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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2009. ... período matutino, assistidos pela presença de uma intérprete em cada sala. ... fenômenos

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

Luciana Emília Rohde

REGIÃO OESTE PARANAENSE: por uma história de sua cultura

Luciana Emília Rohde1 Valdir Gregory2

Resumo O presente artigo pauta-se em um trabalho didático-metodológico estruturado na forma de Caderno Pedagógico, fundamentado nas Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica, desenvolvido nas aulas de História do Paraná, com alunos da 8º série do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Jardim Gisele. As atividades tiveram como tema principal a Construção de um Ideário da Cultura Paranaense na Região Oeste. O objetivo central foi proporcionar parâmetros e temáticas para fundamentar os estudos da questão relacionada aos símbolos regionais, empregando como fonte as representações imagéticas presentes em obras paranaenses, filmes e materiais de divulgação das festas populares. O uso da iconografia como metodologia pedagógica apropriada dinamizou as aulas e facilitou a compreensão dos fatos históricos. Proporcionou outra forma de leitura da história, com códigos e signos especiais, estimulando o interesse dos alunos pelos fatos históricos paranaenses e mostrando que são sujeitos integrantes da história. Palavras-chave: cultura; oeste paranaense; imagens.

WESTERN REGION PARANAENSE: for a history of its culture

Abstract This article is based in a didactic work and methodological structured as a notebook Teaching, based on Curricular History Guidelines for Primary Education, developed in the history lessons of Paraná, with students from 8th grade on the State College Gisele Garden. The activities had as its main theme Building a Culture of Mentality Western Paranaense in the Western Region. The

1 Professora da disciplina de História na Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Paraná, atuante no Colégio E. Jardim Gisele - Núcleo Regional de Toledo. Concluinte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2009. 2 Orientador Doutor em História Social. Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Regional do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: história, colonização, oeste do Paraná, migrações, identidades e colono.

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main objective was to provide parameters to support for the thematic studies of the issue concerning to the regional symbols, using as sources the representations of the images present in Paranaenses works, films and promotional materials for popular festivals. The use of iconography was an appropriate teaching methodology in the history lessons of Paraná, as eg simplifying and facilitating the understanding of historical facts. It provided another way of reading history, with special codes and signs, stimulating the students interests's in historical facts and the Paraná and showing that they are subjects from history. Keywords: culture; western parana; images. 1 Introdução

A opção deste trabalho de buscar conhecer as representações

culturais do Oeste do Paraná se deu em função de perceber que algumas

obras paranaenses, ao recontarem a história do Estado, representaram cada

região utilizando-se de símbolos regionais.

Esses símbolos construíram, assim, um ideário de cultura

paranaense, como percebido no livro de Maria Auxiliadora Schmidt, Histórias

do Cotidiano Paranaense, que representou a região Oeste como sendo

formada por missionários jesuítas e povos indígenas, pois utilizou como

símbolos a igreja, a aldeia indígena e um barco de pescador, o que acabou por

construir um ideário cultural para aquela região.

Este cenário montado cria valores de e para uma região, que

constroem certo imaginário, o que estimulou ainda mais o interesse no

desenvolvimento deste trabalho, com um roteiro de pesquisas, leituras e

reflexões desenvolvidas com o apoio do professor orientador, do NRE de

Toledo - na pessoa da técnica disciplinar de História, professora Adriane

Mallmann Eede - e professores cursistas do GTR (Grupo de Trabalho em

Rede) inscritos no curso “Região Oeste Paranaense – Por uma História de sua

Cultura”.

Como resultado das pesquisas e dos demais trabalhos do

grupo foi montado um Caderno Pedagógico, estruturado com três unidades,

fundamentado nas Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica

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(2008), com o objetivo central de proporcionar parâmetros e temáticas para a

intervenção pedagógica, bem como fundamentar a pesquisa que propõe

analisar e compreender representações da cultura local e da cultura geral, com

a implementação de propostas metodológicas aliadas às tecnologias, na

perspectiva de melhorar a qualidade do ensino de História do Paraná nas

Escolas Públicas do nosso Estado.

2 O Ensino de História do Paraná

A partir de 2003 o Paraná começou a discussão envolvendo

os professores da rede estadual para a formulação das Diretrizes Curriculares

Estaduais – DCEs.

No contexto da inclusão social, as Diretrizes consideraram a

diversidade cultural e a memória paranaense. Para tanto, tem destaque a

necessidade de cumprimento da Lei Estadual nº 13.381/01, que tornou

obrigatório no Ensino Fundamental e no Ensino Médio da Rede Pública

Estadual os conteúdos da disciplina de História do Paraná.

Gevaerd (2003, p. 02), na sua dissertação de mestrado, diz que:

A História do Paraná enquanto saber escolar começou a se constituir no final do século XIX, quando apareceram as primeiras manifestações de um ensino voltado para o estudo de conteúdos sobre a história do Estado. O modelo educacional vigente seguia uma organização curricular conteudista, dividindo espaço com a História Pátria, tendo um discurso político nacionalista.

Na década de 50, houve a implantação do ensino integrado

aos Estudos Sociais, no qual se enalteciam os homens pelo seu trabalho e

superação dos obstáculos.

