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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIAS COMISSÃO DE DIREITO HUMANOS EVENTO: Audiência pública N°: 001604/01 DATA: 13/12/01 INÍCIO: 10:13 TÉRMINO: 12:39 DURAÇÃO: 02:26 TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2:30 PÁGINAS: 31 QUARTOS: 16 REVISORES: ANTONIO MORGADO, LIA, PAULO DOMINGOS, ZILFA SUPERVISÃO: AMANDA, DANIEL, LETÍCIA CONCATENAÇÃO: ZUZU DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO WALDIR FERREIRA QUIRINO – Pesquisador do Laboratório de Produtos Florestais, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis — IBAMA. MARGARIDA MUNGUBA CARDOSO – Assessora do Ministério do Trabalho e Emprego. AMÉRICA UNGARETTI – Oficial de Projeto e representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância — UNICEF. JOSÉ BATUÍRA DE ASSIS – Secretário-Executivo da Associação Brasileira de Florestas Renováveis — ABRACAVE e representante do Sr. Rudolf Bühler, Diretor Técnico do Instituto Brasileiro de Siderurgia — IBS. JOSÉ BASTOS PADILHA NETO – Documentarista da Zazen Produções, do Rio de Janeiro. SUMÁRIO: Debate sobre a situação dos carvoeiros no Brasil. Apresentação de relatório da Subcomissão para a Criança e o Adolescente, da Comissão de Direitos Humanos, sobre trabalho infantil nas carvoarias. OBSERVAÇÕES Há apresentação de documentário. ]Há apresentação de transparência. Há exibição de vídeo.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASCOMISSÃO DE DIREITO HUMANOS

EVENTO: Audiência pública N°: 001604/01 DATA: 13/12/01INÍCIO: 10:13 TÉRMINO: 12:39 DURAÇÃO: 02:26TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2:30 PÁGINAS: 31 QUARTOS: 16REVISORES: ANTONIO MORGADO, LIA, PAULO DOMINGOS, ZILFASUPERVISÃO: AMANDA, DANIEL, LETÍCIACONCATENAÇÃO: ZUZU

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

WALDIR FERREIRA QUIRINO – Pesquisador do Laboratório de Produtos Florestais, doInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis — IBAMA.MARGARIDA MUNGUBA CARDOSO – Assessora do Ministério do Trabalho e Emprego.AMÉRICA UNGARETTI – Oficial de Projeto e representante do Fundo das Nações Unidas paraa Infância — UNICEF.JOSÉ BATUÍRA DE ASSIS – Secretário-Executivo da Associação Brasileira de FlorestasRenováveis — ABRACAVE e representante do Sr. Rudolf Bühler, Diretor Técnico do InstitutoBrasileiro de Siderurgia — IBS.JOSÉ BASTOS PADILHA NETO – Documentarista da Zazen Produções, do Rio de Janeiro.

SUMÁRIO: Debate sobre a situação dos carvoeiros no Brasil. Apresentação de relatório daSubcomissão para a Criança e o Adolescente, da Comissão de Direitos Humanos, sobretrabalho infantil nas carvoarias.

OBSERVAÇÕES

Há apresentação de documentário.]Há apresentação de transparência.Há exibição de vídeo.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Declaro aberta a

presente reunião da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e

Minorias.

Inicialmente, colocaremos em discussão e votação as atas nºs 52, 53, 54, 55,

56, 57, 58 e 59, referentes a reuniões anteriores.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, peço a dispensa

da leitura das atas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Tendo sido as atas

distribuídas regimentalmente, a leitura será dispensada.

Em discussão. (Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-las, coloco-as em votação.

Os Srs. Deputados que as aprovam permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

Aprovadas.

Passamos agora à pauta desta audiência pública da Comissão de Defesa do

Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, com a participação da Comissão de Direitos

Humanos e sobre a situação dos carvoeiros no Brasil.

Haverá a exibição de um documentário, a apresentação do livro “Os

Carvoeiros” e a apresentação do relatório da Subcomissão para a Criança e o

Adolescente, constituída na Comissão de Direitos Humanos.

Como o primeiro item da pauta é a apresentação de um audiovisual, vamos

manter as pessoas convidadas em seus lugares. Logo depois, comporei a Mesa.

Podemos iniciar a apresentação do documentário.

(Apresentação de documentário.)

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Gabeira) – Vamos iniciar a

audiência pública, com a participação da Comissão de Direitos Humanos. O tema é

a situação dos carvoeiros no Brasil. Tivemos a exibição de um documentário e

teremos a apresentação do livro "Os Carvoeiros" e do relatório da Subcomissão para

a Criança e o Adolescente, constituída na Comissão de Direitos Humanos.

Convido para tomar assento à mesa o Deputado Orlando Fantazzini,

Coordenador da Subcomissão para a Criança e o Adolescente, da Comissão de

Direitos Humanos; o Sr. Waldir Ferreira Quirino, pesquisador do Laboratório de

Produtos Florestais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis — IBAMA e representante do Ministro do Meio Ambiente,

Sarney Filho; a Sra. Margarida Munguba Cardoso, assessora da Secretaria de

Inspeção do Trabalho e representante do Ministério do Trabalho e Emprego; a Sra.

América Ungaretti, oficial de projetos representante do Fundo das Nações Unidas

para a Infância — UNICEF; o Sr. José Batuíra de Assis, Secretário Executivo da

Associação Brasileira de Florestas Renováveis — ABRACAVE e representante do

Sr. Rudolf Bühler, Diretor Técnico do Instituto Brasileiro de Siderurgia — IBS; e o Sr.

José Bastos Padilha Neto, documentarista da Zazen Produções, do Rio de Janeiro.

Esclareço que foi também convidada a participar da presente reunião a Sra.

Heloísa Castro Berro, Secretária de Estado de Assistência Social, Cidadania e

Trabalho do Mato Grosso do Sul, que nos comunicou a impossibilidade de

comparecer.

Iniciados os trabalhos, vamos determinar agora a ordem das inscrições.

Como o filme foi um pouco mais longo do que esperávamos, proponho uma

intervenção de dez minutos para cada expositor. Depois, se for o caso, faremos o

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debate. São 11h20min, e a nossa idéia era que a reunião se estenderia até as

12h45min. Portanto, teríamos aproximadamente mais uma hora e meia.

Passo a palavra ao Deputado Orlando Fantazzini, que esteve recentemente

no Pará e fará um breve relato do trabalho da Subcomissão para a Criança e o

Adolescente, da Comissão de Direitos Humanos.

O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Sr. Presidente, em razão de

denúncias de trabalho infantil nas carvoarias, chegadas à Comissão de Direitos

Humanos, fomos designados para fazer diligências no sul e no sudeste do Pará, em

ação conjunta com a Delegacia Regional do Trabalho do Pará, nos Municípios de

Rondon do Pará, Dom Eliseu, Ulianópolis e Paragominas.

A denúncia mais consistente veio de Paragominas. Entretanto, como

deixamos para visitá-la por último, quando lá chegamos as carvoarias estavam

desertas, sem ninguém trabalhando.

