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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
2
SUMÁRIO
Identificação 3
Apresentação 4
Introdução 8
Unidade 1 – Poesia 13
Tarefa 1 - Definição de poesia 40
Tarefa 2 - Organização da poesia 42
Tarefa 3 - Os níveis da leitura 45
Tarefa 4 - Aprofundamento e verificação da aprendizagem 50
Tarefa 5 - Leitura, interpretação e compreensão do poema 56
Tarefa 6 - Projeto: A poesia na Praça 59
Unidade 2 – Fábula 62
Tarefa 1- Criando e recriando texto 68
Tarefa 2 - Atividades relacionadas à fábula 70
Unidade 3- Romance 72
Tarefa 1 - Leitura das obras: Dom Casmurro e O cortiço 75
Tarefa 2 - Apresentação do slide ―Ah, esses olhos‖ e discussão sobre o
romance
76
Tarefa 3 - Apresentação do próximo grupo: a obra O cortiço 77
Referências 79
3
Identificação:
Área PDE: Língua Portuguesa
NRE: Goioerê
Professor PDE: Maria Fátima Freire
IES vinculada: FECILCAM - Faculdade Estadual de Ciências e Letras.
Escola de Aplicação: Colégio Estadual João XXIII - Ensino Médio
Público objeto da intervenção: Alunos do 1º e 3º ano.
Tema: Leitura e literatura no Ensino Médio.
Título: Ensino e aprendizagem da leitura de romance e poesia da literatura
brasileira, dialogando com o texto de forma compreensiva e prazerosa.
Maringá, 2009
4
Apresentação
Estudos teóricos e metodológicos relacionados à prática e ao gosto pela
leitura de romances e poesia é a base deste material, trazendo algumas considerações
sobre a leitura e literatura na visão de estudiosos e críticos, e das Diretrizes
Curriculares da Educação Básicas Língua Portuguesa. E também considerações sobre o
suporte de leitura e situações da biblioteca. E ainda, uma síntese das correntes literárias
em relação à poesia e ao romance. Estes que serão trabalhados em três unidades com
textos para o desenvolvimento da leitura de poesias, fábulas e romances, priorizando a
literatura brasileira, trabalhando, portanto, os níveis da leitura, análise lingüística e
discursiva com intuito de levar o aluno a compreender e interpretar um texto.
Assim, pretende-se que este projeto seja desenvolvido a contento e,
continuamente, com disponibilidade de material (livro ou similar) na biblioteca escolar
do Colégio Estadual João XXIII.
Histórico do Estabelecimento:
O Colégio Estadual João XXIII-EM., teve início em 1956, com a fundação da escola
Isolada de Pinhalzinho, através da Portaria Nº 4.556/56 de 13/11/56. Em 1963, pelo
Decreto Nº 12.242/63, de 02/05/63, passou a denominar-se Grupo Escolar João XXIII
de Janiópolis, atendendo crianças de 1º ao 5º ano primário. Mudou de endereço e
ganhou um novo prédio sendo de alvenaria, em 1967 no atual endereço: Rua Benjamin
Constant, 394, Centro, nesta cidade de Janiópolis, Estado do Paraná.
Em 1979, foi implantado, provisoriamente, o Curso de 2º Grau, Habilitação
Básica em Administração; 1987 - Habilitação Magistério. No ano de 1992 passou a
denominar-se Colégio Estadual João XXIII – EM. Dois anos depois, em 1994, foi
autorizado o funcionamento de Habilitação Auxiliar em Contabilidade.
Nesse mesmo ano cessa o curso de Habilitação Básica em Administração.
E em 1995, fica autorizada a funcionar a Habilitação Técnica em Administração e
municipaliza a 1ª a 4ª série.
5
A partir de 1998, todos os cursos de habilitação técnicas foram cessados.
No mesmo ano, aprova-se o plano de implantação do Ensino Médio.
Recentemente este colégio foi reformado pelo Governo do Estado do
Paraná, Roberto Requião de Melo e Silva (governador), Yvelise Freitas de Souza
Arco-Verde (Secretária da Educação), Neide Sanfelice Brogio Sena (Chefe NRE de
Goioerê), Ednéia Arneiro Boscarato Pedroso (Diretora do colégio).
Hoje, ainda, permanece com a clientela de 1ª a 4ª séries da escola
municipalizada e cede sala de aula para a Escola Estadual D. Pedro II-EF. Assim, o
prédio é usufruído: Escola Municipal Maria Pereira de Oliveira-EF. 1 a 4ª séries, seis
salas de aula, uma diretoria, uma secretaria, uma sala de orientação, uma cozinha e
uma sala para a biblioteca; Escola D. Pedro II-EF, uma sala de aula; Colégio E. João
XXIII-E.M, cinco salas de aula, portando duzentos e oitenta e dois alunos
freqüentando, uma quadra coberta, pátio, uma diretoria, uma secretaria, uma cozinha,
um refeitório, uma sala do professor, uma sala de orientação e uma biblioteca.
Em se tratando da biblioteca deste colégio, urge uma melhoria nos acervos
bibliotecários relativa ao número de obras literárias que no momento, é insuficiente
para atender a demanda da escola em relação à leitura.
Assim sendo, na perspectiva de desenvolver prática e hábito da leitura no
referido colégio é preciso atentar para a disponibilidade de suportes de leitura. Vendo,
portanto, como cita SILVA (1988, p.23): [...] ―se o objeto da leitura (livro ou similar)
circula democraticamente numa sociedade de modo a permitir sua fruição por parte dos
homens que constituem essa sociedade‖.
Como foi citada, anteriormente, a biblioteca não está em condições de
oferecer o material de acordo com o número de estudantes do colégio. Neste sentido,
estão, culmina em primeira estância, a resolução do problema mencionado, antes da
aplicação do projeto.
Depois, partindo da concepção interacionista, aluno e professor no
processo de ensino e aprendizagem das questões relacionadas às práticas discursivas:
6
oralidade, escrita e leitura, este trabalho pretende priorizar a leitura de romance e
poesia da literatura brasileira, fazendo interface a outros gêneros textuais, com
intuito de aprimorar no aluno, a capacidade de pensamento crítico, objetividade,
intersubjetividade, interpretação, fruição e, também, a intertextualidade em
consonância com diferentes meios de comunicações: televisão, internet, cinema, teatro,
livros e outros, bem como, de que modo, estes influenciam na formação sócio-cultural
do sujeito e do meio em que este está inserido. Para tanto, aprimorar também, a
capacidade de compreender as funções variadas da linguagem, o vocabulário em uso e
desuso, a orquestra rica das figuras de linguagem e pensamento com vícios e estilos,
que por vez, dão ao leitor, a possibilidade de enxergar além da palavra escrita.
Além de focalizar as teorias de autores pesquisadores na área de Língua
Portuguesa, e as considerações das Diretrizes Curriculares da Educação Básica –
SEED- Estado do Paraná – Língua Portuguesa e Currículo Básico para a Escola
Pública apóiam-se também nas observações do professor em sala de aula, seja por
meio da análise dos textos escritos pelos alunos, pelos debates e comentários sobre
textos lidos, seja na resolução de exercícios de compreensão e interpretação ou mesmo
pela forma de relacionamento sócio-cultural e intelectual.
Observações que não são nada animadoras, pois demonstram que o aluno
por não ter a prática da leitura apresenta dificuldade de compreender e interpretar texto
e, concomitantemente, transparece o desprazer pelo ato de ler. Isto confirma LAJOLO,
(1994, p.12): ―infelizmente a maioria, só lêem se obrigados. Outros ainda, a minoria
não lê nem obrigados.‖
Nesse pressuposto, pode-se então, inferir que os livros se constituem como
um desafio a ser enfrentado pelos leitores que não os assimilam como algo fácil,
importante, ou corriqueiro do dia-a-dia. Por isso, se deve propor leitura de textos não
tão extensivos. Sendo assim, é conveniente partir da poesia, fábulas, crônicas, mas com
objetivos definidos, e fazendo da aula de leitura um momento de descontração, sem
perder a essência do fazer pedagógico. E com o propósito de na sequência, encaixar o
gênero romance para que o aluno adquira a prática da leitura também de textos na
integridade. Levando em conta que a leitura é uma ferramenta da vida e para a vida.
7
Visto que, de acordo com KUENZER (2002, p. 10): ―Leitura, escrita e fala
não são tarefas escolares que se esgotam em si mesmas; que terminam com a nota
bimestral. Leitura, escrita e fala – repetindo – são atividades sociais, entre sujeitos
históricos, realizadas sob condições concretas‖.
As atividades sociais de que fala a autora, exige cada vez mais a prática da
leitura num processo contínuo. Uma vez que o conhecimento desencadeia melhor a
interlocução, de forma reflexiva. Portanto, granjeia uma visão crítica sobre a
valorização do ser, interpretando as questões pragmáticas da linguagem empregadas no
diálogo com o outro. Sendo capaz de perceber no contexto as formas indutivas
impostas pelo imediatismo do mundo capitalista, onde precisa de senso crítico para
saber separar a realidade concreta da realidade ilusionista. Assim, evitar a
desestruturação do sujeito e do meio em que este sujeito se insere.
Diante do exposto, espera-se que aluno e professor, nas aulas de leitura,
sejam mais bem assistidos para desenvolver as competências lingüísticas, priorizando
trabalhos significativos e eficazes, que valorizem o acesso ao mundo da leitura de
romance e poesia no ensino médio, utilizando-se de suportes diferentes, para então, se
familiarizar com o universo de recursos lingüísticos e seus sentidos no texto.
Para isso, é imprescindível que o professor faça um trabalho com
fundamentação teórica e metodológica, desenvolvendo as tarefas passo a passo.
Acordando os principais níveis de leitura que serão esplanadas no decorrer dos
exercícios a cada unidade.
8
Introdução
"Um livro é como uma janela. Quem não o lê, é
como alguém que ficou distante da janela e só
pode ver uma pequena parte da paisagem.‖
(Kahlil Gibran)
Qualquer material de leitura, livros ou similares, ou outros suportes,
concerne gêneros textuais variados que possibilita o contato com as múltiplas esferas
das atividades sociais. E, esse contato por meio de texto, seja escrito, imagético,
gestual, etc., carece informação e formação do aluno como sujeito integrante das
atividades sociais, e que como tal, necessita de norteamento para compreender as
lacunas que o texto abre em relação o dito no texto e a prática social vivida pelo leitor.
Isso é dever da escola, formar o aluno leitor capaz de interagir com o texto e o autor
para contextualizar com atitude crítica, e responsiva, formando sua própria
opinião.
Há que se levar em consideração as propostas contraditórias entre ler para
aprender e ler para preencher conteúdos esporádicos, ora para trabalhar gramática; ora
para leitura e análise discursiva; ora analise lingüística, sem fazer uma leitura
completa, ligando uma coisa com a outra, dentro do texto, do contexto e das
intertextualidades que muitas vezes são esquecidas ou não dadas à devida importância.
Isso é explícito nos livros didáticos que se apresentam como instrumentos
de estudo, insistem em propor texto com a finalidade de aplicar atividades de análise
lingüística isolada do contexto do texto, focando antigos paradigmas de usar o texto
para se aprender e se ensinar gramática, simplesmente desvinculado de sentidos e
significados. Com atividades, ora criticadas pelo Currículo Básico (1990, p. 55) que
as aponta como um ―modelo‖ estereotipado que leva o ensino da língua, cristalizado
em viciosas e repetitivas práticas que se centram no repasse de conteúdos.
É um vício que ainda não foi totalmente banido na escola porque muitos
professores continuam com a mesma prática, e ainda, fazem da aula de leitura, uma
9
forma de ocupar o aluno, dando-lhe qualquer texto e, em excesso, sem se preocupar
com a definição objetiva de uma aula de leitura.
É, portanto, necessário rever esses casos. E, que o professor prepare a aula,
norteando qual a finalidade da leitura e o que este ato tem a ver com o mundo do aluno
dentro do seu processo de desenvolvimento social e cultural. Isso é relevante para uma
aula qualitativa, conforme aponta DMITRUK (2001, p. 41) ―[...] não importa tanto o
quanto se lê, mas como se lê. A literatura requer atenção, intenção, reflexão, espírito
crítico, análise e síntese; o que possibilita desenvolver a capacidade de pensar‖.
Assim, a leitura enquanto prática social, enquanto formação comunicativa
atuante abre espaço para a interlocução dinâmica, (estímulo), sincrônica (estágio de
uma língua considerado num momento dado) e reflexiva (ato de pensar, analisar...).
Esta prática social é a que necessita de encaminhamento metodológico, a fim de traçar
o caminho para que no ato de ler se compreenda o que está escrito e se intere da
intenção do texto para ―não cair no conto de fada‖. Assim, SILVA, (1988, p. 22,23)
confirma: ―(...) a leitura, se levada a efeito crítica e reflexivamente, levanta-se como
um trabalho de combate à alienação (não racionalidade), capaz de facilitar ao gênero
humano a realização de sua plenitude (liberdade)‖.
De modo que, uma reflexão profunda sobre o texto, referente ao que diz o
texto; o que o texto faz lembrar; como o texto diz o que diz e o que o texto quer dizer
com aquilo que diz, pode-se ter uma visão crítica em relação ao discurso, à linguagem
e saber o que é relevante e irrelevante sobre o que se leu e o que se vive na realidade, e
assim, aprender a se relacionar com o outro, promovendo mudanças no destino do
leitor e do meio em que este se insere.
Portanto, o plano de ação elaborado pelo professor, para uma aula de
leitura, deve postular um trabalho bastante amplo, para facilitar ao leitor a construção
de saberes para que ele (cidadão-leitor) discuta, debata, opine, sugira, conteste,
reclame, exija direitos e cumpra deveres. Enfim, busque a liberdade com sabedoria.
Esse é o papel do professor orientado pelas Diretrizes Curriculares da
Educação Básica - SEED/ Paraná, (2006, p.41), que assim pondera:
10
(...) espera-se que o professor de Língua Portuguesa e Literatura do
Ensino Fundamental e Médio se reconheçam em sua função social de
compartilhar e construir conhecimentos que auxilie o aluno a fazer
suas próprias escolhas, nas situações de uso da língua e da linguagem
como vetores de transformação.
Isto é, o autor expõe suas idéias, suas convicções sociais, seus valores, seu
modo de convencer o leitor da verossimilhança do discurso no gênero proposto, pois se
sabe que um texto se relaciona a outro texto e produz apreensão de significados. Cabe
ao professor levar o aluno a entender a importância de uma conversa com o texto e
com o autor. Sobre isso, o Currículo Básico (1990, p. 55), cita Paulo Freire que numa
entrevista, fala da leitura com intimidade, quando poetizando diz: ―Eu vou ao texto
carinhosamente. De modo geral, simbolicamente, eu ponho uma cadeira e convido o
autor, não importando qual, a travar um diálogo comigo‖.
Esse diálogo como interação (do) e (com) o autor e o texto, dá-se a
possibilidade de aperceber a estrutura, o emprego da linguagem apropriada a cada tipo
de texto nos seus diversos gêneros. Com a convicção de que, o que é para um leitor,
pode não ser para o outro, cada sujeito é peculiar em relação à interpretação de um
mesmo texto. Isto não quer dizer que vale qualquer interpretação porque nenhum texto
é vago, há sempre uma finalidade, um posicionamento que exige relevância ao assunto
tratado.
Ademais, os textos e seus discursos de apreensão objetiva (não literário) ou
ficcional (literário), a escolha de leitura e a compreensão desta vão depender da
maneira que a escola incute o valor da prática da leitura no cotidiano do sujeito. Para
então, alçar o conhecimento, e com isso, ser sujeito capaz de ler, interpretar e
compreender, e fazer a contextualização adequada e coerente. Haja vista, que o leitor é
parte da sociedade e nela amplia sua identidade social e cultural.
Assim, confirma MORAIS (1996, p.3):
―Não lemos todos uns mesmo textos da mesma maneira. Há leituras
respeitosas, analíticas, leituras para ouvir as palavras e as frases,
leituras para reescrever, imaginar, sonhar, leituras narcisistas em que
se procura a si mesmo, leituras mágicas em que seres e sentimentos
inesperados se materializam e saltam diante de nossos olhos
espantados.‖
11
Neste estudo do autor, pode-se também acrescentar que o sujeito busca ler
esporadicamente o que lhe é necessário à informação: documentos, bulas, panfletos,
manuais de instrução, etc. Também da mesma forma, outros vão à leitura como
entretenimento. Raramente procura a leitura como crescimento sócio-cultural. E
assim, a falta dessa prática dificulta o compreender, interpretar, codificar e decodificar
a leitura de forma eficaz, organizada, clara, coesa e coerente em cada discurso aplicado
aos diversos gêneros textuais.
