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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · Percebendo o fascínio que os educandos têm em relação ao uso da rede mundial de ... A linguagem deixa de ser somente a verbal e passa

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

POESIA DIGITAL: LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO – EM BUSCA DE UM MULTILETRAMENTO

Autor: Maria Regina de Aguiar Milani1 Orientador: Sonia Aparecida Vido Pascolati2

RESUMO:

O referido artigo tem por objetivo divulgar a pesquisa e Implementação da Proposta de Intervenção em uma escola pública do Estado do Paraná cuja finalidade é encaminhar os alunos da 6ª série da Educação Básica para a leitura, análise e produção de poemas em contexto digital e, posterior, postagem em um blog. Percebendo o fascínio que os educandos têm em relação ao uso da rede mundial de computadores e utilizando o laboratório de informática presente nas escolas públicas do referido estado, buscarei utilizar a internet como ferramenta pedagógica para o ensino do gênero poema. Com a publicação dos poemas produzidos em um blog, criado para esse fim, procura-se dar maior visibilidade e busca-se um novo público para os textos dos alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Produção de texto; Poesia digital.

1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Graduada em Letras pela Universidade Estadual de

Londrina. Pós-graduada em Metodologia de Ensino de 1º e 2º graus pelo Centro de Estudos Superiores de

Londrina e Administração, Supervisão e Orientação Educacional pela Universidade Norte do Paraná.

Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – 2009. 2 Os estudos foram orientados pela Prof. Dra. Sonia Aparecida Vido Pascolati, da Universidade Estadual de

Londrina.

DIGITAL POETRY: READING, INTERPRETATION AND PRODUCTION – SEEKING MULTILITERACY

ABSTRACT:

The aim of such abstract is to publish the Implementation of the Purpose of Intervention in a Paraná’s public school which the goal is to refer 6th grade’s students from Basic Education to reading, analysis and production of poems in a digital context and, after, posting in a blog. Realizing the fascination that students have in relation to the use of the world wide web and using the computer lab of Paraná’s public schools, I will seek to use the internet as a pedagogical tool to the teach of the poem genre. With the publication of poems produced in a blog, created to this finality, seeking to give greater visibility and searching a new public to the students’ texts.

KEYWORDS: Reading; Text production; Digital poetry

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1. INTRODUÇÃO

O referido artigo é resultado de pesquisa realizada durante o curso de

formação continuada PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, organizado

pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. A atividade constava de quatro

períodos de seis meses cada, havendo, em cada período, uma série de atividades,

desde estudos e pesquisas até a elaboração de um Plano de Trabalho, Material

Didático e finalmente de um artigo científico a serem utilizados posteriormente pelo

professor cursista, nomeado professor PDE, em sua sala de aula, na escola de

lotação, com seus alunos.

Nos dois primeiros períodos, segundo semestre do ano de 2009 e primeiro

semestre do ano de 2010, aos educadores participantes foi possibilitado o

afastamento integral de suas atividades de docência, o que favoreceu os estudos

acerca de um determinado tema a ser depois abarcado em seu Projeto e

publicações posteriores.

No caso de nosso projeto, os estudos se pautaram nas poéticas digitais,

bem como nas mudanças ocorridas na produção poética do século XX, a partir da

poesia concreta. A tecnologia influenciou a produção cultural e os poetas buscaram

um novo suporte e, passando pela vídeopoesia, chegaram às poéticas digitais.

Iniciou-se, assim, um novo momento na produção de poemas, utilizando como

suporte a internet. Com a utilização dessa nova ferramenta, os poemas passam a ter

um novo público leitor, aqueles que acessam a internet.

Objetivamos, com o referido trabalho, proporcionar aos educandos, que já

utilizam a internet para outros fins, a leitura e análise de textos poéticos na esfera

digital, assim como estimular a produção de textos poéticos e posterior publicação

em um blog criado para esse fim. A ferramenta blog foi escolhida por dispensar

conhecimento técnico e não requerer custo para sua utilização. Para a colocação do

projeto em prática, utilizamos o laboratório de informática presente em todas as

escolas públicas estaduais do Estado do Paraná.

No terceiro período do curso, colocou-se o Projeto elaborado em prática,

recebendo o nome de Proposta de Implementação na Escola. Para tanto, foi

necessário que o professor PDE entrasse em contato com a direção e equipe

pedagógica de sua escola de lotação, o que foi possível, uma vez que nestes dois

últimos períodos do curso o professor havia retornado à sua escola de lotação com

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trinta de suas quarenta horas-aula semanais, ficando dez horas ainda reservadas

para estudo e atividades diversas. Ao levar o Plano de Trabalho para avaliação dos

gestores da escola e posteriormente aos demais professores, ele começou a ganhar

corpo e adesão de outros, o que em muito possibilitou a obtenção dos resultados

esperados.

1.1 EMBASAMENTO TEÓRICO

O enfoque do nosso trabalho é a leitura de textos poéticos na esfera digital,

produção de textos poéticos e posterior publicação em um blog, criado para esse

fim. Muito se tem questionado sobre a poesia no suporte digital: é um novo gênero

textual ou continua a ser poesia construída em um novo suporte?

Durante um longo período, os poetas buscaram um novo suporte para a

poesia. Eles procuravam algo que englobasse, num só meio, a palavra, a imagem e

o som. A busca por uma nova maneira de fazer poesia parece ter se realizado com o

uso das tecnologias disponíveis no computador. A poesia visual, dos anos 1960 e

1970, já sinalizava para uma produção inovadora, de experimentalismos; uma

poesia que buscava novos códigos verbais.

