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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · spectator. The relation that the art contemporary considers culturally and socially is the participation, convoking all the human being

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

ARTE E INTERATIVIDADE: ALÉM DO SENTIDO DA VISÃO

LOURENÇO, Mara Sandra.1 [email protected]

MARINHO, Flávio.2 [email protected]

Resumo

O foco deste artigo é mostrar o resultado da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica intitulado: Arte e Interatividade: Além do Sentido da Visão. O tema aborda a arte contemporânea mostrando a dificuldade que existe em tratar a arte produzida nos dias atuais, requerendo uma nova maneira de leitura e compreensão, novos modos de relação entre obra e espectador. A relação que a arte contemporânea propõe social e culturalmente é a de participação, convocando todo o ser humano em suas múltiplas dimensões. A consciência desse outro modo de perceber a arte passou a ser explorada por vários artistas no final da década de 60. Em meu projeto propus uma reflexão sobre este outro modo de perceber sob a influência de artistas brasileiros como Hélio Oiticica e Lygia Clark, levando a uma maneira diferente de tratar a arte na escola.

Palavra Chave: Interatividade, Tridimensionalidade, Arte Contemporânea,

Percepção, Espaço.

Abstract

The focus of this article is to show the result for the implementation of the Pedagogical Intervention Project: Art and Interactivity: Beyond the Sense of Vision. The subject approaches the contemporary art showing the difficulty that exists in treating the art produced in the current days, requiring a new way of reading and understanding, new ways of relation between workmanship and

1 Professora Mara Sandra Lourenço, graduada em Artes Visuais, atuando no Colégio Estadual Rio Branco

2 Professor Orientador Mestre Flávio Marinho, atuando na Faculdade de Artes do Paraná

spectator. The relation that the art contemporary considers culturally and socially is the participation, convoking all the human being in its multiple dimensions. The conscience of this other way to perceive the art started to be explored by some artists in the end of the sixties. In my project I proposed a reflection on this other way to perceive art under the influence of Brazilian artists as Helium Oiticica and Lygia Clark, leading to a different way to treat the art in the school.

Word Key: Interactivity, Tridimensionality, Art Contemporary, Perception,

Space.

Introdução

Com a prática de vários anos em sala de aula observava que as aulas

de arte precisavam se adequar as mudanças do mundo contemporâneo, pois

falamos o tempo todo de arte, porém, esta arte universal esta muito distante do

ambiente escolar.

Quando vamos ao museu eles querem tocar as obras, fotografar e nem

sempre isso é possível. Levando-os a exposição dos Gêmeos no Museu Oscar

Niemeyer, observei que eles adoraram interagir com as obras do artista

Eduardo Frota da série Intervenção em trânsito II – Carretéis que estavam

expostas na parte externa do museu. Eles fotografaram, entraram dentro, enfim,

exploraram a obra. Dentro do museu também gostaram da mostra dos Gêmeos,

principalmente das que eram interativas.

Este fato foi fundamental para a temática do meu projeto, partindo

desta constatação comecei a estudar e pesquisar sobre este tema, para assim

minimizar esta lacuna que existe no ensino da arte.

Quantas vezes temos vontade de tocar as obras de arte para sentir sua

textura, perceber melhor seus detalhes e somos obrigados a nos reprimir, pois

as obras quase sempre são intocáveis.

Existe uma distância imensa que separa a obra do público.

Esta distância física cria uma barreira entre a arte e o público em geral.

Considerando que a arte desenvolve a sensibilidade e as sensações do

indivíduo, podemos perguntar se será possível explorar os cinco sentidos

através das obras de arte?

Você já ouviu falar em obras de arte nas quais podemos entrar, mexer

e até permanecer algum tempo dentro dela? Pois elas existem! E o seu

objetivo é fazer com que o público se aproxime da obra de arte e participe dela,

explorando outros sentidos além da visão.