É, portanto, imprescindível que a escola incuta no aluno a necessidade de
ser eterno leitor, enxergando através do discurso o sentido, a intenção do autor e a
influência deste, no modo de pensar e agir do leitor – interlocutor.
Como postula ORLANDI. (1996, p. 26):
(...) considero o discurso não como transmissão de informação, mas
como efeito de sentidos entre interlocutores, enquanto parte do
funcionamento social geral. Então, os interlocutores, a situação, o
contexto histórico social, isto é, as condições de produção,
constituem o sentido da seqüência verbal produzida. Quando se diz
algo, alguém o diz de algum lugar da sociedade para outro alguém
também de algum lugar da sociedade e isso faz parte da significação.
Assim, valoriza-se o contato leitor e autor numa relação de interação com o
outro por meio da observação e da reflexão, gerando possibilidade de crítica em
relação ao que o outro disse como disse e por que disse. E, assim, ser capaz de debater,
criticar e argumentar.
O que também está ratificado nas palavras de Kuenzer (2002, p.101):
Ler significa em primeiro lugar, ler criticamente, o que quer dizer
perder a ingenuidade diante do texto dos outros, percebendo que
atrás de cada texto há um sujeito, com uma prática histórica, uma
visão de mundo (um universo de valores), uma intenção.
Não é demais repetir que, fazer leitura reflexiva é um ato que necessita da
prática, e, além disso, do interesse e da atenção do leitor para que, com o seu
aprendizado, possa chegar à maturidade (no sentido do conhecimento) e ao despertar
da consciência para duvidar ou contestar, ou seja, ser capaz de tirar suas conclusões e
não se colocar à mercê da apelação envolta a tantas formas de indução proposta nas
múltiplas linguagens a cada gênero textual.
12
Essa é preocupação deste trabalho, ou seja, como auxiliar na formação de
leitores competentes, que saibam identificar os mais diversos discursos, refletir,
argumentar, questionar e construir as respostas à altura, inferindo participativamente
em sua realidade. E, assim, tomar o gosto pela leitura.
A partir destas observações, este caderno propõe atividades para se
trabalhar, mais especificamente o gênero romance e poesia da literatura brasileira. Far-
se-á por meio de seqüência didática, dividida por unidade com fundamentação teórica e
atividades para o desenvolvimento da leitura. Assim distribuídas: Unidade 1 - Poesia;
Unidade 2 - Fábula; Unidade 3 – Romance.
13
UNIDADE 1 POESIA
Público Alvo 1º e 3º anos
―O poeta é imitador, como o pintor ou qualquer
outro criador de imagens; por isso, sua imitação
incidirá num destes três objetos: coisas quais
eram ou quais são, quais os outros dizem que
são ou quais parecem ser, ou quais deveriam
ser‖. (Aristóteles)
I-Poesia, desde os mais finos tratos com a linguagem aos mais toscos improvisos.
A poesia nasce de sentimento intimista do poeta renomado ou
simplesmente do poeta amador que por meio das palavras demonstram seu estado de
espírito, seja de alegria, tristeza, saudade, amarguras, desconforto relacionado ao seu
eu lírico e ao seu meio social.
É um gênero literário predominantemente oral que se bem trabalhado na
sala de aula causa impacto emocional e desafia a sensibilidade e sutileza do leitor,
quem sabe o gosto pela leitura de poesia. Esta transição de sentimentos do ―eu‖ homem
para o ―eu‖ lírico, gera a poesia. Portanto, a definição desta depende da ideologia
filosófica ou do grupo sócio cultural de cada sujeito poético, do momento histórico.
Assim sendo, as formas de se fazer poesia mudam a cada época literária e
também de acordo com o poeta ou crítico. Pois, os conceitos mudam na medida em que
as coisas mudam, na medida em que a compreensão humana se desenvolve, e na
medida em que esse desenvolvimento é formulado de modo coerente ou incoerente.
Tudo muda - o homem e as coisas; é o processo da evolução de toda a existência no
mundo social, econômico e cultural. Isto é, a evolução do sujeito, a percepção
consciente, a esperança, os enganos e desenganos, etc, formulam os conceitos de
realidade e estes, se estendem além das atuais percepções do Homo sapiens. Note-se:
14
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mudam-se o ser, muda-se a
confiança;/Todo mundo é composto de mudança, Rolando sempre, novas qualidades.1
Assim também, é o fazer poético, que no deslanchar da história, os estudos
e críticas mostram as mudanças de acordo com a época. Vê-se a seguir:
II - Síntese da História da poesia desde a Grécia Antiga à Contemporânea
Na antiga civilização grega e latina, a poesia era essencialmente de cunho
narrativo. Quem nunca leu ou ouviu falar de Odisséia, Ilíadas, de Homero? Poemas
épicos que relatam os mitos da civilização grega em versos (hexâmetros), com
destaque das vogais dando o tom da fala em voz alta. O que facilita a apreensão da
mensagem.
Importa nesse momento falar da poesia, em especial da lírica, gênero que
surgiu da fusão dos poemas épicos com o instrumento que acompanhava a lira. Daí
então a denominação de poesia lírica. Mas, antes, é preciso comentar o que concerne à
poesia na visão do filósofo grego, Aristóteles, aluno de Platão:
Ao que parecem, duas causas, e ambas naturais, geraram a poesia. O
imitar é congênito no homem (e nisso difere de outros viventes, pois,
de todos, é ele o mais imitador e, por imitação, apreende as primeiras
noções), e os homens se comprazem no imitado.
Em se tratando das duas correntes, em detrimento à poética, Platão e
Aristóteles se divergem. Para este a imitação não converge o conhecimento e apregoa a
ignorância. Pois, se estreita ―ao mundo dos fenômenos‖, não traria, portanto, nenhuma
aproximação com o mundo das idéias. Em sendo imitação de uma realidade, já seria
imperfeita. Para aquele a imitação não se apóia puramente na realidade e sim na
verossimilhança e na necessidade. O que não quer dizer cópia ou transposição fiel da
realidade, mas a necessidade de reconstruir a natureza humana por meio da palavra e
de outras manifestações da arte.
1 CAMÕES L.V de, Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades: Disponível em http://pt.wikisource.org/wiki/. Acesso em
07/07/10.
15
Com isso, o analisar ou o representar acontecimentos ou sentimentos,
favorecem uma melhor compreensão do tratado nas obras clássicas como as epopéias.
Estas que têm em comum, na origem, o caráter espontâneo, popular e coletivo,
obedecendo ao impulso humano de contar histórias; a presença da representação
lendária com efeito a atos humanos, enredada harmoniosamente, transformando-se
num poema de efeito e características universais que aflora o valor dos fatos narrados
nas descrições de cenários monumentais e atos heróicos nas batalhas e viagens
prolongadas e exóticas. Onde os seres sobrenaturais, o divino se confunde com a
realidade, e a lenda com a história.
As epopéias gregas e romanas foram as de maior influência na cultura
ocidental e criaram os modelos estilísticos e argumentativos que se tornariam os
paradigmas do gênero.
Depois, como nada dura para sempre, a civilização greco-romana, passa
pelo processo de decadência, uma nova era entra na história e para a história, a Idade
Média, e assim outros idiomas ressurgem. A poesia em forma de cantigas se apresenta
em dois gêneros essenciais: a) Gênero lírico: Cantiga da Ribeirinha, uma Cantiga de
Amor, de Paio Soares de Taveirós, escrita no idioma galaico-portuguesa e caracteriza-
se pela voz masculina que fala do amor cortês, dos sentimentos dos cavaleiros em
relação as suas amadas, mulheres idealizadas elevadas à posição de absoluta
superioridade.
Assim, o homem, que por causa da coita (amor não correspondido) se
posiciona como vassalo. E a Cantiga de Amigo retratando a presença feminina que
reclama a ausência do amado. Suas características mais comuns são: a expressão da
vida campestre e urbana, o realismo expresso pela dor e sofrimento cotidiano da
mulher frente à saudade e ao medo de que seu amado não retorne da guerra. Poesia de
estrutura simples, feita de versos alternadamente repetidos (o paralelismo) e apresenta
refrão; b) Gênero satírico, mais precisamente de interesse histórico, ou seja, apresenta
as reações públicas, e fatos políticos, até mesmo a vida íntima de aristocratas:
Cantigas de Escárnio por meio de ironia ridicularizam os fidalgos; Cantigas de
Maldizer, diretamente, com palavrões, aborda os vícios sexuais atribuídos aos
16
satirizados. Tanto as poesias líricas quanto as satíricas foram manuscritas e ajuntadas,
formando os cancioneiros.
No período seguinte, surge o Humanismo, uma época que além da
transição do teocentrismo (A figura divina como o centro do universo) para o
antropocentrismo (o universo avaliado de acordo com a sua relação com o Homem) e a
independência da língua portuguesa na literatura, esse período passa também, pelo
processo de expansão marítima e com isso, Portugal torna-se um forte império, a
universidade de Coimbra ganha maiores prestígios. Outro fator importante é a
implementação da impressão mecânica, os textos passam a serem impressos em livros.
O que facilita o desenvolvimento da cultura.
Nesse período, a leitura das cantigas já não é tão difícil, pois o galego-
português dá lugar ao português, com um vocabulário mais apropriado. É praticamente
uma retomada aos temas trovadorescos, mas com mais requinte nos ritmos.
Quanto ao sujeito lírico masculino, este não chora o amor impossível, mas
dor da separação, não mais amor platônico. E, em relação à cantiga de amigo, o
humanista retoma o tema da partida do amado, mas de forma diferente, onde o
namorado é quem chora por ter que partir e deixar a amada.
As características desse período marcam, além do florescimento da prosa e
o declínio da poesia, as manifestações literárias como a poesia palaciana (ligada à vida
social das cortes) esta que constitui o momento de transição entre a tradição medieval e
a concepção moderna da poesia.
Assim, acontece a separação da poesia e da música. Já de forma limitada ao
uso da palavra, sem o acompanhamento dos instrumentos musicais, vem exigir mais
expressividade do poeta por meio das formas métricas. Então, a métrica da poesia
palaciana é bastante rigorosa, e cobra mais técnica dos poetas, estes, portanto,
necessitam dominá-las para trabalhar a poesia com mais riquezas de recursos, entre
eles os versos curtos de 5 e 7 sílabas (redondilho menor e redondilho maior). Exemplo:
Redondilho Menor: Ri1 /bei2 /ras3 /do4 /mar5
17
Redondilho maior:Se1 /nho2 /ra3 /par4 /tes5 /tão6 /tris7 /tes
O ritmo encontra-se na linguagem, no emprego das rimas, nas métricas, na
ambigüidade, nos jogos de palavras, na aliteração e figuras de linguagem. Isso, os
poetas humanistas fazem com maestria nas manifestações literárias, tanto nas poesias
palacianas como na historiografia e no teatro. Manifestações extraordinárias da
literatura portuguesa que elevaram o desenvolvimento de uma doutrina filosófica e
uma nova postura artística. Isto é, as pessoas deixaram de ter uma postura servil e se
voltam para uma postura mais racional. Como mostra disso, basta analisar os textos de
teatro, de Gil Vicente. A cada um dos gêneros porta-se a dimensão da literatura
humanista em seus temas, suas formas e estilos que contribuem para a ascensão da
cultura portuguesa.
Os temas da poesia palaciana eram voltados ao sofrimento amoroso e
súplica, além de outros, aproximavam-se da lírica trovadoresca, mas com menos
platonismo, o homem passa a ver a mulher menos idealizada, isto é, com um olhar
voltado para o desejo com mais intimidade, diferente do lirismo trovadoresco, este que
idealizava a mulher amada um ser superior, intocável.
Estas poesias foram compiladas por Garcia de Resende que no Cancioneiro
Geral cultivou várias formas de poema. Na historiografia regem-se as crônicas de
Fernão Lopes, tratando-se da vida dos reis do melhor período de Portugal: Crônica de
El-Rei D. Pedro I que expõe a morte de Inês de Castro, assassinada a mando de D.
Afonso IV, pai de D. Pedro; Crônica de El-Rei D. Fernando, trata, pois, do casamento
de D. Fernando com Dona Leonor Teles que após a morte do rei assume o trono e
diante de vários acontecimentos D. João, filho bastardo de D. Pedro, lidera a revolução
de Avis; Crônica de El-Rei D. João é uma crônica dividida em duas partes, a primeira
trata-se da morte de D. Fernando e da revolução que leva D. João I ao trono português,
e a segunda parte descreve o reinado de D. João. E no teatro de Gil Vicente destacam-
se os autos pastoris de cunho religioso e profano; autos da moralidade – representação
dos vícios e das virtudes humanos, as farsas são peças teatrais de personagens
populares que tratam de problemas da época.
18
Com a chegada do Renascimento, a arte passa a cultuar mais o corpo
humano com fortes alegorias da mitologia Greco-latina. A poesia classifica-se pela
obediência às regras clássicas, influenciadas por Dante Alighieri, já trabalhando outra
língua que não o latim, que marchava para a sua estratificação, o italiano. Antes de
escrever a Divina Comédia, Dante criou a obra A Vida Nova. Nessa obra trabalha o
soneto, ao lado de algumas passagens em prosa, para cantar um amor. Mas o soneto só
viria a se difundir em toda a Europa por Petrarca, que de fato exerceria fortes
influências sobre o renascimento literário.
Assim, posterior a Grécia e Roma, tem-se um arsenal de obras literárias: A
Divina Comédia, de Dante; Os Lusíadas, de Camões; O Príncipe, de Nicolau
Maquiavel; A Mandrágora, de Giovanni Boccacio; D. Quixote de La Mancha, de
Miguel de Cervantes; Romeu e Julieta, Hamlet, Otelo, de Luís William Shakespeare;
várias outras obras e Autores.
Porém, importa priorizar a literatura em língua portuguesa, da qual,
Camões é o mestre bastante rigoroso com suas formas poéticas, se valeu de medida
velha, composta de redondilhas menores (cinco sílabas métricas) e de redondilhas
maiores (sete sílabas métricas) já exemplificadas anteriormente. E ainda de medida
nova em composições poéticas de verso decassílabo (dez sílabas), o que posterior são
utilizadas por Castro Alves no período do romantismo brasileiro.
O poema épico ―Os Lusíadas‖, diferente das epopéias da antiguidade as
quais têm a sua origem nas lendas sobre a guerra de Troia. Camões preferiu criar o
personagem Vasco da Gama para substituir o herói semidivino de Homero, e com isso
ser coerente com o estado mercantilista pelo qual se passava o período das grandes
navegações.
Era um período favorável à expansão das artes literárias. E do ponto de
vista lingüístico, o português consegue difundir-se no mundo, principalmente nas
costas africanas que por vez contribuem para a ampliação do vocabulário português,
com acentuado espírito crítico em todas as suas manifestações (artística, religiosa,
literária, política, etc.)
19
Manifestação literária no Brasil
Posterior ao Humanismo, século XVI, o Brasil, colônia de Portugal, tem
seus textos escritos, mesmo que tratem de assuntos das terras e costumes brasileiros,
serviam apenas como Informação produzida por autores estrangeiros que viviam no
Brasil, na época da colonização, consideradas como: Literatura de Viagem e
Literatura de Catequese.
Na literatura catequética destaca-se as obras de Pe. José de Anchieta:
concepção teocêntrica, utilização de versos redondilhos, temática religiosa e moral. E
na literatura de viagem, vários escritos como: A carta, de Pero Vaz de Caminha, o
Diário de navegação, de Pero Lopes de Souza, as Cartas e os Relatórios dos
Missionários Jesuítas: Pe. Manuel da Nóbrega, Pe. Fernão Cardim. E outros textos de
grandiosa beleza que além da estética européia carregava a arte da palavra, mas como
simplesmente informação, que posterior serviram como testemunho da história do
descobrimento.
