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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICOEVENTO: Audiência Pública N°: 1383/07 DATA: 30/08/2007INÍCIO: 10h11min TÉRMINO: 12h04min DURAÇÃO: 01h53minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h53min PÁGINAS: 36 QUARTOS: 23
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOWANDERLINO TEIXEIRA DE CARVALHO – Presidente da Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos – AGR.JOÃO MARIA MEDEIROS DE OLIVEIRA – Presidente do Sindicato Nacional dos Servidores das Agências de Regulação –SINAGÊNCIAS.PAULO RODRIGUES MENDES – Presidente da Associação Nacional dos Especialistas em Regulação – ANER.MARIA CRISTINA DE SÁ OLIVEIRA MATOS BRITO – Presidenta da Associação dos Servidores da Agência Nacional de Águas – ASÁGUAS.MARÍLIA COELHO CUNHA – Representante da Associação Nacional dos Servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANSEVS.JOELSON NEVES MIRANDA – Presidente da Associação dos Servidores da Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ASANTAQ.RONALDO SERNA QUINTO – Vice-Presidente da ANER.OSVALDO BARBOSA FERREIRA FILHO – Geólogo do DNPM – Departamento Nacional da Produção Mineral.
SUMÁRIO: Discussão sobre a gestão de recursos humanos nas agências reguladoras federais, com foco na valorização das carreiras e na melhoria da remuneração dos seus servidores.
OBSERVAÇÕESHouve exibição de imagens.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Marquezelli) - Declaro abertos os
trabalhos da presente reunião da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço
Público.
Bom dia a todos.
Nesta reunião de audiência pública, realizada em decorrência da aprovação
do Requerimento nº 23, de 2007, de autoria dos Deputados Daniel Almeida e
Geraldo Magela, será discutido o tema gestão de recursos humanos nas agências
reguladoras federais, com foco na valorização das carreiras e na melhoria da
remuneração dos seus servidores.
A Exma. Sra. Dilma Rousseff, Ministra-Chefe da Casa Civil, nossa convidada,
manda-nos justificativa da impossibilidade de seu comparecimento a esta reunião,
por estar em viagem com o Sr. Presidente da República.
Anuncio o nome dos outros convidados, a quem peço tomem assento à mesa
assim que forem sendo chamados: Sr. Duvanier Paiva Ferreira, titular da Secretaria
de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Sr.
João Maria Medeiros de Oliveira, Presidente do Sindicato Nacional dos Servidores
das Agências de Regulação; Sr. Wanderlino Teixeira de Carvalho, Presidente da
Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos; e Sr.
Paulo Rodrigues Mendes, Presidente da Associação Nacional dos Especialistas em
Regulação. (Pausa prolongada.)
Está presente algum representante do fórum das agências reguladoras?
(Pausa.) Parece-me que ainda não chegou. Se chegar, nós lhe daremos o espaço
necessário.
Concedo a palavra ao Deputado Daniel Almeida, autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO DANIEL ALMEIDA - Sr. Presidente da Comissão de
Trabalho, de Administração e Serviço Público, Sr. João Maria, Sr. Wanderlino, Sr.
Paulo, senhores convidados, estranho a ausência dos representantes do Governo
Federal. O Sr. Duvanier, do Ministério do Planejamento, foi convidado para esta
audiência pública, e até agora não sabemos das razões de sua ausência. Inclusive,
após o agendamento desta audiência pública, ele informou que compareceria, como
é dever, é obrigação, ao debate para expor a opinião do Governo Federal, do
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Ministério do Planejamento, relativa a um tema tão relevante e tão expressivo para o
interesse nacional.
Aliás, não é a primeira vez que isso acontece. Na última terça-feira, não
compareceu também o representante do Ministério do Planejamento para debater
assunto de interesse da Polícia Rodoviária Federal.
Portanto, não podemos deixar de protestar e, também, adotar medidas.
Quando esta Comissão convidar representantes do Poder Público para que
abordem assuntos relevantes, precisam ter para com ela a devida consideração.
Devemos, agora, fazer convocações, a fim de que tenhamos a garantia da presença.
A Casa Civil, que também foi convidada, não pôde comparecer. Entendemos
a justificativa que foi dada, mas ela poderia ter encaminhado um representante para
tratar do assunto.
É um tema atual, recorrente o papel das agências reguladoras, seu
fortalecimento e suas atribuições. O Projeto de Lei nº 3.337, de 2004, trata
exatamente do papel das agências reguladoras. Considera o seu funcionamento e a
necessidade que temos de seu fortalecimento.
Não haverá bom cumprimento pelas agências reguladoras de suas
atribuições sem que se fortaleça o que é essencial: gestão de pessoal, capital
humano. É importante que seus servidores sejam valorizados, seja estabelecido
plano de carreiras. Quais são as atribuições? Qual é o deslocamento possível na
carreira de cada servidor das agências reguladoras? Qual é o critério de acesso?
Sem esses mecanismos de gestão de pessoal, não podemos falar do fortalecimento
e do bom cumprimento do papel das agências reguladoras.
Sabemos que há muitos problemas. Os que estão relacionados à ANAC são
apenas um elemento dessa dificuldade que algumas agências têm tido para cumprir
suas atribuições. Já tivemos aqui oportunidade de discutir os problemas
relacionados ao mercado de combustíveis, à área do petróleo, e sempre é verificada
carência de pessoal, de qualificação e de remuneração para que essas pessoas
cumpram suas atribuições. E isso não é diferente na ANVISA, na ANEEL, na
ANATEL. Esse problema afeta todas as agências, afeta a nossa economia, afeta a
concorrência, que deve ser justa, correta, leal e ter boa regulação.
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Então, instituir agência reguladora e não lhe dar estrutura adequada para o
seu funcionamento significa criar mais problemas para o funcionamento da nossa
economia.
Nós da Comissão de Trabalho queremos ter acesso a elementos para
produzirmos um encaminhamento adequado e justo que possa contribuir nessa
interlocução necessária entre o sindicato, entre as entidades que representam os
servidores das agências reguladoras e o Governo Federal. Isso é urgente e precisa
ser tratado com a atenção que o tema merece.
São apenas essas as minhas considerações, Sr. Presidente.
Agradeço aos convidados a presença.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Marquezelli) - O Deputado Daniel
Almeida, por várias razões, freqüentemente tem procurado fazer com que a
Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público seja um interlocutor,
relativamente ao Governo e a órgãos sobretudo do Governo Federal, a fim de que
haja um bom encaminhamento das reivindicações que merecem a atenção do nosso
País. Parabenizo o Deputado Daniel Almeida pelo desempenho nesta Comissão e
pela dedicação a que tenhamos um País melhor, considerando-se as várias áreas
da nossa administração pública.
Concedo a palavra ao Sr. Wanderlino Teixeira de Carvalho, Presidente da
Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos.
O SR. WANDERLINO TEIXEIRA DE CARVALHO - Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, senhoras e senhores, é com grande satisfação que a Associação
Brasileira de Agências de Regulação — ABAR comparece a esta audiência pública,
porque tratar da gestão de recursos humanos das agências reguladoras é algo
fundamental para regulação.
Antes de entrar no tema propriamente dito, creio que é importante fazer uma
breve introdução sobre o histórico das agências no mundo, considerando as nossas
questões no Brasil.
As agências reguladoras surgiram na Inglaterra, mas tiveram seu grande
desenvolvimento nos Estados Unidos. Há agências nos Estados Unidos que têm
mais de 100 anos de existência e são instituições extremamente relevantes para o
êxito da administração pública norte-americana.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
No Brasil, a regulação é algo novo, como todos sabem. Tem havido muitas
contradições e muitos posicionamentos equivocados relativos à regulação. O
segmento de esquerda, por exemplo, no qual me incluo, tem cometido equívocos
muito grandes sobre a regulação, por considerar que as agências reguladoras são
um instrumento neoliberal. Freqüentemente vemos autoridades, Deputados,
expoentes do Governo dizerem que as agências reguladoras são resultado de
iniciativa neoliberal, que terceirizaram o País, coisas desse tipo. Esse é um engano
muito grande, principalmente no caso de quem se diz de esquerda.
Quem é estudioso do assunto sabe que as agências reguladoras são
resultado de iniciativa socialdemocrata. É uma instituição tipicamente da
socialdemocracia. Trata-se de intervenção no Estado. Não havia como um neoliberal
aceitar intervenção no Estado, porque, conforme a doutrina neoliberal, o capital não
pode sofrer qualquer tipo de interferência. Não pode haver qualquer tipo de peia
para o desenvolvimento do capital. E as agências reguladoras representam uma
intervenção direta do Estado na economia.
Quando Reagan, um dos criadores do neoliberalismo, foi Presidente da
República, tentou acabar com as agências de regulação nos Estados Unidos, e não
conseguiu por causa da importância, do prestígio que essas instituições têm naquele
país.
Então, no caso do Brasil, não pode o Governo ter o receio de, como se
houvesse um desvio ideológico, apoiar as agências reguladoras como se estivesse
apoiando uma instituição neoliberal. Elas têm caráter tipicamente socialdemocrata, e
o Governo se esforça para cumprir e seguir uma agenda socialdemocrata.
Gostaria de falar algo sobre a ABAR.
(Segue-se exibição de imagens.)
É uma associação que defende os interesses das agências reguladoras,
federais, estaduais e municipais. Esse é o nosso objetivo, a nossa missão.
Atualmente temos 30 filiadas, sendo 5 agências nacionais e 25 agências estaduais e
municipais — 21 estaduais e 4 municipais.
Outro equívoco que também tem havido no processo regulatório do Estado
sobre a economia é o entendimento de que agência reguladora é um instrumento de
defesa dos consumidores. Não é diretamente um órgão de defesa do consumidor.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Para isso existem os órgãos tradicionais de defesa dos consumidores. As agências
seguem aquele triângulo, elas têm de mediar os conflitos entre o Estado, os
operadores e os consumidores. Este é o papel principal delas: realizar uma
mediação relativamente aos conflitos que naturalmente existem na economia entre
os usuários, os operadores dos serviços públicos e o Estado.
