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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · Implementando o Projeto Político-Pedagógico ... Veiga e Danilo Gandin. Para essa construção, que segue orientações das políticas educacionais

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

CADERNO PEDAGÓGICO

Professor PDE: JUANA DA ROCHA

Professor Orientador: MS. JANAINA DAMASCO UMBELINO

Francisco Beltrão – Pr.

2010

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Professor PDE: JUANA DA ROCHA

Produção Didática apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Disciplina de Pedagogia. Orientadora: Profª. Ms. Janaina Damasco Umbelino.

Francisco Beltrão – Pr.

2010

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APRESENTAÇÃO............................................................................................................5

ESTRATÉGIA DE AÇÃO............................................................................................... 7

UNIDADE I

Projeto Político-Pedagógico............................................................................................... 9

O que é o Projeto Político- Pedagógico............................................................................ 12

Conceito e Função do Projeto Político-Pedagógico............................................................12

Pressupostos Teóricos para a Elaboração do Projeto Político-Pedagógico........................ 14

Princípios Norteadores do Projeto Político Pedagógico..................................................... 16

Construção do Projeto Político-Pedagógico........................................................................ 16

Roteiro do Projeto Político-Pedagógico.............................................................................. 16

Implementando o Projeto Político-Pedagógico................................................................... 17

Atividades da Unidade I..................................................................................................... 19

Leituras Complementares.................................................................................................... 20

UNIDADE II

Pedagogia Histórico-Crítica................................................................................................ 21

Natureza da Educação e sua especificidade........................................................................ 21

Pedagogia Histórico-Critica e Educação Escolar................................................................ 23

Atividades da Unidade II.................................................................................................... 26

Leituras Complementares.................................................................................................... 26

UNIDADE III

Gestão Democrática............................................................................................................ 27

Gestão Democrática na Legislação..................................................................................... 27

O que é Gestão Democrática.............................................................................................. 29

Democratização da Gestão................................................................................................. 29

Participação........................................................................................................................ 30

Princípios da Participação................................................................................................... 31

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Participação Coletiva......................................................................................................... 31

Autonomia da Escola.......................................................................................................... 32

Atividades da Unidade III................................................................................................... 35

Leituras Complementares.................................................................................................... 35

UNIDADE IV

Instâncias Colegiadas.......................................................................................................... 36

Conselho Escolar................................................................................................................. 37

Conselho de Classe............................................................................................................. 37

APMF - Associação de Pais, Mestres e Funcionários......................................................... 39

Grêmio Estudantil............................................................................................................... 40

Atividades da Unidade IV................................................................................................... 41

Leituras Complementares.................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS................................................................................................................ 43

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Este trabalho é uma etapa do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE -

que é uma política pública do Estado do Paraná, propondo uma formação continuada

inovadora que estabelece o diálogo entre professores da Educação Superior e professores

da Educação Básica através de estudos orientados, elaboração de material didático,

intervenção na realidade da escola e atividades teórico-práticas orientadas, tendo como

resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar.

Este retorno aos estudos acadêmicos proporciona o aperfeiçoamento dos

fundamentos teórico-práticos necessários a organização do trabalho pedagógico, a

avaliação e revisão contínua do Projeto Político-Pedagógico, tema proposto para a

intervenção pedagógica na escola.

Para a execução do Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio Estadual Dr.

Mário Augusto Teixeira de Freitas, com o título Projeto Político-Pedagógico: desafios

para a sua implementação, pensamos a formação de grupos de estudos. Para isso, é

necessário um planejamento quanto ao suporte teórico, neste sentido, apresentamos este

Caderno Pedagógico - direcionado aos profissionais da escola, a comunidade escolar

representada pelos pais e alunos e aos integrantes das Instâncias Colegiadas do

estabelecimento, tendo como objetivo servir de material de apoio teórico para estudos e

discussão. A fundamentação teórica referente à elaboração e construção do Projeto

Político-Pedagógico tem como base os estudos realizados por Ilma Passos Alencastro

Veiga e Danilo Gandin.

Para essa construção, que segue orientações das políticas educacionais do estado

do Paraná, tendo a Pedagogia Histórico-Crítica de Dermeval Saviani como base teórica. A

consolidação pela Gestão Democrática em busca da Autonomia e qualidade de ensino,

baseado em Vitor Henrique Paro e Moacir Gadotti e por fim análise das Instâncias

Colegiadas na Escola: definição, conceitos, finalidades, atribuições e função de cada

segmento

Esse Caderno Pedagógico é composto por quatro unidades, com textos e

proposição de atividades sobre os respectivos temas. As atividades enfatizam o aspecto

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conceitual e operacional, levando à reflexão do contexto do documento elaborado e

culminando com a sistematização para reelaboração do mesmo.

Para isso as unidades estão organizadas da seguinte forma:

Na unidade I, discutimos o tema: Projeto Político-Pedagógico, no qual

apresentamos definições, fundamentos e pressupostos teóricos inerentes a sua constituição

e construção. São identificados os passos do roteiro para a elaboração e construção do

projeto educativo.

A unidade II aborda a tendência pedagógica Histórico-Crítica, sua origem e

elementos básicos tais como: a Natureza da Educação, a Pedagogia Histórico-Crítica e a

Educação Escolar seu objeto e especificidade.

A unidade III contempla a Gestão Democrática, como um processo de

aprendizado coletivo; a Participação Coletiva da comunidade escolar respaldando a

Autonomia da Escola como exercício de democratização de um espaço público.

Na unidade IV, discutimos as Instâncias Colegiadas da escola: definição,

conceitos, finalidades e função do órgão e segmento: Conselho Escolar, Associação de

Pais, Mestres e Funcionários- APMF, Conselho de Classe e o Grêmio Estudantil.

As temáticas que compõem os textos desse Caderno Pedagógico vêm ao encontro

às necessidades e expectativas, superando a falta de clareza e a fragmentação do trabalho

pedagógico e das ações na escola, que o mesmo sirva de estímulo para despertar e

aprofundar mais os estudos.

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As atividades serão desenvolvidas com os profissionais da escola, pais e alunos.

Sendo distribuída em 07 encontros de 04 horas, perfazendo a carga horária de 28 horas

com os Profissionais da Escola e 04 encontros de 4 horas, totalizando a carga horária de 16

horas, com pais, alunos e representantes das Instâncias Colegiadas da Unidade Escolar, e

02 encontros de 04 horas, carga horária de 08 horas com o grupo todo (equipe de direção,

técnica e pedagógica, docente e serviços de apoio, pais e alunos - instâncias colegiadas)

para a discussão, reelaboração do documento se assim se fizer necessário. Finalizaremos

com a apresentação e aprovação em Assembléia Geral do Projeto Político-Pedagógico do

Colégio Estadual Dr. Mario Augusto Teixeira de Freitas.

A formação dos grupos e o desenvolvimento das atividades terão início no

segundo semestre de 2010 (agosto a novembro), e término no primeiro bimestre de 2011

(fevereiro e março) sendo assim distribuídos conforme cronograma abaixo:

Encontros com os Profissionais da Escola (equipes de Direção, Administrativa,

Técnica, Pedagógica e de Apoio e Professores)

Encontro Temática Data/Mês

1° Unidade 1 Projeto Político- Pedagógico

2ª quinzena Agosto/ 2010

2° Unidade 1 Projeto Político- Pedagógico

1ª quinzena Setembro/ 2010

3° Unidade 2 Pedagogia Histórico-Critica

2ª quinzena Setembro/ 2010

Unidade 3 Gestão Democrática, Participação Coletiva e

Autonomia da Escola

1ª quinzena Outubro / 2010

Unidade 3 Gestão Democrática, Participação Coletiva e

Autonomia da Escola

2ª quinzena Outubro/ 2010

Unidade 4 Instâncias Colegiadas

Conselho Escolar, APMF, Conselho de Classe e Grêmio Estudantil

1ª quinzena

Novembro / 2010

Unidade 4 Instâncias Colegiadas

Conselho Escolar, APMF, Conselho de Classe e Grêmio Estudantil

2ª quinzena

Novembro / 2010

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Encontros com os Pais e alunos e representantes das Instâncias Colegiadas

(Comunidade Escolar)

Encontro Temática Data/Mês

Unidade 1 Projeto Político-Pedagógico

(definição e conceitos, objetivos, contexto e importância do projeto educacional)

Agosto 2010

2° Unidade 3 Gestão Democrática, Participação Coletiva e

Autonomia da Escola

Setembro

2010

3° Unidade 4

Instâncias Colegiadas Conceitos, objetivos e finalidades

Outubro

2010

4° Unidade 4

Instâncias Colegiadas Conselho Escolar, APMF, Conselho de

Classe e Grêmio Estudantil

Novembro

2010

Encontros com o todo o Grupo (Profissionais da Escola, Pais e alunos e

Instâncias Colegiadas)

Encontro Temática Data/Mês

Análise e Discussão Reelaboração do documento da Escola

Projeto Político-Pedagógico

Fevereiro

2011

2° Reelaboração do documento da Escola Projeto Político-Pedagógico

Março 2011

3° Apresentação e Aprovação do

Projeto Político-Pedagógico Abril 2011

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PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

A Produção Didático-Pedagógica dos textos para o trabalho com o grupo de

estudos referente à elaboração e construção do Projeto Político-Pedagógico na escola tem o

referencial teórico baseados nos estudos de Ilma Passos de Alencastro Veiga e de Danilo

Gandin. Veiga enfatiza que:

A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nesta perspectiva, é fundamental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe dêem condições necessárias para levá-la a diante. Para tanto é importante que se fortaleçam as relações entre a escola e o sistema de ensino (VEIGA, 2005, p.11-12)

Sendo a escola o espaço próprio para a elaboração e construção do projeto

político-pedagógico buscou aprofundar a reflexão e a compreensão sobre o tema, partindo

da legislação, das políticas públicas, das concepções e conceitos, da fundamentação

teórico-metodológica para a construção do projeto educativo com base no princípio da

ação coletiva e compartilhada.

