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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DA NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS ANTIDUMPING MAURICIO LEONARDO GOBBI Itajaí, 3 de novembro de 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DA NATUREZA JURÍDICA DOS

DIREITOS ANTIDUMPING

MAURICIO LEONARDO GOBBI

Itajaí, 3 de novembro de 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DA NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS ANTIDUMPING

MAURICIO LEONARDO GOBBI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professor Msc. Leonardo Matioda

Itajaí, 3 de novembro de 2009

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AGRADECIMENTO

A todas as pessoas que me ajudaram e incentivaram na elaboração deste trabalho. Meu orientador por ter respondido, prontamente, todas as minhas dúvidas e pela atenção despendida na elaboração desta monografia. Minha namorada por sua atenção e paciência durante este tempo. E, principalmente, aos meus pais aos quais sou infinitamente grato por todo o apoio que me deram tornando todas minhas vitórias possíveis.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 3 de novembro de 2009

MAURICIO LEONARDO GOBBI Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Mauricio Leonardo Gobbi, sob o título

Da Natureza Jurídica dos Direitos Antidumping, foi submetida em 16 de novembro

de 2009 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Leonardo

Matioda como Orientador e Presidenta da Banca e Andrietta Kretz Viviani como

Coordenadora da Monografia, e aprovada com a nota [Nota] ([nota Extenso]).

Itajaí, 16 de novembro de 2009

Leonardo Matioda Orientador e Presidente da Banca

Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................. 8

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 9

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 12

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ......... 12

1.1 DO CONCEITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL .................................... 12

1.2 DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ............................................................... 14 1.2.1 Da Origem do Comércio ........................................................................... 15 1.2.2 Do Nascimento do Comércio Internacional ............................................ 25 1.2.3 Do Comércio Internacional na Era Contemporânea ............................... 25

1.3 DA REGULAMENTAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ..................... 29 1.3.1 Do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio ............................................ 29 1.3.2 Da Organização Mundial do Comércio .................................................... 33 CAPÍTULO 2 ...................................................................................... 35

PROTECIONISMO COMERCIAL E DUMPING ................................. 35

2.1 DO PROTECIONISMO COMERCIAL ............................................................ 35 2.1.1 Das Práticas Comerciais Desleais ........................................................... 41

2.2 DO DUMPING ................................................................................................ 42 2.2.1 Do Conceito de Dumping .......................................................................... 42 2.2.2 Dos Tipos de Dumping ............................................................................. 45 2.2.3 Dos Elementos do Dumping ..................................................................... 52 CAPÍTULO 3 ...................................................................................... 56

DIREITOS ANTIDUMPING NO BRASIL ............................................ 56

3.1 DAS MEDIDAS ANTIDUMPING .................................................................... 56

3.1.1 DAS MEDIDAS ANTIDUMPING NO BRASIL ............................................. 56 3.1.2 DA LEGISLAÇÃO ANTIDUMPING ............................................................ 57 3.1.3 DO PROCESSO DE DUMPING .................................................................. 60

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3.2 DA NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO ANTIDUMPING ............................ 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 79

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 81

ANEXOS ............................................................................................. 83

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RESUMO

O comércio em si é uma atividade que acompanha a humanidade desde os seus primórdios e que gradualmente sofreu um processo evolutivo moldando-se de acordo com as necessidades que surgiram ao longo dos tempos obrigando o fortalecimento de regras de Direito Internacional que solidificassem as relações comerciais com parâmetros justos a todos seus colaboradores. A medida antidumping é um dos meios utilizados pelas nações para anular qualquer desequilíbrio comercial oriundo de práticas ilícitas que ocasionem danos à indústria doméstica do país importador, denotadamente, denominada de dumping. Isto posto, este trabalho acadêmico tem por objetivo estudar a natureza jurídica destas medidas, a fim de averiguar a possibilidade de equipará-las a categoria de tributos extrafiscais.

Palavras-chave: Comércio Internacional. Dumping. Medidas Antidumping

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INTRODUÇÃO

O estudo a ser desenvolvido abordará o tema do comércio

internacional como sendo a forma na qual os países utilizam para aumentarem suas

riquezas, de darem destinação ao seu excedente produzido internamente e de se

relacionarem com as demais nações visando trocas comerciais que possibilitem a

promoção do desenvolvimento econômico.

O comércio em si é uma atividade que acompanha a

humanidade desde os seus primórdios e que gradualmente sofreu um processo

evolutivo moldando-se de acordo com as necessidades que surgiram ao longo dos

tempos obrigando o fortalecimento de regras de Direito Internacional que

solidificassem as relações comerciais com parâmetros justos a todos seus

colaboradores.

Com o intuito de proporcionar uma maior liberalização dos

mercados mundiais em vista de expandir suas relações comerciais, nota-se a

carência de um sistema que pudesse estabelecer regras e garantir soluções em

nível mundial que tornasse o comércio um ambiente mais justo e pacífico. Neste

intuito, o primeiro impulso tomado nesta direção adveio com o fim da Segunda

Guerra Mundial, nascendo assim o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, ou seja,

o GATT.

O GATT tinha por primordial objetivo atuar, principalmente, na

redução de tarifas alfandegárias no comércio internacional, além de servir como um

foro de discussão, onde ocorriam negociações para ampliar o escopo do Acordo,

reduzindo cada vez mais as barreiras comerciais e estimulando um maior

desenvolvimento comercial em âmbito mundial.

Contudo, ante as limitações intrínsecas ao Acordo Geral sobre

Tarifas e Comércio e de forma a estender suas negociações a outras searas do

comércio internacional, os Estados Membros do GATT assinaram, no ano de 1995,

o acordo que instituiu a Organização Mundial do Comércio. Criada a fim de

aprimorar o sistema adotado pelo GATT com a inclusão de novos setores de

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negociação, a organização reforçou o combate a práticas ilícitas de comércio,

incluindo-se aí as medidas antidumping.

Ocorre que, mesmo com todo o aparato de negociações

proporcionado pela Organização Mundial de Comércio, um comportamento

prejudicial persiste em ser adotado por grande parte dos países, que até nos dias de

hoje, todavia, não foi erradicado pelas normas comercial, isto é, o protecionismo.

O protecionismo comercial é indubitavelmente um dos maiores

obstáculos do livre comércio e sua prática encontra abrigo nos mais diversos

argumentos que vão desde a proteção a indústria nacional até como forma de

retaliação comercial, utilizado pelos países como forma de retaliação por algum

prejuízo sofrido.

Muitas nações, na ânsia de protegerem suas indústrias

domésticas, acabam por muitas vezes protegendo setores ineficientes, subsidiando

empresas que não possuem as mínimas condições para competirem com produtos

internacionais similares. Fato este que, entretanto, não obsta a utilização destas

proteções como uma forma de estimulo as indústrias locais, embora seja

veementemente criticada pela Organização Mundial do Comércio.

No entanto, deve-se esclarecer que a Organização Mundial do

Comércio concede a seus Estados Membros meios lícitos de proteção comercial que

podem ser perfeitamente utilizados desde que respeitados seus propósitos e

limitações de uso. Dentre eles, encontram-se as medidas antidumping, uma forma

proteção que visa erradicar o dano à indústria doméstica, ocasionado por produtos

importados com dumping.

Em termos gerais, a prática de dumping consiste na colocação

de mercadorias em outro país a preço inferior ao praticado no mercado doméstico

do país exportador, com o intuito de desestabilizar e enfraquecer a concorrência.

Assim, os Estados prejudicados por esta prática podem, através da imposição de

direitos antidumping, anular esta diferença de preços e assegurar a manutenção do

setor produtivo nacional.

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Importante destacar que a aplicação destes direitos não pode

ser arbitrária, sem a devida comprovação de sua necessidade, posto que existem

critérios específicos que devem ser respeitados, na qual exigem a análise de fatores

como a comprovação do dano e o nexo causal entre ele e as importações objeto de

dumping, além de outros fatores que encontram-se regulamentados no Acordo

Antidumping da Organização Mundial do Comércio.

Levando em consideração que o tema escolhido para o

desenvolvimento deste trabalho é demasiadamente abrangente, sua divisão se dará

em três capítulos, sendo o primeiro dedicado a uma abordagem histórica da

evolução do comércio internacional e a criação da Organização Mundial do

Comércio, o segundo capítulo tem por escopo relatar sobre as formas de

protecionismo comercial e a prática do dumping nas trocas comerciais e seu reflexo

no cenário mundial e, por sua vez, o terceiro capítulo discorre sobre os direitos

antidumping no Brasil, em especial, sobre a natureza jurídica destes direitos a luz do

ordenamento jurídico nacional.

A hipótese a ser debatida nesta pesquisa consiste na

possibilidade de se equiparar os direitos antidumping à categoria de tributo

extrafiscal. A discussão é pertinente, posto que, referidos direitos são oriundos de

um sistema jurídico alienígena e incorporados ao direito doméstico pela via

diplomática, sem a readequação de qualquer norma constitucional para seu

acolhimento. Desta forma, é de fundamental importância encontrar uma categoria

jurídica aplicável aos direitos antidumping em face às repercussões jurídicas que

possuem no plano interno, sobretudo em relação à seara tributária.

Para tanto, utilizou-se para o desenvolvimento deste trabalho o

método Indutivo na Fase de Investigação, uma vez que se parte de considerações

gerais para uma análise particular e o método Cartesiano na Fase de Tratamento de

Dados, posto que as conclusões deste trabalho se respaldam na doutrina e

legislação.

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CAPÍTULO 1

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

1.1 DO CONCEITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Chama a atenção o estágio de integração comercial no qual se

encontra atualmente o cenário internacional ao ponto de apresentar uma

dinamicidade sem precedentes na história mundial, com uma verdadeira miscelânea

não somente de legislações nacionais, mas também de inúmeros tratados firmados

em âmbito internacional.

Graças a fatores, todavia recentes, tais como avanços

tecnológicos, aumento da renda per capita mundial, barateamento dos meios de

transporte e comunicação a atual movimentação de bens, serviços e propriedade

Intelectual atinge nos dias de hoje, tanto em volume quanto em valores, um patamar

nunca antes alcançado em toda sua história1.

Esta gama de mercadorias, serviços e demais produtos

comercializados é gigantesca, variando desde matérias-primas com pouco valor

agregado, até uma vasta variedade de produtos de alta tecnologia que, segundo

Ulrich Beck2, ultrapassam as fronteiras políticas dos Estados como se elas não

existissem.

Entretanto, o comércio internacional é o resultado de um

processo evolutivo milenar, acompanhado de diversos avanços e retrocessos, que

gradativamente o moldaram até tornar-se o que hoje conhecemos. Cumpre,

portanto, fazer-se uma breve análise da evolução histórica do comércio

internacional, de sua origem ao estágio atual. Tema este que é objeto de estudo do

presente capítulo.

1 Informação retirada do sitio eletrônico da Organização Mundial do Comércio, disponível em <www.wto.org>

2 BECK, Ulrich. O que é Globalização? Equívocos do Globalismo: respostas à globalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 46.

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Sem embargos, antes de se adentrar na análise histórica do

comércio internacional, convêm, preliminarmente, buscar um conceito apropriado

para este fenômeno disseminado em praticamente todas as nações do globo e que

é atualmente uma prática intrínseca nas relações internacionais.

Desta forma, na acepção do autor Jayme de Mariz Maia3, o

comércio internacional é nada menos do que o resultado das desigualdades entre as

nações, tais como diferenças naturais como solo e clima, cumulado com as

disparidades econômicas e tecnológicas. Assim, a busca por recursos naturais,

insumos e tecnologia além fronteira, acabou por ser uma solução muito bem vinda,

tornando-se atualmente uma prática imprescindível a praticamente todas as nações.

Ainda neste contexto, de acordo com o autor Antonio Campos4,

este intercâmbio entre nações é um dos principais colaboradores para a evolução da

humanidade, servindo como meio de divulgação em âmbito mundial de

conhecimentos na ceara da economia, tecnológica, cultura, política, etc, assumindo

um papel indispensável à universalização do conhecimento humano.

Juntamente com as trocas comerciais, o comércio internacional

universalizou todos os conhecimentos necessários a sua prática, tais como a

moeda, técnicas de produção, meios de transporte, normas e inúmeros outros

aspectos que, segundo o autor Jairo Silva Melo5, possibilitaram uma maior

segurança a seus participantes e tornaram viável a sua concretização tal como hoje

se encontra.

Atualmente vive-se uma internacionalização da produção e do

consumo sem respeito às fronteiras políticas impostas pelas nações, denotando a

importância que as trocas econômicas possuem no período contemporâneo, no

3 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior. 11ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2007, p. 2. 4 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação. São Paulo: Editora Aduaneiras, 1990, p. 32. 5 MELO, Jairo Silva. Contratos Internacionais e Cláusula Hardship. São Paulo: Editora Aduaneiras, 2007, p. 16.

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qual, diga-se de passagem, não se limitam somente ao intercâmbio de bens, mas

também se aplicam a permuta de serviços, propriedades intelectuais e capitais6.

O autor Irineu Strenger logrou em conceituar, com grande

propriedade, este fenômeno global que é o comércio internacional em definição

embora sucinta, suficientemente completa e de grande valia ao presente assunto,

cujo teor abaixo se reproduz:

O comércio internacional é atividade que traduz uma visão projetiva trans-fronteiras de todos acontecimentos que envolvem intercâmbios visíveis e invisíveis manifestados pelos mecanismos de compra e venda de mercadorias, transferência de tecnologia, investimentos, representações e outros entendimentos que possibilitem a consecução de lucros e vantagens para as partes intervenientes, compreendendo os atos formais possibilitantes dessas relações7.

Em complemento ao conceito acima exposto, vejamos ainda o

conceito dado pelo autor Roosevelt Baldomir Sosa:

O Comércio Internacional, como área específica, é percebido nas trocas comerciais havidas entre as diversas nações que compõem a comunidade mundial, inscrevendo-se na Economia Internacional e submetendo-se ao Direito Internacional Público. O grande ator, nesse contexto, é o Estado soberano, que consente em aceitar as regras universais vigentes8.

Oportuno frisar, contudo, que, muito embora este fenômeno de

trocas além fronteiras seja algo cotidiano nos dias atuais, sua origem remonta aos

primórdios da história humana. Afirma Jayme de Mariz Maia9, que o homem pré-

histórico ao ponto em que tornou-se hábil na elaboração de armas e ferramentas,

deu destarte a permuta de objetos e alimentos.

1.2 DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

1.2.1 Da Origem do Comércio

6 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior. p. 2. 7 STRENGER, Irineu. Direito do Comércio Internacional e Lex Mercatória. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 1. 8 SOSA, Roosevelt Baldomar. A Aduana e o Comércio Exterior, São Paulo: Editora Aduaneiras, 1996. p. 32. 9 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 2.

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Preconiza Jayme de Mariz Maia10 que este escambo primitivo

era inicialmente praticado entre pessoas do mesmo grupo tribal, passando ao longo

do tempo a permuta entre tribos. Embora rudimentar, a permuta realizada entre os

grupos tribais pré-históricos, foi, segundo o autor, passo inicial para o surgimento do

comércio internacional.

Neste esteio, complementa Maia:

Em épocas pré-históricas, as trocas ocorriam entre habitantes da mesma tribo. Com a evolução do relacionamento humano, o campo de ação das trocas ampliou-se, sucessivamente, para as cidades, nações e, finalmente para o mundo”11.

Não obstante, foi somente com o surgimento das primeiras

civilizações, em meados do Século 6.000 a.C, que a permuta de mercadorias

gradativamente intensificou-se, tendo como principais produtos negociados o trigo, a

cevada e algumas espécies de tecidos e metais preciosos12.

Ainda neste período, o vale do rio Nilo tornou-se, segundo

Maia13, o primeiro centro da civilização oriental, decorrência de suas terras férteis e

propensas à agricultura. Sua fama de prosperidade fez com que muitos povos

oriundos do interior da África, do deserto da Arábia e da região do oeste da Ásia,

atravessassem o deserto escaldante com destino ao Egito, surgindo assim, uma

região relativamente povoada para os parâmetros da época.

Esta migração em massa foi fator inquestionável para o

desenvolvimento da Civilização Egípcia, que acabou por proporcionar o

desenvolvimento de tecnologias rudimentares, a escrita hieroglífica e acabou por

destacando-se pelo desenvolvimento de relações comerciais com povos vizinhos14.

Séculos após a ascensão dos egípcios, a cidade da Babilônia,

localizada na região da Mesopotâmia, mais especificamente na bacia dos rios

10 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 2. 11 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 2. 12 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 3. 13 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 3.. 14 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 36.

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Eufrates e Tigre, que, por ser rota obrigatória para o trânsito de caravanas, acabou

tornando-se um importante centro de comércio entre os povos15.

No que diz respeito à antiga cidade da Babilônia, o autor

Antonio Campos narra em sua obra:

Ela era o principal empório de comércio da Antiguidade. Sob sua hegemonia se reuniam diversas cidades da Caldéia, associadas numa espécie de confederação, e sua importância deve-se ao fato de poder ser considerada como o local em que o comércio internacional teve suas origens16.

Outro fato de grande significância para a evolução histórica do

comércio internacional advindo da cidade da Babilônia foi, segundo afirma

Campos17, o Código de Hamurabi. Elaborado por volta do ano do Século XXII a.C,

durante o governo do rei Hamurabi, o Código é reconhecido como o primeiro

ordenamento jurídico positivado que se tem conhecimento, sendo assim, a primeira

legislação a tratar sobre o Direito Comercial e Marítimo da história.

Contudo, enquanto os babilônios dominaram o comércio

terrestre, realizado a época por caravanas de camelos, o comércio marítimo teve

início pelos povos gregos que destacaram-se por serem grandes comerciantes e

navegadores, alcançando seu ápice nos Século X a.C. Localizados na orla do Mar

Mediterrâneo, os Gregos estabeleceram novas rotas comercias e desenvolveram

uma forte marinha mercante resultando em um período de grande expansão

comercial18.

Desta forma, a Grécia tornou-se a primeira nação a tornar-se

referência no comércio marítimo, sendo logo seguida pela Fenícia e Cartago. Relata

Campos19, que tamanha prosperidade estimulou a cobiça dos demais povos e a

civilização grega, após sair vitoriosa das invasões persas e macedônias entre os

anos de 500 a 300 a.C, finalmente sucumbiu frente à investida de Roma.

15 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 3. 16 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 37. 17 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 37. 18 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 38. 19 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 38.

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Por sua vez, Roma, localizada na península Itálica, foi fundada

por volta do ano de 1000 a.C e tornou-se o maior império bélico e comercial da

historia antiga, destacando-se por unificar as normas comercias e marítimas e por

estabelecer novas rotas comerciais, chegando a negociar com povos tão distantes

como o Egito, Índia e até mesmo a China20.

Ademais, segundo o economista Ricardo Feijó21, devido ao

comércio com os demais povos pertencentes ao Império, Roma foi a precursora no

uso de moedas para a prática comercial, desenvolvendo bancos e um forte controle

do Estado na vida econômica, fixando preços de mercadorias, juros e estabelecendo

formas de barrar a competição estrangeira.

No entanto, nos séculos finais do Império Romano, houve um

enfraquecimento gradativo de sua economia motivado por disputas internas e

corrupções, fato este que refletiu diretamente no comércio praticado na época,

conforme narra Feijó:

Nos dois últimos séculos da dominação romana, o Império não consegue mais manter a mesma força militar e o elevado grau de coesão política e ordenamento jurídico que no passado fizeram sua glória. Há uma estagnação econômica. As antigas instituições entram em decadência e um novo conjunto de crenças religiosas emerge, então sob influência do cristianismo22.

Com a queda do império romano ocorre uma redução drástica

do volume de bens comercializados na região do Mar Mediterrâneo, ocasionando

um declínio do comércio internacional que por séculos estagnou-se a quase nada,

dando sinais de recuperação somente em meados da Idade Média23.

Esta morosidade para a reestruturação das práticas comerciais

justifica-se, segundo Feijó24, pois o período inicial da Idade Média, intitulado pelo

autor como a Idade das Trevas, compreendido entre os Séculos IX a XI d.C, foi

marcado pelo surgimento dos feudos que tinham como característica marcante ser

20 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 52. 21 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 35. 22 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 41. 23 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 42. 24 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 46.

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sistema econômico preponderantemente agrícola e auto-suficiente, não logrando em

produzir excedentes passíveis de exportação.

Ainda no tocante a este tema, relata o autor Roberto Di Sena

Junior:

O feudalismo surge durante o período de decadência da autoridade central, de invasões bárbaras, de declínio das rendas públicas, do comércio e da vida urbana, e caracterizou-se pela tentativa de se restabelecerem a ordem e a segurança sociais25.

Neste esteio, o Feudalismo serviu como um sistema de

governo provisório, instituído logo após o declínio do Império Romano, com intuito

de buscar restabelecer a ordem social, praticamente extinta com o fim do Império

Romano26.

No tocante a atividade econômica do período feudal,

complementa Di Sena:

O período feudal marcado pela produção exclusivamente rural, não dava margem para as atividades comerciais, ademais, a sociedade medieval embora fragmentada era unida pela ética cristã pregada pela Igreja Católica, na qual condenava veementemente a acumulação de riquezas e lucro27.

Contudo, após o decorrer de diversas guerras e crises

financeiras, a partir do Século XI d.C, a atividade comercial finalmente voltou a tomar

força. Estimulada principalmente pelo desenvolvimento tecnológico na área da

metalurgia, transportes e agricultura, que acabara por motivar o crescimento

populacional e o surgimento de novas cidades. Ademais, a Igreja Católica acabou

cedendo quanto as restrições impostas aos negócios e ao acúmulo de riquezas28.

25 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC. Curitiba: Juruá Editora, 2003, p. 29. 26 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC. Curitiba: Juruá Editora, 2003, p. 29. 27 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC. Curitiba: Juruá Editora, 2003, p. 30. 28 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 47.

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Segundo Ricardo Feijó29, fator indispensável para que a

Europa saísse da Idade das Trevas foram às grandes feiras comerciais, que através

da comercialização de produtos agrícolas, animais, ferramentas, armas dentre

outras mercadorias, estimularam aos poucos o crescimento de cidades, libertando-

se do controle do Senhor Feudal.

Desta forma, com a ausência de um poder central regulador, as

próprias cidades acabaram por criar instituições com o intuito de regulamentar a

economia dos feudos, como a produção de mercadorias e as atividades financeiras

e comerciais, desenvolvendo assim, novos instrumentos comerciais como a letra de

câmbio, leis de contrato, etc30.

No concernente a estes avanços, explana Ricardo Feijó:

À medida que as cidades comerciais foram adquirindo autonomia, seus dirigentes procuravam estabelecer um código legal preciso em substituição ao direito consuetudinário e paternalista do feudalismo. As transações comerciais e financeiras foram então regulamentadas por uma legislação comercial específica31.

Estes fatos motivaram ao longo do tempo a restauração da

prática do comércio internacional, trazendo consigo o retorno do uso da moeda, o

desenvolvimento de novas tecnologias, descobrimento de novas rotas comerciais,

acúmulo de capitais, o surgimento dos primeiros reinos e da doutrina mercantilista

dando novos rumos a prática comercial entre povos32.

1.2.2 Do Nascimento do Comércio Internacional

A transição do Sistema Feudal para o Mercantilismo, ainda no

Século XV, foi marco histórico de grande relevância para o comércio internacional,

pois teve papel essencial para seu fortalecimento ao promover transformações que

se refletem até os dias de hoje, tal como a integração de continentes, a massiva

29 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 47. 30 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 49. 31 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 49. 32 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Editora Atlas, 2001, p. 49.

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circulação de moedas e mercadorias e o nascimento das primeiras Nações-Estado

33.

De forma cristalina, a autora Joana Stelzer discorre acerca do

assunto:

Com o nascimento dos primeiros Estados modernos, desenvolveram-se os sentimentos nacionais, pois apenas uma nação poderosa poderia promover exportações e acumular riquezas, conquistando colônias, ganhando guerras e dominando rotas marítimas. O comércio de toda a sorte de produtos ganhava acelerada projeção internacional34.

Há de se destacar, entretanto, que um dos principais fatores

que serviram de estopim para esta revolução comercial foi à teoria econômica

denominada de Mercantilismo, que, de acordo com os autores Dias, Cassar e

Rodrigues35, serviu como meio propulsor para a expansão marítimo e comercial

mundial.

Quanto a expansão marítimo comercial dos Estados europeus

no Século XV, os autores Júlio Quevedo e Marlene Ordoñez comentam:

A expansão marítimo-comercial européia deslocou o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico, ampliou as relações comerciais entre o Ocidente e o Oriente, provocou a entrada de metais preciosos na Europa, fez crescer o poder econômico da burguesia, fortaleceu o poder real e deu origem aos impérios coloniais modernas36.

