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Waldivino Gomes Firmino Universidade Estadual de Goiás/Câmpus Pires do Rio [email protected] Priscila Gomes Martins Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão [email protected] DE ONDE PARTIRAM, POR ONDE ANDARAM: A TRAJETÓRIA DOS TRABALHADORES DO ASSENTAMENTO OLGA BENÁRIO EM IPAMERI (GO) INTRODUÇÃO Este artigo evidencia alguns elementos da pesquisa desenvolvida no Assentamento Olga Benário em Ipameri (GO), no intuito de entender a trajetória que os trabalhadores do Assentamento percorreram em busca da terra para viver e trabalhar. Consiste no resgate da memória camponesa que, após longo período de “andanças”, estão de posse da terra. A questão agrária no Brasil é marcada por violências contra os trabalhadores do campo que expropriados estão sempre migrando em busca da terra. Procura apresentar os resultados da pesquisa realizada acerca dos camponeses do Assentamento Olga Benário, localizado no município de Ipameri (GO), no Sudeste Goiano. Aborda caminhos percorridos pelos então sem-terra até o Assentamento. Procura resgatar a memória de trabalhadores que, após longo período de andanças, tomaram posse da terra. Durante a permanência em acampamentos, homens, mulheres, crianças, todos viveram momentos de incertezas, frustrações, medo, angústias, além de constantes discriminações. O Assentamento Olga Benário foi criado a partir da desapropriação da Fazenda Ouro Verde, com área total de 4.322 ha. O decreto de desapropriação é datado do dia 11

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Waldivino Gomes Firmino

Universidade Estadual de Goiás/Câmpus Pires do Rio

[email protected]

Priscila Gomes Martins

Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão

[email protected]

DE ONDE PARTIRAM, POR ONDE ANDARAM: A TRAJETÓRIA DOS

TRABALHADORES DO ASSENTAMENTO OLGA BENÁRIO EM IPAMERI

(GO)

INTRODUÇÃO

Este artigo evidencia alguns elementos da pesquisa desenvolvida no

Assentamento Olga Benário em Ipameri (GO), no intuito de entender a trajetória que os

trabalhadores do Assentamento percorreram em busca da terra para viver e trabalhar.

Consiste no resgate da memória camponesa que, após longo período de “andanças”,

estão de posse da terra. A questão agrária no Brasil é marcada por violências contra os

trabalhadores do campo que expropriados estão sempre migrando em busca da terra.

Procura apresentar os resultados da pesquisa realizada acerca dos camponeses do

Assentamento Olga Benário, localizado no município de Ipameri (GO), no Sudeste

Goiano. Aborda caminhos percorridos pelos então sem-terra até o Assentamento.

Procura resgatar a memória de trabalhadores que, após longo período de “andanças”,

tomaram posse da terra. Durante a permanência em acampamentos, homens, mulheres,

crianças, todos viveram momentos de incertezas, frustrações, medo, angústias, além de

constantes discriminações.

O Assentamento Olga Benário foi criado a partir da desapropriação da Fazenda

Ouro Verde, com área total de 4.322 ha. O decreto de desapropriação é datado do dia 11

de agosto de 2004, a imissão de posse se deu em 22 de julho de 2005 e a criação oficial

ocorreu em 09 de agosto de 2005, de acordo com o Plano de Desenvolvimento do

Assentamento Olga Benário (PDA-2006/7). Documento elaborado pelo Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA), nos anos de 2006/7. O Assentamento está localizado a 211 km da

capital do Estado de Goiás e 11 km da cidade de Ipameri, à margem esquerda da GO

213, sentido Ipameri (GO) - Campo Alegre de Goiás (GO). É composto por oitenta e

cinco famílias. A maioria dos assentados é oriunda do estado de Goiás e viviam em

acampamentos até chegarem ao Assentamento Olga Benário, em Ipameri (GO). Foram

vários anos vivendo em acampamentos. Aqueles camponeses lutaram pela terra, mesmo

sendo terra distante daquelas onde viviam com seus familiares e de onde foram expulsos

um dia. É nesta direção que se procurou abordar e conhecer a trajetória dos sujeitos

desta pesquisa.

