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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO ___JUIZADO ESPECIAL DO TORCEDOR E DOS GRANDES EVENTOS Inquérito nº 018-01397/2014 9ª Promotoria de Investigação Penal 18ª Delegacia de Polícia O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, através do Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, vem oferecer DENÚNCIA em face de 1) RAYMOND WHELAN, inglês, casado, empresário, portador do passaporte n.º 706226950 Grã-Bretanha, 2) MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”, francês, casado, nascido em 29/04/1957, filho de Momna Fofana, portador do CPF n.º 74022270144, passaportes n.º 10AT40854 e 07CC10776, residente na Rua Desenhista Luiz G., n.º 70, 7º andar, Barra da Tijuca, RJ, nesta cidade;

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO ___JUIZADO ESPECIAL DO

TORCEDOR E DOS GRANDES EVENTOS

Inquérito nº 018-01397/2014

9ª Promotoria de Investigação Penal

18ª Delegacia de Polícia

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,

através do Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, vem

oferecer

DENÚNCIA

em face de

1) RAYMOND WHELAN, inglês, casado, empresário, portador

do passaporte n.º 706226950 Grã-Bretanha,

2) MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”, francês,

casado, nascido em 29/04/1957, filho de Momna Fofana, portador do CPF n.º

74022270144, passaportes n.º 10AT40854 e 07CC10776, residente na Rua Desenhista Luiz

G., n.º 70, 7º andar, Barra da Tijuca, RJ, nesta cidade;

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3) ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”, brasileiro,

solteiro, nascido em 02/10/1976, filho de Eujácio Mendes Borges e Noemia Rodrigues

da Silva, portador do CPF n.º 153162998-92, documento de identidade n.º 25947856

SSP/SP, residente na Rua Guti, n.º265, Vila Curuçá Velha, São Paulo/SP;

4) ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE o

“HENRIQUE”, brasileiro, nascido em 17/11/1980, filho de Antonio Jorge de Freitas e

França Maria de Paula Jorge, portador do documento de identidade nº 114437296,

residente na Rua Almirante Ingran 416 casa 39, Vila da Penha, RJ, nesta cidade;

5) MARCELO PAVÃO DA COSTA CARVALHO, brasileiro,

solteiro, nascido em 28/01/1977, filho de Arlindo da Costa Carvalho e Valéria Pavão da

Costa Carvalho, portador do documento de identidade nº 10582527-7 IFP, residente na

Rua Social, n.º 347, bairro Caju, RJ, nesta cidade;

6) SERGIO ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO”, brasileiro,

casado, nascido em 24/03/1965, filho de Jose Antonio de Lima e Emidia Bezerra de

Lima, portador do documento de identidade n.º 65717134 IFP, residente na Rua

Presidente Vargas, n.º 60, apt.º 401,Centro de Duque de Caxias, RJ,

7) JULIO SOARES DA COSTA FILHO, brasileiro, solteiro,

nascido em 06/06/1963, filho de Julio Soares da Costa e Maria de Lourdes Ferreira,

portador do documento de identidade n.º 62404108, residente na Rua Professor Alvaro

Caetano n°21 casa 10, Camboinhas, Niterói/ RJ;

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8) FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, brasileira, solteira,

nascida em 31/01/1973, filha de Fernando Paulucci e Fátima Carrione Paulucci,

portadora do documento de identidade n.º 89826390, residente na Rua Ronald de

Carvalho, n.º161, apto 402, Copacabana, RJ, nesta cidade;

9) ERNANI ALVES DA ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, brasileiro,

solteiro, nascido em 12/03/1964, filho de Ernani Alves da Rocha e Maria Ernesta Alves

da Rocha, portador do documento de identidade n.º 62385851 DETRAN, residente na

Rua Ronald de Carvalho, n.º161, apto 402, Copacabana, RJ, nesta cidade;

10) ALEXANDRE MARINO VIEIRA, brasileiro, casado,

empresário, nascido em 27/08/1971, filho de Nei da Silva Vieira e Vera Lucia Freire

Marino, portador do documento de identidade n.º 100701044, residente na Rua Davi

Saad n°24 casa 4, Quintino Bocaiúva, RJ, nesta cidade;

11) OZEAS DO NASCIMENTO, brasileiro, casado, policial militar,

nascido em 19/03/1956, filho de Irineu do Nascimento e Maria das Merces do

Nascimento, portador do documento de identidade n.º 35309806 e 34426-PMERJ,

residente na Rua Manuel de Araújo, n.º 20, apt.º 201, Irajá, RJ, nesta cidade;

12) JOSÉ MASSIH, brasileiro, nascido em 30/08/1966, filho de

Nilton Massaih e Joanna Ferrareto Massih, portador do documento de identidade n.º

147777781 SSP/SP, residente no Ramal Omar Daibert n°1, quadra “z”, lote 454,

Demarch, RJ, nesta cidade, pela prática das seguintes condutas delituosas:

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

Em data que não se pode precisar, mas certamente desde o dia 12 de

dezembro de 2013, no interior do Hotel Copacabana Palace, situado na Avenida

Atlântica, nº 1702, Rio de Janeiro, e em diversos outros locais desta cidade ainda não

plenamente evidenciados, os DENUNCIADOS 1)RAYMOND WHELAN 2)MOHAMADOU

LAMINE FOFANA o “LAMINE”, 3)ALEXANDRE MARINO VIEIRA; 4)ANTONIO HENRIQUE DE

PAULA JORGE o “HENRIQUE”, 5)MARCELO PAVÃO DA COSTA CARVALHO, 6) SERGIO

ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO”, 7)JULIO SOARES DA COSTA FILHO, 8)FERNANDA

CARRIONE PAULUCCI, 9) ERNANI ALVES DA ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, 10)ALEXANDRE

DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”, 11)OZEAS DO NASCIMENTO e 12)JOSÉ MASSIH, , em

perfeita comunhão de ações e desígnios entre si, de forma livre e consciente, associaram-

se de forma estável e permanente em uma verdadeira organização criminosa,

estruturalmente ordenada, caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que

informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, indevida vantagem

econômica, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam

superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

Consta dos autos que, a organização criminosa foi constituída para

reiteradamente, desviar, fornecer e facilitar à distribuição a terceiros, ingressos de

evento esportivo (Copa do Mundo de 2014), para venda por preço superior ao

estampado no bilhete, cujas penas variam de 02 (dois) a 04 (quatro) anos de reclusão e

multa, incidindo, na espécie, a agravante do parágrafo único do artigo 41-G, da Lei

10.671/2003, cuja redação foi alterada pela Lei nº 12.299 de 27 de julho de 2010, como

será oportunamente narrado no corpo desta exordial acusatória, eis que desviados de

empresa contratada para o processo de emissão, distribuição e venda de ingressos e

cujos autores e se utilizaram desta condição para os fins previstos neste artigo, havendo,

desta forma, aumento de pena de 1/3 (um terço) à ½ (metade), fazendo o máximo da

pena alcançar o patamar de 06 (seis) anos de reclusão, incidindo, portanto, as iras da Lei

nº 12.850 de 02 de agosto de 2013.

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Durante o período de vinculação entre os associados, que

seguramente perduraria até a data de hoje não fosse à decretação da prisão cautelar dos

denunciados, para a concretização do programa delinquencial, os acusados

compuseram uma verdadeira societas sceleris, estruturalmente ordenada, caracterizada

pela divisão de tarefas, com objetivo de obter diretamente indevida vantagem

econômica, mediante a reiterada prática de desvio, fornecimento e facilitação à

distribuição a terceiros, ingressos de evento esportivo (Copa do Mundo de 2014),

distribuindo estes ingressos de maneira informal, sem confecção de contrato ou emissão

das respectivas notas fiscais, para que fossem revendidos no cambio negro por preços

infinitamente superiores aqueles estampados na face dos bilhetes.

Figura do incluso Inquérito Policial, inclusive, devidamente

comprovado por escutas telefônicas que, TODOS os membros da organização criminosa,

desviavam, forneciam e facilitação à distribuição a terceiros, ingressos de evento

esportivo COPA DO MUNDO 2014, por preços superiores aqueles estampados nos

bilhetes.

Consolida-se com a apuração realizada ate o presente momento que, os

DENUNCIADOS, captavam os ingressos para o evento COPA DO MUNDO 2014 de

diversas fontes. Os acusados granjeavam os ingressos através da Sociedade Empresária

Match Services AG e Match Hospitality; através de jogadores de futebol ou seus agentes de

seleções pariticipantes do evento esportivo, que têm uma cota preestabelecidada pela entidade

responsável pela organização do evento; junto à CBF – Confederação Brasileira de Futebol

(alguém de dentro da entidade desviava tais ingressos); por meio de devolução voluntária de

compradores desistentes e ingressos de meia entrada de estudantes e idosos; por intermédio de

acompanhantes de deficientes físicos, de operários que participarão das obras das arenas e foram

agraciados com ingressos, e por derradeiro, do fundo governamental dos ingressos destinados a

ONGs e escolas.

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

RAYMOND WHELAN é seguramente o líder e peça-chave no

esquema criminoso, já que ocupava cargo de direção da Match Services AG. Resta

comprovado que o acusado é o responsável por fornecer, desviar e facilitar a

distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete.

