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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - Operação de ... · Apontar traços que revelem as características literárias da crônica e dos aspectos não-literários da notícia e da

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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Cleuza Ribeiro Machado Proposta de trabalho elaborada para o Programa

de Desenvolvimento Educacional - PDE

MATERIAL DIÁTICO PEDAGÓGICO A crônica: uma visão crítica e poética da realidade

Londrina Junho de 2010

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“Um dos objetivos dos meios de comunicação é manter a nossa sensibilidade despertada, a fim de que possamos participar ativamente dessa imensa aldeia global. [...] ‘O rádio, a televisão, o telex são as células nervosas desse imenso organismo a transmitir-lhe impressões sob forma de notícias’. [...] a função do jornal é abrir uma janela para o mundo, transformando-nos em homens públicos. [...] Aberta a janela, cumpre ensinar o leitor a ver mais longe, muito além do factual”. (SÁ, 1987, p. 55, 56 )

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................5

Oficina 1 – Apresentação do gênero .....................................................................6

BRASIL TEM 2 MIL IPADS .......................................................................................6

IPAD .........................................................................................................................6

SMARTPHONE DEIXA AMIGO CARENTE E SILENCIA PAPO DE BAR.................9

A FELICIDADE DURA POUCO.................................................................................11

Oficina 2 – Apropriação do gênero........................................................................14

MENINO MORDE PITBULL APÓS SER ATACADO EM SABARÁ, MINAS GERAIS

................................................................................................................................15

MENINO MORDE PIT BULL .....................................................................................15

MARIDP TRAÍDO TENTA ELIMINAR ESPOSA........................................................18

HONRA .....................................................................................................................19 TIROTEIO NA ZONA NORTE DO RIO DEIXA 4 MORTOS E DOIS FERIDOS ........21 A GLÓRIA DA BALA PERDIDA ................................................................................22 A presença da ficção na elaboação da crônica .........................................................22 Atividade: Produção de textos ...................................................................................23

Oficina 3 – A crônica literária .................................................................................25

O AMOR POR ENTRE O VERDE ...........................................................................26

Aspectos literários da crônica....................................................................................27

Oficina 4 – O humor ................................................................................................28

Coleta de dados para produção textual ...................................................................29

A QUE PARTIU .........................................................................................................29

Atividade: Aspectos literários da crônica – o sentido figurado...................................30

MEU REINO POR UM PENTE..................................................................................31

Atividade: Recursos que produzem humor................................................................32

NO ESPAÇO SIM, MAS PERDIDO NÃO..................................................................33

Atividade: Humor e ficção..........................................................................................34

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Oficina 5 – O genêro................................................................................................35

Atividade: Análise de fragmentos da crítica literária brasileira sobre a crônica .......35

Oficina 6 – O aspecto lírico ....................................................................................40

Análise do lírico em textos narrativos ......................................................................41

O NOVO CADERNO .................................................................................................42

AGRADECIMENTOS ................................................................................................43

POBRE DO GANDULA .............................................................................................46

Estudo do texto .........................................................................................................46

FLOR DE MAIO.........................................................................................................47

Estudo do texto .........................................................................................................47

PROSA POÉTICA .....................................................................................................48

Oficina 7 – O passeio ..............................................................................................48

Preparando-se para o passeio ..................................................................................49

Oficina 8 – O texto ...................................................................................................49

Atividade: Produção de Crônicas ..............................................................................50

REFERÊNCIAS.........................................................................................................51

ANEXOS ...................................................................................................................54

Textos na íntegra, utilizados para elaboração deste material ...................................54

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INTRODUÇÃO A presente Produção Didático-pedagógica é a concretização da

proposta de trabalho planejada através do Projeto de intervenção pedagógica

durante o Programa de Desenvolvimento Educacional, PDE. Organiza-se a

partir de unidades denominadas oficinas, e se consitui numa proposta

sistematizada de leituras e atividades de compreensão e reflexão, que têm

como principal objetivo propor subsídios, aos alunos do ensino médio, para a

produção de textos do gênero crônica.

Compreender a experiência social e o uso efetivo da linguagem na

esfera de atividade humana em que o texto é produzido e circula, é essencial

para que através da prática pedagógica seja possível proporcionar no

ambiente escolar, situações de aprendizagem que permitam aos educandos

se expressarem de modo satisfatório. Através desta proposta de trabalho

espera-se encontrar na interação entre prática social e formação escolar, o

meio mais apropriado para a compreensão e uso efetivo da linguagem a que

tanto desejamos.

A busca do melhor método para operar com a linguagem nas situações

de comunicação e incentivar a prática da escrita é um desafio constante e se

constitui no objeto de pesquisa deste trabalho. Através de uma série de

atividades de leituras comparativas dos gêneros: notícia, reportagem, crônica,

apresenta-se atividades de compreensão e análise do discurso que têm como

objetivo facilitar, aos estudantes de língua portuguesa, a compreensão crítica

do texto, além de apontar traços estruturais próprios do gênero crônica, que

contribuam para a produção de textos do gênero.

Durante as oficinas serão desenvolvidas atividades visando a

compreensão dos três aspectos constitutivos da crônica: assunto, composição

e linguagem. Pretende-se, através desta escolha didática, apresentar aos

alunos, questões que fundamentam a elaboração de um texto do gênero, a

fim de que tendo compreendido os procedimentos utilizados pelos cronistas,

eles também possam produzir textos do gênero revelando as suas impressões

e experiências acerca do contexto em que eles vivem.

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OFICINA 1

Objetivos:

Apresentar aos alunos a crônica vinculada a uma notícia e reportagem;

Fazer um apanhado geral do conhecimento prévio dos alunos a respeito

do jornal e das características específicas da notícia, reportagem e da

crônica;

Apontar traços que revelem as características literárias da crônica e dos

aspectos não-literários da notícia e da reportagem;

Analisar a finalidade dos gêneros para compreender o uso diverso, nas

possibilidades de escolha da linguagem.

..........................................................................................

Leitura e análise dos textos:

Brasil tem 2 mil iPads

iPad

Texto 1 - Notícia

Brasil tem 2 mil iPads

“A AdMob divulgou pela primeira vez um levantamento sobre a quantidade de

iPhones, iPods Touch, iPads e celulares Android em cada país. E o Brasil

aparece com uma quantidade de 2 mil iPads, [...]. O País é o 18º mercado dos

portáteis da Apple, [...]”

(SERRANO, 2010)

Texto 2 - Crônica

iPad

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“Gazeta da Jerusalém, século I d.c.

Há duas semanas não se fala em outra coisa: de Damasco a Jericó, da

Judéia à Galiléia, aquém e além Jordão, todos discutem a nova tecnologia que,

segundo seus criadores, vai revolucionar a forma como lemos.

[...] trata-se de um bloco retangular, mais ou menos do tamanho de um

tijolo, embora mais fino, a que chamam de ‘livro’. A novidade tem conquistado

tantos adeptos que já há quem anuncie o fim do pergaminho.

A maior diferença do ‘livro’ em relação ao bom velho rolo é o conceito de

‘página’: [...]

[...]

Outra vantagem [...] é a facilidade de se achar um texto rapidamente, [...]

Ah, filisteus! Não sabem que o prazer da busca reside no caminho percorrido

mais do que no objeto encontrado?”

(PRATA, 2010)

Proposta de trabalho 1 APRESENTAÇÃO DO GÊNERO

ORIENTAÇÕES GERAIS

.....................................................................................................

Para a realização das atividades desta Produção-Didática, sugere-se que o professor providencie os textos originais. .......................................................................................................

1. Organizar a sala em grupos de no máximo cinco alunos, 2. Providenciar para o grupo uma cópia da notícia para que eles leiam. 3. Após a leitura do texto jornalístico, entregar-lhes a crônica, para uma nova

leitura. 4. Explicar-lhes que a crônica é um gênero textual que faz parte de uma dupla

esfera de comunicação: a jornalística e a literária; e que por isso, tem

semelhanças com ambas as esferas. E que durante esse nosso trabalho

vamos estudar o assunto, a forma de composição e a linguagem deste

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gênero para que, conhecendo-o melhor, possamos produzir textos do

mesmo estilo; 5. Solicitar aos alunos que retomem os textos dando-lhes um tempo maior

para que desta vez possam observar melhor as características próprias de

cada gênero, incentivando-os com as questões abaixo transcritas. Esta

proposta de trabalho pode ser escrita no quadro ou fotocopiada e entregue

aos alunos como um roteiro, para direcionar o trabalho que vão realizar: 5.1. Locais em que as crônicas são publicadas;

5.2. Quem são os profissionais que as escrevem; 5.3. A que tipo de público este texto é dirigido; 5.4. Qual a intenção do escritor quando produz um texto como esse; 5.5. Ela tem algum tipo de semelhança com a notícia ou a reportagem de

jornal; 5.6. Qual é o seu papel neste veículo de divulgação; 5.7. Que objetivo a notícia e a reportagem apresentam enquanto texto

informativo e a crônica enquanto texto literário; 5.8. Compare a linguagem da crônica à da notícia. Esses dois gêneros

textuais apresentam a mesma linguagem? Registre as diferenças. 6. Tendo demarcado os pontos que devem nortear o trabalho de pesquisa

dos grupos em relação aos textos, orientá-los a escolher alguém do grupo

para registrar as informações para posteriormente apresentá-las à turma.

Ao final, elaborar uma síntese do trabalho realizado pelos alunos e expor

no Mural do Colégio para que todos tenham acesso e possam ler.

Proposta de trabalho 2 ATIVIDADE INDIVIDUAL

APRESENTAÇÃO DO GÊNERO

.............................................................................................

Os fragmentos abaixo foram extraídos do jornal “Folha de São Paulo”.

São trechos que retomam uma reportagem sobre o smartphone. Leia-os com

atenção para responder às questões.

.............................................................................................

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Texto 1: Smartphone deixa amigo

Carente e silencia papo de bar

“Incomodado com os amigos que não largam o iPhone, Tomás Toledo,

23 [...] é do contra”.

“Quando os amigos estão juntos – e muitas vezes sem se dar conta –

todos começam a fuçar nos seus aparelhos e ficam cada um na sua, como se

não houvesse ninguém ao redor.”

“[...] a internet dos iPhones acabou com as discussões de mesa de bar.”

“ ’Não tem mais polêmica nem apostas [...]’ ”

“[...] os smartphones já causam dependência e problemas de

relacionamento.”

“A dependência de Lopes [...] é tamanha que ele não se desgruda um

instante do smartphone.”

“ ‘Fico viciado em responder rapidamente tudo que me é pedido. [...]’ ”

(GALVÃO, 2010)

1. Compreensão do texto

1.1 Quem é o primeiro entrevistado? Por que ele é do contra?

1.2 Ele faz uma queixa. Do que ele reclama?

1.3 Ele é a favor do modo como os colegas fazem uso do smartphone?

Justifique.

1.4 Quem é o segundo entrevistado? Ele tem a mesma opinião que o jovem de

23 anos? Explique.

1.5 Você sabe o que são iPhones, smartphones? Escreva o que você sabe a

respeito destes portáteis.

2. O Jornal: um suporte para informações diversas

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2.1 O texto em estudo, foi publicado em um jornal. Leia o que pensa Jorge de

Sá, sobre o jornal:

“[...] a função do jornal é abrir uma janela para o mundo,

transformando-nos em homens públicos. Acontece, porém, que a

preocupação básica do jornal é com a notícia, com o fato em si,

deixando em segundo plano as pessoas que participaram da cena.”

(SÁ, 1987, p. 56)

a. Orientando-se pelas informações contidas no fragmento sobre a função

do jornal, explique: qual é a finalidade do trabalho jornalístico?

b. O jornal é útil à sociedade? Em que sentido?

c. Caracterize os leitores do texto jornalístico levando em consideração o

ritmo de vida marcado pela vida moderna.

d. O jornal é uma empresa. Qual é o produto que ele vende?

e. Que características um produto deve ter para que ele possa ser cada

vez mais aceito e consumido? É possível que haja desenvolvimento sem

acesso às informações?

f. Que espécies de texto aparecem no jornal? Qual deles mais o

interessa? Diga o motivo de sua preferência.

2.2 Leia a citação abaixo de Afrânio Coutinho, comparando-a com a anterior:

“ [...] o jornalismo (artigos, editoriais, tópicos) tem no fato o seu

objetivo, seja para informar divulgando-o, seja para comentá-lo

dirigindo a opinião ... A crônica é na essência uma forma de arte

imaginativa, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um

gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante o

espetáculo da vida, coisas, seres...”(COUTINHO, 1986, 136)

a. Afrânio Coutinho faz um paralelo entre os textos informativos e a crônica

enquanto texto literário. Quais são as características do texto literário e do

texto não-literário?

3. Análise dos recursos linguísticos

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3.1 Volte aos trechos que compõem a reportagem, objeto de nosso estudo.

Releia-os com atenção e procure identificar neles as características que são

próprias de um texto jornalístico.

a. Como se caracteriza a linguagem do texto informativo?

b. Grife os verbos que são usados na reportagem? Procure observar qual é

o tempo verbal utilizado com maior frequência e indique-o.

c. A reportagem é escrita em 1ª ou 3ª pessoa? Essa opção indica uma

decisão por parte do jornalista, que está relacionada à especificidade

deste gênero. Qual?

d. O gênero textual em questão apresenta discurso direto, ou seja, há

transcrição da fala das pessoas entrevistadas. Como isso se torna

visível? Nas narrativas literárias, quais são os recursos utilizados para

transcrever a fala das personagens?

e. O texto intercala vozes, temos o jornalista que articula as vozes dos

entrevistados para compor um painel sobre o uso da internet nos

celulares mais sofisticados na sociedade contemporânea. Segundo o

texto, as pessoas sabem fazer uso desta tecnologia? Escreva em um

parágrafo uma justificativa para a sua resposta.

Texto 2:

A felicidade dura pouco ................................................................................

“Há muitos, muitos anos, havia uma música ... que nos emocionava. Os

primeiros versos diziam ‘eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor

muitos rocks rurais;’ [...] ”

“Os anos passaram, e os sonhos, no lugar de se ampliarem,

encolheram. O que é que se quer hoje em dia? Menos, acredite, pois querer

um celular novo [...] é querer pouco da vida.”

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“No meio de um deserto, inteiramente sós, estamos acompanhados por

nossos pensamentos. Com alguém ao lado falando num celular, lendo e-mails

ou checando mensagens, [...].”

“Eu juro que tentei, já troquei de celular três vezes, mas desisti. Recebia

contas que não entendia [...] Hoje tenho um que praticamente não uso, mas é

pré-pago, e só umas quatro pessoas conhecem; [...]”

“Até ontem me considerava uma mulher feliz, mas sempre soube que a

felicidade dura pouco: hoje ganhei um iPod [...]”

(LEÃO, 2010)

1.Compreensão do texto:

1.1 Nos dois primeiros parágrafos, a escritora compara dois tempos: o

passado e o presente. Qual é a sua intenção?

1.2 Parece contraditório estar acompanhado por pessoas e sentir-se só. Qual

seria a causa desse tipo de solidão?

1.3 A cronista procura adaptar-se ao estilo de vida cultivado na sociedade

moderna, mas conclui que há outros aspectos da vida que precisam ser

mais valorizados, além do consumo. No primeiro parágrafo ela fala de um

outro estilo de vida que supera o materialismo. Retomando a leitura do

texto, responda: o que representam a casa no campo e a posse de um

celular?

2. Na sociedade contemporânea busca-se cada vez mais a qualidade de vida,

a eficiência nos serviços prestados. Houve uma mudança muito grande nos

hábitos com a evolução da tecnologia. Porém toda essa transformação

trouxe consequências no modo das pessoas se relacionarem.

2.1 Considerando as leituras realizadas, aponte algumas consequências.

2.2 Além de mudar o hábito das pessoas, as inovações tecnológicas trazem

outros problemas. Releia o penúltimo segmento do texto e explique de que

ordem seriam estes problemas.

3. Leia um texto informativo sobre o iPod para responder às questões que se

seguem:

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iPod é uma marca registada da Apple Inc. e refere-se a uma série de

tocadores de áudio digital projetados e vendidos pela Apple. O "POD" é a sigla

de "Portable On Demand", o que numa tradução livre seria algo como "portátil

desejado" e a letra "i" na frente, que se lê "ai" e significa "eu" em inglês, teria

um sentido pessoal, como "o portátil que eu desejo/desejei" ou "o portátil que

eu sempre quis".

[...]