O ser humano está acostumado a receber tudo pronto e não participar,

criticar ou modificar. A contemporaneidade exige muito mais. Exige criatividade,

capacidade de ver, perceber e modificar as coisas. Neste viés a arte também

sofreu modificações, e, portanto os professores de arte não podem se ater aos

movimentos artísticos do começo do século XX, é urgente que o aluno tenha

acesso às novas tendências em arte, como as performances, as instalações e

land-art.

A arte contemporânea nos fornece uma nova forma de acesso à

interpretação do mundo atual. A arte precisa ser vista com dinamismo e não

como entediante e estática. A arte tridimensional ou as instalações onde o

público pode participar, trabalhando seus cinco sentidos, desperta curiosidade

e interesse não só do adolescente, bem como de uma parcela mais variada da

população, acabando com o preconceito de que nem todos são capazes de

apreciar uma obra de arte.

Para desenvolver no aluno o gosto e a sensibilidade pela arte através

do uso de múltiplos sentidos na fruição de obras contemporânea, foi necessário

abordar alguns tópicos para a compreensão dessa nova maneira de relação

entre obra e espaço: portanto nas aulas com o ensino médio foi traçado um

percurso histórico dos movimentos clássicos e modernos buscando também

Identificar o movimento cultural neoconcretismo no Brasil, bem como

desmistificar a compreensão dos movimentos artísticos da arte contemporânea.

Pretendendo-se com isso desenvolver um novo olhar para valorização

e apreciação da plasticidade de materiais disponíveis e de fácil acesso,

conhecendo os artistas brasileiros que exploram esta ruptura da arte em

relação ao espaço. E, sobretudo mostrar uma nova maneira de lidar com a arte

na escola através da tridimensionalidade e uso de materiais alternativos com

metodologias diversas.

A Arte Contemporânea

Para compreendermos a arte contemporânea é necessário destacar

que este período compreende as obras realizadas a partir da segunda metade

do séc XX até a atualidade. Os objetos artísticos são frutos de um processo de

constante transformação e avaliação, pois refletem as profundas

transformações sociais e a rápida troca de informações, as quais colocam

rapidamente os artistas em contato com a produção global.

A complexidade do mundo contemporâneo refletido na arte faz com

que os artistas procurem refletir sobre as questões sociais e por vezes ele se

afasta das questões da contemplação, buscando uma interação mais efetiva

com o observador.

Características da Arte Contemporânea

A arte contemporânea requer uma nova atitude do sujeito diante da

imagem, entre elas uma maior interatividade, que oferece uma diferente

possibilidade em relação aos períodos anteriores, que exigia do espectador à

mera contemplação.

A Arte contemporânea abre um leque de possibilidades para o uso de

suportes e materiais variados, exigindo do ser humano a capacidade de ver,

perceber, modificar e refletir.

A Arte contemporânea por vezes propõe a participação, convocando todo

o corpo para a uma experiência sensorial e sensível. O espectador passa de mero

receptor a interventor.

A obra passa a existir com a interação do espectador.

A escultura também sofreu mudanças ao longo do tempo, chegando hoje a

modalidades como as instalações, podendo inclusive ser confundida com o próprio

espaço da exposição.

Através dos artistas modernos, podemos perceber essa mudança, onde a

escultura deixa de ser um monumento imóvel, fixo em um pedestal passando aos

poucos a relacionar-se com o espaço circundante.

Pensando em Escultura

As obras de arte atuais deixam os museus e ocupam espaços

alternativos o que nos faz pensar a questão da tridimensionalidade.

Para entender as obras atuais se faz necessário pensar a questão do

espaço e tempo e, também na relação que a obra estabelece com este espaço

e este tempo. A escultura, normalmente deixada em segundo plano em nossas

salas de aula irá nos ajudar a trabalhar e compreender essa questão da

modernidade.

A interatividade que a arte atual propõe está bastante ligada à

tridimensionalidade, ou seja, através da manipulação de diferentes materiais e

recursos dessa linguagem podemos proporcionar ao aluno possibilidades

infinitas na construção do seu trabalho e nas relações com o espaço onde ele

será inserido.

