10
Contexto de intervenção N o presente escrito serão partilhados al- guns aspectos do trabalho desenvolvido nestes últimos dois anos, com um grupo de 24 alunos que agora se encontra no 2º ano de es- colaridade, numa escola pública de Lisboa. Decorre da discussão sobre a organização das aprendizagens no 1º Ciclo que se intensificou e se alargou a diversos grupos de trabalho no interior do MEM, para a qual contribuiu a pu- blicação do texto de Sérgio Niza (1998) sobre a organização das aprendizagens no 1º Ciclo. Para além disso, as reflexões produzidas no grupo do projecto de Investigação-acção «De- senvolvimento da escrita no 1º ano de escola- ridade», coordenado por Odete Xarepe e tendo como consultores científico e pedagó- gico Sérgio Niza e Ivone Niza foram decisivas para a viragem de aspectos fundamentais da organização das aprendizagens com esta turma. Este projecto constituiu um espaço pri- vilegiado de autoformação cooperada, a partir da interacção sistemática entre o trabalho de- senvolvido com os alunos e as reflexões ocor- ridas no grupo, provocando a problematização sustentada das práticas pedagógicas. No MEM, os nossos percursos profissionais correspondem a caminhadas intencionais, por aproximações sucessivas, com os avanços e re- cuos inerentes aos processos, em direcção a um modelo sociocentrado, conscientes de que a gestão cooperada com os alunos é uma meta que está sempre por atingir na sua plenitude. Daí a inquietação que nos caracteriza e nos exige constantes paragens para reflectir, em cooperação com os nossos pares, para reen- contrar os sentidos do trabalho pedagógico. A reflexão em torno do papel e do modo de funcionamento do Plano Individual de Traba- lho enquanto instrumento privilegiado de pi- lotagem das aprendizagens constituiu uma dessas paragens, de que resultou a clarificação de todo o dispositivo de organização coope- rada do trabalho. Apresentação do programa aos alunos A apresentação dos programas das várias áreas curriculares aos alunos no início do ano constitui a base do nosso trabalho e a primeira abordagem do que a escola exige de todos (professores e alunos). Procuramos, deste modo, desocultar os critérios da escola e parti- lhar com os alunos as competências e os con- teúdos das aprendizagens, de forma a en- volvê-los no processo desde o primeiro momento. Trata-se, no dizer de Sérgio Niza (1998), de um «contrato educativo», a partir do qual os alunos se mobilizam para as matérias a aprender. A simples apresentação e exposição dos programas no início do ano é claramente insu- ficiente para que as crianças possam ficar a co- nhecer os conteúdos e as exigências da escola, sobretudo no 1º Ciclo. São as avaliações pe- riódicas dos programas que permitem aos alu- nos a gradual integração do que têm de apren- 15 ESCOLA MODERNA Nº 5•5ª série•1999 O Plano Individual de Trabalho como instrumento de pilotagem das aprendizagens no 1º CEB Inácia Santana ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 15

das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

Contexto de intervenção

No presente escrito serão partilhados al-guns aspectos do trabalho desenvolvido

nestes últimos dois anos, com um grupo de 24alunos que agora se encontra no 2º ano de es-colaridade, numa escola pública de Lisboa.Decorre da discussão sobre a organização dasaprendizagens no 1º Ciclo que se intensificoue se alargou a diversos grupos de trabalho nointerior do MEM, para a qual contribuiu a pu-blicação do texto de Sérgio Niza (1998) sobrea organização das aprendizagens no 1º Ciclo.

Para além disso, as reflexões produzidas nogrupo do projecto de Investigação-acção «De-senvolvimento da escrita no 1º ano de escola-ridade», coordenado por Odete Xarepe etendo como consultores científico e pedagó-gico Sérgio Niza e Ivone Niza foram decisivaspara a viragem de aspectos fundamentais daorganização das aprendizagens com estaturma. Este projecto constituiu um espaço pri-vilegiado de autoformação cooperada, a partirda interacção sistemática entre o trabalho de-senvolvido com os alunos e as reflexões ocor-ridas no grupo, provocando a problematizaçãosustentada das práticas pedagógicas.

