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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA Das Nulidades na Prisão em Flagrante à Luz do Direito Processual Penal Brasileiro e Constituição Federal de 1988 EVERALDO BAPTISTA GONÇALVES Itajaí (SC), 23 de Junho de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

Das Nulidades na Prisão em Flagrante à Luz do Direi to Processual Penal Brasileiro e Constituição Federal de 1988

EVERALDO BAPTISTA GONÇALVES

Itajaí (SC), 23 de Junho de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

Das Nulidades na Prisão em Flagrante à Luz do Direi to Processual Penal Brasileiro e Constituição Federal de 1988

EVERALDO BAPTISTA GONÇALVES

Monografia submetida à Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Msc.Renato Massoni Domingues

Itajaí (SC), 23 de Junho de 2006

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Meus Agradecimentos:

A minha mãe, Ires Gonçalves, pela

paciência em minha caminhada

acadêmica.

Ao amigo, Renato Massoni Domingues,

por incentivar meus estudos inerentes a

este tema.

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Este trabalho dedico:

Aos operadores do Direito, que dão vida

a letra morta da Lei.

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“Um dos deveres do homem é cultivar a

amizade com os livros”.

(autor desconhecido)

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de

Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo

graduando Everaldo Baptista Gonçalves, sob o título “Das Nulidades na

Prisão em Flagrante à luz do Direito Processual Penal e Constituição

Federal de 1988”, foi submetida em 09 de Junho de 2006 à Banca

Examinadora composta pelos seguintes Professores: Renato Massoni

Domingues (Orientador e Presidente da Banca), Débora Cristina Freytag

Scheinnkmann (Membro) e Juliano Cavalcanti (Membro) e aprovada com

a nota 8,50 (oito e meio).

Itajaí (SC), 09 de Junho de 2006.

Prof. MSc Antônio Augusto Lapa Coordenação de Monografia

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DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho,

isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do

Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer

responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), 09 de Junho de 2006.

Everaldo Baptista Gonçalves Graduando

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ARI. Artigo

CF Constituição Federal

CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

DES. Desembargador

INC. Inciso

STF Supremo Tribunal Federal

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho.

Direito Processual Penal:

Direito regulador que estabelece as medidas, os atos processuais e o

modo de praticá-los, com as quais se protegem e se defendem os

direitos1.

Formalidade:

Ad solemnitatem, omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato2.

Nulidade:

A nulidade é uma sanção que, no processo penal, atinge a instância ou o

ato processual que não esteja de acordo com as condições de validade

impostas pelo Direito objetivo3.

Prisão em flagrante:

Em sentido jurídico, flagrante é uma qualidade do delito, é o delito que

está sendo comedido, praticado4, ou seja, a certeza visual do crime5.

Omissão:

Inação, abstenção. Ato de omitir, de deixar de fazer algo6.

1 SCHLICHTING, ARNO MELO, Teoria Geral do Processo, Florianópolis/SC. Momento Atual Editora, 2002, p. 36. 2 Código de Processo Penal, art. 564, nº IV. 3 FREDERICO MARQUES, José. ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL, 2ª ed., Campinas/SP, Millenium Editora, 2000, V. II. p. 476. 4 MIRABETE, Julio Fabbrini. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL INTERPRETADO, 11ª ed., São Paulo, Atlas, 2003, p. 735. 5 Des. RAFAEL MAGALHÃES. 6 GUIMARÃES, Deoclesiano Torrieri, Dicionário Técnico Jurídico, São Paulo, editora rideel, 6º ed., 2004. p. 414.

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SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................ XI

INTRODUÇÃO.........................................................................................................1

Capítulo 1 3

DA PRISÃO: NOÇÕES E CONCEITOS GERAIS SOBRE A PRISÂO NO DIREITO BRASILEIRO 3

1.1 NOÇÕES GERAIS SO BRE A PRISÃO NO DIREITO PÁTRIO 3

1.1.1 Conceito 5

1.2 A PRISÃO E A CARTA MAGNA DE 1988 5

1.3 DA PRISÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 9

1.3.1 Formas de prisão 10

1.3.2 Conceito de prisão em flagrante 12

1.3.3 Conceito de prisão temporária 14

1.3.4 Conceito de prisão preventiva 16

1.3.5 Da prisão Administrativa 19

1.3.6 Da prisão civil 21

Capítulo 2 24

DOS REQUISITOS DO ESTADO DE FLAGRANTE DELITO NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO 24

2.1 REQUISITOS 24

2.2 ESPÉCIES DE PRISÃO EM FLAGRANTE 29

2.2.1 Do flagrante próprio 30

2.2.2 Do flagrante impróprio 31

2.2.3 Do flagrante presumido 34

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2.2.4 Do flagrante preparado ou provocado 38

2.2.5 Do flagrante esperado 41

2.2.6 Do flagrante prorrogado ou retardado 43

2.2.7 Do flagrante forjado 45

2.3 CONCEITO DE NULIDADE NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO 47

2.4 CLASSIFICAÇÕES 49

Capítulo 3 52

DAS NULIDADES NA PRISÁO EM FLAGRANTE 52

3.1 NÃO SER O INDICIADO OUVIDO EM ÚLTIMO LUGAR ART. 304, CAPUT, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 53

3.2 NÃO SER O AUTO ASSINADO POR QUALQUER UM DOS QUE PARTICIPARAM DO ATO ART. 304, CAPUT, IN FINE 55

3.3 NÃO SER O INDICIADO OUVIDO NA LAVRATURA DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE. ART. 304 56

3.4 INEXISTÊNCIA DE TESTEMUNHAS PRESENCIAIS 58

3.5 FALTA DE ASSINATURA DO PRESO 60

3.6 IRREGULARIDADE COM O ESCRIVÃO 62

3.7 IRREGULARIDADE COM A NOTA DE CULPA 65

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................68

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ..................................................................71

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RESUMO

A presente monografia trata sobre as nulidades na

prisão em flagrante à luz do direito processual penal e Constituição

Federal de 1988.

O segundo bem maior, ou seja, a liberdade, nasce

com o homem e o acompanha até seus últimos instantes de vida. Desta

forma, a liberdade é um direito natural e regra geral de um estado

democrático de direito, sendo a prisão, uma exceção a esta regra.

Sendo exceção, está a prisão em flagrante sujeita a

imperativos legais que tem por objetivos conter eventuais abusos e

ilegalidades, limitando o poder de agir de policias, delegados e juizes,

entretanto, são os primeiros que por prerrogativa legal, tem o primeiro

contado com o agente recém preso em flagrante.

O magistrado, por seu turno, que homologa auto de

prisão em flagrante nulo, passe a ser a autoridade coatora. Tal ilegalidade

é sanável, via habeas corpus.

Como a prisão em flagrante, e conseqüentemente sua

privação da liberdade de ir e vir, mediante clausura, nasce, neste

momento, para o Estado e para o agente, uma série de direitos e deveres

recíprocos, objetivos e subjetivos, que em caso de não observância, por

parte de seus executores (policiais, delegados), a prisão torna-se nula,

devendo, o indiciado ser posto em liberdade.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto "das nulidades

na prisão em flagrante à luz do Código de Processo Penal e Constituição

Federal de 1988", e, como objetivos: institucional, produzir uma monografia

para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI; geral, um estudo inerente às nulidades, a prisão

em suas diversas modalidades; específicos, descrever de que forma a

prisão em flagrante deve ser concretizada e caracterizada como tal,

executores da prisão em flagrante extrapolam suas prerrogativas

institucionais, tendo, por meio de seus atos, reflexos imediatos no status

libertatis do delinqüente, data venia, qualquer pessoa, pode vir a ser presa

em flagrante delito.

O tema a ser estudado é atual e relevante, pois, a

cada dia, o status libertatis do individuo, assume maior relevância,

principalmente, nos países amantes do Estado Democrático de Direito.

Estamos inseridos em uma sociedade de indivíduos que

necessitam de garantias fundamentais para viver em paz. Desta forma, o

constituinte necessitando dar aos indivíduos máxime garantia de sua

liberdade de locomoção, cercou a prisão em flagrante, de imperativos

sacramentais, que devem ser rigorosamente obedecidos pelos agentes

públicos responsáveis pela captura de quem se encontrar em flagrante

delito.

Para encetar a investigação adotou-se o método

dedutivo, visto partirmos de uma formulação geral, cuja sustentação fora

buscada pela pesquisa, operacionalizado com as técnicas do referente,

da categoria, dos conceitos operacionais e da pesquisa de fontes

documentais.

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A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as

seguintes hipóteses: a) há nulidades na prisão em flagrante; b) De que

forma pode se dar e quais suas conseqüências jurídicas e sociais?

O trabalho foi repartido em três capítulos. O primeiro

busca trazer ao leitor, de forma geral, alguns aspectos sobre a prisão,

como privação da liberdade, seu espaço conquistado na Carta Magna

de 1988 e código de processo penal, conceitos sobre as diversas

modalidades de prisão no direito pátrio.

No segundo capítulo tratamos de alguns aspectos

referentes à prisão em flagrante, identificando sua classificação no texto

legal do art. 302, do código de processo penal, sua função dentro do

Direito e da sociedade bem como conceitos sobre as nulidades no

processo penal e suas garantias constitucionais.

O terceiro e último capítulo procura mostrar as

nulidades na prisão em flagrante, trazendo as formalidades sacramentais

adotadas pelo ordenamento brasileiro.

Nas considerações finais apresentam-se breves sínteses

de cada capítulo, e se demonstra, se as hipóteses básicas da pesquisa

foram ou não confirmadas.

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Capítulo 1

DA PRISÃO: NOÇÕES E CONCEITOS GERAIS SOBRE A PRISÂO NO DIREITO BRASILEIRO

1.1 NOÇÕES GERAIS SOBRE A PRISÃO NO DIREITO PÁTRIO

A prisão penal está na órbita normativa do Direito

Processual, visto que, importando em graves limitações ao jus libertatis,

necessário se faz adequado controle jurisdicional para que seja imposta e

decretada contra alguém7.

Ninguém pode ser preso a não ser em dois casos: a)

quando houver flagrante delito; b) quando houver ordem escrita da

autoridade judiciária competente, nos casos expressos em lei

(Constituição Federal, art. 5º, LXI).

A prisão será efetuada sem o respectivo mandado

somente nos seguintes casos:

prisão em flagrante;

transgressão militar;

durante estado de sitio;

recaptura de evadido.

O Código Eleitoral prevê que, cinco dias antes e

quarenta e oito horas depois do dia da eleição, não podem ser cumpridos

mandados judiciais de prisão processual. Tal disposição visa assegurar o

exercício do direito político. Podem, entretanto, ser efetuadas as prisões

em flagrante e as decorrentes de sentença penal condenatória com

trânsito em julgado.

7 MARQUES, José Frederico, Elementos de Direito Processual Penal, 2º ed., 2000, vol. IV, p. 31.

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Em se tratando de prisão ad custodiam, tanto como na

prisão ad poenam, vigora o postulado de que não há prisão sine judicio.

Somente a prisão em flagrante dispensa o controle jurisdicional prévio. Nos

demais casos de prisão penal (a cautelar ou a retributiva), é indeclinável o

judicium prévio do magistrado. E na prisão em flagrante, como a

Constituição tutela de forma direta e imediata à liberdade de locomoção,

impedindo que alguém sofra restrições ilegais ou abusivas.

Imperativo se fez que a captura e detenção do

suspeito se realize segundo os escritos preceitos e mandamentos legais,

pois, do contrário, pode o ato coativo ser anulado ou revogado mediante

ordem de habeas corpus. Há, deste modo, controle jurisdicional a

posteriori sobre a prisão em flagrante, mas de caráter rápido e sumário,

para impedir-se que seja violado o status libertatis de quem foi detido. Se

ilegal ou irregular a prisão em flagrante, cumpre ao judiciário revoga-la,

através da ordem de habeas corpus, determinando, em conseqüência, a

soltura do paciente.

O poder cautelar do Estado, na persecutio criminis,

também se realiza de modo indireto, tal como a potestas puniendi.

Somente na prisão em flagrante, a atuação coercitivo-cautelar se

executa de maneira direta, sem controle jurisdicional a priori.

A Constituição Federal de 1988 e o habeas corpus

trouxeram, para a área das providências penais cautelares, o controle

jurisdicional da potestas coercendi que o Estado exerce através da prisão

ad custodiam. Não se prende sem decisão prévia autorizando e

ordenando a prisão; e não se prende, senão nos casos de flagrante delito,

de modo arbitrário ou abusivo, pois que a prisão em flagrante podem ser

examinadas jurisdicionalmente, em procedimento rápido e sumaríssimo,

pelas vias do writ.

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1.1.1 Conceito

A palavra prisão vem do latim prehensio, onis, e em

português do Brasil quer dizer prender que caracteriza o ato privar a

liberdade pessoal, portanto, a prisão vem a ser a supressão da liberdade

individual, mediante clausura.

A prisão, em sentido jurídico, é a privação da liberdade

de locomoção, ou seja, do direito de ir e vir, por motivo ilícito ou por

ordem legal8.

Em princípio, a prisão é a supressão da liberdade

individual, mediante clausura. É a privação da liberdade individual de ir e

vir; e, tendo em vista a denominada prisão-albergue, podemos definir a

prisão como a privação, mais ou menos intensa, da liberdade

ambulatória9.

Prisão é pena privativa de liberdade imposta ao

delinqüente, cumprida, mediante clausura, em estabelecimento penal

para esse fim destinado10.

A prisão, de que o Código ora cogita, é a privação da

liberdade pessoal, por motivo lícito ou por ordem legal11.

Prisão é a supressão da liberdade individual, mediante

recolhimento12.

1.2 A PRISÃO E A CARTA MAGNA DE 1988

A prisão é objeto de regulamentação bem

8 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 10 ed., 2000, p. 359. 9 TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 17 º ed., 1995, p. 331. 10 MARQUES, José Frederico, Elementos de Direito Processual Penal, Vol. IV, p. 20. 11 NONHORA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 23º Ed., 1995, p. 151. 12 NOGUEIRA, Paulo Lúcio, Curso Completo de Processo penal, 11º Ed., 2000, p. 238.

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pormenorizada da Constituição Federal, que assim prossegue a tradição

sempre mantida pelo Direito Constitucional pátrio. É o que se verifica da

Constituição Política do Império de Brasil (art. 179, nº 8, 9 e 10), da

Constituição de 24 de fevereiro de 1891 (art. 72, §§ 13, 14 e 20), da

Constituição de 16 de julho de 1934 (art. 113, nº 21, 22 e 29). Continuando,

assim, o sistema seguido pelos estatutos fundamentais que a precederam,

a Constituição de 18 de setembro de 1946 preceitua: a) que ninguém será

preso senão em flagrante delito ou, por ordem escrita da autoridade

competente, nos casos expressos em lei (art. 141, § 20); b) que ninguém

será levado a prisão ou nela detido se prestar fiança permitida em lei (art.

