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1 6º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) Perspectivas sobre o poder em um mundo em redefinição Belo Horizonte, 25 a 28 de julho de 2017 Área temática: Análise de Política Externa DA OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE PAZ À COOPERAÇÃO TÉCNICA: AS INICIATIVAS BRASILEIRAS PARA A PAZ EM MOÇAMBIQUE (1992-2010) Thaíse Kemer (PPGCP/UFPR) Alexsandro Eugenio Pereira (PPGCP/UFPR)

DA OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE PAZ À COOPERAÇÃO … · de cooperação técnica bilateral, foram concebidas como um instrumento de promoção da paz nesse país. Nesse contexto,

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6º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)

Perspectivas sobre o poder em um mundo em redefinição

Belo Horizonte, 25 a 28 de julho de 2017

Área temática: Análise de Política Externa

DA OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE PAZ À COOPERAÇÃO TÉCNICA: AS INICIATIVAS BRASILEIRAS PARA A PAZ EM MOÇAMBIQUE (1992-2010)

Thaíse Kemer (PPGCP/UFPR)

Alexsandro Eugenio Pereira (PPGCP/UFPR)

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RESUMO: Com o fim da Guerra Fria, observou-se a crescente presença do Brasil no contexto das

iniciativas para a paz promovidas pela Organização das Nações Unidas na África. Essa participação

brasileira associa-se tanto à preocupação da política externa brasileira com a promoção da paz,

conforme a Constituição de 1988, quanto à promoção do desenvolvimento. Nesse contexto, debate-

se a seguinte questão: em que medida as iniciativas do Brasil no contexto do processo de paz de

Moçambique foram associadas à promoção do desenvolvimento, entre 1990 e 2010? Esse período

compreende tanto a análise da missão de manutenção da paz das Nações Unidas para Moçambique,

iniciada em 1992, quanto dos projetos de cooperação técnica entre Brasil e Moçambique que foram

estabelecidos após essa missão. Com base em pesquisas realizadas em fontes primárias e

secundárias e, em particular, no acesso ao Sistema de Atos Internacionais do MRE, o argumento do

artigo é o de que, no caso do processo de paz de Moçambique, o Brasil não adotou uma agenda de

longo prazo para a paz que estivesse associada ao desenvolvimento. Para evidenciar esse

argumento, o artigo foi dividido em três partes. Na primeira parte, apresenta-se uma contextualização

histórica sobre o Acordo Geral de Paz de 1992 e a implementação da ONUMOZ, que ocorreu entre

1993 e 1994. Na segunda seção, evidencia-se a participação do Brasil no contexto da ONUMOZ, de

forma a elucidar tanto as motivações do Brasil em participar dessa missão quanto a forma dessa

participação. Por fim, na terceira seção, analisam-se os acordos de cooperação técnica entre o Brasil

e Moçambique, entre 1990 e 2010. Assim, o artigo visa a contribuir para o debate sobre o papel do

Brasil relativamente à promoção de uma paz associada ao desenvolvimento no mundo

contemporâneo.

PALAVRAS-CHAVE: Paz; Desenvolvimento; Análise de Política Externa.

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INTRODUÇÃO

O presente artigo analisa as iniciativas do Brasil para a promoção da paz em

Moçambique, no período compreendido entre a implementação da Operação das Nações

Unidas em Moçambique (ONUMOZ), em 1992, a qual contou com a participação do Brasil, e

2010, último ano do segundo mandato de Luís Inácio Lula da Silva (2003 - 2010) como

presidente do Brasil. Esse período permite analisar a participação do Brasil tanto no

contexto da ONUMOZ quanto nos projetos de cooperação para o desenvolvimento que o

Brasil desenvolveu com Moçambique posteriormente ao término dessa missão.

O artigo debate a seguinte questão: em que medida as políticas brasileiras para a

promoção da paz em Moçambique estiveram relacionadas ao fortalecimento do

desenvolvimento nesse país, no período entre 1990 e 2010? Para operacionalizar a

pesquisa, utilizam-se as noções de “desenvolvimento” e de “construção da paz”. No

que se refere ao desenvolvimento, ainda que esse conceito seja objeto de debates

(TURK, 2014; MACHADO E PAMPLONA, 2008), o presente artigo utiliza a noção

difundida pelas Nações Unidas em 1990, em seu primeiro relatório sobre o

Desenvolvimento Humano (PNUD, 1990). Segundo esse relatório, “(…) o objetivo

básico do desenvolvimento é criar um ambiente que habilite as pessoas a

desfrutarem de vidas longas, saudáveis e criativas”1. (PNUD, 1990, p. 9; MACHADO

E PAMPLONA, 2008, p. 62). Ainda nesse relatório, enfatiza-se que o ser humano

deve ser considerado o centro do conceito de desenvolvimento, o qual não deve ser

reduzido à dimensão econômica, mas, sim, deve contemplar outras dimensões,

como, por exemplo, o acesso ao conhecimento, à liberdade política e à garantia de

direitos humanos (PNUD, 1990, iii). Assim, verifica-se que a definição de

desenvolvimento empregada pelas Nações Unidas em 1990 tem um escopo que abrange

não apenas temas econômicos mas, também, temas políticos e sociais.

Além disso, as Nações Unidas constituem a principal instância multilateral no mundo

contemporâneo para a promoção da paz e da segurança internacionais. Esse fato é

relevante para a política externa brasileira, pois, segundo Amado Cervo (2008, p. 28), a

ação internacional do Brasil pauta-se, historicamente, pela valorização de foros multilaterais;

nesse contexto, as Nações Unidas contam, desde seus primórdios, com uma expressiva

participação de legações brasileiras. Dessa forma, a abrangência do conceito de

desenvolvimento trazido em 1990 pelas Nações Unidas e a relevância dessa organização

para a ação externa brasileira justificam a escolha da definição onusiana de 1990 para servir

1 Tradução dos autores. Original em inglês: “The basic objective of development is to create an

enabling environment for people to enjoy long, healthy and creative lives” (PNUD, 1990, p. 9).

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como um dos conceitos orientadores da presente análise, em detrimento de eventuais

divergências de ênfase dos diferentes presidentes brasileiros, entre 1990 e 2010, sobre o

conceito de desenvolvimento.

O conceito de “construção da paz”, por sua vez, foi criado por Johan Galtung, um dos

fundadores do campo dos Estudos para a Paz (Peace Studies), durante a década de 1970,

e foi internalizado no contexto das Nações Unidas no documento “Uma Agenda para a Paz”,

do Secretário-Geral Boutros Boutros-Ghali (A/47/277, 1992). Segundo Johan Galtung, a

noção de construção da paz remete à ideia de que a paz implica não apenas a cessação da

violência física, presente, por exemplo, no contexto de guerras, mas também o provimento

de estruturas sociais, como o acesso a sistemas de saúde e de educação, para que os

indivíduos possam alcançar a totalidade de suas potencialidades (GALTUNG, 1976, pp.

297-298; KEMER et al., 2016, p. 138-139). Nesse sentido, o relatório “Uma agenda para a

paz”, dialogou com o conceito de Galtung, pois relacionou a construção da paz “(…) aos

esforços de identificação e de fortalecimento de estruturas que tendam a consolidar a paz e

a estimular um sentido de confiança e de bem-estar entre as pessoas” (A/47/277, 1992, par.

55)2. A Agenda para a Paz destacou ainda que, entre os esforços possíveis para promover a

paz, estão medidas como projetos de cooperação, os quais podem contribuir para o

desenvolvimento (NAÇÕES UNIDAS, 1992, par. 56). Assim, o conceito de construção da

paz fortaleceu o elo entre paz e desenvolvimento no contexto das Nações Unidas (KEMER

et al., 2016, p. 139).

Dessa forma, com base nos conceitos de construção da paz e de desenvolvimento,

sustenta-se que o processo de paz moçambicano não terminou com o fim da ONUMOZ, em

1994, uma vez que, após a retirada dessa missão de Moçambique, houve a persistência do

quadro de subdesenvolvimento na sociedade moçambicana. Assim, o artigo analisa a

política externa brasileira para a promoção da paz em Moçambique, com vistas a identificar

em que medida as iniciativas de promoção do desenvolvimento, materializadas nos projetos

de cooperação técnica bilateral, foram concebidas como um instrumento de promoção da

paz nesse país.