Em 1971, por força da Lei nº. 5.692, instituiriam-se os

Estudos Sociais no Ensino do, com uma prática pedagógica pautada na

transmissão de conteúdos selecionados e sedimentados pelos livros e manuais

didáticos. Primeiro Grau

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Luciana Emília Rohde

O ensino da História durante o período do Regime Militar

foi efetivamente político, centrado no estudo de fontes oficiais, mostrado de

forma linear, cronológica, harmônica e factual, com grandes heróis a serem

seguidos e não contestados pelas novas gerações. O ensino não abria espaço

para análise e interpretações dos fatos e o Estado figurava como principal

sujeito histórico.

Na década de 90, a História do Paraná aparecia como

estudo de caso, deslocada dos grandes blocos de conteúdos, os quais eram

mostrados com pouca relevância nos contextos estudados.

Em 1993, tem início o funcionamento do Colégio Estadual

Jardim Gisele3, com o atendimento de 5ª e 6ª séries, nos períodos matutino e

noturno, com a implantação de forma gradativa. No ano de 1999, devido à

grande demanda da comunidade, foi implantado o Ensino Médio também de

forma gradativa, no período noturno.

Atualmente o Ensino Fundamental de (5o a 8o série) é ofertado

no período diurno e o Ensino Médio nos períodos diurno e noturno, atendendo

na educação inclusiva alunos portadores de necessidades especiais, sendo

que a maior concentração é constituída por alunos surdos, que estudam no

período matutino, assistidos pela presença de uma intérprete em cada sala.

Há um total de 401 alunos, que na sua maioria são oriundos

dos bairros circunvizinhos ao colégio. Além disso, somam-se também alunos

surdos de outros bairros distantes e de outros municípios tais como: São José

das Palmeiras, Maripá, São Pedro do Iguaçu, Ouro Verde, Marechal Cândido

Rondon.

Com a meta de instigar a necessidade de reformas

pedagógicas, o projeto estimulou as reflexões acerca de um espaço onde se

possa viver a expressão, a criação e as experiências de vida da nossa região

Oeste paranaense, relacionada com o contexto sociocultural dos alunos, por se

tratar de maneiras mediadoras entre os seus imaginários sociais e individuais,

e da cultura da qual fazem parte.

3 Local de implementação do projeto. Está localizado na rua Princesa Isabel, nº 350, Bairro Jardim Gisele, Município de Toledo, NRE-Toledo, Estado do Paraná.

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3. Material Didático

Figura 1 – Caderno Pedagógico

Fonte: A autora, 2011

O material didático-pedagógico elaborado em forma de

Caderno Pedagógico, durante a implementação e o desenvolvimento do projeto

contemplou, do objetivo mais geral, outros objetivos específicos. A saber:

1 – Utilização das imagens como: linguagem apropriada;

recursos didáticos e fontes documentais no ensino da História do Paraná, para

compreender a representação no processo de construção de um ideário

cultural paranaense.

2 – Provocação de situações referentes à aprendizagem nos

diferentes níveis da realidade mundial com enfoque regional, destacando

aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais. Despertar no aluno o

interesse em resolver questões significativas para sua vida pessoal e coletiva,

já que é sujeito integrante da história.

3 – Conciliação na utilização das imagens aos recursos

tecnológicos disponíveis no colégio, despertando no aluno um comportamento

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Luciana Emília Rohde

participativo, criativo e interessado pela história do Paraná e da região onde

mora e desenvolve sua cultura.

4 – Levantamento, seleção e leitura do acervo bibliográfico

disponível no colégio, encaminhando os alunos para a iniciação à pesquisa e

exploração do ambiente em que vivem por meio dos diversos métodos de

pesquisa e registro das atividades.

5 – Confecção do material didático-pedagógico em forma de

álbum a partir de imagens levantadas e selecionadas.

6 - Encaminhamentos dos alunos a um processo ativo do

conhecimento, apropriação e valorização de sua herança histórica.

7 – Estímulos no espaço escolar à criação de um ambiente

mais humano e criativo.

Tendo como base norteadora o trabalho de Martins (2009) em:

“Algumas idéias para uma prática mais criativa nas aulas de Língua

Portuguesa”, os procedimentos metodológicos adotados para melhor

desenvolvimento das atividades foram:

a) Apresentação da professora e do projeto - feita com uma

atividade muito criativa, alegre e coerente, por meio de um videoclipe de Chico

Rey e Paraná (Paraná Querido) com mensagem de otimismo e enaltecimento

do nosso estado paranaense, deixando os alunos entusiasmados para

participarem das aulas.

b) Postura ao longo do período de desenvolvimento do

projeto: manteve-se o espírito aberto ao fluir da criatividade. Esta foi

incentivada e trabalhada. Por vezes, fez-se necessário acordar e concretizar os

"5 minutos antes da Ordem do Dia". Foi um momento de expressão das

emoções e tensões dos alunos, o qual ajudou a estruturar a responsabilidade e

a alicerçar a cooperação para o resto da aula.

c) Método de Investigação: partir de situações problemas,

ideias prévias. Metacognição: momento de investigação do aprendizado

histórico dos alunos. É o momento em que os alunos puderam compreender se

aprenderam e como aprenderam sobre a cultura da região Oeste do Paraná.