141, § 21); c) que a prisão ou detenção de qualquer pessoa será

imediatamente comunicada ao juiz competente, que a relaxará, se for

ilegal, e, nos casos previstos em lei, proverá a responsabilidade da

autoridade coatora (art. 141, § 22); d) que se dará habeas corpus a quem

foi ilegalmente preso (art. 141, § 23); e) que não cabe habeas corpus nas

transgressões disciplinares (art. 141, § 23)f) que se dará nota de culpa ao

preso (art. 141 § 25); g) que não haverá prisão perpétua (art. 141, § 31); h)

que não haverá prisão civil por dívida, multa ou custas, salvo caso do

depositário infiel e o inadimplemento de obrigação Alimentar, na forma

da lei (art. 141, § 32).

A matéria que era tratada no art. 141, §§ 20, 21, 22 e 23

da Constituição Federal de 1946, encontra-se atualmente disciplinada no

art. 5º, inc. LXI, LXVI, LXII e LXVIII, respectivamente, da Constituição Federal

de 1988, in verbis:

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por

ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária

competente, salvo nos casos de transgressão militar ou

crime propriamente militar, definidos em lei;

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido,

quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem

fiança;

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LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se

encontre serão comunicados imediatamente ao juiz

competente e à família do preso ou à pessoa por ele

indicada;

LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém

sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação

em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso

de poder;

Com o advento da Constituição Federal de 1988, não

ficou excluída a possibilidade de impetração de habeas corpus nos casos

de transgressões disciplinares.

A matéria que era tratada no art. 141, §§ 31 e 32 da

Constituição Federal de 1946, encontra-se atualmente disciplinada no art.

5º, inc. XLVII, alínea b e LXVII, respectivamente, da Constituição Federal de

1988, a saber:

XLVII - não haverá penas:

(...)

b) de caráter perpétuo;

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do

responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável

de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Do exposto se infere que a Constituição subordinou a

prisão, de maneira inflexível e rigorosa, ao princípio da legalidade, tanto

que, se o status libertatis do individuo for atingido por alguma coação

ilegal, pode ele afasta-la mediante habeas corpus.

Mas o Código de Processo Penal, adotando regra

tradicional do Direito pátrio, declara ilegal a coação quando não houver

justa causa, com dispõe o mencionado artigo:

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Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:

I – quando não houver justa causa;

Quer dizer que a ilegalidade da coação não se mede

apenas pelo que se contém no jus scriptum, pois que a coação injusta

enseja também habeas corpus. Há, aí, medida coativa nula ex causa

finali, como falava João Mendes Júnior13, pelo que a coação se torna

ilegítima.

Necessário é, portanto, que o preceito se estenda

como abrangendo a coação contra jus, embora o ato coativo encontre

amparo em regra da lei escrita, o que significa que a coação à liberdade

pessoal, mesmo que tenha base em lei, não pode ser mantida e perdurar,

porque, sendo iníqua e desarrazoada, acaba por configurar-se como

providência, não secundum jus, e sim contra a própria lei.

Sendo assim, a coação cautelar, ainda que alicerçada

em lei, não poderá subsistir, se injusta, e sem fundamento razoável em

face do justo objetivo.

A Constituição tutela a liberdade pessoal contra a

ilegalidade e abuso de poder, em termos tão enfáticos e categóricos, que

não se pode admitir fosse ela sancionar restrições ao jus libertatis tão-só

porque fundadas em regras legais que, in casu, se tornem injustificáveis.

Desse modo, no campo do processo cautelar, cumpre

aplicar-se o principio da legalidade das medidas de coação com as

diretrizes constitucionais tão bem consubstanciadas na complementação

legislativa que lhes deu o art. 648, I do CPP.

Quer isso dizer que, embora admitida a lei, em

determinados casos, a coação cautelar, dela não se fará aplicação, se

13 JÚNIOR, João Mendes, O Processo Criminal Brasileiro, 1911, vol. I, pp. 280 e 281.

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manifestamente injustas as restrições que vai impor ao réu ou indiciado.

1.3 DA PRISÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Diz o art. 282 do Código de Processo Penal que, “à

exceção do flagrante delito, a prisão não poderá ser efetua-se senão em

virtude de pronúncia ou nos casos determinados em lei, e mediante

ordem escrita da autoridade competente”. Por outro lado, assim dispõe o

art. 5º, inc. LXI, da Constituição Federal: “ninguém será preso senão em

flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade

judiciária competente [...]”.

As duas normas transcritas abrangem a prisão em

qualquer de sua forma ou modalidade. É que a prisão, ou como pena, ou

na qualidade de medida cautelar, sempre se caracteriza como

providência coativa que atinge diretamente o direito a liberdade de ir e

vir.

Verifica-se, em conseqüência, que a prisão, no

tocante aos atos que a devem tornar efetiva, está regulamentada através

de preceitos comuns, que tanto se projetam no campo da prisão cautelar,

como naquela da execução penal.

Ao regular a prisão em flagrante ou a prisão

preventiva, o Código de Processo Penal cuidou dos pressupostos e

condições para que essas providências cautelares possam ser declaras14,

bem como das formalidades que devem cercar o procedimento a elas

pertinentes. Não tratou, ali, o legislador processual dos atos destinados a

tornar efetiva a prisão.

14 MAEQUES, José Frederico, Curso de Direito Penal, Vol. III, § 133, nº 5, pp. 194 e 195.

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1.3.1 Formas de prisão

Para melhor compreensão da matéria, vejamos que as

funções se ligam à prisão, isto é, quais os fins que ditam essa providência

coativa que atinge o direito de liberdade. E sob esse aspecto, a prisão

pode ser sansão penal, sanção administrativa e medida cautelar15.

A prisão como sanctio júris penal é a prisão carcerária,

ou seja, a sanção que se liga, como conseqüente, ao fato delituoso,

como prius ou antecedente. Em nosso Direito Penal, atualmente,

conhecem-se, como formas de prisão, as seguintes penas: a reclusão,

detenção (Código Penal, art. 33) e prisão simples (Lei de Contravenções

Penais, art. 5º).

A prisão disciplinar, como ensina Mário Guimarães de

Sousa, é a castigatio domestica, ou seja, provedência que a lei concede

para as autoridades conseguirem a obediência e a ordem que devem

reinar em determinados serviços. Ela assegura o bom funcionamento do

serviço e também, como salienta Garraud, “o cumprimento de deveres

profissionais”.

Sua função é a de compelir alguém à prática de

algum ato de que pretende esquivar-se.

O mal é infligido não somente por ter sido

desobedecido o comando legal, mas principalmente para se seja

obedecido16.

A prisão cautelar tem por objeto a garantia imediata

da tutela de um bem jurídico para evitar as conseqüências do periculum

in mora. Prende-se para garantir a execução anterior da pena, o

cumprimento da futura sentença condenatória. Assenta-se ela num juízo

15 AZEVEDO, Vicente de, Curso de Direito Judiciário Penal, 1958, vol. II, pp. 117 e 118. 16 Sistema di Diritto Processuale Civille, 1936, Vol. I, p. 181.

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de probabilidade de condenação, a providência cautelar é decretada a

fim de que se não frustre a sua execução e cumprimento. A prisão

preventiva, a prisão em flagrante e a prisão por pronúncia são exemplos

clássicos de prisão cautelar.

A prisão processual é toda aquela decretada pelo juiz

no exercício dos poderes contidos na jurisdição que exerce: ela deriva da

coertitio ou potestas coercendi que a jurisdição confere ao magistrado,

ou da executio, que é imanente ao poder jurisdicional, na atualidade17.

Está prisão é a que o juiz impõe, como providência compulsória, ao

sindico, ao inadimplente em obrigação alimentar, ao depositário infiel.

A prisão civil se opõe à prisão penal. O conceito

daquela é dado por exclusão: toda prisão que não for penal tem a

natureza de civil. Por seu turno, é prisão penal aquela decretada na

Justiça penal. A prisão penal, segundo clássica distinção, pode ser ad

poenam e ad custodiam: no primeiro caso, temos a prisão penal

propriamente dita, isto é, a prisão como pena ou sanção específica

decorrente da violação ou ameaça de um bem jurídico penalmente

tutelado; no segundo caso, temos a prisão penal cautelar, que podem ser

processual quando emana do juiz, quando emana de outra autoridade é

prisão em flagrante.

Vê-se, assim, que a prisão penal propriamente dita é

tão-só a que se impõe, na Justiça penal, como sanção repressiva ao autor

de crime ou contravenção. Em sentido amplo, porém, é toda providência,

que prive alguém de sua liberdade de locomoção, decretada em

processo penal18.

17 ALMEIDA,Joaquim Canuto Mendes, in Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, vol. 35, p. 659. 18 MARQUES, José Frederico, Elementos de Direito Processual Penal, Vol. IV, pp. 25 e 26.

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1.3.2 Conceito de prisão em flagrante

Originada do latim flagrans, derivada do verbo latino

flagro-flagras-flagravi-flagratum-flagrare, a palavra significa arder,

induzindo a idéia de fogo, de chama ardendo, queimando. Transmite,

pois, o entendimento de alguém surpreendido em plena crepitação.

Indica, portanto, a atualidade da perpetração do delito. Para Teles

Castelo Branco, citando Nogente-Saint Lourentes, o flagrante delito

implica a plena posse da evidência, a evidência absoluta, quanto ao fato

que acaba de cometer-se, que acaba de ser provado, que foi visto e

ouvido e, em presença do qual, seria absurdo ou impossível negá-lo.

Para Carnelutti, porém, o flagrante não é um modo de

ser do delito em si, mas do delito em face de alguma pessoa, e, por isso

mesmo, qualidade absolutamente relativa. Verifica-se, de modo fácil, que

o flagrante coincide com a possibilidade para uma pessoa de comprovar

o crime mediante a prova direta. Flagrante é o delito enquanto constitui

prova de si mesmo, e não a qualidade do “delito cometido atualmente”.

De oura forma, todo delito seria flagrante, uma vez que qualquer infração

penal tem a sua atualidade. Mas o flagrante não é atualidade, e sim

visibilidade do delito19.

Ferdinando Puglia, por seu turno, afirmava que são três

os elementos que constituem o surpreender alguém em flagrante delito: o

primeiro diz respeito ao tempo, o segundo ao conhecimento por outrem, e

o terceiro à verificação ou prova. Portanto, flagrante significa: a) infração

penal cometida atualmente; b) que é conhecido no instante de sua

pratica; c) e que fica provado por testemunhas que declaram tê-la

presenciado20.

19 F. Carnelutti, ob. Cit., vol. II. pp. 77 e 78. 20 Principi Fondamentali di Diritio Giudiziario Penale, 1919, p. 152.

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Mirabete21 a palavra “flagrante” é derivada do latim

flagrare (queimar) e flagrans, flagrantis (ardente, brilhante,

resplandecente), que no léxico, é acalorado, evidente, notório, visível,

manifesto.

Na verdade, flagrante delito é o crime cuja pratica é

surpreendida por alguém no próprio instante em que o delinqüente

executa a ação penalmente ilícita. Há assim, “a certeza visual do crime”,

autor, conduzindo-o22 pelo que a pessoa, que assiste à cena delituosa,

pode prender o seu o, em seguida, à autoridade competente.

Tourinho filho23 conceitua prisão em flagrante delito,

como a prisão daquele que é surpreendido no instante mesmo da

consumação da infração penal.

Para o mestre José Lisboa24, o flagrante delito é uma

situação de evidência da prática de uma infração penal, por parte de

alguém.

Magalhães Noronha25 flagrante vem do latim flagrans,

flagrantis, isto é, ardente, brilhante e resplandecente. Flagrante delito vem

a ser, pois, a ardência do crime. É a prova plena do delito; é a certeza da

sua existência e da autoria. Definiu-o, sinteticamente, o Des. RAFAEL

MAGALHÃES: “a certeza visual do crime”.

O vocábulo flagrante vem das vozes latinas flagrans,

flagrantis, particípio presente do verbo flagrare, no sentido de ardente,

brilhante, resplandecente. O flagrante delito significa a infração que se

pode flagrar, em plena ardência de sua tipificação. “Delito flagrante é

21 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 10º ed., 200, p. 300. 22 A expressão é do grande juiz mineiro, desembargador Rafael Magalhães (cf. Espínola Filho, Código de processo Penal Brasileiro Anotado, 1942, vol. 3º, p. 259). . 23TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, p. 436. 24MALCHER, José Lisboa da Gama, Manual de Processo Penal, 2º ed., 1999, p. 118. 25NONHORA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 23º Ed., 1995, p. 162.

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aquele que se está cometendo, ou se acabou de cometer sem intervalo

algum” 26.

Leciona Tornaghi27 Flagrante, como é demais sabido,

vem do latim flagrans, flagrantis, imparissilábico da 3a declinação, que

significa ardente, brilhante, que esta a pegar fogo.

Para Marques28 flagrante delito é expressão que,

segundo alguns, indica a qualificação de uma infração penal.

O flagrante é a situação, prevista em lei, de

imediatidade em relação à prática da infração penal que autorize a

prisão, independente de mandado judicial29.

Duas são as justificativas para a existência do da prisão

em flagrante: a reação social imediata à prática da infração penal e a

captação, também imediata, da prova.

Flagrante é, portanto, o que está a queimar e, em

sentido figurado, o que está a acontecer. Daí dizer-se flagrante também,

o que é claro, manifesto, inequívoco.

1.3.3 Conceito de prisão temporária

A medida provisória n. 111, de 24 de novembro de

1989, introduziu entre nós a prisão temporária. Em 21 de dezembro do

mesmo ano foi ela confirmada pela Lei n. 7.960.

A prisão temporária é mais uma espécie de prisão

26AQUINO, José Carlos G. Xavier e NALINI, José Renato, Manual de Processo Penal, 1997, p. 221. 27 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, p. 48. 28 MARQUES, José Frederico, Elementos de Direito Processual Penal, Vol. IV, p. 71.

29 GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal, 6ª ed., Saraiva Editora, 1999, pp.266.

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provisória ou cautelar. É uma medida acautelatória, restringe a liberdade

de locomoção por tempo determinado e tem como objetivo facilitar as

investigações a respeito de determinados crimes, durante o inquérito

policial. Assim, podemos dizer que a prisão provisória decorre de norma

processual de caráter instrumental.

