semacircntica Nisso consiste o que estamos chamando de psicologismo semacircntico a semacircntica se reduz em uacuteltima instacircncia agrave psicologia

Dentro desde modelo a questatildeo referente agrave unidade do sentido proposicional se coloca tambeacutem em termos psicoloacutegicos Se a proposiccedilatildeo eacute entendida como contendo as categorias formais de sujeito e predicado a proposiccedilatildeo seraacute aqui entendida como uma ideacuteia complexa resultante da uniatildeo de duas ideacuteias a saber as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado Assim a verdade e falsidade seratildeo atributos de ideacuteias Por conta desta situ-accedilatildeo o psicologismo semacircntico levado agraves uacuteltimas consequecircncias imporaacute o que chamamos de psicologismo loacutegico Psicologismo loacutegico eacute usualmente definido como sendo a posiccedilatildeo que defende que as leis da loacutegica satildeo leis psicoloacutegicas do pensamento e natildeo leis objetivas que refletem uma legalidade racional independente das mentes que pensam efetivamente Se a loacutegica busca esta-

17 EstatesefoidevidamenteestabelecidaporLockenoLivroIIdoEnsaionoqualoautortratadaorigemdenos-

sasideacuteias

18 LOCKE(1991)EnsaioacercadoentendimentohumanoLivroIIICap2

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oacutedulo III bull Disciplina 06

belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                            27. Paacutegina 38
                                            28. Paacutegina 39
                                            29. Paacutegina 40
                                            30. Paacutegina 41
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                                              1. Bot_Tema3
                                                1. Paacutegina 1
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                                                5. Paacutegina 5
                                                6. Paacutegina 6
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                                                8. Paacutegina 8
                                                9. Paacutegina 9
                                                10. Paacutegina 10
                                                11. Paacutegina 11
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                                                14. Paacutegina 14
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                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
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                                                        37. Paacutegina 38
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                                                            2. Paacutegina 3
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                                                                2. Paacutegina 5
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                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
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                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
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                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
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                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
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                                                                            5. Paacutegina 36
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                                                                            7. Paacutegina 38
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Page 29: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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belecer as relaccedilotildees de derivaccedilatildeo de verdades a partir das proposiccedilotildees dadas e se a proposiccedilatildeo eacute entendida como algo que relaciona duas ideacuteias (as ideacuteias representadas pelo termo sujeito e pelo termo predicado) parece natural afirmar que as leis da loacutegica estabelecem em uacuteltima anaacutelise relaccedilotildees entre ideacuteias A loacutegica seria assim uma parte da psicologia um capiacutetulo da ciecircncia da subjetividade mental e natildeo uma disciplina racional e objetiva que exprime a legalidade do pensamento em geral da proacutepria racionalidade

Diante do que foi exposto aqui podemos dizer que o pensamento semacircntico de Locke eacute um grande modelo e exemplo daquilo que no Tema 1 chamamos de abordagem psicoloacutegica da linguagem a linguagem entendida como instrumento para comunicaccedilatildeo de ideacuteias Veremos seguir uma criacutetica importante a este modelo semacircntico

33 ndash Mill e a refutaccedilatildeo do conceitualismo

Durante cerca de dois seacuteculos apoacutes a publicaccedilatildeo do Ensaio de Locke imperou em parte da filosofia a tendecircncia a reduzir a loacutegica e a semacircntica agrave psicologia No entanto isto trouxe muitos problemas Submeter as supostas leis objetivas da razatildeo agrave contingecircncia das reflexotildees psicoloacutegicas traz consequecircncias que alguns filoacutesofos natildeo estavam dispostos a assumir O grande anti-psicologista que conhecemos eacute Frege que dedicou quase toda sua vida intelectual agrave tarefa de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciecircncia da loacutegica e uma teoria do significa compatiacutevel com ela No entanto antes do alematildeo Frege o inglecircs Stuart Mill havia jaacute dedicado esforccedilos no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada havia mais de dois seacuteculos e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do signifi-cado Vejamos em linhas gerais os principais argumentos da criacutetica milliana ao conceitualismo

A tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias e natildeo agraves coisas mesmas num certo sentido eacute uma consequecircncia quase que necessaacuteria de outra tese que lhe eacute logicamente e sistematicamente anterior de que usamos a linguagem para comunicar nossos pensamentos Nesse sentido a semacircntica seria por um lado reduzida agrave psicologia pois a relaccedilatildeo entre os nomes e o suposto mundo real (de acordo com Locke as coisas reais agraves quais nossas ideacuteias se referem somente satildeo afirmadas por meio de uma suposiccedilatildeo taacutecita) se explicaria em uacuteltima ins-tacircncia por meio de causas psicoloacutegicas que determinam a maneira como adquirimos nossas ideacuteias a partir da experiecircncia empiacuterica Mas por outro lado a semacircntica tambeacutem se reduz agrave

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

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bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 30: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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pragmaacutetica uma vez que eacute o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem impotildee a necessidade de uma semacircntica psicoloacutegica Ora de acordo com essa situaccedilatildeo claro deve estar que para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem agraves ideacuteias seraacute necessaacuterio refutar a tese que daacute suporte e fundamento a esse conceitualismo ou seja dado que a tese semacircntica de que os nomes significam imediatamente ideacuteias supotildee a tese pragmaacutetica de que a linguagem eacute usada para transmitir pensamentos somente seraacute possiacutevel mexer na pri-meira se a segunda tambeacutem for alterada Stuart Mill faraacute justamente isso Em seu Sistema de loacutegica contra a tese conceitualista ele nos diz

Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepccedilatildeo soacute e natildeo a coisa mesma eacute recordada e transmitida pelo nome natildeo haveria nada a se opor No entanto parece razoaacutevel seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol eacute o nome do Sol e natildeo de nossa ideacuteia de Sol Com efeito os nomes natildeo estatildeo destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo que concebemos mas tambeacutem para informar o que noacutes cremos19

E um pouco antes ao tratar das proposiccedilotildees em geral Mill afirma

Tudo o que pode ser objeto de crenccedila e natildeo crenccedila deve ser expresso por palavras e assumir a forma de uma proposiccedilatildeo20

O trecho acima de acordo com os nossos interesses especiacuteficos eacute sem duacutevida uma das principais passagens do Sistema de loacutegica Isso porque eacute aqui que Mill estabelece as bases a partir das quais se sustenta seu anticonceitualismo Como eacute possiacutevel notar Mill nega que os nomes tenham ideacuteias como seus referentes imediatos mencionando o fato de que natildeo usamos a linguagem simplesmente para comunicar aos nossos interlocutores o conteuacutedo de nossas representaccedilotildees subjetivas aquilo que concebemos em nosso universo psicoloacutegico Certamente quando enuncio uma proposiccedilatildeo na qual figura o termo ldquosolrdquo devo ter em mente uma ideacuteia do sol mas isso natildeo deve significar que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Isso porque o sol embora figure enquanto ideacuteia no intelecto de quem enuncia tal proposiccedilatildeo eacute reivindicado com integrante de um fato objetivo do mundo e eacute sobre esse fato objetivo que a proposiccedilatildeo deve estar referida Certamente de acordo com o ponto de vista milliano devo pensar no sol para enunciar uma proposiccedilatildeo na qual a palavra ldquosolrdquo apareccedila mas nem por isso

19 Mill(1979)Sistema de Loacutegica indutiva e dedutivalivroIcapiacutetulo2paraacutegrafo1

20 idemLivroIcapiacutetulo1paraacutegrafo2

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

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bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 31: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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devemos daiacute inferir que eacute sobre a ideacuteia de sol que o discurso proposicional se refere Eacute porque a palavra ldquosolrdquo se apresenta enquanto parte de um conteuacutedo proposicional que busca representar um fato do mundo que ela natildeo pode ter por referecircncia a ideacuteia de sol na mente de quem fala Isso porque de acordo com o ponto de vista de Mill utilizamos a linguagem para falar do mundo para enunciar aquilo que julgamos verdadeiro sobre o mundo o conteuacutedo de nossas crenccedilas enfim emitimos juiacutezos Se a linguagem de fato servisse somente para comunicar aos outros aquilo em que estamos pensando ou seja as ideacuteias que estamos tendo atualmente o conceitualismo teria razatildeo penso num cachorro e pronuncio a palavra ldquocachorrordquo certamente meu interlocutor saberaacute ao me ouvir que penso num cachorro e nesse caso torna-se oacutebvio que o significado imediato de palavra ldquocachorrordquo tal como foi proferida somente pode significar a ideacuteia de cachorro na minha mente no ato da enunciaccedilatildeo Neste caso cairiacuteamos no problema enunciado nas primeiras linhas do Tema 1 No entanto quando utilizo a palavra ldquocachorrordquo para expressar uma crenccedila num fato do mundo no qual o cachorro participa a palavra cachorro teraacute um outro significado e isso graccedilas ao fato de estar inserida num ldquocontexto proposicionalrdquo e aiacute se torna insustentaacutevel a tese de que o significado do termo eacute meramente uma ideacuteia na mente de quem fala Certamente devo estar pensando num cachorro e devo ser capaz de ter uma ideacuteia de cachorro para que eu possa enunciar uma proposiccedilatildeo no qual o termo ldquocachorrordquo aparece No entanto se aceitarmos com Mill que natildeo usamos a linguagem para comunicar o conteuacutedo dos nossos pensamentos (que em termos lockeanos eacute sinocircnimo de comunicar ideacuteias) mas que a funccedilatildeo prioritaacuteria da linguagem estaacute ligada agrave enunciaccedilatildeo proposicional que a funccedilatildeo da linguagem natildeo eacute comunicar o que concebemos em nossas mentes na forma de imagens mentais mas sim as nossas crenccedilas em verdades entatildeo a representaccedilatildeo subjetiva deixa de ser relevante embora esteja suposta