Dentro deste contexto BOSI (1994, p.13) pondera:
E não é só como testemunho do tempo que valem tais documentos:
também como sugestões temáticas e formais. Em mais de um
momento a inteligência brasileira, reagindo contra certos processos
agudos de europeização, procurou nas raízes da terra e do nativo
imagens para se afirmar em face do estrangeiro: então, os cronistas
voltaram a ser lidos, e até glosados, tanto por uma Alencar romântico
e saudosista como por um Mário ou um Oswald de Andrade
modernistas. Daí o interesse obliquamente estético da ―literatura‖ de
informação.
Mesmo sendo o Brasil, uma colônia de Portugal, o escrito informativo
sugere o rompimento de temáticas e formas européias, e se afirma nas raízes do novo
mundo, utilizando-se de imagens que não de estrangeiro, o que vai ser tratado tanto no
romantismo quanto no modernismo. Basta ler ou ouvir ―Aquarela do Brasil‖, de Ari
Barroso, século XIX, e comparar com fragmentos da Carta de Pero Vaz de Caminha,
século XV:
Para muitos historiadores e estudiosos, a Carta de Pero Vaz de Caminha
servia como uma certidão de nascimento do Brasil. E não deixa de ser, mas, de acordo
20
com a história, a intenção de informar sobre a nova terra era a de propagar
para os portugueses do império, as maravilhas encontradas, e que era preciso ocupá-la
antes que outras nações tomassem posse, e habitassem primeiro. Eis, então, a
empolgação na escrita e nos detalhes.
Os textos a seguir, demonstram as belezas da Pátria Amada, Brasil.
Pero Vaz de Caminha2
Referência ao índio
A feição deles é pardo, algo
avermelhado; de bons rostos e bons
narizes. Em geral são bem feitos. Andam
nus, sem cobertura alguma. Não fazem o
menor caso de cobrir ou mostrar suas
vergonhas.
Referência a terra
Esta terra, Senhor, parece-me que, da
ponta que mais contra o sul vimos até
outra ponta que contra o norte vem, de
que nós deste ponto temos vista, será
tamanha que haverá nela bem vinte ou
vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao
longo do mar, em algumas partes,
grandes barreiras, algumas vermelhas,
outras brancas; e a terra por cima é toda
chã e todo cheia de grandes arvoredos.
De ponta a ponta é tudo praia redonda,
muito chã e muito Formosa (...)
Ary Barroso3
Brasil, terra boa e gostosa
Da moreninha sestrosa
De olhar indiferente
Ô Brasil, verde que dá
Para o mundo admirá
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil... Brasil! prá mim!... prá
mim!
Ô, esse coqueiro que dá coco
Oi onde eu armo a minha rede
Nas noites claras de luar,
Brasil... Brasil!
Ô oi estas fontes murmurantes
Oi onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincá
Ôi, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil Brasileiro (...)
Nos dois textos, os autores exaltam as belezas naturais do Brasil. Mas é na
letra da música que vê a expressão de amor e admiração para com o país, já
2 BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo, Ed. Cultrix,1994, p.14. 40ª edição. 3 Disponível em: < http://video.google.com/videoplay?docid=104695613938545484# > Acesso em 01/07/10.
21
independente da colônia portuguesa. Valorizando assim, a tranqüilidade e a mistura de
raças que deu origem a uma cultura mista e de grande influência na literatura brasileira.
Isso que, no período Barroco, mesmo ainda não tendo sua literatura
propriamente reconhecida, os autores nascidos ou não no Brasil começam suas
manifestações literárias com requintes nativistas, a saudade da pátria, o lirismo
amoroso (uma postura entre a imagem feminina angelical e o desejo da carne que, de
certa forma, causa inquietação do espírito), os poemas sacros e satíricos, escritos por
Gregório de Matos Guerra, poeta considerado por muitos historiadores como iniciador
da literatura brasileira.
É claro que as obras de Gregório de Matos receberam influências
européias, no entanto, o poeta faz uma mistura de sua linguagem literária com termos
da linguagem africana e tupi. São poemas ricos no emprego das figuras de linguagem
como antítese, hipérbole, metáfora, aliteração, prosopopéia, ordem inversa e outras.
Apoderando-se de certo exagero, assim como pintor e arquiteto que procura exagerar
nas formas e nas cores, uma demonstração de desequilíbrio entre a filosofia das
verdades que elevam Deus o centro das coisas, e a valorização do homem e dos
aspectos da matéria.
Assim, nota-se nos fragmentos dos textos transcritos abaixo. As idéias
apresentam-se opostas de difícil conciliação entre gozar o presente ou rejeitar a ele,
para alcançar a eternidade:
Poesia Lírica: À D. Ângela4
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Poesia Sacra
A Cristo N. S. Crucificado
Meu Deus, que estais pendentes em um
madeiro, /em cuja lei protesto de viver,
/em cuja santa lei hei de morrer,
4 Disponível em http://pt.wikisource.org/wiki/Anjo_no_nome,_Angélica_na_cara. Acesso 02/05/2010.
22
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me
guarda.
/animoso, constante, firme e inteiro.
Neste lance, por ser o derradeiro, /pois
vejo a minha vida anoitecer /é, meu Jesus,
a ora de se ver /a brandura de um Pai,
manso Cordeiro.
Mui grande é o vosso amor, e o meu
delito, /porém pode ter fim todo o pecar,
/e não o vosso amor, que é infinito.
Esta razão me obriga a confiar, /que por
mais que pequei, neste conflito /espero
em vosso amor de me salvar.
Nota-se na poesia o trocadilho anjo/Ângelica, o equivalente a comparação
da mulher amada a um ser angelical, divino de alta beleza como a flor. No entanto,
apresenta a contradição, típica do barroco, nos tercetos, quando revela que se anjo
deveria lhe guardar, mas que diante dos desejos da carne, torna-se impossível guardar-
lhe de tamanha tentação.
Percebem-se no soneto, os dois lados da moeda: a consciência do pecado, a
fé no perdão revelada na poesia sacra que vai expressar os valores religiosos, a
esperança do amor infinito de Deus e a confiança Nele depositada. E assim, o autor
expõe sua crença de que, por mais que tenha praticado atos ilícitos, o pecado é finito.
Enquanto que o amor de Deus é infinito.
É importante lembrar que o poema sacro é um dos poemas feitos quando o
autor se via próximo da morte, é um retrato da sua preocupação, visto que, em sua
juventude buscou em suas obras desafiar o poder divino.
23
Além das reflexões morais e medo do inferno, o poeta é um crítico
ferrenho dos vícios, independentemente, da condição social dos membros daquela
sociedade: pobre, rico, branco, mulato, preto, padre, amigo, inimigo. Todos eram
criticados e ridicularizados, em sua poesia satírica. Tanto que recebeu alcunha de
―Boca do Inferno.
Para esclarecer melhor, os trechos do poema, de Gregório de Matos e da
letra da música, de Cazuza, tematicamente fazem crítica ao sistema antidemocrático, a
impotência da massa popular agir em relação ao direito de vez e voz, diante do poder
absoluto dos grupos de elite, do Brasil. Nota-se nas letras dos textos abaixo:
Aos Vícios5
Eu sou aquele, que os passados anos
cantei na minha lira maldizente/ torpezas
do Brasil, vícios e enganos./[...] De que
pode servir, calar,/ quem cala, Nunca se
há de falar, o que se sente? Sempre se há
de sentir, o que se fala?/ Qual homem
pode haver tão paciente,/ Que vendo o
triste estado da Bahia,/ Não chore, não
suspire, e não lamente?/ [...] Se souberas
falar, também falaras,/ Também
satirizaras, se souberas, /E se foras Poeta,
poetizaras./ A ignorância dos homens
destas eras Sisudos/ faz ser uns, outros
prudentes,/ Que a mudez canoniza bestas
Brasil6
Cazuza
Composição: Cazuza / Nilo Romero /
George Israel
Não me convidaram/ Pra esta festa
pobre/ Que os homens armaram/ Pra
me convencer/ A pagar sem ver /Toda
essa droga/ Que já vem malhada/Antes
de eu nascer.../ Não me ofereceram/
Nem um cigarro/ Fiquei na porta
/Estacionando os carros /Não me
elegeram/ Chefe de nada/ O meu cartão
de crédito/ É uma navalha.../ Brasil!/
Mostra tua cara/ Quero ver quem paga
/Pra gente ficar assim/ Brasil!/ Qual é o
teu negócio? /O nome do teu sócio/
5 Op. Cit. V.II, p. 468
6Disponível em:< http://letras.terra.com.br/cazuza/7246/>. Acesso em 02/07/10.
24
feras./ Há bons, por não puder ser
insolente,/ Outros há comedidos de
medrosos,/ Não mordem outros não, por
não ter dentes./ Quantos há que os
telhados têm vidrosos, /E deixam de
atirar sua pedrada /De sua mesma telha
receosos (...). /Uma só natureza nos foi
dada:/ Não criou Deus os naturais
diversos,/ Um só Adão formou, e esse de
nada./ Todos somos ruins, todos
perversos,/ Só nos distingue o vício, e a
virtude, /De que uns são comensais
outros adversos./ Quem maior a tiver, do
que eu ter pude,/ Esse só me censure,
esse me note,/ calem-se os mais, chitom,
e haja saúde./
Confia em mim/ (...). Não me
sortearam/ A garota do Fantástico/ Não
me subornaram/ Será que é o meu
fim?/ Ver TV a cores/ Na taba de um
índio /Programada /Prá só dizer "sim,
sim"/ (...) Grande pátria/
Desimportante/ Em nenhum instante
/Eu vou te trair/ Não, não vou te trair.../
Brasil!/ Mostra a tua cara/ Quero ver
quem paga /Pra gente ficar assim
/Brasil! /Qual é o teu negócio?/ O
nome do teu sócio? /Confia em mim/
(2x) Confia em mim /Brasil!
O primeiro texto foi escrito no século XVII, o poeta consciente de suas
críticas e que estas agradavam muita gente da sociedade desvinculada à elite, e ao
mesmo tempo desagradavam as pessoas do poder absoluto, que com suas leis calavam
os simples viventes da sociedade e sufocavam as palavras. Ao passo que o poeta
escrevia o que muitos gostariam de falar, mas não se expunham, uns por medo, alguns
por ignorância e outros por estarem presos a grupos elitistas, ―levando vantagens‖. E
com isso ele (poeta) se põe a defender o seu direito de escrevê-las.
Ao que na música de Cazuza, século XX, se canta a necessidade de
participar, o direito de voz, o direito de ser ouvido. Retrato de um brasileiro pagador de
impostos caros e, às vezes, absurdos, e que mesmo assim, é obrigado a engolir as
falcatruas dos líderes políticos, gerado pela lei do silêncio. E assistir tudo em cima do
muro, sabendo que muitas pessoas, que buscaram fazer algo para mudar, foram
25
exiladas e outras até morrerem e nada mudou. As idéias pobres e corruptas dos que
governam estavam fechadas para a população.
Como diz um trecho da música ―Não me convidaram/Pra esta festa
pobre/Que os homens armaram/Pra me convencer/A pagar sem ver/Toda esta
droga/Que já vem malhada/Antes de eu nascer.‖ Ou seja, não abriam espaço para o
debate consciente sobre as formas indutoras do capitalismo, influenciado pela mídia,
que por vez era programada para propagar apenas o interesse dos grupos dominantes.
E, quanto ao início da poesia Aos Vícios, o autor procura criticar o
brasileiro, o administrador português, El-Rei, o clero e, numa postura moralista, critica
a sociedade baiana de sua época.
Na Literatura Barroca, além do poeta Gregório de Matos, outros nomes se
destacam no período: Bento Teixeira com a poesia épica, Prosopopéia, Manuel Botelho
de Oliveira, autor de Música do Parnaso.
E, na prosa Pe. Antonio Vieira, autor sermonista que nasceu em Lisboa,
mas estudou no Colégio dos Jesuítas da Bahia. Suas obras são: Sermão da Sexagésima,
falava da arte de pregar; Sermão de Santo Antônio aos peixes se refere à escravidão do
indígena; Sermão do mandato trata, pois, do amor místico de Jesus e Sermão pelo bom
sucesso das armas de Portugal contra a Holanda.
Outras obras como cartas e Histórias do futuro e Esperança de Portugal.
Cronologicamente o período se estende de 1601 a 1768, quando Claudio Manuel da
Costa inicia o Arcadismo com seu livro Obras.
Tendo em vista que o público já estava cansado das expressões exageradas
do barroco, nova tendência assume as formas do clássico, o Arcadismo. Fim do estilo
rebuscado, estruturação complexa com abuso de figuras. Surgem então, as primeiras
Arcádia, que expressavam a pureza e a simplicidade das formas clássicas.
Os árcades tinham uma visão de mundo voltada pelos princípios da razão e
da ciência, de forma que nesse período a religião passou a ser considerada como
instrumento de ignorância e tirania.
26
Resumindo, o estilo da época rege os seguintes princípios: o
aproveitamento máximo do presente (na língua latina – Carpe Diem); a fuga da cidade
para o campo (Fugere urbem); a eliminação do exagero (Inutilia truncat); uso de
cenários pastoris; presença da mitologia; uso de nomes poéticos simbólicos,
pseudônimos, geralmente de pastores. São características da obra de Tomaz Antonio
Gonzaga: Marília de Dirceu.7
Lira I -
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, /Que viva de guardar alheio gado; /
De tosco trato, d‘expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, /E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,/Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,/ Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte, /Respeitam o poder do meu cajado:
Com tal destreza toco a sanfoninha, /Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja minha
Graças, Marília bela,/ Graças à minha Estrela!
A primeira parte deste clássico de Tomaz Antonio Gonzaga expressa um
amor entre dois jovens, Marília é descrita como uma jovem de beleza mitológica, ora
loira, ora morena. Seu nome era Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão que
conquistou o amor de Tomaz Antonio Gonzaga. Este que escreve a felicidade, amor e
7Disponível em:http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/m/marilia_de_dirceu. Acesso em 01.07.10.
27
lealdade entre os dois. Valorizando a simplicidade do refúgio na natureza amena, que
ora é européia e ora mineira.
A segunda parte foi escrita no cárcere da prisão da Ilha das Cobras trata-se,
pois, de um momento conflitante, quando Gonzaga, inconfidente mineiro foi deportado
para Moçambique. Assim, o meio saudável e campestre é substituído pela angustia
provocada pela separação do protagonista de sua eterna amada, Marília, e de seus
amigos, estes que também são citados no percurso da obra, Claudio Manuel da Costa, o
Gauceste e Alvarenga Peixoto, o Alceu.
O poeta escreve também Cartas Chilenas, onde satiriza o administrador
colonial português, Luiz da Cunha Meneses, governador das capitanias hereditárias de
Goiás e Minas Gerais, a quem Gonzaga chama de Fanfarrão Minésio. As Cartas eram
passadas secretamente, na época da Inconfidência Mineira, onde o autor utiliza o
pseudônimo de Critilio. A obra foi intitulada Cartas Chilenas porque o autor simula o
Chile como o local do remetente.
Até aqui, apenas foram citados dois grandes poetas do arcadismo
brasileiro, mas este período foi marcado também pelas obras de Basilio da Gama, Silva
Alvarenga e Santa Rita Durão. O primeiro escreveu O Uruguai, um poema escrito em
versos brancos, sem estrofes, a estilo épico, narra a luta entre os índios uruguaios e um
exército luso-espanhol. O segundo poeta escreveu várias composições dedicadas a sua
musa Glaura. O autor utiliza-se do perfeccionismo dos versos, do controle da
expressão, certo individualismo e sentimento da natureza, o que distingue dos demais
árcades mineiros, E o terceiro, escreveu a Caramuru, poema épico, com bastante
descrição das paisagens brasileira e dos costumes indígenas, sua composição se forma
em dez cantos. Neles desenvolvem-se a história do descobrimento e da conquista da
Bahia por Diogo Álvares Correia.
Em Portugal, o arcadismo inicia-se com Manuel Maria Barbosa Du Bocage
que adotou o pseudônimo de Elmano Sadino. Bocage é um poeta que se tornou
respeitado pela poesia lírica, e conhecido pelas poesias satíricas, estas que lhe
causaram a prisão a mando de Pina Munique, acusado de produzir ―papeis ímpios,
28
sediciosos e críticos‖. O lirismo do poeta é carregado de subjetividade e sentimento, o
que caracteriza o estilo próprio do Romantismo.