Mirabele30 conceitua a prisão temporária como:

“Trata-se de medida acauteladora, da restrição da

liberdade de locomoção, por tempo determinado,

destinada a possibilitar as investigações a respeito de crimes

graves, durante o inquérito policial”. Permite o recolhimento

do autor da infração antes do transito em julgado da

sentença condenatória, a lei prevê o encarceramento

temporário do indiciado no procedimento policial, a

qualquer tempo, por razão de necessidade ou

conveniência, como se diz na exposição de motivos da Lei

nº 7.960/89, o clima de pânico que se estabelece em nossas

cidades, a certeza da impunidade que campeia célere na

consciência de nosso povo, formando novos grupos

criminosos, exigem medidas firmes e decididas, entre elas a

da prisão temporária.

A providência é destinada a possibilitar a investigação

de crimes graves, levada a efeito na fase administrativa do procedimento.

A chamada prisão temporária só pode ser decretada pela autoridade

judiciária, por tempo não superior a cinco dias, por prorrogação por

idêntico período, se necessário. A exceção feita aos delitos hediondos,

para os quais o prazo da prisão temporária pode ser dilatado31.

Para Noronha32 em sentido estrito e tendo em visto no

Código, ela é a privação da liberdade decretada pelo juiz, no inquérito

policial ou na instrução criminal. 30 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 10º ed., 200, p. 392 31AQUINO, José Carlos G. Xavier e NALINI, José Renato, Manual de Processo Penal, 1997, p. 226. 32. NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 26º ed., 1998, p. 171.

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É certo que a prisão temporária somente pode ser

decretada pelo juiz, tem lapso temporal limitado, podendo ser

estabelecida por cinco dias, prorrogáveis por igual período, com exceção

da prática de crimes hediondos e de outros delitos graves cujo período é

de prisão é de trinta dias podendo, em caso de extrema necessidade, ser

prorrogado por igual lapso de tempo. O tempo de prisão temporária não

deve ser contado no prazo máximo fixado na lei para o término do

inquérito policial de réu preso, que é de 10 dias, ou do processo criminal

que, na hipótese do rito comum, é de 81 dias.

1.3.4 Conceito de prisão preventiva

A prisão preventiva, com previsão nos artigos 311 a 316

do Código de Processo Penal, é medida cabível, por despacho

fundamentado da autoridade judiciária, em qualquer fase do inquérito

policial ou da ação penal, antes de transitar em julgado a sentença penal

condenatória, podendo ser decretada de ofício pelo Juiz ou a pedido do

Ministério Público, do querelante ou por representação da autoridade

policial.

A expressão prisão ou custódia preventiva oferece

duas acepções: uma lata e outra restrita. No primeiro sentido é a que se

verifica antes do julgamento irrecorrível. É qualquer detenção ou custódia

sofrida pelo imputado, antes ou depois da pronúncia e em qualquer

estado da causa, antes de julgada definitivamente33.

Nesta acepção, como escreve Costa Manso, ela

abrange: a) prisão em flagrante delito; b) a que resulta de pronúncia; c) a

decretada pelo juiz formador da culpa, antes da pronúncia e fora do

flagrante delito. A última espécie, entretanto, é que comumente se aplica

33 NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 26º ed., 1998, p. 220.

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a designação, e é a ela a que se refere o artigo34.

Em sentido estrito e tendo-se em vista nosso Código,

ela é a privação da liberdade decretada pelo juiz, no inquérito ou na

instrução criminal35.

Ensina Mirabele 36.

A expressão prisão preventiva tem uma acepção ampla

para designar a custódia verificada antes do transito em

julgado da sentença. É a prisão processual, cautelar,

chamada de “provisória” no Código Penal (art. 42) e que

inclui na prisão em flagrante, a prisão decorrente da

pronúncia, a prisão resultante da sentença condenatória, a

prisão temporária e a prisão preventiva em sentido estrito.

Neste sentido restrito, é uma medida cautelar, constituída

da privação de liberdade do indigitado autor do crime e

decretada pelo juiz durante o inquérito ou instrução criminal

em face da existência de pressupostos legais, para

resguardar os interesses sociais de segurança.

Leciona sobre a matéria, Frederico Marques37.

A prisão preventiva é a mais genuína das formas de prisão

cautelar.

Consiste ela na prisão do réu, por ordem judicial, como

garantia da ordem pública, por conveniência da instrução

criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal.

Com o advento da Lei nº 8.8884/94, que deu nova redação

ao art. 312 do Código de Processo Penal, foi acrescida nova

hipótese de prisão preventiva: a prisão para assegurar a

garantia da ordem econômica.

No seu próprio nomem júris está expressa a função cautelar

34 M. Costa Manso, O Processo na Segunda Instância, 1923, p. 611. 35 NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 26º ed., 1998, p. 220. 36 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 10º ed., 200, p. 384. 37 NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 26º ed., 1998, p. 220.

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dessa forma de custódia: ela se destina a prevenir a

execução da pena, uma vez que só é imposta ou

decretada quando provável s condenação do réu.

A ordem de prisão preventiva é sempre precedida de

controle jurisdicional. É o art. 315 do Código de Processo Penal determina

de modo muito transparente, que “o despacho que decretar ou denegar

a prisão preventiva será sempre fundamentado”.

Para tourinho Filho38 a prisão preventiva é espécie do

gênero “prisão cautelar de natureza processual”. Em rigor, toda prisão que

anteceda a uma condenação definitiva é preventiva.

Neste sentido Tornaghi39 Prisão provisória é gênero de

que a prisão preventiva é espécie.

A prisão preventiva, espécie do gênero prisão

provisória, é uma providência de segurança, um meio de instrução e uma

garantia de execução do julgamento. Para Bento de Faria, “é um estado

e privação da liberdade pessoal reclamado pelo interesse social, o qual

pode ser imposto ao acusado até o seu julgamento” 40.

Para José Lisboa, a prisão preventiva é uma medida

cautelar social de natureza processual, em que se sacrifica a liberdade

individual do indiciado ou do acusado, para atender as necessidades

superiores do processo e da sociedade41.

A prisão preventiva é uma medida injusta, pois vulnera

a liberdade individual antes da condenação, todavia, como se observa

Piero Calamandrei, se ela não fosse utilizada, a sanção penal seria o

mesmo que aplicar um remédio preparado durante longo tempo a um

38TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, p 491. 39 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, p. 87. 40AQUINO, José Carlos G. Xavier e NALINI, José Renato, Manual de Processo Penal, 1997, p. 225. 41MALCHER, José Lisboa da Gama, Manual de Processo Penal, 2º ed., 1999, p. 119.

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doente já morto.

É irrecorrível o despacho que decretar a prisão

preventiva. A hipótese de constrangimento ilegal pode autorizar a

utilização de habeas corpus. Já o despacho que indeferir o pedido de

prisão preventiva, cabe recurso em sentido estrito.

1.3.5 Da prisão Administrativa

Segundo Hélio tornaghi, a Constituição da República

de 1988, no seu art. 5.º LXI, tacitamente aboliu a prisão Administrativa.

Manteve, entretanto a prisão civil42.

A segunda turma do Supremo Tribunal Federal, por

votação unânime, reconheceu que “a partir da promulgação da

Constituição Federal de 1988 deixou de ser permitida em nosso sistema

jurídico a prisão administrativa (inc. LXI di art. 5º)” (RT, 641:269).

Todavia, há exceção a está decisão, quando se tratar

de prisão administrativa do estrangeiro, durante o procedimento

administrativo da extradição, disciplinado pela Lei n. 6.815/80, desde que

decreta pela autoridade judiciária.

Mas, para outros doutrinadores, a prisão administrativa

ainda está prevista em nosso ordenamento jurídico.

José Lisboa43 neste sentido escreve:

O código não trata da prisão disciplinar, tanto que alguns

têm suscitado seu desaparecimento por tal motivo. Mas o

Código reconhece sua existência pois declara que não

cabe fiança em relação a ela, nem o uso de habeas

corpus.

42 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, p. 99. 43MALCHER, José Lisboa da Gama, Manual de Processo Penal, 2º ed., 1999, p. 119.

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A matérias não foi cogitada no Código porque tem cunho

nitidamente disciplinar e administrativo. Nascendo de

necessidades da hierarquia administrativa.

Sua disciplina, assim, não é penal, mas administrativa, e

como tal tratada em legislação própria e peculiar.

São exemplos de prisão administrativa, a prisão imposta a

menores infratores e a prisão imposta no seio das forças

armadas e auxiliares; a da testemunhas faltosa que nosso

Direito reconhecia, desapareceu por força da Lei n.º 6.416,

que a revogou.

Nas hipóteses de prisão administrativa prevista em

diversas leis, que não foram revogadas pela Constituição Federal, deve ser

decretada pela autoridade judiciária competente a pedido instruído da

autoridade administrativa.

Aquino e Nalini44 escrevem:

Enquanto a prisão criminal é imposta em virtude de lei penal

e pela autoridade criminal, a prisão administrativa se impõe

por força de lei civil ou administrativa e por autoridade não

criminal.

Não tem caráter repressivo e é prisão administrativa: a)

quanto ao órgão que a decreta; b) quanto à razão que a

dita; c) quanto ao fim a que visa. Hélio Tornaghi assinala

que o Brasil é, no mundo inteiro, o único país que contempla

no Código de Processo Penal as normas sobre a prisão

administrativa, em geral previstas em leis administrativas.

Como dissemos, é espécie de custódia preventiva, mas

não tem natureza processual penal.

Para Mirabele45:

A prisão administrativa é aquela decretada pela autoridade 44AQUINO, José Carlos G. Xavier e NALINI, José Renato, Manual de Processo Penal, 1997, p. 227. 45 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 10º ed., 200, p. 384.

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administrativa, por motivos de ordem administrativa e com

finalidade administrativa. Em seu sentido mais estrito,

portanto, é administrativa a prisão quanto ao órgão que a

decreta, quanto à razão que a ita, e quanto ao fim de visa.

Em termos de direito objetivo, porém, a denominação não

corresponde ao seu conceito teórico, principalmente após

a promulgação da Constituição Federal de 1988, no que se

refere ao órgão que a pode decretar. Alem disso, o Código

de Processo Penal reuniu no Capítulo V, do Título XI, a prisão

administrativa em seu sentido estrito (art. 319) e a prisão civil

(art. 320). Para a lei há, portanto, um conceito amplo de

prisão administrativa, como prisão extrapenal, que se divide

em duas espécies: a prisão administrativa em sentido estrito

e a prisão civil.

A prisão administrativa em seu sentido amplo, é providência

destinada a compelir alguém a fazer alguma coisa. Não

pode, por isso, ser considerada como pena, nem

administrativa, nem disciplinar e muito menos criminal, não

tendo também caráter processual. Não pressupõe, alias,

necessariamente, a prática de crime por parte da pessoa

presa.

1.3.6 Da prisão civil

A prisão civil não deixa de ser medida coercitiva

destinada ao cumprimento de alguma obrigação. Trata-se de meio de

grande eficácia, já que obriga o devedor a cumprir sus obrigações com a

devida presteza 46.

A prisão civil cabe nos casos expressos em lei e pode

ser decretada pelo juiz da causa civil, sendo executável pela autoridade

policial à vista do mandado judicial.

Das espécies de prisão civil, as mais comuns são a

alimentante e a do depositário infiel.

46 NOGUEIRA, Paulo Lúcio, Curso Completo de Processo Penal, 9º ed.,1995, p. 253.

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22

Magalhães Noronha 47 diz:

Freqüentemente, as leis civis e comerciais impõem a

detenção de uma pessoa, não como pena, mas como

meio de compeli-la ao cumprimento de uma obrigação,

cujo apreço ela mostra, empregando meio sumamente

grave, como é a privação da liberdade.

Por preceito constitucional, a prisão civil só é possível nos

casos de inadimplemento voluntário e inescusável de

pensão alimentícia ou do depositário infiel ( art. 5º, LXVII).

A medida decretada pelo juiz do cível é cumprida pela

autoridade policial, mediante mandado expedido por

aquele, ao passo que, em se tratando de prisão decretada

por autoridade administrativa ou por solicitação de cônsules

estrangeiros, a autoridade policial a executará

independentemente do mandado, uma vez que não

podem os mesmos expedi-lo, por não terem função

judiciária, mas limitar-se-ão à simples requisição por escrito.

Mirabele 48 a cerca da prisão civil:

Também na esfera civil e comercial é possível a decretação

da prisão, não como sansão civil, administrativa ou penal,

mas como meio de compelir alguém ao cumprimento de

uma obrigação. Por preceito constitucional, a prisão civil

que, como visto, é uma das espécies de prisão

administrativa em sentido amplo (prisão extrapenal), só é

possível nos casos de inadimplemento voluntário e

inescusável da pensão alimentícia ou do depositário infiel.

A Constituição Federal não permite a prisão civil por

dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e

inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel, conforme

47 NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 26º ed., 1998, p. 232. 47 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 10º ed., 200, p. 302.

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art. 5º, inc. LXVII, da Constituição Federal.

Para o prof. Tornaghi49 disserta:

A prisão civil não é objeto de estudo num livro de processo

penal. O art. 320 do Código de Processo Penal limita-se a

dizer: “A prisão decretada na jurisdição cível será

executada pela autoridade policial a quem forem

remetidos os respectivos mandados”.

Na verdade esta norma visa exclusivamente a definir uma

atribuição da autoridade policial. É como se ela dissesse:

deve a polícia executar a prisão não só quando decretada

por juiz criminal, mas também quando ordenada por juiz

cível, desde que esse dela se socorra.

O art. 320 não cria, como deveria parecer, nenhum dever

para o juiz do cível. Não está ele obrigado a valer-se da

polícia. Pode ordenar que a prisão seja efetuada por oficial

de justiça. A polícia é que está obrigada a cumprir todo

mandado de prisão expedido por juiz do cível e que lhe

chegue às mãos. Isso, aliás, decorre do disposto no art. 13,

III, do Código de Processo Penal e não havia necessidade

de outros dispositivos.

Se a prisão civil é decretada ilegalmente ou com

excesso ou abuso de poder, cabe habeas corpus. A proteção

constitucional é ampla e não exclui essa hipótese.

49 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, p. 99.

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24

Capítulo 2

DOS REQUISITOS DO ESTADO DE FLAGRANTE DELITO NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO

2.1 REQUISITOS

A prisão em flagrante, como vimos, é uma medida

restritiva da liberdade, de natureza processual e cautelar. Consiste na

prisão – independente de ordem escrita e fundamentada de juiz

competente – de que é surpreendido enquanto comete ou acaba de

cometer a infração penal. Aplica-se também à contravenção

Permite o artigo 301, do Código de Processo Penal,

que, em existindo flagrante, qualquer do povo poderá e as autoridades

policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado

em flagrante delito.

Para afigurar o flagrante e, assim, efetivá-la, é preciso

que o agente seja encontrado em uma das quatro situações do artigo

302, CPP, como se vê:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;

II- acaba de cometê-la;

III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo

ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça

presumir ser autor da infração;

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos,

armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele

o autor da infração.