O papel das agências reguladoras também é normatizar as leis, decretos
presidenciais que tratam sobre serviços públicos. Elas transformam esses
dispositivos legais em resoluções, principalmente de cunho técnico, que facilitam o
melhor desenvolvimento da economia.
Elas têm ainda o papel de fiscalização, que é extremamente importante, e de
autuação, se necessário, com sanções contra os operadores.
Outorga de concessões. Muitas agências outorgam concessões, outras não.
Mas é também um papel importante das agências.
Outro papel importantíssimo das agências é mediar os conflitos entre os
usuários e os operadores. Em sessões de mediação, procuram fazer com que sejam
resolvidos conflitos resultantes da relação entre esses 2 agentes da economia sem
que haja necessidade de ação administrativa ou judicial.
São atribuições conferidas pela lei de criação das agências, de alta
complexidade, responsabilidade e relevância social.
Entro agora diretamente na questão dos recursos humanos das agências. O
nosso quadro de pessoal é diferenciado. Existem n especialidades, n profissões. A
regulação é algo tipicamente multidisciplinar. Atuam na área advogados,
engenheiros, economistas, administradores, médicos, farmacêuticos. Várias
profissões estão envolvidas no processo de regulação.
A realidade das agências no Brasil, principalmente no caso das federais, que
sofrem mais do que as agências estaduais e municipais, diz respeito sobretudo à
questão do contingenciamento orçamentário. A principal fonte de renda das
agências são as taxas de regulação e fiscalização. Infelizmente o Governo tem feito
uma confusão, tem considerado que a taxa é um imposto. A taxa não é um imposto.
Pela Constituição do País, as taxas só podem ser aplicadas naquele objetivo para o
qual elas foram criadas. Então, julgamos que o Poder Executivo comete realmente
uma ilegalidade ao contingenciar as agências.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Outro problema que enfrentam as nossas agências é a inexistência de
autonomia financeira, devido até a essa questão do contingenciamento. Elas têm
dificuldade de tratar das suas finanças livremente. Os cortes orçamentários causam
enormes prejuízos às políticas de treinamento e capacitação. Esse
contingenciamento tem trazido como conseqüência a falta de treinamento dos
nossos reguladores, a demora em se ter uma remuneração inadequada. Se as
agências pudessem dispor de suas taxas, de suas fontes de recursos, que são
superavitárias em relação ao quadro hoje, elas poderiam realizar a fiscalização de
maneira muito melhor, muito mais eficiente e, conseqüentemente, poderiam
remunerar seus servidores de forma muito mais efetiva, muito mais condizente com
a necessidade das agências reguladoras.
Outro problema das agências reguladoras é a demora na indicação dos
dirigentes. Às vezes, quando termina o mandato do dirigente, ocorre uma situação
absurda: a agência fica sem poder deliberar, por falta de dirigente.
No que se refere à questão dos recursos humanos, nos Estados há leis
próprias, com regime jurídico do Estado. De acordo com as leis estaduais,
geralmente os reguladores são funcionários do Estado. Já no âmbito federal, isso
não acontece. Há os servidores do Quadro Efetivo, regidos pelas Leis nºs 9.996, de
2000; 10.871, de 2004; 10.768, de 2003; e 11.292, de 2006, e do Quadro Específico.
Se a União seguisse os Estados, cujos servidores, no caso, compõem os quadros
de carreiras de Estado, possivelmente seriam bem menores estes problemas que
vemos hoje: desmotivação, saída de funcionários. As pessoas fazem concurso, e
rapidamente prestam concursos para outros órgãos que oferecem vencimentos
maiores. Elas desfalcam, assim, as agências reguladoras federais.
Esse capital humano precisa estar em permanente atualização, para reduzir
ao máximo a assimetria de informações entre o órgão regulador e as empresas
reguladas.
Um problema sério da regulação no mundo inteiro é a captura. Uma agência
reguladora não pode ser capturada nem pelo Estado, nem pelo Governo, nem pelos
operadores, nem pelos usuários. A diretoria, eventualmente, é capturada; porém,
muito mais grave do que a captura da diretoria é a captura dos funcionários, dos
servidores. E baixos salários levam eventualmente a esse desvio. Isso é
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
extremamente preocupante. Enquanto os servidores não tiverem salários
condizentes com a realidade, estarão sujeitos a que os operadores os capturem.
Estudo do Banco Mundial apontou que a remuneração dos servidores das
agências reguladoras federais está aquém do valor adequado, comparando-se com
os de outras carreiras de Estado. Ora, nada mais típico de uma carreira de Estado
do que os servidores de uma agência reguladora federal. Se ela própria é uma
instituição de Estado, por que os seus funcionários, seus servidores não são
considerados como integrantes de carreira de Estado, sendo que vários outros na
Administração Pública Federal o são? É uma contradição enorme.
Estudo da AMCHAM também indicou que a remuneração dos servidores das
agências é inadequada. Essa situação vem provocando grande perda para as
agências e evasão relativamente ao quadro de pessoal, todos os dias. Perdem-se
servidores. Além disso, como eu já afirmei, eles ficam desestimulados.
Levantamento realizado pelo sindicato dos servidores das agências aponta
que o vencimento básico dos reguladores está defasado, e as gratificações não
estão regulamentadas, em desacordo com a lei, piorando ainda mais o clima
organizacional. A existência de inúmeras carreiras nas agências com salários
distintos vem prejudicando os trabalhadores que fazem a regulação federal.
Pergunta-se: como vamos fortalecer as agências sem valorizar os seus servidores?
Tem-se agora o Programa de Aceleração do Crescimento — PAC, que
representa uma esperança importante para a retomada do desenvolvimento no País.
O PAC não prosperará se não houver uma regulação boa. A iniciativa privada, um
fator importante para o PAC, não investirá no setor de infra-estrutura se não houver
fortalecimento da regulação federal. Essa é uma questão extremamente relevante.
Outro fator relevante é o decreto de criação do Conselho de Desenvolvimento da
Regulação. Mas a remuneração dos servidores é inadequada, defasada. É uma
contradição: querem estabelecer esse fortalecimento por meio do PAC, no entanto
não se criam condições nas agências para se dar o suporte necessário à regulação
no País. Há servidores desestimulados, sem um plano de capacitação adequado,
falta regulamentação dos dispositivos das leis sobre recursos humanos, a evasão de
servidores é alta.
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O regulador deve ser bem remunerado e valorizado, sob pena de ele, como já
falei, ser capturado. Vários funcionários públicos são capturados, devido ao
problema de salários. Conhecemos muito bem esse problema da corrupção de
funcionários públicos nas diversas esferas, seja federal, seja estadual, seja
municipal. É assim em todas as partes do mundo nas quais as agências reguladoras
são fortes e valorizadas pelos Poderes constituídos. Onde a regulação frutificou, na
Inglaterra e principalmente nos Estados Unidos, os empregados das agências têm
salários condizentes com os cargos.
Esperamos que a experiência relacionada às agências de regulação no Brasil
não acabe ou não caia no descrédito, por não contar com os mecanismos
adequados relativamente a essa questão dos recursos humanos.
O capital humano dessas agências precisa ser premiado. A ABAR apóia a
proposta de subsídio. Foi uma proposta concreta da ABAR. Apoiamos a proposta de
subsídio idealizada pelo sindicato das agências, por representar uma proposta
factível, isonômica e robusta. É preciso uma solução permanente e não paliativa.
Muito obrigado a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Marquezelli) - Chegou algum
representante da Casa Civil? (Pausa.) Ainda não veio.
Chegou algum representante da Secretaria de Recursos Humanos do
Ministério do Planejamento? (Pausa.) Também não veio ainda.
Concedo a palavra ao Sr. João Maria Medeiros de Oliveira, Presidente do
Sindicato Nacional dos Servidores das Agências de Regulação — SINAGÊNCIAS.
O SR. JOÃO MARIA MEDEIROS DE OLIVEIRA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, companheiros de trabalho das agências reguladoras, inicialmente
gostaria de parabenizar o Deputado Daniel Almeida pela iniciativa e a Comissão por
ter acatado a sugestão de realizar este debate. Para nós trabalhadores e muitas
vezes desassistidos por parte do Governo e dos órgãos do Poder Executivo, que
deveriam valorizar mais a interlocução com os servidores, o Deputado Daniel
Almeida tem sido um escape nessas discussões.
Reconhecemos que esta Casa, especificamente esta Comissão, tem tratado
de temas importantíssimos para a vida funcional de várias categorias do serviço
público. Vemos este espaço como um espaço de fortalecimento das propostas e da
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luta dos servidores para tentar corrigir as distorções, que nem deveriam existir.
Lamentavelmente, os trabalhadores só conseguem algumas coisas com muita luta e
apoios importantes, como o que há nesta Comissão e nesta Casa.
O SINAGÊNCIAS realizou assembléia nacional em fevereiro, com
representação de trabalhadores de todo o País e de todas as agências, em que tirou
proposta para fortalecer todas as carreiras das agências reguladoras. Como
ferramenta para esse fortalecimento, é necessário apoio nos diversos setores da
sociedade. Identificamos a Câmara dos Deputados, esta Comissão, entre outros
setores — imprensa, opinião pública, sociedade civil organizada —, como um
espaço para mostrarmos as propostas e sensibilizar o Governo no que diz respeito à
correção de alguns equívocos que vêm ocorrendo freqüentemente com as agências
reguladoras.
Esperávamos que nesta audiência, além dos representantes que estão aqui
discutindo, estivessem os da Casa Civil e do Ministério do Planejamento.
Lamentavelmente, ainda não estão presentes.
É importante que haja nesta Mesa alguém representando o Fórum de
Recursos Humanos das Agências Reguladoras, que vivencia o dia-a-dia
relativamente a essas dificuldades. Sugerimos inclusive que fosse convidado.
Talvez, até o final desta audiência, ainda chegue alguém. Esperávamos que já
estivesse aqui.
Em linhas gerais, a ABAR já discorreu brilhantemente sobre boa parte dos
temas que devemos buscar. Essa associação tem sido uma aliada dos
trabalhadores das agências, porque tem a função de fortalecer o marco regulatório
no País e, conseqüentemente, fortalecer o Brasil e toda a sua sociedade.
