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Caso prático 5 Direito Constitucional I (resolvido) Anatoli veio viver e trabalhar para Portugal em 2007, tendo obtido uma autorização de residência em 2007. Khrystyna chegou em 2008, mas só obteve a autorização de residência em 2011. Ambos aprenderam a falar português rapidamente, de forma fluente. Juntos tiveram uma filha chamada Larysa, nascida em Portugal, em 2008. Anatoli já tinha um outro filho, Demyan, com 18 anos. Demyan veio para Portugal em 2012 e cedo começou a falar fluentemente português, a destacar-se enquanto estudante e a ser o melhor ginasta do Belenenses, tendo ganho várias medalhas de ouro em representação deste clube em provas europeias e mundiiais. Por sua vez, Khrystyna também tem um outro filho de 15 anos ainda residir na Ucrânia e que gostaria de vir para Portugal. Suponha que Anatoli e Khrystyna pretendem obter a nacionalidade portuguesa para si e para todos os seus parentes referidos neste caso. Que conselhos daria? Resolução O presente caso prático apresenta várias situações que devem ser analisadas e resolvidas separadamente, as quais são as seguintes: a) O caso de Anatoli; b) O caso de Khrystyna; c) O caso de Larysa; d) O caso de Demyan; e e) O caso do filho de Khrystyna.

DC I - Caso Pr Tico 5 Resolvido

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direito constitucional II, resolucao de um caso inconstitucional

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Page 1: DC I - Caso Pr Tico 5 Resolvido

Caso prático 5

Direito Constitucional I

(resolvido)

Anatoli veio viver e trabalhar para Portugal em 2007, tendo obtido uma autorização de

residência em 2007. Khrystyna chegou em 2008, mas só obteve a autorização de residência

em 2011.

Ambos aprenderam a falar português rapidamente, de forma fluente.

Juntos tiveram uma filha chamada Larysa, nascida em Portugal, em 2008.

Anatoli já tinha um outro filho, Demyan, com 18 anos. Demyan veio para Portugal em

2012 e cedo começou a falar fluentemente português, a destacar-se enquanto estudante e a

ser o melhor ginasta do Belenenses, tendo ganho várias medalhas de ouro em

representação deste clube em provas europeias e mundiiais.

Por sua vez, Khrystyna também tem um outro filho de 15 anos ainda residir na Ucrânia e

que gostaria de vir para Portugal.

Suponha que Anatoli e Khrystyna pretendem obter a nacionalidade portuguesa para si e

para todos os seus parentes referidos neste caso. Que conselhos daria?

Resolução

O presente caso prático apresenta várias situações que devem ser analisadas e resolvidas

separadamente, as quais são as seguintes:

a) O caso de Anatoli;

b) O caso de Khrystyna;

c) O caso de Larysa;

d) O caso de Demyan; e

e) O caso do filho de Khrystyna.

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Vejamos em que medida cada uma destas pessoas poderia obter a nacionalidade portuguesa

e qual seria a melhor forma para o fazer.

a) O caso de Anatoli

Anatoli encontra-se legalmente em Portugal desde 2007, há mais de seis anos. Além disso

fala fluentemente português. Assim, é de considerar a possibilidade de obter a

nacionalidade por via do artigo 6.º-1 LN.

Com efeito, nos termos deste artigo, a nacionalidade portuguesa é obrigatoriamente

concedida a quem, cumulativamente, i) seja maior, o que é o caso, ii) residir legalmente em

Portugal há mais de seis anos, o que também sucede, iii) conheça suficientemente a língua

portuguesa, iv) não tenha sido condenado a crime punível com pena de prisão igual ou

superior a três anos e v) não constitua ameaça à segurança ou defesa nacional pelo seu

envolvimento em atividades ligadas ao terrorismo.

Os aspetos referidos em i) e ii) encontram-se preenchidos. O conhecimento da língua

portuguesa poderá facilmente ser comprovado através de uma prova, que se realiza

periodicamente, nomeadamente nas escolas públicas (artigo 25.º-2-b) RN), uma vez que

Anatoli é fluente. Finalmente, os aspetos iv) e v) dão-se por adquiridos, no silêncio do caso

prático.

Em suma, Anatoli tem condições para se naturalizar português, nos termos do artigo 6.º.-1

LN.

b) O caso de Khrystyna

Da mesma foma que Anatoli, Khrystyna também parece poder adquirir a nacionalidade

portuguesa por via do artigo 6.º-1 LN.

Com efeito, quase todos os requisitos acima referidos poderão considerar-se preenchidos,

uma vez que: i) Khrystyna é maior, ii) parece conhecer suficientemente a língua portuguesa,

podendo tal circunstância ser comprovada através da prova prevista no artigo 25.º-2 RN,

iii) nada indica que tenha sido condenado a crime punível com pena de prisão igual ou

superior a três anos e iv) de parte alguma decorre que constitua ameaça à segurança ou

defesa nacional pelo seu envolvimento em atividades ligadas ao terrorismo.

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Sucede, porém, que Khrystyna apenas possui autorização de residência desde 2011. Ou

seja, só se encontra legalmente em Portugal há cinco anos (este caso foi resolvido em

2015), pelo que ainda não preenche o requisito do artigo 6.º-1-b) LN, o qual exige a sua

residência legal em Portugal há, pelo menos, seis anos.

Assim sendo, para que Khrystyna adquira a nacionalidade portuguesa por via do artigo 6.º.-

1 LN, terá ainda de esperar mais dois anos, continuando a residir legalmente no nosso país

durante esse período.

Pode, contudo, admitir-se que Khrystyna adquira a nacionalidade portuguesa por outra via.

