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1 AGES FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO ITAMIRIS ANDRADE ROSÁRIO DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as influências dos valores familiares no processo decisório das MPEs Paripiranga 2010

DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

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AGES

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO

ITAMIRIS ANDRADE ROSÁRIO

DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

influências dos valores familiares no processo decisório das MPEs

Paripiranga

2010

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ITAMIRIS ANDRADE ROSÁRIO

DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

influências dos valores familiares no processo decisório das MPEs

Monografia apresentada no Curso de Graduação da

Faculdade AGES como um dos pré-requisitos para

obtenção do título de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Esp. Thales Brandão Ferreira.

Paripiranga

2010

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ITAMIRIS ANDRADE ROSÁRIO

DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

influências dos valores familiares no processo decisório das MPEs

Monografia apresentada como exigência parcial para

obtenção do título de Bacharel em Administração, à

Comissão Julgadora designada pelo Colegiado do Curso

de Administração da AGES - Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais.

Paripiranga, 06 de dezembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Thales Brandão Ferreira

Faculdade AGES

Prof.ª. Silvia Manoela de Jesus Machado Silva

Faculdade AGES

Prof. Augusto César Teixeira Santiago

Faculdade AGES

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Dedico aos meus pais, Miguel e Zilma, que com um amor

incondicional, seguraram minhas mãos até que eu conseguisse dar

meus primeiros passos, escrevesse as minhas primeiras palavras e,

acreditando sempre em meus ideais, continuam ao meu lado

contribuindo com ensinamentos, carinho e apoio para o alcance dos

meus objetivos.

Às minhas irmãs Ítala, Iterlandia e Itermagna e meu irmão Ubelino,

por estarem sempre ao meu lado, convivendo e partilhando dos mais

difíceis e melhores momentos, e mais do que irmãos, são amigos e

responsáveis pela construção do meu caráter e personalidade.

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AGRADECIMENTOS

Quando decidimos seguir uma trilha ao alcance de um objetivo, temos convicção

de que enfrentaremos riscos, renúncias e perdas. Esses três elementos geralmente são

indispensáveis para que possamos chegar ao ganho, sendo os riscos, o elemento que nos deixa

mais fortes e confiantes, as renúncias direcionam a um foco e as perdas representam as coisas

insignificantes que precisam ser retiradas, para dar espaço aos ganhos, as nossas conquistas.

Mas, deve-se ressaltar que nesse emaranhado de elementos, vivemos momentos e

encontramos pessoas que se tornam parte integrante de nossa caminhada e digno de sinceros e

verdadeiros agradecimentos.

Agradeço a Deus pela vida, pela saúde e pela paz a mim permitida durante todos

estes anos, muito bem vividos, com muitas felicidades e conquistas.

À Faculdade Ages, pela oportunidade acadêmica e profissional. Em ambas as

oportunidades, adquiro continuamente conhecimento, experiências e começo a aprender a

aprender, pois jamais saberemos do todo e de tudo.

Ao professor e orientador Thales Brandão, agradeço pela excelente condução das

aulas, as quais se tornaram essenciais para a continuação dos meus estudos, pela confiança e

reconhecimento a mim conferido nas aulas, nas palestras e eventos, pela orientação na

condução e acompanhamento durante a construção de um material de extrema significância

acadêmica e pessoal.

À professora e coordenadora Silvia Manoela Machado, pela dedicação e excelente

desenvoltura profissional nas aulas, pelas oportunidades a mim conferidas nos eventos e por

acreditar nas minhas capacidades intelectuais nos estágios I e II, quando, por vezes, desanimei

e quase desistia de fazer apresentações ou demonstrar meu ponto de vista a respeito de

determinadas situações.

Durante quatro anos convivi com muitos professores que contribuíram para a

conclusão do meu curso. Mas, cito os agradecimentos ao Prof. Edivaldo Rabelo, que, apesar

de pouca convivência acadêmica, jamais serão esquecidas suas primeiras aulas e seu carinho e

afeição pelo curso. Aos professores Augusto César, Cristiano Santiago, José Marcelo e

Rogério Reis, que contribuíram com o vasto e precioso conhecimento para minha formação

acadêmica, além de proporcionar excelentes e maravilhosos momentos em sala de aula.

Page 6: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

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Aos meus colegas de trabalho Ângela, Judite, Michel, Moisés e Rodrigo, que ao

longo de dois anos tenho o prazer de conviver com a partilha de vastas experiências,

conhecimento e bons momentos que se estendem além dos laços profissionais.

A todos os meus colegas, em especial Alex, Gilberto, Ueslei, Denize, Edilene e

Jaqueline, com quem compartilhei conhecimentos e experiências em sala de aula, nas noites e

finais de semana fazendo produções acadêmicas, nas farrinhas depois da faculdade, nos mais

difíceis e melhores momentos ao longo destes quatro anos.

Agradeço ao meu primo e amigo Acrísio, pela presença, carinho e apoio

constante. Charlene, Irene e Raquel, amigas de longas datas, obrigada pelo carinho e amizade

cada vez mais fortalecida. E, por falar em longas datas, agradeço ao meu amigo Evandro pelas

intermináveis conversas, pelos conselhos e pela grandiosa amizade.

Aos meus amigos que conquistei durante bons quatro anos de estudo e

convivência. Obrigada em especial a Lucas Gomes, Vitor Bartilotti, Valdenora e Vanesca,

amizades conquistadas e fortalecidas ao longo dos anos.

Aos funcionários da Faculdade Ages, agradeço pelo profissionalismo e a

capacidade humana demonstrada em suas atividades.

Agradeço a todos contribuíram para a realização desta conquista.

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Não são os grandes planos que dão certo.

São os pequenos detalhes.

(Stephen Kanitz)

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RESUMO

O presente trabalho fará uma abordagem ao cenário das micro e pequenas empresas

familiares. Um tipo organizacional que aos poucos vem sendo pesquisado, devido a sua

considerável presença no cenário econômico e aos aspectos familiares que permeiam seus

processos administrativos. De inicio será feita uma abordagem ao ambiente das micro e

pequenas empresas, sendo direcionada esta análise ao ambiente organizacional familiar, o

objeto de estudo e pesquisa. Partir-se-á para o conhecimento das principais características das

empresas familiares, no que tange seu conceito e origem, composição e desafios. Sendo

condizente afirmar que as organizações familiares são fundadas a partir da idealização de dois

ou mais membros de uma mesma família, onde estes inserem em seus trabalhos

administrativos valores e princípios oriundos de seu seio familiar. Esses valores e princípios

são enraizados na cultura organizacional, que pode vim a sofrer reestruturação à medida que a

empresa alcança maiores dimensões e atinge a segunda, terceira e próximas gerações que lhes

são consentidas. Onde, o consentimento é dado especificamente pelo acompanhamento da

empresa familiar ao mutável cenário que condiciona aos proprietários e futuros sucessores,

posturas flexíveis e aderentes às mudanças para que assim consigam permitir a manutenção

dos seus negócios no mercado. Mas, há de se considerar que os conflitos ocasionados pelos

choques entre os valores empresariais e familiares, bem como o processo sucessório, são

aspectos que condicionam à sobrevivência e/ou falência deste segmento empresarial. Neste

sentido, é imprescindível o conhecimento do cenário e das principais características que

envolvem os trabalhos desenvolvidos por este tipo organizacional, uma vez que os aspectos

pertinentes a empresas familiares podem vim a representar vantagem competitiva frente à

concorrência, no entanto, estes mesmos aspectos, que são princípios da lealdade,

cumplicidade, identificação com negócio familiar, ou seja, valores presentes em uma família,

que podem vim a representar o estopim de falências das empresas, caso não sejam atrelados

aos valores empresariais, como processos e modelos administrativos. Desta maneira, o

trabalho tem por premissa a apresentação do resultado de pesquisa bibliográfica, que aborda

os principais aspectos inerentes às empresas familiares, de maneira que venha a proporcionar

a readequação da organização no cenário altamente competitivo e globalizado, sem perder sua

essência e modelo familiar.

PALAVRAS-CHAVE: Empresa – Família – Valores – Mercado.

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ABSTRACT

This paper will approach the scene of micro and small family businesses. This is

organizational type that slowly is being researched because of its considerable presence in the

economic and family aspects that take part their administrative processes. At first it will make

an approach to the environment of micro and small enterprises, being directed to examine this

familiar organizational environment, the object of study and research. It will begin by the

knowledge of the main characteristics of family companies, regarding concept and its origin,

composition and challenges. Being, consistent to say that family firms are founded from the

idealization of two or more members of one family where they put in their administrative

work, values and principles derived from his family life. These values and principles are

rooted in organizational culture, which can come to be restructured as the company achieves

larger and reaches the second, third and future generations that they are consenting. The

consent is given specifically to monitoring family business to the changing scenario that

affects the owners and future successors, flexible attitudes and adhering to the changes, thus,

able to allow the continuation of its business in the market. But we should also consider that

the conflicts caused by shocks between business and family values as well as the succession

process are aspects that affect the survival and / or failure of this business segment. In this

sense, it is indispensable to know the scenario and the main characteristics that involve the

work of this organizational type, since, the pertinent aspects of family businesses may come

to represent a competitive advantage over the competition, however, these same aspects ,

which are principles of loyalty, complicity and identification with family business, in other

words, values present in a family that may come to represent the failure of companies, if they

are not tied to corporate values such as processes and administrative templates. Thus, the

work aims to present the results of literature review, addressing the major issues inherent in

family businesses, so that will provide to realignment the organization's highly competitive

and global scenario, without losing its essence and family model.

KEYWORDS: Business – Family – Values – Market.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Características da primeira, segunda e terceira geração..........................................51

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelo de Sucessão Familiar....................................................................................57

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13

2 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS ......................................................................... 17

2.1 Principais características e atual cenário das micro e pequenas empresas ...................... 18

2.2 O Processo de formalização e o papel da Lei das MPEs (Lei Complementar 123/06) .. 20

3 EMPRESA FAMILIAR ..................................................................................................... 22

3.1 Contextos históricos e principais aspectos originários ................................................... 22

3.2 Principais conceitos ......................................................................................................... 24

3.3 Composições da empresa familiar .................................................................................. 26

3.3.1 Equipe formada por pai e filho .............................................................................. 26

3.3.2 Equipe formada pelo cônjuge ................................................................................ 28

3.3.3 Equipe formada por parentes por afinidade .......................................................... 30

3.4 Aspectos relevantes da gestão familiar ............................................................................ 31

3.4.1 Cultura organizacional ........................................................................................... 32

3.4.2 Relações humanas ................................................................................................. 34

3.4.3 Planos de carreira, cargos e funções ...................................................................... 37

4 DECISÕES ESTRATÉGICAS E GERAÇÃO DE CONFLITOS ................................. 41

4.1 Empresa versus família ................................................................................................... 42

4.2 Valores familiares versus valores empresariais ............................................................... 45

4.3 Profissionalização ........................................................................................................... 46

5 PROCESSO SUCESSÓRIO ............................................................................................... 49

5.1 Primeira, segunda e terceira gerações ............................................................................. 50

5.2 Principais aspectos e dilemas no processo sucessório ..................................................... 52

5.3 Planejamento sucessório e modelo de sucessão ............................................................. 54

5.4 Conselho familiar ........................................................................................................... 57

6 ESTADO DA ARTE ............................................................................................................ 60

6.1 Empresa familiar X competitividade: tendências e racionalidades em conflito ............. 60

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6.2 Reflexões sobre concepções de família e empresas familiares ...................................... 61

7 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 63

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 65

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1 INTRODUÇÃO

No novo cenário amplamente globalizado e competitivo, os pequenos negócios se

destacam como os responsáveis pelo aumento da economia e desenvolvimento em nível local,

regional e nacional. Esses pequenos negócios são conhecidos como micro e pequenas

empresas e representam grande parte do Produto Interno Bruto (PIB), intrigando uma massa

de estudiosos que até então desacreditam na idéia de que um pequeno negócio possa chegar a

um nível de desenvolvimento elevadíssimo, capaz de gerar emprego, renda e lançar produtos

inovadores e altamente sustentáveis.

Uma situação não menos intrigante, mas de grande relevância é a de que a maioria

destas micro e pequenas empresas são familiares. O que concerne aos mais críticos afirmar

que, por serem empresas familiares, tendem ao fracasso mais rápido que empresas de grande

porte e capital aberto.

Dados levantados pelo SEBRAE (2005) apontam que 90% destas empresas são de

gestão familiar, e que, apesar do nível de sobrevivência ser mais baixo, as micro e pequenas

empresas familiares possuem características que incubem aos mais estudiosos a observância

das mesmas e comprovação de que realmente movem a economia e tem chances de

desenvolvimento.

Ao que concerne sua origem, a empresa familiar já existe desde época dos

artesãos, em que a prática da arte era passada de pai para filho, estendendo-se mais tarde nas

pequenas indústrias caseiras, na Revolução Industrial e atualmente no mercado globalizado.

Em termos conceituais, alguns autores são concisos e divergentes, mas a maioria assimila a

empresa familiar como sendo um composto organizacional, fundado e mantido por membros

familiares, ou seja, uma instituição empresa vinculada a uma instituição família.

É perceptível quase que comumente a empresa familiar como aquela em que a

gestão da liderança é passada de pai para filho e situações em que o cônjuge é responsável

pela fundação da empresa. E, apesar de não existirem diferenças nas áreas funcionais, é

notório que as empresas familiares têm regras próprias, aspectos e características advindas de

uma família.

Essas regras próprias deverão estar incumbidas na cultura organizacional, sendo

difundidas a todos da organização informações como missão e visão da empresa, seu modelo

hierárquico e relações humanas. Uma vez que, por se tratar de gestão familiar, é cabível a

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inserção de princípios familiares e valores tradicionais que vão de encontro às modernas

aplicabilidades administrativas, o que poderia causar sucessão de conflitos, caso não seja

desenvolvido um excelente trabalho de associação e difusão dos preceitos defendidos pela

organização familiar.

A empresa familiar geralmente cresce amparada por seus valores tradicionais. E,

atrelado a este cenário de atividades tradicionais, está a realidade de mercado e as constantes

mudanças nos modelos de negócios. Para manter-se no mercado, a gestão familiar precisa ser

flexível e aberta às mudanças pertinentes ao seu sucesso e posição aceitável no cenário. Sendo

a este ponto cabível a tomada de decisões estratégias, que provocam alterações no chamado

„código familiar‟, gerando conflitos entre valores familiares e valores empresariais. Conflitos

estes que implicam no processo decisório, e tornam-se fatores preponderantes de

sobrevivência ou falência das empresas deste segmento.

Uma das decisões que mais geram conflitos na gestão familiar é o processo

sucessório. Uma vez que envolve aspectos como a escolha de um membro familiar com perfil

capaz de sustentar a empresa e garantir sobrevivência nas próximas gerações, além de

capacidades empreendedoras, de liderança e características administrativas semelhantes ao

fundador, onde, na maioria dos casos, esse fundador é o próprio pai ou tio.