Na primeira cidade, Rondon do Pará, procuramos contactar o Conselho

Tutelar, para realizar a ação de forma conjunta. Na primeira carvoaria que visitamos,

encontramos crianças, adolescentes e adultos trabalhando nas piores condições

possíveis — como mostrado no vídeo —, sem qualquer equipamento de segurança

e em meio à fumaça. O que mais me chamou a atenção — é o que se repete em

todas as carvoarias — foi o processo de desenfornar, quando os trabalhadores

jogam água e entram dentro da caieira. A caloria na boca da caieira é em média de

setenta graus centígrados. Na caieira, por exemplo, não conseguimos entrar, em

razão do alto aquecimento, pois os carvões ainda se encontravam incandescentes.

Os trabalhadores, no entra-e-sai, colocam o carvão para fora. Alguns deles, até para

suportar a caloria, jogam água sobre o corpo e retornam ao interior da caieira, para

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continuar retirando o carvão. A grande maioria das crianças que lá trabalham faz a

barrelagem.

Outra situação que constatamos na carvoaria de Rondon do Pará é que os

trabalhadores cavam a terra para construir um poço de aproximadamente dois

metros e meio de profundidade. Utilizando-se de uma escada de madeira para

descer, colocam no ombro uma lata de vinte litros cheia até a metade e sobem,

repetindo a operação até encherem um carrinho de mão. Ou seja, correm não só o

enorme risco de desbarrancamento, mas também o de queda.

Quanto à idade, o menino mais velho tinha 12 anos. Havia uma menina de 8

anos e dois meninos de 9 anos. O curioso é que a maioria não sabe nem dizer a

idade correta. Ao se perguntar a idade, a maioria responde assim: “Olha, o meu pai

diz que eu tenho 10”. Ao se perguntar o dia, o mês e o ano em que nasceu, a

maioria não sabe informar. E são essas crianças que transportam os carrinhos de,

em média, quarenta quilos até próximo do forno que já está queimando, misturam

aquele conteúdo à água e fazem o serviço de barrelagem, que é ficar esfregando até

vedar por completo os fornos. Eles convivem no meio da fumaça e de brasas, ainda

de carvão incandescente, todos descalços, sem qualquer sandália ou sapato. E o

mesmo ocorre com os trabalhadores adultos. O máximo que encontramos foram

trabalhadores com sandálias de borracha no pé. Equipamento de segurança é coisa

fora do comum.

Em Rondon do Pará, visitamos aleatoriamente algumas carvoarias. Por

coincidência, fomos a três do mesmo proprietário, porém em locais distintos. Uma

delas ficava dez, quinze quilômetros mata adentro. Fomos informados de que

existiam duas carvoarias novas. O curioso é que, chegando à região, acabamos

encontrando mais de vinte carvoarias, todas clandestinas. Eu não conheço carvoaria

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de madeira, mas os auditores do Ministério da Fazenda mostraram-me que várias

delas utilizam madeira de lei, mogno. O processo que está em andamento é o

desmatamento para fazer pastagem. Em vários locais do sul e do sudeste do Pará,

estão devastando a mata única e exclusivamente para fazenda de gado, e,

lamentavelmente, o corte se dá sem qualquer autorização ou rigorosa fiscalização

por parte das autoridades.

Lá encontramos um caminhão do tipo pipa, com um tambor em cima,

transportando água coletada de um riacho. As pessoas fazem uma caixa de

madeira, revestem-na com um encerado plástico preto e ali depositam a água. A

cada oito dias, o caminhão retorna com a água. Em uma dessas caixas, nós

encontramos vários peixinhos. Perguntei a uma senhora se ela fazia criação de

peixes. A resposta é que ela coloca os peixinhos para comer os micróbios, porque

aquela é a água que utilizam para beber e cozinhar. Lá, as pessoas vivem em

constante processo de dores musculares, febre e diarréia.

O proprietário das três carvoarias é o dono do supermercado da cidade de

Rondon do Pará. Todos os trabalhadores estão endividados, devem a ele, num

verdadeiro regime de escravidão. Ninguém sai de lá. Perguntamos a eles se

poderiam ir embora se desejassem. A resposta foi que, provavelmente, sim. No

entanto, ao perguntarmos se alguém já havia tentado ir embora, a resposta que

tivemos é que ninguém havia tentado ir embora, porque todos estavam em débito.

Fomos à cidade e, no supermercado, encontramos um livro. O proprietário do

mercado, inteligente que é, escreve “compra”, porém não discrimina o valor.

Segundo os próprios carvoeiros, o quilo do frango chega a custar 5 reais. Os demais

produtos devem ter os preços hiperelevados, para que os trabalhadores possam

continuar endividados.

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Em Ulianópolis, a situação não foi nada diferente. O que chamou muito a

atenção é que, na cidade, a escola fecha algumas vezes, em razão da fumaça, que,

quando muda o vento, vai em direção à cidade, e as aulas têm que ser

interrompidas, porque é insuportável a quantidade de fumaça, que provoca

dificuldade de respiração. O comércio praticamente fecha. Há um grande número de

crianças com problemas respiratórios. Também encontramos muitas crianças que

carregam em si as marcas de queimaduras passadas. Na cidade, um menino está

com um problema na perna devido a queimaduras. A parte inferior da perna direita

dele está praticamente colada à parte superior.

Programas governamentais, principalmente o PETI, não atendem à maioria

das crianças. As mães dizem que não compensa perder um dia de trabalho para ir à

cidade receber o dinheiro, porque, muitas vezes, ao chegar lá, o dinheiro não

chegou, devido a mil e um problemas. Das mães que têm crianças trabalhando ou

com os filhos cadastrados em um dos programas, PETI ou Bolsa-Escola, nenhuma

delas havia recebido um centavo, em razão da demora de repasses. Então, para

não perder um dia de serviço, elas deixam de ir à cidade. A conclusão é que as

crianças, pelo menos aquelas que estão no Bolsa-Escola, ganham mais trabalhando

na carvoaria do que não trabalhando e recebendo os 15 reais por mês, pois têm a

possibilidade de ganhar muito mais.

Chamou-me a atenção o grande número de crianças e adolescentes que não

freqüentaram ou não freqüentam a escola. Em uma das carvoarias, havia uma

escola, mas havia também reclamação generalizada das mães contra uma

professora que humilhava e destratava as crianças e que chegou inclusive a bater

nelas com vara. Por isso, o Conselho Tutelar resolveu agir. Colheu a termo os

depoimentos e tomou providências.

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Em linhas gerais, nos quatro Municípios, foi o que encontramos nas

carvoarias, sem exceção. Fazemos, em nosso relatório, algumas sugestões, entre

elas a da obrigatoriedade da extinção desses modelos de carvoaria. Além da

degradação ao meio ambiente, da degradação que causa ao ser humano, acredito

que em nada contribui para o processo de construção da cidadania. Esse modelo

tem de ser extinto. Não pode mais prevalecer.

Estamos sugerindo ações conjuntas do Ministério do Trabalho, no Pará e no

Maranhão, porque a maioria das siderúrgicas que recebem o carvão estão situadas

no Maranhão. Então, todo esse trabalho é feito em razão da siderúrgica. Quando o

Ministério do Trabalho autuar as carvoarias no Pará, deverá comunicar o fato ao

Ministério do Trabalho no Maranhão, para que também autue a siderúrgica, porque

ela é solidária na exploração do trabalho do adulto e também da criança e do

adolescente e também tem de responder solidariamente.

