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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURAL EVENTO: Audiência Pública N°: 0937/08 DATA: 18/06/200 8 INÍCIO: 09h52min TÉRMINO: 13h04min DURAÇÃO: 03h12min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h12min PÁGINAS: 68 QUARTOS: 39 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO TARSO GENRO – Ministro de Estado da Justiça. SUMÁRIO: Demarcação das terras indígenas; Reconhecimento de domínio das áreas ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombos; Demarcação, em terra contínua, da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima; Ação da Liga dos Camponeses Pobres em Rondônia; e Invasões de terras e de empresas públicas e privadas. OBSERVAÇÕES Houve intervenção fora do microfone. Inaudível.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … fileCOMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURAL ... Reconhecimento de domínio das áreas ocupadas

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURALEVENTO: Audiência Pública N°: 0937/08 DATA: 18/06/200 8INÍCIO: 09h52min TÉRMINO: 13h04min DURAÇÃO: 03h12minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h12min PÁGINAS: 68 QUARTOS: 39

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

TARSO GENRO – Ministro de Estado da Justiça.

SUMÁRIO: Demarcação das terras indígenas; Reconhecimento de domínio das áreasocupadas por remanescentes das comunidades de quilo mbos; Demarcação, em terracontínua, da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraim a; Ação da Liga dos CamponesesPobres em Rondônia; e Invasões de terras e de empre sas públicas e privadas.

OBSERVAÇÕES

Houve intervenção fora do microfone. Inaudível.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abast. e D esenvolvimento RuralNúmero: 0937/08 Data: 18/06/2008

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Havendo número legal,

declaro aberta esta reunião de audiência pública da Comissão de Agricultura,

pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados,

convocada para discutir os seguintes temas: Demarcação das terras indígenas;

Reconhecimento de domínio das áreas ocupadas por remanescentes das

comunidades de quilombos; Demarcação, em terra contínua, da Reserva Raposa

Serra do Sol, em Roraima; Ação da Liga dos Camponeses Pobres em Rondônia; e

Invasões de terras e de empresas públicas e privadas.

Foi convidado para participar desta audiência o Ministro de Estado da Justiça,

Dr. Tarso Genro, que já se encontra à Mesa.

Informo aos Parlamentares que o Ministro fará uma exposição inicial, durante

a qual, não poderá haver apartes.

Determino à Secretaria da Comissão que faça circular a folha de inscrição de

Parlamentares. Os membros desta Comissão, titulares e suplentes, inscritos têm

prioridade, mas qualquer Parlamentar que aqui comparecer poderá interpelar o Sr.

Ministro por 3 minutos, tendo S.Exa. igual tempo para responder, facultadas a

réplica e a tréplica também pelo mesmo prazo.

São autores dos requerimentos que deram origem a esta audiência pública os

Deputados Abelardo Lupion, Moreira Mendes e Onyx Lorenzoni. Então, logo após a

manifestação do Sr. Ministro, esses Parlamentares usarão da palavra. Em seguida,

passaremos ao debate.

Queremos agradecer ao Deputado Beto Faro e ao Partido dos Trabalhadores

a intermediação e a presteza no agendamento da vinda do Sr. Ministro Tarso Genro

à Comissão. É importante reconhecer neste momento a boa convivência

democrática, Sr. Ministro, que nós temos aqui nesta Comissão.

Portanto, tem a palavra o Ministro Tarso Genro pelo prazo de até 30 minutos,

prorrogáveis se necessário, para sua exposição inicial. Depois, passaremos ao

debate que pretendemos se estenda no máximo até as 12h30min, em virtude de

outros compromissos assumidos pelo Ministro, a quem mais uma vez agradecemos

a presença.

O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Presidente Onyx Lorenzoni, Sras. e Srs.

Deputados, estou aqui à disposição dos senhores, acompanhado do Coronel

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Ferreira, Comandante da Força Nacional; do Sr. Alberto Kopttike, Assessor

Parlamentar do Ministério; do Sr. Pedro Abramovay, Secretário de Assuntos

Legislativos; do Dr. Rafael Favetti, Consultor Jurídico, e também de representante

da Polícia Federal.

De certa forma, esta nossa reunião é a continuidade de um debate anterior.

Enfim, coloca-se em pauta uma série de questões controversas, democraticamente

controversas no Estado de Direito brasileiro e que cabem ao Ministério da Justiça

processar por intermédio de suas instâncias administrativas relacionadas com a

FUNAI — portarias declaratórias e procedimentos técnicos em relação às terras

indígenas — e com a Polícia Judiciária da União, por meio da Polícia Federal.

A Força Nacional, como sabem os senhores, é uma força federada que existe

a partir de contato estruturado com os Governos Estaduais e que participa de

operações de segurança pública, dando respaldo às forças policiais militares e à

Polícia Civil nos Estados, quando solicitado pelos Governadores.

A Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal têm as suas funções

determinadas por lei e agem mediante o impulso dos seus Superintendentes locais

na persecução criminal, quando recebem uma notitia criminis, realizam

investigações de inteligência ou agem mediante determinação do Ministro da

Justiça, que também tem a capacidade de oferecer, como qualquer cidadão, notitia

criminis, para que se averigúe determinado fato.

Quanto ao mais, a Polícia Federal e a Rodoviária Federal cumprem

determinações do Poder Judiciário e têm feito isso de maneira rigorosa e dentro da

lei e da Constituição.

Vou, em relação aos temas desta audiência, dizer 2 ou 3 palavras, porque, na

verdade, não quero ser repetitivo em relação às discussões que já tivemos. E, a

partir daí, estarei à total disposição dos Srs. e das Sras. Parlamentares para

travarmos um diálogo, a fim de aprimorar o trabalho que vem sendo realizado no

Ministério e levar em consideração democraticamente as opiniões dos

Parlamentares, seja qual for o seu partido, seja qual for a sua ideologia, sejam quais

forem as suas responsabilidades regionais, a sua representação.

Tenho procurado trabalhar no Ministério da Justiça de forma totalmente alheia

às disputas político-partidárias regionais. E a neutralidade do Estado é comprovada

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não somente pelas ações desenvolvidas pela Polícia Federal e pela Força Nacional,

como também pelo respeito integral às normas constitucionais e aos direitos

humanos. E essa preocupação está retratada, inclusive, numa proposta aprovada

por esta Câmara Federal e pelo Senado Federal por unanimidade: o Programa

Nacional de Segurança Pública com Cidadania, que, aliás, teve grande contribuição

da Presidência que está aqui ao meu lado, aperfeiçoando aquela proposta,

arredondando-a do ponto de vista legal e tornando-a cada vez mais republicana e

apta para mudar o paradigma da segurança pública no País.

O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, como os

senhores sabem, começou com 11 Estados e já está com 15, e é conveniado com

Governadores e Prefeitos, hoje, em torno de 100 Prefeitos e 15 Governadores de

todos os partidos políticos, de todas as origens ideológicas e políticas. Essa é uma

conquista republicana extraordinária, porque valoriza o trabalho do Ministério da

Justiça e dos Governos Estaduais e ajuda a iniciar uma mudança no paradigma da

segurança pública no País. Esse projeto será sancionado pelo Presidente da

República, se não me equivoco, amanhã.

Não quero deixar aqui de fazer um agradecimento a esta Casa, que criou uma

tensão política extraordinária em torno desse projeto. Discutiu, debateu, criticou e,

ao fim e ao cabo, foi produzido um novo projeto em conjunto, que, como disse, foi

aprovado por unanimidade na Câmara Federal e no Senado Federal. É um orgulho

para mim, na condição de Ministro da Justiça, compartilhar dessa responsabilidade

com os senhores. E levo isso para a minha vida pública como uma conquista

extraordinária, porque um projeto desse tipo, se tiver a potência política que esta

Casa e o Senado lhe emprestaram, só pode dar certo.

Vou reportar-me, portanto, aos pontos pautados para este debate. E o farei

rapidamente, como já disse, porque, na verdade, este é uma continuidade de outros

debates que já travamos.

Demarcação de terras indígenas.

Há controvérsias hoje na sociedade brasileira, no Parlamento e nas forças

políticas a respeito da questão da demarcação. Primeiro, a questão da qualidade

dos laudos que podem ser impugnados. Essa impugnação é discutida pelas

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instâncias administrativas ordinárias, inclusive com a chancela do próprio Ministro da

Justiça.

Segundo tema relacionado com as demarcações: os efeitos da declaração

depois do decreto presidencial determinam a indenização daquelas pessoas que

ocuparam de boa-fé a terra agora declarada indígena, e o valor corresponde à parte

agregada como valor, as benfeitorias. A terra, como valor originário, não é

indenizada pela União. Isso é o que determina a lei. As benfeitorias feitas, portanto,

são objeto de indenização; enquanto a terra, não. O uso da terra não é objeto de

indenização. Essa é uma questão legal que a Casa tem de discutir. Evidentemente,

há diferenças regionais importantes, porque é muito diferente se desocupar uma

terra indígena sob a ocupação de grileiros e desocupar uma terra indígena

centenariamente ocupada por agricultura familiar. Na minha opinião, essa diferença

existe, mas ela não está contemplada na lei.

A terceira questão é relativa à continuidade e descontinuidade de áreas

demarcadas. Em torno desse tema existe uma série de argumentos, desde aquele

que se reporta à questão da soberania nacional até os que reputam que a

propriedade imemorial originária dos indígenas, em razão dos conflitos entre etnias

ocupantes da região, comprovaria que a continuidade não existia originariamente e,

portanto, a demarcação em ilhas seria razoável.

O caso mais emblemático dessa questão está retratado nessa disputa que

será decidida pelo Supremo Tribunal Federal: Raposa Serra do Sol.

Particularmente em relação aos quilombos, o segundo ponto pautado para

esta reunião, o Ministério da Justiça tem competência apenas residual, ou seja, uma

competência pequena em relação a isso. Ao Ministério da Justiça, a título de

supervisão, compete o encaminhamento à FUNAI do processo administrativo de

identificação e delimitação das terras ocupadas pelos remanescentes de

comunidades quilombolas, para que, nos termos do art. 8º do Decreto nº 4.887, a

FUNAI opine sobre a matéria de sua competência. Portanto, não é o Ministério da

Justiça nem a FUNAI que fazem essa demarcação.

Raposa Serra do Sol.

É um conflito emblemático — e deixo claro que não estou falando aqui

daqueles que cometem atos ilegais de resistência ao Estado brasileiro. Reconheço

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que lá existem duas legitimidades em conflito. Uma legitimidade que está

relacionada com os ocupantes de boa-fé, independentemente do título originário

dessa ocupação, e a norma constitucional que outorga à União o direito de delimitar

as terras indígenas. Quero excepcionar dessa ocupação de boa-fé aqueles que

causam danos ambientais e resistem a determinações administrativas legais e

legítimas da União ou judiciais para manter sua ocupação ilegal.

Em territórios dessa natureza, sempre há duas legitimidades em conflito. No

caso concreto de Raposa Serra do Sol, o Supremo Tribunal Federal determinará

qual a legitimidade mais adequada ao sistema jurídico e constitucional brasileiro.

Entendo que o correto lá é a delimitação da terra de maneira contínua. A

demarcação em ilhas naquela região em particular, em vez de resolver o conflito, os

aprofundará, dada a natureza da região, dada a especificidade das etnias que estão

lá e, inclusive, a demografia da região.

Com a Capital retirada do mapa da região em disputa, verifica-se que

demograficamente os indígenas que lá estão têm per capita uma porção de terra

menor do que a dos arrozeiros ali instalados. Mas essa questão, repito, será

decidida pelo Supremo, de acordo com a nossa tradição constitucional. Competirá

ao Ministério da Justiça — e espero que também aos agentes políticos locais —

cumprir a decisão do Supremo, com as mediações necessárias para que não ocorra

qualquer tipo de conflito. Essa é a visão que temos sobre Raposa Serra do Sol.

Estamos aguardando a decisão.

A Polícia Federal e a Força Nacional se mantêm ali inclusive em razão do

voto proferido pelo Ministro Ayres Britto, que suspendeu a desintrusão, dizendo que

as forças de segurança têm de permanecer na região para manter a paz social e a

tranqüilidade e mediar os conflitos existentes de parte a parte entre determinados

fazendeiros e também em algumas comunidades indígenas mais exaltadas.

Em relação à Liga dos Camponeses Pobres, outro item da agenda, as

informações de que disponho são de que essa liga tem várias dimensões que se

sobrepõem de maneira a causar uma impressão, a criar um conflito artificial, como

se houvesse um conflito de terras. Segundo a Inteligência da Polícia Federal e da

Força Nacional, na verdade, o que há são ocupações ilegais para extração ilegal de

madeira e o uso de determinados jargões políticos para tentar acobertar a atividade.

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Recebemos denúncias de que haveria operações guerrilheiras em alguns

lugares. A Polícia Federal realizou importante trabalho de inteligência no Pará, fez

prisões, reprimiu ações. Sempre que chamada a tratar dessa questão, ela responde

de acordo com sua competência. Mas a nossa avaliação é a de que a Liga de

Camponeses Pobres não constitui organização política. Assim, não a consideramos

questão de segurança nacional. Do contrário, o seu modo de operar teria de ser

discutido não só no Ministério da Justiça, mas no Governo.

Especialmente no Norte do País, a ação dessa liga está incrustada na disputa

de propriedade e relacionada inclusive com a ação de contrabando, de extração

ilegal de madeiras. A questão da Liga dos Camponeses Pobres é, portanto, de

segurança pública local e deve ser respondida pelos Estados. Quando o Estado não

tiver competência e declarar a sua inaptidão para controlar a situação, tem de

comunicar isso à União, que tomará as providências necessárias para o

acompanhamento. São questões relacionadas com a segurança pública local.

No que diz respeito a danos ambientais, contrabando e extração de madeira,

a Polícia Federal, quando chamada, quando suscitada pelas autoridades, faz as

operações necessárias.

Finalmente, passo ao último tema: Invasões de terras e de empresas públicas

e privadas. Em relação a invasão de terras e de propriedades da União, sempre que

somos suscitados a operar, operamos. Agora, a Polícia Federal e o Ministério da

Justiça não podem intervir nas questões de segurança pública estadual sem a

solicitação do Governador. Sempre que suscitada, trabalhará. Mas a Polícia Federal

trabalha com critérios legais e republicanos, não é uma força repressiva,

subordinada à autoridade local, que, às vezes, pensa que pode chamar a Polícia

Federal para bater em sem-terra ou em fazendeiros que estão interrompendo uma

estrada. A Polícia Federal tem técnica, tem cautelas legais a proceder, homens

treinados e, sobretudo, irrepreensível conduta técnica e institucional. Quando é

necessário desencadear uma ofensiva de força, ela o faz de maneira articulada com

a Força Nacional e na proporção do revide que eventualmente recebe dessas

pessoas ou desses grupos que estão interrompendo a livre circulação das pessoas

ou causando danos à propriedade privada.

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A Polícia Federal não deixou de cumprir nenhum mandato judicial até agora,

assim como não deixou de cumprir nenhuma solicitação administrativa dentro da sua

competência, seja contra quem for, para tratar dessas questões. Agora, não

podemos confundir aquelas questões típicas de segurança pública local, de proteção

à propriedade legal das pessoas e das empresas, destinadas pela lei para a

autoridade estadual, substituindo-a pela Polícia Federal ou pela Força Nacional.

Seria violar a Constituição e jogar inclusive com a possibilidade de gerar graves

conflitos de natureza federativa. Até agora, porém, nenhum Governador, de qualquer

partido político, de qualquer região, deixou de receber o apoio da Força Nacional

e/ou da Polícia Federal quando chamadas a cumprir suas funções dentro da lei.

Recentemente, inclusive, acolhemos pedido desta Casa. O Deputado Adão

Pretto estava acompanhando uma operação realizada legalmente pela Brigada

Militar do Rio Grande do Sul por determinação da Governadora, e não pôde entrar

na área. Em determinado momento, S.Exa. se viu cercado por fazendeiros locais

que ameaçaram inclusive sua vida. Eu disse ao Deputado Adão Pretto que a Polícia

Federal iria protegê-lo, mas iria para retirá-lo do local e não para prestar serviço para

a Brigada Militar ou para a força policial local, não para promover um aguçamento do

conflito. E assim foi feito, dentro da lei, respeitada a Brigada Militar, cumprindo

solicitação da Presidência desta Casa. E assim será com qualquer Parlamentar de

qualquer partido, de qualquer região do País.

São as informações preliminares que dou. Repito o que disse para os

Deputados e Senadores que me deram a honra de sua visita, em relação a

demarcações conflitivas que estão sendo iniciadas: depois dos laudos

antropológicos, estão sendo feitos levantamentos. Nas regiões em que há ocupação

legítima de agricultores familiares, de empresários agrícolas que estão trabalhando,

alguns até há um século ou mais, pequenas agriculturas, empresários rurais que

estão instalados de boa-fé, da parte do Ministério da Justiça, não haverá nenhuma

violência para retirá-los do local sem que se dê uma alternativa que seja aceita por

eles. Não haverá. Não temos dúvida de que, em determinados casos, existem

direitos inclusive equivalentes e que o Estado tem de tratá-los de maneira adequada.

Seria irônico o Ministério da Justiça ou sua força policial pegar uma família de

agricultores e jogá-la na estrada. Seria uma irresponsabilidade pública.

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Agora, é necessário também que esta Casa legisle sobre a matéria. E uma

forma de legislar é conceder o direito à indenização devida para ocupantes

seculares de boa-fé que estão lá produzindo e sobrevivendo com a sua família. Esse

é um elemento vital no que diz respeito a questões que provavelmente

enfrentaremos em determinadas regiões mais conflituosas, particularmente naquelas

em que há pequenos e médios proprietários rurais de boa-fé há muito tempo.

Saibam que, de parte do Ministério da Justiça, estaremos sempre prontos ao

diálogo, à persuasão, à conversa, inclusive com o Poder Judiciário e o Ministério

Público, até porque a maioria das ações que realizamos são duramente fiscalizadas

e determinadas pelo Ministério Público, que inclusive nos ameaça, dentro da sua

competência, de que, se não tomarmos determinadas atitudes, poderemos ser

processados por prevaricação.

É necessária uma relação triangular entre esta Casa, o Ministério da Justiça e

o Ministério Público, ou a autoridade judicial, em determinados casos.