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Por meio da comparação com as ideias prévias produzidas no inicio do projeto,

perceberam, então, as mudanças nas suas ideias históricas.

d) Uso da imagem como metodologia pedagógica apropriada:

na utilização das imagens, como linguagem, foram consideradas as

características da cultura, refletindo sobre a educação da visualidade, pois, a

educação da cultura visual possui como objetivo mediar os múltiplos olhares

dos alunos, instigando-os a desenvolver seu senso de responsabilidade

perante as influências das imagens. Uso de figuras e panfletos como forma de

dinamizar a expressão imagética: o uso das figuras e panfletos não pretendeu

limitar o livre fluir das idéias dos alunos, mas tão só espicaçá-los para os

incontáveis caminhos que podemos percorrer ao escrever uma história.

e) Uso de suportes tecnológicos variados (TV Multimídia; CD;

vídeo e; imagens variadas): a imagem aparece na busca de compreender

como se escreveu a história da nossa região, através do conjunto de

fenômenos que constituem a cultura histórica de uma época.

f) Desenhos: foram normalmente bons incentivos

motivacionais para os alunos. A presença do lápis de cor, da régua e da

criatividade artística foi, neste domínio, fundamental.

g) Uso da biblioteca: estimulou a convivência em grupo e com

um ambiente diferenciado da sala de aula. Foi ideal para leituras, estudos e

pesquisas.

h) Grupos opostos com situações polêmicas, em que as

personagens tomam atitudes contrárias: desenvolveu o espírito crítico, a

capacidade de argumentação e a expressão da oralidade na leitura de uma

imagem ou texto.

i) Uso do laboratório de informática e incentivo à pesquisa na

Internet: o uso casado da Internet com os recursos básicos na sala de aula foi

possível e necessário. A Internet revolucionou o mundo. Não há como deixar

de reconhecer as mudanças efetivadas pelo surgimento da rede mundial de

computadores e a entrada das Tecnologias de Informação e Conhecimento

(TICs) na escola.

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j) Recolhas dos panfletos: a recolha de panfletos com

acontecimentos regionais, realizada pelos alunos, foi sempre enfatizada pelo

empenho e esforço em buscar os mesmos em diferentes fontes. Manteve-se

um dossiê na sala de aula para guardar as recolhas que foram sendo feitas

pelos alunos.

k) Confecção e entrega solene do álbum: incentivou e

desenvolveu a criatividade, estimulando a participação e a sociabilidade.

l) Metodologia adequada para alcançar a filosofia do colégio:

o colégio foi um local por excelência, do aprendizado, da convivência e da

compreensão da condição humana no mundo.

O Caderno Pedagógico contemplou na unidade 1:

As ideias prévias dos alunos: - levantamento do acervo bibliográfico do colégio;

- estudos sobre a colonização, incluindo a questão do índio, da cultura e da

religiosidade na região oeste paranaense.

Na unidade 2:

Investigando as imagens e analisando um filme. As duas imagens selecionadas

foram: “A ocupação do território paranaense” (p. 8-9) e “Paraná: imagens de

uma história de luta e trabalho” (p.119) do livro “Histórias do cotidiano

paranaense” de Maria Auxiliadora Schmidt (1996). O filme trabalhado foi “A

Saga”, que conta a história da colonização do Oeste paranaense.

Na unidade 3:

Documentos: foram analisados os das obras “Cultura e Identidade: A

construção de Memórias no Oeste do Paraná” (p.91-93) do livro “Cultura e

Memória Social” de Schallenberger (2006); “Região” (p.36) do livro “História:

reflexões metodológicas” de Gregory (1998) e “A Ideologia Etno-Cultural da

Indústria Madeireira Colonizadora Rio Paraná S.A.” do livro “História do

Paraná” de Wachowicz (2001).

Todas as unidades apresentavam atividades diversificadas,

para reforçar a compreensão e despertar o interesse dos alunos.

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4. Implementação Pedagógica

A aplicação inicial do trabalho, no período de março a julho de

2010, foi dirigida para os docentes de história inscritos no GTR (Grupo de

Trabalho em Rede) no curso intitulado “Região Oeste Paranaense – Por uma

História de sua Cultura”, no ambiente virtual e-escola (www.e-escola.pr.gov.br).

A participação dos professores inscritos no curso foi fundamental, contribuindo

de forma significativa com ideias e propostas metodológicas na elaboração do

Caderno Pedagógico.

No segundo momento, em agosto de 2010, durante os

trabalhos da semana pedagógica, o projeto foi apresentado à comunidade

escolar do Colégio Estadual Jardim Gisele, com convite à interdisciplinaridade,

tendo boa receptividade.

No início das aulas do segundo semestre, em agosto de 2010,

os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, turno vespertino, tomaram

conhecimento do projeto nas aulas de História do Paraná. Eles foram

convidados e motivados a participarem do projeto, com apresentação do

Caderno Pedagógico e imagens do Paraná na TV Multimídia. Concordaram e

gostaram da proposta de transformar as atividades desenvolvidas nas aulas da

disciplina de História do Paraná em um álbum, para fazer parte do acervo

bibliográfico do colégio.

5. Investigação histórica

Como primeira ação, os alunos participaram, em grupos de três

pessoas, da atividade de investigação histórica, respondendo às seguintes

questões:

1 - O que você gostaria de aprender sobre a região Oeste do Paraná?

2 - Quais os lugares que você conhece no nosso Estado? Como conheceu? 3 - O que você sabe sobre a cultura da região Oeste paranaense?

