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O Ser, o Existir e a Noção de [email protected]
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DA LÓGICA, METAFÍSICA, DO SER E DO EXISTIR
Paulo Senise Lisboa
“ As questões que nos parecem mais simples, sejam de ordem conceitual
ou mesmo analítica acerca de sob qual categoria ou sistema deva ser analisado
determinado objeto, em verdade revelam-se as mais complexas que se nos
apresentam. Muitos problemas ou inconsistências posteriores poderiam ser
evitadas se na análise das premissas de que partimos a noção de predicado não
fosse confundida com a de sujeito ou mesmo o universal não fosse tomado como
particular.”
Paulo Senise Lisboa
Das diversas definições de Lógica, nenhuma delas satisfaz. Alguns a têm
como ciência do raciocínio dedutivo; outros, como estudo e análise das proposições.
Ora, Lógica não é uma ciência, e entre as proposições não se opera apenas a
dedução.
Tampouco a finalidade última da razão consiste, obrigatoriamente, em
deduzir.
Já a análise e estudo das proposições é coisa deveras vaga, e nem sempre a
razão se expressa por proposições.
A montagem de um quebra-cabeças, mosaicos, por exemplo, intersecções
geométricas, um jogo de xadrez, a intelecção de uma obra musical ou mesmo
circuitos eletrônicos pressupõem raciocínio lógico e não se lastreiam
necessariamente em proposições, que, quando existem ou são formuladas, ocorrem
como operação mental posterior.
Deveríamos então antes explicar como se formam as proposições, as idéias,
sua tradução em termos e dos termos às proposições e destas os argumentos.
Logo, a definição não é aceitável, pois encobre uma série de conceitos e
operações antecedentes inexplicadas, quando, a rigor, uma definição é um ponto de
partida.
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Preferível ter Lógica como a forma da razão ou a forma pela qual a razão
parece estar construída, ou ainda, a Lógica nos revela a forma como nossa razão
está construída, mesmo porque não pode ser ciência ou considerada como tal aquilo
que já é próprio do homem, de sua condição psíquica, o que já lhe é inerente em
sua formação, o que encerra seu encadeamento de idéias seu modus pensanti, o
que lhe é de fundo, em suma, os modelos e estruturas de operação que regem o
encadeamento e a conclusão entre seus pensamentos e idéias.
Ciência é um conhecimento que se obtém com algum método cujos
postulados, conceitos ou constructs são estabelecidos pelo Homem, e que irão
informar e avaliar como aceitáveis dentro dessa sistemática preestabelecida a
valoração, a aceitabilidade e credibilidade do conhecimento obtido.
Aceitar ou definir a Lógica como Ciência seria colocá-la como um
conhecimento obtido através de um método, quando, na verdade, ela é próprio
método primitivo e inato do pensamento, a forma congênita do ente humano.
Assim, a Lógica precede qualquer Ciência, e não o contrário.
Os princípios lógicos estão presentes no homem, precedendo sua forma de
raciocínio.
Primitivamente, a Lógica é vazia, pois consiste em meros mecanismos de
operacionalidade do pensamento, típicos da informação trazida pela contrução
genética do homem, o que se traduz em mais um motivo para afastar dela o
conceito de ciência, porquanto inconcebível uma ciência ou um corpo de
conhecimento vazio!
Sem a experiência, sem os sentidos, restam-nos apenas os processos
formais, que segundo Kant, também não seriam conhecidos sem a experimentação,
vez a experiência seja condição da possibilidade do conhecimento de tais princípios,
o que sem maior análise parece razoável, uma vez que tais fórmulas só se poderiam
fazer conhecer se preenchidas com algum conteúdo.
Em síntese, só saberíamos que a lógica formal está lá após operar
materialmente, ou então, apenas conheceríamos a forma dando-lhe conteúdo !
Kant não parece muito acertado, pois pelo simples fato de comer um pedaço
de bolo, ainda que seja com um talher de prata, não se chega necessariamente à
fórmula de sua receita !
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Foi exatamente isso o que Kant pretendeu com seu juízo sintético a priori, e o
motivo pelo qual podemos considerá-lo como um estranho conciliador entre Platão e
Aristóteles.
Se o sujeito sem predicados é vazio, ou seja, propriamente não há sujeito
sem predicado, (mesmo porque em tal hipótese o sujeito não seria cognoscível ou
conhecido, pois não haveria o que se conhecer dele), então vislumbram-se duas
hipóteses: ou o sujeito participa do predicado (do universal) ou o predicado do
sujeito!
Na primeira hipótese temos Platão; na segunda, Aristóteles.
O sujeito (o material) informado pelo universal, o ideal (o predicado), assim vê
Platão.
Seu discípulo, Aristóteles, viu o contrário: o predicado (o universal) informado
pelo sujeito, na medida em que só concebível dentro do sujeito, mas em
contrapartida o sujeito só definível através dele.
Curioso, a rigor, nunca tivesse ocorrido aos gregos a análise da questão do
que viesse antes, o predicado ou o sujeito.
E mesmo que Platão concebesse que os sujeitos seriam cópias dos
universais, o que levaria de momento a crer que o universal o precedesse, fato é que
ainda assim consideravam ambas as coisas (sujeito e predicado) como simultâneas
tal era o valor ou importância dada a esse binômio, ou lógica do sujeito e predicado.
Não se sabe como a Filosofia pôde se atrelar tanto a isso!
A questão nos prende até hoje, até o ponto de Kant praticamente dizer que à
medida em que damos conteúdo, ou que a experiência preenche os conteúdos,
passamos a conhecer a forma.
Nossas estruturas formais só se tornariam reveladas na medida em que
preenchidas pela experiência, que por sua vez é viabilizada pelo espaço-tempo,
fatores colocados como condição para a possibilidade da experiência, sua
viabilidade.
Por isso mesmo enfoco Kant como um conciliador, de senso deveras comum,
das metafísicas de Platão e Aristóteles.
Aristóteles, por seu turno, parece não haver se apercebido de que sua
afirmação “forma data esse rei” (a forma dá essência à coisa) contém implícita e
justamente o contrário do que apregoava, ratificando a concepção platônica.
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Contudo, se os particulares são cópias ou sombras do universal, originando-
se dele, e não têm existência real, como os próprios universais teriam?
Ou melhor, como o universal teria existência real se o particular que dele se
origina não a possui?
Seríamos conduzidos a concluir que a não existência estaria no universal, o
que retiraria sua realidade plena, trazendo inconsistência e imperfeição ao mundo
das idéias.
Quanto a Kant, poderíamos assegurar que o mesmo afirmaria que a
essência revela a forma !
Tais questões, em princípio, não parecem ter tanta relevância em relação
ao conhecimento do mundo físico ou natural, já que este não pode ser objeto de
pura especulação ou teorética, expressões que Kant apreciava utilizar.
O método científico revela cada vez mais que o estudo do ser deve feito
através da experimentação, da causalidade e, estatisticamente, induzindo-nos, com
as devidas cautelas, a formulações nomotéticas que sejam demonstráveis e úteis.