A peça escultórica exige a movimentação e o deslocamento do corpo

para a apreensão espacial da obra que está no espaço. O espectador é

convidado a ver espacialmente, circulando ao redor da obra escultórica. O olho

transita na escultura passando de um volume a outro, obrigando o espectador

a mover-se.

Na tela o artista aprisiona a visão nos limites da moldura da tela. Na

apreciação escultórica a peça permanece fixa, e todo o corpo se movimenta

junto com os olhos.

A arte contemporânea nos evoca a uma coreografia circundante a um

deslocamento envolvente em relação à obra participando dela, entrando nela e

se contagiando com a apreensão espacial das formas.

Pautando-se no período moderno fazendo um histórico dos artistas e

de suas obras essas mudanças ficam bem marcantes e nos fornecem

embasamento teórico para penetrar no universo da arte contemporânea.

Arte Concreta e Neoconcreta

Com a I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo que foi

inaugurada em outubro de 1951 possibilitando aos artistas e críticos brasileiros

o conhecimento de obras abstratas ou concretas de vários artistas que

integram a representação da Suíça.

O grande prêmio de escultura do certame, concedido pelo Júri Internacional à “Unidade Tripartida de Bill”, assinalava a primeira grande vitória internacional da arte concreta numa exposição dessa natureza e chamava a atenção para este artista, cuja obra e cujas idéias iriam, a partir de então, influir profundamente no curso da arte brasileira. Por outro lado, este mesmo júri que premiou Bill concedeu o prêmio destinado à jovem pintura nacional ao pintor Ivan Serpa. (GULLAR, 1999, p. 232)

O concretismo pretendia se infiltrar no centro da produção industrial, e

assim como os suíços desejavam remodelar o ambiente social contemporâneo,

lutavam a favor da superação do subdesenvolvimento e atacavam o modelo

tradicional de arte brasileiro. Tratava-se de tornar a arte um fator objetivo

socialmente, como algo que pudesse modificar o ambiente em que se

manifestava, através da metafísica das cores e formas puras.

A arte concreta encontrou, no campo da escultura, ou da construção no espaço real, terreno mais propício para seu desenvolvimento o que na pintura, espaço bidimensional, onde se limitou, na maioria dos casos, à ilustração de problemas perceptivos. (GULLAR, 1999, p. 263).

No movimento concretista brasileiro, vários artistas agrupam-se

formando dois grupos: o grupo Frente, do Rio de Janeiro, e o Grupo Ruptura,

de São Paulo.

Waldemar Cordeiro lidera o grupo Ruptura, surgido por volta de 1951,

reunindo artistas de São Paulo integrado pelo desenhista Lothar Charoux,

Geraldo de Barros, os pintores Luiz Sacilotto, Hermelindo Fiaminghi, Mauricio

Nogueira Lima e Judith Lauand, o escultor Casemiro Frejer. Este grupo

mantinha o dogmatismo do Concretismo desenvolvido por Max Bill e pela

escola de Ulm.

O grupo Frente do Rio de Janeiro forma-se em torno de Ivan Serpa,

unindo-se a ele, Aluísio Carvão, Carlos Val, Décio Vieira, João José da Silva

Costa, Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Hélio Oiticica e Ferreira

Gullar. Os cariocas eram livres de regras, tinham grande autonomia em relação

aos princípios da Arte concreta.

Em dezembro de 1956 e fevereiro de 1957, respectivamente no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Ministério de Educação e Cultura, no Rio, realizou-se a I Exposição de Arte Concreta reunindo os concretos do Rio e de São Paulo. Essa exposição – que punha pela primeira vez em confronto duas tendências do concretismo brasileiro teve ampla repercussão e marcou o início de uma etapa nova das experiências concretas, obrigando os artistas cariocas a tomar uma posição mais definida em face das idéias veiculadas pelo grupo paulista. (GULLAR, 1999 p.234)

De acordo com Gullar esse confronto entre as duas tendências do

concretismo brasileiro, teve ampla repercussão e marcou o início de uma nova

etapa, obrigando os artistas cariocas a tomar uma posição mais definida em

face das idéias veiculadas pelo grupo paulista. Essa etapa é marcada com a

posição do Grupo Frente que, em 1959, assina o Manifesto Neoconcreto.

