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DEPRECIAÇAO E REPOSICAO DE CAPI1 AL EM ECONOMIA INFLACIONÁRIA WILLARD J. GRAHAM "A depreciação não é eõmente a medida em âinhei- ro da deterioração física de um ativo, mas também a ectimetive do valor a ser considerado, como custo cperecionel, levando-se em considl~ação todos o~ fatôres que hão provàvelmente determinar o tetnp » de fWi utilidede psre a emprêsa." - NORMAN LEI'; 13VRTON. Para maior clareza de exposiçao o assunto será tratado dentro dos seguintes tópicos: a função da depreciação na "recuperação" do capital investido em bens depreciáveis - sua reconversão grada- tiva em recursos disponíveis; o problema complexo - numa economia inflacionária de determinar e expressar as quantias de capital re- cuperado; a relação entre depreciação e reposição de capital. Antes de iniciar o exame dêsses problemas específicos, ana- lisarei alguns dos princípios básicos da depreciação contá- bil, pois êles afetam tanto a programação, como o total das "recuperações". WILLARD J. GRAHAM - Prcfeseor da Universidade de Carolina do Norte'. Nota da Redação - Êste artigo reproduz trabalho apre:entado pelo autor na Confe:ência Regional do Controllers Institute of America, realizada em Neva Orlcâs, em março de 1959 e é reprcduzido sob autorização de "T'he Acccunting Review", ôrgâo da American Accoursiing Association", onde f(li originalmente publicado em julho de 1959, Vol. XXXIV, n.? 3.

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DEPRECIAÇAO E REPOSICAO DE CAPI1 ALEM ECONOMIA INFLACIONÁRIA

WILLARD J. GRAHAM

"A depreciação não é eõmente a medida em âinhei-ro da deterioração física de um ativo, mas tambéma ectimetive do valor a ser considerado, como custocperecionel, levando-se em considl~ação todos o~fatôres que hão provàvelmente determinar o tetnp »de fWi utilidede psre a emprêsa." - NORMAN LEI';13VRTON.

Para maior clareza de exposiçao o assunto será tratadodentro dos seguintes tópicos:

• a função da depreciação na "recuperação" do capitalinvestido em bens depreciáveis - sua reconversão grada-tiva em recursos disponíveis;

• o problema complexo - numa economia inflacionáriade determinar e expressar as quantias de capital re-

cuperado;

• a relação entre depreciação e reposição de capital.

Antes de iniciar o exame dêsses problemas específicos, ana-lisarei alguns dos princípios básicos da depreciação contá-bil, pois êles afetam tanto a programação, como o totaldas "recuperações".WILLARD J. GRAHAM - Prcfeseor da Universidade de Carolina do Norte'.

Nota da Redação - Êste artigo reproduz trabalho apre:entado pelo autorna Confe:ência Regional do Controllers Institute of America, realizada emNeva Orlcâs, em março de 1959 e é reprcduzido sob autorização de "T'heAcccunting Review", ôrgâo da American Accoursiing Association", onde f(lioriginalmente publicado em julho de 1959, Vol. XXXIV, n.? 3.

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170 DEPRECIAÇÃO E REPOSIÇÃO DE CAPITAL R.A.E./17

A FINALIDADE DA DEPRECIAÇÃO

É princípio de aceitação geral que a depreciação não éum método de avaliação de bens nem um meio de proverrecursos destinados à reposição de bens depreciados; aoinvés, é um método de distribuição do custo de um ativoentre diversos exercícios, entre divisões e departamentos,e finalmente entre produtos e serviços. Isso, porém, nãosignifica que a depreciação não esteja relacionada à re-cuperação do capital investido em bens depreciáveis ouou provimento de recursos para a reposição dêsses bens.Na realidade, sob certas condições, a depreciação visa defato a recuperar o capital e a prover recursos para a suareposição. Essas relações serão desenvolvidas com maiorclareza adiante. Aqui, porém, gostaria de acentuar que afinalidade da depreciação é a distribuição de custos, e queas outras relações, por importantes que sejam, são secun-dárias.

DEPRECIAÇÃO - BASES E MÉTODOS

Existem dois aspectos importantes na distribuição decustos (recuperação do capital investido) provenientes dadepreciação, a saber:

• a programação das recuperações - sua distribuiçãoentre os diversos exercícios contábeis, e

• O total das recuperações.