Com o advento do computador, passa-se a utilizar novas formas de

expressão. A linguagem deixa de ser somente a verbal e passa a ser sonora, visual,

digital. O poeta deve, ao mesmo tempo, fazer uso da palavra e dos recursos

disponíveis no computador. Ao criar o texto, o poeta indica caminhos os quais o

leitor interativo pode percorrer, porém, é no leitor, e no caminho que ele percorrerá,

que a poesia se concretiza. Cada um dos leitores pode percorrer um caminho

diferente, suscitando uma participação interativa.

A palavra passa do suporte da folha para a tela do computador, tornando-se

mais dinâmica. Antonio (2009, p. 1) relata em um de seus ensaios sobre poesia

digital que se trata “de uma tentativa de equilíbrio entre o conhecimento técnico da

informática e o da literatura, mas com uma ênfase na criatividade, na elaboração de

uma outra linguagem que une a máquina e o sentimento humano.”

A poesia, em seus primórdios, nasceu com a música. Os poetas eram

considerados cantadores, que iam, de cidade em cidade, cantando seus poemas,

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acompanhados de instrumentos como a flauta e a lira, de onde vem a expressão

poesia lírica. Porém, em seu percurso, a poesia foi se dissociando da música, e,

atualmente, a música e a poesia são artes diferenciadas.

Ainda na Grécia antiga aparecem as poesias experimentais como O Ovo de

Símias de Rodes, poeta do século III a.C, que já utilizava o sentido do poema

relacionado à imagem do que seria reproduzido. No final do século dezenove,

Stéphane Mallarmé lança seu conhecido poema Um coup de dés, onde apresenta

novas perspectivas para a exploração dos espaços da página: um que há escrita e o

outro espaço em branco. Segundo Tosin (2003, p. 22).

A grande revolução de Um coup de dés foi que, pela primeira vez, um autor explorou um olhar simultâneo sobre a página, concebendo os espaços em branco como silêncio, espaços onde não há leitura, que contrastam com o primeiro plano, onde se utilizam os caracteres gráficos. O sentido já não seria mais proposto unicamente pelas letras, mas sim pela relação expressiva entre o fundo e as formas [...]

No início do século vinte, Guillaume Apollinaire lançou o poema Il pleut, em

que, por meio das linhas do poema, o autor recria o compasso da chuva em uma

vidraça. Em 1959, em Stuttgard, na Alemanha, surgiram as primeiras experiências

explorando o uso do computador pelo grupo dirigido por Max Bense, filósofo e

professor.

A busca por novos suportes para a poesia inicia-se com o Modernismo,

período marcado por intensa fermentação artística, e durante as primeira e segunda

guerras mundiais a produção das vanguardas permaneceu aquecida, porém, após

1945, toda a efervescência esfriou. Os versos voltaram à rotina da estética

parnasiano-simbolista, houve uma negação do experimentalismo poético. Nesse

contexto, os poetas brasileiros Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio

Pignatari , em 1952, lançam a revista Noigrandes, na qual expõem as bases de uma

poesia que buscava um caráter inovador e revolucionário.

A revista Noigrandes postulava as bases da poesia concreta: poemas

sintéticos e econômicos; a pontuação torna-se desnecessária, pois o espaçamento

gráfico é a pontuação essencial; o eu-lírico desaparece, surge a superfície gráfica e

visual; a palavra é tomada como objeto; existe a rejeição da poesia discursiva,

verbal e narrativa; o poema é feito de palavras e silêncio; dessa maneira, a poesia

concreta aproxima-se das artes plásticas. Ela totaliza uma linha mestra da poesia

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moderna que se iniciou com Mallarmé. Para Franchetti (1993, p.22), o poema

concreto é

um tipo de composição poética sistematizada na metade da década de 50, centrada na utilização de poucos elementos dispostos no papel de modo a valorizar a distribuição espacial, o tamanho e a forma dos caracteres tipográficos e as semelhanças fônicas entre as palavras, e que o Concretismo seja definido como movimento literário que produziu os poemas concretos.

Os poetas concretos pretendiam soltar as amarras impostas pela cultura

erudita, aproveitando o conhecimento das técnicas poéticas utilizadas anteriormente;

eles procuravam inovar para produzir uma obra significativa. Segundo Modro (2007,

p. 19), o concretismo foi “a primeira manifestação literária brasileira nascida na

dianteira da experiência artística internacional, sem a defasagem de uma ou mais

décadas.” Ainda sobre o assunto, Risério (1998) frisa que dois movimentos muito

importantes no terreno da literatura – a vanguarda concretista e a geração beatnik –

nasceram nas Américas, e isso só aconteceu no terreno da poesia e em nenhum

outro lugar.

Sendo assim, a poesia concreta apresenta um elo com a poesia tradicional e

é também interlocutora das várias tendências poéticas que vieram após ela. Para

Franchetti (1993, p. 36), “a arte da poesia está sempre em evolução, em

transformação, e, por isso, o poeta deve tratar de identificar a direção em que se

processa essa evolução, sob pena de não participar da literatura de seu tempo, de

produzir uma arte ultrapassada”.

A evolução cultural, social e dos meios de comunicação se dá muito

rapidamente e para se comunicar com o homem moderno, o poema tem que

concentrar o significado, para que a comunicação seja rápida e efetiva.