Pregava a doutrina mercantilista que a prosperidade das

nações estava estritamente ligada à quantidade de metais preciosos que esta

possuísse. Assim, em persecução a este preceito, houve uma ferrenha intervenção

33 DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício; RODRIGUES, Waldemar. Comércio Exterior: História, teorias e práticas. Campinas, SP: Juruá Editora, 2002, p. 24. 34 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional. Itajaí, SC: Universidade do Vale do Itajaí, 2007, p. 21. 35 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 31. 36 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História. São Paulo: Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, 1998, p. 87.

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estatal na atividade econômica, estabelecendo leis regulamentando a produção e o

comércio37.

No tocante a participação do Estado na proteção comercial,

acrescenta Ricardo Feijó:

Havia uma relação de ajuda mútua entre o Estado absoluto e os produtores. Ao mesmo tempo em que aquele controlava os processos de produção e impunha toda sorte de barreiras e impostos, os grandes comerciantes lucravam com as proteções. A ênfase recaia na conquista do comércio internacional como fonte de enriquecimento do Estado38.

Ainda referente ao Mercantilismo, narram Dias, Cassar e

Rodrigues em sua obra:

Com o mercantilismo aparece pela primeira vez o conceito de balança comercial, já que os países se vêem forçados a desenvolver ao máximo as exportações de produtos que são pagos em ouro e prata e reduzir ao mínimo possível as importações que seriam pagas nestas moedas. Deste modo a balança comercial seria sempre favorável39.

Outro fator que marcou a política econômica mercantilista foi o

colonialismo, que consistiu no controle pleno pelas metrópoles européias de toda

produção de suas colônias. Assim, as colônias não passavam de mercados

fornecedores de matérias-primas e mercados consumidores das manufaturas das

metrópoles, ou seja, a metrópole detinha toda a produção de suas respectivas

colônias40.

Quanto ao colonialismo exercido pelas potências européias,

acrescentam Dias, Cassar e Rodrigues:

A função das regiões colonizadas era exclusivamente servir ao enriquecimento da metrópole, sua exploração era organizada através

37 DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício; RODRIGUES, Waldemar. Comércio Exterior: História, teorias e práticas, p. 15. 38 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico, p. 63. 39 DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício; RODRIGUES, Waldemar. Comércio Exterior: História, teorias e práticas, p. 15. 40 DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício; RODRIGUES, Waldemar. Comércio Exterior: História, teorias e práticas, p. 15.

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do monopólio, constituindo-se numa região onde a potência colonial européia detinha exclusividade41.

O Mercantilismo foi, portanto, o embrião do Capitalismo, que se

consolidou a partir do século XVIII. Houve ainda neste período, uma revolução dos

meios de produção, originado pelo artesanato, com a produção doméstica, porém

especializada, elaborada por poucos, evoluindo posteriormente para a manufatura,

que introduziu a prática da divisão de trabalho aumentando significativamente a

produção de mercadorias42.

A respeito desta evolução dos meios de produção,

complementam os autores Dias, Cassar e Rodrigues:

Esta primeira forma de produção familiar foi suplantada gradativamente a partir do século XVI com a produção realizada em oficinas urbanas, onde o empresário-mercador reunia em determinado local um certo numero de artesãos, fornecia a matéria-prima, as ferramentas e efetuava o pagamento por tarefa ou salário, apropriando-se da produção. A produção era realizada segundo o princípio da divisão do trabalho, onde cada artesão executava apenas parte do produto de tal maneira que a mercadoria só ficava pronta após passar sucessivamente por vários trabalhadores, que realizavam uma parcela da atividade que anteriormente era realizada por um único individuo43.

Por sua vez, avançando-se assim a outro marco histórico de

grande relevância para o comércio internacional, a saber, a revolução industrial

inglesa, que com o desenvolvimento de novos inventos dentre eles a máquina a

vapor, automóveis e máquinas de teares, impulsionaram a produção fabril no país e

por conseqüência firmaram o domínio inglês no comércio internacional no século

XIX44.

Salienta Antonio Campo45 que, não por coincidência, foi

durante este mesmo período que a própria Grã-Bretanha aumentou

41 DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício; RODRIGUES, Waldemar. Comércio Exterior: História, teorias e práticas, p. 17. 42 DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício; RODRIGUES, Waldemar. Comércio Exterior: História, teorias e práticas, p. 17. 43 DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício; RODRIGUES, Waldemar. Comércio Exterior: História, teorias e práticas, p. 24. 44 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 54. 45 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 54.

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significativamente o movimento do livre-comércio, que foi aderido pelas demais

potências. Assevera o autor:

Eliminadas essas restrições protecionistas, resquícios do período mercantilista, o comércio internacional cresceu extraordinariamente, permitindo o aproveitamento de recursos naturais possibilitasse o aparecimento de outras potências comercias, tanto no plano agrícola e pastoril, como no industrial46.

A Revolução Industrial promoveu um aumento da produção

industrial nos países europeus, juntamente com a necessidade de ampliação dos

mercados consumidores. Neste período, os avanços tecnológicos eram inúmeros,

como as estradas de ferro, a energia elétrica, o telefone como exemplos47.

Atinente a Revolução Industrial inglesa, narra Joana Stelzer:

Na Inglaterra, emergiu a Revolução Industrial, merecendo a termologia “revolução” pelas conseqüências que desencadeou, representando o apoio para o surgimento do capitalismo industrial e o desejo de fazer circular bens manufaturados48.

Em face ao aumento da produção industrial, surgiu, por parte

das potências européias, a necessidade de ampliar os mercados consumidores que

absorvessem os excedentes de produção, além da busca além fronteira por

matérias-primas e mão-de-obra barata. Esta busca desenfreada por novos territórios

resultou em uma repartição do mundo por estas potências49.

Desta forma, os poucos territórios disponíveis à época

passaram a ser disputados pelas grandes potências. Sobretudo na África e Ásia o

denominado imperialismo econômico se consolidou, havendo uma forte colonização

das nações européias nestes territórios. Ademais, as nações industrializadas

precisavam de matérias-primas (ferro, carvão, manganês, etc.) e custo da mão-de-

obra nas nações periferias era atrativo50.

Quanto a este assunto, acrescentam os autores:

46 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 54. 47 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 22. 48 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 22. 49 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 23. 50 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 199.

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O avanço capitalista na África e na Ásia quebrou definitivamente a auto-suficiencia dos povos que ali viviam. Para os colonizadores isto era imprescindível, visto que as colônias deveriam suprir as metrópoles de matéria-prima necessária a industrialização. Sob esta ética, a produção doméstica dos nativos tinha de ser sacrificada51.

Ainda concernente ao assunto em pauta, complementam

novamente os autores:

A colônia devia absorver grande parte do capital excedente da metrópole desenvolvida. Para que os investimentos se tornassem lucrativos, era preciso criar a infra-estrutura de exportação: estradas de ferro, pontes, portos. Portanto, a economia dos países colonizados devia ser reorientada em função das novas necessidades criadas pelos investimentos nas atividades de exportação52.

Salientam Ordoñez e Quevedo53, que referidos interesses

econômicos e comerciais geraram um clima de tensão e rivalidade entre as nações

européias. Aludida disputa por mercados foi propulsora do fortalecimento da

indústria bélica e pelo aumento dos contingentes militares. Em certo momento a

corrida armamentista ficou desenfreada, comprometendo o equilíbrio entre as

nações e tornando a manutenção da paz precária.

Fatos estes que, segundo os autores, gerou um clima de

tensão e rivalidade entre as potências européias e conflito generalizado era questão

de tempo. Assim, asseveram que “no começo do Século XX, a guerra entre as

potências imperialistas e colonialistas era inevitável, e acabou se concretizando com

a Primeira Guerra, que se tornou mundial”54.

1.2.3 Do Comércio Internacional na Era Contemporânea

Assim, no exato dia de 28 de julho de 1914, com a invasão do

território sérvio pelo Império Austro-Húngaro, a paz tornou-se insustentável e as

engrenagens das alianças formadas anos antes do início do conflito foram

51 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 199. 52 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 199. 53 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 199. 54 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 199.

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acionadas. Compondo a Tríplice Aliança havia Alemanha, Áustria e Itália e de outro

lado compondo a Tríplice Entente havia a França, Inglaterra e Rússia55.

A beligerância, que durou até meados de novembro de 1918,

teve como balanço a morte e a invalidez de milhões, além da destruição de

indústrias, portos e estradas que prejudicaram diretamente o fluir do comércio

internacional na época56.

Com o fim do conflito, de forma a sacramentar a vitória, os

aliados reunidos na Conferência de Paris, por meio do Tratado de Versalhes,

estabeleceram penas pesadas aos derrotados. Por óbvio, além da imediata

desmilitarização destes estados, cujo propósito era o de evitar possíveis agressões

no futuro próximo, os mesmos trouxeram novamente à tona a importância do

comércio internacional nas relações internacional ao exigir, de forma a favorecer a

entrada de produtos estrangeiros nas nações derrotadas, a eliminação de barreiras

econômicas a estes estados57.

Joana Stelzer, por sua vez, enfatiza:

O choque que a guerra tinha provocado na Europa, no entanto, levou os governantes a pensarem seriamente na criação de um sistema de cunho internacional, buscando-se evitar desastres como o recém vivenciado e viabilizar segura circulação de mercadorias58.

Surgia assim a Sociedade das Nações, sendo a primeira

organização de Estados em âmbito internacional instituída com caráter permanente,

cujo objetivo era o de promover a paz e a cooperação econômica, social e

humanitária59.

O conflito enriqueceu como nunca os Estados Unidos da

América, que passaram a fornecer matérias-primas e produtos industrializados não

somente aos países europeus, devastados com a guerra, mas também atendiam as

necessidades dos mercados sul-americanos e asiáticos, passando a se destacar no

55 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 199. 56 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 23. 57 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 199. 58 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 23. 59 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 23.

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comércio internacional. Esta demanda mundial por produtos norte-americanos

estimulou a produção industrial do país, que atingiu em 1919 um verdadeiro “boom”

econômico60.

Contudo, frisam Ordoñez e Quevedo61, que esta prosperidade

econômica ocultava o aumento gradativo das taxas de desemprego tomado pela

progressiva mecanização industrial. Cumulado, ainda, pela intensa especulação

econômica que fragilizava os pilares do crescimento econômico e financeiro norte-

americano.

Ademais, dita prosperidade foi acompanhada pelos países

europeus, em especial a Alemanha e a Inglaterra que ao final do século 1920

encontrava-se fortemente industrializadas e praticamente recuperadas dos

desastres da Primeira Guerra Mundial. Esta recuperação industrial resultou em uma

concorrência direta aos produtos norte-americanos62.

No que diz respeito aos reflexos da concorrência européia no

mercado norte-americano, complementam Ordoñez e Quevedo:

Nos Estados Unidos, a concorrência européia fez cair os preços de vários produtos. Além disso, houve também uma redução do consumo interno, pois muitas pessoas já haviam adquirido todos os bens de consumo que desejavam63.

Desta forma, o mercado doméstico norte-americano ficou

saturado, contrapondo-se a incessante superprodução industrial, o que acabou por

ocasionar em uma abrupta redução dos preços, refletindo diretamente no mercado

de capitais negociados na bolsa de valores dos Estados Unidos da América64.

Assim, no dia 24 de outubro de 1929, a desvalorização maciça

das ações negociadas no mercado de capitais, resultou na quebra da bolsa de

valores norte-americana, dando início a um pânico generalizado com repercussão

em âmbito mundial, conforme afirmam em sua obra, os autores Ordoñez e Quevedo:

60 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 218. 61 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 218. 62 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 218. 63 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 218. 64 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 219.

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A crise econômica ultrapassou as fronteiras dos Estados Unidos. As economias de alguns países europeus se mantinham graças ao crédito norte-americano; quando esta foi suspenso, sofreram um forte abalo. Houve o fechamento de bancos, falências, desvalorização da moeda e desemprego65.

A crise econômica mundial agravou a instabilidade nas

relações internacionais que gradativamente se engajavam na política armamentista

para superar o marasmo industrial e reverter os altos índices de desemprego que

assolavam os países europeus66.

A indústria bélica foi a solução encontrada por vários governos para aumentar o nível de emprego de seus países. Sem dúvida, essa depressão foi um dos importantes motivos que favoreceu a eclosão da Segunda Guerra. Além desse, devem ser considerados: a ineficiência da Sociedade das Nações, os conflitos da década de 30, a busca do espaço vital e o expansionismo alemão67.

Cumpre observar que a Alemanha, liderada por Adolf Hitler, em

manifesta violação ao Tratado de Versalhes, restabeleceu o serviço militar

obrigatório no País, além de organizar a Marinha e a Aeronáutica68.

A Sociedade das Nações, formada logo após a Primeira Guerra Mundial, apenas solucionou algumas questões internacionais mas, por não possuir poder de coerção sobre seus membros, não conseguiu impedir vários conflitos que marcaram a década de 30, tais como a invasão da Mandchúria pelo Japão, a guerra sino-japonesa e a invasão da Etiópia pelos italianos69.

Após seguidos conflitos localizados na Europa, África e Ásia o

panorama mundial tornou-se novamente instável e um conflito generalizado era

questão de tempo, que teve como estopim a invasão da Polônia pela Alemanha70.

Neste contexto, o autor Roberto Di Sena Júnior sintetiza o

período entre guerras:

65 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 219. 66 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 219. 67 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 225. 68 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 225. 69 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 225. 70 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 225.

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O período entre-guerras foi marcado pela limitada cooperação entre as nações e pala imposição de elevadas barreiras as importações. O cenário predominante nos anos 1930 de desconfiança generalizada, diplomacia secreta, protecionismo comercial e militarismo, favoreceu a eclosão da II Guerra Mundial71.

Teria assim, em 1940, eclodido a maior guerra bélica até hoje

travada na história da humanidade, conflito este que repercutiu em todo o globo,

encerrando-se somente 5 anos depois, com um balanço de morte e destruição

assombrosamente superior ao conflito antecessor72.

Complementa Joana Stelzer:

Na Europa Ocidental, a guerra não tinha arruinado somente as indústrias, mas desarticulado por absoluto toda a estrutura econômica. A circulação de mercadorias, nessa fase, praticamente inexistia, a não ser de cunho humanitário, para alimentar a multidão de flagelados que sobrevivera ao caos73.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, restou nítido o papel

fundamental do comércio internacional para a recuperação dos países europeus.

Logo, iniciaram-se diversas conferências, lideradas pelos Estados Unidos da

América, Reino Unido e França, países vencedores do conflito, com o intuito de

promover uma nova estruturação econômica e financeira em âmbito global74.

Ademais, conclui Antonio Campos75, que o estado de

beligerância reflete diretamente no fluxo das trocas comerciais internacionais, posto

que reduz significativamente a troca de mercadorias, salvo aquelas essenciais para

a continuidade do conflito como armamentos e munições. Todavia, frisa o autor, que

quaisquer benefícios oriundos da guerra, não compensam os prejuízos que causam

a humanidade como um todo.

1.3 DA REGULAMENTAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

71 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 40. 72 ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO. Júlio. História, p. 226. 73 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 24. 74 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 41. 75 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 31.

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1.3.1 Do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio

Dessa feita, ante a evidente necessidade de maior

regulamentação do comércio internacional, houve um consenso global em relação à

necessidade da criação de organismos e organizações para regulamentarem por

meio de regras, acordos, convenções e outros artifícios as relações de comércio e

dos fluxos de capitais em âmbito mundial76.

As negociações avançam no sentido da criação da

Organização Internacional do Comércio (OIC), agência especializada da

Organização das Nações Unidas (ONU), destinado a coordenar e supervisionar as

negociações no âmbito do comércio mundial77.

A respeito da OIC, complementam Ricardo Faro e Fátima Faro:

Nesse desenho, a OIC viria atuar como um elemento responsável pela coordenação das trocas econômicas, buscando equilibrar as relações de comércio, além de funcionar como um balcão no qual os seus membros pudessem negociar entre si as questões comerciais de seus respectivos interesses78.

Todavia, a OIC nunca chegou a sair do papel por problemas

políticos internos nos Estados Unidos da América, que acabaram por não ratificar a

Carta de Havana que delimitava os objetivos e funções da Organização. Sem a

participação de um dos principais membros da ONU na nova organização, a OIC

estava fadada ao insucesso antes mesmo de sua criação, haja visto sua influência

no comércio mundial pós-guerra79.

Diante da fracassada tentativa de instituir uma organização

mundial que regulamentasse o comércio internacional, os países envolvidos, de

forma a saírem deste impasse, optaram por negociar um Acordo Provisório que

76 SEITENFUS, Ricardo. Manual das Organizações Internacionais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 174. 77 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 30. 78 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira. São Paulo: Editora Atlas, 2007, p. 217. 79 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização, p. 42.

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utilizava apenas a quarta parte da Carta de Havana (Política Comercial), relativa às

negociações de tarifas e regras sobre comércio80.

As relações comerciais internacionais passaram a ser gerida

então pelo Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), siglas na língua inglesa

para General Agreement on Trade and Tariffs, com o caráter provisório, passando a

ser aplicado um conjunto de regras a serem observados na condução das trocas

comerciais internacionais81.

Sobre o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, narra Roberto

di Sena Júnior:

Observando-se as circunstâncias de criação do Gatt, nota-se que inicialmente ele seria apenas um acordo geral sobre comércio internacional firmado a partir da Carta de Havana, significando o primeiro passo para viabilizar a OIC. Entretanto, como a OIC não foi formalmente constituída, o Gatt perdurou no tempo para suprir o vazio deixado e entrou em vigor através do “Protocolo de Aplicação Provisória, em 1948, com vinte e três países subscritores82.

Deste modo, observa-se que o GATT foi a alternativa mais

viável encontrada quando começaram a surgir sinais de reprovação à Carta de

Havana. O GATT tinha uma estrutura leve e flexível, sem o peso de uma

organização formal. Portanto, criado oficialmente em 1947, o GATT foi durante

décadas o principal órgão encarregado na redução das barreiras do comércio

internacional. Ao longo de sua existência, o GATT promoveu 8 rodadas de

negociações multilaterais de comércio83.

A primeira foi sediada em Genebra, na Suíça, no ano de 1947,

e ocorreu juntamente com as negociações acerca da própria assinatura do Acordo

Geral. Em 1949, ocorreu a segunda rodada, na cidade de Annecy, na França. A

terceira foi em Torquay, Reino Unido, nos anos de 1950-51. A quarta foi novamente

80 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 30. 81 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 217. 82 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 42. 83 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 42.

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realizada em Genebra, em 1955-56, tanto quanto, a quinta rodada, realizada nos

anos de 1960-61, denominada de Rodada Dillon84.

As primeiras rodadas promovidas pelo GATT, incluindo a

rodada inaugural, não incluíam muitos assuntos em suas pautas de discussão, até

mesmo pela própria inexperiência dos participantes neste tipo de negociação,

limitando-se apenas na diminuição de direitos aduaneiros, por intermédio de

concessões tarifárias recíprocas entre seus Estados membros85.

Sem embargos, o sexto ciclo de negociações realizado nos

anos de 1964-67, que, muito embora tenha sido sediado mais uma vez em Genebra,

ficou conhecido como Rodada Kennedy. Esta rodada de negociações alcançou

resultados mais expressivos, tornando possível implementar o primeiro acordo

voltado a adoção de medidas antidumping, posteriormente substituído durante a

Rodada Tóquio, em 1973-7986.

Quanto a isto, discorre Welber Barral:

Na Rodada Kennedy, os negociadores manifestaram preocupação com os termos vagos inseridos no Artigo VI, o que permitia a sua utilização como barreira não tarifária. Daí resultou no Acordo sobre a Implementação do Artigo VI (Código Antidumping de 1967), no qual foram inseridas diversas exigências procedimentais e critérios para aplicação de medidas antidumping87.

Após a conclusão da Rodada Kennedy, teve início a Rodada

Tóquio, de 1974-79, que foi o sétimo ciclo de encontros, no qual foi marcado por

concentrar os seus esforços no exame de barreiras não tarifárias. Sem, contudo,

abdicar-se também sobre a discussão de barreiras tarifárias, visto que as mesmas

84 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 43. 85 STELZER, Joana. Introdução às Relações do Comércio Internacional, p. 30. 86 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 273. 87 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 82.

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vinhas sendo utilizadas por diversos Estados na tentativa de proteger suas

respectivas indústrias domésticas88.

No ano de 1982, tinha início à mundialmente conhecida

Rodada Uruguai, que serviu como marco institucional para a criação da Organização

Mundial do Comércio (OMC). Dita rodada de negociações priorizou novamente o

debate sobre as reduções de barreiras comercias de qualquer ordem, posto o

constante uso de medidas protecionistas por parte de seus estados membros89.

Ademais, os temas tratados na Rodada Uruguai não eram até

sua realização tratados nas rodadas que o antecederam, ampliando o arcabouço de

negociações para temas como serviços investimentos e propriedade intelectual. No

entanto, a principal inovação foi no tocante a instituição da OMC, que daria base

mais sólida aos avanços obtidos não somente na Rodada Uruguai, mas também as

rodadas pretéritas90.

1.3.2 Da Organização Mundial do Comércio

Segundo Sérgio Saba91, o fim da Rodada Uruguai marcou na

elaboração do maior acordo comercial da história, inaugurando uma nova era para

as relações comerciais globais, onde extinguiu-se um tão-somente acordo geral

provisório, para a criação de uma organização mundial voltada a regulamentação do

comércio internacional.

Sérgio Saba acrescenta ainda:

Com a OMC, a economia mundial como um todo ingressou numa nova fase, com maiores direitos e deveres para seus membros, o que deve assegurar de maneira mais efetiva os interesses dos países em desenvolvimento que, impossibilitados de obter maiores ganhos nos processos de negociação bilateral, encontram no

88 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 273. 89 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 83. 90 SABA. Sérgio. Comércio Internacional e Política Externa Brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 99. 91 SABA. Sérgio. Comércio Internacional e Política Externa Brasileira, p. 99.

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sistema multilateral uma alternativa na preservação de seus interesses92.

Isto posto, o GATT, ao promover seus oito ciclos de

negociação, deixou um saldo positivo ao comércio internacional, logrando em reduzir

e até mesmo extinguir a prática de diversas barreiras comercias até então adotadas.

Indubitavelmente, seus esforços na regulamentação de barreiras alfandegárias e

outras medidas de proteção comercial surtiram, ainda que em parte, os efeitos que

se almejavam93.

Com a adesão de 124 países, a Organização Mundial do

Comércio iniciou oficialmente suas atividades em 1º de janeiro de 1995. Com o

advento da organização, sediada na cidade de Genebra, na Suíça, os processos de

negociação entre as partes contratantes são atualmente mais equilibrados e

preservam os interesses das nações economicamente mais fracas94.

Por derradeiro, cabe aqui ressaltar que os avanços obtidos ao

longo da existência do GATT são hoje defendidos pela OMC, que tem como

principais objetivos difundir o comércio internacional por meio de uma liberação

sistemática de medidas restritivas, bem como regulamentar a utilização de práticas

desleais de defesa comercial, tais como, barreiras desnecessárias e excessivamente

protecionistas95.

Sem embargos, muito embora o livre comércio seja uma prática

mundialmente difundida não é totalmente respeitada pelas Nações, conforme será

tema de estudo no próximo capítulo.

92 SABA. Sérgio. Comércio Internacional e Política Externa Brasileira, p. 100. 93 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 48. 94 SABA. Sérgio. Comércio Internacional e Política Externa Brasileira, p. 100. 95 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 177.

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CAPÍTULO 2

PROTECIONISMO COMERCIAL E DUMPING

2.1 DO PROTECIONISMO COMERCIAL

A prática do protecionismo comercial passou a ser assunto

polêmico desde que o comércio passou a ser debatido em âmbito internacional, logo

após a popularização das doutrinas econômicas liberais e do livre-cambismo que

defendiam o livre comércio como fonte geradora de ganhos de bem-estar96.

De forma a ilustrar o que se entende por livre-cambismo, o

autor Bruno Ratti97 traz uma afirma que “denomina-se livre-cambismo econômico

(laissez-faire) a doutrina pela qual o governo deveria limitar-se à manutenção da lei

e da ordem e remover todos os obstáculos legais em relação ao comércio e aos

preços”.

Tal pensamento, originado na metade do Século XVIII, teve

como precursor o inglês Adam Smith, autor da obra “A Riqueza das Nações”, que

defendia que o livre comércio seria a melhor forma para se alcançar um

desenvolvimento econômico equivalente entre todas as nações. Segundo Smith,

com a eliminação de barreiras comerciais e a especialização dos meios de

produção, as trocas comerciais seriam baseadas em preços mínimos, estimulando a

livre concorrência98.

Sobre o assunto, acrescenta Roberto Di Sena Júnior:

Os economistas clássicos eram favoráveis à abolição de todas as barreiras comerciais que restringiam a competição. Medidas restritivas, eles argumentavam, provocam o deslocamento da produção de locais menos favoráveis, protegem o homem menos eficiente de seu rival mais eficiente e perpetuam métodos

96 RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio. 10. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2000, p. 375. 97 RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio, p. 375. 98 RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio, p. 375.