Propomos que, nos processos licitatórios, seja exigida certidão negativa

emitida pelo Ministério do Trabalho, dizendo que a empresa não utiliza mão-de-obra

infantil. Caso não obtenha a certidão, as empresas não poderão participar de

processos licitatórios. No mesmo sentido, para obter qualquer tipo de financiamento,

também uma das exigências deverá ser a certidão negativa da utilização do trabalho

infantil. Além disso, para obter a guia de exportação, há que se apresentar certidão

negativa do Ministério do Trabalho, para que a empresa comprove que não utiliza

trabalho infantil direta ou indiretamente. Pode acontecer que a siderúrgica não utilize

diretamente, mas indiretamente, através das carvoarias.

Mais ainda. Há uma portaria do Ministério do Trabalho, que estipula uma

multa de 402 reais e 52 centavos por cada criança ou adolescente em situação

irregular encontrada na empresa. Entretanto, a multa só pode ser alcançada até o

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número máximo de cinco. Se a carvoaria tiver dez crianças, a multa é de 2 mil reais

aproximadamente. Se tiver vinte crianças, ou cinco, pagará o mesmo valor. Ou seja,

é um estímulo, inclusive, para quem tem dois ou três adolescentes trabalhando — é

melhor que tenha vinte ou trinta, porque a multa será a mesma. Sem contar que o

custo do adolescente é bem inferior ao de um adulto. Paga-se menos e produz-se

mais, até em função da disposição.

Para concluir, chamou-me muita atenção um fato. Vi um menino no

documentário dizendo que o sonho dele era ser carvoeiro. Conversamos com uma

dessas crianças. Ela faz o trabalho da barrelagem. Perguntamos o que ela

pretendia, se queria estudar. Ela disse que o sonho dela era um dia ser enchedor de

forno, era deixar de ser barrelador, porque a barrelagem normalmente é trabalho de

criança, de mulher. Trabalho de homem é encher e desenfornar. Então, o sonho

dela é esse.

É esse o futuro que estamos possibilitando às crianças e aos adolescentes na

Região Norte, especialmente no sul do Pará. Segundo informações, isso também

acontece no Maranhão, o que é uma realidade muito triste. Temos por obrigação

travar um combate muito forte no sentido de cessar a exploração do trabalho infantil

e também do ser humano como um todo. Não é um trabalho livre, de opção, mas de

escravidão. Por isso, entendemos que deve ser feito um esforço concentrado por

parte da Comissão de Direitos Humanos e de outras Comissões, principalmente da

Câmara dos Deputados, no sentido da extinção desse modelo de carvoaria em

nosso País.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Gabeira) – Muito obrigado,

Deputado Orlando Fantazzini.

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Devo comunicar aos convidados que a quinta-feira é um dia muito especial na

Câmara dos Deputados. São poucos os Parlamentares presentes, mas o Deputado

Orlando Fantazzini, que está trabalhando diretamente no tema, e eu, que também

me interesso pelo tema — eu havia sugerido a realização desta audiência há cerca

de um ano e só agora consegui realizá-la —, talvez sejamos o núcleo que vai

trabalhar no processo de combate às carvoarias desse tipo no Brasil.

Tenho um projeto mais ambicioso: fazer um phaseout dessa atividade em

nosso País, programar o desmantelamento progressivo e total desse tipo de

atividade no Brasil, tal como ela é realizada hoje, evidentemente levando em conta o

futuro e a situação desses trabalhadores.

Quero que todos entendam que esta não é mais uma audiência pública com

motivação de denúncia. Estamos aqui colhendo dados para nosso projeto de

trabalho do próximo ano.

Passo a palavra ao Sr. Waldir Quirino, pesquisador do Laboratório de

Produtos Florestais do IBAMA.

O SR. WALDIR FERREIRA QUIRINO – Componentes da Mesa, Sras. e Srs.

Deputados, senhoras e senhores, na condição de técnico, gostaria de agregar

alguns dados sobre esse processo de carvoajamento. Coincidentemente, eu trouxe

algumas transparências para elucidar mais a situação. São poucas e rápidas. Vou

também agregar à minha fala algumas observações do Deputado Orlando Fantazzini

em relação a essa tecnologia.

(Apresentação de transparências.)

Como se dá a produção do carvão vegetal? O que é o carvão vegetal? É um

processo de combustão incompleta da lenha, da madeira, em que grande parte dela

é transformada em gases e lançada na atmosfera. Infelizmente, a grande maioria da

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produção de carvão vegetal no Brasil é realizada exatamente através dessa

tecnologia, como se pode ver nessa película.

Vamos observar que, nesse processo — o mais simplório, com tecnologia

mais atrasada, e exatamente sobre isso quero fazer algumas observações —, é

utilizado o mesmo tipo de forno. Vê-se que o processo de construção é bastante

artesanal. Todo o procedimento é baseado em atividade braçal principalmente,

desde a construção do forno até a produção em si do carvão.

Durante a produção, qual é o procedimento? Como funciona a carvoaria? É

importante ressaltar esse aspecto, porque a película não deu o devido enfoque.

Normalmente, um produtor de carvão opera de sete a nove fornos. Esse

procedimento é contínuo. Enquanto um forno está sendo carregado, outro já iniciou

o processo de carbonização. Há uma seqüência no processo. Por isso, a unidade de

produção é baseada em torno de sete a nove fornos. Como o processo é muito

artesanal — o tamanho dos fornos não é padronizado —, tudo varia também em

função dos fornos.

Isso faz com que a pessoa trabalhe continuamente no carregamento, no

rechego da lenha, no carregamento do forno, no processo de fechamento e

combustão. Durante o resfriamento, faz-se a mesma operação nas unidades de

fornos seguintes. É um processo contínuo, sem interrupção. Mesmo chegando ao

final do processo de carbonização e descarregamento do último forno da bateria —

uma quantidade dessas de fornos é chamada de bateria, e podemos ter várias

baterias consecutivas —, podemos ver pessoas trabalhando de forma contínua, sem

interrupção, ocupando-se de várias baterias consecutivas.

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Todo o processo de bateria de forno é dimensionado para haver rodízio

contínuo. Há um ciclo de carbonização contínuo para cada forno. Podemos observar

aí que não há interrupção.

Além dos procedimentos de produção do carvão já mencionados, há o

processo da pirólise ou destilação. Nesse é preciso que se criem condições de

disposição de oxigênio para que somente uma parte da lenha seja carbonizada e a

outra se torne carvão. O rendimento é extremamente baixo, em torno de 25 a 30%

no máximo. O restante são gases, que serão lançados na atmosfera. Qual a

composição desses gases? Ácido acético, vapor d’água e vários tipos de compostos

hidrocarbônicos, que poluem o ar. Pior do que esse procedimento é o chamado vala,

um buraco no chão.

Gostaria de enfatizar que não existe nenhuma recuperação. O processo em si

é extremamente danoso, sob vários aspectos. Temos trabalhado o aspecto

ambiental no IBAMA e no Ministério do Meio Ambiente por meio da divulgação de

tecnologias alternativas desenvolvidas e utilizadas no Brasil. Em uma dessas

tecnologias, esse gás é condensado, recuperado e destinado para utilização. Ainda

que não seja totalmente utilizado, como na carboquímica, é injetado juntamente com

o carvão nos altos fornos.

Um dos trabalhos que estamos desenvolvendo são programas de divulgação

de procedimentos mais avançados. Existe um processo desenvolvido pelas

siderúrgicas mineiras que possibilita a recuperação de grande parte desses gases

através da condensação. Sempre que incorporamos essas tecnologias, criamos

condições de maior organização na atividade de carvoejamento. Estamos

divulgando em todo o Brasil processos de valorização da madeira e capacitando

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agentes técnicos das agências estaduais da EMATER, SENAI e Secretarias de

Agricultura e Meio Ambiente que ajudam a difundir essas informações.