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Ao se analisar as situações caracterizadoras do

flagrante, denomina-se as dos itens I e II de flagrante próprio, real, efetivo,

verdadeiro. Para a hipótese do item III chamamos de flagrante impróprio

ou quase flagrante e para a situação do item IV denominamos de

flagrante presumido ou ficto.

O legislador não estabeleceu qualquer diferença entre

as hipóteses enumeradas, tendo elas, portanto, a mesma valoração legal.

Entretanto, em face a intensidade probatória que cercam estas hipóteses

de maneira diferenciada, cuidou a doutrina e a jurisprudência de

estabelecerem distinções denominativas.

Para Tourinho Filho50 :

Em nosso Direito atual, distinguimos três modalidades ou

espécies de flagrantes:

a) flagrante em sentido próprio;

b) flagrante em sentido impróprio, também conhecido por :

“quase-flagrante”;

c) flagrante presumido.

Na primeira hipótese, isto é, no caso do inc. I, do art. 302, há

verdadeira flagrância. O agente está praticando a infração

penal. Ele é surpreendido na prática da infração. Assim, se

alguém surpreende Bernardo batendo em Eusébio, há

verdadeira flagrância.

No segundo caso, isto é, na hipótese do inc. II, do art. 202,

quando o legislador diz “acaba de comete-la”, deve haver

uma quase absoluta relação de imediatidade. O agente

deve ser encontrado imediatamente após a pratica da

infração, ou, como salienta Tornaghi, entre a prática do

crime e o surpreendimento do autor não houve nenhum

acontecimento (relevante). Se Ambrósio, ao chegar à porta

do bar, encontrar Felipe no chão, com o braço ferido, e, ali

50 TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, p. 454 e 455.

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de pé, com a faca empunhada, José Camafeu, não há

dúvida que houve um verdadeiro flagrante, porquanto o

surpreendimento do agente ocorreu quando o delito ainda

estava em chamas, ainda crepitava.

No caso do inc. III, é preciso que a perseguição ocorra

dentro de um tempo bem próximo da infração. Cremos

que, se a perseguição ocorre 4 ou 5 horas após a infração,

já não se pode dizer tenha sido feita logo após a infração,

e, assim, não há cuidar-se do flagrante. Mas, se a

perseguição inicia-se imediatamente após, pouco importa

que a prisão se realize dentro de 5 ou 20 horas. O que se

exige é a perseguição logo após a prática da infração. Por

outro lado, como se infere do próprio inc. III, não basta a

perseguição desordenada, sem saber qual pessoa está

sendo perseguida. É preciso que “as circunstâncias que

cercam a perseguição o coloquem em situação que faça

presumir ser ele o autor da infração”. Se alguém furta uma

bicicleta e, logo após o furto, seu proprietário passa a

procurar o veículo, dando uma verdadeira busca

incessante, desconhecendo, entretanto, quem seria o autor

do furto, mesmo que venha a descobri-lo 8 horas depois,

não se pode dizer tenha havido flagrante, porque não

houve a perseguição ao autor do furto, mas uma

perseguição – investigação – quando nem se sabia quem

fora o autor.

Diga-se o mesmo quando à expressão logo depois, inserta

no inc.IV do art. 302. é preciso, pois, que se interpretem tais

expressões restritivamente, sob pena de grave perturbação

da noção de flagrante.

Segundo Tornaghi51 :

A hipótese do inc. I é a única de verdadeiro flagrante. Os

outros três são algo análogo ao flagrante, quase-flagrante,

isto é, como que flagrante. A lei sabe que na realidade não

há flagrante, mas as trata como se flagrante houvesse. Em

outras palavras, ela finge que há flagrante. Como se disse

há uma ficção jurídica.

51 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, p.52, 53 e 54.

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Os casos dos inc. II, III e IV se assemelham num ponto, aliás,

negativo: em todos eles o crime já foi cometido. Insisto em

que todos são casos de quase-flagrância ou de ficção de

flagrância, não havendo razão para limitar a qualificação

de quase-flagrante ao primeiro e de flagrante ficto aos

outros: a palavra latina quasi não tem nenhum sentido

temporal.

A do inc. II (aquela do sujeito que acaba de cometer a

infração) diverge das dos incs. III e IV (a de quem é

perseguido logo após o crime ou encontrado logo depois

do crime):

1) pela circunstancia de tempo;

2) pela circunstância de modo.

Quanto ao modo. No caso do inc. II o sujeito é encontrado

imediatamente sucessivo à prática do crime

(immediatamente dopo, unmittelbar nach der tat). Entre a

prática do crime e o surpreendimento do autor não houve

nenhum acontecimento relevante. No caso do inc. III e IV, o

sujeito é perseguido ou é encontrado logo após, isto é, em

seguida (dans um temps très voisin de l’action). O crime foi

praticado pouco antes de começar a perseguição ou de

ser encontrado o sujeito.

Quanto ao modo. No caso do inc II, as mesmas

circunstâncias que revelam ter o agente acabado de

praticar de praticar a infração fazem presumir-lhe a autoria

e permitem considera-lo em flagrante. No dis incs. II e IV, o

sujeito não é preso imediatamente após o crime, mas um

pouco depois. Entre o término da ação criminoso e a prisão

ocorrem alguns acontecimentos, passa algum tempo. mas

o modo pelo qual é preso permite presumir a autoria.

Vejamos cada uma das duas etapas:

A do inc. III:

Neste caso, o que vem após o crime não é a prisão, é a

perseguição. A prisão pode, eventualmente, realizar-se

algum tempo depois, sem ser logo após.

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Mas não basta que o sujeito seja perseguido logo após o

crime; é necessário que as circunstância que cercam a

perseguição sejam tais que façam presumir ser ele o autor

da infração. Quem por primeiro presume a autoria é quem

prende. Mas o valor dessa presunção é contrastado pela

autoridade diante do qual o preso é conduzido (art. 304) e,

depois, pelo juiz ao qual a prisão é comunicada.

O Código vigente não exige que o sujeito seja perseguido

pelo clamor público, mas não o exclui. Será ele um indício

que levam presumir a autoria.

A do inc IV:

Aqui o sujeito não foi perseguido, mas foi encontrado com

os instrumenta sceleris ou producta sceleris ou documenta

que permitem admitir, levando-se em conta o que

geralmente acontece, ser ele o autor do crime.

Já para Greco Filho, quatro são as situações que o

Código reconhece como de flagrância. Não poderiam ser elas

ampliadas, sob pena de se violar a idéia de imediatidade da visão em

relação ao fato punível, essencial ao flagrante, aspecto que devem ser

levado em considerações, também, na interpretação dos dispositivos

legais.

Vivente Greco Filho acerca do assunto52:

As duas primeiras hipóteses (o agente está praticando a

infração penal ou acaba de comete-la) são chamadas de

flagrante real, porque existe, no caso, imediatidade visual

da prática da infração. Na hipótese de o agente estar

cometendo a infração penal, em grande número de casos

o flagrante interrompe a atividade criminosa, ficando a

infração na fase de tentativa. Nos crimes permanentes,

contudo, o agente está cometendo a infração penal

enquanto durar a permanência, e ela já está consumada.

A terceira hipótese é a de ser o agente perseguido, logo

52 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, p.52, 53 e 54.

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após, pela autoridade, pelo ofendido ou qualquer pessoa,

em situação que faça presumir ser autor da infração. Essa

situação é denominada flagrante impróprio ou quase-

flagrante. Para que o flagrante seja legitimo neste caso, é

necessário quer a perseguição se inicie imediatamente

após o fato e que seja contínua até a efetivação da prisão.

Haverá continuidade se o agente se o agente não teve, em

nenhum momento, condições de decidir sobre o seu

paradeiro, ou seja, se permanentemente ficou submetido à

perseguição. Às vezes há dificuldades práticas probatória

de se aferir a continuidade da perseguição, mas é ela

indispensável à legitimação do flagrante. Não há tempo

legalmente determinado para a perseguição, mas, quanto

maior o tempo, mais difícil fica caracterização da

continuidade. Não quebra a continuidade a substituição ou

alternância de perseguidores, desde que não haja

interrupção da perseguição.

A quarta hipótese de flagrante é a do agente ser

encontrado, logo depois do fato, com instrumentos, armas,

objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da

infração. Esta situação tem sido denominada flagrante

presumido.

“logo depois”, conforme a descrição legal, não tem medida

normativa. É o tempo psicológico de vinculação da

situação (encontro do agente com objetos) com a prática

da infração, segundo o que ordinariamente acontece. É

evidente que pode haver engano, por-que a existência de

objetos em poder de alguém pode ser absolutamente

desvinculada da autoria da infraçao penal. Todavia, a

questão é de provar a ser resolvida na futura ação penal.

Para que haja flagrante, há necessidade de que a

infração penal seja possível, isto é, tenha havido inicio de execução e ela

possa, em tese, consumar-se.

2.2 ESPÉCIES DE PRISÃO EM FLAGRANTE

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2.2.1 Do flagrante próprio

Há flagrante em sentido próprio quando o sujeito

passivo é surpreendido praticando a infração penal, isto é, surpreendido

em plena crepitação. É o momento exato em que o agente está a

praticar o delito ou acabou de cometê-lo. É a certeza visual do delito que

se comete naquele momento. Desse modo, entende-se em flagrante

próprio quando o delito é praticado no momento ou foi cometido

naquele momento.

É o flagrante propriamente dito, real ou verdadeiro,

que segundo Mirabete53 :

Dispõe o art. 302, que se considera em flagrante delito

quem “está cometendo a infração penal” (inc. I) e quem

“acaba de cometê-la” (inc. II), estabelecendo o que se

denomina de flagrante próprio, real, ou flagrante

propriamente dito. A lei equiparou duas situações diversas,

nas em dispositivos diversos: a de quem é surpreendido no

ato de execução do crime (desfechando golpes na vítima,

destruindo coisa alheia, subtraindo coisas alheias etc.) e a

de quem já esgotou os atos de execução, causando o

resultado jurídico, de dano ou de perigo (morte, lesões,

dano material etc.) encontrando-se ainda no local do fato

ou nas suas proximidades em situação indicativa de que

cometeu o ilícito (portanto a arma homicida, com as vestes

manchadas de sangue etc.). Há quem sustente, por isso,

que esta segunda hipótese é também de quase-flagrância,

pois há apenas uma presunção, embora veemente, de que

é o preso o autor do crime, quando é até possível que não

seja ele o autor do ilícito (apanhou a arma deixada pelo

autor do homicídio, manchou as vestes ao procurar socorrer

a vítima etc.). Em geral, porém, a doutrina considera essa

hipótese como flagrante próprio.

O agente é preso enquanto está cometendo a

infração penal ou assim que acaba de cometê-la.

53 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 10º ed., 2000, p. 384.

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Para Tourinho Filho54 flagrante em sentido próprio

quando o agente é surpreendido no instante mesmo da prática da

infração penal, ou, então, quando acaba de cometê-la.

Pouco importa esteja o agente em legítima defesa,

estado de necessidade ou qualquer outra excludente de ilicitude; para a

configuração do estado de flagrância em sentido próprio basta que

esteja ele praticando, ou tenha acabado de praticar, um fato típico. Não

há necessidade de serem examinados, naquele momento, todos os

elementos integralizadores da infração. Deverá apenas ser examinado se

o agente estava matando, se estava agredindo, se estava

danificando...Saber se agiu em legítima defesa, em estado de

necessidade, estrita cumprimento do dever legal ou exercício regular de

um direito é problema para ulterior estudo.

Portanto, na conformidade do artigo 302, incs. I e II, do

Código de Processo Penal, há flagrante próprio ou real, caso que constitui

a forma típica do flagrante, quando o agente é surpreendido no

momento em que está cometendo a infração penal ou acaba de

cometê-la.

Para efeitos práticos de caracterização do flagrante

próprio, comete uma infração penal o delinqüente que ainda é

encontrado na prática de atos constitutivos da infração, enquanto que

acaba de cometer a infração penal, o delinqüente que é apanhado no

momento em que acaba de praticar o crime, ou seja, cessam os atos de

sua execução, permanecendo ainda no mesmo local do crime.

2.2.2 Do flagrante impróprio

O flagrante impróprio ou quase flagrante, contido no

54 TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, p. 451.

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inciso III, caracteriza como situação de flagrante a de quem é perseguido,

logo após, pela autoridade, pelo ofendido, ou por qualquer pessoa, em

situação que faça presumir ser o autor da infração.

Entende Hélio Tornaghi como justificativa da prisão em

quase-flagrante:

A necessidade de colher de imediato os elementos de

prova, os vestígios materiais deixados pelo fato ainda

recente, antes que eles desapareçam, que se extingam, e a

possibilidade de obter a versão do indiciado, de fazer os

reconhecimentos, tudo isso leva a considerar flagrante o

que na verdade é parecido com o flagrante, quase-

flagrante, e a permitir a prisão daquela contra o qual há

indícios de autoria. 55

Ocorre quando o agente é perseguido, logo após o

delito, pela autoridade, pelo ofendido, ou por qualquer pessoa, em

situação que faça presumir ser o autor da infração, de acordo com o

artigo 302, inciso III, CPP. Deste modo, a exigência primordial para a

efetiva caracterização desse tipo de flagrância é que o agente seja de

fato perseguido após a prática do delito, isto é, que o autor da infração

penal seja perseguido sem solução de continuidade, não importando,

vale ressaltar, o tempo de perseguição. Exige-se, assim, que a perseguição

seja contínua, real e verdadeira, podendo durar o tempo que for

necessário.

Mirabete56 sobre o tema:

A lei considera também em flagrante delito quem “é

perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou

por outra pessoa, em situação que faça presumir ser autor

da infração (inc. III)”. Há, nos termos da lei, uma presunção

da autoria da infração que a lei equipara à certeza

advinda da prisão durante o cometimento do crime. Trata 55 Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, p. 54. 56 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 10º ed., 200, pp. 372 e 373.

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do que a doutrina denomina quase-flagrante ou flagrante

impróprio, que, pela tradição jurídica, é equiparada a

flagrância própria para o efeito da prisão, mas que dela se

distingue porque, enquanto esta diz respeito ao próprio

cometimento do crime, na sua evidência de atualidade,

aquela se refere ao tempo e lugar próximos da infração.

Não se exige, aliás, como na legislação anterior, que haja

no caso vozerio, aliado ao clamor público.

Embora já se tenha entendido que a perseguição não pode

sofrer solução de continuidade, deve-se ter em vista que o

art. 290, parágrafo primeiro, considera ainda como

perseguição às hipóteses em que o perseguido tenha sido

“perdido de vista” ä”, ou que o perseguidor, por indícios ou

informações fidedignas, souber que aquele tenha passado,

há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em

que o procura, for em seu calço (‘b”).