A programação das recuperações é determinada pelo mé-todo de depreciação empregado (depreciação em linhareta, depreciação decrescente etc.). O total das recupera-ções é função da escolha da base para a aplicação da taxade depreciação (custo histórico, custo histórico inflacio-nado, ou custo de reposição). Deve-se observar que a es-colha do método e a escolha da base são decisões indepen-dentes, e nenhuma delas está relacionada à estimativa devida útil.

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R.A.E.jl'i DEPRECIAÇÃO E REPOSIÇAO DE CAPITAL 171

A ESCOLHA DO MÉTODO

A base mais lógica e razoável para a distribuição do custodos bens pareceria estar em relação direta com os bene-fícios auferidos: o valor líquido dos serviços prestadospelo bem nos diferentes exercícios. A experiência indicaque na maioria dos casos o valor líquido dos serviços pres-tados em exercícios suc-essivostende a diminuir, por váriosmotivos:• Quando ativos são adquiridos especialmente em quan-tidades apreciáveis espera-se que o volume de produçãoe os lucros venham a justificar essa aquisição em futurorazoàvelmente próximo. Geralmente não se espera queos bens sejam úteis de maneira uniforme durante tôdaa sua vida estimada.

• A eficiência física dos ativos geralmente decai durantesua vida útil, reduzindo-se gradativamente a quantidadee/ou qualidade dos serviços prestados. Isso pode implicarmenor precisão, maiores despesas de manutenção e outrosfatôres.

• Verifica-se um aumento crescente de obsoletismo. Issoreduz gradativamente o valor - mesmo de idêntica quan-tidade e qualidade - de serviços prestados pelo ativo emexercicio. Por exemplo, tão logo haja disponibilidade demáquinas mais modernas, o valor líquido dos serviçosprestados pelo equipamento existente terá diminuído.

• Reparos e manutenção tendem a aumentar em cadaexercício, destarte reduzindo gradativamente o valor líqui-do dos serviços prestados em exercícios sucessivos.

MÉTODO ACELERADO DE DEPRECIAÇÃO DECRESCENTE

A exposição acima parece apresentar argumentos convin-centes para a aplicação de um método de depreciação de-crescente, para efeitos contábeis. É pouco provável,porém, que na maior parte dos c-asosqualquer dos méto-dos de depreciação decrescente permissíveis para efeitosfiscais seja apropriado. O método de porcentagem fixa

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sôbre O valor dos livros 1 não irá provàvelmente produzirnem mesmo distribuições aproximadamente exatas doscustos das instalações. O método COLE é particularmenteinflexível, porque tanto a taxa inicial como o declive dareta (isto é, a quantia deduzida anualmente) são prede-terminados. Mas ainda existe uma escolha quase ilimitadade métodos específicos de depreciação decrescente - ín-dices do primeiro e do último ano, de freqüências de mo-dificações na taxa de depreciação e do declive da reta.Por exemplo, pelo método de depreciação das múltiplaslinhas retas, o declive da reta pode ser muito menos acen-tuado para edifícios do que para máquinas e equipamen-tos, e menos acentuado para certos tipos de máquinas eequipamentos do que para outros, dependendo da análisee avaliação dos fatôres de depreciação acima expostos.

Ê evidente, pois, que em qualquer situação específica aescolha do métcdo mais apropriado de depreciação de-crescente e sua aplicação apresentam problemas extrema-mente difíceis, muito mais difíceis do que os provenientesda aplicação do método de depreciação em linha reta.Mas, se o custo das instalações deve ser apropriado aexercícios sucessivos e à produção, em proporção ao valorlíquido dos serviços prestados nesses exercícios, e se houverevidência apreciável de que o valor líquido dêsses serviçosde fato diminuiu enormemente durante dado período detempo, a continuidade do método de depreciação em linhareta resultará em erros substanciais na distribuição doscustos. Minha opinião é que na maioria dos casos tais errossão maiores do que quaisquer outros resultantes da seleçãoe aplicação de qualquer método de depreciação decres-cente, que pareça razoàvelmente apropriado a determinadasituação.

1) N. R.; Para a tradução dos métodos de depreciação, quando possível,foi utilizada a terminologia empregada por FREDERICO HERMANN JÚNIORem seu livro "Contabilidade Superior", Editôra Atlas S. A., s.a edição,págs. 197 e seguintes.