(Segue-se exibição de imagens.)
Neste quadro, apresentamos alguns pontos: quem somos e um breve
histórico. Vou pular as partes iniciais e ir direto à situação do Brasil hoje, porque
esses temas a ABAR já abordou de maneira brilhante.
Atualmente, no Brasil, há 10 agências reguladoras federais e outras tantas
estaduais e municipais. Algumas dessas agências, cerca de 5, foram criadas no final
da década passada; as demais, em 2000, 2001 e 2002. Apontamos, na condição de
reguladores, de quem vivencia o cotidiano das agências, algumas dificuldades para
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que elas possam trabalhar e desenvolver seu papel. A autonomia financeira é uma
delas. A ABAR já tratou desse tema importante.
O contingenciamento tem dificultado o bom trabalho das agências
reguladoras, inclusive, em algumas situações, causando incapacidade de exercer a
fiscalização. Ano passado, a ANATEL chegou a suspender a atividade de campo
porque não havia dinheiro para pagar diária. Isso é um absurdo. A ANVISA
estabelece uma hierarquização, a fim de definir para onde vai o regulador; nem
sempre tem recursos para pagar as despesas referentes à viagem. Além disso —
aproveito a oportunidade para denunciar isto —, impõe aos seus reguladores que
viajem em finais de semana, em vôo de madrugada, sem compensar o horário. O
indivíduo sai do Brasil para ir à China, do outro lado do mundo. Só o fuso horário o
deixa em condições difíceis de saúde. Ao voltar, no outro dia, tem que estar na
agência às 8h, como se tivesse ficado em casa no período. Isso é um absurdo! E
quando vai, porque o contingenciamento, muitas vezes, nem permite que o
regulador desempenhe bem seu papel.
Independência técnica e decisória. A agência tem que se consolidar como um
ente do Estado em condições de, realmente, regular o mercado. Leia-se que
mercado não é quem produz; segundo o Aurélio, é quem produz e compra. O
mercado deve ter os 2 lados da moeda. Às vezes falamos de mercado, e o
entendimento é de que a agência só se preocupa com quem produz. A agência tem
que trabalhar com quem está produzindo e com quem está consumindo. Se a
agência não for capaz de fazer essa identificação, vamos criar um ambiente em que
o setor produtivo não vai ter como escoar, repassar e vender sua produção ou fazer
com que os usuários se sintam bem para consumir aquele produto.
A independência é importantíssima. Temos visto em várias situações
interferências, tanto dos Ministérios quanto de outros setores do Estado, para tentar
sobrepor decisões das agências. Obviamente, nós do sindicato não defendemos que
a agência seja o ambiente de formulação política de regulação. Formulação política
cabe aos Ministérios, ao Governo. À agência cabe fazer a regulação com isenção, a
fim de dar as garantias de que a economia brasileira precisa para crescer. A agência
deve ter autonomia nesse sentido.
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Essas dificuldades todas inviabilizam que a agência desempenhe bem o seu
papel, que é o de garantir a estabilidade regulatória, conforme está aí.
As agências não nasceram do nada. A primeira agência brasileira, em tese,
foi o Departamento Nacional de Produção Mineral, criado em 1934, já como
resultado da necessidade de que a indústria de mineração, a maior delas, passasse
a ser de capital brasileiro, e de uma empresa privada, mesmo com investimento
público também. Isso mostra que era necessário se fortalecer o marco regulatório no
País. O DNPM hoje luta para se transformar em agência reguladora e sair da
condição de departamento nacional. Conta, no caso, com o nosso apoio.
As agências não nasceram do nada, foram fruto da transformação de diversos
setores que já exerciam a regulação. Por exemplo, a ANATEL surgiu praticamente
da fusão do Departamento Nacional de Telecomunicações — DENTEL, que tinha
em sua composição os diversos servidores que faziam a fiscalização, com a
TELEBRÁS, a empresa que congregava o Sistema Nacional de Telecomunicações.
A ANVISA surgiu da transformação da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária,
que, até 31 de dezembro de 1998, era Secretaria e, a partir daquela data, virou, por
medida provisória, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Estou dando apenas
esses 2 exemplos para não ir além.
Em conseqüência desse processo, como, ao nascerem as agências, não se
pensou em criar uma carreira de Estado, sólida, para a regulação — como outros
órgãos fizeram ao se transformar —, as agências tiveram que trazer os servidores
que já trabalhavam na área para fazer parte do quadro. Essa discussão não se deu
por iniciativa do Poder Executivo, foi um movimento que os trabalhadores realizaram
em 1997 e 1998, que resultou na absorção desses companheiros que trabalhavam
na regulação ao longo do tempo e ficaram nas agências, no denominado Quadro
Específico.
Esse quadro é composto pelos profissionais que estão hoje na nova carreira,
mas com o cargo efetivo da época, de acordo com sua formação: médico,
engenheiro, advogado, farmacêutico, enfermeiro. Estou vendo no plenário
integrantes da nova carreira e da antiga carreira. Vejo especialistas, analistas,
técnico em regulação, técnico administrativo, e vejo também médico, engenheiro,
advogado, agente de saúde, agente administrativo, farmacêutico, integrantes do
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quadro antigo, e inclusive uma companheira que nos costuma vacinar nos
aeroportos, a Risilda.
O Quadro Efetivo foi primeiramente desenhado pela Lei nº 9.986, como
declarou muito bem o representante da ABAR — já disse tudo a ABAR; se pararmos
por aqui, já está bem, porque ela praticamente já falou tudo. O Quadro Efetivo, pela
Lei nº 9.986, na sua origem, já trouxe um problema difícil de administrar, que era o
vínculo.
Ora, se quero ter um regulador forte, como vou conceder a ele o regime
jurídico da CLT? Naturalmente, nós, que fazíamos a luta sindical, nos anos 80, 90 e
2000, já vendo essa falha, fizemos um grande movimento para que essa nova
carreira, em que a maioria dos companheiros estão — refiro-me às carreiras de
regulação novas, conforme a Lei nº 10.871 —, se transformasse em carreira
estatutária. Mas é importante ressaltar que a Lei nº 9.986, mesmo trazendo essa
dificuldade, trouxe uma vantagem que a Lei nº 10.871, no Governo Lula, não
manteve, que era a isonomia plena entre todos os servidores dessa carreira. Pela
Lei nº 9.986, regime celetista, e todo mundo tinha a mesma remuneração. Pela Lei
nº 10.871, regime estatutário, mas passou-se a tratar diferentemente os quadros
dessa nova carreira: analista diferente de especialista; técnico de regulação
diferente de técnico administrativo. Entendemos que isso é uma falha e, obviamente,
estamos lutando para corrigi-la.
Toda essa questão gerou algumas dificuldades no gerenciamento de recursos
humanos das agências. Eu esperava que alguém do RH das agências falasse sobre
isso. Nesse caso, eu também passaria a bola.
Particularmente, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, companheiros aqui
presentes, hoje eu jamais gostaria de ser gerente de recursos humanos de uma
agência reguladora, apesar de, em grande parte da história da minha vida, ter
trabalhado como gerente no serviço público. Gerenciar hoje a área de recursos
humanos das agências reguladoras é um grande desafio, por causa do próprio
Governo, que não ajuda, não resolve esses problemas.
Não conseguimos, às vezes, fazer com que o próprio servidor fique motivado
a desenvolver bem seu papel. Costumo dizer que, no serviço público, o chefe não
pode ser apenas um chefe, tem de ser um líder. Na empresa privada, se o chefe não
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gosta do trabalho de alguém, pode demitir a pessoa. No serviço público, o servidor
tem estabilidade. Por isso, o chefe tem de trabalhar como líder naquele processo,
para convencer sua equipe a dar o máximo de si, mas, para isso, tem de haver
ferramentas. E, às vezes, as ferramentas disponibilizadas pelo Governo e pelo
Estado não ajudam nesse trabalho.
Por exemplo, o maior problema, na nossa visão, são as distorções
remuneratórias, entre as carreiras novas e as antigas, entre as demais carreiras e as
outras que exercem fiscalização e regulação no País. Ora, Sr. Presidente, as
agências reguladoras hoje, juntando-se o quadro novo com o quadro antigo, não têm
mais de 5.500 servidores. Fazer um reajustamento que alcance um contingente
desse tamanho não vai quebrar o Estado brasileiro, e vai motivar o setor de
regulação, para que desenvolva um bom trabalho.
E por que não se resolve isso? Gostaria que os representantes do Governo
tivessem aqui para responder essa pergunta. Eu queria saber por que não se
resolve isso. Se aplicarmos a receita da arrecadação de apenas uma das 10
agências, já se alcança, de sobra, durante 10 anos, o valor não dessa despesa, mas
desse investimento — boa parte dos administradores públicos acha que investir em
servidor para que ele realize um bom trabalho é despesa, e não é despesa, é
investimento.
Outro detalhe é a morosidade na regulamentação de alguns itens da lei. Ora,
já está sendo concedida a um regulador concursado recentemente — os antigos já
contam com suas carreiras bem organizadas e definidas, que têm menos distorções
do que as novas, mas precisam também de algumas correções — uma
remuneração frágil, e ainda não se regulamentam itens que podem ajudá-lo.
Por exemplo, a Gratificação de Desempenho de Atividade de Regulação —
GDAR era para ter sido regulamentada até 20 de novembro de 2004, mas só foi
regulamentada em 2006. A própria lei disse ao Poder Executivo que ele tinha 180
dias para resolver o problema, e ele levou 2 anos e meio para fazer isso? A GDAR
impôs um grande prejuízo aos servidores que fizeram concurso, na primeira hora,
para as agências.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a promoção e a progressão até hoje
não foram regulamentadas. Há servidor que prestou concurso há 2 anos e meio e
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
ainda está na primeira etapa, não pode passar de um nível para o outro porque o
Governo, morosamente, não regulamentou a promoção e a progressão.
