15
DE JATOBÁ A PETROLÂNDIA Três Nomes, Uma Cidade, Um Povo.

DE JATOBÁ A PETROLÂNDIA - PerSe · vinte e cinco annos, aos treze dias do Mez de Novembro do dito anno no Tacaratu, termo da Capitania do Ararobá, em cazas ahonde assistia o juiz

  • Upload
    letruc

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

DE JATOBÁ A PETROLÂNDIA Três Nomes, Uma Cidade, Um Povo.

GILBERTO DE MENEZES

DE JATOBÁ A PETROLÂNDIA Três Nomes, Uma Cidade, Um Povo

1ª Edição – 2014

São Paulo-SP

Ficha Técnica/Colaboradores:

Revisão de texto: Isaura Leite

Edição, diagramação e montagem de capa: José Isidio

Preparação: Paula Francinete Rubens Menezes

ÍNDICE

Prefácio

CAPÍTULO 1

História do Município

...........................................................................................................13

1.1. O Bebedouro–Brejo da Taboa

...........................................................................................................16

CAPÍTULO 2

Jatobá de Tacaratu

.............................................................................................................19

2.1. A Ferrovia Impulsiona a Economia de Jatobá

.............................................................................................................19

2.2. Plano de Construção da Cidade de Jatobá

.............................................................................................................21

2.3. O cais

.............................................................................................................25

2.4. A Estrada de Ferro Paulo Afonso

.............................................................................................................26

2.5. Primeira Tentativa de Industrialização: Sociedade Minas Carboní-

feras de Jatobá

.............................................................................................................31

2.6. O Comércio

.............................................................................................................34

2.7. Virgolino Ferreira Da Silva (Lampião) em Jatobá

.............................................................................................................42

2.8. Cachoeira de Itaparica - Tentativas de Aproveitamento: Brandão

Cavalcante & Cia Ltda. – Cia. Agropastoril do São Francisco

.............................................................................................................48

CAPÍTULO 3

Itaparica

3.1. Vida Nova, Novos Costumes - A Inspetoria Federal de Obras

Contra As Secas – I.F.O.C.S

.............................................................................................................52

CAPÍTULO 4

Petrolândia e o Desenvolvimento

4.1. Núcleo Colonial Agro Industrial Do São Francisco

............................................................................................................60

4.2. Chegada da Chesf em Petrolândia

.............................................................................................................69

4.3. Novo Comércio

.............................................................................................................74

CAPÍTULO 5

Educação: De Jatobá a Petrolândia

5.1. O Ensino em Jatobá de Tacaratu nos anos 30

.............................................................................................................81

5.2. Ginásio Municipal de Petrolândia

.............................................................................................................96

5.3. Implantação do Colégio Comercial São Francisco.

...........................................................................................................105

5.4. Reflexos da chegada da Chesf na Educação em Petrolândia

...........................................................................................................108

5.5. Escola de Jatobá – Primeira Escola Estadual

...........................................................................................................110

5.6. Petrolândia e a Educação no seu centenário

...........................................................................................................115

CAPÍTULO 6

Vida Religiosa

6.1. Paróquia de Nossa Senhora da Saúde

...........................................................................................................116

6.2. Igreja de São Francisco de Assis

...........................................................................................................121

6.3. As Festas Religiosas

...........................................................................................................125

6.4. Paróquia S. Francisco De Assis

...........................................................................................................127

6.5. Coral Vozes do São Francisco

...........................................................................................................129

6.6. O Padre Cristiano Mufler e a CHESF

...........................................................................................................130

CAPÍTULO 7

História Política ..............................................................................132

7.1. Prefeitos de Jatobá de Tacaratu

...........................................................................................................133

7.2. Prefeitos de Itaparica

...........................................................................................................133

7.3. Prefeitos de Petrolândia

...........................................................................................................133

CAPÍTULO 8

Histórias da Nossa Gente

- Figuras Eminentes que Fizeram Petrolândia

8.1. Personagem de destaque:

...........................................................................................................136

- Aureliano Gomes de Menezes

...........................................................................................................136

- Aureliano de Menezes Lima

...........................................................................................................140

- Expedito Epifânio

...........................................................................................................141