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ultrapassados, restringindo e rebaixando o padrão de vida da população99.

Os economistas vêm defendendo, desde a época de Adam

Smith, o livre comércio como um ideal a ser almejado por todas as nações,

pregando as benesses da filosofia do laissez-faire e sua ligação direta com a

prosperidade econômica e a geração de renda doméstica por meio do comércio

internacional100.

Entretanto, cabe salientar, que a ideologia do livre-comércio,

muito embora amplamente difundida, nem sempre é observada na prática. De

acordo com Ênio Neves Labatut101, o livre-fluxo de mercadorias no comércio

internacional é uma mera utopia, que somente seria viável quando houvesse no

mundo um nível de bem-estar social equivalente a todos os povos, o que segundo o

autor, também é uma utopia.

Para ilustrar melhor este paradigma de ideologias, narra em

sua obra, o autor Reinaldo Gonçalves:

Portanto, o debate sobre protecionismo e liberalização comercial tem em sua origem duas visões conflitantes sobre ganhos de comércio e a natureza do desenvolvimento econômico. Se há sempre aumento de bem-estar com o livre comércio, se o desenvolvimento econômico difunde-se para outros países pelos mecanismos de mercado, principalmente pelo comércio internacional, o livre comércio seria a política comercial mais adequada, tanto aos países mais desenvolvidos como aos menos desenvolvidos. Por outro lado, se as relações econômicas internacionais não são sempre um jogo de soma positiva, e se em uma situação de livre comércio nem sempre está garantida a melhoria de bem-estar, nem que o desenvolvimento econômico se difunda espontaneamente para outros países, é possível que existam situações em que uma política comercial protecionista seja a mais adequada para alguns países102.

Nestes termos, observa-se que as teorias do livre-comércio

sempre foram, ao longo dos anos, confrontadas por argumentos de índole

99 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 36. 100 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 37. 101 LABATUT, Ênio Neves. Politica de Comércio Exterior. São Paulo: Aduaneiras, 1994, p. 106. 102 GONÇALVES, Reinaldo. A Nova Economia Internacional: Uma Perspectiva Brasileira, 1999, p. 39.

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protecionista, segundo os quais defendem como obrigação do Estado atender as

necessidades de desenvolvimento econômico do mercado doméstico, mediante a

intervenção da entrada de mercadorias estrangeiras no país103.

Salienta Welber Barral104, que a prática protecionista nasceu ao

mesmo tempo em que surgiram os Estados Nacionais, por volta do Século XVI. De

acordo com o autor, a concorrência internacional foi motivo de preocupação aos

governos no que diz respeito aos efeitos danosos perante a o desenvolvimento de

suas respectivas indústrias nacionais. Assim, de forma a resguardar a produção

industrial interna, os mesmos passaram a impor barreiras à entrada de produtos

estrangeiros em detrimento a prática do livre comércio.

Neste mesmo contexto, atenta Bruno Ratti:

Afirmam os adversários do livre-cambismo, embora não negando o valor da especialização de produções, que, ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, a completa liberdade das atividades econômicas e a livre circulação de fatores e produtos, longe de aumentarem o bem-estar dos povos, viriam a permitir o surgimento de desigualdades de riquezas e de oportunidades econômicas entre eles105.

Ao longo do tempo as nações elaboraram diversos

instrumentos com o mesmo objetivo protecionista, tanto de caráter político quanto

econômico. Deste modo, constata-se que o protecionismo comercial sempre esteve

presente nas relações internacionais, acompanhando sua evolução e chegando aos

dias de hoje, por meio de medidas tarifárias, bem como por uma enorme variedade

de disfarces conhecidos como “barreiras não-tarifárias”106.

A doutrina do protecionismo comercial prega que o bem-estar

nacional não pode ser obtido pela pura e perfeita concorrência internacional de

produtos. Nestes termos, cabe ao Estado assumir o encargo de proteger a economia

103 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC. Curitiba: Juruá Editora, 2003, p. 69. 104 BARRAL, Welber. Protecionismo e Neoprotecionismo no Comércio Internacional. In: BARRAL, Welber (org.). O Brasil e o Protecionismo, 2006, p. 13. 105 RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio. 8ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2000, p. 342. 106 RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio, p. 342.

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nacional, para tanto referida proteção deve ser obtida mediante controles tarifários e,

se necessário for, não-tarifários107.

Fazendo um paralelo entre as duas políticas do livre-cambismo

e do protecionismo, pode-se dizer que enquanto o livre comércio caracteriza-se pela

eliminação de qualquer espécie de obstáculo que embarace a entrada e saída de

produtos de um determinado país. O protecionismo resulta em sua antítese, ou seja,

aplica-se a proteção da economia doméstica por intermédio das mais diversas

formas de barreiras comerciais108.

Contudo, convêm esclarecer, que mesmo na atual estrutura

jurídica, práticas protecionistas são permitidas em casos excepcionais. Em outras

palavras, foram mantidas certas medidas de proteção que podem se adotadas pelos

Estados membros da Organização Mundial do Comércio, a fim de defesa de seu

mercado interno109.

Quanto às ideologias do protecionismo, narra o autor Daniel

Azúa:

A primeira das doutrinas do Protecionismo tem por base negar as virtudes que o livre cambismo possa ter, alegando que esta não é mais do que pura teoria e que, como tal, ignora a realidade do mercado, que sempre teve fatores que lhe são alheios, mas que acabem por alterar o livre jogo da oferta e da procura. Quando tal fato acontece, é obrigação dos governos tomar medidas visando normalizar a situação. Isto só pode ser feito aplicando-se restrições que, de uma forma ou de outra, limitem a ação das forças alheias ao próprio mercado, o que implica controlar o comércio exterior110.

Conforme entendimento de Daniel Azúa111, o controle do

comércio exterior por intermédio de medidas restritivas que visem controlar a

entrada de produtos estrangeiros no mercado doméstico, pode ser realizado por

diferentes modos de protecionismos, denominados pelo autor de Protecionismo

Regulador, Protecionismo Educador e um terceiro modo inominado.

107 RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio, p. 343. 108 RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio, p. 343. 109 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior. São Paulo: Aduaneiras, 1986, p. 85. 110 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 85. 111 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 85.

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No que diz respeito ao modo chamado de Protecionismo

Regulador, assevera Daniel Azúa112 que este tipo de protecionismo visa com que as

regras de mercado retornem a sua normalidade aplicando-se, para tanto, meios que

desestimulem as altas de preço, geralmente causadas artificialmente, oriundas de

atividades oligopólicas.

Quando ao segundo modo denominado de Protecionismo

Educador, que tem por intuito resguardar as indústrias nascentes, de forma a dar-

lhes um maior lapso de tempo para seu desenvolvimento e aprimoramento

tecnológico113. Acrescenta o autor:

Esta situação não é só justificável, como também benéfica à promoção da livre concorrência de mercado, favorecendo a criação de novas empresas. Mas a aplicação deste Protecionismo deve guiar-se por realidade e não por simples ficções, o que, em outras palavras, significa sua retirada gradativa à medida que as novas empresas forem tornando viáveis114.

O terceiro tipo de protecionismo elencado por Azúa115 tem

aplicação em momentos nos quais um país atravessa graves crises em sua balança

de pagamentos. Assim, em vista de resguardar-se dos reflexos de uma crise

financeira, este Estado utiliza as restrições às importações como subterfúgio para

proteção momentânea, até o momento em que tais condições sejam contornadas e

a normalidade do mercado seja restabelecida.

Cabe destacar, ainda, que os três métodos acima citados são

perfeitamente legais à luz das normas da Organização Mundial do Comércio, sendo

sempre internacionalmente aceitas, desde que aplicadas de forma transitória e

momentânea, além da necessidade de serem devidamente justificadas e

comprovada sua real necessidade116.

Ainda referente a este tema, assevera Daniel Azúa:

112 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 85. 113 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 86. 114 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 86. 115 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 86. 116 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 87.

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O problema surge quando as causas invocadas não são totalmente verdadeiras, quer dizer, são em certo sentido deturpadas. Na medida em que os países se valem de tais causas de maneira não totalmente justificadas, deixam desta forma uma porta aberta para que as outras nações apliquem, pela via indireta, uma série de medidas que acabam por ser verdadeiras represálias117.

Portanto, conclui-se assim, que o protecionismo comercial é

uma prática adotada sob o principal argumento de regular as disparidades presentes

nas práticas comerciais realizadas entre as nações. Nestes termos, com o intuito de

proteger indústrias nascentes, equilibrar a balança comercial ou regular a alta de

preços, as nações possuem o aval da OMC para instituírem medidas de defesa

comercial, também denominadas de “exceções ao livre comércio”118.

Medidas de defesa comercial, tais como salvaguardas,

medidas compensatórias e medidas antidumping foram desenvolvidas pelo GATT

para servirem como meios de proteção ao comércio doméstico. Entretanto, conforme

salienta Welber Barral119, ditas medidas devem ser utilizadas com muito bom senso,

de forma a não constituir uma discriminação arbitrária entre países, o que é

expressamente vedada pela OMC.

Conclui-se, portanto, ser de fundamental importância ao Estado

adotar procedimentos defensivos com o objetivo de proteger seu setor produtivo

doméstico contra investidas comerciais desleais, de forma a anular os efeitos

decorrentes desta prática questionável, assegurando com isto condições mínimas

para a preservação da economia e indústrias nacionais120.

2.1.1 Das Práticas Comerciais Desleais

Mesmo com a prática do livre comércio amplamente difundida

entre os membros da OMC, muitos países procuram aumentar sua produção,

acumular divisas e defender seu parque fabril da concorrência estrangeira por meio

de práticas consideradas desleais pela organização. Cumpre salientar que tal

117 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 90. 118 BARRAL, Welber. Protecionismo e Neoprotecionismo no Comércio Internacional, p. 28. 119 BARRAL, Welber. Protecionismo e Neoprotecionismo no Comércio Internacional, p. 29. 120 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 142.

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comportamento é nocivo ao livre comércio, posto que, interfere no livre fluxo de

mercadorias criando obstáculos que prejudicam o comércio121.

Certamente os Estados aproveitam todas as opções permitidas

pela OMC para aumentar o volume de suas exportações. O problema surge quando

estes mesmos Estados fazem uso de mecanismos nem sempre legais, que acabam

por interferir de forma artificial nas trocas comerciais, reconhecidas

internacionalmente como práticas desleais, tais como o subsídio e o dumping122.

No que diz respeito ao primeiro item, Jayme de Mariz Maia123

narra que é comum os governos subsidiarem sua produção doméstica com a

finalidade das mesmas se tornarem competitivas, em matéria de preço, com as

produzidas no exterior. Contudo, quando este subsídio é destinado a exportação, ele

estará passível de ser caracterizado como dumping.

Os autores Ricardo Faro e Fátima Faro expõem seu conceito

de subsidio:

O subsídio pode ser definido como a concessão de auxílio econômico ou financeiro a uma entidade ou conjunto de entidades, por um agente governamental, com o objetivo de beneficiá-las, seja contribuindo para a sua sustentação de renda, formação do preço de suas mercadorias, ou mesmo conferindo-lhes condições de competitividade no mercado externo, e/ou colaborando para a redução das suas importações124.

Por sua vez, o dumping, termo incorporado à língua

portuguesa, encontra definição no artigo 2º, do acordo sobre a Implementação do

artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), como sendo a fixação

de preço de exportação, para um determinado bem e país, a um patamar inferior ao

seu valor normal de comercialização. Contudo, o estudo do dumping não pode se

121 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 142. 122 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 142. 123 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 211. 124 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 142.

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exaurir nesta simples definição, motivo pelo qual será, a seguir, digno de estudo

mais aprofundado.

2.2 DO DUMPING

2.2.1 Da Definição de Dumping

Oportuno destacar que a expressão dumping, na língua

inglesa, diz respeito ao movimento de atirar algo fora, desfazer ou transferir, o que

pode ser associado à prática de comercializar um bem com preço inferior ao

comumente praticado a fim de provocar dano a alguém125.

O próprio Dicionário Aurélio busca trazer uma definição clara,

na qual define o dumping como:

Prática de comércio internacional que consiste em vender uma mercadoria em praça estrangeira por preço sistematicamente inferior ao do mercado interno, ou inferior ao preço de venda dos outros concorrentes estrangeiros126.

O dumping tem sido objeto de inúmeros debates em busca de

analisar sua natureza jurídica, seus elementos constitutivos e as melhores formas de

reprimi-lo, sempre evitando, contudo, que tais medidas resultem em um retrocesso

na liberalização de mercados e prejudiquem o desenvolvimento do comércio

mundial127.

Assim, junto com o surgimento do Acordo Geral sobre Tarifas e

Comércio (GATT), veio o reconhecimento na necessidade dos países em atuarem

conjuntamente contra os desvios do livre comércio, tal qual o dumping, que

125 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 9. 126 DICIONÁRIO AURÉLIO, disponível em Disponível em: < http://www.dicionariodoaurelio.com/dicionario.php?P=Dumping>. Acesso em: 11 out 2009. 127 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional & Globalização. A Cláusula Social na OMC, p. 69.

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compreende uma ação fomentada pelas empresas exportadoras na tentativa de

conquistar mercados externos128.

Quando a inserção do dumping nos debates do GATT, o autor

Guilherme Johannpeter relata:

A exemplo de vários outros assuntos tratados pelo GATT, antidumping também seguiu uma evolução natural, tornando-se produtos destas negociações multilaterais. Case salientar que diante das várias Rodadas do GATT, onde os países reuniam-se para discutir política comercial e redução de tarifas, a Rodada que procedeu à do Uruguai foi a de Tóquio (1973-1979), onde se acordou a respeito da implementação do artigo VI do GATT – o chamado Código antidumping, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1980 – para os países que inicialmente o aprovaram129.

Foi, portanto, a Rodada de Tóquio (1973-79) responsável pelo

aprimoramento do Código Antidumping do GATT, outrora negociado na Rodada

Kennedy (1964-67). O mesmo teve o intuito de estabelecer maneiras como as

medidas antidumping deveriam ser utilizadas, além de assegurar uma uniformização

na interpretação e na aplicação do acordo. Com estas disposições, o Código

Antidumping do GATT entrou em vigor em 1º de julho de 1968130.

Welber Barral131 afirma que foi o economista Jacob Viner quem

detalhou as características da prática comercial que passou a ser identificada como

dumping. O dumping ficou identificável essencialmente pela diferenciação de preços

entre compradores em mercados nacionais distintos. Pode-se dizer, nestes termos,

que o preço praticado por um determinado bem, fabricado pelo mesmo produtor,

difere entre dois mercados, desconsiderando-se fatores relacionados a transporte,

tributos e outros gravames.

No Brasil, a definição de dumping encontra-se prevista no art.

4º, do Decreto n. 1.602, de 23 de agosto de 1995, que veio a regulamentar a Lei n.

128 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 142. 129 JOHANNPETER, Guilherme Chagas Gerdau. Antidumping: Prática Desleal no Comércio Internacional, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 63. 130 JOHANNPETER, Guilherme Chagas Gerdau. Antidumping: Prática Desleal no Comércio Internacional, p. 64. 131 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 16.

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9.019, de 30 de março de 1995, no qual estabelece que, “para os efeitos desde

Decreto, considera-se prática de dumping a introdução de um bem no mercado

doméstico, inclusive sob as modalidades de drawback, a preço de exportação

inferior ao valor normal”.

No entanto, cabe destacar que embora o dumping seja

reconhecido como prática comercial desleal, sua ilegalidade perante a OMC será

reconhecida apenas se tal prática consumar dano ou ameaça a dano ao setor

produtivo do país importador, ou ainda, se ficar constatado um sensível atraso na

implementação de uma atividade industrial deste mesmo país132.

No tocante a este assunto, complementa Daniel E. Real Azúa:

Nas operações de Comércio Exterior, o dumping ficará configurado toda vez que existir uma discriminação de preços entre dois mercados, o que acontecerá quando uma mercadoria for vendida no mercado externo a preços inferiores aos do mercado interno, causando dano à atividade industrial do país importador. Este conceito, acolhido pelo Código do GATT, quanto pela quase totalidade das legislações existentes sobre a matéria, apóia-se, portanto, em dois princípios fundamentais: a) Venda de uma mercadoria a preço mais baixo que no mercado local do país exportador; b) Danos a uma atividade industrial do país importador, em decorrência da discriminação de preços133.

Em complemento, cita-se definição trazida pelo autor Ênio

Neves Labatut:

O dumping é entendido como sendo a venda de mercadoria por preço abaixo do custo é uma agressão econômica, visando penetrar no mercado afastando concorrentes, uma vez atingido esse objetivo, passa a ditar preços altos, a fim de ressarcir-se dos prejuízos iniciais e obter altos lucros, agindo numa espécie de monopólio134.

Entretanto, cabe salientar que a manifestação do dumping não

se restringe somente a uma modalidade e que, além disso, cada forma de aplicação

132 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 16. 133 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 126. 134 LABATUT, Ênio Neves. Politica de Comércio Exterior, p. 108.

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possui uma finalidade e repercussão diferente das demais, com conseqüências

econômicas, entretanto, muito similares135.

2.2.2 Dos Tipos de Dumping

Daniel E. Real de Azúa136 traz, em sua obra intitulada “O

Neoprotecionismo e o Comércio Exterior”, as categorias de dumping segundo o

autor, além de determinar as conseqüências de ordem econômica provocadas por

cada uma destas situações.

Categorizar as modalidades de dumping significa pesquisar as

causas pelas quais o exportador decide comercializar suas mercadorias no mercado

externo a preços inferiores aos praticados no mercado doméstico. Tais causas são

decorrentes de diversas índoles conforme será visto a seguir.

A primeira categoria apresentada pelo autor, diz respeito ao

dumping do tipo predatório, no qual segundo este, ocorre quando uma empresa

impõe preço no mercado exportador abaixo do seu custo de produção para

prejudicar e eliminar os concorrentes nacionais. Uma vez concretizada a conquista

do mercado importador, o produtor estrangeiro elevaria seus preços, se ressarcindo

dos prejuízos suportados e beneficiando-se de lucros monopolistas137.

Nestes casos, o mercado consumidor, a primeira vista, é

beneficiado pelo baixo preço praticado pela empresa exportadora. No entanto, após

a eliminação das empresas concorrentes, o produtor estrangeiro poderá elevar seus

preços, fazendo uso de seu poder de mercado e, conseqüentemente, prejudicando o

mercado consumidor importador138.

135 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 126. 136 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 126. 137 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 18. 138 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 18.

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Contudo, frisa Welber Barral139 que esta categoria de dumping,

embora teoricamente possível, é de difícil materialização na prática, pois fica

condicionada a fatores extremamente complexos, que dependem não somente da

capacidade financeira do produtor estrangeiro, mas também das características

estruturais do mercado exportador.

Assim, para que a empresa estrangeira possa praticar preço

predatório, será necessário, de acordo com o autor, que: a) os custos dos

produtores nacionais sejam altos o suficiente para que a diferença entre preços seja

capaz de prejudicá-las ao ponto de retirá-las do mercado; b) seja um mercado

fechado, que não atraia concorrentes estrangeiros, quando o preço monopolista

entrar em vigor; e c) não exista no país legislação antitruste que reprima esta prática

comercial e puna o preço monopolista praticado140.

No concernente ao dumping predatório, Azúa compartilha

desta mesma ressalva:

Este não é o mais comum de todos os tipos de dumping por ser o mais custoso. Exige em primeiro lugar, uma indústria econômica e financeiramente muito forte, capaz de suportar os prejuízos durante todo o tempo em que as vendas são praticadas a preços inferiores aos do mercado, e, em segundo lugar, que as indústrias similares existentes no país importador sejam econômica e financeiramente pouco significativas, caso contrário, corre-se o risco de que a concorrência acabe por destruir ambas as partes141.

Conclui Azúa142 que, ante a complexidade de requisitos

necessários a prática desta categoria de dumping, acaba sendo mais conveniente

ao produtor estrangeiro a aquisição das indústrias concorrentes no país importador e

sua posterior desativação. Isto permitiria uma melhor avaliação dos riscos envolvidos

e reduziria a possibilidade de prejuízos não previstos na operação.

139 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 19. 140 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 19. 141 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 127. 142 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 127.

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A segunda categoria apresentada por Azúa143 é o dumping

permanente. De acordo com o autor, seu nome é decorrente do fato de ser praticado

de forma continuada e durante períodos prolongados, raramente existindo, nestes

casos, uma finalidade depredadora, já que o dumping depredador é praticado em

períodos de tempo relativamente curtos.

Este dumping ocorre quando um produtor estrangeiro precisa

de economia de escala em sua produção, o que poderia ser realizado exportando

seu excedente a outros países, preferencialmente, em via de desenvolvimento, que

apresentem pouca concorrência ao produto da indústria em questão144.

Azúa ilustra a prática desta espécie de dumping com o

exemplo a seguir:

Um exemplo típico do dumping permanente é o caso de um industrial localizado em país de renda média comparativamente alta, porém de população relativamente reduzida, lançador de um produto que, para ser vendido a preço competitivo, precisaria ser fabricado em uma determinada escala, abaixo da qual, que seria o ponto ótimo, sua produção deixaria de ser rentável. Em tal caso, o número ótimo de unidades de produção só poderia ser atingido se, além de se fabricar para o mercado local, se fabricasse também para o mercado externo. Desta forma, parte das mercadorias produzidas seriam vendidas em países em via de desenvolvimento, onde as indústrias desse tipo estariam ainda numa etapa menos avançada, sendo o produto similar de inferior qualidade145.

O que caracterizaria o dumping na situação em apreço seria o

fato de o produtor adaptar seu preço às particularidades de cada mercado, para o

qual, uma vez avaliados os custos unitários, venderia com maior ou menor margem

de lucro, dependendo somente das condições locais. O que, segundo o autor, este

produtor nunca poderia fazer seria deixar sua produção cair abaixo do nível ideal de

custo, pois, neste caso, seus custos por unidade aumentariam sensivelmente146.

Nestes termos, o preço de venda do mercado externo seria

mais baixo do praticado em seu mercado doméstico, dado o menor poder de compra

143 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 128. 144 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 128. 145 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 128. 146 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 128.

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do mercado importador. Ademais, levando-se me consideração os custos de

transporte e as tarifas alfandegárias empregadas para a inclusão destas

mercadorias no país importador, mais uma vez, de forma a possibilitar um preço

competitivo, a margem de lucro deveria ser ainda menor para sua manutenção

dentro do mercado147.

Nota-se aqui que, embora existente o dumping comercial, o

presente caso não caracteriza qualquer intenção de concorrência desleal por parte

do produtor estrangeiro. Há somente uma compensação de preço decorrente

exclusivamente das diferentes condições econômicas existentes entre os mercados

consumidores. Em suma, o produtor se priva da margem de lucro unitária para obter

um maior lucro global148.

Por fim, apresenta Azúa149 a terceira e última categoria de

dumping, denominada pelo autor de dumping ocasional. Nesta situação, a prática

desleal origina-se em fatos meramente conjunturais, oriundos estritamente no país

exportador, dos quais obedecem uma mudança transitória nas condições de

demanda doméstica, acarretando em um aumento de custos por unidade de

produção, uma vez que os custos fixos de fabricação teriam de ser alocados a um

menor numero de unidades produzidas.

O dumping ocasional pode se manifestar em três formas

distintas, sendo elas de forma esporádica, intermitente ou cíclica, como será visto a

seguir.

O dumping esporádico ocorre em razão de defasagens quase

imprevisíveis entre as forças de oferta e procura no mercado interno do país

exportador. Cita-se como exemplo a ocorrência de recessão econômica no país

exportador que, de forma a manter seu nível de produção a fim de não aumentar

seus custos fixos, opta em vender seu excedente a outro país, mas, para fazê-lo

rapidamente, vende a preços inferiores aos normalmente praticados, abdicando da

147 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 129. 148 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 130. 149 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 130.

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possibilidade de auferir maiores lucros, posto que não possui a pretensão de se

inserir de forma definitiva neste mercado150.

Quando ao dumping intermitente, suas características

assemelham-se ao praticado de forma esporádica, sua diferença consiste na maior

freqüência em que ocorrem, embora sempre em períodos irregulares151.

Com relação ao dumping ocasional na modalidade cíclica,

assevera Azúa152 que este tipo possui características duplas. É semelhante ao

ocasional pelo fato de decorrer de uma defasagem entre oferta e procura no país

exportados, bem como assemelha-se ao permanente pelo fato de apresentar-se em

períodos previsíveis.

A título de exemplo para este dumping em específico,

apresenta o autor à hipótese de certos tipos de produtos sujeitos à maior ou menor

procura, dependendo das estações do ano. Nestes casos, o fabricante, muitas

vezes, para se manter dentro dos padrões adequados, deve conservar um nível de

produção relativamente constante, o que torna-se difícil em face a diminuição da

demanda em razão das condições climáticas153.