Ora, se não tem competência para fazer, passe para nós, redigimos esse
decreto e no outro dia ele estará valendo. Não se pode impor um prejuízo a quem
está trabalhando hoje, dando a sua vida, a sua alma para defender a regulação
federal.
Essas são algumas das questões que entendemos precisam ser corrigidas de
imediato. Por exemplo, o vencimento básico inferior ao vencimento das demais
carreiras é uma situação complicada existente no quadro antigo.
Vou concluir essa parte das distorções. A redução da atualização técnica e
treinamento ocorre até por conta do contingenciamento.
Evasão de recém concursados das agências. Há agência em que ocorre até
40% de evasão em algumas carreiras. Isso, realmente, causa um caos na área de
recursos humanos.
Distorções de pessoal do quadro como um todo, por exemplo — não sei se o
tempo permitirá que tratemos de tudo o que se refere a esse assunto. Distribuições
inadequadas de CCTs, uma gratificação privativa das carreiras novas e antigas. O
que vemos é que algumas agências juntam essas CCTs para criarem cargo de livre
nomeação. Isso, mais uma vez, impõe ao servidor da Casa um certo mal-estar,
porque dificulta sua ascensão dentro da instituição. Isso é ruim para todo mundo.
Vou adiantar alguns quadros.
A origem da carreira nova já foi muito bem mencionada pela ABAR e não vou
ficar repetindo a mesma coisa. Por exemplo, na carreira nova há 2 componentes:
Gratificação de Desempenho e Gratificação de Qualificação. A Gratificação de
Qualificação até hoje não foi regulamentada, e nem se fala. Nas mesas de
negociação, é um assunto que o Governo não quer colocar na pauta. Já cansamos
de cobrar isso. Seria uma forma de dar um diferencial para o servidor que está
melhor preparado.
Temos doutores entre os que acabaram de fazer concursos. E temos
doutores entre os antigos também, inclusive fora do País. Há alguns com doutorado
na Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos. A Gratificação de Qualificação
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
poderia ser uma ferramenta para bonificar esse pessoal, para motivá-los de forma
geral.
Para consertar tudo isso, o SINAGÊNCIAS aprovou, Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, na sua assembléia, a luta pelo fortalecimento das carreiras das
agências, transformando-as, definitivamente, em carreira de Estado. E em carreira
de Estado entendemos que não pode haver remuneração composta por vencimento
básico, por gratificação disso ou gratificação daquilo, porque gratificação nem
sempre se consegue incorporar à aposentadoria. Da forma como está hoje a nova
carreira, um especialista em regulação pode-se aposentar com cerca de 3 mil reais.
Ele passou a vida toda ganhando 8, 9, 10 mil, com tudo pago direitinho, e na
aposentadoria tem uma queda significativa em seu vencimento. Obviamente, o
Governo pretende criar uma aposentadoria complementar, mas até agora também
não disse nada sobre o assunto.
Entendemos que o caminho seria criar uma carreira de Estado, um novo
formato. Nossa proposta é transformar as carreiras em uma nova carreira; carreira
de regulador federal de nível superior, que se pudesse contar com os hoje analistas
e especialistas integrantes dessa carreira, transformando o instituto da remuneração
em subsídio. Inclusive, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal acabaram de
conquistar isso no ano passado. Se eles, com todo o respeito, são imprescindíveis
para o Estado, por que o regulador não é?
Já pensou em um fiscal da ANATEL que tem de subir, no Rio de Janeiro, nos
mais diversos recantos, para desativar uma rádio pirata que, na verdade, pertence a
alguém que comanda aquela área? E o pior: ele não pode ir com a polícia para
dar-lhe proteção, porque se for com a polícia ele vira alvo. Ele vai ter que ir só e, às
vezes, disfarçado. Como não posso dizer que esse cidadão está a serviço do
Estado? Então, pelo menos, tenho que lhe dar a remuneração e as garantias de que
precisa. Se hoje esse cidadão, digamos, um técnico em regulação ou um
especialista em regulação, sofre um acidente qualquer, recebe uma bala perdida e
fica deficiente — que Deus não permita que isso aconteça com nenhum de nossos
companheiros —, como fica a sua família? E ele, com a atual estrutura de
remuneração, que garantia tem? Ele fica com 2 mil, 906 reais, com a GDAR
congelada na última avaliação — se conseguir, porque dizem que a média são 5
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
anos — e vai passar fome. Esse cidadão que estava a serviço do Estado vai passar
fome. Não podemos permitir isso.
Nossa proposta é exatamente esta: transformar essa estrutura em subsídio
que dê a ele as garantias necessárias para que desenvolva bem seu papel, com
isenção e sem risco de captura pelo setor regulado, como bem abordou a ABAR.
Em linhas gerais, é isso. Trabalhamos uma emenda Parlamentar de Plenário,
a partir da iniciativa, mais uma vez, do companheiro Deputado Daniel Almeida, que
está sendo assinada pelas Lideranças de todos os partidos para ser apresentada ao
Projeto de Lei nº 3.337, de 2004, propondo que o Poder Executivo traga para esta
Casa esse debate sobre a carreira de Estado para as agências reguladoras federais.
Era isso que tinha inicialmente a apresentar.
Muito obrigado pela tolerância em relação ao tempo. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Nelson Marquezelli) - Concedo a palavra
agora o Sr. Paulo Rodrigues Mendes, Presidente da Associação Nacional dos
Especialistas em Regulação.
O SR. PAULO RODRIGUES MENDES - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, senhoras e senhores, em primeiro lugar, cumprimento aqui parceiros de
luta, como o Presidente do SINAGÊNCIAS, Sr. João Maria Medeiros, e o
representante da ABAR, Sr. Wanderlino Teixeira Carvalho.
Gostaria de expressar que as intenções da ANER — Associação Nacional
dos Especialistas em Regulação estão em perfeita harmonia com as manifestadas
aqui, com apenas algumas observações importantes para clarificar a forma como
isso pode ser feito.
Em primeiro lugar, entendemos que a postura do Dr. Wanderlino Teixeira
Carvalho foi perfeita no que diz respeito à função de uma agência reguladora, a
forma como a atuação da agência reguladora intermedeia um triângulo de interesse
tão díspares quanto o interesse do consumidor que quer comprar o melhor produto
pelo valor mais barato possível; do empresário que quer produzir o produto mais
simples possível pelo menor custo; e do Governo, que quer ter o controle sobre essa
atividade.
A função de uma agência reguladora é independente, autônoma e capaz de
conhecer, primeiro, a tecnicidade desses produtos ou serviços. Há também a
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
questão da capacitação dessa agência — estamos assistindo, neste momento, ao
episódio que está sendo amplamente divulgado na mídia em relação à crise aérea
—, da função dos diretores de uma agência reguladora, da sua autonomia, da sua
capacidade de permanecer no cargo livre de pressões.
Há uma dificuldade, em geral, da sociedade, da mídia, de compreender o
porquê de uma agência reguladora, o porquê da independência, o porquê da
necessidade de se dar estabilidade regulatória não só à atividade econômica, como
também à estrutura de uma agência.
O Dr. Wanderlino disse uma frase muito apropriada. Não há como termos
uma regulação estável se não temos uma estabilidade nos quadros dessa agência
reguladora. A agência reguladora não é um robô, um mecanismo. Ela é composta de
gente. E os quadros das agências reguladoras, ao longo de sua história, não tiveram
a devida atenção por parte não deste Governo, mas dos governos que atuaram no
sentido da regulação.
Quero aqui manifestar que reconhecemos historicamente o esforço feito pelos
servidores que hoje congregam o Sindicato Nacional dos Servidores das Agências
Nacionais de Regulação no sentido das lutas históricas que vieram a fazer o corpo
da estrutura das agências.
Creio que, como especialista em regulação que somos, vamos trabalhar mais
em cima das carreiras criadas pela Lei nº 10.871, de 2004, denominada Lei Geral
das Carreiras das Agências Reguladoras Federais, que pretende, a exemplo de
grandes carreiras de Estado — chamo atenção para as carreiras do chamado ciclo
de gestão, ciclo de fiscalização composto basicamente pelos auditores fiscais,
congregando a antiga Receita Federal e os auditores da Previdência...
Uma dessas carreiras é a do TCU, que é um exemplo. Apesar de não ser
ligado diretamente ao Executivo, é ligado ao Legislativo e propõe um trabalho de
seriedade no trato da coisa pública. Essa postura de independência, de autonomia,
valorização, realidade de carreiras harmonizadas é fundamental para o bom
funcionamento de uma agência.
Chamo atenção para a seguinte característica. A agência tem que ter no
corpo de cada servidor a imagem de credibilidade e capacitação técnica e seriedade
no trato da questão regulatória.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Quando um servidor é mal remunerado, é muito difícil enxergar isso nos seus
olhos. Quando temos, dentro de uma agência reguladora, um elenco muito grande,
uma salada de frutas — vamos dizer, de uma forma mais intuitiva — de relações, de
vínculos e de origens, há efetivamente uma grande dificuldade de se ter condição de
harmonizar uma estrutura de capacitação, crescimento profissional, aproximação
dessas pessoas a uma etapa de operação uniforme.
A ANER defende que os quadros que estão sendo criados dentro das
agências, o quadro específico e o quadro efetivo têm que ter a mesma harmonia
remuneratória. Concordamos com o aspecto proposto pelo sindicato de se trabalhar
através da remuneração por subsídio. Quando você trabalha com gratificações, o
servidor que precisa ser avaliado e mensurado pela gratificação está sujeito a
pressões por parte da estrutura da própria agência. Ele pode ser pressionado pela
necessidade de obter aquele resultado, para não fazer de uma forma que seria
talvez a tecnicamente ideal. O subsídio dá autonomia a esse servidor. Então,
concordamos com essa postura.
Queria apresentar este documento, que foi deixado aqui na mesa da
Comissão e está disponível no site da ANER. Ele está em formato PDF e é possível
ser acessado por todos.
Nesse aspecto, o que precisamos defender em relação às carreiras que foram
objeto de concurso realizado a partir de 2002, na ANA, e depois nas demais
agências? Gradativamente, vêm sendo ocupados os cargos efetivos por meio das
carreiras que são distintas em nível técnico e nível médio, nível médio e nível
superior, em que temos o técnico de regulação, o técnico administrativo, o analista
de administração e o especialista em regulação.
