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BOLETIM DA Sociedade Brasileira de Geologia - - - -- e- - - -- VOLUME 5 SETEMBRO DE 1956 NUMERO 2 - - - -- .----- SAO PAULO - BRASIL

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BOLETIMDA

Sociedade Brasileirade

Geologia- - - --e-- - --

VOLUME

5

SETEMBRO DE 1956

NUMERO2

- - - -- .-----SAO PAULO - BRASIL

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PetqUisMGeofitieos

Oeter minccco da pr o tun

didode da rocbo fi rme.

usando rnerodo sismico .

h gentQ fain nfe

Contro le da profundidode

e q uolJdade do rocha, por

sonda g e m a d t o rno n re

De'ermina~ao do prafundidade do roche firme para planejamenlo de Usinas Hidro - Elet,icas

(borrogens, tuneis, cono ts) e pesquisas geologicas de depositos mine roi s.

10 ELEITRIS" MALMLEIIIIIIGfabr icantes de ins trurnen tos

para Geofisfco - Cont ro tospara pe squ lsasABE M . Suecio

SYEIISU DIIMIIIIOERGODRRIIIIIGS aofabricanles de eq uipamenlose ferram entas para sondagens

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VOLUME 5

BOLETIMDA

SOCIEDADE BRASlLEIRA DE GEOLOGIA

SETEMBRO DE 1956

,fNDICE

NOMERO 2

Argilas bentoniticas no Terciario do vale do Paraiba

Por 1. E. DE PAIVA NETTO e A. C. NASCIMENTO 5

Foraminiferos do Carbonifero da Amazonia

Por SETEMBRINO PETRI ..... 1. • . . . . . . . . . . . • . . . . • . . . . 17

Bauxito no Altiplano da Serra do Cubatao, Estado de Sao PauloPor JESUINO FELICISSIMO JUNIOR e RUI RIBEIRO FRANCO 35

Algumas observacdes sobre a jazida , de chumbo de Panelas,Estado do Parana

Por ALCEU FABIO BARBOSA 51

Urn akerito da Serra do Mirante, Estado de Sao' Paulo

Por Rur OZORIO DE FREITAS 77 •

Est e boletim foi impresso com auxilio do CONSELHONACIONAL DE PESQUISAS

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ARGILAS BENTONITICAS NO TERCIARIODO VALE DO PARAIBA

POR

J. E. DE PAIVA NETTO e ALCYR C. NASCIMENTO

Institute Agrondrnico da Secretaria da Agricultura do Estado de Sao Paulo

ABSTRACT

Several types of sediments are encountered in the Rio Paraiba Valley area. They

range from coarse sediments to so-called bituminous shale and there are beds of complexmixtures of clay minerals.

This paper presents data of researches carried out on samples of the essentially ar­gillaceous material collected at the west side of Via Dutra, near city of S. Jose dos Cam­pos. These argillaceous beds nre d isposed as follows: first, one bed of earth material(soil) of 0.5 to 1.20 m in thi ckn ess; und erlain by one bed 3 to 5 m in thickness con­

taining more or less coarse sand; thirdly, a bed 0.5 to 2 m in thickness of bituminousshale and finally the clay bed having about 0.8 to 3 m thickness. Under this last bed,again appears the bituminous shale .

In general, in these clay beds, the clay fraction averages about 80'10, ranging in some

instances as high as 95%. Fine-grained limonite, quartz, micas, small red crystals (pro­bably garnet about 1% of the total) are the constituents of the mineralogical fraction

more than 0.02 mm in diameter. There may be present other highly dispersed fine non­

clay minerals such as free AI20 g. n H20, Si02• x ~20, Fe 20g. y H20, feldspars, micas,

pyrites etc., and even quartz in some samples.

Data obtained from chemical analyses (total and rational) differential thermal ana­

lysis, determinations of exchangeable cations, pH valu es, moisture content , magnesiumcontent, dye absorption, thixotropic properties and colorrcactions, indica te these materialsconsist of bentonite clay containing montmorillonite, kaolinite and clay min eral s;

These bentonite clay are extremely plastic and show colors ranging from olive-greento slightly gray blue.

