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MOSSADOSCARRASCOSDOKIDON

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EricFrattini

MOSSADOSCARRASCOSDOKIDON

AHistóriadoTemívelGrupodeOperaçõesEspeciaisdeIsrael

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14-10334

Títulooriginal:Mossad—OsCarrascosdoKidon.Copyright©2008EricFrattini.PublicadomedianteacordocomPontasLiterary&FilmAgency,Espanha.Copyrightdaediçãobrasileira©2014EditoraPensamento-CultrixLtda.Textodeacordocomasnovasregrasortográficasdalínguaportuguesa.1ªedição2014.Todososdireitosreservados.Nenhumapartedestaobrapodeserreproduzidaouusadadequalquerformaouporqualquermeio,eletrônicooumecânico, inclusive fotocópias,gravaçõesousistemadearmazenamentoembancodedados,sempermissãoporescrito,excetonoscasosdetrechoscurtoscitadosemresenhascríticasouartigosderevistas.A Editora Seoman não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais oueletrônicoscitadosnestelivro.Editor: Adilson SilvaRamachandraEditora de textos:Denise deC.RochaDelelaCoordenação editorial:Roseli de S. Ferraz Preparação e adaptação de originais: Alessandra Miranda de Sá Produção editorial:Indiara Faria Kayo Editoração eletrônica: Fama Editora Revisão: Nilza Agua e Wagner Giannella FilhoProduçãodeebook:S2BooksCIP-BRASIL.CATALOGAÇÃONAPUBLICAÇÃOSINDICATONACIONALDOSEDITORESDELIVROS,RJ

F924m Frattini, Eric, 1963-Mossad os carrascos do Kidon: a história do temível grupo deoperaçõesespeciaisdeIsrael/EricFrattini;adaptaçãoAlessandraMirandadeSá.—1.ed.—SãoPaulo:Seoman,2014.392p.:il.;23cm.

Traduçãode:Mossad:oscarrascosdoKidon.IncluibibliografiaISBN978-85-98903-87-31. Israel — Mossad. 2. Terrosismo — Prevenção. 3. Agentes dos serviços de inteligência —

Israel.4.Espionagemisraelense.I.Sá,AlessandraMirandade.II.Título.CDD:956.94

CDU:94(569.4)

1ªediçãodigital:2014e-ISBN:978-85-98903-88-0

SeomanéumseloeditorialdaPensamento-Cultrix.

DireitosparaoBrasiladquiridoscomexclusividadepelaEDITORAPENSAMENTO-CULTRIXLTDA.,quesereservaapropriedadeliteráriadestatradução.RuaDr.MárioVicente,368—04270-000—SãoPaulo,SPFone:(11)2066-9000—Fax:(11)2066-9008http://www.editoraseoman.com.brE-mail:[email protected]ósitolegal.

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AoHugo,pessoamuitovaliosaparamim,pormedardiariamenteseuamoresuaalegriaexuberante...

ÀSilvia,porseuapoioincondicionalepelatranquilidadequemetransmite,semosquaiseunãopoderiaescrever...

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SUMÁRIOCapa

Folhaderosto

Fichacatalográfica

Dedicatória

Sumário

Agradecimentos

Introduçãonoinício...

OperaçãoGaribalde-ALVO:AdolfEichmann-DATA:11demaiode1960

OperaçãoRiga-ALVO:HerbertCukurs-DATA:23defevereirode1965

OperaçãoiradeDeus-ALVOS:TerroristasdoSetembroNegro-DATA:16deoutubrode1972ajunhode1973

Operaçãodiamante-ALVOS:TerroristasdoSetembroNegro-DATA:15dejaneirode1973

Operaçãoprimaveradajuventude-ALVOS:LíderespalestinosemBeirute-DATA:10deabrilde1973

Operaçãobarbaazul-ALVO:MohamedBoudia-DATA:28dejunhode1973

Operaçãoraio-ALVO:Resgatederefénseexecuçãodesequestradores-DATA:4dejulhode1976

Operaçãopríncipevermelho-ALVO:AliHassanSalameh-DATA:22dejaneirode1979

Operaçãoátomo-ALVOS:Cientistasnuclearesiraquianos-DATA:5deabrilde

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1979a7dejunhode1981

OperaçãoVanunu-ALVO:MordechaiVanunu-DATA:30desetembrode1986

Operação17-ALVO:JalilIbrahimMahmudalWazir,conhecidocomo“AbuJihad”-DATA:16deabrilde1988

Operaçãozulu-ALVOS:GerardBull,AlanKidger,WynandVanWyk,DonLangeeDirkStoffberg-DATA:22demarçode1990a22dejulhode1994

Operaçãotycoon-ALVO:RobertMaxwell-DATA:5denovembrode1991

Operaçãocesárea-ALVO:FathiShaqaqi-DATA:26deoutubrode1995

Operaçãoengenheiro-ALVO:YehiyaAyyashconhecidocomo“OEngenheiro”-DATA:5dejaneirode1996

Operaçãovingança-ALVOS:JalidMeshaleoxeiqueAhmedYassin-DATA:25desetembrode1997a22demarçode2004

Operaçãofumaça-ALVO:ImadFayezMughniyeh-DATA:12defevereirode2008

Operaçãoraquete-ALVO:MahmudAbdelRaufal-Mabhuh-DATA:19dejaneirode2010

Operaçãonêutron-ALVOS:ArdeshirHosseinpour,MassudAliMohamadi,FereydoonAbbasieMajidShahriari-DATA:11dedezembrode2006a10dejaneirode2011

AnexoIdiretoresdomossad

AnexoIIprimeiros-ministrosdeisrael

AnexoIIIglossáriodetermosdomossad

Bibliografia

Cadernodefotos

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À

AGRADECIMENTOS

s fontes quemeprestaram ajuda inestimável e cujosnomespreferi não citarnestelivro.

Àsfontesquemeprestaramajudainestimávelequemepediramparanãoseremcitadasnestelivro.

Ao Institute ofDocumentation for the Investigation ofNaziWar Crimes, emHaifa (Israel), por me facilitar o acesso a toda a documentação relativa aojulgamentodeAdolfEichmannemJerusalém.

Às autoridades policiais do Uruguai, por me facilitarem o acesso a toda ainformaçãoeaomaterialgráficosobreaOperaçãoRiga,ocorridaem23defevereirode1965.

Àsautoridadesde Israel,queme facilitaramoacessoao importantedocumentoReportof theCommisionConcerning theEvents in JordanSeptember1997, sobreoserros cometidos pelo Kidon na tentativa de assassinato de JalidMeshal em Amã(Jordânia),em25desetembrode1997.

AosmeiosdecomunicaçãodeIsrael,quemederamvaliosasinformaçõessobreoscasoscitadosnestelivro.

Aoquartel-generaldoFBI emWashingtonD.C. e àCentralde InformaçãodaCIA,emLangley(Virgínia),pormedaremlivreacessoadocumentossobregruposterroristascomooHamaseaJihadIslâmica.

AoNotiIsrael, semanário de notícias de Israel e das comunidades judaicas, peloacessoàsuavaliosahemeroteca.

ÀForçaAéreaIsraelense(FAI)eàsForçasdeDefesaIsraelenses(FDI).AosarquivoshistóricosdopróprioMossad;doGeneralIntelligenceDepartment

(Dairat al Mukhabarat ou GID) da Jordânia; da Australian Security IntelligenceOrganisation(ASIO);daDirectionGénéralede laSécuriteExtérieure (DGSE)deFrança;edaNorwegianIntelligenceService(Etterretningstjenesten).

À JewishVirtual Library, pelos seusmagníficos arquivos sobre o terrorismo noOrienteMédio.

AoTerrorismResearchCenter, emVirgínia, pelos seus belíssimos e completosarquivossobreoterrorismomundial.

Ao doutor Jorge Óscar Aguilera, por seu magnífico estudo intitulado ElFundamentalismo Islâmico como Fenómeno de La Cultura Contemporánea [O

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Fundamentalismo Islâmico como Fenômeno da Cultura Contemporânea], que meajudou a entender um pouco mais a mentalidade e a maneira de operar dosterroristassuicidasislâmicos.

E, por último, agradeço especialmente a todas as pessoas e organismos quemeapresentaramentraves,barreiraserestriçõesparaevitarqueeste livrofossecomoéhoje,permitindo-meaguçarmeusentidodecuriosidadee,porconsequência,minhainvestigação.

Atodoseles,omeumaishumildeesinceroagradecimento.Umapartedestelivrolhespertence.

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V

INTRODUÇÃONoinício...

Noinício...

“EosinimigossaberãoquesouoSenhorquandofizercairaminhavingançasobreeles.”

—PROFETAEZEQUIELingança,ousatisfaçãoquesetomadaofensaoudosmaus-tratosrecebidos,nãoésomenteumapalavraouumadefinição:foie

continuasendotambémumanormatácitadoEstadodeIsraelcontraseusinimigosaolongodetodaahistória,desdeoterrívelHolocausto,nadécadade1940,atéos

primeirosanosdoséculoXXIcontraseusatuais“inimigos”.DesdeacriaçãodoMossad,emmarçode1951,seuserviçodeespionagemtemsededicadoaperseguir

essessupostosinimigosdeIsraelnoslocaismaisremotosdoplaneta.Aprimeiraoperaçãoautorizada“politicamente”porumchefedegovernoeconfiadanaépocaà

entãounidadedeNokmin(“Vingadores”)serialevadaatermoemmaiode1960,quandoDavidBen-GurionordenouaomemunehIsserHarelosequestroeposterior

transferênciadeAdolfEichmannparaIsrael,umdosprincipaisresponsáveispelachamadaSoluçãoFinalàquestãojudaicanaEuropa.Condenadoàmorte,

EichmannseriaenforcadonaprisãodeRamallahentre30demaioe1ºdejunhode1962.

O êxito da chamadaOperaçãoGaribaldi, comandada pelo jovemRafael “Rafi”Eitan,levouàcriaçãodotemívelKidon(“Baioneta”),asubunidadedeassassinosdaMetsada, aunidadedeoperações especiaisdoMossad.OKidone seusmembros,tambémchamadoskidon, se converteriamna ponta da lança das novas vingançasqueIsraellevariaacabocontraseusinimigoscomopassardosanos.Porém,quaisforamasverdadeirasorigensdosvingadoresdoKidon?

ApósaSegundaGuerraMundialeoextermíniode6milhõesdejudeusemtodaaEuropa,osvencedorespuderamler,nosmurosdassinagogasdestruídas,aseguintemensagem por parte dos assassinados pelamáquina demorte doTerceiro Reich:“Fomosassassinados.Vingai-nos.Recordai-nos”.Emmaiode1945,aguerratinhaterminado na Europa, mas, para muitos, não cessaria até que seus familiaresexterminados fossem vingados. Estava claro para os sobreviventes que tinham delevar adiante a sagrada tarefa de vingança, de cumprir à risca a Lei de Taliãoutilizadapelosjudeusdo“olhoporolho,dentepordente”.Oscasosdecriminososde guerra eram tantos que chegariam a paralisar o sistema judicialmilitar aliado.

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Essa situação fez comquemuitosdeles fossempostos em liberdade.Enquantooseuropeus olhavam para o futuro, para a reconstrução, os sobreviventes doHolocaustotinhamolhosapenasparaavingança.

Em 20 de setembro de 1944 entrou em ação a primeira brigada judaica doexércitobritânico sobbandeirahebraica, a JewishBrigadeGroup.Emnovembro,foidestinadaparaafrentedebatalhadaItália.Amaiorpartedeseusmembrosaindatinhafamiliaresatrásdaslinhasalemãs.Emmaiode1945,apósofimdaguerra,aBrigadacontinuavanacidadeitalianadeTarvisio,pertodafronteiracomaÁustria.Seusmembros estavamávidospor fazerpartedasForçasdeOcupaçãoAliadasnaAlemanha,masumaordemosobrigouasedeterem.Aprimeiramissãoextraoficialconsistiu emcriaruma “passagem secreta” entre aEuropadevastada e aPalestinaparaosmilharesdejudeusquefugiamdolesteeuropeu.EssaaçãoseriaconhecidacomoOperaçãoBrecha.

Foi dada permissão a muitos dos soldados da brigada para procurarem seusfamiliares, e o que encontraram foram lugares como Auschwitz-Birkenau,Mauthausen ou Bergen-Belsen. Ao regressarem à base, o desejo de vingança erafortíssimoemtodoseles.

Com a ajuda dos serviços de inteligência militar norte-americano e britânico,delinearam-se listas de membros da SS. Em julho de 1945, um esquadrão deexecutorescruzouafronteiracomaÁustria.AprimeiraparadafoiacasaquetinhasidoumcentroadministrativodaGestapo.Osjudeusdetiveramumcasal.Amulherreconheceu que seu trabalho fora a classificação de todos os pertences de valorrequisitados a judeus da Itália e da Áustria. Quando ela estava prestes a serexecutadacomumtironanuca,ohomemseofereceuparaajudarosVingadoresemtrocadavidadeambos.Nodiaseguinte,oesquadrãotinhaemseupoderumalistacompostaportrintanomesdevizinhosquehaviamsidomembrosativosdaGestapoeda SS, com as respectivas datas denascimento, formação,missões e funções noexércitoalemão.

Disfarçadosdepoliciaismilitares,osnokmin dedicaram-se aprender,umaum,todos os que faziam parte da lista. Depois de lhes serem lidos os direitos, eramexecutados mediante estrangulamento. A equipe de Vingadores era formada porIsraelKarmi,MaierShoreaeHaimHarkov.OexecutoreraShevKerem,que,anosdepois,seuniriaaorecém-criadoMossad.

A unidade atuava sempre num raio de ação de cem quilômetros ao redor deTarvisio,easoperações,realizadaspertodelagos,riosebarragens,nãodeixavamomenor rastro. Suaúnicameta era executar omaiornúmeropossível de assassinosnazistas.Todatarde,ochefedosnokminrecebiaumalistadealvose,ànoite,vários

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—AprimeiraseráidentificarosjudeusaindavivosnaEuropaeajudá-losachegaràPalestina.—Asegundaseráamissãodevingar-se.

esquadrões saíam em missão sem que nenhum deles soubesse o que os demaisfaziam. A unidade de executores judeus atuaria apenas durante alguns meses ejamais se soube o número de nazistasmortos.Meses depois, enquanto os aliadoscomeçaram a pôr em liberdade milhares de prisioneiros de guerra, os judeusconcluíram que as nações vencedoras queriam esquecer o passado, mas eles nãoestavamdispostosaesquecer.

Tuviah Friedman, Manus Yiman e Alex Anilevich, irmão de MordechaiAnilevich, o famoso herói que liderou o levante do gueto de Varsóvia contra osalemães,decidemseuniremViena sobonomedeRepresália.OsmembrosdessegruporealizavamtarefaspoliciaisdetendoosantigosmembrosdaSSedaGestapo— de juízes, julgando-os e condenando-os; e de carrascos, executando-os. Asmissões levadas a termo pela “Represália” continuam a ser também ummistério,assimcomoonúmerodenazistasexecutados.

Tambémnofinaldaguerra,ativistasjudeus,partidárioseguerrilheirosuniram-separaformaromaissignificativogrupodevingadores.Antesestavamseparadospordiferentes ideologias; agora estavam unidos pelo legado dos milhões de vítimas.BeshalelMihaelieraumdosmembros.Antesdeveropaimorrer,prometeu-lhequesobreviveria para levar adiante sua vingança particular contra os carrascos. EmLublin,aprimeiracidadepolonesalibertada,estabelececontatocomoutrosjudeusque já haviam cometido atos de vingança. No número 55 da rua Fisinskigopartilhamideais,desejosdevingançaeospoucospertences.Anovaequipedecidedividirsuasoperaçõesemduasfases:

A vingança devia ter a mesma

magnitudequeo assassinato emmassa conduzidopelos alemães.O líderdanovaunidade é Abba Kovner, poeta e antigo guerrilheiro (partisan) em Vilna.[1] EmBucareste,acapitaldaRomênia,decidem-sedoisatosdevingança:oplano“A”,queconsistirianoenvenenamentodaáguadeváriascidadesalemãs;eoplano“B”,quese centralizaria nos prisioneiros da SS retidos pelos aliados em campos deprisioneiros,envenenandoopãoquelheseraservido.

KovnerprecisadeajudaedecideviajarparaaPalestina.OgruponecessitadeumaboaquantidadedevenenoparacontaminaraáguadeNuremberg,cidade-símbolodoPartidoNazista,edeHamburgo.Oquartel-generaldaequipeseestabeleceemParis.Kovner revela o planoA somente a três altos oficiais deHaganah, que lhenegamapoio.OslíderesdaPalestinatêmagoraprioridadedistinta:acriaçãodeum

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Estadojudeu.Odiadavingançaéadiadováriasvezes.KovnerfalaenfimcomHaimWeizman, futuroprimeiropresidentedoEstadodeIsrael,aquemexpõeapenasoplano B. Este recomenda-lhe uma substância química. Em 14 de dezembro de1945,ochefedosVingadoresviajanumbarcoavaporrumoàFrança.Ovenenovaiemlatasdeleitecondensado.

Pouco antes de chegar a Toulon, quatro dos cinco membros da equipe sãochamadosàpresençadocapitão.Entretanto,oquintoselivradoveneno,atirando-opara fora dobarco.Os chefes decidem então acionar o planoB.NumcampodeprisioneirospertodeNurembergconcentram-secercade15milantigosmembrosda SS. O pão, feito todos os dias numa padaria alemã, é o único alimento nãofornecidopelo exércitonorte-americano.TrêsdosVingadores fazem-sepassarporpadeiroseconseguemtrabalhonapadariaquefornecepãoaocampo.EmParis,umquímicojudeudeMilãodedica-seafabricaroveneno:doisquilosdearsênicosemrefinar.

Em 13 de abril de 1946, domingo de Páscoa, os nokmin entram em ação.Dedicam-sedurantetodaanoiteauntarcompincéisoarsêniconasbolasdepão.Quase 3 mil. Se se entregasse a cada membro da SS um quarto, seriam quatromortosporpão,ou,oquevaidarnomesmo,12milmortosseos3milpãesfossemingeridos.

Ao amanhecer, entrega-se o pãono campodeprisioneiros.O efeito do venenocomeça a se espalhar pelo campo de Nuremberg. Equipes de médicos norte-americanos fazemopossível para salvar a vida dos oficiais da SS que comeramopão.Milharesficamdoentes,emboraapenasalgunspoucostenhamsucumbido.Osaliados jamais tornaram público o número de mortos, mas aos nokmin aquelaoperação lhes devolveu, de certamaneira, a honra perdida nos campos demortenazistas.

CincoanosapósestaoperaçãoeapenastrêsdepoisdacriaçãodoEstadodeIsrael,David Ben-Gurion ordena a criação doMossad, emmarço de 1951. A primeiratarefa dos nokmin do Mossad, herdeiros dos homens de Abba Kovner, seria aOperaçãoGaribaldi.Apóso sequestrodeAdolfEichmann,primeiro grande êxitodos serviços de inteligência israelenses, Ben-Gurion ordenaria ao novo memuneh,Meir Amit (1963-1968), a criação de uma unidade “secreta” que só poderia ser“ativada” e “desativada” pelo primeiro-ministro.O próprio Amit, que batizaria aunidade de Kidon (“Baioneta”), estabeleceu a norma básica para suas atuações:“Nãohaverámatançasdelíderespolíticos;estesdevemsertratadosatravésdemeiospolíticos.Não semataráa famíliados terroristas; se seusmembros sepuseremnocaminho,nãoseráproblemanosso.Cadaexecuçãotemdeserautorizadapeloentão

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primeiro-ministro. E tudo deve ser feito segundo o regulamento. É necessárioredigirumaatadadecisãotomada.Tudolimpoeclaro.NossasaçõesnãodevemservistascomocrimespatrocinadospeloEstado,massimcomoaúltimaaçãojudicialqueoEstadopodeoferecer.Nãodevemosserdiferentesdocarrascooudequalquerexecutorlegalmentenomeado”.

Em1972, sobogovernodaprimeira-ministraGoldaMeireomandatodeZviZamir como memuneh do Mossad, se estabeleceria o chamado Comitê X, umaestrutura judicial tão secreta que nem sequer o Supremo Tribunal de Justiça doEstado de Israel sabia de sua existência. Segundo o testemunho do ex-katsa doMossad, Victor Ostrovsky, em seu livro By Way of Deception, “o Comitê X écompostopormilitares,pessoaldosserviçosdeinteligênciaedoPoderJudicial,fazas vezes de tribunal marcial e julga os acusados in absentia. As audiências,semelhantes a um tribunal, são realizadas em lugares distintos para cada caso,geralmenteemdomicíliosparticularesouemcasasclandestinasdoMossad.NãoseredigenenhumaatadassessõesdoComitêX”.

Ostrovskyrelatatambémemseumagníficolivro:Emboraoimputado,nestecasoo líder do Hezbollah, o xeique Abbas Musawi, jamais o tenha sabido, doisadvogados,umrepresentandoadefesaeoutroapromotoria,encarregaram-sedoseucaso.DenadavaleuaalegaçãodadefesaaduzindoqueMusawieranaverdadeumelemento“moderado”dentrodofundamentalismoxiitaequetinhadesempenhadoumpapelfundamentalnalibertaçãodosrefénsocidentais.Apromotoriafezvaleroseu argumento: o novo líder do Hezbollah tinha recentemente realizado umchamamento para uma escalada bélica contra o que ele mesmo denominava “ocancrodeIsrael”.Musawifoideclaradoculpado,oqueimplicavaqueoComitêXpodiadecidir“transferi-lo”paraIsrael,demodoasersubmetidoaumjulgamentoregular, ou autorizar sua execução na primeira oportunidade em que isso fossepossívelpeloKidon.

Nenhuma dessas opções poderia ser iniciada sem a autorização expressa doprimeiro-ministro,aindaque,naverdade,desdeacriaçãodoKidon,quasetodososchefesdegovernoisraelense,desdeDavidBen-GurionaArielSharon,doLikudaoPartido Trabalhista, com PrêmioNobel da Paz ou sem ele, assinaram ordens desequestroouexecução.

Tanto o Comitê X quanto o Kidon foram mantidos em absoluto segredo, atémesmo paramuitos dosministros que fizeram parte dos diferentes gabinetes dossucessivosgovernos,atéqueojornalistaisraelenseYoelMarcusrevelouahistóriadeambasasorganizaçõesnojornalHaaretz,emjulhode1986.

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O Kidon era composto por três equipes de doze pessoas cada, que, sob oeufemismode “braço longoda justiça” de Israel, ocuparam-se em “saldar contas”nos últimos 45 anos desde a criação da unidade. Criminosos de guerra nazistas,líderesdaOrganizaçãoparaaLibertaçãodaPalestina(OLP),doHamasoudaJihadIslâmica, terroristas do “Setembro Negro”, magnatas, cientistas, traficantes eprojetistasdearmastêmsidoalgunsdosalvosclarosdaMetsada,oDepartamentodeOperaçõesEspeciaisdoMossaddequedependeoKidon.

Aocontráriodeoutrosclérigos,cujaslimusinesblindadasefortementeescoltadasraras vezes se aventuram além de Beirute ou do Vale de Beqaa, Musawi tinhaatravessado,porváriasvezes,achamadazonadesegurança,estritamentevigiadaporIsraelepeloexércitodosuldoLíbano.PrecisamenteemJibsit,umaaldeiade12milhabitantes localizada no extremo sul desse país que constituía o último postoavançadodofundamentalismoislâmico,sobasordensdeYitzhakRabin,queentãoocupavaocargodeministrodaDefesa,edeShabtaiShavit,memunehdoMossad,uma unidade da Sayeret Matkal (grupo de elite do Exército de Israel conhecidocomo“AUnidade”)eoKidonseencarregaramde“executar”Musawi.

Em16defevereirode1992,quandooshelicópterosApache israelensesabriramfogocontraacaravanadeveículosquepartiadeJibsit,matandoMusawi,suaesposae o filhoHussein de 5 anos,MosheArens, oministro da Segurança, justificou amortedeMusawicomoumadasformaslegítimasqueoEstadodeIsraelutilizanaluta antiterrorista. Os membros do Kidon haviam conseguido colocar umlocalizador na parte de baixo do veículo do xeique assassinado. O míssil apenasseguiuorastrodele.

Desde então, os inimigos têm sido envenenados, voado em pedaços,estrangulados, afogados, simplesmente executados com um tiro na nuca ousequestrados pelo Kidon, em nome de Israel e com a autorização do primeiro-ministro,naFrança,naItália,emMalta,noChipre,naÁfricadoSul,naBélgica,naNoruega, noLíbano, noUruguai, naArgentina e emum sem-número de outrospaíses. Na verdade, o Kidon e seus membros elevaram o assassinato político aomáximo nível de perfeição, graças a agentes como Zvi Steinberg, um judeubrasileiro de 36 anos, capaz de estrangular um homem em questão de segundos.Dizia-seque,umdia,entrounumcarroemPraga,emperseguiçãoaumterroristapalestino,aproximou-sedele,esmagou-lhecomumasómãoatraqueia,matando-ono ato e desaparecendo depois em meio à multidão. Ninguém se deu conta da“execução”atéqueoveículofoiabertoedescobriramocadáver.

Este livro de espionagem e aventuras, mas também tragicamente real, é umpequeno capítulo na longa história de conflitos que o Oriente Médio vive há

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décadas; só que, neste caso, a guerra se desenvolve nas sombras. Este livro reúnedezesseis operações encobertas de assassinato e sequestro realizadas peloMossad esuasubunidadedaMetsada,otemívelKidon,aolongode44anosdehistória,deacertosedesacertos.

Ele relata, por exemplo, os êxitos do Kidon em operações como Ira de Deus,Átomo, Barba Azul ou Engenheiro, mas também grandes erros, como quando aunidadedeexecutoresdoMossadassassinou,em21dejulhode1973,porengano,nacidadenorueguesadeLillehammer,umgarçommarroquinoquefoiconfundidocomolíderdoSetembroNegro,AliHassanSalameh,ouquandodoiskidonforamdetidosemAmã,em26desetembrode1997,enquantotentavammatarumlíderdoHamasintroduzindo-lheumgásnervosopeloouvidocomumaerossol.

EstácorretooqueescreveuumdiaojornalistaYoelMarcus,dojornalHaaretz:“Apenas os equívocos do Mossad são públicos. Os triunfos devem permanecerguardadosasetechaves.EstesúltimossãoosquefazemcomqueopovodeIsraelpossairparaacamaemsegurança”.Mastambémnãoémenoscorretaaafirmaçãodo lendário Rafi Eitan, antigo responsável pela Metsada e pelo Lakam, quandoafirmou:“Nossatarefaéfazerhistóriaedepoisocultá-la.Nogeralsomoshonrados,respeitamos o governo constitucional, a liberdade de expressão e os direitoshumanos.Porém,entendemostambémquenadasedeveinterpornoquefazemos”.

EnquantoosespecialistasseindagamemrelaçãoaobenefíciodessasoperaçõesdoKidon,emquesãoabatidosdirigentesdeorganizaçõesterroristasedepaísesárabescom balas, destruídos por explosivos, enviados pelos ares por um míssil,envenenados ou simplesmente estrangulados, organizações como o Hamas ou oHezbollahnãoparecemperder força.Aparentemente, a recente trocade liderançadentro do Mossad não pareceu mudar os objetivos do serviço de inteligênciaisraelense.Entretanto,oentãogovernodeIsraelsilenciaenquantooMossadvigia.Eassim continuará a ser... Este livro é parte dessa história escrita em meio àssombras...

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Aprimeira pista recebida sobre o paradeiro de Adolf Eichmann foi porintermédio de Jules Lemoine, um antigo tripulante do iate Djeilan,

propriedade da condessa Marguerite d’Andurain. Ela fazia parte da OperaçãoConventoouCorredorVaticano.

MargueriteerafilhadeumjuizfrancêsesecasaracomocondePierred’Andurainquando tinha apenas 17 anos de idade. Entre 1918 e 1925, foi recrutada peloserviçosecretofrancês,oDeuxièmeBureau.Em1925,divorciou-sedomaridoesecasoucomumxeiquewahabitachamadoSuleyman.AlgumasfontesasseguramqueMarguerite o envenenou e regressou à Síria. Ali voltaria a se casar com o condePierre d’Andurain. Dois meses depois da celebração do matrimônio, o nobreapareceu morto com dezessete punhaladas, sem que se descobrisse o autor, ouautores,docrime.[2]

A mulher começou uma vida de luxo em cidades como Nice e Cairo,acompanhada de homens jovens. É durante a ocupação da França por tropas doTerceiro Reich que Marguerite começa a trabalhar para o Escritório Central deSegurançadoReich(Reichssicherheitshauptant,ouRSHA)eparaseutemívelchefe,ReinhardHeydrich.Tambémnessamesmaépocaestabeleceestreitasrelaçõescomoserviço secreto do Vaticano, a Santa Aliança, por intermédio do bispo austríacoAloisHudal,figura-chavenaorganizaçãoOdessa.[3]

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o religioso austríaco contatouD’AndurainparaqueseunisseàOperaçãoConventoouCorredorVaticano.Esta,proprietáriadeumluxuosoiate,oDjeilan,navegavaconstantementedeGibraltaràcidade de Tânger. Nessas travessias, Marguerite d’Andurain ajudava figurasimportantesdonazismoafugirematravésdoMarrocos.FranzStangl,comandante

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do campo de concentração de Treblinka; Erich Priebke, do alto comando daGestaponaItália;eReinhardKops,responsávelpeladeportaçãoepeloextermíniodosjudeusdaAlbânia,foramalgunsdosnazistasqueD’Andurainajudouaescapar.

Contudo, talvez o mais importante superior hierárquico nazista que a francesaajudoua fugirnoDjeilan foiAdolfEichmann, umdosmaiores responsáveis pelalogísticadaSoluçãoFinalàquestãojudaica.[4]

Jules Lemoine sabia de todas as viagens e passageiros que tinham partido doDjeilanrumoàliberdadeeparaforadoalcancedajustiçaaliadadopós-guerra.Esteinformouqueum“certonazistaimportante”estavaàesperanaCidadedoVaticanoparaobterosalvo-condutoderefugiadoparaaArgentinacomonomedeRicardoClemente. Um agente de espionagem militar norte-americano disse que omarinheiroestavacertodequeessenãoeraseunomeverdadeiro,e“queeleestavaàespera dos documentos emitidos pelo Vaticano e que por essa razão não tinhamlevadomuitoasérioainformaçãodadapeloantigomarinheirodoDjeilan”.

Só depois de passados alguns anos é que a espionagem israelense soube daexistênciadeumaunidadeespecialpró-nazismodentrodoEstadodoVaticanoquesededicava a ajudarna fugadepessoasdoalto comandodoTerceiroReichaté aAmérica do Sul. Segundo o Mossad, a Santa Aliança, serviço de espionagem doVaticano,tinhamuitoavercomaquilo.

AOperaçãoConvento,desenvolvidapeloVaticanodesdeosfinaisdosanos1940atéprincípiosdadécadade1950,consistiaemtirarex-dirigentesnazistasdaEuropaecolocá-lossobomantoprotetordosditadoreslatino-americanosdaépoca.

O problema surgiu devido ao nome usado por Eichmann e revelado por JulesLemoine:RicardoClemente.Elenãoapareciaemnenhumrelatóriodaespionagemisraelense.

Naverdade,onomehaviasofridoumatradução.OverdadeironomeusadoporAdolfEichmannemsuafugafoiRicardoKlement.Osalvo-condutoentreguepeloVaticano identificava o superior hierárquico nazista como mecânico nascido emBolzano, Itália, de pais alemães. Só anos depois o Mossad soube que RicardoKlementeRicardoClementeeramamesmapessoa:AdolfEichmann.

Seria realmente um alto funcionário do governo alemão quem forneceria aoMossad a localização de Eichmann. Foi o doutor Fritz Bauer, chefe fiscal daprovíncia de Essen, quem havia obtido a informação do paradeiro de Eichmannpelos serviços secretosalemães.Seusagentes tinham interrogadodoismembrosdaredeOdessa, que revelaram as rotas de fuga utilizadas, a procedência dos fundosparacobrirosgastoseesconderijosdoscriminososdeguerra.

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Bauer,deorigemjudaica,forajuizemStuttgartatéachegadaaopoderdoPartidoNazista.Poucodepois,foidetidoecondenadoàprisãosobaacusaçãode“inimigodoEstado”.ConseguiufugireserefugiarnaDinamarcaatéaocupaçãodopaís,em1940.Novamentedetido e condenado a três anosdeprisão, conseguiu fugir e serefugiarnaSuéciaatéofinaldaguerra.FritzBauerpassouainformaçãoaodoutorShinar,chefedaMissãodeReparaçõesdeGuerranaAlemanhaOcidental.Shinar,por sua vez, informou Walter Eytan, diretor-geral do Ministério dos NegóciosEstrangeirosdeIsrael.[5]

Numamanhãde1957,EytanpegouotelefoneparafalarcomIsserHarel,otodo-poderosodiretordoMossad.

—LocalizamosAdolfEichmannnaArgentina—disseele.HareldesligouelogoemseguidatelefonouparaRafiEitan.Nascidoem1929,Eitanhaviaseconvertidonumaespéciedeheróilendárioentre

os membros do exército israelense pela sua experiência em combate durante aGuerradaIndependência.Aunidadequecomandava,aHarel,abriucaminhoparaJerusalém. Comandante de uma unidade de paraquedistas, foi recrutado peloMossadnofinaldosanos1950pararealizaroperaçõesespeciais.[6]

Hareldeuordens aEitanparaqueorganizasseumaunidade especialdentrodoMossad, que seria chamada de Nokmin, ou Vingadores. Ele tinha como tarefalocalizar, raptar e transferir Adolf Eichmann para Israel, para que fosse levado ajulgamento.[7]Esta seria realmente aorigemdaMetsada, aunidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad.

IsserHarelassegurouaEitanqueoshomensqueformariamaunidadedeveriamsaber que realizariam um ato de justiça divina para Israel. “Não só colocará nasprimeiraspáginasde todosos jornaisoqueosnazistas fizeramcomos judeusnoscampos de concentração como também colocará o Mossad à frente de todas asagênciasdeespionagemdomundo.”[8]

Dessemodo, a unidade só poderia atuar assim que o primeiro-ministroDavidBen-Gurion desse sinal verde à operação. “Só o velho poderá ativar e desativar aunidade”,afirmouIsserHareldemodocontundente.Durantedoisanos,RafiEitanaguardouochamadoparaaação.Oshomensescolhidosparaexecutarosequestro,lideradosporPeterMalkin,[9]esperavamtambémporordens.

NinguémemTelAvivqueriadarumpassoemfalsoquepusesseemperigonãosóa segurançados agentes doMossad, que já estavamnaArgentina,mas tambémaprópria imagem do Estado de Israel no mundo. Se as autoridades policiaisargentinas descobrissem agentes do Mossad ou operações do Nokmin no país,poderiasignificarumsérioproblemaparaogovernotrabalhistadeBen-Gurion.

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Eitanpôs-sea lerumamplodossiêenviadopelaUnidade8513,encarregadadecolher informaçõesfotográficasdoalvo.OlíderdoNokminpassavaaspáginasdeuma pasta marrom-escura com uma fotografia de Eichmann vestido com umuniforme da SS. Várias fotografias de cor rosada e amarelada misturavam-se navolumosapasta.

SS-OBERSTURMBANNFÜHRER Karl Adolf Eichmann (1906-1962), chefe do Departamento paraAssuntosJudaicosdaGestapo,de1941a1945,echefedeoperaçõesnadeportaçãode3milhõesdejudeusparaoscamposdeextermínio.Uniu-seaoPartidoNazistaaustríacoem1932ealgumtempodepoisàSS.Em1934,EichmannserviucomocabodaSSnocampodeconcentraçãodeDachau.Nomesmoano,une-seaoSDeatraiaatençãodeHeinrichHimmlereReinhardHeydrich.Até1935,Eichmanntrabalhavanaseçãojudaica, onde investigava as possíveis “soluções para a questão judaica”. Eichmann foi enviado para aPalestinaafimdediscutiraviabilidadedaimigraçãoemgrandeescalaparaoOrienteMédio.Asautoridadesbritânicas expulsaram-no dali ao descobrirem o motivo de sua visita. Em março de 1938, Eichmann foienviado novamente a Viena para promover a emigração judaica. Estabeleceu o chamado Zentralstelle fürjüdischeAuswanderung (Centro deEmigração Judaica).Abriram escritórios emPraga eBerlim.Em1939,Eichmann regressou aBerlim,onde assumiu adireçãodaSeção IVB4, assuntos judaicos e evacuação,noEscritórioCentraldeSegurançadoReich.SeriaelemesmooorganizadordaConferênciadeWannsee,emjaneirode1942,cujopontomais importantedo tratado foi achamada“SoluçãoFinal”àquestão judaica.Comofimdaguerra,Eichmannfoidetidopelosnorte-americanoseconfinadoaumcampodeprisioneiros.Pouco depois, conseguiu escapar sem ser reconhecido. Com a ajuda dos serviços secretos do Vaticano,conseguiufugirparaaArgentinaeviverdurantedezanoscomnomefalso.

Eitandeixouo relatório sobreamesa.Ali estavaexpostaavidadohomemquelevaraaoextermíniomilhõesdejudeusportodaaEuropa.Semdúvidaquehaveriade localizá-lo, e essa seria suaprincipal tarefa apartirdaquele exatomomento.OcriminosodeguerranazistachegaraaBuenosAiresnofinaldoverãode1950.Seudocumento de identidade foi expedido pela polícia argentina em 3 de agostodaqueleano.Eichmann levavaumavidasimples,procurandonãose tornarmuitopopularedesconfiandootempotododequalquerestrangeiroqueentrasseemseufechadocírculodeamizades.[10]

Em 1952,muda-se para SanMiguel deTucumán e decidemudar também deprofissão.Lá,aparececomocartógrafo.Essamudançafoioquelevantouassuspeitasda polícia argentina. Os serviços de inteligência descobriram que por trás daidentidade de Ricardo Klement estava Adolf Eichmann. Apesar de o segredo serconhecidoporalgunspoucos,decidiramcolocarEichmannsobcontínuavigilância,algoquecomplicariaascoisasparaaequipedoMossadedaMetsada.

Oprimeiro-ministrodeIsraeldesejavadoMossadumaconfirmaçãoabsolutadequeRicardoKlementeAdolfEichmanneramamesmapessoa.QuandoDavidBen-Gurion aprovasse e autorizasse o sequestro de Eichmann, Isser Harel devia seassegurar, sem sombra de dúvida, de que aquele homem que vivia num bairro

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operário,nossubúrbiosdeBuenosAires,eradefatooantigoObersturmbannführerAdolfEichmann.Ben-Gurionnãoaceitarianenhumadúvidaaesserespeito.

Eitan ordenou a Malkin, então, que encontrasse Vera Eichmann. Segundo orelatóriododoutorFritzBauer,aesposadeAdolfEichmannapresentara-seapósofimdaguerraparapedirumacertidãodeóbitoemnomedomarido.Segundoela,elehaviamorridoemPragaduranteumbombardeio.

VeraEichmannpassoualguns anos emViena, atéqueumdiadesapareceu semdeixaromenorrastro.VoltouaaparecernaArgentina, instaladacomos filhosnonúmero4.261daruaChacabuco,nobairroportenhodeOlivos.HarelenviouparaláumaequipedevigilânciacomandadapelokatsaShalomDani.[11]

Okatsa,nomepeloqualsãoconhecidososagentesdeespionagemisraelense,eraum especialista que trabalhara durante muitos anos em operações do Mossad naAméricaLatinae,porisso,dominavaocastelhano.Daniredigia,todososdias,umrelatório muito preciso a Eitan e Malkin. Seu principal trabalho era investigarqualquerdocumento relacionadoà famíliadeAdolfEichmannque se encontrassenosarquivosargentinos.Okatsaeraumespecialistanessetipodetrabalho.

AequipedoMossadnaArgentinadescobriuqueVeraEichmanntinhamudadoseunomeparaVerônicaLiebl.Tinha sido emitido umpassaporte argentino comessenome.DaniencontroutambémváriasentradasesaídasdaÁustrianosarquivosdoDepartamentodeImigraçãodopaíssul-americano,e,porfim,queafamília,elaeseusfilhos,haviasemudadoparaumahumildecasaformadaporduasconstruçõesnaruaGaribaldi.

Ben-Gurion dissera a Harel que, antes de dar sinal verde à operação, oscolaboradoresdeviamreunirmaterial fotográficodoalvo.IsserHarel,RafiEitanePeterMalkinsabiamqueseriamuitodifícilseaproximaremdeEichmann,masqueseria ainda mais difícil fotografá-lo sem levantar suspeitas. Eitan disse a ShalomDani para ordenar a seus katsa que, enquanto investigassem VeraEichmann/VerônicaLiebl,fotografassemtodososqueelacontatasse.[12]

A equipedoNokminprecisava comamáximaurgênciaprovar a identidadedeAdolfEichmann.Seestesedessecontadequeestavasendovigiado,talvezfugisse,escondendo-se em algum canto do mundo onde não chegasse o longo braço deIsrael,oMossad.

OrelatóriosobreainvestigaçãodeRicardoKlementeraabsolutamenteexaustivo,constando até o mais ínfimo detalhe. Mostraram-se até mesmo fotografias deKlement a vários israelenses que haviam visto Eichmann nos campos deconcentração.Muitosdeles,queasseguravamconhecê-loperfeitamente,afirmaram,

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demodocategórico,queRicardoKlement eAdolfEichmannnão eramamesmapessoa.[13]

Os katsa de Dani também não estavam seguros de que aquele homem quetrabalhavanafábricadaMercedes-Benz,nodistritodeSuárez,fosseocriminosodeguerranazistaqueprocuravam.KlementpareciamuitomaisvelhoqueEichmann.MasasorteestavaprestesamudarparaoMossad.

UmkatsaqueseguiaKlementinformouqueotinhavistopararnumafloriculturapara comprar um grande ramalhete de flores. A princípio, a informação, escritanumafolhadepapelcomadatade21demarçoencabeçandoorelatório,nãoeramaisqueumsimplesetrivialdetalhedentrodabusca,mas,paraShalomDani,eramuito mais que isso. O katsa decidiu estudar as datas importantes na vida dosEichmann.AquelesimplesdetalhemarcariatodaaOperaçãoGaribaldieodestinodeKlement/Eichmann,semqueelesequerdesconfiasse.

EmBuenosAires,NicolaseDieterEichmannpreparavam-separaacelebraçãodovigésimoquintoaniversáriodecasamentodospais,eesteseriaoerroquelevariaoMossadaconfirmarqueKlementeEichmanneramamesmapessoa.

AdolfeVeraEichmanntinhamsecasadoem21demarçode1935,mas,segundoosdocumentos,VeraEichmanneRicardoKlement, seu suposto segundomarido,haviam se casado em 11 de agosto de 1958. Assim sendo, por que os KlementcelebrariamseuaniversáriodecasamentonamesmadataqueosEichmanndeveriamcelebrar?

ParaShalomDani,aquelehomemeraAdolfEichmann;paraRafiEitanePeterMalkin,responsáveispeloNokmindoMossad,acertezadequeaquelehomemeraEichmannestavacadavezmaispróxima;para IsserHarel,aquelaexplicaçãosobredatasnãoerasuficiente;e,quantoaDavidBen-Gurion,eleprecisavademaisprovasconclusivas.

A segunda pista demaior importância para descobrir a identidade deKlementchegou ao Mossad por intermédio de Lothar Hermann, um alemão judeu queestivera enclausurado em Dachau, onde ficara cego, e que agora morava naArgentina. Por questões de destino, a filha de Hermann havia estabelecido umarelaçãodeamizadecomumjovemdeorigemalemãchamadoNicolasKlement.Era,comcerteza,ofilhodeAdolfEichmann.

Ela comentou que, durante um encontro de amigos,Nicolas disse abertamentequeHitlerdevia teracabadocomtodosos judeus,equeopaideleeradamesmaopinião.LotharpediuàfilhaquelhedescrevesseopaideNicolas.LotharHermannafirmoutercertezaabsolutadequeaquelehomemeradefatoAdolfEichmann.[14]

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AterceirapistaveiodaantigaamantealemãdeEichmann.ElaseguiraodirigentenazistaatéaArgentinadepoisdeterminadaaguerra;contudo,aochegaraopaíssul-americano, foi abandonada. Sem dinheiro, a mulher conseguiu emprego degarçonete no restaurante damesma fábrica daMercedes-Benz na qual trabalhavaRicardoKlement.AmulherrevelouoparadeirodeEichmannaumjudeugeorgianochamadoAdolfTauber,informantedoMossad.

Era claro que Klement/Eichmann se sentia seguro em seu refúgio argentino,escondido atrás da fachada construída à base de mentiras e documentos falsos.ShalomDanisaberiaanosdepoisqueEichmannhaviasidoconvidadoapartirpelasautoridadesargentinas.Oex-dirigentenazistaviajouparaaBolívia,ondeadotouonome de Rodolfo Spee. Obviamente, a hierarquia dos serviços de inteligênciaargentinos sabiadesdedezembrode1959queoMossad vinha seguindoKlementporalgummotivo.Paraogovernoargentino,apresençadeAdolfEichmannemseupaíseraumproblema.

Ante Pavelic, ditador croata pró-nazista e assessor de Juan Domingo Perón,ajudouEichmannentregando-lheumpassaporteecontatosparaqueseestabelecessena Bolívia ou no Paraguai.Ummemorando do serviço de espionagem argentinodemonstraquetinham“detectadoagentesisraelensesmuitoativosemterritóriodaRepública Argentina”. Isser Harel soube, por intermédio do presidente Frondizi,que não interviriam no caso de se descobrir uma tentativa de sequestro deEichmannporpartedoskidondoNokmin.

Em finais de 1959, o comandante Jorge Messina, diretor-geral da Central deInteligência argentina, recebeu um relatório no qual se afirmava que RicardoKlementforavistocomumantigonazistadealtograuhierárquiconasvizinhançasde La Gallareta, na província de Santa Fé. A descrição feita pelos agentesdemonstrava que o outro homem era Josef Mengele, o “Anjo da Morte” deAuschwitz.[15]

Comtodasasprovasnamão,edadoo“sinalverde”porDavidBen-Gurion,IsserHareldecidiuqueomelhorerasupervisionarpessoalmenteaoperaçãonopróprioterreno,juntoaPeterMalkineRafiEitan.

Quando a ordem de partida foi dada, Eitan eMalkin, os líderes da equipe deação, começaram a fazer perguntas, como o que aconteceria se, uma vez quetivessem Eichmann em seu poder, fossem descobertos pela polícia argentina.“DecidiqueestrangulariaEichmanncomminhasprópriasmãos.Semeprendessem,argumentariaperanteos tribunaisque se tratavadoconceitode justiçabíblicodo‘olhoporolho’”,afirmouRafiEitan.[16]

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Para tirar Adolf Eichmann do país, seria utilizado um avião Britannia com osdistintivosdaElAl,quedeverialevarAbbaEban,ministrodasRelaçõesExterioresde Israel, em viagem oficial à Argentina para a celebração do centésimoquinquagésimoaniversáriodaIndependência.[17]Nocompartimentode cargadoaviãohaviam construídouma cela especial onde viajaria o ex-dirigentenazista atéIsrael.AMetsadatinhaamissãodelevarEichmannaoavião.

Em1ºdemaiode1960,osmembrosdoMossadquedeveriamexecutaroplanovoaram para Buenos Aires com Isser Harel, o memuneh. Uma vez na capitalargentina,oskatsa instalaram-seemseteapartamentos,umdosquais,aMaoz (ou“Fortaleza”), seriausadocomocentrodeoperações.Outro,oTira (ou “Palácio”),serviria como prisão para Adolf Eichmann até que ele pudesse ser levado aoaeroporto a fimde embarcá-lonoaviãodaElAl,queo levaria a Israel.Para essaúltima etapa, os membros do Nokmin haviam alugado doze veículos da mesmamarcaecor.Estavatudopreparadoparaserealizarosequestro.

DoiscarroscomquatrokatsadoMossademcadaumdelesparticipariamdaação.OskidondoprimeiroveículovigiariamaesquinadaruaGaribaldiparaocasodeapolíciaargentinaaparecer.Nosegundo,viajariamumcondutor,comRafiEitanaseuladoeShalomDaniePeterMalkinatrás.Elesexecutariamosequestro.Apesardas ordens dadas por Isser Harel, de abandonar tudo caso a polícia argentinachegasse,Dani,MalkineEitantinhamcombinadonaquelamesmanoite,antesdesaíremdoesconderijo,que,sealgodesseerrado,umdelesdeviaacabarcomavidadeAdolfEichmannsempensarduasvezes.EraumpactodehonraentreoskidondaMetsada.

Aoperaçãofoiplanejadaparaatardede11demaio.Umahoraantesdamarcadaparaaação,oprimeirocarrodeagentesdoMossadentrounaruaGaribaldi.Poucodepois, o segundo veículo pôs-se a uma distância prudente do primeiro e comperfeito campode visão sobre a entradada casadeEichmann.[18]Agora, restavaesperar.

Nointeriordosegundocarronãohaviatensão.Todossabiamoquedeviamfazer.Tinhamensaiadoaquilováriasvezesduranteasúltimasduassemanas.

Porvoltadas20horas,Aarón,umdoskatsaencarregadosdavigilância,começouaficarnervosoaoverqueKlementnãoapareciacomoprevisto.Eitanolhouparaorelógioe,voltando-se,disseaMalkinque,senaquelanoiteKlementnãochegasse,tentariam no dia seguinte, e assim por diante, até que conseguissem cumprir amissão.

Às20h10,osfaróisdeoutroveículoforamavistadospeloskatsa,queestavamnocarroàespera.Eraumônibusda linha202,oque levavaEichmanntodososdias

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paraafábricadaMercedes-Benz,ondetrabalhava.Derepente,oveículoparoue,aoabrirem as portas, pequenas luzes iluminaram o interior. Os agentes israelensestentavamvislumbraraspessoasqueestavamdepéjuntoàsportasparasair.

Desceu apenas um vulto do ônibus. Para Rafi Eitan, parecia a imagem de um“homemcansado”.ParaPeterMalkin, eraumassassino,umcriminosodeguerra,um genocida. Lembrava-se de sua irmã Frumma, de seus primos, dos familiaresassassinados durante o Holocausto nazista, organizado por homens como o queapareciadiantedeleagora,andandoporumaescuraruadeBuenosAires.

AruaGaribaldificouvaziaeemsilênciodepoisdeoônibuspartir.Malkin,Danie Eitan já estavam fora do carro, acelerando os passos para se aproximar deEichmann.Malkin repetia em silêncio: “Sair, safanão, para dentro. Sair, safanão,paradentro”—asmesmaspalavrasquehaviarepetidodurantesemanasnosensaiosdosequestro.

Enquantooskidonseaproximavamdapresa,ouviramocarrosegui-loscomumadas portas aberta. Nesse momento, Peter Malkin chamou sua atenção: “Ummomento,senhor”.EichmannsevoltouecruzouseuolharcomodeMalkin,quejáseinclinavasobreele,comDanieEitanprontosparaajudar,casofossenecessário.Ohomemtropeçounumdoscadarçosdo sapatoequasecaiu,masváriasmãosoimpediram.

Malkinagarrou-ocomtantaforçapelopescoçoquequaselheesmagouacarótida.“Se tivesse resistido, eu o teria matado nesse preciso momento”, diria ele, jáaposentado,36anosdepoisdosequestro,noMuseudoHolocaustodeWashington.

ShalomDani jáestavaàesperadeportaaberta,pelaqualMalkineEitanquasefizeram Eichmann voar, atirando-o para dentro do carro. Malkin, com a mãoenluvada, tapava a bocadeEichmannparaque elenão gritasse.Oveículo rodoupelas ruas sem asfalto, comDani eMalkin segurando a presa demodo que nãopudesselevantaracabeça.OhomemquenaSegundaGuerraMundialorganizouotransporte de milhões de judeus para o extermínio nos campos de concentraçãoestavaagorametidonumcarrorumoaumapartamentodesegurançamáximaenasmãosdeumaunidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad.

Doassentodianteiro,EitanpodiaouvirarespiraçãoentrecortadadeEichmannapoucos centímetros dele. Malkin começou a aliviar a pressão sobre sua gargantaenquanto o ajudava a relaxar amandíbula.Ninguém falou com ele.Ninguém sedirigiu a ele.Dequalquermaneira, o sequestrodeEichmanndeixaria sua famílianuma situação incômoda.Que denúncia fariam à polícia?O desaparecimento deumcriminosodeguerraoudeumsimplesalemão?Essaambiguidadedavaaoskidon

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do Nokmin certa vantagem. Ainda assim, a operação tinha de ser executada demaneirarápidaeeficaz.AdolfEichmannpodiateraliadosnaArgentina.[19]

Osilêncio foiquebradoquandoEichmannperguntouaossequestradoresqualomotivodaqueleultraje.Ninguémrespondeu.EitaneMalkinsabiamperfeitamentecomoproceder,algoquetinhamrepetidováriasvezes.UmaveznoTira,RafiEitanobrigouEichmann a se despir.Depé, apenasde roupa íntima,umdoskatsa e omédicodestinadoamanterocriminosodeguerrasaudávelatésertransferidoparaIsrael começaram a lhe tirar as medidas. Isser Harel queria ter certeza quanto àidentidadedohomemqueacabavamdesequestrarantesdecomunicaraoprimeiro-ministroBen-Gurion.

Comumapasta aberta, okidon começou a ler, enquantoomédicodoMossadauscultava Adolf Eichmann: — Uma cicatriz de três centímetros abaixo dasobrancelhaesquerda.Duaspontesdeouronaarcadasuperior.Umacicatrizdeumcentímetro à esquerdadadécima costela.Uma tatuagemabaixoda axila esquerdacomoseugruposanguíneo.Altura:1,73centímetros.Peso:69,3quilos(em1934).Cabelo: castanho-escuro. Olhos: azuis-acinzentados. Circunferência do crânio:558,8 mm. Número da SS: 45.326 e 63.752. Número de afiliado do PartidoNazista:889895.

Omédicotiroutambémasmedidasdojoelhoatéotornozelo,edocotoveloaopulso.RafiEitanqueriaestartotalmentecertoantesdechamarHarel.Emseguida,Eichmannfoialgemadoàcamapelotornozeloemantidoemisolamentocompletodurante dez horas. O silêncio foi quebrado de repente quando Eitan e Malkinentraramnoapartamentoe,depoisdeoacordarembruscamente,perguntaramqualeraseunome.Eichmanndisseapenas:“RicardoKlement”.“Não,não!Oseunomealemão”,gritavaEitan.

Novamente,EichmannpronunciouonomequeusaraparafugirdaAlemanha.RafiEitansaiudoapartamentoàesperadequeMalkinoseguisse,porém,antes

defazê-lo,okatsasevoltouetornouaperguntar:“Qualéoseunome?Qualéoseunome da SS?” Nesse momento, como que numa reação automática, o homemdeitadonacamasepôsemposiçãodesentidoerespondeu,claraepausadamente:“AdolfEichmann”.Nãolheperguntarammaisnada.

Duranteossetediasseguintes,EichmanneoskidondoNokminpermaneceramisolados no apartamento.Ninguém falava com ele.O prisioneiro tomava banho,comiaeiaaobanheiroemcompletosilêncio.

ParaRafiEitan,manter silêncio eramaisdoqueumanecessidadedaoperação.“Nãoqueríamosmostrar aEichmannque estávamosnervosos. Isso teria lhedadoesperança.Aesperançaéperigosaparaumhomemencurralado.Eraprecisoqueele

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sesentissedesprotegido,talcomosesentiaaminhagenteenviadaporeleemtrenspara os campos de extermínio.”[20] Contudo, Peter Malkin atuou de maneiradiferentecomEichmann.Talvezokatsaprocurasserespostaparamuitasperguntas:Como?Porquê?Comoumapessoaécapazdeassassinartantossereshumanos?Asrespostassópodiamserdadasporaquelehomemestendidonacamadooutroladodaporta.

“Tratei-ocomodevia tratar.Naverdade,não sentiaódioporele.Sentiaapenasque tinha de cumprir meu trabalho até o fim”, afirma Malkin em seu livroEichmanninMyHands.OúnicoobjetivodosmembrosdoMossaderalevá-locomvidaaJerusalémdequalquermaneira.

Duranteocativeiro,sóumapessoadoNokmintinhaautorizaçãoparafalarcomAdolf Eichmann, um interrogador especializado chamado Hans. Não obstante,Malkinnãopôderesistiràtentaçãodedialogarcomocriminosonazista.Procuravadetodososmodospossíveisdescobriroquesepassavapelamentedeumhomemcapazdeenviarmilhõesdepessoasàmorte.

Certa manhã, quando o katsa abriu a porta para lhe servir o café da manhã,Eichmannquebrouo silêncio: “Você é o homemqueme capturou?”, perguntou.“Como sabe?”, respondeu Malkin. “Nunca vou esquecer o que me disse: ‘Ummomento, senhor’. Lembro-me da sua voz”, disse Eichmann a Malkin. EssaprimeiratrocadepalavrasabriucaminhoparaquePeterMalkinpudessefalarcomAdolfEichmann.Aliestavam,frenteafrente,umagentedoMossadeummembrodealtapatentedaSS.Quempoderiaimaginar?

A primeira coisa que o kidon Malkin fez foi lhe perguntar pelo seu filho.Eichmann,comoqueimpulsionadoporumamola,saltouparaadefensiva:“Vocêsomataram?”Malkintranquilizou-orespondendoquenãotinhamnadacontrasuafamíliaequeoúnicoobjetivodeleseralevá-lo,sãoesalvo,paraJerusalém.

AperguntaseguintequeMalkinfezaEichmannfoi:“Queroquemefaledoseufilho, com quem o vi brincando e abraçando tantas vezes. Por que ele está vivo,enquantoofilhodaminhairmã,quetinhaosmesmosolhosazuisecabelosloirosqueele,estámorto?”EntãoomembrodaSSseendireitouerespondeucomfrieza:“Eraumjudeu,nãoera?Esseeraomeutrabalho.Oqueeupoderia fazer?Eueraumsoldado.Vocêtambéméumsoldado.Veiomecapturar.Estácumprindoumaordem”. Para Malkin, era impensável que o alemão comparasse as ordens querecebia de Ben-Gurion e Harel com as dadas por homens como Himmler eHeydrich.

“Não matei ninguém, só fui responsável pelo transporte de pessoas”, disseEichmann.“Masparaondeoslevou?Aoscamposdeconcentração,àmorte.Havia

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mulheres, crianças, minha irmã, os filhos dela. Esses eram os seus inimigos?”,replicouoagentedoMossad.AdolfEichmannnãorespondeu.[21]

NãohaviadúvidasdequeosmembrosdoNokminquehaviamestadocomAdolfEichmannduranteessesdiasnãoseesqueceriamnuncacomo,apesardesaberqueviviasuasúltimassemanas,orostodoprisioneiroaindaseiluminavaaorecordardeAdolfHitler.

“Para ele, Hitler era um deus. Disse-me que Hitler havia mudado a vida dosalemães,que lhes tinhadevolvido ahonra.MasnãogostavadeHimmlernemdeoutrossuperioreshierárquicos.Contouqueessestinhamescapadosemterminarseutrabalho.Pelocontrário,elesevangloriavadeterficadoatéoúltimomomentodaguerra.Paraele,suatarefaeraomaisimportante.Contudo,assimcomoosoutros,acaboufugindodisfarçadodepiloto.”

Enquanto os kidon faziam planos para tirá-lo clandestinamente da Argentina,ocorreram algumas situações ridículas, e até mesmo grotescas. Por exemplo, nocomando do Mossad havia uma mulher chamada Rosa que, entre outras coisas,devia cozinhar.Eramuito religiosa, por isso toda a comidadevia serkosher. “Porquesepreocupacomofatodeacomidaserkosher?IstoéparaEichmann,nãoparaumrabino”,diziam-lheosagentes.

Outra das situações ridículas que ocorreram foi um dia em que Eichmann serecusouairaobanheiro.ApenasofezquandoRafiEitanlhedeuaordememtommilitar.Então,emcadaumadesuasflatulências,elesedesculpava,envergonhado.Nuncahaviasedesculpadopornada.Eraalemão,muitoeficiente,ealguémdoaltocomandodaSS.Jamaisreconheceuculpapornada.Nuncadisse“lamentomuito”ou se desculpou pelo que causou a milhões de seres humanos. Apenas pediudesculpapeloquelheacontecianobanheirodeumapartamentoisoladoemBuenosAires.

Enfim, chegou a hora de tirá-lo da Argentina. Nessa época, celebrava-se ocentésimo quinquagésimo aniversário daRevolução deMaio, e foram convidadasparaascelebraçõesdelegaçõesdetodoomundo,entreelasumadeIsrael, lideradaporAbbaEban,ministrodasRelaçõesExteriores.EstachegaranumaviãodaElAl,quepelaprimeiravezaterrissavaemEzeiza.

OMossadhaviadecididolevarEichmannnessevoo.MalkineEitandisfarçaramo dirigente nazista com o uniforme de piloto da companhia aérea, depois oobrigaram a beber uma garrafa inteira de uísque e, por fim, injetaram-lhe umtranquilizante.UmfalsificadordoMossadpreparouumpassaporte israelenseparaAdolfEichmann.

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OskidondoNokminvestiram-secomuniformesdetripulantesdaElAle,depoisde se borrifarem com uísque, entraram no carro que os levaria ao aeroporto. Àentradadainstalação,soldadosargentinospararamoveículo.

Aoseabriremosvidros,saiudocarroumforteodordeálcool.Umoficial,queestava um pouco mais distante, aproximou-se para pedir identificações edocumentosaosocupantes.Nessemomento,ShalomDani,queestava sentadoaolado do motorista, introduziu os dedos na garganta, provocando uma série devômitos.Ossoldados,aoveremaquilo,pensaramqueopilotodaElAlnãotoleravamuitobemoálcooleosdeixarampassar.

Envolto em eflúvios de uísque e vômito, o veículo se aproximou a toda avelocidade do avião Britannia com os distintivos da El Al pintados na cauda. Apassostrôpegos,Eitan,Dani,MalkineEichmannsubiramabordo.

Logo em seguida, o antigomembro da SS foi algemado e colocado numa celaconstruída exclusivamente para ele. A tensão se manteve entre os membros doNokminatépassaremaouviromotordoBritanniaaumentandoas rotaçõesparalevantarvooatéIsrael.Erameia-noitedodia21demaiode1960,exatamentedezdiasdepoisdeseterrealizadoosequestronaruaGaribaldi.

AdolfEichmannnãoqueria ir para Jerusalém.Perguntava aoskatsa doMossadporquenãoirparaFrankfurt,porquenãoirparaMunique.Talvezachassequeumtribunal da República Federal da Alemanha o condenaria à prisão perpétua,masnuncaàmorte.Porfim,assinouumadeclaraçãodequesaíaporlivreeespontâneavontadedaArgentina.

QuandoEichmannreapareceu,peranteumtribunaldeIsrael,numagrandecaixade vidro blindada, o ministro argentino dos Negócios Estrangeiros, DiógenesTaboada,exigiupublicamenteaoembaixadordeIsraelnaArgentina,AryehLevavi,queexplicasseoquehaviaacontecido.AúnicarespostaoficialdadaaogovernodeBuenos Aires chegou do próprio David Ben-Gurion: “Tomamos as medidasadequadasaumcasoexcepcional.AgoratodososinimigosdeIsrael,nopassado,nopresenteenofuturo, ficarãosabendoque,seameaçaremnossasegurança,o longobraço de Israel poderá alcançá-los onde quer que se escondam”.[22] Talvez essaspalavrastenhamseconvertidoempremonição,vistoque,depoisdoêxitodoskidondoNokminou“osVingadores”nosequestrodeAdolfEichmann,oMossadeseunovodiretor,MeirAmit,dariamsinalverdeparaacriaçãoda temívelunidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad,queseconverterianolongobraçodeIsraelaoqualBen-Gurionsereferia.

No fim, Adolf Eichmann acabou pedindo a seu sequestrador, o kidon PeterMalkin, que fosse visitá-lo quando estivesse preso em sua cela em Jerusalém. O

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agenteprometeuqueassimofaria,eumdiaapareceunasaladotribunalduranteojulgamento.Nessaocasião,okidonpôdeversuapresadentrodeumacaixadevidro.Ambosseolharamadistância.Nãohavianadaadizer.

OkatsadoMossaddeumeia-voltae seperdeunoscorredoresentreamultidãoqueseapinhavaparaver,comosesetratassedeumanimalnojardimzoológico,umhomemquehavialevadoparaamortemilhõesdepessoassemomenorvestígiodearrependimento.

Em 12 de dezembro de 1961, o presidente do tribunal leu as acusações e asentença.AdolfEichmannfoiconsideradoculpadodequinzeacusações,entreelasade ser responsável pela deportação de meio milhão de poloneses e de 14 mileslovenos para campos de concentração; de ser responsável direto pela morte demilhõesdejudeusededezenasdemilharesdeciganos;epelamortede91criançasdeLídice.Eichmannouviutodasasacusaçõessemsealterar,assimcomoasentençaqueocondenavaamorrerenforcadonumdiaelugarnãodivulgados.[23]

DepoisdediversasapelaçõesporpartedosadvogadosdeEichmann,osdoutoresRobertServatiuseDieterWechtenbruch,oSupremoTribunaldeIsraelratificouasentença.Namadrugadaentreodia31demaioeodia1ºdejunhode1962,AdolfEichmann foi retirado de sua cela e acompanhado por William Hull, pastorprotestante,atéopatíbulolevantadoparaaocasião.

NessediaestavapresenteRafiEitan,omesmoquedirigiuaequipedeVingadoresque o sequestrara pouco mais de dois anos antes. Eichmann o olhou com certodesprezo e lhe falou: “Chegará o dia em que você me seguirá, judeu”. Eitanrespondeu:“Mashojenãoéessedia,Adolf,nãoéessedia”.

Depoisdebrevespalavras,ocarrascodaprisãodeRamallahcolocouacordaaoredor do pescoço do antigo membro da SS. Após uma indicação do diretor daprisão,acionouaalavanca,abrindooalçapãosobospésdeEichmann.Ocorposeprojetou para baixo dando um pequeno solavanco. Eichmann morreu com opescoçoquebrado.Oodordedefecação inundou toda a saladopatíbulo.Talvez,apenas talvez,AdolfEichmann tivesse experimentado amesma sensaçãodemedoantesdefalecerqueasentidapormilhõesdepessoasantesdeentraremnascâmarasdegás.[24]

Havia se construído um forno especial para cremar o cadáver de um dosprincipais responsáveis pela Solução Final à questão judaica. Dois soldados doexército israelense baixaram-no com a corda ainda presa, despiram-no e ointroduziram no forno amilhares de graus de temperatura. Poucas horas depois,restava apenas um pouco de cinzas, que foram arremessadas ao mar numa zonaamplaporordemexpressadeDavidBen-Gurion.Oprimeiro-ministronãodesejava

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converteramorteenemocadáverdeEichmannnumcultonazista.Emseguida,ofornofoidesmanteladoedestruído.NãorestavamaisnadadeAdolfEichmannnafacedaTerra.

O próximo alvo da Metsada e de seus kidon seria outro nazista importante,HerbertCukurs, que oMossad apelidara de “CarrascodeRiga”.Ao contrário deEichmann,Cukursassassinarapessoalmentequase30miljudeus,homens,mulheresecrianças,nacapitaldaLetônia.Eichmannnãopassavadeum“burocrata”,umdosresponsáveis pelo Holocausto. Cukurs, porém, era pura e simplesmente um“assassino”eum“carniceiro”.

AOperaçãoGaribaldigerouintensodebatenaArgentinaeumenérgicoprotestodogovernodeArturoFrondizicontraIsrael.OgovernodeBuenosAireschegouatéapediradevoluçãodeAdolfEichmann.

AdolfEichmann foi julgado em Israel entre 2 de abril e 14de agostode 1961.Condenado àmorte, foienforcadonaprisãodeRamallah,entre31demaioe1ºdejunhode1962.Suafamília,filhosenetos,aindavivemnaArgentina.

IsserHarel,ohomemquetornoupossívelaprimeiraoperaçãodaunidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad,quepoucodepois seria conhecida comoMetsada, demitiu-se do cargodememuneh nodia 1ºde abril de1963,apósumasériededivergênciascomoprimeiro-ministroDavidBen-Gurion.

PeterMalkin faleceunodia1ºdemarçode2005.Atéomomentode suamortemoroucoma filhaeasnetasemWashingtonD.C..Oúltimocontatoqueoautortevecomelefoinumdomingo,13deoutubrode1996,duranteumacelebraçãonoMuseudoHolocausto,nacapitalnorte-americana.

RafiEitan teve em Israel uma longa carreira no Mossad, onde assumiu o cargo de chefe de OperaçõesEspeciaisdaMetsada.Comomilitar,atingiuopostodegeneralechefedoEstado-Maior.Comopolítico,foimembrodoParlamentoatésuamorte,ocorridaem23denovembrode2004,aos75anos.

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OmaiorHolocausto da história deu-se na Europa durante a SegundaGuerraMundial.Cercade6milhõesdejudeusforamassassinadosemconsequência

do regime de terror imposto por Adolf Hitler. Organizações como a SS ou aGestapo foram a mão executora do assassinato em massa. Eram formadas porhomens e mulheres que atuavam de modo mecânico, sem sentimentos nemremorsos.Muitos deles conseguiram escapar depois da guerra para a América doSul,masIsraeleoMossadnãoestavamdispostosaesquecer.

OsequestroeaposteriorremoçãodeAdolfEichmannparaJerusalém,paraquefosse julgado e executado, apenas cinco anos antes, converteu os nokmin(“Vingadores”)doMossadno longobraçode Israel.Em1964,MeirAmit,[25]omemuneh doMossad, comautorizaçãodoprimeiro-ministroLeviEshkol, decidiucriaraseçãomaissecretadetodooserviçodeespionagemisraelense,aunidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad,aMetsada.

Seus membros, conhecidos como kidon (“Baioneta”), se tornariam assassinos,sequestradores ou carrascos, tudo em nome de Israel. Rafi Eitan seria o primeirochefedaMetsadaeafirmaria,duranteumareuniãocomAmit,queaquelaunidadeseria formadapor“aquelesquenuncaesquecem”,equeeste seriao lemadanovaunidade.

Oprimeiro alvo daMetsada seria novamente um antigo nazista, conhecido noMossadcomo“CarrascodeRiga”.SeunomeeraHerbertCukurs.

Asprimeirasnotíciasquesetemdelesãode1919,comosimpatizantedoregimebolchevique.Poucodepoistorna-seumfamosopiloto.Entre1924e1929,Cukursprojeta e constrói três aviões.Num deles, oC-3, realiza um voo com partida de

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Riga, a capital da Letônia, para aGâmbia.Dois anos depois, da capital letã paraTóquio.

QuandooexércitodoTerceiroReichinvadiuospaísesbálticosnofinalde1941— a famosa Operação Barba Ruiva (Unternehmen Barbarossa em alemão) —,Herbert Cukurs uniu-se aos Einsatzgruppen da SS (forças-tarefa da SS), osesquadrões damorte incumbidos de exterminar todos os judeus da Europa. ParaAmit,AdolfEichmanneraumburocratadentrodamaquinariadamorte impostapelos nazistas na Europa, mas Herbert Cukurs era, pura e simplesmente, umcarniceiro.[26]

Nacamadeumpequenoeconfortávelhotelparisiense,AntonKuenzlerecordavacomo exatamente há um quarto de século haviam começado a soar os primeirosdisparosdaSegundaGuerraMundial.Fazia25anosqueas tropasalemãs tinhamcruzado a fronteira com a Polônia. Ele aproximou-se da janela, de onde podiaobservar os telhados de Paris, e então o telefone tocou.Do outro lado da linha,Yoav,umagentedoMossadquetinhasidodesignadocomokidondaMetsadaparaessaoperação,estabeleceuumlugardeencontronaquele1ºdesetembrode1964.

KuenzleeYoavcaminharamdiscretamentepelacalçada,àsmargensdoSena,atéumpequenocafé.Numlugarafastadoencontrava-seumtaldeMichael,amigodeYoav.Estefezasapresentações.

Sobre a pequena mesa de mármore, Michael deslizou uma pasta, enquantoexpressavasuaemoção.“Devemficarcontentescomoqueofereçoavocês.Eistodaa informação sobre um criminoso de guerra nazista, assim como seu paradeiro”,disse.“EleagoravivenaAméricadoSulcomafamíliaesobaproteçãodosserviçosdesegurançadopaís”.[27]

Algunsmeses depois, exatamente no dia 8 demaio de 1965, se celebrariam osvinteanosdaderrotadaAlemanhanaguerra,ealgumasvozes,nãonaAlemanha,pediamo esquecimento dos horrores e a aplicação doEstatuto deLimitações aosCrimesdeGuerraNazistasaosantigoslíderesdoTerceiroReicheaseusdelitos.

“Você sabe, a Europa Ocidental está num processo de unificação e não querperder de vista a Alemanha ante o avanço da União Soviética”, disse Michael.Talvez tivesse razão.Naquelaocasião,váriaspublicaçõesperguntavamaosmaioreslíderesdaAlemanhaoquehaviamfeitoentre1933e1945.Nogeral,asrespostaseram “não me lembro”, “lutamos contra os nazistas” ou “estivemos no exílio”.Nenhum dos mais de duzentos inquiridos respondeu: “Defendemos a Alemanhanazista,Hitlereseuregime”.

Yoavironizou:“Imaginealguémrespondernaépoca:‘Estiveduranteaquelesanosmatando judeusouativandocâmarasdegásemDachauouAuschwitz’”.Desdeo

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fim da guerra, 61 mil criminosos de guerra nazistas tinham sido levados ajulgamentonaAlemanha.Apenas6.100foramcondenados,[28]eAntonsabiaqueessa sitação não mudaria. A Metsada poria seu grãozinho de areia na justiçainternacionalou,pelomenos,tentaria.

“NossoamigoDova’lefoiàAméricadoSulparacomprovarumainformaçãoquetínhamosrecebido”,disseYoav.“Ainformaçãoindicavaqueumcriminosonazistaqueexecutaraetorturaramulheresjudiascomasprópriasmãos,equedispararananucadecriançascomidadesentre4e9anos,tinhaconseguidofugircommilharesdenazistasparaumpaíssul-americanoqualquer.OnomedonazistaemquestãoeraHerbertCukurs.”

“Jáouviessenomeantes”,disseKuenzle,enquantopegavaapastaquetinhaàsuafrente. Ao abri-la, a primeira imagem que aparecia era a fotografia um tantomanchada de um homem vestido com um uniforme da SS, o braço direitoestendido enquanto a mão empunhava uma pistola. Ao fundo viam-se mulheresnuasefossasescavadasdiantedelas.Okidoncontinuoua lerorelatório:“HerbertCukurseraumnazistaletãoqueganhouorespeitodossuperioresporsuacrueldade.ParticipoupessoalmentedaexecuçãodeváriasdezenasdecriançasjudiasnobosquedeRumbula,dançandosobreassepulturasdelas,edoextermíniode30miljudeusdeRiga,ganhandocomissoosapelidosde‘CarniceirodeRiga’e‘CarrascodeRiga’,segundo algumas versões”. Para o kidon daMetsada, omais incrível não era quetivesse matado tanta gente com as próprias mãos, mas que se dedicasse em seurefúgio sul-americano adar entrevistas aos jornaisbrasileiros.Este seria seumaiorerro.

Yoav aproximou-se deAntonKuenzle e, falando-lhe quase aos sussurros, disse:“Proponhoquevocê,eu,MichaeleDova’leviajemosparaoBrasil,olocalizemoseoexecutemos,comoelefezcomosnossoscompatriotasemRiga”.Comafotografiaempretoebrancoaindanamão,Antonpediuváriosdiasparapensarnoassunto.EraevidentequesemelhantemissãodeviaserdiscutidacomTelAviveomemuneh,ogeneralMeirAmit,ecomRafiEitan,chefedeoperaçõesespeciaisdoMossad.

Acentenasdequilômetrosdeondeestavam,MeirAmiteRafiEitancombinaramum encontro para analisar os prós e contras de uma operação que implicaria aativaçãodevárioskidondaMetsadaeoenviodelesaumpaís sul-americanoparatratardeumalvoprotegidopelasautoridades.TinhamdetertudobemplanejadoantesdepediraparticipaçãodaMetsadaaoprimeiro-ministroLeviEshkol.

Amit falou com Yoav e Anton, e lhes pediu um último relatório sobre comoconseguiriam ultrapassar o círculo de segurança de Cukurs. Esse era realmente oprincipal problema. Dova’le afirmou a Yoav que seria melhor fazer com que o

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próprioHerbertCukursviajasseparaumpaísmenosrígidoquantoàsmedidasdesegurança,como,porexemplo,oUruguai,paraentãoexecutaroplano.[29]

Outro problema era como levá-lo do Brasil para oUruguai. Yoav propôs umaoperação parecida com a de Eichmann, mas para Anton aquele alvo não valia apena:“Saimaisbaratoexecutá-lonoBrasil,eaindaéprecisolocalizá-lo”,disse.[30]O que ele não sabia é que um katsa doMossad já o tinha identificado. “O queachariaseeu lhedissessequeseiondeviveoCarrascodeRiga?”,comentouYoav.AntonKuenzleolhou-osurpresoe,depoisdedarumsalto,exclamou:“Vamosatrásdele”. Em Tel Aviv, Eshkol não tinha dado autorização para executá-lo. Amit eEitan comunicaram-lhe que Cukurs era pura e simplesmente um carniceiro quemataracomasprópriasmãosmaisde30miljudeusnaLetôniaocupadapelastropasnazistas. “Se sabemosonde ele está e odeixamos comvida, significa que estamosesquecendo os judeus que morreram nas mãos de Herbert Cukurs e de outroscarrascos como ele”, disse Eitan.[31] Depois de uma breve pausa, o primeiro-ministro Eshkol falou: “Vão em frente”. Esse era o tão esperado sinal verde àOperação Riga. Foi Rafi Eitan quem ordenou a Yoav e Kuenzle que seencarregassemdaexecuçãodoCarrascodeRiga.“Nãovamostrazê-loaIsraelparaserjulgado.Asprovasquetemoscontraelesãosuficientesparaexecutá-lo”,afirmouEitan.

AsmelhorespistassobreCukursvieramdeseuex-sócioencarregadodeexecutarjudeusemRiga,otambémletãoViktorsArajs.

ViktorstinhasidoelevadoàposiçãodeSS-Sturmbannführer(major)daSeçãodeSegurançaLetãepromovidopelaSS,devidoaseufanatismoeantissemitismo.Seugostoporocupar-sepessoalmentedaexecuçãodeprisioneirosdoexércitosoviéticoejudeusvaleu-lheaCruzdeFerrocomespadas.Nosprimeirosdiasdejulhode1941,e com Herbert Cukurs, formou um grupo conhecido como Bando Arajs, queganhou fama em Riga devido à brutalidade exercida contra os membros dacomunidadejudaica.

Umdeseusdivertimentosfavoritoseradetermulheres jovens,obrigando-asasedespirem no meio da rua e a saírem correndo, enquanto eram perseguidas pordisparos perto dos pés.Várias de suas vítimas sofreram a amputação de umpé àaltura do calcanhar, em consequência de um tiro mal calculado. Também eramcomunsas incursõesnosbairros judaicos,duranteasquaisosmembrosdoBandoArajssededicavamaroubarjoiaseobjetosdevalordasfamíliasmaisabastadas.[32]

Quando a administração alemãdeterminou a deportação e execuçãode judeus,Arajs eCukurs, desejosos de ganhar pontos junto às autoridades de ocupação daGestapoedaSS,organizaramamatançadosjudeusnoguetodeRigaerealizaram

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as execuçõesnobosquedeRumbula.Existem fotografias de váriasmulheresnuascorrendo uma atrás da outra, tapando os seios a caminho de uma vala comum.Algumasdelaslevavamnosbraçosrecém-nascidos.

Depoisdaguerra,ViktorsArajsescondeu-senumazonaruraldaAlemanhacomnome e identidade novos. Pouco depois seria detido pelas autoridades aliadas elevado a julgamento. Arajs foi condenado à prisão perpétua em Hamburgo. Seusócio,HerbertCukurs,simplesmentedesapareceu.

Um katsa do Mossad, que se fez passar por jornalista austríaco, conseguiuentrevistá-lonaprisão.Arajsdisse-lhequesabiaqueCukursestavaemalgumlugardoBrasilprotegidopelaorganizaçãoOdessa,quelhetinhadadoumnovonomeeumanovaidentidade.OcriminosodeguerraletãochegoumesmoaassegurarqueCukurschegaraaoBrasilgraçasàintermediaçãododoutorJosefMengele,o“AnjodaMorte”deAuschwitz.Esteúltimodadonunca foi comprovado,mas serviudeincentivoaMeirAmiteRafiEitan.Seporventuraconseguissemestabelecercontatocom Cukurs, poderiam então localizar o esconderijo de Mengele, e este, para oMossad,eraumapresamaisimportante.[33]

Antesdedeixara sala,ocriminosodeguerraArajs relatouao suposto jornalistaqueCukurs foi o responsável pelo incêndio daGrande Sinagoga de Riga na ruaGogol.“Era2dejulhode1941quandoCukursemaisalgumaspessoaschegaramàsinagoga.Depoisdequeimarospergaminhos sagrados, eles fecharamnoprimeiroandar do edifício quase trezentos judeus que tinham ali chegado à procura derefúgio.Cukursordenouquetrancassemasportasdasinagogacomtodosdentro,equeatirassemgranadaspelas janelas.Elepessoalmentesalpicoudegasolinatodooedifíciocomos judeus ládentroeateoufogo.Alimorrerammuitascrianças”,[34]relatouArajsaokatsadoMossad.

Naverdade,HerbertCukursnemsequersederaaotrabalhodemudardenome.ResidiacomafamílianumbairrodeSãoPaulochamadoInterlagosetinhaváriosnegócios,entreosquaisumaagênciadealugueldebarcosehidroaviõesnapraiaeplantaçõesdebanananointeriordoEstado.Oproblemacontinuavaaseromesmo.ComoconseguirultrapassarocírculodesegurançadeCukursparaqueoskidondaMetsadapudessemexecutá-lo?

Por fim, decidiu-se que seria okidon AntonKuenzle, que dominava o alemão,quem se encarregaria de ganhar a confiança do criminoso de guerra. Para isso, oMossad providenciou ao kidon um passaporte austríaco e um perfeito perfilfinanceiro, apoiado por relatórios bancários de importantes entidades europeiascomo Amro Bank e Credit Suisse. Tudo falso. Também se fizeram cartões

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comerciais comoendereçodeumcorreiona cidadeholandesadeRoterdã.Eraomomentodetentarlevaracaboaprimeiraaproximaçãoaoalvo.

Herbert Cukurs chegara ao Brasil no dia 4 de março de 1946 e declarara àsautoridades de imigração que era um refugiado letão, agricultor de profissão evítima de comunistas, que arriscara a vida tentando salvar mulheres judias dasperseguiçõesnazistas.Aúnicainformaçãocorretaeraanacionalidadeletã.

AMetsadasabiaqueCukursseinstalaranoRiodeJaneiro,nofamosobairrodeCopacabana, no número 645 da rua Barata Ribeiro, e que era portador de umacédulade identidadebrasileira comonúmero217.180.Cukurs acreditava estar asalvo do longo braço da justiça. Anton Kuenzle sabia que da alemã sim, estavamesmoasalvo,masnãodaisraelense.Contudo,umproblemaburocráticoatrasariaaOperaçãoRiga.

A essa altura,Cukurs tentava conseguir anacionalidadebrasileira,mas, quandoestava a ponto de consegui-la, aOrganização Judaica doBrasil tentou paralisar oprocesso. Isso colocouHerbertCukursnaprimeirapáginade todosos jornais dopaís,sendo,portanto,poucorecomendávelexecutá-lonaquelemomento.

Kuenzle consultouTelAviv.TantoAmit comoEitan ordenaram ao kidon queesperassenoBrasilporumanovaoportunidade.OdesejodecapturarJosefMengeleeraaindamaiorqueodeexecutarumsimplescriminosodeguerraletão.[35]

Então,devidoàpressãodaimprensa,CukurseafamíliadecidiramsemudarparaSãoPaulo,sobaproteçãodoserviçosecretobrasileiro,oDOPS—DepartamentodeOrdemPolíticaeSocial,queconcedeuaHerbertCukursumalicençaparaportararmasemprópriadefesa.Umleitorjudeu,MosheBeilison,escreveuemiídichenojornalnova-iorquinoDerTogMorgen:“OsanguedosinocentesjudeusdeRigapedejustiça e demanda a colocação perante o tribunal da SS Hauptmann HerbertCukurs,oEichmanndeRiga.Devemosdetê-loantesquedesapareça”.

Naquela manhã, Anton Kuenzle almoçava tranquilamente um prato de ostrasfrescaselagosta,especialidadedacasa.Okidonolhouparaogramadobemcuidadoquerodeavaorestauranteeacabavanumenormelagoartificial.EraolocalpreferidonofimdesemanapelosmoradoresdeSãoPaulo.Váriosjovensnadavameremavamembarcosdecoresdiferentes,eoutrasembarcaçõespermaneciamamarradasaumcaisdemadeira.

Depoisdoalmoço,oagentedoMossadaproximou-sedocais,ondeestavaumalindajovemdecercade20anosdeidadecomummaçodedinheironamão.Comumfortesotaquealemão,okidondirigiu-seaelaperguntando-lhesefalavafrancêsouinglês.Ajovemrespondeuquepodiafalaralemão.

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AntonKuenzleapresentou-secomoumhomemdenegóciosàprocuradenovasoportunidadesde investimentonosetor turísticoda região.A jovemrespondeuàsperguntasdoaustríaco.Poucodepois,o agentedoMossaddescobririaqueaquelaeraaesposadeumdosfilhosdeCukurs.[36]

Elaexplicou-lhequefalavaalemãoporquenasceranapequenacidadedeDresden,que ficara completamente destruída após o bombardeio aliado em fevereiro de1945,eque,desde1964,faziapartedaRepúblicaDemocráticaAlemã.Depoisdevárias perguntas, a jovem começou a se cansar de responder, dirigindo-se então aKuenzleelhedizendo,enquantoapontavaumhomemvestidodemaneirainformalecomchapéu:“Estávendoaquelehomemdecabelosbrancos?Éelequemmelhorconheceosetorturísticodessazona.Falecomele;comcertezaeleoajudará.Elefalaalemão, assim como o senhor”. Esse homem eraHerbert Cukurs, o Carrasco deRiga.

Depoisdeumbrevecumprimentocomfortesotaquealemão,ohomemtirouosóculos e observou o recém-chegado. “Aquela bela e amável jovem disseme quefalasse com o senhor. Sou Anton Kuenzle, um homem de negócios, e estouinteressado em investir no setor turístico. Ela me disse que o senhor é umespecialista”,falouokidondaMetsada.

Cukurs levantou-se e, dirigindo-se ao recém-chegado, perguntou-lhe: “Gostariade sobrevoarSãoPaulonumhidroavião?”Oagente respondeuafirmativamentee,quandoestavaprestesase levantardacadeira,ohomemestendeu-lheamãoe lhedisse: “SouHerbertCukurs”.Quandoo avião começou a semover, okidon tevecerteza de que estabelecera contato com o alvo e, portanto, informou Tel Avivnaquelamesmanoite.

Depoisdeumvoodevinteminutossobreasáreasindustriaisdacidadebrasileira,ohidroaviãovoltouapousarnaágua.Duranteovoo,devidoaoruídodomotor,foiimpossívelestabelecerumdiálogo.

Já em terra, quando o agente do Mossad pensava ter perdido a oportunidade,Cukursdirigiu-seaeleeperguntou:“Gostariadebeberumacervejacomigonomeubarco?Assimpodereiresponderàssuasperguntas”.

Depoisdeváriascervejasedefalarsobretemasmaiscomuns,Cukursaproximou-semaisdo interlocutore lhedisse:“Estousendoacusadode serumcriminosodeguerra.Eu!Depoisdetersalvadoumamoçajudiaedetê-laprotegidodurantetodaessamerdadeguerra”,disseCukurs.

Comessainformação,HerbertCukursdesejavasaberexatamentesobreas ideiaspolíticasdointerlocutor.Okidonpermaneceuinalterável,eCukursperguntou-lhe:“Serviunaguerra?”“Sim”,respondeuKuenzle,“naFrenteRussa,atéqueumabala

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bolcheviqueme atingiu numa batalha, na frente oriental. Eu lutava para deter oavançodoscomunistasrumoàminhapátria”.

“Chegouaquepatente?”,perguntouCukurs.“Chegueia tenente”, respondeuokidon da Metsada. Cukurs achou que Kuenzle servira com patente mais alta naWehrmacht,masquepreferiaocultarofato.

De imediato, Cukurs levantou-se e disse ao novo amigo: “Bem, herr Kuenzle,espero que voltemos a nos ver num jantar em minha casa. Moro no bairro daRiviera, não muito longe daqui. Venha um dia da semana, e lhe apresentarei aminhafamília”.

Diasdepois,AntonKuenzlerecebeuumachamadadeCukursconvidando-oparajantar em sua casa.Okidon repetia várias vezes para si próprio: “Calma, calma”.“DevoiraBrasíliaeàBahiaanegócios”,contestouKuenzleaCukurs.

Noquartel-generaldoMossad,MeirAmitleu:“FizcontatocomoDefunto.[37]Esperoumnovocontatodeformacasual.Assinado:Anton”.

AidentidadedochefedeequipedoMossadesteveapontodeserdescobertanarecepção do hotel Nacional em Brasília quando um dia, enquanto recolhia suasmensagens, Anton Kuenzle ouviu alguém dizer em voz alta: “Ei! Isaac!” Numprimeiro momento, o kidon tentou passar despercebido, dirigindo-se à área decabines telefônicas. O homem o seguia enquanto continuava a chamá-lo: “Isaac,Isaac,souoJosef”.Aodaravoltaemposiçãodefensiva,viucomoJosephNachmias,o embaixadorde IsraelnoBrasil, abriaosbraçospara cumprimentá-lo.NachmiastinhaconhecidookidondaMetsadaquandoesteeracomissário-chefedaPolíciadeIsrael.Odiplomatapôs-seaperguntaremhebraicoaoagentedoMossadpelasuaesposa,enquantoestetentavadesconversar.

A certa altura, o kidon agarrou fortemente o braço do embaixador e afirmou:“Sintomuito,masestáequivocado.SouAntonKuenzle,umhomemdenegóciosdaÁustria”. Logo a seguir desapareceupela porta lateral dohotel.[38]Nessamesmaépoca, okidon se encontrou comoutrosdois grandes amigos,EfrayimBen-Artzi,diretor-geraldaElAl,eShlomoLahat,umdosdiretoresdessamesmacompanhia.Ambos conheciam Anton Kuenzle, mas, ao cruzarem com ele, nem sequer ocumprimentaram.Anosdepois,elesoubequeoembaixadorNachmiasadvertira-ospara fingirem não reconhecer o agente do Mossad caso o encontrassem. Os trêshomensentenderamqueokidonAntonKuenzleestavanoBrasilemmissãoparaoMossad.

AovoltarparaSãoPaulo,Anton tinha recebidoordensdeTelAvivpara tentarapertarumpoucomaisocercosobreoDefunto.OencontroseguintecomHerbert

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Cukursacontecerianumasexta-feira,25desetembrode1964.Játinhasepassadoumasemanadesdeoprimeiroconviteparajantar.

O agente israelense conduziu seu Volkswagen laranja pela estreita estrada quelevava à Riviera. Ao chegar a uma enorme porta de ferro, ladeada por váriospastores-alemãescomumaatitudepoucoamigável,tocouacampainha.Umhomemarmado com uma pequena pistola Beretta foi ao seu encontro. Sem se alterar, okidondaMetsadadisse-lhe:“EstouàprocuradeherrCukurs”.“Sim,procuraomeupai”,disseojovemarmado.

Um caminho limpo rodeado por um jardim com grama bem aparada e floreslevavaaumagrandecasa.OMossadsabiaque,entre1941e1944,HerbertCukurstinha juntado uma grande fortuna roubando suas vítimas judias.O criminoso deguerra letão gastara parte da fortuna tentando escapar do avanço do ExércitoVermelhoparaoOcidente.ArotadefugaentreRigaeSãoPauloeradispendiosaparaumassassinonazista.

O interior da casa era simples. Móveis baratos misturavam-se com tapetescoloridostecidosàmãoporalgumatriboindígenadoBrasil.AfamíliaCukursviviacommodéstia,emboraemnívelsuperioràdeAdolfEichmann.

Da cozinha saiu uma mulher pequena que se dirigiu ao katsa com a mãoestendida.“GutenTag”,disseMildaCukurs.

HerbertCukurseAntonKuenzledetiveram-sediantedeumagrandeparedeemquesealinhavaumgrandenúmerodecondecorações.AOrdemdeSantosDumont,concedidapeloseuvooàGâmbia,eraaquelhedavamaiororgulho.

Numdoscantosdoescritório,o letãoexibiaumavitrinenaqual expunhaumagrande quantidade de armas. Uma Beretta 6,35 mm, uma Mauser 7,63semiautomáticaeumacarabina5,56mm,entreoutras.

Era evidente que Cukurs tentava impressionar um alto e heroico oficial daWehrmachtferidoemcombatenaFrenteRussa.“NãovaiserfácilexecutarCukurs”,pensouokidondaMetsada.

Depois deumalmoço frugal,HerbertCukurs propôs ao convidado visitar seusnegóciosnacidade.Naoficinadeconsertodebarcos,disseaKuenzlequetambémera proprietário de duas plantações no interior. “Duas plantações?”, comentou okatsadoMossad.“Quervisitá-las?”,propôsocriminosodeguerra.

Nessamesmatarde,AntonKuenzlecomunicouanotíciaaseussuperioresemTelAviveaoutroskidondaMetsadaqueesperavamemParis.Talvez,eapenastalvez,poderiaexecutaroplanoduranteavisitaàplantação.Paraisso,decidiuinformaraApam(AvtahatPaylutModienit),unidade encarregadada segurançadasoperaçõesdoMossad.

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Antesdelhedarautorização,oskatsadaApamprepararamaoperaçãoparaqueaMetsadaexecutasseHerbertCukurs,oCarrascodeRiga.

Terça-feira,29desetembrode1964,foiodiaescolhidoparavisitarasplantações.O caminho, partindo de São Paulo para as plantações de Cukurs, foi bastantemonótono.Uma grande extensão de palmeiras alinhava-se em ambos os lados daestrada.

Fizeramapenasumaparadanuma lojaemque sevendiamaterial esportivo.AliCukurscomprouumanavalhade lâminapequena.Nadaparecidocomumaarmadecombate,pensouokidon.

No porta-malas do carro, o criminoso de guerra transportava um fuzilsemiautomático.NocaminhoparaPiedade,acidademaispróximadasplantações,HerbertCukursdisseaKuenzlequeocapatazeraumantigoassassinoprofissionaleguarda-costasdopresidenteKubitschek.Porvoltadomeio-dia,oveículochegouaumaáreacercadacomumagrandeplacaqueindicavaRanchoCorujas—onomedosítiodeCukurs.Oletãoreparouquenãoconseguiraimpressionarseuconvidado.

“DepoisiremosaoRanchoEsclavados,quetambémémeuemuitomaior”,disseCukurs.“Lá,tenhocercade120milpésdebanana.”Aochegaràcasadosítio,umhomem alto e forte veio ao encontro do veículo.O agente doMossad pôde vercomolhesobressaíaaempunhaduradeumapistoladocoldrequelevavapenduradonoombro.Era evidenteque aquele eraopistoleirodequeHerbertCukurshaviafalado.

Depois de um curto passeio pelo meio da mata que rodeava a plantação, oCarrasco de Riga tirou do estojo a semiautomática e, dirigindo-se ao kidon,perguntou-lhe se queria treinar sua pontaria. O agente do Mossad sabia que eledesejavatestá-lo.“Éprajá”,respondeu.

Cukurs, o criminoso de guerra, fez dez disparos seguidos, todos eles agrupadosnumraiodecincocentímetros.“Suavez”,disse-lheCukurs,enquantolhepassavaapistolasemrecarregá-la..

Oex-nazista estavaconvencidodequeoconvidado servira comooficialdealtograudaWehrmachtnaFrenteRussa,quando,narealidade,AntonKuenzle,katsadoMossad e agora destacado como kidon na Metsada, servira durante seis anos noSextoRegimentoReiJorgeeoutrostantosnasForçasdeDefesaIsraelenses,aFDI.O agente do Mossad pegou a arma, recarregou-a, apontou e disparou dez tiros.Todososimpactosficaramdentrodeumraiodetrêscentímetros.

OecodosdisparosfoiquebradoapenaspelosaplausosdeCukursedopistoleiroque estava ao seu lado. “Vamos beber, amigo Anton”, disse Cukurs. Essa era aprimeira vezque chamavaokidon pelonome, e nãopelo sobrenome.Aquele era

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outrosinaldequeoCarrascodeRigaestavacadavezmaispróximodesuaexecução.[39]

O ex-nazista apoiouobraçonoombrodo agentedoMossadpara reafirmar oslaços de amizade surgidos entre dois velhos camaradas a serviço doFührer, AdolfHitler.Acertaalturadocaminhodevolta,oagentedoMossaddissequeprecisavapararporquealgohavialheentradonabota.Porumafraçãodesegundo,passou-lhepelacabeçapegarapequenapistolaquehaviaescondidonabotadireita,destravá-laedispararnanucadeCukursedopistoleiro.Depoisosenterrarianumlugarsegurodaplantação,eoscorposdesapareceriamdafacedaTerra,adubandoumaplantaçãodebanana.

Seus pensamentos foram interrompidos quando o antigo guarda-costaspresidencial aproximou-se do kidon e lhe perguntou se precisava de ajuda paraandar.

Anton Kuenzle soube que aquele não era o momento. Teria de esperar umcenáriomaisoportuno.Estava longedemaisdacidadeeprecisavadeumarotadefugarápidadepoisdeexecutaroplano.

O relatório que Meir Amit e Rafi Eitan puderam ler em Tel Aviv sobre odesenvolvimentodaOperaçãoRigarefletiaminutoaminutooqueaconteceradesdequeokidonKuenzlechegaraaoBrasil,vindodeParis,háexatamentedezessetedias.ParaoagenteeseuscompanheirosdaMetsada,aquiloeraumaeternidade.

Durante a viagem de retorno, Cukurs comentou com Kuenzle que este deviaconhecerPortoAlegre,um lugar idealpara investirdinheiro,nãomuito longedeSãoPauloebastantepróximodafronteiracomoUruguai.

O kidon lhe propôs uma visita a Porto Alegre com todas as despesas pagas.“Preciso que venha comigo, pois conhece a área e tenho muito dinheiro parainvestir. Talvez pudéssemos fazer negócios juntos”, Kuenzle sugeriu aCukurs.OCarrascodeRigaexpressousuaalegriadiantedetalhipótese.

Narealidade,asconversasentreambososhomensjamaisversavamsobrepolíticanemsobreguerra, tampoucosobreonazismooua figuradeAdolfHitler.Apenasem duas ocasiões o ex-nazista falou do passado. Na primeira, Herbert Cukursmencionou durante uma conversa o Oberstrumbannführer Josef Kramer,[40]comandantedocampodeconcentraçãodeAuschwitz,e,maistarde,Bergen-Belsen,quedisseterconhecidoduranteumavisitaaBerlim.Kuenzletinhacertezadequetambémdestavezera testado,paraqueCukursobservasse suareação.OkidondaMetsada apenas permaneceu calado.Na segundaocasião,HerbertCukurs, com aajudadasduasgarrafasdevinhoqueingeriraduranteojantar,começouarecordarosanosdeglóriaemRiga,quandodaocupaçãoalemãdaLetônia.

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Dias depois, AntonKuenzle convidouHerbert Cukurs para jantar no eleganterestaurantesuíçodohotelondeestavahospedado,afimdeprepararemaviagemaPortoAlegre.Coisas assim impressionavamCukurs.Duranteo jantar, okidondaMetsadadisseaoconvidadoquetalvezprecisassedeumpassaportecomvistoparaoUruguai. “Se estamos tão próximos, talvez devêssemos ir a Montevidéu para vercomo estão os investimentos turísticos naquela área”, disse Kuenzle a Cukurs. AMetsadajácomeçavaaprepararogolpefatal.

Antesdevoltarparaohotel,oagenteisraelensedisseaCukurs:“Devofazeroutraviagem ao Uruguai antes de voltar para a Europa. Ficarei hospedado no hotelVictoriaPlaza.Tenhopensadoeminvestirmuitodinheiro láetorná-losócioparaquecuidedosmeusnegóciosnoUruguai”.“QuandochegaraMontevidéu,envie-meumtelegrama,eeuoencontrareilá”,respondeuCukurs.

Namesmanoite,AntonKuenzle comunicou à equipedaMetsadaque o golpeseriadadoemMontevidéueque todosdeviamreunir-se láparaplanejá-lo.Nessaocasião, okidon recebeuum telegrama: “HerrKuenzle, fiz tudo o quemepediu.Tenhoopassaporte, inclusivecomvistosparaoUruguaieparaoChile.Aguardoseu regresso e novas instruções para nossa viagem de negócios. Com amizade,HerbertCukurs”.[41]“Ok.Tudopreparadoparaogolpefinal”,disseYoav.“Agoraéesperarquetudodêcerto.”

O encontro seguinte entre Cukurs e Kuenzle aconteceu no aeroporto de SãoPaulo.Aodesembarcardoavião,oagentedoMossadviuCukurstirarumacâmera,mirá-la nele e clicar. Aquilo implicava um problema, pois, se após o golpedescobrissem a fotodokidon, seu rosto se tornaria umdosmais procurados pelaInterpol. Se lhe pedisse a câmera, Cukurs suspeitaria, tanto que, a certa altura,KuenzlecomunicouàApam,ocontratempolevantado.

Certanoite, enquanto jantavam,alguémentrounacasadeCukurs e,depoisderetirarofilmedamáquinafotográfica,substituiu-oporoutroque,antes,estragara-sedevidoàaçãoda luz.Quandooex-nazista fosse revelaras fotosno laboratório,perceberiaqueestavaminutilizadas.

“Meus sócios da Europa e eu desejamos nos concentrar em dois países nestaviagem. No Uruguai e no Chile. Trouxe bastante dinheiro para preparar tudo ecompraraspassagensdeaviãoparaSantiagoeMontevidéu”,falouKuenzle.“Vocêdeverátertudopreparadoparaquandoeuregressardeumacurtaviagemquetenhode fazer a Buenos Aires”, continuou a informar o agente israelense, sem levantarsuspeitas.

Pelosalto-falantesdoaeroportojáanunciavamasaídadovoodaAirFrancecomdestinoà capital argentina. “Tenhode ir,Herbert”,disseKuenzle. “Quando tiver

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tudopronto,meinforme.”Nisso,apertouamãodeCukursedesapareceuporumaporta.Faltavapoucotempo.Acontagemregressivahaviacomeçado.

O primeiro kidon a chegar a Buenos Aires foi Oswald Taussing, agente doMossad comquarenta e poucos anos, que apresentara opassaporte austríacoparapassarpelocontroledoaeroporto.Poucodepoischegaramàcapitalargentina,emvoos diferentes, Yoav, Arieh eDova’le, os outros trêsmembros que formariam aequipedeexecuçãodaMetsada.

Na primeira reunião dos cinco kidon, AntonKuenzle informou em hebraico aseuscompanheirosquenãodeviamsedeixarenganarporCukurs,apesardos seus65anos.“Podesecomportarcomoumanimalselvagemsesevirencurralado.Nãosepodedaraeleamínimachance”,afirmouKuenzleaoscompanheiros.Oswalderaum especialista em estrangulamento. Sua especialidade era agarrar as vítimas comumfiodeaçoemantê-lasvivasdurantealgumtempo,sustentadasapenasporumfiode vida.AntonqueriaqueOswaldmantivesseCukurs vivodurante essebreveperíodo,paratertempodelheexplicarporquerazãoiriamorrer.“Queroveracaradeleantesdemorrer”,disse.

Em10defevereirode1965,partedaequipedaMetsadachegouaMontevidéu,instalando-se no elegante hotel Nogaro. Nos dias seguintes, seguiram-lhe Yoav eArieh,umespecialistaemcaratêquepodiaquebraropescoçodequalquerpessoaemplenaruasemqueamultidãoaoredorsedesseconta.Umadesuasespecialidadeseraagarraravítimapelascostas,rodear-lheopescoçocomobraçoe,apenascomapressão dos dedos, quebrá-lo. Yoav, pelo contrário, era um exímio atirador cujopulsojamaistremiaquandodisparavacontrasuavítima.Suamarcaeraodisparonoolho,muitomaiseficazdoquenanuca,segundoele.

Durantedias,oscincokidon sededicarama compormapas emqueatémesmosemáforos eram marcados, assim como o tempo que demoravam para passar dovermelhoaoverde,nocasodesernecessárioprocurarumarotadefugadepoisdogolpe,ousefossemperseguidospelapatrulhadapolícia.

Tambémprocuraramrotasdefugaapé,concentrando-seondegrandesarmazénscujos edifícios tivessem várias portas de acesso, ou em ruas em hora de grandemovimentaçãodepedestres.Tudofoiestudadonosmínimosdetalhes.

Os dias se passaram sem que o comando da Metsada soubesse ainda ondeexecutarCukurs,atéque,certamanhã,OswaldTaussinganunciouqueconheceraumgregochamadoDionysosMaverides,equeelelhedisseraalgosobreumagrandecasanumbairrodeMontevidéu.

Taussing dissera aMaverides que precisaria alugá-la por váriosmeses,mas quegostariaqueaesposaavisseantes.Ogregodecidiuentãoretiraraplacadealuguel

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da casa, chamada Casa Cubertini, na rua Cartagena, no tranquilo bairro deCarrasco.Acasaeragrandedemais,contudoobairronoqualestavalocalizadapelomenos era tranquilo.Pelas suas ruasquasenãopassavamveículos, oque eraumavantagem.Oproblemasurgiuquandováriostrabalhadoressaíramdacasaaolado,naqualfaziamreformas.

Para Anton Kuenzle, aquilo sim implicava um problema.O chefe daMetsadadisseaTaussingque,seCukursgritasseelutassepelavida,talvezoshomensdaquelaobra, que trabalhavamao ladoda casa, o ouvissem.Nodia seguinte, oskidondaMetsadadecidiraminspecionarolocalemdetalhes.TaussingapresentouKuenzleaocaseiro comoumamigochamadoAntonio Jiménez.Depoisdepagar adiantadooalugueldeseismeses,MaveridesentregouaschavesaTaussing.Já tinhamo lugarparaexterminarocriminosodeguerranazista.

Naquelamesma noite, os kidon daMetsada reuniram-se no quarto de hotel e,depoisdeumasériededeliberações,concordaramempôroplanoemaçãonodia23defevereiropróximo.

Na manhã seguinte, Anton Kuenzle dirigiu-se aos Correios e enviou umtelegramaaHerbertCukurs: “CaroHerbert:Osnegóciosandambem.Precisodesuaajuda.Ficariamuitograto sepudesse seencontrarcomigoemMontevidéunamanhãde23defevereiro.Seuamigo,Anton”.[42]

Poucosdiasdepois, ao regressar aohotelVictoriaPlaza, o recepcionista fezumsinalaokidonelheentregouumtelegramafechado.“CaroAnton:ChegonovoodaVarigdia23.Seuamigo,Herbert”,diziaotelegrama.Aocomunicá-loaosmembrosdaMetsada, a alegria percorreu o ambiente.Tinham conseguido enganá-lo.Apósuma breve conversa entre Kuenzle e Yoav, o chefe do comando dirigiu-se a seuquarto. Ao abrir a porta, encontrou um papel sobre o tapete verde. O kidonreconheceuoselodoserviçodecorreiodoUruguai.Naquelemomento,váriasideiasentraramemebuliçãoemsuamente.Nãopodevir,estádoente,sabedealgumacoisa,desconfia...

Abriua fita adesivaque lacravao telegramae leu: “CaroAnton:Chegonovoo083daAirFrance;esqueçaotelegramaanterior.Seuamigo,Herbert”.Sentou-senabeiradadacama,enquantosuspiravadealívio.PensaraporalgunssegundosqueaOperaçãoRigateriadeserabortada.

OswaldeDova’lepercorriamaessamesmahoraváriosarmazénscomaintençãodeadquirirumgrandebaúe trêsgrandes tapetes.Pelobaúpagaram720pesos e,pelostapetes,900.AntonKuenzle,paranãolevantarsuspeitas,dirigiu-seàagênciade viagens Thomas Cook, em pleno centro de Montevidéu, e comprou duas

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passagensdeaviãoMontevidéu-SantiagodoChileparaodia25defevereiro,comseunomeeodeHerbertCukurs.Acontagemregressivacontinuava.

Aquela noite, de 22 de fevereiro, seria a última em que todos osmembros docomando israelense se veriam. Daquele momento em diante, Yoav seria o únicocontatoentreoscincokidondaMetsadaquelevariamatermoogolpe.

Jantaram no restaurante Malecón para desejarem-se sorte. Quando estavamsentados,KuenzledisseaDova’leque,háalgumassemanas,estiveranaquelemesmolugar jantando com Cukurs e que o criminoso de guerra ocupara aquela mesmacadeira.Okidonestremeceuesepôsdepé.“Nãoquesejasupersticioso,masprefiromudardelugar”,falou.

Nodia23defevereirode1965,umaterça-feira,asprimeiraspáginasdetodososjornais do Uruguai anunciavam que o governo de Bona se reuniria na manhãseguinte para debater os crimes nazistas.Kuenzle,Yoav,Oswald,Dova’le eAriehpensaramsetratardeumamensagemdivina.OskidondaMetsadaestavamapontodecapturareexecutarumcriminosodeguerranazistaque24anosatrásparticiparadecrimeshediondoscontraahumanidade.

Depoisdeumcafédamanhãreforçado,osagentesdoMossadentraramemdoisveículosesedirigiramaoaeroportoCarrascoparabuscaroDefunto.Poucodepois,otremdepousodoAirFrance083tocavaosolodoUruguai.

AtensãoacumuladanosúltimosseismeseseranotadaentreoskatsadoMossad.AntonKuenzleesperou,atéqueumalongafiladepassageiroscomeçouaaparecerpelasportasdevidroquedavamacessoaoterminal.Olhouporentreosombrosdaspessoas que estavam diante dele, até que pôde discernir, entre os rostos, o deHerbertCukurs.

“Bomdia,caroamigo”,disse-lheCukurs.Quandookidonlhedeuasboas-vindas,pôde observar que o Defunto vestia uma roupa clara e uma gravata em tons devermelho.“Parecemaisumrespeitávelhomemdenegóciosdoqueumcriminosodeguerranazista”,pensouKuenzle.

“Minha esposa Milda perguntou-me o que íamos fazer no Uruguai, e eu nãosoube responder”, assegurouCukurs. JádentrodoVolkswagenpreto alugadoporKuenzle, que seguia pela estrada em direção ao centro de Montevidéu, o agenteisraelense respondeu: “Realizaremos grandes coisas, e lhe asseguro que fará partedelas”. Depois, manteve-se em silêncio enquanto o veículo se embrenhava notráfego, seguido por outro Volkswagen vermelho com três kidon da Metsada.OswaldesperavapelachegadadelesnaCasaCubertini.

Jánohotel,Cukursocupouoquarto1.719,deonde se avistava todaa capital.“Que vista magnífica se tem daqui”, comentou o recém-chegado, enquanto se

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encostavaàgradedavaranda.Porbrevesinstantes,Kuenzlepensouemempurrá-lo,mas tinham planejado a operação detalhe por detalhe, e não poderia dar agoranenhumpassoemfalso.

“TenhodeiraoescritóriodaLufthansapegaraspassagensparaoChile.Depois,tenho várias outras coisas para resolver”, Kuenzle disse a Cukurs. “Descanse umpouco que depois virei buscá-lo.” Logo a seguir, saiu do quarto com o som dasbatidasdocoraçãoprovocandoestrondosnosouvidos.

Umahoradepois,tocouotelefonedoquarto1.719.Achamadaforaefetuadadarecepção.AcampainhaacordouCukurs.“Agoraéprecisotrabalhar”,disseavozdooutroladodalinha.“Encontreiumescritóriotemporário.Vocêoverámaistarde.Na realidade, não estou muito feliz com ele. Não é requintado. Planejo fazergrandes investimentos aqui, e temos de encontrar outro local.” Imediatamente,AntonKuenzledesligouoaparelho.

Poucosminutosdepois,KuenzleeCukursseguiamnoVolkswagenpretorumoaobairrodeCarrasco.“Antestenhodeabastecerocarro”,disseoagenteisraelenseaocriminosodeguerranazista.Numazona isolada, aproximaram-sedeumpostodegasolina,ondeDova’leeYoavosesperavam,encarregadosdeassegurarqueninguémos seguia. Depois de partir, o veículo de Kuenzle e Cukurs foi seguido a certadistânciapeloVolkswagenvermelho.