Durante as investigações, mediante a quebra de sigilo telefônico, foi possível constatar

mais de 900 ligações telefônicas entre RAYMOND e LAMINE, outro elemento chave do

esquema, com inúmeras vendas ‘por debaixo dos panos’ de pacotes de hospitalidade e

bilhetes VIP’s, mediante o pagamento à vista e em dólar. Consta do procedimento

investigatório, inclusive devidamente comprovado por escutas telefônicas que numa

única venda o acusado ‘faturou’ U$ 600.000,00 (seiscentos mil dólares), o equivalente a

R$ 1.410.000 (um milhão e quatrocentos e dez mil reais), para realizar a venda 24 (vinte e

quatro) entradas ao preço unitário de U$ 25.000,00 (vinte e cinco mil dólares) cada, o que

demonstra o poderio econômico da quadrilha.

MOHAMADOU LAMINE FOFANA é o segundo na hierarquia da

organização criminosa e seguramente o braço direito de RAYMOND WHELAN. Resta

comprovado que o réu é o encarregado de facilitar à distribuição dos pacotes e bilhetes,

negociar e vender ingressos por preço superior ao estampado nos ingressos e distribuí-

los aos demais corréus para venda a terceiros.

O acusado LAMINE frequenta diariamente os hotéis Copacabana

Palace e o Radissson da Barra da Tijuca, encontrando-se com diversos membros da FIFA,

bem como com integrantes de delegações das seleções participantes da competição

(COPA DO MUNDO), local onde adquire estes ingressos para revendê-los de forma

majorada a seus inúmeros clientes.

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ALEXANDRE MARINO VIEIRA é o terceiro na hierarquia e

integrante importante da organização criminosa. Consta que ele é o responsável por

realizar inúmeras negociações e venda de ingressos para a Copa do Mundo por preço

superior ao estampado no bilhete com o fim de aumentar as vendas da organização e

assim obter um maior lucro. Registre-se que ele é uma espécie de braço direito de

LAMINE FOFANA, e ainda, utiliza-se das empresas TOUR DA BOLA TURISMO

ESPORTIVO e @JATO TOUR TURISMOS ENTRETENIMENTO, localizadas na Av.

Nossa Senhora de Copacabana, nº. 599, sala 508, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ, para

realizar as atividades criminosas.

Está incluso no presente procedimento investigatório, inclusive

devidamente comprovado pelas interceptações telefônicas autorizadas judicialmente

que, o acusado ALEXANDRE MARINO tem como seus principais parceiros da

empreitada criminosa os denunciados HENRIQUE, MARCELO, JUNIOR,

FERNANDA, entre outros.

ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE é o quarto na

hierarquia do bando e responsável por adquirir ingressos para posterior venda por

preço superior ao estampado no bilhete. Desta feita, tem-se que HENRIQUE adquiria

ingressos junto a outros fornecedores ainda não identificados, mas tinha como seus

principais fornecedores LAMINE e ALEXANDRE, de quem comprou diversos lotes de

pacotes de hospitalidade e ingressos em locais privilegiados nos estádios e facilitou a sua

distribuição para os demais integrantes da organização, bem como os revendeu por preços

exorbitantes a terceiros.

Através das interceptações telefônicas devidamente autorizadas

pela justiça, restou comprovado que HENRIQUE vende ingressos para a Copa do

Mundo em comunhão de ações e desígnios com MARCELO, SERGINHO,

ALEXANDRE, LAMINE, FERNANDA, JUINOR E OSÉAS, e ainda para cambistas de

outros Estados.

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HENRIQUE realiza operações de compra e venda de ingressos

contando com a estrutura física da agência de turismo de seu sócio, ALEXANDRE

MARINO VIEIRA, localizada em Copacabana, o que dá mais segurança às negociações

e confiabilidade aos clientes, assim como se vale de máquinas de cartão de crédito,

boleto e sistema ‘Paypal’ para recebimento de pagamentos.

MARCELO PAVÃO DA COSTA CARVALHO é integrante da

organização e, além de vender ingressos por preço superior ao estampado no bilhete, é

responsável por pegar lotes de ingressos na casa de HENRIQUE, levar para

Copacabana, local de concentração das negociações de ingressos, receber dinheiro de

clientes e de outros cambistas, realizar o pagamento de comissões, e realizar diversas

outras tarefas de interesse da organização.

Verifica-se por todo o apuratório que MARCELO tem como ‘sócios’

HENRIQUE e ALEXANDRE, e que grande parte dos lotes adquiridos por eles

destinava-se às seleções participantes da competição, bem como ingressos de cortesia,

especialmente da CBF – Confederação Brasileira de Futebol.

SERGIO ANTONIO DE LIMA demonstrou no curso das

investigações ser pessoa extremamente experiente no ramo do cambismo possuindo

contatos com cambistas em outros Estados da Federação, como Brasília, Espirito Santo e

Ceará para os quais vende ingressos por preços superiores aos estampados nos bilhetes.

O acusado os adquire diretamente de LAMINE, ALEXANDRE e HENRIQUE.

Consta de todo o procedimento, inclusive devidamente

comprovado por escutas telefônicas que, o acusado SERGIO possui braços nos Estados

de São Paulo, atuando com os cambistas REGIS e LEVI; em Brasília atuando com o

cambista BRANCO; no Espírito Santo atuando com o cambista RODRIGO; no Ceará e

no Rio de Janeiro atuando com os cambistas JUNIOR, FERNANDA, HENRIQUE e

OSÉAS.

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Na COPA DO MUNDO a atuação do acusados SERGIO vai muito

alem da compra e venda de ingressos, existindo, comprovadamente, uma profunda

intermediação com cambistas de diversos Estados da Federação.

JULIO SOARES DA COSTA FILHO é responsável por realizar

negociações e venda de ingressos para a Copa do Mundo por preço superior ao

estampado no bilhete com o fim de aumentar as vendas da organização e assim obter

ajudar a incrementar o lucro da organização. JULIO, sempre na companhia de

HENRIQUE, funciona na quadrilha como gerente de vendas e responsável pela logística

de remessa de ingressos para outros Estados da Federação, que sempre é feita mediante

sedex ou envio de portador ao local dos eventos.

O acusado JULIO é diretamente ligado ao acusado HENRIQUE,

onde os mesmos estão sempre juntos, em contatos pessoais e telefônicos para a prática

criminosa de compra e venda de ingressos por preços superfaturados.

FERNANDA CARRIONE PAULUCCI é responsável por realizar

negociações e venda de ingressos para a Copa do Mundo por preço superior ao estampado

no bilhete com o fim de aumentar as vendas da organização e assim obter um maior lucro.

Atua diretamente nas negociações, atendendo aos telefonemas e negociando valores de

ingressos com os clientes, bem como recebendo pagamentos e combinando entregas de

bilhetes.

Resta comprovado nos autos do incluso Inquérito Policial que

FERNANDA é sócia de JUNIOR na empresa JUNIOR´S EVENTOS AGENCIA DE

VIAGENS E TURISMO LTDA-ME, CNPJ 10378184000181, localizada na Rua Prado Junior

145, Copacabana, realizando por intermédio desta grande parte de suas negociações.

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ERNANI ALVES DA ROCHA JUNIOR é responsável por realizar

negociações e venda de ingressos para a Copa do Mundo por preço superior ao

estampado no bilhete com o fim de aumentar as vendas da organização e assim obter

um maior lucro. JUNIOR se utiliza de telefone de titularidade de FERNANDA para

realizar negociações de compra e venda de ingressos a para Copa do Mundo e outros

grandes eventos, demonstrando ser a atividade ilícita seu modus vivendi.

Há nos autos notícia de que JUNIOR pratica o cambismo há pelo

menos 30 anos. As vendas de ingresso também são feitas por telefone, por perfil em site

de relacionamento (Facebook) e as entregas ocorrem na sua agência de turismo, em sua

residência, através de motoboy em local combinado, ou pessoalmente.

ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY” é integrante

da organização criminosa e responsável por realizar negociações e venda de ingressos

para a Copa do Mundo por preço superior ao estampado no bilhete com o fim de

aumentar as vendas da organização e assim obter um maior lucro. Figura como uma

peça importante na organização criminosa no que concerne à venda de ingressos com

valor majorado, tendo também contatos em Brasília.

Nas ligações telefônicas monitoradas é possível ouvi-lo negociando

a venda com clientes finais ou articulando com outros fornecedores para obter os

ingressos encomendados, sempre a preços superfaturados.

OZEAS DO NASCIMENTO é responsável pela captação de

clientes para a compra de ingressos, bem como exerce a função de relações públicas do

bando, realizando contato com as pessoas influentes no meio do futebol, para assim

conseguirem captar ingressos que são fornecidos a jogadores, delegações e

patrocinadores. É peça importante para o funcionamento da organização.

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JOSÉ MASSIH é responsável pela captação de clientes para a

compra de ingressos, bem como exerce a função de relações públicas do bando,

utilizando-se de sua condição de empresário de jogador de futebol (foi empresário do

jogador ELANO que atualmente joga no Clube de Regatas do Flamengo).