Nesse contexto, a Análise de Política Externa (APE) torna-se um instrumento

relevante para o problema proposto, uma vez que, de acordo com Milani e Pinheiro (2013),

a compreensão das mudanças na política interna permite um entendimento mais amplo

sobre a política externa do Brasil. De acordo com esses autores, a formulação e a

implementação da política externa está inserida na dinâmica das escolhas de governo

(MILANI E PINHEIRO, 2013). A política externa implementada pelos diferentes governos

2 Tradução dos autores. Original em inglês: “(…) comprehensive efforts to identify and support

structures which will tend to consolidate peace and advance a sense of confidence and well-being among people” (NAÇÕES UNIDAS, 1992, par. 55).

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brasileiros torna-se relevante para a análise, com foco particular nos governos de Fernando

Henrique Cardoso (FHC) (1995 - 2003) e Luís Inácio Lula da Silva (2003 - 2010), cujos

mandatos ocuparam a maior parte do recorte temporal selecionado. O artigo analisa a

maneira pela qual o perfil de atuação política desses governos trouxe diferentes implicações

para a implementação da política externa brasileira. Dessa forma, a análise da política

interna nacional oferece elementos que permitem problematizar a formulação da política

externa brasileira a partir da perspectiva da implementação da construção da paz.

O argumento avançado no artigo é o de que, no caso do processo de paz

moçambicano, o Brasil não adotou uma agenda de longo prazo que associasse a promoção

da paz à promoção do desenvolvimento. Esse argumento é válido na medida em que não

houve continuidade entre a participação do Brasil na ONUMOZ e os acordos bilaterais de

cooperação técnica entre Brasil e Moçambique, haja vista que apenas cinco acordos de

cooperação bilateral foram implementados no governo de Fernando Henrique Cardoso,

número que foi ampliado apenas no governo Lula. Esse fato evidencia que a promoção do

desenvolvimento esteve mais associada a decisões específicas de cada governo do que à

promoção da paz, a qual demandaria a intensificação desses acordos após o término da

ONUMOZ, como forma de oferecer aos moçambicanos condições estruturais para a paz.

Assim, não obstante o Brasil tenha apoiado, em termos retóricos, uma agenda de

“construção da paz”, na prática: (1) as iniciativas brasileiras para a promoção da paz em

Moçambique enfatizaram sua atuação na ONUMOZ e (2) houve uma relativa dissociação

entre a promoção da paz e a promoção do desenvolvimento, pois, imediatamente após o

término da ONUMOZ, houve um número relativamente baixo de acordos bilaterais entre

Brasil e Moçambique, situação que somente foi modificada no contexto dos mandatos do

presidente Luís Inácio Lula da Silva. Consequentemente, no caso de Moçambique, as

iniciativas brasileiras para a paz foram direcionadas no sentido de uma abordagem para a

operação de manutenção de paz (BLANCO, 2016), o que enfraquece a ideia de que o Brasil

promoveu, nesse caso, uma agenda para a paz centrada no desenvolvimento.

Para implementar essa análise, a metodologia utilizada consistiu em uma pesquisa

bibliográfica de fontes nacionais e internacionais, além da sistematização e da análise dos

acordos de cooperação técnica entre Brasil e Moçambique, os quais estão disponíveis no

Sistema de Atos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. O artigo

está dividido em três partes, além da introdução e da conclusão. Na primeira parte,

apresenta-se uma contextualização histórica sobre o Acordo Geral de Paz de 1992 e a

implementação da ONUMOZ, que ocorreu entre 1993 e 1994. Na segunda seção, evidencia-

se a participação do Brasil no contexto da ONUMOZ, de forma a elucidar tanto as

motivações do Brasil em participar dessa missão quanto a forma dessa participação. Por

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fim, na terceira seção, analisam-se os acordos de cooperação técnica entre Brasil e

Moçambique, entre 1990 e 2010. Assim, com base no estudo de caso do contexto

moçambicano, o artigo contribui para o aprofundamento do debate sobre o papel do Brasil,

enquanto parte do Sul Global, na promoção da paz internacional.

1. MOÇAMBIQUE: DO CONFLITO À OPERAÇÃO DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS

NAÇÕES UNIDAS DE 1992

A presente seção contextualiza historicamente o conflito moçambicano e o processo

de paz posterior a esse conflito. As causas desse conflito, que envolveu disputas entre os

dois principais partidos políticos do país, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e

a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), ultrapassam fatores políticos e residem

na intersecção de disputas por poder internas, regionais e internacionais. Como destacou

Malaquias (1998, p. 1), o acordo de paz de Moçambique foi elaborado com o objetivo de por

um fim a conflitos sangrentos e prolongados, que foram legados pela Guerra Fria e pelo

apartheid.

As raízes históricas desse conflito relacionam-se com o colonialismo português em

Moçambique, que remonta ao ano de 1498 (VISENTINI, 2012, p. 89). Em 1951, no contexto

dos movimentos de descolonização, o governo português de Antônio Salazar renomeou as

colônias portuguesas na África de “Províncias Ultramarinas”, como forma de garantir o

controle português sobre seus territórios, entre os quais Moçambique, e de lidar com as

críticas internacionais ao colonialismo (FUNADA-CLASSEN, 2012, p. 181). Ainda assim, os

movimentos de descolonização no continente africano possibilitaram que, em 1962,

houvesse a formação do primeiro partido de oposição moçambicana a Portugal, a Frente de

Libertação Nacional de Moçambique (FRELIMO) (RUPIYA, 1998, p. 10). Dois anos depois, a

FRELIMO lançou uma luta armada contra Portugal e recebeu suporte de forças radicais de

países do Leste Europeu, da China e de países africanos árabes (RUPIYA, 1998, p. 11).

Depois de 1970, Portugal lutou contra a FRELIMO; contudo, o contexto da

Revolução dos Cravos3, que ocorreu em Portugal, em 1974, e as discordâncias domésticas

nesse país sobre a presença portuguesa em Moçambique, Guiné-Bissau e Angola,

modificou o contexto moçambicano (RUPIYA, 1998, p. 11). Como uma consequência da

Revolução dos Cravos em Portugal, houve a retirada de 60.000 soldados portugueses de

3 A Revolução dos Cravos foi um movimento iniciado em Portugal no dia 25 de abril de 1974 no qual o

Movimento das Forças Armadas pôs fim a 48 anos de ditadura naquele país (VARELLA, 2012, p. 403).

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Moçambique. Ainda no mesmo ano, o Acordo de Lusaka foi assinado, o qual pôs um fim ao

colonialismo português em Moçambique (RUPIYA, 1998, p. 11).

Em 1975, Samora Machel, líder da FRELIMO, tornou-se o primeiro presidente

moçambicano e a FRELIMO tornou-se o centro do sistema unipartidário em Moçambique

(RUPIYA, 1998, p. 12). Em 1977, a FRELIMO foi oficialmente transformada em um

movimento Marxista-Leninista, o que deu condições para uma aproximação entre esse

partido e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (RUPIYA, 1998, p. 12). Rupiya

(1998, p. 12-13) argumenta que, a despeito da agenda nacionalista da FRELIMO, o governo

conferiu tratamento desigual a determinados grupos sociais, como foi o caso dos

camponeses moçambicanos, os quais foram relegados a um segundo plano no contexto das

políticas nacionais de Moçambique, em razão do foco do governo desse país nas fazendas

estatais. Além disso, Rupiya (1998, p. 12-13) afirmou que houve a marginalização das

autoridades tradicionais, o que levou a um aumento das hostilidades entre a população e o

governo e contribuiu para a escalada do conflito civil.

A principal oposição à FRELIMO foi a Resistência Nacional Moçambicana

(RENAMO), formada, em 1977, pela Agência de Inteligência Nacional do Zimbábue (CIO)

(RUPIYA, 1998, p. 13; REFWORLD, 2001). A CIO, a Agência de Inteligência Nacional do

Zimbábue, promoveu a formação da RENAMO como um contraponto ao Presidente de

Moçambique, Samora Machel, que apoiava o Exército de Libertação Nacional do Zimbábue

(ZANLA), grupo de oposição desse país (BRITANNICA, 2017). Os objetivos da RENAMO,

naquele contexto, eram desestabilizar o governo da FRELIMO e oferecer inteligência ao

Exército de Libertação Nacional do Zimbábue, que estava operando nas fronteiras de

Moçambique (RUPIYA, 1998, p. 13).