Há uma tecnologia mais desenvolvida, ainda não operada no Brasil, na qual o

processo de carvoejamento é totalmente automatizado. É o top da tecnologia de

carvoejamento: o material entra por cima e o carvão sai pronto embaixo, num ciclo

bastante curto.

Não vou abordar todos os processos, mas existe também o dos fornos

metálicos, outro ciclo bem mais curto, com colocação mais facilitada da lenha nos

fornos.

Esta é a nossa idéia: introduzir tecnologias mais avançadas que possibilitem o

aperfeiçoamento do processo de produção e a redução do trabalho braçal. A própria

viabilidade econômica do procedimento depende da adoção de tecnologias mais

avançadas, como a organização dentro da carvoaria, o rechego da lenha no pátio,

além de fornos mais modernos, como os existentes em Minas Gerais e Goiás.

Paralelamente, o IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente divulgam processos

de exploração florestal por meio do manejo sustentável e emitem certificados

florestais. Só é possível obter a certificação quem atende a todas as exigências de

segurança no trabalho. Naturalmente, em função do volume e da interiorização da

produção há dificuldades na introdução de controles em todos esses aspectos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Gabeira) – Agradeço ao Sr. Waldir

Quirino a exposição. Certamente iremos manter novos contatos quando estivermos

preparando projetos nessa linha de transformação da carvoaria no Brasil.

Passo a palavra à Sra. Margarida Cardoso, assessora do Ministério do

Trabalho e Emprego.

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A SRA. MARGARIDA MUNGUBA CARDOSO – Bom dia. É um prazer estar

aqui nesta Comissão com os Srs. Deputados Fernando Gabeira e Orlando

Fantazzini. Sou auditora fiscal do trabalho, assessora da Secretaria de Inspeção do

Trabalho. Esse tema é bastante conhecido para o Ministério do Trabalho e Emprego

e nós, da fiscalização do trabalho, temos, por força de competência, a prerrogativa

de estar nesses locais, de entrar em contato com esses trabalhadores.

Nossa ação mais significativa e de conhecimento público ocorreu em Mato

Grosso do Sul, nos Municípios de Ribas e Água Branca. Esse trabalho iniciou-se à

época do então Ministro do Trabalho, Walter Barelli, e teve grande repercussão

entre 1992 e 1993, por causa da publicação de grandes matérias e ocorrência de

várias denúncias, inclusive internacionais, em relação às condições de trabalho dos

carvoeiros em Mato Grosso do Sul. A fiscalização do trabalho passou a desenvolver

ações intensas naquela região. O carvoeiro não é um trabalhador normal, exerce

trabalho degradante e em condições análogas à de um escravo — grande parte

dele, não em carvoarias organizadas para exploração comercial. É um trabalho

precário, porque queima a mata, a vida e a saúde dos trabalhadores. Os

trabalhadores são móveis, deslocam-se para áreas onde há floresta e mata para ser

desmatada; tudo isso relacionado com o pasto. O primeiro passo é a derrubada da

mata. As condições de trabalho escravo permanecem no momento de levantar a

cerca. Às vezes, o carvoeiro levanta cerca, faz roça, arranca toco para ser queimado

posteriormente.

Esse tipo de trabalho, com fiscalização muito intensa, em Mato Grosso do Sul

acabou ocasionando um problema social muito grande na região: os produtores de

carvão não queriam mais contratar trabalhadores com família. Geralmente esses

trabalhadores não vivem no Estado onde o carvão está sendo explorado; eles são

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deslocados de outros Estados. Os melhores trabalhadores de carvão são os

mineiros. Tal deslocamento, de um Estado para outro, fez com que o trabalhador

passasse a viver em acampamentos improvisados, em barracas de lona. Como a

exploração é rápida, eles, depois da queima, partem para outro lugar. Não há água

potável, mas suja com resíduos da queima do carvão. Para fugir disso, a família

carvoeira desloca-se para a periferia dos Municípios.

Participei do Fórum Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil, onde

discutiu-se alternativas para essas famílias. Iniciou-se, então, o programa da bolsa

para crianças afastadas do trabalho, posteriormente ampliado para outras regiões do

País, e hoje está incluído no PPA, por meio do Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil, com ações previstas na Secretaria de Estado de Assistência

Social, através da bolsa Criança Cidadã. A fiscalização do trabalho tem a

responsabilidade de fazer o mapeamento, identificar os focos de trabalho infantil,

exercer as ações fiscais, promover estudos e pesquisas sobre esse tipo de trabalho,

bem como eventos e seminários e distribuir publicação.

Desde 1996 publicamos anualmente o Mapa de Indicativo do Trabalho de

Crianças e Adolescentes, no qual apresentamos dados reelaborados do IBGE, para

incluir o corte etário de acordo com o que dispõe a Constituição sobre o trabalho

infantil, ou seja, reprocessamos os dados do IBGE para a faixa de 15 anos e 11

meses — o IBGE faz um corte de 14 anos —, distribuídos por regiões. Nosso

trabalho vai além, refere-se a Estados, Municípios e atividades desenvolvidas por

essas crianças. Houve um avanço ainda maior porque correlacionamos as

atividades com os riscos que esse tipo de trabalho pode causar à saúde e ao

processo de desenvolvimento dessas crianças.

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Por exemplo, em relação à produção de carvão vegetal, quais as condições?

Há falta de anotação na carteira de trabalho, jornada excessiva, remuneração por

produção, trabalho noturno, uso de ferramentas — machado, foice, facão e

motosserra —, exposição a níveis elevados de pressão sonora, vibração, desgaste

postural, esforço físico, exposição a radiação solar, picada de animais peçonhentos,

riscos do manejo animal ou de máquina, queda de toras, preparação e aplicação da

barrela, manuseio do fogo, altas temperaturas, calor excessivo, exposição e

variações bruscas de temperatura — como foi abordado pelo Sr. Waldir Quirino, o

trabalho é ininterrupto, 24 horas contínuas, e é preciso cuidar para não perder o que

está sendo queimado, assim as famílias se revezam em turnos —, explosões e

desabamentos, por causa dos fornos e dos gases, combustão espontânea do

carvão, fumaça contendo subprodutos da pirólise e combustão incompleta, ácido

pirolinhoso, alcatrão, metanol, acetona, acetato, CO, CO2, metano, trabalho

monótono, acompanhado do stress da tensão da vigília do forno, quedas e

desabamento das pilhas de madeira e uso de ferramentas inadequadas, como

escadas, enxadas e pás.

O que isso pode causar à saúde da criança? Quais as repercussões à saúde?

Intoxicações múltiplas. As crianças absorvem maior concentração de agentes

químicos pelas vias respiratórias, pele e aparelho digestivo. Encontramos muitas

crianças com problemas sérios de respiração, náusea, insônia. Tudo isso prejudica o

processo de desenvolvimento da criança para que se torne um adulto saudável.

Infelizmente, não pudemos trazer nossos colegas Demétrio — fiscal exemplar

que hoje está em Tucuruí, ontem esteve em Marabá — e Cláudia, que participaram

do trabalho no sul do Pará, ajudando a organizar e a escolher os Municípios. Como

auditores fiscais do Ministério do Trabalho entramos nesse mundo imenso no Brasil,

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de difícil acesso, às vezes sendo necessário o apoio da Polícia Federal, muitas

vezes sofrendo ameaças de vida, em lugares onde as pessoas estão extremamente

isoladas, pela floresta e pelas grandes distâncias geográficas.

