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Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

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Prescrição penal.

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Page 1: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

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Page 3: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

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OBRAS DO AUrOR

Codigo de Processo Penal anotado, Saraiva.

Codigo Penal anotado, Saraiva. Crimes de corruP9iio ativa e mifico de influencia nas transa9

0es comerciais

internacionais, Saraiva. Crimes de porte de arma de fogo e assemelhados; anotag6es Ii parte crimi­

nal da Lei n. 9.437, de 20 de fevereiro de 1997, Saraiva.

Crimes de transito, Saraiva. Decisoes anotadas do Supremo Tribunal Federal em materia criminal,

Saraiva.

Direito penal, 1" volume, Saraiva.

Direito penal, 2" volume, Saraiva.

Direito penal, 3" volume, Saraiva.

Direito penal, 4" volume, Saraiva.

Imputa9a.o objetiva, Saraiva.

Lei Antitoxicos anotada, Saraiva.

Lei das Contraven90es Penais anotada, Saraiva.

Lei dos Juizados Especiais Criminais anotada, Saraiva.

Novas questoes criminais, Saraiva.

Novrssimas questoes criminais, Saraiva.

o nevo sistema penal, Saraiva.

Penas alternativas, Saraiva.

Prescri9iio penal, Saraiva.

Questoes criminais, Saraiva.

Temas de direito criminal, I' serie, Saraiva.

Temas de direito criminal, 2' serie, Saraiva.

Temas de direito criminal, 3' serie, Saraiva.

Teoria do dominio do fato no concurso de pessoas, Saraiva.

Trafico internacional de mulheres e crian9as - Brasil, Saraiva.

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DAMASIO E. DE JESUS

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-PRESCRIGAO PENAL

16' edi~ao 2003

n1.Editora ~ Saraiva

Page 4: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

ISBN 85-02-04437-0

Dados Internacionais de Catalogaqao na Publica9ao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Jesus, Damasio E. de, 1935-Prescric;ao penal! Damasio E. de Jesus. - 16.

ed. - Sao Paulo: Sara iva, 2003.

1. Prescriqao penal 2. Prescric;:ao penal - Brasil I. Titulo.

03-3386 CDU-343.291

Indice para cal810go sistematico:

1. Prescrh~ao : Direito penal 343.291

OG3810

n1. EdH-\,..--4: Saraiva

Avenida Marques de Sao Vicente, 1697 - CEP 01139-904 - Barra Funda - Sao Paulo - SP Tel.: PABX (11) 3613-3000 - Fax: (11) 3611-3308 - Fone Vendas: (11) 3613-3344 Fax Vendas: (11) 3611-3268 - Enderelio Internet: hrtp:llwww.edifor8saraiv8.com.br

Filiais

AMAZONASJRONOONIAIRORAIMA/ACRE Aua Costa Azevedo, 56 - Centro Fone/Fax: (92) 633-.4227/633-4782 Manaus BAHINSERGIPE Rua Agripino Dorea, 23 - Brolas Fone: (71) 381-5854/381-5895 Fax: (71) 381-0959 - Salvador BAURUISAO PAULO Rua Monsenhor Claw, 2-5512-57 - Centro Fone: (14) 3234-5643 - Fax: (14) 3234-7401 Bauru CEARAIPIAUf/MARANHAO Av. Filomeno Gomes, 670 - Jaearecanga Fane: (85) 238·2323 Fax: (85) 238-1331 - Fortaleza DlSTRITO FEDERAL SIG QD 3 BI. B - Loja 97 - Selor Industrial Graffeo Fane: (61) 344-2920 1344·2951 Fax: (61) 344-1709 - Brasitia GOlASfTOCANTINS Av.lndependencia, 5330 - Setor Aeroporto Fone: (62) 225-2882/212·2806 Fax: (62) 224·3016 - Goianla MATO GROSSO DO SUUMATO GROSSO Rua 14 daJutho, 3148-Centro Fane: (67) 382-3682 - Fax: (67) 382-0112 Campo Grande