A noção de Verdade, tão sonhada e buscada pelos gregos, cedeu espaço
à praticidade e à utilidade.
O pragmatismo e o utilitarismo tomaram lugar, respondendo de forma
mais satisfatória, ainda que não perfeita, às necessidades humanas.
Um conhecimento que padeça de aplicação é inútil.
E é justamente na sua aplicabilidade e na análise dos resultados dessa
aplicabilidade que reside o estudo verdadeiro e aproveitável do ser, caindo por terra
alegações de que o nous e o fenous são coisas distintas e que a coisa em si é
incognoscível.
Chama atenção o funcionamento: importa que funcione.
E , se funciona, convenhamos, francamente isso nos revela que não nos
encontramos tão longe do ser ou do nous.
A relação entre uma verdade e sua demonstração ou funcionalidade
prática, a que chamamos de completude, pode nos revelar o maior ou menor grau
dessa aproximação.
Lembro-me nesse ponto da observação, embora de senso comum,
formulada por Göethe, de que “A finalidade da natureza não deve ser tão diferente,
distinta ou diversa de como ela se nos apresenta” ou do que nela ocorre.
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A completude faz o resto, revelando-nos o maior o menor grau da
aproximação da realidade.
E, dado ao caráter funcional, pragmático e utilitário, inerentes ao
conhecimento científico, não há muito que cogitar acerca do humano ter um
conhecimento peculiar da realidade que propriamente não corresponda ao critério
da chamada realidade objetiva, difícil de ser aquilatada num sistema sem estribo
científico. Tudo indica estejamos muito próximos dela.
E vamos ainda mais longe, pois o Princípio da Equivalência nos garante
que um experimento repetido sob as mesmas condições trará resultados
semelhantes em qualquer lugar do Universo.
Enfim, a Ciência funciona, aliás, juntamente com a Arte e a Matemática
são as únicas coisas que funcionam bem.
A Filosofia, dentro de um dos poucos pontos lúcidos do positivismo de
Comte, deve entender de uma vez por todas que seu papel não é voltar-se a si
mesma, mas ao homem, a seu aprimoramento, ao alívio de sua condição mortal,
fraca e miserável.
Muitas vezes, devemos ter em mente que as coisas se inverteram.
Se a Ciência veio da Filosofia, agora a Filosofia advém da Ciência,
sobressaltando-se a Epistemologia como uma nova forma de se fazer Metafísica.
Tudo isso evitaria inúmeros absurdos, ainda críveis até hoje, entre
aqueles que ficaram somente na teorética, naqueles desprovidos de conhecimento
científico, que se lastreiam somente nas humanidades, e, permissa venia, não têm
mais como caminhar sem o amparo científico, a não ser que se contentem em
construir quimeras.
Tampouco diante da condição humana é justo ter-se a Filosofia como
mero entretenimento ou deleite espiritual como a recepcionava Hume: “filosofo
porque me dá prazer”, mas, sobretudo devemos ter em mente que o único meio de
alívio de nosso sofrimento, nossa real tábua de salvação, consiste na aliança
perpétua entre a Filosofia, a Ciência, a Arte e a Matemática.
A meu ver, com mais precisão, o termo Ciência, que não é unívoco,
admite três acepções.
Primeira, conhecimento obtido pelo método científico, a rigor aplicável
somente à Física e à Química.
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Segunda, corpo de conhecimento ou arte, aplicável às humanidades, mas
não com muita precisão, trazendo à tona a questão do conhecimento e da opinião
(doxa versus logus), exposta no Diálogo “O Protágoras” por Platão.
Terceira, ter conhecimento de algo, estar ciente de algo.
Ademais, a razão não termina na Lógica, ou seja, a Lógica não é seu fim
e sequer seu único fundamento.
Como bem lembra Kant, o uso puro da razão ou da Lógica conduz a
sofismas, e os problemas se tornam intransponíveis.
A Lógica apenas nos revela a forma da razão, o modo pelo qual a mesma
foi construída, contudo, insuficiente para a compreensão real dos problemas que nos
acometem e nos põe suspensos por condição, quero dizer , aos problemas e
preocupações que são peculiares ou inerentes a nossa espécie, ou ao menos a
alguns de nossa espécie.
Não fossem a Metafísica e a Moral, estaríamos perdidos. Não basta
operar logicamente, o que nos tornaria bastante restritos, mas saber por que e para
que estamos realizando algo, enfim, buscar a essência desse algo.
Nesse topos, é bom lembrar o conceito de Aristóteles sobre Metafísica,
como sendo a busca da essência primeira das coisas e seus fins últimos.
No jogo das teses e antíteses operado pela Dialética, que pretende com
isso chegar à síntese do ser e a uma realidade última, foi esquecido o primacial, que
as idéias não se formam apenas por contrariedade, mas também semelhança,
contigüidade espácio-temporal e contradição.
O Teorema da Incompletude de Gödel, enuncia que um sistema não pode
ser completo e consistente.
Ora, bastar a si mesmo, ser completo e consistente, é uma suficiência.
O ser é uma suficiência, não há por quê conduzir a questão sob a óptica
absoluta, a exemplo de uma dialética hegeliana, onde o ser nunca se completa, e se
o fizer ou buscar fazê-lo encontrará, fatalmente contradições ou inconsistências.
A pensar dessa forma, o ser nunca seria; mas ocorre que ele é, e, se ele
é, só pode sê-lo no terreno da suficiência.
Tentar analisá-lo sob o prisma da necessidade equivale a negá-lo.
Logo, pressupor que um sistema não possa ser completo e consistente é
observar o ser sob um enfoque descabido.
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O ser não precisa de complementação; basta-lhe a suficiência, isto é, um
número de predicados bastante para que ele seja assim, de determinado modo.
Gödel parece querer impor um conceito de necessidade, algo absoluto, e
quando se trata do absoluto, negá-lo ou aceitá-lo dá no mesmo.
As restrições e limites da Lógica são claros e seu uso puro nos conduz a
um jogo áspero, cujo fim recai nos sofismas.
Da Lógica, por si só, nada se gera, ou seja, ela não possui nem início
tampouco finalidade em si mesma.
Sem a Metafísica, não se acham seus porquês quanto menos seus fins.
Para divisar os limites das coisas, costumo exemplificar com o seguinte
argumento.
O que é impossível a Deus?
A resposta lógica seria: fazer outro Deus, porque Ele é único por
definição, e fazer outro Deus seria contrário à sua natureza, daí não seria mais
Deus, além do que duas coisas completamente idênticas não seriam duas coisas,
mas apenas uma.
Nesse ponto, sempre me vem à mente o infeliz princípio da identidade
dos indiscerníveis, expressado por Leibnitz, ao enunciar “se duas coisas são
completamente indiscerníveis entre si, não são duas coisas, mas apenas uma, ainda
que com nomes diferentes.” (acrescento, diferença solo nomen, posto descabida a
solo numero).
O Princípio da Identidade dos Indiscerníveis é interessante, não resta
dúvida, sendo encontrável no Princípio da Extensibilidade, aplicável na Teoria dos
Conjuntos.