- Hildebrando Gomes de Menezes

,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,142

- João da Silva Leal

...........................................................................................................147

- José Martins Souto

...........................................................................................................149

- Manoel Beatino dos Santos

...........................................................................................................150

- Manoel da Cruz do Nascimento

...........................................................................................................152

- Maria Francisca da Conceição (Mãe Mocinha)

...........................................................................................................154

- Sabino Gomes da Costa

...........................................................................................................156

8.2. Personagens Especiais

...........................................................................................................157

- Pedro Doido

- Almirante, Otávio, Dunalva e Lampiona

- Um Especial Poderoso

CAPÍTULO 9

Poesias ...........................................................................................................162

- O Travessão

- O Carro da Hora

- Saudades de Barreira

- Lembranças do Passado

- Surge Outra Cidade

CRONOLOGIA

...........................................................................................................170

ANEXOS

...........................................................................................................174

BIBLIOGRAFIA

...........................................................................................................192

FOTOS

...........................................................................................................193

O AUTOR

...........................................................................................................208

PREFÁCIO

Ao ser incumbido de fazer o prefácio do magnífico trabalho do prof.

Gilberto de Menezes, me senti, não só honrado, mas com uma sensação de

reverência por estar representando uma obra de tamanha envergadura. O

autor de “DE JATOBÁ À PETROLÂNDIA- Três nomes, uma cidade,

um povo ” foi meu professor de História Geral, Francês e Técnica de Con-

tabilidade. Considero-me, portanto, ao fazer esta introdução, como um vas-

salo, um arauto, que vai adiante do seu mestre para anuncia-lo.

O professor Gilberto, com seu jeito aparentemente tímido, falando

pouco e em voz baixa, revela-se um profundo observador dos fatos ocorri-

dos em Petrolândia e seus arredores, fatos que, com certeza, passaram des-

percebidos à maioria dos moradores da região, sendo ele detentor de conhe-

cimentos que nos enriquecem, com valor de relíquia inestimável. Com este

belo trabalho ele demonstra ser não apenas um professor de História, não

apenas o Contador das empresas comerciais de Petrolândia, mas um histori-

ador, um escritor, talvez nunca antes reconhecido. Com clareza, com com-

provação documental, citando publicações dos veículos de comunicação da

época, leis e decretos, o nosso querido professor descreve o surgimento e o

desenvolvimento, altos e baixos, acontecimentos sociais, políticos e cultu-

rais da cidade e do povo petrolandense.

Começando por Tacaratu, vai alinhavando os detalhes históricos que

deram origem a Jatobá, Itaparica e depois Petrolândia, citando a visita do

imperador Pedro II a essa região, e os benefícios advindos da estrada de

ferro e do cais.

É digna de nota a referência sobre a dimensão das ruas (na velha Pe-

trolândia), largas, obedecendo a um projeto que, na linguagem do professor,

“devia fazer corar de vergonha os engenheiros da CHESF que planejaram

cidades com ruas de quatro e seis metros de largura para substituírem as que

foram inundadas pelas águas de suas barragens”.

Para quem esqueceu, ou deseja relembrar, reavivando a memória, o

autor cita, minuciosamente, estabelecimentos como: lojas de grande porte,

bodegas, padarias, discotecas, escolas, bares e barbearias, citando os nomes

de seus respectivos donos. É uma riqueza de detalhes que faz com que qual-

quer filho de Petrolândia se emocione viajando no tempo para se encontrar

em locais que lhe eram tão familiares.

Retrata com imparcialidade o ataque de Lampião a Petrolândia (na

época Jatobá), descrevendo os momentos de angústia e tensão pelo seques-

tro do Cel. Aureliano de Menezes (o pai Lero), cuja vida foi salva pela cora-

josa intervenção de sua neta.

Outro tema extensivamente abordado é o da educação, quando relem-

bra, ainda na então Itaparica, a Semana Ruralista, promovida pela Compa-

nhia Agrícola e Pastoril do S. Francisco em julho de 1935, com notáveis

resultados na educação das crianças, e o seu retrocesso com o surgimento do

Estado Novo em 1937. Enfatiza a criação dos estabelecimentos de ensino, e

a dedicação dos professores da época; o importantíssimo papel do jornalista

Hildebrando Gomes de Menezes, seu pai, no progresso cultural, social e

político de Jatobá e Petrolândia.