Seguindo este pressuposto, o processo sucessório é tratado como um momento

caótico, sendo tarefa difícil preparar os membros de uma família para assumir uma carreira

profissional, uma vez que é comum que requisitos profissionais e pessoais entrem em choque,

provocando conflitos e interferências nas relações familiares e empresarias.

Neste sentido, a gestão familiar provoca inúmeras vertentes de discussões, onde a

mesma tem uma forma organizacional condizente a críticas, porém há grande relevância na

sua sobrevivência, principalmente devido aos resultados que são proporcionados na

economia.

Mediante afirmação, é sabido tratar deste segmento empresarial, observando os

desafios enfrentados pela sua gestão, diante da influência causada pelos valores familiares no

seu processo decisório, sendo desenvolvido um trabalho de pesquisa, onde o objetivo geral é

compreender a composição de uma empresa familiar e os principais conflitos decorrentes da

vertente empresa versus família, com um enfoque para a influência dos valores familiares em

seu processo decisório, num âmbito de pesquisa e busca bibliográfica.

No que tange aos objetivos específicos, pretende-se contextualizar o cenário das

micro e pequenas empresas, com enfoque para a empresa familiar, conceituando e

caracterizando em seu contexto histórico, composição e modelo de gestão. Pretende-se

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também identificar os conflitos ocasionados das principais decisões estratégicas, no âmbito

gerencial das empresas familiares, bem como no processo sucessório, traçando uma discussão

nas vantagens e desvantagens da gestão familiar em cada um dos seus aspectos observados.

A metodologia utilizada para atingir os objetivos enquadra-se na pesquisa

bibliográfica, que, de acordo com Marcone e Lakatos (2005, p. 160), caracteriza-se como “um

apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por

serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes sobre o tema”. Estas informações devem

ser levantadas a partir da definição de um tema e problema a ser resolvido.

Dessa forma, mediante definição do tema, partir-se-á para a pesquisa de fontes

bibliográficas que trabalham o assunto, elencando os aspectos mais importantes e sendo

desenvolvidas análises sobre esses aspectos. E, como problema identificado ao tema proposto

em pesquisa, tem-se a indagação de como funciona uma organização familiar diante da

influência dos valores familiares no processo gerencial e sucessório. Onde, em atendimento

ao problema surgido, a pesquisa bibliográfica será desenvolvida e apresentada em uma

divisão de seis capítulos, que trabalharão o cenário das micro e pequenas organizações, em

maior observação a atuação da gestão familiar.

No capítulo introdutório, tem-se a apresentação do trabalho, no que concerne o

objeto de estudo, definição dos objetivos, metodologia e justificativa.

O segundo capítulo traz alguns conceitos sobre as micro e pequenas empresas e a

participação que as mesmas estão tendo na economia, fazendo um apanhado sucinto sobre o

processo de formalização e a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.

O terceiro capítulo faz um apanhado aos principais conceitos sobre empresa

familiar, retoma-se ao seu contexto histórico e faz ainda uma apresentação das suas principais

características, composição e modelo de gestão familiar, como a cultura organizacional, as

relações humanas e a definição de cargos, funções e planos de carreira.

O quarto capítulo discute as idéias levantadas pelos diversos autores sobre os

conflitos ocasionados no processo decisório, frisando as vertentes causadas quando se remete

ao conhecimento prático e o conhecimento científico, bem como os valores ditos familiares e

os valores empresarias. Ressaltando-se ainda a necessidade de profissionalização nos

processos administrativos.

O quinto capítulo trata do processo sucessório na empresa familiar, onde são

analisadas as condições e limitações de uma empresa conseguir manter-se na primeira

geração, chegar à segunda e dar continuidade em seus negócios até a terceira geração, sendo

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abordadas as possibilidades de chegar-se a uma quarta ou quinta geração. O capítulo trata

ainda do planejamento e modelo sucessório e do conselho familiar.

E, o sexto capítulo traz o Estudo da Arte, com a apreciação de dois artigos que

tratam do contexto das empresas familiares no mercado de negócios.

Por último, tem-se as conclusões, que fazem um apanhado das principais idéias,

encerrando-se as reflexões e discussões.

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2 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

O ambiente em que as micro e pequenas empresas estão inseridas é dinâmico e

sofre influência de variáveis ambientais não-controláveis. (TAKESHY e FARIA, 2004). E

esse dinamismo não é fator somente do século XXI, aliás, é devido ao dinamismo da

sociedade e às descobertas e invenções ao longo das gerações que se explica o surgimento, a

extinção e a reestruturação das organizações. Referindo organização como uma empresa,

sendo esta micro, pequena, média ou grande, até porque independente de seu porto, todas

constituem-se em organizações, no seu sentido mais peculiar e conceitual.

Em concordância, e com tamanha relevância, Takeshy e Faria (2004) afirmam

que:

A organização é um sistema concebido, estruturado e acionado para atingir

determinados objetivos. Utiliza insumos produtivos (pessoas, recursos financeiros,

recursos materiais e de informação) para, através do processo de transformação

pertinente à natureza de suas atividades, produzir resultados previsíveis (bens e

serviços) (TAKESHY E FARIA, 2004, p. 101).

A organização ou empresa, em seu contexto histórico está dividida em seis fases,

tendo sua origem na fase artesanal, onde o sistema comercial era a troca de mercadorias, mais

tarde surgiu a moeda, mas o desenvolvimento organizacional era lento, tendo relevância e

sendo fator de análise e estudo somente durante e após a Primeira Revolução Industrial. A

partir daí, as empresas passaram a diversificar seu ramo de atividades, foram surgindo vários

empreendimentos, onde muitas serviram como base de estudo e formação de teorias

acadêmicas. E, se continuar a analisar o contexto histórico, atualmente as empresas estão

inseridas na sexta fase, que é a fase Pós-Moderna, onde com um cenário amplamente mutável

e globalizado, as organizações tendem a buscar inovações, serem flexíveis às mudanças, a fim

de que consigam manter-se no mercado.

Seguindo este pressuposto, Takeshy e Faria (2004) contribuem quando afirmam

que:

O paradigma pós-industrial é marcado por um confronto direto com a rigidez do

fordismo. Apóia-se na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos, dos

padrões de consumo e, principalmente, dos mercados de trabalho, com profundos

reflexos na gestão de pessoas no âmbito das empresas. Caracteriza-se pelo

surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de prestar

serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, altos índices de inovação

comercial, tecnológica e organizacional (TAKESHY E FARIA, 2004, p. 73).

Page 18: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

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A observação empírica da realidade das organizações proporciona a constatação

da existência de diferentes tipos de empresas, instituições e outras formas jurídicas de

entidades, onde as organizações poderiam ser classificadas de acordo com os setores

industrial, comercial e prestadora de serviços. (TAKESHY E FARIA, 2004, p.148). Cabendo

frisar mais um setor, o das organizações sem fins-lucrativos, ou de Terceiro Setor.

É importante frisar que as grandes empresas têm relevância em todos os setores,

no entanto, estas cada vez mais perdem espaço com o surgimento em notória aceleração das

micro e pequenas empresas, uma vez que este novo cenário tende para a criação de empresas

menores, conjuntos administrativos menos complexos e atividades menos centralizadas.

2.1 Principais características e atual cenário das micro e pequenas empresas

É notório que independente de uma empresa ser micro, pequena, de médio e

grande porte, apresenta características peculiares como missão, visão, objetivos e metas,

porém, critérios como o número de funcionários e o rendimento anual é o que diferem em seu

tamanho.

O SEBRAE cita a Lei Complementar nº 123/06 – Lei Geral das Micro e Pequenas

empresas, que preza:

CAPÍTULO II

Da Definição de Microempresa e de Empresa de Pequeno Porte

Art. 3º. Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou

empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o

empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002,

devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de

Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que:

I – no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela

equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$

240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais);

II – no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a

ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$

240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00

(dois milhões e quatrocentos mil reais).

§ 1º. Considera-se receita bruta, para fins do disposto no caput deste artigo, o

produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos

serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as

vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos.

§ 2º. No caso de início de atividade no próprio ano-calendário, o limite a que se

refere o caput deste artigo será proporcional ao número de meses em que a

Page 19: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

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microempresa ou a empresa de pequeno porte houver exercido atividade, inclusive

as frações de meses.

“Já foi feito muito esforço para definir o termo empresas de pequeno porte usando

critérios como número de funcionários, volume de vendas e valor dos ativos. Não existe uma

definição universalmente aceita”. (LONGENECKER, 2007, p.09). Mas, sabe-se que as micro

e pequenas empresas geralmente são formadas pela dedicação empreendedora, que garante a

sobrevivência e sucesso da empresa, o quadro funcional é formado por pequenas equipes de

profissionais e trabalhadores, mas que devido à pequenez do negócio conseguem se identificar

com os objetivos do gestor e trabalham para cumprir as metas estipuladas.

Acompanhando esse pensamento, Takeshy e Faria (2004), ressalta que:

As MPEs, além de serem mais ágeis e de prestarem serviço mais personalizado aos

seus clientes, podem fazer com que seus colaboradores atinjam níveis mais altos de

motivação e envolvimento, quando comparadas às organizações de grande porte. A

pequenez permite que os colaboradores se identifiquem com a empresa, vejam o

resultado de seu trabalho, visualizem a organização como um todo, entendam como

seu trabalho esta ligado aos resultados econômicos e se sintam responsáveis pelo

sucesso ou pelo fracasso empresarial (TAKESHY E FARIA, 2004, p. 12).

A conquista de mercado pelas micro e pequenas empresas já refletem nos

excelentes resultados da economia, onde dados do SEBRAE revelam que este segmento

empresarial representa 25% do Produto Interno Bruto, gera 14 milhões de empregos, ou seja,

60% do emprego formal do país, e constitui 99% dos milhões de estabelecimento formais

existentes, respondendo ainda por 99,8% das empresas que são criadas a cada ano. Porém, a

mesma fonte de dados comprova que a taxa de mortalidade empresarial varia de cerca de 30 a

61% no primeiro ano de existência da empresa, de 40 a 68% no segundo ano, e de 55 a 73%

no terceiro ano do empreendimento.

Percebe-se a este ponto que, apesar das micro e pequenas empresas apresentarem

excelentes resultados econômicos e participação de mercado, há uma considerável ocorrência

de falência nas organizações deste segmento, o que não condiz com a afirmação de que elas

dominam o mercado e contribuem para o aumento do PIB. Neste sentido, cabe frisar que,

apesar do nível de sobrevivência das empresas deste segmento ser baixo, há um acelerado

número de empresas que abrem suas portas todos os dias, onde algumas sem nenhum tipo de

planejamento e não acompanhado o ritmo de mercado, desaparecem, mas muitas se adaptam

ao cenário, possuem profissionais empreendedores e aderem a um ramo de atividade viável e

condizente com a realidade, o que propicia, portanto, a sua sobrevivência e desenvolvimento.

Page 20: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

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“Para ter sucesso à empresa precisa, sobretudo, possuir bom conhecimento do

mercado em que atua. Ter um bom administrador e fazer uso de capital próprio que também

são fatores considerados importantes para o sucesso de um empreendimento.” (TAKESHY,

2004, p.25).

E, ainda, “as comunidades e a sociedade mudam constantemente. Em decorrência

disso, os mercados e os consumidores também mudam. A observação da realidade permite a

descoberta de novos mercados.” (MAXIMIANO, 2008, p.22). Onde, a tendência é a invenção

e reinvenção de produtos, serviços, processos e cadeias administrativas, sendo fatores de

vantagem competitiva não mais a produção ou lucro, mas a qualidade agregada, a informação

e o conhecimento disponível, características muito presentes nas organizações de pequeno

porte, que, quando bem trabalhadas e aplicadas, propiciam excelentes resultados e permitem a

essas empresas, quando conseguem acompanhar o ritmo dos negócios, manter-se no mercado,

desenvolvendo e inventando novas opções de produtos e serviços, e processo de

desenvolvimento destes produtos e serviços, a fim de suprir as necessidades que venham a

surgir, garantindo a própria sobrevivência, crescimento e desenvolvimento.

2.2 O Processo de Formalização e a Lei Geral das Micro e Pequenas

Empresas – Lei Complementar nº 123/06

É notável que o cenário extremamente globalizado e mutável dificulte a

sobrevivência das empresas, tendo em vista que estas precisam adaptar-se, estarem munidas

de planejamento, que orientam e definem objetivos e metas, bem como estratégias, as quais

estarão à mercê de serem reformuladas em situações necessárias e cabíveis, a fim de que a

organização possa manter-se no mercado. Porém, é perceptível que muitas dessas empresas

não têm um planejamento formalmente elaborado, não têm missão e visão definidas, apenas

mais um negócio é aberto, com o intuito de vender ou prestar um serviço, mas sem análise de

viabilidade de mercado, e ainda, muitos destes negócios são informais, não possuem registro

e, portanto, não podem emitir nota fiscal, o que impede a comercialização com empresas

maiores e o governo, além de dificultar o contato com alguns fornecedores.

Muitos destes negócios informais têm representatividade na economia regional e

nacional. Tendo em vista tal realidade, verifica-se que o processo de formalização passou por

Page 21: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

21

transformações e hoje consegue atingir todas as regiões, a partir de projetos e eventos

desenvolvidos por grupos, como o SEBRAE, que auxilia e orienta o empreendedor não

somente no momento de abertura de uma empresa, mas faz orientações a empresas já

existentes, que pretendem formalizar-se e ampliar seu negócio.

Acompanhando este cenário, em que o processo de formalização abrange desde

empreendedores individuais, como dono da barraquinha de cachorro-quente ou empresários

de pequenas lojas comerciais, é que surge a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas (Lei

Complementar nº 123/06), que tem como premissa a redução da burocracia, prioriza as micro

e pequenas empresas nas compras governamentais e no acesso ao crédito e proporciona a

melhoria da prática tributária, com a inserção do Super Simples, que é um sistema tributário

diferenciado e simplificado para recolhimento de tributos e contribuições federais.

De acordo com a referida Lei, preza-se:

CAPÍTULO I

Disposições Preliminares

Art. 1º. Esta Lei Complementar estabelece normas gerais relativas ao tratamento

diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno

porte no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, especialmente no que se refere:

I – à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de

arrecadação, inclusive obrigações acessórias;

II – ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive

obrigações acessórias;

III – ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas

aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao

associativismo e às regras de inclusão.

Segundo Takeshy e Faria (2004), pesquisa do SEBRAE aponta a excessiva carga

tributária, juntamente com a falta de capital de giro e a recessão econômica, como fator

inibidor dos negócios no âmbito das MPEs.

Sancionada em dezembro de 2006, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a

referida lei vem regularizar e ampliar as vantagens oferecidas pelas micro e pequenas

empresas. Oferecendo benefícios que vão além dos tributários, em que, de acordo com o

SEBRAE, “estes benefícios abrangem os campos administrativos, trabalhista, de crédito e de

desenvolvimento empresarial”, contribuindo, dessa forma, para o crescimento das micro e

pequenas empresas, que têm potencial com a geração de renda e empregabilidade.