Há carreiras de nível médio que são discriminadas, pela Lei nº 10.871, de
2004, de uma forma que consideramos negativa por possibilitar que pessoas que
sentam, muitas vezes, lado a lado, pessoas que têm capacitação semelhante sejam
tratadas de forma diferenciada. A ANER entende que isso não é salutar para uma
agência reguladora, pois cria instrumentos de atrito entre esses servidores.
Os servidores que provieram de vários órgãos foram estabelecidos no quadro
específico e sofreram várias correções que consideramos positivas. Estivemos
juntos com o SINAGÊNCIAS na criação da carreira do quadro especial, que hoje é
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
denominado quadro específico em todas as agências reguladoras, e também na
criação de gratificação para as carreiras de área administrativa, porque a lei não
previa uma gratificação compatível com os especialistas.
O entendimento é que a transformação disso em uma carreira que trabalhe
com harmonização entre essas várias nuanças é salutar, vai trazer uma
pró-atividade, um reconhecimento maior. E não é para o serviço de cada servidor,
mas para o serviço da sociedade.
Hoje se vê, por exemplo, o auditor da Receita Federal. O nome auditor da
Receita Federal impõe um respeito pelo seu grau de conhecimento, pela sua
capacitação. Existe a Escola Superior de Administração Fazendária, que é voltada
para essas carreiras do Ministério da Fazenda. Não temos no Brasil uma iniciativa
de Governo no sentido de uma escola nacional de regulação. Essa é uma luta da
ANER. E esses valores não devem reverter em favor dos indivíduos, mas da
sociedade, que vai confiar numa decisão de uma agência reguladora.
A ocupação dos cargos das agências reguladoras precisa ser mais técnica.
Há hoje uma grande quantidade de cargos de livre nomeação de pessoas que
provêm de qualquer área da sociedade brasileira. Presenciamos hoje a situação da
ANAC, que está sendo questionada na mídia. Eu, pessoalmente, em nome da
ANER, tenho participado de debates e de inserções na mídia em defesa da posição
da diretoria de uma agência e não das pessoas que estão ali dentro.
A responsabilidade da Presidência da República e do Senado Federal na
escolha dos nomes e na sabatina desses nomes é fundamental. Eles são
co-responsáveis pelo desempenho de um diretor de agência reguladora.
Temos quadros formados dentro das agências reguladoras. Por que o
Governo não prioriza que os responsáveis pela regulação de um setor da economia
sejam escolhidos dentro dos quadros das agências reguladoras?
São essas as questões que a ANER traz a V.Exas. Gostaria que quem tiver
oportunidade acessasse esse documento, que trabalha bem detalhadamente essas
condições, historia toda a evolução do serviço público e faz uma comparação entre a
maneira como a sociedade e o Governo tratam os quadros das agências
reguladoras e a maneira como tratam as demais carreiras de Estado.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Investimos no que acreditamos; cada um de nós, em nossas casas, em
nossas atividades cotidianas. O Governo não deixa de ser a resposta da sociedade.
O Presidente Lula foi eleito com 60% da aceitação da sociedade brasileira. Pedimos
ao Presidente Lula, à Casa Civil e ao Ministério do Planejamento que se lembrem de
todas as palavras que estão sendo ditas pelos companheiros João Maria e pelo Dr.
Wanderlino; que leiam os jornais, ouçam os comentaristas econômicos e aqueles
que querem investir no País. Todos vão dizer: Governo, as agências têm de ser
independentes, não podem ser contingenciadas. Os servidores dessas agências têm
que ser capacitados, têm de estar atualizados em relação aos setores que são
alavancas de crescimento, alavancas tecnológicas.
Não podemos ter na ANATEL alguém que não conheça todas as novas
tecnologias que estão sendo implantadas, como a TV digital, as novas bandas de
celulares, as novas iniciativas de aperfeiçoamento da comunicação, que possuem
uma velocidade extraordinária. Nós não podemos ter na ANVISA uma pessoa que
não entenda do assunto e não esteja apta para conhecer o que há de bom e ruim
nos lançamentos farmacêuticos em todo o mundo para cuidar das novas doenças
enfrentadas pela sociedade. Não podemos ter na ANVISA técnicos mal capacitados
em aeroportos e portos de fronteira que possam não interpretar bem a chegada de
uma doença como a gripe aviária, uma nova febre ou uma nova doença provinda de
um outro continente gerada por vírus ou por outro vetor.
Temos que ter a preocupação — isso é importante para cada um de nós, para
nossos filhos, para nossas famílias — no sentido de que nessas agências
reguladoras tenham pessoas felizes e bem remuneradas, harmonizadas entre si,
sem conflitos e sem revanchismos por questões de políticas de capacitação, de
avaliação de servidores e de diferença salarial entre uns e outros. Todas essas são
preocupações que temos que ter.
Publicamente, quero fazer uma proposta aos Parlamentares que estão aqui
conosco. O Deputado Daniel Almeida é um lutador nessa área. Já tivemos algumas
oportunidades de tentar ter um contato pessoal com S.Exa. Ainda não tivemos essa
honra, mas quero reiterar, neste momento, que gostaríamos de ter a oportunidade
de conversar com S.Exa. Quero também citar a Deputada Andreia Zito, que nos
ajudou bastante a chegar aqui e poder dizer estas palavras a todos.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Dr. Paulo, V.Sa.
tem mais um minuto para concluir.
O SR. PAULO RODRIGUES MENDES - Concluirei.
Neste instante, gostaria de conclamar as entidades representantes de
trabalhadores a unirem esforços com a ANER, sem hierarquias, sem maiores e
menores, para que pautas comuns fossem defendidas em grupo, representando o
pensamento de toda a estrutura de servidores das agências, em favor da sociedade
brasileira.
Agradeço esta oportunidade. Estamos à disposição para quaisquer
esclarecimentos e ações.
Obrigado. (Palmas)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Concedo a palavra
à Dra. Maria Cristina, da Agência Nacional de Águas. S.Sa dispõe de 3 minutos.
A SRA. MARIA CRISTINA DE SÁ OLIVEIRA MATOS BRITO - Gostaria, em
primeiro lugar, de agradecer o gentil convite do Presidente, visto que não
constávamos do programa.
Sou servidora da Agência Nacional de Águas e Presidente da Associação
dos Servidores da Agência Nacional de Águas, a primeira agência a ter seu quadro
efetivo concursado pelas chamadas novas carreiras.
Acho muito conveniente que a Comissão de Trabalho da Câmara federal faça
uma audiência pública para saber dos problemas dos recursos humanos das
agências.
Como estou falando em nome da Associação dos Servidores da ANA, posso
falar de alguns problemas que temos lá e também de algumas conclusões de caráter
geral, dentro dos meus pequenos 3 minutos.
Como a ANA foi a primeira das agências reguladoras que teve a carreira com
concurso, a nova carreira, temos uma história bem antiga. Entramos em fins de 2003
e temos uma previsão de quadro, mas não foi completada sequer a metade desse
quadro. Então, um dos problemas que temos é que o Ministério do Planejamento
não autoriza concurso e, quando autoriza, o faz em conta-gotas, com 30, 35 vagas.
Por isso, não temos sequer a metade do quadro de carreira. Em função disso, a
ANA tem poucos analistas administrativos e tem, em seu quadro, quase 300
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
terceirizados, não para as carreiras de especialistas, mas para as carreiras
administrativas. É uma coisa grave e o Governo tem que tomar providências no
sentido de extinguir esse processo de terceirização nas agências reguladoras.
Um outro problemas foi citado pelos colegas. Trata-se da composição salarial.
Parte dos salários são em vencimento e parte em gratificação. Esse é um problema
muito grave para nós. Defendemos que os salários sejam dos servidores e não parte
dele em gratificações, porque gratificação pode ser retirada e trazer problemas no
futuro.
Outra questão é o problema da distribuição dos cargos técnicos, também já
relatado aqui. No caso da ANA isso tem crescido na carreira, mas os cargos
técnicos são importantes. Chamaria atenção dos Srs. Deputados para o fato de que
o Projeto de Lei nº 3.337 amplia os CCTs para fora dos quadros das carreiras das
agências. Isso é preocupante e gostaria que, na discussão, fosse levado em conta.
Por fim, como tenho pouco tempo para falar, já que os Deputados estão
discutindo o Projeto de Lei nº 3.337, muito me preocupa que a discussão das
regulações se dê de forma tão genérica. Parece que a única preocupação é com a
estabilidade ou não dos dirigentes das agências. Esse é apenas um pequeno
problema. As agências precisam ter um corpo técnico competente, forte, com
formação suficiente e salários suficientes, porque as diretorias são transitórias e os
corpos técnicos são definitivos. Então, é importante que isso seja levado em conta e
que seja discutida não somente a questão das diretorias das agências, mas o
caráter regulatório.
A regulação não surgiu com as agências reguladoras. Elas regulam coisas
diferentes, não regulam somente mercado. No caso da ANA, nós regulamos o uso
de um bem de domínio público nacional, que é a água. Portanto, o caráter de
regulação não é só sobre mercado. É sobre bens e, às vezes, sobre serviços. A
regulação é como o Estado regulamenta essas coisas, não é só o mercado.
Chamo atenção para isso porque, no caso da ANA, não regulamos serviços e,
em suma, não regulamos o mercado, mas detemos o poder de concessão, de
outorgas para o uso da água e temos também o papel executivo. Então, existem
algumas diferenças de papel, e é preciso que a lei das agências também se detenha
nessa discussão.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Pretendemos fazer, no fim do mês de novembro, o Fórum das Associações
de Servidores das Agências Reguladoras. Pretendemos realizar um debate sobre
essa questão da regulação. O que é, qual é o papel do Estado na regulação ao
longo do tempo e qual deve ser o nosso papel como reguladores.
Por fim, agradeço ao Sr. Presidente da Mesa por ter nos cedido, tão
gentilmente, esse espaço.
Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Concedo a palavra
à Dra. Marília Cunha, representante da Associação Nacional dos Servidores da
ANVISA. V.Sa. dispõe de 3 minutos.
A SRA. MARÍLIA COELHO CUNHA - Sr. Presidente, também agradeço esta
oportunidade. Sou especialista em regulação sanitária, sou servidora da ANVISA,
sou farmacêutica e tenho 25 anos de trabalho no setor de saúde pública.
Srs. Deputados, primeiramente, gostaria de dizer que a ANVISA veio do
antigo Departamento de Vigilância Sanitária, criado por D. João VI. É considerada,
pela organização Mundial de Saúde, como uma das melhores e maiores barreiras
sanitárias do mundo. A Organização Mundial de Saúde considera a barreira sanitária
brasileira melhor do que a dos Estados Unidos.
As pessoas aqui se lembram quando foi informado pela IstoÉ, há uns 10 ou
15 anos, que a cólera chegaria ao Brasil e mataria 3 milhões de habitantes. Foi
graças à barreira sanitária que isso não aconteceu. Os servidores antigos da
ANVISA — médicos, mestres, doutores, farmacêuticos e enfermeiros — que estão
nas PAFs dos portos e aeroportos, garantindo a segurança das mercadorias que
entram e saem do Brasil, é que dão esse tom para o País.
A vigilância sanitária tem um papel fundamental nesse ponto, porque garante
no mercado internacional a ida dos produtos brasileiros para fora do Brasil e também
a importação desses produtos.
Quis levantar esse aspecto porque fica difícil para mim falar de outras
agências. A ANVISA tem muitos problemas nas áreas de registro e inspeção de
medicamentos, mas quis mostrar a importância que hoje tem a regulação federal,
não só como regulação de mercado, mas como regulação de controle dos serviços e
regulação como um papel do Estado na defesa da sociedade brasileira. A regulação
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
não pode existir apenas para garantir contratos com as empresas multinacionais,
mas para servir para garantir a segurança e a qualidade de vida do povo brasileiro.
Nós, do sindicato — pertenço ao Sindicado dos Servidores das Agências
Reguladoras e à ANSEVS —, entendemos assim. Defendemos também a proposta
dos servidores novos, porque os servidores antigos das agências têm uma carreira
de Estado; os novos, não. Por isso, defendemos a reestruturação das carreiras das
agências, segundo a Lei nº 11.358, que é a carreira de Estado, para mostrar que a
regulação, o controle regulatório no País não é uma questão de Governo, mas de
Estado: fiscalizamos, inspecionamos, normatizamos, regulamos. Por isso,
precisamos ser considerados carreiras de Estado.
Tudo o que o Sr. João Maria falou sobre o problema do servidor novo, que
não tem absolutamente nenhuma segurança, é muito sério, e esse regulador bem
formado, se continua com este salário de 2 mil e 900 reais, acaba sendo capturado
pelo setor regulado. É uma questão da vida, as pessoas precisam ser bem
remuneradas. Por isso a importância da reestruturação das carreiras.
Segundo a Lei nº 11.358, transformar essa nova carreira em carreira de típica
de Estado é fundamental.
Agradeço imensamente ao Deputado Daniel Almeida, que tem sido um
batalhador nessa luta pelo fortalecimento, pelo reconhecimento da importância dos
servidores, do corpo técnico das agências reguladoras, e ao Presidente da Mesa,
por abrir este espaço para a Associação dos Servidores da Vigilância Sanitária.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Concedo a palavra
ao Dr. Joelson Miranda, Presidente da Associação dos Servidores da ANTAQ. V.Sa.
dispõe de 3 minutos.
O SR. JOELSON NEVES MIRANDA - Bom-dia, Sr. Presidente, a quem
agradeço a oportunidade, demais membros da Mesa, Srs. Parlamentares, senhores
assessores, colegas das agências reguladoras, serei breve. Venho ratificar uma
certa indignação por não estarem aqui presentes representantes do Ministério do
Planejamento e da Casa Civil.
Lamento também a ausência do debate, no PL nº 3.337, de questões
importantes, como a autonomia financeira das agências reguladoras. Se
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
observarmos o referido projeto de lei, veremos que ele traz cerca de 3 páginas, de
umas 15 ou 20, que tratam apenas de procedimentos de reuniões de diretoria e
deixam de fora questões que deveriam ser debatidas nesta Casa junto com a
sociedade.
Sobre essa dificuldade posso relatar, inclusive, dificuldades financeiras que
vivemos hoje na ANTAQ, a ponto de o Superintendente de Administração e
Finanças ter de ir ao Ministério do Planejamento ainda este ano, fechando o primeiro
semestre, para pedir liberação de recursos para que fosse possível realizar viagens
para serem feitas fiscalizações.
Dificuldades como essa também inviabilizam o concurso público da ANTAQ.
Há quase 6 meses a diretoria da agência pediu liberação de vagas para o
preenchimento do quadro. Essa não-liberação faz com que hoje não tenhamos, por
exemplo, unidades administrativas regionais em vários Estados que têm importante
papel no âmbito de portos, da navegação interior e marítima.
Essa dificuldade financeira faz com que nosso orçamento para capacitação
de pessoal seja apenas de 450 mil reais, o que, como resultado, faz com que uma
agência que caminha para 2 anos do seu primeiro novo concurso (já existiu um
quadro específico, como aqui foi esclarecido) ainda não tenha um servidor cursando
uma pós-graduação, uma especialização, um mestrado ou doutorado.
Ratifico a idéia de que hoje somos mal remunerados. Não entendo uma
distorção salarial se compararmos, por exemplo, como ciclo de gestão. Não estou
defendendo a idéia de que deveríamos ser inclusos nessa categoria, mas não
entendo essa diferenciação salarial de um analista administrativo, com todas as
suas gratificações, se alcançar 100% da parte individual, institucional, receber 4 mil
reais, um especialista ficar em torno de 6 mil reais e um especialista desse ciclo de
gestão beirar 8 mil reais.
Tendo em vista a complexidade das atividades, o caráter técnico, me assusta
a imprensa hoje discutir capacidade técnica dos diretores sem discutir a capacidade
técnica do quadro de servidores. Como vamos reter esses bons servidores se não
tivermos uma remuneração compatível com suas atividades?
Era isso. Agradeço, mais uma vez, a oportunidade. Colocamo-nos à
disposição para debates mais aprofundados.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Com a
concordância do Deputado Daniel Almeida e atendendo a pedido do Presidente,
Deputado Nelson Marquezelli, concederemos a palavra a 3 pessoas que dela
queiram fazer uso. Depois, passaríamos a palavra aos Deputados.
Com a palavra o Sr. Ronaldo, por 2 minutos.
O SR. RONALDO SERNA QUINTO - Sou da ANATEL e Vice-Presidente da
ANER. Só queria reafirmar o que foi dito na mesa e dizer que a questão
remuneratória nas agências realmente é muito complicada, está gerando um nível
de evasão absurdo e essa evasão não está permitindo que se crie uma
habitualidade regulatória, vamos dizer assim. As pessoas estão entrando e saindo
das agências muito rapidamente. O Governo gasta muito dinheiro com concurso, o
servidor não esquenta a cadeira nas agências e logo em seguida sai. E pior: sai para
ocupar um cargo público no próprio Governo. Isso é um absurdo.
Outra questão é com relação à capacitação. Os servidores nas agências
precisam ser capacitados. A capacidade regulatória, a qualidade regulatória
depende de capacitação. Servidor não capacitado regula mal. O PL nº 3.337 não
aborda essa questão, e isso é premente. Sem capacitação servidor regula mal, isso
precisa ser dito.
Enfim, era isso que tinha a dizer.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Com a palavra o
Sr. Osvaldo Barbosa, por 2 minutos.
O SR. OSVALDO BARBOSA FERREIRA FILHO - Sou geólogo do
Departamento Nacional de Produção Mineral — DNPM. O DNPM é um órgão da
Administração Direta, do Ministério de Minas e Energia, e como entidade reguladora
acredito que é o mais antigo da República. Foi criado em 1934, e desde então faz
concessão mineral, fiscaliza a concessão mineral, regula a concessão mineral,
estabelecendo tamanhos de áreas; faz todo o acompanhamento do processo de
uma concessão mineral.
A demanda dos servidores do DNPM é a sua transformação, de fato e de
direito, numa agência reguladora, afinal, já fazemos regulação há muito tempo. Em
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
1994, fomos transformados em uma autarquia, no aguardo de que as outras
agências fossem criadas, uma vez que a mineração já é privada desde então.
Portanto, aguardamos que fossem criadas outras agências reguladoras para
aquelas áreas que estavam sendo privatizadas.
Para se ter uma lembrança de que o DNPM já faz isso há muito tempo, basta
saber que as concessões de petróleo eram feitas pelo DNPM, bem como as
concessões de água, o que fazemos até hoje.
Era esse o meu recado. Não esqueçam deste detalhe importante, que é a
transformação do DNPM numa agência reguladora de direito.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Com a palavra o
Deputado Daniel Almeida.
O SR. DEPUTADO DANIEL ALMEIDA - Sr. Presidente, Deputado Sabino
Castelo Branco, agradeço a V.Exa. Cumprimento os convidados, os representantes
de entidades, associações e agências reguladoras que aqui se manifestaram.
Sr. Presidente, quem não pôde comparecer a este debate perdeu a
oportunidade de ter contado com argumentos sólidos e números muito contundentes
que evidenciam a necessidade de tratarmos de forma adequada esse tema.
Caminhamos para completar 10 anos de instituição desse modelo das
agências reguladoras. Em certos momentos, fez-se este debate: se era uma tese, se
atendia a objetivos neoliberais, conservadores, progressistas etc. Mas isso já ficou
para trás. O atual Governo, ao assumir, produziu um debate em torno dessa
questão. Esta Casa, inclusive, realizou e continua realizando alguns debates para
tratar do assunto. Mas o próprio Governo concluiu, numa comissão que formou, que
as agências têm um papel importante, têm espaço, são realmente necessárias.
Portanto, não há mais nenhuma discussão a esse respeito.
