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Estudo sobre a relação da arquitetura sobre o curso de Arquitetura e Urbanismo, demonstrando as divergencias entre cada estudante e professor.
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Débora Machado
Relação de arquitetura e cidade como uma proposta de ocupação do espaço
público, a importância da calçada no contexto urbano
Avaliando as questões de transformação da sociedade, o texto procura
identificar os espaços públicos dentro da cidade, e de que forma esses espaços
proporcionaram e proporcionam ainda novas realidades, abrangendo
principalmente o projeto arquitetônico e urbanístico como uma proposta inicial de
transformação do espaço, permitindo uma compreensão da necessidade do local,
da proposta do arquiteto e da apropriação do espaço pelas pessoas.
Considera-se então que a arquitetura não é responsável exclusivamente
pela apropriação do espaço, nem mesmo pela transformação total de uma
realidade social urbana, mas entende-se que a arquitetura é inicialmente um
grande fator que desencadeia um processo de melhoria para a cidade. Sendo
assim, o texto procura analisar algumas regiões urbanas consideradas espaços
públicos relevantes na cidade, apontando significativamente cada influência, tanto
nas questões de projetos arquitetônicos de edifícios isolados, como também na
busca de um entendimento dessas áreas públicas utilizadas como espaços de
convivência, circulação e apropriação, e finalmente, uma compreensão dos
problemas de desenvolvimento social1.
Com a identificação desses espaços, e uma demarcação clara entre o que
é público e privado, busca-se sob o olhar da arquitetura, entender como o
arquiteto pode oferecer um espaço aberto à cidade e de que forma a arquitetura
pode contribuir para essa transformação2. Também se analisa, se a proposta
arquitetônica realmente era considerada, uma edificação ou uma área urbana em
que a população criasse um sentimento de pertencimento, e como ela está sendo
utilizada nos dias de hoje, gerando a pergunta se “atualmente essa arquitetura traz
benefícios e transformações na vida das pessoas dentro da cidade através do
espaço público?”. Nessa investigação é importante considerar como ponto de
partida que a arquitetura é implantada em uma sociedade civil democrática, mas
que se revela historicamente problemática.
1a. Canoagem 1b. Quadra esportiva
1c. Lanchonete 1d. Skatistas 1e. Estacionamento de veículos
Figuras 1a, 1b, 1c, 1d e 1e. Espaço Público: Projeto urbanístico A8ernA em Zaanstad na Holanda. Fonte: ANGLÈS, Magda e CARRERA, Judit. In Favour of Public Space: Tem Years of the European Prize for Urban Public Space. Barcelona: Centre de Cultura Contemporània de Barcelona and ACTAR, 2010. p. 114, 115, 118 e 119.
O projeto A8ernA, em Zaanstad na Holanda, apresentado através das
figuras 1a a 1e, é uma amostra real de uma intervenção de sucesso em áreas
antes, vazias e inutilizadas, criando atrativos de lazer e esporte em um espaço
agradável e trazendo uma utilização efetiva da população.
É necessário enfatizar a importância do papel do espaço público na cidade,
sendo cada um dentro da sua especificidade, como a rua, a calçada, praça e o
edifício, entre tantos outros, que são locais que trazem o sentido de vida pública
para os usuários, mas é inegável ressaltar que isso vem se perdendo na medida
em que se criam novos núcleos urbanos com caráter privatizado3, como o
exemplo, temos o shopping center, que além de oferecer como atividade principal,
o consumo, também oferece uma arquitetura fechada e sem conexão com a
cidade.
Espaços públicos por excelência, a calçada com papel vital para a cidade
Nesse momento do texto, é importante destacar o que compreende como
espaço público. Em primeiríssimo lugar está a calçada, como o espaço público
mais relevante da cidade, é através desse local que acontece a circulação
democrática na cidade, ou seja, onde todas as pessoas circulam na mesma
condição. Entende-se então, que a calçada é uma via pavimentada destinada ao
uso do pedestre conhecida como passeio público, também pode ser utilizada por
outros meios que não seja o veículo, como a bicicleta, o skate e a cadeira de
rodas, mas deve sempre ser pensada com um espaço que proteja o pedestre e ao
mesmo tempo promova uma circulação agradável através de uma pavimentação
adequada aos limites de desníveis.