Page 22: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

22

3 EMPRESA FAMILIAR

A representatividade das empresas familiares no cenário econômico despertou os

interesses de estudiosos, levando-os a investigar as características internas destas

organizações, que divergem em vários aspectos das organizações não-familiares.

Segundo Oliveira (2010):

Talvez alguém possa afirmar que a empresa familiar é igual a toda e qualquer

empresa; entretanto, isto não é verdade, pelo simples fato de que uma

estrutura familiar, quando alocada em uma empresa, leva uma série de

abordagens e interações que são realidades especificas de uma família, o que

provoca certas particularidades de atuação na empresa familiar (OLIVEIRA,

2010, p. 9).

É valido frisar que estas particularidades que as empresas familiares carregam

podem vim a serem fatores de sucesso da organização e participação ativa da economia.

Sendo estas particularidades, os próprios valores e preceitos familiares, que quando moldados

a administração de uma empresa conseguem acarrear crescimento e desenvolvimento da

organização, e consequente reflexos na economia. Por estes fatores, torna-se fundamental

conhecer a empresa familiar em seu contexto histórico e conceitual, bem como as principais

características que a circundam e que dela fazem parte.

3.1 Contextos históricos e os principais aspectos originários

Poucos autores tratam da origem em termos históricos, porém, condiz afirmar que,

apesar de somente há pouco tempo ser reconhecida como forte participação no mercado e

fator relevante de estudos, os aspectos históricos que envolvem a empresa familiar designam

como a origem destas já na época dos artesões, em que a prática da arte era passada de pai

para filho, estendendo-se mais tarde nas primeiras indústrias caseiras, na Revolução Industrial

e atualmente no mercado globalizado.

Page 23: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

23

Neste sentido, Vidgal (1996) apud Frugis (2007) “comenta que a empresa familiar

nasceu, provavelmente, com a Revolução Industrial, no século XIX. Mas, antes disso, seu

embrião já existia: eram os artesãos, que passavam seu ofício de pai para filho.” O que condiz

frisar que a empresa familiar não fora identificada como tal na época das atividades artesãs,

da manufatura e mais tarde das pequenas indústrias caseiras e comércio, mas sua essência e

valor familiar estavam presentes na organização, ou seja, a gestão familiar existia, apesar de

não ser identificada e estudada.

Grzybovski & Tedesco (1998) citam que:

A origem da empresa familiar está nas indústrias caseiras, em geral pequenas e que

não representam a única fonte de renda da família. Quando a empresa é capaz de

oferecer uma renda adequada para a família, alguns dos seus membros passam a

dedicar-se exclusivamente a ela. Profissões como ferreiro, sapateiros, carpinteiro –

exemplos de indústrias caseiras – deram origem à maioria das empresas familiares

que atuam como indústrias metal-mecânicas (ferreiro), lojas de calçados

(sapateiros), indústrias de móveis (carpinteiros) (GRYBOVSKI & TEDESCO, 2008,

p. 42).

Estudos e pesquisas apontam o aparecimento das primeiras características de

gestão familiar durante o período de colonização, sendo afirmado por Oliveira (2010) que “as

empresas familiares surgiram no Brasil, com as companhias hereditárias, no início do século

XIV, logo após ser descoberto por Portugal”, onde “essas companhias, por serem hereditárias,

podiam ser transferidas, por herança, aos herdeiros dos capitães que administravam essas

terras.” Mais tarde, com a crescente valorização do espaço brasileiro, as companhias

hereditárias, sucedidas por parentes, incrementaram suas atividades, devido ao surgimento de

necessidades advindas do crescimento e aparecimento de vários povos, com o processo de

imigração. As atividades incrementadas caracterizaram-se como os primeiros negócios

desenvolvidos no Brasil. De acordo com Oliveira (2010), “atualmente, as empresas familiares

têm elevada representatividade no Brasil e, também, no mundo.”

E, tratando-se da origem da empresa familiar, geralmente o fator originário está

ligado ao empenho de um ou dois membros de uma família, que decidem montar um negócio,

estruturando e desenvolvendo seus processos administrativos, e por serem - pelo menos de

início - geralmente empresas pequenas, alguns membros da família integram-se na

organização, que passa a ser reconhecida como uma empresa familiar, no que concerne sua

conceituação e caracterização.

Seguindo este pressuposto, Oliveira (2010) afirma que:

Page 24: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

24

Em termos de origem da empresa familiar, pode-se considerar que um

empreendedor – na verdadeira e mais ampla conceituação da palavra – que é, no

mínimo, audacioso, detentor de certo nível de tecnologia e, principalmente, possui a

visão do negócio, inicia seu próprio empreendimento, geralmente com o auxílio de

pequeno número de funcionários. Nesse contexto, ele normalmente recebe o apoio e

o auxílio dos membros da família, o que pode dar sustentação ao conceito mais

simples do que venha a ser empresa familiar (OLIVEIRA, 2010, p.3).

Em igual relevância, Longenecker (2007), complementa quando afirma que:

Toda empresa familiar é composta tanto por uma família quanto por uma empresa.

Embora ambas sejam instituições distintas – cada qual com seus próprios membros,

objetivos e valores -, elas acabam se sobrepondo na empresa familiar. Para muitas

pessoas, essas duas instituições que se sobrepõem representam as áreas mais

importantes de suas vidas (LONGENECKER, 2007, p. 82).

É perceptível que, da mesma maneira que uma organização não familiar, a sua

origem está intimamente ligada ao fato de abrir um negócio e gerenciá-lo de maneira a

sobreviver e manter-se no mercado, tendo relevância na sociedade e na economia, o que

difere as empresas deste segmento familiar é a notória participação de membros da família

nos processos administrativos, que se integram à organização, fazendo-a crescer amparada

pelo sentimento e valores familiares, enraizados desde o seu momento de origem.

3.2 Principais Conceitos

A representatividade das empresas familiares no processo econômico explica a

demonstração de interesse dos estudiosos, em buscar maiores informações e entender o

cenário deste tipo de empresas. E, na busca por informações e nos trabalhos divulgados, o que

mais é apresentado como resultados de pesquisa são as definições da empresa familiar. A

maioria destas definições diverge em seus aspectos conceituais, onde, estas divergências só

aumentam à medida que se encaminha para as próximas análises da empresa familiar.

Vale destacar, neste sentido, alguns conceitos que se aproximam ao que vem a ser

empresa familiar. Mas, como é dito por Astrachan, Klein e Smyrnios (2002) apud Bueno,

Fernández e Sánchez (2007):

Page 25: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

25

Algumas definições centram-se mais no conteúdo, outras no objetivo e outras, ainda,

na forma das empresas familiares. Da mesma forma, enquanto alguns autores

propõem definições concretas sobre o conceito de empresa familiar, outros se

limitam a descrever quais são as características diferenciais em relação a outros tipos

de empresas (BUENO, FERNÁNDEZ E SÁNCHEZ, 2007, p. 4).

A este ponto, Longenecker (2007) define empresa familiar “como uma empresa

na qual dois ou mais membros de uma mesma família são proprietários ou a operam em

conjunto ou por sucessão.”

Já Frugis (2007) define como sendo:

Um negócio identificado com uma família pelo menos durante duas gerações, cujo

controle acionário continua a ser exercido por ela através dos sucessores de seus

fundadores – e com influência, tanto na política da empresa quanto nos interesses

familiares (FRUGIS, 2007, p. 15).

De acordo com Bork (1986), apud por Bueno, Fernández e Sánchez (2007):

Empresa familiar é a que foi fundada por um membro da família e foi transmitida,

ou espera-se que se transmita, aos seus descendentes. Os descendentes do fundador

ou fundadores originais terão a propriedade e o controle da empresa. Além disso,

membros da família trabalham e participam da empresa e dela se beneficiam

(BUENO, FERNÁNDEZ E SÁNCHEZ, 2007, p.4).

Seguindo este pressuposto, é valido fazer a apresentação de uma das definições

conceituais mais antigas e completas. João Bosco Lodi, pioneiro nos estudos na empresa

familiar, já nos anos 70, é citado por Grzybovski e Tedesco (1998), definindo:

Empresa familiar como sendo aquela organização empresarial que tem sua origem e

história vinculadas a uma mesma família há pelo menos duas gerações, ou aquela

que mantém membros da família na administração dos negócios, ou seja, empresa

que é controlada e/ou administrada por membros de uma família. Não incluem

nessas aquelas em que a família apenas investe o dinheiro (simples investidor) e

aquelas em que o fundador não tem herdeiros (GRYBOVSKI e TEDESCO, 1998,

p.37).

É perceptível, portanto, que em termos conceituais, os autores citados apresentam

divergências nos aspectos analisados para a conceituação da empresa familiar, porém, a

maioria se aproxima na essência, onde, suncitamente apresentando, uma empresa é

considerada familiar quando tem sua origem ligada a uma família ao mesmo tempo em que

mantém membros familiares no processo administrativo. A empresa familiar cresce carregada

de valores e preceitos familiares, como a lealdade, confiança e identificação da marca, que

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26

não é somente a marca de uma empresa, mas o nome de uma família, sendo assim, a força

para mantê-la no mercado vai além da marca, o que é considerado como uma vantagem

competitiva, se comprado às empresas não-familiares.

3.3 Composições da empresa familiar

No que tange à composição da empresa familiar, tem-se como fator de estudo as

várias maneiras de formação de gestão familiar, sendo abordadas em maior precisão as

situações em que a equipe é formada por pai e filho, equipe formada por marido e mulher e na

situação de parentes por afinidade.

Em cada uma dessas composições, observam-se pontos fortes e fracos, como a

preparação do processo de sucessão, em equipes formadas por pai e filho, quando estes têm

uma boa convivência, porém, na mesma composição podem ser percebidos conflitos, quando

não há boa convivência na relação de pai e filho, o que viria a proporcionar a falência da

empresa. Outros aspectos são analisados nas outras composições, como o processo de

separação, que implica no desenvolvimento dos negócios em empresas que têm sua equipe

gerencial formada por cônjuge.

Neste sentido, em todas estas situações, há vários aspectos a serem analisados,

sendo pertinente a sua apresentação, nos próximos itens.

3.3.1 Equipe formada por pai e filho

É comum a cena em que o filho, ainda criança, convive com o pai na empresa,

fundada e amparada pelos preceitos de sua família, onde, desde a fundação, a empresa já

passa fazer parte do dia-a-dia do futuro sucessor, a identidade da criança passa a ser formada a

partir das vontades do pai, o que pode vim a ocasionar conflitos, em situações em que o filho

não se identifica com os negócios da família e/ou passa a não aceitar o pai como um chefe, e

em situações mais conflitantes, não pretende assumir seu lugar, para garantir a sobrevivência

da empresa.

Page 27: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

27

Em concordância, Longenecker (2007) diz que “de todos os relacionamentos que

existem numa empresa familiar, o relacionamento entre pais e filhos é reconhecido por

gerações como o mais desafiador.”

O desafio está centrado na questão de que os filhos nem sempre têm os mesmos

ideais que os pais, além do fato de que, apesar de assumir uma postura profissional na

empresa, o chefe não deixará de ser seu pai, o sentimento familiar não vai acabar porque ali

dentro ele tem uma relação profissional. Sendo, portanto, um desafio para ambos, apesar de

permanecer com valores e princípios familiares, desempenharem posturas profissionais, no

que tange ocupação de cargos, gerenciamento e responsabilidade em execução de tarefas,

pontualidade e comprometimento, bem como, promoções e remuneração, a fim de garantir

uma ótima relação entre pai e filho na empresa familiar.

É de fato um desafio e uma situação utópica a sintonia de pai e filho na empresa,

apesar de necessária para a relação familiar e manutenção dos negócios. Uma vez que, de

acordo com Kanitz (2008):

Na empresa, a relação pai-filho é fundamental para a sua sobrevivência. As relações

entre pais e filhos já são complexas, hoje em dia, no contexto normal. Os filhos de

hoje são bem mais informados, possuem uma maior gama de relações com os outros

adultos e, via de regra, são mais maduros. Os pais de hoje provém de uma educação

rígida, e nem sempre se adaptam tão bem a um novo mundo em rápida mutação...

(KANITZ, 2008, p. 206).

Neste sentido, “se reduzir o conflito de gerações já é difícil, imagine introduzir

mais uma variável nessa relação: a de subordinado-patrão, ou seja, um pai patrão.” (KANITZ,

2008, p.206).

Mas, as relações entre pai e filho nas empresas familiares não são somente

arranhadas pelo fato de que o pai é o patrão do filho, de que este venha a ter que conviver com

a rebeldia, nas situações em que o herdeiro se rebela, nem o fato do filho ter que aceitar

trabalhar e seguir as ordens do pai, onde, muitas vezes, este não tem oportunidade de

converter seus idéias e desejos. O fardo difícil da relação vai além da convivência, na idéia de

que este cresce moldado pelo anseio do pai transformá-lo em sucessor dos negócios que, por

anos, vem apresentando, ou não, ótimos resultados. E, em muitos casos, o filho não consegue

se identificar com a empresa do pai.

Existindo, portanto, situações em que os pais, mesmo percebendo que os filhos

não têm identificação com os negócios, não o deixam seguir seus objetivos pessoais e

profissionais. Mas, em outras circunstâncias, principalmente quando os herdeiros não separam

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28

a postura familiar da profissional, e exigem mais do que lhe são permitidos nas empresas, os

pais optam por estes não fazerem parte do grupo funcional, e até incentivam a trabalhar em

outras empresas, a fim de que reconheçam o valor de um trabalho e o reconhecimento por

mérito, e não apenas por afinidade. E, em determinadas situações, raríssimas por sinal, o

primogênito consegue formar e seguir sua própria identidade, passando a atuar em áreas

muito diferentes das evidenciadas e sonhadas pelos pais. Sendo esta uma situação considerada

rara, devido ao fato de que, de acordo com Kanitz (2008):

Muito embora pai e filho possam estar inseguros em relação à época em que a

sucessão se processará, raramente a escolha da profissão é feita numa área muito

diversa daquela em que atua a empresa familiar, como medicina, veterinária,

biologia, etc. Normalmente, a carreira profissional escolhida é nas áreas de direito,

engenharia, economia, etc., que permitem uma carreira independente ao mesmo

tempo em que mantém uma porta aberta para o ingresso na empresa familiar

(KANITZ, 2008, p.211).

“Uma figura comum nas empresas familiares é o indivíduo que fundou a firma e

planeja passá-la para o filho. Na maioria das vezes, a empresa e a família cresceram

simultaneamente.” (LONGENECKER, 2007, p. 89).

Neste sentido, da mesma maneira que a empresa cresce amparada pelos valores

familiares, há um efeito retórico, onde a família passa a ter influências da empresa,

principalmente nos filhos que, desde criança, já convivem no ambiente organizacional,

mesmo não vindo a suceder a empresa fundada por seu pai e idealizada pelos membros de sua

família.