“Maistarde”,disseKuenzleaumcréduloCukurs,“temosdenosencontrarcomocorretorparacontinuaraprocurarumlocalparamontaroescritório”.Ocarropretovirou lentamente na ruaCartagena.Algunsmetros adiante,Kuenzle avistou numrelanceocarrovermelhocomosdemaisintegrantesdocomandoisraelensequeostinhaseguidodesdeaparadanopostodegasolina.Quatroconstruçõesà frente,echegavamaogramadorecém-aparadoquedavaacessoàCasaCubertini.“Éaqui.Éesta a casa”,disseo israelense aCukurs, enquanto estedescia comdificuldadedocarro.Osdoishomenscaminharamalgunsmetrosatéalcançaraentradaprincipaldacasa.

Kuenzleagarrouamaçanetadaportaeaempurrou.ElepodiaouvirospassosdeHerbertCukursatrásdesi.Segundosdepois,ambosestavamnointeriordacasa.Osquatromembros daMetsada que formavam a equipe tinhamdespido as própriasroupas,ficandoapenasderoupasíntimas.

Na penumbra, Kuenzle fechou a porta atrás de Cukurs e, nesse momento, osquatrokidonsaltaramsobreapresa.Umdelesprendeuocriminosodeguerracomumfiodeaçoàvoltadopescoço,enquantooutrosdoistentavamsegurarosbraços.Cukurs procurava o olhar de Kuenzle, como se tentasse pedir ajuda, o rosto

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avermelhadodevidoà faltadearnospulmões,comosenãocompreendesseoqueestavaacontecendo.

Apesardosseus65anos,HerbertCukursdefendia-secomoumanimalselvagemencurralado.Conseguiulibertarumadasmãoseprocuravaamaçanetadaportaparaabri-la.OscincoagentesdaMetsadaempurravam-nocomforçaparaafastá-lodelaeconduzi-lo ao centro do cômodo, onde o chão estava coberto por três enormes egrossos tapetes. Cukurs soube nesse exato momento que lhe restavam poucosminutosdevida.

Duranteoataque,ocriminosonazistahaviaconseguido libertarumadasmãos.“Deixem-mefalar”,suplicouumavozentrecortada.Omaiscuriosodetudoéqueopedidofoifeitoemalemão,nãoemletãoouemportuguês.ODefuntocontinuavaalutar,emboracommenosforça.Emcertomomento,HerbertCukurslevouamãoao bolso de trás das calças, para tentar tirar uma pequena Beretta que tinhaescondida ali. De um só golpe, Yoav conseguiu tirá-la do criminoso, dando aomesmotempoumgritodedor.Oagenteisraelensetinhaquebradoumdedo.

Umdoskidonpegouummarteloebateucomeleno ladodireitodacabeçadeCukurs.Osangue,quecomeçouajorraremabundância,manchouumdostapetes.

Oplanooriginal eraneutralizarCukurs, enãoexecutá-lo instantaneamente.OsmembrosdaMetsadatinhamplanejadoformarumaespéciedetribunalparalerasacusações que o Estado de Israel tinha contra ele. Meir Amit, o memuneh doMossad, tinha dado ordem para que tentassem lhe arrancar os nomes de outroscriminososdeguerranazistasrefugiadosnaAméricadoSulerespectivosparadeiros.Mas,devidoàresistênciadeCukurs,umkidoncolocou-lheocanocomsilenciadorda pistola na nuca e disparou duas vezes. As duas balas acabaram com a vida deHerbertCukurs,o“CarrascodeRiga”,ou“CarniceirodeRiga”,naterça-feira,dia23defevereirode1965,às12h30.

Oclimanacasaeratenso,enãohaviatempoparacelebrações.AOperaçãoRigaaindanãotinhaterminado.

Oswald dirigiu-se às janelas e fechou as venezianas demadeira para não deixarescaparnenhumsompara fora.Osmiolos saíamdacabeçadocadáverdeCukursemdecorrênciadostiros,eosanguecobria-lheorostoeocasaco.

Em seguida, os kidon esvaziaram seus bolsos e colocaram os objetos num sacoplástico. Um passaporte brasileiro com o número 27.999, expedido em 2 defevereiro de 1965, óculos um pouco riscados e uma pistola Beretta 6,35 mm,modelo950ecomnúmeroderegistroB78137.

OcorpodeCukursfoicolocadodentrodobaúdemadeirae,antesdefecharemos três cadeados, os agentes israelenses colocaram lá dentro um papel em que se

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podialer:

VEREDICTOTendo em conta a gravidade dos crimes de HERBERT CUKURS, pela acusação de ser pessoalmenteresponsável pelo assassinato de 30 mil homens, mulheres e crianças, e considerando a terrível crueldademostradaporHERBERTCUKURSnocometimentodoscrimes,condenamosomencionadoCUKURSàmorte.Foiexecutadoem23defevereirode1965por“aquelesquenuncaesquecem”.

Emseguida,Kuenzlefechouatampadobaú,limparamtodoosangue,vestiram-se e simplesmente desapareceram. Yoav e Kuenzle dirigiram-se ao aeroporto noVolkswagenpreto,eorestodaequipenoVolkswagenvermelho.

Nopróprioaeroporto,antesdeentraremnoaviãodaLufthansaquedeviatirá-losdoUruguai,Antontelefonouparaohotela fimde informarquereceberiampelocorreioaschavesdosquartosdossenhoresKuenzleeCukurs.Ambostinhamsidopagosadiantados.

Em6demarço,diasdepoisdeaequipedaMetsadaterexecutadoocriminosodeguerra nazista, um carro da polícia estacionou na frente de uma casa na ruaCartagena. Como ninguém respondia, um dos agentes decidiu quebrar umapequenajanelaparaolharládentro.Nessemomento,umfétidoodorprocedentedointeriordacasa inundou-lheonariz.Aoentrarem,osdoisagentesencontraram,aalgunsmetrosdaportadeentrada,umbaúcomreforçosdemadeiraetrêscadeadosgrandes.De um lado saía uma grandemancha de sangue ressecado que sujara ochão.

Umdos agentes correupara o carro e deu sinal de alarme.No interior dobaútinham descoberto um cadáver num avançado estado de decomposição de umhomemaindaporidentificar.Ooutroagentepegouopapelemqueestavaescritooveredicto.EraocorpodeHerbertCukurs,criminosodeguerradaLetônia,queforaexecutado por um grupo anônimo que se autoproclamava “aqueles que nuncaesquecem”.

A notícia da descoberta do cadáver numa casa deserta do Uruguai correu deMoscouaNovaYork,edeBuenosAiresaTelAviv.Aimprensadetodoomundoestava muito interessada em escrever sobre “aqueles que nunca esquecem”, e aimaginaçãodemuitosjornalistascomeçouafervilhar.

Tinham se passado somente três anos desde a execução de Adolf Eichmann, ediversosmeios de comunicação, como o jornalTheTimes, publicam na primeirapágina: “‘Aqueles que nunca esquecem’ só podem ser israelenses”. Os jornaisuruguaios, argentinos ebrasileiros fizeramecodanotícia.Um jornalista amigodeHerbert Cukurs publicou que ele talvez tivesse sido assassinado por homens docírculodeJosefMengele,porqueameaçaradivulgarseulugarderefúgio.

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OshistoriadoresGerald L. Posner e JohnWare, na biografia completa sobre o“AnjodaMorte”deAuschwitz,Mengele:TheCompleteStory,explicamqueCukurstinha graves problemas financeiros e talvez tenha estado a ponto de trair JosefMengeleparaganharumavultosarecompensa.[43]

Em12demarçode1965,ojornalisraelenseMa’arivpublicouumareportagemcomoseguintetítulo:“InterpolpedeajudaàPolíciaCriminaldeIsraelnocasodeassassinato do criminoso nazista Cukurs”. A notícia apareceu ilustrada com umretrato-faladoenviadopelapolíciadeMontevidéudohomemdenegóciosaustríacoquetinhasidovistocomCukurspoucashorasantesdesuamorte.Em16demarçode1965,umarevistasemanaldoBrasilpublicouumaentrevistacomMildaCukurs,aviúvadocriminosodeguerranazista,naqualelaassegurouqueoesposo,antesdepartir em viagem para o Uruguai, dissera-lhe: “Se algo me acontecer, o únicoresponsávelseráomeunovoamigoaustríaco,AntonKuenzle,ohomemqueesteveaquiemcasatomandocafécombolo”.

EssaspalavrasimplicaramaconfirmaçãodassuspeitasdeAntonKuenzlesobreofatodequeCukursnuncaconfiaranelecemporcento.

Aquele olhar do criminoso de guerra letão enquanto Oswald o segurava pelopescoçocomofiodeaço, segundosantesdemorrer,eraapenasaconfirmaçãodesuassuspeitas.Cukursobtevetalconfirmaçãosegundosantesdesucumbir.

Entretanto, num escritório de Tel Aviv, Rafi Eitan entrou no escritório domemuneh e disse-lhe: “A Operação Riga foi concluída”. Depois, fechou a porta,enquantoAmitcontinuavaatrabalharcomumligeirosorrisonoslábios.[44]

Depois da Operação Riga, levada a cabo pela Metsada e que terminou com aexecuçãodocriminosodeguerraHerbertCukurs,Israeleseuserviçodeespionagemdecidirammudardeplano.Em junhode1967, Israel estavaquase se envolvendoemumanovaguerracomosvizinhosárabes,achamada“GuerradosSeisDias”,queacaboucomaocupaçãodaFaixadeGaza edaCisjordânia—territóriohabitadoporummilhãoemeiodepalestinos.

Depoisdaguerra,mudaramasprioridades eos alvos inimigosa seremabatidospor Israel,peloMossadepelaMetsada.Oscriminososdeguerranazistas estavamescondidos,mortosousimplesmentetinhamdeixadodeinteressaràopiniãopúblicamundial.Agora,osnovosalvosdoskidonjánãoerammaisosnazistasdaSSoudaGestapo:eramosterroristaspalestinosdeorganizaçõescomoaFrentePopularparaaLibertaçãodaPalestina (FPLP),AbuNidal ouo SetembroNegro.Os inimigoseramdiferentes,eosmétodosaseremutilizadospelaMetsadatambémoseriam.

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Yoav,kidondaMetsada,antigosoldadoduranteaGuerradaIndependênciaem1948,foirecrutadoem1956pela Aman, inteligência militar na qual comandou unidades de operações especiais. Quando Meir AmitassumiuocargodememunehdoMossad, levou-ocomeledaAman.Até seaposentar,YoavparticipoudeváriasaçõesdaMetsada.Morreuem1998,aos75anosdeidade.

Dova’le,kidon da Metsada, juntou-se ao Mossad vindo da unidade de comandos do exército israelense.Morreuemaçãoem1973,duranteaguerradoYomKippur.

OswaldTaussing,kidondaMetsada,uniu-se aoMossadem1950e,depoisdeuma longa carreira comaMetsadaenaespionagemisraelense,aposentou-se.AgoraviveemIsrael.

AntonKuenzle,pseudônimodochefedaunidadedaMetsadanaOperaçãoRiga,viveatualmenteemIsraelcomafamília.Em1991escreveu,comojornalistaGadShimron,olivroTheExecutionoftheHangmanofRiga.TheOnlyExecutionofaNaziWarCriminalbytheMossad,noqualrelatasuaexperiêncianalocalizaçãoeexecuçãodoCarrascodeRiga.

MeirAmitabandonouocargodememunehdoMossadem1968,sendosubstituídoporZviZamir.

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ÉMunique,4h30,5desetembrode1972

esta a equipe israelense?”, perguntou um homem de rosto moreno e compéssimo sotaque alemão.MosheWeinberg, treinador da equipe de luta livre,

ficou emalertaquandoobservouqueooutrohomemcolocava apontadopénaabertura da porta. Weinberg perguntou: “Quem quer saber a essa hora damadrugada?” Nesse momento, o israelense sentiu que o perigo estava à espreita.Com um forte golpe, conseguiu fechar a porta, enquanto gritava para oscompanheiros, que dormiam no mesmo dormitório: “Pessoal, fora daqui. Fora,todos!”.

GadZavarj,lutadorquedividiaoquartocomWeinberg,saltoudacama,abriuajanelade vidroquedavapara a varanda e preparou-se para saltar.Enquanto isso,MosheWeinbergseguravaaportacomforça,paraimpedirqueogrupodeassaltoentrassenoquarto.Porfim,umdosdesconhecidostiroudeumabolsaesportivaumfuzildeassaltoAK-47eabriufogo.

Segundos antes de saltar da varanda, Zavarj viu como o corpo do amigo eraprojetadoparatráscomumaforçaincomum,eacamisasetingiadevermelho.Gadnunca soube queMoshe acabara de salvar sua vida, nem que, aomesmo tempo,havia se tornado a primeira vítima dos onze atletas israelenses que seriamassassinadosnaOlimpíadadeMuniquede1972.[45]

Ocomandopalestinoentrouàspressasnasalaquedavaacessoaosoutrosquartosda equipe olímpica israelense. No primeiro quarto, encontraram dormindo JoeRomano, o campeão de levantamento de peso que dois dias antes abandonara acompetiçãoporterlesionadoopulso.Romanolevantou-secomrapidezeselançou

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ao ataque contra o primeiro homemque entrou no quarto.Oque não viu foi osegundoterrorista,quechegavaarmadocomumfuzildeassalto.EstedisparousobreRomano,transformando-onasegundavítima.Obarulhoeosdisparospuseramemalerta os demais atletas, que tentaram fugir pela saída mais próxima, mas osmembros do grupo de assalto já invadiam o terceiro quarto. Nele, JosephGutfreund,árbitrodelutalivre,lançou-sesobreaportaparatravá-lacomoprópriocorpo,sacrificando-sepeloscompanheiros.Converteu-se,dessemodo,noprimeirorefém.

TuviaSokolsky,levantadordepesos,quedormianooutroladodocorredor,viu,momentosantes,comoumgrupodehomensarmadostentavaderrubarumaporta,tendoumdelesdisparadocontraela.Sokolskyfechouasuaemsilêncioeliderouasaídadeonzeatletas israelensesdaequipedeesgrimae judô,colocando-osa salvonosfundosdoprédio.Alguns,quedormiamnomesmoladodeWeinberg,tiverammenossorte,enoveforamtomadoscomoreféns.[46]

Os integrantes do grupo de assalto identificaram-se como membros do grupopalestinoSetembroNegroeafirmaramter sepreparadoparaaquelaação, estandoprontos até mesmo, se necessário, para morrer. Cinco deles haviam chegado aMuniquevindosdeumcampodetreinamentonosarredoresdacidadedeTrípoli.Os outros três trabalhavam dentro da Vila Olímpica. As armas tinham sidoarmazenadasnumabilheteriadaestaçãocentraldeMunique.

Oedifíciosituava-senonúmero31daConnolystrasse,eoSetembroNegrosabiaqueaquelaeraa sededaequipeolímpicadeIsrael.OcomandoterroristachamouessaaçãodeIqriteKafrBirim,nomesdasduasaldeiascristãsmaronitasdonortedaPalestinaquetinhamsidoforçadasaserestabelecerapósadivisãoquederaorigemàcriaçãodoEstadodeIsrael.

Ali Hassan Salameh, chamado de “Príncipe Vermelho”, principal líder doSetembro Negro, tinha gerado, com o assalto à Vila Olímpica de Munique, oprimeiro drama de nível global. Salameh sabia que os Jogos Olímpicos seriamtransmitidos pelas redes de televisão em carátermundial, e que a repercussão daação, assim como a reivindicação que pretendiam, chegaria a todos os cantos doplaneta.[47]

Connolystrasse,7horas,5desetembrode1972Depois de os atletas israelenses que escaparam da Vila Olímpica terem dado oalarme,quasequinhentospoliciaisformaramumcordãoaoredordoedifício.

O primeiro oficial graduado a chegar ao local foiManfred Schreiber, chefe dapolícia deMunique. Ele tentou contatar o líder do grupo de assalto, um sujeito

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chamadoTony,queusavaóculosescuroseumbonébrancoesportivoestilotenista.O Mossad o identificou como Mohammed Massalhad, arquiteto líbio quedominavaváriaslínguas.[48]

Nesseexatomomento,emBona,ochancelerWillyBrandtcomeçava seu longocaminho pelo que seria um de seus piores pesadelos.Depois de ouvir as notíciassobre o desenrolar dos acontecimentos, Brandt telefonou para o ministro doInterior, Hans-Dietrich Genscher, e posteriormente para o embaixador de Israel,EliashivBen-Horin.[49]

Enquantoisso,ochanceleralemãoinformavaconstantementeoembaixadorBen-Horin e a primeira-ministra Golda Meir sobre as negociações com o grupoterrorista,alémdetransmoti-lasparaZviZamir,omemunehdoMossad.

Àumadatarde,pormeiodarádionacionalKolIsrael,GoldaMeir informouanaçãosobreosfatosocorridosemMuniquepara,emseguida,darosnomesdosdoisatletasassassinadosedosoutrosnoverefénsempoderdoSetembroNegro.Porfim,aprimeira-ministrapediuasuspensãodosJogosdevidoàcrisequeestavavivendo.Às15h45,oComitêOlímpicoInternacionaldecidiususpendê-lospor24horas.[50]Enquantoasnegociaçõesprosseguiam,oVarasheaprimeira-ministraGoldaMeirdecidiramenviarZviZamiraMunique,ondepreparariaumapossíveloperaçãoderesgatecomcomandosisraelenses.

Algumas horas antes, a própria Meir recebera um telefonema de Brandt,apresentando-lheaspropostasdosterroristas:“SósairãodaVilaOlímpicaparaumpaísárabeseestiveremprotegidospelosreféns.Assimqueestiverememsegurança,vão libertá-los”, disse o chanceler alemão. “Omeu governo estudará a proposta”,retorquiuMeir,“desdequeopaísárabe receptor secomprometaegarantaqueosatletasnãoserãoconsideradosprisioneiros,sendoimediatamenteenviadosaonossopaís”.

Depoisda conversa,WillyBrandt telefonouparaopresidente egípcioAnwar elSadat, que recebera o PrêmioNobel da Paz havia apenas dois anos.O chanceleralemãopretendia,pormeiodadiplomaciasecreta,conseguiralibertaçãodosatletasisraelenses. A resposta do Cairo foi imediata. Aziz Sedki, primeiro-ministro doEgito,comunicoupessoalmenteaochancelerqueaquestãodosrefénsisraelensesnaVilaOlímpicanãoeraassuntoegípcioeque,aomesmotempo,ogovernodoCaironão entendia como nem por que seu país teria de se envolver com o que estavaacontecendoemMunique.Dessamaneira,oEgitoeSadatlavaramasmãos.

Às 22h15, os oito terroristas do Setembro Negro e os nove reféns israelensesdeixaramaVilaOlímpicaeentraramemdoishelicópterosHueyBelldaGuardadeFronteiras. Minutos antes, Golda Meir comunicava a Willy Brandt que Israel

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aceitavaascondiçõesdelibertação.Oshelicópteroseramseguidosdepertoporumterceiro.Dentrodele,estavamZviZamir,coroneldoexércitoisraelense,eGenschere Schreiber como acompanhantes. Os três helicópteros dirigiam-se aFürstenfeldbruck,acercadeoitentaquilômetrosaoestedeMunique.Nopequenoaeroporto,cincoatiradoresdeelitedoexércitofederalesperavamsuachegada.[51]

OhelicópterododiretordoMossadaterrissouemtrintaminutos,eosocupantesdirigiram-se à torre de controle. Os outros dois aterrissaram pouco depois.Mohammed saltou do primeiro Huey e dirigiu-se ao segundo, enquantoempunhava com nervosismo umaAK-47;muito próximo, um 727 da Lufthansaaguardava com as turbinas ligadas.Manfred Schreiber, responsável pela operação,sabiaqueesseaviãonunca levantariavoo,vistoqueacompanhiaaéreaalemãnãoconseguiraumatripulaçãoparapilotá-lo.

OutrodoserroscometidosporSchreiberfoiprovidenciarapenascincoatiradoresde elite, três no telhado da torre de controle e dois perto da pista dos doishelicópteros,quandoonúmerodeterroristasaseremabatidoseraoito.

Às22h44,quandoMohammedeosoutrosterroristassedirigiamparaoavião,osilênciofoiquebradopelosomdeumdisparodefuzil.Olíderdosatiradoresdeelitedisparou contra ele,mas falhou.A bala entrou pelo ombro esquerdo e saiu pelascostas. Os outros quatro atiradores abriram fogo. Dois dos terroristas queescoltavamatripulaçãodoshelicópteroscaírammortos.Outrodosárabesfoiferidocomumprimeirodisparoeabatidocomosegundo.Osterroristasresponderamaotiroteio, protegendo-se atrás dos helicópteros, ainda ocupados pelos reféns. Umsargentodapolíciamorreuaoseratingidonacabeça.Otiroteioduroucercadeseisminutos, até que Schreiber deu ordemde cessar fogo.A polícia, com a ajuda domemunehdoMossad,dirigiu-seaosterroristasemárabe,alemãoe inglês,exigindoqueserendessem.Estesvoltaramaabrirfogocontraatorre.[52]

À 00h05, um dos terroristas árabes levantou-se e lançou uma granada demãoparadentrodeumdoshelicópteros.Aexplosãoiluminouanoite.Cincodosatletasisraelenses que estavam no interior começaram a gritar pedindo ajuda, mas aschamasalcançaramostanquesdecombustível,eohelicópteroexplodiu.Napista,trêsárabestinhamsidoferidosabalaeserenderam.Osquatroatletasrestantes,queestavamno segundohelicóptero,morreramao serematingidosporuma rajadademetralhadora. Evidentemente, o Setembro Negro havia condenado os israelensesassimqueosatiradoresdeeliteabriramfogo.

Na manhã de 6 de setembro, o mundo acordou comovido pelo ocorrido nosJogos Olímpicos. As bandeiras ondulavam a meia haste enquanto a OrquestraSinfônicadeMunique tocava aMarcha fúnebre de Beethoven.Mas nem todas as

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nações estiveram presentes no funeral do Estádio Olímpico. Árabes, a UniãoSoviéticaealgunspaísesdoLestenãoassistiramàcerimônia.

Nessamesmatarde,ZviZamirvoltouaIsrael,convencidodequeaineficáciadosalemãescustaraavidadosonzeatletas.Porém,aomesmotempo,otodo-poderosomemunehdoMossadsabiaqueoocorridoemMuniquenãoeraumatoisolado,massimomais importantedos atentadosperpetradospelo grupoSetembroNegronaEuropa emmeses.Zamir compreendeuque Israel era carta foradobaralho assimqueosgruposárabestinhamdecididolevaroconflitoparaaEuropa.GruposcomooSetembroNegrohaviamescolhidoocampodebatalha,eissoimplicavaqueIsraelestariaindefesononovocenáriodeguerra.Omemunehtinhaconsciênciadeque,seseu país quisesse evitar perdas inúteis, deveria jogar da mesma maneira que osterroristasárabese,aomesmotempo,investirrápidaecirurgicamente,eemseguidadesaparecer.

Um avião da Força Aérea Israelense levou o general Zamir de Munique aoaeroportodeLod,ondeumhelicópterooesperava.OchefedoMossadfoi levadoaoheliportocontíguoàCasaVermelha,ogabinetedoprimeiro-ministroque,pormotivosdesegurança,selocalizavanosarredoresdoquartel-generaldoexército.

Foradohelicóptero,ZamirobservouváriosDodgepretosblindadosestacionados.O rude chefe de espionagem subiu as escadas acarpetadas com passos decididos,rumo à sala de espera do gabinete.Após umabreve espera, a assistente deGoldaMeirdeixou-oentrar.Emcertomomento,ZviZamirobservouosrostossériosdoshomens que ali se encontravam. “Estou à espera da sua opinião sobre osacontecimentos,general”,disseMeir.“Senhoraprimeira-ministra,aúnicacoisaqueposso afirmar com certeza é que Israel continua sozinho em sua luta pelasobrevivência.Nessecaminhonãoteremosajudadeninguém,emuitomenosdosalemães”,replicouZamir.

Poucodepois,ochefedoMossadjuntava-seàreuniãodoComitêdeSegurançaeRelações Exteriores, cujas deliberações eram secretas. Golda Meir perguntou aZamir,aEliZeira,chefedaAman,eaYosefHarmelin,chefedoShinBet,seseushomens seriamcapazesde levar a guerra contraos terroristas árabes ao campodoinimigo. Tanto Zamir como Zeira e Harmelin responderam que estavampreparadosparaissoequeomassacredeMuniqueosdeixaraaindamaisdecididos.

Tomandoovelhoditadohebraicodo“olhoporolho,dentepordente”,oComitêvotou unanimemente pela ativação de uma equipe do Kidon, a subunidade deassassinos da Metsada, apesar de a própria Golda Meir ter antes resistido a isso.Zamirdisselhe:“Senhoraprimeira-ministra,nãopodegarantirasegurançadetodososcidadãosdeIsrael,mas,quandoessasegurançaforviolada,oscidadãosdestepaís

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vãolheperguntaroqueasenhoraeseugovernofizeramparapunirtaisviolações”.“Caromemuneh, a questão é saber quais serão as repercussões, diante domundo,dosatosqueiremospraticar.Comoexplicaremosaosnossosaliadosoassassinatodeumgrupodeárabes?”,perguntouajáidosalíderisraelense.[53]

O chefe doMossadpouco se importava comoquepensavamouopinavamosaliadosdepoisdeterassistido,horasantes,aofuneraldosonzeatletasisraelensesnoEstádioOlímpico. Para Zvi Zamir, não era novidade ordenar a ativação de umaequipe do Kidon. Apenas alguns dias antes do início dos XX Jogos Olímpicos,explodiraumabombainstaladasoboveículodeGassanKanafani.[54]

Kanafani,poetaeromancista,tinhasidooporta-vozeumdosqueidealizaramaFrentePopularparaaLibertaçãodaPalestina(FPLP),umafacçãoespecializadaemsequestrodeaviõese,paraoMossad,responsávelpeloataqueaoaeroportodeLod,emTelAviv,executadoportrêsterroristasjaponesesdoExércitoVermelho.

Naquele 8 de julho de 1972, Kanafani entrou, desafortunadamente, em seuMercedesmarrom comanetaLamia.OKidonnãoprevira quenesse dia o líderpalestino teria a companhia de uma adolescente, porém, ainda assim, apertou obotãoquetransmitiaoimpulsoelétricoeacionavaabomba.Oveículovooupelosares,eaexplosãofoiouvidaemBeirute.OcorpodeKanafanificouespalhadopelarua,enquantoumhomemcomumkeffiyehvermelhoseafastavadaárea.[55]

Zamir,depoisdoêxitodaOperaçãoKanafani,recomendouaoComitêEspecial,apósodesastredeMunique,aativaçãodeequipesdeassassinos.Depoisdeouviraspropostas do Comitê, Zamir esperou na antesala. Pouco depois, um porta-vozdirigiu-se ao diretor do Mossad: “O Comitê ouviu com atenção seu relatório edecidiuconcederàprimeira-ministratotalautoridadeparadarospassosnecessáriosnaativaçãodoKidon”.

Os membros do Comitê foram saindo da sala sem olhar para Zamir. Talvezpreferissemnãoolhardiretamenteparaohomemaquemacabavamdedarordenspara recrutar assassinos em nome de Israel. Golda Meir, ainda sentada na salaescura, chamouZviZamir eAharonYariv, o ex-chefedaAman.Meir ofereceu aYarivocargodeconselheiroespecialparaatividadesantiterroristas.“Vouprecisardoseu conselho para levar a bom termo a decisão que acabo de tomar”, disseMeir.Depoisde lhes falar sobreoHolocausto e avidados judeusnaEuropa, ajeitouocabelogrisalhoedespediu-sedosdoishomens.

Depois de 24 horas de suspensão, o Comitê Olímpico decidiu recomeçar osJogos;contudo,aequipedeIsraeltinhaseretiradodacompetição.Todososatletasdesceramdo 707 daElAl acompanhando os dez caixões de pinho que, cobertospelabandeirabrancaeazul,eramtransportadosporsoldadosdasForçasdeDefesa

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Israelenses. O corpo da décima primeira vítima, David Berger, cidadão norte-americano,foralevadoporumC-141daForçaAéreadosEstadosUnidosparaserenterrado em Cleveland. Dias depois, a pedido do homem forte da Líbia,Muammaral-Gaddafi,osrestosdoscorposdoscincoterroristasdoSetembroNegromortos emMunique foram despachados da Alemanha. EmTrípoli, os cadáveresforam recebidos como heróis e sepultados com honras militares. O funeral foirealizadonamesquitadapraçadosMártires,ondeserecitouoYaSin,aoraçãodosmortosnoAlcorão.

Desde o massacre de Munique, os jovens palestinos nos Territórios Ocupadosgritavam:“TodosnóssomosagoradoSetembroNegro”.

ZviZamir estava em seu gabinete no quartel-general doMossad, emTelAviv,localizadonoedifíciodeescritóriosHadarDafna,naavenidaKingSaul,lendoumlongorelatóriosobreoSetembroNegroredigidopelaUnidade504,encarregadadecoletarinformaçõessobreessaoperaçãoparaosserviçossecretos.Nacapadapastamarrom, repleta de selos, lia-se em grandes letras negras escritas à mão.SETEMBRONEGRO,ouAilulal-Aswademárabe,Arquivo29981032.Aoabri-la, notou diversas páginas em cores e com fotografias . Seu misterioso títulosimbolizavaumdosmesesmaissignificativosdahistóriadoOrienteMédio.[56]

HISTÓRIA:no verão de 1970, as guerrilhas palestinas tinham começado ataques apartirdaJordâniasobreoterritórioisraelense,comaesperançadeexportararevoluçãoàFaixa deGaza e àCisjordânia,mas para isso contavam com a oposição domonarcahachemita. Por essa época, o reiHussein tentava secretamente estabelecer contato comIsrael, mas para isso precisava, antes, conter os ataques palestinos procedentes de seuterritório.Aomesmo tempo,o secretáriodeEstadonorte-americano,WilliamRodgers,tentavanegociarumcessar-fogoentreIsraeledoisdeseusinimigos,EgitoeJordânia.

Umdosmais firmes defensores em acabar comqualquer negociação entre as naçõesárabeseIsraeleraGeorgeHabash,olendáriolíderdaFrentePopularparaaLibertaçãodaPalestina (FPLP), queproclamava o regresso ao infernode todo oOrienteMédio.Em6desetembrodomesmoano,ogrupopalestinosequestrouumaviãodaElAl,sendoeste o quarto avião sequestrado em menos de três meses. O ponto mais alto dessacampanha foi o sequestro de um Boeing 747 da companhia norte-americana PanAmerican,que,depoisdeserdesviadoparaoaeroportodoCairo,foidinamitadodiantedascâmerasdetelevisãoqueseconcentraramnasinstalações.OreiHusseinnãoestavadisposto a aceitar que os sequestradores aéreos utilizassem seu território para realizaraçõesdesabotagemesequestro,masaomesmotemposabiaquedeviaagircomcautela,visto que dois terços da população jordaniana eram compostos por palestinos ou de

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origempalestina.Porfim,numdiadesetembro,omonarcalançousuastropasbeduínasde elite contra os campos de refugiados palestinos, provocando o chamado SetembroNegro.A artilharia arrasou grande parte das frágeis instalações,matando centenas defamílias.Ossobreviventes,queseviramobrigadosafugirparaoLíbano,formaramseuespíritocombativoaolongodeumdosperíodosmaisobscurosnajátrágicahistóriadopovopalestino.AqueleSetembroNegrofoiomêsemqueas forçasárabesdestruíramanação palestina, e os jovens guerrilheiros que testemunharam o massacre adotaram onomedaquelemêscomosímbolodesualuta,eavingançacomorazãodasuaexistência.[57]

ALVOS:os seus inimigos seriam os europeus, que nunca protestaram pela atrocidadecometida contra o povo palestino na Jordânia; os norte-americanos, devido à políticaimperialistanoOrienteMédioeporarmaremosisraelenses;osrealistasjordanianos,porterem cometido alta traição contra o povo palestino; e os israelenses, pela sua políticaexpansionista.

OLP:o SetembroNegro cultivouumaaura demistério.Atémesmo o líder daOLP,YasserArafat,assegurou:“Nósnão sabemosnadasobreestaorganizaçãoenãoestamosenvolvidos em suas operações.Mas podemos compreender amentalidade desses jovens,que estão dispostos a morrer e entregar a vida pela causa palestina”. Alguns líderespalestinos também negam a existência do Setembro Negro e afirmam que ele é umainvenção da propaganda israelense para justificar o assassinato de árabes inocentes,concluíaocapítulodorelatórioqueomemunehtinhaemmãos.

Depoisdeumgoledecafé,Zamircontinuoualer.

ApesardeaOLPgarantirqueaorganizaçãonãoexiste,as investigaçõesnoexterior

nãoestãosendobem-vindas.OjornalistabritânicoChristopherDobsonrecebeuameaçaseArnauddeBorchgrave,umdoseditoresdaNewsweek,recebeuumtelefonemadeumdiplomatadoIémenparalhecomunicarquepoderiahaverfortesrepresáliassearevistapublicasseumareportagemsobreoSetembroNegro.

OMossad identificou o diplomata comoDaoudBakarat, um representante daRepúblicaDemocráticadoIémencombaseemGenebraeumdoslíderesdogrupoterrorista.

Continuavaassimorelatório:

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NenhumpaísocidentalmanteveosmilitantesdoSetembroNegropormuitotemponaprisão, sendo postos em liberdade de um modo até muito diligente. Mas não só ospaíses ocidentais; tambémosárabes.Por exemplo, osassassinosdoprimeiro-ministrojordaniano, Wasfi Tell, foram rapidamente postos em liberdade pelas autoridadesegípciasenuncaforamlevadosajulgamento.

O chefe do Mossad folheou várias páginas e fotografias em preto e branco derostos, aviões queimados ou corpos deitados e rodeados por uma poça de sangueseconochãodeumaruasemnome,dealgumacidadedesconhecida.

ORGANIZAÇÃO:oSetembroNegronãotemsede,nemquartel-general,nemporta-voz, mas é indubitavelmente uma organização com hierarquias e grande disciplina.Apenasumoficialdogrupofoidetidoeinterrogado.AbuDaoudestavaemAmãparaarquitetarsequestrosouassassinatosdeimportantespolíticosemilitaresdopaís.Duranteo interrogatório, Daoud confessou que o Setembro Negro era o órgão de operaçõesespeciaisafiliadoaosserviçosdeinteligênciadaAlFatah.

Ochefedeespionagemisraelenseanotouàmargem:“AOLPéoinstigadordos

ataques do ST [Setembro Negro] e diante do mundo lava as mãos”. Depois,escreveusuasiniciaiseadata.Napáginaseguinte,deparoucomumesquemacomgrandeslinhasqueligavamalgunsnomesaoutros.

ApáginaestavaencabeçadacomologotipodaApam(AvtahatPaylutModienit),aunidadeencarregadadasegurançadasoperaçõesdoMossad.

OchefedoSetembroNegroéMohammedYusifNajjar,conhecidocomoAbuYussef.

Temexperiênciaemquestõesdeinteligência.ÉumdosprincipaisconselheirosdeArafat.OsegundonocomandoéAliHassanSalameh.FoiSalamehquemdisse:“Darámaiorpublicidade à nossa causa assassinar um judeu naEuropa do que cem em Israel”. AsprincipaistarefasdeSalamehdentrodoSetembroNegrosãoasoperaçõesnaEuropa,eNajjar lhe dá plenos poderes para que as possa planejar e executá-las sem consultarninguém.

MEMBROS:paraorecrutamento,oSetembroNegroatraiseusfuturosmembrosnoseio dos estudantes da Universidade Americana de Beirute ou entre os estudantes deoutros países europeus.Após umduro treino demanejo dasAK-47 e de explosivos, osnovosmembrosprestamojuramentoconhecidocomo“astrêsnegociações”.DiantedeumexemplardoAlcorão,onovomembro,depoisdejurar lealdadeaopovopalestino,deve

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responderaumaperguntafeitaporAbuDaoud:“Quantasnegociaçõeshá,meuirmão?”,aoqueojovemresponde:“Três,meuilustreamigo”.

As três negociações referem-se a: não à solução pacífica, não ao Reino Árabe

Unidoenãoaumasoluçãoemquenãoestejaincluídoopovopalestino.Zvi Zamir continuou a ler o relatório cuidadosamente. Uma página amarela

indicavanocabeçalho:FINANCIAMENTO:osfundosdoSetembroNegroprovêmnamaiorpartedaOLPede alguns países do Golfo Pérsico, principalmente dos xeiques do petróleo. Um dosmaioresapoioseconômicosederefúgioéolíderlíbioMuammaral-Gaddafi.DepoisdamatançadeMunique,aLíbiatransferiu5milhõesdedólaresdefundosparaumacontanumerada na Suíça. A conta pertencia a uma empresa cujo presidente está ligado aoSetembroNegro.

ALíbianãosóentregafundosaogrupocomotambémlhedácoberturadiplomáticapormeiodesuasembaixadasnaEuropa.Ossetembristascirculamdepaísempaís sobimunidade diplomática, atravessando aeroportos e fronteiras sem nenhum tipo decontrole.AtéasarmaseosexplosivossãoenviadosdaLíbiaemsuasmalasdiplomáticas.OarmamentoeosexplosivosusadosnosatentadosprocedemdaEmbaixadadaLíbiaemBona,deondeforamdistribuídos.

“Sealguémacendesseumfósforonoedifíciodiplomáticolíbio,metadedeBona

voariapelosares”,pensouZamirenquantofechavaapastaviolentamenteeaatiravasobreamesa.

Apesar de, após cada ação, o Setembro Negro preparar eloquentes desculpas,como“nósnãosomosbandidosnemassassinos”depoisdosucedidoemMunique,ogrupopalestinotornou-seoprincipalalvoaserabatidopeloMossad.

Curiosamente,oprimeiroatentadodonovogrupo terroristanão foi contraumalvoisraelense,massimárabe.Natardedodia28denovembrode1971,ogrupodoSetembroNegro fez suaestreia.Oprimeiro-ministroWasfiTell,umdosmaisobstinados defensores em acabar com a resistência palestina e um dos mais fiéisconselheirosdomonarcajordaniano,estavanoCairoparaparticipardeumareuniãodos chefes de Estado da Liga Árabe. À entrada do hotel Sheraton, no qual erarealizadoumalmoçodetrabalho,Tellfoiassassinadocomcincotirospelascostas.[58]Somentetrêssemanasdepoisogrupopalestinolançouumnovogolpe.Destavez,oalvoeraoembaixadorjordanianonaGrã-Bretanha.

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Certa manhã, quando o diplomata se dirigia à delegação jordaniana em seuveículo, um homem postado numa ilha de pedestres disparou contra ele,assassinando o motorista e deixando o embaixador gravemente ferido. Asautoridadesbritânicaspuseram-senoencalçodoterrorista,quepoucotempodepoisdetidonaFrança.OMossad informaraoMI6dequeo terroristapoderia serumargelinochamadoFrazehKhelfa,mercenáriodosgrupos integristas.OgovernodeLondrespediusuaextradiçãoàFrança,masKhelfajátinhasidoextraditadoparaaArgélia,onderesponderiapordoisatentadoscometidosnumquarteldapolíciadeArgel.Khelfafoijulgadopelosdoisdelitos,condenadoàmorteeexecutado.

No dia 8 de maio de 1972, quatro terroristas sequestraram um avião dacompanhia aérea belga Sabena no voo de Viena para Tel Aviv, com noventapassageirosedeztripulantes.DepoisdeaterrissarnoaeroportodeLod,doishomense duas mulheres tomaram como reféns os passageiros israelenses e exigiram alibertação de centenas de prisioneiros árabes que se encontravam nas prisões deIsrael. Moshe Dayan dirigiu pessoalmente a operação de comandos. O lendáriogeneralencarregouumjovemoficialchamadoEhudBarak[59]deliderarogrupodeassalto. Mais tarde, Barak seria nomeado chefe do Estado-Maior; Ministro semPastanoúltimogovernodeYitzhakRabinantesdesteserassassinado;MinistrodeRelações Exteriores no último governo de Shimon Peres e, finalmente, primeiro-ministrode Israel.Disfarçados demecânicos, os comandos israelenses tomaramoavião, executando a tiros os dois homens e capturando as mulheres, que foramcondenadasàprisãoperpétua.OfracassodeSabenaimplicouumdurogolpeparaoSetembroNegro,e,devidoaisso,ogrupoviu-seobrigadoarealizarnovamenteumatentadopararecuperarsuaimagemnomundoárabe.

Nesse mesmo mês, a FPLP, cujos membros são conhecidos como flops peloMossad, decidiu organizar uma conferência internacional de grupos terroristas nocampo de refugiados de Badawi, perto da cidade libanesa de Trípoli. O temaprincipaltratadofoiacoordenaçãoentreosgrupospararealizarataquesconjuntos.OSaifanim, departamentodoMossad encarregadode colher informações sobre aOLP, redigiu um relatório no qual se afirmava que tinham assistido à reuniãorepresentantes do Setembro Negro, do grupo Baader-Meinhof da AlemanhaOcidental,doExércitoRepublicanoIrlandês(IRA),doExércitoVermelhodoJapãoe de diversas frentes de libertação procedentes do Irã e da Turquia. Num curtoespaço de tempo, a chamada Conferência de Trípoli deu seus frutos. Algunscontatos da FPLP e do Setembro Negro contrataram três membros do ExércitoVermelhojaponêspararealizarumatentadonomesmoaeroportodeTelAviv.Em30demaiode1972,armadoscomfuzisdeassaltotchecos,entraramnoedifíciodo

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terminalprincipaledispararamcontraaspessoasqueláestavam.Oresultadoforam27mortose78feridosemdiferentesgrausdegravidade.Algunsdosmortoseramperegrinoscatólicosporto-riquenhosquetinhamchegadoaTelAvivcomdestinoaJerusalém.

Após o massacre de Munique, e aconselhada por Zamir e Yariv, a primeira-ministra Golda Meir deu ordem às forças aéreas para que atacassem as basesguerrilheirasnoLíbanoenaSíria,incluindoocampoderefugiadosdeDeraa,localonde tinham sido treinados os agressores da VilaOlímpica. Vinte e cinco caças-bombardeirosdaFAIatacaramosalvosdeixando66mortose24feridos.

Numsábadodesetembro,ochefedoMossadrecebeuumachamadaemcasa.Eraproveniente da residência da primeira-ministra, cujo objetivo era convocar comurgênciaoTsiach(TsorechYediotHasuvot)—reuniãodeorganizaçõesde serviçossecretos civis emilitares.GoldaMeir, a essa altura uma avó sexagenária, cogitaradurante todaanoite sobreopassoquedecidiradar equenaquelamesmamanhãcomunicaria aos chefes de espionagem. Com todos reunidos ao redor de umagrandemesa,alíderpolíticadirigiu-seaospresentes:“Depoisdosúltimosetrágicosacontecimentospormeiodosquaisnossopaísfoigravementeatingido,decidiqueIsraelcombaterácompersistênciaeengenhonumaprimeira linhavital,perigosaede longo alcance”, disse laconicamenteMeir. Yariv tentou fazer uma observação,mas foi interrompido pela líder israelense, que levantou a mão em sua direção.“Ninguémescaparádolongobraçodajustiçaisraelense”,concluiuela.

Zamir dirigiu um olhar incrédulo a Yariv, que estava a seu lado, e perguntou:“Senhora primeira-ministra, o que decidiu?”.“Decidi que seus homens executarãotodos os responsáveis pelo massacre de Munique e qualquer terrorista que seinterponhanocaminho”,disseela.

Naquelemomento,aamplasaladogabinetecobriu-sedeumdensosilêncio,quefoi interrompido novamente por Meir. “Amigo Zamir, você acha que poderáprepararumaequipeparaexecutaressaoperação?”.“Épossível”,confirmouochefedoMossad.

Dessemodo,GoldaMeirdavasinalverdeàativaçãodeumadasmaioresequipesdoKidon,asubunidadedeassassinosdaMetsada.Namentedosresponsáveispelacomunidade de inteligência israelense, ficara gravada uma frase que Golda Meirpronunciaraenquantodeixavamasala:“Aconteçaoqueacontecerapartirdeagora,lembrem-sedeMuniqueedoquenossopaísperdeulá”.[60]

Depoisdeassimilaranovatarefaquelhesforaincumbida,tantoZviZamircomoAharonYarivtinhamquedecidiraestruturadasequipesdoKidon,umavezqueosprimeirosalvoseramevidentes.TinhamsidoencarregadospessoalmenteporGolda

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MeirparadirigirumadasprincipaisemaisimportantesbatalhascontraoterrorismopalestinoqueseriaexecutadapeloMossad.Aprimeira-ministraassinaraasentençademortede35terroristasárabesdiretamenterelacionadosaoSetembroNegroouaseuaparelhopolítico.A“OperaçãoIradeDeus”estavaemandamento.[61]

OmemunehconvocouoresponsávelpeloMeluchaouTsomet,queemhebraicosignifica“Reino”—odepartamentoderecrutamentoqueformaoskatsa.Depoisdeinformá-lo sobre a decisão da primeira-ministra, Zamir disselhe: “Preciso deaproximadamente quinze ‘combatentes’ para uma missão especial. A maior partedelesdeve ser especialista emexecuções, comunicações e transporte.Você tematéamanhãpelamanhãparameapresentarasfichasdoscandidatos”.

Para liderar aOperação Ira deDeus, o Tsomet elegeuMikeHarari, um katsaveterano de 46 anos que já há algum tempo dirigia os kidon daMetsada.Harariiniciou sua carreira em Roma durante a ocupação nazista na Segunda GuerraMundial, ajudando judeus italianos a escapar para a Palestina. Em 1950, forarecrutadopeloShinBete,em1960, transferidoparaoMossad.Dezanosdepois,assumiraocontroledatemívelMetsada.

AsequipesdoMossadseriamformadasporcincogrupos:Aleph(aprimeiraletrado alfabetohebraico),Beth (a segunda),Heth (a oitava),Ayin (a décima sexta) eQoph(adécimanona).

Alephseriaformadapordoiskidonespecializadosemexecuçõesecombatecorpoacorpo,provenientesdoMossadoudoscomandosespeciaisdoexército.Bethseriaformada por dois kidon especializados em segurança e estariam encarregados daproteçãodeAleph.Hethseriaformadaporumhomemeumamulher,amboskidonda Metsada, que operariam de forma independente em relação aos dois gruposanteriores. Ayin seria formada por uma equipe de seis a oito kidon, e suamissãoseriarealizar funçõesvitaisparaAlepheBeth.Estas teriamqueperseguirosalvos,reunir informações sobre eles e possíveis recomendações de formas e locais deataque. A quinta equipe seria formada por dois agentes especializados emcomunicações.Aotodo,entrecatorzeedezesseiskidondaMetsadafariampartedamaioroperaçãoderepresáliaconduzidapeloserviçodeespionagemdeIsraelcontraterroristaspalestinos.[62]

Rafi Eitan, Aharon Yariv, Zvi Zamir e Mike Harari decidiriam qual seria oprimeiro alvo a ser abatido na lista de 35 indivíduos relacionados ao SetembroNegroquedeviamserexecutados.

WaelZwaitereraumpalestinoresidenteemRomahádezesseisanos,ondeexerciatrabalhoadministrativonaEmbaixadadaLíbia.Umdeseustrabalhosera,também,

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traduzirtextosparaoitaliano;porexemplo,amagníficatraduçãodeAsMileumaNoites.

O Mossad sabia que Zwaiter tivera ligações muito próximas com o SetembroNegro,assimcomocomoconluiodeagostode1972parafazerexplodirumaviãoBoeing727daElAlemplenovoo,pormeiodeummecanismoexplosivocolocadonum gravador. Enquanto os palestinos garantiam que Zwaiter era apenas umintelectual com muito boas amizades na cúpula de poder italiana, os israelensesgarantiamqueestavaenvolvidonosataquesdoSetembroNegroemRoma.[63]

Em16deoutubrode1972,umkidondaequipeAyininformouosassassinosdaequipeAlephque o alvo decidira sair naquelamesmanoite para jantar comumaamiga.AssimqueinformouHarari,okidonpreparou-separapôroprimeiroplanoemação.

Naquelatarde,opalestinosaiudepressadeseuapartamentoemdireçãoàcasadaamiga JanetBrown,uma australianade50 anosque viviahá algumasdécadasnacidade italiana. Depois do jantar, os membros da equipe Beth seguiram WaelZwaiteratésuacasanaPiazzaAnnibaliano,aonortedacidade.Zwaiterlevavanasmãos váriospacotes comcomida eumagarrafade vinho.Por voltadas22h30,opalestinosedirigiuàportadeentrada.

Enquanto procurava uma moeda de dez liras para introduzir no contador doelevador,doiskidonsaíramdassombras.Umdelesdisse:“Lembre-sedeMunique”.Ao sevirar,o segundodisparou seisvezes.Oprimeirokidon fezomesmo,masoúltimodisparoacertou-lheaboca.Segundosdepois,ambostinhamdesaparecidoemumFiat125verdealugadoemnomedeumturista canadensechamadoAnthonyHutton.

Quasedoismesesdepois,aestaçãodoMossadnaFrançainformouMikeHarariqueosegundoalvoforalocalizadoemParis.EraodoutorMahmoudHamshari.

De meia-idade, o Mossad sabia que Hamshari era realmente um homemimportantedaOLPerepresentanteoficialdoSetembroNegronaFrança.OskidondaequipeAyininformaramosassassinosdaAlephqueHamsharinãoandavacomguarda-costas e que vivia num elegante apartamento no número 175 da Rued’Alésia com sua esposa francesa,Marie-Claude, e a filhaAmina.Aparentemente,MahmoudHamsharinãoreforçarasuasegurançadepoisdaexecuçãodeZwaiter.

Um dos kidon da equipe de assassinos decidiu utilizar um novo método paraexecutarHamshari,poisseriamaisdifícilaproximar-sedeleemplenarua.Noiníciode dezembro, um agente israelense fez-se passar por um jornalista italianointeressado na questão palestina.O katsa combinou um encontro comHamsharinumpequenocafénocentrodeParis.Ali,ambosdiscutiramasituaçãonoOriente

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Médio, e o jornalista mostrou sua clara desaprovação com a política israelense.Entretanto,doladodefora,eramvigiadospordoiskidondaequipeAyin.

Durante uma segunda reunião entre o falso jornalista e o palestino, dois kidonconseguiramentraremsuacasa.Umdelesabriuseutelefoneecolocounointeriorumdispositivo explosivopreparadoemIsraelpelos técnicosdoMossad.Em8dedezembro, uma sexta-feira, de manhã bem cedo, o telefone tocou. MahmoudHamsharidirigiu-sedacozinhaaoescritórioparaatender.Aolevantarotelefonedogancho, uma voz do outro lado da linha perguntou: “É o senhor MahmoudHamshari?”. “Sim”, respondeuopalestino.Nessemomento,Hamshari ouviuumpequenoestalonalinhaeemseguidaumaforteexplosãoquelhearrancoupartedorosto.MahmoudHamsharimorreriadiasdepoisnohospital.

Para aOLP e os líderes do SetembroNegro, era evidente que se desencadearaumaguerracujosadversárioseramosdirigentespalestinoseoskidondaMetsada.

Em janeiro de 1973, equipes do Kidon foram enviadas por Harari à ilhamediterrâneadoChipre.OalvoeraHusseinAbdelChir,tambémconhecidocomoHussein Bashir ou Abdel Hir. O relatório que o Mossad tinha afirmava que opalestino tinha cerca de 36 anos de idade e que havia se tornadoum importanteintermediário dos serviços de segurança palestinos com o KGB soviético. MikeHararideucartabrancaquandooskidondaequipeAyininformaramqueHusseinAbdelChireranaverdadeochefesupremodoSetembroNegronailha.[64]

As unidades do Mossad responsáveis por seguir alvos sabiam que Abdel Chirficaria pouco tempo em Nicósia, visto que, desde os assassinatos de Zwaiter eHamshari,muitospalestinostinhamdecididotomarprecauções.

Oskidonseguiramopalestinoatéumpequenorestaurante,ondeeleseencontroucomoutrohomemqueoMossadidentificoucomoagentedoKGBdestacadoparaaEmbaixadasoviéticanoChipre.Apósofechamentodolocal,opalestinoeorussodespediram-se, e Hussein Abdel Chir dirigiu-se a pé ao hotel onde estavahospedado,oOlympic,naavenidaPresidenteMakarios.Emmeadosdejaneirode1973,osassassinosdoKidondesembarcaramnailhausandopassaportesbritânicosfalsos e se registraramnohotel.Numdia emqueAbdelChir saíra,osdoiskidonentraramemseuquartoeplantaramumacargaexplosivasobacama.

Nanoitede24dejaneirode1973,HusseinAbdelChirvoltouaohotele,depoisde tomar banho, decidiu se deitar para ler uma série de documentos.Os agentesisraelenses,darua,vigiavamajaneladoquarto.Quandoopalestinoapagoua luz,umdoskidonativouomecanismoexplosivocomumcomandoadistância,eAbdelChirvooupelosaresempedaços.Oterceiroalvoforaeliminado.

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Durantetrêsmeses,edepoisdoassassinatodetrêslíderespalestinos,aequipedecarrascos viu-se obrigada a semanter às sombras até a localizaçãodenovos alvos.Abril seria ummês intenso para os homens deHarari e para aOperação Ira deDeus.

Noiníciodessemês,asequipesdoKidonviajaramdenovoaParis.Destavez,oalvo era o doutor Basil Al-Kubaissi, um professor de Direito na UniversidadeAmericana de Beirute. Para o Mossad, ele era um contato importante do grupoSetembroNegronaEuropa,alémdeencarregadodefornecerarmaseexplosivosaseushomens.

Nanoitede6de abril, oprofessor saiudoCaféde laPaix apósummagníficojantar e foi apé aohotel,pertoda igrejadeMadeleine.Ao se aproximardeumaesquina,opalestinoreparouqueeraseguidopordoisjovensquedavamaimpressãodeserestudantes,commochilasàscostas.Asvozesqueeleouviaeramasdosdoisestudantes, que discutiam em francês a respeito de algum exame.Quando amboschegaram perto de Al-Kubaissi, um deles pegou a arma e disparou na nuca dopalestino.Quandocaiuaochão,jáestavamorto.Osegundokidonaproximou-sedocadáverelhedisparounaboca.[65]

Em 11 de abril, horas depois da denominada “Operação Primavera daJuventude”,[66]osassassinosdoMossaddeslocaram-separaAtenas,ondeoskidondogrupoAyintinhamlocalizadoumnovoalvo.

ZaiadMuchasisubstituíraHusseinAbdelChirnocomandodoSetembroNegrono Chipre e estava na capital grega para participar de uma reunião secreta. Osagentes daOperação IradeDeus recorreram,para assassinarMuchasi, aomesmométodo usado para matar Abdel Chir. Um kidon entrou no quarto de hotel ecolocousobacamaumpotenteexplosivo.

Umtelefonemafezcomqueopalestinosesentassenacamaeativasseoexplosivo.Ocorpodelevooupelosares,eseucadáverfoiencontradodoisandaresacima.Comos três líderes daOLP edoSetembroNegro assassinados emBeirute peloKidondentro da Operação Primavera da Juventude, já eram oito os líderes palestinosligadosaoSetembroNegroexecutadospelosvingadoresdeMunique,eacontagemavançava.

Poucosdiasdepois,aestaçãodoMossademRomalançouuma“LuzdoDia”—o estado de alerta máximo dos agentes dos serviços secretos israelenses.Aparentemente, um katsa instalado na Embaixada de Israel na capital italianadetectara Abdel Hamid Shibi e Abdel Hadi Nakaa, ativistas do grupo SetembroNegro.AmbospreparavamumataquecontrainteressesisraelensesnaItália.

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MikeHarari,depoisdeconsultarZviZamir,ordenouaseuskidonquefossemaRoma e executassem Shibi e Nakaa. Os terroristas deslocavam-se sempre numMercedes-Benzpreto.AunidadeAyininformouqueemváriasocasiõesenquantooseguiam,osdoishomenshaviamdeixadooautomóvelnomesmoestacionamentodocentrodacidade.Seriaaliquepreparariamogolpe.

Numatarde,duasequipesdoKidonseguiramAbdelHamidShibieAbdelHadiNakaa.Quando estes deixaramo veículo, umkidon abriu a porta doMercedes ecolocouumaminasobobancodomotorista.Antes,oagentetinhapostoaliumachapadeaço,paraqueadeflagraçãofosseascendente.

Sete horas depois, apareceram Shibi e Nakaa. O último ocupou o lugar dopassageiro,enquantoShibiabriaaportadomotorista.Aosesentar,ambosouviramumaespéciedeclique—haviamacabadodeativaramina.AexplosãodeixouAbdelHamidShibigravementeferidoeAbdelHadiNakaaemestadocrítico.OtetodoMercedesfoiseparadodacarroceriapelaondadechoqueecaiuatrezentosmetrosdedistância.Ambosospalestinosmorreramacaminhodohospital.

Apoucosmetrosdali,umcarrocomquatrohomensabandonavaolocaldaação,enquantoseouviamasprimeirassirenesdapolíciaseaproximando.

Ainda restavam três alvos importantes: Jamal Al-Gashey, Mohamed Safady eAdnanAl-Gashey, todos eles sobreviventes do comando do SetembroNegro queadentrara aVilaOlímpica deMunique. ParaMikeHarari, AdnanAl-Gashey eraum alvo prioritário, uma questão pessoal. Al-Gashey era o terrorista que haviadisparadoarajadafatalnadireçãodosváriosatletasisraelensesnumdoshelicópterosestacionadosnoaeroportodeFürstenfeldbruck.[67]

Durante vários meses, Al-Gashey manteve-se escondido com a esposa emdiferentescasasdeBeirute,atéoMossaddescobri-lonumpaísdoGolfoPérsico.Opalestino, sobreviventedaoperaçãodeMunique, tentavaencontrar trabalhocomopedreiro. Os kidon da Metsada vigiaram-no durante duas semanas, até a equipeAyin informarHararidequeotinhamdescobertocomumprimoseu.Quandookidonentrounasaladacasa,opalestinoestavasentadonosofá.Oagenteisraelenseoolhoue,depoisdepronunciarafamosafrase“Lembre-sedeMunique”,disparousua Beretta. A primeira bala, a que o acertou na cabeça, matou o terrorista doSetembroNegro.

MohamedSafady foi localizadoemBeirute,na casadamãe.Elenemsequer semotivara a se esconder. Safady sabia que os israelenses estavam atrás dele e que,mesmoquetentasseseesconder,osagentesdoMossadoencontrariammaiscedooumaistarde,comoacabouporacontecer.

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Certamanhã,quandocaminhavaporumaruadeBeirutedepoisdesairdeumapadaria, alguém se aproximou por trás e lhe disparou várias vezes pelas costas.Quandoopalestinocaiunumapoçadesangue,okidondaMetsadaseaproximou,pôsocanodaarmananucadeleedisparou.Emseguida,desapareceunassombras.

OsvingadoresdeIsraelhaviamconseguidomatarouneutralizardozeresponsáveispeloSetembroNegro ligadosaoassassinatodosonzeatletas israelensesduranteosJogosOlímpicosdeMunique,masaindaerapreciso localizaros líderesprincipais:Ali Hassan Salameh, conhecido como “Príncipe Vermelho”, Mohamed Boudia,AbuDaoudeAbuIyad.OshomensdeMikeHararinãopermitiriamquenenhumescapasseaoKidon,olongobraçodeIsrael.

JamalAl-Gashey,denacionalidadelíbiaeúnicosobreviventedocomandodoSetembroNegroqueentrounaVilaOlímpicadeMunique,sobreviveuàvingançadoKidon.SeurastroseperdeunaLíbia.

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Enquanto os esquadrões de execução da Metsada trabalhavam a pleno vapor,exterminando quase uma dezena de membros do grupo palestino Setembro

Negro,responsáveispelosassassinatosdeonzeatletasdaequipeisraelensenosJogosOlímpicosdeMunique,AliHassanSalameh,queoMossadconheciapeloapelidodePríncipeVermelho,preparavaumataquesurpresaparaliquidaraprópriaGoldaMeir.

Os homens do SetembroNegro tinhamdescoberto, pormeio de um elementoinfiltrado no Vaticano, que a líder israelense planejava se encontrar com o PapaPaulo VI. Golda Meir tentava uma aproximação com o intuito de estabelecerrelações diplomáticas entre Israel e a Santa Sé. Dois serviços secretos, o Mossadisraelense e a Santa Aliança do Vaticano, teriam de trabalhar lado a lado sequisessemsalvarachefedogovernoisraelense.[68]

A Operação Diamante para o Mossad e a Operação Jerusalém para a SantaAliança provaram a conivência entre os dois serviços de espionagem, umacolaboraçãoquedariafrutosalgunsanosdepoisquandooMossad,emplenaguerracontraoSetembroNegropor causadosassassinatosdos atletas israelensesnoanoanterior, revelouconhecerumplanopara sequestrareassassinaroPapaPauloVI.[69]

Nofinaldooutonode1972,GoldaMeir,porintermédiodaSecretariadeEstadodoVaticano, recebeuumcomunicado secretodoPapaPauloVIemque indicavaestardispostoarecebê-lanumaaudiênciaprivada.Em11dedezembrodomesmoano,Meir reuniu-se com seu gabinete eZviZamir, omemuneh doMossad, paralhespedirconselhossobreasmedidasdesegurançaquedeveriamseradotadas.

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MeirdeixouclaroaZamireaAharonYariv,seuconsultorparticularemmatériade terrorismo,deque “nãopretendia ir aCanossa”,umditadopopular israelenseque faz referência ao castelo italiano onde o imperador Henrique IV, do SacroImpério Romano Germânico, se humilhou como penitente diante do PapaGregórioVII,noanode1077.Meireraorgulhosademaisparaisso.

Zamir,pormeiodaSantaAliança,eoMinistériodosNegóciosEstrangeirosdeIsrael,porintermédiodaSecretariadeEstadodoVaticano,souberamqueodia15dejaneirode1973seriaadataescolhidaparaoencontro.OpoderosocardealJeanVillotinformouqueoencontroentrePauloVIeGoldaMeirduraria35minutos,queposteriormente se trocariampresentes eque emnenhummomento se regeriaporumaagendaespecífica,significandoapossibilidadedesertratadoqualquertemaporambasaspartes.AsegurançaficarianasmãosdoMossad,lideradoporZamir,edaSantaAliança,emcontatocomoserviçodeespionagemitaliano.[70]

Aagendadaprimeira-ministradeIsraelestavaprogramadaatéoúltimodetalhe.Segundooplano,MeirdeviavoarparaParisduranteosdias13e14dejaneiroparaassistiràConferênciadaInternacionalSocialista,edaliviajariaaRomaemumaviãosem identificação alugado pela El Al. Os acompanhantes de Golda Meir seriaminformados do destino final apenas durante a viagem. Depois da reunião com oSumoPontífice,Meir viajaria até aCosta doMarfimpara se reunir durante doisdiascomopresidente,FélixHouphouët-Boigny,edepoisregressariaaIsrael.

ZamirdecidiraviajarumasemanaantesparaRomaafimdeprepararasmedidasdesegurançaeestabelecercontatocomosagentesdaSantaAliança.MikeHarari,oresponsávelpelaequipedeassassinosdaMetsada,foiinformadotambémdaviagemdeMeirpeloprópriomemuneh.Paraele,aCidadeEternaeraumcenáriofavorávelpara um ataque de terroristas árabes. Desde o ataque à delegação israelense nosJogosOlímpicosdeMunique,acapitalitalianatornara-seumacidadedeencontrodeterroristasàprocuradeumaboainformaçãoedetraficantesdearmasembuscade um bom cliente. Apenas alguns meses antes, em 16 de outubro, os kidon deHarari tinhamexecutadoWaelZwaiter,umintelectual, tradutordeAsMil eumaNoitesparaoitalianoeumdoshomensdoSetembroNegronaItália.[71]

OsintermediáriosentreoMossadeaSantaAliançaeramMarkHessner,daparteisraelense,eopadreCarloJacobini,dapartedaEntidade,nomepeloqualomundodaespionagemconheciaoserviçosecretodoVaticano.ShaiKauly,katsaresponsávelpelaestaçãodeMilão,sejuntariaaHessner.Numencontrosecreto,Jacobini,KaulyeHessner forampostos a par, porZviZamir, de todos os detalhes da viagemdeGoldaMeirafimdesereunircomoPapaPauloVI.Eraevidentequenãopoderia

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havernenhumequívocodeinformaçãosequisessemevitarumatentadocontraMeirpeloshomensdeAliHassanSalameh,oPríncipeVermelho.

Umdia depois, o serviço de contraespionagem vaticano, oSodalitium Pianum,informouaJacobiniquealguém,possivelmentealgumsacerdoteligadoàSecretariade Estado, transmitira uma informação sobre Meir a um contato em Romaconhecido por suas relações com o Setembro Negro. A Santa Aliança informouZamir sobre o vazamento de informação. O memuneh chamou primeiro AharonYariv.PrecisavadeumbomaliadoparaconvencerGoldaMeirdequetalvezfosserecomendável cancelar o encontro com Paulo VI. Por conhecer bem a primeira-ministra,YarivsabiaqueumasimplesameaçanãoafariavoltaratrásemsuadecisãodeconseguiroreconhecimentodeIsraelpeloVaticano,aindaquetivessedeassumiro risco de um atentado pelo mesmo grupo terrorista que, meses antes, ousaraassassinarosatletasisraelenses.AúnicarespostadeMeiraZamirfoi:“Memuneh,oseutrabalhoéevitá-lo.Israelnãopoderecuarporcausadeumaameaça”.

Paraasegurançadareunião,oVaticanodestacououtrosacerdote,umespecialistaem assuntos de contraespionagem que pertencia ao Sodalitium Pianum, o padreAngelo Casoni. Foi ele quem havia descoberto que a informação da viagemclandestina de Golda Meir para se encontrar com o Papa Paulo VI poderia terchegadoàsmãosdeAbuYussef.[72]CarloJacobini,daSantaAliança,eZviZamir,doMossad,sabiamque,maiscedooumaistarde,algumgrupoterroristaapareceria.[73]

YussefenviaraumcomunicadoaAliHassanSalameh,oPríncipeVermelho,lídersupremodogrupoterroristapalestinoSetembroNegroecérebrodaoperaçãocontraosatletasemMunique.Otextodocomunicadodizia:“AcabemoscomaquelaquederramanossosangueportodaaEuropa”.[74]

O modo e o local exato do atentado contra Meir dependiam única eexclusivamente de Salameh.Enquanto para oPríncipeVermelho o assassinato deGoldaMeirseriaumasurpresaaterradoranalutacontraosisraelenses,paraYussefimplicavaumaoportunidadeespetaculardedemonstraraomundoqueoSetembroNegrocontinuavaaserumpoderosogrupoterroristaaseconsiderar.OassassinatodalíderisraelensenoVaticanocolocariaogruponasprimeiraspáginasdetodososmeiosdecomunicação.[75]

Em10dejaneiro,cincodiasantesdareunião,omemunehZviZamireoskatsaMarkHessnereShaiKaulyforamconduzidosnumcarropretopelasruasdeRomarumoaoVaticano.Osguardassuíçosqueprotegiamoportãobateramcontinênciaenquantoo automóvel adentrava a área administrativadaSantaSé.Ao saíremdocarro, o padre Carlo Jacobini os esperava. Zamir sabia, pelo relatório que tinha

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sobreJacobini,queosacerdoteestudaranosEstadosUnidosequesuaexperiênciaeminteligência foraadquirida fazendovárioscursosemLangley,oquartel-generaldaCIA,noEstadodaVirgínia.

OagentedaSantaAliançafalavafluentementeseislínguasedentrodoVaticanoeraconsideradoumautêntico“nobre”devidoàrelaçãofamiliarcomaltosmembrosdaCúria romana, comoo cardealDomenicoMaria Jacobini, o cardeal LudovicoJacobini,secretáriodeEstadodoPapaLeãoXIII,eocardealAngeloJacobini.ZviZamir sabia que o jovem espião era, sem dúvida, um bom contato para semovimentarpeloscorredoresdoVaticano,aindamaisdepoisdaperdadeconfiançadaEntidadeemrelaçãoàCIA.[76]

NadasesabiadareuniãosecretarealizadanoVaticanoentreoMossadeaSantaAliança.AoatravessarapraçadeSãoPedro,omemunehdisse aomotoristaqueolevasseaoaeroportoparaquetomasseumaviãoparaTelAviv.

NoInstituto,nomepeloqualéconhecidooserviçodeinteligênciaisraelense,jásesabia,pormeiodopadreAngeloCasoni,queAliHassanSalamehforainformadodaviagem de Golda Meir a Roma e que deviam estar preparados para evitar oatentado.

Aomesmotempo,aestaçãodoMossademLondresinformouaMikeHarariquetinhamrecebidoumtelefonemadeumhomemquediziasechamarAkbar.Esteeraum “agente antiquado” que chegara à capital britânica para estudar economia.AkbarmantinhaótimasrelaçõescomacúpuladaOLPemLondres.

O relatório chegou à mesa de Harari em Tel Aviv por intermédio do códigoBerman, usado por todas as estações do Mossad. O chefe da Metsada pediu aoSaifanim, o Departamento encarregado de recolher informações sobre a OLP, odossiêsobreAkbar.Depoisdealgunsminutos,umaamplapastamarromcomváriosselosnacapaestavadiantedeMikeHarari.Aoabri-la,ochefedaMetsadadescobriuorostodopalestinoquesediziachamarAkbar.Umafotografiadetamanhograndecolocadana parte superior do relatório e outras trêsmenores na parte inferior dafolhamostravamorostodohomemquetelefonaraparaaestaçãolondrinaafimdepôroMossademguardaemrelaçãoàsegurançadeGoldaMeir.[77]

Sempre que se recebia uma informação de uma fonte da OLP, por maisextraordináriaquefosse,oskatsadoMossaddeviaminformaraMetsadaeaApam.Umavezqueambososdepartamentosconfirmassemasegurançadafonte,okatsa,vigiadopordoiskidondaMetsada,estabeleciacontato.[78]

AkbarsuspeitavadequeoSetembroNegropreparavaumaoperaçãoimportante,enão havia dúvida de que queria dinheiro. Harari recomendou a Zamir que, atésaberemdoquesetratava,nãoseinformasseoserviçodeespionagemdoVaticano.

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O encontro deveria se realizar em Paris. Para isso, a segurança do Mossad omarcounaestaçãodemetrôPyramides.OdepartamentoparisiensedeespionagemisraelensecomeçouaseguirrigorosamenteAkbar.OutrostrêskidondaequipeAyin,lideradosporHarariedestacadosparaaOperaçãoIradeDeus,seguiamtambémoinformantepalestino.

UmavezestabelecidocontatocomAkbar,okatsadoMossadperguntou:“Queméoalvo?”.“Umdosseus”,respondeuAkbar.

NasfacçõesdoMossadespalhou-seopânico.Porumlado,oskidondaMetsadaexecutavamaquelesmembrosdoSetembroNegroligadosaoatentadodeMunique;poroutro,oskatsadoMossadtinhamdesaberoquantoantesaidentidadedoalvodosterroristaspalestinos.[79]

Nodiaseguinteaocontato,AkbarvoltoualigarparaaestaçãodeParisafimdeinformarquedesejavamarcaroutroencontrocomosisraelenses.Destavez,olocalescolhidoseriaRoma.

O encontro entre um katsa e Akbar ocorreu numa rua do centro da capitalitaliana.OinformanteárabedisseaoagentequeoSetembroNegropreparavaumatentadocontrauma figura importantedoEstadode Israel equeaindanão tinhanenhuma informação sobre a identidade do alvo.Harari, já emRoma, diante davisita de Golda Meir, decidiu pedir ao memuneh que a convencesse a cancelar aviagem. De acordo com o chefe da Metsada, um agente do KGB informara-oextraoficialmentequetinhamdetectadomovimentaçãodepalestinos,constantesnosarquivosdaespionagemsoviética,emdiversospontosdaItália.

Zvi Zamir ignorou as recomendações de Harari porque, para ele, os gruposterroristas tinham uma relação especial com oKGB. EmMoscou, educavam-nospoliticamente e os treinavam para assassinar e preparar explosivos, que depoiscolocavamemcentroscomerciaisouemterminaismovimentadosdeaeroportos.

TantooMossadquantoaSantaAliança sabiamquenãopodiamcontar comoKGBparalocalizarosterroristasdoSetembroNegroincumbidosdeatentarcontraavidadeGoldaMeir.Sequisessemevitaroatentado,teriamdecorrerelesmesmoscontraorelógio.

Os soviéticos não revelariam que os homens de AliHassan Salameh contavamcommísseisdefabricaçãorussa,escondidosnumarmazémindustrialemumportoiugoslavo,equeseriacomelesquetentariamabateroaviãodeGoldaMeirquandoeste estivesseprestes a aterrissarno aeroportodeFiumicino.Oplano era simples.Consistia em embarcar os mísseis Strela, do tipo SA-7, num navio industrial noportodeDubrovnikelevá-losaoportodeBari,noAdriáticoitaliano.Daliseriam

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transportadosnumcaminhãoatéRoma,aguardandoentãoachegadadaprimeira-ministradeIsrael.

Para introduzir os mísseis na Itália, o próprio Hassan Salameh percorreudiferentesbaresnoportodeHamburgo.Lá,contratouumalemãomaisinteressadoemganhardinheiro rápidodoqueemfazerperguntas indiscretas,e tambémduasjovenscomdesejodeaventuraemtrocadeumcruzeiropeloAdriático.Nãohavianecessidadedesaberemqualoconteúdodascaixasqueguardariamemseusporões.

Oalemãoe asduasmulheres tinhamapenasque sedirigir aumapequena ilhapertodeDubrovnik,esperarquealgunssujeitoslevassemascaixasparaosporõeseregressaraumapraiadesertaanortedeBari.Ali,doishomensporiamascaixasnumfurgãoFiatelhespagariamumaboaquantiaemdinheiro.

Umdoshomensdisseaoalemãoquedeviaancoraralipertoeesperarpornovasinstruções. Naquela noite, enquanto o alemão e as duas mulheres amargavam aressacadeumafesta,trêshomensseaproximaramdobarconumboteinflável.Doisdeles,enviadosporAliHassanSalameh,seaproximaramdoalemão.Omarinheiro,aindasoboefeitodaressaca,viuumdosrecém-chegadossacarumpunhale,comum movimento rápido, cortar-lhe o pescoço. O segundo assassino desceu pelasestreitasescadasedescobriuasduasmulheresdeitadasnamesmacama.Colocouosilenciadornabocadaprimeiramulheredisparou.Osomsecoacordouasegunda.Ohomemtevetempodeencostarocanodaarmanacabeçadelaedisparar.

Emseguida,osterroristasdoSetembroNegroenviadosporSalamehrebocaramobarco e,quandoestavamamaisdeduasmilhasda costa, abriramumabrechanaquilhaeoafundaramcomostrêscadáveresládentro.[80]

O furgão Fiat, carregado com os mísseis, viajou até Roma por estradassecundárias,atravessandoascidadesdeAvelino,Terracina,AnzioeOstia.

ZviZamir,MikeHararieopadreCarloJacobinicontinuavamatrabalharladoaladoparadescobrirquandoecomoseriaoataque.[81]

Os mísseis de fabricação russa foram construídos com base no sistema norte-americano Redeye. Os foguetes eram disparados em direção ao alvo por umlançador de aproximadamente dez quilos apoiado sobre o ombro. Cada míssil,pesando nove quilos, possuía um sólido e rápidomotor, além de um sistema deorientaçãopassivaporinfravermelhos.Essetipodemíssileratotalmenteinútilsesedesejassederrubarumcaça,mas,seoalvofossemaispesadoelento,comoumaviãoBoeingcomercial,seriaextremamenteeficazeletal.

ParadesviaraatençãodoMossaddeMeireRoma,oPríncipeVermelhodecidiurealizarumataque-surpresacontraIsraelnessasmesmasdatas.Em28dedezembro

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de 1972, um comando do Setembro Negro atacou a Embaixada de Israel emBangcoc.[82]

AngeloCasoni,doSodalitiumPianum,dissequeumadesuasfonteslheindicaraque o assalto do SetembroNegro à delegaçãodiplomática israelense naTailândianãoeranadaalémdeumaformadedistrairaatençãodaopiniãopública.Jacobininãoacreditava,masZamirsim.[83]OMossadsabiaquejamaispoderiamlibertarosreféns com um ataque de comandos israelenses, e Golda Meir também nãopermitiria que os tailandeses entrassem na Embaixada aos tiros.No final, e apóshoras de negociação entre o embaixador do Egito na Tailândia e o chefe docomando, concederam-se salvo-condutos aos integrantes do grupo de assalto parasaíremdopaísrumoaoCairo.CarloJacobinirecomendounãobaixaraguardaanteapossibilidadedeumataqueemsolovaticanocontraalíderisraelense.Oshomensdo Setembro Negro estavam bem treinados, motivados e financiados, e tambémeramfamosospelaextremaviolência.Deixavamsempreumcadáverparatrás.

Nasprimeirashorasdodia14dejaneiro,umdiaantesdoencontroentrePauloVI e Golda Meir, um agente do Sodalitium Pianum informou ao padre AngeloCasoni que um informante seu em Bari lhe transmitira que circulava um boatosobre uma operação por parte de guerrilheiros palestinos em solo italiano. Aomesmotempo,umsayan[84]informouàestaçãodoMossadnaEmbaixadadeIsraelna Itália que ouvira uma conversa na qual um sujeito com nítido sotaque árabegarantia a outro, tambémcomomesmo sotaque, que empouco tempo receberiaum“montedevelas”.

Nessemesmodia,aestaçãodoMossademLondrescomunicouaZviZamirqueoutroinformanterevelaraqueoalvodoSetembroNegroseriadestavezumcidadãoisraelense.OchefedoMossadtinhacertezadequeo“montedevelas”referidopelocontatopodiamsermísseis,masZviZamirestavacertodeque tantoGoldaMeirquantoPauloVIjamaiscancelariamoencontro.

ZamirchamouHessner,membrodaMetsada,eKauly,e solicitouumareuniãocom os padres Jacobini e Casoni. Os serviços secretos do Vaticano deviam serinformadosdecadapassodaoperação,ecomcertezaaSantaAliançatinhamelhoresfontesnacidadedeRomadoqueosserviçossecretosisraelenses.[85]

Ali Hassan Salameh, conhecido pelo codinome Abu Hassan, o PríncipeVermelho,eraumhomemculto,diligenteecruel.Diz-sequematouomeio-irmãocomumtironoolhoquandodescobriuqueestepassavainformaçãoaumafacçãodissidente palestina. Salameh era casado com uma belíssima libanesa, GeorginaRizak,queforaMissUniversoem1971.[86]

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Deacordo comoMossad, oPríncipeVermelho estavapor trás da tentativadeassassinatodeGoldaMeir;porém,paraaSantaAliança,eradifícilqueoterroristapalestino semovimentasse pela cidade de Roma sem que tivessem conhecimentodisso.

O dia em que o encontro deveria se realizar, 15 de janeiro, amanheceu frio echuvoso.TantooMossadesuasunidadesdaMetsadaquantoaSantaAliançaeaDigos,unidadeantiterroristaitaliana,estavamemestadodealertamáximo.OpadreCarloJacobinitinhacertezadequeoSetembroNegronãodeixariaMeirsairvivadeRomae,assim,informouoPapaPauloVI.ZamireMikeHararisabiamque,seoataqueenvolviamísseis,oúnicolugaremquepoderiamusá-loseranasimediaçõesdo aeroporto e, definitivamente, quando o avião estivesse aterrissando oulevantandovoo.SeriamelhordispararumSA-7acurtadistância,vistoqueomíssilseguiriao rastrodocalordas turbinasdoavião e, assim, aporcentagemdeacertoseriamaior.

OMossadeaSantaAliançacolocaramagentesnoaeroportoenasproximidadesparavigiarqualquermovimentosuspeito.[87]

Enquanto os agentes do Vaticano tinham recebido ordens de entregar osterroristasàsautoridadesitalianas,osisraelensestinhaminstruçõesexpressasdeZviZamirparaexecutartodososqueencontrassemnocaminho.

OprimeiroalertachegoupoucashorasantesdachegadadeGoldaMeir.Quandovigiavam os arredores das instalações aeroportuárias, um agente do SodalitiumPianum avisou o padre AngeloCasoni que avistara um furgão perto de uma daspistasmaisdistantesequeseaproximaraparaperguntarseprecisavamdeajuda.Oshomens dentro do veículo responderam com tom de voz nervoso que já tinhamavisadoqueprecisavamdeumguincho.Casoni chamouZamir,Harari eHessnerporrádio,eestespartiramparao local.Aochegar,descobriramtrêshomensnumfurgão Fiat bege, supostamente avariado e muito distante da estrada. Hararisuspeitoudeimediato.“Ninguémsedistanciatantodeumaáreadecirculaçãoseoqueesperaéumguincho”,pensou.

Armados, os israelenses aproximaram-se de onde o veículo estava estacionado epediramaomotoristaquesaísseeseidentificasse.Nessemomento,aportadetrásseabriu e começouuma chuva de balas.Harari deuum salto para trás e, enquantocaía, disparou várias vezes. Um dos disparos arrancou uma orelha de um dosterroristas.Hessner,queestavaagachado,apontouaarma,atravésdajanela,paraointeriordocarroepassouadispararàscegas.Umabalaatravessouoombrodireitodosegundoterroristaeasegundalhedestroçoupartedabochechaesquerda.Ambososterroristasficaramgravementeferidos,numchãoencharcadodesangue.

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Os agentes do Mossad conseguiram sair ilesos do tiroteio, mas, durante oconfronto,omotoristaconseguirafugirapé.UmaequipedaMetsadaquevigiavaseuchefeperseguiuoterroristafugitivoeconseguiucapturá-loquandotentavasaltaragradedeacessoàspistasdoaeroporto.

Entre socos, introduziram-no num carro. Na frente, sentaram-se Hessner, aovolante, e Jacobiniao lado.Atrás sentaram-seZamireHarari como terroristanomeio.OmemunehdoMossadperguntavainsistentementeaopalestinoalocalizaçãodosoutrosmísseis,enquantooagrediaacoronhadas.OativistadoSetembroNegrosorria,garantindoquejamaisdirianada,mesmoqueomatassemalimesmo.Harariengatilhousuaarmae,enrolando-anocasaco,fezmençãodedispará-lanacaradoterrorista.OagentedaSantaAliança,contudo,impediuaexecução.

Quando a forma do avião em que viajava Golda Meir se avistou ao longe, osagentes viram outro furgão branco perto da pista norte, cujo teto havia sidoadaptado,podendosevislumbrarneleespéciesdetubosapontadosparaocéu.

Hessnerpisoufundonoaceleradorebateunumadaslateraisdoveículo,fazendo-ocapotar.Dentro,doismembrosdoSetembroNegroficarampresossobosmísseiseos lançadores.Zamirpediuentãoaopadre Jacobiniquedessemavoltapara eleexecutaros terroristas,mas,antesquepudessedisparar,oagentedaSantaAliançadisse ao chefe do Mossad que, se os matasse, ele não teria alternativa a não serinformaroSumoPontífice,equeIsraelficarianovamentenumaposiçãodifícil.[88]ZamirpreferiunãocolocarmaisumobstáculonascomplicadasrelaçõesentreIsraeleoVaticano,decidindoentregá-losàDigos.CincoterroristasdoSetembroNegroficaramforadecombateenasmãosdasautoridadesitalianas.

Golda Meir conseguiu se reunir com o Papa Paulo VI, e, embora o pontíficetenha assegurado que não era o momento indicado para estabelecer relaçõesdiplomáticas,comprometeu-seavisitaraTerraSanta.AosairdoVaticano,GoldaMeir disse a Zvi Zamir que “o relógio do Vaticano é diferente do do resto domundo”,etalvezestivessecerto.

OfracassonatentativadematarGoldaMeirimplicouparaoSetembroNegroeseulídersupremo,AliHassanSalameh,umaderrotamaismoraldoqueefetiva.OPríncipeVermelhoansiavaporvingança,eseualvoseria,nadamais,nadamenos,doqueopróprioMossad.HassanSalamehqueriadeixarbemclaroaos israelensesqueeracapazdedarumcontragolperápido,eficazedemolidor.

O alvo seria um homem de negócios chamadoMosheHanan Yshai, quemaistardesedescobririaser,narealidade,umkatsade37anoschamadoBaruchCohen.[89] O agente, um israelense que falava árabe, trabalhara durante anos para o

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governadormilitardeNablusdepoisdaGuerradosSeisDias.CohenfaziapartedocomandoquehaviatentadocapturarYasserArafat.[90]

Em 1970, juntou-se ao Mossad, sendo enviado a Bruxelas com a missão deestabelecercontatocomjovensárabesqueestudassememuniversidadeseuropeias.Pouco depois, seria destacado para Madri a fim de tentar recrutar um jovemestudantepalestino.

Durante dias, o próprioCohen seguiu o árabe passo a passo.O certo é que oindivíduonãolevantounenhumtipodesuspeitaaokatsa,eessefoiseuerro.

Em 26 de janeiro de 1973, por volta das 10h15,Cohen conseguiu estabelecercontatocomopalestinode25anosnocaféMorrison,localizadonaavenidacentralde José Antonio (atualmente Gran Vía). Em dado momento, enquantoconversavam,oárabemeteuamãodentrodocasacoe,diantedaexpressãosurpresado katsa, tirou uma arma com silenciador e disparou quatro vezes. O agente doMossad ficou estendido no chão, gravemente ferido, em meio a uma poça desangue. Levado para o hospital Francisco Franco, morreu na mesa de cirurgia,tornando-se assim o primeiro homem do serviço de espionagem israelenseassassinado na Europa.[91] Mas o Setembro Negro não queria deixar nenhumapontasolta.

Akbar, o informante do Mossad, estava absolutamente convencido de que osassassinosquetrabalhavamparaHassanSalamehotinhamdescoberto.Suaprimeirareação foi fugir de Londres, mas sabia que os homens do Setembro Negro oencontrariamondequerqueseescondesse.

Akbar telefonouentãopara seucontatodoMossad,naEmbaixada israelensedacapital britânica, informando-o que fora descoberto e precisava de uma grandequantiadedinheiroparafugir.OkatsarespondeuqueantestinhadeconsultarTelAviv.

ZviZamirordenouque,antesdelhedardinheiro,AkbartirassedosescritóriosdaOLP na Grã-Bretanha uma série de documentos e os entregasse ao Mossad emLondres.Okatsa voltoua contatarAkbar e lhe transmitiu asordens recebidasdopróprio memuneh. Akbar sabia que, se entrasse na delegação palestina, o maisprováveleranãosairvivodelá.

O agente do Mossad foi contundente em relação ao pagamento. Semdocumentos,nãohaviadinheiro.Akbaraceitou.

Emcertatarde,oárabeinformouseucontatoisraelensequetinhaemseupoderosdocumentosexigidos,elhepediuquenopróximoencontrolevasseodinheiro.OlocalescolhidofoiumaesquinadeHydePark.OsagentesdoMossaddistribuíram-

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se emdois veículos.Noprimeiro, viajaramokatsa e doismembros daApam;nosegundo,doiskatsaeumkidondeHarari.

Akbarentrounoautomóveleatirouapastadecapamarromnobancodafrente.O katsa pegou a pasta para confirmar a autenticidade dos documentos. Nessemomento,umsomcolocouAkbaremestadodealerta.Então,gritou:“Nãoabra!”.Umagrandeexplosãoelevouocarroalgunsmetrosnoar.Todososseusocupantes,menosomotorista,morreram.Omotoristapermaneceuemestadovegetativopelorestodavida.

Os agentes do Mossad que iam no segundo veículo puderam apenas sertestemunhasdomodocomoooutrovoavapelosares.Novamente,oMossadsentiana pele que amão de AliHassan Salameh e do SetembroNegro era tão grandequantoadeMikeHararieseuskidondaMetsada.[92]

AssuspeitasdoSodalitiumPianumsobreoindivíduodaSecretariadeEstadodoVaticanoquepoderia terpassadoa informaçãoaos terroristasdoSetembroNegroem relação à viagem secreta deMeir recaíram sobre o padre Idi Ayad.O que oMossadnãosabia,eporventuranuncadescobriu,équeAyadera,narealidade,nãosóumagentedaSantaAliançacomotambémumintermediáriooficialentreoPapaPauloVIeacúpuladaOLP.[93]

Entretanto, num escritório perdido nos corredores do Vaticano, um homempunhaumselonumapastacomonomeOperaçãoJerusalémeordenavasuaentregaaos Arquivos Secretos, localizados na Biblioteca Vaticana. Para o mundo, aquelaoperaçãodecorridacontrao tempodaMetsadapara salvaravidadeGoldaMeiremsuavisitaàSantaSésimplesmentenuncaexistiu,emboraaguerraeasexecuçõesàs sombras continuassem como vingança da morte de onze atletas nos JogosOlímpicosdeMunique.

OscincoterroristasdoSetembroNegro, integrantesdocomandoquetentaraacabarcomavidadeGoldaMeirno aeroportodeRoma,detidospeloskatsa doMossad, forampostos em liberdadepelas autoridadesitalianaspoucodepois e enviadosàLíbia.Ali, tal comoacontecera comos sobreviventesdocomandoquetinha assassinado os atletas israelenses emMunique, foram recebidos comoheróis.Meses depois, amaiorpartedelesseriaexecutadapelosassassinosdaMetsada.

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D esde que a primeira-ministra de Israel, Golda Meir, dera carta branca àOperaçãoIradeDeusnomêsdesetembrode1972,oskidondaMetsadajá

tinhamexecutadomaisdeumadezenademembrosdogrupo terroristaSetembroNegroportodaaEuropa.

Contudo, aMikeHarari, o chefedaMetsada, restouum sabor amargopor tersidopossívelatingirapenasmembrosdepequenaoumédiaimportânciadentrodarede terrorista. Para os assassinos de Israel, apareciam três novos nomes na lista,autorizada por Golda Meir, de palestinos a executar. O primeiro era MohamedYussefAl-Najjar,conhecidocomoAbuYussefeonúmerotrêsdaAlFatahdepoisdeYasserArafateAbuIyad.NajjareraochefedeoperaçõesedeinteligênciadaAlFatahparaataquesterroristasnoestrangeiro,figuradoaltocomandodoSetembroNegroeumdosidealizadoresdoataquedeMunique.OsegundoeraKamalAdwan,chefedeoperaçõesdaOLPedecélulas terroristasemGazaenaCisjordânia.EoterceiroalvoeraKamalNasser,porta-vozoficialdaOLPecomaltaposiçãodentrodoSetembroNegro.OstrêsviviamemcasasfortificadasnacidadedeBeirute.[94]

OgovernoisraelenseautorizaraZviZamireMikeHarariaeliminaroslíderesdaOLP como fizeram com seus ativistas executados em Roma, Paris e Nicósia.Quandodecidiramquaisseriamostrêsnovosalvosesualocalização,Harariafirmouque para o cumprimento da missão seria necessária uma força combinada decomandosdoexércitoedealgunskidondaMetsada.Durantealgumassemanas,asequipesdaOperaçãoIradeDeusseconverteriamemautênticossoldados,noquesechamariaOperaçãoPrimaverada Juventude.Emboraos assassinatosdevessem serexecutadosporagentesdoMossad,oscomandosdaUnidade(SayeretMatkal)[95]

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seriam os dirigentes da operação. Em fevereiro de 1973, o comandante desseesquadrão era o tenente-coronel Ehud Barak, o mesmo que 26 anos depois setornariaprimeiro-ministrodeIsrael.

Barak tinha sido convocado para uma reunião secreta emKirya,[96] o quartel-generaldoexércitodasFDI,emTelAviv.Aoentrarnagrandesalademapas,Barake os segundos no comando,Muki Betser e YoniNetanyahu,[97] encontraram-secom outros assistentes importantes. Ao redor da mesa estavam Moshe Dayan,ministro da Defesa, Aharon Yariv, conselheiro de Golda Meir para assuntos decontraterrorismo,HaimBar-Lev,ex-chefedoEstado-Maior,DavidElazar,chefedoEstado-Maior, o coronel Shaul Ziv, comandante do Comando da Marinha, ZviZamir,memunehdoMossad,eMikeHarari, líderdaMetsadanaOperaçãoIradeDeus.[98]

Yariv atirou três volumosas pastas na direção de onde estavam Barak, Betser eNetanyahu.OcomandantedaUnidadeleuosnomesqueapareciamnascapas:AbuYussef, Kamal Adwan e Kamal Nasser. Os três militares reconheceram rostos enomes.

Os palestinos estavam envolvidos não só nas operações terroristas do SetembroNegromas tambémem suasdecisões.Elazarobservava sobre amesadois grandesplanosdeedifíciossituadosemplenocoraçãodeBeirute.OchefedoEstado-MaiorpediuaBarakqueseaproximasse.Nosplanospodiamseverasplantas,osperfisdosedifícioseanotaçõesescritasàmãopeloskatsadoMossad.

Num dos edifícios, situado na rua Jartum, encontrava-se o quartel-general daFrenteDemocráticaparaaLibertaçãodaPalestina(FDLP)deNayifHawatme.Emoutro,localizadonaesquinadaruaVerdún,nobairroexclusivodeRamlatal-Bida,muitopertodaruaHamra,principalartériacomercialdacapitallibanesa,residiam,no segundo andar, Kamal Adwan e, no terceiro, Kamal Nasser. Num edifíciosituadoàfrente,namesmarua,nosextoandar,viviaAbuYussef.“AUnidadeseráresponsávelporajudaroskidondeHarariaentraremBeirute,executarostrêsalvosevoltarsãosesalvosaIsrael”,disseDavidElazar.[99]

OskatsadoMossadtinhamtodaainformaçãonecessáriapararealizaraoperação.Plantas dos edifícios, retratos dos alvos, segurança e número de guarda-costas decada um deles, fotografias das ruas de diferentes ângulos, número das placas emodelosdosveículosemquesemovimentavamecoisasdogênero.Oscomandosda Sayeret Matkal tinham pleno conhecimento da situação das praias em quedesembarcariam seus homens, dos postos policiais de Beirute e dos quartéis dasdiversasfacçõesquecontrolavamacapitaldoLíbano.

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Baraknãoqueriaque,emplenaluta,chegassemaolocalguerrilheirosdealgumafacção palestina e os encurralassem. Isso implicaria morte certa para ele, seuscomandoseosagentesdoMossad.

OchefedaUnidadedecidiuqueaincursãonãoseriarealizadacomhelicópteros,mascompotentesbotesinfláveisvindosdeumabasenavalaonortedeIsrael.Diasantes, Barak e Betser entrariam em Beirute fazendo-se passar por turistas.NetanyahuseencarregariadecoordenarodesembarquedoscomandosedeprotegeroskidonquedeveriamrealizarasexecuçõesdosalvosdaOLP.

Ao sair do quartel-general do exército israelense, os trêsmilitares entraram nosveículos e se dirigiram em completo silêncio ao quartel da Sayeret Matkal. Àprimeirahoradamanhãseguinte,MukiBetser,comolíderdaprimeiracompanhia,reuniu seus comandos e lhesdeu informações sobre amissão cuja incumbência ogoverno de Golda Meir acabava de lhes passar. “Fomos notificados de que ogoverno decidiu atingir e executar cada um dos efetivos ou comandantes quetiveramalgumaligaçãocomoqueaconteceuemMunique”,disseBetser.“Seioquesesentesendoisraelenseemuitomaisquandoseésoldado.Apartirdeagora,nossaunidade conduzirá uma guerra total contra cada uma das organizações terroristasqueantesnosatacaram.”[100]

MukiBetsernasceranacidadedeNahalal,noValedeJezrael,ecresceranoseiode uma cooperativa agrícola fundada pelos avós. Em1964, juntara-se ao exércitoisraelense, tornando-seumdosmelhorescomandosdaUnidade.EraumdosmaiscontundentesdefensoresdoassassinatodosresponsáveispelamortedosonzeatletasnaAlemanha.SeriaopróprioBetserquembatizariaaoperaçãoconjuntadaSayeretMatkaledaMetsadacomonomede“PrimaveradaJuventude”.

SobasordensdosvelhosBetsereNetanyahu,oscomandoseoskidon treinaramarduamente durante semanas. Na base do Comando da Marinha levantaram-seestruturassemelhantesàsdosdoisedifíciosdeBeirutequeabrigavamostrêsalvos.Aforçacombinadadeviaterclaroqueamissãoteriaêxitoseseguissemasdiretrizesàrisca: entrada nos edifícios, neutralização rápida da resistência, chegada ao alvoassinaladoesaídarápidaparaentrarnosveículos,chegaràpraiapelasrotasdeacessoestabelecidas a fim de entrar nos botes e então regressar a águas territoriaisisraelenses.[101]

Cinco equipes, cada uma formada por quatro homens, foram designadas paraassassinarumdosalvos.AequipeAvivah, sobasordensdo tenente-coronelEhudBarak, com comandos e kidon da Metsada sob as ordens dos majores YoniNetanyahu eMukiBetser, se encarregariamdo assassinatodeAbuYussef,KamalAdwaneKamalNasser.AGilah,sobasordensdotenente-coronelAmnonShahak,

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trataria da destruição do complexo da FDLP na rua Jartum. A Vardah, sob asordensdocoronelShaulZiv,doscomandosnavaisdoquartel-generaldaAlFatah.ATzilah,sobasordensdocoronelShumelPressberger,dadestruiçãododepósitodemuniçõesdaAlFatahnumportoanortedeBeirute.EaYehudit,sobasordensdo tenente-coronel Amos Yarom, de outro depósito de munições da Al Fatah anortedoportodeSidon.

ABetser, junto a outro comando e doiskidon, foi confiada a tarefa, dentrodaequipeAvivah,de executarAbuYussef, o terceirohomemmais importantedaAlFatah. Este andava sempre fortemente protegido pelos homens da Força 17, aguardapretorianadaOLP,eissoerauminconvenienteparaosisraelenses.Oquejáera evidente é que a Operação Primavera da Juventude teria repercussõesinternacionaiseregionais,entreelassançõesdeWashingtonedasNaçõesUnidas,masumgolpedesorteparaogovernodeGoldaMeirajudariaasuavizaressareação.

Na tarde de 1º demarço de 1973, um comandodo SetembroNegro atacou aEmbaixadadaArábiaSauditaemJartum.Nessemomento, celebrava-seuma festaemhonradeGeorgeMoore,osegundonocomandodamissãonorte-americananoSudão. Para os terroristas do Setembro Negro, os sauditas eram colaboradorespróximosdosnorte-americanose,portanto,contraos interessesdacausapalestinanaregião.

Alguns dos convidados conseguiram escapar pelos jardins da residência quandoviram chegar vários homens armados com granadas nas mãos. Outros, pelocontrário, não tiveram tanta sorte. Entre o grupo de reféns que ficaram cercadosdentrodaEmbaixadaencontravam-seCleoNoel,oembaixadornorte-americanonoSudão, George Moore, seu segundo homem no comando, Guy Eid, conselheiropolíticodaEmbaixadabelga,eosconselheirospolíticosdasEmbaixadasdaArábiaSauditaedaJordânia.

Os integrantes do grupo de assalto exigiam a libertação de uma dúzia deterroristas alemães e palestinos, principalmente do SetembroNegro, que estavamconfinados em prisões europeias e israelenses. Golda Meir já tinha se mostradocontrária a negociar com eles na ocasião da crise de Munique. Agora era opresidenteRichardNixonquemsenegavaanegociarcomosterroristasnacrisedeJartum.

Enquanto o presidente egípcio Anwar el Sadat tentava encontrar uma soluçãoparaacrise,osterroristassepararamoembaixadorNoel,MooreeobelgaGuyEiddogrupodereféns.Numasalacontígua,obrigaram-nosasecolocaremdejoelhos,eummembrodocomandoosexecutoucomumtironanuca.[102]

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Enquanto,nosEstadosUnidos,celebravam-seosfuneraisoficiaisdoembaixadorNoeledeGeorgeMoore,aAdministraçãoNixonfezchegaraGoldaMeiranotíciadequeseupaísfechariaosolhosdiantedeumaoperaçãodevingançacontraaOLPe o Setembro Negro, o que resultou no sinal verde à Operação Primavera daJuventude.

Em1ºdeabrilde1973,umturistabelgade35anoschamadoGilbertRimbaudalugouumquartonohotelSandsdeBeirutepara“descansaralgunsdias”;omesmoalegouoturistaalemãoDieterAltnuder.OprimeiropertenciaàSayeretMatkal.OsegundoeraumkidondaMetsada.

Em6deabril,ohotelSandsrecebeutrêsnovosturistas,doisingleseseumbelga:AndrewWichelaw,GeorgeEldereCharlesBoussard.Oskatsaalugaramquartosemoutroshotéiscomescadasdeemergêncianosfundos,algomuitoútilsetivessemquefugir rapidamente. Também alugaram seis veículos com os quais realizariam aoperaçãoequeabandonariamnapraiaantesdaevacuação.AfrotaeracompostaporumRenault 16, três Buicksmodelo Skylark branco, umPlymouth e um furgão.Outro turista com passaporte britânico, AndrewMacy, reservou quarto no hotelAtlantic.

Estavaprevistoqueaoperação fosse realizadaduranteanoiteparanão levantarsuspeitas nos funcionários dos hotéis; um dos kidon que viajava com passaportebritânicocomentouemvozaltaduranteocafédamanhãqueumdeseusmaiorespassatemposeraapescasubmarinanoturna.OutrosagentesdoMossad,especialistasem fugas rápidas, dedicaram-se, ao volante dos carros alugados, a traçar rotas defugadetodososmembrosdocomandoqueexecutariamostrêslíderesdaOLP.AsequipesdeEhudBarakeMikeHarariestavamprontasparaoataque.

Namanhã do dia 9 de abril, nove lanchas armadas commísseis e dois barcosDabur da patrulha naval já estavampreparados no cais da base deHaifa. Poucashoras depois, os radares e os meios de comunicação militares de Israel foramcortados. Por volta das 21 horas, os homens do comando Avivah avistaram ocontornodosedifíciosdeBeirute.DeumbarcoZodiac,BaraktransmitiuporrádioaDavidElazar:“Chegamos”.Logoaseguir,acomunicaçãofoicortada.

A Operação Primavera da Juventude começara e, como se se tratasse de umagrande orquestra de música, todos os músicos deviam alcançar rigorosamente omesmoritmo.Sealgumdelescometesseumerro,oconcertopoderiasetornarumverdadeirodesastre.OsprimeirosaentraremaçãoforamoscomandosdeBarakeoskidondeHarari.

Passados alguns segundos da meia-noite, as equipes restantes começaram adesembarcareaseaproximardosveículosalugadospeloskatsadoMossad.

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Trêsdeles,avançandopelaestrada,entraramnaruaVerdún,pertodoconsuladoiraquiano.Oscomandos eoskidon daMetsada começarama carregar asBerettasautomáticas de calibre 22 e suas metralhadoras Uzi de nove milímetros. Osexecutoresisraelensestinhamsilenciadoresemtodasasarmas.

Osprimeirosmembrosdoscomandosestavampreparadosparaatacaroprimeiroedifício. Ehud Barak, vestido de mulher com uma peruca loira, abraçava comternura, na rua, um homem disfarçado de árabe, omajorMuki Betser.Quandouma patrulha da Guarda Nacional libanesa passou, o casal fingiu se beijar.[103]Afastadooperigo,osdoissoldadosentraramnoedifício.

Encontraramdois guerrilheiros palestinos sentados em cadeiras comos fuzis deassaltosemmontarentreos joelhos.QuandoBarakeBetserdispararamnacabeçadeambos,osdoisviamumjogodefutebolnatelevisão.

Logoa seguir,Barakdeu sinal ao restanteda equipeque esperavana rua. “Boasorte”,disseomilitaraosseuscomandoseaoskidon,quejásubiamasescadasrumoaosandaressuperiores.[104]

ÀmedidaqueBetser,DanieZivkasubiamaosextoandarseguidosporBarak,osguarda-costas de Abu Yussef iam caindo mortos com os disparos. Ao chegar aoandarondeseencontravaoapartamentodolíderdaOLP,MukiBetserabaixou-se,colocouexplosivonasdobradiçasdapesadaportaeafezexplodir.Antesmesmoquecaísse, Dani e Zivka já saltavam para dentro do luxuoso apartamento de cincoquartos.

Comoseconhecessemaresidência,ambososagentesdokidoncorreramàpartenorte.Aochegaraoquartoprincipal,AbuYussef tentavaalcançarumAK-47quetinha debaixo da cama. Sua esposa, Maha, o protegia com o próprio corpo. Oprimeirokidonjáestavadepédiantedele.Semdizerumapalavrasequer,acionouogatilhodasuaUziedeseucanosaíramvintedisparospelosilenciador.Oprimeiroalvoestavamorto.

Aosair,oisraelensepercebeuquealguémoseguiapelolongocorredor.Aovirar-se,viuatrásdesiaesposadeYussefcomalgonamão.Emquestãodesegundos,okidonlevantouasuaarmae,gritandoemárabe,ordenouàmulherqueseatirasseaochão. Esta continuou a avançar em direção ao katsa doMossad, brandindo umapistolanamãodireita.Oagentevoltouaordenarqueelaseatirasseaochão,masamulherpreparou-separadisparar.Okatsaagachou-seinstintivamenteeabriufogo,matando-anoato.

BarakeMukiBetsercobriamasaídacasochegassealgumguarda-costasatrasado.Enquanto isso, Zivka dirigiu-se ao escritório de Yussef para pôr num saco preto

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todososdocumentosqueconseguissereuniremquestãodesegundos.Pastas,cartas,fotografias,tudofoiconfiscadopeloMossad.[105]

Emoutroedifício,situadoàfrente,acontecia,simultaneamente,açãoparecida.Asequipes israelenses formadas por comandos do exército e por alguns kidon daMetsadasubiamàspressaspelasescadas,eliminandoqualquerindícioderesistência.

Aochegaremaosegundoandar,osisraelensesarrombaramaportaeentraramsemresistência.Um silêncio abateu-se sobre eles.Os assassinos doKidonpercorreramquartoaquarto,semencontraromínimorastrodeKamalAdwan.Ocomandanteda Sayeret Matkal pensou que teria de regressar a Israel sem ter cumprido suamissão,mas umpequeno ruído atraiu sua atenção.Dirigindo-se a umquarto nofundo, os agentes do Mossad descobriram alguém que se escondia atrás de umacortina.EraKamalAdwan,chefedeoperaçõesdaOLPedecélulas terroristasemGaza e na Cisjordânia. Um kidon desarmou Kamal. Não tinha ainda sequerdestravadooAK-47quetinhanasmãos.Obrigaram-noaseajoelhar,eoagentedoMossad disparou-lhe na cabeça e na nuca. Sua mulher e os três filhos foramobrigadosapermanecer emsilêncionumquartocontíguo.O segundoalvoestavamorto.

Kamal Nasser, o porta-voz oficial da OLP, estava sentado no escritório,preparandoumcomunicadoparaodiaseguinte.Umsomsemelhanteaumbaquesecochamousuaatenção.Nomomentoemquesepreparavaparatirarosóculoseselevantar,umhomemvestidocomroupasárabesapareceuàsuafrente.Segundosdepois, o recém-chegado, empunhando uma Beretta, disparou. A primeira balaacertouo crâniodaquelequebrindara comchampanhe ao saber sobreo ataque àVila Olímpica de Munique. Com o palestino já no chão, o agente da Metsadacolocouocanodaarmanabocadohomemedisparouduasvezes.Oterceiroalvoestavamorto.

Os israelenses queriam encontrar Abu Iyad ou Hassan Salameh, porém,afortunadamenteparaeles, tinhamdecididodormirnaquelanoiteemoutro lugar,nazonanortedeBeirute.Issolhesprolongariaavidapelomenospormaisalgunsanos.

“Minha casa estava a menos de quinhentos metros da casa de Abu Yussef”,declararia pouco depois Ali Hassan Salameh, líder do Setembro Negro. “Osassassinos israelenses não vieram a minha casa por uma simples razão. Estavaprotegidaporcatorzehomens.”[106]

Enquanto as equipes de executores desciam as escadas, EhudBarak falava pelorádio,solicitandoarotadefuga.Aosairdoedifício,osisraelensesdepararamcomuma Land Rover da Guarda Nacional libanesa. Um atirador de elite da Sayeret

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Matkal que cobria a primeira equipe deu um primeiro disparo de um terraçopróximo.Abalaatravessouagargantadeumdosguardas.Outrodisparomatouosegundo.UmterceirodisparoatravessouoombroesquerdodomotoristadaLandRover,quetentavaseprotegerenquantopediareforçospelorádio.Umquartotirooatingiunacabeça.

Sem resistência, a equipe liderada por Barak conseguiu entrar num dos carrosalugados e se dirigiu a Dove Beach, onde os barcos já começavam a recolher asequipesdecomandosedaMetsada.

Mas as quatro equipes encarregadas de explodir o quartel-general da FDLPenfrentavam dificuldades. Avida Shor e Hagai Ma’ayan, ambos disfarçados dehippies, tinhamseentrincheiradonumlocal situadoà frentedoedifíciodaFDLP.Os israelenses estavamemclaradesvantagem,vistoqueos guerrilheirospalestinosdisparavamdeposiçõesmaisaltas.[107]

À medida que os israelenses se defendiam com armas leves, os palestinos osatingiam com granadas antitanque. Shor caiu morto, enquanto Ma’ayan ficougravemente ferido. A batalha na rua Jartum estava sendo muito dura para osisraelenses.Outro comando israelense, Yigal Pressler, tombou ferido numa pernaquandotentavaresgatarumkidonqueficaraestiradonacalçadacomdoistirosnaspernas.Presslerpediuajudaporrádioaoshomensquejáseconcentravamnapraiaparaseremevacuados.

Osreforçoschegarampelapartenortedoedifício,atravésdeumaruaparalela.Oscomandos passaram a instalar os cemquilos de explosivos nos pilares do quartel-general daFDLPenquantoos guerrilheirospalestinos se concentravamno ataqueaos israelenses cercados. Quando acabaram de instalá-los, saltaram para a rua àspressas em direção aos sitiados. Dois veículos conseguiram evacuar todos para apraia.

Enquantosedistanciavam,osocupantesdeambososautomóveis,assimcomooscidadãosdeBeirute,puderamouvir a terrível explosãoprocedenteda rua Jartum.Um edifício inteiro tinha voado pelos ares, desaparecendo por completo dapaisagem libanesa. Na destruição do quartel-general da FDLP morreram trintaguerrilheirospalestinos.

Osisraelensescontaramdoismortosetrêsferidos,incluindoPressler,queforamtransportadosdehelicópteroatéumhospitalmilitaremIsrael.À1h40dodia10deabril, uma força de comandos liderada pelo coronel Ziv atacou o depósito deexplosivos situado em Al-Ouzai. Foi possível ouvir a explosão a centenas dequilômetros.Foraaúltimaunidadeaentraremaçãoeaprimeiraaserevacuada.OataquecontraosegundodepósitodearmasdaOLP,anortedoportodeBeirute,

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tambémseencerrousemincidentes.OscomandossobasordensdocoronelAmosYaromconseguiramcumprirseuobjetivoemapenas17minutos.

AOperação Primavera da Juventude, que durou apenas 29minutos, tornou-seum dos maiores êxitos de toda a história do exército israelense. Foram eles quesentiramaglóriadepoisdeseremrecebidosemIsraelcomoautênticosheróis.Foramelesqueapareceramemcoletivasdeimprensadiantedosmeiosdecomunicação.

Os agentes do kidon e os katsa do Mossad que participaram da operação nãotiveramrecepçõesgloriosas,nembandademúsica,nemdiscursosbajuladores,nemmedalhas,nemcondecorações.AochegaremàbasemilitardeHaifa,algunsagentesdoMossad receberam tratamentopara ferimentos leves,outrosdormiramdurantehoras e outros ainda deixaram a instalação no mesmo dia com destinodesconhecido. Não receberam sequer um telefonema de agradecimento de ZviZamir,omemunehdoMossad,oudeMikeHarari,chefedaequipedeexecutoresnaOperaçãoIradeDeus.[108]

Alvos tão importantes, como o próprio líder do Setembro Negro, Ali HassanSalameh, ou Mohamed Boudia, tinham conseguido evitar o longo braço daMetsada,ajustiçadeIsrael.Masnãopormuitotempo.

NoLíbano, a cólera sedisseminouduranteo funeraldos três líderespalestinos.Mais de 250 mil pessoas acompanharam a cerimônia, enquanto o presidente dopaís, Soleiman Frangi, confessava a Yasser Arafat que era impossível protegê-los.“Façam-novocêsmesmos”,disse.[109]

ParaoscomandosqueparticiparamdaOperaçãoPrimaveradaJuventude,aquiloterminara; era apenas mais uma operação de retaliação. Mas, para os agentes doMossadquetambémfizerampartedamissão,aindarestavaumlongocaminhoparaeliminar todos os responsáveis pelos assassinatos dos atletas israelenses nos JogosOlímpicosdeMuniquenoanoanterior.AOperaçãoIradeDeusaindavigoravaporordemdaprimeira-ministraGoldaMeir,emuitosdosalvosmarcadospelafamosa“Listados35”[110]aindanãotinhamsidolocalizadosnemexecutados.