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R.A.E./17 :LJEPRECIAÇAO E REPOSIÇAO DE CAPITAL 173

MÉTODO DE DEPRECIAÇÃO EMLINHA RETA

A utilização do método de depreciação em linha reta sejustifica somente quando se pode pressupor 2 que:

IJ o ativo será uniformemente útil durante tôda a suavida;

• não haverá declínio de desempenho;

• não ocorrerá obsoletismo, isto é, não haverá desenvol-vimento tecnológico nessa área;

• o custo periódico de reparos e manutenção não au-mentará;

• não haverá mudança no produto ou no método de pro-dução, que reduza a utilidade ou a adequabilidade do ativopara o serviço que presta, a partir da data de sua aquisi-ção; exatamente a mesma máquina seria comprada hoje.

Uma vez que essas suposições não sejam válidas (rara-mente o são), alguma forma de depreciação decrescenteserá mais apropriada do que o método em linha reta, querpara a distribuição dos custos em relação ao valor líquidodos serviços prestados, quer na determinação do lucro lí-quído, principalmente quanto à criação de uma base sólidapara uma estimativa da lucratividade. Além disso, a nãoser que a mudança para o valor decrescente seja pelomenos duas vêzes maior do que deveria ser - vale dizer,a não ser que o declive da.reta seja pelo menos duas vêzestão acentuado quanto seria de esperar em razão dos fatosdo caso -, as despesas de depreciação resultantes sãoainda mais exatas do que sob o método de depreciação emlinha reta.

2) A rigor, levando-se em consideração os juros sôbre o investimentc, essassupooiçôes justiêicariam uma taxa de depreciação Iigeiramente crezcente;a depreciação em linha reta prevê uma queda contínua no valor líquidodos servíços prestados, quando oe considere adequadamente O' fator juros.

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174 DEPRECIAÇAO E REPOSIQAO DE CAPITAL R.A.E./1'

DEPRECIAÇÃO E "RECUPERAÇÃO"DO CAPITAL CONSUMIDO

Voltemos agora aos aspectos específicos de depreciaçãoque aqui serão examinados: a recuperação do capital in-vestido em ativos depreciáveis e a reposição dêsses ativosnuma economia inflacionária.

Considerando-se pacífico que a depreciação é simples-mente um método de apropriação do custo do capital con-sumido a exercícios contábeis sucessivos (e a divisõese departamentos e, finalmente, a serviços e produtos),como poderá a depreciação recuperar o custo do capitalinvestido em bens depreciáveis? Isso na prática nem sem-pre ocorre. Se o preço de venda do produto ou serviçofôr pelo menos suficiente para cobrir tôdas as despesas,inclusive a despesa de depreciação (os custos do capitalconsumido), a venda do produto - ou da prestação deserviços - irá recuperar tojos os custos apropriados aoproduto, inclusive os do capital consumido.

DEPRECIAÇÃO E REPOSIÇÕES

Conclui-se, então, que o custo do capital consumido que érecuperado pelo lançamento contábil da depreciação so-mada ao lucro líquido depois de pagos os dividendos (au-mento dos lucros acumulados) está disponível para tôdaa espécie de aumentos de ativos, inclusive para a reposiçãodo ativo depreciado. É importante ressaltar que nesseponto reside a única relação entre depreciação e reposiçãode ativos depreciados. Enquanto êsses recursos disponíveisnão forem requisitados - nem utilizados - para aumen-tos do capital circulante, pagamento de dívidas a longoprazo etc., êles estarão disponíveis para reposição ou adi-ções dos ativos depreciáveis. Embora não exista relaçãode causa e efeito entre as necessidades de reposição e apolítica de depreciação (como será demonstrado maisadiante), os recursos resultantes da recuperação do ca-pital consumido através dos lançamentos de depreciaçãopcderão estar disponíveis para utilização na reposição debens depreciados.

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R.A.E./17 DEPRECIAÇAO E REPOSIÇAO DE CAPITAL 175

REPOSIÇÃO EQUIVALENTE

Ê importante destacar que é imediato qualquer efeito dadepreciação sôbre os recursos para reposição no ano emcurso; êsses recursos estão disponíveis para a aquisição deativos depreciáveis e são geralmente empregados com essafinalidade. Isso é, de fato, a atual (imediata) reposiçãoequivalente (em dinheiro) do custo do ativo que estásendo debitado às operações como despesa de depreciação,ou seja, a reposição equivalente dos ativos que estão sendodepreciados. Raríssimas vêzes existe um fundo especialconstituído através dos anos para financiar, quando ocorrerobsoletismo, a reposição de determinado ativo ou de umgrupo de ativos. Conseqüentemente, não poderá haver re-lação direta entre o total da depreciação debitada durantea vida útil de determinado ativo e o custo de reposiçãodo referido ativo.