Infelizmente, o princípio é falso, pois parte de premissa hipotética falsa,
porquanto não existam duas coisas completamente indiscerníveis.
Vejamos o argumento por inteiro, dissecando-o, partindo da seguinte
premissa.
Há duas coisas.
Elas são completamente indiscerníveis entre si.
Logo, não há duas coisas, mas apenas uma.
Ora, chega-se a uma conclusão contrária à premissa da qual se partiu e
que se admitiu como verdadeira para estabelecer o argumento e que ao final foi
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negada, logo, não sendo verdadeira, e assim, bem de ver, partiu-se de um falso
pressuposto, pois não há duas coisas completamente indiscerníveis, ou idênticas,
como se queira.
Eis aí o argumento. A premissa, portanto, revela-se claramente falsa !
Prosseguindo com a exposição, verificamos que na Metafísica vamos
mais longe.
Ora, se Ele é Deus porque alguma coisa lhe seria impossível, mesmo
porque se não puder fazer outro Deus então não seria Deus?
Mas, se lhe é impossível fazer outro Deus, essa impossibilidade é interna,
intrínseca, relativa a sua definição, a sua potência em si, ou extrínseca, exógena,
havendo algum obstáculo externo ?
Se interna, Ele não seria absolutamente potente, o que não se coaduna
ao conceito de Deus. Se externa, existe algo que o impeça, logo mais forte do que
Ele, e, igualmente, isso não combina com sua definição porque nada pode haver
que lhe resista ?
Mas até Ele mesmo não se resistiria a Si próprio ?
Afinal, estamos tratando com coisas afetas à definição de Deus, seus
atributos, e quem somos para termos noção de todos seus atributos?
Em nossa limitação relativa como podemos ter uma definição do
absoluto?
Talvez Ele possa ir além de si mesmo. E esse lhe seja um atributo
absoluto.
Como podemos ver, fomos muito além da lógica. E podemos ir ainda
mais.
Se a Metafísica nos jogou anos luz da Lógica, a Moral então nos põe
muito mais em suspensão, impulsionando-nos a um novo campo de investigação!
No campo Moral, uma vez que Ele é Deus, seria admissível que Ele
possa fazer o que lhe aprouver, inclusive outro Deus, que talvez não fosse outro,
mas Ele mesmo, mas, simplesmente, embora possa fazê-lo, Ele não queira.
Resposta intrigante fornecida no campo moral: “Ele pode, já que é Deus,
mas talvez não queira”.
Assim, os problemas não se originam no terreno da Lógica e tampouco
são solucionáveis ou apresentam soluções reais apenas com sua utilização. Não se
pode produzir Lógica sem Metafísica.
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Outra evidente limitação do raciocínio lógico encontra-se em
Lobatchewski e Riemann, que julgaram ter demonstrado a “impossibilidade de
provar”.
Ora, provar uma impossibilidade ou uma não ocorrência ou algo que não
ocorreu, não significa necessariamente que tal não ocorrerá.
Em suma, “a prova da impossibilidade não traz a necessidade” pela
ausência de objeto, porquanto a idéia ou noção de necessidade pressuponha
alguma coisa.
Não é porque algo nunca ocorreu, ainda que tenhamos prova disso, que
esse algo nunca ocorrerá.
Algo nunca ter ocorrido não significa necessariamente que nunca
ocorrerá.
Na demonstração ou prova do possível é que devemos depositar nossa
confiança.
Num sistema não há verdade ou falsidade, não havendo que falar em tais
idéias ainda que do ponto de vista conceitual.
Em tudo há apenas suficiência e não necessidade.
Sequer o princípio da identidade se afigura como verdade.
Cuida-se tão somente de uma condição aceitável de nosso espírito.
Esta é uma das questões filosóficas mais antigas (panta rei e panta tan
panta), como expressavam Heráclito e Parmênides, respectivamente, sendo este
último a produzir o primeiro argumento de cunho metafísico sobre o assunto: “se o
ser vem ao não ser tampouco é, ou seja, deixa de ser.”
Mas ocorre que admitimos que o ser sempre seja.
De fato, Napoleão continua sendo e sempre será Napoleão, embora não
mais exista!
Macbeth continua sendo Macbeth, embora talvez nunca tenha existido.
O ser sempre é.
Diversos outros problemas advieram disso, dando ensejo ao termo
substância, como sendo aquilo que permanece ou se mantém inalterado na
mudança ou transformação, pois inaceitáveis ao nosso espírito tanto a estaticidade
absoluta como a dinâmica perene, situação ainda pior, pois tornaria nosso
conhecimento das coisas impossível ou , no mínimo, inútil ou obsoleto diante da
mudança continuada.
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Quanto ao princípio da contradição, sempre ponderei que “o não ser” não
exclui “o ser”.
Ao contrário, é o que o define, delimitando-o, impedindo que haja outro
igual, sendo sua delimitação, uma determinação limitante, de onde resulta sua
unicidade, tornando-o unívoco.
Além do mais, princípios não podem estar sujeitos à temporalidade ou
serem precedidos por ela.
Em A/B --->A ) ~ B (A ou B implica em se A então não B) encontramos
pressuposta a temporalidade posto implícita a não simultaneidade, ou seja, que
ambos A ^ B não possam ocorrer ao mesmo tempo.
Quanto ao terceiro excluído ou do meio termo excluído, se A e B são
contraditórios, então um deles é verdadeiro, ou ainda, numa outra enunciação, uma
proposição é falsa ou verdadeira, não havendo meio termo, observo que tal
assertiva depende de certa investigação, pois uma proposição pode ser tida como
verdadeira em determinado sistema e falsa noutro, e um princípio não pode ser
investigativo ou dependente de uma demonstração externa.
Mesmo assim, saliento que apenas quando aplicado à existência o
terceiro excluído mostra-se aparentemente válido, ganhando mais força , porquanto
ou algo existe ou não existe, mas isso também não impede que esse algo deixe de
existir ou ainda venha a existir.
Outrossim, os sistemas lógicos, na realidade, não se encontram isolados,
situação mais oportuna à validade desse princípio, sendo meras partes de estruturas
maiores.
O que isoladamente é tido como antagônico, entre subestruturas, em um
todo, deixa de sê-lo.
Apenas dentro de grandes limitações o princípio parece ganhar força.
Mas, um princípio não pode nem deve ser limitado!
Quanto ao Princípio da Identidade (A=A), consideramos que A não pode
ser não A ou mesmo AB não possa ser não B, simplesmente porque A=A e para que
seja A tem pelo menos uma razão que lhe baste (ou suficiente) para assim ser, caso
contrário não seria.
Assim, o princípio da identidade recai no da contradição, cabendo
aproveitar quanto foi dito anteriormente sobre o assunto.
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Enfim, de nossas ponderações iniciais, podemos concluir com certa
segurança que tudo tem uma razão suficiente, ou ao menos que lhe baste para ser o
que é, razão suficiente para definir-se como tal, senão, caso contrário, não o seria.
