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Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra Departamento de Matemática Relatório da disciplina de Psicologia Educacional I Realizado pelas alunas de Matemática: Carla Filipa de Abreu Marques Rodrigues Marlene Catarina Laranjeiro das Neves Tânia Cipriano Santos 24 de Novembro de 2003

Departamento de Matemáticaguy/psiedu1/Violencia.pdf · e capaz de proporcionar um bom e promissor futuro aos jovens. No entanto, verifica-se um aumento da preocupação e de insegurança

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Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra

Departamento de Matemática

Relatório da disciplina de Psicologia Educacional I Realizado pelas alunas de Matemática: Carla Filipa de Abreu Marques Rodrigues Marlene Catarina Laranjeiro das Neves Tânia Cipriano Santos

24 de Novembro de 2003

ÍNDICE

Tema e Objectivos........................................................................ Pág. 1 Introdução...................................................................................... Pág. 2 Procedimento.................................................................................. Pág. 3 Testemunhos e Notícias.............................................................. Pág. 4 Tratamento de Dados.................................................................. Pág. 11

Conclusão........................................................................................ Pág. 13 Bibliografia.................................................................................... Pág. 15

TEMA: “A violência nas escolas”. OBJECTIVOS:

1. Analisar algumas das causas que levam à violência nas escolas. 2. Analisar a forma como esta se manifesta, nomeadamente nas

relações professor/aluno, aluno/aluno e pais/aluno.

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INTRODUÇÃO

A violência é um tema do nosso quotidiano. A escola que, felizmente, não vive retirada desse quotidiano, nem isolada do mundo, não escapa a esse clima de violência, que contribui para uma imagem negativa da escola. Para uns, ela é o espelho dessa violência, para outros é, ela mesma, geradora de violência. Alunos, professores, pais e encarregados de educação, aqueles que formam a comunidade educativa, são sujeitos e objectos dessa violência. Mais recentemente, os meios de comunicação mass media tornaram públicos alguns episódios e, consequentemente, regista-se o aumento da preocupação dos pais, professores e dos responsáveis do mais alto nível, que se questionam sobre as possíveis causas deste fenómeno. A escola deveria ser um lugar de aprendizagem de valores sólidos, normas e respeito pelo próximo, transmitindo uma imagem tranquila, serena e capaz de proporcionar um bom e promissor futuro aos jovens. No entanto, verifica-se um aumento da preocupação e de insegurança por parte da comunidade escolar. Daí o interesse em estudar algumas das causas e efeitos da violência no meio escolar.

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PROCEDIMENTO

Dado o tema “Violência nas escolas” estar relacionado com alunos e professores, pensou-se em questioná-los acerca do referido tema. No entanto, face às dificuldades em obter respostas sinceras por parte dos alunos, optámos por entrevistar apenas um professor, seguindo o seguinte guião:

• Ao longo da sua experiência profissional já se deparou com algum caso de violência entre alunos?

• De que forma é que essa violência se manifestou? • Na sua opinião, quais serão as razões para tal comportamento? • Já foi vítima de agressão por parte dos alunos, ou sabe de algum

colega que tenha passado por tal situação? • Que tipo de agressão foi? • Quais as razões para isso acontecer? • Do seu ponto de vista, o que é que poderia ser feito de forma a

diminuir o surto de violência nas escolas? De forma a complementar o nosso estudo, obtendo mais dados sobre o tema, com o intuito de conhecer casos particulares de violência, procedeu-se ainda, a pesquisa em jornais, livros e revistas.

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TESTEMUNHOS E NOTÍCIAS

Da pesquisa efectuada em jornais, obtivemos alguns testemunhos de professores vítimas de violência por parte dos alunos e/ou encarregados de educação, bem como notícias relacionadas com o assunto. Apresentamos, em seguida, alguns dos testemunhos mais relevantes e pequenos excertos das referidas notícias. Francisco Barreto, professor de matemática, foi parar ao hospital depois de ter sido agredido por alunos que irromperam pela aula. O caso teve lugar em 1999, na Escola Básica 2+3 de Marvila, em Lisboa, quando uma aluna do 5º ano se recusava a entrar na aula para evitar agressões de colegas. O professor convenceu-a, mas começou a ser empurrado por alunas de outro ano que tentavam impedir a aula. Francisco perdeu a cabeça e deu “um pequeno estalo” numa delas. “Os miúdos disseram-me para fechar a porta à chave, mas não liguei”. Pouco depois, um grupo de jovens de 14 anos entrou na sala e a aula transformou-se numa arena de luta, com o professor a reagir às agressões. “A Associação de Pais queria sacrificar-me. O que me teria acontecido se deixasse aqueles matulões baterem-me?”. O caso está no Tribunal de Menores.