EFEITOS DE MODIFICAÇÕES NA POLÍTICA DEDEPRECIAÇÃO SÕERE OS RECURSOS DISPONÍVEIS

Tendo-se estabelecido que o montante atual da despesade depreciação, mais (ou menos) a variação no lucro lí-quido, está disponível para aumentos do ativo, inclusivereposições, pergunta-se se u'a modificação na política dedepreciação para fins contábeis não se refletiria autornà-ticamente nu'a modificação correspondente nos recursosdisponíveis para tais finalidades. Certamente não. Nãohaverá modificação alguma no montante dêsses recursosdisponíveis, a não ser que a modificação na política dedepreciação se reflita numa decisão administrativa queafete um item de receita, um item de despesa (que nãoseja a despesa de depreciação) ou os dividendos pagos.Mas, naturalmente, a política de depreciação influencia asdecisões administrativas. Essa é uma das justificativasmais importantes para a existência de sólida política dedepreciação.

Por exemplo, caso uma revisão cuidadosa da política dedepreciação resulte em aumentos justificados em alguns

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ou todos os lançamentos de depreciação, o aumento con-seqüente de custos e a diminuição do lucro líquido poderãolevar a administração a tomar uma ou mais das seguintesmedidas:

• aumento no preço de um ou mais de seus produtos;

• maior ênfase na redução dos custos ou no aumento devolume de vendas;

• maior resistência contra pedidos de aumento de sa-lários;

• distribuição na redução de dividendos.

Somente até o ponto em que essas decisões administrativasforem eficientes na compensação das despesas adicionaisde depreciação e na manutenção do lucro líquido aos níveisanteriores (OU resultem em decréscimo na distribuição dedividendos) servirá o aumento na despesa de depreciaçãopara recuperar mais recursos que então ficarão disponíveispara aumentos nos ativos, inclusive reposições. Na au-sência dêsse tipo de decisões por parte da administração,o único efeito do aumento na depreciação será uma corres-pondente redução do lucro líquido, sem afetar, entretanto,os recursos disponíveis.

CONCLUSÕES PRELIMINARES

As conclusões estabelecidas até o presente são estas:

1.a) a depreciação é um método de apropriação a exer-cícios sucessivos - e a produtos - do custo do capitalconsumido;

2.a) um método adequado de apropriação está relacio-nado com o benefício recebido - o valor líquido dos ser-viçcs prestados em exercícios sucessivos e que, na maioriados casos, exige uma taxa decrescente de depreciação;

3.a) o lançamento contábil adequado da depreciaçãotende a recuperar o custo do capital consumido e a proverrecursos para aumentos de ativo, inclusive a reposiçãoequi-valente do capital consumido.

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R.A.E./17 DEPRECIAÇAO E REPOSIÇAO DE CAPITAL 177

BASE DE DEPRECIAÇÃO

Talvez seja êste o aspecto mais crítico de tôda a políticade depreciação: estabelecer qual é a base mais adequadapara determinar - e expressar - o custo do capital queesteja sendo recuperado através da depreciação. Pareceque existem três bases alternativas, a saber:

1.a) o montante do capital investido - seu custo his-tórico;

2.a) o montante do poder aquisitivo global - o podereconômico, o poder de compra de bens e serviços em geral- do investimento; o custo histórico expresso em moedaatual, equivalente ao poder aquisitivo da quantia investida;

3.a) o custo de reposição do item ou tipo específico doativo que esteja sendo depreciado.

CUSTO DE REPOSIÇÃO

A terceira alternativa, o custo de reposição, será discutidaem primeiro lugar. Que é, na verdade, custo de reposição?Parece que a expressão não tem significado muito preciso.Foi definida de várias maneiras, a saber:

• quanto um idêntico ativo custaria atualmente;

• quanto um idêntico ativo irá provàvelmente custar naépoca de sua reposição;

• o custo atual de um ativo equivalente, sem que se te-nha definido essa equivalência com muita clareza;

• o custo de reposição já incorrido para substituir oativo;

• o custo histórico reajustado por meio de índicesespe-cíficos de correção monetária - muitos bastante especí-ficos, sendo um ou alguns relacionados intimamente comas despesas de uma emprêsa ou de um ramo industrial.

