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curar superficialmente a ferida de um povo, dizendo “Paz, paz,” quando não há paz. 5 O livro de Romanos é o que temos de mais semelhante a uma teologia sistemática, nas Escrituras. Nesta carta, o apóstolo Paulo está a expor a sua doutrina perante a igreja de Roma. Ele procura prepará-los para a sua visita, e espera que se juntem a ele nos seus trabalhos missionários em Espanha. 6 É extremamente importante notar que os primeiros três capítulos desta carta, à excepção de uma breve introdução, são dedicados à hamartiologia 7 a doutrina do pecado. Em três capítulos, o apóstolo trabalha com todo o seu intelecto, e sob a direcção do Espírito Santo, com um único grande propósito provar a pecaminosidade do homem e condenar o mundo inteiro! Tenho ouvido muitos cristãos dizerem que Deus não nos deu um ministério de condenação e morte, mas de justiça, reconciliação e vida. 8 Isto é muito verdade, mas não significa que não devemos falar muito sobre o pecado ou usar as Escrituras para trazer os homens à convicção do Espírito Santo em relação ao seu pecado. É verdade que não há condenação “em Cristo Jesus”, 9 mas não há nada a não ser condenação longe dEle. 10 As Escrituras dizem-nos que a Lei não foi dada como um meio de salvação, mas como instrumento para expor tanto a vileza do pecado para que o pecado se faça excessivamente maligno 11 como a pecaminosidade do homem para que o mundo seja condenável diante de Deus. 12 O ministério da Lei deve continuar a ser uma parte essencial da nossa proclamação do Evangelho. Os “antigos” pregadores chamaram a isto de preparar os campos de lavoura, 13 revirar as coisas e abrir as cortinas. Eles viram a O centro do Evangelho é a morte de Cristo. Cristo morreu pelo pecado. Portanto, não pode haver proclamação do Evangelho sem se lidar biblicamente com o pecado. Isto inclui explicar a sua natureza hedionda e expor os homens enquanto pecadores. Estou ciente de que o tema do pecado não está em voga, mesmo entre os círculos evangélicos; contudo, qualquer honesta reflexão das Escrituras acerca da cultura contemporânea demonstrará que ainda existe necessidade de dar importância ao pecado. A necessidade de se falar claramente sobre o pecado é séria, dado que vivemos numa geração nascida em pecado e cativada por ele. 1 Somos um povo que bebe iniquidade como água, 2 e já não conseguimos discernir a nossa condição decaída, tal como um peixe não sabe que está molhado. Por causa disto, devemos esforçar-nos por redescobrir uma visão bíblica de pecado e da pecaminosidade do homem. O nosso entendimento acerca de Deus e do Evangelho dependem disso. Como guardiões do Evangelho de Jesus Cristo, não estamos a fazer nenhum favor aos homens ao tornar-lhes o pecado como algo leve, ao desviarmo-nos do assunto ou ao evitá-lo de todo. Os homens só têm um problema estão sob a ira de Deus por causa do seu pecado. 3 Negar isto é negar uma das doutrinas fundamentais do Cristianismo. Não é sinal de pouco amor dizer que os homens são pecadores, mas é a mais grosseira forma de imoralidade não lhes dizer! De facto, Deus declara que o seu sangue será requerido das nossas mãos se não os avisarmos do seu pecado e do juízo que está para vir. 4 Procurar pregar o Evangelho sem falar do pecado é como tentar DANDO IMPORTÂNCIA AO POR P AUL WASHER

Dando importância ao pecado

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Page 1: Dando importância ao pecado

curar superficialmente a ferida de um povo,

dizendo “Paz, paz,” quando não há paz.5

O livro de Romanos é o que temos de mais

semelhante a uma teologia sistemática, nas

Escrituras. Nesta carta, o apóstolo Paulo está a

expor a sua doutrina perante a igreja de Roma. Ele

procura prepará-los para a sua visita, e espera que

se juntem a ele nos seus trabalhos missionários

em Espanha.6 É extremamente importante notar

que os primeiros três capítulos desta carta, à

excepção de uma breve introdução, são dedicados

à hamartiologia 7 – a doutrina do pecado. Em três

capítulos, o apóstolo trabalha com todo o seu

intelecto, e sob a direcção do Espírito Santo, com

um único grande propósito – provar a

pecaminosidade do homem e condenar o mundo

inteiro!