Ora qual eacute a importacircncia de tal argumento para nossos propoacutesitos Salientar que Mill notou a necessidade de se priorizar a noccedilatildeo de verdade numa teoria semacircntica Ele natildeo deixa certamente de fornecer agrave sua teoria uma dimensatildeo pragmaacutetica a linguagem possui uma funccedilatildeo um uso No entanto natildeo usamos a linguagem simplesmente comunicar aos outros o conteuacutedo atual de nossas representaccedilotildees mas para comunicar o lsquoobjeto de nossas crenccedilasrsquo E embora a crenccedila em si mesma seja um estado de consciecircncia - e por isso mesmo uma mani-festaccedilatildeo subjetiva - quando cremos cremos em algo e esse algo eacute algo objetivo A verdade ao contraacuterio do que dizia Locke natildeo se refere agraves nossas ideacuteias mas a fatos objetivos do mundo

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

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Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

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bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 32: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

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Esse foi o principal movimento realizado por Mill no que tange aos problemas que nos inte-ressam particularmente delegar agrave linguagem uma roupagem loacutegica-veritativa em oposiccedilatildeo agrave visatildeo psico-socioloacutegica21 presente no modelo hobbes-lockeano Naquele modelo a teoria da linguagem tem por objetivo sua fundamentaccedilatildeo enquanto instrumento necessaacuterio para o esta-belecimento do contrato social por isso supotildee que sua funccedilatildeo eacute comunicar pensamentos pois soacute lsquotrocando ideacuteiasrsquo (literalmente) os indiviacuteduos podem estabelecer os acordos necessaacuterios ao muacutetuo conviacutevio Aqui no universo de Stuart Mill a linguagem eacute fundamentada enquanto discurso proposicional enquanto instrumento necessaacuterio agrave enunciaccedilatildeo de verdades Natildeo eacute ocioso lembrar o quanto essa mudanccedila de ponto de vista com relaccedilatildeo agrave natureza e funccedilatildeo pragmaacutetica da linguagem foi determinante para muitas das discussotildees que seratildeo empreendidas por filoacute-sofos como Frege Russell Moore ou Wittgenstein para citar somente os mais importantes

Teoria da conotaccedilatildeo

Como foi dito a pouco dentro do esquema conceitualista e psicologista a relaccedilatildeo entre as palavras e os supostos objetos do mundo se daacute pela mediaccedilatildeo de elementos de ordem subjetiva as ideacuteias Ora se este psicologismo semacircntico deve ser refutado e abandonado como quer Mill fica uma questatildeo em aberto o que dentro do novo esquema objetivista e realista cumpriraacute o papel exercido anteriormente pelas entidades psiacutequicas Ou seja se a mediaccedilatildeo entre os signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela ideacuteia se negamos que a ideacuteia executa este papel o que eacute entatildeo responsaacutevel pela mediaccedilatildeo signocoisa Se tirarmos a psicologia de cena outras categorias devem assumir o papel que era delegado agraves instacircncias subjetivas e essas categorias devem ser de ordem semacircntica se quisermos estabelecer uma teoria realista e objetiva do significado

O proacuteprio Stuart Mill agrave sua maneira resolveu esta questatildeo Fez isso introduzindo catego-rias semacircnticas como responsaacuteveis pela relaccedilatildeo de significaccedilatildeo existente entre os nomes e as coisas Em seu sistema eacute a categoria da conotaccedilatildeo aquela capaz de estabelecer a relaccedilatildeo semacircn-tica primordial De acordo com Mill os nomes22 natildeo significam propriamente aquilo a que

21 VerTema1

22 Milladmiteaexistecircnciadenomesquenatildeotecircmconotaccedilatildeooschamadonomes proacuteprios como ldquoJoatildeordquo ldquoMariardquo

ldquoSatildeoPaulordquoldquoLondresrdquoldquoPiritubardquoEssessegundoofiloacutesofosignificamatraveacutesdamediaccedilatildeodaideacuteiasnatildeoconotando

nenhumatributoSomentenessescasososignificadodeveseridentificadocomadenotaccedilatildeopoisessesnomesnatildeotecircm

conotaccedilatildeo

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

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bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 33: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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se referem mas significam determinadas propriedades que conotam E a posse dessas proprie-dades por parte dos objetos do mundo faraacute com esses sejam denotados pelo nome Denotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que manteacutem o nome com a coisa que nomeia mas isso para Mill natildeo eacute propriamente o significado da palavra A conotaccedilatildeo eacute a relaccedilatildeo semacircntica que o nome manteacutem com as caracteriacutesticas propriedades criteacuterios conteuacutedos informativos que a palavra traz con-sigo que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados Por exemplo somos levados a aceitar pela forccedila do haacutebito que a expressatildeo ldquoser humanordquo sig-nifica uma infinidade de indiviacuteduos que chamamos seres humanos No entanto diraacute Mill esses indiviacuteduos somente satildeo nomeados pela expressatildeo ldquoser humanordquo porque possuem uma seacuterie de caracteriacutesticas comuns que determinam a lsquohumanidadersquo Assim de acordo com a semacircn-tica de Mill essas caracteriacutesticas satildeo conotadas pela expressatildeo ldquoser humanordquo consistindo nisso sua significaccedilatildeo Ou seja ldquoser humanordquo natildeo significa Joatildeo Maria Joseacute etc objetos nomea-dos pela expressatildeo ldquoser humanordquo ldquoser humanordquo significa em uacuteltima instacircncia a racionalidade animalidade corporeidade uma certa forma que denominamos lsquohumanarsquo e mais uma seacuterie de propriedade e determinaccedilotildees que caracterizam a humanidade A denotaccedilatildeo eacute o objeto ao qual a palavra se refere A conotaccedilatildeo satildeo as propriedades expressas implicitamente pelo nome que fazem com que identifiquemos a partir delas os objetos denotados As palavras tecircm sig-nificados natildeo porque incitam no sujeito uma certa ideacuteia ou imagem mental que eacute associada a objetos do mundo As palavras tecircm significado porque carregam consigo informaccedilotildees objetivas conteuacutedos descritivos acerca dos objetos que caem sobre seu domiacutenio semacircntico Assim de acordo com este ponto de vista a significaccedilatildeo mesma do nome eacute sua conotaccedilatildeo e natildeo propriamente sua denotaccedilatildeo

A teoria da conotaccedilatildeo estabelece no niacutevel da unidade do sentido da proposiccedilatildeo uma situa-ccedilatildeo bastante peculiar O enunciado proposicional deveraacute dentro deste contexto ser analisado em termos de posse ou natildeo de atributos conotados por parte do sujeito e do predicado23 Assim por exemplo o enunciado ldquoa parede eacute brancardquo deve ser analisada nominalisticamente nos seguintes termos ldquoaquele objeto que eacute nomeado pela palavra lsquoparedersquo eacute tambeacutem nomeado pela palavra lsquobrancarsquordquo Uma anaacutelise ulterior entretanto apresentaraacute realisticamente o seguinte quadro ldquoaquele objeto que possui as propriedades conotadas pela palavra lsquoparedersquo possui tambeacutem as propriedades conotadas pela palavra lsquobrancarsquordquo Nesse sentido a proposiccedilatildeo fala efetivamente do mundo sem a mediaccedilatildeo da ideacuteia subjetiva de uma suposta proposiccedilatildeo mental23 MilleacuteanterioraFregeDefendeportantoaestruturaproposicionalbaseadanascategoriasdesujeitoepredicado

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

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Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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                                            19. Paacutegina 30
                                            20. Paacutegina 31
                                            21. Paacutegina 32
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                                                8. Paacutegina 8
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                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
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                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
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                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
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Page 34: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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O mais importante a ser notado diante do esquema esboccedilado acima eacute o fato de que a relaccedilatildeo entre os nomes e as coisas pode se estabelecer exclusivamente em virtude da carga semacircntica que a palavra possui natildeo sendo necessaacuteria a vinculaccedilatildeo do signo a nenhuma ideacuteia ou entidade psiacutequica para que o signo tenha significado O signo traz em si como seu conteuacutedo significa-tivo os criteacuterios que devem ser obedecidos pelas coisas para que essas sejam por ele nomeadas Sabemos o significado da palavra ldquocarrordquo natildeo porque somos capazes de imaginar (ou seja criar uma imagem mental) um carro Ateacute porque somente podemos imaginar um carro de cada vez e a palavra ldquocarrordquo denota todos os carros carros dos mais diferentes modelos cores e tamanhos Sabemos pois o significado da palavra ldquocarrordquo porque conhecemos os criteacuterios que a palavra ldquocarrordquo impotildee para que algo possa ser por ela nomeado sabemos quais as propriedades que a palavra carro conota Para Mill consiste nisto consiste sua significaccedilatildeo das palavras em sua conotaccedilatildeo

Em seguida no Tema 4 veremos o quanto as teorias esboccediladas por Mill acerca do signifi-cado foram importantes para alguns filoacutesofos que souberam entender e aproveitar seus insights semacircnticos sobretudo Gottlob Frege o mais importante filoacutesofo da linguagem que a filosofia conheceu (mesmo natildeo sendo talvez propriamente um lsquofiloacutesofo da linguagemrsquo) Em seguida encerrando nosso curso seraacute dito alguma coisa com relaccedilatildeo ao pensamento filosoacutefico e semacircntico de Ludwig Wittgenstein mais importante e influente filoacutesofo do seacuteculo XX