Se prosseguirmos nesse roteiro de diálogo, de confiança recíproca, de

respeito republicano com que temos trabalhado, avançaremos positivamente nessas

questões difíceis de um país que ainda está constituindo seu território. A constituição

do território não é só uma determinação legal, é também uma forma de ocupação, é,

sobretudo, uma cultura que se instala no território a partir desse diálogo e dessa

orientação determinada pela Constituição.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Agradeço ao Ministro a

manifestação.

Passo a palavra aos autores dos requerimentos, começando pelo Deputado

Moreira Mendes, que dispõe de até 5 minutos para sua manifestação inicial.

O SR. DEPUTADO MOREIRA MENDES - Sr. Ministro Tarso Genro,

Presidente Onyx Lorenzoni, demais integrantes da Mesa, Sras. e Srs. Deputados,

ouvi com muita atenção o relato do Ministro.

Do ponto de vista institucional, em tudo aquilo que o Ministério vem fazendo,

há previsão legal. Ninguém discute isso. O Ministério cumpre com o seu dever.

Um ponto me preocupa, e este foi o objeto enfocado no requerimento que

apresentei. Estive pessoalmente com o Ministro tratando da questão da Liga dos

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Camponeses Pobres. Não tenho ainda uma convicção formada, mas estou mais

para o caminho que V.Exa. relatou do que para aquele de que a liga constitui uma

guerrilha. A minha preocupação é com o enfoque que o Governo, nas suas políticas,

sobretudo com relação à Amazônia, vem dando a essas questões.

Sou um amazônida de coração, represento o Estado de Rondônia, que foi

colonizado a chamado do Governo Federal. As pessoas foram chamadas a ocupar

aquele Estado, a derrubar e a produzir. E hoje nos sentimos enganados. Estou

fazendo esse preâmbulo porque quero chegar a uma conclusão. Por que nos

sentimos enganados? Porque fomos chamados a ir a Rondônia para diminuir a

pressão existente no Sul do País. Naquela época, falava-se em bóia-fria, não era

sem-terra. E brasileiros de todos os Estados foram para Rondônia, derrubaram

árvores, porque assim o INCRA exigia, plantaram, produziram, constituíram família.

Estamos agora na terceira geração. Posso dizê-lo porque estou lá há 36 anos, tenho

filhos e netos nascidos lá. Sou testemunha viva de tudo o que aconteceu.

Agora — e começo a entrar exatamente no tema da reunião —, parece que

todas as ações do Governo são no sentido de sufocar o desenvolvimento da região.

E quando falo do meu Estado, refiro-me a grande parte da Amazônia. Aí, começa o

primeiro erro crasso do Governo: a chamada Amazônia Legal, que define toda uma

região que não pode ser considerada uma coisa única, porque é absolutamente

diversa. Rondônia é diferente de Roraima, que, por sua vez, é diferente do sul do

Pará e do Mato Grosso. O Governo, porém, trata a região como se fosse uma única

floresta intocada em que ninguém pode mexer.

Está lá a Operação Arco de Fogo massacrando o povo do meu Estado, e não

é diferente em Rondônia. Massacrando porque prende, fecha serraria, gera

desemprego, cria caos social, mas não diz — e está certo do ponto de vista do meio

ambiente, vamos admitir — qual a solução para milhares de desempregados e

famílias deixados à própria sorte, ficando todo problema social para o Estado

resolver. Esse é um aspecto.

Segundo aspecto: a questão indígena. Alguma coisa precisa ser mudada

nisso aí. Vem, às vezes, um antropólogo sem nenhum conhecimento da realidade

do Estado, planta um índio em determinada região, e, no dia seguinte, está criada

uma reserva indígena, sem preocupação com as pessoas que lá vivem, com

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aqueles que estão lá há centenas de anos, como bem reconheceu V.Exa. quando se

referiu à Raposa Serra do Sol. Ou seja, mais uma reserva criada.

Trago aqui o exemplo de Rondônia, único Estado com zoneamento

sócio-ecológico-econômico. Lá há várias reservas e áreas de preservação

permanente entre florestas estaduais, parques estaduais, parques extrativistas. E

em um dos parques extrativistas que mais funcionam no Estado já apareceu

antropólogo dizendo que é preciso acabar com o parque e transformá-lo em mais

uma reserva indígena. Assim, extrativistas terão de sair dali, porque senão acabarão

sendo expulsos da região.

Recentemente, por meio do Ministério do Meio Ambiente, o Governo criou

mais 3 ou 4 reservas na região, pegando também parte do meu Estado e do

Amazonas, uma área em que havia fazendas e produção de soja, uma atitude

desmedida e sem critério científico.

Então, essa discussão sobre reserva indígena — parece-me — está mais

para suprir essa ânsia de preservar o meio ambiente do que propriamente de

proteger as comunidades indígenas, as quais respeito e que merecem ter seu

espaço.

Quanto aos quilombolas, nunca se ouviu falar de quilombola em Rondônia.

Mas só para V.Exa. entender o que realmente ocorre, quero falar aqui de um artigo

fantástico do jornalista Marcos Sá Correia, do jornal O Estado de S.Paulo, se não

me engano, tratando exatamente de um quilombo no Estado de Rondônia.

Dezessete famílias ocupam uma área de aproximadamente 200 hectares na

Reserva Biológica do Guaporé, às margens do rio do mesmo nome, um lugar lindo,

maravilhoso. Vamos admitir que elas sejam realmente quilombolas. Aquelas 17

famílias ocupam 200 hectares. Vem o INCRA e, nessa ânsia, diz que 200 hectares é

pouco. Propõe, então, 86 mil hectares. Vejam só: como se não bastasse, ainda vem

o IBAMA e diz: “Não, nem 200 hectares, nem 86 mil; o ideal para eles são cerca de

3.500 hectares”. Aí vem uma ONG, patrocinada por um Vereador de 3 mandatos na

cidade de Costa Marques, onde está o quilombo, e diz: “Não, nem os 200, nem os

86 mil, nem os 3.500. Tem de ser 44 mil hectares”.

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Onde quero chegar com esse raciocínio? É que a falha está exatamente no

fato de serem pessoas despreparadas para o assunto, tanto na proposta de criação

de reserva indígena quanto na criação de quilombos, e gera-se esse tipo de conflito.

Esses assuntos deveriam ser trazidos para cá. Nós é que somos os

representantes do povo; nós é que deveríamos aprovar a criação de reservas

indígenas, fosse ela qual fosse, deveria passar pelo crivo do Congresso Nacional.

Finalmente, Sr. Ministro, quero separar muito bem o papel do Ministério,

reconhecendo a sua correção. O Ministério tem o seu papel e tem de cumprir a lei.

Agora, o erro está exatamente no fato de que, quando encosta no social, tudo

acaba, não tem mais lei. Parece que o Estado brasileiro silencia em relação a essas

questões. No Estado de Rondônia, o desmatamento que vem ocorrendo — pode

acreditar V.Exa. porque eu sou de lá — é muito mais decorrente da inoperância do

INCRA, que não regulariza nem titula as terras, e o desmatamento é feito

exatamente pelos pequenos produtores. Por quê? Porque eles não têm opção, não

têm terras tituladas, como ocorreu na questão que envolve a Liga dos Camponeses

Pobres e como ocorre com tantos outros que invadem propriedades, estimulados

pelo INCRA, os quais acabam por promover desmatamento, mas não são multados,

não são presos — e nem deveriam —, não são processados, não pagam multa. E

fica por isso mesmo... Então, essas questões devem ser regularizadas.

Apenas para concluir, veja V.Exa. essa questão do fechamento das ferrovias

do Brasil, sobretudo as ferrovias da Vale do Rio Doce: isso é inconcebível! Não é

possível ficarmos paralisados, como se nada houvesse acontecido.

O IBOPE promoveu uma pesquisa, publicada na semana passada, em que a

população brasileira claramente mostrou apoiar a idéia e a luta daqueles que

precisam da terra. Eu também apóio o direito de todos terem terra. Mas a população

não apóia os meios violentos com que esse povo pretende conseguir esse objetivo.

Por fim, Sr. Ministro, quero perguntar qual a posição do Governo sobre as

recentes invasões de instalações de empresas privadas. E não me refiro apenas às

instalações da Vale do Rio Doce, pois há a questão do Rio Grande do Sul, com

propósitos declaradamente políticos.

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Na opinião de V.Exa, qual é a motivação de um grupo que defende a reforma

agrária ao invadir uma estrada de ferro? Houve aquela história da Aracruz, mas

acaba que eles não são punidos, e fica “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

Gostaria, portanto, de saber a opinião de V.Exa. sobre o assunto.

Obrigado, Sr. Ministro. Obrigado, Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Com a palavra o Deputado

Abelardo Lupion, também proponente desta audiência pública.

O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Ministro Tarso Genro, seja bem-vindo. É extremamente importante a

presença de V.Exa. nesta Comissão, pois devemos debater certos temas que estão

preocupando e exigindo posições pontuais em certos episódios.

Gostaria de adentrar nos problemas que conheço. Eu não conheço a fundo os

problemas da Região Norte do Brasil, de Raposa Serra do Sol e outros, mas

gostaria de fazer alguns questionamentos a respeito do problema das invasões de

prédios, de terras, de ferrovias, de pedágios, de sedes de prédios públicos e de

propriedades produtivas.

A Via Campesina e o MST simplesmente ignoram totalmente qualquer lei e o

Estado de Direito. Escondem-se sob o fato de serem organizações conhecidas,

registradas. Eles não têm CPF, não têm CGC, absolutamente nada.

Fui Relator da CPI da Terra. Naquela ocasião, descobrimos que alguns

movimentos se escondem em cooperativas. Conseguimos provar isso. Inclusive, o

Tribunal de Contas fez com que se criminalizasse essa ação, determinando a

devolução de recursos públicos destinados pelo Governo anterior e por este para

certas cooperativas, como a ANCRA, a CONGRAB e outras tantas, as quais

comprovadamente utilizaram recursos indevidamente para outros objetivos, inclusive

para financiar invasões.

O fato que devemos discutir hoje, porém, não se refere à ideologia ou a

partido político, não se refere absolutamente a lados ou posições. Estamos falando

hoje do Estado de Direito.

O Deputado Adão Pretto, quando em visita ao Rio Grande do Sul, foi

acompanhado pela Polícia Federal e conseguiu sair de lá. Infelizmente, não tive a

mesma ventura. A 20 dias da eleição, em Santo Antônio do Platina, 180 elementos

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da Via Campesina acamparam na frente da minha propriedade rural e para lá

levaram faixas, ameaçando a mim e à minha família.

Pedi a proteção da Polícia Federal, mas não tive. Fiquei ilhado dentro da

minha propriedade durante 20 dias. E a Polícia Federal não me deu proteção

pessoal ou à minha família. Havia também na propriedade 32 crianças, filhos de

meus empregados. Os invasores gritavam palavras de ordem, faziam

manifestações, mas, infelizmente, não tive o apoio da Polícia Federal, apesar de até

o então Presidente desta Casa, o Deputado Aldo Rebelo, ter enviado ofício,

solicitando à Polícia Federal proteção às pessoas que lá estavam. E eu não podia

sair, caso contrário, eles invadiriam a propriedade. Permaneceram lá por 20 dias.

E comecei a pensar a razão de tudo isso. Em que País estamos? Em todas

as declarações, inclusive na mídia nacional, veiculadas pela Rede Bandeirantes,

eles revelavam que estavam lá para me punir, para invadir a minha propriedade e

que passariam por cima de qualquer instituição que estivesse me protegendo. Tudo

isso está gravado, ajuizei ação etc. Infelizmente, V.Exa. não era o Ministro, pois

tenho certeza que eu receberia o mesmo tratamento dado ao Deputado Adão Pretto.

Mas quero conversar com V.Exa. a respeito de responsabilização.

A Lei nº 7.170, a Lei de Segurança Nacional, é muito clara ao prever, em seu

art. 1º, o seguinte:

‘“Art. 1º. Esta Lei prevê os crimes que lesam ou

expõem a perigo de lesão:

(...)

II - o regime representativo e democrático, a

Federação e o Estado de Direito”.

Determina o art. 15 da Lei de Segurança Nacional:

“Art. 15. Praticar sabotagem contra instalações

militares, meios de comunicações, meios e vias de

transporte” — e estamos vendo o que está ocorrendo nas

ferrovias no Pará, nos pedágios no Paraná e outras tantas

ações perpetradas por essas duas entidades —,

“estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas” — que

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também já foram invadidas —, “barragens, depósitos e

outras instalações congêneres”.

E, ainda, a alínea “b” diz o seguinte:

“b) dano, destruição ou neutralização de meios de

defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de

atividade ou serviços públicos reputados essenciais para

a defesa, a segurança ou a economia do País.”

Nos arts. 16 e 17, encontramos:

“Art. 16. Integrar ou manter associação, partido,

comitê, entidade de classe ou grupamento que tenha por

objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de

Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave

ameaça.

Art. 17. Tentar mudar, com emprego de violência

ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado

de Direito.

No art. 20:

“Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar,

seqüestrar, manter em cárcere privado” — atos

extremamente comuns na Via Campesina e no MST —,

“incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado

pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político”

— como permanente eles declaram — “ou para obtenção

de fundos destinados à manutenção de organizações

políticas clandestinas ou subversivas”.

E, para mim, entidade clandestina é aquela que não tem como ser

responsabilizada.

No art. 22:

“Art. 22. Fazer, em público, propaganda:

I - de processos violentos ou ilegais para alteração

da ordem política ou social;”

Finalmente, no art. 31:

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“Art. 31. Para apuração de fato que configure crime

previsto nesta Lei, instaurar-se-á inquérito policial, pela

Polícia Federal:

(...)

IV - mediante requisição do Ministro da Justiça.”

Esta é a Lei de Segurança Nacional.

E todos sabemos — inclusive em audiência pública que realizamos no Pará

foi por nós constatado —, que os membros dessas organizações entram e destroem

as propriedades, mantêm os proprietários em cárcere privado, têm a conivência do

Estado, do ente federativo, que é a Governadora do Pará.

No Paraná ocorre a mesma coisa. Não tenho nada a ver com isso. Muito pelo

contrário. Simplesmente o nosso Governador utiliza instrumentos para que esse

pessoal seja usado para invadir pedágios.

Precisamos discutir a questão, Sr. Ministro. Vou solicitar à Casa providências

nesse sentido. Espero que o Ministério da Justiça seja o órgão que vai amparar-nos

neste momento. Por quê? Porque, se o Estado não tomar providências, diante das

declarações que são dadas pelo Sr. Stédile e por outros tantos líderes, que

simplesmente zombam do Estado de Direito, fazem escárnio para justificar suas

atitudes, não saberemos em que País estamos vivendo. Perguntamos: quem vai

apoiar aqueles que são vítimas neste momento?

Essa discussão, a meu ver, deve ser travada em altíssimo nível, mas ela

precisa ser muito dura. Precisamos tomar providências.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Obrigado, Deputado

Abelardo Lupion, pela participação.

O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, fui citado por 2 vezes. O

Regimento permite que eu tenha direito à resposta.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - V.Exa. pode aguardar a

interpelação do autor do requerimento? Posteriormente, eu concederei a palavra a

V.Exa. Pode ser assim?

O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sim, Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Com a palavra o

Deputado Onyx Lorenzoni, também pelo prazo de 5 minutos. S.Exa. também é autor

do Requerimento nº 278, de 2008.

O SR. DEPUTADO ONYX LORENZONI - Peço ao Presidente que me ajude a

obedecer rigorosamente o tempo.

Ministro, nós realizamos nesta Comissão, há pouco mais de 4 semanas, uma

audiência pública que tratou das questões que envolviam a Liga dos Camponeses

Pobres, basicamente em Rondônia.

Eu fiquei muito impressionado com a forma de operação, com a profundidade

da organização e suas conexões e com a incapacidade declarada das forças

públicas de segurança do Estado de Rondônia para lidar com o problema.

Como o nosso objetivo é tentar, com serenidade, buscar respostas para a

população de Rondônia, do Pará e do Brasil e não ações espetaculosas, nós

solicitamos a degravação de tudo que foi apresentado na audiência pública.

Reunimos um conjunto de documentos e, ontem, encaminhamos esse material ao

Ministério Público Federal, ao Procurador-Geral a República, Dr. Antonio Fernando

Souza, e à Polícia Federal, por meio do superintendente nacional, para

conhecimento e tomada de providências.

Quero, então, neste momento, dizer publicamente a V.Exa. que nós

compilamos todos os lados dessa questão. Se V.Exa. pedir que seja feito um

resumo de tudo que se passou aqui, ficará tão preocupado quanto eu fiquei. Eu o

conheço. Trata-se de algo que não podemos relativizar. Dentro do marco

institucional e constitucional, esse problema merece uma ação de Estado, para que

não tenhamos, daqui a algum tempo, algo que ganhe maior proporção e pode custar

até vidas, talvez. Deve haver o controle da situação que está sendo gestada.

Então, com palavras de atenção e ponderação, com absoluta serenidade,

peço a V.Exa. que dê especial atenção à documentação que está sendo

encaminhada. Inclusive, vou solicitar à assessoria técnica da Comissão que a

encaminhe a V.Exa., assim como nós a encaminhamos ao Ministério Público

Federal e à Polícia Federal.

Quanto à questão da Amazônia, nós temos um patrimônio excepcional. Aqui

nesta mesma sala, há poucas semanas, alguns membros do Parlamento Europeu,

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em razão de um contencioso que V.Exa. conhece, em relação aos produtos

brasileiros, abriram uma discussão sobre o desmatamento para produção de

biodiesel. Eles foram obrigados a ouvir — fomos obrigados a lembrar a eles — que

nós temos mais de 100 milhões de hectares de florestas, o que representa mais do

que uma Comunidade Econômica Européia. Já tivemos mais, mas ainda temos essa

área, que estamos preservando, apesar das nossas dificuldades, das nossas

limitações e das nossas insuficiências.

Também sei da preocupação de V.Exa. com o futuro deste País. Se houver

uma reflexão governamental que transcenda a simplificação da demarcação de

terras indígenas ou quilombolas como instrumento eventual de preservação do

grande patrimônio que temos, talvez os conceitos de propriedade privada e meio

ambiente possam começar a ser discutidos no Brasil. As melhores experiências no

mundo de preservação de meio ambiente passam por esse novo conceito. Devemos

superar entraves ideológicos e começar a discutir aquilo que pode funcionar.

Urge na Amazônia brasileira uma ação integrada do Ministério da Justiça, da

Força de Segurança Nacional e do Exército Brasileiro.