No dia 5 de setembro de 2007, foi lançada uma nova família iPod, apelidada de

touch. O nome touch (do substantivo toque, em português) deve-se à sua tela

sensível ao toque. O iPod Touch tem estilo parecido com o iPhone, o

smartphone da Apple. Tem acesso à internet em navegador Safari através de

Wi-Fi (802.11b/g) capaz de conectar-se a sites como o YouTube, além da

navegação com maps. Em suma, tem as mesmas funções de um iPhone, com

exceção do telefone, câmera e GPS. (IPOD, 2010)

3.1 O iPod é semelhante ao iPhone? Explique.

3.2 iPhone e smartphone se correspondem. Que expressão traz essa

informação? Que nome se dá a esse recurso linguístico?

3.3 Considerando o significado do nome do aparelho que a cronista recebeu

como presente: “o portátil que eu desejo/desejei” como você justifica o fato

do texto terminar com o seguinte enunciado: “...a felicidade dura pouco:

hoje ganhei um iPod [...]”?

3.4 Através da leitura do texto ficamos conhecendo uma série de detalhes a

respeito das inovações tecnológicas na produção de celulares. Porém, as

necessidades humanas não se esgotam no que se pode comprar. Temos

outras necessidades. Cite algumas das necessidades humanas que você

pôde perceber através das leituras realizadas.

2. Características do gênero

O segundo texto é uma crônica. Assim como a reportagem, a crônica é

publicada em jornais e revistas e por isso, apresenta características que são

comuns aos textos publicados nestes suportes. Vamos ampliar nossos

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conhecimentos a respeito destas semelhanças e diferenças entre estes dois

gêneros:

2.1 O assunto tratado no texto é o mesmo da reportagem. Qual é o assunto

comum aos dois textos?

2.2 Os textos editados nos jornais são longos ou curtos? Ao compará-los,

procure ter como modelo o conto, o romance, a novela.

2.3 Os fatos abordados em ambos os textos são específicos de uma época, de

um período histórico. Qual é o tempo retratado nos textos?

2.4 Busque, no segundo texto, elementos que trazem à tona a expressão da

subjetividade da autora. Elementos que fazem parte da vivência dela e que

ela utilizou como argumento para dizer, assim como Tomás Toledo, 1º

entrevistado do texto 1, que ela também é do contra.

2.5 Analise o foco narrativo em que o texto foi escrito prestando atenção à

seguinte informação:

O texto narrado em 3ª pessoa sugere distanciamento do narrador em

relação ao fato. Neste tipo de narração o autor descreve o que pode ser

observado, captado pelo seu olhar, não está em jogo o seu ponto de

vista, os seus sentimentos. O contrário acontece quando o texto é

escrito em 1ª pessoa, pois neste caso, aquele que escreve, participa,

reflete, julga e apresenta um resultado de acordo com as experiências

que estão armazenadas em seu mundo interior e de acordo com as suas

preferências.

Qual é o foco narrativo da crônica em questão? Explique a intenção

presente nesta escolha.

OFICINA 2

Objetivos:

Demonstrar que a notícia e/ou reportagem pode atuar como uma das

possibilidades motivadoras na elaboração de uma crônica;

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Encontrar na notícia/reportagem a ideia que o cronista capturou para a

construção de seu texto

Analisar a subjetividade do autor expressa no uso da linguagem, no

texto a crônica

Leitura e análise dos textos:

Menino morde Pitbull após ser atacado em Sabará, Minas Gerais

Menino morde pit bull

Texto 1:

PARANÁ ON-LINE

TRIBUNA DO PARANÁ

23/07/2008 às 12:22:22 – atualizado em 23/07/2008 às 11:58:49

............................................................................................................................................

Menino morde Pitbull após ser atacado em Sabará, Minas Gerais

Um garoto de 11 anos mordeu um pitbull, [...] terça-feira (22) [...] Ele brincava

no quintal da casa do tio quando o cão, [...] preso a uma corrente, avançou e

mordeu seu braço.

(MENINO..., 2010)

Texto 2:

Menino morde pit bull

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Demorou, mas aconteceu. Esperava essa notícia desde os tempos de

faculdade. Explico: era lugar-comum entre professores de jornalismo dizer que

um cachorro morder uma criança não é notícia, [...]. No entanto, se uma

criança mordesse um cachorro, aí sim, o fato daria uma bela manchete.

Pois acaba de acontecer. Ao sentir-se ameaçado por um pit bull, um

menino de onze anos não teve dúvida em pagar ao bicho com a mesma

moeda. [...] o petiz mordeu o animal com tanta força que este, ao tentar

escapar assustado com tal valentia, arrancou-lhe um dente, que ficou cravado

em sua carne.

[...] O pit bull [...] é uma besta-fera gerada de vários cruzamentos [...]

sofre de transtorno bipolar crônico [...] seu humor muda da água para o vinho

num piscar de olhos. Quando isso acontece, salve-se quem puder!

(SANTOS, 2010)

Proposta de trabalho 1

ATIVIDADE INDIVIDUAL - ORIENTAÇÕES GERAIS

.............................................................................................

APROPRIAÇÃO DO GÊNERO

1. Entregar aos alunos primeiramente a notícia, ler o texto juntamente com

eles. Solicitar que registrem no caderno o assunto cotidiano presente no

texto e explicar o que há de inusitado no fato.

2. Solicitar que utilizem a imaginação e levantem hipóteses a respeito de que

tópicos/sub-temas o autor poderia utilizar para enriquecer a notícia,

transformando-a em uma crônica. Orientá-los a selecionar algumas ideias

que poderiam ser utilizadas para desenvolver o assunto da notícia. Pedir

para que eles anotem os pontos levantados. Após terminarem o registro,

dizer a eles que agora terão acesso a uma crônica escrita a partir da leitura

deste texto informativo.

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3. Entregar a eles a crônica, pedir para que leiam e procurem identificar a

presença do fato relatado na notícia comparando-o com o registro feito no

caderno.

4. Após essa atividade de reconhecimento de aspectos gerais do texto,

trabalhar com os alunos as questões específicas propostas para cada texto.

ATIVIDADE INDIVIDUAL – QUESTÕES ESPECÍFICAS

.............................................................................................

Texto 1: Notícia

A notícia traz informações sobre o acontecimento e as pessoas que nele

estão envolvidas. Geralmente as informações respondem às seguintes

perguntas: Quem, Onde, Quando, Como e Por quê. Solicitar que eles

encontrem estas informações na notícia.

Texto 2: A crônica

A crônica tem no fato o motivo, o ponto de partida para a escritura de um

novo texto, dando a ele uma resposta, com ele dialogando. Vamos analisar

algumas partes desta crônica.

1. O primeiro parágrafo apresenta uma expectativa do autor e traz à tona um

outro tempo.

1.1 Qual é a expectativa do cronista?

1.2 A que tempo ele se refere?

2. No segundo parágrafo, o cronista detalha o fato lido na notícia

enriquecendo-o com alguns detalhes de modo a sensibilizar o leitor,

apresentando o menino como um herói e o cachorro como um animal

inofensivo. 2.1 Para provocar esse efeito de sentido que recursos ele utilizou?

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3. O terceiro parágrafo traz informações sobre o cão.

3.1 Segundo o texto o pit bull é o tipo ideal de animal de estimação? Explique.

4. A crônica é um texto que apresenta dupla filiação, jornalística e literária.

Considerando que o gênero tem como veículo de circulação o jornal e a

revista, este tipo de texto possui muitas das características destes suportes:

retrata o tempo presente, a vida moderna. Portanto ela pode incorporar

gírias, expressões populares que se tornaram lugar-comum em

determinada época.

4.1 Cite alguns exemplos de expressões deste gênero presentes no texto.

5. O texto “Menino morde pit bull” é uma crônica, embora não tenha

características literárias. Nela o narrador retoma a notícia, fazendo uso do

seu ponto de vista, mesclando aspectos de sua experiência ao fato. Essa

apresentação do fato perpassado pela experiência do cronista é que

revela a subjetividade do escritor. Tendo em vista que a subjetividade é a

manifestação do mundo interior do cronista, responda:

5.1 Qual é o recurso linguístico que revela a subjetividade do autor, nesta

crônica?

Proposta de trabalho 2

Leitura e análise dos textos:

Marido traído tenta eliminar esposa

Honra

Texto 1

Marido traído tenta eliminar esposa Última Hora, 29 de janeiro de 1961 Fictício

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A comerciante Maria Stela da Silva, 31 anos, foi baleada pelo próprio

marido, Sebastião Girão da Silva, 35. A tentativa de assassinato aconteceu

ontem por volta das 18h, quando ela saía de uma padaria no bairro de

Laranjeiras.

Ele disparou quatro tiros e uma das balas atingiu o braço da vítima.

Segundo testemunhas, Maria conseguiu se salvar porque correu e escondeu-

se atrás de algumas caixas de mercadorias que estavam empilhadas ao lado

de uma loja. Sebastião foi preso em flagrante por uma equipe de policiais que

passavam por ali naquele momento e se encontra detido no 2º DP. Maria Stela

foi encaminhada ao Hospital Miguel Couto e encontra-se fora de perigo.

De acordo com o depoimento de Sebastião Girão, a tentativa de

homicídio aconteceu porque a esposa confirmou as suas suspeitas de traição.

O casal e mais quatro filhos residiam em Fortaleza, Ceará, e a vítima deixara a

cidade, fazia quinze dias para residir definitivamente no Rio.

(MACHADO, 2010)

Texto 2

Última Hora, 1º de fevereiro de 1961

........................................................................

Honra

As pessoas vêm ao Rio, [...], ver as modas e fazer compras. [...]

Osvaldo Girão veio do Ceará para perguntar à mulher, [ .. ]:

— Você já me traiu?

[...]

[...] Girão [...] deu quatro tiros na mulher.

Neste caso, [...], há dois erros [...]: O de lavar a honra com sangue; o de

confessar a infidelidade. [...]

[...]

[...] Sangue não lava coisa alguma. Só suja. [...] Adultério é adultério.

Não se confessa. [...] Não se vem do Ceará matar aqui.

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20

(MARIA, 2010)

ATIVIDADE INDIVIDUAL

ORIENTAÇÕES GERAIS

.....................................................................

Levantamento dos aspectos gerais dos textos

1. Entregar aos alunos a notícia, para que eles possam fazer a leitura do

texto.

2. Solicitar que grifem as informações centrais da notícia e façam uma

síntese do assunto nela tratado.

3. Entregar a eles os fragmentos da crônica, pedir para que leiam com

atenção e completem as lacunas, expressas pelo uso dos parênteses.

4. Apresentar a eles a versão original da crônica, a qual pode ser

encontrada no livro “Benditas sejam as moças,” incentivando-os a fazer

a leitura do texto na íntegra.

O texto está disponível no endereço eletrônico a seguir:

Benditas sejam as moças: as crônicas de ...

Antônio Maria, ... - 2002 - 140 páginas

books.google.com.br - Sobre este livro - Mais resultados sobre livros »

............................................................

Análise dos aspectos específicos do

texto “Honra”

1. Na crônica “Honra” , Antônio Maria brinca com o acontecimento: o adultério.

Qual é a consequência deste fato na vida de Osvaldo Girão e Stela?

2. O autor inicia o texto comparando o comportamento de Osvaldo às demais

pessoas que visitam o Rio de Janeiro. Em que consiste a diferença?

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3. De modo divertido o autor tenta provar ao público leitor que há erros no

comportamento de Osvaldo Girão e Stela. Ele porque usou de violência, ela

porque provocou a situação, confirmando as suspeitas do marido.

Que argumentos ele utilizou para comprovar os erros cometidos pelo

casal?

4. A crônica em questão, embora seja construída utilizando como estratégia

de composição o estilo argumentativo, também traz características do texto

ficcional. Indique quais são as características próprias da narrativa ficcional

presentes no texto.

5. Qual a figura de estilo predominante no texto? Que efeito de sentido ela

produz?

6. Este texto apresenta características literárias. Indique quais.

Proposta de trabalho 3 Leitura e análise dos textos:

Tiroteio na zona norte do Rio deixa 4 mortos e 2 feridos

A glória da bala perdida

JL – Jornal de Londrina VIDA E CIDADANIA

violência

Tiroteio na zona norte do Rio deixa 4 mortos e 2 feridos

Uma disputa entre traficantes rivais de morros da zona norte do Rio,

deixou um saldo de [...] quatro mortos e dois feridos [...] sexta (8) [...]. Os

mortos e feridos não estavam envolvidos na briga pelo ponto de distribuição de

drogas.

Houve tiroteio entre os traficantes e as balas perdidas atingiram o casal

Rita Gonçalves da Silva, de 40 anos, e Marcelo Lopes da Costa, de 25, [...]

(JORNAL DE LONDRINA, 2010)

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A glória da bala perdida Que triste destino o meu, suspirava a Bala Perdida. E tinha razão: entre

as Balas Certeiras, a sua reputação era lamentável, [....] a Bala Perdida não

tinha rumo certo, não tinha alvo definido. Disparada a esmo, [...] ia cravar-se

numa parede, ou no tronco de uma árvore, [...].

O pior não era tanto o fracasso, [...]. O pior era a inveja. As Balas

Certeiras se gabavam e com razão...

E de repente isso mudou.

[...] para sua surpresa foi em carne que ela mergulhou, a carne macia da

perna de um homem. Ele gritou, e seu grito foi música para a Bala Perdida.

(SCLIAR, 2002)

REALIDADE E FICÇÃO

....................................................

A ficção na elaboração da crônica

A notícia “Tiroteio na zona norte do Rio deixa 4 mortos e 2 feridos,”

apresenta fatos reais que denunciam a criminalidade e os problemas sociais

gerados por este tipo de violência: seis pessoas foram alvo de um tiroteio sem

se dar conta do problema que envolvia a briga – a disputa pelo ponto de

distribuição de drogas.

Na crônica “A glória da Bala Perdida”, quem vive o drama não são mais

as pessoas: vítimas e traficantes e sim, a Bala Perdida e as Balas Certeiras.

Vamos agora conhecer um pouco melhor a organização do texto “A

glória da Bala Perdida.”

1. Indique o narrador da história. A escolha deste modo de contar o fato

tem um objetivo. Explique qual o objetivo do escritor, ao escolher este

ponto de vista.

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2. Como a Bala Perdida se sente em relação às Balas Certeiras?

Justifique.

3. Quem é a personagem principal deste texto? Do ponto de vista dos

seres inanimados, parece que ela chega a representar o lado fraco,

aquele que tem boas qualidades, mas não consegue o que quer. O que

falta à Bala Perdida, para que ela se assemelhe às Certeiras?

4. A Bala perdida tem características humanas. Cite expressões que

comprovam esta afirmativa. Há um nome para esse uso da linguagem

que consiste em dar característica humana para seres inanimados. Qual

é o nome desse recurso da linguagem?

5. O uso desse recurso é próprio de texto literário. Por que ele seria

impróprio para um texto não-literário, como a notícia?

6. Segundo o texto, um dia a sorte da Bala Perdida mudou. Transcreva a

expressão que confirma esta mudança.

7. A Bala Perdida parecia não acreditar muito em seu sucesso. Cite as

palavras que demonstram descrédito em sua vitória.

8. O título “A glória da Bala Perdida” de certo modo sintetiza o texto.

Explique a importância da palavra glória neste enunciado.

9. Neste texto os nomes Balas Perdidas e Bala Certeira estão grafados

com iniciais maiúsculas. Por que isso acontece? Qual é o nome que se

dá a narrativas em que as personagens são seres inanimados?

Proposta de trabalho 4 ORIENTAÇÕES GERAIS

.......................................................

PRODUÇÃO DE TEXTOS

Entregar aos alunos algumas notícias de jornais para que leiam.

Solicitar que eles encontrem o assunto referente à notícia apresentada

procurando grifar as passagens que considerarem mais importantes

para a compreensão do fato.

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Refletir sobre o texto procurando imaginar o sentimento, as

expectativas, o entusiasmo ou frustrações das pessoas envolvidas no

acontecimento apresentado pela notícia.

Registrar no caderno tudo aquilo que puder captar do fato narrado.

Solicitar a eles que escolham duas das notícias para enriquecê-las,

transformando-as em crônicas a partir dos aspectos que eles mesmos

levantaram e dos conhecimentos que eles adquiriram na realização das

atividades anteriores.