In this paper are also some considerations of problems of soil movement and slidingwhen these materials exist where roads are constructed.

Mention is also made of economic importance of these materials in virtue of theirvarious uses in differents industries.

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(j BOL. soc. BRAS. GEOL. V. 5, N. 2, 1956

RESUMO

Entre os sedimentos exis tentes no Vale do Rio Paraiba, desde os mais grosse iros

constituidos substancialmente de areia quartzitica ate os celebres sedimento s de xistosbetuminosos das regiiies de Taubate e Pind amonhangaba, encontram-se outros muito ar­gilosos constituidos de variadfssimas misturas de minerais de argila.

No pr esente trabalho sao apresentados os resultados de pesquisas Ieit as em amostras

desse mat erial essencialment e argiloso, cujas amostras foram colhidas it direi ta da Via

Dutra, nas proximidades de S. Jose dos Campo s. Essas ca mad as ar gilo sas de 0,8 a 3 mde espessur a situam-se sob tres outras, urna pr imeira de ma ter ial terroso (so lo) de 0,5 a1,20 m de espess ura, uma seg nnda de ar eia mais ou menos grossa de 3 a 5 m de es­pes sura e uma terceira de xisto betuminoso de 0,5 a 2 m de espess ura ; sob a camada

de argila cncontra-se novamenre outra de xisto he.uminoso.

Em gera l, nessas camadas de argila, a fra <;ao argila at inge cercn de 80% da massatotal, podendo atingir em alguns casos cerca de 95% . A fr a<;ao mineralogica contendo par­ticulas de didm etros maiores do que 0,02 mm e constituida essencialrnen te de granulitos

limoniticos, quartzo, mica s e cristalitos cor de vinho, qu e muito se ass ernelham a gra­nadas, os quais quando separados perfazem cerca de 1% da massa total.

Alem dos minerais de ar gila e outros referidos, podem ainda estar prescntes, outros

minerais finamente dispersos, tai s como AI20s. nH:p livre, Si02 . x H20 livre, Fe 20S' y

H20 livre , feld spatos, p ir it a, etc. e mesmo quartzo.

Segundo os dado s analiticos obtidos pela anal ise quirnica ( total e ra cionais}, ana­

li se termi ca-diferencial, de.erminacoes de troca de cat ions, ass irn como pela alt a ad sor­

<;ao de corantes, alto s teores em agua higroscopi ca, teor es em magn esio, propriedades ti ­

xotropicas int ensas, pH elevado e reacfies desse material , pode-se dizcr qu e se trata deuma arg ila bentonitica essenci almente constituida de min erais de ar gila do grupo dos

montmorilonoides, do grnpo da caulinita e do grupo da ilita.

Essa s argilas bentonit lcas sao extremam ente plastica s c sua colorucao vai des<le 0

verde azeitona ate 0 azul Iigei rarnente acinzentado.

Neste trabalho sao feita s tamhem algumas consid eracoes sobre os problemas quepod em surgir com os escorre garnentos ou deslisamentos de terreno , devidos it pre sen ca

dess e material cm solos onde sao executados cortes ou a terros para estrada s,

Sao feita s ainda algumas ref erencias it importiincia econc mica desses mat eriais, emvirtude de seus variados empregos em diferent es indus trias.

Os sedimentos ar gilosos do tercia rio do Estad o de Sao Paulo e pa rt icular­mente os do Vale do Paraiba, sao constituidos p Ol' variadiss ima mis turas deminera is de ar gila. Encontrarn-se tamb em sedimento mais gross eiros cons­tituidos essencialm ente por areia quartzitica, alem dos celebres edimen tos defolhelhos betuminosos nas regi fies de Taubate c Pindamonhangab a,

Em var ias excur 'oes rcalizadas no Vale do Para iba, enIre Mogi das Cru ­zes e Hoseiras, for am iolhidas mais de 100 amo trn de material es encial­mente argiloso, constituido pelas mai s variadas misturas dos diferentes gruposde minerais de argila .