Por meio da calçada é que as pessoas acessam os edifícios e
equipamentos ligados ao transporte público como estações de ônibus, trem e
metrô, pontos de ônibus e passarelas. Utilizando esse espaço de circulação, as
pessoas passam a ter contato com o mobiliário urbano, e assim a qualidade do
espaço público da cidade se revela, através de seus pontos de ônibus, telefones
públicos, bancos, luminárias, postes, bancas de jornal, e a vegetação que muitas
vezes está presente com árvores e canteiros. Referindo-se a preservação desses
mobiliários, a população também deve se preocupar em mantê-los para que
possam usufruir produtos de qualidade na cidade.
2a. Calçada da catedral da Sé 2b. Calçada do Conjunto Nacional , em 30/10/2011.
Foto: Programa Google Street Autora: Débora Machado
View em http://maps.google.com.br
(acesso em 14/09/2011).
As imagens acima apresentam duas situações distintas, a fig. 2a apresenta
a calçada da Catedral da Sé, na região central de São Paulo, sendo essa, uma
edificação emblemática para a cidade, tem seu passeio público estreito com
problemas no piso que muitas vezes oferece perigo aos pedestres, além de uma
grade que impede a continuidade da calçada com o edifício. Já a fig. 2b retrata a
calçada da Avenida Paulista que é bastante ampla e com maior presença de
mobiliário urbano, o Conjunto Nacional estabelece uma área permeável, com um
único material de piso, é uma área plana onde a calçada e o pavimento térreo se
tornam um espaço contínuo.
Outro dado importante na análise da calçada é a dimensão do passeio, ou
seja, a largura da calçada, quanto maior for à área entre a rua e o edifício, maior
será o conforto de quem circula nesse espaço. Assim pensamos que se uma
calçada é larga, muitas pessoas podem circular nela ao mesmo tempo, o que
gera muito mais convívio e qualidade para o espaço, o pedestre pode contemplar
a paisagem e admirar os edifícios vivenciando muito mais a cidade. Enquanto que,
em uma calçada muito estreita, as pessoas circulam atentas aos veículos,
esbarram umas nas outras e tem como objetivo, chegar o mais rápido em seu
destino, perdendo a possibilidade de vivenciar a cidade de maneira agradável.
O espaço de circulação que privilegia o pedestre é fundamental na vida da
cidade, pensando nisso, algumas áreas urbanas criaram ruas destinadas aos
pedestres, o chamado calçadão, essa via específica e exclusiva para pedestre
oferece uma qualidade ímpar ao espaço urbano, faz dessa rua um local muito
mais agradável e tranquilo, sem a competição desleal do pedestre com o
automóvel. Em muitos casos, o calçadão é uma rua de acesso ao transporte
público, como estações e terminais, em outros casos, é uma via que atravessa o
miolo da quadra, onde oferecem além da passagem, a possibilidade de novos
comércios, áreas de estar e convívio com bancos e outros mobiliários e até
mesmo novos acessos aos edifícios.
3. Rua Barão de Itapetininga, em 18/10/2011. Autora: Débora Machado
A arquitetura é responsável por tornar o pavimento térreo como uma
continuidade da calçada, não estabelecendo barreiras rígidas e favorecendo a
visualização do edifício para quem circula na calçada. Essas áreas que chamamos
de espaços permeáveis não são espaços públicos, porém em alguns casos se
torna público por não haver nenhuma demarcação de grade ou limite entre a
calçada e o lote. O arquiteto Hertzberger aponta esses espaços como intervalo,
que são criados como “espaços intermediários que, embora do ponto de vista
administrativo possam pertencer quer ao domínio público quer ao privado, sejam
igualmente acessíveis para ambos os lados, isto é, quando é inteiramente
aceitável, para ambos os lados, que o „outro‟ também possa usá-lo.”4
Existem edifícios que estabelecem limites simbólicos com vegetação, muros
ou cercas baixas, mas existem também arquiteturas que constituem limites bem
definidos entre o edifício e a calçada, através de muros altos, grades imensas
agredindo a paisagem e trazendo uma sensação clara da separação entre o
público e o privado. Cabe pensar à arquitetura, que a relação do edifício com a
cidade inicia-se na fronteira do lote com a calçada, é através do desenho
arquitetônico que se define essas questões que claro, não estabelece todo o
comportamento humano, mas que cria indutores para utilização desse espaço.