Tôdas essas variedades de custos de reposição baseiam-seno conceito de que lucro líquido é o excesso das receitas

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sôbre O total apurado dos custos atuais de reposição dosativos consumidos na produção daquelas receitas, isto é,que lucro líquido é aquela porção das receitas não neces-sárias para manter intato o capital investido.

Não há, portanto, concordância de opiniões quanto ao con-ceito de custo de reposição, e torna-se difícil, talvez impos-sível, determiná-lo com exatidão. Sua utilização comobase para o cálculo da despesa de depreciação represen-taria um afastamento dos custos históricos lançados, dessamaneira anulando consideràvelmente a objetividade dacontabilidade. O custo incorrido com o consumo do capitalexistente deve ser determinado sem que se considerem aintenção de reposição em espécie, a reposição com dife-rente tipo de ativo ou a simples não-reposição. Essa con-clusão parece excluir, para fins de determinação do lucropara relatórios a acionistas e outros grupos alheios à admi-nistração, o uso tanto de custos específicos de reposição,como de índices de preços relacionados diretamente comos tipos de ativos consumidos por determinada emprêsa.

UTJLIZAÇÃO PELA ADMINISTRAÇÃO DOSCUSTOS DE REPOSIÇÃO

Deveria ser reconhecido, entretanto, que os custos espe-cíficos de reposição têm grande significado para as pessoasempenhadas na administração de uma emprêsa. De ma-neira geral, a administração nas suas decisões não deveriaconsiderar os custos históricos, exceto quando êsses custosindicam custos presentes ou prováveis custos futuros.Administração implica planejamento futuro e inclui a re-posição dos ativos tangíveis depois de consumidos. Con-seqüentemente, planos para auferimento de receitas e ou-tras fontes de capital devem levar em consideração o custoatual e, até mesmo, o provável custo futuro do capital queesteja sendo consumido.

O fato de êsses custos não serem objetivos não é necessà-riamente empecilho para a sua utilidade à administração.Que freqüentemente se baseiem em amplas estimativas e

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R.A.E.j17 DEPRECIAÇÃO E REPOSIÇAO DE CAPITAL 179

estejam sujeitos a imprecisões pode ser lamentável, mas éinevitável. Apesar disso, levando em conta suas limitações,a administração deve - e assim o faz - tomar suas de-cisões baseando-se nos custos específicos de reposição, enão em custos passados.

BASES ALTERNATIVAS DE CUSTOS HISTÓRICOS

A eliminação do custo de reposição como base adequadapara o cálculo da depreciação - para a determinação darecuperação do capital - (pelo menos para relatórios fi-nanceiros) limita nossa escolha às duas primeiras alter-nativas, ou seja, ao custo histórico expresso em moedaatual equivalente ao poder aquisitivo da quantia inves-tida. Mas, porque não são idênticas essas bases alterna-tivas? Não é a moeda a única medida de custo, o únicopadrão pelo qual se expressa o poder econômico? Por-que, então, se obtêm importâncias tão diversas quandose utilizam essas duas bases alternativas, referindo-se am-bas à mesma coisa, o custo histórico do capital investido?

A explicação reside no fato de que se trata de duas moe-das diferentes, a da época do investimento do capital e ada época de recuperação do capital através da deprecia-ção. O dinheiro não é de valor estável. Não é medidaconstante e uniforme de poder aquisitivo, mas está sujeitoa flutuações de valor.

INFLAÇÃO E DIMINUIÇÃO "")0 VALOk DOPRÓPRIO DóLAR

Desde 1933 o valor do dólar vem diminuindo quase con-tinuamente, com pequenas interrupções em 1938, 1949e em meados da década de 1950. Seu valor atual é iguala menos de 40% do que valia em 1932 e a cêrca de 50%do que valia em 1940, considerando-se um índice geralde preços - a média ponderada dos preços de grandesvariedades de mercadorias e serviços. Com as -fôrças in-flacionárias ainda ativas - o suprimento descontrolado

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de papel-moeda; grandes dívidas públicas; despesas de-ficitárias para evitar recessões; exigências dos sindicatospara aumentos de salários, maiores do que os de produ-tividade; manutenção de preços de produtos agrícolas; aguerra fria etc., em conjunto com métodos contábeis quenão refletem adequadamente o impacto da inflação sôbreos lucros - a recuperação de qualquer porção substancialdessa perda de valor é bastante difícil; na verdade, umaconstante diminuição do valor real é o que se apresentacomo muito mais provável.