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O êxito da Operação Primavera da Juventude apenas dois meses antes, queacabou com a vida de Mohamed Yussef Al-Najjar, conhecido como Abu

Yussef,númerotrêsdaAlFatah,chefedeoperaçõesede inteligênciaparaataquesterroristasnoexterior,pertencenteaoaltocomandodoSetembroNegroeumdosidealizadoresdoataquedeMunique;deKamelAdwan,chefedeoperaçõesdaOLPechefedecélulasterroristasemGazaenaCisjordânia;edeKamalNasser,porta-voz oficial daOLP e oficial superior do SetembroNegro, não era suficiente nemparaGoldaMeir,nemparaZviZamir,tampoucoparaMikeHarari.Aindarestavamuito por fazer, e agentes doKidon continuavam à espera da localização de umnovoalvoasereliminado.

Os líderesdoSetembroNegro emBeirute sabiamqueos assassinosdoMossadestavam atrás deles e que, mais cedo ou mais tarde, o longo braço de Israel osapanharia.DesejavampôrasalvoAliHassanSalameh,tantoqueoavisaramdequedeveria desaparecer durante algum tempo. O Príncipe Vermelho aceitou arecomendação. Para substituí-lo, os líderes do Setembro Negro designaramMohamedBoudia, intelectual argelino, famosonos elegantes círculosdeParis emquechegara aorganizar aprópria célula terrorista, a chamadaCélulaBoudia.Porora,eaténovaordem,oargelinoseencarregariaapenasdasoperaçõesnaEuropa.[111]

OsprimeirosrelatóriossobreBoudiaqueomemunehZviZamirfolheavasobreamesa eram de abril de 1971. Exatamente no dia 21 desse mês, um membro dasegurança do aeroporto de Lod, de Tel Aviv, informou que duas atraentes loirastinham chegado num voo procedente de Paris. Curiosamente, o Shin Bet, asegurançainterna,informouqueambashaviamsidoseguidasequechegaramaLod

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separadas,embora,assimqueseencontraramforadoterminal,tenhamtomadoumtáxijuntas.[112]Issolevantouassuspeitasdosagentesdacontraespionagem.

DurantetrêsdiasfizeramturismoporJerusalémeTelAviv,fazendocomprasnaslojas mais caras da capital israelense. Passado esse tempo, foram de novo aoaeroportodeLodpararegressaraParisnumvoodaAirFrance.

Asduasapresentaramseparadamenteospassaportesaosagentesdesegurança,queas detiveram na fiscalização.Uma delas disse se chamarDanielle River, tinha 26anosde idade, era secretária edenacionalidade francesa.A segunda,que tambémtrabalhava como secretária, de nacionalidade francesa e com21 anos, chamava-seMartineGarcier.

Emseguida,trêsagentesdoShinBetaproximaram-sedelaselhesinformaramqueseriam interrogadas. Enquanto as mulheres eram colocadas em salas separadas,agentesdoShinBetekatsadoMossaddedicaram-searegistrar,umaauma,cadamalaecadacaixaquejátinhamsidoembarcadasnoaviãodaAirFrance.

Osagentesencontraramduascomosnomesdasmulheres.Comcautela,asmalasforam colocadas dentro de um caminhão do exército com alarme antibomba eafastadasdoaeroporto.OchefedoShinBetdecidiuentãochamarZviZamirparainformá-lo do que se passava. O memuneh ordenou que estivessem presentes nointerrogatório dois katsa do Mossad da Unidade LAP (Lohamah Psichlogit),especialistasemguerrapsicológicaeeminterrogatóriosdeespionagemisraelense.

Os katsa começaram a vasculhar a bagagem. Vestidos, camisolas, sapatilhas,nécessaires, roupa íntima, cremes, tudo foi inspecionado. A certa altura, um dosagentesdoShinBetpegouumacaixadeabsorventesinternoscujopesolhepareceususpeito. Com imenso cuidado, o israelense abriu a caixa. Dentro de cadaabsorventealguémintroduziraumpoderosoexplosivoplástico.

Oskatsa revistaramamalada segundamulheredescobriram,numafalsaduplasolademadeiradeumasandália,explosivoplástico.Tambémencontraramdentrodos absorventes internos dois detonadores elétricos ligados a uma pequenaquantidadedeexplosivo.

Os katsa da LAP começaram a pressionar as duas mulheres, até que um delesatiroupara cimadamesa a caixade absorventes internos eosdetonadores.Nessemomento, ambas começaram a chorar e confessaram que os respectivos nomesverdadeiros eram Nadia e Marlene Bardeli, filhas de um abastado comerciantemarroquino.

NadiaconfessouaosagentesdoMossadquehaviamsidoenviadasaIsraelporumhomemquevivianaFrança,comofimdetransportaroexplosivoplástico.EmTelAviv,deviamseencontrarcomoutrosmembrosdogrupo.

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ZviZamirperguntou:“Quemsãoosoutros?”Nessamesmatarde,umaunidadede agentes doMossad e agentes da polícia entraram de surpresa num quarto dohotel Commodore, situado na praçaDizengoff, emTel Aviv.Nele, encontraramdois idosos chamados Pierre e Edith Bourghalters. Um katsa que inspecionava olocalconfiscouumradiotransmissor.OsespecialistasdoMossadodesmontaramedescobriramno interior umapotente carga de explosivo plástico e umdetonadorelétricoparaacioná-lo.

QuandooaviãodaAirFranceestavaprestesadecolar,Zamirdeuordemàtorredecontroleparadetê-loefazercomquetodosospassageirossaíssemdaaeronave.“Alegueproblemastécnicos”,disseomemunehaochefedatorre.

Os katsa da LAP misturaram-se aos passageiros, analisando a reação deles. Amaioriamostrava-se indignadapelo atraso,outrospela faltade explicações,outrosporque chegariam tarde a reuniões de negócios ou porque teriam de protelarassuntosimportantesemseudestino,masquemmaischamouaatençãodosagentesfoi uma jovem sentada tranquilamente no fundo da sala conversando com umgrupodeidosos.

UmagentedoMossaddirigiu-seaela,àmedidaqueoutrokatsaocobria,comamãonumaBeretta22.Seamulherfosseumaterroristaprofissional,erapossívelquecomeçasseadispararemplenoterminalsedetectassealgumsinaldeperigo.Seelafizesse omínimomovimento, o katsa da segurança tinha autorização do próprioZamirparaabrirfogo.“Émelhorumadoquevinte”,disseomemunehaoagente.

Oisraelenseseaproximoueinclinou-sesobreamulher.Aprincípio,elapensousetratardealgum jovematrevido tentandopaquerá-la,masmudou logode ideia aovislumbrarocontornodaarmadokatsasobocasaco.Emseguida,avistouatrásdeleumsegundokatsaquedavacoberturaaoprimeiro.

Zvi Zamir sabia, após os interrogatórios e as lágrimas dos quatro interrogados,que as irmãs Bardeli e os Bourghalters eram tão somente amadores. O chefe daespionagem israelense também sabia queno aviãodevia viajar alguémcommaiorpreparoemquestõesterroristas.

AmulherapresentouumpassaportebritânicocomonomedeFrancineAdeleineMaria.OMossad tirou as impressões digitais dela e enviou um requerimento aoMI6britânico.Namanhãseguinte,umextensorelatóriosobreamulherapareceunamesadomemuneh.

Averdadeira identidadedeFrancineAdeleineMariaeraEvelyneBarges.Apesarde seu rosto angelical, Barges era uma professora inglesa e marxista fanática queestiveraenvolvidaemváriossequestrosdeaviõesemsetembrode1970,etambémcomotráficodearmasparagruposterroristasenasabotagemdeumarefinariano

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portodeRoterdã.[113]Uma informaçãoquechamouaatençãodeZviZamir foiqueBarges, segundoorelatóriodoMI6,seenvolverasexualmentecomváriosdosárabes que posteriormente foram assassinados.Dessemodo, aquelamulher de 26anoseraapessoacomexperiênciaqueZviZamirintuíraviajarnoavião.

Durantequatrodias,EvelyneBargesrecusou-seapronunciarumasópalavra.Aúnicacoisaqueexpressoufoiopedidodeumadvogado.OagentedoMossadquevigiavaconstantementesuaceladisse-lhequeemIsraelnãolhepermitiriamterumadvogado,eque,semqueninguémsoubesse,elaseriaenclausuradaperpetuamentenumaprisãodesegurançamáximaemplenodesertodeBeersheba.Aquelaameaçadeuresultado.

Nodiaseguinte,Bargesdecidiuconfessarqueeraalíderdocomando.SuamissãoconsistiaemmontarnovepoderosasbombascomoexplosivoeosdetonadoresqueoskatsadoMossadedoShinBettinhamencontradonabagagemdasirmãsBardeli.AsbombasdeviamsercolocadasemgrandeshotéisdeTelAvivduranteoverão,oque causaria uma grande perda não só de vidas humanas, mas também prejuízoeconômicoparaaindústriaturísticadopaís.

Para o Mossad, Evelyne Barges agia por convicções políticas e por fanatismo;Pierre e Edith Bourghalters por dinheiro; mas o que mais chamou a atenção deZamir foi amotivação das irmãs Bardeli: ambas reconheceram que o faziam poramor aquem lhes confiara amissão,umhomemcomquemmantinham relaçõesíntimascomgrandeencantoeque transmitiaàsamantespaixãoeemoções fortes.“SeunomeéMohamedBoudia”,disseNadiaBardeli.Osinterrogatóriosseguintessobre a figura de Boudia elucidaram que ele dominava com absoluta precisão osjogos sexuais.Devido a esse talento, oMossad o batizou como codinomeBarbaAzul.[114]

Depois do ataque dos terroristas do Setembro Negro à Vila Olímpica deMunique, oMossad qualificou Boudia como um dos líderes supremos do grupoterroristapalestinoe,portanto,umalvoaserabatidopeloskidondaMetsada.

MohamedBoudiaeraumhomemquegostavadedesfrutardosprazeresdavida,fazer refeições em elegantes restaurantes parisienses, dirigir carros esportivositalianos, vestir-se com trajes sobmedidaconfeccionadosna exclusivaSavilleRowdeLondres,calçarsapatosJohnLobb,servistocommulheresespetaculareseassistiraleilõesdearteemsalasdaSotheby’soudaChristie’sdeLondreseNovaYork.

DuranteaguerradaArgéliapelaindependência,Boudiatornou-seumimportantecombatenteelíderdaFrentedeLibertaçãoNacional(FLN),sendoenviadoparaaFrançaafimdecometeratosdesabotagem.Detidopelacontraespionagemgaulesaeenviadoàprisão, foipostoem liberdadeapósaproclamaçãoda independênciada

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Argélia, em 1962. Depois de regressar ao país natal, Boudia tornou-se umintelectualaficionadoporteatro.Em1964,fundouaAlgerCeSoir,paramaistardetomar posse como administrador do Teatro Nacional Argelino. Durante aquelesanos, Mohamed Boudia converteu-se em informante do presidente Ahmed BenBella.

ApósogolpedeEstado lideradoporHouariBoumédiène,opresidentedepostofoicondenadoaquinzeanosdeprisão,eBoudia,obrigadoafugirdopaís,exilando-senaFrança.SegundooMossad,teriasidoemParisqueestabeleceracontatocomoKGB soviético, que lhe abrira as portas da Universidade Patricio Lumumba deMoscou.[115]Emsuasaulas,MohamedBoudiacompletousuaformaçãomarxistaeotreinamentoemtáticasdeguerrilha,montagemdeexplosivos,criaçãodecélulasrevolucionáriasetécnicasdepropagandaeinfiltraçãosocial.TudoissolheseriadegrandeproveitonapromissoracarreiranoSetembroNegro.

Depois de se instalar de novo na capital francesa, Boudia tomou posse comoadministradordoThéâtredel’OuestParisien.Enquantodirigiaobrasdeteatrodedramaturgosde esquerda, começava sua carreira como“Casanova”.Casou-se comumafrancesa,umaitaliana,enovamentecomumafrancesa,ecostumavatercasoscom várias mulheres. Uma delas era a própria caixa do teatro, uma inglesa comideias românticas sobre a revolução social chamada Evelyne Barges. Essa era aimagemqueBoudiapassavaparaoexterior,aimagempúblicadeumhomemque,naverdade,tinhaduasfaces.

No finaldos anos1960,MohamedBoudia já eraumdosmelhoreshomensdaorganização terrorista palestina na Europa, principalmente devido à sua íntimarelaçãocomodoutorGeorgeHabash,líderdaFPLP.Oargelinoeraumespecialistano recrutamentodemulheres jovens.Por exemplo, para levar armasnumveículoVolkswagendaFrança até aAlemanha paramembros do grupoBaader-Meinhof,Boudia usou uma jovem italiana de 18 anos com quem tinha mantido relaçõessexuais. Os israelenses perceberam, por meio dos serviços secretos franceses, queBoudia tambémmantinha relações sexuais com amãe dessa jovem e com a irmãmenor, de 16 anos. A jovem foi detida pela BfV,[116] a agência decontraespionagem alemã, e julgada por colaborar com grupos terroristas, sendocondenadaadezoitoanosdeprisão.

ParasabotarumarefinariaemTrieste,Boudiausouduasjovensalemãsde20e22anos,comasquaisviviasupostamenteemumapartamentonobairrodeTrocadero.Asmulheresdeviamdeixarosexplosivosomaispróximopossíveldosdepósitosdegasolina. Quando uma delas manipulava os explosivos dentro do carro, estesdetonaram,matando-anahora.

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ParacolocarnovebombasemhotéisdeTelAviv,MohamedBoudiausouasirmãsBardelideMarrocos,EvelyneBargesdaGrã-BretanhaeEdithBourghalters,de58anosenacionalidadefrancesa.Tinhamantidorelaçõessexuaiscomasquatro.

OMossadsabiaqueeleeraointermediáriodeimportantesgruposterroristasnaEuropa e que se relacionava com o próprio Carlos, o Chacal, embora devesselealdadeapenasàAlFataheaoSetembroNegro,que lhe“bancavam”oaltíssimoníveldevidaemParis.

Eraoargelinoquemcoordenavaoenviodecombatentes terroristasegruposdeguerrilheiroscomooExércitoVermelhojaponês,oExércitoPopulardeLibertaçãoturco,oIRAouogrupoBaader-MeinhofaocampodetreinamentodeBadawi,emBeirute.[117]Lá,eramrecebidosportrêshomensdoSetembroNegro:AliHassanSalameh,AbuIyadeumterceiroindivíduodequemoMossadconheciaapenasoapelido,umtaldeShemali.

Noiníciode1972,aestaçãodoMossademParisinformouquetinhamlocalizadoMohamedBoudianumaestaçãodemetrôdacapitalfrancesa.Okatsadissetambémaoquartel-generalemTelAvivque,enquantoseguiaBoudia,perceberaqueoalvoeravigiadoporagentesfrancesesealemães.ZviZamirordenouaseushomensqueatenuassemavigilânciadoargelino.Omemunehsabiaqueseriaimpossívelexecutá-loenquantooshomensdoSDECE[118]francêsedaBND[119]alemãestivessempróximosdele.Doisdiasapósestabelecercontato,Boudiadesapareceu.Nãohaviadúvida de que os conhecimentos adquiridos nos treinamentos dados pelo KGBsobreevasãoquandoemsuspeitadeestarsendoseguidotinhamdadofrutos.

Mohamed Boudia reapareceu uma semana depois num elegante hotel deGenebra. O serviço de segurança federal da Suíça informou ao Mossad que oargelinoqueprocuravamforavistonarecepçãodeumestabelecimentodessacidadeacompanhadoporduasjovens.[120]Aspolícias suíça,alemã, italianae francesa jáestavamemseuencalço.

A questão agora era saber se oMossad permitiria que alguma dessas forças desegurançaodetivesse,oprendesseouomatasse.

DepoisdosassassinatosdosonzeatletasdaequipeisraelensenosJogosOlímpicosdeMunique, em setembro de 1972, pelo comando do grupo terrorista palestinoSetembroNegro, todosos líderesdogrupo,de agentes a comandantesmilitares eintelectuais,foramincluídosnafamosa“Listados35”.[121]OnomedeMohamedBoudia aparecia como sétimoalvo a ser executadopela equipedoKidon lideradaporMikeHarari.

Desdeoassassinatodosatletas,amortedeBoudiadeixaradeserumassuntodoMossad e passara a ser assunto daMetsada.Oskidon deHarari não o deixariam

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escapar tão facilmente como acontecera com os franceses e os alemães. Emnovembrode1972,chegaraaoMossadumnovorelatóriosobreMohamedBoudianoqualseafirmavaque,porordensexpressasdoaltocomandodoSetembroNegroem Beirute, o argelino tornara-se líder supremo do grupo terrorista na França ebraçodireitodopróprioAliHassanSalamehnaEuropa.

O Mossad sabia que o argelino estava envolvido no assassinato em Paris, emnovembro de 1972, do jornalista sírio Khader Kanou, que o Setembro Negrodesconfiavaseruminformantedoserviçodeespionagemisraelense.Kanou,de36anos, foi baleado à porta de seu apartamento parisiense por dois terroristaspalestinos.MohamedBoudiaderaordemdeexecuçãodosíriopensandoqueeraumagente duplo que passava informação a Tel Aviv sobre os círculos palestinos emParis, o que não era verdade.[122]O antigokatsa doMossad, VictorOstrovsky,revelouemseulivroByWayofDeceptionque,narealidade,oMossadusavapoucosagentesduplosequeamaioriadelescostumavaseencontraremestáveisambientesburocráticos.

Empoucotempo,Boudiatornara-seumdosmaispoderososchefesterroristasdetodo o continente europeu. Sua importante agenda de contatos ia de Paris aMoscou,deLondresaMunique,deTrípoliaBeirute,deGazaaDamasco.

ApósoassassinatodeMahmudHamshari,[123]onúmerodoisnocomando,poragentesdoKidon,em8dedezembrode1972,MohamedBoudiadesapareceudafacedaTerra.OargelinosabiaqueeraconsideradopeloMossadumdosterroristasmais perigosos naEuropa e, sendo o segundono comandodepois deAliHassanSalameh, tinha certeza de que, mais cedo ou mais tarde, os israelenses oencontrariam.

BoudiatinhaumintermediárioqueviajavaconstantementeentrePariseBeirutecomumgrandenúmerodemensagensque levavamemorizadas.EraumpalestinochamadoMichelMoukharbel.Na ocasião do ataque pelos comandos e kidon daMetsada edosdemais agentes aoquartel-generaldoSetembroNegro emBeirute,em 10 de abril de 1973, durante a chamada Operação Primavera da Juventude,[124]oMossadseapossoudafichacompletaedasfotografiasdointermediáriodeBoudia.

DeTelAvivordenou-se aokatsaOrenRiff, que dominava a língua árabe comperfeição, que entrasse em contato comMoukharbel.O intermediário costumavahospedar-senumelegantehoteldeLondres,ondeoMossadotinhasobvigilânciadia e noite. Riff decidiu entrar em ação e, certificando-se de que não carregavaarmasdenenhumtipo,seguiu-oeesperouqueentrassenoquarto.Passadosalguns

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minutos,okatsabateuàporta.Empoucos segundos,umMoukharbel surpresoaabriu.

“Soumembrodoserviçosecretoisraelense”,disseOrenRiff,“eestamosdispostosacompensá-logenerosamente.Queremosquetrabalheparanós.”Oárabeeraumhomemaltoeelegante.Pausadamente,elerespondeu:“Porquedemoraramtanto?”Ocontatoforaestabelecido.[125]

O katsa doMossad e o intermediário árabemantiveram uma breve conversa ecombinaramumencontrocommedidasdesegurança.Omaiscuriosodetudoeraque Moukharbel não exigia grande quantia de dinheiro, e isso foi consideradoestranhoemTelAviv.MikeHararidisseaZviZamirquehaviaapossibilidadedeointermediário árabe desejar manter boas relações com os dois lados para, casoacontecessealgumacoisa,poderencontrarumterreno seguro. “Seriaumaquestãode sobrevivência”, falouHarari.Aprimeira informaçãoqueMoukharbelpassou aRifffoiumalistade22locaisqueBoudiacostumavafrequentar.[126]

Em4demaiode1973,umgrupodeestrangeiroschegoudeaviãoedemetrôaParis. A missão era localizar Mohamed Boudia. O Mossad suspeitava que osfranceses soubessem de seu paradeiro e que o tivessem sob vigilância. Os katsarecém-chegadostinhamapenasdeconfirmaressasuspeita.

A primeira pista foi dada por uma jovem e bela professora de Direito daUniversidade de Argel. Ao conversar com vários amigos, ela mencionou ainacreditável potência sexual de um homem que conhecera há pouco tempo emParis. Referia-se a Boudia sem nomeá-lo, mas confidenciou que seu parceiro eracapazdemanter-seativopornoveoudezhorasseguidas.Esclareceuapenasquesetratavadeumintelectualárabeamantedeteatro.Duasnoitesdepois,duasequipesdeperseguição,formadaspordoiskatsadoMossadcadauma,tornaram-seasombrada professora argelina. Quando o casal saía do apartamento, os katsa tentavamvislumbrar em meio à penumbra o rosto do homem que a acompanhava. Paraalguns dos israelenses, ele eraMohamedBoudia; para outros, não era o perigosoterroristaqueprocuravam.

Devidoàsdúvidas,oskatsaobrigaram-seaesperaraoar livreempleno invernoparisiense, até terem certeza de que aquele árabe era ou não o líder supremo doSetembro Negro na França. Naquela manhã, apenas a mulher regressou aoapartamentodaruaBoinod,dessavezdisfarçadacomgrandesóculosescuros,umaperuca loira e uma minissaia.[127] Mohamed Boudia voltara a desaparecer semdeixar o menor rastro. Apenas algumas semanas depois é que os katsa se deramcontadopróprioerro—umgrandeerro.

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Boudiaeraumatorcomamplaexperiênciaemteatroe interpretação,eumadesuasmaioreshabilidadeserasedisfarçardemulher.Aquela jovemdeperuca loira,grandesóculosde sol eminissaianãoeraninguémmais senãooprópriochefedoSetembro Negro. Quando os katsa regressaram ao apartamento da professoraargelina,jáfaziaalgumtempoqueoterroristaabandonaraorefúgio.EmTelAviv,Zvi Zamir se enfureceu e ordenou que todos os agentes instalados na FrançaencontrassemMohamedBoudiaaqualquercusto.

Enquantosetentavalocalizá-lo,chegaramaoMossadrumoresqueindicavamqueoterroristaplanejavaumatentadocontraaEmbaixadadeIsraelnaEuropa.Masasorteestavaa favordosagentesdoMossad,porque,numacertamanhã,porvoltadasnovehoras,umdoskatsa informouquedetectaraBoudia saindodometrônaestaçãoÉtoile.OproblemaéqueaÉtoileeraumcruzamentodelinhasecorredoresque davam acesso a outra dezena de linhas e corredores. Encontrar MohamedBoudiaemmeioacentenasdepessoaseracomoprocurarumaagulhanumpalheiro.

Nos três primeiros dias, as equipes israelenses esperaram durante horas, semnenhumresultado.DoisagentesdoMossadquecirculavamdecarropelasruasdeParis, percorrendo repetidas vezes os locais que Boudia costumava frequentar,descobriramqueoterroristasedeslocavanumRenault16.Aosegui-lo,puderamvercomoeledavavoltasemváriosblocosdeedifícios, formandosempreumoito.OskatsachamaramaestaçãodeParisporrádioecomunicaramquehaviamlocalizadoMohamedBoudiapertodopopularBairroLatino.

Imediatamente,seisequipesdeperseguição,emveículosdiferentes,sedeslocarampara apoiar a primeira.Em carros, furgões de entrega e atémotocicletas, oskatsaseguiam o perigoso argelino. Zvi Zamir queria que o alvo fosse localizado comprecisãoantesdedarcartabrancaaoskidondeMikeHarariligadosàOperaçãoIradeDeus,osquaisaguardavamemváriascapitaiseuropeias.[128]

Agora o líder do Setembro Negro fora localizado e não o perderiam de vista.Curiosamente, o Mossad descobriu, por intermédio de um contato judeu noDepartamento de Registros de Veículos, que o Renault 16 estava registrado emnomedeMohamedBoudia.PareciainacreditávelparaHarariqueumhomemquetomavatantasmedidasdesegurançaeprecauçõestivessedeixadoescaparumdetalhecomoaquele.

DuranteavigilânciadeMohamedBoudia,oskatsadoMossadviramcomoacadamanhãochefedoSetembroNegroseaproximavadoveículo,davaduasvoltasaoredordele,abriaoporta-malaseocapô,paraconfirmarquenãootinhamtocado,einspecionava os quatro pneus, para se assegurar de que os israelenses não haviamcolocadonenhumabomba. “Umhomemprecavido, semdúvida alguma”,pensou

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Zvi Zamir de uma distância prudente. Teriam de colocar o explosivo em algumlugarqueelenãosuspeitasse.

A primeira proposta do Kidon foi colocar o explosivo na caixa de correio doprédio, mas tinham certeza de que Boudia inspecionaria também esse local. Asegunda proposta foi o telefone, mas os katsa de vigilância informaram queMohamedBoudiararamenteousavaemcasa.UmdoshomensdeMikeHarariquechegaraaParisteveumaboaideia.“SeMohamedBoudiaverificasempreoexteriordo carro, então vamos colocar algo no interior”, sugeriu. Para Zamir e Harari,parecia uma boa solução. Com isso, de modo simples, os agentes do Mossadcolocaramsobobancoumaminaantipessoal,dessasquetêmváriosfusíveis.

Para causar maior impacto, a explosão devia se projetar para o alto, e não seexpandirparaos lados.FoiMikeHarariquemtevea ideiadecolocar sobaminaumagrossaplacadeaço,oqueprovocariaesseefeito.

Por volta das 23 horas do dia 28 de junho de 1973, os agentes do Mossadobservaram Boudia sair do prédio. Vestido de maneira impecável, o terroristadirigiu-se à rua Fossés Saint-Bernard, no coração do Bairro Latino.Com imensocuidado, aproximou-sedoRenault16,deuduasvoltas ao redordocarro, abriuoporta-malaseocapô,colocoucomcuidadoumjornalnochãoeseajoelhou.Olhouatentamente de um lado e de outro, em busca de algum sinal estranho. Boudiaprocuravacabosouqualqueroutrapistadeexplosivos,masnãoencontrounada.

Depois de limpar asmãos em um lenço branco, o argelino tirou as chaves dobolsoeseaproximoudaportadomotorista.Olhouparadentrodoautomóvel.Nãopareciaquetivessesidomexido;introduziuachavenafechaduraeastravassubiram.

Ohomemabriulentamenteaporta,olhouparadentrocomoseprocurassealgosuspeitoecomeçouaentrarnocarro.Primeiro,apoiouapernadireita,edepoisseabaixou para se sentar no banco do motorista. Um breve silêncio, e depoisMohamedBoudiaouviaomecanismoquedetonavaaminacolocadasobobanco.[129]Emseguida,aexplosãofezvoarmetadedocarro,arrancandooteto.Milharesde estilhaços metálicos atravessaram em poucos segundos o corpo de quem atéaquele momento era o líder supremo do Setembro Negro na França e o braçodireitodeAliHassanSalameh,oPríncipeVermelho.

MohamedBoudiaestavamorto.Aumadistânciarazoável,ummisteriosoveículoVolkswagen, com vidros cobertos por cortinas, arrancou e se distanciou, numaimagemmaisprópriadeBeirutedoquedeParis.Emseuinteriorencontravam-seomemuneh doMossad eMikeHarari, líder daOperação Ira deDeus. Já se podiariscaroutronomedalistadealvos.

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ApesardeoSetembroNegronãoterprovasconcretasdequeaMetsadaexecutaraBoudia,sabiamqueaespionagemisraelenseestavaenvolvidadealgumamaneiranoseuassassinato.OpróprioAliHassanSalamehordenouumavingançanaguerrado“olho por olho, dente por dente” que se estabelecera entre o Mossad e o grupoterroristapalestino.

ParatalmissãoencarregaramumestudantepalestinodaUCLA(UniversidadedaCalifórnia,LosAngeles)deadquirirumaarma,paraquefosseàEmbaixadadeIsraelemWashington.Nodia1ºdejulho,ojovemaproximou-sedocoronelYosefAlon,ajudante do agregado da Força Aérea Israelense na capital norte-americana, ematou-o a tiros em plena rua.[130] Poucos dias depois, Michel MoukharbeltelefonouparaseucontatonoMossad,OrenRiff,einformou-oque,porordemdopróprio Hassan Salameh, um tal de Carlos Ramírez Sánchez, de nacionalidadevenezuelana, assumiria os poderes de Mohamed Boudia na Europa. Nascia umalendadoterrorismomundial.

AequipedekidondeMikeHararitevedeesperaraté1979paradarogolpefinaldaOperaçãoIradeDeus,eesteserianadamais,nadamenosqueoassassinatodeAliHassanSalameh,conhecidocomooPríncipeVermelho.

MichelMoukharbel, o melhor agente duplo do Mossad, que ajudou a localizar Mohamed Boudia, foiassassinadonumasexta-feira,27dejunhode1975,juntoatrêsagentesdaDST(DirectiondelaSurveillancedu Territoire) francesa, num apartamento no número 9 da rua Toullier de Paris. Carlos pensou queMoukharbelotinhadenunciadoàcontraespionagemgaulesa.OstrêsagentesmortoseramRaymondDoubs,JeanDonatinieJeanHerranz.

CarlosIlichRamírezSánchez,conhecidocomoCarlos,ou“oChacal”, se tornariamundialmente famosoapósogolpedemestredosequestrodosrepresentantesdaOPEPduranteumareuniãoemViena,em21dedezembrode1975.Emjunhode1992,foicondenado“emausência”àprisãoperpétuapeloassassinatodostrês agentes franceses. Em 1994, com a colaboração da polícia sudanesa, uma equipe do serviço deespionagemfrancês,aDGSE,sequestrou-oeoenviouàFrança.Atualmentecom56anosdeidade,encontra-sereclusonumaprisãofrancesadesegurançamáxima,cumprindopenadeprisãoperpétua.

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Emumamanhãdedomingo,4dejulhode1976,umaequipederesgateformadaporcomandosdeparaquedistasisraelensesdaUnidadeSayeretMatkalealguns

kidondaMetsadaespecialistasemoperaçõesespeciaiseexecuções,libertavaosrefénsretidosnovooAF139daAirFrancenoaeroportougandêsdeEntebbe.AOperaçãoRaio, como ficou conhecida, durou apenas noventa minutos, enquanto, emMaryland, os ouvidos eletrônicos da Agência de Segurança Nacional (ASN)detectavamconversasemhebraicoentreospilotosdosquatrogigantescosHérculesedosdoisBoeings707,comoscomandoseoskidonquecombatiamnasinstalaçõesaéreas.[131]

ParaosagentesdaASNeparaoprópriosecretáriodeEstado,HenryKissinger,que abandonara os festejos oficiais do bicentenário da independência dosEstadosUnidos celebrados na Casa Branca, aqueles sons faziam sentido. Algumas horasantes,opróprioKissingerfalaraaotelefonecomoentãochefedegoverno,YitzhakRabin,sendoinformadoporestedaoperaçãoderesgateemEntebbe,assimcomoarotaquetomariamosaviõesdetransportedoscomandosdoexércitoedaMetsada.[132]

Tudo começara às 6h17 de 27 de junho.Umamulher com cerca de 30 anos,olhos avermelhados e profundas marcas no rosto devido à acne, permaneciasilenciosaeafastadana saladeesperadaAirFrance.Ao lado,umhomem,que sefazia passar por seu namorado, não deixava de olhar inquieto de um lado para ooutro. Ambos chegaram a Atenas vindos do Bahrein, no voo 763 da companhiaSingaporeAirlines.

Outrocasaldejovens,tambémprocedentesdoBahrein,preparava-separaentrarnovooAF139daAirFranceque,procedentedeTelAvivecomdestinofinalem

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Paris, fazia escala técnica em Atenas. As medidas de segurança gregas não erammuito rígidas, portanto os quatro embarcaram no Airbus francês com armas nasmalas e debaixo das roupas. Mais tarde, o Mossad identificaria os quatro comoBrigitteKuhlmann, uma terrorista de 29 anos pertencente ao grupo terrorista deextremaesquerdaCélulaRevolucionária(RevolutionäreZellenouZR),grupoqueseautodefinecomo“GuerrilhaUrbana”,eoseucompanheiro,WilfriedBöse,membroliberto do grupo Baader-Meinhof.[133] O outro casal era composto por doismembrosdaFrentePopularpara aLibertaçãodaPalestina—ComandoEspecial(FPLP-CE).Aoentrarnoavião,amulherocupouumlugarnaprimeiraclasse,eosoutros três em poltronas do corredor da classe econômica. Às 12h15, um gritoacordouospassageirossonolentosquetentavamdormir.Acortinadaprimeiraclasseabriu-se,aparecendoacomissáriadebordocomarassustadoeatrásdelaKuhlmanncomumapequenapistola.[134]

Kuhlmann,quepareciaa líderdogrupodesequestradores, identificava-secomomembrodogrupoUnidadeGazadaFPLP-CE.Napartedetrásdoavião,haviadoisterroristascompistolasnumamãoegranadasnaoutra.Poucodepois,ovooAF139desapareceudosradaresdocontroledeespaçoaéreoiugoslavo.

Omemuneh do Mossad, Isaac “Haka” Hofi, e o chefe da Aman (InteligênciaMilitar),ShlomoGazit, foramosresponsáveispor informarodesaparecimentodoAirbus francês ao primeiro-ministro Rabin. “O avião que decolou do aeroportoBen-Gurion,comumgrandenúmerodepassageirosisraelenses,sofreuumacidenteoufoisequestrado”,afirmouHoficomcontundência.OministrodosTransportes,GadYaakobi,umeconomistade41anos, telefonouparaochefedesegurançadoaeroporto Ben-Gurion para que enviasse ao seu escritório a lista de passageirosisraelensesejudeusquevoavamnoAF139.[135]

“Se o avião sofreu um acidente, será o exército a tratar do assunto,mas se foisequestrado,serávocê,amigoGad,quemseresponsabilizarápelainformaçãocomaajudadoMossad”,ordenouRabin.

Alistadepassageiroschegouaogabinetedoprimeiro-ministro,informandoquenovooviajavam245passageiros,mais12membrosdatripulação.OMossadsabiaque, deles, 38 eram israelenses, embora não pudessem saber quantos judeus deoutras nacionalidades estavam nesse voo.Hofi também informou Rabin que umnúmeroindeterminadodeárabesembarcaranovooemAtenasprocedentesdeumvoodaslinhasaéreasdeCingapura.

“Acha que foi um sequestro?”, perguntouRabin. “Estou cempor cento certo”,respondeuodiretordoMossad.“Temoscerteza”,confirmouShlomoGazit,chefedaAman.

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Nessemeio-tempo,Parisviviaapiorondadecalordosúltimoscinquentaanos,eopresidenteValéryGiscardd’EstaingvoavaparaPortoRicoparaparticipardeumareunião com o presidente dos EstadosUnidos, Gerald Ford. Com omandatáriofrancês,viajavamtambémosministrosdaAdministraçãoInterna,daDefesaedosNegóciosEstrangeiros,osquaisdeviamseencarregardainformaçãodosequestrodovoodaAirFrance.[136]Entretanto,nospainéisdoaeroportoCharlesdeGaulle,apalavra“atrasado”estavanalinhaqueindicavaAF139-TLV-Paris.

ÀmesmahoraquedeveriateraterrissadoemParis,ovoosequestradoaterrissouno aeroporto líbio de Bengasi.OMossad confirmou os seus receios sobre o vooAF139,aorecebernoseuquartel-generalumcomunicadodeumkatsadaunidadeDardasim que operava emTrípoli, informando que um voo não previsto da AirFranceaterrissaraparaabastecernoaeroportolíbio.Depoisdeoprimeiro-ministroser informado, ordenou-se a criação de um comitê de emergência formado pelopróprioprimeiro-ministro,Rabin, omemuneh doMossad, IsaacHofi, o chefe daAman,ShlomoGazit,oministrodosTransportes,GadYaakobi,odiretordaElAl,MordechaiBen-Ari,oministrodadefesa,ShimonPeres,eochefedoEstado-Maior,ogeneralMordechaiMottaGur.[137]

Isaac Hofi tinha certeza de que os sequestradores estavam sob o comando deWadiHaddad,chefedeoperaçõesdaFPLP—ComandoEspecial,umadivisãodaFPLPdeGeorgeHabash.HaddadconseguirafugirdeumatentadopreparadopeloKidonnoLíbano, refugiando-se numpaís africano, de ondedirigia sequestros deaviões. Porém, fosse como fosse, os katsa do Mossad destacados na África e naEuropaestavamàesperadealgumsinalprovidencial.[138]

Esteapareceuquandooserviçosecretobritânico informouàestaçãodoMossadem Londres que uma das passageiras fora libertada pelos sequestradores. PatriciaHeyman, com passaporte britânico, ainda que com residência própria em Israel,estava grávida, e por essemotivo deixaram-na sair do avião. Assim que chegou àcapitalbritânicanumvoodaLybianAirlines,ajovemfoienviadaparaapolíciadoaeroporto de Heathrow, onde membros da unidade LAP (Lohamah Psichlogit),especialistas doMossad em interrogatórios, já a esperavam.Heyman informouosagentes israelensesqueos sequestradoreseramquatroequeestavambemarmadoscom pistolas, granadas e material explosivo camuflado em latas de tâmaras quetinhamcolocadonasportasdoaviãoparafazê-lasexplodircasoalguémtentasseumamissãoderesgate.Norelatório,ochefedaestaçãodeLondresinformavaHofieoministro da Defesa, Peres, que o destino final do avião seria um país da ÁfricaCentral ainda a serdeterminado.Em28de junho, IsaacHofi já sabiaqueo vooAF139aterrissaranoaeroportougandêsdeEntebbe,oseudestinofinal.[139]

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Omemuneh informou Peres que, tendo em conta a tragédia por que estavampassandoospassageirosnoavião,Entebbeeraomelhor lugar emquepodiamteraterrissado.Poucosanosantes,membrosdaForçaAéreaIsraelense(FAI)treinarampilotos ugandeses para pilotarem oWestwind, avião de fabricação israelense.NasequipesdepilotosenviadasaopaísafricanoforaminfiltradoskatsadoMossadquesededicaramafotografartodasas instalaçõesdoaeroporto,assimcomoaelaborarplanosemrelaçãoàsmesmas.

“Tambémépreciso levar-se emcontaqueos terroristas têmoapoiopessoaldopresidente Amin”, confirmou Hofi; “podemos apenas contar com o apoio doQuênia,enquantoelestêmumaboaorganizaçãoemUgandaenaSomália”.[140]

Peresdebruçou-se sobreos grandesmapaspostos sobre amesa, concentrando aatençãoemYibuti,aindasobdomíniofrancês.OministrodaDefesatelefonouaoseu colega do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Yigal Allon, para queinformasse oficialmente os franceses sobre a possibilidade de abastecimento decombustívelnasuabasenoNordesteAfricano,epediuaIsaacHofiqueinformasseextraoficialmente o serviço secreto francês, o SDECE, sobre o mesmo assunto.Entretanto, o chefe do Mossad e o general Gur comunicaram aos chefes deoperaçõesparaque fossemcolocados,na“LuzdoDia”,omáximodeagentesdosserviçossecretosisraelensesemestadodealerta.

Na madrugada de 29 de junho, as estações do serviço secreto israelense emLondres,Roma,Paris,BonneAtenasinformavamqueosoutrostrêssequestradoresnão identificados eram Wilfried Böse, um anarquista alemão e amigo de CarlosRamírez, o Chacal, Fayez Abdul-Rahim Jaber, nascido em Hebron em 1930 efundador do grupo Heróis do Retorno, ligado à FPLP — Comando Especial, eJayelNajAl-Arjam,tambémmembrodaFPLP-CE.OMossadtinhaJaberemseusarquivos.Noseulongocurrículodeterror,apareciaoataquecontraumaviãodaslinhasaéreasnorte-americanasPan-Amemdezembrode1973,noqual31pessoasperderamavida.[141]

IsaacHofi precisava saber omáximo possível sobre o local onde o avião tinhaaterrissado, e então decidiu ativar as unidades 504, 8200 e 8513: a primeira,encarregadade recolher informaçãode âmbitomilitar; a segunda, intercepçõesdecomunicações; a terceira, informação fotográfica. Mas também precisava ganhartempo.

Natardede29dejunho,ocomandotransmitiu,pormeiodaRádioKampala,alistadosterroristasquedeveriamserlibertadosemtrocadospassageirosdoAF139.Quarenta presos em Israel, seis na República Federal da Alemanha, cinco noQuênia, umnaSuíça emais outronaFrança.YitzhakRabin, assim comoAllon,

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PereseHofi,estavamdeacordoquereceberiamoapoiodaFrançaedaSuíça,masnão sabiam se os governos de Bonn e de Nairóbi concordariam em libertar osterroristasdetidosemsuasprisões.[142]

Logosurgiuumanovasurpresaquandooskatsadasestaçõesafricanascomeçaramatransmitirqueossequestradoresdoaviãofrancêsporiamemliberdadeumnúmeroindeterminadodereféns.Defato,osrelatóriosseconfirmaramquandoaestaçãodePariscomunicouque47passageirostinhamchegadoesidocolocadossobproteçãodoSDECE.NosinterrogatóriosestiverampresentestrêskatsadoMossad,umdeleseraArielL.,umkidondestacadoemoperaçõesespeciaisequemaistardeparticipariadaequipedeassaltoaoAirbus.[143]

Noresumoque se fezdosdiferentes interrogatórios,descobriu-sequeos judeustinhamsidoseparadosdogrupoprincipal.Porfim,YitzhakRabindeusinalverdeaochamadoplanoB,aalternativamilitarparalibertarosrefénsisraelensesejudeusdoAF139,assimcomoaativaçãodoKidon.[144]

EmBeersheba,aosuldopaís,oscomandosdoexércitoisraelenseeosmembrosdasequipesdeoperaçõesespeciaisdaMetsadatreinavamduro.Váriosengenheirosearquitetostinhamsidochamadosemsegredoparareconstruir,emescalaoriginal,oaeroportodeEntebbenaquelelugardesértico.

Ambasasequipesforamcolocadassobaliderançadojovemgeneralde39anos,Dan Shomron, que seria chefe do Estado-Maior de Israel durante a Guerra doGolfo. Para evitar que os serviços secretos estrangeiros detectassem a ligação deShomroncomaoperação,foidecididoqueeleseretirasseparaumacasaemRamatGan, um bairro dos subúrbios de Tel Aviv, sob proteção dos katsa de Hofi.Diariamente,ogeneralerainformadodosavançosedosretrocessosdasnegociaçõespelo chefe do Estado-Maior, Mordechai Motta Gur, pelo próprio Isaac Hofi oupeloassistentedoministrodaDefesa,IsraelTal.

Rapidamente, começaram a surgir sérios problemas no comando da missãoquando Shomron discutiu com alguns dos membros das operações especiais doMossad e, em especial, com os assassinos da Metsada, sobre o modo de levar atermo o resgate. Foi necessária a intervenção do todo-poderosoHofi para que seacalmassemosânimos.[145]

Hofi ordenou que três dos seus agentes viajassem a Nairóbi para iniciar oscontatos com as autoridades.Os katsa que chegaram aoQuênia com passaportesbritânicos eramUriDelard,DanKovek e um gigante chamado Ariel Kleimann.[146]Opresidente,JomoKenyatta,deuasuaaprovaçãoaostrêskatsa,permitindo-lhesatéinterrogardoisterroristasdenacionalidadealemãqueforamdetidospoucosmesesantes,quandotentavamatacarumaviãodaElAlemNairóbi.Delard,ochefe

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daequipe,informouHofiqueogovernodoQuêniadavatodooseuapoioàcausa,emboranãopudesse garantir queKenyattamostrasse amesmapredisposiçãoparaautorizaraaterrissagemdeaviõesmilitaresisraelensesemseusaeroportos,tendoemvistaqueestesiriamempreenderumaaçãobélica.

Em 1º de julho, o Comitê de Emergência reuniu-se na sede doMinistério daDefesa por volta das sete damanhã para analisar toda a informação recebida dasdiferentes estações do Mossad. Uma hora e meia depois, o gabinete votou, porunanimidade,concederamáximaautoridadeaoComitêdeEmergência,oquedavatotalliberdadeaIsaacHofie,consequentemente,aoskidondaMetsadaparaagir.

Após a reunião, oministrodosNegóciosEstrangeiros,YigalAllon, informouoembaixadorGazit,emParis,queogovernodecidiradiscutircomossequestradoresalibertação dos terroristas que Israel tinha em seu poder e que isso devia sercomunicadoaogovernofrancês.A ideiadessecomunicadoeraadeganhartempopara evitar que a França tomasse alguma decisão que colocasse em perigo aOperaçãoRaio, que aindanão tinha sidodecidida,masque estava cada vezmaispróxima,devidoaoparcoresultadoobtidopelogovernoisraelensecomoplanoA,ouseja,odiplomático.[147]

À uma da tarde, a RádioKampala anunciava a intenção dos sequestradores deprorrogaroultimatoatédomingo,dia4dejulho.Eraprecisotomarumadecisãooquantoantes.

Quinta-feiratambémfoiumdiaduroparaRabin,porqueumadelegaçãoformadaporumgrupodefamiliaresdosrefénsexigiu,noseugabinete,queIsraelnegociasseoquanto antesparaque elespudessem regressar aos seus lares.Na reunião estevepresente Isaac Hofi, embora não tenha dito uma palavra até a delegação sair dogabinete.[148]

“É necessário dar sinal verde ao plano B”, disse Hofi. “Nosso tempo está seacabando.”Rabinsoubeentãoqueseencontravaentreacruzeaespadaequetinhadesedecidir.Entretanto,seuscomandanteseoskidondaMetsadacontinuavamatreinarnosuldopaísàesperadadecisão.

“Se temos de fazê-lo, deve ser no domingo. Amin é um homem que gosta decontrolar pessoalmente seu exército, enessedomingo ele estarána conferência decúpula dos Estados africanos para completar o seu mandato como presidente daOUA—OrganizaçãodaUnidadeAfricana”,disseRabin.EnquantoissoaconteciaemTelAviv,oskatsadoMossadchegavamaNairóbinumvoodaElAlvestidoscomohomensdenegócios.YeruchamAmitai,umveteranopilotodaFAI,treinaraospilotosugandesesatéqueosrussoseosseuscaçasMigentraramemação.Foram,

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inclusive, os engenheiros israelenses que realizaram as obras de ampliação doaeroportodeEntebbeparaacomodaroscaçassoviéticos.

Novamente, o MI6 informou a estação do Mossad, em Londres, que ossequestradores haviam libertado 101 reféns. Os agentes da unidade LAPdeslocaram-separaoaeroporto,onde,depoisdeinterrogaroslibertos,descobriramque os terroristas tinham retido apenas osmembros da tripulação e os judeus. ApalavraseleksiavoltavaaaparecernasmentesdeIsraeltrintaanosdepois,amesmaqueosmembrosdaSSusavamaoenviarosjudeusparaascâmarasdegásapartirdasestaçõesdetrememAuschwitz.[149]

Outropassageiro informouumkatsa da LAP que oAirbus tinha sido batizadocom o nome de Arafat e que a terrorista alemã confiscara os passaportes dospassageiros,separandoosdenacionalidadeisraelensedosnãoisraelensesquetinhamsobrenomesjudeus.

Durante todoodia, os reféns eramvigiados, tantopelos terroristas comopelossoldadosugandesesarmadoscommetralhadoras.OsagentesdoMossadfizeramumesboço muito preciso com os resultados dos interrogatórios realizados com oslibertos.NorelatóriotransmitidoaIsaacHofi,os seuskatsa indicavam-lhequeosrefénsestavamhá24horasrodeadosportrêscírculosdesegurança;oprimeiroeraformadopelosterroristas;osegundo,pormembrosdasededeKampaladaFrentedeLibertaçãoPalestina(FLP);eoterceiro,porsoldadosugandeses.[150]

Acadadiaquepassava,YitzhakRabin,pressionadopor IsaacHofi, estavamaisconvencidodequeoplanoBeraomais indicadopara solucionaro sequestrodoAF139.Na sexta-feira, 2de julho, o chefede governo jáhaviadecididoque seushomens atacariam o aeroporto de Entebbe e libertariam os reféns, israelenses efranceses.Desde então, começarama chegar informaçõesdas estaçõesdoMossad,emParis,aoquartel-generaldoInstitutosobredetalhestécnicosdoAirbus;sobreoterrorista Wilfried Böse da estação de Bonn; e sobre os palestinos da estação deMontreal.[151] Tudo passava por um processo de triagem, que descartava ainformação inútil e transmitia a útil para que fosse colocada no lugar que lhecorrespondia.

NoseugabineteemTelAviv,Peresconvocouumareuniãodeurgênciacomoseucomandantesupremo,MordechaiMottaGur.“Temosapenasquedecidirquandoea que horas”, disseGur.Mas Peres esperava o relatório de IsaacHofi para dar aaprovaçãodoplanoBaRabin.Quasenoiníciodanoite,omemunehapareceunogabinetecomumasófolhadepapel.Eraorelatóriofinal.Odocumentotinhacincopontosclaros:

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OpresidenteAminestáusufruindodapublicidadeeécertoqueIsraelnãoconseguiráacooperaçãododitadorafricanoemhipótesealguma.OMossadsabequeseisdirigentesterroristasviajaramdecarrodaSomáliaaKampala.OpresidenteAminfaloudo“númeroum”nassuasconversastelefônicascomBar-Lev.Esse“númeroum”podiaserodoutorHaddad.OpresidenteAminusaráaconferênciadecúpuladaOUAcomoformadepropagandaeregressarárapidamenteaUgandaparacontrolarasituação.Os katsa do Mossad acreditam que, a partir de domingo, os terroristascomeçarãoaexecutarosreféns.O Departamento Estatal de Investigação ugandês, pouco partidário deAmin, controlaria qualquermovimentododitador antes de domingo.Oproblema poderia ser os serviços secretos ugandeses, muito próximos dopresidente.

DepoisdeanalisarainformaçãoexplicadacomprecisãopelodiretordoMossad,

decidiu-se que o plano B seria executado em não menos de seis horas antes damadrugada de domingo, 4 de julho.A questão agora era se seria útil capturar ossequestradores comvida. “Aprioridade sãoos reféns.No entanto...”,Peres olhoufixamente para Hofi, tentando conseguir uma resposta de se isso seria possível.“Poderíamostentar”,respondeuopoderosochefedoMossad.

Rabinligoupelamanhãparaumtelefonesituadonumpequenoapartamentodeum bairro suburbano de Tel Aviv. Do outro lado da linha, o lendário generalMosheDayanouviuassuasexplicaçõessobreaOperaçãoRaio.

“Seosdeixarmosvivos,voltarãoaatacarIsraelcommuitomaisforça,porteremperdidoabatalhadoAF139.Devemosexecutartodoseles.Convença-selogodissoeativeaMetsada”,disseDayan.[152]

DepoisdeconsultarHofi,decidiu-seunirumcomandodoKidoncomosoutrosque partiriam para Uganda. As suas ordens eram claras: enquanto os comandosparaquedistas libertavam os reféns, eles deviam matar todos os terroristas queencontrassememEntebbe.NacabeçadeIsaacHofiapareciamosrostosdeCarlosRamírez,oChacal,edodoutorWadiHaddad.Seriarealmenteumagrandevitóriapara a Metsada, o Mossad e, portanto, para Israel, se conseguissem assassinar osdois.

Namadrugada de sexta-feira, Shimon Peres reuniu osmilitares e os Kidon daMetsadaquefariampartedamissãoderesgate.“Estouorgulhosodevocêsedoquevão fazer pelo seu país, mas também estou dos reféns que estão há vários dias

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lutando por suas vidas. Tenham cuidado, tragam para casa seus compatriotas evoltemsãosesalvosaolardevocês,queéIsrael.Ésó,eboasorte.”[153]

Enquanto os paraquedistas treinavam para ter uma ideia das instalações deEntebbe, os kidon da Metsada estudavam as fotografias dos terroristas quepossivelmenteestariamnasinstalaçõesaeroportuárias.Osrostosembrancoepretode cidadãos árabes e alemães passaramdiante dos olhos atentos dos assassinos doserviçosecretoisraelense.Cicatrizes,expressõesetraçosfaciaisficaramgravadosemsuasmentes.

OdoutorHaddad,umpalestinode40anos,segundonocomandodaFPLP,logoabaixodeGeorgeHabash,eraumafiguralendárianomundoterrorista,quasetantoquanto oChacal.Haddad já havia sofrido dois atentados emBeirute, o primeiroorganizadopeloshomensdeAbuNidal,masqueeleatribuíraaoMossadpara,comisso,voltarasedestacardentrodomovimentonacionalistaárabe.[154]

OsegundoatentadofoirealizadocomolançamentodefoguetescontraacasadeHaddad, em11de julhode1970,de formamuito similar ao realizado contraosescritóriosdaOLPemBeirute,emsetembrode1969.Aparentemente,umaequipedoKidonseguiradurantemesesolíderdaFPLPatéconhecerolocalnoqualficavaasuaresidência.Às2h14,ouviu-seumaforteexplosãonoterceiroandardoedifícioKatarji,nodistritobeirutensedeAlmalah,esquinacomaruaMuhiAldinAlhayat.Seis mísseis katyusha de fabricação soviética foram lançados de um apartamentosituadonoquintoandardoedifícioemfrente.TrêspenetraramnasalaenoquartodeHaddadedoisnãoexplodiramdevidoafalhastécnicas.OdoutorHaddadsaiuileso,enquantoaesposaeafilhasofreramqueimadurasgraves,sendotransportadasparaoHospitalUniversitárioAmericano.[155]

O apartamento de onde se lançaram os foguetes estava mobiliado com umarmárioeumacama.Najanela,encontraram-seluvascirúrgicaseumbilheteescritoem árabe que dizia: “Isto é uma mensagem de Fatah”. A polícia de BeiruteidentificouoinquilinocomoumhomemchamadoAhmadBatzrat,compassaporteiraniano,quechegaraàcapital libanesahavia trêsmeses.Narealidade,oassassinoiranianoeraYarivBarlatov,umkidondaMetsada.OserviçodesegurançadaFPLPprocurouaveriguarcomooMossaddescobriraqueHaddadestavaemBeiruteseeletinhachegadodeParishaviaapenasdoisdiaseque,emseuapartamento,dormiaaguerrilheirapalestinaLeilaKhaled,[156]quetambémsaiuilesa.

Oprimeiro-ministroYitzhakRabinsabiaque,sequisesselibertartodososrefénsdovooAF139daAirFrance,teriadeseràcustadeIsraeledahabilidadedosseuscomandosemembrosdaMetsada.AconselhadoporHofi,Rabindecidiudarumacoletiva à imprensa na sexta-feira, dia 2 de julho, dois dias antes do ataque

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impetuoso,parainformarqueosequestrodoaviãoeramaisumgolpecontraIsraelporpartedaFPLPedeumdosseusmaisviolentoslíderes,odoutorWadiHaddad.[157]

No rodapé do relatório confidencial doMossad indicava-se queWadiHaddadnuncasedeixavafotografarequeeraextremamentecautelosonosseusmovimentosenassuasviagens,tantoforadoLíbanocomodentrodeBeirute.AOperaçãoRaioestavaemcurso.Depoisdetomaressadecisão,Rabincomentoucomseuchefedeespionagem:“Umademocraciasópodemanterumaaçãofirmeempolíticaexternacomgrandesdificuldadeseresoluçõeslentas.Serompemosoprocessodemocráticoafimdesobreviver,podemoschegaraperderasrazõesmoraisdanossaluta”.[158]

Durante os últimos quatro dias, Rabin tentara, por todos os meios, fazer seuschefesmilitaresedeinteligênciaentenderemanecessidadedeaOperaçãoRaioserconduzida dentro de alguns limites, algo difícil de fixar dentro de uma ação deguerraeaindamaisquandoopróprioRabinautorizaraaIsaacHofiaparticipaçãodoKidonnogrupodecomandosqueteriamquelibertarosrefénsemEntebbe.

Nosábado,dia3dejulho,aunidadedoMossadnaáreacontinuavaainformarHofi, através da chamada “Inteligência Fibra”, ou seja, baseada em observações,rumores ou sentimentos gerais procedentes dos katsa da área. Uma dessasinformações, aquemaispreocupavaoComitêdeEmergência, era aque indicavaque, apartirdedomingo,dia4de julho,os terroristas começariama executarosreféns.

“A Operação Raio seria um êxito espetacular ou uma catástrofe terrível paraIsrael”, segredouRabin aZbigniewBrzezinski, umdos principais conselheiros depolítica externa do então candidato presidencial JimmyCarter durante um jantaremJerusalém,cujoanfitriãoeraoministrodaDefesaShimonPeres.[159]

Apósobanquete,Peresagarrouoconselheironorte-americanopelobraçoelevou-oparaoutroladodograndesalão.Falandoempolonês,comentou-lhe,emboracompouca precisão, a possibilidade de Israel agir por conta própria para solucionar oproblemadosrefénsnovooAF139daAirFrance.Aparentemente,IsaacHofitinharecomendado a Rabin e a Peres que informassem Brzezinski, um catedráticocinquentãodePolíticaInternacionaldaUniversidadedeColumbia,dequepoderiavirasubstituirHenryKissingerseCartervencesseaspróximaseleições.OprofessortelefonouparaasuacasadeNovaYorknodomingoàtarde,quandoopuseramapardaoperaçãoemEntebbe.Brzezinskisedeucontadequeosisraelensespodiamestar guardando um segredo e, no entanto, ao mesmo tempo, dar certa dose deinformação, algo que para um analista como ele deveria ter sido suficiente. OprópriochefedoMossadescreveuemrodapénumgrossorelatóriosobreIdiAmin

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Dada:“Nadapodedebilitarmaisasuaposiçãoeasuaautoestimaqueumaderrotaem Entebbe. Por essa razão, devo supor que Amin pode ser mais perigoso quenunca”.

Namanhãdesábado,3dejulho,umassistentedeHofientrounoseugabineteàspressas e entregou-lhe um envelope lacrado procedente do departamento deDardasim em Nairóbi, que um baldar (mensageiro) tinha transportado até oquartel-general do Instituto. O relatório mostrava que o líder ugandês nãocolaborariacomasforçasisraelensesparaoresgateeatéinformavaqueelepermitiraque outros membros da FPLP, procedentes da Somália, se unissem ao grupo desequestradores do AF139. Ao todo, seis homens armados mais os quatrosequestradores formavam o grupo mais próximo aos reféns. Esta informação foipassada imediatamente a Ariel L., responsável pela equipe do Kidon que deveriamatar os terroristas em Entebbe, e a Dan Shomron, chefe dos comandos e daOperaçãoRaio.

Novamente, os sequestradores libertaramoutro grupode passageiros.UmdelesfoiMurraySchwartz,umprodutordetelevisão,quecontouàSDECEeaoMossadque,quandooAF139daAirFrancechegouaEntebbe,tudopareciaindicarqueoesperavam. Hofi confirmou então os seus medos, uma vez mais, e informou oprimeiro-ministroYitzhakRabin:“Ugandaestáenvolvidanosequestro”.[160]

FoientãoqueochefedoMossadordenouqueumcaçaPhantomdaforçaaéreaisraelenseseguisseoaviãoparticulardeAminatéasIlhasMaurício,localnoqualsedeviarealizarareuniãodecúpuladaOUA.SeoAF139fossedinamitadooualgumdos reféns executado,opilotopoderiaderrubaro aviãodeAmin.[161]Para IsaacHofi e Dan Shomron, era extremamente importante ter o presidente ugandêsvigiadoemcadaminutoduranteosábado,3dejulho,eodomingo,4dejulho,dataprevistaparaatentativaderesgate.

Shomron e seus comandos, homens duros pertencentes ao corpo de elite doexército israelense, sabiamqueseriamnovamenteescolhidosparaatacaremdefesadoseupaísemalgumlugardomundo.Aoscomandosque iriamparaEntebbe,afrasedeOliverCromwell, “Saibeiporque lutais e amaioque sabeis”, se ajustavacomouma luva.Por fim, o general Shomronobteve a aprovação final dos chefesmilitares para fazer as forças combinadas aterrissarem em Entebbe, sob o seucomando: um grupo de forças especiais liderado por YoniNetanyahu e outro dekidondaMetsadalideradoporArielL.

A Unidade Dardasim e os seus baldar do Mossad em Nairóbi e Kampalarecolhiamumagrandequantidadedeinformaçõessobreolocalondeoscomandosdeviam aterrissar e com que se deparariam. O número de defesas ugandesas era

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relativamente alto. Duzentos e cinquenta transportes blindados de tropas, umadesconhecidaquantidadedeobuses,mísseisemorteirose,opiordetudo,cinquentaaviõesdecombateMig17eMig21,cujabaseeraamesmadeEntebbe.

Isaac Hofi ordenara o envio a Nairóbi no voo da El Al 535 de uma unidadeespecialde informaçãodoMossad, compostapor cincoequipesde seiskatsa cadauma.GeoffreyKarithii,chefedaGSUGeneralServiceUnit—UnidadedeServiçosGerais)queniana,garantiuaoMossadqueoseupresidenteaprovaraaajudaàforçaexpedicionária israelense, algo que foi comunicado de imediato a IsaacHofi e aochefe da operação, Dan Shomron. Apenas Charles Njojo, procurador-geral doQuênia,comentouaKenyattaque,segundoasleisinternacionaisdeaviaçãocivil,oseupaísnãopodiaimpedirqueaviõesdecargaisraelensesaterrissassemnoaeroportointernacional deNairóbi,mas recomendava que a pequena esquadrilha de aviõesHérculesaterrissassenumapistadistantedoterminalprincipal.[162]

OchefedaestaçãodoMossadnacapitalfrancesaenviouumamensagemaoseuchefenoMinistériodaDefesaemTelAviv,transmitidapelaEmbaixadadeIsrael,em que se recomendava alterar as avaliações anteriores a respeito do presidenteAmin. “A sua tendência tem sido prolongar as negociações por motivospublicitários.Achamosqueoditadorestáansiosoporsatisfazerossequestradores.Apartirdasevidências,acreditamosqueAmindaráseuconsentimentoparacomeçarasexecuçõesnamadrugadadedomingo,4dejulho”,terminavaassimamensagem.Apóslê-laatentamente,IsaacHofienviouumacópia“confidencial”aoministrodaDefesa, Peres, ao chefe militar da Operação Raio, Dan Shomron, e ao chefe daequipedoskidon,ArielL.

NoseugabineteprovisórioemTelAviv,Rabinanalisoutodaa informaçãoquetinhanaspastasvermelhaseazuisquehaviamsidoordenadassobreamesa.Dentrodoespaço,semmaisadornosalémdabandeiracomaestreladedavieosretratosdeTheodorHerzleChaimWeizmann,Rabinfalavacomassuasvisitassobreosprósecontras da Operação Raio. Após quatro horas de debate, exclamou: “Vamos emfrentecomaoperaçãoderesgate”.[163]

Isaac Hofi e Motta Gur correram ao telefone e comunicaram aos chefes daoperaçãoqueogovernodeIsraelderacartabrancaaoplanoB.Rabinsaiudasalaefez o mesmo com o chefe da oposição, Menahem Begin, para lhe informar dadecisãoeconseguirumconsensopolíticocomaaçãomilitarqueserealizariapoucashoras depois.Aconselhadopelomemuneh doMossad, não descartou a decisão decontinuarcomanegociação.Nessemesmodia,RabininformavaBegin:“Pensoquepodemospôrempráticaessaoperação.SófaltaogeneralGurassistiraumensaioda

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Operação Raio e, se ele ficar satisfeito, pediremos a aprovação do gabinete e daComissãodeDefesadaKnesset”.

Na desérticaBeersheba, os comandos israelenses e oskidon daMetsada sabiamquesexta-feiraànoiteseriarealizadoumprimeiroensaiogeral.Oassaltosimuladofoidivididoemseções.MordechaiGurdecidiureunir-secomoscomandosecomosagentesdoMossadquedeveriamvoarnosHérculeseperguntou-lhesseestariamdispostosafazerisso.ArielL.,ochefedoskidon,disse:“QueosHipponosdeixememEntebbeenósterminaremosatarefaemumahora”.“Quesejam55minutos”,replicouGur.[164]

AsequipesdoMossaddeveriamseencarregarnãosódeexecutareidentificarosterroristas mortos, mas também de proteger os reféns na longa distância entre ohangaremqueseencontravamfechadoseasplataformasdosC-130,comaequipede atiradores da inteligência israelense que viajaria no primeiro Hércules queaterrissariaemEntebbe.[165]ArielL.sabia,assimcomoasuaequipe,quedisporiaapenasdeumminutoequinze segundosparaacabar comos terroristas antesquereagissemecomeçassemamatarosreféns.

OdepartamentodeanálisedoMossadfoiobrigadoporYitzhakRabinaprepararum relatório em que deviam fazer um cálculo das possíveis baixas o maisaproximadoepessimistapossível.Norelatório,quefoiapresentadotrêsdiasdepois,aparecia uma estimativa de 30 a 35 mortos. “É aceitável”, dizia o relatório.Entretanto,oMI6britânico informavaquealgunsestrategistasdaOLPjá tinhamsidodeslocadosparaKampala,oqueaumentavaoriscodeexecuçõesderefénsdoAF139.AequaçãopensadaagoraporRabineramuitosimples:ouoriscodeperder35refénsaoagir,ouenfrentaramortede105porpecadodeomissão.

Sábado, 3 de julho, parecia um dia normal em Israel. As praias de Tel Avivestavamlotadasdegente,oHayarkoncomtráfego intenso,Jerusalémvazia,assimcomoosserviçospúblicos,eoshotéislotadosdevidoaograndefluxodeturistasquechegavam àCidade Santa.Nessemesmo dia, numa base ao norte do paísmuitopróxima ao histórico lagoTiberíades,Dan Shomron reunia-se com IsaacHofi, ogeneralMottaGureBenniPeled.Diantedeles,perfeitamenteformados,estavamosescolhidos para aOperaçãoRaio.Comandosda SayeretMatkal, paraquedistas da35ªBrigadaAerotransportada,gadnas(jovensmilitares)dasforçasantiterroristas,oskidondaMetsadaeoficiaisfemininosdocorpoaéreoquedeveriamassistirosferidosdentrodosHérculesC-130.Oensaiogeralestavaprevistoparaessamesmanoite,para o qual os engenheiros da companhia construtora Solel Boneh tinhamreproduzidoemescalaoaeroportodeEntebbe.

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AprimeiraequipeadesembarcardoHippo1 seriaadeYehonatanNetanyahu,conhecidocomoYoni,quedeveriaacabarcomaprimeiralinhaderesistência.Emseguida, seria a equipedeArielL. comos seuskidon daMetsada, incumbidos daexecuçãodossequestradoreseapossívelcapturadodoutorWadiHaddad.Ambasasequipesestavamdisfarçadascomuniformesdoexércitougandês.AmédiadeidadedoshomensdeYonierade20anos,enquantoadaequipedeassassinosdaMetsadaerade25.

“EstavamnervososnosentidodequenãotinhamconhecimentoalgumdaÁfrica.Estávamos habituados a ataques noturnos e a combater em condiçõesdesconhecidas.MasEntebbeeradiferente.Estávamospreparadosparaatacarpoçosdepetróleo,aeroportosouinstalaçõesmilitares,masnenhumdenóspensarajamaisemcombaternumpaísdaÁfricaNegra”,disseShomronapósaoperação.[166]Acadaminutoquesepassavarecebia-se,noquartel-generaldoMossad, informaçõesprecisassobreEntebbe,atémesmo,porexemplo,setinhacomeçadoachover.Taisinformaçõeseramtransmitidasdosaviõesisraelensesquesobrevoavamoaeroportougandês,observandoasmudançasdeclima,osmovimentosdosaviõesugandeseseacontínuaposiçãodopresidenteIdiAminDadaedoseuaviãoparticular.

Os 707 podiam aterrissar em Nairóbi sem provocar nenhum distúrbio; pelocontrário,osHércules,equipadosparaumaaçãobélica,podiamprovocaroalarmenoaeroporto.

Benni Peled informou explicitamente o Mossad, o ministro da Defesa e oprimeiro-ministro,queumdosHérculesC-130carregaria tanquesdecombustívelparaqueosoutrosHipposreabastecessemassimqueaterrissassememEntebbe.“OperigoseriaparaospilotoseparaatripulaçãodosC-130,quedeveriamreabastecercom os motores ligados”, informava o chefe da FAI. O ministro dos NegóciosEstrangeirosdeIsraelsabiaqueseamissãodeEntebbenãofossebem-sucedidaesetivessemdeaterrissarcomurgênciaemalgumabasedoQuênia,osquenianosseriamacusadosdeparticiparemconjuntocomIsraeldeumaaçãobélicacontraUganda.HofiinformouShimonPeresquenodiaprevistoparaoresgatenãohaveriatráfegoaéreocomercial entreNairóbieÁfricadoSul, atéas2h30,quandoaterrissariaaliumVC10daBritishAirwaysnarotaLondres-IlhasMaurício.[167]

IsaacHofi recomendara ao exército que fossemos homens de uma unidade deintervençãodoMossadosencarregadosdevigiarasoperaçõesdecargaepreparaçãode transportes. Os únicos oficiais presentes eram o general Dan Shomron, otenente-coronelYehonatan“Yoni”NetanyahueArielL.,doKidon.SeaOperaçãoRaio tinha se mantido em segredo dentro do âmbito político, isso não foi nadacomparado aomuro de silêncio levantado dentro do exército e das forças aéreas.

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Hofi ordenara a todos os responsáveis pelas equipes do Mossad implicados naOperaçãoRaioquedestruíssemtodososdocumentosparaevitarumvazamentodeinformação.

Em um grande espaço que servia como hangar, os membros dos comandos,sentadosnochãodiantedeumgrandemapadeEntebbeeumagrandeplantabaixado aeroporto, atentavam às indicações deYoniNetanyahu: “É preciso chegar aosrefénscomamáximavelocidadeedeixarqueoshomensdaMetsadaseencarreguemde eliminar os sequestradores. Temos somente alguns segundos entre o êxito e amatança”,disseele.[168]

“Que acontecerá se os reféns se levantarem e nós os confundirmos com ossequestradores?”, perguntou um jovem oficial. “Devem deixar que a Metsada seencarregue dos sequestradores e é por isso que eles atacarão o hangar no qual seencontramosreféns”,explicouYoni.[169]

Na mente de todos, Entebbe aparecia como um lugar próximo e conhecido,devido ao estudo feito do aeroporto por todos osmembros que participariam daOperaçãoRaio.Osúnicos sentadosnumcanto, afastadosdagrande sala, eramoscincomembrosdaMetsada.Vestidoscommacacõespretosdepilotoecomrelógiosdemergulhonospulsos,pareciamserosmaistranquilos,quandonaverdadeseriamelesaencabeçaroataqueaEntebbe.[170]

“Seria melhor que apressasse o seu dirigente, Jaber”, disse Yoni, “pois sãoassassinos.Nãoteremosumasegundaoportunidade”.

“Então cumprirei as ordens à risca. Executaremos todos eles”, respondeu Arielenquantosedistanciavaparasereunirnovamentecomosseushomens.

Durante as últimas horas, e à espera da decisão final do gabinete do primeiro-ministro Rabin, 280 homens, fortemente armados, permaneciam num hangar aoladodecaminhõesejipesarmadoscomcanhõessemrecuo.

Ao sairdogrande edifício, as equipesde resgate começarama se acomodarnosdiferentesaviõesquejátinhamsidoatribuídos.Homenscomuniformedecombate,kidon vestidos com macacões pretos e paraquedistas vestidos à paisana, como sefossempassarumfimdesemananocamping.

Nessa mesma tarde, num lugar de Tel Aviv, o governo reunia-se em sessãoplenária,conduzidapeloseuchefe,YitzhakRabin.Revelandoansiedade,confessouaosseusministrosqueseaOperaçãoRaionãofossebem-sucedida,eleassumiriaaresponsabilidade pelo fracasso, mas se, pelo contrário, o resgate de reféns fosselevado a êxito, o único vitorioso seria o Estado de Israel e o seu desejo desobrevivência.[171]

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Osministrosouviram-noemsilêncio,eeleanunciouqueaprovavaoplano,masque de qualquer maneira levaria em conta as opiniões de todos os membros dogabinete.Senofimdasessãohouvesseumamaioriacontraoanúncio,osaviõesnãolevantariamvoo.Adiscussãocontinuoudurantehoras.

Entretanto,nabaseaérea,osaviões jáestavampreparadosparadecolar,àesperadasenha:“Zanek!”(Salte!).Osmotoresrodavamaquecendo-seelançavamfumaçaecheirodecombustível.

“Por quenãonos dãoo zanek?”, questionavam-seAriel e Yoni. Finalmente, osaviõesdecolaramemdireçãoaoseudestino,emborasemaordemfinal.EstavamemconstantecontatocomTelAviv,paraocasodelhespedirempararegressaràbase.Comumforteestrondo,osHipposcomeçaramalevantarvoo.“VamosatéEntebbesemumaordemdoprimeiro-ministro”,disseYoniNetanyahu.“Senãosedecidiremrápido,emsetehorasestaremossobrevoandoaprópriacasadeIdiAminDadaemUganda”,confirmouAriel.

O ambiente estava ficando mais tenso à medida que os ponteiros do relógiocontinuavam a avançar.Um som secoparecido comode um trovão indicou aospilotos dos Hércules que três caças de escolta tinham se unido à esquadrilha deaviões sem destino definido. Algumas horas depois aterrissavam na zona desegurançamáxima do aeroporto deNairóbi.Um segundo 707 de apoio seguia omesmoprocedimento.

Surgiu um novo problema quando o serviço secreto sul-africano (BOSS)informou a estação do Mossad em Nairóbi que Idi Amin decidira regressar aUganda,vindodasIlhasMaurício,antesdotempo.“EseoscomandoseoaviãodeAmin aterrissassem no aeroporto de Entebbe ao mesmo tempo?”, pensou IsaacHofi, uma pergunta que só podia ser respondida na própria instalação ugandesa.[172]

AesquadrilhadequatroHércules sobrevoavaoSinaiquandoeles receberamdeTelAviv a tão esperada senha:Zanek.Apartir dessemomento, os rádios ficarammudos. O caça principal, com seu grande radar, informava aos outros três ocaminhoqueoslevariaaocoraçãodeUganda.David,ocomandantedoesquadrão,iaàfrentequandorecebeuaordemdevoaràvelocidademáximaatéEntebbe.

Noúltimotrecho,asextremasvariaçõesatmosféricasobrigaramamudançasnosplanosdevoo.CadaHippovoavaemsilêncioeisoladamentedosrestantesduranteanoite, caso algum fosse interceptado.Horas depois desciampelo escuro vale doRiftemdireçãoaolagoVitória.DentrodoprimeiroHércules,aequipedaMetsadacomandada por Ariel preparava as armas commiras telescópicas infravermelhas esilenciadores, enquanto pintavam os rostos e as mãos com tinta preta. Dan

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Shomron, Yoni Netanyahu e Ariel L. reviam os últimos detalhes do planooperacionalcomassuasequipes.

Ariel,ochefedaequipedeassassinosdaMetsada,eraumhomemdecontrastes.Nascido no bairro nova-iorquino do Brooklyn, esteve à frente de uma unidadeespecialduranteaguerradosSeisDias,emquefoiferido.RecebeubaixadaFDIeregressouaosEstadosUnidos. IsaacHofi,opoderosochefedoMossad, tinhauminteresse pessoal por Ariel e foi o seu “cavalo”, nome que os agentes doMossaddavam ao apoio dentro do Instituto.O próprioHofi fez com que o kidon fossetratado no hospital Hadasah da sua ferida de guerra. Estava tecnicamenteincapacitadopararealizaroperaçõesespeciaisnaMetsada,masArielestavadecididoa fazerpartedaunidademais secretaedeelitedo Instituto.Passou trêsmesesnodesertodoNeguev,treinandocomoscomandosdoexército,atéqueumdiaArielSharonperguntou-lhe:“OquevocêpodeofereceraoMossad?”.Elepensoudurantealguns segundos e respondeu: “Posso recitar de cabeça os poemas de NathanAlterman,umdosprincipaispoetasdeIsrael”.Sharonolhou-osurpresoe,depoisdesoltarumafortegargalhada,disse:“Certo,filho,ebem-vindoaoInstituto”.[173]

Uma densa neblina cobria por completo o aeroporto de Entebbe enquanto osHérculesseaproximavamvoandoàdistânciade750metrosentreeles.EmTelAviv,nogabinetedoministrodaDefesaPeres,osmembrosdogabinetereuniam-seporcontadaproximidadedaHoraH.Ao finalde algunsminutos chegaram tambémRabin,MordechaiBen-Ari,diretordaElAl,eosmembrosdeoperaçõesespeciais.Sentaram-seemsilêncio,àesperadasprimeirasmensagens.Nenhumdospresentesnasalaperdiadevistaagrandemesacomintercomunicadoresqueseencontravanofundodogabinete.Às23h03,horalocal,ouviramosomdosprimeirosdisparosdosagressoresatravésdosemissoresquecarregavam.[174]

No desconjuntado terminal de Entebbe, os reféns suportavam o sexto dia emUganda.Osvigilantes,nesseturno,eramdoisalemães.Ospassageirospadeciamdevômitos e fortediarreia, ehaviaumcommalária.No sábado,dia3de julho, IdiAminDadaapresentou-sediantedeleseanunciouqueacabavaderegressardasIlhasMaurícioequeestavafazendoomáximopossívelparasalvá-los.“DevemculparosenhorRabin, sealgo lhesacontecer,vistoqueoseugovernonega-seanegociar”,afirmouAmindemodocontundente.

Um grupo de terroristas dispersou-se entre os reféns. Os que ficaram fora doterminal eramosmelhoreshomensdeWadiHaddad.Naentrada,doispalestinosguardavamoacessodiretoaoprimeirogrupodereféns.UmeraFayezAbdul-RahimJaber, oficial de operações da FPLP.O seu companheiro, um tanto nervoso, eraAbdel Latif, que vigiava o lado de fora da porta do terminal com um fuzil

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Kalashnikov, coma travade segurançadestravada,nasmãos. JayelNaji al-Arjam,umpalestinobaixoerobustopróximodos40anosequeexibiaumaboinaaoestilode oChacal, estava de guarda em outro lado do edifício. A sua tarefa dentro daFPLP era supervisionar ações terroristas contra interesses israelenses na África doSul.DeacordocomumrelatórioempoderdeHofi,Al-ArjamajudaraoChacalnatentativadeassassinatodeEdwardSieff,opresidentejudeudaempresadegrandesarmazénsMark&SpencerdeLondres.[175]

Voandocomaajudadeumsinal,osHérculesaproximavam-sedeEntebbe.Noprimeiro,aequipedaMetsadaeoshomensdeYoniesperavam,aliespremidos,queoaviãoaterrissasseeabrisseasuagrandeplataformatraseiraparasaltaremterra.NoaviãotambémeratransportadoumMercedes-BenzpretoparecidocomodeAmin,ocupadopordoishomensdoscomandosquedeviamdirigir-seàentradaprincipaldoaeroportoparaeliminarassentinelasugandesas.

Aesquadrilhadequatroaviõescobriuoúltimotrechodeaproximaçãoempoucomaisdedezminutos,separando-sedelaosdoisprimeirosHércules.

Umaterrissariananovapistaprincipal,eosegundonaantigapista,jáemdesuso.O caça principal voava já sobre o lago Vitória, enquanto imensas gotas de águaatingiam repentinamente os pequenos para-brisas.Num segundo, diante dos seusolhos, apareceuuma iluminadaEntebbe; este era omomentomais discutidopelaliderançadaoperaçãoepeloskidondaMetsadaquetrabalhavamnazonaantesdaoperação.Oprimeiroaviãoplanouaolongodamargemocidentaldolago;ArielviuqueavelocidadedoHippobaixavapara159nós,enquantooseucopilotomantinhao avião em voo baixo para aterrissar na pista lamacenta. O piloto gritou ao seupassageiroespecialpoucossegundosantesdeotremdeaterrissagemtocaraterradeUganda.[176]

Comosmúsculosdoabdômentensos,oshomensdaMetsadaprepararam-separasaltar emterraassimqueaplataforma seabrisse.Oscinco sabiamqueoêxitodoresgateeodestinodosseuscompanheirosdependiamdasuarapidezemeliminaromaiornúmerodeterroristasnomenortempopossível.

Ariel subiunaparte altadacabinee,diantedele, apareceuoprimeiroblocodeedifícios.Todoseramconhecidos,assimcomoadistânciaentreeles.Opilotodeteveomonstruosoaviãodesetentatoneladascomosseus35metrosdeenvergaduradeasasdiantedohangar emque se encontravamos reféns.Nessemesmomomento,Ariel gritou aos seus homens: “Fechem os olhos para que a luz não os cegue.Verifiquemoarmamentoeboasorte”.

Oruídochilreantedaplataformarompeuoquebemsepodiadefinircomoumsilêncio demorte.Estavam emEntebbe. Fora, o calor era úmido e pegajoso.Em

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questão de segundos, os cinco homens da unidade kidon dispersaram-se. OMercedes desceu a rampa em direção à entrada principal. Abriram-se as portasdiante de três soldados ugandeses que saudaram marcialmente o veículo recém-chegado.Empoucotempo,estavammortos.

Os kidon da Metsada lavaram o rosto e as mãos, livrando-se da tinta preta eavançaram rapidamente para o hangar.Os comandos de Yoni já tinham tomadoumazonadoaeroportoedirigiam-seàtorredecontrole.Cadaumdelessabiaoquetinhadefazer.[177]OutroHérculesestavaparaaterrissarpertodonovo terminal,porém,aparentemente,natorreperceberamquenãoeranormaltantomovimentodeaviões.

Quandoaterrissava,viu-seemmeioaumfogocruzadoentretropasugandesasecomandosisraelenses.ForamestesosdisparosqueouviramemTelAviv.

Ylan, um dos kidon de Ariel, correu até o alvo designado, a alemã que seacreditavaserBrigitteKuhlmann.Ocompatriotadesta,WilfriedBöse,estavafora,fumando perto da janela, de costas para a imensa silhueta de um dos Hippos,ignorandoohomemvestidodepretoqueseaproximavadelecombotassilenciosasdesoladeborracha.

Dentrodomaliluminadoterminal,váriosrefénspermaneciamdepé.Derepente,oalemão,alerta,levantouasuaarma.Ouviu-seumruídoseco,eBösegirouecaiuno chão comuma expressãode surpresano rosto e coma suaKalashnikov aindatravada.O“encobridor”doskidon,nomecomoéconhecidoosegundoagente,quese faz de escudo, saltou e rodou sobre si mesmo até ficar de barriga para cima.Mesmo em perigo, vários reféns levantaram-se e correram até as instalaçõesabandonadasdaEastAfricanAirlines.[178]

Ylan,comaarmanamão,prendeuarespiraçãoeolhoufixamenteporumafraçãode segundoparao rostoda terrorista alemã,que seguravaumagranada.Eleviuasurpresanorostodamulherquandoapontouaarmaparaacabeçadelaedisparou.[179]

Os atacantes do terceiroHércules já estavam em terra quandoos comandosdeYoni irromperampelas janelasdasalaondeseencontravamquasetodososreféns,gritando em hebraico. Entre o ruído e a confusão, os reféns deitaram-se. Jaber eLatif abriram fogo contra os atacantes com um fuzil e uma pistola, ferindo umarefém, Ida Borochovitz, de 56 anos. O tiroteio fez com que começassem a cairpedaçosdegessodoteto.Osrefénstropeçaramunsnosoutrostentandoseprotegerdosdisparos.[180]UmtirocerteiroatingiuLatifnacabeça,deixando-ogravementeferidonochão.Umsegundokidonconcluiuoserviço,emcumprimentoàordemdenão fazer prisioneiros. Outros dois kidon da Metsada saltavam por uma janela

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superiorgritando:“Israel!Israel!Tiskavu!”,aordemparasedeitarememhebraico.VáriospassageirosdoAF139deitaram-sesobreseusfilhostentandoprotegê-loscomocorpo.Otiroteiodentrodasaladosrefénsdurouumminutoe42segundos.JeanJacquesMaimoni,umjudeudonortedaÁfrica,foimortoaoselevantar.

A segunda equipe da Metsada informou que tinham executado Fayez Abdul-Rahim Jaber, um amigo íntimo do doutor Haddad. Os médicos israelensesmoviam-se rapidamente entre os disparos para retirar os feridos, no total cincoreféns equatro soldados.Quandocomeçouo ataque israelense, Jaber escondeu-senosfundosdeumprédio.Arielosurpreendeuali,tremendoeescondidodebaixodeumcolchão.Apoiouocanodaarmanacabeçadelee,depoisdedizer“IstoéporIsrael”,disparou.[181]

Nessemeio-tempo, num dos hangares, uma unidade de comandos era cercadapelosdisparosdeumametralhadorainstaladanumatorre.Nessemomento,alguémgritou: “Yoni está ferido!”. Netanyahu fora atingido com um disparo nas costas,caindonaentradadoedifícioprincipal.Tentoulevantar-se,masvoltouacairparatrássangrandopelonarizepelaboca.Poucosminutosdepois,estavamorto.[182]

Nooutroextremodoaeroporto,umclarãoiluminavaocéu:eramosMigrussosemchamas.Naentradaprincipalaconteceuumcombateabertoentreisraelenseseugandeses,emquealgunsdessesúltimosserenderamaogrupoderesgate.Começoua chover enquanto os executores do Mossad fotografavam os rostos sem vida etiravamasimpressõesdigitaisdosterroristasmortos.

Osreféns,protegidospeloscomandos,corriamemdireçãoaosHércules,ondesereuniamosferidosnaOperaçãoRaio.OsprimeirosHipposcomeçaramavirarparasair de Entebbe protegidos em terra por unidades israelenses.Minutos depois, osjipes rápidos com os últimos comandos e com os kidon entraram no últimoHérculesquedecolavadoaeroportougandês.Nototal, foramnecessáriosnoventaminutosparaaterrissar,resgatarosrefénselevantarvoodevoltaparacasa.

A Operação Raio fora um sucesso graças à informação recebida dos katsa doMossad, dos serviços secretos britânico, francês, sul-africano e queniano, e a umacélere decisão política do primeiro-ministro, Yitzhak Rabin, do seu ministro daDefesa,ShimonPeres,edomemunehdoMossad,IsaacHofi,emcoordenaçãocomasForçasArmadaseaForçaAéreaIsraelense.

DeumdosHércules, que aterrissaranumabase aérea secretanonorte dopaís,desceuumgrupodecincohomensdaMetsadaemtrajescivis.Paraeles,nãohaveriarecepções honoríficas, nem bandas de música, nem condecorações. Os cincodeixaram a base, tomaram caminhos diferentes e perderam-se entre um grupo depessoasquesaíadeumkibutzpróximo.

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OdoutorWadiHaddad,cérebroportrásdosequestrodoAF139,faleceu,vítimadecâncer,doisanosdepoisdaOperaçãoRaio,numhospitalpúblicodaRepúblicaDemocráticaAlemã.

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A lgumas semanas depois do massacre de Munique, a revista alemã QuickpublicouumareportagemsobreasatividadesterroristasnaAlemanha.Otexto

revelavadetalhessobreasestreitasrelaçõesentreaAlFataheoSetembroNegro,seumodusoperandieonomedetodosos líderescomas funçõesquedesempenhavamdentrodaorganizaçãoterrorista.

Oprincipalatrativodareportagemeraafotografiadeumhomemjovem,depeleescura, a respeito de quem se comentava ter sido o verdadeiro idealizador daoperaçãonaVilaOlímpicadeMunique.Abaixodafotografia,apareciaumnomeeumcargodentrodoSetembroNegro:AliHassanSalameh,chefedeoperações.[183]EstaeraaprimeiravezqueonomeeorostodeSalameheramrevelados.Nocorpoprincipaldareportagem,eradescritocomo“umhomemquegostadeboavida,bebechampanhe,vive rodeadodemulheresdeslumbrantes,masqueé,naverdade,umdosmaisbrutaisecínicosassassinosdonossotempo”.

Alguns jornalistas alemães investigaram as fontes utilizadas pela Quick edescobriram que somente o Mossad poderia ter entregado semelhantedocumentaçãoàrevista.Porumaboamatériaexclusiva,estavaclaroqueoseditoresalemães não fariam muitas perguntas. Após a publicação, as autoridades federaispuseram-seemaçãoeordenaramprimeiroaexpulsãodopaísdemilharesdejovenspalestinos suspeitosdepertenceroudedar assistência aoSetembroNegro.Comosegundamedida, ordenou-se à BfV, a contraespionagem alemã, a localização dosseus principais dirigentes na República Federal da Alemanha e a sua expulsãoimediatadoterritório.

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Pouco antes da chegada de seis agentes da BfV em uma casa nos arredores deBerlim,um jovem,depele escura ebemvestido, abandonavao edifício. Salamehconseguiu salvar-se novamente fugindo para Beirute, mas não três dos seusprincipaiscomparsas.Porconseguinte,Salameh,compermissãodeArafat,ordenouosequestrodeumaviãodaLufthansaparaforçarasautoridadesalemãsacolocá-losemliberdade.Antesdeoslibertar,aBNDinterrogou-os.Nassuasdeclarações,ficouclaro que Hassan Salameh era um verdadeiro profissional do terrorismo e uminimigoperigoso.[184]

Depoisdeumacurtaestadanaseguracapitallibanesa,SalamehviajounovamenteparaaEuropa.EnquantoqueemBeiruteandavasemprefortementearmadoeatécom uma dezena de guarda-costas recrutados entre os melhores guerrilheirospalestinos da Al Fatah, nas suas idas ao exterior, o líder do Setembro Negromovimentava-sesozinhoparapassardespercebido.Utilizandosempreosserviçosdeum contabilista do Setembro Negro, Ali Hassan Salameh visitava alguns bancossuíçosemquedepositavaoudeonderetiravamilhõesdedólaresemdinheiroparafinanciaroperaçõesterroristas.[185]

Tambémusavaesses fundoscomoobjetivodefinanciaroperaçõesprivadasquelhetraziamimensosbenefícios.EnquantonascapitaiseuropeiasAliHassanSalamehvivianoluxo,rodeadodebelasmulheres,quandoregressavaaBeirutetransformava-senumautênticopaidefamília.

Quando começou a queda de líderes do Setembro Negro em Roma, Paris,Nicósia e outras cidades, vítimas das balas ou das bombas doKidon,AliHassanSalameh soube que não só se tinha declarado uma guerra entre o seu grupoterroristaeosassassinosdaMetsada,comotambémelemesmosetornaraumalvoprioritáriodosisraelenses.ZviZamireMikeHararidesejavamqueelefizesseapenasummovimentoemfalsoparaatacá-lodemodoimplacável.

OMossadsabiaque,desde1969,aCIAmantinhacontatosdiretoscomaOLPpor intermédio do seu chefe da estação de Beirute, Robert Ames. Este receberaindicaçõesdaCasaBrancaparaseaproximardasfacçõesmoderadaspalestinas.[186]Poressadata,AmeseSalamehtinhaminiciadoconversaçõesqueeramtransmitidaspela CIA ao presidente Nixon e ao então poderoso conselheiro de SegurançaNacional, Henry Kissinger. Ali Hassan Salameh, para desgosto dos israelenses,tornou-se o representante pessoal de Yasser Arafat nas reuniões com os norte-americanos.

TantoZviZamirdoMossad,como,anosdepois,WilliamCaseydaCIA,sabiamqueo líderdoSetembroNegroeraumprotegidodopresidenteAminGemayel eque este desejava distanciar-se das diretrizes de Tel Aviv e de Washington e

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aproximar-se das dos seus vizinhos árabes. Ao fim, Bashir, o irmão do novopresidente, fora assassinado por essemotivo.[187] A CIA oferecera a Ali HassanSalameh 3 milhões de dólares em dinheiro para que trabalhasse para eles. OproblemaéqueSalameheraumidealistaerecusouaofertacortandoacomunicaçãocomAmes.DepoisdomassacredeMunique, a relação entre aCIA eAliHassanSalamehsimplesmenteesfriou.

OsagentesdoKidondeHarariesperavamapenasumsinalparapoderacabarcomavidadequemlideraraosassassinatosdosonzeatletasisraelensesduranteosJogosOlímpicos.AOperaçãoPríncipeVermelho seria oponto final àOperação IradeDeusordenadaporGoldaMeir.

Em junho de 1973, Salameh iniciou uma campanha de desinformação comosisraelenses.AsestaçõesdainteligênciaisraelensecomeçaramainformaroMossaddeque Ali Hassan Salameh fora visto em Paris, Londres, Zurique e em um paísescandinavo.[188]

Nofinaldejulhodessemesmoano,osagentesdaIradeDeusestavamexaustosdevidoàscontínuasviagensportodaaEuropanatentativadelocalizaroresponsávelpeloSetembroNegro.MikeHararidecidiuentãomontarumanovaequipedekidoncomointuitodelocalizarHassanSalameheexecutá-lo.

Aequipedeassassinos israelenses seria formadaporquinzeagentesdaMetsada.Harari emais dois agentes se encarregariamda execução de Salameh, outros doislhesdariamcobertura,edoiskatsaespecialistasemlogística,umemcomunicaçõesesetekidonficariamapenasàesperadasordensdeHarari.

OchefedaOperaçãoIradeDeusviajariacompassaportefrancêscomonomedeEdouardStanislasLaskier.Oseunúmerodois,AbrahamGehmer,compassaportebritânico comonomedeLeslieOrbaum.Mike escolheuSylviaRafaelpara a suaequipe da Metsada, uma bela sul-africana que fora recrutada pelo Mossad numkibutz no norte de Israel. Ela viajava com passaporte canadense com o nome dePatriciaRoxborough,fazendo-sepassarporfotógrafadeimprensa.

OpróprioHarariconvocoutambémMarianneGladnikoff,umaloirade25anoscomduplanacionalidade, sueca e israelense.Ela conheciaperfeitamente, desdeosseustemposdeestudante,aSuécia,aDinamarcaeaNoruega,seuscostumes,modode vida e, omais importante, as línguas.[189]O chefe da operação recrutou umjudeubrasileirode36anoschamadoZviSteinberg.

Para especialista em comunicações, aMetsada recrutouDan Aerbel, um judeudinamarquês que tinhanegóciosno exclusivobairrodeHerzliyya, a norte deTelAviv.Danseriaointérpretedaequipe.OrestodaequipedoKidoneraformadopor

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MichaelDorff,GustavPistauer,NoraHeffner,RaoulCousin,Jean-LucSéveniereoutrokatsaconhecidosimplesmenteporTamar.

Em 11 de julho de 1973, três membros da Metsada chegaram a Estocolmo ealugaramumapartamentopor seismeses,parausá-locomoesconderijoduranteaoperação.Heffnerfezcópiasdaschavesparacadaumdosagentes.Somentetrêsdiasdepois, Mike Harari e os seus homens receberam informação procedente daUnidade8200,encarregadadainterceptaçãodecomunicações.Aparentemente,AliHassanSalamehreceberanaNoruegaummensageirochamadoKemalBenamane,quetraziaparaoPríncipeVermelhoumaembalagemprocedentedeBeirute.[190]

Zvi Zamir deu ordens expressas a Harari para que iniciassem a procura domensageiro nos arredores de Oslo. O resto dos kidon já estava pronto para ir àcapitalnorueguesa.

Poucodepois,osagentesdokidonchegaramàNoruegacomidentificaçõesfalsas.Benamane desaparecera de Oslo e reaparecera numa pequena cidade, a 150quilômetrosaonorte,chamadaLillehammer.HararieoseusegundonocomandodoMossad,AbrahamGehmer, chegaramàconclusãodequeBenamanepodia terviajadoaessacidadecomumsópropósito:encontrar-secomAliHassanSalameh.[191]

OsoitosmembrosdaequipedaMetsadaviajaramatéLillehammeremdoiscarrosalugados e encontraram Kemal Benamane no hotel Skotte, muito próximo daestaçãodetrem.Fazendo-sepassarporturistas,osdoiskatsadoMossadjantaramaoladodomensageiroárabeeatéoouviramdizerqueestavacansadoequeiaparaacama.

No dia seguinte, o resto da equipe israelense começou a espalhar-se porLillehammer à procura de qualquer árabe suspeito de ser o líder supremo doSetembroNegro.Duranteaperseguiçãodomensageiro,perderam-nodevista,masvoltaramalocalizá-lonoKarolineCafé,pertodoedifíciodaCâmaraMunicipal.

Os katsa do Mossad sentaram-se perto de Benamane e de outro árabe que sereuniracomelesnocafé.MarianneGladnikoffcomparouorostodafotografiadeAliHassan Salameh que tinha no bolso como do árabe que estava ali sentado apoucos metros. Estava convencida de que aquele homem não era o alvo, mas ooutrokatsaafirmoutercerteza.

AsegundaequipedoKidonseguiuoárabequandoele saiudocafé.ChamouaatençãodeHarariofatodeoárabeterarregaçadoascalças,montadonumabicicletaesaídoemdireçãoàruaprincipal.

Para oMossad, o chefe do grupo terrorista era umplayboy que gostava de boavida, de mulheres bonitas e de carros esportivos. “Se aquele tipo era o Príncipe

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Vermelho”,pensouHarari,“eraummestredodisfarce”.À tarde, Harari e Gehmer receberam uma comunicação dos dois katsa que

estavamnaestaçãoferroviária informando-lhesquetinhamvistoBenamanedeixarLillehammerevoltarparaOslocomumbilhetedeida.Entretanto,outraequipedoMossadseguiaoárabedabicicleta.

Por voltadasquatrohorasda tarde, o árabeparounumapiscinapública.Apósalgunsminutosnovestiário,apareceucomumaroupadebanhoeumatoalhaemvolta da cintura. Cumprimentou o guarda e mergulhou na piscinaaquecida.MarianneGladnikoff,akatsadoMossad,fezomesmo,masquandoestavasentadanabordadapiscina,ouviuoalvofalarfluentementeemfrancêscomoutrohomem tambémde aspecto árabe.OMossad sabia queAliHassan Salameh foraeducado em bons colégios e que dominava várias línguas. Não restava a menordúvidadequeaqueleárabeeraoPríncipeVermelho,olídersupremodoSetembroNegro e o cérebro que planejara os assassinatos dos onze atletas israelenses emMuniquenoanoanterior.

Quandoohomemsaiudapiscina,outraequipeisraelenseoseguiu,vigiando-o.Oalvomorava numa casa simples, na ruaRugdeveien 2-A.Nos carros alugados, oskatsadoMossadserevezavamemturnosparavigiarqualquermovimentooupessoaqueentrasseousaíssedali.

Mike Harari, Abraham Gehmer e o brasileiro Zvi Steinberg formariam oesquadrão de execução. Por volta das duas da tarde do dia 21 de julho, os trêschegaram num Mercedes-Benz verde-escuro e instalaram-se no hotel OpplandTourist de Lillehammer. Às três, o próprio memuneh do Mossad, Zvi Zamir,indicouaseusagentesqueseriatestemunhadaexecução.QueriaverpessoalmentecomomorriaoresponsávelpelomassacredeMunique.Zamir,comoseuguarda-costas,deu entrada comonomedeRolandTahlnohotelEssoOlrud,no suldacidade.[192]

Às seis da tarde, o governo israelense, presidido pela primeira-ministra GoldaMeir, decidiu dar sinal verde à Metsada para executar o assassinato. Agora eraprecisoesperaromelhormomentoparaconcluiraOperaçãoIradeDeus.Natardede21dejulhode1973,oskatsadoMossadeoskidondaMetsadaviramquandoSalamehsaíadecasaacompanhadodeumamulherjovem.Osisraelensesseguiram-noatéumcinemapróximoemqueprojetavamofilmeODesafiodasÁguias, comRichardBurtoneClintEastwood.

Quaseduashorasdepois,osupostoAliHassanSalamehsaiudolocalabraçandoamulhererindo,juntoaoutrosdoiscasais.Osseisdirigiram-seaopontodeônibusdeFurubakken.Eleusavaumcasacocurtoverde,umsuétermarromdegolaaltae

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calças com vários bolsos. Depois de se despedir dos outros, o casal começou acaminhar devagar em direção à rua Rugdeveien. UmMazda branco parou pertodeles.DentroestavamMarianneGladnikoff,SylviaRafael,ZviSteinbergeTamar.EstavamsendoseguidosporumVolvobrancocomMikeHarari,AbrahamGehmereDanAerbel.[193]

SteinbergeTamarsaíramdoveículoarmadoscomduaspistolasBeretta.Oárabetentoucorrer,afastandoinstintivamentesuaacompanhante,masSteinbergjátinhacomeçadoadisparar.AsprimeirasbalasatingiramAliHassanSalamehacertando-ono joelho esquerdo, amputando seudedo indicadordamãodireita, eoutrasduasbalasatingiram-nonoestômago.Quandoestavaestendidonochão,suplicandoparaquenãodisparassem,umdoskidondaMetsadaseaproximoudele,colocouocanodapistolaatrásdaorelhaeapertouogatilho.Abalaricocheteoudentrodocrâniodoárabe,matando-onahora.Enquantoosagentesisraelensesentravamnovamentenoscarros,amulhercorreuatéocadáverchorandoepedindoajuda.[194]

MasosisraelensesnãotinhammatadoAliHassanSalameh,oPríncipeVermelho,o cérebro do massacre de Munique, o lendário líder terrorista palestino e amigoíntimodeYasserArafat.OskidondaMetsada,osassassinosdeIsrael,acabavamdematarAhmedBouchiki,umsimplesgarçomargelinode30anosquevoltavaparacasa com a sua esposa norueguesa e grávida, Torill, depois de ver um filme.AcabavamderealizarumdosmaioresdesastresdequesetemlembrançaemtodaahistóriadoMossad.

Porvoltadas22h50,apolícianorueguesarecebeuoprimeirotelefonemadealertado tiroteio. Quatro minutos depois, chegavam ao local dois carros de patrulha.Nesse preciso momento, os esquadrões de execução do Mossad começavam aoperaçãodeevasão.MikeHarari jáconduziaumVolvoverdepelaautoestradaatéOslo; dentro de umamochila esportiva, ao seu lado, tinha guardadas as BerettasusadasnaexecuçãodequemacreditavamserAliHassanSalameh.EmumPeugeotazul, escapavam Sylvia Rafael, Abraham Gehmer, Dan Aerbel e MarianneGladnikoff.

OassassinatodeAhmedBouchiki eraoprimeiroemLillehammeremquarentaanos.Aimpressãoimediatadapolíciafoiqueeraumajustedecontasporcausadedrogas,masavítima,segundoosvizinhos, levavaumavidaexemplareparticipavacomasuaesposadasatividadescomunitárias.Numacidadede20milhabitantes,algunsdelesdeclararamtervistováriosestrangeiroscirculandoporalidiasantesdoassassinato.Aessaaltura,oskatsaeoskidondoMossadtinhamconseguidochegaraOslo.

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MikeHararisubiuabordodeumferryeconseguiuvoltaraIsrael;DanAerbeleMarianneGladnikoffforamdetidosquandotentavamdevolverocarroalugadonoaeroporto; Sylvia Rafael e Abraham Gehmer foram apanhados no apartamento;Tamar,MichaelDorffeZviSteinbergconseguiramrefugiar-senacasadeumtalde“Zigal”, que era Yigal Eyal, chefe de segurança daEmbaixada de Israel emOslo.Quando a polícia norueguesa entrou na sua residência, Eyal identificou-se comodiplomataeosobrigoua saírem,masantesprenderamDorff,TamareSteinberg.[195]

OsprimeirosdetalhesdaoperaçãoforamreveladosporDanAerbelàpolícia.Elesofria de claustrofobia e fora fechado num cubículo escuro. Em troca de sertransferido para uma cela maior, com janela, revelou até os mais insignificantesdetalhesdoassassinato.[196]

AmaisprofundahumilhaçãosofridapelaMetsadaemtodaasuahistóriachegouquando um dos seus agentes foi detido num esconderijo em Paris pela políciafrancesa e entregue à promotoria norueguesa. Os serviços secretos norueguês efrancês já tinham começado a juntar as peças do assassinatodeLillehammer e ossucedidosemRoma,PariseNicósianoâmbitodaOperaçãoIradeDeus.Estavamtodosligadoseosseusexecutoreserammembrosdeelitedaespionagemisraelense.[197]

Comasnovasdetenções, começoua espalhar-seopânico emTelAviv entreoslíderesdogovernoeosdosserviçosdeinteligência.A“perda”deagentesdoMossadedasuaultrassecretaunidadedeassassinos,oKidon,colocavaaprópriaGoldaMeiremapuros.Quandoos jornaisnorueguesespublicaramaverdadeira identidadedeAhmedBouchiki,desapareceu,paramuitosisraelenses,aaurademistérioemvoltadoMossad,oguardiãosecretodopovojudeu.

OgovernodeIsraeltentou,portodososmeios,atenuaroescândaloeopapeldoMossadnaquestãoLillehammer,prometendo“estreitacolaboração”comoserviçosecretonorueguês,masapolíciadopaíseuropeunãopensavadamesmamaneira.Paraapolícia eparaLeifLier, investigador-chefe, existiuumaclara conivênciadaespionagemnorueguesa comoMossad israelense,oquepermitiuoassassinatodeum pobre garçom argelino em Lillehammer. De acordo com o chefe da polícianorueguesa,seusserviçosdeinteligênciadeviamterdetectadoumaoperaçãoemtãogrande escala montada pelos israelenses em pleno coração do país. A oposiçãoalegouentãoque,seestavamapar,deviamtê-loevitadoeque,seestavamaparenãoevitaram,issoostornavacúmplicesdoassassinato.

DanAerbeldeuaos seus interrogadoresumnúmerode telefone (256230), eonomedeMikoemTelAviv, a linhadeemergênciadaespionagem israelense.Do

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outroladodalinhaconfirmaramqueAerbeleraumagenteativodoMossad.Ocertoéque,quandoopelotãodeexecutores israelenses estavapara assassinar

Ahmed Bouchiki em Lillehammer, Ali Hassan Salameh, o Príncipe Vermelho,estava tambémna região, sóque emEstocolmo,mantendo reuniões secretas comterroristasárabes.QuandoochefedoSetembroNegroleuanotíciadoassassinatoem Lillehammer, soube logo que o alvo daquele assassinato era ele e que osisraelensesnãodescansariamatévê-lomorto.[198]

Em6deoutubrode1973,tropasegípciasesíriascruzaramafronteiraduranteafestamaissagradadosjudeus,odiadoperdãooudiadoYomKippur.Ostanquessírios entraram nos Montes Golã e os egípcios cruzaram o Canal de Suez. Osisraelenses,assimquerecuperadosdasurpresa,contra-atacaramefizeramosegípciosrecuarematépoucosquilômetrosdoCairo.Aquela guerra implicouoponto-finalparaaOperaçãoIradeDeus,porém,paraoMossadeaMetsada,oassassinatodeAliHassan Salameh eramais uma questão de honra e orgulho patriótico do quequalqueroutracoisa.

Em 3 de novembro de 1973, o Mossad soube que Hassan Salameh havia seencontradoemsegredo,noMarrocos,comVernonWalters,osubdiretordaCIA.Osnorte-americanosqueriamsaberqualaposiçãoqueospalestinosadotariamemhipotéticasnegociaçõesdepazparaoOrienteMédioeofimdosataquesterroristassobre alvos norte-americanos.[199] As relações entre Salameh e a CIA eram tãoestreitas queo líder doSetembroNegro chegou a avisar o serviçode espionagemnorte-americanodeumaconspiraçãoparaassassinarHenryKissingerduranteumaexcursão deste pelo Líbano. A proteção de Kissinger em Beirute foi comandadapeloshomensdaForça17,aunidadedeproteçãodeArafat.

Para lhe retribuir o favor, quando Arafat foi convidado a falar perante aAssembleia Geral da ONU em Nova York, em 13 de novembro de 1974, AliHassan Salameh foi recebido com honras de Estado pela CIA e convidado a sehospedar,comtudopago,numaelegantesuítenohotelWaldorf-Astoria.

Nos inícios de 1975, quando irrompeu aGuerraCivil no Líbano, centenas decidadãos norte-americanos tiveram de abandonar suas casas. Os guerrilheiros daForça 17, fortemente armados, escoltaram os dois comboios com os refugiadosnorte-americanos, o primeiro através de Beirute e até as praias tomadas pelasmarinaspertencentesàSextaEsquadradaMarinhaAmericananoMediterrâneo,eosegundo, através das montanhas do Shouf até Damasco. Todas as milíciascombatentes no Líbano receberam a informação de que, se alguma atacasse oscomboios, ganharia a inimizade da OLP e dos seus guerrilheiros.[200] HenryKissinger escreveu pessoalmente uma nota de agradecimento a Yasser Arafat pela

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ajuda prestada, enquanto Hassan Salameh era recebido novamente no quartel-generaldaCIAemLangley,Virgínia,comoautênticoefirmealiado.

Emjunhode1977,oidealizadordamatançadeMuniquecasou-secomGeorginaRizak,umaex-MissLíbanoeMissUniversoquelhedeudoisfilhos,AlieOsama.Rizakerafilhadeumcristãolibanêsedeumahúngaracatólica.ACIApagoutodososgastosdaluademeldocasalnoHavaíenaDisneyWorld.[201]

Emfinaisde1978,oMossad,destavezsobocomandodopoderosoIsaac“Haka”Hofi, ordenou aos seus katsa que concentrassem novamente sua atenção noprotegidodeYasserArafat.Omemuneh sabiaquenão teriamuitosproblemasemativar oKidon com a autorização do primeiro-ministroMenahemBegin, um ex-líderdoIrgun,aorganizaçãoextremistajudaicaqueconseguiravenceraseleiçõesnoano anterior.[202] Porém, antes de apresentar o pedido a Begin, Hofi desejavareuniromaiornúmerodeprovas.PormeiodochefedaestaçãodaCIAemParis,oMossadinformouLangleyqueAliHassanSalameheraumalvoparaeles,masantesprecisavamsaberseolíderpalestinoeraaindaumdosseusinformantes.Seosnorte-americanosnãoapoiavamSalameh,oMossadnãoperderiaumaboaoportunidadedeeliminaroidealizadordamatançadeMunique.[203]

Na zona muçulmana de Beirute, todos os estrangeiros eram suspeitos de seragentes israelenses, mas Erika Mary Chambers, de 30 anos e conhecida como“Penélope”, era vistapelos seus vizinhos comoumamulher estranha e excêntrica.Chambers chegara à capital libanesa em combate em novembro de 1978. Viveradurante vários anos na Alemanha, embora viajasse com passaporte britânico,expedido em 1975. Alugara um apartamento no oitavo andar de um edifício naesquinadasruasVerdúneMadameCurie.Saíaapenasparacomprarcomidaeparatomarnotasparaosseusquadros,asuagrandepaixão.

Todos os vizinhos afirmavamque era umamulher amável, sempre seguida pordoisgatosequetododiasedebruçavaà janelaparaobservaropôrdosol.OquenãosabiameraqueChambers,ouPenélope,nãoolhavaparaopôrdosol,massimpara os veículos, um Chevrolet Wagon e um Land Rover, que, quase sempre àmesmahora,passavamsobsuajanela.

Usando um bloco de notas organizado, a mulher anotava meticulosamente osnúmeros das placas dos veículos, sua cor, quantas pessoas havia dentro, quecaminhoseguiamassimquepassavamoedifícioetc.Osdoiscarrosfaziamtodososdiasomesmocaminhosemtomaramínimaprecaução.Combinóculospotentes,Erika Chambers pôde vislumbrar Ali Hassan Salameh no banco de trás doChevrolet,sentadoentredoisguarda-costas.NoLandRoverqueoseguia,viajavamsempre,armadosatéosdentes,seisguerrilheirosdaAlFatah.IsaacHofinãotinha

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dúvidasdequeocasamentodeAliHassanSalamehcomGeorginaRizakotornaradescuidado. O Príncipe Vermelho, um dos terroristas mais procurados pelaMetsada, era um homem que confiava demais na sorte, e isso se tornaria o seuprincipal inimigo. No início de janeiro de 1979, Erika Chambers já estavapreparada.[204]

Em13dejaneiro,porvoltadasonzedamanhã,otelefonedalocadoradecarrosLennaCarHire tocou. A chamada vinha de Zurique, e o homem identificou-secomoPeterScriver.Estepediuumcarropequenoparaodia18dejaneiro.

Em 17 de janeiro, Scriver aterrissou num voo da Swissair no aeroportointernacional de Beirute. O oficial de imigração abriu o passaporte britâniconúmero260896,expedidoemLondresem15deoutubrode1975.UmtáxilevouobritânicoatéohotelMéditerranée,muitopertodapraia.Namanhãseguinte,porvoltadas10horas,PeterScriverseguiuapéatéalocadoradecarros.Aoentrar,umhomemofereceu-lheumcaféturco.

Depois dos trâmites necessários, incluindo o seguro contra todos os riscos, ofuncionário entregou ao britânico as chaves de um Volkswagen Golf. Uma vezdentrodoautomóvel,eledirigiuatéBeiruteOcidental.Scrivernãovoltouaohotel.