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PAIVA NETTO E NASCIMENTO - AR GILAS BENTON iTICAS 7

Algumas amo tra s -ao cons tituidas de mais de 90% de ca ulin ita de boaqualidade. Os dais pon tes em qu e foram coletadas essas amostras contendocaulinita, estao sit uad os proximos a Via Dut ra a dir eita da estrada, (Hio­-Sao Paulo ) na altura de aD J ose dos Campos. Ne ssa regiao estavam sendoperfura dos 2 p0l<0S para forn ecim ento de agu a a resid en cia s e 0 corte apre­sentava a seg uin te seque ncia de camadas: (a) uma camada de material ter­r oso amarelo-avermelhdo, de cerca de 6 m de espessura, (b) um a camada decerc a de 0,6 m de material argiloso, inten sam ente corado de vermelho san gue,(c) uma camada d ca ulim branco levemente ro seo, de ce rca de 6 metr os despess ura e (d ) finalmen te urn leito de arcia branca ro:ada Ir iavel e gro .

seir a. Em outros pon tes aparecem camadas urgi losa s co ns tituidas em gra ndeparte de ilitas e alg uma s cama das const ituirlas de ca ulin itas ri ca em hid ra r­gil ita, etc .

Pod e-se ver lima variedade q uas e infin ita de tip os de sedime ntos, se­gundo seus const ituintes mi neral s. Completand o est a serie de variacfies, saoainda encom radas em cer to pon tes, e com ma is fr equencia entre Taubate ePindamonhangaba , ca ma rla de argila s he ntonitic as q ue, ali as, sao 0 obj eti vodesta contr ibuicao.

Provav elmente estas argilas originaram-se de prcdutos de erupcoes vul­can icas, no tim do cr etaceo. 0 m aterial foi posteriormente depositado emfund os de lagos e lagoas.

Embora n jio se teuha rn sondagen sufi rientes, nestes deposi tos, as ar­gilas lienton iticas parecem se apresen tar em forma len ticular ; sao argilasq ue most ram co loruc fio verde azeit ona, azul e muito semelhantes as argilasbentoniticas ingle as de l ulfi cld e Som ersctshire ( Figura G) ' possu em aspropriedad e gerais da argilas hent on iticas em gera l, tanto na core - comona composiciio q uimica , pH e pcrmuta cat ionica (Quad ros an a lit icos. 1, 2,3 e 4) .

Nesses sed imentos encontram-se miner ais de argila do gr upo dos mont­morilon oid cs, do grupo das ilitas e do gr upo da ca ulin ila . ao a rg ila de in­tensas propriedades co lo idais, e m ge ral, s enco ntra m entre camadas dexisto betuminoso ( Figura G) . Alem de suas propriedades coloidnis, as ami­lises quimicas e as analises len n icas diferenciais mostram as propricdadcsdos monnnorilon oid es, As Iotogrulias 1 e 2 dfio exe rnp los de esco rreg a­men los de terren o, de vidos it ex istenc ia dessa ca rnadas de argila bent oni­ticas em corte na via Dut ra , no Kill ± 135. Em gern l, nas demarcacfie deestrada s e onde devam ser abertos cortes mais ou menos profundos, devemser tornados os cuida dos necessarie s a fim de se desviar da situacao acimacitada, pais grandes pro blemas pod em advir , nfi o s6 para a estab ilizacaodo proprio corte co mo em rela cao a deslisamentos e qu anta a estab ilizacjiodo leito da estrada. Antes d o corte naturalmente devia existir um equilibr ioqu e imp cdia qua lq uer de Iisament o ; entrcta nto, depois do corte rompeu-sea eq uilihr io da s ma s as fazendo 'O lll qu e 0 sistema se tornasse instavel, 0caso citado c tipi co e apresenta um se r io problema para 0 D. N. E. R. , cu jasolucfio na tura lmen te deve exiair disp endio de co nsideravel .oma em dinheiropelo referido Departamento.