Tive a oportunidade, junto com o atual Presidente desta Casa, Deputado

Arlindo Chinaglia, quando aqui cheguei, de participar de uma missão do Exército. Fui

em alguns dos lugares mais longínquos e inóspitos do Brasil.

Visitei um lugar, em Roraima, chamado Surucucu. Lá estavam 60 bravos

oficiais do Exército Brasileiro com suas famílias, cercados por 2 aldeias indígenas,

tendo à frente uma pista de pouso. Isso ocorreu em 2003, antes da gestão de V.Exa.

Estavam lá o Governador do Estado de Roraima, o Comandante Militar da

Amazônia, 3 Senadores da República, 7 Deputados Federais. Uma ONG que

prestava serviços ao Governo Federal e ao Governo do Estado, em virtude de uma

querela por conta de um repasse de 3 mil, 4 mil ou 5 mil reais, preparou os índios

para o conflito e impediu que as autoridades tivessem acesso a uma das tribos para

conversar com a liderança delas. Isso em razão de um conflito da referida ONG com

o então Governador do Estado de Roraima.

É evidente que nós respeitamos aquela decisão para evitar qualquer tipo de

dificuldade. Estavam presentes o atual Presidente da Câmara dos Deputados, a

ex-Senadora.

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O que vimos? Quinhentos quilômetros de floresta ao redor daqueles 60

homens. Na região apenas se chega de helicóptero ou de avião.

Portanto, verdadeiramente, há muito o que se pensar, do ponto de vista

estratégico e institucional, para que possamos conservar essa grande preciosidade

brasileira.

Há, sim, os problemas apresentados com conhecimento pelo Deputado

Moreira Mendes, mas existe uma outra realidade que nos foi contada pelos

soldados, e que eu quero revelá-la a V.Exa.

As autoridades brasileiras têm muita dificuldade de interagir com as tribos

indígenas, mas os pesquisadores estrangeiros, com seus polpudos cheques em

euros ou dólares, não têm qualquer prurido ou limite. Entram em território nacional e

carregam o que querem, quando querem, como querem, do jeito que lhes apraz.

Isso é muito sério, muito grave. Estamos aqui e queremos colaborar.

Se V.Exa., juntamente com o Ministro da Defesa e outras autoridades do

Governo, em meio a essa reflexão, identificar ações de alteração do estamento legal

brasileiro, conte conosco. É preciso que haja ações responsáveis e sérias em

relação ao patrimônio brasileiro.

Concluo agradecendo ao Presidente a condescendência e dizendo que não

se resolve a questão do acesso à terra no Brasil quebrando o direito de propriedade.

Um filósofo alemão, há mais de 300 anos, escreveu que, em sociedade que não

reconhece o direito de propriedade, o homem e a mulher não têm amigos, só

inimigos.

Lamentavelmente, uma parte das cobranças feitas neste momento... Vou

concluir, Sr. Presidente, agradecendo-lhe a paciência. A articulação desses

movimentos, em particular a do Deputado Abelardo Lupion...

Eu fui um dos proponentes e criadores da CPI da Terra, junto com os

Senadores Eduardo Suplicy e Alvaro Dias. Há ali um trabalho de fôlego, que

demonstra claramente que o Brasil precisa, dentro da sua institucionalidade, dentro

do marco constitucional, saber diferenciar livre manifestação, busca de direitos e

conquista de direitos que estão na própria Constituição brasileira. Os movimentos

têm um único objetivo: destruir ou desestabilizar um dos pilares do Estado

Democrático de Direito, que eu sei que V.Exa. professa e conhece em profundidade.

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Então, de maneira firme e até provocativa, mas ao mesmo tempo respeitosa e

serena, dizemos a V.Exa. que a articulação dos movimentos que envolvem o

confronto com o direito de propriedade é nacional, não é local. Se as ações são

locais, a articulação é nacional. E é nessa dimensão que nós questionamos V.Exa.

Mais uma vez, agradeço-lhe o atendimento ao convite da nossa Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Obrigado, Deputado

Onyx Lorenzoni. Foram importantes as colocações de V.Exa.

O Deputado Adão Pretto está inscrito, mas, se S.Exa. quiser, poderá fazer

uso da palavra por 2 minutos.

O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Eu agradeço, Sr. Presidente.

O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Pela ordem, Sr. Presidente.

Eu não quero estabelecer nenhum tipo de confronto na Comissão. Estou

conversando com o Ministro da Justiça. Só citei o Deputado Adão Pretto porque o

Ministro da Justiça fez referência a um fato. Eu falei sobre um fato que ocorreu

comigo. Não fui ofensivo nem me dirigi ao Deputado Adão Pretto de qualquer

maneira que o ofendesse. Então, deixo muito claro que, se for para estabelecer

conflito dentro da Comissão, eu quero a tréplica.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Obrigado, Deputado

Abelardo Lupion. Eu acredito que o Deputado Adão Pretto, pela sua gentileza e pela

sua maneira de ser, considerará essas palavras e usará esses 2 minutos com bom

senso.

O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, eu tinha direito a 2

minutos e fui citado mais 2 vezes. Então, tenho direito a 4 minutos. (Risos.)

Em primeiro lugar, quero agradecer ao Ministro Tarso Genro a atenção que

nos deu no Rio Grande do Sul, naquela oportunidade. Ficamos 5 horas presos numa

barreira policial. Não nos deixavam ir adiante. O que os fazendeiros queriam era

exatamente que voltássemos. Nós não voltávamos de medo e não podíamos ir para

a frente, porque a polícia não deixava. E havia mais de 30 fazendeiros

agredindo-nos física e moralmente. Ficamos 5 horas dentro do carro. Houve um

momento em que eles abriram a porta do carro e me pegaram pelo braço para me

arrancar para fora. Se não fossem os policiais, nós teríamos sofrido agressões

violentas, talvez pondo em risco nossa própria vida.

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Então, agradeço a V.Exa., Ministro, por ter atendido o nosso pedido. A Polícia

Federal chegou na hora certa. Se não tivesse chegado, talvez estivéssemos lá até

agora.

O Deputado que me citou falava sobre a questão da segurança nacional, da

Constituição, do direito de se manifestar.

Sr. Presidente. informo que, naquela mesma semana em que fomos

agredidos no Rio Grande, no Estado do Paraná os ruralistas fizeram um despejo.

Acabaram com o acampamento, quebraram tudo, derrubaram a escola, derrubaram

a igreja.

Eu, na condição de Presidente da Comissão de Legislação Participativa,

estive lá, junto com outros Deputados. Conversamos com os trabalhadores e com as

autoridades, na Câmara de Vereadores. Fomos até a Delegacia de Polícia de

Cascavel. Ali estava um caminhão preso, que havia sido usado nesse despejo.

Trouxe aqui a fotografia para V.Exas. verem. O caminhão tem quase 1 tonelada de

ferro no pára-choque. É usado para derrubar prédio, casa e acampamento. E o mais

importante: a carroceria é blindada, do tipo da de carro forte; tem só uma janelinha,

onde se coloca o cano da arma para atirar. Isso é livre direito de se manifestar. Isso

é manifestação pacífica.

Sr. Presidente, quem é mais violento nessa história? São os agricultores, que

ocupam a terra para pressionar o Governo a fazer assentamentos, ou são essas

pessoas que fazem uso da terra para matar mesmo? Vejamos a estatística da

violência. Quantos fazendeiros foram assassinados? Quantos mandantes de crime

estão presos? Quantos trabalhadores foram assassinados? Quantos trabalhadores

estão presos? Olhando para esses números, vamos perceber quem é mais violento

nessa história.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Adão

Pretto.

Eu quero fazer uma saudação ao Deputado Elton Welter, Líder da bancada

do Partido dos Trabalhadores na Assembléia Legislativa do Paraná, que nos honra

com sua presença, prestigiando a bancada do PT na Comissão de Agricultura.

Sr. Ministro, a palavra está com V.Exa. para responder os primeiros

questionamentos.

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O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Obrigado.

Sr. Presidente Onyx Lorenzoni, Sr. 1º Vice-Presidente Luiz Carlos Setim,

gostaria de, preliminarmente, reportar-me a uma questão específica mencionada

pelo Deputado Abelardo Lupion. Informa o Secretário Pedro Abramovay que não foi

na época em que eu ocupava o cargo de Ministro da Justiça que S.Exa. fez o

pedido. Não sei o que ocorreu.

Evidentemente, reitero que já atendi pedidos semelhantes feitos pelo

Deputado Adão Pretto e por outros Parlamentares, de outras bancadas, de

oposição, de outras regiões, sempre que solicitado. De qualquer forma, se essa sua

proteção não ocorreu, eventualmente, por um equívoco do Ministério da Justiça,

compete-me pedir desculpas a S.Exa. Não é do meu molde nem do molde do

Ministro Márcio Thomaz Bastos ser omisso.

Eu pedi à minha assessoria que trouxesse os documentos para eu verificar o

que houve e nós conversarmos sobre o assunto, a fim de que, quando ocorrer

novamente uma situação dessas, estejamos à disposição para dar proteção aos

Parlamentares desta Casa e do Senado Federal, como determina a Constituição.

O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Espero que não ocorra, Ministro.

O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Eu também.

Qual é a posição do Governo quanto à questão concreta mencionada pelo

Deputado Moreira Mendes, que fez uma série de avaliações — boa parte delas

coincidentes com o trabalho que estamos fazendo no Ministério da Justiça e com o

diálogo que estamos travando —, sobre a invasão das estradas de ferro? No caso

concreto, a Vale. Já há 2 inquéritos da Polícia Federal fazendo a persecução

criminal não só quanto à invasão de propriedade, mas também aos danos causados

às empresas e, eventualmente, à ferrovia. Não sei se esses inquéritos já estão na

Justiça Federal ou no Ministério Público. Mas 2 inquéritos foram instaurados, quanto

a essa questão.

Quando a Polícia Federal entrou nessa questão da Vale, houve inclusive

retração do movimento. Ele agora se desloca para outro ponto da região. Não está

mais na Vale, em função do trabalho feito pela Segurança Pública local, ou seja,

pela Polícia Militar, e da presença da Polícia Federal, ostensiva em determinados

momentos, com a instauração desses inquéritos.

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Saliento esse aspecto porque, às vezes, os inquéritos são mais demorados.

Eles exigem perícias em fotografias, avaliação de filmagens, trabalho de inteligência

para que o relatório seja bem feito e as pessoas respondam na forma da lei.

A grande questão apresentada pelo Deputado Abelardo Lupion é pertinente e

deve ser debatida nesta Casa. É extremamente séria, importante. Ela diz respeito

aos limites e aos alcances da segurança nacional no Estado Democrático de Direito.

Quais são as complexidades existentes? A primeira delas diz respeito à

recepção que a Constituição de 1988 deu à Lei de Segurança Nacional. Ou seja, se

essa lei está vigente em relação a todos os seus artigos ou se algumas das

questões ali relacionadas foram deslocadas para o Direito Penal comum.

A outra questão diz respeito à própria interpretação já dada, na época do

regime militar, pelas auditorias militares e pelo Supremo Tribunal Militar, sobre o

nexo entre o fato apontado na norma que regula e reprime determinado tipo de ação

de indivíduos ou de grupos e o conceito de segurança nacional.

Ainda na época do regime militar, o Supremo Tribunal Militar emitiu decisões

importantíssimas, dizendo que qualquer fato narrado na norma e capitulado como

delito, como crime contra a segurança nacional tem de estar integrado no conceito

de segurança nacional. Ou seja, ele deve ter uma potência tal que seja capaz de

desconstituir, de ameaçar a estabilidade do sistema como um todo, da segurança

nacional como um todo. Senão, ele será um delito comum contra a propriedade e

não um delito contra a segurança nacional.

No Estado Democrático de Direito essa questão é mais complexa, porque há

um conjunto de normas protetivas da propriedade privada, inclusive de repressão e

contenção desses delitos. Existe ali uma zona gris, que só pode ser resolvida pela

interpretação do Ministério Público, inclusive: se aquela ação delituosa é contra a

propriedade e julgada pelo direito comum ou se ela está apta para se integrar no

conceito de segurança nacional, que no Estado Democrático de Direito é muito mais

lábil, é muito mais aberto, é muito mais volúvel, no bom sentido, do que no Estado

de fato — ou seja, durante os regimes militares, que já se relativizavam esse

conceito, na oportunidade.

Se dermos eficácia à norma, no que se refere à interrupção de uma estrada

ou de uma via férrea, vamos ter de aplicar a Lei de Segurança Nacional também

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contra os caminhoneiros que obstruem as estradas, os taxistas que interrompem o

funcionamento da cidade. Transportamos isso para a Lei de Segurança Nacional,

gerando, portanto, um conflito político de alta voltagem, enquanto o Estado

Democrático de Direito dilui essas questões e as transforma em questões comuns.

Ocorre a mesma coisa em relação, por exemplo, ao agronegócio, que tem

grande importância na economia do País e que costumeiramente interrompe as

estradas. Inclusive, no meu Estado, seguidamente, ocupa agências do Banco do

Brasil. Será que nós deveríamos também aplicar a Lei de Segurança Nacional

nesses casos? Na minha opinião, esses movimentos sociais, tenham eles a origem

que tiverem — na base empresarial ou na base mais popular, da pirâmide social —,

devem ser tratados dentro do Estado Democrático de Direito pelo Direito Penal

comum e pela legislação ordinária, a menos que nós retifiquemos o conceito de

segurança nacional. E aí vamos nos reportar a um conceito em que será crime

contra a segurança nacional qualquer delito, mesmo que ele não traga instabilidade

às instituições.

Ontem, por exemplo, nós tivemos um fato concreto em Santa Catarina. Os

servidores públicos interromperam a votação de uma lei — se não me engano, ela

tratava da previdência dos servidores locais —, obstruíram o funcionamento da

Assembléia Legislativa, como ocorreu no Estado, quando se votou a privatização

das telefônicas. Na oportunidade, o mestre Raymundo Faoro fez um parecer

memorável sobre o assunto. Sei disso porque estive envolvido no caso como

advogado.

Teríamos de tratar dessas questões como sendo de segurança nacional.

Deveríamos encaminhar a discussão para outro patamar. Ou seja, como tratar

preventiva e repressivamente esses delitos que estão inscritos na norma do Direito

comum, do Direito Penal, de forma a dar segurança às pessoas que detêm a titulada

propriedade legal de uma parte e ao mesmo tempo ter políticas para diluir a

necessidade de que esses movimentos transitem dessa maneira, inclusive no que

se refere, por exemplo, à negociação das dívidas do agronegócio, que normalmente

causa mobilizações muito fortes no País, com a mesma intensidade e cometendo os

mesmos delitos de natureza comum que esses movimentos fazem mais

repetidamente, porque seus problemas sociais são mais graves? Temos de tratá-los

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de maneira equivalente, na minha opinião. Evidentemente, o Congresso Nacional

tem o poder de legislar sobre o assunto.

Na minha opinião, Deputado Abelardo Lupion, seria equivocado da nossa

parte transportar esses fatos para a órbita da segurança nacional, porque eles não

têm potência desconstitutiva do Estado de Direito. São delitos contra a propriedade

e têm de ser tratados dessa maneira, pelo menos dentro da sistemática

constitucional atual.

Inclusive há um conceito. Eu estudei essa questão. Respondi alguns

processos na área de segurança nacional, na época do regime militar — dois, mais

propriamente.

Há um conceito de um grande jurista italiano do fascismo, chamado Rocco.

Ele desenvolveu essa tese dentro do Estado de fato, que era o fascismo. Dizia que

não se poderia levar para os tribunais de Mussolini todos aqueles que fossem

inimigos políticos do regime. Levá-los para os tribunais sem que aquilo constituísse

ameaça ao Estado seria propagandear, inclusive, uma insegurança do Estado, que

não existe. Ora, se isso vale para um regime de fato, deve valer muito mais para o

Estado Democrático de Direito. Precisamos ter grande cautela quanto a essa

questão.

Gostaria de dizer ao Deputado Onyx Lorenzoni que eu tenho uma visão

idêntica à de S.Exa. em relação à Amazônia. Tanto é verdade que no Estatuto do

Estrangeiro, que já está na Casa Civil, há 3 dispositivos sobre essa questão. O

Secretário Pedro Abramovay e um grupo técnico estão, juntamente com o Secretário

Nacional de Justiça, Dr. Romeu Tuma Júnior, procurando apresentar rapidamente —

já estamos com o estudo pronto — uma proposta a esta Casa para que reavalie a

situação das organizações não-governamentais na Amazônia. As diretrizes dessa

proposta estão prontas.

Ocorre efetivamente o que disse o Deputado Onyx Lorenzoni: há ONGs e

ONGs, assim como há grupos formais e grupos informais que tratam dessas

questões. Na Amazônia, existem organizações não-governamentais que estão ali

cumprindo serviços relevantes e outras que nada têm a ver, na nossa opinião, com a

sua destinação estatutária. Interferem inclusive na cultura da comunidade indígena

de maneira absolutamente ilegal, com estupros culturais, fazendo de exorcismo para

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tirar o demônio do corpo dos indígenas. Outras fazem estudos biológicos, estudos

da biodiversidade, e as finalidades não estão bem claras.

Temos de regular a matéria, sim. Repito o que disse em outra oportunidade: a

Amazônia é território da humanidade. Mas, antes de ser território da humanidade, é

território nacional, onde devemos exercer integralmente a nossa soberania.

Sabemos que, com o desequilíbrio ecológico mundial, com as questões

ambientais, com o grave problema da água no mundo, a Amazônia tem importância

estratégica para o futuro da humanidade. Mas, antes de ser importante para o futuro

da humanidade, ela é importante para o futuro do País.

É preciso saber combinar de maneira adequada um projeto de

desenvolvimento com sustentabilidade para a Amazônia, aproveitando suas

potencialidades, proteger os povos indígenas da devastação que o progresso da

sociedade normalmente origina e combinar essas 2 questões com um projeto de

ocupação legal da região, com essa sustentabilidade. Só poderemos resolver essa

questão de maneira comum. Não vamos resolvê-la estabelecendo um contraditório

radical entre Oposição e Governo. Contraditório tem de existir, mas para uma

síntese positiva na Amazônia, porque ela diz respeito a uma questão nacional

estratégica e não deve ser dividida por conta de siglas partidárias ou de problemas

relacionados a interesses regionais.

