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1 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos? De que nova Lei do Petróleo precisamos? Razões para mudar e conteúdo necessário da mudança Normando Rodrigues Os movimentos sociais debatem a necessidade de uma nova legislação do petróleo, e o envolvimento da sociedade tende a ganhar dimensões proporcionais à importância das jazidas da camada geológica do Pré-sal, a maior descoberta dos últimos trinta anos, capaz de tornar o Brasil o maior detentor de reservas do Planeta. Intencionalmente resistindo às provocações neoliberais – empreendidas na insustentável linha do “porque mudar algo que está dando certo?”, e resultantes de abissal ignorância, de abjeta má fé, ou da abominável combinação de ambas -, o sentido de nossa contribuição é o de favorecer a compreensão do conteúdo do projeto de lei apresentado pelos movimentos sociais ao Congresso Nacional, a partir da lembrança das demandas sociais da população brasileira, e dos aspectos estratégicos implicados. Um cuidado preliminar, que fica aqui como advertência também aos setores do movimento social, é o de se evitar a doença conhecida como “potência jurídica”, da qual comumente padecem os estudantes de direito, e mais raramente juízes, definida como a sensação de poder mudar o mundo a partir da formulação de projetos, da promulgação de leis, ou com decisões judiciais. Um novo direito, sobretudo um novo direito com tanta importância para a sociedade, é sempre o produto da disputa entre interesses diversos de classes sociais opostas. Disputa que se dá não apenas no decorrer do processo legislativo, quando da redação da lei, mas também ao longo de toda a sua vigência, nos momentos de interpretação e aplicação à realidade concreta. Além disso, tratamos aqui de uma legislação que possa afirmar a soberania nacional sobre recursos naturais estratégicos, caso em que o conflito ultrapassa o cotidiano vivenciado pelas classes sociais brasileiras, verificando-se também na relação de interesses nacionais antagônicos, entre o centro e a periferia do capitalismo. Iniciemos daqui nossa conversa.

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1NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

De que nova Lei doPetróleo precisamos?Razões para mudar e conteúdonecessário da mudança

Normando Rodrigues

Os movimentos sociais debatem a necessidade de uma nova legislação do

petróleo, e o envolvimento da sociedade tende a ganhar dimensões proporcionais à

importância das jazidas da camada geológica do Pré-sal, a maior descoberta dos últimos

trinta anos, capaz de tornar o Brasil o maior detentor de reservas do Planeta.

Intencionalmente resistindo às provocações neoliberais – empreendidas na

insustentável linha do “porque mudar algo que está dando certo?”, e resultantes de

abissal ignorância, de abjeta má fé, ou da abominável combinação de ambas -, o sentido

de nossa contribuição é o de favorecer a compreensão do conteúdo do projeto de lei

apresentado pelos movimentos sociais ao Congresso Nacional, a partir da lembrança

das demandas sociais da população brasileira, e dos aspectos estratégicos implicados.

Um cuidado preliminar, que fica aqui como advertência também aos setores do

movimento social, é o de se evitar a doença conhecida como “potência jurídica”, da qual

comumente padecem os estudantes de direito, e mais raramente juízes, definida como a

sensação de poder mudar o mundo a partir da formulação de projetos, da promulgação

de leis, ou com decisões judiciais. Um novo direito, sobretudo um novo direito com

tanta importância para a sociedade, é sempre o produto da disputa entre interesses

diversos de classes sociais opostas. Disputa que se dá não apenas no decorrer do

processo legislativo, quando da redação da lei, mas também ao longo de toda a sua

vigência, nos momentos de interpretação e aplicação à realidade concreta.

Além disso, tratamos aqui de uma legislação que possa afirmar a soberania nacional

sobre recursos naturais estratégicos, caso em que o conflito ultrapassa o cotidiano vivenciado

pelas classes sociais brasileiras, verificando-se também na relação de interesses nacionais

antagônicos, entre o centro e a periferia do capitalismo. Iniciemos daqui nossa conversa.

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2 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

O direito do petróleo na história do capitalismo

Imperialismo e concessão

Uma das principais características econômicas do imperialismo “clássico”, como

predominante no meio século que antecedeu à 1ª Guerra Mundial, foi a busca e apropriação

de matérias-primas e recursos minerais das colônias, ou semi-colônias, que pudessem

oferecer lucros às metrópoles no Mercado mundial.

A inserção dos países periféricos nesse sistema econômico, quando dotados de

autonomia política formal – caso da América Latina, sob efeitos tardios da revolução

burguesa na Europa (VIZENTINI, 2004, P. 128) -, se deu enquanto apêndices dependentes

e condicionados pelas economias centrais, o que fez com que seu desenvolvimento

fosse incentivado em atividades complementares às empreendidas pelos países centrais,

e inibido em atividades potencialmente concorrentes (SWEEZY, 1965b, PP. 104 a 105).

Foi esse, inclusive, o caso do Brasil desde o duradouro pacto colonial, em uma relação

com a economia mundial que pouco mais lhe reservou além do papel de “massa inerte

de manobra” (PRADO JÚNIOR, 2004, P. 279).

Foi também nesse contexto que se deu uma primeira transformação nos modelos

jurídicos para a exploração dos recursos naturais da periferia. Originalmente, sob a

hegemonia do ideário liberal, e de seu núcleo metodológico individualista (HORKHEIMER,

2002, P. 28 e 29), a exploração econômica de recursos naturais do subsolo era abordada

do ponto de vista da predominância do direito de propriedade, na forma da acessão: o

subsolo era de propriedade do dono do correspondente terreno na superfície,

independentemente de nele se encontrarem metais ou pedras preciosas, ou recursos

energéticos como carvão, xisto e petróleo (DIAS e QUAGLINO, 1993, P. 7).

Contudo, a partir do momento em que o petróleo encontrou seu lugar no Mercado

mundial, inicialmente como iluminante (HÉMERY, DEBEIR e DELÈAGE, 1993, P. 176) -

em substituição ao óleo de baleias, nos cerca de trinta anos que vão do início de sua

exploração industrial, na Romênia (COTTA, 1975, P. 175), à difusão comercial das

lâmpadas elétricas -, esse modelo jurídico não mais conferia agilidade às iniciativas de

exploração e produção, e à gula industrial dos países centrais. Assim, seguindo uma

tendência jurídica mundial, claramente idealizada em favor dos importadores de recursos

naturais, o Império do Brasil passou a adotar o modelo das concessões, no qual o

proprietário do terreno não o é mais das jazidas do subsolo, apenas sendo-lhe devida

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3NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

uma indenização. O produto da lavra, o resultado eventual de explorações bem sucedidas,

passava a ser de propriedade do concessionário, mediante o pagamento de taxas

governamentais.

O petróleo ainda não era visto como estratégico, todavia apenas como uma

Mercadoria a mais, e o concessionário, no Império e na República Velha, que viesse a

encontrar petróleo, podia com ele fazer o que bem entendesse.

Crise, guerras mundiais e intervenção estatal

Pouco antes da 1ª Guerra Mundial esse quadro começou a mudar. A rápida

industrialização da Alemanha e dos Estados Unidos, a multiplicação dos motores de

combustão interna e, sobretudo, a conversão das caldeiras das grandes belonaves para

uso do novo combustível, iniciada pela Marinha Real britânica em 1911, tornam o petróleo

estratégico (LANDES, 2005, PP. 291 e 292) a ponto de determinar a intervenção estatal

nessa indústria, nos países centrais (HÉMERY, DEBEIR e DELÈAGE, 1993, PP. 194 a

199). A intervenção estatal na Europa tendia predominantemente a se dar com a

participação em ações, ou com a criação de companhias públicas, enquanto nos Estados

Unidos se optou pela forma meramente regulatória. Em ambos os casos a reação da

indústria ao fato de o Estado formular uma política estatal para o petróleo, foi fazer com

que o Estado adotasse suas próprias formulações. Entretanto, existem diferenças

significativas na comparação entre as tendências européia e norte-americana, quanto às

possibilidades de captura do Estado pelo Mercado, como veremos adiante.

As guerras mundiais, por sua vez, não demonstraram apenas o quão estratégico

o petróleo era para a humanidade, mas também que era possível e necessário que o

Estado intervisse na economia (CARR, 2001, P. 69), e planejasse o desenvolvimento,

experiência que teria forte influência sobre os bolcheviques, sobre a social democracia

européia, e sobre movimentos nacionalistas na periferia do capitalismo. De fato, em

seguida à crise de 1929, da Turquia à América Latina explodiram contestações

reivindicando uma maior intervenção estatal na ordem econômica. Se no México foi o

descumprimento da legislação trabalhista pelas empresas de petróleo norte-americanas

que levou à nacionalização da indústria em 1938, no Brasil o descalabro das concessões

foi um dos alvos da Revolução de 1930, que logo cancelou todas as já realizadas (DIAS

e QUAGLINO, 1993, P. 16).