Pois, o Romantismo é o período do sentimentalismo e da subjetividade, no
qual se consolida a grande influência na formação literária e cultural do povo
brasileiro, marca uma nova forma de ver a vida e o mundo e de interpretar a liberdade
artística que se estende a cada pessoa que tenha dons, talentos voltados para a arte, não
mais restritos aos gênios. Isso porque, o romantismo quebra regras objetivas de
composição poéticas e adota um estilo mais simples e comunicativo como o verso
livre, branco, prevalecendo o ideal romântico do individualismo, da expressão
subjetiva, da emoção.
De um modo geral, o romantismo caracteriza-se pelas tendências literárias
de expressões plenas dos estados de alma, paixões e das emoções; da exaltação da
liberdade humana; do gosto por ambientes solitários; da valorização da natureza. O
mundo para o artista romântico é o imaginário. Este cria o seu mundo como refúgio
para se safar do choque com a realidade objetiva e o seu eu - poético. A tal ponto que
suas obras carregam personagens revestidas de: bêbados, prostitutas, devassos, loucos,
ópio, saudosistas. De maneira que o artista romântico foge no tempo e no espaço com
ida e volta, exceto a morte.
Para melhor representar o Romantismo Brasileiro, interessa se situar a
partir do quadro que sintetiza as três gerações a que se dividiu o período:
Gerações Nomes Principais poetas Principais temas
1ª
Geração
Nacionalista
ou Indianista
Gonçalves de
Magalhães, Gonçalves
Dias e Araújo Porto-
Alegre
Exaltação da natureza, excesso de
sentimentalismo, amor indianista,
ufanismo (exaltação da pátria)
2ª
Geração
Ultra-
Romântica ou
Álvares de Azevedo,
Casimiro de Abreu,
Egocentrismo, sentimentalismo
exagerado, morte, tristeza,
29
Gerações Nomes Principais poetas Principais temas
Mal do Século
ou
Byronismo
Junqueira Freire e
Fagundes Varela
solidão, tédio, melancolia,
subjetivismo, idealização da
mulher.
3ª
Geração
Condoreira ou
Social
Castro Alves,
Sousândrade, Tobias
Barreto
Sentimentos liberais e
abolicionistas
O Brasil, nesse período romântico, adquire a sua independência literária,
com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães que
tem como base as correntes artísticas da literatura portuguesa. Esta obra é composta de
duas partes, como o nome já diz: Suspiros poéticos e Saudades, assim dividida: A
primeira parte trata-se de diversos temas, o cristianismo, a mocidade, a fantasia e ainda
faz indicações de que conhecem partes do Brasil, Bélgica, Suíça, França, Itália. Assim,
sua obra se torna interessante para os jovens da época. A segunda parte é dedicada, à
saudade da pátria, da família, dos amigos, das pessoas, de lugares. Pois, o como já foi
citado, o poeta em grande parte dos poemas há indicações de onde foram escritos,
fazendo com que o leitor se relacione a partir daí os diversos países nos quais o poeta
esteve.
Esta que se preza à primeira geração romântica do Brasil, no seu excesso
de sentimentalismo saudosista e exaltação da pátria, se harmonizam pela unidade do
pensamento, poesias d'alma, e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser
julgadas.
As obras da primeira geração são marcadas pelo nacionalismo
(valorização da pátria) e o indianismo (valorização do índio), volta ao passado para se
reviver a história, o que impediu, muitas vezes, uma visão mais objetiva da realidade
brasileira, e permitiu uma fuga aos problemas da pátria e de seus habitantes. Isto é, a
exaltação do índio, a idealização de uma pátria rica, mas apenas de belezas naturais, e
de terra produtiva, desviava da reflexão voltada para o humano, ou seja, uma avaliação
30
crítica da escravatura. E desta forma, como no medievalismo se idealizava o herói da
guerra, no romantismo brasileiro cria na figura do índio, um herói nacional.
A idealização do heroísmo do índio em ―Juca Pirama‖ em que Gonçalves
Dias ressalta o sentimento de honra e nobreza dos nativos da terra brasileira.
Já a poesia ―Canção do Exílio‖ de Gonçalves Dias em 1825 canta o amor
às florestas, à luz do sol brasileiro, à fauna, à flora.
Minha terra tem palmeiras,/Onde canta o sabiá;/As aves que aqui gorjeiam,/
Não Gorjeiam como lá. (...)
Nosso céu tem mais estrelas, /Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, /Nossa vida mais amores.
Em analisar toda a poesia, observa-se que os espetáculos da natureza, o
amor, a saudade, as lembranças são temas que transpõem uma vasta aproximação entre
Deus e o universo. Talvez, por isso, fosse tão parafraseada pelos autores desde o século
XVIII ao século XX, como mostram os trechos a seguir:
1859- Canção do Exílio (Casimiro de Abreu)Se eu tenho de morrer na flor dos anos/Meu
Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,/Cantar o sabiá!/(...)
31
1909- Hino Nacional (Osório Duque Estrada)
(...)/Do que a terra mais garrida/Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",/"Nossa vida" no teu seio "mais amores".
1925-Canto de Regressão à Pátria (Oswald de Andrade)Minha terra tem palmares/Onde
gorjeia o mar/Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá/Minha terra tem mais rosas/(...)
1930-Canção do Exílio (Murilo Mendes)
(...)/Nossas flores são mais bonitas/nossas frutas mais gostosas/
mas custam cem mil réis a dúzia./Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
1945-Nova Canção do Exílio (Carlos Drummmond de Andrade)
Um sabiá/na palmeira, longe./Estas aves cantam/um outro canto./(...)
1962-Uma Canção (Mario Quintana)
Minha terra não tem palmeiras/ E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis/Nas palmeiras que não há./(...)
32
1992-Canção do Exílio às avessas (Jô Soares)
Minha Dinda tem cascatas/Onde canta o curió/
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió./ Minha Dinda tem coqueiros/
Da Ilha de Marajó/
As aves, aqui, gorjeiam/Não fazem cocoricó.
Cada autor dentro de seu tempo parafraseou a poesia de Gonçalves Dias,
uns exaltando a nacionalidade brasileira, outro ironizando os feitos da cúpula do poder.
Dentre os nacionalistas da primeira geração, também se destaca Araujo
Porta Alegre, polivalente, foi pintor, caricaturista, arquiteto, crítico e historiador de
arte, professor, escritor. Em se prestando ao nacionalismo, deixou de lado a mitologia
clássica, a sua obra-prima foi o poema épico ‗Colombo‘, em que trabalhou desde 1840,
publicando episódios em revistas da época a partir de 1850.
A segunda geração, conhecida como a geração do mal do século, que
além da proliferação da tuberculose, doença incurável, na época, os jovens poetas
receberam a influência pessimista adotada de Jorge Bordon Byron, da Inglaterra, dono
de subjetivo extremo que se expandia no devaneio, erotismo difuso, às vezes
obsessivo. Isso traz aos chamados românticos uma vida promíscua que mascarou a
qualidade de vida desses jovens, causando assim, a morte de muitos deles, ainda antes
de alcançarem a ―plena juventude‖.
Isso está fundamentado nas análises de BOSI, (1994, p. 109), segundo este:
Se na década de 40 amadureceu a tradição literária nacionalista, nos
anos que lhe seguiram, ditos da ―segunda geração romântica‖, a
poesia brasileira percorrerá os meandros do extremo subjetivismo, à
Byron e à Musset. Alguns poetas adolescentes, mortos antes de
tocarem a plena juventude, darão exemplo de toda uma temática
emotiva de amor e morte, dúvida e ironia, entusiasmo e tédio.
33
Assim, o autor complementa a subjetividade da segunda geração
romântica, marcada por um profundo sentimentalismo a ponto de os autores preferirem
os temas relativos à morte, à tristeza, ao mistério e ao sonho. Como se pode notar no
fragmento do poema ―Adeus, meus sonhos!‖ Neste poema, o poeta Álvares de
Azevedo demonstra desejar a morte como meio de solucionar os problemas com seus
sonhos e amores não realizados:
―Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!/ Não levo da existência uma saudade!/E a
tanta vida que meu peito enchia/Morreu na minha triste mocidade!‖ (...) Que me resta,
meu Deus? Morra comigo/A estrela de meus cândidos amores/Já que não levo no meu
peito morto/ Um punhado se quer de murchas flores!8―
O poeta Álvares de Azevedo, em sua temática, apresenta o mal-do-século
na poesia, apontando a morte como fuga das suas insatisfações. E na prosa, a obra
―Noite na Taverna‖ é o primeiro livro de contos da literatura brasileira. Trata, pois, de
histórias macabras sobre paixão, morte, perversão sexual, assassinato e violência.
Ademais, os valores sociais, morais e religiosos são desconsiderados.
Outros poetas dessa geração se destacam: Junqueira Freire, Laurindo
Rabelo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela. Dentre este, o que teve maior tempo de
vida, morreu com trinta e oito anos, os demais, morreram antes dos vinte e cinco anos
de idade.
Após a expressão marcada pelo byronismo, surge a expressão condoreira, a
terceira geração, seus poetas buscam temas relacionados à saudade da infância, ao
amor à natureza, à religião, ao patriotismo, às sensações de inquietude própria de
adolescente.
De forma que, a arte literária volta-se para a busca da liberdade,
denunciando as causas de injustiça, ligadas às questões sociais e políticas,
8 Disponível em http://www.bilibio.com.br/poema/72/Adeus+meus+sonhos.html. Acesso 10/06/10
34
principalmente, com temas voltados à abolição da escravatura e do pensamento
republicano.
Seu maior poeta é Antonio Federico de Castro Alves, poeta da obra ―Navio
Negreiro‖, onde relata toda uma imensa indignação do caos a que se encontravam os
escravos traficados da África.
Em uma análise mais detalhada BOSI, (1994, p. 120 a 124), explicita:
―A indignação, móvel profundo de toda arte revolucionária, tende, na
poesia de Castro Alves, a concretar-se em imagens grandiosas que
tomam à natureza, à divindade, à história personalizada o material
para metáforas e comparações‖.
Para confirmar, transcreve um trecho da obra (Navio Negreiro):
Existe um povo que a bandeira empresta/Pra cobrir tanta infâmia e cobardia!
Auriverde pendão de minha terra/Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra. E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra, /Foste hasteado dos heróis da lança,/
Antes te houvessem roto na batalha,/Que servires a um povo de mortalha!
É o grito do poeta na voz dos escravos e ao mesmo tempo o pedido de
justiça e liberdade, que pela expressão da palavra condena ―uma nação que sobrevive à
custa de sangue escravizado‖.
Vê-se que na poesia a expressão de um sentimentalismo, de certo ponto,
exagerado expressa pelo eu – lírico, e o individualismo da primeira geração romântica,
Castro Alves converge ao tratar de temas relacionados à libertação dos escravos,
reivindicação social que incute no poeta a necessidade de assumir para si o
compromisso de denunciar aos seus leitores, os feitos injustos notados na sociedade.
35
Enquanto que Macedo e Alencar se posicionam entre o
romantismo/realismo, Sousandrade em sua obra o Guesa Errante, teve uma intuição
dos tempos modernos em retomar a lenda dos índios muíscas, da Colômbia. É um
poema dividido em treze cantos, dos quais quatro ficaram inacabados.
O poema tem como base a lenda indígena do Guesa Errante, na qual o
personagem principal é o Guesa, uma criança que roubada dos pais pelo deus do Sol é
educado no templo da divindade até os dez anos e sacrificado aos quinze, após longa
peregrinação pela ―estrada do Suna‖.
A obra Guesa apresenta a típica estrutura épica (proposição, invocação,
dedicatória e narração). Adapta-se o personagem com características da própria
vivência do autor, as viagens à Europa e Estados Unidos.
Imagens do ar, suaves, flutuantes, /Ou deliradas, do alcantil sonoro,
Cria nossa alma; imagens arrogantes,/Ou qual aquela, que há de riso e choro:
uma imagem fatal (para o ocidente,/Para os campos formosos d'áureas gemas,
O sol, cingida a fronte de diademas, /índio e belo atravessa lentamente):
Estrela de carvão, astro apagado/Prende-se mal seguro, vivo e cego,
Na abóbada dos céus, — negro morcego/Estende as asas no ar equilibrado.
(O Guesa – canto terceiro)9
Nesta obra o poeta mostra-se sensível ao sofrimento da raça negra, e critica
o resultado da dualidade entre escravagistas e abolicionistas: a opressão, o capitalismo,
o real. Nisso o poeta, tematicamente, trata do plano histórico-social, e vê no drama de
Guesa o mesmo dos povos aborígenes da América, condenando as formas de opressão
dos colonialistas e defendendo uma república utópica.
Outro grande poeta que se destacou nessa geração de obras envolvendo o
plano histórico-social foi Tobias Barreto. Mas, não recebeu, necessariamente, o
reconhecimento que merecia. Sua obra foi menosprezada pela crítica, portanto não
9 Disponível em:http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p01/p010559.htm. Acesso:15/06/10
36
foi explorado o bastante, tampouco se evidenciou sua qualidade, deixou alguns
poemas heróicos de bom corte oratório. Suas obras completas publicadas pelo
Instituto Nacional do Livro foram: Ensaios e estudos de filosofia e crítica; Brasilien,
wie es ist; Ensaio de pré-história da literatura alemã; Filosofia e crítica, Estudos
alemães; Dias e Noite; Menores e loucos; Discursos; Polêmicas, Que Mimo; O Gênio
da Humanidade; A Escravidão; Amar;Glosa.
Estas são obras pouco lidas nas escolas, o que é uma pena, pois a
exemplo da ―A Escravidão‖ traz uma reflexão filosófica profunda acerca da
Divindade dogmática como instituição mantenedora das desigualdades sociais, e
conivente com a exploração do homem pelo homem, como se pode observar no
trecho a seguir:
A Escravidão10
Se Deus é quem deixa o mundo/Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,/Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,/Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo/Maior que a religião./Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,/Cobrindo assim de vergonha /(...)
Como se pode notar há consciência cultural da realidade sobre a questão
religiosa. Assim, como em outras obras, a política. Pois sendo anos 60, a fase que
mesmo nos moldes sentimentalistas, os poetas preparavam o leitor de suas obras para
uma ruptura mental escravocrata. Nas últimas décadas do século essa ruptura fica mais
evidente e força a objetividade no sentido de responder aos métodos científicos.
Assim, o objetivismo realista aparece na década de 70 com a chamada
Escola do Recife, cujas idéias se aproximam do pensamento europeu, o que traz à tona
o positivismo, o evolucionismo, a filosofia, alemã e, dá impulso ao Realismo.
10
BARRETO, Tobias. Dias e Noites. Org. Introd. E notas Jackson da Silva Lima. 7. Ed. rev. E aum. Rio de Janeiro: Record;
Brasília: INL, 1989. P. 122. (Obras Completas)
37
No Brasil, em 1881 inicia-se com publicação de: O Mulato, de Aluisio de
Azevedo; Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Alienista, de Machado de Assis.
Primeiras obras realistas/naturalistas de nossa literatura. Outros romances serão
tratados na unidade 3.
Neste momento, retoma-se o gênero poesia, uma manifestação da época do
realismo com estética parnasiana –―arte pela arte‖ que se caracteriza endeusadora das
formas fixas dos sonetos, a métrica dos decassílabos perfeitos, objetividade temática,
impassibilidade, impessoalidade, formas perfeitas. Assim como poetiza Olavo Bilac
em Profissão de fé11
:
(...)
No verso de ouro engasta a rima./Como um rubim./Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito/De ourives, saia da oficina/Sem um defeito.
Assim procedo. Minha pena/Segue esta norma,/Por te servir, Deusa serena,
Serena forma.
O que confirma a preocupação dos poetas parnasianos em considerar a
poesia a ―arte sobre a arte‖. Outros autores também permaneceram fieis às formas
parnasianas como Alberto de Oliveira, Raimundo Correira, Augusto de Lima,
Francisca Júlia, Artur Azevedo, Vicente de Carvalho.
Os traços característicos da poesia parnasiana contrapunham às formas
cultivadas pelos românticos que prezavam os versos livres e brancos.
O Simbolismo, esse anuncia e antecipa a revolução modernista da poesia
construindo uma estética fundadora e fecundadora da modernidade literária.