O artigo 3.º determina que o estrangeiro casado ou que viva em união de facto com um

português possa adquirir a nacionalidade portuguesa se estiver casado ou viver em união de

facto há mais de três anos. Ora, sabendo que Anatoli pode tornar-se português e

admitindo-se que ambos vivem em união de facto desde 2007 (ou seja, há mais de três

anos), pode colocar-se a possibilidade de Khrystyna adquirir a nacionalidade portuguesa se

Anatoli a obtiver, pois vivem em união de facto há mais de três anos. Para o efeito teriam

de promover uma ação judicial para que essa situação fosse reconhecida por um tribunal

(artigo 3.º-3 LN).

Note-se que esta hipótese não é isenta de dúvidas, pois pode defender-se que teriam de

decorrer três anos de vida em união de facto após a aquisição da nacionalidade por Anatoli

para que esta possibilidade pudesse ser utilizada. Isto é, que os três anos teriam de se contar

desde a data da aquisição da nacionalidade por Anatoli e não desde o momento em que

começaram a viver em união de facto, quando nenhum era português.

Apesar de ser um assunto controvertido, admite-se que o elemento teleológico aponte no

sentido de a contagem do prazo se dever fazer a partir do momento em que começaram a

viver em união de facto, quando nenhum era português. É que esta exigência de que

decorram três anos visa, essencialmente, evitar casamentos ou situações de união de facto

simuladas apenas com o propósito de obter a nacionalidade portuguesa. Por isso se exige

que, por um mínimo de tempo relevante, as pessoas tenham de estar casadas ou de viver

em conjunto. Ora, se é esse o propósito da norma, não faz sentido exigir a contagem dos

três anos desde que Anatoli adquriu a nacionalidade portuguesa, pois o aspeto relevante é

comprovar que ambos vivem, realmente, em união de facto independentemente da

nacionalidade que cada um tinha nesse período e não que viveram em união de facto

durante um certo período de tempo sendo necessariamente um deles português.

Em conclusão, parece que Khrystyna poderá obter a nacionalidade portuguesa se Anatoli a

obtiver mas, nesse caso, terá de utilizar uma ação judicial para reconhecer a situação de

união de facto com Anatoli (artigo 3.º-3 LN). Outra possibilidade será esperar mais dois

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anos mantendo a sua residência em Portugal e obter a nacionalidade por via do artigo 6.º.-1

LN.

c) O caso de Larysa

Larysa nasceu em Portugal quando um dos seus pais aqui residia legalmente há um ano

(Anatoli) e o outro (Khrystyna) não tinha autorização de residência. Nenhum era

português.

Portanto, não se encontrando nenhum dos pais a residir legalmente em Portugal há mais de

cinco anos e considerando que nenhum nasceu em Portugal, Larysa não é nacional de

origem (artigo 1.º LN).

Existem, porém, outras vias que permitirão a Larysa obter a nacionalidade portuguesa.

Por um lado, sendo menor, basta que um dos seus pais adquira a nacionalidade portuguesa

para que a passe a ter (artigo 2.º LN). Portanto, basta que Anatoli adquira a nacionalidade

portuguesa, o que já pode fazer, para que Larysa possa ser portuguesa.

Por outro lado, tendo em conta que Anatoli aqui reside legalmente há mais de cinco anos,

parece que Larysa poderá naturalizar-se portuguesa por via do artigo 6.º-2-a) LN.

O artigo 6.º-2 exige o preenchimento cumulativo das alíneas c) e d) do n.º 1 do artigo 6.º

LN, pelo que i) Larysa não poderá ter sido condenado a crime punível com pena de prisão

igual ou superior a três anos e ii) deverá conhecer suficientemente a língua portuguesa.

Parece evidente que o primeiro requisito se encontra preenchido, tendo em conta a idade

de Larysa. Quanto ao segundo, uma vez que terá cerca de sete anos e, provavelmente, já

estará a frequentar o primeiro ciclo do ensino básico há dois anos, admite-se que já tenha

frequentado com aproveitamento a unidade curricular/disciplina de Português pelo menos

em dois anos letivos, o que permitirá a prova do conhecimento da língua portuguesa

mediante a emissão de uma certidão pela escola que tenha frequentado (artigo 25.º-2-a)

RN).

Em conclusão, ou Larysa obtém a nacionalidade por o seu pai Anatoli a ter adquirido, uma

vez que é sua filha, ou se naturaliza portuguesa por via do artigo 6.º-2-a) LN.

d) O caso de Demyan

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Demyan é maior e encontra-se em Portugal há três anos. Não preenche os requisitos para

ser português de origem (artigo 1.º LN) ou para se naturalizar por via do artigo 6.º.-1 LN,

pois reside em Portugal há pouco tempo.

No entanto, tem-se destacado enquanto ginasta no panorama nacional e dá mostras de se

encontrar integrado, pois fala português fluentemente.

Parece que a única via que lhe permitirá adquirir a nacionalidade portuguesa com rapidez

será a prevista no artigo 6.º-6 LN, pois é possível conceder a nacionalidade portuguesa a

quem se tenha destacado ou possa vir a ser chamado a prestar serviços relevantes ao

Estado Português. Caso Demyan pudesse vir a ser convocado para uma representação

desportiva portuguesa relevante (ex: seleção portuguesa de ginástica), poderia admitir-se a

concessão da nacionalidade portuguesa.

e) O caso do filho de Khrystyna

Da mesma forma que Larysa, o filho de Khrystyna, que tem quinze anos, poderá adquirir a

nacionalidade enquanto menor se a sua mãe adquirir a nacionalidade portuguesa (artigo 2.º

LN). Portanto, quando Khrystina adquirir a nacionalidade portuguesa por via da união de

facto com Anatoli ou d artigo 6.º-1 LN, o seu filho poderá também obtê-la, desde que seja

menor.