4 - O que são para você identidade cultural, região, representação e símbolo?

5 - Como podemos aprender sobre a história (a partir de quais fontes)?

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Com a investigação histórica, buscou-se coletar informações

mais concretas sobre o que os alunos conheciam em termos de conceitos e da

cultura da região Oeste paranaense.

A aplicação das questões serviu como instrumento de

avaliação do conhecimento prévio dos alunos sobre a região Oeste

paranaense. O resultado foi importante para direcionar e focar o assunto.

6. Levantamento bibliográfico

O trabalho de levantamento bibliográfico do acervo das obras

paranaenses, na biblioteca, teve como procedimento inicial uma reunião com a

bibliotecária e estudo das condições da biblioteca, constatando-se que:

1) Informações podem ser encontradas em diferentes lugares

(Internet, cinemas, cartazes, museus, outdoors, bibliotecas, televisão, jornal,

etc), mas, para alguns, estas fontes de informações são inacessíveis, e, como

forma de transpor este problema, existe um espaço na escola onde muitas

informações estão reunidas, bastando apenas buscá-las, e este lugar é a

biblioteca escolar.

2) A biblioteca escolar, além de disponibilizar as informações

encontradas nas fontes de pesquisa (revistas, jornais, cartazes, almanaques e

outros), oferece aos alunos a oportunidade de contato com o acervo, fazendo-

os capazes de conhecer suas peculiaridades (organização, forma de acesso,

catalogação, utilização de índices, repertório, etc), indispensáveis à formação e

ao hábito de leitura, pesquisa e estudos. Portanto, oferece condições de

preparo ao aluno para que este possa reconhecer e usar as fontes de

pesquisa, de forma consciente sobre o valor da leitura e pesquisa para a

compreensão e síntese das informações ali existentes.

O papel da escola (e principalmente do professor) é fundamental, tanto no que se refere à biblioteca escolar quanto à de classe, para a organização de critérios de seleção de material impresso de qualidade e para a orientação dos alunos, de forma a promover a leitura autônoma, a aprendizagem de procedimentos de utilização de bibliotecas (empréstimos, seleção de repertório, utilização de índices,

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consulta a diferentes fontes de informação, seleção de textos adequados às suas necessidades, etc.), e a constituição de atitudes de cuidado e conservação do material disponível para consulta. Além disso, a organização do espaço físico – iluminação, estantes e disposição dos livros, agrupamentos dos livros no espaço disponível, mobiliário, etc. – deve garantir que todos os alunos tenham acesso ao material disponível. (BRASIL, 1997, p. 92).

O papel da bibliotecária e, principalmente, da professora são

de suma importância no que se refere à organização dos critérios de seleção

de material de qualidade para promover a pesquisa e leitura autônomas.

Neste sentido, entendeu-se que, para que a realização dos

trabalhos da região Oeste paranaense não fossem apenas trabalhos-cópia, os

alunos foram orientados para a pesquisa, sabendo como escolher, selecionar,

comparar e criticar os materiais usados.

De acordo com o Projeto Político e Pedagógico (PPP) de 2009,

o acervo da nossa biblioteca escolar é composto por obras de referência

(dicionários, enciclopédias, etc), arquivos de periódicos (jornais, revistas, etc) e

uma grande quantidade de livros didáticos, paradidáticos e de literatura,

provenientes de doações feitas pelas editoras e, recentemente, pelo envio do

Departamento da SEED, renovando, assim, lentamente o acervo. Com três mil

quinhentos e setenta e oito (3.578) livros registrados, a coleção tem, ainda,

gibis, gravuras, mapas e materiais audiovisuais (fitas VHS, CD-ROM, slides).

Com um espaço físico pequeno e a existência, ainda, de

preconceito em relação ao profissional bibliotecário escolar, as profissionais da

biblioteca têm atuado ativamente procurando desmistificar a visão que alguns

alunos e professores têm da biblioteca, como um local de castigo. Um dos

objetivos é incentivar os professores, principalmente alguns que são

resistentes, à utilização do acervo e dos serviços da biblioteca, como recurso

dos processos de ensino-aprendizagem.

Assim as atividades desenvolvidas na biblioteca, no decorrer

da implementação do projeto foram:

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1) Reorganização das obras referentes à história do Paraná,

obras que agora ganham mais destaque, facilitando o acesso e estimulando o

hábito da pesquisa e leitura dos livros de autores locais, regionais e estaduais.

2) Otimização do espaço democrático, liberdade do uso do

local, com compromisso de serem responsáveis quanto à ordem e à

conservação dos materiais.

3) Desenvolvimento de atividades pedagógicas de pesquisa,

leitura e debate. Orientação dos temas para pesquisa: a colonização da região

Oeste paranaense, contemplando os municípios de Toledo e Marechal Cândido

Rondon, com abordagem na questão cultural e religiosa e a ocupação da

região Oeste pelos povos indígenas, marcados pela perseguição e

escravização no período da colonização.

Esses conteúdos foram sendo enriquecidos com textos do

caderno pedagógico e do filme “Tradição Guarani – Sustentabilidade das

Comunidades Indígenas”, o qual foi produzido pela Itaipu Binacional, focando

novas formas de interação entre índios e não-índios, consolidando uma

comunicação que promove o respeito à diversidade e a valorização da

alteridade.