Escrito por Ferreira Gullar e apoiado por Mário Pedrosa, o novo

manifesto se impõe como discussão em torno do concretismo, revendo as

posições teóricas adotadas e a maneira mecanicista e positivista de se tratar à

arte, repondo o problema da expressão e do subjetivismo deixando fluir a

espontaneidade e a percepção do mundo. Trata-se de uma ruptura no interior

da abstração geométrica; o abando da radicalidade das formas geométricas

puras para abrir ao público a possibilidade de vivenciar o ato de contemplação.

A arte concreta, para se livrar da espontaneidade natural que nega o homem, extirpou das formas a casca alusiva que as tornava fáceis de aprender. Criou dificuldades à percepção, como toda arte o faz. Mas,

desligando as formas da simbólica geral do corpo, chegou a um extremo em que o homem é negado também. A arte neoconcreta reconhece a necessidade de uma reintegração dessas formas num contexto de significações. A arte neoconcreta rompe com a visão especializada, estanque, devolvendo às formas a sua multivocidade perceptiva. ( GULLAR, 1999, p. 248)

A arte neoconcreta retoma a questão da forma significativa, rompendo

com o conceito tradicional de quadro e escultura propondo uma linguagem não-

figurativa, cuja expressão dispensa um espaço metafórico para realização,

realiza-se diretamente no espaço, sem apoio convencional da moldura (para

quadro) e da base (para a escultura).

O Neoconcretismo foi considerado o vértice e a ruptura dos

movimentos de tendência construtiva no Brasil, não sendo uma continuação do

concretismo, e sim uma tomada de posição frente ao que eles achavam ser a

destruição de todas as especificidades da obra de arte. O artista para eles não

era uma máquina, mas sim o criador e elemento vital para a realização da obra.

A percepção da obra de arte não é apenas percepção racional da

forma, mas é também relação emotiva. Deixando de lado o rigor formal em prol

de uma arte orientada pela relação entre público e obra, a teoria do não-objeto

de Ferreira Gullar, a arte cinética de Abraham Palatinik, a série tátil “os bichos”

de Lígia Clark e de “penetráveis” de Hélio Oiticica dão origem ao que será

classificado, pela crítica, como arte brasileira contemporânea.

O neoconcretismo, movimento cultural do fim da década de 60, marca

o início dessa revolução, no Brasil, com efetiva participação do artista plástico

Hélio Oiticica. O artista propôs o “Parangolé” para superar a estrutura do

“quadro” como suporte expressivo. O Parangolé propõe uma nova

reestruturação da visão espacial da obra de arte. Hélio Oiticica insere um novo

paradigma na história da arte no Brasil, criando obras sensoriais e interativas,

necessitando, portanto, que o público se vista com elas, toque-as e sinta-as

para que elas de fato existam.

A artista plástica Lygia Clark também contribui com esta nova visão da

arte ao propor obras que interagem com o espaço, e de uma pintura que

resulta na construção de um novo suporte para o objeto. Suas obras exigem

que o espectador contribua com a sua construção, pois ao manuseá-las, pode

descobrir inúmeras formas que a obra oferece. Lygia Clark, com a série “Bichos,

torna-se uma das pioneiras na arte participativa mundial, as figuras se projetam

para além dos limites do suporte, ampliando a extensão de suas áreas”.

Implementação do Projeto

Inicialmente o projeto foi aplicado em um grupo de trabalho em Rede-

GTR que é uma formação á distancia ofertada aos professores da rede

estadual.

Nesta GTR se inscreveram vinte cinco professores e durante o

processo de socialização desse projeto com os professores foi possível

detectar a dificuldade e a falta de material sobre a contemporaneidade.