Encerrada a perseguição logo após o crime, sendo ela

incessante nos termos legais, não importa o tempo

decorrido entre o momento do crime e a prisão do seu

autor. Tem-se admitido pacificamente que esse tempo

pode ser de várias horas ou mesmo de dias. A prisão pode

ser efetuada em qualquer local onde é encontrado o

agente, ainda que seja em território de outro Estado. Caso a

perseguição penetre em sua casa ou em casa alheia, deve

ser obedecido o art. 293, por força do art. 294.

Não encontra ressonância a crença popular de que é de 24

horas o prazo entre a hora do crime e a prisão em flagrante,

para permitir a captura do autor do crime.

Não havendo perseguição logo após a infração, não é

legal a prisão em flagrante delito efetuado depois de vários

dias, no dia seguinte, ou mesmo algumas horas após o

crime.

O flagrante impróprio ou quase flagrante, contido no

inciso III, caracteriza como situação de flagrante a de quem é perseguido,

logo após, pela autoridade, pelo ofendido, ou por qualquer pessoa, em

situação que faça presumir ser o autor da infração.

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Noronha57 diz que quase-flagrância, nos termos da lei,

há quando o individuo é perseguido logo após o crime, pela autoridade,

pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser

o autor da infração.

Aquino e Nalini58 entendem:

Essa quase-flagrância também ocorre quando à pessoa,

apontada pelo ofendido ou pela voz pública, é encontrado

em situação que faça presumir a sua responsabilidade.

Oculto junto ao local do crime, ou encontrado com as

vestes rotas, denotando luta, com manchas de sangue,

próximo ao local do delito. Em tais condições, desnecessária

a perseguição.

Há o entendimento que incorre a quase-flagrância se

não há perseguição ordenada à pessoa logo após o fato delituoso, em

outras linhas, João Mendes justifica a aplicação do flagrante presumido

sem a materialidade da fuga em “virtude do clamor público, pois, ao

aplicar o flagrante ao caso em que o delinqüente, mesmo sem ser

materialmente perseguido em sua fuga, é altamente acusado pelo grito

público como o autor de um crime que acaba de ser cometido.”59

É o flagrante tido por irreal ou quase-flagrante, o

agente é perseguido logo após cometer o ilícito, em situação que faça

presumir ser ele o autor da infração.

2.2.3 Do flagrante presumido

O flagrante presumido está previsto no art. 302, IV do

CPP. Também é conhecido por flagrante ficto. Nessa modalidade de

flagrante, em sentido conotativo já não há fogo, mas existe a fumaça, a 57 NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 26º ed., 1998, p. 163. 58AQUINO, José Carlos G. Xavier e NALINI, José Renato, Manual de Processo Penal, 1997, p. 222. 59 João Mendes, O Processo Criminal Brasileiro, p. 293.

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chama se apagou, mas a brasa está quente. A lei presume a autoria e

finge que o crime ainda sendo cometido”60.

Nesse caso não é necessário que haja perseguição,

porém o conduzido deve ser encontrado logo depois da prática da

infração com as coisas que se mostre com forte indício da autoria ou

participação no crime ou contravenção. A expressão logo depois,

contida na disposição legal, reclama brevidade.

No flagrante impróprio a pessoa é perseguida,

enquanto no flagrante presumido ela é encontrada, podendo até ser por

acaso, com os instrumena61 ou producta62 ou documenta63 que permitem

aduzir que ele é o autor da infração. Esse é o entendimento predominante

da jurisprudência, in verbis:

Para que se configure a flagrância presumida, nada mais se

exige do que estar o presumível delinqüente na posse de

coisas ou traços que o indigitem como autor ou co-autor de

um delito acabado de cometer. Assim, irrelevante à

validade de prisão em flagrante é o simples fato de ter sido

realizada a captura por mero acaso, antes mesmo que a

Polícia tivesse conhecimento da ocorrência criminosa. 64

Observa-se que o que realmente predomina na prisão

em flagrante é que a pessoa seja é encontrada, em tempo razoável, após

a prática de um crime, com objetos que façam presumir ser ele autor da

infração a situação. Sendo assim estará presumível o delinqüente que na

posse de coisas o indigitem como autor de um delito acabado de

cometer, não sendo necessário que haja perseguição, mas sim que a

pessoa seja encontrada logo depois da prática do ilícito com coisas que

60 PEDROSO, Fernando de Almeida. "Prisão em Flagrante" in Revista dos Tribunais, São Paulo, jul/94, v. 705, p. 300. 61 Instrumentos, tradução livre do autor. 62 Produtos, tradução livre do autor. 63 Documento, tradução livre do autor. 64 TJACRESP Habeas Corpus 223145-3, 24/08/2000, RT 235/01.

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traduzem um veemente indício da autoria ou participação no crime.

O quase-flagrante para Maraues65:

É aquele do art. 302, IV, do Código de Processo Penal: ser

encontrado o delinqüente com: armas, objetos ou papéis

que façam presumir ser ele o autor da infração”.

Na hipótese do art. 302, IV, não se sabe ainda, quem é o

autor da infração penal. Por essa razão, a condição

temporal que se externa, no texto legal, pela expressão logo

depois, tem de ser entendida com maior rigor, ainda, que

no quase-flagrante do art. 302, nº III, do Código de Processo

Penal. Imprescindível é, assim, que em rápida diligência,

após praticada a infração, o delinqüente seja descoberto e

preso por trazer consigo “instrumentos, armas, objetos ou

papéis que façam presumir ser ele o autor da infração”.

Se o intervalo entre a prática do ato delituoso e a captura

não for pequeno, poderá registrar-se – como disse o

desembargador Odilon da Costa Manso – “uma feliz

diligência da Polícia, nunca, porém, o quase-flagrante.

Portanto flagrante presumido ocorre quando alguém é

surpreendido com coisas, ou traços, que façam presumir que tenha ele

cometido o crime ou lhe tenha prestado participado de qualquer forma

no fim ilícito. Além do que a expressão logo depois permite interpretação

elástica, havendo maior margem na apreciação do elemento

cronológico, quando o agente é encontrado em circunstâncias suspeitas,

aptas, diante de indícios, a autorizar a presunção de ser ele o autor do

delito, estendendo o prazo há várias horas, inclusive ao repouso até o dia

seguinte, se for caso.

O ordenamento jurídico brasileiro não estabelece uma

escala de valores entre as modalidades de flagrante, contudo é óbvio

que o quase flagrante é menos convincente do que o flagrante próprio.

65 MARQUES, José Frederico, Elementos de Direito Processual Penal, Vol. IV, pp. 76 e 77.

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Desse ponto de vista pode-se dizer que no quase-flagrante não há uma

perfeita identidade, mas sim uma aproximação da flagrância. Nesse

flagrante a autoria não é certa, mas provável.

Entre o término da ação criminosa e a prisão ocorrem

alguns acontecimentos, ou seja, passa algum tempo que é considerado

logo depois, contudo o modo pelo qual ele é preso é que permite

presumir a autoria. A efetivação da prisão tem de ser temps voisin de delit,

ou seja, no momento próximo do delito. Esse tempo de apreciação do

magistrado ao analisar as circunstâncias, as quais ensejam presunção da

culpabilidade e caráter de urgência, justificando assim a prisão em

flagrante. Nota-se que não é possível marcar esse período com um

cronômetro, devendo fazer remissão ao prudente arbitro do magistrado, a

quem se deixa liberdade de apreciação. Dessa forma tem de se ter em

mente que o interesse da justiça não pode ser sacrificado por obsoleto

formalismo, que redundam em assegurar, com prejuízo da frustração da

ação penal, a frondosa intangibilidade de criminosos surpreendidos na

atualidade ainda palpitante do crime e em circunstancias que

evidenciem sua relação com este.

Em relação à prisão em flagrante presumido no caso

de repouso noturno Julio Fabrini Mirabete esclarece de forma convincente

que:

[...] considerado-se o interesse na repressão dos crimes, há

maior margem na discricionariedade da apreciação do

elemento cronológico quando o agente é encontrado com

objetos indicativos do crimes, o que permite estender o

prazo à varias ou, considerando-se o problema do repouso

noturno, até o dia seguinte [...] 66

E nesse sentido, O Tribunal de Alçada Criminal da

66 Julio Farbini Mirabete, Processo Penal, p.374.

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Cidade de São Paulo entendeu que “a expressão logo depois, constante

no art. 302, IV, do CPP, apresenta elastério perfeitamente compreensível

quando ocorra o problema do repouso noturno, que dilata,

evidentemente, o prazo legal”.67

É o tempo razoável, com uso do bom senso. É, em

suma, o lapso psicológico que liga a situação com a prática da infração

penal. Neste caso, a pessoa não é perseguida e sim encontrada, pouco

importando se por acaso ou se foi procurado após investigações. O que

importa para a caracterização da flagrância presumida é o fato de ser

encontrado o agente, logo depois do delito, na posse de coisas que

imputem ao mesmo a autoria da infração penal.

Em qualquer das espécies de flagrante, se o indiciado

se esconder em alguma casa, ao morador será pedida para entregá-lo e,

se não o fizer, tomando o executor a cautela necessária, perante duas

testemunhas, entrará a força, arrombando as portas, se for o caso.

A Carta Política de 1988, em seu artigo 5º, inciso XI ,

permite ao executor da prisão entrar em casa, mesmo sem consentimento

do morador, sem restrição de horário em caso de flagrante delito.

O quase-flagrante pode também provocar a prisão

por qualquer do povo.

2.2.4 Do flagrante preparado ou provocado

Também denominado delito de ensaio, delito de

experiência ou delito putativo por obra do agente provocador. Ocorre

quando alguém, de forma insidiosa, provoca o agente à prática de um

crime e, ao mesmo tempo, toma providências para que ele não se

67 RT 584/384, TACRIM-HC-Rel Hélio Soares.

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consume. No flagrante preparado, o policial ou terceiro induz o agente a

praticas o delito e o prende logo em seguida, em flagrante.

Para Nogueira 68 flagrante é provocado quando a

polícia, tomando conhecimento de que irá ocorrer a prática de um crime,

toma providências para surpreender o executor, prendendo-o em

flagrante. Nessa hipótese, a intenção criminosa do agente preexiste e leva

a polícia a preparar sua prisão.

Tal predicado do flagrante, o mesmo tem sido

desvirtuado pelos agentes policiais quando realizam o chamado flagrante

preparado, em patente conduta abusiva e arbitrária na investigação de

crimes, tendo, inclusive, o Supremo Tribunal Federal editado a Súmula n.

145 para espancar qualquer dúvida sobre o tema, nos seguintes termos:

"Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna

impossível a sua consumação".

Dessa forma não poderá ser atuado e nem preso em

flagrante o agente que é induzido á prática de um crime pela

pesudovítima, por terceiro ou pela polícia, tendo em vista que esta

modalidade, o flagrante é um procedimento de ação do agente

provocador, de molde a tornar impossível a consumação do delito.

Vale salientar que quando há consumação do delito

por meio do induzimento do agente provocador não há de se falar em

flagrante preparado se essa consumação se deu por meio de outra

vontade do agente provocado, como no caso de traficante de

entorpecentes que é induzido a vender substância entorpecente que

cause dependência física e/ou psíquica a um policial, ou seja, é induzido

na prática do delito capitulado no art. 12 da Lei 6368/76 na modalidade

de vender e é apanhado transportando o referido entorpecente que

dessa forma encontra-se capitulado no mesmo artigo só que na 68 NOGUEIRA, Paulo Lúcio, Curso Completo de Processo Penal, 9º ed.,1995, p. 253.

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modalidade transportar, devendo ser preso em flagrante delito.

Nesse sentido entende Mirabete em que “havendo

consumação, ou mesmo atos de execução com possibilidade de

consumação, ainda que tênue, justifica-se a prisão em flagrante delito nos

termos do artigo 302 do Código de Processo Penal”.69

Assim, na hipótese de flagrante preparado não há

crime, pois o agente é induzido à prática de um ilícito pelo provocador

sob duas condições:

provocação do agente;

tomada de providências tornando absolutamente

impossível a consumação do crime.

Como ensina Nelson Hungria: "um crime que, além de

astuciosamente sugerido, tem suas conseqüências frustradas de antemão,

não passa de um crime imaginário. Não há lesão, nem efetiva exposição

de perigo de qualquer interesse público ou privado".

Salienta Marcelo Luiz Leano que o “flagrante

preparado é aquele que o agente é incitado à prática criminal mediante

uma ilusão, sendo que todas as medidas para se evitar a consumação

foram tomadas pelo agente provocador”70.

O flagrante será provocado ou preparado quando for

o crime estimulado pela polícia, por terceiros ou pelo agente provocador,

que o concebe, quase sempre acordado com a autoridade, indo insinuá-

lo na mente daquele que se pretende deter.

Constituindo este tipo de flagrante uma espécie de

crime impossível uma vez que circunstâncias outras tornam impossível a

69 Julio Fabrini Mirabete, Processo Penal, 376. 70 Marcelo Luis Leano, op. cit., p. 37.

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consumação do delito, sendo por este fator a prisão em flagrante

mediante provocação nula para todos os fins.

2.2.5 Do flagrante esperado

O flagrante esperado é aquele em que a polícia limita-

se a esperar ou frustrar a consumação do crime, assim o crime é possível e

o flagrante é válido, nesse caso não há provocação, apenas a

autoridade policial espera, sabedora do acontecimento futuro de um

delito e se põe às escondidas vindo a efetuar a prisão após o seu

cometimento.

Para Mirabete o flagrante esperado é:

[...] a atividade é apenas de alerta, sem instigar o

mecanismo causal da infração, e que procura colher a

pessoa ao executar a infração frustrando a sua

consumação, quer porque recebeu informações a respeito

do provável cometimento do crime , quer porque exercia

vigilância sobre o delinqüente [...] 71

Portanto no flagrante esperado há somente a espera,

por motivos já conhecidos, de que o sujeito irá praticar o fato delituoso, e

em praticando, determina a existência de crime.

Deve-se notar, porém, que já não há de falar em crime

putativo, quando, sem ter sido artificialmente provocado, mas

previamente conhecida a iniciativa dolosa do agente, a este apenas se

dá o ensejo de agir, tomadas as devidas precauções.

O flagrante esperado difere-se do preparado, pois

naquele não há induzimento a prática criminosa. Assim tem-se o julgado,

in verbis:

71 idem, Processo Penal, p.375.

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Não decorrendo a prática delituosa de induzimento ou

provocação da autoridade policial, que apenas

assenhorou-se de informações que possibilitam a prisão em

flagrante, tem-se por caracterizado o flagrante esperado, e

não preparado. 72.