MINAS GERAIS Rue Alipio de Melo, 151 - Jd. Montanhes Fone: (31) 3412-7080 - Fax: (31) 3412-7080 Belo Horizonte PARAiAMAPA Travessa Apinages, 186 - Balista Campos Fone: (91) 222-9034/224-9038

~~~r~lf;1~i!9cAT!~~~A Rua Cooselneiro Laurindo, 2895 - Prado Velno FonefFax: (41) 332-4894 Curiliba PERNAMBUCOfPARAiBA/R, G. 00 NORTE Rua Corredor do Bispo, 185 - Boa Vista Fone: (81) 3421-4246 Fax: (8113421-4510 -:- Recife RIBEIRAO PRETO/SAO PAULO Av. Francisco Junqueira, 1255 - Centro Fone:{16) 61()..5843 Fax: (16) 610·8284 - Ribeirao Pralo RIO DE JANEIRO/ESpfRITO SANTO Rua Vlseonde de Santa Isabet, 113 a 119 - Vila tsabel Fone: (21) 2577·9494 - Fax: (21) 2577·8867 12577·9565 Alo de Janeiro RIO GRANDE 00 SUL Av. Ceara, 1360 - Sao Geraldo Fane: (51) 3343·1467/3343-7563 Fi.!lC (51) 3343·2986/3343-7469- Porto Alagre SAO PAULO Av. Marques de Sao Vicente, 1697 (anUga Av. dos Emissarlos) - Barra Funda Fane: PABX (11) 3613-3000 - Sao Paulo

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ABREVIATURAS

ACrim - Apela~ao Criminal

AE - Agravo em Execu~ao

AI - Agravo de Instrumento

APMP - Associa~ao Paulista do Ministerio Publico APn - A~ao Penal

AR - Agravo Regimental

ARAl- Agravo Regimental no Agravo de Instrumento CE - C6digo Eleitoral

CF - Constitui~ao Federal

CP - C6digo Penal

CPM - C6digo Penal Militar

CPP - C6digo de Processo Penal

DJU- Diario da Justir;a da Uniao

EDEDREsp - Embargos de Declara~ao nos Embargos de Divergencia em Recurso Especial

EI - Embargos Infringentes

HC - Habeas Corpus

Inq. - InqueritD

JST J - Jurisprudencia do Superior Tribunal de Jus­tir;a

JTACrimSP - Julgados do Tribunal de Alr;ada Criminal de sao Paulo

JTJ - Jurisprudencia do Tribunal de Justir;a de sao Paulo

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Page 5: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

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LCP - Lei das Contraven,,6es Penais

m. v. - maioria de votos

RCrim- Recurso Criminal

RDPen - Revista de Direito Penal

RECrim - Recurso Extraordinano Criminal

REsp - Recurso Especial

RF - Revista Forense

RG - Registro Geral

RHC - Recurso de Habeas Corpus

RJDTACrimSP- Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de AII;ada Criminal de Siio Paulo

VI

RJTJSP- Revista de Jurisprudencia do Tribunal de Justiqa de Siio Paulo

RST J - Revista do Superior Tribunal de Justiqa

RT- Revista dos Tribunais

RTJ- Revista Trimestral de Jurisprudencia

R vCrim - Revisao Criminal

STF - Supremo Tribunal Federal

STJ - Superior Tribunal de Justi"a

TACrimSP - Tribunal de Al"ada Criminal de Sao Paulo

TAMG - Tribunal de Al\iada de Minas Gerais

TFR - Tribunal Federal de Recursos

TJSP - Tribunal de Justi"a de Sao Paulo

TRF - Tribunal Regional Federal

v. un. - vota\iao unanime

lNDICE GERAL

Abreviaturas ................................................................... . v

CAPiTULO I

DA PUNIBILIDADE

1. 0 PODE;R PUNITIVO DO EST ADO ..................... 1

2. PUNIBILIDADE, PRETENSAO PUNITIVA E PRETENSAO EXECUT6RIA ............................... 2

3. CONDIyOES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE. 5

4. CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNJBILIDADE ..... 7

a) Elenco................................................ ................. 7

b) Classificaqtio ...................................................... 8

c) Momento de ocorrencia ..................................... 9

d) Efeitos ........................................ , ........ ..... ... .... .... 11

CAPITULO II

DA PRESCRIyAO

1. CONCEITO . ..... ....... .... ..... ...... ....... ..... ........ ... ......... 17

2. NATUREZA JURiDICA ........................................ 17

3. FUNDAMENTOS ................................................... . 18

4. PRESCRIyAO CIVIL E PENAL ........................... 20

VII

Page 6: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

( -. -- v"'~n\i'" - c,.:::> Bi~iiol.ca

O&a. Homero M afra

5. PRESCRlC;Ao, DECADENCIA E PEREMPC;Ao 21

6. ESPECIES ............................................................... 21

7. PRESCRlC;AO, CRIME E CULPABILIDADE ..... 22

16. CRIMES ACESSORIOS ........................................ .

17. IMUNIDADE PARLAMENTAR PROCESSUAL.

18. SANC;Ao COMPLEXA ........................................ .

62

·63

63

19. MULTA .................................................................. . 64 CAPITULO III 20. IDADE DO AGENTE (MENORIDADE RELA-

DA PRESCru<;":AO DA PRETENSAO PUNITIVA TIVA E MAIORIDADE SENIL) ........................... . 65 r-21. CAUSAS SUSPENSIVAS ..................................... . 68

1. CONCEITO .. ............. ...................... ....................... 23 a) Coneeito ........................................................... . 68 2. IMPRESCRlTlBILIDADE ..................................... 25 b) Q - . d' .. uestoes preJu lelQlS ....................................... . 69

3. EFEITOS ................................................................. 26 e) Cumprimento de pena no estrangeiro .............. . 70

a) Extim;iio da punibilidade ....... .................... ....... 26 d) Imunidade pariamentar proeessual penal ... ..... . 70

b) Certidiio dos livros do JUlZO e folha de anteee- e) Suspensiio eondieional do proeesso ................. . 71 dentes................................................ ................. 26 fJ Suspensiio do proeesso ............ , ........................ . 72

e) Art. 77 do CNT .................................................. 27 22. CAUSAS INTERRUPTIVAS ................................ . 76

4. OPORTUNIDADE DE DECLARAC;Ao ............... 27 a) Coneeito ........................................................... . 76

5. EXAMEDO MERlTO ........................................... 27 b) Reeebimento da denuneia ou queixa ................ . 77

6. PRAZOS E FORMA DE CONTAGEM ................. 29 c) Pronuncia e sua confirmar;iio .. , ........................ . 80

7. CONTAGEM DO ANO PRESCRlCIONAL .......... 32 d) Sentenr;a condenatoria recorr{vel .................... . 82

8. PERIODOS PRESCRlCIONAIS ............................ 34 23. "SURSIS" .............................................................. . 87

9. PRESCRIC;AO SUPERVENIENTE A SENTEN-C;A CONDENATORIA ........................................... 39

10. DESCLASSIFICAC;Ao.......................................... 48

11. TERMOS INICIAIS ............................................... 50

CAPITULO IV

DA PRESCru<;":AO DA PRETENSAO EXECUTORIA

12. CAUSAS DE AUMENTO E DE DIMINUIC;Ao I. CONCEITO ............................................................ 88 DAPENA................................................................ 54

2. IMPRESCRITIBILIDADE ..................................... 89 13. AGRAVANTES E ATENUANTES ......................... 56

3. PRAZOS E FORMA DE CONTAGEM ................. 89 14. CONCURSO DE CRIMES E DE NORMAS ......... 56

15. CRIMES COMPLEXOS E CONEXOS ................. 60 4. MEDIDA DE SEGURANC;A ................................. 91

, I 5. REINCIDENCIA .................................................... 94 .

VIII IX

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6. EFEITOS ................................................................. 96

7. CONCURSO DE CRIMES ..................................... 97

8. MULTA ................................................................... 100

9. lDADE DO CONDENADO ................................... 101

10. TERMOS INICIAIS ............................................... 102

11. SUSPENSAo ........................................................ ,. 105

12. CAUSAS INTERRUPTIVAS ................................. 106

CAPITULO V

DA PRESCRIGAO NA LEGISLAGAO ESPECIAL

1. ABUSO DE AUTORlDADE .................................. 111

2. CRIMESCONTRAASEGURAN<";ANACIONAL 112

3. CONTRAVEN<";6ES .............................................. 112

4. CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR .. , 113

5. CRIMES ELEITORAIS .......................................... 114

6. CRIMES FALIMENTARES ................................... 114

7. CRIMES DEIMPRENSA ...................................... 117

8. CRIMES MILITARES .... ,....................................... 118

9. ESTATUTO DA CRIAN<";A E DO ADOLES-

CENTE ................................................................... 119

CAPiTULO VI

DA PRESCRIGAO RETROATIVA \

\ ' 1. ORIGEM DO INSTITUTO. A SUMULA 146 DO

STF.......................................................................... 120

x

2. 0 ANTEPROJETO DE CP. 0 CP DE 1969. A LEI N. 6.016173.............................................................. 124

3. A REFORMA PENAL DE 1977 (LEIN.6.416177) 126

4. A REFORMA PENAL DE 1984 ............................ 127

5. NATUREZA JURiDICA ........................................ 127

6. CONFLITO INTER TEMPORAL DE LEIS ........... 128

7. COMO SE CONTA 0 PRAZO PRESCRICIONAL 131

8. FIXA<";Ao DO PRAZO PRESCRICIONAL.......... 135

a) Causas de aumento.e de diminui<;iio de pena, agravantes e atenuantes ................................... .

b) Menoridade relativa ......................................... .

) R · 'd' . c eznc! encza ..................................................... .

d) Multa ................................................................ .

9. PRESSUPOSTOS DE APLlCAC;Ao E APELA-

135

135

136

137

C;Ao DO REU ........................................................ 137

a) Exigencia de uma decisiio condenatoria de pri-meiro ou segundo grau .................................... ~. 137

b) Quando e aplicado 0 perdiio judicial................ 138

c) Necessidade de que a senten<;a condenatoria te­nha transitado em julgado para a acusa<;iio ou que tenha sido improvido seu recurso ............... 139

d) Niio-exigencia de recurso do reu ....................... 139

e) Desnecessidade de que 0 reu tenha sido intima-do da senten<;a condenatoria............................. 140

10. TERMOS INlCIAIS E FINAlS .............................. 141

a) Pode ser considerado 0 prazo prescricional re­troativo entre a data da consuma<;iio do crime

XI

Page 8: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

e a do recebimento da denuncia ou entre esta e a da publicar;iio da sentenr;a condenatoria .... 141

b) Niio pode ser considerado 0 prazo prescricio­nal retroativo entre a data do recebimento da denuncia e a do acordao confirmatorio da sen-tenr;a condenatoria ou que reduziu a pena ........ 142

c) Condenado 0 reu em segunda instancia, 0 prazo deve ser considerado entre a data do Jato e a do recebimento da denuncia ou entre a desta e a da publicar;iio, na sessiio de julgamento, do acordiio condenatorio ....................................... 143

d) Nos processos da competencia do Juri pode ser considerado 0 prazo entre a data do Jato e a do recebimento da denuncia ou entre esta e a pro­nuncia ou entre esta e a sua confirmar;iio pelo Tribunalou entre a pronuncia ou sua confirma­r;iio e a data em que e proJerida a sentenr;a con-denatoria na sessiio de julgamento ................... 143

11. OPORTUNIDADE DE DECLARAC;AO ............... 144

XII

a) No regime do § 2 Q doart.llOdo CPaprescri-r;ao retroativa nao pode ser declarada em pri-meira instancia ................................................. .

b) Impossibilidade de ser declarada a prescrir;iio retroativa antes da sentenr;a condenatoria (a denominada "prescrir;iio antecipada" ou "por

. ") perspectlva ................................................... ..

c) Impossibilidade de ser reconhecida a prescrir;iio retroativa na propria sentenr;a condenatoria ....

d)A '-d ,. precwr;ao 0 mento ...................................... ..

e) Pena reduzida em segunda instancia ................ .

144

145

146

146

147

1) Reconhecimento de oficio ................................ .. 147

g) Reconhecimento em embargos de declarar;iio .. . 148

h) Aplicar;iio em embargos infringentes .............. .. 148

i) Condenar;iio em segunda instancia .................. . 148

j) Aplicar;iio em revisiio criminal ........................ .. 148

l) A I · - "h b " P lcar;ao em a eas corpus ...................... .. 149

m) Aplicar;iio em agravo em execur;iio .................. . 149

n) Processos da competencia origindria dos Tri-bunais ............................................................... . 149

12. CONCURSO DE CRIMES .................................... . 150

a) Concurso material ............................................ . 150

b) Concurso Jormal e crime continuado .............. .. 150

13. EFEITOS ................................................................ . 152

a) Extinr;ao da pretensiio punitiva ....... : ............... .. 152

b) Medidas de seguranr;a ...................................... . 153

c) EJeitos secunddrios da sentenr;a condenatoria 154

1. Introduyao ................................................ .. 154

2. Custas ........................................................ . 154

3. Lanyamento do nome do reu no rol dos cul-pados e folha de antecedentes .................. .. 154

4. Reincidencia ............................................. .. 155

5. "Sursis" ..................................................... . 155

6. Livramento condicional ............................ . 155

7 P' - . . nsao preventIva ...................................... .. 156

8. Fianya ....................................................... .. 156

9. Reparayao do dana .................................... . 156

XIII

Page 9: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

\

10. Confisco .................................................... .

11. Restitui<,:ao de coisas apreendidas ............. .

12. Sequestro ................................................... .

13. Outros efeitos ............................................ .

d) Extensiio ao co-reu ........................................... .

) R . - .. I e eV!sao crzmma .............................................. ..

14. CAUSAS INTERRUPTIVAS ................................ .

a) 0 prazo prescricional retroativo se interrompe na data da publica<;;iio da senten<;;a condenatoria

b) Momento da publica<;;iio da senten<;;a condena-toria .................................................................. .

c) Prazo anterior a data do recebimento da denun-cia ..................................................................... .

d) Aditamento da den uncia ................................... .

e) Hipotese de senten<;;a absolutoria com recurso da acusa<;;iio ........ '" ........................................... .

j) Senten<;;a condenatoria anulada ....................... .

g) Comunicabilidade ............................................ .

15. RECURSO DA ACUSAyAo ................................ .

a) I ntrodu<;; iio ........................................................ .

b) Somente impede a prescri<;;iio retroativa 0 recur­so da acusa<;;iio que visa a agrava<;;iio da pena privativa de liberdade ....................................... .

c) Recurso do assistente da acusa<;;iio ....... '" ........ .

d) Recurso do querelante ...................................... .

e) Recurso da acusa<;;{io que na peti<;;{io somente indica a pretens{io de impedir a prescri<;;iio re-

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troativa ................. , .......... ;.:............................... 166

XIV

j) Fragilidade das raz6es do recurso da acusa<;;{io

g) Aplica<;;{io de multa ........................................... .

h) Agrava<;;iio da multa ......................................... . ')C -d" ." I assa<;;ao 0 surSIS ....................................... .

j) Desclassijica<;;{io ., ............................................. .

I) Medida de seguran<;;a ........................................ .

m) Pena restritiva de direitos ............................ '" .. .

n) Aumento da pena em face do concurso formal

0) Aumento da pena em face da continua<;;{io ....... .

p) Recurso da acusa<;;{io que restringe na peti<;;{io a agrava<;;{io da pena de modo a niio alterar 0

prazo prescricional .... .. , ........................ , ........... .

q) Recurso da acusa<;;{io contra a concess{io do perd{iO judicial... .. ............................................. .

) "R ,F. " ." r eJormatlo In peJus ...................................... .

s) Qualidade da pena .......................................... ..

t) Reconhecimento do concurso material ........ .... .

u) Prazo da prescri<;;{io da pretensiio punitiva ja decorrido ......................................................... ..

16. LEGISLAyAo ESPECIAL .................................. ..

a) Abuso de autoridade ........................................ ..

b) Crimes falimentares ........................................ ..

c) Crimes de imprensa .......................................... .

17. IMPRESCRITIBILlDADE ................................... ..

Tribuna I de Justio;a ~ ES Biblioteca

Des, Homero Matra

166

167 167 167 167

168 168

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173 173

173 174

174 175

XV

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Capitulo I

DA PUNIBILIDADE

1. 0 PODER PUNITIVO DO ESTADO

A norma penal incriminadora cria para 0 Estado, seu uni­co titular, 0 direito de punir abstrato. Passa a ter 0 direito de exigir que os cidadaos nao cometam 0 fato nela descrito. De sua parte, estes tern a obriga9ao de nao realizar a infra9ao pe­nal determinada. Assim, tratando-se, por exemplo, de crime de furto, a norma agendi contida no art. 155 do CP delimita 0

ambito de atividade humana, proibindo a pnitica do.fato tipi­camente descrito, sob efeito de sujei9ao as san96es penais cominadas no preceito secundano. E 0 Estado tern 0 direito de exigir que ninguem subtraia, para si ou para outrem, coisa alheia move!.

Cometida a infra9ao penal, 0 direito de punir, que era abstrato, passa a ser concreto. Antes 0 Estado tinha 0 direito de exigir a absten9ao da pratica criminosa. Realizado 0 fato delituoso, a rela9ao entre 0 Estado e 0 delinqiiente, que antes era de simples obediencia penal, consubstanciada no preceito primano da lei incriminadora, tern seu suporte legal no pre­ceito secundano, que comina a san9ao, denominando-se rela-9ao juridico-punitiva. Esse jus puniendi concreto, verdadeiro

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poder-dever de punir, e nao simples faculdade de punir, esta­belece uma relac;;ao real, de natureza juridico-penal, entre 0

Estado e 0 sujeito ativo do crime. De um lado, determina-se ao sujeito 0 dever de submeter-se a sanc;ao penal, evitando obstaculizar os meios de sua aplicac;ao; de outro, deve 0 Esta­do exercer seu poder de punir, impondo a sanc;ao penal res­pectiva e realizando sua execuc;ao.

Transitando em julgado a sentenp condenatoria, 0 po­der-dever de punir do Estado adquire a feic;ao "de jus executionis. Tem ele 0 dever, e por isso possui poderes, de exe­cutar a sanc;ao imposta pelo Juiz na sentenc;a.

o jus punitionis concreto e 0 jus executionis, entretanto, nao podem ser exercidos diretamente pelo Estado-Administra­c;ao. Nao cabe ao Poder Executivo, por interm6dio de coa<;ao direta, aplicar a sanc;;ao penal e executa-lao Eles sao realizados por interm6dio da jurisdir;ao. A san<;ao penal nao pode ser aplicada sem processo; nem executada. Como ensina Jose Frederico Marques, "0 direito de punir e um direito de coa<;ao indireta, pelo que a sanctio juris da norma penal so se aplica mediante 0 processo"l. E, como 0 jus executionis e um pro­longamento do direito de punir concreto, a efetiva execu<;ao da sanc;ao penal tambem depende de ordem judicial determi­nada por autoridade competente.

2. PUNIBILIDADE, PRETENSAo PUNlTIVA E PRETENSAoEXECUTORIA

Com a pratica do delito, como vimos, surge a rela<;ao ju­ridico-punitiva, de natureza concreta (direito de punir con-

1. Tratado de direito penal, Sao Paulo, Saraiva, 1956, V. I, p. 120.

2

creto), estabelecida entre 0 Estado e 0 delinqUente, que se de­nomina punibilidade. Ela 6, na lic;ao de Antolisei, a possibili­dade juridica de imposic;ao da sanc;ao penal'. Nao faz parte do crime. Este 6 um fato tipico e antijuridico. Nem a culpabilida­de 6 seu elemento ou caracteristica, funcionando como pres­suposto de aplicac;ao da sanc;ao penal, elo entre 0 delito e 0

delinq Uente a quem se reconheceu 0 jufzo de censurabilidade.

A punibilidade 6 conseqiiencia juridica da pnitica do de­lito. Por tratar-se de efeito juridico e nao de elemento ou re­quisito do crime, sua ausencia, salvo as excec;6es da anistia e da abolitio criminis, nao apaga a infrac;ao penal. E 0 sistema de nosso CP. Assim, quando retrata as causas de exclusao da antijuridicidade, como a legftima defesa, por exemplo, empre­ga a expressao "nao hi crime" (art. 23). Prova de que a ilicitude configura uma caracteristica ou requisito do delito. Quando disciplina as causas de exclusao da culpabilidade, como a inimputabilidade por doenc;a mental, por exemplo, usa a ex­pressao "6 isento de pena" (CP, art. 26, caput), demonstrando que a culpabilidade constitui condic;ao de imposic;ao da pena na sentenc;a. No art. 107, entretanto, nao diz 0 CP que nao ha crime ou que 0 agente esta isento de pena, mas que se extin­gue a punibilidade. Circunstancia a indicar que 0 conceito de punibilidade e mais amplo que 0 de pena.

Cometido 0 delito e nascendo a punibilidade, surge 0

tema da pretensao punitiva. Pretensao, na lic;ao de Carnelutti, e a exigencia de subordinac;ao de um interesse alheio ao inte­resse propri0 3. Pretensao punitiva e a exigencia de que 0 po­der-dever de punir do Estado subordine 0 direito de liberdade

2. Manual de dereeho penal, trad. Juan del Rosal e Angel Torio, Buenos Aires, UTEHA, 1960, p. 531, n. 235.

3. Istituzioni del nuovo proeesso civile italiano, 1951, v. 1, p. 7.

3

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do cidadao'. Se a pretensao punitiva do Estado e a exigencia de puni"ao, e se a punibilidade, que e a possibilidade juridica de imposi"ao da san"ao penal, surge do direito concreto de punir, confundem-se os conceitos de punibilidade e de preten­sao punitiva5•

Tendo em vista que 0 poder-dever de punir nao admite coa"ao direta, a pretensao punitiva deve ser deduzida em luizo mediante processo regular. E, transitando em julgado a sen­ten"a condenatoria, 0 poder-dever do Estado, agora ja no sen­tido de jus execution is, ainda se manifesta pela pretensao pu­nitiva. Quer dizer que se fala em pretensao punitiva desde 0

momenta da pratica do crime ate 0 instante do cumprimento total da san"ao penal, salvo causa extintiva intercorrente. Como 0 jus executionis nada mais e que um prolongamento do jus punitionis concreto, a pretensao punitiva, surgida com a pratica do delito, aparece com a punibilidade e subsiste en­quanta ela sobrevive. Dai dizer-se que tamMm na fase da exe­cu"ao da san"ao penal se trata de exercicio da pretensao puni­tiva. Com maior rigor tecnico, entretanto, cremos que com a pratica do crime surge a pretensao punitiva; transitando em julgado a senten"a condenatoria, a pretensao executoria.

Praticada a infra"ao penal, surge para 0 Estado 0 direito de deduzir em luizo a pretensao punitiva. E 0 faz por inter­medio da acusa<;;ao, promovida pelo proprio Estado-Adminis­tra<;;ao ou pelo particular, podendo valer-se do inquerito poli­cial, pe<;;a inforrnativa da a<;;ao penal. Tem ele 0 direito de in­vocar 0 Estado-ludiciiirio no sentido de aplicar 0 direito pe­nal objetivo a um [ato considerado tfpico e antijuridico, co-

4. Jose Frederico Marques, Tratado, cit., v. 3, p. 322, n. I.

5. Jose Frederico Marques, Tratado, cit., v. 3, p. 322, n. I.

4

metido por um sujeito cUlpavel. Adquire 0 poder-dever de pro­cessar 0 delinqiiente e, considerada procedente a pretensao punitiva, de impor a san<;;ao penal previamente cominada.

Transitando em julgado a senten<;;a condenatoria, surge a pretensao executoria, pelo que 0 Estado adquire 0 direito de executar a san<;;ao imposta pelo Poder ludiciiirio.

Demonstra<;;ao grafica:

C TJSC EPE I I I ---- PP PE - __ _

C = crime

TJSC = triinsito em julgado da senten<;;a condenatoria

EPE = extin<;;ao da pretensao executoria pelo cumprimento da pena ou por outra causa qualquer

PP = pretensao punitiva

PE = pretensao executoria

A pretensao punitiva (PP) surge na data do crime (C) e pode ser exercida ate 0 dia anterior ao triinsito em julgado da senten<;;a condenatoria (TJSC). A pretensao executoria (PE) nasce com 0 triinsito em julgado da senten<;;a condenatoria (TJSC) e se extingue pela incidencia de alguma eventual cau­sa (EP E = extin<;;ao da pretensao executoria), como 0 cumpri­mento da pena, a prescri<;;ao, a anistia etc. (CP, art. 107).

3. CONDH;:OES OBJETIVAS DE PUNffiILIDADE

A possibilidade juridica da aplica<;;ao da san<;;ao penal

5

(

(

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\

· pode estar subordinada a eventuais causas extrinsecas ao fato delituoso. Sao as chamadas condi<;;6es objetivas de punibili­dade. Quando incid~ntes, excluem ate a mera possibilidade juridica de 0 sujeito vir a ser perseguido criminalmente. Rece­bern a qualifica<;;ao de objetivas porque se situam fora do fato cometido pelo sujeito. Esendo 0 dolo, segundo a modema conceitua<;;ao, elemento do tipo, essas condi<;;6es, como e logi­co, tambem se encontram fora do elemento subjetivo do delito.

No CP, sao condi<;;6es objetivas de punibilidade; no tema da aplica<;;ao de nossa lei penal a delito cometido no estran­geiro, os requisitos de "ser 0 fato punivel tambem no pills em que foi praticado" (art. 72 , § 22 , b) e "estar 0 crime inclufdo entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradi<;;ao" (c). N as duas hipoteses, as circunstancias de 0 fato cometido pelo brasileiro, que entre nos e tfpico, ser atfpico ou nao no estrangeiro, e ser daqueles em rela<;;ao aos quais e autorizada a extradi<;;ao, situam-se fora do crime realizado e nao sao abrangidas pelo dolo. Como explica Antolisei, sao aconteci­mentos totalmente independentes da atividade do culpado e nao guardam com ela nenhum nexo de causalidade'.

Assim, em deterrninados casos nao basta, para que surja a punibilidade, que 0 sujeito culpado cometa urn fato tfpico e antijuridico. Muitas vezes 0 direito de punir concreto so pode ser exercido pelo Estado quando presentes certas condi<;;6es. Elas se interp6em entre 0 preceito primario, que preve a regra de proibi<;;ao, e 0 preceito secundfuio, que comina a san<;;ao, de modo que a imposi<;;ao desta subordina sua possibilidade it

presen<;;a daquelas. Distinguem-se, quanta ao efeito de sua ausencia, as con­

di<;;6es de procedibilidade das condi<;;6es objetivas de punibili-

6. Manual. cit., p. 533, n. 236.

6

dade. Exemplo daquelas e a requisi<;;ao do Ministro da Justi<;;a, funcionando como requisito da persecu<;;ao penal em deterrni­nados casos (CP, arts. 72, § 32, b, e 145, paragrafo unico). Se 0

Juiz, quando da senten<;;a, percebe ausente uma condi<;;ao de procedibilidade, deve anular a a<;;ao penal. Suponha-se que verifique, na hipotese do art. 145, paragrafo unico, do CP, que a a<;;ao penal foi iniciada sem a requisi<;;ao ministerial. Fica impedida a aprecia<;;ao da procedencia da pretensao punitiva, devendo anular a a<;;ao penal. Suponha-se que, em outro exem­plo, perceba 0 Juiz que 0 fato cometido pelo reu brasileiro no estrangeiro, tfpico perante nossa legisla<;;ao, e atfpico no pafs alienfgena. Esta faltando uma condi<;;ao para a existencia da punibilidade. E se esta inexiste, deve ser julgada improcedente a pretensao punitiva, absolvendo-se 0 acusado.

4. CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE

a) Elenco

Assim como existem causas que excluem a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade, ha as que extinguem a puni­bilidade. Estiio previstas no art. 107 do CPO Sao elas:

I - a morte do agente;

II - a anistia;

III - a gra<;;a;

IV - 0 indulto;

V - a abolitio criminis;

VI - a prescri<;;ao;

VII - a decadencia;

vm·- a peremp<;;ao;

IX - a renunciado direito de queixa e de representa<;;ao;

7

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x - 0 perdiio do of en dido;

XI - a retratayiio;

XII _. 0 casamento do agente com a vftima em certos crimes contra os costumes;

XIII -. 0 casamento da vftima com terceiro em determi­nados delitos cqntra os costumes; e

XIV - 0 perdiio judicial.

o rol de causas extintivas da punibilidade do art: 107 do CP niio e taxativo, mas meramente exemplificativo. Citam-se os casos dos arts. 82 (extinyiio da pena suspensa quando do termino do perfodo de prova do sursis), 90 (extinyiio da pena suspensa ao termino de vigencia do livramento condicional) e

,240, § 2", do CP (morte do of en dido no delito de adulterio), . dentre outros.

b) Classificar;ao

As causas que extinguem a punibilidade podem consti­tuir fatos ou atos juridicos. Daf sua classificayiio em:

I") causas extintivas da punibilidade que advem de Jatos jurfdicos;

2") causas extintivas da punibilidade que advem de atos jur(dicos.

Quando a causa provem de urn fato humano ou natural, fala-se emJato jurfdico; quando provem de urn comportamen­to humano tendente it extinyiio da punibilidade, cuida-se de ato jurfdico.

Constituem fatos juridicos extintivos da punibilidade:

I - a morte do agente;

II - a morte do sujeito passivo nos delitos de adulterio

8

e de induzimento a erro essencial e ocultayiio de impedimento (CP, arts. 240 e 236, respectivamente);

III - a prescriyiio;

IV - a decadencia;

V - a peremp,<iio; e

VI - a abolitio criminis.

Siio atos juridicos extintivos da punibilidade:

I - a retratayiio do agente;

II - 0 casamento do agente com a vftima;

III - 0 casamento da vftima com terceiro;

IV - a anistia;

V - a graya;

VI - 0 indulto;

VII - a renuncia;

VIII - 0 perdiio do of en dido; e

IX - 0 perdiio jUdicial?

c) Momento de ocorrencia

As causas que extinguem a punibilidade podem ocorrer antes ou depois do transito em julgado da sentenya condena­toria. Assim:

1') morte do agente: pode ocorrer antes ou depois da sentenya condenatoria irrecorrlvel;

2') anistia: antes da sentenya final (anistia propria) ou apos transitar em julgado a sentenya condenatoria (anistia im­propria);

7. Jose Frederico Marques, Tratado, cit., v. 3, p. 401, n. 2.

9

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3') gra<;:a: depois do transito em julgado da senten<;:a

condenat6ria;

4') indulto: depois do transito em julgado da senten<;:a

condenat6ria8;

5') lei nova extintiva da incrimina<;:ao (abalitia criminis):

antes ou depois do transito em julgado da senten<;:a

condenat6ria;

6') prescri<;:ao: antes de transitar em julgado a senten<;:a final ou depois de tomar-se irrecorrivel a condena<;:ao;

7') decadencia: antes de iniciada a a<;:ao penal privada ou publica condicionada a representa<;:ao (decadencia do direito de queixa ou de representa<;:ao);

8') peremp<;:ao: durante a a<;:ao penal exclusivamente pri­

vada;

9') renuncia do direito de queixa: antes de iniciada a a<;:ao penal exclusivamente privada;

10') perdao do of en dido: depois de iniciada a a<;:iio pe­nal exclusivamente privada ate 0 transito em julgado da sen­

ten<;:a condenat6ria;

II') perdao judicial: por ocasiao da senten<;:a condenat6-

na;

12') retrata<;:iio do agente: ate a senten<;:a final;

13') casamento do agente com a vitima em alguns cri­mes contra os costumes: antes ou depois do transito em julga­do da senten<;:a condenat6ria;

8. Nossos Tribunais, entretanto, tern admitido 0 indulto na pendencia de apela~ao do reu, desde que a senten~a ja tenha transitado em julgado para a acusa~ao (nesse senti do: RT, 507:461).

10

14') casamento da vitima com terceiro: antes do transito em julgado da senten<;:a condenat6ria9•

d) Efeitas

o momento de incidencia da causa extintiva da puni­bilidade, advenha de ato ou fato juridico, tem relevancia no campo da reincidencia e de outros efeitos da senten<;:a condenat6ria. Se a causa extintiva da punibilidade incidir so­bre a pretensao punitiva, ocorrendo antes de transitar em jul­gada a senten<;:a condenat6ria, vindo 0 sujeito a cometer novo delito, nao devera ser considerado reincidente. E, no terreno da repara<;:ao do dano, nao havera senten<;:a condenat6ria irrecorrivel para ser executada no juizo dvel (CPP, art. 63).

Demonstra<;:ao grafica:

C IP D PSC TJSC ~ ,-----,-----,---- -----------------,- ----,

A

C = crime

IP = inquerito policial

D = denuncia

PSC = publica<;:iio da senten<;:a condenat6ria

TJSC = transito em julgado da senten<;:a condenat6ria

B

A ~ B = lapso temporal entre a data da pratica do crime e o transito em julgado da senten<;:a condenat6ria

9. Segundo entendemos, 0 casamento da of end ida com terceiro, ap6s o transito emj ulgado da sentenc;a condenat6ria, nao extingue a punihilidade (vide a fundamenta<;ao em nosso Direito penal; parte geral, Sao Paulo, Saraiva).

11

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Ocorrendo a causa extintiva da punibilidade em qualquer momento entre os pontos A e B, i. e., entre a data do crime e 0

transite em julgado da sentenc;:a condenatoria, vindo 0 sujeito a cometer novo deli to, qualquer que seja 0 instante de sua rea­lizac;:ao, nao sera reincidente. Isso porque estara faltando a an­terior sentenc;:a condenatoria com transite em julgado, que constitui 0 pressuposto da reincidencia (CP, art. 63). Sob 0

outro aspecto, ausente a condenac;:ao irrecorrivel, nao podera o interessado valer-se do disposto no art. 63 do CPP, que per­mite a execuc;:ao da sentenc;:a condenatoria, no juizo cive!, para efeito de reparac;:ao do dan~.

Demonstrac;:ao grafica:

C D CEP TJSC __ L __

C = crime

D = demincia

CEP = causa extintiva da punibilidade

TJSC = transito em julgado da sentenc;:a condenatoria

NC = novo crime

NC

Suponha-se que, cometido 0 crime (C) e iniciada a ac;:ao penal mediante denuncia (D), venha 0 sujeito a ser favorecido por uma causa extintiva da punibilidade (CEP) antes de tran­sitar em julgado a sentenc;:a condenatoria (T ISC). Vindo a co­meter novo delito (NC), nao podera ser considerado reinciden­teo A extinc;:ao da punibilidade no momento indicado, i. e., an­tes de transitar em julgado a sentenc;:a condenatoria, faz com que 0 Estado perca a pretensao punitiva, exc1uindo a possibi­lidade de haver senten<;a condenatoria irrecorrfvel. E sem esta

12

nao pode haver reincidencia, nos termos do art. 63 do CPo Da mesma forma, nao havendo sentenc;:a condenatoria com tran­sito em julgado, nao pode ser exercido 0 disposto no art. 63 do CPP (execuc;:ao da senten<;a condenatoria irrecorrivel para efeito de reparac;:ao do dano).

Ocorrendo a causa extintiva da punibilidade depois do transitu em julgado da sentenc;:a condenatoria, vindo 0 sujeito a cometer novo delito, sera em regra considerado reincidente. E podera ser executada a decisao condenatoria, no juizo cive!, para efeito de reparac;:ao do dan~.

Demonstrac;:ao grafica:

C D TJSC CEP NC

A ..,

C = crime

D = denuncia

TJSC = transito em julgado da sentenc;:a condenatoria

NC = novo crime

CEP = causa extintiva da punibilidade

A partir do ponto A, vindo 0 sujeito a cometer novo cri­me, sera considerado reincidente, ainda que antes dele tenha sido favorecido por alguma causa extintiva da punibilidade (CEP). Hii tres excegoes:

1') a anistia;

2") a abolitio criminis; e

3") a temporariedade do efeito de a sentenc;:a conde­natoria irrecorrivel gerar a reincidencia (CP, art. 64, I).

A anistia (CP, art. 107, II, I" figura) e a abolitio criminis

13

Page 17: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

\

(CP, arts. 2Q , caput, e 107, Ill) apagam os efeitos penais da pn'itica do crime e rescindem a senten<;a condenat6ria. De modo que, favorecido por elas, vindo 0 sujeito a cometer novo delito, nao sera considerado reincidente. Elas, entretanto, nao extinguem os efeitos civis da senten<;a condenat6ria irrecor­rivel, de maneira que esta pode ser executada no juizo dvel

no que tange it repara<;ao do dano.

Demonstra<;ao griifica:

C . D TJSC AA NC

I I I I I

C = crime

D = denuncia

TJSC = transito em julgado da senten9a condenat6ria

AA = anistia ou abolitio criminis

NC = novo crime

Suponha-se que, cometido 0 crime (C) e iniciado 0 pro­cesso mediante demincia (D), venha 0 sujeito a serbeneficia­do pela anistia ou aboUtio criminis (AA) depois do transito em julgado da sentenlia condenatoria (T JSC). Vindo a cometer

novo delito (NC), nao sera reincidente.

A terceira exce9ao diz respeito ao tempo precano que tern a sentenlia condenat6ria de gerar 0 efeito da reincidencia. De acordo com 0 disposto no art. 64, I, do CP, a sentenlia condenatoria perde 0 efeito de ensejar a reincidencia quando o novo delito e cometido cinco anos depois do cumprimento da pena ou de sua extin<;ao por outra causa. Nessa hipotese, 0

sujeito nao sera reincidente, valendo a sentenlia condenat6ria irrecorrivel anterior, entretanto, para efeito de aprecialiao de

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seus antecedentes (CP •. art. 59, caput)10.

Demonstra<;ao grafica:

C TJSC CEP NC

A-5anos-B

C = crime

TJSC = transito emjulgado da senten<;a condenat6ria

CEP = causa extintiva da punibilidade

NC = novo crime

Suponha-se que 0 sujeito, condenado irrecorrivelmente (TJSC) pela pratica de urn crime (C), venha a ser favorecido por eventual causa extintiva da punibilidade (CEP). Se vier a cometer novo crime (NC) dentro do periodo A - B, i. e., den­tro do prazo de cinco anos contados da extinliao da punibilidade, sera considerado reincidente. Se, entretanto, vier a cometer 0

novo crime depois do lapso de cinco anos, nao serareincidente.

Assim, os efeitos da extin9ao da punibilidade operam ex tunc (para 0 passado) ou ex nunc (no sentido do futuro). De modo geral, as causas que extinguem a punibilidade so alcan­liam 0 poder-dever de punir do Estado, nao se estendendo ao crime e a senten9a condenat6ria irrecorrivel. E 0 que aconte­ce, por exemplo, com 0 casamento do agente com a vitima em alguns crimes contra os costumes, quando realizado (0 matrimonio) apos a condenaliao irrecorrfvel. Em face da extin9ao da punibilidade, desaparece somente a pretensao

10. Sobre 0 lema, vide nosso 0 novo sistema penal, Sao Paulo, Sarai­va, 1977, p. 80.

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15

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execut6ria do Estado, subsistindo 0 delito sexual e a senten"a condenat6ria, capaz de gerar alguns efeitos, como a reinciden­cia. Em certos casos, contudo, a incidencia da causa extintiva da punibilidade apaga 0 delito e os efeitos principais e secun­darios da senten"a condenat6ria. E 0 que ocorre nas hip6teses da anistia e da aboUtio criminis.

Quando a causa extintiva projeta suas conseqiiencias para o futuro, 0 efeito se diz ex nunc. E 0 que acontece com a maio­ria dos atos e fatos extintivos da punibilidade. Quando 0 efei­to se projeta no sentido do passado, denornina-se ex tunc. E 0

caso da anistia e da aboUlia criminis.

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Capitulo II -

DAPRESCRI~AO

1. CONCElTO

Prescri"ao penal e a perda do poder-dever de punir do Estado pelo nao-exercicio da pretensao punitiva ou da preten­sao execut6ria durante certo tempo.Ela se diferencia da deca­dencia e da peremp"ao, que tambem constituem causas extintivas da punibilidade. A prescri"ao atinge em primeiro lugar 0 direito de punir do Estado e, em conseqiiencia, extin­gue 0 direito de a"ao; a peremp"ao e a decadencia, ao contra­rio, alcan"am primeiro 0 dire ito de a"ao e, por efeito, 0 Esta­do perde a pretensao punitiva1

2. NATUREZA JURlDICA

Parte da doutrina entende que a prescri"ao e instituto de direito processual penal, uma vez que constitui obstaculo ao inicio ou prosseguimento da persecu"ao criminal. Em face

1. Jose Frederico Marques, Tratado, cit., v. 3, p. 412.

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(

\

\

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dela subsiste 0 direito de punir do Estado, nao atingido pelo decurso de tempo.

Em sentido diverso, alguns doutrinadores a consideram de carater penal, de direito material, extinguindo 0 poder-de­ver de punir do Estado.

Em posi«ao intermediana, ha 0 entendimento de que pos­sui carater rnisto, constituindo instituto ao mesmo tempo de direito penal e de direito processual penal.

Entendemos que a prescri«ao constitui materia de direito penal, nao de direito processual penal. Esse e 0 sistema de nos­sa legisla«ao, que a inclui entre as causas extintivas da punibilidade, disciplinando-a em vanas disposi«oes do CP (arts. 107, IV, I' figura, e 108 a 118). Os efeitos processuais que gera, como explica Oscar Vera Barros, "nao sao mais que uma conse­qiiencia da extin«ao do poder punitivo do Estado no caso con­creto". Ese a pretensao punitiva, entendida em sentido amplo, constitui materia de direito penal, arremata 0 autor, "0 cancela­mento dessa pretensao deve participar da mesma natureza"'.

Em suma, a prescri«ao constitui causa extintiva da punibilidade, de natureza penal e nao processual penal.

3. FUNDAMENTOS

A prescri«ao, em face de nossa legisla«ao penal, tem triplice fundamento:

2. La prescripci6n penal en eI C6digo Penal, Buenos Aires, EBA, 1960, p. 44. Sobre 0 lema: Fabio Guedes de Paula Machado, PrescriqJo penal (prescriqJo juncionalista), Sao Paulo, Revisla dos Tribunais, 2000; Rubens Rodrigues. Prescriqiio da pretensiio punitiva e execut6ria, Sao Paulo, Edi<;6es da APMA, 2000.

18

I Q) 0 decurso do tempo (teoria do esquecimento do fato);

2Q) a corre«ao do condenado; e

3Q) a negligencia da autoridade3 .

