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Ondas de tamanho impressionante, verdadeiros muros de água com imensa energia acumulada, varreram a costa portuguesa na segunda-feira, alertando para um problema crónico mas muitas vezes esquecido: grande parte do litoral, onde se concentram a população e as atividades económicas, é muito vulnerável à erosão. A subida do nível do mar e o possível aumento de fenómenos extremos vão agravar um fenómeno que é uma realidade 67% da costa em risco de erosão e de perder terra para o mar Recuo. Nas áreas mais vulneráveis, entre Espinho e Aveiro, o mar chega a avançar sete metros por ano. Especialistas ponderam peso das alterações climáticas, mas apontam dedo à falta de ordenamento PATRÍCIA JESUS As enormes ondas da tempestade de segunda-feira, em tamanho e energia, e as imagens da água a in- vadir praias e estradas, a arrastar carros ea destruir apoios de praia e restaurantes, são um poderoso alerta para os perigos que afetam o litoral do País. Um litoral muito ex- posto: 67% da costa portuguesa tem "um risco significativo de ero- são", lembra o investigador Filipe Duarte Santos, coordenador do projeto SIAM sobre o impacto das alterações climáticas e m Portugal, em que se chegou a esta conclusão. zonas, mais vulneráveis, onde o mar avança vários metros por ano, indica o geólogo José Luís Zêzere, professor do Instituto de Geografia e Ordenamento do Ter- ritório fIGOT) . "Na área entre Espi- nho e Aveiro, a taxa de recuo da li- nha de costa é de sete metros por ano. É consistente, nos últimos dez anos recuou setenta metros, e nada indica que vai mudar." O troço entre a foz do Douro e a Nazaré, na costa oeste, e o troço entre a praia do Ancão e Vila Real de Santo António, no Algarve, são outros identificados como particu- larmente vulneráveis no projeto SIAM, acrescenta Filipe Duarte Santos. O investigador recorre à memória para lembrar que praias, como a Costa de Caparica, que estão irreconhecíveis quando comparadas como século XX. Para Filipe Duarte Santos, não restam dúvidas de que o aumento do nível médio das águas - "de 20 cm no século passado e que pode atingir os 50 cm ao longo deste sé- culo" - e que a maior frequência de fenómenos extremos, como a tempestade de segunda-feira, vão agravar a erosão.cos- teira em Portugal. No âmbito do SIAM, os investigadores identi- ficaram outro fenó- meno Jigado às altera- ções climáticas que pode agravar muito a erosão: a mu- dança na direção das ondas, au- mentando a sua capacidade de rou- bar areia das praias. Vale a pena recordar que o últi- mo relatório do Painel Intergover- namental para as Alterações Cli- máticas (IPCC, na sigla em inglês) reviu as previsões relativas à subi- da do nível do mar - devido à ex- pansão térmica dos oceanos e ao derretimento dos gelos. Em 2007, a previsão era de 18 cm a59 cm até2loo, ago- ra admite que o nível das águas possa subir 26cma82cm. No entanto, "num contexto de brutal in- certeza", é impossível dizer onde vai estar a linha de costa daqui a 30 ou 40 anos, adverte José Luís IPCC admite subida de 82 cm no nível das águas até 2100

da costa em risco de erosão de perder terra para mar · 2014-01-08 · Ondas de tamanho impressionante, ... entre Espinho e Aveiro, o mar ... > Meio quilo de salmonete a 18 euros,

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Page 1: da costa em risco de erosão de perder terra para mar · 2014-01-08 · Ondas de tamanho impressionante, ... entre Espinho e Aveiro, o mar ... > Meio quilo de salmonete a 18 euros,

Ondas de tamanho impressionante, verdadeiros muros de água com imensaenergia acumulada, varreram a costa portuguesa na segunda-feira, alertandopara um problema crónico mas muitas vezes esquecido: grande partedo litoral, onde se concentram a população e as atividades económicas,é muito vulnerável à erosão. A subida do nível do mar e o possível aumentode fenómenos extremos vão agravar um fenómeno que já é uma realidade