Com o intuito de esclarecer esse assunto, vê-se que,

por exemplo, no caso de empregados de uma loja, apenas

acompanhando sua conduta como espectadores e responsáveis pela

segurança do local, surpreenderem uma pessoa subtraindo bens do

estabelecimento, sem nela interferir, ocorre o flagrante esperado e não o

preparado. Portanto nota-se que se o agente infrator não é induzido ou

provocado a praticar o crime, mas sim, surpreendido, quando prestes a

consumar o delito, ocorre o flagrante esperado e não o flagrante

preparado.

Como podemos observar, nesta espécie de flagrante,

o policial ou terceiro esperam a prática do delito para prender o agente

em flagrante. Neste caso, não há qualquer induzimento, razão pela qual

não há se falar em criem impossível.

Quando o agente, sem qualquer provocação, inicia a

execução de um crime, que não se pode consumar em razão da

vigilância da pretendida vítima, seus prepostos ou da própria polícia, que,

previamente, cientes de seu propósito, deixam-no agir para prendê-lo em

flagrante.

Para Nogueira 73 :

O flagrante esperado se dá quando a polícia ou a vítima,

sabendo da intenção criminosa do agente, prepara sua

prisão, havendo, no saco, tentativa punível, porque a

intenção se externou em atos e o crime não se consumou

por circunstâncias alheias à vontade do agente.

72 STJ, Habeas Corpus 4554216-1, 13.08.90, RT 23/2 73 NOGUEIRA, Paulo Lúcio, Curso Completo de Processo Penal, 9º ed.,1995, p. 294.

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Em suma: é impunível o agente preso em flagrante de

crime provocado; ao contrário, quando há apenas flagrante esperado,

responde o autor por tentativa.

2.2.6 Do flagrante prorrogado ou retardado

É o flagrante previsto no art. 2º, inc. II, da Lei n. 9.034/95,

que trata das organizações criminosas. O policial tem a discricionariedade

para deixar de efetuar a prisão em flagrante no momento da prática

delituosa, podendo efetuá-la em momento mais interessante para a

investigação criminal e para colheita de provas. Só é possível nesses

crimes.

Sendo uma exceção ao flagrante compulsório, é uma

forma apaixonante pelo ponto de vista cautelar e seguro realizado por

policiais e permitido pela lei 9034/95 é o flagrante protelado. Ele está

previsto n art. 2º, II da Lei 9034/95, in verbis:

Art. 2º. Em qualquer fase de persecução criminal que verse

cobre ação praticada por organizações criminosas são

permitidos, além dos já previstos na lei, os seguintes

procedimentos de investigação e formação de provas:

II - a ação controlada, que consiste em retardar a

interdição policial do que supõe ação praticada por

organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que

mantida sob observação e acompanhamento para que a

medida legal se concretize no momento mais eficaz do

ponto de vista da formação de provas e fornecimento de

informações;(grifo nosso)

O flagrante protelado é um poder conferido á

autoridade policial ou aos seus agentes o qual permite a eles procrastinar

a prisão imediata do agente que está em estado de flagrância,

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mantendo este elemento sob observação, á espera de uma

oportunidade mais eficaz do ponto de vista da formação de provas e

fornecimento de informação.

Para Capez 74 está espécie de flagrante:

Consiste em retardar a interdição policial do que se supõe

ação praticada por organizações criminosas ou a ela

vinculada, desde que mantida sob observação e

acompanhamento para que a medida legal se concretize

no momento eficaz do ponto de vista da formação de

provas e fornecimento de informação.

Neste caso, o agente policial detém discricionariedade

para deixar de efetuar a prisão em flagrante no momento em que

presencia a prática da infração penal, podendo aguardar um momento

mais propício do ponto de vista da investigação criminal ou da colheita

de prova.

Também, é de suma importância este retardo porque

possibilita identificar maior número de integrantes da organização

criminosa, bem como os meios utilizados para á prática da infração (rotas,

transporte etc.).

Essa ação do agente ativo da prisão em flagrante não

é obrigatória, contudo é aconselhável quando ocorrer tal situação, porém

essa situação deve realmente acontecer, caso contrário poderá correr o

risco do agente infrator fugir ou consumir o delito de forma irreparável.

Cumpre lembrar que tal estratégia interventiva é

exclusiva no crime organizado. Fora da organização criminosa é impossível

tal medida (crime organizado, 1a ed., Revista dos Tribunais, p. 94).

74 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 13ª ed., Saraiva Editora, 2006, p.254.

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2.2.7 Do flagrante forjado

Flagrante forjado é aquele que ocorre em face de

interesses pessoais, onde o agente provocador, autoridade ou terceiro

coloca alguém propositadamente em situação de flagrante delito, para

desta forma colocá-lo em situação de gravame. É também nula a prisão

que ocorre em face desta modalidade de flagrante

Modalidade de flagrante que não é, logicamente,

permitido em lei. Forjar significa adulterar ou falsificar, sendo assim

podemos conceituar o flagrante forjado como aquele em que a situação

de flagrância foi deliberadamente e intencionalmente fabricada por

terceiro, no intuito de incriminar determinada pessoa. Neste caso a pessoa

que sofre o flagrante forjado é, sem dúvida, a vítima direta.

Para Nogueira 75 :

O flagrante forjado ocorre quando a polícia inventa um

flagrante contra alguém, prendendo o possível agente.

Trata-se de flagrante criminoso, feito ao arrepio da lei, que

mercê não só o repudio de todos, mas também que o

policial responsável seja devidamente processado por

abuso de autoridade.

O flagrante forjado é muito comum nos crime referente

a substâncias entorpecentes, quando policiais ou particulares criam

provas de um crime inexistente, colocando, por exemplo, no bolso de

quem é revistado ou na casa se uma pessoa, substância entorpecente.

Essa prática tem dois objetivos ilícitos, primeiro tentar extorquir a pessoa

que foi revistado e segundo, não menos proibido, é conseguir pegar

alguém em flagrante que seja suspeito de algum crime.

Para Mirabele76:

75 NOGUEIRA, Paulo Lúcio, Curso Completo de Processo Penal, 9º ed.,1995, p. 294. 76 Julio Fabrini Mirabete, Processo Penal, 376.

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(..) o flagrante forjado, em que policias ou particulares

“criam provas de um crime inexistente, colocando, por

exemplo, no bolso de quem é revistado, substância

entorpecente. Nessa hipótese, evidentemente, não há

crime consumado ou tentado do preso, mas o delito de

denunciação caluniosa, ou eventualmente concussão,

abuso de autoridade etc., pela pessoas que efetuam a

prisão. Entretanto, como já decidiu o STF, não é flagrante

forjado aquele resultante de diligências policiais após

denuncia anônima sobre tráfico de entorpecente.

Diante desses fatos é aconselhável aos policiais e aos

próprios suspeitos, antes da busca, seja pessoal ou domiciliar, convidar

populares para assistirem a diligência, com o fim de evitar eventuais

adulterações no local investigado.

Nota-se que o flagrante forjado ó o flagrante

fabricado. Policiais ou terceiros criam provas de um crime inexistente para

prender em flagrante.

Sobre o tema leciona Capez77:

O flagrante forjado (também chamado de fabricado,

maquinado ou urdido): nesta espécie, os policias ou

particulares criam provas de um crime inexistente,

colocando, exemplo, no interior de um veículo substância

entorpecente. Neste caso, além de, obviamente, não existir

crime.

Entende-se que no caso do agente forjar o crime e

conseqüentemente a prisão em flagrante ser forjado não haverá crime

por parte do suposto criminoso, pois, os policiais assim agiram, para

legitimar a prisão do suspeito, contra o qual não conseguem prova de seu

envolvimento com a prática criminosa, introduzem no seu bolso, carro,

casa, etc., alguma substância entorpecente ou droga afim, seja motivado

pela raiva, inveja.

77 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 13ª ed., Saraiva Editora, 2006, p.255.

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O flagrante forjado é a situação em que policiais ou

particulares criam provas de um delito não existente.

2.3 CONCEITO DE NULIDADE NO DIREITO PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO

O assunto das nulidades é dos mais complexos e

inçados de dúvidas, incertezas e dificuldades. Não há conceito uniforme e

pacifico, a seu respeito, na doutrina 78.

Há os que consideram vício ou defeito do ato que o

pode tornar ineficaz.

Borges Da Rosa, que tratou do assunto com mestria, dá

o seguinte conceito: “Nulidade é o defeito jurídico que torna seu valor ou

pode invalidar o ato ou processo, no todo ou em parte”. Para essa

corrente, a nulidade é uma falha ou imperfeição do ato.

Outro doutrinador Mirabele79 sobre o tema:

Há, assim, na nulidade, duplo significado, dois aspectos: um

para indicar o motivo que torna o ato imperfeito, outro para

exprimir a conseqüência que deriva da imperfeição jurídica

do ato ou sua inviabilidade jurídica. A nulidade, portanto, é,

sob um aspecto, vício, sob outro, sanção, podendo ser

definida como a inobservância de exigências legais ou uma

falha ou imperfeição jurídica que invalida ou pode invalidar

o ato processual ou todo o processo.

Divide-se a doutrina em duas correntes:

- a dos que consideram a inexistência do ato diferente

de sua invalidez;

- a dos que entendem que, para o Direito, o não existir

78 NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 27º ed., 1999, p. 437. 79 Julio Fabrini Mirabete, Processo Penal, 591.

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e o não ser válido vêm a dar no mesmo: em ambos os casos o ato não

produz efeito.

Tourinho Filho80 entende ser a nulidade, pois, é a

sanção imposta ao ato imperfeito. É a sansão da ineficácia do ato

imposta pelo juiz.

Para Nogueira 81 “nulidade seria a inobservância de

exigências ou de formas legais que destituem ao ato de validade (nulo)

ou possibilitam invalidá-lo (anulável)”.

O processo é um caminho, que tem começo, meio e

fim. Devem as partes trilhá-lo superando normalmente os marcos sem

falhas ou irregularidades.

Para Capez82 “nulidade é um vício processual

decorrente da inobservância de exigências legais capaz de invalidar o

processo no todo ou em parte”.

Por seu turno, José Frederico Marques83 “a nulidade é

uma sanção que, no processo penal, atinge a instância ou ato processual

que não estejam de acordo com as condições de validade impostas pelo

Direito objetivo”.

A atividade processual é de direito público e, portanto,

regrada, devendo as partes obedecer à forma legal, entendida esta não

só como a exteriorização do ato, mas também como os requisitos ou

elementos que ele deve conter.

Logo, não existe a liberdade das formas. A forma é a

legal, que deve ser respeitada pelos sujeitos processuais. Os Códigos de

80 TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, p. 454 e 455. 81 NOGUEIRA, Paulo Lúcio, Curso Completo de Processo Penal, 9º ed.,1995, p. 427. 82 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 13ª ed., Saraiva Editora, 2006, p.682. 83FREDERICO MARQUES, José. ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL, 2ª ed., Campinas/SP, Millenium Editora, 2000, v. II, p. 397.

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processo são códigos de modelos típicos, aos quais as partes, o juiz e os

auxiliares da justiça devem submeter-se.

O Código de Processo Penal, prevê modelos de atos

que devem ser praticados da forma legal; se praticados, ainda que

defeituoso, passam a produzir os efeitos previstos na lei para aquele tipo

de ato; o ato, ainda que defeituoso, somente deixa de produzir efeitos

quando outro ato o declara inválido, o que somente é possível se a lei

processual tiver previsão de um instrumento para isso, e a declaração

somente ocorrerá no momento nela previsto.

2.4 CLASSIFICAÇÕES

Magalhães Noronha84 sobre a classificação das

nulidades:

Numerosas as que se apresentam. Uns falam em nulidade

substancial e formal. Ocorre a primeira, se, v. g., uma pessoa

é condenada por furto, provando-se, entretanto, mais

tarde, que a coisa móvel era sua. O processo pode ter

decorrido de modo escorreito, de acordo com a lei, mas

houve nulidade substancial por não haver crime. Mas, se

houve o delito e o juiz condenou o autor sem motivas ou

fundamentar sua decisão (art. 381, III, do Código de

Processo Penal), a sentença é formalmente nula.

Resta caracterizado no texto que essa classificação diz

respeito à perfeição do ato, que deve fundamental.

Nos ensinamentos de Mirabele85:

“Fala-se, em primeiro lugar, em atos inexistentes, atos nulos

e atos anuláveis. Em relação aos atos jurídicos em geral

considera-se ato inexistente aquele em que há falta de um

84 NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 27º ed., 1999, p. 438. 85 MIRABETE, Julio Fabbrini. PROCESSO PENAL, 10ª ed., São Paulo, Atlas, 2000, p. 592.

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elemento essencial, ele inexiste de jure. É um não-ato. Há

também o que se considera ato nulo, aquele que não

produz efeito até que seja convalidado e, se isso não for

possível, nunca os produzirá. Se essa condição suspensiva é

possível, sanando-se o ato com sua ocorrência, fala-se em

nulidade relativa. Se for impossível a convalidação, estamos

diante de uma nulidade absoluta”.

O sempre lembrado Borges da Rosa também

ensina que segundo o sistema da distinção das formas havia a

classificação das nulidades em três espécies: 1) a nulidade propriamente

dita, que vinha a ser absoluta, a insanável ou a insuprível; 2) a

anulabilidade, que seria a nulidade relativa, sanável ou suprível; 3) a

irregularidade, simples vício de forma, que não dava, em hipótese

alguma, lugar à decretação da nulidade.

Dessa forma, o procedimento é uma seqüência de

atos, um complexo de atos jurídicos impostos pela lei.

Walter P. Acosta86 classifica as nulidades em sanáveis e

insanáveis, salientando que:

“Essa divisão, não se confunde com aquela que as classifica

em absolutas e relativas, porque, se é certo que as

nulidades relativas são sempre sanáveis, as absolutas são

podem ser sanáveis ou insanáveis. São sanáveis ou supríveis

as referidas no art. 572, pois, se ocorrem determinadas

circunstâncias, ficam sanadas, isto é, opera-se o

convalescimento do ato nulo, que se reincorpora em sua

forma perfeita. Ao contrário, as insanáveis, de que cogita o

art. 573, não permitem o revigoramento do ato, de sorte

que este, e bem assim o corteja dos que dele diretamente

dependam ou sejam conseqüência, só podem recuperar a

validade se dito ato for renovado ou retificado”.

Assim, podemos classificar as nulidades em:

86 ACOSTA, Walter P., O processo penal, Forence, 1959, p. 279.

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1) quanto à forma, que se divide em substancial

(essencial) e formal (acidental);

2) quanto à finalidade, que se divide em nulidade

propriamente dita, anulabilidade e irregularidade;

3) quanto à capacidade de recuperação, que se

divide em sanáveis e insanáveis;

4) nosso Código, que divide em nulidades absolutas

(quanto ao juízo, quanto às partes e quanto às formas), e, nulidades

relativas (todas as demais).