3.3.2 Equipe formada pelo cônjuge

É notável que algumas empresas sejam formadas não por pai e filho, mas por

marido e mulher, onde os papéis são desempenhados de acordo com o perfil e a experiência

de cada um. Sendo que, neste tipo de empresa familiar, geralmente o marido ocupa um

determinado cargo e a esposa outro, mas ambos exercem o controle e a manutenção do

negócio, sendo partes integrantes de sua abertura e desenvolvimento.

Page 29: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

29

Longenecker (2007) diz que “a vantagem potencial da equipe formada por marido

e mulher é a oportunidade de um casal compartilhar mais do que suas vidas. Para alguns

casais, porém, os benefícios ficam eclipsados pelos problemas relacionados com a empresa.”

Algumas uniões matrimoniais vão além da composição de uma família. Há com

grande relevância empresas fundadas por casais, que unem suas competências e habilidades

para a abertura e manutenção da empresa, que, por terem como parte gerencial cônjuge, são

consideradas familiares. Nesta situação, há casos de sucesso e insucesso, uma vez que, da

mesma maneira que um casamento pode vim a ter um fim, caso não exista sintonia e

entendimento entre o casal, uma empresa pode chegar a fechar suas portas se o casal não

desempenhar suas atividades administrativas, principalmente quando estas interferirem

diretamente na vida pessoal e familiar do casal.

No entanto, da mesma maneira que existem casamentos duradouros, empresas

familiares, formadas pelo cônjuge, é destaque em níveis de desenvolvimento e que garantem

representatividade na economia, o que significa manutenção e sobrevivência no mercado. Os

fatores para o sucesso estariam relacionados ao trabalho desenvolvido pelo marido e pela

esposa, de maneira a não causar interferências familiares no trabalho, e vice-versa, o que viria

a transformar a cumplicidade e sintonia do casal, como pontos fortes da organização, e uma

vantagem competitiva frente aos concorrentes.

Em empresas que não dão certo, geralmente os conflitos são ocasionados devido

ao fato de alguns casais não conseguirem separar questões familiares e questões empresariais,

uma vez que, não é saudável discutir problemas empresarias na mesma de jantar ou na cama,

bem como, discutir a relação conjugal em frente a um ou dois funcionários que pretendem

desempenhar suas atividades rotineiras na empresa.

Para constituição de uma base sólida familiar, os casais fazem juras de amor,

comprometem-se a ficar juntos, independentemente das dificuldades que venham a surgir. De

repente, o sentimento muda, as juras são esquecidas e a base familiar é fragmentada. E,

quando existe, além de uma família, também a constituição de um negócio, um

empreendimento estruturado e mantido pelo esforço e competência do cônjuge?

Um dos pontos mais difíceis enfrentados pela empresa familiar originária de uma

união conjugal seria a separação desse casal, o que implicaria na possível saída de uma das

partes. A este ponto, a empresa passa por um processo de perda estrutural, tendo em vista que

aquele cargo precisará ser desempenhado por alguém de igual competência, onde, em

algumas situações, essa ocupação é feita por um profissional de fora, a empresa sofrerá, em

decorrência dos acontecimentos, um processo de mudança que a manterá ou retirará do

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30

mercado, dependo da condução dos negócios depois da saída do marido ou mulher, bem

como, pode vim a deixar de ser empresa familiar.

Neste sentido, é perceptível que, da mesma maneira que existem casamentos

duradouros ou não, também uma empresa familiar, constituída em seu eixo gerencial por um

cônjuge, pode vim a dar ou não certo. O que garantirá seu sucesso ou falência serão a

condução dos negócios da empresa e as relações familiares, de maneira que uma não venha a

interferir na outra, sendo responsabilidade do casal a condução dos processos administrativos

e familiares.

3.3.3 Equipe formada por parentes por afinidade

Nesta situação de gestão familiar, observa-se que membros que não são

diretamente da família integram-se na organização. Estes membros, constituídos em sua

maioria por genros ou noras são considerados parentes por afinidade, e podem vim a causar

conflitos na organização familiar, quando os mesmos passam a fazer parte da empresa,

dividindo cargos com membros familiares.

De acordo com Longenecker (2007):

Quando os filhos se casam, os cunhados se tornam atores significativos no drama da

empresa da família. Alguns parentes por afinidade ficam diretamente envolvidos ao

aceitar cargos na organização. Se o filho também é um empregado da firma, pode

haver rivalidade (LONGENECKER, 2007, p. 91).

“Ser justo e manter lealdade da família se torna mais difícil, quando aumenta o

número de membros da família empregados na empresa.” (LONGENECKER, 2007, p. 91).

Essa dificuldade tende a aumentar quando estes membros são integrantes da família, mas não

fazem parte diretamente de seu seio familiar, no caso dos cunhados, uma vez que já é situação

difícil manter um bom relacionamento na empresa com os membros da família, e quando se

trata da convivência com alguém que não nasceu e cresceu naquela família, torna-se mais

complicado, uma vez que este não teve sua identidade formada a partir dos ideais familiares,

também moldados na empresa.

Os conflitos ocasionados surgem geralmente pela falta de identificação do genro

ou nora com o negócio da família, em outras situações, dificuldades de relacionamento com

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31

os integrantes diretos da família, como os filhos, no que tange ocupação de cargos e

desempenho de tarefas. E interferências no relacionamento conjugal, do mais novo integrante

com o membro da família, devido a decisões ou situações ocorridas na empresa.

Em concordância, Longenecker (2007) diz que:

Os filhos e respectivos cônjuges que estejam à margem da empresa também têm

uma participação importante no negócio. Por exemplo, se o filho é casado com

alguém que consta da folha de pagamento da empresa, ele entenderá uma decisão

que afete seu cônjuge, tomada pelo pai ou pela mãe, como uma decisão tanto

familiar quanto profissional. Aprovar um genro ou uma nora para ocupar um novo

cargo, portanto, significa muito mais do que uma mera promoção de um empregado

da empresa (LONGENECKER, 2007, p. 91).

Percebe-se, portanto, que as empresas familiares que possuem em sua gestão

membros aderentes à família, em decorrência da união com seus filhos, podem vim a

ocasionar alguns conflitos, devido principalmente ao fato de que, diferentemente dos filhos e

parentes ligados diretamente ao seio familiar, estes não tiveram sua criação baseada nos

valores e princípios daquela família, que sempre foram difundidos com todos os membros e

preservados por todas as gerações. Sendo assim, é valido destacar a formação de gestão

familiar por membros de afinidade, como a mais conturbada, afetando a manutenção da

empresa, bem como sua sobrevivência nas próximas gerações.

3.4 Aspectos relevantes da gestão familiar

Há de se considerar que a empresa familiar é um complexo organizacional, digno

de características peculiares que proporcionam seu apogeu e declínio. O emaranhado de

valores e princípios, decorrentes da união de membros familiares na formação e

desenvolvimento do negócio é uma vantagem competitiva e pode vim a garantir a manutenção

das empresas deste segmento no mercado, porém, estes mesmos valores podem vim a

ocasionar conflitos, decorrentes principalmente dos choques entre os valores familiares e

empresariais, geralmente quando estes não são bem difundidos na organização, bem como

problemas de relacionamento entre os membros familiares, principalmente quando muitos

destes membros não conseguem separar a instituição família, da instituição empresa.

Segundo Oliveira (2010):

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32

Alguns dos aspectos que o executivo da empresa familiar pode considerar para o

estudo desse importante assunto são a análise dos comportamentos e das atitudes dos

proprietários quanto ao fator humano de sua empresa, a eficácia dos programas e

projetos de recursos humanos, o moral e a produtividade dos executivos e

funcionários, bem como a situação geral do clima organizacional (OLIVEIRA,

2010, p.72).

Define-se como aspectos relevantes ao estudo a formação e estruturação da

cultura organizacional nas empresas familiares, bem como as relações humanas e a formação

do plano de carreira, análise de cargos e funções. Estes aspectos estão inseridos na base da

empresa e o conhecimento das suas principais características proporciona a sobrevivência das

organizações no mercado dos negócios.

3.4.1 Cultura organizacional

Entende-se por cultura organizacional, como o modo de vida próprio de cada

organização, formada ao longo do tempo por um conjunto de crenças, expectativas, valores e

maneiras de fazer as coisas que, consciente ou inconscientemente, o fundador impõe aos

membros que elegeu como seus confidentes.

Chiavenato (2004) define cultura organizacional como:

O conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e

expectativas, compartilhado por todos os membros da organização. Ela se refere ao

sistema de significados compartilhados por todos os membros e que distingue uma

organização das demais. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir que

existe em uma organização. A essência da cultura de uma empresa é expressa pela

maneira com que ela faz seus negócios, trata seus clientes e funcionários, o grau de

autonomia ou liberdade que existe em suas unidades ou escritórios e o grau de

lealdade expresso por seus funcionários a respeito da empresa. A cultura

organizacional representa as percepções dos dirigentes e funcionários da

organização e reflete a mentalidade que predomina na organização. Por isso, ela

condiciona a relação das pessoas (CHIAVENATO, 2004, p. 165).

Em qualquer empresa, a cultura organizacional vai representar aquilo que é

praticado tanto nas atividades administrativas, como nas relações humanas. É na cultura

organizacional que é definida a missão, visão e objetivos principais da organização, bem

como normas, valores e idéias defendidos pela mesma, e que, formal ou informalmente

Page 33: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

33

compõem o perfil profissional, o que concerne afirmar que a partir do momento que um

indivíduo é admitido em uma empresa, este tende a se adaptar com a cultura daquele ambiente

organizacional.

Seguindo este pressuposto, Lacombe (2005), afirma que:

As decisões de uma empresa são tomadas de acordo com um quadro de referências

determinado por sua cultura. A condução da equipe e as ações realizadas na busca de

resultados são condicionadas por essa cultura. É fato amplamente conhecido que as

prioridades dos valores variam de uma empresa para outra, dando origem à cultura

empresarial ou organizacional. Uma cultura bem definida garante consistência e

coerência nas ações e decisões, proporcionando, em média, melhores condições para

alcançar as metas aprovadas (LACOMBE, 2005, p. 229).

Chiavenato (2004) complementa, afirmando que a cultura organizacional:

É construída ao longo do tempo e passa a impregnar todas as práticas, constituindo

um complexo de representações mentais e um sistema coerente de significados que

une todos os membros em torno dos mesmos objetivos e do mesmo modo de agir

(CHIAVENATO, 2004, p. 165).

Como em outras empresas, na gestão familiar a cultura organizacional é formada a

partir de valores e preceitos próprios às organizações, e que são difundidos a todos os

membros, de maneira que estes venham a seguir e agregar valor em cada relação

administrativa, sendo alinhado com todos os aspectos da organização, como planejamento,

produção, relações com clientes, fornecedores e os próprios membros da organização.

Também são definidas situações de remuneração, cargos e promoções.

Em concordância, Longenecker (2007) cita que “na empresa familiar, os valores

fundamentais do seu fundador podem tornar-se parte da cultura da empresa e do código

familiar – „as coisas que acreditamos como família‟.” Neste contexto familiar, a empresa

geralmente cresce amparada por seus valores tradicionais, onde os costumes e práticas passam

a serem defendidos e difundidos por todos na organização. “Os membros da família e outras

pessoas na empresa aprendem o que é importante e absorvem as tradições da empresa por

simplesmente funcionarem como parte da organização”. (LONGENECKER, 2007, p. 87).

Em algumas situações, mesmo não sendo membro da organização, já é percebido

o que é defendido pela organização e como a mesma se posiciona frente a algumas situações

de mercado, onde este conhecimento se dá principalmente pela maneira de socialização da

empresa com o ambiente externo. E, embora a cultura organizacional seja manifestada por

Page 34: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

34

todos na organização, a sua força maior de representação é decorrente da liderança, do gestor,

o fundador e idealizador do empreendimento.

Seguindo este pressuposto, Bueno, Fernández e Sánchez (2007), ressaltam que:

Embora o processo de formação e desenvolvimento de uma cultura seja realizado

por um grupo de pessoas, a influência de quem lidera é muito grande. Esse líder, ao

ostentar o poder durante um período suficientemente prolongado, acaba moldando a

cultura da organização com as próprias preferências e estilos, o que pode nos levar a

pensar que liderar uma empresa equivale a formar sua cultura e, quando ela já está

formada, a transformá-la (BUENO, FERNÁNDEZ E SÁNCHEZ, 2007, p. 36).

A idéia de transformar a cultura organizacional está relacionada à realidade de

mercado e as constantes mudanças nos modelos de negócios. Para manter-se no mercado, a

gestão familiar precisa ser flexível e aberta às mudanças pertinentes ao seu sucesso e posição

aceitável no mercado, e conseguir readaptar e alinhar a sua cultura organizacional ao novo

cenário. Pois, como é dito por Chiavenato (2004), “a cultura organizacional pode ser um fator

de sucesso ou de fracasso das organizações. Ela pode ser flexível e impulsionar a

organizações, como também pode ser rígida e travar o seu desenvolvimento.”

Ressaltam-se, neste sentido, que como a cultura é moldada ainda no início da

atividade empresarial, poderá sofrer adaptações de acordo com as constantes alterações

econômicas e sociais ocorridas no cenário que a circunda, porém, não pode vim a mudar em

sua essência, tendo em vista a força que representa para os membros que compõem a empresa

e a difundem nos seus trabalhos, que são refletidos no mercado. E, como é dito por

Longenecker (2007), “certos valores devem ser imutáveis e não estar sujeitos à passagem do

tempo [...]. Embora algumas tradições incluam práticas ineficientes e que demandam

mudanças, outras são básicas para a força competitiva e integridade da empresa.”

3.4.2 Relações humanas

As organizações, sejam estas familiares ou não, desenvolvem seus trabalhos

administrativos a mercê de observâncias a fatores econômicos, financeiros, localização,

estrutura, etc., mas, embora estes fatores interfiram na sobrevivência e manutenção da

empresa no mercado, o fator humano na organização está sendo considerado como um

Page 35: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

35

diferencial competitivo, frisando que no que tange fatores humanos, discutem-se aspectos

como formação de pessoal (competências e habilidades) e relacionamento.

Seguindo este pressuposto, Chiavenato (2004) afirma que:

As organizações não operam na base da improvisação. E nem funcionam ao acaso.

Elas são intencionalmente criadas para produzir alguma coisa: serviços, produtos ou

o que seja [...]. Embora possuam coisas físicas e inanimadas, como edifícios, salas,

máquinas e equipamentos, instalações, mesas, arquivos etc., as organizações são,

afinal de contas, constituídas por pessoas. Elas somente podem funcionar quando as

pessoas estão em seus postos de trabalho e são capazes de desempenhar

adequadamente os papéis para os quais foram selecionadas, admitidas e preparadas.

Para tanto, as organizações desenham sua estrutura formal, definem órgãos e cargos

e preestabelecem, com maior ou menor volume de regras burocráticas, os requisitos

necessários e as atribuições a serem impostas aos seus membros (CHIAVENATO,

2004, p. 160).

