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1 Mod.016_01 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/070/2017; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento de uma reclamação subscrita por J.B., no que concerne à atuação do Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX), estabelecimento prestador de cuidados de saúde inscrito no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 101266, que integra a entidade Escala Vila Franca Sociedade Gestora do Estabelecimento S.A., inscrita sob o n.º 20639.

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1 Mod.016_01

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce

funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes

às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e

social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos

no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/070/2017;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento de uma reclamação

subscrita por J.B., no que concerne à atuação do Hospital de Vila Franca de Xira

(HVFX), estabelecimento prestador de cuidados de saúde inscrito no Sistema de

Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 101266, que

integra a entidade Escala Vila Franca Sociedade Gestora do Estabelecimento S.A.,

inscrita sob o n.º 20639.

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2. Na referida reclamação, à qual foi atribuída o número REC/44640/2017, a reclamante

alega que, no dia 16 de julho de 2017, recorreu ao Serviço de Urgência do HVFX com

a sua mãe, a utente C.C., tendo esta sofrido uma queda da maca onde se encontrava.

3. Para uma averiguação preliminar dos factos enunciados pela exponente, e ao abrigo

das atribuições e competências da ERS, procedeu-se à abertura do processo de

avaliação registado sob o número n.º AV/127/2017.

4. No entanto, face aos elementos recolhidos no referido processo de avaliação e

atendendo à necessidade de uma averiguação mais aprofundada dos factos relatados,

ao abrigo das atribuições e competências da ERS, o respetivo Conselho de

Administração deliberou, por despacho de 2 de novembro de 2017, proceder à

abertura do presente processo de inquérito, registado internamente sob o n.º

ERS/070/2017, com o intuito de se avaliar se, no caso concreto, foram garantidos os

direitos e interesses legítimos da utente, em especial o direito de acesso a cuidados

de saúde de segurança e com qualidade, e, por outro lado, aferir da efetiva

implementação de procedimentos internos de avaliação do risco de queda dos utentes

e de prevenção da ocorrência destes incidentes no estabelecimento visado.

I.2. Diligências

5. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se as seguintes

diligências instrutórias:

(i) Pesquisa no SRER da ERS relativa à inscrição do Hospital de Vila Franca de

Xira (HVFX), constatando-se que o mesmo é um estabelecimento prestador de

cuidados de saúde registado no SRER da ERS;

(ii) Pedido de elementos enviado ao HVFX em 2 de outubro de 2017, e análise da

resposta endereçada à ERS, rececionada em 20 de outubro de 2017;

(iii) Notificação de abertura de processo de inquérito enviada à exponente em 15 de

novembro de 2017;

(iv) Notificação de abertura de processo de inquérito enviada ao HVFX em m 15 de

novembro de 2017;

(v) Pesquisa no Sistema de Gestão de Reclamações (SGREC) da ERS de

reclamações relativas a quedas de utentes e procedimentos de segurança do

HVFX

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(vi) Pedido de relatório de apreciação clínica a perito consultor da ERS a 12 de

dezembro de 2017, e análise do respetivo parecer.

II. DOS FACTOS

6. Concretamente, cumpre destacar os seguintes factos alegados pela exponente na sua

reclamação:

“[…]

Hoje a minha mãe C.C. entrou neste Hospital com pulseira verde, com falta de

mobilidade. Entrou nas urgências no serviço de observação. 1º deu queda ficou com a

cara cheia de hematomas e fratura no nariz. Os enfermeiros disseram-me depois de

questionar a situação que ela tinha pulado a cama (com grades). Como é possível

uma senhora de 85 anos e falta de força e mobilidade, foi esta a razão porque veio ao

hospital. […]”.

7. Em resposta à referida reclamação, o prestador remeteu à exponente, em 3 de agosto

de 2017, os seguintes esclarecimentos:

“[…]

Analisada a sua exposição que mereceu a nossa melhor atenção, cumpre esclarecer

que, a Utente Sra. C.C. sofreu uma queda no Serviço de Urgência no nosso hospital

no dia 16 de julho de 2017, apesar de tomadas as medidas preconizadas

relativamente à prevenção de quedas.

Segundo registos efetuados no processo clínico, a doente terá ignorado as

recomendações e mesmo com as grades subidas terá realizado uma tentativa de

levante, referindo que pensava ser capaz de se levantar sozinha.

Lamentamos a ocorrência do episódio profundamente desagradável, informamos que

a situação exposta foi encaminhada para a equipa responsável pelos cuidados, no

sentido de serem tomadas medidas mais efetivas para evitar que episódios

semelhantes ocorram no futuro. […]”.

8. Nessa senda, foi enviado um pedido de elementos ao HVFX, por ofício datado de 2 de

outubro de 2017, concretamente solicitando:

“[…]

1. Descrição pormenorizada das circunstâncias em que se verificou a queda da

utente e dos cuidados de saúde prestados nessa sequência, mais se solicitando

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que esclareçam o tempo que mediou entre a queda da utente e o momento em

que interveio a equipa de enfermagem e/ou médico responsável, com envio de

relatório que inclua os registos clínicos e/ou os registos de enfermagem;

2. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada dos procedimentos

internos de avaliação do risco de queda dos utentes e de prevenção da

ocorrência destes incidentes;

3. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, dos procedimentos

em vigor para o registo e comunicação de eventos adversos, aos serviços com

responsabilidades nas áreas de gestão de risco e/ou qualidade e segurança,

seja a nível interno, seja ao nível externo;

4. Quaisquer outros esclarecimentos complementares julgados necessários e

relevantes para a análise do caso concreto. […]”.