O objetivo deste estudo é compreender o modo de vida itinerante daqueles

sujeitos enquanto perambulavam por vários acampamentos até chegarem à terra onde

estão assentados. Para a realização da pesquisa de campo ouviu-se trinta e sete sujeitos

maiores de idade de ambos os sexos. Os trabalhadores abordados na pesquisa são

aqueles que saíram do campo e mesmo após vários anos vivendo nas cidades ainda

mantém viva a memória da terra. (BOSI, 2003).

A metodologia utilizada foi o trabalho de campo instrumentalizado com

referencial teórico. Numa pesquisa a metodologia ou os procedimentos metodológicos

assumem um papel importante, pois irão direcionar o trabalho do pesquisador rumo aos

objetivos propostos. Para a realização da pesquisa foram consultadas várias

bibliografias. Entre outras, destacam-se: (Bosi, 2003), (Fernandes, 2000), (Marques,

2000, 2008), (Martins, 2003), (Mesquita, 2001, 2011), (Oliveira, 1990, 1991).

Os camponeses do Assentamento Olga Benário em Ipameri, em sua maioria,

viviam em cidades do estado de Goiás. Muitos vieram de outros estados em busca da

terra para trabalhar. Alguns viviam nas cidades, realizavam trabalhos temporários como

diaristas, ajudantes, motoristas, pedreiros, zeladores de prédio, jardineiros e outros.

Vários trabalhadores disseram que se viam na condição de sobrantes, como menciona

Marques (2008). Alguns assentados afirmaram, mesmo após a posse da terra, ainda se

sentem esquecidos. Sabe-se que não se enquadram na condição de sobrantes, pois já

estão de posse da terra, porém ainda não têm condições de auferir renda suficiente para

atender às suas necessidades, inclusive de alimentos.

Na participação em movimentos sociais que lutam pela terra está incluída a

mobilidade no espaço geográfico. Em certas ocasiões, por questões estratégicas, dois ou

mais acampamentos se fundem e assim os camponeses vão se movimentando. Os

acampamentos dos quais faziam parte, os hoje assentados do Olga Benário,

localizavam-se às margens de rodovias e em áreas públicas.

Para chegar à terra a luta não pode ser individual, por isso os trabalhadores se

organizam em movimentos sociais. “O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra

(MST) tem feito da luta pela terra uma bandeira de defesa e de conquista da reforma

agrária” (OLIVEIRA, 1991, p. 15). O autor fala da luta pela terra a partir da

organização de movimentos sociais e diz que “os acampamentos são verdadeiras escolas

onde se discute a necessidade da produção coletiva nos assentamentos” (OLIVEIRA,

1991, p. 15).

Os assentados do Olga Benário em Ipameri (GO) partiram de lugares diferentes,

não se conheciam, e nos acampamentos construíram teias de relações sociais que se

estenderam ao Assentamento. Muitos partiram e percorreram caminhos diferentes até se

encontrarem no mesmo lugar, no Assentamento Olga Benário em Ipameri (GO). Para a

realização da pesquisa foram entrevistados trinta e sete trabalhadores de ambos os

sexos, representando 44% do total de assentados, destes trinta e seis tiveram a

participação em acampamentos em vários municípios do estado de Goiás, apenas um

trabalhador ingressou no Assentamento com sua família sem ter experimentado a vida

itinerante pelos acampamentos. Muitos afirmaram ter percorrido vários acampamentos

no estado de Goiás. Os acampamentos pelos quais os trabalhadores camponeses

passaram são: Dom Elder, em Itaberaí, Canudos no município de Varjão, Chico Mendes

em Niquelândia, Dorcelina Folador, no município de Santa Helena de Goiás, Pequena

Vanessa, em Piracanjuba, João do Vale, no município de Caldas Novas, próximo ao Rio

Corumbá, Anita Mantuano, no município de Ipameri, Roseli Nunes, em Jussara e o

acampamento Antônio Conselheiro, no município de Catalão, todos no Estado de Goiás,

(Mapa 01). Alguns camponeses estiveram em mais de um acampamento. Estiveram

sempre em movimento participando das atividades desenvolvidas em cada

acampamento, como será apresentado a seguir.