A poesia concreta começa a desaparecer como movimento, enquanto os

poetas passam a experimentar novos processos de organização visual da palavra:

[...] a poesia concreta vai se transmutando, tornando maleáveis seus procedimentos composicionais, incorporando mais fortemente a visualidade tipográfica, escapando do uso exclusivo do tipo futura (ainda que se atendo ao limites da verbalidade), ela vai rompendo com a racionalização extremada da forma e da estrutura. Aí ela começa a desaparecer enquanto movimento, fecha-se o ciclo de sua estética, os poetas concretos deixam de fazer poesia concreta e

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passam a experimentar novos processos de organização visual da palavra. (MENEZES, 2001, p. 166).

Assim, em consequência do fato de que a comunicação deve ser rápida,

Décio Pignatari passou a defender que a poesia deveria ser utilizada a favor da

sociedade urbano-industrial. Então a poesia concreta passa a se corresponder com

a mass media, ou seja, sendo realizada para ser veiculada pelos meios de

comunicação.

Porém, apesar de se poder detectar a presença de funções poéticas na

produção de propagandas, não se deve confundir poesia e publicidade. Os poetas

podem estar atentos para o cinema, o rádio e as outras formas de comunicação e

utilizarem seus recursos para atingir o público, mas a poesia não pode se prestar

somente à utilidade da propaganda. Então, logo após esse momento de

aproximação com a linguagem publicitária, alguns dos poetas do grupo Noigrandes,

inclusive o próprio Décio, voltaram atrás e chegaram, inclusive, a produzir poemas

chamados de anti-anúncio, como “beba coca-cola”, de Décio Pignatari e “luxo/lixo”

de Augusto de Campos.

Em 1957, Haroldo de Campos publica, no Jornal do Brasil, um artigo em que

revê a atuação do poema concreto; ele acreditava que o campo do poema não é

mais o das propagandas, pois ao poema reservava-se um campo próprio de

atuação. No contexto social, a população brasileira deixa de ser essencialmente

rural e passa para o meio urbano, e o concretismo pretende ser a poesia da cultura

urbana e industrial. O projeto estético da poesia concretista é universal, fala do

mundo globalizado, das tecnologias, para que os textos pudessem ir ao encontro

dos anseios que a era tecnológica estivesse instigando; afinal, “para fazer frente ao

novo ambiente, os concretistas optaram então, com base na exploração minuciosa e

radical do repertório estético ao seu alcance, por uma poesia plástica, sintética,

objetiva e impessoal” (RISÉRIO, 1998, p. 82).

Com o golpe militar, Augusto de Campos queria explorar as letras, mostrando

assim a raiva e o desespero de viver em um país trancado pelo golpe militar, onde

não se pode expressar seus pensamentos. Nascem assim os popcretos, como o

próprio autor os designou. Esses poemas, expostos em 1964 na Galeria Atrium,

demonstram a insatisfação com os meios técnicos que havia na época. Nesse

momento surgem as novas letras industriais, com as quais o poeta soube elaborar

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belíssimos trabalhos unindo o trabalho manual e a letra industrial. Para Risério

(1998, p. 101), Augusto de Campos era o nome certo para propor essa renovação,

pois sempre teve uma relação intensa com a poesia, a música e as artes visuais, por

isso ele se encantou com a poesia computadorizada. “[...] Augusto podia encarar a

empreitada. Afinal é poeta e designer, um criador visual raro e claro, com uma

cultura plástica invejável. Na verdade, pode-se falar de manufatura a propósito de

sua prática. ‘Artesanato poético’, aqui, não é metáfora”. (RISÉRIO, 1998, p. 101).

Segundo Risério (1998, p. 102), Erthos Albino de Souza foi um dos pioneiros

internacionais do uso do computador para o fazer poético, mas ele é do momento

pré-micro, quando se usava o computador com válvulas enormes e cartões

perfurados. “Em 1974, publicou [Erthos] na revista Código, que editávamos na

Bahia, o Soneto Alfanumérico, jogando com letras e dígitos (este é o sentido de

alphanumeric, no vocabulário informático.”

Depois, Arnaldo Antunes, poeta de uma geração mais voltada para a

tecnologia, usando seu próprio microcomputador, lança Tudos. Enfim, Augusto de

Campos, poeta do grupo Noigrandes, ou seja, um poeta que desde o início dos anos

1950 esteve engajado no projeto da poesia concreta, compõe e projeta no

computador os textos coletados no volume Despoesia. “De Tudos a Despoesia

assistimos de fato à decolagem da aventura textual criativa no espaço digital.“

(RISÉRIO, 1998, p. 103).

Porém, partindo na mesma direção, temos ainda a escrita tridimensional da

poesia holográfica e a utilização do vídeo para divulgação dos textos poéticos. A

poesia holográfica teve como figura principal, no Brasil, Moysés Baumstein. Em

1987, Baumstein, junto com Campos, Pignatari, Julio Plaza e Wagner Garcia,

realizaram a exposição ideoHOLOgia, em São Paulo, no Museu de Arte

Contemporânea. O vídeo também veio para dar sua contribuição ao texto poético,

abrindo espaço para a animação, o som e o cenário.