Devemos, portanto, ter sempre em mente estejamos lidando com
suficiências, não com necessidades !
Toda Filosofia começa com um debruçamento sobre o ser.
A primeira questão a tratar é: “algo existe ou não existe”.
E a resposta satisfatória será: vamos admitir que exista, pois só assim
teremos um objeto de estudo, caso contrário, de nada aproveitaria nossa reflexão
não havendo sobre o que nos estender.
Não desejo por ora referir-me com maior abrangência a Descartes, que
da reflexão chegou à existência, mesmo porque seu “cogito”, como mostrarei, não
tem fundamento algum.
O que pretendo mostrar é que não se pode concluir a existência do
pensar quanto menos da dúvida, ainda que metódica.
O pensamento ou o “ser da dúvida” não revelam ou encobrem a evidência
ou a demonstração precedente da existência !
Pensar é uma coisa, existir é outra. Descartes recai no mesmo erro de
Anselmo ao expressar no fundo o argumento ontológico, cuja exposição e crítica
passarei a discorrer em tópico subseqüente, quando tratarei da existência de Deus.
Conveniente, por enquanto, lembrar a assertiva de Kant “de que cem
talheres de prata que eu penso ou apenas imagino têm os mesmos predicados que
cem talheres de prata que existem.”
Notemos, pois, que o início das coisas está na Metafísica, não no campo
da Lógica.
Este algo que é preferível que exista, chamamos de “ser” ou sujeito!
Como conhecemos o ser ou sujeito, como ele pode ser conhecido, ou
melhor ainda, o que podemos conhecer dele ?
A resposta imediata é: suas qualidades ou predicados, é isto que
podemos conhecer dele.
Então o ser ou sujeito é aquilo que está subordinado a seus predicados,
é o quê ou “quid”, dos predicados.
Aliás, a palavra sujeito quer dizer isto mesmo, aquele que está
subordinado ou sujeitado para defini-lo a seus predicados.
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Ao conjunto dos predicados chama-se essência.
Então, o ser é definido por sua essência, é aí que bate o ponto, tendo
início a chamada questão dos universais, ou o embate entre Platão e Aristóteles.
O predicado está contido necessariamente no ser ou não?
Teria existência independentemente dele ? Existiria fora dele ?
Mesmo porque observamos que há predicados comuns a diversas coisas
ou seres, não lhes sendo pois exclusivos.
Nesse ponto, merece destaque “O Parmênides, quando em curiosa
conversa narrada por Platão, encontramos Sócrates, Zeno e Parmênides
discorrendo sobre o que se convencionou chamar de teoria das idéias.
Sócrates está convencido de que não existam idéias do próprio sujeito, ou
seja, as idéias de justo e de verdade que alguém possa conceber pertencem, em
realidade, à Justiça e à Verdade e não ao próprio indivíduo.
Seriam gerais, coletivas, universais. Surge então a questão, sequer ao
menos delas participamos ou tomamos alguma parte ?
Quando penso em algo justo não estou tomando parte na Justiça, de sua
noção ou idéia , desse universal ?
Ora, a idéia é minha ou advém de algo externo a mim, de uma categoria
universal ?
Participaria eu de toda idéia, ou seja, a idéia de Justiça é apenas minha ?
Evidentemente, não. Então devo participar de uma parte dela ?
Também não é possível participar de uma parte do universal, posto que
este deva ser único ou absoluto - óbvio, pois seria descabido falar em dois gêneros
de uma mesma coisa, e o absoluto não tem partes.
Então as idéias não nos pertencem, ou seja, não há idéias do próprio
indivíduo.
Aliás, para Platão, nem o próprio indivíduo teria existência, sendo mera
cópia do Homem ideal, pois apenas os universais existiriam realmente.
Fiz questão de apresentar o argumento por refletir bem o pensamento de
Platão.
A questão sobre a origem das idéias tem se superado com os avanços da
Neurologia e da Embriologia sobre a formação do sistema nervoso, havendo
inclusive mapeamento de todas as áreas do encéfalo, desde os trabalhos de
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Brodmann, suas funções, centro de atividade motora, emocional, verbal, do
pensamento lógico, da memória, etc.
Feliz ou desgraçadamente, a diferença entre nós e os outros animais
superiores consiste no telencéfalo.
Enquanto aqueles vão até o mesencéfalo, nós tivemos o privilégio, se é
que podemos considerar assim, de ter alguns gramas a mais de massa encefálica
no lóbulo frontal.
Se Locke já havia trazido boa luz sobre o assunto, o avanço científico
cuidou do resto.
Voltaire, in “O Filósofo Ignorante”, encarregou-se de espantar de vez o
empirismo de raiz.
Nada, porém, impede seu estudo histórico.
Os argumentos não deixam de ser interessantes, assim como expusemos
o da teoria das idéias.
São exercícios muito convenientes de metafísica, distração a que poucos
podem dar-se, como lembra Hume, “eu filosofo porque me apraz”.
Deixemos tais assuntos para outro título, voltemos aos universais.
Os predicados, enfim, seriam do próprio sujeito, estariam contidos em sua
noção ou não ? Ou ainda alguns sim outros não?
Existiriam os predicados sem os sujeitos?
Ora, se a noção do sujeito é definida por eles, então eles
necessariamente precedem os sujeitos, uma vez que sujeito é aquele que está
subordinado aos predicados.
Eis aí a concepção platônica, aliás, sujeito significa justamente isso,
etimologicamente.
Para Platão, pois, os sujeitos cuidavam-se de meras cópias dos
universais, únicos dotados de existência real.
Por isso mesmo nos faltaria o conhecimento das coisas em si, o
conhecimento da realidade, pois seríamos meras cópias obscurecidas do Homem
ideal.
Cabe aqui lembrar a interessante analogia trazida na República, O Mito
da Caverna, dentro da qual estaríamos sem poder ver o sol, enxergando apenas as
sombras das coisas.
Este seria o único conhecimento que podemos alcançar.
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Esta é a conseqüência de se admitir os predicados como tendo existência
própria, autônoma, distinta dos sujeitos, e os sujeitos com sendo meras cópias
destes.
Aristóteles opôs-se diametralmente a seu preceptor, criando uma questão
central que envolveu e envolve toda Filosofia: o predicados existiriam
independentemente do sujeito ?
Para Aristóteles não, estes estariam necessariamente contidos nele !
Em prol dessa tese, levanta o chamado argumento do Terceiro Homem,
exposto na Nicomaquéia (Ética a Nicômaco).
Argumento interessante, tirado por aproximação indutiva, e que passo a
expor segundo minha concepção, porquanto o original não se encontra desenvolvido
com muita clareza.
Admitindo-se a existência de um homem ideal, como aludia Platão, deve
existir um homem que se aproxime mais dele, ou seja, que tenha quase a totalidade
de seus predicados.
Prosseguindo, deve existir outro que se aproxime mais ainda, que lhe
seja uma cópia mais próxima; e outro, ainda mais outro, e mais outro, e assim,
sucessivamente.
