Upload
trinhkien
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURALEVENTO: Audiência Pública N°: 0937/08 DATA: 18/06/200 8INÍCIO: 09h52min TÉRMINO: 13h04min DURAÇÃO: 03h12minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h12min PÁGINAS: 68 QUARTOS: 39
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
TARSO GENRO – Ministro de Estado da Justiça.
SUMÁRIO: Demarcação das terras indígenas; Reconhecimento de domínio das áreasocupadas por remanescentes das comunidades de quilo mbos; Demarcação, em terracontínua, da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraim a; Ação da Liga dos CamponesesPobres em Rondônia; e Invasões de terras e de empre sas públicas e privadas.
OBSERVAÇÕES
Houve intervenção fora do microfone. Inaudível.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
1
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Havendo número legal,
declaro aberta esta reunião de audiência pública da Comissão de Agricultura,
pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados,
convocada para discutir os seguintes temas: Demarcação das terras indígenas;
Reconhecimento de domínio das áreas ocupadas por remanescentes das
comunidades de quilombos; Demarcação, em terra contínua, da Reserva Raposa
Serra do Sol, em Roraima; Ação da Liga dos Camponeses Pobres em Rondônia; e
Invasões de terras e de empresas públicas e privadas.
Foi convidado para participar desta audiência o Ministro de Estado da Justiça,
Dr. Tarso Genro, que já se encontra à Mesa.
Informo aos Parlamentares que o Ministro fará uma exposição inicial, durante
a qual, não poderá haver apartes.
Determino à Secretaria da Comissão que faça circular a folha de inscrição de
Parlamentares. Os membros desta Comissão, titulares e suplentes, inscritos têm
prioridade, mas qualquer Parlamentar que aqui comparecer poderá interpelar o Sr.
Ministro por 3 minutos, tendo S.Exa. igual tempo para responder, facultadas a
réplica e a tréplica também pelo mesmo prazo.
São autores dos requerimentos que deram origem a esta audiência pública os
Deputados Abelardo Lupion, Moreira Mendes e Onyx Lorenzoni. Então, logo após a
manifestação do Sr. Ministro, esses Parlamentares usarão da palavra. Em seguida,
passaremos ao debate.
Queremos agradecer ao Deputado Beto Faro e ao Partido dos Trabalhadores
a intermediação e a presteza no agendamento da vinda do Sr. Ministro Tarso Genro
à Comissão. É importante reconhecer neste momento a boa convivência
democrática, Sr. Ministro, que nós temos aqui nesta Comissão.
Portanto, tem a palavra o Ministro Tarso Genro pelo prazo de até 30 minutos,
prorrogáveis se necessário, para sua exposição inicial. Depois, passaremos ao
debate que pretendemos se estenda no máximo até as 12h30min, em virtude de
outros compromissos assumidos pelo Ministro, a quem mais uma vez agradecemos
a presença.
O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Presidente Onyx Lorenzoni, Sras. e Srs.
Deputados, estou aqui à disposição dos senhores, acompanhado do Coronel
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
2
Ferreira, Comandante da Força Nacional; do Sr. Alberto Kopttike, Assessor
Parlamentar do Ministério; do Sr. Pedro Abramovay, Secretário de Assuntos
Legislativos; do Dr. Rafael Favetti, Consultor Jurídico, e também de representante
da Polícia Federal.
De certa forma, esta nossa reunião é a continuidade de um debate anterior.
Enfim, coloca-se em pauta uma série de questões controversas, democraticamente
controversas no Estado de Direito brasileiro e que cabem ao Ministério da Justiça
processar por intermédio de suas instâncias administrativas relacionadas com a
FUNAI — portarias declaratórias e procedimentos técnicos em relação às terras
indígenas — e com a Polícia Judiciária da União, por meio da Polícia Federal.
A Força Nacional, como sabem os senhores, é uma força federada que existe
a partir de contato estruturado com os Governos Estaduais e que participa de
operações de segurança pública, dando respaldo às forças policiais militares e à
Polícia Civil nos Estados, quando solicitado pelos Governadores.
A Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal têm as suas funções
determinadas por lei e agem mediante o impulso dos seus Superintendentes locais
na persecução criminal, quando recebem uma notitia criminis, realizam
investigações de inteligência ou agem mediante determinação do Ministro da
Justiça, que também tem a capacidade de oferecer, como qualquer cidadão, notitia
criminis, para que se averigúe determinado fato.
Quanto ao mais, a Polícia Federal e a Rodoviária Federal cumprem
determinações do Poder Judiciário e têm feito isso de maneira rigorosa e dentro da
lei e da Constituição.
Vou, em relação aos temas desta audiência, dizer 2 ou 3 palavras, porque, na
verdade, não quero ser repetitivo em relação às discussões que já tivemos. E, a
partir daí, estarei à total disposição dos Srs. e das Sras. Parlamentares para
travarmos um diálogo, a fim de aprimorar o trabalho que vem sendo realizado no
Ministério e levar em consideração democraticamente as opiniões dos
Parlamentares, seja qual for o seu partido, seja qual for a sua ideologia, sejam quais
forem as suas responsabilidades regionais, a sua representação.
Tenho procurado trabalhar no Ministério da Justiça de forma totalmente alheia
às disputas político-partidárias regionais. E a neutralidade do Estado é comprovada
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
3
não somente pelas ações desenvolvidas pela Polícia Federal e pela Força Nacional,
como também pelo respeito integral às normas constitucionais e aos direitos
humanos. E essa preocupação está retratada, inclusive, numa proposta aprovada
por esta Câmara Federal e pelo Senado Federal por unanimidade: o Programa
Nacional de Segurança Pública com Cidadania, que, aliás, teve grande contribuição
da Presidência que está aqui ao meu lado, aperfeiçoando aquela proposta,
arredondando-a do ponto de vista legal e tornando-a cada vez mais republicana e
apta para mudar o paradigma da segurança pública no País.
O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, como os
senhores sabem, começou com 11 Estados e já está com 15, e é conveniado com
Governadores e Prefeitos, hoje, em torno de 100 Prefeitos e 15 Governadores de
todos os partidos políticos, de todas as origens ideológicas e políticas. Essa é uma
conquista republicana extraordinária, porque valoriza o trabalho do Ministério da
Justiça e dos Governos Estaduais e ajuda a iniciar uma mudança no paradigma da
segurança pública no País. Esse projeto será sancionado pelo Presidente da
República, se não me equivoco, amanhã.
Não quero deixar aqui de fazer um agradecimento a esta Casa, que criou uma
tensão política extraordinária em torno desse projeto. Discutiu, debateu, criticou e,
ao fim e ao cabo, foi produzido um novo projeto em conjunto, que, como disse, foi
aprovado por unanimidade na Câmara Federal e no Senado Federal. É um orgulho
para mim, na condição de Ministro da Justiça, compartilhar dessa responsabilidade
com os senhores. E levo isso para a minha vida pública como uma conquista
extraordinária, porque um projeto desse tipo, se tiver a potência política que esta
Casa e o Senado lhe emprestaram, só pode dar certo.
Vou reportar-me, portanto, aos pontos pautados para este debate. E o farei
rapidamente, como já disse, porque, na verdade, este é uma continuidade de outros
debates que já travamos.
Demarcação de terras indígenas.
Há controvérsias hoje na sociedade brasileira, no Parlamento e nas forças
políticas a respeito da questão da demarcação. Primeiro, a questão da qualidade
dos laudos que podem ser impugnados. Essa impugnação é discutida pelas
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
4
instâncias administrativas ordinárias, inclusive com a chancela do próprio Ministro da
Justiça.
Segundo tema relacionado com as demarcações: os efeitos da declaração
depois do decreto presidencial determinam a indenização daquelas pessoas que
ocuparam de boa-fé a terra agora declarada indígena, e o valor corresponde à parte
agregada como valor, as benfeitorias. A terra, como valor originário, não é
indenizada pela União. Isso é o que determina a lei. As benfeitorias feitas, portanto,
são objeto de indenização; enquanto a terra, não. O uso da terra não é objeto de
indenização. Essa é uma questão legal que a Casa tem de discutir. Evidentemente,
há diferenças regionais importantes, porque é muito diferente se desocupar uma
terra indígena sob a ocupação de grileiros e desocupar uma terra indígena
centenariamente ocupada por agricultura familiar. Na minha opinião, essa diferença
existe, mas ela não está contemplada na lei.
A terceira questão é relativa à continuidade e descontinuidade de áreas
demarcadas. Em torno desse tema existe uma série de argumentos, desde aquele
que se reporta à questão da soberania nacional até os que reputam que a
propriedade imemorial originária dos indígenas, em razão dos conflitos entre etnias
ocupantes da região, comprovaria que a continuidade não existia originariamente e,
portanto, a demarcação em ilhas seria razoável.
O caso mais emblemático dessa questão está retratado nessa disputa que
será decidida pelo Supremo Tribunal Federal: Raposa Serra do Sol.
Particularmente em relação aos quilombos, o segundo ponto pautado para
esta reunião, o Ministério da Justiça tem competência apenas residual, ou seja, uma
competência pequena em relação a isso. Ao Ministério da Justiça, a título de
supervisão, compete o encaminhamento à FUNAI do processo administrativo de
identificação e delimitação das terras ocupadas pelos remanescentes de
comunidades quilombolas, para que, nos termos do art. 8º do Decreto nº 4.887, a
FUNAI opine sobre a matéria de sua competência. Portanto, não é o Ministério da
Justiça nem a FUNAI que fazem essa demarcação.
Raposa Serra do Sol.
É um conflito emblemático — e deixo claro que não estou falando aqui
daqueles que cometem atos ilegais de resistência ao Estado brasileiro. Reconheço
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
5
que lá existem duas legitimidades em conflito. Uma legitimidade que está
relacionada com os ocupantes de boa-fé, independentemente do título originário
dessa ocupação, e a norma constitucional que outorga à União o direito de delimitar
as terras indígenas. Quero excepcionar dessa ocupação de boa-fé aqueles que
causam danos ambientais e resistem a determinações administrativas legais e
legítimas da União ou judiciais para manter sua ocupação ilegal.
Em territórios dessa natureza, sempre há duas legitimidades em conflito. No
caso concreto de Raposa Serra do Sol, o Supremo Tribunal Federal determinará
qual a legitimidade mais adequada ao sistema jurídico e constitucional brasileiro.
Entendo que o correto lá é a delimitação da terra de maneira contínua. A
demarcação em ilhas naquela região em particular, em vez de resolver o conflito, os
aprofundará, dada a natureza da região, dada a especificidade das etnias que estão
lá e, inclusive, a demografia da região.
Com a Capital retirada do mapa da região em disputa, verifica-se que
demograficamente os indígenas que lá estão têm per capita uma porção de terra
menor do que a dos arrozeiros ali instalados. Mas essa questão, repito, será
decidida pelo Supremo, de acordo com a nossa tradição constitucional. Competirá
ao Ministério da Justiça — e espero que também aos agentes políticos locais —
cumprir a decisão do Supremo, com as mediações necessárias para que não ocorra
qualquer tipo de conflito. Essa é a visão que temos sobre Raposa Serra do Sol.
Estamos aguardando a decisão.
A Polícia Federal e a Força Nacional se mantêm ali inclusive em razão do
voto proferido pelo Ministro Ayres Britto, que suspendeu a desintrusão, dizendo que
as forças de segurança têm de permanecer na região para manter a paz social e a
tranqüilidade e mediar os conflitos existentes de parte a parte entre determinados
fazendeiros e também em algumas comunidades indígenas mais exaltadas.
Em relação à Liga dos Camponeses Pobres, outro item da agenda, as
informações de que disponho são de que essa liga tem várias dimensões que se
sobrepõem de maneira a causar uma impressão, a criar um conflito artificial, como
se houvesse um conflito de terras. Segundo a Inteligência da Polícia Federal e da
Força Nacional, na verdade, o que há são ocupações ilegais para extração ilegal de
madeira e o uso de determinados jargões políticos para tentar acobertar a atividade.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
6
Recebemos denúncias de que haveria operações guerrilheiras em alguns
lugares. A Polícia Federal realizou importante trabalho de inteligência no Pará, fez
prisões, reprimiu ações. Sempre que chamada a tratar dessa questão, ela responde
de acordo com sua competência. Mas a nossa avaliação é a de que a Liga de
Camponeses Pobres não constitui organização política. Assim, não a consideramos
questão de segurança nacional. Do contrário, o seu modo de operar teria de ser
discutido não só no Ministério da Justiça, mas no Governo.
Especialmente no Norte do País, a ação dessa liga está incrustada na disputa
de propriedade e relacionada inclusive com a ação de contrabando, de extração
ilegal de madeiras. A questão da Liga dos Camponeses Pobres é, portanto, de
segurança pública local e deve ser respondida pelos Estados. Quando o Estado não
tiver competência e declarar a sua inaptidão para controlar a situação, tem de
comunicar isso à União, que tomará as providências necessárias para o
acompanhamento. São questões relacionadas com a segurança pública local.
No que diz respeito a danos ambientais, contrabando e extração de madeira,
a Polícia Federal, quando chamada, quando suscitada pelas autoridades, faz as
operações necessárias.
Finalmente, passo ao último tema: Invasões de terras e de empresas públicas
e privadas. Em relação a invasão de terras e de propriedades da União, sempre que
somos suscitados a operar, operamos. Agora, a Polícia Federal e o Ministério da
Justiça não podem intervir nas questões de segurança pública estadual sem a
solicitação do Governador. Sempre que suscitada, trabalhará. Mas a Polícia Federal
trabalha com critérios legais e republicanos, não é uma força repressiva,
subordinada à autoridade local, que, às vezes, pensa que pode chamar a Polícia
Federal para bater em sem-terra ou em fazendeiros que estão interrompendo uma
estrada. A Polícia Federal tem técnica, tem cautelas legais a proceder, homens
treinados e, sobretudo, irrepreensível conduta técnica e institucional. Quando é
necessário desencadear uma ofensiva de força, ela o faz de maneira articulada com
a Força Nacional e na proporção do revide que eventualmente recebe dessas
pessoas ou desses grupos que estão interrompendo a livre circulação das pessoas
ou causando danos à propriedade privada.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
7
A Polícia Federal não deixou de cumprir nenhum mandato judicial até agora,
assim como não deixou de cumprir nenhuma solicitação administrativa dentro da sua
competência, seja contra quem for, para tratar dessas questões. Agora, não
podemos confundir aquelas questões típicas de segurança pública local, de proteção
à propriedade legal das pessoas e das empresas, destinadas pela lei para a
autoridade estadual, substituindo-a pela Polícia Federal ou pela Força Nacional.
Seria violar a Constituição e jogar inclusive com a possibilidade de gerar graves
conflitos de natureza federativa. Até agora, porém, nenhum Governador, de qualquer
partido político, de qualquer região, deixou de receber o apoio da Força Nacional
e/ou da Polícia Federal quando chamadas a cumprir suas funções dentro da lei.
Recentemente, inclusive, acolhemos pedido desta Casa. O Deputado Adão
Pretto estava acompanhando uma operação realizada legalmente pela Brigada
Militar do Rio Grande do Sul por determinação da Governadora, e não pôde entrar
na área. Em determinado momento, S.Exa. se viu cercado por fazendeiros locais
que ameaçaram inclusive sua vida. Eu disse ao Deputado Adão Pretto que a Polícia
Federal iria protegê-lo, mas iria para retirá-lo do local e não para prestar serviço para
a Brigada Militar ou para a força policial local, não para promover um aguçamento do
conflito. E assim foi feito, dentro da lei, respeitada a Brigada Militar, cumprindo
solicitação da Presidência desta Casa. E assim será com qualquer Parlamentar de
qualquer partido, de qualquer região do País.
São as informações preliminares que dou. Repito o que disse para os
Deputados e Senadores que me deram a honra de sua visita, em relação a
demarcações conflitivas que estão sendo iniciadas: depois dos laudos
antropológicos, estão sendo feitos levantamentos. Nas regiões em que há ocupação
legítima de agricultores familiares, de empresários agrícolas que estão trabalhando,
alguns até há um século ou mais, pequenas agriculturas, empresários rurais que
estão instalados de boa-fé, da parte do Ministério da Justiça, não haverá nenhuma
violência para retirá-los do local sem que se dê uma alternativa que seja aceita por
eles. Não haverá. Não temos dúvida de que, em determinados casos, existem
direitos inclusive equivalentes e que o Estado tem de tratá-los de maneira adequada.
Seria irônico o Ministério da Justiça ou sua força policial pegar uma família de
agricultores e jogá-la na estrada. Seria uma irresponsabilidade pública.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
8
Agora, é necessário também que esta Casa legisle sobre a matéria. E uma
forma de legislar é conceder o direito à indenização devida para ocupantes
seculares de boa-fé que estão lá produzindo e sobrevivendo com a sua família. Esse
é um elemento vital no que diz respeito a questões que provavelmente
enfrentaremos em determinadas regiões mais conflituosas, particularmente naquelas
em que há pequenos e médios proprietários rurais de boa-fé há muito tempo.
Saibam que, de parte do Ministério da Justiça, estaremos sempre prontos ao
diálogo, à persuasão, à conversa, inclusive com o Poder Judiciário e o Ministério
Público, até porque a maioria das ações que realizamos são duramente fiscalizadas
e determinadas pelo Ministério Público, que inclusive nos ameaça, dentro da sua
competência, de que, se não tomarmos determinadas atitudes, poderemos ser
processados por prevaricação.
É necessária uma relação triangular entre esta Casa, o Ministério da Justiça e
o Ministério Público, ou a autoridade judicial, em determinados casos.
Se prosseguirmos nesse roteiro de diálogo, de confiança recíproca, de
respeito republicano com que temos trabalhado, avançaremos positivamente nessas
questões difíceis de um país que ainda está constituindo seu território. A constituição
do território não é só uma determinação legal, é também uma forma de ocupação, é,
sobretudo, uma cultura que se instala no território a partir desse diálogo e dessa
orientação determinada pela Constituição.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Agradeço ao Ministro a
manifestação.
Passo a palavra aos autores dos requerimentos, começando pelo Deputado
Moreira Mendes, que dispõe de até 5 minutos para sua manifestação inicial.
O SR. DEPUTADO MOREIRA MENDES - Sr. Ministro Tarso Genro,
Presidente Onyx Lorenzoni, demais integrantes da Mesa, Sras. e Srs. Deputados,
ouvi com muita atenção o relato do Ministro.