Em qualquer família há intrigas, conflitos entre pais, filhos e irmãos, alguns destes

conflitos não trazem repercussão, outros acabam por desequilibrar a família, arranhando

alguns valores e sentimentos dos membros. Quando estas brigas ocorrem na empresa familiar,

há interferências não somente nas relações familiares, mas nas relações empresariais, e mais

do que uma família em conflito, há uma empresa a se manter no mercado, e por a mesma estar

desestruturada, decorrente destes conflitos de relacionamento entre os membros, o seu

processo de sobrevivência e manutenção fica em risco.

Diferentemente das organizações não-familiares, estas empresas são formadas e

mantidas por membros de uma mesma família, há uma mistura de valores e sentimentos,

vindos da família que idealiza e desenvolve o negócio. O profissionalismo existe, mas ele

muitas vezes é ocultado pelo vínculo familiar que é marca forte neste segmento, daí a

ocorrência contínua de conflitos, que arranham o processo de relação, atingindo empresa e

família.

Tendo em vista relevante importância, Oliveira (2010) ressalta que:

A análise estruturada e o desenvolvimento dos recursos humanos representam um

dos aspectos mais importantes para a otimizada administração da empresa familiar,

principalmente quando se lembra que a moderna administração procura ter o

indivíduo como o foco básico para a alavancagem dos resultados de toda e qualquer

empresa (OLIVEIRA, 2010, p.72).

Destacam-se ainda os conflitos originários da relação entre os membros da família

e que fazem parte do processo administrativo e o profissional de fora, que apenas contribui

com suas habilidades e experiências para o desenvolvimento do negócio e segurança do seu

Page 36: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

36

cargo. Neste tipo de conflito, há grandes interferências nos processos administrativos da

empresa, e, por consequência, geralmente o membro familiar recebe apoio, o que favorece o

afastamento do profissional, que se sente desmotivado em desenvolver suas atividades, tendo

em vista que, mesmo este profissional apresentando ótimos resultados, já é esperado que o

pai, neste caso, o fundador e gestor da empresa não venha a demitir ou aplicar notificações ao

seu filho, sobrinho ou até mesmo a própria esposa, sendo raras as situações em que essa

atitude é tomada.

Mediante situação, o profissional não passa mais a se identificar com os ideais

daquela empresa, e por não estar ligado à família que mantém e sustenta a cultura

organizacional daquela entidade, moldados por seus valores e princípios, desde sua fundação,

torna-se mais fácil o desligamento.

Em concordância, Melo e Menezes (2008) contribuem quando afirmam que:

A empresa familiar é um dos temas mais fascinantes do universo corporativo. Como

qualquer empresa do mundo contemporâneo, ela precisa ter boa gestão, posicionar

bem seus produtos, conquistar mercados, formar equipes eficientes e competitivas,

além de outros desafios notórios. Porém, não é necessária grande sensibilidade para

compreender que, nesse tipo de empresa, há o desafio adicional que decorre das

relações entre aqueles que se vinculam por outros laços, além dos exclusivamente

profissionais, os quais estão intimamente atrelados à formação de personalidades

individuais, valores familiares e experiências (ou mesmo percepções) pessoais

profundas, nem sempre muito nítidas para todos os envolvidos. De fato, seja qual for

o grau considerado (pais, irmãos, cônjuges etc.), os membros de qualquer família

empresária têm uma história comum – marcada por disputas, ciúmes, cobranças,

expectativas, simpatias – que necessariamente se transpõe, de algum modo para a

vivência empresarial (MELO e MENEZES, 2008, p. 19-20).

Em igual relevância, Oliveira (2010) afirma que:

No caso da empresa familiar, o tratamento das questões inerentes aos recursos

humanos pode ser mais complicado do que em outro tipo de empresa. Isso porque,

de um lado, se o executivo for proprietário ou herdeiro, suas ordens e orientações

podem sofrer determinados tipos de resistências, devido a sua situação privilegiada.

E, de outro lado, pode ter algumas dificuldades adicionais para interagir de forma

adequada com seus funcionários; e, pior ainda, em alguns casos, dificuldades e

conflitos com seus próprios parentes (OLIVEIRA, 2010, p. 142).

Percebe-se, portanto que, em se tratando das empresas familiares, o fator humano

tem a mesma representatividade, sendo importante apreciar com maior exatidão a questão de

relacionamento entre os membros da organização, o que é percebido certa dificuldade nos

processos e consequente geração de conflitos.

Page 37: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

37

Nesta situação conflituosa, deve-se levar em consideração que as empresas

familiares surgem a partir do empenho de membros da família, que desenvolvem o negócio

movido de valores e preceitos familiares, moldados na cultura organizacional, ou seja, os

laços afetivos não se desmancham quando chega à empresa, o membro familiar apenas

assumirá uma postura profissional, mas continuará a ser o filho, o sobrinho, o esposo (a), o

cunhado, primo, etc. Aquela afeição, carinho continuará, então, aí é que entra o papel das

relações humanas neste contexto, onde não se pode confundir e nem tomar como fator

primordial o fato de ser membro da família no momento de promoção, de uma transferência

de cargos, remuneração e benefícios, mas levar em consideração o perfil profissional, as

competências e habilidades desenvolvidas na empresa, bem como, a especialização.

3.4.3 Planos de carreira, cargos e funções

Não é tarefa simples avaliar e controlar o nível de competências e habilidades

desenvolvidas por um grupo de indivíduos que participam ativamente dos processos

administrativos de uma empresa. Estes indivíduos, denominados empregados, colaboradores

ou trabalhadores, podem ser identificados, no caso das empresas familiares, como membros

da família que trabalham na empresa e contribuem para o seu desenvolvimento.

Ressalta-se como tarefa difícil, devido ao fato de serem aspectos minuciosos e de

grande relevância para o sucesso profissional do colaborador, bem como sucesso e alcance de

objetivos para os empreendedores que construíram e mantêm o empreendimento. E, como é

afirmado por Oliveira (2010, p.76), “Alguns dos aspectos que os executivos devem considerar

nesse momento são o quadro de pessoal e a capacitação interna, os sistemas de transferências

e promoções, de desenvolvimento e de treinamento e de remuneração e benefícios.”

Acrescenta-se a análise do plano de carreira, cargos e funções, tendo em vista que o

desempenho e as capacidades profissionais advindas de especialização e habilidades

desenvolvidas pelos colaboradores em seus cargos e nas suas determinadas funções virão a

influenciar na remuneração e benefícios, consequência de um bom treinamento, o que viria a

proporcionar promoções, engrandecendo o seu plano de carreira. Sendo, a este ponto, de

grande valia citar Lacombe (2005), quando diz que:

Page 38: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

38

Carreira é uma série de posições exercidas por uma pessoa ao longo de sua vida

profissional. Com uma boa avaliação de pessoal e um bom plano sucessório, é

possível programar a carreira de cada pessoa para exercer funções para as quais

demonstrem aptidões (LACOMBE, 2005, p. 62).

“Função é uma posição, definida na estrutura organizacional, à qual cabe um

conjunto de responsabilidades afins e relacionamentos específicos e coerentes com sua

finalidade.” (LACOMBE, 2005, p. 152). Já cargo “é uma composição de todas as atividades

desempenhadas por uma pessoa – o ocupante – que podem ser englobadas em um todo

unificado e que figura em certa posição formal o organograma da empresa.”

(CHIAVENATO, 2004, p. 189).

É pertinente a análise, controle e avaliação da ocupação de cargos e funções, em

maior relevância, às empresas familiares, uma vez que, por a empresa manter em seus

comandos e processos administrativos membros da família, em algumas situações o afeto e a

ligação familiar sobrepõem as capacidades e habilidades desenvolvidas por estes membros, o

que ocasiona um conflito e a consequente influência nos trabalhos da empresa. Sendo fator

ainda mais preocupante, quando no composto organizacional existem profissionais que não

fazem parte da família e que ocupam posições maiores ou em mesmo nível que os membros

da família, mas que, pelas suas habilidades e competências, tende a conquistar níveis mais

altos na organização, onde, nesta situação, podem vim a ocorrer conflitos, advindos do fato de

que o membro familiar não aceitará que um profissional de fora venha a tomar posse de um

cargo em nível mais elevado, pois, por este ser da família, acredite que afeto e vínculo

familiar sejam mais importantes que competências profissionais.

Por outro lado, quando existe ocupação de cargos mais altos dos membros

familiares, mesmo estes não tendo competências e habilidades suficientes, o profissional não-

familiar pode sentir-se desmotivado em exercer suas atividades na empresa, por visualizar que

os requisitos para promoções são, em geral, mais ligados aos vínculos familiares do que as

competências profissionais, neste caso, geralmente não são ocasionados conflitos, mas o

profissional tende a afastar-se da empresa, por considerar que o seu plano de carreira não será

construído naquela organização familiar.

A este ponto, Longenecker (2007) ressalta que:

Os empregados que não fazem parte da família também são afetados por ela. Em

alguns casos, as oportunidades de promoções são menores para eles, por causa da

presença dos membros da família, que aparentemente têm preferência. Poucos pais

promoverão uma pessoa de fora em detrimento da promoção do filho competente,

que está sendo treinado para assumir a liderança no futuro. O potencial para

Page 39: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

39

desenvolvimento dos empregados de fora da família, portanto, pode ser limitado,

fazendo que eles experimentem uma sensação de injustiça e frustração. Considere-se

o caso de um jovem executivo que trabalhava para uma empresa familiar que dirigia

uma rede de restaurantes. Quando foi contratado, o jovem executivo negociou um

contrato que lhe dava determinada porcentagem do negócio com base no seu

desempenho. Em razão do contrato, ele estava indo muito bem financeiramente, até

o dia em que o proprietário lhe disse: „Quero comprar sua parte‟. Quando o rapaz

perguntou o porquê disso, o proprietário respondeu: „Você está se saindo muito bem

e seu sobrenome não é o mesmo que o meu‟ (LONGENECKER, 2007, p. 93).

Esta limitação de crescimento dos profissionais externos nas empresas familiares

é considerada como uma desvantagem deste tipo de segmento organizacional, uma vez que

estão sendo priorizados requisitos afetivos ao invés de profissionais, o que pode vim a

prejudicar a manutenção da empresa no mercado, devido ao controle das principais decisões

que é passado aos níveis mais altos, neste caso, ocupados em sua maioria por familiares que

não têm experiência profissional para assumir a função. A empresa não tendo profissionais

especializados em determinadas área podem chegar a perder excelentes oportunidades de

crescimento e colocar em risco a sobrevivência do empreendimento.

De acordo com Drucker (2001),

[...] Se familiares medíocres ou preguiçosos forem mantidos na folha de pagamento,

o respeito que toda a força de trabalho tem pela alta administração e pela empresa

como um todo é corroído rapidamente. As pessoas competentes que não fazem parte

da família não vão ficar. E os que ficam logo se transformam em cortejadores e

bajuladores (DRUCKER, 2001, p. 151).

No entanto, em raras exceções, os altíssimos cargos são assumidos por familiares,

que constroem sua carreira profissional baseada nas suas competências e experiências

adquiridas ao longo do tempo, a partir da dedicação à atividade da empresa, assumindo

diversas funções e fazendo por merecer excelentes promoções. Drucker (2001, p. 151) diz que

os membros da família podem vim a assumir determinadas funções na empresa, desde que

sejam, “no mínimo, tão competentes quanto qualquer outro empregado que não seja da

família e trabalhem, pelo menos, com o mesmo afinco.”

Cabe frisar que, em detrimento às analises, é viável atentar-se aos fatores

inerentes e ocasionadores de conflitos, bem como a consideração dos requisitos para a

construção do plano de carreira dos familiares que compõem a empresa familiar, onde, a

ocupação de cargos e desempenho de funções devem ser determinadas pelas competências e

habilidades advindas de cada um, uma vez que o novo cenário, movido pela Era da

Informação e do Conhecimento, indiretamente condiciona às empresas familiares a aderirem

Page 40: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

40

ao sistema da profissionalização, mesmo conservando sua essência, no que tange valores e

características advindas de uma família.

Quando se fala em sistema de profissionalização, pressupõe-se “... que os

dirigentes tenham destrezas e habilidades suficientes para desenvolverem suas funções

empresariais” (BUENO, FERNÁNDEZ E SÁNCHEZ, 2007, p.80). E, desempenhadas suas

funções empresarias, consigam manter a empresa constituída em sua maioria, por membros

familiares, aptos a assumir os cargos e funções que lhes são convenientes, não sendo, neste

sentido, descartada a idéia de contratação de profissional de fora, trabalhando, junto aos

familiares, no direcionamento da empresa ao sucesso e crescimento nos negócios.

Page 41: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

41

4 DECISÕES ESTRATÉGICAS E GERAÇÃO DE

CONFLITOS

É notória a observância de que as empresas familiares têm representatividade na

economia e aspectos que as diferem e lhes adicionam vantagens competitivas. Sendo, de igual

relevância, percebido que neste ambiente organizacional há ocorrências de conflitos que

interferem tanto no processo administrativo, como nas relações familiares. Ressaltando que as

ocorrências destes conflitos podem ser explicadas pelo choque causado entre valores

empresariais e familiares, nas situações em que é necessária a tomada de decisões que venham

a afetar família e/ou empresa, onde uma das partes sofra interferências, bem como na inserção

de profissionais externos à organização e/ou profissionalização dos membros já atuantes na

organização.

Todas estas situações geram conflitos na organização, e estes conflitos precisam

ser sanados de maneira que não venha a influenciar na família, no que tange valores e

princípios que não podem ser perdidos no momento de tomada de decisões estratégicas, bem

como não afetar os processos administrativos, para manter as empresas familiares atuantes e

em nível de desenvolvimento no mercado.

Percebe-se, neste sentido, a importância de um planejamento nas empresas

familiares, principalmente devido a estes conflitos já previstos a ocorrer, sendo que, para que

sejam evitados, ou pelo menos minimizados, todas as decisões serão estudadas e analisados,

em seus aspectos positivos e negativos, bem como os resultados que as mesmas

proporcionarão na empresa e as implicações ou influências que serão causadas no ambiente

familiar.

Seguindo este pressuposto, Oliveira (2010) ressalva que:

Nas empresas familiares o processo de planejamento possui elevada importância em

comparação às outras funções administrativas, porque a abordagem interativa com

os executivos parentes deve ser muito bem delineada e operacionalizada, pois as

possibilidades de atritos – o lado negativo dos conflitos – são normalmente, maiores

do que em uma empresa com administração profissionalizada (OLIVEIRA, 2010,p.

43).

Desta maneira, como em qualquer ambiente organizacional, nas empresas

familiares é imprescindível a elaboração de um planejamento, a fim de que sejam elencadas a

Page 42: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

42

missão e visão da empresa, já inseridas na cultura organizacional e disseminadas entres os

membros da organização, e também sejam definidas metas e estratégias para se alcançar os

objetivos traçados pela organização.

Segundo Dornelas (2005), a declaração da visão define aonde a empresa quer

chegar, a direção que pretende seguir e o que ela quer ser. Já a declaração de missão deve

refletir a razão de ser da empresa, o que ela é, e o que ela faz.

Já para Oliveira (2010, p.4), “estratégia visa sempre à antecipação e a visualização

do futuro e como chegar, da melhor maneira possível, até ele.”