Em 1980, com a independência do Zimbábue, o controle da RENAMO foi transferido

para a África do Sul, cujo objetivo era fazer oposição ao movimento armado sul-africano que

estava lutando contra o apartheid (RUPIYA, 1998, p. 13). Além disso, a África do Sul

também bloqueou o acesso ao mar que o Zimbábue tinha por meio de Moçambique, o que

aumentaria a dominação da África do Sul no contexto regional (RUPIYA, 1998, p. 13). O

apoio sul-africano permitiu o fortalecimento das forças da RENAMO, as quais foram

ampliadas de 500 para 8.000 combatentes (RUPIYA, 1998, p. 13).

Em 1984, o Pacto de Não-Agressão de Nkomati, que visava ao fim das hostilidades

entre Moçambique e a África do Sul, foi assinado por esses países (RUPIYA, 1998, p. 13).

No contexto desse pacto, esses Estados comprometeram-se a não oferecer apoio material

aos movimentos de oposição presentes em cada um deles (CRAVINHO, 2004, p. 742).

Assim, o Congresso Nacional da África do Sul (ANC) foi proibido de conduzir operações

militares na África do Sul a partir de Moçambique, e o país sul-africano, por sua vez, não

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poderia mais apoiar a RENAMO (CRAVINHO, 2004, p. 742). O governo sul-africano,

contudo, ignorou o acordo e, em 1984, forças da RENAMO estavam presentes em todas as

províncias de Moçambique (CRAVINHO, 2004, p. 742).

Com a escalada do conflito, Moçambique advertiu ao governo da África do Sul que o

Acordo de Nkomati estava em risco (CRAVINHO, 2004, p. 742). Assim, esse governo

conduziu diálogos em separado com a RENAMO e a FRELIMO, os quais levaram à

Declaração de Pretória, em outubro de 1984 e, ainda, a um acordo de cessar-fogo em

Moçambique (CRAVINHO, 2004, p. 742). Contudo, o Pacto de Não-Agressão de Nkomati e

a Declaração de Pretória não foram suficientes para promover o término do conflito entre a

FRELIMO e a RENAMO. Uma das razões para isso foi que a RENAMO acusou a FRELIMO

de não reconhecer sua legitimidade (CRAVINHO, 2004, p. 742).

Após o Acordo de 1984, a RENAMO passou a adotar uma estratégia política

baseada na utilização de recursos da população local e no ataque a infraestruturas

nacionais, como construções públicas (RUPIYA, 1998, p. 13). Nesse sentido, uma das

principais ações da RENAMO era a destruição de estradas públicas, centros de saúde e

escolas, como formas de atacar o governo da FRELIMO (RUPIYA, 1998, p. 13).

Em 1987, Joaquim Chissano, que assumiu a presidência de Moçambique no

contexto do falecimento de Samora Machel, em 1986, iniciou um conjunto de reformas na

FRELIMO, o que levou esse partido a deixar de ser marxista, no ano de 1989 (RUPIYA,

1998, p. 14). Naquele momento, enquanto a RENAMO enfrentava o desafio de fazer a

transição de um grupo militar para um partido político, a FRELIMO também precisava de

garantias de segurança da parte da RENAMO, de forma que as hostilidades pudessem ter

um fim (RUPIYA, 1998, p. 14).

Esse contexto formou a base para os diálogos de paz em Moçambique, os quais

foram iniciados em 1990 e contaram com a mediação da Comunidade Católica de Santo

Egídio4. Após dois anos de negociações, foi estabelecido, em 1992, o Acordo Geral de Paz

entre a RENAMO e o governo da FRELIMO, composto por sete protocolos (RUPIYA, 1992,

p. 14). O Protocolo I, intitulado “Princípios Básicos”, estabeleceu o compromisso de o

governo não tomar quaisquer medidas contrárias ao Acordo Geral de Paz, ao passo que a

RENAMO não deveria entrar em conflitos armados. O Protocolo II, “Critérios para a

formação e reconhecimento de partidos políticos”, estabeleceu diretrizes para a organização

de partidos políticos, estabelecendo, por exemplo, que esses deveriam ser associações de

cidadãos voluntárias, independentes e livres, cujo propósito principal seria o de dar

expressão democrática à vontade popular e promover a participação democrática (GPA,

4 De acordo com Richard Jackson (2005, p. 19), a Comunidade Católica de Santo Egídio é uma

organização católica de caridade com sede em Roma e presença em Moçambique.

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1992, p. 42). O Protocolo III, “Princípios do Ato Eleitoral”, estabeleceu princípios que

deveriam orientar as eleições moçambicanas, como a liberdade de imprensa, de expressão

e o estabelecimento de procedimentos eleitorais baseado em um sistema de regras

democráticas, imparciais e pluralistas. O Protocolo IV, “Assuntos Militares”, tratou de temas

como a formação da Força de Defesa Moçambicana, uma força apartidária cuja formação

teria início após o cessar-fogo. O Protocolo V, “Garantias”, estabeleceu a criação de uma

Comissão para supervisionar o cessar-fogo e monitorar o Acordo Geral de Paz. Finalmente,

o Protocolo VI, “Cessar-fogo”, estabeleceu as condições para o cessar-fogo e o Protocolo

VII, “Conferência de Doadores”, afirmou a necessidade de uma conferência internacional

para viabilizar o financiamento do processo eleitoral, de programas emergenciais e da

reintegração de deslocados internos, refugiados e soldados desmobilizados (GPA, 1992, p.

60). O processo de paz moçambicano recebeu amplo suporte internacional de países como

os Estados Unidos, a França, Portugal e o Reino Unido (RUPIYA, 1998, p. 15).

Após o estabelecimento do Acordo Geral de Paz de 1992, o Conselho de Segurança

aprovou, em 13 de outubro do mesmo ano, a Resolução 782, pela qual deu as boas-vindas

à assinatura do Acordo Geral e aprovou o despacho de um Representante Especial Interino

do Secretário-Geral e de uma equipe de observadores militares a Moçambique (NAÇÕES

UNIDAS, 1992). Contudo, devido às persistentes violações ao cessar-fogo em várias áreas

do país, o Conselho de Segurança estabeleceu a Operação de Paz das Nações Unidas em

Moçambique, por meio de sua Resolução 797, de 16 de dezembro de 1992, a qual deveria

durar até 31 de outubro de 1993 (NAÇÕES UNIDAS, 1992b). O mandato da ONUMOZ

incluiu aspectos políticos, eleitorais, militares e humanitários.

No âmbito político, o Representante Especial ficaria responsável por liderar a

Comissão de Monitoramento e de Supervisão, a qual havia sido criada no contexto da

implementação do Acordo, com o objetivo de monitorar o processo de paz (ONUMOZ,

1996). Com relação ao processo eleitoral, o Acordo Geral de Paz estabeleceu que eleições

legislativas e presidenciais deveriam ocorrer um ano após a assinatura do Acordo. Nesse

contexto, a Divisão Eleitoral da ONUMOZ deveria monitorar o processo eleitoral que seria

organizado pela Comissão Nacional de eleições e, também, manter contato com o governo

de Moçambique (ONUMOZ, 1996).

No âmbito militar, a ONUMOZ teve o papel de monitorar e verificar: (1) o cessar-fogo;

(2) a separação e a concentração das forças das partes envolvidas no conflito; (3) a

desmobilização dos combatentes e a coleta, armazenamento e destruição de armas; (4) a

retirada das forças estrangeiras; e (5) o desmantelamento de grupos militares armados

privados e irregulares. Além disso, a ONUMOZ deveria prover a segurança para as Nações

Unidas e outras iniciativas internacionais que tivessem o intuito de apoiar o processo de paz

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(ONUMOZ, 1996). Por fim, no âmbito humanitário, o componente da ONUMOZ para

operações humanitárias (UNOHAC), estabelecido em Maputo, deveria servir tanto como um

instrumento de reconciliação quanto como uma forma de apoiar o retorno de refugiados e de

deslocados internos para seus lares (ONUMOZ, 1996).