4a. Corte esquemático da calçada 4b. Corte esquemático da calçada mostrando os elementos estreita possíveis na calçada Autora: Débora Machado
É muito discrepante, a realidade de se circular em áreas pequenas sem um
campo visual e em áreas mais amplas com fluidez. Na fig. 4, os desenhos
mostram situações onde a calçada e os edifícios se relacionam, na primeira
imagem, entende-se o edifício até o limite da calçada e a área de passeio é
estreita, o pedestre como observador não consegue perceber a cidade com
clareza, se sentindo também inseguro devido à proximidade com os veículos. Na
segunda imagem, mantém-se o mesmo edifício, considerando a calçada maior,
sendo essa três vezes o tamanho da outra, nessa proposta, o passeio permite a
presença de mobiliários urbanos, com objetos de assento e vegetação, o
observador consegue perceber muito mais a paisagem urbana e circular com mais
conforto, outra questão é o distanciamento dos veículos, que nessa situação faz
com que indivíduo viva o espaço público com muito mais tranqüilidade.
Discutindo a questão inicial, identifica-se claramente que a arquitetura é
responsável por trazer essa transformação, pois é através do desenho
arquitetônico que a cidade toma forma e oferece possibilidades de usos. Nem
sempre os interesses particulares ou financeiros promovem a criação de espaço
público, porém constata-se que a arquitetura pode contribuir significativamente na
configuração de novos espaços públicos, também na recuperação e na
reabilitação desses espaços.
Bibliografia
Livros
ABRAHÃO, Sérgio Luís. Espaço público: do urbano ao político. São Paulo:
Annablume Editora, 2008.
ANGLÈS, Magda e CARRERA, Judit. In Favour of Public Space: Tem Years
of the European Prize for Urban Public Space. Barcelona: Centre de Cultura
Contemporània de Barcelona and ACTAR, 2010.
HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo, Martins
Fontes, 1999.
JUNIOR, Heitor Frúgoli. São Paulo: Espaços Públicos e Interação Social,
São Paulo: Editora Marco Zero, 1995.
SOUZA, Edison Eloy de. Arquitetura: Avenida Paulista. São Paulo:
Amplitude Editora, 2011.
Teses
ALEX, Sun (2004) Convívio e exclusão no espaço público: questões de
projeto da praça. Tese de Doutorado, PO. MAGNOLI, Miranda Maria Esmeralda
Martinelli.
1 O autor Herman Hertzberger, explica que esse avanço social é uma responsabilidade de todos
dizendo que “A incrível destruição da propriedade pública, destruição que está aumentando nas principais cidades do mundo, pode ser provavelmente imputada à alienação diante do ambiente de vida. O fato de que os abrigos de transporte público e os telefones públicos venham sendo, semana após semana, completamente destruídos é na verdade uma alarmante acusação à nossa sociedade como um todo” em HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo, Martins Fontes, 1999. p. 47. 2 No ano de 2010, foi lançado um livro reunindo novas propostas de melhorias para os espaços
públicos na Europa, esse livro apresenta não somente projetos de requalificação como também propostas de novos usos em áreas urbanas deterioradas, como exemplo, o caso da A8ernA em Zaanstad na Holanda que criou em baixo de um viaduto, áreas comuns com águas para canoagem, quadras esportivas e estabelecimentos de alimentação. Ver em ANGLÈS, Magda e CARRERA, Judit. In Favour of Public Space: Tem Years of the European Prize for Urban Public Space. Barcelona: Centre de Cultura Contemporània de Barcelona and ACTAR, 2010. 3 Ver em ABRAHÃO, Sérgio Luís. Espaço público: do urbano ao político. São Paulo: Annablume
Editora, 2008. 4 Em HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo, Martins Fontes, 1999. p. 40.