No MEM, os nossos percursos profissionaiscorrespondem a caminhadas intencionais, poraproximações sucessivas, com os avanços e re-cuos inerentes aos processos, em direcção aum modelo sociocentrado, conscientes de quea gestão cooperada com os alunos é uma metaque está sempre por atingir na sua plenitude.

Daí a inquietação que nos caracteriza e nosexige constantes paragens para reflectir, emcooperação com os nossos pares, para reen-contrar os sentidos do trabalho pedagógico.

A reflexão em torno do papel e do modo defuncionamento do Plano Individual de Traba-lho enquanto instrumento privilegiado de pi-lotagem das aprendizagens constituiu umadessas paragens, de que resultou a clarificaçãode todo o dispositivo de organização coope-rada do trabalho.

Apresentação do programa aos alunos

A apresentação dos programas das váriasáreas curriculares aos alunos no início do anoconstitui a base do nosso trabalho e a primeiraabordagem do que a escola exige de todos(professores e alunos). Procuramos, destemodo, desocultar os critérios da escola e parti-lhar com os alunos as competências e os con-teúdos das aprendizagens, de forma a en-volvê-los no processo desde o primeiromomento. Trata-se, no dizer de Sérgio Niza(1998), de um «contrato educativo», a partir doqual os alunos se mobilizam para as matériasa aprender.

A simples apresentação e exposição dosprogramas no início do ano é claramente insu-ficiente para que as crianças possam ficar a co-nhecer os conteúdos e as exigências da escola,sobretudo no 1º Ciclo. São as avaliações pe-riódicas dos programas que permitem aos alu-nos a gradual integração do que têm de apren-

15

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

O Plano Individual de Trabalho como instrumento de pilotagem

das aprendizagens no 1º CEB

Inácia Santana

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 15

Page 2: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

der, através da verificação dos conteúdos quenão foram, ou foram menos trabalhados. Estesmomentos são simultaneamente de planifica-ção dos conteúdos a trabalhar no período se-guinte, e desencadeiam, naturalmente, a cons-tituição e organização de grupos em torno denovos projectos. (fig.1).

Fig 1 – Cartaz de planificação e avaliação dos projectos

Contudo, é a auto e a hetero–avaliação dasaprendizagens dos conceitos trabalhados quepermite a cada aluno apropriar-se verdadeira-mente do programa, a partir da tomada deconsciência do que já domina e do que precisade trabalhar para melhorar.

Este ano foi possível chegar a um formatode grelha que permite simultaneamente umaanálise do programa e dos percursos indivi-duais de aprendizagem (fig.2).

Apresentada simultaneamente como lista-gem de conteúdos e como lista de verificação,esta tabela facilita, por um lado, a gestão co-lectiva do trabalho, uma vez que assinalamos

o que foi trabalhado e o que se projecta tra-balhar e propicia, por outro, regulação indivi-dual das aprendizagens, através da autoava-liação periódica, permitindo a cada umsituar-se, em qualquer momento, face ao quejá foi realizado. Dá-nos uma visão global dosprogressos do grupo e de cada um e facilitaaos alunos a tomada de consciência dos seuspercursos.

Estes quadros, elaborados para os progra-mas de Língua Portuguesa, de Matemática ede Estudo do Meio, são afixados na parede demodo a poderem facilmente ser lidos por to-dos. Mas para crianças tão pequenas é poucofuncional a consulta quotidiana destes instru-mentos, sobretudo quando se pretende que fa-çam a transposição para actividades a desen-volver autonomamente. Assim, este ano apóso primeiro registo de avaliação, foi feita a pro-posta para que cada aluno analisasse aquelasgrelhas, com a finalidade de explicitar, por es-crito, que actividades deveria privilegiar noseu trabalho autónomo em função das dificul-dades tornadas conscientes.

Com esses dados, foi elaborada uma grelhaonde se sistematizou toda a informação reco-lhida, de modo a devolvê-la aos alunos e assimfacilitar as interacções no grupo (fig3). Alguns,para quem aquela tarefa se revelou compli-cada, foram ajudados no preenchimento dagrelha, através da discussão realizada em con-junto. Noutros casos, surgiram reajustamentosa partir do debate que se gerou.

Esta estratégia revelou-se importante para aconsciencialização do percurso de cada alunoe sua consequente mobilização para as apren-dizagens, pelo que se integrou na dinâmica donosso trabalho.