A despeito do estabelecimento da ONUMOZ, em 14 de Abril de 1993, o Conselho de

Segurança adotou a Resolução 818 (1993), que condenou os atrasos que impediam o

avanço do processo de paz moçambicano e ampliou o mandato da ONUMOZ por seis

meses (NAÇÕES UNIDAS, 1993). De fato, os atrasos na implementação das unidades

militares da ONUMOZ trouxeram lentidão ao processo, pois a RENAMO solicitou que, no

mínimo, 65 por cento das tropas da ONUMOZ deveriam estar a postos antes que tivesse

início o processo de implementação do Acordo Geral de Paz (ONUMOZ, 1996). Assim, a

ONUMOZ foi implementada em maio de 1993 (ONUMOZ, 1996), ao passo que as eleições

moçambicanas foram atrasadas em um ano (RUPIYA, 1998, p. 16). Nessas eleições, 85%

dos 5,2 milhões de votantes registrados compareceram às urnas e reelegeram Joaquim

Chissano como o Presidente de Moçambique, ao passo que a FRELIMO obteve a maioria

dos assentos do Parlamento (129 dos 250 assentos disponíveis) (RUPIYA, 1998, p. 16-17).

Nesse contexto, as eleições ocorreram em outubro de 1994 e foram declaradas “livres e

justas” pelas Nações Unidas (RUPIYA, 1998, p. 16).

Embora esses resultados aparentemente corroborem a ideia de “sucesso” da

iniciativa das Nações Unidas para a paz em Moçambique (MALAQUIAS, 1998, p. 1), é

relevante recordar, nesse contexto, os argumentos de Rob Jenkins (2013) sobre processos

de construção da paz. De acordo com esse autor, uma das questões que podem ser

levantadas sobre as iniciativas das Nações Unidas para a paz se refere à duração desses

processos (JENKINS, 2013, p. 24-28; KEMER et al., 2016, p. 144). Dado que não existe

uma duração definida para a conclusão de um processo de paz, é possível afirmar que o

término da ONUMOZ não trouxe, necessariamente, a paz para a sociedade moçambicana.

Reppell e outros pesquisadores (2016, p. 9) afirmam, nesse sentido, que, mais de vinte após

o estabelecimento do Acordo Geral de Paz, mais de 14 milhões de pessoas em

Moçambique vivem com menos de US$ 1,25 por dia5. Além disso, o país ainda necessita de

programas de apoio à reintegração de ex-combatentes na economia nacional (REPPELL et

al., 2016, p. 9). Adicionalmente, após 2013, a violência entre os partidos RENAMO e

FRELIMO tornou-se evidente no contexto político moçambicano. Segundo Bowker e outros

pesquisadores (2016) e Jentzsch (2016), abusos de direitos humanos são cometidos por

ambas as partes em conflito e, de acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras

5 Segundo o Banco Mundial, a população total de Moçambique, em 2015, totalizava cerca de 28

milhões de habitantes (BANCO MUNDIAL, 2017).

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(2016), mais de 5.800 refugiados moçambicanos ainda não têm acesso a condições

humanitárias mínimas, na medida em que estão em abrigos superlotados, sem acesso a

água potável e a saneamento básico (MSF, 2016). Nesse contexto, é importante considerar

a ênfase das Nações Unidas na interrelação entre paz e desenvolvimento, evidenciada por

meio do conceito de construção da paz. Partindo dessa perspectiva, é possível afirmar que

o processo de paz em Moçambique está, ainda, em curso (TSCHIRGI, 2003, p. 1-2; PBSO,

2010; KEMER et al., 2016), na medida em que o país apresenta diversas carências em

termos de estruturas sociais, como os déficits existentes em seus sistemas de educação, de

saúde e de saneamento básico, entre outros (BANCO MUNDIAL, 2017).

Esses dados evidenciam a necessidade de ampliar a discussão sobre o “sucesso” do

processo de paz moçambicano (REPPELL et al., 2016, p. 9; JENTZSCH, 2016). Para

ampliar esse debate, a próxima seção apresenta a perspectiva brasileira sobre o processo

de paz moçambicano, analisando o papel do Brasil no contexto da ONUMOZ.

2. O “JEITINHO BRASILEIRO” NA OPERAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS EM

MOÇAMBIQUE (1993 A 1994): INTERESSES E PRÁTICAS

A presente seção analisa o processo de paz moçambicano a partir da perspectiva do

Brasil, cujos objetivos, naquele contexto, foram tanto contribuir para o processo de paz

moçambicano quanto avançar seus interesses nacionais no plano internacional. A questão

problematizada é: no contexto moçambicano, em que medida é possível argumentar que

houve uma política brasileira para a paz com ênfase no desenvolvimento? Para elaborar

essa análise, a seção centra-se na participação do Brasil na ONUMOZ, que ocorreu entre

janeiro de 1993 e dezembro de 1994 (EBMIL, 2017b), ao passo que a terceira seção analisa

os projetos de cooperação bilateral entre Brasil e Moçambique que se seguiram ao término

dessa missão. Embora esses tópicos – a missão de peacekeeping e projetos de cooperação

técnica – sejam aparentemente distintos, analisa-se a existência de possíveis interrelações

entre as diferentes iniciativas brasileiras nesse país, as quais evidenciem a existência de

uma política brasileira para a paz em Moçambique centrada na promoção do

desenvolvimento. Antes de proceder a essa análise, é importante destacar que a expressão

utilizada no título, o “jeitinho brasileiro”, foi utilizada por Roberto DaMatta, no livro O que faz

o brasil, Brasil?, e esteve associada, de forma geral, à capacidade dos brasileiros de driblar

condicionantes legais e institucionais para obter vantagens próprias (DAMATTA, 1986). O

sentido adotado no artigo, no entanto, difere dessa conotação: na presente seção, debate-

se a ideia de que o Brasil teria uma forma particular de promover a paz em países em

desenvolvimento, a qual não apenas seria caracterizada pela empatia social e cultural com

12

esses países (AGUILAR, 2012), mas também demonstraria empenho com a promoção do

desenvolvimento nesses locais.

Para tanto, é relevante analisar a presença do Brasil na ONUMOZ. Nesse sentido,

destaca-se que o envio de tropas para missões de peacekeeping no continente africano se

enquadra dentro de um “interesse tradicional” do Brasil em apoiar a África, o que foi

expresso, por exemplo: (1) na Mensagem No 823 do Poder Executivo ao Congresso

Nacional, em 5 de novembro de 1993, a qual solicitou ao Congresso a autorização para o

envio de tropas brasileiras para a ONUMOZ (CONGRESSO NACIONAL, 1993, p. 25735); e

(2) na Mensagem No 1090, de 1994, por meio da qual o Poder Executivo brasileiro solicitou

autorização para o envio de tropas brasileiras à Angola, no contexto da operação de

peacekeeping UNAVEM III (CONGRESSO NACIONAL, 1995, p. 2363).

Nesse contexto, Fontoura (2005, p. 214) apresenta a atuação do Brasil de uma

maneira mais ampla no contexto das operações de manutenção da paz das Nações Unidas.

Segundo esse autor, desde 1957, o Brasil participou de 23 operações de manutenção da

paz e duas missões civis das Nações Unidas (FONTOURA, 2005, p. 214). O Ministério das

Relações Exteriores do Brasil informa ainda que, em 2017, o Brasil contribui com nove

missões de paz6 e possui um contingente de mais de 1.700 pessoas trabalhando nesses

contextos (MRE, 2017). Fountoura (2005, p. 214) argumenta que, diferentemente da década

de 1960, quando a contribuição brasileira para as missões de paz esteve diretamente

relacionada à contribuição com pessoal militar, na década de 1990, a contribuição brasileira

foi incrementada com a participação de civis e policiais, assim como com o suprimento de

onze oficiais membros das Forças Armadas para servir no Departamento das Operações de

Manutenção de Paz das Nações Unidas (FONTOURA, 2005, p. 214). No contexto da

ONUMOZ, Fontoura (2005, p. 216) destaca que o Brasil contribuiu com uma força de 300

membros, incluindo 218 militares, 66 policiais e 16 servidores civis. Essa participação, que

ocorreu entre janeiro de 1993 e dezembro de 1994, teve um brasileiro no comando do

componente militar da missão, o General Lélio Gonçalves Rodrigues da Silva (EBMIL,

2017). Além disso, o Brasil também contribuiu para o processo eleitoral moçambicano, por

meio da atuação de Walter Porto, Assessor do Presidente do Congresso Nacional Brasileiro,

que foi juiz das eleições moçambicanas de 1994 (FONTOURA, 2005, p. 216).