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I - DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Consta ainda dos autos, que todos os acusados acima, estão

associados em organização criminosa, estruturalmente ordenada e caracterizada pela

divisão de tarefas, unidos de forma estável e permanente com o fito de cometer

reiteradamente crimes de venda de ingressos de evento esportivo por preço superior ao

estampado no bilhete; fornecimento, desvio ou facilitação da distribuição de ingressos

para venda por preço superior ao estampado no bilhete, corrupção ativa e lavagem de

dinheiro, formando uma verdadeira societas sceleris.

De acordo com as diversas transações efetuadas pelos criminosos foi

possível constatar que a organização atua não só no Estado do Rio de Janeiro, mas

também em outros Estados do País, bem como transnacionalmente,.realizando a entrega

de ingressos vendidos a preços infinitamente superiores aos estampados na face dos

bilhetes pelos correios, malotes transportados em aviões como documentos, mediante

entregadores, ou pessoalmente dependendo do porte da negociação.

Restou apurado que os DENUNCIADOS atuam com auxílio de

diversos cambistas de menor porte, os quais recebem comissões por cada venda, sendo

o valor resultante do lucro divido entre os ‘sócios’ integrantes da organização que dão

aporte financeiro para compra de ingressos.

Os investigados atuam de forma organizada e com divisão de

tarefas auferindo lucros astronômicos que chegam a 1000% do valor real dos ingressos

com a realização de venda de um único bilhete por mais de R$ 25.000,00 (vinte e cinco

mil dólares), o que daria aproximadamente R$ 58.750,00 (cinquenta e oito mil setecentos

e cinquenta reais) ao câmbio atual.

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Assim sendo, se sentem verdadeiramente poderosos e capazes de

corromper a todos numa busca incessante por lucro fácil.

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II - DA CORRUPÇÃO ATIVA

Nesta senda, nas mesmas circunstâncias de tempo e local, os

acusados, 1)RAYMOND WHELAN 2)MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”,

3)ALEXANDRE MARINO VIEIRA; 4)ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE o “HENRIQUE”,

5)MARCELO PAVÃO DA COSTA CARVALHO, 6) SERGIO ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO”,

7)JULIO SOARES DA COSTA FILHO, 8)FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, 9) ERNANI ALVES

DA ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, 10)ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”,

11)OZEAS DO NASCIMENTO, 12)JOSÉ MASSIH, conscientes e voluntariamente, em perfeita

comunhão de ações e desígnios, de forma livre e consciente, ofereceram, prometeram e,

para exaurimento do delito, concederam vantagem indevida a funcionário público, para

determiná-lo a omitir ou retardar ato de ofício.

Durante a realização das investigações, ANTONIO HENRIQUE DE

PAULA JORGE foi flagrado por duas vezes vendendo ingressos por preço superior ao

estampado no bilhete, sendo a segunda na companhia de SERGIO, entretanto não

foram presos em flagrante em virtude da ação controlada realizada pela policia civil em

conjunto com o Ministério Público. Em ambas as ocasiões ofereceram vantagem

indevida a funcionário público para determina-lo a omitir ou retardar ato de ofício.

Em situação semelhante foi flagrado MARCELO PAVÃO DA

COSTA CARVALHO com 12 (doze) ingressos, oportunidade em que também ofereceu

vantagem indevida a funcionário público para determina-lo a omitir ou retardar ato de

ofício.

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SERGIO ANTONIO DE LIMA, em ação controlada foi flagrado

vendendo ingressos por preço superior ao estampado no bilhete, oportunidade em que

ofereceu vantagem indevida a funcionário público para determina-lo a omitir ou

retardar ato de ofício.

ALEXANDRE MARINO VIEIRA enquanto tentava embarcar para

Brasília com ingressos da Copa do Mundo, foi abordado por policiais civis que em ação

controlada deixaram de prendê-lo. Nessa ocasião, ofereceu e prometeu vantagem

indevida a funcionário público para determina-lo a omitir ou retardar ato de ofício.

Durante as interceptações das comunicações telefônicas os

integrantes da organização criminosa articulam e combinam entre si valores a serem

pagos aos policiais para que deixem de realizar atos de ofício, de modo que possam

prosseguir no programa delinquencial, demonstrando desprezo para com a boa

convivência social e as mais comezinhas regras de conduta.

Assim sendo os associados tinham consciência da realização de

atividade ilícita por si e concordavam com o oferecimento ou promessa de vantagem

ilícita a funcionário público para determina-lo a omitir ou retardar ato de ofício, a fim de

que a atividade ilícita não estancasse o que prejudicaria a todo o grupo.

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III - DA LAVAGEM DE DINHEIRO

Nesta senda, nas mesmas circunstâncias de tempo e local, os

1)RAYMOND WHELAN 2)MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”, 3)ALEXANDRE

MARINO VIEIRA; 4)ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE o “HENRIQUE”, 5)MARCELO

PAVÃO DA COSTA CARVALHO, 6) SERGIO ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO”, 7)JULIO

SOARES DA COSTA FILHO, 8)FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, 9) ERNANI ALVES DA

ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, 10)ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”, 11)OZEAS

DO NASCIMENTO, 12)JOSÉ MASSIH, em comunhão de ações e desígnios, de forma livre e

consciente, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização e propriedade de

bens e valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal de cambismo, de

maneira contínua, ininterrupta e reiterada.

Diversas contas bancárias são usadas para depósitos dos valores

pagos pelos ingressos vendidos por preços superiores aos estampados no bilhete,

conforme transcrições realizadas pela Autoridade Policial. Em alguns casos as

transações são feitas em dólar ou euro, dependendo do fornecedor dos ingressos e

quando o valor a ser pago pelo lote de ingresso adquirido é elevado, SERGIO orienta os

seus comparsas a dividir o valor entre várias contas para dificultar o rastreamento, bem

como não levantar suspeitas acerca da origem ilícita do dinheiro.

Os DENUNCIADOS aceitam as mais diversas formas de

pagamento como dinheiro em espécie, dólar, euro, cheque, depósito em conta corrente e

cartão de crédito, sendo que nesta última modalidade é aceito o parcelamento, em até

cinco vezes sem juros, e para isso, é utilizada a máquina de cartão da empresa

JUNIOR´S EVENTOS AGÊNCIA DE TURISMO.

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

Para o depósito em conta, são fornecidas duas contas, uma no Itaú

(ag. 0458 e c/c 02700-0) e outra no Bradesco (Ag. 583 e c/c 50500-5), também em nome

da empresa.

Em pesquisa, às bases de dados do INFOSEG, pela Autoridade

Policial, foi possível identificar 13 veículos em nome de JUNIOR e FERNANDA,

adquiridos em razão do lucro obtido ao longo dos 30 anos que JUNIOR afirma estar

neste "mercado".

Desta forma, são fortíssimos os indícios de que os DENUNCIADOS

se utilizam de empresas para dar credibilidade aos negócios realizados, bem como

estrutura a atividade ilícita de venda de ingressos, se valendo de máquinas de cartão de

crédito, boleto e sistema ‘Paypal’ para recebimento de pagamentos.

Nesse sentido revela-se a utilização pelos investigados de contas

bancárias de pessoas jurídicas para aquisição e venda de ingressos, bem como para

ocultação e dissimulação da natureza e origem do dinheiro proveniente da venda ilegal

de ingressos, realizando-se a inserção desses valores no sistema financeiro como se

lícitos fossem, de maneira reiterada, mediante organização criminosa.

III - DA SONEGAÇÃO FISCAL

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

Colhe-se, ainda do procedimento de investigação que os acusados

1)RAYMOND WHELAN 2)MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”, 3)ALEXANDRE

MARINO VIEIRA; 4)ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE o “HENRIQUE”, 5)MARCELO

PAVÃO DA COSTA CARVALHO, 6) SERGIO ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO”, 7)JULIO

SOARES DA COSTA FILHO, 8)FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, 9) ERNANI ALVES DA

ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, 10)ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”, 11)OZEAS

DO NASCIMENTO, 12)JOSÉ MASSIH, nas mesma circunstâncias de tempo e local, os, em

comunhão de ações e desígnios, de forma livre e consciente, cometeram crime contra a

ordem tributária.

Os denunciados, com a compra e venda ilegal de ingressos

fraudaram o fisco estadual e municipal, resultando perda de arrecadação para a fazenda

pública, eis que deixaram de recolher o ICMS – Imposto Sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços e ISS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias, omitindo

informação das autoridades fazendárias.

Em verdade, deve-se por em relevo que, os denunciados omitiram

operação de qualquer natureza (compra e venda de ingressos), em documento ou livro

exigido pela lei fiscal.

Consta, também que, deixaram de fornecer, quando obrigatório,

nota fiscal ou documento equivalente, relativa à venda das mercadorias, efetivamente

realizada.

Por derradeiro, empregaram fraude, para se eximir, total ou

parcialmente, de pagamento de tributo.