67% da costa emrisco de erosãoe de perder terrapara o mar

Recuo. Nas áreas mais vulneráveis, entre Espinho e Aveiro, o marchega a avançar sete metros por ano. Especialistas ponderam pesodas alterações climáticas, mas apontam dedo à falta de ordenamento

PATRÍCIA JESUS

As enormes ondas da tempestadede segunda-feira, em tamanho e

energia, e as imagens da água a in-vadir praias e estradas, a arrastarcarros e a destruir apoios de praiae restaurantes, são um poderosoalerta para os perigos que afetam olitoral do País. Um litoral muito ex-

posto: 67% da costa portuguesatem "um risco significativo de ero-são", lembra o investigador FilipeDuarte Santos, coordenador do

projeto SIAM sobre o impacto das

alterações climáticas e m Portugal,em que se chegou a esta conclusão.

Há zonas, mais vulneráveis,onde o mar avança vários metros

por ano, indica o geólogo José LuísZêzere, professor do Instituto de

Geografia e Ordenamento do Ter-ritório fIGOT) . "Na área entre Espi-nho e Aveiro, a taxa de recuo da li-nha de costa é de sete metros porano. É consistente, nos últimos dezanos recuou setenta metros, e

nada indica que vai mudar."O troço entre a foz do Douro e a

Nazaré, na costa oeste, e o troçoentre a praia do Ancão e Vila Realde Santo António, no Algarve, sãooutros identificados como particu-larmente vulneráveis no projetoSIAM, acrescenta Filipe DuarteSantos. O investigador recorre àmemória para lembrar que há

praias, como a Costa de Caparica,

que estão irreconhecíveis quandocomparadas como século XX.

Para Filipe Duarte Santos, nãorestam dúvidas de que o aumentodo nível médio das águas - "de 20cm no século passado e que podeatingir os 50 cm ao longo deste sé-culo" - e que a maior frequência defenómenos extremos,como a tempestadede segunda-feira, vão

agravar a erosão.cos-teira em Portugal. Noâmbito do SIAM, os

investigadores identi-

ficaram outro fenó-meno Jigado às altera-

ções climáticas quepode agravar muito a erosão: a mu-dança na direção das ondas, au-mentando a sua capacidade de rou-bar areia das praias.

Vale a pena recordar que o últi-mo relatório do Painel Intergover-namental para as Alterações Cli-máticas (IPCC, na sigla em inglês)reviu as previsões relativas à subi-da do nível do mar - devido à ex-pansão térmica dos oceanos e aoderretimento dos gelos. Em 2007, a

previsão era de 18 cma59 cm até2loo, ago-ra admite que o níveldas águas possa subir26cma82cm.

No entanto, "numcontexto de brutal in-certeza", é impossíveldizer onde vai estar alinha de costa daqui a

30 ou 40 anos, adverte José Luís

IPCC admitesubida de 82 cm

no nível das águasaté 2100

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Zêzere. "Temos de ser prudentes.Com ou sem alterações climáticas,as perspetivas para o nosso litoralnão são boas." É que à subida donível médio do mar sobrepõe-seum problema de défice sedimen-tar que é crónico, explica.

Alveirinho Dias, presidente daAssociação Portuguesa dos Recur-sos Hídricos, salienta que "apenas10% a 15% da erosão costeira emPortugal sedeveàelevação do níveldo mar". A maior parte deve-se aos

impactes das atividade humanas."É possível que a frequência de fe-nómenos extremos esteja a aumen-tar, mas os efeitos devem-se essen-cialmente a um problema de orde-namento do território. Costuma-sedizer que as praias nascem nasmontanhas, mas estão a desapare-

cer no caminho devido às barra-

gem, à extração de areias e às draga-

gens. Como não chegam à costa, háerosão." O professor universitário

diz que toda a costa portuguesa está

ameaçada. "Pontos críticos não fal-

tam no nosso litoral. Escapa a cos-

ta alentejana, até porque está mui-to pouco ocupada. Aliás, só há pro-blemas de erosão costeira quandoa costa está ocupada", realça. "Jápo-dernos estar a pagar o preço das al-

terações climáticas, mas estamosfundamentalmente a pagar o preçode décadas de mau ordenamento",concorda José Luís Zêzere.Lutar ou fugirÉ sobretudo a ocupação humana

que obriga a decisões difíceis. "Házonas que não deviam ter sido

ocupadas e outras em que se devedefinir qual é o período de vida útildas estruturas, o que ajudaria a es-morecer a especulação imobiliá-ria", defende Alveirinho Dias, queacha incompreensível que em vez

de se ir desocupando as áreas mais

sensíveis se esteja a fazer o contrá-rio. Até porque depois se gastam

rios de dinheiro na proteção de"coisas com pouco valor", diz.