Do ponto de vista institucional, em tudo aquilo que o Ministério vem fazendo,
há previsão legal. Ninguém discute isso. O Ministério cumpre com o seu dever.
Um ponto me preocupa, e este foi o objeto enfocado no requerimento que
apresentei. Estive pessoalmente com o Ministro tratando da questão da Liga dos
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
9
Camponeses Pobres. Não tenho ainda uma convicção formada, mas estou mais
para o caminho que V.Exa. relatou do que para aquele de que a liga constitui uma
guerrilha. A minha preocupação é com o enfoque que o Governo, nas suas políticas,
sobretudo com relação à Amazônia, vem dando a essas questões.
Sou um amazônida de coração, represento o Estado de Rondônia, que foi
colonizado a chamado do Governo Federal. As pessoas foram chamadas a ocupar
aquele Estado, a derrubar e a produzir. E hoje nos sentimos enganados. Estou
fazendo esse preâmbulo porque quero chegar a uma conclusão. Por que nos
sentimos enganados? Porque fomos chamados a ir a Rondônia para diminuir a
pressão existente no Sul do País. Naquela época, falava-se em bóia-fria, não era
sem-terra. E brasileiros de todos os Estados foram para Rondônia, derrubaram
árvores, porque assim o INCRA exigia, plantaram, produziram, constituíram família.
Estamos agora na terceira geração. Posso dizê-lo porque estou lá há 36 anos, tenho
filhos e netos nascidos lá. Sou testemunha viva de tudo o que aconteceu.
Agora — e começo a entrar exatamente no tema da reunião —, parece que
todas as ações do Governo são no sentido de sufocar o desenvolvimento da região.
E quando falo do meu Estado, refiro-me a grande parte da Amazônia. Aí, começa o
primeiro erro crasso do Governo: a chamada Amazônia Legal, que define toda uma
região que não pode ser considerada uma coisa única, porque é absolutamente
diversa. Rondônia é diferente de Roraima, que, por sua vez, é diferente do sul do
Pará e do Mato Grosso. O Governo, porém, trata a região como se fosse uma única
floresta intocada em que ninguém pode mexer.
Está lá a Operação Arco de Fogo massacrando o povo do meu Estado, e não
é diferente em Rondônia. Massacrando porque prende, fecha serraria, gera
desemprego, cria caos social, mas não diz — e está certo do ponto de vista do meio
ambiente, vamos admitir — qual a solução para milhares de desempregados e
famílias deixados à própria sorte, ficando todo problema social para o Estado
resolver. Esse é um aspecto.
Segundo aspecto: a questão indígena. Alguma coisa precisa ser mudada
nisso aí. Vem, às vezes, um antropólogo sem nenhum conhecimento da realidade
do Estado, planta um índio em determinada região, e, no dia seguinte, está criada
uma reserva indígena, sem preocupação com as pessoas que lá vivem, com
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
10
aqueles que estão lá há centenas de anos, como bem reconheceu V.Exa. quando se
referiu à Raposa Serra do Sol. Ou seja, mais uma reserva criada.
Trago aqui o exemplo de Rondônia, único Estado com zoneamento
sócio-ecológico-econômico. Lá há várias reservas e áreas de preservação
permanente entre florestas estaduais, parques estaduais, parques extrativistas. E
em um dos parques extrativistas que mais funcionam no Estado já apareceu
antropólogo dizendo que é preciso acabar com o parque e transformá-lo em mais
uma reserva indígena. Assim, extrativistas terão de sair dali, porque senão acabarão
sendo expulsos da região.
Recentemente, por meio do Ministério do Meio Ambiente, o Governo criou
mais 3 ou 4 reservas na região, pegando também parte do meu Estado e do
Amazonas, uma área em que havia fazendas e produção de soja, uma atitude
desmedida e sem critério científico.
Então, essa discussão sobre reserva indígena — parece-me — está mais
para suprir essa ânsia de preservar o meio ambiente do que propriamente de
proteger as comunidades indígenas, as quais respeito e que merecem ter seu
espaço.
Quanto aos quilombolas, nunca se ouviu falar de quilombola em Rondônia.
Mas só para V.Exa. entender o que realmente ocorre, quero falar aqui de um artigo
fantástico do jornalista Marcos Sá Correia, do jornal O Estado de S.Paulo, se não
me engano, tratando exatamente de um quilombo no Estado de Rondônia.
Dezessete famílias ocupam uma área de aproximadamente 200 hectares na
Reserva Biológica do Guaporé, às margens do rio do mesmo nome, um lugar lindo,
maravilhoso. Vamos admitir que elas sejam realmente quilombolas. Aquelas 17
famílias ocupam 200 hectares. Vem o INCRA e, nessa ânsia, diz que 200 hectares é
pouco. Propõe, então, 86 mil hectares. Vejam só: como se não bastasse, ainda vem
o IBAMA e diz: “Não, nem 200 hectares, nem 86 mil; o ideal para eles são cerca de
3.500 hectares”. Aí vem uma ONG, patrocinada por um Vereador de 3 mandatos na
cidade de Costa Marques, onde está o quilombo, e diz: “Não, nem os 200, nem os
86 mil, nem os 3.500. Tem de ser 44 mil hectares”.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
11
Onde quero chegar com esse raciocínio? É que a falha está exatamente no
fato de serem pessoas despreparadas para o assunto, tanto na proposta de criação
de reserva indígena quanto na criação de quilombos, e gera-se esse tipo de conflito.
Esses assuntos deveriam ser trazidos para cá. Nós é que somos os
representantes do povo; nós é que deveríamos aprovar a criação de reservas
indígenas, fosse ela qual fosse, deveria passar pelo crivo do Congresso Nacional.
Finalmente, Sr. Ministro, quero separar muito bem o papel do Ministério,
reconhecendo a sua correção. O Ministério tem o seu papel e tem de cumprir a lei.
Agora, o erro está exatamente no fato de que, quando encosta no social, tudo
acaba, não tem mais lei. Parece que o Estado brasileiro silencia em relação a essas
questões. No Estado de Rondônia, o desmatamento que vem ocorrendo — pode
acreditar V.Exa. porque eu sou de lá — é muito mais decorrente da inoperância do
INCRA, que não regulariza nem titula as terras, e o desmatamento é feito
exatamente pelos pequenos produtores. Por quê? Porque eles não têm opção, não
têm terras tituladas, como ocorreu na questão que envolve a Liga dos Camponeses
Pobres e como ocorre com tantos outros que invadem propriedades, estimulados
pelo INCRA, os quais acabam por promover desmatamento, mas não são multados,
não são presos — e nem deveriam —, não são processados, não pagam multa. E
fica por isso mesmo... Então, essas questões devem ser regularizadas.
Apenas para concluir, veja V.Exa. essa questão do fechamento das ferrovias
do Brasil, sobretudo as ferrovias da Vale do Rio Doce: isso é inconcebível! Não é
possível ficarmos paralisados, como se nada houvesse acontecido.
O IBOPE promoveu uma pesquisa, publicada na semana passada, em que a
população brasileira claramente mostrou apoiar a idéia e a luta daqueles que
precisam da terra. Eu também apóio o direito de todos terem terra. Mas a população
não apóia os meios violentos com que esse povo pretende conseguir esse objetivo.
Por fim, Sr. Ministro, quero perguntar qual a posição do Governo sobre as
recentes invasões de instalações de empresas privadas. E não me refiro apenas às
instalações da Vale do Rio Doce, pois há a questão do Rio Grande do Sul, com
propósitos declaradamente políticos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
12
Na opinião de V.Exa, qual é a motivação de um grupo que defende a reforma
agrária ao invadir uma estrada de ferro? Houve aquela história da Aracruz, mas
acaba que eles não são punidos, e fica “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.
Gostaria, portanto, de saber a opinião de V.Exa. sobre o assunto.
Obrigado, Sr. Ministro. Obrigado, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Com a palavra o Deputado
Abelardo Lupion, também proponente desta audiência pública.
O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Obrigado, Sr. Presidente.
Sr. Ministro Tarso Genro, seja bem-vindo. É extremamente importante a
presença de V.Exa. nesta Comissão, pois devemos debater certos temas que estão
preocupando e exigindo posições pontuais em certos episódios.
Gostaria de adentrar nos problemas que conheço. Eu não conheço a fundo os
problemas da Região Norte do Brasil, de Raposa Serra do Sol e outros, mas
gostaria de fazer alguns questionamentos a respeito do problema das invasões de
prédios, de terras, de ferrovias, de pedágios, de sedes de prédios públicos e de
propriedades produtivas.
A Via Campesina e o MST simplesmente ignoram totalmente qualquer lei e o
Estado de Direito. Escondem-se sob o fato de serem organizações conhecidas,
registradas. Eles não têm CPF, não têm CGC, absolutamente nada.
Fui Relator da CPI da Terra. Naquela ocasião, descobrimos que alguns
movimentos se escondem em cooperativas. Conseguimos provar isso. Inclusive, o
Tribunal de Contas fez com que se criminalizasse essa ação, determinando a
devolução de recursos públicos destinados pelo Governo anterior e por este para
certas cooperativas, como a ANCRA, a CONGRAB e outras tantas, as quais
comprovadamente utilizaram recursos indevidamente para outros objetivos, inclusive
para financiar invasões.
O fato que devemos discutir hoje, porém, não se refere à ideologia ou a
partido político, não se refere absolutamente a lados ou posições. Estamos falando
hoje do Estado de Direito.
O Deputado Adão Pretto, quando em visita ao Rio Grande do Sul, foi
acompanhado pela Polícia Federal e conseguiu sair de lá. Infelizmente, não tive a
mesma ventura. A 20 dias da eleição, em Santo Antônio do Platina, 180 elementos
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
13
da Via Campesina acamparam na frente da minha propriedade rural e para lá
levaram faixas, ameaçando a mim e à minha família.
Pedi a proteção da Polícia Federal, mas não tive. Fiquei ilhado dentro da
minha propriedade durante 20 dias. E a Polícia Federal não me deu proteção
pessoal ou à minha família. Havia também na propriedade 32 crianças, filhos de
meus empregados. Os invasores gritavam palavras de ordem, faziam
manifestações, mas, infelizmente, não tive o apoio da Polícia Federal, apesar de até
o então Presidente desta Casa, o Deputado Aldo Rebelo, ter enviado ofício,
solicitando à Polícia Federal proteção às pessoas que lá estavam. E eu não podia
sair, caso contrário, eles invadiriam a propriedade. Permaneceram lá por 20 dias.
E comecei a pensar a razão de tudo isso. Em que País estamos? Em todas
as declarações, inclusive na mídia nacional, veiculadas pela Rede Bandeirantes,
eles revelavam que estavam lá para me punir, para invadir a minha propriedade e
que passariam por cima de qualquer instituição que estivesse me protegendo. Tudo
isso está gravado, ajuizei ação etc. Infelizmente, V.Exa. não era o Ministro, pois
tenho certeza que eu receberia o mesmo tratamento dado ao Deputado Adão Pretto.
Mas quero conversar com V.Exa. a respeito de responsabilização.
A Lei nº 7.170, a Lei de Segurança Nacional, é muito clara ao prever, em seu
art. 1º, o seguinte:
‘“Art. 1º. Esta Lei prevê os crimes que lesam ou
expõem a perigo de lesão:
(...)
II - o regime representativo e democrático, a
Federação e o Estado de Direito”.
Determina o art. 15 da Lei de Segurança Nacional:
“Art. 15. Praticar sabotagem contra instalações
militares, meios de comunicações, meios e vias de
transporte” — e estamos vendo o que está ocorrendo nas
ferrovias no Pará, nos pedágios no Paraná e outras tantas
ações perpetradas por essas duas entidades —,
“estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas” — que
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
14
também já foram invadidas —, “barragens, depósitos e
outras instalações congêneres”.
E, ainda, a alínea “b” diz o seguinte:
“b) dano, destruição ou neutralização de meios de
defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de
atividade ou serviços públicos reputados essenciais para
a defesa, a segurança ou a economia do País.”
Nos arts. 16 e 17, encontramos:
“Art. 16. Integrar ou manter associação, partido,
comitê, entidade de classe ou grupamento que tenha por
objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de
Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave
ameaça.
Art. 17. Tentar mudar, com emprego de violência
ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado
de Direito.
No art. 20:
“Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar,
seqüestrar, manter em cárcere privado” — atos
extremamente comuns na Via Campesina e no MST —,
“incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado
pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político”
— como permanente eles declaram — “ou para obtenção
de fundos destinados à manutenção de organizações
políticas clandestinas ou subversivas”.
E, para mim, entidade clandestina é aquela que não tem como ser
responsabilizada.
No art. 22:
“Art. 22. Fazer, em público, propaganda:
I - de processos violentos ou ilegais para alteração
da ordem política ou social;”
Finalmente, no art. 31:
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
15
“Art. 31. Para apuração de fato que configure crime
previsto nesta Lei, instaurar-se-á inquérito policial, pela
Polícia Federal:
(...)
IV - mediante requisição do Ministro da Justiça.”
Esta é a Lei de Segurança Nacional.
E todos sabemos — inclusive em audiência pública que realizamos no Pará
foi por nós constatado —, que os membros dessas organizações entram e destroem
as propriedades, mantêm os proprietários em cárcere privado, têm a conivência do
Estado, do ente federativo, que é a Governadora do Pará.
No Paraná ocorre a mesma coisa. Não tenho nada a ver com isso. Muito pelo
contrário. Simplesmente o nosso Governador utiliza instrumentos para que esse
pessoal seja usado para invadir pedágios.
Precisamos discutir a questão, Sr. Ministro. Vou solicitar à Casa providências
nesse sentido. Espero que o Ministério da Justiça seja o órgão que vai amparar-nos
neste momento. Por quê? Porque, se o Estado não tomar providências, diante das
declarações que são dadas pelo Sr. Stédile e por outros tantos líderes, que
simplesmente zombam do Estado de Direito, fazem escárnio para justificar suas
atitudes, não saberemos em que País estamos vivendo. Perguntamos: quem vai
apoiar aqueles que são vítimas neste momento?
Essa discussão, a meu ver, deve ser travada em altíssimo nível, mas ela
precisa ser muito dura. Precisamos tomar providências.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Obrigado, Deputado
Abelardo Lupion, pela participação.
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, fui citado por 2 vezes. O
Regimento permite que eu tenha direito à resposta.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - V.Exa. pode aguardar a
interpelação do autor do requerimento? Posteriormente, eu concederei a palavra a
V.Exa. Pode ser assim?
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sim, Presidente.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
16
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Com a palavra o
Deputado Onyx Lorenzoni, também pelo prazo de 5 minutos. S.Exa. também é autor
do Requerimento nº 278, de 2008.
O SR. DEPUTADO ONYX LORENZONI - Peço ao Presidente que me ajude a
obedecer rigorosamente o tempo.
Ministro, nós realizamos nesta Comissão, há pouco mais de 4 semanas, uma
audiência pública que tratou das questões que envolviam a Liga dos Camponeses
Pobres, basicamente em Rondônia.
Eu fiquei muito impressionado com a forma de operação, com a profundidade
da organização e suas conexões e com a incapacidade declarada das forças
públicas de segurança do Estado de Rondônia para lidar com o problema.
Como o nosso objetivo é tentar, com serenidade, buscar respostas para a
população de Rondônia, do Pará e do Brasil e não ações espetaculosas, nós
solicitamos a degravação de tudo que foi apresentado na audiência pública.
Reunimos um conjunto de documentos e, ontem, encaminhamos esse material ao
Ministério Público Federal, ao Procurador-Geral a República, Dr. Antonio Fernando
Souza, e à Polícia Federal, por meio do superintendente nacional, para
conhecimento e tomada de providências.
Quero, então, neste momento, dizer publicamente a V.Exa. que nós
compilamos todos os lados dessa questão. Se V.Exa. pedir que seja feito um
resumo de tudo que se passou aqui, ficará tão preocupado quanto eu fiquei. Eu o
conheço. Trata-se de algo que não podemos relativizar. Dentro do marco
institucional e constitucional, esse problema merece uma ação de Estado, para que
não tenhamos, daqui a algum tempo, algo que ganhe maior proporção e pode custar
até vidas, talvez. Deve haver o controle da situação que está sendo gestada.
Então, com palavras de atenção e ponderação, com absoluta serenidade,
peço a V.Exa. que dê especial atenção à documentação que está sendo
encaminhada. Inclusive, vou solicitar à assessoria técnica da Comissão que a
encaminhe a V.Exa., assim como nós a encaminhamos ao Ministério Público
Federal e à Polícia Federal.
Quanto à questão da Amazônia, nós temos um patrimônio excepcional. Aqui
nesta mesma sala, há poucas semanas, alguns membros do Parlamento Europeu,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
17
em razão de um contencioso que V.Exa. conhece, em relação aos produtos
brasileiros, abriram uma discussão sobre o desmatamento para produção de
biodiesel. Eles foram obrigados a ouvir — fomos obrigados a lembrar a eles — que
nós temos mais de 100 milhões de hectares de florestas, o que representa mais do
que uma Comunidade Econômica Européia. Já tivemos mais, mas ainda temos essa
área, que estamos preservando, apesar das nossas dificuldades, das nossas
limitações e das nossas insuficiências.
Também sei da preocupação de V.Exa. com o futuro deste País. Se houver
uma reflexão governamental que transcenda a simplificação da demarcação de
terras indígenas ou quilombolas como instrumento eventual de preservação do
grande patrimônio que temos, talvez os conceitos de propriedade privada e meio
ambiente possam começar a ser discutidos no Brasil. As melhores experiências no
mundo de preservação de meio ambiente passam por esse novo conceito. Devemos
superar entraves ideológicos e começar a discutir aquilo que pode funcionar.
Urge na Amazônia brasileira uma ação integrada do Ministério da Justiça, da
Força de Segurança Nacional e do Exército Brasileiro.
Tive a oportunidade, junto com o atual Presidente desta Casa, Deputado
Arlindo Chinaglia, quando aqui cheguei, de participar de uma missão do Exército. Fui
em alguns dos lugares mais longínquos e inóspitos do Brasil.
Visitei um lugar, em Roraima, chamado Surucucu. Lá estavam 60 bravos
oficiais do Exército Brasileiro com suas famílias, cercados por 2 aldeias indígenas,
tendo à frente uma pista de pouso. Isso ocorreu em 2003, antes da gestão de V.Exa.