O Projeto Político-Pedagógico há alguns anos está na pauta das discussões das

instituições escolares, o termo Projeto Político-Pedagógico nasce nos anos 80 com a

intenção de desmistificar a visão burocrática e técnica e afirmar a natureza política do

projeto. Pensar o papel político e pedagógico que a escola exerce na sociedade

historicamente constituída, dividida em classes sociais, num modo de produção capitalista,

implica em reconhecer a educação como um ato político.

Essa ação possui uma intencionalidade, que contribui para reforçar o modelo de

sociedade, a ideologia, a cultura e os saberes que são relevantes para os grupos que detém

o poder. Bem como, desvelar a forma como a escola articula o seu projeto político

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constituindo-se num espaço emancipatório com a participação na construção de uma

contra-ideologia, onde a cultura e os saberes dos grupos menos favorecidos estejam em

constante diálogo com os saberes historicamente acumulados e sistematizados pela

humanidade.

Assim, podemos afirmar que a educação é intencional e que está vinculada a

concepção de sociedade, de homem, de cultura, de conhecimento. Não se pode pretender

formar um homem sem um prévio conceito ideal de homem, de conhecimento e de

sociedade onde está inserido.

O processo da educação e a escola é uma elaboração histórica dos homens, é um

espaço por excelência, onde gestores de políticas públicas e educadores se educam,

elaboram formas de compreender o mundo, a educação, a humanidade e o próprio

conhecimento. Essa concepção vai articular e organizar o trabalho pedagógico escolar e

nele a construção do Projeto Político-Pedagógico.

Todavia, depende de como o educador e o gestor se posicionam diante da

realidade, de como participam e como vêem a sociedade, como concebem o saber e o

conhecimento, a relação que estabelecem com seus educandos na prática pedagógica.

Neste sentido reforça-se a importância de compreender que o Projeto Político-Pedagógico

traz as marcas da concepção de mundo, de humanidade (homem) e de educação que os

gestores das políticas públicas, os gestores de escola e os educadores, uma vez que não

existe neutralidade no fazer pedagógico. A busca incessante pela articulação plena da

escola a sociedade pode ser esclarecida conforme afirma Freire:

Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de quem não imporá o quê. Não posso ser professor simplesmente a favor do Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa. Sou professor a favor da decência, contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da lista constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na

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fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo (FREIRE, 1996, p.115).

A escola sendo parte do movimento histórico social deve ser vista como palco de

uma dimensão da luta de classes, nesta perspectiva a escola se afirma como uma instituição

histórica e cultural que incorpora interesses ideológicos e políticos onde experiências

humanas são produzidas, contestadas e legitimadas. Desta forma é necessário pensar o

projeto educacional da escola, pois este confere a identidade, revela a função social na

sociedade, através dos conhecimentos sistematizados e historicamente elaborados. Daí, a

essencialidade e importância do significado que o Projeto Político-Pedagógico assume na

organização do trabalho pedagógico escolar.

O Projeto Político-Pedagógico tem a ver com a organização do trabalho

pedagógico em dois níveis: como organização da escola como um todo e como

organização da sala de aula. O projeto tem que sempre rever o instituído para, a partir dele

instituir outra proposta. Precisa tornar-se instituinte. Na construção do projeto educacional

nos deparamos com a necessidade de respondermos: Para que queremos a escola? Que

cidadão e que sociedade queremos formar? O que a escola vai trabalhar? Como será seu

trabalho pedagógico?

Essas perguntas nos levam a buscar a concepção que temos de sociedade, de

homem, de mundo, de educação. Bem como, nos faz assumir com clareza a direção do

projeto de sociedade que queremos construir, dos sujeitos que queremos formar. Faz-nos

tomar posição de como queremos que seja nossa escola, qual cultura e quais

conhecimentos ela vai priorizar e valorizar no seu trabalho educativo. Como vai trabalhar

com o saber de experiências construído pelos educandos e educadores, que relação vai

estabelecer com a comunidade onde se insere, como se dará a participação dos diferentes

atores sociais, e como vão participar da construção e organização do trabalho pedagógico

escolar.

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O que é Projeto Político-Pedagógico

O termo projeto vem do latim “projectu, particípio passado do verbo projicere,

que significa lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, empreendimento.

Redação provisória da lei, plano geral de edificação” (Ferreira, 1975. p.1.144).

O Projeto Político-Pedagógico é o instrumento que organiza o trabalho

pedagógico da escola em busca da qualidade do ensino. Essa organização se dá em dois

níveis: a escola como um todo - o que envolve a relação com o meio social; e a sala de aula

- incluindo as ações do professor com seus alunos. Portanto, é um documento que facilita e

organiza as atividades, sendo mediador de decisões e que conduz as ações da escola.

O Projeto Político-Pedagógico é um processo de tomada de decisões

democráticas, construído dentro de um movimento e de acordo com a legislação deve ser

participativo, coletivo e vivenciado constantemente por todos os envolvidos. Ele não é algo

construído para ser arquivado, ficar nas gavetas ou simplesmente ser encaminhado às

autoridades para se cumprir determinações burocráticas. Ele dá uma ideia de democracia,

se constitui num processo de permanente reflexão e discussão dos problemas, das

propostas, da organização e da intencionalidade da escola.

Conceito e função do Projeto Político-Pedagógico.

O Projeto Político-Pedagógico é um documento que facilita e organiza as

atividades, medeia as decisões, conduz as ações e possibilita a análise dos resultados, assim

constituindo-se no registro da memória histórica da unidade escolar. Vasconcellos define o

Projeto Político-Pedagógico, como:

O plano global da instituição pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a intervenção e mudança da realidade. É um elemento de organização e integração da atividade prática da instituição neste processo de transformação (VASCONCELLOS, 2004.p.169)

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O Projeto Político-Pedagógico não se reduz à dimensão pedagógica e didática,

mas reflete a realidade da escola, a intencionalidade educativa, é um instrumento do

processo educativo, conforme explicita Veiga:

É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sócio-político e com os interesses reais e coletivos da população majoritária. Ele é fruto da interação entre os objetivos e prioridades estabelecidas pela coletividade, que estabelece, através da reflexão, as ações necessárias à construção de uma nova realidade (VEIGA, 2005, p.13).

Nesta construção todas as crenças, convicções, conhecimentos da comunidade

escolar tanto no contexto social como no contexto científico se constituirão num

compromisso político, pedagógico e coletivo, Veiga afirma: “Antes de tudo, é um trabalho

que exige comprometimento de todos os envolvidos no processo educativo: professores,

equipe técnica administrativa e pedagógica, alunos, pais e a comunidade como um todo

(VEIGA, 2005. p.13).

Para a elaboração do texto do Projeto Político-Pedagógico é necessário a

observação, a análise, a reflexão e a leitura das relações e dos fatos decorrentes no interior

da escola. Partindo da reflexão e discussão deve-se registrar, documentar, levantar

questionamentos, compreender as forças que atuam no cotidiano, no desenrolar das

atividades, qual o currículo escolar, como é avaliado, qual é a forma de organização do

trabalho pedagógico.

O processo de construção do Projeto Político-Pedagógico considerará momentos

de avaliação tanto na concepção como na execução e implementação da proposta. Deve ser

um processo participativo e de decisões, organizar uma forma de trabalho que unifique as

relações no seu interior, levando à autonomia da escola, na solidariedade e bem comum e

coletivo. O projeto deve nascer da necessidade da comunidade escolar, baseado na

realidade, onde todos possam interagir opinar, articular e avaliar as ações e os resultados

continuamente, pois, não está pronto e acabado, é possível modificar, aprimorar, ampliar

ou suprimir se necessário.