OS CAMINHOS DOS ITINERANTES ATÉ O ASSENTAMENTO OLGA

BENÁRIO EM IPAMERI (GO)

Neste tópico são discutidos os resultados obtidos a partir da pesquisa de campo,

na qual foram feitas entrevistas com os assentados que trata de itens relacionados à

trajetória das famílias em busca da terra.

Várias famílias afirmaram ter vivido em condições precárias às margens das

rodovias, bem como no pátio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA), em Goiânia, na segunda metade do ano de 2004 e início de 2005, momento

que antecedeu o Pré-assentamento em Ipameri (GO). Os acampamentos e em especial

àquele organizado nas dependências externas do Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA) se constitui em uma forma de pressionar o governo para

apressar o processo de assentamento dos trabalhadores na Fazenda Ouro Verde, em

Ipameri (GO).

Para facilitar a compreensão dos resultados da pesquisa, os itinerários dos trinta

e sete entrevistados foram ordenados em nove grupos, o que permite maior clareza dos

caminhos percorridos pelos camponeses.

Um grupo formado por nove trabalhadores esteve acampado no município de

Itaberaí (GO), no Acampamento Dom Helder. Alguns trabalhadores permaneceram

naquele lugar por cerca de dois anos, em 2004, seguiram para Goiânia, permanecendo

quase oito meses acampados no pátio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA). Após esse período, deslocaram-se para Ipameri, onde acamparam às

margens da GO 213 na entrada da Fazenda Ouro Verde. Outro grupo composto por três

trabalhadores saiu do município de Santa Helena de Goiás (GO), do Acampamento

Dorcelina Folador, e partiu rumo ao município de Catalão (GO), juntando-se aos

trabalhadores do acampamento Antônio Conselheiro. Após algum tempo, em 2004,

seguiram para Ipameri (GO) para juntar-se aos companheiros que estavam acampados

em frente à referida Fazenda Ouro Verde. Dois camponeses saíram do município de

Niquelândia (GO), do Acampamento Chico Mendes e deslocaram-se diretamente para

Ipameri. Enquanto outros três trabalhadores que estavam no Acampamento Pequena

Vanessa, em Piracanjuba (GO), após algum tempo, também seguiram para o município

de Ipameri se juntando ao grupo que já estava naquele lugar. No município de Jussara

(GO), um grupo composto por sete trabalhadores estava acampados naquele lugar a

aproximadamente quatro anos. Foram para Goiânia (GO), para se juntarem aos

companheiros que já estavam no pátio do INCRA. Outro grupo formado por quatro

camponeses esteve acampado no município de Caldas Novas (GO), próximo ao Rio

Corumbá, no Acampamento João do Vale e deslocou-se para o Acampamento Antônio

Conselheiro, no município de Catalão, permanecendo até 2004. Após esse tempo, os

componentes do acampamento Antônio Conselheiro seguiram para Ipameri. Outros dois

camponeses saíram do município de Itumbiara (GO) e vieram para o Acampamento em

Ipameri. Dois camponeses seguiram caminho vindo do município de Jaupaci (GO) para

acampar em Ipameri. Eles permaneceram mais de seis meses no acampamento em

frente à Fazenda. Apenas um camponês, entre os entrevistados, percorreu o caminho

saindo de Bela Vista de Goiás em direção a Goiânia para acampar no pátio do Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), seguindo, após algum tempo,

para o município de Ipameri, portanto, não participou de acampamentos no campo. O

assentado disse que sempre foi um sonho ter a própria terra para viver e trabalhar. Outro

grupo formado por quatro trabalhadores acampou no município de Ipameri, no

Acampamento Anita Mantuano, às margens da GO-330, entre Urutaí (GO) e Ipameri

(GO). Esse grupo não percorreu outros acampamentos, mas participou de ocupações e

marchas, juntamente com outros camponeses. Nove trabalhadores que compõe os

grupos já citados partiram de sete estados diferentes em várias regiões brasileiras. Eles

vieram para Goiás e se juntaram aos companheiros de luta no Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O mapa 01 a seguir, apresenta os municípios goianos com destaque para os

acampamentos onde os trabalhadores estiveram com suas famílias antes de conquistar a

terra em Ipameri. Alguns municípios estão evidenciados no mapa, no entanto, não

foram citados enquanto lugar de acampamento, pois são cidades de origem de vários

trabalhadores que se juntaram com outros grupos em outros municípios com intuito de

lutar pela terra.