Estavam lá o Governador do Estado de Roraima, o Comandante Militar da
Amazônia, 3 Senadores da República, 7 Deputados Federais. Uma ONG que
prestava serviços ao Governo Federal e ao Governo do Estado, em virtude de uma
querela por conta de um repasse de 3 mil, 4 mil ou 5 mil reais, preparou os índios
para o conflito e impediu que as autoridades tivessem acesso a uma das tribos para
conversar com a liderança delas. Isso em razão de um conflito da referida ONG com
o então Governador do Estado de Roraima.
É evidente que nós respeitamos aquela decisão para evitar qualquer tipo de
dificuldade. Estavam presentes o atual Presidente da Câmara dos Deputados, a
ex-Senadora.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
18
O que vimos? Quinhentos quilômetros de floresta ao redor daqueles 60
homens. Na região apenas se chega de helicóptero ou de avião.
Portanto, verdadeiramente, há muito o que se pensar, do ponto de vista
estratégico e institucional, para que possamos conservar essa grande preciosidade
brasileira.
Há, sim, os problemas apresentados com conhecimento pelo Deputado
Moreira Mendes, mas existe uma outra realidade que nos foi contada pelos
soldados, e que eu quero revelá-la a V.Exa.
As autoridades brasileiras têm muita dificuldade de interagir com as tribos
indígenas, mas os pesquisadores estrangeiros, com seus polpudos cheques em
euros ou dólares, não têm qualquer prurido ou limite. Entram em território nacional e
carregam o que querem, quando querem, como querem, do jeito que lhes apraz.
Isso é muito sério, muito grave. Estamos aqui e queremos colaborar.
Se V.Exa., juntamente com o Ministro da Defesa e outras autoridades do
Governo, em meio a essa reflexão, identificar ações de alteração do estamento legal
brasileiro, conte conosco. É preciso que haja ações responsáveis e sérias em
relação ao patrimônio brasileiro.
Concluo agradecendo ao Presidente a condescendência e dizendo que não
se resolve a questão do acesso à terra no Brasil quebrando o direito de propriedade.
Um filósofo alemão, há mais de 300 anos, escreveu que, em sociedade que não
reconhece o direito de propriedade, o homem e a mulher não têm amigos, só
inimigos.
Lamentavelmente, uma parte das cobranças feitas neste momento... Vou
concluir, Sr. Presidente, agradecendo-lhe a paciência. A articulação desses
movimentos, em particular a do Deputado Abelardo Lupion...
Eu fui um dos proponentes e criadores da CPI da Terra, junto com os
Senadores Eduardo Suplicy e Alvaro Dias. Há ali um trabalho de fôlego, que
demonstra claramente que o Brasil precisa, dentro da sua institucionalidade, dentro
do marco constitucional, saber diferenciar livre manifestação, busca de direitos e
conquista de direitos que estão na própria Constituição brasileira. Os movimentos
têm um único objetivo: destruir ou desestabilizar um dos pilares do Estado
Democrático de Direito, que eu sei que V.Exa. professa e conhece em profundidade.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
19
Então, de maneira firme e até provocativa, mas ao mesmo tempo respeitosa e
serena, dizemos a V.Exa. que a articulação dos movimentos que envolvem o
confronto com o direito de propriedade é nacional, não é local. Se as ações são
locais, a articulação é nacional. E é nessa dimensão que nós questionamos V.Exa.
Mais uma vez, agradeço-lhe o atendimento ao convite da nossa Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Obrigado, Deputado
Onyx Lorenzoni. Foram importantes as colocações de V.Exa.
O Deputado Adão Pretto está inscrito, mas, se S.Exa. quiser, poderá fazer
uso da palavra por 2 minutos.
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Eu agradeço, Sr. Presidente.
O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Pela ordem, Sr. Presidente.
Eu não quero estabelecer nenhum tipo de confronto na Comissão. Estou
conversando com o Ministro da Justiça. Só citei o Deputado Adão Pretto porque o
Ministro da Justiça fez referência a um fato. Eu falei sobre um fato que ocorreu
comigo. Não fui ofensivo nem me dirigi ao Deputado Adão Pretto de qualquer
maneira que o ofendesse. Então, deixo muito claro que, se for para estabelecer
conflito dentro da Comissão, eu quero a tréplica.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Obrigado, Deputado
Abelardo Lupion. Eu acredito que o Deputado Adão Pretto, pela sua gentileza e pela
sua maneira de ser, considerará essas palavras e usará esses 2 minutos com bom
senso.
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, eu tinha direito a 2
minutos e fui citado mais 2 vezes. Então, tenho direito a 4 minutos. (Risos.)
Em primeiro lugar, quero agradecer ao Ministro Tarso Genro a atenção que
nos deu no Rio Grande do Sul, naquela oportunidade. Ficamos 5 horas presos numa
barreira policial. Não nos deixavam ir adiante. O que os fazendeiros queriam era
exatamente que voltássemos. Nós não voltávamos de medo e não podíamos ir para
a frente, porque a polícia não deixava. E havia mais de 30 fazendeiros
agredindo-nos física e moralmente. Ficamos 5 horas dentro do carro. Houve um
momento em que eles abriram a porta do carro e me pegaram pelo braço para me
arrancar para fora. Se não fossem os policiais, nós teríamos sofrido agressões
violentas, talvez pondo em risco nossa própria vida.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
20
Então, agradeço a V.Exa., Ministro, por ter atendido o nosso pedido. A Polícia
Federal chegou na hora certa. Se não tivesse chegado, talvez estivéssemos lá até
agora.
O Deputado que me citou falava sobre a questão da segurança nacional, da
Constituição, do direito de se manifestar.
Sr. Presidente. informo que, naquela mesma semana em que fomos
agredidos no Rio Grande, no Estado do Paraná os ruralistas fizeram um despejo.
Acabaram com o acampamento, quebraram tudo, derrubaram a escola, derrubaram
a igreja.
Eu, na condição de Presidente da Comissão de Legislação Participativa,
estive lá, junto com outros Deputados. Conversamos com os trabalhadores e com as
autoridades, na Câmara de Vereadores. Fomos até a Delegacia de Polícia de
Cascavel. Ali estava um caminhão preso, que havia sido usado nesse despejo.
Trouxe aqui a fotografia para V.Exas. verem. O caminhão tem quase 1 tonelada de
ferro no pára-choque. É usado para derrubar prédio, casa e acampamento. E o mais
importante: a carroceria é blindada, do tipo da de carro forte; tem só uma janelinha,
onde se coloca o cano da arma para atirar. Isso é livre direito de se manifestar. Isso
é manifestação pacífica.
Sr. Presidente, quem é mais violento nessa história? São os agricultores, que
ocupam a terra para pressionar o Governo a fazer assentamentos, ou são essas
pessoas que fazem uso da terra para matar mesmo? Vejamos a estatística da
violência. Quantos fazendeiros foram assassinados? Quantos mandantes de crime
estão presos? Quantos trabalhadores foram assassinados? Quantos trabalhadores
estão presos? Olhando para esses números, vamos perceber quem é mais violento
nessa história.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Adão
Pretto.
Eu quero fazer uma saudação ao Deputado Elton Welter, Líder da bancada
do Partido dos Trabalhadores na Assembléia Legislativa do Paraná, que nos honra
com sua presença, prestigiando a bancada do PT na Comissão de Agricultura.
Sr. Ministro, a palavra está com V.Exa. para responder os primeiros
questionamentos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
21
O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Obrigado.
Sr. Presidente Onyx Lorenzoni, Sr. 1º Vice-Presidente Luiz Carlos Setim,
gostaria de, preliminarmente, reportar-me a uma questão específica mencionada
pelo Deputado Abelardo Lupion. Informa o Secretário Pedro Abramovay que não foi
na época em que eu ocupava o cargo de Ministro da Justiça que S.Exa. fez o
pedido. Não sei o que ocorreu.
Evidentemente, reitero que já atendi pedidos semelhantes feitos pelo
Deputado Adão Pretto e por outros Parlamentares, de outras bancadas, de
oposição, de outras regiões, sempre que solicitado. De qualquer forma, se essa sua
proteção não ocorreu, eventualmente, por um equívoco do Ministério da Justiça,
compete-me pedir desculpas a S.Exa. Não é do meu molde nem do molde do
Ministro Márcio Thomaz Bastos ser omisso.
Eu pedi à minha assessoria que trouxesse os documentos para eu verificar o
que houve e nós conversarmos sobre o assunto, a fim de que, quando ocorrer
novamente uma situação dessas, estejamos à disposição para dar proteção aos
Parlamentares desta Casa e do Senado Federal, como determina a Constituição.
O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Espero que não ocorra, Ministro.
O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Eu também.
Qual é a posição do Governo quanto à questão concreta mencionada pelo
Deputado Moreira Mendes, que fez uma série de avaliações — boa parte delas
coincidentes com o trabalho que estamos fazendo no Ministério da Justiça e com o
diálogo que estamos travando —, sobre a invasão das estradas de ferro? No caso
concreto, a Vale. Já há 2 inquéritos da Polícia Federal fazendo a persecução
criminal não só quanto à invasão de propriedade, mas também aos danos causados
às empresas e, eventualmente, à ferrovia. Não sei se esses inquéritos já estão na
Justiça Federal ou no Ministério Público. Mas 2 inquéritos foram instaurados, quanto
a essa questão.
Quando a Polícia Federal entrou nessa questão da Vale, houve inclusive
retração do movimento. Ele agora se desloca para outro ponto da região. Não está
mais na Vale, em função do trabalho feito pela Segurança Pública local, ou seja,
pela Polícia Militar, e da presença da Polícia Federal, ostensiva em determinados
momentos, com a instauração desses inquéritos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
22
Saliento esse aspecto porque, às vezes, os inquéritos são mais demorados.
Eles exigem perícias em fotografias, avaliação de filmagens, trabalho de inteligência
para que o relatório seja bem feito e as pessoas respondam na forma da lei.
A grande questão apresentada pelo Deputado Abelardo Lupion é pertinente e
deve ser debatida nesta Casa. É extremamente séria, importante. Ela diz respeito
aos limites e aos alcances da segurança nacional no Estado Democrático de Direito.
Quais são as complexidades existentes? A primeira delas diz respeito à
recepção que a Constituição de 1988 deu à Lei de Segurança Nacional. Ou seja, se
essa lei está vigente em relação a todos os seus artigos ou se algumas das
questões ali relacionadas foram deslocadas para o Direito Penal comum.
A outra questão diz respeito à própria interpretação já dada, na época do
regime militar, pelas auditorias militares e pelo Supremo Tribunal Militar, sobre o
nexo entre o fato apontado na norma que regula e reprime determinado tipo de ação
de indivíduos ou de grupos e o conceito de segurança nacional.
Ainda na época do regime militar, o Supremo Tribunal Militar emitiu decisões
importantíssimas, dizendo que qualquer fato narrado na norma e capitulado como
delito, como crime contra a segurança nacional tem de estar integrado no conceito
de segurança nacional. Ou seja, ele deve ter uma potência tal que seja capaz de
desconstituir, de ameaçar a estabilidade do sistema como um todo, da segurança
nacional como um todo. Senão, ele será um delito comum contra a propriedade e
não um delito contra a segurança nacional.
No Estado Democrático de Direito essa questão é mais complexa, porque há
um conjunto de normas protetivas da propriedade privada, inclusive de repressão e
contenção desses delitos. Existe ali uma zona gris, que só pode ser resolvida pela
interpretação do Ministério Público, inclusive: se aquela ação delituosa é contra a
propriedade e julgada pelo direito comum ou se ela está apta para se integrar no
conceito de segurança nacional, que no Estado Democrático de Direito é muito mais
lábil, é muito mais aberto, é muito mais volúvel, no bom sentido, do que no Estado
de fato — ou seja, durante os regimes militares, que já se relativizavam esse
conceito, na oportunidade.
Se dermos eficácia à norma, no que se refere à interrupção de uma estrada
ou de uma via férrea, vamos ter de aplicar a Lei de Segurança Nacional também
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
23
contra os caminhoneiros que obstruem as estradas, os taxistas que interrompem o
funcionamento da cidade. Transportamos isso para a Lei de Segurança Nacional,
gerando, portanto, um conflito político de alta voltagem, enquanto o Estado
Democrático de Direito dilui essas questões e as transforma em questões comuns.
Ocorre a mesma coisa em relação, por exemplo, ao agronegócio, que tem
grande importância na economia do País e que costumeiramente interrompe as
estradas. Inclusive, no meu Estado, seguidamente, ocupa agências do Banco do
Brasil. Será que nós deveríamos também aplicar a Lei de Segurança Nacional
nesses casos? Na minha opinião, esses movimentos sociais, tenham eles a origem
que tiverem — na base empresarial ou na base mais popular, da pirâmide social —,
devem ser tratados dentro do Estado Democrático de Direito pelo Direito Penal
comum e pela legislação ordinária, a menos que nós retifiquemos o conceito de
segurança nacional. E aí vamos nos reportar a um conceito em que será crime
contra a segurança nacional qualquer delito, mesmo que ele não traga instabilidade
às instituições.
Ontem, por exemplo, nós tivemos um fato concreto em Santa Catarina. Os
servidores públicos interromperam a votação de uma lei — se não me engano, ela
tratava da previdência dos servidores locais —, obstruíram o funcionamento da
Assembléia Legislativa, como ocorreu no Estado, quando se votou a privatização
das telefônicas. Na oportunidade, o mestre Raymundo Faoro fez um parecer
memorável sobre o assunto. Sei disso porque estive envolvido no caso como
advogado.
Teríamos de tratar dessas questões como sendo de segurança nacional.
Deveríamos encaminhar a discussão para outro patamar. Ou seja, como tratar
preventiva e repressivamente esses delitos que estão inscritos na norma do Direito
comum, do Direito Penal, de forma a dar segurança às pessoas que detêm a titulada
propriedade legal de uma parte e ao mesmo tempo ter políticas para diluir a
necessidade de que esses movimentos transitem dessa maneira, inclusive no que
se refere, por exemplo, à negociação das dívidas do agronegócio, que normalmente
causa mobilizações muito fortes no País, com a mesma intensidade e cometendo os
mesmos delitos de natureza comum que esses movimentos fazem mais
repetidamente, porque seus problemas sociais são mais graves? Temos de tratá-los
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
24
de maneira equivalente, na minha opinião. Evidentemente, o Congresso Nacional
tem o poder de legislar sobre o assunto.
Na minha opinião, Deputado Abelardo Lupion, seria equivocado da nossa
parte transportar esses fatos para a órbita da segurança nacional, porque eles não
têm potência desconstitutiva do Estado de Direito. São delitos contra a propriedade
e têm de ser tratados dessa maneira, pelo menos dentro da sistemática
constitucional atual.
Inclusive há um conceito. Eu estudei essa questão. Respondi alguns
processos na área de segurança nacional, na época do regime militar — dois, mais
propriamente.
Há um conceito de um grande jurista italiano do fascismo, chamado Rocco.
Ele desenvolveu essa tese dentro do Estado de fato, que era o fascismo. Dizia que
não se poderia levar para os tribunais de Mussolini todos aqueles que fossem
inimigos políticos do regime. Levá-los para os tribunais sem que aquilo constituísse
ameaça ao Estado seria propagandear, inclusive, uma insegurança do Estado, que
não existe. Ora, se isso vale para um regime de fato, deve valer muito mais para o
Estado Democrático de Direito. Precisamos ter grande cautela quanto a essa
questão.
Gostaria de dizer ao Deputado Onyx Lorenzoni que eu tenho uma visão
idêntica à de S.Exa. em relação à Amazônia. Tanto é verdade que no Estatuto do
Estrangeiro, que já está na Casa Civil, há 3 dispositivos sobre essa questão. O
Secretário Pedro Abramovay e um grupo técnico estão, juntamente com o Secretário
Nacional de Justiça, Dr. Romeu Tuma Júnior, procurando apresentar rapidamente —
já estamos com o estudo pronto — uma proposta a esta Casa para que reavalie a
situação das organizações não-governamentais na Amazônia. As diretrizes dessa
proposta estão prontas.
Ocorre efetivamente o que disse o Deputado Onyx Lorenzoni: há ONGs e
ONGs, assim como há grupos formais e grupos informais que tratam dessas
questões. Na Amazônia, existem organizações não-governamentais que estão ali
cumprindo serviços relevantes e outras que nada têm a ver, na nossa opinião, com a
sua destinação estatutária. Interferem inclusive na cultura da comunidade indígena
de maneira absolutamente ilegal, com estupros culturais, fazendo de exorcismo para
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
25
tirar o demônio do corpo dos indígenas. Outras fazem estudos biológicos, estudos
da biodiversidade, e as finalidades não estão bem claras.
Temos de regular a matéria, sim. Repito o que disse em outra oportunidade: a
Amazônia é território da humanidade. Mas, antes de ser território da humanidade, é
território nacional, onde devemos exercer integralmente a nossa soberania.
Sabemos que, com o desequilíbrio ecológico mundial, com as questões
ambientais, com o grave problema da água no mundo, a Amazônia tem importância
estratégica para o futuro da humanidade. Mas, antes de ser importante para o futuro
da humanidade, ela é importante para o futuro do País.
É preciso saber combinar de maneira adequada um projeto de
desenvolvimento com sustentabilidade para a Amazônia, aproveitando suas
potencialidades, proteger os povos indígenas da devastação que o progresso da
sociedade normalmente origina e combinar essas 2 questões com um projeto de
ocupação legal da região, com essa sustentabilidade. Só poderemos resolver essa
questão de maneira comum. Não vamos resolvê-la estabelecendo um contraditório
radical entre Oposição e Governo. Contraditório tem de existir, mas para uma
síntese positiva na Amazônia, porque ela diz respeito a uma questão nacional
estratégica e não deve ser dividida por conta de siglas partidárias ou de problemas
relacionados a interesses regionais.