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O projeto da escola reflete a realidade em que está inserida, seu contexto social, cultural e

econômico em que está situada, as influências que acarreta e de como é influenciada em seu meio

social. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos por todos os envolvidos no processo

educativo. Todo projeto pedagógico também é político por estar relacionado e comprometido

com os interesses reais e coletivos da comunidade na formação do cidadão. “A dimensão

política se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prática especificamente

pedagógica” (SAVIANI 1983, p.93).

A elaboração da proposta pedagógica, considerando sua importância para

organização da unidade escolar, é regulamentada pela LDB 9394/96, que prevê, no artigo

12, inciso I, a incumbência do sistema de ensino quanto à elaboração e execução da sua

proposta pedagógica, no artigo 14 cita o Projeto Político-Pedagógico como um documento

que direciona e esclarece o compromisso firmado coletivamente, que estabelece a

organização, determinam procedimentos e ações, procura eliminar relações competitivas,

ações corporativas e autoritárias, abrindo espaço para as relações coletivas e horizontais na

escola.

Pressupostos Teóricos para a Elaboração do Projeto Político-Pedagógico

É necessário conhecer bem a realidade da comunidade para estabelecer o plano de

intenções e desenvolver a proposta contemplando os pressupostos norteadores: filosófico-

sociológico, epistemológico e didático-metodológico, conforme afirma Veiga (2008):

Pressuposto filosófico-sociológico: concebe a educação como compromisso

político do poder público com a sociedade, tendo como metas a formação do cidadão

participativo e crítico. Para definir esses pressupostos precisamos conhecer a sociedade e a

comunidade onde a escola está inserida, qual a concepção de educação, de mundo, de

homem, de cidadania e qual a função da escola. Pois se trata de um processo articulador

das relações sociais, culturais, educacionais e econômicas. Veiga questiona:

Qual o contexto filosófico, sociopolítico, econômico e cultural em que a escola está inserida? Que concepção de homem se tem? Que valores devem ser defendidos na sua formação? O que entendemos por cidadania e cidadão? Como a escola corresponde às aspirações dos alunos, dos pais

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e dos professores? Qual é o papel da escola diante de outros espaços formadores? (VEIGA, 2008. p.20).

Pressuposto epistemológico: tem como objeto de estudo o conhecimento

construído e transformado coletivamente na socialização e democratização do saber. Esse

processo de produção do conhecimento escolar amplia a compreensão das questões

curriculares quando parte do concreto e da prática precedido da teoria. É imprescindível

que haja a unicidade entre teoria e prática, entre conhecimento geral e específico, entre

conteúdo e forma, entre dimensão técnica e política. Segundo Veiga:

O que significa construir o conhecimento no campo da educação básica? Como construir um conhecimento interdisciplinar e globalizado, conseguindo trabalhar o específico e avançar na compreensão das relações sociais? Como avançar na prática pedagógica de forma que o conhecimento seja trabalhado como processo e que contribua para a autonomia do aluno, do ponto de vista intelectual, social e político, favorecendo a cidadania? Como a relação entre ensino e pesquisa pode favorecer essa construção? Como definir o essencial e o complementar na organização curricular? Como propiciar a aquisição de conhecimentos e habilidades intelectuais aliadas à atitude de cooperação, co-responsabilidade, iniciativa, organização e decisão? “Qual a concepção de conhecimento, currículo, ensino-aprendizagem e avaliação”? (VEIGA, 2008. p.21)

Pressuposto didático-metodológico: é a sistematização do processo ensino-

aprendizagem que através de métodos e técnicas de ensino e pesquisa, valoriza as relações

solidárias e democráticas. Daí a importância da presença dos professores, como sujeitos

que se reúnem numa prática intencional, vinculados a processos de socialização com

perspectivas de combinar o fazer pedagógico com a reflexão, resultando em propostas,

planos de ensino, atividades e novas formas de organização do trabalho pedagógico.

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Princípios norteadores do Projeto Político-Pedagógico

A abordagem do Projeto Político-Pedagógico, como organização do trabalho da

escola, segue princípios que vão nortear a escola democrática, pública e gratuita, sendo

estes a igualdade, qualidade, gestão democrática, liberdade e valorização do magistério.

Como afirma Veiga (2005):

Esses princípios analisados e o aprofundamento dos estudos que envolvem a organização do trabalho pedagógico apresentarão resultados e contribuições para a compreensão dos limites e possibilidades do Projeto Político-Pedagógico, quando voltado ao interesse das camadas menos favorecidas (VEIGA, 2005, p21).

A Construção do Projeto Político-Pedagógico

No Congresso para Pedagogos, I Simpósio para Pedagogos em Curitiba,

organizado pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná, as professoras Helena Leomir

de Souza Bartnik e Maria Madselva Ferreira Feiges, apresentaram roteiro para a

elaboração do Projeto Político-Pedagógico, fundamentado nos estudos da autora Ilma

Passos de Alencastro Veiga e demais autores. Organizaram os textos em torno de eixos

temáticos que aborda o cotidiano da escola, dentre estes a construção coletiva do Projeto

Político-Pedagógico, gestão da escola, relações de poder, autonomia, planejamento

participativo, relações ensino aprendizagem e organização do trabalho pedagógico.

A seguir apresentamos o roteiro sugerido:

Roteiro do Projeto Político-Pedagógico

1. Apresentação.

1.1. Identificação: Nome da Instituição, endereço, fundação, mantenedora, etc.

1.2. Breve histórico: este é importante para que o professor, equipe pedagógica, alunos

que estão ingressando conheçam o contexto histórico e desenvolvimento de sua escola.

Aspectos históricos da escola, espaço físico, oferta de cursos e turmas, caracterização da

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população, alunos e pais, professores e funcionários e equipe de direção, constituída por

diretores e pedagogos.

1.3. Projeto Político-Pedagógico;

1.3.1 O que é? Justificativa de sua necessidade e das exigências da LDB 9394/96;

1.3.2 Objetivos

1.3.3 Como foi construído, discussão do processo;

1.3.4 Como estão constituídas suas partes e a integração entre elas.

2. Marco Situacional: consiste na descrição da realidade onde a escola está inserida. É o

diagnóstico da realidade, é a busca das necessidades a partir da análise dessa realidade e/ou

juízo sobre a realidade que se deseja.

3. Marco Conceitual: É a busca de um posicionamento político, visão ideal de sociedade e

de homem. Definição da concepção pedagógica, ou seja, definição sobre a ação educativa e

características que deve ter a instituição que planeja. Os princípios, as teorias de

aprendizagem e o sistema de avaliação.

4. Marco Operacional: programação do que deve ser feito concretamente para suprir as

faltas. É a proposta de ação. Que mediações (conteúdos, metodologias e recursos) serão

necessários para diminuir a distância entre o que é a instituição e o que deverá ser.

Esses atos do processo de construção do Projeto Político-Pedagógico são

interdependentes e refletem propósitos, perspectivas, experiências valores e interesses

humanos concretos, devendo ser levado em consideração ao longo do planejamento

(VEIGA, 2008, p. 27-28).

Implementando o Projeto Político- Pedagógico

Na construção do Projeto Político-Pedagógico não é necessário impor ou

convencer os profissionais, basta dar-lhes condições de desenvolver seu trabalho como

educador, e assim, percebendo as necessidades, buscar estratégias para realizar o trabalho

pedagógico e para que isso aconteça precisamos nos munir de um pressuposto teórico que

garanta a compreensão e fundamente as ações para a construção.

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O Projeto Político-Pedagógico não está pronto, as mudanças sempre acontecerão,

é uma sequência natural do processo, uma vez que está embasado em pressupostos teóricos

e metodológicos com objetivos claros, tipo de organização e formas para implementar a

proposta, bem como, a avaliação do trabalho pedagógico da escola. “A elaboração,

execução e implementação do Projeto Político Pedagógico é tarefa da escola e não se

limita no ambiente das relações interpessoais, mas que se situa nas estruturas e funções da

escola” (MARQUES, 1990. p. 22).

Para legitimar o Projeto Político-Pedagógico é imprescindível a participação

efetiva de todos no processo, nas tomadas de decisões, no momento de definir metas,

objetivos, rumos e direções a serem seguidas. A construção do Projeto Político-Pedagógico

não se resume somente na escrita de um documento e na discussão de idéias, mas é preciso

internalizar o processo como um todo, bem como a aplicabilidade do mesmo.

Para a elaboração e efetivação do projeto político-pedagógico surgirão obstáculos

que se faz ainda muito presentes na realidade escolar, tais como:

• Rotatividade do Corpo Docente → a falta de um quadro efetivo de professores resulta

na dificuldade de participação dos mesmos nas decisões tomadas, pois muitos, para

completar sua carga horária, trabalham em várias escolas, sendo obrigados a escolher,

nas semanas pedagógicas, uma para participarem. Além dessa rotatividade, a falta de

professores nas escolas, causa a improvisação para atender e garantir as atividades na

ausência destes.