Organização do trabalho paraa diferenciação

Com o objectivo de melhorar as respostasàs necessidades do grupo em todas as áreas doprograma, é negociado, com a turma, um ho-rário semanal que contempla um número re-

16

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 16

Page 3: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

17

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

Fig. 2 – Programa de Matemática

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 17

Page 4: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

duzido de rotinas já instituídas e a que seacrescenta um conjunto de actividades quevão variando de acordo com o plano nego-ciado em cada segunda-feira. (fig. 4).

Esta organização das rotinas constituiu umimportante salto qualitativo no nosso quoti-diano porque permitiu clarificar as diferentesmodalidades de trabalho utilizadas e a demar-cação de tempos destinados a cada uma delas,o que se tornou estruturante para a organiza-ção individual e do grupo.

Assim, as actividades de treino e de estudo,fundamentais à consolidação dos conceitos e àsuperação das dificuldades, passaram a reali-zar-se no Tempo de Estudo Autónomo (TEA),que corresponde a uma hora por dia. É nestesmomentos que o professor trabalha com alu-nos que apresentem dificuldades específicas, oque obriga a uma negociação na turma, du-rante a planificação diária e semanal.

Uma outra modalidade que conquistou umespaço próprio foi o trabalho em projectos.Trata-se de pequenas pesquisas que partem deinteresses espontaneamente verbalizados pelosalunos, decorrem da avaliação e planificação

18

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

Fig. 3 – Quadro resultante da análise individual dosprogramas pelos alunos, discutida no grupo

Fig. 4 – Estrutura de horário semanal

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 18

Page 5: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

dos vários programas curriculares ou de desa-fios lançados pelos correspondentes. A sua rea-lização, em pequeno grupo (não mais de trêselementos), está contemplada na organizaçãoda semana e corresponde a uma hora por dia,dois dias por semana, permitindo assim a par-ticipação de todos os alunos nestas actividades.

É em Conselho que se operacionalizam osPlanos Semanal e Diário. Negoceiam-se: osapoios do professor aos projectos e a alunoscom dificuldades, as tomadas de decisão quantoàs comunicações a apresentar, a determinaçãodos conteúdos a tratar e os tipos de trabalho arealizar durante os tempos colectivos.

A criação de condições para o desenvolvi-mento das aprendizagens num grupo natural-mente heterogéneo pressupõe a organizaçãomaterial da sala, de modo a colocar ao alcancedos alunos material diversificado correspon-dente às várias áreas curriculares e às diferen-

tes etapas de aprendizagem, possibilitandoassim a diferenciação do trabalho.

A sala de aula está permanentemente equi-pada com materiais diversos, ficheiros, guiões,livros que respondam às necessidades de tra-balho autónomo e estimulem as aprendiza-gens do grupo.

Os recursos existentes encontram-se expos-tos e organizados por áreas, de modo a permi-tirem uma utilização livre e estruturante (fig. 6).

A gestão cooperada do espaço e dos mate-riais implica a consciencialização de que os re-cursos disponíveis têm de ser partilhados portodos os elementos do grupo, constituindo as-sim um importante factor de socialização. Acorresponsabilização para a preservação dosrecursos operacionaliza-se na divisão coope-rada de tarefas, que semanalmente são assumi-das pelos alunos e avaliadas no grupo (fig. 7).

19

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

Fig. 5 – Plano diário

Fig. 6 – Um aspecto da organização material da sala – mesa

dos Ficheiros da Língua

Fig 7 – Quadro das tarefas

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 19

Page 6: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

A regulação cooperada dasaprendizagens

A organização cooperada dos recursos dasala de aula facilita a autonomia dos alunos,mas, por si só, seria claramente insuficientepara regular os diferentes percursos de apren-dizagem.

Se, por um lado, se torna impossível paraum professor gerir as necessidades de todos osalunos no sentido de optimizar o seu tempode escola, por outro essa pretensão retiraria aoportunidade de cada um se mobilizar inten-cionalmente para as aprendizagens. Essa fun-ção de regulação é facilitada por um conjuntode instrumentos de registo de produção e deavaliação, dos quais se destaca o Plano Indivi-dual de Trabalho (PIT), pela importância queassume na condução intencional dos proces-sos.