Expresso 25/03/2000

“A profissão de professor está socialmente desvalorizada”, comenta Antonieta Saragoça dos Santos, professora na Escola Básica nº 3 de Pinhal Novo, ela própria vítima de maus tratos. Só comunicou o seu caso ao Sindicato para ser fonte de reflexão. “A mãe de uma aluna agarrou-me no cabelo com a mão esquerda e deu-me dois murros com a direita”, conta a docente, que já pediu para ser transferida. Dois dias antes da agressão, ocorrida na escola, Antonieta tinha mandado calar várias vezes as crianças que se encontravam no refeitório.

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Uma menina de 8 anos continuava a falar como se a professora não existisse. “Agarrei-lhe na cara e gritei: estou a falar contigo! A miúda começou a chorar descontroladamente. Fiquei com medo de a ter magoado”. Pouco depois, um menino da mesma idade veio avisar a professora: “Ela diz que você está fritinha. A mãe dela vem cá e parte isto tudo!”.

Expresso 25/03/2000 “Eu chego ao cúmulo de tomar calmantes antes de iniciar a aula”, disse um professor de uma escola de Lisboa. “Tenho receio de não me conseguir controlar perante comportamentos tão indisciplinados que os meus alunos têm. Nunca pensei chegar a este ponto”.

Expresso 25/0372000 “Para eu conseguir dar uma aula tenho que ignorar o comportamento dos meus alunos, pois hoje em dia, o professor não tem qualquer poder sobre estes. Marcar uma falta no livro de ponto ou mandar alguém para a rua envolve um processo muito complicado, por isso, o melhor mesmo é ignorar”, comenta a professora de educação visual de uma escola da Amadora.

Expresso 25/03/2000

“Há 14 anos, fui professora de um menino na periferia de Lisboa. Vivia com o pai e com o irmão mais velho, mas era eu que lhe dava cuidados mínimos de higiene. Quando deixei a escola, ele desapareceu. O caso foi

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apresentado a instituições do Estado, mas a resposta era que dramatizávamos o assunto. No ano passado, aquele menino, que tem agora 18 nos, foi condenado a 6 anos de prisão!”.

Expresso 25/03/2000 Numa sondagem realizada em Agosto passado, 29% dos estudantes do ensino secundário já havia sido vítimas de violências (em certos casos apenas verbais, como ameaças ou chantagens) e igual percentagem de pais achavam que os professores se desinteressam do que se passa na sua escola e que os alunos se sentem abandonados. Mas, os professores contra-atacam: “Os pais esperam que a escola resolva todos os problemas que eles próprios não conseguem resolver”.

Expresso 27/01/2001 Numa escola de Braga, um grupo de alunos do 5º ano de escolaridade juntou-se para prender um colega de turma a cadeado. Depois, obrigaram-no a andar de gatas e a comer relva no recreio, até que um funcionário se apercebeu da situação e levou todos os protagonistas ao Conselho Executivo para a aplicação de sanções disciplinares.

Com diferentes níveis de maus tratos físicos ou verbais entre colegas, situações com esta, com a designação técnica de bullying, repetem-se diariamente em todos os anos lectivos, sobretudo nos recreios, a zona menos vigiada nas escolas.

Expresso 21/07/2001

Agredida por uma aluna de 12 anos, Odete Gomes ficou em estado de

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choque, apesar da experiência acumulada ao longo de 23 anos de ensino. “Nem sei o que senti. Talvez grande indignação, um sentimento que se vinha a acumular depois de meses a ouvir insultos nos corredores, como os outros colegas”, conta a professora de português. Ao ver a aluna na sala, depois de várias ausências, Odete apenas comentou: “Ainda bem que vieste, tenho umas perguntas para ti”.

Expresso 17/11/2001

Três professores são agredidos fisicamente todas as semanas por alunos e pais ou encarregados de educação. Os dados revelados ao Expresso pelo chefe de gabinete do Secretário de Estado da Administração Educativa indicam que as 146 agressões participadas pelas escolas ao Ministério da Educação durante 2001 são quase três vezes superiores às de 1999 (em que se registaram 55) e registam ainda uma subida em relação a 2000 (139 casos).

Expresso 02/02/2002

Cento e dezanove é o número de vítimas que deram entrada, este ano, nos hospitais, depois de atacados por pais e alunos nas escolas ou nas suas imediações. As contas à violência nos estabelecimentos do básico e secundário ainda não estão fechadas, pois estão contabilizadas as participações chegadas à Secretaria de Estado da Administração Educativa até ao dia 6 deste mês, mas para já revelam uma diminuição de 25% face a 2001, quando se registaram 160 agressões físicas que provocaram o internamento hospitalar de professores, alunos e pessoal não docente.

Expresso 28/12/2002

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Apresentamos também aqui alguns artigos de jornais que retratam essa mesma violência nas escolas.

24 Horas

21/03/2002

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Diário de Coimbra 27/04/2002

Região de Leiria 22/03/2002

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Diário de Coimbra 27/04/2002

TRATAMENTO DE DADOS

Na entrevista efectuada à professora de Matemática verificámos o quanto a violência está fomentada nas escolas.