Pelo transcurso do tempo, considera-se a inexistencia do interesse estatal em apurar urn fato ocorrido ha muitos anos, ou de ser punido seu autor. A prevenl;ao generic a e espedfica advindas da resposta penal, pelo passar dos anos, perdem sua eficacia.

Soboutro aspecto, a pratica de novo delito pelo conde­nado demonstra nao se ter emendado. Ao contrano, se ao pri­meiro crime nao se segue outro, presume-se a corre«ao do au­tor. Assim, 0 transcurso do tempo sem a reitera«ao crirninosa faz presumir sua reintegra«ao social, desaparecendo a razao para a puni«ao da primeira infra«ao penal. Esse fundamento esta contido em nosso CP, que preve a interrupl;ao da prescri­«ao da pretensao executoria pela reincidencia (art. 117, VI).

o prazo prescricional pode ser interrompido pela reali­za«ao de certos atos processuais, como 0 recebimento da de­nuncia ou queixa (CP, art. 117, I), pela pronuncia (II), pela decisao conflIffiat6ria da pronuncia (III) e pela publica~ao da sentenl;a condenat6ria recorrivel (IV). Cuidando-se de prescri­~ao da pretensao execut6ria, 0 lapso pode ser interrompido pelo inicio ou continua~ao do cumprimento da pena (V). Nos­so sistema contempla a inercia da autoridade publica, no exer­cicio do jus persequendi in juditio ou do jus execution is, com a puni«ao do decurso do prazo prescricional. E urn castigo a negligencia da autoridade. E isso esHi bern demonstrado na reforma penal de 1977, por intermedio da Lei n. 6.416, que introduziu em nossa legisla~ao a prescri~ao retroativa, punindo

3. Vide sobre 0 lema: Soler, Derecho penal argentino, Buenos Aires, TEA, 1970, v. 2, p. 450, n. V; Vera Barros, La prescripci6n, cit., p. 23.

19

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)0

a mora na tramita9ao do processo criminal com a extin9ao da pretensao execut6ria da pena principal (CP, art. 110, § 22)4.

4. PRESCRIC;;AO CIVIL E PENAL

A prescri9ao civil se diferencia da prescri9ao penal nos

seguintes pontos:

12) a prescri9ao civil e aquisitiva e extintiva, no sentido

de que por ela os direitos sao adquiridos e as obriga90es, ex­tintas; a prescri9ao penal e sempre extintiva do poder-dever de

punir do Estado;

22) a prescri9ao penal se relaciona com interesses que importam ao direito publico; a prescri9ao civil esta relaciona­da a interesses privados. Como dizia Carrara, a prescri9ao pe­nal e regida por principios de ordem publica primaria; a pres­cri9ao civil, por principios de ordem publica secundaria5

;

32 ) a prescri9ao civil esta deterrninada em favor do pos­suidor (prescri9ao aquisitiva) ou do devedor (prescri9ao libe­rat6ria); a prescri9ao penal nao e ordenada em favor do agente ou do condenado, mas em face do interesse da sociedade;

42) os efeitos da prescri9ao, na esfera civil, podem ser renunciados pelo interessado; a prescri9ao penal, de ordem publica, nao pode ter seus efeitos renunciados pelo autor da

infra9ao penal;

4. Na refonna penal de 1984 (Lei n. 7.209, de 11-7-1984), como se vera, a prescrir;ao retroativa atinge a pretensao punitiva.

5. Programa do curso de direito criminal; parte geral. trad. Jose Luiz Vicente de Azevedo Franceschini e J. R. Prestes Barra, Sao Paulo, Saraiva, 1956, V. 1, p. 394, § 575.

20

52) na esfera civil, a prescri9ao nao corre contra quem nao pode agir; no campo criminal, nao importa qual a razao do nao-exercicio da pretensao punitiva ou execut6ria, se fuga do agente, inercia da autoridade, autoria ignorada etc. 0 praza prescricional, em regra, tern seguiment06•

5. PRESCRIC;;AO, DECADENCIA E PEREMPC;;AO

Na prescri9ao, a pretensao do Estado e extinta diretamen­teo Em face dis so, 0 direito de a9ao e atingido por conseqiien­cia. Na decadencia, ao contrario, em primeiro lugar e extinto o direito de a9ao e, por via indireta, e atingida a punibilidade.

Na peremp9ao (CP, art. 107, IV, ultima figural, 0 decur­so do praza faz com que 0 querelante perca 0 direito de acio­nar 0 reu. Por conseqliencia, extingue-se 0 direito de punir (a pretensao punitiva). Na prescri9ao, como ficou assinalado, 0

direito de punir e atingido em primeiro lugar. AIem disso, a peremp9ao s6 e cabivel uma vez iniciada a a9ao penal priva­da, enquanto a prescri9ao pode ocorrer antes ou depois do ini­cio da a9ao penal de qualquer especie.

6. ESPECIES

Existem duas especies de prescri9ao diante de nossa atual legisla9ao penal:

I') prescri9ao da pretensao punitiva; e

6. Vide desenvolvimento das distin\=6es citadas em Vera Barros, La prescripcion, cit., p. 46 e s.

21

Page 21: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

2') prescri<;:ao da pretensao execut6ria.

A prescric,:ao da pretensao punitiva, que ocorre antes de transitar em julgado a sentenc,:a final, esta regulada no art. 109 do CP.

A prescric,:ao da pretensao execut6ria, que tern seu prazo em curso ap6s 0 transito em julgado da senten<;:a condenat6ria, tern disciplina no art. 110, caput, do mesmo estatuto.

A prescric,:ao retroativa esta determinada no § 2" do art. 110. II forma de prescric,:ao da pretensao punitiva.

7. PRESCRI<;::Ao, CRIME E CULPABILIDADE

A prescric,:ao somente extingue a pretensao punitiva ou execut6ria, deixando intangiveis a tipicidade e a antijuridici­dade do fato. Da mesma forma, ela nao exclui 0 juizo de cul­pabilidade. Em face dela, 0 fato subsiste tipico e ilicito, de autoria de urn sujeito eventualmente culpado. A possibilidade juridica de aplicac,:ao da sanc,:ao (a punibilidade), entretanto, extingue-se pelo decurso do tempo.

22

Capitulo III ...

DA PRESCRI~AO DA ...

PRETENSAO PUNITIVA

1. CONCEITO

Na prescric,:ao da pretensao punitiva, impropriamente de­nominada "prescric,:ao da a<;:ao", a passagem do tempo sem 0

seu exercicio faz com que 0 Estado perca 0 poder-dever de punir no que tange a pretensao (punitiva) de 0 Poder Judicia­rio apreciar a lide surgida com a pratica da infra<;:ao penal e aplicar a sanc,:ao respectiva. Titular do direito concreto de pu­nir, 0 Estado 0 exerce por intermedio da ac,:ao penal, que tern por objeto direto a exigencia de julgamento da propria preten­sao punitiva e por objeto mediato a aplicac,:ao da sanc,:ao penal. Com 0 decurso do tempo sem 0 seu exercicio, 0 Estado ve extinta a punibilidade e, por conseqiiencia, perde 0 direito de ver satisfeitos aqueles dois objetos do processo.

Demonstrac,:ao grafica:

c SF ,-,- -- --~-~~~~-------

\--------- ppp A B

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C = crime

SF = senten~a final

PPP = prescric;ao da pretensao punitiva

Com a pratica do crime (ponto C) surge a pretensao pu­nitiva. 0 Estado, entretanto, nao tern 0 direito de exercer inde­finidamente essa pretensao. Seu exercicio estii limitado no tempo. Hii certo prazo para isso. Esse lapso comeyana data da priitica do crime (C) e vai ate a sentenya final (SF) (salvo a exceyao do art. 110 do CP). Significa que 0 Poder ludiciiirio tern urn tempo fixado para apreciar a !ide. Nao 0 fazendo den­tro do prazo legalmente fixado, 0 Estado perde a pretensao punitiva.

Mas nao e so a prestayao jurisdicional que deve ser en­tregue dentro de certo lapso temporal. 0 inicio da persecuyao criminal por intermedio do inquerito policial e 0 comeyo da a~ao penal tambem estao condicionados ao decurso do tempo. Depois de determinado periodo temporal 0 inquerito policial nao pode ser instaurado nem a a~ao penal iniciada.

Demonstra~ao griifica:

C IP lAP SF I I I I A B C----------------

C = crime

IP = inquerito policial

lAP = inicio da a~ao penal

SF = senten~a final

D

Cometido 0 crime (C), a partir da data de sua consuma-

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~ao, 0 Estado tern certo periodo temporal para instaurar 0 in­querito policial (lP), lapso marcado no griifico no seguimento A_B. Se, dentro do prazo A - B nao foi instaurado 0

inquerito po!icial, tendo ocorrido a prescri~ao da pretensao pu­nitiva, 0 procedimento policial fica impedido. Da mesma for­ma, cometido 0 crime, 0 Estado tern fixado no tempo 0 perio­do dentro do qual pode iniciar a a~ao penal (lAP), sob pena de, nao 0 fazendo, ver extinta a punibilidade pela prescri~ao da pretensao punitiva (lapso de A a C). Por ultimo, iniciada a a~ao penal (lAP), a senten~a final deve ser proferida dentro de certo tempo (C a D), sob pena de ocorrer a prescri~ao da pre­tensao punitiva.

2. IMPRESCRITIBILIDADE

A CF de 1988, em seu art. 5Q, criou dois casos em que a

pretensao punitiva nao e atingida pela prescri~ao:

1 Q) Crimes de racismo (inciso XLII), definidos na Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989, com as alterayoes da Lei n. 9.459, de 15 de maio de 1997.

2Q) "A~ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e 0 Estado Democriitico" (inciso XLIV). Sao de!itos definidos na Lei de Seguran~a Nacional (Lei n. 7.170, de 14-12-1983).

Em rela~ao aos delitos cometidos antes da vigencia da nova Carta, cremos que nao tern aplica~ao 0 principio da imprescritibilidade. 0 art. 5Q

, XL, diz que "a lei penal nao retroagirii, salvo para beneficiar 0 reu". Os incisos XLII e XLIX, embora situados na CF, con tern normas penais. Por isso, prejudiciais ao agente, nao tern efeito retroativo. Nao obstante seja discutfvel 0 lema, nao vemos como possa a Car­ta Magna desobedecer ao seu proprio mandamento.

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Page 23: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

3. EFEITOS

a) Extinr;iio da punibilidade

A prescri<;;ao da pretensao punitiva tern efeito extintivo da punibilidade (CP, art. 107, IV, 1" figural. 0 Estado perde 0

direito de invocar 0 Poder Judiciiirio no sentido de aplicar 0

direito penal objetivo no caso concreto, extinguindo-se a pos­sibilidade juridica de comina<;;ao da san<;;ao penaL Diante dis­so, no caso de sua incidencia, declarada a extin<;;ao da punibilidade, 0 Juiz deve ordenar 0 encerramento do proces­so. Existindo inquerito policial, seu prosseguimento constitui constrangimento ilegal (STF, RHC 63.180, RTJ, 124:976). Havendo senten<;;a condenat6ria, ela deixa de existir. Nesse sentido: TACrimSp, ACrim 815.209, RJDTACrimSP, 20:139.

b) Certidiio dos livros do Juizo e folha de antecedentes

Extinta a punibilidade pela prescri<;;ao da pretensao puni­tiva, por aplica<;;ao anal6gica do art. 748 do CPP, a eventual condena<;;ao anterior nao deve ser mencionada na folba de an­tecedentes do reu, nem em certidao extraida dos livros do Juizo, salvo quando requisitadas por juiz criminaJI.

1. Decidiu 0 STF que "a extin~ao da punibilidade" pela prescri~ao da ptetensao punitiva "acarreta a proibicrao de fornecimento de certid6es e de menc;ao do fato na folha de antecedentes, salvo requisi~ao de juiz criminal, tal como acontece na reabilita~ao (CPP, art. 748)" (2'Turma, em 14-4-1982, ReI. Min. Decio Miranda, RTf, 101:745). H., entretanto, de­cisiio do Pret6rio Excelso no sentido de qne, extinta a punibilidade pela prescric;ao da pretensao punitiva, permanece 0 nome do reu no rol dos cu1pados, onde seni feita, apenas, a respectiva averba~ao (RTJ, 105:153), posic;ao que acreditamos incorreta.

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c) Art. 77 do CNT

o STF decidiu que, extinta a punibilidade pela prescri­<;;ao da pretensao punitiva, nao fica impedida a aplica<;;ao do art. 77 do CNT (HC 71.984, 2' Turma, DJU, 30 jun. 1995, p. 20517).

4. OPORTUNIDADE DE DECLARA<;:Ao

A prescri<;;ao da pretensao punitiva, materia de ordem publica, deve ser reconhecida em qualquer fase do inquerito policial ou da a<;;ao penal, de offcio, nos termos do art. 61, caput, do CPP, pelo Juiz ou pelo TribunaF. Este pode declara­la em grau de habeas corpus; (STJ, HC 2.510, 5'Turma, DJU, 2 maio 1994, p. 10014), apela<;;ao, recurso em sentido estrito, embargos de declara<;;ao, embargos infringentes, revisao e agra­vo em execu<;;ao. 0 Juiz, enttetanto, ap6s proferir a senten<;;a condenat6ria, nao pode reconhece-la, uma vez esgotada sua jurisdi<;;ao.

Ela e irrenunciiivel (TACrimSP, RvCrim 189.006, RT, 661:288 e 289).

5. EXAME DO MERITO

A incidencia da prescri<;;ao da pretensao punitiva impede a aprecia<;;ao do merito da imputa<;;ao3. Suponha-se que 0 su-

2. RT. 510:303, 595:370, 596:341 e 599:387.

3. STF, HC 63.765, 2' Turma, em 4-4-1986, v. un., ReI. Min. Fran­cisco Rezek, DJU, 18 abr. 1986, p. 5990 (RTf, 118:934); HC 65.211, l' Turma, em 11-3-1988, ReI. Min. Sydney Sanches, DJU, 8 abr. 1988, p.

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Page 24: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

jeito cometa determinado crime, vindo a ser denunciado. Quando 0 Juiz vai proferir a senten~a verifica que a partir do recebimento da denuncia ja ocorreu 0 prazo prescricional da pretensao punitiva.

Demonstra~ao griifica:

C RD PPP

A-PPPP-B

C = crime

RD = recebimento da denuncia

PPP = prescriyao da pretensao punitiva

S = sentenya

PPPP = prazo prescricional da pretensao punitiva

S ---,

o Juiz verifica que entre a data do recebimento da de­nuncia (RD) e a em que pretende condenar 0 reu, ou absolve-10 (S), ja decorreu 0 prazo prescricional da pretensao punitiva (PPPP), i. e., ja ocorreu a prescriyao da pretensao punitiva (PPP). Nesse caso, nao pode apreciar a procedencia da acusa­yao, ficando impedida a decisao de absolvi~ao ou de condena­~ao. Deve declarar a extin~ao da punibilidade, encerrando-se a a~ao penal.

o mesmo acontece na hip6tese de 0 Tribunal verificar ja

7471; RTJ, 140:488; RT, 630:366; STJ, AR no AI 242, 6'Turma, DJU, 27 nov. 1989, p. 17576; RSTJ, 6:75; TJSP, ACrim 124.924, RJTJSP, 143:274. E nao ha of ens a ao principio do art. 5", XXXV, da CF, segundo 0 qual a lei nao excluini da apreciacrao do Poder Judiciano lesao ou ameacra a direito (STJ, ARAI242, 6'Tnrma, DJU, 27 nov. 1989, p. 17576; RSTJ, 6:75).

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ter decorrido 0 lapso prescricional. Suponha-se que, no exem­plo dado, 0 Juiz, nao percebendo 0 transcurso do prazo de pres­cri~ao, venha a condenar 0 reu e este interponha recurso de apela~ao.

Demonstra~ao griifica:

RD PPP SC RR SIT I I I I I A --PPPP_ B

RD = recebimento da denuncia

PPP = prescriyao da pretensao punitiva

SC = sentenya condenat6ria

RR = recurso do reu

SJT = sessao de julgamento do Tribunal

PPPP = prazo prescricional da pretensao punitiva

Condenado 0 reu (SC), este apela (RR). No julgamento (SID, percebem os membros do Tribunal que entre a data do recebimento da denuncia (RD) e a da publica~ao da senten~a condenat6ria (SC) ja havia decorrido 0 prazo prescricional da pretensao punitiva (PPPP). 0 Tribunal, sem entrar no exame do merito, deve desde logo declarar extinta a punibilidade pela prescri~ao da pretensao punitiva (PPP).

6. PRAZOS E FORMA DE CONTAGEM

Os prazos de prescri~ao variam de acordo com a quanti­dade da pena abstrata ou concreta. Pena abstrata e a corninada no preceito secundiirio da norma incriminadora. Assim, no

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(

Page 25: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

homiddio simples, san<;:ao abstrata e a reclusao, de seis a vin­te anos. Pena concreta e a imposta pelo Juiz na senten<;:a. Se, em urn crime de lesao corporalleve, a senten<;:a condenat6ria imp6e ao reu deten<;:ao de tres meses, esta e a pena concreta.

Tratando-se de prescri<;;ao da pretensao punitiva, leva-se em considera<;:ao 0 maximo da pena punitiva de liberdade cominada em abstrato (CP, art. 109, caput) com desprezo da pena de multa, quando cominada cumulativa ou alternativa­mente. Cuidando-se de prescri<;:ao da pretensao execut6ria, e regulada pela pena imposta (CP, art. 110, caput)4.

Esses prazos sao os seguintes, nos terrnos do art. 109 do CP:

Maximo da pena privativa Prazo prescricional

de liberdade

l. + de 12 anos = 20 anos

2. + de 8 a 12 anos ;, 16 anos

3. +de4a8anos = 12 anos

4. + de 2a4anos :::: 8 arros

5. de1a2anos :::: 4 anos

6. menos de 1 anD = 2 anos ---- - -------

Exemplos:

C (CP, art. 129, caput) 4 anos ____ ~ __________ L , --- - ---- -I ----T---------t,--------j

1 ano 2 anos 3 anos

A--------- PPPP B

4. A multa tern outra disciplina (CP, art. 114).

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I PPP

C = data do crime

PPP = prescri<;:ao da pretensao punitiva

PPPP = prazo prescricional da pretensao punitiva

A-B = periodo em que esta em curso a PPP

Imagine-se que 0 sujeito tenha cometido urn crime de lesao corporal leve (CP, art. 129, caput), a que 0 legislador comina a pena de deten<;:ao de tres meses a urn ano. Para saber qual 0 prazo prescricional da pretensao punitiva (PPPP), de­vemos inserir 0 maximo da pena privativa de liberdade (urn ano) em urn dos incisos do art. 109 do CP. Vamos encontrar no item V 0 prazo de quatro anos. Significa que 0 prazo para 0

Estado perder a pretensao punitiva, a partir da data do crime (C), e de quatro anos.

PPE C P SC TJSC 1 ano 2 anos

'l ' l' , , (CP, art. 129, caput) A PPPE B

3 meses de deten<;ao

C = crime (lesao corporalleve, CP, art. 129, caput)

P = inicio do processo criminal

SC = senten<;;a condenat6ria, impondo ao reu a pena de tres meses de deten<;:ao

TJSC = transito em julgado da senten<;;a condenat6ria

PPE = prescri<;:ao da pretensao execut6ria

PPPE = prazo prescricional da pretensao execut6ria

A-B = prazo durante 0 qual esta em curso a prescri<;:ao da pretensao execut6ria (PPPE)

Tr,bur1&! Ce '.\!~:~Ga ~. t:-~ 31 ,--... UlbL:-)~c ;-::'f:

D38, t-{ (;'.-. -:-:--(' [\!lairc

Page 26: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

Suponha-se que 0 sujeito, processado por crime de lesao corporalleve (C), venha a ser condenado (SC) a tres meses de deten9ao. Transitando em julgado a senten9a condenat6ria (TISC), come9a a correr 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria (PPPE). Para saber qual e devemos adequar a pena imposta na senten9a a umdos incisos do art. 109 do CPo No n. VI encontramos 0 prazo de dois anos, uma vez que a pena imposta e inferior a urn ano. Significa que 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria e de dois anos. Assim, a partir do ponto A, em que a condena9ao penal se tomou irrecorrivel (TISC), 0 Estado tern 0 prazo de dois anos para iniciar a execU9ao da pena de tres meses de deten9ao. Nao 0

fazendo dentro desse perfodo ocorre a extin9ao da punibi1idade pela prescri9ao da pretensao execut6ria (PPE).

o prazo prescricional deve ser considerado em face do fa­to narrado na pe9a de acusa9ao e nao pela capitula9ao legal'.

De acordo com 0 art. 109, paragrafo unico, do CP, "apli­cam-se as penas restritivas de direito os mesmos prazos pre­vistos para as privativas de liberdade". Ex.: 0 Juiz imp6e ao reu pena restritiva de direito. Ele apela, nao havendo recurso da acusa9ao: 0 prazo prescricional da pretensao punitiva, na modalidade superveniente (CP, art. 110, § 1 Q), e regulado pe1a pena privativa de liberdade imposta antes da substitui9ao (CP, art. 44, caput).

7. CONTAGEM DO ANO PRESCRICIONAL

Para a contagem do ano em materia penal devemos con-

5. S1F, HC 56.671, DiU, 30 jun. 1978, p. 4846; TJSP, HC 142.847, JTi, 144:304; STJ, RHC 4.673, 6'.Tunna, DiU, 11 mar. 1996, p. 6663.

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siderar dois principios deterrninados no art. 10 do estatuto re­presslvo:

1°) 0 dia do come90 inclui-se no computo do praz06;

2Q) contam-se os anos pelo calendfuio comum.

De acordo com a primeira regra, qualquer que seja a fra-9ao do primeiro dia a ser contado, deve ela ser considerada como urn dia por inteiro. Suponha-se que 0 prazo prescricional deva ser contado a partir do dia 1 Q de setembro, data da con­suma9ao de urn furto. Verifica-se que 0 crime foi cometido as 23 horas. Na verdade, nesse primeiro dia 0 curso prescricional percorreu apenas uma hora. Essa hora, entretanto, vale como urn dia por inteiro. 0 dia do come90 inclui-se no prazo, como preceitua 0 primeiro principio, pouco importando a hora da realiza9ao do fato. Nesse sentido: TACrimSP, ACrini 568.835, RIDTACrimSP, 7:142; STJ, REsp 188.681, 6' Turma, ReI. Min. Vicente Leal, RT, 785:571.

Nos terrnos do segundo principio, 0 ano deve ser conta­do de acordo com 0 ca1endfuio comum, entre n6s 0 gregoriano. Significa que 0 direito penal nao possui urn calendario especi­al. Nosso calendfuio e 0 comum, de todos os dias. E 0 ano nao tern 365 ou 366 dias. 0 ano em materia penal tern exatamente quantos dias existem no calendfuio comum, sejam 365 ou 366. Assim, no campo penal 0 ano nao tern urn numero fixo de dias, mas quantos dias, nos terrnos do calendfuio gregoriano, tern determinado ano. Nesse sentido: STJ, REsp 188.681, 6' Tur­rna, ReI. Min. Vicente Leal, RT, 785:571.

Os anos devem ser contados de acordo com 0 seguinte principio: apanha-se 0 dia do come90 do prazo, vai-se ao mes­mo dia, do mesmo mes, do ana subsequente, terrninando as 24 horas do dia anterior.

6. RT,612:297.

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Page 27: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

Exemplo: Suponha-se urn prazo prescricional da pretenslio puniti­

va em caso de crime de calunia simples consumado no dia 3-4-1982, as 18 horas. 0 maximo da pena privativa de liberdade e de dois anos (CP, art. 138, caput). Logo, 0 lapso prescricional da pretensao punitiva, nos termos do art. 109, V, do CP, e de

quatro anos.

PPP C (CP, art. 138, caput) t

Pena maxima = 2 anos 4 anos I I I I I

l lano 2 anos 3 anos

2-4-1986 3-4-1982 as 24 horas

C = crime (caltinia simples, CP, art. 138, caput)

PPP = prescri<;ao da pretensao punitiva

Como vimos, e irrelevante, no tema, a hora da consuma­<;lio do crime. Consumado no dia 3-4-1982, devemos ir ao mesmo dia, do mesmo mes, do ano respectivo subseqiiente (3-4-1986), terminando os quatro anos no dia anterior (2-4-1986), as 24 horas.

o prazo nao se suspende por ferias, feriados ou domingos.

8. PERlODOS PRESCRICIONAIS

Os prazos prescricionais da pretenslio punitiva podem decorrer durante os seguintes periodos:

12) entre a data da consuma<;lio do crime e a do recebi­mento da denuncia ou queixa;

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22) entre a data do recebimento da denuncia ou queixa e a da publica<;ao da senten<;a final;

32) a partir da publica<;ao da senten<;a condenatoria.

Tratando-se de crime da competencia do Juri, os lapsos prescricionais sao os seguintes:

12) entre a data do fato e a do recebimento da demincia;

22) entre a data do recebimento da denuncia e a da pu­blica<;lio da promincia;

32) entre a pronuncia e sua confirma<;lio;

42) entre a promincia ou sua confrrma<;lio e a senten<;a final;

52) a partir da senten<;a condenatoria7•

Exemplos:

Prescri<;ao da pretenslio punitiva entre a data da consu­ma<;ao do delito e a do recebimento da denuncia:

C 123 4 5 6 7 8 anos RD L __ , ____ ,_---.L _, ___ 1._ ~ _, '-_

.- --1 --I ---- .- ----. -- .-- .-- -,-- ---- -_. --------,

18-8-1982 PPP I j I

A 8 anos _____ _ B (17-8-1990)

C = crimedeapropria<;lioindebitasimples,descritonoart. 168, caput, do CP: pena privativa de liberdade, recluslio, de urn a quatro anos

7. Tendo em vista a quantidade abstrata das pen as, consideradas no maximo, sao raros as casas de prescri<;3.o da pretensao punitiva em delitos da competencia do Juri.

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Page 28: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

RD = eventual recebimento da denuncia

PPP = prescri~ao da pretensao punitiva

A- B = periodo prescricional

Suponha-se que 0 sujeito, no dia 18-8-1982, cometa urn crime de apropria~ao indebita simples, definido no art. 168, caput, do CP. A pena e de reclusao, de urn a quatro anos, alem de multa. No caso, 0 prazo prescricional da pretensao punitiva e de oito anos, nos termos do art. 109, IV, do mesmo estatuto. De modo que no ponto B, em 17-8-1990, as 24 horas, decorre o prazo prescricional da pretensao punitiva (P P P), extinguin­do-se a punibilidade. Posteriormente a essa data nao pode ser instaurado 0 inquerito policial nem recebida eventual demin­cia. Se oferecida, deve ser rejeitada (CPP, art. 43, II). 0 mesmo ocorre em caso de crime de a~ao penal privada, em que a a~ao

penal tern inicio mediante queixa.

Prescri~ao da pretensao punitiva com decurso do prazo a partir da data do recebimento da demincia ou queixa:

3-10-1982

C RD (4-10-1980) 1 ano 2 anos SC I I I I I

I-- 2 meses A B PPP C

C = crime de amea~a, descrito no art. 147 do CP. Pena: deten-

~ao, de urn a seis meses

RD = recebimento da denuncia (4-10-1980)

SC = eventual senten~a condenat6ria

PPP = prescri~ao da pretensao punitiva

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Suponha-se que urn sujeito seja processado por crime de amea~a, definido no art. 147 do CP, cuja pena maxima e de seis meses de deten~.ao. Nesse caso, 0 prazo prescricional e de dois anos (CP, art. 109, VI). Recebida a demincia no dia 4-10-1980 (RD), a prescri~ao da pretensao punitiva ocorre no dia 3-10-1982, entre os pontos B e C. De modo que a partir dessa . data, extinta a punibilidade, deve ser encerrado 0 processo sem julgamento do merito da imputa~ao.

Exemplo de prescri~ao da pretensao punitiva superve­niente a senten~a condenat6ria:

PPP

t 12-12-1980

t 11-12-1982

C RD PSC TJMP RR I 1- _I

I ------r- --------.----.-------,

j 1 ano

CP, art. 129, A I I I B 2 anos caput j

3 meses de detenl'ao

C = crime de lesao corporalleve (CP, art. 129, caput)

RD = recebimento da denuncia

PSC = publica~ao da senten~a condenat6ria

TJMP = triinsito em julgado para 0 Ministerio Publico

RR = recurso do reu

A-B = prazo prescricional da pretensao punitiva (PPP)

Process ado por lesao corporalleve, 0 reu vern a ser con-

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Page 29: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

denado a tres meses de detenc,;ao, publicada a sentenc,;a em 12-12-1980 (PSG). Transitando em ju1gado a decisao para 0 Mi­nisterio Publico (TIMP) ou sendo improvida a sua ape1ac,;ao e ape1ando 0 reu (RR)', deve ser aplicado 0 disposto no art. 110, § 1 Q, do CP: 0 prazo prescriciona1, a partir da pub1icac,;ao da sentenc,;a, e regulado pe1a pena imposta. Como esta e inferior a urn ano, 0 1apso prescricional e de dois anos. De modo que 0

Estado ve extinta a pretensao punitiva no ponto B, em 11-12-1982. Significa que a partir do ponto B 0 Estado nao pode mais ju1gar, agora em grau de ape1ac,;ao, 0 merito da imputac,;ao. Em conseqUencia, sem entrar no merito, 0 Tribunal deve dec1arar a extinc,;ao da punibilidade'.

Exemp 10 de periodos prescricionais da pretensao puniti­va em crime da competencia do Juri:

2 anos de deten<;ao

C (CP, arts. 123 e t 12, II) RD P PSC TJMP I I I I I I A B D E F

C = crime (tentativa de infanticfdio)

RD = recebimento da denuncia

P = pronuncia

PSC = pub1icac,;ao da sentenc,;a condenat6ria

TJMP = transito em ju1gado para 0 Ministerio Publico

8. 0 apelo do n5u nao e imprescindfvel.

9. Quando, entretanto, 0 apelo e da acusa<;1io, 0 Tribunal, em primeiro lugar, exarnina 0 merito. Improvido 0 recurso, reconhece a prescri~ao da pretensao punitiva. 0 mesma ocone quando, embora provido a recurso. nao ha altera~ao do prazo prescricional.

38

Imagine-se uma tentativa de infanticidio cometida no ponto A. A pena do crime consumado e de detenc,;ao, de dois a seis anos. A reduc,;ao da tentativa, para fins de prescric,;ao, e de urn terc,;o. De modo que 0 maximo da pena abstrata, no caso, e de quatro anos de deten<;;ao. A prescric,;ao, nos termos do art. 109, IV, do CP, e de oito anos. Assim, a partir do ponto A e no sentido do B corre prazo de oito anos. Da mesma forma, corre o mesmo prazo entre os pontos B (RD = recebimento da de­nuncia) e D (pronuncia) e entre os pontos DeE (PSC = publi­cac,;ao da sentenc,;a condenat6ria). Suponha-se que are venha a ser condenada no ponto E a dois anos de detenc,;ao, transitan­do em ju1gado a decisao para 0 Ministerio Publico. Ap1ica-se o disposto no art. 11 0, § 1", do CP: a prescric,;ao, a partir da pHblicac,;ao da sentenc,;a condenat6ria, passa a ser regu1ada pe1a pena imposta. Como esta e de dois anos, 0 prazo e de quatro anos, nos terrrios do art. 109, V, do CP. Diante disso, a partir da publicac,;ao da sentenc,;a condenat6ria passa a correr prazo prescriciona1 da pretensao punitiva (de quatro anos).

E posslve1 que 0 prazo prescriciona1 tenha ocorrido em mais de urn periodo. Ex.: 0 Juiz, ao tempo da decisao, verifica que 0 prazo prescricional da pretensao punitiva ja decorreu, quer entre a data do fato e a do recebimento da denuncia, quer entre esta data e a da sentenc,;a. Nesse caso, aproveita 0 pri­meiro perfodo, sendo irre1evante a considerac,;ao do segundo.

9. PRESCRl<;Ao SUPERVENIENTE A SENTEN<;A CONDENATORIA

Nos termos do art. 109 do CP, a prescric,;ao, antes de tran­sitar em julgado a sentenc,;a final, e regu1ada pe10 rruiximo da pena privativa de liberdade. A disposic,;ao discip1ina a deno-

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minada "prescri~ao da pretensao punitiva" ou da a~ao. 0 pra­zo prescricional, antes de a senten~a transitar em julgado, nao e fixado pela pena judicial, mas pelo maximo da pena legal. Assim, se se trata de crime de lesao corporalleve, em que 0

maximo da pena e de urn ano de deten~ao, 0 lapso prescri­cional, a partir do qual 0 Estado perde 0 poder-dever de pro­cessar e punir 0 delinqiiente, opera-se em quatro anos.

A contagem do prazo prescricional da pretensao punitiva

e regulada por dois princfpios:

I Q) em regra, e 0 maximo da pena privativa de liberdade

que comanda a fixa~ao do periodo prescricional;

2Q) excepcionalmente, a prescri~ao nao e regulada pelo

maximo da pena de reclusao ou de deten~ao, mas sim pela

pena imposta na senten~a condenat6ria (reclusao ou deten~ao definitivas ou intercorrentes, i. e., aplicadas antes de substi­

tuidas por restritivas de direitos, nos termos do art. 44 do CPl.

No primeiro caso, aplica-se 0 disposto no art. 109, caput, do CP: "a prescri~ao, antes de transitar em julgado a senten~a

final, regula-se pelo maximo da pena privativa de liberdade

cominada ao crime".

No segundo, a prescri~ao e disciplinada pelo disposto no

art. 1l0, § P.

o art. 109, caput, disciplinando a prescri~ao da preten­sao punitiva, determina que a contagem do prazo e regulada

pelo maximo da pena detentiva, salvo 0 disposto no art. 110, § 1 Q. Desta forma, em regra a prescri~ao da pretensao punitiva

(da a~ao) e regulada pel0 maximo da pena detentiva. Ha, con­tudo, exce~ao: a prevista no art. 1l0, § 1 Q, que reza: "A pres­

cri~ao, depois da senten~a condenat6ria com transito em jul­

gado para a acusa~ao, ou depois de improvido seu recurso,

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regula-se pela pena aplicada"lo. Esta hip6tese corresponde em subs tan cia a do antigo paragrafo unico do art. 110, que legal­mente subordinava sua incidencia ao recurso exc1usivo do reu e nao ao triinsito em julgado da condena~ao para a acusa~ao ou ao improvimento de seu recurso.

Exemplo:

C RD PSC (3 meses de deten.,ao) P I I I I I j A TlMP. Zanos B

CP, art. lZ9, I I caput

C = crime de lesao corporalleve (CP, art. 129, caput)

RD = recebimento da denuncia

PSC = publica~ao da senten~a condenat6ria

TJMP = transito em julgado da senten~a condenat6ria para 0 Ministt'!rio Publico

P = prescri~ao A-B = periodo prescricional

Suponba-se que, seis meses apos 0 recebimento da de­nuncia, 0 reu venha a ser condenado a tres meses de deten~ao, transitando em julgado a senten~a para 0 Ministerio Publico. Dois anos e meio ap6s a publica~ao da senten~a condenat6ria o n~u ainda nao foi intimado. Deve ser aplicado 0 § 1 Q do art. 110: nao tendo havido recurso da acusa~ao, 0 prazo prescri-

10. A expressao "senten<;a condenat6ria" e empregada no sentido de "decisao", DaD havendo diferen~a entre aquela e a "acordao condenat6rio" (RT,580:431).

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cional, a partir da publica~ao da senten~a, e regulado pela pena imposta. Como era inferior a urn ano, 0 lapso prescricional e de dois anos, ja decorridos a partir da publica~ao da condena~ao.

A hip6tese do § 12 do art. 110, considerado isoladamen­te, i. e., sem liga~ao com 0 que se contem no § 22, constitui forma de prescri~ao da pretensao punitiva. A antiga hip6tese do paragrafo unico do art. 110, referente a prescri~ao sobrevinda a condena~ao sem recurso da acusayao, corres­ponde hoje ao disposto no § 12, considerado isoladamente.

Assim, na hip6tese do reu condenado a tres meses de de­tenyao com sentenya transitada em julgado para a acusayao, vin­do 0 Tribunal a julgar sua eventual apelayao depois de dois anos contados a partir da publicayao da decisao condenat6ria, aplica­do exclusivarnente 0 § 12 do art. 110, teremos a incidencia da extinyao da punibilidade pela prescriyao da pretensao punitiva (da ayao). Nao subsistem a sentenya nem seus efeitos principais e acess6rios. E 0 Tribunal nao precisa apreciar 0 merito, fican­do prejudicada a apelayao ll

. Nesse sentido: STJ, REsp 65.129, 5' Turma, j. 24-3-1998, DIU, 12 jun. 1998, p. 158.

II. 0 STF, entretanto, tinha orienta~iio diversa. No RE 104.500 do Plenano, em 15-5-.1985, ReI. 0 Min. Nori da Silveira, com apoio no pare­_cer da Procuradoria-Geral da Republica, da lavra de Francisco de Assis Toledo, !icou assentado que, na reforma penal de 1984, nos termos dos §§ 12 e 22 do art. 11 0 do CP, a prescri~iio superveniente a condena~iio nem sempre conduz a extin<;ao da pretensao punitiva. Consta do ac6rdao: "Inexistindo transito em julgado da senten~a condenatoria para a defesa, justifica-se 0 entendimento de oearrer, ai, a prescri'tao da a~ao penal. Dar­se-a, entretanto, a prescri9ao da pretensao execut6ria se 0 apelo da defesa versar, Hia-s6, sabre 0 quantitativa da pena, porque, entao, se verificani a hipotese do caput do art. 110 do CPo quanta a procedencia da a~iio penal" (RT, 598:433 e 434). Assim, nos termos do pronunciamento do Pretorio Excelso, cumpre distinguir: 12) se a apela~iio da defesa visa a absolvi~ao, 0 decurso do prazo, contado da publica~ao da senten~a condenatoria, ten-

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r o disposto no art. 110, § 1 Q, do CP, preve, como primei­ra condiyao de ocorrencia da prescriyao da pretensao puniti­va, na especie superveniente a sentenya condenat6ria, que te­nha transitado em julgado para a acusa<;ao (Ministerio PUbli­co, assistente da acusayao ou querelante). 0 recurso impedi-

do transitado em julgado para a acusa~ao ou improvido seu recurso, opera a prescri~ao da pretensao punitiva (da a~ao), aplicando-se 0 art. 110, § 12,

do CP; 2") se, entretanto, nas mesmas condi~6es, 0 apelo pretende a redu­~iio da pena, cuida-se de prescri~ao da pretensiio executoria, aplicando-se o caput do art. 110 (a chamada prescri~ao da condena~ao). A razao da distin<;ao e a seguinte: No primeiro caso, insurgindo-se a defesa contra a decisao que julgou procedente a prentensao punitiva, inexiste "sentellf~a condenatoria com transito emjulgado". Niio pode, pois, 0 decurso do tempo atingir a "pretensao execut6ria". Na segunda hipotese, contudo, de aCOf­

do com a decisao do Pret6rio Excelso, a apelar;ao nao visa ao merito, mas a redwtao da pena. Significa que a defesa, resignada com a procedencia da pretensao punitiva, deseja discutir somente a quantidade da resposta penal. Diante disso, nos termos do ac6rdao, ha uma sentenr;a condenat6ria com transito em julgado. Quer dizer, a sentenr;a, como pronunciamento condenatorio, transitou em julgado. Resta para 0 Tribunal a questiio da quantidade da pena. E se hi uma "condena~iio" transitada em julgado, formau-se a coisajulgada material no tocante a procedencia da pretensao punitiva. Nao 0 caso, pois, de "prescri~iio da pretensao punitiva". Dai apli­car-se, de acordo com a Suprema Corte, 0 caput do art. 110: 0 decurso do prazo, a partir do transito em julgado da condenac;ao, atinge a pretensao execut6ria. De modo que, apelando a defesa. sem 0 obstacula do recurso da acusa~ao, a partir da data da publica~ao da senten~a condenatoria 0

decurso do prazo opera: lQ) a prescric;ao da pretensao punitiva, se 0 apelo visa a absolvi~ao (CP, art. 110, § 12); 2") a prescri~ao da pretensao executoria, se a apela~ao visa a redul'iio da pena (CP, art. 110, caput). Esse entendimento tambem foi adotado pela I'Turma do CTF no RECrim 104.503 (RTf, 136:256). Nos, entretanto, entendemos que a chamada pres­cric;ao superveniente e forma de "prescrir;ao da pretensao punitiva", sem distin~iio quanto a fmalidade do eventual recurso da defesa. Nesse senti­do: STF, HC 67.461, RT, 644:377.

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tivo do principio prescricional e 0 apelo da acusac;:ao que visa a agravac;:ao da pena privativa de liberdade. De modo que nao im­pede a prescric;:ao a apelac;:ao que, deixando de buscar 0 agrava­.mento da pena detentiva, vise, v. g., a cassac;:ao do sursis, a irn­posic;:ao de medida de seguranc;:a, agravac;:ao da pena de multa etc. Nesse sentido: STJ, REsp1l2.431, 5' Turrna, reI. Min. Gilson Dipp, DIU, 2 out. 2000, p. 178; STJ, ROHC 10.905,5' Turrna, reI. Min. Jose Arnaldo da Fonseca, DIU, 4 mar. 2002, p. 271.

Havendo recurso da acusac;:ao visando ao agravamento da pena, a partir da publicac;:ao da sentenc;:a condenat6ria corre prazo prescricional da pretensao punitiva regulado pela pena abstrata. Cuida-se de apelac;:ao, interposta pela acusac;:ao, da sentenc;:a condenat6ria. Nao impede a prescric;:ao superveniente eventual interposic;:ao de recurso extraordinario ou especial (STJ, RHC 4.080, 6' Turma, DIU, 19 dez. 1994, p. 35331).

A segunda condic;:ao de aplicac;:ao do § I Q do art. 110 do CP e 0 improvimento do recurso da acusac;:ao. De modo que, improvido 0 apelo que visou ao agravarnento da pena, pode ser reconhecida a prescric;:ao da pretensao punitiva. Ern primei­ro lugar, 0 Tribunal aprecia 0 recurso; ap6s, dec1ara extinta a punibilidade. Havendo recurso de ambas as partes, improvido o apelo da acusac;:ao, 0 Tribunal declara a extinc;:ao da punibilidade pela PPP, prejudicado 0 apelo do reu.

o provimento do apelo da acusac;:ao, que visou ao agra­vamento da pena, impede a aplicac;:ao do § I Q?

Entendemos que 0 provimento do recurso da acusac;:ao somente impede 0 reconhecimento da PPP quando venha a alterar 0 prazo prescricional. Suponha-se que, condenado 0 reu a tres meses de detenc;:ao, venha 0 Tribunal, ern face de recur­so da acusac;:ao, a elevar a pena a quatro meses. Nao havendo alterac;:ao no prazo prescricional, pode ser aplicado 0 § F. Se qualquer que seja a pena inferior a urn ano 0 prazo e sempre de dois anos, nao e justo que a agravac;:ao de urn mes impec;:a

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o principio que se funda, inclusive, na desfdia da autoridade12 •

o prazo prescricional superveniente it condenac;:ao nao e interrompido pelo ac6rdao confirmat6rio nem pela interpo­sic;:ao de embargos infringentes. De maneira que a prescric;:ao da pretensao punitiva, na ausencia de recurso da acusac;:ao, pode ser declarada quando decorrido 0 prazo respectivo entre a data da publicac;:ao da sentenc;:a condenat6ria e 0 terrno ad quem, nao se interrompendo pelo ac6rdao que julga a apela­c;:ao ou os embargos infringentes, nem pela interposic;:ao de re­curso extraordinario ou especial pela acusac;:ao 13

Concedido 0 perdao judicial ern sentenya que para n6s IS condenat6ria (CP, art. 120), nao havendo recurso da acusac;:ao pode ocorrer a prescric;:ao superveniente, contado 0 prazo a partir da data da publicac;:ao. Embora nao haja aplicac;:ao de pena, seria estranho que, na hip6tese, nao ocorresse a prescri­c;:ao. Se, quando imposta a pena, IS possivel a incidencia do § F do art. 11 0, seria injusto que nao tivesse aplicayao quando o Juiz nao impoe sanc;:ao algumal4 • Havendo recurso da acu-

12. 0 STF decidiu nesse senlido (RECrim 103.842, l' Turma, em 10-2-1987, v. un., ReI. Min. Sydney Sanches, DIU, 13 mar. 1987, p. 3883; RTI,121:212).

13. RECrim 113.403, 2'Turma do STF, em 14-8-1987, DIU, 25 set. 1987, p. 20417; RECrim 113.323, Plenano do STF, em 1'-7-1987, v. un., ReI. Min. Celio Borja, DIU, 25 sel. 1987, p. 20416 e 20417; RTI, 125:365; RECrim 114.480, 2' Turma do STF, em 9-2-1980, ReI. Min. Celio Borja, DIU, j2 mar. 1988, p. 4748; RTI, 135:339. A inlerposi9ao de recurso espe­cial nao interrompe 0 curso do prazo prescricional superveniente (REsp 4.150,5' Turma do STJ, RT, 670:354).

14. No sentido do lexlo: ACrim 324.743, 8' Cam. do TACrimSP, em 12-4-1984, V. un., Rei. 0 enlao Juiz Cangu9u deAlmeida, JTACS?, 80:550. o STF, apreciando a reforma penal de 1984 (CP, arts. 107, IX, e 120), entendeu que e condenat6ria a senten'ta que concede 0 perdao judicial (RECrim 105.788-SP, 2'Turma, em 18-6-1985, V. un., ReI. Min. Cordeiro Guerra, DIU, 2 ago. 1985, p. 12056; RTI, 113:1406 e 117:309 e 842).0

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(

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sa .. ao, se improvido, nao h:i impedimento it incidencia do prin­cipio extintivo. Da mesma forma quando provido, mas sem altera .. ao do prazo prescricional. Deve ser considerado 0 pra­zo em face do minimo abstrato da pena privativa de liberdade cominada ao delito.

o § 1 Q nao exige recurso do reu, ao contnmo do antigo panigrafo linico do art. 110 do CP. Entre as duas normas, a nova disposi .. ao e mais benefica. Em face disso, tem efeito retroativo. Assim, aos' fatos cometidos antes da reforma de maio de 1977 nao se exige recurso do reu para a aplica .. ao da prescri .. lio superveniente it condena .. ao, 0 que desde hi muito tem sido reconhecido pela jurisprudencia.