A questão do direito de propriedade, no Brasil, é resolvida pela Constituição

Federal. Temos de conceber também, para estabelecer um diálogo adequado e

produtivo — e eu estou permanentemente disponível para isso —, que a

Constituição de 1988 é jovem. E a experiência legislativa que deriva dela, não só no

que se refere à sua regulamentação, mas também à interpretação de determinadas

cláusulas constitucionais, que teriam ou não aplicabilidade, é uma questão ainda em

aberto no País. A função social da propriedade é uma norma constitucional também,

assim como o é a proteção ao direito de propriedade. Enquanto não resolvermos

determinados conflitos que são tipicamente de interpretação constitucional, teremos

de nos balizar pelo princípio da legalidade, que determina a proteção ao direito de

propriedade, assim como a Constituição garante a mobilização social. E temos de

saber processar esses conflitos dentro do Estado de Direito.

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Qualquer radicalização que fizermos... Isso tem a ver também com o

comportamento do MST, das organizações dos trabalhadores rurais. Temos de

compreender que essa mobilização social tem de ocorrer levando-se em conta o

respeito à Constituição e o direito de propriedade. Quando alguém viola esse direito,

responde por isso dentro do sistema legal. Não podemos transformar essa questão

numa questão política vinculada a um conceito de segurança nacional, porque a

segurança do País não está sendo ameaçada. Segurança pública é uma categoria

do Direito Público. Segurança nacional é outra categoria. Existem, sim, questões de

segurança pública nos Estados, em relação ao direito de propriedade, assim como

existem questões sociais graves em relação à possibilidade do acesso à terra e à

distribuição da função social da propriedade.

Não vejo outra forma de resolvermos essa questão a não ser aprofundando o

diálogo. O Estado deve ter capacidade de dar uma resposta de acordo com o

sistema democrático, de acordo com os princípios gerais do Direito, para que

possamos solucionar os problemas de maneira adequada.

De parte do Ministério da Justiça, não haverá sonegação de diálogo em

relação a isso, inclusive para rediscutir a questão do conceito de segurança

nacional, que tem de ser adequado à época em que nós vivemos. Eu acho, por

exemplo, que a questão da soberania, hoje, está muito mais orientada pela forma

adequada de ocupação do território do que propriamente pelo controle das

alfândegas, já que os bens são transmitidos de maneira imaterial e não são

contabilizados por quantidade de átomos nas alfândegas de todos os países.

Essa forma de ocupação territorial, que no Brasil é incompleta, é que causa

esses conflitos sociais e políticos em que nós estamos imersos.

Eu tenho certeza de que temos responsabilidade pública suficiente para saber

processá-los, com diálogo efetivo, com respeito aos direitos das partes e cumprindo

a norma constitucional a que todos nós estamos submetidos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Ministro, passamos às

mãos de V.Exa. toda a documentação referente à audiência pública que, por

solicitação dos Deputados Giovanni Queiroz, Ernandes Amorim e Moreira Mendes,

foi realizada aqui para discutirmos as questões que tiveram origem em denúncias

publicadas na revista ISTOÉ, sobre as ações da Liga dos Camponeses Pobres no

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Estado de Rondônia. Essa mesma documentação está na Polícia Federal e no

Ministério Público, para que o Estado brasileiro possa avaliar isso.

O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Vou fazer uma observação. Nós temos

informes de inteligência da Polícia Federal, da Força Nacional sobre essa questão.

Temos uma avaliação sobre isso, e ela pode estar errada. Então, nós vamos

examiná-la. Eu vou determinar que esses documentos sejam examinados pela

nossa perícia da Polícia Federal, se determinarem algum tipo de avaliação pericial, e

pelos órgãos técnicos da Polícia, para verificar o que devemos fazer a mais em

relação a isso. E daremos a resposta formal a esta Casa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Ministro.

Há 20 Parlamentares inscritos. Portanto, buscarei um entendimento com os

Parlamentares. De acordo com a regra, o prazo é de 3 minutos. Vamos combinar

que aos 2 minutos eu sinalizarei. Tentemos, então, nos concentrar nos dois minutos

e meio, 2 minutos e 40 segundos, um pouco mais, um pouco menos. Vamos fazer

grupos de 4. O Ministro também, nas suas respostas, vai se pautar pela objetividade

— sei que S.Exa. a tem. Dessa forma, todos os inscritos poderão manifestar-se.

Com a palavra o Deputado Beto Faro.

O SR. DEPUTADO BETO FARO - Sr. Presidente, como foi anunciado por

V.Exa. no início que o Ministro teria até meia hora, indago se podemos fazer um

grupo maior, com mais de 4 Deputados, para ganhar tempo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Está bem.

Vamos começar com o Deputado Carlos Santana.

O SR. DEPUTADO CARLOS SANTANA - Sr. Presidente, Deputado Onyx

Lorenzoni, Sr. 1º Vice-Presidente, Deputado Luiz Carlos Setim, Sr. Ministro Tarso

Genro, primeiramente quero dizer que não sou membro desta Comissão. Faço parte

da Comissão de Viação e Transportes e da Comissão de Trabalho, de

Administração e Serviço Público. Portanto, agradeço-lhes por estar neste espaço,

porque esta Comissão é muito importante para o crescimento do País e tem papel

fundamental na questão da terra.

Estou aqui porque sou Presidente da Frente Parlamentar pela Promoção da

Igualdade Racial. O Presidente da Frente que trata da questão quilombola,

Deputado Vicentinho, não pôde comparecer, e eu estou aqui.

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Quero agradecer aos autores do requerimento de realização desta audiência

pública. Nós, afro-descendentes no Brasil, temos dificuldade de mostrar a nossa

posição. Discutimos tudo neste País, mas não conseguimos discutir a questão da

raça. Raça é um tema que foi posto em segunda posição.

Eu não quero dizer que a demarcação de terra tem de ser de tantos hectares.

Para nós, o importante é entender que existe uma dívida com o povo negro deste

País. Eu, que sou afro-descendente urbano e tenho origem nas terras, porque de lá

vieram meus antepassados, considero que, para nós, é importantíssimo pelo menos

esse entendimento de que há uma dívida. Não temos de ficar discutindo que a

demarcação tem de ser de tantos hectares. A dificuldade que temos é que poucas

pessoas que escrevem sobre o assunto e fazem editoriais ficam em seus escritórios

com ar condicionado, não vão até lá para verificar a realidade. Por isso, nós, afro-

descendentes, temos uma dificuldade enorme de expor as nossas posições.

Eu sei que o Ministério não deve atuar nessa área, mas é importante que isso

ocorra. V.Exa., com a sua sapiência, deve ajudar nesse sentido.

Hoje, no Brasil, estamos vendo a intolerância religiosa. Espero que o

Ministério atue nesse sentido. V.Exa. deu um exemplo do que está acontecendo no

Amazonas. Mas não é só lá. Sou católico, mas afirmo que as religiões

afro-brasileiras estão sendo perseguidas. Temos de evitar o grande enfrentamento

que vai haver no Brasil em relação à tolerância religiosa.

Peço ao Ministro que cuide desse assunto.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Carlos Santana.

Alguns Parlamentares aqui se manifestaram. O Deputado Carlos Santana não

é membro titular da nossa Comissão. Mas, como era o primeiro inscrito, por uma

questão de fidalguia e de atenção ao Deputado, concedemos a palavra a S.Exa.

Peço a compreensão dos nobres pares.

Com a palavra o Deputado Leonardo Vilela.

O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Muito obrigado.

Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sras. e Srs. Parlamentares, vou ler um pequeno

trecho do jornal O Globo, de 11 de junho de 2008:

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“Movimento comanda invasões e depredações de

empresas públicas e privadas em 13 Estados.

A violência marcou ontem os protestos

comandados pelo MST em 13 Estados. Hidrelétricas e

prédios de empresas públicas e privadas foram invadidos

e depredados. Em São Paulo, a polícia teve de intervir

para evitar vandalismo contra a sede da Votorantin. Em

Minas, o movimento fechou uma estrada de ferro usada

para o escoamento de minério da Vale. Na Bahia, os sem-

terra quebraram a porta e chegaram a ocupar a ante-sala

do centro de comando da usina hidrelétrica do São

Francisco (CHESF). Também houve ações violentas no

Rio Grande do Sul, em Pernambuco e Ceará, entre outros

Estados (...).”

Mais adiante, diz:

“Em nota, a Via Campesina alegou que os

protestos serviram para ‘denunciar os problemas

causados pela atuação das grandes empresas no País,

especialmente as estrangeiras, que são beneficiadas pelo

modelo do agronegócio e pela política econômica

neoliberal’.”

Sr. Ministro, a questão que apresento a V.Exa. é a seguinte: esses

movimentos ditos sociais invadem empresas privadas e públicas, fazendas

produtivas, centros de pesquisa, estradas, ferrovias, hidrelétricas, num claro

desrespeito à Constituição. Causam depredação dessas instalações públicas e

privadas — aliás, num movimento diferente dos movimentos patronais, porque, se

os movimentos patronais causam depredação, eles são acionados à luz do Direito

Penal, que V.Exa. recomenda para os movimentos sociais. Esses movimentos ditos

sociais não têm cara, não têm identidade, não são identificados.

Como aplicar o Direito Penal ao MST, Ministro, se ele não tem personalidade

jurídica, se ele não existe perante a lei? Então, faço um apelo a V.Exa. no sentido de

que uma das ações do Ministério da Justiça seja exatamente mostrar quem são

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essas pessoas, fazer com que elas possam responder pelos seus atos perante a lei,

porque é exatamente essa inimputabilidade que existe hoje que estimula os atos de

contravenção, que estimula os atos criminosos. É exatamente essa impossibilidade

de responderem pelas suas transgressões que estimula a violência, que estimula

esses movimentos.

Sr. Ministro, nós concordamos plenamente com V.Exa.: o Direito Penal deve

ser aplicado aos ilícitos cometidos por alguns movimentos ditos sociais. Mas é

importante que o Ministério da Justiça, em conjunto com os Estados, desenvolva

uma sistemática para exigir que eles sejam representados. Não dá para nós,

brasileiros, convivermos com pessoas que não têm cara, que não são identificadas,

que não respondem pelos seus atos. Qual é o Estado de Direito? Estamos criando 2

categorias de cidadãos. E o pior, Ministro — outro ponto que também gostaria de

mencionar —, é que alguns Governadores, como já foi citado, se omitem no sentido

de não dar a segurança pública adequada àqueles que são ameaçados por esses

movimentos. Eu pergunto a V.Exa.: aqueles cidadãos prejudicados daquele Estado

são cidadãos de segunda categoria? Eles não têm direito ao respaldo do Governo

Federal para que os seus direitos constitucionais sejam respeitados?

Sr. Ministro, não vou mais me alongar, mas gostaria muito de uma ação do

Ministério nesse sentido.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Leonardo Vilela.

Com a palavra o Deputado Duarte Nogueira.

O SR. DEPUTADO DUARTE NOGUEIRA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Parlamentares, inicialmente, quero parabenizar o autor do requerimento e os demais

que o subscreveram.

Ao cumprimentar o Ministro da Justiça, Tarso Genro, quero dizer-lhe que não

tome como de natureza pessoal ou de enfrentamento partidário o que vou aqui

apresentar, até porque S.Exa. já teve mandato popular, quero crer, no Legislativo, e,

com certeza, no Executivo, como Prefeito, e sabe que o cumprimento das nossas

funções públicas tem de estar compatível com o compromisso que nós assumimos

com os eleitores. E os Deputados Federais, nós, Congressistas, temos que procurar

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zelar pelo cumprimento da lei e, ao mesmo tempo, cumprir nosso papel de fiscalizar

e acompanhar o trabalho do Executivo.

Posto isso, e baseado no que disse o Deputado Leonardo Vilela, eu

apresentei à Mesa da Câmara dos Deputados uma denúncia, baseada no art. 218

do Regimento Interno, com fulcro na Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950,

objetivando a instauração de processo contra o Ministro da Justiça e o Ministro do

Gabinete de Segurança Institucional, pela ocorrência sistemática, programada e

previsível, na nossa opinião, de todos esses fatos que atentam contra o direito à

propriedade, contra a pesquisa científica, contra os prédios públicos e o patrimônio

nacional.

Não vou aqui detalhar as notícias e as ocorrências em todos os Estados

brasileiros, mas vou simplesmente me ater, pelo tempo curto, Sr. Ministro, ao fato de

que a Lei nº 1.079, na qual me baseio, diz, no art. 2º, que “os crimes definidos nesta

lei, ainda quando simplesmente tentados, são passíveis da pena de perda do cargo,

com inabilitação, até 5 anos, para o exercício de qualquer função pública, imposta

pelo Senado Federal nos processos contra o Presidente e os Ministros de Estado...”

Essa mesma lei define entre os crimes de responsabilidade aqueles

praticados contra a segurança interna do País, em especial permitir, de forma

expressa ou tácita, a infração de lei federal de ordem pública.

Cita também outras leis, mas eu quero aqui dizer que consta do art. 1º do

Anexo I do Decreto nº 6.071, de 2007, entre as atribuições do Ministério da Justiça,

a defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das garantias constitucionais, da

política judiciária e da defesa dos bens e dos próprios da União e das entidades

integrantes da administração pública federal indireta. E cito aqui também as

atribuições do Gabinete de Segurança Institucional.

Assim, peço que a Mesa da Câmara acolha, para que nós possamos cumprir

o nosso papel constitucional.

No meu tempo derradeiro, a partir do que disse V.Exa., eu gostaria de

indagar: qual é o grau de informações que o Ministro tem para se antecipar a essas

ações ilegais, preventivas, repressivas? V.Exa. falou sobre questões controversas.

Na minha opinião não são, porque cumprir a lei não é assumir que ocorram

questões controversas.

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Quais são os sistemas de inteligência que nós poderíamos utilizar para

antecipar a esses problemas todos? E na questão da delimitação de terras

indígenas, o Ministério está caminhando contra a opinião do próprio Exército no caso

da Raposa Serra do Sol, a partir das alegações do General Heleno. Na nossa

opinião, está ocorrendo leniência e conivência.

Por último, já que a Polícia Federal foi tão eficiente na defesa, naquele

instante, da integridade do Deputado Adão Pretto, companheiro e dileto amigo da

Comissão de Agricultura, por que ela não tem sido tão diligente na questão dos

prédios públicos, das nossas estradas, ferrovias e centros de pesquisa?

A agricultura brasileira familiar e empresarial chegou ao ponto atual em razão

da pesquisa científica, que tem sido destruída por esses atos de vandalismo de

movimentos ditos sociais que não mais contam com o apoio da sociedade.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Duarte Nogueira.

Com a palavra o Deputado Afonso Hamm, Vice-Presidente desta Comissão.

O SR. DEPUTADO AFONSO HAMM - Presidente Onyx Lorenzoni, demais

colegas Deputados, Ministro Tarso Genro, conterrâneo do Rio Grande do Sul, devo

dizer que é importante este debate que travamos hoje nesta Comissão.

Quero apenas trazer uma questão de importância lá do Estado do Rio Grande

do Sul, até porque foi objeto de reunião bem recente, da qual fiz parte, e de vários

encaminhamentos.

Há hoje uma intranqüilidade do agricultor em algumas regiões do meu Estado.

E vou trazer o caso do Município de Sertão, onde aproximadamente 300

agricultores, em decorrência de um processo de uma comunidade de quilombolas,

pela regularização da área, estão sendo desapropriados aproximadamente 300

agricultores. É um conflito.

Esse estado de coisas repete-se em vários pontos do País. Sou o Deputado

Federal mais votado naquele município. Embora eu seja de Bagé, tive a

oportunidade de testemunhar a preocupação e a angústia de agricultores que têm,

inclusive, o certificado de posse daquelas terras e produzem na área gerações e

gerações — e eu os conheço, inclusive têm representação, uma associação.

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Entendemos o valor e a importância do reconhecimento dos quilombos,

inclusive fui Diretor da EMATER no Rio Grande do Sul por 3 anos e meio, órgão que

faz um trabalho de políticas de resgate dos quilombolas em várias frentes, inclusive

por meio do programa RS Rural, quando tivemos a oportunidade de aportar apoio

para melhoria, infra-estrutura e condições de renda, enfim. Mas o que não se aceita

são os conflitos e a forma conflitante e até mesmo a intranqüilidade de uma

indenização, que traz essa angústia e essa preocupação.

Então, eu pediria a inclusão deste tema na discussão. Eu poderia citar, lá do

Rio Grande do Sul, o Município de Faxinalzinho, onde tem uma questão indígena

também. E podemos falar de outros municípios, a exemplo de Charrua.

Precisamos, de forma definitiva, ter convivência harmônica e critérios

absolutamente transparentes para a sociedade e para todos. Porque hoje são esses

300 agricultores, amanhã poderão ser outros em outras localidades.

E o Brasil tem o desafio da produção de alimentos, inserir nesse contexto

todos que possam produzir, no sentido da segurança alimentar e competitividade. E

o Brasil se apresenta, e tem a necessidade, inclusive, de alimentar o mundo.

Então, em nome dos agricultores lá do sertão, em nome dos quilombolas e

dos indígenas, precisamos resolver as questões. Acho este debate extremamente

importante e necessário. Com certeza, a posição de V.Exa., um homem de equilíbrio

e de posições claras, será no sentido de estabelecermos definitivamente, junto à

FUNAI, ao INCRA e aos demais órgãos competentes, um componente definitivo de

tranqüilidade à sociedade. Porque isso não só intranqüiliza esses 300 agricultores,

mas a comunidade de um município, várias comunidades de diversos municípios,

além de trazer intranqüilidade absoluta a toda a sociedade.

Eram as nossas observações.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Hamm.

O último Deputado inscrito para falar nesse bloco é o Deputado Beto Faro.

O SR. DEPUTADO BETO FARO - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

primeiramente, quero agradecer ao Ministro Tarso Genro e à sua equipe por

comparecerem a esta Comissão. E S.Exa. também tem comparecido a outras

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Comissões da Casa, inclusive, no dia em que aprovamos o convite para que o

Ministro aqui viesse, S.Exa. estava em outra Comissão dialogando sobre um dos

temas que estamos tratando, que é a questão da Reserva Raposa Serra do Sol.

O Ministro tem atendido vários Parlamentares desta Comissão e não apenas

dialoga, mas apresenta soluções.

Portanto, quero parabenizar o Ministro por essas questões, inclusive, pelas

soluções que estão sendo apresentadas na sua fala a esta Comissão.

Parabenizo, também, a Comissão de Agricultura, pois desde a última reunião

com o Ministro evoluímos bastante. Eu acho que nós trabalhamos muito sob o ponto

de vista ideológico na última e hoje estamos trabalhamos mais no sentido de

apresentar, efetivamente, proposições e soluções para os problemas.