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TEMA 4

Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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                                                16. Paacutegina 16
                                                17. Paacutegina 17
                                                18. Paacutegina 18
                                                19. Paacutegina 19
                                                20. Paacutegina 20
                                                21. Paacutegina 32
                                                22. Paacutegina 33
                                                23. Paacutegina 34
                                                24. Paacutegina 35
                                                25. Paacutegina 36
                                                26. Paacutegina 37
                                                27. Paacutegina 38
                                                28. Paacutegina 39
                                                29. Paacutegina 40
                                                30. Paacutegina 41
                                                31. Paacutegina 42
                                                32. Paacutegina 43
                                                33. Paacutegina 44
                                                  1. Bot_Bloco6
                                                    1. Paacutegina 1
                                                      1. Bot_Bloco1
                                                        1. Paacutegina 2
                                                        2. Paacutegina 3
                                                        3. Paacutegina 4
                                                        4. Paacutegina 5
                                                        5. Paacutegina 6
                                                        6. Paacutegina 7
                                                        7. Paacutegina 8
                                                        8. Paacutegina 9
                                                        9. Paacutegina 10
                                                        10. Paacutegina 11
                                                        11. Paacutegina 12
                                                        12. Paacutegina 13
                                                        13. Paacutegina 14
                                                        14. Paacutegina 15
                                                        15. Paacutegina 16
                                                        16. Paacutegina 17
                                                        17. Paacutegina 18
                                                        18. Paacutegina 19
                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
                                                        21. Paacutegina 22
                                                        22. Paacutegina 23
                                                        23. Paacutegina 24
                                                        24. Paacutegina 25
                                                        25. Paacutegina 26
                                                        26. Paacutegina 27
                                                        27. Paacutegina 28
                                                        28. Paacutegina 29
                                                        29. Paacutegina 30
                                                        30. Paacutegina 31
                                                        31. Paacutegina 32
                                                        32. Paacutegina 33
                                                        33. Paacutegina 34
                                                        34. Paacutegina 35
                                                        35. Paacutegina 36
                                                        36. Paacutegina 37
                                                        37. Paacutegina 38
                                                        38. Paacutegina 39
                                                        39. Paacutegina 40
                                                        40. Paacutegina 41
                                                        41. Paacutegina 42
                                                        42. Paacutegina 43
                                                        43. Paacutegina 44
                                                          1. Bot_Bloco7
                                                            1. Paacutegina 2
                                                            2. Paacutegina 3
                                                              1. Bot_Tema6
                                                                1. Paacutegina 4
                                                                2. Paacutegina 5
                                                                3. Paacutegina 6
                                                                4. Paacutegina 7
                                                                5. Paacutegina 8
                                                                6. Paacutegina 9
                                                                  1. Bot_Tema7
                                                                    1. Paacutegina 10
                                                                    2. Paacutegina 11
                                                                    3. Paacutegina 12
                                                                    4. Paacutegina 13
                                                                    5. Paacutegina 14
                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
                                                                        1. Paacutegina 21
                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
                                                                            6. Paacutegina 37
                                                                            7. Paacutegina 38
                                                                            8. Paacutegina 39
                                                                            9. Paacutegina 40
                                                                            10. Paacutegina 41
                                                                            11. Paacutegina 42
                                                                            12. Paacutegina 43
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Frege e Wittgenstein

41 ndash Sentido e referecircncia

Apesar de natildeo ser muito conhecido no Brasil Frege foi um dos filoacutesofos mais influentes do seacuteculo XX embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do seacuteculo XIX Frege tinha por objetivo filosoacutefico principal a fundamentaccedilatildeo da aritmeacutetica a partir de uma definiccedilatildeo loacutegica de nuacutemero natural Para isso teve que propor uma teoria acerca de estrutura sintaacutetica da proposiccedilatildeo a partir das categorias de conceito e objeto em oposiccedilatildeo agraves categorias de sujeito e predicado propostas pela loacutegica aristoteacutelica Isso abriu uma seacuterie de novas possibilida-des para a ciecircncia da loacutegica ao ponto de natildeo ser exagerado dizer que Frege a reinventou Na historia da loacutegica existem dois nomes Aristoacuteteles e Frege

No entanto na perseguiccedilatildeo das respostas ao seu problema fundamental Frege esbarrou

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Proacute-Reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de pinhoProacute-Reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeProacute-Reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-Reitora de Extensatildeo UniversitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejoProacute-Reitor de Administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rachedSecretaacuteria GeralMaria dalva silva pagotto

FUndUnesp

Diretor Presidente luiz antonio vane

rede sAtildeO paUlO de FOrMaCcedilAtildeO dOCenteProacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeCoordenadora Acadecircmicaelisa tomoe Moriya schluumlnzenSub-coordenadorantocircnio Cezar leal (FCtpresidente prudente)Equipe Coordenadoraana Maria Martins da Costa santosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e silvarogeacuterio luiz buccelliCoordenadores dos CursosArterejane Galvatildeo Coutinho (iaUnesp)Filosofialuacutecio lourenccedilo prado (FFCMariacutelia)Geografiaraul borges Guimaratildees (FCtpresidente prudente)InglecircsMariangela braga norte (FFCMariacutelia)QuiacutemicaOlga Maria M de Faria Oliveira (iQ araraquara)SecretariaAdministraccedilatildeovera reisEquipe Teacutecnica - Sistema de Controle Acadecircmicoari araldo Xavier de Camargovalentim aparecido parisrosemar rosa de Carvalho brena

nUacuteCleO de edUCaCcedilAtildeO a distAcircnCia da UnespCoordenador Geral Klaus schluumlnzen Junior SecretariaAdministraccedilatildeosueli Maiellaro Fernandesaline Gama GomesJessica pappJoatildeo Menezes Mussolinisuellen arauacutejosueli Maiellaro FernandesTecnologia e Infraestruturapierre archag iskenderian andreacute luiacutes rodrigues Ferreiraariel tadami siena HirataGuilherme de andrade lemeszenskiMarcos roberto Greinerpedro Caacutessio bissettirodolfo Mac Kay Martinez parenteProduccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialCauecirc Guimaratildeeselisandra andreacute Maranheerik rafael alves FerreiraFabiana aparecida rodriguesJeacutessica Miwa Joatildeo Castro barbosa de souzalia tiemi Hiratomilili lungarezi de Oliveiraluciano nunes Malheiro Maacutercia debieux Marcos leonel de souzapamela bianca Gouveia tuacuteliorafael Canoletti buciottirodolfo paganelli Jaquettosoraia Marino salum

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Page 36: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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tambeacutem em questotildees de ordem semacircntica e linguiacutestica e acabou produzindo uma muito inte-ressante e influente teoria do significado Claramente influenciado pela teoria milliana da conotaccedilatildeo Frege criou sua famosa distinccedilatildeo entre sentido e referecircncia De acordo com a teoria fregeana as expressotildees da linguagem nomes ou proposiccedilotildees exprimem sentidos e por meio deles apresentam suas referecircncias A teoria fregeana do sentido e referecircncia foi proposta pelo autor num pequeno artigo publicado em 1892 chamado ldquoUumlber Sinn und Bedeutungrdquo (Sobre sen-tido e referecircncia) Esta teoria se tornou moeda corrente na filosofia da linguagem da primeira metade do seacuteculo XX sendo aceita e pressuposta por exemplo por Wittgenstein em seu Trac-tatus e por uma seacuterie de outros filoacutesofos

Frege chega agrave sua teoria indagando pelo estatuto semacircntico das proposiccedilotildees que expressam igualdade que contecircm o siacutembolo ldquo=rdquo A pergunta eacute a seguinte o sinal de igualdade expressa uma relaccedilatildeo entre objetos ou entre nomes de objetos Ou seja quando afirmo que a = b estou dizendo que os objetos nomeados por ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo o mesmo e portanto estou afirmando algo sobre este objeto ou ao contraacuterio estou afirmando que os nomes ldquoardquo e ldquobrdquo satildeo equivalentes por nomearem o mesmo objeto e neste acaso afirmando algo acerca dos nomes Enfim uma proposiccedilatildeo que expressa igualdade eacute um discurso sobre as coisas ou sobre os nomes A primeira opccedilatildeo deve ser logo descartada pela consideraccedilatildeo de um fato trivial se ldquoa = brdquo expressasse uma relaccedilatildeo entre os objetos entatildeo ldquoa = ardquo e ldquoa = brdquo diriam a mesma coisa se ldquoa = brdquo for verdadeira Em ambos os casos se afirmaria que o objeto em questatildeo nomeado por ldquoardquo e por ldquobrdquo eacute idecircntico a si mesmo o que claramente ocorre nos dois casos Entretanto evidentemente os dois enun-ciados tecircm conteuacutedos muito distintos ldquoa = ardquo eacute uma proposiccedilatildeo trivial cuja verdade obtemos a priori sem necessidade de nenhum tipo de verificaccedilatildeo somente pela consideraccedilatildeo de um princiacutepio loacutegico elementar chamado princiacutepio da identidade que afirma que todo objeto qual-quer que seja ele eacute idecircntico a si mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa = brdquo afirma alguma coisa a mais do que a primeira pois natildeo pode ter sua verdade justificada somente pelo recurso ao princiacutepio da identidade eacute necessaacuterio algum tipo de verificaccedilatildeo ou caacutelculo para que sua verdade seja posta Frege fornece um exemplo ceacutelebre a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manha eacute a estrela da manhatilderdquo eacute trivial e verdadeira a priori pois afirma a relaccedilatildeo de identidade que qualquer coisa manteacutem consigo mesmo Jaacute a proposiccedilatildeo ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo possui um conteuacutedo cognitivo importantiacutessimo uma vez que estabelece que o corpo que aparece num determinado lugar do ceacuteu nas primeiras horas da manhatilde eacute o mesmo que aparece em outro lugar do ceacuteu no