No plano da política doméstica do Brasil, Fontoura menciona a formação do Grupo

de Trabalho Interministerial como relevante para compreender as motivações do Brasil para

atuar no processo de paz moçambicano (FONTOURA, 2016, p. 221). Esse grupo, composto

6 As iniciativas de paz atuais das Nações Unidas que contam com a participação do Brasil são:

MINURSO (Sahara Ocidental), MINUSTAH (Haiti), UNFICYP (Chipre), UNIFIL (Líbano), MONUSCO (República Democrática do Congo), UNISFA (Abyei), UNMIL (Libéria), UNMISS (Sudão do Sul) and UNOCI (Costa do Marfim) (MRE, 2017).

13

por representantes de diferentes áreas do governo – Ministério das Relações Exteriores,

Ministério da Justiça, Forças Armadas e Congresso Nacional – foi formado por que o

governo brasileiro não tinha, naquele momento, uma estrutura governamental dedicada a

acompanhar a participação do Brasil em missões de paz (FONTOURA, 2016, p. 221). Esse

grupo tinha as seguintes motivações: (1) aumentar a influência brasileira nos órgãos das

Nações Unidas relacionados às missões de manutenção da paz; (2) atualizar a legislação

brasileira relacionada ao envio de tropas brasileiras para missões internacionais; (3)

aproveitar as oportunidades de cooperação bilateral que fossem identificadas no contexto da

implementação dos processos de paz. Assim, a participação do Brasil em iniciativas de paz

buscou tanto melhorar o status internacional do Brasil quanto identificar novas

oportunidades para a cooperação bilateral.

Com relação à participação do Brasil no contexto da ONUMOZ, após a aprovação

dessa missão pelo Conselho de Segurança, o Brasil reagiu positivamente à solicitação do

Secretário-Geral Boutros Boutros-Ghali relativamente ao envio de tropas brasileiras a

Moçambique (UZIEL, 2015, p. 111-112). Para justificar essa participação, as seguintes

razões foram apresentadas pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional, por meio da

Mensagem No 823, de 5 de novembro de 1993: (1) responder positivamente a uma

demanda do Secretário-Geral das Nações Unidas; (2) obedecer à Constituição Nacional,

que afirma, em seu artigo quarto, o comprometimento do Brasil com a promoção da paz e,

também, cumprir com suas obrigações como membro das Nações Unidas; (3) contribuir

para a pacificação do Sul da África; (4) fortalecer o relacionamento com Moçambique e com

países africanos lusófonos; (5) evitar a redução do prestígio internacional do Brasil, na

medida em que "a ausência do Brasil nesse esforço de pacificação causaria surpresa e teria

repercussões negativas quanto à nossa capacidade de atuação internacional (…)”

(CONGRESSO NACIONAL, 1993, p. 25735). Ainda nessa mensagem, enfatizou-se que os

riscos de retomada das hostilidades e de um prolongamento indefinido da presença das

Nações Unidas em Moçambique seriam "bem menores" do que outras missões dessa

organização, uma vez que Moçambique já tinha 10 meses de paz entre os partidos

RENAMO e FRELIMO e suas eleições gerais já haviam sido marcadas (CONGRESSO

NACIONAL, 1993, p. 25735). Esses argumentos indicam a ponderação, por parte do Brasil,

dos custos e benefícios da sua participação no contexto moçambicano. Nesse contexto, o

Congresso Nacional Brasileiro aprovou a participação do Brasil, por meio do Decreto

Nacional Legislativo 15/1994, o que, segundo Uziel (2015, p. 112), foi condizente com os

seguintes interesses do Brasil: (1) manter a tradição brasileira de oferecer tropas a missões

internacionais; (2) expressar a solidariedade nacional com um país que partilha de traços

culturais e históricos com o Brasil; (3) promover a imagem do Brasil no plano internacional;

14

(4) aprimorar a experiência das Forças Armadas nacionais. Essas passagens evidenciam

alguns dos argumentos do Brasil sobre a participação na ONUMOZ, os quais estão

relacionados tanto à promoção internacional da paz quanto ao intuito de aumentar o

prestígio internacional do país e as capacidades de suas Forças Armadas.

No que se refere à participação das Forças Armadas brasileiras no terreno

moçambicano, Sérgio Aguilar (2012, p. 217) argumenta que existe uma “cultura brasileira

das operações de paz”, a qual é concebida pelo autor como a contribuição que as

características culturais do Brasil, como as habilidades de negociação e o comportamento

amigável dos brasileiros, podem oferecer no contexto de missões internacionais. Em

particular, o autor fornece alguns exemplos sobre como esse “jeitinho brasileiro” evidenciou-

se na ONUMOZ: (1) em uma negociação com ex-guerrilheiros que haviam bloqueado

estradas moçambicanas, as tropas brasileiras conseguiram, de forma amigável, negociar a

liberação das estradas (AGUILAR, 2012, p. 219); (2) a pobreza encontrada em Moçambique

era uma característica conhecida pelas tropas brasileiras, o que contribuiu para a

aproximação entre as tropas brasileiras e a população local (AGUILAR, 2012, p. 221); (3)

algumas práticas culturais brasileiras, como o futebol e a capoeira, contribuíram para a

construção de um ambiente de “convivência fraterna” no contexto dessa missão (AGUILAR,

2012, p. 223); (4) o fato de o Português ser um idioma comum contribuiu para a formação de

um relacionamento positivo entre a equipe brasileira na ONUMOZ e a sociedade

moçambicana (AGUILAR, 2012, p. 224).

A despeito de Aguilar ter trazido exemplos concretos da atuação das tropas

brasileiras, com base em entrevistas com militares que estiveram no terreno, é necessário

questionar em que medida essa atuação do Brasil em Moçambique promoveu a integração

entre as diferentes forças presentes em campo para a promoção, nesse país, de uma forma

de paz voltada à promoção do desenvolvimento. Embora esse “jeitinho brasileiro” tenha sido

reafirmado em outras ocasiões, como no contexto do Workshop realizado entre a

Universidade de São Paulo e o Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB),

em maio de 2017 (USP, 2017), ressaltou-se, nesse evento, que não houve uma doutrina de

integração que coadunasse a atuação dos componentes militar, civil e policial no terreno.

Assim, conquanto as iniciativas das tropas brasileiras tenham apresentado proximidade

cultural àquelas da sociedade moçambicana, essas iniciativas não evidenciam,

necessariamente, um foco de promoção da paz por meio do desenvolvimento, o qual

pressuporia a atuação sinérgica entre os diferentes atores brasileiros com atuação em

Moçambique.

Dessa forma, se, por um lado, o Brasil manifestou interesses para a atuação em

Moçambique em diversas dimensões, na prática, a atuação do Brasil esteve associada,

15

preponderantemente, à dimensão militar, sem a previsão de sinergias com as dimensões

policial e civil. Visto dessa perspectiva, é possível afirmar que, embora os militares no

terreno tenham apresentado formas culturais de interação que foram caracterizadas como

um “jeitinho brasileiro”, essas características não constituíram indícios de que houve uma

política do Estado brasileiro comprometida com a promoção da paz por meio do

desenvolvimento no contexto da implementação da ONUMOZ. Como forma de ampliar as

discussões para o período posterior à ONUMOZ, a terceira seção avalia a implementação

de projetos de cooperação técnica para o desenvolvimento entre o Brasil e Moçambique.

3. A COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE BRASIL E MOÇAMBIQUE (1990-2010): LIMITES

AO ELO ENTRE PAZ E DESENVOLVIMENTO

Embora as observações da seção precedente apontem para uma contribuição

positiva das tropas brasileiras no contexto da ONUMOZ, a análise da atuação do Brasil no

processo de paz de Moçambique deve passar, também, pela análise dos acordos de

cooperação bilateral entre os dois países. De acordo com Mendonça e Faria (2015, p. 8), as

iniciativas brasileiras no contexto da cooperação técnica para o desenvolvimento podem ser

associadas às seguintes motivações: (1) a necessidade de promoção do desenvolvimento

sustentável, em particular no contexto da solidariedade existente entre países em

desenvolvimento; (2) uma forma de fortalecer os laços entre países latino-americanos e

africanos; (3) a proximidade histórica e cultural com alguns dos países com os quais o Brasil

mantém projetos de cooperação técnica.