Estas situações provocam a fragmentação do trabalho pedagógico e o

desconhecimento dos documentos ou das discussões realizadas na escola, inclusive no que

se refere às discussões das idéias e da fundamentação teórica definida para a elaboração do

Projeto Político Pedagógico.

• Falta de Espaço/Tempo para Estudos e Discussões → Essa é a realidade presente em

praticamente todas as escolas. Não há espaço/tempo para estudos, não se prioriza

momentos para a leitura e discussão e compromete cada vez mais a construção de uma

unidade na escola e de um Projeto Político-Pedagógico bem elaborado. A necessidade

de tempo para estudos é um desafio, pois não se pode fazer leituras, discussão e

sistematização de ideias sem ter condições para que de fato isso se concretize.

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No cronograma das atividades da escola há poucas oportunidades de encontros

para reunir o corpo docente para estudos, sistematização de determinado assunto, teoria ou

legislação. E, por ocasião das reuniões para planejamento que muitas vezes também são

utilizadas para tratar assuntos administrativos, de indisciplina, de normas, etc., assim

sobrando pouco tempo para a questão pedagógica. Assim, a organização da escola

impossibilita a ação colegiada, o tempo imprescindível para leituras, estudos e

sistematização que viabilize o Projeto Educacional.

• Fragilidade nos Conceitos Teóricos → Naturalmente, onde não se tem tempo nem

espaço para o estudo, fragmentam-se os conceitos teóricos e consequentemente

comprometem o desempenho do trabalho pedagógico. Por vezes, educadores não

relacionam as ações e objetivos de sua disciplina com a filosofia, metas e objetivos,

mais amplos e gerais do projeto da escola, conforme afirma Cavagnari, (2008):

[...] o reconhecimento pelos docentes de que a ciência da educação pertence aos pedagogos, fato que demonstra a visão fragmentada que ainda persiste no imaginário e na prática dos professores. O despreparo quanto aos fundamentos da educação, como também em relação às formas de representação e participação nas ações colegiadas, é um elemento que entrava uma gestão escolar baseada na autonomia (CAVAGNARI, In. VEIGA, 2008. p.101)

Outros entraves também estão presentes, como, o despreparo das equipes escolares,

a falta de valorização aos profissionais, condições para formação contínua e melhoria

salarial etc. Tudo isso, são desafios a serem vencidos para se construir um Projeto Político

Pedagógico e uma educação de qualidade.

Atividades da Unidade I

1. Qual é o significado e a importância do Projeto Político-Pedagógico? Partindo da

discussão, o Projeto Político-Pedagógico é um documento elaborado coletivamente,

com aplicabilidade e clareza das ações administrativas e pedagógicas reais da escola?

Faça uma análise do documento e cotidiano escolar.

2. Analisando o Projeto-Político Pedagógico da escola, o que é necessário reelaborar e/

ou acrescentar para no documento para que a escola cumpra sua finalidade e com a

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participação da comunidade escola.

3. Como mobilizar a comunidade escolar em torno da revisão e reelaboração do Projeto

Político-Pedagógico? Que estratégias são facilitadoras para esse processo? Escreva um

pequeno texto sobre este tema apresentando sugestões.

4. Quais os maiores empecilhos para a revisão periódica para avaliar e aperfeiçoar o

Projeto Político-Pedagógico, acrescentando ou reformulando-o, deixando atualizado e

coerente com a realidade da escola.

Leituras Complementares.

1. VEIGA, Ilma Passos de Alencastro. (org.) Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção possível. Campinas, 20. ed. Campinas. São Paulo: Papirus, 1995.

2. VEIGA, Ilma Passos de Alencastro. RESENDE, Lúcia Maria G. de (orgs.). Escola:

Espaço do projeto político-pedagógico. 13. ed. Campinas, São Paulo: 2008.

3. VEIGA, Ilma Passos de Alencastro. FONSECA, Marília. (orgs.) As dimensões do

Projeto Político-Pedagógico: novos desafios para a escola. Campinas, São Paulo: Papirus,

2001.

4. GANDIN. Danilo. GANDIN Luis Armando. Temas para um Projeto Político-

Pedagógico. 10. ed. Petrópolis. Rio de Janeiro: Vozes. 2008.

5. VASCONCELLOS. Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de Ensino-

Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. São Paulo: Libertad, 2000.

6. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do Trabalho Pedagógico do

Projeto Político Pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2004.

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PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA

Da Natureza da Educação e da sua especificidade

Numa visão histórica a escola tem o objetivo e especificidade de transmitir

diferentes saberes. O saber produzido pelos homens e o processo de humanização estão

intimamente ligados, sendo que o homem somente torna-se homem através da educação.

Necessita adaptar-se a natureza e isso só é possível através do trabalho transformando-a e

desta forma cria conhecimentos.

Assim – “A educação é um fenômeno próprio dos seres humanos” (Saviani, 2005

p.12) Desta forma o autor reconhece o vínculo entre a educação e a humanidade. Para

humanizar-se o homem precisa criar condições para a sua subsistência e assim com idéias

antecipa a ação e os objetivos. O homem, a partir do trabalho, transforma a natureza e a si

mesmo, pois o trabalho tem o poder de conduzir à socialização e ao desenvolvimento

alterando as formas de ser e estar no mundo natural e social. Saviani enfatiza a relação

entre trabalho material e não-material, sendo que nessa categoria encontra-se a educação:

Tais aspectos [ciência, ética e arte], na medida em que são objetos de preocupação explícita e direta, abrem a perspectiva de outra categoria de produção que pode ser traduzida pela rubrica “trabalho não-material”. Trata-se aqui da produção de idéias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades. Numa palavra, trata-se da produção do saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é, o conjunto da produção humana. (SAVIANI, 2005, 12).

A educação tem como objeto a identificação dos elementos culturais que precisam

ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para concretizar sua humanização e

também descobrir formas adequadas para atingir esse objetivo.

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Quanto à identificação dos elementos culturais deve diferenciar e dar preferência

ao essencial, ao principal e ao que é fundamental, e aí entra o clássico e o tradicional em

educação. O clássico é a essencialidade da seleção dos conteúdos do trabalho pedagógico,

bem como, as formas adequadas de desenvolvimento desse trabalho, que está na

organização dos meios com os quais cada indivíduo singular realize a humanidade

produzida historicamente.

A escola deve se ocupar dos conteúdos científicos, o saber elaborado,

sistematizado propiciando a aquisição de instrumentos que possibilitem o acesso a esses

conhecimentos. E a partir do saber sistematizado, do conhecimento científico se estrutura o

currículo da escola elementar, que tem como objeto primordial o aprender a ler e escrever,

conhecimento da linguagem dos números, da linguagem da natureza e da linguagem da

sociedade. A finalidade da escola deve estar bem clara, pois parece ser tudo muito simples

e muitas vezes a escola se ocupa ou cede espaço para atividades que deveriam ser

complementares e que tomam tempo e espaço escolar, deixando o essencial – o saber

científico de lado.

Saviani faz uma análise crítica quanto aos conteúdos do currículo escolar, dizendo que:

De uns tempos para cá, disseminou-se a idéia de que currículo é o conjunto das atividades desenvolvidas pela escola. Portanto, currículo diferencia-se de programa ou de elenco de disciplina, segundo essa acepção, currículo é tudo o que a escola faz, assim não faria sentido falar em atividades extracurriculares (SAVIANI. 2005. p.16).

Ou seja, é necessário ter clareza quanto às atividades escolares, o que é curricular

e o que é extracurricular, diferenciar o que é principal e o que é secundário, não deixando a

função primordial de instrumentalizar e transmitir o saber sistematizado em segundo plano.

É a partir da sistematização do conhecimento produzido historicamente que se estrutura o

currículo da escola elementar.

A realidade da escola é preocupante, pois vivemos situações adversas, temos

organizações impregnadas pelas teorias da pedagogia tradicional, sendo que o ideal para a

instituição, chamada escola, é a passagem para o clássico que é a transmissão-assimilação

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do saber sistematizado, faz-se necessário elaborar métodos e formas de organizar as

atividades do currículo, viabilizar condições para instrumentalizar os estudantes.

Pela mediação da escola, acontece a passagem do saber espontâneo ao saber

sistematizado, da cultura popular à cultura erudita. A natureza da educação compreendida

na categoria de trabalho não-material, onde o produto não se separa do ato de produção, e a

especificidade da educação como os conhecimentos, idéias, valores, atitudes, hábitos,

símbolos para a transmissão-assimilação do saber sistematizado necessários à formação da

humanidade em cada indivíduo.

Partindo da natureza e especificidade da educação surge os estudos pedagógicos,

a ciência da educação, que se preocupa com a identificação de elementos naturais e

culturais, bem como, métodos e formas de atingir o objetivo de instrumentalizar para

aquisição do saber científico, clássico, historicamente elaborado necessários para a

humanização.