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

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bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 37: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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final da tarde Cognitivamente esses enunciados tecircm estatutos distintos Um eacute trivial analiacutetico e por isso mesmo inuacutetil do ponto de vista cientiacutefico o mundo pode se comportar da maneira que for e o enunciado sempre seraacute verdadeiro portanto ele nada diz sobre o mundo O outro eacute sinteacutetico informa algo novo que natildeo sabemos pela simples consideraccedilatildeo de algumas leis racio-nais ele diz efetivamente algo sobre o mundo

Diante do exposto a saiacuteda seraacute defender que o sinal de igualdade estabelece uma relaccedilatildeo entre os nomes Mas em que sentido Segundo Frege diferentes nomes podem ser maneiras diferentes de apresentar o mesmo objeto O objeto eacute apresentado a partir de caracteriacutesticas e de aspectos diferentes que possui Nesse sentido chamar o planeta vecircnus de ldquoestrela da tarderdquo ou ldquoestrela da manhatilderdquo satildeo maneiras diferentes de se referir ao mesmo objeto e cada uma dessas maneiras apresentaraacute o objeto ao seu modo salientando determinadas caracteriacutesticas que ele possui Nesse sentido quando dizemos que ldquoa estrela da manhatilde eacute a estrela da tarderdquo estamos dizendo que o mesmo objeto que se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da manhatilderdquo tambeacutem se apresenta a partir do conteuacutedo descritivo expresso por ldquoestrela da tarderdquo Em suma os nomes tecircm a mesma referecircncia pois nomeiam o mesmo objeto mas tecircm sentidos diferentes pois esses objetos satildeo apresentados de forma diferente Assim sendo temos que o conteuacutedo significativo mesmo que os signos expressam satildeo os seus sentidos e natildeo suas referecircncias O significado efetivo da expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo natildeo eacute aquele corpo celeste que vemos ao amanhecer mas eacute o sentido que a expressatildeo ldquoestrela da manhatilderdquo exprime E as expressotildees ldquoestrela da manhatilderdquo e ldquoestrela da tarderdquo exprimem sentidos diferentes embora tenham a mesma referecircncia

Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referecircncia eacute neces-saacuterio ter clara distinccedilatildeo existente entre o sentido da expressatildeo e a representaccedilatildeo ou ideacuteia que o sentido eacute capaz de produzir nos sujeitos Para deixar clara esta relaccedilatildeo Frege utiliza uma metaacutefora bastante interessante imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescoacutepio Temos neste caso trecircs lsquoluasrsquo a serem consideradas a saber a proacutepria lua objeto da observaccedilatildeo a imagem da lua na lente do telescoacutepio e a imagem da lua na retina do observador Destas trecircs luas consideradas apenas uma eacute propriamente real e existente No entanto uma delas a imagem na lente embora natildeo seja propriamente real eacute objetiva isto eacute eacute a mesma para todo e qualquer observador A imagem na retina do observador por sua vez eacute inteiramente subjetiva pois cada observador teraacute a sua e seraacute impossiacutevel para qualquer observador ter em sua retina a

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mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 38: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

mesma imagem que se formou na retina de outro Temos entatildeo trecircs niacuteveis a serem conside-rados o objetivo real (a proacutepria lua) o objetivo natildeo real (a imagem na lente) e o subjetivo (a imagem retiniana) De acordo com Frege a relaccedilatildeo entre referecircncia sentido e representaccedilatildeo eacute anaacuteloga agrave que acabamos de descrever A referecircncia de uma expressatildeo seraacute sempre algo real e existente (desde que eacute claro a expressatildeo tenha referecircncia) o sentido da expressatildeo eacute anaacutelogo agrave imagem na lente do observador pois embora natildeo seja o proacuteprio objeto eacute a maneira pela qual o objeto eacute dado e apresentado ao sujeito a representaccedilatildeo isto eacute a imagem mental que se forma na mente do sujeito que entende a expressatildeo eacute anaacuteloga agrave imagem retiniana pois eacute privada e incomunicaacutevel

Que justificativa temos para acreditar com Frege que o sentido expresso e compreendido pelo sujeito natildeo eacute a representaccedilatildeo subjetiva mas algo diferente dela Um pequeno exemplo pode ilustrar o ponto de vista ao ouvirmos a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo somos certamente capazes de representar em nossas mentes uma determinada imagem correspondente a algum objeto que caia sobre o nome mencionado No entanto eacute bastante razoaacutevel supor que cada sujeito que se deparar com a expressatildeo lsquoelefante brancorsquo criaraacute uma imagem proacutepria e parti-cular privada e enquanto imagem mental incomunicaacutevel Em sua cada sujeito representa o lsquoseursquo elefante branco pois as imagens mentais satildeo privadas Poreacutem apresar da privacidade e unicidade das representaccedilotildees de cada sujeito particular temos que concordar que todos com-preenderam a mesma coisa As representaccedilotildees satildeo privadas mas nem por isso um imaginou um elefante e outro uma girafa por exemplo Todos entenderam elefante ou seja captaram o mesmo sentido ou segundo nossa metaacutefora olharam a mesma imagem na lente do telescoacutepio No entanto aquilo que esta compreensatildeo de sentido pode produzir em cada mente particular como imagem mental seraacute natureza privada Entendemos objetivamente o mesmo mas repre-sentamos mentalmente coisas diferentes e privadas Diferentes natildeo porque um representa um elefante e outro representa outra coisa todos representaratildeo elefantes mas elefantes diferentes frutos da capacidade imaginativa de cada um

De acordo com o ponto de vista fregeano as representaccedilotildees natildeo exercem nenhum papel no processo de significaccedilatildeo Criar representaccedilotildees e imagens mentais natildeo faz parte como queriam os psicologistas do processo de compreensatildeo do sentido Natildeo precisamos representar para compreender Ao contraacuterio somente representamos o que somos capazes de compreender A compreensatildeo do sentido eacute anterior agrave formaccedilatildeo de imagens mentais

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

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bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

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Page 39: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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Esta teoria do sentido e referecircncia vale de acordo com Frege tanto no niacutevel dos nomes e expressotildees singulares como nos exemplos vistos como tambeacutem para as proposiccedilotildees As proposiccedilotildees tambeacutem exprimem sentidos e estes satildeo compostos pelos sentidos das partes que os compotildeem Sendo assim somente podemos decidir acerca da verdade e falsidade de uma proposiccedilatildeo se antes compreendermos qual o seu sentido E por sentido proposicional devemos entender em Frege as condiccedilotildees de verdade de uma proposiccedilatildeo Em suma a pergunta semacircn-tica pelo sentido eacute anterior agrave pergunta epistemoloacutegica pela verdade Antes de saber se uma proposiccedilatildeo eacute verdadeira ou falsa deve compreender o seu sentido e isso natildeo quer dizer que eu devo representar a situaccedilatildeo que a proposiccedilatildeo impotildee mas simplesmente saber quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade ou seja o que deve ocorrer no mundo para que ela seja verdadeira e o que deve ocorrer para que ela seja falsa

Pelo que foi exposto podemos notar que as expressotildees devem ter sentido para que possam significar propriamente mas natildeo eacute necessaacuterio que tenham referecircncia Todos sabemos o que eacute um unicoacuternio seriacuteamos capazes de identificar um exemplar caso o encontraacutessemos portanto entendemos o significado da expressatildeo ldquounicoacuterniordquo e somos capazes inclusive de criar uma representaccedilatildeo mental dele Isso apesar do fato de muito provavelmente natildeo existir nenhum unicoacuternio no mundo Ou seja a expressatildeo ldquounicoacuterniordquo tem um sentido mesmo natildeo tendo refe-recircncia A imagem estaacute na lente provoca uma outra imagem na retina mas natildeo haacute nenhuma lsquoluarsquo sendo de fato observada

A partir dessas consideraccedilotildees podemos extrair com Frege uma muito interessante (embora natildeo necessariamente verdadeira) teoria da ficccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a verdade Quando escreve-mos uma obra de ficccedilatildeo estamos trabalhando somente no niacutevel dos sentidos e natildeo das referecircn-cias pois natildeo consideramos que as personagens de fato existem E porque natildeo consideramos que as personagens existam natildeo perguntamos pela verdade ou falsidade do que se coloca ali Na ficccedilatildeo natildeo existe verdadeiro nem falso ldquoUlisses profundamente adormecido desembarcou em Iacutetacardquo natildeo eacute verdadeiro nem falso simplesmente porque ldquoUlissesrdquo no contexto da obra homeacuterica eacute uma expressatildeo que tem sentido mas que natildeo tem referecircncia alguma no lsquomundo realrsquo Verdade e referecircncia estatildeo intimamente ligados na filosofia de Frege

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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42 ndash O que pode ser dito

Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que estaacute sendo apresentado aqui podemos enten-der claramente que o problema semacircntico referente constituiccedilatildeo do sentido eacute anterior e mais fundamental do que a pergunta epistemoloacutegica pela verdade ou pela possibilidade do conhe-cimento da verdade Eacute elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado eacute verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz se compreendermos seu sentido O juiacutezo ou seja o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro supotildee que o sujeito saiba a que estaacute dando creacutedito Eacute necessaacuterio saber qual o sentido da proposiccedilatildeo quais satildeo suas condiccedilotildees de verdade Saber como o mundo deve se comportar para que a proposiccedilatildeo seja verdadeira e como deve se comportar para ser falsa Sem isso natildeo haacute juiacutezo Sem isso natildeo haacute verdade nem falsidade

Tomemos os seguintes exemplos

a) o nuacutemero de corpos vagando pela via laacutectea eacute impar

b) amanhatilde Cinderela bicicleta saber

c) o cataploft eacute azul

d) a parede estaacute feliz

Agrave primeira vista podemos notar que esses enunciados tecircm uma caracteriacutestica comum Natildeo somos capazes de decidir acerca da verdade ou falsidade de nenhum deles Somos incapazes de emitir qualquer juiacutezo de verdade sobre eles O somos poreacutem por razotildees bastante distintas em cada um dos casos

Natildeo sabemos se (a) eacute verdadeira ou falsa por uma mera impossibilidade de ordem teacutec-nica Natildeo temos condiccedilotildees de contar todos os corpos que vagam pela galaacutexia e por isso natildeo podemos decidir acerca do valor de verdade de qualquer proposiccedilatildeo que afirme algo sobre seu nuacutemero No entanto sabemos claramente o que ela diz compreendemos cabalmente o seu sentido sabemos exatamente o que deve ocorrer para ela ser verdadeira

O enunciado (b) eacute um mero arranjo desconexo de palavras que natildeo obedece a nenhuma estrutura formal estabelecida Claramente ela natildeo exprime nenhum sentido

O enunciado (c) possui uma palavra da qual natildeo conhecemos o significado Natildeo sabemos o que eacute um cataploft por isso natildeo podemos saber se ele eacute azul ou natildeo E mais do que isso natildeo

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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                                                2. Paacutegina 2
                                                3. Paacutegina 3
                                                4. Paacutegina 4
                                                5. Paacutegina 5
                                                6. Paacutegina 6
                                                7. Paacutegina 7
                                                8. Paacutegina 8
                                                9. Paacutegina 9
                                                10. Paacutegina 10
                                                11. Paacutegina 11
                                                12. Paacutegina 12
                                                13. Paacutegina 13
                                                14. Paacutegina 14
                                                15. Paacutegina 15
                                                16. Paacutegina 16
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                                                21. Paacutegina 32
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                                                  1. Bot_Bloco6
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                                                        5. Paacutegina 6
                                                        6. Paacutegina 7
                                                        7. Paacutegina 8
                                                        8. Paacutegina 9
                                                        9. Paacutegina 10
                                                        10. Paacutegina 11
                                                        11. Paacutegina 12
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                                                        13. Paacutegina 14
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                                                        17. Paacutegina 18
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                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
                                                        21. Paacutegina 22
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                                                          1. Bot_Bloco7
                                                            1. Paacutegina 2
                                                            2. Paacutegina 3
                                                              1. Bot_Tema6
                                                                1. Paacutegina 4
                                                                2. Paacutegina 5
                                                                3. Paacutegina 6
                                                                4. Paacutegina 7
                                                                5. Paacutegina 8
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                                                                  1. Bot_Tema7
                                                                    1. Paacutegina 10
                                                                    2. Paacutegina 11
                                                                    3. Paacutegina 12
                                                                    4. Paacutegina 13
                                                                    5. Paacutegina 14
                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
                                                                        1. Paacutegina 21
                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
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Page 41: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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sabemos sequer se cataploft eacute um objeto colorido se sua constituiccedilatildeo permita que ela tenha uma cor E se natildeo somos capazes de entender como o mundo deve se comportar para que o enunciado seja verdadeiro pois natildeo conhecemos o significado de uma das palavras natildeo com-preendemos o seu sentido Se amanhatilde eu vier a saber o que significa ldquocataploftrdquo talvez com-preenda o que quer dizer a afirmaccedilatildeo de que ele eacute azul Enquanto isso natildeo ocorrer a questatildeo fica em aberto

Dos quatro exemplos citados o mais complicado e enganador eacute o enunciado (d) Isso porque ele aparentemente eacute um enunciado bem construiacutedo obedece todas as regras gramaticais que conhecemos tem sujeito verbo predicado Natildeo transgride nenhuma norma estabelecida pela sintaxe da linguagem gramatical Ademais diferentemente do enunciado (c) conhecemos o significado de todas as palavras que o compotildee Podemos ficar tentados a seguir um caminho simples e dizer apenas que o enunciado eacute falso pois a parede natildeo pode ser feliz Mas isso simplesmente joga o problema para debaixo do tapete pois a principal questatildeo permanece em aberto qual seria o sentido do enunciado ldquoa parede estaacute felizrdquo Ora se compreender o sentido como foi dito eacute condiccedilatildeo para o estabelecimento da verdade algo que natildeo exprime sentido natildeo pode ser verdadeiro nem falso Eacute um sem-sentido um contra-senso uma pseudo-proposiccedilatildeo

Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenocircmeno das pesudo-proposi-ccedilotildees contaminando o saber filosoacutefico A partir disso criou uma filosofia da natureza criacutetica que tinha por objetivo ser um instrumento de anaacutelise da linguagem no sentido de dissolver falsos problemas filosoacuteficos

De acordo com Wittgenstein ldquoo mundo eacute a totalidade dos fatos e natildeo das coisasrdquo Isto signi-fica dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposiccedilotildees verdadeiras que satildeo enunciadas sobre ele e natildeo como simplesmente um amontoado de coisas O que seria um ser onisciente segundo este ponto de vista Algueacutem capaz de fazer um inven-taacuterio completo de todas as coisas que existem no mundo ou algueacutem que conhece todas as ver-dades que podemos enunciar sobre este mundo Wittgenstein eacute adepto da segunda alternativa Por isso para que algum enunciado tenha sentido e expresse de fato algo eacute necessaacuterio que este enunciado exprima uma lsquosituaccedilatildeo no espaccedilo loacutegicorsquo ou seja ele deve necessariamente poder ser verdadeiro e falso Portanto fregeanamente entender o sentido eacute conhecer as condiccedilotildees de verdade conhecer as condiccedilotildees de verdade significa saber como o mundo deve se comportar

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

43 ndash Jogos de linguagem

Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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                                                                    4. Paacutegina 13
                                                                    5. Paacutegina 14
                                                                    6. Paacutegina 15
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Page 42: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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se a proposiccedilatildeo for verdadeira e como deve se comportar se ela for falsa Se o enunciado natildeo nos fornece um conteuacutedo informativo que seja capaz de nos proporcionar esta compreensatildeo ele carece de sentido Ele natildeo diz nada como no caso de nosso exemplo (d)

A filosofia wittgensteiniana do Tractatus seraacute um esforccedilo em determinar o que pode e o que natildeo pode ser dito acerca do mundo e natildeo uma tentativa de determinar o que de fato eacute verdadeiro e falso no mundo O falso pode ser dito assim como o verdadeiro O que natildeo pode ser dito eacute o que natildeo tem sentido Satildeo aquelas pseudo-proposiccedilotildees que do ponto de vista gra-matical ateacute parecem ser bem formuladas mas que natildeo dizem nada de objetivo nada do qual podemos determinar as condiccedilotildees de verdade E o que pode ser dito entatildeo De acordo com o Tractatus proposiccedilotildees factuais acerca do mundo aquelas cujos valores de verdade podem ser estabelecidos ou ao mesmo cujas condiccedilotildees de verdade sejam conhecidas Tudo o que preten-der ser dito como verdadeiro ou falso que natildeo seja uma proposiccedilatildeo factual seraacute enquadrado na categoria de contra-senso

Abre-se com isso caminho para uma distinccedilatildeo muito importante que Wittgenstein rea-liza em seu Tractatus dizer em oposiccedilatildeo a mostrar O reino do que pode ser dito no discurso veritativo eacute algo bastante limitado no universo wittgensteiniano A pergunta elementar que devemos fazer eacute se soacute podemos dizer situaccedilotildees factuais do mundo o que ocorre com todas as outras manifestaccedilotildees humanas que natildeo se deixam reduzir ao discurso proposicional A res-posta eacute clara essas coisas natildeo satildeo diziacuteveis mas somente se mostram Por exemplo Certamente eu posso descrever por meio de proposiccedilotildees factuais algumas caracteriacutesticas de uma obra de arte de um quadro por exemplo Poreacutem por mais precisa que seja minha descriccedilatildeo factual do quadro por meio da linguagem proposicional eu nunca conseguirei comunicar ao meu interlo-cutor a beleza do quadro Esta somente seraacute conhecida por meio de uma experiecircncia imediata natildeo simboacutelica Eu posso falar sobre a forma sobre as cores sobre as dimensotildees sobre a dispo-siccedilatildeo de algumas imagens na tela mas jamais poderei lsquodizerrsquo a beleza do quadro Esta enquanto fruto da experiecircncia esteacutetica somente pode se mostrar Natildeo haacute linguagem que abarque este niacutevel da experiecircncia humana A este reino lsquoindiziacutevelrsquo e apenas imediatamente experienciaacutevel Wittgeinstein chamou de lsquomiacutesticorsquo O discurso diziacutevel loacutegico e veritativo aquele da ciecircncia aquele que pretende enunciar verdades acerca do mundo eacute restrito a uma muito pequena porccedilatildeo do que podemos chamar de humano Todo o resto tudo o que natildeo se deixa abarcar por esta limitada linguagem pertence ao universo do lsquorealmente importantersquo e para este reino natildeo