Nesse contexto, Mendonça e Faria (2015, p. 8) argumentam que, desde a criação da

Agência Brasileira de Cooperação, em 1987, houve uma mudança no perfil da Cooperação

Técnica para o Desenvolvimento do Brasil, na medida em que a diplomacia brasileira

questionou o discurso de assimetria entre países receptores e doadores, propondo, ao invés

disso, parcerias na forma da Cooperação Sul-Sul. Contudo, esses autores também

afirmaram que a Cooperação Técnica para o Desenvolvimento do Brasil baseia-se nas

práticas e nas expectativas que foram consolidadas em organizações multilaterais e fóruns

com uma longa experiência na cooperação para o desenvolvimento (MENDONÇA E FARIA,

2015, p. 7). Essa afirmação traz questionamentos sobre a ideia de que o Brasil, um país em

desenvolvimento, tem maior proximidade com as sociedades locais e realidades de seus

parceiros em desenvolvimento (NGANJE, 2013).

De fato, no caso da cooperação técnica entre Brasil e Moçambique, o fato de o Brasil

ser um país em desenvolvimento não constituiu motivação suficiente para produzir uma

política de paz marcada pela continuidade entre a participação brasileira na ONUMOZ e os

sucessivos projetos de cooperação entre o Brasil e Moçambique, nos quais o

16

desenvolvimento pudesse ser identificado como um link de coesão. Essa afirmação pode

ser evidenciada por meio da análise dos governos brasileiros de Fernando Henrique

Cardoso (1995-2003) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) relativamente ao continente

africano, cujos mandatos estão compreendidos no período que se seguiu à retirada da

ONUMOZ.

Com relação à política externa brasileira para a África durante o mandato de

Fernando Henrique Cardoso, Mendonça e Faria (2015, p. 8) argumentam que houve uma

“exclusão” da África das prioridades da Política Externa Brasileira (PEB) daquele período.

De acordo com esses autores, embaixadas brasileiras foram fechadas em diversos países,

como na Etiópia, Tanzânia, Camarões, República Democrática do Congo, Togo e Zâmbia.

Em particular, Mendonça e Faria (2015, p. 8) argumentam que a PEB durante a era de

Fernando Henrique foi orientada, principalmente, pelo pragmatismo no âmbito comercial,

com foco em países como Angola e Nigéria. De acordo com esses autores, Fernando

Henrique afirmou que: “…a promoção de relações com países africanos teria sido um

equívoco, tendo servido apenas para os militares brasileiros afirmarem sua pretensa

hegemonia no Atlântico Sul, sem que o Brasil nada ganhasse em termos econômicos”

(MENDONÇA E FARIA, 2015, p. 8). Mendonça e Faria (2015, p. 8) sustentam, ainda, que a

PEB passou por modificações durante os anos do governo Lula (2003-2010), no sentido de

promover o fortalecimento das relações entre o Brasil e os países africanos. De fato, entre

2006 e 2010, o orçamento anual da Agência Brasileira de Cooperação cresceu de 18,7

milhões de reais para 52,26 milhões de reais (MRE, 2010b, p. 9) e, em 2009, metade desse

montante destinou-se a países africanos (MRE, 2010b, p. 10, CALL E ABDENUR, 2017, p.

11).

Nesse contexto, a PEB foi concebida não apenas como uma forma de o Brasil

ampliar seu poder de barganha no Sistema Internacional, mas também de estreitar os laços

com as economias em ascensão do continente africano (MENDONÇA E FARIA, 2015, p.

10). O reforço das relações bilaterais foi particularmente evidente no cenário moçambicano,

como foi afirmado pelo ex-presidente Lula:

Moçambique é, hoje, um importante imã para investimentos. De forma sucinta, a produção energética e mineral moçambicana será um fator determinante para o impacto da África Austral no mundo. Algumas de nossas maiores companhias já atuam nesse país. Nós estamos todos cientes dos pontos de contato históricos entre Moçambique e o Brasil, e nossas similaridades auxiliam-nos no compartilhamento de experiências e facilitam contatos. Nós temos um legado real de amizade e sentimento de camaradagem que facilitam nossas relações

7. Discurso do Presidente Luiz

7 Tradução dos autores. Original em inglês: “Mozambique is today an important magnet for

investment. Very briefly, Mozambique’s mineral and energy production will be the determining factor in Southern Africa’s impact on the world. Some of our major companies are already working on this country…We are all aware of the historical points of contact between Mozambique and Brazil and our

17

Inácio Lula da Silva no encerramento da Reunião de Negócios, Maputo, 16 de Outubro de 2008 (MRE, 2010, p. 137).

De fato, no discurso de 2008, Lula enfatizou não apenas os laços históricos e

culturais com a África, mas também a importância do comércio e dos investimentos para as

relações bilaterais. Além disso, de acordo com Mendonça e Faria (2015, p. 12-13), os anos

Lula representaram uma mudança na Política Externa Brasileira. Nesse sentido, o Brasil não

apenas reconheceu o peso da questão da escravidão para as relações bilaterais, mas

também buscou relações horizontais com países africanos (MENDONÇA E FARIA, 2015, p.

12-13).

No caso de Moçambique, a mudança da PEB para esse país entre os governos de

FHC e de Lula da Silva pode ser observada por meio da análise do número e do escopo dos

projetos de cooperação técnica bilateral, de 1995 a 2010. No que concerne ao número de

projetos, o artigo traz um Anexo que foi organizado por meio do banco de dados do Sistema

de Atos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores (MRE, 2017b). Esse Anexo

evidencia que cinco acordos de cooperação técnica foram assinados entre Brasil e

Moçambique durante os anos FHC, ao passo que, durante os anos Lula, 49 acordos

bilaterais desse tipo foram firmados8. Com relação ao escopo dos projetos, a Tabela 1

demonstra que houve um número relativamente reduzido de projetos de cooperação no

período posterior ao término da ONUMOZ, na comparação com o governo de Lula da Silva:

similarities help us to share experiences and facilitate contacts. We have a real legacy of friendship and fellow-feeling that makes our relations easier” (MRE, 2010, p. 137). 8 Durante o governo Lula, destacaram-se os projetos: (1) de instalação de uma fábrica de

medicamentos antirretrovirais em Moçambique; e; (2) da cooperação trilateral entre Brasil, Japão e Moçambique, no contexto do ProSavana. Segundo Almeida (2016, p. 58), a fábrica de medicamentos antirretrovirais, cuja propriedade é do governo moçambicano, evidenciou um diferencial da cooperação brasileira, na medida em que possibilitou maior autonomia ao país africano para a produção de medicamentos de combate ao HIV/AIDS. A cooperação trilateral no contexto do ProSavana, por sua vez, representou a aplicação da experiência nipo-brasileira com o Cerrado na Savana africana. Contudo, esse projeto vem sendo objeto de críticas, pois o modelo implementado no Brasil, ao ser exportado para Moçambique, poderia gerar uma série de problemas, como o surgimento de sem-terras, o aumento da pobreza e a produção de desequilíbrios ecológicos (ALMEIDA, 2016, p. 63).