A questão do direito de propriedade, no Brasil, é resolvida pela Constituição
Federal. Temos de conceber também, para estabelecer um diálogo adequado e
produtivo — e eu estou permanentemente disponível para isso —, que a
Constituição de 1988 é jovem. E a experiência legislativa que deriva dela, não só no
que se refere à sua regulamentação, mas também à interpretação de determinadas
cláusulas constitucionais, que teriam ou não aplicabilidade, é uma questão ainda em
aberto no País. A função social da propriedade é uma norma constitucional também,
assim como o é a proteção ao direito de propriedade. Enquanto não resolvermos
determinados conflitos que são tipicamente de interpretação constitucional, teremos
de nos balizar pelo princípio da legalidade, que determina a proteção ao direito de
propriedade, assim como a Constituição garante a mobilização social. E temos de
saber processar esses conflitos dentro do Estado de Direito.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
26
Qualquer radicalização que fizermos... Isso tem a ver também com o
comportamento do MST, das organizações dos trabalhadores rurais. Temos de
compreender que essa mobilização social tem de ocorrer levando-se em conta o
respeito à Constituição e o direito de propriedade. Quando alguém viola esse direito,
responde por isso dentro do sistema legal. Não podemos transformar essa questão
numa questão política vinculada a um conceito de segurança nacional, porque a
segurança do País não está sendo ameaçada. Segurança pública é uma categoria
do Direito Público. Segurança nacional é outra categoria. Existem, sim, questões de
segurança pública nos Estados, em relação ao direito de propriedade, assim como
existem questões sociais graves em relação à possibilidade do acesso à terra e à
distribuição da função social da propriedade.
Não vejo outra forma de resolvermos essa questão a não ser aprofundando o
diálogo. O Estado deve ter capacidade de dar uma resposta de acordo com o
sistema democrático, de acordo com os princípios gerais do Direito, para que
possamos solucionar os problemas de maneira adequada.
De parte do Ministério da Justiça, não haverá sonegação de diálogo em
relação a isso, inclusive para rediscutir a questão do conceito de segurança
nacional, que tem de ser adequado à época em que nós vivemos. Eu acho, por
exemplo, que a questão da soberania, hoje, está muito mais orientada pela forma
adequada de ocupação do território do que propriamente pelo controle das
alfândegas, já que os bens são transmitidos de maneira imaterial e não são
contabilizados por quantidade de átomos nas alfândegas de todos os países.
Essa forma de ocupação territorial, que no Brasil é incompleta, é que causa
esses conflitos sociais e políticos em que nós estamos imersos.
Eu tenho certeza de que temos responsabilidade pública suficiente para saber
processá-los, com diálogo efetivo, com respeito aos direitos das partes e cumprindo
a norma constitucional a que todos nós estamos submetidos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Ministro, passamos às
mãos de V.Exa. toda a documentação referente à audiência pública que, por
solicitação dos Deputados Giovanni Queiroz, Ernandes Amorim e Moreira Mendes,
foi realizada aqui para discutirmos as questões que tiveram origem em denúncias
publicadas na revista ISTOÉ, sobre as ações da Liga dos Camponeses Pobres no
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
27
Estado de Rondônia. Essa mesma documentação está na Polícia Federal e no
Ministério Público, para que o Estado brasileiro possa avaliar isso.
O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Vou fazer uma observação. Nós temos
informes de inteligência da Polícia Federal, da Força Nacional sobre essa questão.
Temos uma avaliação sobre isso, e ela pode estar errada. Então, nós vamos
examiná-la. Eu vou determinar que esses documentos sejam examinados pela
nossa perícia da Polícia Federal, se determinarem algum tipo de avaliação pericial, e
pelos órgãos técnicos da Polícia, para verificar o que devemos fazer a mais em
relação a isso. E daremos a resposta formal a esta Casa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Ministro.
Há 20 Parlamentares inscritos. Portanto, buscarei um entendimento com os
Parlamentares. De acordo com a regra, o prazo é de 3 minutos. Vamos combinar
que aos 2 minutos eu sinalizarei. Tentemos, então, nos concentrar nos dois minutos
e meio, 2 minutos e 40 segundos, um pouco mais, um pouco menos. Vamos fazer
grupos de 4. O Ministro também, nas suas respostas, vai se pautar pela objetividade
— sei que S.Exa. a tem. Dessa forma, todos os inscritos poderão manifestar-se.
Com a palavra o Deputado Beto Faro.
O SR. DEPUTADO BETO FARO - Sr. Presidente, como foi anunciado por
V.Exa. no início que o Ministro teria até meia hora, indago se podemos fazer um
grupo maior, com mais de 4 Deputados, para ganhar tempo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Está bem.
Vamos começar com o Deputado Carlos Santana.
O SR. DEPUTADO CARLOS SANTANA - Sr. Presidente, Deputado Onyx
Lorenzoni, Sr. 1º Vice-Presidente, Deputado Luiz Carlos Setim, Sr. Ministro Tarso
Genro, primeiramente quero dizer que não sou membro desta Comissão. Faço parte
da Comissão de Viação e Transportes e da Comissão de Trabalho, de
Administração e Serviço Público. Portanto, agradeço-lhes por estar neste espaço,
porque esta Comissão é muito importante para o crescimento do País e tem papel
fundamental na questão da terra.
Estou aqui porque sou Presidente da Frente Parlamentar pela Promoção da
Igualdade Racial. O Presidente da Frente que trata da questão quilombola,
Deputado Vicentinho, não pôde comparecer, e eu estou aqui.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
28
Quero agradecer aos autores do requerimento de realização desta audiência
pública. Nós, afro-descendentes no Brasil, temos dificuldade de mostrar a nossa
posição. Discutimos tudo neste País, mas não conseguimos discutir a questão da
raça. Raça é um tema que foi posto em segunda posição.
Eu não quero dizer que a demarcação de terra tem de ser de tantos hectares.
Para nós, o importante é entender que existe uma dívida com o povo negro deste
País. Eu, que sou afro-descendente urbano e tenho origem nas terras, porque de lá
vieram meus antepassados, considero que, para nós, é importantíssimo pelo menos
esse entendimento de que há uma dívida. Não temos de ficar discutindo que a
demarcação tem de ser de tantos hectares. A dificuldade que temos é que poucas
pessoas que escrevem sobre o assunto e fazem editoriais ficam em seus escritórios
com ar condicionado, não vão até lá para verificar a realidade. Por isso, nós, afro-
descendentes, temos uma dificuldade enorme de expor as nossas posições.
Eu sei que o Ministério não deve atuar nessa área, mas é importante que isso
ocorra. V.Exa., com a sua sapiência, deve ajudar nesse sentido.
Hoje, no Brasil, estamos vendo a intolerância religiosa. Espero que o
Ministério atue nesse sentido. V.Exa. deu um exemplo do que está acontecendo no
Amazonas. Mas não é só lá. Sou católico, mas afirmo que as religiões
afro-brasileiras estão sendo perseguidas. Temos de evitar o grande enfrentamento
que vai haver no Brasil em relação à tolerância religiosa.
Peço ao Ministro que cuide desse assunto.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Carlos Santana.
Alguns Parlamentares aqui se manifestaram. O Deputado Carlos Santana não
é membro titular da nossa Comissão. Mas, como era o primeiro inscrito, por uma
questão de fidalguia e de atenção ao Deputado, concedemos a palavra a S.Exa.
Peço a compreensão dos nobres pares.
Com a palavra o Deputado Leonardo Vilela.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Muito obrigado.
Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sras. e Srs. Parlamentares, vou ler um pequeno
trecho do jornal O Globo, de 11 de junho de 2008:
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
29
“Movimento comanda invasões e depredações de
empresas públicas e privadas em 13 Estados.
A violência marcou ontem os protestos
comandados pelo MST em 13 Estados. Hidrelétricas e
prédios de empresas públicas e privadas foram invadidos
e depredados. Em São Paulo, a polícia teve de intervir
para evitar vandalismo contra a sede da Votorantin. Em
Minas, o movimento fechou uma estrada de ferro usada
para o escoamento de minério da Vale. Na Bahia, os sem-
terra quebraram a porta e chegaram a ocupar a ante-sala
do centro de comando da usina hidrelétrica do São
Francisco (CHESF). Também houve ações violentas no
Rio Grande do Sul, em Pernambuco e Ceará, entre outros
Estados (...).”
Mais adiante, diz:
“Em nota, a Via Campesina alegou que os
protestos serviram para ‘denunciar os problemas
causados pela atuação das grandes empresas no País,
especialmente as estrangeiras, que são beneficiadas pelo
modelo do agronegócio e pela política econômica
neoliberal’.”
Sr. Ministro, a questão que apresento a V.Exa. é a seguinte: esses
movimentos ditos sociais invadem empresas privadas e públicas, fazendas
produtivas, centros de pesquisa, estradas, ferrovias, hidrelétricas, num claro
desrespeito à Constituição. Causam depredação dessas instalações públicas e
privadas — aliás, num movimento diferente dos movimentos patronais, porque, se
os movimentos patronais causam depredação, eles são acionados à luz do Direito
Penal, que V.Exa. recomenda para os movimentos sociais. Esses movimentos ditos
sociais não têm cara, não têm identidade, não são identificados.
Como aplicar o Direito Penal ao MST, Ministro, se ele não tem personalidade
jurídica, se ele não existe perante a lei? Então, faço um apelo a V.Exa. no sentido de
que uma das ações do Ministério da Justiça seja exatamente mostrar quem são
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
30
essas pessoas, fazer com que elas possam responder pelos seus atos perante a lei,
porque é exatamente essa inimputabilidade que existe hoje que estimula os atos de
contravenção, que estimula os atos criminosos. É exatamente essa impossibilidade
de responderem pelas suas transgressões que estimula a violência, que estimula
esses movimentos.
Sr. Ministro, nós concordamos plenamente com V.Exa.: o Direito Penal deve
ser aplicado aos ilícitos cometidos por alguns movimentos ditos sociais. Mas é
importante que o Ministério da Justiça, em conjunto com os Estados, desenvolva
uma sistemática para exigir que eles sejam representados. Não dá para nós,
brasileiros, convivermos com pessoas que não têm cara, que não são identificadas,
que não respondem pelos seus atos. Qual é o Estado de Direito? Estamos criando 2
categorias de cidadãos. E o pior, Ministro — outro ponto que também gostaria de
mencionar —, é que alguns Governadores, como já foi citado, se omitem no sentido
de não dar a segurança pública adequada àqueles que são ameaçados por esses
movimentos. Eu pergunto a V.Exa.: aqueles cidadãos prejudicados daquele Estado
são cidadãos de segunda categoria? Eles não têm direito ao respaldo do Governo
Federal para que os seus direitos constitucionais sejam respeitados?
Sr. Ministro, não vou mais me alongar, mas gostaria muito de uma ação do
Ministério nesse sentido.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Leonardo Vilela.
Com a palavra o Deputado Duarte Nogueira.
O SR. DEPUTADO DUARTE NOGUEIRA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Parlamentares, inicialmente, quero parabenizar o autor do requerimento e os demais
que o subscreveram.
Ao cumprimentar o Ministro da Justiça, Tarso Genro, quero dizer-lhe que não
tome como de natureza pessoal ou de enfrentamento partidário o que vou aqui
apresentar, até porque S.Exa. já teve mandato popular, quero crer, no Legislativo, e,
com certeza, no Executivo, como Prefeito, e sabe que o cumprimento das nossas
funções públicas tem de estar compatível com o compromisso que nós assumimos
com os eleitores. E os Deputados Federais, nós, Congressistas, temos que procurar
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
31
zelar pelo cumprimento da lei e, ao mesmo tempo, cumprir nosso papel de fiscalizar
e acompanhar o trabalho do Executivo.
Posto isso, e baseado no que disse o Deputado Leonardo Vilela, eu
apresentei à Mesa da Câmara dos Deputados uma denúncia, baseada no art. 218
do Regimento Interno, com fulcro na Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950,
objetivando a instauração de processo contra o Ministro da Justiça e o Ministro do
Gabinete de Segurança Institucional, pela ocorrência sistemática, programada e
previsível, na nossa opinião, de todos esses fatos que atentam contra o direito à
propriedade, contra a pesquisa científica, contra os prédios públicos e o patrimônio
nacional.
Não vou aqui detalhar as notícias e as ocorrências em todos os Estados
brasileiros, mas vou simplesmente me ater, pelo tempo curto, Sr. Ministro, ao fato de
que a Lei nº 1.079, na qual me baseio, diz, no art. 2º, que “os crimes definidos nesta
lei, ainda quando simplesmente tentados, são passíveis da pena de perda do cargo,
com inabilitação, até 5 anos, para o exercício de qualquer função pública, imposta
pelo Senado Federal nos processos contra o Presidente e os Ministros de Estado...”
Essa mesma lei define entre os crimes de responsabilidade aqueles
praticados contra a segurança interna do País, em especial permitir, de forma
expressa ou tácita, a infração de lei federal de ordem pública.
Cita também outras leis, mas eu quero aqui dizer que consta do art. 1º do
Anexo I do Decreto nº 6.071, de 2007, entre as atribuições do Ministério da Justiça,
a defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das garantias constitucionais, da
política judiciária e da defesa dos bens e dos próprios da União e das entidades
integrantes da administração pública federal indireta. E cito aqui também as
atribuições do Gabinete de Segurança Institucional.
Assim, peço que a Mesa da Câmara acolha, para que nós possamos cumprir
o nosso papel constitucional.
No meu tempo derradeiro, a partir do que disse V.Exa., eu gostaria de
indagar: qual é o grau de informações que o Ministro tem para se antecipar a essas
ações ilegais, preventivas, repressivas? V.Exa. falou sobre questões controversas.
Na minha opinião não são, porque cumprir a lei não é assumir que ocorram
questões controversas.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
32
Quais são os sistemas de inteligência que nós poderíamos utilizar para
antecipar a esses problemas todos? E na questão da delimitação de terras
indígenas, o Ministério está caminhando contra a opinião do próprio Exército no caso
da Raposa Serra do Sol, a partir das alegações do General Heleno. Na nossa
opinião, está ocorrendo leniência e conivência.
Por último, já que a Polícia Federal foi tão eficiente na defesa, naquele
instante, da integridade do Deputado Adão Pretto, companheiro e dileto amigo da
Comissão de Agricultura, por que ela não tem sido tão diligente na questão dos
prédios públicos, das nossas estradas, ferrovias e centros de pesquisa?
A agricultura brasileira familiar e empresarial chegou ao ponto atual em razão
da pesquisa científica, que tem sido destruída por esses atos de vandalismo de
movimentos ditos sociais que não mais contam com o apoio da sociedade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Duarte Nogueira.
Com a palavra o Deputado Afonso Hamm, Vice-Presidente desta Comissão.
O SR. DEPUTADO AFONSO HAMM - Presidente Onyx Lorenzoni, demais
colegas Deputados, Ministro Tarso Genro, conterrâneo do Rio Grande do Sul, devo
dizer que é importante este debate que travamos hoje nesta Comissão.
Quero apenas trazer uma questão de importância lá do Estado do Rio Grande
do Sul, até porque foi objeto de reunião bem recente, da qual fiz parte, e de vários
encaminhamentos.
Há hoje uma intranqüilidade do agricultor em algumas regiões do meu Estado.
E vou trazer o caso do Município de Sertão, onde aproximadamente 300
agricultores, em decorrência de um processo de uma comunidade de quilombolas,
pela regularização da área, estão sendo desapropriados aproximadamente 300
agricultores. É um conflito.
Esse estado de coisas repete-se em vários pontos do País. Sou o Deputado
Federal mais votado naquele município. Embora eu seja de Bagé, tive a
oportunidade de testemunhar a preocupação e a angústia de agricultores que têm,
inclusive, o certificado de posse daquelas terras e produzem na área gerações e
gerações — e eu os conheço, inclusive têm representação, uma associação.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
33
Entendemos o valor e a importância do reconhecimento dos quilombos,
inclusive fui Diretor da EMATER no Rio Grande do Sul por 3 anos e meio, órgão que
faz um trabalho de políticas de resgate dos quilombolas em várias frentes, inclusive
por meio do programa RS Rural, quando tivemos a oportunidade de aportar apoio
para melhoria, infra-estrutura e condições de renda, enfim. Mas o que não se aceita
são os conflitos e a forma conflitante e até mesmo a intranqüilidade de uma
indenização, que traz essa angústia e essa preocupação.
Então, eu pediria a inclusão deste tema na discussão. Eu poderia citar, lá do
Rio Grande do Sul, o Município de Faxinalzinho, onde tem uma questão indígena
também. E podemos falar de outros municípios, a exemplo de Charrua.
Precisamos, de forma definitiva, ter convivência harmônica e critérios
absolutamente transparentes para a sociedade e para todos. Porque hoje são esses
300 agricultores, amanhã poderão ser outros em outras localidades.
E o Brasil tem o desafio da produção de alimentos, inserir nesse contexto
todos que possam produzir, no sentido da segurança alimentar e competitividade. E
o Brasil se apresenta, e tem a necessidade, inclusive, de alimentar o mundo.
Então, em nome dos agricultores lá do sertão, em nome dos quilombolas e
dos indígenas, precisamos resolver as questões. Acho este debate extremamente
importante e necessário. Com certeza, a posição de V.Exa., um homem de equilíbrio
e de posições claras, será no sentido de estabelecermos definitivamente, junto à
FUNAI, ao INCRA e aos demais órgãos competentes, um componente definitivo de
tranqüilidade à sociedade. Porque isso não só intranqüiliza esses 300 agricultores,
mas a comunidade de um município, várias comunidades de diversos municípios,
além de trazer intranqüilidade absoluta a toda a sociedade.
Eram as nossas observações.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Hamm.
O último Deputado inscrito para falar nesse bloco é o Deputado Beto Faro.
O SR. DEPUTADO BETO FARO - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
primeiramente, quero agradecer ao Ministro Tarso Genro e à sua equipe por
comparecerem a esta Comissão. E S.Exa. também tem comparecido a outras
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
34
Comissões da Casa, inclusive, no dia em que aprovamos o convite para que o
Ministro aqui viesse, S.Exa. estava em outra Comissão dialogando sobre um dos
temas que estamos tratando, que é a questão da Reserva Raposa Serra do Sol.
O Ministro tem atendido vários Parlamentares desta Comissão e não apenas
dialoga, mas apresenta soluções.
Portanto, quero parabenizar o Ministro por essas questões, inclusive, pelas
soluções que estão sendo apresentadas na sua fala a esta Comissão.
Parabenizo, também, a Comissão de Agricultura, pois desde a última reunião
com o Ministro evoluímos bastante. Eu acho que nós trabalhamos muito sob o ponto
de vista ideológico na última e hoje estamos trabalhamos mais no sentido de
apresentar, efetivamente, proposições e soluções para os problemas.
Eu acho que o tom que nós estamos dando a esta audiência pública contribui
muito mais para resolver os problemas do que meramente ficarmos no debate sobre
quem defende um setor e quem defende o outro. Eu acho que é uma evolução
importante que estamos tendo nesta Comissão.