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

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Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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Page 43: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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haacute verdade nem falsidade Natildeo haacute linguagem O que pode ser dito segundo a primeira filosofia de Wittgenstein pode ser dito claramente Poreacutem do natildeo se pode falar deve-se calar

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Embora infelizmente natildeo a tenhamos abordado com o cuidado necessaacuterio e somente de forma bastante superficial podemos dizer que primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforccedilo de levar agraves uacuteltimas consequecircncias de um determinado modelo de teoria do significado que imperou na histoacuteria do pensamento por milecircnios o modelo referencial de significado De acordo com a tradiccedilatildeo que estaacute sendo ainda mantida ali significar eacute um processo que tem por objetivo uacuteltimo e principal lsquoapontarrsquo para uma referecircncia para algum objeto (fiacutesico ou natildeo) do qual o signo da linguagem seja uma espeacutecie de substituto Antes das sofisticadas teorias da conotaccedilatildeo de Mill e do sentido e referecircncia de Frege que foi assumida na iacutentegra pelo segundo Wittgens-tein o significado era por assim dizer confundido com sua referecircncia o significado da palavra ldquocarrordquo era o proacuteprio carro ou no modelo conceitualista a ideacuteia do carro As sutilezas semacircn-ticas de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro o significado deixou de ser a proacutepria referecircncia e passou a ser considerado como o conteuacutedo informativo que o nome ou sentenccedila conteacutem e que faz com que a partir dele seja indicada a referecircncia Mas de qualquer forma eacute ainda em funccedilatildeo de uma referecircncia que o significado se daacute impondo-a apresentando-a Neste sentido podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus enunciados linguumliacutesticos que natildeo podem ter equivalente no niacutevel real natildeo pode haver um fato do mundo cujo enun-ciado seja por assim dizer um substituto

O filoacutesofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o proacute-prio Wittgenstein em sua segunda filosofia de modo que temos uma muito peculiar situaccedilatildeo histoacuterica em que o mesmo filoacutesofo foi responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo de um muito complexo e interessante (embora natildeo necessariamente verdadeiro) sistema filosoacutefico e por sua cabal refu-taccedilatildeo No entanto embora certo eacute um tanto simploacuterio e insuficiente afirmar que o segundo Wittgenstein refutou e rompeu com as teses do primeiro Na realidade segunda filosofia de Wittgenstein rompeu com toda tradiccedilatildeo filosoacutefica vinculada agravequilo que chamamos modelo referencial de significado O que o segundo Wittgenstein iraacute refutar eacute mais do que simplesmente as teses especiacuteficas do Tractatus mas a tese geneacuterica que sustentou praticamente toda teoria do significado desde os primoacuterdios da filosofia a saber a tese de que significar eacute substituir

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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Universidade estadUal paUlistaVice-Reitor no Exerciacutecio da Reitoria Julio Cezar duriganChefe de GabineteCarlos antonio Gamero

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Page 44: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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objetos por signos eacute ter uma referecircncia ou impor condiccedilotildees para que seja dada uma referecircncia enfim que o significado seja em uacuteltima instacircncia um processo referencial Certamente diraacute o Wittgenstein maduro apresentar referecircncias eacute uma das funccedilotildees da linguagem mas natildeo eacute a uacutenica Existe uma infinidade de outros usos que podem ser feitos da linguagem e aquilo que impotildee o modelo semacircntico referencial eacute apenas um deles Usamos a linguagem sim para falar de objetos referenciais mas usamos a linguagem tambeacutem para vaacuterias outras coisas de modo que natildeo se pode reduzir o conceito de significado a apenas uma das funccedilotildees que a linguagem pode exercer no conjunto das atividades humanas

Ora se o significado natildeo se reduz ao procedimento referencial qual eacute entatildeo seu funda-mento Se significar natildeo eacute simplesmente ter ou impor uma referecircncia o que eacute entatildeo O segundo Wittgenstein oferece uma abordagem pragmaacutetica ao significado e o define partir do uso que fazemos da linguagem que pode ou natildeo ser referencial Por exemplo se quero informar algueacutem sobre o que se passou e digo ldquocaiu uma aacutervore em cima do ponto de ocircnibusrdquo certa-mente haacute um elemento referencial prioritaacuterio aqui Quero fornecer uma imagem ou nas pala-vras do primeiro Wittgenstein uma figuraccedilatildeo do que se passou Neste caso estou claramente fazendo um uso referencial da linguagem pois ldquoaacutervorerdquo eacute um signo que tem um correlato na realidade ldquoponto ocircnibusrdquo tambeacutem etc Embora a proposiccedilatildeo possa ser falsa ela pretende ser um modelo do mundo ela quer representaacute-lo

No entanto a linguagem eacute utilizada no conjunto das atividades humanas para vaacuterias outras coisas e natildeo apenas para falar do mundo Posso por exemplo fazer um gesto obsceno para algueacutem com o intuito deliberado de ofendecirc-lo Se a pessoa agrave qual direcionei meu gesto enten-der minha intenccedilatildeo e se sentir ofendida pode-se dizer que algo foi ali comunicado Eu fiz o gesto e meu interlocutor entendeu este gesto Fica a pergunta Qual a referecircncia de meu gesto Qual objeto real ou mental eacute substituiacutedo pelo meus gesto A resposta eacute nenhum natildeo haacute uma referecircncia em meu gesto Outra pergunta entatildeo se coloca meu gesto obsceno tem de fato significado A resposta eacute elementar claro que tem mesmo meu gesto obsceno natildeo sendo o substituto de nenhum objeto do mundo natildeo haacute uma relaccedilatildeo semacircntico-referencial estabele-cida ali mas ainda assim haacute significado Haacute uma intenccedilatildeo pragmaacutetica de ofender e um signo que dada uma regra que associamos a ele foi capaz de lsquocomunicarrsquo a ofensa

Portanto para a filosofia do segundo Wittgensatein o significado eacute algo associado a uma

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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regra (na realidade infinitas regras) que os usuaacuterios devem conhecer e cumprir no ato comu-nicativo O autor utiliza uma muito interessante metaacutefora para explicar sua nova concepccedilatildeo de significado a linguagem eacute como um jogo ou melhor as infinitas linguagens (que o autor chama de jogos de linguagem) satildeo como jogos os quais necessitam de regras bem definidas a serem obedecidas e jogadores que conhecem e executam a regra Se eu pergunto ao meu inter-locutor ldquoque horas satildeordquo e ele me responde ldquoquarta-feirardquo eacute algo comparaacutevel a algueacutem que tente mexer o cavalo em movimento diagonal no xadrez O interlocutor claramente realizou um lsquomovimentorsquo que feriu as regras do jogo de linguagem em questatildeo Nesse sentido conhecer a linguagem eacute algo muito mais complexo do que conhecer palavras e seus referentes isolados eacute mais do que dominar as regras gramaticais de um determinado idioma eacute mais do que decorar o dicionaacuterio Conhecer a linguagem eacute saber o jogo As palavras e expressotildees satildeo como as peccedilas do jogo mas o ato de jogar eacute algo que envolve um treinamento uma praacutexis uma lsquosabedoria socialrsquo muito mais do que o mero conhecimento lexical acerca dos signos de um determinado idioma

Numa mesma cidade onde existe um mesmo idioma oficial onde todos falam por exem-plo o mesmo portuguecircs eacute possiacutevel existir (e de fato geralmente existe) muitas linguagens ou melhor muitos jogos de linguagens distintos pertencentes aos diversos grupos ou lsquotribosrsquo Seraacute que jovem da periferia que lsquocurtersquo hip hop quando estaacute em seu grupo de amigos utiliza os mesmo jogos de linguagem que seu avocirc quando estaacute em famiacutelia A resposta eacute claramente nega-tiva Embora se comuniquem utilizando o mesmo idioma portuguecircs existem coacutedigos e regras proacuteprias em cada grupo social de modo que talvez seja um tanto difiacutecil parta o avocirc compreen-der o que o neto e seus amigos conversam De forma semelhante duas pessoas muito iacutentimas (um casal por exemplo) acabam com o conviacutevio criando regras de linguagem proacuteprias Muitas vezes nesses casos um olhar ou uma expressatildeo facial eacute suficiente para comunicar muita coisa Isso ocorre natildeo porque o olhar ou a expressatildeo facial em si mesma carregue aquele conteuacutedo significativo mas porque os envolvidos criaram regras proacuteprias de linguagem e associaram a esses gestos significaccedilotildees proacuteprias

O conviacutevio social impele os indiviacuteduos a junto com seus proacuteximos criar jogos de lingua-gens Nesses o significado estaacute associado agrave obediecircncia agraves regras pragmaacuteticas por parte dos falantes e natildeo a uma relaccedilatildeo referencial estabelecida entre signo e coisa Nisto consiste em linhas gerais a virada pragmaacutetica realizada pelo segundo Wittgenstein no que tange agrave teoria

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do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

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Page 46: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

do significado E eacute nesse sentido que podemos dizer que o autor superou o chamado modelo semacircntico referencial Sendo assim eacute certo dizer que o segundo Wittgenstein refutou a filosofia da linguagem do primeiro mas somente na medida em que a filosofia do primeiro Wittgens-tein estava inserida ainda no milenar modelo referencial este sim o alvo a ser atacado pela teoria dos jogos de linguagem

