45
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · trabalho”, de Fernando Hernández (1998-2000) e “pesquisa em arte” de Silvio Zamboni (2001). Estes fundamentos estão associados às orientações

Embed Size (px)

Citation preview

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

1

ESTUDO DE CASO DE PESQUISA EM ARTE-EDUCAÇÃO

Autora: Ivanilda Fernandes da Silva 1

Orientadora: Ruth Ceccon Barreiros 2

Resumo

Neste artigo são apresentados os principais resultados obtidos na implementação de projeto realizado para avaliar a pesquisa em arte-educação uma proposta metodológica destinada à disciplina arte. Para a realização desta investigação, houve desenvolvimento, testagem e avaliação da aplicação de procedimentos de pesquisa no processo de ensino e aprendizagem em arte. Foram consideradas as seguintes teorias: “educação pela pesquisa”, de Pedro Demo (2007), “projetos de trabalho”, de Fernando Hernández (1998-2000) e “pesquisa em arte” de Silvio Zamboni (2001). Estes fundamentos estão associados às orientações das DCEs / Arte (2008), elaboradas pela SEED/PR referentes aos conteúdos sistematizados abordados por três aspectos interdependentes: a teorização, os trabalhos artísticos práticos e a leitura de imagens. Neste estudo a pesquisa está sendo abordada enquanto “questionamento reconstrutivo” e princípio educativo. Isto é, o exercício do questionamento sistemático, cultivo do espírito crítico, aprender a aprender e aprender a pensar, conjugando teoria e prática, o educando chega ao saber fazer e refazer o conhecimento. A interação aluno, educador e conhecimento sendo mediada pela pesquisa-ação, onde a atuação do professor é de incentivador de iniciativas pessoais e orientador, estabelecendo estratégias; e o estudante, na condição de sujeito participativo, aprende a aprender. A proposta foi concluída com elaborações de textos e criações artísticas inter-relacionando forma, conteúdo e vivências pessoais relativos aos temas dos estudos. Estas produções estão fundamentadas no processamento das informações oriundas da abordagem da arte enquanto conhecimento teórico, das apreensões obtidas na apreciação de obras de arte, e das ideias captadas do universo plástico investigado. Neste contexto diferencia-se a produção artística puramente intuitiva da criação artística resultante de pesquisa e evidencia-se a contribuição dos procedimentos de pesquisa para a aprendizagem de arte facultando consciência quanto aos referenciais teóricos de modo motivador e significativo.

Palavras-chave: pesquisa em arte-educação; ensino de arte; metodologia de ensino; DCE; pesquisa.

2

________

1 Professora PDE 2009 do Colégio Estadual Bartolomeu Mitre – Foz do Iguaçu – PR, licenciada em Artes Plásticas, Especialização em Docência do Ensino Superior. 2 Professora orientadora da UNIOESTE – Campus Cascavel, Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Moderna/UEM – Maringá – PR. e doutoranda em Letras pela UFBA – Salvador – BA.

1 Introdução

A pesquisa em arte-educação neste estudo é definida como aplicação de

procedimentos de pesquisa no processo de ensino e aprendizagem em arte, onde o

educando constrói o conhecimento e o expressa em produções artísticas,

estabelecendo relações entre o conhecimento formal e a bagagem de informações

provenientes das vivências pessoais.

Este artigo apresenta estudo de caso acerca da implementação de projeto

de pesquisa, cujo problema consiste na sistematização de metodologia de ensino de

arte para o Ensino Médio, a partir da exploração de procedimentos e técnicas de

pesquisa científica no desenvolvimento dos aspectos pedagógicos teorização,

prática criativa e apreciação, delineados nos fundamentos oficiais da SEED para

esta disciplina. Estes encaminhamentos para a disciplina arte são orientadores da

práxis educativa nas escolas públicas do Estado do Paraná, estão sistematizados no

documento “Diretrizes Curriculares da Educação / Arte” e foram elaborados pela

SEED – Secretaria Estadual da Educação.

As DCE (PARANÁ, 2008, p. 87) são flexíveis e abertas quando caracterizam

o plano docente como “lugar da criação pedagógica do professor”. Citam também

que o encaminhamento de trabalho pode ser escolhido pelo professor, desde que

inclua suas orientações em algum momento do processo pedagógico. Esta

caracterização das DCE possibilita proposições metodológicas, como a pretendida

neste artigo. E partindo desta alternativa, os princípios norteadores da proposta

metodológica das DCE estão sendo associadas a outros encaminhamentos nas

áreas da educação e da arte, envolvendo a pesquisa enquanto recurso

metodológico.

Nesta formulação estão pressupostos teóricos referentes à abordagem dos

conteúdos por três aspectos metodológicos interdependentes: a teorização, os

3

trabalhos artísticos práticos (a produção artística) e a leitura de obras (a apreciação,

o sentir e o perceber, a fruição) Paraná (2008). Também foram analisados o

questionamento reconstrutivo e o aprender a aprender, conforme Demo (2007); a

criação artística resultante de pesquisa, isto é, conscientização do referencial teórico

em relação à prática, de acordo com Zamboni (2001); e a experienciação pessoal

considerada fonte de informação e recurso didático, segundo Hernández (1998).

Demo (2007) examina a pesquisa não restrita à acumulação de dados, mas

como princípio educativo, onde a dinâmica do ensino e aprendizagem decorrem dos

processos de investigação. Este autor especifica que por meio do manejo das

informações, do exercício do questionamento sistemático, do cultivo do espírito

crítico, do aprender a aprender e aprender a pensar, do aprender a duvidar, de

perguntar, de querer saber mais, o educando chega a fazer e refazer o

conhecimento, ao “questionamento reconstrutivo”, isto é, o questionamento como

busca de inovação, auto-expressão e elaboração própria como atividade de

reconstrução do conhecimento.

Considerando as especificidades da arte, Zamboni (2001) redige os

fundamentos metodológicos da pesquisa em arte, fazendo adequação de técnicas

de pesquisa científica. Discrimina a pesquisa assumindo o caráter de obra de arte,

onde os resultados estão contidos na manifestação artística.

Zamboni (2001) elabora método organizativo de trabalho associando a

lógica e a racionalidade ao caráter sensível e intuitivo inerente ao processo de

criação em arte. Com esta proposição diferencia a arte elaborada exclusivamente

através de impulsos intuitivos e inconsciência (derivada da especulação,

caracterizada pelo acaso, imprevisão, impresciência, desordem experimental), da

produção resultante de pesquisa em arte.

As instruções da pesquisa em arte estão acrescidas aos direcionamentos da

pesquisa na educação, devido ao ensino de arte envolver a produção artística e a

apreciação de obras, além dos estudos teóricos. A proposta da educação pela

pesquisa discorre sobre a educação de modo generalizado e a sistematização da

pesquisa em arte estabelece direcionamentos aos processos de pesquisa

envolvendo a fruição, a experienciação artística e a arte como conhecimento.

Também foi incluída a dinâmica de projeto de trabalho, porque mesmo apresentando

as etapas da investigação simplificadas em relação à pesquisa em arte, demonstra

estratagemas de construção do projeto relacionando os conteúdos formais à

4

bagagem de conhecimentos dos alunos. Esta aproximação entre as formas de

conhecimentos é um subterfúgio visando o interesse, envolvimento e participação

ativa dos estudantes.

A proposição de Hernández (1998) com o “projeto de trabalho” consiste

numa forma de organização, de tratamento dos conteúdos por meio de projetos. O

projeto de trabalho é apresentado como vínculo da teoria com a prática, em

situações de aprendizagem onde os educandos possam elaborar respostas e modos

de execução diversos. Os conteúdos do currículo são trabalhados a partir da

pluralidade e da diversidade, vinculando-os a situações e problemas reais

(HERNÁNDEZ, 2000). Nessa perspectiva, o professor deverá encontrar meios de

diagnosticar o conhecimento que o aluno já possui sobre o tema, além de conhecer

aspectos do seu contexto cultural para, a partir destes dados, formular e propor um

projeto de trabalho que possa ampliar estas informações empíricas associando-as

aos conhecimentos formais.

Compreender e considerar aspectos culturais que fazem parte do contexto

dos estudantes é fundamental para o sucesso na aplicação da proposta de um

projeto de trabalho. Assim, amparados pelo presente estudo e fundamentação

teórica ora esboçada é que se pretende alcançar os objetivos, inicialmente

propostos, de construção de uma metodologia para o ensino e aprendizagem em

arte.

A pesquisa-ação foi adotada enquanto procedimento metodológico na

implementação deste projeto de intervenção pedagógica. A pesquisa de campo foi

desenvolvida em uma turma do segundo ano do Ensino Médio, onde a professora

mediou sua interação com os educandos atuando como pesquisadora-participante.

Buscou-se nesta pesquisa identificar aspectos positivos e desfavoráveis da

pesquisa em arte-educação, quanto à sua estrutura e seu funcionamento no

processo de ensino e aprendizagem em arte, facultando motivação na abordagem

teórica da arte enquanto conhecimento.

Na análise de Oliveira (2010) a aceleração das inovações tecnológicas exige

novas abordagens dos temas e uma integração de conhecimentos. Esta realidade

reflete na arte contemporânea na busca de diversos campos experimentais, na

exploração consciente das novas tecnologias, enquanto suporte técnico, com

propósitos artísticos, isto é, havendo veiculação de conteúdo e de valor estético

5

próprios. Trata-se de investigação promovendo interseção entre arte, ciência e

tecnologia, culturalmente e criativamente enriquecedora.

A didática de ensino e aprendizagem de arte por conseqüência também

deve ser revista, porque os educandos no encaminhamento metodológico produção

artística reproduzem, em outros níveis de resultados, os mesmos processos

vivenciados pelo artista na realização da manifestação artística em estudo. Há a

necessidade de se priorizar um sistema de ensino que permita a interação entre as

diferentes áreas do conhecimento, associando diferentes faculdades intelectivas, a

fim de promover a experienciação do paradigma do “artista-investigador” ou

“investigador artista” característicos da contemporaneidade.

Existem pontos em comum entre a ciência e a arte. A arte, assim como a

pesquisa científica, trabalha com os fatos, resolve problemas e desenvolve

processos de criação. Entretanto, como esclarece Tomanik (1994), um processo de

ensino e aprendizagem em arte que possibilite ao educando transcender o senso

comum e o espontaneísmo, passa pela cientificidade.

Conforme explica Tomanik (1994, p. 22), “cada objeto, cada assunto, cada

problema de pesquisa, cada população ou situação a ser pesquisada deve merecer

[...] um elaborado raciocínio sobre qual seria o método, ou os métodos mais

adequados”. Nessa perspectiva o presente estudo pretende verificar as técnicas,

estratégias e procedimentos mais coerentes com o processo que possibilite aos

educandos construírem o conhecimento. Em outras palavras, a proposta deste

projeto é explorar o que procedimentos de pesquisa científica têm a oferecer na

ampliação das possibilidades metodológicas de ensino e aprendizagem na disciplina

arte, sem reduzir, enquadrar ou limitar a didática de arte à investigação científica.

Constatou-se que a pesquisa em arte-educação é válida enquanto método

de ensino de arte, por tornar a aprendizagem mais motivadora e significativa,

mediante as possibilidades de reconstrução do conhecimento expresso em trabalhos

artísticos.