Com todos os novos suportes dos quais a escrita se apropria, é lançada a

questão sobre o uso do livro. Alguns dos textos produzidos pelos poetas do período

puderam ser reproduzidos em páginas de livros com um ótimo resultado, porém

muitos textos extrapolaram os limites da folha de papel e tornaram-se inadequados

para esse tipo de suporte, pois precisavam ser projetados. Segundo Risério (1998,

p. 106), “enfim, a poesia atual vem dando razão a Maiakovski. Não é que esses

poetas sejam contra o livro – é que o livro já não é um meio adequado para dar

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conta de todas as exigências estético-semióticas do que eles criam”. Assim, em

busca de novos suportes, os poetas encontram, no uso do computador, um grande

aliado na produção de textos poéticos.

O poeta cria o texto em busca de um interlocutor. O leitor, durante a

leitura do texto, observa e encanta-se, ou não, com o que vê. Portanto é natural que

o poeta busque novas formas para elaboração de seus textos com o fim de atrair a

atenção do leitor.

A poesia, nos meios digitais, estabelece uma conexão entre o som, o código

verbal, o visual e os recursos tecnológicos. A poesia, no contexto digital, passa a ser

mais dinâmica e interativa:

A poesia eletrônica, em suas diferentes fases, é composta por uma linguagem tecno-artística-poética, e é sob esse viés que ela pode ser lida e apreciada. Sua plurissignificação tem existência a partir da utilização de outros suportes e meios, predominantemente digitais, mesmo que, em alguns casos, principalmente em seus primórdios, faça uso também dos meios impressos e tridimensionais. Também denominada de e-poetry ou e-poesia, é um dos muitos tipos de poesia contemporânea, cuja temática é bastante variada e pode, ou não, abordar as questões estéticas, científicas e tecnológicas do momento presente. Essa poesia é formada de palavras, formas gráficas, imagens, grafismos, sons, elementos esses animados ou não, na maior parte das vezes, interativos, hipertextuais e/ou hipermidiáticos, constituindo um texto eletrônico, um hipertexto e/ou uma hipermídia. Ela existe no espaço simbólico do computador (internet e rede digital), tendo como forma de comunicação poética os meios eletrônico-digitais que se vinculam a esses componentes. De um modo geral, ela só existe nesse meio e só se expressa, em sua plenitude e predominância, por meio dele. (ANTONIO, 2010, p.84).

Com o uso dos recursos do computador, a poesia passa do estático para as

palavras e imagens dinâmicas. Utiliza o som, o hipertexto, os recursos que fazem

com que o texto apareça das mais diversas formas, sem mais estar preso a uma

leitura linear.

Em busca de novas formas de produção de poemas, o poeta encontra no uso

de programas de computador um forte encantamento, pois este pode unir o

verbivocovisual, neologismo criado por James Joyce e utilizado pela Teoria da

Poesia Concreta para designar o aspecto material da linguagem poética. A respeito

disso Risério (1998, p. 118) faz uma afirmação muito pertinente:

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É claro que um computador não é um poeta. Não é, nem tem como ser. Ele pode no máximo, ser programado, por especialistas humanos que entendam do riscado (tanto poético, quanto informático), para realizar determinadas combinações sígnicas nas quais possamos reconhecer, em decorrência de um “contrato social” estético, a aparição de um texto classificável sob a rubrica “poesia”. Só. O que significa que, para produzir um texto reconhecível como “poema”, o computador estará – sempre – na dependência de um script previamente elaborado por informaticistas.

Deve-se nesse momento fazer uma distinção entre o uso do computador

como máquina de escrever, ou seja, apenas o uso do teclado do computador

apenas para digitação de textos e o poema feito tirando partido dos recursos que a

nova tecnologia pode oferecer.

Pensando na segunda alternativa, utilizando os recursos que o computador

poderia oferecer, um grupo de engenheiros do Laboratório de Sistemas Integráveis

(LSI) da Escola Politécnica da USP, uniu-se aos poetas Augusto e Haroldo de

Campos, Décio Pignatari, Arnaldo Antunes e Júlio Plaza para desenvolver um

projeto com um conjunto de poemas. Este projeto foi batizado de Vídeo poesia –

poesia visual. Os textos escolhidos para compor este trabalho experimental entre

engenheiros e poetas foram os poemas Bomba e SOS, de Augusto de Campos;

Parafísica, de Haroldo de Campos; Femme, de Décio Pignatari; Dentro, de Arnaldo

Antunes, e O Arco Iris no Ar Curvo, de Júlio Plaza.

Em um primeiro momento, os poetas, em conjunto com os engenheiros do

LSI, decidiram o roteiro que usariam em cada poema. Apesar de o roteiro ter sido

pensado previamente na execução do projeto, eles tiveram que ser adaptados por

questões de conveniências técnicas. O roteiro serviu para entender o que era

possível fazer dentro da concepção individual de cada poeta e os recursos ofertados

pelos programas de computador. Depois, passava-se para a montagem gráfica de

toda animação que, posteriormente, seria desenvolvida no computador. Em um

terceiro momento, passou-se a executar o trabalho diretamente no computador,

evidenciando-se a diferente concepção entre poetas e técnicos. Foi realizada

também a sonorização, ou seja, o acompanhamento do poema por uma trilha

sonora. Por último, os poemas foram transferidos para o vídeo. Estava realizada,

então, a última etapa do processo de confecção do Vídeo Poesia, apesar dos

diversos problemas artísticos e técnicos que surgiram ao longo do percurso. O uso

de computadores gráficos com recursos sonoros permitiu que se chegasse mais

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facilmente à materialização das estruturas verbivocovisuais prenunciadas pela

poesia concreta.