Pedagogia Histórico-Critica e a Educação Escolar

A “Pedagogia Histórica-Critica” pode ser considerado sinônimo de “Pedagogia

Dialética”, sendo que poderia ter diferentes interpretações. Além de que a expressão

histórico-crítica desperta curiosidade e isso oportuniza a explicação de seu significado, que

se traduz em compreender a questão educacional baseado no desenvolvimento histórico e

das condições materiais da existência humana.

Partindo dos movimentos históricos da educação em nosso país, busca-se a

compreensão da questão educacional baseado nos condicionantes sociais, promovendo

uma crítica à visão crítico-reprodutivista, presente nas teorias pedagógicas. Todavia, a

educação é determinada pela sociedade, pois é resultado do processo histórico, mas

também interfere e contribui para a sua transformação. Este é o sentido básico da

expressão Pedagogia Histórico-Crítica baseado em Saviani, que afirma:

A passagem da visão crítico-mecanicista, crítico-aistórica para uma visão crítico-dialética, portanto histórico-crítica da educação é o que queremos

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traduzir com a expressão pedagogia histórico-crítica. Essa formulação envolve a necessidade de se compreender a educação no seu desenvolvimento histórico-objetivo e, por conseqüência a possibilidade de se articular uma proposta pedagógica cujo ponto de referencia, cujo compromisso, seja a transformação da sociedade e não sua manutenção, sua perpetuação. (SAVIANI, 2005. p. 93).

A Pedagogia Histórico-Crítica está muito ligada à realidade escolar, pois o

surgimento dela acontece das necessidades apresentadas pela prática dos educadores e

também implica na compreensão dessa realidade nas raízes históricas. Pois, a característica

humana é a necessidade constante de produzir a sua existência e essa peculiaridade do ser

humano de transformar, adaptar e adequar-se à natureza se faz por meio do trabalho.

Agindo na natureza, trabalhando, o homem constrói o mundo histórico, a cultura

erudita e popular, conhecimentos e valores, saberes elaborados e sistematizados,

construindo o mundo humano. Neste processo de apropriação e produção, que é o trabalho,

a educação tem suas origens.

E a origem da escola é muito interessante, bem como, a etimologia da palavra

ginásio, que segundo Saviani, que ocorre a partir do momento que a apropriação da terra

assume a forma privada e então surge a classe dos proprietários e dos não-proprietários,

estes provêem a sua existência sua e a dos donos da terra – modo de produção antigo ou

escravista ou modo de produção medieval ou feudal.

[...] propicia o surgimento de uma classe ociosa, que não precisa trabalhar para sobreviver por que o trabalho de outros garante também a sua sobrevivência. É aí tem origem a escola, que em grego significa “lugar do ócio”. O tempo destinado ao ócio. Aqueles que dispunham de lazer, que não precisavam trabalhar para sobreviver, tinham que ocupar o tempo livre, e esta ocupação do ócio era traduzida pela expressão escola. Na Idade Média evidenciou-se a expressão latina “otium cum dignitate”, “ócio com dignidade”, isto é, a maneira de se ocupar o tempo livre de forma nobre e digna. A palavra ginásio era, e ainda é, o local onde se praticam os jogos, a ginástica, era, pois o local utilizado por aqueles que dispunham de lazer, de tempo livre, de ócio. (SAVIANI, 2005. p. 94-95)

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Todavia, a escola figurava como uma modalidade de educação complementar e

secundária, uma vez que a maioria se educava por meio do trabalho, era trabalhando a terra

que garantiam a sua sobrevivência e a dos seus senhores.

Com a época moderna surge uma nova sociedade, capitalista ou burguesa, com

esta acontece o êxodo do campo para a cidade, da agricultura para a indústria. A

burguesia, como era denominada a nova sociedade, classe empreendedora que necessitam

produzir constantemente, contribuindo para uma crescente industrialização da agricultura e

a urbanização do campo. E assim a exigência de conhecimento intelectual se torna

necessidade, a universalização da escola básica e a educação escolar se generalizam.

A educação escolar deve priorizar ao sujeito tomar posse da herança histórica e

culturalmente acumulada pelas gerações passadas, o conhecimento científico. A escola

deve oferecer de fato uma educação de qualidade, possibilitando ao sujeito uma visão

crítica de sua realidade, o entendimento do processo ao qual está inserido.

A partir das bases históricas a Pedagogia Histórico-Crítica se empenha na defesa da especificidade da escola, e esta tem uma função especificamente educativa, propriamente pedagógica, ligada a questão do conhecimento, é preciso, pois, resgatar a importância da escola e reorganizar o trabalho educativo, levando em conta o problema do saber sistematizado, a partir do qual se define a especificidade da educação escolar. (SAVIANI. 2005. p.98)

À pedagogia crítica implica a clareza dos determinantes sociais da educação, a

compreensão das contradições da sociedade que marcam a educação e de como se

posicionar diante dessas contradições para perceber qual o rumo a imprimir para a questão

educacional. Neste sentido, a Pedagogia Histórico-Crítica contribui para que a escola

assuma um posicionamento sobre o que é educação e o que significa educar seres

humanos, seja uma instituição que possibilite o acesso ao saber elaborado produzido

historicamente e que conduza professores e alunos a uma prática social que vislumbre o

consenso no ponto de chegada, capaz de produzir transformações centradas no

desenvolvimento do ser social numa sociedade igualitária.

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Atividades da Unidade II

1. Baseado na leitura do texto e nas discussões levantadas e tendo como parâmetro a

prática pedagógica existente, em nossa escola, o que deve ser retomado e compreendido no

desenvolvimento das atividades escolares.

2. A partir da análise do Projeto Político-Pedagógico, documento elaborado, a Pedagogia

Histórico-Crítica está contemplada e se faz presente no dia-a-dia da escola, descreva as

circunstâncias em que isso ocorre.

3. Qual a essência da Pedagogia Histórico-Crítica e como ocorre a construção do

conhecimento? Na elaboração dos planos de aulas sabemos como transformá-la em prática

no desenvolvimento do conteúdo da disciplina? Faça um relato de como isso acontece.

4. Faça uma análise da função social da escola, na atualidade, com base na afirmação: “O

trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo

singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos

homens” (REFERÊNCIA).

5. O que a proposta da Pedagogia Histórico-Critica objetiva resgatar e qual a relevância

para a educação?

Leituras Complementares

1. SAVIANI, Demerval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara,

onze teses sobre educação e política. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1983.

2. SAVIANI. Dermeval. Pedagogia Histórico-Critica: primeiras aproximações. 10. ed.

rev. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2008.

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GESTÃO DEMOCRÁTICA

A gestão democrática da escola pública vem ganhando ênfase nas políticas

educacionais encaminhadas no Brasil, a Constituição Federal de 1988, que faz menção aos

princípios da educação e dentre estes a garantia de gestão democrática do ensino público,

sendo regulamentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Esta

traz em seu texto a garantia da gestão democrática e dos instrumentos e normas para a

efetivação. A partir disto, as leis estaduais, que regulamentam seus sistemas de ensino,

também apresentam os pressupostos para a implantação da gestão escolar democrática.

Gestão Democrática na Legislação

Constituição Federal -1988

Art. 206: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da Lei.

Lei de Diretrizes e Bases - 1996

Art. 3°: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos

sistemas de ensino.

Art. 14: Os sistemas de ensino definirão as normas de Gestão democrática (...):

I – participação dos profissionais da educação na elaboração da proposta pedagógica;

II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Art. 15: Os sistemas de ensino assegurarão às escolas progressivos graus de autonomia

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pedagógica, administrativa e de gestão financeira.

Deliberação 16/99 - Conselho Estadual de educação – PR

Art. 4° - A comunidade escolar é o conjunto constituído pelos corpos docente e discente,

pais de alunos, funcionários e especialistas, todos protagonistas da ação educativa em cada

estabelecimento de ensino.

§ Único: A organização institucional de cada um desses segmentos terá seu espaço de

atuação reconhecido pelo regimento escolar.

Art.5° - A Direção Escolar tem como principal atribuição coordenar a elaboração e a

execução da proposta pedagógica, eixo de toda e qualquer ação a ser desenvolvida pelo

estabelecimento.

Art. 6º - A gestão escolar da escola pública, como decorrência do princípio constitucional

da democracia e colegialidade, terá como órgão máximo de direção um colegiado.

§ 1.º - O órgão colegiado de direção será deliberativo, consultivo e fiscal, tendo como

principal atribuição estabelecer a proposta pedagógica da escola, eixo de toda e qualquer

ação a ser desenvolvida no estabelecimento de ensino.

§ 2º O órgão colegiado de direção será constituído de acordo com o princípio da

representatividade, devendo abranger toda a comunidade escolar, cujos representantes nele

terão, necessariamente, voz e voto.

§ 3º Poderão participar do órgão colegiado de direção representante dos movimentos

sociais organizados, comprometidos com a escola pública, assegurando-se que sua

representação não ultrapasse 1/5 (um quinto) do colegiado.