A DETERMINAÇÃO DO CAPITAL RECUPERADO

Considerando êsses fatos sôbre o valor do dinheiro, exa-minemos novamente as duas bases alternativas para a de-preciaçâo, a fim de determinar e expressar o montante decapital recuperado através da depreciação. Quando êssecapital foi investido representava uma importância quenaquele tempo possuía determinado poder aquisitivo quepoderia ser medido por todos os possíveis empregos dessaimportância. Na apuração do lucro num exercício seguin-te - indaga-se - será suficiente lançar no custo opera-cional o custo histórico dêsse capital para recuperar, atra-vés da depreciação, somente o montante investido, inde-pendentemente do seu poder aquisitivo atual? Se as ope-rações produzirem mais em dinheiro atual do que o custohistórico, poderemos dizer que tivemos por causa dissoum lucro líquido? Ou devemos primeiramente recuperaro poder aquisitivo investido, expresso por um númeromaior de dólares de menor poder de compra que possuemum poder aquisitivo total '-- um poder aquisitivo global_. equivalente ao do capital investido? Será sólida prá-tica contábil reportar que o capital investido se manteveintato e que houve lucro quando, de fato, somente a quan-tidade de dólares do investimento ficou intata, enquantoo poder aquisitivo dêsses dólares foi constantemente re-duzido? Poderá existir lucro, um lucro real, sem a plenarecuperação do poder aquisitivo inicialmente investido

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R.A.E./17 DEPRECIAÇAO E REPOSIÇAO DE CAPITAL 181

que foi consumido na produção dêsse lucro? Na minhaopinião, é impossível haver contabilização adequada e re-latórios corretos quando se ignora - ou se oculta pormeio de subterfúgios - um dos mais importantes aspec-tos da vida econômica, ou seja, o de que o dólar não émedida uniforme, estável e constante do poder de com-pra, sendo que seu valor diminuiu substancialmente e queinvestimentos medidos inicialmente pelo valor do dinhei-ro da época 'eloinvestimento podem ser determinados ade-quadamente, quando da recuperação pela depreciação, so-mente pela reexpressão do poder aquisitivo investido, emtêrmos de maior quantidade de dólares de equivalentepoder de compra.

Teoricamente, a conversão dos custos históricos de depre-ciação em custos de poder aquisitivo equivalente requer oseguinte procedimento:1) classificação, pelo custo histórico, de todos os ativosdepreciáveis existentes no início do exercício contábil, .porano de aquisição, e subclassificação pela taxa de depre-ciação;

2) aplicação da taxa de depreciação adequada ao custohistórico dos bens em cada subclassificação;

3) determinação do subtotal das depreciações calculadas,pelo ano de aquisição dos ativos; o total geral a ser de-terminado nesta altura como contrôle deve ser igual à des-pesa de depreciação do exercício em curso, baseada noscustos históricos;

4) aplicação de adequado índice geral de preços sôbrea depreciação, de acôrdo com o ano de aquisição dos ati-vos, isto é, multiplicando-se a depreciação do custo his-tórico pelo índice geral de preços do ano em curso e di-vidindo-se o resultado pelo índice do an? da aquisição;

5) determinação do total das depreciações ajustadaspelos anos de aquisição dos ativos para obter a despesatotal da depreciação ajustada referente a todo- o ativopara o exercício em curso.

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182 DEPRECIAÇAO E REPOSIÇAO DE CAPITAL R.A.E./17

Em muitos casos o procedimento indicado acima talveznão seja exeqüível: quando os registros dos ativos foremtais que o método se torne impraticável ou impossívelpoderá ser usado um procedimento abreviado. Êsse pro-cedimento abrange os seguintes passos:

1) classificação,pelo custo histórico, de todos os itens de-preciáveis existentes no início do exercício, por ano deaquisição;2) aplicação de adequado índice geral de preços sôbreo total das aquisições de cada ano para a determinaçãodo custo ajustado das aquisições de cada ano, ao iníciodo exercício;

3) determinação do total geral para obter o custo global'ajustado de todos os ativos existentes no início do exer-cício;

4) divisão dêsse custo ajustado dos ativos pelo seu custohistórico para obter um índice ponderado de custo ajus-tado ao custo histórico de todos os bens;

5) aplicação dêsse índice à depreciação do ano em cursosôbre o custo histórico para obter a depreciação sôbre ocusto histórico ajustado.