2 Implementação da pesquisa em arte-educação

6

A metodologia empregada consistiu na pesquisa-ação, onde a professora

vivenciando o processo pedagógico atuou como observadora participante, isto é,

pertencendo ao grupo que investiga. Houve interação direta entre professora e

alunos, em todos os momentos correspondentes aos horários das aulas, explicando,

orientando, questionando, observando e registrando. Nesta observação

caracterizada como sistemática direta, participante, individual (quanto ao número de

observadores) e observação em campo, foram utilizados os instrumentos anotações

de campo e entrevistas na realização da coleta de dados por meio da observação.

No campo da observação, a população participante foi composta pelos

alunos do 2º D, do Colégio Bartolomeu Mitre, na condição de sujeitos, incluindo 36

alunos, com idades entre 15 e 17 anos, com características sócio-econômicas,

procedências e desempenho escolar (interesse, motivação, dificuldade de

aprendizagem, boas notas, disciplina) díspares. A turma não dispunha de pré-

requisitos básicos concernentes à disciplina. Foi a primeira experiência pedagógica

da professora com estes estudantes. As circunstâncias da observação

compreenderam os encontros da professora com a turma, durante os horários das

aulas de arte que correspondem semanalmente a 4 horas/aula de 50 minutos, no

período de agosto a outubro de 2010. Também foram consideradas as tarefas

complementares ou finalizações de trabalhos realizados fora dos horários das aulas.

Os locais das observações incluíram além da sala de aula, a sala de informática e a

biblioteca deste colégio, onde foram desenvolvidas as atividades do projeto.

A implementação deste projeto está sendo exemplificada com as atividades

relativas à construção e aplicação de projeto de pesquisa, executadas pela aluna

Isis Skarlet Krug. Este estudo de caso foi organizado em etapas, elencadas a seguir.

2.1 Etapa 1: Seleção de assunto e elaboração dos te mas de investigação

Na dinâmica do primeiro seminário, fase exploratória da pesquisa-ação. Os

educandos juntamente com a professora definiram os assuntos de seus estudos a

partir do diagnóstico de conhecimentos já apresentados pelos alunos. Os temas dos

projetos foram definidos pela argumentação envolvendo a turma de alunos, que

atuam na condição de co-participantes na situação de aprendizagem. O tema de

7

estudo significando determinada abordagem a um conteúdo programático. Foram

analisados os conhecimentos originados pela comunidade onde a turma está

inserida e os conhecimentos trazidos das experiências pessoais dos alunos,

pretendendo contextuar os saberes sistematizados para atribuir-lhes significação.

Usando a técnica de comparação, o saber informal (baseado na experiência

concreta, compreendendo os conhecimentos circunstanciados relativas ao conteúdo

programático em pauta) foi considerado em relação aos fundamentos teóricos

formais, e daí foram extraídos e redigidos os temas dos projetos que foram

desenvolvidos pela turma. Os temas e problemas a serem investigados foram

inicialmente delimitados na área das artes visuais, com a possibilidade de interação

com outras manifestações artísticas.

A partir do tema é elaborado índice, a ser estudado através da relação entre

fontes. “[...] o que se pretende desenvolver com os Projetos é buscar a estrutura

cogniscitiva, o problema eixo, que vincula as diferentes informações, as quais

confluem num tema para facilitar seu estudo e compreensão por parte dos alunos”

(HERNÁNDEZ, 1998, p. 62).

Neste encaminhamento também foram analisadas obras de arte e imagens

do cotidiano representativas dos conteúdos a serem desenvolvidos, enquanto fontes

de informações. A leitura destas imagens ocorreu nos níveis I favoritismo, II beleza e

realismo e III expressão, em conformidade com a escala de apreciação estética

elaborada por Parsons (1987, apud Hernández, 2000), isto é, fizeram livres

associações, exprimiram emoções produzidas pelas obras, realizaram análises

baseadas nas experiências e gostos pessoais, enfatizando elementos conhecidos.

Nesta apropriação inicial a fruição se deu a partir dos sentidos físicos, do sensório

perceptual. Como esclarece Barbosa (1994, p. 38) “[...] o caminho do conhecimento

da arte se inicia na intuição estética imediata do objeto, uma espécie de iluminação

de interesse [...]”.

Objetivo. Experienciar processos básicos de pesquisa científica.

Conteúdo. Conceituação e determinação do objeto, assuntos, temas, títulos

e objetos de pesquisas dos alunos.

Procedimentos. Escolha de assunto tendo como fonte o do dia-a-dia que

seja do interesse do aluno ou da equipe de alunos.

Busca de dados na Internet relacionando o assunto escolhido às

manifestações artísticas (conteúdo formal).

8

Análise de obras de arte (fazendo livres associações, exprimindo emoções

produzidas pelas imagens, enfatizando elementos conhecidos; esta apreciação

inicial será a partir do sensório perceptual, da intuição, baseados nos interesses nas

experiências e gostos pessoais); correlação entre experiências dos educandos, o

saber informal, o conteúdo programático e a produção artística vigente.

Cada aluno ou equipe associa o assunto de interesse aos conteúdos de arte

verificados e delimita o seu tema de pesquisa, prescrevendo as informações

referentes à local, período, contexto, personalidades e / ou condições que serão

examinados, abordagem que será dada ao tema, abrangência teórica.

Nas propostas envolvendo pesquisa de campo a delimitação incluirá: quem

e o que será observado, o que especificamente será observado, onde, quando e em

que situações haverá a observação.

Formulação do tema e título. Identificação do objeto e sujeito de pesquisa.

Recursos. Pendrive, Internet para levantamento de informações e baixar

imagens.

Orientações sobre a elaboração do assunto. É a que se refere, de que se

trata o trabalho, explicitando uma área geral onde o estudo se insere. Mais

abrangente do que o tema, caracteriza-se pela vaguidade, amplidão e generalidade.

Exemplo: Arte Pop.

As fontes referem-se às situações de onde os assuntos podem surgir, ou às

condições que dão origem à primeira intuição ou idéia quanto ao assunto a ser

pesquisado. A fonte do assunto pode ser indicação do professor ou à escolha do

educando. A experiência pessoal e a observação da realidade empírica foram

utilizadas como fontes pelos estudantes. Exemplo: a aluna escolheu como assunto

do dia-a-dia delas a Arte Pop, sob o seguinte argumento: “Eu escolhei o tema Pop

Art porque a gente convive com ele, e é um assunto legal, com uma história

diferente, um tema super original e divertido [...] já sabia muitas coisas sobre o

assunto, já praticava antes (a aluna referiu-se aos estudos que já fez sobre a Arte

Pop)”.

Na escolha do tema a pesquisa se inicia. O tema especifica o assunto, mas

ainda faz delimitação ampla e genérica. O tema é constituído fixando-se a extensão

do assunto.

No exemplo que está sendo abordado neste estudo, como a aluna insistiu no

tema Arte Pop, que na realidade já constitui um conteúdo formal e a orientação era

9

associar o conteúdo do currículo formal ao cotidiano do aluno, então a aluna assim

definiu o tema de seus estudos: A Arte Pop e o gosto artístico dos jovens do 2º D do

Ensino Médio do Colégio Bartolomeu Mitre.

A transformação do assunto geral em tema de pesquisa exige

embasamentos provenientes da observação da realidade, de consulta às pessoas

especializadas no âmbito deste assunto e de levantamento bibliográfico (livros,

obras especializadas diversas, periódicos, monografias, teses e internet). Estas

informações possibilitam a validação do tema de pesquisa. As informações

provenientes de buscas na internet constituíram este embasamento.

A validação consiste na verificação, sob determinados critérios

(exequibilidade, relevância e interesse), das limitações e possibilidades no

desenvolvimento de um tema, a fim de reconhecê-lo como prioritário em relação a

outras opções.

Delimitação do tema. Delimitar o tema é circunscrever o enfoque ou tópicos

ou os aspectos a serem examinados em relação a um assunto. O assunto é

decomposto em partes e enumerados os elementos que o constituem. O sujeito e

objeto são discriminados, exatificando-se a extensão de limites de ambos. Ex.:

sujeito: a Arte Pop; objeto: o gosto da juventude em relação à Arte Pop.

Distinguir o sujeito e o objeto da questão. “O sujeito é a realidade a respeito da qual se deseja saber alguma coisa. É o universo de referência. Pode ser constituída de objetos, fatos, fenômenos ou pessoas a cujo respeito faz-se o estudo com dois objetivos principais: ou de melhor apreendê-los ou com a intenção de agir sobre eles.” “O objeto de um assunto é o tema propriamente dito.” Corresponde àquilo que se deseja saber ou realizar a respeito do sujeito. “É o conteúdo que se focaliza, em torno do qual gira toda a discussão ou indagação” (MARCONI, 2005, p. 45 e 46).

Na delimitação há contextualização do tema. Quanto ao tratamento (o modo,

o enfoque que será dado ao tema, por exemplo, psicológico, sociológico, histórico,

filosófico, estatístico, etc.). As demais técnicas de delimitação serão estabelecidas a

partir deste ponto de vista sob o qual o tema será tratado. Quanto à abrangência

teórica. Quanto ao período (aspecto temporal, histórico). Convém evitar conteúdos

em desenvolvimento durante os estudos ou da instância futura. Quanto ao campo

social (realidade social). Quanto ao local (aspecto geográfico).

10

Na delimitação do tema envolvendo pesquisa de campo é descrito o campo

de observação, com as respectivas unidades de observação, variáveis relevantes e

relações estabelecidas entre estas variáveis, conforme o exemplo:

Tema enunciado: A Arte Pop como expressão do gosto artístico dos alunos

do segundo ano do Colégio Estadual Bartolomeu Mitre. População: os alunos do

segundo ano do Colégio Estadual Bartolomeu Mitre. Variável a ser observada: as

preferências artísticas quanto às artes visuais. Relação entre variáveis: verificação

da relação entre as características visuais da Arte Pop e o gosto do grupo de jovens.

Campo de observação. Indicação da população (a quem observar, indicando idade,

gênero, tipo de delinqüência e de toxicomania): jovens, entre os 14 e 18 anos,

ambos os sexos, alunos do 2º ano do Ensino Médio. Indicação do local (onde a

população será observada): Colégio Estadual Bartolomeu Mitre, Foz do Iguaçu.

Indicação das circunstâncias (quando haverá a observação da população): no

ambiente de aula.

Elaboração do título. O título apresenta a síntese do conteúdo da pesquisa.

O título deve caracterizar-se pela simplicidade, clareza, concretude,

objetividade, precisão, especificidade e limitação bem definida. Recomenda-se

equilíbrio entre concisão e abrangência, evitando-se títulos longos, com subdivisões

excessivas.

2.2 Etapa 2: Elaboração do problema e hipóteses de pesquisa

O problema não significa lacuna na ciência ou objetiva elaboração de teoria

nova, mas corresponde às demandas na formação do educando, isto é, ao

conhecimento a ser apreendido. A originalidade estará no processo de acesso às

informações, que será construído pelo estudante – pesquisador.

O conceito de hipótese foi flexibilizado, sendo afigurado por Zamboni (2001)

como expectativa quanto aos resultados.

Objetivo. Experienciar processos básicos de pesquisa científica.

Conteúdo. Elaboração do problema a ser investigado; conceituação de

objeto de estudo e de problema de pesquisa; formulação de hipóteses; conceituação

de hipótese de pesquisa.

11

Procedimentos. Explicação como fundamento inicial à prática; elaboração

de síntese das informações verificadas na etapa anterior na forma de problema de

pesquisa. Explorando os dados estudados na elaboração do tema e o próprio tema,

o problema foi redigido segundo a seguinte estrutura: na forma interrogativa,

associar duas variáveis relativas ao tema, de forma que a pergunta faça sugestão da

resposta. Estas duas variáveis consistem em uma unidade de estudo do currículo de

arte e algum fato do cotidiano do estudante que seja pertinente a este conteúdo.