9. Nessa sequência, veio o HVFX, por mensagem de correio eletrónico rececionada a 20

de outubro de 2017, remeter os seguintes esclarecimentos:

“[…]

Na sequência da exposição apresentada pela Utente Sra. J.B., relativa a queda da

maca da Sra. C.C., no Serviço de Urgência no dia 16 de julho de 2017, e conforme

solicitado por V. Exa., o Hospital Vila Franca de Xira vem prestar infra os

esclarecimentos requeridos, bem como juntar a informação documental em anexo:

1. A Utente Sra. C.C. […] recorreu ao Serviço de Urgência no dia 16 de julho de

2017 por edema dos membros inferiores, tendo sido atribuída pulseira verde-

Pouco Urgente, pelas 12h18m. No momento da triagem foi aplicado o protocolo

de Risco de Queda, identificado com uma etiqueta autocolante de cor vermelha

(Prevenção de Alto Risco de Queda), conforme registo da Equipa de Enfermagem

e alertada a Utente para adoção de medidas de segurança.

Às 13h foi aplicado o protocolo de prevenção de quedas pela equipa de

enfermagem na sala de Observação, onde foi alocada a Sra. em maca, conforme

registo que se envia em Anexo 1.

A Sra. C.C. foi observada às 13h18m (no tempo preconizado para a cor de

triagem Verde – 120 minutos). Após a observação médica rigorosa, foram

solicitados exames complementares de diagnóstico, ficando a doente em

observação para esclarecimento do quadro, por queixa inicialmente apresentada

– falta de forças nos membros inferiores.

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Pelas 16h44m a doente tentou levantar-se sozinha, tropeçou e caiu (apesar de

todas as medidas possíveis tomadas pela equipa para evitar o sucedido). Desta

queda resultou traumatismo craniano frontal sem perda de conhecimento

(enquanto a própria referia que pensava poder levantar-se sozinha). Foi

reavaliada pelo médico que solicitou Tomografia Crânio-Encefálica que não

mostrou alterações agudas encefálicas, mas evidenciou fratura dos ossos

próprios do nariz; foi seguidamente avaliada pela equipa de Cirurgia. Manteve-se

em vigilância, sendo que durante o período de observação não se registaram

complicações, e foi ponderada alta hospitalar com ensino de sinais de alarme.

Enviamos em Anexo 2, resumo da Informação Clínica e resumo do Episódio de

Urgência, assim como, a Ficha do Incidente em Anexo 3.

2. Aquando da entrada no Serviço de Urgência é realizada a todos os Utentes uma

Avaliação de Risco de Quedas conforme fluxograma da triagem, que segue em

Anexo 4. Neste procedimento é identificado o nível de risco do Utente por forma a

implementar medidas preventivas preconizadas (Anexo 5- Ponto 4.6), esse nível

é identificado com uma etiqueta autocolante de cor vermelha (Prevenção de Alto

Risco de Queda) na pulseira do próprio Utente. Sempre que um doente é avaliado

com “alto risco de queda”, essa informação é registada pela equipa de

enfermagem que realiza a triagem, no processo clínico do próprio, bem como a

informação sobre o ensino efetuado ao doente e acompanhante das medidas de

prevenção de quedas. Ademais a este respeito cumpre informar que, a um doente

que permaneça nas salas de observação sinalizado com “alto risco de queda” é-

lhe aplicado o protocolo de prevenção de alto risco de queda pela equipa de

enfermagem, baseado nas medidas de prevenção gerais referidas anteriormente.

Todos os procedimentos mencionados anteriormente são executados tendo por

base uma Instrução de trabalho (IT.GER.054.06-Anexo 5), que permite

uniformizar o procedimento para avaliação do risco de queda dos Utentes, de

modo a prevenir e agir para reduzir este risco e, consequentemente, as lesões

decorrentes das quedas, aplicável a todos os Utentes de acordo com o local,

situação clínica e condições físicas do mesmo.

3. Em Anexo 6 envia-se o Procedimento-Notificação de Eventos adversos, que se

aplica a todos os Serviços do Hospital Vila Franca de Xira. Este procedimento tem

como objetivo garantir que a ocorrência de qualquer quase-falha, evento adverso

e eventos sentinela sejam declarados pelos profissionais do hospital, recebidos

pela Gestão de Risco, analisados e identificar a causa, por forma a obrigar a

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ações corretivas ou oportunidades de melhoria que visem a melhoria da qualidade

e segurança dos doentes.

4. Por considerarmos relevante para a análise do caso em concreto, enviamos o

Reporte Anual relativo ao ano de 2016 (Anexo 7) realizado pela área da gestão

do risco que nos permite concluir que, a avaliação de risco de queda nas

primeiras 24 horas é de 98,5%, com implementação de medidas face ao risco,

realizada em 99% dos casos no mês de dezembro de 2016.