Eu acho que o tom que nós estamos dando a esta audiência pública contribui

muito mais para resolver os problemas do que meramente ficarmos no debate sobre

quem defende um setor e quem defende o outro. Eu acho que é uma evolução

importante que estamos tendo nesta Comissão.

Os problemas são muitos. Eu diria que nós estamos num momento positivo e

importante e com um diagnóstico bem mais claro dos problemas. A Casa também já

tem tomado iniciativas neste último período para buscar soluções.

Nessa questão da Amazônia, um dos problemas graves que nós temos ali é

de identificação inclusive de quem está nas áreas, sejam pequenos ou grandes.

Essa questão de direito de propriedade na Amazônia...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado Beto Faro, só

um minuto.

Eu quero fazer uma solicitação especial para todos aqueles que nos visitam,

que acompanham esta reunião, que façam silêncio, a fim de que os Parlamentares

possam ordenar o pensamento e ter tranqüilidade para exprimir seu raciocínio e o

Ministro possa ouvir com toda a clareza a manifestação de cada um.

Desculpe-me, Deputado Beto Faro, mas acho que era imprescindível fazer

esse comunicado. V.Exa. tem mais 1 minuto.

O SR. DEPUTADO BETO FARO - Obrigado, Sr. Presidente.

Nessa questão da Amazônia, por exemplo, temos problemas de identificação

efetiva de quem está ocupando as áreas. A grande proprietária das terras ali é a

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União. Uns, por terem mais posses, conseguem, com o trator, abrir áreas, construir

uma casa melhor etc.; outros têm que esperar, às vezes, 3, 4 anos o INCRA para

construir uma casinha ou uma estrutura dentro de uma área. Mas, na verdade,

direito de propriedade da área ali são raros os que possuem. Nós temos que

dialogar sobre esse assunto.

Aprovamos a Medida Provisória nº 422, de 2008, nesta Casa, que eu acho

que vai contribuir muito para incluir aqueles que efetivamente têm direito à

regularização fundiária. O Estado, a partir daí, vai poder acompanhar, levar as

pessoas para a legalidade e punir aqueles que cometem crimes ambientais, entre

outros.

Por fim, como o tempo é curto, eu quero apenas apresentar um dado, para

que não cometamos injustiça, sobre a acusação de conivência da Governadora Ana

Júlia Carepa com invasões e ocupações.

A todas as ações feitas inclusive por movimentos na área da Vale do Rio

Doce o Estado esteve presente para garantir segurança, direito à propriedade. O

Ministro sabe disso, inclusive da colaboração entre Ministério da Justiça, Polícia

Militar, Polícia Civil. O Estado colocou todo o seu aparato para trabalhar nessa

questão.

A última audiência que nós tivemos aqui com o Ministro Tarso Genro foi sobre

a acusação de que era a Liga dos Camponeses Pobres que estava ocupando as

áreas no sul do Pará. Estava se realizando uma operação grande do Estado para

coibir as invasões, as ocupações.

Portanto, o Estado não se tem omitido, tem trabalhado. Mas não pode chegar

batendo, atirando, como já ocorreu no Pará. Não é esse o caminho que a Polícia

paraense tem adotado, mas a Governadora tem o compromisso com essa realidade.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Beto

Faro.

Com a palavra o Sr. Ministro para as suas respostas.

O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Vou ser também bastante breve.

Eu acho que uma questão aqui envolve todas as demais que foram feitas

pelos Deputados Leonardo Vilela, Duarte Nogueira, Afonso Hamm e, em parte, Beto

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Faro, inclusive sobre o direito de representação que os Deputados têm em relação

aos Poderes constituídos e aos próprios Ministros.

As questões de ordem pública nos Estados não podem ser jogadas para a

Polícia Federal. Não é da sua competência. Os serviços de inteligência dos Estados

é que devem dispor — e na minha opinião dispõem, pelo menos meu Estado dispõe,

porque tem feito ações, inclusive, preventivas, duras, às vezes, em relação aos

movimentos sociais, em plano de Estado, e tem operado de acordo com a

legalidade, orientado pelos juizes municipais.

Então, transferir para o âmbito da Polícia Federal uma função de zeladoria,

por exemplo, de prédios públicos, preventiva, para que não sejam ocupados, é

absolutamente impossível. Isso não é função da Polícia Federal. A Polícia Federal é

a Polícia Judiciária da União. Seu aparato de inteligência, quando tem informações

que possam ajudar os Estados a prevenir conflitos, a Polícia Federal as repassa

imediatamente, e o faz de maneira permanente nos Estados, numa relação de

colaboração com todos os Governadores. Mas os Governadores têm de querer essa

colaboração. Se os Governadores não querem, ou porque são Oposição ao Governo

Federal, ou à direita ou à esquerda do Governo Federal, como eventualmente

acontece, essa responsabilização não pode ser transferida. Não houve nenhum

momento em que a Polícia Federal, solicitada pelos órgãos públicos estaduais,

tenha deixado de cumprir suas obrigações.

Em relação às desocupações que deveriam ser feitas pelos Estados, quando

eles pedem, porque são questões de ordem pública estadual, a Polícia Federal vai lá

com seus quadros, preparados para negociar, inclusive, com força ostensiva,

quando necessário. Mas o que não pode é haver uma transferência de

responsabilidade, como se a Polícia Federal fosse uma polícia preventiva, de

proteção da propriedade privada. Não é. A Polícia preventiva de proteção da

propriedade privada é a Polícia Estadual, não a Polícia Federal. Em nenhum

momento ela deixou de fazer desocupação de prédios da União, determinada pelo

Poder Judiciário. Aliás, não tem sido necessário, porque, quando a Via Campesina,

o MST, o MPA ou outra organização ocupa uma área, como foi ocupado o Banco de

Brasília, por empresários fazendo suas movimentações, ou trabalhadores, a Polícia

Federal vai lá, negocia, orienta, discute e mostra a sua força. Quando é necessário,

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inclusive, é feito um aviso antecipado: “A partir de amanhã, nós vamos operar; a

partir de hoje à tarde, nós vamos operar”. Isso tem dado certo e tem evitado mortes

e conflitos. E o Estado não tem perdido a sua autoridade.

Então, essa ansiedade, que é legítima, em querer responsabilizar o Ministro

por qualquer violação de ordem pública estadual, tem que ser transferida para o

Estado, para o Secretário de Segurança, para o Governador, que, inclusive, dispõe

de um sistema de informação para fazer esse trabalho preventivo. O que

evidentemente não retira de ninguém o direito de representação.

Quero salientar e deixar bem claro que o Ministério da Justiça está à

disposição das autoridades estaduais, e do Parlamento também, para fazer a

proteção do trabalho dos Deputados, quando necessário, como já foi feito com

diversos Parlamentares. Não me lembro, na minha gestão pelo menos, de que

tivesse sido negado apoio a qualquer Parlamentar para sua proteção física quando

fosse necessário. E vamos continuar fazendo isso, porque é uma obrigação

constitucional nossa.

Processo de identificação, por exemplo, de pessoas que cometem essas

ilegalidades. Essas pessoas estão todas identificadas pelos Estados e pela Polícia

Federal, quando for de sua competência. No que se refere aos inquéritos da Polícia

Federal, estão respondendo inquérito judicialmente. Existem inquéritos que não

versam sobre propriedade da União, por exemplo, que são feitos pelo Estados, no

âmbito da Justiça Comum, como o caso dos sem-terra, do MST. O Poder Judiciário

tem tido, na maioria das vezes, uma parcimônia muito grande, mas não deixa de

processar os responsáveis. Às vezes, me telefonam dos Estados para dizer: “Tal juiz

de tal região está processando 3 ou 4 integrantes de tal movimento. É função do

juiz. Peguem um advogado de defesa, e vão se defender.

Nós temos que tratar essa questão de maneira muito cautelosa, sob pena de

fraudarmos o sentido federativo de nossa relação. Quando a situação está fora do

controle no Estado, os Parlamentares podem pedir intervenção; representar para

pedir intervenção no Estado. O Supremo vai determinar ou não essa intervenção. E

a União pode atuar, então, de maneira plena, substituindo, inclusive, e colocando

sob seu comando as autoridades policiais do Estado.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vamos ao segundo bloco

de perguntas, começando pelo Deputado Márcio Junqueira.

O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, Sr. Ministro, que mais uma vez está nesta Casa. Serei breve porque sei

que o Ministro já conhece o tema, mas entendo que lhe falte muita informação.

O Governo hoje é vítima da desinformação ou da informação maldosa e

irresponsável, que é remetida para o Ministério e o Presidente da República. O

Presidente — e o Supremo vai demonstrar isso em agosto — foi induzido a erro,

quando assinou o decreto de homologação de Raposa Serra do Sol, haja vista que

em varias declarações da própria Justiça ficou constatada a fraude no laudo. Há

pessoas envolvidas que nunca estiveram em Rondônia, motoristas. Mas isso vai ser

discutido no Supremo.

No nosso último encontro, eu perguntei a V.Exa. quais eram as despesas do

Patacon III, operação que acontece em Roraima. V.Exa. disse-me que tinha

informação de que eram 200 mil reais até aquele momento. O Jornal do Brasil — é

como eu digo, V.Exa. não tem culpa, a meu ver, falta informação — disse que, só

em diárias, até agora, foram pagos 3,5 milhões de reais. Cada policial custa para o

País, por dia, 116 reais.

Para ilustrar, Sr. Ministro, no episódio da prisão de Paulo Cesar Quartiero,

naquele dia que V.Exa. esteve em Roraima, V.Exa. visitou apenas uma ONG, por

desinformação. V.Exa. foi levado lá. No meu entender, a sua assessoria errou,

porque o levou até lá. V.Exa. não tem culpa, pois nunca tinha estado lá. Mas o CIR,

aquela ONG à qual V.Exa. teve que se apresentar porque eles não o conheciam,

disse que desembarcam ontem, na Europa, um dos coordenadores, para visitar, na

Espanha, Inglaterra, Bélgica, França e Portugal, as ONGs Caritas, Manos Unidas,

Entreculturas, Survival, Anistia Internacional, Greenpeace, entre outras, inclusive,

com o Papa. Essa ONG que V.Exa. visitou. Eles demonstram que, ou não acreditam

nas instituições brasileiras ou, de fato, estão de conluio. Quem declara é a própria

assessoria de comunicação do CIR, aquela ONG que V.Exa. visitou.

V.Exa. falou em conflito. Quem causou o conflito no Estado de Roraima foi

tão-somente a forma equivocada da atuação da Polícia Federal, que causou o

exagero. Em cima daquela ponte do Surumu havia 40 pessoas contra 500 policiais

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federais, a Força Nacional. Então, o exagero causou o conflito e a violência. V.Exa.

falou na violência. Prenderam o Prefeito Paulo César Quartiero, com mais 10

pessoas que nunca tiveram um antecedente policial, os colocaram num avião a jato

da Polícia Federal — tirando o Prefeito, que responde a processo, nenhum dos

outros tinha sequer um antecede policial —, trouxeram para Brasília e os jogaram na

carceragem da Polícia Federal, um lugar para traficantes. E essas pessoas ficaram

lá por 9 dias. E pasmem os senhores, a Polícia Federal, que tem todas as condições

de apurar os fatos, teve que amargar, engolir, uma decisão unânime do TRF. O TRF

não acatou a denúncia do Ministério Público, o TRF sequer levou em consideração

as outras denúncias e mandou soltar todos.

Portanto, Ministro, exponho estas questões com a consciência de que temos

a responsabilidade de buscar um caminho para o day after, apesar de o Ministro

Nelson Jobim achar que não. Eu disse para S.Exa. a mesma coisa, que nós temos

que nos preocupar com a decisão do Supremo, seja ela qual for. Porque de um lado

ou de outro vai haver insatisfação.

Eu fiquei feliz, Ministro — já estou terminando, Sr. Presidente —, quando ouvi

de V.Exa. que a Amazônia é dos brasileiros. Somos nós que vamos discutir isso.

Tenho certeza absoluta — e quero aqui de público dizer isso — de que o senhor, o

homem, o brasileiro Tarso Genro, não tem o interesse nem a intenção de tirar do

âmbito da discussão do Brasil as questões de Raposa Serra do Sol e da Amazônia,

infelizmente, não posso dizer o mesmo em relação a outros componentes do

Governo.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado pela paciência.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Márcio Junqueira.

Com a palavra o Deputado José Genoíno.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, eu não sou membro desta Comissão mas sempre participo das

reuniões nas Comissões, como Deputado, toda vez que os Ministros do meu

Governo estão presentes. Particularmente, o Ministro Tarso Genro, além de amigo, é

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um companheiro por quem tenho profundo respeito e admiração, por sua historia e

pelo trabalho que exerce no Ministério da Justiça.

Eu acho que V.Exa., Ministro, esclareceu um problema de fundo, e não é o

centro do debate desta Comissão, felizmente: a questão da demarcação das terras

indígenas é o cumprimento do art. 231 da Constituição Federal no seu caput.

Se analisarmos os §§ 6º e 4º do art. 231, sobre esta questão da alienação,

isso fica claro. O art. 231 não deixa dúvida: “São reconhecidos aos índios sua

organização social, costumes, línguas, crenças, tradições e os direitos originários

sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,

proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

Eu acho que nós temos que ter uma postura de tolerância democrática e de

negociação. Se nós levarmos os conflitos sociais para o tratamento policial e legal,

nós estaremos institucionalizando esse tipo de confronto. E não é a primeira vez que

isso surgiu na história do Brasil. Quem se lembra das duas primeiras décadas da

República Velha? “Greve é caso de Polícia!” Nós não podemos adotar essa linha.

Preocupou-me — por isso eu faço esta referência e gostaria de ouvir a

opinião do Ministro — o fato de que um dos debatedores levantou a defesa da Lei de

Segurança Nacional. Eu tenho a opinião de que a Lei de Segurança Nacional não

está na sua totalidade acolhida pelo texto constitucional de 88, até porque usa o

conceito de segurança nacional. E a Constituição de 88 usa o conceito de defesa

nacional e separa bem o que é segurança pública de defesa nacional. Essa mistura,

aliás, os episódios do Rio de Janeiro estão mostrando que não é bom se fazer. No

meu modo de entender, é necessário uma Lei de Segurança do Estado

Democrático, mas não de Segurança Nacional. Porque, quando se misturam bens,

propriedades, com segurança das instituições, essa confusão tem uma historia

trágica na história do Brasil. Por isso, eu gostaria de ouvir a sua opinião sobre esse

tema.

Para concluir, Sr. Presidente, também ficou claro nesses debates que terras

indígenas são terras da União, e demarcação de terras indígenas não ameaça a

soberania nacional, até porque são bens da União. E a melhor maneira de defender

a fronteira é exatamente ter terra da União e ter a relação com a população

indígena. Inclusive, Deputado Colatto, este foi o grande argumento do Deputado

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Nelson Jobim na Constituinte de 88, para garantir que a demarcação das áreas

indígenas é uma condição para a verdadeira segurança e soberania nacional. Isso

também está resolvido, até porque, nesses termos, Sr. Presidente, o Brasil, quando

assinou a Convenção dos Povos Indígenas, vetou, fez ressalva ao art. 46,

exatamente porque conceituava nações indígenas. Esse debate está saindo, e

estamos fazendo um debate correto, que é a discussão da relação econômica nessa

demarcação.

Muito obrigado.

O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA – Questão de ordem, Sr.

Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Pois não, Deputado

Leonardo Vilela.

O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Sr. Presidente, os Deputados que

não são membros desta Comissão, a exemplo do Deputado José Genoíno, são

muito bem-vindos e contribuem muito para o debate. Mas eu solicitaria a V.Exa. que

seguisse o preceito regimental de que a prioridade do debate é para os membros

desta Comissão, como, aliás, adotam, ainda que informalmente, outras Comissões

permanentes desta Casa.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Eu lamento que esta questão de

ordem não tenha sido levantada quando o Deputado Marcio Junqueira, que também

não é membro desta Comissão, falou. Só por que eu falei agora.

O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Desculpe, Deputado, mas também

serve para o Deputado Marcio Junqueira.

O SR. DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO - Em relação a nós a vigilância é maior.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Senhores, para que se

esclareça de uma vez por todas esse episódio, não há suporte regimental para

preferência, o que há é uma prática e uma tradição. Apenas isso. Como eram

apenas 2 ou 3 Parlamentares, por atenção e respeito ao Ministro da Justiça, nós,

então, flexibilizamos a prática e a tradição e permitimos a participação. E acho que,

se nos atermos ao tempo de cada um, todo mundo vai falar e vamos respeitar o

direito constitucional conquistado por nós no mandato parlamentar.

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Peço compreensão aos membros da nossa Comissão. Levarei em

consideração as ponderações do Deputado Leonardo Vilela, por quem tenho

profundo respeito, mas quero aqui encontrar um meio de convivência ampla e

democrática.

Vamos adiante.

Com a palavra o Deputado Dagoberto, que é membro titular desta Comissão.

O SR. DEPUTADO DAGOBERTO - Sr. Ministro, obrigado pelo

comparecimento.

Sr. Presidente, a minha pergunta já está praticamente contemplada. A minha

preocupação era com relação à autonomia dos Estados e o papel da Polícia

Federal. Estou dizendo isso, porque fui Secretário de Segurança Pública em meu

Estado. O Sr. Ministro praticamente já respondeu isso, até porque os próprios

Governadores é que têm que requisitar, quando sentirem impotência da sua Polícia

Civil e da sua Polícia Militar, daí, ajuda do seu Ministério. Mas V.Exa. deu essa

explicação, contemplando, assim, a minha pergunta.

Mas quero fazer uma ponderação. Estou vendo muita gente aqui. Pedimos,

às vezes, que os próprios Governadores tenham essa presença da Polícia Federal.

E aí quando a Polícia Federal vai, vimos aqui e ficamos discutindo quanto foi gasto

para isso. Quer dizer, nós temos que saber o que nós queremos. Como eu disse, fui

Secretário de Segurança e sei do custo para se deslocar uma tropa. Tem despesa

com locomoção, alimentação, estada... É muito caro mesmo, não tem como ficar

barato. Quem faz esse papel de criticar custos ou é a imprensa ou aqueles que não

querem o apoio do Ministério.

Acho isso um absurdo, e não tem como eu não fazer essa contestação,

porque até agora não estamos explicando a V.Exa. o que queremos.

É só isso, Sr. Ministro. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Dagoberto.

Com a palavra o Deputado Paulo Piau, Vice-Presidente desta Comissão.

O SR. DEPUTADO PAULO PIAU - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs.