Notícia1

Pânico durante o enterro

Quando [...] pessoas saíram correndo, durante [...] enterro de J.S.S., em

Inhaúma, [...] Estado do Rio, o pânico se generalizou [...] quem colocara a

multidão em pânico foi um amigo da família, que tocou “em algo mole”, em uma

das sepulturas. (PÂNICO, 1983)

Notícia 2SBOBuz

Notícias inusitadas

*** O Prefeito de Varallo Sesia, [...] Itália, teve uma ideia: pagar para os

moradores [...] emagrecerem. Pré-requisito: atestado médico de que está

acima do peso [...] Temos menos obesos [...] que eles. Mas essa [...] "bolsa-

dieta" faria [...] sucesso, aqui!

(SUZI, 2007)

Notícia 3

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Animal ameaçado de extinção nasce parecendo o E.T. de Spielberg ................................................................................

O novo “ET”

Um raro filhote de gibão ganhou o apelido de ‘ET’

no zoológico [de] Viena, ... Áustria. O motivo? [sua]

pele enrugada e rosada, e dedos longos.

(ANIMAL..., 2009)

Notícia 4

Feira de colecionadores reúne raridades e peças inusitadas em Fortaleza ..................................................................................................................................

.

[...] feira de colecionadores em Fortaleza reúne objetos que fazem muita

gente voltar no tempo. [...]

[...] há fichas telefônicas, que eram usadas no orelhão.

[...]

Passear pelos estandes dessa feira é [...] viajar pela história do Brasil. [...]

[...]

Relíquias como discos de cera são vendidos. Até um LP de [...] Carmem

Miranda pode ser encontrado.

(FEIRA..., 2009)

OFICINA 3

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Objetivos:

Aprofundar os conhecimentos sobre a crônica literária;

Trabalhar a compreensão das ideias principais do texto;

Reconhecer elementos característicos da crônica;

Analisar a linguagem utilizada na composição do texto;

Identificar e compreender a ideia expressa pelas figuras de linguagem.

Leitura e análise do texto:

O amor por entre o verde

FRAGMENTOS DO TEXTO ORIGINAL

..........................................................................

O amor por entre o verde

Não é sem freqüência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um

casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequenina ponte de

balaustrada branca que há no parque. [...] Uma coisa eu lhes asseguro: eles

são lindos, [...] São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no

parque, incluindo velhas árvores que por ali espaçam sua verde sombra; [...]

Eu os observo [...] Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se

os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois

cavalinhos carinhosos, [...]

Que será [...] dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os

ritos do amor? [...]

E se prosseguirem se amando [...] será que um dia se casarão e serão

felizes? [...]

Ë um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos

amorosos, o ser verdadeiramente amado. [...]

E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha Bem-

Amada [...]. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. [...] Mas é

ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; [...]

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(MORAIS, 1980)

ATIVIDADE INDIVIDUAL – ORIENTAÇÕES GERAIS

............................................................................

Aspectos literários da crônica

1. Entregar aos alunos um outro texto, dizendo-lhes que agora vamos nos

ater mais, ao estudo da crônica literária e que, o texto escolhido para o

trabalho desta oficina, fala de perto sobre a essência de ser jovem, do

sabor das primeiras descobertas: “O amor por entre o verde”.

2. Ler o texto para eles. Perguntar se gostaram da crônica, se a leitura

correspondeu às expectativas que tinham sobre o texto quando ouviram

o título. Solicitar que enumerem alguns pontos que eles imaginaram que

fariam parte da narrativa.

3. Sugerir que leiam a passagem que acharam mais interessante e

incentivá-los a explicarem o porquê.

4. Pedir que façam uma leitura silenciosa prestando atenção à linguagem

empregada pelo cronista. Solicitar que verifiquem qual é o foco narrativo

em que o texto foi escrito, grifando as passagens que comprovam a

resposta apresentada.

5. Indagar se compreenderam bem o texto, se há alguma passagem que

os deixaram com dúvidas, confusos. Questionar se de um modo geral, o

texto é de fácil leitura, se é acessível a adolescentes e jovens da idade

deles.

6. Uma das características da crônica é o emprego de gírias, porque ela

marca o tempo presente e a linguagem usual dentro de uma esfera de

comunicação informal, no diálogo diário, despreocupado da linguagem

elaborada.

Perguntar-lhes se o texto apresenta gírias, comparações ou até

mesmo trechos que se destacam em relação à linguagem puramente

informativa.

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7. Pedir para que eles numerem os parágrafos e dividam o texto em três

partes, indicando o início e fim de cada parte utilizando o número

correspondente ao parágrafo. Incentivá-los a encontrar o assunto

apresentado em cada uma das partes.

8. Chamar-lhes a atenção para as seguintes passagens:

“São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no

parque, incluindo velhas árvores que por ali espaçam sua verde

sombra; [...]”

“Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e

repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois

cavalinhos carinhosos, [...]”

“Ë um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos

amorosos, o ser verdadeiramente amado.”

“Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela

passa; [...].”

Ajudá-los a encontrar a figura de linguagem presente nestes segmentos

e trabalhar com eles a compreensão da ideia expressa pelo uso das

palavras no sentido figurado. Esse processo é importante, haja vista que

o uso da palavra no sentido conotativo exige um grau de abstração

maior para a compreensão do texto.

OFICINA 4

Objetivos:

Incentivar os alunos a prestarem atenção aos acontecimentos diários,

refletir e selecionar cenas que possam ser transformadas em textos;

Desenvolver habilidades próprias do relato, da descrição e do senso

crítico:

Compreender o desenvolvimento das ideias através da análise das

partes do texto;

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29

Trabalhar a compreensão das ideias principais e identificar no texto os

recursos de linguagem responsáveis pela construção do humor;

Compreender os efeitos de sentido e o enriquecimento do texto obtidos

pelo uso das figuras de linguagem.

Proposta de trabalho 1 ATIVIDADE INDIVIDUAL – ORIENTAÇÕES GERAIS

COLETA DE DADOS PARA PRODUÇÃO TEXTUAL

.............................................................................................

1. Solicitar que eles procurem observar as pessoas com quem convivem, as

cenas diárias de que participam: como as pessoas agem/reagem em

suas relações com os outros, os enganos cometidos, suas reações: riso,

choro, mau-humor, as estratégias que elas utilizam para resolver os seus

conflitos.

2. Anotar tudo aquilo que acham curioso, engraçado explicando o porquê

deste ponto de vista.

3. A partir dessa experiência, solicitar que escrevam um texto, relatando o

acontecimento, examinando detalhadamente a cena, de modo a

descrever o lado curioso do comportamento da (s) pessoa (s) envolvida

(s).

4. Recolher o texto.

Proposta de trabalho 2

Leitura e análise do texto

A que partiu.

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....................................

A que partiu

É uma doçura fácil ir aprendendo devagar e distraidamente uma língua.

[...]

Eu tinha, na carteira, o número do telefone de uma velha conhecida, em

Paris. No dia seguinte ao de minha chegada disquei para lá. [...] uma concierge

respondeu que ela não estava. Perguntei mais alguma coisa, e a voz insistiu:

— Elle n ‘est pas là, monsieur. Elle est partie.

E subitamente me senti abandonado no quarto de hotel, porque ela

havia partido; esse verbo me feria, com seu ar romântico e estúpido, [...]

***

Meia hora depois o telefone da cabeceira bateu. [...] era a voz brasileira

de minha conhecida. Estava em Paris, [...]

Não sei se ela estranhou o calor de minha alegria; talvez nem tenha

notado a emoção de minha voz ao responder à sua. [...]

Custamos a aprender as línguas; partir é a mesma coisa que sortir. Mas

através das línguas vamos aprendendo um pouco de nós mesmos, [...]. (BRAGA, 1980)

ATIVIDADE INDIVIDUAL

................................................

Aspectos literários

1. Podemos dividir o texto em três partes. Na primeira parte o cronista

relata a sua chegada a Paris e um equívoco, cujo motivo ele anuncia

logo no primeiro parágrafo. Qual foi o engano cometido pelo cronista?

2. Descreva como ele se sentiu.

3. O que ele imaginou quando a concierge disse-lhe que a pessoa a quem

ele procurava partiu? O que de fato aconteceu?

4. Na segunda parte do texto o mal-entendido se esclarece e o estado

emocional do autor se transforma. Descreva como ele passou a se sentir

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ao saber que sua amiga havia “partido” apenas para fazer algumas

compras e retornara a sua ligação.

5. Na terceira e última parte, ele relata o seu encontro, parece que agora

tudo voltou à normalidade, o fato da amiga estar na cidade desfez as

suas angústias. Entretanto ele nos apresenta uma aprendizagem a

respeito de si mesmo. Você saberia dizer qual é?

6. Leia com atenção a seguinte passagem:

“Sua voz me encheu de calor, recuperada assim subitamente das

brumas da distância e do tempo, cálida, natural e amiga. Tinha

‘partido’ para fazer umas compras, [...]

6.1 A forma como o autor usou a linguagem neste trecho é usual? A palavra

bruma no texto está empregada no sentido denotativo ou conotativo? O que ela

representa?

6.2 Qual o significado da palavra cálida? Em que sentido ela também foi

usada? O que sugere esta sequência de palavras: cálida, natural e amiga?

Proposta de trabalho 3

Leitura e Análise de texto

Meu reino por um pente.

....................................

Meu reino por um pente

FILHOS — diz o poeta — melhor não tê-los. Já o Professor Anibal

Machado me confiou ... filhos, era melhor tê-los.

Você vai se rir de mim ao saber que comecei a crônica desse jeito

depois de procurar em vão meu bloco de papel. Pois se ria a valer: o

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desaparecimento de certos objetos tem o dom de conclamar, [...] , todas as

brigadas neuróticas alojadas nas províncias de meu corpo.

Sobretudo instrumentos de trabalho. [...] Quando isso acontece (sempre)

até taquicardia costumo ter; vem-me a tentação de demitir-me do emprego, de

ir para uma praia deserta, de voltar para Minas Gerais, renunciar.

Stanislaw Ponte Preta andou espalhando que eu usava ventilador para

pentear os cabelos: Calúnia. Sou o maior comprador de pentes do Estado da

Guanabara. [...]

Chego em casa com os meus pentes e os distribuo a mancheias. Dois

para você, quatro para você — segundo o temperamento e a distração de cada

um. Aviso a todos que vou colocar um no armário do quarto, um no banheiro,

[...], vou escondendo outros pentes por todos os cantos e recantos, [...].

[...] Os dias passam, o vento passa a descabelar-nos, e os meus pentes,

[...] também passam. (CAMPOS, 1994)

ATIVIDADE INDIVIDUAL

.....................................................

O humor

Neste texto vamos trabalhar com um dos recursos responsáveis pela produção

do humor: o exagero. Veremos como as ideias vão se organizando de modo a

produzir este efeito.

Ler o texto para os alunos e em seguida solicitar que façam as atividades, a fim

de que, possam compreender como o narrador organiza e desenvolve as suas

ideias de modo a alcançar este efeito.

1. O texto “Meu reino por um pente” inicia-se com um questionamento: ter

ou não ter filhos. O que levou o cronista a começar o seu texto deste

modo?

2. Que tipos de objetos o cronista não admite perder? Como ele se sente

quando não encontra um desses seus pertences?

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3. O autor confessa que não vence comprar pentes. O que o motivou a

falar do sumiço desses objetos em sua casa?

4. Que significa a expressão a mancheias?

5. O autor afirma comprar e distribuir muitos pentes. A que ele atribui a

causa dos objetos sumirem?

6. Parece haver um exagero do cronista na compra de tantos exemplares

de um mesmo objeto. Qual é o nome que se dá a esse recurso da

linguagem utilizado por ele? Que efeito de sentido ele obtém ao

empregar este recurso de linguagem?

7. Como você explica o título Meu reino por um pente.

8. Transcreva passagens em que se percebe o humor.

Proposta de trabalho 4

Leitura e análise do texto:

No espaço, sim, mas perdido não

TEXTO 3

...................................................................

No Espaço, sim, mas perdido não. “Chega aos cinemas Perdidos no Espaço”

Ilustrada, 2 jul. 1998.

A nave espacial [...] aproximava-se da Lua, [...] à frente deles, em pleno

espaço, estava um homem.

Vestia um improvisado traje de astronauta, [...]

[...]

- Mas de onde você é? – perguntou o comandante, assombrado.

- Sou brasileiro [...]

- E o que é que você faz aqui?

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De tudo um pouco, lavo espaçonaves, como lhe disse, limpo pára-brisas. E tenho umas coisinhas para vender, pilhas, cassetes, fones de ouvido.... [...].

(SCLIAR, 2002)

ATIVIDADE INDIVIDUAL

..............................................................

Humor e ficção

Esta sequência de atividades retoma aspectos importantes na construção da

crônica: a ficção e o humor. A combinação destes dois elementos constroem

um quadro crítico da realidade brasileira, denunciando o trabalho informal.

Solicitar aos alunos que leiam atentamente o texto original e resolvam os

exercícios propostos, a fim de que possam compreender o processo pelo qual

a linguagem utilizada, no texto, organiza realidade e fantasia compondo um

quadro crítico da realidade brasileira.

1. Uma nave espacial aproxima-se da Lua, e o comandante fica muito

surpreso ao avistar um homem. Como ele se vestia? Por que o

comandante assustou-se com o acontecimento?

2. Que tipos de serviço o estranho astronauta oferece ao comandante? O

trabalho oferecido por ele caracteriza uma ocupação bastante comum

na sociedade brasileira. Qual?

3. Qual é a nacionalidade do astronauta? Por que ele foi até a Lua?

4. O comandante possui a mesma naturalidade que o astronauta?

Justifique a sua resposta com uma passagem do texto.

5. Parece haver uma ambigüidade na expressão “ir para o espaço” que o

personagem do texto tomou ao pé da letra.

5.1 Informe o significado da expressão observando o sentido denotativo e

conotativo da linguagem.

5.2 Em que sentido ela foi pronunciada pelo gerente da fábrica em que o

astronauta trabalhava? Como ele a compreendeu? Que efeito de sentido

a sua compreensão imprime à narrativa?

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5.3 O seu modo particular de interpretar é importante para a construção do

texto? De que modo?

6. O texto é narrado em 3ª pessoa, o narrador conta uma história da qual

ele não participa. O fato apresentado no texto pode realmente ter

acontecido? Explique.

7. Nesta crônica o escritor apresenta os acontecimentos sem apresentar

diretamente o seu ponto de vista. Mas, através do modo como ele

combina ficção e humor, ele nos convida à reflexão. Estabeleça um

paralelo entre o trabalho exercido pelo comandante e o trabalho

executado pelo astronauta.

8. A crônica em questão, aponta para a presença do elemento ficcional, o

uso do imaginário na apresentação do fato, assim como pudemos

constatar, na crônica “A glória da bala perdida”. Como podemos

perceber a presença deste elemento no texto?

OFICINA 5

Objetivos:

Trabalhar com os alunos alguns trechos literários que falem sobre a

crônica.

Desenvolver atividades que permitam aos alunos organizar e sintetizar

as ideias apresentadas nos trechos literários.

Ler, comentar e elaborar, em conjunto com os alunos, um painel com as

informações mais importantes de modo a construir um panorama geral

a respeito do gênero.

ATIVIDADE INDIVIDUAL

.......................................................................................

Crítica Literária

....................................................................................

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1. Entregar aos alunos os trechos abaixo, da crítica literária brasileira.

1. “Do grego chronikós, relativo a tempo (chrónos), pelo latim

chronica, o vocábulo ‘crônica’ designava, no início da era cristã, uma

lista ou relação de acontecimentos ordenados [...] em sequência

cronológica. Situada entre os anais1 e a história, limitava-se a

registrar os eventos sem aprofundar-lhes as causas ou tentar

interpretá-los. Em tal acepção, a crônica atingiu o ápice depois do

século XII, [...] quando se aproximou estreitamente da historiografia,

não sem ostentar traços de ficção literária.“ (MOISÉS, 1982, p.101)

2. “Na acepção moderna, [...] a crônica entrou a ser empregada

no século XIX: liberto de sua conotação historicista, o vocábulo

passou a revestir sentido estritamente literário. Beneficiando-se da

ampla difusão da imprensa, nessa época a crônica adere ao jornal,

como a sugerir, no registro do dia-a-dia, a remota significação anti-

histórica do anuário. É em 1799 que o seu aparecimento ocorre, [...]

em Paris. [...] encontrou numerosos imitadores, inclusive neste lado

do Atlântico, surgidos após 1836 e que traduziam o termo francês

por ‘folhetim’, mas já na segunda metade da centúria o vocábulo

crônica começou a ser largamente utilizado [...]” (MOISÉS, 1982,

p.101, 102)

3. “Para o bom entendimento da crônica, impõe-se

preliminarmente uma reflexão acerca do jornal (ou revista) como

veículo de informação e cultura [...]