Analisando os depoimentos de Augusto de Campos, Haroldo de Campos e

Décio Pignatari sobre o trabalho de execução do projeto, pode-se observar que as

premissas do projeto Vídeo Poesia já estavam lançadas na poética concretista,

passando assim de virtuais a reais na conclusão do projeto. Assim, a poesia

concreta, em seus primórdios, já visualizava outras formas de linguagem, como

afirma Haroldo de Campos, para quem o trabalho com poesia em terreno digital é

uma conseqüência natural do desenvolvimento da poesia iniciada nos anos 1950.

Também Décio Pignatari (apud ARAÚJO, 1990, p. 96) diz que “a poesia

computadorizada é um caminho que veio para ficar”. Ele acredita que o uso do

computador fará com que se abra o campo para um público maior.

Das mais diferentes maneiras, a criatividade poética vem negociando com a arte, a ciência e a tecnologia. Não há limites para a experimentação e para a exploração dos recursos desses saberes. O poeta não esgotou os recursos verbais e nem os do meio impresso, mas, mesmo assim, busca explorá-los com outros saberes, além dos concernentes ao fazer poético, em outros meios e suportes. (ANTONIO, 2010, p. 29)

Mesmo sabendo de toda a importância do percurso realizado a partir da

poesia Concreta, passando pelo Vídeopoesia e chegando até os poemas digitais,

esses acontecimentos são deixados de lado pelos professores nas aulas de Língua

Portuguesa.

Os professores de Língua Portuguesa devem focar a leitura e a produção

textual como elementos que permitam ao educando tornar-se um leitor competente,

e reconheça que “[...] o conhecimento que identifica uma ciência e uma disciplina

escolar é histórico, não é estanque, nem está cristalizado, o que caracteriza a

natureza dinâmica e processual [...]” (DCE, 2008, p. 26). Portanto é dever do

professor apresentar ao aluno essa nova geração de poemas publicados na internet.

Como, na maioria dos casos, os alunos já utilizam as mídias e a internet,

porém somente para entretenimento, buscamos estabelecer um novo uso para esta

ferramenta, encaminhando-os à pesquisa, leitura e interpretação de poemas.

Os alunos também produziram poemas, os quais foram postados em um blog,

criado para esse fim. O blog foi escolhido para a postagem dos poemas produzidos

pelos alunos por ser uma ferramenta de fácil utilização e nenhum custo.

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Belloni (2001, p. 1) escreve favoravelmente ao uso das tecnologias de

informação nas práticas de ensino aprendizagem, exatamente porque é um assunto

que já faz parte da cultura dos jovens

A integração das TIC aos processos educacionais é uma das transformações necessárias à escola para que esteja mais em sintonia com as demandas geradas pelas mudanças sociais típicas da sociedade contemporânea de economia globalizada e cultura mundializada. Os jovens e as crianças incorporam fácil e rapidamente as novas tecnologias quando têm acesso a elas, simplesmente porque estão incorporando todos os elementos de seu universo de socialização: para eles tudo é novo e está no mundo para ser apreendido, apropriado, seja o conhecimento científico, os gadgets tecnológicos ou a violência sem limites nem perdão dos morros. Por outro lado, o computador não é igual ao livro, e a internet é ainda mais fascinante que a telinha da tv.

É importante unir as tecnologias de informação ao letramento dos alunos, pois

segundo Soares (1998) é letrado o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas

também sabe exercer as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na

sociedade; sobre o letramento digital, Soares (2002) diz que é diferente da leitura e

da escrita na folha de papel, visto que o termo designa “um certo estado ou condição

que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de

leitura e de escrita na tela, diferente do estado ou condição – do letramento – dos

que exercem práticas de leitura e de escrita no papel”.

Soares (2002, p.152) também discorre sobre a importância de se utilizar a

internet como mais uma ferramenta para o aprendizado e novas formas de adquirir

conhecimento, reconhecendo

a tela como espaço de escrita e de leitura [que] traz não apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas maneiras de ler e de escrever, enfim, um novo letramento, isto é, um novo estado ou condição para aqueles que exercem práticas de escrita e de leitura na tela.

Assim, o termo multiletramento, segundo Roxane Rojo (2004), surge de um

novo conceito de letramento, em que o sujeito deve ter a capacidade de colocar-se

em relação às diversas modalidades de linguagem oral, escrita, imagem, gráfica,

para delas produzir sentido. Já Soares (2002, p. 156), no mesmo artigo citado

acima, chama esse conhecimento de diversas modalidades de letramentos:

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propõe-se o uso do plural letramentos para enfatizar a idéia de que diferentes tecnologias de escrita geram diferentes estados ou condições naqueles que fazem uso dessas tecnologias, em suas práticas de leitura e de escrita: diferentes espaços de escrita e diferentes mecanismos de produção, reprodução e difusão da escrita resultam em diferentes letramentos.

Um dos maiores entraves da aula de Língua Portuguesa é encaminhar os

educandos à produção textual, no entanto, percebe-se que eles têm escrito muito,

atualmente, não na escola, mas em sítios de relacionamento; levando em

consideração esse conhecimento prévio do aluno, procuramos expandir o uso da

internet para a leitura, compreensão e postagem dos poemas produzidos,

atendendo, assim, às condições de produções difundidas por Geraldi (1997), que o

aluno tenha o que dizer, razão para dizer e para quem dizer o que se tem a dizer.