Tenho ouvido muitos cristãos dizerem que Deus

não nos deu um ministério de condenação e morte,

mas de justiça, reconciliação e vida.8 Isto é muito

verdade, mas não significa que não devemos falar

muito sobre o pecado ou usar as Escrituras para

trazer os homens à convicção do Espírito Santo

em relação ao seu pecado. É verdade que não há

condenação “em Cristo Jesus”,9 mas não há nada

a não ser condenação longe dEle.10

As Escrituras dizem-nos que a Lei não foi dada

como um meio de salvação, mas como

instrumento para expor tanto a vileza do pecado –

para que o pecado se faça excessivamente

maligno11 – como a pecaminosidade do homem –

para que o mundo seja condenável diante de

Deus.12 O ministério da Lei deve continuar a ser

uma parte essencial da nossa proclamação do

Evangelho. Os “antigos” pregadores chamaram a

isto de preparar os campos de lavoura,13 revirar as

coisas e abrir as cortinas. Eles viram a

O centro do Evangelho é a morte de Cristo. Cristo

morreu pelo pecado. Portanto, não pode haver

proclamação do Evangelho sem se lidar

biblicamente com o pecado. Isto inclui explicar a

sua natureza hedionda e expor os homens

enquanto pecadores.

Estou ciente de que o tema do pecado não está

em voga, mesmo entre os círculos evangélicos;

contudo, qualquer honesta reflexão das Escrituras

acerca da cultura contemporânea demonstrará que

ainda existe necessidade de dar importância ao

pecado.

A necessidade de se falar claramente sobre o

pecado é séria, dado que vivemos numa geração

nascida em pecado e cativada por ele.1 Somos um

povo que bebe iniquidade como água,2 e já não

conseguimos discernir a nossa condição decaída,

tal como um peixe não sabe que está molhado.

Por causa disto, devemos esforçar-nos por

redescobrir uma visão bíblica de pecado e da

pecaminosidade do homem. O nosso

entendimento acerca de Deus e do Evangelho

dependem disso.

Como guardiões do Evangelho de Jesus Cristo,

não estamos a fazer nenhum favor aos homens ao

tornar-lhes o pecado como algo leve, ao

desviarmo-nos do assunto ou ao evitá-lo de todo.

Os homens só têm um problema – estão sob a ira

de Deus por causa do seu pecado.3 Negar isto é

negar uma das doutrinas fundamentais do

Cristianismo. Não é sinal de pouco amor dizer que

os homens são pecadores, mas é a mais grosseira

forma de imoralidade não lhes dizer! De facto,

Deus declara que o seu sangue será requerido das

nossas mãos se não os avisarmos do seu pecado

e do juízo que está para vir.4 Procurar pregar o

Evangelho sem falar do pecado é como tentar

DANDO IMPORTÂNCIA AO

POR PAUL WASHER

Page 2: Dando importância ao pecado

Qualquer outra resposta dada por um médico ou

pregador seria sem amor e imoral.

Talvez seja apropriado neste momento

perguntarmo-nos se a nossa pregação do

Evangelho tem este propósito. Amamos o

suficiente para ensinar a verdade, expor o pecado

e confrontar os nossos ouvintes? Temos uma

compaixão bíblica que diz a verdade aos homens,

na esperança que os seus corações possam ser

quebrantados debaixo do peso do seu pecado e

eles possam olhar apenas para Cristo? Queremos

nós correr o risco de ser mal entendidos e

caluniados para que a verdade possa ser dita e os

homens possam ser salvos?

Parece haver uma crescente convicção, mesmo

entre os evangélicos, que o homem ocidental

contemporâneo já está em tal ruptura psicológica,

e tão oprimido com culpa, que nós não ousamos

pressioná-lo mais para que não o esmaguemos.

Tal visão falha em perceber que há uma tremenda

diferença entre uma ruptura psicológica e

arrependimento bíblico, que leva à vida. O homem

moderno tem adquirido o carácter fraco que tem,

porque é egocêntrico e vive em rebelião contra

Deus. Está oprimido com culpa porque é culpado.

Precisa da Palavra de Deus para expor o seu

pecado e trazê-lo ao arrependimento. Só aí haverá

um quebrantamento bíblico que leva à vida.