Enviamos também o Reporte Semestral relativo ao primeiro semestre de 2017

(Anexo 8), onde se constata que a avaliação nas primeiras 24 horas é de 99,5% e

a implementação de medidas face ao risco, realizada em 97% dos casos. […]”.

10. Em anexo à referida resposta ao pedido de elementos da ERS, o prestador juntou aos

autos os seguintes documentos:

(i) Registo de Enfermagem da utente C.C., de 16 de julho de 2017;

(ii) Resumo da Informação Clínica da utente C.C., referente ao episódio de 16 de

julho de 2017;

(iii) Resumo do Episódio de Urgência de 16 de julho de 2017;

(iv) Ficha do Incidente de 16 de julho de 2017;

(v) Procedimento de Avaliação e Prevenção do Risco de Quedas no Serviço de

Urgência, datado de 14 de junho de 2017;

(vi) Procedimento de Avaliação e Prevenção do Risco de Quedas, datado de 1 de

fevereiro de 2017;

(vii) Procedimento de Notificação de Eventos Adversos, datado de 22 de junho de

2017;

(viii) Reporte Anual de 2016;

(ix) Reporte Semestral – 1.º Semestre de 2017.

11. Sendo que, do registo de Enfermagem da utente C.C. consta, pelas 13h00m de dia 16

de julho de 2017, a seguinte observação: “Aplicar protocolo de prevenção de quedas –

Alto risco: 1 – Supervisionar a actividade da pessoa; 3- Colocar grades na cama; 5 –

Manter grades da cama; 8 – Manter a cama baixa; 9 – Manter a cama travada.”.

12. Por sua vez, do relatório do episódio de urgência da utente, de 16 de julho de 2017,

consta, no que para os presentes autos importa relevar, o seguinte:

“[…]

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Triagem

2017-07-16 12:18 Enf.ª C.S.

Grau: Pouco Urgente; Fluxograma: Problemas nos membros; Discriminador: Edema;

Mobilidade: Maca; Destino: NH Geral – Sala observação 2; Queixa: Recorre por falta

de forças a nível dos membros inferiores desde esta manhã – apresenta edema dos

mesmos; Observações: Alto risco de queda – alertado utente para adopção de

medidas de segurança; Escala Dor: 3;

[…]

Notas de Enfermagem: […]

2017-07-16 16:44 Enf. J.A.

Utente tentou levantar-se sozinha, tropeçou ao tentar levantar-se da cama e teve TCE

com consequente hematoma a nível frontal, sem PC, utente referiu “pensava ser

capaz de se levantar sozinha” – SIC, sem PC, responde a questões. […]”.

13. Já da ficha do incidente da utente, de 16 de julho de 2017, consta o seguinte:

“[…]

Descrição dos Factos (Descreva o que aconteceu, como e o quê)

A utente ao tentar levantar-se sozinha, escorregou da maca, tendo tido consequente

trauma facial. Utente refere que “pensava que era capaz de se levantar sozinha” –

SIC. Maca encontrava-se baixa, grades levantadas.

[…]

Ações de melhoria preventivas

Maior nr de Enfermeiros por turno, não existência de inúmeros internados no SU, o

que faz com que os utentes do SU fiquem confinados a uma única sala (neste caso

SO1), o que limita o trabalho, vigilância tanto dos utentes internados, como dos

utentes urgência. […]”.

14. Do procedimento de “Avaliação e Prevenção do Risco de Quedas no Serviço de

Urgência”, remetido pelo HVFX e datado de 14 de junho de 2017, consta o seguinte:

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15. Por sua vez, no procedimento instituído pelo prestador em 1 de fevereiro de 2017,

para “Avaliação e Prevenção do Risco de Quedas”, é referido o seguinte:

“[…]

Os utentes com “alto risco de queda” e/ou seu acompanhante que permaneçam nas

salas de espera, são alertados pelo enfermeiro de triagem, para a adoção de medidas

de prevenção de quedas. Aos utentes com “alto risco de queda” que permaneçam nas

salas de observação, é-lhes aplicado o protocolo de prevenção de alto risco de

queda.

[…]

4.6 IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS DE PREVENÇÃO

4.6.1 Gerais

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Para a prevenção de quedas, deve manter-se a unidade segura, o que implica

intervenções gerais, as quais se aplicam a qualquer utente e devem ser selecionadas

consoante a condição apresentada pelo utente:

Assegurar que no quarto / unidade de tratamento só está a mobília /

equipamento permitido e que existe espaço para o utente se mobilizar; […]

Não abrir janelas; […]

Manter o plano da cama no nível mais baixo possível, exceto se o serviço ou

características clínicas do utente não o permitirem;

Manter elevadas ambas as proteções laterais da cama / maca principalmente

quando estão agitados e/ou confusos;

Manter travão de segurança nas camas, macas e cadeiras de rodas e

cadeirão;

Manter o chão livre de obstáculos;

Posicionar a campainha para chamada, bem como objetos mais utilizados pelo

utente, de modo a estarem facilmente ao alcance do mesmo; […]

Efetuar o transporte dentro do hospital sempre acompanhado por um

profissional de saúde; […]

4.6.2 De Acordo com o Grau de Dependência nos Auto Cuidados e Orientação

Monitorizar e assistir o utente nos autocuidados de acordo com o grau de

dependência; […]

Promover uma maior vigilância da unidade do utente;

Estar sempre presente na mobilização do utente;

Aplicar Protocolos Clínicos, se necessário e após prescrição médica;

Em particular nos utentes desorientados, confusos, agitados ou com

hemiparesias, ponderar a colocação de imobilizador de dorso quando o utente

estiver deitado, sentado em cadeira de rodas ou cadeirão;

Informar utente e/ou acompanhante (de acordo com o estado de orientação), da

avaliação do risco de queda e das intervenções realizadas, em particular os casos de

alto risco de queda.