O trabalho com os gêneros digitais às vezes é deixado de lado pela

dificuldade que muitos professores têm em entender essa nova tecnologia, porém as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa (2008, p.73)

ressaltam a importância dos textos publicados em esfera digital:

Não se pode excluir, ainda, a leitura da esfera digital, que também é diferente se comparada a outros gêneros e suportes. Os processos cognitivos e o modo de ler nessa esfera também mudam. O hipertexto – texto no suporte digital/computador – representa uma oportunidade para ampliar a prática de leitura. Através do hipertexto inaugura-se uma nova maneira de ler. No ambiente digital, o tempo, o ritmo e a velocidade de leitura mudam. Além dos hiperlinks, no hipertexto há movimento, som, diálogo com outras linguagens.

Buscando atender às condições de produção propostas nas Diretrizes

Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa do Estado do Paraná,

escolhemos a ferramenta blog, da internet para divulgação dos textos, dando a

oportunidade de outras pessoas apreciarem os textos produzidos, podendo assim

“enfatizar o caráter interlocutivo da linguagem, possibilitando aos estudantes

constituírem-se sujeitos do fazer linguístico, essa prática orientará não apenas a

produção de textos significativos, como incentivará a prática de leitura” (DCE, 2008,

p. 70)

A criação do blog para divulgação dos textos se torna interessante, pois

possibilita que os poemas produzidos pelos alunos tenham maior visibilidade,

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abrangendo não só a comunidade escolar, mas também os pais, amigos, parentes

que moram perto ou longe e que podem, por meio do acesso à internet, visualizar as

produções realizadas pelos educandos. Outro fator determinante para a criação do

blog é por se tratar de uma ferramenta de fácil utilização e sem taxas.

Komesu (2005, p. 111) explica como funciona a ferramenta escolhida:

A facilidade para a edição, atualização e manutenção dos textos em rede foram – e são – os principais atributos para o sucesso e a difusão dessa chamada ferramenta de auto-expressão. A ferramenta permite, ainda, a convivência de múltiplas semioses, a exemplo de textos escritos, de imagens (fotos, desenhos, animações) e de som (músicas, principalmente). Atualmente, a maior parte dos provedores não cobra taxa para a hospedagem de um blog.

Buscando aliar a importância de se trabalhar os textos em suporte digital, o

fascínio dos alunos pelo computador e, consequentemente, pela internet e o

conhecimento prévio desses por essas tecnologias, elaboramos o projeto “Poesia

digital: leitura, interpretação e produção” que foi colocado em prática no segundo

semestre de 2010, com sucesso.

1.2 REFLEXÕES SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA NA ESCOLA

Neste tópico, especificamos o modo como se efetivou a Implementação da

Proposta na Escola.

O processo de implementação de intervenção na escola teve início pela

apresentação, a professores e funcionários, em uma reunião pedagógica, da

pesquisa e do Plano de Trabalho da professora PDE, que incluía a proposta de

leitura de poemas em contexto digital, produção de texto e a posterior postagem em

um blog criado para este fim. A apresentação do projeto para a equipe de

professores e funcionários foi importante, pois, em vários momentos, o laboratório é

utilizado para pesquisa por parte da equipe e, nas datas e horários previstos para o

uso do laboratório em função do projeto, os professores e funcionários deixariam de

utilizá-lo.

A partir de então, buscou-se assegurar a efetiva implementação da proposta,

ou seja, certificar-se de que os educandos realmente poderiam atingir o objetivo

proposto, contemplar o multiletramento proposto na DCE de Língua Portuguesa,

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utilizando como recurso a leitura, interpretação e produção de poesia, em especial o

gênero poesia digital, pois

O aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com maior propriedade se lhe for dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o caráter dinâmico dos gêneros discursivos. O trânsito pelas diferentes esferas de comunicação possibilitará ao educando uma inserção social mais produtiva no sentido de formular seu próprio discurso e interferir na sociedade em que está inserido. (DCE, 2008, p. 53).

Nesse sentido, a primeira medida adotada foi divulgar a proposta de tal forma

que todos os alunos aderissem a ela, a fim de despertar a vontade de produzir os

textos. Isso não foi difícil, principalmente porque foi mencionado o objetivo da

produção, ou seja, elaborar um blog no qual seriam postados os poemas

produzidos. Lançado o desafio, conforme o esperado, ele foi prontamente aceito

pelos alunos de sexta série, pois os mesmos se encontram geralmente abertos a

novos desafios. Com isso, coube apenas encaminhar o trabalho, conforme

cronograma previsto. É interessante ressaltar que os conteúdos foram sendo

trabalhados de acordo com a necessidade, iniciando com aqueles sobre os quais os

alunos já têm algum conhecimento prévio e introduzindo conteúdos novos

relacionados à poesia digital.

A princípio o trabalho foi de diagnóstico dos conteúdos relacionados à poesia

sobre a qual os alunos já tinham conhecimento. Recitei alguns poemas e trouxe uma

coletânea de livros escolhidos na biblioteca do estabelecimento de ensino para que

os alunos pudessem folhear, ler e mostrar aos colegas de classe o poema que

achasse mais interessante. Questionados sobre as características dos poemas, os

alunos souberam identificar prontamente que os poemas apresentam estrofes,

versos e rimas. Alguns alunos disseram que nem sempre os poemas apresentam

rimas e outros rebateram que os poemas que não apresentam rimas não são tão

interessantes. Alguns alunos também recitaram poemas.