Agindo assim, estão os acusados:

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

1) RAYMOND WHELAN, incurso nas penas dos artigos 41-F e 41-

G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e seus parágrafos 2º, 3º e 4º, II,

III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º, I, da Lei nº 8.137/90 c/c

artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos termos do artigo 69 do

Código Penal;

2) MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”, incurso nas

penas dos artigos 41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e

seus parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º,

I, da Lei nº 8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos

termos do artigo 69 do Código Penal;

3) ALEXANDRE MARINO VIEIRA, incurso nas penas dos artigos

41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e seus parágrafos 2º,

3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º, I, da Lei nº

8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos termos do artigo

69 do Código Penal;

4) ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE o “HENRIQUE

incurso nas penas dos artigos 41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo

2º, caput e seus parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V

e artigo 2º, I, da Lei nº 8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal,

estes nos termos do artigo 69 do Código Penal;

5) MARCELO PAVÃO DA COSTA CARVALHO incurso nas

penas dos artigos 41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e

seus parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º,

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

I, da Lei nº 8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos

termos do artigo 69 do Código Penal;

6) SERGIO ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO incurso nas

penas dos artigos 41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e

seus parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º,

I, da Lei nº 8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos

termos do artigo 69 do Código Penal;

7) JULIO SOARES DA COSTA FILHO, incurso nas penas dos

artigos 41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e seus

parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º, I, da

Lei nº 8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos termos do

artigo 69 do Código Penal;

8) FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, incurso nas penas dos

artigos 41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e seus

parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º, I, da

Lei nº 8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos termos do

artigo 69 do Código Penal;

9) ERNANI ALVES DA ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, incurso

nas penas dos artigos 41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º,

caput e seus parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e

artigo 2º, I, da Lei nº 8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes

nos termos do artigo 69 do Código Penal;

10) ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”, incurso

nas penas dos artigos 41-F e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º,

caput e seus parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

artigo 2º, I, da Lei nº 8.137/90 c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes

nos termos do artigo 69 do Código Penal;

11) OZEAS DO NASCIMENTO, incurso nas penas dos artigos 41-F

e 41-G, paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e seus parágrafos 2º, 3º e

4º, II, III, IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º, I, da Lei nº 8.137/90

c/c artigo 333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos termos do artigo 69 do

Código Penal;

12) JOSÉ MASSIH, incurso nas penas dos artigos 41-F e 41-G,

paragrafo único da Lei 10671/2003, c/c artigo 2º, caput e seus parágrafos 2º, 3º e 4º, II, III,

IV e V, da Lei 12683/2012; artigos 1º, I, II e V e artigo 2º, I, da Lei nº 8.137/90 c/c artigo

333 e artigo 62, I, ambos do Código Penal, estes nos termos do artigo 69 do Código

Penal;

Pelo exposto, recebida a presente denúncia, requer o Ministério

Público sejam os denunciados citados para, sob pena de revelia, apresentarem resposta

por escrito, à luz do artigo 396 do Código de Processo Penal, bem como para

responderem aos demais termos do processo penal, a fim de que, ao final, seja proferida

sentença condenatória.

Rio de Janeiro, 09 de julho de 2014.

MARCOS KAC

PROMOTOR DE JUSTIÇA

Mat. 1.882

Inquérito nº 018-01397/2014

9ª Promotoria de Investigação Penal

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

18ª Delegacia de Polícia

MM. JUIZ:

I) Segue denúncia em 21 (vinte e uma) laudas impressas, em face de

1)RAYMOND WHELAN 2)MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”, 3)ALEXANDRE

MARINO VIEIRA; 4)ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE o “HENRIQUE”, 5)MARCELO

PAVÃO DA COSTA CARVALHO, 6) SERGIO ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO”, 7)JULIO

SOARES DA COSTA FILHO, 8)FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, 9) ERNANI ALVES DA

ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, 10)ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”, 11)OZEAS

DO NASCIMENTO e 12)JOSÉ MASSIH;

II) Em diligências, requer o Ministério Público a juntada das certidões

do cartório distribuidor criminal e das folhas de antecedentes criminais atualizadas dos

denunciados;

III) Protesta o Ministério Público por eventual aditamento objetivo

e/ou subjetivo à denúncia, bem como substituição de testemunha(s);

IV) Requeiro a degravação integral das escutas telefônicas

devidamente autorizadas judicialmente;

V) Requeiro, ainda, a extração de cópia integral dos autos de

Inquérito Policial e seu envio ao Ministério Público Federal, para apurar a prática de

crimes financeiros de competência da justiça Federal;

ROL DE TESTEMUNHAS:

1. FABIO OLIVEIRA BARUCKE – Delegado de Polícia 860.932-3

2. FREDERICO ZAMBROTTI PINTO – PCERJ 871592-2

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

3. JOSÉ VICENTE MARQUES BARROSO – PCERJ 849050-0

4. MARINA MARTINS C. LATTAVO – PCERJ 959.187--6

5. ROMILDO JOSÉ CRISTINO – PCERJ 258.621-2

6. FÁBIO AUGUSTO BASTOS CABRAL – PCERJ 959.398-9

7. JOSÉ RENATO DIAS PEREIRA – PCERJ 268.612-9

8. ROBERTO CARVALHO SPEZANI – PCERJ 267.918-1

9. SANDRO NUNES FIGUEIREDO – PCERJ 930.884-2

10. PATRICIA DE CARVALHO GONÇALVES – PCERJ 888.943-8

11. MATEUS DE BONA GANZER – PCERJ 959.145-4

12. MAXIMILIANO PAULINO DA PAIXÃO – PCERJ 959.317-9

13. RENIERI PEREIRA DA SILVA – PCERJ 889.320-8

14. JOSÉ AYRTON DE SOUZA – PCERJ 809.453-4

15. LUIS GUSTAVO MARTINS CUNHA – PCERJ 965.902-2

16. SUZANNE SILVEIRA DE JESUS – PCERJ 5021623-6

17. LUCIANA DA FONSECA PEREIRA – PCERJ 50125478

18. ELIZABETH MARTINS MADEIRA – PCERJ 1911638-1

19. DANIELA FEIJÓ OURIQUES – PCERJ 50217941

20. JOSÉ ROGERIO DE ARAUJO (vítima) – fl. 08;

21. CARLOS EDUARDO MENDES DE SOUZA (vítima)– fl.07;

22. SERGIO CUNHA DE OLIVEIRA. – fls. 06;

23. SD ROGÉRIO (PMERJ) – fl. 06;

24. CAVATTI (PMERJ) – fl. 06

25. MENDES (PMERJ) – fl. 06

Rio de Janeiro, 09 de julho de 2014.

MARCOS KAC

PROMOTOR DE JUSTIÇA

Mat. 1.882

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO ___JUIZADO ESPECIAL DO

TORCEDOR E DOS GRANDES EVENTOS

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

Inquérito Policial nº 018-01397/2014

Denunciados: 1)RAYMOND WHELAN 2)MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”,

3)ALEXANDRE MARINO VIEIRA; 4)ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE o “HENRIQUE”,

5)MARCELO PAVÃO DA COSTA CARVALHO, 6) SERGIO ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO”,

7)JULIO SOARES DA COSTA FILHO, 8)FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, 9) ERNANI ALVES

DA ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, 10)ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”,

11)OZEAS DO NASCIMENTO

REQUERIMENTO DE PRISÃO PREVENTIVA:

Trata-se de pedido de prisão preventiva formulado em desfavor dos

acusados acima mencionados, pela prática dos crimes de cambismo na modalidade de

desviar, fornecer e facilitar à distribuição a terceiros, ingressos de evento esportivo

(Copa do Mundo de 2014), para venda por preço superior ao estampado no bilhete;

organização criminosa, estruturalmente ordenada, caracterizada pela divisão de

tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,

indevida vantagem econômica, mediante a prática de infrações penais cujas penas

máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional;

corrupção ativa na modalidade de oferecer, prometer e entregar vantagem indevida a

funcionário público, para determiná-lo a omitir-se da prática de ato de ofício e de,

lavagem de dinheiro na forma de ocultar e dissimular a natureza, origem, localização,

disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,

direta ou indiretamente de infração penal.

A prisão preventiva em sentido estrito é medida de cunho cautelar

que constitui na privação da liberdade dos acusados diante dos pressupostos legais,

para assegurar os interesses sociais de segurança.

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Por ser medida cautelar, e por isso mesmo de caráter excepcional, é

considerada pela doutrina como um mal necessário, eis que priva os acusados de suas

liberdades antes mesmo de uma decisão judicial condenatória transitada em julgado.

Entretanto, tem por objetivo esta medida cautelar, não a supressão

pura e simples do direito de ir e vir dos acusados, mas embasada na necessidade e

utilidade da mesma, contanto que existam indícios suficientes da existência material do

delito e de quem tenha sido o seu autor.

Assim sendo, a decretação da prisão cautelar - em flagrante ou

temporária - só se justifica em situações específicas e em casos especiais em que a

custódia preventiva seja indispensável.

Por essa razão, é pacífico em sede doutrinária e jurisprudencial que

não impede a manutenção da prisão o artigo 5º, LVII, da CF, que se refere apenas ao

princípio da presunção ou de estado de inocência.

Compulsando estes autos, verifica-se que o crime perpetrado pelos

acusados causa enorme perplexidade na população geral e local, uma vez que se soltos,

o sentimento de existência de máquina estatal a impedir o cometimento de tais delitos

fica extremamente prejudicado.