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As medidas de contenção, a sua necessidade e importância na prevenção de quedas,

devem ser comunicadas aos familiares, assim como o reforço das medidas gerais e

especificas para aquele utente.

[…]

Alto Risco

Supervisionar a atividade da pessoa

Garantir ambiente seguro

Colocar grades na cama

Colocar a campainha em local acessível

Identificar a pessoa com risco de queda

Manter grades da cama elevadas

Restringir atividade motora (Contenção mecânica e/ou medicamentosa) –

Nota: Ambas devem ser prescritas pelo médico, conforme ITL.PSI.001

Contenção de Doentes

Levante apenas com ajuda de outra pessoa

Manter a cama baixa

Manter a cama travada

Manter o cadeirão travado

Disponibilizar auxiliares de deambulação

Calçado adequad ou meias antiderrapantes

Promover ensino ao utente e família

Nota: Devem ser selecionadas as intervenções adequadas à situação do

utente. […]”.

16. Tendo em conta a necessidade de avaliação técnica dos factos em presença, em 12

de dezembro de 2017, foi solicitado parecer a perito consultado pela ERS, cujas

conclusões, em suma, se reconduzem a:

“[…]

Os tempos entre a chegada ao SU a triagem (12.18) e o atendimento (13.18 )

isto é, 60’ minutos depois da chegada, encontram-se dentro dos parâmetros

normais e dentro das diretrizes da Triagem de Manchester;

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Doente com queixas de edemas dos membros inferiores;

Triada corretamente com pulseira verde (anexo 4);

Levantado o risco elevado de queda e colocada a pulseira adequada;

Após o atendimento, foi identificada com a identificação de pulseira vermelha e

colocada com medidas preventivas (cama com grades)(anexo 5);

Após o evento, foi feita a notificação para o gabinete do risco (anexo 6);

Foram aplicados todos os protocolos institucionais existentes para estes casos

(anexo 5);

Não foi instaurado internamente qualquer processo de averiguação.”.

17. Assim, conclui, em suma, o perito consultado pela ERS que:

“[…]

Pelos resultados que nos foram facultados o risco de queda da população que se

dirige ao SU desta instituição é elevado, o que obriga a uma maior atenção. Saliento:

Uso de imobilizadores. Por vezes não é levantado ao doente na triagem o grau

de agitação, porque na realidade não o manifestam, mas sendo idosos e em

ambientes estranhos desenvolvem comportamentos indiferenciados e

inesperados. (o caso);

Doente idoso, com perturbações mentais, a fazer hipocoagulantes.

Necessidade de mais vigilância;

Zonas específicas para doentes de risco elevado de queda e agitação;

Lotação segura para a prática de atendimento em doente em estado

confusional; […]”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

18. De acordo com o preceituado no n.º 1 do artigo 4.º e no n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, a ERS

tem por missão a regulação, a supervisão e a promoção e defesa da concorrência,

respeitantes às atividades económicas na área da saúde dos setores privado, público,

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cooperativo e social, e, em concreto, à atividade dos estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde;

19. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos

mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do

setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza

jurídica.

20. Consequentemente, o Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX) é um estabelecimento

prestador de cuidados de saúde, inscrito no SRER da ERS sob o n.º 101266, e que

integra a entidade Escala Vila Franca Sociedade Gestora do Estabelecimento S.A.,

inscrita sob o n.º 20639.

21. As atribuições da ERS, de acordo com o n.º 2 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS

compreendem “a supervisão da atividade e funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, no que respeita […entre outros] [ao] “cumprimento

dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento”, “[à] garantia dos direitos

relativos ao acesso aos cuidados de saúde”, e “[à] prestação de cuidados de saúde de

qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes”.

22. Com efeito, são objetivos da ERS, nos termos das alíneas a), c) e d) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, “assegurar o cumprimento dos requisitos do exercício da atividade

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde”; “garantir os direitos e

interesses legítimos dos utentes” e “zelar pela prestação de cuidados de saúde de

qualidade”.

23. No que toca à alínea a) do artigo 10.º dos Estatutos da ERS, a alínea c) do artigo 11.º

do mesmo diploma estabelece ser incumbência da ERS “assegurar o cumprimento

dos requisitos legais e regulamentares de funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde e sancionar o seu incumprimento”.

24. Já no que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea c) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, de garantia dos direitos e legítimos interesses dos utentes, a alínea

a) do artigo 13.º do mesmo diploma estabelece ser incumbência da ERS “apreciar as

queixas e reclamações dos utentes e monitorizar o seguimento dado pelos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde às mesmas”.

25. Finalmente, e a propósito do objetivo consagrado na alínea d) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, a alínea c) do artigo 14.º do mesmo diploma prescreve que

compete à ERS “garantir o direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde de

qualidade”.