Para tanto, de forma a evitar que isto venha a ocorrer, o

fabricante deverá vender seu excedente de produção a países que atravessem a

estação climática apropriada. Se nestes países, entretanto, o nível de renda for

inferior ao do país fornecedor, por óbvio, o mesmo terá de adequar seu preço

praticando no mercado externo valores inferiores aos comercializados no mercado

doméstico154.

Constata-se, portanto, que em certas ocasiões, a venda de um

produto em determinado país, por um preço inferior ao utilizado no país de origem,

não necessariamente ocasionará dano as indústrias do país importador, dado que,

150 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 131. 151 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 131. 152 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 131. 153 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 133. 154 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 133.

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em razão da periodicidade ou do volume com os quais são feitas as exportações

com dumping nem sempre serão de grande expressão155.

Sem embargos, além destas classificações apresentadas por

Azúa, o autor Welber Barral156 defende a existência de outros tipos de dumping que,

segundo este, são novas formas de se praticar a discriminação de preços. Esta

classificação tem por objetivo ampliar o atual conceito de dumping de modo a ilustrar

as novas vertentes desta prática comercial.

De acordo com o autor, surge assim novas expressões de

dumping, como: “dumping ambiental”, “dumping cambial” e “dumping social”. O

dumping ambiental diz respeito à transferência de unidades produtivas, ligadas a

indústrias poluentes, que se deslocam dos países desenvolvidos para países onde

existem menores exigências de proteção ao meio ambiente, fator que desonera as

empresas que ali se instalam quanto às exigências ambientais157.

Por sua vez, o dumping cambial se manifestaria a partir da

manutenção artificial, pelos governos nacionais, das margens de câmbio, reforçando

desta forma a competitividade dos preços de exportação e desestimulando as

importações. Esta possibilidade, relata Barral, torna-se plausível na medida em que

inexiste um sistema de compensação internacional de câmbios monetários capaz de

manter uma base real para as paridades entre moedas nacionais, tornando possível

a desvalorização voluntária pelos governos158.

Por fim, temos o dumping social, entendido como a vantagem

comparativa oriunda da exploração de mão-de-obra barata dos países em

desenvolvimento. Quanto a este assunto, descreve Barral:

O argumento principal é de que a globalização econômica não implicou na extensão das garantias sociais do Estado de Bem-Estar aos trabalhadores de países em desenvolvimento, mas antes na

155 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 134. 156 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 13. 157 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 13. 158 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 14.

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redução de garantias para os trabalhadores dos países desenvolvidos, acuados pela ameaça crescente do desemprego e da transferência física do parque fabril159.

Oportuno destacar, contudo, que as distinções das diversas

formas de dumping acima apresentadas, não possuem qualquer efeito perante a

regulamentação antidumping, já que a mesma não diferencia o tipo de dumping que

está sendo praticado para aplicação dos direitos antidumping. Ademais, nos termos

do Artigo IV do GATT, o dumping possui somente duas classificações, sendo elas,

dumping condenável e o não condenável. Definindo o dumping condenável como

aquele que provoca efeitos negativos a indústria do país importador160.

Isto posto, embora a doutrina apresente diversas classificações

para o dumping, apenas o dumping propriamente dito, ou seja, o predatório oriundo

de prática comercial, que, por ser o mais evidente e prejudicial ao mercado

importador, é o que se encontra regulamentado em nível de Organização Mundial de

Comércio, razão pela qual será apenas este tipo de dumping objeto de estudo neste

trabalho.

2.2.3 Dos Elementos do Dumping

Cumpre esclarecer que nem sempre a prática de dumping é

passível de condenação nos termos da OMC, já que apenas considera-se

condenável esta prática quando a mesma provoca danos ao setor industrial do país

importador. E é apenas nestes casos que poderá o importador fazer uso de direitos

antidumping, ou seja, quando fique demonstrado dano a indústria doméstico em face

da introdução de produtos estrangeiros a preço inferior ao normal161.

Quanto a este tema, Roberto Di Sena Júnior acrescenta:

Enquanto prática comercial ilícita, o dumping, assim como todas as demais condutas desviantes, também é passível de punição, dando ensejo sua prática à adoção de medidas antidumping por parte do

159 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 14. 160 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 12. 161 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 179.

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país lesado. Entretanto, a prática do dumping, por si só, não pode ser suficiente para a imposição dos direitos antidumping, ainda que possa resultar algum prejuízo para a indústria nacional; é preciso que tal prática seja implementada por atos concretos e que tenha como resultado a eliminação ou restrição à concorrência, à dominação do mercado ou ao aumento arbitrário dos lucros. O dumping pode, pois, causar sérios danos à indústria doméstica, tais como: a) eliminar ou ao menos reduzir a concorrência, seja local, seja de outras empresas internacionais; b) criar obstáculos ao surgimento de outras empresas, devendo por esta razão, ser prontamente combatido162.

Como se pode constatar, a prática do dumping, por si só, não é

de toda condenável, mas pelo contrário, existem alguns requisitos para que uma

prática de dumping seja caracterizada merecedora de ter direitos antidumping

aplicados. Nos termos do regulamento da OMC, somente é possível a aplicação de

direitos antidumping àquela prática que resultar em dano material a indústria

nacional do país importador ou, ainda, que provoque um retardo na instalação de

indústrias no território deste país.

Nestes termos, convém, preliminarmente, apresentar definição

do que considera-se indústria doméstica, de acordo com entendimento exposto pelo

próprio Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior:

Considera-se como indústria doméstica a totalidade dos produtos nacionais de produto similar ao importado, ou o conjunto de produtos cuja produção da mercadoria em análise constitua parcela significativa da produção nacional. Caso existam produtores nacionais vinculados aos exportadores ou aos importadores, ou sejam, eles próprios, importadores de produtos objetos de dumping, tais produtores não serão obrigatoriamente incluídos na definição de indústria doméstica, referindo-se a mesma ao restante dos produtores nacionais. Quando o território nacional pode ser dividido em dois ou mais mercados competitivos e as importações do produto objeto de dumping se concentrarem em um desses mercados, a indústria doméstica será considerada como o conjunto de produtores domésticos em atividade neste mercado, desde que tais produtores vendam nesta região toda ou quase toda a sua produção e que a demanda local não seja suprida por produtores estabelecidos em outros pontos do território nacional em proporção substancial163.

162 DI SENA JÚNIOR, Roberto. Comércio Internacional e Práticas Comerciais Desleais: Uma Incursão Jurídica em Matéria de Dumping,Revista Jurídica. Faculdade Novo Ateneu de Guarapuava, Guarapuava, n. 2, ano 1, jul. 2001, p. 121. 163 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Instrumentos de Investigação. Disponível em: < http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=229>. Acesso em: 11 out 2009.

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Quanto à determinação de dano, o próprio Acordo sobre

Dumping do GATT, estabelece, em seu art. 3º, que o mesmo deverá fundamentado

em provas materiais, além da apuração de um exame objetivo, capaz de

demonstrar: (a) o volume das importações feitas a preço de dumping e do seu

conseqüente efeito sobre os preços de produtos similares no mercado interno; e (b)

do conseqüente impacto destas importações sobre os produtores nacionais dos

produtos em análise164.

No que diz respeito à constatação do dano oriundo de

importações, acrescenta Daniel E. Real de Azúa:

Em todo caso, o dano configurar-se-á quando a importação causar prejuízo significativo a uma atividade produtora estabelecida, ou, ainda, quando ameaçar causá-lo, ou, também, quando as importações nas condições de preços acima referidas causarem atraso sensível para o início de uma atividade produtora em via de instalação165.

As investigações realizadas a fim de averiguar a prática, ou

não, do dumping, tendem a analisar por base um certo período de tempo, em vista

de formar uma idéia a respeito do volume de importação de tal bem, bem como na

participação deste produto no mercado, além de outros fatores que acabam por

influenciar no processo. No entanto, é inquestionável a dificuldade de comprovar e

quantificar o dano a indústria doméstica, requisito indispensável para a aplicação

das medidas antidumping166.

A afirmativa acima é compartilhada pólo autor Antonio

Campos167, no qual afirma que, “na prática, é muito difícil a constatação do dumping,

porque envolve sempre interesses monopolísticos de economia de larga escala, e

nos processos instaurados, demorados depoimentos e diligências são necessárias”.

Cumpre observar que, apesar da avaliação de dano possuir

natureza econômica, remetendo diretamente no preço, não existe uma combinação

164 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 344. 165 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 144. 166 JOHANNPETER, Guilherme Chagas Gerdau. Antidumping: Prática Desleal no Comércio Internacional, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 116. 167 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 251.

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exata de fatores que caracterizem a sua ocorrência. Sem embargos, o Acordo de

Dumping do GATT lista alguns critérios que devem ser levados em consideração

para a determinação do mesmo. Dentre os itens enumerados pela referida

legislação que deverão ser objeto de análise para apuração do dano, encontram-se

presentes: produção; estoques; participação de mercado; vendas; preços; lucros;

etc168.

Ao tratar sobre o assunto, Welber Barral169 destaca o caráter

particular da decisão que confirma ou não o dano, posto que tal decisão dependerá

de uma minuciosa realizada caso a caso. De acordo com o autor, não será admitido

à luz dos princípios da OMC, comportamentos protecionistas por parte das

autoridades governamentais encarregadas pelo processo. A decisão deve ser

obrigatoriamente justa e imparcial para com as partes envolvidas.

Enfatiza Barral170, que a comprovação do dumping deve estar

respaldada por dados estatísticos, que demonstrem claramente a existência de

danos irreparáveis a indústria doméstica, não podendo a conclusão da investigação

fundamentar-se apenas em alegações ou suposições.

Ante o exposto neste capítulo, pode-se observar que é

perfeitamente legitimo a aplicação de medidas antidumping aos casos comprovados

de prática de dumping ilícito. Entretanto, a possibilidade de caracterizá-lo é que se

torna o ponto mais difícil ante a imensidão de fatores envolvidos no processo,

assunto este, que será tema de estudo no capítulo a seguir.

168 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 345. 169 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 187. 170 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A Regulamentação Antidumping após a Rodada Uruguai, p. 195.

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CAPÍTULO 3

DIREITOS ANTIDUMPING NO BRASIL

3.1 DAS MEDIDAS ANTIDUMPING

3.1.1 DAS MEDIDAS ANTIDUMPING NO BRASIL

Conforme anteriormente visto, o dumping consiste em vender

no exterior, mercadorias por preço abaixo do praticado no mercado interno. Tal

conduta tem o condão de prejudicar o concorrente externo e assumir o monopólio do

mercado. Dessa forma, a empresa que faz uso do dumping terá meios de,

futuramente, impor preços e condições aquele mercado171.

Nestes termos, enfatizam Ricardo e Fátima Faro172, que é

imperativo a qualquer país desenvolver mecanismos de defesa comercial com

capacidade para assistir de forma adequada seus segmentos econômicos

domésticos, de forma a proteger estes setores de ações comerciais deflagradas de

forma predatória ou desleal, assegurando assim a manutenção e o progresso

econômico nacional.

Quando a prerrogativa da aplicação de medidas de defesa

comercial, complementam os autores:

Assim, é de fundamental importância que o Estado adote procedimentos defensivos com o objetivo de proteger os setores produtivos domésticos contra a concorrência internacional que porventura observe princípios cuja ética seja passível de questionamentos. As ações governamentais lançadas no combate a essas práticas são conhecidas como medidas de defesa comercial. Em última análise, tais iniciativas objetivam anular os efeitos negativos decorrentes do

171 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 209. 172 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 149.

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comércio desleal, assegurando com isso as condições mínimas para a preservação das atividades das empresas nacionais173.

No tocante ao dumping, a medida de defesa comercial

legalmente cabível denomina-se de direito antidumping. Definido como sendo o valor

adicional cobrado pelo Estado ao produto importador, de forma a tornar o preço de

importação compatível com seu valor normal. Esta sobretaxa tem por objetivo elevar

o preço pago pelo importador para o que o mesmo seja elevado ao valor real de

mercado174.

3.1.2 DA LEGISLAÇÃO ANTIDUMPING

Em sua obra intitulada “Anti-dumping, Subsídios e Medidas

Compensatórias”, narra a autora Josefina Maria Pinheiro175, que a primeira

legislação a tratava sobre o dumping no Brasil, adveio na década de 50. Período

marcado pela expressiva participação governamental nos setores produtivos do

país, além do incentivo da entrada de capital estrangeiro. Ainda nesta época, houve

a instalação de indústrias dinâmicas, como a automobilística, de construção naval,

de material elétrico pesado e outras indústrias mecânicas no país.

Em razão desta considerável expansão e diversificação

industrial no país, o governo passou a adotar estímulos a estes setores através de

incentivos e subsídios de diversas naturezas. Dentre elas, merece destaque a Lei n.

3.244, de 1957, que introduziu o direito antidumping no ordenamento jurídico

nacional. Através desta lei, a extinta Comissão de Política Aduaneira recebia

competência para instituir e alterar alíquotas, base de cálculo e regimes aduaneiros

especiais176.

De acordo com a autora, referida lei instituiu, ainda que de

forma primitiva, mecanismos de incentivo a exportação e defesa a produtos de

173 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 142. 174 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 57. 175 PINHEIRO, Josefina Maria M. M. Guedes e Silva M. Anti-Dumping, Subsídios e Medidas Compensatórias. São Paulo: Aduaneiras, 1996, p. 66. 176 PINHEIRO, Josefina Maria M. M. Guedes e Silva M. Anti-Dumping, Subsídios e Medidas Compensatórias, p. 66.

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fabricação nacional. Ademais, vários países já detinham uma legislação própria

contra o dumping e subsídios e o Brasil não poderia ficar para trás177.

Importante destacar que não há na Constituição Federal

qualquer disposição legal que faça menção expressa aos direitos antidumping.

Contudo, conforme enfatizado pelo autor Fábio Martines Faria178, o Brasil adota um

monismo moderado, no sentido de que o tratado internacional, uma vez aprovado,

se incorpora no direito doméstico no mesmo nível hierárquico de lei ordinária.

Havendo qualquer conflito com lei interna, prevalecerá fatalmente a norma posterior

sobre a anterior.

A respeito deste processo legislativo, acrescenta ainda o autor:

Uma vez negociado o texto do tratado pela via diplomática, o executivo remete o seu teor para apreciação do legislativo. Aprovado, o Congresso edita um decreto legislativo. Aprovado, o Congresso edita um decreto legislativo, possibilitando ao executivo efetuar a ratificação do Acordo, bem como promulgá-lo por meio de decreto presidencial para que se torne norma de direito interno179.

Mais recentemente, com a abertura do mercado nacional para

produtos estrangeiros, surgiu a necessidade de uma legislação mais adequada ao

novo cenário e eficiente o bastante para proteger as indústrias nacionais. Adveio,

assim, a Lei n. 9.019, de 30 de março de 1995 e, logo em seguida, o Decreto n.

1.602, de 23 de agosto do mesmo ano, que incorporaram o Acordo sobre a

Implementação do Artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio de 1994180.

Referidas leis, em vigor ainda nos dias de hoje, aprimoraram a

aplicação das medidas antidumping no país, trazendo consigo novos procedimentos

177 PINHEIRO, Josefina Maria M. M. Guedes e Silva M. Anti-Dumping, Subsídios e Medidas Compensatórias, p. 68. 178 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas. São Paulo: Aduaneiras, 2003, p. 41. 179 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 41. 180 PINHEIRO, Josefina Maria M. M. Guedes e Silva M. Anti-Dumping, Subsídios e Medidas Compensatórias, p. 72.

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e conceitos, antes não previstos nas leis anteriores, todos em prol de uma

investigação sobre dumping mais rápida e justa possível181.

Conforme redação dos artigos 5º e 6º da Lei n. 9.019/95, a

investigação e fixação dos direitos antidumping no Brasil, ficaram incumbidas a dois

órgãos, sendo eles, a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) e a Câmara de

Comércio Exterior (CAMEX):

Art. 5º. Compete à SECEX, mediante processo administrativo, apurar a margem de dumping ou o montante de subsídio, a existência de dano e a relação causal entre esses. Art. 6º. Compete à CAMEX fixar os direitos provisórios ou definitivos, bem como decidir sobre a suspensão da exigibilidade dos direitos provisórios, a que se refere o art. 3º desta Lei.

Subordinada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio, coube a SECEX conduzir as atividades inerentes ao comércio exterior,

nas funções não conflitantes com a CAMEX. Cabe frisar que além de opinar e

recomendar sobre assuntos relacionados ao comércio exterior, a SECEX pode

baixar normas, modificar, suspender ou suprimir exigências, traçar orientação,

estabelecer bases na política de comércio exterior do país182.

A SECEX comporta-se como o carro-chefe do Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio no que diz respeito a gestão do comércio

exterior. Compete a este órgão ocupar-se da implementação de ações que

privilegiem o desenvolvimento produtivo do país, aplicando políticas e programas na

área do comércio exterior. Cabendo, inclusive, instaurar o processo administrativo

para apurar a existência de dumping e seu dano a indústria doméstica em território

nacional183.

Por sua vez, a CAMEX é incumbida da formulação, decisão e

orientação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e

serviços, incluindo o turismo. Compete a CAMEX propor as medidas que considerar

181 PINHEIRO, Josefina Maria M. M. Guedes e Silva M. Anti-Dumping, Subsídios e Medidas Compensatórias, p. 72. 182 VAZQUEZ, José Lopes. Comércio Exterior Brasileiro. 8ª ed. Editora Atlas: São Paulo, 2007, p. 20. 183 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 20.

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pertinentes, para proteger os interesses comerciais do Brasil nas relações

comerciais com outros países184.

Idealizada para funcionar como um conselho, a CAMEX é

presidida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e composta

ainda pelo Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República; das Relações

Exteriores; da Fazenda; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Planejamento,

Orçamento e Gestão; e do Desenvolvimento Agrário185.

Atuando na coordenação dos órgãos públicos e demais

entidades governamentais intervenientes no comércio exterior, a CAMEX é

responsável por estabelecer as diretrizes a serem observadas na implementação e

manutenção de um processo permanente de inserção competitiva na economia

internacional186.

Cumpre observar que tanto a SECEX, quanto a CAMEX são as

entidades governamentais encarregadas de averiguar os direitos antidumping no

país, contudo, a base de apoio às operações de comércio exterior não se esgota

apenas com a participação destes dois órgãos, mas também conta com a

participação de outras entidades governamentais, tais como, o Conselho Monetário

Nacional, o Banco Central do Brasil, o Ministério da Fazenda, o Ministério das

Relações Exteriores e outros órgãos intervenientes187.

3.1.3 DO PROCESSO DE DUMPING

Há de esclarecer que as medidas antidumping não podem ser

acionadas logo após a constatação de dumping de forma automática.

Primeiramente, cabe confirmar a existência fática de dano a indústria doméstica e,

conseguinte, demonstrar a relação causal entre dumping e dano. Ou seja, ainda que

184 VAZQUEZ, José Lopes. Comércio Exterior Brasileiro, p. 16. 185 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 18. 186 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 18.. 187 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 15.

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constatado o dano material as indústrias nacionais, será necessário demonstrar que

são as importações com dumping que causam referido dano188.

Para tanto, de maneira a constatar a existência de danos a

indústria doméstica decorrentes da prática de dumping, caberá ao Estado

importador dar início a investigação própria, a fim de determinar se o produto

importado com dumping possui alguma relação com o prejuízo alegado pelo setor

nacional189.

Desta forma, conforme narra Fábio Martins Faria190, a

investigação da prática de dumping é realizada por intermédio de um processo

administrativo, que tempo finalidade o esclarecimento da autoridade administrativa a

fim de decidir sobre direitos a existência ou não de danos a indústria doméstica.

Caso fique caracterizado referido dano, estas autoridades estarão munidas da

prerrogativa de corrigir a distorção no comércio, provocada por práticas comerciais

desleais.

Basicamente, duas são as possibilidades de ser dar início a

uma investigação para aplicação de direitos antidumping. A primeira delas, que

constitui a regra, é o início por solicitação da indústria nacional em forma de petição

protocolada a SECEX. A segunda possibilidade é o início de ofício pelo próprio

SECEX, caso existam elementos de prova suficientemente da existência de

dumping, do dano e do nexo causal191.

Com relação à apresentação de petição por parte da indústria

nacional, vale observar que a legislação nacional estabelece alguns critérios de

representatividade. Assim, conforme previsto no art. 20, §3º do Decreto n. 1.602/95,

para ser considerada aceito o pleito feito pela indústria nacional, a petição deve ser

188 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 194. 189 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 194. 190 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 41. 191 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial. São Paulo: Aduaneiras, 2007, p. 70.

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60

apoiada pelos produtores cuja produção conjunta corresponde a mais de 50% do

produto similar192.

Ademais, a petição deverá ser instruída com elementos de

prova pertinentes ao caso, relacionados ao dumping, ao dano e ao nexo causal

entre eles. Salienta-se, contudo, que a legislação não exige que a petição esteja

acompanhada de provas irrefutáveis e definitivas, mas que somente sejam

plausíveis e dignas de se iniciar uma investigação193.

No concernente a admissão da petição, acrescenta Fábio

Martins Faria:

O pedido deve estar adequado quanto à forma e quanto ao mérito. Se a Administração verificar que não foram apresentadas as informações necessárias para a análise do caso poderá julgar a petição inepta, nos termos dos artigos 18 do Decreto n. 1.602/95, 25 do Decreto n. 1.751/95 e 41 do Decreto n. 2.667/98. Da mesma forma, se entender que o remédio, ou seja, a medida solicitada é indevida ou não apta para sanar o dano alegado negará provimento ao pedido, vide o §1º do artigo 21 do Decreto n. 1.602/95 e o §1º do artigo 30 do Decreto n. 1.751/95194

Desta forma, a petição deverá estar bem fundamentada, de

forma a apresentar motivos suficientes para que se inicie uma investigação. A

autoridade competente deve estar convencida de que existem de fato, motivos

suficientes que justifiquem sua mobilização, caso contrário a mesma poderá ser

considerada inapta195.

Contudo, caso o SECEX entenda que a petição não se

encontre devidamente instruída, poderá disponibilizar prazo ao pleiteante para que

apresente informações complementares, de forma a sanar qualquer irregularidade

em seu pedido para imposição de medidas antidumping. Sem embargos, ressalta-se

192 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 70. 193 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 73. 194 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 67. 195 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 74.

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que, mesmo se considerada devidamente instruída, a SECEX poderá decidir sobre a

não abertura da investigação196.

Todavia, uma fez deferido o pedido de abertura de

investigação, alguns procedimento legais devem ser respeitados. Primeiramente,

deve haver uma publicação no Diário Oficial da União a respeito. Em seguida, todas

as partes interessadas devem ser notificadas do início do processo, tais como,

produtores e exportadores estrangeiros conhecidos, bem como os produtores e

importadores nacionais. Assim, será aberto prazo para habilitação de novas partes

interessadas na investigação197.

Nesta etapa será oferecida a oportunidade para que os

produtores e exportadores se defendam dos fatos que lhe foram imputados,

ouvindo-se também os importadores, os produtores nacionais e outras partes

interessadas no processo. Conforme disposto no §2º, do art. 63 do Decreto n.

1.602/95, os atos processo serão solenes e termos processuais deverão ser

reduzidos a termo, obrigatoriamente no idioma português198.

Para fins de avaliação do dumping no país, as autoridades

competentes pela investigação devem primeiramente apurar o valor normal do

produto objeto de investigação, também conhecido como preço de mercado. Assim,

o procedimento padrão será o de calcular o valor com base nas vendas

representativas no mercado interno do país exportador199.

Contudo, caso esta mensuração não seja possível em razão de

condições típicas existentes no país exportador, tais como preços especiais de

mercado ou baixo volume de vendas. Poderá a SECEX, conforme previsto §4º, do

art. 6 do Decreto n. 1.602/95, fazer uso das exceções a regra e calcular, por

196 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 75. 197 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 70. 198 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 71. 199 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 82.

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exemplo, o valor normal com base nas vendas realizadas em exportações a um

terceiro país200.

Outro método subsidiário que as autoridades podem utilizar, diz

respeito à utilização de um valor arbitrariamente construído, acrescido de montantes

a título de custos administrativos e de comercialização, bem como uma margem de

lucro. Por razões óbvias este método é criticado mundialmente e entendem os

autores Barral e Brogini201, que o mesmo deve ser usado somente quando

estritamente necessário e sempre com muita cautela.

Por conseguinte, após a apuração do valor normal do produto,

o segundo procedimento realizado pelo SECEX será a determinação do preço de

exportação. Afinal, para se avaliar o dumping deve-se comparar o valor normal do

produto com o preço pelo qual o mesmo ingressa no Brasil. Nestes moldes,

entende-se por preço de exportação, o preço que foi efetivamente pago ou será

pago pelo produto ao exportador, descontando-se apenas os impostos202.

Com a obtenção destes dois valores, calcula-se a margem de

dumping praticado no país. Asseveram Barral e Brogini203, que esta comparação

deve ser justa, ou seja, deve-se utilizar de todos os ajustes necessários para que se

tenha um valor real e o mais correto possível. Os mesmos citam como exemplo a

questão da conversão cambial, que pode influenciar para maior ou menor a

mensuração da margem de dumping.