Ora, esse homem ideal seria praticamente inatingível, e acabaríamos por
concluir que devem existir tantos homens ideais quantas fossem as espécies de
homens, uma vez que cada um deles estaria mais próximo um do outro, que se
tornaria seu ideal na série, implicando em concluir pela existência de tantos homens
ideais quantas fossem as espécies de homens, uma vez que todos se tornariam, à
medida em que progredimos, cada vez mais ideais uns dos outros entre si !
Embora Aristóteles não o tenha feito, leva-nos à conclusão de que o
Homem universal, por exemplo, é apenas um produto da abstração dos diversos
homens particulares, e estes sim existiriam realmente.
Aristóteles, contudo, nunca chegou a afirmar, categoricamente, que eu
saiba, ser inconcebível a noção de um predicado sem um sujeito, embora toda sua
lógica dos universais implicasse em maior ou menor grau nessa assertiva. Os
escolásticos fariam o restante, sic!
O que não compreenderam desde então sobre a questão é que existir
implica em lugar, ou seja, em ocupar lugar, porquanto algo que exista tem que existir
em algum lugar.
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A primeira indagação que nos vem à mente sobre algo que exista é “onde
este algo existe”, enquanto a segunda é como ou de que forma ou de que modo
exista, questão mais atinente ao ser, embora o ser não seja uma modalidade do
existir, mesmo porque pode-se ser sem existir.
Mas, existir não só implica em lugar como também estar no tempo, ou
seja, em temporalidade.
Já o ser é atemporal e não implica em ocupar lugar (Napoleão sempre
será Napoleão, Hamlet sempre Hamlet ainda que nunca tenha existido).
Hume pressupõe a causa e efeito associados ao hábito, o que significa
experimentar para depois saber.
É o que Kant justamente busca expressar com seus juízos sintéticos “a
priori”.
Francamente, Kant proferiu o que invariavelmente se dessome de Hume,
que algo precede o conhecimento ou a experiência.
Assim, da mesma forma, ambos negam que exista uma relação intrínseca
puramente externa objetiva e independente de minha faculdade de conhecimento
entre as coisas.
Todavia, não é pelo hábito, pela crença ou por qualquer fundamento “a
priori” que as coisas se apresentam relacionadas.
Há mecanismos e condições que permitem ou propiciam tais relações,
mesmo porque se não houvesse, nada funcionaria.
Conhecê-los é o objetivo da Ciência.
A afinidade entre os elementos químicos, as condições de pressão e
temperatura, a disposição dos elétrons nas camadas, os fatores de catálise, enfim o
estudo dos fenômenos físico-químicos, que assim podem ser chamados com maior
amplitude, revelam-nos com clareza uma tendência ou ordem completamente
independente e indispensável à existência de todas as coisas tanto quanto à nossa
própria, em particular, e não o contrário.
Reforçando, o Princípio da Equivalência nos revela que um experimento
realizado em qualquer lugar do Universo sob condições similares resultará em
resultado semelhante.
Desfechando a discussão acerca dessa questão, lembro-me sempre de
Protágoras ao enunciar que “O Homem é o meio de todas as coisas”.
Desde Sócrates isso já soava mal.
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Em resposta disse-lhe que para construir sua casa preferia optar por um
Arquiteto ao invés de qualquer outro.
Estou certo de que nós também preferiríamos !
Acusem-nos de pragmáticos ou não, fato é que a noção de completude
presente sobretudo no método científico, estabelecendo o maior ou menor grau de
relação entre uma verdade e sua demonstrabilidade, revela-se muito mais
satisfatória para o desempenho de uma atividade ou realização de alguma coisa.
É oportuno, nesse ponto, termos um alcance sobre as conseqüências da
lógica sujeito-predicado.
Os gregos, de modo geral, concebiam a idéia de Deus como um
arquétipo, aquele que amalgamara a matéria, dotando-a de forma e de função.
Pois, como prelecionava Aristóteles, a forma designa a função.
O máximo que o estagirita fez consistiu em expor de forma um tanto
confusa e obscura um argumento sobre a causa não causada, ou causa primeira,
também conhecido como o argumento do motor imóvel, ou seja, aquilo que move os
demais e não é movido, por isso imóvel.
Aristóteles nunca chegou valer-se de sua convicção essencial sobre a
questão dos universais para buscar uma demonstração sobre a existência de Deus.
Essa tarefa caberia a Anselmo e Descartes.
Tentarei expor o argumento bastante clareza para depois empreender
crítica ao mesmo.
O argumento do motor imóvel ou causa primeira, pressupõe que G, por
exemplo, seja causado por F; F, por sua vez, causado por E; E por D; D por C; C
por B e B por A, que não é causado por nada, mas veio a causar os demais.
O argumento é extremamente falho.
Primeiro, nesse exemplo limitado foi fácil identificar a causa primeira, a
saber, A.
Todavia há séries e conjuntos que não têm princípio e fim !
Mas o pior de tudo é que, empregando a noção de causalidade, veio a
ferir a própria essência desse conceito, porquanto confunda a noção de causa e
efeito, pois D, por exemplo, é efeito de C e causa de E, isto é, encerra em si tanto a
noção de causa como a de efeito, noção praticamente perdida ou confusa a esta
altura.
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Não bastasse, A (que seria Deus, v.g.) deveria ser a causa imediata de
todos, sendo, na verdade apenas a imediata de B, e este a imediata de C.
Ainda que considerássemos fosse A a “mediata” de C bem assim
guardasse uma relação mediata com os demais termos, fato é que necessitaria
deles para compor o elo relacional ou nexo causal, não os tendo gerado por si só.
Dessarte, ainda que considerássemos que a série não poderia existir sem
A, que é sua geratriz, seríamos conduzidos a alçar B na condição de semideus de C,
sic !
E “A” deveria ser completamente independente dos demais !
Impressionante como Aristóteles não houvesse notado isso.
O argumento é imprestável, aliás como todos os outros, que serão
abordados e ilididos a seu tempo.
Falemos do argumento de Anselmo, tido como um dos doutores
canonizados da Igreja.
A exposição de seu argumento, bem como o de Descartes, nos
fornecerão uma clara noção do alcance da concepção aristotélica sobre os
universais.
Concebemos Deus como um ser omnipotente, assim sua noção implica
em conter ou enfeixar todos os predicados possíveis.
E já que contém tudo quanto possível, deve também existir.
Exposto na linguagem escolástica o argumento é bastante interessante.
Ora, sabemos que a essência de um ser é o conjunto de seus predicados.
Algo pode ser sem existir, mas não pode existir sem ser.
Exemplifiquemos: Hamlet é vingativo, taciturno, lúgubre, jocoso,
obstinado, tem visões, etc. Macbeth, sequioso de poder, assassino, inescrupuloso,
etc. Todavia, ambos não existem !
Napoleão, foi um grande estadista, bom estrategista, consul e imperador,
e embora não mais exista sempre será Napoleão. Hamlet e Macbeth, sempre
também serão o que são, como seus predicados os definem, porém também não
existem.