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4 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

A fome da Indústria Mundial do Petróleo, a IMP, todavia é proporcional à

industrialização das sociedades. Tendo dividido o mundo em “esferas de influência”, em

1928 (HÉMERY, DEBEIR e DELÈAGE, 1993, P. 200; BERGIER, 1971, P. 167), cabia à

Standard Oil o domínio de toda a América Latina. E, no caso brasileiro, o cancelamento

das concessões da República Velha não significava, necessariamente, que o modelo não

pudesse ser retomado. Se a Constituição de 1934, em seu Artigo 118, finalmente

distinguira entre a propriedade do solo e a do subsolo, para fins de aproveitamento

industrial, no Artigo seguinte abrira também a possibilidade dessa exploração se dar na

forma de concessões, ou de autorizações. Na ditadura do Estado Novo a Constituição de

1937 mantivera essa lógica, mas suprimira do Artigo as concessões. A exploração poderia

ser feita sob autorização estatal, o que significa que esta determinaria de quem seria a

propriedade, caso a caso, do resultado da produção.

Percebendo que havia espaço institucional para concessões disfarçadas de

autorizações, a Standard Oil assediou Vargas para obter o monopólio privado da indústria

do petróleo no País em três oportunidades, em 1939, 1940 e em 1941 (DUQUE, 1972,

P. 185), chegando mesmo a ofertar, em troca, a construção de refinarias no Brasil (DIAS

e QUAGLINO, 1993, P. 82). Malsucedida, anos após um emissário da empresa circularia

com uma mala repleta de “argumentos convincentes” pela Assembléia Nacional

Constituinte, do que teria resultado a volta à redação de 1934, admitindo-se tanto

autorizações quanto concessões, na Constituição de 1946 (COTTA, 1975, PP. 58 e 59).

Mas os tempos agora eram outros. O cenário da periferia do capitalismo, após a

mobilização das nações contra o fascismo na 2ª Guerra Mundial, era propenso à

descolonização e à afirmação das soberanias nacionais, o que logo traria reflexos, inclusive

para o Brasil.

Descolonização e repúdio às concessões

O período de trinta anos que se segue ao fim da 2ª Guerra Mundial não se

caracteriza apenas pela expansão do capitalismo – os chamados “anos dourados” -, mas

também pela afirmação das nacionalidades e nacionalismos na periferia do sistema, e

pela consagração, ainda que meramente formal, dos direitos humanos fundamentais,

incluídos os direitos à autodeterminação dos povos e à livre fruição de seus recursos

naturais. Da mesma forma com que o número de países se multiplicou, multiplicaram-

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5NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

se também os pleitos de nacionalização tanto dos recursos naturais como das indústrias

que os exploravam. O velho sistema de condicionamento do desenvolvimento econômico

e social da periferia pelos países centrais não foi eliminado, mas transformado para

atender às novas demandas.

Os países periféricos passaram a se defrontar, então, com a contradição entre a

submissão às exigências do centro do sistema capitalista, por um lado, e a capacidade

de se liberarem parcialmente dessa submissão, por outro, dando impulso a novos regimes

de acumulação de capital que lhes permitissem uma inserção mais vantajosa no Mercado

mundial (MATHIAS e SALAMA, 1983, PP. 78). Foi nos marcos dessa contradição que

passaram a ser hegemônicos, na periferia, a intervenção e o planejamento econômico

desenvolvimentistas (SWEEZY, 1965a, P. 64).

Nesse processo, e enquanto aspecto do movimento geral de emancipação política

e descolonização, e de maior intervenção estatal, os modelos jurídicos de contratos de

exploração e produção de petróleo experimentaram uma evolução no sentido cada vez

maior da afirmação da soberania dos países produtores. Analisando a instituição dos

contratos de parceria de produção em Portugal, Paulo Marques não teve receio de afirmar

que os diferentes tipos de contratos distinguem-se entre si como formas evolutivas, em

sequência histórica: a) concessão clássica; b) concessão do Pós-45; c) Joint-Venture; d)

contrato de associação; e) contrato de partilha de produção; f) modalidades de contratos

de prestação de serviços. Cada uma das formas jurídicas posteriores significa um maior

grau de afirmação da soberania nacional do país produtor (MARQUES, 2004, PP. 22 a 35).

Foi ante esse pano de fundo que a sociedade brasileira, numa forte reação em

face da rigidez anti-desenvolvimentista com que a periferia era tratada (FURTADO, 2008,

P. 61), fez vingar a Lei 2.004/53, a qual, não obstante ameaças explícitas dos Estados

Unidos (BASBAUM, 1962, PP. 240 e 241), rejeitou as concessões como modelo jurídico

para a exploração e produção de petróleo, afirmou o monopólio estatal da União nessa

atividade, e criou a Petrobrás (CAMPOS, 2007, PP. 6 e 7).

Contra a Petrobrás o liberalismo sempre argumentou – nas décadas de 1950 e de

1960, nos choques do petróleo e em defesa dos “contratos de risco”, nos momentos da

opção pela exploração marítima na Bacia de Campos (COTTA, 1975, PP. 56, 146 e 147),

quando se lançou em águas profundas, e agora, para a exploração da camada do Pré-sal

(FEROLLA e METRI, 2006, P. 40) -, que não detínhamos nem o capital nem a tecnologia

suficientes. A resposta da Petrobrás foi: (i) atingir graus de excelência em todos os

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6 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

segmentos da cadeia produtiva; (ii) garantir a auto-suficiência em refino e em produção, e

assim superar um dos gargalos do desenvolvimento industrial brasileiro (OLIVEIRA, 1990);

(iii) contribuir significativamente para o equilíbrio da balança comercial do País (FURTADO,

1970, P. 215); (iv) gerar tecnologias de ponta inéditas na IMP, sempre que necessário; (v)

alavancar a economia e a indústria do país (BRESSER-PEREIRA, 2003, P. 53; DUQUE, 1972,

P. 186) com o crescente grau de nacionalização de suas contratações e encomendas. Tudo

isto, incluída a auto-suficiência e as descobertas do Pré-sal, foi realizado tendo-se a Petrobrás

como a única executante do monopólio estatal do petróleo, e por seus próprios meios

financeiros (COTTA, 1975, P. 128) e méritos (CAMPOS, 2007, P. 216). Sob todos os aspectos

o monopólio estatal brasileiro foi vitorioso (PINTO JÚNIOR, 2007, PP. 108 a 111).

Não obstante, ao longo de todos esses anos, não apenas a Petrobrás como a Lei

2.004/53 e o monopólio estatal do petróleo estiveram sob ataques contínuos (CABRAL,

2008, P. 98 a 101). O papel hoje desempenhado por celebridades midiáticas, demos e

tucanos, foi antes incansavelmente encenado por Assis Chateaubriand (FAUSTO, 2006,

P. 152 a 155), Carlos Lacerda, Eugênio Gudin, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen

(DUQUE, 1972, PP. 88, 89 a 183) e demais apóstolos da fé no livre Mercado. No entanto,

a carga política positiva que a campanha pelo petróleo injetara nessas instituições foi tão

determinante que ainda durante a Ditadura o monopólio estatal foi inscrito na Constituição

de 1967, sendo mais tarde mantido pela redemocratização na de 1988.

Mas enquanto a periferia do sistema capitalista realizava o que o economista

sueco Gunnar Myrdal chamou de “o grande despertar” (LACOSTE, 1979, PP. 29, 30 e

108; COTTA, 1975, P. 68), a Indústria Mundial do Petróleo perdia reservas, na medida

em que jazidas e campos eram nacionalizados mundo afora. De detentora quase exclusiva

desses recursos em 1945, os empreendimentos privados eram já flagrantemente

minoritários em 1973. Isso num quadro em que a taxa de lucros dos países centrais

despencava desesperadoramente desde o fim dos anos de 1960. Algo precisava ser feito

para que os países centrais continuassem a ser centrais. E foi feito. Em prejuízo da

enorme maioria da humanidade.

O neoliberalismo e a Lei 9.478/97

A resposta do capitalismo à crise da taxa de lucros foi a apropriação pelo Mercado

de parcela das rendas nacionais antes comprometida com programas sociais e com os

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7NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

salários dos trabalhadores. Para que isto fosse possível, os governos Reagan e Thatcher

imobilizaram os sindicatos e deram largo apoio institucional à pregação do livre Mercado.

O fim dos regimes do “socialismo real” na União Soviética e demais países do bloco

somente acentuou a “correção” da opção pelo livre Mercado.