Deputados, serei breve. A minha intervenção é mais a título de pergunta.

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Recentemente, tivemos a invasão das mulheres da Via Campesina aos

laboratórios da Monsanto e, segundo a empresa, houve um prejuízo da ordem de

200 milhões de reais.

Sou pesquisador e sabemos o quanto demora para começar um trabalho e,

evidentemente, lançar uma variedade no mercado. Ali, havia variedades de milho e,

portanto, esse prejuízo talvez não seja apenas um jogo de imprensa ou da empresa,

e seja um prejuízo real.

Esse caso envolve interesse nacional, porque são empresas multinacionais

que investem no Brasil. Isso é saudável, o chamado capital produtivo. V.Exa. deixou

transparecer em uma outra resposta que essa é uma questão do Estado.

Pergunto: não há um interesse maior do Ministério da Justiça no sentido de

coibir esse tipo de prática? Porque invasão, no meu entender, é crime,

principalmente em uma propriedade particular. Qual a interface que tem o Ministério

da Justiça, a Polícia Federal como investigativa para elucidar e coibir, não no sentido

de prevenir, é claro, mas de investigar? Nesse caso específico, as investigações

estão em curso?

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Paulo

Piau.

Com a palavra a Deputada Jusmari Oliveira.

A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA - Sr. Presidente, Srs. Deputados,

Sr. Ministro Tarso Genro, primeiro, queremos dizer que sempre é uma honra receber

V.Exa. nesta Casa e nesta Comissão.

Quero parabenizar os requerentes desta audiência pública, porque os temas

aqui discutidos têm preocupado toda a sociedade brasileira. Na região que

represento não existe conflito dessa forma, mas a população também está

preocupada, porque da forma como as coisas estão acontecendo, são noticiadas na

imprensa, são enfrentadas e discutidas levam as pessoas a imaginarem que

amanhã sua região poderá viver a mesma situação.

Tudo o que eu queria ponderar, os Deputados que me antecederam já o

fizeram e acho que falar mais seria chover no molhado. Mas é interessante reforçar

a observação do Deputado Duarte Nogueira. Fiquei esperando por uma resposta,

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mas como muitos fazem perguntas V.Exa. responde resumidamente a todos, e eu

gostaria de apresentar uma questão, reforçando o que entendo ter sido a intenção

do Deputado Duarte Nogueira.

Não há possibilidade de o Governo, o seu Ministério e todos os demais —

aliás, nessas questões todos os Ministérios estão envolvidos, porque se há um

problema social, se há um problema territorial, se há um problema de

desenvolvimento econômico, se há um problema de meio ambiente, todos os

Ministérios estão envolvidos — desenvolverem uma ação preventiva, eficaz e

verdadeira? Porque o que estamos vivendo é administração de conflitos, e aí vem

todo esse sentimento que o Deputado requerente apresentou aqui, de que quando o

social chega, chega a ilegalidade. Não é isso. Entendemos que na administração de

conflito é difícil se perceber legalidade, até porque tudo acaba sendo ilegalidade.

Temos que tentar achar o melhor para que o pior não ocorra. Não se pode observar

todos os aspectos legais, apesar de V.Exa. mencionar demais a observação da

legalidade. O direito à propriedade e o direito à mobilização social são legais, sim,

mas quando não são respeitados e não há medida preventiva nem uma atuação do

Governo de forma a prever o conflito, acaba tudo, acaba o direito à propriedade,

porque há invasão de propriedade e acaba o direito à mobilização, porque o dono da

propriedade tem que intervir na mobilização, sob pena de perder a sua propriedade.

É ao que temos assistido. Então, respeitando essa legalidade e respeitando esse

direito, aos quais todos somos favoráveis, não há como neste Governo — se é que

já não há — constituir-se um comitê, um conselho, um fórum com representatividade

de todos, dos maiores, médios e pequenos proprietários, dos sem-propriedades, que

também são prioritários nessa questão — quero ressaltar isso —, para que se faça

um zoneamento, um censo, se é que o Governo não tem, de todas as localidades

em que pode haver conflito? Onde temos quilombolas? Na minha região temos

quilombolas. Onde temos índios? Para prever cada reserva indígena, cada direito de

quilombola e o que isso pode afetar. Então, chama-se aqueles que possivelmente

podem ser afetados e se coíbe a situação de conflito, que considero temerária e que

preocupa toda a sociedade.

Então, reforçando a ponderação do Deputado Duarte Nogueira, estas são as

observações que queria fazer.

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Agradeço, de antemão, a sua resposta.

É necessário, sim, que o Governo enfrente isso de forma real, mas muito

verdadeira. Não se pode, quando o sem-terra vir procurar o Governo, dar uma

solução e dizer que está a seu favor. E, depois, quando o proprietário da terra vir,

dizer que também está do seu lado; que também está do seu lado; que também

estou do seu lado. Tem de colocar os 2 à mesa e saber quem vai perder, por que

perder, os 2 perderem e se chegar a uma conclusão final, evitando-se essa situação

horrível que nós vivemos hoje, principalmente para nós, Deputados, que temos de

ser o elo entre o lá e o cá.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputada

Jusmari Oliveira.

Vamos ouvir o Deputado Eduardo Valverde. E aí concluímos esse bloco.

O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - Sr. Presidente, caro Ministro

Tarso Genro, nobres pares, eu sou Relator do PL nº 1.610, que trata da

regulamentação do § 5º do art. 231 da Constituição Federal, que trata de mineração

em terra indígena. E, na qualidade de Relator, junto com os demais membros da

Comissão, estivemos visitando alguns países que têm mineração em área indígena.

Fomos visitar a Austrália, que tem um processo de colonização muito similar ao do

Brasil. Em 1990, a Suprema Corte australiana declarou território indígena quase a

metade do território australiano. Isso, obviamente, naquele momento foi um choque,

mas depois a sociedade foi pactuando. E nessa área, que é contínua, tem cidades,

mineração, ferrovias, hidrovias, estradas, nem por isso causou um fracionamento da

sociedade australiana. Muito pelo contrário, a população não-indígena teve que

compreender esse contexto, passou a criar mecanismos de compreensão e de

aceitação de um fato, que nem foi uma lei, mas uma decisão da Suprema Corte

australiana em função do direito tradicional, direito consuetudinário. Isso nos serve

de importante lição.

A intolerância tem causado esse fracionamento da nossa sociedade. Não

estamos tendo competência e capacidade de compreender que o Brasil é um país

que foi colonizado. Num certo momento da nossa história chegaram os europeus,

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ocuparam esse território, só que já existia gente aqui vivendo, com todo o direito

inerente à democracia moderna.

O Estado australiano compreendeu isso, tanto que as empresas de

mineração passam a orientar os seus trabalhadores dizendo: “Respeitem a pedra

que está naquela localização. Lá tem espírito, segundo entendimento indígena.

Desviem rodovias para não passar em território indígena. Pactuem com as

populações indígenas”. Diálogos que resultam em ações de apoio às iniciativas

dessa população. Dois terços da economia australiana é pautada no minério, que

está hoje, quase na sua totalidade, em território indígena.

Isso é uma importante lição para nós de que é possível, dentro de um diálogo,

diante das diferenças etnicoculturais, podermos compreender. Da forma como

estamos tratando essa questão, não há compreensão. Só estamos nutrindo a

intolerância e a separação. Só que no meio desse contexto existe a Constituição

Federal, que obriga o Estado brasileiro a garantir a esses povos o uso, o costume e

as tradições. Queiram ou não, temos de aceitar esse fato. Eu acho que o diálogo

nesse momento é muito mais producente do que a disputa estéril.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Eduardo Valverde.

O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Pela ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Pois não, Deputado Adão

Pretto.

O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Tendo em vista que já estamos

passando do meio-dia, e o Ministro tem compromisso às 12h30min; considerando

que está prestes a começar a Ordem do Dia no Plenário e os Deputados estão

falando e saindo, eu sugiro a V.Exa. e ao Ministro que todos os Deputados falem e

depois o Ministro encerra num apanhado geral.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Se todos concordarem,

não há objeção alguma.

Há concordância de todos? (Pausa.)

Então, o Deputado Luiz Carlos Setim tem a palavra.

O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS SETIM - Sr. Ministro, é uma satisfação

tê-lo hoje em nossa Comissão. Eu acredito, Deputado Eduardo Valverde, que

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V.Exa. assistiu ao meu pronunciamento ontem no Grande Expediente, quando eu

falava sobre o que é o Brasil. O Brasil é uma mistura do branco, do índio e do negro.

O branco, que veio como colonizador; o negro, que veio, a princípio, apenas como

mão-de-obra, trouxe sua cultura, sua tradição e sua grande contribuição; e o índio,

que estava aqui no Brasil e nos hospedou a todos que somos de origem européia.

Hoje, nós somos um Brasil que é formado por brancos, índios e negros.

Eu fiquei muito feliz ao ouvir o senhor falar do diálogo, dessa possibilidade de

entendimento, não só quando se refere à Polícia Federal, à segurança pública, à

segurança nacional. Eu acho que se trata de bom senso, porque o direito de

propriedade, tão defendido aqui por muitos, é do índio, do negro e do branco. Então,

no caso de demarcações, de instalações, de decretos legislativos, como vemos hoje,

tem de haver os laudos, tem de haver essa profundidade, mas com mais critério.

V.Exa. mesmo diz que está, numa sindicância, observando se isso é verdade,

se isso é fato, se isso é direito, ou se ele tem a sua razão de ser. Mas o problema é

esse conflito e essa falta de segurança que hoje as pessoas, com propriedade ou

sem propriedade, estão sentindo.

Mesmo as terras adquiridas de boa-fé, hoje, a legislação não ampara. Então,

quando se faz um decreto legislativo para essas reservas, para essas fixações, será

que não é imprudente se fixar onde há realmente os títulos de boa-fé, mesmo que a

legislação assim não admita?

V.Exa. foi muito feliz quando disse que está sendo adotado critério de que as

terras não serão tomadas, não serão demarcadas se lá estiverem pessoas, seja no

caso de grande propriedade, seja no de agricultura familiar, produzindo. São

também colonizadores, como os negros. Deve haver o respeito. É isso que esta

Casa debate e espera do Governo Federal, do Ministério e de V.Exa. Aqui V.Exa.

demonstrou grande capacidade de diálogo, bom senso e aquilo que é o melhor para

o povo brasileiro, pois, afinal, nós somos uma grande mistura de brancos, de índios

e de negros.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Setim.

Concedo a palavra ao Deputado Celso Maldaner.

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O SR. DEPUTADO CELSO MALDANER - Sr. Ministro, primeiro, uma palavra

de gratidão, de agradecimento pela sua sensibilidade ao entender a situação dos

agricultores familiares que estão cumprindo sua função social.

Num primeiro momento, em 19 de abril do ano passado, o senhor assustou

todos os catarinenses. Hoje, pela sua fala, fiquei muito tranqüilo. A agricultura

familiar encontra-se em Santa Catarina há 100 anos. Os agricultores adquiriram

suas terras e estão cumprindo função social. Então, fico muito sensibilizado.

Agradeço a V.Exa. as colocações que fez hoje aqui.

Sr. Ministro, nós, na nossa região, inclusive, estamos discutindo a questão de

faixa de fronteira. Há proposta de que seja diminuída para 50 quilômetros. Nós até

entendemos que nem deveria haver mais faixa de fronteira lá, porque temos, no

caso do MERCOSUL, uma integração perfeita, intercâmbio cultural, esportivo com a

Argentina. Não haveria essa necessidade. E o Exército está na nossa região, no

extremo oeste de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Por que não o colocar na

Amazônia? Faço uma sugestão: todo o Exército que está lá poderia ser deslocado

para cuidar da nossa Amazônia, atendendo essa preocupação que existe

relativamente àquela região.

Sr. Ministro, não sei se passa por suas mãos também essa matéria que

aprovamos aqui, a que estabelece que bebida alcoólica nas BRs, no meio rural, não

pode, e no perímetro urbano pode. Também fica essa preocupação nossa.

Por último, gostaria de saber se o Governo de Rondônia solicitou oficialmente

ajuda na questão da Liga dos Camponeses Pobres.

Era só isso.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Muito obrigado, Deputado

Celso Maldaner.

Antes de passar a palavra ao próximo Deputado, gostaria de pedir novamente

silêncio, para que o Parlamentar tenha liberdade no uso da palavra.

Concedo a palavra ao Deputado Adão Pretto, por 2 minutos.

O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, prezados colegas,

sobre o tema que é debatido nesta Comissão hoje, a respeito dos índios, eu já vi,

por exemplo, Deputado dizer aqui que temos de entregar o Brasil para os índios

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porque todo o Brasil era deles. E era mesmo. Agora, vejam, só esses pedacinhos de

terra que hoje os índios ocupam ocasionam conflito. Falam muito também em

respeitar a propriedade, dizem que estão invadindo propriedade. Mas como é que se

atrevem a invadir propriedade dos índios?

Em Roraima há aquela área indígena que está gerando conflito em âmbito

internacional. Eu já falei nesta Comissão, eu participei da CPI da Terra, numa

audiência que tivemos em Curitiba, no Paraná, e um cidadão confessou que é

proprietário de 6 milhões de hectares de terra no Pará. Eu nunca vi Deputado aqui

achar que isso é exagero. Agora, os coitados dos índios que têm um pedacinho de

terra têm de dividi-lo.

A questão dos quilombolas. Nós aqui, quase a maioria, somos descendentes

de europeus. Meus avós vieram da Itália, por exemplo. Vieram em busca de

melhores dias. Mas os negros não vieram em busca de melhores dias, vieram

presos nos porões de navios. Então, nós temos de dar um tratamento diferenciado

para os negros, bem como para os índios.

Sr. Presidente, também foi falado muito aqui sobre a questão dos conflitos,

dos movimentos, movimentos que não têm identidade. Será que foi por falta de

identidade que, na semana passada, no Rio Grande do Sul, 17 pessoas foram para

o hospital e 12 foram presas porque estavam mobilizando-se para fazer uma

caminhada rumo ao Palácio Piratini, em vista do conflito em que se encontra a

Governadora com o Vice-Governador e do que está vindo à tona em relação a tudo

o que já foi denunciado?

Sr. Presidente, ontem, por exemplo, os agricultores sem terra estavam num

acampamento, numa terra arrendada — isso já fazia 3 anos —, sob frio de zero

grau. Foram despejados de madrugada, e à noite ainda permaneciam no local. Não

havia local, área para levar os agricultores. Está em jornais de hoje que vão ser

feitos mais 3 despejos no Rio Grande do Sul em acampamentos próximos de

grandes fazendas. É por falta de identidade que isso acontece?

Para finalizar, Sr. Presidente, digo que também se acusam muito os

movimentos de fazer protestos e bloquear estradas. Eu pergunto: e o caso dos

ruralistas, que bloquearam estradas? Só no Paraná, houve um dia em que 60

rodovias estavam bloqueadas. Mas isso era uma questão de cidadania... Agora,

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quando são os movimentos da Via Campesina, daí é baderna. Quiseram entrar de

trator no Congresso Nacional, estragaram toda a grama da Esplanada com trator,

que patinavam na grama molhada. Isso é cidadania, não é baderna...

Sr. Presidente, faço uma pergunta para o Ministro: Sr. Ministro, V.Exa. está

sabendo que estão organizando milícias armadas para combater os agricultores sem

terra?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado.

Concedo a palavra ao Deputado Anselmo de Jesus.

O SR. DEPUTADO ANSELMO DE JESUS - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sras.

e Srs. Deputados, primeiramente quero parabenizá-lo, Ministro, e dizer que havia

requerimentos nesta Casa para convocá-lo, e nós do Núcleo Agrário e mais parte da

base aliada, até por conhecermos o grande Ministro que é V.Exa., convencemos a

direção da Mesa e também esta Casa de que V.Exa. não precisava ser convocado,

bastava convidá-lo. Assumimos essa responsabilidade, e V.Exa. veio aqui e nos

honrou. Como V.Exa. é um grande Ministro, não é preciso convocá-lo, basta

convidá-lo. Então, queremos parabenizá-lo por isso.

Ressalto que a precisão do resumo feito por V.Exa. transmite a realidade de

cada ponto que está hoje em discussão. E quero dizer que é lá do meu Estado

também, com relação à Liga Camponesa.

Poderiam ser considerados outros pontos, mas o tempo é muito curto. A

questão da Raposa Serra do Sol o Supremo vai julgar, e tenho certeza de que ele

vai cumprir a lei. Todos estão aqui falando em direito de propriedade. O direito que

eu quero para a minha propriedade também quero para a terra dos índios, para a

dos quilombolas. Existe lei hoje que trata dessa questão.

Com relação a Rondônia, V.Exa. disse muito claramente que hoje não tem

nada lá que um bom secretário de segurança pública e meia dúzia de policiais

militares não possam resolver. Tanto é assim que eu fui até lá com o meu motorista,

fiz 5 reuniões lá dentro e pude ver que há um bando de picaretas. Muitas vezes eles

são chamados de madeireiros, mas não podemos misturar os empresários de

madeireira com os picaretas, que usam pessoas para invadir áreas de planos de

manejo, reservas e explorar madeira. Ainda há aqueles que falam da Liga, mas não

falam desses picaretas.

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A Operação Arco de Fogo fechou várias madeireiras, e muitas pessoas desse

tipo estão por trás disso. Disseram que havia ligação com a Colômbia, com as

FARC, mas lá não existe nada disso.

Agora, Ministro, com o “know-how” político de V.Exa. no Governo Lula, espero

que possa ajudar a nossa bancada de Rondônia. Esse foi um dos grandes temas

por nós discutido, entre os 11 assuntos a respeito do desenvolvimento do Estado de

Rondônia. Inclusive, fui o coordenador relativo ao assunto regularização fundiária.

Há emenda parlamentar da bancada de Rondônia relacionada, por intermédio

do Superintende do INCRA, a 19 glebas do projeto de regularização fundiária. É

fundamental a liberação dessa emenda da bancada de Rondônia para que

possamos, de fato, regularizar aquelas terras, principalmente naquela região, a fim

de acabarmos com o conflito ali existente entre os sem-terra e os grandes

latifundiários.

Por isso, precisamos da força do Ministério de V.Exa. para resolver realmente

esse problema.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Com a palavra o Deputado

Valdir Colatto.

O SR. DEPUTADO WALDIR NEVES - Sr. Presidente, creio que sou eu agora

a falar. Eu acho que está havendo algum engano.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Segundo a lista, agora é a

vez do Deputado Valdir Colatto; depois é a sua. Está tudo direito.