De toda sorte, a prisão preventiva se demonstra completamente

adequada ao caso concreto, como será exaustivamente demonstrado. Conforme se

depreende do texto de nossa Carta Política, um processo penal aderente ao Estado

Democrático de Direito e que se materializa num sistema acusatório vê a liberdade

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como regra e prisão seja de que natureza for, mecanismo de exceção1. A partir dessa

premissa não pode admitir, com a devida vênia, que a liberdade, ainda que como regra,

tenha que necessariamente se sobrepor em todas as hipóteses.2

Com efeito, segundo dicção do art. 311, do Código de Processo

Penal em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá à prisão

preventiva decretada pelo juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, ou do

querelante, ou mediante representação da autoridade policial.3 Em qualquer das

circunstancias, será admitida a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos

punidos com reclusão.4

De outro giro, pelo poder geral de cautela conferido ao juiz, este

poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo

para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a

justifiquem.5 Todavia, rotineiramente aduz-se, em face do dispositivo mencionado que a

prisão preventiva está sujeita a cláusula rebus sic standibus, com a possibilidade de ser

revogada ou decretada, conforme se apresentem os motivos determinantes da custódia

cautelar.

Por outro lado, a falta de motivação das decisões atinentes a medida

cautelar ou sua motivação insuficiente acarreta nulidade.6 Nada obstante, é sensível o

rebaixamento da qualidade das motivações neste âmbito, nada mais do que fruto da

inexistência de operacionalização de uma verdadeira ação cautelar na qual estaria inserida a

1CHOUKR, Fauzi Hassan, Código de Processo Penal – Comentarios Consolidados e Crítica Jurisprudencial – Lumen

Juris – Rio de Janeiro, 1ª Ed., p. 493. 2 TJSP – RT – 642:301. 3 Código de Processo Penal, art. 311. 4 Código de Processo Penal, art. 313, I. 5 Código de Processo Penal, art. 316. 6 TJPB – Des. Júlio Aurélio Moreira Coutinho – 1995 – DD 21/09/95.

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medida, conforme já exposto. Dado este cenário, por vezes se afirma a própria

desnecessidade de altas indagações acerca da motivação de tais decisões.7

Por derradeiro, e para provar que tal medida é de extrema necessidade

temos presentes os requisitos fumus comissi delicti e o periculum libertatis como evidências

mais do que necessárias à decretação da prisão preventiva nos casos em que a lei autoriza.8

Por estes motivos, e sempre levando em conta a natureza da medida

excepcional e nos termos do poder geral de cautela do juiz, torna-se imprescindível a

concessão da prisão preventiva.

Insustentável a não decretação da medida extrema, tanto do ponto de

vista jurídico quanto sob o aspecto de eventual alegação de inexistência de requisitos

autorizativos de concessão da cautela pretendida, havendo sério dano à coletividade

decorrente da não concessão da ordem de prisão dos acusados de imediato.

Avultam, em primeiro lugar, grosseiro erro técnico a equivocada

compreensão do papel do intérprete e do aplicador da lei, permitindo-se ao juiz descumprir

disposição legal vigente a pretexto de que a conduta nela reprimida, e por consequência a

não concessão da prisão preventiva, não seria ofensiva ao bem jurídico tutelado, qual seja, a

ordem pública que se faz presente na manutenção da paz e da tranquilidade social, na

preservação das provas permitindo-se uma escorreita, rápida e eficaz instrução criminal, e

ainda, para que seja assegurada com todas as forças e por garantia do Estado, a

possibilidade de aplicação da lei penal.9

Na realidade quando a lei comina medidas constritivas de direito a

quem praticar determinada ação ou omissão descrita em abstrato na legislação penal

não é possível nem faz sentido indagar-se, a priori, se a conduta sancionada é ou não

7 CHOUKR, Fauzi Hassan, Op. Cit, p. 512/513. 8 Código de Processo Penal, art. 317. 9 GRECO FILHO, Vicente – Notas Sobre Medidas Cautelares e Provimentos Definitivos, in JUSTITIA 125:1984.

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prejudicial ao bem jurídico, objeto da tutela legal, pois a identificação desse bem não

pode deixar de ser o resultado da interpretação do próprio preceito descritivo do

comportamento punível.

Daí a enormidade, do ponto de vista do método da ciência do

direito e dos princípios a que se subordina o raciocínio jurídico, do engano de se colocar

a norma processual restritiva em cotejo com algo que só se pode conhecer como um

dado a posteriori obtido através da exegese da norma mesma questionada, e o não menor

absurdo da ideia de uma norma legal aplicável porque sancionadora de uma conduta

não ofensiva ao bem jurídico tutelado, que é a paz e a tranquilidade social.

Não é verdade que a determinação do bem jurídico objeto da

proteção de certa norma possa resultar do exame das demais disposições do sistema

normativo com abstração da própria norma cujo alcance se discute. A interpretação

sistemática não se faz excluindo-se do sistema a regra que se trata de interpretar.

Evidente, assim, o disparate da proposição aludida no sentido de que poderiam estar

ausentes os requisitos autorizativos da determinação da prisão preventiva dos réus, com

base em interpretação decorrente de nossa própria ordem normativa, contrárias a todo o

acervo probatório contido nos autos de que os acusados, alem de violarem normas

penais de extrema gravidade, trata-se de criminosos de alta periculosidade tendo em

vista o modus operandi e o dano social praticado por eles.

È bem conhecida a observação de que o conteúdo da proibição

penal não se esgota com a descrição de uma conduta típica e a cominação de uma

sanção repressiva, por isso que a incidência desta depende não só da tipicidade como

também da ilicitude da conduta do agente, e essa ilicitude é apenas pressuposta

implicitamente pela norma descritiva e cominadora da pena, devendo ser aferida

através do exame do direito como um todo.

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Não significa isso, entretanto, que a identificação do bem jurídico

objeto da tutela penal possa prescindir de uma consideração de uma, sequer, das

normas integrantes do sistema repressivo, e que não haja providência de segurança que

restabeleça a ordem social que restou partida com a conduta praticada pelos réus.

Por outro lado, negar aplicação a uma norma processual porque seu

conteúdo estaria em contradição com o sistema normativo que se insere é ignorar que o

ordenamento jurídico apresenta-se como um universo coerente, não sendo concebível a

existência de qualquer preceito destoante de algum outro ou do conjunto. A contradição

de normas de idêntica hierarquia que não guardam entre si relação de anterioridade e

posteridade não pode ser senão meramente aparente, devendo ser resolvida através dos

procedimentos usuais de interpretação. O que não se pode, em hipótese alguma, é

afirmar a absoluta ineficácia de uma delas, embora vigente, erro grave em que incorrem

as manifestações neste sentido.

Observe-se, por fim, que afirmações no sentido de que o legislador

tem uma margem muito ampla de decisão política, porém o juiz tem o dever de exigir

dele um mínimo de racionalidade na seleção das condutas que criminaliza e nos

requisitos que autorizam medidas constritivas, importam na atribuição de um poder

superior ao juiz que não daria aplicação à lei penal ou processual senão quando esta lhe

parecesse racional.

A técnica jurídica de soluções de problemas sociais, caracterizada

pela garantia de observância dos critérios abstratos normativos por aqueles a quem

incumbe a função de aplicá-los, estaria sobreposto o sistema do arbítrio individual, em

quem cada juiz, em cada caso, cumpriria ou não a lei conforme se lhe afigurasse ou não

revestida de um mínimo de racionalidade segundo critérios necessariamente subjetivos,

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subordinados a variáveis como grau de inteligência, o preparo intelectual e até o

equilíbrio emocional de cada julgador. No fundo de tudo isso, tendências despóticas

inconscientes de certos juristas e juízes, pendor ditatorial para sobrepor à autoridade

das leis as próprias convicções filosóficas e políticas. Nada disso tem a ver com a

concepção do estado democrático de direito, fundado no princípio da divisão das

competências e predomínio das leis.

Por outro turno, a existência de prejuízo e dano à coletividade na

manutenção da liberdade dos acusados é patente, despicienda até, na medida em que

todos os elementos que autorizam a decretação de sua ordem de prisão encontram-se

presentes a exaustão. Bastaria, para refutá-la, a consideração de que a liberdade dos

acusados – direito público subjetivo -, deve ceder em face a um direito de segurança em

prol da coletividade em geral, e as testemunhas em particular, deve ser levado em

consideração.

Adverte-nos CARLOS MAXIMILIANO com a percuciência que lhe

é peculiar que, pode a regra geral criar um sistema completo e diferente do que decorre

das normas positivas anteriores, caso em que “ o poder eliminatório do preceito geral

recente abrange também as disposições especiais antigas”.10

Seguem os doutos juristas, e esta me parece ser a hipótese em

análise que o preceito constitucional do artigo 5º, inciso XLIII, veda a afiançabilidade e a

concessão de benefícios processuais, em relação aos crimes imputados na exordial

acusatória.