Os problemas são muitos. Eu diria que nós estamos num momento positivo e
importante e com um diagnóstico bem mais claro dos problemas. A Casa também já
tem tomado iniciativas neste último período para buscar soluções.
Nessa questão da Amazônia, um dos problemas graves que nós temos ali é
de identificação inclusive de quem está nas áreas, sejam pequenos ou grandes.
Essa questão de direito de propriedade na Amazônia...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado Beto Faro, só
um minuto.
Eu quero fazer uma solicitação especial para todos aqueles que nos visitam,
que acompanham esta reunião, que façam silêncio, a fim de que os Parlamentares
possam ordenar o pensamento e ter tranqüilidade para exprimir seu raciocínio e o
Ministro possa ouvir com toda a clareza a manifestação de cada um.
Desculpe-me, Deputado Beto Faro, mas acho que era imprescindível fazer
esse comunicado. V.Exa. tem mais 1 minuto.
O SR. DEPUTADO BETO FARO - Obrigado, Sr. Presidente.
Nessa questão da Amazônia, por exemplo, temos problemas de identificação
efetiva de quem está ocupando as áreas. A grande proprietária das terras ali é a
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
35
União. Uns, por terem mais posses, conseguem, com o trator, abrir áreas, construir
uma casa melhor etc.; outros têm que esperar, às vezes, 3, 4 anos o INCRA para
construir uma casinha ou uma estrutura dentro de uma área. Mas, na verdade,
direito de propriedade da área ali são raros os que possuem. Nós temos que
dialogar sobre esse assunto.
Aprovamos a Medida Provisória nº 422, de 2008, nesta Casa, que eu acho
que vai contribuir muito para incluir aqueles que efetivamente têm direito à
regularização fundiária. O Estado, a partir daí, vai poder acompanhar, levar as
pessoas para a legalidade e punir aqueles que cometem crimes ambientais, entre
outros.
Por fim, como o tempo é curto, eu quero apenas apresentar um dado, para
que não cometamos injustiça, sobre a acusação de conivência da Governadora Ana
Júlia Carepa com invasões e ocupações.
A todas as ações feitas inclusive por movimentos na área da Vale do Rio
Doce o Estado esteve presente para garantir segurança, direito à propriedade. O
Ministro sabe disso, inclusive da colaboração entre Ministério da Justiça, Polícia
Militar, Polícia Civil. O Estado colocou todo o seu aparato para trabalhar nessa
questão.
A última audiência que nós tivemos aqui com o Ministro Tarso Genro foi sobre
a acusação de que era a Liga dos Camponeses Pobres que estava ocupando as
áreas no sul do Pará. Estava se realizando uma operação grande do Estado para
coibir as invasões, as ocupações.
Portanto, o Estado não se tem omitido, tem trabalhado. Mas não pode chegar
batendo, atirando, como já ocorreu no Pará. Não é esse o caminho que a Polícia
paraense tem adotado, mas a Governadora tem o compromisso com essa realidade.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Beto
Faro.
Com a palavra o Sr. Ministro para as suas respostas.
O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Vou ser também bastante breve.
Eu acho que uma questão aqui envolve todas as demais que foram feitas
pelos Deputados Leonardo Vilela, Duarte Nogueira, Afonso Hamm e, em parte, Beto
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
36
Faro, inclusive sobre o direito de representação que os Deputados têm em relação
aos Poderes constituídos e aos próprios Ministros.
As questões de ordem pública nos Estados não podem ser jogadas para a
Polícia Federal. Não é da sua competência. Os serviços de inteligência dos Estados
é que devem dispor — e na minha opinião dispõem, pelo menos meu Estado dispõe,
porque tem feito ações, inclusive, preventivas, duras, às vezes, em relação aos
movimentos sociais, em plano de Estado, e tem operado de acordo com a
legalidade, orientado pelos juizes municipais.
Então, transferir para o âmbito da Polícia Federal uma função de zeladoria,
por exemplo, de prédios públicos, preventiva, para que não sejam ocupados, é
absolutamente impossível. Isso não é função da Polícia Federal. A Polícia Federal é
a Polícia Judiciária da União. Seu aparato de inteligência, quando tem informações
que possam ajudar os Estados a prevenir conflitos, a Polícia Federal as repassa
imediatamente, e o faz de maneira permanente nos Estados, numa relação de
colaboração com todos os Governadores. Mas os Governadores têm de querer essa
colaboração. Se os Governadores não querem, ou porque são Oposição ao Governo
Federal, ou à direita ou à esquerda do Governo Federal, como eventualmente
acontece, essa responsabilização não pode ser transferida. Não houve nenhum
momento em que a Polícia Federal, solicitada pelos órgãos públicos estaduais,
tenha deixado de cumprir suas obrigações.
Em relação às desocupações que deveriam ser feitas pelos Estados, quando
eles pedem, porque são questões de ordem pública estadual, a Polícia Federal vai lá
com seus quadros, preparados para negociar, inclusive, com força ostensiva,
quando necessário. Mas o que não pode é haver uma transferência de
responsabilidade, como se a Polícia Federal fosse uma polícia preventiva, de
proteção da propriedade privada. Não é. A Polícia preventiva de proteção da
propriedade privada é a Polícia Estadual, não a Polícia Federal. Em nenhum
momento ela deixou de fazer desocupação de prédios da União, determinada pelo
Poder Judiciário. Aliás, não tem sido necessário, porque, quando a Via Campesina,
o MST, o MPA ou outra organização ocupa uma área, como foi ocupado o Banco de
Brasília, por empresários fazendo suas movimentações, ou trabalhadores, a Polícia
Federal vai lá, negocia, orienta, discute e mostra a sua força. Quando é necessário,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
37
inclusive, é feito um aviso antecipado: “A partir de amanhã, nós vamos operar; a
partir de hoje à tarde, nós vamos operar”. Isso tem dado certo e tem evitado mortes
e conflitos. E o Estado não tem perdido a sua autoridade.
Então, essa ansiedade, que é legítima, em querer responsabilizar o Ministro
por qualquer violação de ordem pública estadual, tem que ser transferida para o
Estado, para o Secretário de Segurança, para o Governador, que, inclusive, dispõe
de um sistema de informação para fazer esse trabalho preventivo. O que
evidentemente não retira de ninguém o direito de representação.
Quero salientar e deixar bem claro que o Ministério da Justiça está à
disposição das autoridades estaduais, e do Parlamento também, para fazer a
proteção do trabalho dos Deputados, quando necessário, como já foi feito com
diversos Parlamentares. Não me lembro, na minha gestão pelo menos, de que
tivesse sido negado apoio a qualquer Parlamentar para sua proteção física quando
fosse necessário. E vamos continuar fazendo isso, porque é uma obrigação
constitucional nossa.
Processo de identificação, por exemplo, de pessoas que cometem essas
ilegalidades. Essas pessoas estão todas identificadas pelos Estados e pela Polícia
Federal, quando for de sua competência. No que se refere aos inquéritos da Polícia
Federal, estão respondendo inquérito judicialmente. Existem inquéritos que não
versam sobre propriedade da União, por exemplo, que são feitos pelo Estados, no
âmbito da Justiça Comum, como o caso dos sem-terra, do MST. O Poder Judiciário
tem tido, na maioria das vezes, uma parcimônia muito grande, mas não deixa de
processar os responsáveis. Às vezes, me telefonam dos Estados para dizer: “Tal juiz
de tal região está processando 3 ou 4 integrantes de tal movimento. É função do
juiz. Peguem um advogado de defesa, e vão se defender.
Nós temos que tratar essa questão de maneira muito cautelosa, sob pena de
fraudarmos o sentido federativo de nossa relação. Quando a situação está fora do
controle no Estado, os Parlamentares podem pedir intervenção; representar para
pedir intervenção no Estado. O Supremo vai determinar ou não essa intervenção. E
a União pode atuar, então, de maneira plena, substituindo, inclusive, e colocando
sob seu comando as autoridades policiais do Estado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
38
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vamos ao segundo bloco
de perguntas, começando pelo Deputado Márcio Junqueira.
O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, Sr. Ministro, que mais uma vez está nesta Casa. Serei breve porque sei
que o Ministro já conhece o tema, mas entendo que lhe falte muita informação.
O Governo hoje é vítima da desinformação ou da informação maldosa e
irresponsável, que é remetida para o Ministério e o Presidente da República. O
Presidente — e o Supremo vai demonstrar isso em agosto — foi induzido a erro,
quando assinou o decreto de homologação de Raposa Serra do Sol, haja vista que
em varias declarações da própria Justiça ficou constatada a fraude no laudo. Há
pessoas envolvidas que nunca estiveram em Rondônia, motoristas. Mas isso vai ser
discutido no Supremo.
No nosso último encontro, eu perguntei a V.Exa. quais eram as despesas do
Patacon III, operação que acontece em Roraima. V.Exa. disse-me que tinha
informação de que eram 200 mil reais até aquele momento. O Jornal do Brasil — é
como eu digo, V.Exa. não tem culpa, a meu ver, falta informação — disse que, só
em diárias, até agora, foram pagos 3,5 milhões de reais. Cada policial custa para o
País, por dia, 116 reais.
Para ilustrar, Sr. Ministro, no episódio da prisão de Paulo Cesar Quartiero,
naquele dia que V.Exa. esteve em Roraima, V.Exa. visitou apenas uma ONG, por
desinformação. V.Exa. foi levado lá. No meu entender, a sua assessoria errou,
porque o levou até lá. V.Exa. não tem culpa, pois nunca tinha estado lá. Mas o CIR,
aquela ONG à qual V.Exa. teve que se apresentar porque eles não o conheciam,
disse que desembarcam ontem, na Europa, um dos coordenadores, para visitar, na
Espanha, Inglaterra, Bélgica, França e Portugal, as ONGs Caritas, Manos Unidas,
Entreculturas, Survival, Anistia Internacional, Greenpeace, entre outras, inclusive,
com o Papa. Essa ONG que V.Exa. visitou. Eles demonstram que, ou não acreditam
nas instituições brasileiras ou, de fato, estão de conluio. Quem declara é a própria
assessoria de comunicação do CIR, aquela ONG que V.Exa. visitou.
V.Exa. falou em conflito. Quem causou o conflito no Estado de Roraima foi
tão-somente a forma equivocada da atuação da Polícia Federal, que causou o
exagero. Em cima daquela ponte do Surumu havia 40 pessoas contra 500 policiais
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
39
federais, a Força Nacional. Então, o exagero causou o conflito e a violência. V.Exa.
falou na violência. Prenderam o Prefeito Paulo César Quartiero, com mais 10
pessoas que nunca tiveram um antecedente policial, os colocaram num avião a jato
da Polícia Federal — tirando o Prefeito, que responde a processo, nenhum dos
outros tinha sequer um antecede policial —, trouxeram para Brasília e os jogaram na
carceragem da Polícia Federal, um lugar para traficantes. E essas pessoas ficaram
lá por 9 dias. E pasmem os senhores, a Polícia Federal, que tem todas as condições
de apurar os fatos, teve que amargar, engolir, uma decisão unânime do TRF. O TRF
não acatou a denúncia do Ministério Público, o TRF sequer levou em consideração
as outras denúncias e mandou soltar todos.
Portanto, Ministro, exponho estas questões com a consciência de que temos
a responsabilidade de buscar um caminho para o day after, apesar de o Ministro
Nelson Jobim achar que não. Eu disse para S.Exa. a mesma coisa, que nós temos
que nos preocupar com a decisão do Supremo, seja ela qual for. Porque de um lado
ou de outro vai haver insatisfação.
Eu fiquei feliz, Ministro — já estou terminando, Sr. Presidente —, quando ouvi
de V.Exa. que a Amazônia é dos brasileiros. Somos nós que vamos discutir isso.
Tenho certeza absoluta — e quero aqui de público dizer isso — de que o senhor, o
homem, o brasileiro Tarso Genro, não tem o interesse nem a intenção de tirar do
âmbito da discussão do Brasil as questões de Raposa Serra do Sol e da Amazônia,
infelizmente, não posso dizer o mesmo em relação a outros componentes do
Governo.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado pela paciência.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Márcio Junqueira.
Com a palavra o Deputado José Genoíno.
O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, eu não sou membro desta Comissão mas sempre participo das
reuniões nas Comissões, como Deputado, toda vez que os Ministros do meu
Governo estão presentes. Particularmente, o Ministro Tarso Genro, além de amigo, é
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
40
um companheiro por quem tenho profundo respeito e admiração, por sua historia e
pelo trabalho que exerce no Ministério da Justiça.
Eu acho que V.Exa., Ministro, esclareceu um problema de fundo, e não é o
centro do debate desta Comissão, felizmente: a questão da demarcação das terras
indígenas é o cumprimento do art. 231 da Constituição Federal no seu caput.
Se analisarmos os §§ 6º e 4º do art. 231, sobre esta questão da alienação,
isso fica claro. O art. 231 não deixa dúvida: “São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças, tradições e os direitos originários
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
Eu acho que nós temos que ter uma postura de tolerância democrática e de
negociação. Se nós levarmos os conflitos sociais para o tratamento policial e legal,
nós estaremos institucionalizando esse tipo de confronto. E não é a primeira vez que
isso surgiu na história do Brasil. Quem se lembra das duas primeiras décadas da
República Velha? “Greve é caso de Polícia!” Nós não podemos adotar essa linha.
Preocupou-me — por isso eu faço esta referência e gostaria de ouvir a
opinião do Ministro — o fato de que um dos debatedores levantou a defesa da Lei de
Segurança Nacional. Eu tenho a opinião de que a Lei de Segurança Nacional não
está na sua totalidade acolhida pelo texto constitucional de 88, até porque usa o
conceito de segurança nacional. E a Constituição de 88 usa o conceito de defesa
nacional e separa bem o que é segurança pública de defesa nacional. Essa mistura,
aliás, os episódios do Rio de Janeiro estão mostrando que não é bom se fazer. No
meu modo de entender, é necessário uma Lei de Segurança do Estado
Democrático, mas não de Segurança Nacional. Porque, quando se misturam bens,
propriedades, com segurança das instituições, essa confusão tem uma historia
trágica na história do Brasil. Por isso, eu gostaria de ouvir a sua opinião sobre esse
tema.
Para concluir, Sr. Presidente, também ficou claro nesses debates que terras
indígenas são terras da União, e demarcação de terras indígenas não ameaça a
soberania nacional, até porque são bens da União. E a melhor maneira de defender
a fronteira é exatamente ter terra da União e ter a relação com a população
indígena. Inclusive, Deputado Colatto, este foi o grande argumento do Deputado
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
41
Nelson Jobim na Constituinte de 88, para garantir que a demarcação das áreas
indígenas é uma condição para a verdadeira segurança e soberania nacional. Isso
também está resolvido, até porque, nesses termos, Sr. Presidente, o Brasil, quando
assinou a Convenção dos Povos Indígenas, vetou, fez ressalva ao art. 46,
exatamente porque conceituava nações indígenas. Esse debate está saindo, e
estamos fazendo um debate correto, que é a discussão da relação econômica nessa
demarcação.
Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA – Questão de ordem, Sr.
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Pois não, Deputado
Leonardo Vilela.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Sr. Presidente, os Deputados que
não são membros desta Comissão, a exemplo do Deputado José Genoíno, são
muito bem-vindos e contribuem muito para o debate. Mas eu solicitaria a V.Exa. que
seguisse o preceito regimental de que a prioridade do debate é para os membros
desta Comissão, como, aliás, adotam, ainda que informalmente, outras Comissões
permanentes desta Casa.
O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Eu lamento que esta questão de
ordem não tenha sido levantada quando o Deputado Marcio Junqueira, que também
não é membro desta Comissão, falou. Só por que eu falei agora.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Desculpe, Deputado, mas também
serve para o Deputado Marcio Junqueira.
O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Em relação a nós a vigilância é maior.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Senhores, para que se
esclareça de uma vez por todas esse episódio, não há suporte regimental para
preferência, o que há é uma prática e uma tradição. Apenas isso. Como eram
apenas 2 ou 3 Parlamentares, por atenção e respeito ao Ministro da Justiça, nós,
então, flexibilizamos a prática e a tradição e permitimos a participação. E acho que,
se nos atermos ao tempo de cada um, todo mundo vai falar e vamos respeitar o
direito constitucional conquistado por nós no mandato parlamentar.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
42
Peço compreensão aos membros da nossa Comissão. Levarei em
consideração as ponderações do Deputado Leonardo Vilela, por quem tenho
profundo respeito, mas quero aqui encontrar um meio de convivência ampla e
democrática.
Vamos adiante.
Com a palavra o Deputado Dagoberto, que é membro titular desta Comissão.
O SR. DEPUTADO DAGOBERTO - Sr. Ministro, obrigado pelo
comparecimento.
Sr. Presidente, a minha pergunta já está praticamente contemplada. A minha
preocupação era com relação à autonomia dos Estados e o papel da Polícia
Federal. Estou dizendo isso, porque fui Secretário de Segurança Pública em meu
Estado. O Sr. Ministro praticamente já respondeu isso, até porque os próprios
Governadores é que têm que requisitar, quando sentirem impotência da sua Polícia
Civil e da sua Polícia Militar, daí, ajuda do seu Ministério. Mas V.Exa. deu essa
explicação, contemplando, assim, a minha pergunta.
Mas quero fazer uma ponderação. Estou vendo muita gente aqui. Pedimos,
às vezes, que os próprios Governadores tenham essa presença da Polícia Federal.
E aí quando a Polícia Federal vai, vimos aqui e ficamos discutindo quanto foi gasto
para isso. Quer dizer, nós temos que saber o que nós queremos. Como eu disse, fui
Secretário de Segurança e sei do custo para se deslocar uma tropa. Tem despesa
com locomoção, alimentação, estada... É muito caro mesmo, não tem como ficar
barato. Quem faz esse papel de criticar custos ou é a imprensa ou aqueles que não
querem o apoio do Ministério.
Acho isso um absurdo, e não tem como eu não fazer essa contestação,
porque até agora não estamos explicando a V.Exa. o que queremos.
É só isso, Sr. Ministro. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Dagoberto.
Com a palavra o Deputado Paulo Piau, Vice-Presidente desta Comissão.
O SR. DEPUTADO PAULO PIAU - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs.
Deputados, serei breve. A minha intervenção é mais a título de pergunta.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
43
Recentemente, tivemos a invasão das mulheres da Via Campesina aos
laboratórios da Monsanto e, segundo a empresa, houve um prejuízo da ordem de
200 milhões de reais.