Duas categorias, portanto, de texto linguístico se

encontram no jornal: o que cumpre as funções de informar os

sucessos do dia e o que não se prende, regra geral, ao vaivém

cotidiano. Transferindo o foco narrativo para o autor do texto, [...]”

(MOISÉS, 1982, p. 103)

4. “Mas a crônica vem a incorporar-se aos hábitos da nossa

imprensa, quando se deu o desenvolvimento da imprensa com a sua

modernização, ao serem adotados as ilustrações a pena e os clichês

fotográficos, quando se aumenta o número de páginas das edições.

Dispondo de maior espaço o jornal se enriquece de atrativos e, com o

1 ANAIS: 1. História ou narração organizada ano por ano; 2. Publicação periódica. 3. História; fatos. (LUFT, 2002, p. 63)

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noticiário, o grave artigo de fundo e as seções ordinárias transforma a

crônica em matéria cotidiana como recreio do espírito, amável e

brilhante cintilação da inteligência. Multiplicam-se por sua vez as

revistas ilustradas e essas publicações semanais tendem a valorizar

dois gêneros que só então adquirem expressão definitiva no

território da imprensa brasileira: a caricatura e a crônica.”

(COUTINHO, 1986, P.123)

5. “O jornal brotou e floresceu no Brasil sob a atmosfera do

Romantismo. O que contribuiu para que o acento lírico tivesse

predominado sob a crônica desde as suas primeiras manifestações.

[...] tinha principalmente um objetivo: entreter. [...] Quase sempre

visava sobretudo o mundo feminino, criando, em consequência , um

ambiente de finura e civilidade, na imprensa, que exerceu sensível

efeito sobre o progresso e o refinamento da vida social brasileira.”

(COUTINHO, 1986, p. 123)

6. “... a crônica move-se entre ser no e para o jornal, uma vez que se

destina, inicial e precipuamente, a ser lida na folha diária ou na

revista. Difere, porém, da matéria substancialmente jornalística

naquilo em que, apesar de fazer do cotidiano o seu húmus

permanente, não visa a mera informação: o seu objetivo confesso ou

não, reside em transcender o dia-a-dia [...] O cronista pretende-se

não o repórter, mas o poeta ou o ficcionista do cotidiano,

desentranhar do acontecimento sua porção imanente de fantasia.”

(MOISÉS, 1982, p. 104)

7. “A crônica oscila, pois, entre a reportagem e a literatura, entre o

relato impessoal, frio e descolorido de um acontecimento trivial, e a

recriação do cotidiano por meio da fantasia. (MOISÉS, 1982, p. 105)

8. “Quando apareceu entre nós, na segunda metade do século

XIX, a crônica já lida com uma matéria muito misturada: a matéria do

folhetim, pedaço de página por onde a literatura penetrou fundo no

jornal, tratando dos temas mais diversos, mas com predominância

dos aspectos da vida moderna. (ARRIGUCCI, 1987, p. 56,57)

9. [...] Os jovens escritores aprendiam a tratar com eventos de todo

tipo [...] a grande e a pequena história [...] E logo essa matéria mista e

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palpitante reaparecia trabalhada numa forma nova, sem cânon2

preciso, dado à paródia e à autocrítica, posta em contínuo contato

com o presente e flexível a toda sorte de transformações – uma forma

agora nitidamente ficcional, [...]” (ARRIGUCCI, 1987, p. 57, 58)

10. “[...] é filha do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão

depressa [...]. a sua perspectiva não é a dos que escrevem do alto

da montanha, mas do simples rés-do-chão. Por isso mesmo

consegue quase sempre sem querer, transformar a literatura em algo

íntimo com relação à vida de cada um...” (CANDIDO, 1992, p. 14)

11. “[...] o fato de ficar tão perto do dia-a-dia age como quebra do

monumental e da ênfase [...] Em lugar de oferecer um cenário

excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o

miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma

singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas

suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas,

– sobretudo porque quase sempre utiliza o humor.” (CANDIDO,

1992, p. 14)

12. “Ao longo deste percurso, foi largando cada vez mais a intenção

de informar e comentar (deixada a outros tipos de jornalismo) para

ficar sobretudo com a de divertir. A linguagem se tornou mais leve,

mais descompromissada e (fato decisivo) se afastou da lógica

argumentativa ou da crítica política, para penetrar poesia a dentro.

Creio que a fórmula moderna onde entra um fato miúdo e um toque

humorístico, com o seu quantum satis de poesia, representa o

amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma.

(CANDIDO, 1992, p. 15)

13. “[...] Por meio dos assuntos, da composição aparentemente solta,

do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à

sensibilidade de todo o dia. Principalmente porque elabora uma

linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na

sua despretensão, humaniza; e esta humanização lhe permite , como

compensação sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa

profundidade [...]” (CANDIDO,1992, p.13)

2 CÂNON: 1. Regra ou princípio geral donde se deduzem regras particulares ou especiais. 2. (p. ext.) Regra ou norma de procedimento. (LUFT, 2002, p. 142)

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14. “[...] Na verdade, aprende-se muito quando se diverte, e aqueles

traços constitutivos da crônica são um veículo privilegiado para

mostrar de modo persuasivo muita coisa que, divertindo, atrai, inspira

e faz amadurecer a nossa visão das coisas. (CANDIDO, 1992, p.19)

2. Faça uma pequena síntese de cada trecho literário, ao lado da citação,

priorizando o assunto principal.

3. Releia, com atenção, cada fragmento da crítica literária relacionando-o

a um dos itens elencados abaixo:

A. Motivos que favoreceram a entrada da crônica para o jornal; B. A origem da palavra; C. O caráter literário da crônica;

D. Objetivo e características do gênero; E. Período literário em que a crônica se desenvolveu entre nós; F. Elementos que estruturam o gênero; G. O jornal e as categorias de textos escritos para o jornal;

H. A temática da crônica.

4. Procure no caça-palavras, os vocábulos que completam as sentenças

abaixo:

a. A palavra crônica está relacionada à palavra [ ] e indica uma

sucessão de fatos em ordem [ ] . b. Desde o início a crônica já apresentava traços de [ ] . c. No jornal encontramos dois tipos de textos: [ ] e [ ] .

d. Com o desenvolvimento e a modernização da imprensa dois gêneros

alcançam prestígio. Estes gêneros são a [ ] e a [ ] .

e. A crônica se desenvolveu no Brasil, durante o Romantismo. Esse

aspecto contribuiu para que ela tivesse aspecto [ ] . f. O objetivo da crônica é [ ] , [ ] , [ ] , [ ] .

g. De início a crônica visava sobretudo o mundo [ ] . h. Características da crônica: [ ] , [ ] , [ ] , [ ] . i. Veículos de informação e cultura: [ ] e [ ] .

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 M N R E F L E T I R O R J A M A D U R E C E R I F C R O N O L Ó G I C A E B I A M B O A V E N G M L I N T R E T T R Ã E I N N T E C N A I J O M N N F E M H T M L O I R I A O V P R R A A R N C N O R I O Ó E D T N F A O T M O O N T R S A O R D E A M Ã O E O I L R I V M T S Ç S R M M D M C C A I I C A T U A A A A A O V R I R M H I M T T A C O I F I N O R A I U D I V E R T I R É D V R S R O M M O T E T U O A I Í E L E V E Z A R L C V L I L I R I S M O U O O R A C R O N I C A N N

5. A palavra crônica tem sua origem no vocábulo chrónos que significa

tempo. Vamos ver agora algumas explicações mitológicas para esta

palavra.

A. Acesse o site da Wikipédia – A enciclopédia livre, clicando em Ctrl +

http://pt.wikipedia.org/wiki/Chronos.

B. Leia, com atenção, o texto “Chronos” e anote as ideias principais;

C. Elabore um Roteiro com os tópicos centrais do texto, a partir dos trechos

selecionados;

D. Planeje e faça uma ilustração que possa materializar os pontos

principais encontrados por você.

E. Prepare um Mural, reconstruindo o percurso feito pela crônica através

do tempo, enfatizando as suas transformações.

OFICINA 6

Objetivos:

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Ler algumas crônicas com passagens líricas;

Localizar a presença do elemento lírico no texto;

Compreender o modo particular como a linguagem se organiza para

produzir o efeito lírico.

Proposta de trabalho 1

TEXTO PARA LEITURA E PESQUISA

.........................................................................

ANÁLISE DO LÍRICO

EM TEXTOS NARRATIVOS

No Projeto que fundamentou este material didático-pedagógico temos

algumas informações que poderão contribuir para a análise e compreensão dos

aspectos constitutivos da crônica, de um modo especial, ao que vamos estudar

nesta oficina, o elemento lírico. Portanto vamos refletir a respeito das seguintes

informações:

“A crônica é na essência uma forma de arte imaginativa, arte da

palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante o espetáculo da vida, coisas, seres...”(COUTINHO, 1986, 136, grifos meus)

Retomando a citação, podemos inferir que a crônica é literatura na

medida em que utiliza a imaginação, a elaboração da linguagem na seleção e

organização da palavra, além de recorrer a um outro recurso poético que é

responsável em gerar uma carga emocional: o lirismo.

Para compreender o que é o lirismo e para aprendermos a organizar a

linguagem de modo a produzir esse feito, vamos identificá-lo em algumas

passagens de textos do gênero.

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FRAGMENTO DA CRÔNICA

O NOVO CADERNO

..........................................................................

“Meu caderno de endereços está velho demais, e começo a passar os

nomes e números de telefone para um novo [...]

[...] E essa Maria para quem eu telefonava tanto, por que trazer seu

número para o novo caderno? Sei muito bem que nunca mais lhe telefonarei;

[...] Quanto a Joana, [...]; transfiro-o a tinta para a primeira linha da página

da letra J, e escrevo seu nome devagar, como quem faz um carinho. Joana! Daqui a um ano, um ano e meio, quando este caderno

estiver sujo e velho, com que mão, Joana, escreverei teu nome no caderno novo? [...] ouvir sua voz é como beber um licor que pode ser venenoso, esse número talvez não vá para outro caderno, [...]”

Novembro, 1954

(BRAGA, 1997)

O fragmento acima retoma algumas passagens do texto “O novo

caderno” de Rubem Braga. O tema da crônica é a necessidade de refazer as

anotações de um caderno de endereços. O autor reflete a respeito da seleção

que precisa fazer dos nomes que continuarão a fazer parte do caderno e de

sua vida. O nome de Maria provavelmente não será transcrito para o seu novo

caderno, porém o nome de Joana, anotado apressadamente em página

errada, passa a ocupar a primeira linha de seu novo caderno. Neste

momento, ele revela os seus sentimentos por Joana e transfere toda uma

carga emocional para a linguagem. Essa passagem está em negrito no

fragmento apresentado acima: “escrevo seu nome devagar, como quem faz um

carinho”.

No último parágrafo deste fragmento ele deixa de narrar e se dirige a

Joana, simulando um diálogo com ela: chama-a pelo nome (vocativo seguido

de sinal de exclamação) e questiona a si mesmo se o sentimento vai

permanecer. Ele confessa a emoção que sente ao pensar em Joana,

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acrescenta ainda que ouvir a sua voz “é como beber um licor que pode ser

venenoso”. Toda essa passagem está carregada de emoção e beleza e se

caracteriza na presença do lírico no texto.

Para o estudo do lírico na crônica, gostaria de elencar alguns pontos que

julgo importante para a compreensão de como esse elemento se constrói na

prosa poética: A crônica pode ser escrita em forma de prosa poética, em parágrafos, ”com

doses de poesia em seu conteúdo, ..., pois transmite os sentimentos de quem

a escreve.” (SASSO, TANGI, TOFALINI, 2007, p.373).

“A prosa poética tende a explorar a conotação das palavras e suas qualidades

rítmicas, [...], num campo onde se propagam figuras de estilo.” (SASSO,

TANGI, TOFALINI, 2007, p.373).

“...escrevo seu nome devagar, como quem faz um carinho”.

“porque ouvir sua voz é como beber um licor que pode ser venenoso, ...”

“a poesia [também presente na prosa poética] está envolta numa atmosfera bela e pura da própria mensagem. Seu conteúdo é altamente subjetivo, além

de eclodir nele a emoção do eu-lírico”. (SASSO, TANGI, TOFALINI, 2007,

p.373).

“a subjetividade lírica é organizada a partir de ideias, sentimentos ou emoções

que, em muitos casos [...] só podem ser traduzidos através da harmonia, da

metáfora e da poesia.” (SASSO, TANGI, TOFALINI, 2007, p.373).

No lirismo ocorre “um desprezo ou o acomodar do plano exterior para o íntimo

do próprio poeta, ele se dobra para dentro de si, numa autocontemplação

narcisista e ou solitária”. ( MOISÉS apud SASSO, TANGI, TOFALINI, 2007,

p.373).

Agora que você já conhece um pouco sobre o lirismo, vamos aprofundar

este conhecimento analisando um outro texto intitulado “Agradecimento”

FRAGMENTO DA CRÔNICA

AGRADECIMENTO

..........................................................

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[...]

“Quando saltei na esquina dei um suspiro de alívio. [...] e foi então que vi

o primeiro cacho dourado de acácia.

Oh, Deusa das Árvores, eu te agradeço. Eu te agradeço pela tua força

invencível que faz renascer a tímida alegria verde das folhas nos troncos

mutilados e por essas flores [...]

Elas são o teu sorriso simples. No dia em que um homem sente a sua

solidão e sua tristeza, [...] – tu é que trazes aos seus olhos a pequena festa

cordial, o doce aviso da vida boa. Ele não pensa em amigo, nem em criança,

nem em mulher, nem em bicho; todos esses seres são animais como ele,

egoístas como ele, pedem gestos, palavras, correspondências, pagamento.

Dezembro, 1948.

(BRAGA, 1986)

Neste fragmento de texto, o cronista após um dia difícil recebe um

presente inesperado: a natureza oferece a ele um “cacho dourado de acácia”.

E a partir de então, ele se dirige a ela como a “Deusa das árvores” para

confessar a sua solidão e tristeza e agradecer a recompensa recebida.

Analisando a linguagem empregada para construir o texto, encontramos

nele, expressões que se constituem em figuras de estilo, ou seja, a palavra não

é empregada em seu sentido usual, mas ganha na organização deste

contexto, uma significação nova que faz com que a linguagem transcenda à

significação de uso comum, imprimindo maior expressividade à mensagem.

Em “Agradecimento” o autor faz um jogo com o foco narrativo. Ele inicia

o texto relatando a sua ida e vinda da cidade e seu dia de infortúnio. Do início

até o momento em que ele desce do ônibus e se depara com o cacho de

Acácia, ele narra o texto em primeira pessoa “fui à cidade”, “quem procurei não

achei”, porém, a partir do momento que ele contempla a flor, assim como na

crônica “O novo caderno”, o cronista passou a usar o recurso do diálogo para

expressar a poesia que está em seus sentimentos, evocando aqui um ser

sobrenatural, mitológico: “Oh, Deusa das Árvores”, esta evocação se constitui

na personificação da natureza, pois ele atribui a ela características de um ser

animado. Dá-lhe a forma de uma mulher com poderes sobrenaturais, pois ela

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renova “a tímida alegria verde das folhas nos troncos mutilados”. Dirigindo-se a

ela, ele muda a forma de tratamento utilizando agora a segunda pessoa do

discurso, o tu, para agradecê-la de modo direto, pela renovação da natureza e

pela beleza no verde das folhas e no colorido das flores.

Neste contexto, as flores simbolizam uma parte do corpo da Natureza: os lábios, que sorriem. Esta dama especial é portadora de uma

mensagem: a sua beleza é um sinal de que a vida é boa. Esta “verdade” que

ela lhe transmite, não é expressa por palavras, mas pela sua essência de “ser

vegetal”. O Diálogo embora endereçado à Deusa das Árvores é um monólogo

do cronista para com ele mesmo. A beleza na simplicidade da flor, tocou-o e

fez com que ele avaliasse os seus sentimentos e reconhecesse as suas

misérias, após um dia difícil.