Para a América Latina, a apropriação dos recursos naturais pelos países centrais,

sobretudo os estratégicos, e a abertura do Mercado às importações de manufaturas,

num retorno irracional a antes de 1945, passou a ser uma questão de tempo. Em 1985,

com o Plano Baker, e em 1989, com o Plano Brady, ofertava-se a redução das dívidas

externas aos países que entregassem seus patrimônios e Mercados (BRESSER-PERREIRA,

2003, P. 271). A Rodada Uruguai do GATT, que originou a OMC, reforçou a posição dos

países centrais nos documentos de sua conclusão, em 1994 (BANDEIRA, 2005, PP. 517

a 558). Mas essa nova modalidade neoliberal do antigo imperialismo era mais sutil do

que antes, em se tratando da indústria do petróleo. Em geral sendo impensável o desmonte

de indústrias e empresas nacionais da periferia por mãos militares, a IMP agora adotava a

estratégia das “parcerias” com as empresas e governos hospedeiros das grandes reservas

(MARINHO JÚNIOR, 1989, P. 7), e os modelos jurídicos, em geral, retroagiam até aí.

Essencialmente, porém, tal como antes, tratava-se de impor à periferia do sistema a perda

da soberania e da autodeterminação (BARLOW, 2001, PP. 59 e 60).

É comum, nas análises da indústria do petróleo, a ocultação do interesse geopolítico

das nações centrais por argumentos particularistas, gerando leituras propositalmente

desconectadas de sua importância para os povos (FEROLLA e METRI, 2006, P. 31). No

Brasil não foi diferente, e os dogmas da livre concorrência (REIS e URANI, 2004, P. 9),

ocultando a “necessidade” de entrega das reservas à IMP, foram imperativos para o

sucesso de FHC, que conseguiu neutralizar o monopólio estatal do petróleo com a pílula

dourada da “flexibilização”, na forma da Emenda Constitucional 9, em 1995.

A resultante Lei 9.478/97 fez ainda pior e remeteu a exploração do petróleo no

País aos tempos do Império. Embora a Constituição deformada pela Emenda 9 previsse

a “contratação” de empresas, a Lei de FHC fixou a entrega do patrimônio público mediante

concessões. E as concessões, passíveis de serem comercializadas entre os parceiros, e

mesmo para empresas internacionais não participantes dos leilões originais, operam sob

o regime da Lei de FHC um verdadeiro milagre jurídico: o petróleo e o gás natural,

enquanto no subsolo, são patrimônios da União; porém, uma vez extraídos, passam a

ser propriedade do concessionário (LESSA, 2006, P. 17), que os pode exportar livremente,

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8 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

sem maiores empecilhos que uma cordial benção da ANP, o que significa, de fato, a

inexistência do monopólio estatal (BUENO, 1994, P. 55).

Em suma, tanto a EC 9, quanto a Lei 9.478/97, inserem-se em um contexto

estratégico geral no qual as grandes companhias internacionais, movidas pela perda de

reservas e de rentabilidade, se mobilizaram para acessar o controle de novas áreas de

reservas por intermédio não mais da apropriação direta e explícita, mas por meio das

mais “palatáveis” parcerias. De qualquer maneira, impunha-se limitar a atuação estatal

apenas à regulação, privando-a da capacidade de intervenção na indústria, e restringir,

senão inviabilizar por completo, a soberania. O resultado foi a renúncia a uma perspectiva

histórica de um Estado afirmador de direitos sociais (ROESLER, 2003, PP. 233 e 234),

em prol de uma demonstração imediatista de acessibilidade aos interesses do Consenso

de Washington (CAMPOS, 2007, PP. 2 a 10 e 50 a 62).

Por que mudar?

O petróleo ainda é estratégico

Ao contrário do que os autores e relatores da Emenda 9 e da Lei 9.478/97 afirmaram

ao Congresso Nacional para as aprovar, o petróleo e o gás natural são ainda mais

estratégicos hoje, no início do século XXI, do que o foram nos últimos cem anos (CAMPOS,

2007, PP. 23 e 24; PINTO JÚNIOR, 2007, P. 43; MELLO, 2008; BARRETO, 2008; FUSER,

2008; FEROLLA e METRI, 2006, P. 36). Mais da metade da energia gerada no planeta,

hoje, o é por petróleo ou por gás natural, e não se prevê que esse quadro se altere

substancialmente nos próximos 30 anos (FEROLLA e METRI, 2006, P. 125), apesar de

nossa inegável necessidade de fontes de energia renováveis e limpas. Além disso, os

Estados Unidos, a maior potência militar e econômica do Planeta, praticamente esgotaram

suas reservas dessas fontes energéticas, e dependem cada vez mais da apropriação de

novas reservas no exterior.

Consideradas a demanda dos países centrais por petróleo e gás natural, a incessante

pressão pela apropriação de reservas, e o baixíssimo grau de controle público que a Lei

9.478/97 oferece, é fácil prever que o Brasil, mantido o atual modelo jurídico, estará

destinado a ser um mega exportador de petróleo com a exploração das reservas da

camada do Pré-sal, sem que isso signifique qualquer benefício à população, como nos

casos da Nigéria e da Arábia Saudita.

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9NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

Evidência disso é o histórico da apropriação governamental brasileira sobre os

rendimentos do petróleo, durante a vigência da Lei de FHC. A partir de 2002, em

decorrência da alta dos preços do petróleo, EUA, Reino Unido, Rússia, Líbia, Venezuela,

Argentina, Jordânia, Moçambique, Equador, Nigéria, Angola, Cazaquistão, Argélia, Belize

e Trinidad y Tobago, todos esses países, aumentaram o percentual da receita do petróleo

apropriada por seus governos (TEIXEIRA, 2008), enquanto que o Brasil manteve a sua

em percentuais ridiculamente baixos. O detalhe é que todos esses países já apropriavam

mais do que o percentual praticado pelo Brasil na exploração e produção, antes de

aumentarem seus percentuais!

A farsa dos leilões do Pré-sal

Parcela significativa da área do Pré-sal já foi concedida nos leilões realizados sob

a égide da Lei 9.478/97, áreas que correspondem aos locais onde as pesquisas para a

exploração estão mais avançadas. Os concessionários beneficiados por esses leilões

sustentam que estão autorizados a perfurar e explorar petróleo até o centro da terra,

logo, autorizados às perfurações profundas do Pré-sal, mesmo que tenham ganhado

concessões para explorar apenas o pós-sal. Ora, não é bem assim.

A descoberta das jazidas da camada do Pré-sal alterou substancialmente o equilíbrio

dos contratos de concessão, justificando que os mesmos sejam rescindidos. Áreas

concedidas para exploração de determinadas reservas de óleo pesado foram, do dia

para a noite, multiplicadas em mais de 40 vezes, em volume potencial das reservas, e a

qualidade do óleo tornada mais lucrativa. A situação mudaria de figura se restasse

comprovado que, quando do momento das concessões, já se sabia das dimensões e

qualidades das reservas. Nesse caso, o concessionário teria sido informado em razão do

criminoso livre acesso do Mercado aos dados geológicos organizados pela Petrobrás

(VIDAL e VASCONCELLOS, 2001, P. 102), acesso este determinado pela Lei 9.478/97.

Mas a sociedade brasileira, desconhecedora das reservas do Pré-sal, teria vendido lebre

por preço de gato.

Em suma, em qualquer hipótese quanto aos concessionários terem ou não ciência

do Pré-sal à época do contrato de concessão, este não pode ser considerado como uma

autorização à sua exploração. Nesse sentido o Direito Administrativo oferece as respostas

adequadas. Não estamos diante de um contrato civil, entre iguais, perfeito e inatacável,

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10 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

mas ante um contrato de natureza administrativa, que se subordina aos interesses

públicos, definidos como tais pela sociedade, e a serem protegidos pela União. Tal fato é

internacionalmente reconhecido, quanto aos contratos de petróleo e de gás natural

(CAMPOS, 2007, P. 35).

O monopólio estatal do petróleo, inviabilizado pela Lei 9.478/97, ainda está inscrito

nas Constituição, da mesma forma com que a propriedade do óleo e do gás natural consta

da Resolução 1.803, de 1962, da ONU, relativa à soberania dos Estados e à plena

disponibilidade dos recursos naturais pelos povos nacionais (CAMPOS, 2007, P. 69). Sua

manutenção, estratégica para os destinos da sociedade brasileira, caracteriza o interesse

público de forma bastante para que se rescindam todos os contratos de concessão firmados

sob a Lei 9.478/97. Trata-se de aplicar o mesmo princípio informador do instituto jurídico

da cláusula exorbitante (BUCHEB, 2007, PP. 52 a 65), para além da mera disposição contratual.

Resta indagar, então, em que termos podemos idealizar uma nova legislação do

petróleo?

O que mudar

Restabelecer o monopólio estatal e tornara Petrobrás uma empresa pública

Uma das mais rematadas tolices já inscritas na legislação brasileira foi fixar a livre

concorrência como objetivo da política energética nacional, sem maiores reparos.