Se imposta pena de multa na senten .. a condenat6ria, sen­do ela a unica abstratamente cominada, nao e preciso aplicar­se 0 disposto no § I Q do art. 110. Incide 0 art. 109 do CP, c/c as arts. 114 e 117, IV (prescri .. ao da pretensao punitiva em face da pena abstrata). Na multa 0 prazo e sempre de dois anos. Assim, interrompido 0 prazo pela senten .. a condenat6ria recorrfvel, recom~a a ser contado 0 bienio. Dois anos depois acorre a prescri .. ao pela pena abstrata, prescindivel a aplica­.. ao do § 1 Q do art. 110 15•

Se imposta medida de seguran .. a ao semi-responsavel (CP, art. 26, paragrafo unico), pode ser declarada a prescri .. ao intercorrente, regulada pela pena substituida ou, se nao pre-

STJ, entretanto, de acordo com a sua Sumula 18, entende que a senten, a que aplica a perdao judicial e declarat6ria da extinc;ao da punibilidade, nilo subsistindo nenhum efeito condenat6rio.

15. AssimdecidiuoSTF(RECrim 101.l96-SP, I'Tumaa, em 6-4-1984, v. un., ReI. Min. Neri da Silveira, DfU, 25 maio 1984, p. 8235; RTf, 111:841; RECrim 102.227 -SP, l' Tumaa, em 8-5-1984, v. un., ReI. Min. Soares Munoz, DIU, 25 maio 1984, p. 8237; RTf, 110:439).

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vista na senten .. a, pelo minimo abstrato da pena cominada ao delito cometido pelo reu. Se quando e aplicada pena e cabfvel tal modalidade de prescri\(ao, seria injusta a proibi .. ao quando imposta medida de seguran .. a, uma vez que ambas sao san­.. 6es penais. Nesse sentido: TACrimSP, ACrim 725.299, RJDTACrimSP, 21:262.

Suponha-se que somente 0 reu, tendo sido condenado a um ana de deten .. ao, apele. Contados da publica .. ao da senten­.. a condenatoria, mais de dois anos depois 0 recurso e julgado, vindo 0 Tribunal a reduzir a pena a oito meses de deten .. ao. Deve ser aplicado 0 disposto no § 1 Q do art. 110 do CP, decla­rando-se a extin .. ao da punibilidade pela prescri .. ao da preten­sao punitiva, considerado 0 bienio entre a publica .. ao da sen­ten .. a condenat6ria e a sessao de julgamento da apela\(ao.

Se 0 Tribunal nao conhece da revisao criminal, restabe­lecendo 0 prazo para a apela .. ao do reu, pode ser aplicado 0

art. 11 0, § 1 Q, do CP, contando-se 0 prazo a partir da data da publica .. ao da senten .. a condenat6rial6•

Absolvido 0 reu em primeiro grau e condenado no Tri­bunal, a partir da data do ac6rdlio proferido em sessao passa a correr 0 prazo prescricional superveniente it condena .. ao, des­de que nao transite em julgado, caso em que teria inicio a pres­cri .. ao da pretensao executoria.

No concurso formal, segundo nosso entendimento, pode ser aplicado 0 § 1 Q ao acrescimo da pena. Caso contrano, a hip6tese seria mais gravosa que 0 concurso material.

o disposto no art. 110, § 1 Q, do CP nao pode ser aplica­do pelo J uiz de primeiro grau.

16. No sentido do texto: RvCrim 119.462,4" Grupo do TACrimSP. em 26-5-1983, m. v., ReI. 0 Juiz Carmona Morales; TACrimSP, HC 375.332, 16" Cam. ReI. Juiz Lopes de Oliveira, RT, 794:606.

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o STF decidiu que, extinta a punibilidade pela prescri­c;:ao superveniente it sentenc;:a condenat6ria, nao fica impedida a aplicac;:ao do art. 77 do CNT (HC 71.984, 2" Turma, DIU, 30 jun. 1995, p. 20517).

10. DESCLASSIFICA<;Ao

Se 0 Juiz, na sentenc;:a, nao aceitando a qualificac;:ao jurf­dica do crime imposta na den uncia, descIassifica a infrac;:ao para outra, 0 prazo prescricional da pretensao punitiva deve ser regulado pela pena maxima corninada a esta, desprezando­se a capitulac;:ao legal da acusac;:ao.

Imagine-se que 0 Promotor de Justic;:a oferec;:a denuncia contra 0 reu por lesao corporal qualificada pelo perigo de vida (CP, art. 129, § 1 Q, II). A pena maxima e de cinco anos de re­clusao. 0 prazo prescricional da pretensao punitiva e, entao, de doze anos (CP, art. 109, III).

C RD SF I I I

A 12 anos • B 12 anos C

C = crime

RD = recebimento da denuncia

SF = sentenc;:a final

A partir da consumac;:ao do delito esta correndo prazo prescricional de doze anos (entre os pontos A e B). Recebida a denuncia antes dos doze anos, comec;:a, no ponto B, a correr

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outra vez prazo de doze anos, no sentido do ponto C (sentenc;:a eventual). Imagine-se que 0 Juiz, quando da prolac;:ao da sen­tenc;:a, verifique a inexistencia de prova pericial a respeito do perigo de vida e desclassifique 0 delito para lesao corporal leve.

Exemplo:

RD SF I I

A 4anos B-3meses-C

! ! leslio corporal grave

RD = recebimento da denuncia

SF = sentenc;:a final

lesao corporalleve

A- B = prazo prescricional da pretensao punitiva

A- C = periodo entre a data do recebimento da denuncia e a da sentenc;:a final

Operada a desclassificac;:ao de tipo mais grave (lesao cor­poral de natureza grave) para figura tfpica de menor gravida­de (lesao corporalleve), 0 maximo da pena abstrata corninada a esta e que devia, desde 0 infcio, regular 0 prazo prescricional da pretensao punitiva. A pena maxima da lesao corporalleve e de um ana de detenc;:ao. A prescric;:ao decorre em quatro anos (CP, art. 109, V). Esse prazo, no exemplo, ja havia decorrido entre a data do recebimento da denuncia (RD) e a sentenc;:a final (SF): 0 Juiz desclassificou 0 delito quatro anos e tres meses depois do recebimento da den uncia. De maneira que no ponto B 0 Estado ja havia perdido a pretensao punitiva. 0

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Juiz, ap6s a desclassifica<;:ao, deve declarar extinta a punibi­lidade pela prescri<;:ao da pretensao punitiva 17. Em breve fun­damenta<;:ao, esclarecendo que em face da inexistencia do lau­do pericial s6 podia subsistir a imputa<;:ao de leslio corporal leve, deve decretar a extin<;:ao da punibilidade18 .

o mesmo ocorre quando a desclassifica<;:ao e feita pelo Tribunal.

11. TERMOS INIClAIS

A prescri<;:ao da pretensao punitiva, de acordo com 0 art. 111 do CP, come<;:a a correr:

a) do dia em que 0 crime se consumou;

b) no caso de tentativa, do dia em que cessou 0 compor­tamento delituoso;

c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a per­manencia;

d) nos de bigamia e nos de falsifica<;:iio ou altera<;:ao de assentamento do registro civil, da data em que 0 fato se tomou conhecido.

o primeiro termo inicial e a data da consuma<;:ao do deli­to (n. I).

Nos delitos materiais, sejam comissivos ou omissivos impr6prios, 0 prazo prescricional tern inicio na data da pro-

17. RTf,116:770.

18. Vide .sobre 0 tema: Jose Frederico Marques, Tratado, cit., v. 3, p. 414. No sentido do texto: ACrim 308.901, 7" Cam. do TACrimSP, em 3-11-1982, v. un., ReI. 0 entao Juiz Djalma Lofrano; TJSP, HC 74.280, RJTJSP,117:487.

so

du<;:ao do resultado, ainda que em outra tenha sido realizada a conduta.

Exemplo:

F M

3-1-1983 2-5-1983 PPP • B A

F = fato

M = morte da vitima

PPP = prescri<;:ao da pretensao punitiva

A _ B = sentido do percurso da PPP

Suponha-se que 0 sujeito, no dia 3-1-1983, com inten­<;:ao de matar, desfira golpes de punhal na vitima, que s6 vern a morrer em 2 de maio. A prescri<;:ao nao come<;:a a correr em 3 de janeiro, mas em 2 de maio.

Nos delitos omissivos a consuma<;:ao ocorre na data da conduta negativa, momenta em que come<;:a a correr 0 prazo prescricional.

Nos de mera conduta, como a viola<;:ao de domicilio (CP, art. ISO), a prescri<;:ao tern seu termo a quo na data do compor­tamento. No caso, na data da entrada ou permanencia ilicita.

No delito culposo de resultado, a prescri<;:ao tern inicio no dia de sua produ\iao. Nos culposos de mera conduta, sej am omissivos ou comissivos, na data do comportamento.

Nos delitos preterdolosos, na data de produ<;:lio do resul­tado.

T r,bulL I Ge JU'\,,";d - E.... 51 Bibliot~ca

Des. Homero Matra

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Na tentativa, no dia de realiza"ao do ultimo ato execu­t6rio (CP, art. Ill, II).

No delito permanente a prescri"ao somente tern inicio na data da cessa"ao do comportamento delituoso (CP, art. Ill, III)!9. Se este persiste apos 0 inicio da persecu"ao criminal, 0

prazo prescricional nao come"a a correr. Para 0 TACrimSP, 0

termo inicial, nao cessada a permam!ncia, corresponde ao dia em que 0 Estado inicia a repressao penal atraves da instaura­"ao do inquerito policial ou do processo (HC 172.556, RT,

634:298). No crime habitual 0 prazo tern inicio na data do ultimo

ato delituos020•

No delito continuado, a prescri"ao tern inicio na data da realiza"ao de cada crime, considerado isoladamente (CP, art. 119).

Exemplo:

E ABC D 5'

I 1 1

l' furto 2' 3' 4' TIPPP

TIPPP TIPPP TIPPP etc.

TIPPP = termos iniciais da prescri"ao da pretensao punitiva

A, B etc. = datas das praticas dos diversos furtos

19. 0 STF entendeu que no crime de quadrilha ou bando, de natureza permanente, 0 prazo prescricional tern inicio na data da pnitica do primeiro delito e nao na data de sua organiza,ao (RTJ, 116:515) e que a data do recebimento da denuncia constitui 0 tenno inicial (HC 71.368, I'Turma, RT, 718:512).

20. RT,608:343.

52

1

Suponha-se que 0 sujeito, em dias seguidos, dentro de pe­queno lapso temporal, subtraia bens da mesma vitima, havendo entre os fatos os requisitos da continua"ao (CP, art. 71, caput).

A prescri"ao deveser regulada em rela"ao a cada delito parcelar, considerado isoladamente. Assim, cada crime tern sua pena regulando 0 respectivo prazo prescricional, desprezado 0 acrescimo de urn sexto a dois ter"os. Dessa forma, no exem­plo dado, cada urn dos cinco furtos tem seu termo inicial de prescri"ao nos pontos A, B etc.

Nos crimes de bigamia e nos de falsifica"ao ou altera"ao de assentamento do registro civil, a prescri"ao tern inicio na data em que 0 fato se tomou conhecido de qualquer autorida­de publica (CP, art. 111, IV)'!. Assim, 0 termo inicial nao se fixa na data do matrimonio incrirninado, na bigamia, nem na data da falsifica"ao ou altera"ao, mas sim naquela em que a autoridade publica, toma ciencia do fato (Juiz de Direito, Pro­motor de Justi"a, Delegado de Polfcia etc.). Justifica-se 0 prin­cipio. Sao crimes em que 0 sujeito cerca-se de cuidados para encobrir a sua ocorrencia. Se a prescri"ao tivesse curso a par­tir de sua consuma"ao, a maioria de seus autores ficaria impu­ne. Nao se exige que 0 prazo tenha infcio no dia em que for­malmente a autoridade publica teve conhecimento do fato delituoso, como, V. g., por interrnedio de notitia criminis dire­tao E suficiente 0 conhecimento presumido do fato por parte da autoridade com fundamento em sua notoriedade ou no usa ostensivo do documento falso".

21. STF, RHC 52.663,DJU, 8jan. 1975, p. 69; RTJ, 55:754e 71:695; RT,410:396; STF, RECrim 113.763, I'Turma,DJU, 18 ago. 1989, p. 13230; RTJ, 131:329; STJ, HC 498, 5'Turma, JSTJ, 23:222 e 229.

22. STF, RT J, 85:240. Contra, exigindo a notitia criminis a autorida­de policial, RTJ, 71:697 e 55:754.

53

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o inciso IV, configurando exce<;:ao 11 regra do termo ini­cial da prescri<;:ao, nao pode ser aplicado a outras hip6teses, como 0 registro de estrangeiro, a transcri<;:ao imobiliaria etc.23.

Tratando-se de crime condicionado, i. e., subordinado a uma condi<;:ao objetiva de punibilidade, a prescri<;:ao come<;:a a correr do dia da verifica<;:ao da condi<;:ao. Isso porque a preten­sao punitiva depende de tal requisito. Daf nao poder prescre­ver antes de sua ocorrencia. Nesse sentido, 0 CP italiano e expresso (art. 158).

Estando a a<;:ao penal dependente de uma condi<;:ao de procedibilidade, a prescri<;:ao come<;:a a correr dos termos do art. 111, nao dependendo de sua verifica<;:ao.

E possfvel que nao se apure a data da consuma<;:ao do crime, fazendo a denuncia referencia somente ao ano de sua pnitica. Nesse caso, e razoavel 0 entendimento de que 0 ter­mo inicial se da no dia 1 Q de janeir024. Se a denuncia se refere ao mes, nao especificando 0 dia, conta-se 0 prazo prescricional a partir do dia 1 Q. Deve ser adotada solu<;:ao que nao prejudi­que 0 reu (TACrimSP, ACrim 822.527, RJDTACrimSP,

25:104).

12. CAUSAS DE AUMENTO E DE DIMINUI<;;:AO DA PENA

As causas de aumento e de diminui<;:ao da pena, previs­tas na Parte Geral ou na Parte Especial do CP, alteram 0 prazo

23. TFR, Rerim 607, DJU, 16 abr. 1980, p. 2458; STJ, EDEDREsp 15.340, 3' Se<;ao, DfU, 22 nov. 1993, p. 24889 (falsidade de registro de ado<;ao).

24. RT,608:353.

54

prescricional da pretensao punitiva. Suponha-se que 0 sujeito cometa urn furto simples (CP, art. 155, caput). 0 prazo prescricional da pretensao punitiva e de oito anos (CP, art. 109, IV). Se, entretanto, incidir a circunstancia do repouso notumo (§ 1 Q), em que a pena e aumentada de urn ter<;:o, 0 prazo passa a ser de doze anos (CP, art. 109, Ill)25.

Ocorrendo causa de aumento de quantidade variavel (ex.: de urn ter<;:o ate metade), incide a que mais agrava a pena (no caso: metade).

o mesmo ocorre com as causas de diminui<;:ao da pena. No auto-aborto consumado (CP, art. 124, I' parte), em que a pena privativa de liberdade e de urn a tres anos de rec!usao, 0 prazo prescricional da pretensao punitiva e de oito anos (CP, art. 109, IV). Cuidando-se de tentativa, entretanto, para efeito de prescri<;:ao a pena deve ser reduzida de urn ter<;:o (CP, art. 14, paragrafo unico), perfazendo 0 maximo abstrato de dois anos. Diante disso, 0 prazo prescricional antes do transito em julga­do da senten<;:a final e de quatro anos (CP, art. 109, V). Assim, ocorrendo causa de diminui<;:ao de quantidade variavel (ex.: de urn ter<;:o a dois ter<;:os), incide a que menos diminui (no caso: urn ter<;:o). Nesse sentido: STJ, RHC 125, RSTJ, 4:1358.

Nao interfere no quantum do prazo prescricional 0 au­mento de pena previsto no concurso formal de crimes e no delito continuado (CP, arts. 70 e 71). Se 0 acrescimo penal incidisse, as hip6teses, tratadas com benignidade pelo estatu­to penal, uma vez que determina a atenua<;:ao da san<;:ao, se­riam mais prejudiciais que 0 concurso material, em que sao somadas, nao havendo nenhum aumento. Assim, para efeito de prescri<;:ao devem ser desprezados os aumentos de urn sex­to ate metade e de urn sexto a dois ter<;:os da pena previstos naqueles dois dispositivos.

25. RTf,95:1050.

55

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13. AGRAVANTES E ATENUANTES

As circunstancias legais genericas, sejam agravantes (CP, arts. 61 e 62) ou atenuantes (art. 65); nao sao consideradas na fixac;:ao do prazo prescricional da pretensao punitiva. Assim, v. g., nenhum efeito tern a reincidencia no computo do lapso extintivo, sendo inaplicavel 0 disposto no art. 110, caput, par­te final, incidente exclusivamente sobre a prescric;:ao da pre­tensao executoria (vide Capitulo IV, item 5). Nesse sentido: TACrimSP, HC 375.332, 16' Cam., reI. Juiz Lopes de Olivei­ra, RT, 794:606.

Ha uma excec;:ao: a menoridade relativa e a idade avan­c;:ada do agente (CP, art. 65, I). Neste caso, 0 prazo prescri­cional e reduzido de metade (CP, art. 115).

14. CONCURSO DE CRIMES E DE NORMAS

Ha tres formas de concurso de crimes:

1') concurso material (CP, art. 69);

2') concurso formal (CP, art. 70); e

3') crime continuado (CP, art. 71).

Nas tres especies cada delito parcelar tern seu prazo prescricional proprio, considerado isoladamente (CP, art. 119).

No concurso material, para efeito de prescric;:ao da preten­sao punitiva, as penas nao sao somadas. Cada crime, conside­rados os termos iniciais proprios, tern seu respectivo praz026 •

26. STF, RTf, 109:539 e 120:82; TAPR, ACrim 33.657, RT, 665:327; Luiz Vidal da Fonseca, Do erro na execu9ao com designios autonomos e prescri9ao, RT, 794:505.

S6

1

CS

Exemplo:

1 ano 2 anos 3 arros 4 anos

I I A B

! ! ! CP, arts. 146, caput, e 163, caput

PPPno tocante ao crime de dana

PPP em rela9ao ao crime de consJ:rangimento ilegaJ

CS = data da pratica dos delitos

A = prazo prescricional da pretensao punitiva (PPPP) em re­lac;:ao ao delito mais leve (dano simples)

B = data em que ocorre a prescric;:ao da pretensao punitiva (PPP) em relac;:ao ao crime mais grave (constrangimento ilegal simples)

Suponha-se que 0 sujeito cometa dois delitos em concur­so material: dana simples (CP, art. 163, caput) e constrangi­mento ilegal simples (CP, art. 146, caput).A pena maxima abs­trata do dana simples IS de seis meses de detenc;:ao; a do cons­traugimento ilegal simples, de urn ano. Essas pen as nao de­vern ser somadas. Cada uma regula 0 prazo prescricional do crime respectivo. Assim, em relac;:ao ao dana simples, como a pena IS inferior a urn ano, 0 lapso prescricional decorre em dois anos (CP, art. 109, VI), iniciando-se na data do delito e termi­nando no ponto A. No tocante ao crime de constrangimento ilegal simples, como a pen a IS igual a urn ano, 0 prazo prescricional da pretensao punitiva (PPPP) decorre em quatto anos (CP, art. 109, V), comec;:ando na data do delito e terrni­nando no ponto B.

57 I,

Page 39: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

No concurso formal, para efeito de prescri,<ao da preten­sao punitiva, cada delito componente conserva sua autonomia, desprezando-se a causa de aumento de pena prevista no art. 70 do CP27.

Exemplo:

CS 4 anos 12 anos

A B C

! ! ! CP, arts. 130, PPP (contagio) PPP (estupro) caput, e 213, caput

CS = crimes de estupro e perigo de contagio venereo

PPP = prescri,<ao da pretensao punitiva

Imagine-se que 0 sujeito, com uma s6 conduta, realize dois crimes: estupro simples (CP, art. 213, caput) e perigo de contagio venereo simples (CP, art. 130, caput). Cada urn dos dois delitos tern seu prazo prescricional isolado. As penas abs­tratas nao sao somadas. A pena maxima do perigo de contagio venereo simples, em sua forma abstrata, e de urn ano de de­ten,<ao. Logo, 0 prazo prescricional da pretensao punitiva (PPP) e de quatro anos (CP, art. 109, V), iniciando-se na data do crime (A) e seguindo ate 0 ponto B. E na pena maxima abstrata de urn ano nao incide 0 aumento de urn sexto ate

27. RTJ, 96:1019; RT, 547:420, 569:339 e 571:414; JTACrimSP, 91:409.

58

J.

metade previsto no art. 70 do CPo No tocante ao estupro, a pena maxima abstrata e de oito anos de reclusao, desprezando-se 0

aumento de urn sexto ate metadedo concurso formal (disposi­tivo citado). Nesse caso, 0 prazo prescricional da pretensao pu­nitiva (PPPP) e de doze anos (CP, art. 109, III), iniciando-se na data do crime e seguindo ate 0 ponto C.

No crime continuado, 0 prazo prescricional da pretensao punitiva e regulado pelo maximo da pena detentiva de cada delito parceJar, considerado isoladarnente, desprezando-se 0

acrescimo penal cominado no art. 71 do CP2'.

Exemplo:

A B c D E

5-4 15-4 20-4

Urn sujeito, em continua,<ao, em periodo inferior a urn mes, comete vanos furtos. Suponha-se que 0 primeiro no dia 5 de abril (A); 0 terceiro, em 15 de abril (C); 0 ultimo (E), em 20 de abril. Para efeito da prescri,<ao da pretensao punitiva, cada crime, seja A, C ou E, tern seu proprio prazo extintivo da punibilidade. As penas abstratas nao sao somadas. Em rela,<ao ao primeiro crime 0 prazo tern inicio em 5 de abril; no tocante ao terceiro, em 15 de abril, e assim sucessivamente. E, em re­la,<ao a cada pena, nao incide a causa de aumento prevista no art. 71 do CPo

No conflito aparente de normas, a prescri,<ao da preten­sao punitiva referente ao fato criminoso especifico, principal e. ao crime-fim abrange a infra,<ao penal generica (principio da especialidade), 0 crime subsidiano (principio da subsidia-

28. STF, RTJ, 50:551 e 96:1018.

59

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riedade) e 0 delito-meio (principio da consun\;ao). Nesse sen­tido, tratando de crime-meio e crime-fim: TJSP, ACrim 135.521, RT, 713:329.

15. CRIMES COMPLEXOS E CONEXOS

Nos termos do art. lOS, I" parte, do CP, aplicavel it espe­cie, hii duas regras a respeito da prescri\;ao da pretensao puni­tiva no tocante ao delito complexo:

I') A prescri\;ao da pretensao punitiva no tocante a cri­me que funciona como elemento tfpico de outro nao se esten­de a este.

o principio se refere it primeira especie de crime comple­xo, em que uma figura tfpica, de menor gravidade objetiva, in­tegra, como elementar, a descri\;ao de oiltra, de maior gravida­de. Nesse caso, a eventual prescri\;ao da pretensao punitiva em rela<;:ao ao delito menor nao alcan\;a a pretensao estatal emer­gente da pratica da infra\;ao maior. Exemplo: 0 sujeito comete crime de extorsao mediante seqiiestro (CP, art. 159), em que 0

delito de seqiiestro ou carcere privado (CP, art. 14S) funciona como elementar. Eventual decurso de prazo prescricional que alcan<;:aria a infra\;ao de menor gravidade, 0 seqiiestro ou car­cere privado, nao se estende it extorsao mediante seqiiestro (crime mais grave). A prescri\;ao e regulada pelo maximo da pena detentiva cominada ao delito mais grave.

2') A prescri<;:ao da pretensao punitiva em rela\;ao a cri­me que funciona como circunstancia qualificadora de outro nao se estende a este.

A regra se relaciona com a segunda forma de crime com­plexo, em que urn tipo penal funciona como qualificadora de outro. Nesse caso, a eventual prescri\;ao da pretensao punitiva

60

.i

no tocante ao crime que participa do tipo como qualificadora nao alcan\;a 0 delito maior. Exemplo: imagine-se que 0 sujeito cometa urn crime de furto qualificado pelo rompimento de obstaculo it subtra\;ao da coisa (CP, art. 155, § 4Q, I), em que 0

delito de dana (CP, art. 163) qualifica 0 fato. A eventual pres­cri\;ao da pretensao punitiva em rela\;ao ao dano, pelo decurso do prazo respectivo, nao alcan\;a 0 delito de maior gravidade, qual seja 0 furto qualificado pelo dano. De modo que 0 prazo prescricional e regulado pelo maximo abstrato da pena priva­tiva de liberdade corninada ao delito mais grave.

Nos crimes conexos, a pena de cada infra\;ao regula 0

prazo prescricional respectivo, considerada isoladamente (CP, art. lOS, 2' parte). Assim, se 0 sujeito, para cometer urn es­telionato, pratica urn homicidio (conexao teleoI6gica), a even­tual prescri\;ao no tocante ao delito-fim (estelionato) nao cau­sa nenhum efeito no prazo prescricional em rela\;ao ao ho­rnicfdio (delito-meio).

No caso de conexao material (real, penal) de crimes, ob­jetos do mesmo processo, a interrup<;:ao da prescri<;:ao em rela­<;:ao a urn deles estende-se aos demais. Assim, as causas interruptivas da prescri<;:ao, cuidando-se de conexao, sao co­municaveis entre os delitos (CP, art. 117, § I Q, 2" parte). Nes­se sentido: TACrimSP, ACrim 440.973, JTACrirnSP, 92:237.

Exemplo: urn sujeito e processado, em uma s6 a<;:ao pe­nal, por dois delitos (estelionato e apropria<;:ao indebita). E condenado pelo estelionato; absolvido da imputa<;:ao de apro­pria<;:ao indebita. A senten<;:a condenat6ria recorrfvel proferida em rela<;:ao ao estelionato, alem de interromper 0 prazo pres­cricional a respeito desse delito, interrompe 0 lapso extintivo no tocante it apropria<;:ao indebita.

Outro exemplo: reu processado por homicidio e lesao corporal, em conexao. A promincia no tocante ao hornicidio

61

(

(

(

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interrompe 0 prazo prescricional relativo itlesiio corporal.

E se nma das infra<;:6es for contraven<;:ao?

Ii aplicavel 0 art. 117, § 1 Q, 2' parte, nos termos do art. 1 Q da LCP, que deterrnina a incidencia das regras gerais do CP as contraven<;:6es. Ex.: reu pronunciado por homicidio e vias de fato (dois sujeitos passivos). A pronuncia em rela<;:iio ao homicidio estende seu efeito interruptivo da prescri<;:iio it con­traven<;:iio (e vice-versa).

Ii necessario que a conexao entre os delitos seja a real, de natureza penal, e niio a formal, de conteudo processual penal.

Quando urn crime e qualificado pela conexao, a eventual prescri<;:iio da pretensiio punitiva no tocante ao delito de me­nor gravidade nao impede, quanta aos outros, 0 reconhecimen­to da qualificadora resultante da conexao (CP, art. 108, parte final). Suponha-se que 0 sujeito, para estuprar a of end ida, mate o seu marido. Responde por dois crimes: estupro e homicidio qualificado pela conexiio teleologic a (CP, art. 121, § 2Q, V). A eventual extin<;:iio da punibilidade pela prescri<;:iio da pre­tensiio punitiva no tocante ao estupro niio impede a qualifica­dora do homicidio.

16. CRIMES ACESSORIOS

Existem delitos, denominados acessorios, que niio exis­tern por si sos, subordinando-se a praticas delituosas anterio­res. Exemplos: recepta<;:ao, favorecimento real e pessoal. Eles funcionam com certos delitos chamados pressupostos. Assim, a recepta<;:ao pressup6e urn delito anterior, que pode ser 0 fur­to. Nesse caso, a eventual prescri<;:ao da pretensiio punitiva em rela<;:iio ao furto niio se estende it recepta<;:iio. Aplica-se 0 dis-

62

1

posto no art. 108, l' parte, do CP, que reza: "A extin<;:ao da punibilidade de crime que e pressuposto de outro" "niio se es­tende a este".

17. IMUNIDADE PARLAMENTAR PROCESSUAL

Os Senadores e Deputados Federais, pelos delitos que niio siio de opiniao (CF, art. 53, caput, com reda<;:iio da Emenda Constitucional n. 35, de 20-12-2001), podem livremente ser process ados, tendo sido extinta a licen<;:a de sua Casa. A Ca­mara Federal ou 0 Senado, contudo, podem sustar 0 andamen­to da a<;:ao penal, ficando suspenso 0 curso da prescri<;:iio da pre­tensiio punitiva (CP, art. 109) (art. 53, § 5Q

, com reda<;:iio da Emenda Constitucional n. 35/2001)29. De modo que, encerrado ou extinto 0 mandato por qualquer motivo, a a<;:iio penal pode ter prosseguimento, desde que ainda presente a punibilidade.

Quanto aos Deputados Estaduais, incidem os mesmos principios.

18. SAN(:AO COMPLEXA

Fala-se em san<;:iio complexa nas hipoteses em que sao impostas penas cumulativas, como deten<;:iio e multa, reclusiio e multa etc. Nesses casos, a pena mais leve, que e a mUlta, segue a sorte da pena mais grave (CP, art. 118). Assim, tratan­do-se de furto, em que 0 legislador comina pena de reclusao e multa (CP, art. 155, caput), 0 prazo prescricional da pretensiio punitiva e regulado pela pena mais grave (a detentiva).

29. Veja 0 tema nas causas suspensivas da prescril$8.o.

63

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19. MULTA

o art. 114 do CP, de acordo com a Lei n. 9.268, de 1"-4-1996, passou a ter a seguinte redaliao:

"A prescriliao da pena de multa ocorrenl: I - em dois anos, quando a multa for a unica cominada

ou aplicada; II - no mesmo prazo estabelecido para a prescriliao da

pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada".

A redaliao antiga rezava que a prescriliao decorria em dois anos quando a pena de multa era a unica cominada, a unica aplicada ou a que ainda nao tinha sido cumprida. Previa os seguintes casos, ocorrendo a prescriliao, quer da pretensao pu­nitiva, quer da pretensao execut6ria, sempre em dois anos: 1 Q) multa como unica sanliao abstratamente cominada, como em algumas hip6teses de contravenliao; 2Q) multa como unica san­~ao imposta na sentenlia condenat6ria; 3Q

) pena de multa que ainda nao havia sido cumprida (pena detentiva cumprida; mul­ta ainda nao paga).

A lei nova preve quatro casos de prescriliao da pretensao punitiva da multa:

1 Q) multa como unica pen a abstratamente cominada: prescriliao em dois anos (inciso I, I' parte);

2Q) multa como unica pena imposta na sentenlia conde­nat6ria: prescriliao em dois anos (inciso I, 2' parte). 0 princi­pio somente incide sobre a prescriliao da pretensao punitiva interrompida pel a sentenlia que s6 imp6s multa (CP, art. 117, IV) e a prescriliao superveniente it sentenlia condenat6ria (CP, art. 110, § 1 Q). Inexiste prescriliao da pretensao execut6ria pe­nal da multa, uma vez que, transitando em julgado a sentenlia condenat6ria, 0 seu valor deve ser inscrito como dfvida ativa da Fazenda Publica, deixando "a execuliao" de apresentar na­tureza penal. Assim, a prescriliao obedece ao art. 144, caput, do CTN e nao ao C6digo Penal;

64

~

3Q) multa cominada aIternativamente com pena privati­

va de liberdade: prazo igual ao estabelecido para a prescriliao da pretensao relativa it pena detentiva (inciso II);

4Q) multa cominada cumulativamente com pen a detentiva: prazo igual ao da pena privativa de liberdade (inci­so II). De notar-se que as hip6teses de cumulaliao ou alternaliao abstrata da pena pecuniaria com a detentiva, no tocante it pres­criliao da pretensao punitiva, ja estavam disciplinadas no art. 118 do CP: "As penas mais leves prescrevem com as mais gra­ves". Penas mais leves sao a multa e as restritivas de direitos. De modo que a inovaliao era desnecessaria, uma vez que a Lei n. 9.268/96 nao revogou 0 art. 118 do CP.

20. IDADE DO AGENTE (MENORIDADE RELATIVA E MAIORIDADE SENIL)

Quando 0 criminoso era, ao tempo da realizaliao da con­duta, menor de vinte e urn anos de idade, sendo maior de de­zoito (menoridade relativa), ou maior de setenta anos (maiori­dade senil) ao tempo da sentenlia ou ac6rdao condenat6rio, 0

prazo prescricional da pretensao punitiva e reduzido de meta­de (CP, art. 115). Sobre essa causa de reduliao do lapso extintivo da pretensao estatal nenhuma influencia tern a eman­cipaliao civil ou 0 casamento do agente.

o sujeito e menor de vinte e urn anos de idade ate 0 dia anterior it data de seu aniversario. De modo que, cometendo 0

delito no dia em que completa os vinte e urn anos, ja e conside­rado maior. Da mesma forma, e maior de setenta anos a partir do primeiro momenta do dia em que completa essa idade30•

30. RT, 616:308. Tell)-se entendido aplicavel a reduc;ao do prazo quan­do 0 condenado cOll)pleta essa idade na penctencia de apelac;ao sua CTJSP, RT, 614:282; TACrimSP, EI 80l.695, RJDTACrimSp, 26:203).

65

(

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Tratando-se de crime continuado, ha jurisprudencia no sentido de que, se 0 sujeito iniciou a serie de delitos parcela­res antes dos vinte e urn anos de idade e a terminou depois, incide a redu9ao do prazo prescricionaP I. Cremos, entretantC>, que a questao deve ser posta em outros termos. Cuidando-se de especie de concurso de crimes, cada delito parcelar da con­tinua9ao tern 0 seu proprio prazo prescricional. Assim, a redu-9ao so ocorre no tocante aos delitos praticados antes dos vinte e urn anos de idade do agente. Nesse sentido, adotando nossa posi9ao: STF, HC 72.690, l"Turrna, ReI. Min. Moreira Alves, DIU, IS mar. 1996, p. 7203.

A menoridade e a idade senil sao circunstancias de carater pessoal e, por isso, incomunicaveis no concurso de pessoas (CP, art. 30). Suponha-se urn furto qualificado por dois sujeitos, sendo urn deles menor de vinte e urn anos de idade. Extinta a punibilidade pela prescri9ao, reduzido 0 prazo em face da meno­ridade, 0 outro reu prossegue respondendo pelo tipo qualificado.

A prova da idade se faz, nos terrnos do art. ISS do Cpp, pela certidao de nascimento, nao bastando 0 RG ou a simples alega9ao nao contestada pela acusa9ao32.

31. RJTJSP, 71:354. Contra: RT, 526:368.

32. E a posi9ao dajurisprudencia, inclusive do STF e 0 STJ (STF, RT, 508:456,518:318,526:387,547:420,561:406 e549:431; RTJ, 78:227, 79:74, 85:1047 e 92:1305; STJ, REsp 1.856,5' Turma, DIU, 28 maio 1990, p. 4738; REsp 2.924, 6 'Tuuna, ISTJ, 17:223; STF, HC 68.466, ReI. Min. Celso de Mello, DIU, 8 mar. 1991, p. 2204; RTJ, 113:1284; HC 73.338, l' Turma, ReI. Min. Celso de Mello, DIU, 19 dez. 1996, p. 51766). Sumula 74 do STJ: "Para efeitos penais, 0 reconhecimento da menoridade do reu requer prova por documento babil". No mesmo sentido, quanto a maioridade senil: STJ, RHC 3.013, 5'Turma, DJU, 25 out. 1993, p. 22503 e 22504. Contra: RT, 539:318,567:343,611:381 e 648:246. No sentido de que a interpreta9ao do art. 155 do CPP nao pode ser muito rigida, admitindo, quando impossivel a demonstra~ao da idade nos termos da lei civil, a prova mediante a apresenta-9ao da carteira de trabalho: TJSp, ACrim 68.631, ReI. Des. Dante Busana, RT, 648:246. Vide sobre 0 assunto a notajurisprudencial no capitulo da prescri9ao retroativa, no item "menoridade relativa".

66

Segundo nosso entendimento, 0 art. 115 do CP nao foi ab-rogado ou derrogado pelo art. 5Q do novo CC, que baixou a maioridade para 18 anos33

• Como ensinavaAnfbal Bruno, apre­ciando a capacidade penal relativa do agente, "de 18 a 21 anos incompletos, a lei nao the reconhece uma maturidade mental conclufda e, embora 0 considere imputavel, concede-the, ern caso de fato definido na lei como crime, a atenuante da meno­ridade. A essa razao de imputabilidade deficiente, embora nao propriamente ausente ou diminuida a ponto de justificar a ex­clusao da pena ou a sua sensivel redu9ao, vern juntar-se 0 in­teresse da ordem jurfdica ern que se poupe 0 menor a a9ao perversora da prisao, encurtando-the quanta possi vel 0 perfo­do do seu intemamento"34. Como decidiu 0 TJSP, 0 delinqiien­te menor nao esta ern condi90es iguais as do delinqiiente adulto para suportar 0 rigor da condena9ao (RT, 427:379). Rogerio Greco observa que, "ern vanas de suas passagens, 0 Codigo Penal se preocupa ern dar urn tratamento diferenciado aos agentes ern razao da idade deles. Cuida de modo especial da­queles que, ao tempo da a9ao ou ornissao, eram menores de 21 anos, uma vez que ainda nao estao completamente amadu­recidos e vivem uma das fases mais complicadas do desenvol­vimento humano, que e a adolescencia. Estao, na verdade, numa fase de mudan9a, saindo da adolescencia e ingressando na fase adulta"3S. Ern face disso, i. e., ern razao de sua "imatu-

33. Vide nosso C6digo Penal anotado; nota ao art. 115, Sao Paulo, Saraiva.

34. Comemarios ao C6digo Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1969, v. 2, p. 135.

35. Curso de direito penal; parte geral, Rio de Janeiro, Impetus, 2002, p. 561.

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ridade", necessitam de "tratamento especial"36. No sentido do fundamento da "imaturidade": Heleno Claudio Fragoso37, Gui­lherme de Souza Nucci38, 0 que vem sendo adotado pelas le­gislalioes modemas. Por essas razoes, 0 art. 115 do CP nao foi alterado pelo art. 52 do novo CC. Subsiste.

21. CAUSAS SUSPENSIVAS

a) Conceito

E possivel que 0 prazo prescricional nao tenha curso du­rante certo perfodo, como se tivesse um intervalo, recomelian­do a correr quando de seu tennino. E 0 que se chama "suspen­sao da prescriliao". Caracteriza-se pela circunstancia de, ces­sada a causa suspensiva, recomeliar a ter curso 0 prazo prescricional aproveitando 0 lapso anteriormente decorrido.

Exemplo: 1 ano 2 anos

f-- 1 ano e 112 ---l

f-----+----t------+I - - -- - -----I

A __ _ PPPP B __ CS __ C - 1 ano- D

A-B = praza prescricional da pretensao punitiva (PPPP)

CS = causa suspensiva

36. Cezar Roberto Bitencourt, C6digo Penal comentado, Sao Paulo, Saraiva, 2002, p. 229.

37. Li,oes de direito penal; nova parte geral, Rio de Janeiro, Forense,

1985,p. 356, n. 339. 38. C6digo Penal comentado, Sao Paulo, Revista dos Tribunais, 2000,

p. 252, n. 78.

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B-C = tempo de suspensao do prazo prescricional

Suponha-se que durante dois anos esteja em curso 0 pra­za prescricional da pretensao punitiva (PPPP), de A a B. No ponto B incide a causa suspensiva (CS). Imagine-se que per­manelia suspenso 0 prazo prescricional durante um ana e meio (de B a C). Tenninado esse perfodo de ano e meio, i. e., cessa­do 0 efeito da causa impeditiva (suspensiva), 0 prazo recomelia a correr no ponto C no sentido do ponto D, aproveitando-se os dois anos anteriores. De modo que, quando chegarmos ao pon­to D, devem ser computados tres anos de prescriliao, con­siderando-se 0 lapso de um ano entre os pontos C e D.

o CP disciplina as causas suspensivas da prescriliao da pretensao punitiva no art. 116: "Antes de passar em julgado a sentenlia final, a prescriliao nao corre:

I - enquanto nao resolvida, em outro processo, questao de que dependa 0 conhecimento da existencia do crime;

II - enquanto 0 agente cumpre pena no estrangeiro".

A enumeraliao legal e taxativa, nao admitindo amplialiao. Assim, nao constituem causas suspensivas da prescriliao 0 in­cidente de insanidade mental do acusado (CPP, arts. 149 e S.)39, o processo administrativo, encontrando-se sobrestada a a(fao penal40 e os embargos de declara(fao (ST], HC 2.802, 5' Tur­ma, DJU, 14 nov. 1994, p. 30963).

b) Questoes prejudiciais

A primeira hip6tese cuida das questoes prejudiciais, obri­gat6rias ou facultativas, disciplinadas nos arts. 92 a 94 do CPP.

39. TACrimSP, RT, 575:398 e 399.

40. Vide art. 1.525 do cc.

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Exemplo: imagine-se que 0 reu, processado por apropriavao indebita (CP, art. 168), alegue na defesa previa que 0 objeto materiallhe pertencia ao tempo do fato, questao que esHi sendo discutida, em a<;ao propria, na esfera civil. 0 Juiz criminal deve suspender 0 andamento da a<;ao penal ate que seja decidida a questao civil, de que depende a existencia da apropria<;ao indebita. Durante 0 prazo da suspensao nao corre a prescri<;ao da pretensao punitiva. Suponha-se que ao tempo do despacho que deterrninou 0 sobrestamento do processo criminal tivesse­mos 0 decurso de dez meses a partir da data do recebimento da denuncia. Cessada a causa suspensiva e prosseguindo a a<;ao penal os seus trfunites, 0 prazo prescricional recome<;a a correr, computando-se aqueles dez meses anteriorrnente decorridos.

Nos crimes contra a honra, a oposi<;ao da exce<;ao da ver­dade nao constitui causa suspensiva da prescri"ao, uma vez que nao se trata de prejudicial civil e sim penal. Nao ha preju­diciais penais. Nesse sentido: TACrimSP, ACrim 595.343, RJDTACrimSP, 8:80.

c) Cumprimento de pena no estrangeiro

o segundo caso cuida do cumprimento de pena no es­trangeiro, circunstancia que impede 0 decurso do prazo prescricional. Nao pode ser extraditado 0 sujeito que esta cum­prindo pena no estrangeiro. Por essa razao, no Brasil nao e justo que corra lapso prescricional extintivo da pretensao pu­nitiva. Se, contudo, 0 agente cumpre pena, por outro motivo, no Brasil, 0 curso prescricional nao fica impedido.

d) Imunidade parlamentar processual penal

Os Deputados Federais e Senadores respondem criminal­mente por delitos que nao sejam de opiniao. Nesses casos, nao

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ha exclusao funcional de pena (imunidade parlamentar mate­rial). 0 fato constitui delito e e punivel seu autor. Os parla­mentares, entretanto, por medida de utilidade publica, tern prerrogativa: quanta aos referidos crimes, aqueles nao alcan­"ados pela indenidade material, embora possam ser livremen­te processados, mesmo sem licen"a de sua Casa, a esta atri­bui-se a iniciativa de suspender 0 andamento da a"ao penal, nos terrnos do art. 53, §§ 3" e 4", com reda<;ao da Emenda Constitucional n. 35, de 20-12-2001. Nessa hipotese, recebida a demincia por crime praticado apos a diploma<;ao, 0 STF de­vera dar ciencia it Casa respectiva, que,· mediante pedido de partido politico nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, podera, ate a senten<;a final, sustar 0 andamen­to da a"ao penal (§ 3"). 0 pedido de susta"ao sera apreciado pelo Senado ou pela Camara Federal no prazo improrrogavel de quarenta e cinco dias, a partir de seu recebimento pela Mesa Diretora (§ 4"). Sustado 0 processo, fica suspenso 0 prazo prescricional da pretensao punitiva enquanto durar 0 mandato do parlamentar (§ 5"). Terrninado 0 exercicio do mandato e cessado 0 efeito da causa suspensiva da prescri<;ao, a a"ao pe­nal e a prescri"ao da pretensao punitiva retomam seu curso, se nao ocorre causa de extin<;ao da punibilidade, levando-se em conta 0 periodo anterior decorrido.

e) Suspenstio condicional do processo

A Lei n. 9.099, de 26-9-1995, que instituiu os Juizados Especiais Criminais, criou mais uma causa suspensiva da prescri<;ao: nao corre 0 curso da prescri"ao da pretensao punitiva durante a suspensao condicional do processo (art. 89, § 6Q

).

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j) Suspensiio do processo

A Lei n. 9.271, de 17-4-1996, deu nova reda~ao ao art. 366 do CPP, determinando 0 caput: "Se 0 acusado, citado por edital, nao comparecer, nem constituir advogado, ficarao suspensos 0 processo e 0 curso do prazo prescricional, poden­do 0 juiz determinar a produ~ao antecipada das provas consi­deradas urgentes e, se for 0 caso, decretar prisao preventiva, nos termos do disposto no art. 312" (do CPP).

o legislador criou mais uma causa suspensiva (ou impe­ditiva) da prescri~ao. Sobrestado 0 processo, 0 prazo pres­cricional cess a 0 seu curso ate 0 comparecimento do acusado, data em que novamente recome~a a correr (art. 366, § 2Q

),

computando-se 0 tempo anterior. Assim, cessada a suspensao, a prescri~ao prossegue, levando-se 'em conta, no calculo, 0

tempo anteriormente decorrido. Suponha-se que urn anD ap6s o recebimento da denuncia, causa interruptiva do prazo prescricional (CP, art. 117, I), 0 processo venha a ser suspenso. Dois anos depois, comparecendo 0 reu, a a~ao penal tern se­guimento. 0 anD anterior a suspensao deve ser computado, prosseguindo 0 decurso do tempo prescricional. 0 termo final do prazo de suspensao e a data de comparecimento do acusa­do, pessoalmente ou por intermedio de defensor, e nao a do despacho judicial que determina 0 prosseguimento do feito, se posterior.

o legislador simplesmente determina que 0 decurso do tempo prescricional fica suspenso. Nao limita 0 prazo. Sobre o tema, ha vanas correntes: I') a lei nao fixou limite, de modo que 0 termo final do prazo suspensivo ocorre na data em que 0

reu comparece em jUlZO, qualquer que seja 0 tempo decorrido (Alberto Silva Franco, Suspensao do processo e suspensao da prescri~ao, Boletim do Instituto Brasileiro de Ciencias Crimi­nais, Sao Paulo, 42:2, jun. 1996); 2') deve ser considerado 0

maximo abstrato da pena privativa de liberdade cominada a in-