No fragmento que se segue percebemos uma gradação de ideias para

mostrar que os seres animados são egoístas, pois esperam sempre alguma

forma de pagamento. Ele começa a gradação mencionando inicialmente a si

mesmo e depois, outros seres da espécie, finalizando com a palavra bicho,

animal irracional, mas animado. A gradação é um recurso literário que enfatiza

uma ideia, aponta para uma direção mostrando profundidade no sentimento

revelado, ampliando-o ou afunilando-o. Neste momento para falar de si e ao

mesmo tempo de todos os homens, novamente ele muda o foco narrativo,

agora ele utiliza a terceira pessoa. O narrador utiliza ora o pronome de terceira

pessoa, ora, simplesmente a palavra homem, substantivo genérico, para

referir-se a sua pessoa: “Ele não pensa em amigo, nem em criança, nem em

mulher, nem em bicho; todos esses seres são animais como ele, egoístas

como ele, pedem gestos, palavras, correspondências, pagamento”.

Retomando à análise dos elementos utilizados para a construção do

texto: as figuras de estilo, o jogo no uso do foco narrativo – é importante

considerar a presença de outros recursos na língua que também contribuem

para a expressão das emoções. São eles, o uso da interjeição, o emprego do

Vocativo, que além de introduzir um diálogo, desloca o tempo da narrativa do

passado para o presente, aproximando fato narrado e leitor, que tem a

sensação de participar do diálogo. É importante ainda, observar a preferência

por

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alguns sinais de pontuação: as reticências, o ponto de exclamação e o

ponto de interrogação. Estes recursos imprimem uma maior carga emotiva às

palavras como podemos perceber nestas passagens:

“Joana! Daqui a um ano, um ano e meio, quando este caderno estiver

sujo e velho, com que mão, Joana, escreverei teu nome no caderno novo?”

“Oh, Deusa das Árvores, eu te agradeço.”

Proposta de trabalho 2

........................................................................

A PRESENÇA DO LÍRICO

EM TEXTOS NARRATIVOS

Pobre do gandula

Está uma noite fria de lascar, há uma névoa no ar, mas nós decidimos

— os três — ir ver o jogo na Água Branca.

Os outros rapazes têm sérios compromissos, estão impossibilitados de

deixar o bar, [...] Discute-se o tema: a amizade entre os amigos.

Já são oito e trinta da noite, daqui a pouco o jogo começa, pedimos

licença e abandonamos a discussão e o amendoim torrado, [...]

[...]. A bola, brilhante, branca e nua, parece uma lua. Mas os jogadores

não a entendem não sabem cultivá-la, nem oferecer-lhe singelos carinhos. [...]

A torcida enfada-se, berra e chia, já não sabe mais a quem xingar até

que descobre [...] o pegador-de-bola [...].

Um gandula totalmente sem panca. [...]. (DIAFÉRIA, 1992)

Solicitar aos alunos a leitura do texto “Pobre do gandula” e acompanhá-

los na análise da crônica

1. Leia o texto “Pobre do Gandula” com atenção procurando nele

passagens líricas. Reescreva-as em seu caderno

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2. Procure identificar nestas passagens, os aspectos linguísticos

que contribuem para tornar o texto lírico.

3. O texto também apresenta momentos de humor, indique-os.

Procurar explicar como o autor consegue criar este efeito. Qual é

a estratégia que ele usa?

4. O texto apresenta gírias. Transcreva-as e procure explicar-lhes o

sentido.

Proposta de trabalho 3

..............................................................................

A PRESENÇA DO LÍRICO

EM TEXTOS NARRATIVOS

FLOR DE MAIO

ENTRE tantas notícias do jornal [...] há uma pequenina nota de três

linhas, que nem todos os jornais publicaram.

[...] É assinada pelo senhor diretor do Jardim Botânico, e nos informa

gravemente que a partir do dia 27 vale a pena visitar o Jardim, porque a planta

chamada ‘‘flor de maio” está, efetivamente, em flor.

Meu primeiro movimento, ao ler esse delicado convite, foi deixar a mesa

da redação e me dirigir ao Jardim Botânico, [...] Mas havia ainda muita coisa

para ler e escrever, [...]. Agora, já desce a noite, e as plantas em flor devem ser

vistas pela manhã ou à tarde, quando há sol — ou mesmo quando a chuva as

despenca e elas soluçam no vento, e choram gotas e flores no chão.

Rio, maio de 1952

(Braga, 1956)

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Acompanhar os alunos e orientá-los durante a análise dos aspectos líricos do

texto em questão.

1. Leia o texto “Flor de Maio” com atenção e procure nele elementos líricos.

Transcreva as passagens líricas e, a seguir, explique os recursos

utilizados pelo escritor que conferem à linguagem o aspecto lírico.

2. Acesso o link abaixo e leia o texto “Prosa Poética” para continuar

resolvendo os exercícios desta oficina.

http://pt.wikilingue.com/es/Prosa_po%C3%A9tica

a. O texto pesquisado diz que a prosa poética corresponde ao segundo

tipo de obras líricas. Qual seria o primeiro tipo?

b. Retomando o texto, temos a seguinte informação: “Nela se podem

encontrar os mesmos elementos que no poema... mas sem elementos

formais (métrica, rima)”. Porém, em um dos textos analisados,

percebemos que a prosa poética utilizou também aspectos formais: a

rima. Você saberia dizer em que texto isso ocorreu? Transcreva as

passagens em que lírico e aspectos líricos se encontraram na prosa.

c. No segundo parágrafo de “Prosa Poética”, procura-se fazer a distinção

entre conto, relato e prosa poética. Por que a prosa poética difere do

conto e do relato, segundo o texto?

OFICINA 7

Objetivos:

Levar os alunos para visitar alguns pontos turísticos da cidade;

Elaborar com eles um Roteiro a respeito dos locais que serão visitados e

prepará-los para detalhes em que deverão prestar atenção;

Produzir uma crônica com passagens líricas, tendo como elemento de

inspiração o passeio.

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ATIVIDADE EXTRA-CLASSE:

.ASPECTOS GERAIS

...................................................................................

O passeio

Questões importantes que devem nortear o trabalho dos alunos durante o

passeio.

1. Antes de sair é importante que eles além de serem informados dos locais

que serão visitados, sejam orientados para aspectos que devem observar em

relação a si mesmos, aos colegas mais próximos e aos locais que se

constituirão nos pontos de passeio.

A. Pedir para que prestem atenção aos próprios sentimentos, as expectativas

em relação ao passeio.

B. Observar os colegas com quem têm mais amizade e com quem estão

sempre juntos tentando perceber aspectos psicológicos tais como: é uma

pessoa alegre, animada? Ou, quieta, tranquila? Além de outros aspectos que

julgarem importante.

C. Lembrá-los a estação do ano, verificar com eles o clima: o dia está quente,

frio... Há muitas pessoas nas ruas, nos lugares visitados.

D. Solicitar que observem as construções, os aspectos que caracterizam os

lugares por onde passarmos, o centro, as praças. A presença ou ausência do

verde, o céu ou até mesmo, a percepção de algum cheiro que caracterize o

lugar. Enfim, todo o contexto que os envolvem e que se constitui no cenário

desfrutado.

E. Este passeio deve prepará-los para escrever uma crônica utilizando os

recursos estudados. Após o passeio eles devem escolher uma frase que

resumiria o programa realizado e transformá-la em crônica, descrevendo a

experiência vivida com passagens líricas. Ou escolher algum lugar visitado

para usar como ponto de partida para a sua crônica.

OFICINA 8 Objetivos:

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Verificar se os alunos conseguiram utilizar em seus textos, os elementos

trabalhados no projeto: assunto, composição e linguagem;

Rever com eles a organização e estruturação das crônicas através da

refacção;

Solicitar que escolham os melhores textos e preparem ilustrações para

eles;

Digitar os textos escolhidos e publicá-los no BLOG do projeto.

ATIVIDADES

......................................................

REVENDO OS TEXTOS

1. Leitura e refacção das crônicas para que eles percebam como funciona a

organização interna do texto.

2. Leitura e escolha das melhores crônicas.

3. Elaboração de ilustrações para as crônicas escolhidas.

4. Digitação dos textos no Blog do projeto para que as crônicas sejam lidas

pela comunidade discente deste estabelecimento..

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REFERÊNCIAS

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ARRIGUCCI JR., Davi. Fragmentos sobre a crônica. In:______. Enigma e comentário. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p.51-66

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BRAGA, Rubem. Agradecimento. In: ______. O homem rouco. 4. ed. Rio de Janeiro: Record,1986.

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BRAGA, Rubem. O novo caderno. In: ______. O verão e as mulheres. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.

CAMPOS, Paulo Mendes. Meu reino por um pente. In: ______. Crônicas Escolhidas. 3. ed. São Paulo: Ática, 1994.

CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chã. In: CANDIDO. A et al. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: ed. da Unicamp; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. p.13-21.

CHRONOS. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia. org/wiki/Chronos>. Acesso em: 01 jun. 2010

COUTINHO, Afrânio. Ensaio e crônica. In: ______. COUTINHO, Eduardo. F.(Coord.). A literatura no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio; Niterói: Ed. UFF, 1986. v.6. p.117-137.

Diaféria, Lourenço. Pobre do gandula. Um gato na terra do tamborim: crônicas. 4. ed. São Paulo: Ática, 1992.

D'ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto: teoria da lírica e do drama. São Paulo: Ática,1995.

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FEIRA de colecionadores reúne raridades e peças inusitadas em Fortaleza. Disponível em: < http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1332870-5598,00.html>. Acesso em: 14 abr. 2010.

GALVÃO, Vinícius Queiroz. Smartphone deixa amigo Carente e silencia papo de bar. Folha de São Paulo, São Paulo, 07 mar. 2010. Caderno Cotidiano, p. 3.

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ANEXO

TEXTOS ORIGINAIS UTILIZADOS NA ELABORAÇÃO DO MATERIAL

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OFICINA 1

Proposta de Trabalho 1 ATIVIDADE COLETIVA APRESENTAÇÃO DO GÊNERO ..........................................................................................

Leitura e análise dos textos: Brasil tem 2 mil iPads iPad

Brasil tem 2 mil iPads

A AdMob divulgou pela primeira vez um levantamento sobre a quantidade de iPhones, iPods Touch, iPads e celulares Android em cada país. E o Brasil aparece com uma quantidade de 2 mil iPads, o mais recente lançamento da Apple, à venda nos EUA em abril. O País é o 18º mercado dos portáteis da Apple, com 219.339 iPhones, 74.570 iPods Touch, além dos iPads. Entre os países da América Latina, o Brasil fica atrás do México, que tem um número de iPods Touch três vezes maior.

Porém, o resultado não reflete o tamanho exato dos produtos no Brasil, já que o levantamento só leva em conta os a origem dos acessos computados pelos parceiros da AdMob (sites mobile e aplicativos), mas é o dado mais próximo já divulgado. A AdMob é uma empresa de estatísticas em dispositivos móveis que foi comprada pelo Google.

Um outro dado é sobre os celulares com o sistema do Google, o Android. O Brasil 23º da lista, com 20.234 aparelhos registrados pelos sistemas da AdMob.

(SERRANO, 2010)

iPad

Gazeta da Jerusalém, século I d.c.

Há duas semanas não se fala em outra coisa: de Damasco a Jericó, da Judéia à Galiléia, aquém e além Jordão, todos discutem a nova tecnologia que, segundo seus criadores, vai revolucionar a forma como lemos.

Para aqueles totalmente desinformados, que passaram os últimos dias saqueando cidades vizinhas, degolando gentios ou fazendo libações a Deus,

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explico: trata-se de um bloco retangular, mais ou menos do tamanho de um tijolo, embora mais fino, a que chamam de “livro”. A novidade tem conquistado tantos adeptos que já há quem anuncie o fim do pergaminho.

A maior diferença do “livro” em relação ao bom velho rolo é o conceito de “página”: em vez de o texto ser desenrolado continuamente, como fazemos há mais de mil anos – muito eficientemente, diga-se de passagem – o “livro” desmembra a escrita em centenas de retângulos de papel. Para passar de um parágrafo ao outro, quando se chega ao fim da tal “página”, é preciso virá-la e recomeçar a ler no verso da mesma, lá em cima, o que, segundo alguns estudiosos, interrompe o fluxo da leitura e compromete seriamente a compreensão do texto.

Os defensores do tal “livro” dizem que sua superioridade em relação ao pergaminho reside principalmente em sua capacidade de armazenamento. Enquanto nossos rolos chegam a no máximo dez metros, um “livro” pode conter centenas de “páginas”, o equivalente a dezenas de pergaminhos. Ora: para que eu quererei levar por aí tanta informação, se só consigo absorver uma palavra de cada vez? Além do mais, se pretendo ler dez ou vinte rolos, digamos, num fim de semana no Mar Morto, basta pedir a um escravo que amarre em nosso jumento o baú ou vaso onde os guardo, antes de partirmos.

Outra vantagem que os aficionados à nova tecnologia não se cansam de apontar é a facilidade de se achar um texto rapidamente, dada a existência da tal “lombada”. Se bem entendi, trata-se de uma das superfícies do “livro”, oposta à que se abre, onde pode-se escrever o título da obra. Ah, filisteus! Não sabem que o prazer da busca reside no caminho percorrido mais do que no objeto encontrado? Nunca viveram a delícia de tirar todos os rolos dos vasos e desenrolá-los, e na procura de um texto dar de cara com outros há muito lidos e esquecidos, e rememorar os dias da mocidade, quando o mundo era calmo e seguro, não havia cristãos rebelando-se nem invenções cretinas ameaçando a ordem?

Ouçam o que eu digo, filhos de Deus: nós lemos muito bem com o pergaminho por mais de um milênio e não há por que supor-se que assim não o faremos até o fim dos tempos. “Livro” é invencionice desses cristãos novidadeiros e um e outro devem desaparecer antes que você termine de ler o rolo de sua preferência. Páginas?! Lombadas?! Messias?! Quem acredita nessas sandices?

(PRATA, 2010)

Proposta de Trabalho 2 .................................................. Smartphone deixa amigo carente e silencia papo de bar

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Usuários de celulares com internet acessam e-mails e rede sociais a todo instante ...............................................

Incomodado com os amigos que não largam o iPhone, Tomás Toledo,

23, responsável pelas atividades culturais da Escola São Paulo, é do contra. Ele não tem um smartphone e diz que o vício nos celulares 3G cria um

vácuo na mesa durante os jantares nos restaurantes e os encontros nos bares, com atenções divididas entre quem está presente e o virtual. Quando os amigos estão juntos — e muitas vezes sem se dar conta — todos começam a fuçar nos seus aparelhos e fica cada um na sua, como se não houvesse ninguém ao redor.

“Anulam os dois momentos. São duas ‘meia pessoa’, ninguém fica inteiro na conversa. A sensação que tenho é que o Twitter e o Facebook são mais interessantes que eu”, diz.

Num efeito colateral, a internet dos iPhones acabou com as discussões de mesa de bar. Não lembra o nome daquela atriz que fez aquele papel naquela novela? Dá um Google nela. As incertezas não duram mais de alguns segundos.

“Não tem mais polêmica nem apostas. Quando um amigo duvida, alguém do grupo entra na internet, faz uma busca e cala a boca dos outros”, afirma o contador Guilherme Araújo.

Muito além da compulsão pela internet, os smartphones já causam dependência e problemas de relacionamento. Um dos primeiros a ter celular em São Paulo, na década de 1990, o gerente comercial Alexandre Fausto Lopes, 40, teve de fazer acordos com a mulher, Patrícia: depois das 21h, o aparelho passa a noite no vibrador.

Não só pelas insistentes ligações de trabalho, mas pela compulsão do marido em responder e-mails, mensagens e acessar a internet pelo telefone 3G.

A dependência de Lopes — e de tantos outros usuários dessa tecnologia — é tamanha que ele não se desgruda um instante do smartphone. Vai com ele até ao vaso sanitário — o que substituiu o antigo hábito de ler jornal no banheiro.

“Fico viciado em responder rapidamente tudo que me é pedido. Já criei um grau de dependência tão grande que não consigo viver sem esses aplicativos. Não sei se é uma mania, mas vivo assim”, afirma Lopes.

“Tivemos alguns atritos até nos policiarmos”, diz a pedagoga Patrícia, 38, sua mulher.

“O contato social entre os amigos diminuiu. A internet virou um espaço de convivência, as pessoas ficam aprisionadas e as intimidades tornaram-se públicas”, diz o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria da USP. Num jantar com sete amigos, viu cinco deles responder e-mails no iPhone.