Especificamente na indústria do petróleo, essa meta risível, defendida como primado

“científico” em livros patrocinados pelo liberalismo (DIAS e RODRIGUES, 1994, PP. 173

a 191), embute um conteúdo trágico. Em primeiro lugar, porque o conceito clássico do

direito ao lucro máximo, ou máximo proveito, inerente a um ambiente de livre

concorrência, é ineficaz ante a forma monopolística de acumulação do capital (CLARK,

1972). Em segundo lugar porque jamais existiu livre concorrência nessa indústria

(TÁVORA, 1955, PP. 63 E 64; FEROLLA e METRI, 2006, P. 209; MARINHO JÚNIOR,

1989, PP. 6 e 7), senão no mero acesso às reservas (PINTO JÚNIOR, 2007, PP. 43 e 44),

e nem se vislumbra que, num futuro tangível, venha a existir, em razão da importância

estratégica, da valoração garantida, e da altíssima liquidez do petróleo e do gás natural.

Somente a intervenção estatal no setor pode coibir o poder dos oligopólios na

definição das políticas industriais e tecnológicas necessárias, na garantia do suprimento

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11NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

e do acesso a reservas, e, sobretudo, na retenção da renda petrolífera pelo interesse

nacional (CAMPOS, 2007, PP. 35 a 46; FEROLLA e METRI, 2006, P. 113). Assim, existem

duas opções disponíveis aos países produtores (“hospedeiros”, no jargão da própria

indústria): o estabelecimento do monopólio estatal, ou a submissão ao oligopólio da

IMP (PINTO JÚNIOR, 2007, P. 49).

Pressupondo-se que a nova configuração institucional restabeleça de fato o

monopólio estatal do petróleo – inviabilizado pela Lei 9.478/97 – resta saber como o

Estado se desincumbiria dessa função, seja como executante direto da mesma, seja

como contratante de serviços. No mundo dos países produtores, o modelo primitivo da

concessão, sempre predominante nos EUA, se espalhou com o neoliberalismo. Apenas

nesse modelo, com a concessão, o resultado da produção é das empresas. Equador, Argélia,

China, Malásia e o Oriente Médio, excluída a Arábia Saudita, partilham o resultado econômico

da produção com as empresas contratadas. México e Irã contratam serviços, enquanto

Nigéria, Rússia e Cazaquistão praticam formulações intermediárias (TEIXEIRA, 2008).

O Brasil se perfila com o pior grupo possível, aquele em que vigora o modelo

jurídico de renúncia à soberania nacional e de submissão à geopolítica das nações centrais

(PINTO JÚNIOR, 2007, PP. 66 a 73). São vários os autores que sustentam que, mantida a

fórmula da concessão, jamais o Estado se apropriará com justiça do resultado da produção

(CAMPOS, 2007, PP. 47 a 56; BARAN, 1972, P. 290; COTTA, 1975, PP. 77 e 78).

Rompido o modelo da concessão, que opção institucional será a melhor para o

País? O Governo Lula defende a necessidade de um acentuado controle público,

supostamente ante a preocupação de que a Petrobrás, multiplicada pelas atividades de

exploração da camada do Pré-sal, se torne ingovernável, ou maior do que o Governo

Federal. No entanto, aparentemente pouco se cogita sobre o quanto essa opção venha a

debilitar a Petrobrás, ou ainda sobre o quanto a nova empresa contratadora, sob assédio

da IMP detentora do poder de Mercado (PINTO JÚNIOR, 2007, P. 57), atue sem ser

capturada pelos interesses do Mercado.

Na história da indústria do petróleo, jamais uma empresa segmentada, mesmo

com o apoio estatal, vingou no cenário internacional. Uma das características essenciais

das empresas de petróleo é serem empresas verticalmente integradas, compreendendo

não apenas “montante e juzante” do setor de combustíveis e derivados (“do poço ao

posto” como se cunhou), como também atividades correlatas e lucrativas, a exemplo da

petroquímica de 1a e de 2a gerações e da busca de novas formas limpas e renováveis de

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12 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

energia. Não por acaso segmentar a Petrobrás foi uma das principais medidas do projeto de

fragilização da empresa intentado e parcialmente realizado pelos governos Collor e FHC.

A solução simples, mas que demanda coragem histórica, é reforçar a Petrobrás como

única executante do monopólio estatal, mas reorganizando-a como empresa pública, sem

ações, integrante e submetida aos rigores e controles da administração pública, deixando de

ser uma S/A condicionada pelos caprichos do Mercado. Tal opção a um só tempo fortaleceria

a empresa, aumentaria o controle público sobre a mesma, e acentuaria sua importância

enquanto instrumento de planejamento e ação para o desenvolvimento econômico e social

do País. Seguir esse caminho, evidentemente, implica reintegrar, ou integrar na empresa, no

refino, a Refap, a Riograndense, e Manguinhos, e na logística a Transpetro.

Tal opção institucional permitiria ainda aplicar aos diretores e gerentes executivos da

Petrobrás a quarentena, hoje praticada apenas para diretores da ANP, evitando-se o fenômeno

da “porta giratória” estudado por sociólogos da corrupção, no qual quadros técnicos do

setor público trocam o conhecimento acumulado por belas colocações no Mercado, ao sair

da empresa. Algo que vem ocorrendo crescentemente com executivos da Petrobrás.

Tornar a ANP órgão fiscalizador

A concentração de poderes para tomada de definições estratégicas nos dirigentes

da ANP é absurda e antidemocrática. Decisões eminentemente políticas, como a de uma

eventual venda de todas as concessões de petróleo já realizadas, incluídos os 29% das

áreas sobre a camada do Pré-sal, a uma Shell ou Exxon, por parte da Petrobrás, seus

parceiros e demais concessionárias, podem ser mascaradas de justificativas técnicas e

tomadas pelos dirigentes da Agência sem interferência alguma das instâncias

democraticamente representativas do Estado, no atual modelo jurídico (BUCHEB, 2007,

PP. 67 a 70; RIBEIRO, 2003. PP. 350 a 363).

O fenômeno da captura das agências pelos interesses do Mercado não é uma

exceção, mas a regra tendencial de comportamento dessa forma de regulamentação

(CAMPOS, 2007, P. 60), verificada desde as primeiras experiências norte-americanas, no

século XIX. E ainda, as chamadas agências regulatórias partem de uma concepção de

Estado que não intervenha na ordem econômica senão delimitando o espaço de atuação

dentro do qual os agentes econômicos privados detêm a plena liberdade de iniciativa.

Esse é o modelo condenado pelas experiências históricas que levaram às crises de 1929

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13NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

e de 2008, e o próprio Presidente Lula já declarou, mais de uma vez desde a quebra da

banca americana, em Outubro de 2008, que a nova conjuntura econômica demanda um

Estado que intervenha na economia, e não mais um Estado apenas regulador.

Há, contudo, motivos e tarefas de sobra para se manter a ANP como órgão de

fiscalização em vários segmentos da indústria, tarefa na qual seu desempenho vem

sendo pífio (RODRIGUES e CAMPOS FILHO, 2004, P. 416 e 417), talvez em razão da

megalômana amplitude de atribuições que lhe conferiu a Lei 9.478/97.

Fundo Social Soberano

A sociedade brasileira merece e deve debater, com serenidade e seriedade, as

questões relativas à distribuição e aplicação dos recursos advindos da exploração do

petróleo e do gás natural. A mera apropriação dessa renda pelo Estado, evitando que

parte significativa da mesma seja acumulada pela IMP e pelos países centrais, não basta

para garantir sua aplicação no desenvolvimento humano e social. Nesse aspecto, a

modalidade dos royalties, ou compensações financeiras, claramente não representou

melhoria de vida para as populações supostamente beneficiadas, seja no Oriente Médio

(LACOSTE, 1979, PP. 90 A 101), na Nigéria, na Venezuela de antes do monopólio

(SWEEZY, 1965b, PP. 113 e 114; BARAN, 1972, P. 296 a 299), ou no Brasil (CRUZ e

RIBEIRO, 2008). É indispensável, portanto, que a nova legislação não apenas liste os

setores sociais cujas políticas públicas serão beneficiadas por esses recursos, como ainda

que estabeleça a vinculação dos mesmos às finalidades específicas, de forma a que estes

recursos sejam complementares aos orçamentos das respectivas pastas e rubricas, e que

não sejam passíveis de desvinculação ou contingenciamento.

A criação de um Fundo Social Soberano, para captar e gerir essa receita, com

toda a transparência possível, integrado por representantes da sociedade civil, afigura-

se como a melhor das opções. Deve-se, porém, apartar da receita da atividade os recursos

necessários aos re-investimentos da Petrobrás, e à execução da Política Energética,

incluídas as pesquisas e investimentos em novas fontes de energia renováveis e limpas.

Como mudar

Uma mudança institucional da envergadura que a sociedade brasileira necessita

não se fará por resultado de meras disputas de gabinete ao longo do processo legislativo.