Em Mato Grosso do Sul, como vimos, os trabalhadores carvoeiros são

oriundos de Minas Gerais. No sul do Pará, grande parte desses trabalhadores são

oriundos do Maranhão, principalmente da região sudeste do Estado, dos Municípios

de Balsas, Porto Franco e Grajaú. O carvão também volta para o Maranhão. Ele é

comprado basicamente pela Siderurgia Viana, várias vezes autuada pela

fiscalização. Ela já recebeu o Termo de Ajuste de Conduta do Ministério Público, que

descumpre, pois continua explorando esses trabalhadores. Há grande dificuldade

em se prestar assistência a essas famílias porque não são fixas nessa região, no sul

do Pará; elas provêm do Maranhão. Também foi criada no Maranhão uma comissão

de melhoria das condições de trabalho dos carvoeiros, com a participação do

Ministério Público do Trabalho e da Fiscalização.

Em relação às propostas, acho boa a de se aumentar o valor da multa.

Apenas sugiro que não seja por meio de portaria, mas por meio de lei. A última lei

que autorizou o aumento das multas, triplicando seu valor, foi editada em 1989. Nós,

da Secretaria de Inspeção do Trabalho, apresentamos uma proposta de projeto de

lei prevendo o aumento dessas multas. Como esta é a Casa das leis, gostaríamos

que os Srs. Deputados nos ajudassem nesse sentido.

No que diz respeito à proposta de certidão negativa de inexistência de mão-

de-obra infantil, incluiria o trabalho escravo. Acho que essas duas têm de estar

combinadas. No Pará, grandes fazendas recebem recursos da SUDAM e BNDES

empregando mão-de-obra escrava. O Governo gasta dinheiro com o deslocamento

da fiscalização para aquela região a fim de conter esse tipo de trabalho e, ao mesmo

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tempo, financia quem promove esse tipo de trabalho. Por isso, achamos

interessante incluir o trabalhador escravo, porque grande parte dos carvoeiros

adultos está nessa condição.

No trabalho que temos feito pelo grupo que combate o trabalho escravo,

tivemos muita incidência disso no período de 1995 a 1996. Mais recentemente, a

incidência maior é no Estado do Maranhão, com relação a carvoeiros. Temos

incidência maior de trabalho escravo no Pará, Maranhão e Mato Grosso.

Atualmente, a maior incidência de trabalho infantil no Brasil é no Estado do

Maranhão.

A fiscalização do trabalho tem uma política de ação não só repressiva, mas

também educativa. Temos um corpo de médicos do trabalho que se preocupa com o

tema — inclusive há estudos sobre o assunto. Estamos com uma cartilha dos riscos

que o trabalho causa nas condições de saúde de crianças e adolescentes e nos

colocamos à disposição da Comissão e dos Srs. Parlamentares para ajudá-los. Para

nós, é de grande importância este espaço. Somando o esforço das diversas

instituições, quem sabe, conseguiremos, assim como ocorreu com a criação da

Bolsa Criança Cidadã, quando o Governo incluiu o Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil no Orçamento, avançar mais ainda para diminuir a exploração do

trabalho infantil.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Gabeira) – Agradeço à Sra.

Margarida Cardoso a contribuição. Vamos continuar em contato para elaboração

desse projeto.

Passo a palavra à Sra. América Ungaretti, Oficial de Projetos e representante

do Fundo das Nações Unidas para a Infância — UNICEF.

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A SRA. AMÉRICA UNGARETTI – Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a

esta Comissão, em nome da representante do UNICEF no Brasil, a possibilidade de

participar desta audiência pública. Imediatamente, gostaria de cumprimentar a

delegação desta Comissão que foi ao Estado do Pará e identificou a situação das

crianças no trabalho, tendo elaborado relatório objetivo e claro, inclusive

apresentando algumas propostas.

Gostaria de fazer algumas observações complementares para finalizar,

incorporando algumas sugestões. Assinalo que no Brasil ainda existe uma

percepção de que o trabalho infantil faz parte do desenvolvimento das crianças e

dos adolescentes das classes sociais mais populares.

Particularmente, no caso que nos interessa, só a partir de 1996 e 1997 é que

as autoridades paraenses reconheceram que o trabalho infantil atentava contra a

dignidade e os direitos das crianças. Pelo documentário visto, como assinalou o

Deputado Orlando Fantazzini, podemos ver que há uma negação de todos os

direitos das crianças, segundo a convenção sobre os direitos das crianças.

Perguntam a idade das crianças e elas não sabem, não há garantia do registro civil

nem da certidão de nascimento. As crianças são excluídas do processo escolar e

trabalham. Há informações de crianças envolvidas em trabalhos degradantes que

sofrem, em conseqüência, outros tipos de violação em sua proteção no âmbito do

trabalho.

Particularmente no sudeste do Pará, as dificuldades em termos da geografia

do Estado demandam novas metodologias, novas estratégias para conseguirmos

enfrentar esse problema, até porque grande parte dos Municípios nas zonas rurais

não tem escolas para as crianças. Há da 1ª a 4ª séries em alguns Municípios; em

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outros Municípios nem isso. Há mais de 3 mil Municípios com menos de 20 mil

habitantes e muitos deles não têm ainda escola.

Segundo informações dos nossos colegas de escritórios do Pará, a

vinculação do trabalho infantil a essas situações de trabalho escravo envolvendo

famílias inteiras ainda existe, sobretudo nas fazendas do sudeste do Estado, como

assinalou a representante do Ministério do Trabalho. A situação ainda é muito mais

grave do que a Comissão assinalou através da visita que realizou. Vale dizer

também que é importante identificar o quanto é recente essa mobilização da

sociedade brasileira contra o trabalho infantil, como já assinalou a representante do

Ministério, ainda mais no Estado do Pará.

A implementação do PETI na Região Norte foi muito tardia em relação aos

outros Estados. Isso implica uma situação socioeconômica, ainda mais em questões

práticas de comportamento, de atitudes e da própria relação das famílias com as

crianças e da referência das crianças para as perspectivas de futuro, como

assinalou o Deputado. O desejo de algumas crianças é ser cajueiro, pois é a

referência familiar que elas têm.

Se pensarmos em todas essas questões, vamos ver como o problema é

complexo. As propostas apresentadas pela Comissão, em termos do Legislativo, são

pertinentes, mas existem outras questões extremamente complexas que só a

legislação não vai resolver.

Vou dar alguns dados para vocês verem que desde o princípio de 2000 as

metas do PETI para o Estado do Pará aumentaram de 29 para 125 Municípios e de

11.994 crianças para 20.064 crianças.

O PETI financia a bolsa, mas o questionamento das famílias é um outro

problema complexo para quem trabalha com essa área, e o Governo Federal,

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através das SEAs repassa recursos para as comissões. Os Municípios não têm

competência para garantir a retirada dessas crianças do trabalho infantil e a sua

inclusão na escola, com a garantia do processo de aprendizagem, como disse o

Deputado. As famílias assinalam que as crianças são maltratadas nas escolas. Isso

ocorre não só no norte do País. Verificamos ainda a dificuldade dos professores de

aceitarem as crianças diferentes dentro de suas salas da aula.