Ajustes em relação ao funcionamento e às atribuições das agências estão
sendo feitos. É um processo natural da dinâmica da economia e da sociedade.
O Projeto de Lei nº 3.337, de 2004, busca abordar o aspecto do
funcionamento e das atribuições das agências. Verificou-se aqui alguns elementos
que poderiam e deverão ser incorporados a esse debate que está em curso nesta
Casa sobre o referido projeto, especialmente no que diz respeito à autonomia
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
financeira das agências reguladoras. Devemos ter como foco saber o que é
necessário para fortalecermos as agências reguladoras. Esse é o debate que temos
de fazer.
Quando discutíamos a LDO –– sou membro da Comissão de Orçamento ––,
apresentamos emendas com o objetivo de evitar o contingenciamento das agências
reguladoras. Fica evidente que muita coisa não é feita. O desenvolvimento de alguns
setores está inibido, emperrado, em função da impossibilidade de essas agências
atuarem.
Conversava muito com o Diretor-Geral da Agência Nacional de Petróleo,
Haroldo Lima, e S.Sa. falava da angústia diante dos limites impostos. Mas isso não é
diferente em outras agências.
Pelos argumentos e dados que temos disponíveis, sabemos que os
funcionários das agências são técnicos, são pessoas altamente qualificadas, porém,
em número insuficiente e sem segurança para exercerem suas atividades, para
melhor se qualificarem, se dedicarem e se empenharem de forma mais efetiva, com
maior segurança, no trabalho que devem realizar.
Acho muito rico e produtivo este debate que aqui realizamos.
Indago aos componentes da Mesa o seguinte: por que não tivemos aqui a
presença do Governo Federal? Mais uma vez, protesto, lamento e afirmo que nós,
desta Comissão, não devemos nos acomodar, não devemos aceitar isso como algo
natural. Isso é um desrespeito à Comissão, a todas as entidades aqui convidadas e
à sociedade brasileira! Aqui estamos tratando de um assunto que diz respeito a
regular bens, serviços, mercados, em atividades tão fundamentais e essenciais. É o
protesto que faço aqui, no aguardo das medidas que serão adotadas.
Indago, ainda, sobre como estão sendo feitas as tratativas, como o Governo
tem recebido essas demandas. Senti que há certa unidade entre os especialistas
das entidades, principalmente os da SINAGENCIAS, com os quais tenho
conversado muito –– inclusive, foram eles que sugeriram a realização desta
audiência pública.
Sr. Paulo, estamos com os gabinetes abertos para o diálogo com todos os
setores. Aliás, o meu gabinete está sempre aberto ao diálogo. E sempre recebo as
pessoas nos corredores, neste ambiente meio caótico, em função do funcionamento
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
da Casa. Geralmente, atendemos mal as pessoas porque o tempo nos pressiona em
virtude da agenda e atividades múltiplas que se acumulam. Apesar de não termos
nenhuma dificuldade em dialogar –– o que não é nada demais; é nossa obrigação —
essa é uma tarefa muito difícil. Mas sempre estamos dispostos a dialogar.
Indago o seguinte a V.Sas.: como isso tem sido feito? O Governo tem
recebido essas demandas? Aliás, conhece o conteúdo dessas demandas, dessas
proposições aqui expostas? Tem tido dificuldade nessa relação?
Eu, que tenho acompanhado o tratamento que é dado a outras categorias,
percebo que sempre se fala em criação de grupos de trabalho para materializar o
conteúdo dessas proposições. Como isso está sendo feito no setor? Há avanço
nessa direção, ou está tudo emperrado?
Enfim, eram essas questões que eu gostaria de saber. E já que não temos
aqui a presença dos representantes que deveriam esclarecer sobre este assunto,
indago como poderemos, nesta Comissão, contribuir?
Sr. Presidente, sugiro que ouvíssemos os demais Deputados, e, ao final, os
membros da Mesa nos respondessem em conjunto.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Passo a palavra ao
Deputado Edinho Bez.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Sr. Presidente, colegas Parlamentares,
senhores convidados, demais representantes de entidades presentes, inicio minhas
palavras parabenizando a todos por esta reunião, pela grande oportunidade que
temos tido de ouvir as pessoas que sentem na pele, porque convivem e conhecem
os problemas. Isso é fundamental para nós, Parlamentares.
Sou membro da Comissão Mista de Orçamento e Vice-Líder do PMDB.
Conforme disse o Deputado Daniel Almeida –– inclusive, fazemos coro ao que
S.Exa. disse ––, nos esforçamos para evitar o famoso contingenciamento, que já
conhecemos na vida pública.
Cumprimento a todos que falaram, cada um com sua maneira, com sua
característica e forma de pensar. Enfim, todas as manifestações foram importantes.
Mas quero, sem discriminar quem quer que seja, destacar o Sr. João Maria
Medeiros de Oliveira pela maneira sentimental como se manifestou. Isso é muito
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
importante para nós, políticos. Político que não tem sensibilidade não deve ser
político. Acima de tudo, temos que saber o que os segmentos da sociedade
desejam e o que nós, na qualidade de Deputados, podemos representar. Mas os
meus cumprimentos são extensivos a todos.
Foi dito aqui que os servidores das agências reguladoras correm risco, o que
é verdade, porque têm a função de fiscalizar. Porque existem interesses locais. De
repente, eles, como brasileiros, como servidores responsáveis pelo exercício das
suas funções, no cumprimento da lei, no dever da legislação, no intuito de
observarem as irregularidades, esbarram com interesses de Deputados, de
prefeitos, de fazendeiros, de empresários.
Sei que isso é verdadeiro, porque amigos meus trabalham em áreas diversas
de fiscalização. Precisamos enaltecer as pessoas sérias, corretas, os bons
profissionais, porque existe hoje no País uma inversão de valores: o corrupto, aquele
que se vende, acaba se dando bem. Não sei se a consciência desse realmente está
se dando bem. Mas precisamos premiar, valorizar as boas pessoas. Anteontem, fiz
um pronunciamento citando o caso recente no futebol brasileiro, sobre as
irregularidades ocorridas na arbitragem. O que tange à má-fé, prefiro deixar de lado.
Mas precisarmos, sim, de capacitar os bons profissionais, dentre os quais juízes e
auxiliares, para evitar essa desesperança que toma conta dos torcedores brasileiros.
E aproveito a oportunidade para lembrar o caso da árbitra-auxiliar Ana Paula –– sem
querer descaracterizar a mulher. Aliás, sempre falo que a mulher representa 50% da
relação; o homem, 50%. Ou seja, um precisa do outro. Isso faz parte da minha
filosofia, que acredito como verdadeira. Mas essa árbitra cometeu alguns erros,
eliminando times para não ganharem títulos; e a partir desse momento virou notícia.
E o engraçado é que continua dando entrevistas até hoje. E quanto aos bons
árbitros?! E quanto àqueles que trabalham direito? Esses não aparecem, não são
enaltecidos. É isso que quero dizer a todos vocês, bons profissionais, pessoas
sérias que vestem a camisa do Brasil, que têm orgulho de ser brasileiro: não se
arrependam de ser assim. Precisamos resgatar, o mais rápido possível, a dignidade
e a honradez daquelas pessoas que se dedicam a seu trabalho com eficiência e
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
honestidade. Para isso, precisamos começar as ações. O Supremo Tribunal já deu
um exemplo. Nós, que estávamos desacreditando da Justiça, que já não
acreditávamos em mais nada, agora vemos que a Justiça começa a resgatar essas
coisas. Não estamos condenando ninguém aqui — não é isso. Tomara que todos
sejam absolvidos. Porém, temos que apurar se houve erros. Se houve, que sejam
penalizados. Mas, se agiram certo, temos que dar oportunidade para que digam que
estavam corretos.
Concordo com as reivindicações dos demitidos, que é idêntica às dos
anistiados, pois vários trabalhadores foram demitidos injustamente. Mas concordo
com a posição do atual Governo. Sei que ele tem boa vontade de resolver essas
questões, porque participo das reuniões –– faço parte da base do Governo,
representando o PMDB. E noto má vontade em termos de velocidade, que é um
negócio maluco! Se não formos firmes, persistentes, acabamos desistindo,
desanimando. Falta coragem para fazer a coisa andar. Há demitidos da Rede
Ferroviária Federal de Tubarão, na minha Santa Catarina, Estado que represento no
Congresso Nacional, que estão passando fome. Há ano e meio participamos de
reuniões e mais reuniões, e até agora nada. Ainda ontem, nos reunimos novamente.
A próxima reunião, que seria em junho, foi repassada para agosto. Hoje termina o
mês de agosto e ainda essa questão continua pendente, porque um entrou de férias,
o outro que carimba não apareceu, e as coisas vão se arrastando. Por esse motivo,
estou enaltecendo o valor desta reunião.
Devo dizer, Sr. Presidente, que gostei muito desta audiência pública. Aliás,
precisamos nos reunir mais, porque assim acabarão chamando a nossa atenção.
Esta reunião é para ouvir todos os senhores. Temos que receber sugestões. É
preciso que cada um nos passe o seu sentimento, e que nós, na qualidade de
representantes do povo, tentemos ajudar na medida do possível. O Deputado não
tem o poder da decisão; ela é governamental. No entanto, temos o poder, com a
força que temos, na qualidade de representantes de povo no Congresso Nacional,
de tomarmos posição e agirmos em conformidade.
Encerro, Sr. Presidente, dizendo que também é importante definirmos tarefas,
critérios e fazermos planejamento. Muitas vezes, procuramos o Governo, o Ministro,
mas é preciso que saibamos o que estamos fazendo ali — e que nos digam o que
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estamos fazendo de errado. É que o homem público tem tantas obrigações –– a
exemplo de nós, não é Sr. Daniel? ––, que às vezes algumas coisas escapam.
Quando tratamos de determinados assuntos, como a saúde, a educação, os
transportes, é necessário que haja um acompanhamento de toda essa
representatividade aqui presente, principalmente quanto a uma série de detalhes.