Devemos enfatizar então que a democracia na escola por si só não tem

significado. Ela só faz sentido se estiver vinculada a uma percepção de democratização da

sociedade. Para compreender a gestão democrática precisamos conhecer o sentido

etimológico de democracia, que segundo Ferreira, (1975): “demokratía- origem no grego-

demos: povo; kratos: governo. 1. Governo do povo, sistema em que cada cidadão participa

do governo; democratismo. 2. A influência do povo no governo de um Estado. 3. A

política ou a doutrina democrática. 4. O povo, as classes populares”.

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O que e Gestão Democrática?

Gestão Democrática é o processo político através do qual as pessoas na escola

discutem, deliberam e planejam, solucionam problemas e os encaminham, acompanham,

controlam e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola.

Este processo, sustentado no diálogo e na alteridade, tem como base a

participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito a normas

coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e a garantia de amplo

acesso às informações aos sujeitos da escola.

Democratização da Gestão

A democracia caracteriza-se pelo direto da população de participar das decisões

sobre a administração pública, diretamente ou por meio de representantes eleitos pelo voto.

É um sistema de governo baseado na soberania popular e na distribuição equitativa do

poder. Atualmente, a democracia caracteriza-se pelo direto ao voto secreto para todos os

homens e mulheres a partir de uma faixa etária, sem distinções de renda, cor ou religião,

associado à valorização do poder Legislativo.

Gestão Democrática é a prática político-pedagógica e administrativa na qual o

representante (gestor) articula entre os segmentos da escola e nas relações de poder,

transformando em ações colegiadas. Com base na afirmação de Paro:

Na medida em que se tem a participação de todos nas decisões sobre seus objetivos e funcionamento, haverá condições de pressionar para dotar a escola de autonomia e recursos, daí a necessidade da escola organizar-se democraticamente com objetivos transformadores (PARO, 2004.p.12).

A gestão democrática implica o repensar da estrutura de poder da escola,

propiciando a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo; da

reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que supera a opressão; da

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autonomia, que cria condições favoráveis ao exercício de seu compromisso social que é

educar.

PARTICIPAÇÃO

A participação do ponto metodológico e se pensando em uma sociedade com

justiça social e uma das grandes questões do mundo atual, todos falam e desejam a

participação e independem da tendência política, ideológica ou das crenças dos envolvidos.

Segundo Gandin (2008) a participação remete a dois pensamentos:

1. É o momento da transformação da sociedade, na direção de um mundo menos individualista, mais grupal, com maior consciência pessoal e coletiva; 2. O entendimento das pessoas sobre as características, fundamento e conseqüências da participação não é o mesmo (GANDIN, 2008, p.56)

Faz-se necessário esclarecer de como as pessoas entendem a participação, e assim

sendo, todos devem participar e estar bem integrados harmonicamente sem conflitos. Neste

caso participar significa: trabalhar apoiar, colaborar e realizar o que está previsto, estar

sempre presente em todas as programações. Ter paciência, ter sempre em mente a ordem,

pois a ideia que prevalece é de que o mundo está bem organizado e que cada um deve

incumbir-se de desempenhar o que lhe couber. Noutra concepção, há os que pensam que a

sociedade é organizada de forma injusta e que as condições estruturais levam muitos à

pobreza e miséria, enquanto a outros facilitam todas as condições de boa existência. Nessa

perspectiva, participar é partilhar do poder, dispor dos recursos básicos, que permite a

poucos usufruírem os resultados dos trabalhos de todos.

Existem três níveis de participação:

1. Aquela que se dá num mundo autoritário estruturado verticalmente em que alguns

determinam e a maioria só colabora;

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2. Aquela que se dá num mundo paternalista, estruturada verticalmente, onde se permite

que as pessoas decidam alguns pontos determinados e bem limitados;

3. Aquela que se dá num mundo justo, onde os coordenadores ajudam a organizar e

construir conjuntamente os destinos, onde todos participam igualmente do poder, podem

dispor dos recursos e da possibilidade de organizar para atingir fins, que também são

definidos em conjunto.

Princípios da Participação

A participação é um dos cinco princípios da democracia. Sem ela, não é possível

transformar a realidade, com a participação em todos os níveis, sem exclusão prévia, sem

limitações que restrinjam direitos e deveres.

A participação é uma necessidade humana e constitui um direito das pessoas. Justifica-se por si mesma, não por seus resultados. É um processo de desenvolvimento da consciência crítica e de aquisição de poder. Leva a apropriação do desenvolvimento pelo povo. É algo que se aprende e se aperfeiçoa. Pode ser provocada e organizada sem que isto signifique necessariamente manipulação. É facilitada com a organização e a criação de fluxos de comunicação. Devem ser respeitadas as diferenças individuais na forma de participar. Poderá resolver conflitos, mas também poderá gerá-los. Não se deve “sacralizar” a participação: ela não é panacéia nem é indispensável em todas as ocasiões (BORDENAVE, 1995, p.12).

Participação Coletiva

A escola como instituição social educativa, tem como função a formação do

cidadão para participar conscientemente da sociedade em que vive. Partindo dessa

premissa, a escola tem o compromisso com a construção do projeto político-pedagógico

com a participação dos profissionais da educação e das comunidades na busca de novos

caminhos.

Os aspectos da gestão democrática do ensino público ligado à participação dos

membros da comunidade escolar ainda idealizam e prevalecem a ideia de que a escola

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pública é propriedade do governo ou do pessoal que nela trabalha. A legislação tem

funcionado como mecanismos reguladores dessa prevalência à medida que impõe critérios

e limites da proporcionalidade na participação dos segmentos organizados da comunidade.

A escola deve organizar-se de forma participativa, os profissionais da educação

devem responsabilizar-se pela construção da identidade do estabelecimento escolar, por

outro lado, a comunidade deve organizar-se através dos conselhos no sentido de participar

ativamente das decisões escolares.

Com isso, a instituição educativa deve elaborar e executar a sua proposta, o que

representa um grande desafio, tanto para docentes, quanto para a comunidade. Somente

através dessa dinâmica é que a escola ocupará o espaço legalmente instituído de autonomia

pedagógica, administrativa e financeira, consciente do papel que assume com a construção

de um projeto educativo que seja representativo dos interesses da própria comunidade.

AUTONOMIA DA ESCOLA

Autonomia é uma palavra de origem grega e tem o significado: 1. Faculdade que

conserva um país conquistado de se administrar por suas próprias leis. 2. Liberdade moral

ou intelectual. 3. Independência administrativa.

A autonomia da escola está em discussão, bem como a necessidade e importância

de concretizar tal autonomia na dinâmica das organizações e instituições públicas ou

privadas. No cotidiano dessas instituições, a autonomia impõe um padrão de planejamento

e de gerenciamento de políticas educacionais, tanto na escola quanto nos sistemas de

ensino. Essa autonomia permite à escola a construção da sua identidade e para a equipe

escolar uma atuação na qual se torna sujeito histórico de sua prática.

A autonomia da escola é, pois um exercício de democratização de um espaço público: é delegar ao diretor e demais agentes pedagógicos a possibilidade de dar respostas ao cidadão (aluno e responsável) a quem servem em vez de encaminhá-lo para órgãos centrais distantes onde ele não é conhecido e, muitas vezes sequer atendido. A autonomia coloca na escola a responsabilidade de prestar contas do que faz ou deixa de fazer, sem repassar para outro setor essa tarefa e, ao aproximar a escola e

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famílias, é capaz de permitir uma participação realmente efetiva da comunidade, o que a caracteriza como uma categoria eminentemente democrática (NEVES, In: VEIGA, 2005, p.99).

A liberdade não deixa de ser liberdade pelas relações interpessoais e sociais que a

limitam, da mesma forma que a autonomia da escola não deixa de ser autonomia por

considerar a existência e a importância das diretrizes básicas de um sistema nacional de

educação. A autonomia da escola justifica-se no respeito à diversidade das culturas

brasileiras, na superação das marcantes desigualdades locais e na abertura à participação.

A autonomia se materializa em três eixos interligados que constrói um vínculo de

identidade e missão com a organização externa à Unidade Escolar: 1. Administrativo -

diretor e a organização escolar; 2. Pedagógico - que se refere ao Projeto Político

Pedagógico, destacando a identidade da escola, sua missão social e resultados alcançados;

3. Financeiro - recursos e a forma como são administrados.

Esse eixo, portanto é o que está mais associada à autonomia com que consiste na

possibilidade e na capacidade da escola elaborar e implementar um projeto político-

pedagógico que seja relevante à comunidade e a sociedade a que serve (NEVES In:

VEIGA, 1995, p. 99).

Constata-se que a autonomia da escola, como forma da descentralização tem sua

fundamentação no ideário neoliberal que impulsiona as mudanças na sociedade, no Estado,

nas instituições e na gestão escolar. O conceito de autonomia está ligado ao conceito de

liberdade e democracia, que são valores essenciais ao homem. Para tanto, necessitamos de

um instrumento de planejamento que permita a participação de todos de forma democrática. O

projeto pedagógico da escola é esse instrumento de inclusão social e de gestão democrática,

todavia este deve ser um documento real, que seja a realidade da escola, sua identidade.