Num café discreto, Peter Scriver encontrou-se comoutro turista estrangeiro denacionalidadecanadensechamadoRonaldKolberg.Nodiaanterior,registrara-senohotelRoyalGardencompassaportenúmeroDS104227edisseraserrepresentantedeuma empresa de cutelaria de aço com sede emNovaYork.Ele também tinhaalugadoumcarroSimca-ChryslernaempresaLennaCarHire.[205]

Na sexta-feira, 19 de janeiro, Erika Chambers alugou um pequeno automóvelDatsunnamesmaempresa.Aofuncionárioqueaatendeu,disselhequeprecisavadocarro para fazer uma excursão às montanhas. O funcionário da Lenna Car Hirerecomendou-lhe que não viajasse sozinha, devido às contínuas patrulhas deguerrilheirossemcontrolequeimpunhamasualeinasdiferenteszonasdeBeirute.Chambersagradeceu-lhearecomendaçãoedeixouolocal.

Nodomingo, 21 de janeiro, Peter Scriver fez o check-out na recepção do hotelMéditerranée.Depoisdepagaremdinheiro,disseaorecepcionistaquesedirigiaaAmã. Saiu do estabelecimento e, a bordo do Volkswagen Golf, foi para a ruaMadame Curie, paralela à rua Verdún. Estacionou o seu Volkswagen em plenaesquinaeàvistadasjanelasdoapartamentodeErikaChambers.

Emseguida,chamouumtáxiparaqueolevasseaoaeroportoepegouumvoodaCyprusAirlinescomdestinoaNicósia.Chambers jamaisestabeleceucontatocomScriver ouKolberg,mas reconheceu perfeitamente oVolkswagen estacionado emfrenteàsuacasa.

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Segunda-feira, 22 de janeiro de 1979, manhã fria e úmida. Um vento gélidovarriaasruaseavenidasdeBeirutequedavamparaoportoeparaaspraias.RonaldKolbergfezocheck-outnarecepçãoesaiudohotelvestidocomumeleganteternocinza. O representante da cutelaria conduziu o seu veículo até a rua Verdún,passando em frente ao prédio onde viviam Ali Hassan Salameh e a sua esposa,Georgina Rizak. Kolberg observou os guardas posicionados ao longo da rua e osveículos abertos armados com metralhadoras e pequenos canhões sem recuo.ContinuouadirigirpelobairrocristãodeBeiruteOrientaletomouocaminhoparaoportodeJunieh.Lá,registrou-senohotelMontmartreereservouumquartoparaumasónoite.[206]

Em Damasco, Yasser Arafat inaugurava, com um discurso, a reunião daAssembleiaNacionalPalestina.Estavaansiosopelachegadadoseujovemprotegidoao final da tarde. Ali Hassan Salameh prometera discursar no encerramento desessõesdanoite.

Noseuapartamento,Umalih,amãedeAliHassanSalameh,esperavaavisitadofilho para comemorar o aniversário de Yihad, irmã de Salameh.O homemmaisprocurado por Israel prometera passar por lá antes de ir para Damasco. UmalihestavaorgulhosadopoderosopapeldesempenhadopelofilhonaOLP.Umpoucoantes, Arafat nomeara-o comandante-chefe de todas as forças palestinas.[207]Curiosamente,doisdiasantes,amãedeHassanSalamehperguntara-lhepelassuasmedidas de segurança. “Eu viverei cem anos, e você estará aqui para ver, mãe”,respondeuolíderpalestino.

Porvoltadas15h45,Salameh saiudoedifíciocomo seumotorista, Jamil, eosdoisguarda-costas.AtrásdeleestavajáoLandRovercomasuaescoltaarmada.AliHassanSalamehsentou-senobancotraseiro.Osdoisveículosdirigiram-seàcasadeUmalih.Umquilômetromais à frente, ErikaChambers fechou as janelas do seuapartamento e esperou como que hipnotizada sem deixar de olhar para oVolkswagen Golf que estava estacionado em frente. De um grupo de veículosapareceu o reluzente Chevrolet Wagon seguido pelo Land Rover. Ambosdiminuíram a velocidade e seguiram pela rua Verdún para virarem para a ruaMadameCurie.Poucoapouco,oprimeiroautomóvel,quetransportavaAliHassanSalameh,aproximava-sedoVolkswagenestacionado.Quinhentosmetros,trezentosmetros,duzentosmetros,cemmetros.Chambersmudouaexpressãodoseurosto,abriu a bocapara se proteger da ondade choque e apertouobotão vermelhodocomando que tinha ao lado.OChevrolet passava nessemomento junto aoGolfazul. Milésimos de segundo depois, o carro estacionado explodiu, envolvendo,numaenormeedestruidoraboladefogo,tudooqueestavaàvolta.[208]

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O Chevrolet voou pelos ares transformado numa massa de ferros, pedaços devidroepartesdemembroshumanosqueficaramespalhadospelarua.Ochassisdoautomóvel ficoupraticamentedestruído,enquantoofogoconsumiaoscorposdosquatropassageiros.Assirenesdoscarrosdepolíciaedasambulânciasquebraramosilêncio após a explosão. As primeiras ambulâncias da Média Lua Vermelharetiraram os quatro passageiros do Chevrolet. O Land Rover que o seguiadesapareceu completamente, e os seus seis ocupantes morreram no ato devido àondadechoque.[209]

Georgina Rizak chegou ao Hospital Universitário Americano dirigindo o seuesportivo inglês. Centenas de quilos de explosivo plástico tinham matado dezpessoaseferidodezenas,amaioriatranseuntes.Duranteotumultoprovocadopelaexplosãona esquina das ruasVerdún eMadameCurie, ninguémprestou atençãoem Erika Chambers, que partiu em um Datsun alugado, afastando-se do local.Quinzeminutosdepois,pegavaaestradarumoaoportodeJunieh.RonaldKolbergdeixavaohotelMontmartreedirigia-sedecarroàpraia.

Nessamesmahora,numasaladecirurgiadoHospitalUniversitárioAmericano,um cirurgião tentava tratar as graves feridas de um dos corpos que se esvaía emsangue.UmfragmentodacarroceriadoChevroletestavaespetadonocérebroesaíapela nuca de um homem jovem. Minutos após as dezesseis horas, Ali HassanSalamehmorrianamesadecirurgia.[210]

Pouco depois, a polícia descobriria dois automóveis, um Datsun e um Simca-Chrysler abandonados em plena praia. Ronald Kolberg e Erika ChambersdesapareceramentreasmisteriosassombrasdoKidon,asubunidadedeassassinosdaMetsada. Por fim, e sete anos após a matança dos atletas israelenses nos JogosOlímpicosdeMuniquede1972, aqueleque forao líder supremodaorganizaçãoterroristaSetembroNegrotinhasidoalcançadopelolongobraçodajustiçadeIsrael.

Nessa mesma noite, em Tel Aviv, vários líderes do governo e dos serviços deinteligência brindavam o êxito da Operação Príncipe Vermelho. Golda Meir, amesma que em 1972 ordenara a chamada Operação Ira de Deus, não pôdetestemunharamortedeumdosúltimosresponsáveispelosassassinatosdosatletasisraelenses. Ela falecera apenas alguns meses antes na sua casa em Jerusalém. O“olhoporolho,dentepordente”foracumprido.

PeterScriver,RonaldKolberg eErikaChambers faziamparte de umpelotão de execução doKidon, asubunidadedeassassinosdaMetsada.OKidonfoiativadoporordemdoprimeiro-ministroMenahemBeginaomemunehdoMossad,IsaacHofi,emnovembrode1978,doismesesantesdoassassinatodeAliHassanSalamehedentrodachamadaOperaçãoPríncipeVermelho.

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SylviaRafael foi sentenciada a cinco anos emeio de prisão pelo assassinato emLillehammer.Durante areclusão,aprendeuatocarguitarraeafalarhebraico,eestudouPsicologia.Quandooprocuradornorueguêsque a condenara sofreu um acidente de carro e foi hospitalizado, Sylvia Rafael enviou-lhe um cartãodesejando-lheumarápidarecuperação.AagentedoMossadassinouocartãocomonomede“005emeio,aespiãquechegoudofrio”,emreferênciaaosseusanosdecondenação.Apósserpostaemliberdade,depoisdecumprir22mesesdeprisão, casou-secomseuadvogado,AnneusSchodt, e estabeleceu-senaNoruega.Asautoridades italianas reclamaram, sem êxito, a extradição de Sylvia Rafael como suspeita de participar doassassinatodeWaelZwaiteremoutubrode1972.[211]

AbrahamGehmerfoisentenciadoacincoanosemeiodeprisãoepostoemliberdadedepoisde22mesesdereclusão.AbandonouoMossadeacabouosestudosdeArtenaUniversidadedeTelAviv.Atualmente,vivecomsuafamílianobairrodeHerzliyya.

DanAerbelfoicondenadoacincoanosepostoemliberdadeapóscumprir19mesesdereclusão.RegressouaIsrael,ondeocupouopostodechefedepublicidadedaempresaOSEMFoodIndustries.

MarianneGladnikofffoicondenadaadoisanosemeiodeprisão;ZviSteinbergaumanodeprisãosobaacusação de espionagem, e os demais detidos, incluindo Michael Dorff, foram absolvidos pelo tribunalnorueguês.

MikeHarari, chefe da equipe do Kidon e responsável pela Operação Ira de Deus e pelo assassinato deAhmed Bouchiki, recebeu apenas uma severa reprimenda após o fiasco de Lillehammer e continuou emserviçocomochefedaestaçãodoMossad,noMéxico.Segundodizem,HararidirigiuaequipedoKidonqueexecutouAliHassanSalamehemjaneirode1979.Anosdepois,abandonouoMossade tornou-seassessorespecialdoditadorpanamenhoManuelAntonioNoriegaatédezembrode1989,quandoosEstadosUnidosinvadiramopaísdaAméricaCentral.

GoldaMeir,depoisdofiascodeLillehammer,ordenouadesativaçãodoKidoneofimdaOperaçãoIradeDeus.Oirromperdaquartaguerraisraelo-árabe(guerradoYomKippur,outubrode1973)causouaquedadeMeir,substituídaporYitzhakRabin,tantoàfrentedoPartidoTrabalhistacomodogovernoisraelense.

FamiliaresdosatletasisraelensesassassinadosemMuniqueviajaramparaMontrealem1976,duranteosJogosOlímpicos,parapediraoComitêOlímpicoInternacional(COI)quedecretasseumminutodesilêncioduranteacerimôniadeaberturaemmemóriadasvítimas.Opedidofoirejeitado.

OComitêOlímpicoInternacionaljamaisadmitiuasuaresponsabilidadenafaltademedidasdesegurançadurantearealizaçãodosJogosOlímpicosdeMunique,quelevouaosassassinatosdeonzeatletasdaequipeolímpicadeIsrael.

UlrichWegener, fundador doGSG-9, as forças especiais da polícia alemã, reconheceu que a atuação dapolícianoaeroportodeFürstenfeldbruckfoi“umdosmaioreserroscometidospelogovernoalemãodaquelesanosequeaquilonãovoltariajamaisaaconteceremsoloalemão”.

Em1996,ogovernode Israel, lideradopelo trabalhista ShimonPeres, reconheceuoficialmente, 23 anosdepois,queo argelinoAhmedBouchikinão eraum terrorista,que aNoruega eraumpaís aliado equeoMossadjamaisvoltariaarealizaroperaçõessecretasemseuterritório.

TorillLarsen-Bouchiki,viúvadeAhmedBouchiki, ea sua filhade22anos,Malika, receberamumaboaindenizaçãodogovernodeIsrael.[212]Aquantiapermaneceuemsegredo.

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Entreabrilde1979ejunhode1981,IsaacHofi,omemunehdoMossad,dirigiriauma das maiores campanhas secretas contra o Iraque em toda a história do

serviçodeespionagemisraelense.Paraestaguerraqueiriaacontecer,HofiutilizariaumadasarmasmaissecretasdoMossad,oKidon.Oprimeiro-ministro,MenahemBegin,dariaoseutotalapoioeodoseugovernocomointuitodeimpedirqueoIraquealcançasseoseutãoansiadosonhonuclear.[213]

IsraeleIraqueviviamempermanenteestadodeguerradesde1948,quandoopaísárabecontribuiucomtropasparaumaforçamilitarconjunta,depoisdadeclaraçãooficialdoEstadodeIsrael.Istotornou-seumaverdadeiraobsessãoparaopresidenteiraquiano, Saddam Hussein, que, com um poder nuclear nas mãos, poderiaindubitavelmentepôremperigooequilíbriomilitarnoOrienteMédio.

Oprogramanucleariraquianoteveinícioformalmente,eemtotalsegredo,em11dejulhode1970,quandoosgovernosdeBagdáedeParisassinaramumacordodecooperaçãomútuaatravésdointercâmbiodepeçasematerialfrancêsdessanaturezapor petróleo iraquiano. O Mossad sabia, desde então, que Saddam Husseinordenaraaumdosseusmaisfiéisgenerais,AbdelJabbarShanshall,queentrasseemcontato com os russos para tentar conseguir apoio de Moscou para odesenvolvimentodoseuprojetonucleararmamentista.[214]

OKremlindeixouclaroaJabbarquenuncapermitiriaqueseutilizasseomaterialnuclear russo para a produção de armas atômicas.[215] Contrariado, o líderiraquiano,depoisdecogitaradecisãosoviética,achouqueseriaomelhor.Moscou,por intermédiodoKGB, pretendia pressionarBagdá com a intençãode terminarcom a repressão do governo de Saddam Hussein contra os membros do Partido

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Comunista Iraquiano. Saddam não estava disposto a libertar os comunistasiraquianosemtrocaderesíduosnucleares.[216]

ZviZamir,oentãodiretordoMossad,sabiaqueosiraquianoseoMukhabaratdeSaddam, a espionagem iraquiana, andavam inquirindo, por diversos países, àprocuradeumfornecedor.PrimeiroGoldaMeir,edepoisYitzhakRabin, tinhamdadocartabrancaaZamirparafrearosdesejosnuclearesdolíderiraquiano.Sefossenecessário,nenhumprimeiro-ministrodeIsraelsenegariaaativarobraçoexecutordaMetsadasecomissoimpedissequeSaddamHusseinproduzisseabombanuclear.

Em1972,aestaçãodeParisdoMossadinformouTelAvivquetinhamdetectadomovimentos dos iraquianos para se reunirem com altos dirigentes do governofrancêse,emespecial,comtécnicosnucleares.Oskatsaconseguiramatéfotografarmilitares iraquianos visitando uma empresa de reciclagem desse material nosarredoresdeMarselha.

Tanto oMossad como o governo de Israel sabiam que o líder iraquiano tinhaboasrelaçõesecontatoscomasaltasesferasdogovernoedaindústriabélicagaulesa.O Iraque adquiriu uma boa quantidade de armamento como recompensa aogovernofrancêspeloapoiodeParisànacionalizaçãodocrudeiraquiano.[217]Porum lado, Golda Meir tentava pressionar o governo e, por outro, o Mossadpressionava o SDECE, a espionagem gaulesa, com o intuito de prejudicar acooperação franco-iraquiana em material nuclear, na verdade com muito poucoêxito.

Emmarçode1974,IsaacHofirecebeuumacomunicaçãopormeiodoKaisarut,[218]ointermediárionaEmbaixadadeIsraelemParis,queinformavaqueSaddamHusseinestavainvestindograndesquantiasdedinheironaaquisiçãodearmamentofrancês sofisticado por intermédio de uma sociedade chamada Arab Projects &Development (APD), que fazia parte de outra chamada Arab ResourcesManagement(ARM),presididaporumtaldeRamziDalloul.OsfundosdaAPDprovinhamdedoismagnataspalestinosdaconstruçãochamadosHassibSabbagheKamel Abdul Rahman. O Mossad soube que a Arab Projects & Developmentfuncionava como uma ONG sem fins lucrativos para desenvolver projetos decooperação e desenvolvimento em diversos países árabes. Tanto Sabbagh comoRahman eramativistaspalestinosquedestinavamenormesquantiasdedinheiro àOLP,[219] com importantes contatos com os líderes no exílio e que tinhamestudadoemuniversidadesnorte-americanaseeuropeias.

Num primeiro momento, Hofi tentou convencer o primeiro-ministro Rabin alevaratermoumaoperaçãodoKidoncontraambososempresários,masosucessorde Golda Meir era muito mais cauteloso na hora de usar o que o memuneh

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denominava “o bisturi de Israel”. Na verdade, nenhum dos magnatas palestinosparticipavadasdecisõesdaAPD.OMossadconcluiuque,paradesferirumgolpecontra a APD, seria necessário atacar os talentos que se reuniam em torno dela,como o empresário Basil Aql, o cientista nuclear Tony Zahlan ou o própriopresidentedaArabProjects&Development,RamziDalloul.

Esteúltimodirigiaaorganizaçãocomoumaespéciedeconsultoraparaospaísespobres com grande desejo de adquirir armamento sofisticado.Devido às estreitasrelações pessoais com Saddam Hussein, a APD tornou-se uma importanteintermediária do governo iraquiano na sua intenção de desenvolver o projetonuclear.AprimeiramissãoencomendadaaDalloulfoiprocurarerepatriar,paraoIraque, cientistas árabes especialistas em física nuclear que estivessem naquelemomento trabalhando para outras potências. Muitos deles colaboraram nessesprogramasnaAlemanha,naFrança,noCanadá,naGrã-BretanhaeaténaFrança.[220] Nessa altura, Hofi já sabia que era mais importante atacar os técnicosnucleares do que os líderes da APD. Estava claro que, se oKidon eliminava umexecutivo, ele era facilmente reposto,mas seo eliminadoeraumcientistanuclearcomanosdeexperiência,asuasubstituiçãoseriacertamentemaiscomplicada.

DalloulconseguiuquemuitosespecialistasárabesabandonassemseusconfortáveistrabalhosnoOcidenteparatrabalharemBagdá.OquenãosesabeéseaAPDouelemesmosabiamqueSaddamHusseintinhaopropósitodeconstruirarmamentonuclear.O jornalista e escritor palestino SaïdAburish, na suamagnífica biografiasobreolíderiraquianoSaddamHussein,ThePoliticsofRevenge,afirmaquenenhumaltocargodaquela companhia,depoisdedescobrirqueo Iraque tentava construirarmasatômicas,aconselhouaoseulíderqueseconcentrassenodesenvolvimentodearmas de destruição em massa, químicas ou biológicas, enquanto continuava adesenvolver o programa nuclear. Para os conselheiros de Saddam, as armas dessetipo eram eficientes e a sua montagem mais fácil, mais rápida e mais barata,enquantoadasnucleareseramaiscomplicada,maislentaemuitomaiscara.

No início de 1975, a companhia Arab Projects & Development começou atrabalharúnica e exclusivamenteparaSaddamHussein.ACIA informou entãooMossadque,57cientistasdeváriasnaçõesárabes,especialistasemdiferentesáreas,entre elas, biologiamolecular, química, física nuclear emateriais, tinham viajadoparao Iraque.Foramrecrutadospordoisorganismos,umcomsede emBagdá,oInstitutoSahdBinHeitham,eoutrocomsedenacidadesuíçadeBerna,oInstitutoÁrabedeInvestigações.OMossad,atravésdoserviçodeespionagembritânicoMI6,descobriu que ambas as instituições estavam relacionadas com um cunhado dopróprioSaddamHussein.Novamente,HofipropôsaRabinatacarcommaestriaas

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instalações onde eles trabalhavam. As intenções do memuneh eram, em primeirolugar,eliminaromaiornúmeropossíveldecientistase,emsegundo,darumaliçãoaoutrosque fossemtentadospelo Iraqueno futuropara trabalharnoseuprogramaarmamentista.TinhadesedeixarclaroaBagdáqueIsraelnãopermitiriaoprogressodoprojetoempreendidoporSaddamHussein.

A partir desse momento, o Iraque começou uma corrida contra o tempo paradesenvolver, secretamente, os programas de armamento nuclear e biológico,enquantoIsrael,cominformaçãodosbritânicosedosnorte-americanos,começavaatraçarestratégiasparaparalisá-losou,pelomenos,atrasá-los.Em6denovembrode1975,aFrançaaceitouformalmenteocontratoparaofornecimentodematerialaoIraqueparaaconstruçãodedoisreatoresnucleares,umpequenoparainvestigaçãoebatizado com o nome de Ísis, e outro maior, com uma capacidade de setentamegawatts,denominadoOsíris.Ovalordocontratochegavaaquase275milhõesdedólares. Os franceses incluíam, como presente, cerca de doze quilos de urânioenriquecidoa93%,suficientesparapodermontarquatrocabeçasnucleares.[221]

Entretanto, num ponto de ônibus em Paris, Butrus Eben Halim olhavaatentamenteparaumaloiradeslumbrantequetodasasmanhãsseaproximavadessemesmolocal,aguardavaachegadadeumhomemabordodeumaFerrariBB512,entrava no automóvel e iam embora juntos. Durante semanas, aquela jovem fezsempreamesmacoisa.

Halim era um iraquiano que levava uma vidamonótona e que passava todo otrajetodoônibuspensandonaquelamulher.Nãofalavacomninguéme,seguindoas recomendações dos serviços secretos iraquianos, mudava de caminho todos osdias para chegar sempre ao mesmo local, o ponto de ônibus próximo à suaresidênciaemVillejuif.[222]

A partir dali, o iraquiano fazia sempre o mesmo trajeto. Estação de metrô deSaint-Lazare e, dali, de trem até Sarcelles, a norte deParis, onde trabalhava numprojetoaltamentesecretodestinadoàconstruçãodeumreatornuclearnoIraque.

Numa abafadamanhã de agosto de 1978, o ônibus chegou antes da Ferrari.Aloira olhou para os dois lados à procura do carro esportivo e, não o avistando,decidiuusarotransportepúblico.

Oônibusquedeviaapanharotécnicoiraquianoestavaatrasado.Depoisdealgunsinstantes, a Ferrari parou ao seu lado.Omotorista saiu do veículo e começou aolhar de um lado para o outro à procura da mulher. Halim dirigiu-se a ele eexplicou-lhe que ela tinha ido num ônibus anterior. O homem, um poucocontrariado,agradeceu-lhee, antesdevoltarparaocarro,perguntouao iraquianoparaondeeleiaeofereceuumacarona.Então,ButrusEbenHalimentrounocarro.

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Omotorista,quesefaziapassarporumcidadãoinglêschamadoJackDonovan,eranarealidadeRanS.,umkatsadaestaçãodoMossademParis.Opeixemorderaaisca.

OchefedoTsomet[223]deuordensde“atacar”oalvomaisfácil,eesteacabouporserButrusEbenHalim.OMossadescolheuoiraquianoporqueeraoúnicoquevivia num apartamento privado.Os demais cientistas e técnicos viviam com suasfamíliasnumbairrovigiadopelosserviçossecretosdeSaddamHussein.Halimeracasado,masnão tinha filhos. Sua esposa erauma atraentemulher árabe chamadaSamiraquelevavaumavidamonótonanacapitalfrancesa.

OMossadplantaraescutasemtodaacasadocientista iraquiano.Nomomentoem que estavam instaladas, um shicklut, o responsável por controlar as escutas,dedicou-seagravarasconversas.

OcontatofoiestabelecidoporumajovemkatsachamadaDina.Umamanhãelaapresentou-se na casa dos Halim, fazendo-se passar por uma vendedora decosméticos.Aesposadocientista,assimcomoorestantedasmulheresdoedifício,ficouencantadacomoqueDinaoferecia.

O relacionamento entre as duas mulheres se estreitou a tal ponto que Samiracostumavaconvidaraagenteisraelenseparatomarcaféeconversar.EstafingiaserafilhadeumafamíliahumildedosuldeFrançaque,paraganharumdinheiroextra,vendiacosméticosdeportaemporta.Entretanto,outraequipedoMossadtentavaestabelecercontatocomocientista iraquiano.Usaraesposaparapoder recrutaromaridoparecianãodarresultadoeeraprecisomudardetática.

UmatardeemqueDinaeSamiraestavamnacasadestaúltimaexperimentandonovoscosméticos,ButrusEbenHalimchegou.NummomentoemqueSamirasaiudasala,Dina,queusavaumvestidovermelhojusto,pôs-seaolharparaaestantedelivros.Aatraentejovemsubiuunspoucosdegrausparachegaràpartemaisalta.Desoslaio,observoucomoo iraquianotentavaolharpor sobseuvestido.Oprimeiropassoparaoplanoestavaacontecendosemqueelesedesseconta.

Através das escutas, os agentes do Mossad puderam ouvir nessa mesma noitecomosuaesposarecriminavaHalimportertentadocortejarajovemvendedoradecosméticos.Depois daquele dia, amulher árabe simplesmente deixoude contatarDina,masumanovapossibilidadesurgira.

AprimeiravezqueoiraquianoentrounaFerrarinãofalousobreoseutrabalhocomonovoamigo,JackDonovan.Apenasmencionouquesuaesposaregressariaaoseupaísdeorigem,quegostavadecomerbemequenãobebiaálcooldevidoàsuareligião.[224]

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Nosdias seguintes,Donovan (RanS.) continuou a apanhar a loira espetacular.Umamanhã,amulherdesapareceu,masoinglêsjátinhaestabelecidoumarelaçãode amizade com o iraquiano. “Que aconteceu à mulher?”, perguntou Halim aDonovan.“Erasóalguémexigentedemais”,respondeuoinglês.QuandooMossadsoube que Samira regressara ao Iraque, a aproximação do katsa com o cientistacomeçouasermuitomaisestreita.

Clubesnoturnos,bebidasalcoólicasemulhereseramalgumasdasnovasatraçõesqueJackDonovanpresenteavaaButrusEbenHalim.Emdadomomento,oinglêsdisseaoseunovoamigoquetinhaplanejadoviajaraToulonparafinalizarumbomnegócioqueconsistianaaquisiçãodecontêineresemmauestadoparavendê-losapaíses africanos com o fim de utilizá-los como casas para pessoas pobres. Nessemesmofimdesemanaedepoisderealizarosupostonegócio,Donovanentregouaoamigoárabeumenvelopecommildólares.“Pegue.Ganheimuitodinheiro,evocêtemmeajudadonisso”,disselhe.

RanS.receberaordensdopróprioHofiparaoconverter(Tachless).NoInstituto,estavamansiososporteremHalimcomoinformantee,paraomemunehIsaacHofi,essemomentohaviachegado.

OkatsadoMossaddecidiudarogolpefatal,paraoqualreservouumaelegantesuítenohotelSofitel-Bourbon,nonúmero32daruaSaint-Dominique.Contratouuma prostituta chamada Marie-Claude Magalle e organizou um encontro casualcomelanorestaurantedoestabelecimento,paraquese fizessepassarporumadassuastantasamigas.Enquantoostrêsjantavam,ummensageirodohotelaproximou-sedeRaneentregou-lheumtelegramaqueacabaradechegar.AlguémsolicitavaaDonovanumareuniãodeúltimahora.

Emseguida,oagente israelensepediu licençaedeixouHalimnacompanhiadamulher.AnoitedesexodeambosnasuítefoifilmadaporumaunidadeespecialdoMossad.[225]

Doisdiasdepois, JackDonovan (RanS.)voltoueencontrou-secomHalim.Oisraelensedisselhequeumalemãolhepropuseraumnegóciodevendadetubulaçõescommaterialradioativoparausomédicoequeparaissoprecisavaencontraralgumespecialistanoramo.

“Eupoderiaajudar”,disseoiraquiano.“Obrigado, mas preciso de alguém que conheça do assunto. Alguém com

experiênciaemmatérianuclear”,respondeuDonovan.“SoucientistaevivoaquinaFrançadestacadopeloIraqueparadesenvolverum

projetosecreto.Possoajudar”,afirmoutaxativamenteButrusEbenHalim.

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A reunião teve lugar emAmsterdã com outro katsa chamado Itsik E., além deBenjaminGoldstein,cientistanuclearisraelense,quetinhapassaportealemão.Apósnegociar durante horas e fechar o suposto negócio, Donovan e Itsik deixaramGoldstein e Halim a sós. Nesse momento, o iraquiano falou-lhe sobre o seutrabalho.

Durante o jantar desse dia, Goldstein e Itsik propuseram a Halim que lhesfacilitasseoacessoadesenhosdanovaplantanuclearcomoobjetivodecopiá-lospara vendê-los a países menos favorecidos. “Pagaremos muito bem por qualquerinformação”,disseGoldstein,“masdeixaremosDonovanforadisso”.ButrusEbenHalim viu em seguida a possibilidade de ganhar grandes somas de dinheiro eaceitou.

Enquanto Itsik pressionavaHalim para que lhe dessemais informação sobre oreator que os iraquianos desenhavam, o árabe começou a sentir remorsos. Umamanhã telefonou a Donovan para lhe confessar tudo. O agente israelensetranquilizou-o, mas sugeriu-lhe que Itsik e Goldstein talvez trabalhassem para aCIA.Halimassustou-seaindamais.“Euseiquempodeajudar”,disselheDonovan.“VãomematarseemBagdáperceberemquepasseiinformaçõesàCIA”,respondeuHalim. Os iraquianos desenvolviam em segredo o chamado “projeto Tammuz”.[226]

DesdeatomadadepossedeMenahemBegincomoprimeiro-ministroem1977,o governo de Israel vinha pressionando, diplomaticamente, a França, o Brasil, aItália eoutrospaísesparaqueabandonassema ideiade fornecer equipamentos aoIraque.Oskatsa doMossad localizados emBagdá informaram omemuneh, IsaacHofi,quetinhamdetectadoumfluxocontínuodematerialnuclearparaoIraque.Relataramatémesmoachegadadeumcarregamentoespecialquecontinhaurânioenriquecidoprocedentedeumpaíseuropeu.

Begin tentou pressionar os Estados Unidos. Numa reunião secreta na CasaBranca, o primeiro-ministro israelense pediu ao presidente Jimmy Carter queobrigasse os países fornecedores a cessar os envios a Bagdá. Israel acreditava queWashington aceitaria intermediar, posto queCarter temia cada vezmais o poderque a França vinha adquirindo na sua política de desenvolvimento e proliferaçãonuclear.[227]OpresidenteValéryGiscardd’EstaingeoiraquianoSaddamHusseingarantiam, a quem os quisesse ouvir, que em nenhum momento o IraquedesenvolveriaumapolíticaatômicaquepudesseprovocarumaescaladanuclearnoOrienteMédio.Todavia,arealidadeeraqueoIraqueestavacadavezmaispertodese tornar o primeiro país árabe com capacidade nuclear e, sem dúvida, SaddamHussein,oseupresidente,tentariautilizá-lamilitarmentesefossenecessário.

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MenahemBegindecidiuentãomudarsuapolíticamoderadaporoutradeatacarpara depois perguntar. Para isso, convocou o Tsiach,[228] espécie de conselhosecreto formado por todos os chefes da espionagem israelense.Os seusmembrostinham a certeza de que, se o Iraque conseguia pôr em funcionamento o reatornuclear,odesenvolvimentodearmamentoestariaaoalcancedeSaddamHusseine,portanto,representariaumaclaraameaçaparaasegurançadeIsrael.BeginordenouaosseusresponsáveispelainteligênciaqueconcentrassemosseusobjetivosnacoletadeinformaçõessobreTammuzUno.

OprimeiroataqueaoprogramanucleariraquianopeloMossadseriaem5deabrilde1979.[229]Paraisso,MenahemBeginordenouaIsaacHofiaativaçãodeumaequipedokidon.[230]OskidonchegaramàcidadefrancesadeToulondediferentespontos da Europa. O seu alvo era um armazém, propriedade da companhiaConstructionsNavales et Industriellesde laMéditerranée (CNIM), situadanumdosprincipais cais da cidadede Seyne-sur-Mer, onde se encontravam armazenados osdoisnúcleosparaos reatoresdeTammuzquenodia seguinte seriamembarcadossecretamenterumoaoIraque.

Umcomboioformadopordoiscaminhõesdegrandetonelagemcirculavadevagarpela estrada paraToulon com váriosmotores para aviõesMirage procedentes dasfábricas de Dassault Breguet. Num cruzamento, antes de entrar na cidade, umPeugeot conduzidoporumkatsa os fez frearbruscamente.Ninguémreparouquehavia um terceiro caminhão. No interior, havia seis agentes do Mossad, doispertencentesaodepartamentoencarregadodassabotagensnaespionagemisraelense,trêskidondaMetsada eumespecialistanuclear.Ocomando sabiaque seriamaissimplespassarpelasportasdasinstalaçõesnumafiladeveículos,vistoqueosguardastinhammenoscuidadonahoraderegistrarosenormescaminhõescomcontêinereslacradoscomcadeado.

Outra vantagem era a hora em que cruzariam o controle de segurança. Oprimeiro caminhão chegaria à guarita às três e meia de uma manhã tão fria echuvosaqueosvigilantesnãoteriammuitointeresseemdetê-lo.[231]

Já no interior do armazém, e seguindo as instruções do especialista nuclear, oskatsa, protegidos peloskidon, colocaram os explosivos em lugares estratégicos. Àssetedamanhã,ouviram-sequatrofortesexplosõesquedeixaramaspeçasdestinadasaoIraqueinutilizáveis.Asperdasemmaterialchegaramaumnúmeropróximode20milhõesdedólares.

Umgrupoecologistafrancês,autodenominadoGroupedesÉcologistesFrançais,seresponsabilizou pelo ataque, mas o SDECE, o serviço de espionagem gaulês,concluiu a sua investigação com um relatório dirigido ao primeiro-ministro. No

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documento,classificadode“altamentesecreto”,garantia-seque,devidoàeficáciadotrabalho,estavamcertosdequetinhasidoumaoperaçãoorganizadapeloMossad.[232]

MenahemBegin esperavaqueo ataquenaLaSeyne-sur-Mer fizesse comqueogoverno francês reconsiderasse a ideia de ajudar SaddamHussein a desenvolver oseu programa nuclear. Pouco tempo depois, as esperanças do político israelensedesvaneceram-sequandoorelatóriodaAman[233]confirmouqueofluxodepeçasdaFrançaparaBagdá,paraoprojetoTammuz,nãotinhacessado.

Beginreuniu-senovamentecomIsaacHofiedisselheque,seoKidonnãopodiaacabarouatrasaroprogramanucleariraquianoatravésdesabotagens,deveriapensaremexterminartodososquecolaborassemcomoIraquenoseusonhodesetornarumapotência nuclear. Para omemuneh, era evidente que chegara omomento deescolherosalvosaserematacados.

OprimeiroalvoeraodoutorYahiaalMeshad,umcientistaegípcioquecresceunoIraque,quefaziapartedaequipequeaconselhavaopresidenteSaddamHusseineaComissãodeEnergiaAtômicaemBagdá.Meshadera,juntoaSalmanRashideAbdelRahmanAbdulRassool,umdosmaisimportantescientistasrecrutadospelaArab Projects & Development para trabalhar no programa secreto iraquiano dearmas de destruição em massa. Meshad era o especialista em energia atômica,RashidemcombustíveiseRahmanemmateriais.[234]

Isaac“Haka”HofitinhasobreasuamesaumrelatórioqueindicavaqueMeshadnasceraem11dejaneirode1932nacidadeegípciadeBanhamequeeraumdoscérebroslicenciadosnaexclusivaUniversidadedeAlexandria.OsisraelensestinhaminterceptadoumacomunicaçãodosfrancesesemquesemostravatodooplanodeviagemdocientistaàFrança.OMossadsabiaquesehospedarianoquarto9041dohotelMeridiendeParis,oquelhespermitiucolocarescutas.

ApenasHofi tinha autoridade suficiente para recomendar ao primeiro-ministroBeginaativaçãodeumaequipedaMetsada,masestavadecididoatentarcapturarMeshad antes e, se isso não fosse possível, sempre poderia dar a ordem de“execução” ao Kidon. O cientista egípcio poderia ser uma valiosa fonte deinformação para os israelenses, não só pelos seus conhecimentos do programanuclear iraquiano e da central deOsirak,mas também pela relação próxima quemantinhacomSaddamHussein.[235]

Omemuneh doMossad decidiu encarregar a um katsa chamado YehudaGil ocontato e recrutamento de Yahia al Meshad. Gil era um agente do serviço deespionagemisraelenseeespecialistaemefetuaralistamentosdessegênero,enissolheajudavamuitoseuperfeitodomíniodoárabe.

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Em13dejunhode1980,okatsachegouaoMeridien,atravessouoamplohalleentrounumdoselevadores.Aochegaraononoandar,dirigiu-sedevagaraoquarto9041. Bateu na porta e esperou. Esta entreabriu-se, e Meshad espreitou com ocabelodesgrenhado.Ocientistairaquianoperguntouaohomemoquedesejava.

O katsa comunicou-lhe unicamente amensagem que o memuneh lhe ordenaradar: “Trabalho para uma potência estrangeira e gostaria de lhe oferecer uma boaquantiaemdinheiroparasejuntaranós”.

“Váembora,malditojudeu”,gritouMeshad.Semresponder,YehudaGilsaiudohotelemdireçãoaoaeroportoeapanhouumvoodaElAlcomdestinoaTelAviv.Horasdepois,oagenteisraelenseinformoupessoalmenteHofisobreoacontecido.Depoisdeouvirobreverelato,MenahemBeginordenouaMeshadquecontatasseumaequipedoKidoncomoobjetivodeassassinarYahia.[236]

Para estaoperação, contaramcomcinco agentesque atuariam individualmente.Comoisca,oskidonusaramMarie-ClaudeMagalle,aprostitutaperitaemtrabalhosespeciais que já colaborara em outras ocasiões com o serviço de espionagemisraelense,comonocontatocomButrusEbenHalim.

Meshaderaumentusiastadofetichismoedosadomasoquismo,motivopeloqualfoifácilparaMagalleentraremcontatocomele.Nanoitede19dejunhode1980,oegípcioestavanarecepçãodohotelquandoumamulher,Magalle,começouaseinsinuarparaele.Minutosdepois,ambostomavamumabebidanobareemseguidasubiamparaoquartodeYahiaalMeshad.Depoisdeumtempo,aprostitutasaiudeixandoaportaentreaberta,enquantoMeshaddormianacama.Segundosdepois,trêsassassinosdaMetsadachegaram.Enquantooprimeirodosisraelensesvigiavaaentrada,osoutrosdoispunhamocientistaegípciodebarrigaparabaixo,segurando-lhe a cabeça para o alto e cortando-lhe a garganta com uma faca. Na manhãseguinte,ocadáver,cobertodesangue,foiencontradodentrodabanheira.

Depois de tomar conhecimento do assassinato em Bagdá, Saddam ordenou oenvio de quatro agentes do Mukhabarat, a espionagem iraquiana, com o fim deinvestigaremparalelamenteàpolíciafrancesa.OsespiõesdeSaddamprocuraramaprostitutadurantemesessemresultado.Osisraelensesencontraram-naantes.

Nanoitede12dejulho,aprostitutafaziaotrottoirembuscadealgumclientenobulevar Saint-Germain quando um Mercedes-Benz preto parou ao seu lado.Enquanto negociava o preço com omotorista, outroMercedes surgiu na direçãocontráriagrandevelocidade.Noúltimomomento,omotoristaqueconversavacomMagalle empurrou-a com força para a rua, no momento em que o outro carropassava, derrubando e matando no ato a prostituta — a única testemunha

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incômodadaexecuçãodohomemquemaisajudaraoIraqueeSaddamHusseinadesenvolverseuprogramanuclear.[237]

OspróximosalvosdoKidonseriamoscientistasSalmanRashid,oespecialistaemcombustíveis, e Abdel Rahman Abdul Rassool, o especialista em materiais. OproblemaparaoMossadfoique,desdeoassassinatodeYahiaalMeshad,SaddamHussein ordenara expressamente aos seus serviços secretos a proteção de ambos.Apesardisso,Hofinãodeixariadetentá-lo.

Salman Rashid estudara na Grã-Bretanha, onde participara no projeto e naconstrução de um magneto para urânio enriquecido. Tinha muito boas relaçõescomoCentroEuropeude InvestigaçãoNuclear emGenebra.Em16de julhode1980,RashidsaiusemavisopréviodacapitalsuíçacomadesculpadeverafamíliaesemaproteçãodosagentesdoMukhabarat.

Permaneceu desaparecido por nove horas, reaparecendo num hotel em que sereuniamvárioscientistasetécnicosárabes.Nessamesmanoite,apósojantar,Rashidcomeçou a sentir-se indisposto, com uma espécie de resfriado.Com o passar dashoras,asaúdedocientistapiorou;cadavezlheeramaisdifícilrespirar.Nomeiodanoite, Salman Rashid sofreu um colapso, tendo que ser levado com urgência aoHospitalAmericanodeGenebra.Saddamenvioudoisdosseusmédicosparticularespara tratar de Rashid, mas foi-lhes negada a autorização de entrada no hospital.Depoisdedezdiasdeagonia,ocientistamorreucomfortesdoresecomorosto,ostestículos,abocaeaáreaentreosdedosdasmãosedospéscheiosdeferidas.[238]

Os quatro agentes do Mukhabarat que deviam protegê-lo foram chamados aBagdápelochefedeespionagem,BarzanalTikriti.DoisdelesafirmaramquenuncatinhamperdidoRashiddevista,nemquandoocientistaseencontravaasósemsuaresidência.Osoutrosdoisconfirmaramaversãodosprimeiros.

UmrelatórioconfidencialchegadoàsmãosdeSaddameredigidoporagentesnaEmbaixada do Iraque em Genebra garantia que Salman Rashid fora visto nessamesma noite sem nenhum tipo de proteção ou cobertura num local famosofrequentadopelacomunidadediplomáticaefuncionáriosdosorganismosdosistemadasNaçõesUnidas.[239]

Na presença de Barzan al Tikriti, Saddam Hussein chamou os quatro agentesiraquianos.Semdizerumapalavra,o líder iraquianotiroua suaarmadocoldreedisparouentreosolhosdeumdelesperanteoolharatônitodorestodospresentes.Em seguida, Saddam perguntou a outro membro da segurança se alguma veztinham perdido de vista Salman Rashid. Com lágrimas nos olhos, o espiãoconfessouquetinhasidodespistadonumaruadeGenebrafamosapelassuaszonasde prostituição. Os outros dois membros do Mukhabarat confirmaram a versão.

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Depois,esemomenorsinaldecompaixão,SaddamHusseinordenouaBarzanalTikritiqueexecutasseostrêsagentesporaltatraiçãoaopaís.[240]Ocientistamortotinhatidocontato,nobar,comumajovemdenãomaisde20anosvestidacomumuniformeescolar.

A jovem suplicou a Rashid que lhe pedisse uma bebida, porque eramenor deidade.Seeleofizesse,elairiaaobanheiromasculinocomele.Ocientistairaquianoaceitou.Enquantofaziamsexonumdosreservados,SalmanRashidsentiuumalevepicada no couro cabeludo. Amoça pediu desculpas, garantindo-lhe que o picaracomapequenapulseiradeprata.

A jovem era na realidade uma kidon, e o fecho da sua pulseira tinha sidobesuntadocomumpotentevenenocriadonoslaboratóriosdoMossad.Diasdepois,osegundoalvoestavamorto.

O terceiro a ser eliminado por ordem de Menahem Begin era Abdel RahmanAbdulRassool,especialistaemmateriaisdealtaresistência.Hámeses,eleeravigiadopor uma unidade especial do Mossad à espera de novas ordens. Os katsainformaramIsaacHofi,omemuneh,dequeseriadifícilassassinarocientistadevidoàrígidavigilânciadosespiõesdeSaddamHussein.

Hofi dera ordens explícitas aos seus katsa de não tocarem Abdel Rahman. Omemunehaindatinhaavagaesperançadequealgumdosmembrosdaultrassecretaequipe de cientistas, que colaborava no desenvolvimento nuclear e biológicoiraquiano,passasseparaoladodelesporumaboaquantiadedinheiro.

OskatsaencarregadosdavigilânciadeAbdelRahmanAbdulRassoolinformaramoInstituto[241]queelegostavadacompanhiadehomensjovens,equeenquantooseguiamtinhamvistocomooiraquianofugiadavigilânciaeprocuravaessetipodecompanhia em diversos bairros. Para entrar em contato comRahman, oMossadutilizouumkidonquedeviaestabelecerumarelaçãocomocientista.Issopermitiriaeliminaraacirradasegurançaemtornodelepelaespionagemiraquiana,quevinhadesdeoassassinatodeSalmanRashid,seismesesantes.[242]

Uma noite, Rahman Abdul Rassool violou a sua própria segurança e foiacompanhado da sua nova conquista a um jantar oficial oferecido por umainstituição científica ligada ao governo francês. O jovem, alto, robusto eaparentando 20 ou 25 anos, tinha se registrado nomesmo hotel que o cientista,provocando um encontro entre eles.Uma noite, quando o kidon observou que acomitiva composta pelo iraquiano e os dois agentes doMukhabarat se dirigia aoelevador,entroucomeles.EnquantoAbdelRahmanolhavaojovemfixamente,esteobservavaosmovimentosdosagentes.

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Oquartodoisraelenseestavaapenasaduasportasdoquartodocientista.Algunsminutosdepoisdeentrar,oagentedoKidonouviuquealguémbatiaàporta.Abriueencontrou-secomopróprioAbdelRahmanAbdulRassool.Depoisde trocaremalgumaspalavras,oshomenscombinaramdeseencontrarnessamesmanoiteparabebernobardohotel.

Quando se encontraram, o iraquiano convidou o agente israelense paraacompanhá-lo a um jantar ao qual iria naquela mesma noite. Ao terminar obanquete, o cientista e seu acompanhante dirigiram-se a uma sala privada, ondepermaneceramdurantecercadeumahoraemeia.Depois,saíramjuntosemdireçãoa um Mercedes-Benz preto que os esperava à porta. Depois de passarem algumtempo num endereço em pleno centro de Paris, despediram-se, e AbdelRahmanAbdulRassool voltou ao seuhotel regozijante, saboreando as trufasque seunovoamantelhederadepresente,amanteessecomquemtinhacombinadoumencontrona manhã seguinte. Poucos quilômetros antes de chegar, começou a sentir-seindisposto, com fortes enjoos. Durante toda a noite, o cientista iraquianoespecialistaemmateriaissofreudoresforteseespasmosmusculares.

Levadoaumhospital,osmédicos,apósváriosexames,nãoconseguiramdescobriromotivodaindisposição.Nãorestavaamenordúvidadequeohomemtinhasidoenvenenadocomalgumasubstânciadesconhecida.Nodiaseguinte,AbdelRahmanAbdulRassool,oterceiroalvodoKidon,estavamorto.[243]

O SDECE francês tinha certeza de que o longo braço de Israel, maisespecificamente o Kidon, atacara de novo. Aparentemente, as primeirasinvestigaçõesdemonstraramqueoacompanhantedocientistapoderiatersidovistonosarredoresdaembaixadaisraelenseequepoderiatercolocadoovenenonastrufascom que o presenteara. A questão foi que tanto o caso de Rashid como o deRahmanficaramsemsoluçãoapesardosprotestosformaisdogovernofrancêsaodeTelAviv.

DepoisdosataquescontraasinstalaçõesdeTouloneosassassinatosdoscientistasYahia alMeshad, SalmanRashid e Abdel RahmanAbdul Rassool, Israel esperouantesdetomaroutradecisãoquepudessecomplicarastensasrelaçõesdiplomáticasentreTelAviveParis.MenahemBeginesperavaqueasaçõesrealizadaspeloMossaddessem a entender a Saddam Hussein que Israel jamais permitiria que o Iraquedesenvolvesse o seupoder nuclear no coraçãodoOrienteMédio.[244] Por outrolado,olíderiraquianonãoestavadispostoacederumcentímetronasuaintençãodeconseguir armas nucleares, ainda que para isso tivesse de pagar cinco vezes maispelaspeçasematerialdessetipo.

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Beginvoltouareconsiderarapropostamilitarparaacabardeumavezportodascom o ímpeto do líder iraquiano. Juntamente com o chefe do Estado-Maior, ogeneral Rafi Eitan, outrora responsável por ações nas origens do Kidon, deoperações como Garibaldi ou Riga, Begin ordenou ao Mossad e à Aman queaveriguassem a possibilidade de dirigir um ataque militar direto contra Tammuzutilizando forças aerotransportadas. Após uma longa reunião, a ideia foi posta delado, visto que nenhum explosivo portátil poderia provocar dano suficiente aonúcleo,easuainutilizaçãonãoseriadefinitiva.[245]

Eitanapresentouentãoumplanopararealizarumataqueaéreocontrolado.Paraisso, decidiu-se construir no deserto deBeersheba, a sul de Israel, ummodelo deescala da instalação nuclear iraquiana. À medida que tomavam decisões políticassobreaconveniênciaounãodoataqueaoIraquecomeleiçõesgeraisnohorizonte,MenahemBegindecidiuconvocarochefedaoposição,ShimonPeres.Olíderdostrabalhistas conhecia o plano devido às suas relações com os serviços secretos,muitos deles dirigidos por antigos companheiros de armas. Publicamente, PeresenviavasinaisaoLikudsobreasuaoposiçãoaumataqueaoIraque,pelaspossíveisrepercussões nas relações entre Israel e Washington. Shimon Peres até ouvirarumoresdequeIsaacHofi,chefedoMossad,eogeneralYehoshuaSaguy,chefedaAman,nãoestavammuitosegurosdaeficiênciadosupostoataqueaéreo.

OsprincipaisproblemasapresentadosaelemesmoeramqueoscaçasisraelensesF-16 tinham de evitar a vigilância dos radares iraquianos, em estado de alertamáximodevidoaoestadodeguerraqueopaísviviacomovizinhoIrãháumano.Por outro lado,Begin contava como apoio incondicional de outro representantedosfalcõesdoLikud,oex-generalArielSharon.

Por fim, decidiu-se, numa reunião secreta, dar sinal verde ao plano assim quepassassem as eleições, que estavam prestes a acontecer. Se Menahem Begin fossereeleito, aOperaçãoBabilônia seria levada a cabo.Oprimeiro-ministro israelensecalculava os danos diplomáticos que o país sofreria nas relações comWashington[246]eMoscou,quefechavamosolhosparaodesenvolvimentonucleariraquiano.OpapelmaisimportanteeraodesempenhadopelaFrançaeoseurecém-eleitopresidente,osocialistaFrançoisMitterrand.Ocarismáticopolíticogaulês jádeixaraclaroaIsraelquenãorestituiriaaoIraqueomaterialdestruídopeloMossadnoarmazémdoportodeLaSeyne-sur-Mer.[247]

Nanoitedesábado,6dejunhode1981,BegintelefonouparaEitan,dando-lheordemparaatacaroreatornucleardeOsirak,naperiferiadacidadeiraquianadeAl-Tuweitha,anortedeBagdá.Àsquatrodatardedodia7dejunho,24caçasF-15e

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F-16 partiram de uma base aérea no coração de Israel. O piloto mais jovem damissãoeraIlanRamon.[248]

O plano consistia em sobrevoar quase 1.050 quilômetros sobre diversos paísesinimigos, localizaredestruirumalvonoIraqueeregressaràbase.Asesquadrilhasiriam protegidas por um Boeing 707 da Força Aérea Israelense, a FAI, comcoberturadaAirLingus, as linhasaéreas irlandesas.Osbombardeirosvoariamemformação fechada ao 707, o que faria com que os radares jordanianos, sírios eiraquianosdetectassemumsimplesvoocomercialemdireçãoaalgumarotanaÁsia.Aordemdadaaospilotoseraquesemantivessememcomunicação.[249]

Quando os aviões sobrevoavamo espaço aéreo sírio, oBoeing começou a virarparaoesteatéa ilhadeChipre,escoltadopordoisF-16,apósabastecerorestodaesquadrilha, que em poucos minutos entraria em posição de ataque. Osbombardeiros começaram a alinhar-se em formação de combate por pequenosgrupos, armados com mísseis Sidewinder, bombas blindadas e bombas denovecentos quilos dirigidas por laser. A ideia era concentrar a primeira onda deataquesnacúpulacentraldoreator,afimdedeixarointeriordescoberto.

Os pilotos israelenses tinhamdois sistemas claros para localizar o alvo.[250]Oprimeiro era localizá-lo a olhonu, difícil quando se voa a 1.500quilômetros porhoraeoalvoérelativamentepequeno.Osegundo,pormeioderadiofaróismóveis.ParaoataqueaOsirak,usaram-sedoisdestes,umexterioreoutrointerior.

OexteriorfuncionavacomumagentedoMossadqueenviavasinaisderadiofarolapontandoparaoalvo,oquepermitiaqueospilotoslançassembombascommaiorprecisão.O interior foi depositado por um engenheiro nuclear francês, recrutadopela espionagem israelense, chamado Damien Chassepied.[251] O técnicoescondeu, perto do núcleo, uma mala em cujo interior havia um sofisticadoradiofarolquelançavasinaisintermitentesaoscaças.Àsseisemeiadatardedodia7de junho, duas das esquadrilhas começaram a elevar-se a seiscentos metros. OsprimeirosF-16daForçaAéreaIsraelenseseexibiramparaatrairofogodaartilhariaantiaéreairaquiana.OrestantedosF-15iniciaramoseudevastadorataqueàcentralnucleardeOsirak.

Aprimeiraondadeataquesderrubouacúpulaatéochão,alémdosgrossosmurosreforçados. A segunda danificou gravemente dois edifícios contíguos onde seencontrava parte domaterial que seriamontado nos dias seguintes pelos técnicosfranceses e iraquianos. A terceira irrompeu sobre o núcleo do reator, quedesmoronounopoçoderefrigeração.

Trêshorasdepoisdoiníciodoataque,osbombardeirosregressavamàssuasbasesemIsraelatravessandooespaçoaéreodaJordânia.WilliamCasey,diretordaCIA,

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recebeu a comunicação do ataque justamente três horas depois do começo dobombardeio. Curiosamente, os norte-americanos tinham descoberto que,recorrendo aumacordode cooperação aprovadopeloprópriodiretordaCIA, osisraelensestinhamutilizadoomaterialfotográficodossatélitesdeespionagemdessepaís para preparar o ataque a Osirak.[252] Indubitavelmente, Casey fora muitogeneroso coma inteligência israelense e seumemuneh,mas oproblema era que oataquedeIsraelsobresoloiraquianocolocavaaadministraçãodopresidenteRonaldReaganemsériosapuros.

NumareuniãosecretanaSalaOvaldaCasaBranca,daqualparticiparamCasparWeinberger, então secretário da Defesa, George Shultz, secretário de Estado, opresidente Ronald Reagan, o vice-presidente George Bush e o diretor da CIA,William Casey, Shultz acusou o chefe de espionagem norte-americano de pôrWashingtonnumasituaçãodelicadacasoosaliadosárabesdescobrissemqueIsraelestava para lançar bombas pelo Oriente Médio, utilizando material delicadoprocedentedaCIA.

A partir desse dia, todo omaterial daCIA ficou restrito a Israel,menos o queimplicassepaíses altamenteperigosospara a segurançadoEstadohebraicoouquesimplesmentepartilhassem linhas fronteiriças.Comomedida contra o governodeBegin,ReagandecidiuimporsançõesaIsraelsuspendendoaentregade75caçasF-16 que já tinham sido pagos.Casey disse aWeinberger e a Shultz que amedidaservia apenas para contentar os aliados e os países árabes doGolfo produtores depetróleo.Pessoalmente,paraosfalcõesdeReagan,amedidaerarealmenteestúpida,destituída de sentido e sem nenhum tipo de resultado, visto que, no final,Washingtoneraumdosmais interessadosemqueoIraquenãodesenvolvesseumprogramanuclear numa zona doplaneta tão explosiva e instável comooOrienteMédio.[253]

Utilizando a administração democrata de Jimmy Carter, o Mossad tentaraconvencerWashingtonaobrigaroIraqueapararodesenvolvimentodoprogramade armas de destruição em massa, mas o problema era que Carter estavademasiadamenteocupadopara tentar libertaros refénsdaEmbaixadadosEstadosUnidos em Teerã e, portanto, preferia não perturbar um aliado como o Iraque.[254] O que mais perturbava Casey era que o memuneh do Mossad não tinhacomunicadoabsolutamentenadadaOperaçãoBabilôniaantesdasuarealização.

Desde aquele ano, William Casey contatou diretamente o general YehoshuaSaguy,quetodosconheciampelocognomeSagi.OchefedaAman,a inteligênciamilitar,seencarregaria,apartirdaí,deinformardiretamenteedemodoextraoficialaCIAdequalqueroperaçãoqueosserviçosdeinteligênciaisraelensesexecutassem

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foradassuasfronteirasoucontradirigentesdaOLPdentrodasfronteirasdoEstadohebraico.[255]Oprimeiro-ministroMenahemBeginesperava,reunidocomoseugabinete em sua residência emTelAviv, a tão ansiada chamadadeRafiEitan.Oataquedestruíraporcompletoainstalaçãoiraquiana.

A Operação Átomo, levada adiante pelos homens do Kidon, e a OperaçãoBabilônia,pelaForçaAéreaIsraelense,emcolaboraçãocomalgunskatsadoMossad,foram um sucesso. Os dois ataques de Israel acabaram temporariamente com odesejo de Saddam Hussein de alcançar um poder nuclear que pudesse ser usadocomoarmadedestruiçãoemmassaemcasodeumconflitoarmadoentreasnações.

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A cidadedeSydneyamanheciachuvosanodia24demaiode1986.MordechaiVanunu,vestidocomjeanseumacamisa,caminhavapelasruasdobairrode

Darlinghurst em direção à igreja anglicana de St. John. Entrou num café nasproximidadesparabeberumcopodeáguaeconversarcomumcatequistachamadoDavidSmith.Depoisdirigiu-seàigreja.Orecém-chegadodisseserjudeuequererconverter-se. O pároco John McKnight acompanhou Vanunu ao interior dorecinto,mas antespediuque tirasse apequena estreladedavideouroque levavapendurada aopescoço.A conversa girou em tornoda filosofia e, emespecial, dasideiasdofilósofodinamarquêsSørenKierkegaard.Apósquatrohorasdeconversa,VanunuconfessouaMcKnightasuadesilusãocomojudaísmo.[256]

MordechaiVanunuerao segundodenove irmãosdeuma famíliamuitounidaemtornoda figurapaterna.ChegaramaIsraelvindosdoMarrocos, formandonoseunovolarumadasetniasmaishumildesdessepaís.Osjudeusmarroquinoscomdinheiro e instruçãoque chegavamdoCanadá edaFrança eramacomodados empostos e profissões liberais, enquanto os marroquinos vindos dos guetos deMarrakechedasmontanhasdoAtlaseramalojadosemlugaresdesérticos,distantesdosgrandesnúcleosurbanoscomoTelAviv,HaifaeJerusalém.

Em 1972, Mordechai Vanunu ingressou nas Forças de Defesa Israelenses,chegandoaograudeprimeiro-sargentonumaunidadedestacadanosMontesGolã.Depoisdeselicenciar,semnenhumméritoespecial,matriculou-senaUniversidadede Ramat Aviv, em Tel Aviv. Gostava de Física, porém, após ser reprovado noscinco primeiros exames, decidiu desistir e voltar para casa. No verão de 1976,Vanunu encontrou, na seção de classificados do diário Yedioth Ahoronoth, umaofertadeemprego.Otextonãoindicavagrandecoisa,apenassepediaumtécnicoe

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fornecia-se um número de telefone de seis dígitos.[257] Mordechai discou onúmeroedooutroladoumavozfemininaidentificou-secomooperadoradoKMG,o Kiryale-Mehekar Gariny, o centro de investigação nuclear pertencente àAutoridadedeEnergiaAtômicadeIsraelnodesertodoNeguev.

Trêsmeses depois, um homem doKMG entrou em contato com ele para lheinformarquenãoforaescolhidoparaotrabalho,masque,devidoàsuapreparação,poderia ingressar no curso de física,matemática, química e inglês concedido pelaAutoridadeNuclear.Emfevereirode1978,umacartacomumtimbrequemostravaumátomoanunciavaqueelehaviasidoaprovadonostestesequedeveriaingressarnaCentralAtômicadeDimona.[258]

No seu primeiro dia de trabalho, antes de entrar no automóvel Volvo azul ebranco,MordechaiVanunufoilevadoaumpequenoescritórioeobrigadoaassinarachamada“AtadeSegredosOficiaisdoEstadodeIsrael”ea“Ata123”.Depois,osilenciosohomemquelheentregaraodocumentoestendeu-lheumpequenocartãoeletrônicocomasuafotografia.OpasselhepermitiriaatravessarasduasportasdeaçoquedavamacessoaoMachon2,azonamaissecretadocomplexodeDimona,olugarnoqualsefabricavamasbombasnucleares.[259]

Os novos empregados dedicaram as primeiras semanas a conhecer os labirintossubterrâneos da instalação até que, no final de junho, terminou o treinamento.Nesse mesmo mês, Mordechai Vanunu foi chamado como reservista no exércitonuma unidade de engenheiros. Uma semana depois, a convocação foi anuladaquandosedescobriuqueVanunufaziapartedaequipedasecretaDimona.Em7deagostode1977,passavanostestes,sendodestacadocomocontroladornoturnodanoite,trabalhandodas23h30àsoitohorasdamanhã.

Em1978, o técnicodeDimonamatriculou-senaUniversidadeBen-GuriondeBeersheba,dedicandoo restodo tempoao seu trabalhonoMachon2.OqueelenãosabiaeraquepassaraaserinvestigadopeloShinBet,porordemexpressadoseudiretor,AvrahamAhituv,depoisdeganharumafortereputaçãopelos seuspontosdevistadeextremadireitaeporserumkahanistaintransigente,seguidordorabinoMeirKahane.[260]

Na universidade, Mordechai Vanunu formou-se em Geografia e Filosofia,enquanto suavizava as suas posições a respeito da questão palestina. Algunsestudantes descreviam-no como um homem introvertido,muito inteligente, bomconversadoreespecialistaemFilosofia,aindaqueosagentesdoShinBettivessemdescoberto que Vanunu mostrava posições contrárias à política de segurança dogoverno e ao forte poder dos judeus ashkenazi na sociedade israelense. “Narealidade,oespíritoantiashkenazideVanunueraatémais fortequeoseuespírito

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antijudeu ou anti-israelense”, relatou ao Jerusalem Post o seu antigo professor dehistória,odoutorZeevTsakhor.[261]

OrelatóriodoShinBetchegouàsmãosdonovodiretor,AvrahamShalom,quedeuaordemdeconvocarVanunucomofimdeserinterrogadopelosseusagentesepor membros de segurança da Autoridade Nuclear. Como resultado dointerrogatório, foi obrigado a pedir demissão em novembro de 1985, embora omotivo usado como explicação fora que ele fazia parte dos 180 empregados queseriamdespedidosparareduçãodecustosdoKMG.MasoqueninguémsabiaeraqueVanunu, semanas antes, fotografara as equipes eosprocessosdeproduçãodainstalação mais secretamente guardada, a fábrica de armas nucleares de Israel,conhecida como Machon 2. Burlando as medidas de segurança, o técnicoconseguiraentrarnafábricacomumacâmeraedoisrolosKodakde35mmde36fotografias cada um. Depois de tirar fotos de todo o interior, colocou os filmesnuma simples sacola de praia. Sem que estes fossem detectados, entrou numdoscarros Volvo e atravessou os três perímetros defensivos eletrificados de Dimona.[262]

Assim que chegou em casa, Mordechai Vanunu comprovou que tinha em seupoder sessenta negativos de fotos de equipamentos, modelos em escala ecomponentesusadosnaproduçãodoarsenalnucleardeIsrael.DepoisdevenderseucarroeseuapartamentodeBeersheba,viajoudeônibusatéoaeroportoBen-Gurionde Tel Aviv e comprou uma passagem de avião para uma cidade europeia, paradepois pegar um avião para a Austrália. O que ele não sabia é que desde queatravessou a fronteira de Israel, o seu caso passaria para as mãos do Mossad,conduzidonessaalturaporNahumAdmoni,ummemunehmuitopredispostoausarosesquadrõesespeciaisdeassassinosdaMetsada,otemívelKidon.

DuranteastrêssemanasqueseseguiramàsuafugadeIsrael,Vanunudedicou-se,na igreja de St. John, a procurar um caminho que resolvesse o dilema entre seupatriotismoelealdadeaIsraelesuascrençasmorais.FoiDavidSmith,ocatequista,quemlhedissequeasuaintençãodeseconverteraocristianismoerainseparáveldasuaobrigaçãode fazeralgumacoisacoma informaçãoque tinhadeDimona.Porfim,eledecidiuexporasuahistóriasobreafábricadebombasnuclearesdeIsrael,masfoiumhomemchamadoÓscarGuerreroquemlhedissecomofazer.

Este era um refugiado colombiano que chegara a St. John em junho de 1986,comaincumbênciadepintarointeriordaigreja,comopartedeumprogramadeauxílio ao emprego do governo australiano.O hispânico afirmou ser um famosojornalista no seu país, o que lhe tinha permitido conhecer pessoalmente figuras

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como Lech Walesa, Raúl Alfonsín, Issam Sartawi, um alto oficial da OLPassassinadoemPortugal,eatéopróprioprimeiro-ministroShimonPeres.[263]

GuerrerocontouqueforaforçadoasairdaColômbiadepoisdeterescritováriosartigos criticandoogoverno, emboranão tivesse comocomprovar.Para alguns,ocolombianoeraumsimplesoportunista,comosecomprovariapoucotempodepois.

Numencontro entreGuerrero eVanunu, o israelense revelou-lhe a informaçãoquedispunha,equenãotinhainteresseemrecebernenhumtipodepagamentoporela, algo com que Guerrero não concordou. Uma semana depois, o colombianocomeçouapressioná-loparaquecontasseahistóriaaoscontatosjornalísticosdoseupaís. Na verdade, Vanunu não sabia da péssima reputação de um homem quetentara vender algumas fotografias sobre um suposto massacre em Timor LestecometidopeloexércitoindonésioaoSydneyMorningHeraldemmaiode1986,queposteriormentesedescobririateremsidotiradasduranteaguerradoVietnã.

Mas os planos deGuerreromudariam de repente quando, em um dia em queconsertavaotetodaigreja,“escorregou”misteriosamente,caindodeumaalturadedezmetros.OpárocoMcKnightchamouaambulânciaparaqueo levassemaumhospitaledepoisàpolícia.ÓscarGuerreronãoquisfalarcomosagentes,masumaespéciedemedocomeçouapercorrer-lheocorpo.SabiaoqueoMossadpodiafazercomelesedescobrissequeestavaajudandoVanunuatornarpúblicaainformaçãosobreDimona,atémesmoquenãohesitariamemassassiná-lo.[264]

Durante algum tempo, as coisas se acalmaram, até que Carl Robinson, ocorrespondentedaNewsweek noPacíficoSul, entrou emcena.Guerreroofereceranovamenteahistóriaparasuarevista,masRobinsonqueriaentrevistaroisraelense.Paraisso,viajouatéSydneynomêsdejulho.Numacasadosubúrbio,encontrou-secom Óscar Guerrero, que se autodenominava Alberto Bravo, e com um tal deDavid. Após mais de três horas de entrevista, e depois de ouvir a história, ocorrespondentedaNewsweekpediuaDavidoseupassaporteoualgumdocumentoque comprovasse que era técnico da central de Dimona. Três semanas depois,Robinson recebeu um telefonema de David em que este lhe pedia que nãopublicasseahistória,vistoquetemiaoquelhepudesseacontecer.

Em10deagostode1986,MordechaiVanunu foibatizadoassumindoonomecristãodeJohnCrossman.Depoisdisso,Vanunu,oumelhor,Crossman,confessoua John McKnight: “Hoje a minha família deve estar realizando um funeral paramim.Elespensamqueestoumorto”.[265]

Nosmesesseguintes,GuerreroabandonouasuaintençãodepublicarahistórianaAustrália.OSydneyMorningHerald perdeu, dessemodo, umdosmelhores furosjornalísticos desde o Watergate e os Papéis do Pentágono. Com algumas das

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fotografias deVanununasmãos,Guerrero vooupara aEuropa como intuitodefalarcomalgunsrepórteres.UmadasescalasfoiemMadri,ondeentrouemcontatocomosescritóriosdoTheSundayTimesdeLondres.MordechaiVanunusabiaqueas suas convicções morais o obrigavam a tornar pública a informação de quedispunha;porém,aomesmotempo,sabiaque,aoviolaraAtadeSegredosOficiaisqueassinara,secolocarianamiradoKidonedoskatsadeNahumAdmoni.

Desde que em 1960 uma unidade especial do Mossad sequestrou, em BuenosAires, o criminoso de guerra Adolf Eichmann,[266] Vanunu sabia que nadaimpediriaqueumdoscomandosdoKidonfizesseomesmocomeleouoexecutasseemplenarua.OcorrespondentedodiárioentrouemcontatoimediatocomoseujornalemLondres,depoisdeouviraincrívelhistória,masoTheSundayTimesnãomoveriaumsódedoantesdeentrevistarMordechaiVanunu,eparatalempreitadadestinaram o repórter Peter Hounam, da seção de investigação. O jornalista eraformadoemfísicae,emboranuncativessetrabalhadonaárea,tinhaconhecimentossuficientesparasaberseahistóriaeraverdadeiraounão.[267]

O encontro aconteceu no quarto 1.202 do hotelHilton de Sydney.Durante aprimeira hora, Vanunu se dedicou a corrigir os exageros da história contada porGuerrero.Emprimeirolugar,informouqueelenãoeraumcientista,massimumtécniconacentraldeDimona.Houmandeclaroupoucotempodepois:“DuranteomeuprimeiroencontrocomVanunu, ele confessouque temia ser assassinadoporumagentedoMossad,bemcomonãotinhacertezaseeunãoseriaumagentedoMossad,oudoShinBetemvezdejornalista”.

O israelense contou sua história ao jornalista,mas sem se identificar.Hounamcomentouqueprecisaria saber seunome, jáqueahistóriadevia serpersonalizada;noentanto,depoisdevirapúblicoemseguidaaoprimeiroartigo,elalhegarantiriaumamaiorsegurançapessoal,poisosagentesdoKidonouoskatsadoMossadnãoousariamtentarnada.NosegundoencontronoapartamentodoHilton,Hounam,VanunueGuerrerofecharamascortinas,deixandoasalaàsescurasparaveremosslides dispostos em sequência num projetor. As primeiras imagens mostravamcontroles, luzes e painéis que Hounam identificou como parte da operação deprocessamento de plutônio de Dimona. Então, o jornalista percebeu que tinhadiantedesiumahistóriaverdadeiraequeVanunudefatotrabalharanafábricadebombasnuclearesdeIsrael.[268]

Alguns diretores do The Sunday Times em Londres rejeitaram a história queVanunutinhacontado.Apenastrêsanosantes,ojornal,juntoaoutraspublicaçõesdeprestígio,foraenganadopeloschamadosDiáriosdeHitler.[269]

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Umadasquestões,entreoutras,queosfizeramduvidardahistóriadeVanunufoique elenão soube informar comexatidão a localizaçãoda centraldeDimona.SóagorasesabequeelaestálocalizadanaautoestradaquevaideBeershebaaSodoma.Ocomplexoestárodeadoportrêsbarreiraseletrificadaseporváriosmetrosdeareiaqueéalisadaacadameiahoraportratores,paradetectarsealguématravessou.Oseu espaço aéreo é patrulhado por helicópteros Cobra de combate, os mesmosusadosparabombardearasposiçõesdoHezbollahnosuldoLíbano.[270]

As fotografias de Vanunu mostravam algumas imagens exteriores da instalaçãonuclear,masoTheSundayTimesnãopodiacomprovarseeramautênticasounão.Nesse momento, percebendo que o diário britânico estava pedindo informaçõessobrequestõesnuclearesequetudoissotinharelaçãocomumcidadãodeIsrael,oMI6britânicoentrouemação.Oserviçosecretobritânicosabiaqueainformaçãomanipuladapelojornaleraverdadeira,mas,talcomoeste,outrosgruposterroristastambémpoderiamtê-la.FoidessemodoqueoMossadsoubequehaviavazamentode informação.[271] Donald Wellerd, agente intermediário do MI6 com osdiferentes serviços secretos aliados, informou o chefe da estação do Mossad, emLondres, sobre o material obtido pelo jornal. De imediato, a informação foitransmitida ao Instituto e o pior dos medos de Vanunu começou a tornar-serealidade.ElesabiaqueoskatsadeAdmoninãoficariamdebraçoscruzados.

A primeira notícia de que o Mossad estava no encalço de Vanunu veio dojornalistaPeterHounam.Numamanhã,elerecebeuumtelefonemadoseueditor,em Londres, que o informou que os homens, que tinham se identificado comoagentesdoShinBet, estavamàprocurado técnico israelensepara interrogá-lo.Ojornalpediuaoseuinvestigadorquetivessecuidado.

NahumAdmoni,omemunehdoMossad,envioudoisagentesdaunidadeLAPaBeershebaparafalarcomosmembrosdafamíliadeVanunucomoúnicoobjetivodesaber:“OndeestáMordechaiVanunu?”.Osinterrogatóriosdurarammaisdetrêshorasininterruptas.

Certo dia, o Instituto recebeu de Sydney uma comunicação proveniente doServiço de Inteligência Australiano, a ASIO, informando que três agentes dacontraespionagem o tinham localizado naquela cidade, mas que dois dias depoistinhamperdidoapistadele.Hounamsabiaque tantoele comoVanunuestariamem perigo se viajassem de avião para Londres, já que era isso que os agentes doKidonesperavam.

Em11 de setembro, ambos os homens deixaram Sydney.AASIO informou oMossadquelocalizaranovamenteVanunusaindodopaísviaSydneyecomdestinoa Londres. Com toda a informação em mãos, Admoni deu ordem à estação de

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Londres, “Luz do Dia”, enquanto informava o primeiro-ministro Shimon PeressobreasituaçãoatualdocasoVanunu.Admonitentavaconvencê-loadarordemauma equipe da Metsada para que eliminasse Vanunu caso este aparecesse emLondres. O chefe do governo não estava muito convencido, visto que sabia dosefeitos que a sua decisão poderia acarretar, tanto que a adiou até receber novosrelatórios.JohnMcKnightconfidenciaraseusmedosaoseuamigoVanunusobreoqueoMossadpodia fazer comele casopublicasse as fotografiasdeDimonanumjornalbritânico.[272]

OvoonaContinentalAirlines foi longo,maspermitiuqueosdoisaliviassematensão acumulada de uma semana. Uma hora antes, alguém com uma vozdesconhecida telefonou para oGabinete Especial, emCollege Street, em Sydney.Pediupara falar comumoficialdeoperações especiaisdaASIO.OdesconhecidoinformouqueMordechaiVanunusaírarumoaLondreseovooquepegara,oquefoi repassado ao oficial do MI6 no aeroporto londrino de Heathrow. QuandoHounam e Vanunu desembarcaram, três agentes do MI5, a contraespionagembritânica,jáosesperavamparasegui-los.

Naverdade,paraos serviços secretosdaFrança,daGrã-BretanhaedosEstadosUnidos,ainformaçãodeDimonatornar-sepúblicanãoeraumcontratempo,jáquehaviaquasetrintaanosquesabiamdasuaexistência.Em1960,CharlesdeGaulleeoseuministrodosNegóciosEstrangeiros,MauriceCouvedeMurville,receberamavisitadeShimonPeresedoentãochefedoMossad,IsserHarel,paraconvencê-losdequeIsraelseriaoúnicobastiãodoOcidenteválidoparaorestodasnaçõesárabeseantiocidentais.[273]Nessamesmadata,aCIAcomeçouafazerperguntasaoseualiado, oMossad, sobre a instalação nuclear que dois aviões espiões U-2 tinhamdetectadonodesertodeNeguev.Osnorte-americanosreceberamcomorespostadopróprioHarel:“Fotografaramumagrandefábricadeprodutostêxteisqueestávamosconstruindo”.Mas a explicação não convenceu ninguém.[274]O diretor daCIAinformouopresidente JohnF.Kennedyque Israel estava possivelmente tentandodesenvolverarmamentonuclear.Em3dejaneirode1961,KennedyenviouOgdenReid, o embaixador especial para oOrienteMédio, para se encontrar comDavidBen-Gurion e a ministra dos Negócios Estrangeiros, Golda Meir. Ogden foitaxativoarespeitodassuasperguntas,quedeviamterrespostasclarasantesdameia-noite. A CIA detectara um movimento de plutônio enriquecido no que osisraelensesafirmavamserumafábricatêxtil.[275]

HareleMeirafirmavamqueosEstadosUnidosestavamagindodemaneirahostilemrelaçãoaosassuntosinternosdeIsrael,enquantoBen-Gurion,maisdiplomático,decidiuinformaraCIAeaCasaBrancadequedefatodesenvolviamumacentral

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nuclearparaproporcionar energia elétrica a todoopaís equeo reatornucleardeDimonatinhasidoprojetadoparafinspacíficos,aceitandoasinspeçõesdecientistasnorte-americanos.[276] Durante os seis anos seguintes, em que Dimona seencontrou em plena atividade, os norte-americanos cansaram-se de realizarinspeçõesde rotinae retiraram-se. IssopermitiuqueIsraeldesenvolvesseaenergianuclearatéoarmamentoatômico.

Em 1968, o diretor doMossad,Meir Amit, ordenou uma das operaçõesmaisespetaculareslevadasacabopelosserviçossecretosisraelenses.UmaunidadeespecialdecomandosdoKidoncapturouumcarregamentodeduzentastoneladasdeurânioenriquecidoprocedentedaBélgica,numnaviodecargaemmeioaoMediterrâneo.[277] O navio Scheersberg A partira de um porto daquele país com urânio comdestinoaumaindústriapetroquímicadeMilão.Onaviofoiinterceptadoemalto-mar por outro navio da ZIM, a companhia marítima nacional de Israel, queconfiscoutodososbarris.QuandooScheersbergAatracou,váriosagentesdoserviçode espionagem alemão, o BND, inspecionaram as fichas de embarque einvestigaramoregistrodepropriedadedonavio,quepertenciaàcompanhiadeDanAerbel, agente do Kidon da Metsada detido anos depois pela sua implicação nofiascodeLillehammer.[278]

Anos depois, a CIA descobriu também que 217 kg de plutônio tinhamdesaparecido misteriosamente dos depósitos da NUMEC, a Corporação deEquipamentos e Materiais Nucleares. Carl Duckett, subdiretor da CIA paraassuntos técnicos e científicos, calculou que com essa quantidade seria possívelmontar45bombasatômicas.Asinvestigaçõesconcentraram-senumdosfundadoresda companhia, Zalman Shapiro, um químico judeu que trabalhava no projetoManhattan.Elepassava informaçãoegrandesquantidadesdeplutônioaoMossadparaodesenvolvimentodo armamentonuclear.[279]ACIA sabia exatamentedopotencialatômicoqueIsraeldesenvolvera, tantoque,em15demarçode1976,oTheWashingtonPost,citandoDuckettcomofonte,tornoupúblicaainformação.Odiretor da CIA pediu desculpas a Israel pela indiscrição do seu subdiretor,prometendoqueapartirdaquelemomentoosEstadosUnidosnãovoltariamapedirexplicações a Israel sobre o seu potencial nuclear. O diretor do serviço deespionagemnorte-americanoeraumtaldeGeorgeBush.

EmJerusalém,ShimonPeres,YitzhakRabin,ministrodaDefesa,YitzhakShamir,primeiro-ministro anterior no governo de coligação,NahumAdmoni, diretor doMossad,eAvrahamShalom,diretordoShinBet,reuniram-seafimdedecidiroquefazercomMordechaiVanunu.Shamir,AdmonieShalomeramafavordeassassiná-lo ativandouma equipedoKidon, enquantoPeres eRabinpreferiam tomaruma

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medidamenosdrásticaeordenaroseusequestro,paradepoistransferi-loparaIsraela fimde ser julgadopor alta traição.PeresordenouaAdmonique elaborasseumplano para sequestrar Vanunu e ativasse o Kidon para levá-lo a cabo. No TheSundayTimes já sepensavanahipótesedeque a suamelhor fonteno caso,o ex-técnicodeDimona,pudessesersequestradapelosisraelenses,fatoquefezcomqueodiretor do jornal destacasse três repórteres para que não o perdessem de vistadurantetodoodia.Depois,concordouempagaraoex-técnicodeDimona75mildólarespela exclusividadedahistória edas fotografias,masMordechainão estavamuito contente, visto que o diretor do The Sunday Times ordenara que seconfirmassemereconfirmassemtodososdadosentregues.

Ele queria deixar o hotel onde estava hospedado, a noventa quilômetros deLondres, e voltar à cidade, pois achava que, se o Mossad queria sequestrá-lo ouassassiná-lo, seriamaisdifícilnumacidadegrande,cercadodegente,doquenumhotelsolitárioemplenocampoinglês,rodeadodevacas.OTheSundayTimesdeuasua aprovação, e Vanunu registrou-se com o nome de George Forsty no hotelMountbatten,pertodeCoventGarden.[280]

O que ele não sabia era que há semanas uma equipe de vigilância do Yarid, odepartamentoresponsávelpelasegurançadasoperaçõesdoMossadnaEuropa,nãooperdiadevista.Em20desetembro,osrepórteresdoTheSundayTimesenviaramàEmbaixadadeIsrael,emLondres,umenvelopecomtodaahistória,asfotografiase uma cópia do passaporte de Vanunu, à procura de uma declaração oficial. Oassessor de imprensa da delegação diplomática israelense declarou que não fariacomentáriossobreumahistóriaabsolutamentefalsa.

Cada vez mais, Vanunu temia que a qualquer momento os agentes do Kidoncaíssem sobre ele.CindyHanin,umabelanorte-americanade25 anos, era a iscaqueaMetsadausariaparacaçarotraidor;naverdade,amulhereraummembrodaequipedeoperaçõesespeciaisdoMossad,umakidon.[281]

Odia24desetembrofoioescolhidoporCindy,protegidapordoisagentesdoKidon,[282] para tentar entrar em contato com a “presa”. Todas as manhãs,Vanunuaproximava-sedeumpequenocafésituadoemLeicesterSquare,emWestEnd,paraobservaraspessoas,atéqueumdiaoseuolhar fixou-sena jovemaseuladolendoumexemplardoTimes.Elatambémoolhou,aindaquenãofixamente,semlhedar importância.Vanunupensou:“Estáseachandomuitobonitaepensaquevouflertarcomela”;porém,nessemomento,ouviuumavozaofundoquediziaqualquercoisasobreocafé.Voltandoàrealidade,oseuolharfixou-senovamentenajovem loira de calças justas, que o olhava atentamente enquanto apontava para apequenaxícarabrancadecaféquetinhaàfrente.[283]

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Vanunu sorriu ao se levantar; nessemomento, os dois agentes doKidonqueovigiavam pensaram que ele não tinha sido fisgado, mas o pensamento se esvaiuquandoviramqueoex-técnicodeDimonase sentavaàmesadamulher.Falarammuitosobrecoisasbanaisecombinaramseencontrarnodiaseguinte.Nessamesmanoite, no Instituto,NahumAdmoni recebia no seu gabinete um comunicado daestação de Londres com uma mensagem sucinta: “A presa mordeu a isca. Oscaçadoresestãoatentos”.

AidentidadedeCindyfoimantidaemsegredoabsolutoatéquedois jornalistasdoTheSundayTimes adescobriram.OseunomeverdadeiroeraCherylBentovevivia na cidade deNetany com omarido,Ofer Bentov, ummajor pertencente àinteligênciamilitarisraelense,aAman.CheryladotaraonomedeCindyporcausadesuacunhada.

Nascidano seio de uma família rica daFlórida, seus pais tinham se divorciadoquandoelaeramuitopequena,ficandosobaproteçãodeumrabinodoseubairrochamadoDovKentof, que a enviara a Israel, por trêsmeses, para fazerumcursosobrejudaísmo.Ela,pelocontrário,estavamaisinteressadaempolíticadoqueemreligião.Depoisdotrimestre,voltouaosEstadosUnidos,masasuamenteficaraemIsrael.QuandoCherylregressouaoOrienteMédio,foirecrutadapelaNahal,umaorganização encarregada da proteção dos colonos nosTerritóriosOcupados.Nãorestava a menor dúvida de que Cheryl Bentov podia ser uma perfeita agente deoperaçõesespeciaisdoMossad,aMetsada,comoficoudemonstrado.[284]

Assim que foi recrutada pelo Mossad, Cheryl Bentov foi entrevistada.Perguntaram-lhe se dormiria com estranhos caso a missão exigisse. Ela disse averdade.Seo sucessodamissãodependessedisso, iriapara a cama como “alvo”.Bentov aprendeu a usar o sexo para coagir, seduzir e dominar, mas tambémaprendeu amatar disparandoum carregador inteiro.Aprendeu a roubar carros, aparecerbêbadaeaenganaroshomens.[285]

A sua primeira missão foi no Kaisarut, destacada em embaixadas de Israel naEuropa, fazendo-sepassarpelaesposanorte-americanadealgumkatsadoMossad.Por fim, em uma manhã, recebeu um telefonema do próprio memuneh. ElepessoalmenteacolocouapardaOperaçãoVanunu,aindaqueelajásoubessecomoconseguiria“caçar”asua“presa”easarmasqueusariaparatalempreitada.Nodia23 de setembro de 1986, Cheryl Bentov, agora agente do Kidon, viajou paraLondres para se juntar a outros nove katsa sob as ordens de Beni Zeevi, oresponsávelportodaaoperação.

Nos dias seguintes, Mordechai Vanunu telefonava diariamente para o hotelEccleston,situadomuitopertodaestaçãoVictoria,ondeestavahospedadaaagente

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israelense.Vanunuviolouassimtodasasnormasbásicasdesegurança,dandooseunúmero de telefone, o nome do hotel em que estava hospedado, o número doquarto e o nome com o qual se registrara. Cindy retornou várias ligações deVanunu, mas a escolta particular da kidon não a perdia de vista. Um dia, ostelefonemas cessaram.Vanunucomeçoua ficarnervoso, entãodecidiuprocurá-la.Durante o encontro, Cindy disse que ia a Roma e que, se ele quisesse, poderiaacompanhá-la. A agente israelense prometeu que se ele fosse com ela à capitalitalianairiarecompensá-locomumaboanoitedesexo.[286]

Os repórteres do The Sunday Times aconselharam-no a ser prudente na suarelação coma loira que aparecerade surpresa,masVanunu,há tanto tempo só eencorajadopelapossibilidadedeterrelaçõessexuaiscomumabelajovem,nãodeuouvidosaninguém.Cindyconseguiraumaforte influênciasobreVanunue,MataHari ou não, sabia como controlar a sua presa. O jornal pediu a Vanunu queaceitasse um guarda-costas pago por eles, mas o técnico israelense recusoutaxativamente.“ElenãoquerianenhumainterferêncianasuarelaçãocomCindy”,explicariaumdosrepórteresdoTheSundayTimes,“eessefoioseuerro.AchoquemenosprezouaimportânciaqueelemesmotinhaparaoMossadeparaIsrael.”

Num domingo, dia 28 de setembro, o colombiano Óscar Guerrero voltou aaparecer emcena, ameaçandooTheSundayTimes.Pornão ter recebidonenhumdinheiropelahistóriadeMordechaiVanunu,irialevá-laaoTheSundayMirror.Porfim,foipublicada,poresteúltimo,comumagrandemanchete:“OestranhocasodeIsraeleoseupodernuclear”.Oproprietáriodojornal,omagnataRobertMaxwell,foiquemtelefonouparaoprópriomemunehparacontarahistória.[287]

Antes,adireçãodoTimestinhatelefonadoparaoMirrorparalhesinformarqueGuerrero tinhaumacordocomeleseque, se fosseviolado,poderiamreclamarospagamentos recebidos. Óscar Guerrero queria vingar-se de Vanunu por ter sidoridicularizado diante dos repórteres doTimes corrigindo os seus exageros.O queficouclaroéqueeraumoportunista,umcharlatãoeumafraude,enuncachegouaperceberoquãopertoestevedeserexecutadoporumaequipedoKidonqueseguiaseu rastro. Foi Nahum Admoni, o memuneh do Mossad, quem decidiu que ocolombianonãovaliaapena.

PeterHounam,ojornalistadoTimes, tentoufazerVanunuentenderqueCindytalvezfizessepartedeumplanodaespionagemisraelenseparacapturá-loouatéparaassassiná-lo.Dequalquer forma,ele recusava-seaouvirosconselhosdeHounam.Numa dessas tentativas, o jornalista convidou Vanunu para jantar em sua casa,numa terça-feira à noite, e pediu que levasse Cindy, para que conhecesse a suaesposa,masnovamenteelerecusouoconvitealegandoquenessediatalvezfossem

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viajarpelopaísouforadele.Aoouviradesculpa,Hounamcomeçouaficarnervoso,porquesabiaque,seMordechaiVanunusaíssedaGrã-Bretanha,talvezoperdessemparasempreecomeleasuaincrívelhistória.[288]Continuouapressioná-loafimdesaberemqualcidadeeemquehotelsehospedariam,masVanununãodisseumasópalavra.AdireçãodojornalpressionavaHounamparaqueoisraelenseassinasseocontratoou,pelomenos,aautorizaçãoparapublicaraprimeiraversãodaquestãoDimona.

Otécnicosabiaque,seassinasseumcontratocomoTheSundayTimes,teriaqueseenvolverdetalmodoqueseveriaobrigadoaapareceremcoletivasdeimprensaeadarentrevistasaoutrosmeiosdecomunicaçãoquandoasuahistóriaviesseàtona.Vanunu prometeu voltar quinta-feira para assinar o contrato, mas a questãofundamental era fazer Vanunu entender o perigo que corria se saísse da Grã-Bretanha.

PeterHounam tentou convencê-lopor todososmeios a ficar, dizendoque suaidentidadepoderia ser descoberta, e ele seria obrigado a permanecernopaís,masVanunu sabiaque issonãoerapossível, vistoque, tantoparaogovernobritânicocomo para o MI6 e o MI5, livrar-se definitivamente desse assunto era a melhorsolução.[289]

Àquela altura, dois acontecimentos faziam comque fosse perigosoqueVanunucirculasselivremente.Oprimeiroeraochamado“julgamentoHindawi”,emqueaGrã-Bretanha pediu sanções econômicas aos países-membros da ComunidadeEconômica Europeia (CEE) contra a Síria, quando a espionagem britânicadescobriu que o governo de Damasco estava envolvido numa conspiração paraderrubar em pleno voo um avião da British Airways.[290] O segundo foi ochamado “Caso Dikko”, em que agentes do Mossad se viram envolvidos natentativade sequestroeassassinatodeumdiplomatanigerianosuspeitodevenderarmasagrupospalestinos.OMossadcometeuoerrodeatentarcontraeleemsolobritânico, violando assim a palavra dada ao MI6 de que nenhum membro dacomunidade da espionagem israelense cometeria jamais uma ação ou operaçãoencoberta em solo britânico. O “Caso Dikko” provocou um esfriamento nasrelaçõesentreosgovernosdeLondresedeTelAvivassimcomoentreoMI6eoInstituto.[291]MordechaiVanunusabiadosriscosaqueseexpunhaseatravessassea fronteira da Grã-Bretanha, um dos quais era cair nas mãos dos homens doMossad.

Namanhãdodia30desetembrode1986,Vanunufezumúnicotelefonemaaoseu amigo, o reverendo JohnMcKnight, da igreja de St. John,mas, comonão oencontrou,preferiunãodeixarmensagemedesligou.QuandoMcKnightretornouà

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igrejaeo informaramqueumhomemcomummausotaqueinglêstelefonara,elesoubequeeraMordechaiVanunu,edecidiutelefonarparaPeterHounam,doTheSundayTimes,paraperguntarporele.

O jornalista disse que a credibilidade de Vanunu tinha sido questionada peladireção do jornal devido à péssima história queGuerrero vendera aoThe SundayMirror.TambémlhedissequeVanunuderaautorizaçãoaoTimesparapublicaroseu relato.Nessemomento,McKnight soube que o ex-técnicodeDimona estavaemperigo,oqueacabouconvencendo-odequedeviainformaràpolícia,enquantodizia a Peter Hounam que se preparasse para comunicar o desaparecimento deVanunu.Estaseriaaúltimavezqueosdoishomensentraramemcontato.Depois,Vanunusimplesmentedesapareceu.[292]

QuandoporfimoTheSundayTimespublicouaprimeirahistóriasobreDimona,a direção do jornal não sabia que Mordechai Vanunu estava em perigo.Curiosamente, foi o próprio primeiro-ministro de Israel, Shimon Peres, queconvenceuos diretores doTimes a divulgarem a história. Antes, porém, reuniu oComitêdeEditoresde Israelpara informá-losqueoperiódicobritânico tinhaemseupoderahistóriadeVanunueDimona,aqualempoucosdiasseriapublicada.Masestesnãoficarammuitotranquilos,tantoqueoeditordojornalHa’aretzpediuaoseucorrespondenteemLondresqueconfirmasseahistória.EstetelefonouaoTheSunday Times para comunicar a Hounam que o Comitê de Editores de Israeldecidiranãofazerecodoqueojornalpublicasseporordemexpressadoprimeiro-ministroPeres. Istoeraesclarecedor. “Quando soubemosdacensura impostapelopróprioShimonPeres,nosdemoscontadequeahistóriarelatadaporVanunueratotalmente verdadeira e que era isso que assustava os israelenses”, declararia opróprioHounamanosdepois.

Em5deoutubrode1986,apareceunacapadoTheSundayTimesumagrandemanchete: “Revelação: os segredos do arsenal nuclear de Israel”. Nas páginasinteriores,outramanchetedizia:“DentrodeDimona,afábricadebombasnuclearesde Israel”. Em dez linhas destacadas indicava-se: “[...] durante vários anossuspeitava-sedasuaexistência.Agora,umtécnicoquetrabalhounafábricarelataahistóriadecomooseupaíssetornouumadasmaiorespotênciasnucleares”.Otextovinha acompanhado de um desenho do edifício que albergava o Machon 2,reproduzido coma ajudadeVanunu e das fotografias que ele tirara.Explicava-secom detalhes precisos os pesos e as temperaturas, como o urânio era dissolvidodepois de ser submerso em ácido nítrico e como posteriormente a mistura eraremovidadevidoà radioatividadepara, comuma solução, extrairoplutôniodela.[293]OThe SundayTimes revelouque oplutônio conseguidonas instalações de

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Dimona dava a Israel total capacidade para produzir armas termonucleares,maispoderosasqueasnuclearesconvencionais.OsmateriaisusadosparaafabricaçãodasbombastinhamsidotransferidosemvárioscaminhõesparaumlocalsecretopertodeHaifa,cidadenaqualseencontraamaiorbasenavaldeIsrael.

Areportagemconcluía:“Israelproduziuplutônioparacembombasnuclearesdenão menos de duzentas quilotoneladas de potência cada uma. Se os cálculosrealizados são aproximados, pode-se dizer que Israel tem, neste momento, umarsenalnuclearpróximodeduzentasbombas”.Israel,diziaojornal,tornara-seumadas maiores potências nucleares atrás apenas dos Estados Unidos, da UniãoSoviética,daGrã-Bretanha,daFrançaedaChina,semcontarcomapossibilidadedequeaÍndia,oPaquistãoeaÁfricadoSultambémotivessemconseguido.

O testemunhodeMordechaiVanunu indicavaque Israel tinha recursos ebonstécnicos para projetar e construir uma bomba de nêutron. A história publicadavinha acompanhada de um texto escrito pelo doutor Frank Barnaby, um físiconuclearque trabalharano centrobritânicode investigaçãodeAldermaston, sendoatualmentediretordoInstitutodeInvestigaçõesparaaPaznaSuécia,epelodoutorTheodore Taylor, antigo chefe do programa de testes de armas nucleares doPentágono e um dos melhores seguidores do criador da bomba, RobertOppenheimer. Ambos concordavam ao afirmar que Israel estava capacitada paraconstruirbombastermonuclearesededestruiçãoemmassa.[294]

A matéria publicada pelo The Sunday Times circulou por todos os meios decomunicaçãodomundo,confirmandoahistóriadeMordechaiVanunu,incluindoorádioeatelevisãodeIsrael.OconservadorJerusalemPostdavanotadelana suaprimeirapáginadodia seguinte, comum títuloquedizia: “Israel é agorao sextopodernucleardomundo”.OsegundonúmerosurgidonoTheSundayTimestinhao título: “Atrás das portas do Machon 2”. Quando essa matéria foi publicada,ShimonPeres já tinha tomadoadecisãode“neutralizar”VanunucomaajudadeumdoscomandosdoKidon.

McKnight, suspeitando de que alguma coisa poderia ter acontecido aVanunu,saiuà caçade informaçõespara tentardescobrirondeele estava.Primeiro, entrouemcontatocomTerryWaite,doescritóriodoarcebispodeCanterbury,depoiscomovice-secretáriodeestadodosNegóciosEstrangeiroseoschefesdosdepartamentosdoOrienteMédioedoOrientePróximoeNortedaÁfrica.Ospedidosdoclérigoforamatendidos,emboraocomunicadofinalfossequeeledeveriaentraremcontatocom a polícia, uma vez que o desaparecimento de Vanunu não era assunto dadiplomacia britânica. McKnight telefonou da Austrália para o Ministério doInterior, e estes, do mesmo modo, disseram que o desaparecimento do técnico

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israelensenãoeraproblemadeles,esimdoMinistériodasRelaçõesExteriores.Eleentãoconcluiuque,sequisessefazeralgodeconcreto,deveriapegarumaviãoparaLondres,mas só depois de convocar uma coletiva de imprensa para comunicar odesaparecimentodeVanunu.Em7deoutubro,umaterça-feira,McKnightdeixouaAustrália.[295]

Poucashorasdepois,oclérigoaterrissavanoaeroportodeHeathrowenotificavanodepartamentodepolíciadeHolbornodesaparecimentodeVanunu.McKnighthospedou-se no Conselho Consultivo Anglicano e entrou em contato com doisdetetivesdoGabineteEspecialdaScotlandYard.Estesinterrogaram-nosobretodotipodequestõesrelacionadascomotécnicoisraelense.Eleestavaansiosoparasaberoquetinhaacontecidocomoseuamigoe,aomesmotempo,nasuamente,passavaa ideia de que oMossad o sequestrara. Em 12 de outubro, oThe Sunday Timespublicou um artigo no qual relatava, resumidamente, o caso Vanunu e odesaparecimentodoisraelense.

Por fim, McKnight decidiu viajar para Jerusalém, onde esperava obter maisrespostas. Ao chegar, convocou uma coletiva de imprensa com o intuito depressionar os israelenses a explicarem onde estava Vanunu. A censura militar deIsraeldeuumcomunicadoàimprensaestrangeiraenacionalinformandoquetudoo que se falasse na coletiva ficaria sob “censura”. Se algum deles a violasse epublicasse alguma informação sobre os serviços secretos, correria o risco de serdetido e condenado à prisão. De qualquer forma, os jornalistas que assistiramestavam muito interessados no caso. No final, um deles, israelense, passou umbilheteaMcKnightmarcandoumencontronoparqueemfrenteaoConsuladodosEstadosUnidos,naparteoestedeJerusalém.

O que o reverendo não sabia era que desde que aterrissara no aeroporto Ben-GurionemTelAviv,oskatsadeNahumAdmoninãootinhamperdidodevistaumsóinstante.

Certo dia, esperando o carro,McKnight viu umhomem ao seu lado que lia ojornalYedioth Ahronoth, no qual aparecia uma fotografia deMordechai Vanunu.McKnight pediu que lhe traduzisse a informação.O texto em hebraico explicavaque Vanunu estava detido na prisão de segurança máxima de Gedera, perto deRehoboth,sobvigilância24horaspordia,porordemdojuizAaronSimcha.Algunsdiasdepois,citandofontesdasegurançaisraelense,oFinancialTimes confirmavaainformação.[296]

Entretanto,atempestadedesencadeava-senaprópriaAustrália.Quandoosjornaispublicaram informações relacionadas a Vanunu e o seu suposto sequestro, váriosparlamentares começaram a perguntar aos serviços secretos australianos que papel

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tinham representado nesse evento.AASIO informou que nada teve a ver comosequestro nem com o Mossad. Definitivamente, mentia. Numa entrevista para atelevisão australiana, John McKnight disse que os serviços secretos tinhaminformadodiretamenteoMossadequeochefedaASIO,AlanWrigley,mantiveradiversoscontatoscomNahumAdmoni.Umdia,quandooclérigocaminhavapelarua, foi interceptadoporumveículocomdoishomensquese identificaramcomoagentesdaASIO.Umdelespediuqueosacompanhasse.[297]

Quando chegaram ao destino, Alan Wrigley, diretor-geral da ASIO, aOrganizaçãodeInteligênciaeSegurançaAustraliana,garantiuaMcKnightquesuasconversassobreocasoVanunuseriamgravadaseque,naverdade,apenasinformarasobreospassosdeVanunuaoMI6britânico,enãoaoMossad.Quandoanotíciasaiunosjornais,WrigleynegoucategoricamentequeaASIOtivessecolaboradocomoMossad.

Em 30 de setembro, dias após o desaparecimento de Mordechai Vanunu,surgiram novos rumores. Alguém informou que o israelense, depois de sersequestrado,forainternadonumaclínicaclandestinadoMossadparasersubmetidoa uma cirurgia plástica para mudar o rosto, mas aquilo não poderia estar maisdistantedarealidade.

Nasegunda-feira,dia29desetembro,ShimonPeresderacartabrancaaAdmoniparaqueoshomensdoKidonlevassemacaboaoperação.Nessemesmodia,CindytelefonouaMordechaiparaobrigá-loou,pelomenos,pressioná-loacomprarumapassagem de avião para Roma. Meia hora depois, Vanunu dirigiu-se à agênciaThomasCook,emBerkeleyStreet,nãomuitolongedeLeicesterSquare,ecomprouumapassagemde classe turísticapor426 libras esterlinas, emborapela suamenteaindapassassemrapidamenteosconselhosdadosporHounam.Indeciso,telefonounovamenteparaCindy,nohotel,paradizerque talveznãopudesseacompanhá-laporquenãotinhamuitodinheiro,masoquepodia fazereraencontrar-secomelamaistardeemRoma.

Aagente israelense tentou convencê-lode váriasmaneiras, chegandoadizer-lhequenacapitalitaliananãoserianecessáriopagarumhotel,jáqueasuairmãtinhaumpequeno apartamento onde ambos poderiam se hospedar.Desde omomentoemqueVanunudecidiusairdeLondres,Cindynãoseseparoudeleumsóinstante.

Às10h30deterça-feira,30desetembro,VanunusaiudohotelMountbattenefoise encontrar com ela no monumento ao almirante Nelson, na central TrafalgarSquare,paradalipartiremjuntos,numtáxi,emdireçãoaoterminalinternacionaldeHeathrow. O que ele não sabia era que uma equipe de katsa do Mossad não operderiadevista.

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Otrajetoparaoaeroportofoitranquilo,comasconsequentesparadasdevidoàsobrasqueserealizavamnaautoestrada,eCindynãoparavadefalarcomoseriaboaaestada emRoma e que, inclusive, se tivessem tempo, poderiampassar umdia napraia. Mordechai Vanunu não suspeitava que, na realidade, já estava totalmenteenvolvidonumaoperaçãodesequestrodoKidon.

Às 14h30, o casal embarcou no voo da British Airways BA504, que deviaaterrissar no aeroporto Leonardo da Vinci, nos arredores de Roma, às 18h35.Cópias da passagem nas mãos do The Sunday Times mostraram que MordechaiVanunuusouopróprionome,aindaque isso jánão tivesse importância.Poucoapouco a presa aproximava-se das garras dos predadores, da própria boca do lobo.[298]

Oaviãoaterrissouàs18h28.Quandosaíramdoavião,Cindymostrava-semuitomais carinhosa.TomouamãodeVanunu, e forampegar abagagemno terminalprincipal. Uma mochila e uma bolsa verde eram a única bagagem que levavam,tantoque apassagempelo controledepassaportes foi bastante rápida.Assimquechegaram à saída,Cindy fezVanunu esperar algunsminutos enquanto telefonavapedindo um táxi. Isto fez o técnico israelense suspeitar, pensando por que nãopegavamumdosquehavianaentradadoaeroporto.

Enquanto falavamde coisas sem importância,umpequenoFiat amarelo comoemblemadetáxichegouemgrandevelocidade.EntraramnoautomóveleminutosdepoisseguiamemaltavelocidadepelaautoestradadeRoma.Talvezeraoprimeiromomento emqueVanunu realmente tevemedo.Dentro do carronotava-se umacertatensão,maselenãoconseguiaentenderomotivo.Chegouummomentoemque até sentiu que o perigo aproximava-se cada vez mais dele, mas já era tarde.Vinte minutos depois, o veículo parou diante de um prédio cinzento deapartamentos modestos nos arredores de Roma, num lugar que Vanunu nãoconseguiuidentificar.[299]Subiramporumaestreitaescadariaatéchegaremaumaporta no segundo andar. Cindy tocou a campainha, mas não atenderam. Tocoumaistrêsvezes,comtoquescurtos,masninguémapareceu.Amulherabriuabolsaetiroualgumaschaves:“Aminhairmãnãodeveestaremcasa,masdequalquermodotenhoaschaves”,explicouaVanunu.

Aportafoidestrancada,abrindocaminhoaumagrandeescuridão.Eramosseusúltimos segundos de liberdade e talvez Mordechai Vanunu o soubesse. Cindydeixouotécnicoentrarprimeiro.Nãohaviaumsómóvel,nemsequerumquadro.Foi quandoVanunu percebeu que estava num esconderijo doMossad.Voltou-separa tentar sair, e então viu que Cindy mudara de expressão. Aquele rosto docetransformara-se num rosto de expressões duras. Não soube de onde saíram, mas

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nesse momento sentiu quatro braços fortes o agarrando, enquanto Cindy, oumelhor, Cheryl Bentov, lhe injetava uma forte dose de soníferos. Depois disso,Vanunuperdeuossentidos,eashorassepassaram.

Os três katsa da Metsada, liderados por Beni Zeevi, envolveram o corpo dotécniconumsacodedormir,enquantoCherylpegavaumagrandecaixadepapelãovazia,paraqueosvizinhosnãosuspeitassemqueestavamcolocandoumcorponumcaminhão de transporte. Mordechai Vanunu acha que esteve drogado de 30 desetembroaté4deoutubro.UmmédicodoMossadcontrolavaasdosesdesoníferosque lhe ministravam. Queriam-no adormecido, não morto. Nesse tempo, opequeno caminhão tinhapercorridoos 425quilômetros que separama cidadedeRomadoportodeLaSpezia.

Na tarde de 4 de outubro, as autoridades portuárias italianas receberam umacomunicaçãode avaria vindade umnavio quenavegava combandeira israelense,propriedade da companhia naval públicaZIM.ONoga era umnavio de 11miltoneladas que descarregava no porto de Barcelona e regressava à base no portoisraelensedeHaifa.[300]

ParaoMossad,eramaissimplesultrapassaradébilsegurançadoportoquepassarpela sofisticada segurançaqueexistia emqualqueraeroporto.Quatrohorasdepoisdo Noga ter voltado ao mar, os efeitos dos soníferos e das drogas começaram adesaparecer do organismodeVanunu.Ele abriu os olhos lentamente; sentia umaforte dor de cabeça, e descobriu que estava acorrentado e fechado num camarotesem claraboias.Durante dias, os dois guardas, osmesmos katsa do Kidon que otinhamagarradodentrodoapartamento,foramasúnicaspessoasqueVanunuviu.Estes apenas se comunicavam com ele em inglês com sotaque hebraico.Não lhefaziamperguntas, e aúnica coisaquediziamera: “Quandoquiser ir aobanheiro,peça”.Apenasnoúltimodia,umdelesdirigiu-se aVanunuedisse-lhe: “Sabemostudo.Sabemosatéqueseconverteuaocristianismo,masparanóscontinuasendoisraelense”.

Por fim, seis dias depois da partida de La Spezia, oNoga chegou ao porto deHaifa,emIsrael.Colocaramumcapuzpretonacabeçadoprisioneiroeopuseramemumcarrodapolícia.Otrajeto,segundocalculaopróprioVanunu,foibastantecurto. De repente, pararam diante de um grande portão de ferro, a prisão desegurançamáximadeAshkelon,aproximadamentecinquentaquilômetrosa suldeTelAviv.

Oprisioneirofoiescoltadoporquatroagentesatéumacelasemjanelas,comumcolchão no chão como única mobília. Ali ele permaneceu dois dias, até que ofizeramsairparaserinterrogadoporquatropessoas,umoficialdoMossad,umdo

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Shin Bet, outro da polícia e, o último, um membro da segurança da Kiryale-MehekarGarinyouKMG,aautoridadenucleardeIsrael.

“Vêoquevocêfez?”,disse-lheesteúltimo,enquantolheatiravaumexemplardoTheSundayTimes.No jornal amassadopodia-se ler, emgrandesmanchetes e emtrêspáginas,ainformaçãosobreossegredosnuclearesisraelensesemDimona.

Osinterrogatóriossucediam-sediaapósdia,semnenhumresultado.Vanunu,porsuavez,sabiaqueindependentementedoquerespondesseseriacondenadoporaltatraição e que em princípio cumpriria uma longa pena de prisão. Até dois mesesdepoisdo seu sequestro,não sepermitiuqueMordechaiVanunu falasse comumadvogado.Oescolhido foiAmmonZichroni,ativistadosdireitoshumanosmuitoconhecido.

ZichronifoiaúnicapessoadeforaaterpermissãoparaentrarnapequenaceladedoisportrêsmetrosdelarguraetrêsdealturaemqueestavaVanunu.Todasassuasconversas e encontros eram vigiados através de um circuito fechado de televisãoinstaladonacela.Oprisioneiro,agorasemnomeesemnúmerodeidentificação,eseparado dos outros presos, era constantemente castigado sem ver o advogado,devidoaestesedivertirtapandoalentedacâmeracomespumadebarbear.Duranteessa fase,apenasduaspessoasestavamautorizadasa falarcomoprisioneiroDavidEnosh,novonomedado aVanunu.Umera o seu guarda e o outroodiretordaprisão.

Em 11 de novembro de 1986, o porta-voz do governo de Yitzhak ShamiranunciouqueotécnicoisraelenseMordechaiVanunuestavadetidoemterritóriodeIsrael.Em28denovembro,oprocurador-geral,YosefHarish,apresentouacusaçõescontraVanununoTribunaldeComarcade Jerusalém, invocandoo artigo96doCódigoPenal,referenteàajudaaoinimigoemtempodeguerra,oquepodialevarVanunuà condenação àprisãoperpétuaou àpenademorte.Doisdiasdepois, ojuizZviCohenrejeitouoartigo96,vistoquepoderiaseraplicadoapenasquandoIsrael se encontrasse em conflito armado com outro país, e esse não era o caso,fazendo com que o procurador Harish tivesse que apresentar novas acusações,invocando dessa vez o artigo 90 do Código Penal, referente à violação da lei desegredos oficiais; o artigo 113, referente à entrega de informação secreta com aintençãodecausardanosàsegurançadoEstado;eoartigo99,referenteàajudaaoinimigonasuaguerracontraIsrael.

O caso foi conduzido em hebraico e classificado como “O procurador-geralcontra X”. Em 21 de dezembro, enquanto Vanunu era transferido num carropolicialparaoTribunaldeComarcaparaouvirasacusaçõesdojuizCohencontraele,váriosfotógrafosdeagênciasestrangeiraspuderamfotografá-lo.Aorevelaremas

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fotografias,emváriasdelaspodia-seobservarVanunucomamãoapoiadacontraovidrodocarro.[301]Namão,podia-seler:VanunuMFUISEQUESTRADOEMROMAITL,

30.9.86,21,00,chegueiemRomaPELABAVOO504

Amensagemnamãoresultounoconfisco,porpartedasautoridadesdaprisãodeAshkelon,doseuwalkman,dosseuslivrosedosseusjornais.Oprisioneiroiniciouumagrevedefomecomoprotestopelamedida,atéqueapós34diasàbasedeáguacomoúnicoalimento,ojuizCohenordenouquelhedevolvessemosseusobjetos.

Em8demarço,VanunudespediuZichroni, devido aummal-entendido entreentreoadvogadoeoseuirmão.Nomêsdejulho,oTheSundayTimespublicounaprimeirapáginaemletrasgrandes:“ComoosagentesisraelensescaçaramVanunu”.Em 30 de agosto de 1987, teve início o julgamento, que durou até o dia 24 demarçode1988,dataemqueoTribunaldeComarcadeJerusalémconsiderouoréuculpadodasacusaçõesdeespionagem,traiçãoerevelaçãodesegredosdeEstado.Nodomingo, 27 demarço de 1988, o caso foi ouvido para sentença.Os três juízesmembros doTribunal, depois de escutarem os argumentos do advogadoAvigdorFeldmaneleremodocumentodeclemênciaenviadoporvintecientistas,dosquaisdozeeramdetentoresdoPrêmioNobel, tiveramquedecidirentreprisãoperpétuaou vinte anos de prisão. Às 18h15, o Tribunal condenou Mordechai Vanunu acumprirdezoitoanosdereclusãonumaprisãodesegurançamáxima.

MordechaiVanunu foi condenado adezoito anosdeprisão, acusadode alta traição.Passava os seus diasnumaceladaprisãode segurançamáximadeShikma, emAshkelon, escrevendoe lendo livrosdo filósofodinamarquêsSørenKierkegaard.Naquarta-feira,21de abrilde2004, foiposto em liberdade condicionalvigiada.