O projeto está pautado nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná quando “Sugere-se para a prática pedagógica, que o professor aborde, além da produção pictórica de conhecimento universal e artistas consagrados, também formas e imagens de diferentes aspectos presentes nas sociedades contemporâneas.” (DIRETRIZES, PAGINA 72)

Desta forma o presente projeto servirá como subsídio para a grande

maioria dos professores de Arte. Trabalhar a arte contemporânea requer

desprendimento por parte do professor, pois exige estar em busca constante

de conhecimento e estar atento às mudanças que estão ocorrendo com a arte

e com a sociedade atual.

“Educar os alunos em Arte é possibilitar-lhes um novo olhar, um ouvir

mais crítico, um interpretar a realidade, bem como a ampliação das

possibilidades de fruição” (DIRETRIZES, 56).

O projeto está em sintonia com as Diretrizes, uma vez que esta propõe

o ensino de arte contemporânea, sendo um de seus conteúdos estruturantes.

A socialização no grupo de trabalho em rede foi muito interessante e os

professores participantes contribuirão muito com o término do meu material

didático.

O Projeto de Intervenção Pedagógica desenvolvido no presente

trabalho foi realizado conforme a regulamentação do Plano de

Desenvolvimento Educacional – PDE, edição de 2009. Foi implementado no

Colégio Estadual Rio Branco, nas salas da segunda série do Ensino Médio do

período da tarde, no segundo semestre do ano de 2010. As três turmas do

ensino médio onde foi desenvolvido o projeto não eram conhecidas pelo

professor, o grupo era de jovens com a mesma faixa etária. As três turmas

tinham o mesmo perfil, turma ativa, agitada e disposta, o que facilitou a

aplicação deste material.

A produção didático-pedagógica foi elaborada na categoria Unidade

Didática: material composto por abordagem de uma única unidade contendo

texto de fundamentação teórica com as respectivas atividades que foram

desenvolvidas. A produção didático-pedagógica foi elaborada pensando em

provocar tanto a reflexão e discussão sobre o tema bem como a criação

artística.

O trabalho foi dividido em duas etapas, totalizando quatro meses de

trabalho. Na primeira etapa foi aplicada toda a teoria contida na Unidade

Didática e também foi desenvolvida pesquisa em relação aos artistas de

produção mais significativa que se enquadram no movimento neoconcreto.

Para esta pesquisa e também para realização das atividades contidas na

unidade didática foi utilizado o laboratório de informática.

Para desenvolver a primeira etapa, inicialmente parti do referencial

teórico abordado na Unidade Didática. Propus uma reflexão sobre a arte

contemporânea e os suportes e materiais artísticos utilizados pelos artistas

contemporâneos. Tendo como principal objetivo analisar as mudanças sofridas

na linguagem artística ao longo do tempo. Para desenvolver esta etapa teórica

usei todos os recursos tecnológicos que estavam ao meu alcance, como

computador, vídeos, tv multimídia, revista e data show.

Na segunda etapa os alunos passaram para a produção de trabalhos

que expressaram o seu entendimento sobre este tema.

A produção artística foi orientada em duas etapas, uma individual e

uma coletiva sempre com a escolha dos materiais expressivos mais adequados

ao seu projeto.

A criação individual permitiu um trabalho integrado com a turma,

partindo da exposição oral do aluno criador para a reflexão e complementação

coletiva da turma propiciando uma enriquecedora discussão artística sobre o

processo criativo.

Com a intenção de se ter uma melhor percepção do trabalho fazia-se o

registro de todas as etapas, evitando assim que o processo cognitivo não se

perdesse na elaboração da criação artística.

Sempre iniciávamos com a elaboração de esboços e rascunhos de seu

projeto, esta etapa exigia o dialogo com o professor para reflexão sobre

possíveis alternativas, materiais e locais antes de partir para a parte pratica. A

produção coletiva foi a que levou mais tempo, porém, proporcionou discussões

mais ricas sobre o entendimento do tema. Foi mais difícil a escolha de

materiais e até transportar esses materiais. Durante o processo fizemos a

coleta de alguns materiais, como caixas grandes, garrafas pets, enfim tudo que

poderia seu usado como material plástico. Citarei dois trabalhos individuais que

me chamaram muita atenção pela compreensão do tema abordado.