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26. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão, consubstanciado, designadamente, no dever de zelar pela

aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis, e ainda mediante a

emissão de ordens e instruções, bem como recomendações ou advertências

individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas

com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de

conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos e

interesses legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da

ERS.

27. Tal como configurada, a situação denunciada nos autos poderá consubstanciar não só

um comportamento atentatório dos direitos e legítimos interesses da utente C.C.

(concretamente, do direito à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com

segurança), mas também na violação de normativos que à ERS cabe acautelar, na

prossecução da sua missão de regulação e supervisão da atividade dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde

III.2.1. Do direito à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança

28. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível da

prestação de cuidados de saúde, dos recursos humanos, do equipamento disponível e

das instalações, está presente no sector da prestação de cuidados de saúde de uma

forma mais acentuada do que em qualquer outra área.

29. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que os

serviços sejam prestados em condições que não lesem os interesses nem os direitos

dos utentes.

30. Sobretudo, importa ter em consideração que a assimetria de informação que se verifica

entre prestadores e utentes reduz a capacidade destes últimos de perceberem e

avaliarem o seu estado de saúde, bem como, a qualidade e adequação dos serviços

que lhe são prestados.

31. Além disso, a importância do bem em causa (a saúde do doente) imprime uma

gravidade excecional à prestação de cuidados em situação de falta de condições

adequadas.

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32. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados de saúde

devem ser considerados, seja do ponto de vista do risco clínico, seja do risco não

clínico.

33. Assim, o utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde sejam

prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de

qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz

respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados.

34. Os utentes gozam do direito de exigir dos prestadores de cuidados de saúde o

cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,

bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos

científicos e técnicos aplicáveis e pelas regras de boa prática médica, ou seja, pelas

leges artis.

35. Os utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde

encontram-se, não raras vezes, numa situação de vulnerabilidade que torna ainda

mais premente a necessidade dos cuidados de saúde serem prestados pelos meios

adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica e respeito.

36. A este respeito encontra-se reconhecido na Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, que

aprovou a Lei de Bases da Saúde (LBS), e, hoje, no artigo 4º da Lei n.º 15/2014, de 21

de março, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios adequados,

humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito” – cfr. alínea

c) da Base XIV da LBS.

37. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos meios

adequados e com correção técnica está certamente a referir-se à utilização, pelos

prestadores de cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias tecnicamente mais

corretas e que melhor se adequam à necessidade concreta de cada utente.

38. Por outro lado, quando na alínea c) da Base XIV da LBS se afirma que os utentes

devem ser tratados humanamente e com respeito, tal imposição decorre diretamente

do dever dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde de atenderem e

tratarem os seus utentes em respeito pela dignidade humana, como direito e princípio

estruturante da República Portuguesa.

39. De facto, os profissionais de saúde que se encontram ao serviço dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde devem ter “redobrado cuidado de respeitar as

pessoas particularmente frágeis pela doença ou pela deficiência”.

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40. E a qualidade dos serviços de saúde não se esgota nas condições técnicas de

execução da prestação, mas abrange também a comunicação e informação ao utente,

dos resultados dessa mesma prestação.

41. Para além destas exigências, os prestadores de cuidados de saúde devem ainda

assegurar e fazer cumprir um conjunto de procedimentos, que tenham por objetivo

prevenir e controlar a ocorrência de incidentes e eventos adversos, que possam afetar

os direitos e interesses legítimos dos utentes.

42. Em especial, devem ser observadas as regras constantes da Orientação da Direção-

Geral da Saúde (doravante DGS) n.º 011/2012, de 30 de julho de 2012, referente à

Análise de Incidentes e de Eventos Adversos1, bem como a Norma da DGS n.º

015/2014, de 25 de setembro de 2014, que cria o Sistema Nacional de Notificação de

Incidentes - NOTIFICA2.

43. Os sobreditos documentos, aplicáveis a todas as entidades prestadoras de cuidados

de saúde do Sistema de Saúde Português, estabelecem procedimentos que

constituem instrumentos eficazes para a deteção de eventos adversos e para

estimular a reflexão e o estudo sobre os mesmos, por forma a determinar a alteração

de comportamentos e a correção e retificação de erros, em prol da qualidade, eficácia,

eficiência e segurança dos cuidados de saúde a prestar aos utentes.

44. Assim, a Orientação da DGS n.º 011/2012, referente à Análise de Incidentes e de

Eventos Adversos, estabelece concretamente o seguinte:

“Sempre que se verificar a ocorrência de um incidente potencialmente grave ou de um

evento adverso, os serviços prestadores de cuidados de saúde devem:

1) promover a aprendizagem sobre as respetivas causas e prevenir a sua

recorrência;

2) identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre essas causas, indo

além da mera resolução das manifestações dos problemas;

3) seguir a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz, elaborada

a partir das experiências internacionais nesta área, anexa à presente Orientação e

que dela faz parte integrante.”

1 A Orientação da DGS n.º 011/2012, de 30 de julho de 2012, pode ser consultada em

https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs.aspx. 2 A Norma da DGS n.º 015/2014, de 25 de setembro de 2014, procurou reconfigurar e melhorar a

estrutura e organização de conteúdos do antigo Sistema Nacional de Notificação de Incidentes e Eventos Adversos (SNNIEA), e pode ser consultada em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs.aspx.