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B BOL. soc. BRAS. GEOL. V. 5, N. 2, 1956

Foi notado tambem, que os primeiros 20 - 50 em da camada bentoni­tica, se diferenciam urn pouco do restante, principalmente por possuirempropriedades coloidais ainda mais intensas. Esses 20 - 50 em agem comose fosse uma camada de graxa, de forma a facilitar ainda mais os escorrega­mentos ja referidos. As amostras Arg. 102, 121 e 122 sao representativasdessa referida camada. As dernais amostras, representam a massa total dacamada de argilas bentoniticas, indicada no esquema, mostrado peIa figura 6.

COMPOSI(:XO GRANULOMETRICA

Nas camadas de argilas bentoniticas, em geral, a "fra«ao argila" atingemais de 80% da massa total, podendo esta porcentagem, em certos casos,chegar mesmo a mais de 95/i). A parte contendo minerais cuj os diametrosmedics estao acima de 0,02 mm, e eonstituida essencialmente de granulitosIimoniticos, quartzo, micas e cristais muito pequenos cor de vinho, pare­cendo tratar-se de granadas. Em certas jazidas, a porcentagem desses pe­quenos cristais aumenta e pode-se conseguir uma separacao relativamentepura, que pode perfazer cerca de 1% da massa total. Estes mesmos cristaisja foram encontrados em outros sedimentos argilosos do terciario e geneti­camente talvez tenham se originado anteriorrnente it sedimentacao do depo­sito argiloso.

CONSTITUINTES MINERALOGICOS DA "FRA(:XO ARGILA"

Estas argilas bentoniticas do terciario do Estado de S. Paulo (como,em geral, acontece na maior parte dos depositos de argilas semelhantes co­nhecidos no mundo ] formam uma mistura bastante complexa de minerais deargila propriamente ditos, alem de outros constituintes minerais finamentedispersos. Dentre estes ultimos potlem ser citados 0 Ab03' nH~O livre, SiO~.

xH~O livre, Fe~03'yH~O livre, feldspatos, micas, pirita, e mesmo quartzo,etc., conquanto no casu presente, ao que parece, tenham contribuido compequena percentagem. As argilas bentoniticas ora em estudo, como ja foidito, apresentam em geral propriedades colo idais intensas, sao estremamenteplasticas, e sua coloracao vai desde 0 verde azeitona ate 0 azul levementeacinzentado. Quando expostas algum tempo it superficie chegam a ficar ama­reladas em vir tudc <111 oxi dacao dos compostos Ierricos e ferrosos con Lidos nomaterial. As vezes a oxi dacfio sob 0 ponto de "isla qu irnico pode nfio ser acausa de uma mudanca de coloracao, que deve ser atri buida a transforrnacoesde outra ord ern dos meSI11 0S compostos ferricos e fcrrosos, pr ovitvelmente fe­nomen os de or dem es tru tural qu e OCOITem em solucoes solidas, Isso em partedeve ser levad o a eonta ria oxida cao rla materia orgiinica contida em pequenaqu antidade nesses sedimentos qu ando em profundidade, e que exposta ao are na turalmente oxida da e destruida. Nessa reacao se opera tamhem uma des­truicao do sistema coloidal existente entre minerais e materia orgiinica, talvez,mesmo na forma de solucoes solidas e que podem variar muito de coloracaoe nuances. A questfio da cor das argilas e em alguns casos sumamente com­plexa. Na maior parte das vezes, esse problema das cores de argilas, de solosetc., e tratado de maneira bastante simplista e scm grande valor.

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PAIVA NETTO E NASCIMENTO - ARGILAS BENTON1TICAS 9

DADOS ANALfTICOS

Pelos dados analiticos, mostrados nos quadros 1, 2, 3 e 4 pode-se veri­ficar, de inicio, que estas camadas argilosas sao totalmente sui generis, quan­do comparadas as demais, encontradas em terrenos do terciario, no Estadode Sao Paulo.

Esses complexos argilosos possuem elevada capacidade de troca de ca­tions, urn indice pH, em geral, acima de 6, com excecao das amostras Arg. 102e 121, que, alias, como ja foi dito, sao uma pequena camada diferenciada damassa total e possuem elevado teor em K20 e ferro bivalente, que e interes­sante em questoes de constituicao de argila.

Em geral, os teores em 5i02 total, nesses materiais argilosos sao baixose sao reIativamente bastante solubilizados pelo acido sulfiirico concentrado, emesmo pelo acido cloridrico (Quadros 2 e 3).