A escolha é entre defender, quecusta milhões, e abandonar, diz Fi-

lipe Duarte Santos, que consideraimportante definir que áreas vale a

pena defender o mais cedo possí-vel. O geólogo José Luís Zêzere nãotem dúvidas de que há áreas emque a solução sensata é "fugir", masdefende que é preciso fazer as con-tas: "Boa parte dos territórios en-volve riscos, é preciso fazer umaanálise custo-benefício e adotar autilização mais adequada."

O ministro do Ambiente, Morei-ra da Silva, visita hoje algumas das

zonas afetadas pelo mau tempo,na costa norte, onde deverá revelaras medidas de proteção do litoral.O atual Plano de Ação de ProteçãoeValorização do Litoral contempla303 açõesde2ol2 a2015, no valorde 416 milhões de euros.

A praia de Pedrógão praticamente desapareceu. Na Nazaré populares foram ver as ondas (foto da direita em cima).

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Em Carcavelos, o bar Fizz ficou muito danificado

PREVISÃO

NORMALIZAÇÃO> Agitação Depois da tempesta-de de segunda-feira, a agitaçãomarítima começou a acalmar e a

situação deve ficar normalizadano dia de hoje. É a chuva que

preocupa em algumas zonas do

País, com avisos para Lisboa,

Santarém, Setúbal e Leiria.

PRÓXIMA SEMANA> Alerta  formação de um siste-

ma frontal ao largo do Canadá e

dos Estados Unidos também

preocupa, podendo esta depres-são fazer um trajeto semelhanteà tempestade Hércules, alertou

ontem o comandante Santos

Martinho, do Instituto

Hidrográfico. Nesse caso, a agita-ção marítima pode voltar a

Portugal dentro de sete dias,avisou o responsável.

Praiade Esmoriz

PROTEÇÃO A praia deEsmoriz foi encolhendo ao

longo do século XX, levan-do à construção de. prote-ções pesadas, como os es-

porõeseenrocamentosquemarcam a paisagem detoda esta costa.

Costade CaparicaPRAIA Não é preciso recuarao século XIX, quando uma

restinga permitia ir da Costaao Bugio a pé, para perce-ber o que mudou. Em mea-dos do século XX, algumaspartes da praia tinham maisumas centenas de metros.

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Faina paradaPreço do peixe dispara com pescadoresobrigados a ficar em terra> Meio quilo de salmonete a 18 euros, um quilo de corvina a 12 ou dou-rada e robalo próximo dos 20 traduzem a época mais "mal-amada"entre a maioria dos pescadores da costa portuguesa, impedidos pelomau tempo de se fazerem ao mar. "A última vez que fomos à pesca foiantes da passagem de ano e esta subida de preços em lota é a conse-

quência da falta de peixe", explica Paulo Martins, pescador da Costade Caparica, sem saber quando é que vai poder regressar à faina."É o drama desta profissão. Quando o mar não deixa não temos traba-lho e nós temos de atravessar azona de rebentação porque não temos

doca", lamentava ontem ao DN, revelando que, juntamente comos seus camaradas, tem aproveitado estes dias de pausa para fazer a

manutenção de redes e de tratores e pinturas de barcos. R. D.