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO

GovernadorGeraldo alckmin

seCretaria estadUal da edUCaCcedilAtildeO de sAtildeO paUlO (seesp)

SecretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

Universidade estadUal paUlistaVice-Reitor no Exerciacutecio da Reitoria Julio Cezar duriganChefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-Reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de pinhoProacute-Reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeProacute-Reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-Reitora de Extensatildeo UniversitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejoProacute-Reitor de Administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rachedSecretaacuteria GeralMaria dalva silva pagotto

FUndUnesp

Diretor Presidente luiz antonio vane

rede sAtildeO paUlO de FOrMaCcedilAtildeO dOCenteProacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeCoordenadora Acadecircmicaelisa tomoe Moriya schluumlnzenSub-coordenadorantocircnio Cezar leal (FCtpresidente prudente)Equipe Coordenadoraana Maria Martins da Costa santosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e silvarogeacuterio luiz buccelliCoordenadores dos CursosArterejane Galvatildeo Coutinho (iaUnesp)Filosofialuacutecio lourenccedilo prado (FFCMariacutelia)Geografiaraul borges Guimaratildees (FCtpresidente prudente)InglecircsMariangela braga norte (FFCMariacutelia)QuiacutemicaOlga Maria M de Faria Oliveira (iQ araraquara)SecretariaAdministraccedilatildeovera reisEquipe Teacutecnica - Sistema de Controle Acadecircmicoari araldo Xavier de Camargovalentim aparecido parisrosemar rosa de Carvalho brena

nUacuteCleO de edUCaCcedilAtildeO a distAcircnCia da UnespCoordenador Geral Klaus schluumlnzen Junior SecretariaAdministraccedilatildeosueli Maiellaro Fernandesaline Gama GomesJessica pappJoatildeo Menezes Mussolinisuellen arauacutejosueli Maiellaro FernandesTecnologia e Infraestruturapierre archag iskenderian andreacute luiacutes rodrigues Ferreiraariel tadami siena HirataGuilherme de andrade lemeszenskiMarcos roberto Greinerpedro Caacutessio bissettirodolfo Mac Kay Martinez parenteProduccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialCauecirc Guimaratildeeselisandra andreacute Maranheerik rafael alves FerreiraFabiana aparecida rodriguesJeacutessica Miwa Joatildeo Castro barbosa de souzalia tiemi Hiratomilili lungarezi de Oliveiraluciano nunes Malheiro Maacutercia debieux Marcos leonel de souzapamela bianca Gouveia tuacuteliorafael Canoletti buciottirodolfo paganelli Jaquettosoraia Marino salum

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                                                12. Paacutegina 12
                                                13. Paacutegina 13
                                                14. Paacutegina 14
                                                15. Paacutegina 15
                                                16. Paacutegina 16
                                                17. Paacutegina 17
                                                18. Paacutegina 18
                                                19. Paacutegina 19
                                                20. Paacutegina 20
                                                21. Paacutegina 32
                                                22. Paacutegina 33
                                                23. Paacutegina 34
                                                24. Paacutegina 35
                                                25. Paacutegina 36
                                                26. Paacutegina 37
                                                27. Paacutegina 38
                                                28. Paacutegina 39
                                                29. Paacutegina 40
                                                30. Paacutegina 41
                                                31. Paacutegina 42
                                                32. Paacutegina 43
                                                33. Paacutegina 44
                                                  1. Bot_Bloco6
                                                    1. Paacutegina 1
                                                      1. Bot_Bloco1
                                                        1. Paacutegina 2
                                                        2. Paacutegina 3
                                                        3. Paacutegina 4
                                                        4. Paacutegina 5
                                                        5. Paacutegina 6
                                                        6. Paacutegina 7
                                                        7. Paacutegina 8
                                                        8. Paacutegina 9
                                                        9. Paacutegina 10
                                                        10. Paacutegina 11
                                                        11. Paacutegina 12
                                                        12. Paacutegina 13
                                                        13. Paacutegina 14
                                                        14. Paacutegina 15
                                                        15. Paacutegina 16
                                                        16. Paacutegina 17
                                                        17. Paacutegina 18
                                                        18. Paacutegina 19
                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
                                                        21. Paacutegina 22
                                                        22. Paacutegina 23
                                                        23. Paacutegina 24
                                                        24. Paacutegina 25
                                                        25. Paacutegina 26
                                                        26. Paacutegina 27
                                                        27. Paacutegina 28
                                                        28. Paacutegina 29
                                                        29. Paacutegina 30
                                                        30. Paacutegina 31
                                                        31. Paacutegina 32
                                                        32. Paacutegina 33
                                                        33. Paacutegina 34
                                                        34. Paacutegina 35
                                                        35. Paacutegina 36
                                                        36. Paacutegina 37
                                                        37. Paacutegina 38
                                                        38. Paacutegina 39
                                                        39. Paacutegina 40
                                                        40. Paacutegina 41
                                                        41. Paacutegina 42
                                                        42. Paacutegina 43
                                                        43. Paacutegina 44
                                                          1. Bot_Bloco7
                                                            1. Paacutegina 2
                                                            2. Paacutegina 3
                                                              1. Bot_Tema6
                                                                1. Paacutegina 4
                                                                2. Paacutegina 5
                                                                3. Paacutegina 6
                                                                4. Paacutegina 7
                                                                5. Paacutegina 8
                                                                6. Paacutegina 9
                                                                  1. Bot_Tema7
                                                                    1. Paacutegina 10
                                                                    2. Paacutegina 11
                                                                    3. Paacutegina 12
                                                                    4. Paacutegina 13
                                                                    5. Paacutegina 14
                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
                                                                        1. Paacutegina 21
                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
                                                                            6. Paacutegina 37
                                                                            7. Paacutegina 38
                                                                            8. Paacutegina 39
                                                                            9. Paacutegina 40
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Page 47: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 06

BLOCO 3

Bibliografiabull WITTGENSTEIN L Tractatus Logico-Philosophicus Traduccedilatildeo de L H L Santos Edusp

Satildeo Paulo 1993 Ediccedilatildeo bilinguumle alematildeo-portuguecircs

bull WITTGENSTEIN L Investigaccedilotildees filosoacuteficas In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 (Ludwig Wittgenstein)

bull FREGE G Os fundamentos da aritmeacutetica In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1974 (Gottlob Frege)

bull FREGE G Sobre sentido e referecircncia In FREGE G Loacutegica e filosofia da linguagem

Cultrix-Edusp Satildeo Paulo 1978

bull KANT I Criacutetica da razatildeo pura Fundaccedilatildeo Caloute Gulbenkian Lisboa 1989

bull LOCKE J Ensaio sobre o entendimento humano In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1991 ( John Locke)

bull MILL J S Sistema de loacutegica dedutiva e indutiva In Os pensadores

Satildeo Paulo Abril Cultural 1979 ( John Stuart Mill)

bull HOBBES T Computation or logic In The English works of Thomas Hobbes [S l s n]

[1996]

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO

GovernadorGeraldo alckmin

seCretaria estadUal da edUCaCcedilAtildeO de sAtildeO paUlO (seesp)

SecretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

Universidade estadUal paUlistaVice-Reitor no Exerciacutecio da Reitoria Julio Cezar duriganChefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-Reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de pinhoProacute-Reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeProacute-Reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-Reitora de Extensatildeo UniversitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejoProacute-Reitor de Administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rachedSecretaacuteria GeralMaria dalva silva pagotto

FUndUnesp

Diretor Presidente luiz antonio vane

rede sAtildeO paUlO de FOrMaCcedilAtildeO dOCenteProacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeCoordenadora Acadecircmicaelisa tomoe Moriya schluumlnzenSub-coordenadorantocircnio Cezar leal (FCtpresidente prudente)Equipe Coordenadoraana Maria Martins da Costa santosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e silvarogeacuterio luiz buccelliCoordenadores dos CursosArterejane Galvatildeo Coutinho (iaUnesp)Filosofialuacutecio lourenccedilo prado (FFCMariacutelia)Geografiaraul borges Guimaratildees (FCtpresidente prudente)InglecircsMariangela braga norte (FFCMariacutelia)QuiacutemicaOlga Maria M de Faria Oliveira (iQ araraquara)SecretariaAdministraccedilatildeovera reisEquipe Teacutecnica - Sistema de Controle Acadecircmicoari araldo Xavier de Camargovalentim aparecido parisrosemar rosa de Carvalho brena

nUacuteCleO de edUCaCcedilAtildeO a distAcircnCia da UnespCoordenador Geral Klaus schluumlnzen Junior SecretariaAdministraccedilatildeosueli Maiellaro Fernandesaline Gama GomesJessica pappJoatildeo Menezes Mussolinisuellen arauacutejosueli Maiellaro FernandesTecnologia e Infraestruturapierre archag iskenderian andreacute luiacutes rodrigues Ferreiraariel tadami siena HirataGuilherme de andrade lemeszenskiMarcos roberto Greinerpedro Caacutessio bissettirodolfo Mac Kay Martinez parenteProduccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialCauecirc Guimaratildeeselisandra andreacute Maranheerik rafael alves FerreiraFabiana aparecida rodriguesJeacutessica Miwa Joatildeo Castro barbosa de souzalia tiemi Hiratomilili lungarezi de Oliveiraluciano nunes Malheiro Maacutercia debieux Marcos leonel de souzapamela bianca Gouveia tuacuteliorafael Canoletti buciottirodolfo paganelli Jaquettosoraia Marino salum