Os alunos apreciaram as imagens do filme, apesar das ideias

equivocadas por parte de alguns na compreensão da diferença cultural destes

povos. Nesta perspectiva, foi trabalhado o texto “A herança cultural indígena,

ou cinco ideias equivocadas sobre os índios” de José Ribamar Bessa Freire.

Então, com base neste texto, fomos ao debate para desmistificar as imagens

estereotipadas sobre os índios.

Foi concluído que a desinformação, o preconceito e a

intolerância estão presentes no nosso cotidiano e que é fundamental buscar

caminhos e alternativas que possibilitem a compreensão e a reflexão sobre a

realidade indígena, oportunizando novas posturas e atitudes. Nesse sentido,

procurar compreender as sociedades indígenas não é apenas procurar

conhecer “o outro”, “o diferente”, mas requer fazer indagações e reflexões

sobre a própria sociedade em que vivemos.

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7. Filme

“A Saga”, filme que conta a história da colonização do Oeste

paranaense, foi assistido pelos alunos. Eles fizeram uma investigação sobre o

real e o imaginário da história. A análise foi feita a partir das imagens

assistidas, lembrando que as imagens não são o real, mas representações

deste real.

Ficha de análise do filme.

Titulo Locais,assuntos e períodos abordados

Direção Pessoas retratadas

Produtora Objetos retratados

Duração - (hh: mm): Característica dos personagens

Ano e local de Publicação Característica das paisagens

Depois de assistir ao filme “A Saga”, foi redigido um texto,

contemplando os pontos relevantes da colonização, do ponto de vista dos que

já habitavam esta região e dos desbravadores. A turma foi dividida em dois

grupos. Cada grupo defendia um ponto de vista.

Grupo 1: Grupo dos que já habitavam a região (índios,

caboclos e paraguaios).

Grupo 2: Grupo dos desbravadores/colonizadores.

O filme foi um excelente instrumento para estimular e

potencializar a análise reflexiva do processo de colonização da região Oeste.

Ficou perceptível que os alunos estabeleceram uma relação positiva com o

filme e conseguiram fazer uma leitura do processo de colonização paranaense

através de suas análises.

O trabalho com filmes na aula proporcionou um verdadeiro

campo investigativo e mostrou como as imagens enriquecem o ambiente

escolar e podem colaborar decisivamente na construção dos saberes históricos

e do conhecimento na medida que os alunos se colocam como sujeitos

históricos através de suas interpretações daquilo que viram no filme.

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Luciana Emília Rohde

8. Conceitos

Foram pesquisadas na Internet questões teóricas que remetem

à compreensão dos conceitos de identidade cultural, representação, região e

símbolo. Os conceitos pesquisados, em suas diversas concepções, precisaram

de maior entendimento e compreensão, uma vez que sua conceituação vem

sendo debatida há anos e a cada dia novas situações devem ser consideradas

nessas discussões.

Estabeleceram-se, então, determinadas noções dos conceitos

pesquisados e foi a partir dos pressupostos teóricos que a reflexão acerca dos

mesmos se desenvolveu.

A apresentação da pesquisa se deu por meio de uma ação

didático-pedagógica, desenvolvida na sala de aula, com os alunos em círculos,

compartilhando de forma criativa e prazerosa os seus trabalhos, oportunizando

maior familiaridade conceitual.

O trabalho mostrou que os alunos possuem dificuldades de

abstração e interpretação de textos científicos, provocando em alguns a

rejeição de executar as pesquisas dos conceitos científicos.

Fez-se necessário repetir o trabalho com textos de divulgação

científica e textos de livros paradidáticos, procurando sempre promover a

criticidade e a reflexão. A professora e a escola foram os canais por meio dos

quais esse diálogo e essa descoberta se processaram.

Para Calsa (2002), uma aprendizagem a nível conceitual

requer reorganização do conhecimento anterior do aluno, estabelecendo, para

tanto, novas relações e contatos desse saber com os objetos de conhecimento

que estão em fase de assimilação e acomodação.

Essas relações enriquecem o processo de acomodação dos

conceitos, deixando que os novos conceitos se transformem em esquemas

assimiladores das novas aprendizagens do aluno. É preciso, para isso, que o

aluno venha a se desequilibrar cognitivamente a partir do enfrentamento de

situações-problemas apresentadas na escola.

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Luciana Emília Rohde

Segundo Pozo (1998), mesmo que novas aprendizagens

busquem a reorganização de esquemas conceituais anteriores, esses

esquemas, muitas vezes, não facilitam novos conhecimentos, por terem como

característica, resistência à mudança.

O autor nota que essa modificação dos conhecimentos

anteriores podem ser melhorados quando os conteúdos ensinados pela escola

estiverem relacionados à vida cotidiana dos alunos. Assim os alunos

encontrariam um sentido mais próximo para o que estão estudando.

O trabalho desenvolvido com a aplicação de conceitos de

forma contextualizada trouxe resultados positivos, na medida em que os alunos

conseguiram incorporá-los nas análises feitas sobre a cultura da região Oeste

do Paraná.

A partir desta analise, defende-se a ideia da implementação

nos estudos dos conceitos históricos, a fim de que estes possam atingir seu

objetivo de servir como instrumentos metodológicos para melhor compreensão

do mundo. A análise dos conceitos não deve ser feita separadamente e se

esgotar em si mesma, pois os alunos somente chegam aos significados

quando atrelados às realidades humanas.