A ida ao laboratório de informática era aguardada com ansiedade pela maioria

dos alunos. Nesta primeira visita ao laboratório de informática, foi explicado aos

alunos as regras de utilização do mesmo, contamos também com a ajuda de uma

funcionária administrativa do estabelecimento, que nos auxiliou para a organização e

acesso dos alunos aos computadores e à internet. As turmas foram bastante

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organizadas e trabalharam bem em dupla, revezando-se no uso do computador.

Algumas vezes tivemos problemas em alguns computadores e o uso ficou mais

restrito. A escola não possui um técnico de informática no laboratório, sendo assim,

alguns problemas eram resolvidos pela funcionária administrativa ou era solicitada a

visita de um técnico (funcionário do CRTE3), o que, em alguns casos, alterou o

cronograma estabelecido.

No início das atividades do projeto as idas ao laboratório de informática eram

entremeadas por retomada de alguns conceitos de poesia com atividades em sala

de aula como estudo de poemas e letras de música, observando quantidade de

estrofes, versos, versos livres, surgimento ou não de rimas, uso de comparação e

metáfora, diferenças entre poeta e eu poético. Essas retomadas foram essenciais

para que os alunos pudessem recordar e aprender novos conteúdos, para que os

utilizassem na produção de poemas e também pudessem observar a trajetória da

produção de poemas até os poemas digitais. Os alunos também realizaram em sala

exercícios de produção de rimas, criação de palavras utilizando as letras do nome,

palavras animadas e a produção de poemas.

As produções em sala foram realizadas individualmente e/ou em dupla. Após

as atividades, as mesmas eram socializadas para todo o grupo. Os alunos eram

estimulados com palavras e sugestões a realizarem as atividades e, em alguns

casos, foi necessária a correção dos poemas pela professora em relação a

ortografia, divisão em versos e estrofes e sugestão de troca de palavras para que

os poemas apresentassem rimas, pois era o objetivo de alguns alunos. Em nenhum

momento foi imposto o uso de rimas, o que não influencia na produção de poemas,

porém alguns educandos queriam que seus poemas apresentassem rimas, então

lhes foi oportunizada a troca de palavras por sinônimos, para que atingissem seus

objetivos.

No laboratório de informática, os alunos sentavam-se em dupla e acessavam

os sites indicados pela professora. Alguns alunos tinham pouco contato com

computador e receberam atenção especial da professora ou de algum aluno, mais

experiente, que se dispusesse a ajudá-los. Um dado relevante foi que, de todos os

alunos das duas turmas, somente um estudante nunca havia utilizado um

computador; este foi auxiliado diretamente pela assistente administrativa nas

3 Coordenadoria Regional de Tecnologia na Educação.

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primeiras visitas ao laboratório de informática, e logo já tinha domínio do conteúdo

básico para utilizar o que era proposto.

Em alguns sites eram propostas atividades lúdicas utilizando rimas, versos e

recriação de poemas, em outros sites havia a possibilidade de postar em um mural

eletrônico as modificações propostas pelos alunos, em outro era possível mandar e-

mail com os poemas do site. Essas atividades eram realizadas pelos alunos.

Em outros sites de poemas digitais, os alunos liam os poemas, observando os

recursos utilizados e, depois, respondiam a questões propostas pela professora. Ao

final da aula, os alunos sempre tinham oportunidade de relatar o que mais gostaram

nos poemas lidos.

As socializações foram importantes, pois apesar de os alunos interpretarem

os textos literários de maneira individual conforme a sua visão de mundo, algumas

visões poderiam extrapolar ao sentido do texto, já que

O texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez que é na recepção que ele significa. No entanto, não está aberto a qualquer interpretação. O texto é carregado de pistas/estruturas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. Além disso, o texto traz lacunas, vazios que serão preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc., que o leitor carrega consigo. (DCE, 2008, p. 59).

Ao final do projeto, os alunos digitaram os poemas que haviam criado e

salvaram no computador e também no pendrive da professora, para que não tivesse

problemas de perda dos trabalhos. Nessa atividade, os alunos que não sabiam

realizá-la foram auxiliados por alunos que já tinham um conhecimento maior de

informática.

Uma das propostas do projeto é que os alunos preparassem um vídeo com os

poemas produzidos por eles. Para isso, em grupos, eles buscarem imagens e

músicas disponíveis na internet e gravaram um pequeno vídeo, ilustrando alguns

poemas produzidos por eles.

Após a realização do vídeo, foi necessário que esses fossem transpostos

para uma linguagem que pudesse ser lida pela TV Multimídia para ser apresentado

para os outros alunos. A atividade de produção do vídeo foi realizada fora do horário

de aula, em equipes. Os alunos trouxeram os vídeos em pendrives, muitas vezes

emprestados dos colegas e da professora, e, durante as aulas, foram auxiliados pela

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assistente administrativa da escola, responsável pelo laboratório de informática, a

transformarem em uma linguagem que pudesse ser lida pela TV Multimídia.

Ao visualizarem seus poemas na TV, os alunos sentiram-se muito

valorizados, pois viram que não só a professora veria seu texto, mas os colegas de

sala e, posteriormente, vários interlocutores que acessariam o blog. Os alunos se

envolveram na produção, puderam opinar sobre os textos dos colegas e sentiram

como sujeitos que têm o que dizer. Podemos perceber aí a importância das

estratégias já difundidas por Geraldi (1997, p.137).