Como já disse a Sra. Margarida Cardoso, representante do Ministério do

Trabalho, todo esse trabalho, que prevê a bolsa do PETI, não implica só o

fornecimento da bolsa, mas uma atividade ampliada e ações complementares

juntamente com o trabalho de fiscalização. Os Municípios ainda são incompetentes

para fazer isso. Incompetentes em termos de não terem recursos humanos e

financeiros para responder a essas necessidades que garantiriam a erradicação do

trabalho infantil. Na nossa experiência, vemos que muitas vezes as crianças são

retiradas da exploração de um tipo de atividade e vão para outra atividade devido à

situação concreta das famílias de baixa renda. Essas são questões que gostaria de

trazer, mas existem muitas outras.

As informações que temos dão conta de que o Ministério do Trabalho tem

feito um trabalho correto dentro de suas limitações. Relatórios sobre a situação têm

sido encaminhados ao UNICEF, mas há uma série de dificuldades, como já

assinalei. Talvez uma das mais importantes seja a falta de participação da

sociedade civil, vista em sua forma mais ampla, na resolução do problema da

exploração do trabalho infantil.

Sistematicamente, todas as semanas, os meios de comunicação buscam

informações sobre o envolvimento de crianças, sua retirada das ruas e absorção nas

escolas. O Fórum de Erradicação do Trabalho Infantil, em geral, está não diria

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esvaziado, mas bastante mais desmotivado do que o fórum de erradicação do

trabalho das crianças no lixo, que conseguiu uma adesão de representação da

sociedade civil muito grande e ativa. Inclusive, está em discussão pelo Deputado

Emerson Kapaz a política nacional de resíduos sólidos. Esse outro trabalho do

UNICEF tem tido muito mais sucesso.

Vou entrar na primeira proposta feita aqui. Estrategicamente, o UNICEF

conseguiu identificar no momento certo, com as pessoas certas, qual o mote para a

campanha Criança no Lixo Nunca Mais. E fomos bem sucedidos. Acho também que

precisamos identificar, e aí eu falo para a Comissão de Direitos Humanos e para o

Deputado da Subcomissão encarregada de crianças e adolescentes, e pensar, de

forma mais abrangente, quais as estratégias que teríamos de usar para mobilizar a

sociedade brasileira contra todo tipo de trabalho e envolvimento de crianças e

adolescentes. Ainda não conseguimos, Deputado, identificar.

Temos a Frente Parlamentar pela Criança atuando nesta Casa, o CONAMA, o

Fórum de Erradicação do Trabalho Infantil, o Fórum Nacional Lixo & Cidadania, os

Fóruns Nacionais dos Direitos da Crianças, dentro da Secretaria de Direitos

Humanos, o Departamento de Crianças e Adolescentes. Portanto, temos muitos

espaços para mobilizar, definir políticas públicas, implementar projetos e ações, mas

ainda desarticulados. Creio que precisamos pensar em estratégias possíveis para

nos associarmos e efetivamente erradicarmos o trabalho infantil, meta do Governo

brasileiro e, particularmente, do UNICEF como agência mandatária para garantir os

direitos da criança e dos adolescentes em nosso País.

Gostaria de finalizar dizendo que o UNICEF, evidentemente, está disponível

para colaborar. Temos um escritório zonal no Pará, um coordenador e um oficial do

UNICEF encarregado da questão do trabalho infantil. Garanto a esta Comissão que

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poderão contar com o UNICEF, que, por sua vez, gostaria de contar com os

senhores, porque no nosso próximo programa, além dessas questões, incluímos as

questões de raça e etnia. Portanto, observei com o olhar de representante do

UNICEF as questões de raça, de etnia e de gênero e verifiquei o grande

envolvimento de negros no trabalho infantil. Surpreendeu-me aquelas duas crianças

que não são negras, mas imagino que deve haver muitas crianças pardas e pretas,

que formam as negras. A nossa recomendação no próximo programa é que essas

crianças negras e indígenas recebam prioritariamente as bolsas para garantir sua

inclusão do sistema escolar.

Obrigada, Deputado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Gabeira) - Sua observação final

coincide com a preocupação da Comissão de Direitos Humano, que, se tudo der

certo, no ano que vem vai-se transformar numa Comissão de Direitos Humanos e

Multiculturalismo. Teremos a questão das etnias diretamente ligada à Comissão dos

Direitos Humanos.

Concedo a palavra ao Sr. José Batuíra de Assis, Secretário Executivo da

Associação Brasileira de Florestas Renováveis, representando o Sr. Rudolf Bühler,

Diretor Técnico do Instituto Brasileiro de Siderurgia.

O SR. JOSÉ BATUÍRA DE ASSIS - Obrigado, Deputados Fernando Gabeira

e Orlando Fantazzini. É uma felicidade muito grande estar aqui. Sou engenheiro

florestal há trinta anos. trabalhei na área de controle de produção de carvão e de

controle ambiental. Fui Diretor do Instituto Estadual de Florestas, em Minas Gerais.

Tive a honra de trabalhar ao lado do Secretário Executivo do Ministério do Meio

Ambiente, José Carlos Carvalho.

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As chances para discutirmos a questão florestal e da produção de carvão são

escassas e raras. Sempre que acontecem, elas vêm carregadas de preconceitos, de

informações por vezes unilaterais e até falsas. É bom que tenhamos a oportunidade

democrática de colocar um contraponto muito à vontade, não sendo absolutamente

nada contra nem defendendo uma posição empresarial.

Eu gostaria de informar algo fundamental: tudo que foi mostrado e discutido

aqui tem uma causa estrutural. Ela se chama expansão de fronteira agropecuária.

Todo esse desmatamento citado no belíssimo filme do Padilha, de Minas Gerais,

que diz que foi desmatada uma França em Minas para fazer carvão vegetal, é mito.

Podemos desmistificar isso com muita facilidade.

Se considerarmos a demanda de 1940 até 2000, verificaremos que é preciso

5 milhões de hectares em um único corte com o rendimento que o cerrado dá. Se

cortássemos o tronco, ele brotaria novamente, porque 96% das espécies do cerrado

brotam de raízes. Acontece que Minas Gerais tem 7 milhões de hectares de

agricultura e 26 milhões de hectares de pecuária. Ou seja, se o carvão pôde utilizar

cinco, amontoamos, queimamos e jogamos para a atmosfera todos aqueles gases

que foram citados na carbonização simplesmente queimando e jogando fora.

O grande vilão da história é a expansão da fronteira agropecuária. A

representante do Ministério falou disso com muita propriedade. Realmente, no Pará

acontece a mesma coisa. A expansão foi anteriormente para pastagem. Hoje ela

segue não apenas a pastagem, mas também os madeireiros. O carvão vegetal é

muito mais um efeito no desmatamento do que uma causa. Ele vem como limpa-

trilho, pegando aquilo que sobrou, aquilo que já está desmatado. Agora, dificilmente,

Deputado, essa é a minha convicção de técnico e de quem milita há trinta anos no

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setor, vamos ter condições de controlar essas carvoarias clandestinas. Elas vão

existir sempre que houver expansão de fronteira agropecuária.