O Processo Penal Brasileiro não contempla os atos

inexistentes porque, logicamente, eles não têm vida. É desnecessária tal

categoria. Também não se filia a nenhum sistema que fez distinção entre

as nulidades. Todavia, admite duas espécies de nulidades: a absoluta, que

representa pelo ato relativamente nulo, que se traduz na omissão de

qualquer das fórmulas ou termos expressamente declarados e podem ser

sanadas ou não, e a relativa, representada pelo ato anulável, que

consiste na inobservância de alguma formalidade e é sempre sanável.

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Capítulo 3

DAS NULIDADES NA PRISÃO EM FLAGRANTE

Com a alteração do art. 304 e seus parágrafos do

Código de Processo Penal, pela Lei nº 11.113 de 13/05/2005, houve uma

mudança quanto ao procedimento de lavratura do auto de prisão em

flagrante.

O condutor e as testemunhas assinarão seus

depoimentos logo após serem ouvidos pela autoridade policial, sendo

despicienda a presença destes aos atos ulteriores para a lavratura do

auto.

Com esta mudança de lei, haverá uma simplificação

da lavratura do auto em flagrante para permitir que os policiais de ronda,

ao chegarem com o preso na delegacia, possam ser rapidamente

liberados para desempenhar suas atividades de patrulhamento ostensivo.

Quanto às testemunhas, também não há porque retê-las, vez que são

dispensáveis aos atos que sucederem seus depoimentos.

Havendo ilegalidade na autuação em flagrante, a

prisão deverá ser relaxada pelo juiz (art. 5º, LXV, da CF/88), in verbis: “a

prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”, sem

eventual prejuízo para o desenvolvimento das investigações e do inquérito

policial. A prisão ilegal diminui os atos probatórios praticados no inquérito

policial, mas não o anula, e muito menos a ação penal que dele resultará.

Também pequenos vícios formais, como a ausência de alguma assinatura,

da grafia errônea do nome do preso.

Como vimos, permite o artigo 301, do Código de

Processo Penal, que, em existindo flagrante, qualquer do povo poderá e

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as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que

seja encontrado em flagrante delito.

Da mesma forma, o art. 304 e incisos, amparado na lei

adjetiva penal, estabelece uma seqüência obrigatória e ditada pela

lógica. Por primeiro é ouvido o condutor; depois as testemunhas e a

vítima, se encontrada, por fim o indiciado. Está ordem na oitiva dos sujeitos

do flagrante não é mero rol exemplificativo, e sim taxativo; visto que sua

não observância é causa de nulidade e, por via de conseqüência,

acarretará o relaxamento da prisão em flagrante com a soltura do

autuado.

3.1 NÃO SER O INDICIADO OUVIDO EM ÚLTIMO LUGAR ART. 304, CAPUT, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Preso em flagrante, ou, conforme a denominação do

nosso Direito, o conduzido, deverá ser apresentado à autoridade

competente (Delegado de Polícia) pela pessoa que efetuou a prisão e

que se chama de condutor.

Colhidos os depoimentos do condutor e testemunhas,

à autoridade competente passará a qualificar o conduzido, cientificando

dos seus direitos constitucionais, e, se lhe convir, será interrogado. Se o

desejar, na presença de um Advogado, nos termos do art. 5º, LXIII, da

magna Carta.

Caso o conduzido manifeste sua intenção de ver-se

assistido por Advogado e a autoridade policial se recusar de atender a

está pretensão, é causa de nulidade por inobservância de dispositivo

constitucional.

Nulidade por observância de requisito constitucional –

TJSC: “Face à norma constitucional insculpida no art. 5º. LXIII é nulo o

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flagrante em que o preso expressamente manifeste desejo de ser assistido

por pessoa da família ou Advogado, não sendo atendido em sua

pretensão”.

Esta garantia constitucional é absoluta e seu

“esquecimento” por parte da autoridade policial gera nulidade na prisão

em flagrante.

Determina o art. 304 do Código de Processo Penal com

a redação dada pela Lei nº. 11.113/05:

Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente,

ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua

assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de

entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das

testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do

acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após

cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a

autoridade, afinal, o auto.

O artigo em estudo é expresso e taxativo na seqüência

lógica. A inversão de atos é causa de nulidade na prisão em flagrante.

Neste norte Mirabele87:

Ouvida as testemunhas, a autoridade “interrogará o

acusado sobre a imputação que lhe é feita” (art. 304).

Nessa condição deve ser ele alertado para o direito de ficar

calado, assegurado na Constituição, sem reservas (art. 5º,

LXIII), observando a autoridade o disposto do nos artigos 6º,

V, e 185 e ss. do Código de Processo Penal.

O acusado será interrogado em termo próprio, antes

da lavratura do auto de prisão.

É indispensável que o conduzido seja ouvido em último

lugar, pois, são suas declarações, corroboradas com o depoimento e do

87 MIRABETE, Julio Fabbrini. PROCESSO PENAL, 10ª ed., São Paulo, Atlas, 2000, p. 592.

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condutor e das testemunhas, que se irá verificar se o fato foi praticado ou

não pelo conduzido.

Colhe-se da jurisprudência:

Nulidade: inversão de atos – TACRSP: “inquirição de

testemunhas após o interrogatório do indiciado no auto.

Inadmissibilidade. O auto de prisão em flagrante, consoante

preceitua a lei adjetiva penal, obedece a uma seqüência

obrigatória e ditada pela lógica. Por primeiro é ouvido o

condutor, depois as testemunhas e a vítima, se encontrada,

por fim o indiciado. É indispensável que este seja o

derradeiro a falar no auto e sua manifestação será batizada

pelo que afirmaram as testemunhas e o ofendido”

(RT489/380).

Observa-se, que está seqüência é imprescindível, e sua

não observância, é causa de nulidade na prisão em flagrante.

3.2 NÃO SER O AUTO ASSINADO POR QUALQUER UM DOS QUE PARTICIPARAM DO ATO ART. 304, CAPUT, IN FINE

Depois da captura do delinqüente apanhado em

flagrante delito, é ele levado à presença da autoridade policial, onde

então, será lavrado o auto de prisão em flagrante.

O auto será assinado pela autoridade que o presidir,

pelo preso, pelo condutor e pelas testemunhas88.

Para Tourinho Filho89:

“Findo o interrogatório, que se fará de acordo com as

regras estabelecidas nos arts. 186 e s. do Código de

Processo Penal, que lhe forem aplicáveis, a autoridade

determinara seja lavrado o auto de prisão em flagrante, 88 FREDERICO MARQUES, José. ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL, 2ª ed., Campinas/SP, Millenium Editora, 2000, v. IV, p.83. 89 TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, p. 454 e 455.

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assinando-o a autoridade que o presidiu, o escrivão que o

lavrou e o conduzido. Parace-nos que esse auto, além de

conter, no preâmbulo, a data, o local, os nomes da

autoridade que o presidiu, do condutor, testemunhas e

conduzido, deve também conter uma súmula de tudo

quanto foi dito pelas pessoas que dele participaram.

Lavrado o auto, devidamente assinado e subscrito também

pelo escrivão”.

Neste norte a jurisprudência:

Formalidade do auto de prisão em flagrante – STJ: “Prisão

em flagrante. Lavratura do auto. Exercício de Polícia

Judiciária. Formalidades. Aplicação do art. 304 do Código

de Processo Penal (...) o auto de prisão em flagrante é

lavrado por ordem da autoridade competente, em regra, o

Delegado de Polícia no exercício de policia judiciária na

circunscrição, e se completa com sua leitura perante o

indiciado e seu advogado ou curador, quando for o caso,

sendo encerrado pelo escrivão que colherá a assinatura de

todos, inclusive das testemunhas” (RT 749/616).

O legislador, todavia, para evitar abusos das

autoridades, mormente policiais, que, em regra, lavram os autos de prisão

em flagrante, estabeleceu uma série de formalidades que devem ser

observadas, e nessas formalidades reside a garantia do cidadão.

Na falta de assinatura daqueles que participaram da

lavratura do auto, a omissão desta formalidade e causa de nulidade na

prisão em flagrante, devendo magistrado acolher a nulidade a relaxar a

prisão.

3.3 NÃO SER O INDICIADO OUVIDO NA LAVRATURA DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE. ART. 304

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É imprescindível que o indiciado seja ouvido na

lavratura do auto.

Na lição de Tourinho Filho90:

“Poderá ser válido um auto de prisão em flagrante sem a

ouvida do conduzido?” Normalmente não. Em face do

contido no art. 304 do Código de Processo Penal.

Entretanto, em casos excepcionais, será ele perfeitamente

válido. Suponham-se as seguintes situações: a) Preso em

flagrante pela contravenção da embriaguez e conduzido à

delegacia, não haja condições para interrogar o

contraventor...Nem teria sentido a lavratura do auto no dia

seguinte, quando passasse a carraspana. Nesta hipótese,

lavra-se o auto, com a presença do defensor, e, a final,

registra-se a circunstância que levou a autoridade a não

ouvir o conduzido. E se o conduzido estiver gravemente

ferido, sendo, por isso mesmo, levado à mesa de cirurgia?

Neste caso singular a autoridade policial se transporta com

o escrivão, condutor e testemunhas a uma das salas do

hospital e, ali mesmo, providencia a lavratura do auto,

tendo antes, o cuidado de nomear um Curador para o

‘inconsciente”. É bem verdade que o STF, em julgado de

que foi relator o emitente ex. Ministro Eloy da Rocha,

salientou ser inválido o auto de prisão em flagrante sem a

presença do preso (cf. RTJ, 53/431). A hipótese ali tratada,

todavia, foi completamente diversa”.

A não oitiva o conduzido no auto de prisão em

flagrante, dependendo do caso concreto, e não sendo justificado o

motivo da sua não oitiva pela autoridade competente, é causa de

nulidade na prisão em flagrante por ser requisito essência a validade do

ato.

Deverá também a autoridade policial informar o preso

dos seus direitos, entre os quais permanecer calado, sendo-lhe assegurada

a assistência da família e de advogado, nos precisos termos do art. 5º. LXIII

90 TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, pp. 460 e 461.

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da CF/88. Hoje, o indiciado, esteja preso ou em liberdade, seja na

delegacia, seja perante o juiz, tem, constitucionalmente, o direito ao

silêncio. Se entender ser melhor permanecer calado, estará ele no

exercício sagrado de seu direito.

Ada Pellegirni Grivoner, sobre o silêncio do preso,

esclarece:

[...] O direito ao silêncio, em todo seu vigor, sem atribuir-lhe

nenhuma conseqüência desfavorável, é uma exigência não

só de justiça, mas sobretudo de liberdade. O único prejuízo

que do silêncio pode advir ao réu é o de não utilizar a

faculdade de autodefesa que se lhe abre através do

interrogatório. Mas quanto ao uso desta faculdade, o único

árbitro deve ser sua consciência, cuja liberdade há de ser,

garantida em um dos momentos mais dramáticos para a

vida do homem em mais delicado para a tutela de sua

dignidade [...] 91

Este preceito constitucional deve ser observado pela

autoridade policial, caso contrário, da causa a nulidade da prisão em

flagrante.

3.4 INEXISTÊNCIA DE TESTEMUNHAS PRESENCIAIS

Outra causa de nulidade na prisão em flagrante é a

ausência de testemunhas presencias.

Tourinho Filho92 faz a seguinte indagação:

Na hipótese do art. 304, caput, bastará uma testemunha?

“O art. 304 fala em condutor e testemunhas, dando a

entender devam ser ouvidas, além daquele, duas

testemunhas, no mínimo”.

91 Ada Pellegirni Grivoner, O Processo em sua Unidade, p. 111. 92 TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, pp. 459 e 460.

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A lei fala em condutor e testemunhas, distinguindo,

perfeitamente, estas daquele. Além disso, a prisão em

flagrante, como toda a prisão cautelar de natureza

processual, constitui uma exceção, e por isso mesmo, não se

pode interpretar o texto legal que verse sobre as

formalidades de tal medida extrema com liberalidade.

Para o ilustre doutrinador, a presença de uma só

testemunha, não reveste de formalidade o ato, devendo ser observado

aquele mínimo legal, sob pena de nulidade.

Frederico Marques93 sobre o assunto:

“Se não houver testemunhas inquiridas na lavratura do

flagrante, o auto será assinado por duas testemunhas

instrumentárias, isto é, por duas pessoas que hajam

testemunhado a apresentação do preso à autoridade, tudo

na forma do que prescreve o art. 304 § 2º, do Código de

Processo Penal”.

Deve haver aquele número mínimo de testemunhas

para a validade do ato.

Neste sentido Hélio Tornaghi94

As testemunhas a que se refere o caput do art. 304 são as

que assistiram à infração. A autoridade as ouvirá se

existirem. Pode acontecer que o condutor do preso tenha

sido também testemunha da infração, mas não é

necessário que assim seja. É possível ainda que uma pessoa

seja presa por alguém que não deva sair do local e a

entregue a outro (p. ex. ao patrulheiro da rádio patrulha)

para que a conduza à presença da autoridade.

De qualquer modo, a figura do condutor não se confunde

com as das demais testemunhas, no caso que também ele

seja testemunhas.

93 FREDERICO MARQUES, José. ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL, 2ª ed., Campinas/SP, Millenium Editora, 2000, v. IV, p. 82. 94 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, p. 65.

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Ainda o eminente autor:

A meu ver é nulo o auto de prisão em flagrante se não há

testemunhas nem da infração nem da apresentação, pois

constitui ele mento essencial do ato a assistência à

apresentação do preso à autoridade (art. 564, IV, c/co art.

304 § 2º.).

A jurisprudência tem declinado o seguinte

entendimento:

Ausência de testemunha do flagrante e da apresentação –

TACRSP: “Prisão em flagrante. Nulidade. Audição apenas do

condutor e dos acusados. Testemunhas meramente

instrumentárias. Inadmissibilidade. A lei exige no mínimo

duas testemunhas da infração para a lavratura do

flagrante, não subsistindo as testemunhas instrumentárias do

interrogatório do indiciado as testemunhas de sua

apresentação” (RT555/376).

Testemunha de apresentação – TACRSP: Prisão em

Flagrante. Nulidade. Ocorrência. Auto assinado por uma só

testemunha, única presente à prática delitiva. Número

mínimo de testemunhas não observadas. Constrangimento

ilegal ocorrente. Ordem concedida

Extrai-se da jurisprudência, que a inexistência das

testemunhas presencias é causa de nulidade na prisão em flagrante, pois,

a lei exige um mínimo de testemunhas que deverão presenciar o ato da

lavratura do flagrante.

3.5 FALTA DE ASSINATURA DO PRESO

Determina o art. 304 § 3º do Código de Processo Penal:

§ 3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou

não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será

assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua

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leitura na presença deste.