'Surf em altaCorrer o mundo atrás do 'black swelTe da tempestade perfeita> A chegada da tempestade atlântica às costas europeias entusias-mou a comunidade surfista: as páginas especializadas falavam emondas históricas e na tempestade perfeita. A previsão de ondas quepodiam atingir os 16 metros seduziu os surfistas profissionais deondas grandes, que se meteram em aviões atrás do black swellpro-metido por um centro de baixas pressões gigante. Tinham apenas dedecidir o destino: Portugal, Irlanda e Reino Unido apresentavamboas possibilidades. Na costa portuguesa, no entanto, a tempestadefez "muitos estragos... mas pouco surf, escrevia ontem uma páginaespecializada. O vento forte não ajudou a apanhar o tal sw eWhistóri-

co. Mais sorte tiveram os que escolheram Belharra, no País Basco

francês, onde ontem se surfaram ondas de 20 metros, p. j.

"Há 30 anos queaqui estou e nuncavi nada assim"ondas fortes Centenas decuriosos quiseram ver de

perto a destruição causada

pelo mar na orla costeiraum pouco por todo o País

"Frequentamos este café e ficamoschocados com estas coisas", dizuma senhora de meia-idade, como

que para justificar o facto de estara filmar cada centímetro do caos

em que ficou a esplanada do barFizz, em Carcavelos, depois de tersido engolido por uma onda, nofim da tarde de segunda-feira. A

destruição causada pelo mar nosbares e restaurantes nazonadaFozdo Douro também atraíram deze-nas de curiosos. Uma ligeira acal-mia do mar mostrou os danos do

temporal de segunda-feira.Quilos de areia molhada, uma

coluna de som quepende do teto, a lonada cobertura rasgada

que voa ao sabor dovento. É assim queestá a esplanada dobar Fizz e ontem foi

apenas dia de tentarcontrolar os danosnas tréguas que amaré vazia deu. No local, trabalha-dores retiravam as lâmpadas, me-sas e cadeiras, e o proprietário,Paulo do Rosário, ainda fazia con-tas aos prejuízos. "Há 30 anos queaqui estou e nunca vi nada assim.Ainda não sei os prejuízos, serámuito dinheiro certamente", disse.

Uma destruição única que levouos curiosos aquela zona da praia."Gostamos de ver o mar assim emsituações extremas e agora que amaré está vazia dá para perceberquais foram os danos", confessaPedro Graça, que com dois amigosobservava a praia do alto do par-que de estacionamento. Mais à

Em Sagres, as

ondas galgaram aarriba e causaram

danos no topo

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frente, também o restaurante Ter-race tinha vidros partidos, masprometia estar já hoje de novo afuncionar. No areal viam-se os des-

pojos que o mar arrastou: uma bar-

raquinha de gelados, lixo e atéumas escadas ainda com dois de-

graus de madeira.Mais a norte, passadas 24 horas

da passagem da onda de grandesdimensões que arrastou carros e

provocou feridos na zona da Fozdo Douro, no Porto, ainda é evi-dente o cenário de destruição. Masa ação violenta do mar arrastounão apenas os destroços e a areia

que se espalharam pela praia e

pelo passeio marítimo: cortada ao

trânsito, a marginal transformou--se num local de romaria.

E, apesar do perímetro de segu-

rança e das advertências da Polícia

Marítima, muitos teimavam em

atravessar as fitas de delimitaçãoparatirarfotografias ou apenas ob-

servar. As recomendações à popu-lação para que "não se aproxime dalinha de rebentação e da costa"

mantém-se, disse o comandante dado porto do Douro, Raul Risso.

O cenário de destruição, emmuitos casos aliadosà incredulidade como sucedido, replica-ram-se pelo País. Em

Esposende, os barcosficaram sem rampade acesso, que foi le-vada pelas "marés vi-vas". Em São Pedro de

Moei, foi dia de lim-peza depois de o mar ter destruído

casas de banho públicas e inunda-dos casas e estabelecimentos.

A fúria do mar foi também bem

visível na vila de Ferragudo, no Al-

garve, onde os restaurantes junto à

praia não resistiram. Segundo a câ-

mara, a situação afetou várias

praias, entre as quais a praia Gran-de, do Pintadinho e dos Caneiros,onde as ondas acrescentaram cer-ca de 1 ,5 metros de altura de areia.Em Sagres? as ondas galgaram aimensa arriba (30 m) e consegui-ram destruir alguns canhões queestão no topo, junto à fortaleza.