O Plano Individual de Trabalho

No Modelo do MEM, este instrumentosempre permitiu operacionalizar a diferencia-ção do trabalho que defendemos, ou seja, aque permite a cada um trabalhar segundo asnecessidades que progressivamente vai cons-ciencializando na interacção com os outros, demodo a progredir no currículo. A clarificaçãodas diferentes modalidades de trabalho bemcomo a definição de tempos para além das ro-tinas já instituídas no 1º Ciclo, materializadasno PIT, implicou uma mudança na visão estra-tégica deste instrumento. Possibilita a cadaaluno a gestão efectiva do seu percurso e dá--lhe a dimensão da sua participação em toda avida da turma ao longo da semana.

Constitui um registo do projecto individualde trabalho para a semana (fig.8), que decorredas motivações e das necessidades tornadasconscientes através das várias formas de ava-liação já referidas, da avaliação semanal doPIT em Conselho e dos diversos instrumentoscolectivos de pilotagem que integram o pró-prio sistema.

A primeira listagem corresponde às activi-dades que o aluno pode realizar durante oTEA. Na coluna que se lhe segue, marca-se onúmero de actividades que cada um projectarealizar. Nos quadrados seguintes, vai-sedando baixa do que vai sendo realizado e nacoluna da direita registam-se as actividadesque efectivamente se realizaram, permitindoassim ver facilmente o que se cumpriu, o quenão se cumpriu e o que se fez a mais.

O rectângulo seguinte é destinado ao re-gisto do projecto no qual cada um participa.Nele se inscreve o tema do projecto, o nomedos elementos do grupo, as actividades a rea-lizar em cada sessão e o respectivo balanço.

Outras formas de participação são tambémassinaladas no PIT de modo a poderem seravaliadas no final da semana, como sejam aajuda a um colega, a apresentação de trabalhosou a realização de outros que correspondem,muitas vezes, a necessidades surgidas no grupoe livremente assumidas pelos alunos. Por

20

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

Fig. 8 – Plano Individual de Trabalho

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 20

Page 7: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

21

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

exemplo, a escrita do relato de uma visita deestudo ou a redacção de uma carta a enviar emnome do grupo, podem ser elaboradas por doisalunos durante estes momentos e depois de li-dos e, se necessário, melhorados pela turma,passam a ser escritos assumidos por todos.

A tarefa, que corresponde à responsabili-dade que cada elemento assume na turma,para assegurar a manutenção da organizaçãomaterial da sala e o seu normal funciona-mento, é também registada no PIT, assimcomo a sua avaliação.

A autoavaliação, registada em local próprioe lida no final da semana, assim como as su-gestões do professor e dos colegas, vão regu-lando o ritmo de produção e ajudando a direc-cionar a planificação do trabalho da semanaseguinte.

Outros instrumentos colectivos de produção e de avaliação

A produção do grupo pode ser regulada in-dividual e colectivamente através da análisedos diferentes registos. É essa a função de umconjunto de instrumentos de pilotagem com-plementares do PIT. Trata-se de instrumentosde registo de produção expostos junto das di-versas áreas de trabalho, ao alcance de todos,onde cada um vai assinalando as suas realiza-ções. Referem-se como exemplos, entre mui-tos outros, os registos de ficheiros (fig.9), o re-gisto da produção de textos (fig.10), o registode leituras (fig. 11).

Estes instrumentos permitem, a qualquermomento, a análise do nível de produção decada aluno e de toda a turma. Alguns deles(registos dos ficheiros) são avaliados pontual-mente e outros (registo de produção de textos,registo de leituras) mensalmente. Pela visibili-dade que dão das realizações de cada um,obrigam a um confronto permanente dos alu-nos com as suas produções o que determinauma continuada adequação ao processo deaprendizagem.

O instrumento que atravessa toda a vida dogrupo, é o Diário de Turma (fig.12). A sua dis-

cussão em Conselho, permite gerir e regularconflitos, aferir processos, valorizar percursos,corrigir aspectos menos conseguidos, enfim, irreinstituindo o dispositivo de organização porparticipação directa de todos os elementos en-volvidos.