Em contribuição, Chiavenato (2004) diz que:

A estratégia organizacional é um conjunto de manobras que se desenvolve em um

ambiente competitivo: aproveitar as oportunidades externas e esquivar-se das

ameaças ambientais ao mesmo tempo em que se aplica mais intensamente as forças

internas e se corrige as fraquezas internas. A estratégia representa o caminho

escolhido pela empresa para enfrentar as turbulências externas e aproveitar os seus

recursos e competências da melhor maneira possível. Quanto maior a mudança

ambiental tanto mais necessária é a ação estratégica, desde que ágil e flexível para

aglutinar e permitir adoção rápida de novos rumos e novas saídas. Essa é a razão de

sucesso das empresas e das circunstâncias. Jogo rápido e arrancadas velozes

(CHIAVENATO, 2004, p. 72).

Neste sentido, condiz afirmar que a estratégia é o caminho a ser traçado para o

cumprimento das metas, focando o objetivo da organização. E, com maior exatidão, tratar-se-

á aqui, das principais decisões estratégicas que envolvem situações de gerações de conflitos,

principalmente nas situações de decisões que tendem para a escolha da empresa ou família,

nas situações que envolvem valores empresarias e valores familiares e no choque causado

entre o conhecimento prático e o conhecimento teórico no momento de profissionalização das

empresas familiares.

4.1 Empresa versus Família

É de conhecimento que uma empresa familiar é formada por uma família e por

uma empresa. Características de uma convivência e formação familiar são incorporadas a

processos administrativos oriundos de uma instituição empresarial. A incorporação destes

aspectos familiares aos processos administrativos e a identificação de membros da família que

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43

trabalham na empresa dão sustentação e garantem a manutenção das empresas familiares no

mercado.

Porém, nem sempre há uma sintonia na incorporação destas duas instituições,

sendo notória a ocorrência de conflitos, principalmente diante de decisões que venham a

atingir uma das partes, a fim de favorecer a outra. Estas decisões, geralmente tomadas pelos

fundadores, podem provocar choques entre os que defendem a empresa e aqueles que

priorizam a estabilidade familiar.

Neste sentido, segundo Longenecker (2007):

As famílias e as empresas existem por razões fundamentalmente diferentes. A

função primária da família é o cuidado e a proteção dos seus membros, ao passo que

a empresa está preocupada com a produção e com a distribuição de bens e/ou

serviços. Os objetivos da família são: proporcionar o mais pleno desenvolvimento de

cada um dos seus membros, independentemente das limitações de suas capacidades,

e prover oportunidades e recompensas iguais para cada membro; os objetivos da

empresa são obter lucro e sobreviver (LONGENECKER, 2007, p. 82).

Geralmente no momento de abertura da empresa, os membros da família,

identificados com a atividade passam a contribuir trabalhando e atuando no desenvolvimento

da organização, porém, como é citado por Longenecker (2007, p. 83), “os indivíduos

envolvidos, direta ou indiretamente, na empresa familiar têm interesses e perspectivas que

diferem, de acordo com sua situação particular.” Algumas destas divergências centram-se no

trabalho desenvolvido por cada membro familiar, em que alguns tendem a optar pela empresa

e pelo seu trabalho de desenvolvimento, muitas das vezes, contrariando sua própria família. E,

da mesma maneira, ocorre o inverso, o que pode prejudicar a manutenção da empresa. Essa

decisão, tomada pelos membros familiares, ocasiona os principais conflitos que repercutem no

processo administrativo, bem como nas relações familiares. Sendo frisado por Longenecker

(2007) que:

A idéia subjacente é a de que os membros da família podem contribuir para o

sucesso de uma empresa familiar, mas os laços familiares não os endossam

automaticamente como capacitados para ocupar posições-chave. A saúde e a

sobrevivência de uma empresa de família exigem que a devida atenção seja dada

tanto aos interesses do negócio quanto aos interesses familiares, bem como ao

equilíbrio adequado desses interesses [...] Ocasionalmente, no entanto, o choque

entre os interesses da empresa e os da família é tão persistente ou grave que os

empreendedores precisam decidir qual deles vem em primeiro lugar. Mesmo,

quando os riscos são grandes, alguns escolhem a empresa em detrimento da família.

Outros declaram que sua lealdade pertence acima de tudo à família, mas indicam o

contrário por meio de seus comportamentos (LONGENCKER, 2007, p.84-85).

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44

Percebe-se, a este ponto, que manter um negócio frente às constantes e turbulentas

mudanças de mercado é um desafio. E, este desafio torna-se ainda maior quando o negócio é

formado e mantido por uma família, quando os conflitos tendem a ocorrer devido ao choque

de interesses familiares e empresariais em momento de grandes decisões, porém, nem tudo é

desvantagem, as cargas de sentimentos e identificação familiar contribuem para que o conflito

possa ser resolvido a fim de suas famílias não serem atingidas, bem como a empresa ser

prejudicada, tendo em vista, em algumas situações, a força da identificação familiar com a

organização.

Outro aspecto que pode proporcionar um equilíbrio entre os interesses

empresariais e familiares é o perfil do fundador frente às decisões e controle do negócio, uma

vez que, de acordo com Kignel e Werner (2007):

Regular as atividades profissionais sem o comprometimento das relações familiares

é um encargo que muitas vezes apenas pode ser estruturado pelo

empreendedor/fundador de um negócio, na medida em que ele detém a

respeitabilidade dos demais [...] deve ter uma visão de futuro, habilidade, auto-

sacrifício, agilidade para conviver com riscos, busca contínua do progresso,

persistência, otimismo, competitividade e capacidade para gerenciar não apenas o

negócio, mas também e especialmente os familiares que nele se envolvem (KIGNEL

E WERNER, 2007, p. 121-122).

Destaca-se, neste sentido, que o fundador, detentor da abertura e manutenção dos

negócios assume uma gama de responsabilidades na empresa familiar, da mesma maneira que

um pai tem grandes responsabilidades assumindo sua postura paterna em uma família, no que

tange criação de filhos, papel de esposo e sustentação da família. Na empresa, o fundador,

além de gerenciar os processos administrativos, condiciona as relações humanas, onde a sua

postura profissional e a visão de andamento da empresa passa a ser respeitada e seguida por

todos, sendo minimizados os conflitos causados pelos atritos entre os membros familiares que

compõem o composto administrativo, proporciona o andamento nos negócios, bem como, a

não interferência na família.

Page 45: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

45

4.2 Valores familiares versus valores empresariais

Os conflitos na empresa familiar vão muito além da relação entre empresa e

família. O composto de valores familiares presente neste tipo de empresa é considerado como

fator de sucesso e vantagem competitiva frente às outras organizações, porém, é notório que

as empresas também têm seu conjunto de valores, onde em situações de decisões, há um

choque entre os valores familiares e valores empresariais, que podem pôr em risco o

equilíbrio na família, bem como a continuidade dos negócios. Sendo, definido por Chiavenato

(2004, p. 64), valor como “uma crença básica sobre o que se pode ou não fazer, sobre o que é

ou não importante. Os valores constituem crenças e atitudes que ajudam a determinar o

comportamento individual.” Na empresa, estes valores além de definirem o perfil da

organização, orientam a tomada de decisões, e por estarem definidos na cultura

organizacional, norteiam a condução dos processos administrativos.

A família incorpora na organização valores que estão presentes em seu seio

originário, fazendo com que estas empresas carreguem consigo preceitos e crenças familiares,

técnicas tradicionais, que, de início, podem ser incorporados nos processos administrativos,

mas à medida que a empresa ganha maiores dimensões e representatividade social, estes

processos caem em desuso. Sendo válido destacar que a empresa é uma unidade

administrativa, onde, independentemente de ser formada e mantida por membros familiares,

também carrega consigo valores empresariais que em determinadas situações se sobrepõem

aos oriundos da família.

Em geral, estes valores empresariais estão presentes na maioria das organizações

não-familiares, como teorias administrativas, reengenharia, inovação e profissionalização.

Onde, por estarem situadas em um cenário cada vez mais competitivo e mutável e para

manterem-se no mercado, as organizações familiares estão aderindo aos modelos

administrativos, como processos de reengenharia e profissionalização. No entanto, tais

processos geram mudanças no conjunto organizacional, como a aniquilação de técnicas

tradicionais e familiares, provocando choques de interesses que influenciam no processo

decisório destas empresas familiares.

De acordo com Donnelly (1987), apud Grzybovski e Tedesco (1998):

O equilíbrio entre os interesses da família e os da empresa é, em geral, de cunho

psicológico, fruto de próprio senso de responsabilidade pessoal da família em

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46

relação à empresa. Em contrapartida, a especificidade do fato de ser família poderá

construir ações que manifestam certa irracionalidade econômica, dentre ela, um

frágil sistema de controle de custos, onde em muitas vezes influencia nos critérios

que definem metas e objetivos da empresa (GRYBOVSKI e TEDESCO, 1998, p.

47)

Porém, nem tudo é desvantagem, uma vez que as organizações familiares

carregam consigo “lealdade, dedicação, sensibilidade, integridade de diretrizes

administrativas, sacrifícios feitos pela família, orgulho familiar, concepção da continuidade e

uma consciência profunda dos objetivos da empresa.” (GRYBOVSKI e TEDESCO, 1998, p.

47). Estes aspectos presentes na empresa familiar representam uma vantagem competitiva,

onde estas empresas, para manter-se no mercado, precisam ser flexíveis e atrelar aos seus

processos administrativos os valores empresariais pertinentes à sua atividade, de maneira que

não venha a extinguir os valores familiares tradicionais, mas readequá-los a realidade e

tendências de mercado.

4.3 Profissionalização

Quando uma empresa familiar é fundada, seu fundador enraíza na organização

todo o seu desejo de fazer história, de transformar seu negócio em pilares da economia. Ele

idealizada, monta e desenvolve seu negócio com o conhecimento prático, adquirido por

experiência e/ou ensinamentos tradicionais, passados de geração em geração, e os membros

familiares se agregam e passam a contribuir no desenvolvimento das atividades

administrativas. “Esse conhecimento prático trazido pelo fundador da empresa se perde,

entretanto, total ou parcialmente, quando da transmissão do cargo gerencial para o sucessor”

(GRYBOVSKI e TEDESCO, 1998, p. 57).

Porém, ressalta-se que este conhecimento prático, em muitas vezes é perdido ou

entra em conflito com o conhecimento acadêmico ou teórico ainda na primeira geração,

quando os filhos ou membros familiares mais próximos se dispõem a implantar nos processos

tradicionais, técnicas e métodos administrativos, adquiridos na academia ou pelo contato com

profissionais especializados nas diversas áreas administrativas, como consultores.

Page 47: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

47

Nesta situação de inserção de técnicas profissionais e acadêmicas, o choque é

previsível e quase que comumente ocorrido pela falta de capacidade dos fundadores de ouvir

o que os futuros sucessores estão querendo lhes ensinar, bem como a falta de capacidade dos

futuros sucessores em ouvir as experiências dos fundadores. Uma vez que é o conhecimento

acadêmico que gera uma base sólida para um crescimento equilibrado, fundamento do

desenvolvimento, no entanto, esse saber sozinho não poderá garantir o desenvolvimento da

empresa, este deve estar em conjunto com o cenário e o posicionamento da organização.

Em concordância, Kignel e Werner (2007) afirmam que:

O conhecimento absorvido pela geração vindoura, captação de novos

conhecimentos, técnicas de trabalho e produção – toda essa prática – se transforma

em mera teoria se o empreendedor da empresa familiar não estiver, ele também,

preparado para receber novos valores. Se a geração vindoura tem o desafio de buscar

a melhor formação possível para o mundo globalizado, a geração presente dos

fundadores também tem sua lição de casa: estar preparada para o diálogo e aberta

para novos conhecimentos (KIGNEL E WERNER, 2007, p. 46).

Segundo Chiavenato (2004):

Os tempos mudaram. E hoje, em plena Era da Informação e de globalização do

mundo dos negócios, a crescente mudança e instabilidade ambiental colocaram em

cheque o antigo modelo rígido e definitivo de organização. Ele não tem muita

serventia para os tempos atuais. O ambiente que circunda as organizações tornou-se

instável e imprevisível e o modelo organizacional tradicional simplesmente não

funciona nessas condições. É preciso mudar as organizações para que elas possam

ser competitivas na era atual (CHIAVENATO, 2004, p. 360).

Esta é uma observação a ser percebida por todas as organizações, mas em maior

relevância as empresas familiares, uma vez que, possui em sua cultura organizacional um

conjunto de preceitos e valores tradicionais, oriundos de um vínculo familiar e enraizados em

todos os processos administrativos. Para manterem-se no atual cenário dos negócios, estas

empresas precisam ser flexíveis, seus fundadores devem estar atentos as mudanças de

mercado e sujeitos a reestruturar seus processos administrativos às técnicas mais modernas e

atuais, bem como apoiar a profissionalização de seus membros, e em algumas situações,

aceitar um profissional de fora para a ocupação de cargos, que exigem maiores

especializações. Uma vez que, de acordo com Drucker (2001):

[...] o conhecimento e a competência necessários sejam na área de produção, de

marketing, financeira, de pesquisas seja de administração de pessoal, tornaram-se

muito vastos para que possam ser satisfeitos qualquer um dos mais competentes dos

Page 48: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

48

membros da família, independentemente de suas boas intenções (DRUCKER, 2001,

p. 153).

No entanto, é comum que as empresas familiares tenham dificuldades em

acompanhar as exigências de mercado, principalmente porque o fundador, sujeito detentor de

grande experiência e convicto de que o negócio se mantém pelas suas habilidades e técnicas

tradicionais, que desde a fundação dão certo, desempenha uma postura rígida diante de novos

conhecimentos e maneiras de aperfeiçoamento das atividades já desempenhadas pela empresa.

Geralmente esta postura tende a permanecer por um longo período, sendo somente mudada no

período de sucessão, porque este já não fará mais parte do processo decisório.

Seguindo este pressuposto, Bueno, Fernández e Sánchez (2007) ressaltam:

A empresa familiar tem graves dificuldades para encarar a necessidade de renovação

organizacional continuada do seu pessoal, da sua cultura dos seus sistemas. Muitas

vezes, isso está ao predomínio dos critérios familiares sobre os empresarias e ao

estilo de administração dos seus líderes (principalmente no caso dos fundadores),

geralmente muito centralizado e voltado para uma gestão personalista. Isso costuma

gerar dificuldades para enfrentar a profissionalização do seu pessoal, atrasando tanta

a mudança de geração como o desenvolvimento dos instrumentos de direção

necessários para facilitar essa mudança, promover sua melhoria competitiva

(planejamento estratégico, planos de marketing, gestão financeira, recursos humanos

e planos de qualidade) e estimular uma progressiva descentralização, graças à

existência de adequados sistemas de gestão e de desenvolvimento permanente do

pessoal (BUENO, FERNÁNDEZ E SÁNCHEZ, 2007, p. 30).