Construção de hipóteses: prever as possibilidades de resultados teóricos e práticos,

na forma de produção artística provenientes da interação dos estudos teóricos e

percepção de imagens.

Recursos. Internet e biblioteca para busca de fontes bibliográficas.

Orientações sobre a elaboração do problema de pesqu isa. O problema é

o elemento do projeto de pesquisa que apresenta uma dificuldade teórica ou prática,

relacionada ao tema, a ser resolvida por intermédio da pesquisa. O termo dificuldade

significando dúvida, assunto controverso, questão solucionada insatisfatoriamente,

tema a ser inquirido, discutido e solucionado. O problema determina o foco, o

percurso, a direção e o delineamento da investigação.

É a primeira fase a ser efetuada no projeto após a escolha e definição do

assunto e redação do tema. Há estreita proximidade entre os itens do projeto tema,

hipóteses e problema. O problema é redigido a partir do tema, depois são

construídas hipóteses e selecionada a terminologia específica sobre as variáveis e

condições.

No projeto é feita uma introdução ao problema, que é apresentado no

segundo ou terceiro parágrafo, em seguida são dispostas as hipóteses e na

sequência a definição de termos de interesse que foram usados.

Exemplo de problema: “A aversão do jovem pelas artes visuais não acontece

com o Pop porque o Pop tem visual diferente das outras artes e é uma arte atual?”

Ficou assim: a estranheza e distanciamento do público jovem em relação às artes

visuais podem ser superadas pelas características pictóricas e conteúdos

configurados no estilo Arte Pop?

Exemplos de hipóteses: A Arte Pop corresponde ao gosto artístico da

juventude atual do 2º ano do Colégio Estadual Bartolomeu Mitre porque usa objetos

do cotidiano destes jovens como tema e apresenta características formais atraentes

esteticamente a estes jovens. A Arte Pop não atende ao gosto desta juventude

12

porque apesar dos temas serem familiares, as técnicas de representação que

empregam não agradam esteticamente a estes jovens. A Arte Pop não agrada aos

jovens do 2º ano do Colégio Estadual Bartolomeu Mitre porque as formas usadas

nesta manifestação artística caracterizam o cotidiano norte-americano, mas são

estranhas aos alunos investigados. As características visuais e conteúdo da Arte

Pop não atendem às preferências estéticas e assuntos de interesses destes

estudantes.

Ações envolvidas na formulação do problema de pesquisa:

1 Após inventariação e seleção de fontes atuais e mais relevantes sobre o

tema, é feita a revisão bibliográfica analisando os conteúdos, para finalmente ser

feita a redação do problema. Articulando a imaginação criativa aos fundamentos

teóricos consultados, são conjecturadas as inter-relações destes conhecimentos

com o problema de pesquisa em construção, estabelecendo-se uma possível ordem

na relação entre os fatos, isto é, procurando entender as relações de

interdependência entre os fatos que existem e se manifestam em um sistema, em

uma estrutura. Esta reflexão poderá envolver além dos fundamentos teóricos

consultados, outras questões como problemas conhecidos, as vivências pessoais, a

atividade profissional, problemas sociais e outros. Neste estudo o problema reflete o

próprio investigador (interesses, repertório de conhecimentos, ideologia, bagagem

de experiências, circunstâncias de seu meio cultural e social).

2 A formulação do problema envolve análise e síntese. A análise consiste no

questionamento sobre o assunto escolhido, sendo que a dificuldade encontrada

mediante esta reflexão será sintetizada em forma de problema.

3 Verificação da relevância e se o problema parece interessante ao

investigador.

4 Delimitação da área de abrangência do problema, discriminando quem o

abordará, em que contexto e de que ponto de vista o tema a será tratado.

5 O problema é estruturado sob a forma de pergunta inteligente contendo

uma possível resposta. Esta circunscrição da dúvida é feita pela explicitação da

relação entre no mínimo duas variáveis conhecidas, relativas à dificuldade pertinente

ao objeto de estudo. A interrogação é o modo mais direto e fácil do problema ser

identificado pelo leitor. A questão é específica e restringe o tema de estudo.

Perguntas amplas ou gerais não indicam direções na busca da resposta.

Exemplo: Por que os jovens, alunos do 2D, do colégio Bartolomeu Mitre não

13

sentem estranheza e distanciamento pela Arte Pop? É uma pergunta que não se

apresenta como problema de pesquisa, porque apresenta apenas uma incógnita,

não está delimitada, não contém uma possível resposta, portanto, está incompleta e

não pode ser respondida.

Estrutura da pergunta deste exemplo: ? (variável desconhecida, incógnita) e

desaparecimento da estranheza e distanciamento em relação à Arte Pop? (variável

conhecida). A incógnita deve ser substituída por variável conhecida, ficando o

problema como no exemplo a seguir: A estranheza e distanciamento do público

jovem alunos do 2D do Colégio Bartolomeu Mitre em relação às artes visuais podem

ser superadas pelas características pictóricas e conteúdos configurados no estilo

Arte Pop?

6 Uso de termos que definam o problema com clareza, explicitação,

precisão, objetividade. Evidenciar o sentido do uso das expressões e o contexto

onde estão inseridas.

7 Seleção de termos indicando a aplicabilidade do problema, passíveis de

testagem ou observação empírica. O problema deve ser testável empiricamente

(para que possam ser realizados a previsão e o controle dos fenômenos

investigados), viável, exeqüível, operacional, trabalhável, factual em relação à busca

de dados direcionada aos fatos.

2.3 Etapa 3: Análise de referencial teórico e leitu ra de imagem

No método organizativo de trabalho a análise de referencial teórico foi

executada em conformidade com as DCE (PARANÁ, 2008), quanto à conceituação

do elemento “teorização”. À vista destes encaminhamentos, a teorização se efetiva

quando inclui a compreensão do conhecimento sobre arte produzido historicamente

e também fundamenta a formação de conceitos que subsidiam os momentos leitura

de imagem e prática artística. Por conseguinte, aqui são utilizadas técnicas de

pesquisa bibliográfica abrangendo os conteúdos estruturantes (a composição, os

elementos formais, os movimentos e períodos).

Na etapa observação as orientações das DCE PARANÁ (2008) relativas à

apreciação da produção artística e à percepção de imagens diversas à nossa volta

14

foram exercitadas. Perante estas diretrizes, a leitura da obra envolve a análise dos

aspectos ideológicos, visão de mundo, contexto histórico e social do artista refletidos

na produção da obra. Também deve incluir a percepção por meio dos sentidos

físicos e a experiência estética do aluno.

A análise de referencial teórico foi empreendida simultaneamente à leitura

de imagens, por meio de estudo orientado por roteiro elaborado especificamente

para a implementação deste projeto.

Neste roteiro constam itens referentes à (s) obra (s) de um determinado

período, ou estilo, ou movimento, representativa do tema em estudo. A listagem dos

itens foi formulada a partir de revisão bibliográfica de vários títulos da história da arte

e reúne um conjunto de características identificadas frequentemente nas obras da

história das artes visuais, detalhando e ampliando o elenco dos conteúdos

estruturantes das DCE PARANÁ (2008).

No estudo por meio deste roteiro os estudantes versaram sobre obras

caracterizando-as formalmente, no seu lugar, no seu tempo e na sua cultura,

envolvendo as ações levantar dados objetivamente, descrever e identificar detalhes

da gramática visual. Portanto, no estudo do conteúdo estruturante movimentos e

períodos as informações não foram abordadas linearmente, seguindo a evolução

das formas artísticas, mas pretendendo classificar as obras quanto às características

formais e conteúdo.

O roteiro compreende os aspectos formais (recursos, elementos visuais,

composição, gênero, geometrização e organicidade, definição quanto à abstração e

figuração, representação espacial), os conteúdos das imagens (racionalismo,

expressividade, função, temática nas produções dos períodos entre a Pré-História e

a Contemporaneidade) e a atuação dos objetos de arte (inter-relação obra e

espectador e estrutura visual-perceptiva).

Objetivo. Experienciar processos básicos de pesquisa científica. Analisar

obras de arte emitindo pareceres críticos fundamentados teoricamente.

Conteúdo. Análise de referencial teórico e referências bibliográficas. Prática

da observação enquanto técnica investigativa; pesquisa de campo; leitura de

imagens.

Procedimentos. Explicação como fundamento inicial à prática; pesquisa

bibliográfica; orientação individual a cada etapa, conforme o projeto for sendo

constituído. Levantamento de dados explorando a Internet, livros, revistas e / ou

15

jornais. Anotações de citações de partes dos textos que constituam síntese das

idéias, referenciando as fontes bibliográficas. Elaboração pessoal de texto

desenvolvendo as informações registradas. Redação de conclusões pessoais

relativas aos dados verificados. Organização das referências bibliográficas de

acordo com as normas técnicas. Análise de imagens abrangendo os conteúdos

estruturantes (a composição, os elementos formais, os movimentos e períodos).

Desenvolvimento de pesquisa de campo, usando a observação como principal

recurso.

As normas da ABNT sobre apresentação de trabalhos estão disponíveis no

site http://www.portal.ufpr.br/tutorial%20NORMAS%20ago%202010.pdf

Recursos. TV pendrive; roteiro para o levantamento de dados; espaço e

acervo da biblioteca do colégio e / ou pública; sala de informática do colégio, com

acesso à internet; imagens diversas do cotidiano; reproduções de obras de arte;

galeria de arte.

Ex.: por meio de buscas em sites diversos a aluna reuniu referencial teórico,

acerca das qualidades plásticas das pinturas produzidas pelos seguintes artistas

pop: Andy Warhol, Roy Lichteinstein e Romero Britto. Também analisou

tecnicamente a obra “Cat” de Romero Britto, em estudo de observação e leitura de

imagem conduzido por roteiro apresentado abaixo. Em seguida submeteu esta obra

à apreciação dos colegas da turma, pretendendo verificar o gosto estético da turma

em relação à Arte Pop. Os estudantes expuseram suas idéias e preferências visuais

em questionários, cujos dados foram posteriormente compilados e apresentados no

relatório final.

Orientações sobre a análise de referencial teórico e leitura de imagens

Roteiro para conduzir a investigação bibliográfica e fundamentar a leitura

das imagens:

1 Técnicas e recursos: desenho (especificando os materiais usados), pintura

(especificando os materiais usados), gravura, recorte e colagem, mosaico, vitral,

colagem, escultura, modelagem, construções tridimensionais, ready-made,

integração entre as técnicas artesanais e a produção industrial, materiais industriais

(vidro, aço, concreto, metais, plástico, gesso, madeira e outros materiais), pré-

fabricados, artes gráficas, instalações, o espectador incluído na criação e recepção

da arte, performance, pintura corporal, o corpo como suporte, outras técnicas (artes

visuais).

16

2 Elementos visuais: ponto, linha, plano (superfície), volume (construções

tridimensionais, ilusão de óptica, escultura, luz e sombra, perspectiva, quarta

dimensão), cor, luz e textura (representação e /ou textura do material pré-fabricado

cujas qualidades artísticas são exploradas).

3 Gênero: abstrato, figura humana, nu artístico, retrato, paisagem, paisagem

urbana, marinha, natureza morta, gênero ou objetos da cultura popular e do

consumismo e animais.

4 Forma (geometrização e organicidade): definida por massas de cores ou

linear e geométrica ou orgânica.