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45. Já relativamente à Norma da DGS n.º 015/2014, que cria o Sistema Nacional de

Notificação de Incidentes – NOTIFICA, a mesma estabelece que:

“1. Todas as Unidades do Sistema de Saúde devem possuir uma estrutura

responsável pela gestão e análise interna de incidentes de segurança do doente.

2. A indicação do gestor local e do seu substituto, junto desta Direção-Geral, deve

obrigatoriamente:

a. conter os seus nomes completos, endereços eletrónicos e contactos telefónicos

profissionais;

b. serem dirigidos ao endereço [email protected].

3. O gestor local ou o seu substituto ficam, obrigados a garantir:

a. que o acesso à sua página pessoal no NOTIFICA é intransmissível;

b. reporte periódico à administração da instituição;

c. o respeito e o cumprimento dos procedimentos previsto no “Manual do Gestor

local”, disponível na página www.dgs.pt.

4. Os incidentes reportados no NOTIFICA devem ser alvo de análise interna, pelo

gestor local, de forma a garantir:

a. a validação das notificações;

b. a identificação de medidas de correção, de implementação imediata, se aplicável;

c. a identificação dos fatores contribuintes;

d. a determinação de um plano de ação com medidas preventivas ou corretivas se e

conforme aplicável.

5. O gestor local deve dar retorno de informação ao notificador, acedendo à

plataforma NOTIFICA e transcrevendo para a notificação em análise, as medidas

preventivas e/ou corretivas definidas.

6. Sempre que se verificar a ocorrência de um incidente cujo grau de dano para o

doente é “grave” ou “morte”, o gestor local deverá:

a. promover a aprendizagem sobre as respetivas causas e prevenir a sua

recorrência;

b. identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre essas causas, indo

além da mera resolução das manifestações dos problemas;

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c. seguir a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz, elaborada

a partir das experiências internacionais nesta área, no cumprimento da Orientação

n.º 011/2012 de 30 de julho de 2012. […]”.

10. A notificação de um incidente, ocorrido numa instituição prestadora de cuidados

de saúde exige a implementação de medidas corretoras sistémicas por parte da

administração da instituição, de forma a evitar que situações geradoras de dano,

real ou potencial, se venham a repetir. […]”.

46. Ainda com relevância para a matéria em análise, e no quadro da proteção dos direitos

e interesses dos utentes, de acordo com a alínea a) do artigo 14.º dos Estatutos da

ERS, incumbe a esta Entidade Reguladora “promover um sistema de âmbito nacional

de classificação dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde quanto à

sua qualidade global, de acordo com critérios objetivos e verificáveis, incluindo os

índices de satisfação dos utentes”.

47. É neste enquadramento que a ERS se encontra a desenvolver o projeto SINAS

(Sistema Nacional de Avaliação em Saúde), que consiste num sistema de avaliação

da qualidade global dos serviços de saúde, em Portugal continental3.

48. Embora atualmente estejam apenas implementados os módulos relativos a

estabelecimentos de saúde com internamento (SINAS@Hospitais) e a

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde oral (SINAS@Saúde.Oral), existe

a pretensão de estender o sobredito sistema a todos os estabelecimentos de saúde

(públicos, privados, cooperativos e sociais) sujeitos à regulação e supervisão da ERS.

49. Atendendo às dificuldades em uniformizar o conceito de “qualidade”, em cada módulo

do SINAS são avaliadas diversas dimensões dos serviços prestados, algumas das

quais são transversais a todos os módulos, como é o caso, por exemplo, da dimensão

relativa à “segurança do doente”.

50. E nesta dimensão da “segurança do doente” incluem-se categorias de avaliação que

merecem destaque para a matéria em análise nos autos, designadamente a

implementação de planos, procedimentos, políticas ou protocolos para avaliação do

risco de quedas dos doentes, o registo no processo clínico destes dos resultados

dessa eventual avaliação, o registo de ocorrência de quedas e a avaliação do registo

de ocorrência de quedas numa ótica de melhoria contínua, entre outros.

3 Sobre o SINAS, consultar a página eletrónica da ERS, em https://www.ers.pt/pages/265.

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III.3. Análise da situação concreta

51. Atenta a situação em apreço nos autos, importa aferir se o HVFX respeitou o direito da

utente C.C. à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança;

52. E, bem assim, averiguar se tal direito se encontra devidamente acautelado pelo

prestador, concretamente ao nível da avaliação e prevenção do risco de queda dos

utentes, cabendo, pois, apurar se o prestador cumpre os procedimentos/protocolos,

em observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de qualidade

legalmente previstos.