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fra~ao penal. Nesse sentido: Fernando da Costa Tourinho Neto, Cita~ao. Revelia. Suspensao do processo e da prescri<;:ao (CPP, art. 366), Revista do Ministirio Publico, Rio de Janeiro, 6:59, juLldez. 1997; Edson Alfredo Smaniotto, Revelia e prescri~ao, Enfoque Jurfdico, Suplemento do Informe TRF 1" Regiiio, 3:9; 3') leva-se em conta 0 mfnimo abstrato da pena privativa de li­berdade cominada; 4') tem-se em vista 0 limite maximo do pra­zo prescricional previsto em nossa legisla<;:ao, que e de vinte anos (CP, art. 109, I); 5') 0 limite temporal da suspensao e 0

mesmo da prescri<;:ao (CP, art. 109), em aten~ao ao mtnimo abs­trato da pena privativa de liberdade; 6') 0 limite extremo supe­rior da suspensao da prescri<;:ao e 0 mesmo do art. 109 do Cp, regulado pelo maximo da pena privativa de liberdade cominada a infra<;:ao penal; 7') 0 processo pode ficar suspenso ate trinta anos, limite maximo do cumprimento da pena privativa de li­berdade (CP, art. 75, caput).

Entendemos que 0 prazo de suspensao da prescri<;:ao nao pode ser eterno. Permitindo-se a suspensao da prescri<;:ao sem limite temporal, esta, nao comparecendo 0 n!u em juizo, ja­mais ocorreria, encerrando-se 0 processo somente com a sua morte, causa extintiva da punibilidade (CP, art. 107, I). Nao se trata, como se tern afmnado, de haver 0 legislador, aceita a tese da etemidade, criado indevidamente mais ·uma causa de imprescritibilidade. As hip6teses em que se profbe a prescri­~ao encontram-se constitucionalmente previstas em enuncia­<;:ao taxativa (CF, art. 5Q

, XLII e XLIV), nao admitindo em nenhum momento 0 decurso do prazo extintivo da pretensao punitiva. No caso em tela, entretanto, a prescri<;:ao come<;:a a correr a partir da data do fato, interrompendo-se pelo recebi­mento da denuncia ou .queixa e suspendendo-se em face da revelia. Nao se pode, pois, falar em "imprescritibilidade". Tra­ta-se de mera causa impeditiva ou suspensiva da prescril,'ao. Se, em face do crime, 0 Estado perde, pelo decurso do tempo, a pretensao punitiva, nao e 16gico que, diante da revelia, pudesse

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exerce-la indefinidamente. Por isso, entendemos que 0 limite da suspensao do curso prescricional corresponde aos prazos do art. 109 do CP, considerando-se 0 maximo da pena privativa de li­berdade imposta abstratamente. Nesse sentido: Fernando da Costa Tourinho Neto, Citac;:ao. Revelia. Suspensao do processo e da prescric;:ao (CPP, art. 366), Revista 'do Ministerio Publico, Rio de Janeiro, 6:59, jul.ldez. 1997. Assim, p. ex., suspensa ac;:ao penal por crime de lesao corporalleve (CP, art. 129, ca­put), 0 impedimento do curso prescricional tern 0 termo maxi­mo de quatro anos (CP, art. 109, V), i. e., 0 prazo prescricional da pretensao punitiva s6 pode ficar suspenso ate quatro anos. Nesse limite, recomec;:a a ser contado 0 lapso extintivo, que e de quatro anos, considerada a pena maxima abstrata, compu­tando-se 0 tempo anterior a suspensao. Cremos constituir urn criterio justo. Se, para permitir a perda da punibilidade pela prescric;:ao, 0 legislador entendeu adequados os prazos do art. 109, da mesma forma devem ser apreciados como justos na disciplina da suspensao do prazo extintivo da pretensao puni­tiva. Nesse sentido, adotando nossa tese: STJ, RHC 7.052, 5' Turma, Rei. Min. Felix Fischer, DIU, 18 maio 1998, p. 114; Revista Iurfdica, Porto Alegre, Sfntese, 249:100, jul. 1998.

Terminado 0 prazo de suspensao da prescric;:ao, recome­c;:a a correr, levando-se em conta 0 maximo abstrato da pena privativa de liberdade e 0 tempo anteriormente decorrido. A ac;:ao penal, entretanto, continua suspensa.

Se cominada abstratamente somente pena de multa, como em algumas contravenc;:oes, considera-se 0 prazo de dois anos (CP, art. 114, I). Assim, a prescric;:ao pode ficar suspensa ate dois anos. Encerrado 0 bienio, recomec;:a a ser contado 0 peri­odo prescricional, tambem de dois anos, computando-se 0 tem­po anterior a suspensao.

A norma do art. 366, caput, do CPP, na parte em que determina a suspensao do processo, tern natureza processual

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1

penal, uma vez que disciplina 0 "desenvolvimento do pro­cesso" (Manzini, Trattato di diritto processualepenale, v. 1, p. 68 e 69). Quando, entretanto, preve a suspensao do prazo prescricional, e de direito penal material. Temos, entao, uma disposic;:ao mista, impondo princfpios de direito substantivo e processual. Quando is so ocorre, prevalece a natureza pe­nal. E assim convem, uma vez que a suspensao do processo gera, fatalmente, 0 impedimento do decurso prescricional. 0 juiz, nos termos da nova legislac;:ao, sobrestando 0 processo, provoca automaticamente a suspensao do lapso prescricional, proibindo que 0 feito se dirija a extinc;:ao da punibilidade. Nao se pode, pois, dissociar as duas formas de suspensao, a do processo e a da prescric;:ao, para se conferir a lei inciden­cia imediata no que tange ao sobrestamento da ac;:ao penal (CPP, art. 2Q) e efeito irretroativo na parte em que impoe a suspensao da prescric;:ao (CP, art. 2Q, paragrafo unico). A sus­pensao do prazo prescricional em face do sobrestamento da ac;:ao penal era desconhecida em nossa legislac;:ao. Logo, 0 art. 366, nesse ponto, e mais gravoso que 0 ordenamento legal anterior (novatio legis in pejus). Deve ser, por isso, irretroativo por inteiro, nao se aplicando as infrac;:oes penais cometidas antes da vigencia da lei (CF, art. 5Q

, XL; CP, art. 2Q, paragrafo unico). De modo que, praticada infrac;:ao penal a partir da vigencia da Lei n. 9.271/96 (17-6-1996), se 0 reu, citado por edital, nao comparecer ao interrogat6rio, deixan­do de constituir defensor, ficarao suspensos 0 processo e a prescric;:ao da pretensao punitiva. As infrac;:oes penais anteri­ores, entretanto, nao sao atingidas pela lei nova. Nesse senti­do: STJ, HC 5.546, 6' Turma, DIU, 16 jun. 1997, p. 27403; RHC 6.406, 6' Turma, DIU, 23 jun. 1997, p. 29194; HC 5.677,6" Turma, DIU, 23 jun. 1997, p. 29191; RHC 6.372, 6' Turma, DIU, 30 jun. 1997, p. 31083; REsp 129.084, 6' Turma, DIU, 8 set. 1997, p. 42636; RHC 6.353, 5' Turma,

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DJU, 29 set. 1997, p. 48236; RHC 6.520, 5' Turma, DJU, 29 set. 1997, p. 48237; REsp 129.083,5' Turma, DJU, 6 out. 1997, p. 50035. 0 conteudo processual penal da norma, em­bora mista, impede que seja aplicada aos processos findos. Nesse sentido, analisando os arts. 88 e 91 da Lei n. 9.099/ 95: Ada Pellegrini Grinover, Direito intertemporal e ambito de eficacia da Lei dos luizados Especiais Criminais, Boletim do Instituto Brasileiro de Ciencias Criminais, Sao Paulo, 35:4 e 5, nov. 1995.

22. CAUSAS INTERRUPTlVAS

a) Conceito

Enquanto na suspensao da prescri~ao 0 periodo decorrido antes de sua incidencia nao fica cancelado, como se fosse urn parentese em seu percurso, as causas interruptivas tomam sem efeito temporal 0 lapso anteriormente percorrido. Em face elisso, novo prazo recome~a a correr, por inteiro (CP, art. 117, § 2").

Exemplo:

TI ClP L

A--- 3 anos B 4 anos

Tl = termo inicial do prazo prescricional

ClP = causa interruptiva da prescri~ao

___ C

Suponha-se que no ponto A tenha inicio prazo pres­cricional de quatro anos. Tres anos depois, no ponto B, ocorre

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uma causa interrupti va. 0 prazo anteriormente decorrido, de tres anos, e cancelado, iniciando-se outra vez, no ponto B, ou­tro prazo de quatro anos, na dire~ao do ponto C. Assim, inter­rompendo-se a prescri~ao, na mesma data inicia-se 0 mesmo prazo, considenido por inteiro.

Na suspensao da prescri~ao nao ha deslocamento do ter­mo inicial, uma vez que 0 lapso anterior e computado. Na inter­rup~ao, entretanto, desloca-se 0 termo a quo para a data da ocor­rencia da causa que aniquila 0 tempo anterior. 0 novo prazo tern inicio, pois, na mesma data da ocorrencia da causa interruptiva, nos termos do art. 10 do CP (incluido 0 elia do come~o).

Nos termos do art. 117 do CP sao causas interruptivas da prescri~ao da pretensao punitiva:

1') 0 recebimento da denuncia ou da queixa; 2') a pronuncia;

3') a decisao confumat6ria da pronuncia; e

4') a senten~a condenat6ria recorrivel.

A disposi~ao e taxativa, nao admitindo amplia~a041.

b) Recebimento da denuncia ou queixa

o primeiro obstaculo interruptivo e 0 recebimento da denuncia ou da queixa, nao seu oferecimento pelo Ministerio Publico ou querelante.

41. Deeidiu 0 STF que a deeisao no pedido de extradi,iio nao eonsti­tui causa interruptiva da prescri,ao (HC 60.802-BA, Plenano, em 20-4-1983, v. un., ReI. Min. Djaci Falcao, DJU, 3 jun. 1983, p. 7879; RTJ, 107: 150). 0 eleneo do art. 117 e exaustivo (STF, HC 69.798, 2' Turma, ReI. Min. Marco Aurelio, RT, 699:424). Nem os embargos de dec1aral'iio (STJ, HC 2.802, 5' Turma, DJU, 14 nov. 1994, p. 30963; TACrimSP, ACrim 786.009, RT, 712:424).

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Exemp10:

B A I ano RD 2 anos

I I C D

2 anos

1-----+------ I I ano E

C = data do crime

RD = recebimento da denuncia

Imagine-se que 0 sujeito, no ponto A, tenha cometido urn de1ito de ame~a (CP, art. 147), a que 0 1egis1ador comina a pena maxima abstrata inferior a urn ano de deten«ao. 0 prazo prescriciona1 da pretensao punitiva e de dois anos (CP, art. 109, VI). A partir do ponto A, data da consuma«ao do crime, esta correndo 0 prazo de dois anos, findos os quais 0 Estado perde a pretensao punitiva (no ponto B). Ocorre, entretanto, que urn ano e meio depois da consuma«ao do crime, no ponto D, a denuncia vern a ser recebida (RD). A prescri«ao ficou inter­rompida, cance1ado 0 tempo anteriormente decorrido (urn ana e meio). Diante disso, na mesma data do recebimento da de­nuncia, no ponto D, recome«a a ser contado outra vez 0 prazo de dois anos, no sentido do ponto E.

A interrup«ao ocorre na data da pub1ica«ao do despacho que recebe a denuncia ou a queixa, i. e., no dia em que 0 es­crivao recebe 0 processo com a decisao42.

42. No sentido do texto: TJSP, RT, 298:300. Contra, em termos de que a causa interruptiva ocorre na data do despacho e nao na em que e publicado: STF, RT, 472:410.

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o recebimento de denuncia posteriormente anu1ada nao interrompe 0 prazo prescricional. Nesse sentido: STJ, REsp 13.461,5' Turma, DJU, 4 nov. 1991, p. 15696, RT, 684:382; STF, HC 69.047, l' Turma, DJU, 24 abr. 1992, p. 5377, RTJ, 141:192. Oferecida nova denuncia, e de seu recebimento que se conta 0 prazo prescricional. A ratifica«ao ou retifica«ao de seus termos equiva1e a uma nova denuncia (STJ, RHC 6.488, 6'Turma,j. 11-12-1997, DJU, 23 mar. 1998, p. 169.

Anu1ada a a«ao penal em face de incompetencia do JUlzo e oferecida nova denuncia, e na data do recebimento desta que se interrompe 0 prazo prescricional43

Se a denuncia ou a queixa vem a ser recebida pelo Tribunal em processo de sua competencia originma ou diante de recurso em sentido estrito da rejei«ao em prirneiro grau, 0 prazo prescri­cional e interrompido na data da sessao de ju1gamento. Havendo embargos infringentes, 0 ac6rdao que os ju1ga, mantendo 0 re­cebimento da denuncia ou queixa, nao tern efeito interruptivo. A interrup«ao ocorre quando do ju1gamento do recurso em sen­tido estrito, i. e., quando do recebimento das pe«as referidas44•

43. Inq. 159, Plenano do STF, em 12-11-1986, DJU, 5 dez. 1986, p. 24079; RTJ, 124:403; HC 64.290, 2'Turmado STF, em 18-12-1986,DJU, 20 fev. 1987, p. 2179; RT, 620:400 e RTJ, 120:622. Entendeu 0 STF, antes da CF de 1988, que, processado 0 reu no juizo singular e eleito Deputado Federal, 0

anterior recebimento da demlncia, diante da incompetencia absoluta, provo­cando a nulidade Oll ineficacia dos atos decis6rios, toma inaplicavel 0 art.

117, I, do CP, i. e., 0 anterior recebimento da denuncia perde 0 efeito interruptivo da prescric;ao CRT, 615:353). Essa interpretac;ao e discutivel, urna vez que a incompetencia absoluta surgiu em face de causa superveniente (a eleic;iio do reu como Deputado Federal). A situa<;iio e diferente daquela em que, desde 0 infcio da ~ao penal, 0 juizo era absolutamente incompetente.

44. RHC 65.676, I'Turma do STF, em 15-12-1987, v. un., ReI. Min. Octavio Gallotti, DJU, 26 fev. 1988, p. 3193; REsp 11.195, 5' Turma do STJ, DJU, 16 set. 1991, p. 12645.

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Se a denuncia e aditada para corres;ao de irregularidades, nos terrnos do art. 569 do CPP, sem descris;ao de fato novo, nao hii interrups;ao da prescris;ao.

Havendo descris;ao de fato criminoso novo, seu' recebi­mento tern efeito interruptivo. Nesse sentido: TACrimSP, ACrim 518.273, RfDTACrimSP, 4:132. De ver-se, entretanto, que a interrups;ao so diz respeito ao fato novo contido no adi" tamento, nao em relas;ao ao descrito na denuncia.

Nao hii interrups;ao do prazo prescricional na hip6tese de o juiz receber aditamento do Ministerio Publico, nos terrnos do art. 384, pariigrafo unico, do CPP, para efeito de alterar sirn­plesmente a capitulas;ao legal do fato para forma mais severa­mente apenada (TACrimSP, HC 227.304, RT, 693:351).

Havendo aditamento da denuncia para inclusao de co­autor ou participe do crime, aplica-se 0 art. 117, § 12, I' parte. o recebimento da denuncia contra 0 primeiro co-autor ou par­ticipe interrompe 0 prazo prescricional, estendendo seu efeito ao outro. De modo que 0 recebimento do aditamento nao tern efeito interruptivo (nesse sentido: STF, HC 67.888, RT, 655:384; TACrimSP, RvCrim 223.730, RT, 693:350). Contra, no sentido interruptivo: TACrimSP, ACrirn 516.193, RfDTA­Crim'SP, 2: 128; ACrim 518.273, RfDTACrimSP, 4: 132.

Na a<;:ao penal por crime contra a honra (CPP, art. 519), a interrup<;:ao da prescri<;:ao nao ocorre com 0 despacho que de­termina a intima<;:ao das partes para a audiencia de reconcilia­<;:ao e sim quando, frustrada esta, a denuncia vern a ser recebi­da (STF, HC 70.592, I' Turrna, DfU, 17 mar. 1995, p. 5789).

c) Pronuncia e sua conjirmQl;iio

A pronuncia tambem interrompe 0 prazo prescricionai (CP, art. 117, II). Nos processos da competencia do Juri (CPP,

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art. 74, § 12), "se 0 Juiz se convencer da existencia do crime e de indfcios de que 0 reu seja 0 seu autor, pronunciii-io-ii, dau­do os motivos do seu convencimento" (CPP, art. 408, caput). A decisao, que remete 0 reu a julgamento pel0 Tribunal do Juri, tern efeito interruptivo da prescri<;:ao na data de sua pu­blica<;:ao (CPP, art. 389), i. e., na data em que 0 juiz entrega os autos ao escrivao. Nesse sentido: STF, HC 73.242, 2' Turrna, DfU, 24 maio 1996, p. 17413 e 17414. Sendo pronunciado por tentativa de homicidio e vindo a vitima a falecer, nova pro­nuncia deve ser proferida. Neste caso, a primeira deve ser con­siderada inexistente, produzindo apenas a segunda efeito interruptivo da prescri<;:ao (TJSP, RvCrim 139.149, fTf, 150:311 e RT, 708:296). Vindo 0 reu a ser absolvido no julga­mento popular, ainda assim a pronuncia anterior conserva esse efeit045

• Se 0 reu e impronunciado (CPP, art. 409) ou absolvi­do sumariamente (CPP, art. 411), vindo a ser pronunciado pel0 Tribunal em face de recurso oficial ou voluntiirio, 0 acordao que 0 pronuncia tambem interrompe a prescri<;:ao.

Havendo desclassifica<;:ao na fase da pronuncia (CPP, art. 408, § 42), ha dois principios:

I Q) se 0 Juiz desclassificar 0 crime para outro, da com­petencia do Juri, pronunciando 0 reu, a decisao interrompe a prescris;ao46

• Exemplo: de homicidio para infanticidio;

22) se 0 Juiz desclassificar 0 crime para outro, da com­petencia do Juiz singular (CPP, art. 410), tal decisao nao tern efeito interruptivo da prescri<;:ao. Nesse sentido: TJSP, ACrim 90.491, RfTfSP, 132:498; TACrimSP, ACrim 922.809, RT, 725:595.

45. RT,513:427.

46. He 61.491, 2'Turmado STF, em 3-2-1984, Y. un., ReI. Min. Djaci Falcao, DJU, 24 fev. 1984, p. 2204.

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Da mesma forma, se 0 Juri desclassifica 0 delito para outro, da competencia do Juiz singular, entendemos que a pro­nuncia, impr6pria para 0 rito processual do crime desclassifl­cando, nao tern efeito interruptivo da prescri<;:a047

• 0 STJ, po­rem, na Sumula 191, adotou posi<;:ao contrana: "A pronuncia e causa interruptiva da prescri<;:ao, ainda que 0 Tribunal do Juri venha a desclassiflcar 0 crime".

o ac6rdao confmnat6rio da pronuncia tarnbem tern efei­to de interromper 0 lapso prescricional (CP, art. 117, lll). Ocor­re quando improvido 0 recurso em sentido estrito interposto pela defesa (CPP, art. 581, IV). 0 momenta interruptivo ocor­re na data do julgamento do recurso.

d) Sentem;a condenatoria recorr(vel

A senten<;:a condenat6ria recorri vel tambem possui efeito de interromper 0 prazo prescricional da pretensao punitiva (CP, art. 117, IV), ainda que parcialmente reform ada pelo Tribunal (STF, HC 70.949, I' Turma, DJU, 17 jun. 1994, p. 15709). Isso ocorre na data em que 0 escrivao recebe 0 processo, com a senten<;:a, do Juiz, i. e., na data de sua publica<;ao (CPP, art. 389),

47. TACrimSP, ACrim 522.665, JTACrlmSP, 97:311; TARS, ACrim 296036924,4' Cam.,j. 13-11-1996, RT, 739:694. Para 0 STF, entretanto, tal desclassifica~ao nao impede 0 efeito interruptivo da pronuncia (HC 61.491, 2'Turma, em 3-2-1984, v. un., ReI. Min. Djaci Falcao, DJU, 24 fev. 1984, p. 2204; RHC 63.166-RJ, I'Turma, em 16-8-1985, m. v., ReI. Min. Neri da Silveira, DJU, 27 set. 1985, p. 16610 e 16611; RTJ, 124:969). No mesmo sentido:TJSP, RECrim 70.192, RT, 650:264; STJ, RHC 666, RT, 660:245, e JSTJ, 18:233; STJ, REsp 11.813,5' Turma, DJU, 7 out. 1991, p. 13980; STJ, RHC 2.871, 6' Torma, DJU, 11 out. 1993, p. 21342. No sentido da nossa posi~ao: JTACrimSP, 68:477 e 92:303; TJSP, HC 74.280, RJTJSP, 117:487 e 174:301.

82

independentemente do registro e outras diligencias48• No mes­

mo sentido: STJ, HC 9.311, 5' Turma, DJU, 28 fey. 2000, p. 95. Assim, se 0 escrivao, recebendo a senten<;:a e a lan<;:ando nos autos, somente dias depois efetua as diligencias de regis­tro, intima<;:ao etc., certificando posteriormente que publicou a decisao, vale, para efeito interruptivo, aquela data inicial.

Havendo embargos de declara<;:ao (CPP, art. 382), a deci­sao que esclarece a duvida ou contradi<;:ao nao interrompe 0 prazo prescricional.

Vindo a senten<;:a condenat6ria a ser reformada pelo Tri­bunal em grau de recurso, absolvendo 0 reu, ela conserva seu efeito interruptivo da prescri<;:ao, Pode ocorrer interposi<;:ao de recurso especial ou extraordinano do ac6rdao absolut6rio. Ele nao tern efeito de interromper a prescri<;:ao, de modo que 0 lap­so continua a correr tendo como termo inicial a data da publi­ca<;:ao da senten<;a condenat6ria.

Anulada, a senten<;:a condenat6ria perde 0 efeito interrup­tivo. Nesse sentido: STJ, RHC 6.488, 6'Tunna,j. 11-12-1997, DJU, 23 mar. 1998, p. 169. E como a nova senten<;:anaopodeni aplicar pena mais grave que a imposta na anterior, uma vez proibida a reformatio in pejus indireta, a prescri<;:ao da preten­sao punitiva, em seus periodos entre a consuma<;:ao do crime e o recebimento da denuncia ou entre esta data e a publica<;:ao da nova senten<;:a, deve ser regulada pelo quantum da primeira pena (da senten<;a anulada). Este e agora 0 maximo que podera ser imposto. L6gico, entao, que se aplique aqueles periodos pres-

48. HC 52.118, 2' Turma do STF, DJU, 20 set. 1974, p. 6803; STJ, REsp 9.484, 5'Turma, DJU, 4 nov. 1991, p. 15695. Vide RJTJSP, 106:512 e 136:470. Inexistindo termo de publica~iio e ignorando-se a data em que 0

escrivao recebeu a decisao: prevalece a data do registro da senten~a (TACrimSP, ACrim 509.139, RJDTACrimSP, 2: 129).

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cricionais49. Por isso, ela pode ser desde logo declarada no pro­prio acordao que anulou a senten<;:a. Ha, contudo, divergencia jurisprudencial a respeito do momenta em que a prescri<;:ao pode ser declarada: se no proprio acordao anulatorio ou na nova

senten<;:a50•

Confirmada pelo Tribunal a senten<;:a condenatoria, 0

acordao nao tern efeito de interromper 0 prazo prescricionaI'l. Ao contrano do acordao que mantem a pronuncia, ao que man tern a condena<;:ao nao se aplica 0 disposto no art. 117, IV,

do CPo o acordao que, em recurso da acusa<;:ao, agrava a pena,

nao interrompe 0 prazo prescricional. Trata-se de acordao con­

firmat6rio e nao condenat6rio52.

49. STF, I'Turma, em 26-11-1985, DJU, 14 fev. 1986, p. 1207 e

1208; RTJ, 116:955. 50. Veja estudo a respeito do item Reformatio in pejus no tema da

prescri\=ao retroativa. 51. RT, 544:384; JTACrimSP, 100:66; RJDTACrimSP, 14:154; STF,

HC 68.321, DJU, 8 fev. 1991, p. 743; TJSP, HC 91.762, RJTJSP, 125:557; STJ, REsp 9.158, 5' Turma, DJU, 10 jun. 1991, p. 7857; REsp 10.187,6' Turma, RT, 679:415; TACrimSP, EI 625.085, RT, 686:344; STJ,AR 15.844, 6' Turma, RT, 688:377; STF, HC 71.007, 2' Turma, DJU, 6 maio 1994, p. 10471. Pouco importa se por unanimidade au maioria (RT, 705:308). Nao ha tambem interrujJ9ao no caso de substitui,ao da pena detentiva por multa (RDJTACrimSP, 5:34) ou redu~ao da pena (STF, HC 71.313, 2'Turma, DJU,

16 set. 1994, p. 24279). 52. Ha posi~ao contniria, no sentido de que 0 acordao agravador da

pena interrompe 0 1apso prescriciona1 (TACrimSP, ACrim 448.149, RT, 636:301; EI 448.149, JTACrimSP, 97:367; STF, HC 67.944, I'Turma, DJU, 20 mar. 1992, p. 3321, RT, 689:422 e RTJ, 137:690; STJ, RHC 5.456, 5'Turma, DJU, IQ jul. 1996, p. 24060), como tambem a que confere nova tipifica,ao ao fato (STJ, RHC 5.456, 5'Turma, DJU, 12 jul. 1996, p.

24060).

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Se a condena<;:ao surge em segundo grau, em face de re­curso voluntano da acusa<;:ao, ou oficial, 0 acordao condena­torio interrompe a prescri<;:ao na data do julgamento, pouco im­portando se uniinime ou, nao-unanime, sujeito a embargos infringentes CRT, 705:308). Assim, absolvido em primeira ins­tiincia e condenado 0 reu no Tribunal, interrompe-se a pres­cri<;:ao na data da sessao em que houve 0 julgamento. b CP emprega a expressao "senten<;:a condenatoria" no sentido de "decisao", nao havendo, pois, diferen<;:a entre aquela e "acor­dao condenatorio"53.

Condenado 0 reu'por contraven<;:ao e, em face de recurso da acusa<;:ao, desclassificada pelo Tribunal para crime, a sen­ten<;:a condenatoria guarda 0 efeito interruptivo da prescri<;:ao.

Submetido 0 reu a novo julgamento em face de protesto (CPP, art. 607), a senten<;:a condenatoria anterior mantem seu efeito interruptivo da prescri<;:ao.

A interposi<;:ao de recurso extraordiniirio ou especial nao interrompe a prescri<;:ao da pretensao punitiva54

Se 0 Juiz aplica 0 perdao judicial, sendo condenatoria a senten<;:a concessiva, interrompe-se 0 prazo da prescri<;:ao55. De

ver-se, entretanto, que nao M interrup<;:ao para a posi<;:ao que

53. STF, RT, 580:431 e 617:406; STJ, REsp 9.158, 5' Turma, DJU, 10 jan. 1991, p. 7857; STJ, REsp 117 .081, 6'Turma,j. 24-6-1997, p. 37922. Havendo adiamento, interrompe-se 0 praza na data da ultima sessilo (TACrimSP, RCrim 488.685, JTACrimSP, 94:522).

54. STF, P1emirio, RECrim 104.500, 15-5-1985, RTJ, 128:279; RECrim 101.478, 2' Turma, em 21-3-1985, DJU, 28 jun. 1985, p. 1068l"; RTJ, 116:1100; RECrim 104.983, DJU, 28 jun. 1985, p. 10684; RECrim 113.403,2' Turma, em 14-8-1987, DJU, 29 set. 1987, p. 20417; RECrim 104.961,2' Turma, em 25-9-1987, v. un., ReI. Min. Celio Borja, DJU, 30 out. 1987, p. 23811 e 23812; RTJ, 124:1138; RTJ, Jl6:329.

55. STF, RECrim 104.969, 2' Turma, em 20-8-1985, v. un., ReI. Min. Francisco Rezek, DJU, 6 set. 1985, p. 14876; RTJ, 116:329 eRT, 620:310.

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entende nao possuir a sentenc;a que 0 aplica carater condena­torioS6 . Assim, para 0 STJ, a sentenc;a que aplica 0 perdao ju­dicial e declaratoria da extinc;ao da punibilidade, nao subsis­tindo nenhum efeito condenatorio (Siimula 18).

Havendo embargos infringentes, 0 ac6rdiio que mantem a condenac;ao nao tern efeito interruptivo57•

No concurso de pessoas (CP, arts. 29 e 30), seja co-auto­ria ou participac;ao, 0 efeito interruptivo da prescric;ao da pre­tensao punitiva em relac;ao a urn dos participantes se estende aos demais, salvo a reincidencia e 0 infcio ou a continuac;ao do cumprimento da pena (CP, art. 117, § 1 Q, F parte).

Exemplo: dois sujeitos, em co-autoria, cometem urn de­lito de furto. Urn e .condenado; 0 outro, absolvido. A sentenc;a condenat6ria estende seu efeito interruptivo da prescric;ao ao reu absolvido. Nesse sentido: STF, HC 71.552,2' Turrna, D1U, 18 ago. 1995, p. 24896. Razao: evitar que a absolvic;ao preca­ria, em face de eventual recurso provido da acusac;ao, venha a acarretar tratamento diferenciado (STF, HC 71.552, 2' Turrna, ReI. Min. Marco Aurelio, D1U, 18 ago. 1995, p. 24896).

Outro exemplo: homicfdio cometido por dois sujeitos, em co-autoria. Processados, urn e pronunciado; 0 outro, irnpronun­ciado. 0 Promotor de Justic;a recorre. A promincia interrompe o prazo prescricional em relac;ao ao reu impronunciado.

Quanto ao efeito da interrupc;ao da prescric;ao nos delitos conexos, remetemos 0 leitor ao tema da prescric;ao da preten­sao punitiva e crimes conexos (Capitulo III, n. 15).

56. Nesse sentido: TACrimSP, ACrim 581.921. RT, 660:300; ACrim 643.667;RJDTACrimSP,ll:138.

57. RT, 529:355; STF, HC 68.321, DJU, 8 fey. 1991, p. 743, RTJ,

134:1208; TJSP, EI 116.906, JTJ, 157:398.

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23. "SURSIS"

o art. 112, I, do CP, disp6e que, revogado 0 sursis, ini­cia-se 0 prazo prescricional na data em que transita em julga­do a decisao revocatoria. Refere-se it prescric;ao da pretensao execut6ria. Significa que ela nao corre durante 0 penodo de prova da medida. De ver-se que na reforrna penal de 19840 penodo de prova do sursis so pode ter inicio depois do triinsi­to em julgado da sentenc;a condenatoria (Lei de Execuc;ao Pe­nal, art. 160). Dessa forma, nao ha mais 1ugar it hip6tese que existia na legislac;iio anterior, em que, encontrando-se em pe­nodo de prova, 0 reu apelava, correndo prazo prescricional da pretensiio punitiva. Nesse sentido: STJ, HC 1.215, 5' Turrna, RT, 697:362.

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Page 54: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

Capitulo IV N

DA PRESCRI<;AO DA PRETENSAO EXECUTORIA

1. CONCEITO

Com 0 triinsito em julgado da sentenl;a condenat6ria, 0

direito de punir concreto se transforma em jus executionis: 0

Estado adquire 0 poder-dever de impor concretamente a san­~ao imposta ao autor da infral;ao penal pelo Poder Judiciario. Pelo decurso do tempo 0 Estado perde esse poder-dever, i. e., perde 0 direito de exercer a pretensao execut6ria. I?ai falar-se em prescric;:ao da pretensao execut6ria, impropriamente cha­mada de "prescril;ao da pena" e "prescril;ao da condena~ao".

Demonstral;ao grafica:

C D TJSC PPE r- -------r -,

A B C = crime

D =demincia

TJSC = triinsito em julgado da sentenp condenat6ria

PPE = prescril;ao da pretensao execut6ria

88

-l.

A - B = periodo durante 0 qual esta correndo 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria

Transitando em julgado a sentenl;a condenat6ria (T JSC) o Estado adquire 0 direito de executar a sanl;ao penal. 0 exer­cicio desse direito, entretanto, nao pode existir indefinidamen­teo Esta limitado no tempo (A - B). Se nao iniciar a execu­I;ao da sanl;ao penal dentro de certo periodo (de A a B), perde esse direito pela prescric;:ao da pretensao execut6ria (PPE).

Ela e irrenunciavel (TACrimSP, RvCrim 189.006, RT, 661:288 e 289).

2. IMPRESCRITIBILIDADE

A CF de 1988, em seu art. 5Q, contem dois casos em que

a pretensao execut6ria nao e alcanl;ada pelo decurso do prazo prescricional:

I Q) crimes de racismo (inciso XLII), definidos na Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989, com as alteral;oes da Lei n. 9.459, de 15 de maio de 1997;

2Q) "al;ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e 0 Estado Democnitico" (inciso XLIX), descritos na Lei de Seguranl;a Nacional (Lei n. 7.170, de 14-12-1983).

Sobre 0 tema dos crimes cometidos antes da Carta Mag­na' com referencia a retroatividade ou irretroatividade dos no­vos preceitos, vide 0 item 2 do Capitulo III desta obra.

3. PRAZOS E FORMA DE CONTAGEM

Enquanto na prescril;ao da pretensao punitiva 0 prazo e de­terrninado pelo maximo da pena privativa de liberdade comina-

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do em abstrato, na prescri<;:ao da pretensao executoria e regula­do pela pena imposta na senten<;:a condenatoria (reclusao, de­ten<;:ao, prisao simples, multa etc.), variando de acordo com a tabela estabelecida no art. 109 do CP. Assim, a prescri<;:ao, antes de transitar em julgado a senten<;:a final, e disciplinada exclusi­vamente pela pena privativa de liberdade. Cuidando-se, entre­tanto, de prescri<;:ao da pretensao executoria, nao hi exclusivi­dade de nenhuma especie de pena: 0 prazo prescricional varia de acordo com a especie e quantidade da pena imposta pelo Juiz na senten<;:a condenatoria. Nao ha correspondencia entre a pena imposta e os prazos prescricionais. Assim, uma pena de urn ano de deten<;:ao tern urn prazo prescricional de quatro anos e nao de urn ano (STF, HC 71.083, ReI. Min. Marco Aurelio, RTf, 153:659). Na pena imposta nao devem ser desconsideradas even­tuais agravarites e causas de aumento eventualmente reconhe­cidas, salvo os casos dos arts. 70 e 71 do CP, como veremos.

Reduzida a pena em face de indulto, deve ser considera­do 0 quantum restante para efeito da contagem do prazo prescricional executorio. Nesse sentido: STF, Extradi<;:ao n. 689, Plenario, DiU, 28 abr. 2000, p. 72.

Havendo substitui<;:ao de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, aquela e que comanda 0 lapso prescri­cional da pretensao executoria (CP, art. 109, paragrafo unico).

Exemplo:

A.. PPPP ~ B .. PPPE ~C

.. 8 anos .. J 4 4 anos ----

~ SC Cp, art. 244

90

+ 1 ano

de deten<;ao

PPPP = prazo prescricional da pretensao punitiva

PPPE = prazo prescricional da pretensao execut6ria

SC = senten<;:a condenatoria

A ~ B = periodo da PPP

B ..- C = periodo da PPE

Urn sujeito comete delito de abandono material (CP, art. 244), a que 0 legislador comina a pena de deten<;;ao, de urn a quatro anos, e multa. Como 0 maximo da pena privativa de liberdade e de quatro anos, 0 prazo prescricional antes de a senten<;;a final transitar ern julgado, i. e., 0 prazo da prescri<;;ao da pretensao punitiva (PPPP) e de oito anos (CP, art. 109, IV), ocorrendo a partir de seus terrnos iniciais (ponto A; CP, art.

o 111). Processado, vern a ser condenado, no ponto B (SC = sen­ten<;:a condenatoria), a urn ano de deten<;:ao. Transitando ern julgado a senten<;:a condenatoria no ponto B, inicia-se 0 prazo prescricional da pretensao executoria (PPPE). Como a pena e igua1 a urn ano, 0 prazo de prescri<;:ao e de quatro anos, nos termos do art. 109, V, do CP. De modo que, se 0 Estado, ate 0 ponto C, nao iniciar a execu<;;ao da pena de urn ana de deten­<;:ao, nao mais podera faze-10 uma vez extinta a pretensao

executoria.

4. MEDIDA DE SEGURAN(,:A

Se imposta medida de seguran<;:a ao semi-responsavel (CP, arts. 26, paragrafo unico, e 98), nao hi falar em prescri­<;;ao da pretensao executoria, uma vez que a prescri<;:ao so incide sobre a pena. 0 CP, antes da reforrna de 1984, resolvia

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expressamente a questao pela "extin~ao da medida de segu­ran~a pelo decurso do tempo", nos termos do art. 87, caput: "Extingue-se a medida de seguran~a nao executada pelo prazo de cinco anos, contados do cumprimento da pena, se 0 conde­

nado, nesse periodo, nao comete novo crime". A reforma, en­tretanto, silenciou sobre ci tema. Nao e justo que a pretensiio

executoria, tratando-se de pena, extinga-se pela prescri~ao e, cuidando-se, contudo, de medida de seguran~a, tambem espe­

de, com a pena, de san~ao penal, nao se extinga pelo decurso

do tempo. A solu~iio esta em perrnitir-seque tambem a medi­da de seguran~a se extinga pelo decurso do tempo, levando-se

em considera~iio a pena dosada pelo Juiz antes da substitui­

~iio (art. 98) e os prazos do art. 109. Nesse sentido: TACrimSP,

ACrim 795.765, RiDTACrimSP, 8: 155 e 22:316. Se 0 juiz apli­

cou a medida de seguran~a substitutiva sem dosar a pena, de aplicar-se 0 prazo prescricional do minimo abstrato cominado

ao delito cometido pelo condenado. Ex.: reu, semi-responsa­vel, que cometeu lesiio corporal leve. 0 juiz fixa a pena em dois meses (tres meses com redu~iio de urn ter~o, nos termos

do art. 26, paragrafo iinico). Ap6s, substitui a pena pela medi­da de seguran~a. Para efeito da extin~ao da pretensao execut6ria, considera-se a pena imposta. Se nao a tivesse im­posto, 0 minima abstrato cominado a lesiio corporalleve.

E se imposta medida de seguran~a ao inimputavel, nos termos dos arts. 26, caput, e 97 do CP?

Como ficou consignado, nao se pode falar em prescri~ao da pretensao executoria, tendo em vista que ela pressup6e con­dena~ao e aplica~ao de pena. Nesse sentido: STJ, REsp 2.021, 5" Turma, DiU, 4 jun. 1990, p. 5065. 0 Cp, antes da reforma de 1984, tambem resolvia expressamente 0 problema em seu art. 78, § 22: "A execu~ao da medida de seguran~a nao e ini-

92

ciada sem verifica~iio da periculosidade, se da data da senten­~a decorreram dez anos". A reforma, aqui tambem, silenciou sobre 0 ass unto. Nao e justo que 0 reu absolvido, a quem foi imposta medida de seguran~a, permane~a indefinidamente su­jeito ~ pretensao execut6ria. Nesse caso, segundo nos so en­tendimento, decorrido 0 prazo mfnimo de dura~ao da medida de seguran~a fixado na senten~a, contado de seu transito em julgado, nao pode ter inicio a execu~ao sem que se averigiie, mediante pericia medica, a persistencia do estado perigoso que ensejou a sua aplica~ao (CP, art. 97, §§ 12 e 22, por analogia). Nesse sentido: STJ, REsp 2.021, DiU, 4 jun. 1990, p. 5065.

Os prazos da prescri~ao da pretensiio execut6ria sao os seguintes:

Condena,ao a pena privativa Prazo prescricional

de liberdade

l. + de 12 anos = 20 anos

2. + de 8 a 12 anos = 16 anos

3. +de4a8anos = 12 anos

4. +de2a4anos = 8 anos

5. de 1 a 2 anos ::::: 4 anos

6. menos de 1 anD = 2 anos

No caso de evasao do condenado ou de revoga~ao do li­vramento condicional, a prescri~ao e regulada pelo tempo que resta da pena (CP, art. 113). Esse dispositivo niio e aplicavel a prescri~ao da pretensiio punitiva (STJ, HC 2.793, 5' Turma, DiU, 12 set. 1994, p. 23772).

Nao e admissivel, na contagem do prazo prescricional da pretensao execut6ria, pretender-se a incidencia do princi-

93

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l.

pio da detra~ao penal, em tennos de dedu~ao do tempo de pri­sao provis6ria'. Nesse sentido: STJ, REsp 116.208, 5" Tunna, DIU, 18 out. 1999, p. 250.

Quando concedido 0 perdao judicial nao ha falar-se em prescri~ao da pretensao e"ecut6ria2

Quanto ao criterio de contagem do ano prescricional, vide item 7 do Capitulo III desta obra.

5. REINCIDENCIA

Nos tennos do art. 110, caput, parte final, do CP, cuidan­do-se de condenado reincidente, 0 prazo prescricional de pre­tensao execut6ria e aumentado de um ter~o. Para saber qual 0

lapso prescricional e preciso considerar a pena imposta na sen­ten«a, adequa-Ia a um dos incisos do art. 109 do CP e, sobre 0

perfodo encontrado, acrescer um ter«o.

Exemplo: um reu, reincidente, vem a ser condenado a quatro anos de reclusao. Incide 0 disposto no art. 109, IV, do CP: 0 prazo prescricional e deoito anos. Por ser reincidente, ha 0 acrescimo de urn ter«o, alcan«ando 0 total de dez anos e oito meses.

o aumento do prazo prescricional pressup6e que a sen­ten«a condenat6ria tenha reconhecido a reincidencia.

Exemplo: um sujeito vem a ser condenado definitiva­mente pela pratica de um furto. Dois anos depois comete um

1. STF, RTJ, 43:313; RHC 50.877, DJU, 18 maio 1973, p. 3338; RTJ, 65:348,76:711; STF, HC 71.799, 2'Turma, DJU, 19 maio 1995, p. 13995; RT, 498:273; STF, HC 69.865, I'Turma, ReI. Min. Celso de Mello, RTJ, 150:515. Contra: TJSP, RJTJSP, 19:427; RT, 456:398 e 484:324; TJSP, HC 201.290, RT, 666:308.

2. RTJ, 117:780; TACrimSP, HC 167.794, JTACrimSP, 95:391.

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j

'T'rlbi.:l::;:l ,;e .lllstir;? ~ . ..,. -, '" -~,. ~.q

roubo. Condenado por §sse delito e· reconhecida a reincidencia na senten«a, 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria, no to­cante ao roubo, e acrescido de um ter,<o. Nao considerada a rein­cidencia na senten«a, nao incide 0 aumento do lapse prescricional, ainda que descoberta em momenta posterior. Suponha-se que, proferida a senten«a condenat6ria, tendo reconhecido a primariedade do reu, tempos depois, ja transitada em julgado para a acusa,<ao, junte 0 Promotor de Justi«a certidao comprobat6ria de que, ao tempo da condena,<ao, era reincidente. Nao incide 0

acrescimoprescricional. Nesse sentido: STJ, RHC 6.611, 5" Tur­ma, ReI. Min. Jose Arnaldo, j. 12-8-1997, RT, 747:626.

Nao aumenta 0 prazo prescricional a denominada reinci­dencia futura, quando 0 novo delito e praticado ap6s a senten­,<a condenat6ria em rela«ao a qual se pretende 0 acrescimo.

Exemplo: transitada em julgado a senten,<a condenat6ria, o sujeito vem a cometer novo crime. E reincidente. Entretanto, 0

prazo prescricional da pretensao execut6ria relacionado com o primeiro crime nao pode ser aumentado de urn ter,<o. Nesta hi­p6tese, 0 efeito da pratica do novo crime sera interromper 0 pra­zo prescricional no tocante ao delito anterior (CP, art. 117, VI).

o acrescimo do prazo pela reincidencia s6 e aplicavel a prescri,<ao da pretensao execut6ria e sobre a pena privativa de liberdade. Assim, nao incide sobre 0 prazo prescricional da pretensao punitiva (CP, art. 109). Nesse sentido, a Sumula 220 do STJ: "A reincidencia nao influi no prazo da prescri,<ao da pretensao punitiva". No mesmo sentido: TACrimSP, HC 375.332, 16' Cam., reI. Juiz Lopes de Oliveira, RT, 794:606.

o principio agravador se encontrano art. 110 do CP, que disciplina a prescri,<ao da pretensao execut6ria. Em face dis­so, por ser prejudicial ao reu, nao pode ser ampliada sua inci­dencia, vedada, pois, sua extensao ao art. 109 do CP (prescri­«ao da pretensao punitiva). Nesse sentido: TJSP, ACrj.m 61.392, RT, 631:292; TACrimSP, ACrim 609.999, RT, 662:300;

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STF, HC 69.044, 2" Turma, DIU, 10 abr. 1992, p. 4798; RTf, 140:906; TAMG, ACrim 120.179, RT, 687:331 e 333; STJ, REsp 34.031, DIU, 28 jun. 1993, p. 12899. Contra: STJ, REsp 46, 5" Turma, DIU, 21 ago. 1989, p. 13331; RT, 652:341; REsp 6.814,6" Turma, DIU, 3 fev. 1992, p. 476/7; STF, RHC 65.332, RTI, 123:984; TACrimSP, HC 231.852, RT, 695:320; TACrimSP, HC 238.148, 3" Cil.m., RIDTACrimSP, 17:188.

Para a considera~iio da reincidencia pouco importa a es­pecie de pena imposta em raziio do crime anterior (detentiva da liberdade, restritiva de direitos ou multa)'.

6. EFEITOS

A declara~iio da extin~iio da punibilidade pela prescri­viio da pretensiio execut6ria impede a execu~iio das penas e da medida de seguran~a (CP, art. 96, paragrafo unico), subsistin­do as conseqiiencias de ordem secundaria da senten~a condenat6ria, como 0 lan~amento do nome do reu no rol dos culpados, pagamento das custas processuais, reincidencia (sal­vo 0 disposto no art. 64, I) etc.4. Assim, embora incidente a prescri~iio da pretensiio execut6ria, a senten9a condenat6ria pode ser executada no jufzo dvel para efeito de repara9iio do dana (CPP, art. 63). Se 0 condenado efetuou a presta9iio de fian9a, seu valor, niio obstante a extin~iio da punibilidade, fica

3. RHC 65.332, 2' Thnna do STF, em 18-8-1987, v. un., ReI. Min. Aldir Passarinho, DfU, 4 set. 1987, p. 18287, JTACrimSP, 93:403; TACrimSP, fTACrimSP, 91: 131.

4. HC 60.990, 2' Tunna do STF, em 14-6-1983, DfU, 26 ago. 1983, p.12713; TACrimSP, MS 267.014,RfDTACrimSP, 25:437.

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~

sujeito ao pagamento das custas e repara9iio do dana (CPP, art. 336 e paragrafo unico).

Extinta a punibilidade pela prescri9iio da pretensiio exe­cut6ria, a extradi9iio se torna inexeqiifvel'.

7. CONCURSO DE CRIMES

No concurso material reconhecido na senten9a condenat6ria, a pena de cada infra9iio penal regula 0 respecti­vo prazo prescricional, considerado isoladamente (CP, art. 119). Convem, em face dis so, que 0 Juiz especifique na sen­ten9a a pena de cada delito. Assim, vindo 0 reu a ser condena­do, pela pratica de urn roubo simples e de urn estupro simples, a penas de quatro anos de reclusao (alem da multa) e seis anos de reclusao, respectivamente, considerado 0 concurso materi­al, surgem dois prazos prescricionais da pre ten sao execut6ria: o do crime de roubo e 0 do delito de estupro. As penas, por­tanto, nao podem ser somadas6 •

No concurso formal, a pena imposta regula 0 respectivo prazo prescricional, cumprindo ser desprezado 0 acrescimo (CP, art. 70)".

Exemplo: 0 reu e condenado a urn ana e dois meses de deten9ao pela pratica de dois homicfdios culposos em concur­so formal. A san9ao final resulta da aplica9ao da pena de urn dos delitos, urn ano de deten9ao, mais 0 acrescimo de urn sex­to (dois meses). Para efeito da prescri9ao da pretensao

5. P1enano do STF, HC 60.802, em 20-4-1983, v. un., ReI. Min. Djaci Falcao, DfU, 3 jun. 1983, p. 7879; RTf, 107:150.

6. STF, RTf, 109:539.

7. RT, 508:314 e 571:335.

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execut6ria, leva-se em conta a pena de urn ano de deten~ao, devendo ser desprezados os dois meses. Se nao fosse assim 0