OBSERVAÇÁ03

Êsse último método está sujeito a erros significativos,principalmente se houver modificações de preços num sósentido e se um volume relativamente grande de aquisi-ções tiver ocorrido em anos específicos, principalmente emanos recentes ou remotos. Por exemplo, atualmente, apóslongo período de aumentos quase contínuos e conseqüen-te declínio no valor do dólar, é muito provável que a apli-cação do segundo método produza quantidade excessiva-mente grande de depreciação a um custo ajustado.

3) N.R.: Relativa aos Estados Unidos da América.

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R A.E./17 DEPRECIAÇAO E REPOSIÇAO DE CAPITAL 183

Ambos os métodos baseiam-se na suposição de que a de-preciação é computada com base no saldo da conta deativos no início do exercício. Do contrário, outros pro-cedimentos seriam necessários.

Em situações onde registros de bens sejam incompletosestimativas maiores ou menores podem tornar-se neces-sárias para que se obtenha uma aproximação razoàvel-mente exata da depreciação baseada no custo históricoajustado. Qualquer estimativa razoável é mais útil paramuitas finalidades do que a depreciação computada sôbreo custo histórico.

MÉTODOS DE APRESENTAÇÃO DE BALANÇOS

Na presente fase do desenvolvimento da Contabilidadepode ser que no balanço e na demonstração de lucros eperdas a depreciação deva basear-se no custo listórico. Oefeito sôbre os custos e receitas da conversão do custo his-tórico em custos de poder aquisitivo equivalente pode me-lhor ser apresentado em relatórios suplementares. Even-tualmente, porém, a meu ver, a depreciação na demons-tração de lucros e perdas deveria ser expressa em valô-res atualizados com o reajustamento apropriado lançadono "não exigível" do balanço.

Talvez a melhor definição da utilidade dos relatórios su-plementares seja esta:

"Embora os relatórios das emprêsas sejam preparadosprincipalmente para os acionistas, a informação nêles con-tida torna-se, na verdade, propriedade pública, e pode, demaneira geral, influenciar a formação de opiniões. Os re-latórios financeiros expressos em valôres uniformes atuaisseriam úteis para as seguintes finalidades:

1.a) avaliação da eficiência administrativa em têrmos depreservação do valor atualizado do capital investido naemprêsa, e não apenas pelo montante inicial de dólares;

2.a) análise da lucratividade em face da atual conjuntura;

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3.a) determinação e justificação de diretrizes salariais sa-dias e negociações com sindicatos;

4.a) determinação pelo Govêrno de diretrizes a longoprazo referentes ao contrôle da economia através da po-lítica monetária, regulamentação de preços, limitação delucros, impostos etc.;

s.a) criação de opinião pública bem informada, com refe-rência a lucros, preços, salários etc., e ao efeito da infla-ção ou deflação sôbre problemas financeiros em geral;6.a) determinação de diretrizes administrativas com re-ferência a preços, créditos, dividendos, expansão etc.." 4

ACELERAÇÃO ARTIFICIAL DA RECUPERAÇÃODO CUSTO HISTÓRICO

Parece existir consenso de que as provisoes para depre-ciação baseadas nó custo histórico 5 são inadequadas, em-bora os princípios contábeis de aceitação geral - e a Se-curities enâ Exchange Comission 6 - não aprovem qual-quer desvio dessa base antiquada. Conseqüentemente, es-tratagemas de vários tipos são usados amiúde para obteralguns dos benefícios da depreciação em valôres atuali-zados. Artifícios comuns incluem: estimativas muito bai-xas de vida útil, lançamento como despesas operacionaisde itens que deveriam ser capitalizados, taxa de deprecia-ção decrescente mais rápida do que seria justificável. To-dos êsses artifícios conseguem alguns dos benefícios da de-

4) "Price Lave! Chenge« anel Financia! Statements", Supplementary Stete-ment N. 2, Committees on Concepts anel Stenderds Uneler!ying CorporeteFinancia! Stetements, American Accounting Associetion.

5) De 331 executivos de grandes emprêsas e educadores que responderama recente querticnário da AICPA 74% (isto é, 69% dOE-executivos €

940/0 dos educadores) aprovaram em princípio, a proposta de que ocusto em dólares atuais da depreciação deveria aparecer de algum modoadequado nos relatórios da emprêsa aos seus acionistas. Para uma análisecompleta das respostas a ê·se questionário ver: "Opinion Survey onPrice Leve! Adjustment 01 Deptecietion", The Lournel of Accountancy,abril de 1958, pág. 36.