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Page 48: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

Unesp ndash Universidade estadUal paUlistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

GOvernO dO estadO de sAtildeO paUlO

GovernadorGeraldo alckmin

seCretaria estadUal da edUCaCcedilAtildeO de sAtildeO paUlO (seesp)

SecretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

Universidade estadUal paUlistaVice-Reitor no Exerciacutecio da Reitoria Julio Cezar duriganChefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-Reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de pinhoProacute-Reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeProacute-Reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-Reitora de Extensatildeo UniversitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejoProacute-Reitor de Administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rachedSecretaacuteria GeralMaria dalva silva pagotto

FUndUnesp

Diretor Presidente luiz antonio vane

rede sAtildeO paUlO de FOrMaCcedilAtildeO dOCenteProacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeCoordenadora Acadecircmicaelisa tomoe Moriya schluumlnzenSub-coordenadorantocircnio Cezar leal (FCtpresidente prudente)Equipe Coordenadoraana Maria Martins da Costa santosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e silvarogeacuterio luiz buccelliCoordenadores dos CursosArterejane Galvatildeo Coutinho (iaUnesp)Filosofialuacutecio lourenccedilo prado (FFCMariacutelia)Geografiaraul borges Guimaratildees (FCtpresidente prudente)InglecircsMariangela braga norte (FFCMariacutelia)QuiacutemicaOlga Maria M de Faria Oliveira (iQ araraquara)SecretariaAdministraccedilatildeovera reisEquipe Teacutecnica - Sistema de Controle Acadecircmicoari araldo Xavier de Camargovalentim aparecido parisrosemar rosa de Carvalho brena

nUacuteCleO de edUCaCcedilAtildeO a distAcircnCia da UnespCoordenador Geral Klaus schluumlnzen Junior SecretariaAdministraccedilatildeosueli Maiellaro Fernandesaline Gama GomesJessica pappJoatildeo Menezes Mussolinisuellen arauacutejosueli Maiellaro FernandesTecnologia e Infraestruturapierre archag iskenderian andreacute luiacutes rodrigues Ferreiraariel tadami siena HirataGuilherme de andrade lemeszenskiMarcos roberto Greinerpedro Caacutessio bissettirodolfo Mac Kay Martinez parenteProduccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialCauecirc Guimaratildeeselisandra andreacute Maranheerik rafael alves FerreiraFabiana aparecida rodriguesJeacutessica Miwa Joatildeo Castro barbosa de souzalia tiemi Hiratomilili lungarezi de Oliveiraluciano nunes Malheiro Maacutercia debieux Marcos leonel de souzapamela bianca Gouveia tuacuteliorafael Canoletti buciottirodolfo paganelli Jaquettosoraia Marino salum

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Page 49: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da ... · PDF file6 TEMAS ( -*I ),5R5 /&)5 5R5#- #*&#( 5fl b) Ementa da disciplina A disciplina Filosofia da Linguagem visa

rede sAtildeO paUlO de FOrMaCcedilAtildeO dOCenteProacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudgeCoordenadora Acadecircmicaelisa tomoe Moriya schluumlnzenSub-coordenadorantocircnio Cezar leal (FCtpresidente prudente)Equipe Coordenadoraana Maria Martins da Costa santosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e silvarogeacuterio luiz buccelliCoordenadores dos CursosArterejane Galvatildeo Coutinho (iaUnesp)Filosofialuacutecio lourenccedilo prado (FFCMariacutelia)Geografiaraul borges Guimaratildees (FCtpresidente prudente)InglecircsMariangela braga norte (FFCMariacutelia)QuiacutemicaOlga Maria M de Faria Oliveira (iQ araraquara)SecretariaAdministraccedilatildeovera reisEquipe Teacutecnica - Sistema de Controle Acadecircmicoari araldo Xavier de Camargovalentim aparecido parisrosemar rosa de Carvalho brena

nUacuteCleO de edUCaCcedilAtildeO a distAcircnCia da UnespCoordenador Geral Klaus schluumlnzen Junior SecretariaAdministraccedilatildeosueli Maiellaro Fernandesaline Gama GomesJessica pappJoatildeo Menezes Mussolinisuellen arauacutejosueli Maiellaro FernandesTecnologia e Infraestruturapierre archag iskenderian andreacute luiacutes rodrigues Ferreiraariel tadami siena HirataGuilherme de andrade lemeszenskiMarcos roberto Greinerpedro Caacutessio bissettirodolfo Mac Kay Martinez parenteProduccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialCauecirc Guimaratildeeselisandra andreacute Maranheerik rafael alves FerreiraFabiana aparecida rodriguesJeacutessica Miwa Joatildeo Castro barbosa de souzalia tiemi Hiratomilili lungarezi de Oliveiraluciano nunes Malheiro Maacutercia debieux Marcos leonel de souzapamela bianca Gouveia tuacuteliorafael Canoletti buciottirodolfo paganelli Jaquettosoraia Marino salum

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                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
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                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
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nUacuteCleO de edUCaCcedilAtildeO a distAcircnCia da UnespCoordenador Geral Klaus schluumlnzen Junior SecretariaAdministraccedilatildeosueli Maiellaro Fernandesaline Gama GomesJessica pappJoatildeo Menezes Mussolinisuellen arauacutejosueli Maiellaro FernandesTecnologia e Infraestruturapierre archag iskenderian andreacute luiacutes rodrigues Ferreiraariel tadami siena HirataGuilherme de andrade lemeszenskiMarcos roberto Greinerpedro Caacutessio bissettirodolfo Mac Kay Martinez parenteProduccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialCauecirc Guimaratildeeselisandra andreacute Maranheerik rafael alves FerreiraFabiana aparecida rodriguesJeacutessica Miwa Joatildeo Castro barbosa de souzalia tiemi Hiratomilili lungarezi de Oliveiraluciano nunes Malheiro Maacutercia debieux Marcos leonel de souzapamela bianca Gouveia tuacuteliorafael Canoletti buciottirodolfo paganelli Jaquettosoraia Marino salum

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                                                        3. Paacutegina 4
                                                        4. Paacutegina 5
                                                        5. Paacutegina 6
                                                        6. Paacutegina 7
                                                        7. Paacutegina 8
                                                        8. Paacutegina 9
                                                        9. Paacutegina 10
                                                        10. Paacutegina 11
                                                        11. Paacutegina 12
                                                        12. Paacutegina 13
                                                        13. Paacutegina 14
                                                        14. Paacutegina 15
                                                        15. Paacutegina 16
                                                        16. Paacutegina 17
                                                        17. Paacutegina 18
                                                        18. Paacutegina 19
                                                        19. Paacutegina 20
                                                        20. Paacutegina 21
                                                        21. Paacutegina 22
                                                        22. Paacutegina 23
                                                        23. Paacutegina 24
                                                        24. Paacutegina 25
                                                        25. Paacutegina 26
                                                        26. Paacutegina 27
                                                        27. Paacutegina 28
                                                        28. Paacutegina 29
                                                        29. Paacutegina 30
                                                        30. Paacutegina 31
                                                        31. Paacutegina 32
                                                        32. Paacutegina 33
                                                        33. Paacutegina 34
                                                        34. Paacutegina 35
                                                        35. Paacutegina 36
                                                        36. Paacutegina 37
                                                        37. Paacutegina 38
                                                        38. Paacutegina 39
                                                        39. Paacutegina 40
                                                        40. Paacutegina 41
                                                        41. Paacutegina 42
                                                        42. Paacutegina 43
                                                        43. Paacutegina 44
                                                          1. Bot_Bloco7
                                                            1. Paacutegina 2
                                                            2. Paacutegina 3
                                                              1. Bot_Tema6
                                                                1. Paacutegina 4
                                                                2. Paacutegina 5
                                                                3. Paacutegina 6
                                                                4. Paacutegina 7
                                                                5. Paacutegina 8
                                                                6. Paacutegina 9
                                                                  1. Bot_Tema7
                                                                    1. Paacutegina 10
                                                                    2. Paacutegina 11
                                                                    3. Paacutegina 12
                                                                    4. Paacutegina 13
                                                                    5. Paacutegina 14
                                                                    6. Paacutegina 15
                                                                    7. Paacutegina 16
                                                                    8. Paacutegina 17
                                                                    9. Paacutegina 18
                                                                    10. Paacutegina 19
                                                                    11. Paacutegina 20
                                                                      1. Bot_Tema8
                                                                        1. Paacutegina 21
                                                                        2. Paacutegina 22
                                                                        3. Paacutegina 23
                                                                        4. Paacutegina 24
                                                                        5. Paacutegina 25
                                                                        6. Paacutegina 26
                                                                        7. Paacutegina 27
                                                                        8. Paacutegina 28
                                                                        9. Paacutegina 29
                                                                        10. Paacutegina 30
                                                                        11. Paacutegina 31
                                                                          1. Bot_Tema9
                                                                            1. Paacutegina 32
                                                                            2. Paacutegina 33
                                                                            3. Paacutegina 34
                                                                            4. Paacutegina 35
                                                                            5. Paacutegina 36
                                                                            6. Paacutegina 37
                                                                            7. Paacutegina 38
                                                                            8. Paacutegina 39
                                                                            9. Paacutegina 40
                                                                            10. Paacutegina 41
                                                                            11. Paacutegina 42
                                                                            12. Paacutegina 43
                                                                              1. Bot_Bloco8
                                                                                1. Paacutegina 44