18

Tabela 1: Acordos de Cooperação entre Brasil e Moçambique de 1995 a 2010

Áreas de Cooperação FHC Lula da Silva

Agricultura

2

Agropecuária

2

Alimentação

1

Biocombustíveis

1

Capacitação profissional

3

Científica e Tecnológica

1

Combate a Entorpecentes e a Transações Fraudulentas

1

Comunicação Social

1

Cooperação Acadêmica

1

Cultural

6

Desenvolvimento Urbano

3

Educação e Alimentação

2

Educacional 3 1

Esportes

3

Florestas

1

Fortalecimento Institucional

3

Mineração 1 1

Obras Públicas

1

Saúde

11

Segurança Pública 1 2

Terras e Mapeamento

1

Turismo

1

Fonte: Organizado pelos autores com base em MRE (2017b)

Vale destacar, ainda, que Mendonça e Faria (2015, p. 17) organizaram uma tabela

semelhante com dados de todos os acordos de cooperação entre o Brasil e países

africanos, de forma a evidenciar uma perspectiva comparativa entre os governos de FHC e

de Lula. Nesse trabalho, os autores demonstram que houve um incremento, na passagem

dos governos de FHC a Lula, do número e do escopo dos projetos de cooperação entre o

Brasil e países africanos, de forma geral. Essa análise fortalece o argumento de que os

projetos de cooperação para o desenvolvimento para Moçambique foram antes o resultado

da formulação mais ampla da política externa brasileira para a África específica do governo

Lula do que a resultante de uma lógica de longo prazo da PEB, na qual a promoção da paz

esteja baseada na ênfase ao desenvolvimento.

Assim, embora o relacionamento entre Brasil e Moçambique tenha sido resultado de

um quadro mais amplo da Política Externa Brasileira para a África, é possível argumentar

que houve uma descontinuidade da Política Externa Brasileira para a paz em Moçambique.

Isso é verdade na medida em que o governo de Fernando Henrique Cardoso reduziu a

cooperação bilateral com Moçambique, em um momento em que as preocupações com o

desenvolvimento moçambicano deveriam receber mais atenção do Brasil, haja vista que a

ONUMOZ havia sido encerrada nesse período e que o Brasil defende o desenvolvimento

19

como um meio indispensável para atingir a paz (MRE, 2017). Partindo dessa perspectiva, o

período de término de uma missão de peacekeeping ensejaria a ampliação dos esforços

para a promoção do desenvolvimento e o aumento dos projetos de cooperação técnica seria

uma evidência desses esforços. A análise da Tabela 1, entretanto, demonstra que áreas

cruciais para a promoção do desenvolvimento não foram objeto de acordos de cooperação

bilateral durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, como é o caso das áreas da

saúde, da agricultura, da alimentação e da ciência e tecnologia. Ressalte-se ainda que a

cooperação durante o governo de FHC contemplou projetos nas áreas de mineração, em

1997, e de segurança pública e educação, cujos acordos ocorreram somente em 2001.

Dessa forma, verifica-se que o período posterior ao término da ONUMOZ não implicou a

implementação sistemática de projetos que buscassem trazer a paz por meio do

desenvolvimento.

Essa análise apresenta um contraponto ao raciocínio de autores como Oliver

Richmond e Ioannis Tellidis (2013, p. 2-4). Esses autores argumentaram que a atual crise da

paz liberal abriu espaço para que atores como o Brasil possam desenvolver suas próprias

agendas para a construção da paz. Considerando as relações de proximidade entre os

países do Sul Global, essas agendas deveriam enfatizar as sociedades locais e aspectos de

sua vida diária, e, por extensão, o tema do subdesenvolvimento, que se faz presente na vida

diária dessas populações (RICHMOND & TELLIDIS, 2013, p. 2-4). Essa abordagem seria

consistente com uma perspectiva crítica da construção da paz, a qual compreende que a

promoção da paz é necessariamente relacionada ao diálogo com as sociedades locais com

o propósito de compreender os conflitos (MAC GINTY, 2011). Contudo, a análise da

participação brasileira na ONUMOZ e a relativa redução dos projetos de cooperação técnica

que se seguiram a essa missão apontam para uma direção diferente, a qual relaciona a paz

com missões de peacekeeping, mas posiciona a paz separadamente da cooperação

técnica. Essa observação corrobora a visão de Ramon Blanco (2016), segundo a qual a

inserção brasileira no debate internacional sobre a construção da paz é míope, na medida

em que uma inserção mais qualificada demandaria não apenas a contribuição com tropas,

mas, também, “…aglutinar, de modo integrado e coordenado, diferentes tipos de atores e

instituições em sua atuação na construção da paz internacional” (BLANCO, 2016, p. 23).

Essa inserção mais qualificada demandaria, inclusive, um maior diálogo entre o

Brasil e as entidades não-governamentais e outras forças da sociedade moçambicana, na

medida em que esse diálogo materializaria, na prática, uma promoção da paz centrada nas

necessidades locais. De fato, embora a Agência Brasileira de Cooperação enfatize a

solidariedade como uma das características basilares da cooperação para o

desenvolvimento do Brasil (MRE, 2010b, p. 3), autores como Abdenur e Marcondes (2016,

20

p. 3) e Call e Abdenur (2017, p. 6) apresentam uma perspectiva crítica a essa solidariedade,

a qual estaria mais atrelada aos processos decisórios governamentais dos parceiros

brasileiros do que ao diálogo com entidades não-governamentais e com as forças de

oposição desses países.

Dessa forma, não obstante o Brasil apresente uma retórica diplomática que enfatiza

a “(…) interdependência entre a segurança e o desenvolvimento como elemento

indispensável à paz sustentável” (MRE, 2017), no caso de Moçambique, verificou-se que

essa interdependência não se refletiu na produção de uma política externa brasileira para a

paz que enfatizasse a interligação entre dois dos mais presentes instrumentos da política

externa brasileira – a participação brasileira em missões de peacekeeping e os projetos de

cooperação técnica para o desenvolvimento. O caso moçambicano, portanto, enseja o

debate sobre a relevância de o Brasil promover uma inserção internacional que seja o

reflexo de uma maior sinergia entre os diferentes instrumentos que compõem o portfolio da

Política Externa Brasileira, como é o caso das missões de peacekeeping e dos projetos de

cooperação para o desenvolvimento. Assim, essa aproximação pode contribuir para que a

atuação internacional do Brasil para a promoção da paz reforce o desenvolvimento como

seu fio condutor.

CONCLUSÃO

O presente artigo debateu o papel do Brasil para a promoção da paz em

Moçambique, com o foco na agenda brasileira de desenvolvimento naquele país. Após uma

breve introdução sobre o contexto histórico que levou ao Acordo Geral de Paz e estabeleceu

a ONUMOZ, o artigo analisou o processo de paz moçambicano a partir da perspectiva

brasileira. Embora o Brasil enfatize a importância do desenvolvimento para a promoção da

paz - o que justificaria o link entre as operações de paz e os acordos de cooperação técnica

– verificou-se que, entre 1995 e 2003, período posterior ao término da ONUMOZ, houve

apenas cinco projetos de cooperação técnica entre Brasil e Moçambique, um número muito

inferior à quantidade de projetos de cooperação para o desenvolvimento implementados

durante o governo Lula (49 projetos). Além disso, a análise da concentração temática de

projetos evidenciou que apenas as áreas de mineração, educação e segurança pública

foram contempladas por projetos de cooperação no governo de Fernando Henrique

Cardoso, sendo que os projetos de educação e de segurança pública tiveram início somente

em 2001 – seis anos após o término do mandato da ONUMOZ. Esse fato evidencia que, no

caso de Moçambique, não é possível afirmar que houve uma política para a paz centrada na

promoção do desenvolvimento, pois a promoção da paz em Moçambique foi

operacionalizada, essencialmente, no contexto da missão de peacekeeping, e apenas

21

posteriormente, ampliou-se o número de projetos de cooperação para o desenvolvimento

entre os dois países. Essa análise lança novas perspectivas sobre a hipótese de autores

como Oliver Richmond e Ioannis Tellidis (2013, p. 2-4), segundo os quais países como o

Brasil, por pertencerem ao Sul Global, deveriam enfatizar práticas mais centradas no

desenvolvimento e nas sociedades locais. Embora essa hipótese seja afirmada na retórica

da Política Externa Brasileira, o caso de Moçambique evidencia que o Brasil adotou uma

abordagem de paz mais relacionada às operações de paz do que aos projetos de

cooperação técnica. Assim, os resultados da pesquisa contrariam a suposição de que o

Brasil, como um país em desenvolvimento, enfatizou, na prática de suas relações com

Moçambique, o link entre paz e desenvolvimento.

22

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27

Anexo: Acordos de Cooperação entre Brasil e Moçambique entre 1980 e 2010

Conclusão do Acordo

Área da Cooperação Título do Documento

10/04/1980 Capacitação profissional Acordo para Implementação do Projeto "Implantação de um Centro de Formação Profissional para Escritórios e Administração", em Moçambique.