Concluindo, para não tomar aqui demasiado espaço, a obra do profes-

sor Gilberto Menezes é um verdadeiro glossário onde encontramos todas as

informações sobre a origem, fases e desenvolvimento de nossa amada cida-

de. Nenhum filho dessa terra, naturalizado, ou amigo, deve deixar de ler este

valioso documento histórico.

Parabéns, professor Gilberto, pelo seu excelente trabalho!

*José Isidio da Silva.

*Autor de “A Serra e o Rio”, “A Cidade das Rosas”, “Lago da Solidão” e „Heróis

Desconhecidos”.

“São as nossas memórias coletivas como povo, como comunidade, que nos

definem e que nos enobrecem.”

Roberto de Mesquita

Gilberto de Menezes De Jatobá a Petrolândia – Três Nomes, Uma Cidade, Um Povo

- 13 -

CAPÍTULO 1

HISTÓRIA DO MUNICÍPIO

Descoberto o Brasil em 1500 o Rei de Portugal determinou uma série

de expedições, a primeira das quais em 1501 visando o reconhecimento da

nova terra e o que dela poderia obter de imediato sem grandes gastos para o

erário real. Pero Vaz de Caminha já mencionara em sua carta a existência

de “infinitas matas de pau-brasil e cana-fístula”, madeiras de grande valor

na época, principalmente a primeira por ser fonte da tinta vermelha de largo

uso nas vestes reais. Tanto que o rei declarou de logo a exploração do pau-

brasil monopólio da Coroa.

A expedição de 1501 cumpriu sua missão de conhecer o território, dar

nome ao que ia descobrindo ter o primeiro contato com os silvícolas que

habitavam a região. Sua descoberta mais importante para o futuro da colô-

nia foi a de um grande rio a quem deram o nome de S. Francisco por ter sido

encontrado no dia dedicado a S. Francisco de Assis.

Quando a colonização tornou-se mais efetiva com a divisão da colônia

em capitanias hereditárias e depois a tentativa de unificação com o estabele-

cimento dos governos gerais, quando os engenhos de açúcar criaram a aris-

tocracia rural, colonos sem recursos para montar um engenho, mas indepen-

dentes o bastante para não trabalharem alugados encontraram duas opções

de sobrevivência: os mais impetuosos e ousados se organizaram em grupos

dedicados à preação de índios para vendê-los como escravos aos senhores

de engenho: outros, já com famílias constituídas, mais ponderadas, optaram

pela criação de gado que lhes garantia um trabalho mais estável e a certeza

de um futuro construído de maneira mais vagarosa, porém segura.

As margens do rio São Francisco marcaram o inicio da criação de ga-

do no Brasil. Essas terras, em uma extensão de 100 léguas, foram doadas

pelo Rei de Portugal a Garcia D‟Ávila, da alta nobreza portuguesa, Senhor

da Casa da Torre, que concedia lotes a quem quisesse explorá-los.

E assim foram surgindo as primeiras povoações, algumas com o nome

sugestivo da atividade dos habitantes, como foi o caso de Curral dos Bois,

hoje Glória. Mas o que interessa mais de perto ao nosso estudo é uma regi-

Gilberto de Menezes De Jatobá a Petrolândia – Três Nomes, Uma Cidade, Um Povo

- 14 -

ão acidentada com serra, vales, colinas e brejos que por isso mesmo foi bati-

zada pelos seus primeiros habitantes com o nome de Tacaratu, na língua

kariri, “Serras de muitas Pontas ou Cabeços” (cabeços=cume que tem forma

redonda).

Em um dos seus brejos surgiu um aldeamento dos índios da tribo Pan-

kararu que em virtude dos padres que lhes davam assistência recebeu o no-

me de Brejo dos Padres.