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14 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

Os interesses confrontados se situam tanto no plano do conflito de classes dentro de

nossa sociedade, quanto no plano internacional, no confronto entre nações pela disputa

dos recursos naturais estratégicos. Nesse último aspecto se insere o acirramento da

necessidade de acesso às reservas de petróleo e gás, provocado pela crise mundial, e o

movimento latino americano de reafirmação da soberania dos povos sobre seus recursos

naturais, resposta ao neoliberalismo cuja importância é acentuada pela crise econômica

do capitalismo (COSTA, 2008, PP. 22 a 24).

Para que saibamos o tamanho do desafio, e se tenha clara a importância estratégica

da indústria do petróleo e do gás natural para a manutenção do sistema internacional de

dominação, basta considerar que o Produto Interno Bruto dos países centrais é

irreversivelmente decadente, com relação ao Pib dos países da periferia, desde 1980. Isto

a ponto de, pela primeira vez desde a época em que a Rainha Vitória governava o Globo,

no século XIX, o Pib da periferia hoje ser maior do que o dos países centrais (COSTA,

2009). E, nesse quadro de incertezas para o núcleo duro do sistema capitalista, a indústria

do petróleo foi a atividade mais lucrativa do Planeta em 2008 (JUHASZ, 2009, P. 18).

A única maneira de a sociedade brasileira ver garantidos seus interesses na alteração

institucional do petróleo e do gás natural é transferir o centro de gravidade dessa discussão

do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional para as ruas. Foi isto, e não uma lei ou

um dispositivo constitucional, o que preservou o monopólio estatal do petróleo, e a

Petrobrás, entre 1953 e 1997.

Ante tal grau de dificuldade nossa proposta é utópica? Pode ser. Mas não existe,

na história da humanidade, uma pedra sequer, empilhada sobre outra, que não tenha

antes sido idealizada na dimensão da utopia.

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20 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

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21NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

Propostas dos Movimentos Sociaispara a Nova Lei do Petróleo

Por intermédio do Deputado Federal Fernando Marroni (PT/RS), e da Comissão de

Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal, a Federação Única dos

Petroleiros – Fup, à frente de outras entidades dos movimentos sociais, propôs ao parlamento

brasileiro uma nova legislação para a política energética nacional. Correndo na Câmara sob

o número 5.891/2009, o projeto trata: do monopólio estatal do petróleo, gás natural, e

derivados; do Conselho Nacional de Política Energética e da Agência Nacional do Petróleo;

da Petrobrás; e da destinação das receitas geradas pela atividade econômica para o combate

às desigualdades sociais. Essa gama de temas o torna, portanto, bem mais abrangente do

que as propostas apresentadas à nação pelo Governo, em 31 de agosto de 2009.

Num curto resumo, são os seguintes os principais pontos do Projeto de Lei:

Monopólio Estatal do Petróleo

As reservas da camada do Pré-sal potencialmente transformam o Brasil num dos

maiores, senão o maior, produtor de petróleo do Planeta. Nenhum país iria encarar esse

desafio sob o regime colonial das concessões, no qual o petróleo e o gás natural são das

empresas, e não da União. Somente a intervenção estatal é capaz de garantir os interesses

da nação, contrários aos dessa indústria, simplesmente a atividade econômica mais lucrativa

do Mundo no ano de 2008.

Exatamente em razão da necessária intervenção estatal não se trata de um novo

“marco regulatório”, modelo neoliberal no qual o Estado limita-se a delimitar o espaço

dentro do qual o livre mercado é soberano absoluto. Trata-se de buscar uma nova lei do

petróleo, tendo por pressuposto um Estado que intervenha de fato na atividade, afirmando

os princípios e valores sobre os quais se estrutura nossa sociedade.

Como a única forma de afirmar a soberania nacional sobre o mais estratégico dos

recursos naturais é o monopólio estatal, e como a concessão é incompatível com o monopólio

do Estado, é vital extirpar as concessões de nossa legislação. Como propomos isso?

a) O monopólio não pode ser afirmado somente para o Pré-sal e as áreas que a União

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22 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

definir como estratégicas, pois o que é estratégico é o recurso natural em questão (o

petróleo), e não a região onde ocorre; Além disso, a atual legislação permite que as

concessões do Pré-sal já feitas (29% da área estimada, mas que compreendem a

quase totalidade das reservas já provadas) sejam negociadas para outras empresas;

Devemos estabelecer um único regime jurídico para atividade, dentro e fora do Pré-

sal, sob pena de Shell, Exxon e outras explorarem o Pré-sal através dos 29% concedidos

e evitarem as áreas da Nova Lei, que assim se tornaria uma legislação só de aparência

e inútil;

b) Por isso defendemos a rescisão de todas as concessões já feitas (Art. 24), garantida

a indenização de investimentos e patrimônio das concessionárias, mas não do lucro que

deixarão de ter; A rescisão das concessões é juridicamente viável em razão do

desequilíbrio contratual gerado pelas descobertas do Pré-sal (comprou 1, levou 1.000!),

do interesse público e da propriedade das jazidas ser da União;

c) É mantida a ANP, de forma estritamente subordinada às definições políticas do

Conselho Nacional de Política Energética – CNPE (Art. 8o, § único), e limitada sua

função à fiscalização, sobretudo no comércio varejista (Artigos. 7o, 8o e 9o).

O uso social da receita do petróleo

Afirmar o monopólio é vital para a soberania do país, mas não basta para garantir

que esses recursos não sejam apropriados pelos favorecidos de sempre, em nossa sociedade.

É vital que tornemos real um dos objetivos fundamentais da República, definido pelo Artigo

3º, Inciso III, da Constituição, como o fim da pobreza e da marginalização, e a redução das

desigualdades sociais e regionais, objetivo nobre mas jamais realizado.

Para isso a proposta insere a destinação social dos recursos gerados como objetivo

da política energética nacional (Art. 1º, II), e seu Art. 20 lista como beneficiários: saúde,

previdência e educação públicas; e projetos de habitação popular e de desenvolvimento

sustentável da agricultura familiar. Alguns cuidados, porém, foram tomados:

a) Deve ser garantida, inicialmente, a receita necessária para a realização da própria

atividade pela Petrobrás, contemplando seus investimentos, inclusive para a busca

de fontes alternativas de energia renovável e limpa (Art. 20);

b) Da verba restante, o projeto destina 5% para medidas de preservação do meio

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23NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

ambiente, e outros 5% para a manutenção dos royalties atualmente pagos a

estados e municípios (Art. 20, parágrafos 2º e 3º);

c) A destinação social da maior parte desses recursos deve ser protegida contra

contingenciamentos e desvinculações (Art. 20, parágrafo 4º); e administrada com

participação da sociedade civil (Art. 20, parágrafo 5º).

Petrobrás

A importância da Petrobrás, como única executante do monopólio estatal, e sob

fiscalização da União (Art. 5o), será ainda maior. Não interessa à sociedade brasileira que a

Petrobrás seja submetida às regras do mercado financeiro e aos caprichos dos investidores

da Bolsa de Nova Iorque. Ao mesmo tempo, é de suma importância submeter a Petrobrás a

um maior controle público. A proposta inclui, então:

a) A transformação da Petrobrás em empresa pública, integrante da Administração

Federal (Art. 21), sem ações na bolsa, inserida a nacionalização de suas compras e

serviços contratados como um dos objetivos da política energética (Art. 1º, VI);

b) A incorporação na Petrobrás da Transpetro, da Refinaria Alberto Pasqualini –

Refap S/A, da Refinaria de Petróleo Riograndense S/A, localizada na cidade de Rio

Grande (RS), da Manguinhos Refinaria S/A, localizada na cidade do Rio de Janeiro

(RJ), e da TBG – Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S/A (Art. 26,

parágrafo 2º);

c)A aplicação aos executivos da Petrobrás das regras de “quarentena”, impossibilitando

que, após saírem da empresa, possam trabalhar em favor da iniciativa privada desse

ramo de atividades por um prazo mínimo de um ano (Art. 23), quarentena que já

existe para dirigentes da ANP, mas que é aprimorada pela nossa proposta (Art. 12).

Por fim a proposta dos movimentos sociais afirma os mesmos direitos para

trabalhadores da Petrobrás e das empresas contratadas e prestadoras de serviços (Art. 29),

de forma a combater o verdadeiro apartheid social existente entre os empregados da Petrobrás

e os demais petroleiros.

São apenas 30 artigos, mas não são eles que podem mudar a história de nossa

sociedade, e sim os movimentos sociais que os apoiarem.

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24 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

PROJETO DE LEI Nº 5891, DE 2009.