5 Definição da forma: abstrato ou figurativo (estilizado, realismo, hiper-

realismo, idealismo, naturalismo, realismo conceitual, realismo fantástico e verismo).

6 Espacialidade: espaço bidimensional, planimetria, perspectiva linear,

espaço virtual, espaço polisensorial, integração entre figura e fundo (positivo e

negativo).

7 Expressividade / racionalidade: irracionalismo (romantismo,

emocionalismo, expressionismo, lirismo) ou racionalismo (logicidade, objetividade).

8 Função: (arte pela arte ou funcional ou utilitária) e conteúdo (antiarte,

ciência e/ou tecnologia (experienciação de descobertas científicas), expressividade,

imaginação (inconsciência, onirismo), mitologia, crença, religião, crítica à realidade,

pedagógico, contexto histórico, social, político e ideológico).

9 Estrutura visual perceptiva (relações entre conteúdo, forma e percepção):

disposição dos elementos, equilíbrio, harmonia, proporção, simetria ou assimetria,

dinamismo (estático ou dinâmico), movimento (mecânico ou através de efeito

óptico), tensão espacial e ritmo.

10 Atuação do espectador: sensação, interação, apreciação,

conscientização, doutrinação, intervenção no meio, intervenção urbana, impacção,

ou utilização.

11 Definição (síntese de): escola, estilo, movimento, período artístico ou

tendência.

12 Histórico: local e período (data), origem (movimentos precursores),

manifestos, exposições ou principais atuações, obras mais representativas, artistas

principais, áreas da arte onde ocorreu, contexto, influências exercidas, inovação

produzida.

Identificou-se falta de pré-requisitos necessários à compreensão dos

17

conteúdos envolvidos no estudo por meio deste roteiro e para dar subsídios à turma

cada conceito envolvido foi definido, exemplificado e posteriormente estabelecidas

correlações entre eles. Nesta atividade foram usados slides reproduzindo

manifestações artísticas e exercícios visando à fixação da aprendizagem, que estão

discriminados nos anexos.

Os direcionamentos quanto à leitura das imagens foram decorrentes do

conjunto de fundamentos já estudados e de acordo com os estágios denominados

por Parsons (1987 apud Hernández, 2000) como estágios da apreciação estética, IV

estilo e forma e V autonomia. O aspecto percepção envolverá a contextualização do

objeto analisado e a verificação das características estilísticas.

As informações reunidas na revisão bibliográfica, mediante o estudo do

roteiro foram utilizadas como fundamentação teórica no exercício de leitura de

imagens, que foi apresentada em seminário de pesquisa-ação, para ser

compartilhada, discutida, analisada e avaliada.

A práxis da interpretação gráfica de obras de arte, baseada em dados

levantados no estudo orientado pelo roteiro, consistiu em misto de procedimentos

relacionados à decodificação da gramática visual elaborados pelos autores Monique

Brière, Rosanlind Ragans, Feldman, Robert Saunders, sob o ponto de vista de

Barbosa (1994), compreendendo as seguintes ações:

1 Analisar obras de arte identificando e descrevendo aspectos formais e

teóricos.

2 Contextualizar, comparar, refletir, analisar, formular hipóteses, interpretar,

julgar, justificar, acerca de realizações artísticas.

3 Observar de diferentes pontos de vista, efetuando associações entre

imagens e princípios estéticos, simbólicos, mitológicos, éticos, históricos e outros.

4 Criar padrões apropriados para avaliar o novo, justificável formalmente.

5 Verificar, olhar, produções artísticas de momentos históricos variados, de

acordo com os padrões avaliativos da respectiva época e sob os valores da

atualidade. “A cognição em arte emerge do envolvimento existencial e total do aluno.

Não se pode impor um corpo de informações emotivamente neutral” (BARBOSA,

1994, p. 38).

6 Estabelecer comparações entre imagens a fim de elaborar conclusões

envolvendo problemas formais, por meio da percepção visual.

18

7 Identificar mediante comparações históricas, “como conceitos visuais e

formais aparecem na arte, como eles têm sido percebidos, redefinidos,

redesenhados, distorcidos, descartados, reapropriados, reformulados, justificados e

criticados em seu processo formativo” (BARBOSA, 1994, p. 40).

8 Investigar obras de arte por meio da análise, síntese e interpretação,

relacionando imagem e fundamentos teóricos.

9 Discutir os elementos representacionais da arte (fundamentos visuais e

teóricos).

10 Analisar a realidade representada, mediante as relações entre os

elementos visuais que a constituem.

11 Interpretar detalhes visuais, especular sobre as possíveis significações

das obras, apoiado nas informações objetivas coletadas, isto é, fazendo

decodificação da gramática visual.

12 Expressar interpretação e julgamento de valor, provenientes de

conclusões pessoais, demonstráveis e/ou defensáveis perante as evidências formais

das obras.

13 Relacionar a arte com a realidade concreta, fazendo leitura social, cultural

e estética de imagens produzidas nos âmbitos do erudito, do popular, do folclórico e

da cultura de massa.

14 Identificar-se no universo estudado.

É esperado como resultado destas análises comparativas, que os

estudantes distingam novos problemas de pesquisa envolvendo outros conteúdos do

currículo.

Afirma Zamboni (2001, p. 54), que a observação “tem antes de tudo, de

perceber o objeto em suas relações com o sistema simbólico que lhe dá significado”.

“Um objeto observado pelo olho pode remeter a outras imagens formadas a

partir do olhar, o qual não é limitação da percepção do objeto em suas

características físicas imediatas, o olhar é ir além, é captar estruturas, é interpretar o

que foi observado” (ZAMBONI, 2001, p. 56).

A análise de imagens, em conformidade com a etapa observação da

pesquisa em arte formulada por Zamboni (2001), está pressupondo coleta de dados,

sendo assim, esta leitura de imagens foi pautada nas orientações da observação

científica.

19

Observação científica. É a técnica de coleta de dados na qual se utiliza da

aplicação dos sentidos físicos em relação a um objeto e da capacidade intelectiva

para examiná-lo, para de ele obter informações. Implica na atuação de um

observador utilizando determinado procedimento de observação.

A observação passa a ser científica à medida que for empreendida com

sistematização, planejamento, controle objetivo e registro metódico. A observação

científica acontece em conformidade a um plano de pesquisa e é passível de ser

verificada e controlada quanto à sua validade e segurança.

A observação é elemento básico, imprescindível em toda pesquisa científica,

pode ser utilizada em metodologia de encaminhamento quantitativo o qualitativo.

Observador. É quem realiza observações na condição de investigador, isto

é, quem atua preparado tecnicamente para observar.

Registro da observação. A registração pode ser efetuada no ato, no

momento da ocorrência, observando-se diretamente os eventos nos seus contextos,

sendo levadas em conta as influências de outras circunstâncias sobre o evento em

análise. Também é possível a filmagem para posterior extração de dados, com a

desvantagem de não captar os fatos intervenientes que se deram fora do ângulo

circunscrito.

Nas descrições das observações, visando à fidedignidade aos fatos e

exclusão de subjetividades, percepções deformadas e inconcludentes, devem

constar as seguintes informações:

1 As formas de participação do pesquisador, por exemplo: intensidade,

freqüência.

2 As circunstâncias da participação do investigador, por exemplo: local,

período, tensões, mudanças e decisões.

3 Os diversos instrumentos usados, por exemplo: fotografia, filmagem,

anotações de campo.

4 As técnicas utilizadas na observação.

5 Os dados observados, por exemplo: descrição dos sujeitos em seus

aspectos pessoais, o desenrolar do cotidiano da pesquisa, as situações que ocorrem

no curso do levantamento de dados (significações, percepções, hesitações,

interferências, conflitos, empatias etc.), os comportamentos diante da realidade e as

reflexões de campo. São incluídas informações concernentes à quantificação das

incidências, como por exemplo, a freqüência em que o evento se deu.

20

2.4 Etapa 4: Processos de trabalho criativo

O trabalho artístico é a produção criativa, a experimentação estética, a

expressão da imaginação, explorando procedimentos relativos à elaboração de obra

de arte.

Seguindo Zamboni (2001), a etapa processo de trabalho criativo

corresponde ao desenvolvimento da produção artística do aluno, onde exercitam

experimentações criativas e elaborações pessoais, processando as ideias

pesquisadas na abordagem da arte enquanto conhecimento teórico, e as

apreensões obtidas na apreciação de obras de arte. O trabalho prático será

resultante da inter-relação entre forma e conteúdo, organizando os conhecimentos

captados do universo plástico investigado e das vivências pessoais relacionadas ao

tema definido inicialmente como referência dos estudos.

Para Zamboni (2001, p. 56) “[...] processo de trabalho é uma fase da

pesquisa na qual, por meio de ações sistemáticas, procura-se chegar à

materialização de uma obra embasada pelas ideias e interpretações da observação”.

Explica ainda a possibilidade de haver superposições das etapas da pesquisa em

arte.

O processo de trabalho, principalmente em arte, não é algo linear, é um processo de idas e vindas, de intuição e de racionalidade que se interpõem no caminho da reconstrução representativa de uma realidade. É uma etapa eminentemente criativa, e que dá forma material e organizada a uma série de idéias e fatos coletados de uma determinada realidade. Embora não seja o momento mais característico, é o momento mais importante do desenvolvimento de uma pesquisa em artes, por que é exatamente quando se materializam as idéias (ZAMBONI, 2001, p. 57).

Objetivo. Produzir artisticamente articulando processos criativos, auto-

expressão, criticidade diante da realidade social e conhecimentos relacionados às

técnicas e aos movimentos artísticos.

Conteúdo. Processos de trabalho criativo; produção artística;

experienciação artística; montagem de exposição das produções artísticas.

21

Procedimentos. Explicação como fundamento inicial à prática; orientação

individual conforme a demanda das equipes; técnicas variadas de acordo com as

propostas de produção das equipes.

Recursos. Subsídios teóricos verificados no estudo orientado pelo roteiro e

pesquisa de campo; recursos diversos dependendo do projeto de criação de cada

equipe.

Exemplo abaixo: painel em estilo pop, explorando as características

pictóricas deste estilo.

“A vaca” - 2010. Criação artística de Isis Skarlet Krug, aluna do 2º ano do Ensino Médio, Colégio Bartolomeu Mitre, Foz do Iguaçu – PR. Técnica: guache sobre TNT. Foto: Ivanilda Fernandes.

2.5 Etapa 5: Resultado e interpretação (relatório d e pesquisa)

22

A etapa resultados e interpretação refere-se às conclusões dos estudos

redigidos na forma de textos originais e apresentados em seminário de pesquisa-

ação a fim de serem comparados, analisados, discutidos e avaliados.

Esta etapa implica na redação de relatório de pesquisa discorrendo sobre os

resultados obtidos pelos estudantes. Este texto tem o propósito de estabelecer

correlações entre o projeto, as etapas de desenvolvimento do processo e o resultado

final. Com caráter explicativo, evidencia o êxito desta proposta metodológica e dos

objetivos da disciplina como um todo.

Objetivos. Produzir elaborações pessoais de textos. Experienciar processos

básicos de pesquisa científica. Avaliar se a criação artística prática resultou de

processos de pesquisa.

Conteúdo. Relatório de pesquisa; definição e redação de relatório.

Procedimentos. Explicação como fundamento inicial à prática; orientações

individuais conforme as demandas das equipes. Redação de relatório de pesquisa;

execução de texto expondo o que foi estudado e empreendendo análise e

interpretação correlacionando as teorias, aspectos formais das obras apreciadas e

os resultados na forma de criação artística.