Muitos camponeses passaram por mais de um acampamento até a chegada à

Fazenda Ouro Verde em Ipameri. O tempo de permanência nos acampamentos por onde

andaram também é variável. Não foi possível obter registros fotográficos de todos os

acampamentos, por essa razão optou-se apresentar apenas o mapa dos itinerários que

pode ser observado a seguir.

Mapa 01: Goiás - municípios onde as famílias dos trabalhadores estiveram antes de serem assentadas no

Olga Benário em Ipameri (GO).

Fonte: FIRMINO (2012).

Os municípios de Rio verde, Itumbiara, Varjão e Bela Vista de Goiás, todos

pertencentes ao estado de Goiás estão destacados no mapa 01, no entanto serviram de

ponto de partida de vários trabalhadores que seguiram em direção a outros

acampamentos também no interior do estado.

Foram entrevistadas vinte e três pessoas do sexo masculino e quatorze do sexo

feminino, no período de abril a dezembro de 2012. Todos são maiores de idade e foram

escolhidos de forma aleatória no Assentamento. As histórias de luta dos camponeses do

Olga Benário pela terra se repetem em todo o país com o mesmo final, ou não, são

depoimentos de trabalhadores que viveram em acampamentos, morando de forma

precária aguardando decisões dos órgãos competentes para realizar o assentamento de

suas famílias.

Enquanto uns vão, outros vêm, é dessa forma que eles diziam, quando estavam

sendo entrevistados. Em média, eles permaneceram por três anos acampados, no

entanto, alguns afirmaram ter permanecido durante oito anos e passado por vários

acampamentos o que comprova os resultados da pesquisa. Além da permanência em

acampamentos, os assentados afirmaram ter ocupado prédios públicos como o Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em Goiânia. Isso, segundo os

assentados, ocorre para pressionar o governo para apressar o processo de desapropriação

e liberação da área para o assentamento definitivo. Como diz Fernandes (2000), o

acampamento é um espaço de luta e resistência.

Na mesma direção, Fernandes (2000), diz que, se tornar sem-terra é mais que

tentar superar a condição de excluído da terra, é possuir o sentido de pertencimento e

identidade com a terra, mesmo que para isso seja preciso caminhar e lutar por terras,

mesmo que sejam distantes.

MAIS ALGUNS ASPECTOS DA LUTA PELA TERRA

A pesquisa mostra alguns aspectos do processo de desterritorialização e

reterritorialização dos camponeses em Goiás. É o que ocorre no país com relação ao

“vai e vem” dos trabalhadores em busca de terra como meio de sobrevivência e isso não

é uma exclusividade de nossos tempos como sinaliza Oliveira (1990). O autor assinala

elementos que confirmam a ineficácia da legislação brasileira com relação à questão

agrária.

O trabalhador que se aventura a ingressar em acampamentos e lutar pela terra,

carrega consigo as experiências adquiridas ao longo da vida. Marques (2000), diz que

após o ingresso em um acampamento de sem-terra, os trabalhadores incorporam saberes

que são partilhados pelo grupo, tornando-os sujeitos recíprocos e predispostos à troca de

experiências.

Para os assentados do Olga Benário em Ipameri, a vida ensinou, de forma dura o

que é participar por algum tempo de acampamentos. Fernandes (2012) ressalta que:

“Estar no acampamento é resultado de decisões difíceis tomadas com base nos desejos

e interesses de quem quer transformar a realidade”. (FERNANDES, 2012, p. 21).