O cálculo da margem de dumping é, portanto, a objetiva

principal da avaliação de dumping realizada pelo processo de investigação.

Contudo, a legislação antidumping nacional concede as autoridades competentes a

prerrogativa de abdicar a aplicação de medida antidumping, quando constatada uma

diferença irrisória entre o valor real do produto e o valor importado204.

200 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 84. 201 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 84. 202 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 88. 203 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 90. 204 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 92.

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Quanto a esta margem de minimis, termologia adotada pela

própria legislação nacional, acrescentam os autores Welber Barral e Giovan Brogini:

No entanto, a legislação antidumping, seguindo orientação do AAD, prevê uma exceção quando se constata a margem dumping, mesmo sendo positiva, é negligenciável (de minimis). No caso, haverá margem de minimis quando a margem for inferior a 2%, calculados sobre o preço de exportação. A margem de minimis é uma das causas para encerramento da investigação sem aplicação de medida antidumping, (...).205

Por conseguinte, caso se decida em dar seguimento ao

processo de investigação, o terceiro fator que deve ser avaliado pela SECEX diz

respeito ao impacto do dumping sobre o setor da indústria nacional que produz

produtos similares ao importando. Neste aspecto, se avalia todos os fatores e

índices econômicos pertinentes ao caso, como queda real ou potencial das vendas;

queda na produção; queda dos lucros; e outros fatores negativos que possam

repercutir no processo produtivo destas empresas206.

Com relação aos danos causados a indústria doméstica

afetada pelas importações com dumping, comenta o autor Fábio Martins Faria:

Dano à indústria doméstica deve ser entendido no sentido de dano material, ou ameaça de dano material à indústria doméstica já estabelecida, ou retardamento na implantação de uma indústria. Para determinação de dano material à indústria doméstica deve ser avaliada a evolução das importações objeto da prática em questão, em valor e quantidade, sua participação no total importado e no consumo aparente, bem como o seu preço e eventual subcotação em face do preço local207.

Uma questão que merece atenção diz respeito à ameaça ao

dano, posto que os direitos antidumping podem ser aplicados preventivamente,

conforme será discorrido em momento oportuno. Nestes casos, não se exige que o

dano efetivo já exista, mas apenas a ameaça do mesmo, levando-se em análise a

previsibilidade e iminência da prática de dumping. Para tanto, a SECEX considerará,

por exemplo, os indicativos de provável aumento das importações com dumping; a

205 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 92. 206 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 96. 207 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 50.

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capacidade ociosa do segmento industrial nacional; e o volume dos estoques do

produto sob investigação208.

O quarto fator relevante a investigação é a avaliação da

existência do nexo causal. Aqui, haverá de ser analisado se o dano alegado pela

indústria nacional é de fato fruto das importações a preço de dumping. Para isto,

leva-se em consideração diversos elementos, dentre eles, elementos relacionados

às importações com dumping, bem como outros fatos que não dizem respeito a esta

prática209.

Sobre este assunto, melhor trata o autor Fábio Martins Faria:

Deve-se estabelecer o nexo de causalidade, ou seja, avaliar em que medida as importações objeto de dumping ou beneficiadas por subsídios acionáveis são responsáveis pelo dano causado à indústria doméstica, avaliando-se – inclusive – outros fatores conhecidos que possam estar causando dano no mesmo período e tal dano, provocado por motivos alheios às importações em apreço, não será imputado àquelas importações210.

O Decreto n. 1.602/95 estipula em seu artigo 14, §8º, que a

determinação do dano deve ser baseada em provas materiais e robustas. Desta

feita, em hipótese alguma as autoridades competentes podem basear suas

conclusões a respeito da determinação do dano apenas nas provas apresentadas

pelas partes.

Ademais, no intuito de se verificar a veracidade das

informações fornecidas pelas partes interessadas, a legislação nacional prevê a

possibilidade das autoridades incumbidas da investigação realizarem investigações

in loco. No entanto, ditas investigações não são obrigatórias, ao contrário, serão

realizadas somente se entender que são convenientes para o processo211.

Novamente Fábio Martins Faria, observa ainda:

208 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 102. 209 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 104. 210 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 51. 211 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 80.

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Tal verificação tem por objetivo evitar que a Autoridade investigadora, na tomada de decisão, se baseie em dados incompletos ou distorcidos. No entanto, as investigações in loco dependem de autorização das partes a serem investigadas. Antes da visita, deve ser dado conhecimento às partes envolvidas sobre a natureza geral da informação pretendida, e poderão ser formulados, durante a visita, pedidos de esclarecimentos suplementares em conseqüência da informação obtida212.

É mister salientar, que no decurso da instrução do processo

antidumping, poderão as autoridades incumbidas da investigação emitir parecer

favorável a aplicação de medida antidumping provisória. Assim, desde que se

encontrem vestígios de que a prática de dumping possa causar dano ou ameaçar de

dano à indústria nacional, poderá a CAMEX, se julgarem necessário impedir tais

práticas, aplicar antidumping provisório213.

Sem embargos, sua aplicação deverá observar certos

requisitos previstos no art. 34 do Decreto n. 1.602/95, no qual determinam um

decurso de período de, no mínimo, 60 dias após a abertura da investigação e sua

vigência será limitada a um período não superior a quatro meses. Além disto, se as

medidas antidumping provisórias forem estabelecidas, não poderão ser fixadas em

margem superior ao dumping214.

Há ainda a possibilidade de que se ocorra, também no decurso

da instrução do processo antidumping, a celebração de compromisso de preços

entre o exportador e a SECEX. Por meio deste compromisso, as empresas

estrangeiras que estejam vendendo seus produtos a preço de dumping se

comprometam em aumentar seus preços ou então em reduzir suas exportações, de

tal modo que se possa anular os efeitos do dumping215.

Caso aceito o compromisso, a parte com quem ele foi

estabelecido deve apresentar informações periódicas sobre seu cumprimento a

SECEX. Caso contrário, as medidas antidumping provisórias serão aplicadas e a

212 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 74. 213 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 106. 214 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 78. 215 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 108.

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investigação será retomada de ofício pelas autoridades competentes, que deverão

informar as partes interessadas a respeito216.

No tocante ao compromisso de preços, assevera Fábio Martins

Faria:

Claro está que o objetivo do compromisso de preços é obter uma solução acordada entre as partes que, em geral, irá produzir efeitos imediatos. O compromisso, caso aceito, irá poupar a autoridade investigadora e as partes de cumprirem todas as etapas de uma investigação. Assim, embora os regulamentos não tenham estabelecido um prazo para a apresentação de proposta de um compromisso de preço, por óbvio, isto deverá ocorrer ao tempo em que seja possível suspender os procedimentos da investigação, ou seja, antes que se encerre a fase de instrução217.

Assim, desde que não ocorra a prorrogação do prazo de

conclusão da investigação, as autoridades competentes pela investigação darão

término a parte de instrução processual e elaborará um parecer propondo o

encerramento da investigação, com ou sem aplicação dos direitos antidumping.

Observando-se que quem decide pela aplicação definitiva dos direitos antidumping é

a CAMEX218.

Se, porventura, haja encerramento da investigação com

aplicação da medida, os direitos antidumping serão exigidos mediante a cobrança da

importância, em moeda corrente nacional, que corresponda a margem de dumping.

Estes direitos serão cobrados de todos os produtores ou exportadores do país cujas

importações tenham sido consideradas a preços de dumping e danosas à industria

doméstica.

Quando a aplicação destes direitos, destacam os autores

Barral e Brogini:

Importante esclarecer que os direitos antidumping devem ser recolhidos na data do registro da declaração de importação, sob pena de multa e juros de mora. Se houver inadimplemento da

216 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 109. 217 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 82. 218 FARIA, Fábio Martins. A Defesa Comercial: Origens e Regulamentações das Medidas Antidumping, Compensatórias e de Salvaguardas, p. 82.

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obrigação, a SRF encaminha documentação para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, para inscrição do débito em Dívida Ativa e posterior cobrança. A receita oriunda dos direitos antidumping vai para o MDIC, para aplicação na área de comércio exterior219.

Uma vez impostos os direitos antidumping, seu período de

vigência será sempre estabelecido pela CAMEX, com base no parecer elaborado

pela SECEX. Contudo, seu período de cobrança não poderá exceder o prazo de

cinco anos, devendo durar apenas pelo tempo necessário para que se neutralizem

os efeitos danosos do dumping220.

3.2 DA NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO ANTIDUMPING

Conforme outrora estudado, o governo possui, portanto, total

legitimidade em utilizar barreiras comerciais como mecanismos de combate ao

comércio desleal. Segundo definição trazida por Ricardo e Fátima Faro221, “entende-

se como barreira toda lei, medida, procedimento ou qualquer outra prática que

imponha restrições ou que venha representar entraves ao pleno desenvolvimento

dessa atividade econômica”.

No entanto, no tocante as barreiras ao comércio exterior,

importante distinguir os direitos aduaneiros dos direitos antidumping. Embora ambos

tenham nítidas finalidades protecionistas, que normalmente são aplicados quando

da entrada das mercadorias no país, cada um destes possuem características

próprias que não devem ser confundidas entre si222.

Quanto aos direitos aduaneiros, assevera o autor Antonio

Campos223, que são os instrumentos mais antigos que se têm conhecimento de

barreiras ao comércio externo na área aduaneira. Seu efeito protetor é sempre

benéfico à indústria doméstica, cujo nível de incidência tarifária é altamente

219 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 115. 220 BARRAL, Welber; Brogini, Gilvan. Manual Prático de Defesa Comercial, p. 118. 221 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 294. 222 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 134. 223 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação, p. 214.

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protecionista, mas não consegue, todavia, favorecer de igual forma o mercado

consumidor.

Os direitos aduaneiros são os mais comuns de todas as armas

utilizadas para proteção a indústria doméstica. Com eles, as mercadorias importadas

são gravadas de tal forma, que acabam por perder competitividade, ao menos em

matéria de preço, em relação aos produtos similares produzidos no país

importador224.

No concernente a esta barreira comercial, acrescentam

Ricardo e Fátima Faro:

Este tipo de cobrança, na verdade, comporta-se como um elemento comum à estrutura da legislação aduaneira de qualquer país. No entanto, a tributação compreende uma barreira tarifária ao comércio exterior quando envolve a arrecadação de valores em percentual elevado o suficiente para inviabilizar o bom curso das negociações comerciais225.

Sem embargos, acrescenta Campos que a elevação do nível

de tributação ao ponto de impedir todas as importações seria, em certo modo,

inexeqüível na atual conjuntura econômica mundial e, ainda que aplicada em caráter

excepcional, somente seria possível com o aval da Organização Mundial do

Comércio226.

No Brasil, os direitos aduaneiros têm por seu maior expoente o

Imposto de Importação (II), tributo de competência da União, previsto no art. 153, I,

da Constituição Federal, no qual determina:

Art. 153. Compete à União instituir imposto sobre: I – importação de produtos estrangeiros. (...) §1º. É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.

224 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 88. 225 FARO, Fátima; FARO, Ricardo. Curso de Comércio Exterior: visão e experiência brasileira, p. 294. 226 CAMPOS, Antonio. Comércio Internacional e Importação. São Paulo: Editora Aduaneiras, 1990, p. 215.

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69

Portanto, o imposto de importação, também conhecido por

“tarifa aduaneira”, “direitos de importação”, “direitos aduaneiros”, dentre outros, é

tributo de competência federal, incidente sobre mercadorias estrangeiras que sejam

incorporadas à economia nacional, tendo como fato gerador, sua entrada em

território nacional, conforme estatuído pelo art. 1º, do Decreto-Lei n. 37, de 18 de

novembro de 1966227.

Por sua vez, no concernente a questão do fato gerador,

cumpre observar que, conforme estabelecido no art. 7º, §2º, da Lei n. 9.019, de 30

de março de 1995, os direitos antidumping também serão devidos na entrada de

produtos estrangeiros em território nacional, mais especificamente na data do

registro da declaração de importação.

Outra característica intrínseca ao imposto de importação reside

em sua função eminentemente extrafiscal. Assim, referido tributo serve como

instrumento de política econômica e fiscal do Governo Federal, em vista de proteger

a indústria nacional. Tal característica permite ao governo adotar o imposto de

importação como arma a fim de estimular ou inibir condutas, tendo em conta a

consecução de finalidades não somente arrecadatórias228.

Em sua obra, o autor Hugo de Brito Machado, narra sobre a

função extrafiscal do tributo em análise:

Predominantemente, no imposto de importação, é sua função extrafiscal. Ele é muito mais importante como instrumento de proteção da indústria nacional do que como instrumento de arrecadação de recursos financeiros para o tesouro público. Se não existisse o imposto de importação, a maioria dos produtos industrializados no Brasil não teria condições de competir no mercado com seus similares produzidos em países economicamente mais desenvolvidos, onde o custo industrial é reduzido graças aos processos de racionalização da produção e ao desenvolvimento tecnológico de um modo em geral. Além disto, vários países subsidiam as exportações de produtos industrializados, de sorte que os seus preços ficam consideravelmente reduzidos. Assim, o imposto

227 VAZQUEZ, José Lopes. Comércio Exterior Brasileiro. 8ª ed. Editora Atlas: São Paulo, 2007, p. 124. 228 SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 992.

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de importação funciona como valioso instrumento de política econômica229.

Não obstante, tal qual os direitos aduaneiros, os direitos

antidumping também possuem o caráter de extrafiscalidade, posto que se trata de

uma forma de neutralizar eventuais danos ao mercado doméstico, fazendo deles

uma ferramenta política eficiente e economicamente satisfatória a disposição dos

Estados prejudicados pela prática do dumping230.

Frente às semelhanças acima expostas entre ambos os

dispositivos, surge à indagação sobre a possibilidade de se equiparar os direitos

antidumping a categoria de tributo extrafiscal, posto que lhe é atribuído claramente

hipótese de incidência, fato gerador e base de cálculo, tal qual os demais tributos.

Nesta hipótese, os direitos antidumping, assim que aplicados, estariam sujeitos aos

princípios e regras do sistema tributário nacional.

Cumpre ressaltar que tal discussão é pertinente, posto que

diferentemente dos demais tributos existentes no ordenamento jurídico nacional, os

direitos antidumping são oriundos de um sistema jurídico alienígena incorporado ao

direito doméstico pela via diplomática. Desta forma, é de fundamental importância

encontrar uma categoria jurídica aplicável aos direitos antidumping em face as

repercussões jurídicas que possuem no plano interno, sobretudo em relação à seara

tributária231.

Deste modo, caso lhe seja atribuída à natureza tributária, as

limitações presentes no direito tributário nacional restringiriam sua aplicação em

casos específicos. Estas limitações envolveriam, a título ilustrativo, a impossibilidade

de impor direitos antidumping sobre produtos com imunidade tributária; ou, ainda, os

direitos antidumping somente poderiam se efetivar através de lei complementar, e

229 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 30 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p. 305. 230 MAIA, Jayme de Mariz. Economia Internacional e Comércio Exterior, p. 209.

231 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 57.

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não através de lei ordinária que atualmente regulamenta o decreto de incorporação

da convenção internacional do GATT232.

De início, é pertinente utilizar como marco inicial ao presente

estudo, à definição de tributo trazida pela Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966,

que dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional, na qual conceitua em seu art. 3º

que, “tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela

se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada

mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.

Com base na definição legal acima transcrita, depara-se com

um elemento ali inserido que não é típico dos direitos antidumping, particularmente,

no tocante a característica de serem cobrados mediante atividade administrativa

plenamente vinculada233. De forma a ilustrar melhor o presente argumento, segue

conceituação de atividade vinculada dada por Hugo de Brito Machado:

Atividade vinculada é aquela em cujo desempenho a autoridade administrativa não goza de liberdade para apreciar a conveniência nem a oportunidade de agir. A lei não estabelece apenas um fim a ser alcançado, a forma a ser observada e a competência da autoridade para agir. Estabelece, além disto, o momento, vale dizer, o quando agir, e o conteúdo mesmo da atividade. Não deixa margem à apreciação da autoridade, que fica inteiramente vinculada ao comando legal234.

Conforme já relatado no presente estudo, os direitos

antidumping não são de exigibilidade compulsória, mas podem ser aplicados a

conveniência das autoridades competentes. Ou seja, a legislação antidumping

nacional faculta a Secretaria de Comércio Exterior, bem como a Câmara de

Comércio Exterior, órgãos encarregados pela aplicação dos direitos antidumping no

232 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 62. 233 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 59. 234 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 30ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p. 61.

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país, a prerrogativa de aplicarem, ou não, ditos direitos, ainda que constatado danos

a indústria doméstica decorrente da prática do dumping235.

No tocante a esta característica em particular, acrescenta ainda

Daniel E. Real de Azúa:

O caráter facultativo dos direitos “antidumping”, fato também próprio aos direitos compensatórios, significa que os mesmos não são automaticamente aplicados toda vez que os extremos previstos pela legislação como configurativo do fenômeno “dumping” forem constatados. Ao contrário, sua aplicação depende do início de um processo cujos resultados sujeitar-se-ão à avaliação de determinadas circunstâncias de natureza político-econômica236.

Além disso, os institutos vinculados à cobrança de tributos e à

imposição de diretos antidumping são distintos no que diz respeito a suas

respectivas finalidades. No primeiro caso, objetiva-se arrecadar rendas monetárias

para a manutenção do aparato estatal, inclusive os impostos extrafiscais, ainda que

em menor potencial. Quanto aos direitos antidumping, seu objetivo é o de

meramente equilibrar o poder de mercado da indústria doméstica237.

Por fim, com o intuito de certificar de forma categórica a

inviabilidade de se atribuir natureza tributária aos direitos antidumping, deve-se

buscar ainda a possibilidade de classificá-los em uma das modalidades de tributos

existentes no direito brasileiro.

Primeiramente, há de descartando as contribuições de

melhoria, posto que possuem como principal função o custeio de obras públicas238.

Bem como as taxas, já que, em síntese, seu pagamento corresponde a uma

235 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 59. 236 AZÚA, Daniel E. Real de. O Neoprotecionismo e o Comércio Exterior, p. 134. 237 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 59. 238 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, p. 438.

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contraprestação por serviços prestados pelo Estado239. O mesmo se aplica, por

razões óbvias, aos empréstimos compulsórios e aos impostos extraordinários240.

Desta forma, as possibilidades restantes recaem aos impostos

ou as contribuições sociais. Quanto ao primeiro caso, utilizando-se do imposto de

importação como comparativo, nota-se que o presente imposto possui como fato

gerador a entrada de produtos estrangeiros no território nacional241. Este fato

evidencia um claro entrave na classificação dos direitos antidumping como

modalidade de imposto, uma vez que ambos os dispositivos se baseariam no

mesmo fato gerador, violando preceito tributário constitucional, caracterizando-se o

bis in idem.

No tocante ao instituto do bis in idem, assevera Alexandre

Macedo Tavares:

Bis in idem, por sua vez, significa a instituição de um tributo de idêntica natureza a outro preexistente, materializado pelo fato de uma mesma pessoa política constitucional adotar idêntica hipótese de incidência ou base de cálculo a uma lei fiscal por ela própria concebida e em plena vigência242.

Por último, insistindo na possibilidade de atribuir-se a natureza

tributária aos direitos antidumping, resta a análise quanto as contribuições sociais,

em especial, as de intervenção no domínio econômico. Modalidade tributária esta

que, de igual forma aos direitos antidumping, também ostentam nítida função

extrafiscal243.

Sobre o assunto, leciona Hugo de Brito Machado:

A finalidade da intervenção no domínio econômico caracteriza essa espécie de contribuição social como tributo de função nitidamente extrafiscal. Assim, um tributo cuja finalidade predominante seja a

239 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, p. 427. 240 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 60. 241 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, p. 305. 242 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de Direito Tributário. 4º ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 54. 243 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, p. 414.

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arrecadação de recursos financeiros jamais será uma contribuição social de intervenção no domínio econômico. (...) A intervenção não consubstancia atividade normal, ordinária, permanente, do Estado. Ela é atividade excepcional, e pó isto mesmo temporária, tendente a corrigir distorções em setores da atividade econômica244.

À primeira vista, a modalidade tributária em questão aparenta

enquadrar-se plenamente na função a que se destinam os direitos antidumping.

Contudo, conforme entendimento de Welber Barral, dita finalidade não basta para

classificar os direitos antidumping como contribuição social, conforme complementa

o autor:

Além disso, as contribuições sociais existem em decorrência de lei complementar, não podem ser aumentadas sem lei que as estabeleçam, nem cobradas em relação a fatos geradores ocorridos antes do início de sua vigência ou no mesmo exercício financeiro. Nenhuma dessas características matiza os direitos antidumping, em razão do que sua inserção nesta classificação tributária torna-se de difícil efetivação teórica245.

Isto posto, esgotando-se todas as modalidades tributárias,

constata-se que de fato não é atribuível aos direitos antidumping a natureza de

tributo. Ademais, cumpre destacar que alguns tribunais têm compartilhado deste

entendimento, proferindo decisões neste mesmo sentido, conforme seguem

ementas:

DIREITO ANTIDUMPING. MULTA DE OFÍCIO. DESCABIMENTO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. NATUREZA JURÍDICA NÃO-TRIBUTÁRIA. AUTO DE INFRAÇÃO ANULADO. MOTIVO DO ATO SEM CORRESPONDÊNCIA COM O MOTIVO LEGAL246.

Ao analisar caso semelhante ao acima, decidiu o tribunal no

mesmo norte:

DIREITO ANTIDUMPING. NATUREZA JURÍDICA NÃO-TRIBUTÁRIA. DUMPING. CONCEITO LEGAL. INOCORRÊNCIA NO

244 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, p. 415. 245 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 62. 246 Processo n. AC 2000.70.00.006392-9. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Relator Desembargador Joel Ilan Paciornik. Decisão datada em 07 nov 2007. Disponível em: <http://www.trf4.jus.br>. Acesso em: 20 out 2009.

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CASO CONCRETO. VALOR NORMAL AFERIDO DE ACORDO COM A PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 28/98247.

Sem embargos, o presente estudo não estaria completo sem

sanar qual seria então a natureza jurídica dos direitos antidumping. Neste viés, o

autor Welber Barral248 apresenta a hipótese de se enquadrar referido instituto na

modalidade não tributária de intervenção no domínio econômico. Importante

observar, contudo, que o autor descarta a possibilidade de categorizá-lo como forma

de intervenção direta e tampouco como sistemática de repressão ao abuso de poder

econômico.

Desta forma, seu embasamento constitucional se encontra na

legitimidade regulatória do Estado, prevista no caput do art. 174 da Constituição

Federal, que envolve a questão de incentivo econômico:

Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.

A função de incentivo, no contexto transcrito acima, deve ser

compreendido, segundo assevera Barral249, como uma intervenção do Estado no

intuito de incentivar a economia nacional, abrangendo inclusive, a possibilidade de

condicionar que concorrentes estrangeiros tenham acesso ao mercado doméstico,

de modo a gerar vantagens concorrenciais para os produtores brasileiros.

No tocante a esta hipótese, complementa o autor:

Uma vez estabelecida esta natureza jurídica para os direitos antidumping, resta ainda a dúvida pertinente à sua configuração legislativa. A norma constitucional estipula, no art. 174, que a legitimidade da regulação será estabelecida por lei. Uma primeira oposição poderia ser levantada, então, quanto à instituição das medidas antidumping por convenção internacional. Recorde-se, entretanto, que, além de haver sido esta convenção devidamente

247 Processo n. AC 2003.04.01.023436-7. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Relator Desembargador Joel Ilan Paciornik. Decisão datada em 07 nov 2007. Disponível em: <http://www.trf4.jus.br>. Acesso em: 20 out 2009. 248 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 63. 249 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 65.

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incorporado à ordem jurídica interna, também se repetiu, por lei ordinária, a previsão das hipóteses e do procedimento administrativo para a aplicação de medidas antidumping e cobrança dos direitos decorrentes250.

Ainda, em adendo a esta hipótese, cumpre observar que a Lei

n. 9.019/95 faz uma clara distinção entre os direitos antidumping e os demais

tributos incidentes na importação de bens. Referida alegação encontra-se presente

no parágrafo único do art. 1º, no qual determina que, “os direitos antidumping e os

direitos compensatórios serão cobrados independentemente de quaisquer

obrigações de natureza tributária relativas à importação dos produtos afetados”.

Desta forma, conforme entendimento de Welber Barral, seria

correto asseverar que na ordem jurídica nacional, os direitos antidumping não

possuem natureza tributária. Ao mesmo tempo, conclui-se que referido instituto

configura-se como imposição paratarifária de intervenção no domínio econômico,

respaldada na função de incentivo ao setor privado assegurada ao Estado.