Portanto, a essência de um ser não implica necessariamente em sua
existência. Mas, no caso de Deus, que contém tudo em sua essência, Ele deve
existir !
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Escolasticamente, o argumento soaria assim: “essência não implica na
existência, mas se houver um ser que tenha todos os predicados possíveis, é
preferível que exista a que não exista” !
Descartes expôs um argumento de mesma natureza, ontológica,
entretanto, com maior clareza.
Podemos resumi-lo desta forma: “tenho noção de Justiça de Verdade, de
Beleza, de Perfeição.
Entretanto, não possuo tais predicados em mim mesmo, tendo apenas
suas noções.
Deve, por conseguinte, existir um ser que os tenha, e esse ser é Deus,
surge-se daí que é o melhor ser possível, o ser que enfeixa em si toda perfeição.
Mesmo assim, puramente aristotélicos nesse ponto, nenhum deles foi
claro, pois o que esses argumentos encobrem, na verdade, é a seguinte premissa:
“não há predicados fora do sujeito, tal é inconcebível; todo predicado está contido na
noção do sujeito, portanto, a Verdade, a Justiça, a Beleza, a Perfeição,
necessariamente, já que são qualidades, devem estar contidas em algum sujeito,
vez não possam existir per si, e esse sujeito é Deus !
Evidente, poderíamos demonstrar a existência do demônio da mesma
forma, reunindo os predicado negativos, sic!.
A falha do argumento ontológico e de suas variantes é clara.
A existência não é uma qualidade. As qualidades decorrem de como se
existe ou se é.
Lembremo-nos de Kant ao considerar que “cem talheres de prata que eu
apenas imagino têm os mesmos predicados que cem talheres de prata que existem.”
Mas escapou tanto a Anselmo, como a Leibnitz e a Kant outro aspecto,
talvez o mais fundamental , encerrado numa concepção ontológica da noção de
Deus.
Nós, seres relativos e contingentes, somos a partir do ponto em que
existimos. No caso de Deus, por noção ou definição, Ele sempre é, sempre foi e
sempre será.
Nesse caso, o ser coincide com o existir, ou seja, em Deus não há
distinção entre ser e existir.
Há uma coincidência, uma indistinção, e não uma necessidade em existir
porque sempre se é.
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Na noção de Deus o ser e a existência se confundem, não se permitindo
dizer em contraposição que Ele exista porque seja ou seja porque existe, já que em
sua noção uma coisa não decorra da outra, mas sejam coincidentes, pois Aquele
que sempre foi sempre existiu ou o que sempre existiu sempre foi, não há começo
nem fim para existência e ser, ontologicamente, na noção de Deus, e assim sendo
uma coisa não decorre da outra, pois coincidem.
Por isso, a objeção de Kant é inaplicável e não faz sentido quando
lidamos com a noção de Deus.
Seria sim aplicável aos seres contingentes, cujo ser começa com a
existência, e em tese continua sendo ainda que não exista !
Por exemplo, Napoleão continua sendo Napoleão, ainda que não mais
exista, mas nunca seria Napoleão se antes não existisse.
O mesmo raciocínio se aplica aos seres que nunca existiram !
Isto é, Hamlet, por exemplo, cuja real existência histórica é duvidosa, só
começou a ser quando idealizado por um existente, caso contrário, nunca seria.
Entretanto, na noção ontológica de Deus ser e existir coincidem, e isso
não decorre necessariamente de Ele sempre ser, mas de uma contemplação do
absoluto, já que na noção ou idéia do absoluto ser e existir são uma única coisa ,
confundem-se, e assim, repita-se, não cabe inferir conclusões de que uma coisa
decorra ou não decorra doutra, ou vice-versa, como objetou Kant, utilizando uma
refutação aplicável aos relativos.
Ainda escaparam a Kant ao concluir como refutação “que cem talheres de
prata que eu apenas imagino têm os mesmos predicados do que cem talheres de
prata que existam” as mesmas conclusões acima expostas acerca de Hamlet, quais
sejam: os cem talheres de prata seriam cem e de prata a partir de sua existência,
pois apenas seriam a contar de sua existência.
Se deixassem de existir, por exemplo, fossem submetidos a um processo
de fusão do metal, continuariam a ser, como Napoleão.
Mas, se nunca houvessem existido, só passarariam a ser desde que
concebidos por um existente, como o personagem Hamlet, observações que com
mais razão mostram que a refutação empregada por Kant se aplica aos relativos,
não à noção de Deus.
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Deixemos um pouco a Metafísica e retornemos à Lógica. Depois
retomaremos o tema, sendo que desde logo também podemos inferir seja “inútil ser
sem existir” e “absurdo existir sem ser”.
As premissas, bases ou postulados de qualquer sistema, não podem se
coadunar com assertivas generalíssimas, e serão tão melhores quanto possam
deduzir-se entre si.
Todavia a Teoria dos Conjuntos, com a qual se busca dar lastro ou
suporte à toda Lógica Matemática, pela própria noção de conjunto, origina-se de
princípios puramente indutivos, pois a idéia de conjunto pressupõe a de
universalidade !
Quando se cria uma teoria, evidentemente, ela deve ter a aplicação mais
ampla possível, senão se tornaria imprestável.
Só que a tanto , em sua criação, deva conter preceitos dedutíveis entre si,
ou seja, preceitos que estejam no plano da dedução pura, e não preceitos dedutivos
disfarçados, na verdade indutivos.
Pressupor o conjunto ou tê-lo como pressuposto de algo, como expus, já
é iniciar pela indução. Ora a indução, como método, para se chegar a ela ou ser
concluído, também não deixa de valer-se da dedução, dando-nos noção de uma
certeza aparente com indistinta conotação de verdade.
Excelente evidência de que a indução consista num processo de
deduções sucessivas nos é dada por Aristóteles, sem contudo tivesse ele notado.
Falo do argumento do terceiro homem, ou mesmo da causa primeira, vez que ambos
têm praticamente a mesma base de operação.
Cantor, ainda que intuitivamente, pressentiu que ao estabelecer uma
teoria de conjuntos, fatalmente, deveria pressupor conjuntos de conjuntos.
E foi levado a isso, mesmo porque a base dessa construção teórica
repousava na indução, e não apenas isso.
Ao ter que pressupor conjuntos de conjuntos, fatalmente, perdeu-se ou
confundiu-se a noção do que seria conjunto e elemento, recaindo em grande erro !
O paradoxo de Russel, que tanto atormentou Cantor, também advém
dessa confusão entre conjunto e elemento, embora Russel não o exponha assim ou
não tenha se apercebido de sua real origem, que repousa nessa confusão tão
elementar.
É que não se pode produzir Lógica sem Metafísica.
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A Metafísica tanto precede como sucede à Lógica. “Os predicados, ainda
que sejam um conjunto, ou ainda que haja um conjunto deles não podem ser
confundidos com o próprio sujeito”!
Assim, algo ou é um conjunto ou um elemento.
A noção de conjunto e elemento não podem se confundir.
Trata-se de um grande erro e o fundamento real do paradoxo de Russel.