A prisão preventiva em sentido estrito se constitui em uma medida

de natureza cautelar que prevê a privação da liberdade dos acusados em geral, sendo

10 MAXIMILIANO, Carlos - Hermenêutica e Aplicação do Direito – 5ª ed. – Freitas Bastos – p. 431

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decretada pela autoridade judiciária antes ou durante a instauração do inquérito

policial, quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na

legislação penal, de indícios de autoria e materialidade delitiva para garantir a

manutenção da ordem pública ou econômica, para assegurar a instrução criminal e a

aplicação da lei penal, ou seja, diante dos pressupostos legais para assegurar os

interesses sociais de segurança.

De outra sorte, a decretação da prisão preventiva se justifica em

situações específicas, em casos especiais em que a custódia seja indispensável. Por essa

razão, é pacífico em sede doutrinária e jurisprudencial que não impede a decretação da

prisão preventiva o artigo 5º, LVII, da CF, que se refere apenas ao princípio do estado de

inocência.

Por outro lado, não tem cabimento estabelecer uma distinção

conceitual entre os requisitos autorizativos da decretação da custódia cautelar, como se

fossem elementos de conceitos estanques, bloqueados, sem nenhum tipo de

comunicação. Da mesma forma que a tipicidade e princípio da legalidade estão

intimamente conectados na medida exata em que a função técnica da legalidade se

realiza formal e materialmente no processo tipificador, verifica-se, desta forma, que os

elementos que autorizam a constrição de direitos subjetivos, bem por isso, estão todos

diretamente relacionados com o bem jurídico maior que é a segurança, a paz e a

tranquilidade social.

E é exatamente por este motivo que quando se diz que não há delito

sem tipo ou quando se afirma a tipicidade como elemento geral do conceito de ação,

outra coisa não se faz senão concretizar e traduzir em termos sistemáticos as exigências

materiais derivadas do princípio da legalidade.

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2.1. DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA POR

CONVENIÊNCIA DA ORDEM PÚBLICA

Os denunciados foram devidamente identificados como autores dos

graves crimes de que tratam os autos. Por outro turno, não se pode perder de vista suas

mentes distorcidas, suas personalidades voltadas para práticas criminosas e a

inadequação de suas condutas sociais na medida em que se se prevalecendo de relação

de confiança mantida com os responsáveis pela entidade responsável pela organização

da competição e sendo o principal acusado, ele mesmo, diretor da empresa contratada

para o processo de emissão, distribuição e venda de ingressos, demonstram, a

saciedade, seu desprezo para as simples regras do bom direito e de convivência.

Desta forma, se torna imprescindível a decretação da prisão

preventiva dos acusado, visando o resguardo da ordem pública.

A manutenção da ordem pública se justifica na medida em que há

necessidade, no caso concreto, de se preservar a paz pública e a tranquilidade social,

como interesses de segurança dos bens juridicamente tutelados.

Assim, se faz necessária a proteção da sociedade em relação aos

acusados que, se soltos, cometerão novos delitos e colocarão em xeque a paz social.

Os crimes praticados demonstram a evidência, o desprezo dos réus

para com a boa convivência social e as mais comezinhas regras de conduta.

No julgamento do habeas corpus nº 60.973 oriundo do Paraná em

voto proferido pelo Ministro Francisco Rezek, o conceito de ordem pública ficou

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definido, também, com “a preservação da credibilidade do Estado na justiça”.11

Fincou-se em sede jurisprudencial a inclusão de outros elementos como a potencialidade

lesiva do crime e a garantia da própria segurança dos acusados, o que ora se invoca, eis

que se soltos, certamente continuarão sua saga no cometimento de delitos, conforme

fartamente comprovado nos autos.

A garantia da ordem social que se confunde com ordem pública,

não se efetiva com o término da instrução criminal, ou seja, ao cabo da colheita da

prova. Integra-a a aplicação da lei penal, de cuja ordem social ela é decorrente.

Todos sabem que a privação cautelar da liberdade individual é

qualificada pela nota da excepcionalidade. Não obstante o caráter extraordinário de que

se reveste, a prisão preventiva pode efetivar-se, desde que o ato judicial que a formalize

tenha fundamentação substancial, com base em elementos concretos e reais que se

amoldem aos pressupostos abstratamente definidos em sede legal.12 È necessariamente a

sensação de sans peur et sans reproche, que permite que os elementos das mais variadas

camadas social continuem a cometer delitos de alta gravidade, sem que com isso sejam

sequer repreendidos pelo Estado.

Assim se manifesta a jurisprudência:

HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO ATIVA, FORMAÇÃO DE QUADRILHA,

CRIME CONTRA A ECONOMIA POPULAR, LAVAGEM DE DINHEIRO E JOGO

DO BICHO. PRISÃO PREVENTIVA. ALMEJADA REVOGAÇÃO. CUSTÓDIA

QUE SE FAZ MISTER PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PRINCÍPIO

DA CONFIANÇA NO JUIZ DO PROCESSO. PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS

E FUNDAMENTOS QUE A AUTORIZAM. MANUTENÇÃO QUE SE IMPÕE. A

11 RTJ 106:573.

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custódia cautelar legitima-se quando, presentes os pressupostos que a autorizam, materialidade

do crime e indícios da autoria, seja necessária para garantia da ordem pública, conveniência da

instrução criminal e futura aplicação da lei penal. EXCESSO DE PRAZO NA

FORMAÇÃO DA CULPA. CAUSA COMPLEXA E COM ELEVADO NÚMERO DE

RÉUS. NECESSIDADE DE EXPEDIÇÃO DE CARTAS PRECATÓRIAS

DESTINADAS À INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS POR ELES ARROLADAS.

ATRASO JUSTIFICADO. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA

CONFIANÇA NO JUIZ DA CAUSA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL

INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA. Não há ensejo ao reconhecimento do excesso de

prazo "quando a mora está justificada nos autos, quando há caso de força maior provocada por

processo complexo (vários réus, necessidade de citação edital, e de expedição de carta precatória,

instauração de incidente de insanidadl etc.)" (Mirabete, Júlio Fabbrini, Código de processo penal

interpretado, 8ª ed. atual., São Paulo, Atlas, 2001, p. 900). (HC 107947 SC 2009.010794-7

relator Sérgio Paladino julgamento 03/04/2009 Segunda Câmara Criminal)

2.2. DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA POR

CONVENIÊNCIA DA ORDEM ECONÔMICA

É de grande relevância o entendimento dos enlaces realizados entre

o Direito Penal e o Direito Econômico. Segundo Washington Peluso Albino de Souza, a

doutrina tem feito grandes confusões ao relacionar estes dois ramos do Direito. Um

primeiro ponto delineado por este autor é que ambos podem ter características voltadas

12 CHOUKR, Fauzi Hassan, Op. Cit., p. 505.

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para a economia, o que, contudo, não é suficiente para confundir um com o outro, dadas

as inúmeras peculiaridades de cada um deles.

O Direito Penal, a grosso modo, e do prisma formal, pode ser

entendido como tendo a incumbência de tipificar condutas e aplicar penas e medidas de

segurança, dentro dos limites garantísticos constitucionais, protegendo bens jurídicos

essenciais à vida em sociedade.

Na área do Direito Econômico, que cuida das medidas de política

econômica voltadas para a efetivação da ideologia econômica constitucionalmente

adotada, o ilícito também acarretará uma sanção, mas esta é completamente diferente da

sanção penal. Ela poderá ser persuasiva, preventiva, educativa, além da prestação de

um "compromisso" pelo transgressor, etc.

Assim, um ato caracterizado como ilícito econômico poderá ter

sanções econômicas, administrativas, cíveis e criminais.

Uma mesma situação poderá ter repercussões tanto em um quanto

em outro destes ramos do Direito. Quando este mesmo fato for tratado por ambos,

haverá uma conexão, porém, sem que cada um perca por isso suas características

próprias.

Exemplos desses crimes são os previstos na Lei nº10.671 de 15 de

maio de 2003, que trata da manipulação para "imposição de preço", para venda de

ingressos para eventos de toda natureza, por preços superiores aos estampados na face

dos bilhetes.

Passada esta primeira elucidação do tema, há outra a ser feita,

quanto ao que seja ordem econômica. Eros Roberto Grau entende que o conceito de

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ordem econômica previsto na Constituição não é um conceito jurídico. Isso porque ele se

presta unicamente a indicar, do prisma topológico, onde estão no texto constitucional as

disposições que institucionalizam a ordem econômica. Destarte, não constituiriam uma

ordem econômica material constitucional, não caracterizando o dever ser inerente ao

Direito.

Esta consideração é importante, tendo em vista que os legisladores

têm protegido a ordem econômica com uma assustadora voracidade ao legislar

penalmente.

Os institutos de Direito Econômico por certo são importantes e de

interesse de toda a coletividade. Ocorre que o Direito Penal, considerando que

subsidiário, não pode prestar-se à defesa de ideologias, ainda que constitucionalmente

adotadas.

O Direito Econômico, conforme já dissemos acima, cuida da

proteção e efetivação de uma ideologia econômica, esta com fincas na Carta Política.

Tomando como base estas premissas, resta claro que não podem ser construídas pontes

entre um e outro ramo do Direito ao bel prazer do legislador, considerando o

antagonismo mencionado: enquanto um se prestaria à defesa de uma ordem ideológica,

ao outro é defesa esta espécie de proteção.