Enquanto simbolismo, no Brasil, não repercutiu com ênfase como em
outras partes do mundo. Mas ocorreu paralelamente com um fluxo de autores e obras
neoparnasianos, dentre os quais, sobressai o poeta Cruz e Souza, como o maior
representante do movimento no país. E, ainda os poetas Alphonsus de Guimaraens,
José Albano e Raul de Leoni. Todos seguidores da estética parnasiana, a qual foi
11
Olavo Bilac. In BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo, Ed. Cultrix,1994, p. 227. 40ª edição
38
neutralizada quando Oswald de Andrade retornou da Europa, em 1912; com novas
idéias modernistas, sem perder o caráter nacional, delineou-se mudanças que já
estavam acontecendo nas artes brasileiras.
E com a amplitude da Semana da Arte Moderna se marcou o histórico do
Modernismo brasileiro. Com a participação de Oswald de Andrade, Graça Aranha,
Roald de Carvalho, Vitor Brecheret, Anita Malfatti, Villa Lobos, Di Cavalcanti e
muitos outros. Apresentaram manifestos, e poemas, expuseram quadros e esculturas,
no Teatro Municipal de São Paulo. De onde receberam vaias
Mesmo não estando presente, Manuel Bandeira fez parte das atividades
dessa semana porque foi lido o poema "Os Sapos", o qual era a pura sátira do
Parnasianismo, poema esse que foi lido durante o evento. E causou satisfações a uns e
injúria a outros.
Didaticamente é importante colocar que o Modernismo brasileiro é divido
em três fases. Sendo a histórica quando são afirmados os novos movimentos estéticos
que ocorre desde 1922 a 1930. Nesta fase, Mario de Andrade em sua obra ―Paulicéia
Desvairada‖, focaliza os aspectos humanos, sociais e políticos de São Paulo. E
também, ―Há uma gota de sangue em cada poema‖, ―Losango Cáqui‖, e outras em
versos livres, de métrica informal. Sua temática ora celebra a paisagem, ora critica a
burguesia, ora expressa sua visão da cidade. Que estão presentes nas poesias, nas obras
de ficção e ensaio.
Já Oswald de Andrade construiu poesia de expressão genuinamente
brasileira, percorrendo desde os tempos coloniais, a vida rural e urbana do país.
Escreveu poemas breves, em verso livres e brancos, com linguagem coloquial, humor.
Escreveu Também romance e teatro.
No delinear do final desta fase do Modernismo, Manuel Bandeira, antes
parnasiano, define-se modernista e em suas poesias incorpora a linguagem coloquial e
popular. Tematicamente utiliza os fatos do dia-a-dia e cria poemas retirados de notícias
de jornal, de frases corriqueiras. E com tom irônico e às vezes trágico constrói sua obra
literária poética. Em verso escreveu as poesias: ―As cinzas das horas‖, ―Carnaval‖,
39
―Libertinagem‖, ―Lira dos cinquent´anos‖, ―Estrela da manhã‖ ―Os Sapos‖ e outras. E
em prosa Crônica da província do Brasil, Guia de Ouro Preto, Itinerário de Pasárgada,
etc.
Vale citar também os poetas Cassiano Ricardo (com as poesias ―Vamos
caçar papagaios‖, ―Dentro da noite‖, ―A flauta de pã, Martim-Cererê‖, ―Um dia depois
do outro‖, ―Jeremias sem chorar e outras‖). E Alcântara Machado que traz em prosas
contos e novelas.
Na segunda fase, volta-se para as questões universais do homem e para os
problemas da sociedade capitalista muito presente nas poesias modernistas de Carlos
Drummond de Andrade, o maior poeta dessa fase que incorpora em seus poemas as
cenas do cotidiano, as paisagens, sentimento de decepção e amargura, volta-se para o
tempo, o homem e a vida presente. E com isso compreender os homens e construir um
mundo melhor.
Em Murilo Mendes, suas obras contêm crítica irônica à sociedade técnica e
mecanizada, exprimem sentimentos de angustia diante de um mundo absurdo e
conturbado; sátiras que criticam fatos e personagens brasileiras, a desumanização da
vida, as injustiças... Estão presentes nas seguintes obras: Poemas, O Visionário,
História do Brasil, Tempo e eternidade, A poesia em pânico, A Metamorfose, Mundo
Enigma e outras.
E Jorge de Lima, embora tenha sua participação na primeira fase
privilegiando o soneto e vocabulário parnasiano, na segunda fase apresenta-se diante
dos problemas religiosos e metafísicos com temas voltados ao catolicismo, expressos
nos livros Tempo e eternidade, A túnica inconsútil, Anunciação e encontro de Mira-
Celi e Livro de sonetos. São poemas de verso livre e expressão metafórica.
Na terceira fase modernista os autores retomam as formas poéticas
tradicionais ao lado do verso livre, trabalhando mais ritmicamente e com rigor. Desta
fase destacam-se os poetas João Cabral de Melo, Afonso Félix de Souza e Thiago de
Melo, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles e outros.
40
E por fim, o Modernismo passa por um processo de transição para o pós
modernismo, o que resulta no movimento do Poema-Processo, nascido pela
necessidade de um objeto artístico que reproduzisse, atendesse e fosse pertinente a
informação e comunicação global, devido ao consumo imediato. Assim, o poema
processo possibilita linguagem e comunicação universal.
Portanto, é na poesia marginal, poema instigante, carregado de
coloquialidade e objetividade, de linguagem cotidiana que se encontram os traços pós
modernos. Pode se notar na geração de 70, os contemporâneos utilizam linguagem
coloquial, voltada para a gíria, a exemplo dos poemas de Paulo Leminski. E, aos anos
correspondentes à atualidade, também conhecido como pós-modernismo, o coloquial
também está presente, mas de forma mais ―nobre‖, com exceção ao grupo ―Mamonas
Assassinas‖. São tantos outros autores que fazem parte do movimento contemporâneo
como Flávio de Souza, Cazuza, Gabriel o Pensador, Guimarães Rosa, Clarice
Lispector, João Cabral de Melo Neto, Nelson Rodrigues, Adélia Prado, Autran
Dourado, Augusto e Haroldo de Campos, João Ubaldo Ribeiro, Mário Quintana, entre
outros – que trazem inovações à literatura muito pertinente às aulas de leitura na
escola.
Público Alvo1º e 3º anos TAREFA-1 Duas aulas
Definição de poesia
O professor, antes de introduzir a definição do que é poesia, primeiro
deve traçar um diálogo com os alunos a partir de leitura ou recitação de um poema que
leu ou aprendeu quando criança, adolescente. Pode até mesmo se valer de letra de uma
música com característica de poesia.
Para incrementar a aula o professor pode declamar, dando vida ao texto,
enfatizando os sons similares, as rimas no final dos versos, fazendo com que as palavras
ecoem. Isso leva o interlocutor a conhecer o texto poético pelo ouvido. É claro que,
41
dependendo da forma que um texto é exposto numa folha de papel, é possível lê-lo com
o olhar, caso das poesias concretas.
Prossegue a apresentação, pedindo que alguém fale o que sabe de
poesia, o que leu, o que ouviu sobre. Assim, discutir sobre a arte de criar por meio das
diferentes linguagens, que formam os textos nos seus diferentes tipos e gêneros.
Com isso, o professor terá uma base do conhecimento dos alunos em
relação à poesia e complementa utilizando-se dos meios tecnológicos dispostos nas
escolas como livros, TV-pen-drive, laptop, data show ou outros, apresentando recortes
das definições de poesia e poema:
Após a leitura da definição de poesia e poema, o professor expõe a
definição, conforme as considerações de MOISES, (1996, p.8)
―apesar de todo o respeito que professores e críticos literários merecem, apesar da
extrema utilidade dos manuais e enciclopédia, não é a eles que eu sugeriria
recorrer, para o caso de querermos saber o que é poesia. Meu palpite é que
devemos endereçar essa pergunta diretamente aos poetas, ou seja, à própria
poesia. [...] poesia é aquilo que a gente fica sabendo o que é quando lê poesia.”
Pedir para que os alunos façam comentários a respeito da colocação do
autor. Na seqüência, o professor distribui cartolinas e pincéis atômicos de diversas cores
e pede para que os alunos em grupo (no máximo quatro grupos) montem um conceito de
poesia e exponha no mural da sala.
O professor então complementa:
Para definir poesia é preciso ler poesia e dela tirar a essência do universo
mental onde está inserida a humanidade. O autor explica que a poesia ―está por todos os
lugares das mais variadas formas‖. Desde as cantigas de ninar, as letras de músicas, as
cantigas de rodas, etc., até as mais elaboradas.
42
E, ainda de acordo com o autor, para trabalhar o texto é preciso orientar o
aluno de que primeiro se deve partir da ―organização geral‖. E depois para o sentido das
palavras empregadas no mesmo.
Isso é o que vai subsidiar a leitura, compreensão e interpretação de texto
literário a serem trabalhados na intervenção pedagógica com os alunos do ensino médio
da escola a que se propõe este trabalho.
Público Alvo:1º e 3º an TAREFA-2 Três aulas
Organização da poesia
Neste momento, é importante que o aluno tenha em mãos a cópia da poesia
―Sede‖, exposta a seguir. E busque perceber com a ajuda do professor, de que forma a
poesia se organiza. Faz então, uma sondagem acompanhada da significação das partes
que compõe a organização, partindo de poesia simples para ver até que ponto o aluno
está interado das estruturas que se apresentam após o texto mencionado: Verso, estrofe,
tempo, espaço, etc.
É pertinente também que o aluno entenda as significações das palavras e
sua eficácia no processo da interpretação, ou seja, aprenda a fazer a passagem de análise
descritiva para a análise interpretativa. Para isso, partir de um texto simples como o
texto a seguir, facilita o trabalho.
TEXTO – A - Sede 12
Quando se está com sede
É o corpo quem está pedindo
Este líquido precioso
Que aos poucos está sumindo.
12 Paulina Paghatto da Silva, Professora GTR-2010, cidade: Boa Esperança/PE - texto publicado no jornal Mundo Jovem.
43
Até quando, até quando
Vai essa destruição?
As florestas acabando
As águas sumindo no chão...
Cortam árvores, plantam de tudo,
Até parecem aventurosos
Nem têm ouvidos para ouvir
Os passarinhos chorosos...
As abelhas a zunir
Sem nem uma flor encontrar
Vão todas para a cidade
E nos prédios querem morar.
Só se ouve falar no noticiário
Sobre a vingança da natureza!
Furacões e tempestades
Destruindo fortalezas
Quantas vidas, quantas vida
Esses episódios levaram embora?
Furacões e tempestades
Acontecem a toda hora.
Terminada a discussão, é hora de o professor reforçar o conhecimento do
aluno, explicando que a poesia ora lida e comentada é construída por meio de uma
linguagem simples, portanto fácil de compreender e interpretar.
É o tipo de poesia contextual, que está apenas se valendo de sentimentos do
fundo da alma para expor a concepção de quem vê, sente e reage diante das situações
do mundo.
A autora substituiu o verso metrificado pelo verso livre, isto é, livre de
forma pré-estabelecida, não tendo nenhuma regularidade métrica, mas que emprega as
rimas para dar mais sensibilidade estética. Uma tendência moderna contemporânea.
Alguns poemas de autores modernos podem valer de versos metrificados e com rimas,
44
mas sem preocupação com uma determinada regularidade como se prestavam as poesias
palacianas, as poesias do classicismo e as do parnasianismo.
As poesias a partir do romantismo, não seguem à risca, mas apresentam
vestígio da poesia clássica. Assim, as rimas, as estrofes ganham formas específicas de
acordo com a época e o estilo individual do poeta.
Não é o caso desse trabalho, um aprofundamento das regras clássicas, mas,
importa levar ao aluno a compreender que o poeta clássico, além da preocupação com o
conteúdo, se ligava às formalidades de regras, (rima13, estrofe14, escansão15), utilizando-se
de metrificação.
Vejamos o fragmento de poema de Castro Alves, um poeta Romântico e
analisemos os versos da poesia em suas regras clássicas da arte poética:
Ó / mar / sal/ ga / do, /quan/ to / do / teu / sal / a [10 sílabas]
São / lá / gri / mas / de / Por / tu / gal! / a [8]
Por /te / cru / zar/mos, / quan / tas / mães / cho / ra /ram, b [10]
Quan / tos / fi / lhos / em / vão / re / za / ram! b [8]
Quan / tas / noi / vas / fi / ca / ram / por / ca /sar / c [10]
Pa / ra / que / fos / ses / nos / so, ó / mar! / c [8]
Outro procedimento, importante, é falar sobre a obra do fragmento acima
exposto ―O Navio Negreiro‖16, buscando valorizar a dimensão histórica da obra, fazendo os
seguintes questionamentos:
Você já leu ou ouviu comentar esta obra?
Esta obra está relacionada à qual fato da história?
Depois é interessante que o professor proponha uma visita aos sites:
Posto que, o conteúdo da obra Navio Negreiro, só vai ser compreendido e
interpretado pelo aluno que já tenha um melhor desempenho da leitura de obras
13 Rimas:http://pt.wikipedia.org/wiki/Rima, acesso em 22/05/2010. 14 Estrofes:http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/655601, acesso em 22/05/2010. 15 Fontes: Escansão:http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/E/escansao., acesso em 22/05/2010.
16http://www.youtube.com/watch?v=gyuT-x6a6W8, com vídeo sobre o Navio Negreiro, acesso em 22/05/2010.
45
literárias, certa familiaridade com os fatos estudados na História sobre o que culminou a
escravidão, as formas de trabalho, o tratamento subumanos a que os escravos foram
submetidos, bem como, o percurso geográfico onde ocorreram os fatos em questão.
E depois continuar o questionamento:
O que o vídeo mostra é uma adaptação da real situação dos escravos no
período escravocrata?
O Fragmento da obra e a adaptação em vídeo despertaram em você
curiosidade em ler a obra completa? Por quê?
Ser escravo é somente fazer trabalhos pesados?
Que outro tipo de escravidão você conhece?
Propor outras atividades de modo que não caia no esquematismo do livro
didático, como por exemplo, sobre a história dos escravos traficados da África, o trajeto
geográfico, a título de aprofundamento do conteúdo do poema.
A seguir, Tarefa 3, outros textos serão trabalhados, seguindo os níveis da
leitura de poesias.
Público Alvo1º e 3º anos TAREFA-3 Duas aulas
Os níveis da leitura
Sabe-se que cada poema tem sua organização tanto na sua análise sintática
como na análise interpretativa. E que na ação do autor de texto literário se cria ou se
recria um mundo do real que na arte de apresentar os fatos, não se apodera apenas de
fatos concretos, mescla-se o real e o imaginário.
Um poema, uma poesia, ou qualquer outro gênero não é um amontoado de
letras e idéias, mas tradução de sentimentos, de experiências, pesquisas, estudos,
compreensão e julgamento das coisas humanas, ou seja, insinuação da vida na poesia, na
46
biologia, na ciência, etc. Enfim, em todas as áreas do conhecimento, como esclarecem as
Diretrizes Curriculares, (2006, p. 32):
‖Assim, o trabalho com a literatura permite que o aluno perceba seu
papel na interação com o texto, porque este carrega em si ideologias,
mas somente a partir da visão de mundo de quem o lê é possível
estabelecer relações que venham aceitar o refutar os valores ali
presentes.‖
Com as múltiplas aberturas e os recursos muito variados da linguagem poética,
importa analisar os elementos, atribuindo-lhes valores significativos. E neste caso, convém
ao professor trabalhar o Texto B, enveredando os quatro níveis da leitura, de acordo com
JÚNIOR A. F, in PAZ, Octávio, (1982. p.10, 11)
Nível da decodificação: este nível abrange a superfície textual, englobando
desde o conjunto de signos lingüísticos que constitui a expressão corporal da mensagem (o
texto) até o conjunto de informações e referências culturais básicas e necessárias à
compreensão mínima daquilo que se lê. No nível da decodificação a nossa preocupação
principal deve ser com o que diz o texto;
Nível da associação: a analogia se constitui, aqui, a fonte de força principal,
uma vez que o leitor naturalmente insere o texto lido num conjunto de paradigmas que lhes
são lhe fornecidos, quase que automaticamente, pela sua memória efetivo-intelectual. Os
afetos aqui mobilizados situam-se para além dos juízos de gosto e constituem um importante
fator de construção da leitura, sugerindo, influenciando e até mesmo determinando a
recepção crítica e a interpretação do texto literário. Exatamente por apoiar-se no pensamento
analógico, tal nível se revela potencialmente perigoso, uma vez que, na escola, pelo menos,
o leitor terá de respeitar os limites e possibilidades de leitura que objetivamente lhes são
oferecidos pela materialidade do texto literário.