O SR. DEPUTADO WALDIR NEVES - Mas não está assim na relação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. é o 19º, Deputado,

o 18º é o Deputado Valdir Colatto.

O SR. DEPUTADO WALDIR NEVES - Então a sua lista está errada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Não. A lista que tenho é a

mesma.

Mas, tudo bem, o Deputado Valdir Colatto gentilmente cede a sua vez a

V.Exa.

O SR. DEPUTADO WALDIR NEVES - Obrigado. Eu tenho outro

compromisso e estou ansioso há horas, principalmente numa audiência concorrida

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como esta, em que notamos a presença maciça de Parlamentares. Aliás, gostaria

que essa presença fosse verificada sempre, o que considero fundamental.

Sr. Ministro, serei bastante objetivo. Primeiro, agradeço a V.Exa. por ter vindo

mais uma vez a esta Comissão, bem como ao Sr. Presidente e aos requerentes

desta audiência pública.

Todos aqui, tenho certeza, temos consciência da dívida social que o País tem

para com os indígenas e os quilombolas. Isso é indiscutível. Quanto a isso, não

tenho a menor dúvida. No entanto, o que aqui se discute — o Ministro estava aqui

em outra ocasião e concordou inclusive — é a forma de fazer a desapropriação, a

expropriação e a forma de concessão daquelas áreas. Há pouco V.Exa. disse que

isso já está estabelecido na Constituição, mas é uma norma aberta. E estamos

tentando fazer a regulamentação por lei, uma vez que hoje isso é feito por meio de

medidas administrativas.

Sabemos que a FUNAI, que está ultrapassada e obsoleta, gasta dois terços

do seu orçamento com atividade-meio e um terço com atividade-fim e, em muitos

casos, estimula conflitos para justificar a existência dos burocratas que lá estão. A

meu ver, essa FUNAI deveria ser fechada.

Ministro, V.Exa. esteve aqui recentemente e admitiu que o procedimento está

equivocado, no caso, por exemplo, dessa última portaria, que foi feita de forma

unilateral, apenas com um laudo do antropólogo da FUNAI, sem respeitar o devido

processo legal, a ampla defesa, conforme determina o art. 5º da Constituição.

No meu Estado foi publicada uma portaria, e foram vendidos 36 mil hectares

de terra. Pessoas os compraram de terceiros, à luz do dia, com amparo na

Constituição de 1891, que estabelecia critérios para ocupação das terras devolutas

do País.

Pergunto a V.Exa., concretamente, sem tergiversar: o que o Ministério, o que

V.Exa., com o poder que tem, com o conhecimento que tem, com a formação que

tem, está fazendo para mudar essa forma de relacionamento, que está virando um

barril de pólvora neste País, descobrindo-se um santo para cobrir outro? O que está

sendo feito para mudar essa realidade?

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O senhor, em reunião anterior nesta Comissão, disse que a forma de

desapropriação é incorreta, assim como a forma de indenização, porque não cobre

os valores das áreas desapropriadas.

Então, queria que V.Exa., objetivamente, relatasse o que, de maneira

concreta, está sendo feito para mudar essa realidade.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Waldir Neves.

Com a palavra o Deputado Valdir Colatto.

O SR. DEPUTADO VALDIR COLATTO - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs.

Deputados, primeiro, quero pedir escusas, pois estávamos — eu e o Deputado

Zonta, que é o nosso Presidente da Frente — em uma reunião na EMBRAPA, para a

criação da Câmara Setorial da Silvicultura, e, portanto, não pudemos estar aqui no

início desta reunião.

Quero cumprimentar o Ministro Tarso Genro, homem de grande sabedoria

jurídica, a quem respeitamos.

Sr. Ministro, farei 2 perguntas, de forma bem clara. Ouvi muitos

esclarecimentos e tomei conhecimento de muitas posições de V.Exa., mas gostaria

de ouvir, especificamente, qual é a interpretação que o Ministro dá ao art. 231 da

Constituição, que determina sejam reconhecidas como terras indígenas aquelas

ocupadas tradicionalmente pelos índios — a Constituição de 1988 determinou isso.

O art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição

Federal diz que caberá ao Estado localizar, demarcar e titular as terras ocupadas

pelos descendentes de quilombos.

Gostaria de saber qual é a interpretação do Ministro sobre essas 2 questões,

já que, antropologicamente, há mudança nesses conceitos, pois buscam um

conceito chamado de difuso — e o agrônomo tem dificuldade nisso.

Ministro, gostaria que revelasse a interpretação de V.Exa., para que o Brasil

saiba de sua opinião quanto a essas 2 questões.

Precisamos definir isso. Torço para que o Supremo estabeleça alguns marcos

regulatórios para essas 2 questões.

Há conflitos iminentes, alguns já estão ocorrendo nessas 2 áreas, de

quilombos, de indígenas, e o Brasil tem que fazer uma coisa, o Congresso Nacional

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tem que definir isso. Se a lei ainda não está clara, Ministro, ajude-nos a resolver

isso, porque o conflito entre irmãos brasileiros não pode continuar.

Ministro, graças a Deus, o senhor está entendendo. Com certeza, esse é o

ponto. Esse é o ponto que precisamos resolver para não termos outros conflitos, a

exemplo do que ocorre em Raposa Serra do Sol, em algumas áreas em Santa

Catarina e em outras.

Outra questão. Solicito a V.Exa. que estenda essas investigações sobre as

ONGs, a que V.Exa. se referiu, para o Brasil inteiro. Há muitas ONGs boas, mas

outras não são, a exemplo das ONGs de antropólogos que induzem Ministros e

autoridades a erros, por laudos errados, que não são verdadeiros.

Temos que olhar isso de perto. Sabemos disso. Conheço antropólogos que

dizem que é uma barbaridade o que estão fazendo neste País, criando situações,

induzindo autoridades superiores a erro, criando despesas para o Estado e

sujeitando os agentes públicos à Lei de Responsabilidade Fiscal.

Espero que o Ministro, quando deixar o cargo, não seja processado por esse

ou aquele ato, por ter sido induzido ao erro.

Quero dizer que as pequenas terras, os pedacinhos de terra reclamados

pelos índios no Brasil hoje são 117 milhões de hectares. Essa área, Ministro, é para

450 mil indígenas. Os coitadinhos são os maiores latifundiários do Brasil. Eles têm

12% do território brasileiro e querem chegar a 20%...

E os quilombolas querem 25 milhões de hectares. Estes também não são tão

coitadinhos assim, pois reclamam área equivalente a 3 Estados de Santa Catarina.

Portanto, temos que tratar com seriedade dessa questão.

Por fim, Sr. Ministro, gostaria de saber se V.Exa. tem conhecimento, pois

V.Exa. baixou uma portaria criando a área indígena Morro dos Cavalos, na BR-101,

no trecho Palhoça—Osório, de que há uma...

(O Presidente faz soar a campainha.)

Sr. Presidente, gostaria que o Deputado Adão, que não é quilombola, mas é

Pretto, pudesse nos dar licença para falar...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - O nome Pretto é de

origem italiana.

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O SR. DEPUTADO VALDIR COLATTO - Mas acho que, por dentro, ele é

quilombola.

Então, Sr. Presidente, gostaria de saber se o Ministro da Justiça tem

conhecimento do Acórdão nº 533, de 2005, do Tribunal de Contas, proferido nos

autos do Processo nº 003582, de 2005, sobre a questão da modificação do traçado

da estrada que passa pela área Morro dos Cavalos, criando 2 túneis na BR-101,

obra que vai custar 50 milhões de reais a mais, em razão dessa tal terra indígena

recentemente criada, que não existia. E trata-se de índios guaranis nômades. Há

outros 8 ou 10 casos semelhantes na BR-101. Os índios estão requerendo a

titularidade dessas áreas. Quero saber se o Ministro tem conhecimento desse

processo. E um trecho da BR não pôde ser licitado, pois o aumento dos custos é

absurdo: 50 milhões para construir túneis e desviar a estrada dessa dita terra

indígena.

Como V.Exa., Ministro, recentemente baixou portaria nesse sentido, eu

gostaria que, de público, revisasse isso, porque o laudo antropológico é mentiroso. É

um laudo mentiroso! Deve ser responsabilizada a pessoa que lavrou esse laudo

sobre a área. Não é possível que o Brasil arque com esse prejuízo.

O senhor foi enganado, com certeza. Afirmo aqui, publicamente, que o senhor

foi enganado. Mande verificar, olhe bem isso, mande fazer um laudo técnico, porque

há um erro muito grande nessa área. Conheço o assunto há muitos anos. Não há

terra indígena naquele local. Aliás, criaram a área dentro de um parque ecológico

estadual, o da Serra do Tabuleiro — o Deputado Zonta e o Deputado Celso sabem.

Devemos respeitar, realmente, o direito. Por favor, Sr. Ministro, o direito dos

indígenas e dos quilombolas nós reconhecemos, mas devemos reconhecer também

o direito dos proprietários e dos agricultores, que muitas vezes são expulsos pela

Polícia Federal. Eles nada fizeram, não cometeram crime algum, estão lá de boa-fé,

são proprietários que estão produzindo, plantando, mas são expulsos, de repente

são tratados como bandidos sem saber o porquê. Tudo isso ocorre porque foi criada

uma área indígena. Isso está acontecendo em Santa Catarina e no Brasil, Ministro.

Por favor, sei que o senhor é uma pessoa de bem, que pode buscar o

entendimento dentro da melhor interpretação da legislação. O que é ou não terra

indígena? Ninguém mais sabe, a esta altura do campeonato, o que é quilombo ou

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quilombola. Temos a obrigação de resolver essa questão. Faço um apelo ao Ministro

para que nos ajude nessa tese.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Valdir

Colatto.

Concedo a palavra ao Deputado Homero Pereira.

O SR. DEPUTADO HOMERO PEREIRA - Sr. Ministro, quero fazer 2

abordagens rápidas, sendo a primeira sobre a questão da faixa de fronteira.

Quero saber se o Ministério está pensando em algo para tentarmos pacificar

essa questão da faixa de fronteira. Existem inúmeras iniciativas nesta Casa, no

Senado, uma delas, inclusive, do Senador Sérgio Zambiasi. Há PECs tramitando

aqui. Mas existe alguma iniciativa da parte do Governo para tentarmos pacificar a

questão? Assim pergunto porque a insegurança jurídica sobre a faixa de fronteira é

enorme. São 150 quilômetros, 100 quilômetros, 50 quilômetros? Qual é a posição do

Ministério neste momento sobre a faixa de fronteira? Seria importante a gente ter

esse indicador do Ministério da Justiça.

A segunda questão refere-se à demarcação das áreas indígenas. Existe um

projeto de minha autoria tramitando nesta Casa que chama para o Congresso

Nacional a responsabilidade de participar, em um debate livre e democrático, da

ampliação e criação de reservas indígenas, uma vez que, no modelo atual, o rito

previsto tem trazido muitos conflitos.

Eu sou do Estado de Mato Grosso. Nós temos o caso da BR-158, que já

existe há muitos anos, e precisa ser pavimentada. A obra está prevista no PAC.

Ocorre que, muito depois da existência dessa BR, foi criada uma reserva indígena,

com a desapropriação de uma fazenda, e agora vamos ter que desviar a estrada,

uma BR já existente. O fato é que a reserva indígena foi criada a posteriori. Repito:

não se trata de nova estrada nova, apenas de pavimentação da estrada já existente,

mas vamos ter que desviar a estrada, em razão desse problema.

Há outros exemplos. Na região da fronteira do Brasil com a Bolívia, estamos

criando uma etnia que não existe no Brasil, a dos chamados chiquitanos. As

pessoas envolvidas na questão já fizeram declarações de que não querem ser

reconhecidos como índios. Mas, em razão de um laudo antropológico etc., a FUNAI

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insiste em denominá-los índios. Mas eles próprios manifestam-se: “Não somos

índios”.

Veja bem, Ministro, eles mesmos já manifestaram que não querem ser índios,

pois vieram da Bolívia, por conta da divisão do Brasil com aquele país etc. Enfim,

eles não querem ser índios, mas a FUNAI insiste em que eles têm de ser índios.

Então, em meio a todo esse conflito, estamos tentando ali com a Bolívia e

outros. Eles não querem ser índios, mas a FUNAI insiste em que eles sejam índios.

Então, conhecido todo o conflito, e aproveitando esse ambiente democrático,

com a realização de audiências públicas, até para mudar o rito do atual modelo de

criação e ampliação de reservas indígenas, queria saber sua opinião e a do

Ministério a respeito deste assunto.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado pela

contribuição, Deputado Homero Pereira.

Tem a palavra o ilustre Deputado Marcos Montes, sempre Presidente desta

Comissão.

O SR. DEPUTADO MARCOS MONTES - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Meus cumprimentos, Sr. Ministro.

Primeiramente, quero contestar o Deputado Anselmo em relação à

convocação ou convite do Ministro. Não foi um grupo de Parlamentares que resolveu

convidá-lo. Fomos todos nós que chegamos ao entendimento de o ideal seria o

convite e não a convocação.

Digo isto, Sr. Ministro, porque V.Exa., ano passado, quando eu presidia esta

Comissão, esteve aqui conosco, na condição de convidado, e uma das graves

reivindicações naquela oportunidade foi prontamente atendida por V.Exa., relativa à

situação de Redenção, no Pará. A firme atuação da Polícia Federal evitou

problemas muito mais graves que poderiam ocorrer naquele local. Lembro que foi

uma solicitação desta Comissão, solicitação que enfaticamente renovamos a V.Exa.

Minha intenção não era contestar, neste meu primeiro mandato parlamentar, mas

algumas coisas, se não me assustam, me surpreendem. Quando aqui os Deputados

Leonardo Vilela, Marcio Junqueira e José Genoino — aliás, é a primeira vez que

vejo S.Exa. aqui —, ao se referirem a algumas situações, disseram que sempre

acompanham os Ministros nas Comissões, eu me assustei, porque um homem do

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gabarito de V.Exa. não necessita de toda essa proteção parlamentar, digamos

assim, para dialogar de maneira aberta. Estranhei muito, não conhecia essa

metodologia, essa blindagem na Casa, ainda mais reconhecendo a competência de

V.Exa., Sr. Ministro. Pessoalmente, eu o admiro muito. Comentei inclusive com sua

assessoria que naquela época, quando eu presidia esta Comissão, V.Exa., ao vir

aqui, prestou um grande serviço.

Ouvi, certa ocasião, um relato do Deputado Valdir Colatto sobre a questão

indígena em Santa Catarina, onde comprovadamente uma antropóloga do Rio de

Janeiro emitiu um parecer sem conhecer a situação in loco, ou seja, sem saber o

que acontecia naquele Estado.

Refiro-me a isto, Sr. Ministro, porque o mundo inteiro volta seus olhos para o

Brasil. Nosso País é realmente o celeiro do mundo. O mundo inteiro vai depender, e

rapidamente, da produção de alimentos do Brasil.

Então, tudo o que foi solicitado a V.Exa. pelo Deputado Homero Pereira e

tantos outros — com muito respeito, pode ter certeza, desde o ano passado e na

atual Presidência do Deputado Onyx Lorenzoni, a quem cumprimento pela condução

harmônica dos trabalhos — tem a ver com algumas preocupações manifestadas

aqui. Foi lida aqui a Constituição. Ora, todos nós conhecemos a Constituição, e

qualquer brasileiro sabe do respeito que devemos ter com a população indígena,

com a população quilombola. Portanto, acho que todos nós temos de ser

respeitados sobre os nossos conhecimentos da Constituição. Se somos

Parlamentares, no mínimo, devemos conhecer a nossa Constituição.

O Deputado Waldir Neves fez referência a uma questão e eu vou repetir.

Estamos chegando a um ponto em que não cabe mais aos Estados, Sr. Ministro,

essa cobertura em termos de segurança que as várias regiões desses respectivos

Estados precisam. Eles já não dão conta mais, ou não querem mesmo, como disse

V.Exa., por ser de Direita ou de Esquerda, o que para mim não importa. Sou de um

partido de oposição ao Governo, mas eu respeito muito o Governo. Então, o que nós

precisamos, Ministro, é de uma estratégia governamental — e o Ministério de V.Exa.

é capacitado para isso — que dê tranqüilidade a todos. É isto que a população, o

produtor rural, pequenos, médios, e grandes, precisam. E eu sempre defendi o

produtor rural — o Presidente Onyx sabe disso. O Presidente Lula lançou no ano

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passado — espero que não cometa mais esse erro — os planos de agricultura

familiar e o de agricultura empresarial. Isto não existe. Agricultura é uma coisa só, é

só um movimento, é só um agronegócio, que é a grande esperança deste País de

crescer.

Por fim, aproveitando a presença de Parlamentares que não fazem parte

desta Casa, mas sempre bem-vindos, e da população em geral, quero sugerir a

V.Exa. que se adote a segurança de uma estratégia nacional a fim de evitar que

esses movimentos não cheguem a beirar a desordem social, o que para nós é muito

ruim não só internamente como também pela nossa respeitabilidade.

Então, Sr. Ministro, meus agradecimentos pela presença. Reitero aqui meu

respeito a V.Exa., desde a sua vinda, ano passado, a esta Comissão, pela ação

imediata tomada por V.Exa. Espero que essa estratégia continue a postos do

Ministério para dar tranqüilidade a todos nós.

Obrigado, Sr. Presidente, pela paciência.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Marcos Montes.

Com a palavra o penúltimo inscrito, Deputado Paulo Teixeira e, em seguida, o

Deputado Zonta.

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, Deputado Onyx

Lorenzoni, venho a esta Comissão por 2 motivos. Primeiro, para reiterar meu pedido

a V.Exa. de colocar em votação na próxima reunião o projeto de retaliação cruzada.

Hoje, um artigo de jornal mostra que o setor algodoeiro nacional quer a votação

desse projeto. Os Deputados Marcos Montes, Anselmo, Beto Faro, Adão Pretto e

outros vêm pedindo isso. Eu também gostaria de reforçar esse pedido, porque é o

interesse nacional que está em jogo com a votação desse projeto. Parece-me que

esse projeto é consensual na Comissão e de grande repercussão nacional. O jornal

Folha de S.Paulo também publica um artigo a respeito.

Peço então a V.Exa. que o paute.

Segundo, quero homenagear o Ministro Tarso Genro. Vem S.Exa. fazendo

um trabalho muito importante e corajoso frente ao Ministério da Justiça. Não é um

Ministro do papel, mas das ações.