Se os senhores prestarem atenção no depoimento daquele carvoeiro, verão

que ele começa a falar de Teófilo Otoni, passa para Nova Andradina e vai para Mato

Grosso. Ele está indo atrás da expansão da fronteira agropecuária. Ele não está

indo fazer carvão. Quer dizer, o carvão segue, acaba sendo um cúmplice do

desmatamento, porque ajuda a financiar a destoca. Quando o filme mostra

maravilhosamente aqueles dois tratores destocando o cerrado, é um outro erro de

concepção. O carvão não é feito de raiz. Se tem raiz para fazer, faz-se, mas

normalmente é muito melhor se fazer do tronco. Mil vezes melhor é fazer com

floresta plantada, com plantação florestal. Esse é o ponto.

Agora, Deputado, acho dificílimo que possamos controlar a qualidade do

trabalho nessas carvoarias de mata nativa, porque elas são nômades. O Governo

jamais investiu um tostão em educação, moradia, infra-estrutura e saúde desses

verdadeiros páreas, as famílias de carvoeiros. Com a única exceção do Mato Grosso

do Sul, já citada pela representante do Ministério, experiência que deu certo.

Acrescento ao que disse a colega do UNICEF que a maneira correta de

conseguirmos um bom projeto público de sociedade para resolver o problema do

trabalho infantil não é a multa — perdoe-me, Deputado Orlando Fantazzini — nem a

certidão negativa, mas a oportunidade, como a que foi dada ao Mato Grosso do Sul,

com a bolsa-escola, erradicando-se o trabalho infantil, ou com a tecnologia, como o

colega do IBAMA citou.

Em Minas Gerais, hoje, o trabalho infantil em carvão é praticamente fato do

passado. Não existe mais. É zero ou quase próximo disso. Pode ser que em algum

rincão haja alguma família trabalhando. É preciso dar oportunidade, como a que o

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Ministério deu ao Estado do Mato Grosso do Sul através da bolsa-escola e outros

meios.

É importante deixarmos uma imagem. Podemos citar muitos dados, mas isso

passa. Eu gostaria de apresentar dois minutos de vídeo de uma empresa que,

profissionalmente, com tecnologia de ponta, faz um trabalho estruturado no mesmo

local, sem ser nômade. Quando não nômade, o carvão é uma atividade tão benéfica

como qualquer outra. O que normalmente não sabemos, mas é importante, é que a

única alternativa para o carvão vegetal na siderurgia é o coque metalúrgico, que vem

do carvão mineral, produzido aqui em condições tão escravas quanto na China ou

em qualquer outro lugar. Ele é subterrâneo, com péssima insalubridade. Agora, para

nós, qual o pior defeito? Primeiro, não temos carvão mineral de qualidade no Brasil,

o que nos faz importar dos Estados Unidos, Japão, China, Polônia. Isso gera

desequilíbrio na nossa balança comercial. Segundo, é um produto que tem enxofre.

Para cada tonelada de ferro-gusa feito, 6,5 quilos de enxofre são jogados na

atmosfera, o que causa chuva ácida. Isso acaba com nossa saúde e com nossa

agricultura. Tudo fica prejudicado.

Vou apenas fazer um resumo. Se optamos pela via carvão vegetal, ao invés

da via carvão mineral para fazer o ferro-gusa, para os senhores terem uma idéia, em

termos apenas de efeito estufa, por tonelada de ferro-gusa, são 19 toneladas de gás

carbônico e 16 toneladas de oxigênio de diferença.

Agora, se realmente fizermos fiscalização e autuação em repressão à

produção de carvão vegetal, é bom que verifiquemos sempre o lado universal,

vamos estar beneficiando a entrada do coque importado, o que causará

desequilíbrio na balança comercial e problemas ambientais seriíssimos, porque o

coque é fóssil. Todo o carbono utilizado está embaixo da terra, é desfossilizado e

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jogado na atmosfera. No caso do carvão vegetal, não. Antes de se queimar e fazer

fumaça, todo o carbono é absorvido pela fotossíntese no tronco, na raiz, na folha, no

fruto. Portanto, tudo fica parado no vegetal. O vegetal não tem outra coisa a não ser

carbono e hidrogênio, praticamente a madeira. Isso é importante.

Peço permissão para a apresentação de um vídeo com duração de dois

minutos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Fernando Gabeira) - Essa luz vermelha

piscando significa que as reuniões têm de ser encerradas imediatamente, porque

estamos em votação no plenário, mas vamos assistir aos dois minutos de vídeo.

Em seguida, concederei a palavra por três minutos ao Sr. José Bastos Neto,

que veio do Rio de Janeiro para esta reunião.

O SR. JOSÉ BATUÍRA DE ASSIS - O vídeo apresenta um pequeno trecho de

um filme institucional de uma das associadas ABRACAVE, mostrando o processo já

citado pelo representante do IBAMA.

(Exibição de vídeo.)

O SR. JOSÉ BATUÍRA DE ASSIS – Infelizmente, esse não era o ponto.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Orlando Fantazzini) - Concedo a palavra ao

Sr. José Bastos Padilha Neto, documentarista da Zazen Produções, do Rio de

Janeiro, para falar sobre o documentário a que assistimos.

O SR. JOSÉ BASTOS PADILHA NETO – Em primeiro lugar, agradeço ao

Deputado Fernando Gabeira, ausente neste momento, e ao Deputado Orlando

Fantazzini, a realização desta audiência pública. Para mim, documentarista, é muito

importante, porque isso significa que o filme que fiz está ajudando de alguma forma

um debate que considero importante para o futuro não só da atividade dos

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carvoeiros, mas também da atividade da produção de ferro-gusa no Brasil, com

todas as implicações que isso tem nas áreas humana e ecológica.

Teço alguns rápidos comentários não diretamente ligados ao documentário,

mas ao assunto aqui discutido. Esta Comissão precisa responder a três perguntas

para fazer um trabalho consistente e que tenha resultados a longo prazo. A primeira

é: quem são os carvoeiros? Temos que entender de onde essas pessoas vêm e por

que elas trabalham fazendo isso. Depois temos de entender o que está acontecendo

com os carvoeiros e qual o contexto atual da vida deles. Se entendermos essas

duas questões, poderemos conseguir fazer um modelo necessário para evitar o

destino que eu, particularmente, e outros cientistas achamos que os carvoeiros

tendem a ter.

Esse vídeo projetado mostra a produção moderna de carvão, que é muito

simples. Primeiro, ela é feita à base de eucalipto e é estática. Os trabalhadores não

são nômades. Segundo, onde se empregavam cem pessoas, empregam-se quatro.

Usam-se tratores etc. O que aconteceu? Vamos olhar um pouco para a história da

produção do carvão vegetal no Brasil. Começou-se a produzir carvão vegetal no

Brasil em Minas, em 1930. Como sempre, a atividade de carvão vegetal começou

com madeira nativa. Não existia plantação de eucalipto quando foi iniciada a

produção de carvão vegetal em Minas. Toda vez que olhamos para a estatística da

destruição do carvão vegetal naquele Estado, temos de olhar com uma pulga atrás

da orelha. Por quê? O Sr. José Batuíra de Assis citou o fato de que a maior parte da

devastação feita é pela expansão agrícola ou por madeireiras, no caso do Pará.