O primeiro tinha como titulo “O fim da arte clássica”, onde havia uma

tela quebrada que girava dando a idéia que as cores e formas escorriam além

desta tela.

No segundo, intitulado: “Preservação da carne”, o aluno colocou um

pedaço de carne dentro de um recipiente de vidro de conserva aonde colou

vários rótulos pertinentes a beleza externa, como maquiagem, bisturi, etc.

Nos trabalhos coletivos gostei de vários, porém, vou descrever alguns.

Num deles os alunos organizaram em uma mesa vários objetos sem sentido,

como caixas rolos, latas, etc. Projetando uma luz na frente na sala escura

viam-se na parede varias formas diferentes dependendo do seu ângulo de

visão.

Num outro usaram uma sala inteira com papéis picados e várias caixas

pelo chão e penduradas, o espectador podia interagir com as caixas e circular

nesse espaço, onde às vezes surgia algum ruído, pois havia folhas secas no

meio dos papéis.

O seguinte explorara as sensações, usando uma sala toda escurecida

por plástico preto, onde as pessoas a percorriam de olhos vendados e

manipulavam diferentes objetos através do tato, olfato, paladar, audição e por

ultimo seus olhos eram desvendados e podiam-se ver recortes, espelhos e

cores.

Juntei uma série onde trabalharam com o corpo como suporte, para

isso usaram manequins.

Segue algumas fotos:

As características do movimento sugeriram uma produção

tridimensional e interativa que convidou alunos, professores e toda a

comunidade escolar, a participarem e interagirem construindo o resultado

dessa produção didática.

A participação dos alunos foi muito satisfatória, principalmente na

confecção e exposição das obras.

Quando iniciei este projeto, já citei que os jovens preferem a

participação e interação ao invés da pesquisa, leitura e observação de

reproduções.

Segundo Ferraz e Fusari (1993), é importante desenvolver o trabalho

de investigação estética com os jovens, porque a percepção do mundo

circundante está intimamente ligada com a sua posterior representação. As

representações mentais, advindas desse mundo perceptivo, reorganizam-se,

recombinam-se em outras formas através do processo criado.

Foi importante que o aluno se percebeu como agente nos processos

interativos com as obras contemporâneas, buscando formas de interpretação

partindo de suas experiências e seu cotidiano. O espectador não ficou passivo

durante a exposição, teve a oportunidade de manuseá-las e modificá-las.

Considerações Finais

Após a implementação, foi possível perceber que realmente sentimos

dificuldade em trabalhar esta temática. Dificuldade esta encontrada na própria

estrutura da escola onde não existe espaço para estas intervenções e também

o grande número de alunos por turma que dificulta a nossa prática.

É importante registrar este fato, pois a dificuldade em se tratar à

contemporaneidade não está somente na formação do professor.

Ficou claro que o tema é oportuno e capaz de motivar o aluno para

uma reflexão sobre a arte no panorama atual.

A arte contemporânea requer reflexão e participação, mudando a ação

do espectador que antes era de contemplação para agir como agente

participante, condição necessária para a existência da obra. Foi muito

satisfatória em relação à participação e produção dos alunos envolvidos, porém,

esperava uma participação maior por parte da comunidade escolar.

Infelizmente na escola o tempo é escasso e o término da minha

implementação coincidiu com o final do ano e as recuperações finais. Fato este

que impossibilitou maior envolvimento da comunidade escolar.

Outra dificuldade foi com a estrutura física, não havia espaço

disponível para expor todas as obras interativas.

A direção da escola auxiliou em todos os momentos inclusive com a

compra de materiais.

Um aspecto positivo do projeto proposto foi à experiência e liberdade

ofertada ao aluno em explorar outros espaços além da sala de aula,

procurando observar e refletir sobre a função de cada canto da escola, tanto

interno como externo. Essa oportunidade de explorar os espaços interferiu

diretamente na escolha do material tornando o aluno mais participativo e

atuante no projeto.

A exposição final também contribuiu com a interação e compreensão

de toda a comunidade escolar sobre o tema proposto, possibilitando um novo

olhar para contemporaneidade.

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