sujeito seria prejudicado. Suponha-se que, ao inves de concur­so fOlmal, se tratasse de concurso material. As penas nao seri­am somadas, nem sobre uma delas haveria acrescimo. Nao e justo, pois, que, cuidando-se de concurso formal, a solus;ao seja mais severa que a ordenada para 0 concurso material.

o acrescimo da pena resultante da configuras;ao do con­curso formal nao pode ser desvinculado para efeito de, no to­cante a ele, ser declarada a extin<;ao da punibilidade pela pres­cric;ao da pretensao execut6ria, de acordo com 0 STF.

Exemplo:

TJSC 1 ana

A

~ lanoe2 meses de detenc;iio

2 anos I B

3 anos.

TJSC = transito em julgado da sentenc;a condenat6ria

PPPE = prazo prescricional da pretensao execut6ria

4 anos

C

l PPPE

Um reu e condenado, em concurso formal, por dois ho­micidios culposos, a um ana e dois meses de deten<;ao. Um ano de detenc;ao em face de um dos delitos; dois meses de acrescimo (um sexto; CP, art. 70). A sentenc;a condenat6ria transita em julgado no ponto A (TlSe). Como, para efeito de prescri~ao, deve ser desprezado 0 acrescimo, subsiste, regu­lando 0 prazo prescricional, a pena de um ano de detenc;ao, decorrendo em quatro anos (CP, art. 109, V). De maneira que,

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.1

se 0 Estado nao iniciar a execUl;ao da pena dentro desse lapso, ate 0 ponto C, perde a pretensao execut6ria. Em relac;ao ao acrescimo de dois meses de deten<;ao, ele nao pode .ser desvinculado para efeito de prescric;ao, nos termos do enten­dimento do primitivo Pret6rio Excelso. Significa: nao se pode pretender que ele, considerado isoladamente, regule seu res­pectivo prazo prescricional. Como e inferior a um ano, 0 pra­zo prescricional seria de dois anos. Nao e admissivel a conta­gem desses dois anos entre os pontos A e B. De modo que 0

acrescimo, por si s6, e imprescritivel'. Convenhamos, entre­tanto, que, conforme a hip6tese, tal soluc;ao nao se rnostrajus­ta, como no caso de condenac;ao a urn ana e dois meses de detens;ao por hornicidio culposo e lesao corporal culposa, em concurso formal. Melhor seria, entao, para 0 reu, que fosse considerado 0 concurso material, nao 0 formal.

Tratando-se de concurso formal irnperfeito (CP, art. 70, 2' parte), cada crime tern 0 seu pr6prio prazo prescricional (CP, art. 119).

No tocante ao delito continuado, incide a Sumula 497 do STF: "Quando se tratar de crime continuado, a prescric;ao re­gula-se pela imposta na sentenc;a, nao se computando 0 acres­cirno decorrente da continua<;ao". Pens amos que e preciso se­parar as penas resultantes da continuas;ao, distribuindo-as pe­los delitos parcelares, incidindo a prescris;ao da pretensao execut6ria em rela\;ao a cada urn, considerado isoladamente, sem 0 acrescimo legal, de acordo com 0 art. 119 do CPo Con­vern, pois, que 0 Juiz especifique as penas dos crimes. Nesse

8. Decidiu a STF: "na prescric;iio da pena em concreto resultante de concurso formal naa ha que separar 0 acrescimo se nao se verificou a pres­criC;iio relativamente a urn dos crimes isoladamente considerado" (HC 58.391, l'Turma, em 2-12-1980, v. un., Rel. Min. Soares Munoz, DiU, 19 dez. 1980, p. 10941-2).

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sentido, tratando genericamente do consenso de crimes: TARS, ACrim 293.155.040, RT, 709:371.

Quanto ao acrescimo resultante da continuac;:ao, enten­deu 0 STF que ele nao pode ser desvinculado para efeito de incidencia da prescric;:ao da pretensao execut6ria'. Conforme deixamos consignado em relac;:ao it hip6tese do concurso for­mal, pensamos que, de acordo com 0 caso concreto, e justo que 0 acrescimo seja desvinculado para efeito da prescric;:ao da pretensao execut6ria.

8. MULTA

o art. 51 do CP, alterado pela Lei n. 9.268, de 1 Q-4-1996, tern a seguinte redac;:ao: "Transitada em julgado a sentenc;:a condenat6ria, a multa sera considerada divida de valor, apli­cando-se-Ihe as normas da legislac;:ao relativas it divida ativa da Fazenda Publica, inclusive no que concerne as causas interrupti vas e suspensivas da prescric;:ao".

Nos termos da lei nova, transitada em julgado a senten<;:a condenat6ria, 0 valor da pena de multa deve ser inscrito como divida ativa em favor da Fazenda Publica. A execu<;:ao nao se procede mais nos termos dos arts. 164 e s. da LEP. Devendo ser promovida pela Fazenda PUblica, deixa de ser atribui<;:ao do Ministerio Publico, passando a ter carater extrapenal a sua exe-

9. HC 65.734, 2'Tunna, em 12-2-1988, v. un., ReI. Min. Aldir Passa­rinho, DJU, 25 mar. 1988, p. 6374 e 6375. Ementa: "Nao M cabida para a pretensao ajuizada, que visa a obter que a prescri\=ao incida sabre 0 acresci­rno da pena decorrente da continuidade delitiva. considerando-se isolada­mente tal acrescimo" (RTJ, 125: 1085). No mesmo sentido: STF, HC 71.277, ['Tunna, DJU, 3 jun. 1994, p. 13855.

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J

cw;ao. Nesse sentido, na doutrina: Paulo Henrique Moura Lei­te, 0 lapso prescricional e a legitirnidade ativa para a execu<;:ao da multa penal ap6s 0 advento da Lei n. 9.268/96, Revista Jur(­dica, Porto Alegre, 267:32 e s., jan. 2000. Note-se que a multa permanece com sua natureza penal, subsistindo os efeitos pe­nais da senten<;:a condenat6ria que a impos. A execu<;:ao e que se procede em termos extrapenais. Em face disso, a obriga<;:ao de seu pagamento nao se transrnite aos herdeiros do condenado.

De modo que nao existe mais prescri<;:ao da pretensao execut6ria no tocante it multa. Nesse sentido, na doutrina: Pau­lo Henrique Moura Leite, 0 lapso prescricional e a legitirni­dade ativa para a execu<;:ao da multa penal ap6s 0 advento da Lei n. 9.268/96, Revista Jur(dica, Porto Alegre, 267:32 e S.,

jan. 2000.

As causas suspensivas e interruptivas da prescri<;:ao refe­ridas na disposi<;:ao nao sao as do CP (arts. 116, paragrafo tini­co, e 117, V e VI), mas sim as da legisla<;:ao tributaria.

Legisla<;:ao tributana referida na disposi<;:ao: Lei n. 6.830/ 80 e CTN. Prazo prescricional: 5 anos (art. 174, caput, do CTN). Causas suspensivas: arts. 151 do CTN e 2Q, § 3Q, e 40 da Lei n. 6.830/80. Causas interruptivas: art. 174, paragrafo unico, do CTN.

9. !DADE DO CONDENADO

Nos termos do art. lIS do CP, que nao foi alterado pelo art. S2 do novo CC, que baixou a maioridade para 18 anos, os prazos prescricionais da pretensao execut6ria sao reduzidos de metade quando 0 condenado era, ao tempo do delito, menor de vinte e urn anos de idade ou maior de setenta na data da senten<;:a. De aplicar-se a teoria da atividade, favorecendo 0

agente quando era, ao tempo da realiza<;:ao da conduta, de ida-

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de exigida pelo tipo penal. Assim, tratando-se de crime mate­rial, se 0 sujeito realiza 0 comportamento quando menor de vinte e urn anos de idade, produzindo-se 0 evento depois des­sa faixa etaria, deve ser favorecido pela redu~ao do prazo prescricional.

Tratando-se de crime continuado, praticados os delitos parcelares antes e depois dos vinte e urn anos de idade do su­jeito, aplicada uma s6 pena em face da ficrrao juridica de urn s6 delito, e razoavel 0 entendimento da reduyao do prazo pres­cricional lO•

Trata-se de circunstancia de natureza pessoal e, por isso, incomunicavel no concurso de pessoas.

A idade e comprovada peJa certidao de nascimento, nao valendo a simples alegarrao de menoridade nao contestada peJa acusa~ao nem 0 RO. Nos termos da Sumula 74 do STF, a pro­va da menoridade se faz por documento habil.

10. TERMOS INIClAIS

Nos termos do art. 112 do CP, a prescrirrao da pretensao execut6ria tern inkio:

I Q) no dia em que transita em julgado a senten~a condenat6ria para a acusa~ao;

2Q) no caso do Iivramento condicional ou do sursis revo­gado, na data em que transita em julgado a decisao revocat6ria;

3Q) no dia em que se interrompe a execu<;:ao da pena, sal­

vo quando 0 tempo da interrup~ao deva ser computado.

10. Vide notas jurisprudenciais sobre 0 tema nos itens ''idade do agen­te", no capitulo da prescri~ao da pretensao purutiva, e "menoridade relati­va", no capitulo da prescri'i:ao retroativa.

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j

o inciso I da disposi~ao citada menciona como primeiro marco da prescrirrao da pretensao execut6ria 0 dia em que tran­sita emjulgado a sentenr;a condenat6ria para a acusa~ao. Lite­ralmente, a decisao de condenarrao somente transita em julga­do quando nao cabe mais recurso para nenhuma das partes, acusa~ao e defesa. Assirn, uma primeira interpreta~ao leva a conclusao de que somente corney a a COffer 0 prazo prescricional referido quando, nao cabendo mais recurso da sentenc;:a condenat6ria, realmente surge a pretensao execut6ria. Entretanto, a jurisprudencia, apreciando 0 texto do primitivo CP de 1940, decidiu que a expressao "do dia em que passa em julgado a sentenrra condenat6ria" se referia a acusayao, pres­cindindo-se ate de intima~ao ao reu. Dai a reforma penal de 1984 haver acrescentado ao texto a expressao "para a acusa­\;ao". Dessa forma, transitando a decisao em julgado para a acuSac;:ao (Promotor de Justi~a, querelante e assistente da acu­sac;;ao), e des sa data que se conta 0 lapso prescricional, ainda que nao tenha sido intimado 0 reu. Isso, entretanto, depende de uma condi\;ao: que a sentenc;;a tambem tenha transitado em julgado para a defesa. Ocorrendo esse requisito, a contagem se faz da data do transito em julgado para a acusac;;ao II .

Devemos, entao, distinguir:

1°) momenta em que surge 0 titulo penal execut6rio, a partir do que se pode considerar a prescris:ao da pretensao execut6ria: transito em julgado da sentens:a condenat6ria para acusas:ao e defesa;

2Q) termo inicial da contagem do prazo da prescri\;ao da pretensao execut6ria: data em que a sentens:a condenat6ria transita ern julgado para a acusac;;ao (CP, art. 112, I). Nesse sentido: TACrimSP, AE 566.041, RT, 645:309.

11. Nesse sentido: STJ, He 4.073, 5'Tunna, DIU, 14 nov. 1994, p.30964.

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Exemplo:

SC IA TJSCA IR PPE I I I I I ABC D E

! ~ 2 meses de deten9ao

SC = sentens;a condenat6ria

2 aDOS

IA = intimas;ao da sentens;a condenat6ria a acusas;ao

TJSCA = transito em julgado da sentens;a condenat6ria para a

acusas;ao

IR = intimas;ao do reu

PPE = prescris;ao da pretensao execut6ria

o reu, no ponto A, e condenado a dois meses de deten­s;ao. Dias depois, no ponto B, a acusas;ao e intimada (fA) e nao apela. Transita em julgado a sentens;a condenat6ria para a acu­sas;ao no ponto C (TfSCA). Meses depois, no ponto D, 0 reu e intimado (fR). 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria tern infcio no ponto C. Como a pena e inferior a urn ano, 0

prazo IS de dois anos (CP, art. 109, VI), transcorrendo entre os pontos C e E, nao se interrompendo ou suspendendo pel a intimas;ao do reu (D).

Nao corre prazo prescricional da pretensao execut6ria durante 0 sursis e 0 livramento condicional. Como constituem formas de execus;ao da pena, is so demonstra que 0 Estado se encontra atento, impedindo 0 decurso do prazo prescricional. Nesse sentido: STF, HC 68.608, RT, 676:384 e RTf, 136:664.

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1

Revogada a medida, nos terrnos do inciso I, tern infcio, na data do trmsito em julgado da decisao revocat6ria, 0 prazo pres­cricional, devendo ser regulado pela quantidade da pena suspensa (sursis) ou pel0 restante (livramento condicional; CP, arts. 88 e 113).

Na hip6tese do art. 161 da LEP, em que 0 sursis e torna­do sem efeito em face do nao-comparecimento do condenado a audiencia admonit6ria, nao e apliciivel a segunda parte do inciso I e sim a primeira: 0 prazo se inicia a partir do transito em julgado da sentens;a condenat6ria para a acusas;ao. Nao se trata de caso de "revogas;ao" da medida, que nao se encontra em seu perfodo de prova, mas sim de insubsistencia de sua aplicas;ao.

Quando a execus;ao da pena e interrompida pela fuga do condenado, nesta data se inicia 0 prazo prescricional da pre­tensao execut6ria, regulado pel0 restante (art. 112, II, P par­te). Quando a execus;ao e interrompida pela superveniencia de doens;a mental ou internas;ao do condenado em hospital (CP, arts. 41 e 42), aplicando-se 0 principio da detras;ao penal (art. 42), nao corre 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria (CP, art. 112, II, 2' parte).

11. SUSPENSAo

A prescris;ao da pretensao execut6ria nao corre, ficando suspensa l2

, durante 0 tempo em que 0 condenado ewi preso por outro motivo (CP, art. 116, paragrafo unico). Enquanto a

12. Vide 0 conceito de causas suspensivas da prescri~ao no item 21 do Capitulo III.

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prescrir,;ao da pretensao punitiva, nos termos do art. 116, II, do CP, nao corre durante 0 tempo em que 0 sujeito "cumpre pena no estrangeiro", no que concerne a prescrir,;ao ap6s 0 tran­sito em julgado da sentenr,;a condenat6ria, a disposir,;ao con­tern conceito mais amplo, referindo-se a penodo durante 0 qual "esta preso por outro motivo", i. e., por motivo que nao seja 0

cumprimento de pena no estrangeiro, como prisao preventiva, em flagrante, em decorrencia de pronlincia ou de sentenr,;a con­denat6ria penal, ficando afastadas as pris6es de natureza ex­trapenaL

12. CAUSAS INTERRUPTIVAS

De acordo com 0 art. 117, V e VI, do Cp, 0 curso da pres­crir,;ao da pretensao execut6ria interrompe-se pelo infcio ou continuar,;ao do cumprimento da pena e pela reincidencia i3

Iniciado 0 prazo prescricional com 0 transito em julgado da sentenr,;a condenat6ria para a acusar,;ao (CP, art. 112, I), des­de que tambem tenha transitado em julgado para a defesa, ele se interrompe com 0 comer,;o do cumprimento da pena. Se 0

fundamento da prescrir,;ao da condenar,;ao esta na inercia do Estado durante 0 perfodo em que na~ exerce a pretensao execut6ria, iniciada a execur,;ao da sanr,;ao penal nao ha lugar para 0 decurso do lapso extintivo. Vindo a fugir 0 condenado, na data da fuga tern infcio novo prazo prescricional (CP, art. 112, II, I' parte), regulado pelo restante da pena (CP, art. 113). Recapturado, novamente se interrompe 0 prazo:

13. Vide 0 conceito de causas interruptivas da prescri~ao no item 22 do Capitulo III.

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~

Exemplo:

IPPPE

t SC TJSCA rcp

RC

FC -···1 J ano 2 anos

AB-6meses-C-6meses-D E F

~ ~ 1 ano de reclusao

SC = sentenr,;a condenat6ria

INPPPE

TJSCA = transito em julgado da sentenr,;a condenat6ria para a acusar,;ao

ICP = infcio do cumprimento da pena

IPPPE = interrupCfao do prazo prescricional da pretensao execut6ria

FC = fuga do condenado

INPPPE = infcio de novo prazo prescricional da pretensao exeeut6ria

RC = recaptura do condenado

Condenado 0 reu, no ponto A, a urn ano de reclusao, nao tendo apelado a defesa, a sentenr,;a condenat6ria (SC),

no ponto B, transita em julgado para a aeusar,;ao (TJSCA).

Como a pena e de urn ano, inicia-se no ponto B prazo pres­cricional da pretensao execut6ria de quatro anos (CP, art. 110, e/c 0 art. 109, V). Seis meses depois, no ponto C, 0 condena­do e detido, iniciando-se 0 cumprimento da pena (ICP). In­terrompe-se 0 lapso prescricional da pretensao execut6ria (IPPP£). 0 prazo prescricional, que era de quatro anos, foi interrompido seis meses depois de seu infcio. Seis meses

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depois do infcio do cumprimento da pena 0 condenado foge, no ponto D (Fe). Fugindo, inicia-se novo prazo prescricio­nal da pretensao execut6ria (INPPPE) no ponto D, regulado pelo restante da pena. Como restam seis meses, 0 prazo pres­cricional e de dois anos (CP, arts. 109, VI, e 113). Esses dois anos vao do ponto D ao ponto F. Ocorre, entretanto, que 0 foragido e recapturado antes desses dois anos, no ponto E. Recapturado, interrompe-se outra vez 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria.

o inicio do cumprimento da pena, como causa inter­ruptiva, s6 incide sobre a prescri~ao da pretensao execut6ria. Assim, nao interrompe a prescri~ao da pretensao punitiva em deterrninada a~ao penal a circunstancia de 0 condenado iniciar o cumprimento de pena em razao do outro processo14.

De observar-se que essas duas causas interruptivas da prescri~ao somente incidem sobre a pretensao execut6ria em rela9ao it pena imposta em detenninado processo, nao em re­la9ao a qualquer a9ao penal.

Anulada a certidao do transito em julgado da senten9a condenat6ria em rela9ao it qual ocorreu 0 inicio do cumpri­mento da pena, este perde 0 efeito interruptivo l5.

A reincidencia interrompe tam bern 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria (CP, art. 117, VI). Essa causa interruptiva e inaplicavel it prescri9ao da pretensao punitiva l6. E, nos terrnos do art. 117, § 22 , do CP, interrompida a prescri-9ao, na especie, "todo 0 prazo come9a a correr, novamente, do dia da interruP9ao".

14. RT, 512:471, 530:431 e 540:418.

15. JTACSP,70:59.

16. RT, 464:379 e RT J, 50:553.

108

1

A reincidencia que interrompe 0 prazo da prescri9ao da pretensao execut6ria nao se confunde com a que aumenta 0 lapso de urn ter90 (art. 110, caput, parte final). A forma interruptiva e a denominada "reincidencia futura", a que surge ap6s 0 transito emjulgado da senten9a condenat6ria. Ja a rein­cidencia que aumenta 0 prazo prescricional e a reconhecida na senten9a condenat6ria. Assim, em curso a prescri9ao da pretensao execut6ria, a pratica de novo delito 0 interrompe, mas nao aumenta 0 prazo.

Discute-se a respeito do momento em que a reincidencia interrompe 0 prazo prescricional. Ha, sobre 0 tema, duas orien­ta90es:

P) 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria (da pena, da condena~ao) e interrompido na data da pratica do novo crime J7 ;

2') 0 lapso prescricional da pretensao execut6ria e inter­rompido na data em que transita em julgado a senten~a condenat6ria proferida em face da pratica do novo delito.

A prime ira posi9ao e a correta. Se, nos terrnos do art. 63 do CP, da-se a reincidencia quando 0 sujeito, tendo contra si senten9a condenat6ria irrecorrfvel, comete novo delito, tem­se de interpretar 0 art. 117, VI, em terrnos de que, cometido 0

novo crime, se encontra interrompido 0 prazo prescricional. A reincidencia ocorre na data em que 0 sujeito comete 0 novo delito, nao quando transita emjulgado a nova senten9al8. Esta reconhece a recidiva, nao a cria. 0 efeito interruptivo da rein­cidencia, entretanto, deve ficar condicionado ao transite em

17. RT, 590:379; RJDTACrimSP, 7:210.

18. RHe 61.245, 2'Turma do STF, em 30-9-1983, v. un., ReI. Min. Francisco Rezek, DJU, 21 out. 1983, p. 16303; RTJ, 107:988.

109

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julgado na nova senten"a condenat6ria. Se 0 reu vern a ser absolvido, desaparecida a reincidencia, fica extinto 0 efeito interruptivo no tocante it pretensao execut6ria incidente sobre o primeiro delito.

A reincidencia que interrompe 0 prazo da prescri"ao da pretensao execut6ria e a que surge ern decorrencia da pratica de urn crime ap6s 0 transito ern julgado da senten"a condenat6ria para a acusa"ao e defesa e nao s6 para a acusa­"ao. Assim, 0 termo a quo a partir do qual pode ocorrer a rein­cidencia nao e 0 do art. 112, I, do CP (data do transito ern jul­gado da senten"a condenat6ria para a acusa"ao) e sim 0 do art. 110, caput (data ern que surge 0 titulo penal execut6rio).

No concurso de pessoas, seja co-autoria ou participa"ao, salvo a reincidencia, que e pessoal e incomunicavel (CP, art. 30), e 0 inicio ou continua~ao do cumprimento da pena, a in­terrup~ao da prescri"ao da pretensao execut6ria ern rela"ao a urn dos participantes se estende aos demais (CP, art. 117, § 12, l' parte). Exemplo: pronunciados dois co-autores de hornici­dio, urn s6 deles recorre em sentido estrito. 0 ac6rdao confir­mat6rio da promincia tambem interrompe 0 prazo prescricional em rela~ao ao reu que nao recorreu.

Nos delitos conexos, desde que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrup"ao da prescri"ao relativa a qualquer deles (CP, art. 117, § 12,2' parte).

110

Capitulo V N

DA PRESCRI~AO NA N

LEGISLA~AO ESPECIAL

1. ABUSO DE AUTORIDADE

Nos termos do art. 62, § 32, daLei n. 4.898, de 9-12-1965, que define os delitos de abuso de autoridade (arts. 32 e 42), as penas consistem ern:

"a) multa;

b) deten"ao por dez dias a seis meses;

c) perda do cargo e a inabilita"ao para 0 exerc{cio de qualquer outra fun"ao publica por prazo ate tres anos".

Essas penas podem ser aplicadas aut6noma ou cumulati­vamente (§ 42 do mesmo artigo).

Como a lei especial nao faz referencia ao tema da prescri­"ao, de aplicar-se os principios do CP (art. 12). Assirn, no tocante it prescri"ao da pretensao punitiva, 0 prazo e regulado pelo maxi­mo da pena privativa de liberdade. Como e inferior a urn ano (seis meses) decorre em dois anos (CP, art. 109, VI). Nesse sentido: TJSP,ACrim 102.589, RJTJSP, 134:402; RT, 728:620; STJ, REsp 153.820,5' Turma, j. 7-4-1998, DJU, 11 maio 1998, p. 143;

III

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STJ, REsp 263.328, 6' Tunna, ReI. Min. Hamilton Carvalhido, RT, 796:578.

Se imposta detens;ao na sentens;a, de incidir 0 disposto no art. 110 do CP, variando 0 prazo prescricional da pretensao execut6ria de acordo com a quantidade da pena aplicada. Como a pena detentiva e inferior a urn ano, 0 prazo prescri­cional da pretensao execut6ria e de dois anos (CP, arts. 110 e 109, VI). Se imposta pena funcional (perda do cargo e inabili­tas;ao funcional), ocorre tambem a prescris;ao da pretensao execut6ria. 0 prazo prescricional e de dois anos. Como as dis­posis;iies especiais nao cuidam da prescris;ao, de incidir 0 me­nor prazo do art. 109 do CP (n. VI).

2. CRIMES CONTRA A SEGURAN<;:A NACIONAL

o art. 6Q, IV, da Lei de Segurans;a Nacional (Lei n. 7.170,

de 14-12-1983), detennina a extins;ao da punibilidade pela prescris;ao.

Nos tennos do art. 7Q da Lei de Segurans;a Nacional, em sua aplicaS;aodeve ser observado, no que couber, 0 disposto na Parte Geral do CPM. Assim, em se tratando de crime contra a Segurans;a Nacional, a prescriS;ao da pretensao punitiva e regu­lada pelo miixirno da pena privativa de liberdade abstratamen­te cominada (CPM, art. 125), enquanto a prescris;ao da preten­sao execut6ria tern seus prazos deterrninados pela pena impos­ta na sentens;a condenat6ria (art. 126 do mesmo estatuto).

3. CONTRAVEN<;:OES

A LCP (Dec.-lei n. 3.688, de 3-10-1941) nao dispiie a respeito da prescris;ao. Por is so, de aplicar-se os princfpios

Il2

gerais a respeito do tema previsto no CP (LCP, art. 1 Q e CP, art. 12). Em relas;ao a prescris;ao da pretensao punitiva, 0

prazo e regulado pelo maximo da pen a privativa de liberda­de (CP, art. 109). Se abstratamente cominada somente a multa, 0 prazo e de dois anos (art. 114). No tocante a pres­criS;ao da pretensao execut6ria, 0 lapso extintivo e determi­nado pela pena imposta na sentens;a condenat6ria. Se apli­cada pena de prisao simples, 0 prazo varia segundo sua quantidade.

4. CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR

Os crimes contra as relas;iies de consumo e a economia popular se encontram descritos nas Leis n. 1.521, de 26-12-1951, n. 4.591, de 16-12-1964, en. 6.435, de 15-7-1977, De­creto-lei n. 73, de 21-11-1966, Lei n. 8.078, de 11-9-1990 (C6-digo de Defesa do Consumidor), e Lei n. 8.137, de 27-12-1990. Seus dispositivos nao cuidam do tema da prescris;ao. Em face disso, devem ser aplicados os principios contidos no CPo A prescris;ao da pretensao punitiva e regulada pelo miiximo da pena privativa de liberdade abstratamente cominada. A pres­cris;ao da pretensao execut6ria tern seus prazos determinados pela quantidade da pena imposta na sentens;a. Se se trata de cominaS;ao abstrata de multa, 0 prazo e de dois anos (CP, arts. 114 e 109, VI)I.

I. De ver-se que nos lermos do art. 2" da Lei n. 7.209/84, que alle­rou a Parte Geral do CP, devem ser canceladas na legisla,ao especial, de que faz parte a lei que define os crimes contra a economia popular, as referencias a valores de multa, substituindo-se a expressao "multa de ... " por "multa".

113

I

(

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5. CRIMES ELElTORAIS

o C6digo Eleitoral (Lei n. 4.737, de 15-7-1965) define delitos nos arts. 289 a 354, deixando de cuidar da prescri<;:ao. No art. 287, entretanto, afirma a incidencia das regras gerais do CP, em consonancia com 0 que disp6e 0 art. 12 deste (vide art. 287 do CE). Diante disso, sao aplicaveis aos delitos elei­torais todos os principios atinentes a prescli<;:ao contidos em nosso estatuto penal comum. Nesse sentido: STF, Inq. 794-3, Plenmo, reI. Ministro Celso de Mello, RT, 710:360. 0 mes­mo ocorre em rela<;:ao a Lei n. 6.091, de 15-7-1974, que tam­bern define delitos eleitorais.

6. CRIMES FALIMENTARES

Nos termos do art. 199, caput, da Lei de Falencias (Dec.­lei n. 7.661, de 21-6-1945), "a prescri<;:ao extintiva da punibilidade de clime falimentar opera-se em dois anos". 0 bienio, nos termos do paragrafo unico, "come<;:a a correr da data em que transitar emjulgado a senten<;:a que encerrar a fa­lencia ou que julgar cumprida a concordata".

Assim, nos delitos falimentares, 0 prazo prescricional da pretensao punitiva e da pretensao execut6ria, qualquer que seja a quantidade da pena abstrata ou imposta na senten<;:a con­denat6lia, e sempre de dois anos. Nesse sentido: TJSP, AClim 134.706, iT], 158:299; STJ, RHC 4.990, 5' Turma, DiU, 5 fey. 1996, p. 1409.

Quanto a forma da contagem do prazo extintivo da pre­tensao execut6lia nao ha discrepancia na doutrina e na julis­prudencia: e sempre de dois anos, contados a partir do transi­to em julgado da senten<;:a condenat6lia para a acusa<;:ao, nos termos do art. 112, I, do CPo Divergem, entretanto, no tocante

114

a contagem do lapso prescricional da pretensao punitiva (da a<;:ao). Ha tres posi<;:6es a respeito do assunto:

I') 0 bienio deve ser considerado a partir do transito em julgado da senten<;:a de encerramento da falencia, de acordo com 0 paragrafo unico do art. 199 da Lei de Falencias.

E dever do falido realizar atividades no sentido do pron­to termino da falencia, buscando evitar prejuizo aos credores. Assim, transitando em julgado a senten<;:a de encerramento, se inicia a contagem do bienio, nao sendo justo que com sua ne­gligencia consiga a extin<;:ao da punibilidade.

2') 0 bienio tern inicio na data do transite em julgado da senten<;:a de encerramento da falencia; se, contudo, 0 pro­cedimento falimentar nao terminar dois anos depois da decla­ra<;:ao da quebra (Lei de Falencias, art. 132, § 1 Q), ocorre a pres­cri<;:ao quatro anos depois da decreta<;:ao da falencia.

Segundo essa olienta<;:ao, a regra e de contar-se 0 bienio da data do transito em julgado da senten<;:a de encerramento da falencia (Lei de Falencias, art. 199, paragrafo unico). Pode acontecer, entretanto, que 0 processo de falencia nao termine dentro do prazo do art. 132, § 1 Q, da lei especial ("salvo caso de for<;:a maior, devidamente provado, 0 processo de falencia devera estar encerrado dois anos depois do dia da dec1ara<;:ao"). Quando is so ocorre (e a regra), os dois anos devem ser conta­dos do termino do bienio a partir da declara<;:ao da quebra. Sig­nifica que 0 bienio previsto no paragrafo unico do art. 199 da Lei de Falencias deve ser considerado a partir do termino do bienio previsto no § 1 Q do art. 132 da mesma lei. 0 prazo total e, entao, de quatro anos: dois anos da dec1ara<;:ao da falencia ate 0 encerramento ficticio; mais dois anos a partir da data do encerramento ficticio. E 0 que se contem na Sumula 147 do STF: "a prescli<;:ao de clime falimentar coinec;:a a correr da data em que deveria estar encerrada a falencia, ou do transito em

115

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julgado da senten~a que a encerrar ou que julgar cumprida a concordata". Assim, terminado 0 processo de faH\ncia dentro do prazo do art. 132, § 1 Q, dois anos depois da senten~a declarat6ria, 0 que e raro, 0 bienio tern inicio na data do triin­sito em julgado da decisao de encerramento. Se, entretanto, nao terminar em dois anos a partir da senten~a declarat6ria, 0

que is comum, 0 bienio come~a a ser contado da data em que deveria estar encerrada a falencia, i. e., dois anos depois da declara~ao da quebra. Nesse sentido: STJ, HC 10.667, 6' Tur­rna, DIU, 28 fey. 2000, p. 126.

3') 0 prazo extintivo de dois anos se inicia na data do transito em julgado da senten~a de encerramento da falencia; se a falencia nao terrninar dentro do prazo legal, 0 bienio se inicia na data em que deveria estar encerrada; se a denuncia is recebida antes dos dois anos a partir da declara~ao da quebra, a data do recebimento constitui 0 termo inicial do prazo; se a denuncia e recebida depois dos dois anos a partir da declara­~ao da falencia, 0 recebimento constitui causa interruptiva da prescri~ao.

Trata-se de uma variante da posi~ao anterior. A regra e a mesma: 0 bienio tern inicio na data em que transita em julga­do a senten~a de encerramento da falencia. Nao terminando no prazo legal, os dois anos devem ser considerados a partir do encerramento fictfcio. Pode ocorrer, contudo, que 0 rece­bimento da denuncia se de antes dos dois anos contados a par­tir da declara~ao da que bra. Neste caso, 0 termo inicial do bienio recua a data do recebimento. E, se 0 recebimento da denuncia acontecer depois dos dois anos contados da declara­~ao da falencia e antes dos outros dois anos considerados a partir da data em que deveria estar encerrada, ele constituini causa interruptiva da prescri~ao, que estava correndo desde a data do encerramento ficto (CP, art. 117, I).

116

Nos termos da Sumula 592 do STF, sao aplicaveis a pres­cri~ao em rela~ao aos delitos falimentares as causas interrup­tivas pre vistas no art. 117 do CP'.

7. CRIMES DE IMPRENSA

o art. 41, caput, da Lei de Imprensa (Lei n. 5,250, de 9-2-1976), disp6e que a prescri~ao da pretensao punitiva ocorre em "dois anos ap6s a data da publica~ao ou transmissao incriminada", e a da pretensao execut6ria, "no dobro do prazo em que for fixada" a pena.

Assim, 0 prazo prescricional, antes de transitar em julga­do a senten~a final, qualquer que seja a quantidade da pena abstrata, decorre em dois anos, contados a partir da data da publica~ao ou transmissao incriminada. Nesse sentido: STF, Inq. 484, despacho do Min. Celso de Mello, RTI, 142:689. No caso de peri6dicos que nao indiquem data, 0 bienio tern infcio no ultimo dia do mes ou do perfodo a que corresponder a pu­blica~ao (art. 41, § 3Q

).

No que tange a prescri~ao da pretensao execut6ria, 0 pra­zo, contado em dobro, varia de acordo com a quanti dade da pena. Dessa forma, condenado 0 reu a seis meses de deten~ao, o lapso prescricional e de urn ano.

As causas interruptivas do art. 117 do CP sao aplicaveis a prescri~ao em rela~ao aos delitos de imprensa3

2. RECrim 106.377, l' Tunna do STF, 29-10-1985, D1U, 22 nov. 1985, p. 21342; RT1, 116:367; RT, 596:324, 599:313, 601:308, 602:443 e 644:262.

3. RT, 441:411 e 510:461; 1TACrimSP, 8:234, 30:64, 36:249, 48:350 e 607:324; RT1, 46:677, 48:339, 49:333, 55:203, 61:579, 73:96, 117:79 e 136:664; STJ, RHC 31, 1ST1, 2:277; REsp 2.663, 6' Turma, D1U, 6 ago. 1990, p. 7352; RHC 611, D1U, 6 ago. 1990, p. 7345; STJ, HC 4.424, 5'

117

(

"

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A notifica~ao para pedir explica~6es, com base no art. 25 da Lei n. 5.250/67, nao interrompe a prescri~ao (STF, Inq. 613, Plenfuio, DJU, 8 abr. 1994, p. 7240).

o art. 41, § 12, determina que "0 direito de queixa ou de representa~ao prescreverd se nao for exercido dentro de tres meses da data da publica~ao ou transrnissao" (grifo nosso). A expressao "prescrevera" foi empregada impropriamente. 0 le­gislador nao quis referir-se 11 prescri~ao, mas 11 decadencia do direito de queixa ou de representa~ao. Nesse sentido: STF, HC 68.608, RTf, 136:664.

8. CRIMES MlLlTARES

De acordo com 0 art. 124 do CPM (Dec.-lei n. 1.001, de 21-10-1969), "a prescri~ao refere-se 11 ~ao ou 11 execu~ao da pena". A formula nao e feliz. Como explica Jose Frederico Marques, antes de transitar em julgado a senten~a final, 0 que prescreve e 0 "direito de punir no que diz respeito 11 pretensao de aplicar 0 preceito sancionador ainda abstrato"; transitando em julgado a senten~a condenatoria, 0 que prescreve e 0 "di­reito de aplicar a san~ao constante, in concreto, no titulo pe­nal executorio"4. Dai falar em "prescri~ao da pretensao puniti­va" e "prescri<;ao da pretensao executoria". Nao obstante po­der correr a prescri<;ao antes ou durante a a~ao penal, a ex-

Turma, DiU, 3 abr. 1995, p. 8138. Contra: RF, 143:369; RT, 498:320, 574:371,575:397,617:304 e 624:667; iTACrimSP, 45: 140 e 218; STJ, APn 19, Corte Especial, RT, 707:360. A doutrina se manifest. no sentido do efeito interruptivo: Jose Frederico Marques, Curso de direito penal, Sao Paulo, Sar.iva, 1956, v. 3, p. 423; MagalMes Noronba, Direito penal, 20. ed., Sao Paulo, Saraiva, 1982, v. I, p. 424 e 425, n. 243; Rodrigues Porto, Da prescri,fio penal, Sao Paulo, 1972, p. 131, n. 80.

4. Tratado, cit., v. 3, p. 412 e 414, n. 1 e 2.

118

-'"

pressao empregada pelo CPM d:i a entender que a prescri~ao atinge a propria a~ao penal, 0 que e incorreto.

A prescri~ao da pretensao punitiva e regulada, em regra, pelo maximo da pena privativa de liberdade corninada ao deli­to (art. 125, caput). Excepcionalmente, sobrevindo senten~a condenatoria com apelo exclusivo do reu, 0 prazo prescri­cional, da data de sua publica~ao em diante, e disciplinado pela quantidaue da pen a imposta (art. 125, § )2, l' parte, correspondendo 11 hip6tese do atual § 12 do art. 110 do CP).

A prescri~ao retroativa foi adotada expressamente, con­dicionando-se 11 existencia de recurso exc1usivo do reu, de­venda "ser logo dec1arada, sem prejuizo do andamentq do recurso se, entre a ultima causa interruptiva do curso da pres­cri~ao (§ 52) e a senten<;a, ja decorreu tempo suficiente" (§ 12,2' parte).

A prescri~ao da pretensao executoria e regulada pela quan­tidade da pena imposta na senten~a condenatoria (art. 126).

Se imposta pena de morte, 0 prazo e de trinta anos (art. 125, I).

Cuidando-se de tentativa de crime punido com a morte, esta corresponde 11 reclusao por trinta anos (art. 81, § 32). De maneira que, para efeito de prescri<;ao, deve-se tomar em con­ta a pena de trinta anos com a diminui<;ao de urn ten;o, ocor­rendo em vinte anos (art. 125, II).

9. ESTATUTO DA CRIAN<;:A E DO ADOLESCENTE

Cuida de infra~6es infanto-juvenis e nao de infra~6es pe­nais, sendo inaplicavel 0 instituto da prescri~ao penal (STJ, RO em HC 9.736, 5' Turma, ReI. Min. Gilson Dipp, RT, 800:552).

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Capitulo VI , ,

DAPRESCRlt;AO RETROATIVA

1. ORIGEM DO INSTlTUTO.A SUMULA 146 DO STF

o tema da possibilidade de a pena concretizada na sen­ten9a, desde que impossivel de ser agravada, regular 0 prazo prescricional anterior it data de sua publica9ao, sempre gerou discussao na doutrina e na jurisprudencia brasileiras. Como lembra Nilson Vital Naves, ja na vigencia do Decreto n. 4.780, de 27-12-1923, divergiam os estudiosos a respeito da retroa­tividade da pena imposta na senten9a condenat6ria no sentido de permitir a extin9ao da punibilidade pela prescri9ao da pre­tensao punitiva (da a9ao). Veja-se, por exemplo, 0 HC 28.638, em que 0 STF, por maioria de votos, concedeu a ordem admi­tindo 0 efeito retroativo da pena concreta no que tange it conta­gem do prazo prescricional anterior it senten9a condenat6ria I.

I. 0 Supremo Tribunal Federal e 0 principio da prescri~ao pela pena em concreto, Justitia, Sao Paulo, 1975,88:285.

120

Com a entrada em vigor do CP de 1940, 0 Pret6rio Excelso, em sessao plenana de 12-6-1946, por unanimidade de votos, no HC 29.370, decidiu que 0 antigo panigrafo unico do art. 1l0, pela sua situa9ao topognifica, poderia levar a su­por cui dar de hip6tese de prescri9ao da pre ten sao execut6ria (da condena9ao ou da execw;:ao). Entretanto, como disse 0 Min. Castro Nunes, "se 0 art. 109, depoisde assentar 0 princi­pio de que a prescri9ao da a9ao e a que ocorre antes do transi­to em julgado da senten9a final, admite uma exce9ao, a do paragrafo unico do art. II 0" ... , "parece claro que a exce9ao se refere it prescri9ao do procedimento penal... A razao do dispo­sitivo legal e 6bvia: se pelo recurso do feU nao seria possivel uma reformatio in pejus, a fixa9ao da pena se torna definitiva, retroagindo para beneficia-lo, como se fora a pena cominada na Iei"2.

No final de 1947, contudo, 0 STF se orientou em sentido contrano, inadmitindo a retroatividade prescricional da pena concreta. No HC 29.922 ficou decidido que 0 antigo paragra­fo unico do art. 110 do CP regia a denominada prescri9ao superveniente it senten9a condenat6ria, nao possuindo efeito de reger 0 prazo extintivo anterior it sua publica9a03. Essa ori­enta9ao foi mantida ate 0 final de 19504

Dividiram-se as opini6es no STF a partir de 1951. De urn lado a corrente liderada por Nelson Hungria; de outro, a do Min. Luiz Gallotti. Argumentava Hungria no sentido de que

2. DJ, 19 mar. 1948; cila~ao de Nilson Vital Naves, 0 Supremo Tribu­nal Federal, Justitia, 88:285.

3. RF, 115:204; cita~ao de Nilson Vital Naves, 0 Supremo Tribunal Federal, Justitia, 88:285.

4. RT, 182:473; cita~ao de Nilson Vital Naves, 0 Supremo Tribunal Federal, Justitia, 88:285.

121

r'

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"a pena concretizada, na ausencia de recurso do Ministerio Publico, e a unica a que, no caso, correspondia ab initio 0 di­reito de punir por parte do Estado, de modo qne a mais ele­mentar Justi<,;a imp6e 0 aproveitamento do tempo decorrido entre a ultima causa interrnptiva e a senten<,;a condenat6ria". Assim, para ele, "se entre a ultima causa interruptiva e a sen­ten<,;a condenat6ria ja decorreu tempo suficiente para a pres­cri<,;ao da pena in concreto, a senten«a nao e causa interrnptiva, pois nao se interrompe aquilo que ja cessou ou que ja se con­sumou". Para 0 Min. Luiz Gallotti, contudo, "a nossa lei e ex­pressa ao atribuir efeito interruptivo it senten<,;a condenat6ria recorrivel (art.1l7, IV) e, por igual, no dizer que, em regra, a prescri<,;ao interrompida recome<,;a a correr por inteiro (art. 117, § 2Q

), a tomar claro que ficou inutilizado, para tal fim, 0 prazo que fluiu anteriorrnente". Diante disso, a partir da senten<,;a condenat6ria, 0 prazo prescricional, na ausencia de recurso da acusa<,;ao, passaria a ser regido pela pena imposta e nao pela pena abstrata, como ocorria anteriorrnente5• Era vencedora a corrente defendida pelo Min. Luiz Gallotti, de modo que 0

Pret6rio Excelso, por maioria, entendia que a pena imposta na senten<,;a condenat6ria, havendo apela<,;ao somente do reu, pas­sava a reger 0 prazo prescricional a partir da data de sua publi­ca<,;ao, nao tendo efeito retroativo.

Essa posi<,;ao perrnaneceu ate fins de 1959, quando entao as duas posi<,;6es passaram a ter igualdade de votos, dependen­do a decisao, como inforrna Nilson Vital Naves, "da composi­<,;ao do Tribunal no momento do julgamento"6.

A partir de 1960, contudo, com a altera<,;ao no quadro de

5. RT, 217:574 e 220:519; RTJ, 12:208; cita~6es de Nilson Vital Na­ves, 0 Supremo Tribunal Federal, Justitia, 88:285.

6. 0 Supremo Tribunal Federal, Justitia, 88:287.

122

Ministros, a tese favoravel it retroatividade da pena concreta pas sou novamente a ser vencedora. E em 1964 foi editada a Stimula 146, consagrando a prescri<,;ao retroativa: "A prescri­<,;ao da a<,;ao penal regula-se pela pena concretizada na senten­<,;a, quando nao ha recurso da acusa<,;ao". Inicialmente, 0

Pret6rio Excelso reconhecia todas as conseqiiencias 16gicas do principio sumular, pennitindo a contagem do prazo entre a data do fato e a do recebimento da denuncia, nao exigindo recurso do reu e 0 aplicando em caso de condena<,;ao em segundo grau. Em 1970, entretanto, teve inicio movimento no sentido de res­tringir 0 seu a\cance, exigindo-se os seguintes requisitos para a sua aplica<,;ao: senten<,;a condenat6ria de primeiro grau; exis­tencia de apela<,;ao da defesa e inexistencia de recurso da acu­sa«ao e contagem do prazo somente entre a data do recebimen­to da denuncia e a publica<,;ao da senten<,;a condenat6ria. Sobre a restri<,;ao, disse 0 Min. Luiz Gallotti: "Como entendo que a Sumula e errada, e tenho que me submeter a ela, nao amplio 0

erro - fico no erro, mas nao yOU alem dele"'. A prescri<,;ao retroativa nao podia incidir nos seguintes casos: existencia de apela«ao da acusa<,;ao, provida ou improvida; inexistencia de recurso do reu; prazo entre a data do fato e a do recebimento da denuncia; absolvi<,;ao em primeira instancia e condena«ao no Tribunal e pena atenuada em segundo grau. Essa orienta<,;ao restritiva, segundo inforrna«ao de Nilson Vital Naves, vigorou com certa tranqiiilidade ate final de 1974, quando 0 Pret6rio Excelso, com dois novos Ministros (Leitao de Abreu e Cordei­ro Guerra), reviveu os debates sobre 0 tema e se inc\inou no sentido liberal, nao aceitando, entretanto, todas as conseqiien­cias 16gicas do principio retroativo.

7. RTJ, 59:893; cita~ao de Nilson Vital Naves, 0 Supremo Tribunal Federal, Justitia, 88:290.

123

Page 72: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

2. 0 ANTEPROJETO DE CPo 0 CP DE 1969. A LEI N. 6.016173

Em 1963, urn ano antes da edi<;ao da Sumula 146 do STF, foi publicado 0 Anteprojeto de CP, que, no art. 110, § 1°, com a indica<;ao marginal "superveniencia de senten<;a condenat6ria de que somente 0 reu recorre", adotava expressamente a pres­cri<;ao retroativa: "Sobrevindo senten<;a condenat6ria, de que somente 0 reu tenha recorrido, a prescri<;ao passa a regular-se pela pena imposta, e deve ser logo declarada, sem prejuizo do andamento do recurso, se, entre a ultima causa interruptiva do curso da prescri<;ao (§ 5°) e a senten<;a, ja decorreu tempo su­ficiente" .