A forma como Deus lida com a nação de Israel

fornece-nos maravilhosos exemplos desta

verdade. Através do profeta Isaías, Ele descreve a

condição de Israel:

“Toda a cabeça está enferma e todo o coração

fraco. Desde a planta do pé até a cabeça não há

nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas

podres não espremidas, nem ligadas, nem

amolecidas com óleo.”22

A nação de Israel era mais quebrantada e fraca do

que se pode imaginar, e mesmo assim Deus lidou

com eles, para seu bem, apontando-lhes a sua

rebelião e chamando-os ao arrependimento. Ele

usou muitas “palavras duras” contra eles,23 mas tal

era necessário para expor o seu pecado e tirá-los

dele.24

Identificar uma doença e explicar a seriedade da

mesma é sempre o primeiro passo para uma cura.

Um homem que não tem conhecimento do seu

cancro não buscará ajuda da medicina, e um

homem não fugirá de uma casa em chamas a

menos que saiba da existência de um fogo. Da

mesma forma, um homem não buscará até que

saiba que está completamente perdido, e não

fugirá para Cristo até que saiba que não há outro

necessidade de colocar os homens face ao

espelho da Lei de Deus, para que pudessem ver a

sua condição miserável e clamar por misericórdia.

É claro que isto não é para ser feito num espírito

de orgulho ou arrogância, e não devemos tratar as

pessoas rudemente. Deus não nos chamou para

sermos um povo beligerante ou rude, mesmo que

a verdade que preguemos com toda a humildade

possa ser bastante ofensiva.

O ministério do apóstolo Paulo não tinha como

objectivo a condenação, mas num certo sentido ele

esforçou-se para condenar os homens, na

esperança que eles pudessem reconhecer a sua

absoluta ruína moral e se virassem para Cristo, em

arrependimento e fé. No livro de Romanos, Paulo

primeiro procura provar a corrupção moral do

mundo inteiro, a sua hostilidade para com Deus e

a sua absoluta recusa de se submeter à verdade

que conhece.14 Depois, foca a sua atenção no

judeu e prova que, embora seja abençoado de

forma única pelo dom da revelação especial, é tão

culpado perante Deus como o gentio.15

Finalmente, conclui o seu argumento apresentando

algumas das mais directas e ofensivas acusações

contra o homem que se encontram nas

Escrituras.16 Qual é o seu propósito? Ele diz-nos,

no final dos argumentos:

“para que toda a boca esteja fechada e todo o

mundo seja condenável diante de Deus.”17

Como Jeremias antes dele, Paulo foi chamado não

só para “edificar e plantar”, mas também para

“arrancar e para derrubar, para destruir e para

arruinar”.18 Ele estava, nas suas próprias palavras,

“destruindo os conselhos, e toda a altivez que se

levanta contra o conhecimento de Deus.”19

Debaixo da direcção do Espírito Santo, e através

das Escrituras, Paulo esforçou-se por dar fim à

esperança dos pagãos moralistas, dos judeus

religiosos e de todos os outros. Ele escreveu e

pregou para fechar a boca dos homens, para que

eles nunca mais se orgulhassem na justiça própria

ou arranjassem desculpas para o pecado. Ele

barrou qualquer outra esperança, para que se

pudessem virar para Cristo apenas.

Seria o apóstolo Paulo meramente um homem

zangado e amargo, tendencioso e ressentido com

a humanidade? Não! Ele amava a humanidade de

tal forma que a sua vida foi derramada como uma

oferta por libação pelos gentios,20 e ele mesmo

desejou ser anátema, separado de Cristo, por

amor aos seus irmãos judeus.21 Paulo pregou

contra o pecado pela mesma razão que o médico

trabalha para diagnosticar a doença do seu

paciente e deseja contar-lhe mesmo a pior notícia.

É um trabalho de amor pela salvação do que ouve.

Page 3: Dando importância ao pecado

meio-dia, porque é eclipsada pela luz do sol.

Contudo, quando o sol se põe e o céu fica negro

como o breu, as estrelas vêem-se em todo o seu

esplendor. Assim é com o Evangelho de Jesus

Cristo. A sua verdadeira beleza só pode ser

observada com o pano de fundo do pecado do

homem. Quanto mais sombrio o homem se

mostra, mais brilhante se torna o Evangelho.

Parece que os homens nunca sequer perceberam

a beleza de Cristo ou consideraram o Seu valor até

que percebem a natureza hedionda do seu

pecado, e deles mesmos, como absolutamente

destituídos de mérito. Há incontáveis testemunhos

de cristãos ao longo dos tempos que nunca

estimaram Cristo até ao dia em que o Espírito

Santo veio e os convenceu de pecado, justiça e

juízo. Só depois de serem devorados nas

implacáveis trevas do seu próprio pecado é que

Cristo apareceu como a Estrela da manhã e se

tornou precioso para eles.