9. Investigando as imagens

Vivemos atualmente em uma sociedade que se apresenta

cada vez mais imagética, onde as pessoas têm grande contato com a

televisão, a Internet, os cartazes de propaganda, os outdoors, dentre outros.

Porém, essas imagens podem ser interpretadas de maneiras diferentes,

dependendo do observador. Perguntado aos alunos se é importante trabalhar

com imagens nas aulas e por quê, algumas respostas foram:

- Sim, pois numa imagem são retratadas várias coisas. (FD )

- Eu acho que é importante sim, mas precisa ter um texto junto

para explicar. (RGT)

- Sim, pois visualizando consigo entender melhor e gravar mais

rápido, além de saber como que é o lugar ou pessoa. (DA)

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Luciana Emília Rohde

- Sim, porque nem tudo é só ler e escrever. (SSR)

- É importante porque as imagens despertam nossa

curiosidade e atenção. (DK)

Foram selecionadas imagens que dizem respeito à formação e

consolidação da região Oeste paranaense e que se encontram no livro

Histórias do cotidiano paranaense de Maria Auxiliadora Schmidt (1996). A

primeira imagem apresentada na TV Multimídia e estudada pelos alunos foi: A

ocupação do território paranaense (p. 8-9) e, em seguida, Paraná: imagens de

uma história de luta e trabalho (p. 119).

Em grupo, os alunos fizeram análises da imagem sobre a

ocupação do território paranaense. Na medida em que os alunos tiveram

contato com as imagens e procuraram compreendê-las em seu contexto

histórico, mais acessível se tornou lê-las ou abstrair informações que puderam

ajudá-los a entender melhor a ocupação da nossa região.

Depois desta etapa de análise espontânea, foi apresentado um

roteiro pré-estabelecido com as seguintes questões:

O que vocês conseguem visualizar na imagem? Que imagens

simbolizam a região Oeste? Quais são as regiões que compõem o Estado

paranaense? E que imagens as representam? Como está representado o

Litoral (mar)? A que período da história paranaense a autora se remete com

estas representações Imagéticas? A imagem como representação simbólica do

Estado do Paraná os ajuda a identificar a continuidade, as transformações e

rupturas da sociedade paranaense da atualidade? Por quê? O texto na

imagem relata a história do Paraná de maneira cronológica e harmoniosa entre

as múltiplas raças e culturas, dando a ideia de riqueza, prosperidade e ordem

nas diversas atividades. Será que realmente a ocupação do Paraná foi assim?

Pesquise e apresente textos ou imagens que mostrem outra versão da

ocupação paranaense. Que símbolos você usaria para representar a cultura na

região Oeste do Paraná atual?

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Figura 2 - Desenho feito pela aluna Suellen

Fonte: A autora, 2011

A segunda imagem foi analisada no livro e em duplas.

Primeiramente, com a análise espontânea e na sequência seguindo o roteiro:

O que esta imagem pretende representar sobre o Estado do

Paraná e seu povo? Analisando a imagem, como podemos compreender as

transformações culturais que acontecem em nosso Estado? Qual o significado

desta frase na imagem? “Paraná: imagens de uma história de luta e trabalho”.

Quem luta e trabalha no Paraná? Por que a História Paranaense é marcada

por lutas, e que tipos de lutas são essas?

Os alunos concluíram que estudando a história com novos

enfoques e abordagens, torna-se possível conhecer outras versões, como a

dos indígenas, caboclos, negros africanos, entre tantos outros que fazem parte

da formação do estado paranaense.

Os alunos constataram que a ideia de uma história pacífica e

harmoniosa, sem conflitos ou guerras, infelizmente não é verdadeira, pois

basta um olhar para o passado e ver as injustiças que ocorreram.

Portanto, todos fazem a história. Todos são imagens de luta e

de trabalho e, por mais que a história regional das comunidades paranaenses

ainda não esteja difundida como deveria, cada um tem sua importância como

agente histórico transformador do seu meio.

As outras imagens analisadas foram as dos panfletos de

divulgação dos eventos regionais:

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Luciana Emília Rohde

Os alunos demonstraram interesse na análise das imagens

com os eventos gastronômicos. O interesse ficou evidente a partir das

apresentações orais, das tarefas com a coleta de panfletos com imagens

regionais, com desenhos e textos feitos em sala de aula. O trabalho

proporcionou a união do imagético com a construção conceitual dos saberes.

O interesse nas atividades esteve balizado pela forma de

divulgação dos eventos, que destaca as opções gastronômicas na diversidade

regional, que muitas vezes perpassam, ou, não obedecem às convenções

geopolíticas, mas são respeitadas e preservadas por formar a cultura

paranaense e fazem parte do cotidiano dos alunos.

Desenvolver o trabalho envolvendo imagens do estado

paranaense como uma das principais fontes de pesquisa foi fundamental

dentro da perspectiva histórico cultural, pois nos textos imagéticos também se

pode observar a articulação das questões sociais, culturais e históricas. Estas

questões ajudaram a despertar nos alunos, reflexões importantes a respeito da

formação da sociedade paranaense por meio das imagens.

Os alunos, ao serem direcionados, participaram com mais

interesse nas atividades didáticas do que quando solicitados a participarem

espontaneamente.