o Decreto-Iei n. 1.004, que instituiu 0 CP de 1969, nao adotou 0 principio retroativo no tocante it pena imposta na sen­ten<;a sem recurso da acusa<;ao. 0 art. 111, § 1°, com a indica­<;ao marginal "superveniencia de senten<;a condenat6ria de que somente 0 reu recorre", impedia 0 efeito retroativo: "A pres­cri<;ao, depois da senten<;a condenat6ria de que somente 0 reu tenha recorrido, regula-se tamMm, daf por diante, pel a pena imposta e verifica-se nos mesmos prazos" (grifo nosso). A expressao daf por diante indicava que a pena imposta na sen­ten<;a, havendo apela<;ao somente do reu, passava a regular 0

prazo prescricional superveniente it data de sua publica<;ao, vedado 0 efeito retroativo. Recorrendo somente 0 reu e nao havendo, em face disso, possibilidade de ser agravada a pena, da senten<;a em diante ela passava a reger a prescri<;ao. Assim, a senten<;a condenat6ria cumpria sua fun<;ao de causa inter­ruptiva do prazo prescricional, permitindo que apos ela reco­me<;asse a correr outro lapso, agora nao mais regulado pela pena abstrata, mas concreta. Sobre 0 tema, explicava a Expo­si<;ao de Motivos: "Em materia de prescri<;ao, 0 Projeto expres-

124

samente elimina a prescri<;ao pela pena em concreto, estabele­cendo que, depois da senten<;a condenat6ria de que somente 0

reu tenha recorrido, ela se regula tamMm, daf por diante, pela pena imposta. Terrnina-se, assim, com a teoria brasileira da prescri<;ao pela pena em concreto, que e tecnicamente insus­tentavel e que compromete gravemente a eficiencia e a serie­

dade da repressao" (n. 37).

Surgiu entao 0 Projeto de lei n. 1.457, de 1973, do Poder Executivo, apresentando emendas ao CP de 1969. 0 § 1° do art. 111 teve sua indica<;ao marginal alterada para "super­veniencia de senten<;a condenatoria com transito em julgado para a acusa<;ao". Rezava 0 texto: "A prescri<;ao, depois da senten<;a condenat6ria com transito em julgado para a acusa­<;ao, regula-se, tambem, pela pena imposta e verifica-se nos mesmos prazos". Na Exposi<;ao de Motivos do Projeto, 0 en­tao Min. Alfredo Buzaid esclarecia que, com fundamento na doutrina de Nelson Hungria e acatando 0 principio contido na Sumula 146 do STF, a disposi<;ao adotava 0 principio sumular retroativo. Para isso, havia suprimido a expressao "dai por di­ante", nao mais exigindo recurso exclusivo do reu, mas transi­to emjulgado da senten<;a condenat6ria para a acusa<;ao. Esta­va aceito 0 principio de que a pena concretizada na senten<;a, sem possibilidade de agrava<;ao em face da inexistencia de re­curso da acusa<;ao, era a san<;ao ab initio justa para a resposta penal, revelando-se a san<;ao abstrata muito severa e injusta para regular 0 1apso prescricional.

No final de 1973 surgiu a Lei n. 6.016, de 31 de dezem­bro, fruto do Projetode lei n. 1.457173, que introduziu modifi­ca<;6es no CP de 1969. 0 art. 111, § 1 0, mantinha a mesma reda<;ao anterior, admitindo, segundo 0 Min. Alfredo B uzaid,

a prescri<;ao retroativa.

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3. A REFORMA PENAL DE 1977 (LEI N. 6.416177)

Em mar<;o de 1977, a Presidencia da Republica, pela Mensagem n. 37177, enviou ao Congresso Nacional 0 Projeto de lei n. 2, alterando dispositivos do CP de 1940. Dentre as modifica<;5es, como esclareceu 0 Min. Armando Falcao, pas­sou a disciplinar-se "0 prazo da prescri<;ao posterior 11 senten­<;a condenatoria, eliminando uma elastica interpreta<;ao que vinha sendo causa de impunidade, nao so quanta 11 pena prin­cipal, como tambem 11 acessoria, com indesejaveis efeitos ju­ridico-sociais"s. Do Projeto de lei n. 2 surgiu a Lei n. 6.416, de 24-5-1977, que alterou 0 regime da prescri<;ao em nossa legisla<;ao penal. 0 art. 110 do CP, com as modifica<;5es, pas­sou a ter a seguinte redaliao:

"A prescri<;ao, depois de transitar em julgado a sentenlia condenatoria, regula-se pela pena imposta e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de urn terlio, se 0 condenado e reincidente.

§ 1 Q A prescri<;ao, depois da senten<;a condenatoria com triinsito em julgado para a acusa<;ao, regula-se, tamMm, pela pena aplicada e verifica-se nos mesmos prazos.

§ 2Q A prescri<;ao, de que trata 0 paragrafo anterior, im­porta, tao-somente, em renuncia do Estado 11 pretensao executoria da pen a principal, nao podendo, em qualquer hipo­tese, ter por termo inicial data anterior 11 do recebimento da denuncia" .

De forma complicada e confusa estava consagrada em nosso CP a tese da prescri<;ao retroativa, genufna e incompa-

8. Exposi~ao de Motivos do Projeto, n. 15.

126

ravel cria<;ao brasileira, desconhecida na doutrina e na legisla­

<;ao estrangeiras. Com 0 advento da inova<;ao de 1977, passou nossa legis­

la<;ao penal a preyer tres especies de prescri<;ao:

P) prescri<;ao da pretensao punitiva (CP, art. 109);

2') prescri<;ao da pretensao executoria (CP, art. 110,

caput); e 3') prescri<;ao retroativa (CP, art. 110, § 2Q).

4. A REFORMA PENAL DE 1984

A Lei n. 7.209, de 11-7-1984, que deu nova reda<;ao 11 Parte Geral do CP de 1940, pas sou a reger a prescri<;ao retroa­tiva nos §§ 1 Q e 2" do art. 110:

"§ 1" A prescri<;ao, depois da senten<;a condenatoria com transito em julgado para a acusaliao, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada.

§ 2" A prescri<;ao, de que trata 0 paragrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior 11 do recebimento da denun­

cia ou da queixa" . Nos termos do novo sistema penal, duas sao as especies

de prescri<;ao em nossa legisla<;ao:

1") prescri<;ao da pretensao punitiva: arts. 109 e 110, §§

1" e 2"; e 2') prescri<;ao da pretensao executoria: art. 110, caput.

5. NATUREZA JURlDlCA

A denominada prescri<;ao retroativa, da maneira como foi disciplinada na reforma penal de 1984, constitui forma da pres-

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cris;ao da pretensao punitiva (da as;ao)9. Tern por fundamento a inercia da autoridade publica, punindo-a com a extins;ao da punibilidade pela prescris;ao da pretensao punitiva quando nao ultima 0 processo criminal nos prazos legais 10.

o art. 109, caput, disciplinando a prescris;ao da pretensao punitiva, diz que, em regra, 0 prazo e considerado em face da pena abstrata, excepcionando dois casos em que se leva em conta a pena concreta, precisamente a prescris;ao superveniente ea prescris;ao retroativa (§§ 1" e 2Q do art. 110). Daiconfigurar a prescris;ao retroativaformada prescris;aoda pretensao punitiva.

6. CONFLlTO INTERTEMPORAL DE LEIS

o art. 110, § 2Q, do CP, com redas;ao da Lei n. 6.416177, havia incorporado 0 conteudo da Sumula 146 do STF, restrin­gindo 0 alcance da prescris;ao retroativa em dois pontos:

I Q) 0 texto limitava a contagem do prazo extintivo da

9. RECrim 105.019, 2' Turma do STF, em 21-5-1985, v. un., ReI. Min. Aldir Passarinho, DfU, 29 nov. 1985, p. 21922; RTf, 118:279; RT, 613:377; STF, HC 68.924, DfU, 13 dez. 1991, p. 18355; RTf, 138:815; TACrimSP, RECrim 575.497, RT, 648:306; STJ, ARAI 242, RSTf, 6:77.

10. A 2' Turma do STF, entretanto, adotando a posi~ao tomada pelo Plenario no toeaDte a prescric;3.0 superveniente a sentenc;a condenat6ria (vide nota II do Capitulo III, n. 9, desta obra), entendeu que nem sempre a prescric;3.o retroativa atinge a pretensao punitiva. Fez distinc;oes: se a apelac;ao da defesa visa a absolvic;3.o, nao havendo sentenc;a condenat6ria com transito emjulgado, a hip6tese e de prescric;3.o da pretensao punitiva; se, pon5m, a defesa, nao se rebelando contra a condenac;ao, pretende a reduc;3.o da pena, a prescric;3.o incide sabre a pretensao execut6ria (RECrim 104.985, em 18-9-1987, v. un., ReI. Min. Celio Borja, DfU, 9 out. 1987; no mesmo sentido: STF, RECrim 104.599, RTf, 127:279). Para n6s, como ficou consignado no estudo do art. 110, § I", do CP, h:i prescri~ao da pretensao punitiva nas duas hlp6teses.

128

punibilidade entre a data do recebimento da denuncia e a da publicas;ao da sentens;a condenat6ria;

2Q) s6 permitia que a extins;ao da punibilidade atingisse a pretensao execut6ria da pena principal, subsistindo os ou­tros efeitos da sentens;a condenat6ria.

o antigo panigrafo unico do art. 110 do CP, em que se assentava a Sumula 146, nao impedia a contagem do prazo anterior a denuncia. Tanto e que 0 STF, em certo perfodo, ad­mitia a consideras;ao desse prazo II. 0 texto do § 2Q do art. 110, contudo, nao permitia fosse levado em conta 0 tempo a partir da data do fato.

Incidente a Sumula 146, a sentens;a condenat6ria perdia total validade, salvo a eficacia de fixar a quantidade da pena para efeitos prescricionais retroativos. Assim, desapareciam todos os efeitos da sentens;a condenat6ria, principais ou aces­s6rios. De acordo com 0 texto de 1977, entretanto, s6 era ex­tinta a pretensao execut6ria das penas principais, subsistindo a sentens;a condenat6ria, as primitivas penas acess6rias, as medidas de segurans;a e as conseqUencias secundarias da con­denas;ao.

Certo ou errado 0 seu conteudo, a Sumula 146 tinha as­sen to legal no antigo paragrafo unico do art. 110 do CP, tanto que todos os ac6rdaos do Pret6rio Excelso a ela faziam e fa­zem referencia. Era entao aquele dispositivo que permitia a incidencia da prescris;ao retroativa.

I L Era lranqUila a jurisprudencia do Pretorio Excelso em termos de nao admitir, em rela~ao aos fatos comeridos ao tempo da Sumula 146, a considera93.0 do prazo prescricional retroativo anterior a data do recebi­mento da denuncia (RTf, 83:610, 96:610 e 1401 e 97:421). De ver-se, en­Iretanto, que tal restri~ao nao vinga diante do novo texto do § 22 do art. 110 do CP, parte fmal, em que se admite a contagem do prazo a partir do fato (RT, 598:441 e 595:360).

129

(

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\

Comparando-se as duas disposiy6es, a do antigo panigra­fo tinico com a do § 2Q do art. 110 do CP, na reforma penal de 1977, via-se que aquele, em face das duas restriy6es da lei nova supramencionadas, era mais favonivel ao reu. Diante disso, no conflito intertemporal de leis, prevalecia a ultra-atividade da disposiyao anterior. Em conseqUencia, a Stimula 146 e 0 anti­go paragrafo unico do art. 110 do CP continuavam a regular os fatos ocorridos antes de 25-5-1977, data em que entrou em vigor a Lei n. 6.416. Nao se tratava, que fique bem assinalado, de comparar a Sumula 146 com 0 anterior § 2Q do art. 110 do CPo Cuidava-se de comparar duas disposiy6es: uma, a do anti­go paragrafo unico, em que se assentava a Sumula 146, que permitia, com variayao de entendimento na jurisprudencia, os efeitos da prescri<;ao retroativa; ontra, a do anterior § 2Q do art. 110 do CP, que, adotando expressamente 0 principio sumular, nao permitia a sua aplicayao com todas as conse­qiiencias da adoyao da tese sumular, as quais a legislayao anti­ga nao impedia12•

Com 0 advento da Lei n. 7.209, de 11-7-1984, que reformulou a Parte Geral do CP, a prescriyao retroativa, como ficou consignado, retornou ao seu destino de forma de pres­criyao da pretensao punitiva. Assim, no conflito intertemporal de leis (redayao do § 2 Q do art. 110 do CP nos termos das Leis

12. 0 Grupo de Trabalho da ProellIadoria-Geral de Justi<;a de Sao Paulo, designado para apreeiar a Lei n. 6.416177, ehegou a seguinte con· clusao: "A interpreta<;ao do antigo paragrafo unieo do art. 110 do CP, ob· jeto da Sumula n' 146 do STF, par ser mais favoravel ao reu (Const. Fede­ral, art. 153, § 16), apliea-se as infra<;6es eometidas antes da vigeneia da Lei n" 6.416177" (entendimento original de Dante Busana; Justitia, 99:525). E a posi<;ao tranqUila da jurisprudeneia (RT, 503:282; RJTJSP, 46:275 e 49:307; JTACrimSP, 48:381 e 50:369,378 e 389; STF, DJU, 18 nov. 1977, p. 88233). Sobre os efeitos amplos d. Sumul. 146: RT, 391:323; RDPen, 6:138.

130

ns. 6.416177 e 7.209/84), deve prevalecer 0 efeito retroativo da posterior, mais benefica que a anterior.

Tratando-se de crime permanente, parte cometida ao tem­po da anterior redayao do § 2Q do art. 110 do CP e parte sob a vigencia do novo texto, advindo da reforma penal de 1984, deve incidir a lei nova, mais benefica.

Cuidando-se de crime habitual, realizado parcialmente sob a vigencia do antigo § 2Q do art. 110 do CP, e parte sob a lei nova, menos gravosa, de aplicar-se esta, desde que os atos cometidos durante a norma posterior sejam em numero sufici­ente para a configurayao da habitualidade.

7. COMO SE CONTA 0 PRAZO PRESCRICIONAL

Desde que transitada em julgado para a acusayao ou improvido 0 seu recurso, verifica-se 0 quantum da pena im­posta na sentenya condenat6ria. A seguir, ajusta-se tal prazo num dos incisos do art. 109 do CPo Encontrado 0 respectivo periodo prescricional, procura-se encaixa-Io entre dois p610s: a data da consumayao do crime e a do recebimento da dentin­cia ou da queixa ou a data do recebimento da denuncia ou da queixa e ada publicayao da sentenya condenat6rialJ

• Se 0 pra­zo prescricional couber, contado retroativamente, entre a data em que a sentenya condenat6ria foi publicada e a em que hou­ve 0 recebimento da dentin cia, ou entre a desta e a da consu­mayao do crime, cabera a extinyao da punibilidade, nos ter­mos do § 2Q do art. 110 do CPo

13. E importante, pois, • ex.t. flx""ao da d.ta d. publie""ao d. sen­telll;a condenatoria, como veremos em outro item.

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Exemplo: processado por lesao corporal leve (CP, art. 129, caput), 0 sujeito vern afinal a ser condenado ao mfnimo legal, tres meses de deten<;ao. A senten<,:a condenat6ria tran­sita em julgado para a acusa<;iio. Apelando ou nao 0 reu, pode ser averiguado se ocorreu a extin<,:ao da punibilidade pela prescric,;ao retroativa. Suponha-se que a denuncia tenha sido recebida em 4-4-1980, vindo a ser publicada a senten<;a em

10-5-1982.

2-1-1980 RD 1 ano 2 anos PSC TJSCMP

A B PR , C D

j I I 4-4-1980 3-4-1982 10-5-1982

A = data do crime de lesao corporalleve (2-1-1980)

RD = data do recebimento da denuncia

E

PSC = data da publica<,:ao da senten<,:a condenat6ria

TJSCMP = data do transito em julgado da senten<,:a conde-nat6ria para 0 Ministerio Publico

PR = prescri<,:ao retroativa

A partir da data do cometimento do crime estava correndo urn prazo prescricional da pretensao punitiva, regulado pelo maximo da pena abstrata. Como esta e de urn ano de deten<,:ao (CP, art. 129, caput), tal prazo era de quatro anos (CP, art. 109, V). Passados tres meses da data do fato a denuncia foi recebida (4-4-1980). Interrompeu-se 0 prazo prescricional de quatro anos (CP, art. 117, I). E a partir da data em que a denuncia foi recebi­da outro prazo de quatro anos come<;ou a correr (CP, art. 117, § 2Q). Pouco mais de dois anos, porem, contados do recebimento da denuncia, foi publicada a senten<,:a condenat6ria (10-5-1982).

132

Houve nova interrup<;ao do prazo prescricional de quatro anos. No momento em que transitou em julgado a senten<;a condenat6ria para 0 Ministerio Publico, ou foi improvido 0 seu recurso, surgiu a possibilidade de ser verificada a ocorrencia da prescri<;ao retroativa. E ela realmente ocorreu. Condenado 0 reu a tres meses de deten<;ao, como restou assinalado, 0 prazo prescricional e de dois anos. E decorreu 0 bienio entre a data do recebimento da denuncia (4-4-1980) e a da publica<;ao da sen­ten<;a condenat6ria (10-5-1982). Significa que a extin<;ao da punibilidade, pela prescri<;ao retroativa, nos moldes do § 2Q do art. II 0 do CP, ocorreu no dia 3-4-1982, dois anos depois do recebimento da demincia. De modo que a senten<;a condenat6ria, quando foi publicada, urn mes depois, nao tinha capacidade de gerar 0 efeito da pretensiio punitiva, extinta diante do preceito legal. Isso nao ocorreria se a senten<;a condenat6ria tivesse sido publicada ate 2-4-1982. Esse prazo, entre os pontos Bee, que antes era regulado pela pena abstrata, transitando em julgado a senten<;a condenat6ria para a acusac,;ao, ou sendo improvido 0

seu recurso, passou a ser disciplinado pela pena concretal4.

E possfvel que 0 prazo prescricional tenha decorrido nos dois perfodos. Ex.: prazo de dois anos decorridos, quer entre a data da consuma<;ao do crime e a do recebimento da den un­cia, quer entre esta e a da publica<;iio da senten<;a condenat6ria. Nesse caso, considera-se 0 primeiro perfodo, sendo irrelevante levar-se em conta 0 segundo.

Tendo sido aplicada pena restritiva de direitos na senten­<;a condenat6ria, 0 prazo prescricional e regulado pelo seu

14. ISBa lembra a hist6ria do sacerdote que na missa de sabado a noite anunciou aDs fieis que a procissao do dia seguinte seria as quatro horas da tarde, salvo se viesse a chover a tarde, caso em que ela seria realizada as nove horas da manha.

133

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quantum, que corresponde ao da pena privativa de liberdade (CP, arts. 55 e 109, panlgrafo unico).

A prescri<;;ao retroativa difere da prescri<;;ao superveniente it senten<;;a condenat6ria. Na retroativa, devemos considerar 0

prazo da data da publica<;;ao da senten<;;a condenat6ria para tnls, ate a data do recebimentoda denuncia ou da queixa; ou entre esta data e a da consuma<;;ao do crime. Na superveniente, con­tamos 0 prazo da senten<;;a condenat6ria para frente.

Demonstra<;;ao gnmca:

A B 4 C • D

L ,-------1----·-----1- --- - ---- ---r

CC RD PSC TJSCA ou IRA

CC = data da consuma<;:ao do crime

RD = data do recebimento da demincia (ou da queixa)

PSC = publica<;:ao da senten<;:a condenat6ria

TJSCA = transito em julgado da senten<;;a condenat6ria para a acusa<;:ao

IRA = improvimento do recurso da acusa<;:ao

A prescri<;:ao intercorrente (CP, art. 110, § 1") pode ocor­rer do ponto "c" em diante, i.e., a partir da publica<;:ao da sen­ten<;:a condenat6ria. Ao contrano, a prescri<;:ao retroativa pode ter seu curso esgotado entre 0 recebimento da denuncia (ou da queixa) e a publica<;:ao da senten<;:a condenat6ria; ou entre a consuma«ao do crime e a data do recebimento da denuncia. A primeira ocorre depois da senten<;:a. Por is so se denomina "superveniente". A outra, a retroativa, ocorre antes da senten­<;:a. Por isso se chama "retroativa".

134

8. FlXA<;::Ao DO PRAZO PRESCRICIONAL

a) Causas de aumento e de diminuiqiio de pena, agravantes e atenuantes

As causas de aumento ou de diminui<;;ao da pena, previs­tas na Parte Geral ou na Parte Especial do CP, quando consi­deradas na senten<;;a condenat6ria, sao levadas em conta para a contagem do prazo prescricional retroativo l5• Assim, supo­nha-se que a senten<;;a, condenando 0 reu por tentativa de estu­pro simples (CP, art. 213, caput), tenha fixado a pena-base no minimo legal (seis anos de reclusao) e a reduza de urn ter<;;o, perfazendo 0 total de quatro anos. 0 prazo prescricional retro­ativo deve ser considerado em face da causa de diminui<;:ao, sendo regulado pela pena de quatro anos de reclusao. Assim, ocorre em oito anos (art. 109, IV) e nao em doze anos (art. 109, Ill). Nao incide, entretanto, 0 acrescimo de pena previsto para 0 concurso formal e crime continuado (CP, arts. 70 e 71), como veremos oportunamente. Nesse sentido: STJ, ROHC 9.131,5' Turma, DiU, 21 fey. 2000, p. 140.

Como se leva em conta a pena total imposta na senten<;:a, sao consideradas as circunstancias agravantes e atenuantes (CP, arts. 61, 62 e 65). Sao tambem consideradas as causas de dimi­nui<;;ao da pena aplicadas na senten<;:a, como ada tentativa. Nesse sentido: STJ, ROHC 9.131, S'Turma, DiU, 21 fey. 2000, p. 140.

b) Menoridade relativa

A menoridade relativa 16, para produzir 0 efeito previsto no art. 115 do CP, permitindo a redu«ao do prazo pres-

15. STF, RTJ. 79:443 e 95:1050; RT, 596:448.

16. Sujeito menor de 21 anos ao tempo da pnitica do crime, desde que nessa data tenha alcan,ado a maioridade penal.

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cricional pela metade, requer comprova~ao por intermedio do registro de nascimento, ainda que nao tenha sido contestada pela acusa~ao. Para outros efeitos, como para a atenua~ao generica da pen a (CP, art. 65, I, I" parte) ou nomea~ao de curador no processo criminal (CPP, art. 262), nao se exige a comprova~ao da menoridade por meio de documento (certi­dao de nascimento). Para 0 efeito do reconhecimento da pres­cri~ao, contudo, levando-se em conta seu efeito extintivo da punibilidade, de incidir a restri~ao do art. ISS do CPP, pelo que a simples inexistencia de contesta~ao por parte da acu­sa~ao nao leva it considera~ao da menoridade, nao se pres­cindindo da certidao de nascimento '7 . E 0 que vern entenden­do a jurisprudencia 18.

Segundo nosso entendimento, 0 art. 115 do CP nao foi al­terado pelo art. 5" do CC, que baixou a maioridade para 18 anos.

c) Reincidencia

A reincidencia nao aumenta 0 prazo prescricional retroa­tivo, sendo inaplicavel 0 disposto no art. 110, caput, parte fi­nal, do CP, que determina 0 acrescimo temporal de urn ter~o.

17. Sabre 0 tema, vide nosso C6digo de Processo Penal, cit., p. 114, com fundamentac;ao e registra doutrinario; vide tambem RT, 617:353.

18. STF, RHC 56.865-SP, 2' Turma, em 23-3-1979, y. un., ReI. Min. Leitao de Abreu, DJU, 19 abr. 1979, p. 3065; RECrim 93.1 13-SP, I'Turma, em 7-10-1980, m. y., ReI. Min. Soares Munoz, DJU, 6 fey. 1981, p. 515; RTJ, 92:978. Nao basta a RG (STF, RTJ, 85:1047). Nos termos da Sumula 74 da STF, a prayada menaridade se faz par documenta habit Vide posiC;aa de Dante Busana, Juiz da TACrimSP, em JTACrimSP, 24:158 (no sentido restrito da texta).

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Assim, mesmo que 0 Juiz, na senten~a condenat6ria, reconhe­~a a reincidencia, 0 prazo prescricional, para efeito do precei­to do § 2Q da mesma disposi~ao, e regulado pela pena concre­ta, que, em tese, ja reconheceu a recidiva, sem 0 aumento de ter~a parte. A jurisprudencia e quase unanime nesse ponto". Nesse sentido: STJ, HC 10.133,5" Turma, DIU, 13 dez. 1999, p. 181; TACrimSP, HC 375.332, 16" Cam., reL Juiz Lopes de Oliveira, RT, 794:606.

d) Multa

Quando imposta somente pena de multa na senten~a condenat6ria, transitando em julgado a decisao para a acusa­~ao, ou sendo improvido 0 seu recurso, 0 prazo prescricional retroativo e regulado pelo disposto no art. 114 do CP, ocorren­do em dois anos. Conta-se 0 prazo entre a data da consuma­~ao do crime e a do recebimento da denuncia ou entre esta e a da publica~ao da senten~a condenat6ria.

9. PRESSUPOSTOS DE APLICA<;:Ao E APELA<;:Ao DO REU

a) Exigencia de uma decisiio condenatoria de primeiro ou se­gundo grau

Para que incida a prescri~ao retroativa e imprescindfvel a existencia de uma senten~a condenat6ria. Nesse sentido:

19. RT, 428:298, 597:291 e 600:302; JTACrimSP, 20:131, 22:62, 28:317,43:371 e 90:167. Contra: JTACrimSP, 48:319; STJ, REsp46, RSTJ, 4:1481. No sentida do texto, cuidando da prescric;aa na hipotese de cande­naC;aa a multa: Rodrigues Porta, Da prescric;iio penal, 2. ed., Saa Paulo, 1977, p. 141, n. 76, in fine.

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STF, RHC 66.913, RT, 639:389. No mesmo sentido: RT, 658:333 e 667:328. Assim, ela descabe quando a decisiio e absolut6ria ou meramente dec1arat6ria da extin«iio da punibi­lidade, sem condenar 0 reu. Nesse sentido, abordando hip6te­se de senten«a absolut6ria que imp6s medida de seguran«a: STF, HC 68.783, l' Turma, ReI. Min. Moreira Alves, DfU, 11 out. 1991, p. 14250; RTf, 138:204. E admissivel tambem quan­do, absolvido 0 reu em primeira instancia, vern a ser condena­do no Tribunal, em face de recurso oficial ou da acusa<;iio.

b) Quando If aplicado 0 perddo judicial

o principio retroativo tambem incide quando se trata de senten<;a concessiva de perdiio judicial. Pressupondo con­denat6ria a senten<;a, ha oportunidade de ser aplicada a pres­cri<;ao retroativa, nos termos do regime do § 2" do art. 110 do CPo Inexistia ao tempo da reforma penal de 1977. Isso porque o anterior sistema indicava 0 efeito de essa especie de prescri­<;ao atingir a pretensiio execut6ria da pena principal. E no per­dao judicial nao ha aplica<;ao de pena. Hoje a hip6tese existe, uma vez que a prescri<;ao retroativa importa a extin<;ao da pu­nibilidade pela prescri<;ao da pretensiio punitiva. Nesse caso, deve ser considerado 0 minimo abstrato da pena privativa de liberdade cominada ao delito20.

Nao ha falar-se em prescri<;ao, na especie, para os que ado­tam a tese de que a senten<;a que concede 0 perdao judicial e absolut6ria ou declarat6ria da extin<;:iio da punibilidade. Se niio ha senten<;a condenat6ria, niio pode ser aplicado 0 § 2" do art.

20. RT, 614:320; STF, RECrim 104.961, 2' Turma, em 30-10-1987, DIU, 30 out. 1987, p. 23811 e 23812; RT, 624:417 e RTI, 124:1138; TACrimSP, ACrim 452.347, RT, 620:310.

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110 do CP, que a pressup6e. Assim, para 0 STJ, a senten<;a que aplica 0 perdiio judicial e declarat6ria da extin<;iio da punibilida­de, niio subsistindo nenhum efeito condenat6rio (Sumula 18).

c) Necessidade de que a sentenga condenatoria tenha transi­tado em julgado para a acusagdo ou que tenha sido improvido seu recurso

Nos termos do § 2Q do art. 110 do CP, a prescri<;ao retroa­tiva e aplicavel no caso "do paragrafo anterior". E 0 § 1 Q cuida de estabelecer principio incidente somente depois que a senten­ga condenatoria transita em julgado para a acusar;do ou que tenha sido improvida a sua apela<;iio. Logo, e imprescindivel para a aplica<;:iio do principio retroativo que niio caiba mais re­curso da acusa<;:ao (Ministerio Publico, querelante e assistente, se for 0 caso), ou que ele tenha sido improvido. Assim, enquan­to couber recurso da acusa<;:iio, ou durante sua tramita<;ao, des­de que interposto visando 11 agrava<;:iio da pena, conforrne vere­mos em item posterior, niio sera possivel a dec1ara<;:iio da extin­<;ao da punibilidade. Entretanto, mesmo que provido, de modo a nao alterar 0 prazo prescricional, nao fica impedido 0 princi­pio retroativo. Nesse sentido: TRFW Reg., ACrim 96.04.65479, 2' Turma, ReI. Juiz Vilson Dar6s, RT, 763:705 e 708. S6 ha impedimento quando vern a ser provido de maneira a alterar 0

lapso prescricional, tomando impossivel a extin<;:iio da punibi­lidade. Nesse sentido: TRF/4" Reg., ACrim 96.04.65479, 2" Turma, ReI. Juiz Vilson Dar6s, RT, 763:705 e 708.

d) Ndo-exigencia de recurso do reu

A exigencia de apela«ao do reu para efeito de reconheci­mento da prescri<;:ao retroativa correspondeu a uma primeira fase

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Page 80: Damasio de Jesus - Prescriçao Penal

de interpreta~ao do antigo panigrafo unico do art. 110 do CP e da antiga Sumula 146 por parte do primitivo STpl. Hoje, para a aplica~ao do disposto no art. 110, § 22, do CP, e prescindivel que 0 reu tenha apelado. Enquanto 0 antigo dispositivo (art. 110, panigrafo unico) previa 0 apel0 do reu como condi~ao da extin~ao da punibilidade, e ainda assim 0 STF, em posi~ao poste­rior aquela primeira, e que ainda perdura, nao exigia 0 recurso, com base na Sumula 146, 0 novo texto (§ 22) apenas exige que tenha transitado em julgado a condena~ao para a acusa~ao ou que tenha sido improvido 0 seu recurso. Dai 0 entendimento tranqiii-10 da desnecessidade de recurso de apela~ao do condenado.

e) Desnecessidade de que 0 rliu tenha sido intimado da sen­tenr;a condenat6ria

Para que seja declarada a extin~ao da punibilidade pela prescri~ao retroativa, nos moldes do § 22 do art. 11 0 do CP, nao se exige tenha 0 reu side intimado da senten~a condenat6-ria, bastando que ela tenha transitado em julgado para a acu­sa~ao ou que esta tenha interposto apela~ao visando a outro tim que nao a agrava9ao da pena", ou que tenha sido improvi­do 0 seu apel0.

Exemplo:

C RD 1 ano 2 anos PSC TJSCMP IR

CP, art. 129, caput Pena: 3 meses

21. Sabre 0 assunto, vide nosso Questoes crimina is, Sao Paulo, Sa­raiva, 1978, p. 218 e 236.

22. No sentido do texto: RT, 375:290 e JTACrimSP, 22:315. Embora tratando de fatos ocorridos ao tempo da Sumu1a 146 do STF, as principios slio perfeitamente aplicaveis ao regime do § 22 do art. liD do CPo

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-"

C = crime de lesao corporalleve (CP, art. 129, caput)

RD = recebimento da denuncia

PSC = publica9ao da senten9a condenat6ria

TJSCMP = transito em julgado da senten9a condenat6ria para o Ministerio Publico

IR = intima~ao do reu em andamento

Verifica-se que entre a data do recebimento da denuncia (RD) e a da publica~ao da senten9a condenat6ria (PSC) media­ram mais de dois anos, prazo suficiente para, tendo transitado em julgado a senten9a para a acusa9ao ou improvido 0 seu apelo, permitir a extin9ao da punibilidade. Como a pena e in­ferior a urn ano (3 meses de deten9ao), 0 prazo extintivo e de dois anos (CP, art. 109, VI), cabivel entre os p610s inicial e final. Irrelevante que a diligencia de intima9ao da senten9a condenat6ria ao reu (JR) ainda esteja em andamento quando da declara~ao da prescri9ao retroativa.

10. TERMOS INICIAIS E FINAlS

a) Pode ser considerado 0 prazo prescricionai retroativo en­tre a data da consuma!;iio do crime e a do recebimento da denuncia ou entre esta e a da pub/ica!;iio da sentenr;a condenat6ria

No regime do art. 110, § 22, do CP, por disposi9ao ex­pressa do texto, pode ser considerado 0 prazo entre a data do fato e a do recebimento da denuncia ou entre esta e ada publi­ca9ao da senten9a condenat6ria.

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Exemp10:

C 1 ano 2 anos RD PSC

- 6meses--T----~r----------,

art. 129, caput

C = data do crime de lesao corporal leve

RD = recebimento da demincia

PSC = publica<;ao da senten<;a condenat6ria

Pena: 3 meses

de deten<;ao

Processado 0 reu por delito de lesao corporalleve, vern a ser condenado a tres meses de deten<;ao. A senten<;a condena­t6ria transitou em julgado para a acusa<;ao e mediaram mais de dois anos entre a data do fato (C) e a do recebimento da demincia (RD). Pode ser reconhecida a prescri<;ao retroativa. Isso porque 0 CP expressamente determina que 0 prazo "pode ter por termo inicial data anterior a do recebimento da denun­cia ou da queixa" (CP, art. 110, § 2", parte final).

Da mesma forma, 0 prazo pode ser contado entre a data do recebimento da denuncia ou queixa e a da publica<;ao da senten<;a condenat6ria.

b) Niio pode ser considerado 0 prazo prescricional retroativo entre a data do recebimento da denuncia e a do ac6rdiio confirmat6rio da sentent;a condenat6ria ou que reduziu a pena

Condenado 0 reu em primeiro grau, ele apela e 0 Tribunal reduz a pena. Oprazo da prescri<;ao retroativa, reguladope1a pena reduzida (e nao pe1a pena imposta na senten<;a), s6 pode ser contado entre a data do fato e a do recebimento da denuncia ou

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entre a desta e ada publica<;ao da senten<;a condenat6ria, veda­da a data do ac6rdao como termo final. 0 fundamento esta em que a senten<;a condenat6ria constitui causa interruptiva da prescri<;ao (CP, art. 117, IV)23. 0 mesmo ocorre quando 0 Tri­bunal mantem a pena impostaem primeira instancia.

c) Condenado 0 reu em segunda instancia, 0 prazo deve ser considerado entre a data do fato e a do recebimento da denuncia ou entre a desta e a da publicat;iio, na sessiio de julgamento, do ac6rdiio condenat6rio

Absolvido 0 reu em primeira instancia e havendo recur­so de offcio ou da acusa<;ao, vindo a ser condenado pelo Tri­bunal, 0 prazo prescricional retroativo deve ser considerado entre a data do recebimento da denuncia e a da sessao de jnl­gamento, em que e publicado 0 ac6rdao condenat6rio (primi­tivo STF, RTf, 95:1058). Hoje nao ha impedimento a que tam­bern seja reconhecido entre a consuma<;ao do crime e a data do recebimento da denuncia (CP, art. 110, § 2", parte final).

d) Nos processos da competencia do Juri pode ser considera­do 0 prazo entre a data do fato e a do recebimento da de­nuncia ou entre esta e a pronuncia ou entre esta e a sua confirmat;iio pelo Tribunal ou entre a pronuncia ou sua confirmat;iio e a data em que e proferida a sentent;a condenat6ria na sessiio de julgamento

Tratando-se de a<;ao penal da competencia do Tribunal do Juri, 0 prazo prescricional retroativo, em regra, deve ser

23. No sentido do texto: STF, HC 55.481-SP, 2'Turma, em 30-8-1977, v. un., ReI. Min. Moreira Alves, DiU, 7 out. 1977, p. 6913; HC 61.128, 2' Turma, em 21-10-1983, v. un., ReI. Min. Moreira Alves, DiU, 16 dez. 1983, p. 20118; STF, HC 68.523, 2'Turma, RTi, 137:722.

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considerado entre a data do julgamento condenat6rio e a da ultima causa interruptiva (promlncia ou sua confirmayao). Nada impede, contudo, que 0 mesmo prazo seja contado entre a data do fato e a do recebimento da den uncia ou entre esta e a promlncia ou entre esta e sua confirmayao pelo Tribunal2

'.

II. OPORTUNIDADE DE DECLARA~Ao

a) No regime do § 2Q do art. 110 do CP a prescri"ao retroati­va nao pode ser declarada em primeira instancia

Nos termos da lei nova, proferida a sentenya condena­t6ria, 0 Juiz nao pode declarar a extinyao da punibilidade pela prescriyao retroativa. Isso porque, constituindo ela modalida­de de prescriyao da pretensao punitiva (da ayao), julgada esta procedente na sentenya condenat6ria, nao pode ser julgada, posteriormente, improcedente. Nao pode 0 Juiz, esgotada sua jurisdiyao, reconhecer que ao tempo da condenayao, na verda­de, nao havia mais a pretensao punitiva do Estado. Se assim 0

fizer estara reformando a pr6pria decisao, 0 que e proibido25•

No regime anterior, entretanto, como a prescriyao retroativa,

24. Apreciando hipatese da Sumula 146, 0 STF aplicou principio que se adapla ao disposlo no § 22 do art. 110 do CP: "decorridos mais de qualro aDOS entre a data da senten~a de prom1ncia e a da condenac;ao a dois anos de reclusao, da qual somente recorreu 0 feU, sem causa suspensiva Oll

interruptiva da prescric;ao, verifica-se esta". i. e., verifica-se a prescric;ao retroaliva (HC 57.631·RJ, I'Turma, em 15-4-1980, v. un., ReI. Min. Thompson Flores, DJU, 23 maio 1980, p. 3731). Vide RT, 611:353.

25. No sentido do lexto: Rodrigues Porto, Do prescriqiio penal, Cil., p. 215·6; TACrimSP, HC 160.546, JTACrimSP, 94:455; RT, 767:718. Con· tra: TACrimSP,AE 535.665, RT, 639:316; RECrim 528.735,RT, 633:312 e JTACrimSP, 98:365; ACrim 517.633, RJDTACrimSP, 2: 118; ACrim 522.663, RJDTACrimSP, 2:43.

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nos termos do que dispunha 0 § 2Q do art. 110 do CP, na refor­rna penal de 1977, constituia causa extintiva da pretensao execut6ria, nao da punitiva, nada impedia que 0 Juiz, ap6s a sentenya condenat6ria, desde que transitada em julgado para a acusayao, declarasse a extinyao da punibilidade. Reconhecida a procedencia da pretensao punitiva na sentenya, 0 Juiz estaria apenas declarando extinta a pretensao execut6ria das penas principais. Nao estaria rescindindo a pr6pria sentenya.

De observar-se que 0 art. 66, II, da LEP, determina a com­petencia do juiz da execuyao para "declarar extinta a punibilidade". Cuidando-se de prescriyao, entretanto, cremos que ele nao pode declarar a prescriyao da pretensao punitiva, na modalidade retroativa, pois estaria desconstituindo a sen­tenya do juiz do mesmo grau de jurisdiyao. Assim, sua com­petencia se restringe a declarayao da extinyao da punibilidade pela prescriyao da pretensao execut6ria (CP, art. 110, caput). Nesse sentido: TACrimSP, HC 160.546, JTACrimSP, 94:455. Contra: TACrimSP, ACrim 517.633, JTACrimSP, 97:298.

b) Impossibilidade de ser declarada a prescri"ao retroativa antes da senten"a condenatoria (a denominada "prescri­r,;ao antecipada" ou "por perspectiva")

A declarayao da extinyao da punibilidade pel a prescri­yao retroativa pressup6e a existencia de uma sentenya conde­nat6ria. Em face disso, nao pode ser reconhecida antes da condenayao26 •

26. No senlido do texlo: JTACrimSP, 43:118 e 45:408; JTJ, 153:273; TACrimSP, ACrim 682.807, RT, 688:323; TACrimSP, ACrim 703.071, RJDTACrimSP, 14: 127; TJSC,ACrim 28.576, RT, 693:380; RJDTACrimSP, 18:184, 185, 186, 189 e 191; 20:190, 201, 213 e 243; STJ, HC 4.707,5' Turma, DJU, II set. 1995, p. 28840; TJSP, RCrim 198.847, JTJ, 179:268; RT, 734:742; ITJ, 182:280; STJ, RHC 6.567, DJU, 22 set. 1997, p. 46560; TACrimSP, RCrim 1.171.049, 4' Cam., ReI. Juiz Devienne Ferraz, RT,

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c) Impossibilidade de ser reconhecida a prescriqfio retroativa na propria sentenqa condenatoria

Exigindo-se que a decisao tenha transitado em ju1gado para a acusa,<ao ou que tenha sido improvido 0 seu recurso (CP, art. 110, §§ 1" e 2"), nao e adrnissivel que 0 Juiz, na pro­pria senten,<a condenatoria, declare a extin<;ao da punibilidade pela prescri<;ao retroativa27

d) ApreciQl;fio do merito

No regime da Sumula 146 do STF, que se assentava no antigo panlgrafo unico do art. 110 do CP, 0 tema da prescri~ao retroativa constituia prelirninar de merito. Sem entrar no me­rito, 0 Tribunal podia reconhece-1a, uma vez que extinguia a pretensao punitiva (da a~ao). No regime da reforma penal de 1977, permitindo-se somente a extin~ao da pretensao execu­t6ria das penas principais, a questao da prescri,<ao retroativa deixou de ser pre1iminar capaz de impedir a analise do merito. Em primeiro lugar 0 Tribunal apreciava 0 merito. Mantida a senten,<a condenat6ria, passava a apreciar a incidencia do art. 110, § 2", do CPo

Retornando 0 sistema penal, na reforma de 1984, ao re­gime da prescri,<ao da pretensao punitiva, a prescric;:ao retroa­tiva impede 0 exame do merito". Assim, havendo recurso da

775:622; STJ, RHC 12.055, 5'Tunna, ReI. Min. Arnalda da Fonseca, DIU, 13 maio 2002, p. 210. No mesmo sentido, na doutrina: Luiz Vicente Cemicchiaro, Questaes penais, Belo Horizonte, Del Rey, 1998, p. 194 (Pres­cri<;1io antecipada).

27. No sentido do texto: TACrimSP, JTACrimSP, 43: 150; TAMO, RHC 702, RT, 628:356; TANIO, ACrim 120.179, RT, 687:331.

28. No sentido do texto: RT, 603:407,604:386 e 642:328.

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defesa, 0 principio retroativo impede 0 seu exame. No caso de recurso da acusa,<ao visando ao agravamento da pena, em pri­meiro 1ugar 0 Tribunal aprecia a sua procedencia. Improvido, dec1ara a extin,<ao da punibilidade. Da mesma forma, quando provido de modo a nao alterar 0 prazo prescricional.

E se reu e acusa<;ao ape1am, 0 primeiro pretendendo a abso1vic;:ao; a segunda, a agrava,<ao da pena?

o Tribunal, em primeiro lugar, julga 0 ape10 da defesa, en­frentando 0 merito, abso1vendo 0 reu ou mantendo a condena­<;ao. Se abso1vido, fica prejudicado 0 ape10 da acusa<;ao; manti­da a condena,<ao, passa a ju1gar 0 recurso da Justi<;a Publica, do assistente ou do quere1ante. Improvido, ou provido de forma a nao alterar 0 prazo extintivo, aplica-se 0 principio retroativo.

e) Pena reduzida em segunda instancia

Condenado 0 reu em primeiro grau e havendo ape1a,<ao da defesa ou da acusa~ao e reduzida a pena pelo Tribunal, pode este declarar a extin,<ao da punibilidade pela prescri,<ao retroa­tiva29

. A pena que regula 0 prazo e a reduzida, contado entre a data do fato e a do recebimento da denuncia ou entre esta e a da publica,<ao da senten,<a condenatoria, vedada a contagem entre 0 primeiro termo e a data do acordao.

f) Reconhecimento de oficio

A prescri<;ao retroativa pode ser reconhecida pelo Tribunal, de oficio, desde que presentes seus pressupos-

29. RECrim 105.019,2' Tunna do STF, em 21-5-1985, V. un., ReI. Min. Aldir Passarinho, DIU, 29 nov. 1985, p. 21922; RTI, 118:279.

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tos30 Seu nao-reconhecimento constitui constrangimen­to ilegaPI.

g) Reconhecimento em embargos de declarar;iio

Havendo embargos de declara<;ao de acordao do Tribu­nal, pode ser reconhecida por este. 0 Juiz, entretanto, nao a pode reconhecer em embargos de declara<;ao.

h) Aplicar;iio em embargos infringentes

Havendo acordao nao-unanime desfavoriivel ao reu, nada impede que a prescri<;ao retroativa venha a ser declarada em grau de embargos infringentes32

i) Condenar;iio em segunda instdncia

Absolvido 0 reu em primeiro grau e vindo a ser condenado no Tribunal, em face de recurso oficial ou da acusa<;ao, pode ser declarada a extin<;ao da punibilidade pela prescri<;ao retroativa33

j) Aplicar;iio em revisiio criminal

Nada impede que a prescri<;ao retroativa, presentes seus

30. No sentido de que pode ser reconhecida de oficio pelo Tribunal: TACrimSP, fTACrimSP, 30:362 e 50:341.

31. RT,400:279.

32. STF, HC 56.309, DfU, 15 set. 1978, p. 6887 (caso de redw;iio da pena em El).

33. RTf, 95:1092 e 112:713; RT, 595:314.

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pressupostos de aplica<;ao, seja reconhecida em grau de revi­sao criminal34

l) Aplicar;iio em "habeas corpus"

A prescri<;ao retroativa pode ser reconhecida em grau de habeas corpusJ5 , ainda que a senten<;a condenatoria tenha tran­sitado em julgado para a acusa<;ao e defesa36

m) Aplicar;iio em agravo em execur;iio

o Tribunal pode aplicar 0 principio retroativo em grau de agravo em execu<;ao, previsto no art. 197 da LEp37.

n) Processos da competencia originaria dos Tribunais

Nas a<;6es penais de sua competencia originiiria, nada impede que, vindo a condenar 0 reu, possa 0 Tribunal esta­dual declarar a extin<;ao da punibilidade pela prescri<;ao re­troativa, nao constituindo obstiiculo a eventualidade de in­terposi<;ao de recurso especial ou extraordiniirio, que nao tern efeito suspensivo.