Sou pesquisador e sabemos o quanto demora para começar um trabalho e,
evidentemente, lançar uma variedade no mercado. Ali, havia variedades de milho e,
portanto, esse prejuízo talvez não seja apenas um jogo de imprensa ou da empresa,
e seja um prejuízo real.
Esse caso envolve interesse nacional, porque são empresas multinacionais
que investem no Brasil. Isso é saudável, o chamado capital produtivo. V.Exa. deixou
transparecer em uma outra resposta que essa é uma questão do Estado.
Pergunto: não há um interesse maior do Ministério da Justiça no sentido de
coibir esse tipo de prática? Porque invasão, no meu entender, é crime,
principalmente em uma propriedade particular. Qual a interface que tem o Ministério
da Justiça, a Polícia Federal como investigativa para elucidar e coibir, não no sentido
de prevenir, é claro, mas de investigar? Nesse caso específico, as investigações
estão em curso?
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Paulo
Piau.
Com a palavra a Deputada Jusmari Oliveira.
A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Sr. Ministro Tarso Genro, primeiro, queremos dizer que sempre é uma honra receber
V.Exa. nesta Casa e nesta Comissão.
Quero parabenizar os requerentes desta audiência pública, porque os temas
aqui discutidos têm preocupado toda a sociedade brasileira. Na região que
represento não existe conflito dessa forma, mas a população também está
preocupada, porque da forma como as coisas estão acontecendo, são noticiadas na
imprensa, são enfrentadas e discutidas levam as pessoas a imaginarem que
amanhã sua região poderá viver a mesma situação.
Tudo o que eu queria ponderar, os Deputados que me antecederam já o
fizeram e acho que falar mais seria chover no molhado. Mas é interessante reforçar
a observação do Deputado Duarte Nogueira. Fiquei esperando por uma resposta,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
44
mas como muitos fazem perguntas V.Exa. responde resumidamente a todos, e eu
gostaria de apresentar uma questão, reforçando o que entendo ter sido a intenção
do Deputado Duarte Nogueira.
Não há possibilidade de o Governo, o seu Ministério e todos os demais —
aliás, nessas questões todos os Ministérios estão envolvidos, porque se há um
problema social, se há um problema territorial, se há um problema de
desenvolvimento econômico, se há um problema de meio ambiente, todos os
Ministérios estão envolvidos — desenvolverem uma ação preventiva, eficaz e
verdadeira? Porque o que estamos vivendo é administração de conflitos, e aí vem
todo esse sentimento que o Deputado requerente apresentou aqui, de que quando o
social chega, chega a ilegalidade. Não é isso. Entendemos que na administração de
conflito é difícil se perceber legalidade, até porque tudo acaba sendo ilegalidade.
Temos que tentar achar o melhor para que o pior não ocorra. Não se pode observar
todos os aspectos legais, apesar de V.Exa. mencionar demais a observação da
legalidade. O direito à propriedade e o direito à mobilização social são legais, sim,
mas quando não são respeitados e não há medida preventiva nem uma atuação do
Governo de forma a prever o conflito, acaba tudo, acaba o direito à propriedade,
porque há invasão de propriedade e acaba o direito à mobilização, porque o dono da
propriedade tem que intervir na mobilização, sob pena de perder a sua propriedade.
É ao que temos assistido. Então, respeitando essa legalidade e respeitando esse
direito, aos quais todos somos favoráveis, não há como neste Governo — se é que
já não há — constituir-se um comitê, um conselho, um fórum com representatividade
de todos, dos maiores, médios e pequenos proprietários, dos sem-propriedades, que
também são prioritários nessa questão — quero ressaltar isso —, para que se faça
um zoneamento, um censo, se é que o Governo não tem, de todas as localidades
em que pode haver conflito? Onde temos quilombolas? Na minha região temos
quilombolas. Onde temos índios? Para prever cada reserva indígena, cada direito de
quilombola e o que isso pode afetar. Então, chama-se aqueles que possivelmente
podem ser afetados e se coíbe a situação de conflito, que considero temerária e que
preocupa toda a sociedade.
Então, reforçando a ponderação do Deputado Duarte Nogueira, estas são as
observações que queria fazer.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
45
Agradeço, de antemão, a sua resposta.
É necessário, sim, que o Governo enfrente isso de forma real, mas muito
verdadeira. Não se pode, quando o sem-terra vir procurar o Governo, dar uma
solução e dizer que está a seu favor. E, depois, quando o proprietário da terra vir,
dizer que também está do seu lado; que também está do seu lado; que também
estou do seu lado. Tem de colocar os 2 à mesa e saber quem vai perder, por que
perder, os 2 perderem e se chegar a uma conclusão final, evitando-se essa situação
horrível que nós vivemos hoje, principalmente para nós, Deputados, que temos de
ser o elo entre o lá e o cá.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputada
Jusmari Oliveira.
Vamos ouvir o Deputado Eduardo Valverde. E aí concluímos esse bloco.
O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - Sr. Presidente, caro Ministro
Tarso Genro, nobres pares, eu sou Relator do PL nº 1.610, que trata da
regulamentação do § 5º do art. 231 da Constituição Federal, que trata de mineração
em terra indígena. E, na qualidade de Relator, junto com os demais membros da
Comissão, estivemos visitando alguns países que têm mineração em área indígena.
Fomos visitar a Austrália, que tem um processo de colonização muito similar ao do
Brasil. Em 1990, a Suprema Corte australiana declarou território indígena quase a
metade do território australiano. Isso, obviamente, naquele momento foi um choque,
mas depois a sociedade foi pactuando. E nessa área, que é contínua, tem cidades,
mineração, ferrovias, hidrovias, estradas, nem por isso causou um fracionamento da
sociedade australiana. Muito pelo contrário, a população não-indígena teve que
compreender esse contexto, passou a criar mecanismos de compreensão e de
aceitação de um fato, que nem foi uma lei, mas uma decisão da Suprema Corte
australiana em função do direito tradicional, direito consuetudinário. Isso nos serve
de importante lição.
A intolerância tem causado esse fracionamento da nossa sociedade. Não
estamos tendo competência e capacidade de compreender que o Brasil é um país
que foi colonizado. Num certo momento da nossa história chegaram os europeus,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
46
ocuparam esse território, só que já existia gente aqui vivendo, com todo o direito
inerente à democracia moderna.
O Estado australiano compreendeu isso, tanto que as empresas de
mineração passam a orientar os seus trabalhadores dizendo: “Respeitem a pedra
que está naquela localização. Lá tem espírito, segundo entendimento indígena.
Desviem rodovias para não passar em território indígena. Pactuem com as
populações indígenas”. Diálogos que resultam em ações de apoio às iniciativas
dessa população. Dois terços da economia australiana é pautada no minério, que
está hoje, quase na sua totalidade, em território indígena.
Isso é uma importante lição para nós de que é possível, dentro de um diálogo,
diante das diferenças etnicoculturais, podermos compreender. Da forma como
estamos tratando essa questão, não há compreensão. Só estamos nutrindo a
intolerância e a separação. Só que no meio desse contexto existe a Constituição
Federal, que obriga o Estado brasileiro a garantir a esses povos o uso, o costume e
as tradições. Queiram ou não, temos de aceitar esse fato. Eu acho que o diálogo
nesse momento é muito mais producente do que a disputa estéril.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Eduardo Valverde.
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Pois não, Deputado Adão
Pretto.
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Tendo em vista que já estamos
passando do meio-dia, e o Ministro tem compromisso às 12h30min; considerando
que está prestes a começar a Ordem do Dia no Plenário e os Deputados estão
falando e saindo, eu sugiro a V.Exa. e ao Ministro que todos os Deputados falem e
depois o Ministro encerra num apanhado geral.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Se todos concordarem,
não há objeção alguma.
Há concordância de todos? (Pausa.)
Então, o Deputado Luiz Carlos Setim tem a palavra.
O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS SETIM - Sr. Ministro, é uma satisfação
tê-lo hoje em nossa Comissão. Eu acredito, Deputado Eduardo Valverde, que
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
47
V.Exa. assistiu ao meu pronunciamento ontem no Grande Expediente, quando eu
falava sobre o que é o Brasil. O Brasil é uma mistura do branco, do índio e do negro.
O branco, que veio como colonizador; o negro, que veio, a princípio, apenas como
mão-de-obra, trouxe sua cultura, sua tradição e sua grande contribuição; e o índio,
que estava aqui no Brasil e nos hospedou a todos que somos de origem européia.
Hoje, nós somos um Brasil que é formado por brancos, índios e negros.
Eu fiquei muito feliz ao ouvir o senhor falar do diálogo, dessa possibilidade de
entendimento, não só quando se refere à Polícia Federal, à segurança pública, à
segurança nacional. Eu acho que se trata de bom senso, porque o direito de
propriedade, tão defendido aqui por muitos, é do índio, do negro e do branco. Então,
no caso de demarcações, de instalações, de decretos legislativos, como vemos hoje,
tem de haver os laudos, tem de haver essa profundidade, mas com mais critério.
V.Exa. mesmo diz que está, numa sindicância, observando se isso é verdade,
se isso é fato, se isso é direito, ou se ele tem a sua razão de ser. Mas o problema é
esse conflito e essa falta de segurança que hoje as pessoas, com propriedade ou
sem propriedade, estão sentindo.
Mesmo as terras adquiridas de boa-fé, hoje, a legislação não ampara. Então,
quando se faz um decreto legislativo para essas reservas, para essas fixações, será
que não é imprudente se fixar onde há realmente os títulos de boa-fé, mesmo que a
legislação assim não admita?
V.Exa. foi muito feliz quando disse que está sendo adotado critério de que as
terras não serão tomadas, não serão demarcadas se lá estiverem pessoas, seja no
caso de grande propriedade, seja no de agricultura familiar, produzindo. São
também colonizadores, como os negros. Deve haver o respeito. É isso que esta
Casa debate e espera do Governo Federal, do Ministério e de V.Exa. Aqui V.Exa.
demonstrou grande capacidade de diálogo, bom senso e aquilo que é o melhor para
o povo brasileiro, pois, afinal, nós somos uma grande mistura de brancos, de índios
e de negros.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Setim.
Concedo a palavra ao Deputado Celso Maldaner.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
48
O SR. DEPUTADO CELSO MALDANER - Sr. Ministro, primeiro, uma palavra
de gratidão, de agradecimento pela sua sensibilidade ao entender a situação dos
agricultores familiares que estão cumprindo sua função social.
Num primeiro momento, em 19 de abril do ano passado, o senhor assustou
todos os catarinenses. Hoje, pela sua fala, fiquei muito tranqüilo. A agricultura
familiar encontra-se em Santa Catarina há 100 anos. Os agricultores adquiriram
suas terras e estão cumprindo função social. Então, fico muito sensibilizado.
Agradeço a V.Exa. as colocações que fez hoje aqui.
Sr. Ministro, nós, na nossa região, inclusive, estamos discutindo a questão de
faixa de fronteira. Há proposta de que seja diminuída para 50 quilômetros. Nós até
entendemos que nem deveria haver mais faixa de fronteira lá, porque temos, no
caso do MERCOSUL, uma integração perfeita, intercâmbio cultural, esportivo com a
Argentina. Não haveria essa necessidade. E o Exército está na nossa região, no
extremo oeste de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Por que não o colocar na
Amazônia? Faço uma sugestão: todo o Exército que está lá poderia ser deslocado
para cuidar da nossa Amazônia, atendendo essa preocupação que existe
relativamente àquela região.
Sr. Ministro, não sei se passa por suas mãos também essa matéria que
aprovamos aqui, a que estabelece que bebida alcoólica nas BRs, no meio rural, não
pode, e no perímetro urbano pode. Também fica essa preocupação nossa.
Por último, gostaria de saber se o Governo de Rondônia solicitou oficialmente
ajuda na questão da Liga dos Camponeses Pobres.
Era só isso.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Muito obrigado, Deputado
Celso Maldaner.
Antes de passar a palavra ao próximo Deputado, gostaria de pedir novamente
silêncio, para que o Parlamentar tenha liberdade no uso da palavra.
Concedo a palavra ao Deputado Adão Pretto, por 2 minutos.
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, prezados colegas,
sobre o tema que é debatido nesta Comissão hoje, a respeito dos índios, eu já vi,
por exemplo, Deputado dizer aqui que temos de entregar o Brasil para os índios
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
49
porque todo o Brasil era deles. E era mesmo. Agora, vejam, só esses pedacinhos de
terra que hoje os índios ocupam ocasionam conflito. Falam muito também em
respeitar a propriedade, dizem que estão invadindo propriedade. Mas como é que se
atrevem a invadir propriedade dos índios?
Em Roraima há aquela área indígena que está gerando conflito em âmbito
internacional. Eu já falei nesta Comissão, eu participei da CPI da Terra, numa
audiência que tivemos em Curitiba, no Paraná, e um cidadão confessou que é
proprietário de 6 milhões de hectares de terra no Pará. Eu nunca vi Deputado aqui
achar que isso é exagero. Agora, os coitados dos índios que têm um pedacinho de
terra têm de dividi-lo.
A questão dos quilombolas. Nós aqui, quase a maioria, somos descendentes
de europeus. Meus avós vieram da Itália, por exemplo. Vieram em busca de
melhores dias. Mas os negros não vieram em busca de melhores dias, vieram
presos nos porões de navios. Então, nós temos de dar um tratamento diferenciado
para os negros, bem como para os índios.
Sr. Presidente, também foi falado muito aqui sobre a questão dos conflitos,
dos movimentos, movimentos que não têm identidade. Será que foi por falta de
identidade que, na semana passada, no Rio Grande do Sul, 17 pessoas foram para
o hospital e 12 foram presas porque estavam mobilizando-se para fazer uma
caminhada rumo ao Palácio Piratini, em vista do conflito em que se encontra a
Governadora com o Vice-Governador e do que está vindo à tona em relação a tudo
o que já foi denunciado?
Sr. Presidente, ontem, por exemplo, os agricultores sem terra estavam num
acampamento, numa terra arrendada — isso já fazia 3 anos —, sob frio de zero
grau. Foram despejados de madrugada, e à noite ainda permaneciam no local. Não
havia local, área para levar os agricultores. Está em jornais de hoje que vão ser
feitos mais 3 despejos no Rio Grande do Sul em acampamentos próximos de
grandes fazendas. É por falta de identidade que isso acontece?
Para finalizar, Sr. Presidente, digo que também se acusam muito os
movimentos de fazer protestos e bloquear estradas. Eu pergunto: e o caso dos
ruralistas, que bloquearam estradas? Só no Paraná, houve um dia em que 60
rodovias estavam bloqueadas. Mas isso era uma questão de cidadania... Agora,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
50
quando são os movimentos da Via Campesina, daí é baderna. Quiseram entrar de
trator no Congresso Nacional, estragaram toda a grama da Esplanada com trator,
que patinavam na grama molhada. Isso é cidadania, não é baderna...
Sr. Presidente, faço uma pergunta para o Ministro: Sr. Ministro, V.Exa. está
sabendo que estão organizando milícias armadas para combater os agricultores sem
terra?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado.
Concedo a palavra ao Deputado Anselmo de Jesus.
O SR. DEPUTADO ANSELMO DE JESUS - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sras.
e Srs. Deputados, primeiramente quero parabenizá-lo, Ministro, e dizer que havia
requerimentos nesta Casa para convocá-lo, e nós do Núcleo Agrário e mais parte da
base aliada, até por conhecermos o grande Ministro que é V.Exa., convencemos a
direção da Mesa e também esta Casa de que V.Exa. não precisava ser convocado,
bastava convidá-lo. Assumimos essa responsabilidade, e V.Exa. veio aqui e nos
honrou. Como V.Exa. é um grande Ministro, não é preciso convocá-lo, basta
convidá-lo. Então, queremos parabenizá-lo por isso.
Ressalto que a precisão do resumo feito por V.Exa. transmite a realidade de
cada ponto que está hoje em discussão. E quero dizer que é lá do meu Estado
também, com relação à Liga Camponesa.
Poderiam ser considerados outros pontos, mas o tempo é muito curto. A
questão da Raposa Serra do Sol o Supremo vai julgar, e tenho certeza de que ele
vai cumprir a lei. Todos estão aqui falando em direito de propriedade. O direito que
eu quero para a minha propriedade também quero para a terra dos índios, para a
dos quilombolas. Existe lei hoje que trata dessa questão.
Com relação a Rondônia, V.Exa. disse muito claramente que hoje não tem
nada lá que um bom secretário de segurança pública e meia dúzia de policiais
militares não possam resolver. Tanto é assim que eu fui até lá com o meu motorista,
fiz 5 reuniões lá dentro e pude ver que há um bando de picaretas. Muitas vezes eles
são chamados de madeireiros, mas não podemos misturar os empresários de
madeireira com os picaretas, que usam pessoas para invadir áreas de planos de
manejo, reservas e explorar madeira. Ainda há aqueles que falam da Liga, mas não
falam desses picaretas.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
51
A Operação Arco de Fogo fechou várias madeireiras, e muitas pessoas desse
tipo estão por trás disso. Disseram que havia ligação com a Colômbia, com as
FARC, mas lá não existe nada disso.
Agora, Ministro, com o “know-how” político de V.Exa. no Governo Lula, espero
que possa ajudar a nossa bancada de Rondônia. Esse foi um dos grandes temas
por nós discutido, entre os 11 assuntos a respeito do desenvolvimento do Estado de
Rondônia. Inclusive, fui o coordenador relativo ao assunto regularização fundiária.
Há emenda parlamentar da bancada de Rondônia relacionada, por intermédio
do Superintende do INCRA, a 19 glebas do projeto de regularização fundiária. É
fundamental a liberação dessa emenda da bancada de Rondônia para que
possamos, de fato, regularizar aquelas terras, principalmente naquela região, a fim
de acabarmos com o conflito ali existente entre os sem-terra e os grandes
latifundiários.
Por isso, precisamos da força do Ministério de V.Exa. para resolver realmente
esse problema.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Com a palavra o Deputado
Valdir Colatto.
O SR. DEPUTADO WALDIR NEVES - Sr. Presidente, creio que sou eu agora
a falar. Eu acho que está havendo algum engano.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Segundo a lista, agora é a
vez do Deputado Valdir Colatto; depois é a sua. Está tudo direito.
O SR. DEPUTADO WALDIR NEVES - Mas não está assim na relação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. é o 19º, Deputado,
o 18º é o Deputado Valdir Colatto.