Recursos. TV pendrive, pendrive, impressora, papel A4.

O relatório de pesquisa destina-se à demonstrar a realização de uma tarefa,

no caso, principalmente, busca-se a verificação se a produção artística final foi

resultante do desenvolvimento de procedimentos de pesquisa. Por esta razão, a

ênfase no relatório é sobre os resultados, sobre as conclusões e sobre a aplicação

da pesquisa no desenvolvimento das etapas. No roteiro para o relatório de pesquisa

deve constar: título do projeto, autor, disciplina, orientador, período de tempo a que

se refere o relatório. No resumo são citados os principais resultados e conclusões,

introdução ao problema, os objetivos, a metodologia proposta. Na sequência são

dispostos a introdução, a metodologia, os resultados, a discussão (comentários), as

conclusões e as referências bibliográficas. Também podem constar as dificuldades

encontradas a causas destas dificuldades e como foram resolvidas.

Exemplo: Metodologia. Eu usei pesquisa de campo, porque queria ver se os

meus colegas iriam gostar da Arte Pop e por que. Eles responderam a um

questionário, que foi sobre uma obra de arte do Pop, com o título “Cat”, estudando

este quadro. As perguntas que fiz foram sobre o tema e sobre as características

visuais. Perguntei sobre o que estão vendo, o que significa para vocês (o que

23

entenderam) e se gostam e cada pergunta os colegas explicaram as respostas.

Também coloquei figuras de quadros de vários períodos junto com as figuras de Arte

Pop, para eles escreverem qual eles preferiam. Resultados. Foram mostradas obras

de 6 estilos diferentes. 40.7% gostaram mais da Arte Pop e 60.3% preferiram figuras

dos outros períodos.

Depois mostrei trabalhos da Arte Pop americana e os trabalhos do brasileiro

Romero Britto. O resultado foi 66,6% preferiram a obra do brasileiro Romero Britto e

33,3% preferiram o Pop americano da década de 50.

O total de 100% conseguiram explicar o que estavam vendo. Destes 14.8%

só conseguiram falar o óbvio, 18.5% escreveram que o artista queria fazer uma

figura bonita e 66.6% conseguiram entender o significado da imagem (criar estilo

pelo estilo; organizar cores e formas por elas mesmas; expressar sentimentos; dar

personalidade à figura representada e fazer releitura de um tema já feito por outros

artistas). O total de 29.4% não gostaram do tema porque é irreal, tolo, comum,

simplista, desinteressante, não é do meu agrado, não tem qualidades artísticas, não

desperta interesse, não surpreende, não passa mensagem, não atinge o espectador.

E um aluno disse não gostar de arte. O total de 70.5% gostaram do tema porque é

alegre, animado, bonito, engraçado, familiar, conhecido de todos, que todos gostam,

lembra a minha infância, tem simplicidade, é criativo, gostou do jeito criativo e

interessante que mostrou o tema. Todos os 100% perceberam os efeitos de como os

elementos visuais foram usados, mas 34.5% não conseguiram explicar estes efeitos

e como os elementos visuais foram usados e 65.5% conseguiram relacionar os

efeitos com a composição e os elementos visuais, explicaram como as linhas, cores

e formas deram uma mensagem. O total de 29.4% não gostaram do visual

(referiram-se à composição e elementos formais usados na obra), porque é

excessiva, exagerada, as cores não combinam, preferem cores originais do tema,

não gosta destas cores, sem sentido, muito colorido, mistura tudo, sem definição

correta, sem graça, sem noção, desagradável e um aluno disse que não sabe

explicar porque não gostou. O total de 68.5% dos alunos gostaram dos elementos

visuais e da composição do quadro porque gostaram das cores e do jeito que elas

foram usadas, o artista soube usar as cores com criatividade, é interessante, é muito

colorido, é atraente, tem contraste que destacou a figura, deu efeito de alegria,

divertimento, beleza, criatividade. Foi concluído que os alunos do 2D do Colégio

Bartolomeu Mitre gostaram da Arte Pop e principalmente da Arte Pop que está

24

sendo feita no Brasil na atualidade, que tem o Romero Britto como exemplo, porque

dá para entender o que o artista está representando, faz parte da nossa vida, e é

feito de um jeito atual, alegre, jovem é divertido e gostoso de ser visto.

Fiz um estudo da obra “Cat” pesquisando na internet para responder ao

roteiro e estudei as informações da pesquisa de campo que fiz com os colegas da

turma. Para fazer a pesquisa com a turma, resumi o roteiro em conteúdo e forma, o

que vê, entende, se gosta, para anotar a opinião da turma. No final crei o painel,

usando tudo isto que aprendi.

Exemplo de observações sobre a produção artística que permitem classificá-

la como resultante de investigação: “... a Arte Pop faz um tema simples de maneira

criativa, então, escolhi uma vaca como tema, porque queria surpreender e fazer uma

coisa diferente. Fiz uma lista de coisas para desenhar: cogumelo, caracol, vaca etc.

e escolhi a vaca. Para caracterizar o trabalho como Arte Pop, peguei um elemento

real, coloquei cores e o tamanho irreais, desenhei e colori, contornei e suas cores

foram bem diversificadas. A Arte Pop por si tem vários significados, um deles é

pegar coisas do dia-a-dia e trazê-las de forma irreal, com ironia e foi isso que fiz

juntando desenhos diversificados à vaca, para dar mais criatividade”.

3 Resultados verificados

Na primeira etapa buscou-se inicialmente a significatividade no exercício da

escolha do assunto e formulação do tema. A especificidade no modelo de

Hernández (1998) está no conceito da significatividade, como aspecto essencial do

projeto de trabalho. O estudo é iniciado por diagnóstico do conhecimento do aluno,

para estabelecer a revisão do significado dos conhecimentos formais. Isto é, a

significatividade no sentido de conectar os conhecimentos escolares aos interesses

dos estudantes, conscientes de sua ação na aprendizagem.

Um sentido da aprendizagem que quer ser significativo, ou seja, que pretende conectar e partir do que os estudantes já sabem, de seus esquemas de conhecimentos precedentes de suas hipóteses (verdadeiras, falsas ou incompletas) ante a temática que se há de abordar. É importante constatar que a informação necessária para construir os Projetos está sim

25

em função do que cada aluno já sabe sobre um tema e da informação com a qual se possa relacionar dentro e fora da escola (HERNÁNDEZ, 1998, p. 62 e 64).

Verificou-se no primeiro momento alguns casos de dispersão provocada pela

possibilidade de navegação na Internet, na sala de informática como ambiente

diferente de estudo. A liberdade na determinação do assunto também gerou dúvida

em alguns. A maioria dos alunos já tinha claramente um acervo de informações

adquiridas informalmente e surpreenderam com a variedade de interesses como a

cultura J Pop (arte popular japonesa), Arte Pop americana e brasileira, o automóvel

como suporte nas artes visuais, a arte medieval, o rosacrucianismo, dentre outros.

Na prática das teorias de Hernández (2000) que defende a aprendizagem

através de projeto de trabalho onde o aprender é centrado em problemas ligados à

realidade, ao contexto do aluno, aproximando o saber ministrado na escola com a

cultura do aluno. A cultura a vista deste autor é assim definida

[...] como conjunto de valores, crenças e significações que nossos alunos utilizam para dar sentido ao mundo em que vivem. Noção que abarca, na prática, desde a possibilidade de viajar pelo espaço e pelo tempo, o que torna possível a existência de um videogame (e seu valor simbólico), até as formas de vestir e de se comportar relacionadas à pertinência a um grupo, à moda e à identidade pessoal (HERNÁNDEZ, 2000, p. 180).

Houve 100% de envolvimento com motivação dos estudantes. Observou-se

entusiasmo advindo da oportunidade de estudar o assunto que gosta, da descoberta

da abrangência deste assunto e vinculação com a arte. Os alunos expuseram a

cultura pessoal. Houve manifestação de prazer e realização em ter oportunidade de

apresentar suas ideias e de ter o reconhecimento do valor dos seus conhecimentos

informais.

Mediante aos encaminhamentos teórico-práticos orientadores da práxis

pedagógica no ensino público estadual, para a disciplina arte (PARANÁ, 2008), as

etapas implementadas seguiram os seguintes preceitos:

1. O currículo composto por conhecimentos de arte sistematizados,

apresentados sob a forma de conteúdos estruturantes, que incluem os elementos

formais, a composição, os movimentos e períodos.

26

2 A abordagem dos conteúdos estruturantes nas manifestações artísticas

dança, música, teatro e artes visuais.

3 A teorização, a prática e a leitura de obras considerando a arte enquanto

conhecimento, ideologia e trabalho criador.

Os itens listados no roteiro orientador da análise do referencial teórico

abrangem os elementos formais, a composição e os movimentos e períodos. Este

estudo teórico concernente às artes visuais introduz o estudo das manifestações

artísticas dança, teatro e música. A associação entre as áreas artísticas aconteceu

em 18% dos casos, evidenciando a pouca familiaridade com o conteúdo movimentos

e períodos e insuficiência de subsídios além do campo das artes visuais. No

prosseguimento do conjunto de etapas envolvidas na implementação, 58.83 % dos

educandos executaram ações implicando necessariamente em estudo teórico,

experienciação artística e apreciação de produções artísticas, abordando a arte

enquanto conhecimento, ideologia e trabalho criador. No entanto, 11.76% dos

41.17% que não concluíram as atividades findaram o ano letivo como desistentes e

transferidos.

Buscou-se facultar aos educandos “aprender a aprender” e o questiona-

mento reconstrutivo” apresentados por Demo, na proposta “educar pela pesquisa”.

Demo (2007) descreve a educação pela pesquisa como processo onde a atuação do

professor é de motivador do trabalho, incentivador de iniciativas pessoais e

orientador, estabelecendo estratégias; e o educando, na condição de parceiro de

trabalho e de sujeito participativo, aprende a aprender, conjugando teoria e prática.

Sendo assim, a aula passa a ser suporte secundário e a pesquisa, o “ambiente

didático cotidiano”. A pesquisa, neste sentido, substituindo a didática reprodutiva, a

transmissão da informação e implicando em compreensão, análise crítica, síntese

com originalidade, processamento das informações organização dos dados,

interpretação, argumentação e elaboração própria.

Neste sentido, está sendo revista a conotação da palavra “pesquisa” na

escola e requalificada sua significação de reprodução de textos. Assim, a pesquisa

está sendo considerada na sua acepção enquanto recurso pedagógico, elaborada

por meio de dinâmicas onde interagem educador e educandos na construção do

conhecimento.

Observou-se, conforme os percentuais apresentados, que para a maioria

dos alunos da turma a proposta foi recebida com abertismo e grande entusiasmo

27

com a possibilidade de auto-direcionamento dos próprios estudos e com as

descobertas advindas do percurso, no entanto, também foram identificados desafios

no propósito de aprender a aprender. Alguns alunos disseram ser complicado, difícil,

negando-se a participar. Alguns encontraram dificuldade com a organização da

sequência das atividades o que comprometeu a conclusão das etapas (o aluno falta

à aula e chega desatualizado quanto ao que está sendo realizado ou esquece em

casa o que já fez e não tem como dar continuidade aos trabalhos). Paradoxalmente,

o envolvimento e motivação inicial configuraram-se como principais obstáculos ao

desenvolvimento do projeto, dificultando a apreensão concernente à estrutura de

projeto. Isto porque devido a este envolvimento alguns alunos preferiram conduzir os

seus estudos livremente, desconsiderando a estrutura de apresentação de um

projeto que entenderam como complicadora desnecessária.