34. No sentido do lexlo: TACrimSP, fTACrimSP, 6:8, 21: 191,33: 135 e 45:54; RfTfSP, 43:389; RT, 546:367 e 610:338.

35. TACrim, fTACrimSP, 33:75, 36:379 e 47:93; TJSP, HC 85.052, RT, 648:288; STF, DfU, 21 mar. 1975, p. 1716.

36. RT, 375:195; TJSP, HC 85.052, RT, 648:288; STF, HC 64.071, l' Turma, em 8-5-1987, DfU, 12 jun. 1987, p. 11858; RTf, 124:1000.

37. AE 479.729, 4' Clim. do TACrimSP, em 12-8-1987, v. un., Rei. Juiz Alberto Marino.

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12. CONCURSO DE CRIMES

a) Concurso material

No concurso material (CP, art. 69), cada infra~ao penal tern seu prazo prescricional retroativo considerado isoladamente (CP, art. 119). Nesse sentido: STF, HC 68.942, DIU, 13 dez. 1991, p. 18355; STJ, RHC 9.131, 5" Turrna, DIU, 21 fey. 2000, p. 140. Assim, apreciando-se a parte conc!usiva da senten~a con­denat6ria, deve-se verificar qual a pena imposta a cada infra­~ao, a qual ira regular 0 prazo extintivo. Suponha-se que dois anos e meio depois da data do recebimento da denuncia, pro­cessado por furto e lesao corporalleve, venha 0 reu a ser conde­nado a urn ana de reclusao pelo furto e a tres mesesde deten<;ao pel0 delito mais leve. Presentes seus pressupostos, de ser apli­cado 0 princfpio retroativo no tocante ao crime de lesao corpo­ralleve. Como a pena e inferior a urn ana 0 prazo prescricional e de dois (CP, art. 109, VI), verificados entre 0 recebimento da denuncia e a data da publica~ao da senten~a condenat6ria.

No concurso real, como se viu, para efeito da prescri~ao retroativa, as penas nao sao somadas, devendo cada uma ser tomada isoladamente.

b) Concurso formal e crime continuado

Cuidando-se de concurso formal de crimes (CP, art. 70), leva-se em considera~ao a pena imposta na senten~a condena­t6ria, sem 0 acrescimo legal (CP, art. 119). Nesse sentido: STJ, RHC 9.131, S'Turma, DIU, 21 fey. 2000, p. 140.

Imagine-se que 0 sujeito, processado por vanos crimes de dana qualificado (CP, art. 163, paragrafo unico), venha a ser condenado a urn ano de deten<;ao: pena-base fixada em oito meses de deten~ao, com acrescimo de metade. Para efeito da

150

prescri<;ao retroativa deve ser considerada a pena de oito me­ses de deten<;ao, ocorrendo 0 prazo extintivo em dois anos. Se fosse levado em conta 0 acrescimo, 0 prazo prescricional re­troativo seria de quatro anos.

Da mesma forma, no crime continuado, para aplica<;ao do princfpio retroativo, deve ser considerada a pena imposta na senten~a, sem 0 acrescimo legal (CP, arts. 71 e 119).lncide a Sumula 497 do primitivo STF, que determina: "Quando se tratar de crime continuado, a prescri~ao regula-se pela pena imposta na senten~a, nao se computando 0 acrescimo decor­rente da continu~ao". Assim, desvinculada a pena de cada crime, levando-se em conta uma delas, se iguais, ou a mais grave, se diversas, despreza-se 0 aumento.

Wi entendimento no sentido de set impossivel a desvincu­la~ao do acrescimo para, sobre ele, fazer recair a prescri<;ao re­troativa. Suponha-se que 0 sujeito, processado por vanos deli­tos em continua<;ao ou em concurso formal, venha a ser conde­nado, dois anos e seis meses depois da data do recebimento da demincia, a urn ano e dois meses de deten<;ao: urn ana em rela­~ao a urn dos delitos; dois meses de acrescimo. Poder-se-ia su­por possivel separar os dois meses de deten<;ao da pena-base, para efeito de declarar extinta a pretensao punitiva no tocante a eles, uma vez tnediados mais de dois anos entre 0 recebimento da denuncia e a data da publica<;ao da senten~a condenat6ria. Isso, contudo, dizem, nao e admissivel. E a tese contrana pro­duziria conseqiiencias em outros setores do campo criminal, como a repar~ao do danol

'. De ver-se, entretanto, que confor­me a hip6tese nao se pode deixar de permitir a desvincula<;ao do acrescimo, sob pena de tomar a especie, regida pelo concur­so formal ou pelo nexo de continua<;ao, em hip6tese mais gra-

38. No sentido do texto: STF, RT, 547:420; He 65.734, 2'Turma, em 12-2-1988, ReI. Min. Aldir Passarinho, DJU, 25 mar. 1988, p. 6374 e 6375;

151

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vosa do que se fosse concurso material (CP, art. 119). Imagine­se que 0 sujeito cometa, em concurso formal ou ligados pela continuac;;ao, dois delitos apenados no minimo, respectivamen­te, com urn ano de detenc;;ao e dois meses de detenc;;ao. Aplica­do 0 minimo do acrescimo, a pena seria de urn ano e dois me­ses de detenc;;ao. Suponha-se que tenham decorrido mais de dois anos entre a data do recebimento da denuncia e a da publicac;;ao da sentenc;;a condenatoria, sem recurso da acusac;;ao. Nos termos da lic;;ao restritiva, seria imposslvel desvincular-se 0 acrescimo (dois meses de detenc;;ao), claramente imposto em razao do de­lito de menor gravidade, para efeito da prescric;;ao retroativa. Me­!hor seria, entao, para 0 reu, que tivesse sido condenado em face 'do concurso material, caso em que a prescric;;ao retroativa al­canc;;aria a pretensao punitiva referente ao menor delito. Nesse sentido: TACrimSP, ACrim 649.471, RJDTACrimSP, 12: 110.

13. EFEITOS

a) Extint;iio da pretensiio punitiva

Nos termos dos arts. 109 e 110, § 2Q, do CP, a prescric;;ao retroativa importa a perda da pretensao punitiva do Estad039•

Os efeitos da condenac;;ao podem ser principais e aces so­rios40. Principais, os concernentes a imposic;;ao das penas de reciusao, detenc;;ao, prisao simples, restritivas de direitos, multa

RTf, 125: 1085; Rodrigues Porto, Da prescrifao criminal, 2. ed., Sao Paulo, p. 136; TACrimSP, ACrim 462.307, fTACrimSP, 95:259,

39. RECrim 105.019, 2'ThnnadoSTF, 21-5-1985, DfU, 29 nov. 1985, p. 21922; RTf, 118:279.

40. -Sobre 0 tema dos efeitos principais e acess6rios da sentenc;a condenat6ria, vide nOSSQ Direito penal, cit., p.-611-2.

152

e medidas de seguranc;;a. Alem desses, como veremos, existem outros, denominados reflexos ou secundiirios.

No regime da reforma penal de 1984, a prescric;;ao retroa­tiva extingue a pretensao punitiva, rescinde a sentenc;;a con­denatoria e exclui seus efeitos principais e secundarioS41

Como se trata de forma de prescriC;;ao da pretensao punitiva, 0 decurso do prazo, incidindo em periodo anterior a publicac;;ao da sentenc;;a condenatoria, extingue 0 poder-dever de punir do Estado. De forma que no momento em que 0 Juiz profere a decisao nao ha mais 0 jus puniendi. Assim, a aplicac;;ao da pres­cric;;ao retroativa rescinde a sentenc;;a condenatoria, que so tern valor em termos de fixac;;ao da quantidade da pena privativa da liberdade, nao subsistindo em nenhum de seus efeitos princi­pais e secundanos. Se 0 reu, dois anos apos ser favorecido pela prescric;;ao retroativa, vier a praticar outro delito, nao sera con­siderado reincidente por ausencia de seu pressuposto, qual seja a condenac;;ao anterior.

b) Medidas de seguram;a

Se imposta somente medida de seguran<,;a ao semi-respon­savel (CP, art. 26, paragrafo unico), pode ser aplicado 0 princi­pio retroativo, regulado pela pena substitufda. Se nao prevista na sentenc;;a, pelo minimo abstrato cominado ao delito pratica­do pelo reu. Se quando e aplicada pena e cabfvel a prescric;;ao retroativa, seria i~usta a proibic;;ao quando imposta a medida de seguranc;;a, uma vez que ambas sao sanc;;oes penais (vide, sobre o assunto, RJTJSP, 106:348; na mesma revista, 109:487, che­gou-se a aplicar a prescriC;;ao retroativa em face de sentenc;;a absolut6ria que havia imposto medida de seguranc;;a). Ha, en­tretanto, posic;;ao contrana, recomendando, em qualquer hipo-

41. RT, 595:360; TACrim, RECrim 575.497, RT, 648:307; STJ, ARAl 242, RSTf, 6:77.

153

I,

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tese (condenaliao ou absolviliao), que seja considerado 0 ma­ximo abstrato legal (TJSP, HC 76.006, RT, 641:330).

o STF, no HC 68.783, entendeu inaplicavel 0 princIpio retroativo quando imposta medida de seguranlia na hip6tese do art. 26, caput, do CP (l' Turma, RTf, 138:204).

c) Efeitos secunddrios da sentenr,;a condenat6ria

1. Introduliao

No regime da Lei n. 7.209/84, extinta a punibilidade pela prescriliao retroativa, nao subsiste a sentenlia condenat6ria para nenhum efeito, principal ou acess6rio. Como e forma de pres­cri«ao da pretensao punitiva (da a«ao), a senten«a condenat6-ria s6 tern eficacia para a fixaliao da quantidade da pena que regula 0 prazo prescricional. Nesse sentido: TACrimSP, RvCrim 189.006, RT, 661:288.

2. Custas

Nos termos dos princIpios da sucumbencia e da causalida­de, 0 reu favorecido pela prescri<;:ao retroativa, no regime do § 2Q do art. 110 do Cp, fica responsavel pelo pagamento das custas42 •

3. Lanliamento do nome do reu no rol dos culpados e folha de antecedentes

Extinta a punibilidade pela prescri<;:ao retroativa nao sub­siste 0 lanliamento do nome do reu no rol dos culpados e fica

42. Sobre 0 tema, abordando a Siimula 146, vide nosso C6digo de Processo Penal, cit., p. 67; RTI, 69:800; RT, 518:380.

154

proibido 0 fornecimento de certidao positiva e menliao do fato criminoso na folha de antecedentes, salvo requisiliao judicial".

4. Reincidencia

No regime da Lei n. 7.209/84,0 reu, favorecido pelo prin­cfpio retroativo, vindo a cometer novo delito, nao sera consi­derado reincidente44

5. HSursis"

Reu favorecido pela prescri<;:iio retroativa, no regime novo, vindo a cometer novo delito, pode obter sursis.

A prescriliao retroativa, como [ICOU consignado, importa a extin«ao da pretensiio punitiva, nao subsistindo os efeitos reflexos da senten<;:a condenat6ria, dentre os quais se inclui 0

de impedir 0 sursis.

E possivel que 0 condenado, durante a vigencia do sursis, venha a ser condenado por delito doloso e favorecido pela pres­cri<;:ao retroativa. Inaplicavel 0 art. 81, I, do CP, uma vez que a prescriliao retroativa rescinde a senten<;:a condenat6ria, nao devendo ser revogada a medida.

6. Livramento condicional

o reu favorecido pela prescri<;:ao retroativa, no regime do

43. Rol dos culpados: primitivo TFR, RvCrim434, DIU, 13 nov. 1986, p. 21986; STF, RT, 644:377 e 630; TACrimSP, RT, 648:306. Proibi<;iio de fornecimento de certidao positiva e de men<;ao do fata criminoso na falba de antecedentes: STF, RECrim 92.945, RTf, 101:745.

44. RT,515:455.

155

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§ 29 do art. 110 do CP, vindo a cometer novo delito, podera obter livramento condicional desde que cumprido mais de urn ten;:o da pena (CP, art. 83, I).

Se, durante a vigencia da medida, vier a ser condenado pela pratica de crime, nao devera nem podera ser revogada (CP, arts. 86 e 87), incidente a prescri~ao retroativa no tocante ao segundo delito.

7. Prisao preventiva

Nos termos do art. 313, III, do CPP, e admitida a prisao preventiva em rela~ao aos crimes dolosos quando 0 sujeito ja foi condenado por outro crime doloso, em senten~a transitada em julgado, salvo se incidente 0 caso do art. 64, I, do CPo As­sim, favorecido pela prescri~ao retroativa no tocante ao pri­meiro delito doloso, vindo a cometer outro crime da mesma natureza, nao sera cab! vel a prisao preventiva.

8. Fian~a

De acordo com 0 disposto no art. 323, III, do CPP, nao deve ser concedida a fian~a dos delitos dolosos punidos com pena privativa de liberdade, se 0 sujeito ja foi condenado por outro crime doloso em senten~a transitada em julgado. Ese, em rela~ao a condena~ao anterior, incidiu a prescri~ao retroa­tiva? Ii admitida a fian~a?

Sim, uma vez que a prescri~ao retroativa, no regime novo, faz desaparecer a anterior senten~a condenatoria irrecorrfvel.

9. Repara~ao do dana

A prescri~ao retroativa, no tocante a crime cometido du­rante a vigencia do antigo paragrafo unico do art. 110 do CP

156

or

(Sumula 146), impedia a execu~ao da senten<;a condenatoria para efeito de repara<;iio do dana (CPP, art. 63; CP, art. 74, I). Da mesma forma, no regime atual, levando-se em conta que niio subsistem os efeitos secundanos da condena<;iio penal irre­corrfvel, a incidencia do princfpio retroativo impede que, nos termos do art. 584, II, do CPC, venha a senten~a condenatoria a ser executada para fim de repara<;iio do dana emergente do delito(RT, 648:306; STJ, ARAI 242, RSTJ, 6:77).

10. Confisco

Nos termos do art. 91, II, do CP, constitui efeito da con­dena<;:ao a perda, em favor da Uniiio, ressalvado 0 direito do lesado ou de terceiro de boa-fe:

a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, aliena<;:iio, usa, porte ou deten<;:iio consti­tua fato ilfcito;

b) do produto do crime ou de qualquer bern ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a pratica do fato criminoso.

No regime do § 29 do art. 11 0 do CP, a extin<;:iio da punibilidade pela prescri<;iio retroativa impede 0 confisco.

II. Restitui<;:iio de coisas apreendidas

As coisas apreendidas, nos termos dos arts. 118 e S. do CPP, podem ser restituidas ao seu proprietiirio no caso de 0

condenado vir a ser favorecido pela prescri<;iio retroativa.

12. SeqUestro

De acordo com 0 art. 125 do CPP, cabera 0 seqUestro dos bens imoveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos da

157

"

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\

infra~ao, ainda que ja tenham sido transferidos a terceiro. 0 se­qiiestro dos bens m6veis esta previsto no art. 132 do mesmo estatuto.

A prescri~ao retroativa, nos termos do § 2" do art. 110 do CP, extingue os efeitos do seqiiestro, uma vez que 0 art. 131, III, do estatuto processual penal determina 0 levantamen­to do seqiiestro "se for julgada extinta a punibilidade"45.

13. Outros efeitos

Ha outras conseqiiencias da senten~a condenat6ria, de natureza secundaria, que sao extintas pela prescri~ao retroati­va, no regime novo. Dentre elas podem ser citadas:

a) aumento do prazo da prescri~ao da pretensao execut6ria (CP, art. 110, caput, parte final);

b) suspensao do curso da prescri~ao da pretensao execut6ria enquanto 0 condenado permanece preso por outro motivo (CP, art. 116, paragrafo unico);

c) revoga~ao da reabilita~ao (CP, art. 95);

d) influencia na exce9ao da verdade em rela~ao ao cri­me de calunia (CP, art. 138, § 3", I e Ill);

e) impedimento de privilegio em rela9ao a determinados delitos (CP, arts. 155, § 2", 171, § 22, e 180, § 3", l' parte);

f) aumento da pena do crime de porte de arma (art. 10, § 3", IV, da Lei n. 9.437, de 20 de fevereiro de 1997); e

g) constituir elementar da infra~ao descrita no art. 25 daLCP.

45. RT,604:363.

158

d) Extenstio ao co-reu

Suponha-se que, transitando em julgado a senten9a conde­nat6ria para a acusa~ao, urn dos reus condenados apele. 0 Tribu­nal, aplicando 0 disposto no art. 110, § 2", do CP, pode estender 0

principio da prescri~ao retroativa ao outro reu condenado, que nao apelou. A jurisprudencia, nesse sentido, e tranqiiila46•

e) Revistio criminal

No regime da reforrna penal de 1984, como 0 principio retroativo importa a extin~ao da punibilidade no tocante it pre­tensao punitiva, favorecido pela prescri~ao retroativa, 0 bene­ficiado nao pode se valer da revisiio criminal47

• No sistema do § 2" do art. 110 do CP, nos termos da Lei n. 6.416177, contu­do, como a prescri~ao retroativa s6 atingia a pretensao execut6ria, subsistindo a senten~a condenat6ria, dela era ad­missivel a revisao criminal.

14. CAUSAS INTERRUPTIVAS

As causas interruptivas da prescri~ao se encontram ar­roladas no art. 117 do CPo Tratando-se de prescri~ao retroati-

46. TACrimSP, JTACrimSP, 19:222, 33:406, 37:340, 38:320, 45:291, 46:268 e 45:209 e 407; STF, RTJ, 68:875. Esses ac6rdaas tratam de casas da Sumula 146. 0 principia, contudo, e aplicavel a nova legisla<;aa. Contra: TACrimSP, JTACrimSP, 35: 109.

47. STF, RECrim 85.072-SP, 2' Thrma, em 5-11-1976, V. un., ReI. Min. Moreira Alves, DJU, 18 fev. 1977, p. 889; RTJ, 80:966. No mesmo sentida: RT, 440:367, 441:436, 444:395 e 485:290. Contra: RT, 546:374; STF, RTJ, 55:297 e 63:55.

159

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va, alguns princfpios devem ser expostos, e vern a seguir enu­merados:

a) 0 prazo prescricional retroativo se interrompe na data da publical'ao da sentenl'a condenatoria

Urn dos periodos retroativos pode ser considerado entre a data do recebimento da deniincia e a da publica\iao da sen­ten\ia condenat6ria. Esta, nos termos do art. 117, IV, do CP, constitui causa interruptiva do perfodo extintivo.

Suponha-se que entre a data do recebimento da deniincia e a da publicaltao da senten\ia tenham mediado urn ano, onze meses e quinze dias, sendo a pena inferior a urn ano. Nao ocor­reu a prescri\iao retroativa, uma vez que a senten<;a condena­t6ria interrompeu 0 prazo extintivo48 •

o mesmo efeito tern 0 ac6rdao condenat6rio (absolvi\iao em primeiro grau e condena\iao no Tribunal). 0 ac6rdao, entretanto, que mantem a senten<;a condenat6ria ou confuma a condena<;ao em sede de embargos infiingentes, nao tern 0 mesmo efeito.

b) Momento da publical'iio da sentenl'a condenatoria

A senten\ia condenat6ria se tern por publicada quando e entregue pelo Juiz ao escrivao, no cart6rio49

, nos termos do art. 389 do CPP. Nao se deve confundir intima\iao da senten\ia condenat6ria com sua publica<;ao5fJ. 0 que interrompe 0 prazo prescricional, evitando a incidencia do principio retroativo, e a publica\iao, que se dii no momenta em que 0 escrivao recebe

48. RT, 609:447.

49. STF, RTJ, 51:658, 71:850e95:I058.

50. RT,600:350.

160

1 a senten\ia do J uiz, independentemente do registro e de outras diligencias. Caso contrario, a data impeditiva da extin<;:ao da punibilidade ficaria com seu termo fixado de acordo com a vontade do escrivao, 0 que a lei nao pretende51

• De modo que a prescri<;ao retroativa pode ocorrer antes de 0 reu vir a ser intimado da senten\ia condenat6ria.

Quando a condena<;ao do reu se dii na superior instancia, o termo ad quem do prazo prescricional ocorre na data do jul­gamento em sessao.

c) Prazo anterior a data do recebimento da denuncia

No regime da reforma penal de 1977, nao se podendo contar 0 lapso anterior a data do recebimento da deniincia (au­tiga redaltiio do § 29 do art. 11 0 do CP), esta deixava de ser causa interruptiva (CP, art. 117, I), passando a constituir 0 ter­mo a quo do prazo. 0 mesmo nao ocorre no regime novo, que admite a considera\iao do prazo anterior ao recebimento da denuncia ou queixa.

d) Aditamento da denuncia

Tratando-se de prescri<;ao retroativa, 0 recebimentodo aditamento da deniincia nao interrompe 0 prazo prescricional nem constitui seu termo a quo". Exce\iao feita a hip6tese em que 0 aditamento narra fato criminoso novo. Neste caso, a data

51. STF, RTJ, 58:783; STJ, RHC 664, 5' Tunna, DJU, 20 ago. 1990, p. 7971-2. VideRF, 112:198.

52. No senlido do lexlo: RT, 476:390 e 546:347; Rodrigues Porto, Da prescrir;iio, cit., p. 205.

161

(

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do despacho do recebimento do aditamento constitui 0 termo inicial do prazo prescricional retroativo, mas tao-somente em rela<;:ao ao delito posteriormente descrito. Assim, nenhum efei­to possui no tocante ao impedimento de curso da prescric;:ao retroativa 0 aditamento da denuncia que, nos termos do art. 569 do CPP, !he acrescenta circunstancias modais (de tempo e lugar), retifica a qualificac;:ao legal do fato, a inclusao de no­vos acusados, 0 agravamento da lesao corporal etc.".

e) Hip6tese de sentenr,;a absolut6ria com recurso da acusar,;tio

A senten<;:a absolut6ria nao constitui causa interruptiva da prescri<;:ao. Se 0 acusador recorre e 0 reu vern a ser conde­nado no Tribunal, 0 prazo prescricional retroativo deve ser considerado entre a data do ac6rdao e a do recebimento da demincia ou entre esta e a da consuma<;:ao do crime. E pode ser declarada pelo pr6prio Tribunal no mesmo ac6rdao conde­nat6rio, independentemente de recurso extraordinano.

j) Sentenr,;a condenat6ria anulada

A senten<;:a condenat6ria anulada nao impede a prescri<;:ao retroativa, uma vez que nao constitui causa interruptiva ou impeditiva54

• De modo que, proferida outra em seu lugar, a data da publica<;:ao desta e que consistini no (ermo ad quem do lapso extintivo.

g) Comunicabilidade

Nos termos do § 1 Q do art. 117 do CP, no concurso de agentes, salvo 0 caso da reincidencia e do inicio ou continua-

53. RT,476:390.

54. Rodrigues Porto, Da prescri,ao, cit., p. 115, 280 e 281.

162

c;:ao do cumprimento da pena, a interrupc;:ao da prescric;:ao pro­duz efeito em relac;:ao a todos os concorrentes.

Suponha-se que dois reus sejam processados por lesao corporalleve, em co-autoria. Urn ano e meio depois do rece­bimento da demincia urn vern a ser condenado; 0 outro, absol­vido. 0 Ministerio Publico apela da sentenc;:a visando it con­denac;:ao do absolvido. 0 Tribunal 0 condena dois anos e meio ap6s a data do recebimento da denuncia. Pade 0 Tribunal apli­car a prescric;:ao retroativa em relac;:ao ao reu condenado em segundo grau, contando 0 prazo de dois anos, em face da pena inferior a urn ano, entre 0 recebimento da denuncia e a data da sessao do julgamento?

Nao pode, tendo em vista que a senten<;:a condenat6ria proferida em rela<;:ao a urn dos reus tern efeito interruptivo da prescri<;:ao, estendendo-se ao absolvido.

15. RECURSO DA ACUSAC;A.O

a) Introdur,;tio

o CP, no § 2Q do art. 110, disciplinando a prescric;:ao re­troativa, reporta-se it hip6tese "de que trata 0 panigrafo ante­rior". E 0 § 1 Q cuida da "prescri<;:ao, depois da senten<;:a con­denat6ria com transito em julgado para a acusa<;:ao ou depois de improvido seu recurso". Em face disso, constitui pressu­posto da incidencia da prescri<;:ao retroativa, como vimos, que a senten<;:a condenat6ria tenha transitado em julgado para a acusa<;:ao ou que tenha sido improvido 0 seu recurso. Ocorre que, se a acusac;:ao apelou da senten<;:a condenat6ria visando it agrava<;:ao da pena privativa de liberdade, 0 prazo prescricional, a partir da publica<;:ao da senten<;:a (CP, art. 117, IV), conti­nuou a ser regulado pelo maximo da pena privativa de liberda­de. Impossivel, por isso, a aplica<;:ao do principio retroativo enquanto pender a possibilidade de agravac;:ao da pena, pois ainda nao se sabe 0 quantum da exacerba<;:ao. Se, entretanto, a acusa<;:ao nao apelou, a pena imposta na senten<;:a se torna 0

163

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maximo a que esta sujeito 0 reu. Dai entender-se que era essa a pen a que, desde a pratica do fato, devia reger 0 lapso prescricional. E ai se encontra urn dos fundamentos do princi­pio retroativo (principio da pena justa).

b) Somente impede a prescrir;do retroativa 0 recurso da acu­sar;do que visa a agravar;do da pena privativa de liberdade

Como inexiste a reformatio in pejus, somente quando hii recurso da acusac;:ao e que a pena imposta na sentenc;:a pode ser majorada, e isso quando 0 apelo vise expressamente a esse "efeito. Em face disso, nao impede a prescric;:ao retroativa, como veremos nos itens subseqiientes, 0 apelo da acusac;:ao que vise a fim diverso que 0 da agrava~ao da pena privativa de liberda­de imposta na sentenc;:a condenatoria, como, V. g., 0 que pre­tende alterar a qualidade da pena (detenc;:ao para reclusao, multa para 0 minimo de detenc;:ao). Nesse sentido: STJ, REsp 148.610,5' Turma, ReI. Min. Gilson Dipp, DIU, 25 set. 2000, p. 127; STJ, REsp 187.826,5' Turma, ReI. Min. Gilson Dipp, DIU, 25 set. 2000, p. 128; STJ, REsp 139.874,5' Turma, ReI. Min. Gilson Dipp, DIU, 15 abr. 2002, p. 244.

Havendo recurso da acusac;:ao pretendendo 0 agravamen­to da pena privativa de liberdade imposta na senten~a condenatoria fica em principio vedada a aplica~ao da prescri­c;:ao retroativa.

Nao conhecido 0 apelo, 0 Tribunal, de oficio, declara a extinc;:ao da punibilidade. Da mesma forma, improvido 0 re­curso, fica livre 0 caminho para a aprecia~ao da prescri~ao re­troativa.

Ese 0 apelo vern a ser provido, agravando-se a pena pri­vativa de Iiberdade?

Podem ocorrer duas hipoteses: I') 0 agravamento da pena privativa de Iiberdade, efeti­

vamente imposta ou que serve de base para a sua substitui~ao

164

pela restritiva de direitos, altera 0 prazo prescricional. Suponha­se que 0 prazo da prescri~ao retroativa seja de dois anos; agra­vada a pena, de quatro, nao decorridos entre os polos de conta­gem. Nesse caso, como e evidente, fica impedida a declara~ao da prescri~ao retroativa. Nesse sentido: STF, HC 64.303, RTI, 127:650; TRF/5" Reg., HC 98.05.01046, RT, 763:709.

2') 0 agravamento da pena nao altera 0 prazo prescri­cional retroativo. Ex.: elevac;:ao da pena detentiva, de tres para quatro meses. Nao fica impedido 0 principio retroativo. Se urn dos fundamentos da prescri~ao retroativa e a morosidade da justi~a criminal; se, qualquer que seja a pena inferior a urn ano, o prazo extintivo e de dois anos, nao e justo que a agrava~ao de urn mes na pena impe~a seu reconhecimento55

c) Recurso do assistente da acusar;do

A expressao "acusa~ao" empregada no § 12 do art. 110 do CP nao indica somente 0 Ministerio Publico, abrangendo 0 assistente da acusac;:a056 •

d) Recurso do querelante

Como ficou assentado, 0 art. 110 do CP, em seu § 1", ao empregar a expressao "recurso da acusa~ao", nao pretendeu

55. A 2'Tunna do STF, entretanto, no RECrim 108.424, de Sao Pau­lo, em 14-3-1986, por V. un., ReI. 0 Min. Francisco Rezek, entendeu que, provido 0 recurso do Ministerio PUblico, ainda que nao alterando 0 prazo extintivo, fica impedida a prescri,ao retroativa (RTJ, 120:398).

56. STF, RTJ, 94:132; TACrimSP, JTACrimSP, 31:298 e 42:163.A Jurisprudencia, hoje, admite tranqtiilarnente. 0 apelo do assistente da acusa-93.0 que visa a agrava~ao da pena. Sabre 0 tema. vide nosso C6digo de Processo Penal ano/ado, cit., nota ao art. 598.

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indicar com exclusividade a figura do Ministerio Publico, de­venda tambem incluir-se 0 querelante.

e) Recurso da acusar;o.o que na petir;o.o somente indica a pre­tenso.o de impedir a prescrir;o.o retroativa

E possivel que a acusal;ao (Ministerio Publico, querelan­te ou assistente), na petil;ao da apelavao, somente diga que 0

recurso visa a impedir a prescrivao retroativa, silenciando so­bre a pretensao de agraval;ao da pena privativa de liberdade. Se isso ocorre, nao fica impedida a prescrivao retroativa. 0 comportamento da acusal;ao, silenciando na petivao a respeito da pena imposta na sentenl;a, significa que esta esta satisfeita com sua quantidade. Dessa forma, a sentenl;a condenat6ria, no tocante a quantidade da pena, transitou em julgado para a acu­savao. E is so constitui urn dos pressupostos do principio re­troativo57 •

fJ Fragilidade das raz6es do recurso da acusar;o.o

A circunstancia de serem fracos os argumentos contidos nas raz6es da apelal;ao da acusavao, perrnitindo 0 entendimen­to de que recorreu somente para evitar a prescrivao retroativa, nao impede seu conhecimento e efeitos quanto a prescrivao retroativa58

57. TACrimSP, iTACrimSP, 36:321, 45:408 e 47:357; STF, HC 699.570,2' Turrna, RT, 710:377 e 378.

58. STF, RECrim 96.354-SP, 2' TUIIUa, em 20-4-1982, v. un., ReI. Min. Docio Miranda, DiU, 14 maio 1982, p. 4510.

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g) Aplicar;tio de multa

Se a acusal;ao, satisfeita com a quantidade da pena pri­vativa de liberdade, apela visando a aplicavao da multa, omiti­da na sentenl;a condenat6ria, nao fica impedida a prescril;ao retroativa.

h) Agravar;o.o da multa

Se a acusavao apela visando a agravavao da pena de mul­ta, satisfeita com a quantidade da pena privativa de liberdade, pode ser declarada a extinl;ao da punibilidade pela prescril;ao retroativa59

!) Cassar;o.o do "sursis"

Suponha-se que 0 Juiz condene 0 reu e !he imponha 0

sursis. A acusal;ao, contentando-se com a quantidade da pena privativa de liberdade imposta, apela pretendendo a cassavao da medida. Nao fica impedida a prescril;ao retroativa60

.

j) Desclassificar;o.o

Se 0 recurso da acusal;ao, contentando-se com a quanti­dade da pena privativa de liberdade imposta na sentenva con­denat6ria, visa somente a desclassificavao para outra figura t1-

59. STF, RECrim 88.019-SP, 2' TUIIUa, em 28-4-1978, v. un., ReI. Min. Cordeiro Guerra, DiU, 29 maio 1978, p. 3723, JTACrimSP, 91:324.

60. STF, RT i, 66:382, RECrim 88.095, I'TuIIUa, em 9-5-1978, DiU, 29 maio 1978, p. 3732; RTf, 87:338.

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pica, nlio fica impedida a prescri<;lio retroativa. Suponha-se que o Juiz, na senten<;a condenat6ria, aplique ao reu a pena de ten­tativa de furto privilegiado. 0 Promotor de Justi<;a apela, sa­tisfeito com a quantidade da pena imposta, rebelando-se so­mente no tocante a qualifica<;lio legal do crime, que pretende seja, v. g., simples e nlio privilegiado. Pode ser declarada a prescri<;lio retroativa61

I) M edida de segurant;a

Nlio impede a prescri<;lio retroativa 0 recurso da acusa­<;lio que, sem pretender a agrava<;lio da pena privativa de liber­dade, visa a imposi<;lio de medida de seguran<;a em substitui­<;lio a san<;lio detentiva.

m) Pena restritiva de direitos

Nlio impede a extin<;lio da punibilidade pela prescri<;lio retroativa 0 recurso da acusa<;lio que, sem pretender a agrava­<;lio da pena privativa de liberdade, visa a imposi<;lio de pena restritiva de direitos substitutiva62 •

n) Aumenlo da pena em face do concurso formal

Suponha-se que 0 Juiz, na senten<;a condenat6ria, omita o aumento previsto pelo CP em face do concurso formal de

61. 0 STF deeidiu easo analogo, adotando 0 principio exposto no texto (RECrim 88.095, I' Turma, em 9-5-1978, v. un., ReI. Min. Soares Munoz, DiU, 29 maio 1978, p. 3732; RTi, 87:338 e 98:687).

62. TACrimSP, JTACrimSP, 28:215 (euida de pena aeessoria, poden­do 0 principio ser aplieado Ii restritiva de direitos).

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delitos. Apelando a acusa<;lio visando a agrava<;lio omitida, fica impedida a prescri<;lio retroativa? Nlio, uma vez que 0 aumen­to do art. 70 do CP nlio deve ser computado para efeito de con­tagem do prazo prescricional63 • 0 mesmo ocorre quando a acu­sa<;lio nlio fica satisfeita com 0 quantum do aumento.

0) Aumento da pena em face da continuat;ao

Pode ocorrer que 0 Juiz, na senten<;a condenat6ria, omita o aumento de pena previsto no crime continuado (CP, art. 71). Recorrendo a acusa<;lio visando a agrava<;lio da pena em face do nexo de continuidade entre crimes, nlio fica impedida a prescri<;lio retroativa. Isso porque a causa de aumento de pena do crime continuado nlio incide sobre 0 prazo prescricional, como vimos em itens anteriores64

p) Recurso da acusat;ao que restringe na petit;ao a agrava­t;aO da pena de modo a nao allerar 0 prazo prescric ional

Imagine que decorram dois anos e meio entre a data do recebimento da den uncia, por crime de leslio corporalleve, e a da publica<;lio da senten<;a condenat6ria, que imp6e ao reu pena de tres meses de deten<;lio, omitindo 0 Juiz a agrava<;lio gene­rica da reincidencia. 0 Promotor de J usti<;a apela e, na peti<;lio do recurso, restringindo sua extenslio, exp6e a pretenslio de que

63. TACrimSP, iTACrimSP, 47:355; ACrim 283.145, 7' Cam. do TACrimSP, em 9-6-1983, v. un., ReI. 0 entao luiz Djalma Lofrano.

64. STF, HC 59.097-SP, I' Turma, em 2·2-1982, v. un., ReI. Min. Neri da Silveira, DiU, 19 mar. 1982, p. 2232; RECrim 97.600-SP, 2' Thr­rna, em 19-4-1983, v. un., ReI. Min. Decio Miranda, DiU, 20 maio 1983, p. 7058; RTi, 109:1108.

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~-

a pena venha a ser agravada de quinze dias pela reincidencia. Seja a pena de tres meses ou quatro meses e quinze dias de deten<;ao, 0 prazo prescricional e 0 mesmo: dois anos, nos ter­mos do art. 109, VI, do CPo Nessa hip6tese, 0 apelo da J usti<;a PUblica nao contem a possibilidade de agrava<;ao da pena de modo a alterar 0 prazo prescricional. Em face dis so, nao im­pede a prescri<;ao retroativa.

q) Recurso da acusartio contra a concesstio do perdiio judicial

Pressupondo a ado<;;ao da tese de que a senten<;;a conces­siva do perdao judicial e condenatoria, hi! falar -se em prescri­<;ao retroativa quando 0 recurso da acusa<;ao visa a efetiva apli­ca<;ao da pena?

Sim, desde que improvido 0 recurso ou provido de modo a nao alterar 0 prazo prescricional. No primeiro caso, impro­vida a apela<;ao, leva-se em conta 0 minimo na pena privativa de liberdade cominada65

• Na segunda hip6tese, considera-se a pena imposta pelo Tribunal. De ver-se que para 0 STJ a sen­ten<;a que aplica 0 permo judicial e declaratoria da extin<;ao da punibilidade, nao subsistindo nenhlUl1 efeito condenat6rio (Sumula 18).

r) "Reformatio in pejus"

Anulada a primeira sentens;a condenat6ria em recurso exclusivo da defesa, a apela<;ao da acusa<;ao visando a agrava-

65. RECrim 104.961, 2'Turma do STF, em 25-9-1987, DIU, 30 out. 1987; RTI, 124:1138.

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<;ao da pena imposta na segunda, em face do principio que veda a reformatio in pejus, e insuscetivel de impedir a prescri<;ao retroativa 66.

Suponha-se que 0 reu, process ado por lesao corporalleve, venha a ser condenado, um ano e seis meses ap6s a data do recebimento da demincia, a tres meses de deten<;ao, transitan­do em julgado a senten<;a para a acusa<;ao. Em apelo exclusi­vo do reu, 0 Tribunal anula a senten<;a condenat6ria. Outra vem a ser proferida dois anos e dois meses depois da data do rece­bimento da delllincia, impondo a mesma pena. 0 Ministerio Publico recorre pretendendo a agrava<;ao da pena. Como, di­ante do principio que veda a reformatio in pejus67

, a pena im­posta na segunda senten<;a nao pode ser superior ada primei­ra, 0 recurso da acusa<;ao jamais ten! efeito de perrnitir deten­<;ao superior a tres meses. Diante disso, nao pode impedir a prescri<;ao retroativa, contado 0 bienio entre a data do fato e a do recebimento da denuncia ou entre esta e ada publica<;ao da segunda senten<;a condenat6ria68•

Hi! divergencia, contudo, a respeito do momenta em que a prescri<;ao retroativa pode ser declarada. A I' Turma do STF entendeu que quando da anula<;ao da prime ira senten<;a condenatoria nao e possivel, desde logo, aplicar-se 0 princi­pio retroativo. Isso so poderi! ocorrer em face da nova senten­<;a69 Em sentido contrario, a 2' Turma afirmou 0 principio de

66. RT, 607:416.

67. Sobre 0 assunto, vide nosso C6digo de Processo Penal anotado, cit., p. 362, nota ao art. 617.

68. STF, RTI, 84:105 e 96:611; STF, He 69.558, I'Turma, DIU, 2 out. 1992, p. 16845.

69. HC 61.272-SP, em 11-11-1983, v. un., ReI. Min. Neri d. Silveira, DIU, IS jun. 1984, p. 8726; RT I, 92: 111 e 112: 1 037. Posteriormente, entre-

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que 0 Tribunal, no proprio acordao que anula a primeira sen­ten~a condenatoria, pode declarar a extin~ao da punibilidade pela forma retroativa70

.

s) Qualidade da pena

Nao impede a prescri~ao retroativa 0 recurso da acusa~ao que visa a altera~ao da qualidade da pena, v. g., de deten~ao para reclusao ou de multa para deten~ao. Nesse sentido: STJ, REsp 90.176, 6aTurma,j. 7-4-1998, DiU, 4 maio 1998, p. 213.

t) Reconhecimento do concurso material

Nao impede a prescri(,:ao retroativa 0 apelo da acusa(,:ao que pretende 0 reconhecimento do concurso material de cri­mes. Isso porque as penas, para esse efeito, nao sao soma­das, cada uma regulando 0 seu proprio prazo prescricional (CP, art. 119). Diante disso, nao tendo 0 recurso da acusa~iio

tanto, no RECrim 104.664, em 8-8-1986, a mesma Turma anulou • senten­~a condenat6ria e, considerando a pena nela aplicada insuscetfvel de ser agravada em nova decisao, aplicou desde logo a prescric;iio retroativa, con­tando 0 pr.zo da denunei. em diante (DIU, 12 set. 1986). No mesmo senti­do: He 67.755, I' Turma, ReI. Min. Celso de Mello, RTI, 142:477; HC 70.396, l' Turma, DIU, 10 jun. 1994, p. 14782. A 5'Turma do STJ, no HC 67, em 16-10-1989, seguiu a oriental'iio da l' Turma do STF (DIU, 5 fey. 1990, p. 458: RT, 657:330). Nomesmo sentido: STJ, REsp 7.956, 5'Tumaa, ReI. Min. Assis Toledo, DIU, 18 mar. 1991, p. 2806; STJ, HC 3.997, 6' Turma, ReI. Min. Assis Toledo, DIU, 29 abr. 1996, p.13425. Vide ITACrimSP, 92:231.

70. STF, RECrim I06.846-SP, 10-12-1985, Y. un., ReI. Min. Aldir Passarinho, DIU, 28 fey. 1986, p. 2353; RTI, 118:755; HC 65.224, em 14-8-1987, Y. un., DIU, 25 set. 1987, p. 204[3; RTI, 136: [60. No mesmo sen­tido: STF, 70.866, 2' Turma, DIU, 29 abr. 1994, p. 9717.

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o efeito de agrava~ao da pen a, nao fica impedido 0 principio retroativo.

u) Prazo da prescric;iio da pretensiio punitiva jli decorrido

Se ja decorreu antes da senten~a condenatoria 0 prazo da prescri~ao da pretensao punitiva (CP, art. 109), 0 recur­so da acusa~ao vis an do it agrava~ao da pena nao tern efeito impeditivo. 0 Tribunal, sem apreciar 0 merito, deve decla­rar a extin~ao da punibilidade, prejudicado 0 recurso acusatorio.

16. LEGISLA<;Ao ESPECIAL

a) Abuso de autoridade

Inexiste prescri(,:iio retroativa quando a senten~a conde­natoria se firma em fato definido na Lei n. 4.898, de 9-12-1965. Isso porque a pena privativa de liberdade cominada e de deten~ao, de dez dias a seis meses (art. 69 , § 39 , b). Como o maximo da pena privativa de liberdade e inferior a urn ano, a prescri(,:ao ocorre em dois anos (CP, art. 109, VI). Ora, de­corridos mais de dois anos entre a data do fato e a do recebi­mento da den uncia ou entre esta e a da publicas:ao da senten­~a condenatoria, tenha imposto deten(,:ao, ainda que no ma­ximo (alinea b), multa (alinea a), perda do cargo ou inabili­ta~iio para 0 exercicio de fun~ao publica (alinea c), nao ha falar-se em prescris:ao retroativa, uma vez ja incidente a pres­cris:ao da pretensao punitiva (CP, art. 109). E certo que a pena de interdi(,:ao tern seu prazo maximo de tres anos (alinea c). Essa quantidade da pena, entre tanto , nao altera 0 lapso

173

,­,

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prescricional. Se a prescri«ao ocorre em dois anos quando imposta pena mais grave, que e a deten«ao, por coerencia, quando cominada a mais leve, a interdi«ao, 0 prazo nao pode ser maior.

b) Crimes Jalimentares71

Nao se pode falar em prescri«ao retroativa em rela«ao aos delitos falimentares, uma vez que 0 prazo prescricional da pretensao punitiva e sempre de dois anos. Assim, qual­quer que seja a quantidade da pena imposta na senten«a condenat6ria, se decorreram dois anos ou mais entre sua pu­blica«ao e a data do recebimento da denuncia ou entre esta e a data em que deveria estar encerrada a faH~ncia, 0 caso e de prescri«ao da pretensao punitiva (CP, art. 109) e nao retroati­va (CP, art. 110, § 2")72.

c) Crimes de imprensa

Nao ha prescri«ao retroativa em rela«ao aos delitos des­critos na Lei de Imprensa (Lei n. 5.250, de 2-2-1967), levan­do-se em considera«ao que 0 prazo prescricional da pretensao punitiva e sempre de dois anos (art. 41, caput). Assim, se de­correram dois anos ou mais entre a data do fato e a do recebi­mento da denuncia ou entre esta e a da publica«ao da senten«a

71. Sabre a prescrir;ao nos delitos falimentares, vide nosso Direito penal, cit., p. 737.

72. No sentido do texto: Rodrigues Porto, Da prescriqQo, cit., p. 169, n. 85; RT, 462:328; ITACrimSP, 24:411. Contra: TJSP, ACrim 58.591, RITJSP, 112:484.

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condenat6ria, e dispensavel 0 principio retroativo, cuidando­se de hip6tese de prescri«ao da pretensao punitiva (CP, art. 109)73. Suponha-se 0 caso do reu condenado a urn mes de de­ten«ao por delito de injuria (art. 22 da lei especial), tendo tran­

sitado em julgado a senten«a para a acusa«ao (ou improvido seu recurso). Verifica-se a ocorrencia de mais de dois anos entre 0 inicio da a«ao penal e a data da publica«ao da senten­«a. Como a pena e inferior a urn ano, 0 prazo prescricional retroativo seria de dois anos. Prescindfvel, porem, e a aplica­

«ao do principio retroativo, incidindo a prescri«ao da pretensao punitiva comum (art. 41, caput).

17. IMPRESCRITIBILIDADE

A CF de 1988, em seu art. 5", criou dois casos em que nao e aplicavel a prescri«ao retroativa:

73. No sentido do texto: Rodrigues Porto, Da prescriqiio, cit., p. 170; STF, RTI, 73:96, 117:79 e 137:759; RT, 606:406; STF, HC 67.046, 2'Tur­rna, DIU, 21 abr. 1989, p. 5856; RTI, 131:603; HC 67.D47, I'Turma, DIU, 5 maio 1989, p. 7160; RT, 648:336; STJ, HC 4.412, 5'Turma, DIU, 16 dez. 1996, p. 50890. Hi posi\;ao jurisprudencia1 no sentido de que e possive1 a prescri~ao retroativa em relac,;:ao aos delitos de imprensa, considerando-se 0

prazo prescriciona1 em face do dobro da quantidade da pena imposta (RT, 428:362 e 465:312). Assim, condenado 0 reu a seis meses de deten,ao, a prescric;lio retroativa teria ocorrido em urn ano. A orienta~ao e insllstenta­vel. A contagem da pena em dobra s6 e permitida oa prescric;ao da preten­sao executoria (Lei de Imprensa, art. 41, caput). Como a prescri,ao retroa­tiva nao e regulada na lei especial, de aplicar-se 0 principio do CP, nos termos do art. 12. AMm disso, esse principia, TIa pnitica, leva a absurdos. Imagine-se que 0 feU, por delito de injuria tentado, venha a seI condenado a dez dias de deten'taa. A incidir a princfpia que criticamas, a prescri~aa re­traativa acarreria em vinte dias, a que naa pade ter side cantemplado na vontade da lei.

175

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1 Q) crime de racismo (inciso XLII); e

2Q) infra~6es de '~grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e 0 Estado Democnitico" (inci­so XLIV).

Sobre os dois temas, de aplicar-se 0 que dissemos no estudo da prescri~a6 da pretensao punitiva (Capitulo III, item 2).

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BIBLIOTECA "DES. HOMERO MAFRA"

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