O Conselho de Cooperação Educativa

O Conselho de Cooperação Educativa, ge-rido com progressiva autonomia pelos alunos,para além de ser o momento onde se analisame discutem os assuntos registados no Diário deTurma, é também onde se avalia o PIT, ondese explicitam critérios de avaliação e se vãoclarificando as diferentes modalidades de tra-balho.

Assim, ao fim de algum tempo, sentimos anecessidade de verbalizar e registar o que con-siderávamos ser «trabalhar bem no PIT», paraque a avaliação fosse rigorosa e formadora epara que todos se apropriassem dos critérios

Fig. 9 – Registos dos ficheiros

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 21

Page 8: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

22

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

Fig. 10 – Registo da produção de textos

Fig. 11 – Registo de leituras

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 22

Page 9: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

de avaliação e pudessem direccionar a inten-cionalidade do seu trabalho. Tivemos de ex-plicitar o que estava implícito, para que não seinstalassem equívocos e tudo fosse muitoclaro para todos.

Esta clarificação dos critérios de avaliaçãopermitiu sistematizar a avaliação do PIT atra-vés de um registo de avaliação acordado pelogrupo (fig.13) e melhorou, inequivocamente, aqualidade do trabalho dos alunos.

Do mesmo modo, a certa altura do pro-

cesso, tornou-se necessário explicitar os crité-

rios do que era «trabalhar bem nos projectos»

(fig.14). A avaliação de cada estudo apresen-

tado, a partir dos critérios definidos e afixados

na sala, ajudou os alunos a ficarem mais atentos

23

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

Fig. 12 – Diário de Turma

Fig. 13 – Critérios de avaliação do PIT operacionalizadosnum registo de autoavaliação Fig. 14 – Critérios de avaliação dos projectos

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 23

Page 10: das aprendizagens no 1º CEB como instrumento de …centrorecursos.movimentoescolamoderna.pt/dt/1_2_1_org_coop... · de grelha que permite simultaneamente uma ... decorrem da avaliação

a determinados aspectos valorizados e tornou-os gradualmente mais rigorosos nos processos.

O Conselho constitui a principal instânciade gestão cooperada da vida da turma pelaparticipação directa de todos os elementos nastomadas de decisão. É através deste processocontinuado que os alunos vão integrando oscritérios da escola, se vão apropriando dosseus instrumentos e, simultaneamente, vãoaprendendo as regras da democracia pela vi-vência da cooperação. «A relação democráticade que falamos no MEM pressupõe a gestãocooperada, pelos alunos, com o professor, docurrículo escolar. Tal parceria compreende oplaneamento e a avaliação como operaçõesformativas na apropriação do currículo e inte-gram todo o processo de aprendizagem.»(Niza, 1998)

A avaliação cooperada da participação indi-vidual, materializada no PIT, objectivada peloconjunto de instrumentos de pilotagem atrásdescritos e utilizados de forma sistemática nasala de aula, permite a regulação dos percursosde aprendizagem, promovendo o crescimentosocial dos indivíduos.

Em jeito de balanço

Muito se tem discutido no seio do MEMacerca do PIT, sobretudo ao nível do 1º Ciclo,pelo que se torna pertinente esta partilha deexperiências. Várias têm sido a posições de-fendidas relativamente ao seu papel na dinâ-mica das nossas turmas: uma vertente acen-tuadamente de treino, uma vertente deprojectos, uma dimensão contratual... Daí de-corre a diversidade de registos que temos idoconstruindo ao longo dos nossos 30 anos deprática do Modelo do MEM.

O Plano Individual de Trabalho enquantoinstrumento de pilotagem é tudo aquilo quefoi referido e é onde confluem as várias ver-tentes do dispositivo pedagógico tornandopossível a gestão do trabalho por cada aluno ea regulação cooperada das aprendizagens aolongo dos diversos momentos da semana atra-vés da avaliação feita no grupo.

Bibliografia

NIZA, Sérgio (1998). «A organização social do tra-balho de aprendizagem no 1º Ciclo do EnsinoBásico». in Inovação, 11, 1898, pp. 77-98. Lis-boa: IIE

24

ESCO

LA M

OD

ERN

AN

º 5•5

ª sé

rie•1

999

ESCOLA N. 5 6/12/06 13:25 Página 24