Também aconteceu de estudantes ouvirem tudo o que a professora tinha a

dizer, afirmando ter entendido e concordando e depois desconsideraram tudo e

continuaram desenvolvendo os estudos ao seu modo. Ocorreu incompreensão sobre

o que foi orientado, gerando erros nas tarefas. Houve acomodação ao grupo, sem

produção efetiva. Educandos revelaram-se relutantes, não querendo nem ouvir o

que a professora tinha a dizer, recusando-se a raciocinar sobre as orientações

técnicas. Deu-se inclusive relutância contra o processo, decorrente da estranheza

extrema provocada pelas atividades que assim foi expressa verbalmente: “por que a

senhora não dá aula igual todo mundo?”, “bimestre que vem será diferente?”.

No conjunto de etapas os alunos formularam projetos de estudos seguindo

as premissas da pesquisa em arte. Quanto à caracterização da pesquisa em arte,

Zamboni (2001) menciona as seguintes particularidades: identificação de um

problema; premeditação e reflexão; organização metodológica; busca de soluções

previstas; segurança nos resultados; racionalidade interagindo com a intuição.

Fases da pesquisa em arte, listadas por Zamboni (2001): definição do

objeto, elaboração do problema, análise de referencial teórico, elaboração de

hipóteses, prática da observação; processo de trabalho; resultado e interpretação.

Percentuais de efetivação das fases da pesquisa em arte: 94.12%

elaboraram os temas e títulos de pesquisa; 85.3% elaboraram os problemas e

hipóteses de pesquisa; 85.3% realizaram leitura de imagens e observação de obras

orientada pelo roteiro de estudos; 64.71% concluíram a análise de referencial

teórico; 79.42% produziram criações artísticas, participando da etapa processo de

28

trabalho e 70.59% apresentaram os resultados e interpretação organizados em

relatório de pesquisa. Todos os alunos (100%) dos que freqüentaram até o final do

ano letivo foram aprovados.

Iniciando-se as orientações sobre a forma de organização e apresentação

das informações levantadas aconteceram dificuldades tais como: redação de tema

incoerente com o conteúdo estudado, isto é, o tema não corresponde ao conteúdo

do projeto; desistência do tema por considerar difícil o seu desenvolvimento; opção

por outro tema ou problema de pesquisa na busca de facilitação; insuficiência de

fontes de dados exigindo opção por outro tema de estudo.

A especificidade da pesquisa em arte-educação está na condução da

investigação articulada à produção artística, pronunciada por Zamboni (2001), nos

fundamentos da “pesquisa em arte”. Do ponto de vista deste autor, este processo é

qualificado pelo domínio intelectual e consciência do autor quanto ao

desenvolvimento do trabalho e dos parâmetros teóricos em que está atuando, que

envolvem ordenações racionais, o pensamento linear e analítico, concentração e

outros atributos do pensamento, interpostos à sensibilidade enquanto experiência

sensorial. Neste contexto diferencia-se a prática da produção artística puramente

intuitiva da criação artística resultada de pesquisa.

No relatório final os 58.83 % dos estudantes concluintes das etapas

apreciação, teorização e criação indicaram a conscientização sobre o referencial

teórico em relação à prática, envolvendo conteúdo e forma, embora em alguns casos

os resultados obtidos estejam exclusivamente no âmbito da temática do trabalho de

arte. No processo da aluna Isis Skarlet Krug, usado como exemplo, houve o

tratamento à forma e ao conteúdo decorrentes das investigações envolvendo

estudos teóricos e apreciativos. Pois utilizaram imagens do dia-a-dia de modo lúdico

como tema e na composição exploraram cores intensas, policromia, detalhismo,

contornos bem definidos, bidimensionalidade, conforme os princípios da Arte Pop

brasileira, adotado como assunto do estudo.

Na verificação da eficiência, eficácia e validade da proposta, vale considerar

algumas observações registradas na implementação do projeto.

Existe uma visão da disciplina arte como lazer, disciplina que não reprova,

conforme exemplifica o comentário a seguir: “espera aí professora! Arte está no

bloco dois para a gente relaxar”. As disciplinas foram divididas em dois blocos,

29

sendo cada bloco cumprido em metade do ano letivo e a disciplina arte está junto às

disciplinas da área das ciências exatas.

Há um entendimento da pesquisa significando cópia de texto ou impressão

de texto da Internet, embora alguns professores orientem quanto às normas da

ABNT. O entusiasmo inicial com a liberdade de escolha do tema foi abalado quando

introduzidas as normas referentes à apresentação dos conteúdos. Os procedimentos

de pesquisa foram compreendidos como restrição à liberdade criativa, exigência

dificultadora e desnecessária. Em algumas situações a professora foi

desconsiderada na tentativa de trabalhar a forma técnica a partir das informações

organizadas de modo espontâneo. Alguns alunos preferiram desistir do tema à ter

que fazer adequação do conteúdo à forma, optando por algo mais fácil. Neste

contexto, fez-se necessário a conscientização sobre a existência e significação

destas normas na produção do conhecimento.

Esta resistência de alguns estudantes também se deve ao entendimento da

arte como espontaneísmo exclusivo, como exemplifica a citação de uma aluna “Eu

até estava gostando, mas depois de tudo isso, não estou gostando mais; sempre

pensei que arte fosse para ser apreciada e não entendida”. A arte é definida pelos

estudantes como expressão de sentimentos, tanto referindo-se à sua produção

quanto à sua compreensão. Eles têm estabelecido os seguintes critérios no

julgamento do que seja arte: o realismo, a beleza clássica, a execução que exija

habilidade técnica, a referência ao mundo concreto e a reprodução seguindo as

normas clássicas sobre a composição com os elementos visuais. Estes conceitos

são antagônicos, levando a concluir que os estudantes desconhecem a extensão do

sentido da expressividade na arte e os propósitos da arte clássica.

Também foi identificado o desconhecimento da turma de modo geral sobre a

significação dos termos técnicos usados no roteiro de estudos.

Visando a superação desta visão restrita e apriorística e facultar o acesso

aos subsídios necessários à compreensão da evolução das formas de

representação e à investigação da estrutura das obras de arte, foi desenvolvido um

estudo preparatório. Foram apresentados slides acompanhados de explicação,

análise comparativa e atividades práticas sobre cada item do roteiro. A experiência

estética foi apresentada como esclarece Nunes (1966) constituída por aspecto

subjetivo (o observador que sente e julga, exercitando o prazer sensível, os

impulsos, os sentimentos e emoções) e o aspecto objetivo (as características

30

formais que provocam o que sentimos e julgamos). Também foi explorada a arte

enquanto fenômeno social, do ponto de vista deste autor.

Mas, por outro lado, a Arte excede, de muito, os limites das avaliações estéticas. Modo de ação produtiva do homem, ela é fenômeno social e parte da cultura. Está relacionada com a totalidade da existência humana, mantém íntimas conexões com o processo histórico e possui a sua própria história, dirigida que é por tendências que nascem, desenvolvem-se e morrem, e às quais correspondem estilos e formas definidos. Foco de convergência de valores religiosos, éticos, sociais e políticos, Arte vincula-se à religião, à moral e à sociedade como um todo, suscitando problemas de valor (axiológicos), tanto no âmbito da vida coletiva como na da existência individual, seja eesta a do artista que cria a obra de arte, seja a do contemplador que sente os seus efeitos (NUNES, 1966, p. 25).

Os percentuais apurados mostram que a pesquisa na educação é possível e

viável, porém exigindo da professora ações como:

1 A interdisciplinaridade com a disciplina português na redação dos textos

como suporte. Nesta implementação foram trabalhados procedimentos de pesquisa

e a apresentação técnica de conhecimentos segundo as normas da ABNT, no

entanto, não se chegou ao estudo aprofundado de produção de texto. A interação

com professor de português faltou devido à separação destas duas disciplinas no

modelo “bloco”adotado pelo colégio. Neste modelo as disciplinas correspondentes a

uma série são divididas em dois blocos, a serem cumpridos cada um em seis meses

e nesta divisão a disciplina arte está junto às disciplinas da área de ciências exatas.

2 Devido ao caráter iniciante fez-se necessário na orientação aos estudos a

simplificação, síntese, adequação do vocabulário, definição de termos técnicos,

exemplificação, revisão, repetição e correlações entre as informações. À afirmação

de Bastos e Keller (1993), concernente ao alcance ou grau de resultados como fator

diferenciador entre a pesquisa de um cientista e de um estudante, acrescenta-se a

adequação das orientações na construção do processo.

3 Foi exigido da professora visão geral de conhecimentos da área e sobre

procedimentos de pesquisa, porque neste contexto sua atuação aconteceu conforme

as demandas dos estudantes e não mais com a aula pronta e pré-estabelecida.No

questionamento buscando-se a reconstrução do conhecimento, à vista das teorias

de Demo (2007) os estudantes têm suas realizações pessoais de acordo com seus

ritmos, dificuldades, níveis culturais e intelectuais individuais. Dessa forma, o

31

professor atua com estas individualidades, oferecendo tratamento diferenciado.

Cada projeto em desenvolvimento corresponde a um processo específico de ensino

e de aprendizagem.

4 Conclusão

A implementação deste projeto fomentou nos estudantes a sondagem e

integração entre diversas áreas do conhecimento, acessando processos de

pesquisa e experienciando em outros níveis de resultados, os mesmos processos

vivenciados por artistas-investigadores ou investigadores-artistas. Chegaram a

explorar de modo consciente os processos de pesquisa, enquanto suporte técnico,

com propósitos artísticos. Isto é, expressaram conteúdos teóricos nas suas criações,

mas veiculando valores estéticos próprios. Nas produções artísticas houve interação

entre aspectos racionais e intuitivos, considerando-se a conscientização sobre o

referencial teórico que articulou as manifestações de práticas criativas identificada

nos relatórios finais.

Porém, foi exigido no andamento das atividades: sensibilizar e conscientizar

os alunos para o processo; prover os pré-requisitos necessários; a professora dispor

de conhecimentos abrangentes sobre as áreas da arte e pesquisa, a fim de atender

as demandas da turma em solicitações individuais; adequar as orientações relativas

ao processo investigativo à condição de iniciantes da turma; introduzir novas

técnicas de pesquisa científica conforme a evolução da capacidade de apreensão da

turma; interdisciplinaridade com a disciplina de Português e atendimento

individualizado aos educandos.

Os estudantes envolvidos na pesquisa, na maioria, obtiveram resultados

positivos na implementação da pesquisa em arte-educação quanto a seus aspectos

técnicos, pedagógicos e motivacionais. Constatou-se que a pesquisa em arte-

educação é válida enquanto método de ensino de arte, por tornar a aprendizagem

mais motivadora e significativa, mediante as possibilidades de reconstrução do

conhecimento expressa em trabalhos artísticos.

Os procedimentos utilizados proporcionaram resultados favoráveis, como é

possível constatar nos percentuais referentes aos desempenhos dos educandos.

32

Constituem possíveis contribuições dessa pesquisa para a área educacional:

a proposição de possibilidade metodológica para a disciplina arte; a avaliação dos

processos de pesquisa aplicados ao ensino de arte; a instigação da inclusão da

pesquisa científica na área educacional, fornecendo referências para futuras

proposta educacionais.

Referências bibliográficas

BARBOSA, ANA MAE. A imagem no ensino de arte. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1994.

BASTOS, Cleverson; KELLER, Vicente. Aprendendo a aprender:

introdução à metodologia científica. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 8. ed. Campinas: Autores

Associados, 2007.