Depoisdeconseguiraliberdade,afirmoupublicamentequejánãoguardavamaissegredosequedesejavaesqueceropassado,cidadaniaequalquerligaçãocomIsrael.Negou-seavoltarafalarhebraicoemostrouasua intençãode emigrarpara aFrança, aNoruegaouosEstadosUnidos.Diantede tal ideia, o SupremoTribunaldeIsraeldecretoucincomedidasrestritivasaVanunu:•DeviafixarresidênciaemIsrael.

•Deviainformaràpolíciasequisesseviajardeumacidadeparaoutradentrodoterritórioisraelense.•Duranteos seismeses seguintes à sua libertaçãonãopodiadeixaro territóriode Israel, e estamedida

podiaserrenovadaportempoindefinido.•Nãolheerapermitidoocontato,sejatelefônicooupessoal,comestrangeiros.•Nãolheerapermitidoentraremembaixadas,visitarlocaisdeembarque,nemaproximar-seamenosde

quinhentosmetrosdafronteirainternacional.Em22deabrilde2004,VanunupediuasilopolíticoàNoruega,mas,em11denovembrodomesmo

ano,umcomandoespecialdapolíciaisraelenseentrounaigrejaanglicanaondeeleviviadesdealibertação,eelefoipreso.Em5defevereirode2004,oex-memunehShabtaiShavitdeclarouque,em1986,consideraramahipótesedeativarumaequipedoKidonparamatarVanunu,masaideianãofoilevadaacaboporque“osjudeusnãosecomportamassimcomoutrosjudeus”.

Em11deoutubrode2010,Vanunuapresentouumrecursoparaque lheabrandassema restriçãoparapoderviajarparaforadeIsraelepoderfalarcomestrangeiros.ApetiçãofoinegadapeloSupremoTribunal.

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Cheryl Bentov, conhecida por Cindy Hanin, integrante do Kidon, ainda vive na cidade israelense deNetanya com o marido, o coronel Ofer Bentov, da inteligência militar, a Aman. Em abril de 1997, foiencontradaporum jornalistadoTheSundayTimes naFlórida, com as filhas, enquanto visitava a família.Quandoconfrontadapelorepórter,akatsadoKidonnãonegouasuaparticipaçãonaOperaçãoVanunu.

ShimonPeres,entãoprimeiro-ministrodeIsrael,foioprincipalresponsávelpelosequestrodeVanunuporpartedeumaunidadedoKidoneviu-seobrigadoadar explicações aosgovernosdeMargaretThatcher eBettinoCraxipeloincidentediplomáticoprovocadoporestemotivo.

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F azia frionasprimeirashorasdaquele8dedezembrode1987,o solaindanãotinha surgido na devastada Faixa de Gaza e os trabalhadores palestinos se

alinhavamem frente ao controle israelense.Amesma rotinade cadamanhã, e osúnicoscarrosquepassavamdiantedossoldadosarmadoseramoslongosMercedes-Benz transformados em desconjuntados táxis coletivos. Um veículo militaratravessou o primeiro controle, sem que o guarda desse muita importância aomotorista.ApenaslevantouamãodireitaenquantocomaesquerdaseguravaoseufuzilGalil.

OveículocomeçouaavançarentrealargafiladepalestinosqueseapinhavamàesperadepoderatravessarIsraeletentarconseguirumtrabalhonaconstrução,únicahipótese de ganhar dinheiro para um palestino de Gaza. Na estrada cheia deburacos,na áreadocampode refugiadosde Jabalia,onde se amontoavam60milpessoas,oautomóvelalcançoumaisvelocidadeatéque,nãosesabebemporque,ocondutor virou bruscamente e derrapou até um estacionamento onde seencontravamváriostrabalhadoresárabes.

Ochoque foibrutalequatrodelesperderamavidanahora.Para Israel foiumtrágico acidente, enquanto para as autoridades palestinas aquilo supunha umatentadojudeucontraosárabes.Opaviodarebeliãoacabavadeserreacendido.Ofuneral coletivo no dia seguinte converteu-se num violento protesto contra aocupaçãoisraelense.Asprimeiraspedraslançadasporjovenspalestinoscomeçaramacair sobre os soldados israelenses que patrulhavam até essemomento com calma,mais ou menos estabelecida, nos campos de refugiados e nas cidades dentro dosterritórios de Gaza e da Cisjordânia.[302] Dois dias depois do incidente que

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assinalouoiníciodarebeliãopalestinanosterritórios,conhecidacomoIntifada,asmanifestações expandiam-se por toda a Faixa de Gaza e, pouco depois, pelasprincipais cidades palestinas daCisjordânia. Em10 de dezembro, YitzhakRabin,ministrodaDefesa,saiudeIsraelemviagemoficialaosEstadosUnidos.Nenhumresponsávelpolíticoisraelensesereferiuàrevolta.NãoderamsuficienteimportânciaàIntifada.

DanShomron,chefedoEstado-Maiorgarantiu:“Empoucosdiasseacalmarão”.O general Samuel Goren, ex-membro do Mossad, afirmou: “Nunca haverá umarevoltanos territórios”.NahumAdmoni,memunehdoMossad, fezbrevesanálisesbanais,enquantoopróprioRabinfezumadeclaraçãopúblicaqueficaránahistóriadosdesacertos:“Quebrareipessoalmenteosbraçosdospalestinosqueatiraremumapedra”.Masnãohádúvidadeque a situação começava a escapar ao controledasautoridadesisraelenses.

Paraagravaraindamaisasituação,em15dedezembro,oministroArielSharoninaugurouasuasegundaresidêncianobairroárabedeJerusalém,emplenacidadevelha,ocupadoporIsraeldesdeaGuerradosSeisDias.Jovenspalestinosinvadiramas estreitas ruas e enfrentaram os soldados à medida que incendiavam váriassucursaisdeentidadesbancáriasisraelenses.Ocomandodoexércitodeuumaordemaseussoldados:“Têmqueatingi-los.Nãohánadamelhorqueunsbonsgolpes.Osbaderneiros têm que ser feridos”. Pouco a pouco começaram a chegar árabes epalestinosaoshospitaiscomferimentosnamãodireita,paraimpedirquejogassempedras ou escrevesse slogans antijudeus nas paredes.[303] Arafat, que estava emBagdá, declara que a luta palestina entrava numa nova etapa, que a Intifada nosTerritórios Ocupados expressava a vontade do povo de se livrar do jugo doimperialismosionista.

“Estarevoltavaidurarmuitotempo”,expressouopróprioArafat.Três semanasdepois do início da rebelião, a OLP criou, no seu quartel-general em Tunes, ochamado Comando Nacional Unificado da Intifada (CNUI). Arafat colocou naliderança umdos seus homens demaior confiança e amigo pessoal, Jalil IbrahimMahmudalWazir,conhecidocomo“AbuJihad”.

NoCNUI unificaram-se as políticas que os palestinos dos territórios deveriamseguir,mas,paramaiorsegurança,decidiu-semanteremsegredoonomedosseusmembros. É óbvio que tanto Arafat como Abu Jihad temiam o ataque dosisraelenses,quechegariamais cedooumais tarde.Atravésdepanfletos e folhetinsclandestinos,oCNUItransmitiuassuasordens.Desobediênciacivil;demissãodosfuncionáriospalestinos,professores,políciasdaadministraçãodeIsrael;rupturaderelaçõesecomunicaçõesdosmukhtar(chefesdasaldeias)comopoderisraelense;e

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boicoteatodososprodutosprocedentesdeIsrael.AbuJihad,apoiadopelopróprioArafat,ordenouaproibiçãototaldeusararmasdefogo.“Aproibiçãodeusararmasde fogonocontextodaIntifadapretende impedirqueos israelensescometamummassacre.Anossa forçanãoresidenanaturezadasarmas,masna justiçadanossacausa”,explicouopróprioArafat.[304]

Enquantoaumentavaonúmerodemortoseferidospalestinos,oCNUIhonravaos“meninosdaspedras”,ahidjara (pedra), a armaque levariaopovopalestinoàvitória,segundoopróprioArafat.

AsrelaçõesentreTúniseos territóriosdeGazaedaCisjordâniacontinuavamaser próximas. Nada devia ameaçá-las. Abu Jihad, responsável militar na Intifada,tinhanessa relaçãoumamelhor informaçãodo terreno emque se combatia edasdebilidadesdoexércitoisraelensenessemesmoterreno.AcoordenaçãoentreTúniseaIntifadaemGazaenaCisjordâniaeratotal.

YitzhakShamir,primeiro-ministrodeIsrael,sabiaqueaúnicamaneiraderomperessarelaçãotãopróximaeraatacandodiretamenteoCNUI.Emmeadosdomêsdejaneiro de 1988, Shamir convocou uma reunião de emergência do Varash, oultrassecretocomitêcompostopeloschefesdosserviçossecretos.TantoomemunehdoMossadcomooschefesdoShinBetedaAman,concordaramqueaúnicaformade tentarquebraroblocode liderançadoCNUIeraassassinandoalgunsdos seusmembros mais importantes. “Quanto mais pedras eles lançarem, mais líderes doComandonósmataremos”,afirmouShamir.

Após a reunião, Shamir ordenou aNahumAdmoni que permanecesse na sala.Enquantoosdemaislíderesdosserviçosdeinteligênciacomeçavamasairdasala,odeIsraelpediuaAdmoniquepreparasseumplanoconcretoparaoassassinatodoslíderesdoCNUI.Omemunehficouemsilêncio,sabendoqueessaordemimplicariaaativaçãodoKidon.

Admonidesejava restabelecer a primaziadoMossad sobre os outros serviços deinteligência e preparava-se para a ação, enquanto Rabin continuava a declararpublicamente a sua nova política para enfrentar a Intifada: “Força, poder eespancamentos”.[305] As imagens de alguns soldados israelenses quebrando compedras os braços de um prisioneiro palestino, que está sentado e com os braçosatadosatrásdascostas,correramomundo.[306]

Em2de fevereiro,aMetsada,aunidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad,eoKidon, seu braço de execução, já tinha o seu primeiro alvo escolhido. Restavaapenasesperarpelosinalverdedoprimeiro-ministroShamir.

Na manhã de 22 de fevereiro, ele recebera um alerta da Unidade 8200, aencarregada da interceptação de comunicações. Aparentemente, tinham detectado

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quehaviaconversasentreTúnisealtoscomandosmilitaresdaIntifadanoChipre,mais concretamente em Limassol, uma cidade turística situada no sul da ilhamediterrânea. Seguindo a linha das praias, dezenas de hotéis tipo colmeiasagrupavam-se diante de milhares de cidadãos rosados da Grã-Bretanha quechegavamàcidadeávidosporsol.

A mensagem da Unidade 8200 pôs em alerta o Saifanim, o departamento doMossadencarregadodecolherinformaçõessobreaOLP,eoYarid,odepartamentoresponsável pela segurança das operações do Mossad na Europa. Antes de pedirautorizaçãoaoprimeiro-ministroShamir,omemunehAdmonideveriaassegurar-sedaveracidadedainformaçãorecebida.Deveriateracertezadequaiseramosalvos,localizá-loseidentificá-losantesdeativaroKidon.

Em10de fevereiro,oskatsa doMossad reconheceramos trêspalestinosque secomunicavamcomTúnisequefalavamdetáticasderesistênciadentrodaIntifada.Eram Mohamed Bassem Sultan Tamimi, Marwan al-Kayali e Mohamed Buhais.SegundooShinBet,ostrêsfaziampartedeumgrupopró-iranianochamadoJihadIslâmica — O Templo (al-Yihad al-Islami-Bait al-Maqdas), responsável pelosatentadosterroristascontraIsrael.NahumAdmonireviuumapastacomfotografiase relatórios da polícia e do Shin Bet sobre o grupo e os seus membros. Os trêsativistas palestinos vinham de outro grupo chamado Comitê de Estudantes. Aprimeiraaçãodestes foioatentado,em1ºdeabrilde1980,contraumasinagogaemHebron,emquemorreramseisisraelenses.

Admonicontinuavapassandoaspáginasdorelatóriocomfotosempretoebrancode corpos despedaçados. O segundo ataque importante do grupo, já inserido nadisciplinadaJihadIslâmica—OTemplo,ocorreuemplenaJerusalém,em15deoutubro de 1986, quando vários dos seus membros lançaram granadas contrasoldadosisraelensesesuasfamílias,queiamrezarnoMurodasLamentações.

Depois de terminar a leitura, o memuneh levantou o auricular e, depois deconfirmaraidentidadedosativistaspalestinosnacidadecipriota,decidiupedirparafalar comYitzhak Shamir, o primeiro-ministro. Admoni precisava da autorizaçãodesteparaativaroKidon.

Nessamesma noite, quatro kidon saíram num voo comercial da El Al rumo aLarnaca.Aliosesperavaumkatsacomumcarrocujasjanelasestavamfechadasporcortinas. Em 12 de fevereiro, osmembros doKidon tinham decidido executar oplano.OchefedocomandodeassassinosobservouquetodasasmanhãsMohamedBassem Sultan Tamimi, Marwan al-Kayali e Mohamed Buhais entravam numVolkswagenGolfedirigiam-seàautoestradaemdireçãoaNicósia.Osmembrosdo

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Kidondecidiramlevaracabooassassinatodoisdiasdepois,exatamenteem14defevereiro.

Nanoiteanterior,olíderdogrupodeexecutoresisraelensesreviuváriasvezesosrelatórios procedentes de Tel Aviv. O primeiro alvo era Marwan al-Kayali, umcoronel que pertencia ao Conselho Militar da OLP e à Força 17, a guardapretoriana deArafat.Ambos os gruposmilitares estavam sob o comando deAbuJihad. O segundo era Mohamed Buhais, um dos principais responsáveis peloGabinetedaPátriaOcupadaeimportanteintermediáriodoCNUIemTúnis.Eoterceiro,MohamedBassenSultanTamimi,tenente-coronelcomumaltocargonoGabinetedaPátriaOcupadaeumdosmaisimportantesmembrosdeinteligênciadaAl Fatah, o chamadoComitê 77. Tamimi atendia pelo codinome “Hamdi”, e oMossaddefinia-ocomoumespecialistaemoperaçõesclandestinas.[307]

Na tarde do dia 13 de fevereiro, os kidon seguiram-nos e fotografaram-nosenquantoeles recebiamdedoisagentesdos serviços secretos líbiosumamalacomummilhãodedólaresparaajudaracausapalestina.Eracertoquesedeveriadecidircomoequandoatacar.

Namadrugadadodia14,osassassinosdoKidonajoelhavam-senochãoàmedidaqueosrestantesvigiavamasruasvazias.Aofundo,ouviam-seinglesesruidosos.Umdoskidon tiroudeumamalametálicaumartefatoexplosivoeoafixouàpartedebaixodoVolkswagenGolf,atrásdarodadianteira.Agorasórestavaesperar.

Comoemtodasasmanhãs,ostrêshomensquefaziamotrajetoatéaautoestradapara Nicósia apareceram na rua vindos de um edifício próximo. Os kidonobservavam a cena de um carro estacionado nas proximidades. Os palestinosentraram no carro e o ligaram. A luz demarcha à ré acendeu. Parou e, quandocomeçou a ganhar velocidade, uma grande explosão lançou-o vários metros paracima.Quandoacapotadocarrobateucontraochãonaqueda,ostrêsocupantesjáestavammortos.Entre o ruído, a fumaçanegra, os vidros estilhaçados espalhadospor toda a rua e uma grande confusão, um misterioso carro abandonava asproximidades.

AsegundaequipedekidondaMetsada,que foiativadaaomesmotempoqueaprimeira,tambémestavapreparadaparaatacar.Destavez,oalvoseriaoSolPhryne,umantigoferryboatgregodepassageiros,construídoem1947,queaOLPadquirirapor750mildólaresparaumaoperaçãoderelaçõespúblicas.Comváriosmembrosda imprensa internacional a bordo, o Sol Phryne, rebatizado com o nome deAl-Awda(ORetorno),dirigia-separaHaifacomaintençãoderecordaraosisraelensesaviagemdoÊxodoquequarentaanosantesdesafiaraaMarinhabritânica,trazendoos sobreviventesdoHolocaustoà terrade Israel.Sóque,nestecaso,os israelenses

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nãoeramosbritânicos,comooKidondaMetsadatambémnãoeraaMarinhadeSuaMajestade.

Duranteanoitededomingo,14de fevereiro,doishomens-rãmergulharamnaságuas do porto de Limassol levando consigo duas minas magnéticas.[308] Aprimeirafoicolocadadebaixodaquilhadaproa,asegundanadapopa,debaixodalinhadeflutuação.

Aaçãohaviasidoaprovadanofinaldatardedequarta-feira,dia10.Aoperaçãode relações públicas realizada pela OLP fez com que os membros do Varash sereunissememcaráterdeurgência.SegundoAdmoni,ospalestinoscontavamcomofato de que a Marinha israelense jamais se atreveria a atacar o navio quando, abordo, se encontravam jornalistas do mundo todo, cinegrafistas e membros departidos israelenses de Esquerda e de organizações pacifistas. Mas o primeiro-ministro Shamir não estava disposto a aguentar aquela propaganda da OLP empleno solo israelense, visto que nessamesma tarde aprovou, aomesmo tempo, oplanodeassassinatodehomensdoaltocomandopalestinoemLimassolbemcomooafundamentodoSolPhryne.

Nasegunda-feira,dia15defevereiro,oportodeLimassolestremeceucomumaforteexplosão.Quandoasprimeirasunidadesdebombeiroschegaramnoladonortedocais,onaviojáestavainundado,comapenasosandaressuperioresnasuperfície.OsonhodoAl-Awdanãopassavadisso,deumsonho.

AOLPnãoestavadispostaasedeixardestruirpeloMossad,tantoque,depoisdosdois ataques do Kidon contra os palestinos, desencadeou-se uma nova onda deviolênciaportodososcantosdosterritórios.

Nomêsdemarço,umgrupodeagentesdoMossadchegouaumedifíciocentraldeTelAviv.Pegaramoelevadoresubiramatéooitavoandar,ondeentraramnumgrandesalão.Meticulosamente,tiraramdassuaspastasdispositivosderastreamentoàprocurademicrofones escondidos.O lugar emque acabavamde entrar eraumandar seguro do Mossad que, em poucas horas, seria o cenário de uma reuniãoultrassecretanaqualsedecidiriaodestinodeumdosprincipaislíderesdaOLPedaIntifada.

Doisdiasdepois,quandoseavistavaosolnalinhadacostaeasluzesdosbareserestaurantesdopasseiomarítimodeTelAvivcomeçavamaacender,umgrupodeveículos sem nenhuma identificação foi chegando às proximidades do edifício.Escoltasarmadasvigiavamospassosdosqueparticiparamdareunião,entreosquaisestavamEzerWeizman,presidentedeIsrael,ShimonPeres,YitzhakRabin,ministrodaDefesa,IsaacNavon,ex-presidentedeIsrael,ogeneralHaimBar-Lev,ministrodo Interior, Yitzhak Shamir, primeiro-ministro, Yigal Pressler, conselheiro de

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antiterrorismo do primeiro-ministro, Ariel Sharon, Moshe Arens, David Levy,MosheKatsav,ogeneralAmnonShahak,chefedaAman,eomemunehdoMossad,NahumAdmoni.[309]

Emmenosde sessentaminutos tinha-seconseguidoumacordoquaseunânime.Semcontar comos trabalhistasWeizman,NavonePeres,osdemaisparticipantesvotaramafavordeativarumaequipedoKidoncomofimdeexecutarAbuJihad,otodo-poderosochefemilitardaOLPedoCNUI.EzerWeizmanprotestoucontraamedida adotada, alegando que com essa ação não se alcançaria a paz e que, pelocontrário,matar Jihadprovocariamaisviolêncianos territórios.Váriosdos falcõesdoLikud,apoiadosporRabin,defenderamanecessidadeda“execução”porpartedosassassinosdoMossad.

YitzhakRabinfezopapeldeacusador.DeacordocomoministrodaDefesaeex-general,oKidonpodiamatarAbuJihadporque,primeiro, este tentara, emváriasocasiões,penetrarasdefesas israelenses tomaros seusoficiais comorefénseentrarnoperigoso jogodedesafiarogovernode Israel eos seus serviçosde inteligência.Segundo, porque, graças a Abu Jihad, a OLP estabelecera laços estreitos com oHezbollah e com o Líbano, tendo como resultado ataques conjuntos contraunidades israelenses. Terceiro, não havia dúvidas de que Abu Jihad era o lídermilitar da OLP e do Comando Nacional Unificado da Intifada e, portanto, oprincipalresponsávelpelarebeliãopalestinanosterritóriosocupados.

Tudo seria cuidadosamente preparado até o mais ínfimo detalhe, e para issonomearam os generaisDan Shomron, chefe do Estado-Maior, o seu segundo nocomando,EhudBarak,eogeneralMosheYaalon,paradirigiraoperaçãonocenáriodoataque.OstrêsdurosmilitaresseriamoschefesdaquesedenominavaOperação17,emhonraaoalvo,ochefedaForça17,aguardapessoaldeYasserArafat.[310]

Admoni, sentadonoseugabinetedoquartel-generaldoMossad, sabiaque seriamaisfácildesembarcarumaforçadeassaltoemTúnisem1988doquetinhasidoem Beirute em 1973, dentro da Operação Primavera da Juventude.[311] OproblemaqueTúnisexpunhaeraadistânciaatéIsraelecomoliberariamosagentesdoexércitoisraelenseedoKidonassimqueaaçãofosseconcluída.

Repetindo o plano de Beirute, Admoni queria que uma força de comandosespeciaisdoexército,aSayeretMatkal,ajudassequatrokidonachegaràresidênciadeAbuJihad,nobairrotunisianodeSidiBouSaid,lhesdessecoberturaenquantoassassinavam o principal líder da Intifada e os levasse até a praia de Rouad paraseremenviadosnovamenteparaIsrael.OúltimorelatóriodoMossadredigidoporAdmonideixavaclaraaligaçãodeAbuJihadcomaIntifada:atéasuaesposa,Um-Jihad (Mãe da Guerra Santa), encabeçava o chamado Fundo dos Mártires,

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encarregado de ajudar economicamente as famílias daqueles que tinham sidodetidospelosisraelensesenquantorealizavamatosnaIntifada.Omemunehtambémfora alertado por Yosef Harmelin, diretor do Shin Bet, sobre o assassinato deinformantes palestinos. O que ambos os líderes da espionagem israelensedescobriram foi que, numa notificação do Comando Nacional Unificado daIntifada,AbuJihadordenavaàssuasforçasemGazaenaCisjordâniaoassassinatodetodohomemoumulhersuspeitodeserinformantedeIsrael.[312]

Àmaiorpartedelesfoiexigidoqueseapresentassemnasmesquitas,quedeixassemdeinformaroShinBeteentregassemasarmaseaparelhosdecomunicação.Senãoaceitassem, seriam executados ou enviados ao exílio dos seus próprios povoados.AbuJihadprecisavalivrar-sedosinformantes.UmdosquesenegaramacumprirasordensfoiMohamedal-Ayad,responsávelporumgrupodeinformantesvaliosodoShinBet.

Ayad,quevivianumagrandecasaemQabatiya,situadaaonortedaCisjordânia,criaraumaverdadeirarededeinformantesqueincluíatodososbairrosdacidadeechegavaatéazonaorientaldeJerusalém.Suasrelaçõescomoserviçodesegurançaisraelensefizeram-noprosperar.

Ayaderaproprietáriodeumaçougueedeumcafé.[313]AslistasdeinformantesdoShinBet,emborasupostamentesecretasnaspequenaspovoaçõespalestinas,eramconhecidasportodos.DepoisdanotificaçãochegadadeTúniseredigidaporAbuJihad,acasadeMohamedal-Ayadfoipichadacomaseguintefrase:“Comonossocorpoeonossosanguedestruiremosostraidoreselibertaremosanossaterra”.Nodiaseguinte,ocarrodeleapareceuincendiadonafrentedasuacasa.

Apesar dos seus 40 anos, Ayad sentia certa segurança ao circular com a suapequena Uzi debaixo do braço. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde teria dedefendersuavida,suafamíliaesuaspropriedades.Namanhãseguinte,váriosjovenspalestinos, com os rostos cobertos com keffiyeh vermelhos, começaram a dispararatravésdasjanelasdacasadeMohamedal-Ayad.ElepediuàmulherquetelefonasseimediatamenteparaaautoridademilitarisraelenseemJenin,umacidadesituadaaapenasseisquilômetrosdali,paraqueenviassemumaforçaderesgate.

Ayad precisava resistir apenas algumas poucas horas até que os militares ouagentes do Shin Bet chegassem para ajudá-los. O problema foi que nesse dia oexército estava muito ocupado e o Shin Bet não estava disposto a arriscar-seabertamenteporumpalestino.AesposadeAyadconseguiuescaparatravessandoalinhade fogo.QuandoconseguiuavisaroexércitoeoShinBet,ocombate tinhaterminadoháhoras.

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OespetáculoqueencontraramfoiocorpodeMohamedal-Ayadpenduradopelopescoçonumposteelétrico.Antes,tinhasidoespancadoquaseatéamorteeassuasorelhas e o seu nariz decepados. Essa imagem tornou-se uma mensagem dospalestinos ao Shin Bet: “Terminou o controle dos territórios de Gaza e daCisjordânia”.Ayaderaavítimanúmero75daIntifada.Ojovemde14anosqueelematou segundos antes de ser capturado, o 74.[314] Para Nahum Admoni, doMossad,eparaYosefHarmelin,doShinBet,estavaclaroquenãoqueriamperderosseusinformantes.AbuJihaddeviamorrer.

OVarash, acrônimodeVa’adatRashei há-Sherutim, ou comitê composto peloschefes dos serviços secretos, apoiava unanimemente o primeiro-ministro YitzhakShamireoseuministrodaDefesa,YitzhakRabin,nasuadecisãodeassassinarAbuJihad. Nahum Admoni, cujo mandato expirava em finais de 1988, desejavacandidatar-se novamente, por isso não queria se indispor com Shamir, líder doLikud,nemcomRabin,lídertrabalhista.OqueestavaclaroeraqueaexecuçãodeAbuJihadpeloskidondaMetsadaeraaceitaporambasasformaçõespolíticas.[315]

GrandesdecisõesdeveriamsertomadasparadarformaàOperação17.EstaserialideradaporumcomandoúnicodirigidoporummilitareemcoordenaçãocomaunidadeSaifanim doMossad, o departamento encarregadode colher informaçõessobre a OLP, e o Yarid. Assim que estes tivessem recolhido todos os dadosnecessários, o Kidon, a subunidade de assassinos da Metsada, seria ativado. Umgrupodekatsa e sayanim, informantes doMossad que trabalhavam como simplescolaboradoressemremuneração,entrariamemTuneseseriamevacuadosquandoaoperaçãochegasseaofim.

Noiníciodomêsdeabril,AdmonieBarakdecidiramplanejaroataquetalcomolhesordenaraoprimeiro-ministroShamir.Era evidentequeo líderdoLikudnãoqueria nenhuma surpresa e,muitomenos, baixas ou prisioneiros israelenses numpaís árabe, e foi essa informaçãoquepassou ao seuministrodaDefesa,Rabin.AestratégiaaseguirdeviaserplanejadaeestudadaportodososqueparticipassemdaOperação 17. Yitzhak Shamir queria estar de posse dessas informações dois diasdepois.[316]

Os líderes doMossad e do exército puserammãos à obra para estabelecer umplanodeaçãoperfeitoquelhespermitisseteraaprovaçãodoshomensquedeveriamadotar a decisão final.Quarenta e oito horas depois, umapasta vermelha com aspalavras“top secret” e o nomeOperação 17 na capa chegava àmesa do gabinete.YitzhakShamirabriu-aeleu:PLANODEAÇÃOemgrandesletrasvermelhas.Emseguida,apareciaapalavra“Equipe”:

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Para as equipes serão utilizadas quatro lanchas lança-mísseis, classeCorvette; duas Sa’ar 4.5 e outras duasSa’ar 4, estas últimas para evacuar feridos. A primeira das Sa’ar 4.5 transportará uma equipe médicaespecializada.EhudBarak,olídernocampodeoperações,viajaráabordodasegundaSa’ar4.5.ComBarakviajará também Shabtai Shavit,[317] líder da Metsada, e o chefe de operações navais, que dirigirá oscomandosdaMarinha,aEsquadrilha13,atéapraiatunisiana.

Osmembrosdaesquadrilha13deverãoestabelecerumacabeçadepontenamesmapraiaejuntar-seaosagentes doMossadque aguardarão odestacamento armados com fuzis de assalto casohaja resistência porpartedapolíciaoudoexércitotunisianonapraiapróximaàshistóricasruínasdeCartago.AEsquadrilha13manteráasegurançadaáreaatéquesejamevacuadososkidondoMossadeoscomandosdaSayeretMatkal,umavezconcluídaaoperação.DoisaviõesBoeing707voarãosobreoalvo,oprimeirocomoquartel-generaldetodaaoperaçãoeosegundocomounidadedeguerraeletrônicacomafinalidadedeinterferiremtodasascomunicações na zona do alvo.No primeiroBoeing, como código 4X-007, viajará o general-morAvihuBen-Nun, chefe da Força Aérea, que coordenará todas as suas ações com Ehud Barak. O memuneh doMossadeochefedaAman,ogeneralAmnomShahak,voarãonosegundo707comocódigo4X-497.Doisaviões com combustível se manterão no ar para reabastecer todos os outros em voo durante a operação.QuatrocaçasF-5escoltarãoosdois707eassumirãoatarefadeproteçãoaéreanocasodeoscomandosdaSayeretedoKidonficaremencurralados.

ParaaOperação17serãonecessáriosquasecemhomensemulheres,incluindoosmaisaltoscomandosdoexército,dasForçasNaval eAéreaeosprincipais responsáveispelos serviçosde inteligênciacivil emilitar;tambémumapequenaesquadrilhadebarcosequaseumadezenadeaviões.

OdocumentoconfidencialqueShamirliaterminavaoparágrafoexplicando:“O

tamanho do contingente necessário para o assassinato de Abu Jihad deve refletirsobre a prioridade que deve ter o ataque israelense para tirá-lo do local e sobre alongitudedoplanoquedeveserpreparadoparagarantiroêxitofinal.Seassimnãofor,asrepercussõesparaIsraelserãopiores.Amissãodeveserefetivada”.

Oprimeiro-ministrocontinuoualer.“Agentes”:OshomensquedevemserescolhidosparaaOperação17sãoosefetivosdaSayeretMatkal,[318]asforçasespeciais israelenses.Cadaumdos seusmembros, entre 20 e 27 anos, apoiará osmembrosdoKidonqueentrarãonacasadoalvoparaexecutá-lo.Aoperação teráa liderançadochefedoEstado-Maior,ogeneralDanShomron,antigomembrodaSayeretMatkal,edogeneralEhudBarak,antigocomandantedaSayeretMatkalde1969a1972.OatualchefedaSayeretMatkaléofilhodoex-chefedoEstado-Maioremembrodogabinete,HaimBar-Lev.[319]

Todos os homens escolhidos para irem a Túnis estavam preparados física epsicologicamente, e eram especialistas em combate corpo a corpo, escalada,explosivos enousodediferentes armas.Asque seriamutilizadasnaOperação17não teriam um só sinal de identificação de terem sido fabricadas em Israel. Osnúmerosdesérieseriamapagados.

AmissãoseriarealizadaporquatroequipesdaSayeretformadasporseishomenscadauma.AsequipesAeB,queusariammetralhadorasUzicomsilenciador,seriamas encarregadas de escoltar o kidon até a própria casa de Abu Jihad e abrir-lhe

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caminhoatéointerior.Aequipede“limpeza”daMetsadausariapistolasBerettadecalibre 22 com silenciadores. A equipe C, da Sayeret, com fuzis Galil, seencarregaria de proteger as linhas de evacuaçãodas equipesA eB, e a equipeD,comfuzisdeprecisão(sniper)commirastelescópicas,seencarregariadepontosaltosdeobservação,paraacabarcompossíveisameaças.[320]

Apartirdoiníciodomêsdeabril,todososefetivosqueparticipariamdamissãoseriam recolhidos na base naval de Haifa, a norte de Tel Aviv. Os comandosisraelenseseoskidondoMossadestavamconcentradosnumlugarsecretododesertode Beersheba, onde construíram uma réplica exata da casa de Abu Jihad e dosarredores.Foipossívelconstruí-lagraçasàinformaçãorecebidadoskatsainfiltradosem Túnis. Desde fins de março, o Mossad colocou seus agentes nesse país paracontrolar a área e os possíveis riscos que as equipes da Sayeret e do Kidonenfrentariam assim que desembarcassem na praia. Durante a segunda semana deabril,oskatsadoMossadnointeriordopaíseramformadosporseishomenseumamulher,queconseguirammanter-seematividadegraçasaidentidadesfalsas.AkatsaSandra,quese fezpassarporagentedeviagens francesa, tinhacomomissãopegarno aeroporto outros dois, um de nacionalidade canadense e um italiano, quechegariamàcapital tunisianacomofimdeestabelecercontatoscomos líderesdopaís.Naverdade,ambososhomenseramocomandantedaSayeretMatkaleochefedocomandodoKidon,quelevariamaOperação17acabo.[321]

AagentedoMossad, juntoaokidon e aochefedoscomandos,percorreuváriasvezesarotadefugaapartirdacasadeAbuJihadnobairrodeSidiBouSaidatéapraia situada perto de Ras Cartago, ao longo do porto da histórica cidade deCartago.Duranteasnoitesseguintes,osdoishomenseamulherfaziamomesmocaminho na escuridão com o intuito de conhecer até o mais ínfimo detalhe daestrada,cadacurva,cadaburaco,cadacanto.Daniel,ochefedoscomandos,devialocalizarváriospontosemqueasuaunidadepudesseseentrincheirarnocasodeoexército ou da polícia tunisianos apresentarem resistência. Para a operação, oMossadalugoutrêsveículos:umPeugeot305comaplaca66TI2505edoiscarrosVolkswagencomasplacas328TI48e8405TI53.Osoutroskatsasemanteriamnosseus postos de vigilância sobre a casa do alvo. Em 13 de abril, a três dias daoperação,tudojáestavapreparado.

Nodia14,Shomron,BarakeBar-Lev,porpartedoexército,eAdmoni,ShaviteUri,porpartedoMossad, reuniram-se como fimde estabeleceros alvos a seremabatidos. Bar-Lev, Admoni e Shavit eram a favor de eliminar qualquer líderpalestinoqueatravessasseseucaminhoatéAbuJihad,enquantoShomron,BarakeoprópriochefedocomandodoKidonqueviajariaaTúnis,eramdaopiniãodeque

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apenas deviam assassinar o líder militar da Intifada. O general Dan Shomronafirmou que o primeiro-ministro Yitzhak Shamir poderia justificar politicamenteapenasaexecuçãodolídermilitardaOLPeresponsávelpeloCNUI,masnãoseoKidon executasse outrosmembrosmenos relevantesdaOLP.[322]Faltava apenasdarsinalverdeàoperaçãoparaquemaisdeumacentenadesoldadoseagentesdoMossadsepusessemacaminhodeTúniscomoúnicopropósitodeassassinarumdos homens fortes de Yasser Arafat. Esse sinal verde só poderia ser dado peloprimeiro-ministrodeIsrael.

Paracomplicaraindamaisascoisas,omemunehAdmoniavisouShabtaiShavit,responsável pelas operações especiais doMossad, que a estação de Paris detectaracomunicaçõesentreaDGSE,oserviçosecretofrancêsconhecidocomo“APiscina”,[323]eoscomandosdaOLPemTúnis.Narealidade,aDGSEinformaraaOLPque haviam detectado movimento por parte do Mossad, com o objetivo deassassinarumlíderdaOLPnoexílio.Curiosamente,aúnicamedidadesegurançaqueaForça17adotoufoiadereforçarasegurançadeArafat,pensandoqueseriaesseoalvodosisraelenses.

Depoisdameia-noitedodia15deabril,aesquadrilhaisraelenseconvergiunumponto estabelecido dentro das águas territoriais deTúnis,mesmo fora do alcancedosradarestunisianosquevigiavamacosta.Os707tinhamdecoladodeumabaseaéreadeIsraeleháhorastransmitiaminformaçõesàslanchaslança-mísseis.AsduaslanchasSa’ar4comoscomandoseoskidonabordoestavamàesperadosinalverdenaságuasescurasdoMediterrâneoemuitopróximasdaentradadogolfodeTúnis.Aessahora,emumgabineteemTelAviv,Shamir,reunidocomaelitepolíticadoEstadodeIsrael,comoYitzhakRabin,EzerWeizman,MosheArens,ArielSharon,IsaacNavon,ShimonPeres eHaimBar-Lev, cujo filho lideravaos comandos emTúnis,decidiudarasuaaprovaçãofinalàOperação17.[324]FoiopróprioYitzhakRabin,oministrodaDefesa,quemchamouShomronparainformardadecisãodogovernoedopartidodaoposição: “Épreciso eliminarAbu Jihad”.A sentençademortedolíderpalestinoacabavadeserdecidida,ratificadaeassinadaacentenasdequilômetrosdedistânciadeTúnis.

Deum707chegouaordemdeaçãoparaBarak,eesteatransmitiuaoscomandosdaSayeretMatkaleaokidondaMetsada.

Porvoltadeumahoradamanhãde16deabril,aprimeiralevadoZodiacpisouna areia da praia tunisiana e os seus homens começaram a se dispersar pela zonaondeosesperavamosagentesdoMossadcomoPeugeoteduasperuasVolkswagen.NelesiriamatéobairrodeSidiBouSaid,localdaresidênciadoalvo.Ochefedoskatsamostrou então ao responsável peloKidon as casas vizinhas à deAbu Jihad.

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BememfrentemoravaJalilAbdulHamid,conhecidocomoAbual-Chol,chefedopessoal de segurança da OLP e dos seus serviços de inteligência. Foi ele quemrecebeu a informaçãodos serviços secretos franceses sobreopossível ataque aumlíder da OLP . Perto da casa de Abu Jihad morava também Mahmud Abbas,conhecido comoAbuMazen,[325] responsável pelas negociações de paz daOLPcom os israelenses. Uri, o chefe do Kidon na Operação 17, lembrava-seperfeitamente das ordens: não assassinar nenhum outro líder da OLP ou dequalqueroutrogrupopalestino.

Umavezrealizadaaprimeirainspeção,osisraelensesdescobriramqueoalvonãoestava em casa. A movimentação que se detectou dentro da residência vinha daesposadeAbuJihadedafilhaadolescente.UriinformouistoaBarakeque,seJihadnãochegassenoprazodetrintaminutos,aOperação17deveriaserabortada.QuasetrintamembrosisraelensesestavamvigiandoacasadeumlíderdaOLPnumbairroemplenocoraçãodeumpaísárabe.EhudBarakinformouaogeneralDanShomrondoproblema.Seesperassemdemaisarriscariam-seaque,namelhordashipóteses,osseuscomandoseagentesfossemcapturadospelostunisianos,enapior,mortos.Sevoltassematrás,podiapassarmuitotempoatéteremacessoaAbuJihadnovamente.OchefedoEstado-Maior,ogeneralDanShomron,decidiudarumprazodetrintaminutosdeespera.

Os comandos da equipe A começaram a tomar posições nas proximidades domurosulquecercavaaresidência,enquantoosdaequipeBcortavamoscabosdossistemas de alarme das casas vizinhas. Os demais membros desta última equipeescoltarama equipedoKidon até a portaprincipal quedava acesso ao jardimdafrentedapropriedadedolíderdaIntifada.Umavezasseguradoocercoexterior,oscomandosdeixaramàequipede“limpeza”daMetsadaocaminholivreatéaportaprincipaldacasa.Delonge,aoperaçãoeraseguidapelosfrancoatiradoresdaequipeD.Porvoltada1h30foramvistososfaróisdedoisveículosquesedirigiamemaltavelocidadeatéacasa.Noprimeirocarro,estavaAbuJihadjuntocomseumotoristae um dos seus guarda-costas; no outro, mais dois guarda-costas, armados compistolasefuzisautomáticos.[326]

Elespararambruscamente em frente àporta.Osocupantesdo segundoveículocomeçaramasedispersarvigiandoospassosdoseuchefe.AssimqueAbuJihadseencontrasse dentro de casa, os guarda-costas voltavam para perto do carro. Uriinformou Ygal, Dani e Hofi, os outros kidon, sobre o número de alvos a seremabatidosforadacasa.Aotodo,trêsguarda-costaseomotorista.

Emquestãodesegundos,osquatrosassassinosdoMossad,armadoscomBerettascomsilenciador,começaramasemovimentarsilenciosaerapidamentesobaordem

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deUri:“Vamos,vamos”.Seguiram-lheYgaleDani,eHofi,maisatrás.Elesdividiramosalvosaseremabatidos.Oprimeirokidonchegouemsilêncioaté

o motorista, que estava fumando um cigarro. Hofi colocou-lhe o cano dosilenciadoratrásdaorelhaedisparou.Estavamorto.DanieYgalaproximaram-sedeMustafaAli al-Auwall eNabib SuleimanCrissan.Oprimeiro foi derrubado comumdisparonatestaedepoiscomoutroàqueima-roupanoolho.Osegundotentoupegar sua armanoporta-luvas do carro para responder ao ataque,mas eramuitotarde.Ygaljáseaproximavadeleelhedeuumtironanuca.Paragarantirquenãosobreviveria,coloca-lheocanodaarmanaáreadocoraçãoevoltouadisparar.Nãoeraprecisoporquejáestavamorto.[327]

Uri, o chefeda equipedoKidon, subiu àspressas as escadasquedavampara asacada e com um disparo certeiro na nuca derrubou o quarto e último guarda-costas.Agorafaltavaapenasentrarnacasaeliquidaroalvoprincipal,AbuJihad.

Enquanto isso, dentro da casa, ninguém percebeu o que estava acontecendo apoucosmetrosdali.UmdosatiradoresdeelitedaequipeDalertouquealuzdeumdoscômodostinhasidoacesa.EraAbuJihadqueentravaemseuescritório.

Osquatrokidonsobiramasescadas,entraramnacasaeseesconderamnocloset,emfrenteaoquartodeAbuJihad.Uri,escoltadoporYgal,entrounoescritóriodolídermilitardaOLPeoencontrousentado,escrevendoumamensagemaosjovenslíderes da Intifada em Gaza e na Cisjordânia.[328] Com expressão de surpresa,levantou-se bruscamente, e o primeiro kidon disparou-lhe quatro vezes no peito,derrubando-osobreumamesacompapéisatrásdele.Ygalseposicionouedisparouseisvezes,umadelasnanucaeoutranacabeça.

Emseguida,aindacomasarmas fumegantesnasmãos,quandoosquatrokidoncomeçaramasair,Um-Jihad,aesposadeAbuJihad,apareceudiantedosassassinosdoMossadcomofilhonosbraços.Uri,numárabeperfeito,disseaelaquevoltasseparaoquarto.

Já do lado de fora, os comandos da Sayeret Matkal cobriram os assassinos daespionagem israelense até os dois automóveis Volkswagen que os esperavam paralevá-losàpraiapertodeCartago.[329]

Jánapraia,oskidondaMetsadaeoscomandosdaSayeretMatkalentraramnosZodiac que os levariam até as lanchas antimísseis ancoradas nas proximidades.Quando todos os homens já estavam a bordo, os barcos rumaram para Israel. Amissãoencomendadapeloprimeiro-ministroYitzhakShamireoministrodaDefesaYitzhakRabinforacumprida,eoprincipallíderdaIntifada,de52anos,executadoa centenas de quilômetros de Israel.Mais uma vez, o longo braçode Israel tinhaatacadoosseusinimigosatravésdotemívelKidon.

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ApósafugadosassassinosdoMossad,aesposadeAbuJihadentrounoescritóriocom Hanan, a sua filha adolescente de 16 anos. Ali, sobre uma grande poça desangue,repousavaocadáverdoqueforaochefesupremodoCNUI,ochefemilitardaOLP,ocompanheirodetantasbatalhasdeYasserArafat,ocomandantedasuaguarda pretoriana Força 17.[330] Dez disparos dados por membros do Kidonpuseramfimàsuavida.

Osdemaiskatsa doMossad sairiamdopaís árabenodia seguinte, enquanto asprimeiras notícias do assassinato se difundiam através das emissoras de rádio etelevisãodeTúniseeramconfirmadaspelaRádioMontecarlo.[331]

Em20deabrilde1988,JalilIbrahimalWazir,conhecidocomo“AbuJihad”,foienterradonoCemitériodosMártires,nocampoderefugiadosdeAl-Yarmuk,nossubúrbiosdeDamasco.Eraavítimanúmero142daIntifada.

A Intifada alterou o cenário político do Oriente Médio, escapando até mesmo ao controle dos líderespalestinosnoexílioedeisraelenses,políticosemilitares.Arevoluçãodaspedrascontraapoderosamáquinamilitar de Israel teve como resultado a concessão da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e o fim daocupação israelense na Faixa deGaza em 2005. Abu Jihad não seria o último líder da Intifada amorrerassassinadopeloscarrascosdoKidon,obraçodeoperaçõesespeciaisdaMetsada.Empoucosanos,outroslheseguiriam.

AbuMazen substituiriaAbu Jihad apóso assassinato edirigiriapoucodepois asnegociaçõesdepaz entreárabeseisraelenses.Eleserianomeadoprimeiro-ministrodaANPpelopresidenteArafat.

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No mês de julho de 1993, o ainda primeiro-ministro da África do Sul,FrederickdeKlerk,tornavapúblicaaOperaçãoArmagedon.Poucodepois,a

políciasul-africanarevelavaumsegredoguardadoháanos,porindicaçãodoMossadao ainda governo segregacionista de Pretória e ao serviço secreto sul-africano, oBOSS(GabinetedeSegurançadoEstado).AlanKidger,umhomemdenegóciosdeJoanesburgo, de 48 anos, fora misteriosamente assassinado. O coronel CharlesLandman,chefedapolíciasul-africana,afirmouqueoMossadexecutaraKidgerporfornecerarmasquímicasaoIrãeaoIraque.[332]Masestenãoeraoprimeironemoúltimo dos alvos executados pela espionagem israelense, dentro da chamadaOperaçãoZulu,comoapoiodoBOSS.[333]KidgereraapenasapontadoicebergdeumadasaçõesmaissofisticadasdoKidondesdeasuacriaçãonosanos1960.

Porordemdosprimeiros-ministrosdeIsrael,YitzhakShamireYitzhakRabin,epor recomendação dos memuneh do Mossad, Nahum Admoni e Shabtai Shavit,haviamencarregadooKidondaexecuçãosistemáticadevárioshomensdenegóciosemdiferentespartesdomundo.GeraldBull,naBélgica,em1990,AlanKidger,naÁfricadoSul, em1991,WynandvanWyk,naCidadedoCabo, em1993,DonLange,emJoanesburgo,emjunhode1994,eDirkStoffberg,tambémnestaúltimacidade, em julho domesmo ano.Mas todomundo questionava o que todos elestinhamemcomum.

Eram homens que levavam uma vida próspera, educados nas melhoresuniversidadesde engenhariadomundo,que viajavamconstantemente apaísesdoOrienteMédio edoGolfoPérsico, eque tinham relações estreitas comchefesdeEstado e de governo e com serviços de inteligência de meio mundo. Mas havia

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outrosdoispontosqueosuniam.OscincoestavamligadosaocomérciodearmasetinhamcomoclientesoIrãeoIraque,paísesinimigosdoEstadodeIsrael.IssoostransformouautomaticamenteemalvosdosassassinosdoKidon.

Quando o exército de SaddamHussein atravessou as fronteiras do seu vizinhoKuwait,namanhãde2deagostode1990,nenhumaagênciadeespionagempôdeimaginaroqueviriadepois.Nomês seguinteàocupação,quase600milhomenspertencentes ao Iraque “blindavam” o pequeno e rico emirado. Emmuito poucotempo, Saddam conseguira levantar o quarto maior exército do mundo atrás daChina, da Índia e da União Soviética. A este número se somariam quase 5.500tanques,6mil transportesblindadosde tropas e689aviõesde combate.Do ladooposto,oKuwaitcontavaapenascomumexércitode20.300homens,254tanques,duzentos transportes blindados de tropas e 23 aviões de combate. Os analistasmilitaresemLondres,WashingtoneTelAvivcomeçaramaquestionar-secomoerapossívelque alguémcomoSaddamHussein conseguisse semelhante arsenal semomínimocontroledenenhumaorganização internacional.[334]Arespostaerabemsimples:traficantesdearmas.

HomenscomoGeraldBull,AlanKidger,WynandvanWyk,DonLangeeDirkStoffberg tinhamcolaboradobemdepertocomoditador iraquianopara fazerdoseu país uma autêntica potência militar na zona, mas também um dos maioresperigosnaregião.GeraldBulleraumcanadenseespecialistanodesenvolvimentodepeças de artilharia emunição;AlanKidger, um sul-africano diretor de vendas dacorporação Thor Chemicals; Wynand van Wyk, também de nacionalidade sul-africana, era especialista em engenharia química; Don Lange, da mesmanacionalidade que os dois anteriores, traficava peças de artilharia e materiaisquímicos de alta tecnologia para desenvolver armas químicas e bacteriológicas; eDirkStoffbergeraumtraficantedearmas,tambémsul-africano,comboasrelaçõesemBagdáeemTeerã.

UmrelatóriodoMossadexporiaasrelaçõesentreoscincoeváriospaísesárabesdeclaradamenteinimigosdeIsrael.Hámeses,oprimeiro-ministro,YitzhakShamir,pediraaoseumemuneh,NahumAdmoni,umextensorelatóriosobrequaispaíses,empresas ou traficantes forneciam armas ou materiais perigosos a países árabes.Numprimeiromomento,Admoni pensou que talvez o resultado do estudo fossepublicadocomointuitodedescobrirasramificaçõesdostraficantes,masaideiadeShamirerabemdiferente.“SealgumaspessoasoptamporcontinuaravenderarmasaoIraque,aoIrãouàSíria,Israeldeverátomarasmedidasnecessáriasparaqueissotenhaumfim”,disseShamiraochefedoMossad.

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Nascido em 9 de março de 1928 em North Bay, Ontário, Gerald Bull era osegundo de dez filhos de uma próspera família de advogados criminalistas doCanadáedemembrosdochamadoConselhoReal.Apósamortedamãe,osBullmudaram-separaToronto,ondeatragédiacontinuouaperseguirafamília.

Lucy,umadasirmãs,morreriadecâncer,outrodosirmãosmenoresfalecerianumacidentedecarroe,porúltimo,opai,GeorgeBull,abandonariaosfilhosparavoltaracasar-secomumamulherquenãoqueriaassumiropapeldemãedecriançasquenãoeramdela.[335]

Em 1944, aos 16 anos, Bull queria ser médico, mas, devido à idade, não oaceitaram naUniversidade deMedicina.O único lugar em que podia entrar tãojovem era no Departamento de Engenharia Aeronáutica da Universidade deToronto. Rapidamente, seus professores perceberam um talento inato no jovemBull, e, em 1948, ele formou-se em engenharia aeronáutica. Com outros vintecolegas,Bullapresentou-secomocandidatoaumpostono“ProgramadeDinâmicaSupersônica”desenvolvidopeloMinistériodaDefesadoCanadá.Elefoiaceito.

Shamir continuou a ler o relatório sobre Bull que oMossad lhe fornecera.Oshomens de Admoni haviam cumprido bem os seus deveres. O líder israelensecontinuou lendo o grosso dossiê. Sem dúvida, o pior ano paraGerald Bull seria1980, quando um tribunal norte-americano o condenou a um ano de prisão portráficoilegaldearmasparaaÁfricadoSulatravésdasuaempresa,aSpaceResearchCorporation(SRC).

Em30deagostode1980,GeraldBullentregou-seàsautoridadesparacumprirapenanaprisãodesegurançamínimadeAllenwood,naPensilvânia.Poucoantesdasuaentradanapenitenciária,ocanadensevisitaraaBélgicaemtrêsocasiões.Sabiaque,assimqueocasocontraelefosseencerrado,asuaempresajamaispoderiavoltarafuncionardentrodosEstadosUnidosounoCanadá.Comoinvestida,Bullenviouseusdois filhos,Michel eStephen,aBruxelas.Oprimeiro tratavadas finançasdaSRCenquantoosegundoajudavaopainodepartamentodeengenhariadaempresa.

Durante os meses em que Gerald Bull esteve preso, o seu ódio começou aflorescer contra os burocratas que o tinham acusado e condenado. Sua vingançaseriafazerasuaprópriaguerranomundo.China,Vietnã,AngolaeIraqueseriamosnovosclientesdaSRCdaBélgica.OqueBullaindanãosabiaéqueamilharesdequilômetrosdali,numescritórioemJerusalém,discutia-seanecessidadedoMossadvigiardepertoosseusmovimentos.

OsprimeirosrelatóriosdoMossadsobreBullvinhamdoDardasimouSmerf,osubdepartamento do Kaisarut. Seus agentes operavam unicamente na China, naÁfrica e no Extremo Oriente. Aparentemente, quando ainda estava na prisão de

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Allenwood,BullrecebeuumacartadogovernochinêsatravésdeumintermediárioemLondres.Eraumconvite,comomandamasregras,paravisitarPequimcomafinalidade de “discutir questões de interesse mútuo”. Até aquele momento, ocanadense jamaisestiveranaChinae tampoucohaviaentradoemcontatocomoschineses.[336] O mais curioso de tudo é que Gerald Bull era um declaradoanticomunista, embora não olhasse para o gigante asiático como um irmão daUniãoSoviética.

Aosairdaprisão,eapósduassemanasdefériasnoCaribecomasuaesposaMimi,Gerald Bull decidiu viajar a Pequim para ouvir a proposta. Para sua surpresa, asautoridades científicas e militares chinesas trataram-no com absoluta veneração.Queriam sabermais sobre as suas investigações no desenvolvimento do programaHARP(HighAltitudeResearchProject)esobreassuasnovasideiasemsistemasdeartilharia.AestaçãodoMossademHongKong,atravésdosseuskatsadoDardasim,redigiuumrelatóriomuitopreciso sobreas intençõeschinesas:“OschinesesestãomuitointeressadosnosistemadesenvolvidoporBullnaspeçasdeartilhariadelongadistância usadas por eles nas suas fronteiras com a União Soviética. Os chinesesalegam que as peças soviéticas são muito mais eficientes que as suas”. NahumAdmoni, odiretordoMossad, fechou apasta edecidiu esperarpara ver como sedesenvolveria a relação entre Gerald Bull e o governo de Pequim. Através daUnidade 504, encarregada de coletar informações de âmbito militar, o Mossadseguiu os passos de Bull de 1983 a 1990, mas um movimento do engenheirocanadenseporia a espionagem israelense em estadode alertamáximo, o chamadoProjetoBabilônia.[337]

Entre1980e1989,oIraqueadquiriuarmamentoporumvalorpróximodos80bilhões de dólares da França, da Alemanha Ocidental e da Grã-Bretanha.Indubitavelmente,ospaísesquedesejavamaumentarsuasreservasdecrudecomopetróleoiraquianotinhamdeentrarnojogodotráficodematerialbélico.

Da Itália, o Iraque comprou fragatas e navios-patrulha lança-mísseis; da Grã-Bretanha e daHolanda, equipamento eletrônico e rádios de baixa frequência; daFrança, modernos sistemas de armamento, incluindo 133 caças-bombardeirosMirageF-1,49helicópteros armados,mil veículosblindados,884mísseisExocet,20milmísseis antitanqueHOTeMilan, e2.500mísseispara combate aéreo;daCoreiadoNorteedaUniãoSoviética,mísseisScud;edaChina,mísseisSilkworm.OimensoinventáriodearmamentoadquiridoporSaddamHusseinfaziadoIraqueum dos países mais perigosos para Israel, e tanto Yitzhak Shamir como NahumAdmoniosabiam.[338]

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OIraqueeGeraldBullconcordaramnocampododesenvolvimentodosmísseisbalísticos.Em1982,oIraque,aArgentinaeoEgitodecidiramoperaremconjuntonodesenvolvimentodeumnovomíssilconhecidopelosargentinoscomoCondor-2. Ele tinha um raio de ação de 937 quilômetros e podia ser usado como armanuclear, química, biológica ou convencional. O Mossad sabia que os argentinostinham fornecido a tecnologia, os egípcios os sistemas de guia e disparo, e osiraquianosofinanciamento.OqueeraevidenteparaShamiréqueSaddamHusseinprecisava de um míssil capaz de atingir o Irã sem necessidade de depender dosfornecimentos da China ou da União Soviética; o Egito precisava de um míssilcapazdesuperaroJericódesenhadopelosisraelenses;eosargentinosqueriamumaarma capaz de atacar do continente as ilhas Malvinas, em poder dos britânicos.Admonisabiaque,sealgumdostrêspaísesconseguisseoCondor-2,secriariaumadesestabilizaçãodoequilíbrioestratégiconassuasregiões.

Yitzhak Shamir pediu então ao seu memuneh uma lista de empresas que sededicassemafornecerequipamentoeletrônicooudeoutrotipoaoIraque.OskatsadoMossaddemoraramquaseumanoparadescobrir a rededeempresas-fantasmamontadapeloIraque,oEgitoeaArgentinaparaapoiarafabricaçãodoCondor-2.[339]

Admoni deu ordens ao Yarid, o departamento responsável pela segurança dasoperaçõesdoMossadnaEuropa,paraquedessecoberturaaoskatsadaUnidade504duranteassuasinvestigaçõesnasdiferentescapitaiseuropeias.

Seismesesdepois,NahumAdmonientregavapessoalmenteaoprimeiro-ministrodeIsraelumrelatóriocompletosobreascompanhiasutilizadaspeloIraque,oEgitoeaArgentinaparaoseurearmamento.AsededelasestavaradicadanocantãosuíçodeZug.AmaisimportanteeraaConsen,comescritóriosemMontecarlo.TambémaDesintekeaCóndorProjetke,emZurique.Todoopessoalespecializado,segundoconseguiuaveriguaroMossad,forarecrutadoentreasfileirasdacompanhiaalemãMesserschmittBoelkow-Blohm(MBB),quetinhamdesenvolvidooCondor-1.[340]

O Iraque tinha construído um grande centro de testes de mísseis, com ocodinomeSaad-16,muitopróximodeMossul,nazonadoCurdistãoiraquiano.Ainstalação fora erguida pela Saad General Establishment (SGE), uma companhiaque desenvolvia projetos para a Organização Estatal de Indústrias Técnicas,dependentedogovernodoIraque.OMossaddescobriuqueaSGEeraapenasumaconstrutora equena realidade aSaad-16 fora construída coma ajudadediversasempresas estrangeiras, como aGildemeister deDüsseldorf,TektronixdoOregon,Scientific-AtlantadeAtlantae,indiretamente,daHewlett-Packard,queforneceuoequipamentoeletrônicoàMBB,queporsuavezotransferiuparaaSGE.[341]

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Em18demarçode1988,oquartel-generaldoMossademTelAvivrecebeuumacomunicação da CIA indicando que um cientista egípcio nacionalizado norte-americano fora colocado no comando da Saad-16. Era Abdelkader Helmy, queconseguira a nacionalidade norte-americana em outubro de 1987 e que seespecializara, na empresa Aerojet General Corporation da Califórnia, nodesenvolvimentodeumnovoprojétilparaumcanhãode120milímetros.AestaçãodoMossad emWashington foi alertadapara queHelmy fosse colocado sob fortevigilância.

Os katsa informaram Admoni que o cientista tinha se encontrado com doiscidadãosdeorigemárabe.UmdeleseraadjuntomilitardaEmbaixadadoEgitoemWashington.OMossadnaquelacidadetambémdescobriuqueAbdelkaderHelmyrecebera numa conta bancária mais de um milhão de dólares para adquirir omaterial necessário para revestir as peças de artilharia. O material devia sercompradodeduasempresascalifornianas,aKaiserAerotecheaGreenleafTechnicalCeramics.AestaçãodoMossademGenebradescobriuqueodinheiroforaenviadopelo coronel Hussan Yossef, um egípcio que vivia em Viena. Os iraquianosprecisavamdecercadetrintatoneladasdemateriaisdiferentes.[342]

Por ordem expressa de Nahum Admoni, o Mossad, através do Kidon, deviacomeçarumacampanhadeintimidaçãocontratodososqueestivessemenvolvidosnoCondor-2.OprópriomemunehautorizavaoskidondaMetsadaaseutilizaremde qualquer método para tornar essa campanha eficaz, incluindo as ameaças, ossequestros e as cartas-bomba. Por enquanto, a execução de algumdos envolvidospodiaserapenasordenadapeloprimeiro-ministrodeIsraeleaindaeramuitocedopara isso. Antes, deviam esperar pelo resultado da campanha que iniciariam porordemdomemuneh.

Em27demaiode1988,àstrêsdatarde,umPeugeotvazioestacionadonumaruadacidadedeGrasse,nosuldaFrança,vooupelosaressemcausarvítimas.Abombafora detonada por controle remoto. O automóvel pertencia a Ekkehard Schrotz,diretor-geral da Consen, a empresa com sede em Zug que coordenava o projetoCondor-2.

Em 3 de junho de 1988, a esposa de Helmy recebeu um telefonema em queavisavamque,seseumaridocontinuassecomodesenvolvimentodoCondor-2,seriasuafamíliaquempagariaporisso.Doisdiasdepois,ocientistarecebiafotografiasdeumadesuasfilhassaindodocolégioacompanhadaporalgumasamigas.Umcírculovermelhodemarcavaorostodajovem.

Umgrupopró-iranianoquesenomeava“OsGuardiãesdoIslã”telefonouparaosescritórios da agência France Presse assumindo a responsabilidade pela bomba de

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Grasse, e afirmando que a tinham colocado para punir um “alto funcionário doregimedeSaddamHussein”.Nãoobstante,paratodasasautoridadespoliciaisedosserviçosdeespionagem,portrásdoatentadoestavaamãodoMossadisraelenseeosseusagentesdaMetsada.

O ataque seguinte do Mossad contra Abdelkader Helmy aconteceu em 24 dejunho de 1988, quando, misteriosamente, alguém alertou as autoridadesalfandegáriasdosEstadosUnidosqueumcontêinerquelevavanoseuinterior194quilos de fibra de carbono, que se usa na fabricação dos cones das pontas dosmísseis,estavaprestesasercarregadonumC-130daForçaAéreadoEgito.ComaajudadoFBI,osagentesdaalfândegadetiveramAbdelkaderHelmy,asuaesposa,Abia,eumsóciodele,chamadoJimHuffman.Foramtodosacusadosdeexportaçãode materiais proibidos e de lavagem de dinheiro. Foi permitido aos egípciosdeixaremopaísdevidoàsuaimunidadediplomática.ComaperdadeHelmyedosseusconhecimentosnousoda fibradecarbononodesenvolvimentodemísseis,oIraqueprecisavaurgentementedeoutroengenheirocomexperiêncianeste tipodearmamento.OescolhidofoiGeraldBull.

OsisraelensesdetectaramosmovimentosdeBullentrenovembroedezembrode1987, quase três anos antes da sua “execução”. Naquela data, e através daEmbaixada do Iraque em Bruxelas, Bull e os seus filhos, Michel e Stephen,receberamumconviteparavisitarBagdácomtodasasdespesaspagas.Osiraquianostinhammuitoboasrelaçõescomoschineseseatravésdelesconheceramotrabalhodo engenheiro canadense. Saddam Hussein desejava especialmente a versão sul-africana desenvolvida por Bull do canhão de 155mm.O seu filhoMichel foi oúnicoquelevantoudúvidassobreacolaboraçãodoseupaiedaSRCcomoregimeiraquiano.Antesdetomarqualquerdecisãoarespeitodoseunovo“cliente”,GeraldBull dirigiu-se ao Ministério belga dos Negócios Estrangeiros para conhecer aposiçãodessepaísperanteoIraque.Apesardasadvertênciasdosdiplomatassobreaquestãode colaborar como Iraque,Bulldecidiu aceitaro convite.Em janeirode1988,Bull e seus filhosviajaramdaAlemanhaemprimeira classe atéBagdánumvoo da Iraqui Airways.No Iraque, os Bull hospedaram-se em luxuosas suítes dohotel Al Rashid. Os seus guias no país seriam Hussein Kamel,[343] genro deSaddamHusseineministrodaIndústriaedaIndustrializaçãoMilitar,eAmirSaadi,oadjuntodeste,queatuariacomointermediárioentreBulleogovernodoIraque.

O primeiro ponto de discussão foi o canhão GH N-45 austríaco de que osiraquianossesentiammuitoorgulhosos.KamelqueriasaberseBullpodiaprojetaroutro com asmesmas características,mas autopropulsado.Durante essa visita, osiraquianos também se mostraram muito interessados no programa HARP. Em

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marçode1989,MichelBullvoouparaWashingtonafimdeinformaroGabinetede Controle de Munições (GCM) dos Estados Unidos da intenção da SRC dealteraralgunsaspectosdaartilhariairaquiana.Oquenãodissefoiqueaempresadoseu pai tinha previsto construir um canhão capaz de pôr em órbita pequenossatélitesdecomunicações.OsfuncionáriosdaGCMresponderamaMichelquenãoacreditavamquehouvesse algumproblema sobretudodepoisque a guerra entreoIrãeoIraqueacabasse.[344]

Emabrilde1989,GeraldBullregressouaoIraqueemquatroocasiõesereuniu-sevárias vezes com diplomatas da embaixada iraquiana em Bruxelas. O que ocanadense não sabia é que o Mossad já seguia seus passos. Ainda que a GCMpermitisse a ajuda de Bull no desenvolvimento e modernização da artilhariairaquiana,nemIsrael,nemseuprimeiro-ministroYitzhakShamir,nemomemunehNahum Admoni o consentiriam. O programa acordado entre Gerald Bull e ogoverno de Saddam Hussein receberia o nome de “Babilônia”. Ao voltar paraBruxelas, Bull comunicou aos seus filhos que o ditador havia aceitado assinar ocontratocomaSRCporumvalorde20milhõesdedólares,masMicheldisseaopai que a colaboração da SRC com os iraquianos provocaria “sérias reações emmuitoslugaresdomundo”.CertamentequeofilhomaisnovodeGeraldBulltinharazão. Israel não permitiria que ninguém ajudasse o Iraque a desenvolver umarmamentoquenofuturopudesseserusadocontraele.[345]

A decisão adotada fez com que o Projeto Babilônia se tornasse um programa“altamentesecreto”,easpessoasenvolvidasconheceriamapenasumapequenapartedele.SomenteGeraldBulleosaltoscargosiraquianossaberiamdodesenvolvimentodo“supercanhão”.[346]Nomêsdenovembro,oIraqueassinouocontratocomaSRCparaamodificaçãodoGHN-45austríaco,eGeraldBull tornou-seumalvodoKidon.

OProjetoBabilônia estavadividido emduas fases: aprimeira, conhecida como“Pequena Babilônia”, tratava da construção de um canhão, com esse nome, quetinha uma longitude de 52 metros, montado sobre carris; e a segunda, “GrandeBabilônia”, consistia na fabricação de outro de 155 metros e com um pesoaproximado de 2.100 toneladas. Só a recâmara pesaria aproximadamente 180toneladasecadaumdosquatromecanismosdaculatra,porvoltade60.O“GrandeBabilônia”deviasermontadonumfossodemaisde31metrosdeprofundidade.

A determinação de Gerald Bull de executar o Projeto Babilônia provocou asprimeirasdiscórdiasnasuafamília.MichelalegavaquedesenvolversemelhantearmaemplenocoraçãodoOrienteMédioporiaemsérioriscoosmembrosdafamília.OmaisnovodosBulltalvezcomeçasseapensarnasrepercussõesqueadecisãodeseu

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pai teria em países como Israel. Stephen alegava que a construção de semelhantearmanãopassariadespercebidaparamuitosequeporventuraosproblemasquelhescausariafaziamcomquenãovalesseapenaorisco.OcertoéqueGeraldBullnãoquisouvirnenhumdosconselhoseseguiuadiante.Osseusfilhosoacompanhariamna aventura,mas só se o engenheiro canadense aceitasse criar uma nova empresadedicadaapenasadesenvolveroProjetoBabilônia.Dessemodo,MicheleStephenacreditavamqueosisraelenses(oMossad)eosnorte-americanos(aCIA)perderiamo rastro da empresa fabricante do “supercanhão” e deixariamde vigiar a SRCdeBruxelas.

Anovaempresa,AdvanceTechnologyInstitute(ATI),radicadaemAtenas,seriaaresponsávelportudoqueestivesserelacionadocomoProjetoBabilônia.Aindaqueas operações da ATI fossem conduzidas na capital grega, a Space ResearchCorporation (SRC) e vários dos seus altos executivos em Bruxelas eram os quecontrolavam o projeto, e os israelenses sabiam disso. Finalmente, a ATI viu-seobrigadaainstalarumadelegaçãoemBruxelas,aapenastrêsruasdasededaSRC.Um dos primeiros a ser recrutados foi o britânico Christopher Cowley, umespecialistaemengenhariametalúrgica.Empoucosmeses,Cowleyassumiuopapelde conselheiro de Gerald Bull, até esse momento representado pelo seu filhoMichel.Comooprojetonãoavançava,BullresolveudespedirCowleyeentregarocomandoda empresanovamente ao seu filhoMichel, que semudara com toda afamíliaparaoCanadá.Enquanto se tornava a sombradopai, passou a adverti-loconstantementesobreosperigosquepoderiaimplicarparaelesodesenvolvimentodoProjetoBabilônia.Emagostode1989,oprotótipojátinhasidoconstruídonumlocalsecretoqueoMI6britânicoidentificoucomoJabalHamrayn,acercade125quilômetrosaonortedeBagdá.Esteeraumaescalamenordo“supercanhão”,quedeviacomeçaraserconstruídonosprimeirosmesesde1990.Oprimeirotestefoirealizadoemdezembrode1989,quandoos iraquianos lançaramomíssilbalísticoAl-Abid.

OgovernodeSaddamHussein explicouque erapara tentarpôr emórbitaumsatélite projetado pelo cientista canadense Gerald Bull.[347] Dois dias depois,chegouaTelAvivumrelatórioprocedentedoskatsadaUnidade504,informandoquesetinhadetectadoumaforteexplosãonumazonaaonortedoIraque.Otextodoespiãoisraelenseindicavaqueosiraquianostalvezpudessemestaràsvoltascomtestesnuclearesdebaixonível.AquiloserviudealertaaAdmoni,quesolicitouumareunião urgente com o primeiro-ministro Shamir. Se o Iraque conseguissecapacidadenuclear,eraevidentequeIsraelficariaemperigo.

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Duranteoencontroentreopolíticoeoespião,Shamirdeixoubemclaroque,sedescobrisse quem estava fornecendo armamento e tecnologia para armas dedestruiçãoemmassaaSaddamHussein,nãohesitarianemumpoucoemativaroKidonparadetê-lo.

No final dessemês, oMI6 descobriu que a Trebelan, uma empresa espanholacom sede em Vitória, estava fabricando peças para um “supercanhão”. O MI6alertouentãoaoCESID,aespionagemespanhola,paraqueinvestigasseaempresaeos seus diretores.[348] Também a empresa alavesa Forexsa (Forjas ExtrudidasSociedade Anônima), além da Trebelan, ambas pertencentes ao grupo IMG(InternationalManufacturingGroup)ecomligaçõesdiretasnacapitalkuwaitiana,através do grupo KIO, forneceu grandes quantidades de armamento ao Iraque.Entre esse material destacavam-se uma fábrica de obuses, possivelmente para oscanhõesAl-Fao(Forexsa),cápsulasdebombasequinhentoscartuchosdemuniçãodeartilharia(Trebelan).[349]

O serviço de inteligência britânico (MI6) decidiu alertar todas as agências deespionagem de países aliados, entre elas o Mossad, sobre qualquer componentesuscetível de ser usado numa grande peça de artilharia ou material destinado aqualquer outro uso militar. Essa grande operação foi batizada com o nome de“Berta”emhonraaograndecanhãousadopelosalemãesduranteaPrimeiraGuerraMundial.

Em pouco tempo, os serviços de inteligência de outros países começaram adetectareaparalisarenviosdestinadosaoregimedeSaddamHussein.Emjaneirode 1990, o SISDE[350] italiano conseguiu deter um envio de quase noventatoneladasdehardwareparausomilitardestinadoaoIraque.Emfevereirodomesmoano, o Serviço Estratégico de Inteligência[351] suíço paralisou, no aeroporto deGenebra, dois grandes contêineres com uma grande quantidade de componenteseletrônicos com destino a Bagdá. O Serviço Federal de Inteligência[352] alemãolocalizou, emmaio de 1990, dezessete contêineres commaquinário destinado aoIraque.OsequipamentostinhamsidofabricadospelaempresabelgaRexroth,umadivisãodagigantealemãMannesmann.AcompanhiaalemãalegouqueomaterialtinhacomodestinoumafábricapetroquímicadoIraque.Aindaassim,oBNDnãopermitiuasaídadocarregamento.

Entretanto, Nahum Admoni decidira enviar para o Iraque um dos seus maisexperienteskatsa,MichelRubiyer.Fazendo-sepassarporum jornalista francêsdojornal Le Figaro, o agente do Mossad aterrissou em Bagdá com a intenção decontactar um repórter britânico de origem iraniana chamado Farzad Bazoft. O

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homem de 31 anos de idade trabalhava como colaborador para o jornal TheObserver.[353]

Rubiyer vivera muitos anos na França, até que decidiu voltar a Israel para sejuntar às Forças de Defesa Israelenses. Especializou-se em coletar sinais deinteligência como escutas, interceptação de comunicação e coisas do gênero.Finalmente,foirecrutadopeloMossadedestacadoparaaestaçãodeParis.

RubiyerdisseaBazoft,duranteoseuprimeiroencontro,queelepoderiaserpagopor ajudá-lo em algumas histórias que estava investigando para o Le Figaro. OagentedoMossaddesejavaqueBazoft lhedesse informaçõessobreumamisteriosaexplosãoocorridaemAl-Iskandariah,umabasemilitarasessentaquilômetrosaosulde Bagdá. O jornalista do The Observer tinha se interessado anteriormente pelodoutorCyrusHashemi,executadopeloKidonemjulhode1986.Apartirdeentão,o iraniano foi se transformando em um dos maiores especialistas em obterinformaçãosobreáreasproibidasdoIraque.[354]

Algumas semanasdepois,Bazoft foidetidopelo serviço secreto iraquiano,assimcomoasuanoiva,DaphneParish,umabritânicade51anosquetrabalhavacomoenfermeiranumhospital.Imediatamente,AdmoniordenouaochefedoMossadnosEstadosUnidosqueentrasseemcontatoextraoficialmentecomosiraquianoselhespropusesseumatroca.Okatsa comunicouaumdiplomata iraquianonaHolandaque só lhes interessava o homem. O governo da Grã-Bretanha que pressionasseSaddamHusseinpelalibertaçãodesuacidadã.Apartirdaquelemomento,oqueoMossadfizerafoiexporFarzadBazoft.OsiraquianosjánãotinhamdúvidasdequeojornalistadoTheObservertrabalhavaparaosisraelenses.

Em15demarçode1990, o embaixadorbritânico emBagdá visitouBazoft naprisãodeAbuGrahib, vintequilômetros aoesteda capital.Odiplomatadisse aojornalista que o governo de Margaret Thatcher estava pressionando SaddamHussein para conseguir a sua libertação. Minutos depois de o diplomata sair daprisão, os iraquianos tiraramBazoft da cela, levaram-no para um pátio interno eenforcaram-no. A notícia da morte de Farzad Bazoft circulou rapidamente pelasredaçõesdetodososmeiosdecomunicaçãodomundo.Um sayandoMossademNovaYorkentregouumasériededocumentosàrededetelevisãoABCemqueseafirmava que o regime de Saddam Hussein tentava produzir urânio enriquecidonuma fábrica secreta. A informação “fabricada” pelo Mossad era realmenteconvincente.Segundoela,háapenastrêsmeses,nodia5dedezembrode1989,osiraquianos teriam lançadoummíssilbalísticochamadoAl-Abid.Comoexplicaçãodiante das organizações internacionais, Bagdá alegou que omíssil era um satélitedesenvolvidoporumcientistacanadense.OMossadsabiaqueatentativaforaum

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fracasso,masagorausariamissocontraSaddam,porterexecutadoBazoft.NahumAdmoni, por sua vez, sabia que mais cedo ou mais tarde Saddam HusseinconseguiriaumaarmacapazdeatingiroprópriocoraçãodeIsraelseoMossadnãopudesseevitar.

NamesmaépocadadetençãodeFarzadBazoft,GeraldBullestavadesenvolvendoe produzindo o “supercanhão” iraquiano, o Projeto Babilônia.Na tarde de 9 demarço, a secretária de Bull informou-lhe que dois homens, que se identificaramcomo“velhosamigos”docanadense,tinhamvindovisitá-lo.Naverdade,osrecém-chegadosaosescritóriosdaSpaceResearchCorporation(SRC)nacapitalbelgaeramDavid Biran, intermediário principal do Mossad, e Ron Vintrobe, chefe doGabineteIraquianonoquartel-generaldoMossad.

BiraneVintrobeeramosmesmosquetinhampostoGeraldBullemcontatocomossul-africanos,quandoogovernosegregacionistadePretóriadesejavamodernizarsuas peças de artilharia de longa distância. Bull redesenhou o G-5 155 mm e oautopropulsado G-6 155mm.[355] O departamento psicológico de espionagemisraelense,aunidadeLAP(acrônimodeLohamahPsichlogitouGuerraPsicológica),estudou a posição de Bull e analisou o seu caráter. As conclusões foramdeterminantesparaavisitadeDavidBiraneRonVintrobe.

Numdosseusparágrafosexplicava-sequeBulltrabalhavasobfortepressão,oquelheprovocavacontínuosataquesdeestresse.Aquilotornariamaisdifícilconvencê-loa abandonar o projeto de desenvolvimento de armas iraquianas. Nem sequeracreditavamqueameaçasanônimasàsuasegurançaservissemdealgumacoisa.FoiBiranquemgarantiuaomemunehquetentariaconvencê-loaabandonaroprojeto.Admoninãoestavamuitoconvencidodoresultadodavisita.Nodiaanterior,tinhaatéconversadocomoprimeiro-ministroYitzhakShamirparacogitarapossibilidadedeoferecerdinheiroaGeraldBullparaqueeledesistissedoProjetoBabilônia.Oduro político israelense rejeitou a proposta. Se Bull não abandonasse o plano dedesenvolvimentobélicoiraquiano,seriaoKidonquemlhefariamudardeopinião,masessadecisãonãoseriatomadaatéseesgotaremtodasashipóteses.

OsdoisagentesisraelensestentaramconvencerGeraldBulldetodasasmaneiraspossíveis.Vintrobeatédisseaocientistacanadensequeelesnãopoderiamgarantirasuasegurançaseeledecidisseseguiremfrente.

MicheleStephenBullcomentaramcomváriosamigosque,desdeaqueledia,seupai estava mais calado e até se recusava a levar algum familiar no seu próprioautomóvel.Michel viu umdia o pai olhando a parte de baixo do carro antes deentrar. Era evidente queGerald Bull sabia quemais cedo oumais tarde o longo

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braço de Israel acabaria por atingi-lo, visto que ele não tinha a intenção deabandonaroProjetoBabilônia.[356]

NodiaemqueFarzadBazoft foiexecutadonaprisão iraquiana,omemunehdoMossad,NahumAdmoni,ordenouoenviodeumaequipedoKidonaBruxelas.Ostrêsassassinosisraelenses,quandoláchegassem,deviamesperarpornovasordens.

Em 16 demarço,Michel R.,Daniel L. e Ran P. entraram em contato com oKaisarut na Embaixada de Israel em Bruxelas. Este lhes indicou um esconderijoondepoderiampermaneceraténovasordensdoYarid.

Em17demarçoàtarde,oYaridinformouMichelquetinhamconseguidoalugarum apartamento em frente ao de Gerald Bull. Dois dos membros da equipe doKidon se mudariam para lá, enquanto o terceiro, responsável pela vigilância,permanecerianoesconderijo.Em21demarçoàtarde,oprimeiro-ministroYitzhakShamirjátinhatomadoadecisãodeexecutarGeraldBullecomunicouomemunehdoMossad.[357]

Nodia22,BullpassouamanhãtodanoseuescritóriodaSRC.Aprimeiracoisaquefezfoi leraofertarecebidapelosEmiradosÁrabesparaaaquisiçãodocanhãosul-africanocriadoporele.Aquilopareciaumaboanotíciadepoisdaparalisaçãodassuas relações comerciais com a China devido às pressões que recebera deWashingtonediversascapitaisdaUniãoEuropeia,apósomassacredeTiananmennoanoanterior.[358]GeraldBulltinhacertezadequeseostestesdosupercanhãoiraquiano fossem bem-sucedidos, sempre poderia reatar as relações com PequimatravésdeBagdá,evitandoassimoscontrolesimpostospelosEstadosUnidosepelaEuropa.[359]

Ao meio-dia, Monique Jaminé, a sua secretária, anunciou a chegada deChristopherGumbley,que foraodiretordaAstraHolding, gigante fabricantedearmas,equeBullqueriarecrutarparaaSRC.Areuniãoseestendeuatéahoradoalmoço.

Depoisdesedespediremedecombinaremumnovoencontroparaumasemanamais tarde,GeraldBull regressouapéà sededaSRC.Nemsequer sepreocupavacomasuaprópriasegurança,apesardeos filhos lheavisarem,assimcomoosseusamigos israelenses, eos iraquianos terem lheoferecidoumserviçodeescolta.Bullignoroutudoisso.

Por volta das 19h15, quando a noite já caíra sobre a capital belga, Moniqueentrou no escritório do seu chefe para avisar que iria embora. Bull pediu queesperasse,poissairiacomela.

Osdoisdesceramdeelevadorechegaramàrua.Ajovemofereceu-separalevá-lopara casa. Bull olhou para o céu e aceitou a oferta. Alguns segundos depois,

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Moniqueaproximava-sedeledentrodeumRenaultStationWagonazul.Fustigadopelo vento gélido,Bull abriu a porta e sentou-se nobancodopassageiro. Pareciafeliz,poispassoutodootrajetoassoviando.MoniquedirigiupelaruedeStalleatéapraçaGeorgesMarlon. Bull semostrava ansioso para chegar em casa.Meia horadepois,oRenaultentravanaavenidaFrançoisFolie,ondeBullmorava.

Aruaestavatranquilaquandooveículoparoudiantedaportadoedifício.Antesde sair do automóvel, a secretária disse a Bull que o assunto da Espanha estavaacertado. Aparentemente, o cientista canadense tinha planejado férias, com a suaesposaMimi,no suldaEspanha,paraomês seguinte.Em seguida, ele se esticoupara beijar a secretária no rosto enquanto empurrava todo o corpo para fora doRenault.

Comumapastanamãoeumavelhamaladecouronaoutra,GeraldBulltentoutirar as chaves da porta do prédio em que morava do bolso das calças. Comdificuldade, introduziupor fimachavenaportadevidroeagirou.Umpequenoempurrãolhedeuacessoaointerior.Bullnãotinhareparadoque,dooutroladodarua,umhomem,DanielL.,faziaumsinalaosoutrosdoismembrosdoKidonquejáestavamládentro.

O alvodirigiu-se devagar para o elevador, cansado e compassos lentos.GeraldBull vivia no apartamento número 20, no sexto andar.Umapequena campainhaindicou-lhequejátinhachegado.MichelR.,ochefedoKidon,esperavanasescadasentreoquintoeosextoandar,casoRanprecisassedeajuda.

Ocanadense aproximava-sedaporta,quando,de repente, as chaves escaparam-lhedamão.Enquantoseajoelhavaparaapanhá-las,pôdeouviratrásdeleumaportase abrindo. Ao procurar com a mão o molho de chaves, Ran P., o carrasco doKidon, disparou com a sua pistola 7.65 mm com silenciador. A primeira vezacertou-lhena cabeça.Abala entroupor trás e saiupela frente, danificandoumapartedocérebro.Asbalasdosegundo,terceiroequartodisparosatingiramapartesuperiorda espinhadorsal e a cervical.O corpodeGeraldBull ficou apoiadonaportacomosedormisse.Antesdedeixarolocal,RanP.apoiounovamenteapistolanacabeçadeleedisparouumquinto tiro.Ocientistacanadense já tinhamorridocomoprimeirodisparo.[360]

UmavizinhadeBull,quemoravalogoabaixodoandardocientista,ouviucincoouseisgolpessecosquenãoconseguiuidentificar.AmulherdecidiusubirequandoentrounocorredorviuocorpodeBull rodeadoporumagrandepoçade sangue.Nosseusbolsosaindatinhaosquase20mildólaresemnotasdecem,oquefezcomqueapolíciabelgadescartasseahipótesederoubo.

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O primeiro a chegar ao apartamento de Bull foi o seu médico particular.Enquantoosegurava,pôdeobservaroscincoorifíciosdebalaqueoamigotinhanapartedetrásdacabeça.Eraevidente,paratodos,queohomemqueajudaraSaddamHussein a projetar o supercanhão tinha sido assassinado por um profissional.Quando, no dia seguinte, o assassinato foi divulgado por todos os meios decomunicação belgas, os três kidon já estavam muito longe dali, embora esta nãofosseaúltimaexecuçãoqueteriamderealizardentrodachamadaOperaçãoZulu.

SeriaaprópriapolíciabelgaquemtelefonariaparaMichelBull,emMontreal,eparaStephenBull,nohotelAlRashid,deBagdá,parainformá-losdequeseupai,GeraldBull, tinhasidoassassinado.Nodia11deabrilde1990,apenasvintediasapósoassassinatodeGeraldBullpeloKidon,oMI6,comaajudadasautoridadesalfandegárias britânicas, paralisouo enviodeumcarregamentopara o Iraquequeconsistiaemváriaspeçasdoqueaparentavaserumcanhãodeenormesproporções.

AindaqueBullnãofizesserealmentepartedaOperaçãoZulu,asuaexecuçãopeloKidon implicou o início de uma vasta série de assassinatos iniciada por YitzhakShamireomemunehNahumAdmoniecontinuadaporYitzhakRabineoseunovomemuneh doMossad, Shabtai Shavit. A “questão doMercúrio Vermelho” estavaprestesaestourar.

No mês de agosto de 1991, as estações do Mossad em Paris e Estocolmoinformaramoquartel-generalemTelAvivquetinhamdetectadoenviosaBagdá,daÁfrica do Sul, de uma misteriosa substância química através de diversosintermediários radicados na Rússia. Os relatórios indicavam que, há vários anos,existiaumanovaarmaqueconsistiaemumabombadefusãonuclear(bombaH),de fabricação mais barata que as “normais” e possivelmente acessível a gruposterroristas, o que a tornava um grande perigo em mãos inimigas.[361] QuandoShabtai Shavit terminou de ler o longo relatório feito pela unidade de assuntoscientíficos da espionagem israelense, decidiu solicitar com urgência uma reuniãocomoprimeiro-ministroYitzhakRabin.

Oqueomemuneh transmitiu aRabinprovocoua ativaçãoda chamadaLuzdoDia no Mossad. Uma bomba daquelas talvez fosse pequena, mais ou menos dotamanhodeumaboladetênis,maspoderiadestruirdezquarteirõesdeprédiosemTel Aviv, Haifa ou Jerusalém. Rabin ordenou então a Shavit que mandasse oMossad reunir todas as informações possíveis sobre o “MercúrioVermelho” e dequemestivesseportrásdasuavendailegal.[362]

Nofinaldesetembrode1991,Shavitpôdeentregarumrelatóriomaisprecisoaoprimeiro-ministroRabin:“OMercúrioVermelhoéobtidoapartirdeumamisturade mercúrio puro e óxido de antimônio de mercúrio. Esse composto, ao ser

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comprimidoporumaexplosãoconvencional,liberariaenergiasuficienteparaqueosátomos de trítio e deutério de um recipiente situado no interior da bomba sefundissem, sem a necessidade de contar com uma bomba de fissão como‘iniciadora’,necessárianasbombasnuclearesconvencionais.Começariaassimumareação em cadeia”, explicava o relatório secreto doMossad entregue ao primeiro-ministro de Israel. No fim do relatório, o serviço de espionagem explicava queexistiam redes anônimas que comercializavam o produto no mercado negro,procedendo na sua maioria da Rússia, onde se fabricariam aproximadamentesessentaquilosporano.Opreçodoquilodo“MercúrioVermelho”estavaentre200mile250mileuros.[363]

OskatsadoMossaddescobriramqueo“MercúrioVermelho”erafabricadodesde1965numcentrodeinvestigaçãosecretoemDubna,pertodeMoscou.MasoquetambémviriamadescobriréquealguémdaÁfricadoSulovinhavendendoapaísesárabes do Oriente Médio. Shavit ordenou então à estação do Mossad emJoanesburgoque investigassequemestavaoferecendoo“MercúrioVermelho”.Naprimeira semana de novembro, os agentes do Mossad em Moscou começaram aenviaraoquartel-generalinformaçõescadavezmaisprecisassobreessanovaarma.

“Onegóciodo ‘MercúrioVermelho’estásendocontroladoporgruposmafiososcomalgunsmembrospróximosdogovernodopresidenteBorisYeltsin”,garantiam.OskatsainformaramtambémqueváriasfontestinhamindicadoqueomaterialeraenviadoàÁfricadoSuledaí,pormeiodeintermediários,aoIrã,aoIraque,àLíbiaouaoPaquistão.[364]

Shabtai Shavit ordenou então à estação do Mossad no país africano queconseguisse a lista de intermediários que faziam parte da “Conexão Sul-Africana”usadapelosrussos.AsprimeiraspistasconduziramosisraelensesatéumacorporaçãobritânicachamadaThorChemicalseaumdosseusmaisaltosexecutivos.

Alan Kidger, de 48 anos e abundantes cabelos brancos, pertencia a essa classeempresarialquemoraembairrosdeluxo.Casadocomumadeslumbrantebrasileira,o sul-africano era o diretor de vendas internacionais da Thor Chemicals.Rapidamente, a estaçãodoMossad informouTelAvivque tinham identificadooprimeiroalvo.

Nessa mesma noite, o primeiro-ministro Yitzhak Shamir autorizou ao seumemunehaativaçãodeumesquadrãodoKidon.Shavitlevantouofoneeinformouaooutrointerlocutorqueaordemtinhasidodada.Em11denovembrode1991,oskidonseguiamdepertoumpossanteBMWdecorazul-metálicoquecorriaatodavelocidadepelaestradaqueligaPretóriaaJoanesburgo.

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Omotorista não percebera que estava sendo seguido a pouca distância por umcarro Volkswagen preto, no qual viajavam quatro agentes israelenses. Numsemáforo,ocarrobateudelevenoBMWparaforçaromotoristaadescer,masosexecutoresdoMossadnãocontavamcomainsegurançaemqueopaísviviaháanos.Kidgernãotinhaamenorintençãodesairdocarroparaverificaroqueacontecera.Quandoosemáforoficouverde,oBMWseafastouvelozmentecomoalvodentro.

Osegundoautomóvel,umFordverdeconduzidoporumagentedesegurançadeoperações da Metsada, arrancou e conseguiu localizar novamente o veículo deKidger num pequeno engarrafamento. Através de um canal de transmissão, oisraelense informouopontoexatoemqueoBMWestavaencurralado.Numaruasemnome,AlanKidgerviu comoumcarropretoo fechoupela frente, enquantoumFordverdeofaziaportrás.

DoishomensarmadoscomBerettassaíramdocarroeobrigaramoexecutivosul-africanoaacompanhá-los.UmterceiroagentedoKidonsepôsaovolantedoBMWeseguiuoVolkswagen.

Seis dias depois, dois garotos negros encontraram um BMW azul metálicoestacionado à beiradeuma autoestradanos subúrbiosde Joanesburgo.Depois decomprovarem que o alarme não estava ligado, decidiram levá-lo até uma área doSowetopara ficaremcomo sistemade som.Longedeolhares indiscretos,osdoisjovens começaramadesmontaros alto-falantes epara isso abriramoporta-malas.Com horror, descobriram no interior um tronco humano envolvido em plástico.Alguémlhecortaraaspernas,osbraçoseacabeça.

Apolíciasul-africanapensouaprincípioquepoderiaserumassassinatoinspiradoem algum ritual zulu, visto que essa etnia corta as extremidades do corpo dosinimigosparaque,quandomortos,nãopossamcaminharparaooutromundo.Porfim, os médicos-legistas descobriram que o corpo era de Alan Kidger, chefe devendas da Thor Chemicals.[365] Durante dois anos, o Serviço Nacional deInvestigação Criminal da África do Sul manteve aberta a investigação sobre oassassinato de Kidger, mas, finalmente, em janeiro de 1993, encerrou-aformalmentesemterdescobertoosresponsáveis.

Nessemesmomês,aestaçãodoMossadnaÁfricadoSulinformouTelAvivquetinham detectado um encontro entre traficantes de armas sul-africanos e várioscidadãosiranianos.Peloqueparecia,eramintermediáriosenviadospeloHezbollah.O intermediário entre eles eraWynand vanWyk, um dosmelhores engenheirosquímicosdaÁfricadoSuleumdosmaioresespecialistasdomundoem“MercúrioVermelho”.EletambémfaziapartedoperigosocírculodeamizadesdeAlanKidger.Nodia18deabrilde1993,VanWykdecidiuorganizarparaseusilustresvisitantes

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umaviagemdelazeràturísticaCidadedoCabo.Alisehospedariamnumdoshotéismaisluxuosos.[366]

Justamente uma semana antes, a milhares de quilômetros da África do Sul,Shabtai Shavit pedira autorização ao primeiro-ministro de Israel, o trabalhistaYitzhakRabin,paraacionarumaequipedoKidon.Nanoitede19deabrilde1993,oengenheirosul-africanosetornariaoterceiroalvodoKidondentrodaOperaçãoZulu.

Aomeio-dia,apósumfrugalalmoçocomosiranianos,osul-africanocomeçouase sentir mal. Ao chegar ao hotel, as dores misturavam-se com uma espécie desonolênciaquequaseoimpediadefalar.Eraevidentequealguémlhepuseraalgonacomida.Namanhãdodia20deabril,osvisitantesiranianosimpacientavam-senarecepçãoenquantoesperavamporWynandvanWyk.Elehavialhesprometidoumpasseio para poderem observar de perto os temíveis tubarões-brancos,mas o sul-africanonãoapareceu.Desconfiados,avisaramasegurançadohotel.Aochegaremàsuíte,encontraramVanWyknu,debarrigaparabaixo,amordaçadoecomasmãose pernas atadas atrás das costas.Alguém entrara durante a noite no seuquarto e,depois de prendê-lo, o espancara até amorte.Omédico-legista descobriu, após aautópsia,quealgumsádicotinhalhequebradoosprincipaisossosdocorpocomumobjetocontundente.Osagressorestinhamabandonadoolocaldocrimesemseremvistos.[367]

Exatamente um ano depois, o memuneh do Mossad, Shabtai Shavit, precisavanovamentedaautorizaçãodoprimeiro-ministroRabin.Doisnovosnomestinham-sejuntadoàlistadealvosdaOperaçãoZuluquetiverainícioapósoassassinatodeGeraldBull.Oprimeiro alvodoKidon seriaDonLange,um traficantede armassul-africano,comrelaçõesestreitascomaLíbiaeoIrã,aquemtentavavenderumapequenaremessade“MercúrioVermelho”.

Lange era conhecido nos ambientes homossexuais de Joanesburgo.Oskatsa doMossad tinham conseguido, enquanto o vigiavam, tirar fotografias dele emintermináveis sessões sadomasoquistasnumlocaldeGreenPoint,umsubúrbiodaCidadedoCabo.

Na noite de 6 de junho de 1994, Lange entrou em contato com um jovemaustralianoquedisseterchegadoàÁfricadoSulparapraticarsurfe.Naverdade,ojovem era Ariel L., um executor do Kidon. Don Lange convidou-o a ir à suaelegante casa, situada num bairro exclusivo de Joanesburgo.Dois dias depois, namanhã de 8 de junho, a central de emergências do Departamento da PolíciaMetropolitana recebeu uma chamada de Dora Kalunda. Com uma forte crise

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nervosa,amulherinformavaum“suicídio”numaresidênciadeumbairroexclusivodebrancos.DoratrabalhavaháanosparaDonLange.

Aprimeirapatrulhachegouàcasaporvoltadasnovehoras.Quandoosagentesentraramnaresidência,descobriramotraficantedearmasvestidocomumaroupadelátexpretoecomumsaconacabeça.Desta,saíaumtuboqueestavaligadoaumrecipientedegásdecianeto.Oficialmente,emboraaspistasindicassemmaisquesetratava de uma execução ou um assassinato, as autoridades encerraram o casodeclarandoqueDonLangetinhasesuicidado.

Ummêsdepois, em22de julhode 1994, o esquadrãode assassinos doKidondecidiufazerumavisitaaDirkStoffberg,otraficantedearmasquenopassadoseenvolvera no obscuro assunto do Irangate, que implicou altos funcionários daadministraçãodopresidenteRonaldReagan.StoffbergherdaraosnegóciosdoseuamigoLangecomiranianoselíbios.

Shabtai Shavit conseguira convencer Rabin para que autorizasse a execução deStoffberg, apesar das objeções iniciais do político trabalhista. Os israelensesconheciamasestreitasrelaçõesdaAgênciaCentraldeInteligêncianorte-americanacomotraficantedearmas,eYitzhakRabinnãodesejavateraCIAcomoinimiga.

Na noite de 22 de julho, três executores do Kidon entraram na residência deStoffberg,subiramasescadasatéoandarsuperioredirigiram-seaoquartonofinaldocorredor.Parasurpresadeles,aesposadeDirkStoffberg,queestavanacozinha,apareceu de repente. O primeiro agente israelense reagiu disparando com a suaBerettacomsilenciadornacabeçadamulher.Osegundokidonentrounoquartoe,depoisdeseposicionaraoladodacama,apoiouaarmanacabeçadohomem,queestavadormindo,edisparouduasvezes.Aprimeirabala,nacabeça,matou-ologo.Asegundaentroupelabocaesaiupelanucaatétranspassaracabeceira.Quandofoiassassinado,otraficantedearmasnegociavaummisteriosoenvioparaTeerãatravésda Namíbia e de Angola. O Mossad acreditava que se tratava do enigmático“MercúrioVermelho”.

DirkStoffberg,oquintoalvodaOperaçãoZulu,foiexecutadoquasequatroanosdepoisdoassassinatoemBruxelas do engenheiro canadense Gerald Bull por membros do Kidon, a subunidade de assassinos daMetsada.

Stephen Bull declarou à polícia belga, após o assassinato de Gerald Bull, que seu pai sabia que seriaassassinado pelos israelenses, se prosseguisse com o projeto “Babilônia”, ou pelos iraquianos, se oabandonasse.Esse testemunhofoi reproduzidopelo investigadorJamesAdamsemseu livroBull’sEye:TheAssassinationandLifeofSupergunInventorGeraldBull.

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Y itzhak Shamir lia atentamente um relatório que oMossad havia lhe passadosobreRobertMaxwell.Àsuafrente,estavasentadoomemunehShabtaiShavit.

Horasdepois,opróprioShavitteriaumareuniãocomosaltoscargosdoMossademque sedecidiriaodestinodeumdosmais importantesmagnatasda imprensa.Orelatóriosobreomilionáriovinhailustradocomváriasfotografias,assuasmedidas,onomedos seusmédicos,dos seus familiares,dos seus amigos,dos seus inimigosetc. Também havia vários cartões codificados que davam acesso à residência deMaxwell.Numapequena pasta do “relatórioMaxwell”, redigido por um shicklut,um funcionáriododepartamentode escutasdoMossad especificavaque todososdias os membros da segurança de Maxwell faziam inspeções de microfones naresidência,noiateenosdiferentesescritóriosdomagnataespalhadospelomundo.Também mostrava que todos os cartões de segurança codificados eram trocadostodos os dias. Robert Maxwell gostava de ler o relatório sobre a sua segurançadurante o café da manhã.[368] Um analisador espectral detectaria qualquermicrofone ou escuta colocado pelo Mossad ou por qualquer outra agência deespionagem,pormaissofisticadoquefosseoequipamento.

Toda a informação sobre o magnata tinha sido guardada em pastas e cadaexemplarcolocadoordenadamentesobreagrandemesadeconferênciasnoquartel-general do Mossad. À misteriosa reunião assistiriam o diretor de operações; oresponsávelpeloYarid,odepartamentoresponsávelpelasegurançadasoperaçõesdoMossadnaEuropa;oresponsávelpelaMetsada,aunidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad;ochefedoCNT,ogabinetecentraldoMossadnaEuropa,quechegaradasedeemHaia;osquatromembrosdoKidon,quedeveriampôroplanoemação;eumassessorlegaldoMossad.

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Shavit,omemuneh,aindadespertavasuspeitasentreosmembrosmaisantigosdoInstituto.ChegaraaoMossadháapenasumano,parasubstituirNahumAdmoni,depoisdetersidoumeficazkatsanaEtiópia,emPariseemWashington.[369]

Ele foi o primeiro a falar.Odiretor-geral dirigiu-se aos presentes e, após umasbreves palavras introdutórias sobre o tema a tratar, duas perguntas ficaram no arnaquele ambiente pesado. Se o Kidon eliminar Maxwell, quem será o bodeexpiatório? E a segunda: se descobrirem que o Mossad matou Maxwell, de quemodoistoafetaráIsrael?Desdeesseprecisomomento,odebateficouabertoentreosnovehomensque se sentavamem tornodaquelamesa.AOperaçãoTycoon[370]acabavadeseraberta.

NascidoAbrahamLeib,naaldeiadeSlatinskeDoly(Tchecoslováquia),nodia10dejunhode1923,esétimofilhodeMecheleHanna,RobertMaxwellera,desdeoprimeiro minuto do seu nascimento, um autêntico mistério. Este mistério oacompanhariaatéodiadasuamorte,68anosdepois.

Omeninocresceunamaisrígidanormareligiosa,entreosjasidimeosabat.Essefoi o ponto culminante da sua vida familiar. Curiosamente, quando os pais domagnata decidiram registrá-lo, o funcionário tcheco acrescentou o nome de Jan.Nos anos seguintes, Robert Maxwell se apresentaria como Jan Abraham Ludvik.[371]

O próprio Maxwell definiria perfeitamente, anos mais tarde, o seu sentimentojudeu:“Aminhafamíliaeeuéramosjudeuspraticantes.AcreditoemDeus,oDeusdeIsrael.Acreditonosensinamentoséticosdojudaísmo.Adoroeadmiroadevoçãodo meu povo pelo estudo da Torá. Definitivamente, considero-me judeu. NascijudeuemorrereijudeuseomeuDeusassimodesejar”.[372]

Curiosamente, o que os nove homens do Mossad reunidos naquela sala emsetembro de 1991 iam decidir, era o castigo que imporiam a Maxwell por terprejudicado muitas pessoas que partilhavam desse mesmo sentimento pelojudaísmo. Para o próprio Shavit e até para o duro primeiro-ministro de Israel,YitzhakShamir,RobertMaxwelldera, emmuitasocasiões,oportunidades, atravésdos seus meios de comunicação, àqueles a quem interessava reavivar oantissemitismo.Paraomemuneh,RobertMaxwellsimbolizavaacalúniadequenãosepodeconfiarnumjudeu,masomaiscuriosodetudoéquenessamesmareuniãodenovehomenssempiedade,essateoriaseriaconfirmada.

AsfestividadesjudaicasmaisimportantesmarcaramainfânciadeMaxwell,desdeoBarMitzvahaoYomKipur,doSukotàHanukah.Agrandedepressãoeuropeia,aRepúblicadeWeimar,aascensãoequedadeAdolfHitleredoseuReichdos“Mil

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Anos”marcariamaprópriaambiçãodeMaxwelleo levariamafalarfluentementeatéoitoidiomas.

OskatsadeShabtaiShavit sededicaramdurante anos adesenterrar asmentirasqueacompanhavama românticabiografiaqueoprópriomagnatacriaraemtornodesi.Porexemplo,RobertMaxwellexplicavaàBBC:“Abordaram-menumaruadeBudapeste emdezembrode 1939para queme alistasse nomovimento tcheco deresistêncialocalquecombatiaosnazisnacidade.Eutinhaapenas16anos,masdisseter19parapodermejuntaràluta”.OMossadsabiaquenaquelaépocanãoexistiaumaresistência tchecaemBudapeste, simplesmenteporquenessaalturanãohaviasoldadosalemãesnacapitalhúngara.

A espionagem israelense sabia que Maxwell chegara em 1940 ao porto deMarselha,ondesealistaranaLegiãoTchecaantesdeembarcarparaLiverpool.Nomesmo relatório que Shabtai Shavit distribuíra aos assistentes, reuniam-se váriasdeclarações do próprio magnata feitas a companheiros judeus da Legião Tcheca.Numadelas,Maxwell expressavao seuódiopeloscompanheiros tchecosdequemouviraexpressõescomo“Estesjudeusnosmeteramnaguerra”ou“Quenosimportaoquelhesaconteça?”.Maxwelllimitava-seapenasasorrir;afinal,agoraencontrava-senaGrã-Bretanha,umaterradeoportunidadesparaele,mesmoemplenaguerra.Nessaaltura,MaxwellvoltaraamudardenomeparaJanHoch.[373]

Durantetodaaguerra,RobertMaxwelldedicou-seatentarperderoseusotaquecentro-europeuemtrocadeoutroabsolutamentebritânico.Istotambémfariapartedodisfarcequeoprópriomagnataestariaconstruindoparao futuro.Anosdepoisexplicaria: “Nãodemoreiameacostumaraosvaloresecostumes,à linguagemeàcondutadosingleseseimitei-osdeimediato,adotandoassimorefinamentoquemefaltava”.[374]

Shavit continuou a relatar, com certo sarcasmo, asmentiras deMaxwell diantedosseusoitointerlocutores.Emnovembrode1943,omagnataenviouumacartaàDivisãodeInfantariaexplicandoquefalavaalemãoetinhaexperiênciaemcombate.Nãosónenhumadasduasinformaçõeseradetodocorreta,comoatéassinouacartacomoLeslieduMaurier,oseuquintonomedepoisdeAbrahamLeib,JanAbrahamLudvik, Jan Ludvik e Jan Hoch. Em junho de 1944, depois de participar dasegunda fase do desembarque da Normandia, onde foi promovido a sargento,começou a se autodenominar Leslie Jones. Antes de cumprir os vinte anos e serpromovido a alferes, alguém lhe tinha dito que Jones não era um sobrenomeapropriado para um oficial e cavaleiro do Exército de Sua Majestade. No diaseguinte,eleapresentou-seaodepartamentoderegistroemudou-opelasétimavez,

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agoraparaIanRobertMaxwell.Apartirdessemomento,paraorestodomundo,ofuturomagnatadaimprensaseriaconhecidosimplesmentecomoRobertMaxwell.

AsegundareuniãoparadecidirofuturodeMaxwellfoirealizadanumesconderijoda rua Pinsker, em pleno centro de Tel Aviv. No dia anterior, dois técnicos daApam(AvtahatPaylutModienit),aunidadeencarregadadasegurançadasoperaçõesdoMossad, entraramno edifício de escritórios.Umdos katsa tirou um aparelhoparecido com um controle remoto e apertou um botão. Uma porta corrediçamoveu-se, abrindo caminho para um grande salão. O apartamento tinha sidomobiliadocomobjetosusados,cadeiras,algunsquadroseumtapetefornecidopeloexército.Emcadaquartohaviaduascamaseumtelefone.Nacozinha,umalinhadesegurança ligava-se a um potente computador portátil, um fax, um cofre, umageladeiraeumatrituradoradepapeldealtavelocidade.[375]

Todas as janelas do apartamento ficavam constantemente fechadas.Os técnicosdaApampassavamumtipoderastreadoreletrônicoemformadeantenaportodososcantos.Desdeasparedesedebaixodasmesasetapetesatéoschuveiros.Durantesemanas,oapartamento tinha sidousadoporestudantesdaacademiadoMossad,mas,depois,foramatéproibidosdeseaproximaremdelesobameaçadeexpulsãodoserviço de espionagem. Naquele mesmo lugar, quatro membros do Kidon, asubunidadedeassassinosdaMetsada,decidiriamodestinodeRobertMaxwell,ou,piorainda,seMaxwelldeviaviveroumorrer.

Victor Ostrovsky, antigo membro do Kidon, relata no seu livro By Way ofDeception: “AprimeiracoisaqueumaequipedoKidontinhade fazereraanalisarcom perfeição o seu ‘homem’, ou seja, seu estilo e seumodo de vida.Como elereage numa determinada situação, o que o afeta, o que não o afeta. Só então sepodia formar ummembro”. Para isso, umdos kidon tinha se instalado num dosquartosdoapartamentocomoúnicoobjetivode analisar todosos vídeos sobreoalvo;reportagens,entrevistas,notíciasrelacionadasaeleoucomoseunegócioetc.

As imagens que o Kidon via nomonitor seguiam os passos domagnata desde1959,quandodecidiudarosaltoparaapolíticanoPartidoTrabalhista.ConseguiuumlugarnoParlamento,masem1970,quandoseapresentouàreeleição,perdeu.Osnoticiáriosdas televisõesbritânicasmostravamumhomemdesesperado comaderrota,arrasado.Aquelehomemdeaçoapareciaaosprantos,decabeçabaixa.[376]Okidon soube que este era um sinal de fraqueza e queMaxwell era uma pessoainstável,comfortesaltosebaixoseclarossinaisdedepressão.

Nasimagensseguintes,via-seummagnatarenascidodascinzas,graçasaofatodetersalvadoaBritishPrintingCorporationdaruína.RenasceucomonomeMaxwellCommunications Corporation. Três anos depois, adquiriu o Mirror Group

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Newspapers, tornando-se assim um personagem assíduo nos noticiários dastelevisõeseumrostoconhecidoentreospoderosos.[377]

Umanovaimagemmostrava-oostentandoriqueza,porexemplo,experimentandoumaroupadegrifeemSavilleRow,dentrodeumRolls-Royce,ouacompanhadopor um séquito de ajudantes e secretárias.Outro desses sinais era a comida.Umrepórterdeumaemissoradesconhecidaentrevistava-oenquantoomagnataengolialagosta,caviariranianoesalmão,tudoissoregadoavinhosantigos.

Depois acendia um charuto enquanto garantia ao jornalista que fora o próprioFidelCastroquemostinhaenviado.

Okidon seguia de perto as imagens deMaxwell, tomando notas em diferentespastas.Traçospsicológicos,modosdeagir,propriedadesetc.Outrokidonanalisavaoimpério empresarial. Londres, Hungria, Bulgária, Moscou, África, Israel, EstadosUnidos ou Canadá eram sedes de um conglomerado de empresas com nomesdifíceisdepronunciar:LineNominees,Sindron,CamberryLegionstyle,Visa-foodMagna Cell e coisas do tipo. Ao todo, o kidon pôde detectar até quatrocentasempresasdivididasemmaisdeumadúziadepaíseseparaísosfiscais.[378]

Maxwelltinhaesquematizadoháanosumaestratégiaqueconsistiaemesconderasenormesperdasdealgumadassuasempresasaqualquerumquequisessexeretarnosseuslivroscontábeis,incluindoosseusfilhos,IaneKevin.Okidonqueanalisavaaredeempresarialinformousobreagrandehabilidadequeeletinhaparadisseminarpistasfalsasoubarreirasdesegurançacomrespeitoàsaúdefinanceiradealgumadassuasempresas.EramdignasdoMossad,chegouadizerShabtaiShavit,omemuneh.

Derepente,umnomechamouaatençãodokidon.Elepegouotelefoneinstaladono apartamento e discou umnúmero de quatro dígitos.Do outro lado da linha,umavozindicou-lheumprédioemTelAvivesualocalização.Duashorasdepois,oassassinodoMossadestavanoquartodeumgrandehotelfalandocomumhomemqueseocultavanassombras.

“Detectamos um nome que poderia violar a segurança da operação”, disse okidon. “Ao analisar a Citex Corporation,[379] descobrimos que o seu diretorisraelenseéofilhodoprimeiro-ministroYitzhakShamir.”Curiosamente,ohomemocultonassombrasordenouaoagentequevoltasseaoapartamentoeredigisseumrelatóriosobreasligaçõesentreopróprioShamireMaxwell.

As relaçõesentreasduas famíliascomeçaramnomesmodiaemqueomagnatapisou em Israel. Este, a ponto de chorar enquanto orava diante do Muro dasLamentaçõesemJerusalém,prometeuaohomemquetinhaa seu ladoque fariaopossívelparaprotegerIsraeleoqueelesignificava.Aquelehomemeraoprimeiro-

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ministroYitzhakShamir,omesmoqueautorizariaaexecuçãodeRobertMaxwellpelosmembrosdoKidon.