53. Ora, das diligências encetadas no presente processo resultaram os factos que, de

seguida, resumidamente se enunciam:

(i) A utente C.C., de 85 anos, deu entrada no SU do HVFX no dia 16 de julho de

2017, pelas 12h08m;

(ii) Foi triada, às 12h18m, com quadro de prostração e queixa de “[…] falta de

forças a nível dos membros inferiores desde esta manhã – apresenta edema

dos mesmos”, tendo sido utilizado o fluxograma Problemas nos membros com

o discriminador Edema;

(iii) Foi atribuída pulseira Verde – Pouco Urgente, que nos termos do Sistema de

Triagem de Manchester tem um tempo-alvo para 1.ª observação de 120

minutos;

(iv) Foi efetuada avaliação do risco de queda da utente, com o resultado “Alto

risco de queda – alertado utente para adopção de medidas de segurança”;

(v) De acordo com o registo de Enfermagem da utente C.C., pelas 13h00m foram

adotadas as seguintes medidas: “1 – Supervisionar a actividade da pessoa; 3-

Colocar grades na cama; 5 – Manter grades da cama; 8 – Manter a cama

baixa; 9 – Manter a cama travada.”;

(vi) A 1.ª observação médica da utente ocorreu pelas 13h18m, tendo sido “[…]

solicitados exames complementares de diagnóstico, ficando a doente em

observação para esclarecimento do quadro, por queixa inicialmente

apresentada […]”;

(vii) Pelas 16h44m surge na ficha clínica da utente o seguinte registo: “Utente

tentou levantar-se sozinha, tropeçou ao tentar levantar-se da cama e teve TCE

com consequente hematoma a nível frontal, sem PC, utente referiu “pensava

ser capaz de se levantar sozinha” – SIC, sem PC, responde a questões.”;

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(viii) O prestador informou que, após a queda, foram adotadas as medidas

preconizadas pelos procedimentos em vigor naquela entidade, a saber “Foi

reavaliada pelo médico que solicitou Tomografia Crânio-Encefálica que não

mostrou alterações agudas encefálicas, mas evidenciou fratura dos ossos

próprios do nariz; foi seguidamente avaliada pela equipa de Cirurgia. Manteve-

se em vigilância, sendo que durante o período de observação não se

registaram complicações, e foi ponderada alta hospitalar com ensino de sinais

de alarme”;

(ix) Foi efetuado o registo do Incidente, em impresso do HVFX exclusivo para o

efeito, com indicação de que “A utente ao tentar levantar-se sozinha,

escorregou da maca, tendo tido consequente trauma facial. Utente refere que

“pensava que era capaz de se levantar sozinha” – SIC. Maca encontrava-se

baixa, grades levantadas.”;

(x) Como medidas corretivas foram indicadas as seguintes: “Maior nr de

Enfermeiros por turno, não existência de inúmeros internados no SU, o que

faz com que os utentes do SU fiquem confinados a uma única sala (neste

caso SO1), o que limita o trabalho, vigilância tanto dos utentes internados,

como dos utentes urgência”;

(xi) O prestador tem instituídos procedimentos internos para prevenção de quedas

em utentes, tendo inclusive esclarecido que “Aquando da entrada no Serviço

de Urgência é realizada a todos os Utentes uma Avaliação de Risco de

Quedas conforme fluxograma da triagem, que segue em Anexo 4. Neste

procedimento é identificado o nível de risco do Utente por forma a implementar

medidas preventivas preconizadas (Anexo 5- Ponto 4.6), esse nível é

identificado com uma etiqueta autocolante de cor vermelha (Prevenção de Alto

Risco de Queda) na pulseira do próprio Utente. Sempre que um doente é

avaliado com “alto risco de queda”, essa informação é registada pela equipa

de enfermagem que realiza a triagem, no processo clínico do próprio, bem

como a informação sobre o ensino efetuado ao doente e acompanhante das

medidas de prevenção de quedas. Ademais a este respeito cumpre informar

que, a um doente que permaneça nas salas de observação sinalizado com

“alto risco de queda” é-lhe aplicado o protocolo de prevenção de alto risco de

queda pela equipa de enfermagem, baseado nas medidas de prevenção

gerais referidas anteriormente”;

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(xii) O HVFX tem, ainda, implementado um “[…] Procedimento-Notificação de

Eventos adversos, que se aplica a todos os Serviços do Hospital Vila Franca

de Xira. Este procedimento tem como objetivo garantir que a ocorrência de

qualquer quase-falha, evento adverso e eventos sentinela sejam declarados

pelos profissionais do hospital, recebidos pela Gestão de Risco, analisados e

identificar a causa, por forma a obrigar a ações corretivas ou oportunidades de

melhoria que visem a melhoria da qualidade e segurança dos doentes.”.

54. Face à factualidade apurada, e de acordo com o parecer do perito consultado pela

ERS, é possível concluir que “Os tempos entre a chegada ao SU. a triagem (12.18) e o

atendimento ( 13.18 ) isto é, 60’ minutos depois da chegada, encontram-se dentro dos

parâmetros normais e dentro das diretrizes da Triagem de Manchester; [… a utente foi]

Triada corretamente com pulseira verde […]”;

55. Mais referindo que, “Após o atendimento, foi identificada com a […] pulseira vermelha

e colocada com medidas preventivas (cama com grades) […]”;

56. E que, “Após o evento [queda], foi feita a notificação para o gabinete do risco”.

57. Constatando-se que o HVFX tem instituídos procedimentos internos para prevenção

de quedas em utentes que, em abstrato, se revelam aptos a garantir a qualidade e a

segurança ao nível da prestação de cuidados de saúde.