HERNÁNDEZ, Fernando. A organização do currículo por projetos de trabalho. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000.

MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

NUNES, Benedito. Introdução à filosofia da arte. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1966.

OLIVEIRA, Rosa Maria. Novas tecnologias, novas fronteiras de criação artística: percursos e desafios. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/oliveira-rosa-novas-tecnologias-novas-fronteiras-criacao-artistica.pdf. Acesso em: 30 maio 2010.

PARANÁ - Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica: arte. Curitiba: SEED, 2008.

TOMANIK, Eduardo Augusto. “Conversas” sobre a pesquisa em ciências sociais. 18. ed. Maringá: UEM, 1994.

33

ZAMBONI, Silvio. A Pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ciência. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2001.

Anexos

Acervo artístico e atividades desenvolvidas visando compreensão do roteiro

de estudos:

1 Recursos usados nas produções artísticas

A atividade envolveu a observação de imagens do acervo da arte

contemporânea que utilizam matéria prima e técnicas não convencionais.

Obras analisadas:

Trouxas ensanguentadas - Arthur Barrio (carne, osso, sangue).

Projeto coca cola – Cildo Meireles (garrafas em circulação no mercado).

Inserções em circuitos ideológicos – Cildo Meireles (dinheiro).

Campo de relâmpagos – Wlate de Maria (relâmpagos).

Antropometria – Yves Klein (corpo humano entintado).

Sem título – Niki de Saint Phalle (papel machê).

Liquidação geral – Niki de Saint Phalle (pintura com espingarda).

Nanas – Niki de Saint Phalle (poliéster, obra com 27 metros).

Uma linha feita ao caminhar. Richard Long (o chão natural e o próprio

caminhar).

Merda de artista. Piero Monzoni (fezes humana).

Signing a model as (living) – Piero Manzoni (escultura viva).

Des compressão – Artur Barrio (fotografia do próprio rosto do artista contra

um vidro).

Ana Holck – Rotatória (aço, alumínio e policarbonato).

Série metamorfose – Frederic Fontenoy (experiências com fotografia).

Pintura secreta – Mel Ramsden (a escrita).

Sem título – Baron Margo (construções com sucata).

Atividade prática. Realização de construção tridimensional a partir de

materiais alternativos, expondo oralmente a pretensão com o trabalho criado.

2 Elementos visuais

34

Houve a definição e caracterização formais dos elementos visuais (ponto,

linha, superfície ou forma, volume, luz e cor), identificação dos efeitos obtidos devido

ao modo como são empregados e verificação do uso diferenciado destes elementos

nos diversos estilos e períodos artísticos.

Obras analisadas:

Obras relativas ao estudo da cor:

Menina com guarda-chuva japonês – Ernst Ludwig Kirchner

(Expressionismo).

Madame Matisse retrato com uma faixa verde – Henri Matisse (Fauvismo)

A primeira bailarina – Edgar_Degas (Impressionismo ).

Girassóis – Vincent Van Gogh (Pós-Impressionismo).

Obras relativas à linha:

Linhas concêntricas: Composição 1 – Edeltrand Klopfer (Op Art).

Linhas curvas: A dança – Henri Matisse (Fauvismo).

Linhas diagonais: Black series II – Frank Stella (Minimalismo).

Linhas divergentes: composição_3 – Edeltrand Klopfer (Opt Art).

Linhas horizontais: untitled_1980 – Don Judd (Minimalismo).

Linhas onduladas: Cataract 3 – Bridget Riley (Op_Art).

Linhas paralelas: Zebra – Victor Vasarely (Op Art).

Linhas perpendiculares: Hyena stomp – Frank Stella (Minimalismo).

Composição em vermelho amarelo e azul – Piet Mondrian (Neoplasticismo).

Linhas quebradas: Lovecraft poster – Derek C. F. Pegritz (Op_Art).

Linhas verticais: Bora 3 – Victor Vasarely (Op Art).

Obras relativas à luz:

Ronda noturna – Rembrandt van Rijn (Barroco).

Transfiguração – Rafael Sanzio (Renascimento).

Obras relativas ao Plano – superfície:

Com a cunha vermelha golpeie os brancos – Eliezer Markovitch Lissitzky

(Construtivismo).

Quadrado preto sobre fundo branco – kasimir Malevich (Suprematismo).

Árvore da vida – Gustav Klimt (Art_Nouveau).

Obras relativas ao ponto:

Alguns círculos – Vassily kandinsky.

35

Tarde de domingo na Ilha de Grande Jatte – Georges Seurat (Neo-

Impressionismo).

Obras relativas à textura:

Natureza morta com cadeira de palha – Pablo Picasso (Cubismo).

Leaning left – Steve Mills (Hiper-realismo).

La maja vestida – Francisco de Goya (Romantismo).

Obras relativas ao volume:

Construções tridimensionais: Unititled 1965 – Robert Morris (Minimalismo).

Ilusão de óptica: Vega-nor – Victor Vasarely (Op Art).

Escultura: O Pensador – Auguste Rodin (Impressionismo).

Luz e sombra: A virgem das rochas – Leonardo da Vinci (Renascimento).

Perspectiva: keple-gestalt 1968 – Victor Vasarely (Op Art).

Quarta dimensão: Tête de femme – Pablo Picasso (Cubismo).

Atividade prática. Reinterpretação ou releitura. Técnica livre.

Interpretação de tema clássico na arte usando outras orientações estilísticas

ou estilo pessoal, procedendo variações na composição com os elementos formais

para atingir este propósito. Primeiramente foi requerida identificação das

características que especificam o tema escolhido, por exemplo, no tema “vênus”

representado em diversos períodos da arte pagã, sempre aparece a beleza, a

juventude, a graça e sensualidade revelados na figuração do corpo feminino nu.

Seguidamente os estudantes criaram nova apresentação estilística para o tema

clássico escolhido ou formulação original na representação do tema, dentro de outro

estilo já conhecido, mas diferente dos exemplos verificados.

Como exemplificação para esta atividade utilizou-se slides de obras

entituladas “Venus”, executadas em vários períodos da história. Houve leitura destas

criações estabelecendo-se estudo sobre a articulação dos elementos visuais na

constituição dos estilos artísticos. As obras entituladas “vênus” dos períodos Pré-

História e Grécia clássica ilustraram esta atividade e também as criações dos

seguintes artistas: Fernando Botero; Clara Cavendish (2007); Sandro Botticelli;

Salvador Dalí; Auguste Rodin; Ticiano Vecellio e Lorenzo Lotto.

3 Gêneros

Após a definição teórica dos gêneros, os alunos classificaram obras

artísticas quanto ao gênero representado.

Obras analisadas:

36

Figura humana:

As Meninas – Diego Velasquez (Barroco).

As Meninas – Pablo Picasso (Cubismo).

Os Retirantes – Cândido Portinari (arte brasileira).

Madame Monet and her Son – Clode Monet (Impressionismo).

O Grito - Eduard Munch (Expressionismo).

Gênero:

A Lição de Anatomia do Dr. Tulp – Rembrandt (Barroco).

The Milkmaid – Van Vermeer (Barroco).

Marinha:

Paisagem com Canoa na Margem – Alfred Emil Andersen (arte brasileira).

Natureza morta:

Natureza Morta - Paul Cézanne.

Violão, Copo e Garrafas – Amedée Ozenfant (Purismo).

Nu artístico:

David – Donatello de Niccolo (Renascimento).

Olympia - Edouard Manet (Impressionismo).

Vênus – (Pré-História).

Davi – Michelangelo Buonarroti (Renascimento).

Objetos:

Roda de Bicicleta – Marcel Duchamp (Dadaísmo).

Coke - Andy Warhol (Pop Art).

Ceci n´est pas une pomme – René Magritte (Surrealismo).

Paisagem:

Water Lilies – Clode Monet (Impressionismo).

O Balanço – Jean Honoré Fragonard (Rococó).

Egg Born – Salvador Dalí (Surrealismo).

Paisagem urbana:

Piazza a Ditalia – Giorgio de Chirico (pintura metafísica).

Noite Estrelada – Vincent Van Gogh (Pós-Impressionismo).

Retrato:

Senecio – Paul Klee (Modernismo - Bauhaus).

Madame Matisse Retrato com uma Faixa Verde – Henri Matisse (Fauvismo).

A Boba – Anita Malfatti (Modernismo brasileiro).

37

Atividade prática. Desenho a lápis de cor, recorte e colagem. Composição

incluindo os gêneros paisagem, natureza morta e figura humana. Elaboração de

natureza morta composta por montagem com imagens recortadas. Desenho de

figura humana integrando-a ao recorte. Contextualização da natureza morta e da

figura humana, inserindo-os em uma paisagem.

4 Forma: geometrização e organicidade

Após a definição de formas orgânicas e formas geométricas os estudantes

classificaram as imagens quanto à estas características.

Obras analisadas:

Formas geométricas:

Gravitacao – Vasssily kandinsky (Expressionismo).

Suave elevacao – Vassily kandinsky (Expressionismo).

Upward – Vassily kandinsky (Expressionismo).

Formas orgânicas:

Alcoolismo e neurose sobre tela – Jackson Pollock (Action Painting).

Auto-retrato – Leonardo da Vinci (Renascimento).

Azul celeste – Vassily Kandinsky (Expressionismo).

Composições – Vassily Kandinsky(Expressionismo).

5 Definição das formas

Simultaneamente à explicação sobre a significação dos termos que

categorizam as definições das formas houve a análise das imagens.

Obras analisadas:

Abstracionismo:

Composição VIII – Wassily Kandinsky (abstracionismo).

No Azul – Wassily Kandinsky (abstracionismo).

Blue Poles: number II - 1952 - Jackson Pollock (Expressionismo Abstrato).

Estilização:

Isis – pintura egípcia (Egito Antigo).

Les Demoseilles – Pablo Picasso (Cubismo).

Abaporu – Tarsila do Amaral (Modernismo brasileiro).

Naturalismo:

Auto-retrato - Gustave Courbet (Realismo).

Verismo:

Escultura retratística romana.

38

Idealismo:

Mona Lisa – Leonardo da Vinci (Renascimento).

Dama de Arminho – Leonardo da Vinci (Renascimento).

O Nascimento de Vênus – Sandro Botticelli (Renascimento).

Vênus – Período Helenístico (Grécia Clássica).

Realismo Fantástico:

Persistência do Tempo – Salvador Dali (Surrealismo).

Tentação de Santo Antônio – Salvador Dali (Surrealismo).

O Espelho Falso (Le Faux Miroir) – René Magritte (Surrealismo).

Hiper-realismo:

Pintura do artista Guilherme Fidalgo (Contemporaneidade - Hiper-realismo).

Esculturas dos artistas Ron Mueck e Sam Jinks (Contemporaneidade -

Hiper-realismo).

Atividade prática. Desenho de observação. Abstração e estilização de

desenho realista. Desenho a grafite e a lápis de cor.

Primeiro desenho. Desenho de observação de objeto presente no âmbito da

escola, explorando técnicas de caracterização da textura e volume, por meio de

linhas e uso de recursos visando a proporção das partes em relação ao todo,

constituindo uma representação realista.

Segundo desenho. Elaboração de realismo fantástico concernente ao

primeiro desenho naturalista.

Terceiro desenho. Estilização do primeiro desenho dando ênfase às linhas

fundamentais na definição da forma e excluindo os detalhes.

Quarto desenho. Obtenção de abstração ampliando-se um detalhe da

terceira criação.

Fonte do exercício: NETO, Onofre Penteado. Desenho Estrutural. São

Paulo: Perspectiva. 2. Ed. 1981.