A autonomia é questão fundamental no cotidiano da escola e se apresenta em quatro

dimensões relacionadas e articuladas entre si, implicando em direitos e deveres, com muito

comprometimento e responsabilidade de todos os segmentos da comunidade escolar. As dimensões

da autonomia são interdependentes, sendo elas: administrativa, jurídica, financeira e pedagógica.

Na dimensão administrativa é a possibilidade de poder elaborar e gerenciar seus

planos, programas e projetos; de poder adequar a estrutura de organização. Garante a

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comunidade escolar o direito de indicar e escolher seus dirigentes por meio de eleições,

constituírem conselhos escolares com função deliberativa, consultiva e fiscalizadora.

A dimensão jurídica possibilita à escola elaborar as normas e orientações e a

aplicabilidade dessas no desenvolvimento das atividades e no funcionamento da escola. A

dimensão financeira refere-se a recursos que viabilizem condições de funcionamento. A

educação pública é financiada e a escola pode ter autonomia total ou parcial para gerir

esses recursos.

E por fim a dimensão pedagógica que consiste na liberdade de ensino quanto à

organização curricular, a avaliação e aos pressupostos teóricos e metodológicos que

compõe a essência do Projeto Político-Pedagógico:

Uma autonomia que não é dada, mas que se efetiva pela capacidade e pela responsabilidade da escola e dos educadores de colocar em seu projeto político-pedagógico. É ele o elemento balizador da autonomia administrativa, pedagógica, financeira jurídica; é o instrumento que orienta e possibilita operacionalizar a autonomia na escola. Assim, Projeto Político-Pedagógico e autonomia são processos indissociáveis, como é também a formação continuada como elemento que promove a competência do grupo (CAVAGNARI In: VEIGA, 2008, p. 98-99).

A questão essencial na dimensão pedagógica da escola refere-se à qualidade do

ensino, é primordial reconstruir o saber e a formação continuada do professor e dos demais

profissionais envolvidos nesse processo. A concepção de gestão democrática e

participativa requer um olhar que valorize o desenvolvimento pessoal e profissional de

toda a equipe escolar. Para a escola, a autonomia é uma conquista que necessita a liberdade

garantida na legislação, as condições de recursos humanos, materiais e financeiros e a

competência técnica aliado ao compromisso dos educadores.

Atividades da Unidade III

1. Com base na leitura do texto conceitue Gestão Democrática? Em nossa escola a

democracia está clara e bem definida? Argumente apresentando os pontos positivos e

negativos e sugerindo ações em que podemos melhorar.

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2. Qual é o entendimento que se tem hoje do que seja uma gestão democrática da escola

pública? Em nossa escola há autonomia para que a gestão democrática se concretize?

Argumente.

3. Qual é a concepção de gestão que norteia o trabalho do gestor escolar do

estabelecimento em que você atua?

3. Existe uma relação entre o plano de trabalho da escola e as ações que se concretizam no

cotidiano escolar?

4. Sendo o Projeto Político-Pedagógico construído, avaliado coletivamente e

constantemente é um dos elementos mais importantes para a gestão democrática,

considerando a participação na reelaboração do documento é possível assegurar a

qualidade do ensino, a eficiência no trabalho didático e pedagógico, a unidade na

organização do trabalho escolar e a coerência entre o planejado e o executado nas práticas

escolares?

Leituras Complementares

1. PARO. Dermeval. Democrática da Escola Pública. São Paulo. Ática. 2004.

2. GADOTTI, Moacir. ROMÃO, José E. Autonomia da Escola: princípios e propostas. 6.

ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2004.

3. BORDENAVE. Juan. E. Diaz. O que e participação. 6 ed. Brasiliense, São Paulo,

1995.

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INSTÂNCIAS COLEGIADAS

A escola é composta por vários segmentos, dentre estes, as instâncias colegiadas são

grupos de representação da escola, sendo que estes auxiliam na organização da escola e do

trabalho pedagógico.

As instâncias colegiadas são os espaços de representação dos segmentos da escola:

discentes, docentes, pais e comunidade. Órgãos colegiados são aqueles em que há

representações diversas e as decisões são tomadas em grupo, com o aproveitamento das

experiências diferenciadas.

A participação e o engajamento nas atividades, debates, discussões e tomada de

decisão acontecerá se os objetivos das ações são claros, bem fundamentados para que as pessoas

sintam-se sujeitos capazes de se comprometer e participar com autonomia. Porém, essa

participação não acontece plena e satisfatoriamente, existem muitos obstáculos que impedem e

dificultam o acompanhamento e realização das ações coletiva. Em relação a essa questão Paro,

(2004) propõe:

A criação de um dispositivo constitucional que facilite a participação dos pais na escola, sendo liberado de horas de trabalho nas empresas nos dias em que precisarem comparecer à escola para participar de reuniões ou tratar de assuntos relacionados à escolarização do filho, de forma que essa participação não lhes traga prejuízo nos vencimentos (PARO. 2004 p.13-14).

A efetivação da participação da comunidade escolar não se dá somente em reunir

todas as pessoas envolvidas no processo, mas está em formar grupos para representar e a

estes sejam delegadas funções que permitam a tomada de decisões. O grande desafio é o

compromisso e a participação ativa dos integrantes da comunidade escolar, mobilizados

para a reflexão e a compreensão da dimensão da gestão democrática.

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As instâncias colegiadas instituídas na escola pública são: Conselho Escolar,

Conselho de Classe, Associação de Pais, Mestres e Funcionários e o Grêmio Estudantil,

órgãos compostos pelos diversos segmentos da unidade escolar, regidos por estatuto

próprio. Na sequência, apresentaremos cada uma das instâncias com a sua especificidade,

função, objetivos e composição.

Conselho Escolar - órgão colegiado de natureza consultiva, deliberativa,

avaliativa e fiscalizadora sobre a organização e a realização do trabalho pedagógico e

administrativo da instituição escolar. Composto por representantes da comunidade escolar

e de representantes de movimentos sociais organizados e comprometidos com a educação

pública, presentes na comunidade, sendo presidido por seu membro nato, o (a) diretor (a)

da escola. Em relação à finalidade e importância do Conselho de Classe, Paro afirma:

Dentre os órgãos de gestão, o Conselho Escolar é concebido como local de debate e tomada de decisões. Como espaço de debates e discussões, permite que professores e funcionários, pais e alunos explicitem seus interesses, suas reivindicações. As instâncias de caráter mais deliberativo, de tomada de decisões sobre os assuntos substantivos da escola, proporcionam momentos em que os interesses contraditórios vêm à tona (PARO, 2005, p.138).

O Conselho Escolar deve favorecer a aproximação da comunidade escolar nas

ações da escola, no planejamento e na execução das decisões, bem como, possibilitar o

envolvimento dos participantes, é um gerador de descentralização, e como órgão máximo

de decisão no interior da escola, busca defender uma visão nova de trabalho.

Conselho de Classe - órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa em

assuntos didático-pedagógicos, fundamentado no Projeto Político-Pedagógico da Escola, e

no Regimento Escolar, com a responsabilidade de analisar as ações educacionais,

indicando alternativas que busquem garantir a efetivação do processo ensino e

aprendizagem. Constitui-se em um espaço de reflexão pedagógica, onde todos os sujeitos

do processo educativo, de forma coletiva, discutem alternativas e propõe ações educativas

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eficazes que possam vir a sanar necessidades/dificuldades apontadas no processo ensino e

aprendizagem.

O Conselho de Classe é uma instância colegiada contraditória, por um lado, é um

mecanismo de reforço das tensões e conflitos visando manter a estrutura vigente, tornando-

se ponto fundamental que fortalece a fragmentação e a burocratização do processo. Por

outro lado, pode ser concebido como uma instância que se preocupa com os processos

avaliativos capazes de priorizar o conhecimento, de rever as relações pedagógicas

contribuindo para a organização do trabalho pedagógico. Veiga (2008, p. 118) afirma que

na tarefa de reconstrução da prática avaliativa:

Cabe ao Conselho de Classe dar conta de importantes questões didático-pedagógicas, aproveitando seu potencial de gerador de ideias e como um espaço educativo. É fundamental que os educadores explorem as possibilidades educativas do Conselho de Classe, mesmo enfrentando as adversas condições de trabalho, bem como as exigências burocráticas que têm que cumprir. É preciso enfrentar o desafio urgente e necessário de democratizar realmente a instituição educativa: trazer o aluno e sua família para o interior da escola, propiciando também a democratização de sua permanência (VEIGA, 2008, p.118).