É o mesmo que confundir-se o universal e o particular.
O conjunto traduz-se numa universalidade, pois integra em si
propriedades ou categorias.
Deve ser trazida à tona a antiga questão dos universais, muitas vezes mal
compreendida no decurso da Filosofia, e que evitaria inúmeros problemas e
concepções errôneas que perduram ao longo dos séculos.
A velha questão dos universais, que resume a essência das concepções
possíveis do ser, debatida entre Platão e Aristóteles, por incrível pareça ainda não
foi compreendida.
Cantor, evidentemente, não tinha prévio conhecimento metafísico
indispensável para concepção de teorias lógicas. Não basta aplicar a lógica de
maneira desmesurada sem indagar seus motivos primeiros e fins últimos. Isto
apenas nos conduz a meros mecanismos.
E o homem é muito mais que isso. O grande erro foi confundir o predicado
com o sujeito, pois não se podia ser sujeito e predicado ao mesmo tempo,
contradição que é o verdadeiro fundo do Paradoxo de Russel.
Mas compreender a lógica dos universais e o argumento do terceiro
homem de Aristóteles não são tarefas fáceis.
A Lógica não deve ser feita sem Metafísica. Mas, os equívocos de
concepção de Cantor não pararam por aí.
Ao invés de compreender questões simples com extrema lucidez,
tratamento sempre presente quando se há um preparo filosófico, embrenhou-se por
caminhos tortuosos.
Sua pressuposição acerca da existência de diversos infinitos, uns maiores
outros menores e de um infinito absoluto, confundido com Deus, revela-se sem
cabimento.
Pode haver diversos infinitos, mas não por grandeza, sim em natureza.
A diversidade deles pode ser abstraída por natureza.
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Seríam os próprios universais de Platão !
Cantor confunde gênero e espécie.
Porém quanto ao atributo da infinitude, são todos os mesmos.
Não se pode falar em infinito maior ou menor.
Só quando não se compreende a questão dos universais pensar-se-ía
doutra forma.
Não cabe dizer seja um infinito maior que outro, pois a própria idéia ou
noção de infinitude prende-se à grandeza !
Podemos conceber espécies de infinitos, mas não gêneros !
E a infinitude é um gênero, e como tal não admite comparação.
Por outro lado, o número também não é infinito, uma vez que o infinito
não se pode contar, e também sempre poderemos pressupor um número maior que
o outro, ou seja, sempre poderemos imaginar mais um, ou mais outro número. Já na
infinitude isso não faz qualquer diferença, pois infinito mais um, ou infinito mais
infinito continuam sendo infinito.
Trata-se de um universal, um gênero, e não de um particular !
A noção de infinitude não está presa ao particular, ao singular, mas ao
conjunto. A única exceção seria na admissão da idéia de Deus, pois que este sendo
um ser é um particular e não uma coleção de seres !
Mas então recairíamos novamente numa variante do argumento
ontológico. Sequer numa concepção panteísta caracterizar Deus como uma coleção
de todos os infinitos seria plausível.
A infinitude não se cria, não advém de um processo. Ela simplesmente é
admissível ou não!
Outro argumento curioso, de natureza cosmológica, foi conhecido como
da ordem estabelecida.
Não chega a ser propriamente um argumento, pois depende de nossa
aceitação prévio de que as coisas estejam ordenadas e isto implica em
concordamos que esta ordem, se presente, não passa de reflexo de nossa razão.
Mesmo assim, Voltaire, sempre tendente ao deísmo, diz não poder fechar
os olhos diante das maravilhas e da ordem presente no universo, pressupondo
necessariamente um Deus.
Em princípio a aceitação dessas maravilhas pressupõe um arquétipo,
não necessariamente um criador.
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A frase “como pode haver relógio sem relojoeiro” lhe foi popularmente
atribuída. Ainda assim, deparamo-nos com uma variante do argumento cosmológico
de Aristóteles, pois inafastável a noção de causalidade nessa magnífica ordem das
coisas.
Afora argumentos ontológicos e cosmológicos, restam os argumentos de
ordem moral, até então de notória fragilidade, pois lastreados na idéia de virtude e
recompensa, de expectativa de Justiça, etc., conduzindo-nos a uma verdadeira
questão de fé !
Kant não escapou a isso. Seu argumento de ordem Moral é uma amostra
de expectativa não de concretude.
Depois de muito tergiversar, conclui ou ao menos espera que o leitor
conclua, como prefere dizer, que a natureza da Virtude e da Justiça requeiram uma
recompensa necessária.
E como isto não nos foi dado nesta vida e não podemos fazê-lo por nós
mesmos, deve haver uma outra vida e alguém que o faça, sic !
O argumento carreia um entusiasmo cristão !
Não se sabe como ele conseguiu chegar a este senso tamanho de
virtude, sem dúvida não através de nossas ações neste mundo.
Qualquer compêndio de história poderia ter lhe mostrado o quanto somos
virtuosos.
Só se essa pretendida recompensa fosse uma punição, o dies irae, o
juízo final, dando mais consistência ao argumento.
Lembro-me de Voltaire, em Cândido, no Dicionário Filosófico, e em alguns
de seus outros escritos, ao indagar acerca da natureza humana e após enumerar
diversos atributos nada satisfatórios que nos distinguem dos demais seres, põe-se a
concluir que se os tigres não mudaram sua natureza por que os homens mudariam a
deles ?
O maior erro de toda Filosofia consiste em comparar ou tecer conclusões
entre a noção de “ser” e “existir”, ou entre o ser e a existência.
Cuidam-se de duas coisas completamente distintas.
Se o ser é atemporal, o princípio da contradição (uma coisa não pode ser
e não ser ao mesmo tempo) não faz qualquer sentido, sequer deveria ser enunciado,
o que não retira, todavia, nossa convicção no Princípio da Identidade, de que toda
coisa é igual a ela mesma.
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O erro reside na enunciação do próprio princípio da contradição, uma vez
que o ser não está sujeito ao tempo.
O princípio da contradição, ainda que aceito, não é atinente ao ser, mas à
existência, logo, ou algo existe ou não existe.
Já o Princípio da Identidade atine ao ser. Incrível e inaceitável é a falta da
correta compreensão dessas noções perdurar até hoje.
A existência, portanto, implica em lugar e tempo.
Quanto ao tempo, observo que este não pode se passar em si mesmo,
senão se extinguiria !
A noção de tempo implica na concepção de um substrato ou algo em que
ele se passe !
E esse substrato é a própria matéria.
Assim, vejo o tempo como um processo de transformação da matéria.
Não haveria tempo sem matéria. Ainda mais longe, como há diferentes
matérias ou elementos e substâncias, saliento que cada corpo tem seu próprio
tempo ou sofre seu próprio processo de transformação.
Logo, em verdade, há um tempo diferente para cada coisa, e a
circunstância delas parecem estar num mesmo tempo ou parecem ocorrer em
conjunto decorre de nossa percepção, que as une.
Embora pareçam ocorrer num mesmo tempo, cada qual tem um tempo
distinto.