Precisamos de mais funcionários?! Vamos dar um basta a isso, promovendo
concursos públicos por este Brasil afora. Isso ocorre no âmbito das Prefeituras, dos
Governos Estaduais, até do Governo Federal. Precisamos, comprovadamente, de
mais funcionários. Faça-se concurso. Mas, depois, se chamam apenas 20%, os
demais aprovados, mas que não foram chamados a tomar posse, ficam ligando para
o Deputado: “Meu filho passou no concurso. Quando vai ser chamado?” É uma
perda de tempo generalizada, por falta de critério mais rigoroso nesse sentido. Quanto à vigilância sanitária aqui citada, muitos não têm noção de sua
importância. Falo como representante de Santa Catarina, exportador da área
alimentícia. Sei das exigências internacionais. Precisamos de pessoas na ANVISA
que sejam qualificadas, preparadas e motivadas. Do contrário, é só prejuízo para o
Brasil. Vejam o que ocorre na área portuária. Produtos exportados para a Rússia
retornaram ao Brasil em função da vigilância sanitária. São aspectos
importantíssimos, como foram hoje apresentados.
Parabenizo os senhores e ponho-me à disposição, juntamente com o
Deputado Daniel Almeida e outros colegas.
Apresentei vários projetos, como outros colegas, requerimentos,
pronunciamentos e iniciativas, que não foram deste Deputado, mas resultado de
reuniões como esta. São iniciativas que surgiram de conversas nos aeroportos, nos
escritórios das bases. Muitas sugestões acabam se transformando em soluções. É
isso que queremos.
Colocamo-nos à disposição e parabenizamos V.Exas. por esta audiência
pública.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Antes de encerrar
os trabalhos, agradeço a presença de todos, em especial dos nossos convidados.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Comunico que haverá reunião ordinária deliberativa dia 5 de setembro, às 10
horas, neste plenário, para apreciação da Pauta nº 27/2007.
Concedo a palavra, pela ordem, ao Deputado Daniel Almeida.
O SR. DEPUTADO DANIEL ALMEIDA - Sr. Presidente, pensei que ainda
haveria um momento para os convidados. Fiz uma indagação, e talvez fosse
conveniente ouvir a resposta, antes de V.Exa. encerrar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - V.Exa. fez
indagação a todos? A resposta pode vir dos convidados que estão à Mesa?
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Sr. Presidente, pela ordem. É apenas
uma frase. Não posso deixar de registrar e cometer uma injustiça. Parabenizo o
Deputado Daniel Almeida, que está à frente disso tudo, que vem lutando e brigando
pela causa. Estamos sendo parceiros de S.Exa. Sempre é preciso que alguém puxe.
E S.Exa. é um dos puxadores nessa área.
O SR. DEPUTADO DANIEL ALMEIDA - Estou aprendendo com V.Exa.
O SR. PAULO RODRIGUES MENDES - Agradeço.
Deputado, a pergunta é com relação ao tratamento que o Governo nos tem
dado. O Governo nos escuta muito por telefone, especialmente a ANER. Audiências
com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão não se realizam desde o
início deste ano. A regulamentação da GDAR demorou 770 dias. A regulamentação
da Gratificação de Qualificação está demorando, ainda não foi regulamentada,
depois de 1.174 dias. Nossa possibilidade de negociar é muito tênue. Às vezes, nos
recebem, conversamos, mas não se progride no assunto. No Ministério, na
Secretaria de Recursos Humanos, há uma pasta com inúmeros pedidos, mas ainda
sem atendimento.
Este é meu depoimento, mais uma vez trazendo a necessidade de que o
Governo tenha mais interesse por seus servidores.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Deputado Daniel
Almeida, V.Exa. está satisfeito? Ou ainda tem alguma pergunta?
O SR. DEPUTADO DANIEL ALMEIDA - Sr. Presidente, gostaria de ouvir a
opinião do Sr. João Maria Medeiros e, se for possível, fazer uma sugestão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Pois não.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
O SR. JOÃO MARIA MEDEIROS - No debate com os servidores das
agências, há uma mesa permanente de negociação com o Governo. Normalmente,
abrimos um processo de negociação para 2 anos. O Governo já entende: no
primeiro ano, esperamos que se resolva na negociação; e, se não resolver, o
segundo ano é greve, algo que não é bom para ninguém — nem para nós,
trabalhadores, nem para o Governo nem para a sociedade, as empresas, o setor
produtivo etc.
Temos percebido que a mesa de negociação não funciona como deveria. Os
interlocutores não têm poder de decisão, que, por sua vez, remetem os assuntos a
seus superiores. Há uma grande divergência de opiniões no âmbito do Governo, de
forma que, muitas vezes, o entendimento feito numa mesa não se configura em fato,
realmente, no âmbito do Poder Executivo, para que se resolva o problema. Das
negociações anteriores, há inúmeras pendências. Estamos cobrando o compromisso
das pendências assumidas, que o Governo cumpra sua parte, para podermos entrar
num debate mais forte: nossa proposta para 2007.
A mesa é uma ferramenta importante, mas ela tem que dar resultados.
Senão, cai no descrédito, o que fica complicado para o próprio Governo e para
encontrarmos uma solução que não seja o movimento, a mobilização.
Dando um exemplo rápido, sabendo da dificuldade de negociação, o
SINAGENCIAS defende arduamente a unidade da categoria. Todas as associações,
inclusive a ANER, na condição de associação, não de sindicato, devem participar
dos debates com as demais associações e com o SINAGENCIAS, porque temos
que lutar juntos. Se estivermos divididos, vai ser perfeito para o Governo fatiar da
forma que quiser.
Uma das ferramentas de pressão são os atos públicos. Ao meio-dia, vamos
fazer um ato público, em frente ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
já indignados com a ausência do Governo nesta Mesa, cobrando que se resolva
nossas reivindicações. Na próxima quinta-feira, o ato público será no Rio de Janeiro,
na Cinelândia, juntamente com a presença de outras entidades, como o sindicato
dos aeroviários, que estão sofrendo com a questão da crise aérea. Refiro-me ao
Sindicato da Infra-estrutura Aeroportuária. Estamos chamando todos eles para
participarem desse ato público.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
Com relação ao ato público de Brasília, queremos que cada liderança se
apresente, use da palavra e dê sua opinião, para que o Governo e a sociedade
entendam que é preciso fortalecer o canal de negociações, o que evita a greve, algo
que não queremos. Mas, se não tiver jeito, a categoria está preparada para esse
momento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Concedo a palavra
ao Sr. Paulo Rodrigues Mendes.
O SR. PAULO RODRIGUES MENDES - Sr. Presidente, tenho um comentário
em relação às palavras do companheiro João Maria Medeiros. A ANER está se
transformando numa entidade sindical, aprovada pelos especialistas em regulação
das agências, em função de que o foco de atuação seja mais produtivo, porque a
representatividade de múltiplos segmentos tem criado dificuldades, por haver
diferenças muito grandes entre os pleitos e as necessidades de muitos segmentos.
A unicidade sindical determina que uma categoria tenha apenas 1 sindicato. A
ANER sindical é o Sindicato Nacional dos Especialistas em Regulação das Agências
Reguladoras Federais.
Estamos unidos e sempre dispostos a articularmos e trabalharmos juntos em
prol do desenvolvimento de todas as carreiras das agências.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Antes de encerrar,
concedo a palavra ao Deputado Daniel Almeida.
O SR. DEPUTADO DANIEL ALMEIDA - Sr. Presidente, abstraindo as
discussões sobre a organização sindical, também sou sindicalista, sei que essas
coisas acontecem. Não entro no mérito, porque cada um tem argumentos e razões.
Mas é sempre muito importante construir unidades. Pelo que pude perceber nas
intervenções, há um grande grau de unidade em torno dos elementos centrais do
tema.
Sugiro que, neste final de audiência pública, assumamos o compromisso, em
nome da Comissão, de procurar o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
e a Casa Civil, na tentativa de mediar esse entendimento, fazer contato direto com o
Ministro. Se isso não for possível encaminharemos daqui requerimentos de
convocação das pessoas que não estiveram aqui hoje. Mas acho que não será
necessário.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 1383/07 Data: 30/08/2007
O importante é que tenhamos, o que é absolutamente natural, normal e de
direito de ter, interlocução com as pessoas que estão com a responsabilidade de
decidir. Então, que ficasse entre nós essa decisão. É muito importante que nesse
contato, que é a abertura dos espaços, haja um grau de unidade sobre o que vai ser
encaminhado, para não haver dificuldades ou barreiras para essa interlocução. Não
cabe à Comissão decidir sobre o conteúdo do que vai ser negociado, mas é óbvio
que isso pode ser um elemento de argumento e justificativa do Governo para
protelar e dificultar a busca desse entendimento.
Deixo esta sugestão aqui e, mais uma vez, coloco o nosso mandato à
disposição. Proponho, se a Comissão desejar dessa forma, fazer os
encaminhamentos em nome da Comissão; e, além disso, que possamos mobilizar
outras lideranças da Casa, lideranças de diversos partidos para constituir uma
comissão mais ampla que possa extrapolar o ambiente desta Comissão. Na
Comissão temos a presença de todos os partidos, de todas as forças políticas, mas
sempre identificamos algumas lideranças que, por alguma razão ou outra,
dedicam-se mais, envolvem-se mais nesses temas. Então, vamos trazê-las, a fim de
que contribuam conosco, formando uma comissão mais abrangente.
Quero saudar a todos e dizer da disposição que esta Comissão terá para
colaborar para que haja um bom entendimento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sabino Castelo Branco) - Deputado Daniel
Almeida, quero dizer que esta Presidência acata sua sugestão, e V.Exa. pode
apresentá-la em nome da Comissão de Trabalho. Queremos parabenizar e
agradecer a V.Exa., como representante do povo como sempre tem sido nesta
Casa, lutador pelos interesses dos trabalhadores, que a nossa Comissão do
Trabalho está à disposição de todos os senhores.
Vamos encerrar a nossa audiência pública, convocando nova reunião para o
dia 5 de setembro, às 10 horas da manhã, neste plenário, para apreciação da Pauta
nº 27/2007.
Está encerrada a reunião.
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