E interessante notar que 0 Ti02 e totalmente solubilizado pelo acido sui­furico concentrado (Quadro 2 ), pois os teores sao os mesmos encontradosna analise quimica total (Quadro 1). 0 mesmo niio acontece com 0 acidocloridrico concentrado, pois este acido, praticamente, nao solubiliza 0 Ti02,

como pode ser observado no Quadro 3.

MINERAlS DE ARGILA

Pelas propriedades coloidais destas argilas, trocas de cations, adsorcaointensa de corantes, teores em agua higroscopica, teor em magnesio, proprie­dades tixotropicas intensas, pH eIevado, reacfies coradas e analise termica di­ferencial pode-se dizer que estes materiais sao essencialmente uma misturade minerais de argila do grupo dos montmorilonoides, das iii las e ainda dogrupo da caulinita.

As cur vas termicas diferenciais obtidas para algumas amostras parecemindicar que realmente 0 material em estudo e constituido de mistura de mine-

, I ' , ICroU5 cen(igroo'o.s

I I ' Ier

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rais de argila pertencentes aos diferentes grupos. Inicialmente, a amplitudedo primeiro pica endotermico a 105-1100 C, njio e comum em se tratandoapenas de minerais de argila do grupo da caulinita. A reacao exotermicaque se observa entre 175-450° C rnais ou meno s, e consequente da presencade urn pouco de materia organica, Entre 550-6000 C, pode-se ohservar que 0

ramo descenden te do pica endotermico ai existente se inicia ao red or de450° C, nfio produzindo portanto urn pico simetrico, podendo indicar a pre­senca de ilitas. Finalmente, pode ser observado, um pico endoterrnico a8500 C, seguido imediatamente de outro exoterrnico entre 850 e 9250 C, 0 quepode indicar a presenga de montmorilonoides.

Entre os montmorilonoides, deve estar presente, tarnhem, a nontronita,pois 0 teor em Fe20 3 ohservado (Quadro 1), deve em parte provir da redecristalina desse mineral de argila.

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PAIVA NETTO E NASCIMENTO - ARGILAS BENTONfTICAS 11

UTILIZA<;XO DAS ARGILAS BENTONtTICAS

Essas variedades de argila, parecem ser de grande importancia econo­mica, pois podem ser utilizadas com grande eficiencia na preparacao de mis­turas para moldes de fundicfio, como impermeabilizante de barregem e naimpermeabilizacao de canais para irrigacao, executados em solos permeaveis,Talvez na industria do petroleo resida sua maior importancia, seja na imper­meabilizacao de poqos, sej a como suporte de cataliticos na operacao de"cracking" nas destilarias e nas industrias quimicas etc. Podem, ainda, serutilizadas na industria de pneumaticos e como enchimento para plasticos ;

tern seu uso ainda em ceramicas e na preparacfio de tintas, etc.

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12 BOL. SOC. BRAS. GEOL. V. 5, N. 2, 1956

No momenta talvez esse material argiloso sej a con siderado, tanto sob 0

ponto de vista de facilidade de industrializacfio como sob 0 ponto de vist a

pratico, mais importante do que 0 celebre xisto betuminoso , a rneio seculo

em romance.

Quadro 1. - Composicao quimica das argilas bentoniticas

Arg. 47 99 100 101 102 121 122 126 136 139 144

Si02 42,0 44,6 47,0 43,8 44,4 48,0 46,0 45,0 43,5 45,0 40,0

A]203 22,8 23,6 21,0 22,0 25,5 20,4 19,3 20,2 18,8 21,4 20,9

Fe2 ()3 6,24 5,85 6,43 5,56 7,3 8,1 10,2 5,8 7,8 6,7 7,6

FeO 2,3 2,15 2,37 2,44 0,71 1,00 1,00 2,60 3,39 3,70 2,1sMgO 1,8 2,4 2,8 2,7 2,8 2,2 2,5 3,0 1,9 2,5 3,7