As empresas familiares têm chances de manter-se no mercado e moverem a

economia, mas, para isso, é necessário que as mesmas sejam flexíveis às mudanças, e os

fundadores, sucessores e membros familiares precisam estar conectados a ponto de serem

reorganizadas as experiências e valores tradicionais no novo modelo administrativo, que será

formado a partir da profissionalização. Ressalta-se, neste caso, que “reconhecimento e

respeito se fundem, e as divergências e diferenças naturais na forma de condução dos

negócios devem ser tratados corretamente. Não se constrói uma nova etapa de uma empresa

familiar subestimando ou minimizando a geração anterior que fez e criou...” (KIGNEL E

WERNER, 2007, p. 37). Só assim, a empresa terá chances de permanecer com o perfil

familiar e sobrevivendo às mudanças de gerações.

Page 49: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

49

5 PROCESSO SUCESSÓRIO

A sucessão familiar corresponde ao período de transição do poder do fundador aos

herdeiros, que darão continuidade aos negócios da família nas próximas gerações. Mas, há de

se considerar que o período de sucessão seja um dos mais conflitantes na empresa familiar,

sendo condizente cada vez mais a utilização do famoso dito familiar: “Pai rico, filho nobre,

neto pobre”, onde é notório que as empresas familiares quando submetidas à transição, são

poucas as que conseguem sobreviver à segunda geração, sendo raras as que passam para as

próximas gerações. Pois, de acordo com Oliveira (2010):

No Brasil, existem dados que afirmam que a vida média das empresas não

familiares é de 12 anos e a das empresas familiares é de 9 anos; apenas 30% das

empresas familiares passam para o comando da segunda geração e, pior ainda,

apenas 5% passam para a terceira (OLIVEIRA, 2010 p. 4).

Mediante os dados que comprovam um baixo nível de sobrevivência das empresas

familiares, algumas organizações, muitas destas ainda na primeira geração, estão

estruturando-se com um planejamento sucessório, a fim de que os futuros herdeiros sejam

preparados para assumir a posição dos fundadores e assegurarem a continuidade do negócio.

Onde, já é desenvolvido e implantado em algumas empresas um modelo de sucessão familiar,

que desde criança o futuro sucessor passa a atuar no ambiente organizacional, exercendo

diversas funções, o que condiciona ao conhecimento da empresa e proporciona experiência

profissional.

Outra medida tomada pelas organizações familiares para assegurar a manutenção

no mercado é a formação de um conselho familiar, principalmente quando a empresa ganha

maiores dimensões e possui em seu contexto organizacional um grande número de membros

familiares.

Page 50: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

50

5.1 Primeira, segunda e terceira gerações

A primeira geração é a fase inicial da empresa, em que o fundador idealiza o

projeto empresarial e passa a atuar no desenvolvimento e manutenção do empreendimento. A

segunda geração é a passagem dos negócios do fundador para o sucessor, onde em muitas

organizações é o próprio filho. Já a terceira geração é o momento de passagem do primeiro

sucessor ao segundo, que, seguindo a ideia da organização sucedida pelo filho, nesta fase,

seria ao neto do fundador.

O nível de gerações alcançadas pelas empresas familiares se estende ainda para a

quarta, quinta, sexta, etc., mas são raras as empresas que conseguem gerações mais

avançadas, dando continuidade aos negócios da família, pois algumas são vendidas pelos

sucessores, outras em seu processo de transição são sucedidas por profissional de fora e

algumas outras não resistem ao processo de transição e declaram falência.

Segundo Bueno, Fernández e Sánchez (2007):

[...] conforme uma empresa passa de geração a geração, estas tendem a se confundir

e a se misturar na empresa – aspecto que se manifesta nas duas vertentes das

empresas familiares: a família e a empresa. No que se refere à família, começa a

acontecer o fenômeno de maior aproximação entre certos membros de gerações

diferentes do que entre membros da mesma geração (por motivos de idade e

cultura). No que se refere à empresa, costuma haver membros de duas, três e até

quatro gerações distintas trabalhando juntas nos seus diferentes âmbitos (BUENO,

FERNÁNDEZ E SÁNCHEZ, 2007, p. 12).

O processo de transição proporciona reestruturação do cenário organizacional,

uma vez que as empresas, quando são passadas aos sucessores, tendem a perder a essência

objetivada pelo fundador, devido principalmente ao fato de que o sucessor venha a possuir

características diferentes do fundador, mesmo sendo seu descendente direto. E, segundo

Oliveira (2010, p. 8), “[...] os primeiros herdeiros tem contato direto com os fundadores e,

portanto, vivenciam a criação da empresa de perto e, geralmente, compartilham os mesmos

valores pessoais e profissionais.” Porém, nas gerações seguintes, o contato com o fundador

não existe, e a empresa passa a perder características peculiares da 1ª geração, saindo,

portanto, do direcionamento dado pelo proprietário.

Vale ressaltar ainda que nos estágios iniciais, a empresa passa a ter o apoio de

membros familiares atuando no desenvolvimento de atividades administrativas, mas, à

medida que a organização ganha dimensão, muitos destes membros familiares afastam-se em

Page 51: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

51

decorrência de fatores, como conflitos ocasionados por dificuldades de relacionamento, a

busca por outras oportunidades e em algumas situações falta de identificação com o negócio

da família.

Para maior compreensão do cenário das três principais gerações da empresa

familiar, serão elencadas no quadro 1 algumas características destas gerações, nas visões dos

autores Werner e Kignel (2007) e Bueno, Fernández e Sánchez (2007).

As características presentes em cada estágio representam que o período de

transição carrega consigo complexidade, pois em cada geração a organização passa a atuar

sob o comando de uma característica profissional diferente da anterior, onde, embora o

primeiro sucessor seja o filho ou sobrinho do fundador, este não dará continuidade à empresa

seguindo todos os ensinamentos de seu pai, pois implantará características próprias, uma vez

que, além de cada individuo ter sua própria percepção e maneira de atuação, o cenário que a

empresa se encontra é diferente do cenário da 1ª geração, o que requer reestruturação e

mudanças.

Da mesma maneira ocorrem os próximos períodos de transição e a cada geração a

empresa irá deparar-se com riscos de falência e grandes oportunidades de continuidade e

crescimento, onde os riscos e/ou as oportunidades serão, respectivamente, minimizados e

maximizados de acordo com a competência e habilidade do sucessor em dá prosseguimento

ao negócio idealizado pelo fundador, ressaltando que, é de responsabilidade que o líder da

geração escolha um bom sucessor.

AUTORES

ESTÁGIOS Werner & Kignel (2007) Bueno, Fernández e Sánchez

(2007)

1ª GERAÇÃO

O desafio é assumir o momento em

que deve “passar o bastão”. Esse é

um processo difícil e, em muitos

casos, penoso. À medida que o

tempo passa, o fim está mais

próximo. O fim, para o

empreendedor, não é somente sua

morte física, mas o encerramento

do período produtivo. Ele deve

saber identificar quando

concretizar a sucessão, ajustando-

se a nova realidade junto com os

sucessores.

São controladas pelo fundador (...).

Nesse primeiro grau de geração, a

propriedade pode ser única ou

compartilhada, seja com outros

membros da família (com algum

irmão ou irmãos, por exemplo) seja

com pessoas alheias a ela (sócios

não-familiares). Desse modo, o

cônjuge do fundador exerce papel

fundamental nesse tipo de empresa,

pois seu comportamento e sua

atitude têm grande importância

para a continuidade da geração.

O fracasso da segunda geração

pode estar associado ao fato de

São empresas que o fundador, caso

esteja vivo, passou para o segundo

Page 52: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

52

2ª GERAÇÃO

herdeiros não serem

empreendedores (...). Podem não

possuir as características dos

empreendedores ou, tendo crescido

nas barras do pai sem nenhum

espaço, tornaram-se o que

denominamos de “talento perdido”

(...). Não que a segunda geração

seja menos capaz. Mas por forças

das circunstâncias, ela se torna

uma ponte entre duas gerações

empreendedoras, enquanto ela

mesma fica confinada nos limites

do próprio negócio.

plano de atuação e o controle

efetivo passou para seus filhos ou

sobrinhos. A propriedade costuma

estar nas mãos de vários irmãos. O

controle da gestão, no entanto,

pode estar tanto nas mãos da

família como nas mãos de

profissionais externos (empresa

familiar profissionalizada) ou até

mesmo ser compartilhado entre

famílias e externos. Caso os irmãos

participem da direção, todos

podem executá-la ou só alguns

deles, embora o mais comum seja

que apenas um assuma a

responsabilidade máxima pela

empresa, concentrando sua

liderança familiar.

3ª GERAÇÃO

Representa a concretização da

continuidade do patrimônio e, em

muitos casos, são os sucessores

diretos dos empreendedores.

Nesses casos, é necessário que os

filhos, ou seja, a geração

intermediária, estejam preparados

para a convivência de ganhos e

perdas entre esses dois extremos.

São empresas familiares em que os

netos do fundador são os principais

proprietários e diretores. Nesse tipo

de empresa, a complexidade

existente obriga a se estabelecer

sistemas formais de relações entre

a empresa e a família.

Quadro 1. Fonte KIGNEL e WENER (2007) e BUENO, FERNÁNDEZ e SÁNCHEZ (2007).

5.2 Principais aspectos e dilemas no processo sucessório

O período de sucessão familiar é um dos momentos mais críticos e conflituosos,

uma vez que envolve um conjunto de fatores que interferem na continuidade ou falência da

empresa. Estes fatores estão relacionados à escolha do sucessor ideal a prosseguir com os

trabalhos administrativos, originando-se conflitos devido aos dilemas enfrentados pelos

fundadores e o composto organizacional familiar, como a escolha do filho mais apto, ao invés

do primogênito, bem como a preferência por um sobrinho, se este demonstrar maior

preparação do que o filho e em algumas situações, a escolha de um profissional externo, afim

de que seja dado um suporte aos familiares na condução dos negócios, onde, é caracterizado

por Longenecker (2007), como a busca por um talento disponível na família ou fora dela,

onde o autor acrescenta que:

Page 53: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

53

Um rio não pode subir mais alto do que sua fonte. Do mesmo modo, a empresa

familiar não pode ser mais brilhante do que seu líder. Ela é dependente, portanto, da

qualidade do talento de liderança que lhe é oferecida. Se o talento disponível não for

suficiente, o proprietário deverá contratar uma liderança externa ou complementar o

talento da família, evitando o declínio da qualidade da liderança na segunda ou

terceira geração da família (LONGENECKER, 2007, p. 98).

A resistência dos fundadores em passar a sucessão a um profissional externo é

muito forte, além da previsível falta de receptividade do profissional pelos membros

familiares que temem perder o controle da empresa familiar e os valores implantados naquela

cultura organizacional. Neste sentido, desde cedo o filho do proprietário, principalmente o

primogênito, cresce ouvindo por diversas vezes seu pai afirmando que a continuidade dos

negócios da família será de sua responsabilidade, porém, em muitas situações, o filho não se

identifica com o negócio da sua família, em outras ocasiões, há existência de mais de um

filho, ocorrendo intrigas entre os futuros sucessores, sendo ressaltando ainda, situações em

que o filho tem capacidade e competência de gerir o negócio, mas o proprietário não lhe

concede este direito e acaba por frustrar os desejos de sucessão daquele herdeiro.

Segundo Bueno, Fernández e Sánchez (2007):

A sucessão coloca o fundador de uma empresa familiar diante de uma série

complicada de opções, as quais encerram as próprias vantagens e inconvenientes,

oportunidades e riscos. Além disso, a importância e a incidência dessas alternativas

variam de uma entidade para outra, de acordo com as circunstâncias tão díspares de

cada uma: as necessidades da família, o número de sucessores disponíveis, a

condição financeira e a dimensão da própria empresa familiar. Embora, do ponto de

vista racional, esse processo de transição devesse ser um simples processo evolutivo

e planejado, é particularmente estranho que, apesar desta lógica anterior, a

alternativa de “não fazer nada” seja, entre todas as opções possíveis, umas das mais

frequentemente escolhidas por esses fundadores. Paradoxalmente, essa opção

também é a mais custosa e destrutiva (BUENO, FERNÁNDEZ E SÁNCHEZ, 2007,

p. 191).

Realmente muitos fundadores não fazem nada até que chegue o momento de

transição. Não tendo condições de ficar à frente dos negócios, o proprietário chama seu filho e

o apresenta como o mais novo dono e líder da empresa, algo comum neste segmento

empresarial e já esperado, mas nem sempre essa sucessão pode proporcionar excelentes

resultados, pois, os filhos geralmente não estão preparados, alguns não se identificam com a

empresa, ou pode ocorrer o inverso, em que o sucessor apto ao cargo consegue não somente

dar continuidade aos negócios da família, mas desenvolvê-lo e mantê-lo preparado para as

próximas gerações. São fatores a serem analisados de acordo com a realidade de cada

organização, porém, há de se considerar que:

Page 54: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

54

Muitos empreendedores preocupam-se em garantir descendentes para o negócio

familiar e acham que, cumprida essa obrigação, já fizeram a maior parte do trabalho.

Ter herdeiros não completa o ciclo da empresa familiar; portanto, não devem

esquecer-se de que ainda terão muito que viver e contribuir (KIGNEL e WERNER,

2007, p. 82).

É perceptível, desta maneira, que o período de sucessão é de fato um dos mais

difíceis para as empresas familiares, onde esta dificuldade tende a permanecer nas próximas

transições, o que concerne afirmar que não é porque a empresa conseguiu superar o período

de transição e dar continuidade aos negócios na segunda geração que não venha a preocupar-

se com a transição para as próximas. Em todos os estágios o período de sucessão é

conflituoso e pode condicionar ao enfraquecimento da empresa, sendo, portanto,

imprescindível a observância a todos os aspectos como competências, habilidades e análise do

cenário atual, não somente no período de transição, mas já no início da atual geração, o que

seria um planejamento do processo sucessório, ou seja, a preparação da transição de poder e

do membro a ser sucessor dos negócios familiares, garantindo a sua continuidade.

Outro fator importante a ser considerado é que o sucessor precisa entender que

alguns aspectos das gerações anteriores devem permanecer na atual geração, mas atento ao

atual cenário, e mesmo preparado e convicto de suas idéias e planos para o alcance de ótimos

resultados para a empresa, deve-se levar em consideração nas suas decisões, fatores ocorridos

em gerações anteriores, a fim de que falhas não sejam cometidas e estratégias que deram certo

possam ser reestruturadas, mantendo a empresa no mercado e garantindo a sobrevivência até

os próximos estágios.

5.3 Planejamento e modelo de sucessão

É notório que a maioria das empresas opta por passar o comando para um membro

da família, tendo em vista o forte vínculo familiar, onde os empreendedores mais visionários

percebem a necessidade de um planejamento sucessório, e as dificuldades com que irá

deparar-se, bem como os conflitos que enfrentará se não preparar a empresa e o membro

familiar para o período de transição. E, mesmo convictos dos conflitos, quase sempre

descartam a possibilidade de implantar um profissional de fora.