Ademais, esta é uma barreira intransponível na seara criminal. O

Direito Penal deve proteger bens jurídicos indispensáveis à vida em sociedade, e que

outros ramos do Direito não conseguem tutelar eficazmente. Partindo deste prisma,

deve-se entender que o Direito Penal não pode invadir certos campos, como a defesa de

uma ideologia.

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Há que se considerar que a ordem econômica vigente deve ser

protegida pelo Estado, até mesmo para que se evite o caos no seio social. Entretanto,

com este argumento não está legitimada a intervenção criminal na ordem econômica em

toda e qualquer situação, porque é certo que outros meios podem se revelar mais

profícuos em sua defesa, como as sanções administrativas.

A escolha entre uma intervenção penal ou administrativa não é uma

alternativa que se apresenta ao alvedrio dos dirigentes do Estado. O Direito Penal só

pode ser utilizado quando exauridas as outras formas de solução do problema.

O fato de ser a "ordem econômica" um conceito previsto

constitucionalmente, não legitima, de per si, intervenções penais. Isso porque, quando se

lança mão do Direito Penal para proteger um certo valor, há que se perquirir se este

valor constitui-se em um autêntico bem jurídico-penal em todas as suas nuances, tendo

em vista que quando o Estado exercita o seu jus puniendi está restringindo um Direito

basilar do Estado Democrático de Direito, qual seja, o jus libertatis. Desta feita, para que

o jus puniendi se legitime como restrição a um princípio de maior valor (o sagrado

Direito de liberdade), deve preencher todos os requisitos previstos nos cânones penais: a

proteção de um bem jurídico válido, o atendimento aos princípios penais da

necessidade, subsidiariedade, etc. porquanto estes constituem limites ao poder estatal de

punir, sendo garantias individuais.

O que foi dito acima vale para o campo do Direito Penal material e

também para o processual, e, neste último, há um instituto que chama a atenção para a

discussão.

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A Lei 8.884/94 fez uma alteração no artigo 312 do Código de

Processo Penal para instituir entre as hipóteses de cabimento da prisão preventiva a

"garantia da ordem econômica".

Conquanto seja um instituto consolidado pelos seus mais de doze

anos de vigência, esta é uma situação que merece ser pensada. Além do que foi falado

acima sobre os limites do Direito Penal, neste caso impende considerar um outro ponto:

a certeza ou taxatividade das normas penais.

Na conformidade da lição de Eros Roberto Grau que foi exposta no

presente trabalho, a ordem econômica, no Título VII da Constituição de 1988, tem uma

função mais topográfica (indicar onde estão os dispositivos pertinentes à matéria) que

material (definir o que vem a ser "ordem econômica").

Com isso, há uma dificuldade na prática de entender quais seriam

os limites que poderiam ensejar a decretação da prisão preventiva com baldrame na

disposição inserida no art. 312 do Codex processual.

Isso acarreta um problema de maiores proporções se considerarmos

a sistemática constitucional, senão vejamos.

A liberdade é a regra na Carta de 1988. Isso é indiscutível. Assim, a

restrição à liberdade só pode ser admitida em casos excepcionais, quando não houver

efetivamente alternativas para a manutenção da vida em sociedade.

O art. 5º, LIV, assevera que ninguém será privado de sua liberdade

sem o devido processo legal. Com efeito, devemos entender que a regra é que alguém

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somente possa sofrer restrições em sua liberdade havendo contra si um título executivo

penal transitado em julgado.

A prisão preventiva, considerando que é uma prisão cautelar e

exceção a esta regra, ou restrição a este princípio, só pode ser admitida em hipóteses

excepcionalíssimas, tendo em vista que irá restringir a liberdade de uma pessoa sem que

para tanto haja um juízo de certeza, juízo este que só virá quando do trânsito em julgado

da sentença condenatória.

A jurisprudência assim se consolidou:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS

IMPETRADO CONTRA ATO DE MINISTRO DE TRIBUNAL SUPERIOR QUE

INDEFERIU MEDIDA LIMINAR EM IDÊNTICA VIA PROCESSUAL.

INCIDÊNCIA DA SÚMULA 691 DO STF. NÃO CABIMENTO. SUPRESSÃO DE

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INSTÂNCIA. AUSÊNCIA DE TERATOLOGIA NO ATO IMPUGNADO. PRISÃO

PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA, DA ORDEM ECONÔMICA

E PARA ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL. GRAVIDADE EM

CONCRETO DO CRIME. DECISÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA.

EXCESSO DE PRAZO DA PRISÃO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1.

A custódia preventiva visando à garantia da ordem pública, da ordem econômica, por

conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal, legitima-se quando

presente a necessidade de acautelar-se o meio social ante a concreta possibilidade de reiteração

criminosa e as evidências de que, em liberdade, o agente empreenderá esforços para escapar da

aplicação da lei penal. Precedentes: HC 109.723, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux,

DJe de 27.06/2012; HC 106.816, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe de

20/06/2011; HC 104.608, Primeira Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe de

1º/09/2011; HC 106.702, Primeira Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 27/05/2011. 2. O

princípio da proporcionalidade aplica-se na duração da instrução criminal, de modo a evitar a

impunidade em casos de aguda complexidade. Precedentes (HC 103.385, Relator (a): Min. DIAS

TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 08/02/2011; HC 92.719, Relator (a): Min.

JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 24/06/2008; HC 105.133, Relator (a):

Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 26/10/2010; HC 102.062, Relator (a):

Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 02/12/2010). 3. O excesso

de prazo não resulta de simples operação aritmética, uma vez que a complexidade do processo,

retardamento injustificado, atos procrastinatórios da defesa e número de réus envolvidos são

fatores que, analisados em conjunto ou separadamente...

2.3. DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA POR

CONVENIÊNCIA DA ESCORREITA INSTRUÇÃO CRIMINAL

De outra sorte, há premente necessidade de se resguardar a

escorreita instrução criminal. Na verdade, existe a indispensabilidade de decretação da

custódia preventiva dos acusados, de molde a possibilitar o correto andamento da

instrução do processo.

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Não se trata in casu, de mera conveniência para a instrução, mas

sim, da única forma de se assegurar que a instrução criminal não será atrapalhada pelos

acusados, seja pela ameaça que eles representam na influência que terão na coleta da

prova.

Com efeito, insta pôr em relevo que, se soltos, os acusados porão em

risco a instrução do processo na medida em que são pessoas altamente influentes, com

poderio econômico infinitamente acima da média, sendo pessoas danosa pelas

consequências nefastas dos crimes por eles cometidos

Neste sentido manifesta-se a jurisprudência:

Ementa: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. DESCABIMENTO.

FURTO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO

CRIMINAL E APLICAÇÃO DA LEI PENAL. DECISÃO DEVIDAMENTE MOTIVADA.

PACIENTES NÃO ENCONTRADOS NOS ENDEREÇOS FORNECIDOS QUANDO FOI

CONCEDIDA A LIBERDADE PROVISÓRIA. ACUSADOS COM VASTA FOLHA DE

ANTECEDENTES CRIMINAIS. ELEVADO RISCO DE REITERAÇÃO DELITIVA.

FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. - Este Superior

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Tribunal de Justiça, na esteira do entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, tem amoldado o

cabimento do remédio heróico, adotando orientação no sentido de não mais admitir habeas corpus

substitutivo de recurso ordinário/especial. - Inexiste o alegado constrangimento ilegal uma vez que a

custódia cautelar está devidamente amparada por conveniência da instrução criminal e para assegurar a

aplicação da lei penal, uma vez que os pacientes não foram encontrados nos endereços informados por

ocasião da concessão da liberdade provisória, circunstância que evidencia a intenção de não contribuir com

a instrução processual e de não se submeter às decisões do Poder Judiciário. Destacou o acórdão atacado,

ainda, que os pacientes eram aparentemente reincidentes, diante da extensa folha de antecedentes

criminais que possuíam, circunstância que demonstra o elevado risco de reiteração criminosa e justificava

a imposição da medida extrema para garantia da ordem pública. - Assim, tendo a instância ordinária,

diante das circunstâncias que envolvem o delito, demostrado concretamente a presença dos requisitos

autorizadores da custódia cautelar, inexiste flagrante constrangimento ilegal que autorize a concessão da

ordem de ofício. Habeas corpus não conhecido. (HC 285702 SP 2013/0421202-8 - Ministra MARILZA

MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/SE) - Julgamento 20/03/2014 -

Sexta Turma – Dje 10/04/2014)

2.4. DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA

ASSEGURAR A CORRETA APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Por derradeiro, existe a necessidade de se assegurar a correta

aplicação da lei penal na medida em que os réus, se soltos, certamente se furtarão em

cumprir a futura sanção penal a eles impostas.

Assim, a impunidade ofende e agride a ordem pública,

descaracterizando as premissas da prevenção geral e especial da pena. De outra banda,

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para a prevalência do Estado Democrático de Direito, necessário se faz que o império da

lei se faça submeter.

A prematura soltura dos denunciados por seu turno, impedirá a

aplicação da lei penal, o que é prejudicial não só para o sistema como um todo, mas

dando a sociedade uma sensação de impunidade indesejável por todos nós.