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Para o consultor de etiqueta Fábio Arruda, o vício nos aplicativos do iPhone passa pela falta de educação e equivale a tirar um jogo de palavras cruzadas da bolsa e negligenciar atenção a quem está no grupo.

(GALVÃO, 2010) A felicidade dura pouco

HÁ MUITOS, muitos anos, havia uma música de Zé Rodrix que nos emocionava. Os primeiros versos diziam “eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos rocks rurais”; e continuava dizendo coisas lindas, como “eu quero a esperança de óculos e um filho de cuca legal, eu quero plantar e colher com as mãos a pimenta e o sal”. Era com isso que sonhávamos, mesmo sem saber, ou era o que gostaríamos de querer; belos tempos.

Os anos passaram, e os sonhos, no lugar de se ampliarem, encolheram. O que é que se quer hoje em dia? Menos, acredite, pois querer um celular novo que faz coisas que até Deus duvida é querer pouco da vida. Meu maior sonho é bem modesto.

Nada me daria mais felicidade do que um celular que não fizesse nada, além de receber e fazer ligações. Os gênios dessa indústria ainda não perceberam que existe um imenso nicho a ser explorado: o das pessoas que, apesar de conseguirem sobreviver no mundo da tecnologia, têm uma alma simples.

As duas mais dramáticas novidades trazidas pelos celular foram as odiosas maquininhas fotográficas e a impossibilidade de uma conversa a dois. Quando duas pessoas saem para jantar, é inevitável: um deles põe o celular — às vezes dois — em cima da mesa. O outro só tem uma solução: engolir, mesmo sem água, um tranquilizante tarja preta.

No meio de uma conversa palpitante, o telefone toca, e a pessoa faz um gesto de “é só um minuto”. Não é, claro. Vira um grande bate-papo, e não existe solidão maior do que estar ao lado de alguém que te larga — abandona, a bem dizer — para conversar com outra pessoa. No meio de um deserto, inteiramente sós, estamos acompanhados por nossos pensamentos. Com alguém ao lado falando num celular, lendo os e-mails ou checando as mensagens, não se pode nem ao menos pensar. E a solidão total, pois nem se está só nem se está acompanhado. Tão trágico quanto, é estar falando com alguém que tem um telefone com duas linhas; no meio do maior papo, ele diz “aguenta ai que vou atender a outra linha” e frequentemente volta e diz “te ligo já” — e aí você não pode usar seu próprio telefone, já que ele vai ligar já (e às vezes não liga). Não dá.

Raros são os que atendem e dizem “estou com uma amiga, depois te ligo” —nem precisavam atender, já que o número de quem chama aparece no visor, e as pessoas têm todos eles de cor na cabeça. como eu não sei.

Eu juro que tentei, já troquei de celular três vezes, mas desisti. Recebia contas que não entendia, entrei, de idiota, num “plano”, e quase enlouqueci

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quando quis sair. Hoje tenho um que praticamente não uso, mas é pré-pago, e só umas quatro pessoas conhecem; ponho 20 reais de crédito, se não usar não vou à falência, mas pelo menos não recebo aquelas contas falando de torpedos e SMS, coisas que prefiro nem saber que existem. Ah, e meus telefones fixos são com fio.

Do carro já me livrei: há cinco anos não procuro vaga, não faço vistoria, não pago IPVA, nem seguro, e sou louca por um táxi. Até ontem me considerava uma mulher feliz, mas sempre soube que a felicidade dura pouco: hoje ganhei um iPod. Uma quase tragédia, eu diria.

(LEÃO, 2010)

iPod

iPod é uma marca registada da Apple Inc. e refere-se a uma série de tocadores de áudio digital projetados e vendidos pela Apple. O "POD" é a sigla de "Portable On Demand", o que numa tradução livre seria algo como "portátil desejado" e a letra "i" na frente, que se lê "ai" e significa "eu" em inglês, teria um sentido pessoal, como "o portátil que eu desejo/desejei" ou "o portátil que eu sempre quis".

Desde 2008 a linha atual da Apple destes reprodutores digitais de mídia, inlcui o iPod classic, o iPod shuffle, o iPod nano e o iPod touch. Outros produtos antigos incluiam o iPod mini e o iPod Photo,mas agora estão incluidos na linha do classic mas desde o lançamento no mercado, o iPod teve erros graves um exemplo delas é que 5 dos 35 iPods produzido até 2008, teve o número de série repetido tais casos eram raros no início, mas depois havia mais de 300.000 casos notificados no central dos Estados Unidos que o erro foi corrigido nos modelos de Janeiro de 2008.

Os aparelhos da família iPod oferecem uma interface simples para o usuário, centrada no uso de uma roda clicável. O modelo de maior capacidade de armazenamento de mídia, o iPod classic, utiliza um disco rígido acoplado,[1] enquanto todos outros modelos utilizam memória flash. Como a maioria dos tocadores portáteis digitais, o iPod pode servir como um armazenador de dados quando conectado a um computador. Mas o modelo mais arrojado da linha dos iPods funciona e parece com o iPhone; o iPod touch, respondendo ao toque na tela, e permitindo o usuário acessar a Internet sem fio (wireles, wi-fi 802.11b/g) além de poder usar mais que três mil aplicativos do iPhone.

É considerado até hoje o lançamento mais arriscado da Apple,[carece de fontes?] pois foi lançado em outubro de 2001, quando os Estados Unidos ainda estavam sob forte comoção, devido aos atentados de 11 de setembro.

iPod touch

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No dia 5 de setembro de 2007, foi lançada uma nova família iPod, apelidada de touch. O nome touch (do substantivo toque, em português) deve-se à sua tela sensível ao toque. O iPod Touch tem estilo parecido com o iPhone, o smartphone da Apple. Tem acesso à internet em navegador Safari através de Wi-Fi (802.11b/g) capaz de conectar-se a sites como o YouTube, além da navegação com maps. Em suma, tem as mesmas funções de um iPhone, com exceção do telefone, camera e GPS.

Assim como o iPhone, ou o iPod classic e o nano, você pode virar o aparelho de lado e a tela acompanha o movimento e muda para a posição nova, de vertical para horizontal e vice-versa. A bateria durava 22 horas no playback de músicas e cinco horas com os videos.

Em 9 de setembro de 2008 a Apple lança a segunda geração do iPod touch. Agora com compatibilidade Nike+ (vendido separadamente), um acessório de esporte, que permite o usuário acoplar o Nike+ no tenis e este se comunica, sem fio, com o iPod touch mantendo-o atualizado de sua performance enquanto corre, registrando seu tempo, distância percorrida etc. O novo iPod touch vem agora com auto falante interno, dispensando o uso de fone de ouvido e um botão na lateral esquerda, como no iPhone, para controlar o volume.

O iPod touch usa o sistema operacional iPhone OS. Tem uma tela de 3,5 polegadas (diagonal) com multicor de 320x480px a 163ppi, e pode tocar, segundo a Apple, até 36 horas de música e seis horas de vídeo, maior duração que o modelo anterior. Além disso, também tem a função Cover Flow. No entanto, ao sair da fábrica, o iPod touch não é "aberto" a aplicações externas (exceto as aplicações Web, ou Webapps) e nem pode ser usado como unidade de armazenamento USB, ao contrário dos outros modelos mais recentes de iPod. Mas, existem descrições na Internet de como fazer com que o iPod touch aceite o carregamento de aplicações externas, bem como de como usá-lo como unidade de armazenamento USB (processo conhecido como "Jailbreak").

(iPod, 2010)

OFICINA 2

Proposta de Trabalho 1 Menino morde Pitbull após ser atacado em Sabará, Minas Gerais

Menino morde pit bull

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Menino morde Pitbull após ser atacado em Sabará, Minas Gerais

Um garoto de 11 anos mordeu um pitbull, após ser atacado pelo

animal, nesta terça-feira (22) em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, segundo informações do Corpo de Bombeiros. Ele brincava no quintal da casa do tio quando o cão, que estava preso a uma corrente, avançou e mordeu seu braço. De acordo com depoimento do menino, ele apertou o pescoço do cachorro e deu a mordida para se defender. Um dos dentes do garoto chegou a quebrar e ficar preso ao animal, segundo os bombeiros.

Testemunhas conseguiram separar o cão do menino, que foi levado para o Hospital João XXIII. Ele foi medicado e levou cerca de sete pontos no braço. Em seguida, foi liberado. O cachorro foi encaminhado ao Centro de Zoonoses da cidade, onde ficará sob observação.

(MENINO...,2010) Menino morde pit bull

Demorou, mas aconteceu. Esperava essa notícia desde os tempos de

faculdade. Explico: era lugar-comum entre professores de jornalismo dizer que um cachorro morder uma criança não é notícia, pois não traz nada de novo. No entanto, se uma criança mordesse um cachorro, aí sim, o fato daria uma bela manchete.

Pois acaba de acontecer. Ao sentir-se ameaçado por um pit bull, um menino de onze anos não teve dúvida em pagar o bicho com a mesma moeda. Diz a reportagem que o petiz mordeu o animal com tanta força que este, ao tentar escapar assustado com tal valentia, arrancou-lhe um dente, que ficou cravado em sua carne.

Se eu fosse um desses militantes fanáticos de Ongs que defendem os animais estaria fazendo campanha para amordaçarem o garoto. Afinal, quando um pit bull ataca um ser humano, logo querem amordaçá-lo, castrá-lo ou mesmo eliminá-lo com uma injeção letal. Isso, aliás, é praticado em alguns estados americanos. Por aqui as autoridades até que pegam leve, apenas fazendo exigências que quase nunca são cumpridas pelos donos desses terríveis animais. O pit bull não é exatamente um cão, do tipo melhor amigo do homem. Ele é uma besta-fera gerada de vários cruzamentos que tinham por objetivo criar um animal forte, de temperamento instável, apropriado para guerras e lutas. É, portanto, um bicho feroz de natureza, que sofre de transtorno bipolar crônico. Isto é, seu humor muda da água para o vinho num piscar de olhos. Quando isso acontece, salve-se quem puder!

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O curioso é que ainda existem caras que insistem em criar essas feras. Pior ainda, gostam de desfilar em vias públicas levando-as pela coleira, na maioria das vezes sem focinheira - o que é um desrespeito à lei. O Brasil, aliás, é recordista em leis que parecem ter sido feitas apenas para dar uma satisfação à opinião pública. Se fosse pra valer, a polícia levaria em cana quem acha bonito desfilar com uma fera em locais impróprios, onde geralmente as pessoas normais gostam de caminhar, correr ou passear com os filhos. Na maioria das vezes, as autoridades só entram em cena depois que ocorre a tragédia. Brincadeiras à parte, porque esta é de fato uma questão séria, as leis que envolvem animais deveriam ser cumpridas a risca. Tanto no tocante às feras como o famigerado pit bull, quanto no que se refere a esses caipiras que, mesmo morando na cidade grande, insistem em criar aves nativas em cativeiro. Além de ser uma maldade privar os pássaros do vôo, a vizinhança é que sofre com os assovios estridentes de araras, arapongas e papagaios. Assovios que, longe de ser cantos de alegria, devem ser na verdade pedidos de socorro.

No caso do pit bull, o animal é o menos culpado quando ocorre uma tragédia. Além de não ter pedido pra nascer, o bicho muitas vezes é criado justamente pra ser um cão de guerra. Há casos em que o bicho é torturado pelo dono, que o coloca pra brigar em rinhas clandestinas. Portanto, sempre que um animal desses atacar uma pessoa que não tem nenhuma relação com ele, a lei deveria obrigar o dono - ele sim! - a usar focinheira toda vez que saísse na rua ou a lutar até a morte num ringue de luta livre.

(SANTOS, 2010)

Proposta de Trabalho 2 ......................................................................................................................................................... Marido traído tenta eliminar esposa Última Hora, 29 de janeiro de 1961 Fictício

A comerciante Maria Stela da Silva , 31 anos, foi baleada pelo próprio

marido, Sebastião Girão da Silva, 35. A tentativa de assassinato aconteceu ontem por volta das 18h, quando ela saía de uma padaria no bairro de Laranjeiras.

Ele disparou quatro tiros e uma das balas atingiu o braço da vítima. Segundo testemunhas Maria conseguiu se salvar porque correu e escondeu-se atrás de algumas caixas de mercadorias que estavam empilhados ao lado de uma loja Sebastião foi preso em flagrante por uma equipe de policiais que passavam por ali naquele momento e se encontra detido no 2º DP. Maria Stela foi encaminhada ao Hospital Miguel Couto e encontra-se fora de perigo.

Segundo Sebastião Girão, a tentativa de homicídio aconteceu porque a esposa confirmou as suas suspeitas de traição. O casal e mais quatro filhos residiam em Fortaleza, Ceará e a vítima deixara a cidade, fazia quinze dias para residir definitivamente no Rio.

(MACHADO, 2010)

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Honra

As pessoas vêm ao Rio, geralmente, ver as modas e fazer compras. Voltam, depois, para João Pessoa, Recife e Belém do Pará.

Osvaldo Girão velo do Ceará para perguntar à mulher, que estava aqui: — Você já me traiu? E ela respondeu: —Sim. — Meus filhos são meus?... — quis saber Girão. E a mulher: — Todos, não. Osvaldo Girão pegou o revólver e deu quatro tiros na mulher. Neste caso, cuja reportagem escrevemos anteontem e U.H, ontem,

repetiu, há dois erros tradicionais: 1 — O de lavar a honra com sangue; 2 — O de confessar a infidelidade. O que tinha Girão de vir lá do Ceará para procurar, aqui, desse tipo de desventura? O que tinha a mulher de confessar a traição. Ficasse Girão em Fortaleza, tomando suas cajuínas, na Praça do Ferreira ... E, já que velo, que a mulher lhe dissesse:

— Meu bem, pode ficar certo de que nunca lhe trai, nem em pensamento. Os filhos são seus. Não só os meus, mas os de todas as mulheres.

Girão não estaria, hoje, na cadeia, e a mulher (Stela) não ocuparia o leito que ocupa, nesse triste e descuidado hospital que é o Miguel Couto. Aqui os conceitos de cronista para casos futuros:

1º — Sangue não lava coisa alguma. Só suja. 2º — Adultério é adultério. Não se confessa. 3º — Não se vem do Ceará matar aqui. No Ceará, há sempre a quem matar.

Em tudo isto, deve ressaltar-se a declaração sensacional da mulher: — Girão é um egoísta. Querer que todos os meus filhos sejam dele!

Engraçado. (MARIA, 2010)

Proposta de trabalho 3 Tiroteio na zona norte do Rio deixa 4 mortos e 2 feridos Os mortos e feridos não estavam envolvidos na briga pelo ponto de distribuição de drogas. .........................................................................................................................................................

Uma disputa entre traficantes rivais de morros da zona norte do Rio,

deixou um saldo de pelo menos quatro mortos e dois feridos entre o final da

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noite de sexta (8) e a madrugada de sábado. Os mortos e feridos não estavam envolvidos na briga pelo ponto de distribuição de drogas.

De acordo com a Polícia Militar, bandidos do Morro do Cajueiro, em Madureira, se juntaram aos da Vila Cruzeiro, na Penha para tentar tomar os pontos de venda de drogas do Morro da Serrinha, que faz parte do complexo de favelas do Juramento.

Houve tiroteio entre os traficantes e as balas perdidas atingiram o casal Rita Gonçalves da Silva, de 40 anos, e Marcelo Lopes da Costa, de 25, que saiam de uma festa de casamento num dos acessos ao morro. Rita foi baleada na cabeça e Marcelo no peito. Os dois chegaram a ser socorridos e levados para hospitais, mas não resistiram aos ferimentos.

Um outro confronto aconteceu na Avenida Martin Luther King, esquina com a Rua Silva Vale, em Tomás Coelho. Bandidos armados que passavam em doze carros pela avenida trocaram tiros com policiais militares que patrulhavam a área. Na troca de tiros, foram atingidos o motorista de uma Kombi, Diogo Costa Moreira, de 28 anos, e o soldado do Exército Juarez Costa Junior, de 30, que estavam num posto de gasolina. Os dois morreram ao chegar ao Hospital Salgado Filho, no Méier. [...]

(JORNAL DE LONDRINA, 2010) A glória da bala perdida

Que triste destino o meu, suspirava a Bala Perdida. E tinha razão: entre

as Balas Certeiras, a sua reputação era lamentável, para dizer o mínimo. À diferença delas, a bala perdida não tinha rumo certo, não tinha alvo definido. Disparada a esmo, ela ia cravar-se numa parede, ou no tronco de uma árvore, ou simplesmente perdia-se. Poderia até cair na água suja de um charco qualquer, onde ficaria por muito tempo, até que misericordiosa ferrugem viesse corroer o metal de que era feita, terminando assim com o seu sofrimento.