No alto da serra de Tacaratu surgiu a povoação do mesmo nome. Não

há documentos com data exata de sua fundação, mas podemos afirmar que

ocorreu no século XVII tendo em vista a Carta Régia de 20 de janeiro de

1699 que criou no sertão alguns distritos judiciários sob a forma de julgado,

entre os quais o da Capitania de Ararobá com jurisdição sobre a região de

Tacaratu.

Do progresso da povoação diz bem o fato da existência no 2º Cartório

de Garanhuns dos autos de uma questão em 1725 no qual se vê que já na-

quele ano havia um Juiz

Ordinário na Folha Bran-

ca. Vale a pena transcre-

ver esse Auto na ortogra-

fia da época:

“Auto de crel-

la (querela) que dá

o Capitam-Mor

Francisco da Cunha Soares de André Pereira Fontes. Ano do

nascimento de nosso senhor Jezus Christio de mil e sete centos e

vinte e cinco annos, aos treze dias do Mez de Novembro do dito

anno no Tacaratu, termo da Capitania do Ararobá, em cazas

ahonde assistia o juiz ordinario, na folha branca, ahy apareceu

perhante o dito juiz ordinario, o Capitam Manoel Leite da

Sylva, o Capitam-Mor Francisco da Cunha Soares com sua pe-

tiçam por escrito dizendo nella: Senhor Juiz Ordinário.

Diz o Capitam-Mor Francisco da Cunha Soares que elle

quer crellar de André Pereyra Fontes pera hante as justiças de

Sua Magestade desta Capitania do Ararobá e a razão de sua

Crella que he que sendo o suplicado morador no Tacaratu, no

citio da Gamellera, e tendo ahi o suplicante na forma do extillo

aprezento as testimunhas Sylva, Manoel Lopes, homem cazado

que vive de criar gados, morador no citio da Alagoa, termo da

Gilberto de Menezes De Jatobá a Petrolândia – Três Nomes, Uma Cidade, Um Povo

- 15 -

Capitania do Ararobá, de idade que disse ser de corenta e dous

annos pouco mais ou menos, testemunha jurada aos santos

Evangelhos em que poz a sua mão dyreita e prometeu dizer

verdade do que lhe fosse perguntado.

E perguntado a elle testimunha, pello contheudo no auto

da crela (querela) disse que elle testemunha, sendo criador dos

gados do Capitam-Mor Francisco Cunha e vindo em hua oca-

zião pella Gamellera, ahonde hera morador André Pereyra

Fontes...

Joam Coelho Barboza, homem cazado, vive de sua agen-

cia, morador no Tacaycó, de idade que disse ser de vinte e sinco

annos pouco mais ou menos, testimunha jurada... Joachim Pe-

reyra, homem cazado, morador no Tacaratu, que vive do seu

oficio de ferreiro, de idade que disse ser de vinte e seis annos

pouco mais ou menos... Aos quinze dias do Mez de Novembro de

mil e sete centos e vinte e cinco annos fiz estes autos de Crella

concluzos ao Juiz Ordinário, o Capitam-Mor Manoel Leite da

Sylva para os ver e determinar como lhe parecer justiça do que

fiz este termo e eu, Paulo Ferreyra Pacheco, escrivam o escrevi.

Permencio A prizão André Pra Fontes e se faça surresto em

seus bens... que produz dos ditos das testemunhas della e o es-

crivam pase as ordenis neceçaria para subir ditas digcia Taca-

ratu. 14 de dezembro de 1725. Manoel Leite da Sylva” (Livro

11, fls. 60 – 2º Cartório de Garanhuns).

Isso mostra que já nessa época a povoação de Tacaratu estava em

franco desenvolvimento tanto que em 1761, atendendo ao pedido da popula-

ção o Bispo D. Francisco Xavier Aranha a elevou a categoria de Freguesia a

qual somente foi instalada em 1764 em virtude das reformas efetuadas em

uma velha capela dedicada a Nossa Senhora da Saúde para adequá-la à nova

condição de Matriz. Em 16 de junho de 1849 a Lei Provincial 248 elevou

Tacaratu a Vila e fê-la sede do termo de Floresta que então compreendia as

freguesias de Fazenda Grande e Tacaratu. E em 13 de maio de 1854 a Lei nº

345 tornou a Vila de Tacaratu sede da comarca do mesmo nome.