O SR. DEPUTADO WALDIR NEVES - Então a sua lista está errada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Não. A lista que tenho é a
mesma.
Mas, tudo bem, o Deputado Valdir Colatto gentilmente cede a sua vez a
V.Exa.
O SR. DEPUTADO WALDIR NEVES - Obrigado. Eu tenho outro
compromisso e estou ansioso há horas, principalmente numa audiência concorrida
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
52
como esta, em que notamos a presença maciça de Parlamentares. Aliás, gostaria
que essa presença fosse verificada sempre, o que considero fundamental.
Sr. Ministro, serei bastante objetivo. Primeiro, agradeço a V.Exa. por ter vindo
mais uma vez a esta Comissão, bem como ao Sr. Presidente e aos requerentes
desta audiência pública.
Todos aqui, tenho certeza, temos consciência da dívida social que o País tem
para com os indígenas e os quilombolas. Isso é indiscutível. Quanto a isso, não
tenho a menor dúvida. No entanto, o que aqui se discute — o Ministro estava aqui
em outra ocasião e concordou inclusive — é a forma de fazer a desapropriação, a
expropriação e a forma de concessão daquelas áreas. Há pouco V.Exa. disse que
isso já está estabelecido na Constituição, mas é uma norma aberta. E estamos
tentando fazer a regulamentação por lei, uma vez que hoje isso é feito por meio de
medidas administrativas.
Sabemos que a FUNAI, que está ultrapassada e obsoleta, gasta dois terços
do seu orçamento com atividade-meio e um terço com atividade-fim e, em muitos
casos, estimula conflitos para justificar a existência dos burocratas que lá estão. A
meu ver, essa FUNAI deveria ser fechada.
Ministro, V.Exa. esteve aqui recentemente e admitiu que o procedimento está
equivocado, no caso, por exemplo, dessa última portaria, que foi feita de forma
unilateral, apenas com um laudo do antropólogo da FUNAI, sem respeitar o devido
processo legal, a ampla defesa, conforme determina o art. 5º da Constituição.
No meu Estado foi publicada uma portaria, e foram vendidos 36 mil hectares
de terra. Pessoas os compraram de terceiros, à luz do dia, com amparo na
Constituição de 1891, que estabelecia critérios para ocupação das terras devolutas
do País.
Pergunto a V.Exa., concretamente, sem tergiversar: o que o Ministério, o que
V.Exa., com o poder que tem, com o conhecimento que tem, com a formação que
tem, está fazendo para mudar essa forma de relacionamento, que está virando um
barril de pólvora neste País, descobrindo-se um santo para cobrir outro? O que está
sendo feito para mudar essa realidade?
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
53
O senhor, em reunião anterior nesta Comissão, disse que a forma de
desapropriação é incorreta, assim como a forma de indenização, porque não cobre
os valores das áreas desapropriadas.
Então, queria que V.Exa., objetivamente, relatasse o que, de maneira
concreta, está sendo feito para mudar essa realidade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Waldir Neves.
Com a palavra o Deputado Valdir Colatto.
O SR. DEPUTADO VALDIR COLATTO - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs.
Deputados, primeiro, quero pedir escusas, pois estávamos — eu e o Deputado
Zonta, que é o nosso Presidente da Frente — em uma reunião na EMBRAPA, para a
criação da Câmara Setorial da Silvicultura, e, portanto, não pudemos estar aqui no
início desta reunião.
Quero cumprimentar o Ministro Tarso Genro, homem de grande sabedoria
jurídica, a quem respeitamos.
Sr. Ministro, farei 2 perguntas, de forma bem clara. Ouvi muitos
esclarecimentos e tomei conhecimento de muitas posições de V.Exa., mas gostaria
de ouvir, especificamente, qual é a interpretação que o Ministro dá ao art. 231 da
Constituição, que determina sejam reconhecidas como terras indígenas aquelas
ocupadas tradicionalmente pelos índios — a Constituição de 1988 determinou isso.
O art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição
Federal diz que caberá ao Estado localizar, demarcar e titular as terras ocupadas
pelos descendentes de quilombos.
Gostaria de saber qual é a interpretação do Ministro sobre essas 2 questões,
já que, antropologicamente, há mudança nesses conceitos, pois buscam um
conceito chamado de difuso — e o agrônomo tem dificuldade nisso.
Ministro, gostaria que revelasse a interpretação de V.Exa., para que o Brasil
saiba de sua opinião quanto a essas 2 questões.
Precisamos definir isso. Torço para que o Supremo estabeleça alguns marcos
regulatórios para essas 2 questões.
Há conflitos iminentes, alguns já estão ocorrendo nessas 2 áreas, de
quilombos, de indígenas, e o Brasil tem que fazer uma coisa, o Congresso Nacional
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
54
tem que definir isso. Se a lei ainda não está clara, Ministro, ajude-nos a resolver
isso, porque o conflito entre irmãos brasileiros não pode continuar.
Ministro, graças a Deus, o senhor está entendendo. Com certeza, esse é o
ponto. Esse é o ponto que precisamos resolver para não termos outros conflitos, a
exemplo do que ocorre em Raposa Serra do Sol, em algumas áreas em Santa
Catarina e em outras.
Outra questão. Solicito a V.Exa. que estenda essas investigações sobre as
ONGs, a que V.Exa. se referiu, para o Brasil inteiro. Há muitas ONGs boas, mas
outras não são, a exemplo das ONGs de antropólogos que induzem Ministros e
autoridades a erros, por laudos errados, que não são verdadeiros.
Temos que olhar isso de perto. Sabemos disso. Conheço antropólogos que
dizem que é uma barbaridade o que estão fazendo neste País, criando situações,
induzindo autoridades superiores a erro, criando despesas para o Estado e
sujeitando os agentes públicos à Lei de Responsabilidade Fiscal.
Espero que o Ministro, quando deixar o cargo, não seja processado por esse
ou aquele ato, por ter sido induzido ao erro.
Quero dizer que as pequenas terras, os pedacinhos de terra reclamados
pelos índios no Brasil hoje são 117 milhões de hectares. Essa área, Ministro, é para
450 mil indígenas. Os coitadinhos são os maiores latifundiários do Brasil. Eles têm
12% do território brasileiro e querem chegar a 20%...
E os quilombolas querem 25 milhões de hectares. Estes também não são tão
coitadinhos assim, pois reclamam área equivalente a 3 Estados de Santa Catarina.
Portanto, temos que tratar com seriedade dessa questão.
Por fim, Sr. Ministro, gostaria de saber se V.Exa. tem conhecimento, pois
V.Exa. baixou uma portaria criando a área indígena Morro dos Cavalos, na BR-101,
no trecho Palhoça—Osório, de que há uma...
(O Presidente faz soar a campainha.)
Sr. Presidente, gostaria que o Deputado Adão, que não é quilombola, mas é
Pretto, pudesse nos dar licença para falar...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - O nome Pretto é de
origem italiana.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
55
O SR. DEPUTADO VALDIR COLATTO - Mas acho que, por dentro, ele é
quilombola.
Então, Sr. Presidente, gostaria de saber se o Ministro da Justiça tem
conhecimento do Acórdão nº 533, de 2005, do Tribunal de Contas, proferido nos
autos do Processo nº 003582, de 2005, sobre a questão da modificação do traçado
da estrada que passa pela área Morro dos Cavalos, criando 2 túneis na BR-101,
obra que vai custar 50 milhões de reais a mais, em razão dessa tal terra indígena
recentemente criada, que não existia. E trata-se de índios guaranis nômades. Há
outros 8 ou 10 casos semelhantes na BR-101. Os índios estão requerendo a
titularidade dessas áreas. Quero saber se o Ministro tem conhecimento desse
processo. E um trecho da BR não pôde ser licitado, pois o aumento dos custos é
absurdo: 50 milhões para construir túneis e desviar a estrada dessa dita terra
indígena.
Como V.Exa., Ministro, recentemente baixou portaria nesse sentido, eu
gostaria que, de público, revisasse isso, porque o laudo antropológico é mentiroso. É
um laudo mentiroso! Deve ser responsabilizada a pessoa que lavrou esse laudo
sobre a área. Não é possível que o Brasil arque com esse prejuízo.
O senhor foi enganado, com certeza. Afirmo aqui, publicamente, que o senhor
foi enganado. Mande verificar, olhe bem isso, mande fazer um laudo técnico, porque
há um erro muito grande nessa área. Conheço o assunto há muitos anos. Não há
terra indígena naquele local. Aliás, criaram a área dentro de um parque ecológico
estadual, o da Serra do Tabuleiro — o Deputado Zonta e o Deputado Celso sabem.
Devemos respeitar, realmente, o direito. Por favor, Sr. Ministro, o direito dos
indígenas e dos quilombolas nós reconhecemos, mas devemos reconhecer também
o direito dos proprietários e dos agricultores, que muitas vezes são expulsos pela
Polícia Federal. Eles nada fizeram, não cometeram crime algum, estão lá de boa-fé,
são proprietários que estão produzindo, plantando, mas são expulsos, de repente
são tratados como bandidos sem saber o porquê. Tudo isso ocorre porque foi criada
uma área indígena. Isso está acontecendo em Santa Catarina e no Brasil, Ministro.
Por favor, sei que o senhor é uma pessoa de bem, que pode buscar o
entendimento dentro da melhor interpretação da legislação. O que é ou não terra
indígena? Ninguém mais sabe, a esta altura do campeonato, o que é quilombo ou
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
56
quilombola. Temos a obrigação de resolver essa questão. Faço um apelo ao Ministro
para que nos ajude nessa tese.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Valdir
Colatto.
Concedo a palavra ao Deputado Homero Pereira.
O SR. DEPUTADO HOMERO PEREIRA - Sr. Ministro, quero fazer 2
abordagens rápidas, sendo a primeira sobre a questão da faixa de fronteira.
Quero saber se o Ministério está pensando em algo para tentarmos pacificar
essa questão da faixa de fronteira. Existem inúmeras iniciativas nesta Casa, no
Senado, uma delas, inclusive, do Senador Sérgio Zambiasi. Há PECs tramitando
aqui. Mas existe alguma iniciativa da parte do Governo para tentarmos pacificar a
questão? Assim pergunto porque a insegurança jurídica sobre a faixa de fronteira é
enorme. São 150 quilômetros, 100 quilômetros, 50 quilômetros? Qual é a posição do
Ministério neste momento sobre a faixa de fronteira? Seria importante a gente ter
esse indicador do Ministério da Justiça.
A segunda questão refere-se à demarcação das áreas indígenas. Existe um
projeto de minha autoria tramitando nesta Casa que chama para o Congresso
Nacional a responsabilidade de participar, em um debate livre e democrático, da
ampliação e criação de reservas indígenas, uma vez que, no modelo atual, o rito
previsto tem trazido muitos conflitos.
Eu sou do Estado de Mato Grosso. Nós temos o caso da BR-158, que já
existe há muitos anos, e precisa ser pavimentada. A obra está prevista no PAC.
Ocorre que, muito depois da existência dessa BR, foi criada uma reserva indígena,
com a desapropriação de uma fazenda, e agora vamos ter que desviar a estrada,
uma BR já existente. O fato é que a reserva indígena foi criada a posteriori. Repito:
não se trata de nova estrada nova, apenas de pavimentação da estrada já existente,
mas vamos ter que desviar a estrada, em razão desse problema.
Há outros exemplos. Na região da fronteira do Brasil com a Bolívia, estamos
criando uma etnia que não existe no Brasil, a dos chamados chiquitanos. As
pessoas envolvidas na questão já fizeram declarações de que não querem ser
reconhecidos como índios. Mas, em razão de um laudo antropológico etc., a FUNAI
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
57
insiste em denominá-los índios. Mas eles próprios manifestam-se: “Não somos
índios”.
Veja bem, Ministro, eles mesmos já manifestaram que não querem ser índios,
pois vieram da Bolívia, por conta da divisão do Brasil com aquele país etc. Enfim,
eles não querem ser índios, mas a FUNAI insiste em que eles têm de ser índios.
Então, em meio a todo esse conflito, estamos tentando ali com a Bolívia e
outros. Eles não querem ser índios, mas a FUNAI insiste em que eles sejam índios.
Então, conhecido todo o conflito, e aproveitando esse ambiente democrático,
com a realização de audiências públicas, até para mudar o rito do atual modelo de
criação e ampliação de reservas indígenas, queria saber sua opinião e a do
Ministério a respeito deste assunto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado pela
contribuição, Deputado Homero Pereira.
Tem a palavra o ilustre Deputado Marcos Montes, sempre Presidente desta
Comissão.
O SR. DEPUTADO MARCOS MONTES - Muito obrigado, Sr. Presidente.
Meus cumprimentos, Sr. Ministro.
Primeiramente, quero contestar o Deputado Anselmo em relação à
convocação ou convite do Ministro. Não foi um grupo de Parlamentares que resolveu
convidá-lo. Fomos todos nós que chegamos ao entendimento de o ideal seria o
convite e não a convocação.
Digo isto, Sr. Ministro, porque V.Exa., ano passado, quando eu presidia esta
Comissão, esteve aqui conosco, na condição de convidado, e uma das graves
reivindicações naquela oportunidade foi prontamente atendida por V.Exa., relativa à
situação de Redenção, no Pará. A firme atuação da Polícia Federal evitou
problemas muito mais graves que poderiam ocorrer naquele local. Lembro que foi
uma solicitação desta Comissão, solicitação que enfaticamente renovamos a V.Exa.
Minha intenção não era contestar, neste meu primeiro mandato parlamentar, mas
algumas coisas, se não me assustam, me surpreendem. Quando aqui os Deputados
Leonardo Vilela, Marcio Junqueira e José Genoino — aliás, é a primeira vez que
vejo S.Exa. aqui —, ao se referirem a algumas situações, disseram que sempre
acompanham os Ministros nas Comissões, eu me assustei, porque um homem do
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
58
gabarito de V.Exa. não necessita de toda essa proteção parlamentar, digamos
assim, para dialogar de maneira aberta. Estranhei muito, não conhecia essa
metodologia, essa blindagem na Casa, ainda mais reconhecendo a competência de
V.Exa., Sr. Ministro. Pessoalmente, eu o admiro muito. Comentei inclusive com sua
assessoria que naquela época, quando eu presidia esta Comissão, V.Exa., ao vir
aqui, prestou um grande serviço.
Ouvi, certa ocasião, um relato do Deputado Valdir Colatto sobre a questão
indígena em Santa Catarina, onde comprovadamente uma antropóloga do Rio de
Janeiro emitiu um parecer sem conhecer a situação in loco, ou seja, sem saber o
que acontecia naquele Estado.
Refiro-me a isto, Sr. Ministro, porque o mundo inteiro volta seus olhos para o
Brasil. Nosso País é realmente o celeiro do mundo. O mundo inteiro vai depender, e
rapidamente, da produção de alimentos do Brasil.
Então, tudo o que foi solicitado a V.Exa. pelo Deputado Homero Pereira e
tantos outros — com muito respeito, pode ter certeza, desde o ano passado e na
atual Presidência do Deputado Onyx Lorenzoni, a quem cumprimento pela condução
harmônica dos trabalhos — tem a ver com algumas preocupações manifestadas
aqui. Foi lida aqui a Constituição. Ora, todos nós conhecemos a Constituição, e
qualquer brasileiro sabe do respeito que devemos ter com a população indígena,
com a população quilombola. Portanto, acho que todos nós temos de ser
respeitados sobre os nossos conhecimentos da Constituição. Se somos
Parlamentares, no mínimo, devemos conhecer a nossa Constituição.
O Deputado Waldir Neves fez referência a uma questão e eu vou repetir.
Estamos chegando a um ponto em que não cabe mais aos Estados, Sr. Ministro,
essa cobertura em termos de segurança que as várias regiões desses respectivos
Estados precisam. Eles já não dão conta mais, ou não querem mesmo, como disse
V.Exa., por ser de Direita ou de Esquerda, o que para mim não importa. Sou de um
partido de oposição ao Governo, mas eu respeito muito o Governo. Então, o que nós
precisamos, Ministro, é de uma estratégia governamental — e o Ministério de V.Exa.
é capacitado para isso — que dê tranqüilidade a todos. É isto que a população, o
produtor rural, pequenos, médios, e grandes, precisam. E eu sempre defendi o
produtor rural — o Presidente Onyx sabe disso. O Presidente Lula lançou no ano
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
59
passado — espero que não cometa mais esse erro — os planos de agricultura
familiar e o de agricultura empresarial. Isto não existe. Agricultura é uma coisa só, é
só um movimento, é só um agronegócio, que é a grande esperança deste País de
crescer.
Por fim, aproveitando a presença de Parlamentares que não fazem parte
desta Casa, mas sempre bem-vindos, e da população em geral, quero sugerir a
V.Exa. que se adote a segurança de uma estratégia nacional a fim de evitar que
esses movimentos não cheguem a beirar a desordem social, o que para nós é muito
ruim não só internamente como também pela nossa respeitabilidade.
Então, Sr. Ministro, meus agradecimentos pela presença. Reitero aqui meu
respeito a V.Exa., desde a sua vinda, ano passado, a esta Comissão, pela ação
imediata tomada por V.Exa. Espero que essa estratégia continue a postos do
Ministério para dar tranqüilidade a todos nós.
Obrigado, Sr. Presidente, pela paciência.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Marcos Montes.
Com a palavra o penúltimo inscrito, Deputado Paulo Teixeira e, em seguida, o
Deputado Zonta.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, Deputado Onyx
Lorenzoni, venho a esta Comissão por 2 motivos. Primeiro, para reiterar meu pedido
a V.Exa. de colocar em votação na próxima reunião o projeto de retaliação cruzada.
Hoje, um artigo de jornal mostra que o setor algodoeiro nacional quer a votação
desse projeto. Os Deputados Marcos Montes, Anselmo, Beto Faro, Adão Pretto e
outros vêm pedindo isso. Eu também gostaria de reforçar esse pedido, porque é o
interesse nacional que está em jogo com a votação desse projeto. Parece-me que
esse projeto é consensual na Comissão e de grande repercussão nacional. O jornal
Folha de S.Paulo também publica um artigo a respeito.
Peço então a V.Exa. que o paute.
Segundo, quero homenagear o Ministro Tarso Genro. Vem S.Exa. fazendo
um trabalho muito importante e corajoso frente ao Ministério da Justiça. Não é um
Ministro do papel, mas das ações.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
60
Quero dizer aqui, na Comissão de Agricultura, que defendemos um projeto de
País, um País que cresce hoje a 5%, um País que se desenvolve e à medida que
cresce distribui renda e se moderniza, mas que, por outro lado, ainda tem muitos
desafios.