Shamir segurou o braço deMaxwell tentando confortá-lo.Nessamesma noite,enquantojantavam,uniram-senumaaliançaentrepúblicaesecreta.Shamirchegoua confessar ao magnata o seu antiamericanismo, que remontava até os anosanteriores à Segunda Guerra Mundial. Segundo o poderoso líder israelense,Roosevelt deveria ter chegado a um acordo econômico comHitler para que estepermitisse a saída dos judeus da Europa, mas os Estados Unidos não o fizeram,permitindoqueHitlereos seushomensassassinassemquase6milhõesde judeus.[380]Nodiaseguinteàquelejantar,Maxwellreuniu-secomaelitedasfinançasdeIsrael e prometeu torná-los ricos. No meio de tanto alarido, só um homempermaneceu em silêncio, nas sombras. Nahum Admoni, o então memuneh doMossad.Elepreferiaesperareanalisarosfuturosacontecimentos.

AindaselembravadavisitadeMaxwellaIsraelem1988edojantaroferecidoemsua honra. Haim Herzog, presidente de Israel, Yitzhak Shamir, líder do Likud,Shimon Peres, líder dos trabalhistas, Ido Dissentjik, editor do jornal Ma’ariv, eYa’akov Niman, o prestigiado advogado que ajudou Maxwell a entrar nasherméticasfinançasdeIsrael,estavamentreospresentes.Tambémhaviaalialgunshomensquenãoviamcomtãobonsolhosaquelequeafirmavachegarcomodesejode salvar Israel. Admoni lera, na noite anterior ao jantar, o “relatório DegemComputers”,emqueMaxwellnãosaíacommuitoboaimagem,masodiretor-geraldoMossadpreferiunãodizernadaaninguém.

MaxwelltinhaadquiridoaDegemComputers,umacompanhiacomsedeemTelAviv que desenvolvia software. Os seus clientes eram principalmente países daAméricaCentraledaAméricadoSul.JásobadireçãodeRobertMaxwell,aDegemcontinuou a dar cobertura ao Kidon, que identificava os seus agentes comovendedores da empresa. Uma das divisões mais ativas era a de Nairóbi, que erausadapelaMetsadaparapôrfimaosataquescontragruposestabelecidosnaÁfrica,comooCongressoNacionalAfricano(CNA).Váriosdosseusmembrosapareceramamarradosaárvoreseabandonadosemplenaselvaenquantosangravam.ApolíciadeparquesnacionaisdoQuêniaencontrouváriosdelesdevoradosporanimais.[381]

OKidoncolocouumabombanoquartodeumemissáriodeYasserArafatqueseencontraria com um enviado doCNA emBrazzaville (Congo).Como represália,umkatsadoMossadfoisequestradoporumgrupoguerrilheiro,que,depoisdelheamputarasmãos,oatirouvivonorioLimpopo.Asua lutadesesperadacontraoscrocodilosquetentavamdevorá-lofoifilmadaeafitaenviadaparaaEmbaixadadeIsraelnaÁfricadoSul.Doisdiasdepois,oquartel-generalguerrilheirofoipelosares

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com 450 quilos de dinamite, provocando a morte de dezenas de homens.[382]Nessaoperação,oKidontrabalhouemconjuntocomoBOSS,oserviçosecretosul-africano.

AlistaelaboradapeloKidonsobreasobscurasrelaçõesdeMaxwellcontinuavaacrescer comnomesde financistas pouco recomendáveis.Entre eles, constava odeSemiónYukovichMoguilevich,umimportantemembrodamáfiarussa.SegundooMossad, Moguilevich estava envolvido em sérias negociatas financeiras, masMaxwellabrira-lheasportasdograndebancointernacionalemGenebra,nas ilhasCaimã, no Oriente Médio e na África. Misteriosamente, foram entreguespassaportes do Estado de Israel a Moguilevich e a outros vinte membros do seubando. Também Edmond Safra,[383] o banqueiro multimilionário, mantiveraestreitasrelaçõescomMaxwell,comomesmointuitodetirarsãosesalvososjudeusdaRússia.

DuranteumaviagemdeMaxwellaIsrael,elefoiconvocadoparaumamisteriosareunião que seria realizada na sua suíte do hotelKingDavid.Dela participariamShimonPeres,NahumAdmoni,doMossad,eumassistentedopolíticotrabalhista.

Ostrêsinteressavam-sepelaproximidadedasrelaçõesdoempresáriocomacúpulasoviética.Desde1978,RobertMaxwellestabelecerafortesligaçõescomoKremlin,em pleno apogeu domandato de Leonid Brezhnev, e tinha conseguido reunir-secom todos os membros importantes do poder soviético. Um desses contatos eranadamais, nadamenosqueopoderosoVladimirAlexandrovichKriuchkov,[384]presidentedoKGB.DepoisdeouvirPeres,Maxwell dirigiu-se aos trêshomens elhesprometeuquetrariatodososjudeusdaUniãoSoviéticaparacasa.

OempresárioaindaselembravadaspalavrasqueRafiEitan,chefedaunidadedeoperações especiais doMossad, aMetsada, lhedissera vários anos antes: “Anossatarefaé fazerhistóriaedepoisocultá-la.Emgeral, somoshonrados, respeitamosogovernoconstitucional,aliberdadedeexpressãoeosdireitoshumanos.Masdepoistambém percebemos que nada pode ser um obstáculo ao que fazemos”.Indubitavelmente, aquelas palavras converteram-se no primeiro mandamento deRobertMaxwell,tantonasuavidaprivadacomonaempresarialenaquecomeçariaaserviçodeIsrael.

Antesdedeixarasuíte,Admonipropôs-lhequesetransformassenohomemcapazdeabrirqualquerportaaoMossad,equelhesfacilitasseapassagemparaaveriguartodas as informações impossíveis de alcançar para o serviço de espionagemisraelense.

O primeiro encontro entre Maxwell e Kriuchkov teria lugar em Lubyanka, oquartel-generaldoKGBemMoscou.Estavaprevistoqueareuniãonãodurariamais

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doque45minutos.Naverdade,durouduashorasemeia.Entrecafésebrandy,opoderosoKriuchkovdeclaroudiantedoseuconvidado:“OcamaradaMaxwellseráumbomamigodestepaís”.Nofimdareunião,opresidentedoKGBchamou,aoseu gabinete, o coronel Viacheslav Sorokin, membro da Direção de InteligênciaExterior, e o incumbiu de um estudo detalhado sobre Robert Maxwell, com aintenção de recrutá-lo.[385] Mais tarde, num relatório a Kriuchkov, o próprioSorokinconsiderouqueoúnicoinconvenienteparafinalizarorecrutamentoeraotempo que seria necessário. Era evidente que osmétodos usados pelo KGB pararecrutarosseusagentesestrangeiros,comoachantagem,osubornoouacoação,nãofuncionariamcomMaxwell.VladimirAlexandrovichKriuchkovdeuaordemestritade não fazer nem dizer nada que o empresário pudesse interpretar como umaameaça contra Israel ou contra os judeus que ainda estavam naUnião Soviética.ParafomentaraconfiançadeMaxwellemKriuchkov,epoderassimserrecrutadopelo KGB, o Kremlin começou a emitir vistos de saída até Israel a um grandenúmerodecidadãosjudeus.MuitosdestescomeçaramachamarMaxwelldeMoshe,onomehebraicodeMoisés,quetambémtinhaconvencidoumtiranoa libertaropovodeIsrael.[386]

Noiníciodomêsdeoutubrode1991,doisdosagentesdoKidonconseguiramreunir grande quantidade de informação sobre o seu alvo. Os dados foramintroduzidosnumgrandecomputador,nabasedaMetsada,nocoraçãododesertodo Neguev. Os outros dois membros da equipe de carrascos do Mossad tinhamvisitadoLondres para garantir pessoalmente asmedidas de segurança domagnataenquantoeleestavanacapitalbritânica.

Uma vez em Israel, o chefe doKidon enviouum relatório detalhado a ShabtaiShavit, o chefe doMossad.O sótão da residência deMaxwell era uma autênticafortaleza.Oandardebaixo,emquedirigiaosseusnegócios,tinhaomesmograndesecretismoeconfidencialidadequearesidêncianoandardecima.Orelatóriocomdados,númerosepontosdevistadoKidonespecificavaalocalizaçãodeumgrandecofreinstaladopelaprestigiadaempresainglesaChubb,assimcomooutrasmedidasdesegurança.Porexemplo,todososcomputadores,aquesóMaxwelltinhaacesso,podiamserligadosunicamenteatravésdetrêssenhasquesealteravamdiariamenteeumaidentificaçãoderetina.[387]

Shavitcontinuoua leratentamenteorelatório.Numdossiêdenãomaisdetrêspáginas,oKidonfaziaumestudodetalhadodosótãodeRobertMaxwell,projetadopeloprestigiadodesigner de interiores australiano JonBannenberg,[388] omesmoque,em1986,seencarregaradadecoraçãodoiatedomilionário,oLadyGhislaine.Apesardobomgostodoaustraliano,osótãopareciadecoradomaisporMaxwelldo

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quepelopróprioBannenberg.Tapetesvermelhos,móveisdefibradevidropintadoseimitandomadeira,ecoisasdogênero,eramatônicageral.ShabtaiShavitpensouque seria um bom cenário para pôr seu plano em ação, assim que o Mossadconseguisse as plantas que, era quase certo, Jon Bannenberg teria guardado emalgumlugar.

Entretanto,oMossaddecidiraestabelecerum sayanno interiorda residênciadeMaxwell, que dependeria de Ya’akov Barad, um especialista katsa do Mossadpertencente à Embaixada de Israel emLondres. Barad operava com o disfarce deterceirosecretáriodoadidocomercialnadelegaçãodiplomáticaisraelense.Soboseucomando estavam cerca de 2 mil sayanim dispostos a deixar tudo para ajudar oMossadaqualquermomento.[389]

RobertMaxwellmudava de vez em quando de pessoal, em parte devido à suadoentiaobsessãodequetodososseusempregadoseramespiõesempotencial.Essaprática, que seria supostamente um inconveniente, se transformou, para Barad,numaoportunidadeúnicaparaintroduzirumsayannaorganizaçãodeMaxwell.

UmasemanadepoisdeseradmitidonaresidênciadeMaxwell,osayancomeçouaenviar informações a Ya’akov Barad na Embaixada de Israel sobre os hábitos domagnata e os seus gabinetes particulares, assim como a rotina do pessoal quetrabalhavaparaele.Desdepontos importantes,comoa localizaçãodascâmerasdesegurança de circuito fechado, a outros quase insignificantes, como a mania doempresário de não usar papel higiênico,mas pequenas toalhas de algodãopara selimpar.Uma das tarefasmenos gratificantes de Juliet e Elsa, as duas empregadasfilipinas,eraaderetirarestastoalhaselavá-lasnamáquinadelavarroupas.[390]

QuandoosdoiskidonchegaramaLondres,okatsadoMossadjátinhapreparadoumminuciosorelatóriosobreRobertMaxwell.Aindatinhaqueserdecididoondeexecutariam o plano. A equipe de assassinos israelenses estudou o helicópteroAerospatial335queomagnatausavaparairaLondres,assimcomooshábitosdopiloto, Richard Crowley, e os dois aviões, umGulfstream-4 e umGulfstream-2.Ambosos aviões estavamestacionados emFarnborough, apoucosquilômetrosdeLondres.Não foi preciso que os dois kidon os inspecionassem. Bastava entrar napáginadaGulfstream[391]naInternetparatirarosdadostécnicosdosmodelos.OMossadconheciatambémoshorárioseoshábitosdeSimonGrigg,ocamareiroqueviajavasemprecomMaxwell,edeCarinaHall,acomissáriadebordo.

Os dois alvos seguintes do Kidon seriam o Lady Ghislaine, o luxuoso iate queMaxweltinhacompradoparao irmãodeAdnanKhashoggiporquase18milhõesdeeuros,eamansãoquetinhaemOxfordshire.OMossadconseguiraasplantasdoiateatravésdeumkatsanaHolanda.[392]

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Dias depois, dois homens caminhavam tranquilamente, como se acabassem desairdoescritório,pelaruaBograshovemdireçãoàruaPinsker,ondeosesperavamoutrosdois.OsquatroformavamaequipedeexecutoresdoMossadescolhidosparaplanejar o assassinato de Robert Maxwell. Os kidon eram um grupo de eliteexclusivo,emcujaopiniãoaquelemagnatasetornaraumaameaçatãograndeparaoMossad e para a segurança do Estado de Israel que deveriamorrer.[393] Restavaapenas, segundo o antigo katsa do Mossad e ex-membro do Kidon, VictorOstrovsky, “traçar um plano para realizar o que parecia ser impossível. Isso faziapartedamagiadoskidon”.

As relações de Maxwell não só chegavam ao presidente do KGB, VladimirKriuchkov, mas também ao chefe do serviço de espionagem húngaro, KalmanCocsis,eaotodo-poderosochefedaStasi,aprincipalorganizaçãodepolíciasecretaedeinteligênciadaRDA,MarkusWolf.[394]

Duranteosanos1980,RobertMaxwell,queomundointeirojáconheciacomo“o embaixador itinerantedoMossad”, ajudou a espionagem israelense a vender oprograma de software Promis a vários serviços de inteligência do mundo. NaHolanda,oBVDutilizou-oparaseguirorastrodasatividadesdamáfiarussa,queenviavaarmasedrogasatravésdoaeroportodeSchipol;oBNDalemãousou-oparaseguirapistademateriaisnucleares“extraviados”daUniãoSoviética;naFrança,aDGSEusouoPromispara identificar terroristas que entravamnopaís vindosdonorte da África; na Espanha, o CESID o usou para vigiar os movimentos deterroristasbascos;naGrã-Bretanha,oMI5outilizouparaseguirosmovimentosdosmembros do IRA quando passavam a fronteira entre a Irlanda do Norte e aRepúblicadaIrlanda;emHongKong,oMI6fezusodosoftwareparacontrolarosnegócios dasmáfias chinesas na colônia britânica; no Japão, oNaicho o utilizouparainterceptarascomunicaçõesentreaYakuzaeosseusassociadosnaCoreiadoNorte e na China; na Polônia, o UB fez uso do programa para espiar osmovimentosdoslíderesdosindicatoSolidariedade.[395]Naverdade,oPromiserauma espécie de alçapão, um “Cavalo de Troia” ou “porta traseira” para que oMossadpudesseseinfiltrarnascomunicaçõesesistemasmaissofisticadosesegurosdasagênciasdeespionagemdomundo,eMaxwellovendeuatodasessas.

O empresário também cooperou na venda de armas ao Irã, que levou aoescândaloIrangate.RobertMcFarlane,conselheirodopresidenteRonaldReagan,oalmirante John Poindexter e o tenente-coronel Oliver North, do Conselho deSegurançaNacional,usaramoMossaddeNahumAdmonicomo intermediário,eesteusouMaxwell.Aideiaerafornecerarmaspolonesas,dequalidadeinferior,aosiranianos,paraasuaguerracontraoIraque.Esteapoioclandestinofacilitaria,sem

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dúvidaalguma,alibertaçãoderefénsnorte-americanosdasmãosdoHezbollah.Otrabalhodomagnatafoipôrosisraelensesemcontatocomospoloneses,atravésdassuasexcelentesrelaçõescomoKGB.Cobroupelotrabalhoumacomissãopróximados8milhõesdedólares.

Maxwell fez também misteriosas viagens à China para vender alta tecnologiaisraelenseaoExércitoPopularChinêsporordemdoMossad,incluindooprogramaPromis.

Nãorestavaamenordúvidadequeosconhecimentosqueomagnata tinhadasoperações clandestinas do Mossad poderiam transformá-lo em alguém muitoperigososealgumdiaeledecidissevoltar-secontraIsrael.Essediapoderianãoestarmuitolonge.

John O’Neill,[396] o chefe do FBI em Nova York, declararia pouco depois:“Algunsdos sóciosdeMaxwell estavammetidos comdrogas, armas e assassinatospagos, que poderiam somar até quinhentos por ano. Também se dedicavam aocontrabando demetais preciosos e à falsificação.Tinham ligações como exércitorusso.Qualquerbanqueirorussoquenãocumprisseassuasordenssabiaoquepodiaesperar: que lançassem uma granada no seu carro. Um ataque desses podia sercombinado por apenas duzentos dólares. Quem os contrariasse não tinhaescapatória.Poderiam segui-lo atéo fimdomundo.As suasoperações abarcavammeiomundo”,explicavaO’Neill,“naGrã-Bretanhafaziamlavagemdedinheiro.NaSuíça,amesmacoisa.NaItália,traficavamdrogasepessoas,basicamentemulheresparaaprostituição.NaBélgicaenaAlemanha,vendiamcarrosroubadoselavavammaisdinheiro.NaAlbâniaenaPolônia,dedicavam-seà fraude,aarmasedrogas.Maxwelldemonstroucomoumaredeobscuraecomplexadesociedadesfictícias,aocomandode umgrupo, podiamovimentar dinheiro por todo o planeta.QuandoNovaYork se tornouo alvodos grupos criminosos doBlocoLeste e percebemoscomofuncionavam,nosfoipossívelpartirdomodelodeMaxwell”.[397]

Os primeiros problemas financeiros dos grupos Maxwell CommunicationsCorporation (MCC) e Mirror Group Newspapers (MGN) foram detectados naprimavera de 1990. Através dos executivos da Goldman Sachs, decidiu-se pôr àvenda ações de ambas as empresas, inflacionando o preço de modo abusivo.Maxwell sabia que assim que começasse o fluxo de venda das ações, este já nãoparariae,dessemodo,obteriadinheirolíquidoparapodercontinuarainvestiremoperaçõesdealtorisco.Paradarmaiorcredibilidadeàoperação,Maxwell,atravésdetrês sociedades nas Ilhas Virgens, em Gibraltar e no Liechtenstein, comprou,secretamente,milhõesdetítulosparamostrarapossíveisinvestidoresqueaprocuraeramaior que a oferta. Enquanto aquela operação fazia as ações do grupoMCC

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subirem de valor, Maxwell não teve problemas, mas estes surgiram quando omagnatapôs,comoavalparaconseguirmaiscréditosbancários,asaçõessemvalorque adquirira de forma secreta das próprias empresas. Os juros dos créditos jáconcedidosaRobertMaxwellcontinuavamasubireasubir,vertiginosamente.

Apressãofezcomqueomagnatadecidisseroubarosseusprópriosempregados.Paraisso,começouatirargrandessomasdedinheirodofundodepensãodosseus24milempregadosdaMGN.

Maxwelldava sinaisdeestarcadavezmaisobcecadocomapossibilidadede serassassinadoporalguém,atépelopróprioMossadoupelaCIA.AmisteriosamortedeAmiranNir, umdosmais importantes intermediários na questão do Irangate,nãofezmaisdoqueaumentarasuamaniadaperseguição.Nirforaconselheirodecontraterrorismo do então primeiro-ministro, o trabalhista Shimon Peres, e umamigoíntimodeRobertMaxwell.

Com o passar dos meses, o magnata começou a mostrar uma atitude bastantedoentia.Negou-se a assistir a uma recepçãodopríncipeCharles, a um jantar emDowningStreeteaumareuniãoinformalnaresidênciaparticulardopresidentedaCâmara de Londres.Queriamostrar aos seus possíveis “perseguidores” que podiamudar de ideia de repente, dificultando sua vigilância. Para essas datas, asamortizaçõesàsquaistinhadefazerfrenteaproximavam-sede415milhõesdelibrasesterlinas ao ano. Maxwell, portanto, pediu novamente à Goldman Sachs quepusesseàvendaoutrolotedeações,masosbanqueirospropuseram-lhequevendesseoseu.Sefizesseisso,adesconfiançaseapoderariadomercado,porissoelepropôsàGoldman Sachs que voltasse a comprar todas as ações para ele. Maxwell pagariapessoalmente a comissão, e desse modo todos ganhariam. Para fazer com que asações que compraria da Goldman Sachs fossem valorizadas, o empresárioprovidenciouumregistrofinanceiroquegarantiaavendadeduasempresasdoseugrupopor120milhõesdelibrasesterlinas.AsaçõesdaMCCdispararam,incluindoas de Maxwell, mas, quando a Goldman Sachs tentou transferir as que tinhaadquirido ao magnata, este se fez de desentendido e começou a adiar para nãocomprá-las.Porfim,aquelepapelnãovalianada.[398]

Paratentarsairdoburacoemqueseencontrava,RobertMaxwellcontinuouaseafundaremareiamovediçaaoconvencerogovernobúlgaroapedirumcréditoaoFundo Monetário Internacional (FMI) de 132,4 milhões de dólares. O magnatapropôsaosbúlgarosque, seo fizessem,assimquechegasseodinheiro, ele tratariapessoalmentedereduziradívidaexterna.Naverdade,oqueprecisavaeraficarcom86milhõesdedólaresdos132,4queoFMIemprestariaàBulgária.

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Em julhode1991,Maxwell tornou-seumalvo importantedoMI5 edoMI6,devidoàs relaçõesestreitas comVladimirKriuchkoveoKGB,nummomentodegrande desestabilização na União Soviética. A ordem de colocá-lo sob vigilânciachegoudiretamentedeSirColinMcColl, o “C”[399]doMI6, aomesmo tempoque a ordem do governo deMargaret Thatcher. Entretanto, o sayan introduzidopeloMossadnaMaxwellHousecontinuavaainformarosseuschefesemTelAviv.

Emfinaisdaqueleverãode1991,aGrã-BretanhaeosEstadosUnidosentraramemrecessãoeabolsadoJapãocomeçouasuaquedavertiginosaatéoburaconegroda falência.Os investimentosdoOcidentenaRússiadeGorbachevnãodavamoresultado esperado, enquanto a situação continuava a agravar-se no Cáucaso. AnecessidadedopresidenterussodeconseguirfundosquaseoconduziuàvendadasIlhas Curilas[400] ao Japão por 24 bilhões de dólares. Entretanto, o primeiro-ministro Yitzhak Shamir continuava a pressionar Maxwell para que este lhegarantissequenenhumgrupoterroristaconseguiriaomaterialnuclearquepudesseserusadoparadestruirTelAvivouqualqueroutracidadedeIsrael.Seguramente,Maxwellnãotinhaaresposta,masoseuerrofoicontinuaragarantiraShamireaShabtai Shavit, o diretor doMossad, que naRússia estava tudo tranquilo.O seugrandeamigo,VladimirKriuchkov,eumgrandegrupodemilitaresefuncionáriosdo Partido Comunista preparavam um golpe de Estado contra Gorbachev. Emjulhode1991,asaçõesdeMaxwellnaMCCtinhamcaído60%doseuvalor.

No mês de setembro, Robert Maxwell começou a dar os primeiros sinais dealarme ao Mossad sobre a sua situação financeira cada vez mais instável, mas aespionagem israelense estavaocupada coma iniciativadepaz comospalestinos ecomagrandeconfusãoemquetinhamsemetidocomaAlemanha.Aparentemente,apolícia tinhaconfiscadoumcarregamentodearmasqueseriamcontrabandeadasparaIsrael.OenviofoiorganizadopeloBND,aespionagemalemã,violandoassimaleifederalqueproibiaAlemanhadeenviarmaterialbélicoaumpaísemestadodeguerra. Shabtai Shavit enviou, para solucionar o conflito, um especialista oficial,Efrayim Halevy, o mesmo que, sete anos depois, seria nomeado memuneh peloprimeiro-ministroBenjaminNetanyahu.

Na segunda-feira, dia 22 de julho,Maxwell recebeu a notícia de que o recém-criadoRobertMaxwellGroup (RMG) seria declarado insolvente se não recebesseemquestãodehorasumainjeçãode50milhõesdelibras.Namanhãdeterça-feira,dia 23,Maxwell e seu filhoKevin conseguiram levantar o dinheiro,mas este eraapenasumpequenoremendoparaumagrandeteiaquesepartiapoucoapouco.

Em Tel Aviv, tanto Shamir como Shavit mostravam-se preocupados com asnotíciasquechegavamdeMoscou.OsseuskatsainformavamqueKriuchkovtinha

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reuniões na Lubyanka até altas horas da noite com personalidades como Yazov,ministro daDefesa, ou Yuri Lukianov, presidente do Soviete Supremo. ValentinPavlov, o primeiro-ministro, anunciava publicamente que a saúde de Gorbachevestavasedeteriorandocadavezmais.Shavittemiaqueelepudesseserassassinado.

Poucodepois,opróprioMossaddescobririaqueRobertMaxwellesteveapardogolpedeEstadocontraMikhailGorbachevequeteveváriasreuniõessecretascomVladimirKriuchkov, aténo iateLadyGhislaine, semavisaroMossadouShabtaiShavit. O memuneh podia ignorar qualquer excentricidade de Robert Maxwell,afinaleleconseguiainformaçõesvaliosasparaainteligênciaisraelense,masorganizarum golpe deEstado numpaís como aRússia já era outra história.Nesse precisomomento,ShabtaiShavitsoubequeMaxwellhaviasetransformadonumperigorealeinstávelparaasegurançadoEstadodeIsraele,porconseguinte,paraoMossad.

Em15deagostode1991,oprestigiadojornalFinancialTimespublicouanotíciadequeaGoldmanSachspossuíaaquantiade143milhõesdeaçõesdaMCCcomogarantia de créditos ao magnata Robert Maxwell. Isto foi a machadada final aoinstável impérioMaxwell.Nodia seguinte, os banqueiros faziam fila em frente àcasadeMaxwellparareclamarosjurosdosempréstimos,queseaproximavamdos415milhõesdedólaresanuais.Poroutro lado,osbanqueiros israelensesnãoeramtão otimistas como os seus colegas britânicos e fizeram com que Shavit soubessedisso.Estava claropara amaioriaque, seRobertMaxwell caísse, cairiamcomelemuitascabeçaspoderosas.

Em18deagosto,àsnovedanoite,tocouotelefoneparticulardeShabtaiShavit.Seurostoficoupálido.Dooutroladodalinhaalguémlheinformavaque,háapenastrêshoras,umgrupodeimportanteslíderestinhadadoumgolpedeEstadocontraMikhailGorbachev.Efetivamente,porvoltadasseisdatarde,enquantodescansavanasuadatchacomafamília,GorbachevviuYuriPlejanov,umoficialdoKGB,doladode fora,acompanhadoporumaunidadede forçasespeciaisdoMinistériodoInterior. Logo a seguir percebeu o perigo e correu ao telefone para ligar para oKremlin.Alinhaforaconvenientementecortada.SeriaoprópriochefedoEstado-MaiordeGorbachev,ValeriBoldin,quemlheinformariadasituaçãocomoenviadodorecentementeautoproclamadoComitêdeEmergênciadoEstadoquereuniaosgolpistas.[401] Boldin pressionou Gorbachev para assinar o documento queautorizavaodecretodoEstadodeExceçãoe,porconseguinte,atomadadecontroledoexércitodetodaaRússia.Gorbachevnegou-se,permanecendopreso,enquantoosoficiaisdoKGB lhearrancavamamaletacomoscódigosnucleares.OerrodolíderdoKGBedogolpe,VladimirKriuchkov,foiodenãoprenderdeimediatooslíderesdaoposição,dirigidosporBorisYeltsin.Estes se fortaleciamnoedifíciodo

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Parlamento enquanto faziam circular a notícia de que precisavam que as pessoassaíssemàsruasparaseoporemaogolpedeEstado.[402]

Namanhãdodia21,oterceirodogolpe,osconspiradoresestavamescondidos.BorisYeltsindeuaordemdeprendertodoseenvioutropasespeciaisàdatchaparapôrMikhailGorbachevasalvoepermitiroseuregressoaMoscou.

RobertMaxwellmanteve-senumsegundoplanoatéteracertezadodesenlacedogolpedeEstado.Emseguida,começoualançarparaasprimeiraspáginasdosseusmeios de comunicação dura artilharia contra os golpistas, muitos deles antigossócios seus em negócios obscuros. Shabtai Shavit e os altos oficiais do Mossadcomeçaram a pensar que posição Israel tomaria se Gorbachev descobrisse queMaxwell estava por trás do golpe ou, pelomenos, que tinha conhecimento dele.Yahalomin, a unidade de comunicações do Mossad, afirmou que havia sidoinformada sobre um telefonema do primeiro-ministro búlgaro, Andrei Lukanov,para oLadyGhislaine. Ao que parece, ele tentou convencerMaxwell a intercederjunto aGorbachev para que pusessemKriuchkov em liberdade.Maxwell não feznadaaesserespeito.

Cansado e pressionadopor todos os lados, omagnata tornava-se cada vezmaisperigoso.Via-se entre dois pagamentos que devia efetuar semdemora, umde 60milhões de dólares à Goldman Sachs e outro de 755 que tinha subscrito emempréstimosparasalvaraMCC.[403]Masosbanqueiroseoscredoresnãoeramosúnicos que se juntariam à longa lista de perseguidores de Robert Maxwell. Amilharesdequilômetrosdali,Zvi,Efraim,UrieNahum,osquatrokidon,tiveramaterceirareuniãonoapartamentodaruaPinskerparadecidirodestinodomagnata.Eraoutubrode1991.

Numapáginadogrosso“dossiêMaxwell”apareciauma informação interessantequemostrava o hábito domagnata em automedicar-se deHalcion eXanax, doissoníferos potentes. Uri leu com atenção e pediu ao departamento científico doMossadumaanálisedetalhadadosdoismedicamentos.Diasdepois,okidon tinhasobrea suamesa,numenvelope fechado,orelatórioqueprecisava.“Osprimeirosefeitos colaterais doHalcion foramdetectados num trabalho chamado ‘Protocolo321’ realizado em1972, emque 28 reclusos tomaramHalciondurante 42 dias”,explicavaorelatóriodoMossad.“Deacordocomolaboratório,onúmerodecasosdeansiedadeenervosismo,comoconsequênciadoHalcion,foramquatro,ehouvemais dois incidentes de paranoia. Mas as verdadeiras conclusões do trabalho(quarenta casos de ansiedade e sete reclusos com paranoia), ocultas no relatórioapresentado à FDA, foram descobertas por Ian Oswald, professor emérito depsiquiatriadeEdimburgo”.[404]

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O segundo medicamento que Maxwell ingerira sem nenhum controle era oXanax,pertencente aogrupodasbenzodiazepinas,queatuamcomo receptoresnocérebro.OmagnatatomavagrandesquantidadesdeXanaxparaconseguirreduziraansiedade e poder regularizar o sono. A bula indicava que o medicamento tinhaefeitoscolateraisequesuasupressãodeviasefazerdemodogradual.Sesedeixassede tomá-lo bruscamente, provocaria comportamentos anormais, confusão,ansiedade,depressão,alteraçõesnervosasecoisasdogênero.

Depois de ler o relatório, o kidon introduziu o documento novamente noenvelopeeanexou-oaodossiê.AquelerelatóriotalvezfosseachaveparaaaçãoqueoKidonlevariaacabocontraRobertMaxwell.ApreocupaçãoprincipaldoslíderesdoMossadera,agora,quenãovazasseaexistênciadeumaconspiraçãoparamatá-lo.Seissoacontecesse,poderiaprovocarumaquedadogoverno.[405]Osquatrokidonpassaram por alto os imprevistos políticos que pudessem surgir e que levariam àruínatodooplanejamentodaoperação.UridisseaosoutrosassassinosdoMossadquedeviamtrabalhareplanejá-lacomosefossemexecutá-lanodiaseguinte.

No esconderijo da rua Pinsker respirava-se tranquilidade. Também na sede doMossad.MasessatranquilidadefoiquebradaquandoumkatsadaestaçãodeNovaYorktelefonouparaoseuintermediárioeinformouqueduranteumjantaralguémtirara um exemplar de um livro intitulado The Samson Option: Israel’s NuclearArsenalandAmericanForeignPolicy,escritopelofamosojornalistaSeymourHersh.Num dos capítulos, estava descrito como o magnata Robert Maxwell tinhadenunciadoMordechaiVanunuaoMossad.[406]OutradasinformaçõesqueHershrevelounoseumagníficolivrofoiaperigosarelaçãoMossad-Maxwell-CasaBranca.Isso implicava umduro golpe, não só para a inteligência israelense,mas tambémparaopróprioEstadodeIsraeleosseusaltosdirigentes,emespecialparaYitzhakShamireShimonPeres.

Nas altas esferas doMossad começou a se espalhar uma epidemia de pânico ealguémtelefonouparaoapartamentonaruaPinskeredeuaumdoskidonaordemde “alerta vermelho”, anterior à de “LuzdoDia”, o estadode alertamáximodosagentes dos serviços secretos israelenses. Emmeio à tormenta que se aproximava,RobertMaxwell, pressionadopordezenasdebanqueirosque exigiamadevoluçãodosempréstimos,telefonouparaShabtaiShavitpedindoaajudadoMossadoudeIsraelparaconseguirasomade400milhõesdelibrasesterlinasquenecessitavaafimdecobriroprimeirorombonagrandeteiaqueserompia.Shavitdisseaomagnataquenadapodia fazerequeoMossadnãodispunhadecapacidade financeiraparaajudá-lo.Comisso,omemunehdavaaRobertMaxwellapunhaladafinal.Maxwell

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jáerapassado.UmnovotelefonemaparaoapartamentonaruaPinskerpôsaequipedoKidonem“LuzdoDia”.

Osquatrokidondispuseram-seapreparartudoparaoataqueaoalvo,incluindoassuas identidades apoiadas por passaportes franceses. Os quatro se passariam poramigosquepartilhavamogostopelapesca.Um sayan emMadrialugou-lhesumapotenteembarcaçãoqueosesperariaancoradanoportodeLasPalmasdasCanárias.Yahalomin, a unidade de comunicações do Mossad, e o Yarid, departamentoresponsávelpelasegurançadasoperaçõesdoMossadnaEuropa,trataramdeapoiaraequipedekidonquetinhadechegaràEspanha.Tudodeviaestarpreparadoebempreparado.

Em30deoutubro,chegandodeumvooprocedentedeZurique,quatrohomensdesembarcaramno aeroporto deLasPalmas à espera de novas ordens.Os quatrokidonfaziampartedaequipedeelitedaMetsada,aunidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad.Entretanto,nosétimoandardoedifíciodaavenidaKingSaul,quartel-general do Mossad em Tel Aviv, já havia instalada uma sala de operações paracontrolarosmovimentosdoskidon.

Maxwell esperava encontrar-se a bordo doLady Ghislaine com alguém do altocomandodoMossad,naesperançadereceberos400milhõesdelibrasesterlinasqueprecisava para remediar as finanças.Omagnatamostrava-se otimista diante dessaperspectiva. Em Gibraltar, o capitão Gus Rankin supervisionava o mais ínfimodetalhedoiateantesdachegadadograndechefe.

RobertMaxwellderainstruçõesaRankinemrelaçãoàrotaquedeveriaseguiratéoLadyGhislaine. Ilha daMadeira, SantaCruz deTenerife, IlhasCanárias e, emseguida,NovaYork.OmagnataqueriapassaroNatalnacidadedosarranha-céus,abordodoiate.

Em31deoutubro,às11h30,oGulfstreamdeMaxwell sobrevoavaacidadedeCádiz, descendo até o pequeno aeroporto de Gibraltar aos pés do imponentepenhasco.Aochegaraocais,MaxwellestavademuitobomhumorquandoavistouoLadyGhislaine,comosseus55metrosdecomprimentoenovedelargura,comassuasquinhentastoneladasquepodiamserdeslocadasaumavelocidadededezessetenós.Oiatetinhaumaautonomiadenavegaçãodecercade5.120quilômetrossemterquevoltaraencherostanquesdecombustível,comumacapacidadepara78millitros.Noseuinterior,contavacomumasaladecontroleeoutradecomunicaçõesdotada comasmaismodernas tecnologias, oúltimo computador IBM, três faxes,um sofisticado sistema VHF e um receptor e emissor de alta frequência.[407]Segundoodiáriodebordo,RobertMaxwellentrounoLadyGhislaineàs13h15dodia31deoutubroparaaquelaqueseriasuaúltimaviagem.

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Às13h30,oiatenavegavajáentreosnaviosdeguerrabritânicosrumoaoEstreitodeGibraltar,emdireçãoaoAtlântico,atéaIlhadaMadeira.Nessemomento,emLondres,osbanqueirosdaGoldmanSachs,daLehmanBrothers edaSwissBankCorporation (SBC) reclamavam ver Maxwell para lhe exigir a devolução dosempréstimos concedidos. O empresário esperava ansiosamente chegar à Ilha daMadeira para ter notícias dos 400 milhões de libras esterlinas que o Mossadsupostamentelheemprestaria.AdívidadaMaxwellCommunicationsCorporation(MCC),naquele31deoutubrode1991,chegavaaos2bilhõesdelibrasesterlinas.

EnquantooLadyGhislainecontinuavaanavegar,nasIlhasCanárias,quatrokidonesperavamordensdeTelAviv.Asenhaparaentraremaçãoera“Tycoon”,e sóoquartel-generaldoMossadpoderiapronunciá-la.

Em2denovembro,oLadyGhislainecomeçouareduziramarchaparaentrarnoestreitoportodeFunchal.AosuldoportodeLasPalmas,comoquatropescadores,oskidoncontinuavamàesperadasenha.NacapitaldaMadeira,Maxwelldirigiu-seaohotelReid’sPalace,umdosmelhoresdomundo.Entroupelaportaprincipale,trintaminutosdepois,voltouasairrapidamenteparapegarumtáxievoltaraocaisemqueoiateestavaancorado.

Apósumarápidaduchaeumbelopratodelagosta,caviarechampanhe,Maxwellregressouaoseucamarotecomoseestivesseansiosoporreceberumtelefonemaquetardavaachegar.Em3denovembro,fartodenavegarnaságuasdaIlhadaMadeira,ordenouaRankinquefosserumoàsCanárias,enquantopediaquetelefonassemaumdosseusadvogadosparaqueseencontrasselácomele.

OcapitãodoLadyGhislaine telefonouparaDavidWhiteman,osegundopilotodeMaxwell,para lhe informarque,assimqueatracassememTenerife,omagnatadesejavavoardaliparaLondres.Nasegunda-feira,dia4denovembro,osfilhosdeMaxwell voltavam a enfrentar uma chuva de credores em Londres. Kevin e IanMaxwelltentavamlutarcontraotempoparasalvaroquepudessemdoimpérioqueafundava.Amilharesdequilômetrosdacidadelondrina,oLadyGhislainechegavaàentrada do porto de Santa Cruz de Tenerife. Do outro lado da ilha, quatrotripulantespreparavam-separasairpara“pescar”numapequenaembarcação,sóquedestavezapresaseriaumdosgrandesmagnatasdacomunicaçãosocial.

Maxwell fezumachamadainternaaRankinedissequequeriatomarbanhonuemalgumabaíadeserta.Oveteranocapitãopôs-serumoaosul,atépertodePorisdeAbona.OLadyGhislaineeraseguidodepertoporumaembarcaçãomenor.

Porvoltadas21h45,RobertMaxwellvoltouaordenaraocapitãoqueo levasseaté Los Cristianos, quase no outro extremo da ilha de Tenerife, muito perto doaeroporto.Aviagemdurariacercadedozehoras,vistoqueprimeiroiriampelacosta

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atéoextremonortedeTenerifeedepoissedirigiriamàextremidadesetentrionaldasIlhas Canárias. Assim que chegassem lá, o Lady Ghislaine viraria para o sul emdireção a Las Palmas, até o extremo meridional.[408] Às 22 horas, o iate deMaxwell navegava rumo ao alto-mar.Outra pequena embarcação fazia omesmopercurso.

OskidontinhamrecebidoainformaçãodarotadaunidadeYahalomin.Oskatsainformaram convenientemente que oLady Ghislaine se dirigia de noite até águassolitárias.MaxwellacabavadefalarcomseufilhoIan,emboranãosobrenegócios.Naquelanoite,RobertMaxwelldesejavaapenasficarsónaqueleoceanoazul.Queriaesquecer-sedoscredoresqueoesperavamcomoabutresemLondres.

O iate navegava silenciosamente enquanto, a poucos metros de distância, eraseguidoporumapequenaembarcaçãocomquatroassassinosdoMossadabordo.Às4h25deterça-feira,5denovembro,ochefedemáquinas,LeoLeonard,inspecionouapressãodos trêsgeradoresMercedes.Ao sairdacasadasmáquinas encontrou-secomMaxwell:“Elevestiaumacamisaazuleestavadepénumcantoaestibordo,amãoesquerdaapoiadanabeiradadaembarcação”,diriadepois.Aquelecantoeraoúnicopontocegodascâmerasdesegurançadoiate,eMaxwellsabiadisso.Utilizara-ocentenasdevezesparaterrelaçõessexuaisesporádicascomalgumaamante.

Às 4h45, o convés recebeu uma chamada do magnata dizendo que no seucamarote fazia frio eque subissema temperaturado aquecimento.Estas foramasúltimaspalavrasqueatripulaçãoouviu.

Entre4h45ecincohoras,umboteinflávelcommotorespotentesaproximou-secom três kidon a bombordo do Lady Ghislaine. O quarto ficara na pequenaembarcaçãocasotivessedeagirpararesgataroscompanheiros.

Ostrêsestavamvestidoscomroupasdeneoprenepretoecomascaraspintadas.Dois deles seguravam ganchos cobertos de borracha para não fazer barulho aoprendê-losnos corrimõesdoLadyGhislaine.Comumsalto,osdois assassinosdoMossad subiram à embarcação. O primeiro abria caminho para o segundo. EstetinhanamãoumaseringacheiadeumapotentesubstânciafabricadanoInstitutodeInvestigaçãoBiológicadeTelAviv.

Poucos passos depois, os dois homens encontraram-se diante de Maxwell. Okidon,comumsógolpe,cravouaagulhanopescoçodomagnata,portrásdaorelhadireita,eaapertou,introduzindo-lhetodaasubstância.OoutrosegurouMaxwelle,aplicando-lheumgolpedechave,fezcomqueeleperdesseoequilíbrio,atirando-o,depois, ao mar. Em seguida, do mesmo modo que chegaram, os executores doMossadsaltaramdaembarcação,enquantooLadyGhislainesedistanciava.Antesde

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seremrecolhidospeloboteinflável,puderamobservarumgrandevultoàmercêdasondas.EraocadáverdeRobertMaxwell.[409]

OdesaparecimentodeMaxwellnãofoidescobertopelatripulaçãoatéas11h15de5 de novembro. Em seguida, Rankin acionou o alarme com a mensagem“prioridade 3” ou “homem aomar”.Depois, o Serviço de Resgate e SalvamentoMarítimocomeçouabuscadohomemquetinhasidocapazdemexercomapolíticamundialporcapricho,semsepreocuparcomquemdestruiriacomisso.

Nessaaltura,osmembrosdokidonedoYahalominjátinhamretornadoaosegurorefúgiodeIsrael.Oslíderesdopaíscomeçavamainteirar-sedoacontecidoatravésdosmeiosdecomunicação.OpróprioYitzhakShamirforainformadonessamesmamanhãpeloembaixadordeIsraelemMadri.Às13h40,aoperaçãoderesgateestavaem pleno curso. Às 17h45 recebeu-se umamensagem de um pescador que tinhavistoumcorpoflutuando.OhelicópteroPumaviroubruscamenteedirigiu-separaessa área. Uns quinzemetrosmais abaixo flutuava o cadáver de RobertMaxwellcomosolhosabertoseosbraçoscruzados.Ummembrodaequipedesocorropulounaáguaecolocouocinturãoderesgateemvoltadovolumosocorpodomagnata,eiçaram-noabordo.OcorposerialevadoparaabasemilitardeGando.

Apósuma sériede autópsias comcujos resultadosninguémestavade acordo,ocadáverdeRobertMaxwellfoilevadoaJerusalém,paraserenterradodentrodamaisrigorosanormaortodoxajudaica,aospésdoMontedasOliveiras.Afilhapreferidadomagnata,Ghislaine, foi quemcomunicouoficialmente à imprensa amortedopai.Apósumbrevediscurso,umjornalistaperguntouàjovem:“Comoachaqueseupai morreu?” Ghislaine Maxwell respondeu laconicamente: “Acho que oassassinaram”.

Nasexta-feira,dia8denovembro,oaviãocivilquelevavaosrestosdeMaxwellpara Israel foi surpreendido por dois caças F-16 da ForçaAérea.Umdos pilotosindicou que eram sua escolta para Jerusalém. Era evidente que aquele gesto teriaagradadoomagnatamorto,tãopomposoqueera.

No domingo, dia 10 de novembro, o funeral de Estado foi presidido pelopresidentedeIsrael,HaimHerzog,epeloprimeiro-ministro,YitzhakShamir.Entreos assistentes que observaram como o corpo deRobertMaxwell era colocado notúmulo de mármore branco com uma inscrição em hebraico, encontrava-se opoderosomemuneh,ShabtaiShavit.[410]

ShimonPeres, omesmoque estevepresentequandoo entãomemunehNahumAdmoni propôs ao magnata tornar-se espião do Mossad, disse de Maxwell nofuneral:“FezmaisporIsraeldoquesepossadizeraquieagora”.Masparaoatualchefe da espionagem israelense, estava claro que aquele corpo de 140 quilos era

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apenasoresultadodeumproblemaincômodoqueoKidonacabavadetirardecimadoMossadedoEstadodeIsrael.Depois,umaespessacortinadefumaçaenvolveutudo que era relacionado com a Operação Tycoon. Não havia perguntas nemrespostas.Nada,absolutamentenada.

Andrei Lukanov, o homem de Maxwell e do KGB na Bulgária, saiu do seu apartamento no bairroresidencial de Iztok, em Sofia, em 1º de outubro de 1996.Na rua esperava ver o seumotorista e o seuguarda-costas,mas elesnãoestavam.Deumportãoaliperto saiuumhomemarmadocomumaMakarov9mmedisparounopeitoenacabeçadeLukanov,matando-onahora.

MihoMihov,diretordoCreditBank,deuumtironanuca;SashoDanchevePeterBoichevsuicidaram-seconvenientemente;IvoJanchev apareceu enforcado emumbanheiro público.Os quatro tinhammantidoestreitasrelaçõescomMaxwell.

JanosPasztor,umfinancistaamigodeMaxwellquecanalizaraváriosfundosilegaisdesuasempresasequeconheciaasestreitasrelaçõesdomagnatacomoMossad,sentiu-seindispostoumdia.Em5denovembrode2000,faleceudevidoaumamisteriosadoençaqueninguémsoubeexplicarcomocontraiu.

O jornalistaDannyCasolaro, que se dedicou a investigar as obscuras relações deRobertMaxwell comoIrangateecomoultrassecretoprogramaPromis,desenvolvidopeloMossad,foiassassinadonobanheirodohotelMartinsburg,naVirgínia.Emcadaumdosseuspulsoshaviadezcortes,paraquesepensassequeeletivessesesuicidado.

OjornalistaJonathanMoyle,quesededicouainvestigaras ligaçõesdeRobertMaxwellcomasatividadesdasIndústriasCardoen,propriedadedeCarlosCardoen,umdosprincipaisvendedoresdearmasdaAméricadoSul,apareceuenforcadocomaprópriacamisadentrodoarmáriodoseuquartonumhoteldeSantiagodoChile.

EdmundSafra,amigoíntimodeMaxwell,tornara-seinformantedoFBI,aquemrevelavatodasasoperaçõesfinanceiras da máfia russa e búlgara que passavam por seu banco para o Bank of New York. Em 1999,anunciou que venderia seu banco, granjeando com isso importantes inimigos. Safra se retirou para umacobertura na sofisticada avenida Ostende de Mônaco. Uma noite, intrusos penetraram no eleganteapartamento e, quando a polícia e os bombeiros chegaram, Safra e sua enfermeira estavam mortos. Ascâmerasdesegurançanãocaptaramnada.Algunsespecialistasaventaramquea“execução”deviatersidoobradamáfiarussa,dabúlgaraoudopróprioMossad(Kidon).Osculpadosnuncaforamdescobertos.

Emsetembrode1992,KevinMaxwelldeclarou falênciaporummontante totalde405milhõesde librasesterlinas.BettyMaxwell,aviúvadomagnata,continuasededicandoainstituiçõesdecaridadee,devezemquando,visitaotúmulodomaridoemIsrael.

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Aquele22dejaneirode1995amanheciaparaoprimeiro-ministro,otrabalhistaYitzhakRabin,comoqualqueroutrodianoseugabineteemJerusalém.Fortes

pressõesdos colonospelapossíveldevoluçãode terras aospalestinos; tambémdospartidos ortodoxos na Knesset pelas negociações concluídas no ano anterior comYasserArafat;edoconservadorLikud,queoacusavadetersevendidoaosdesejosdosEstadosUnidosedospalestinos.Paraaquelehomemjáumtantocansado,de70anos,queassumiranovamenteocargodeprimeiro-ministrodeIsraelem13dejulhode1992,jáestavammuitodistantesasnegociaçõessecretasocorridasemOslo.[411]

Tambémmuitodistanteestavao tratadodepazassinadocomo reiHusseindaJordâniaem26deoutubrode1994,aindaquenarealidadefizesseapenastrêsmesesdesde que o assinara como líder de Israel. As pressões queRabin vinha sofrendofaziamcomqueaquelesbonsmomentosfossemofuscadospeladistância.OPrêmioPríncipe de Astúrias da Concórdia, que compartilhou com seu inimigo históricoYasser Arafat, ou o Prêmio Nobel da Paz, que também partilhou com o líderpalestino e com o seu colega de partido, Shimon Peres, estavam no passado.Derepente,seuspensamentosforaminterrompidospelosomdotelefone.

Rabinvoltouàrealidadeeatendeuaotelefone.Enquantoouviacomatenção,seurostoiamudandodeexpressão.Dooutroladodalinha,ogeneralEhudBarak,[412]chefedoEstado-MaiordoExército Israelense, informava-odeumataque suicida,cometidopor terroristas da Jihad Islâmica, contra um carronum cruzamento emBeitLid,a25quilômetrosdeTelAviv.Rabintentourecuperarafalae lançouao

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seu interlocutor um lacônico: “Quantos?”. “Por enquanto, 21 mortos, vintemilitareseumcivil,emaisde65feridos”,respondeuBarak.

Yitzhak Rabin desligou e fez uma chamada interna ao ministro dos NegóciosEstrangeiros,ShimonPeres,comointuitodeconvocarumareuniãodeemergênciadogabinete.Horasdepois,ospresentesnaquelagrandemesamostravamsemblantessérios e afetados pelo atentado que Israel acabava de sofrer. A primeira decisãotomada foi a proibição aos palestinos vindos da Faixa de Gaza e de Jericó deentrarem em Israel, além de suspender a livre circulação entre as duas zonas aosresidentesnosterritórios.

Enquantoestavamreunidos,KarmiGilon,diretordoShinBet,[413]passouumanotaaRabin.Natelevisãopalestina,YasserArafat,comquempartilharamesesantesoPrêmioNobeldaPaz,declarava:“Mataremoseseremosmortos,assassinaremoseseremos assassinados [...], nossos irmãos, heróis da Jihad Islâmica”. Ao sair dareunião, Rabin convocou ao seu gabineteGilon, o memuneh do Mossad ShabtaiShavit, e o general Uri Saguy, chefe do serviço de inteligência militar, a Aman.“Quero detenções. Quero culpados. Quero os responsáveis”, disse o primeiro-ministroaostrêshomensalireunidos.

Em23dejaneiro,Rabindecidiurenovaroperíododeisençãodetrêsmesesparao Shin Bet, o ServiçoGeral de Segurança, que permitia o recrutamento demaisagentes. Em 5 de fevereiro, o primeiro-ministro ampliou o período máximo deprisão“administrativa”paraumano,renovávelparadelitosdeterrorismoislâmico.Desdeoutubrode1994atéfevereirode1995,tinhamsidopresas2.400pessoasporquestões de segurança. Contudo, o país começava a afundar num lamentávelperíododetensão,queemnadaajudouadiminuirosatentadosocorridosemTelAviv em 19 de outubro do ano anterior contra um carro da linha 5, em queperderam a vida 22 pessoas, e o sucedido em Beit Lid no dia anterior, em quemorreram21.

Na mesma tarde do dia 23 de janeiro, Yitzhak Rabin dirigiu-se à nação pelatelevisão israelense.O discurso fazia sobretudo um apelo à unidade: “Nesta horadifícilnãoháEsquerdaouDireita, secularesoureligiosos: todossomosopovodeIsrael. E em nome deste povo de Israel, que conheceu dias difíceis e grandesmomentos,partilhamosadoreaslágrimas”,disse.Rabintambémlançavaumaclaramensagemaoslíderesislâmicos:“Osqueforamseveramenteferidosontem,oforamporumanovaformadeterrorismoqueestásendousadapelosnossosinimigos,osextremistasislâmicospalestinos.VimosessetipodeterrorismoemIsraelapenasnosúltimosdoisanos.AntestínhamosvistocomoHezbollahnoLíbano.Éumtipodeterrorismousadoporgentedesequilibrada,disposta a colocar explosivosno corpo

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ounosseuscarroscomaintençãodematarisraelenseseeliminarapossibilidadedapaznoconflitomais complexoque existiu entrenós eomundoárabe:o conflitoentrenóseospalestinos.Temosdeenfrentaressesfanáticoscheiosdeódio,eestouconvencidodeque,assimcomoimpedimosalgunsdosataques,podemoscombatê-los com todas as nossas forças. Estou certo de que, com o tempo, tambémencontraremosumasoluçãoparaeles,queescolheramnosatacarnoslugaresemqueaindatêmliberdadedemovimento.Issonosobrigaaestaralertas,asercuidadosos,adenunciarcoisassuspeitas.Nãoháoutraalternativa.Arealidadehojeemdiaéquetodossomosumexércitoetodoopaísestánalinhadefrentedecombate,atéquesaiamosvitoriosos.

NofinaldeumdiscursoemolduradopelabandeiradeIsrael,coroadapelaestreladedavi,Rabinlançouumamensagemclaraaoshomensquedeviamprotegeropaísatravés das operações de inteligência, Shabtai Shavit doMossad,KarmiGilondoShinBeteogeneralUriSaguydaAman.“Aosnossosinimigosdizemos,comonopassado:vamoscombatê-los,agoraenofuturo[...]continuaremosaprocurarapaz,enquantoosperseguimos e atacamos.Nenhuma fronteira cruzaránosso caminho.Serão eliminados. Venceremos. Nenhum inimigo poderá nos derrotar”, disse oprimeiro-ministro.

Yitzhak Rabin ia moldando a voz enquanto finalizava o discurso: “Temos deencontrar o denominador comum de todos nós e assim conseguir o sonho degerações de judeus nos dois mil anos de exílio. Cumpriremos a fé judaica doregresso a Sião, a construção de um país forte no qual possamos viver em paz esegurança. Boa noite”. Àmedida que as câmeras eramdesmontadas e o veteranopolíticoselevantavadamesaerecolhiaospapéisquealiestavam,Gilonfez-lheumsinal. “Primeiro-ministro, temos em nosso poder o testamento dos terroristassuicidasdosatentadosdeTelAviveBeitLid”,disseochefedoShinBet.Rabindeuentão a ordemde convocar ao seu gabinete osmembros doVarash.Umahora emeiadepois,Rabinsentava-sediantedeumagrandemesarodeadapelosmembrosdeumdoscomitêsdeespionagemmaissecretosdomundo.KarmiGiloncolocarasobreamesaumapastavermelhacomapalavra“Confidencial”nacapa, laureadapelobrasãodoServiçoGeraldeSegurança.Dentro, várias cópiasmostravamdoistextos emÁrabe.Oprimeiro fora escrito, comadatadenovembrode1994,porHishamHamed,antesdesesacrificarematartrêssoldadosisraelensesemNazarim.“Queridos familiares e amigos! Escrevo este testamento com lágrimas nos olhos etristezanocoração.Querodizerqueosdeixoepediroseuperdãoporquedecidimeencontrar hoje comAlá, e esse encontro émuitomais importante que continuarvivonestaterra...”.OsmembrosdoVarashleramosegundotexto:“Vouvingar-me

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dosfilhosdosmacacosedosporcos,dosinfiéissionistaseinimigosdahumanidade.Vouencontrar-mecomomeuirmãonaféHishamHamedeomeumestreFanial-Abed,ecomtodososmártiresesantosnoparaíso.Porfavor,perdoem-me”,pediaoterroristaquenodiaanteriormatou21israelensesemBeitLid.

RabinpassouentãoapalavraaomemunehShabtaiShavit.Muitosdosseuscolegasdacomunidadedeinteligênciaclassificavam-nocomoumporteirodehotelbarato,quesevestiacomroupacuidadosamenteengomada,queapertavaamãosemforçaejamaislheolhavanosolhos.[414]Omemunehlevantou-seeexplicouaospoderososinterlocutores: “Oterrorismosuicidamoderno surgiuno iníciodosanos1980noLíbano.Os pioneiros foram osmilitantes do grupo xiita libanês doHezbollah, opró-iraniano Partido de Deus, quando em 1983 atacaram simultaneamente oquartel-general dos Marines dos Estados Unidos e o da Força MultinacionalFrancesaemBeirute,quedeixarammaisdetrezentosmortos”,disse.OschefesdoMossadedoShinBetrelatavamdiantedoVarashasituaçãovividanosbairrosdascidadespalestinasemGazaenaCisjordânia.Ospássarosverdesquesimbolizavamos suicidas apareciam em cartazes e em grafites nos muros cinzentos das zonasárabes.Distribuíam-seclandestinamentecalendáriosilustradoscom“ocomandodomês” ou pôsteres com os seus retratos, mostrando-os no paraíso, triunfantes erodeadosdepássarosverdes.Estesímbolobaseia-senumafrasedoprofetaMaomé,quedissequeaalmadeummártirélevadaparaAlánumpássaroverde.Osjovenscantavam os nomes dos suicidas, fazendo o gesto islâmico da vitória, o punhodireitofechadocomodedoindicadorlevantadoemdireçãoaocéu.“AbiografiadeMuawiyaRuqa,quesedetonoudentrodeumcarropuxadoporumburropertodoassentamentoisraelenseemGaza,contacomoasuaalmafoilevadaparaocéunumpedaço da bomba. O pequeno exemplar é um dos mais lidos pelos jovenspalestinos”,disseKarmiGilon.

Rabindeixouclaroquequeriaresponsáveis,quaseoordenou.Precisavadelesparaentregá-losaIsrael.Eramculpadosetinhamdepagarpeloataqueinfligidoatodoopaís. Novamente, o velho ditado hebraico do “olho por olho, dente por dente”voltavaàluzedeviaseroKidonafazercumpriressaregraescritacomsanguedesdeonascimentodatemívelunidadedoMossad.

EnquantoocarismáticolíderisraelensecontinuavacomasuapolíticadeapertaramãodoseuantigoinimigoYasserArafatdiantedosmeiosdecomunicaçãodetodoomundo,poroutrolado,combinavaencontrossecretoscomShabtaiShavitparaaativaçãodeumesquadrãodoKidon,olongobraçodeIsrael.

Nomêsdesetembro,omemunehvoltouasereunircomosmembrosdoVarash.Destavez,oSaifanimconseguiujuntartodasaspeçasdoquebra-cabeçanumamplo

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dossiêque seria apresentadoaoprimeiro-ministroRabin assimque ele voltassedeWashington.Nodia28desetembro,YitzhakRabineYasserArafatassinariamnaCasaBrancaosAcordosdeOslo II. Isso aumentariaospoderesdaANP sobre aszonasdeJenin,Tulkarm,Nablus,Ramallah,Kalkilia,HebroneBelém.

Em7deoutubro,oMossad já tinhaoprimeiroalvoaabater.OseunomeeraFathi Shiqaqi. Rabin ouviu atentamente as explicações de Shavit sobre Shiqaqi esobreaJihadIslâmica,responsávelpelosatentadosemTelAviveBeitLid.

A Harakat al-Jihad al-Islami al-Filastini, mais conhecida como Jihad IslâmicaPalestina, foi fundada em 1979 por Fathi Shiqaqi e outros estudantes radicaispalestinosnoEgito.Nessemesmoano,arevoluçãoislâmicalevadaacabonoIrãfoiuma notória influência em Shiqaqi; acreditavam na necessidade da libertação daPalestinaatravésdauniãode todoomundomuçulmanoenadestruiçãodeIsraelatravés da jihad ou “Guerra Santa”. Por fim, o governo egípcio decidiu pelaexpulsãodetodososseusmembrosparaGaza,devidoàssuasrelaçõesestreitascomo grupo radical que, em 1981, assassinou o presidente Anwar el Sadat. YitzhakRabincontinuavaaleratentamenteorelatórioquetinhadiantedesi.

Emfevereirode1990,membrosdaJihadIslâmicaatacaramnoEgitoumônibusdeturistas,matandodozedeles.Noveeramisraelenses.DevidoàpressãodasForçasdeSegurançaEgípciasqueaimpediamdeatuarnessepaís,aJihadIslâmicainiciouuma forte campanha terrorista contra Israel. Em agosto de 1988, os líderes FathiShiqaqieAbdulAzizOdahforamexpulsosparaoLíbano,ondesereorganizariaachamada Facção Shiqaqi. Ali estabeleceram fortes ligações com a GuardaRevolucionáriaIranianaeoHezbollah.

“Depois de assinados os Acordos de Oslo, fazendo agora dois anos, Shiqaqiexpandiu as suas relações políticas com a Síria”, explicou Shavit, “após oestabelecimento da ANP em 1994, o Hamas e a Jihad Islâmica fizeram umacooperação terrorista para executar ataques suicidas”. Yitzhak Rabin dirigiu-se aShabtaiShaviteordenouaativaçãodeumaequipedoKidon.“Apartirdeagoraoassuntoéseu,memuneh”,disseopolítico.

Eis as normas que Meir Amit, quando era chefe do Mossad, estabeleceu paraserem seguidasna conexãoKidon: “Nãohaverámatançasde líderespolíticos; elesdevemser tratadospormeiospolíticos.Não semataráa famíliados terroristas; seseus membros se interpuserem em nosso caminho, o problema será deles. Cadaexecuçãoprecisaserautorizadapeloprimeiro-ministroemexercício.Etudosefarásegundoo regulamento.Énecessário redigirumaatadadecisão tomada, tudodemaneira clara e transparente. Nossas ações não podem ser vistas como crimespatrocinadospeloEstadoesimcomoaúltimainstânciajudicialqueoEstadotema

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oferecer.Não seremos diferentes do carrasco ou de qualquer executor legalmentenomeado”.

Em meados do mês de outubro, três homens caminhavam em direção a umesconderijodoMossadnaruaPinsker,emplenocentrodeTelAviv.Faziaalgunsanosque,nessemesmolugar,osmembrosdoKidonhaviamrecebidoordensparaexecutaromagnatadacomunicaçãosocialRobertMaxwell.Oqueostrês tinhamemcomumeraseremaltosdirigentesdosserviçosdeespionagemdeIsraeleestaremde acordo comautilizaçãodoKidonpara executaros inimigosdoEstado, e essaseriaadecisãoquetomariamempoucosminutos.

Assistiram à reunião, além de Shavit, Saguy e Gilon, o general Doran Tamir,oficialde inteligênciamilitar, trêskidonencarregadosdefinalizaraoperaçãoeummembro da Apam. No apartamento, reinava o silêncio até que Shabtai Shavittomouapalavra: “Oprimeiro-ministrodeuaordemparaatacar a Jihad Islâmica.Decidimos que o alvo será Fathi Shiqaqi. Esta ação deve ser Aina Efes, umaoperaçãoquenãoadmiteofracasso.DevemosissoaosnossoscompatriotasmortosemTelAviveemBeitLid”.Arelaçãoentreoshomensquealiseencontravameracordial, embora, de certa maneira, todos eles se mantivessem a uma distânciaprudente.Nenhumdos chefes da comunidade de inteligência queria interferir nafunçãodosoutros.[415]UriSaguydeclarariaanosmaistarde:“Nãopoderíamosnoscompararunscomosoutros.ComochefedaAman,eupoderialhesdarinstruções.Haviacompetênciaentrenós,mas,enquantoservíssemosaomesmopropósito,tudocorreriabem”.

A reunião duraria cerca de duas horas. Todos os papéis, documentos oufotografias sobre Fathi Shiqaqi estavam sobre a mesa. Assassinar Shiqaqi era umsimples ato de vingança. A primeira coisa que estudariam seria as informaçõespessoaisdeShiqaqi,os seushábitos,os seus interesses,a sua família,coletadasporum“combatente”[416]emDamasco.

“Em 1988, o doutor Fathi Shiqaqi, um dos fundadores da Jihad Islâmica,escreveuumdocumento emquedestacoua importânciadepenetrarno territórioinimigo(Israel)efixouasregrasparaousodeoperaçõescommártires.Fazia-opararesponder às críticas religiosas aos ataques comcarros-bomba e caminhões-bombaquesetornaramfrequentesnoLíbano.Shiqaqiencorajavaoqueeleprópriodefiniucomo‘martirológioexcepcional’,umatáticanaJihadfiSabeelAlá(alutadacausadeAlá).”

Nomundodosjovenssuicidas,Shiqaqieraidolatradopeloseupovo,quasecomoumDeus que lhes prometera que a primeira gota de sangue derramada na Jihadlavava instantaneamente todos os pecados. “No dia do juízo, o mártir não será

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julgado.Nodiadaressurreição,podeintercederporsetentaentesqueridosparaqueentremnocéuetenhamàsuadisposiçãosetentahuris,asbelasvirgensdoparaíso”,explicavaFathiShiqaqiàquelesjovenssemfuturoqueestavamdispostosadaravidalevando com eles, com os seus potentes cinturões-bomba, várias dezenas deisraelenses.

EmDamasco,capitaldaSíria,nasuaconfortávelvida juntoàesposaeaosdoisfilhos,olíderdaJihadIslâmicatinhapagadoanecrologianosjornaisislâmicosdossuicidasdeTelAviveBeitLid,enasoraçõessagradasdesexta-feiratinhalouvadoossacrifíciosegarantidoàsfamíliasqueosseusentesqueridosganhariamumlugarnoparaíso.[417]

Nosbairrosmenoresenascidadespalestinas,eraumaquestãodehonraentregarumfilhoouuma filhaaShiqaqi.Escolhidoo suicida, eramoschefesmilitaresdaJihad Islâmica no Líbano que, após estudar as fotografias do alvo, calculavam aquantidade necessária de explosivos para provocar o maior dano e, portanto, omaior número de vítimas. Apenas os planejadores conheciam palavras como“explosivo”, “oxidante”, “densificador”, “detonadores” e coisas do gênero. Aosuicidaapenasseindicavacomoacionarodetonadorparaexplodiradinamitequelevavaàscostasnumamochilaoucoladaaocorponumcinturão.

NareuniãodoapartamentodaruaPinskercontinuaramaestudarpausadamenteos relatórios sobreFathi Shiqaqi.Erapreciso aindadecidir onde, como equandodarogolpe.Orelatórioqueagoraliam,redigidoporumshicklutdodepartamentodeescutasdoMossad,depoisdeterdesenvolvidoumNeviof,sistemaparapenetrarna residência de Shiqaqi para colocar escutas,mostrava ummodo de vidamuitodistante dos palestinos que viviam emGaza e naCisjordânia. A casa do líder daJihadIslâmica,quepartilhavacomaesposaFathia,localizava-senumadasmelhoresáreas de Damasco. Carpetes, tapeçaria, talheres e louça amontoavam-se entreretratosdedicadosaShiqaqiporlíderescomoopresidentedaLíbia,Muammaral-Khaddafi, ou o da Síria, Hafez el Assad. Na rua, convenientemente camuflados,estavamdoisveículoscommembrosdosserviçossecretossírios.Noportão,quatroescoltasarmadascommetralhadorasprotegiamFathiShiqaqieasuafamília.

A vestimenta usada pelo líder da Jihad Islâmica, composta por longas túnicasbrancas e sandálias baratas, diferiamuito da que enchia os seus amplos armários.TrajescortadosàmãonaexclusivaSavilleRowlondrinaesapatosfeitossobmedidapelosmelhoressapateirositalianosalinhavam-seordenadamente.

Shavitestudouumagrandepastanaqualestava,presaaumclipe,umafotografiaempretoebrancodeumhomemderostoredondo,comdensabarbapretaeóculoscomlentesgrossas.Oseurostolembravamaisodeumprofessorprimáriodoqueo

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deumlíderterrorista.“NascidonaFaixadeGazaem1951,ShiqaqicresceunoseiodeumafamíliarefugiadadeJaffa.EstudoumatemáticanaUniversidadedeBirzeitemedicina no Egito. Inspirado pela Irmandade Muçulmana, decidiu voltar aosterritóriosparapraticaramedicina.Nosanos1980,fundouoMovimentodaJihadIslâmicanaPalestina.Em1983,foidetidoesentenciadoaumanodeprisão.Em1986, foinovamentedetidopor atividadespolíticas e condenado,dessa vez a trêsanosdeprisão.Emagostode1988,foideportadoparaosuldoLíbano.Emfinaisdesse ano, instalou-se no campo de refugiados de Yarmouk, nos arredores deDamasco.Janeirode1994foicrucialparaaformaçãodacoligaçãodeoitoforçasdaOLPcontráriasaosAcordosdeOslo.”ShabtaiShavitnãotinhaamenordúvidadequeFathiShiqaqiestavaportrásdosatentadosdeTelAviveBeitLid.

Nessamesma hora, Fathi Shiqaqi encontrava-se com a esposa na residência deDamasco.Enquantocomia,olíderdaJihadIslâmicagarantiaàmulherqueoslíbiostratariamdasuasegurançanaviagemqueiafazeraMalta.Shiqaqiesperavaregressarao seurefúgio síriopassadosdoisdias,comummilhãodedólaresprocedentesdoLibianArabForeignBank.Aviagemdopalestinoprovocouumagrandealegrianosseusfilhos.Estesencomendaram-lhemeiadúziadecamisasdeumalojanaqualjátinhamcompradoanteriormente.

Fathia,aesposadeFathiShiqaqi,garantiualgumtempodepois:“Omeumaridoinsistia em que, se os israelenses planejassem alguma ação contra ele, já a teriampostoemprática”.“Osjudeussemprerespondemcomrapidezaalgumincidente”,disse-lhe Shiqaqi.[418] Na verdade, o líder do grupo islâmico tinha razão, pelomenos em parte. YitzhakRabin tinha planejado já no início domês de julho de1995 atacar Shiqaqi, mas Saguy, chefe da Aman, e Shavit, chefe do Mossad,fizeram-no desistir, ao detectarem “uma mudança de ares em Damasco” comrespeito a Israel. Era evidente que, se oKidon atacasse Shiqaqi na capital síria, a“mudançadeares”protagonizadapelopresidenteAssadsevoltariaoutravezcontraRabin e Israel. O primeiro-ministro seguiu o conselho dos dois chefes daespionagemcivilemilitar.Semdúvida,eraprecisoesperar.

RabinadiavaadecisãodeatacarShiqaqi,massóporalgunsmeses.OVerãoeoPrêmioNobel tinham-no atrasado,mas essa situação não se arrastaria pormuitomaistempo.Um“combatente”emDamascoinformouoquartel-generaldoMossademTelAvivquedetectaracertomovimentoentreaspessoasquerodeavamShiqaqi.Eraevidentequeelepreparavaumaviagem.Agorasófaltavasaberodestino.

AtravésdoKeshet(Arco),informaçãoobtidapormicrofonesinstaladosnacasadeShiqaqi,oKidonsoubequeoitinerárioqueolíderdosataquesdeTelAviveBeitLid ia seguireradeaviãoatéMaltaede ferryboat apartirdeLaValetta, a capital

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maltesa,atéTrípoli,naLíbia.ParavoltaràSíria,Shiqaqifariaomesmotrajeto,masemsentidocontrário.Eraevidenteque teriamdeatacaroprincipal líderdaJihadIslâmicanumdessespontos.

Namanhãde22deoutubro,comtodososdadosconseguidos,YitzhakRabindeusinal verde à Operação Cesárea. No dia seguinte, Gil Avner e Ran Giloh, doishomensdecercade30anosdeidade,saíramdoaeroportoBen-GuriondeTelAvivemvoos separados.AvnervooudiretamenteparaAtenaseGilohparaRoma.Nascapitais grega e italiana, umbodel correio,mensageirodoMossad encarregadodelevarmensagensdeumesconderijo aumaestação,umaembaixadaouaopróprioquartel-general da espionagem israelense, entregou-lhes um envelope amarelolacrado. Dentro dele havia um passaporte britânico no qual tinha mudadounicamenteafotografia.OskidonchegaramnaquelamesmatardeaLaValetta.Namanhã de 24 de outubro, telefonaram para Gil Avner da recepção do hotel. Otelefone tocou várias vezes até que o kidon o atendeu. Do outro lado, uma vozindicava-lhequealguémlheentregaraumamotoYamahanohotel.Avnerexplicouqueeraparafazerturismopelailha.

Todas as manhãs, os dois kidon, vestidos como turistas, saíam do hotel commochilas, guias deMalta e câmeras fotográficas.Queriam estabelecer uma rotina.Nadadeviafazersuspeitardamissãoqueoslevaraatéapequenailhamediterrânea.Em25deoutubro,osdoisassassinostiravamfotografiasnomomentoemqueumgrandeferryboatbranco,pertencenteàslinhasestataislíbias,manobravaparaentrarnoportomaltês.Giloh,comumateleobjetiva,centravaaimagemnumhomemdeóculos e barba que estava apoiado no convés. A pouca distância dele, doisindivíduosnãooperdiamdevista.Oisraelensepercebeulogoqueosdoishomenseramagentesdoserviçosecretolíbio.

Poralgunsinstantes,pareceuqueaoperaçãoiasercomplicada,massóporalgunsinstantes.Quandoospassageirosdoferryboatjácaminhavamparaocais,GilAvnereRanGilohobservaramcomoFathiShiqaqiapertavaamãodosdoishomensesaíasozinhoparao cais.Os líbios tiveramde escoltá-lo apenasduranteo trajeto entreTrípolieMalta.

Depoisdepassarpelocontroledepassaportes—olíderdaJihadIslâmicaportavaum passaporte líbio com o nome de Ibrahim Dawish —, ele pegou um táxi nomesmoporto.[419]Apoucadistância,umamotoYamahanãooperdiadevista.

OtáxientrounobairrodeSliemaeparounonúmero173daTowerRoad,umenvidraçado e impessoal edifício de sete andares. Ao chegar, o porteiro do hotelDiplomatabriuaportadetrásdotáxi.FathiShiqaqiapareceuconfianteemplena

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ruae foidepressaparaa recepção.Mostrouopassaporte líbio,eo funcionáriodohotelentregou-lheachavedoquarto616.

Gilohmanteve-senumdiscretopostodeobservação,enquantoAvnervoltavanaYamahaaoseuhotelparafalarcomTelAviv.Assimqueseencontrounasegurançado quarto, o kidon abriu a pasta preta em que estava um sofisticado emissor derádio.OsdispositivosdoSamsonitedeviamser abertos emsentidocontrárioparadesativarosfusíveisqueprovocavamaigniçãodopequenoexplosivoquehavianointeriorequepodiaexplodirnacaradequemnãoseguisseasinstruções.GilAvneresticou a antena e entrou em contato como centro de operações daMetsada nodesertodoNeguev.

De Israel disseram ao kidon que, após a operação, deviam dirigir-se até oaeroporto de La Valetta e entrar num cargueiro das linhas marítimas israelensesZIM,quesaíradoportodeNápolesrumoaHaifa.Tinhamapenas24horasparaagir, ou a Operação Cesárea iria por água abaixo até terem outra oportunidade.Nem Shabtai Shavit nem os dois kidon queriam que isso acontecesse. Os trêshomens queriam vingar a todo custo as 43 mortes e os 125 feridos israelensesprovocadospelos suicidasda Jihad IslâmicanosatentadosdeTelAviveBeitLid.Eraagoraoutalveznunca.

Naquinta-feira, 26deoutubrode1995, osdoiskidon observaramcomoFathiShiqaqisaíasozinhodohoteleia,andandodevagar,comoqualqueroutroturista,aumcaféaliperto.Bebeuumcafée,depoisdepagar,dirigiu-seaumgrandecentrocomercialsituadonamesmaTowerRoad.Numadaslojas,comproudozecamisasparaosfilhos.Emseguida,Shiqaqicomeçouavoltaraohotelcarregadodesacolas.Eraesseomomento.GilAvner,emcimadaYamaha,seposicionounaesquinadarua,enquantoRanGilohseguravanamãoumaBeretta9mmescondidadebaixodeumexemplardoTimesofMalta.

Okidon viu Fathi Shiqaqi aproximar-se descendo a rua na sua direção, pois opalestino ainda não tinha percebido o perigo.Quando Shiqaqi passava diante deGiloh, o israelense levantou a arma como fizera centenas de vezes e disparouumprimeirotironanucadolíderdaJihadIslâmica.Emseguida,aproveitandootorpordaspessoasquecaminhavampertodopalestino,okidondisparoumaisquatrovezesna cabeça e no peito de Fathi Shiqaqi. Rodeado por uma poça de sangue, RanGiloh, da Metsada, agachou-se, colocou o cano da arma na boca de Shiqaqi edisparoupelasextaeúltimavez.Depois,andouatéoseucompanheiroGilAvner,queoesperavanaYamaha,paradareminícioàfuga.Umahoradepoisdoataque,umbarcodepescalevavaosdoishomensatéumdoscargueirosdaZIM.OcapitãoinformouasautoridadesdoportodeLaValettaqueasmáquinasforamreparadase

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quecontinuariamoseucaminhoatéHaifa.[420]Shiqaqi,de44anos,estavamorto.OKidon,o longobraçodeIsrael,dessavezatacaraemMaltaoprincipal líderdaJihadIslâmica.

As autoridadesmaltesas tentaram estabelecer um cercopara impedir a fuga dosassassinos,mas já era tarde demais.No hotel, ninguém se lembrava de nenhumacaracterística especial dos dois homens que costumavam viajar numa Yamaha,segundodeclararamàPolíciadeMalta,ocorpopolicialmaisantigodaEuropa,osfuncionáriosdohotelemquesehospedaramosisraelenses.[421]

AquelecadáverrodeadodeumagrandepoçadesanguenumaruadeMaltaeradohomemqueescrevera:“Viverparamorrernumarealidadetangíveleinexorável,masmorrerpararenascerouparareencarnar,éumatodeconvicçãoapenasadmissívelcomo aceitação de uma irremissível realidade ou como resultado de um sacrifíciomoraloudevalores,queacarretaapossíveldesventuradamorte”.

NoIrã,pátriaespiritualdeShiqaqi,osmáximosdignitáriosdoQom,verdadeirocentro ideológico do xiismo, decretaram dia de luto nacional. Em Israel, ao serinterrogadopelaimprensasobreo“assassinato”deShiqaqi,opróprioYitzhakRabinrespondeu:“Desdejá,nãoestoutristeporessaperda”.

Namesmanoitede26deoutubro,umaviãotunisianofretadopelogovernosíriolevouocorpodeFathiShiqaqiparaDamasco.Naquarta-feira,dia1ºdenovembro,cercade40milpessoas assistiramao funeraldo líderda Jihad Islâmicanacapitalsíria,sendooseucorpoescoltadopormembrosdoHezbollaharmadoscomfuzisdeassaltoKalashnikovAK-47.

OclimadeexaltaçãoerevoltavividoemIsraeldurantetodoaqueleanode1995foifomentadopeladireitanacionalista,emoposiçãoàpolíticadogovernodeRabin,que se lançou numa campanha de descrédito dirigida pessoalmente contra omandatário. Esses setores convocavammanifestações nas quais Yitzhak Rabin eraconsideradoum“traidor”.Oambienteviu-seexacerbadopelarigidezdalinguagemdo primeiro-ministro, que se referia aos seus difamadores e opositores com certodesprezo, e criticava abertamente a posição tomada por “alguns rabinos”, queinsinuaram que a lei judaica equiparava-se efetivamente à entrega de terras aospalestinoscomoumatraiçãoquedeveriaserevitadaatodocusto.

Esse seria o gatilho do explosivo que detonaria em 4 de novembro de 1995.Naquelesábado,apenastrêsdiasdepoisdoenterrodeFathiShiqaqi,comavontadede reforçar os partidários do processo de paz, convocou-se um comíciomultitudinárioemTelAvivnapraçadosReisdeIsrael(hojepraçaYitzhakRabin).

O comício daria pretexto a uma grande manifestação, com a participação deartistasepolíticosdeesquerdaecentro-esquerda, lideradapelopróprioRabin.Ao

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terminar o seudiscurso, por volta das 21h40,o veteranopolíticodecidiudeixar olocal, escoltadopor agentes doShinBet.Enquantodescia dopalanqueporumasescadas laterais, um fanático chamado Igal Amir deu-lhe dois tiros pelas costas,instantes antes de entrar no carro oficial. Yitzhak Rabin, gravemente ferido, foilevadocomurgênciaparaohospitalIchilov,localizadomuitopertodapraçaemqueocorreraamanifestaçãopelapaz.OagentedoShinBetYoramRubintambémfoialvejado.

Quarenta minutos depois de ter dado entrada no hospital, exatamente às 22horas, Yitzhak Rabin morria na mesa de cirurgia, rodeado por médicos quetentaram em vão salvar-lhe a vida. Por obra do destino, Yitzhak Rabin morreuassassinadoapenasoitodiasdepoisdoseuinimigoFathiShiqaqi.Talveznessecasotenhasecumpridoofamosoditojudeudo“olhoporolho,dentepordente”.Sóodestinoosaberá.

Nasegunda-feira,6denovembrode1995,centenasdelíderespolíticosdetodoomundo assistiram ao funeral deYitzhakRabinnoCemitérioNacional doMonteHerzl.

KarmiGilon, diretor do Shin Bet, demitiu-se em 1996, depois de assumir pessoalmente o fracasso doServiço Geral de Segurança na proteção do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, que terminou no seuassassinato.

Shabtai Shavit rejeitou se demitir, garantindo que a proteção do primeiro-ministro Rabin eraresponsabilidadedeGilon,enãodoMossad,mas,poucodepois,comanomeaçãodeBenjaminNetanyahuaprimeiro-ministrodeIsrael,Shavitdeixououfoi“obrigado”asedemitirdocargodememunehemjunhode1996.FoisubstituídopelopolêmicoDannyYatom.

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P orvoltadameia-noite,asviaturasdapolíciavigiavamosacessosdasestradaseautoestradasparaTelAviv.UmadasestradasestavalocalizadanaáreadeDan,

aonortedacidade.Dentrodoveículo,encontravam-seospoliciaisAharonBin-Nune Leon Cahalon. Ambos faziam parte da operação montada pelas Forças deSegurançaIsraelenseschamadaAtividadeTerroristaHostil (ATH).Osvoluntáriosdapolíciaestavamtreinadosparatratardedelitosmenorescomoroubodeveículos,brigasdomésticasecoisasdogênero,enquantoas forçaspoliciaismaisexperienteseramdestinadasacombaterpossíveisataquesterroristas.

Namanhãde19denovembrode1992,osdoisagentes,abordodoseucarroazulebranco,avistaramumcarroFiat,comaplaca19-380-54,comosfaróisapagados.Ocarrolevantoususpeitaseosdoispoliciaisoseguiram.Porfim,Bin-Nun,atravésdoalto-falantedocarropolicial,deuordemaoFiatparapararàbeiradaestrada.Aessa hora, os moradores do bairro de Ramat Efal ainda dormiam. Em dadomomento, as portas do carro suspeito abriram-se, e os três homens que estavamdentro saíramcorrendo.Doisdeles foramdetidosporBin-NuneCahalon.Erampalestinos. Leon Cahalon aproximou-se com a lanterna na mão para observar ointeriordo carro. Semquasepoder falar, conseguiudizer ao companheiro: “Dêoalerta.ChameaUnidadeAntibombas”.

Trinta minutos depois, a área foi completamente cercada e os moradores,evacuados para os refúgios antiaéreos, enquanto as unidades de desativação seaproximavamdocarroestacionado.

Dentrohavia cinco tanques de gasolina, várias baterias e dezenas de recipientesherméticos com detergentes e acetona, que eram usados para produzir bombas

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potentes.“Bambi”,nomedorobôdaUnidadeAntibombas,começouamanipularoexplosivocomo intuitodedesativá-lo.Segundosdepoisdecortarumcaboverde,produziu-seumagrandeexplosão.Partesdorobôcolidiramcomavitrinedeumalojadebrinquedos,enquantoumapartedomotordoFiatfoipararnotelhadodeum edifício de dez andares perto dali. O oficial, chefe da unidade, não tinhareparado no cabo-armadilha que ligava o detonador à bateria. Quando Bambicortou o cabo de união, desativou a corrente contínua e acionou a bomba. Eraevidenteque seAharonBin-NuneLeonCahalonnão tivessemmandadopararocarrocomostrêspalestinos,oexplosivoquehavianointeriorprovocariacentenasdemortes.[422]

YakovPeri,chefedoShinBet,aagênciadecontraterrorismoecontraespionagemde Israel, seria o encarregado de informar o primeiro-ministro Yitzhak Rabin.SegundoPeri,osterroristastinhamplanejadodirigir-seaocentrocomercialdapraçaDizengoffedeixaroFiatnoestacionamento.Assimqueestivesseali,porcontroleremoto, fariam a bomba explodir. Rabin perguntou então a Peri se era obra doHamas.

OchefedoShinBetrespondeu:“DizemqueoperamsobordensdocomandantedaBrigada Izzedine al-Qassam. Parece que ele tem27 anos e é quemprojetou abomba. Ao que parece, o chefe dos dois terroristas detidos é casado, é ummuçulmano devoto, um antigo ativista do Hamas e graduado em engenhariaelétricapelaUniversidadedeBirZeit”.[423]Desdeo incidentedeRamatEfal, omaior alvo do Shin Bet seria um homem sem rosto nem nome, conhecido pelocognomede“OEngenheiro”.

NissinToledano,umoficial daGuardaFronteira quenada sabiade terrorismonem de contraespionagem, preparava-se para sair, vestido de uniforme, às cincohoras, tal como fazia há seis anos. Toledano trabalhava no Quartel-General daGuarda Fronteira em Ha’Chashmonaim, a apenas dois quilômetros de sua casa.Embora estes homens fossem conhecidos nos territórios como boinas-verdes, ospalestinos identificavam-nos como“oshomensdeKfarQassen”, emreferência aomassacrede33civisnacidadecomessenome,em1956.Naverdade,osmembrosdessaunidadeerammetadepoliciais,metademilitares.

Porvoltadas5h15de12dedezembrode1993,osargento-morNissinToledanosaiu de sua casa. Às seis horas, tocou o telefone na casa dos Toledano. Rivka, aesposa, mãe de dois filhos, atendeu. Do outro lado da linha, o comandante daGuarda Fronteira perguntou pelo paradeiro do marido dela. “Não chegou aotrabalho?”,perguntouamulher.

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Entre5h15e5h30,umveículobrancoaproximou-sedooficialde29anos,eosocupantes, depois de o espancarem fortemente, amordaçaram-no e o jogaram noporta-malas.

Poucodepois,noedifíciodaCruzVermelhaemRamallah,doishomensque seidentificaram como membros da Brigada Izzedine al-Qassam aproximaram-se deuma jovem palestina e entregaram-lhe um envelope. Dentro, os sequestradoresexpunhamassuascondiçõesparapôremliberdadeNissinToledano.Otexto,emÁrabe, acompanhava uma cópia da identificação do agente. À tarde, o textocompleto estava na mesa do primeiro-ministro Rabin. Os terroristas, após váriosparágrafos louvando Alá, o misericordioso, e se identificando como a UnidadeEspecial na companhia dos mártires de Izzedine al-Qassam, o braço armado doHamas, exigiam o cumprimento de cinco pontos concretos e, caso não fossematendidos,matariam o oficial israelense.O grupo palestino exigia a libertação doxeiqueYassinsobsupervisãodaCruzVermelhaedosembaixadoresdaFrança,daTurquiaedaSuécia.

OxeiqueAhmedYassineraofundadoreguiaespiritualdomovimentointegristaislâmico Hamas. Doente há anos e paralítico desde a infância, era a figura maisemblemáticadaresistênciapalestina.

YitzhakRabin,reunidonasaladogabinetecomtodososministros,sabiaquehádécadas Israel não negociava com terroristas — justamente o que os homens doHamaseram.Desdeesseprecisomomento, lançou-seumaautênticacaçahumanapararesgatarToledanoantesdofimdoultimato.Em14dedezembro,milharesdesoldados israelenses entraram de casa em casa, à procura do seu companheirosequestrado,naFaixadeGazaenaCisjordânia.

Vários líderes do Hamas conseguiram safar-se daquela grande desavença. Umdeles seriaYahyaAyyash,comonúmerode identificação israelense932116239.Naquela noite, ativistas do Hamas foram cercados por uma força combinada dapolícia, do exército e do Shin Bet. Na manhã de 16 de dezembro, Fatma AbuDahuk,umajovembeduína,caminhavaporumaestradapertodeKfarAdumin,naCisjordânia,ameiocaminhoentreJerusalémeJericó.Numacurvadocaminho,emquecresciamfloresdeinverno,ajovemviuumcorpocobertoporumcasacoverdemilitar. Horas depois, unidades do exército, helicópteros de combate, médicos-legistaseagentesdoShinBetcercavamolocal.NissinToledanonãotinhasidosóexecutado;haviasidoesquartejado.MeshulamAmit,comandante-chefedaGuardaFronteira,observouocadáverdoseuoficial.Haviasinaisdetersidotorturado.Nãotinha unhas, nemnasmãos, nemnos pés.Tinha sido espancado nos testículos eapresentava marcas claras de ter sido estrangulado com um fio de aço. Fora

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esfaqueado 32 vezes.Como vingança pelo assassinato, o ShinBet prendeu 1.129ativistasdoHamas,dosquais415foramescolhidosparadeportação.[424]

Em 17 de dezembro, uma manhã chuvosa, vários carros escoltados saíram dediferentescentrosdedetenção.Horasdepois,protegidosporatiradoresdeelitedoexércitoisraelense,cruzavamafronteiradoLíbano.Ali,nomeiodonada,emterrasde ninguém, os 415 ativistas do Hamas foram obrigados a sair dos veículos eabandonadosàprópriasorte.

Oprimeiro-ministroYitzhakRabinpediuaoschefesdoShinBetedoMossad,YakovPeri eShabtaiShavit,umrelatório exaustivo sobreoHamas.Poucashorasdepois, Rabin lia o grosso dossiê preparado pelos serviços de espionagem econtraespionagem. “Hamas, acrônimo de Harakt al-Muqaqama al-Islamiya(Movimento de Resistência Islâmica), não foi originalmente um movimentoterrorista.SuasideiasdebaseestavammaispróximasdeMarx,EngelseMaodoquedoislamismoradical.Poucoapouco,suasposiçõesforamsetornandocadavezmaisextremistas, até se converternoque realmente significavaonomedoHamas,ummovimentoderesistênciaislâmicacontraoEstadojudeunaPalestina.”RabinolhouporcimadosóculoseperguntouaPeri:“PorquerazãosedistanciaramdaOLP?”Ochefe do Shin Bet respondeu: “Creio que os odeiam tal como odeiam a nós. OHamasacreditaqueaAutoridadeNacionalPalestinaostraiuetornou-seumagentedeIsrael”.[425]

OHamasestavacadavezmaisorganizado.Atravésdecélulasherméticas,osseusmembros distribuíam as tarefas dirigidas a combater o ocupante. Extremamentededicadosealtamentemotivados,osseusmembrosdividiam-seemunidadesouembrigadas. A Dawa ocupava-se dos recrutamentos, da repartição de fundos e denomeações políticas emilitares; aA’Alam, de recolher informaçãonos territórios,desdecodificarmensagensa imprimirpanfletos;aAl-MajahadounAl-Falestinuon,das operações militares; o Jehaz Aman, ou seção de segurança, das tarefas deinteligência, vigilância e detecção de colaboradores dos israelenses; e o Majd,acrônimodeMajmouathJihadu-Dawa,daGuerraSantaedefazerproselitismo.OsmembrosdaunidadeMajderamjovens,pobresedevotosrecrutadosnasmesquitaseescolascorânicas.[426]

Oprimeirogolpe importantedoMajdocorreunodia15de fevereirode1989.Nessamanhã,um jovemsoldado,AviSasportas,desapareceu semdeixaromenorrastro quando voltava à sua unidade pedindo carona. Há vários anos que osmilitaresisraelensestinhamordensexplícitasdenãoentrarnuncaemveículoscomplacas azuis (dos Territórios Ocupados), das Nações Unidas, das ForçasMultinacionais de Observação ou diplomáticas. Sasportas não suspeitou de nada

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quando um Subaru branco com placa israelense e três judeus ortodoxos paroudiante dele. Em perfeito hebraico, o motorista disse ao jovem militar que olevariam.Assimquefechouaporta,ostrêshomenscomeçaramabaternocaboe,por fim, deram-lhe um tiro na cabeça com uma pistola de calibre 22. O corpoesquartejadofoiatiradoemumaestradadeserta.

Trêsmeses depois, o cabo Ilan Sa’adon foi aparentemente sequestrado por trêsárabesdisfarçadosdejudeusortodoxosabordodeumSubarubranco.OShinBetdescobriuquecercade250homensdaunidadeMajd,sobordensdoxeiqueYassin,estavam envolvidos nos sequestros e assassinatos dos militares. Num lugar deJerusalém,oprimeiro-ministroRabin eos seus chefesda espionagemdecidiam seiriamounãomatarYassin.Porfim,AhmedYassinfoipresoejulgadoporacusaçõesde terrorismo, por pertencer a um grupo terrorista e por financiar um grupoterrorista.Ocarismáticoreligiosofoicondenadoapassarquinzeanosnumaprisãoisraelensedesegurançamáxima.[427]

De acordo com oMossad, os primeiros contatos entre o governo iraniano e oHamasaconteceramemfinaisdeoutubrode1991,pormeiodogeneralAliDuba,chefe do serviço de espionagem sírio. Àquela reunião assistiram o próprioDuba;MohamedNazzal,representantedoHamasemAmã;IbrahimGhosheh,porta-vozoficialdoHamas;eAliAkhtari,embaixadordoIrãemDamascoecoordenadordapolícia iraniana no Líbano. Para oMossad era incompreensível como a teocraciaxiita podia financiar o devoto Hamas sunita, mas no Oriente Médio tudo erapossível.Entretanto,as415deportaçõesordenadasporYitzhakRabinea rejeiçãodoprimeiro-ministrolibanês,RafikHarari,depermitiraentradadosdeportadosnoLíbano,provocouorepúdiodaAssembleiaGeraldasNaçõesUnidas.[428]

Em janeiro de 1992, um nova e misteriosa organização terrorista, a BrigadaIzzedineal-Qassam, começou a aparecer nos comunicados oficiais doHamas comrespeitoaosataquesaoexércitoisraelense,apoliciaiseacivis.

Al-Qassam nascera na cidade síria de Latakia, em 1882, e aprendera a arte dojihadenquantoeraumadolescentenoCairo.CombateucontraositalianosnaLíbiae contra os franceses na Síria. Em 1922, instalou-se no porto de Haifa, onde sefamiliarizou com o nacionalismo islâmico e a resistência à ocupação britânica naPalestina.Em1935,foiassassinadoduranteumcombatecontraasforçasbritânicas,convertendo-se, segundo reza a lenda,noprimeiro shaheed (mártir) dahistória daPalestina.[429] Cinquenta e sete anos depois, as células do Hamas e seus jovensmembrosdedicavam-seadispararcontraossoldadosisraelensesquepatrulhavamapé, e a sequestrar informantes para depois executá-los e colocá-los em postes nascidadesecamposderefugiadospalestinos.Poucodepois,osalvosseampliarampara

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traficantesdedrogas,vendedoresderevistaspornográficas,cafetões,prostitutaseatéparaosquejogavamàssextas-feiras.

Dezdedezembrode1992seriaumdiadecisivoparaaequipedeeliteYamam,aunidade de resgate de reféns e contraterrorismo da Polícia Nacional de Israel.Naquela manhã haviam recebido do Shin Bet uma comunicação de “açãoimediata”. Aparentemente, um informante indicara-lhes que Issam Barhama, umaltomembrodaBrigadaIzzedineal-QassamdoHamas,estavaescondidonumacasanopovoadodeA’nza,degrandeatividadeislâmica.

Vários policiais, militares, guardas de fronteira e agentes do Shin Bet tinhamperdidoavidaemcombatesabertoscomoshomensdoHamas,eBarhamaeraumdoschefesmilitares.OpalestinoassumiraocomandodepoisdaexecuçãodeImadAqal,o jovema-jaish (soldado) e comandantedaBrigada Izzedine al-Qassam,porparte de uma unidade conjunta encoberta doMossad e do Shin Bet. Aqal ficoufamosoporserumhábilinterrogadoretorturadorquegostavadecortarosdedos,umaum,dosseusprisioneiros.

ErasupostoqueaoperaçãoemA’nzafossederotina.OsprimeirosmembrosdoYamamcomeçaramadispersar-sepelaaldeia.Umatiradordeeliteposicionou-senotelhado em frente à casa de Barhama. A operação era controlada a partir de umpostodecomandopelochefedoComandoCentraldoExércitoisraelense,omajor-generalDannyYatom,futuromemunehdoMossad.[430]

DentrodacasaestavaoinformantequepassaraainformaçãoaoShinBet,motivopeloqual,tantoparaDavidTzur,chefedoYamam,comoparaYakovPeri,diretordoShinBet,era importantetirá-lovivodali.Minutosdepois,osinalverdeparaaoperaçãofoidadoporrádio.Aprimeiraunidadeinvadiuacasa.RonenRazielifoiferidogravementenumolho,enquantoospalestinosdoHamasbatiamemretiradapelaportadetrás,incluindooinformante.

Os terroristas começaram a barricar-se num anexo da casa, o que obrigou osisraelensesarecuarem.Yatomdeuentãoaordemaosseushomensparaentraremnoedifício e lutarem contra Barhama. Tzur sentiu o perigo no ar. Sabia que ocomandantedoHamasnãosedeixariaapanharvivo.OprimeiroaentrarfoiSassonMordochcomumcãodaunidadeantibombas.Barhamamatou-ocomumarajadademetralhadora.DoronMadmon, o operador de rádio da unidade, também foiassassinadoporBarhamacomumtironanuca.Então,oatiradordeelite recebeusinal positivoparadisparar caso conseguisse ter IssamBarhamanamira.De fato,segundos depois, o comandante doHamas apareceu namira telescópica do fuzil.Um pequeno zumbido partiu a janela, e a bala atingiu a cabeça do terroristapalestino.

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A Teerã, Damasco e Virgínia, onde o diretor político do Hamas, Musa AbuMarzouk,viveranosúltimostrintaanos,começaramachegarfaxesdeJenin,Gaza,NabluseHebron,anunciandoumagrandeofensivacontraosisraelensesemgeralecontraosagentesdoShinBetedoMossademparticular.Depoisdosequestrodesoldados,dasexecuçõesdeagentesdoShinBetedaescaladadeataquesabomba,começou uma nova ofensiva islâmica. O homem no comando desta ofensivachamava-seYahyaAyyash.

Onovocomandante-chefedaBrigadaIzzedineal-Qassamtinhaapenas27anosefalavadevagar.Ayyash era conhecidonos territóriospor serumhomemvalente eque não tinha medo de nada. À base de pancadas e esfaqueamentos, conseguiuconstruir sua reputação emmeio ao restante dos jovens quedesejavam alcançar aliderançaemalgumaunidadedoHamas.Aquilolhesdavaprestígio.

YahyaAbdel-AtifAyyashnasceuem22defevereirode1966nacidadedeRafat,situadanumapequenazonaqueseparaaantigafronteiradoEstadojudeueoReinodaJordânia.Ayyash,omaisvelhodetrêsirmãos,foieducadonumafamíliamuitoreligiosadecamponeses.OseumundoeracomoodequalquercriançapalestinaquecresceentreosataquesdeunidadesdaAlFatahsobreaszonasagrícolasisraelenseseos contra-ataques dos paraquedistas israelenses sobre as zonas agrícolas palestinas,comoRafat.QuandoAyyashdecidiujuntar-seàsfileirasdoHamas,Rafatcontavacomcercade3milhabitantes.

AfamíliaAyyash,unidapeloseufervoraoIslã,atuavaquasecomoumclãdentroda zona. Aos 6 anos, Ayyash começou a estudar a ciência islâmica e o Alcorão.Existiamvárias fotografiasdeYahyaAbdel-AtifAyyash recebendoumprêmiodasautoridadesislâmicaspelasuaperfeitaaprendizagemdassurasdoAlcorãoeportermemorizadopassagensimportantesdolivrosagrado.

Em1985,Ayyashgraduou-seno institutodeBidya,acincoquilômetrosdasuacidade natal. Depois de realizar diversos trabalhos para ganhar algum dinheiro,matriculou-se em 1987 naUniversidade de Bir Zeit, a norte de Ramallah, ondeestudouengenhariaelétrica.OcentrojáeraconhecidopeloShinBetepeloMossadcomo um autêntico centro de cultura do nacionalismo palestino e para orecrutamentodefuturostalentos.

A maioria dos estudantes de Bir Zeit, incluindo Ayyash, falava de política eparticipavadeatividadesilegaiscontraosisraelenses.AAlFatah,facçãolideradaporYasserArafat,controlavaauniversidadeeocampus.“OEngenheiro”mostravadesdeentãoumabertoressentimentoparacomArafateosseus,quechamava,comcertodesprezo,de“comandantesemexíliodetrêsmartínisnoalmoço”.[431]OHamaseradiferente.OGrupodeResistência Islâmicamostravaverdadeira fé espiritual e

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virtudedoIslãmaispurasehonestas,segundoAyyash.Em1991,finalmente,YahyaAyyash graduou-se comdistinção, deixandopara trás sonhosde liberdadepara setornarumsimplesmecânico.Osmembrosdesuafamílialevavam-noparaconsertarrádiosvelhos,televisõesempretoebrancooutoca-discoscompeçasfaltando.Seudomíniodaeletricidadepermitiuquesuacasafosseaúnicadosterritóriosaterluzapós os ataques israelenses com mísseis Scud. Israel cortou o fornecimento deenergia a todos os territórios palestinos, como punição pelas celebrações após osataquesdeSaddamHusseinduranteaGuerradoGolfo.

Yitzhak Rabin já tinha dado ordens, em 1995, ao Shin Bet e ao Mossad, derecolheremomaiornúmerodeinformaçõessobreYahyaAyyash,quesetornariaopróximoalvodoKidon,edecomoeste,dehumildeeletricista,setransformounoperigoso“Engenheiro”,ohomemqueprojetavaasbombasparaoHamas.

Karmi Gilon e Shabtai Shavit se encarregaram dessa tarefa. Rabin prometerapessoalmenteaomemunehque,assimqueAyyashfosselocalizadopelosagentesdoShinBet,seriaoesquadrãodoKidonqueseencarregariadeenviá-loparaoparaíso.

Sobre a mesa do primeiro-ministro havia uma simples pasta marrom com osímbolo do Shin Bet e o nome deAyyash na capa em letras grandes.Não havianenhumafotografiado“Engenheiro”,eissosurpreendeuYitzhakRabin.Gilondisseque,emboraseusagentesotivessemdetectado,foi-lhesdifícilfotografá-lo.Asúnicasfotosqueseviameramadeumacasahumilde(adosseuspais),adeumhomemcomo rostodesfocadoquedesviavaoolhareadealgumascrianças jogandobolanumaruaque,peloqueindicavaafrase,pertenciaaumdoslugaresqueohomemdoHamasfrequentava.

Rabin começou a ler o relatório. Yahya Ayyash queria já há algum tempoabandonar os territórios para fugir da ocupação israelense e da pobreza que estaprovocava aos seus compatriotas palestinos. Tinha o sonho de se mudar para aJordânia para montar uma pequena oficina. Como bom nativo da Cisjordânia,Ayyash odiava os agentes do Shin Bet, que definia depreciativamente comoshabakniks.[432] Estes faziam detenções arbitrárias, fechavam negócios e fábricassem ordens judiciais, e entravam nas casas à procura de suspeitos sem nenhumagarantialegal,enquantoospalestinosprecisavamdeumaautorizaçãoparatrabalharou de uma licença militar para construir uma casa. Os agentes do Shin Betconcediam-nasounegavam-nas.

AyyashnãotinhafichanoShinBet,talvezporqueatéentãonãohaviaparticipadode atividades subversivas; tampouco a sua família.O primeiro contato formal deYahya Ayyash com o Hamas ocorreu após a recusa das autoridades militaresisraelensesemlheconcederumaautorizaçãoparaabrirumaoficinadeconsertosde

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aparelhoselétricos.Sempoder trabalhar,Ayyashpassavahoras sentadono sofádasuacasasemfazerabsolutamentenada.Poucoapouco,o“Engenheiro”começouasubstituir essa inatividade com a prática da fé, mas era evidente que não tinhanascidonemparaserassassinodoHamas,nemparasetornarummártirdacausa.YahyaAyyashnãoeranenhumpsicopatadispostoalançar-secomumcarro-bombacontraumapatrulhaisraelense.

O“Engenheiro”eraumhomemmuitointeligente,comumagrandecapacidadede persuasão, que falava fluentemente árabe e hebraico e, o mais importante detudo,nãotinhafichanoShinBet.

Semdúvida, somado a tudo isso, os seus amplos conhecimentos de engenhariaelétricaedecircuitosfizeramcomquesetornasseochefedeprojetosdebombasdoHamas. Em poucas horas, Yahya Ayyash era capaz de inventar um engenhosoexplosivo, de acordo com as necessidades da ação terrorista em questão. Podiaprojetarumabombaparacamuflá-lanumcarrinhodebebê,paraintroduzi-lanumacanetaquefizesseexplodirumamãoquandofosseusada,ouumcarro-bombacomváriasarmadilhasparaevitarqueabombafossedesativadapelosisraelenses,comoaque montou no Fiat de Ramat Efal, em novembro de 1992, que acabaria porexplodir enquanto aUnidadeAntibombas da polícia amanipulava. Era evidente,parapalestinose israelenses, tantoparaos líderesdoHamascomoparaosagentesdo ShinBet e doMossad, queYahyaAyyash era um verdadeiromestre comumgrandecarismaeumagrandeinteligência.

Quando o “Engenheiro” se tornou um homem do alto comando do Hamas,casou-secomHeyah,umaprimaemsegundograu.Emsetembrode1992,nasceriaoprimeiro filho,Bara’a.Oamorque sentiapela família, esposae filho,estavanomesmonívelqueoseuódioporqualquerjudeuisraelense,fosseelecivil,militaroupolicial. Enquanto por um lado acariciava o filho recém-nascido, por outroprojetava bombas que matavam bebês recém-nascidos em centros comerciais deIsrael.Enquantoporumladoacompanhavaaesposagrávidaaaulasdepreparaçãopara o parto, por outro projetava bombas para carrinhos de bebê para matargrávidas da religião judaica. Sem dúvida, a sua vida era um autêntico paradoxo.AyyashcaminhavasemprenalinhafinaentreoferozcomandantemilitardoHamaseoadorávelpaidefamília.[433]

Aospoucos,YahyaAyyash se tornouumgrandeespecialistaembombase foioprimeiro a propor que o Hamas usasse homens-bomba. O primeiro-ministroYitzhakRabinpassouachamá-lode“OEngenheiro”eoapelidoseespalhoucomoum incêndio pelas ruas palestinas. Ayyash, de acordo com fontes do Hamas,escreveu uma carta, que teve grande influência, explicando a necessidade de usar

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homens-bomba: “Pagamos um alto preço quando usamos pedras e estilingues.Temos que exercer mais pressão, fazer com que o custo de vidas humanas daocupaçãosuba,tornando-oabsolutamenteinsuportávelparaIsrael,osisraelenseseoseugoverno”.No fimde1993,Ayyash recebeudacúpuladoHamasordenspararealizaroperaçõesem“grandeescala”parademonstraravulnerabilidadedeIsrael.Ocaminhoestavaaberto.

Trabalhandonum local secretopertodeNablus,YahyaAyyashdesejava a todocusto colocar o nome doHamas nasmanchetes dosmeios de comunicaçãomaisimportantes do mundo. O plano consistia em realizar um ataque maciço comcarros-bombaaoKirya,ocomplexoqueoMinistériodaDefesaeoquartel-generaldas Forças de Defesa Israelenses partilhavam em pleno coração de Tel Aviv. Abomba projetada e montada por Ayyash seria instalada num carro VolkswagenTransporter,noqualseacrescentariaumtanqueextradecombustível,umdepósitodeexplosivos ligadoatrêsenormestanquesdepropanoeestes,porsuavez,auminterruptor principal que o motorista poderia acionar sem soltar o volante,detonando,assim,abomba.Osistemamortíferoestavarodeadodegrandessacosdeplásticoquecontinhamtodoogênerodeestilhaços,desdepregosapedaçosdeferro,vidrospartidoseporcas.

Oplano do “Engenheiro” era diabólico,mas não chegou a constituir um fatorimportante.Osisraelensestinhamfechadoosterritóriosapósoassassinatodedoisagentesdapolícia.Ayyashdecidiu entãodesferir o golpenum localmais afastadodosolharesatentosdoShinBetepróximodesuacasa.Semdúvida,sentiriagrandeprazer emouvir a explosãodeumengenhoprojetadopor ele.No cruzamentodeMehula, havia um dos postos de gasolina mais movimentados, que abastecia osveículosquecirculavampeloValedoJordão.Nopequenocafé,costumavampararsoldados,colonoseônibusdeturistasacaminhodoMarMortoedeMasada.Em16de fevereirode1993,Shahar al-Nabulsi estacionouoVolkswagenTransporterentre dois ônibus e acionou o detonador. O corpo do árabe voou vários metrospelos ares.Milagrosamente, após a explosão, a onda de choque se expandiu paracima em vez de para os lados, como o “Engenheiro” previra, provocando, dessemodo, duas mortes, entre elas a do suicida, e deixou vinte feridos entre civis emilitares. Poucas semanas depois, o Shin Bet já tinha a família Ayyash sobvigilância.

Para Rabin, Peri e Shavit, a prioridademáxima era deter o homem conhecidocomo“OEngenheiro”.Em6dejunhode1993,oShinBetanunciouaprisãode124 membros do Hamas, alguns deles pertencentes ao Esquadrão Secreto dasBrigadasIzzedineal-Qassam,unidadeespecialformadaem1992.Asnotíciasdeum

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possível acordo de paz entre Rabin e Arafat injetaram sangue novo ao Hamas.Muitos dos jovens recrutas doMovimento de Resistência Islâmico começavam aconsiderartantoArafatcomoRabintraidores.

No inverno de 1993,YahyaAyyash e o seu segundohomemno comando,AliOsman Atssi, testaram o novo sistema de bombas numa patrulha das Forças deDefesa Israelenses,nacidadedeZawiya.Oataque falhouvistoqueaacetonanãoconseguiudetonarocircuitocompleto.Emjaneirode1994,AyyasheAtssifizeramumanovatentativa.Destavez,ocircuito funcionouparcialmente,edois soldadosficaram gravemente feridos. As bombas seguintes deram melhor resultado e o“Engenheiro” decidiu fabricá-las em série. Esse novo artefato de Yahya AyyashmudariadramaticamenteocursodaguerraentreoHamaseIsrael.

Em 25 de fevereiro de 1994, Baruch Goldstein, um físico judeu nascido noBrooklyneseguidordomovimentoKach,entrounamesquitadeHebronarmadocomum fuzilGalil capazdedisparar550balasporminuto.Àquelahora,o localestavacheiodefiéisquesepreparavamparaaoração.Goldsteincomeçouadispararde forma indiscriminada, cobrindo de sangue paredes e tapetes. Sem dúvida, oextremista não disparava ao acaso, mas sabia o que estava fazendo. Quando sepreparava para recarregar o fuzil, um palestino o golpeou na cabeça com umextintor de incêndio.Enquanto o agressor caía, o árabe continuou a lhe bater nacabeçaatéqueseusmiolosseesparramarampelochãodamesquita.Osanguejudeudo homem misturou-se num coquetel de ódio com o sangue dos cinquentapalestinos que ele acabava dematar e com o dosmais de setenta feridos,muitosdeles gravemente, que gemiam de dor.[434] Imediatamente, Yitzhak RabinconvocouShabtaiShavit,memuneh doMossad; YakovPeri, chefe do ShinBet; eKarmiGilon, chefedaDivisãoAntisubversivaNãoÁrabedoShinBet.Gilon eraum especialista em grupos nacionalistas da extrema direita judaica. NosassentamentosjudaicosdeKiryatArba,oscolonoscelebravamcomdisparosparaoaramatançadeHebron.

Em27defevereiro,ojornalMa’arivpublicouemletrasgarrafais:“OmassacredeHebrondaránovasasasaoHamas”.E,semdúvida,tinharazão.

ParaYahyaAyyash,amatançadepalestinosnamesquitadeHebronimplicouumgolpe tão duro como o que sentiram os norte-americanos após o ataque a PearlHarbor,declarariapoucodepoisumcolaboradorseu.ABrigadaIzzedineal-Qassamdecidiu mobilizar todas as suas forças e retribuir o golpe de Hebron em cincoataques concretos. Um oficial da inteligência jordaniana declararia meses depois:“YahyaAyyashficavasempreparadocomoumsemáforo.Eleapenasesperavapara

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veraluzvermelhaoualuzverde.Sealuzfosseverdesignificavaquepodialigarumdosseusaparelhosematardezenasdepessoas”.[435]

AordemdemobilizaçãodeAyyashedeseushomenschegoudeDamascoviafax.Amensagem estava escrita por um alto dirigente político doHamas. A vingançapelasmortes emHebron implicavaumanova série de ataques comcarros-bombacontra o modo de vida israelense. Quando a ordem chegou, Ayyash começou amobilização.