A jurisprudência não discrepa, senão vejamos:

Ementa: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA

FUNDAMENTADANA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E NA APLICAÇÃO DA LEI

PENAL.POSSIBILIDADE DE REITERAÇÃO DE CONDUTAS CRIMINOSAS. FUGA DO

RÉU.CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS

DENEGADO. 1. A prisão preventiva encontra-se devidamente fundamentada em elementos concretos

que indicam a sua necessidade pela garantia da ordem pública, tendo em vista a existência de indicativos

de que a atividade delituosa era reiterada, em se considerando, sobretudo, o fato de se tratar de

organização criminosa, destinada à promoção do crime de tráfico de entorpecentes, o que demonstra com

clareza a perniciosidade da ação ao meio social. Precedentes. 2. Ademais, como o julgamento do Paciente

pelo Tribunal do Júri já está designado para o dia 19 do corrente mês, não seria recomendável colocá-lo em

liberdade neste momento. 3. Habeas corpus denegado. (HC 227605 SP 2011/0296380-2 - Ministra

LAURITA VAZ – Julgamento 12/04/2012 - QUINTA TURMA - DJe 18/04/2012)

Sendo assim, tendo presente as razões invocadas, considerando que

se revela extremamente densa de plausibilidade jurídica a pretensão ora deduzida, e

ainda, em havendo fundadas razões de acordo com as provas admitidas e produzidas

nos autos, com base na legislação específica tem-se dos autos indícios suficientes de

autoria e a verificação da existência material do crime praticado pelo denunciado, e

tomando-se por base a presença dos requisitos autorizativos da concessão da cautela,

deve ser revogada a decisão de não decretação da prisão preventiva do acusado.

Desta forma, havendo fundadas razões, de acordo com qualquer

prova admitida na legislação específica e fortíssimos indícios de autoria e materialidade

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delitiva dos crimes praticados pelos denunciados, devem ser decretadas as suas prisões

preventivas.

Por todo o exposto e pelo que mais dos autos constam, requer o

MINISTÉRIO PÚBLICO a DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA dos acusados

1)RAYMOND WHELAN 2)MOHAMADOU LAMINE FOFANA o “LAMINE”, 3)ALEXANDRE

MARINO VIEIRA; 4)ANTONIO HENRIQUE DE PAULA JORGE o “HENRIQUE”, 5)MARCELO

PAVÃO DA COSTA CARVALHO, 6) SERGIO ANTONIO DE LIMA o “SERGINHO”, 7)JULIO

SOARES DA COSTA FILHO, 8)FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, 9) ERNANI ALVES DA

ROCHA JUNIOR o “JUNIOR”, 10)ALEXANDRE DA SILVA BORGES vulgo “XANDY”, 11)OZEAS

DO NASCIMENTO, com fulcro no artigo 312, do Código de Processo Penal.

Rio de Janeiro, 09 de julho de 2014.

MARCOS KAC

PROMOTOR DE JUSTIÇA

Mat. 1.882

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO ___JUIZADO ESPECIAL DO

TORCEDOR E DOS GRANDES EVENTOS

Inquérito Policial nº 018-01397/2014

18ª Delegacia de Polícia

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PROMOÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLCIO

O presente procedimento foi instaurado no dia 27 de março de 2013, a

partir de notícia de crime encaminhada à Ouvidoria do Ministério Público do Estado do Rio

de Janeiro, com objetivo de apurar a autoria e circunstâncias do delito previsto no artigo 41-

F da Lei 10671/2003.

No decorrer das investigações houve notícia da existência de uma

verdadeira ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA funcionando com a venda à maior de ingressos não

só de jogos de futebol, mas de outros eventos esportivos, bem como ingressos de shows e

eventos.

Assim, ante a ausência de outros meios legais para continuação das

investigações a Autoridade Policial representou pela quebra do sigilo telefônico dos

investigados que foi deferida pelo r. Juízo.

Efetuada a quebra do sigilo telefônico foi possível colher indícios de

autoria e materialidade desvendando um robusto esquema criminoso que oferece ingressos

para TODOS os jogos da Copa do Mundo.

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A partir da interceptação das comunicações telefônicas de ANTÔNIO

HENRIQUE foi possível identificar que este atua em comunhão de ações e desígnios com

MARCELO PAVÃO DA COSTA CARVALHO; SERGIO ANTONIO DE LIMA o SERGINHO,

vulgo "BICHA"; ALEXANDRE MARINO VIEIRA; MOHAMADOU LAMINE FOFANA, vulgo

“LAMINE”, FERNANDA CARRIONE PAULUCCI, ERNANE ALVES DA ROCHA JUNIOR o

JUNIOR, JULIO SOARES DA COSTA FILHO, ALEXANDRE DA SILVA BORGES, OZEAS

DO NASCIMENTO e JOSÉ MASSIH, bem como outros cambistas ainda não identificados

atuantes em outros Estados.

De acordo com as diversas transações efetuadas pelos criminosos foi

possível constatar que a organização atua não só no Estado do Rio de Janeiro, mas também

em outros Estados do País. Nestes casos a entrega de ingressos vendidos a preços maiores do

que o estampado no bilhete é feita através dos Correios, mediante entregadores ou

pessoalmente dependendo do porte da negociação.

No decorrer das investigações constatou-se que a ORGANIZAÇÃO

CRIMINOSA constituída pelos investigados atua com auxílio de diversos cambistas de menor

porte, os quais recebem comissões por cada venda, sendo o valor resultante do lucro divido

entre os “sócios” integrantes da Organização que dão aporte financeiro para compra de

ingressos.

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Nesse sentido revela-se a utilização pelos investigados de contas

bancárias de pessoas jurídicas para aquisição e venda de ingressos, bem como para ocultação

e dissimulação da natureza e origem do dinheiro proveniente da venda ilegal de ingressos,

realizando-se a inserção desses valores no sistema financeiro como se lícitos fossem.

Durante a interceptação telefônica dos investigados se teve

conhecimento de que grande parte dos lotes de ingressos da Copa do Mundo de 2014

comercializados pelo grupo eram, inicialmente, destinados às seleções participantes da

competição, assim como à CBF – Confederação Brasileira de Futebol, os quais foram

indevidamente desviados sendo comercializados a terceiros ilegalmente.

Os investigados atuam de forma organizada e com divisão de tarefas

auferindo lucros astronômicos que chegam a 1000% do valor real dos ingressos com a

realização de venda de um único bilhete por até R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Assim sendo, se sentem verdadeiramente poderosos e capazes de

corromper a todos numa busca incessante por lucro fácil.

Nesse sentido, durante a realização das interceptações telefônicas,

mediante ação controlada, alguns dos investigados foram flagrados vendendo ingressos e

ofereceram ou prometeram vantagem indevida aos policiais que os conduziram até a Unidade

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de Polícia Judiciária, demonstrando desprezo para com a boa convivência social e as mais

comezinhas regras de conduta.

Foi possível identificar, ainda, a atuação de MOHAMADOU LAMINE

FOFANA, vulgo “LAMINE”, com escritório em Genebra, o qual mostrou-se influente no

ramo, possuindo diversas amizades no meio futebolístico, de forma que mediante a promoção

de festas e eventos, consegue adquirir ingressos dos integrantes das delegações participantes

da Copa do Mundo, integrantes da FIFA a fim de abastecer a Organização Criminosa.

É O RELATÓRIO, em apertada síntese.

Os crimes investigados foram perpetrados pelos investigados alhures

citados em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas.

Neste sentido revela-se imprescindível, para a continuação das

investigações, o deferimento de medida de cunho cautelar, a saber:

a) Busca e apreensão nos escritórios da FIFA e da MATCH, documentos, papéis,

cadernos anotações, ingressos e o que mais for do interesse da investigação;

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b) Busca e apreensão no quarto do suspeito RAY WHELAN, de documentos,

papéis, cadernos anotações, ingressos e o que mais for do interesse da

investigação;

c) Busca e apreensão no quarto do suspeito ENRIQUE BYROM, de documentos,

papéis, cadernos anotações, ingressos e o que mais for do interesse da

investigação;

d) Busca e apreensão no quarto do suspeito JAIMEAY BYROM, de documentos,

papéis, cadernos anotações, ingressos e o que mais for do interesse da

investigação;

e) Quebra do Sigilo Telefônico da linha utilizada por PAULO MARCOS SCHMITT

041-7875-3831(Procurador-Geral do Superior Tribunal de Justiça

Desportiva) e,

f) fornecimento das contas reversas das linhas 041-99910723 e 041-7875-3831,

desde janeiro de 2014 até a presente data.

PS - OFÍCIOS A TODAS OPERADORAS (VIVO, CLARO, TIM, OI E

NEXTEL)

PS1 - OFÍCIOS A TODAS OPERADORAS PARA FORNECIMENTIO DE

CONTA REVERSA DESDE JANEIRO DE 2014 ATÉ A PRESENTE

DATA

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1ª CENTRAL DE INQUÉRITOS 9ª PROMOTORIA DE INVESTIGAÇÃO PENAL

Rio de Janeiro, 09 de julho de 2014.

MARCOS KAC

PROMOTOR DE JUSTIÇA

Mat. 1.882