Por mais ingênuo que possa parecer, para produzir um texto (em qualquer modalidade) é preciso que: a) se tenha o que dizer; b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer; c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; d) o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz (ou, na imagem de Wittgensteiniana; seja um jogador no jogo); e) se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d).

O texto foi o ponto de partida e de chegada dos trabalhos e a visibilidade com

o uso do blog para divulgação foi importante, pois outras pessoas – e não somente o

professor – pode opinar sobre os textos produzidos. Os alunos ficaram muito

satisfeitos com os comentários de colegas de classe, da escola, de pessoas da

família e de outros professores, postados no blog.

Alguns entraves foram observados durante o andamento do projeto, porém

nenhum deles foi intransponível. Em nossa primeira data marcada para irmos ao

laboratório de informática, e aguardada com ansiedade pelos alunos, faltou energia

na escola, como tínhamos duas aulas, expliquei as regras de utilização do

laboratório e na segunda aula, como a energia já havia retornado, fomos ao

laboratório para alegria dos alunos, realizar as atividades programadas. É importante

que antes das atividades elaboradas no laboratório o professor verifique as

condições do uso do mesmo; tudo deve ser muito bem elaborado, no caso, pelo

professor, pois as escolas públicas do Paraná não contam com técnicos nos

laboratórios.

Outro problema verificado é que em muitos poemas acessados ou vídeos era

necessário ouvir o som ou a música e as ilhas dos computadores, no caso quatro

computadores por ilha, só possuíam uma caixa de som, portanto, era necessário

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colocar o vídeo na tela e esperar para todos da ilha começarem a rodar o vídeo

junto. Esse problema parece simples e que poderia ser solucionado com o uso de

fones de ouvido, porém a escola não dispõe de muitas verbas, o que dificulta a

compra de materiais que não sejam tão importantes no âmbito geral da escola.

No site http://nupill.ufsc.br/hiper.html não foi possível observar alguns

recursos utilizados nos poemas porque os computadores não dispõem dos

programas necessários; nesse caso, enquanto os alunos realizavam uma atividade,

a professora atendia em dupla para que observassem os poemas no seu

computador pessoal. A atividade foi demorada, mas a observação dos recursos

utilizados nos poemas era importantíssima. Os computadores dos laboratórios das

escolas públicas do nosso estado também são bloqueados para alguns sites, por

conter conteúdo considerado indevido. Não era o caso do site acima, porém não foi

possível visualizá-lo nos computadores do laboratório.

1.3 RESULTADO OBTIDO

O resultado obtido desde o início superou as expectativas; os alunos tiveram

um comportamento de ajuda mútua na utilização dos computadores: os que tinham

mais conhecimento auxiliavam os que tinham menos conhecimento da máquina.

Também demonstraram grande interesse ao saber que seus textos seriam

postados em um blog e poderiam ser lidos por outras pessoas, não somente do

colégio, valorizou as possíveis produções. A utilização do blog para divulgação dos

textos tornou-se importante para socializar os textos, cumprindo assim um dos

pontos das Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa (2008,

p.70)

Para dar oportunidade de socializar a experiência da produção textual, o professor pode utilizar-se de diversas estratégias, como afixar os textos dos alunos no mural da escola, promovendo um rodízio dos mesmos; reunir os diversos textos em uma coletânea ou publicá-los no jornal da escola; enviar cartas do leitor (no caso dos alunos) para determinado jornal; encaminhar carta de solicitação dos alunos para a câmara de vereadores da cidade; produção de panfletos a serem distribuídos na comunidade, entre outros. Dessa forma, além de enfatizar o caráter interlocutivo da linguagem, possibilitando aos estudantes constituírem-se se sujeitos do fazer

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linguístico, essa prática orientará não apenas a produção de textos significativos, como incentivará a prática da leitura.

Após a postagem das poesias no blog, os alunos acessaram e comentaram

os poemas postados por eles e pelos colegas e sentiam-se felizes por receber

comentários elogiosos dos colegas, demais professores e outros leitores do blog,

sobre seus textos.

Outro momento bastante importante foi a transmissão dos vídeos produzidos

pelos alunos nas TVs Multimídias das salas de aula; os alunos mostraram-se

bastante empolgados e motivados vendo e comentando os vídeos produzidos por

eles e pelos demais colegas. Nesse momento, os alunos puderam perceber a

capacidade de comunicar os seus sentimentos através da escrita, imagem e som. A

TV Multimídia é, na maioria das vezes, utilizada para transmitir conteúdos

elaborados pelos professores; ao verem seus próprios vídeos, os alunos

perceberam, na prática, que podem elaborar conhecimentos e transmiti-los para

outras pessoas.

Enfim, pudemos observar que os educandos, ao verem seus textos

produzidos em um suporte diferente do que geralmente é utilizado, sendo lidos e

comentados por outros interlocutores, que não a professora de Língua Portuguesa e

colegas de classe, fez com que se sentissem mais valorizados em suas produções.

Assim o trabalho do professor em sala de aula torna-se mais satisfatório, pois a

vontade do aluno de aprender, produzir e ver o seu trabalho valorizado é o objetivo

de todos os profissionais envolvidos na educação.

Esperamos que o artigo possa contribuir com os demais educadores para

que realizem trabalhos análogos a este com os gêneros postados na internet e

buscando a maior visibilidade da produção dos textos dos alunos, não ficando

restrito aos professores, colegas de sala e da escola, que eles possam circular pela

internet, como bons exemplos de trabalhos produzidos por alunos de escolas

públicas.

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