A maioria dos alunos foi participativa. Apenas uma aluna não

se manifestou, devido à timidez associada à falta de conhecimento a respeito

do tema, ocasionada pela ausência em aulas anteriores. Dois alunos não

conseguiram compreender as imagens, sendo verificadas duas causas: a

primeira foi a falta de interesse sobre o assunto da história do Paraná, e o

segundo é que trabalhar com esse recurso didático, opinando quanto à

produção de significados, diante das imagens mostradas, ainda é novo para

eles, sendo que consideram o texto escrito mais importante e de maior

relevância (não têm o hábito de ler imagens).

O pouco uso da metodologia imagética no cotidiano das aulas

dificultou inicialmente a compreensão mais profunda sobre as questões

culturais, sociais e políticas que as imagens proporcionam. Porém, ao serem

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Luciana Emília Rohde

orientados e juntamente com o recurso da liberdade de expressão,

conseguiram observar e entender melhor o processo.

A utilização da TV Multimídia, de livros e de panfletos de

divulgação dos eventos da região, proporcionou maior disponibilidade da

imagem para que os alunos pudessem ficar observando atentamente as

mesmas e seus detalhes por mais tempo, fazendo com que ficassem mais

atentos aos recursos que a imagem propicia.

A disponibilidade e o empenho dos alunos foram marcantes na

realização das atividades desenvolvidas com as imagens. Logo

compreenderam que analisá-la e descobrir seus significados não é tão difícil

assim.

10. Documentos

Na análise dos documentos escritos, Cultura e Identidade: A

Construção de Memórias no Oeste do Paraná e A Ideologia Etno-Cultural da

Indústria Madeireira Colonizadora Rio Paraná S.A., além de serem utilizados

como uma das fontes de informação, propiciaram reflexões sobre a relação

presente-passado e promoveram a aproximação do aluno com uma realidade

mais distante.

Foi percebido que os documentos não falam por si mesmos.

Eles só falam quando são interrogados. Interrogar os documentos significou

decompô-los, avaliar sua credibilidade e competência, identificar suas

possíveis interações e compará-los a outros testemunhos.

Realizar este trabalho pressupôs desmistificar os documentos,

reconhecendo que eles não são registros inocentes e imparciais do real, mas

construções que expressam uma intencionalidade e uma estrutura de poder

determinada.

Só com esse exame demolidor dos testemunhos eles se

transformam em fontes históricas, podendo falar e nos fazer compreendê-los.

Para fazer esta crítica aos documentos foi trabalhado o método da reflexão

histórica.

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Luciana Emília Rohde

Um grupo de historiadores escreveu sobre o método de análise dos documentos:

É preciso ficar claro que as fontes testemunham pensamentos e ações de pessoas com os interesses mais diversos, mas sempre bastante concretos. Embora a maior parte destas pessoas que estudamos em história já tenha morrido, é como pessoas vivas que procuramos recuperá-las. Estas fontes não falam por si mesmas; é importante formularmos as perguntas adequadas que nos permitem levantar os interesses dos indivíduos e grupos que deixaram esse registro. Ao pensar nas perguntas a fazer, deve-se, portanto, levar em conta que o documento é sempre, ao mesmo tempo que objeto de pesquisa histórica, expressão de sujeitos da história, ou seja, o documento foi produzido por alguém atuante em seu tempo. Os documentos são meros fornecedores de dados; eles evidenciam as ações de sujeito do processo histórico na qual surgiram. Ao chegarem até nós pela memória histórica, expressam também a ação de outros sujeitos históricos (CABRINI, 1994, p. 45).

Utilizados como fontes de informação e de reflexão no

processo colonizador do Oeste paranaense, tais documentos tinham como

objetivo extrair tanto informações concretas como observar a visão que o autor

tinha dos dados descritos. A análise dos documentos começou com a

identificação, antes da leitura do texto propriamente dito.

O objetivo foi trabalhar o documento histórico e ter a

compreensão do mesmo a partir de algumas informações básicas, como: qual

a origem do documento? Identificar e registrar as referências de onde e quando

o documento foi produzido e as fontes de sua reprodução. Qual a natureza do

documento? (Oficial, ponto de vista, religioso, outro). Quem é o autor do

documento: autor citado, desconhecido, produção coletiva. Qual a datação do

documento? (Data da produção do documento, data da publicação).

Na sequência, foi feita a leitura e a explicação dos documentos,

utilizando para isso questões como: o que o documento expõe? Ele atingiu um

grupo de pessoas em particular? O que é destacado no documento? Quais as

relações dos dados com o lugar de onde o documento está falando? Que

intenções essas relações revelam? Existe correspondência entre as datas de

produção e de difusão do documento? Quais eventos importantes ocorreram

no Estado do Paraná, Brasil e mundo quando o documento foi produzido?

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Luciana Emília Rohde

Finalizando o trabalho, os alunos opinaram sobre os

documentos, estabelecendo relações entre o conteúdo do texto e seus

conhecimentos históricos. Reescreveram o texto do documento, organizando

as opiniões em duas partes: uma para as ideias do texto e outra para os seus

conhecimentos e as suas opiniões (CAINELLI, 2004, p. 96-108).