A assinatura do acusado é obrigatória, pois, a lei a

reclama para a validade do ato. Todavia, pode acorrer circunstancia em

que o acusado de recuse de assinar, seja porque foi coagido a depor,

seja porque não concorda com classificação da infração dada pela

autoridade policial.

Quando ocorrer tal fato, a lei exige que duas

testemunhas ouçam a leitura do auto e assinem.

Hélio Tornaghi95 acerca da matéria:

Essas testemunhas de que o acusado se recusou a assinar;

nada mais. Não viram o crime, não assistiram à

apresentação, não estiveram presentes à lavratura do auto.

Foram convocadas apenas para testemunhar que o

acusado se recusou de assinar, ou não sabe assinar, ou não

pode fazê-lo (p. ex., por estar com a mão enfaixada).

Convém notar que essas testemunhas não são as mesmas

que funcionaram até então (testemunhas de apresentação

ou do crime), o que ressalta claramente da redação do §

3º.

Como podemos observar, a lei exige a assinatura do

acusado, salvo nos casos expressos em lei, e da omissão desta

formalidade essencial injustificada, é causa de nulidade no flagrante.

Para Tourinho Filho96 :

Se, porventura, o conduzido não souber, não quiser ou não

puder assiná-lo, não se aplicará o disposto no art. 195, mas

sim o disposto do § 3.º do art. 304 do mesmo diploma, isto é,

deverá o auto ser assinado por duas testemunhas que lhe

tenham ouvido a leitura, na presença do acusado. São as

chamadas testemunhas de leitura.

95 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, p. 71. 96 TOURINHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, pp. 459 e 460.

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Embora a lei não o diga, cremos que deve ser

mencionado o motivo da intervenção das testemunhas signatárias.

Ensina Mirabele97:

No caso do acusado se recusar de assinar, ou não souber

ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será

assinado por duas testemunhas, que lhe tenham ouvido a

leitura, na presença do acusado (art. 304, § 3º). Não se

confundem essas testemunhas instrumentárias da instrução

(art. 304, § 3º) ds testemunhas da apresentação (art. 304, §

2º).

A jurisprudência tem entendido que a ausência da

assinatura do acusado, sem motivo justificado, é causa de nulidade.

Nulidade: ausência de assinatura do preso – TJPR: “nulo é o

auto de flagrante quando, sem justificativa, deixa de ser

assinado pelo preso”.

Fundamento numa nulidade o Advogado requererá

ao juiz o quebramento do flagrante e, no caso de denegação, impetrará

habeas corpus ao tribunal.

Já vimos, como, em princípio, o Código exige a

assinatura do acusado, e de que modo ela pode ser suprida pela de duas

pessoas que “lhe tenham ouvido a leitura na presença do acusado. A

falta de assinatura do acusado, não suprida pela subscrição dessas

testemunhas, acarreta nulidade (art. 564, IV do Código de Processo

Penal)”.

3.6 IRREGULARIDADE COM O ESCRIVÃO

Quando o flagrante não for lavrado por escrivão

competente é causa de nulidade. 97 MIRABETE, Julio Fabbrini. PROCESSO PENAL, 10ª ed., São Paulo, Atlas, 2000, p. 592.

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Prescreve, in verbis o art. 305 do Código de Processo

Penal:

Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer

pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois

de prestado o compromisso legal.

Infere-se do artigo em estudo que, regra geral, é o

escrivão à autoridade competente para lavrar o auto de prisão em

flagrante por expressa disposição processual.

Hélio Tornaghi98 ensina:

Em princípio, o auto de prisão em flagrante deve ser lavrado

pelo escrivão, isto é, pelo funcionário de policia que exerce

o cargo público de escrivão.

É possível, entretanto (especialmente no interior do país),

que não haja escrivão (oficial) e, em qualquer caso, pode o

existente estar impedido. O impedimento que se refere o

art. 305 é de qualquer ordem: legal (impedimento stricto

sensu e suspeição) ou físico (p. ex., doença). Na falta ou no

impedimento do escrivão, a lei determina à autoridade que

designe alguém para servir como escrivão ad hoc, isto é,

para esse ato.

Não diz ela que requisitos deve preenche o designado;

deixa a escolha à prudência da autoridade.

Também não esclarece se a pessoa indicada está obrigada

a aceitar a incumbência. A expressão qualquer pessoa

designada pela autoridade lavrará o auto podia dar a

impressão de que ela terá de fazê-lo. Mas nenhuma sanção

está cominada para quem recusa. A menos que se queria

entender que há crime de desobediência. (CP, art. 330),

que me parece excessivo, terá de concluir-se que a

indicação é recusável.

O escrivão ad hoc tem de prestar “compromisso legal” (art.

98 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, pp. 72 e 73.

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305). Em que consiste esse compromisso, qual a forma que

deve ter, qual o conteúdo dele, não está dito na lei.

Subentende-se que é um compromisso de bem servir, com

lealdade e insenção.

O encarregado da lavratura do auto de prisão em

flagrante é o escrivão.

Magalhães Noronha 99:

O auto de prisão em flagrante, presidido pela autoridade

policia deve ser lavrado pelo escrivão. Na falta deste, a

autoridade pode nomear outro funcionário ou qualquer

pessoa para que o faça, devendo, porém, tomar-lhe o

compromisso legal, sob pena de nulidade.

A prisão em flagrante deve ser lavrada pelo escrivão

competente, ou, na forma do art. 305 do Código de Processo Penal a

pessoa designada deverá prestar compromisso legal, sob pena de

nulidade e, desta forma, a prisão em flagrante perde sua força coercitiva,

mas continua tendo valor com peça informativa.

Leciona Mirabete100:

É esse auto lavrado pelo escrivão ou escrevente e também

por eles encerrado. Na falta deles, qualquer pessoa,

designada pela autoridade e mediante compromisso, fará

suas vezes. Assinam-no, então, a autoridade, o condutor, o

ofendido, as testemunhas, o capturado e seu defensor ou

curador.

A jurisprudência já firmou entendimento:

Nulidade por falta de compromisso do escrivão – TJSC:

“Nulo é o auto de prisão em flagrante quando não lavrado

por escrivão competente, ou, na hipótese do art. 305 do

Código de Processo Penal, se a pessoa que for designada

99 NORONHA, Eduardo Magalhães, Curso de Direito Processual Penal, 27º ed., 1999, p. 214. 100MIRABETE, Julio Fabbrini. PROCESSO PENAL, 10ª ed., São Paulo, Atlas, 2000, p. 381.

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para lavrá-lo não prestar compromisso legal” (RT 504/261).

A falta ou impedimento do escrivão, a pessoa

indicada pela autoridade competente não prestar compromisso legal,

esta omissão de formalidade essencial à validade do ato, é causa de

nulidade. Inteligência do art. 564, IV do Código de Processo Penal.

3.7 IRREGULARIDADE COM A NOTA DE CULPA

A previsão legal da nota de culpa encontra-se no art.

306 do Código de Processo Penal, in verbis:

Art. 306. Dentro de 24 (vinte quatro) hora depois da prisão,

será dada ao preso nota de culpa assinada pela

autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e

o das testemunhas.

Parágrafo único. O preso passará recibo da nota de culpa,

o qual será assinado por duas testemunhas, quando ele não

souber, não puder ou não quiser assinar.

A nota de culpa, segundo dispõe o art. 306 do Código

de Processo Penal, além de conter os motivos da prisão, possibilitando

ampla defesa do acusado, tal como quer a Carta Magna, e constituindo

um obstáculo ao abuso das detenções ilegais.

Mirabete 101 acerca da nota de culpa:

Dentro de 24 (vinte e quatro) horas depois da prisão, será

dada ao preso nota de culpa.

(..) a finalidade da denominada nota de culpa é comunicar

ao preso o motivo da prisão, bem como a identidade de

quem o prendeu (art. 5º, LXIV, da CF/88), num breve relato

do fato criminoso de que é acusado.

101 MIRABETE, Julio Fabbrini. PROCESSO PENAL, 10ª ed., São Paulo, Atlas, 2000, p. 383.

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(...) todavia, a entrega da nota de culpa é formalidade

essencial referente à liberdade da pessoa, comunicação

que é, sob responsabilidade da autoridade, do motivoda

prisão, proporcionando ao capturado a ampla defesa, que

é garantia constitucional. Assim, a omissão desse ato

essencial deve redundar no relaxamento da prisão. A

importância do ato é tal que, por lei, como garantia do

cumprimento da norma contida no art. 306, se determina

que o preso deve passar recibo da nota de culpa, que

também será assinado por duas testemunhas, quando ele

não souber, não poder ou não quiser assinar (art. 306

parágrafo único).

Como bem ensina Mirabete o não fornecimento da

nota de culpa ao preso pela autoridade no prazo do art. 306 e causa

omissão essência de ato e enseja relaxamento por ilegalidade na prisão e

conseqüentemente nula.

Sobre o tema Tourinho Filho 102:

Como já vimos, essa nota de culpa deve ser entregue ao

preso dentro do prazo de 24 horas, a partir da prisão, sob

pena de invalidade do auto e conseqüente relaxamento

daquela. Qualquer excesso de prazo, aí, configuraria

constrangimento legal.

Também, como se dessume do parágrafo único do art. 306

do Código de Processo Penal, deve ser extraída em duas

vias, sendo o original entregue ao preso, devendo este

passar recibo na cópia, que será anexada aos autos do

inquérito policial. Se o preso não souber, não puder ou não

quiser assinar o recibo (cópia), haverá necessidade de o

fato ser testemunhado por duas pessoas. Trata-se de

exigência legal.

A nota de culpa deve ser entregue no prazo de 24

(vinte e quatro) horas depois da prisão, pois com ela que o preso tem

ciência inequívoca da imputação que é uma garantia constitucional para

102 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Processo Penal, 3º Vol., 27 º ed., 2005, p. 467.

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defender-se.

Diz Hélio Tornaghi 103:

Na verdade, o fato de a lei não dar prazo à autoridade

para autuação significa seu desejo (da lei) de que o

preceito seja cumprido imediatamente. Isto é, logo que

possível tão pronto quanto seja viável (ad impossibilitia

nemo tenetur). Cabe ao juiz ao qual é comunicada a prisão

verificar se a autoridade foi diligente ou negligente, levando

em conta as circunstâncias do saco concreto.

A sua falta acarreta nulidade art. 564, IV do Código de

Processo Penal, pois o indiciado ou acusado deve saber de forma

inequívoca a acusação contra ele formulada no auto de prisão em

flagrante.

103 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal, 9º ed., 1995, pp. 72 e 73.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como finalidade investigar e

identificar, as nulidades na prisão em flagrante à luz do Código de

Processo Penal e Constituições Federal de 1988.

O interesse pelo tema abordado deu-se em razão de

ser a prisão em flagrante uma sumária forma de supressão do jus libertatis

mediante clausura. Por ser uma exceção, deve obedecer, a forma

prescrita em lei, sob pena de ser nula.

Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi dividido

em três capítulos.

O primeiro, tratou da prisão e sua noções gerais no

direito pátrio, conceito, abordando a relação entre a prisão e as

Constituições, bem com no Código de Processo Penal.

Observamos que a prisão deve obedecer aos

comandos legais, pois a Constituição Federal de 1988 a tutela de forma

direta e imediata, impedindo eventuais abusos por parte das autoridades.

Destacamos, os conceitos das principais modalidades

da prisão cautelar no nosso direito processual, aonde chega-se à

conclusão que a prisão cautelar, qualquer que seja sua modalidade, é um

mal que se impõe, pois visa manter a paz social a possibilitar a harmonia

coletiva.

O segundo capítulo, inicialmente, abordou os

requisitos do estado de flagrância determinados no art. 302 do Código de

Processo Penal.

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Assim, existem sete espécies de flagrante previstas no

nosso direito processual, sendo que cada espécie apresenta

peculiaridades próprias. Por adiante, tratamos as nulidades previstas no

processo penal e sua classificação, para podemos elucidar o objeto deste

trabalho, qual seja, as nulidades na prisão em flagrante.

O terceiro e último capítulo procurou mostrar as

nulidades na prisão em flagrante, ou seja, mostramos que a prisão em

flagrante se cerca de muitas formalidades essências, que em caso de

inobservância por parte de quem de direito, do azo a nulidade.

A lei processual penal estabelece, uma seqüência

lógica, para a lavratura do flagrante, como forma de garantir a perfeita

observação para a prática do ato, que em caso de desobediência

redundará, em relaxamento.

Por fim, retoma-se as duas hipóteses básicas da

pesquisa:

a) há nulidades na prisão em flagrante; b) De que

forma pode se dar e quais suas conseqüências jurídicas e sociais?.

Com base nos estudos realizados para a realização

deste trabalho, entendemos que há nulidades na prisão em flagrante, pois

quando lei determina o modo que deve ser realizado o ato, este deve ser

seguindo daquela forma legal, pois se trata de medida de restrição da

liberdade, e como tal deve-se ter um mínimo de garantia que tal ato não

foi ilegal ou autoritário.

Não sendo observado os preceitos processuais quando

da prisão em flagrante, este deve imediatamente ser relaxado pela

autoridade competente, caso contrário, deverá ser impetrada ordem de

habeas corpus.

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Por fim, nulo será o flagrante quando: a) quando faltar

testemunha instrumentária da apresentação do preso pelo conduzido (art.

304 § 2º), ou da recusa ou impossibilidade do conduzido assinar o auto

(art. 302 § 3º); b) quando nele não se contiver a inquirição e depoimentos

do condutor, ou o interrogatório do preso, ou ainda o depoimento das

testemunhas do flagrante; c) quando faltar a assinatura de alguma das

pessoas que figuram no auto; d) quando não for presidido pela

autoridade competente, ou seja, no caso a polícia; e) quando não for

lavrado por escrivão competente, ou, na hipótese do art. 305, a pessoa

que for designada para lavrá-lo não prestar compromisso legal; f) quando

as testemunhas ouvidas no auto não prestarem o compromisso a que

alude o art. 203 do Código de Processo Penal; g) quando o condutor

também não prestar o mencionado compromisso, salvo na hipótese de

ser ele o ofendido, em caso que, no entanto, é imprescindível a

qualificação a que se refere o art. 201 do Código De Processo Penal.

Todas essas formalidades essências a validade do ato

estão enquadradas na regra do art. 564, IV, do Código de Processo Penal,

e daí serem insanáveis, como elemento do auto que legitima a coação

processual e cautelar.

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REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS

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São Paulo, vol. 35.

AQUINO, José Carlos G. Xavier e NALINI, José Renato, Manual de Processo

Penal, Saraiva: 2º ed., 1997.

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JÚNIOR, João Mendes, O Processo Criminal Brasileiro, São Paulo: 4 ed., 1911, vol. I, LAURIA FILHO, Márcio. "Da Prisão em Flagrante" in Código de Processo Penal e sua Interpretação Jurisprudencial, São Paulo, RT, v. 2, 1999.

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