15/09/1981 Acordo Geral de Cooperação Acordo Geral de Cooperação

15/05/1987 Comunicações Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação de 15/09/81, no Campo das Comunicações.

27/05/1989 Agricultura Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação de 15 de novembro de 1981, na Área de Agricultura Irrigada.

01/06/1989 Cultural Acordo de Cooperação Cultural

18/07/1997 Mineração Ajuste Complementar ao Acordo-Geral de Cooperação no Campo da Mineração.

20/06/2001 Educacional Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação na área de Educação para a Implementação do Programa Alfabetização Solidária em Moçambique.

20/06/2001 Educacional Memorando de Entendimento, na área de Cooperação Educacional.

20/06/2001 Educacional Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área da Educação

20/06/2001 Segurança Pública Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica, Educacional, Científica e Tecnológica na Área da Segurança Pública.

02/05/2003 Saúde Memorandum de Entendimento no Âmbito do Programa de Cooperação Internacional do Ministério da Saúde do Brasil. (HIV e AIDS)

05/11/2003 Científica e Tecnológica Programa de Trabalho em matéria de Cooperação Científica e Tecnológica

05/11/2003 Cultural Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação na Área de Educação para Implementação do Projeto "Bolsa-Escola"

05/11/2003 Cultural Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Apoiar o Desenvolvimento do Programa Piloto Nacional de Alfabetização de Moçambique

05/11/2003 Esportes Ajuste Complementar ao Acordo Cultural para a Cooperação no Campo dos Esportes

05/11/2003 Educacional

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto "Uso de Tecnologias da Informação e da Comunicação na Educação Presencial e à Distância em Moçambique.”

05/11/2003 Terras e Mapeamento Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área de Terras e Mapeamento.

05/11/2003 Agropecuária

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do "Projeto de Apoio ao Desenvolvimento e Fortalecimento do Setor de Pesquisa Agropecuária da República de Moçambique"

05/11/2003 Fortalecimento Institucional Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área de Administração Pública

05/11/2003 Mineração Memorando de Entendimento nas Áreas de Geologia, Mineração e Transformação Mineral

05/11/2003 Saúde Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto PCI-NTWANANO no Âmbito do Programa de Cooperção Internacional do Ministério da Saúde do Brasil

31/08/2004 Segurança Pública Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área de Formação de Pessoal Especializado em Prisões.

31/08/2004 Combate a Entorpecentes e a Transações Financeiras Fraudulentas

Acordo de Cooperação entre o Brasil e Moçambique sobre o Combate à Produção, ao Consumo e ao Tráfico Ilícitos de Entorpecentes, Substâncias Psicotrópicas e sobre o Combate às Atividades de Lavagem de Ativos e outras Transações Financeiras Fraudulentas

03/11/2004 Esportes Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto Inserção Social pela Prática Esportiva.

23/04/2007 Saúde Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto Fortalecimento do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique

06/07/2007 Agricultura Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto Apoio ao Desenvolvimento da Horto-Fruticultura e Moçambique

06/07/2007 Cultural Programa Executivo do Acordo Cultural para os Anos 2007-2010

06/07/2007 Desenvolvimento Urbano Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto Apoio ao Desenvolvimento Urbano de

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Moçambique

06/07/2007 Alimentação Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto Fortalecimento das Ações de Alimentação e Nutrição

06/09/2007 Cultural Protocolo de Intenções para o Incentivo à Formação Científica de Estudantes Moçambicanos

06/09/2007 Cultural Protocolo de Intenções sobre Cooperação Técnica na Área da Educação à Distância

06/09/2007 Obras Públicas

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação para Implementação do Projeto Apoio à Construção de Cisternas, Barragens Subterrâneas, Captação de Água de Chuva in situ e Jardins Produtivos em Comunidades Rurais de Moçambique

06/09/2007 Biocombustíveis Memorando de Entendimento na Área de Biocombustíveis entre Brasil e Moçambique

02/07/2008 Capacitação profissional

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para a Implementação do Projeto “Capacitação Técnica em Ciências Florestais”

04/09/2008 Fortalecimento Institucional

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto fortalecimento Institucional e Técnico do Instituto Nacional de Normalização e Qualidade de Moçambique”

04/09/2008 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Capacitação em Produção de Medicamentos Anti-Retrovirais e outros Medicamentos”

04/09/2008 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Fortalecimento Institucional do Órgão Regulador de Medicamentos de Moçambique como Agente Regulador do Setor Farmacêutico”

16/10/2008 Cultural Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Cultural entre o Brasil e Moçambique nas Áreas Audiovisual e Cinematográfica

16/10/2008 Esportes Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Brasil e Moçambique, para Implementação do Projeto “Inserção Social pela Prática Desportiva – Fase II”

16/10/2008 Educação e Alimentação Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Brasil e Moçambique, para Implementação do Projeto “Programa de Educação Alimentar e Nutricional – Cozinha Brasil-Moçambique”

16/10/2008 Comunicação Social Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Cultural entre o Brasil e Moçambique para Cooperação em Matéria de Comunicação Social

06/05/2009 Fortalecimento Institucional

Programa Executivo do Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para o Projeto “Apoio ao Desenvolvimento Gerencial Estratégico do Governo de Moçambique”

08/05/2009 Capacitação profissional

Programa Executivo do Acordo Geral de Cooperação entre a República Federativa do Brasil e a República de Moçambique e para o Projeto “Apoio à Implementação do Sistema Nacional de Arquivos de Estado”

16/06/2009 Turismo Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para o Desenvolvimento do Turismo

21/07/2009 Florestas Programa Executivo ao Acordo Geral de Cooperação entre a República Federativa do Brasil e a República de Moçambique para o Projeto “Reabilitação do Cefloma – Centro Florestal de Machipanda”

21/07/2009 Capacitação profissional

Programa Executivo ao Acordo Geral de Cooperação entre a República Federativa do Brasil e a República de Moçambique para o Projeto “Implantação de Centro de Formação Profissional Brasil-Moçambique”

21/07/2009 Segurança Pública Programa Executivo ao Acordo Geral de Cooperação entre a República Federativa do Brasil e a República de Moçambique para o Projeto “Capacitação Técnica em Matéria de Prisões”

12/05/2010 Agropecuária

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre a República Federativa do Brasil e a República de Moçambique para a Implementação do Projeto “Suporte Técnico à Plataforma de Inovação Agropecuária de Moçambique”

07/06/2010 Desenvolvimento Urbano

Programa Executivo do Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Apoio ao Desenvolvimento Urbano de Moçambique – Fase II”

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17/06/2010 Educação e Alimentação

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Apoio ao Desenvolvimento de um Programa Nacional de Alimentação Escolar de Moçambique”

16/07/2010 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Implantação de Projeto Piloto de Terapia Comunitária em Moçambique, como Recurso de Promoção da Saúde

16/07/2010 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Fortalecimento das Ações de Prevenção e Controle do Câncer em Moçambique.

05/10/2010 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Apoio ao Sistema de Atendimento Oral de Moçambique – Implementação de Laboratório de Referência em Prótese Dentária em Maputo”

05/10/2010 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Apoio ao Desenvolvimento da Política Nacional de Saúde Oral em Moçambique: Pesquisa em Saúde Oral - Maputo“

09/11/2010 Agricultura

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Incremento da Capacidade de Pesquisa e de Difusão Tecnológica para o Desenvolvimento Agrícola do Corredor de Nacala, Moçambique”

09/11/2010 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Implantação de Banco de Leite Humano e de Centro de Lactação em Moçambique

09/11/2010 Desenvolvimento Urbano

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Apoio à Requalificação do Bairro Chamanculo “C” no Âmbito da Estratégia Global de Reordenamento e Urbanização dos Assentamentos Informais do Município de Maputo”

09/11/2010 Saúde

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Apoio à Implantação do Centro de Tele-Saúde, da Biblioteca e do Programa de Ensino à Distância em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente de Moçambique”

09/11/2010 Cooperação Acadêmica

Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação “Programa de Cooperação entre a Universidade Aberta do Brasil (UAB), o Ministério da Educação (MINED), a Universidade Pedagógica (UP) e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) de Moçambique”

Fonte: Organizado pelos autores com base nos dados obtidos em MRE (2017b).