Nos Açores -onde ontem ne-vou em zonas altas do Faial, doPico, de São Jorge e da Terceira -,também se fizeram contas aos es-

tragos do mar. No Pico, o mar dani-ficou adegas e casas de férias, naTerceira foram afetadas três zonasbalneares.ANABELAFERREIRAeJOANADEBELÉM

Temperaturasvão dos 50negativos aos50 positivos

Clima. Os termómetros desceram a níveisrecorde na América do Norte. Na Américado Sul as temperaturas subiram a pique

SOFIA FONSECA

Na Argentina, o fim de 2013 foi es-

caldante, com temperaturas a ron-dar os 50°C. No Brasil, os primeirosdias de 2014 foram igualmenteabrasadores. No Nordeste e centroEstados Unidos, os últimos dias fo-

ram de um frio gélido, a dar a sensa-

ção de estarem 50 graus negativos.Na Europa, as inundações têm sido

uma constante. O planeta tem as-sistido a fenómenos climatéricos

extremos, alguns deles fatais.

Nos Estados Unidos e Canadá,

nos últimos dois dias, o frio foicomo anunciavam as previsões,que antecipavam que o vórtice po-lar fizesse descer as temperaturasaos níveis mais baixos dos últimos20 anos. Em pelo menos 49 cidadesforam batidos recordes para o dia 7deste mês: em Baltimore os termó-metros desceram até aos 16, 1 grausnegativos, batendo os registos de

1988; em Filadélfia chegouaos 15,5

negativos; em Atlanta, onde fezmais frio que no habitualmente ge-lado Alasca, chegou aos 14,4 nega-tivos, frio que não era sentido desde

1 970. Finalmente, no Central Park,em Nova lorque, nunca a 7 de janei-ro a temperatura tinha descido atéaos 15,5 negativos como aconteceuontem. O recorde anterior tinha 118

anos, quando os termómetros des-

ceram aos 14,4 negativos. A peque-na cidade de Embarrass, no Minne-sotta, com 600 residentes, terá sido,

na segunda-feira, a mais fria dosEUA: 37 graus negativos.

Os alertas emitidos antes da che-

gada do vórtice polar deram frutos,

apesar de uma pessoa ter morrido

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ontem por hipotermia em Chicago.Nasemana passada, 15 tinham per-dido ávida, devido à tempestade deneve Hércules.

As escolas fecharam no Minne-sotta, em Chicago, Atlanta e Na-shville. Em Indianapolis, a circula-

ção nas estradas foi proibida, o quenão acontecia desde 1978. Nos ae-

roportos mais de dois mil voos fo-ram cancelados ontem de manhã.Desde quinta-feira, já são 18 mil osaviões em terra devido à neve.

Enquanto isso, no Brasil, as tem-

peraturas estão quase no pico. Nasexta-feira, no Rio de Janeiro, a sen-

sação térmica era de que estavam50 graus. O mesmo calor que se fezsentir na Argentinanos últimos diasde 2013, quando pelo menos sete

pessoas perderam a vida naquelaque terá sido a maior onda de calor

dos últimos 40 anos.Na Europa, são a chuva persis-

tente e a forte agitação marítima afazer estragos. Enquanto por cá asondas destruíam carros e bares aofim da tarde de segunda-feira, naGaliza três pessoas foram arrasta-das num incidente semelhante.Também em Biarritz, França, háduas pessoas desaparecidas devidoàs vagas gigantes. O Reino Unidocontinua a ser fustigado.

"As tempestades muito fortes deum lado e de outro do Atlântico, e

agora o vórtice polar sobre aAméri-ca do Norte, está tudo ligado. É tudoo mesmo planeta", considera FilipeDuarte Santos, investigador emembro do Painel Intergoverna-mental para as Alterações Climáti-cas (IPCC, na sigla em inglês), paraquem o aumento da frequência de

fenómenos extremos, mais inten-sos, é uma das consequências das

alterações climáticas, com p.j.

RECORDES

AMÉRICA> O território Yukon, no Canadá,é o local onde se registou a tem-

peratura mais baixa na Américado Norte: 63 graus negativos, a 3

de fevereiro de 1947. Na Américado Sul, está em Sarmiento, na

Argentina, a 1 de junho de 1907, o

recorde de 32,8 graus negativos.