6 Espacialidade

Obras analisadas:

Espaço bidimensional: saturno devorando um hijo – Francisco de Goya

(Romantismo).

Planimetria: perspectiva aérea: Sagrada família – Rafael Sanzio

(Renascimento).

Perspectiva linear: última ceia – Leonardo da Vinci (Renascimento).

39

Espaço polisensorial: Escavação – Willem de Kooning (Expressionismo

Abstrato).

Espaço virtual e ilusão de óptica: vonal-stri - Victor Vasarely (Op Art).

Interação entre positivo e negativo: Etude Copollo – Victor Vasarely (Op Art).

Espaço ausente: Quadrados com círculos concêntricos – Vassily Kandinsky

(Expressionismo).

Atividade prática. Releitura da obra “Última Ceia”, explorando a perspectiva.

7 Expressividade e racionalismo

Inicialmente foram definidas as expressões racionalismo e expressividade no

âmbito das artes visuais. Posteriormente, houve análise de obras de arte buscando a

identificação aspectos visuais determinando esta classificação.

No conjunto de slides estão reunidos obras dos principais movimentos do

Modernismo. Também estão incluídas duas obras de Van Gogh, usadas por artistas

do Modernismo como referências em releituras, exemplificando como um mesmo

tema pode ser organizado com racionalismo e também com expressividade e que a

expressividade não se refere necessariamente ao significado ou tema da obra, mas

ao uso dos recursos pictóricos.

A classificação das últimas imagens os alunos desenvolveram sozinhos,

incluindo a identificação dos gêneros e definição das formas, revendo os conteúdos

estudados nas atividades anteriores.

Obras analisadas:

Exemplos de obras que visam a racionalidade, a logicidade e a objetividade:

Uma e três cadeiras – Joseph Kosuth (Arte Conceitual).

Móbile 19 – Alexander Calder (Arte Cinética).

Arithmetic – Theo Van Doesburg (Concretismo).

Monumento a III internacional – Vladimir Tatlin (Construtivismo).

Guernica – Pablo Picasso (Cubismo).

O beijo – Pablo Picasso (Cubismo).

Cão na coleira – Giacomo Balla (Futurismo).

Velocidade de uma motocicleta – Giacomo Balla (Futurismo).

Três elementos – Ronald Bladen (Minimalismo).

Early sculptures – Robert Morris (Minimalismo).

Poltrona vermelha e azul – Piet Mondrian (Neoplasticismo).

Triple radial II – Gerald Oster (Op Art).

40

Blonde waiting (loura esperando) – Roy Lichtenstein (Pop Art).

Chaise longue Le Corbusier – Ler COrbusier (Purismo).

Quadrado branco sobre fundo branco – Kazimir Malevitch (Suprematismo).

Disco de Newton 4 – Frank Kupka (Orfismo).

The Creditors (design do portfólio Timon of Athens, 1912, publicado em 1913

– Wyndham Lewis (Vorticismo).

Exemplos de obras que visam a expressividade, o emocionalismo, o lirismo,

a ilogicidade e o romantismo:

A fonte – Marcel Duchamp (Dadaísmo).

Girassóis – Ernst Ludwig Kirchner (Expressionismo).

Pintura de Erna - Ernst Ludwig Kirchner (Expressionismo).

Número 32 - Jackson Pollock (Expressionismo Abstrato).

Barcos no porto de Collioure – André Derain (Fauvismo).

Carnaval de Arlequim – Juan Miró (Surrealismo).

Painting of Rooster – Juan Miró (Surrealismo).

Atividade prática. Pintura corporal. Expressão de um tema. Exercício em

grupos, executando pintura corporal que expresse um determinado tema subjetivo.

Interpretação performática com registro fotográfico.

8 Identificação dos conteúdos (temática) e função d os objetos

artísticos nos períodos da Pré-História à contempor aneidade

Houve conceituação de “arte pela arte” e arte utilitária. Posteriormente

aconteceu a identificação de conteúdos de obras de arte em conformidade com os

períodos em que foram produzidas.

Exibição de criações de designers e estilistas abrangendo várias áreas do

consumo, facultando visão da versatilidade da arte presente na vida cotidiana atual.

Obras analisadas:

Poltrona Egg. Arne Jacobsen – 1957.

Chaise Le Corbusier – Le Corbusier – 1929.

Museu MON em Curitiba – Oscar Niemeyer.

Museu Nacional Brasília – Oscar Niemeyer.

Museu de Arte Contemporânea (Rio de Janeiro) – Oscar Niemeyer.

Congresso Nacional (Brasília) – Oscar Niemeyer.

Palácio do Planalto (Brasília) – Oscar Niemeyer.

Palácio da Justiça (Brasília) – Oscar Niemeyer.

41

Palácio do Itamaraty (Brasília) – Oscar Niemeyer.

Exibição do site abaixo onde constam trabalhos de figurinistas inspirados em

obras de pintores famosos.

http://www.lucitex.com.br/blog/index.php?option=com_blog_calendar&year=2

010&month=05&modid=62&limitstart=20

Atividade prática. Seminário objetivando formulação de críticas e

compreensão da arte contemporânea. Os estudantes pesquisaram e debateram os

conteúdos, propósitos, aplicação, utilidade, funções, importância da arte dos

primórdios da pré-história à industria cultural.

9 Estrutura visual-perceptiva

Para compreensão das relações entre a organização visual e a expressão

de informações, idéias e emoções (as relações entre conteúdo, forma e percepção)

foi estabelecido confronto entre obras com características formais bastante distintas.

Obras analisadas:

A Dança – Alphonse Mucha (Art Nouveau).

A beata Ludovica Albertoni - Gianlorenzo Bernini (Barroco).

O príncipe Rahotep e sua esposa Nofret (Egito – 2500 AC).

Catedral de Santa Sofia – mosaico (Idade Média).

A Virgem Maria (arte românica – Idade Média).

Casamento da Virgem – Rafael Sanzio (Renascimento).

A liberdade guiando o povo – Eugène Delacroix (Romantismo).

10 Espectador

Foi empreendido estudo de imagens e vídeos exemplificando as diversas

atuações dos espectadores diante das obras de arte, sendo estas interações

programadas e provocadas pelo objeto artístico. Isto é, a relação arte e platéia

compondo o projeto de criação.

Obras analisadas:

Produção artística de objetivos para causar sensação no espectador, que

passa a integrar a obra:

Estruturação do self – objeto relacional – Lygia Clark (contemporaneidade

brasileira).

A casa é o corpo – labirinto – objeto relacional - Lygia Clark

(contemporaneidade brasileira).

42

Arquiteturas biológicas – objeto relacional – Lygia Clark (contemporaneidade

brasileira).

Pintura 3D – Julian Beever (contemporaneidade).

Zebra – Victor Vasarely (Op Art).

Imagens que provocam efeito visual de movimento:

http://letrasdespidas.wordpress.com/2008/02/27/op-art/

Manifestações artísticas envolvendo a interação entre objeto de arte e

espectador:

Bichos – Lygia Clark (contemporaneidade brasileira).

Obras de arte objetivando a fruição, a apreciação:

Discóbolo – Miron (Grécia Clássica).

Vênus de Milo (Grécia Clássica).

Poseidón do cabo Artemision (Grécia Clássica).

A Pietá – Michelangelo (Renascimento).

David – Michelangelo (Renascimento).

Moisés – Michelangelo (Renascimento).

Mona Lisa – Leonardo da Vinci (Renascimento).

Obras de arte objetivando a conscientização do observador:

Anete, filha de sem-terra - Sergipe, anos 90 – Sebastião Salgado

(contemporaneidade brasileira).

Gourma-Rharous Mali, 1985 – Sebastião Salgado (contemporaneidade

brasileira).

Ensaio a luta pela terra – Sebastião Salgado (contemporaneidade brasileira).

A doutrinação como meta da arte:

Madonna – Giotto di Bondone (Idade Média Gótica).

Catedral de Notre-Dame de Paris (Idade Média).

Julgamento final – Catedral de Saint Lazare de Autun (Paris – 1130).

Intervenções no ambiente, interagindo com o espectador (instalações):

Borboletas do Pantanal - Maria Eugenia Lima (contemporaneidade

brasileira).

Instalações do artista brasileiro Erneesto Neto:

http://themillstone.blogspot.com/2010/10/ernesto-neto.html

Intervenção urbana (street art), tendo como finalidade a recriação ou

particularização de espaços urbanos, com conteúdo ideológico, social e/o político:

43

Cara da favela – JR (fotógrafo francês) - Morro da Providência no Rio de

Janeiro (contemporaneidade brasileira).

Sem título – Gago (pseudônimo) - Rio de Janeiro (contemporaneidade

brasileira).

A concretização do objeto de arte com a sua utilização pelo espectador:

Parangolé – Hélio Oiticica (contemporaneidade brasileira).

Obras de arte objetivando impactar o espectador:

Fountain (fonte) – Marcel Duchamp (Dadaísmo).

Como exemplificação da interação entre obra e espectador, onde a reação

de impacto é prevista na concretização do projeto artístico foram utilizados vídeo

sobre arte contemporânea brasileira ilustrando a Bienal de Arte de São Paulo – 2008

e 2010, principal evento nacional no âmbito das artes visuais:

Registro do acervo da 29ª Bienal de Arte de São Paulo 2010:

http://www.youtube.com/watch?v=HeEeETHvYLs&feature=related

Reportagem sobre as polêmicas provocadas pelas bienais 28ª e 29ª:

http://www.youtube.com/watch?v=N56ePtj1f4A&NR=1

Registro da reação dos pichadores ao espaço “vazio” de um dos pavimentos

do prédio da bienal, evento 28ª Bienal de Arte de São Paulo 2008, que pretendia

chamar atenção para a necessidade de discussão sobre a arte:

http://www.youtube.com/watch?v=72Enm63yLCk&feature=related

Reportagem explicitando as polêmicas em torno da Bienal de Arte de São

Paulo 2010:

http://www.youtube.com/watch?v=uCqcpdXLKsU&feature=related

Série de desenhos entitulada “Inimigos”, de autoria do artista Gil Vicente:

http://www.youtube.com/watch?v=qA2KWIAGhWo&feature=related

Entrevista com o artista Gil Vicente, em 25 de outubro de 2010, no programa

Jô Soares, onde foi discutida a polêmica em torno de seus desenhos, representando

ele próprio matando personalidades públicas da política:

http://www.youtube.com/watch?v=m5xiXze3vgU&feature=related

“Soltem os urubus”

Registro da manifestação pública dos defensores dos animais em reação à

obra de Nuno Ramos que envolveu a permanência de urubus em uma jaula, no

interior do prédio da Bienal:

http://www.youtube.com/watch?v=OMHD3V8PsFs&feature=related

44

http://www.youtube.com/watch?v=x2PQ34VtabE&NR=1

Entrevista com o artista Nuno Ramos sobre a reação do pública aos urubus

em gaiola que foram usados em sua criação:

http://www.youtube.com/watch?v=4OvIGcSc3Ig&NR=1

A exposição “Emoção Artificial 5.0 Autonomia Cibernética”, que entitulou a

“5ª Bienal Internacional de Arte e Tecnologia”, ocorrida no ano 2010 foi mostrada

como exemplo da reação da obra à ação humana:

http://www.youtube.com/watch?v=NTAhef4lY-Q

Atividade prática. Em equipes, os estudantes criaram instalações ou objetos

relacionais objetivando a integração da turma de alunos. Os recursos plásticos

ficaram a critério das equipes.