O Conselho de Classe mobiliza a avaliação escolar na perspectiva de desenvolver

maior conhecimento sobre o aluno, a aprendizagem, o ensino e a escola, resgatando seu

papel de dinamizador do Projeto Político-Pedagógico da escola, sendo espaço privilegiado

de produção de conhecimento. É o momento privilegiado para redefinir práticas

pedagógicas com o objetivo de superar a fragmentação do trabalho escolar e oportunizar

formas diferenciadas de ensino que realmente garantam a todos os alunos a aprendizagem.

É fundamental compreender que o Conselho de Classe é muito mais complexo

que a simples retrospectiva do comportamento e notas do aluno, é mais do que uma

reunião pedagógica, é parte integrante do processo de avaliação desenvolvido pela escola.

O Conselho de Classe se estrutura a partir de três dimensões: (Segundo instruções

SEED- NRE. GGE/NRE, Curitiba. Material de apoio conceitual 2007)

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Pré-conselho de Classe: etapa de levantamento de dados que permitem

diagnosticar e redirecionar o processo de ensino, tendo em vistas à superação dos

problemas levantados e que não são privativos deste ou daquele aluno ou desta ou daquela

disciplina. É um espaço de diagnóstico do processo de ensino e aprendizagem, mediado

pela equipe pedagógica, junto com os alunos e professores.

Conselho de Classe: reunião do professores, direção e equipe pedagógica (grande

grupo), com a participação de alunos representantes das turmas e pais (conselho

participativo) onde são discutidos os diagnósticos e proposições levantados no Pré-

Conselho, estabelecendo-se a comparação entre resultados anteriores e atuais, entre níveis

de aprendizagem diferentes nas turmas e não entre alunos. A tomada de decisão envolve a

compreensão de quais metodologias devem ser revistas e que ações devem ser

empreendidas para estabelecer um novo olhar sobre a forma de avaliar, a partir de

estratégias que levem em conta as necessidades dos alunos.

Pós-Conselho de Classe: encaminhamentos e ações previstas no Conselho de

Classe que devem retornar aos alunos sobre sua situação escolar e as questões que a

fundamentam: retomada do Plano de Trabalho Docente no que se referem à organização

curricular, encaminhamentos metodológicos, instrumentos e critérios de avaliação; retorno

aos pais/responsáveis sobre o aproveitamento escolar e o acompanhamento necessário,

entre outras ações. Todos estes encaminhamentos devem ser registrados em ata.

Uma vez que se organize o Conselho de Classe de acordo com as dimensões

apresentadas é necessário considerar a definição de critérios para o Conselho, os quais

devem ser qualitativos e não quantitativos.

Associação de Pais, Mestres e Funcionários – APMF – órgão de representação

dos pais e profissionais do estabelecimento, não tendo caráter político partidário, religioso,

racial e nem fins lucrativos, não sendo remunerados os seus Dirigentes e Conselheiros,

sendo constituído por prazo indeterminado. Formado por membros de toda a comunidade

escolar, envolvidos no processo educacional, igualmente responsável pelo sucesso do

desempenho da Escola Pública. Com base em Paro (1995) descreve que a Associação de

Pais e Mestres:

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É uma instância que tem por finalidade colaborar no aprimoramento da educação e na integração da família-escola-comunidade. Deve exercer a função de sustentadora jurídica das verbas públicas recebidas e aplicadas na escola, com a participação dos pais no seu cotidiano em cumplicidade com a administração (PARO 1995, p.137).

A instância colegiada da Associação de Pais, Mestres e Funcionários tem que ter a

clareza da participação e da responsabilidade em cumplicidade com o gestor da unidade

escolar em relação à aplicação e execução de projetos para a manutenção da instituição. É

uma instituição auxiliar que tem como finalidade colaborar no projeto educativo e integrar

a família e escola.

Grêmio Estudantil – organização sem fins lucrativos que representa o interesse

dos estudantes e que tem fins cívicos, culturais, educacionais, desportivos e sociais. É o

órgão máximo de representação dos estudantes da escola, nele atuando, o educando

defende seus direitos e interesses, e aprende ética e cidadania na prática. Contribui para o

aprimoramento do processo educacional, atuando com finalidades educativas, culturais,

cívicas, desportivas e sociais de maneira harmônica com instituições ligadas à escola. Tem

como objetivo inserir o educando no processo social da escola, bem como desenvolver

atitudes e responsabilidades, formando assim o cidadão.

A representação estudantil deve ser estimulada, pois ela aponta um caminho para

a democratização da Escola. Por isso, o Grêmio Estudantil deve ser estimulado pelos

gestores da Escola, pois este, uma vez bem estruturado, é um apoio à Direção numa gestão

colegiada.

A organização estudantil é a instância onde se cultiva o interesse do aluno, para

além da sala de aula. Os Grêmios Estudantis cumprem um importante papel na formação e

no desenvolvimento educacional, cultural e esportivo, organizando debates, apresentações

teatrais, festivais de música, torneios esportivos e outras festividades.

Em 1985, por ato do Poder Legislativo, o funcionamento dos Grêmios Estudantis

ficou assegurado pela Lei 7.398/85, como entidades autônomas de representação dos

estudantes. O Grêmio Estudantil é caracterizado por documento legal como órgão

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independente da direção da escola ou de qualquer outra instância de controle e tutela que

possa vir ser reivindicada pela instituição.

Muitas escolas incentivam a formação e participação dos alunos no Grêmio

Estudantil, todavia há muitas restrições e obstáculos na efetivação dessa entidade

representativa. Precisamos superar os obstáculos que impedem a participação, realizando

um trabalho de politização e conscientização que envolva a comunidade no processo de

reflexão e ação. A efetivação de uma educação para todos só acontecerá por meio da

participação consciente, da compreensão da representatividade e do compromisso

responsável de toda a comunidade com o bem comum é que conquistaremos a efetiva

gestão democrática.

Atividades da Unidade IV

1. O que é o Conselho de Escola? Quanto à participação do Conselho Escolar há clareza

nos propósitos e finalidades do colegiado? Relate essa participação.

2. Qual é o Papel do Conselho de Escola? Com base nos estudos e leituras realizadas, bem

como, na atuação dos órgãos colegiados em nossa escola, podemos afirmar que estes têm

a autonomia para desempenhar as atividades e atribuições que lhe cabem?

3. Como podemos viabilizar a participação mais efetiva nos Órgãos Colegiados da escola.

Quanto à elaboração e execução do plano de ação dos órgãos colegiados há a

compreensão e interesse na participação, o que precisamos saber sobre Conselho de

Escola?

4. De que forma o material teórico e a legislação pode contribuir para o desempenho das

ações colegiadas em nossa escola. Descreva.

Leituras Complementares.

1. Leitura e Análise do Estatuto do Conselho de Escolar. Documento elaborado na escola.

2. Leitura e Análise do Estatuto da APMF da escola.

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3. Roteiro simplificado para implantação da APMF.

4. Leitura e Análise do Estatuto do Grêmio Estudantil na escola.

5. VEIGA. Zilah de Passos Alencastro. As Instâncias Colegiadas. In: Escola: Espaço do

Projeto Político-Pedagógico. Ilma Passos de Alencastro Veiga e Lucia Maria Gonçalves

Rezende (Organizadoras) 13. ed. Campinas, São Paulo: 2008.

6. Cadernos Instrucionais. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos

Escolares. Coletânea de Cadernos. Vários autores. Brasília. MEC. SEB. 2004.

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BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é participação. 6 ed., Brasiliense, São Paulo, 1.995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, Moacir. ROMÃO, José E. Autonomia da Escola: princípios e propostas. 6.

ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2004.

GANDIN, Danilo. GANDIN, Luiz Armando. Temas para um Projeto Político

Pedagógico. 10. ed. Petrópolis. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

PARO, Vitor Henrique. Por dentro da escola pública. 3. ed. São Paulo: Editora Xamã,

2000.

______. Gestão democrática da escola pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2004.

RIOS, Terezinha. Significado e pressupostos do projeto pedagógico. In: Série Idéias.

São Paulo: FDE, 1982.

SAVIANI, Demerval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze

teses sobre educação e política. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1983.

_________ Pedagogia Histórico-Critica: primeiras aproximações. 10. ed. rev. Campinas,

São Paulo: Autores Associados, 2008.

_________. A nova lei de educação: trajetória, limites e perspectivas. 11. Ed. Campinas.

São Paulo. Autores Associados. 2008.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do Trabalho Pedagógico do

Projeto Político Pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2004.

_______. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político Pedagógico.

São Paulo: Libertad, 2000.

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construção possível. Campinas, São Paulo: Papirus, 1995.

_____. Quem sabe faz a hora de construir o Projeto Político-Pedagógico. Campinas,

São Paulo: Papirus, 2007

VEIGA, Ilma Passos de Alencastro. FONSECA, Marília. (orgs.) As dimensões do Projeto

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VEIGA, Ilma Passos de Alencastro. RESENDE, Lúcia Maria G. de (orgs.). Escola:

Espaço do projeto político-pedagógico. 13. ed. Campinas, São Paulo: 2008.