EUROPA> É na Rússia que se situa a re-gião mais fria da Europa, maisprecisamente em UsfSchugor,com 58,1 graus negativos a 31de dezembro de 1978.

Uma pessoa morreu ontem por hipotermia em Chicago

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Desastres causaram oreiuízos de 91 mil milhões2013 No ano passado, perde-ram-se cerca de 20 mil vidasem todo o mundo devidoa fenómenos atmosféricose meteorológicos extremos

O supertufão Haiyane as cheias na

Europa Central são dois dos desas-tres naturais que mais contribuí-ram para que os prejuízos mun-diais com o mau tempo atingissemos 91 mil milhões de euros em2013. Os números são de um rela-tório da Munich Re, seguradoragermânica que se tem destacadona área das catástrofes naturais.O documento, ontem revelado,aponta ainda para a ocorrência demais de 20 mil mortes resultantesde 880 fenómenos no último ano.

O desastre natural que mais da-nos causou foram as cheias na Eu-

ropa Central, que ocorreram na

primeira quinzena de junho doano passado. O documento revela

que as piores cheias desde o sécu-lo XVI em países como Alemanha,

Áustria, Hungria e República Che-ca provocaram 25 mortes e danos

que ascenderam aos 12 mil mi-lhões de euros.

No segundo lugar surge o super-tufão Haiyan, que atingiu as Filipi-nas, o Vietnam e a China entre 8 e

12 de novembro de 2013. Com umtotal de 6095 mortes contabiliza-das, aquele que foi já consideradoum dos piores tufões de que há re-

gisto - com ventos a atingirem os315 quilómetros por hora- provo-cou danos de 7,5 mil milhões de

euros. A completar o top 3 surge o

terramoto que atingiu a China a2Ode abril, causando 196 mortes e

cinco mil milhões de euros em da-nos.

ParaTorstenJeworrek, da Mu-nich Re, "vários dos eventos regis-tados ilustram o quão bem os avi-sos e medidas de minimização de

perdas podem restringir o impac-to das catástrofes naturais". "Nocaso das tempestades de invernomais recentes na Europa as perdasforam relativamente baixas." Já no

que diz respeito ao tufão que atin-giu as Filipinas, os danos e as per-das registadas reforçam "a necessi-dade urgente de fazer mais e me-lhor em países emergentes, paraproteger melhor as pessoas". "Issoinclui prédios mais estáveis e ins-talações de proteção e programasde seguros - também com o apoiodo Estado - para fornecer aos afe-tados o apoio financeiro necessá-rio após um desastre", frisou Tors-

tenjeworrek.HELDER ROBALO

Entre a chuvae o calor intensosA tempestade Hércules, que atingiu os EstadosUnidos na semana passada, chegou à Europasob a forma de chuvas fortes e intensa agitaçãomarítima que já fizeram vítimas mortais.

Enquanto isso, no Brasil, as praias enchem-se

por causa do calor abrasador.

Mar leva doisem BiarritzONDAS Nodomingo.umcasalfoi atingido pela águanuma zona rochosa: eleconseguiu pscapar; a mu-lher ainda está desapare-cida. Ontem, um sem-abri-

go também terá sido leva-do pelo mar.

Mais alertasem InglaterraCHUVA Chuvas fortes einundações. É isto que osbritânicos podem esperarpara os próximos três dtas,

segundo um alerta das au-xonoaoes, oepois oe ontemas ondas terem chegadoaos oito metros.

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Um morto nomar da Galiza

ESPANHA Três pessoasforam dadas como desa-

parecidas na segunda-4éiranacostadeVaUovMio,Corunha, Espanha, depoisde terem sido arrastadas

por uma onda. Ontem, umdos corpos foi resgatado.

BrasilescaldanteCALOR As temperaturassubiram a pique no Brasilnasexta4eira.Seisdasdez

temperaturas mais altasdo mundo foram regista-das no estado do Rio de Ja-neiro, com sensação tér-mica de 51 graus.