O pior não era tanto o fracasso, que afinal é parte da existência. O pior era a inveja. As Balas Certeiras se gabavam, e com razão, do estrago que faziam. Hoje vou estourar um crânio, dizia uma, e outra acrescentava: hoje vou varar um pulmão. Havia aquelas que sonhavam em destruir múltiplos órgãos, ou atingir mais de uma pessoa de cada vez.

A bala perdida não podia permitir-se esses sonhos. As outras sabiam disso. Mal eram colocadas no tambor do revólver, começavam a debochar : então, o que vai ser hoje? Um muro caindo aos pedaços? A parede de um barraco imundo? A Bala Perdida nada respondia. Aguardava somente o doloroso instante da percussão, aquele instante em que, depois da explosão, seria projetada no espaço infinito, rumo a um alvo infamante.

E de repente isso mudou. Um dia o revólver disparou várias vezes. As balas certeiras partiam,

alegres. Quando chegou a vez da Bala Perdida ela foi, resignada, esperando sofrer o impacto humilhante em tijolo de barro ou em madeira apodrecida. Mas, não; para sua surpresa foi em carne que ela mergulhou, a carne macia da

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perna de um homem. Ele gritou, e seu grito foi música para a Bala Perdida. Seguiu-se uma jornada excitante: o homem foi levado para o hospital e uma operação foi necessária e o cirurgião comentou com os assistentes: Puxa vida, foi difícil extrair essa bala perdida. Mandou recolhê-la num saco plástico. E ali, examinada por minutos, a Bala Perdida viveu seu instante de glória maior. Queriam saber de seu calibre, queriam saber de onde tinha sido disparada, queriam até examiná-la sob lentes.

A hora das Balas Perdidas tinha chegado. Daí em diante elas passariam a fazer parte do noticiário, ganhando até manchetes. Havia, sim, um deus das Balas Perdidas. E ele tinha por fim manifestado a sua vontade poderosa.

(SCLIAR, 2002)

Proposta de trabalho 4

NOTÍCIA 1: Pânico durante o enterro, no Rio

Quando as primeiras pessoas saíram correndo, durante o enterro de

J.S.S., em Inhaúma, no Estado do Rio, o pânico se generalizou e todos fugiram do local. Mas poucos sabiam por quê. Até o caixão foi abandonado no chão, a poucos metros da sepultura, e o cemitério, num instante, ficou vazio, depois de gritos, sustos e muita correria. Polícia e bombeiros chegando, o mistério foi esclarecido: quem colocara a multidão em pânico foi um amigo da família, que tocou “em algo mole”, em uma das sepulturas.

Acontece que era uma casa de abelhas e de lá saiu um enxame, enfurecido, atacando algumas das pessoas. Depois, com as abelhas sob controle, o enterro foi realizado. Mas os bombeiros ficaram no local até a noite, matando outras abelhas.

((PÂNICO, 1983) )

Notícia 2 Notícias inusitadas “*** O Prefeito de Varallo Sesia, no norte da Itália, teve uma idéia: pagar para os moradores da cidade emagrecerem. Pois é. Homens que perderem 4kg em um mês e mulheres que perderem 3kg em igual período começam ganhando 50 euros. Depois de 5 meses o prêmio sobe para 200 euros; e se conseguirem emagrecer e manter o peso por um ano, podem ganhar mais 500 euros. Pré-requisito: atestado médico de que está acima do peso ideal. Simples assim. O governo ainda disponibiliza um nutricionista e um “personal trainer” para os candidatos. Temos menos obesos do que eles. Mas essa tal de “bolsa-dieta” faria um sucesso, aqui! Até gente com o corpinho do Marco Maciel daria um jeitinho de aproveitar a ‘promoção’...”

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(Suzi, 2007)

Notícia 3 Animal ameaçado de extinção nasce parecendo o E.T. de Spielberg ................................................................................ O novo “ET” Do Blog da Globo Rural

Um raro filhote de gibão ganhou o apelido de “ET” no zoológico onde vive, em Viena, na Áustria. O motivo? Sua semelhança com o famoso personagem do filme de Steven Spielberg, por conta da pele enrugada e rosada, e dedos longos.

“Esse bebê pode não chamar a atenção pela beleza, mas é um animal muito importante, já que há poucos de seu tipo na natureza”, disse um representante do zoológico ao diário britânico The Sun. O filhote pertence à espécie gibão-de-mãos-brancas, que atualmente se encontra ameaçada de extinção devido à destruição de seu habitat natural, em países como China, Malásia, Indonésia e Tailândia

(ANIMAL..., 2009)

Notícia 4 Feira de colecionadores reúne raridades e peças inusitadas em Fortaleza Cédulas e moedas antigas são um dos pontos altos. Discos de cera e LP’s também podem ser encontrados.

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Uma feira de colecionadores em Fortaleza reúne objetos que fazem muita gente voltar no tempo. Algumas nem são tão antigas assim, mas despertam lembranças de outros tempos.

Até mesmo moedas confeccionadas para comemorar a eleição do presidente norte-americano Barack Obama são vendidas. Também há fichas telefônicas, que eram usadas no orelhão.

As cédulas vêm de quase todos os países. Algumas são desconhecidas. Uma delas circula em um distrito do município de Caridade (CE). Antigos e novos colecionadores expõem o que há de mais raro.

Passear pelos estandes dessa feira é também viajar pela história do Brasil. Um dos maiores colecionadores do Ceará, Flávio Rebouças, é especialista em patacões. “Acho que isso vem do berço. Precisa ter determinação, vontade e amor. Juntando estas três coisas, você chega onde quiser chegar”, diz o colecionador.

O colecionador Cléber Coimbra afirma ter visto coleções das mais inusitadas. “Na minha mão já passaram coleções das mais incríveis. De pinico, de leque, lata de cerveja, armas. Um colecionador de Brasília tem quase 3 mil armas, inclusive tanques, canhões. Ele gasta uma fortuna nisso”, diz Coimbra.

Relíquias como discos de cera são vendidos. Até um LP de oito músicas inéditas da pequena notável Carmem Miranda pode ser encontrado.

(FEIRA, 2009)

OFICINA 3

O amor por entre o verde

Não é sem freqüência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequenina ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns treze anos, o corpo elástico metido nuns blue jeans e num suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho-de-cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, dezesseis, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida. Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos, e ficam montados, um em frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos,

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pequenos beijos. São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.

Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a perscrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor, e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo.

Que será — pergunto-me eu em vão — dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com os cabelos presos?

E se prosseguirem se amando — pergunto-me novamente em vão — será que um dia se casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?

Ë um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado. Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que freqüentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.

E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha Bem-Amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas.

(MORAIS, 1980)

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OFICINA 4

A que partiu É uma doçura fácil ir aprendendo devagar e distraidamente uma língua.

Mas às vezes acontece uma coisa triste, e a gente sem querer acha que a língua é que está errada, nós é que temos razão.

Eu tinha, na carteira, o número do telefone de uma velha conhecida, em Paris. No dia seguinte ao de minha chegada disquei para lá. A voz convencional e gentil de uma concierge respondeu que ela não estava. Perguntei mais alguma coisa, e a voz insistiu:

— Elle n ‘est pas là, monsieur. Elle est partie. Eu não tinha grande interesse no telefonema, que era apenas cordial.

Mas o mecanismo sentimental de uma pessoa que chega a uma cidade estrangeira é complexo e delicado. Eu esperava ouvir do outro lado aquela voz conhecida, trocar algumas frases, talvez combinar um jantar “qualquer dia destes”. Daquele número de telefone parisiense na minha carteira eu fizera, inconscientemente, uma espécie de apoio; e ele me falhava.

Então me deu uma súbita e desrazoável tristeza; a culpa era do verbo. Ela tinha “partido”, Imaginei-a vagamente em alguma cidade distante, perdida no nevoeiro dessa manhã de inverno, talvez em alguma estação da Irlanda ou algum hall de hotel na Espanha. Não, sua presença para mim não tinha nenhuma importância; mas tenho horror de solidão, fome de criaturas, sou dessas pessoas fracas e tristes que precisam confessar, diante da auto-suficiência e do conforto íntimo das outras: sim, eu preciso de pessoas; sim, tal como aquele personagem de não sei mais que comédia americana: I like people¹.

E subitamente me senti abandonado no quarto de hotel, porque ela havia partido; esse verbo me feria, com seu ar romântico e estúpido, e me fazia pobre e ridículo, a tocar telefone talvez com meses ou anos de atraso para um número de que ela talvez nem se lembrasse mais, como talvez de mim mesmo talvez nem se lembrasse, e se alguém lhe dissesse meu nome seria capaz de fazer um pequeno esforço, franzindo as sobrancelhas:

— Ah, sim, eu acho que conheço... Mas a voz da concierge queria saber quem estava falando. E me senti

ainda mais ridículo perante aquela concierge desconhecida, que ficaria sabendo o segredo de minha tristeza, conhecendo a existência de um Monsieur Braga que procura pelo telefone uma pessoa que partiu.

Meia hora depois o telefone da cabeceira bateu. Atendi falando francês,

atrapalhado — e era a voz brasileira de minha conhecida. Estava em Paris, pois eu não tinha telefonado para ela agorinha mesmo? Sua voz me encheu de calor, recuperada assim subitamente das brumas da distância e do tempo,

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cálida, natural e amiga. Tinha “partido” para fazer umas compras, voltara em casa e recebera meu recado; telefonara para um amigo comum para saber o hotel em que eu estava.

Não sei se ela estranhou o calor de minha alegria; talvez nem tenha notado a emoção de minha voz ao responder à sua. Era como se eu ouvisse a voz da mais amada de todas as amadas, salva de um naufrágio que parecia sem remédio, em noite escura. Quando no dia seguinte nos encontramos para um almoço banal num bistrô, eu já estava refeito; era o mesmo conhecido de sempre, apenas cordial e de ar meio neutro, e ela era outra vez ela mesma, devolvida à sua realidade banal de pessoa presente, sem o prestígio da mulher que partira.

Custamos a aprender as línguas; partir é a mesma coisa que sortir. Mas através das línguas vamos aprendendo um pouco de nós mesmos, de nossa ânsia gratuita, melancólica e vã. ¹Eu gosto de gente.

(BRAGA, 1980)

Meu reino por um pente

FILHOS — diz o poeta — melhor não tê-los. Já o Professor Anibal Machado me confiou gravemente que a vida pode ter muito sofrimento, o mundo pode não ter explicação alguma, mas, filhos, era melhor tê-los.

A conclusão parece simples, mas não era; Anibal tinha ido às raízes da vida, e de lá arrancara a certeza imperativa de que a procriação é uma verdade animal, uma coisa que não se discute, fora de alcance do radar filosófico. “Eu não sei por que, Paulo, mas fazer filhos é o que há de mais importante.”

Engraçado é que, depois dessa conversa, fui descobrindo devagar a melancólica impostura daquelas palavras corrosivas do final de Memórias Póstumas: “não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.

Filhos, melhor tê-los, aliás, o mesmo poeta corrige antiteticamente o pessimismo daquele verso, quando pergunta: mas, se não os temos, como sabê-lo? Resumindo: filhos, melhor não tê-los, mas é de todo indispensável tê-los para sabê-lo; logo, melhor tê-los.

Você vai se rir de mim ao saber que comecei a crônica desse jeito depois de procurar em vão meu bloco de papel. Pois se ria a valer: o desaparecimento de certos objetos tem o dom de conclamar, por um rápido edital, todas as brigadas neuróticas alojadas nas províncias de meu corpo,

Sobretudo instrumentos de trabalho. Vai-se-me por água a baixo o comedimento quando não acho minha ‘caneta, meu lápis-tinta, meu papel, rainha cola... Quando isso acontece (sempre) até taquicardia costumo ter; vem-me a tentação de demitir-me do emprego, de ir para uma praia deserta, de voltar para Minas Gerais, renunciar.

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Ridículo? Sim, ridículo, mas nada posso fazer. Creio que seria capaz (talvez seja presunção) de aguentar com relativa indiferença uma hecatombe que destruísse de vez todos os meus pertences. O que não suporto é a repetição indefinida do desaparecimento desses objetos sem nenhum valor, mas, sem os quais, a gente não pode seguir adiante, tem de parar, tem de resolver primeiro.

Stanislaw Ponte Preta andou espalhando que eu usava ventilador para pentear os cabelos: Calúnia. Sou o maior comprador de pentes do Estado da Guanabara. Compro-os em quantidades industriais pelo menos duas vezes por mês, de todos os tamanhos, de todas as cores. Sou quase amigo de infância do vendedor de pentes que estaciona ali na esquina de Pedro Lessa e Rua México. A princípio, pensou que eu estava substabelecendo o comércio dele, comprando para vender mais caro, mas um dia eu lhe contei minha tragédia familiar, e ele sorriu e confessou: “Lá em casa é a mesma coisa”.

Chego em casa com os meus pentes e os distribuo a mancheias. Dois para você, quatro para você — segundo o temperamento e a distração de cada um. Aviso a todos que vou colocar um no armário do quarto, um no banheiro, um em cada mesa de cabeceira, dois na minha gaveta. Terminada essa operação ostensiva, fico malicioso e furtivo; secretamente, vou escondendo outros pentes por todos os cantos e recantos, debaixo do colchão, no alto de um móvel, atrás do exemplar dos Suspiros Poéticos e Saudades. Em seguida, reúno solenemente toda a família, inclusive o Poppy, tiro do bolso um pente singular, o mais ordinário encontrável na praça, e digo: “Este é o meu pente; este ninguém usa; neste, sob pretexto algum, ninguém toca! Estão todos de acordo? Ou algum dos presentes deseja fazer alguma objeção?”

Estão todos de acordo. A sinceridade do meu clã nesses momentos é de tal qualidade que, por um dia ou dois, tenho a ilusão de que, afinal, venci, de que descobri o approach certo para a família incerta. Mas, meu São Luís de Camões, ó caminhos da vida, sempre errados! Os dias passam, o vento passa a descabelar-nos, e os meus pentes, os meus pentes também passam. Misteriosamente, inexplicavelmente, eles desaparecem, pouco a pouco, com certa malícia, um a um, dois a dois, até chegar o momento dramático no qual, depois de vasculhar todos os meus esconderijos, fico em cabelos no meio da sala e, como Ricardo III em plena batalha, exclamo patético: “Um pente, um pente, meu reino por um pente!”

Eu não fui — diz o primeiro; eu não fui — diz o segundo; eu não fui — diz o terceiro; Poppy, cuja especialidade é comer meias e sapatos, não diz nada, mas abana o rabo negativamente.

Não foi ninguém, foi Mr. Nobody, foi o diabo, foi a minha sina. Minha mansão tem apenas três quartos e uma sala. Pois é inacreditável

a quantidade de objetos que estão desaparecidos aqui dentro. Um dia, quando me mudar, a gente vai achar tudo, e sorrir um para o

outro com uma nostalgia imprecisa, e dizer em silêncio que, filhos, e pais, melhor tê-los.

(Paulo Mendes, 1994)

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No Espaço, sim, Mas perdido não.

“Chega aos cinemas Perdidos no Espaço” Ilustrada, 2 jul. 1998.

A nave espacial já tinha vencido a zona de gravidade da Terra e

aproximava-se da Lua, quando de repente o comandante arregalou os olhos: à frente deles, em pleno espaço, estava um homem.

Vestia um improvisado traje de astronauta, confeccionado com retalhos plásticos e um capacete feito de um velho aquário. Ali estava, sorridente, como se esperasse pela espaçonave.

O comandante mandou parar, e o estranho astronauta aproximou-se. — Quer que limpe o pára-brisa? - perguntou, num inglês de estranho

sotaque. – Ou quer que lave toda a nave? Se quiser, pode deixar comigo. Se quiser estacionar, eu cuido também.

— Mas de onde você é? – perguntou o comandante, assombrado. — Sou brasileiro – foi a resposta. – Faz pouco tempo que cheguei. E

estou gostando muito, para dizer a verdade. — E o que é que você faz aqui? De tudo um pouco, lavo espaçonaves, como lhe disse, limpo pára-

brisas. E tenho umas coisinhas para vender, pilhas, cassetes, fones de ouvido... Essas coisas do Paraguai, o senhor sabe. Numa viagem sempre podem ser necessárias.