Se o tempo é resultante de um processo material o mesmo não cabe dizer
do espaço.
Não concebo que os corpos em expansão venham a criar o espaço,
mesmo porque posso admitir o espaço sem corpos, como aliás lembra Kant.
Entretanto, o fato de poder ser concebido o espaço antes dos corpos,
necessariamente não significa que tal se dê assim.
Ao ler o Gênesis, quando criança, perguntava-me aonde Deus criou? “No
princípio criou Deus os céus e a terra”.
Sempre desejei saber aonde, em que lugar, ele fizera ou criara.
Seria isto o espaço, o nada , o vazio ?
No nada não há tempo, razão para admitir-se que o nada sempre existiu !
É uma tese, uma colocação interessante. De toda forma, Newton e sua
concepção de um universo dotado de fluência uniforme espácio-temporal (o tempo
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e o espaço fluem uniformemente,,,, in Principia), certamente já não pode ser
admissível.
Com o surgimento da mecânica relativista, vemos nas deduções que
resultaram as equações chamadas de Transformações de Lorentz as deformações
sofridas pelo espaço-tempo.
Fora isso, há uma outra questão a ser considerada.
O espaço ocupado por um corpo não poderia ser o mesmo do espaço em
geral ou poderia?
Quero dizer, um corpo leva sua própria extensão ainda que mude de
lugar, então, em princípio devemos considerar dois espaços, o do próprio corpo,
que ele ocupa em si, e o espaço fora dele !
Seria cabível essa distinção ?
A questão é passível de ser levantada, porém, de fundo, parece não fazer
muito sentido, uma vez que de modo geral os corpos existem em algum lugar, e tal
lugar seria justamente o espaço.
Enfim, algo para existir tem que ser definido, delimitado, ocupar lugar,
mesmo porque parece inconcebível pressupor a existência de algo indefinido e que
não esteja em algum lugar !
Conseqüentemente, mais a fundo, considero a existência como uma
determinação, e não concebo uma determinação sem a manifestação de uma
vontade.
Deseje ou não, isso se revela num forte argumento de dupla ordem, moral
e metafísica, ainda que não se indague acerca da multiplicidade de funções,
finalidades e interações entre as coisas, o que viria invariavelmente apenas reforçar
o argumento, desde nossa formação no útero materno, nossa volição informada para
o úbere buscando aleitamento, etc.
Observo, outrossim, que a existência de algo prescinde apenas de uma
determinação, dispensando reconhecimento ou demonstração, mesmo porque algo
não passa a existir porque foi objeto de demonstração; eu mesmo não preciso
demonstrar minha existência para existir ou me tornar conhecido para reafirmá-la,
pois o que me faz existir é uma determinação do que me define e estar em algum
lugar, ou seja, ocupar lugar.
Saliento ademais que se a existência de Deus não pode pressupor nada
anterior a Ele, nada há que possa demonstrá-la, porque a demonstração traz
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consigo uma necessidade que precede, necessariamente, o ser, ou que o torne
necessário.
A demonstração traz consigo a prova da necessidade de algo, ou alguma
coisa anterior a este algo, mostrando assim que o mesmo seja necessário, ou
tornando o mesmo necessário.
Mas, no caso de Deus, nada pode precedê-lo !
Mas, nem todas as verdades são demonstráveis, ou deveriam sê-lo ?
Axiomas, postulados e princípios fundamentais, nos quais se alicerça a
Matemática, por exemplo, onde encontramos todo suporte ferramental para o
desenvolvimento da Ciência, porquanto impossível produzir Física ou Química sem
ela, são aceitos como verdades primeiras quase intuitivamente.
São aceitos, tidos como verdade, acreditados como verdade, cridos como
tal, levando-nos a traçar paralelo entre a credibilidade científica e a crença religiosa.
Enquanto a credibilidade científica reside em esperar ou ter fé ou
confiança em que algo que se conhece e se estudou previamente dê determinado
resultado, a fé religiosa consiste em esperar por algo que venha alterar ou mudar
aquilo que se conhece e normalmente se espera !
Não chega a haver uma controvérsia propriamente entre ambas, uma vez
que a Ciência também busca alterar, muitas vezes, ou modificar aquilo que
normalmente se esperaria, não fosse essa alteração meramente de um curso a
outro, ou seja, embora modificativa, busque conduzir também o fenômeno a um
resultado diverso do que seria sem a intervenção de uma força, mas dentro de um
conjunto de eventos plenamente cabíveis, isto é, dentro de um curso naturalmente
plausível, possível, admissível e até mesmo provável.
Já a fé religiosa pretende a alteração completa desse curso: busca-se o
milagre.
O curso previsível da vida é a morte.
Com a fé, busca-se alterar essa situação de finitude.
Isso é indemonstrável em princípio.
Todavia, os conceitos primitivos também são indemonstráveis, mas tudo
mais se demonstra a partir deles.
A problemática da fé religiosa reside justamente nisso, nesse ponto: “em
pretender demonstrar ou aceitar algo pelo seu final”, ou seja, invertem-se os
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conceitos, pretendendo chegar a um princípio ou havê-lo demonstrado ou aceito,
como queiram, pela fé.
Cuida-se de uma subversão completa da razão, porquanto seria o mesmo
que demonstrar o princípio pelas conclusões, quando os princípios são
indemonstráveis, pois nada os antecede.
Assim, no caso, a imortalidade deveria ser um princípio e não um fim !
Ainda que os mais fanáticos busquem justificar-se sob a assertiva de que
as conclusões são evidências da existência do princípio, ainda que não o
demonstre, estaríamos diante de uma espécie de argumento semelhante ao da
“causa primeira” fornecido por Aristóteles, só que em um patamar deveras vulgar,
convenhamos.
Disso decorre que a fé não é um meio, quanto menos um princípio, mas
um fim.
E não sendo a fé um princípio e tampouco um meio ou método de
evidência, podemos afirmar seguramente que Deus não passaria a existir pela fé ou
porque tenho fé nele.
Além do mais, seria inaceitável, ridículo e absurdo colocar a existência de
um ser supremo na dependência de minha convicção.
É o que ocorre quando consideramos a fé como um princípio ou um
meio, como pressupõe a maior parte do senso comum na assertiva: chega-se a
Deus pela fé !
Como mostrei, a fé não é princípio, sequer meio. Seria um fim?
Também não, pois se fosse um fim, o escopo de algo, deixaria de ser fé
ao concretizar-se esse algo.
Em suma, o objeto da fé não pode residir no possível ou provável, mas no
impossível e improvável para que haja fé, pois, caso contrário, não seria fé.
Se os religiosos se dessem conta disso deixariam de ter fé em Deus, pois
seria o mesmo que considerá-lo impossível e improvável, uma genuína ofensa ao
criador !
Destarte, a fé não pode ser o firme fundamento de nada como pretendia
Paulo de Tarso, o apóstolo, mesmo porque não se traduz num princípio, e quanto
menos um ser supremo, como mostrei, deve ser considerado objeto de fé ou
expectativa, mas de concretude.