4 PERGUNTAS A...

"Não me lembrode ondas destasna nossa costa"

Um tornado em Paredes, Mopolar em metade dos Estados

Unidos, até à Florida, ondasdestruidoras na costa portu-guesa. Já são as alterações cli-máticas?Émuito difícil distinguir umfenó-meno ocasional como decorrentedas alterações climáticas, porquea atmosfera tem muita variabili-dade. Podemos dizer que estas si-

tuações não são vulgares, mas é

preciso fazer uma análise estatís-

tica do mesmo tipo de fenómenosocorridos no passado para se fazer

uma comparação e calcular o seu

período de retorno. Só então se po-derá dizersejásão as alterações cli-

máticas, ou não. As temperaturasnos Estados Unidos são muito in-

vulgares e resultam dadescidaparasul dacolunadearfrioque há sobre

o Polo Norte no inverno. Por vezes

isso acontece, mas desta vez des-

ceumuitoparasuleestámuito per-sistente. O contacto entre esta ca-

mada de ar polar e o oceano, quetem a temperatura mais alta, gera

por sua vez depressões, como a

que originou agora a tempesta-de Hércules, com estas ondas queatingiram a nossa costa. Tinhamum período muito longo, o queas tornou mais energéticas e in-

tensas, eque eu tambémnão melembro de ter visto antes.

O Painel Intergovernamentalpara as Alterações Climáticas daONU, do qual é revisor, estima

que este tipo de fenómenostende a aumentar.A estimativa do IPCC é a de que

teremos depressões de maior in-tensidade e, portanto, umamaior

amplitude de ondulação, com-patível com o que aconteceu

agora. Mas precisamos de fazeruma análise estatística. É um tra-balho em que estamos bastanteinteressados e dentro quatromeses teremos algo mais robus-

to para apresentar.Qual é o horizonte temporalpara uma maior frequênciadestes fenómenos?Nos próximos 20, 30 anos vamoscontinuarateramesma tendên-cia das últimas três décadas,com com maior frequênciadeste tipo de depressões. Depois,o curso dos acontecimentos po-derá alterar-se, dependendo das

emissões de gases com efeito de

estufa.E o tempo, quando melhora?Talvez na sexta-feira as coisasabrandem.FILOMENA NAVES

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Barragens com água acima da médiarelatório Proteção civil aler-ta para cheias nas bacias de

alguns rios. Maior parte das

albufeiras supera os 80% devolume de armazenamento

Quase metade das albufeiras portu-guesas têm disponibilidades hídri-

cas superiores a 80% do volume to-

tal, revelam os dados do Boletim de

Armazenamento nas Albufeiras de

Portugal Continental, da AgênciaPortuguesa do Ambiente.

Segundo o relatório, com base de31 de dezembro de 2013, os arma-zenamentos porbaciahidrograficaapresentam valores superiores às

médias de armazenamento de de-zembro no período entre 1990/91 e2012/13, comexceçãoparaabaciado Douro. Nesta, os níveis de arma-

.zenamento rondam os 64,9%, mui-to por culpa da albufeira de Vilar -Tabuaço, com uma ocupação de

38,5% do armazemento total.No que diz respeito ao Tejo e

Guadiana, estas encontram-se comreservas de 73,6% e 83,4%. No casodo Tejo, 8 das 14 albufeiras estão

mesmo com armazementos supe-riores a 80%, enquanto no Guadia-

na apenas duas das nove albufeiras

monitorizadas estão acima desta

fasquia. Do outro lado dafronteira,os dados não são muito diferentes.

Dados do Ministério de Agricultu-ra, Alimentacióny Médio Ambien-

te, datados de 2 deste mês, apon-tam para níveis de armazenamen-to na ordem dos 54% para a bacia

do Douro. Já o Guadiana revelava

disponiblidades na casados 46% da

capacidade total, enquantooTejotinha níveis de 45%.

Entretanto, a Proteção Civil aler-ta paraorisco de cheias na baciade

alguns rios. O adjunto de operaçõesCarlos Guerra prevê que continue acair muita chuvano território e queisso pode provocar algumas pertur-bações na bacia do Tejo, no Minhoe no Douro. H.R.

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