É surpreendente que quando verdadeiros crentes

em Jesus Cristo ouvem um sermão em relação à

depravação do homem, saem da igreja explodindo

de alegria e cheios de zelo para seguir Cristo. Não

é por tomarem o pecado por algo pouco importante

ou por se satisfazerem com o seu prévio estado de

pecadores. Pelo contrário, estão cheios de gozo

indizível porque nas maiores trevas eles vêem

mais de Cristo!

Como privamos os homens de uma maior visão de

Deus, por não lhes darmos uma pior visão deles

próprios.

1 Sl.51:5 e 58:3; 2 Jó15:16; 3 Jo.3:36; 4 Ez.33:8;5 Jr.6:14; 6 Rm.15:23-24; 7 Hamartiologia deriva das

palavras gregas hamartía que significa pecado, e

lógos que significa palavra ou discurso.

Hamartiologia é literalmente um discurso sobre o

pecado; 8 Esta frase é baseada em II Co.3:7-9 e

5:17; 9 Rm.8:1; 10 Rm.5:18; 11 Rm.7:13; 12 Rm.3:19;13 Jr.4:3; Os.10:12; 14 Rm.1:18-32; 15 Rm.2:1-29;16 Rm.3:1-18; 17 Rm.3:19; 18 Jr.1:10; 19 II Co.10:5;20 Fp.2:17; 21 Rm.9:3; 22 Is.1:5-6; 23 Is.1:4; 24 Is.1:18-

19; 25 Jo.16:8-11; 26 I Co.1:21; 27 Ef.6:17; 28 Devo

esta visão ao pastor Jeff Noblit da Igreja Grace Life

Church de Muscle Shoals, Alabama.

© HeartCry Missionary Society.

Website: www.heartcrymissionary.com

Original: Paul Washer: HeartCry Magazine – Mai-Jun

2009, nº61, “Making much of sin”, usado com

permissão.

Tradução e adaptação:

www.portaltestemunho.blogspot.com

meio de salvação. Tem que ser falado aos homens

acerca do seu pecado, para que possam conhecê-

lo; tem que se informar os homens o seu perigo

para que possam fugir dele; e eles têm que ser

convencidos de que a salvação se encontra

apenas em Cristo para que abandonem todas as

suas esperanças da sua justiça própria e corram

para Ele.

Dar importância ao pecado já não é uma

preocupação na maioria das comunidades

evangélicas. Parece até haver um esforço

consciente para negativa e destrutiva. Parece que

hesitamos na exposição do pecado do pecador,

mesmo sendo esta uma das principais obras do

Espírito Santo:

“E, quando ele vier, convencerá o mundo do

pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque

não crêem em mim; da justiça, porque vou para

meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque

já o príncipe deste mundo está julgado.”25

De acordo com o Senhor Jesus Cristo, o Espírito

Santo foi enviado para o mundo para convencer os

homens de pecado, justiça e juízo. Trazer o

pecado à luz e pressionar o pecador ao

arrependimento é uma das Suas principais obras.

Não deveríamos nós, enquanto ministros do

Evangelho, ter o mesmo objectivo? Não deveria a

nossa pregação reflectir a mesma obra? É

possível evangelizar no poder do Espírito Santo,

recusando trabalhar com o Espírito nesta obra

essencial?

Embora o Espírito Santo não seja dependente de

instrumentos humanos, Deus ordenou que os

homens sejam trazidos à convicção de pecado,

arrependimento e fé salvadora, através da

pregação.26 E, assim, como pode o Espírito usar a

nossa pregação se não queremos expor o pecado

ou chamar os homens ao arrependimento?

As Escrituras ensinam-nos que a espada do

Espírito é a Palavra de Deus,27 mas se os

ministros de Deus usam a espada com relutância

para convencer os homens de pecado, não

extinguirá isso, tanto a pessoa, como a obra do

Espírito Santo? Não devemos ter receio de seguir

o exemplo do Espírito ao lidar com os pecadores.

Se Ele considera importante convencer os homens

de pecado, nós devemos juntar-nos a Ele nessa

obra. Os pregadores e igrejas que encontraram um

“melhor caminho”, não têm bases para esperar

que o Espírito de Deus esteja a trabalhar entre

eles para trazer os homens a Cristo.

Antes de concluir, é importante fazer uma nota

final. A maior razão para dar importância ao

pecado é que ele exalta o Evangelho. A beleza das

estrelas não pode ser observada no céu do