Concluí-se, portanto, que os direitos antidumping não podem

ser equiparados a categoria de tributo, uma vez que são melhor classificados como

imposição para-tarifária de direito econômico internacional. Ademais, sua aplicação

é perfeitamente legal no ordenamento jurídico nacional em vista de seu

enquadramento na Constituição Federal, mais precisamente, na seção que dispões

sobre os incentivos econômicos ao setor privado.

250 BARRAL, Welber. Dumping e Comércio Internacional: A regulamentação antidumping após a Rodada Uruguai, p. 66.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Oriundo de diferenças naturais e disparidades econômicas e

tecnológicas, o comércio internacional acabou por vir ao encontro das necessidades

globais, tornando-se hodiernamente um fenômeno disseminado em praticamente

todas as nações do globo, possuindo um papel indispensável nas relações

internacionais.

Como visto ao decorrer desta pesquisa, o comércio

internacional é um dos maiores fatores de promoção do desenvolvimento

tecnológico, cultural e econômico mundial, podendo-se constatar, ainda, o papel

positivo que o livre comércio exerce no equilíbrio econômico mundial, concedendo

uma parcela de vantagem a todas as nações participantes.

O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio e posteriormente a

Organização Mundial do Comércio, tiveram, cada um seu momento, uma

importância inquestionável na divulgação destes ideais promovendo rodadas de

negociações e estabelecendo acordos de redução tarifária nunca antes vistos em

âmbito multilateral.

Contudo, mesmo neste viés de liberalização econômica, a

Organização Mundial do Comércio concede aos Estados Membros a prerrogativa

de, ao constatarem práticas comerciais desleais que de alguma forma prejudiquem

as indústrias nacionais, instituírem medidas de defesa comercial, denominadas de

“exceções ao livre comércio”.

Assim, de forma a anular as investidas comerciais desleais

praticadas por empresas estrangeiras, tal qual, o dumping, os Estados possuem o

aval da Organização Mundial do Comércio para instituírem medidas de defesa

comercial, como direitos antidumping, a fim de servirem como meio de proteção ao

comércio doméstico.

No Brasil os direitos antidumping encontram-se

regulamentados na Lei nº 9.019, de 30 de março de 1995, e pelo Decreto nº 1.602,

de 23 de agosto do mesmo ano, que incorporaram o Acordo sobre a Implementação

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do Artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio de 1994, assumindo o

tratado o mesmo nível hierárquico de lei ordinária.

Sem embargos, a Constituição Federal de 1988 não possui em

seu arcabouço jurídico nenhum dispositivo legal que acolha de forma expressa os

direitos antidumping no ordenamento jurídico nacional. Nestes termos, coube

averiguar em qual categoria jurídica encontram-se os direitos antidumping em face

às repercussões jurídicas que os mesmos possuem no plano interno.

Desta forma, frente às semelhanças que os direitos

antidumping apresentam com relação aos demais tributos presentes no Sistema

Tributário Nacional, posto que lhe são claramente atribuídos elementos como

hipótese de incidência, sujeito ativo, sujeito passivo, base de cálculo e alíquota,

buscou-se averiguar se ditos direitos poderiam ser equiparados a categoria de

tributo extrafiscal.

Contudo, depois de realizada à análise entre os direitos

antidumping e os tributos a que o mesmo mais se assemelha, pode-se concluir com

respaldo na doutrina e na própria legislação pertinente ao tema que, embora

possuam natureza extrafiscal, os direitos antidumping não possuem natureza

tributária, refutando-se portanto a hipótese objeto de estudo neste trabalho.

Não obstante, com o intuito de complementar o estudo,

buscou-se averiguar qual seria então a natureza jurídica que melhor se enquadra

aos direitos antidumping, chegando-se a conclusão que melhor se enquadram como

imposição paratarifária de intervenção no domínio econômico, respaldada na função

de incentivo ao setor privado, assegurada ao Estado pelo art. 174 da Constituição

Federal.

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ANEXOS

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Art. 3º A exigibilidade dos direitos provisórios poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério das autoridades referidas no art. 6º desta lei, desde que o importador ofereça garantia equivalente ao valor integral da obrigação e demais encargos legais, que consistirá em:

Art. 3o A exigibilidade dos direitos provisórios poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério da CAMEX, desde que o importador ofereça garantia equivalente ao valor integral da obrigação e dos demais encargos legais, que consistirá em: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

I - depósito em dinheiro; ou

II - fiança bancária.

§ 1º A garantia deverá assegurar, em todos os casos, a aplicação das mesmas normas que disciplinam a hipótese de atraso no pagamento de tributos federais, inclusive juros, desde a data de vigência dos direitos provisórios.

§ 2º A Secretaria da Receita Federal (SRF), do Ministério da Fazenda, disporá sobre a forma de prestação e liberação da garantia referida neste artigo.

§ 3º O desembaraço aduaneiro dos bens objeto da aplicação dos direitos provisórios dependerá da prestação da garantia a que se refere este artigo.

Art. 4º Poderá ser celebrado com o exportador ou o governo do país exportador compromisso que elimine os efeitos prejudiciais decorrentes da prática de dumping ou de subsídios.

§ 1º O compromisso a que se refere este artigo será celebrado perante a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, submetido à homologação conjunta das autoridades a que se refere o art. 6º desta lei.

§ 1o O compromisso a que se refere este artigo será celebrado perante a Secretaria de Comércio Exterior - SECEX, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, submetido a homologação da CAMEX. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

§ 2º Na hipótese de homologação de compromisso, a investigação será suspensa, sem a imposição de direitos provisórios ou definitivos, ressalvado o disposto nos Acordos Antidumping e nos Acordos de Subsídios e Direitos Compensatórios, mencionados no art. 1º.

Art. 5º Compete à Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, mediante processo administrativo, apurar a margem de dumping ou montante de subsídio, a existência de dano ou ameaça de dano, e a relação causal entre esses. Art. 6º Compete aos Ministros da Fazenda e da Indústria, do Comércio e do Turismo, mediante portaria conjunta, fixar os direitos provisórios ou definitivos, bem como decidir sobre a suspensão da exigibilidade dos direitos provisórios, a que se refere o art. 3º desta lei. Parágrafo único. O ato de imposição de direitos antidumping ou compensatórios, provisórios ou definitivos, deverá indicar o prazo de vigência, o produto atingido, o valor da obrigação, o país de origem ou de exportação, o nome do exportador e as razões pelas quais a decisão foi tomada.

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Art. 5o Compete à SECEX, mediante processo administrativo, apurar a margem de dumping ou o montante de subsídio, a existência de dano e a relação causal entre esses.(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

Art. 6o Compete à CAMEX fixar os direitos provisórios ou definitivos, bem como decidir sobre a suspensão da exigibilidade dos direitos provisórios, a que se refere o art. 3o desta Lei. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

Parágrafo único. O ato de imposição de direitos antidumping ou Compensatórios, provisórios ou definitivos, deverá indicar o prazo de vigência, o produto atingido, o valor da obrigação, o país de origem ou de exportação, as razões pelas quais a decisão foi tomada, e, quando couber, o nome dos exportadores.(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

Art. 7º O cumprimento das obrigações resultantes da aplicação dos direitos antidumping e dos direitos compensatórios, sejam definitivos ou provisórios, será condição para a introdução no comércio do País de produtos objeto de dumping ou subsídio.

§ 1º Será competente para a cobrança dos direitos antidumping e compensatórios, provisórios ou definitivos, quando se tratar de valor em dinheiro, bem como, se for o caso, para sua restituição, a SRF do Ministério da Fazenda.

§ 2º Verificado inadimplemento da obrigação, a SRF encaminhará a documentação pertinente à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para inscrição do débito em Dívida Ativa da União e respectiva cobrança.

§ 2o Os direitos antidumping e os direitos compensatórios são devidos na data do registro da declaração de importação. (Redação dada pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)

§ 3o A falta de recolhimento de direitos antidumping ou de direitos compensatórios na data prevista no § 2o acarretará, sobre o valor não recolhido: (Incluído pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)

I - no caso de pagamento espontâneo, após o desembaraço aduaneiro: (Incluído pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)

a) a incidência de multa de mora, calculada à taxa de 0,33% (trinta e três centésimos por cento), por dia de atraso, a partir do 1o (primeiro) dia subseqüente ao do registro da declaração de importação até o dia em que ocorrer o seu pagamento, limitada a 20% (vinte por cento); e (Incluído pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)

b) a incidência de juros de mora calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, para títulos federais, acumulada mensalmente, a partir do 1o (primeiro) dia do mês subseqüente ao do registro da declaração de importação até o último dia do mês anterior ao do pagamento e de 1% (um por cento) no mês do pagamento; e (Incluído pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)

II - no caso de exigência de ofício, de multa de 75% (setenta e cinco por cento) e dos juros de mora previstos na alínea b do inciso I deste parágrafo. (Incluído pela Lei nº 10.833, de 29.12.2003)

§ 4o A multa de que trata o inciso II do § 3o será exigida isoladamente quando os direitos antidumping ou os direitos compensatórios houverem sido pagos após o

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até duzentos e setenta dias, observado o disposto nos Acordos Antidumping, mencionados no art. 1o; (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

II - os definitivos ou compromisso homologado só permanecerão em vigor durante o tempo e na medida necessária para eliminar ou neutralizar as práticas de dumping e a concessão de subsídios que estejam causando dano. Em nenhuma hipótese, vigorarão por mais de cinco anos, exceto quando, no caso de revisão, se mostre necessário manter a medida para impedir a continuação ou a retomada do dumping e do dano causado pelas importações objeto de dumping ou subsídio. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

Parágrafo único. Os exportadores envolvidos no processo de investigação que desejarem a extensão para até seis meses do prazo de vigência de direitos antidumping provisórios, nos termos do inciso I deste artigo, deverão apresentar à Secex solicitação formal nesse sentido, no prazo máximo de trinta dias antes do término do período de vigência do direito.

Art. 10. Para efeito de execução orçamentária, as receitas oriundas da cobrança dos direitos antidumping e dos direitos compensatórios, classificadas como receitas originárias, serão enquadradas na categoria de entradas compensatórias previstas no parágrafo único do art. 3º da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964.

Parágrafo único. As receitas oriundas da cobrança dos direitos antidumping e dos Direitos Compensatórios de que trata este artigo, serão destinadas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, para aplicação na área de comércio exterior, conforme diretrizes estabelecidas pela CAMEX. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

Art. 10-A. As medidas antidumping e compensatórias poderão ser estendidas a terceiros países, bem como a partes, peças e componentes dos produtos objeto de medidas vigentes, caso seja constatada a existência de práticas elisivas que frustrem a sua aplicação. (Incluído pela Medida Provisória nº 429, de 2008)

Art. 10-A. As medidas antidumping e compensatórias poderão ser estendidas a terceiros países, bem como a partes, peças e componentes dos produtos objeto de medidas vigentes, caso seja constatada a existência de práticas elisivas que frustrem a sua aplicação. (Incluído pela Lei nº 11.786, de 2008)

Art. 11. Os Ministros da Fazenda e da Indústria, do Comércio e do Turismo poderão editar, em conjunto, normas complementares a esta lei.

Art. 11. Compete à CAMEX editar normas complementares a esta Lei, exceto às relativas à oferta de garantia prevista no art. 3o e ao cumprimento do disposto no art. 7o, que competem ao Ministério da Fazenda. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001)

Art. 12. O processo administrativo a que se referem os arts. 1º e 5º atenderá, no que couber, ao disposto na Resolução nº 1.227, de 14 de maio de 1987, com as alterações da Resolução nº 1.582, de 17 de fevereiro de 1989, ambas da extinta Comissão de Política Aduaneira (CPA).

Art. 13. Ficam convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória nº 879, de 30 de janeiro de 1995.

Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

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Art. 15. Revoga-se o § 2º do art. 1º do Decreto-lei nº 1.578, de 11 de outubro de 1977.

Senado Federal, em 30 de março de 1995; 174º da Independência e 107º da República

SENADOR JOSÉ SARNEY Presidente

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 31.3.1995

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Art. 4º Para os efeitos deste Decreto, considera-se prática de dumping a introdução de um bem no mercado doméstico, inclusive sob as modalidades de drawback, a preço de exportação inferior ao valor normal.

SEÇÃO I

Do Valor Normal

Art. 5º Considera-se valor normal o preço efetivamente praticado para o produto similar nas operações mercantis normais, que o destinem a consumo interno no país exportador.

§ 1º O termo "produto similar" será entendido como produto idêntico, igual sob todos os aspectos ao produto que se está examinando, ou, na ausência de tal produto, outro produto que, embora não exatamente igual sob todos os aspectos, apresente característica muito próximas às do produto que se está considerado.

§ 2º O temo "país exportador" será entendido como país de origem e de exportação, exceto na hipótese prevista no art. 10.

§ 3º Serão normalmente consideradas como em quantidade suficiente para a determinação do valor normal as vendas do produto similar destinadas ao consumo do mercado interno do país exportador, que constituam cinco por cento ou mais das vendas do produto em questão ao Brasil, admitindo-se percentual menor quando for demostrado que vendas internas nesse percentual inferior ocorrem, ainda assim, em quantidade suficiente que permita comparação adequada.

Art. 6º Caso inexistam vendas do produto similar nas operações mercantis normais no mercado interno ou quando, em razão das condições especiais de mercado ou do baixo volume de vendas, não for possível comparação adequada, o valor normal será baseado:

I - no preço do produto similar praticado nas operações de exportação para um terceiro país, desde que esse preço seja representativo; ou

II - no valor construído no país de origem, como tal considerado o custo de produção no país de origem acrescido de razoável montante a Título de custos administrativos e de comercialização, além da margem de lucro.

§ 1º Poderão ser consideradas, por motivo de preço, como operações mercantis anormais e desprezadas na determinação do valor normal, as vendas do produto similar no mercado interno do país exportador ou as vendas a terceiro país, a preços inferiores aos custos unitários do produto similar, neles computados os custos de produção, fixos e variáveis, mais os administrativos e de comercialização.

§ 2º O disposto no parágrafo anterior aplica-se-á somente quando se apurar que as vendas são realizadas:

a) ao longo de um período dilatado, normalmente de um ano, mais nunca inferior a seis meses;

b) em quantidades substanciais, como tal consideradas as transações levadas em conta para a determinação do valor normal, realizadas a preço médio ponderado de vendas inferior ao custo unitário médio ponderado, ou um volume de vendas abaixo do custo unitário correspondente a vinte por cento ou mais do volume vendido nas transações consideradas para a determinação do valor normal; e

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c) a preços que não permitam cobrir todos os custos dentro de período razoável.

§ 3º O disposto na alínea c do parágrafo anterior não se aplica quando se apurar que os preços abaixo do custo unitário, no momento da venda, superam o custo unitário médio ponderado obtido no período de investigação.

§ 4º Poderão ser consideradas como operações mercantis anormais e desprezadas na determinação do valor normal as transações entre partes consideradas associadas ou que tenham celebrado entre si acordo compensatório, salvo se comprovado que os preços e custos, a elas relacionados, sejam comparáveis aos das operações efetuadas entre partes que não tenham tais vínculos.

§ 5º Os custos, de que trata o inciso II deste artigo, serão calculados com base em registros mantidos pelo exportador ou pelo produtor objeto de investigação, desde que tais registros estejam de acordo com os princípios contábeis aceitos no país exportador e reflitam os custos relacionados com a produção e a venda do produto em causa.

§ 6º Serão levados em consideração os elementos de prova disponíveis sobre a correta distribuição de custos, inclusive aqueles fornecidos pelo exportador ou produtor durante os procedimentos da investigação, desde que tal distribuição tenha sido tradicionalmente utilizada pelo exportador ou produtor, particularmente na determinação dos períodos adequados de amortização e depreciação e das deduções decorrentes de despesas de capital e outros custos de desenvolvimento.

§ 7º Será efetuado ajuste adequado em função daqueles itens de custos não-recorrentes que beneficiem a produção futura, atual, ou ambas, ou de circunstâncias nas quais os custos, observados durante o período de investigação, sejam afetados por operações de entrada em funcionamento, a menos que já se tenham refletido na distribuição contemplada no parágrafo anterior.

§ 8º Os ajustes efetuados em razão da entrada em funcionamento devem refletir os custos verificados ao final do período de entrada ou, caso tal período se estenda além daquele coberto pelas investigações, os custos mais recentes que se possam levar em conta durante a investigação.

§ 9º O cálculo do montante, referido no inciso II deste artigo, será baseado em dados efetivos de produção e de venda do produto similar, efetuadas pelo produtor ou pelo exportador sob investigação, no curso de operações mercantis normais.

§ 10. Quando o cálculo do montante não puder ser feito com base nos dados previstos no parágrafo anterior, será feito por meio de:

a) quantias efetivamente despendidas e auferidas pelo exportador ou produtor em questão, relativas à produção e à venda de produtos da mesma categoria, no mercado interno no país exportador;

b) média ponderada das quantias efetivamente despendidas e auferidas por outros exportadores ou produtores sob investigação, em relação à produção e à comercialização do produto similar no mercado interno do país exportador; ou

c) qualquer outro método razoável, desde que o montante estipulado para o lucro não exceda o lucro normalmente realizado por outros exportadores ou produtores com as vendas de produtos da mesma categoria geral, no mercado interno do país exportador.

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Art. 7º Encontrando-se dificuldades na determinação do preço comparável no caso de importações originárias de país que não seja predominantemente de economia de mercado, onde os preços domésticos sejam em sua maioria fixados pelo Estado, o valor normal poderá ser determinado com base no preço praticado ou no valor construído do produto similar, em um terceiro país de economia de mercado, ou no preço praticado por este país na exportação para outros países, exclusive o Brasil, ou, sempre que isto não seja possível, com base em qualquer outro preço razoável, inclusive o preço pago ou a pagar pelo produto similar no mercado brasileiro, devidamente ajustado, se necessário, a fim de incluir margem de lucro razoável.

§ 1º A escolha do terceiro país de economia de mercado adequado levará em conta quaisquer informações fiáveis apresentadas no momento da seleção.

§ 2º Serão levados em conta os prazos da investigação e, sempre que adequado, recorrer-se-á a um terceiro país de economia de mercado que seja objeto da mesma investigação.

§ 3º As partes interessadas serão informadas, imediatamente após a abertura da investigação, do terceiro país de economia de mercado que se pretende utilizar, e poderão se manisfestar no prazo fixado para o restituição dos respectivos questionários, de que trata o caput do art. 27.

SEÇÃO II

Do Preço de Exportação

Art. 8º O preço de exportação será o preço efetivamente pago ou a pagar pelo produto exportado ao Brasil, livre de impostos, descontos e produções efetivamente concedidos e diretamente relacionados com as vendas de que se trate.

Parágrafo único. Nos casos em que não exista preço de exportação ou que este pareça duvidoso, por motivo de associação ou acordo compensatório entre o exportador e o importador ou uma terceira parte, o preço de exportação poderá ser construído a partir:

a) do preço pelo qual os produtos importados foram revendidos pela primeira vez a um comprador independente; ou

b) de uma base razoável, no caso de os produtos não serem revendidos a comprador independente, ou não serem revendidos na mesma condição em que foram importados.

SEÇÃO III

Da Comparação Entre o Valor Normal e o Preço de Exportação

Art. 9º Será efetuada comparação justa entre o preço de exportação e o valor normal, no mesmo nível de comércio, normalmente o ex fabrica, considerando as vendas realizadas tão simultaneamente quanto possível. As partes interessadas, como definidas no § 3º do art. 21, serão comunicadas do tipo de informação necessária para assegurar comparação justa, não lhes sendo exigido excessivo ônus de prova.

§ 1º Serão examinadas, para fins de ajuste, caso a caso, de acordo com sua especificidade, diferenças que afetem comparação de preços, entre elas diferenças nas condições e nos termos de venda, tributação, níveis de comércio, quantidades, características físicas e quaisquer outras que comprovadamente afetem a comparação de

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preços. Quando alguns desses fatores incidirem, cumulativamente, evitar-se-á a duplicação de ajustes que já tenham sido efetuados.

§ 2º Para fins de aplicação do parágrafo único do art. 8º, serão também admitidos ajustes em função dos custos incorridos entre a importação e a revenda, incluídos o imposto de importação, demais tributos e lucros auferidos.

§ 3º Nas hipóteses do parágrafo anterior, se a comparação tiver sido afetada, estabelecer-se-á o valor normal em nível de comércio equivalente àquele do preço de exportação construído, ou poderão ser feitos os ajustes previstos no § 1º deste artigo.

§ 4º O valor do ajuste será calculado com base nos dados pertinentes correspondentes ao período de investigação de existência de dumping, referido no § 1º do art. 25, ou nos dados do último exercício econômico disponível.

§ 5º Na hipótese de a comparação de preços, prevista no caput deste artigo, exigir conversão cambial, será utilizada a taxa de câmbio em vigor no dia da venda, a menos que ocorra venda de moeda estrangeira em mercados futuros diretamente ligada à exportação em causa, quando então a taxa de câmbio adotada na venda futura será aplicada.

§ 6º Em situações normais, o dia da venda será o da data do contrato, da ordem de compra ou da confirmação de encomenda ou da fatura, utilizando-se, dentre esses documentos, aquele que estabeleça as condições de venda.

§ 7º Flutuações na taxa de câmbio serão ignoradas e, para fins da investigação, será considerado um período de pelo menos sessenta dias como necessário para o ajuste, pelos exportadores, de seus preços de exportação, de forma a refletir alterações relevantes ocorridas durante o período da investigação de dumping.

Art. 10. Na hipótese de um produto não ser importado diretamente de seu país de origem, mas exportado ao Brasil a partir de terceiro país intermediário, as disposições deste Decreto serão também aplicáveis e o preço pelo qual o produto é vendido a partir do país de exportação ao Brasil será comparado com o preço comparável praticado no país de exportação.

Parágrafo único. Poder-se-á efetuar a comparação com o preço praticado no país de origem se:

a) ocorrer mero trânsito do produto no país exportador;

b) o produto não for produzido no país exportador; ou

c) não houver preço comparável para o produto no país exportador.

SEÇÃO IV

Da Margem de Dumping

Art. 11. A margem de dumping será a diferença entre o valor normal e o preço de exportação.

Art. 12. A existência de margens de dumping será determinada com base em comparação entre:

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I - o valor normal médio ponderado e a média ponderada dos preços de todas as transações comparáveis de exportação; ou

II - o valor normal e os preços de exportação apurados em cada transação.

§ 1º Um valor normal, estabelecido por meio de média ponderada, poderá ser comparado com os preços de transações específicas de exportação, no caso de se encontrar um padrão de preços de exportação que difira significativamente entre diversos compradores, regiões ou períodos de tempo e se for apresentada explicação sobre a razão de tais diferenças não poderem ser consideradas, adequadamente, por meio de comparação entre médias ponderadas ou transação a transação.

§ 2º Poderão ser aplicadas técnicas de amostragem para estabelecer o valor normal e os preços de exportação, mediante a utilização dos preços que apareçam com maior freqüência ou que sejam os mais representativos, desde que compreendam volume significativo das transações sob exame.

Art. 13. Constituirá regra geral a determinação de margem individual de dumping para cada um dos conhecidos exportadores ou produtores do produto sob investigação.

§ 1º No caso em que o número de exportadores, produtores, importadores conhecidos ou tipos de produtos sob investigação seja de tal sorte expressivo que torne impraticável a determinação referida no parágrafo anterior, o exame poderá se limitar:

a) a um número razoável de partes interessadas ou produtos, por meio de amostragem estatisticamente válida com base nas informações disponíveis no momento da seleção; ou

b) ao maior percentual razoavelmente investigável do volume de exportações do país em questão.

§ 2º Qualquer seleção de exportadores, produtores, importadores ou tipos de produtos, que se faça conforme o disposto no parágrafo anterior, será efetuada após terem sido consultados os exportadores, produtores ou importadores e obtida a sua anuência, desde que tenham fornecido informações necessárias para seleção de amostra representativa.

§ 3º Caso uma ou várias das empresas selecionadas não forneçam as informações solicitadas uma outra seleção será feita. Caso não haja tempo hábil para uma nova seleção ou as novas empresas selecionadas igualmente não forneçam as informações solicitadas, as determinações ou decisões se basearão na melhor informação disponível, conforme o disposto no art. 66.

§ 4º Será, também, determinada a margem individual de dumping para cada exportador ou produtor que não tenha sido incluído na seleção, mas que venha a apresentar a necessária informação a tempo de que esta seja considerada durante o processo de investigação, com exceção das situações em que o número de exportadores ou produtores seja de tal sorte expressivo que a análise de casos individuais resulte em sobrecarga despropositada e impeça a conclusão da investigação dentro dos prazos prescritos. Não serão desencorajadas as repostas voluntárias.

CAPÍTULO III

Da Determinação do Dano

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Art. 14. Para os efeitos deste Decreto, o termo "dano" será entendido como dano material ou ameaça de dano material à indústria doméstica já estabelecida ou retardamento sensível na implantação de tal indústria.