OShinBeteoMossadsouberamquealgoestavaacontecendoporintermédiodeuminformante.EstedisselhesqueaBrigadaIzzedineal-Qassam agoraempreendiaumaamplacampanhaderecrutamentoeque,paraisso,seusagentestinhamidoatéosmaisrecônditoscantosdosterritóriosparafazerorecrutamento.Precisavamdehomensjovens,semfichanoShinBet,queviessemdefamíliaspobres,quetivessemperdidoqualquer esperançano futuro,que tivessemsubstituídoa inatividadepelareligiãoe,obviamente,quemostrassemumgrandeódiopeloocupantejudeu.EsteretratopodiarealmenteserodeYahyaAyyash,mastambémodeumsuicida.Umdos recrutados foi um jovem de 19 anos chamado Ra’id Zaqarna vindo deQabatiya.

Segundo o plano estabelecido por Ayyash, Zaqarna e o seu companheiroMohamed Ahmed Haj Salah Kamil tinham como alvo um ônibus carregado desoldadosque faziao trajetoentre JenineNetanya,nocruzamentodeestradasemdireçãoaBeitLid.OsmembrosdainteligênciadoHamasentregaramosresultadosdasuavigilânciaaoônibusque,curiosamente,realizavasempreomesmopercursoeàmesmahora.OpróprioAyyashatribuiu-oà“mentalidadeisraelensequeaindanãoconheceassuasverdadeirasvulnerabilidades”.

Escondido numa oficina quase às escuras, Ayyash executava o trabalho que lhederagrandenotoriedade.Dentro,via-seumOpelAsconaazul,ano1987,queforaroubado havia três dias. O “Engenheiro” instalou o mecanismo com perícia. Abombaconsistiaemsetecilindrosdegáspresosaumapotentecargadevintequilosdeexplosivosdecincominasantipessoaisqueforamdesmontadas.Ayyashincluíraumasériederecipientescheiosdepregosdecarpinteiroqueserviriamdeestilhaços.Estes voariam a uma velocidade de 620 metros por segundo. Tudo isso seriaintroduzido numa caixametálica que, ao explodir, faria com que toda a fibra devidrodacarroceriadoOpel se tornasseumachuvademorte.Adetonação faria irpelosaresqualquerveículoqueestivessenumraiodeaçãodedezmetros.

O primeiro ato terrorista aconteceria na quarta-feira, 6 de abril de 1994. OmovimentoemAfulaeraohabitual,umacidadedeclassemédianocoraçãodoValedeJezrael,porondepassavamváriasestradasqueconduziamatéomardaGalileia.

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Emmenosde24horas,Israelcelebrariaumadassuasfestasmaissagradas,oYomHá’Shoah (Dia de Lembrança do Holocausto), em que se rende tributo aos 6milhõesde judeusqueperderama vidanos camposde concentraçãonazistas, aossoldadosquemorreramnascincoguerrasisraelo-árabeseàsvítimasdoterrorismo.Àsonzehoras,começariamasoarassirenesportodoopaís.

Namanhãde6deabril,Zaqarnaconduziriaoveículoao longodasestradasdoVale de Jezrael, entre as verdes colinas no sopé do majestoso Monte Tabor. Às12h15,Zaqarnapegouocruzamentoda ruadaNonaDivisão,pertodeondeumgrupodeestudantespasseavatranquilamente.Zaqarnaavistouumônibuscheiodeestudantes,odenúmero348.Os jovens levavampastas, livrosdo institutoeumalatadeCoca-Colanamão.OmembrodoHamasmudaradeopiniãoemrelaçãoaoalvo.Provocariamaisdanoàsociedadeisraelensematandoosseusjovensestudantesdoqueossoldados,algoaqueestavammaishabituadosdevidoàscincoguerrasemqueseenfrentaramdesde1948.

OOpelparouantesdeumafaixadepedestresparadeixarpassartrêsgarotas,quechegaramatéasorrirparaomotorista.Nessemomento,edepoisdepiscaroolhoparaumadelas,Ra’idZaqarna apertouobotão junto ao volante, e a bombaqueestavanoveículoexplodiu.Umaforteluzamarelaelaranjadeulugaraumaboladefogoque incineroutudoà suavoltanumraiodequarentametros.Ospedaçosdeossosecarnehumanamisturavam-secomfragmentosdemetalepregos.O348eraagoraumamassadisformedeferrosretorcidos,eoseuinterior,umacaixademorte,sangue e pedaços de corpos humanos. Adolescentes que iam para um jogo defutebol acompanhados pelas namoradas transformaram-se em tochas enegrecidas.Poucos minutos depois da explosão, o pessoal de resgate de ambulâncias,bombeiros,policiais,desativadoresdeexplosivoseagentesdoShinBetmisturavam-secommãesdesesperadasqueprocuravamnomeiodaqueleinfernoalgumresquícioreconhecíveldosqueatéháalgunsminutoseramseusfilhosefilhas.[436]

TantooShinBetcomooMossadcolocavammuitasquestõesempauta:Quemeraosuicida?Quemoenviou?Quemmontouabomba?Quemtinhaordenadoessanovaondadeataques?Asmanifestaçõespedindoamortedosárabese louvandooqueBaruchGoldsteinhaviafeitoemHebronsemisturavamcomasexigênciasdospartidosdeextremadireitaaoprimeiro-ministro,YitzhakRabin,eaoseuministrodos Negócios Estrangeiros, Shimon Peres, pondo fim às negociações com YasserArafat.

Horas depois do ataque em Afula, quando os rabinos recolhiam os restos dasvítimas e os colocavam em sacos assépticos de plástico, um deles encontrou umtextoemárabe.Rapidamenteoentregouaumpolicialqueestavaaseuladoeestea

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umagentedoShinBet.Amensagemdizia:“EstaoperaçãoéumtrabalhodacélulaAbdel el-Rahman Hamacan, pertencente à Brigada Izzedine al-Qassam.TransformarásnossoEidal-Fitr(FimdoRamadã)numdianegroe,assim,farásdeteu dia da independência um inferno”. Por fim, o texto prometia mais quatroataquesparavingaramatançadeHebron.

O Shin Bet jamais tinha ouvido os membros da Brigada Izzedine al-Qassamfalarememcódigo.Os agentes israelenses, depoisde analisaremos fragmentosdabombaeosistemadedetonação,souberamemseguidaqueeramaisumainvençãodaquele a quem chamavamde “OEngenheiro”, que acabara com a vida denovepessoas,deixandooutras55feridas.

O segundo ato terrorista aconteceria em 13 de abril de 1994, na cidade deHadera. Por volta das 9h30, uma longa fila de passageiros, muitos delestrabalhadores, esperavamachegadadocoletivoparaTelAvivnumtrajetodenãomais de trinta minutos. Quando o ônibus chegou, soldados, estudantes, idosos,mulhereseturistasentraramnoveículo.Aelesjuntou-seumhomemrobustocomumabolsapreta.EraAmarSalahDiabAmarna,de21anoseresidentenacidadedeYabed.

Às 9h40, Amarna baixou a bolsa à altura da cintura e ativou o explosivo. Adeflagração ficou hermeticamente fechada dentro do veículo, devido ao pequenoespaço em que detonou a bomba. Seis pessoas morreram e trinta ficaram comferimentosdeváriosgrausdegravidade.

Depois de participar nos atos oficiais do Yom Há’Shoah, o primeiro-ministroRabinconvocoucomurgênciaosdiretoresdoShinBetedoMossad,YakovPerieShabtaiShavit.Pediu-lhesquefizessemtodoopossívelparalocalizaroresponsávelpelosataques.Eraevidenteque,assimqueoShinBettivesseumnomeeumrosto,seria o Kidon a se encarregar do caso. Para ambos os homens aquilo implicavatrabalharem juntos, estabelecer uma operação Zahav Tahor.[437] O Shin BettratariadalocalizaçãodeYahyaAyyash,eoMossaddeassassiná-lo.

Ayyashnãosótinhasetornadoummagodaeletrônica,umalvoparaoShinBeteopróximo“eliminado”peloKidon,mastambémumautênticoheróinosterritóriosde Gaza e da Cisjordânia. Os jovens podiam ler as aventuras do “Engenheiro”contra os israelenses em romances baratos por encomenda. Num deles, Ayyashconseguiumataroprimeiro-ministrodeIsraelcomumartefatoexplosivoprojetadoporelee,inclusive,emoutro,dava-seaoluxodedarconselhosaopróprioMahoma.ParaYahyaAyyashtudoerapermitido.Acaçaaoratocomeçara,eeraevidentequeoKidon—ogato—,maiscedooumaistarde,iriaapanhá-lo.

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OprimeirogolpecontraAyyash iriaatingi-lomuitodeperto.Dessavez,oalvodos israelenses seria Ali Osman Mohamed Atssi, oficial executivo da célula,confidenteeamigopessoaldo“Engenheiro”.[438]OsagentesdoShinBetestavamhavia quase um ano atrás de Atssi, mas sempre, na última hora, ele conseguiaescapar semdeixar omenor rastro.Denível inferior aAyyash na organização doHamas,Atssinãotinhaomesmocarisma.O“Engenheiro”eraumhomemdeclarainteligênciaeumgrandeestrategista,enquantoAtssieraumhomemdeação,quecomeçou a sua luta contra os ocupantes realizando grafites anti-israelenses nospróprios muros dos quartéis. Durante dias interrogaram-se testemunhas,informantesefontes.Em11dejulhode1994,jáestavatudopreparado.

Uma força combinada do Shin Bet, o exército e o Mossad começou a tomarposições num bloco de edifícios de Nablus. Enquanto os primeiros tinhamesperançadeencontrarAyyasheAtssijuntos,oskatsaeoskidondoMossadapenasdesejavamteresteúltimonamira.PeriordenaraqueseushomensdetivessemAtssiparainterrogatório.EShavit,queosseusdessemumtironanucado“Engenheiro”.Duranteosprimeirosminutostentou-senegociarcomAtssiasuarendição,maselenão estava disposto a fazê-lo.Um atirador de elite doKidon se posicionou numtelhadopertodali.OnúmerodoisdeAyyash,armadocomumaAK-47,abriufogosobreasposiçõesisraelenses.Estavaclaroquenãopensavaemrender-se.

Armadoscomantitanques,osisraelensesdispararamsobreoedifícioreduzindo-oaummontedeescombros.Apósocombate,agentesdoShinBetaproximaram-separa vasculhar entre as pedras e o metal incandescente. Debaixo de um armáriodestroçado encontraram o corpo sem vida de AliOsmanMohamedAtssi, de 30anos.Alguémotinhaacertadocomumtiroentreosolhos.

Aquele incidente provocou uma séria disputa entre Yakov Peri, do ShinBet, eShabtai Shavit, doMossad.Os kidon da Metsada acabavam de executar um doshomensquemaissabiamsobreYahyaAyyash,queotinhatornadoseuconfidente,umdoslíderesdoHamasquemaissabiasobreacúpuladaorganizaçãoterrorista.OKidon acabava de assassinar o número quatro da lista, atrás do próprio xeiqueAhmedYassin,fundadordoHamas,JalidMeshal,doseuaparelhopolítico,eYahyaAyyash,conhecidocomo“Engenheiro”.ShabtaiShavitsabiaquemaiscedooumaistardeessestrêstambémsucumbiriam.[439]

Durante um tempo, as operações da Brigada Izzedine al-Qassam viram-sereduzidasaomínimoporordemexpressadoxeiqueYassin.EstetinhasidovisitadoporArafatnomesmomêsde julho,quandoseestabeleceuaAutoridadeNacionalPalestinanaFaixadeGaza, segundodeterminavamosAcordosdeOslo.OvelholíderdoHamasdesejavadarumaoportunidadeaoRa’is(oLíder)atévercomoele

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atuava diante do ainda ocupante israelense.O que Yassin não sabia é queArafatestava desenvolvendo uma poderosa força de inteligência para controlar osmovimentos do Hamas. Para lutar contra homens como Yahya Ayyash, ArafatcontavacomoAparatodeSegurançaNacional(Al-‘amnal-watani);aPolíciaCivil(Al-shurta); a Segurança Pública (Al-‘amn al-‘ammi), que exercia na Palestina asmesmas funções que o Shin Bet; o Serviço de Segurança Preventivo (Al-’amn al-wiqa’i), que tratava da coordenação com os serviços de segurança israelenses; oDepartamento de Investigação Criminal (Al-bahth al-jina’i); o Departamento deInteligência (Mukhabarat), a cargo das detenções de dissidentes políticos; aInteligênciaMilitar (Istikhbarat), encarregadade espionaros serviçosde segurançaisraelenses;aForça17(Quwasab’a‘asher),aguardapretorianadeArafat;aGuardaCosteira(Bahriyya),umadasagênciasmaiscorruptasdaANP;easForçasEspeciais(Al-quwatal-khassa).[440]

Durante o verão de 1994, Yahya Ayyash permaneceu no mais completoanonimato.OShinBet tentou localizar, semêxito,o“Engenheiro”; cadaumdospalestinosdetidosfazia-sechamarHá’Mehandes(OEngenheiro).Aindanessadata,oShinBeteoKidonprecisavamdeumrostoedeumnome.Masatranquilidadefoi quebrada em9 de outubro de 1994, quando emplena visita do secretário deEstado norte-americano, Warren Christopher, dois companheiros de Ayyash,Hassan Mahmud Abbas e Isma Mahna Ismail Juabay, entraram num centrocomercial de Jerusalém armados com pistolas Jericó 9 mm e granadas defragmentação.Ospalestinosmataramduaspessoaseferiramoutrastrinta.Oecodasexplosões chegou até o hotel King David, pondo em alerta máximo o ServiçoDiplomático de Segurança do Departamento de Estado que devia proteger oenviadodopresidenteBillClinton.

Semanasdepois,Israelrecuperouatensanormalidadeeoscaféselojasvoltaramaencher-se. Um dos centros mais importantes era o da rua Dizengoff, que osisraelenses qualificavam como a Quinta Avenida ou a Oxford Street de Israel.Atravessandoestaexclusivaavenidatodasasmanhãs,oônibusnúmero5circulavadesdeazonanortedacidadeatéocoraçãocomercialdeTelAvivaolongodaruaAllenby,aavenidaRothschildearuaPinkas.Nãohaviaamenordúvidadequeoônibusnúmero5eraumalvoidealparaAyyash.O“Engenheiro”gostavadefazervoar os ônibus pelos ares porque o próprio material dos veículos costumavaprovocarmais danos e vítimasque aprópria explosão.Omembro escolhidoparaessamissãoseriaSalehAbdelRahimal-Souwi.

Em19deoutubro,às8h30damanhã,Al-Souwientrounoônibusnúmero5nazonanortedeTelAviv.Depoisdepagarapassagem,opalestinoseposicionouno

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meiodoveículo.Deuumaolhadelarápidanoscompanheirosdeviagem.Mulheresquesedirigiamaocentro,executivos lendoos jornaisdamanhãeumjovemcasalcomuniformesmilitaresquenãoparavadesebeijar.

Vinteeseisminutosdepois,oenviadodeAyyashagarroucomforçaabolsaquelevavaconsigoe,depoisderecitarumabrevesuradoAlcorão,acionouodispositivoqueprovocariaaigniçãodacargaquehaviadentrocomvintequilosdeTNTmilitardeumabombaegípcia.A forçadaexplosãocortouquaseemduasacarroceriadoônibus,matando21pessoaseferindooutras50.

Rabinestava furioso.Precisavadeumculpado,umrostoparaassociaraonomedo“Engenheiro”,eprecisavadissoimediatamente.OKidontambémprecisava.

Em24deoutubrode1994,oprimeiro-ministroYitzhakRabindeuformalmentecartabrancaaoKidonparamatarYahyaAyyash,eaoexércitoeàpolícia,aordemestritade“atirarparamatar”emcasodedúvida.[441]

Oanode1995seriatrágicoparaahistóriadeIsrael.YakovPeriseriasubstituídonaliderançadoShinBetporKarmiGilonemplenaguerracontraoHamas,osseuscomandantese,obviamente,contraYahyaAyyash.Gilon, residenteemJerusalém,de44anos,antigoprotegidodePerieumespecialistaemgruposdeextrema-direitajudaica,assumiriaocomandodoShinBetnummomentodelicado,nãosónasualutacontragruposextremistaspalestinoscomooHamasoua JihadIslâmica,mastambémnaprópriahistóriadopaís,numaépocaemqueseestabeleciamtratadosdepaz com vários vizinhos árabes. O novo chefe do Shin Bet pertencia à quintageração de advogados e de juízes. Em 1º de março de 1995, Gilon entrou pelaprimeiraveznoseugabinetenoQuartel-GeneraldoShinBet.Oprimeirorelatórioque encontrou sobre amesa foi o de Yahya Ayyash e aOperação Engenheiro, oplanejamentodoassassinatodocomandantedoHamasporumaunidadedoKidon.

Entretanto, nos territórios, as crianças da Intifada continuavam a propagar aslendasdeAyyash.Umadelas,porexemplo,diziaqueumsoldado israelense tinhaatiradoneleequeasbalastinhamatravessado-lheocorposemcausarnenhumdano.Outra, que três soldados israelenses tinham rendidoumAyyashdesarmado e queestepegaraaarmadeumdos soldadoseosmatara.MasnemoShinBet,nemoMossad,nemoKidonsedeixariam impressionarpor taishistórias.OsagentesdoMossadpagariamaAyyashcomaprópriamoeda.

Na tarde de 2 de abril de 1995, uma forte explosão num edifício situado nocoraçãodocampoderefugiadosdeSheikRadwancobriutodaaáreadeumaespessanuvemdepóesangue.Novepessoasforammortas,entreelasduascrianças,alémdeoutras trinta feridas. Entre os mortos encontravam-se Kamal Kahil, oficial deoperações às ordens de Ayyash, e Hatim Hassan, um jovem tenente da Brigada

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Izzedine al-Qassam. Tanto Kahil como Hassan estavam na lista dos vinte maisprocurados pelo Shin Bet. O ataque fora obra do Kidon, mas Yahya Ayyashconseguirafugirdolocalapenasalgunsminutosantesdaexplosão.

O“Engenheiro”sabiaqueoShinBeteoMossadaproximavam-secadavezmaisdele,mastentariadificultar-lhesavida.

Em finais do ano de 1995, o até então ministro dos Negócios Estrangeiros,Shimon Peres, tomava posse do cargo de primeiro-ministro de Israel após oassassinato, pelas mãos de um extremista judeu, de Yitzhak Rabin, em 4 denovembro, depois de um comício pela paz na praça dos Reis de Israel. Peres foimuitoclaroduranteareuniãocomKarmiGilon,doShinBet,eShabtaiShavit,doMossad.YahyaAyyashcontinuavaaserumalvoprioritáriodeIsrael.ShavitpediuentãoaPeresqueratificasseaordemdeexecuçãodeYahyaAyyash,conhecidocomo“Engenheiro” pelo Kidon. A ordem foi ratificada pelo novo primeiro-ministro.Nessaaltura,oshomensdoaltocomandodoHamastinhamtransformadoAyyashnum“lutadordaliberdade”dacausapalestina,eporissofizeram-lheapropostadesairdalinhadefrentedalutanaCisjordâniaparaocuparumcargoemalgumadasembaixadasdoHamasemJartumouTeerã.Elerespondeuquepreferiacontinuaralutacontraosisraelensesnopróprioterritório.Sabiafazerbombas,nãopolítica.

Peres tinha sido claro com o Shin Bet e com o Mossad; era preciso capturarAyyashvivooumorto,eseparaissofossenecessário“pressionar”osfamiliaresdele,assimseriafeito.Umatarde,cincoagentesdoShinBetapareceramnacasadeAisha,amãedo“Engenheiro”,eprenderam-na.De55anosdeidade,diabética,comolhosamareladosequasesemdentes,amulhermostravanaquelacelaminúsculaomesmoorgulho que o filho. Ela jamais falaria com aqueles judeus. Aos interrogatórios,feitosporagentesdoShinBet,assistiamsempretrêshomensqueseocultavamentreassombras.Ostrêskidontinhamamissãodecalareouviroqueamulherpudessedizer.Desafiadora,comarrogânciaeumprofundodesprezoparacomseuscaptores,amulher foi levadaperanteo juiz,queacondenouporentrada ilegalnaFaixadeGazacomdocumentosfalsoseporconspirarcomumaorganizaçãoterroristacontraoEstadode Israel.TantooShinBet comooskidondaMetsada esperavam, comessamedida,queAyyashdesseascaras.

Em 16 de dezembro de 1995, Gaza vivia com fervor o oitavo aniversário dafundação do Hamas. Num estádio, ativistas com o rosto coberto brandiambandeiras e emblemas da organização. Do lado de fora, a polícia palestinapatrulhava entre quiosques que vendiam camisetas estampadas com o rosto deYahyaAyyash,comosefosseumaestrelapop.Eraevidentequeenquantoporumlado Arafat prometia a Israel cooperação para capturar Ayyash, as suas forças de

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segurança continuavam a dar-lhe cobertura, proteção e informação sobre osmovimentosdoShinBetedoMossademGazaenaCisjordânia.OgeneralMusaArafat, chefe do serviço secreto palestino e primo de Yasser Arafat, era ointermediário entre a ANP e Yahya Ayyash.[442] Os pais, mulher e filhos do“Engenheiro”estavamagorasobaproteçãodoserviçosecretodeArafat.

EoShinBeteoMossadsabiamqueseriasempremelhormatarAyyashemGazaounaCisjordâniadoquenoSudão,noIrãounaSíria,paraoqueserianecessárioelaborarumaoperaçãomaiscomplexa.

Ocertoéque,aessaaltura,o“Engenheiro”mostravaumaautênticaparanoiaqueo obrigava a tomar medidas extremas de segurança. Tinha o desejo ardente deprolongarasuavida,masosisraelensesnãoopermitiriam.Estesestavamprestesaterumaoportunidadedeouro.

Numatardededezembro,noquartel-generaldoShinBet, soaramas sirenesdealarme. Aparentemente, Yahya Ayyash aparecera em Gaza, na casa de OsamaHamad,umamigoíntimo,membrodoHamas.Acasaficavanonúmero2daruaShaheed al-Khaluti, apenas apoucosmetrosdodepartamentodapolíciapalestinaemGaza.AyyashadotaraonomedeAbdullahAbuAhmed.

Dentrodacasa,YahyaAyyashfaloucomtodososcomandantesdoHamasatravésdeumcelulardescartável fornecidopelopróprioOsamaHamad.Ao introduzironomedestenocomputadordoShinBet,apareceuafichadeKamalHamad,de43anos, tio de Osama, casado com três mulheres, pai de dezoito filhos, com umenormelimitedecréditonoCairo-PalestineBank,vendedordecarrosusados,queconseguiramisteriosamentefazerumapequenafortunanumadasáreasmaispobresdoplaneta,sempagarosimpostosefazendoumououtropequenonegóciodiantedosolhosfechadosdasautoridadesisraelenses.

GraçasaseuscontatoscomMusaArafat,edepoisdepagarumgrandesuborno,conseguiuquepusessemoseusobrinhoemliberdadeapóstersidodetidoemGazapelos ataques a bomba emRamatGan e Jerusalém.Os comandantes daBrigadaIzzedineal-QassamestavamintrigadospelasrelaçõesdojovemOsamaHamadcomocírculodeMusaArafat,masasuaintimidadecomYahyaAyyashosfezdesistirdefazermaisperguntas.OMossadsabiatambémqueHamadviajavanumMercedes-Benzpreto,usavaroupasinglesasevoavarotineiramenteàEuropaacompanhadodebelas jovens, algumasdelasmenoresde idade.Uma tarde,quandoKamalHamadparounumsemáforo,várioshomensdoKidonabordaram-noentrandonocarro.

UmdoshomensdisseaHamadqueoajudariamseeleosajudasse,masse,pelocontrário, ele os traísse, a visita seguinte seria com o propósito de “executá-lo”.Antes de sair, um dos kidon disse aHamad que o novo negócio que lhe tinham

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propostoodeixariaaindamaisrico.OShinBetgarantiriaaKamalHamadnãosóasuasegurançaeadetodososseusfamiliares,mastambémadasuafortuna.

Antesdedarogolpe,oKidoneoShinBetprecisavamdetodainformaçãoquepudessemter sobreYahyaAyyash,comoquandose levantavadacama,quandosedeitava, quando tomava banho, quem o visitava e coisas do tipo. Enquanto o“Engenheiro”permanecessenacasadeOsamaHamad,estariasobcontrole.

Os agentes do Shin Bet sabiam que todas as comunicações de Ayyash com afamília eram feitas através de celulares, ou “pelephones”, como são chamados emIsrael.Quase2milhõesdessesaparelhos funcionavamdiariamenteemIsraelenosterritórios. Yakov Peri, após a sua saída do Shin Bet, foi nomeado presidente daCellcom,amaisimportanteempresadeserviçosdecelularesdetodoopaís.Aideiado Kidon era eliminar Yahya Ayyash através do seu celular, numa operaçãosemelhante à realizada em 1973, quando acabaram com a vida de MahmudHamshari,ochefedoSetembroNegronaFrança.[443]

OquetornavaessaoperaçãomaisdifícileraquenocasodeHamshariusou-seumtelefone fixo contra o alvo, e, além disso, ele não esperava um ataque doKidon,enquantoAyyashusavasempreumcelularepermaneciaalertadiantedeumpossívelataquedaespionagemisraelense.

OprincipalinconvenienteeracomocolocarocelularnasmãosdeYahyaAyyash.Em25dedezembrode1995,Ayyashtelefonouparaopaiparadizerquetinhasidopainovamente.O“Engenheiro”mostrava-semuitoalegreesatisfeito.Disse-lhequevoltaria a telefonar no próximo dia 5 de janeiro. Ao desligar, o líder do Hamasouviuumruídosuave.TeveacertezadequeoShinBettinhadetectadootelefoneeouvidoaconversa.Estavaclaroqueprecisariadeumnovocelularenaquelemesmodia.

Paraisso,KamalHamadentregouumcelularaoseusobrinhoOsama,compradona lojadeprodutos eletrônicosNabil, empleno centrodeGaza.Oaparelho foraentregue por um fornecedor israelense ao vendedor palestino.Tudo limpo e sempistasdamãodoShinBetoudoMossad.

Osamadeixava sempre aAyyash o seu celularMotorola para realizar chamadaspessoais e para que, através do número 050-507-497, se comunicasse com o pai,AbdelatifAyyash.Naverdade,KamalHamadnãofaziaideiadoqueoKidontinhafeitocomocelular.Sólhedissequeofizessechegaràsmãosdosobrinho.

Em 5 de janeiro de 1996, a Embaixada dos Estados Unidos vivia um grandealvoroçodevidoàiminentechegadadovice-presidente,AlGore,edosecretáriodeEstado,WarrenChristopher.Apoucosquilômetrosdali,numesconderijo,Ayyash

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trabalhavapreparandodiversosdispositivosquedeviamexplodir emvários lugaresdeTelAviveJerusalém.Nadaeradeixadoaoacaso.

Por volta das 4h30, Ayyash apareceu na casa de Hamad. O terrorista estavavestidodemulher edebaixoda sua larga túnica levavaum fuzilde assaltoGlion.Assimqueentrouemcasa,o“Engenheiro”abriusobreamesaumgrandemapadeTelAviv.EraprecisodecidirondeatacarIsrael.

Antesdetentardormirumpouco,YahyaAyyashdeuumaolhadelaàprocuradocelular de Osama Hamad. Depois, fechou os olhos e dormiu umas três horasseguidas.

Com as primeiras luzes do amanhecer, Ayyash acordou.O dia estava frio e aschuvas tinham transformado as ruas de Gaza em autênticos pântanos. Aquelapaisagem era muito diferente à da sua Cisjordânia natal. Por volta das 8h40, ocelular de Hamad tocou. Ayyash decidiu atendê-lo ao reconhecer o número detelefonedacasadopai.AbdelatifAyyashdisseaofilhoqueestavatentandocontatá-loháváriashoras.Alinhatinhasidodevidamentecortada.Quandoo“Engenheiro”perguntouaopaisobresuasaúde,achamadacaiu.Opaivoltouadiscaronúmero050-507-497eumavozfemininagravadadissequeotelefoneestavadesligadoouforadeárea.

Assimquealinhafoicortada,otelefonequeYahyaAyaashtinhanamãovoltouatocar mostrando no pequeno visor o número do pai. Ao atender, uma vozperguntou-lhe: “O senhor é Yahya Ayyash?”.Quando o “Engenheiro” respondeuafirmativamente,umkidon apertouobotãodeumpequeno comando adistânciaqueprovocavaaigniçãodacargadecinquentagramasdeexplosivoTDXcolocadanocompartimentodabateriadocelular.Aexplosãoarrancou-lhepartedocrânio,deixando o cérebro exposto, e amandíbula na sua totalidade.O rosto que até omomentoeradohomemmaisprocuradodeIsraeltinhadesaparecidoporcompleto.YahyaAyyash,conhecidocomo“OEngenheiro”,estavamorto.OlongobraçodeIsrael tinha atingido novamente um inimigo, por ordem do primeiro-ministroShimonPeres,masaglóriadessabrilhanteoperaçãosemaculariapelofiascodeumanova operação contra o Hamas em Amã, a capital da Jordânia, apenas um anodepois,exatamenteem25desetembrode1997.

KarmiGilon, diretor do Shin Bet, recebeu a notícia num escritório cheio de caixas contendo seus benspessoais.AOperaçãoEngenheiroeraapenasopontofinaldeumadascarreirasmaiscurtasdeumdiretordoShinBet.Em8de janeirode1996,eleapresentoua suademissãoaShimonPeres, sendo substituídoporAmiAyalon.

Shabtai Shavit, memuneh do Mossad, seguiria Gilon no mesmo ano. Após a chegada de BenjaminNetanyahu,doLikud,aopoder,ShavitfoidemitidoesubstituídoporDannyYatom.

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YahyaAyyashfoienterradocomapresençadeumaGuardadeHonradaPolíciaPalestinaenviadaporYasserArafatem6dejaneirode1996,nocemitériodeShajaiya,naFaixadeGaza.Aoseufuneralcomparecerammilharesdepessoascomfaixasquediziam:“OHamasrendetributoaoseuherói,oheróidetodasasbombas,queéagoraonossomártir”.Diasdepois,KamalHamad,compassaporteisraelenseeacompanhadopordoisagentesdoShinBet,viajavanaprimeiraclasserumoaumexílionumlugarqualquerdosEstadosUnidos.

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Amorte de Yahya Ayyash, “O Engenheiro”, pelas mãos do Kidon, em 5 dejaneiro de 1996, desencadeou uma série de ataques suicidas.OHamas e os

seuslíderesnãoestavamdispostosapermitirsemelhantederrotamoral.Entreadatada“execução”deAyyashporumaunidadedoKidone25desetembrode1997,diaemqueteveinícioaOperaçãoVingança,oHamascometeuaotodoseisatentados,resultando em 69mortos e 493 feridos.Omais grave deles aconteceu em 25 defevereiro de 1996, quando dois homens-bomba doHamas explodiram dentro deumônibusemJerusalémcausando26mortes.

Semdúvidaalguma,ocansaçodosisraelenses,queviamcomoasuasegurançaeraviolada repetidas vezes concomitantemente às brandas palavras dos políticostrabalhistas, levou a uma reviravolta eleitoral quedeu a vitória aoLikud e ao seulíder, o duro Benjamin Netanyahu, de 47 anos. Irmão do lendário YonniNetanyahu,aúnicabaixa israelensenaOperaçãoRaio,[444]opolíticonãoestavadisposto a deixar-se convencer pelas brandas palavras de paz que Arafat lhetransmitiuapóstersidonomeado.Onovoprimeiro-ministrosabiaqueforaeleitopelopovoisraelensepeloseudurodiscursocomrespeitoàsconcessõesaospalestinose pela defesa absoluta de fazer o que fossenecessário paramanter a segurançadopovodeIsrael.

Assimqueocupouo seuescritórionaprimaverade1996,Netanyahu telefonouparaShabtaiShavit,memunehdoMossad,eodemitiu.Logoemseguida,anuncioua nomeação de Danny Yatom como novo chefe dos serviços de inteligênciaisraelenses. Era evidente que esse ex-major-general esperava uma árdua tarefa porduasfrentes.Porumlado,teriaquelutarcontraoinimigodeIsrael,personificadonos suicidas do Hamas, na Jihad Islâmica, na Brigada Izzedine al-Qassam e nas

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Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, e, por outro, teria que fazer uma política decontenção devido às pressões do próprio primeiro-ministro. “Bibi” Netanyahuqueriaresultadoseosqueriajá.

Yatom fora seu comandante nas Forças de Defesa Israelenses. Posteriormente,NetanyahuforaembaixadordeIsraelnasNaçõesUnidase,maistarde,umfamosoanalistadeterrorismointernacionalnaCNN.Onovomemuneheraumsoldadodecarreira, comumbrilhante currículo, que chegara ao cargo de assessormilitar doprimeiro-ministroYitzhakRabin.Agoraocupavaopostomaisaltoda inteligênciaisraelense, talvezumadasmais importantesagênciasdeespionagemmundiais.Eleeraagoraotodo-poderosodiretor-geraldoMossad.

Duranteosprimeirosmeses,NetanyahueYatomforaminseparáveis.Omemunehpassavapelomenosumatardeporsemanacomoprimeiro-ministro, relembrandopequenashistóriasdeguerraenquantobebiamcervejaecomiamazeitonas.[445]Empouco tempo, aquelahistória de amor e amizade se tornaria opior pesadeloparaDannyYatom.Trêsacontecimentos,umnaJordânia,outronaSuíçaeoúltimoempleno coração do Mossad, provocariam uma ruptura de relações entre ele e ogabinetedoprimeiro-ministro.

Noverãode1997,oHamasvoltouaatacarduramente.Doisterroristassuicidasexplodiram-se em 30 de julho no mercado de Mahane Yehuda de Jerusalém,deixando15mortose178feridos.Diasdepois,exatamenteem4desetembro,trêssuicidas do Hamas explodiram-se na rua comercial de Ben Yehuda, também emJerusalém,deixando4mortose181feridos.Cincodiasdepois,em9desetembro,doisterroristasdisparariamcontradoisagentesdoShinBetquerealizavamserviçosde proteção da recentemente inaugurada Embaixada de Israel em Amã. Nessamesmatarde,YatomrecebeuumtelefonemadopróprioNetanyahu.

Por volta das seis da tarde, o memuneh estava sentado em frente ao primeiro-ministro.Dessaveznãohaviacervejanemazeitonas,apenasrepreensões.NetanyahuqueriasabercomoaestaçãodoMossadnacapital jordaniananãotinhaprevistooataque do Hamas em Amã. Em dado momento, Yatom disse ao seu chefe quetinhamconseguidoidentificaroresponsávelpelosúltimosatentadosrealizadosporessegrupo.

Benjamin Netanyahu solicitou um amplo dossiê para a manhã seguinte. Oprimeiro-ministro queria saber tudo sobre o inimigo, até seus traços faciais, seusgostos, seeracasado, segostavademulheres,quandodormiaeparaondeviajava.Tudo,absolutamentetudo.

Durantetodaaquelanoite,odepartamentodoMossadencarregadodasfichasdeterrorismocomeçouaelaborarumrelatóriosobrequemseriaonovoalvodoKidon.

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Chamava-seJalidMeshal,de41anosenascidoemRamallah.Em1967,mudara-separaoKuwait,ondecomeçaraaestabelecerrelaçõescomgruposislâmicosdospaísesdo Golfo Pérsico, enquanto graduava-se em Física. Em 1990, mudara-se para acapital jordanianacommulherefilhos,eseisanosdepoisassumiraocomandodoGabinete Político doHamas sob ordens diretas do xeique Ahmed Yassin. YatomdisseaNetanyahuqueemboraMeshal fosse realmenteonúmerodoisdoHamas,no planomilitar era o número um.Opalestino era quemordenava as operaçõessuicidassobrealvosisraelenses.[446]

HaviaanosqueoHamaseosseuslíderestinhamsetornadoopiorpesadelodasForçasdeSegurança Israelenses.Pior atéqueAbuNidal, aFrentePopularpara aLibertaçãodaPalestinaouoSetembroNegro.“OsseusprincipaislíderespassaramváriosanosnaUniversidadePatricioLumumbaemMoscou;nosquartéisdaStasina Alemanha Oriental; nos campos de treinamento militar em Cuba e emPyongyang”,diziaorelatóriodoMossad.[447]

Netanyahu continuou a ler, enquanto Yatom permanecia sentado à sua frente:“Em 1978, o xeique Ahmed Yassin fundou um pequeno grupo fortementeestruturadochamadoHamas.OficialmentecontroladocomonomedeAl-Mujama(“A Assembleia”), o Hamas tornou-se em pouco tempo uma seção palestina daIrmandade Muçulmana do Egito. Um ano depois, a primeira célula do HamascomeçouaoperarnaFaixadeGaza.Empoucosanos,aquelapequenaorganizaçãofoicrescendoemnúmerodeadeptosatéestabelecersucursaisemDamasco,Bagdá,Trípoli, Teerã e agora em Amã. Com fundos de países árabes como a ArábiaSaudita, o Kuwait e o Irã, estabeleceram-se também em Londres e Arlington,Virgínia”.[448]

Atéentão,osprincipaislíderesdoHamaseramquaseinvisíveisparaascâmerasdevigilânciadoShinBet;podiamcircularlivrementeporGazaenaCisjordânia.Masemnovembrode1987,tudoissomudou.Nodia25dessemês,àmeia-noite,umcomando terrorista palestino conseguiu invadir uma base militar da infantariaisraelensesituadanosarredoresdacidadedeQiryatShmonah,matarseissoldadoseferirmaisumadúzia, antesdeelesmesmosmorrerem.Esseato,naverdade, foiodespertarparamuitosgruposintegristasqueatéentãoviamossoldadosdoexércitoisraelensecomoinvencíveis.Nanoitede25denovembro,descobriramquetambémeramsereshumanosequepodiammorrer.[449]Duranteosdiasqueseseguiram,arebelião estendeu-se por todos os territórios ocupados. Adolescentes que até essaaltura tinham se escondido com a chegada do exército israelense, dedicavam-seagoraaatirarcoquetéismolotov.Daviinsurgia-secontraGolias.

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Finalmente, depois de ler todo o relatório com o selo do Mossad, BenjaminNetanyahudisseaoseumemuneh:“VãoàJordâniaeacabemcomele.Executem-no.EnvieoseupessoalaAmãparaqueofaçam”.[450]

Omemuneh tentouexplicaraNetanyahuquematarMeshalemAmãpodiapôremperigoo acordodepaz assinado comos jordanianos. “Seriamelhor assassinarMeshalemqualqueroutropaísárabeounaEuropa,paraondeelecostumaviajar”,disseYatom.Oprimeiro-ministrogritoucomoseuchefedeespionagem,acusando-odearranjardesculpas:“Queroação,eaqueroagora”.[451]

Apartirdessemomento,eratarefadaMetsadaprepararumaoperaçãocomofimde executar JalidMeshal.Antes de ativar oKidon, a subunidadede assassinosdaMetsada,tudodeviaestarplanejado.“Nãoqueroerrosnessaoperação.AOperaçãoVingança deve ser Ain Efes, em que não se admite o fracasso”, disse seriamenteDannyYatom.

Durantedias,aMetsada,emcolaboraçãocomaestaçãodoMossadnaJordânia,aUnidade 8200, encarregada da interceptação de comunicações, a Unidade 8513,responsávelpelaobtençãodeinformaçãofotográficadosalvos,eaYahalomin,quese ocupava das comunicações do Mossad, puseram mãos à obra. Tanto DannyYatom como Benjamin Netanyahu queriam um plano e queriam-no já, semdemora.

Em20desetembrode1997,oplanoquefaziapartedaOperaçãoVingançafoiapresentadoparaaaprovaçãodoprimeiro-ministro.Yatomsabiaqueseaoperaçãocorresse bem, Benjamin Netanyahu ficaria com os louvores políticos, mas, secorressemal,seriaelequemdeveriaarcarsozinhocomaculpa.Às21horas,“Bibi”Netanyahudeuinícioàoperação.

Em 24 de setembro, dois jovens, com ar de executivos de férias, chegaram àcapital jordaniana de avião, vindos deRoma.Aopassarempelo posto policial, osdois homens mostraram os passaportes canadenses. Em seguida, entraram noterminaledirigiram-seaopontodetáxi.Umdelesdisseaomotoristaqueoslevasseaté o hotel Inter-Continental, situado emQueenZein Street.Na verdade, BarryBeads e John Kendall, nomes falsos, eram kidon que chegaram à Jordânia paraefetivarumgolpecontraoHamas.

Ao chegarem aoquartodohotel, esperavapor eles ummembrodoKaisarut, odepartamento demediações nas embaixadas de Israel, conhecido como oficial deinteligênciapelasagênciasdeespionagemlocais.Ohomementregou-lhesumafichae várias fotografias de Jalid Meshal. Kendall pegou uma em que aparecia umhomem robusto, com uma espessa barba preta, que, aparentemente, era um

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dedicadopaide família, vistoque, emmuitasoutras, erapossível vê-lobrincandocomalgumdosseussetefilhos.

No mesmo dia 24, os dois kidon reuniram-se com o resto da equipe, paradeixarem completamente definidas as rotas de fuga caso a operação não corressebem.Nessamesmatarde,asequipesdeassassinosdoMossadrealizaramváriasvezesostrajetosdefugacomocronômetronamão.Nãosepodiadeixarnadaaoacaso.

Às21horas,BarryBeadsdirigiu-se a uma empresade aluguel de automóveis eescolheuumToyotaazul.Aessamesmahora,emoutraempresa,JohnKendallfaziaomesmo comumHyundai verde. Estava tudo preparado para o ataque ao alvo.[452]

Em25desetembro,logopelamanhã,aprimeiraunidadedoKidonavistouumMercedes-Benzpretoqueseaproximava.Nobancodafrente,estavaJalidMeshale,node trás, trêsdos sete filhosdo líderdoHamas.Antesdedeixá-losnaescola,omotoristadevia levarMeshal até a sededoHamas emAmã.OMercedes virou àesquerdaparaentrarnodistritodoJardim.Nessemomento,omotoristadeMeshalolhoupeloretrovisoreavisouseuchefequealguémosseguia.Estepegouocelular,eomotoristafoipassandoosnúmerosdaplaca.

Dodepartamentodapolíciajordaniana,umavozdisse-lhequeseacalmasse,queo carro tinha sido alugado a um turista canadense. Em dado momento, JohnKendall, aovolantedoHyundai,decidiuultrapassaroMercedes-Benzpretoantesdeficarpresonotrânsito.

Às10h30,JalidMeshal,acompanhadodeseusfilhos,chegouàruaWasfial-Tal.Curiosamente,onomedaruaemqueseencontravaasededaorganizaçãoterroristapalestina Hamas era em honra do primeiro-ministro jordaniano assassinado noCairoporterroristaspalestinosdoSetembroNegroem28denovembrode1971.SónoOrienteMédiopodiaaconteceralgodogênero.

EmmeioaumgrupodepessoasqueseaglomeravaemfrenteàportadasededoHamas, encontravam-se os dois membros do Kidon. Quando Meshal beijava osfilhosnorosto,Beadsaproximou-sedeleenquantoKendall,aoseulado,mexianumobjetodentrodeumabolsa.

Meshalolhou-oscomdesconfiança,mas,nessemomento,Kendalltirouumsprayepulverizouoconteúdonoouvidoesquerdodopalestino,diantedoolharatônitodas crianças e dos presentes. Jalid Meshal pulou para trás para evitar o segundoataquedokidon,enquantocomumamãosecavaolíquidoquetinhamtentadolheintroduzir no ouvido. Nesse momento, vários membros da segurança do Hamaschegaram e agarraram-lhes com força asmãos, pensando que tentavam tirar umapistola.Beadscomeçoualutarenquantogritavaaoseucompanheiroquefugisse.A

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essaaltura, a equipedeapoio já tinhachegado,mas tiveramque recuardiantedainvestida do veículo de Meshal que não os deixava avançar. Por fim, a segundaequipedoKidonfugiuabandonandoosdoiscompanheirosàsorte.[453]

Apolíciajordaniana,queacabavadechegar,prendeuosmembrosdoKidoneosconduziu a uma cela no quartel-general da polícia. Tanto Beads como Kendalldeclararam-se inocentes,mas a chegada de SamihBatithi, o poderoso e influentechefe do Departamento Geral de Inteligência (GID nas siglas em inglês), os fezmudarasrespostas.BatithiacabavadeterumareuniãocomochefedaestaçãodoMossadnaEmbaixadadeIsraelemAmã.

OchefedoGIDordenouqueninguémtocassenosdoisagentesisraelenses.JalidMeshal foi internado num hospital jordaniano e ligado a um respirador artificialpara lhe estabilizar o coração e os pulmões. O kidon não tinha conseguidointroduzirtodoovenenonoouvidodelee,devidoàsuaboaformafísica,olíderdoHamasconseguirasobreviver,emboranãosesoubesseporquantotempo.[454]

Por volta das 22 horas, o chefe de gabinete do primeiro-ministro de Israelanunciouaoseusuperiorquerecebia,atravésdotelefoneparticular,umachamadado reiHusseinda Jordânia.Quase aos gritos, omonarcahachemita relatou a umperplexoNetanyahuoocorridohorasantesnasruasdeAmã.Tambémlherevelouqueosdoiskidontinhamconfessado,equeaconfissãoassinadaporBeadseKendallforaenviadaàsecretáriadeEstadonorte-americana,MadeleineAlbright.

“Senãoquerqueosnossosdoispaísesvoltemaoestadodeguerraqueviveramdesde 1948, vou impor-lhe uma série de condições que deverá cumprir. Não hánegociaçãoemnenhumadelas.Assimqueascumprir,libertareiosseusdoisagentes,que serãoentreguesnapontedeAllenby”,disseo reida Jordâniaaumprimeiro-ministrodeIsraelqueaindanãotinhaconseguidopronunciarsequerumapalavra.As condições também foram enviadas à Casa Branca e autorizadas pelo própriopresidenteBillClinton.[455]

DannyYatom,omemuneh, soubedodesastredaoperaçãonoprópriogabinete,atravésdeumtelefonemadochefedaestaçãoemAmã.Logoaseguirapresentava-senogabinetedoseuchefe,BenjaminNetanyahu,que já tinhaatendidoachamadadomonarcajordaniano.

“Husseinperguntou-menoqueeuestavapensandoesetinhaoantídotoparaogástóxicousadocontraMeshal”,disseopolíticoaoseuchefedeespiões.Antesdedesligar o aparelho,Hussein da Jordânia exigira a “Bibi”Netanyahu a libertaçãoimediatadoxeiqueAhmedYassinedevárioslíderespalestinos,bemcomooenvioaAmãdoantídotoparasalvaravidadeJalidMeshal.[456]

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Nessamesmatarde,DannyYatomtelefonouaoseuhomólogoSamihBathitiparalhepedirdesculpaseanunciar-lhequeumaoperaçãodoMossadjamaisserepetiriaemsolojordaniano.OutroproblemasurgiucomogovernodoCanadá,quandoosjordanianos informaramque tinhamconfiscadopassaportes canadenses falsos comosdoiskidondetidos.OMinistériodosNegóciosEstrangeirosdessepaísretirouoseuembaixadordeTelAviveavisouIsraelque,sealgoparecidovoltasseaacontecer,implicariaarupturaimediataderelaçõesdiplomáticas.Aquelesdiasforamospioresnavida,nãosópolítica,doorgulhosoBenjaminNetanyahu.Empoucashoras,eleteve que balbuciar desculpas a Bill Clinton, a Madeleine Albright, ao primeiro-ministrocanadenseJeanChrétieneaoreiHusseindaJordânia.Yatomfoiobrigadoalevaroantídotoàcapitaljordaniana.

Exatamente uma semana depois, o xeique Ahmed Yassin era libertado com olouvor de multidões, que o esperavam às portas da prisão israelense. Kendall eBeads, concomitantemente, entravam em Israel através da ponte de Allenby.AquelesforamdiasnegrosnãosóparaoMossadeoKidon,mastambémparatodooEstadodeIsrael.

O certo é que com o fiasco na tentativa de assassinato do líder do Hamas naJordânia, Danny Yatom tornou-se um chefe desautorizado, um memuneh semnenhum poder de decisão. Até o Estado-Maior sabia que Yatom fora incapaz deimpedir ou de rejeitar cumprir as ordens de Netanyahu. Por fim, alguém dogabinetedoprimeiro-ministro tratoude fazer vazar convenientemente à imprensaque“osdiasdeYatomnoMossadestavamcontados”.Issonãoajudouemnadaasubiromoraldoskatsaedosagentesdaespionagemisraelense.

OsegundogolpecontraomoraldoMossadchegarianofinaldomêsdeoutubrode1997,quandoumkatsadodepartamentosíriodaespionagemisraelensepôsemdúvidaafontemanipuladaduranteváriosanosporYehudaGil,[457]umdosmaisrespeitados katsa do Mossad, antigo membro do Kidon e oficial respeitado daMetsada.

Oanalista,sabendodopoderdeGilnoMossad,decidiufalardosseusreceiosaoprópriomemuneh.OagentesuspeitavadeumaantigafontedeYehudaGil,depoisdereverumrelatóriosobreumapossívelinvasãosíriadeIsrael.

Interrogado por Danny Yatom, Yehuda Gil confessou que inventara a fonte eque, graças a isso, andava roubando fundos reservados doMossad há vinte anos.Yatom apareceu novamente namira deNetanyahu, apesar de o memuneh tentarexplicarqueGil roubaraoMossadduranteomandatodequatrodiretores-gerais,desdeIsaacHofi,passandoporNahumAdmoni,ShabtaiShaviteelepróprio.

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OKidoncometeriapelaterceiravezumdeslizequandoumadassuasequipesfoidetida na cidade suíça de Liebefeld, no sábado, dia 24 de fevereiro de 1998.Aparentemente, os cinco kidon aprontavam-se para matar Abdullah Zein, queocupava um alto cargonoHezbollah.Enquanto preparavam a ação à noite, umaidosa com insônia decidiu chamar a polícia ao ver vários sujeitos suspeitos, trêshomens e duas mulheres, entrando e saindo de um edifício de apartamentos nonúmero 27 daWabersackerstrasse.Quando a polícia chegou ao local, encontrouváriosmembrosdoKidonemplenaatividade.

Solly Goldberg, Rachel Jacobson e Efraim Rubinstein estavam ainda na portaquando chegou a primeira patrulha. No carro de apoio, estavam Leah Cohen eMattiFinklestein.

Rubinsteinsimulouumataquedecoração,enquantoorestantedoscompanheirosfugiam. No hospital, confirmou-se que ele não padecia de nenhuma doençacardíaca, e o chefe da polícia ordenou a sua detenção imediata. Novamente, emmenosdedozemeses,umaequipedoKidonforaapanhadacomamãonamassa.

Àsquatrodamanhã,horadeTelAviv,tocouotelefonequeYatomtinhajuntoàcama.Hámesesqueelenãoconseguiaregularizarosono.Dooutroladodalinha,um katsa do Mossad informava o seu chefe sobre o incidente que acabava deacontecernaSuíça.YatomtevequeacordarNetanyahuparadar-lheanotícia.

ImediatamenteligaramparaEfraimHalevy,oembaixadordeIsraelemBruxelas,para que tentasse estabelecer contato extraoficial com as autoridades suíças. JacobKellerberger, um alto oficial do Serviço Estratégico de Inteligência suíço, foiescolhido como interlocutor por Halevy. O diplomata israelense disse ao espiãosuíçoquealgocorreramalnumaoperaçãodoMossademseupaís.“Atéquepontocorreu mal?”, perguntou Kellerberger. “Prenderam um dos nossos agentes”,respondeuHalevycomtranquilidade.

No início, parecia que o entendimento entre ambos ia bem, mas, assim quedesligou,JacobKellerbergerdecidiutelefonarparaabeligeranteprocuradorafederalda Suíça, Carla del Ponte. Na quarta-feira, 28 de fevereiro de 1998, ela decidiutornarpúblicooassuntoedenunciaraspráticasdoMossadnumpaíssupostamentealiado.Poucashorasdepois,DannyYatom,oitavomemunehdesde a fundaçãodoserviçodeespionagemisraelense,demitia-sedocargo.

Em5demarçode1998,EfraimHalevytornou-seononodiretor-geral,depoisdesernomeadopeloprimeiro-ministroNetanyahu,anunciandoaomesmotempoqueem3 demarço de 2000 seria substituído porAmiramLevine, novo diretor-geraladjunto.Halevy tornou-se assimoprimeiromemuneh doMossad a ser eleito porumtempodeterminado.

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Os anos deHalevy resultariam na normalização doMossad e numa subida demoralparaosoficiais,katsaeatékidondaMetsada.Oprincipalinimigo,nãosódoMossadmas também do Estado de Israel, continuava a ser sempre omesmo, ossuicidaspalestinosdegruposcomoaJihadIslâmica,aBrigadaIzzedineal-Qassam,asBrigadasdosMártiresdeAlAqsaeoHamas.ParamuitosmembrosdoMossad,alibertaçãodoxeiqueAhmedYassin,fundadoreprincipallíderdoHamas,implicouumdurogolpequenãodemorariamadesforrar,masnemHalevynemBenjaminNetanyahupoderiamver.

OMossadeasuaunidadedoKidonpassavamporumadaspiorescrisesdesdeasuacriação,quelevouàdemissãoempoucosmesesdeseisdosseusaltoscomandospor divergências com o atual memuneh, Meir Dagan. Havia pouco tempo, umjornal de Israel tinha o título: “Terremoto no Mossad”. O jornal descrevia umasituação caótica, que se revelara muito mais grave do que o esperado, com umaprofunda falta de confiança por parte de todos os departamentos implicados,incluindoaMetsadae,porconseguinte,oKidon.

OmemunehDaganforanomeadopeloprimeiro-ministroArielSharonem2003com o objetivo prioritário de pôr ordem no Mossad, mas estava fracassando natentativa,eoserviçodeespionagemvia-seoutravezcontraaparede.

Entre os chefes do Mossad que abandonaram o cargo encontravam-se, porhierarquia,onúmero2;onúmero3;oresponsávelpelasrelaçõescomosserviçosdeinteligênciadeoutrospaíses;ochefedaMetsadaparaoperaçõesespeciais;odalutaantiterrorista;eoderecursoshumanos.

OsdiretoresqueforamemboraacusaramDagandetervioladoumapromessadepromoveronúmero3doMossadedeterquebradoasrelaçõescomomajor-generalAharon Ze’evi-Farkash, chefe do serviço de inteligência militar (Aman), e comAbrahamDeichter,diretordoShinBet.

Estava claro que Meir Dagan precisava de uma operação que lhe devolvesse aconfiança não só do seu chefe, Ariel Sharon, mas também dos comandantes doMossad.Oprimeiro-ministroestavamuitosatisfeitocomele,ecomotrabalhoquerealizara no serviço de espionagem durante esses anos,mas também precisava dealgosurpreendentequeofizesseconquistarpontosdepopularidade.Paraisso,nadamelhorqueumaoperaçãodoKidon.

DaganconcordavacomaposiçãodemuitosoficiaisdoMossadquesemostraramcontráriosà libertaçãodoxeiqueAhmedYassinepensouqueessepoderia serumbom alvo. Para isso, omemuneh recuperou o dossiê aberto há sete anos, e nuncaencerrado, pelo depostoDannyYatom, daOperaçãoVingança, que estabelecia oassassinatopelasmãosdoKidon,dosprincipaislíderesdoHamas.

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Nosúltimosquatroanos,exatamentede20dedezembrode2000a14demarçode2004,oHamaslevaraatermo38ataquesterroristascontraIsrael,deixando256mortosequase1.700feridos.Eraevidente,paraSharoneparaoseumemuneh,queeraprecisodeteressaondadeviolência,aindaqueparaissooKidonouoexércitotivessem que executar todos os líderes do Hamas, um a um, e o xeique AhmedYassinestavanotopodapirâmide.

Antesdeatacaroalvoprincipal,oMossadteriaqueatacarvárioschefesmilitaresdoHamas.Em22de janeirode2002,após trêsmesesdevigilânciaporpartedoMossadedaAman,conseguirameliminardoisdosseusmaisimportantesmembros,cujosnomesapareciamnalistadosterroristasmaisprocurados.

Uma unidade conjunta entre a Sayeret Matkal e o Kidon cercou numa casaKhasserSamaro,conhecidocomo“OEngenheiro2”,eNassinAbuRus,conhecidocomo “OEngenheiro 3”, junto a dois tenentes doHamas,Yousef Suraj eKarimMasarja.

Samaro eAbuRus forammortos por disparos de atiradores de elite doKidon,enquanto Suraj e Masarja morreriam em combate com a primeira unidade daSayeretqueentrounacasa.Naverdade,oschefesmilitaresedaAman,assimcomoo memuneh Dagan, tinham claro, após a execução do “Engenheiro 2” e do“Engenheiro3”,responsáveispeloprojetodebombaseexplosivosdoHamas,queasoperações de assalto implicavam assumir perdas, enquanto executar um chefe doHamasatravésdeataquesseletivoscommísseiseramuitomaiseficazeseguroparaosagentes israelenses.Quandoomíssil lançadodeumhelicópteroacabavacomoalvo,okatsaquetivessecolocadoodetectorestariajantandoemcasacomafamília.Em 30 de junho de 2002, o chefe de bombas do Hamas, Mohamed Taher,conhecido como “O Engenheiro 4”, e o seu número dois, Imad Draoza, foramassassinados por comandos navais. Durante o combate entre os israelenses e ospalestinos, dois homens ficaram gravemente feridos. Para Ariel Sharon e o seumemuneh, Meir Dagan, a escalada continuava aberta enquanto não se matasse olíderdoHamas,oxeiqueAhmedYassin.

AhmedYassinnasceraem1938napequenaaldeiadeMajdel,pertodeAshkelon.O velho muçulmano de 66 anos era não só o fundador e guia espiritual domovimentointegristaislâmicoHamas;doentehámuitotempoeparalíticodesdeainfância,eraafiguramaisemblemáticadaresistênciapalestina.Oseucorpoinertecontrastavacomumolharexpressivoeumavozpenetrante.[458]

Debaixaestatura,combarbagrisalhaeocapuzbrancodosmilitantesislâmicos,ofundadordoHamasmovimentava-senacadeiraderodasdesdeos12anos,quandolevouumapancadanacolunavertebraljogandofutebolnocampoderefugiadosem

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que vivia, na Faixa deGaza. Para Sharon eDagan, eram suficientes as contínuasdeclarações de Yassin mostrando-se contrário ao fim dos atentados contra Israelenquanto durasse a ocupação dos territórios palestinos e o exército israelensecontinuasse“amatarmulheres,criançasecivisinocentes”.

Pai de onze filhos, Yassin fazia parte dos refugiados expulsos do território queformava o novo Estado de Israel durante a guerra israelo-árabe em 1948. Nessemesmoano,asuaaldeia,comomuitasoutras,foraarrasadapelasforçasisraelenses,eYassinrefugiou-senaFaixadeGaza,ondeterminouosestudossecundários.Apesardesuaparalisia,mudou-separaoCairo,ondepassouumanonaUniversidadeAl-Azhar, emborapor falta dedinheiro tivesse que interromper os estudos.Esse anoseria decisivo para o seu futuro, já que no Cairo estabeleceu contato com osfundamentalistasdomovimentodaIrmandadeMuçulmana.[459]

Na década de 1970, fundou a sua própria organização e começou a recrutarjovens desejosos de entrar em ação. Nesse momento, Israel deixou-o fundar, atéencorajou secretamente os integristas que estendiam a sua influência na Faixa deGaza, como fimde debilitar omovimentopolíticoAlFatah, lideradopelo atualpresidente palestino Yasser Arafat. No início dos anos 1980, na confusão darevolução iraniana, o xeiqueYassin criouumaorganização integristamais radical,Majd al Mujaidin (Glória dos Combatentes do Islã), mas em 1984 seria detidopelos agentes do Shin Bet por realizar atos de terrorismo contra Israel e as suasForçasdeDefesa,assimcomoporpossedearmaseexplosivos.Elepermaneceusóumanonaprisão,jáquefoilibertadograçasaumatrocadeprisioneiros.[460]

Assimquesaiudaprisão,AhmedYassinfundou,em14dedezembrode1987,aorganização chamada Movimento de Resistência Islâmica, que seria tragicamenteconhecidacomoHamas.

Preso novamente em maio de 1989 pelo Shin Bet, foi condenado à prisãoperpétua em outubro de 1991. O xeique Yassin permaneceu imperturbável aoescutaroveredicto.“Opovojudeubebeudocopodosofrimentoeviveudispersopelomundo.Hoje,éessemesmopovoquequerforçarospalestinosabeberdessecopo.Ahistórianãoosperdoará,eDeusnosjulgaráatodos”,disseaosjuízes.

Yassin seria libertado, nos primeiros dias de outubro de 1997, por ordem doprimeiro-ministroBenjaminNetanyahueoseumemunehDannyYatom,eeLivrospara a Jordânia, graças à intervenção do Rei Hussein desse país. O monarca,indignado pela tentativa do Kidon de assassinar em Amã o chefe do gabinetepolítico do Hamas, Jalid Meshal, obteve a libertação de Yassin em troca dalibertaçãodosdoiskidonisraelensesretidosnumaprisãojordaniana.Depoisdeuma

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breve estadia num hospital de Amã, o religioso regressou a Gaza. Desde então,manteverelaçõesconturbadascomaANPecomoseupresidente,YasserArafat.

Emsetembrode2003,oxeiqueYassineváriosdirigentesdoHamassaíramilesosde um ataque perpetrado pelo exército israelense contra algumas casas em Gazaondeseencontravareunidaacúpuladomovimentointegrista.Oprimeiro-ministro,ArielSharon, tinhaordenadoo ataque;MeirDagan eos seus agentesdoMossadtinham obtido a informação necessária e omajor-general AharonZe’evi-Farkash,chefe da inteligência militar, liderou a investida. Após o fracasso da operação, oxeiqueAhmedYassindisse aos jornalistas, na sua casana cidadedeGaza: “Estouaguardando o meu martírio. Eles querem me matar e eu lhes digo que nós nãotemosmedodamorteporque, quandomorremos,morremos comomártires”.Ostrêsisraelensestornariamaquelaspalavrasproféticas,semdúvidaalguma,maiscedooumaistarde.

SharonderaháalgumtemposinalverdeàOperaçãoVingança,queconsistianoassassinato executadopeloMossad epelo seubraço executor, oKidon,do xeiqueAhmedYassin.DaganeZe’evi-Farkash sabiamquepara levá-la a cabo tinhamderealizar uma Zahav Tahor (Ouro Puro). Assim se denominavam as operaçõescombinadas entre o Mossad e qualquer outra agência de inteligência israelense,unidadedoexércitooudapolícia.

UmaequipedoKidoneduasdaAmanseencarregariamdeexecutaraação.Em19demarçode2004,ummembroda inteligênciamilitar conseguiu fotografaroxeiqueYassin enquanto saíadamesquitadeGazadepois das orações.As imagensforamenviadasparaoquartel-generaldoKidonnodesertodeBeersheba.

AtravésdaampliaçãodeimagenscomprovaramqueacadeiraderodasusadapelolíderdoHamaseraumaOttoBock.Ochefedocomandoconseguiuumadescriçãotécnica dela pelo fabricante. Horas depois, os kidon e os agentes da Amananalisavamumaaumaaspeçasqueacompunham.

AOttoBockdeYassineramuitofrágiledesmontável,comumaestruturamuitocompacta e adaptável às necessidades do xeique — por exemplo, o encosto e acolunadacadeirapodiamseajustarindividualmente,atéadequar-seàespessuradaalmofada.Alémdisso,contavacomseisopçõesdeajusteparadiferentesposiçõesdacoluna.IstopoderiaimplicarumproblemaparaoataqueseAhmedYassinestivessesubindo uma ladeira. Ainda que a cadeira fosse empurrada por um dos guarda-costas, era evidente que o nível do disparo seria diferente. O plano estava quasefechado,eentãoocomunicariamaMeirDagan.

Naquelamesmanoite, no gabinete doprimeiro-ministro,Ariel Sharonouviu oplano relatado pelo memuneh. O duro líder israelense assentiu com a cabeça e

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apenaspronunciouum:“Váemfrente”.Nodomingo,21demarço,osmembrosdoKidonespalharam-sepelaFaixade

Gaza com transmissoresde alta frequência. SabiamqueYassin, como seu filho econfidente,AbdulAzizYassin,eosseusdoisguardasechefesmilitaresdoHamas,KhalilAbu Jiab eAyoubAtallah, ia todas as tardesvisitar várias famílias edepoisrezar na mesquita. Fazendo-se passar por trabalhadores de obras públicas daAutoridadeNacionalPalestina, os agentesmilitares daAmandedicaram-se a tirarmedidas e alturasdas ruasporonde supostamentedeveriampassarYassin e a suaescoltaaovoltaremparacasaapósaoração.

Ànoite,ordenou-seauminformantedoShinBetparatirarumapequenatampadeplásticolocalizadadebaixodochassisdealumíniodacadeiraderodasdoxeiqueAhmedYassinecolocarno interiorumsistemaqueemitiaumsinal.Assimqueoequipamentofosseintroduzido,eledeveriarecolocaratampadeplástico.

Na segunda-feira, 22 de março de 2004, a Faixa de Gaza amanhecia aindaexaltada pelo êxito do ataque realizado havia apenas oito dias, em 14 de março,quando dois homens-bomba do Hamas e das Brigadas dos Mártires de Al Aqsaexplodiramno porto israelense deAshdod,matando dez pessoas e ferindo outrasdezesseis.Yassinfezumlongodiscursolouvandoaaçãodosdoisterroristas.

DepoisdereceberváriosmembrosdoHamasedeescrevercartasdestinadasaosseus “embaixadores” em Teerã, Damasco, Trípoli e Jartum, ele saiu de casa emdireção àmesquitamais próxima. Três homens escoltavamAhmed Yassin, o seufilho Abdul Aziz e os seus dois homens de confiança, Khalil Abu Jiab e AyoubAtallah. Uma chuva fina caía sobre seu capuz branco enquanto ele continuava aestenderasuamãoossudaaospalestinosqueseaproximavamparabeijá-la.

A poucos quilômetros dali, estabeleciam-se dois postos de comando, um sob aliderançadeMeirDaganedomajor-generalAharonZe’evi-FarkashdaAman,eosegundo sob o comando do chefe da Força Aérea Israelense. Enquanto isso, umhelicóptero de combateApache, como codinome “Peten” (Víbora), sustentava-seno ar em posição estável à espera de ordens. Armado com mísseis AGM-114Hellfirear-terra,opilotomantinha-seemposiçãodealerta.

O Hellfire era um míssil ar-terra, de curto alcance e guia laser. Os pilotosisraelenses se orgulhavam ao explicar que o nome domíssil era um acrônimo deMíssil Helitransportado, Laser, Dispara e Esquece (Heliborne, Laser, Fire andForget).Desenvolvidonos anos1970, foi inicialmenteprojetadocomoumaarmamultimissão antiblindagem e de ataque, mas os israelenses deram-lhe outrautilização. Dentro das modificações desenvolvidas pela Força Aérea Israelense, oHellfireeracapazdeabateralvosparadosouemmovimento.

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Porvoltadasseisdatarde,quandoasoraçõeshaviamterminado,oxeiqueYassine seus acompanhantes dirigiram-se a uma ampla avenida que cruzava a Faixa deGaza de um lado ao outro, com destino à residência do líder do Hamas. Nessemomento, o piloto do Apache recebeu a ordem através do fone: “Luz Verde”.“Víbora Um, entendido”, respondeu o piloto enquanto manobrava para o sul,tirandooaparelhodasuaestabilidadeecolocando-oemposiçãodecombate.

AmãoenluvadalevantouointerruptordosinalizadordealvosAN/AAQ-11eoacionou. Este contava comumbloco de sensores noturnos instalado no nariz doApache.OVíboraUmcolocou-sesobreumazonadecasasbaixasemplenocoraçãoda Faixa de Gaza e acionou o comando de disparo. O corpo cilíndrico comempenagemestabilizadoraemformadecruzdesprendeu-sedosuporte.Omíssildeconstruçãomodular:seeker,ogiva,sistemadeguia,propulsãoecontrole,começouaprocurarapresasobreumaGazaquecomeçavaaseencherdepequenasluzes.

O seekerde laser semiativooude radar ativomilimétrico foramodificadopelosisraelenses,assimcomoaogiva,àqualtinhamanexadoumexplosivodeimpactoefragmentação.Certamente,restavampoucossegundosdevidaaoxeiqueenquantooHellfire procurava o sinal emitido por um pequeno equipamento escondido nacadeiraderodas.

OjovemfilhodeYassinempurravaacadeira,tratandodetirá-ladeumburaconoqual ficara presa. A única coisa que chegou a dizer foi uma breve maldição nomomentoemqueoHellfirechocava-secontraacadeiraderodasdoxeiqueAhmedYassin.OsquatropalestinosdesapareceramdafacedaTerradevidoàforteexplosão.O fundador e líder espiritual do Movimento de Resistência Islâmica era agoraapenasumpedaçodecarneinertenotelhadodeumacasapertodali.

EmJerusalém,anoitejáavançada,tocouumtelefone.MeirDagan,omemunehdoMossad, informouoprimeiro-ministroArielSharonqueaOperaçãoVingançafora concluída comêxito e queum inimigode Israel acabavade ser “executado”.IsraeljamaisassumiuqualquerresponsabilidadepelosassassinatosdeYassin,Ayyashou algum outro. Para Israel, o Kidon era apenas mais uma lenda, um perigosofantasmaque aparecia edesaparecia após amortede algum inimigodeclaradodoEstadojudeu.

Jalid Meshal, depois de se recuperar da tentativa de assassinato do Kidon, seria expulso finalmente daJordânia em novembro de 1999. Meshal liderou a delegação do Hamas nas conversações do Cairo, emnovembrode2002,comaAlFatahparaestabeleceremumaestratégiacomumcomIsrael,quedeviainiciar-secom um cessar de operações do Hamas e da Brigada Izzedine al-Qassam contra os israelenses. MeshalcontinuaafazerpartedacúpuladoHamaseresideatualmenteemDamascocomafamília.OrelatosobreatentativadeassassinatodeJalidMeshalemAmãfoitodoextraídodoReportoftheComissionConcerningthe

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Events in Jordan September 1997 (17 de fevereiro de 1998). A Comissão de Investigação ouviu 35testemunhasdurante47sessões.Muitosdosdepoimentosfazempartedesterelato.

BenjaminNetanyahu teveque sofrer a reprimendado reiHusseinda Jordânia, oque implicouum sériogolpe,nãosóparaasuahonra,mastambémparaoseuorgulho.Posteriormente,aComissãodeInvestigaçãoformadaemfevereirode1998estabeleceuqueNetanyahuforaomaiorresponsávelporaqueledesastreequedevidoaoseuorgulhopoderiatercolocadoemperigoasrelaçõescomaJordânia.

AbdelAzizRantissi,de57anos,sucedeuoxeiqueAhmedYassin,assassinado,àfrentedoHamas.Em17deabril de 2004, precisamente 26 dias depois da execução de Yassin, um míssil Hellfire, lançado de umhelicóptero Apache da Força Aérea Israelense, chocou-se contra seu carro, matando-o no ato, junto aosmembrosdasuaescolta.MuitosdisseramqueviramasombradoKidon...

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S em dúvida que para o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e para omemunehdoMossad,ShabtaiShavit,ooutrograndeproblemadoLíbanoerao

papelea influênciacrescentesdoHezbollah,oPartidodeDeusnopaís.FundadonoIrãem1979enoLíbanoapósainvasãoisraelensede1982,duranteachamada“PazparaaGalileia”,oHezbollahtornou-seoeixodaresistênciacontraaocupaçãoisraelense no Líbano. Graças à ajuda da Síria e do Irã, os líderes do partidoconseguiramcriarumaamplarededeinstituiçõesdestinadasaresponderàsdiversasnecessidades sociais e humanitárias da população do sul doLíbano.OHezbollahtornou-se,dessemodo,umapotênciamilitar e social fundamentalno suldopaís,umazonadominadasobretudoporxiitaslibaneses.AsconclamaçõesparaoenviodetropaslibanesasàfronteiracomIsraelsempresuscitaramanimosidades.

Opresidentelibanês,ÉmileLahoud,principalaliadodaSírianoLíbano,insistiuemqueessastropasiriamnaverdadeatuarcomoprotetorasdasegurançaisraelense.AguerraentreIsraeleoHezbollahfoi-seagravandocomopassardosanoseosseusprincipais líderes tornaram-seoprincipal alvoda inteligência israelense.Umdelesera Fuad Mughniyeh, um dos seus altos chefes militares, e o primeiro-ministroYitzhakRabinjátinhadadosinalverdeaoseumemunehShavitparapôraoperaçãoemaçãoemplenocoraçãodacapitallibanesa.

Meses antes do ataque ao alvo, o Mossad colocara em ação três equipes dachamada Unidade 131, formada por agentes infiltrados em países árabes. Elesapenastinhamqueobterainformaçãonecessáriasobreoalvo.SeriamoschefesdaMetsadaquedecidiriamodiaeolocalexatodoataque.

FuadMughniyehconseguirasubirnahierarquiadoHezbollahgraçasemparteaoapoio de seu irmão Imad, mas, principalmente, pelo êxito dos seus ataques

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perpetrados às tropas israelenses durante a invasão do Líbano em 1982. Osguerrilheiros de Mughniyeh fustigavam incansavelmente as colunas invasoras naestradaqueligavaosuldoLíbanoàscidadesdeSídon,TiroeBeirute,juntoàcosta.Seusataques rebatizaramessa linha reta,depoucomenosdecemquilômetros,de“EstradadaMorte”.Das675baixasdeIsrael,amaiorparteocorreuali.

MaseraevidentequeseoMossaddesejavaatacaroaparatomilitardoHezbollah,devia conseguir que um agente pudesse infiltrar-se nas suas fileiras e ganhar aconfiançadosseuschefesmilitares.

O intermediário para a operação seria Ramzi Nohra, um cristão traficante dedrogasdaaldeiadeIbles-SaiquejátrabalhavaparaoMossaddesdefinaisde1993.ShavitderaordensclarasaosseuskatsanoLíbano.Nohradeveriaseroresponsávelpor encontrar um infiltrado que conseguisse aproximar-se o suficiente de FuadMughniyeh. O escolhido foi Ahmad Hallaq, um chefe de segundo nível em Al-Saiqa,umgrupopalestinoapoiadoefinanciadopelaSíria.

Hallaqdevia antes dar provas da sua “fidelidade” a Israel.Ele informouNohraqueoHezbollahusavatrêsedifícios,doisnacidadedeTayrFilsayeumemKhirbetSelim, ambas situadas no sul do país, como centro de comunicações e tambémcomodepósitodearmas.Nodia seguinte,os três edifíciosvoarampelosares.Porfim,Hallaqrecebeuinstruçõesdetalhadassobreoalvoaabater:FuadMughniyeh,oirmãodoquemaistardesetornariacomandante-chefemilitardoHezbollah,ImadMughniyeh.

OlocalescolhidoparaaexecuçãofoiocoraçãodobairrobeirutensedeGhobeiry,feudodospró-iranianos.Hávárias semanas,AhmadHallaq conseguira infiltrar-secomocombatentenoHezbollaheaproximar-se,dessemodo,doseualvo.Porvoltada meia-noite, o Peugeot azul de Mughniyeh aproximou-se de um edifício deGhobeiry,seguidoporumcarroToyota,ocupadoporváriosdosseusguarda-costas.UmdeleseraHallaq.

A reunião prolongou-se até quase o amanhecer. O sol começava a invadir asmontanhas do Vale de Bekaa, naquele 21 de dezembro de 1994, quando ospresentes começarama abandonar empequenos grupos o local da reunião.Fuad,armadocomumaKalashnikov,aproximou-sedoseuveículoe,depoisdegritaraosseushomensparaqueoseguissem,entrounocarro.Segundosdepois,umagrandeexplosão assolou o local deixandomortos e feridos, que vagueavam pela rua semsaberoquetinhaacontecido.OPeugeotdeFuadMughniyehtinhadesaparecido.AhmadHallaqaproveitaraumdescuidodosguarda-costasparacolocarumpotenteexplosivo debaixo do para-lama dianteiro. Um kidon do Mossad fez o restoapertando o botão de ignição da bomba. Fuad, irmão mais velho de Imad

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Mughniyeh,morreunoato.Exatamenteumanodepois,em1995,RamziNohra,emcoordenaçãocomainteligênciamilitarlibanesa,sequestrouHallaqeentregou-oàsautoridades.

Desdemarço de 2000,Nohra ajudou a estabelecer as redes de espionagem doHezbollah, no norte de Israel, usando para isso os seus próprios traficantes. Elesatravessavam a fronteira e trocavam haxixe e heroína libanesa por dinheiro emespécie e informação de inteligência. Ramzi Nohra entregava ao Hezbollahinformaçõesdetalhadasdasposiçõesmilitaresisraelenses,mapasdetalhadosdonortedeIsraelecelularesparaseremusadosemIsrael.

Em 2002, quando Meir Dagan foi nomeado memuneh pelo então primeiro-ministroArielSharon,eledefiniuparaaMetsada,aunidadedeoperaçõesespeciaisdo Mossad, as novas diretrizes a seguir, claras, curtas e concisas. Quatro mesesdepoisdachegadadeDaganaoseugabinete,nasededoMossad,RamziNohraseriaassassinadoporumabombacolocadanoseuveículonosuldoLíbano.Emagostode2003,AliSaleh,militanteveteranodoHezbollah,seriaassassinadopormeiodeumcarro-bomba.Emfevereirode2004,GhalebAwali,umdoschefesmilitaresdoHezbollah, seria assassinado pormeio de um explosivo colocado embaixo do seucarro. Mas o auge da campanha de assassinatos de líderes do HezbollahexterminadospeloKidonalcançariaoseuêxitomáximoquando,em12defevereirode2008,mataramImadMughniyeh,lídermilitaredeinteligênciadoHezbollaheirmãodeFuad,assassinadoexatamentecatorzeanosantes.

ImadFayezMughniyehtinhanascidonaaldeiadeTayrDibba,noseiodeumafamíliahumildedeagricultores.OGrupoSuldaCIAmostrouMughniyehvivendoemAynAl-Dilbah,umlabirínticoguetoderuasestreitas,situadonosuldeBeirute.Em finais dos anos 1970, Imad Mughniyeh organizou a chamada “BrigadaEstudantil”,formadaporumacentenadehomensjovensqueviriamafazerparteda“Força17”,aguardapretorianadeYasserArafat.

O papel de Mughniyeh dentro dos serviços de segurança palestinos era o delocalizar os francoatiradores dasmilícias cristãs que se situavamna fronteira entreLesteeOestedeBeiruteeneutralizá-los.

Noiníciode1980,enquantoestudavaengenharianaUniversidadeAmericanadeBeirute, os Estados Unidos autorizaram Israel a invadir o Líbano com o fim deexpulsaraAlFataheosseusguerrilheirosdacapital.DuranteosprimeirosmesesdaOperaçãoPaz para aGalileia, ImadMughniyeh abandonou aOLP euniu-se aosxiitas,respondendoàconclamaçãodoaiatoláKhomeini,viaTeerã,paraformarummovimentoglobalbaseadonofundamentalismoislâmico,quecombatesseoinimigosionistaeosseusaliados.

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Mughniyehreuniu-secomlíderesreligiososdediferentesorganizaçõescomoSuhial-TufailieAbbasal-MusawidoPartidoAlDawa;HassanNasrala,NaimQasem,Mohamed Yazbak e Ibrahim Amin al-Sayid, do Partido Amal; e Abdel al-HadiHamadihdoPartidoComunistaLibanês, num local doVale deBekaa, feudodoHezbollah. Naquela reunião delineou-se a organização de resistência libanesa, eMughniyeh foi nomeado um dos principais líderes da inteligência da novaorganização.[461]

O novo movimento estabelecido secretamente por aqueles oito homens nãodemorariaaagircontratodososconsideradosinimigosdoIslã.AscélulasdeImadMughniyehestiveramimplicadasnoatentadocomcarro-bombacontraaembaixadados Estados Unidos em Beirute, em 1983, em que morreram 63 pessoas; nosataques contra os quartéis das forçasnorte-americanas e francesasnoLíbano, quecustaram241e58vidas,respectivamente;enosequestro,em1985,dovoo187daTWA,emqueumnorte-americanofoiassassinado.Alémdisso,eraligadoaváriossequestrosdecidadãosestrangeirosreivindicadospelaJihadIslâmica,convertendo-onumdosterroristasmaisprocuradosinternacionalmente.[462]

Entre1992e1993,atribuiu-seeleaorganizaçãodeataquescontraaembaixadadeIsraelemBuenosAires,em1992,nosquais29pessoasperderamavida,e,doisanosdepois,contraaAssociaçãoMutualIsraelenseArgentina(AMIA),quematou86pessoas.[463]

O seu longo histórico terrorista fez com que ele fosse incluído na lista deterroristasmaisprocuradosdaUniãoEuropeia;queosEstadosUnidosoincluíssemnalistados“10maisprocurados”peloFBIequeoferecessemumarecompensade5milhõesdedólaresporqualquerinformaçãoquefacilitasseasuacaptura.[464]Issofezcomqueeledesaparecessedaarenalibanesa,atéqueemmeadosdefevereirode1997 reapareceu em Beirute como responsável pela inteligência iraniana,supervisionandoereorganizandoaparelhosdesegurançadoHezbollah,ochamadoComando Especial de Operações, encarregado das operações terroristas e deinteligência.

Os Estados Unidos já tinham tentado sequestrá-lo ou assassiná-lo em váriasocasiões.Em1986,umaunidadedeassassinosdaCIAdetectou-oemParis,masosfranceses não permitiram que fosse executado em seu território, por medo dasrepresáliasdoHezbollahcontraosinteressesfrancesesnoOrienteMédio.

A segunda tentativa deu-se quando a CIA descobriu que Imad MughniyehviajariaabordodeumAirbusentreoSudãoeoLíbano,fazendoescalanaArábiaSaudita.Washingtontentouconvencerossauditasadeteremoaviãoepermitirem

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queumaunidadeespecialdeNavySEALentrassenoAirbuseprendesseolíderdoHezbollah.Ossauditastambémsenegaram.

Aterceiratentativa,chamadaOperaçãoReturnOX,deu-sequandoaCIAsoubequeMughniyeh viajaria a bordo de um cargueiro paquistanês rumo ao porto deBeirute.A ideiaeraassaltarobarcoemalto-mar,utilizandoforçasanfíbiasda13ªUnidadeExpedicionáriadeMarineseNavySEALdaQuintaEsquadra.AoperaçãofoiabortadanoúltimominutoaosedescobrirqueImadMughniyehnãoestavaabordodocargueiro.

Em1985,porordemdoentãoprimeiro-ministrotrabalhistaShimonPeresedomemuneh Nahum Admoni, decidiu-se a execução do xeique Mohamed HusseinFadlallah,olíderreligiosoxiitadoLíbano,usando-seumcarro-bomba.Aoperaçãonãofoibem-sucedidadevidoaumerrocometidopelosmembrosdoExércitodoSuldo Líbano, aliado de Israel. A explosão do carro-bomba atingiu o veículo dosguarda-costas de Fadlallah, matando vários deles no ato. Um deles era YihadMughniyeh,oirmãomaisnovodeImadeFuad.[465]

Robert Baer, ex-agente da CIA e especialista em Oriente Médio, descreveuMughniyehcomo“provavelmenteoagentemaisinteligente,omaiscapacitadoquejá vimos, incluindo oKGB. Entra por uma porta e sai por outra, troca de carrodiariamente, nunca combina nada pelo telefone, jamais é previsível. Apenas usagente ligada a ele e emquempode confiar.Nunca recruta ninguém.De estaturabaixa,bem-vestido,deolharpenetranteecomumdomínioperfeitodoinglêsedofrancês,éummestredeterroristas,oGraalqueprocuramosdesde1983”.Masessasorteestavaprestesamudar.[466]

Amuitosquilômetrosdali,numdiscretoedifícionacidadedeJerusalém,decidia-seasortedeImadFayezMughniyeh.Onomedaoperação,“Fumaça”,devia-seaocognome usado por Mughniyeh na organização Hezbollah, “Abu Dokhan” (PaiFumaçaouPaiInvisível).Ospresentesnareuniãoeramnadamais,nadamenosdoqueoprimeiro-ministroEhudOlmert;ochefedoShinBet,YuvalDiskin;ochefedainteligênciamilitar,ogeneralAmosYadline,claro,omemunehMeirDagan.EraprecisotomarumadecisãosobreodestinodoterroristadoHezbollah.

Sobre a mesa estavam espalhadas várias fotos em preto e branco de ImadMughniyeh,assimcomoumafichadoterrorista:anodenascimento,1962;localdenascimento, Líbano; estatura, 1,70 m; peso, entre 79 e 85 kg; cabelo, castanho;sexo,masculino;nacionalidade,libanesa;situação,fugitivo.

Daganinformouaoprimeiro-ministroqueoMossaddetectaraumaconversadoaltocomandodaDireção-GeraldeInteligência,oIdaratal-Amnal-‘Amm,emque

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garantiamqueImadMughniyehviajariaaDamascoemmeadosdefevereiro,vindodeTeerã.

O terrorista libanês, chefe de segurança da organização terrorista Hezbollah,financiadapeloIrãecomapoiologísticoepolíticodaSíria,tornara-seumaespéciedemensageirodeluxoentreTeerã-Damasco-Beirute.

Depois de ler o relatório e ouvir as alegações de Dagan, o primeiro-ministroOlmert decidiu autorizar a ativação do Kidon. Dessa forma, punha-se emmovimentoamaquinariadobraçoexecutordaMetsada,perfeitamente lubrificadadesde1960.

ImadMughniyehaterrissouem10defevereironoaeroportodeDamasco,numvoo da companhia Syrianair, procedente do Aeroporto Internacional ImanKhomeinideTeerã.Alifoiapanhadoporummotoristaeumguarda-costaselevadoparaumlocalsecreto.OMitsubishiPajerovirounaavenidaAbdullahIbnRawahaeentrounopopulosobairrodeKafarSousseh.

Segundo os serviços secretos israelenses, Mughniyeh devia reunir-se dois diasdepois com o presidente da Síria, Bashar al-Assad, e com o presidente do Irã,MahmoudAhmadinejad.MughniyehrepresentariaoHezbollahnoLíbano.

Duranteasuaestadianacapitalsíria,olíderdoPartidodeDeustinhadecididoreforçar a sua segurança, ao receber informação dos serviços secretos sírios, aDireção-GeraldeSegurança,deumpossívelplanonorte-americanoparaassassiná-lo. Aparentemente, alguém recomendou aMughniyeh que não voltasse a Beirutecomotinhaprevistofazerdoisdiasdepois,exatamenteem12defevereiro.

Durantetodoodia11,oterroristamantevecontatosestreitoscommembrosdoHezbollah,doHamasecommembrosdoserviçodeinteligênciasírio.Osencontrosprolongaram-se até altas horas danoite.Odia 13 era o escolhidopara que ImadMughniyehseencontrassecomopresidenteal-AssadnoPaláciodaRepública.Paraoencontro,tinha-seprevistoqueMughniyehfosseapanhadoporumcarrooficialelevadodiretamenteàpresençadolídersírio,masnãofoiissooqueaconteceu.

Na noite anterior ao encontro, Mughniyeh decidiu sair sem escolta do seuesconderijo,nobairrodeKafarSousseh,para iraumafestanasproximidades,noCentroCultural Iraniano,naqual seriacelebradoo29ºAniversáriodaRevoluçãoIraniana,lideradapeloaiatoláKhomeini.Segundofontespoliciaissírias,olíderdoHezbollah acreditava estar a salvo emDamasco do longo braço de Israel ou dosagentes da CIA. Por volta das 22h35, Mughniyeh despediu-se pessoalmente donovoembaixadordoIrãemDamascoedeixouo local.Narua, ImadMughniyehaproximou-sedoseuveículo,umMitsubishiPajeroprata,entrounocarroeenfiouachavenocontato.Lentamente,ocarroseguiuemdireçãoàruaAl-Mizrab.[467]

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Às22h59,oMitsubishiparounumsemáforovermelho.Tinhasidoumdialongoe cansativo e na manhã seguinte ele esperava outro semelhante. Mughniyeh,cansado, encostou a cabeça no apoio do banco. Enquanto esperava que a luz dosemáforo mudasse, precisamente nesse momento, ouviu um clique. Uma grandeexplosãopôde ser ouvida a centenasdemetrosdeonde se encontrava.O tetodocarroemqueestavaohistóricolíderterroristatinhadesaparecidoporcompleto,aopasso que restos do corpo de Imad Fayez ficaram espalhados num raio de milmetros.

Apolíciasíriaqueseencarregoudainvestigaçãodoatentadoconcluiuquealguémtinha colocado um explosivo no apoio de cabeça do banco do motorista doMitsubishi.Pura e simplesmente,quandoMughniyehapoioua cabeça, acionouodispositivo que ativava a bomba. As mesmas fontes concluíram que o explosivodeveriatersidocolocadonoMitsubishiPajeroentreas22heas22h35,ouseja,otempoqueMughniyehdemorouparaentraresairdoCentroCulturalIraniano.

Ao que parece, os kidon da Metsada montaram um explosivo num apoio decabeça igual ao domodelo Pajero queMughniyeh usava nas viagens aDamasco.Deve ter sido um colaborador árabe do Mossad quem, fazendo-se passar porsegurançadoCentroCulturaldo Irã, conseguiu trocaro apoiode cabeçaoriginalpeloquetinhaoexplosivo.[468]Averdadeéque,poucashorasdepoisdedivulgadooassassinatodeMughniyeh,oprimeiro-ministroisraelenseEhudOlmertfelicitavapessoalmenteomemunehMeirDaganpelotrabalhocirúrgico,concluídodeformatãolimpa,doKidon.[469]

Ronen Bergman, analista de inteligência do jornal Yediot Ahoronot, considerouqueamortedeImadMughniyehfoimuitomaistraumáticaparaoHezbollah,vistoqueoterroristaeraalgomaisdoqueumdirigenteoucomandante-chefe.“Muitosem Israel dedicaram-se durantemuito tempo a seguir e a recolher informação deMughniyeh, conhecido como oCarlos iraniano, um sério competidor deOsamaBinLadenpelotítulode‘terroristamaisperigosodomundo’.Éprecisoumgranderigoreprofissionalismo.Informaçãoexata,perseguiçãoepreparaçãocuidadosa,paraqueumagentedoMossadseaproximetantoecoloqueumexplosivonoapoiodoseu carro e num país como a Síria, onde os serviços secretos são tão poderosos”,escreveu Bergman. Fomos nós ou não? era a grande pergunta que os israelensesfaziamsobreoassassinatoemDamasco.Oficialmente,não.Oficiosamente,sim.

Enquanto issoocorria,oComitêAntiterroristade Israeldeclarava a situaçãode“perigo palpável”. O Hezbollah acusava várias vezes Israel pela morte deMughniyeh,razãosuficienteparaqueaumentasseoriscodeumaaçãoterroristaporpartedoHezbollahcontraalvosisraelensesnoestrangeiro.

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“Deacordocomoqueselheéatribuído,oMossaddeveser,hojeemdia,oúnicoserviçosecretonomundoemqueaexecuçãodeterroristasfazpartedoseupróprioDNA”,opinouoespecialistaYossiMelmanaosaberdoassassinatodeMughniyeh.Etalvezeletivesserazão.[470]Dequalquerforma,ImadFayezMughniyeh,mortoaos 48 anos de idade, dos quais trinta foram dedicados ao terrorismo, não era oprimeiro terrorista a cair, e não seria certamente o último.O êxito daOperaçãoFumaçadarianovasasasaoMossade,porconseguinte,aoKidon,paraeliminarosinimigosdeIsraelondequerqueseescondessem.

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N aquelamanhãdenovembrode2009,aprimeirapáginadosprincipaisjornaisdiáriosdeIsraeldestacavaasreaçõesdoReinoUnido,daFrança,dosEstados

Unidos, da Alemanha, da Rússia e da China, os seis países mais poderosos domundo, depois do Irã ter rejeitado as suas propostas que procuravam retardar acapacidade iraniana para construir armas atômicas. Meir Dagan, o diretor doMossad,mostravapreocupaçãoenquantosedirigia,noseucarrooficial,à reuniãoconvocada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na sua residência emJerusalém.

EstiveramtambémpresentesnareuniãoogeneralAvivKochavi,chefedoserviçodeinteligênciamilitar,aAman,equeacabavadesubstituirogeneralAmosYadlin,eYuvalDiskin,opoderosodiretordoServiçoGeraldeSegurança,oShinBet.

Na sua pasta preta, levava um grosso relatório sobre Mahmud al-Mabhuh,principal líder da organização palestina Hamas. Al-Mabhuh era conhecido peloShin Bet e pelo Mossad por ser um dos fundadores do braço armado daorganização, as temíveisBrigadas Izzedineal-Qassam.ParaDagan,aquelehomemera um alvo prioritário para os serviços de inteligência israelenses e era um dosassuntosqueiriatratarnareuniãoaportasfechadasconvocadaparadaliaumahora.

Odiscretocarrooficialembrenhou-senotrânsitointensodeJerusalémedirigiu-seàresidênciadoprimeiro-ministro,nasproximidadesdaruaRamban.Aochegar,osdiretoresdoShinBetedaAmanesperavamjápodersereunircomNetanyahu.

Os três homens entraram no gabinete do primeiro-ministro carregando, todoseles,pastasvolumosasdosseusrespectivosserviços,relativosaoperaçõesmilitaresdoHamas, a líderes da organização terrorista ou a operações de tráfico de armas eexplosivosdetectadaspeloMossad.

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OmemunehfoioprimeiroafalarenquantodistribuíaumdossiêsobreMahmudal-MabhuhaNetanyahu,YadlineDiskin.

Orelatórioeraencabeçadoporumafotografiadeumhomemde49anos,comocabelocurto,umbigodedensoebarbapor fazer,olhandoparaa lentedacâmeracomassobrancelhasfranzidas.

Mahmudal-MabhuhtinhanascidonoconflituosocampodeJabalia,nocoraçãodaFaixadeGaza,em14defevereirode1960.Criadonumafamíliadetrezeirmãos,estudoumecânicaemontouumapequenaoficinaemGaza.Emfinaisdadécadade1970,juntou-seàorganizaçãoYami’atal-Ijwanal-Muslimin,literalmenteSociedadedos IrmãosMuçulmanos, tornando-se rapidamenteumdosmembrosmais ativos.Opalestinoliaváriasvezesoideáriodaorganizaçãofundadaem1928porHassanal-BannanoEgitoebaseadonoIslã.

Al-Mabhuh foi localizado pelo Shin Bet, pela primeira vez, quando se tornouresponsávelpelosgruposdejovensislamitasqueatacavamoscafésdeGazaondeserealizavamapostasilegais,oqueeraproibidopeloIslã.OfuturolíderdoHamasfoipresopelaprimeiravezenquantodiscursavaparaumgrupodessesjovens.Porfim,em 1986, foi preso pela segunda vez pelo Serviço Geral de Segurança numaoperação encoberta realizada em conjunto com tropas do exército e a guardafronteira.Durante a operação, um fuzil de assalto foi confiscado deMahmud al-Mabhuh,peloquefoicondenadoatrêsanosdeprisão.

Depois de ser libertado, al-Mabhuh abandonou a organização dos IrmãosMuçulmanos, alegando que se submeteram aos desejos do presidente HosniMubarak,euniu-seaoHamas.

OShinBetsabiaqueMahmudal-MabhuhtinhasidoodirigentedoHamasqueconduziraasoperaçõesdesequestrodosdoissoldadosisraelensesAviSasportas,em15defevereirode1989,edeIlanSa’adon,trêsmesesmais tarde.[471]Ambososmilitaresseriamassassinadospoucodepois.

Nahum Admoni, o diretor do Mossad nessa época, já tinha exposto ao entãoprimeiro-ministro,YitzhakShamir,apossibilidadedeautorizarumasançãocontraMahmud al-Mabhuh, mas a espionagem israelense e o Shin Bet estavamconcentradosnacapturaouexecuçãodospeixesmaisgordosdaorganizaçãoHamas.Nessemomento,al-Mabhuheraaindaumalvodepoucaimportância,masAdmonieYaakovPeri,diretordoShinBet,nãoeramdamesmaopinião.Essaopiniãoseriaratificadaquandoosserviçossecretosisraelensesencontraramumafitadevídeoemque o próprio Al-Mabhuh confessava-se autor intelectual do sequestro dos doismilitares.OcomandomilitarisraelenseemGazaordenouentãoadetençãodolíderdoHamas e ademoliçãode sua casano campode refugiadosde Jabalia.Depois,

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nadamais.Mahmudal-MabhuhdesapareceudafacedaTerra,atéqueosisraelensessouberamque,emabrilde2003,forapresoporagentesdoServiçodeInteligênciadoEgito,porordemdeOmarSuleiman,epresoportráficodearmasnafronteiraentreoEgitoeGaza.

Depoisdeserlibertadonoiníciode2004,devidoapressõesdesetoresislamitassobre o governo doCairo,Mahmud al-Mabhuh conseguiu refúgio emDamasco,graçasàproteçãodeJalidMeshal,olíderpolíticodoHamasqueforavítimadeumatentativa de assassinato por parte do Kidon na capital jordaniana, em 25 desetembro de 1997.[472] A partir desse momento, Al-Mabhuh foi conquistandoposições dentro da hierarquia militar do Hamas até se tornar um intermediárioimportantecomoIrãparaacompradearmasedeexplosivosparaosmilitantesdoseugrupoterrorista.

Naquela manhã de novembro de 2009, chegara o momento de adotar umamedidaarespeitodeMahmudal-Mabhuh.Adecisãoadotadafoiaativaçãodeduasequipes do Kidon, da Metsada, para executar o alvo. Meir Dagan classificou aoperaçãosobocódigoAinEfes,umaoperaçãoquenãoadmitiaerros.

OKidonusariaduas equipesdequatromembros cadauma.Aprimeira equipeseria a de ataque; a segunda, de segurança. Antes de decidir o dia e o local paraatacar, informou-se a Apam para que se encarregasse de obter as documentaçõesnecessárias para pôr o plano em prática. Os katsa da Apam deviam localizar ossayanim, colaboradores judeus que trabalham com o Mossad por motivosideológicos. Sayanim da Grã-Bretanha, da Irlanda, da Alemanha e da Françacederiam os seus passaportes aos agentes do Kidon. Toda a operação seriacoordenadaporumagente instaladonumesconderijo (maoz) emViena.Todas ascomunicaçõesseriamfeitaspormeiodemensageiros(bodel), encarregadosde levarmensagens de um esconderijo a uma estação, a uma embaixada ou ao próprioquartel-general do Instituto, sob a supervisão da Apam. Para cobrir os gastos daoperação,oskatsadoKidonteriamcartõesdecréditoexpedidosporbancosnorte-americanos.Eraomomentodelocalizaroalvo.

Para isso, os agentes do Shin Bet, sob o comando do general Kochavi,conseguiram recrutar dois informantes palestinos, Anwar Sheibar e AhmedHassanain. Sheibar conhecia muito bem Mahmud al-Mabhuh porque ambostinhamnascidonocampodeJabaliaetambémporqueoinformantetinhasidoumintermediáriodosserviçossecretospalestinoscomoHamas.

AhmedHassanaintornara-seinformantedeIsraeldevidoaoseuódioparacomoHamas em geral e Mahmud al-Mabhuh em particular. Hassanain era um doshomensdeconfiançadeMohamedDahlan, tambémnaturalde Jabalia eex-chefe

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dos serviços de segurança palestinos, famosos pela repressão contra osfundamentalistas há mais de uma década. O Hamas ordenara o seudesmantelamentoemtodaaFaixadeGaza.MohamedDahlanera, semdúvida,olíderpalestinomaisodiadopeloshomensdeAl-Mabhuh.

Acredita-sequefoiAnwarSheibarqueminformouoShinBet,eesteoMossad,que o líder doHamas tinha planejado viajar deTeerã paraDubai, viaDamasco,provavelmenteentre15dejaneiroe1ºdefevereiro.Al-Mabhuhcometeudoiserros.Reservouapassagemdeaviãopela internet e,duranteumaconversagravadapeloShinBetentreeleeasuafamília,olíderdoHamasdisseemquehotelficariaemDubai.

EraevidenteparaoMossadqueolocalescolhidoparaoataqueseriaacapitaldosEmiradosÁrabesUnidos,umdospoucospaísesdoGolfoPérsicocomoqualIsraelmantinha relações. Uma vez informado o comando de operações da Metsada,decidiu-seenviarumgrupodevanguardaparaDubai,sobodisfarcedefazerpartedaequipedeassessoriada tenista israelenseShaharPeer.EladeveriaparticipardoAbertodeTênisdeDubaientredomingo,dia14,e sábado,20de fevereiro.Essefatodeuonomeàoperação,“Raquete”.

MasoquefariaAl-MabhuhnaquelepaísdoGolfoPérsico?OMossaddescobriuque ele tinha planejado visitar um banco árabe e duas companhias navais comligaçõesnoSudãoenoEgito.TinhaprovavelmenteplanejadoretirarfundosdasuaorganizaçãoparafinanciarumaoperaçãodevendadearmasentreopróprioHamase a chamada Força Al-Quds da Guarda Revolucionária iraniana. Os agentes deDagan sabiam que Mahmud al-Mabhuh tinha decidido havia meses passar àclandestinidade mais absoluta e afastar-se durante um tempo da liderança doHamas.

No dia 19 de janeiro, Mahmud al-Mabhuh aterrissou às três da tarde noAeroporto Internacional de Dubai e passou no controle de imigração com umpassaportefalsocomonomedeTalalNasser.Depoisdepegarumtáxioficial,umFordbrancocomotetovermelho,ordenouaomotoristaqueolevasseatéohotelAlBustanRotana,emCasablancaRoad,nobairrodeGarhoud.Eleeraseguidomuitode perto por membros da Unidade 8513, encarregada de obter informaçãofotográficadoalvo.

Meia hora depois aterrissavam nomesmo aeroporto, e procedentes de destinosdiferentes, os quatro kidon que levariam a cabo a execução do líder do Hamas.Kevin Gaveron, chefe da equipe, Gail Folliard, Michael Bodenheimer e JamesSusse.Os agentes israelenses tinham reservas nomesmo hotel do líder palestino.Desdequechegou,oskatsadoMossadnãootinhamperdidodevistanemporum

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instante. Tudo tinha de estar perfeitamente sob controle. Tudo devia estarperfeitamenteligado.

Porvoltadas15h30,olíderdoHamaschegouaohoteleregistrou-senarecepçãodo elegante estabelecimento.Existeuma imagemcaptadapelo circuito internodetelevisãodohotelemquesevêahoraexataemqueeleseregistrou.Afuncionáriado hotelAlBustanRotana entregou-lhe a chave do seu quarto, número 230, nosegundoandar.

Enquantosedirigiacomumafuncionáriaatéaportadoquarto,MahmudAbdelal-MabhuhnãopercebeuqueosdoishomenscomroupasesportivasqueentraramcomelenoelevadoreramdoisagentesdoMossad.Estesentraramnoquarto237,situadoemfrenteaodopalestino.Alifoi instaladoocentrodeoperações lideradopor Peter Elvinger, responsável logístico pela Operação Raquete. A câmera desegurançadocorredordosegundoandarfoinovamentetestemunhadessespassos.

Às16h23,aunidadedesignadaparasegui-lovigiavaolíderdoHamasquandoelesaiudoquartoesedeslocouatéoelevador,atravessouoamplohalldeentradaesaiupelaportaprincipal.UmtáxiolevariaatéohotelMilleniumAirport,ondejantaria.OlocalescolhidofoiorestauranteitalianoDaVinci.OsisraelensesinformaramqueaparentementeMahmud al-Mabhuhnão esperava ninguém.De fato, nessa noite,elejantousozinho.Às18h35,todososmembroseequipesquenãofariampartedaoperação final dirigiram-se ao aeroporto e saíram do país. Em Dubai, ficaramapenasasduasequipesdoKidon,nototaloitokatsa.

OlíderdoHamaspagouacontaàs20hesaiudoestabelecimentopararegressaraohotel.Às20h24,al-MabhuhatravessouasportasgiratóriasdoAlBustanRotana,cumprimentouosegurançaefoiatéoselevadoresdofundo.Aochegaraosegundoandar do hotel, a hora da câmera de segurança marcava 20h27. Logo a seguir,perde-sedevista.

Nosdezenoveminutosseguintes,apolíciadeDubaiacreditavaqueosassassinos,provavelmentequatro(KevinGaveron,GailFolliard,MichaelBodenheimereJamesSusse), esperavam o dirigente do Hamas. Decerto que dois kidon permaneceramdentrodoquarto230eoutrosdoisno237,foradoalcancedacâmeradesegurança.

Assimqueo líderpalestino foi dominado, os agentesdoKidon atiraram-nonacama, eletrocutaram-no com um taser potente, envenenaram-no com umasubstânciadesconhecidae,porfim,estrangularam-nocomumaalgemaplásticadenáilon colocada em volta do pescoço. Os policiais forenses não conseguiramdescobrir o tipode venenousado.A algemaplástica foi retirada assimque surtiuefeito, mas os investigadores descobriram uma pequena marca na nuca de Al-

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Mabhuh.Okidontinhausadoalgocortantepararasgaronáilon.Eraevidentequenãosepoderiadeixarnenhumapista.

Às20h56,acâmeradosegundoandarvoltouadetectaraimagemdedoishomensentrandoapressadamentenoelevador.Umdelessegurouaporta,quandoderepenteentraramoutrosdois.Osquatrousavamchapéusegorrosesportivosenterradosatéas sobrancelhas, e permaneceram de cabeça baixa para não serem posteriormenteidentificadospelas câmerasde segurança.OKidonprecisou somentededezenoveminutosparaacabarcomavidadoperigosoMahmudAbdelRaufal-Mabhuh.[473]

Logodepois,asduasequipesdoKidonsaíramdosEmiradosÁrabesUnidospordiversosmeios edestinosdiferentes,usandopassaportes falsosdequatropaísesdaUniãoEuropeia.

Ocadáver seminudo líderdoHamas foi encontrado estendidodebarrigaparabaixosobreacamadoseuquarto,dezessetehorasdepois,quandotodososagentesdoMossadjáestavamasalvo.

Apesar de não haver provas conclusivas contra o Mossad, o certo é que a suamarca está impressa em todo o projeto e execução do assassinato, mas até noscírculos diplomáticos se fala de uma operação dos kidon da Metsada. Semanasdepois, um diplomata israelense destacado em Londres escreveu no seu perfil doTwitter:“TenistaisraelensedáumgolpenumalvoemDubai”.MusaAbuMarzuk,membro da direção do Hamas, garantiu: “Responsabilizamos Israel peloassassinato”.

Dhahi Jalfan Tamim, chefe da polícia de Dubai, declarou abertamente: “Éresponsabilidade do Mossad”. Os investigadores descobriram contatos telefônicosentreosagentesisraelenseserealizaramrastreamentosdospassaportessuspeitosportodosospaísesporondetinhampassadoosagentesisraelenses.

AInterpolrecebeuformalmentedeDubaiumpedidoparadecretarumaordeminternacionaldeprisão contraMeirDagan,memunehdoMossad, comoprincipalresponsávelpelo assassinatodeAl-Mabhuh, eumsegundopedidopara identificardezesseis suspeitos de participar na ação de Dubai.[474] Para tentar se proteger,Israel respondeu através do seu vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, DannyAyalon.Oresponsáveldiplomáticodeclarou:“Nãocreioque isso leveaumacrisecom os aliados europeus porque não há nada que ligue Israel ao assassinato. OReinoUnido,aFrançaeaAlemanhapartilhaminteressescomunscomIsraelnasualuta global contra o terrorismo, portanto as relações diplomáticas não serãoatingidas, mas sim fortalecidas”.[475] Mas o ponto de vista europeu era bemdiferente.

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AFrança,atravésdoprimeiro-ministroFrançoisFillon,assegurouquecondenavaoassassinatoequeestenãoeraummeioválidoparaasrelaçõesinternacionais.Em22de fevereirode2010, aUniãoEuropeia,por intermédiode seusministrosdosNegóciosEstrangeiros,condenoupublicamenteoassassinatodeDubaieautilizaçãodepassaportescomunitáriospararealizá-lo,masnocomunicadooficialnãosefazianenhumareferênciaaIsrael.Em23demarço,DavidMiliband,secretáriodeEstadodosNegóciosEstrangeiros, comomedidade represália contra Israel, anunciounoParlamento aordemde expulsãodeumdiplomata israelense, comoprotestopeloassassinatodeDubai,assimcomopelautilizaçãodepassaportesdoReinoUnido.

Nofinalde fevereiro,apolíciadosEmiradosÁrabesdescobriuqueoskatsaqueformavamasegundaequipedoKidonentraramemDubaiusandodoispassaportesbritânicosedoisirlandeses.ApistadospassaportesfalsoslevouosinvestigadoresatéVarsóvia.Ali,aInterpoleosserviçossecretospoloneses,aAgencjaWywiadu(AW),prenderamUriBrodsky.

OdetidoeraconsideradoummembrodoKaisarut,odepartamentodemediaçõesnas embaixadas de Israel emVarsóvia,mas omais curiosode tudo é que, nodiaseguinteàsuadetenção,ojornalisraelenseHaaretzinformouquehaviaapenasumcidadão israelense chamado “Uri Brodsky” e era um adolescente que estudavainformática nos Estados Unidos, e que Michael Bodenheimer, um dos nomesusadosporumdosagentesdoKidon,erafalso.OverdadeiroMichaelBodenheimereraumrabino idosoquevivianumacidadeao suldeTelAviv.“Osmembrosdocomando quemataramAl-Mabhuhdemonstraramum enormeprofissionalismo esangue-frio. Estavam conscientes de que o hotel estava cheio de câmeras desegurança”,afirmouYossiMelman,analistaespecialistaemoperaçõesdoMossad.

AverdadeéqueogovernodeJerusalémjamaisconfirmounemdesmentiuasuaparticipação no assassinato de Mahmud Abdel Rauf al-Mabhuh, mas isso foiinterpretado,pelacomunidadeinternacionalde inteligência,comoconfirmaçãodeum fato.Ocerto éque, embora tenhapassadomaisdeumano enão se tenhamencontradoos culpados, amarcadoKidon ronda a execuçãodo chefemilitar doHamas.

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Quando,emagostode2002,MeirDaganteveoseuprimeiroencontro,jánaposiçãodememuneh doMossad, comaquele que seria o seunovo chefe, o

primeiro-ministroArielSharon,ouviuasclarasdiretrizesestabelecidasporeste.“Osseus principais alvos como novo chefe do Mossad serão o Irã nuclear e o Irãnuclear”, disse. A partir desse momento o novo memuneh soube qual seriaclaramenteafunçãoprimordialdosseuskatsa,odeevitarqueogovernodeTeerãalcançasseopodernuclear,oquepoderiadesestabilizara região.SeoMossadeoKidon, seu braço executor, não conseguissem acabar com o programa nucleariraniano,pelomenosfariamtodoopossívelparaatrasaroseudesenvolvimento.

OIrãconseguiraatotalautossuficiêncianaproduçãodepódeóxidodeurânio,conhecido como “pasta amarela”, essencial para o enriquecimento e a geração decombustívelnuclearutilizadonascentraisatômicas.Eraoprópriogovernoiranianoquem confirmava essa informação através de Ali Akbar Salehi, membro daOrganizaçãoIranianadeEnergiaAtômica:“OprimeirocarregamentofoilevadodainstalaçãodeBandarAbbasparaacentralnucleardeIsfahan.Apartirdeagora,oIrãjánãoteráproblemasdefornecimentodeurânio(pastaamarela)”.

IsraeleWashingtonconfiavamqueoIrãteriaproblemascomoabastecimentodamatéria-prima, mas o primeiro carregamento de pó concentrado de urânio,procedente das minas de Gachin, já tinha sido transferido. Assim que fosseprocessadoemcentrífugasporseparaçãoisotópica,opóreferidopodiaconverter-seem hexafluoreto de urânio (UF6), um gás imprescindível no processo deenriquecimentodecombustívelparausocivil,mastambémnaproduçãodearmasatômicas.

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Grande parte da comunidade internacional, com os Estados Unidos e Israel àfrente,acusavamoIrãdeocultar, sobseuprogramanuclearcivil,outrodecarátermilitar e clandestino cujo objetivo seria a aquisição de um arsenal atômico. OsrelatóriosdoMossadedaCIAnaregiãoassimodemonstravam.Anegociaçãofoisuspensa em novembro de 2009, depois de o regime iraniano ter rejeitado umapropostadeWashington,MoscoueLondresparatrocaroseuurânioenriquecidoa3,5%porcombustívelnuclearenriquecidoa20%,destinadoaoreatordepesquisaqueoIrãpossuíapertodeTeerã.Emfevereirode2010,oIrãignorouosavisosdacomunidade internacionalecomeçouaenriquecerurânioa20%,oque levou,nomêsdejunho,oConselhodeSegurançadasNaçõesUnidasaimpornovassançõesaogovernodeTeerã.