(Do Sr. FERNANDO MARRONI, VICENTINHO, LUIZ BASSUMA, JÔ MORAES,

WASHINGTON LUIZ, BRIZOLA NETO, JOSÉ LEONARDO MONTEIRO, CARLOS

SANTANA, JOSEPH BANDEIRA, DANIEL ALMEIDA, CHICO ALENCAR, FÁTIMA

BEZERRA, LUÍS SÉRGIO, PAULO ROCHA, REGINALDO LOPES, VANESSA

GRAZZIOTIN, SÉRGIO BARRADAS CARNEIRO, ANTÔNIO CARLOS BISCAIA,

IRINY LOPES, EMÍLIA FERNANDES, VANDER LOUBET, MARCO MAIA, JOÃO

PAULO CUNHA e FRANCISCO PRACIANO)

Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades

relativas ao monopólio estatal do petróleo, gás natural, e

derivados, sobre o Conselho Nacional de Política Energética,

e a Agência Nacional do Petróleo, sobre a transformação

em empresa pública da sociedade de economia mista

Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás, sobre a destinação das

receitas geradas pela atividade econômica para o combate

às desigualdades sociais, e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:

CAPÍTULO I

Dos Princípios e Objetivos da Política Energética Nacional

Art. 1º As políticas nacionais para o aproveitamento racional das fontes de energia

visarão aos seguintes objetivos:

I - preservar o interesse nacional;

II - garantir o emprego dos recursos gerados pela atividade econômica no combate às

desigualdades sociais e regionais, em atendimento ao disposto no Artigo 3º, Inciso III,

da Constituição da República;

III - promover o desenvolvimento, ampliar o mercado de trabalho e valorizar os recursos

energéticos;

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25NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

IV - proteger os interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos;

V - proteger o meio ambiente e promover a conservação de energia;

VI – fomentar a indústria e a economia nacionais, mediante a geração de tecnologia e a

progressiva nacionalização no emprego de equipamentos, instalações, serviços e bens

de capital;

VII - garantir o fornecimento de derivados de petróleo em todo o território nacional, nos

termos do § 2º do Art. 177 da Constituição Federal;

VIII - incrementar, em bases econômicas, a utilização do gás natural;

IX - identificar as soluções mais adequadas para o suprimento de energia elétrica nas

diversas regiões do País;

X - utilizar fontes alternativas de energia, mediante o aproveitamento econômico dos

insumos disponíveis e das tecnologias aplicáveis;

XI - ampliar a competitividade do País no mercado internacional;

XII - incrementar, em bases econômicas, sociais e ambientais, a participação dos

biocombustíveis na matriz energética nacional;

XIII - observar e aplicar o Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis e o Plano

Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis.

CAPÍTULO II

Do Conselho Nacional de Política Energética

Art. 2° O Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, órgão vinculado à Presidência

da República e presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia, tem por atribuição

propor ao Presidente da República políticas nacionais e medidas específicas destinadas a:

I - promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos do País, em conformidade

com os princípios enumerados no capítulo anterior e com o disposto na legislação

aplicável;

II - assegurar, em função das características regionais, o suprimento de insumos

energéticos às áreas mais remotas ou de difícil acesso do País, submetendo as medidas

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26 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

específicas ao Congresso Nacional, quando implicarem na criação de subsídios;

III - rever periodicamente as matrizes energéticas aplicadas às diversas regiões do País,

considerando as fontes convencionais e alternativas e as tecnologias disponíveis;

IV - estabelecer diretrizes para programas específicos, como os de uso do gás natural,

do carvão, da energia termonuclear, dos biocombustíveis, da energia solar, da energia

eólica e da energia proveniente de outras fontes alternativas;

V - estabelecer diretrizes para a importação e exportação, de maneira a atender às

necessidades de consumo interno de petróleo e seus derivados, gás natural e condensado,

e assegurar o adequado funcionamento do Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis

e o cumprimento do Plano Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis;

VI - sugerir a adoção de medidas necessárias para garantir o atendimento à demanda

nacional de energia elétrica, considerando o planejamento de longo, médio e curto

prazos, podendo indicar empreendimentos que devam ter prioridade de licitação e

implantação, tendo em vista seu caráter estratégico e de interesse público, de forma a

que tais projetos venham a assegurar a otimização do binômio modicidade tarifária e

confiabilidade do Sistema Elétrico;

VII - estabelecer diretrizes para o uso de gás natural como matéria-prima em processos

produtivos industriais, mediante a regulamentação de condições e critérios específicos,

que visem a sua utilização eficiente e compatível com os mercados interno e externos.

§ 1º - Para o exercício de suas atribuições, o CNPE contará com o apoio técnico dos

órgãos fiscalizadores do setor energético e da Petrobrás.

§ 2º O CNPE será regulamentado por decreto do Presidente da República, que determinará

sua composição e a forma de seu funcionamento.

CAPÍTULO III

Da Titularidade e do Monopólio do Petróleo e do Gás Natural

SEÇÃO I

Do Exercício do Monopólio

Art. 3º Pertencem à União os depósitos de petróleo, gás natural, xisto betuminoso, e

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27NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

outros hidrocarbonetos existentes no território nacional, nele compreendidos a parte

terrestre, o mar territorial, a plataforma continental e a zona econômica exclusiva.

Art. 4º Constituem monopólio da União, nos termos do Art. 177 da Constituição Federal,

as seguintes atividades:

I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural, xisto betuminoso, e outros

hidrocarbonetos;

II - a refinação de petróleo nacional ou estrangeiro;

III – a industrialização, tratamento ou processamento do gás natural e dos

biocombustíveis, e a industrialização do xisto e o refino do óleo dela resultante;

IV - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades

previstas nos incisos anteriores;

V - o transporte marítimo do petróleo bruto ou de derivados básicos de petróleo, bem

como o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e de gás

natural;

VI – a transferência ou estocagem de petróleo, gás natural, biocombustíveis, similares e

derivados.

Art. 5o As atividades econômicas de que trata o artigo anterior serão reguladas e

fiscalizadas pela União e somente poderão ser exercidas pela empresa pública Petróleo

Brasileiro - Petrobrás.

SEÇÃO II

Das Definições Técnicas

Art. 6° Para os fins desta Lei e de sua regulamentação ficam estabelecidas as seguintes

definições:

I - Petróleo: todo e qualquer hidrocarboneto líquido em seu estado natural, a exemplo

do óleo cru e condensado;

II - Gás Natural ou Gás: todo hidrocarboneto que permaneça em estado gasoso nas

condições atmosféricas normais, extraído diretamente a partir de reservatórios petrolíferos

ou gaseíferos, incluindo gases úmidos, secos, residuais e gases raros;

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28 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

III - Derivados de Petróleo: produtos decorrentes da transformação do petróleo;

IV - Derivados Básicos: principais derivados de petróleo, referidos no art. 177 da

Constituição Federal, a serem classificados pelo Conselho Nacional de Política Energética;

V – Xisto betuminoso: rocha sedimentar impregnada de óleo de características

semelhantes às do petróleo, passível de ser refinado e explorado comercialmente;

VI - Refino ou Refinação: conjunto de processos destinados a transformar o petróleo em

derivados de petróleo;

VII - Tratamento ou Processamento de Gás Natural: conjunto de operações destinadas a

permitir o seu transporte, distribuição e utilização;

VIII - Transporte: movimentação de petróleo e seus derivados ou gás natural em meio

ou percurso considerado de interesse geral;

IX - Transferência: movimentação de petróleo, derivados ou gás natural em meio ou

percurso considerado de interesse específico e exclusivo do proprietário ou explorador

das facilidades;

X - Bacia Sedimentar: depressão da crosta terrestre onde se acumulam rochas

sedimentares que podem ser portadoras de petróleo ou gás, associados ou não;

XI - Reservatório ou Depósito: configuração geológica dotada de propriedades específicas,

armazenadora de petróleo ou gás, associados ou não;

XII - Jazida: reservatório ou depósito já identificado e possível de ser posto em produção;

XIII - Prospecto: feição geológica mapeada como resultado de estudos geofísicos e de

interpretação geológica, que justificam a perfuração de poços exploratórios para a

localização de petróleo ou gás natural;

XIV - Campo de Petróleo ou de Gás Natural: área produtora de petróleo ou gás natural,

a partir de um reservatório contínuo ou de mais de um reservatório, a profundidades

variáveis, abrangendo instalações e equipamentos destinados à produção;

XV - Pesquisa ou Exploração: conjunto de operações ou atividades destinadas a avaliar

áreas, objetivando a descoberta e a identificação de jazidas de petróleo ou gás natural;

XVI - Lavra ou Produção: conjunto de operações coordenadas de extração de petróleo

ou gás natural de uma jazida e de preparo para sua movimentação;

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29NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

XVII - Desenvolvimento: conjunto de operações e investimentos destinados a viabilizar

as atividades de produção de um campo de petróleo ou gás;

XVIII - Descoberta Comercial: descoberta de petróleo ou gás natural em condições que,

a preços de mercado, tornem possível o retorno dos investimentos no desenvolvimento

e na produção;

XIX - Indústria do Petróleo: conjunto de atividades econômicas relacionadas com a

exploração, desenvolvimento, produção, refino, processamento, transporte, importação

e exportação de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos e seus derivados;