§ 1º A determinação de dano será baseada em provas positivas e incluirá exame objetivo

a) volume das importações objeto de dumping;

b) seu efeito sobre os preços do produto similar no Brasil ;e

c) conseqüente impacto de tais importações sobre a indústria doméstica.

§ 2º No tocante ao volume das importações objeto de dumping, levar-se-á em conta se este não é insignificante e se houve aumento substancial das importações nessas condições, tanto em termos absolutos, quanto em relação à produção ou ao consumo no Brasil.

§ 3º Para efeito de investigação, entender-se-á, normalmente, por insignificante volume de importações, provenientes de determinado país, inferior a três por cento das importações pelo Brasil de produto similar, a não ser que os países que, individualmente, respondam por menos de três por cento das importações do produto similar pelo Brasil sejam, coletivamente, responsáveis por mais de sete por cento das importações do produto.

§ 4º No que respeita ao efeito das importações objeto de dumping, sobre os preços, levar-se-á em conta se houve subcotação expressiva dos preços dos produtos importados a preços de dumping em relação ao preço do produto similar no Brasil, ou ainda se tais importações tiveram por efeito rebaixar significativamente os preços ou impedir de forma relevante aumentos de preços que teriam ocorrido na ausência de tais importações.

§ 5º Nenhum desses fatores, isoladamente ou vários deles em conjunto, será necessariamente considerado como indicação decisiva.

§ 6º Quando as importações de um produto provenientes de mais de um país forem objeto de investigações simultâneas, serão determinados cumulativamente os efeitos de tais importações se for verificado que:

a) a margem de dumping determinada em relação às importações de cada um dos países não é de minimis e que o volume de importações de cada país não é insignificante; e

b) a avaliação cumulativa dos efeitos daquelas importações é apropriada em vista das condições de concorrência entre os produtos importados e das condições de concorrência entre estes produtos e o produto similar doméstico.

§ 7º A margem de dumping será considerada como de minimis quando, expressa como um percentual do preço de exportação, for inferior a dois por cento.

§ 8º O exame do impacto das importações objeto de dumping sobre a indústria doméstica incluirá avaliação de todos os fatores e índices econômicos pertinentes, que tenham relação com a situação da referida indústria, inclusive queda real ou potencial das vendas, dos lucros, da produção da participação no mercado, da produtividade, do retorno dos investimentos ou da ocupação da capacidade instalada, além de fatores que afetem os preços domésticos, a amplitude da margem de dumping e os efeitos negativos reais ou potenciais sobre fluxo de caixa, estoques, emprego, salários, crescimento, capacidade de captar recursos ou investimentos.

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§ 9º A enumeração dos fatores constantes do parágrafo anterior não é exaustiva e nenhum desses fatores, isoladamente ou vários deles em conjunto, será necessariamente considerado como indicação decisiva.

Art. 15. É necessária a demonstração de nexo causal entre as importações objeto de dumping e o dano à indústria doméstica baseada no exame de:

I - elementos de prova pertinentes; e

II - outros fatores conhecidos, além das importações objeto de dumping, que possam estar causando dano à indústria doméstica na mesma ocasião, e tais danos provocados por motivos alheios às importações objeto de dumping, não serão imputados àquelas importações.

§ 1º Os fatores relevantes nessas condições incluem, entre outros, volume e preço de importações que não se vendam a preços de dumping, impacto do processo de liberalização das importações sobre os preços domésticos, contração na demanda ou mudanças nos padrões de consumo, práticas restritivas ao comércio pelos produtores domésticos e estrangeiros, e a concorrência entre eles, progresso tecnológico, desempenho exportador e produtividade da indústria doméstica.

§ 2º O efeito das importações objeto de dumping será avaliado, com relação à produção da indústria, quando os dados disponíveis permitirem a identificação individualizada daquela produção, a partir de critérios como o processo produtivo, as vendas e os lucros dos produtores.

§ 3º Não sendo possível a identificação individualizada da produção, os efeitos das importações objeto de dumping serão determinados pelo exame da produção daquele grupo ou gama de produtos mais semelhante possível, que inclua o produto similar, para o qual se possam obter os dados necessários.

Art. 16. A determinação de existência de ameaça de dano material basear-se-á em fatos e em motivo convincente. A alteração de condições vigentes, que possa criar uma situação em que o dumping causaria dano, deve ser claramente previsível e iminente.

§ 1º Na determinação de existência de ameaça de dano material, serão considerados, entre outros, os seguintes fatores:

a) significativa taxa de crescimento das importações objeto de dumping, indicativa de provável aumento substancial destas importações;

b) suficiente capacidade ociosa ou iminente aumento substancial na capacidade produtiva do produtor, que indiquem a probabilidade de significativo aumento das exportações objeto de dumping para o Brasil, considerando-se a existência de terceiros mercados que possam absorver o possível aumento das exportações;

c) importações realizadas a preços que terão efeito significativo em reduzir preços domésticos ou impedir o aumento dos mesmos e que, provavelmente, aumentarão a demanda por novas importações;

d) estoques do produto sob investigação.

§ 2º Nenhum dos fatores, constantes do parágrafo anterior, tomados isoladamente fornecerá orientação decisiva, mas a existência da totalidade desses fatores levará,

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necessariamente, à conclusão de que mais importações objeto de dumping são iminentes que, se não forem tomadas medidas de proteção, ocorrerá dano material.

CAPÍTULO IV

DA DEFINIÇÃO DE INDÚSTRIA DOMÉSTICA

Art. 17. Para os efeitos deste Decreto, o termo "indústria doméstica" será entendido como a totalidade dos produtores nacionais do produto similar, ou como aqueles, dentre eles, cuja produção conjunta constitua parcela significativa da produção nacional total do produto, salvo se:

I - os produtores estejam vinculados aos exportadores ou aos importadores, ou sejam, eles próprios, importadores do produto alegadamente importado a preços de dumping, situação em que a expressão "indústria doméstica" poderá ser interpretada como alusiva ao restante dos produtores;

II - em circunstâncias excepcionais, como definidas no § 4º deste artigo, o território brasileiro puder ser dividido em dois ou mais mercados competidores, quando então o termo "indústria doméstica" será interpretado como o conjunto de produtores de um daqueles mercados.

§ 1º Para os efeitos deste artigo, os produtores serão considerados vinculados aos exportadores ou aos importadores somente no caso de :

a) um deles controlar, direta ou indiretamente, o outro;

b) ambos serem controlados, direta ou indiretamente, por um terceiro;

c) juntos controlarem, direta ou indiretamente, um terceiro.

§ 2º As hipóteses do parágrafo anterior só serão consideradas se houver motivos para crer ou suspeitar que essas relações podem levar o produtor em causa a agir diferentemente dos não integrantes de tal tipo de relação.

§ 3º considera-se controle, para os efeitos deste artigo, quando o primeiro está em condições legais ou operacionais de restringir ou influir nas decisões do segundo.

§ 4º Para fins de aplicação no disposto no inciso II deste artigo, os produtores em cada um dos mercados poderão ser considerados como indústria doméstica distinta se:

a) os produtores, em atividade nesse mercado, vendem toda ou quase toda sua produção do produto similar em questão neste mesmo mercado; e

b) a demanda nesse mercado não é suprida, em proporção substancial, por produtores do produto similar estabelecidos em outro ponto do território.

§ 5º Na hipótese do § 4º deste artigo, o dano poderá ser encontrado, mesmo quando parcela significativa da produção nacional não esteja sendo prejudicada, desde que haja concentração naquele mercado das importações objeto de dumping e que estas estejam causando dano aos produtores de toda e toda produção daquele mercado.

CAPÍTULO V

DA INVESTIGAÇÃO

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SEÇÃO I

Da Petição

Art. 18. Com exceção do disposto no art. 24, a investigação, para determinar a existência, o grau e o efeito de qualquer alegação de dumping, será solicitada pela indústria doméstica ou em seu nome por meio de petição, formulada por escrito, de acordo com roteiro elaborado pela SECEX.

§ 1º A petição, mencionada no caput deste artigo, deverá incluir elementos de prova de dumping, de dano e de nexo causal entre as importações objeto de dumping e o dano alegado e os seguintes dados:

a) qualificação do peticionário, indicação do volume e do valor da produção da indústria doméstica que lhe corresponda. No caso de a petição ter sido feita em nome da indústria doméstica, o documento deverá indicar a indústria em nome da qual foi feita a petição e o nome das empresas representadas, bem como o volume e o valor da produção que lhes corresponda;

b) estimativa do volume e do valor da produção nacional do produto similar.

c) lista dos conhecidos produtores domésticos do produto similar que não estejam representados na petição e, na medida do possível, indicação do volume e do valor da produção doméstica do produto similar correspondente àqueles produtores, bem como sua manifestação quanto ao apoio à petição;

d) descrição completa do produto alegadamente importado a preços de dumping, nome do respectivo país de origem e de exportação, identidade de cada exportador ou produtor estrangeiro conhecidos e lista dos conhecidos importadores do produto em questão;

e) descrição completa do produto fabricado pela indústria doméstica;

f) informação sobre preço representativo pelo qual o produto em questão é vendido, quando destinado ao consumo no mercado interno do país ou países exportadores, ou, nas hipóteses previstas no art. 6º, a informação sobre preço representativo pelo qual o produto é vendido, pelo país ou países exportadores a um terceiro país ou países, ou sobre o valor construído do produto;

g) informação sobre preço de exportação representativo ou, nas hipóteses previstas no art. 8º, sobre preço representativo pelo qual o produto é vendido, pela primeira vez, a um comprador independente situado no território brasileiro;

h) informação sobre a evolução do volume das importações, alegadamente objeto de dumping, os efeitos de tais importações sobre os preços do produto similar no mercado doméstico e o conseqüente impacto das importações sobre a indústria doméstica, demonstrado por fatores e índices pertinentes, que tenham relação com o estado dessa indústria.

§ 2º caso a petição contenha informações sigilosas, aplica-se o disposto no art. 28.

Art. 19. A petição será preliminarmente examinada com o objetivo de se verificar se está devidamente instruída ou se são necessárias informações complementares. O peticionário será comunicado do resultado deste exame no prazo de vinte dias contados a partir da data de entrega da petição.

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§ 1º Quando forem solicitadas informações complementares, novo exame será realizado a fim de se verificar se são necessárias novas informações ou se a petição está devidamente instruída. O peticionário será comunicado do resultado deste exame no prazo de vinte dias contados a partir da data de entrega das informações complementares.

§ 2º A partir da data de entrega das novas informações o peticionário será comunicado, no prazo de vinte dias, se a petição está devidamente instruída ou se foi considerada definitivamente inepta.

§ 3º O prazo para atendimento as informações complementares ou às novas informações solicitadas será determinado pela SECEX, de acordo com a sua natureza, e comunicado ao peticionário.

§ 4º O peticionário terá o prazo de dez dias contados a partir da data de expedição da comunicação que informar que a petição está devidamente instruída, para apresentar tantas vias do texto completo da petição, inclusive o resumo não-sigiloso da mesma, quando for o caso, nos termos do § 1º do art. 28, quantos forem os produtores e exportadores conhecidos e os governos de países exportadores arrolados.

§ 5º No caso do número de produtores e exportadores, referidos no § 4º, ser especialmente alto, poderão ser fornecidas cópias da petição apenas para remessa aos governos dos países exportadores arrolados e entidades de classe correspondentes.

SEÇÃO II

Da Abertura

Art. 20. Os elementos de prova da existência de dumping e de dano por ele causado serão considerados, simultaneamente, na análise para fins de determinação da abertura da investigação.

§ 1º Serão examinadas, com base nas informações de outras fontes prontamente disponíveis, a correção e a adequação dos elementos de prova oferecidos na petição, com vistas a determinar a existência de motivos suficientes que justifiquem a abertura da investigação.

§ 2º A SECEX procederá a exame do grau de apoio ou rejeição à petição, expresso pelos demais produtores nacionais do produto similar, com objetivo de verificar se a petição foi feita pela indústria doméstica ou em seu nome. No caso de indústria fragmentária, que envolva um número especialmente alto de produtores, poderá se confirmar apoio ou rejeição mediante a utilização de técnicas de amostragem estatisticamente válidas

§ 3º Considerar-se-á como feita "pela indústria doméstica ou em seu nome" a petição que for apoiada por aqueles produtores cuja produção conjunta constitua mais de cinqüenta por cento da produção total do produto similar produzido por aquela parcela da indústria doméstica que tenha expressado apoio ou rejeição à petição.

Art. 21. O peticionário será notificado da determinação, positiva ou negativa, quanto à abertura da investigação, no prazo de trinta dias contados a partir da data de expedição da comunicação de que a petição está devidamente instruída.

§ 1º A petição será indeferida e o processo conseqüentemente arquivado, quando:

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a) não houver elementos de prova suficientes da existência de dumping ou de dano por ele causado, que justifiquem a abertura da investigação;

b) a petição não tiver sido feita pela indústria doméstica ou em seu nome; ou

c) os produtores domésticos, que expressamente apoiam a petição, reunam menos de 25% da produção total do produto similar realizada pela indústria doméstica.

§ 2º caso haja determinação positiva, a investigação será aberta e deverá ser publicado ato que contenha tal determinação no Diário Oficial da União. As partes interessadas conhecidas serão notificadas e será concedido prazo de vinte dias contados a partir da data da publicação da determinação, para pedido de habilitação de outras partes que se considerem interessadas, com a respectiva indicação de representantes legais, segundo o disposto na legislação pertinente.

§ 3º Para efeito deste Decreto, são consideradas partes interessadas:

a) os produtores domésticos do produto similar e a entidade de classe que os represente;

b) os importadores ou consignatórios dos bens objeto da prática sob investigação e a entidade de classe que os represente;

c) os exportadores ou produtores estrangeiros do referido bem e entidades de classe que os representem;

d) o governo do país exportador do referido bem;

e) outras partes, nacionais ou estrangeiras, consideradas pela SECEX como interessadas.

§ 4º Tão logo aberta a investigação, o texto completo da petição que lhe deu origem, reservado o direito de requerer sigilo, será fornecido aos produtores estrangeiros e exportadores conhecidos e às autoridades do país exportador e deverá, caso requerido, ser colocado à disposição das outras partes interessadas. No caso de o número de produtores e exportadores envolvidos ser especialmente alto, o texto completo da petição será fornecido apenas às autoridades do país exportador e à entidade de classe correspondente.

Art. 22. Aberta a investigação, a SECEX comunicará à Secretaria da Receita Federal, do Ministério da Fazenda, para que adote as providências cabíveis que possibilitem, se for o caso, a posterior aplicação de direitos antidumping definitivos sobre as importações objeto de investigação, de que trata o art. 54.

Parágrafo único. As providências adotadas pela Secretaria da Receita Federal, na forma deste artigo, não constituirão entrave ao desembaraço aduaneiro.

Art. 23. Antes da determinação de abertura da investigação, não será divulgada a existência de petição que a solicitou, salvo em relação ao governo do país exportador interessado, que deverá ser notificado da existência de petição devidamente instruída.

Art. 24. Em circunstâncias excepcionais, o Governo Federal, ex offício, poderá abrir a investigação, desde que haja elementos de prova suficientes da existência de dumping, de dano e do nexo causal entre eles, que justifiquem a abertura. O governo do país interessado será notificado da existência desses elementos de prova, antes da abertura da investigação.

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SEÇÃO III

Da Instrução

Art. 25. Durante a investigação os elementos de prova da existência de dumping e de dano por ele causado serão considerados simultaneamente.

§ 1º O período objeto da investigação de existência de dumping deverá compreender os doze meses mais próximos possíveis anteriores à data da abertura da investigação, podendo, em circunstâncias excepcionais, ser inferior a doze meses, mas nunca inferior a seis meses.

§ 2º O período objeto da investigação da existência de dano deverá ser suficientemente representativo a fim de permitir a análise de que dispõe o Capítulo III, não será inferior a três anos e incluirá, necessariamente, o período de investigação de dumping.

SUBSEÇÃO I

Das Informações

Art. 26. As partes interessadas conhecidas em uma investigação de dumping serão comunicadas sobre as informações requeridas e terão ampla oportunidade de apresentar, por escrito, os elementos de prova que considerem pertinentes com respeito à investigação em apreço.

Parágrafo único. Serão levadas na devida conta quaisquer dificuldades encontradas pelas partes interessadas, em especial às microempresas e empresas de pequeno porte, no fornecimento das informações solicitadas, e lhes será proporcionada a assistência possível.

Art. 27. As partes interessadas conhecidas, à exceção dos governos dos países exportadores, receberão questionários destinados à investigação e disporão de quarenta dias para restituí-los. Este prazo será contado a partir da data de expedição dos referidos questionários.

§ 1º Serão devidamente considerados pedidos de prorrogação do prazo de quarenta dias e, caso demostrada sua necessidade, tal prorrogação poderá ser autorizada sempre que praticável, por um prazo de até trinta dias, tendo em conta os prazos de investigação.

§ 2º Poderão ser solicitadas ou aceitas por escrito, informações adicionais ou complementares, ao longo de uma investigação. O prazo para o fornecimento das informações solicitadas será estipulado em função da sua natureza e poderá ser prorrogado a partir de solicitação devidamente justificada. Deverão ser levados em conta dos prazos da investigação, tanto para as informações solicitadas quanto para consideração daquelas informações adicionais apresentadas.

§ 3º Caso qualquer das partes interessadas negue acesso à informação necessária, não a forneça no prazo que lhe for determinado ou, ainda, crie obstáculos à investigação, o parecer, com vistas às determinações preliminares ou finais, será elaborado com base na melhor informação disponível, de acordo com o disposto no art. 66.

Art. 28. Informação que seja sigilosa por sua própria natureza ou seja fornecida em base sigilosa pelas partes de uma investigação será, desde que bem fundamentada, tratada como tal e não será revelada sem autorização expressa da parte que a forneceu. As informações classificadas como sigilosas constituirão processo em separado.

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§ 1º As partes interessadas, que forneçam informações sigilosas, deverão apresentar resumo não-sigiloso das mesmas, que permita compreensão razoável da informação fornecida. Nos casos em que não seja possível a apresentação do resumo, as partes justificarão por escrito tal circunstância.

§ 2º Caso se considere que uma informação sigilosa não traz plenamente justificado esse caráter, e se o fornecedor da informação recusar-se a torná-la pública na totalidade ou sob forma resumida, poderá ser desconsiderada tal informação, salvo se demonstrado, de forma convincente, e por fonte apropriada, que tal informação é correta.

Art. 29. Será dada oportunidade aos setores produtivos usuários do produto sob investigação e representantes de organizações de consumidores, caso o produto seja habitualmente comercializado no varejo, para que forneçam informações importantes para a investigação.

Art. 30. Procurar-se-á, no curso das investigações, verificar a correção das informações fornecidas pelas partes interessadas.

§ 1º Caso necessário e factível, poderão ser realizadas investigações no território de outros países, desde que se obtenha autorização das empresas envolvidas, notifiquem-se os representantes do governo do país em questão e que estes não apresentem objeção à investigação. Serão aplicados às investigações realizadas no território de outro país os procedimentos descritos no art. 65.

§ 2º Caso necessário e factível, poderão ser realizadas investigações nas empresas envolvidas localizadas em território nacional, desde que previamente por elas autorizadas.

§ 3º Os resultados de investigações, realizadas na forma dos parágrafos anteriores, serão juntados ao processo, reservado o direito de sigilo.

SUBSEÇÃO II

Da Defesa

Art. 31. Ao longo da investigação, as partes interessadas disporão de ampla oportunidade de defesa de seus interesses. Para essa finalidade, caso haja solicitação, dentro do prazo indicado no ato que contenha a determinação de abertura, serão realizadas audiências onde será dada oportunidade para que as partes interessadas possam encontrar-se com aquelas que tenham interesses antagônicos, de forma a que interpretações opostas e argumentação contrária possam ser expressas. § 1º A parte que tenha solicitado a realização da audiência deverá fornecer, junto com a solicitação, a relação de aspectos específicos a serem tratados.

§ 2º As partes interessadas serão informadas da realização da audiência e dos aspectos a serem nela tratados, com antecedência mínima de trinta dias.

§ 3º Não existirá qualquer obrigatoriedade de comparecimento a tais audiências e a ausência de qualquer parte não poderá ser usada em prejuízo de seus interesses.

§ 4º As partes interessadas deverão indicar os representantes legais, que estarão presentes à audiência, até cinco dias antes de sua realização, e enviar, por escrito, até dez dias antes da sua realização, os argumentos a serem apresentados na mesma. As partes interessadas poderão, se devidamente justificado, apresentar informações adicionais oralmente.

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§ 5º Somente serão levadas em consideração as informações fornecidas oralmente, caso sejam reproduzidas por escrito e colocadas à disposição das outras partes interessadas, no prazo de dez dias após a realização da audiência.

§ 6º Será levada em consideração, porém, quando couber, a necessidade de ser preservado o sigilo e a conveniência das partes.

§ 7º A realização de audiências não impedirá que a SECEX chegue a uma determinação preliminar ou final.

Art. 32. As partes interessadas poderão solicitar, por escrito, vistas das informações constantes do processo, as quais serão prontamente colocadas à disposição das partes que tenham feito tal solicitação, excetuadas as informações sigilosas e os documentos internos de governo. Será dada oportunidade para que estas defendam seus interesses, por escrito, com base em tais informações.

SUBSEÇÃO III

Do Final da Instrução

Art. 33. Antes de ser formulado o parecer com vistas à determinação final, será realizada audiência, convocada pela SECEX, onde as partes interessadas serão informadas sobre os fatos essenciais sob julgamento que forma a base para seu parecer, deferindo-se ás partes interessadas o prazo de quinze dias contados a partir da realização da audiência, para se manifestarem a respeito.

§ 1º A Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação Nacional do Comércio (CNC) e a Associação do Comércio Exterior Brasileiro (AEB) serão igualmente informadas sobre os fatos essenciais sob julgamento que formam a base para o parecer da SECEX.

§ 2º Findo o prazo previsto no caput, será considerada encerrada a instrução do processo e informações recebidas posteriormente não serão consideradas para fins de determinação final.

§ 3º Também se aplicam a este artigo as disposições previstas nos §§ 3º, 4º, 5º e 6º do art. 31.

SEÇÃO IV

Das Medidas Antidumping Provisórias

Art. 34. Medidas antidumping provisórias somente poderão ser aplicadas se:

I - uma investigação tiver sido aberta de acordo com o disposto na Seção II do Capítulo V, o ato que contenha a determinação de abertura tiver sido publicado e às partes interessadas tiver sido oferecida oportunidade adequada de se manifestarem;

II - uma determinação preliminar positiva da existência de dumping e conseqüente dano à indústria doméstica tiver sido alcançada;

III - as autoridades referidas no art. 2º decidirem que tais medidas são necessárias para impedir que ocorra dano durante a investigação; e

IV - houver decorrido pelo menos sessenta dias da data da abertura da investigação.

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§ 1º O valor da medida antidumping provisória não poderá exceder a margem de dumping.

§ 2º Medidas antidumping provisórias serão aplicadas na forma de direito provisório ou de garantia, cujo valor será equivalente ao provisoriamente determinado do direito antidumping.

§ 3º No caso de direito provisório, este será recolhido e no caso de garantia, esta será prestada mediante depósito em dinheiro ou fiança bancária, juntamente com termo de responsabilidade.

§ 4º A exigibilidade dos direitos provisórios poderá ficar suspensa até a decisão final, desde que o importador ofereça garantia equivalente ao valor integral da obrigação.

§ 5º As partes interessadas serão notificadas da decisão de aplicar medidas antidumping provisórias, e será publicado ato que contenha tal decisão, no Diário Oficial da União.

§ 6º A Secretaria da Receita Federal disporá sobre a forma de prestação da garantia de que trata o § 2º.

§ 7º O desembaraço aduaneiro dos bens objeto de medidas antidumping provisórias dependerá do pagamento do direito ou da prestação da garantia.

§ 8º A vigência das medidas antidumping provisórias será limitada a um período não superior a quatro meses, exceto nos casos em que, por decisão das autoridades referidas no art. 2º e a pedido de exportadores que representem percentual significativo do comércio em questão, poderá ser de até seis meses. Os exportadores que desejarem a extensão do prazo de aplicação da medida antidumping provisória a solicitarão por escrito, no prazo de trinta dias antes do término do período de vigência da medida.

§ 9º Na hipótese de se decidir, no curso da investigação, que uma medida antidumiping provisória inferior à margem de dumping é suficiente para extinguir o dano, os períodos previstos do parágrafo anterior passam a ser de seis e nove meses, respectivamente.

SEÇÃO V

Dos Compromissos de Preços

Art. 35. Poderão ser suspensos os procedimentos sem prosseguimento de investigação e sem aplicação de medidas antidumping provisórias ou direitos antidumping, se o exportador assumir voluntariamente compromissos satisfatórios de revisão dos preços ou de cessação das exportações a preços de dumping, destinadas ao Brasil, desde que as autoridades referidas no art. 2º fiquem convencidas de que o mencionado compromisso elimina o efeito prejudicial decorrente do dumping.