Martins (2003) é mais incisivo ao dizer que o acampamento é a experiência do nada,

representa também a dissocialização dos acampados e outros elementos que nucleia

parte da sociedade pobre que luta por um pedaço de chão. As respostas aos

questionamentos desta pesquisa mostram indícios que comprovam o que os autores

afirmaram acerca dos acampados, no entanto, é preciso considerar os resultados do

trabalho de campo. É através das pesquisas de campo que as questões/contradições

exteriorizam-se.

Ipameri ainda não havia presenciado uma movimentação de trabalhadores como

aquela que estava acontecendo com a chegada dos sem-terra no município. Noticiou que

alguns fazendeiros da região se sentiram incomodados com aquela agitação e chegaram

a ameaçar os sem-terra. Segundo eles chegaram a correr risco de morte. Só não

aconteceu uma tragédia porque houve interferência da Comissão Pastoral da Terra

(CPT). Para surpresa, soube-se depois que quem avisou aos agentes da CPT foi um

fazendeiro, diferente dos demais que se sentiram incomodados e se mobilizaram contra

os sem-terra. Um confronto com a polícia ou jagunços ou com os dois pode ser muito

trágico para os trabalhadores. Temos alguns exemplos destes confrontos como são os

casos de Eldorado dos Carajás, no estado do Pará e o massacre de Corumbiara em

Rondônia, (MESQUITA, 2001) e (MESQUITA, 2011). A autora lembra que, uma

violência desse tipo contra trabalhadores sempre antecedeu outra.

Os trabalhadores, depois de terem vagado de um acampamento para outro e por

várias cidades, chegaram à fazenda Ouro Verde, área que o Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária (INCRA) já estava negociando a compra com o

proprietário. Como ainda não poderiam adentrar à fazenda ficaram acampados na área

em frente à sua entrada às margens da rodovia GO 213. De acordo com Marques

(2000), os camponeses naquelas condições eram considerados “posseiros do INCRA”,

afinal aquele era um acampamento “permitido”.

Após autorizados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA) para adentrarem à Fazenda Ouro Verde, em abril de 2005, os trabalhadores

acamparam na área da Fazenda, eles denominaram aquele momento de Pré-

Assentamento onde se organizaram em barracos de lona por quase um ano. Mesmo após

o parcelamento da terra muitos assentados permaneceram no Pré-Assentamento por

falta de condições financeiras para construir as próprias casas. Nos dizeres de Marques

(2000), os assentados do Olga Benário naquele momento foram posseiros do INCRA

dentro da própria área a ser desapropriada, uma condição de uma “invasão” consentida e

quase institucionalizada. De acordo com a autora, o camponês de posse de “sua terra”

sabe mobilizar um saber para lidar com o incerto como se fosse algo permanente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa possibilitou conhecer o Assentamento Olga Benário em Ipameri

(GO), onde vivem atualmente oitenta e cinco famílias. Alguns camponeses vieram de

outros estados brasileiros, são trabalhadores que viveram vários anos às margens das

rodovias em acampamentos organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST), à espera da terra “prometida”.

O processo de luta pela terra é marcado por incertezas, angústias, medo, no

entanto, a luta continua após a posse da terra, agora por falta de recursos financeiros

para que os sujeitos possam produzir, mesmo que seja para o autoconsumo. Segundo

depoimentos dos assentados do Olga Benário, a assistência técnica no Assentamento

ainda é algo incipiente e isso dificulta inclusive a permanência dos trabalhadores no

campo. A construção de um Assentamento, assim como a manutenção do mesmo,

demanda políticas socioeconômicas que garantam infraestrutura adequada, de forma

que se possa trabalhar e colher os frutos do trabalho.

Pesquisar o Assentamento Olga Benário possibilitou além do conhecimento

daquilo que se propôs nesta pesquisa, construir laços de amizades e afetividade com

muitos trabalhadores. Estudar a trajetória dos assentados do Olga Benário desvelou o

quanto são justas e necessárias todas as lutas por transformações socioeconômicas,

especialmente as lutas pela reforma agrária.

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