No nível da associação, a nossa preocupação principal deve ser com o que o
texto faz lembrar.
Nível da análise: este nível implica um conjunto maior de abstrações do
que os anteriores por apoiar-se em proposições teóricas e sistemas conceituais de
abordagem do texto literário. Aqui, é essencial dominar um conjunto mínimo de
conceitos (instrumental teórico) que permita estudar o texto literário com rigor e
objetividade, privilegiando a identificação dos elementos que constituem a sua estrutura
47
e estudando as relações (de sentido, ressalte-se!) estabelecidas entre estes. Neste nível,
nossa principal preocupação deve ser identificar como o texto diz o que diz;
Nível da interpretação: este nível implica um distanciamento crítico entre o
leitor e o texto, fundamental para que se produza ao menos um juízo de valor e um
posicionamento crítico sobre aquilo que se leu.
Os três níveis anteriores concorrem, neste, para que a leitura se realiza com
profundidade. A formação do juízo de valor sobre o texto lido estrutura-se sobre o conjunto
de informações de diversas ordens que no ato da leitura, o texto põe em circulação Se o
nível da análise implica necessariamente numa parada que permita e ―dissecação‖ do texto
literário (e a análise da construção do/s seu/s sentido/s, o nível da interpretação implicará
recolocar o(s) sentido (s) em movimento, ou seja, em além de reconhecê-lo, avaliá-lo,
posicionar-se sobre ele. Daí a importância, para este nível, de um saber básico sobre história,
sociologia, filosofia, geografia, etc... Neste nível, devemos nos preocupar com o que o texto
quer dizer com aquilo que diz. Estes níveis serão trabalhados nas leituras apresentadas a
seguir:
Original do autor Joaquim M. de Macedo, dedicado à sua irmã17
Texto 1
―Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias, não mulher: ele te engana!
As lágrimas são gotas de mentira
E o juramento manto da perfídia.‖
Poeta do romantismo brasileiro que se posiciona entre o romantismo/
realismo, quando expõe a idealização do amor em contra partida a realidade deste
mesmo amor. Como romântico escreve em versos livres, ou seja, não obedece à
regularidade da métrica, liberdade artística que se estende a cada pessoa que tenha
talentos voltados para a arte, uma tendência do romantismo. Mas toma o cuidado nas
formas vocabular.
17
Disponível no site: http://www.fotolog.com.br/stephaniealves/78728969- acesso em 25/05/2010
48
Decodificando da letra para a palavra, sentença e significado, uma
compreensão mínima do que se lê no texto para que a obviedade do que está à vista seja
subsídio para a interpretação dos diversos elementos que constituem o texto.
O que é pranto?
O que é juramento?
O que é manto?
O que diz o texto?
Associando a experiência vital do leitor/aluno. Podemos chamar de
plano analógico da recepção. Aquele que foge da reflexão e vai às referências
individuais do leitor.
Você já se apaixonou por alguém?
Já jurou que amava alguém?
Fingiu amar alguém?
Analisando o texto, apoiando-se mais nos domínios de instrumentos
conceituais já estudados pelos alunos em series anteriores.
Dirigir a eles os questionamentos:
Quais as personagens do texto?
Há figuras de linguagem no texto. Identifique-as.
As palavras empregadas no texto tem sentido conotativo ou denotativo?
Comente o tempo e o espaço presentes no texto.
Qual é o tema do texto?
O texto é construído de quantas estrofes e de quantos versos?
Há no texto um vocativo. Identifique-o.
49
Interpretando para que se produza ao menos um juízo de valor e um
posicionamento crítico sobre o texto.
Em relação aos sentimentos entre homem e mulher, como os dois
autores tratam o assunto sobre o amor?
O que quer dizer a imagem nos dois últimos versos?
Você concorda com a idéia implícita nos últimos dois versos? Comente.
Segue uma versão do texto 1, feita por Manuel Bandeira, poeta da primeira
geração modernista. A caracterização deste período é facilmente identificável na obra
do poeta pela utilização que faz das formas livres, tanto no que diz respeito à métrica
quanto à rima é capaz de criar, recriar poeticamente cenas prosaicas, situações banais
do dia-a-dia, filtradas por lentes líricas, por meio de uma linguagem simples. Manuel
Bandeira, brincando faz uma crítica ao estilo formal da linguagem própria de Portugal
(pronome de tratamento ―tu‖), utilizada pelo poeta Macedo. Enquanto ele, Manuel
Bandeira, modernista que era, contesta a linguagem que marca a tradição, e usa o
pronome de tratamento ―você‖ se valendo ainda de linguagem coloquial, o que pode
ser notado no poema:
Tradução18
―Tereza, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar se ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita Tereza
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA‖
2
18
Disponível no site: http://www.pensador.info/frase/NjQwODcw/,. Acesso em 28/05/2010
50
Qual dos dois poemas a linguagem poética promove o desvio do código
normativo da língua?
O aluno se posiciona como o sujeito de quem os autores falam, e produz
um texto poético dirigido às personagens, fazendo oposição ao dito nos
textos. Usando o pronome na terceira pessoa do singular.
Público Alvo1º e 3º anos TAREFA-4 Três aulas
Aprofundamento e verificação da aprendizagem
O professor propõe aos alunos escolha livre de poesias ou poemas para
que sejam lidos e, após uma leitura silenciosa, passará à leitura em voz alta. A classe
escolhe a que mais gostou e, coletivamente, faz o estudo da poesia. Analisando de
acordo com os níveis estudados anteriormente.
Dinâmica, o professor divide a sala em sete grupos a cada grupo
entrega uma tira com parte da poesia ―Procura da Poesia‖, representada em cores
diferentes, propõe um tempo para que cada grupo leia a sua parte e combine a entonação
de voz. Após o tempo marcado, inicia-se a leitura em forma de jogral. E a última estrofe
é lida por todos.
Comentário do professor:
A poesia a seguir faz parte do livro ―A Rosa do povo‖, que reúne poesias
escritas pelo poeta Carlos Drummond de Andrade entre a segunda e a terceira fase
modernista, um período conturbado devido a II Guerra Mundial. São vários escritos de
poemas dentre eles ―Procura da poesia‖, uma obra que retrata bem a preocupação dos
51
escritores da época sobre a necessidade de pensar a importância (utilidade) da poesia
na arte literária e a sua função social.
TEXTO - B
Procura da poesia19
Carlos Drummond de Andrade
1
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina.
As finalidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
2
Não faças poesias com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo
tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
Que se prevalecem do equivoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes isso ainda não é poesia.
3
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de Espuma.
O canto não é natureza
Nem os homens em sociedade.
Para ele chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
19
Disponível no site:http://bemvindo.quebarato.com.br/bemvindo-bf.html – Texto ―Procura da poesia‖- acesso em 04/05/2010.
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Elide sujeito e objeto.
4
Não dramatizes, não invoques,
Não indagues. Não perca tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
Vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
Desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
5
Não recomponhas
Tua sepultada e merencória infância
Não osciles entre o espelho e a
Memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
6
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
Há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convives com teus poemas, antes de escrevê-los.
7
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
Com seu poder de palavra
E seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
53
Como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
No espaço.
8
Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma
Tem mil faces secretas sob a face neutra
E te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Todos
Repara:
Ermas de melodia e conceito
Elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono
Rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
Atividade: Analisando o texto: Procura da Poesia, o professor faz
questionamento:
Em que versos se encontram a seguinte idéia: o poeta lança alguns
interditos sobre o que não é poesia. Isto significa que, a matéria-prima da
poesia, de acordo com o raciocínio exibido, não são as emoções, a
memória, o meio social, o corpo.
Cite algumas figuras da linguagem presente na poesia. Comente com
seus colegas.
Faça uma lista de palavras que você gostaria de procurar os significados
no dicionário e depois apontar a definição apropriada dentro do texto.
O que o autor explica na primeira parte do poema?
Na segunda parte do poema, o autor define o que é poesia. Explique.
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Por se tratar de uma poesia complexa, o professor complementa
depois ou durante a execução da atividade:
Primeira parte: Define-se o que não é poesia. Os acontecimentos não são
poesia, são fecundados pela palavra poética. Valendo-se do imperativo negativo da 2ª
pessoa do singular, o poeta lança alguns interditos sobre o que não é poesia. Isto
significa que, a matéria-prima da poesia, de acordo com o raciocínio exibido, não são as
emoções, a memória, o meio social, o corpo. São as palavras e como elas são elaboradas.
Segunda parte: O poeta fala sobre o que é poesia, revitalização da palavra,
recuperação da linguagem. Aqui começa a pedagogia poética. A penetração paciente no
mundo da linguagem, o entrar sem ruído no mundo das palavras. Sua recuperação se
dará pelo engajamento no reino dessas pelas ações do poeta no universo verbal,
reforçando a idéia, isto é, o poema pode até apresentar temática social, existencial,
laudatória, emotiva, mas tem de, acima de tudo, dar atenção à elaboração do texto, ou
seja, saber lidar com a função poética da linguagem.
Como no texto há o uso da gradação (figura que consiste em dispor várias
palavras ou expressões que se enriquecem mutuamente). E outras figuras que norteiam a
essência do poema. Coloca a noção de estrutura circular articulada pelo contra ponto do
som e do silêncio. ―tem mil faces secretas sob a face neutra‖, é o clímax do processo de
penetração no ―reino das palavras‖, enfatizando as múltiplas e infinitas virtualidades do
signo lingüístico quando surpreendido em si mesmo.
A descoberta das ‖mil faces secretas sob a face neutra‖ implica a procura
das dimensões inexplorada imperceptíveis à sensibilidade que se propõe a utilizar a
palavra unicamente como meio ou instrumento para a comunicação de idéias
sentimentos ou fatos.
Última estrofe: Começa a procura da poesia. A necessidade de recuperar a
vitalidade da palavra, de impedir seu atrofiamento e de resgatar no paciente trabalho de
penetração a música e o sentido ―melodia‖ e ―conceito‖ antes que se dissipem. O estado
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de definição em que se encontram as palavras que é a geratriz das oposições que
impulsionam todo o movimento da procura da poesia.
Assim, o professor apresenta as considerações de Mário de Andrade
(Estética, 3, p.327)20
, também modernista:
Poesia é uma arte. Toda arte supõe uma organização, uma técnica,
uma disciplina que faz das obras uma manifestação encerrada em si
mesma. A obra de arte é antes de mais nada uma organização
fechada, em toda criação artística deve haver a intenção da obra de
arte. Essa intenção é que torna uma entidade valendo por si mesma,
desrelacionada. Desrelacionada, não quero dizer que não possa ter
intenções até práticas de moralização, socialização, edificação, etc.,
quero dizer que se torna livre da percepção temporal vivida da
sensação e do sentimento real.
Todas estas definições se relacionam com o sentido das palavras que formam
o texto, o contexto, o intertexto. É uma luta dos poetas modernistas em levar seus objetos à
tensão estética máxima, sem se verem submetidos a regras de metrificação ou formas
poéticas fixas. (sempre o mesmo número de versos e estrofes). O que se opõe ao verso livre.
(aqueles que não obedecem a nenhum esquema. Não há metro, mas apenas ritmo, chamado
de ―ritmo interior‖.
Tarefa de casa: - Propor aos alunos que queiram se houver possibilidade,
numa outra aula, declamarem uma poesia. Assim, pode se fizer uma troca de apresentação:
primeiro declama-se na sala da própria turma e depois na turma de outra sala.
Isso feito, o professor deixa expostas na sala de aula de 1º e 3º anos,
várias poesias e pede que os alunos escolham uma ou mais poesias para uma leitura
silenciosa.
a) Na sequência, divide a turma em grupos de no máximo cinco alunos.
Cada grupo escolherá uma poesia para ser declamada e o (a) seu (sua) declamador (a) no
final da unidade.
20
In Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo/SP. Contrix, 1994, p. 342.
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b) É preciso que haja um consenso de cada grupo para a escolha do
declamador. E que este esteja de acordo.
Público Alvo1º e 3º anos TAREFA-5 Duas aulas
Leitura, interpretação e compreensão do poema
O poema a seguir, critica a poesia de sua época, no caso o concretismo -
tendência segundo a qual a arte deve concretizar ('materializar') visualmente os
conceitos intelectuais, através de formas geométricas em movimento e cores artificiais,
(o formalismo), abandonando a representação do real e do emocional que ainda
dominara a arte moderna. Isso é incômodo para o poeta porque se acha impossibilitado
de tratar da vida real em suas poesias. Pois, em seu poema ―Não há vagas‖, deixa
transparecer através da ironia, uma crítica à arte que não esteja a serviço da
conscientização sociopolítica que move a humanidade.
O eu - lírico reclama que a poesia não está preparada para tratar de
situações concretas e sim, de imagens idealizadas. Isso fica bem transparente na última
estrofe do poema. A qual expõe a impotência da poesia diante da realidade injusta.
TEXTO-C Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado: ―não há vagas‖
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
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Estratégia de ação após a leitura do texto:
Para o primeiro ano - discussão oral sobre os temas abordados no poema e a resolução
(individual) das questões:
O que você entendeu sobre o título: Não há vaga?
O poeta faz uma crítica aos problemas sociais. Quais os temas abordados
neste poema?
O professor faz um levantamento da preferência do aluno em relação aos
diversos gêneros textuais. E junto com a classe define o que é, para que serve e qual a
linguagem que deve ser empregada, etc.
Após isso, o aluno (em dupla) ilustra o poema de acordo com a
interpretação e criatividade – pode se valer de charge, tirinha, paráfrase, recriação da obra
Operário (Tarsila do Amaral) ou outros instrumentos ilustrativos.
Para o terceiro ano - discussão oral sobre os temas abordados no poema e a resolução
(individual) das questões:
O que você entendeu sobre o título: Não há vaga?
O poeta faz uma crítica aos problemas sociais. Quais os temas abordados
neste poema?
É possível perceber a partir do texto, argumentação do autor? Como?
O professor corrige a resposta dos questionamentos, discute a questão da
poesia dissertativa, apresenta texto de opinião (digitado, de livro didático ou jornal),
fazendo a localização no texto, de acordo com a estrutura a seguir:
Introdução: Lembre-se que a introdução apresenta o assunto e o
posicionamento do autor. Ao se posicionar, o autor formula uma tese ou a idéia principal
do texto. Evite as formas comuns: atualmente, hoje em dia, a cada dia que passa, nos
dias de hoje. Procure outras formas e faça a delimitação do tema.
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Desenvolvimento: É o momento de relacionar causas, efeitos,
comparações no tempo e no espaço. É importante expressar o conhecimento adquirido
por meio de experiências, de leituras em jornais, revistas, documentários da TV,
pesquisas, menção histórica.
Conclusão: Uma síntese das idéias desenvolvidas no texto, apresentação
soluções para os problemas levantados, ou ainda, pode apoiar-se numa citação científica,
filosófica ou literária que leve ao texto uma nova significação.
Na sequência, propõe aos alunos a produção de texto dissertativo:
Dos temas abordados, qual em sua opinião é o problema mais grave dentro
da sociedade brasileira? Disserte em três parágrafos.
Depois de escrito o texto pelos alunos, o professor pede aos que quiserem
fazer a leitura em voz alta o faça, faz-se a correção e devolve para a reescrita, se
necessário.
Exposição dos trabalhos
Primeiro ano expõe no mural do colégio o trabalho de ilustração interpretativa
do poema.
Terceiro ano expõe no mesmo mural um cartaz com o poema escrito com
letras bem visíveis e, ao lado, colar as dissertações da classe.
Das tarefas realizadas e dos textos lidos no decorrer do trabalho com
poesia, voltar aos cartazes elaborados com a definição de poesias e poemas feitos no inicio
desta unidade. Reformular os conceitos. E expor também, no mesmo mural.