CaO 1,25 0,8 1,0 0,8 0,35 0,55 0,55 1,2 1,0 1,0 2,9

K20 3,28 3,08 2,91 2,52' 1,89 2,10 2,07 4,0 3,08 3,15 3,5

Na20 0,32 0,28 0,23 0,35 0,21 0,18 0,23 0,35 0,28 0,28 0,0

H2O' 7,4 8,4 7,2 8,25 6,4 7,75 8,1 8,3 7,75 8,15 7,9H2O- 8,7 6,2 7,1 7,8 9,2 7,4 7,9 7,8 10,4 6,1 9,3Ti0 2 1,9 1,0 0,9 0,9 0,9 1,3 1,3 1,2 0,9 1,2 1,0

P20 5 0,35 0,16 0,28 0,14 0,20 0,13 0,07 0,19 0,44 0,34 0,31MnO 0,08 0,47 0,40 0,40 0,40 0,05 0,08 0,05 0,26 0,26 tr.C 0,5 1,1 0,5 3,15 0,3 0,45 0,9 0,6 0,65 0,25 0,5

Quadro 2. - Analise racional (T ratamento do material com H2S0~ )

Arg. 47 99 100 101 102 121 122 126 136 139 144

R.I. 19,9 13,9 21,6 20,3 20,3 20,8 25,3 19,0 20,3 12,0 10,0Si0 2 29,8 36,4 29,2 29,7 29,7 30,8 26,6 28,8 26,7 37,4 33,8A120 3 18,1 17,3 15,7 19,4 19,4 16,9 16,7 17,9 16,0 17,7 16,9Fe203 7,0 7,7 7,4 6,7 6,7 7,7 7,4 7,4 9,9 9,9 8,6H2O' 7,4 8,4 7,2 8,25 6,4 7,75 8,1 8,3 7,75 8,15 7,9H2O- 8,7 6,2 7,1 7,8 9,2 7,4 7,9 7,8 10,4 6,1 9,3T i02 1,2 1,0 1,0 1,0 I,D 1,1 1,0 1,2 0,9 1,1 0,8

Quadro 3. - Analise racional (Tratamento do materia] com HC] concentrado)

Arg. 47 99 100 101 102 ]21 122 126 136 139 144

R.I. 49,0 59,4 62,4 57,3 56,1 58,4 59,6 52,1 55,6 56,4 40,0Si02 19,2 II ,7 12,7 11,2 14,0 II ,O 14,2 13,7 12,3 13,4 18.0AI20 3 8,2 7,0 3,3 5,1 7,6 5,1 5,1 6,5 6,2 7,0 7,5Fe203 6,1 6,1 5,1 5,4 5.1 5,4 4,5 6,4 6,4 6,4 6,1H2O' 7,4 8,4 7,2 8,25 6,4 7,75 8,] 8,3 7,75 8,15 7,9H2O- 8,7 6,2 7,1 7,8 9.2 7,4 7,9 7,8 10,4 6,1 9,3'rio, 0,4

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.Jig. 6

PAIVA NETTO E NASCIMENTO - ARGILAS BENTONfTICAS 13

}material terrosa (solo)

I 0,5 a 120m, 11' 1

Oreio ± grossa·3a5m

}Xisto 6e~uminoso-

-==--.- _-_ -_ 0,50 2m.-----

iiii}Orgilo benton/fica0,<90 3m

~~ } Xisto oetwninoso-

.R<!'pr~s<!'nto~aoeS9uenuitico de"urn. coree do terciario, ern 9ueooarece 0 cOl'nodo de! orgila6enton/bca .

Quadro 4. - Capacidade de troca de cations e pH

Arg.

4799

100101102121122126136139144

C. T. C.s,l rnat. seco

a 105 - 1l0DC

e.rng/l00g

29,930,129,329,648,448,240,129,627,928,023,5

pH

7,37,38,27,95,35,76,46,36,66,98,5

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Potos 1 e 2 - Terrenos do terciario, vendo-se deslisarnentos devidos as camadas deargila bentonftica e em consequencia do corte para construcao daVia Dutra.

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PAIVA NETTO E NASCIMENTO - ARGILAS BENTONfTICAS 15

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Campinas, novembro de 1955