AgentesdoMossadinformaramqueoIrãconseguiria,atéofinaldoano,cercade2.800 quilos de mineral elevado a 3,5%, e que com essa quantidade de mineralarmazenadopoderiamconstruirduasoutrêsbombasnuclearesnumcurtoespaçodetempo. Novamente, foi a própria ONU que demonstrou preocupação diante dadimensão que estava ganhando o programa nuclear iraniano. Agentes israelensesvoltaram a informar o seu quartel-general ao norte deTel Aviv, que o Irã estavareforçando a construção de um reator de água pesada e que a situação poderiatornar-se mais perigosa se permitissem que continuassem a desenvolver o seuprogramaatômico.[476]

Numamanhãdomêsdedezembrode2006,omemunehMeirDagan,comtodaainformaçãoquedispunha,convocouumareuniãodeemergênciacomoVarashcomofimdeapresentarumaalternativaaoprimeiro-ministroEhudOlmert.Oschefesdo Mossad, do Shin Bet e da Aman decidiram apresentar por unanimidade aproposta de ativar uma equipe do Kidon com o objetivo de atacar o programanucleariranianonasuapartemaissensível,oscientistas,comojátinhamfeitoentre1971 e 1981 com os cientistas nucleares iraquianos.[477] Olmert aceitou arecomendaçãodoVarash.

OprimeiroalvoseriaArdeshirHosseinpour,umjovemcientistanascidoem1962e especialista em engenharia elétrica e eletromagnetismo. Hosseinpour trabalhavacomoprofessorassociadodemateriaisnaUniversidadedeShirazenaUniversidadedeTecnologiaMalekAshtarde Isfahan.Mas tornara-se alvodoMossaddevido àsuaposiçãonoCentrodeTecnologiaNuclear,ainstituiçãoquedirigiaoprogramanuclear iraniano. Para a operação, a inteligência israelense usou “combatentes”,katsa enviados a países árabes para trabalhar sob identidade falsa como apoio deumaamplarededecolaboradoresnoprópriopaís.

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O jovem cientista vivia sozinho num pequeno apartamento perto da avenidaMasjed Seyyed, do outro lado de uma mesquita onde ia fazer suas orações. OsinvestigadoresiranianossabiamqueHosseinpournãocostumavaserelacionarcommuitagenteforadoseutrabalhonaUCF,afábricadeconversãodeurânio.

Na segunda-feira, 15 de janeiro, o dia correu comoqualquer outro na vida docientista.Demanhã,passarapelo seugabinetedaUCFe, aomeio-dia,depoisdealmoçarpertodocentrodeinvestigação,passarapelamesquitadeSeyyed,emfrenteà sua casa, para rezar. Depois, atravessou a longa avenida e regressou ao seuescritório,ondetrabalhouatéaltashorasdanoite.

Porvoltadasnovehoras,ArdeshirHosseinpourdeixouumtrabalhoinacabadoefoiparaacama.SegundoasautoridadespoliciaisdoIrã,umassassinodoMossadentrouemplenanoitenoapartamentodocientista,dirigiu-seaoquartoeinjetou-lheumfortetranquilizantemuscularenquantoeledormia.Emseguida,colocou-lheumamáscara ligada a um tubo comgás venenoso e abriu a válvula.Hosseinpourcontinuavavivo,enquantoovenenoiainvadindoosseuspulmõesatématá-lo.[478]

EmboraIsraeltenhanegadoaparticipaçãodoMossadnesseassassinato,ocertoéque, em 2 de fevereiro de 2007, Stratfor, uma grande empresa privada deinteligênciacombaseemAustin,Texas,garantiuqueHosseinpourera,defato,umalvoclarodainteligênciaisraelense,equeacausadasuamorteforaainoculaçãodegásradioativo.[479]

O próprio centro assegurou que assim se liquidaria a ameaça do programanuclear, isto é, usando-se a tática de eliminar alvos humanos. E, sem dúvida,Ardeshir Hosseinpour era uma peça-chave na engrenagem do programa nucleariraniano.

Durante os três anos seguintes, e em parte devido às pressões de Washington,IsraeleosmembrosdoMossadcontinuaramàesperadasreaçõesesançõesimpostascontra Teerã pela comunidade internacional, mas, em janeiro de 2010, o Kidonvoltou a atacar o programa nuclear iraniano. O alvo seguinte seria Massud AliMohamadi.Aordemparamatarocientistairanianoseriaassumidapeloprimeiro-ministroBenjaminNetanyahu.

MassudAliMohamadinasceuem1960,tornando-se,comopassardosanos,umdosgrandesespecialistasemfísicadepartículaseemmecânicaquântica.Mohamadieramembrodoconselhoconsultivodo“CentroInternacionalparaaAplicaçãodeCiênciasExperimentaisnoOrienteMédio”eprofessordefísicanaUniversidadedeTeerã.Osmeiosgovernamentaisretratavam-nocomoumrevolucionárioedefensordaRevoluçãoIslâmica.AindaqueogovernodeTeerãseempenhasseemnãoincluir

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MassudAliMohamadinalistadecientistasquecooperavamnoprogramanucleariraniano,paraosisraelenseseraumalvoaabater.

Às cinco da manhã de quarta-feira, 13 de janeiro, uma motocicleta Hondapercorria as solitárias ruas da capital iraniana, ao longo da avenida Kaveh. OmotociclistaacelerouparanãoterdepararnosemáforodocruzamentodasavenidasKaveh e Sadr Hwy. Mantendo a mesma velocidade, continuou a circular pelaavenidaatéchegaràruaAvval.Quandoláchegou,virouàdireitaecontinuouoseucaminho. Antes de chegar ao parque Qeytarieh, onde se encontrava a casa daimperatrizdepostaFarahDiba,voltouaviraràdireitaparaentrarnaruaSafa,emplenocoraçãodobairroGheytarieh,nazonanortedeTeerã.

OmotociclistaparouemfrenteaumedifícioazuleestacionouaHondajuntoaumveículo estacionado ali.Odesconhecido atravessou a rua sem tiraro capacetequemantinhaoseurostoescondidoeseposicionouaumadistânciaprudente.

Às7h58damanhã,observousaindodoedifícioumhomemalto,bem-vestidoedebigode.Ohomemlevavaumamalapretanumamãoealgumaspastasnaoutra.Aparentemente, sentiu-se incomodado ao ver quão perto estava estacionada umamotocicletaHondadoseuveículo.Orecém-chegadocolocouaspastasnotetodocarro para procurar as chaves no bolso. Precisamente nesse momento, omotociclista, que vigiava a certa distância, acionou um comando por controleremoto, provocando a explosão de uma bomba escondida dentro da Honda. OprofessorMassudAliMohamadimorreunahora.Aondade choquedeixoudoistranseuntesgravementeferidos,alémdemandarpelosaresosvidrosdasjanelasdosedifícioscontíguos.[480]

Umdiadepois,ocadáverdocientistairanianofoilevado,dasuacasanonortedeTeerã,porcentenasdesimpatizantesdoregime,comgrandecoberturatelevisivaecom imagens dos manifestantes proferindo palavras de ordem contra os EstadosUnidoseIsrael.[481]

Após o assassinato de Ali Mohamadi, os meios de comunicação começaram afazeraanálisedapossívelautoriadoatentado.Algumasfontesapontavamqueumterrorista do Hezbollah, chamado Abu Nasser, fora fotografado no bairro deGheytarieh naquela mesma manhã. Flynt Leverett, diretor da Fundação NovaAmérica, garantiu que os serviços de inteligência norte-americanos estavamenvolvidos no assassinato e que este fora executado por grupos apoiados efinanciados como parte de um programa de operações ocultas iniciado pelaadministraçãoBushcontraoIrã.MasenquantooregimedeTeerãtentavaexplicarque Massud Ali Mohamadi não era uma figura importante dentro dodesenvolvimento do seu programa nuclear, o jornal The Economist qualificava-o

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como “um dos mais importantes cientistas envolvidos no programa nucleariraniano”. Seria o jornalThe Telegraph quem lançaria a primeira notícia na qualmostravaqueosassassinatosdevárioscientistas iranianosquecolaboravamcomoprogramanucleardoIrãfaziampartedeumagrandeguerraencobertaarquitetadaeexecutadaporIsrael.[482]

A verdade é que os assassinatos de Ardeshir Hosseinpour e de Massud AliMohamadi, tivessem sido ou não cometidos pelo Kidon, não assustariam asautoridades iranianas. Muito pelo contrário. Analistas do think tank Stratforgarantiram que os assassinatos tornariam o Irã mais intransigente porque aRepública Islâmica não poderia aceitar ser vista caindo perante a pressão doOcidente ou dos ataques, sabotagens e assassinatos perpetrados por Israel. Aaparente eliminação dos cientistas nucleares definitivamente não impediria oprocessocientíficoetecnológicodoIrã,nasuademandaporalcançarastãoansiadasarmasnucleares.

Com Benjamin Netanyahu ocupando o gabinete de primeiro-ministro e MeirDagancomomemunehdoMossad,IsraelnãomudariaumcentímetrodaestratégiadoMossadarespeitodoprogramanucleariraniano.Muitopelocontrário.OsdoisalvosseguintesseriamMajidShahriarieFereydoonAbbasiDavani.

Majid Shahriari, de 40 anos e especialista em física quântica, trabalhava para aComissãodeEnergiaAtômicadoIrã,especializando-senotransportedenêutrons.FereydoonAbbasiDavani, de52 anos, eraumespecialista emmísseis balísticos elasers,elecionavanaUniversidadeShahidBeheshtideTeerã.Alémdisso,ShahriarifaziapartedoconselhoconsultivodaUniversidadedaDefesaNacional,dependentedoMinistériodaDefesairanianoeusadacomobancoderecrutamentodefuturoscientistasespecialistasnodesenvolvimentodearmasdedestruiçãoemmassa.Odiaescolhidoparaoataquefoisegunda-feira,29denovembro.

AsexecuçõesdeShahriariedeAbbasideviamserrealizadasaomesmotempoedeformacronometrada.Àssetehorasdamanhã,MajidShahriarieaesposasaíramdecasa e entraramnumcarroPeugeot verde.Por voltadas 7h20,FereydoonAbbasiDavani, também acompanhado pela esposa, saiu de casa e entrou no seu carroDaihatsubranco.Nenhumdosdois cientistas sedeu contadeque eram seguidospormotocicletas, com dois homens em cada uma delas.Os passageiros das duasmotocicletascarregavamumobjetonasmãos,dentrodesacosplásticos.

O Peugeot entrou na avenida Artesh, enquanto o Daihatsu entrou numa ruaestreita do bairro de Velenyak, a noroeste da capital. Em certo momento, amotocicleta que seguia o Peugeot de Shahriari acelerou no instante em que opassageirodetrástirouumartefatomagnéticoeocolocounaportadomotorista.A

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mesma cena aconteceuna ruadeVelenyak,maso acompanhantedomotociclistanão conseguiu colocar corretamente a mina magnética à altura da porta domotoristadevidoàproximidadedeumaviaturapolicial.

Com uma diferença de um minuto, os dois artefatos explodiram, provocandosérios danos em ambos os carros. Majid Shahriari morreu no ato, enquantoFereydoonAbbasiDavanificougravementeferido.

Os artefatos usados para matar ambos os cientistas eram equipamentos muitoleves e de fácil manuseio, em cujo interior se armazenava um potente explosivoplástico.Os artefatos tinhamum ímãpoderoso,quepermitia a adesãodamina aqualquer superfície metálica, plana ou curva, com rugosidades ou sem elas. Alocalizaçãodosímãs,permitiaadaptarasminasaqualquerposiçãoeângulo.Entreos ímãs,encontrava-seoconededescarga,porondeseprojetavaamaiorpartedapotênciaexplosivae incendiáriadaminaemdireçãoaoobjetosobreoqualestavaaderido. Os artefatos estavam providos de uma espoleta que permitia regular aexplosão. Convenientemente graduada, a espoleta fazia com que as minasexplodissem dois, três ou quatro minutos depois, dando tempo suficiente aosmotociclistasparaestaremasalvodoefeitodaondadechoque.

MeirJavedanfar,analista israelenseeespecialistaemassuntos iranianos,garantiuque milhares de agentes secretos israelenses, norte-americanos e de outros paísesocidentaisatuavam,àquelaaltura,emterritórioiraniano.“Porenquanto,oobjetivoé ganhar tempo, enfraquecer o projeto nuclear com operações encobertas, sementraremguerradiretacomoIrã,eissoédoconhecimentodoprimeiro-ministroNetanyahuedeDagan”,disse.

A situação em relação ao Irã não mudaria, nem sequer quando, em finais denovembro de 2010, Meir Dagan anunciou a Netanyahu a sua intenção deapresentar sua demissão por motivos pessoais. Durante algumas semanas, Daganmantevealiderançadaespionagemisraelenseatéqueoprimeiro-ministroanunciouqueoeleitoparasubstituí-lonocargodememunehseriaTamirPardo,de57anoseonúmerodoisdoMossad.

PardocontinuoucomadiretrizdefinidaporArielSharonquandonomeouMeirDaganparalideraroMossad:“IrãnucleareIrãnuclear”,eessecontinuariaaseroobjetivo.

Enquantoonovomemunehfaziaojuramentodocargoeocupavaogabinetenoquartel-generaldoMossad,nobairrodeHerzliya,anortedeTelAviv,aunidadedeassuntostecnológicosdaespionagemisraelenseviaosprimeirosfrutosdeumvírusdecomputadordesenvolvidoem2010, como fimde sabotaroprogramanucleariraniano.[483]

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O vírus, conhecido como Stuxnet, foi criado por engenheiros israelenses nocomplexodeDimona,nodesertodoNeguev,olocalondeseguardamossegredosnuclearesdeIsrael.

O vírus conseguiu infectar os computadores que controlavam as centrífugas deenriquecimento de urânio nas instalações nucleares deNatanz, através do sistemaoperantedosseuscomputadorese“injetado”porumcolaboradordoMossadatravésdeumpendrive.StuxneteraoresultadoconjuntodaCIAedoMossad,comofimde atacar o sistema complexo que controlava os sistemas de informática doprogramanucleariraniano.OafamadojornalTheNewYorkTimesgarantiaquenoprojeto chegara-se a construir centrífugas idênticas às da Siemens e que o Irã astinhanas suas instalações deNatanz, umdadoque explicaria o êxitodo vírusnahora de infectar diretamente a sua capacidade nuclear.O vírus desenvolvido porIsrael era considerado a melhor arma cibernética jamais criada até o momento,deixandoforadecombatequase30%dascentrífugasiranianas.

PoucoapoucofoipossívelsaberqueoStuxnettinhasidodesenvolvidoetestadoentremaioejunhode2010equejánessaépocaprovocouoalarmedosespecialistasdepoisdecomprovaremoseualtopoderdestrutivo.Amaiornovidadequeovírusapresentava era que não procurava infectar um computador doméstico, mas simatacar os equipamentos de uma indústria até a sua total destruição. O víruspropagava-se sem necessidade de internet. Apenas era necessário colocar um pendrivecomoStuxnetdentro,eintroduzi-lonumcomputadorligadoàinternetecomsistema operacional Windows. Quando se ligava o computador, o Stuxnetprocuravaumdeterminadoprogramada empresaSiemens,uma ferramenta-chavenocontroledeoleodutos,centraiselétricaseinstalaçõesindustriais,eatacava-oatédestruí-loporcompleto,paralisandoqualquersistemapormaiscomplexoquefosse.[484]

Algunsmeiosasseguraramqueumacentraliranianateriasidoumdosseusalvos.A Siemens negou que o seu programa tivesse sido fornecido à citada central,enquanto as autoridades iranianas negavam que a central tivesse sido vítima doataquedovírus.Maistarde,viram-sefinalmenteobrigadosaadmitirqueoStuxnettinhainfectadodiversosequipamentosligadosaosprincipaissistemasdacentral.Oserviçode inteligência iranianodescobriuquedois ou três colaboradoresde Israeltinhaminjetadoovírus,enquantoogovernodeTeerãreconheciaabertamenteestarsofrendoumataquedeinformáticamassivo,equemaisde30milendereçosdeIPde centros industriais importantes do país, que formavam o desenvolvimento doprogramanuclear,tinhamsidoinfectados.

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AempresaalemãSiemensviu-seobrigadaainformarquequinzedosseusclientesmaisimportantestinhamsido“infectados”peloStuxnet,masqueemnenhumcasohouve consequências graves para a produção das empresas infectadas. A Siemensdisse também que o vírus aproveitava uma vulnerabilidade do sistema Windowsparapenetrarnoscomputadores.Àmargemdosdanosquepuderatercausadoasuaexpansão,oquepreocupavaosespecialistaseraosaltoqueimplicavanaengenhariadosvírusdecomputadoresenaguerracibernética.“Nãoéespeculaçãoafirmarquese trata da primeira arma de ciberguerra”, garantiu um especialista da empresaMicrosoft que afirmou que as únicas dúvidas eram agora: contra quem se tinhausadooStuxnetequemseriaoseucriador.

Nasegunda-feira,10dejaneirode2011,oMinistériodeInteligênciaeSegurançado Irã (VEVAK)[485] anunciou o desmantelamento de uma rede de espiõesvinculados ao Mossad. Todos os detidos eram acusados de terem colaborado noassassinato de vários cientistas nucleares; e cinco deles, aparentemente operários etécnicos em informática em instalaçõesnucleares iranianas, de terem injetadoumpotentevírusdecomputadorqueafetouossistemasdeproduçãodeváriasindústriasrelacionadas comoprograma iraniano. “A redede espiões e terroristas ligados aoMossad foidestruída.Ogrupousoubasesemcertospaíses europeus, assimcomoEstadosvizinhosdoIrã,paraassassinarodoutorMassudAliMohamadi”, indicouumcomunicadooficialdoVEVAKiraniano.

“Hácincoanos, foiditoqueaindaerapossível evitarqueo Irã fabricasse a suaprimeira bomba atômica. Agora, pode ser que já seja muito tarde, porque osiranianos sabem como enriquecer urânio e têm os equipamentos necessários parafazê-lodentrodopróprio Irã”, afirmouMeir Javedanfar, analistaespecializadoemassuntosiranianos.Podeserquesejacorretaaafirmaçãodoanalista,mastambémécorreto dizer que o Mossad, através das suas ferramentas, assim como o próprioKidon, continuará combatendo nas sombras para atrasar o máximo possível atentativadeaRepúblicaIslâmicadoIrãtornar-seumanovapotêncianuclear.

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ANEXOIDIRETORESDOMOSSAD[486]

1951-1952REUVENSHILOAH

Primeiro diretor doMossad e, sem dúvida, o pai damoderna organização dos

serviçosdeinteligênciaisraelenses.NascidoReuvenZaslanskiemJerusalém,Shiloahprovinha de uma família judaica ortodoxa. Apesar de ser um homem de baixaestaturaedeusaróculosdelentesgrossas,oseuolhareraabsolutamentepenetrantee demolidor.Durante a SegundaGuerraMundial, Shiloah, fundador do Shai, oserviço de inteligência doHaganah, operoupor trás das linhas alemãs naEuropaocupada, em missões para os ingleses. Também trabalhou para o Gabinete deServiços Estratégicos (OSS — Office of Strategic Services) em Washington, noCairo e em Istambul. Shiloah desenvolveu uma grande amizade com James JesusAngleton,anosmaistardechefedecontrainteligênciadaCIA.Em1949,Shiloahfoinomeado presidente do Comitê de Coordenação dos serviços de inteligênciaisraelenses.Manteveestecargoatémarçode1953.Problemasentreos serviçosdeinteligênciamilitares(Aman)eoscivis(MossadeShinBet)fizeramcomqueDavidBen-Gurion incumbisse a ele a reorganizaçãode todos os serviçosde inteligência.Em1ºdeabrilde1951,oMossadfoiformalmenteestabelecido,comoseucontroledependendodiretamentedogabinetedoprimeiro-ministro.EmboraShiloahtenhaficadopoucotempoàfrentedoMossad,conseguiuestabeleceraestruturaqueaindahojecontinuamantendo.Ascontínuasdisputasinternasentreoschefesdosserviços

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deespionagemdeIsrael,assimcomoosgravesferimentossofridosnumacidentedeautomóvelemmeadosde1952,provocaramasuademissãocomochefedoMossademsetembrode1952.Umanodepois,ocupariaocargodeembaixadordeIsraelemWashington. Reuven Shiloah, um dos maiores gênios e mestres do mundo daespionagem,faleceriaem1959,aos50anosdeidade.Amelhorbiografiasobreeleéa escrita por Haggai Eshed: Reuven Shiloah, the Man Behind the Mossad. SecretDiplomacyintheCreationofIsrael(FrankCassPublishers,Londres,1997).

1952-1963ISSERHAREL

SegundodiretordoMossad.IsserHalperin(Harel),nascidonaRússiaem1912,

chegouàPalestinaem1930comoimigranteeinstalou-senumkibutz.Serásemprelembrado no mundo da inteligência como o melhor e mais eficaz memuneh doMossad.Na década de 1940,Harel alistou-se noHaganah e nas forças auxiliaresbritânicasparalutarcontraosnazistas.DirigiuosetordeinteligênciadoHaganahem 1942. Foram Harel e os seus homens que afundaram o barco do Irgun, oAltalena,porordemdeDavidBen-Gurion.Harelsubiurapidamenteentreasfileirasdaeliteisraelense,tornando-se,emúltimainstância,oprimeirochefedoShinBet,oServiçoGeraldeSegurançadeIsrael.DiretordoMossaddesde1952,encarregou-sede ambos os serviços de inteligência, o ShinBet e oMossad.Harel desenvolveu,durante a sua direção, uma ampla cooperação com a CIA.OMossad colaboroucomosEstadosUnidosrecolhendo informaçãosobreaUniãoSoviéticaeoKGB.Isser Harel criou a chamada “rede Trident”, pela qual Israel, o Irã e a Turquiacoletavaminformaçãode inteligência sobreogovernoegípcio.EraconhecidopelasuaavidezemdefenderIsraeleprotegerademocraciadentrodoEstado.DuranteoseumandatonoMossad,dirigiuváriasoperaçõesfamosas.Umadelasfoiacaptura,em 1960, de Adolf Eichmann, um dos arquitetos nazistas da Solução Final à

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questãojudaica.Em1962,Hareldescobriuqueosalemãesapoiavamosegípciosemtecnologiademísseis.Segundoalgunsespecialistas, era infinitamente inferioràdeIsraeleportantonãoconstituíaumaameaçaàsuasegurança;porém,Hareldecidiuintimidar a Alemanha. Isto provocou a ira de Ben-Gurion. Devido às diferençasirreconciliáveiscomoprimeiro-ministro,Hareldemitiu-sedoMossademmarçode1963.Depoisdeumagrandecarreiranomundodaespionagemeda inteligência,dedicou-seàescrita.OseumelhorlivroéTheHouseonGaribaldiStreet(1975),emque relata a captura de Adolf Eichmann. IsserHarel faleceu em Israel em 19 defevereirode2003,aos91anosdeidade.AmelhorbiografiasobreeleéaescritaporMichael Bar-Zohar, Spies in the Promise Land. Isser Harel and the Israeli SecretService(HoughtonMifflinCompany,Boston,1972).

1963-1968MEIRAMIT

Terceiro diretor do Mossad. Nascido em 1921, Amit foi chefe do serviço de

inteligênciamilitar(Aman)de1962a1963ememunehdoMossadde1963a1968.NasceunumkibutznaPalestina.Juntou-seaoHaganah,aorganizaçãoclandestinajudaica,efoinomeadocomandantedeumbatalhãoeposteriormentedaunidadedeelite,aBrigadaGolani,duranteaGuerradaIndependência(1948).Amitserviunainfantariadoexércitoisraelenseenumaunidadedeblindados.DuranteacampanhadeSuez(1956),foiosegundoaocomandodeMosheDayan.Em1961,recebeuodiploma de Economia na Universidade de Columbia (Nova York). Quandoassumiu o cargo da Aman, em 1962, os seus três antecessores tinham sidodemitidos.Duranteoseumandato,aumentouarivalidadecomoMossaddeIsserHarel.Em26demarçode1963,oprimeiro-ministroDavidBen-Gurionnomeou-o memuneh do Mossad. O até então número dois de Amit na Aman, o majorAharonYariv, sucedeu-lhena inteligênciamilitar.ChegouaoMossadcoma fama

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de ter sido chefe da inteligênciamilitar que coletou toda a informação necessáriaparaqueIsraelvencesseachamadaGuerradosSeisDias.Duranteoseumandato,MeirAmit estabeleceuuma relação íntimacomopresidentedosEstadosUnidos,LyndonB.Johnson,ecomodiretordaCIA,RichardHelms.DepoisdedeixaroMossad em1968, foi nomeadopresidentedaKoor Industries, o grupo comercialmaisimportantedeIsrael.ApósnoveanosnaKoor,sejuntouàpolíciaefoieleitomembro da Knesset (Parlamento) e pouco depois, ministro dos Transportes eComunicações.Em1982,voltouaosnegócioseiniciouochamadoProjetoAmos,oprimeiro satélite de comunicações de Israel. Em 2005, Amit publicou a suaautobiografia intitulada A Life in Israel’s Intelligence Service: An Autobiography(VallentineMitchell,Londres,2005).

1968-1974ZVIZAMIR

Quarto diretor do Mossad. Nascido em 1925 na Polônia, Zamir chegou à

Palestinaaindacriança.Juntou-seaorecém-criadoexércitoisraelensecomacriaçãodoEstadodeIsraelem1948,apósaaprovaçãodochamadoPlanodePartiçãodaPalestina.Chegouaograudemajor-general,atéqueem1968foinomeadoquartodiretor-geral oumemuneh do Mossad pelo então primeiro-ministro, o trabalhistaLevi Eshkol. Zvi Zamir substituiu Meir Amit. Na verdade, Zamir não tinhaexperiência em tarefas de inteligência, mas os observadores militares e civisgarantiram que era por essemesmomotivo que tinha sido nomeado por Eshkol.QuandooSetembroNegroassassinouonzeatletasisraelensesduranteacelebraçãodos Jogos Olímpicos de Munique em 1972, Zamir voou para a Alemanha paratentarsupervisionarasnegociaçõescomosterroristas.Asautoridadesalemãsnãolhederam autorização e dois atletas foram assassinados na Vila Olímpica e oito noaeroportodeFürstenfeldbruck,cercadeoitentaquilômetrosaoestedeMunique.A

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novaprimeira-ministradeIsrael,GoldaMeir,ordenouaZamira“ativação”deumaequipe doKidon para eliminar todos os responsáveis pelamorte dos atletas. ZviZamirescolheuMikeHarariparalideraramissão.AOperaçãoIradeDeusconsistiaem executar todos os membros do Setembro Negro relacionados direta ouindiretamente com o massacre de Munique. Zvi Zamir conseguiu livrar-se dahumilhação após o término da investigação sobre os fracassos dos órgãos deinteligência israelenses, ocorridos durante a Guerra do Yom Kippur (1973).Naquele ano, vários países árabes atacaram Israel de surpresa. Uma rápidacontraofensiva permitiu o triunfode Israel nestanova guerra israelo-árabe.ZamirdeixouocargodememunehdoMossadem1974,sendosubstituídoporIsaacHofi.

1974-1982ISAAC“HAKA”HOFI

Quinto diretor do Mossad. Após o desastre da Guerra do Yom Kippur, que

provocou2.500mortesnoladoisraelense,aComissãoAgranattornoupúblicososenormes erros cometidos pelos serviços de inteligência do país por não teremdescobertoqueváriospaísesárabespreparavamumataquesurpresacontraIsrael.Ascabeças de quatro políticos importantes rolariam naquele ano de 1974: a daprimeira-ministraGoldaMeirquefoisubstituídaporYitzhakRabin;adeEliZeira,chefe da inteligência militar, que foi substituído por Shlomo Gazit; a de YosefHarmelin,diretordoShinBet,queseriasubstituídoporAbrahamAhituv,e,claro,a de Zvi Zamir, memuneh do Mossad, que seria substituído por Isaac Hofi. Oquintomemuneh,quetodosconheciamporHakaHofi,eraumrespeitadomilitardecarreira e antigo chefe doComandoNorte.Hofi subiu na hierarquia política deIsraelgraçasaoapoiodoseupadrinho,orespeitadogeneralMosheDayan,ministrodaDefesa de Israel quando o novomemuneh era o responsávelmilitar pela zonanortedopaís.Apósa invasãodoLíbanoporIsraelem1982,Hofiviu-secadavezmaisenvolvidonatragédiaquesevivianaquelepaís.Aimprensachegoumesmoa

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afirmar anos depois: “O Líbano transformou-se na propriedade rural do senhorSharon(ministrodaDefesa),eIsaacHofieosseusrapazesdoMossad,nocapatazeseuscowboys”.AComissãoKahanestabeleceuqueoexércitoisraelenseeoMossadpermitiramdeliberadamenteaentradadasmilíciasfalangistasnoscampospalestinosdeSabraeChatila,quedeulugaraumdospioresmassacresdahistóriadoOrienteMédio.Durantedias,osfalangistasdedicaram-seaassassinar,asangue-frio,idosos,mulheresecriançasindefesos.Quandoasmilíciasentraramnoscampos,nãohavianenhum guerrilheiro palestino armado, visto que combatiam na zona oeste dacapital libanesa.Oescândalo suscitado, somado àdetençãopeloFBIde JonathanPollard,umjudeunorte-americanoqueespionavapara IsraelnoCentrodeAlertaAntiterrorista (ATAC) no Serviço de Investigação Naval, provocou a queda emdesgraça de Isaac Hofi. Em 1982, abandonaria o cargo de memuneh, sendosubstituídopelo seu até então subdiretor,NahumAdmoni.Em1987, cinco anosdepoisdedeixarocargodechefedoMossad,IsaacHofi fariaparte, juntoao juizMosheLandau,antigopresidentedoSupremoTribunaldeIsrael,eaYakovMaltz,alto funcionário do governo, da Comissão Landau, incumbida de investigar osabusosdoShinBetnosTerritóriosOcupados.

1982-1990NAHUMADMONI

SextodiretordoMossad.NascidoemJerusalémem1929,cresceunaimportante

cidadedeRehaviaGymnasium,paraondeosimigrantespolonesesdeclassemédiaenviavamosfilhos.AdmoniserviunoShai,oserviçodeinteligênciadasForçasdeDefesa Israelenses durante a Guerra da Independência em 1948 e, em 1949,licenciou-se com o grau de primeiro-tenente. Posteriormente, mudou-se para osEstadosUnidosparaestudarRelaçõesInternacionaisnaUniversidadedaCalifórniaemBerkeley.Em1954,regressouaIsrael,ondeingressoucomoprofessornaEscoladeTreinamento dos Serviços de Inteligência. Lá conheceria outro agente que no

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futuro se tornaria uma das estrelas do Mossad, David Kimche. O seu primeiroempregonoestrangeirofoiemAddisAbeba,nosanosemqueaEtiópiaocupavaumlugardedestaqueparaoMossad.SeriaposteriormenteenviadoparaParis,nosanos1960, como parte da aliança estratégica de Israel com os seus homólogos dosserviçossecretosfranceses.Maistarde,foienviadoparaWashingtoncomochefedaestaçãodoMossad,garantindo-lheocognomede“embaixadordoMossadnaCIA”.Essesanosnacapitalnorte-americanaproporcionaram-lheumaboalistadecontatosentre as altas esferas, que posteriormente lhe abririam as portas da Casa Brancadurante as administrações de Ronald Reagan e George Bush. Os seus críticosgarantiam que Nahum Admoni tinha pouca experiência em operações deespionagem, e tinham razão.Na verdade,Admoni era umburocrata e ummajorespecialistaem“relaçõesdiplomáticas”entreserviçosdeinteligência.Em1976,HofinomeouNahumAdmonisubdiretordoMossad,cargoqueocupariaaté1982,anoemque IsaacHofi sedemitiu, sendoentão substituídoporAdmonicomodiretoremexercício.Finalmente,oentãoprimeiro-ministroMenahenBeginratificou-onocargo, tornando-o o sexto diretor do serviço de espionagem israelense desde afundação.

NahumAdmoni serianomeado justamentepoucosdias antesdasmatançasnoscamposderefugiadospalestinosdeSabraeChatila,emsetembrode1982.Onovomemuneh foi o primeiro diretor do Mossad a chegar à cúpula da espionagemisraelense subindo das bases e de forma fortuita, quase por acaso. O primeirocandidatoasucederaHofieraYekutielAdam,masmorreunoLíbano.OsegundoeraDavidKimche,masasuasaídadoMossadem1980,apósumagravediscussãocomYekutiel Adam, impediu-o. Foi nomeado, como alternativa, diretor-geral doMinistériodosNegóciosEstrangeiros.Oterceirocandidato,ShmuelGoren,umdosmais brilhantes adjuntos de Isaac Hofi, após um pequeno escândalo interno em1975, decidiu deixar o serviço de espionagem e aceitar o reconhecido cargo deCoordenador de Operações do governo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Oquarto candidato eraNahikNevot, que tratava das relações entre oMossad e asmilíciascristãslibanesas.OquintocandidatoeraolendárioRafiEitan,masBegin,que o admirava muito, preferiu mantê-lo como conselheiro do seu ministro daDefesa,ArielSharon.Finalmente,NahumAdmonifoiosextocandidatoeoúnicoaprovado para todas as partes.Durante omandato de Admoni, oMossad viu-seenvolvido nos escândalos do caso Pollard, do Irangate e do casoVanunu.Mas oMossad também viveu momentos de glória como quando, em finais de 1984, egraçasàajudadainteligênciaisraelense,conseguiuevacuardaEtiópiamaisde7milfalashas, uma das tribos perdidas de Israel. Nahum Admoni era conhecido pela

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imprensa como “Mr.Gucci”, devido ao seu gosto pela roupa desse estilista. Essecognome foi-lhe dado pelo jornal Yediot Ahronot, visto que, por lei, a imprensaestavaproibidadetornarpúblicoonomedomemunehdoMossad.Atéasuasaídaem1990,onomedeNahumAdmonipermaneceuemsegredo.

1990-1996SHABTAISHAVIT

Sétimo diretor do Mossad. Sucessor de Nahum Admoni, Shavit foi nomeado

memuneh do Mossad pelo primeiro-ministro Yitzhak Shamir. SupervisionoupessoalmenteoassassinatoexecutadopeloKidondo líderdaJihadIslâmica,FathiShiqaqi, em Malta. O mandato de Admoni esteve também marcado pelo casoPollard,oIrangateeahistóriadospassaportesbritânicos falsosencontradosnumacabinetelefônicanacidadealemãdeBonn.OprimeiroerrogravedeShavitfoinãoter descoberto a concentração de tropas iraquianas perto da fronteira com opequenoericoemiradodoKuwait.OpapelqueoMossaddesempenhounaGuerradoGolfoprovocouumasériedeinvestigaçõesporpartedoSubcomitêdeNegóciosEstrangeiros da Knesset. Shabtai Shavit foi recriminado abertamente por não terprevisto a ação iraquiana e não ter sabido que Saddam Hussein planejava atacarIsrael com mísseis Scud. A partir desse momento, começaram a ser publicadosdiversosartigossobreoMossad,algoquenuncatinhaacontecidoemtodaahistóriada espionagem israelense. De 1992 a 1996, Shabtai Shavit lutou, com todas asarmas que dispunha, paramanter oMossad fora dasmanchetes dos jornais.Nãoqueriagrandessucessosporpartedosseuskatsa,mastambémnãoqueriadisparatesque os ridicularizassem. Os rumores políticos contra o memuneh começaram abasear-se na pouca consideração que o Mossad tinha por ele. O que tambéminfluenciouasuadestituiçãoporpartedoprimeiro-ministroNetanyahufoio fatodequeorganizaçõesde inteligênciahistoricamente aliadas comoaCIAouoMI6

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tivessem cortado as relações com o serviço de espionagem israelense. Os doisúltimos anos de Shabtai Shavit como memuneh provocaram uma onda dedesmoralizaçãoeposteriorabandonodeantigoseexperientesoficiaisdeinteligênciaque não viam com bons olhos a direção doMossad por ele.Os seus colegas nacomunidadedeinteligênciaisraelensequalificavam-nocomo“umporteirodehotelbarato,comaroupacuidadosamenteengomada,equeapertavaamãosemforçaejamaisoolhavanosolhos”.Shaviteraumdostrêschefesdainteligênciacontráriosànegociaçãocomospalestinosnabaseda“PazporTerritórios”.ApósoassassinatodeYitzhak Rabin em Tel Aviv em novembro de 1995, Shavit, então memuneh doMossad, disse que em várias ocasiões avisaram o Shin Bet, responsável pelasegurançadoprimeiro-ministro,queelepoderiaservítimadeumatentado.Assuaspalavrasnão foram levadas a sériopeloShinBet.Naprimaverade1996,quandoShabtaiShavitjáestavahaviaquaseseisanosàfrentedoMossad,foi-lhepedidoquese apresentasse no gabinete do primeiro-ministro. Quando chegou, BenjaminNetanyahuoinformouqueacabavadeserdemitidoeagradeceu-lhepelosanosdeserviço.ShavitrecolheuosseusbenspessoaisedesapareceudahistóriadoMossad.Minutos depois de deixar o edifício do Instituto, Danny Yatom, o seu sucessor,entravaparaocuparoescritório.

1996-1998DANNYYATOM

OitavodiretordoMossad.NascidoemIsraelem15demarçode1945,ogeneral

reformadoDavidYatomparece,àprimeiravista,umempresáriodecabelogrisalho;porém, por trás dessa aparência, há um currículo digno de um herói de Israel.Graduado em Matemática, Física e Programação pela Universidade Hebraica deJerusalém, entre 1963 e 1996Yatomprestou serviçosnaunidadede elite SayeretMatkal; foi chefe doComandoCentral e secretáriomilitar do primeiro-ministro.

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Yatom subiu no mundo político israelense graças à sua amizade íntima comBenjaminNetanyahu,quevinhadesdequeofuturoprimeiro-ministroserviusoboseu comandono exército. Foi nomeadomemuneh doMossad em junho de 1996pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu do Partido Likud. Assessor doassassinado Yitzhak Rabin, foi também um dos militares com maioresresponsabilidadesnoexércitoisraelense.FoidemitidocomodiretordoMossadem1998, após os escândalos provocados pelo fracasso de uma unidade doKidon nacapital jordaniana quando tentava executar, em 25 de setembro de 1997, JalidMeshal (um alto dirigente do grupoHamas, na chamadaOperaçãoVingança), edepoisdesedescobrirqueumaltooficialdoMossad,YehudaGil,tinhaficadocomdinheiro da espionagem israelense afirmando que era usado para pagar a uminformantenaSíria.GiljároubavaoMossadhaviavinteanos.Apósasuademissão,YatomfoieleitomembrodaKnessetpeloPartidoTrabalhista.Oantigomemunehétambémpresidentedo InstitutodeEstudosEstratégicosdoColégiodeNetanyaeassessor em matéria de negócios estrangeiros e de defesa nas Forças de DefesaIsraelenses.Yatomécasadoepaidecincofilhos.

1998-2002EFRAIMHALEVY

NonodiretordoMossad.Subdiretordoserviçodeespionagemisraelensedurante

omandatodeDannyYatom,foieleitoseusucessorquandoDannyfoidemitido.Onovo memuneh foi nomeado para o cargo em 5 de março de 1998. Depois deassumi-looficialmente,nomeouAmiranLevinecomoseunúmerodois.LevineeraumespecialistaemquestõesmilitaresporterservidocombastanteêxitonoexércitoisraelensenoComandoNorteenoLíbano.EfraimHalevyeraembaixadordeIsraelnaComunidadeEuropeiacomsedeemBruxelas,quandoocorreuofiascodaSuíça.Aparentemente, uma equipe inteira do Mossad foi detida pela polícia suíça

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enquanto realizavam operações clandestinas no país europeu. O então primeiro-ministro,BenjaminNetanyahu,pediupessoalmenteaHalevyquetentasseamenizaro desastre. Durante três dias, o embaixador viu-se obrigado a “suplicar” a JacobKellerberger, do serviço de segurança suíço, e a Carla del Ponte, a incisivaprocuradorafederaldaSuíça.TevetambémumpapeldedestaquenasnegociaçõesdepazentreIsraeleopaísárabe.AsfunçõesdeHalevynoMossadestenderam-sedesde a crise doGolfo Pérsico de 1991 até quase o início da crise do Iraque em2002.OprimeirofracassodoMossadcomHalevynocomandoaconteceuquandoestedecidiuestabelecerumabaseestáveldaespionagemisraelensenailhadeChipre.Dois katsa foram presos pelo eficiente serviço de contraespionagem cipriota. Opresidente de Israel, Ezer Weizman, teve que telefonar pessoalmente para seuhomólogo e amigo antigo, o presidente do Chipre, Glafcos Clérides, para queintercedesseafavordalibertaçãodosdoisagentesisraelenses.Omemunehrecebeuaprimeira reprimenda do próprio presidente do Estado de Israel. Efraim Halevytornou-seumaespéciede“enviadosecreto”dosprimeiros-ministrosYitzhakRabin,YitzhakShamir,BenjaminNetanyahu,EhudBarak eAriel Sharon.Em1999,nocomeço da ofensiva da OTAN contra a Sérvia, o Mossad passou uma boaquantidade de informação de inteligência aos dezenove países que compunham aforça militar. Isso fez com que os serviços secretos ocidentais passassem a ver oMossad com outros olhos. Ainda hoje, a OTAN conta com esse tipo decolaboração. No ano de 2002, Halevy demitiu-se do cargo de chefe do Mossaddevidoadivergênciascomoprimeiro-ministroArielSharon,sendosubstituídoporMeirDagan.Emabrilde2005,recebeuorenomadoPrêmioHaimHerzogpelasuacontribuição ao Estado de Israel. Atualmente, é diretor do Centro de EstudosPolíticoseEstratégicosdaUniversidadeHebraicade Jerusalém.HalevyescreveuasuaautobiografiaintituladaManintheShadows.InsidetheMiddleEastCrisiswithaManWholedtheMossad,publicadanoanode2006pelaSt.Martin’sPress.

2002-2010MEIRDAGAN

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Décimo diretor do Mossad. Nascido em 1945 numa Europa devastada pela

GuerraepeloHolocausto,MeirHuberman(Dagan)chegouaIsraelcomafamíliaem 1950. Foi confidente próximo de Ariel Sharon durante quase três décadas emembromuito ativo na campanha eleitoral que deu a vitória a Sharon.Os doishomenspartilhamnãosomenteumalongacarreiramilitar,mastambémopiniõesdelinha-duraarespeitodasrelaçõesdeIsraelcomosvizinhosárabes.Nosanos1970,sob o comando de Sharon,Dagan liderou uma unidade antiterrorista especial naFaixadeGaza.Tambémdirigiuoutraunidadesecretaquematouváriosmilitantespalestinos em Gaza. Em 1982, como comandante durante a Guerra do Líbano,ajudouaestabelecereatreinaroexércitodosuldoLíbano,favorávelaIsrael.MeirDaganfoioprimeiroisraelenseaentraremBeirutedentrodeumtanque.Segundoalgunsrelatórios,nosanos1980,DaganesteveimplicadonoLíbanoematividadessimilaresàsdesenvolvidasnaFaixadeGaza.Entre1987e1993,ecomoajudanteespecial do chefe de pessoal do exército durante a primeira Intifada, esteveimplicadonoestabelecimentodeunidadessecretasqueoperavamnaFaixadeGazae na Cisjordânia e que se dedicavam à “execução” dos responsáveis pela rebeliãopalestina.Em1995, depois de deixar o exército,Dagan entrounoMossad comosubdiretor.Em1997, o entãoprimeiro-ministroBenjaminNetanyahuonomeouconselheirodecontraterrorismo.Daganesteveprovavelmentepor trásdatentativadeassassinatodo líderdoHamas, JalidMeshal,em25de setembrode1997,poruma unidade do Kidon. Quando assumiu esse posto, declarou que desejavaaumentar os seus poderes para concluir uma campanha “mais agressiva” contra oHamas. Meir Dagan permaneceu no seu posto com o primeiro-ministro EhudBarak até que este o demitiu pela sua oposição aos acordos de paz de Oslo. Arespeito da política de assassinatos conduzida pelo Mossad, Dagan disse: “Aexecuçãodeum terroristanão épolítica.Sãoos instrumentosdeumEstadoparaprevenirataqueseparaaumentaradissuasão”.Em2002,onovoprimeiro-ministro

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Ariel Sharon nomeouDagan, de 57 anos, décimo diretor doMossad, cargo queocupouaté31dedezembrode2010.Apósoanúnciodasuaretiradaemnovembrode 2010, Dagan foi qualificado pela imprensa israelense como “um herói dosilêncio”,eesseseráoseulegado.

2011-TAMIRPARDO

Décimo primeiro diretor do Mossad. Nascido em 1953, Pardo serviu como

especialista em comunicações nas forças de elite, a Sayeret Matkal. Em julho de1976, fez parte da chamadaOperaçãoRaio sob as ordens deYehonatan “Yonni”Netanyahu, irmão do político do Likud Benjamin Netanyahu, para libertar osreféns do voo AF139 da Air France, no aeroporto ugandês de Entebbe. Apóscompletar o seu serviço na FDI, decidiu juntar-se ao Mossad. No Instituto, foidestacadopara aKeshet (Arco), a unidade encarregada das vigilâncias eletrônicas.Finalmente, foinomeadochefedaKeshet,paraaqualdesenvolveunovossistemasdevigilânciaatravésdemicrofonesefotografias.

Em1997,fezparte,porordemdomemunehYatom,dacomissãodeinvestigaçãointernadoMossad,paradescobrir os erros cometidosporuma equipedoKidon,quando tentaram matar na capital jordaniana Jalid Meshal, homem do altocomando do Hamas, em 25 de setembro de 1997, introduzindo-lhe veneno noouvidocomumspray.

Emmarçode2005,TamirPardoeraoprincipalcandidatoaocuparopostodenúmerodoisdoMossadsobocomandodeDagan,masoentãomemunehdecidiunomear outro. Pardo solicitou transferência para o Kiria, codinome do quartel-generaldoexércitoisraelenseemTelAviv.AlitrabalhariacomoconsultordoAltoComandodaFDI.DevidoaoseubomdesempenhonaGuerradoLíbanode2006,Meir Dagan decidiu dispensar o seu número dois e oferecer-lhe o cargo. Pardo

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aceitou, achando que após a saída de Dagan, ele próprio assumiria o posto dememuneh,masomandatodeDaganfoiprorrogado.

DuranteotempoemquefoiosegundonocomandodoMossad,conseguiram-segrandestriunfoscomoadestruiçãodeumacentralnuclearnaSíriaeaeliminaçãodo todo-poderoso chefe militar do Hezbollah, Imad Mughniyeh, depois de terexplodido o apoio para a cabeça do seu Mitsubishi, em Damasco, em 12 defevereirode2008.

Pardo,umpoucodesiludido,decidiuafastar-seporumtempodoMossadeentrarem uma empresa privada até que, em meados de novembro de 2010, Dagananunciouaoprimeiro-ministroNetanyahuquedesejavarenunciaraocargoparasededicar à família. A imprensa israelense fez eco da notícia, confirmando que oprimeirocandidatodeNetanyahuparasucederDaganeraogeneralShlomoYanai.Esterecusouocargoalegandoquepreferiacontinuarnopostodepresidentedeumagrande indústria farmacêutica. Em 29 de novembro de 2010, Dagan anunciouoficialmente ao primeiro-ministro a sua intenção de se demitir do cargo dememuneh.No domingo, dia 5 de dezembro, oConselho deMinistros aprovou anomeação de Tamir Pardo como novo diretor doMossad, sendo posteriormenteratificadopeloComitêdeNomeaçõesdaKnesset,lideradoporJacobTurkel.Pardoassumiriaoficialmenteoseunovopostodememunehnaterça-feira,1ºdejaneirode2011.EfraimHalevy,memunehdoMossadentre1998e2002,definiuPardonosseguintes termos: “É calado,mas batalhador.Muito inteligente, jamais desiste atéalcançaroseuobjetivo”.Afirma-sequeeleéfãincondicionaldosGrandesPrêmiosde Motociclismo, especialmente quando corre Valentino Rossi, e torcedor doFútbol Club Barcelona. Aos 57 anos, com trinta deles dedicados ao Mossad, équalificadopeloseuchefe,Netanyahu,oúnicoaquemdevereportar-se,como“ohomem certo no momento certo”. O seu mandato à frente do Instituto deInteligência e Operações Especiais, mundialmente conhecido como Mossad e,dentro da comunidade de Inteligência, simplesmente como “O Instituto”, deveráseguirasdiretrizesdefinidasporArielSharonao seuantecessor,MeirDagan:“IrãnucleareIrãnuclear”.

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ANEXOIIPRIMEIROS-MINISTROSDEISRAEL

1948-1953 DAVIDBEN-GURION(Trabalhista)

1954-1955 MOSHESHARETT(Trabalhista)

1955-1963 DAVIDBEN-GURION(Trabalhista)

1963-1969 LEVIESHKOL(Trabalhista)

1969-1974 GOLDAMEIR(Trabalhista)

1974-1977 YITZHAKRABIN(Trabalhista)

1977-1983 MENAHEMBEGIN(Likud)

1983-1984 YITZHAKSHAMIR(Likud)

1984-1986 SHIMONPERES(Trabalhista)

1986-1992 YITZHAKSHAMIR(Likud)

1992-1995 YITZHAKRABIN(Trabalhista)

1995-1996 SHIMONPERES(Trabalhista)

1996-1999 BENJAMINNETANYAHU(Likud)

1999-2001 EHUDBARAK(Trabalhista)

2001-2006 ARIELSHARON(Likud)

2006-2009 EHUDOLMERT(Likud)

2009- BENJAMINNETANYAHU(Likud)

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ANEXOIIIGLOSSÁRIODETERMOSDOMOSSAD

Agenteantiquado.InformantedoMossadquenãoémuitoativo.Agentemorto.Agentequeé fácildedescobrireprenderpor levarumacobertura

difícildemanter.AinEfes.Operaçãoemquenãoseadmiteofracasso.Aman.AcrônimodeAgafha-Modi’in.ServiçodeInteligênciaMilitar.APAM.AcrônimodeAvtahatPaylutModienit.Unidadeencarregadada segurança

dasoperaçõesdoMossad.BatLeveyha.Grauinferiorakatsa.Berman. Código cifrado utilizado pelas estações do Mossad na transmissão de

mensagens.Bodel. Correio. Um “mensageiro” do Mossad responsável pelo transporte de

mensagens de um esconderijo para uma estação, uma embaixada ou o próprioquartel-generaldoInstituto.

Cavalo.PersonagemimportantedentrodoMossad,queajudaumagenteasubirdepostodentrodaespionagemisraelense.

CNT.GabineteCentraldoMossadnaEuropa.AsedeéemHaia.Combatentes. Espiões, katsa israelenses enviados para países árabes para

trabalharemsobidentidadefalsa.ComitêX.ComitêincumbidodejulgarecondenarossupostosinimigosdeIsrael.

AsentençacostumaseraexecuçãomedianteoenviodeumaunidadedoKidon.OComitêXeraumorganismosecretoatéque,em1986,umjornalistadojornalHaaretzfalousobreelenumareportagem.

Dardasim ou Smerf. Subdepartamento do Kaisarut. Os seus agentes operam naChina,naÁfricaenoExtremoOriente.

Estação.BaseestáveldoMossadnoestrangeiro.Fibers.Descriçõesfísicasexatasdepessoasqueseencontramemalgumlugaronde

operaumkatsa.

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Flops.NomepeloqualoMossad conheceosmembrosdaFrentePopularpara aLibertaçãodaPalestina.

Governantas.Unidadeencarregadadamanutençãodosesconderijosdaespionagemisraelense. Trocavam móveis velhos, pintavam, limpavam os cômodos emantinhamasgeladeirassemprecheiasdebebidasnãoalcoólicasealimentos.

Humint.Informaçãodeinteligênciaobtidaatravésdesereshumanos.Instituto.NomepeloqualseconheceoMossadnomundodaespionagem.Kaisarut.Departamentodemediaçõesnas embaixadasde Israel, conhecidocomo

oficialdeinteligênciapelasagênciasdeespionagemlocais.Katsa.AcrônimodeKatzinIssufouoficialdeserviçosespeciais.Sóemoperaçõesde

recrutamento,oMossadtemespalhadoscercade35nomundointeiro.Keshet.Arco.Informaçãoconseguidapormicrofonesemcasasarrombadas.KHT.DivisãodeInteligênciaPolíticadoMossad.Kidon.Baioneta.SubunidadedeassassinosdaMetsadaencarregadadossequestros

e assassinatos do Mossad. Os agentes ou membros da unidade também sãodenominadoskidon.

Kiria.Quartel-GeneraldasForçasdeDefesaIsraelenses(FDI)emTelAviv.LAP. AcrônimodeLohamahPsichlogit ou guerra psicológica. Também são assim

denominadososespecialistasdoMossademinterrogatórios.LuzdoDia.Oestadodealertamáximodosagentesdosserviçossecretosisraelenses.Maoz. Fortaleza. Esconderijo utilizado pelos katsa do Mossad ou pelos kidon da

Metsadacomocentrodeoperaçõesnoestrangeiro.Marats.Ouvinte.Encarregadodeanalisarosidiomasedialetosdosquevigiam.Melucha.VerTsomet.Memuneh.NomepeloqualseconheceodiretordoMossad.Metsada.UnidadedeoperaçõesespeciaisdoMossad.Odepartamentomaissecreto

daespionagemisraelense.Mishlashim.Caixadecorreioseguraparareceberoudeixarinformação.Mossad.Emhebraico,ha-Mossad,acrônimodele-Modiinule-TafkidimMeyuhadim

(InstitutodeInteligênciaeOperaçõesEspeciais).Neviof. Sistemas para penetrar num quarto de hotel, num escritório ou qualquer

outrolocalparacolocarescutas.Neviot.VerKeshet.

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Nokmin.Vingadores.PrimeiraunidadedaMetsada,estabelecidaemfinaisdosanos1940,cujaúnicatarefaeraadematarumalvoassimquelocalizadoeidentificado.

Photint.Informaçãodeinteligênciacoletadamediantefotografias.Saifanim. Departamento do Mossad encarregado de colher informações sobre a

OLP.Salia.Emissário.Sayan(Plural,sayanim).InformantedoMossadquenãotrabalhacomremuneração

paraaespionagemisraelense,mascomoumsimplescolaborador.OMossadtemmilhares deles espalhados pelo mundo. Os sayanim são judeus que colaboramcomoMossadpormotivosideológicos.

Shai.AcrônimodeSherutYediotouServiçodeInformação.Shicklut.FuncionáriododepartamentodeescutasdoMossad.ShinBet.AsduasprimeirassiglasdeSherutha-Bitachonha-KlaliouServiçoGeral

deSegurança.Agênciaisraelensedecontrainteligênciaecontraterrorismo.Sigint.Informaçãodeinteligênciacoletadaporinterferênciadesinais.Slicks.Lugaressecretosparaguardardocumentos.SodiBeyoter.Classificaçãode “altamente confidencial”dada aumdocumentodo

serviçosecretoisraelense.Tachless.Entrarnoassunto.Atacarumalvoparaconseguircomqueseconvertaem

informantedoMossad.Tira. Palácio. Esconderijo usado pelos agentes do Mossad para abrigar um

sequestradooupresonumpaísestrangeiro.Tsiach.AcrônimodeTsorechYediotHasuvotoureuniãodeorganizaçõesdeserviços

secretoscivisemilitares.Tsomet.Reino.Departamentoderecrutamentoquedirigeoskatsa.UnidadeAI.Unidadesecretaformadapor27katsadoMossadequeseencarrega

dasoperaçõesdeespionagemdentrodeterritórionorte-americano.Unidade 131. Formada por agentes suscetíveis de serem introduzidos em países

árabes.Unidade504.Encarregadaderecolherinformaçãodeâmbitomilitar.Unidade8200.Encarregadadainterceptaçãodecomunicações.Unidade8513.Encarregadadereunirinformaçãofotográficadeumalvo.

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Varash.AcrônimodeVa’adatRasheiha-Sherutimoucomitêcompostopeloschefesdosserviçossecretos.

Yahalomin.UnidadedecomunicaçõesdoMossad.Yarid. Departamento responsável pela segurança das operações do Mossad na

Europa.ZahavTahor(OuroPuro).Assimsedenominamasoperaçõescombinadasentreo

Mossadequalqueroutraagênciadeinteligênciaisraelense,unidadedoexércitooudapolícia.

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Cadernodefotos

AdolfEichmannduranteseujulgamentoemJerusalém

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DocumentodefugaexpedidopelaCruzVermelha

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Eichmannécondenadoamorrernaforca

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PeterMalkinfoiresponsávelpelocomandodoMossadquesequestrouEichmann

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AntonKunzlepreparouparaoMossadaexecuçãodocriminosodeguerraCukurs

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Cukursfoiencarregadodaexecuçãode30miljudeusdoguetodeRiga

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OjovemCukursprestoujuramentoaoregimenazistaeàsuapolíticaantissemita

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HerbertCukursapareceaquiduranteumaexecuçãodejudeusdoguetodeRiga

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OMossaddecidiuexecutarCukurseseucorpofoicolocadonumbaú

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OantigocriminosodeguerradaLetôniaesperouvinteanosparapagarporseuscrimes

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CukursmostraaKunzleouniformequeusouduranteaSegundaGuerraMundial

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AbdelWaelZwaiterfoioprimeiroalvoatingidopelaoperação“IradeDeus”

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OterroristaJalidJawadaparecemortoapósotiroteionoaeroportodeFürstenfeldbruck

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AharonYariv,consultordeantiterrorismodaprimeira-ministra

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GoldaMeirdeusinalverdeaosexecutoresdoMossad

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JamalAl-GasneyfoioúnicosobreviventedaoperaçãodeMunique

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MahmudHamshariseriaassassinadoemParispeloKidon

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Fotodeumdosatletasisraelensesmetralhadosemumdoshelicópteros

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Cadávercarbonizadodeumatletaisraelenseassassinadonosegundohelicóptero

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Fotografiadosmembrosdaequipeolímpicaisraelense,tiradaumdiaantesdoataqueterroristanoqualdezdelesperderamavida

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1–KehatShorr,treinadordetiro2–MarkSlavin,lutador3–AndreSpitzer,treinadordeesgrima4–EliezerHalfin,lutador5–YossefRomano,halterofilista6–AmitzurShapira,treinadordeatletismo7–ZeevFriedman,halterofilista8–JacovSpringer,juízdelevantamentodepeso9–DavidBerger,halterofilista

10–MosheWeinberg,treinadordelutalivre11–YosefGutfreud,árbitrodelutalivre,nãoseencontranestafotografia.

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MikeHarari,chefedoKidon,tevededeixaroMossadapósofiascodaNoruega.Anosdepois,tornou-seassessordeNoriega

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AbuDaoudfoiferidopeloKidonnumhoteldeVarsóvia.Sobreviveu

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EhudBarakpersegueumterroristaduranteumaoperaçãoderesgatedereféns

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OVaticanoseconverterianopalcodeumatentativadeassassinatodeGoldaMeir

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Nestepavimento,Carlos,o“Chacal”,matoutrêsagentesdaespionagemfrancesa

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MichelMoukharbelerainformantedaDSTfrancesa

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Carlos,o“Chacal”,substituiuBoudíanocomandodeoperaçõesnaEuropa

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MohamedBoudíaseriasurpreendidopeloKidonnumaruadeParis

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BrigitteKuhlmannseriaexecutadaporcomandosisraelensesemEntebbe

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MohamedBoudíavooupelosaresapósacionarumaminasoboassentodeseucarro

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YonniNetanyahu,irmãodoatualprimeiro-ministro,foiaúnicabaixanaoperação“Raio”

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ForçascombinadasdoexércitoedoMossadatacamoaeroportodeEntebbe,Uganda,pararesgatarosrefénsdoAF139

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AbbaEban,GoldaMeireIdiAminDadaquandoaindamantinhamboasrelações

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OterroristaalemãoWilfredBosemorrerianoaeroportodeEntebbe

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AliHassanSalameh,principallíderdo“SetembroNegro”

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SalamehseriaassassinadopeloKidonem22dejaneirode1979

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AcentralnucleardeOsirak,noIraque,seriaoalvodosmísseisisraelenses

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IlanRamon,opilotomaisjovemdaoperação,perderiaavidaanosdepoisnoônibusespacial

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OKidoninterceptanaFrançamaterialnuclearcomdestinoaoIraque

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CherylBentovcomandouaoperaçãodesequestrodeVanunu

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CherylBentov,daunidadeKidon,entreseumarido,OferBentov,dainteligênciamilitar,eumdesconhecido

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DiferentesimagenscaptadasporMordechaiVanunudasinstalaçõesnuclearesdeDimona

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DoismembrosdoKidonsãocaptadosporumacâmeradesegurançadeumbancodeLondres,duranteaoperação“Vanunu”

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MordechaiVanunu

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AbuJihad,alvodoKidonnaoperação“17”

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AbuJihad,comandantemilitardaOLPelíderdaIntifada,ésepultadoapósseuassassinatopeloKidonemTúnis

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ResidênciadeAbuJihad,ondefoiassassinadoem16deabrilde1988

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PeçadecanhãoprojetadaporBullparaSaddamHussein

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GeraldBull,poucoantesdeserassassinadopeloKidonem22demarçode1990

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FuneraldoengenheiroGeraldBull

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AmiramNir,ex-membrodoMossadeintermediáriono“Irangate”,seriaassassinadopoucodepois

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Projetodoiate“LadyGhislaine”,palcodoassassinatonaoperação“Tycoon”

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OmagnataRobertMaxwellseriaexecutadoaolargodasIlhasCanárias

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PrimeirapáginadoDailyMirrornoticiandoamortemisteriosadeMaxwell

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Imagem,pelatelevisãodeMalta,docadáverdeFathiShiqaqi,líderdaJihadIslâmica

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FathiShiqaqi

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YahyaAyyash,o“Engenheiro”

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OxeiqueAhmedYassinemsuacadeiraderodas

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FuneralmassivodeAhmedYassin,assassinadopeloKidonnaFaixadeGaza

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ImagensdoskatsadoMossadqueparticiparamdaoperação“Raquete”

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OhotelAlBustanRotana,palcodaoperação“Raquete”

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MahmoudalMabhuh

MahmoudalMabhuhéseguidopelosagentesdoKidondoMossad

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TrêsagentesdoKidonsãocapturadosporumacâmeradesegurançadeumcentrocomercialdeDubai

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Oalvoentraemseuquarto,nº230,seguidopelosagentesdoKidondoMossad

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MahmoudalMabhuhpedesuachavenarecepção.Poucodepois,seriaexecutadopeloKidon

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MajidShahriarieArdeshirHosseinpour,cientistasnuclearesiranianos,seriammortospeloKidon

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ImagensdoPeugeoteseuinterior,carroqueMajidShahriaridirigiaquandofoiatingidopelabombaqueomatouem29denovembrode2010

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MasudAliMohammadinãopôdeserprotegidopeloVEVAKiraniano.OKidonosurpreendeuantes

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ImadMughniyah,lídermilitardoHezbollah,alvodaoperação“Fumaça”

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UmjovemMughniyahaparecenajaneladeumaviãosequestradoporumcomandodoHezbollahnosanos1980

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PassaportebritânicoclonadoporumaagentedoMossadparaaoperação“Raquete”

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Quartel-generaldoMossadnaáreanortedeTelAviv.Éproibidofotografá-lo

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TamirPardo,novomemuneh,éoencarregado,desdesuanomeaçãoem1ºdejaneirode2011,dosdestinosdoMossad.Seualvo:oIrãnuclear

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1VerDieterKuntz,TheHolocaustChronicle,PublicationsInternationalLtd.,NovaYork,2002.2VerEricFrattini,LaSantaAlianza.Historia del espionaje vaticano.De Pío V aBenedictoXVI,EspasaCalpe,Madri,2004.3VerÉliseNouel,Carréd’as... aux femmes!:LadyHesterStanhope,AuréliePicard,IsabelleEberhardt,Margad’Andurain,G.LePrat,Paris,1977.4VerRichardDeacon,TheIsraeliSecretService,WarnerBooks,Londres,1977.5VerMichaelBar-Zohar,SpiesinthePromiseLand.IserHarelandtheIsraeliSecretService,HoughtonMifflinCompany,Boston,1972.6VerSusanHattis,PoliticalDictionaryoftheStateofIsrael,MacMillanPublishingCompany,NovaYork,1987.7VerGordonThomas,Gideon’s Spies.TheHistory ofMossad, St.Martin’s Press,NovaYork,1998.8VerIsserHarel,TheHouseonGaribaldiStreet,FrankCassPublishers,NovaYork,1997.9VerPeterZ.MalkineHarryStein,EichmanninmyHands,WarnerBooks,NovaYork,1990.10VerRichardDeacon,op.cit.11 Isser Harel, em suas memórias, afirma que Shalom Dani teve participaçãodecisiva no sequestro deEichmann. Pormotivos de segurança,Harelmudou seunome para Yoel Goren. Após a morte de Dani, vieram a público tanto o seuverdadeironomequantoopapelquedesempenhounaOperaçãoGaribaldi.12VerRichardDeacon,op.cit.13VerIsserHarel,op.cit.14 Ver Peter Z. Malkin e Harry Stein, Eichmann in my Hands, Warner Books,NovaYork,1990.15VerMoshePearlman,TheCaptureofAdolfEichmann,Weidenfeld&Nicholson,Londres,1961.16VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.17 Ver Abba Eban, Abba Eban: An Autobiography, Random House, Nova York,1977.18 Ver Peter Z. Malkin e Harry Stein, Eichmann in my Hands, Warner Books,NovaYork,1990.19VerIsserHarel,op.cit.20VerGordonThomas,op.cit.21VerPeterZ.MalkineHarryStein,op.cit.

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22 Ver David Ben-Gurion, Memoirs: David Ben-Gurion, World PublishingCompany,NovaYork,1970.23 Ver Gideon Hausner, Justice in Jerusalem. The Eichmann Trial, Herzl Press,NovaYork,1977.24VerGordonThomas,op.cit.25VerMeirAmit,ALifeinIsrael’sIntelligenceService:AnAutobiography,VallentineMitchell,Londres,2005.26Ibidem.27VerAntonKuenzleeGadShimron,TheExecutionoftheHangmanofRiga.TheOnlyExecutionofaNaziWarCriminalbytheMossad,VallentineMitchell,Londres,2004.28VerRichardBreitman,U.S Intelligence and theNazis,National ArchivesTrustFundBoard,WashingtonD.C.,2004.29VerMeirAmit,op.cit.30VerAntonKuenzleeGadShimron,op.cit.31VerRafiEitan,ASoldier’sStory:TheLifeandTimesofanIsraeliWarHero,S.P.I.Books,NovaYork,1992.32 Ver Marilyn Harran e Dieter Kuntz, The Holocaust Chronicle, PublicationsInternationalLtd.,NovaYork,2002.33VerGeraldL.PosnereJohnWare,Mengele:TheCompleteStory,CooperSquarePress,Lanham,Maryland,2000.34OmassacrenaGrandeSinagogadeRiga,bemcomooenvolvimentodeHerbertCukurs, foram amplamente relatados por Raphael Schub, residente em Toronto(Canadá),emdezembrode1949,peranteaComissãodeInvestigaçãodosCrimesNazistasnosEstadosBálticos.35VerMeirAmit,op.cit.36VerAntonKuenzleeGadShimron,op.cit.37 Mais à frente, o autor explicará que “Defunto” foi a alcunha escolhida paranomearocriminozonazistaemquestão.(N.E.)38Anosmaistarde,AntonKuenzleencontrou-secomJosephNachmiasemIsraelepôdelhecontarporqueestavanoBrasilnaquelaocasião.NachmiasnãotinhasidoinformadopeloMossadsobreaOperaçãoRiga.VertambémAntonKuenzleeGadShimron,op.cit.39VertambémAntonKuenzleeGadShimron,op.cit.40 Josef Kramer, nascido na Alemanha em 1906, foi considerado culpado degenocídiopeloTribunalInternacionaldeNurembergeexecutadoem1ºdeoutubrode1946.

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41VertambémAntonKuenzleeGadShimron,op.cit.42Ibidem.43VerGeraldL.PosnereJohnWare,op.cit.44VerMeirAmit,op.cit.45VerDavidB.Tinnin,HitTeam,Weidenfeld&Nicholson,Londres,1976.46 Ver Simon Reeve, One Day of September.The Full Story of the 1972 MunichOlimpics Massacre and the Israeli Revenge Operation “Wrath of God”, ArcadePublishing,NovaYork,2000.47 Ver Michael Bar-Zohar e Eitan Haber, The Quest for the Red Prince. Israel’sRelentless Manhunt for One of the World’s Deadliest Terrorists, The Lyons Press,Guilford,Connecticut,1983.48VerSimonReeve,op.cit.49VerBarbaraMarshall,WillyBrandt:APoliticalBiography,PalgraveMacmillan,NovaYork,1997.50 Ver Carole Marsh, Golda Meir: Israel’s First Woman Premier, GallopadeInternationalPublisher,NovaYork,1998.51VerSimonReeve,op.cit.52VerDavidB.Tinnin,op.cit.53VerCaroleMarsh,op.cit.54 Ver Neil Livingstone e David Halevy, Inside the PLO, Willian Morrow &Company,NovaYork,1990.55VerPatrickSeale,AbuNidal.AGunforHire,HutchinsonPublisher,Londres,1992.56VerJohnRichardThackrah,DictionaryofTerrorism,Routledge,Londres,2004.57VerRollandDallas,KingHussein:ALifeontheEdge,InternationalPublishing,NovaYork,1999.58VerRolandDallas,op.cit.59AnosdepoisserianomeadochefedoEstado-Maior,ministrosempastaduranteoúltimo governo de Yitzhak Rabin antes de este ser assassinado, dos NegóciosEstrangeirosnoúltimogovernodeShimonPerese,porúltimo,primeiro-ministrodeIsrael.60VerVictorOstrovskyeClaireHoy,ByWayofDeception,StoddartPublishing,Toronto,1991.61Ibidem.62VerDavidB.Tinnin,op.cit.63VerAmnonKapeliouk,Arafat,LibrairieArthèmeFayard,Paris,2004.64VerSimonReeve,op.cit.

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65Ibidem.66VerocapítuloOperaçãoPrimaveradaJuventude.67VerDavidB.Tinnin,op.cit.68VerVictorOstrovskyeClaireHoy,ByWayofDeception,StoddartPublishing,Toronto,1991.69VerEricFrattini,LaSantaAlianza.Historiadel espionajevaticano.DePíoVaBenedictoXVI,EspasaCalpe,Madri,2004.70VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.71VerocapítuloOperaçãoIradeDeus.72Mohamed Yussef Al-Najjar, conhecido comoAbu Yussef, foi executado pelosassassinosdaMetsadaduranteumaincursãorealizadaemabrilde1973emBeirute(Líbano).Essaoperaçãofoibatizadacomonomede“PrimaveradaJuventude”.VerocapítuloOperaçãoPrimaveradaJuventude.73VerEricFrattini,op.cit.74Estetextosetornariapúblicoapósa invasãodoLíbanopelasForçasdeDefesaIsraelensesem1982.UmaunidadeisraelenseencontrouodocumentonumquarteldaOLPnosuldoLíbano.75VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.76VerEricFrattini,op.cit.77VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.78 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, Every Spy a Prince, Houghton MifflinCompany,Boston,1990.79VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.80Ibidem.81VerEricFrattini,op.cit.82VerDavidA.Yallop,TotheEndsoftheEarth.TotheHuntoftheChacal,PoeticsProductsLtd.,Londres,1993.83VerGordonThomas,op.cit.84 Informante judeu do Mossad que não trabalhava oficialmente para o serviçosecretoisraelense,mascomosimplescolaborador.85VerEricFrattini,op.cit.86 Ver Michael Bar-Zohar e Eitan Haber, The Quest for the Red Prince. Israel’sRelentless Manhunt for One of the World’s Deadliest Terrorists, The Lyons Press,Guilford,Connecticut,1983.87VerIanBlackeBennyMorris,Israel’sSecretWars.AHistoryofIsrael’sIntelligenceService,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.

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88EricFrattini,op.cit.89VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.90VerIanBlackeBennyMorris,op.cit.91Namesmanoitedoassassinato,descobriu-sequeoverdadeironomedeBaruchCohen eraUriMulov, oficial doMossad encarregado das redes de espionagem esabotagemnaEuropa.VertambémMichaelBar-ZohareEitanHaber,op.cit.92VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.93VerGordonThomas,op.cit.94VerAmnonKapeliouk,Arafat,LibrairieArthèmeFayard,Paris,2004.95OscomandosdaSayeretMatkalsãooequivalenteisraelenseaoSAS(SpecialAirService)britânicoouaoDeltaForcenorte-americano.96 Kirya significa, simplesmente, “lugar”, e é o nome pelo qual os comandosisraelenses conhecem o Quartel-General das Forças de Defesa Israelenses em TelAviv.97 JonathanYoniNetanyahuera irmãodoex-primeiro-ministro e líderdoLikudBenjamin Netanyahu. Yoni morreria durante a chamada Operação Raio. Ver ocapítuloOperaçãoRaio.98VerMosheBetser eRobertRosenberg,SecretSoldier, AtlanticMonthly Press,NovaYork,1996.99 Ver Simon Reeve, One Day of September.The Full Story of the 1972 MunichOlimpics Massacre and the Israeli Revenge Operation “Wrath of God”, ArcadePublishing,NovaYork,2000.100VerMosheBetsereRobertRosenberg,op.cit.101Ver SamuelM.Katz,FollowMe!AHistory of Israel’sMilitaryElite,Arms&ArmourPress,Londres,1989.102Posteriormente,osterroristasentregaram-seàpolíciasudanesa.Aoperaçãofoiliderada por Fawaz Yassin, representante da OLP no Sudão, e financiada pelocoronelKhadafi.103VerMosheBetsereRobertRosenberg,op.cit.104VerSamuelM.Katz,op.cit.105VerSamuelM.KatzeRobertRosenberg,IsraeliEliteUnitsSince1948,OspreyMilitary,Botley,Oxford,1988.106VerSimonReeve,op.cit.107VerSamuelM.Katz,op.cit.108 Ver Neil Livingstone e David Halevy, Inside the PLO, Willian Morrow &Company,NovaYork,1990.109VerAmnonKapeliouk,op.cit.

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110Nessalista,escritadeprópriopunhoporGoldaMeir,aparecemosnomesde35membrosdaOLP,daFPLP,daFDLP,deAbuNidaloudoSetembroNegroquetiveramalgumaparticipaçãonosassassinatosdosatletasisraelensesemMunique.AlistafoientregueaomemunehdoMossad,ZviZamir,comaordemde localizareexecutarcadaumdeles.EssabuscaeexecuçãolevadaacabopeloskidondaMetsadasob o comando de Mike Harari recebeu o nome de Operação Ira de Deus. AOperação Primavera da Juventude foi apenas um pequeno, embora importante,capítuloda operação anterior.Outras, como aOperaçãoPríncipeVermelhoou aOperaçãoBarbaAzul,integramaIradeDeus.111VerVictorOstrovskyeClaireHoy,ByWayofDeception,StoddartPublishing,Toronto,1991.112VerMichael Bar-Zohar e EitanHaber,The Quest for the Red Prince. Israel’sRelentless Manhunt for One of the World’s Deadliest Terrorists, The Lyons Press,Guilford,Connecticut,1983.113Ibidem.114VerDavidA.Yallop,TotheEndsoftheEarth.TotheHuntoftheChacal,PoeticsProductsLtd.,Londres,1993.115VerRichardDeacon,TheIsraeliSecretService,WarnerBooks,Londres,1977.116 BfV, Bundesamt für Verfassungsschutz (Agência para a ProteçãoConstitucional),agênciadecontraespionagemalemã.117VerAstridProll,BaaderMeinhof:PicturesontheRun67-77,ScaloPublishers,Londres,1998.118 SDECE. Service de Documentation Extérieure et de Contre-Espionnage(Serviço de Documentação Exterior e de Contraespionagem), espionagem econtraespionagem francesa. Em 1981 e por ordem do presidente FrançoisMitterand,oSDECEfoisubstituídopelaDGSE,DirectionGénéraledelaSecuritéExtérieure.119BND.Bundesnachrichtendienst (Agência Federal de Inteligência), espionagemalemã.120VerMichaelBar-ZohareEitanHaber,op.cit.121VerocapítuloOperaçãoIradeDeus.122VictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.123VerocapítuloOperaçãoIradeDeus.124VerocapítuloOperaçãoPrimaveradaJuventude.125VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.126 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, Every Spy a Prince, Houghton MifflinCompany,Boston,1990.

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127VerDavidA.Yallop,op.cit.128VerMichaelBar-ZohareEitanHaber,op.cit.129Ver IanBlack eBennyMorris, Israel’sSecretWars,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.130VerDanRaviveYossiMerman,op.cit.131VerWilliamStevensoneUriDan,90MinutesatEntebbe,BantamBooksInc.,NovaYork,1976.132 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, Friends in Deed. Inside the US-ISRAELAlliance,Hyperion,NovaYork,1994.133VerAstridProll,BaaderMeinhof:PicturesontheRun67-77,ScaloPublishers,Londres,1998.134VerDavidA.Yallop,TotheEndsoftheEarth.TotheHuntoftheChacal,PoeticsProductsLtd.,Londres,1993.135VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.136 Ver Frédéric Abadie, Valéry Giscard d’Estaing. Biographie, Éditions Balland,Paris,1997.137VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.138 Ver Neil Livingstone e David Halevy, Inside the PLO, Willian Morrow &Company,NovaYork,1990.139Ver IddoNetanyahu,Entebbe: ADefiningMoment in theWar onTerrorism.TheJonathanNetanyahuStory,BalfourBooks,Londres,2003.140VerRonaldPayne,Mossad,Israel’sMostSecretService,BantamPress,Londres,1990.141VerAstridProll,op.cit.142VerIddoNetanyahu,op.cit.143VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.144 Ver Dan Kurzman, Soldier of Peace: The Life of Yitzhak Rabin: 1922-1995,HarperCollinsPublishers,NovaYork,1998.145VerIddoNetanyahueYoramHazony,Yoni’sLastBattle:TheRescueofEntebbe,1976,GefenPublishingHouseLimited,NovaYork,2001.146VerRichardDeacon,TheIsraeliSecretService,WarnerBooks,Londres,1977.147VerDanKurzman,op.cit.148Ibidem.149VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.150VerIddoNetanyahu,op.cit.151VerAstridProll,op.cit.

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152 Ver Yitzhak Rabin, The Rabin Memoirs, University of California Press,California,1996.153VerIddoNetanyahu,op.cit.154VerDavidA.Yallop,op.cit.155VerNeilLivingstoneeDavidHalevy,op.cit.156 Responsável pelo sequestro de um avião da TWA em Damasco em 1969 eatualmenterepresentantedaFPLPemAmã.157VerYitzhakRabin,op.cit.158VerDanKurzman,op.cit.159VerZbigniewBrzezinski,PowerandPrinciple:MemoirsoftheNationalSecurityAdviser,1977-1981,Farrar,Straus&Giroux,Londres,1983.160VerIddoNetanyahu,op.cit.161VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.162VerHerbert Kupferberg,The Rescue, the Legend, the Lesson: Entebbe, ParadePublications,NovaYork,1981.163VerDanKurzman,op.cit.164VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.165VerIraPeck,RaidatEntebbe,ScholasticPublishers,Londres,1977.166Ver SamuelM.Katz,FollowMe!AHistory of Israel’sMilitaryElite,Arms&ArmourPress,Londres,1989.167VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.168VerIddoNetanyahueYoramHazony,Yoni’sLastBattle:TheRescueofEntebbe,1976,GefenPublishingHouseLimited,NovaYork,2001.169VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.170VerHerbertKupferberg,op.cit.171VerYitzhakRabin,op.cit.172VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.173VerIddoNetanyahu,op.cit.174VerYitzhakRabin,op.cit.175Ver IanBlack eBennyMorris, Israel’sSecretWars,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.176VerIddoNetanyahu,op.cit.177VerHerbertKupferberg,op.cit.178VerJohnArquilla,FromTroytoEntebbe,UniversityPressofAmerica,Lanham,Maryland,1996.179VerAstridProll,op.cit.180VerIraPeck,op.cit.

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181VerWilliamStevensoneUriDan,op.cit.182VerIddoNetanyahu,op.cit.183VerMichael Bar-Zohar e EitanHaber,TheQuest for the Red Prince. Israel’sRelentless Manhunt for One of the World’s Deadliest Terrorists, The Lyons Press,Guilford,Connecticut,1983.184VerDavidB.Tinnin,HitTeam,Weidenfeld&Nicolson,Londres,1976.185 Ver Loretta Napoleoni, Terror Incorporated: Tracing the Dollars Behind theTerrorNetworks,SevenStoriesPress,NovaYork,2005.186VerBobWoodward,Veil.LasguerrassecretasdelaCIA1981-1987,EdicionesB,Barcelona,1987.187Ibidem.188VerSimonReeve,OneDay of September.TheFull Story of the1972MunichOlimpics Massacre and the Israeli Revenge Operation “Wrath of God”, ArcadePublishing,NovaYork,2000.189VerPeterHounam,TheWomanfromMossad.TheStoryofMordechaiVanunu&theIsraeliNuclearProgram,NorthAtlanticBooks,Berkeley,Califórnia.190VerSimonReeve,op.cit.191 Ver Benny Morris, Righteous Victims: A History of the Zionist-Arab Conflict,1881-2001,Vintage,NovaYork,2001.192VerVictorOstrovskyeClaireHoy,ByWayofDeception,StoddartPublishing,Toronto,1991.193VerDavidB.Tinnin,op.cit.194VerBennyMorris,op.cit.195VerHowardM. Sachar,AHistory of Israel: From theRise ofZionism toOurTime,KnopfPublishers,NovaYork,1996.196DanAerbelatérevelouaosnorueguesescomotinhaparticipado,em1968,deumaoperaçãoparaficarcomumagranderemessadeurânioenriquecidonumbarcochamado Scheersberg. O urânio desaparecido foi utilizado por Israel com finsmilitaresparadesenvolverarmamentonuclear.197VerSimonReeve,op.cit.198VerDavidB.Tinnin,op.cit.199 Ver Christopher Andrew, For the President’s Eyes Only, HarperCollinsPublishers,NovaYork,1996.200 Ver Neil Livingstone e David Halevy, Inside the PLO, William Morrow &Company,NovaYork,1990.201VerSimonReeve,op.cit.

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202VerEitanHaber,MenahemBegin:TheLegendand theMan,DelacortePress,Londres,1978.203VerMichaelBar-ZohareEitanHaber,op.cit.204Ibidem.205Ibidem.206Ver IanBlack eBennyMorris, Israel’sSecretWars,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.207VerDennisEisenberg,UriDaneEliLandau,TheMossadInsideStories:Israel’sSecretIntelligenceService,PaddingtonPress,Londres,1978.208VerMichaelBar-ZohareEitanHaber,op.cit.209 Ver Edward Cody, “Bomb Kills Palestinian on Israeli Wanted List”, TheWashingtonPost,23dejaneirode1979.210VerRaymondCarrolleRonMoreau,“DeathofaTerrorist”,Newsweek,5defevereirode1979.211VercapítuloOperaçãoIradeDeus.212 Ver “Israel, Admitting Nothing, to Compensate a Victim’s Family”, TheInternationalHeraldTribune,12dejaneirode1996.213VerJoelBainerman,InsidetheCovertOperationsoftheCIAandIsrael’sMossad,S.P.I.Books,NovaYork,1994.214VerRichardButler,SaddamDefiant.TheThreatofWeaponsofMassDestructionandtheCrisisofGlobalSecurity,Phoenix,Londres,2001.215 Ver Saïd Aburish, Saddam Hussein, The Politics of Revenge, Bloomsbury,Londres,2000.216VerEricFrattini,Irak:ElEstadoincierto,EspasaCalpe,Madri,2003.217VerSarahGraham-Brown,SanctioningSaddam:ThePoliticsofInterventioninIraq,I.B.Tauris,Londres,1999.218IntermediárioinstaladonasEmbaixadasdeIsraelnomundoeconhecidocomooficialdeinteligênciapelasagênciasdeespionagemlocais.219VerKhidhirHamza,Saddam’sBombmaker,TheDaringEscapeoftheManWhoBuiltIraq’sSecretWeapon,Simon&Schuster,NovaYork,2000.220VerSaïdAburish,op.cit.221VerKennethM.Pollack,TheThreateningStorm.TheCase for InvadingIraq,RandomHouse,NovaYork,2002.222VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.223Tsomet,ouReino.Departamentoderecrutamentoquedirigeoskatsa.224VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.225Ibidem.

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226FoiopróprioSaddamHusseinquembatizouonovoprogramanuclearcomonomede umdeus cananita e tambémdomês siríaco emque o partido socialistaBaazchegouaopoderem1968.227 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, Friends in Deed. Inside the US-ISRAELAlliance,Hyperion,NovaYork,1994.228 Tsiach, acrônimo de Tsorech Yediot Hasovut, reunião de organizações deserviçossecretoscivisemilitares.229VerDanRaviveYossiMelman,op.cit.230VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.231VerEricFrattini,op.cit.232 Ver Shlomo Nakdimon, Tammuz in Flames, Yediot Aharonot, Jerusalém,1986.233Aman,espionagemmilitarisraelense.234VerKhidhirHamza,op.cit.235VerDanRaviveYossiMelman,op.cit.236VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.237VerKhidhirHamza,op.cit.EtambémEricFrattini,op.cit.238 Ver RodgerW. Claire, Raid on the Sun. Inside Israel’s Secret Campaign thatDeniedSaddamtheBomb,BroadwayBooks,NovaYork,2004.239VerKhidhirHamza,op.cit.240VerSaïdAburish,op.cit.241NomecomoqualseconheceoMossadisraelensenomundodaespionagem.242VerEricFrattini,op.cit.243VerRodgerW.Claire,op.cit.244VerKhidhirHamza,op.cit.245VerRodgerW.Claire,op.cit.246VerBobWoodward,Veil.LasguerrassecretasdelaCIA1981-1987,EdicionesB,Barcelona,1987.247Ver RonaldTiersky,François Miterrand. The Last French President, PalgraveMacmillan,NovaYork,2000.248IlanRamontornou-seanosdepoisoprimeiroastronautaisraelense.PereceunanaveespacialColumbiaemfevereirode2003.249VerRodgerW.Claire,op.cit.250VerVictorOstrovskyeClaireHoy,op.cit.251VerRonaldPayne,Mossad,Israel’sMostSecretService,BantamPress,Londres,1990.252VerBobWoodward,op.cit.

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253VerJoelBainerman,InsidetheCovertOperationsoftheCIAandIsrael’sMossad,S.P.I.Books,NovaYork,1994.254Em4denovembrode1979,umamanifestaçãoorganizadapeloaiatoláJaljali,ao grito de “Marg bar Amerika” (Morte à América), assaltou a Embaixada dosEstadosUnidosemTeerã.Graçasà intermediaçãodogovernoargelinoe tambémao Irangate, no dia 20 de janeiro de 1980, os 52 reféns norte-americanos foramlibertados.255VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.256VerTomGillinge JohnMcKnight,TrialandError.MordechaiVanunuandIsrael’sNuclearBomb,HarperCollinsPublishers,Londres,1991.257Ver IanBlack eBennyMorris, Israel’sSecretWars,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.258 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, Every Spy a Prince, Houghton MifflinCompany,Boston,1990.259VerPeterHounam,TheWomanfromMossad.ThestoryofMordechaiVanunu&theIsraeliNuclearProgram,NorthAtlanticBooks,Berkeley,Califórnia.260 Meir Kahane era um extremista antipalestino violento. Em 1990, seriaassassinado por um jovem islâmico enquanto fazia uma conferência nos EstadosUnidos.261VerTomGillingeJohnMcKnight,op.cit.262VerPeterHounam,TheWomanfromMossad.ThestoryofMordechaiVanunu&theIsraeliNuclearProgram,NorthAtlanticBooks,Berkeley,Califórnia.263VerTomGillingeJohnMcKnight,op.cit.264Ver IanBlack eBennyMorris, Israel’sSecretWars,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.265VerTomGillingeJohnMcKnight,op.cit.266VerocapítuloOperaçãoGaribaldi.267VerPeterHounam,TheWomanfromMossad.ThestoryofMordechaiVanunu&theIsraeliNuclearProgram,NorthAtlanticBooks,Berkeley,Califórnia.268VerVictorOstrovskyeClaireHoy,ByWayofDeception,StoddartPublishing,Toronto,1991.269 Historiadores britânicos confirmaram a autenticidade dos Diários de Hitlerdescobertosemumescuroarmazém.Nofim,soube-sequetinhamsidofalsificadospor um vigarista da Alemanha Oriental. Dezenas de importantes meios decomunicação europeus, incluindo um espanhol, foram enganados ao pagaremgrandessomasdedinheiropelaexclusividadedapublicação.

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270Em1967,umMirageIII israelense foiderrubadopelas suasprópriasbateriasantiaéreasquando,durantealgumasmanobras,desviouoplanodevooesobrevoouacentraldeDimona.271 Ver Norman Polmar e Thomas B. Allen, Spy Book.The Encyclopedia ofEspionage,RandomHouse,NovaYork,2004.272VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.273VerMichael Bar-Zohar,Spies in the Promise Land. Iser Harel and the IsraeliSecretService,HoughtonMifflinCompany,Boston,1972.274VerJoelBainerman,InsidetheCovertOperationsoftheCIAandIsrael’sMossad,S.P.I.Books,NovaYork,1994.275 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, Friends in Deed. Inside the US-ISRAELAlliance,Hyperion,NovaYork,1994.276VerBobWoodward,Veil.LasguerrassecretasdelaCIA1981-1987,EdicionesB,Barcelona,1987.277Anosdepois,umdosagentesenvolvidosnacapturadomaterial,DanAerbel,foi detido pela polícia norueguesa com a acusação de assassinato de um garçommarroquinoemLillehammerporengano.AerbelcontouqueeraagentedoMossade que trabalhara em operações secretas na Europa durante cinco anos. Um dos“trabalhinhos”querelatouaosnorueguesesfoiodoroubodeurâniobelga.278VerocapítuloOperaçãoPríncipeVermelho.279 Ver RodgerW. Claire, Raid on the Sun. Inside Israel’s Secret Campaign thatDeniedSaddamtheBomb,BroadwayBooks,NovaYork,2004.280VerPeterHounam,TheWomanfromMossad.ThestoryofMordechaiVanunu&theIsraeliNuclearProgram,NorthAtlanticBooks,Berkeley,Califórnia.281Ibidem.282 Enquanto protegiam a kidon Cheryl Bentov (Cindy Hanin), os dois“protetores”ou“escudos”foramfilmadospelascâmerasdesegurançadeumbancoemLondres.Afotografiafoiincluídanumaseçãodeimagensdestelivro.283VerTomGillingeJohnMcKnight,op.cit.284VerPeterHounam,op.cit.285VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.286VerTomGillingeJohnMcKnight,op.cit.287VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.

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288 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, Every Spy a Prince, Houghton MifflinCompany,Boston,1990.289Ver IanBlack eBennyMorris, Israel’sSecretWars,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.290VerVictorOstrovskyeClaireHoy,ByWayofDeception,StoddartPublishing,Toronto,1991.291VerDennisEisenberg,UriDaneEliLandau,TheMossadInsideStories:Israel’sSecretIntelligenceService,PaddingtonPress,Londres,1978.292VerTomGillinge JohnMcKnight,TrialandError.MordechaiVanunuandIsrael’sNuclearBomb,HarperCollinsPublishers,Londres,1991.293 Ver RodgerW. Claire, Raid on the Sun. Inside Israel’s Secret Campaign thatDeniedSaddamtheBomb,BroadwayBooks,NovaYork,2004.294VerTomGillingeJohnMcKnight,op.cit.295Ver IanBlack eBennyMorris, Israel’sSecretWars,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.296 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, EverySpy a Prince, Houghton MifflinCompany,Boston,1990.297VerTomGillinge JohnMcKnight,TrialandError.MordechaiVanunuandIsrael’sNuclearBomb,HarperCollinsPublishers,Londres,1991.298VerPeterHounam,TheWomanfromMossad.ThestoryofMordechaiVanunu&theIsraeliNuclearProgram,NorthAtlanticBooks,Berkeley,Califórnia.299VerTomGillinge JohnMcKnight,TrialandError.MordechaiVanunuandIsrael’sNuclearBomb,HarperCollinsPublishers,Londres,1991.300VerPeterHounam,TheWomanfromMossad.ThestoryofMordechaiVanunu&theIsraeliNuclearProgram,NorthAtlanticBooks,Berkeley,Califórnia.301VerTomGillinge JohnMcKnight,TrialandError.MordechaiVanunuandIsrael’sNuclearBomb,HarperCollinsPublishers,Londres,1991.302VerDonPeretz,Intifada:ThePalestinianUprising,WestviewPress,NovaYork,1990.303VerAmnonKapeliouk,Arafat,LibrairieArthèmeFayard,Paris,2004.304 Entrevista concedida ao jornal kuwaitiano as-Siyassa e reunida em suatotalidadenolivrodeDonPeretz,op.cit.305VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.306 Essas imagens transmitidas pela televisão norte-americana foram feitas pelocinegrafistaisraelenseMeirGrego,amigodoautor.

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307Ver IanBlack eBennyMorris, Israel’sSecretWars,GroveWeidenfeld,NovaYork,1991.308 Ver Dan Raviv e Yossi Melman, Every Spy a Prince, Houghton MifflinCompany,Boston,1990.309 Ver Neil Livingstone e David Halevy, Inside the PLO, Willian Morrow &Company,NovaYork,1990.310VerJoelC.Rosenberg,TheLastJihad,ForgeBooks,NovaYork,2003.311VerocapítuloOperaçãoPrimaveradaJuventude.312VerNeilLivingstoneeDavidHalevy,op.cit.313VerDanRaviveYossiMelman,op.cit.314OtotaldebaixasnosTerritóriosOcupadosdesde9dedezembrode1987até30deoutubrode2000foi:Civispalestinosmortospelasforçasisraelenses:1047.

Civispalestinosmortosporcivisisraelenses:147.Civisisraelensesmortosporcivispalestinos:270.Membrosdasforçasisraelensesmortosporcivispalestinos:135.

315VerJoelC.Rosenberg,op.cit.316 Ver Yitzhak Shamir, Summing Up: The Memoirs of Yitzhak Shamir, OrionPublishingCompany,NovaYork,1994.317 Shabtai Shavit, chefe da Metsada, seria anos depois nomeado memuneh doMossad.318Essaunidadefoicriadaem1950etantoasualocalizaçãocomoassuastáticasde combate são secretas.Muitosmembros doKidonpertenceram a esta unidade,comparávelàDeltaForcenorte-americana,aoSASbritânicoouaoGSG-9alemão.319VerPaule-HenrietteLevy,EhudBarak:Lefaucondelapaix,Plon,Paris,1999.320 Ver Benny Morris, Righteous Victims: A History of the Zionist-Arab Conflict,1881-2001,Vintage,NovaYork,2001.321VerNeilLivingstoneeDavidHalevy,op.cit.322VerYitzhakShamir,op.cit.323ADGSE(DirectionGénéraledelaSecuritéExtérieure)éconhecidanomundoda espionagem como “A Piscina” porque sua primeira sede estava situada numantigoedifícioqueabrigavaalgumaspiscinaspúblicas.324VerAmnonKapeliouk,op.cit.325MahmudAbbas,conhecidocomoAbuMazen,substituiuAbuJihadapósseuassassinato peloKidon doMossad. Poucos anos depois, seria nomeado primeiro-ministroporYasserArafat,presidentedaAutoridadeNacionalPalestina.326VerNeilLivingstoneeDavidHalevy,op.cit.327VerIanBlackeBennyMorris,op.cit.

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328VerDonPeretz,op.cit.329VerNeilLivingstoneeDavidHalevy,op.cit.330VerAmnonKapeliouk,op.cit.331VerDanRaviveYossiMelman,op.cit.332VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.333Oserviçosecretosul-africano,oBOSS,batizouestaoperaçãodeArmagedon.Os seus agentes apenas deram cobertura aos katsa do Mossad e aos kidon daMetsada.QuandoaÁfricadoSul se tornouumpaísmultirracial, osdocumentosdestaoperaçãoforamabertosaosmeiosdecomunicaçãoeaosinvestigadores.334VerEricFrattini,Irak:ElEstadoincierto,EspasaCalpe,Madri,2003.335VerWilliamLowther,Arms and theMan:Doutor.Gerald Bull, Iraq and theSupergun,PanBooks,Londres,1992.336Ver JamesAdams,Bull’s Eye:TheAssassination andLife of Supergun InventorGeraldBull,TimesBooks,NovaYork,1992.337VerJoelBainerman,InsidetheCovertOperationsoftheCIAandIsrael’sMossad.UndercoverwiththeSpymastersofAmerica&Israel,S.P.I.Books,NovaYork,1994.338VerJamesAdams,op.cit.339VerWilliamLowther,op.cit.340DefenceMagazine,maiode1989.341TheWashingtonPost,3demaiode1989.342VerJamesAdams,op.cit.343VerEricFrattini,op.cit.344VerJamesAdams,op.cit.345VerWilliamLowther,op.cit.346VerOfraBengio,Iraq’sRoadtoWar,MacMillan,Londres,1993.347VerJamesAdams,op.cit.348OjornalElMundopublicouumartigoemfevereirode1990tornandopúblicaaligaçãoentreo“supercanhão”iraquianoeaempresaSRCdeBruxelas.349Ogrupoaquepertenciamestasempresas(IMG)foiacusadodeparticipardafabricaçãodo“supercanhão”queoIraquepretendiaconstruir.350ServizioperleInformazionielaSicurezzaDemocraticaouSISDE.351ServicedeRenseignementStratégiqueouSRS.352BundesnachrichtendienstouBND.353VerVictorOstrovsky,TheOtherSideofDeception,HarperCollinsPublishers,NovaYork,1994.354Ibidem.

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355AmbasaspeçasforamconstruídaspelaSultam,aindústriadearmasdeIsrael.356StephenBulldeclarouàpolíciabelga,depoisdoassassinatodeGeraldBull,queseu pai sabia que seria assassinado pelos israelenses se continuasse com o ProjetoBabilônia, ou pelos iraquianos, caso decidisse abandoná-lo. Esse testemunho foiregistradopeloinvestigadorJamesAdams,op.cit.357VerGordonThomas,op.cit.358 Entre 3 e 4 de junho de 1989, o Exército Popular de Libertação esmagoubrutalmenteosmanifestantesreunidosnapraçadeTiananmen.Deacordocomasestimativas, entre 3 mil e 5 mil estudantes e cidadãos morreram, outros 10 milficaram feridos e outras centenas foram detidos. Essa foi a primeira vez que oExército chinês foi acionadopara reprimir revoltas populares.Após omassacre, ogovernoefetuounumerosasdetenções,julgamentossumários,execuçõesecensurouaimprensaestrangeiraechinesa.359VerWilliamLowther,op.cit.360Ibidem.361VerCommanderX,RedMercury:DeadlyNewTerrorist SuperWeapon, InnerLightPublications,NewBrunswick,NovaJersey,2002.362MembrosdoInstitutoparaaInvestigaçãodaPazemEstocolmopensamqueaproduçãodessetipodearmasé,hoje,totalmentepossível.Muitosoutroscientistasnão se mostram muito seguros disso e acreditam que a “questão do MercúrioVermelho”nãoémaisqueoutrahistóriaherdadadasoperaçõesdedesinformaçãodaGuerraFria.363InternationalDefenseReview,junhode1994.364VerCommanderX,op.cit.365EdwardV. Badolato eDale Andrade. “RedMercury:Hoax or theUltimateTerroristWeapon?”,CounterterrorismandSecurityJournal.366VerMarkFabi,RedMercury,BantamBooks,NovaYork,2004.367DaleAndrade,CounterterrorismMagazine,julhode1995.368VerGordonThomas eMartinDillon,RobertMaxwell. Israel’s Superspy: TheLifeandMurderofaMediaMogul,Carroll&GrafPublishers,NovaYork,2002.369WilliamCasey,diretordaCIA(1981-1987),definiaShabtaiShavitcomo“UmhomemquesabiadozeidiomasequefezcarreiranoMossadgraçasaotalentoparanãoferirassuscetibilidadesdeseussuperiores.ShavitcontrolavaoMossadcommãodeferro”.370TycoonéosenhorfeudaldoJapãoantigo.Tambéméumadefiniçãodadaaosgrandesmagnatasnospaísesanglo-saxões.

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371VerNicholasDavies,DeathofaTycoon:NaInsider’sAccountoftheRiseandFallofRobertMaxwell,St.Martin’sPress,NovaYork,1993.372Essa definição está refletida namagnífica obra deGordonThomas eMartinDillon,op.cit.,enolivrodeRoyGreenslade,Maxwell:TheRiseandFallofRobertMaxwellandHisEmpire.373VerNicholasDavies,op.cit.374VerRoyGreenslade,op.cit.375VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.376VerNicholasColeridge,PaperTigers,MandarinPaperbacks,Londres,1994.377VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.378VerRoyGreenslade,op.cit.379 A Citex Corporation era uma empresa radicada em Tel Aviv e dedicada aodesenvolvimentodeimpressorasdealtatecnologia.380 Ver Yitzhak Shamir, Summing Up: The Memoirs of Yitzhak Shamir, OrionPublishingCompany,NovaYork,1994.381VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.382Ibidem.383 Edmond Safra, amigo íntimo de Maxwell, tornara-se informante do FBI.Revelava-lhestodasasoperaçõesfinanceirasdasmáfiasrussaebúlgaraquepassavampeloseubancoatéoBankofNewYork.Em1999,anunciouqueoseubancoestavaà venda, o que lhe criou muitos inimigos. Safra refugiou-se numa mansarda nareputada avenidaOstende deMônaco.Numanoite, alguns intrusos entraramnoeleganteandarequandoapolíciaeosbombeiroschegaramàmansarda,Safraeasua enfermeira estavam mortos. As câmeras de segurança não detectaram nada.Algunsespecialistasgarantemquea“execução”devetersidoobradamáfiarussa,dabúlgaraoudopróprioMossad(Kidon).Nuncasedescobriramosculpados.384VladimirAlexandrovichKriuchkovfoipresidentedoKGBdeagostode1988aagosto de 1991.Nesse ano, encerrou funções após a participação na tentativa degolpedeEstadocontraopresidenteMikhailGorbachev.385VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.386Ibidem.387 Este era um sistema integrado pela Chubb Company (Sunbury-on-Thames,Middlesex,Londres)noscomputadoresaqueapenasRobertMaxwelltinhaacesso.388 Jon Bannenberg (1929-2002) era um dos mais famosos decoradores etrabalhava para outros grandes magnatas como o mexicano Emilio AzcárragaMilmo,paraquemdecorouosiatesParaísoeAzteca;paraAdnanKhashoggi,paraquemdecorouofamosoiateNabila;eparaMalcolmForbes.

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389VerVictorOstrovsky,TheOtherSideofDeception,HarperCollinsPublishers,NovaYork,1994.390VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.391 Fundada em 1958, a Gulfstream Aerospace Corporation é uma companhiasubsidiáriadaGeneralDynamics(<www.gulfstream.com>).392 A empresa construtora do iate Lady Ghislaine era a Amels-Holland, emVlisingen(Holanda)(<www.amels-holland.com>).393VerVictorOstrovskyeClaireHoy,ByWayofDeception,StoddartPublishing,Toronto,1991.394VerMarkusWolf eAnneMcElvoy,MarkusWolf,TheManWithout aFace,TimesBooks,NovaYork,1997.395VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.396JohnO’Neill,umdosmaioresespecialistasem“crimeorganizado”eamigodoautor, faleceria em11de setembrode2001, apóso ataque àsTorresGêmeas emNovaYork.397VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.398VerNicholasDavies,op.cit.399 Letra com que se conhecem todos os diretores do serviço secreto britânico(MI6)desdeafundaçãoem1909.AletraerausadapeloprimeirodiretordoMI6,SirMansfieldCumming,porcausadainicialdoseusobrenome.400OJapãoreclamaessasilhasdesdeofimdaSegundaGuerraMundial,quandoforamocupadaspelaUniãoSoviética.AURSSmantinhanasCurilasumadassuasprincipaisbasesnavais.401VerMikhailGorbachev,Memoirs,DoubledayPublishers,NovaYork,1996.402VerLeonAron,Yeltsin: ARevolutionary Life, St.Martin’s Press,NovaYork,2000.403VerRoyGreenslade,op.cit.404AFoodandDrugAdministration(FDA)demorouquasetrêsanosparaestudarosmaisde25mildocumentosemquesereuniamquasetodasasinvestigaçõespré-clínicas e clínicas dos efeitos do Halcion. Assim que a verdade veio à tona, afarmacêutica Upjohn desculpou-se alegando que houve erros de transcrição dosdados no relatório final apresentado à FDA. Na Grã-Bretanha, a venda domedicamentofoiproibidaemoutubrode1991.405VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.406VerocapítuloOperaçãoVanunu.407VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.408Ibidem.

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409Ibidem.410 As informações sobre amorte domagnata e o funeral de Estado de RobertMaxwell em Jerusalém foramuma das últimas notícias que o autor cobriu comocorrespondentenoOrienteMédio.411As negociações secretas deOslo conduziram aos chamados Acordos deOsloassinados em Washington em 13 de setembro de 1993. Após os acordos, YasserArafat regressou a Gaza como chefe de um governo autônomo com autoridadeinicialmente sobre a Faixa deGaza e Jericó, e que posteriormente se estenderia aoutrosterritóriosdaCisjordânia.412 Ehud Barak foi o chefe do Estado-Maior do exército israelense até julho de1995;ministrodoInteriordejulhoanovembrode1995eministrodosNegóciosEstrangeirosentrenovembrode1995ejunhode1996;eleitomembrodaKnessetepresidente do Partido Trabalhista em 1996. Em 17 de maio de 1999, foi eleitoprimeiro-ministrodeIsrael.Em7demarçode2001,foiderrotadonaseleiçõespeloprimeiro-ministroArielSharon,doLikud.413As duas primeiras siglas de Sherut ha-Bitachon ha-Klali ou ServiçoGeral deSegurança.414VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.415Ibidem.416 Os combatentes são katsa israelenses enviados para países árabes a fim detrabalharemsobidentidadefalsa.417VerAndrewG.Bostom,TheLegacyofJihad:IslamicHolyWarandtheFateofNon-Muslims,PrometheusBooks,NovaYork,2005.418VerGordonThomas,op.cit.419VerSamuelM.Katz,TheHuntfortheEngineer:HowIsraeliAgentsTrackedtheHamasMasterBomber,FrommInternational,NovaYork,1999.420Ibidem.421VerGordonThomas,op.cit.422VerSamuelM.Katz,TheHuntfortheEngineer:HowIsraeliAgentsTrackedtheHamasMasterBomber,FromInternational,NovaYork,1999.423 Ver Brigadier General Shmuel Arad, “Living in the Shadow of Terror”,Bamachane,publicaçãodasForçasdeDefesaIsraelenses,novembrode1992.424VerAndrewG.Bostom,TheLegacyofJihad:IslamicHolyWarandtheFateofNon-Muslims,PrometheusBooks,NovaYork,2005.425VerSamuelM.Katz,op.cit.

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426 Ver Shaul Mishal e Avraham Sela, The Palestinian Hamas, ColumbiaUniversityPress,NovaYork,2000.427VerKhaledHroub,Hamas:PoliticalThoughtandPractice,InstitutodeEstudosPalestinos,Jerusalém,2000.428 Por fim, oConselho de Segurança dasNaçõesUnidas aprovou a Resolução799,queobrigavaIsraelaretornardeimediatocomtodososdeportados.429VerShaulMishaleAvrahamSela,op.cit.430VerSamuelM.Katz,op.cit.431Ibidem.432EmIsrael,oShinBettambéméconhecidocomoShaback.433VerShaulMishaleAvrahamSela,op.cit.434VerKhaledHroub,op.cit.435VerSamuelM.Katz,op.cit.436Ibidem.437VerAnexoIII:GlossáriodetermosdoMossad.438VerSamuelM.Katz,op.cit.439VerKhaledHroub,op.cit.440VerJonathanBlochePaulTood,GlobalIntelligence:TheWorld’sSecretServicesToday,ZedBooks,NovaYork,2003.441VerSamuelM.Katz,op.cit.442Ibidem.443VerocapítuloOperaçãoIradeDeus.444VerocapítuloOperaçãoRaio.445VerGordonThomas,Gideon’sSpies.TheHistoryofMossad,St.Martin’sPress,NovaYork,1998.446VerGordonThomas eMartinDillon,RobertMaxwell. Israel’s Superspy: TheLifeandMurderofaMediaMogul,Carroll&GrafPublishers,NovaYork,2002.447VerKhaledHroub,Hamas:PoliticalThoughtandPractice,InstitutodeEstudosPalestinos,Jerusalém,2000.448VerMaxineRosaler,Hamas:PalestinianTerrorists, Rosen PublishingGroup,NovaYork,2002.449Ver SamuelM.Katz,FollowMe!AHistory of Israel’sMilitaryElite,Arms&ArmourPress,Londres,1989.450VerGordonThomaseMartinDillon,op.cit.451Ibidem.452VerSamuelM.Katz,op.cit.

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453 Todo o relato sobre a tentativa de assassinato de Jalid Meshal em Amã foiretirado do “Report of the Commission Concerning the Events in JordanSeptember1997”,de17defevereirode1998.AComissãodeInvestigaçãoouviu35testemunhasdurante47sessões.Muitasdastestemunhasfazempartedesterelato.454VerGordonThomas,op.cit.455Ver RollandDallas,King Hussein: A Life on the Edge, Fromm InternationalPublishing,NovaYork,1999.456VerGordonThomas,op.cit.457VerVictorOstrovskyeClaireHoy,ByWayofDeception,StoddartPublishing,Toronto,1991.458VerSamuelM.Katz,op.cit.459 Ver Shaul Mishal e Avraham Sela, The Palestinian Hamas, ColumbiaUniversityPress,NovaYork,2000.460VerMaxineRosaler,op.cit.461VerHamzer,AhmedNizar,ElsenderodeHezbolá,InstitutodeEstudosÁrabes,Beirute,2009.462SlainHezbollahCommanderHadLongHistoryofAttacks,TheAssociatedPress,13defevereirode2008.463“Man&Myth:MakingSenseofImadMughniyeh”,TheDailyStarLebanon,15defevereirode2008.464America’smostwantedterrorist,BBCNews,10deoutubrode2001.465OxeiqueFadlallahfaleceriaaos75anos,emjulhode2010.Emboradefendesseno início a instauraçãodeum regime islâmiconoLíbano, acreditavaquenão erapossívelimplantá-losemoapoiopopulardospróprioslibaneses.Nosúltimosanos,eraconsideradoum“liberal”peloregimedeTeerã,jáqueemitiuváriasfatuaafavordamulhereproibiuem2005osataquessuicidas.466 “Imad Mughniyeh: Hezbolah Chief High on the US-ISRAEL Hitlist”, TheGuardian,14defevereirode2008.467“DeathofHezbollahLeaderCouldMeanThreattoJewishTarget”,CNN,15defevereirode2008.468“ArabshelpedMossadkillMughniyeh”,TheJerusalemPost,27defevereirode2008.469 “Israel kills terror chief with headrest bomb”, The Sunday Times, 16 defevereirode2008.470“Assassinations:TheworkofMossad?”,TheTimes,16defevereirode2010.471VerocapítuloOperaçãoEngenheiro.472VerocapítuloOperaçãoVingança.

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473VerTheIsrael’sHitSquad,YossiMelmaneDanRaviv,TheAtlanticMagazine,fevereirode2010.474NotificaçãodaInterpol,8demarçode2010.475VerJornalHaaretz,20defevereirode2010.476“CovertActionandIran’sNuclearProgram”,Bellum,AProjectoftheStanfordReview,19defevereirode2009.477VerocapítuloOperaçãoÁtomo.478“Tehrandeniesreportonscientist’sassassination”,Xinhua,AgênciaChinesadeNotícias,4defevereirode2007.479 “US website: Mossad killed Iranian nuclear physicist”, Jornal Haaretz, 4 defevereirode2007.480 “Tehran nuclear scientist Massoud Ali-Mohammadi killed by bomb; IranblamesISandIsraelforattack”,NewYorkDailyNews,14dejaneirode2010.481 “The body ofmartyrMassoudAli-Mohammadiwas laid to rest inTehran’sAli-AkbarShrine”,BornaNewsAgency,14dejaneirode2010.482“IsraellaunchescovertwaragainstIran”,PhillipSherwell,TheDailyTelegraph,16defevereirode2009.483 “Israeli Test on Worm Called Crucial in Iran Nuclear Delay”, William J.Broad,TheNewYorkTimes,15dejaneirode2011.484 “US says cyberworm aided effort against Iran”, Daniel Dombey, FinancialTimes,10dedezembrode2010.485Vezarat-eEttela’atvaAmniat-eKeshvarouVEVAK.486Até1996eraproibido,por lei, tornarpúblicoonomedodiretordoMossad,queeraconhecidopelaletra“S”.Tambéméconhecidocomonomedememuneh.