O professor disponibilizará diversas poesias da literatura clássica,
romântica, moderna e contemporânea dos autores: Adélia Prado, Gonçalves Dias, Jorge de
59
Lima, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Manuel Bandeira, Graça Aranha,
Gregório de Matos, Jorge Amado. E outros de preferência do aluno. E com isso deixar os
alunos à vontade para criar frases de incentivos, com a finalidade de outros lerem a poesia
escolhida. Pode utilizar-se do exemplo mencionado posteriormente a esta tarefa. Para que
seja exposto na apresentação do projeto a ser elaborado e executado na tarefa 6.
Público Alvo1º e 3º anos TAREFA-6 Seis aulas
Projeto: A poesia na praça
Este trabalho deve ser elaborado pelo professor em conjunto com os alunos
do lº ano, e analisado, discutido e reformulado pelos alunos do 3º, supervisionado pela
equipe pedagógica e administrativa da escola, de acordo com o esboço a seguir:
COLÉGIO:
TÍTULO DO PROJETO
ORIENTADOR
IDENTIFICAÇÃO (entidades escolares, secretarias, entidades do poderes
executivos, e participantes da sociedade em geral como grupo musical, poetas, e outros.)
INTRODUÇÃO
Deve demonstrar o que o será desenvolvido, conteúdos e temáticas dos
assuntos abordados no decorrer da unidade.
JUSTIFICATIVA
Espaço para descrever o que levam a escola expor os trabalhos realizados na
sala de aula num local público fora das dependências escolares. Que importância tem esse
ato para o desenvolvimento do gosto e a prática da leitura.
ATIVIDADES
Devem-se descrever todas as atividades que serão acompanhadas, estudadas e
executadas, durante a unidade.
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CRONOGRAMA:
Distribuição das várias etapas do projeto ao longo do período, previsto para
sua execução.
REFERÊNCIAS
As referências podem ser os livros, os jornais, as revistas, os artigos, os sites,
os DVDs, os CDs e outros materiais utilizados para compor o trabalho.
OBJETIVOS
O que se pretende alcançar com a exposição dos trabalhos
ESTRATÉGIAS (A descrição a seguir é apenas a título de exemplo,
visto que, o projeto vai ser elaborado com os alunos, professores. equipe
pedagógica e administrativa da escola):
A exposição na praça
Alunos de 1º, 2º e 3º anos, monitorados pelo professor, preparam os trabalhos
com poesias: criação, recriação, ilustração, declamação e outras atividades relacionadas ao
conteúdo trabalhado durante esta unidade. Mesmo que o público alvo da aplicação deste
projeto de intervenção sejam alunos de 1º e 3º, há que incluir os alunos de 2º ano, de
acordo com os professores regentes.
Para isso, os professores destes serão incentivados a fazer parte das
atividades. E sendo um projeto do ensino médio, outras escolas serão convidadas para
participarem com os trabalhos dos alunos também de ensino fundamental.
Os trabalhos são norteados por produção e reprodução de poesias de alunos e
poetas da comunidade e também de autores renomados. E apresentados em forma de
trabalhos escritos e orais, declamações de poesias encenadas de acordo com o tema, a
critério da criatividade dos grupos já selecionados, e preparados desde a tarefa desta
unidade. Será em praça pública, um evento que deve ser inserido no plano de ação anual
da escola e, pode ser em data agregada às festividades do aniversário do município que
neste caso, será em novembro.
61
Preparação do ambiente para a apresentação dos trabalhos. O ambiente será
preparado por todos os envolvidos no projeto: alunos, professores de todas as áreas de
ensino em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Janiópolis/PR e
comunidade (grupo de violeiros e de pagode).
O espaço será decorado com algumas poesias na íntegra e outras apenas com
indicativos curiosos, preparados no decorrer das tarefas. Exemplo:
Você sabe por que o funcionário público não cabe no poema? Leia Não há Vagas, de
Ferreira Gullar.
Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/035/35cult_poesia.htm
Ou Toda Poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980. p. 224..
Espécie de cartazes feitos em papel bobina, cartolina, ou estilo banner para
provocar o desejo de ler. É uma atividade em dupla, de acordo com a leitura de poesia
feitas no decorre das aulas, no lº e 2º semestre de cada ano. (pode sofrer alterações). Para
tanto, estes devem indicar a bibliografia e o local onde encontrar a obra, que mais
provavelmente será na Biblioteca Pública Municipal da cidade, em site, mesmo no colégio
de origem.
RESULTADOS ESPERADOS
Uma breve descrição da expectativa do que este projeto possa trazer de
aprendizagem e consciência da importância da leitura na vida e para a vida das pessoas.
62
UNIDADE 2 FÁBULA
Público alvo 1º e 3º anos
A fábula, literatura para criança?
Quem não gosta de ler uma boa fábula?
A fábula é um meio que cativa o ouvinte/leitor e faz tomar gosto pela leitura,
pois facilita a compreensão, devido ter uma estrutura narrativa contendo: tempo, espaço,
personagem, foco narrativo, narrador, clímax. Esta estrutura se faz clara e de rápida
localização.
Fábula: Sabedoria de caráter moral
As fábulas são pequenas histórias escritas com a intenção de transmitir algum
ensinamento sobre a vida, ou o que se chama "lição de moral". No final de muitas delas
o autor coloca uma frase que resume a lição. Você pode ter ouvido algumas dessas
frases, que são bem conhecidas, como por exemplo: "Quem com ferro fere, com ferro
será ferido". A maior parte das fábulas mostra situações típicas do dia-a dia dos seres
humanos, mas representadas por seres inanimados, bichos, objetos.
Os mais famosos fabulistas (autores de fábulas) foram: Esopo (Grécia, 600
a.C.) e La Fontaine (França, século 18). No Brasil, Monteiro Lobato (século 20),
reescreveu muitas delas; nos dias de hoje, o mesmo foi feito por Millor Fernandes.
Esopo, na Grécia antiga, era escravo e viveu no século VI a.C, que usava
nomes de animais para escrever sobre pessoas e acontecimentos da época. Assim, dizia as
verdades sem usar o nome ou o cargo das pessoas envolvidas.
Para Esopo, este era um meio de representar os defeitos e as virtudes
humanas. O exemplo disso é que se criou o personagem leão para representar o poder
absoluto do rei; o cordeiro para simbolizar a mansidão, a pureza, a ingenuidade; a raposa,
63
a astúcia; a formiga, o trabalho, etc,. Vale citar que, embora, com fundo educativo, não há
verossimilhança, por ser história inventada, com finalidade de transmitir sabedoria de
caráter moral ao homem.
Surge depois de Esopo, outro fabulista Fedro, aquele escravo grego, este
escravo romano. Fedro era um recriador das fábulas de Esopo adaptando para a realidade
da época I d.C.
Posteriormente, La Fontaine, no século XVII da era cristã quando fez seu
primeiro livro de Fábulas e o dedicou ao pequeno Delfim de França, um menino de
apenas seis anos de idade.
Quanto à função educativa das fábulas do autor Esopo, La Fontaine,(1989,
p.30) afirma que:―a leitura de suas obras espalha na alma, sem que se sinta, as sementes
da Virtude, ensinando-nos a nos conhecer sem que disto nos apercebamos, crendo até que
estejamos fazendo outra coisa inteiramente diversa.‖
Esse é o tipo de gênero que pode ser representado em forma de prosa
(expressão natural da linguagem escrita ou falada, sem metrificação intencional e não
sujeita a ritmos regulares) e em versos (cada uma das linhas de um poema,
caracterizando-se por possuir certa linha melódica ou efeitos sonoros, além de apresentar
unidade de sentido.
A unidade de sentido pode ser alcançada a partir de atividades que conduzam
o aluno a perpassar os três níveis essenciais à leitura, que segundo os autores PLATÃO e
FIORIN, (1991, p. 37) são:
1º - O nível no plano superficial, onde afloram os significados mais concretos e
diversificados. É nesse nível que se instalam no texto o narrador, os personagens, os
cenários, o tempo e as ações concretas;
2º - Uma estrutura intermediária, onde se define basicamente os valores com que os
diferentes sujeitos entram em acordo ou desacordo;
3º - Uma estrutura profunda, onde ocorrem os significados mais abstratos e mais simples.
É nesse nível que se podem postular dois significados abstratos que se opõem entre si e
garante a unidade do texto inteiro.
64
Convém ao professor levar o aluno a perceber que para analisar, compreender e
interpretar um texto, no caso uma narrativa, mesmo em verso, é preciso levar em
consideração a sua estrutura:
Análise da estrutura:
Enredo: introdução, conflito, clímax e desfecho;
Personagem: ocupam a posição principal (papel mais importante) ou secundária
(participação menor dentro da narrativa);
Espaço: lugar onde acontecem as ações, inseridas com características sociais, culturais,
econômicas, morais e psicológicas);
Tempo: identifica a época que pode ser atual ou antiga, seja marcado pelo tempo
cronológico (noite, tarde, manhã, um dia, naquele tempo) ou psicológico, tempo
subjetivo, marcado pelas sensações ou pensamento dos personagens.
Análise Discursiva
Decodificação: O que diz o texto = Plano superficial;
Associação: O que o texto faz lembrar = estrutura intermediária;
Análise e Interpretação: O que o texto quer dizer com aquilo que diz; como o texto diz
o que diz = estrutura profunda.
Exemplo: O cavalo e o asno de La Fontaine
Neste mundo é preciso um ao outro ajudar:
se teu companheiro expirar,
terás de carregar seu fardo.
Ao lado de um cavalo assaz mal-educado,
seguia um asno triste e sobrecarregado.
Sem carga ia o cavalo, e o asno em passo
tardo.
―E eu poderei, assim, chegar à aldeia
vivo.‖
O cavalo não deu atenção ao pedido,
E o asno mais à frente, morreu exaurido.
Veio então o arrependimento,
Pois, além da carga pesada,
Lá se foi ele pela estrada,
65
Temendo sucumbir sob o peso excessivo,
O asno pede ao cavalo colaboração:
―-Alguns fardos, apenas, não te cansarão,
Levando a pele do jumento.
No nível da decodificação:
1- O asno sobrecarregado e o cavalo indiferente ao sacrifício do companheiro.
2- O asno teme não conseguir chegar ao destino e pede ajuda ao cavalo, sem sucesso.
3- O asno morre e o cavalo teve que carregar sozinho todo o peso e ainda o couro do
asno.
Nível da associação
O personagem protagonista desta fábula carrega a responsabilidade e o peso
nas costas, o qual representa na vida real, o sujeito simples, alienado desprovido de
conhecimento e, por conseguinte, sem argumentação diante dos aproveitadores
egocêntricos que visão lucrar e obter o seu conforto e bem estar. Este egocentrismo, no
caso da fábula de La Fontaine, é representado pelo personagem antagonista (o cavalo),
que age com indiferença em relação ao sofrimento do outro na labuta árdua, às vezes
desumana, a que muitas vezes está condicionado.
A indiferença, a falta de solidariedade, o egocentrismo são sentimentos
contrários ao sucesso do homem em todas as estâncias da vida. Que faz lembrar os
grandes empresários, fazendeiros, latifundiários, estes que se julgam donos de todos os
bens pelo artifício de colocar cargas terríveis sobre seus subordinados, além disso,
driblam os direitos trabalhistas e exploram a classe trabalhadora. Por saber que a maioria
dessa classe não tem conhecimento de tais direitos, e outros precisam do emprego, por
isso se submetem a carregar o fardo sozinho, o que gera o desequilíbrio patológico físico
e muitas vezes emocional, causando a morte física (do corpo) literalmente falando, ou a
morte da perspectiva de prosperidade daqueles que vivem em situação de ―jumento‖
diante da sociedade capitalista. Isto é, os pequenos operários, os cortadores de cana, os
funcionários públicos de baixo escalão, etc., explorados. Estes sentem a falta de estímulo
66
e com isso, a degradação do sentimento de dignidade perante a vida. Além de não
produzir com eficiência, pode até chegar ao extremo, a morte.
Assim, o comportamento egocêntrico dos ―cavalos‖ da vida contrapõe ao
efeito positivo almejado. Uma vez que a exploração do sujeito não é uma ponte segura
para a acessão aos lucros. Neste contexto, a fábula mostra que é preciso haver equilíbrio
nas responsabilidades, levando em conta a diferença entre dó e solidariedade em relação
ao que passa o outro. Sentir dó apenas e não ser solidário é o mesmo que sentir e cruzar
os braços.
Quanto à solidariedade, este sentimento tem como pano de fundo as palavras
latinas solidum (totalidade, soma total, segurança) solidus (sólido, maciço, inteiro), assim,
solidariedade tem sentido de determinação, perseverança no empenho pelo bem estar de
todos. Fundamentadas nas encíclicas do Papa Karol Wojtyla21, que tomado pela
responsabilidade de empenhar na conscientização da humanidade, mais precisamente dos
cristãos católicos, a sensibilidade em relação aos menos favorecidos, ou seja, que se
pudesse refletir que todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos, que a ajuda
mútua entre empregado e empregador, entre o simples e o mais esclarecido é o caminho
da ética que resulta no progresso. Visto que, a indiferença, a postura egocêntrica a que um
se posiciona diante de outro, pode ser satisfatória no momento. Mas, se partirmos das
evidências do texto da fábula e o contexto da vida em relação ao operário explorado, a
evidência de o operário cair enfermo ou morrer, é lógica, como também é lógico o
explorador ter que fazer o trabalho que foi paralisado, no caso do operário ficar afastado
do serviço por problema de saúde, ou contratar outro para ocupar o lugar. E, mesmo
assim, não estará livre de manter o anterior, conforme a lei trabalhista.
Assim, La Fontaine por meio de suas analogias faz os ―cavalos‖ concluírem
que ―Bem mereço o castigo. Se houvesse ajudado o ―asno‖, estaria com metade desta
carga apenas". Isto é, não estaria carregando o peso da despesa dobrada, se tivesse sido
solidário e justo.
No nível da análise
21
João Paulo II, Sollicitudo rei socialis, São Paulo: Paulinas, 1989.
67
Na fábula ―O cavalo e o Asno‖, o narrador expõe dois personagens
explicitando a situação de autonomia X dependência; explorador X explorado. Para isso,
utiliza-se das personagens cavalo e asno.
Para justificar ações ou atitudes morais e intelectuais decorridas no texto, o
narrador cria, na primeira estrofe, uma espécie de provérbio. Neste provérbio, faz uso do
pronome da 2ª pessoa, um estilo clássico da linguagem proverbiana. Como narrador
observador não participa diretamente da história.
Embora, ao mesmo tempo, aparece o foco autor onisciente intruso, notado no
primeiro verso da última estrofe do texto, ―Veio então o arrependimento‖, aquele que
invade a subjetividade dos personagens, no caso, lê o arrependimento do cavalo por não
ter atendido o apelo do companheiro asno.
E em relação ao tipo de personagem, destaca-se como protagonista o asno,
anti-heroi. Ele que é o mentor do conflito central dos fatos narrados. Antagonista, o
cavalo, elemento egocêntrico. São, psicologicamente, personagens estáticas que não
apresentam evolução de comportamento no decorrer da narrativa.
Quanto ao tema é possível focar a falta de solidariedade, a negação da ajuda,
o individualismo excêntrico. O que entrelaça às unidades temáticas: exploração,
egocentrismo, descaso, desdenho, indiferença, morte. Desvendando assim, um paralelo
entre altruísmo X egocentrismo, presente na terceira e quarta estrofe do texto. O asno
carregando, sozinho uma carga de peso excessivo, sentindo que não daria conta de chegar
com vida à aldeia, pede ajuda ao companheiro, o qual não lhe é solidário.
O texto é escrito em versos, o autor se vale de cinco estrofes e quinze versos,
nos quais estão presentes figuras de linguagem, a começar pela inversão que permeia no
texto; a metonímia no último verso da primeira estrofe ―fardo‖ – representando o símbolo
pela coisa simbolizada – ‖terás de carregar seu fardo‖. Isto é, terás que carregar o peso; a
ironia, na última estrofe.
Quanto ao vocabulário, o texto traz a palavra ―assaz‖ um advérbio de
intensidade, não muito comum, bem como o adjetivo ―exaurido‖. São vocabulários
representativos, focalizando a densidade do sentido das palavras para expressar a
grosseria do cavalo e a exaustão do asno.