XX - Distribuição: atividade de comercialização por atacado com a rede varejista ou com

grandes consumidores de combustíveis, lubrificantes, asfaltos e gás liquefeito envasado,

exercida por empresas especializadas, na forma das leis e regulamentos aplicáveis;

XXI - Revenda: atividade de venda a varejo de combustíveis, lubrificantes e gás liquefeito

envasado, exercida por postos de serviços ou revendedores, na forma das leis e

regulamentos aplicáveis;

XXII - Distribuição de Gás Canalizado: serviços locais de comercialização de gás canalizado,

junto aos usuários finais, explorados com exclusividade pelos Estados, diretamente ou

mediante concessão, nos termos do § 2º do art. 25 da Constituição Federal;

XXIII - Estocagem de Gás Natural: armazenamento de gás natural em reservatórios

próprios, formações naturais ou artificiais;

XXIV - Biocombustível: combustível derivado de biomassa renovável para uso em motores

a combustão interna ou, conforme regulamento, para outro tipo de geração de energia,

que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil;

XXV - Biodiesel: biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a

combustão interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento, para geração

de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de

origem fóssil;

XXVI – Indústria Petroquímica de Primeira e Segunda Geração: conjunto de indústrias

que fornecem produtos petroquímicos básicos, a exemplo do eteno, do propeno e de

resinas termoplásticas.

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30 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

CAPÍTULO IV

DA AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS

SEÇÃO I

Da Instituição e das Atribuições

Art. 7º A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíves - ANP, entidade

integrante da Administração Federal Indireta, submetida ao regime autárquico especial,

é órgão fiscalizador da indústria do petróleo, gás natural, seus derivados, similares e

biocombustíveis, vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Art. 8o A ANP terá como finalidade a fiscalização das atividades econômicas integrantes

da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis, cabendo-lhe:

I – fiscalizar a política nacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis, contida na

política energética nacional, nos termos do Capítulo I desta Lei, com ênfase na garantia

do suprimento de derivados de petróleo, gás natural e seus derivados, e de

biocombustíveis, em todo o território nacional, e na proteção dos interesses dos

consumidores quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos;

II - articular-se com órgãos do setor energético sobre matérias de interesse comum,

inclusive para efeito de apoio técnico ao CNPE;

III - fiscalizar diretamente, ou mediante convênios com órgãos dos Estados e do Distrito

Federal, as atividades do comércio e da distribuição de derivados de petróleo, do gás

natural e dos biocombustíveis, bem como aplicar as sanções administrativas e pecuniárias

previstas em lei, regulamento ou contrato;

IV - instruir processo com vistas à declaração de utilidade pública, para fins de

desapropriação e instituição de servidão administrativa, das áreas necessárias à exploração,

desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural, construção de refinarias, de

dutos e de terminais;

V - fazer cumprir as boas práticas de conservação e uso racional do petróleo, gás natural,

seus derivados e biocombustíveis e de preservação do meio ambiente;

VI - fiscalizar as atividades relacionadas com o abastecimento nacional de combustíveis,

diretamente ou mediante convênios com outros órgãos da União, Estados, Distrito Federal

ou Municípios, observando o Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis e o Plano

Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis;

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31NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

VII – fiscalizar as atividades relacionadas à produção, importação, exportação,

armazenagem, estocagem, distribuição, revenda e comercialização de biocombustíveis,

diretamente ou mediante convênios com outros órgãos da União, Estados, Distrito Federal

ou Municípios, observando o Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis e o Plano

Anual de Estoques Estratégicos de Combustíveis;

VIII - exigir dos agentes fiscalizados o envio de informações relativas às operações

sujeitas à respectiva fiscalização;

IX - especificar a qualidade dos derivados de petróleo, gás natural e seus derivados, e

dos biocombustíveis;

X - fiscalizar o exercício da atividade de estocagem de gás natural;

XI - autorizar e fiscalizar a prática da atividade de comercialização de gás natural, dentro

da esfera de competência da União;

Parágrafo único – A Atuação da ANP é restrita à observância das políticas e medidas

fixadas pelo Presidente da República, ouvido o Conselho Nacional de Política Energética.

Art. 9º Além das atribuições que lhe são conferidas no artigo anterior caberá à ANP

exercer as atribuições relacionadas com as atividades de distribuição e revenda de

derivados de petróleo e álcool.

Art. 10. Quando, no exercício de suas atribuições, a ANP tomar conhecimento de fato

que possa configurar indício de infração da ordem econômica, deverá comunicá-lo

imediatamente ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade e à Secretaria

de Direito Econômico do Ministério da Justiça, para que estes adotem as providências

cabíveis, no âmbito da legislação pertinente.

Parágrafo único. Independentemente da comunicação prevista no caput deste artigo, o

Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade notificará a ANP do teor da decisão

que aplicar sanção por infração da ordem econômica cometida por empresas ou pessoas

físicas no exercício de atividades relacionadas com o abastecimento nacional de

combustíveis, no prazo máximo de vinte e quatro horas após a publicação do respectivo

acórdão, para que esta adote as providências legais de sua alçada.

SEÇÃO II

Da Estrutura Organizacional da Autarquia

Art. 11. A ANP será dirigida, em regime de colegiado, por uma Diretoria composta de

um Diretor-Geral e quatro Diretores.

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32 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

§ 1º Integrará a estrutura organizacional da ANP um Procurador-Geral.

§ 2º Os membros da Diretoria serão nomeados pelo Presidente da República, após

aprovação dos respectivos nomes pelo Senado Federal, nos termos da alínea f do inciso

III do art. 52 da Constituição Federal.

§ 3° Os membros da Diretoria cumprirão mandatos de quatro anos não coincidentes,

permitida a recondução.

Art. 12. A partir da data em que, por qualquer motivo, findar o exercício do cargo

respectivo, o ex-Diretor da ANP ficará impedido, por um período de doze meses, de

prestar, direta ou indiretamente, qualquer tipo de serviço a empresa integrante da indústria

do petróleo, do gás natural, de derivados, de biocombustíveis ou de distribuição e

comercialização, incluídas as empresas a essas prestadoras de serviços e consultorias

técnicas.

§ 1° Durante o impedimento, o ex-Diretor que não tiver sido exonerado poderá continuar

prestando serviço à ANP, ou a qualquer órgão da Administração Direta da União, mediante

remuneração equivalente à do cargo de direção que exerceu.

§ 2° Incorre na prática de advocacia administrativa, sujeitando-se às penas da lei, o ex-

Diretor que violar o impedimento previsto neste artigo.

SEÇÃO III

Das Receitas e do Acervo da Autarquia

Art. 13. Constituem receitas da ANP:

I - as dotações consignadas no Orçamento Geral da União, créditos especiais,

transferências e repasses que lhe forem conferidos;

II - as doações, legados, subvenções e outros recursos que lhe forem destinados;

III - o produto dos emolumentos, taxas e multas, previstos na legislação específica, os

valores apurados na venda ou locação dos bens móveis e imóveis de sua propriedade.

SEÇÃO IV

Do Processo Decisório

Art. 14. O processo decisório da ANP obedecerá aos princípios da legalidade,

impessoalidade, moralidade e publicidade.

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33NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

Art. 15. As sessões deliberativas da Diretoria da ANP que se destinem a resolver

pendências entre agentes econômicos e entre estes e consumidores e usuários de bens e

serviços da indústria do petróleo serão públicas, permitida a sua gravação por meios

eletrônicos e assegurado aos interessados o direito de delas obter transcrições.

Art. 16. As iniciativas de projetos de lei ou de alteração de normas administrativas que

impliquem afetação de direito dos agentes econômicos ou de consumidores e usuários

de bens e serviços da indústria do petróleo serão precedidas de audiências públicas

convocadas e dirigidas pela ANP.

Art. 17. O regimento interno da ANP disporá sobre os procedimentos a serem adotados

para a solução de conflitos entre agentes econômicos, e entre estes e usuários e

consumidores, com ênfase na conciliação e no arbitramento.

CAPÍTULO V

Da Exploração e da Produção

SEÇÃO I

Das Normas Gerais

Art. 18. Todos os direitos de exploração e produção de petróleo e gás natural em território

nacional, nele compreendidos a parte terrestre, o mar territorial, a plataforma continental

e a zona econômica exclusiva, pertencem à União.

Art. 19. O acervo técnico constituído pelos dados e informações sobre as bacias

sedimentares brasileiras é também considerado parte integrante dos recursos

hidrocarboníferos nacionais, e objeto de monopólio da União.

Seção II

Do Fundo Social Soberano

Art. 20. A receita líquida auferida pela União com as atividades econômicas de exploração

e produção, já excluídos os custos da atividade, o investimento e o re-investimento

necessários à execução das políticas e diretrizes energéticas e à busca de fontes alternativas

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34 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

de energia renovável e limpa, e o aporte implicado pelo autofinanciamento, será destinada

ao Fundo Social Soberano, constituído com a finalidade específica de promover incrementos

na saúde, previdência, e educação públicas, e em projetos de habitação popular e de

desenvolvimento sustentável da agricultura familiar.