58. No entanto, e pese embora as medidas adotadas pelo prestador – “Maca encontrava-

se baixa, grades levantadas”, o certo é que, no caso concreto, as mesmas não se

revelaram suficientes à garantia dos direitos e interesses legítimos da utente C.C.;

59. Não tendo o prestador acautelado o devido acompanhamento da utente, durante todo

o episódio de urgência, garantindo uma permanente e efetiva monitorização da

mesma, apta a assegurar a qualidade e a segurança na prestação de cuidados de

saúde;

60. O que se revelava tão mais necessário tendo em conta a idade avançada da utente,

dado que, como refere o perito enfermeiro consultado pela ERS, “[…] Por vezes não é

levantado ao doente na triagem o grau de agitação, porque na realidade não o

manifestam, mas sendo idosos e em ambientes estranhos desenvolvem

comportamentos indiferenciados e inesperados”;

61. O que determinaria que o prestador cumprisse, escrupulosamente, as medidas

preconizadas nos procedimentos que tem instituídos a este respeito, promovendo uma

“maior vigilância da unidade do utente”, e “Em particular nos utentes desorientados,

confusos, agitados ou com hemiparesias, ponderar a colocação de imobilizador de

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dorso quando o utente estiver deitado […]” (cfr. procedimento de “Avaliação e

Prevenção do Risco de Quedas”).

62. O que, de resto, é corroborado no parecer técnico junto aos autos, ao referir que “Pelos

resultados que nos foram facultados o risco de queda da população que se dirige ao

SU desta instituição é elevado, o que obriga a uma maior atenção. Saliento: Uso de

imobilizadores. Por vezes não é levantado ao doente na triagem o grau de agitação,

porque na realidade não o manifestam, mas sendo idosos e em ambientes estranhos

desenvolvem comportamentos indiferenciados e inesperados. (o caso); Doente idoso,

com perturbações mentais, a fazer hipocoagulantes. Necessidade de mais vigilância;

Zonas específicas para doentes de risco elevado de queda e agitação; […]”.

63. Assim, tendo presentes os factos apurados nos autos, constata-se que in casu os

procedimentos assistenciais empregues pelo Serviço de Urgência do HVFX não foram

garantísticos do cumprimento do dever prestação de cuidados de saúde de qualidade

e com segurança.

64. Com efeito, e recorde-se, o direito à qualidade dos cuidados de saúde, que implica o

cumprimento de requisitos legais e regulamentares de exercício, de manuais de boas

práticas, de normas de qualidade e de segurança é, incontestavelmente, uma garantia

de um acesso aos cuidados qualitativamente necessários, adequados e em tempo útil;

65. Pois que, o cumprimento de procedimentos promove uma melhor coordenação e

articulação entre os serviços, bem como acautela qualquer impacto negativo na

condição de saúde dos utentes.

66. Sendo certo que nenhuma vantagem se retira da existência de procedimentos, nas

mais diversas áreas de intervenção, sem que se garanta, paralelamente, que os

mesmos são efetivamente aplicados, em todos os momentos e em todas as

dimensões da atuação dos prestadores, nos cuidados que prestam aos utentes.

67. Por todo o vindo de expor, considera-se necessária a adoção da atuação regulatória

infra delineada, ao abrigo das atribuições e competências legalmente atribuídas à

ERS, de modo a evitar que situações como a dos presentes autos voltem a ocorrer,

devendo, por conseguinte, o HVFX adotar todos os comportamentos aptos a garantir

uma prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança.

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IV. DA AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS

68. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo (CPA), aplicável ex vi da alínea a) do artigo 24.º dos

Estatutos da ERS, tendo sido chamados a pronunciarem-se, relativamente ao projeto

de deliberação da ERS, o Hospital de Vila Franca de Xira e a reclamante J.B., ambos

por ofícios datados de 2 de fevereiro de 2018.

69. Decorrido o prazo legal concedido para o efeito, nenhum dos interessados veio aos

autos pronunciar-se sobre o teor do projeto de deliberação da ERS, pelo que este

deve ser integralmente mantido.

V. DECISÃO

70. O Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e para os efeitos do

preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea a) do artigo 24.º dos Estatutos

da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, emitir uma

instrução ao Hospital de Vila Franca de Xira, no sentido de:

(i) Rever as medidas e/ou procedimentos existentes para avaliação do risco de

queda dos utentes e prevenção da sua ocorrência, assegurando a existência de

zonas específicas para doentes de elevado risco de queda e agitação, com o

objetivo de garantir, em permanência, a qualidade e a segurança dos cuidados

de saúde prestados;

(ii) Implementar procedimentos que assegurem que, durante a permanência no

serviço de urgência, os utentes sejam devidamente monitorizados e

acompanhados, de forma consentânea com a verificação de eventuais

alterações do seu estado de saúde, de modo a garantir, a todo o momento, a

prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança;

(iii) Dar cumprimento imediato à presente instrução, bem como dar conhecimento à

ERS, no prazo máximo de 30 (trinta) dias úteis após a notificação da

deliberação final, dos procedimentos adotados para o efetivo cumprimento do

disposto em cada uma das alíneas supra.

71. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do

artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º 126/2014,

de 22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com coima de €

1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no

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exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios

determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º,

19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.

Porto, 1 de março de 2018.

O Conselho de Administração.