O agronegócio e a agricultura brasileira vão bem, e a agricultura familiar
também. Hoje, as commodities fazem sucesso na economia, com os preços do
arroz, do feijão, da soja, da carne.
Então, creio que teremos condição de elaborar um projeto de País onde
caibam todos: o agricultor, que tem uma empresa, como também o pequeno
agricultor e o sem-terra. Nele tem que caber o índio, o habitante originário deste
País, mas que sofre muito, como podemos verificar ali no Mato Grosso com as
populações indígenas. Raposa Serra do Sol, a meu ver, é um processo de Estado
que perpassou 3 Presidentes da República — Fernando Collor, Fernando Henrique
e Lula.
Então, há que se consolidar essa visão do Estado brasileiro. O mesmo se dá
com as terras remanescentes de quilombos. Está posto na nossa Constituição.
Sr. Presidente, esse tema é muito importante para a sociedade brasileira. Nós
não podemos achar que um tipo de segmento da economia possa se dar em
detrimento da manutenção da floresta, que diz respeito às futuras gerações, à
biotecnologia, à exploração científica e à solução de muitos problemas brasileiros, e,
tampouco, em detrimento dos índios e das terras quilombolas.
Daí que a nossa visão de Nação, Sr. Ministro, é muito coincidente com a de
V.Exa. Aliás, aprendemos muito com seus artigos, palestras e pronunciamentos. Por
isso aqui estamos para homenageá-lo. Concordamos com a sua visão de País.
Muito obrigado, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Quero esclarecer toda
Comissão que reconhecemos a relevância do projeto relatado por V.Exa., Deputado
Paulo Teixeira.
Ele foi pautado pela primeira vez na sessão de 28 de maio. Voltou à pauta em
4 e 11 de junho. Qual o problema então? Aspectos regimentais: ou requerimentos
extrapauta, ou discussão de projeto. Ele está na pauta e faremos esforço para votá-
lo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
61
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - É esse o esforço que quero pedir a
todos, para que o coloquemos como o primeiro item da pauta.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Está garantido, desde o
primeiro pedido.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Concedo a palavra ao
Deputado Zonta, último inscrito.
O SR. DEPUTADO ZONTA - Sr. Presidente, Deputado Onyx Lorenzoni, Sr.
Vice-Presidente, Deputado Luiz Carlos Setim, Sr. Ministro Tarso Genro, colegas
Parlamentares, imprensa, representantes de entidades, primeiramente, incumbe-me
a missão de mais uma vez agradecer ao Ministro Tarso Genro pela presença nesta
Comissão. Até o final do mandato esperamos entregar a V.Exa. um diploma de
participante ativo dos trabalhos desta Comissão. Seja bem-vindo. V.Exa. atende
prontamente aos convites da Comissão para tratar de assuntos relevantes.
Gostaria de repetir uma indagação — e já foi dito aqui pelos colegas Valdir
Colatto e Celso Maldaner — feita ao Sr. Ministro na última vez em que S.Exa. esteve
aqui. Trata-se da anulação do acordo do Ministério da Justiça com a Associação
Brasileira de Antropologia em função da emissão de laudos antropológicos feitos no
Rio de Janeiro — e já foi citado o exemplo de Santa Catarina — sem conhecimento
do local. Isso demonstra a inidoneidade de determinados membros desta
Associação. Quero saber se foi revista essa situação, se foi investigada ou não,
porque isso prospera na decretação de áreas. Como bem disse o Deputado Valdir
Colatto, pensamos que está tudo correto mas, na realidade, alguns membros estão
abusando desse direito.
De outro lado, cito aqui a preocupação já exposta também pelo Deputado
Colatto sobre a decretação da Portaria Declaratória da área do Morro dos Cavalos,
que é um absurdo. As famílias foram colocadas lá temporariamente, pois milhões de
brasileiros cruzam aquela rodovia. Agora, o Governo Federal vê-se na contingência
de fazer investimento dispendioso para atender 14 famílias nômades, que daqui a
pouco não estarão mais lá. Esse absurdo tem que ser corrigido.
Além do mais, o Sr. Ministro sabe que temos em Santa Catarina algumas
áreas em demarcação sub judice. E como ele mesmo afirma, sempre vão respeitar a
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
62
decisão judicial. Esta é a posição que gostaríamos de ouvir mais uma vez de V.Exa.
Também queremos ouvi-lo sobre a questão do oeste e sobre o caso de José
Boiteux, onde 521 famílias de pequenos agricultores estariam sendo pressionadas a
saírem para ampliação de uma reserva indígena.
Mesmo que a matéria esteja sub judice, que possa ser respeitado esse
momento e os pequenos agricultores tenham direito a defesa.
Era esta a intervenção.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado
Zonta.
Passo a palavra ao Ministro Tarso Genro, para sua manifestação final.
O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Sr. Presidente, terei de ser bastante
sintético e, desde já, comprometo-me com os Srs. Deputados que eventualmente
não receberem as respostas pontuais a informá-los em meu gabinete. Inclusive o
Alberto estará à disposição para recolher os questionamentos apresentados e,
assim, continuarmos o diálogo, que já é permanente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Mandarei cópia das notas
taquigráficas com os questionamentos dos Srs. Parlamentares, e a Assessoria
Parlamentar cuidará de informar aquilo que não foi respondido pontualmente.
O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Responderemos por telefone ou
pessoalmente.
Quero dizer também que, no momento em que for necessária minha presença
aqui, estarei à disposição. E muito me orgulharia receber o título de integrante
honorário desta Comissão, porque aqui se sintetiza uma série de questões nacionais
importantes. E essas questões nacionais importantes, se não todas, pelo menos a
maioria, só poderão ser resolvidas por meio de um diálogo prudente, sério,
respeitoso que nos coloque como verdadeiros mandatários da função pública que
exercemos.
Portanto, sempre que necessário, podem contar com a minha presença nesta
Comissão.
Vou, taquigraficamente, colocar algumas questões importantes, para
avançarmos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
63
Foram apresentadas várias perguntas.
Por exemplo: como o Ministério da Justiça pode ajudar para dar força ao
poder de polícia preventivo dos Estados no que se refere às questões de segurança
pública que, na minha opinião, envolvem questões relacionadas com ocupação de
propriedade, pressão dos movimentos sociais, pressão de grupos empresariais que,
eventualmente, ocupam determinados espaços da União?
Temos 2 possibilidade e ambas estão em andamento. Primeiro, estamos
montando nos principais Estados os Gabinetes Integrados de Segurança Pública.
Neles, se o Governador quiser, estarão presentes autoridades da União. Não
apenas 1 representante do Ministério da Justiça, nesse Programa Nacional de
Segurança Pública e Cidadania, mas também 1 integrante da Polícia Federal,
orientado pelo superintendente local, e, quando necessário, 1 integrante da Polícia
Rodoviária Federal. Ali poderá influir, sim, um conjunto de colaborações de natureza
preventiva: cada um, dentro das suas funções, cumprindo as suas funções de
maneira adequada, sem extravasar a questão federativa, e colocando-se à
disposição para o cumprimento da lei.
Agora, a aceitação do Gabinete Integrado não pode ser forçada pela União, é
de responsabilidade do Governo Estadual.
Outra questão extremamente importante: o Ministério da Justiça está
estruturando novo sistema brasileiro de informação, integrando os sistemas de
informações locais, com a Agência Brasileira de Inteligência, a Polícia Federal e as
inteligências estaduais. Para que isso? Para desenvolver ações preventivas e
permitir que as autoridades cumpram as suas funções de maneira adequada sem
precipitação, sem preconceito, e — seja que movimento social ou empresarial for,
inclusive através das informações — e tomem as medidas necessárias para que o
movimento seja atendido naquilo que é uma demanda efetivamente justa,
transformando o eventual potencial conflito social numa solução por intermédio de
políticas públicas locais e acordadas com os Governos Estaduais.
Repito: o Governo Estadual tem que querer essa solução. Nós estamos
tomando todas as providências para que isso seja possível.
Para que os senhores tenham idéia do desenvolvimento desse novo sistema
integrado, um policial, com um laptop e um celular, no momento em que identificar
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
64
uma pessoa que, por exemplo, está sendo revistada numa barreira ou acusada de
um delito, pode acessar esse sistema de inteligência e saber daquela pessoa todos
os dados que não estão cobertos por sigilo legal: quem é, de onde veio, se o carro é
dela ou não, qual o seu emprego, se responde ou não a processo judicial e se tem
mandado de captura. Isso vai trazer uma capacidade operativa preventiva
extraordinária para as polícias locais, o que nos colocará num patamar de primeiro
mundo. É óbvio que aqueles dados cobertos pelo sigilo legal não estarão disponíveis
nesse sistema.
Então, é possível, sim, trabalhar nessa direção.
Os custos da operação estão aumentando em função do tempo de
permanência. Nós temos a obrigação de ficar lá, por determinação do Supremo
Tribunal Federal. Tudo o que queremos, Ministério da Justiça, Polícia Federal e
Força Nacional, é que esse conflito se resolva rápido. E ele está judicializado.
Quando um conflito está judicializado, como as demarcações em Santa Catarina,
temos que aguardar a decisão da Justiça para tomar as providências. Temos de
respeitar a decisão judicial, seja do nosso gosto ou não.
Eu já mencionei ao Deputado Márcio que nós, Governo e Parlamentares do
Estado em que está contido o conflito da área indígena Raposa Serra do Sol, temos
uma responsabilidade muito grande: seja qual for a decisão do Poder Judiciário,
temos que cumpri-la, de maneira harmoniosa e mediada, para que a violência que lá
ocorre termine e para que a polícia não seja obrigada a usar do monopólio da força,
de que ela dispõe por delegação constitucional, para cumprir a decisão, seja contra
quem for. Então, a partir do momento em que essa decisão for tomada, nós temos a
obrigação de trabalhar nessa direção, e eu me comprometo a fazê-lo.
Evidentemente, o poder do Supremo para ditar a interpretação da norma em
última instância é elemento caracterizador do Estado de Direito, e nenhum de nós
pode prenunciar o cumprimento dessa norma, sejam empresários, sejam
agricultores familiares, sem-terra, advogados, porque isso é da essência do Estado
de Direito, e nem todas as decisões têm um grau de universalidade tão grande que
satisfaça a todos.
Em relação à Monsanto, mencionada pelo Deputado Paulo, esse é um caso
típico. Existem enfoques diferentes a respeito da Monsanto e de outras empresas
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
65
dessa natureza. Eu não vou me manifestar aqui sobre o mérito dessa questão, não
só porque ele é de alta complexidade, como também porque essa não é uma
demanda à qual eu deva responder como Ministro da Justiça. O que eu quero dizer
é que esse sistema integrado de informação e os Gabinetes Integrados de
Segurança Pública poderão oferecer dados.
Então, as mulheres que foram até a Monsanto, segundo a visão que elas
manifestaram no momento, para impedir uma experiência científica que estava
sendo realizada ilegalmente e, segundo a visão da Monsanto e de outras
representações, uma legítima pesquisa científica que estava sendo feita em
benefício da empresa e do País, elas poderiam ter sido buscadas anteriormente à
realização desse ato para um diálogo entre elas, a autoridade pública sanitária
vinculada à área e a própria empresa, a fim de solucionar a questão sem aquele
grau de combatividade que levou à radicalização, que não é boa para ninguém.
O Deputado Adão Pretto sabe perfeitamente que, independentemente do
mérito, a forma como essas ações são noticiadas e a forma como são apanhadas
pela sociedade prejudicam aqueles que realizaram o movimento,
independentemente do mérito.
Então, essa é uma questão política que podemos resolver com diálogos
preventivos originários dessa estrutura de integração de informações que nós temos
de fazer.
Eu gostaria que o trabalho de inteligência da Polícia Federal fosse
reconhecido por V.Exas. como um trabalho brilhante. A Polícia Federal tem,
provavelmente, 90% do seu efetivo combatendo contrabando, crime organizado,
tráfico de drogas, corrupção no Estado brasileiro, inclusive de processos originários
da Controladoria-Geral da União — a maioria deles —, onde são flagradas diversas
ilegalidades, às vezes cometidas de má-fé, às vezes de boa-fé, que são
transformadas em inquéritos. É feito todo um trabalho preliminar de inteligência e
depois é que se desencadeiam as operações. Isso em defesa da sanidade do
Estado brasileiro. Eu sei que aqui ela é festejada por todos nós. Isso é
extremamente importante, porque é educativo também no tocante às questões
fundamentais que atravessam o Estado de Direito brasileiro.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
66
As questões conflitivas que temos no Estado não são somente as
relacionadas à propriedade da terra, à natureza da ocupação territorial. São também
as relacionadas à sanidade do Estado: a luta contra a corrupção, o tráfico de drogas,
o crime organizado, aos quais a Polícia Federal tem feito um combate exemplar.
Eu diria, Sr. Presidente, se me permite, que o que estamos fazendo aqui no
Brasil, com a colaboração de autoridades de todos os partidos políticos, de todas as
visões ideológicas, é muito semelhante ao que ocorreu na Itália na chamada
Operação Mãos Limpas, claro que com a especificidade brasileira. E o Estado
brasileiro ainda não formou gerentes de alta qualidade. Às vezes pode-se evitar
erros, mas não se evita por desconhecimento.
É claro que há muita mistura e muito equívoco, mas o combate à corrupção
que estamos fazendo hoje no Estado, no País é exemplar. Isso é salutar para a
democracia, é salutar para este Congresso, que vota leis, é salutar para os partidos
políticos. Esse trabalho a Polícia Federal vem realizando muitas vezes com a
colaboração das autoridades estaduais e com a participação da PRF.
Eu acho que nós temos que festejar. Essa é uma grande questão que
interessa a toda a sociedade brasileira e a todo cidadão responsável, como são
todos aqui nesta sala.
Dessa forma, acho que respondo às questões mais gerais que me foram
apresentadas.
Finalmente, no que se refere à Operação Arco de Fogo, que está sendo
realizada, pode ter ocorrido algum tipo de movimento equivocado das autoridades
federais. Eu não parto do princípio de que a polícia sempre tem razão. Não me
outorguem essa visão. A Polícia Federal conta com profissionais corretos, treinados.
Mas ali, como em todas as instituições do Estado — Poder Judiciário, Poder
Legislativo, Poder Executivo —, há pessoas que cometem erros.
Essa Operação Arco de Fogo foi exemplar. Para que V.Exas. tenham uma
idéia, foram apreendidos mais de 20 mil metros cúbicos de madeira e 719 mil metros
cúbicos de carvão vegetal, oriundos da exploração da nossa floresta. Foram
destruídos 1.045 fornos ilegais para produção de carvão de madeira extraída
ilegalmente e foram feitas poucas prisões: apenas 32 prisões de pessoas que ou
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
67
estavam com porte ilegal de arma ou cometeram determinada ilegalidade.
Queremos receber informação do que estiver equivocado e vamos corrigir.
Nós estamos num momento extremamente importante para a sociedade
brasileira, momento em que algumas questões têm enorme universalidade, e uma
delas diz respeito à faixa de fronteira. Temos que discutir, sim, mais do que a
questão da faixa de fronteira, a possibilidade de termos, na fronteira, diferentemente
em cada região do País, um regime de ocupação daquelas terras que saiba
combinar a grande propriedade capitalista que faz a exploração do agronegócio e a
ocupação nas terras indígenas que forem demarcadas, mas uma ocupação tranqüila
dos indígenas, que são cidadãos brasileiros.
Não é verdadeira a afirmação de que as terras indígenas ameaçam a
soberania. Pode ser que as terras indígenas sejam ocupadas de maneira ilegal não
pelos indígenas, mas por determinados tipos de organizações que vão lá para
piratear a nossa biodiversidade.
Então, essa pluralidade da sociedade brasileira tem que estar representada
na ocupação territorial. É isso que efetivamente constitui a materialidade do território
e o controle da soberania.
Disse, e repito, ainda que sob o risco de ser mal interpretado: o fato de se
julgar a Raposa Serra do Sol como área contínua ou descontínua não afeta a
soberania nacional, porque ela é parte do território nacional. A Polícia Federal, as
Forças Armadas e a Força Nacional entram lá quando for necessário. Terra
indígena, além de ser território nacional, é propriedade da União. Portanto,
descontinuidade não tem nada a ver. A descontinuidade tem que ser discutida a
partir dos laudos antropológicos, estejam eles corretos ou não, afirmando se aquele
território é efetivamente necessário — e aqui respondo a outra pergunta — para que
as comunidades reproduzam a sua cultura, o seu direito à existência determinado
pela Constituição.
Eu estou defendendo a continuidade daquela demarcação e vou cumpri-la, se
ela não for assim resolvida. Agora, a continuidade ou descontinuidade não ameaça a
soberania. Nós temos plena soberania sobre os territórios indígenas. Aliás, os
territórios indígenas têm uma dupla possibilidade de intervenção, porque, além de
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008
68
serem territórios nacionais, são propriedade da União Federal em usufruto dos
indígenas.
Eram esses os esclarecimentos que queria fazer.
Se alguma questão pontual deixou de ser respondida, eu me prontifico a
responder.
(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Essa questão está em discussão no
próprio Governo.
No que se refere à questão quilombola, está sendo proferido, neste momento
— não sei se já foi publicado —, um parecer normativo da Procuradoria-Geral da
União que repõe essa questão de forma adequada, na minha opinião, e que
considera território quilombola aquele território efetivamente ocupado. É essa a
orientação que a CGU está dando.
Quanto aos indígenas, essa é uma questão de natureza constitucional. Eu
prefiro não abrir a discussão neste momento, até porque há uma discussão a
respeito das portarias, que estão judicializadas. Prefiro declarar minha opinião sobre
isso no momento oportuno. Mas permaneço à disposição, Deputado Colatto, para
conversar pessoalmente com V.Exa. sobre essa questão, que não é fácil de
resolver.
Muito obrigado.
Tenham-me como membro honorário desta Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Agradecemos ao Sr.
Ministro a presença.
Nada mais havendo a tratar, vou encerrar os trabalhos, antes convocando as
Sras. Deputadas e os Srs. Deputados para a reunião deliberativa que se realizará no
próximo dia 25, às 10h, no Plenário 6 do Anexo II da Câmara dos Deputados.
Está encerrada a presente reunião.