Parágrafo 1o – O Fundo Social Soberano será regulamentado mediante decreto pelo Presidente

da República, preservados os aspectos da destinação e do incremento aqui tratados.

Parágrafo 2o – Do total da receita auferida pelo Fundo Social Soberano, o equivalente a 5%

será mantido em rubricada apartada, que poderá ser utilizada pela União para eventuais

medidas de minimização do impacto ambiental dessa indústria.

Parágrafo 3o – Os municípios e estados beneficiados pela compensação financeira da exploração

e produção de petróleo e gás natural no momento da publicação desta, continuarão a

receber tais parcelas, fixados os valores a serem distribuídos pelo equivalente ao valor

médio das compensações financeiras distribuídas em favor desses municípios e estados nos

5 anos anteriores à promulgação, ou pelo equivalente a 5% do total da receita auferida pelo

Fundo Social Soberano, o que for maior, sendo tal despesa suportada pelo Fundo Social

Soberano.

Parágrafo 4o – As receitas auferidas pelo Fundo Social Soberano, em sua integralidade, são

destinadas aos objetivos sociais mencionados no caput, de forma complementar aos

respectivos orçamentos da saúde, da previdência social, da educação pública, dos projetos

de habitação popular e de desenvolvimento sustentável da agricultura familiar, e não são

passíveis de desvinculação ou contingenciamento.

Parágrafo 5o – O Fundo Social Soberano será administrado por um Conselho Gestor, no qual

terá representação a sociedade civil.

Parágrafo 6º - O Governo da União poderá emitir títulos do Fundo Social Soberano, porém

sempre com a finalidade específica de, com o capital resultante, financiar a realização das

medidas de que trata esta Lei.

CAPÍTULO VI

Da Petrobrás

Art. 21. A empresa pública Petróleo Brasileiro – PETROBRÁS, instituída a partir da

transformação da sociedade de economia mista Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás, é

entidade integrante da Administração Federal Indireta, vinculada ao Ministério de Minas

e Energia, e tem por objeto o exercício do monopólio estatal do petróleo e das atividades

econômicas de que trata a presente Lei, bem como quaisquer outras atividades correlatas

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35NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

ou afins, integrantes da cadeia produtiva respectiva, tais como às relacionadas aos

biocombustíveis e à petroquímica.

§ 1º O exercício do monopólio estatal pela Petrobrás observará as diretrizes do CNPE,

em particular as relacionadas com o cumprimento do Plano Anual de Estoques Estratégicos

de Combustíveis, e obedecerá às demais normas legais e regulamentares pertinentes.

§ 2º A Petrobrás, diretamente ou por intermédio de suas subsidiárias, associada ou não

a terceiros, poderá exercer, fora do território nacional, qualquer uma das atividades

integrantes de seu objeto social, observados os princípios consagrados pelo Artigo 4º

da Constituição da República.

§ 3º À Petrobrás, no exercício do monopólio estatal de que trata a presente Lei, é

vedada a prática da contratação de parcerias e de joint-ventures.

Art. 22. Os contratos celebrados pela Petrobrás, para aquisição de bens e serviços,

serão precedidos de procedimento licitatório simplificado, a ser definido em decreto do

Presidente da República.

Art. 23. A partir da data em que, por qualquer motivo, findar o exercício do cargo

respectivo, o ex-Diretor, ou ex-Gerente Executivo da Petrobrás ficará impedido, por um

período de doze meses, de prestar, direta ou indiretamente, qualquer tipo de serviço a

empresa integrante da indústria do petróleo, do gás natural, de derivados, de

biocombustíveis ou de distribuição e comercialização, incluídas as empresas a essas

prestadoras de serviços e consultorias técnicas.

§ 1° Durante o impedimento, o ex-Diretor , ou ex-Gerente Executivo que não tiver sido exonerado

poderá continuar prestando serviço à Petrobrás, ou a qualquer órgão da Administração Direta da

União, mediante remuneração equivalente à do cargo de direção que exerceu.

§ 2° Incorre na prática de advocacia administrativa, sujeitando-se às penas da lei, o ex-

Diretor , ou ex-Gerente Executivo que violar o impedimento previsto neste artigo.

CAPÍTULO VII

Disposições Transitórias

Art. 24 Em razão do relevante interesse público, da titularidade da União sobre os

recursos naturais de que trata esta Lei, e da substancial alteração do quadro de reservas

brasileiras de petróleo e gás natural, ficam rescindidas as concessões realizadas sob a

égide da Lei 9.478/97.

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36 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

Parágrafo único – A União, no prazo de até 12 meses da publicação da presente, tomará

as medidas necessárias à avaliação e indenização de eventuais investimentos realizados

pelos então concessionários.

Art. 25. No prazo de até 12 meses da publicação desta Lei a União tomará as medidas

necessárias à indenização dos investimentos, instalações e patrimônios eventualmente

invertidos em razão do previsto nos artigos 53, 54 e 55 da Lei 9.478/97, relativos às

atividades de refino de petróleo e do processamento de gás natural, assim como dos

investimentos, instalações e patrimônios eventualmente invertidos em razão do previsto

nos artigos 56 a 59 da Lei 9.478/97, relativos às atividades de transporte de petróleo,

seus derivados e gás natural.

Art. 26. A empresa pública Petróleo Brasileiro – Petrobrás, é, para todos os fins de

direito, a sucessora da sociedade de economia mista Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás,

cuja transformação se determina. A empresa pública será formada a partir do patrimônio

e pessoal empregado da sociedade de economia mista, e por esta responderá jurídica e

administrativamente, perante quaisquer autoridades, foros e instâncias.

Parágrafo 1º - No prazo de até 12 meses a partir da publicação da presente Lei a União

tomará todas as medidas necessárias à transformação da sociedade de economia mista

Petróleo Brasileiro S/A em empresa pública.

Parágrafo 2º - Concomitantemente à transformação de que trata este artigo serão

reincorporadas à Petrobrás a sociedade de economia mista Petrobrás Transportes S/A -

Transpetro, e a Refinaria Alberto Pasqualini – Refap S/A. No mesmo prazo serão

incorporadas a Refinaria de Petróleo Riograndense S/A, localizada na cidade de Rio

Grande (RS), a Manguinhos Refinaria S/A, localizada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), e

a TBG – Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S/A. Todas as empresas serão

absorvidas pela estrutura da nova empresa pública Petróleo Brasileiro – Petrobrás.

Art. 27. A Petrobrás poderá transferir para seus ativos os títulos e valores recebidos por

qualquer subsidiária, em decorrência do Programa Nacional de Desestatização, mediante

apropriada redução de sua participação no capital social da subsidiária.

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37NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

CAPÍTULO VIII

Disposições Finais

Art. 28. Não se incluem nas regras desta Lei os equipamentos e instalações destinados a

execução de serviços locais de distribuição de gás canalizado, a que se refere o § 2º do

Art. 25 da Constituição Federal.

Art. 29. Nas atividades econômicas a que se refere esta lei, as relações de trabalho serão

regidas pela legislação brasileira.

Parágrafo único – Especialmente com relação aos regimes de trabalho, aplicam-se as

disposições da Lei 5.811/72, assim como as normas coletivas contratadas pela categoria

profissional a que esta se refere.

Art. 30. Revogam-se as disposições em contrário, e em especial a Lei 9.478/97.

Sala das Sessões, em ......

_________________________________

Dep. Fernando Marroni - PT/RS

Dep. Antonio Carlos Biscaia - PT/RJ

Dep. Carlos Santana – PT/RJ

Dep. Daniel de Almeida – PC do B/BA

Dep. Fátima Bezerra – PT/RN

Dep. Francisco Praciano – PT/AM

Dep. Jô Moraes – PCdoB/MG

Dep. João Paulo Cunha – PT/SP

Dep. José Leonardo Monteiro – PT/MG

Dep. Joseph Bandeira – PT/BA

Dep. Luiz Bassuma – PT/BA

Dep. Luiz Sérgio – PT/RJ

Dep. Marcos Maia – PT/RS

Dep. Paulo Rocha – PT/PA

Dep. Reginaldo Lopes – PT/MG

Dep. Sérgio Barradas Carneiro – PT/BA

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38 NORMANDO RODRIGUES – De que nova Lei do Petróleo precisamos?

Dep. Vander Loubet – PT/MS

Dep. Vanessa Grazziotin – PC do B/AM

Dep. Vicentinho – PT/SP

Dep. Washington Luiz – PT/MA

Dep. Emília Fernandes – PT/RS

Dep. Brizola Neto – PT/SP

Dep. Chico Alencar – PSOL/SP

Dep. Iriny Lopes – PT/SP