Para muitos alunos os textos foram considerados complexos,

não apenas pelo vocabulário, mas também pela forma de estruturação. Em

alguns momentos, não foi possível indagar a eles que informações ou visões o

documento trazia antes do trabalho detalhado em relação ao significado mais

direto do texto.

Mostrou-se importante, portanto, uma forma de estudo

intermediário entre a identificação e a interpretação do documento, a qual

chamamos de “esclarecimentos”. Os alunos buscaram esclarecer suas

dúvidas, pela pesquisa e pela troca de informações com a professora e os

colegas. Não tomaram o documento com verdade absoluta e perceberam as

contradições.

Reescreveram o texto com suas próprias palavras, mas essa

atividade só foi possível porque o texto foi trabalhado antecipadamente,

deixando evidente para os alunos o que compreenderam e não

compreenderam. Concluíram que os documentos são fontes para investigação

histórica e que representam pistas para o desvendamento do passado, embora

sejam fragmentários, ambíguos e às vezes repletos de intenções, isto é,

significados não-explicitados e omissões propositais.

O documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziu, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados desmistificando-lhe o seu significado aparente (LE GOFF, 1996. p. 547-548).

O trabalho com os documentos escritos permitiu aos alunos

incorporar uma postura investigadora, aprendendo a pesquisar história e

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Luciana Emília Rohde

permitindo repensar e superar a ideia do conhecimento como algo pronto e

acabado.

11. Metacognição

Além das sínteses parciais, feitas a cada ação desenvolvida, foi

realizada uma síntese final, retomando a questão-problema colocada no início

do trabalho.

O que você aprendeu sobre a cultura da região Oeste

paranaense que se relaciona com a compreensão do nosso presente, e com a

compreensão dos nossos projetos de futuro?

A metacognição desempenhou um papel de primordial

importância na auto-organização, no desenvolvimento do sentimento de

domínio pessoal e na aquisição dos conteúdos estudados. Nomeadamente, na

compreensão da comunicação visual, verificou-se que a grande maioria dos

alunos compreenderam os objetivos propostos nas tarefas e foram capazes de

explicar e aplicar a história do Oeste paranaense de modo coerente e bem

fundamentado.

A metacognição foi um fator de motivação para os alunos, pois,

conscientemente, tornaram-se integrantes responsáveis no processo da

construção da aprendizagem e no conhecimento da região em que vivem.

Desta maneira, a metacognição desencadeou um processo que levou o

aprender”, como sujeito integrante da história.aluno a “aprender a

12. A confecção do álbum

O álbum foi montado com os desenhos feitos pelos alunos,

simbolizando a cultura na região Oeste do Paraná atual, sendo um marco

importante para compartilhar o resultado do trabalho realizado.

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Luciana Emília Rohde

Figura 3 – Álbum montado pelos alunos

Fonte: A autora, 2011

13. Evento solene

Como atividade de encerramento do projeto, foi realizado um

evento solene nas dependências do colégio. O acontecimento consistiu numa

apresentação feita pelos alunos, detalhando a elaboração e o desenvolvimento

do mesmo, seguido pela entrega do álbum à comunidade escolar, para a

composição do acervo da biblioteca do colégio.

Neste evento, contamos com a presença dos pais, professores,

direção, equipe pedagógica, funcionários e alunos, bem como convidados do

NRE/Toledo.

O evento solene foi uma experiência extremamente

enriquecedora, pois estimulou a participação e a sociabilidade dos alunos,

como também, de toda a comunidade escolar. Os alunos perceberam que o

colégio é o local, por excelência, do aprendizado e da convivência.

Os estudos com as imagens da região possibilitaram uma

maior aproximação dos alunos com sua própria história, consolidando um

sentimento de pertencimento e auxiliando na construção da identidade do

aluno.

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Luciana Emília Rohde

14 Conclusão

Os resultados apontados neste trabalho foram fruto do roteiro

de muitas pesquisas, leituras e reflexões, possibilitando assim, algumas

considerações.

O desenvolvimento do mesmo foi de grande valor, pois

procurou transmitir métodos para a análise e a interpretação de imagens

regionais frequentemente presentes em nosso cotidiano.

O resultado demonstrou-se satisfatório, na medida em que os

alunos passaram a perceber a imagem como fonte histórica, que precisa ser

interrogada e avaliada constantemente, considerando o momento do contexto

histórico de sua produção.

Os estudos com as imagens da região possibilitaram uma

maior aproximação dos alunos com sua própria história, consolidando um

sentimento de pertencimento e auxiliando na construção da identidade do

aluno.

Considerando que as imagens fazem parte do nosso dia-a-dia

e encontram-se presentes nos livros didáticos, que ainda é o material mais

utilizado na sala de aula, o uso das mesmas como metodologia pedagógica

apropriada proporcionou outra forma de leitura da história, com códigos e

signos especiais, dinamizando as aulas e facilitando a compreensão dos fatos

históricos.

Enfim, os resultados obtidos foram animadores, pois

forneceram subsídios para estudos regionais, podendo ser aproveitados em

outras séries dos ensinos Fundamental e Médio, considerando que cada turma

poderá desenvolver estas atividades conforme suas potencialidades.

É essencial enfatizar, no entanto, que esse trabalho requer

tempo para o conhecimento de outras fontes de leitura e pesquisa, e isto nos

foi proporcionado pelo PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional).

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Luciana Emília Rohde

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