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Quero dizer aqui, na Comissão de Agricultura, que defendemos um projeto de

País, um País que cresce hoje a 5%, um País que se desenvolve e à medida que

cresce distribui renda e se moderniza, mas que, por outro lado, ainda tem muitos

desafios.

O agronegócio e a agricultura brasileira vão bem, e a agricultura familiar

também. Hoje, as commodities fazem sucesso na economia, com os preços do

arroz, do feijão, da soja, da carne.

Então, creio que teremos condição de elaborar um projeto de País onde

caibam todos: o agricultor, que tem uma empresa, como também o pequeno

agricultor e o sem-terra. Nele tem que caber o índio, o habitante originário deste

País, mas que sofre muito, como podemos verificar ali no Mato Grosso com as

populações indígenas. Raposa Serra do Sol, a meu ver, é um processo de Estado

que perpassou 3 Presidentes da República — Fernando Collor, Fernando Henrique

e Lula.

Então, há que se consolidar essa visão do Estado brasileiro. O mesmo se dá

com as terras remanescentes de quilombos. Está posto na nossa Constituição.

Sr. Presidente, esse tema é muito importante para a sociedade brasileira. Nós

não podemos achar que um tipo de segmento da economia possa se dar em

detrimento da manutenção da floresta, que diz respeito às futuras gerações, à

biotecnologia, à exploração científica e à solução de muitos problemas brasileiros, e,

tampouco, em detrimento dos índios e das terras quilombolas.

Daí que a nossa visão de Nação, Sr. Ministro, é muito coincidente com a de

V.Exa. Aliás, aprendemos muito com seus artigos, palestras e pronunciamentos. Por

isso aqui estamos para homenageá-lo. Concordamos com a sua visão de País.

Muito obrigado, Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Quero esclarecer toda

Comissão que reconhecemos a relevância do projeto relatado por V.Exa., Deputado

Paulo Teixeira.

Ele foi pautado pela primeira vez na sessão de 28 de maio. Voltou à pauta em

4 e 11 de junho. Qual o problema então? Aspectos regimentais: ou requerimentos

extrapauta, ou discussão de projeto. Ele está na pauta e faremos esforço para votá-

lo.

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O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - É esse o esforço que quero pedir a

todos, para que o coloquemos como o primeiro item da pauta.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Está garantido, desde o

primeiro pedido.

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Concedo a palavra ao

Deputado Zonta, último inscrito.

O SR. DEPUTADO ZONTA - Sr. Presidente, Deputado Onyx Lorenzoni, Sr.

Vice-Presidente, Deputado Luiz Carlos Setim, Sr. Ministro Tarso Genro, colegas

Parlamentares, imprensa, representantes de entidades, primeiramente, incumbe-me

a missão de mais uma vez agradecer ao Ministro Tarso Genro pela presença nesta

Comissão. Até o final do mandato esperamos entregar a V.Exa. um diploma de

participante ativo dos trabalhos desta Comissão. Seja bem-vindo. V.Exa. atende

prontamente aos convites da Comissão para tratar de assuntos relevantes.

Gostaria de repetir uma indagação — e já foi dito aqui pelos colegas Valdir

Colatto e Celso Maldaner — feita ao Sr. Ministro na última vez em que S.Exa. esteve

aqui. Trata-se da anulação do acordo do Ministério da Justiça com a Associação

Brasileira de Antropologia em função da emissão de laudos antropológicos feitos no

Rio de Janeiro — e já foi citado o exemplo de Santa Catarina — sem conhecimento

do local. Isso demonstra a inidoneidade de determinados membros desta

Associação. Quero saber se foi revista essa situação, se foi investigada ou não,

porque isso prospera na decretação de áreas. Como bem disse o Deputado Valdir

Colatto, pensamos que está tudo correto mas, na realidade, alguns membros estão

abusando desse direito.

De outro lado, cito aqui a preocupação já exposta também pelo Deputado

Colatto sobre a decretação da Portaria Declaratória da área do Morro dos Cavalos,

que é um absurdo. As famílias foram colocadas lá temporariamente, pois milhões de

brasileiros cruzam aquela rodovia. Agora, o Governo Federal vê-se na contingência

de fazer investimento dispendioso para atender 14 famílias nômades, que daqui a

pouco não estarão mais lá. Esse absurdo tem que ser corrigido.

Além do mais, o Sr. Ministro sabe que temos em Santa Catarina algumas

áreas em demarcação sub judice. E como ele mesmo afirma, sempre vão respeitar a

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decisão judicial. Esta é a posição que gostaríamos de ouvir mais uma vez de V.Exa.

Também queremos ouvi-lo sobre a questão do oeste e sobre o caso de José

Boiteux, onde 521 famílias de pequenos agricultores estariam sendo pressionadas a

saírem para ampliação de uma reserva indígena.

Mesmo que a matéria esteja sub judice, que possa ser respeitado esse

momento e os pequenos agricultores tenham direito a defesa.

Era esta a intervenção.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado

Zonta.

Passo a palavra ao Ministro Tarso Genro, para sua manifestação final.

O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Sr. Presidente, terei de ser bastante

sintético e, desde já, comprometo-me com os Srs. Deputados que eventualmente

não receberem as respostas pontuais a informá-los em meu gabinete. Inclusive o

Alberto estará à disposição para recolher os questionamentos apresentados e,

assim, continuarmos o diálogo, que já é permanente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Mandarei cópia das notas

taquigráficas com os questionamentos dos Srs. Parlamentares, e a Assessoria

Parlamentar cuidará de informar aquilo que não foi respondido pontualmente.

O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Responderemos por telefone ou

pessoalmente.

Quero dizer também que, no momento em que for necessária minha presença

aqui, estarei à disposição. E muito me orgulharia receber o título de integrante

honorário desta Comissão, porque aqui se sintetiza uma série de questões nacionais

importantes. E essas questões nacionais importantes, se não todas, pelo menos a

maioria, só poderão ser resolvidas por meio de um diálogo prudente, sério,

respeitoso que nos coloque como verdadeiros mandatários da função pública que

exercemos.

Portanto, sempre que necessário, podem contar com a minha presença nesta

Comissão.

Vou, taquigraficamente, colocar algumas questões importantes, para

avançarmos.

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Foram apresentadas várias perguntas.

Por exemplo: como o Ministério da Justiça pode ajudar para dar força ao

poder de polícia preventivo dos Estados no que se refere às questões de segurança

pública que, na minha opinião, envolvem questões relacionadas com ocupação de

propriedade, pressão dos movimentos sociais, pressão de grupos empresariais que,

eventualmente, ocupam determinados espaços da União?

Temos 2 possibilidade e ambas estão em andamento. Primeiro, estamos

montando nos principais Estados os Gabinetes Integrados de Segurança Pública.

Neles, se o Governador quiser, estarão presentes autoridades da União. Não

apenas 1 representante do Ministério da Justiça, nesse Programa Nacional de

Segurança Pública e Cidadania, mas também 1 integrante da Polícia Federal,

orientado pelo superintendente local, e, quando necessário, 1 integrante da Polícia

Rodoviária Federal. Ali poderá influir, sim, um conjunto de colaborações de natureza

preventiva: cada um, dentro das suas funções, cumprindo as suas funções de

maneira adequada, sem extravasar a questão federativa, e colocando-se à

disposição para o cumprimento da lei.

Agora, a aceitação do Gabinete Integrado não pode ser forçada pela União, é

de responsabilidade do Governo Estadual.

Outra questão extremamente importante: o Ministério da Justiça está

estruturando novo sistema brasileiro de informação, integrando os sistemas de

informações locais, com a Agência Brasileira de Inteligência, a Polícia Federal e as

inteligências estaduais. Para que isso? Para desenvolver ações preventivas e

permitir que as autoridades cumpram as suas funções de maneira adequada sem

precipitação, sem preconceito, e — seja que movimento social ou empresarial for,

inclusive através das informações — e tomem as medidas necessárias para que o

movimento seja atendido naquilo que é uma demanda efetivamente justa,

transformando o eventual potencial conflito social numa solução por intermédio de

políticas públicas locais e acordadas com os Governos Estaduais.

Repito: o Governo Estadual tem que querer essa solução. Nós estamos

tomando todas as providências para que isso seja possível.

Para que os senhores tenham idéia do desenvolvimento desse novo sistema

integrado, um policial, com um laptop e um celular, no momento em que identificar

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uma pessoa que, por exemplo, está sendo revistada numa barreira ou acusada de

um delito, pode acessar esse sistema de inteligência e saber daquela pessoa todos

os dados que não estão cobertos por sigilo legal: quem é, de onde veio, se o carro é

dela ou não, qual o seu emprego, se responde ou não a processo judicial e se tem

mandado de captura. Isso vai trazer uma capacidade operativa preventiva

extraordinária para as polícias locais, o que nos colocará num patamar de primeiro

mundo. É óbvio que aqueles dados cobertos pelo sigilo legal não estarão disponíveis

nesse sistema.

Então, é possível, sim, trabalhar nessa direção.

Os custos da operação estão aumentando em função do tempo de

permanência. Nós temos a obrigação de ficar lá, por determinação do Supremo

Tribunal Federal. Tudo o que queremos, Ministério da Justiça, Polícia Federal e

Força Nacional, é que esse conflito se resolva rápido. E ele está judicializado.

Quando um conflito está judicializado, como as demarcações em Santa Catarina,

temos que aguardar a decisão da Justiça para tomar as providências. Temos de

respeitar a decisão judicial, seja do nosso gosto ou não.

Eu já mencionei ao Deputado Márcio que nós, Governo e Parlamentares do

Estado em que está contido o conflito da área indígena Raposa Serra do Sol, temos

uma responsabilidade muito grande: seja qual for a decisão do Poder Judiciário,

temos que cumpri-la, de maneira harmoniosa e mediada, para que a violência que lá

ocorre termine e para que a polícia não seja obrigada a usar do monopólio da força,

de que ela dispõe por delegação constitucional, para cumprir a decisão, seja contra

quem for. Então, a partir do momento em que essa decisão for tomada, nós temos a

obrigação de trabalhar nessa direção, e eu me comprometo a fazê-lo.

Evidentemente, o poder do Supremo para ditar a interpretação da norma em

última instância é elemento caracterizador do Estado de Direito, e nenhum de nós

pode prenunciar o cumprimento dessa norma, sejam empresários, sejam

agricultores familiares, sem-terra, advogados, porque isso é da essência do Estado

de Direito, e nem todas as decisões têm um grau de universalidade tão grande que

satisfaça a todos.

Em relação à Monsanto, mencionada pelo Deputado Paulo, esse é um caso

típico. Existem enfoques diferentes a respeito da Monsanto e de outras empresas

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dessa natureza. Eu não vou me manifestar aqui sobre o mérito dessa questão, não

só porque ele é de alta complexidade, como também porque essa não é uma

demanda à qual eu deva responder como Ministro da Justiça. O que eu quero dizer

é que esse sistema integrado de informação e os Gabinetes Integrados de

Segurança Pública poderão oferecer dados.

Então, as mulheres que foram até a Monsanto, segundo a visão que elas

manifestaram no momento, para impedir uma experiência científica que estava

sendo realizada ilegalmente e, segundo a visão da Monsanto e de outras

representações, uma legítima pesquisa científica que estava sendo feita em

benefício da empresa e do País, elas poderiam ter sido buscadas anteriormente à

realização desse ato para um diálogo entre elas, a autoridade pública sanitária

vinculada à área e a própria empresa, a fim de solucionar a questão sem aquele

grau de combatividade que levou à radicalização, que não é boa para ninguém.

O Deputado Adão Pretto sabe perfeitamente que, independentemente do

mérito, a forma como essas ações são noticiadas e a forma como são apanhadas

pela sociedade prejudicam aqueles que realizaram o movimento,

independentemente do mérito.

Então, essa é uma questão política que podemos resolver com diálogos

preventivos originários dessa estrutura de integração de informações que nós temos

de fazer.

Eu gostaria que o trabalho de inteligência da Polícia Federal fosse

reconhecido por V.Exas. como um trabalho brilhante. A Polícia Federal tem,

provavelmente, 90% do seu efetivo combatendo contrabando, crime organizado,

tráfico de drogas, corrupção no Estado brasileiro, inclusive de processos originários

da Controladoria-Geral da União — a maioria deles —, onde são flagradas diversas

ilegalidades, às vezes cometidas de má-fé, às vezes de boa-fé, que são

transformadas em inquéritos. É feito todo um trabalho preliminar de inteligência e

depois é que se desencadeiam as operações. Isso em defesa da sanidade do

Estado brasileiro. Eu sei que aqui ela é festejada por todos nós. Isso é

extremamente importante, porque é educativo também no tocante às questões

fundamentais que atravessam o Estado de Direito brasileiro.

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As questões conflitivas que temos no Estado não são somente as

relacionadas à propriedade da terra, à natureza da ocupação territorial. São também

as relacionadas à sanidade do Estado: a luta contra a corrupção, o tráfico de drogas,

o crime organizado, aos quais a Polícia Federal tem feito um combate exemplar.

Eu diria, Sr. Presidente, se me permite, que o que estamos fazendo aqui no

Brasil, com a colaboração de autoridades de todos os partidos políticos, de todas as

visões ideológicas, é muito semelhante ao que ocorreu na Itália na chamada

Operação Mãos Limpas, claro que com a especificidade brasileira. E o Estado

brasileiro ainda não formou gerentes de alta qualidade. Às vezes pode-se evitar

erros, mas não se evita por desconhecimento.

É claro que há muita mistura e muito equívoco, mas o combate à corrupção

que estamos fazendo hoje no Estado, no País é exemplar. Isso é salutar para a

democracia, é salutar para este Congresso, que vota leis, é salutar para os partidos

políticos. Esse trabalho a Polícia Federal vem realizando muitas vezes com a

colaboração das autoridades estaduais e com a participação da PRF.

Eu acho que nós temos que festejar. Essa é uma grande questão que

interessa a toda a sociedade brasileira e a todo cidadão responsável, como são

todos aqui nesta sala.

Dessa forma, acho que respondo às questões mais gerais que me foram

apresentadas.

Finalmente, no que se refere à Operação Arco de Fogo, que está sendo

realizada, pode ter ocorrido algum tipo de movimento equivocado das autoridades

federais. Eu não parto do princípio de que a polícia sempre tem razão. Não me

outorguem essa visão. A Polícia Federal conta com profissionais corretos, treinados.

Mas ali, como em todas as instituições do Estado — Poder Judiciário, Poder

Legislativo, Poder Executivo —, há pessoas que cometem erros.

Essa Operação Arco de Fogo foi exemplar. Para que V.Exas. tenham uma

idéia, foram apreendidos mais de 20 mil metros cúbicos de madeira e 719 mil metros

cúbicos de carvão vegetal, oriundos da exploração da nossa floresta. Foram

destruídos 1.045 fornos ilegais para produção de carvão de madeira extraída

ilegalmente e foram feitas poucas prisões: apenas 32 prisões de pessoas que ou

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estavam com porte ilegal de arma ou cometeram determinada ilegalidade.

Queremos receber informação do que estiver equivocado e vamos corrigir.

Nós estamos num momento extremamente importante para a sociedade

brasileira, momento em que algumas questões têm enorme universalidade, e uma

delas diz respeito à faixa de fronteira. Temos que discutir, sim, mais do que a

questão da faixa de fronteira, a possibilidade de termos, na fronteira, diferentemente

em cada região do País, um regime de ocupação daquelas terras que saiba

combinar a grande propriedade capitalista que faz a exploração do agronegócio e a

ocupação nas terras indígenas que forem demarcadas, mas uma ocupação tranqüila

dos indígenas, que são cidadãos brasileiros.

Não é verdadeira a afirmação de que as terras indígenas ameaçam a

soberania. Pode ser que as terras indígenas sejam ocupadas de maneira ilegal não

pelos indígenas, mas por determinados tipos de organizações que vão lá para

piratear a nossa biodiversidade.

Então, essa pluralidade da sociedade brasileira tem que estar representada

na ocupação territorial. É isso que efetivamente constitui a materialidade do território

e o controle da soberania.

Disse, e repito, ainda que sob o risco de ser mal interpretado: o fato de se

julgar a Raposa Serra do Sol como área contínua ou descontínua não afeta a

soberania nacional, porque ela é parte do território nacional. A Polícia Federal, as

Forças Armadas e a Força Nacional entram lá quando for necessário. Terra

indígena, além de ser território nacional, é propriedade da União. Portanto,

descontinuidade não tem nada a ver. A descontinuidade tem que ser discutida a

partir dos laudos antropológicos, estejam eles corretos ou não, afirmando se aquele

território é efetivamente necessário — e aqui respondo a outra pergunta — para que

as comunidades reproduzam a sua cultura, o seu direito à existência determinado

pela Constituição.

Eu estou defendendo a continuidade daquela demarcação e vou cumpri-la, se

ela não for assim resolvida. Agora, a continuidade ou descontinuidade não ameaça a

soberania. Nós temos plena soberania sobre os territórios indígenas. Aliás, os

territórios indígenas têm uma dupla possibilidade de intervenção, porque, além de

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serem territórios nacionais, são propriedade da União Federal em usufruto dos

indígenas.

Eram esses os esclarecimentos que queria fazer.

Se alguma questão pontual deixou de ser respondida, eu me prontifico a

responder.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)

O SR. MINISTRO TARSO GENRO - Essa questão está em discussão no

próprio Governo.

No que se refere à questão quilombola, está sendo proferido, neste momento

— não sei se já foi publicado —, um parecer normativo da Procuradoria-Geral da

União que repõe essa questão de forma adequada, na minha opinião, e que

considera território quilombola aquele território efetivamente ocupado. É essa a

orientação que a CGU está dando.

Quanto aos indígenas, essa é uma questão de natureza constitucional. Eu

prefiro não abrir a discussão neste momento, até porque há uma discussão a

respeito das portarias, que estão judicializadas. Prefiro declarar minha opinião sobre

isso no momento oportuno. Mas permaneço à disposição, Deputado Colatto, para

conversar pessoalmente com V.Exa. sobre essa questão, que não é fácil de

resolver.

Muito obrigado.

Tenham-me como membro honorário desta Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Agradecemos ao Sr.

Ministro a presença.

Nada mais havendo a tratar, vou encerrar os trabalhos, antes convocando as

Sras. Deputadas e os Srs. Deputados para a reunião deliberativa que se realizará no

próximo dia 25, às 10h, no Plenário 6 do Anexo II da Câmara dos Deputados.

Está encerrada a presente reunião.