A tripulação toda estava boquiaberta. — Vocês querem saber como vim parar aqui – continuou o brasileiro. –

Bem, não foi por vontade própria. Até há um mês atrás, eu estava empregado numa fábrica. Bom emprego, eu ganhava bem. Aí veio a crise. Um dia eu cheguei à fábrica e o gerente me disse: “Sinto muito. Seu emprego foi para o espaço”. Já pensou? Foi pro espaço.

Sorriu. — Agora: eu não sou de desistir; Acho que a gente tem de correr atrás

de emprego, de qualquer emprego. Se o emprego vai pro espaço – eu vou junto. É por isto que estou aqui. Não estou perdido, não. Estou lutando pela vida. O senhor não teria umas moedinhas sobrando?

(SCLIAR, 2002)

Chronos

Na mitologia grega, Chronos ou Khronos (em grego Χρόνος, que significa ‘tempo’; em latim Chronus) era a personificação do tempo. Também era habitual chamar-lhe Eón ou Aión (em grego Αίών).

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Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairos. Enquanto chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode ser medido, kairos refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece, em Teologia, é "o tempo de Deus".

Chronos tem sido frequentemente confundido com o titã Cronos, especialmente durante o período alexandrino e renascentista.

De acordo com a teogonia órfica, Chronos surgiu no princípio dos tempos, formado por si mesmo. Era um ser incorpóreo e serpentino possuindo três cabeças, uma de homem, uma de touro e outra de leão. Uniu-se à sua companheira Ananke (a inevitabilidade) numa espiral em volta do ovo primogênito separando-o, formando então o Universo ordenado com a Terra, o mar e o céu.

Permaneceu como um deus remoto e sem corpo, do tempo, que rodeava o Universo, conduzindo a rotação dos céus e o caminhar eterno do tempo, aparecendo ocasionalmente perante Zeus sobre a forma de um homem idoso de longos cabelos e barba brancos, embora permanecesse a maior parte do tempo em forma de uma força para além do alcance e do poder dos deuses mais jovens.

Uma das representações mais bizarras de Chronos, é a de um homem que devora o seu próprio filho, num acto de canibalismo difícil de compreender na atualidade. No entanto, esta representação deve-se ao facto de os antigos gregos tomarem Chronos como o criador do tempo, logo, de tudo o que existe e possa ser relatado, a exemplo do Deus único e criador dos cristãos, judeus e muçulmanos, sendo que, por este facto, se consideravam como filhos do tempo (Chronos), e uma vez que é impossível fugir ao tempo, todos seriam mais cedo ou mais tarde vencidos (devorados) pelo tempo.

Uma explicação possível para esta representação é a confusão com o titã Cronos, que comeu os seus filhos para que não se rebelassem contra ele e lhe tomassem o poder da Terra como ele fez com o seu pai, Urano.

Os romanos chamaram-lhe Saturno e por isso, o planeta que atualmente é conhecido com este nome, foi outrora chamado "Khronos" pelos astrónomos gregos. Era a divindade celeste mais distante, considerada como sendo o sétimo dos sete objectos divinos visíveis a olho nu. Uma vez que tem a maior translação observável no céu (cerca de 30 anos), os astrónomos gregos e romanos julgaram tratar-se do guardião dos tempos, ou "Pai do Tempo", uma vez que não havia conhecimento de nenhum outro objecto com maior período repetitivo (translação). Foi precisamente esta característica astronómica que levou os eruditos das artes a representar a sua figura como um homem de idade com longos cabelos e barbas brancas, tal como mencionado acima. Daí veio também a palavra crônica seguida de Chronos.

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Chronos, o Deus do tempo da mitologia grega, dormindo sobre a tumba de um certo Georg Wolff no cemitério Friedhof IV der Gemeinde Jerusalems- und Neue Kirche de Berlim, Alemanha, uma estátua de Hans Latt, esculpida por volta de 1904 e fotografada por Mutter Erde em 2006.

(CHRNOS, 2010)

O NOVO CADERNO Meu caderno de endereços está velho demais, e começo a passar os

nomes e números de telefone para um novo. Ë um trabalho fatigante: tenho de me esforçar para fazer boa letra, e chego à conclusão de que conheço muita gente, especialmente começando por A. L e M. Mas a fadiga não é apenas física; é também sentimental.

Ë fácil eliminar o nome do amigo que foi para o estrangeiro ou do simples conhecido com quem se teve um negócio a tratar e não se tem mais. Mas dá um certo remorso suprimir o amigo de quem a gente se afastou, embora sem culpa. É como se o estivéssemos riscando de nossa vida, jogando-o fora. E essa Maria para quem eu telefonava tanto, por que trazer seu número para o novo caderno? Sei muito bem que nunca mais lhe telefonarei; só o faria pela madrugada, bêbado, mas há muitos anos não telefono mais quando bebo. De qualquer modo, porém, este pequeno trabalho me obriga a considerar o caso de Maria, a pensar no samba Risque de Ary Barroso, a ficar um pouco sentimental sobre essa espécie de falecimento de Maria.

Quanto a Joana, aqui está seu endereço escrito a lápis, apressadamente, um dia destes, em uma página errada. Conheço Joana há algum tempo, mas só há poucos dias tomei nota de seu telefone; transfiro-o a tinta para a primeira linha da página da letra J, e escrevo seu nome devagar, como quem faz um carinho.

Joana! Daqui a um ano, um ano e meio, quando este caderno estiver sujo e velho, com que mão, Joana, escreverei teu nome no caderno novo? Este número que hoje não sei discar sem emoção, porque ouvir sua voz é como beber um licor que pode ser venenoso, esse número talvez não vá para outro caderno, mas fique preso na minha memória entretanto infiel, como um remorso ou uma saudade.

Outro dia em minha casa o telefone bateu, alguém disse “ahn” e quando ouviu minha voz dando o número pediu desculpas, embaraçada, e desligou depressa. Eu me engano facilmente, mas julguei reconhecer uma voz antigamente querida. Talvez tudo que tenha ficado de mim na Lembrança

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dessa pessoa seja esse número de telefone preso no inconsciente, parado e inútil, que o acaso de uma distração fez vir à tona.

Todos nós somos um cemitério de números e de nomes; não somos nós, é a vida que os mata, mas nós carregamos seus pequeninos cadáveres secos. Talvez seja isso o que nos envelhece, o que dá urna contrariedade vazia a um momento de solidão, uma vaga tristeza ao dormir; às vezes parece que esses mortos se movem levemente...

Mas que importa a vida que se foi? Escrevo em maiúsculas — JOANA — e suspendo meu trabalho para discar seu número e lhe dizer que ela entrou de estandarte na mão, coroada de flores, no meu caderno novo.

Novembro, 1954

(BRAGA, 1997)

AGRADECIMENTO

PENDE sobre a calçada, na minha rua, o primeiro cacho de ouro de uma acácia.

O dia está feio, é um dia de mormaço. Fui à cidade ver umas coisas, mas também o dia civil estava mormacento e ruim. Quem procurei não achei, e achei quem não procurei. O que eu queria não era possível.

Meio caceteado, muito aflito, fiquei impaciente e resolvi voltar para casa, ler um livro até a hora da janta, adiar qualquer providência e preocupação para o dia seguinte. Vim em um lotação apertado entre duas mulheres feias – uma sardenta e gorda, outra com um cheiro gorduroso e enjoado nos cabelos – que não se conheciam mas entabularam longa e mortificante conversação sobre o meu cadáver.

A certa altura, quando o carro parou para descer um passageiro da frente, eu quis ser gentil e, sobretudo, me livrar daquela conversa sobre calor, empregadas e preços das coisas que estava me massacrando: ofereci a uma das senhoras ocupar o meu lugar; eu passaria para o lado de fora.

Ela custou a entender, e afinal disse que não senhor, preferia ficar perto da janelinha.

– Era para as senhoras conversarem mais à vontade ... As duas trocaram, sobre minha derrotada pessoa, um olhar que

encerrava um comentário qualquer, seguramente depreciativo, sobre a mesma e triste pessoa – e continuaram a falar.

Quando saltei na esquina dei um suspiro de alívio. Pensei com certa raiva em José Lins do Rego, cujas crônicas sobre “Conversas de Lotação” parecem animar essas palradoras – e foi então que vi o primeiro cacho dourado de acácia.

Oh, Deusa das Árvores, eu te agradeço. Eu te agradeço pela tua força invencível que faz renascer a tímida alegria verde das folhas nos troncos mutilados e por essas flores que se despencam sobre a rua.

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Elas são o teu sorriso simples. No dia em que um homem sente a sua solidão e sua tristeza, e toda a humanidade em volta dele parece ao mesmo tempo distante e opressiva – tu é que trazes aos seus olhos a pequena festa cordial, o doce aviso da vida boa. Ele não pensa em amigo, nem em criança, nem em mulher, nem em bicho; todos esses seres são animais como ele, egoístas como ele, pedem gestos, palavras, correspondências, pagamento.

Ele está cansado e gasto, enjoado de distribuir ternura e se sentir vazio – e tu lhe mandas essa humilde saudação gratuita, essa coisa tão bela que é uma penca de flores, feito de fundo da terra e de vento e água do ar, feita de luz e de nada.

E ele, que não pedia nada, ele para comovido diante de tua oferta, oh Deusa linda; e muito baixo, para que ninguém o ouça e o julgue louco, sem ousar beijar uma pétala dessa flor, sem querer tocar sequer nesse milagre feliz, ele murmura “obrigado”.

Dezembro, 1948. (BRAGA,1986)

Pobre do gandula

Está uma noite fria de lascar, há uma névoa no ar, mas nós decidimos

— os três — ir ver o jogo na Água Branca. Os outros rapazes têm sérios compromissos, estão impossibi1itados de

deixar o bar, o sempre muito badalado “308”, onde bebem uísque, conhaque, água mineral, e conversam. A conversa predominante é a da sexta mesa à direita de quem entra; no “308” todas as mesas estão à direita, sendo que à esquerda fica o balcão da copa. Discute-se o tema: a amizade entre os amigos.

Já são oito e trinta da noite, daqui a pouco o jogo começa, pedimos licença e abandonamos a discussão e o amendoim torrado, com a certeza de que nenhuma decisão definitiva será tomada sem nossa presença. Os rapazes não vão chegar mesmo a um acordo, nem a propósito da amizade, nem a propósito de outra coisa qualquer.

A avenida está totalmente livre, parece que somos os únicos com a ideia de ir ao campo de futebol

Não há carros, nem congestionamentos, a não ser perto do estádio Palestra Itá1ia. Aqui, os três nos separamos momentaneamente: o primeiro se apresenta corno fotógrafo; e entra de graça.

O segundo se apresenta como auxiliar de fotógrafo; e entra de graça. E eu me apresento corno torcedor e naturalmente pago minha entrada. O estádio é muito grande para público tão pequeno. A geral ainda

apresenta um certo ar de jogo noturno, mas as arquibancadas, as nuneradas, todo o imenso resto da praça de esportes está deserta e triste.

Adivmhamos de antemão que vamos ver um jogo chinfrim, sem alma e sem fogo.

O futebol sem povo, sem torcida e sem gente é uma alma penada vaguado pelas campinas.

Faço minhas contas e estimo que a renda mal vai dar para comprar um saquinho de pipoca para cada jogador.

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Os jogadores, porém, não ligam a mínima para nós que estamos pessimamente acomodados aqui na geral. Acho que nos ignoram completamente, sem dúvida estão apenas cumprindo seu horário de serviço. A bola, brilhante, branca e nua, parece uma lua. Mas os jogadores não a entendem não sabem cultivá-la, nem oferecer-lhe singelos carinhos. Esses homens parecem mais inimigos da bola: querem destruí-la.

A torcida enfada-se, berra e chia, já não sabe mais a quem xingar até que descobre a grande vítima da noite: o pegador-de-bola que corre pelas gerais.

É um homenzinho muito baixo e muito desproporcional dentro do uniforme fora de medida, as mangas largas e compridas, as pernas finas, a cabeça grande, o nariz saltando do rosto (deve ser muito mais moço do que sua velhice aparenta), as chuteiras imensas, os passos tortos, o modo feio de não-correr, o corpo encurvado.

Um gandula totalmente sem panca. A torcida descobre que ele deve sofrer de maleita, deve comer muito

mal, deve estar mal de vida. E resolve empestear-lhe a existência. Quando a primeira bola lhe escapa dos dedos úmidos, todos riem e esbravejam. Até que alguém, uma voz sentada nos degraus frios do cimento berra: — Sai, periquito morto! Você só pega gafanhoto.

O gandula vira-se para a plateia, há uma luz de angústia em seu olhar. E nós três descobrimos que não há torcida mais cruel do que a torcida

do time que joga mal.

(DIAFÉRIA, 1992)

FLOR DE MAIO

ENTRE tantas notícias do jornal — o crime do Sacopã, o disco voador

em Bagé, o andaime que caiu, o homem que matou outro com machado e com foice, o possível aumento do pão, a angústia dos Barnabés — há uma pequenina nota de três linhas, que nem todos os jornais publicaram.

Não vem do gabinete do prefeito para explicar a falta dágua, nem do Ministério da Guerra para insinuar que o país está em paz. Não conta incidentes de fronteira nem desastre de avião. É assinada pelo senhor diretor do Jardim Botânico, e nos informa gravemente que a partir do dia 27 vale a pena visitar o Jardim, porque a planta chamada ‘‘flor de maio” está, efetivamente, em flor.

Meu primeiro movimento, ao ler esse delicado convite, foi deixar a mesa da redação e me dirigir ao Jardim Botânico, contemplar a flor e cumprimentar a administração do horto pelo feliz evento. Mas havia ainda muita coisa para ler e escrever, telefonemas a dar, providências a tomar. Agora, já desce a noite, e as plantas em flor devem ser vistas pela manhã ou à tarde, quando há sol — ou mesmo quando a chuva as despenca e elas soluçam no vento, e choram gotas e flores no chão.

Suspiro e digo comigo mesmo — que amanhã acordarei cedo e irei. Digo, mas não acredito, ou pelo menos desconfio que esse impulso que tive ao

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ler a notícia ficará no que foi — um impulso de fazer uma coisa boa e simples, que se perde no meio da pressa e da inquietação dos minutos que voam. Qualquer uma destas tardes é possível que me dê vontade real, imperiosa, de ir ao Jardim Botânico, mas então será tarde, não haverá mais “flor de maio”, e então pensarei que é preciso esperar a vinda de outro outono e no outro outono posso estar em outra cidade em que não haja outono em maio, e sem outono em maio não sei se em alguma cidade haverá essa “flor de maio”.

No fundo, a minha secreta esperança é de que estas linhas sejam lidas por alguém — uma pessoa melhor do que eu, alguma criatura correta e simples que tire desta crônica a sua única substância, a informação precisa e preciosa: do dia 27 em diante as “flores de maio” do Jardim Botânico estão gloriosamente em flor. E que utilize essa informação saindo de casa e indo diretamente ao Jardim Botânico ver a “flor de maio” — talvez com a mulher e as crianças, talvez com a namorada, talvez só.

Ir só, no fim da tarde, ver a “flor de maio”, aproveitar a única notícia boa de um dia inteiro de jornal, fazer a coisa mais bela e emocionante de um dia inteiro da cidade imensa. Se entre vós houver essa criatura, e ela souber por mim a notícia, e for, então eu vos direi que nem tudo está perdido, e que vale a pena viver entre tantos sacopãs de paixões desgraçadas e tantas cofaps de preços irritantes; que a humanidade possivelmente ainda poderá ser salva, e que às vezes ainda vale a pena escrever uma crônica.

Rio, maio de 1952 (BRAGA, 1956)

PROSA POÉTICA

A prosa poética corresponde ao segundo tipo de obras líricas que existem. Nela se podem encontrar os mesmos elementos que no poema: hablante lírico, atitude lírica, objecto e tema, mas sem elementos formais (métrica, rima).

Distingue-se do poema por estar escrita em prosa, por não levar rimas e do conto ou do relato porque sua finalidade não é especificamente narrar factos senão transmitir sensações, impressões, visões do mundo, etc.

Muitos microrrelatos estão potenciados por seu ónus poético e, em muitos casos, a fronteira com a poesia em prosa é difícil de determinar. É o caso de muitos textos de Julio Cortazar (p/ej. em Histórias de cronopios e de famas), ou em textos de Antonin Artaud ou de Oliverio Girondo, em onde o valor poético das obras predomina por sobre a intenção de contar.

(PROSA POÉTICA, 2010)