§ 1º O aumento de preço, ao amparo desses compromissos, não será superior ao necessário para eliminar a margem de dumping podendo ser limitado ao necessário para cessar o dano causado à produção doméstica.

§ 2º Os exportadores somente proporão compromissos de preços ou aceitarão aqueles propostos pela SECEX, após se haver chegado a uma determinação preliminar positiva de dumping e dano por ele causado.

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§ 3º Os exportadores não estão obrigados a propor compromisso de preços, nem serão forçados a aceitar os oferecidos. Estes fatos não prejudicarão a consideração do caso, nem alterarão a determinação preliminar a que se tiver chegado.

§ 4º É facultado à SECEX o direito de recusar ofertas de compromissos de preços, se sua aceitação for considerada ineficaz.

§ 5º No caso de recusa, e se possível serão fornecidas ao exportador as razões pelas quais foi julgada inadequada a aceitação do compromisso, sendo-lhe oferecida oportunidade de manifestar-se.

Art. 36. Aceito o compromisso de preços, o ato que contenha a decisão de homologação de tal compromisso será publicado no Diário Oficial da União e conterá, conforme o caso, decisão quanto ao prosseguimento ou suspensão da investigação, notificando-se às partes interessadas.

Parágrafo único. A investigação sobre dumping e dano deverá prosseguir, caso o exportador o deseje, ou assim decidam as autoridades referidas no art. 2º.

Art. 37. O exportador com o qual se estabeleceu um compromisso de preços deverá fornecer, periodicamente, caso solicitado, informação relativa ao cumprimento do compromisso, e permitir verificação dos dados pertinentes.

Parágrafo único. O descumprimento do disposto neste artigo será considerado como violação do compromisso.

Art. 38. No caso de violação do compromisso, sem que a investigação tenha prosseguido, poderão ser adotadas providências com vistas à imediata aplicação, pelas autoridades referidas no art. 2º, de medidas antidumping provisórias, apoiadas na melhor informação disponível, e a investigação será retomada.

Parágrafo único. As partes interessadas serão notificadas sobre o término do compromisso e sobre as medidas antidumping provisórias aplicadas. O ato que contenha tal decisão será publicado no Diário Oficial da União.

SEÇÃO VI

Do Encerramento da Investigação

Art. 39. As investigações serão concluídas de um ano após abertura, exceto em circunstâncias excepcionais quando o prazo poderá ser de até dezoito meses.

Art. 40. O peticionário poderá, a qualquer momento, solicitar o arquivamento do processo. Na hipótese de deferimento,a investigação será encerrada. Caso a SECEX determine o prosseguimento da investigação, esta será comunicada por escrito, ao ato peticionário.

Art. 41. Será encerrada a investigação, sem aplicação de direitos antidumping, nos casos em que:

I - não houver comprovação suficiente da existência de dumping ou de dano dele decorrente;

II - a margem de dumping for de minimis, conforme disposto no § 7º do art. 14; ou

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III - o volume de importações objeto de dumping real ou potencial, ou dano causado for insignificante, conforme disposto no § 3º do art. 14.

Art. 42. A investigação será encerrada com aplicação de direitos, quando a SECEX chegar a uma determinação final da existência de dumping, de dano e de nexo causal entre eles.

Parágrafo único. O valor do direito antidumping não poderá exceder a margem de dumping.

Art. 43. Na hipótese de ter sido aceito um compromisso de preços, com subseqüente prosseguimento da investigação:

I - se a SECEX chegar a uma determinação negativa de dumping ou dano dele decorrente, a investigação será encerrada e o compromisso automaticamente extinto, exceto quando a determinação negativa resulte, em grande parte, da própria existência do compromisso de preços, caso em que poderá ser requerida sua manutenção por período razoável, conforme as disposições deste Decreto;

II - se as autoridades referidas no art. 2º concluírem, com base em parecer da SECEX, que houve dumping e dano dele decorrente, a investigação será encerrada e a aplicação do direito definitivo será suspensa enquanto vigorar o compromisso, observados os termos em que tiver sido estabelecido e as disposições deste Decreto.

§ 1º Para os efeitos deste artigo, aplica-se o disposto no art. 37.

§ 2º No caso de violação do compromisso, poderão ser adotadas providências com vistas à imediata aplicação, pelas autoridades referidas no art. 2º, de direitos antidumping, tendo como base a determinação da investigação realizada.

§ 3º As partes interessadas serão notificadas sobre o término do compromisso e sobre o direito antidumping aplicado. O ato que contenha tal decisão será publicado no Diário Oficial da União.

Art. 44. O ato que contenha a determinação ou a decisão de encerrar a investigação, nos casos previstos nesta Seção, será publicado no Diário Oficial da União. As partes interessadas serão notificadas sobre o encerramento da investigação.

Parágrafo único. No caso de decisão de encerramento com aplicação de direitos antidumping, o ato que contenha tal decisão deverá indicar o fornecedor ou fornecedores do produto em questão, com os direitos que lhes correspondam. No caso de o número de fornecedores ser especialmente alto, o ato conterá o nome dos países fornecedores envolvidos, com os respectivos direitos.

CAPÍTULO VI

DA APLICAÇÃO E COBRANÇA DOS DIREITOS ANTIDUMPING

SEÇÃO I

DA APLICAÇÃO

Art. 45. Para os efeitos deste Decreto, a expressão "direito antidumping" significa um montante em dinheiro igual ou inferior à margem de dumping apurada, calculado e

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aplicado, em conformidade com este artigo, com o fim exclusivo de neutralizar os efeitos danosos das importações objeto de dumping.

§1º O direito antidumping será calculado mediante§ a aplicação de alíquotas ad valorem ou específicas, fixas ou variáveis, ou pela conjugação de ambas.

§2º A alíquota ad valorem será aplicada sobre o valor da mercadoria, em base CIF, apurado nos termos da legislação pertinente.

§3º A alíquota específica será fixada em dólares dos Estados Unidos da América e convertida em moeda em moeda nacional, nos termos da legislação pertinente.

Art. 46. Os direitos antidumping, aplicados às importações originárias dos exportadores ou produtores conhecidos, que não tenham sido incluídos na seleção de que trata o art. 13, mas que tenham fornecido as informações solicitadas, não poderão exceder a média ponderada da margem de dumping estabelecida para o grupo selecionado de exportadores ou produtores.

§1º Para fins do disposto neste artigo, não serão levados em conta margens zero ou de minimis ou ainda, as margens estabelecidas nas circunstâncias a que faz referência o § 3º do art. 27.

§ 2º As autoridades referidas no art. 2º aplicarão direitos calculados individualmente às importações originárias de qualquer exportador ou produtor não incluído na seleção, que tenha fornecido as informações solicitadas durante a investigação, conforme estabelecido no § 4º do art. 13.

Art. 47. Para aplicação do disposto no inciso II do art. 17, direitos antidumping serão devidos apenas sobre os produtos em causa destinados ao consumo final naquele mercado que tenha sido considerado indústria doméstica distinta, da investigação, nos termos do § 4º do art. 17.

SEÇÃO II

DA COBRANÇA

Art. 48. Quando um direito antidumping for aplicado sobre um produto, este será cobrado, independentemente de quaisquer obrigações de natureza tributária relativas à sua importação, nos valores a cada ano, sem discriminação, sobre todas as importações do produto que tenham sido consideradas como efetuadas a preços de dumping e danosas à indústria doméstica, qualquer que seja sua procedência.

Parágrafo único. Não serão cobrados direitos sobre aquelas importações procedentes exportadores com os quais tenham sido acordados compromissos de preços.

SEÇÃO III

DOS PRODUTOS SUJEITOS ÀS MEDIDAS ANTIDUMPING PROVISÓRIAS

Art. 49. Exceto nos casos previstos nesta Seção, somente poderão ser aplicadas medidas antidumping provisórias e direitos antidumping a produtos importados que tenham sido despachados para consumo após a data de publicação do ato que contenha as decisões previstas nos arts. 34 e 42.

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Art. 50. Caso a determinação final seja pela não existência de dumping ou de dano dele decorrente, o valor das medidas antidumping provisórias, se recolhido será restituído, se garantido por depósito será devolvido ou, no caso de fiança bancária, está será extinta.

Art. 51. Caso a determinação final seja pela existência de ameaça de dano material ou de retardamento sensível no estabelecimento de uma indústria, sem que tenha ocorrido dano material, o valor das medidas antidumping provisórias, se recolhido será restituído, se garantido por depósito será devolvido ou no caso de finança bancária, esta será extinta, salvo se for verificado que as importações objeto de dumping, na ausência de medidas antidumping provisórias, teriam levado à determinação de dano material, quando então se aplica o disposto nos artigos seguintes.

Art. 52. Caso a determinação final seja pela existência de dumping e de dano dele decorrente, observar-se-á:

I - quando o valor do direito aplicado pela decisão final for inferior ao valor de direito provisoriamente recolhido ou garantido por depósito, o excedente será restituído ou devolvido, respectivamente;

II - quando do valor direito aplicado pela decisão final for superior ao valor do direito provisoriamente recolhido ou garantido por depósito, a diferença não será exigida;

III - quando o valor do direito aplicado pela decisão final for igual ao valor do direito provisoriamente recolhido ou garantido por depósito, estas importâncias serão automaticamente convertidas em direito definitivo.

Art. 53. Caso a determinação final seja pela existência de dumping e de dano dele decorrente quando o valor do direito aplicado pela decisão final, no caso de garantia por fiança bancária, for superior ou igual ao valor do direito provisoriamente determinado, a importância correspondente ao valor garantido deverá ser imediatamente recolhida. Quando esse valor for inferior ao valor do direito provisoriamente determinado, somente será recolhida a importância equivalente ao valor determinado pela decisão final.

Parágrafo único. O recolhimento das importâncias referidas no caput ensejará a conseqüente extinção da fiança. Na hipótese de inadimplemento, a fiança será automaticamente executada, independentemente de aviso judicial ou extrajudicial, nos termos da legislação pertinente.

Art. 54. Direitos antidumping definitivos poderão ser cobrados sobre produtos importados, objeto de dumping, que tenham sido despachados para consumo, até noventa dias antes da data de aplicação das medidas antidumping provisórias, sempre que se determine, com relação ao produto em questão, que:

I - há antecedentes de dumping causador de dano, ou que o importador estava ou deveria estar ciente, de que o produtor ou exportador pratica dumping e de que este causaria dano; e

II - o dano é causado por volumosas importações de um produto a preços de dumping em período relativamente curto, o que, levando em conta o período em que foram efetuadas e o volume das importações objeto de dumping e também o rápido crescimento dos estoques do produto importado, levará provavelmente a prejudicar seriamente o efeito corretivo dos direitos antidumping definitivos aplicáveis, desde que tenha sido dada aos importadores envolvidos a oportunidade de se manifestar sobre a medida;

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Parágrafo único. Não serão cobrados sobre produtos que tenham sido despachados para consumo antes da data de abertura da investigação.

Art. 55. No caso de violação de compromissos de preços, direitos antidumping definitivos poderão ser cobrados sobre produtos importados despachados para consumo, até noventa dias antes da aplicação de medidas antidumping provisórias, previstas no art. 38, ressalvados aqueles que tenham sido despachados antes da violação do compromisso.

CAPÍTULO VII

DA DURAÇÃO E REVISÃO DOS DIREITOS ANTIDUMPING COMPROMISSOS DE PREÇOS

Art. 56. Direitos antidumping e compromissos de preços somente permanecerão em vigor enquanto perdurar a necessidade de neutralizar o dumping causador de dano.

Art. 57. Todo direito antidumping definitivo será extinto no máximo em cinco anos após a sua aplicação, ou cinco anos a contar da data da conclusão da mais recente revisão, que tenha abrangido dumping e dano dele decorrente.

§ 1º O prazo de aplicação de que trata o caput deste artigo poderá ser prorrogado mediante requerimento, devidamente fundamentado, formulado pela indústria doméstica ou em seu nome, por iniciativa de órgãos ou entidades da Administração Pública Federal, ou da SEDEX, desde que demonstrado que a extinção dos direitos levaria muito provavelmente à continuação ou retomada do dumping e do dano dele decorrente.

§ 2º As partes interessadas terão prazo de cinco meses antes da data do término da vigência de que trata o caput , para se manifestarem, por escrito, sobre a conveniência de uma revisão para solicitarem audiência se necessário.

§ 3º A revisão seguirá o disposto na Seção III do Capítulo V deverá ser concluída no prazo de doze meses contados a partir da data de sua abertura. Os atos que contenham a determinação de abertura e de encerramento da revisão serão publicados no Diário Oficial da União e as partes interessadas conhecidas notificadas.

§ 4º Os direitos serão mantidos em vigor, enquanto perdurar a revisão.

§ 5º O disposto neste artigo aplica-se aos compromissos de preços aceitos na forma do art. 35.

Art. 58. Proceder-se-á a revisão, no todo ou em parte, das decisões relativas à aplicação de direito antidumping, a pedido de parte interessada ou por iniciativa de órgão ou entidade da Administração Pública Federal, ou da SECEX, desde que haja decorrido, no mínimo, um ano da imposição de direitos antidumping definitivos e que sejam apresentados elementos de prova suficientes de que:

I - aplicação do direito deixou de ser necessária para neutralizar o dumping;

II - seria improvável que o dano subsistisse ou se reproduzisse caso o direito fosse revogado ou alterado; ou

III - o direito existente não é ou deixou de ser suficiente para neutralizar o dumping causador de dano.

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§ 1º Em caso excepcionais de mudanças substanciais das circunstâncias, ou quando for de interesse nacional, poderão ser efetuadas revisões em intervalo menor, por requerimento de parte interessada ou de órgãos ou entidades da Administração Pública Federal, ou iniciativa do órgão investigador.

§ 2º Constatada a existência de elementos de prova que justifiquem a revisão, esta será aberta e o ato que contenha tal determinação será publicado no Diário Oficial da União e as partes interessadas conhecidas notificadas.

§ 3º A revisão deverá ser concluída no prazo de doze meses contados a partir de sua abertura e seguirá o disposto na Seção III do Capítulo V.

§ 4º Enquanto não for concluída a revisão, os direitos não serão alterados e permanecerão em vigor até o final da revisão.

§ 5º As autoridades referidas no art. 2º, com base no resultado e de conformidade com as provas colhidas no curso da revisão, poderão extinguir, manter ou alterar o direito antidumping. Caso se constate que o direito em vigor é superior ao necessário para neutralizar o dano à indústria doméstica ou não mais se justifica, será determinada a devida restituição.

§ 6º O ato que contenha a decisão de encerramento da revisão será publicado no Diário Oficial da União e as partes interessadas conhecidas notificadas.

§ 7º O disposto neste artigo aplica-se aos compromissos de preço aceitos na forma do art. 35.

Art. 59. Quando um produto estiver sujeito a direitos antidumping, proceder-se-á, caso solicitado, de imediato, revisão sumária com vistas a determinar, de forma acelerada, margens individuais de dumping para quaisquer exportadoras ou produtores do país exportador em questão, que não tenham exportado o produto para o Brasil durante o período da investigação, desde que esses exportadores ou produtores possam demonstrar não ter relação com os exportadores ou produtores no país exportador sujeitos aos direitos antidumping aplicados sobre seu produto.

§ 1º Não serão cobrados direitos antidumping sobre as importações originárias de exportadores ou produtores referidos no caput deste artigo, durante a realização da revisão sumária.

§ 2º Iniciada a revisão SECEX comunicará à Secretaria da Receita Federal para que adote as providências cabíveis que possibilitem, no caso, de determinação positiva de dumping, a cobrança de direitos antidumping sobre as importações originárias dos produtores ou exportadores em questão, a partir da data em que se iniciou a revisão sumária.

Art. 60. Os direitos antidumping poderão ser suspensos por período de um ano, prorrogável por igual período, caso ocorram alterações temporárias nas condições de mercado, e desde que o dano não se reproduza ou subsista em função da suspensão e que a indústria doméstica seja ouvida.

Parágrafo único. Os direitos poderão ser reaplicados, a qualquer momento, se a suspensão não mais se justificar.

CAPÍTULO VIII

DA PUBLICIDADE

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Art. 61. Os atos decorrentes das decisões das autoridades referidas no art. 2º e das determinações da SECEX serão publicadas no Diário Oficial da União e conterão informação detalhada das conclusões estabelecidas sobre cada matéria de fato e de direito considerado pertinente.

Parágrafo único. Para fins que de notificação, cópia dos atos mencionados no caput deste artigo será encaminhada ao governo do país ou países exportadores dos produtos que tenham sido objeto de investigação e, também as outras partes interessadas conhecidas.

CAPÍTULO IX

DAS MEDIDAS ANTIDUMPING EM NOME DE TERCEIRO PAÍS

Art. 62. Terceiro país, por suas autoridades, poderá apresentar petição para aplicação de medidas antidumping.

§ 1º A petição deverá ser instituída com informações sobre preços que permitam demonstrar que as importações estão sendo realizadas a preços de dumping e que o dumping alegado está causando dano à indústria daquele país.

§ 2º A análise de petição levará em consideração os efeitos do alegado dumping sobre a indústria em apreço como um todo no território do terceiro país. O dano não será avaliado apenas em relação ao efeito do alegado dumping sobre as exportações da produção destinadas ao Brasil, nem tampouco em relação às exportações total do produto.

§ 3º No caso de abertura de investigação, o Governo brasileiro solicitará aprovação ao Conselho para o Comércio de Bens da Organização Mundial de Comércio - OMC.

CAPÍTULO X

DA FORMA DOS ATOS E TERMOS PROCESSUAIS

63. Os atos e termos processuais não dependem de forma especial e as partes interessadas deverão observar as instruções deste Decreto e da SECEX na elaboração de petições e documentos em geral, caso contrário os mesmos não serão juntados ao processo.

§ 1º Só se exigirá a observância das instruções tornadas públicas antes do início do prazo processual, ou que tiverem sido especificadas na comunicação dirigida à parte.

§ 2º Os atos e termos processuais serão escritos, e as audiências, reduzidas a termo, sendo obrigatório o uso do idioma português, devendo vir aos autos, por tradução feita por tradutor público, os escritos em outro idioma.

§ 3º Os atos processuais são públicos e o direito de consultar os autos e de pedir certidão sobre o andamento da investigação é restrito às partes e seus procuradores, sob reserva do disposto no art. 32 com respeito a sigilo da informação e de documentos internos de governo.

§ 4º Os pedidos de crédito somente serão aceitos após decorridos trinta dias da abertura da investigação ou da apresentação do último pedido de certidão por uma mesma parte.

CAPÍTULO XI

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DO PROCESSO DECISÓRIO

Art. 64. As determinações ou decisões, preliminares ou finais, relativas à investigação, serão adotadas com base em parecer da SECEX.

§ 1º No prazo de vinte dias contados da data do recebimento do parecer pelo Secretário de Comércio Exterior, a SECEX publicará ato que contenha a determinação de abertura de investigação, prorrogação de prazo de investigação, arquivamento do processo a pedido do peticionário, início do processo de revisão do direito definitivo ou de compromissos de preços ou encerramento da investigação sem aplicação de medidas.

§ 2º No prazo de dez dias contados da data do recebimento do parecer, pelos Ministros de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo e da Fazenda será publicado ato que contenha a decisão de aplicação de medidas antidumping provisórias, prorrogação das medidas, aceitação ou término de compromissos de preços, encerramento da investigação com aplicação de direitos, suspensão do direitos definitivo, ou o resultado da revisão dos direitos definitivos ou compromissos de preços.

§ 3º Em circunstâncias excepcionais, mesmo havendo comprovação de dumping e de dano dele decorrente, as autoridades referidas no art. 2º poderão decidir, por razões de interesse nacional, pela suspensão da aplicação do direito ou pela não homologação de compromissos de preços, ou, ainda, respeitado o disposto no parágrafo único do art. 42, pela aplicação de direito em valor diferente do que o recomendado, e, neste caso, o ato deverá conter as razões que fundamentaram tal decisão.

TÍTULO II

DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

CAPÍTULO I

DAS INVESTIGAÇÕES IN LOCO

Art. 65. Aberta a investigação, as autoridades do país exportador e as empresas interessadas serão informadas da intenção de realizar investigações in loco.

§ 1º Em circunstâncias excepcionais, havendo intenção de incluir peritos não-governamentais na equipe de investigação, as empresas e autoridades do país exportador serão informadas a respeito, e esses peritos, em caso de quebra de sigilo, serão passíveis das sanções previstas no art. 325 do Código Penal Brasileiro.

§ 2º Deverá ser previamente obtida a anuência expressa das empresas envolvidas no país exportador, antes da realização da vista.

§ 3º Obtida a anuência de que trata o parágrafo anterior, as autoridades do país exportador serão informadas de imediato, por nota, dos nomes e endereços das empresas que serão visitadas, bem como as datas previstas para as visitas.

§ 4º As empresas envolvidas serão informadas com suficiente antecedência sobre a visita.

§ 5º Visitas destinadas a explicar o questionário, de que trata o caput do art. 27, poderão ser realizadas apenas a pedido da empresa produtora ou exportadora e só poderão ocorrer a SECEX notificar representante do país em questão e este não fizer objecão à visita.

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§ 6º A vista será realizada após a restituição do questionário, a mesmo que a empresa concorde com o contrário e que o governo do país exportador esteja informado da visita antecipada e não faça objeção.

§ 7º Antes da visita, será levada ao conhecimento das empresas envolvidas a natureza geral da informação pretendida, e poderão ser formulados, durante a visita, pedidos de esclarecimentos suplementares em conseqüência da informação obtida.

§ 8º As respostas aos pedidos de informação ou às perguntas formuladas pelas autoridades ou empresas do país exportador essenciais ao bom resultado da investigação in loco deverão, sempre que possível, ser fornecidas antes que se realize a visita.

CAPÍTULO II

DA MELHOR INFORMAÇÃO DISPONÍVEL

Art. 66. Tão logo aberta a investigação, serão especificadas, pormenorizadamente, as informações requeridas ás pares envolvidas e a forma pela qual tais informações deverão estar estruturadas na resposta da parte interessada, bem como prazos de entrega.

§ 1º A parte será notificada de que o não fornecimento da informação, dentro do prazo fixado, permitirá estabelecer determinação com base nos fatos disponíveis, entre eles os contidos na petição de abertura da investigação.

§ 2º Ao se formular as determinações, levar-se-ão em conta as informações verificáveis que tenham sido adequadamente apresentadas e que, portanto, possam ser utilizadas na investigação sem dificuldades e tenham sido apresentadas tempestivamente.

§ 3º Caso a SECEX não aceite uma informação, esta comunicará, imediatamente, à parte o motivo da recusa, a fim de que a mesma possa fornecer novas explicações, dentro de prazos estabelecidos, respeitados os limites de duração da investigação. Caso as explicações não sejam satisfatórias, as razões da recusa deverão constar dos atos que contenham qualquer decisão ou determinação.

§ 4º Caso uma parte não forneça informação solicitada ou fornecê-la parcialmente e esta informação relevante não seja trazida ao conhecimento das autoridades investigadoras, o resultado poderá ser menos favorável àquela parte do que seria caso a mesma tivesse cooperado.

§ 5º Caso na formulação das determinações sejam utilizadas informações de fontes secundárias, inclusive aquelas fornecidas na petição, buscar-se-á compará-las com informações de fontes independentes ou com aquelas provenientes de outras partes interessadas.

§ 6º A SECEX poderá solicitar que uma parte interessada forneça suas respostas em linguagem de computador.

§ 7º A parte interessada, que não mantiver contabilidade informatizada ou a entrega de resposta neste sistema lhe representar sobrecarga adicional, com o acréscimo injustificado de custos e dificuldades, ficará desobrigada de apresentá-la na forma do parágrafo anterior.

§ 8º Sempre que a SECEX não dispuser de meios específicos para processar a informação, por tê-la recebido em linguagem de computador, não compatível com o seu

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sistema operacional, a informação deverá ser fornecida sob a forma de documento escrito.

CAPÍTULO III

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 67. Os prazos previstos no presente Decreto serão de forma corrida.

Art. 68. Os prazos de que trata este Decreto poderão ser prorrogados uma única vez e por igual período, exceto aqueles em que a prorrogação já se encontre estabelecida.

Art. 69. Os atos praticados em desacordo com as disposições deste Decreto serão nulos de pleno direito.

Art. 70. Os procedimentos estabelecidos neste Decreto não impedirão as autoridades competentes de agir com presteza em relação a quaisquer decisões ou determinações e não constituirão entrave ao desembaraço aduaneiro.

Art. 71. Para os efeitos deste Decreto, o termo "indústria" inclui também atividades ligadas à agricultura.

Art. 72. Os Ministros de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo e da Fazenda expedirão as normas complementares à execução deste Decreto.

Art. 73. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 23 de agosto de 1995; 174º da Independência e 107º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Luiz Felipe Lampreia

Pedro Malan

Dorothea Werneck

José Eduardo de Andrade Vieira

José Serra