Segundo esta profissional da educação, todos os dias de assiste à violência entre alunos; nos corredores, aquando a entrada da sala de aula, nas filas para a compra de senhas, nos intervalos e em muitas outras situações - “os alunos empurram-se, agridem-se verbalmente ( cada palavrão! )... Ainda há pouco tempo, uma aluna estava dobrada no chão com dores porque um colega a pontapeou na zona abdominal” - comentou a professora.

Contudo, esta violência não se verifica apenas entre alunos, pois os professores são cada vez mais alvos desta mesma violência, que vai desde agressões verbais por parte dos alunos – “uma das vezes já ouvi lá fora falamos...” - até à danificação das viaturas dos docentes.

Na perspectiva da professora são várias as razões que levam a este tipo de comportamento, como por exemplo, a falta de empatia com o professor, a falta de educação e ambientes familiares muito violentos, devido ao alcoolismo e consumo de drogas. No entanto, a entrevistada crê que nos dias de hoje “tudo é permitido aos filhos pelos pais”, sendo depois difícil o controlo por parte destes – “já ouvi dos pais dizer já não sei o que fazer ao meu filho, já não tenho mão nele ”, e as crianças têm, por vezes, 12 anos!” – confidenciou-nos a professora.

Quando questionada sobre o que poderia ser feito de forma a diminuir o surto de violência nas escolas, respondeu-nos: “Muitas vezes, nós professores, comentamos que deveríamos fazer uma escola para os pais. Muitas das vezes, a violência familiar é uma realidade diária o que, para os alunos, é algo normal e, por isso, praticável em qualquer lado, até na escola! Os

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filmes e muitos jogos apelam à violência, pelo que deveria haver alguma contenção e controlo nesse sentido.” Falou-nos ainda da necessidade em efectuar campanhas de sensibilização para este problema que tende a agravar-se. Relativamente aos testemunhos e notícias recolhidas podemos verificar que são muitos os professores vítimas de agressões físicas e verbais por parte dos alunos e encarregados de educação, não estando estes últimos, muitas das vezes, a par da realidade escolar, intervindo de uma forma inadequada, de modo a defender os seus educandos. Constatámos também que existem muitas agressões entre colegas e que estas, normalmente, ocorrem em sítios menos vigiados.

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CONCLUSÃO A violência sempre esteve presente na história da Humanidade. Entretanto, actualmente, os actos de violência revestem-se de novas formas e atingem, de uma maneira, ou de outra, todas as pessoas, independentemente da classe social, raça, religião ou cultura. A violência tem aumentado assustadoramente na nossa civilização, indo além das instâncias económicas e instaurando-se nas escolas como um fenómeno crescente, presente, em especial, nas que se localizam nas áreas urbanas, alterando o comportamento dos jovens que expressam a sua frustração sobre a família, a escola e a comunidade. Através do estudo efectuado, concluímos que são muitas as causas que levam a comportamentos violentos. Muitas vezes, as crianças são sujeitas a ambientes familiares muito violentos devido aos mais variados motivos, como por exemplo, o alcoolismo e o consumo de drogas por parte dos pais. De facto, a irresponsabilidade dos pais na educação dos filhos conduz a uma atitude autoritária da criança, que se manifesta no desrespeito pelos colegas e professores, levando a actos de indisciplina dentro do recinto escolar. Muitas das vezes, esta indisciplina leva a comportamentos violentos para com os colegas, manifestando-se desde agressões verbais a agressões físicas. Normalmente, estas agressões físicas estão relacionadas com a mal interpretação que os jovens fazem entre a ficção dos programas televisivos e a realidade. De facto, há uma tendência por parte dos jovens em “copiarem” os programas de televisão, a ponto de algumas atitudes virarem “moda” entre eles.

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Contudo, esta violência não se manifesta só entre alunos, mas também por parte dos alunos para com os professores, nomeadamente, agressões verbais, tais como “lá fora falamos” e “parto-te os cornos”, bem como actos de vandalismo – riscar os carros e esvaziar pneus.

Na nossa opinião, é imprescindível tomar medidas de forma a diminuir o surto de violência nas escolas. Campanhas de sensibilização, a co-responsabilização de professores, pais e alunos, ocupação de tempos livres com actividades lúdicas e um maior acompanhamento dos alunos por parte dos pais, professores e psicólogos são algumas das medidas que achamos necessárias para tentar minimizar os efeitos da violência nas escolas.

Contudo, compreender a violência juvenil, as suas verdadeiras causas e encontrar soluções que visem o seu tratamento e a sua possível extinção, é uma preocupação de Ontem, de Hoje e será, seguramente, uma preocupação de Amanhã.

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BIBLIOGRAFIA

• Costa, Maria E. e Vale, Dulce, “A violência nas escolas”, 1998, Lisboa, IIE.

• Revista ArteFactos, número 15, Junho de 2003.

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