6) N.R.: Instituiçâo que regula a atividade das bôlsas de valôres imobiliáriosdos Estadcs Unidos da América.

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preciação em valôres atuais; recupera-se o capital antesque perca muito poder aquisitivo através da inflação con-tínua e há economia em despesas de juros. Para fins derelatórios financeiros, entretanto, qualquer aceleração ar-tificial da recuperação do custo histórico pelo lançamentode depreciações mais elevadas não é sucedâneo aceitávelpara a reexpressão do custo histórico em valôres atuais.Não é boa política corrigir um êrro com outro. Além domais, a correção tende a ser temporária, porque a recupe-ração total se limita ao investimento em dinheiro.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

• A depreciação é um processo de apropriação dos custosdos ativos tangíveis a exercícios sucessivos e a produtose serviços, preferivelmente em relação aos benefícios re-cebidos, ou seja, ao valor líquido dos serviços prestadospelas instalações, em exercícios sucessivos.

• A depreciação tende a recuperar o custo do capital con-sumido e, assim, prover recursos para aumentos de ativo,inclusive a reposição equivalente do capital consumido.

• Para efeitos de contabilização a escolha da base de de-preciação (custo histórico, custo histórico inflacionado, oucusto de reposição) e a escolha do método (linha reta,depreciação decrescente ou outros) constituem decisõesindependentes, e nenhuma delas está relacionada à esti-mativa de vida útil do ativo sujeito à depreciação.

• Uma vez que, de maneira geral, o valor líquido dos ser-viços prestados pelo capital tende a diminuir durante otempo de vida útil, um método de depredação decres-cente é provàvelmente mais adequado do que um mé-todo em linha reta.

• Uma vez que o valor do dinheiro diminuiu substancial-mente, a recuperação, pela depreciação, do custo históricodo capital investido não permite" em geral, total recupe-

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ração do poder aquisitivo investido inicialmente. Por isso,o custo histórico não é uma base adequada de depreciação.

• A depreciação baseada no custo atual ou antecipado, dereposição, não é satisfatória para efeito de preparação derelatórios financeiros. O custo do consumo do capital exis-tente deveria ser independente da intenção de reposiçãoem espécie, de reposição com tipo diferente de capital oude reposição em geral.

• A depreciação baseada no custo histórico expresso emtêrmos de valôres atuais, de poder aquisitivo equivalente,determinada por um índice geral de preços, produz ummontante de lucros líquidos que deveria ser uma base maissólida para estimativa da lucratividade futura do quequalquer uma das duas. outras bases alternativas.

• Para fins de relatórios financeiros uma aceleração ar-tificial da recuperação do custo histórico não pode subs-tituir a reexpressão do custo histórico pelo custo atualizado.

• Modificações na política de depreciação, quer na base,quer no método, podem afetar modificações corresponden-tes nos recursos para reposição sõtnenie através de deci-sões administrativas que afetem itens de receita, despesas(menos a despesa de depreciação) ou dividendos pagos.

OBSERVAÇÃO FINAL - DEPRECIAÇÃO PARA FINS DEIMPÔSTO DE RENDA

A depreciação para fins de dedução do impôsto de rendanão está sujeita a princípios contábeis, mas às prescriçõesda legislação tributária. Depreciação para fins tributáriosnão deve ser considerada como método de apropriação decustos, mas sim como instrumento de política social. Asdeterminações indiscriminadas quanto à depreciação deinvestimentos e depreciação acelerada (inclusive a taxadecrescente) não se relacionam necessàriamente com oprazo de vida útil, nem com o valor líquido dos serviçosprestados em exercícios sucessivos. É legítimo - e geral-

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mente no interêsse do contribuinte - aproveitar as maio-res deduções permissíveis pela lei para recuperar o capi-tal investido o quanto antes possível. Tôdas as acelera-ções artificiais disponíveis devem ser aproveitadas o maisamplamente possível, sem levar em consideração a apro-priação adequada dos custos, inclusive aceleração rápida,dedução corno despesa (quando permissível) de itens con-tàbilmente capitalizáveis, ou mesmo de índices excessiva-mente elevados. Enquanto o cálculo da depreciação fôrbaseado no custo histórico, é quase certo que todos os dis-positivos de aceleração acima mencionados, tornados emconjunto, serão insuficientes para a recuperação do equi-valente em valôres atuais do custo de capital consumido,e que o confisco de capital pela tributação haverá decontinuar.