Vamos considerar o fazendeiro que decide fazer um desmatamento na sua

fazenda. Ele olha para aquela mata e faz uma conta: “Eu quero fazer o

desmatamento para colocar gado e vai custar tanto. Quanto é que vou ganhar para

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financiar o desmatamento?” O que financia o desmatamento, inicialmente, é a venda

da madeira. Embora não seja o objetivo e o motivo pelo qual o fazendeiro fez o

desmatamento, a atividade carvoeira o financia, porque ele tira aquela madeira,

vende a madeira e recebe o dinheiro, que paga o trabalho do desmatamento. Então,

quando se aponta uma estatística e se diz: “Ah, é a fronteira agropecuária que

desmata, é o gado e não o carvão”, tem-se se qualificar, porque o carvão contribui

financeiramente para o ato do desmatamento. Esse é o primeiro ponto a ser levado

em consideração.

O segundo é o seguinte: com a mecanização do carvão, o que aconteceu?

Em Minas, na medida em que a fronteira agropecuária foi-se expandindo e as

florestas foram ficando longe das siderúrgicas, o custo do carvão de mata nativa foi

ficando maior, porque o custo do transporte também foi ficando maior. Apenas

quando isso aconteceu é que se começou a plantar eucalipto. Ninguém plantou

eucalipto porque é bonzinho e quer preservar o meio ambiente. Todo mundo plantou

eucalipto porque tinha subsídio do Governo e porque economicamente era melhor

para as indústrias. Não tenho nada contra ser melhor para as indústrias, pois elas

têm que ganhar dinheiro para gerar emprego.

Na medida em que se foi plantando eucalipto, porque não tinha mais mata

nativa, por conta da expansão agrícola, os carvoeiros — e agora vamos entender

quem são os carvoeiros — começaram a migrar, acompanhando a expansão

agrícola. Migraram provisoriamente para dois lugares. Ninguém falou aqui, mas

existe carvão no sul da Bahia, onde talvez seja a pior situação de carvão no Brasil

hoje, e no Mato Grosso do Sul, em Ribas do Rio Pardo. Foram esses os primeiros

lugares para onde os carvoeiros de Minas Gerais se mudaram. Como resultado,

está-se extinguindo a mata em Ribas do Rio Pardo, que está sendo ocupada por

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gado. A grande plantação de eucalipto feita na década de 60 a 70 também está

acabando. O que está acontecendo com os carvoeiros? O que acontece quando

acaba a madeira? Ou o carvoeiro fica na região de Ribas do Rio Pardo e vai morar

na favela, o que é pior do que ser carvoeiro, ou ele acompanha a fronteira agrícola,

como disse o Sr. Batuíra.

Para onde o carvoeiro está indo, como mostra o filme? O que disse aquele

fazedor de forma? Ele disse: “Estou indo para Marabá”. Por que ele está indo para

lá? Há duas jazidas importantes de minério de ferro no Brasil. Uma está em Minas.

O problema de Minas, na minha opinião, está resolvido, porque não tem mais mata

nativa. O carvoeiro de Minas não é mais o imigrante. Lá vai haver plantações, a

fiscalização é mais fácil e ponto final. Agora, o problema que temos de enfrentar, em

especial esta Comissão, é o que vai acontecer no Pará.

Quando fizemos o filme, também escrevemos um livro. Para participar desse

livro, que quero colocar à disposição desta Comissão e doar vários exemplares,

convidamos vários cientistas importantes do mundo inteiro. Um deles,

particularmente relevante, chama-se Phillip Martin Fearnside. Ele é americano, PhD

e trabalha no INPA. Faz modelos do que vai acontecer com a expansão da fronteira

do carvão vegetal no Pará. O que está acontecendo? Os carvoeiros foram para o

Mato Grosso do Sul, mas lá não há mais madeira. Então, eles estão indo para o

Pará. Por quê? Porque lá existe Carajás, projeto inicialmente feito para explorar

minério de ferro bruto.

Entre as cláusulas do funcionamento de Carajás tinha a não-produção de

ferro-gusa ao longo da ferrovia. Acontece que o escoamento de minério de ferro de

Carajás é limitado pela capacidade do porto, que fica no Maranhão. Então, o que

acontece? Produzindo ferro-gusa, consegue-se extrair mais minério de ferro do que

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se conseguiria sem a sua produção. Então, cada vez mais a produção de minério de

ferro na Amazônia está atraindo indústrias guseiras, que se estão instalando ao

longo da ferrovia.

Como essas indústrias operam? Exatamente como operavam as primeiras,

em 1930, em Minas, com trabalho infantil. Eu vi isso quando fui fazer o filme. Não é

um dado estatístico, é um fato. Trabalho infantil, sem fiscalização, nem dar para ter

— nisso eu concordo com o Sr. José Batuíra de Assis —, por causa da dimensão da

área, que é enorme.

Respondo a minha própria pergunta sobre o que está acontecendo com os

carvoeiros: acabou a madeira de Minas. Em Minas Gerais estão fazendo plantações

de eucalipto, o que é fácil de fiscalizar, e os carvoeiros estão saindo de Minas e indo

para o Pará, onde vamos repetir o mesmo erro que cometemos em Minas, em 1930,

se ninguém fizer nada.

O trabalho que gostaria que esse documentário gerasse era no sentido de

que se tentasse resolver o problema que se vai criar cada vez mais no Pará. Acho

que existem três motivos para se resolver esse problema. O primeiro é humanitário.

Não podemos deixar pessoas trabalhando nesse tipo de condição. O segundo é

ambiental. O Batuíra está certo quando diz que é melhor fazer ferro-gusa com

carvão vegetal de plantação de eucalipto do que fazer com coque. Ambientalmente,

é “melhor” — entre aspas. Será melhor se se replantar o eucalipto que foi derrubado,

porque, quando o eucalipto cresce, ele seqüestra de novo o carbono que está no ar

e o balanço atmosférico da poluição é zero. Mas se se devastar a mata nativa, então

não é melhor; é pior e mais caro. O terceiro motivo é o seguinte: se não fizermos o

dever de casa no Brasil, ele vai será feito para nós lá fora. Vou dizer por quê.

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Esse filme foi exibido no Festival Internacional de Documentários de

Washington. Eu estava lá para a exibição. Certo dia tocou o telefone no meu hotel.

Era um representante do sindicato americano que cuida de caminhoneiros e também

do sindicato do aço americano, que me perguntou se eu enviaria livros e cópias do

filme para serem exibidos no Congresso americano. Eu não enviei porque sei o que

ele queria. O que ele queria? Ele queria projetar a situação dos carvoeiros no Brasil

no Congresso e conseguir uma restrição à exportação de aço brasileiro da

Amazônia para os Estados Unidos. Todo aço produzido na Amazônia é exportado.

Então, o que isso significa para mim? Significa o seguinte: ou fazemos o que

disse o Deputado Fernando Gabeira, um plano gradativo para mudar os moldes de

produção de carvão vegetal, sobretudo no Pará, ou isso vai ser feito pelos outros.

Os Estados Unidos vão fazer isso para nós. Não importa mais ferro-gusa e aço feitos

na Amazônia e pronto, acabou, ponto final.

Era isso o que eu tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Orlando Fantazzini) – Vamos ter de encerrar

o debate, que ficará prejudicado, pois continua piscando aqui a luz. Portanto, somos

obrigados a encerrar a reunião.

Gostaria de agradecer a todos a presença. Tanto a Comissão de Direitos

Humanos quanto a Subcomissão da Criança e do Adolescente, representadas aqui

pelo Deputado Fernando Gabeira e por mim, agradecem por poder contar com a

colaboração de todos, para que possamos encontrar soluções adequadas para

todas as questões aqui apresentadas.

Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente reunião de audiência

pública.

Está encerrada a reunião.