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Nível da Interpretação
As personagens simbólicas cavalo e asno, na narrativa do texto, pontuam a
diferença entre um e outro elemento da esfera social. Isso exige do leitor um
conhecimento básico das relações sociais e culturais para então, situar-se e perceber ―o
que o texto quer dizer com aquilo que diz‖.
Partindo da primeira estrofe ―Neste mundo é preciso um ao outro ajudar:/se
teu companheiro expirar, /terás de carregar seu fardo‖. Isso nos remete à reflexão de que a
ajuda mútua é essencial para a nossa identidade humana, que geram os movimentos
emancipatórios de libertação, isto é, o sujeito faz a ação e recebe a ação. Cada um de
acordo com laços naturais (de sangue) ou culturais (adquirido pela relação de crença
religiosa ou outras).
Assim, a libertação que ocorre dentro da narração, relata, por um lado, o asno
que designa o elemento que passivo, na labuta excessiva reclama, mas não reage e por
outro lado o cavalo, o individualista, desprovido do senso de solidariedade, em
detrimento à determinação pessoal de responsabilidade mútua. Daí então as
conseqüências, às vezes a morte inconseqüente de um, e o arrependimento do outro.
Como diz a última estrofe do poema. ―Veio então o arrependimento, /Pois, além da carga
pesada, Lá se foi ele pela estrada, Levando a pele do jumento‖. Aqui se pode observar a
ironia construída entre a liberdade de negar ajuda e a obrigatoriedade de arcar com as
conseqüências desta liberdade.
É preciso ainda, que o leitor compreenda que o texto não é algo vago que se
escreve por escrever. Ele é sempre dirigido a alguém, ou seja, a situação de produção de
um texto visa a um interlocutor, a quem ele se dirige.
Público Alvo1º e 3º anos TAREFA-1 Três aulas
Criando e recriando texto
69
I - Atividade - Completar o quadro:
Caracterização das personagens
Apresentação de cenários.
Indicação de tempo, espaço;
Linguagem:
(estilo, vocabulário, presença de
diálogo, etc.)
Moral
Após o quadro completado, é hora de correção e reforço no
desenvolvimento da decodificação do texto
II – Atividade: Dividir a sala em quatro grupos, um representante de cada grupo sorteia a
atividade a ser desenvolvida de acordo com as letras a, b, c, d.
a) Dramatização (transpondo para o personagem homem)
b) Reprodução em prosa
c) História em quadrinhos
d) Charge
III - Atividade (individual) - resolver as seguintes questões:
Cite uma passagem do texto que sirva para ilustrar que o cavalo agiu com
descaso à súplica do asno.
Em seu ponto de vista, que atitude deveria tomar cada personagem? Justifique.
Segundo o ponto de vista do autor, quais as lições que o texto passa ao
leitor?
Tarefa de casa - É importante que o professor peça aos alunos que
façam uma pesquisa sobre a biografia dos autores: Esopo e La Fontaine para uma
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explanação oral na próxima aula. Distribuídos da seguinte maneira: os grupos A e B
pesquisam a biografia de Esopo; os grupos C e D pesquisam a biografia de La Fontaine.
Público Alvo1º e 3º anos TAREFA-2 Três aulas
Atividades relacionadas à fábula
Apresentação da bibliografia dos fabulistas mencionados na tarefa anterior.
As pesquisas devem ser apresentadas oralmente e anotadas no caderno, pelos membros
ouvintes.
IV - Atividade – Leitura: Criando e recriando o texto
Em toda a bela estação uma formiga incansável tinha levado para sua casa as mais
abundantes provisões: quando chegou o inverno, estava à farta. Uma cigarra, que todo o
verão levara a cantar, achou se então na maior miséria. Quase a morrer de fome, veio
esta, de mãos postas, suplicar à formiga lhe emprestasse um pouco do que lhe sobrava,
prometendo pagar-lhe com o juro que quisesse. A formiga não é de gênio emprestador;
perguntou-lhe, pois, o que fizera no verão que não se aprecatara. ―No verão, cantei, o
calor não me deixou trabalhar.‖ — Cantastes! tornou a formiga; pois agora dançai.
MORALIDADE: Trabalhemos para nos livrarmos do suplício da cigarra, e não aturarmos
os motejos das formigas.
a) Comentar outras versões da fábula.
b) Narrar em 1ª pessoa, julgar os fatos, argumentado, tomando partido contra ou a favor dos
personagens da fábula. Na seqüência o aluno monta o diálogo entre a formiga e a cigarra
segundo o juízo de valores ao que se propõe a assumir.
Dinâmica: O professor entrega a cada aluno uma folha numerada para a elaboração do texto.
Depois, com uma urna contendo a numeração, passa aluno por aluno para que pegue um papelote
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e leia o número em voz alta. Quem tiver o tal número lido deverá entregar o texto ao sorteado.
Assim sucessivamente, até que todos tenham passado o texto adiante. Após o sorteio, o professor
instiga os alunos a comentarem a estrutura do texto: enredo, personagem espaço, tempo.
Após o trabalho escrito do texto, a sala deve escolher os três melhores
textos para que os professores da escola apontem o melhor dos três para ser lido no
Programa Cultural da Rádio Comunidade FM de Janiópolis.
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Machado de Assis
Dom Casmurro
UNIDADE
3
ROMANCE
Público Alvo 3º anos
Aluizio de Azevedo
O Cortiço
Enquanto que o romantismo era o centro dos sentimentos, o Realismo se
posiciona contra o romantismo. Isso reflete nas obras dos autores da época, em que
procuram arrolar os problemas da sociedade, os quais vinham surgindo a todo vapor,
devido grandes transformações sociais, culturais, políticas e econômicas do século XIX,
um período caracterizado pela consolidação do poder da burguesia e o crescimento do
proletariado.
Do ponto de vista econômico, o Brasil, vivia um período de crescimento das
indústrias, o desenvolvimento da energia elétrica, o descobrimento de microorganismo
que causavam a tuberculose e outras doenças, incremento da navegação, inauguração de
bancos e linhas telefônicas, etc. A burguesia em comunhão com o poder oligárquico,
agrário e coronelístico enriquecia, enquanto que o operário vivia em situação de miséria.
É neste contexto histórico que as idéias modernas vinda da Europa, destacam-
se as doutrinas positivistas e deterministas que deram fundamento à literatura pós-
romântica. Esta literatura realizou-se distintamente nas Escolas Realistas. Consideram-se
dois romances fundamentais, que modificaram o curso de nossas letras: Aluízio Azevedo
publica "O mulato", considerado o primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de
Assis publica "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o primeiro romance realista de nossa
literatura.
O realismo de Machado de Assis buscava refletir nas suas obras as manobras
do dia a dia das pessoas da época, século XIX, e com isso explicitava as condições dos
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homens comuns, e com seu jeito pessimista e irônico, desmascarava as aparências da
burguesia difundida nos setores da elite. Suas obras realistam apresentam nomes próprios
em seus títulos ("Brás Cubas"; "Quincas Borba"; "Dom Casmurro", "Esaú e Jacó"; e
"Aires"). Isto revela uma clara preocupação com a objetividade, a veracidade, o retrato
fiel dos personagens, a contemporaneidade e a denúncia das injustiças sociais. Como
complementa.
BOSI, (1994, p. 173)
―Assim, do Romantismo ao Realismo, houve uma passagem do vago ao típico,
do idealizante ao factual. Quanto à composição, os narradores realistas
brasileiros também procuraram alcançar maior coerência no esquema dos
episódios, que passaram a ser regidos não mais por aquela sarabanda de
caprichos que faziam das obras de um Macedo verdadeiros caixas de surpresa,
mas por necessidade (...)da estrutura moral das personagens (cf. Dom
Casmurro)‖
A essa estrutura moral dos personagens presente na obra machadiana, em
Dom Casmurro, apresenta Bentinho, que, recolhido à solidão de sua casa, conta a sua
própria vida. Ele, apaixonado pela bela Capitu, mas impossibilitado de se relacionar
amorosamente porque estava destinado ao seminário por uma promessa de sua mãe. No
seminário, Bentinho, conhece Escobar e nasce entre eles uma grande amizade.
Resumindo, Bentinho casa-se com Capitu, sua amada desde a infância. Capitu
era descrita como dissimulada e esquiva. Em presença de Escobar, Bentinho desconfiava
de traição da esposa com o amigo. E quando este morreu, Capitu demonstrou uma imensa
tristeza, o marido ficou ainda mais desconfiado, aponto de ver no filho, traços
fisionômicos de Escobar. Em meio à desconfiança, o casal se separou.
O desfecho da obra deixa uma dúvida cruel se realmente Bentinho fora traído.
Assim, Machado de Assis desafia os seus leitores e os críticos, por suas
diversas sutilezas, pela penetração no que tem de mais profundo da natureza humana.
Visto que o realismo detecta o conflito dos personagens de natureza social e a inquietação
espiritual.
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Como Realismo e Naturalismo encaminham suas obras a partir da realidade
exterior, e inquietação espiritual, ambos pertencem ao mesmo período. Seus autores
criam situações de causa e efeito para descrever atitudes e personalidades de seus
personagens. Como o que se pode notar no romance anteriormente comentado.
Outra obra que marcou bastante o posicionamento do período, além de D.
Casmurro e outras, foi O cortiço, de Aluísio de Azevedo. Uma obra que descreve o
indivíduo envolvido pelo meio, o cenário é promíscuo e insalubre e retrata o cruzamento
das raças, a explosão da sexualidade, a violência e a exploração do homem.
Como cita BOSI, (1994, p. 191):
A redução das criaturas ao nível animal cai dentro dos códigos
antiromânticos de despersonalização; mas o que uma análise mais
percuciente atribuiria ao sistema desumano de trabalho, que deforma os
que vendem e ulcera os que compram, à consciência do naturalista
aparecem como um fado de origem fisiológica, portanto inapelável.
Como dá caráter absoluto ao que é feito da iniqüidade social, o
naturalista acaba fatalmente entendendo a amargura da sua reflexão à
própria fonte de todas as suas leis: a natureza humana afigura-se lhe
uma selva selvaggia onde os fortes comem os fracos.
Essa questão de selvageria tem a ver com o comportamento dos personagens
da obra O cortiço, são lavadeiras, operários, mascates, prostitutas que vivem num
ambiente degredado e corrupto. Dentro desse ambiente narra-se a figura de João Romão,
um português, vendeiro, dono do cortiço e de uma pedreira que empregavas as pessoas,
operários. E, para estes, alugava casebres horrendosvendia fiado e lhes cobrava ―o olho
da cara‖
O personagem João Romão acoitava uma amante e empregada, uma escrava
fugida de seu dono. Para se aproveitar dela João Romão forjou-lhe uma carta de alforria.
Até que inventou de ficar noivo da filha de Miranda que já tinha uma boa posição
econômica e social. Mas para isso teve que se livrar da amante. E como a carta de alforria
era falsa, denunciou a fuga da pobre escrava aos antigos donos. Ela percebendo a traição,
suicida-se.
Acompanhando a evolução social de João Romão, o cortiço ganha melhor
aparência, com novos cortiços e assim, formando a legítima estalagem fluminense com
samba e confusão toda noite. Um paraíso de vermes, brejo de lodo quente e fumegante,
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um estado brutal, a perda do senso de moralidade, honestidade, honra; desmoralização
completa da condição humana.
Os dois romances ora comentados encadeiam as atividades que tem como
norte a leitura, a compreensão do romance como gênero da literatura brasileira, em prosa,
mais ou menos longa, na qual se narram fatos inspirados em histórias reais, cujo centro de
interesse pode estar no relato de aventuras, no estudo de costumes ou tipos psicológicos,
na crítica social etc. Isso encadeia a estrutura, os personagens, o método narrativo, o
cenário.
Público Alvo 3º anos TAREFA-1 Três aulas
Leitura das obras: Dom Casmurro e O cortiço
Antes de apresentar as duas obras, é interessante que o professor faça uma
síntese do período Realismo e Naturalismo, como o movimento literário que marcou a
ruptura do idealismo e subjetivismo romântico. Abrindo um caminho para a objetividade
e realidade da vida humana. Fazendo um paralelo com outros movimentos literários já
postulado na unidade 1, ponderando também a questão do gênero romance.
A partir da explanação, o professor apresenta as obras, comenta uma a uma,
deixando marcas para despertar a curiosidade do aluno, e depois, dividir a classe em dois
grupos, sendo: grupo A e grupo B; fazer um sorteio ou propor á classe a entrar em
consenso e decidir qual obra cada grupo vai ler.
Os alunos devem ter consciência de que a leitura das obras será feita como
tarefa de casa no prazo de duas semanas.
Enquanto isso o professor vai trabalhando a unidade 1 e 2: Poesia e Fábulas.
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Público Alvo 3º anos TAREFA-2 Duas aulas
Apresentação do slide ―Ah, esses olhos‖ e discussão sobre o romance
Findado o prazo, o professor pede aos grupos, que se organize e façam uma
discussão da leitura da obra a que se propuseram a ler em casa (O cortiço/Dom
Casmurro) o grupo anota a discussão no caderno e escolhe um orador para comentar,
seguindo as indicações abaixo;:
O que acharam do texto
Identificar introdução, conflito, clímax e desfecho;
Comentar sobre a posição dos personagens principal (papel mais
importante) ou secundária (participação menor dentro da narrativa);
Reconhecer o lugar onde acontecem as ações (características sociais,
culturais, econômicas, morais e psicológicas);
Citar pontos que marcam a época, que pode ser atual ou antiga, seja
marcado pelo tempo cronológico (noite, tarde, manhã, um dia, naquele tempo) ou
psicológico, tempo subjetivo, marcado pelas sensações ou pensamento dos personagens.
Qual a perspectiva adotada para narrar: narra através de um personagem,
utiliza um narrador, narra em primeira ou em terceira pessoa?
Primeira apresentação: Dom Casmurro
O professor organiza o ambiente, colocando as carteiras em círculo na
sala de aula ou prepara outro espaço, para o grupo que assumiu o trabalho com a obra
Dom Casmurro, ler o escrito sobre as análises feitas da obra. E na seqüência, os alunos
assistem o slide e debatem sobre a adaptação interpretada no slide e a obra escrita.
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Após discussão é hora de dar opinião:
1- Na vida real você acha que se pode julgar uma pessoa com fundamentos apenas
no relato de outras?
2- Que elementos dos textos escritos contribuem para a incerteza do leitor em relação
à fidelidade de Capitu?
3- Sobre os questionamentos, disserte dando a sua opinião.
4- Fazer um júri simulado sobre o comportamento de Bentinho e a possível
traição de Capitu.
Público Alvo 3º anos TAREFA-3 Três aulas
Apresentação do próximo grupo: a obra O cortiço
Segunda apresentação: O cortiço
Nesta tarefa utiliza-se o mesmo procedimento da tarefa anterior, com exceção do
slide. Passa então, às atividades a seguir:
1 - Debate sobre o comportamento de alguns personagens do romance O Cortiço
como Rita Baiana, Piedade e tantos outros interessantes. E ainda trabalhar a questão
sócio-econômica e a falta de escrúpulos de João Romão.
2 - A aglomeração habitacional de O Cortiço parece ser um ambiente propício ao
antropomorfismo. Como você analisa essa situação naquela época e hoje? Justifique com
argumentos a sua resposta.
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Conclusão dos trabalhos com romance
Pelo projeto elaborado para a produção didática pedagógica, há duas
propostas para ser levada aos alunos envolvidos neste trabalho: adaptar uma das obras
lidas para encenar peças teatrais ou que cada equipe escreva coletivamente um poema,
envolvendo a obra lida, apontando a característica sócio-cultural e psicológica das
personagens, e seus envolvimentos no enredo, dando sentido ao poema com início meio e
fim das tramas.
Avaliação
A avaliação será feita, levando em consideração o aluno, seu ritmo e processo
de aprendizagem que se caminha em diferentes situações, e de acordo com a formação
que o aluno vem tendo dentro e fora da escola.
79
Referências:
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Como as fábulas eram vista antigamente? E hoje em dia? Disponível em:
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Aquarela do Brasil, disponível em:
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Navio Negreiro, vídeo, disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=gyuT-x6a6W8,
Marília de Dirceu, disponível em:
http://cultvox.locaweb.com.br/livros_gratis/dirceu.pdf