Page 55: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

55

Em virtude disso, preparar o sucessor passa a ser uma das mais cabíveis

estratégias dos fundadores para garantir a continuidade do negócio da família e minimizar os

conflitos que venham a ocorrer no período de sucessão, porém, como é dito por Longenecker

(2007), neste momento de preparação, “os requisitos profissionais e gerenciais tendem a ficar

entrelaçado com os sentimentos e os interesses da família”, o que dificulta o processo de

preparação do sucessor e condiciona as empresas a encararem um dilema de encontrar um

talento disponível na família ou inserir um profissional de fora para assumir a empresa.

Ressaltando que esta decisão irá influenciar na sobrevivência e/ou falência da organização.

Neste processo de planejamento, deve ser levado em consideração fatores que

permeiam a manutenção da empresa, no que tange aspectos econômicos, parcerias,

contratação de profissional e/ou profissionalização dos membros familiares, e o mais

importante, a escolha do líder ideal para a condução dos negócios. A este ponto, é cabível

frisar que:

[...] não se deve forçar esses familiares a se incorporarem à empresa se eles

realmente não o desejarem. Dirigir a empresa não deve ser nem um direito nem uma

obrigação para nenhum membro da família. Se forem obrigados, nem a empresa,

nem o indivíduo darão o melhor de si e, com o tempo, os dois fracassarão. Portanto,

deve-se evitar forçar os filhos a dirigir a empresa do pai, seja de forma explícita, seja

de forma sutil (BUENO, FERNÁNDEZ E SÁNCHEZ, 2007, p. 74).

“Na empresa familiar, a diferenciação entre os filhos é uma realidade recorrente

que origina dois grupos: os que se identificam com os sonhos dos pais e pretendem lhes dar

continuidade e aqueles que se contrapõem ao establishment e buscam alçar vôos próprios.”

(WERNER E KIGNEL, 2007, p. 83). Considera-s que, para que sejam evitados conflitos e

mantido o equilíbrio tanto na família como também na empresa, é ideal que pais e filhos

tenham suas preferências profissionais, opiniões e vontades compreendidas e respeitadas,

ressaltando que muitos filhos demonstram identificação com o negócio da família, e desde

cedo já passam a frequentar e assumir determinadas funções que o tornam apto a suceder, no

momento de transição.

Segundo Bueno, Fernández e Sánchez (2007):

Muitas pessoas acreditam, equivocadamente, que a sucessão é um acontecimento

que ocorre quando o dono se prepara para se desligar da empresa. Na verdade, a

sucessão é um processo que começa quando os sucessores em potencial ainda são

crianças. É durante esse período que os pais ensinam aos filhos atitudes importantes

sobre as pessoas, o trabalho, o dinheiro, a concorrência, a qualidade, a confiança, a

ética no trabalho e o equilíbrio entre a vida e os compromissos. Em geral, muitas

dessas atitudes e qualidades são as que serão necessárias para exercer o futuro papel

a frente dos propósitos da empresa familiar. Além disso, esses pais vão preparando o

Page 56: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

56

cenário para uma transição tranquila, ajudando os filhos a se tornarem indivíduos

capazes e futuros líderes, elaborando planos e documentos que permitem à empresa

familiar superar fases de turbulências e crise (BUENO, FERNÁNDEZ E

SÁNCHEZ, 2007, p.199).

O nível baixo de sobrevivência das empresas na segunda e terceira geração está

atrelado à falta de capacidade e habilidade dos sucessores de gerenciar a empresa familiar. A

continuidade poderia deixar de ser interrompida se os pais, desde cedo planejassem o

processo de sucessão, a preparação do filho pode vim de cedo, porém, atentando-se ao fato de

que o filho não pode crescer moldado às características dos pais, apenas deverá crescer

mantendo contato com o trabalho desenvolvido pelo pai, e que pode vim a ser controlado por

ele, caso demonstre interesse e competência suficiente.

Pensando assim, no planejamento de sucessão, pode-se considerar a

empregabilidade de um modelo de sucessão, apresentado por Longenecker (2007), que o

desenvolveu no intuito de que a empresa possa conseguir manter suas características

familiares por mais gerações, acompanhado o ritmo de mercado e se tornando cada vez mais

um grande empreendimento.

Sucintamente apresentado na Figura 1, este modelo de sucessão familiar está

compreendido em sete estágios, que vão desde o período que o sucessor, ainda criança passa

algum tempo na empresa, mesmo que brincando, conhecendo e entendendo a importância

dela para a sua família, indo até os períodos de estágio desse sucessor, alguns cargos como a

gerência até a direção, que é o último estágio, em que certamente o sucessor estará preparado

para assumir a empresa que por uma geração obteve excelentes resultados e agora está em

suas mãos para que venha a sobreviver por uma geração, tendo capacidades de chegar as

próximas gerações.

Page 57: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

57

Figura 1. Fonte: LONGENECKER (2007).

5.4 Conselho Familiar

As empresas familiares, quando fundadas, são em geral pequenas e controladas

pelo idealizador com a ajuda de alguns poucos familiares. Aos poucos, se bem conduzida os

processos administrativos, a organização desenvolve-se e passa a ganhar representatividade

econômica, expande-se e contrata mais pessoas, familiares e alguns não-familiares. O cenário

muda, e as empresas familiares acabam por adquirir novas formas administrativas para

manter-se no mercado, onde, de acordo com Silvestrini (abr./maio 2009):

ESTÁGIO III INTRODUTÓRIO FUNCIONAL

O filho trabalha em tempo parcial

como empregado. O trabalho se torna

progressivamente mais difícil. Inclui

educação e às vezes prestar serviços

para outras empresas.

ESTÁGIO I PRÉ-EMPRESA

O Filho passa a conhecer

algumas facetas da empresa. A

orientação dele para o membro

da família é informal.

ESTÁGIO II INTRODUTÓRIO

O filho é exposto ao jargão do

negócio, aos empregados e ao

âmbito da empresa.

TRANSFERÊNCIA DA LIDERANÇA

ESTÁGIO IV

SUCESSOR JÚNIOR

O sucessor assume a

presidência. Inclui um período

no qual ele se torna líder de jure

(de direito) da empresa.

ESTÁGIO VII

SUCESSOR SÊNIOR

O sucessor se torna líder de

facto (de fato) da empresa.

ENTRADA DO SUCESSOR

ESTÁGIO IV FUNCIONAL

O potencial sucessor começa a

trabalhar como empregado em

período integral. Inclui todas as

funções não gerenciais.

ESTÁGIO IV

FUNCIONAL AVANÇADO

O potencial sucessor assume

uma função gerencial. Inclui

todas as funções gerenciais

antes de se tornar presidente.

Page 58: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

58

Mudaram os empreendedores, sim – sobretudo porque o mundo em torno deles

mudou mais ainda, tornando-se mais competitivo e implacável com a ineficiência e

a paralisia. Hoje, os donos de uma pequena ou média empresa não podem mais

passar anos e anos enfiados em batalhas familiares enquanto o negócio vaga sem

rumo no mercado (SILVESTRINI, abr./maio 2009, p. 18).

No intuito de manter o empreendimento familiar no mercado, mediante

competitividade e minimizar os conflitos internos, decorrentes das relações familiares, alguns

empresários estão criando conselhos familiares, que, segundo Bueno, Fernández e Sánchez

(2007), constitui-se em:

[...] um grupo de familiares que se reúne com certa periodicidade para discutir as

questões atuais da empresa e da família e para estabelecer as políticas e os

mecanismos que permitam enfrentar possíveis problemas e desafios derivados da

confluência entre os objetivos empresariais e familiares (BUENO, FERNÁNDEZ E

SÁNCHEZ, 2007, p. 108).

O cenário das empresas familiares é marcado por inúmeros conflitos que

influenciam nas relações familiares e empresárias, e por consequência interfere nos processos

decisórios e de continuidade dos negócios. Mas, é percebido que este segmento empresarial

possui características próprias que garantem vantagem competitiva frente às empresas não-

familiares, e que, se bem conduzidos os processos administrativos, atrelados às mudanças de

mercado, tem-se excelentes resultados e grande representatividade na economia.

É em virtude da importância de continuar os negócios familiares, principalmente

devido aos seus aspectos, que muitas empresas estão criando em seu conjunto organizacional

conselhos familiares, a fim de que sejam minimizados e/ou evitados conflitos, principalmente

no período de transição, o que garantirá o equilíbrio nas relações familiares e empresariais.

Sendo, descrito por Bueno, Fernández e Sánchez (2007) como a finalidade do conselho

familiar:

Chegar a um consenso sobre assuntos para os quais a opinião dos familiares é de

vital importância para a empresa. Neste sentido, é possível desenvolver um amplo

conjunto de atividades para sustentar esse conselho, e que vão além da realização de

meros encontros entre os membros da família (BUENO, FERNÁNDEZ E

SÁNCHEZ, 2007, p. 109).

Page 59: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

59

De acordo com Davis (2003):

O conselho familiar tem sua origem na tradição de empresas européias de várias

gerações. Para manter a harmonia familiar e evitar que os problemas domésticos

prejudicassem a empresa, muitas delas criaram um organismo no qual determinados

membros da família representam os interesses do conjunto. Eles pedem informações

sobre a evolução da empresa, expressam as necessidades do grupo familiar e buscam

formas de resolver os problemas internos para que não sejam transferidos ao

negócio. O conselho também se encarrega de criar políticas para preservar os

interesses da família no longo prazo e as submete à apreciação da diretoria (DAVIS,

nov./dez. 2003)

Nem sempre a dimensão dos negócios é percebida pelo proprietário ou os

membros que fazem parte da empresa, onde se conta com o apoio de uma consultoria,

realizada por profissional não-membro familiar e que, por não ter nenhum vínculo com a

família, não venha a ter influências nas decisões que proporão ao corpo administrativo.

Porém, a consultoria acaba e a empresa precisa tomar as rédeas sozinhas, e uma das maneiras

de manter o desenvolvimento da empresa e a continuidade nos negócios é a criação de um

conselho familiar, que além de reuniões, propicia um encontro mais profissional com os

membros familiares que fazem parte da administração.

Geralmente, nestes encontros, são discutidas estratégias, ações a serem executadas

e são tomadas as principais decisões, sendo válido destacar que a empresa, mesmo tendo

maiores dimensões, em sua essência continua a ser uma unidade familiar, com valores e

princípios que já inseridos em sua cultura organizacional, permeia a condução dos processos

administrativos, no entanto, devido ao seu crescimento e tendo em vista a necessidade de

acompanhar o mercado cada vez mais competitivo, adere a aspectos presentes em empresas

não-familiares, como a profissionalização, contratação de serviços de profissionais externos,

como consultoria, bem como a criação de conselho familiar, para que os trabalhos e as

decisões sejam realizados no mais alto grau de profissionalismo, mas centrado nos princípios

familiares que permeiam a empresa familiar.

Page 60: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

60

6 ESTADO DA ARTE

Caracterizado como uma ferramenta para mapear e discutir os aspectos mais

importantes e relevantes de uma produção científica, o Estado da Arte é conhecido como

“uma metodologia de caráter inventariante e descritivo da produção acadêmica e científica

sobre o tema que busca investigar, à luz de categorias e facetas que se caracterizam enquanto

tais em cada trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser analisado.”

(FERREIRA, 2002).

Em observância à importância da pesquisa, foram estudados dois artigos que

tratam dos aspectos da gestão familiar, sendo abordados contextos originários, conceituais,

principais dilemas e conflitos enfrentados e o novo modelo de atuação familiar nos processos

administrativos.

6.1 Empresa Familiar X Competitividade: tendências e racionalidades em

conflito

No presente artigo, os autores Grzybovski e Tedesco (1998) fazem uma

abordagem ao cenário das empresas familiares e a sua considerável atuação no mercado. De

início, tem-se uma apresentação dos principais conceitos e fatores originários da gestão

familiar, onde é travada uma discussão sobre os principais dilemas enfrentados por este

segmento empresarial para manter-se no mercado, partindo posteriormente para a

apresentação de pesquisa realizada em Passo Fundo.

No que tange aos fatores originários, Grzybovski e Tedesco ditam que as

empresas familiares têm sua origem a partir da união de dois ou mais membros familiares que

abrem uma empresa, inserindo em sua cultura e formação valores oriundos do seio familiar,

que passam a ser enraizados em todos os processos administrativos. Sendo, neste sentido,

empresa familiar todo e qualquer empreendimento formado e mantido pela identificação de

membros de uma mesma família, que atuando nas atividades administrativas, possuem laços

familiares que envolvem todos os processos da empresas.

Page 61: DESAFIOS DA GESTÃO FAMILIAR: um olhar teórico sobre as

61

A obra se estende aos principais dilemas enfrentados pelas empresas familiares

para conseguirem manter-se no mercado, como os conflitos entre família, empresa e

sociedade, as relações conflituosas entre valores familiares e valores empresarias e a

dificuldade da gestão acompanhar as tendências de mercado, sendo identificada a necessidade

de reestruturação nos processos tradicionais, nos modelos gerencias e inserção de

profissionalização, sendo, em algumas situações, a inserção de profissional de fora na direção

de cargos mais especializados.

Vale ressaltar ainda a ressalva do artigo sobre a escassez de pesquisas e

publicações sobre as empresas familiares, que, apesar de apresentarem um alto nível de

representação na economia, não tem muitos estudos e pesquisas sobre suas principais

características e dificuldades de sobrevivência. Essas pesquisas poderiam proporcionar ao

conhecimento do cenário empresarial-familiar, sendo possível, a partir do conhecimento deste

segmento empresarial, formular e implantar estratégias para manter as empresas atuantes no

mercado, tendo em vista a sua considerável contribuição e tendência na economia atual.

Por último, os autores trazem a análise da pesquisa realizada em Passo Fundo,

sendo identificado que as empresas da região, apesar de muitas serem adeptas aos processos

tradicionais e tomarem decisões embasadas em valores e preceitos familiares, há de se

considerar que a gestão familiar, em algumas destas empresas da região estão passando por

um processo de reestruturação para conseguir acompanhar e manter-se atuante no mercado.

Sendo percebido, mediante pesquisa ao artigo, que as empresas familiares têm

grande representação social e econômica, daí a importância de estudar e conhecer todos os

aspectos que permeiam os seus processos administrativos e os conflitos decorrentes das

relações familiares e empresarias, uma vez que, a partir do conhecimento do cenário que

envolve as empresas familiares, é possível traçar estratégias para assegurar a sua

sobrevivência e manutenção frente ao mercado competitivo e mutável.

6.2 Reflexões sobre concepções de família e empresas familiares

A presente obra, com autoria de Machado (2005), faz uma abordagem ao cenário

das empresas familiares de maneira a explorar o seu nível de evolução e mudança decorrentes

da necessidade de adequação ao mercado. Ou seja, o autor preocupa-se em explorar a nova

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gestão familiar, as mudanças já existentes em algumas empresas e os benefícios advindos da

mesma.

É ressaltado que a crescente atuação feminina e os novos modelos familiares, em

que filhos passam a conviver somente com o pai ou a mãe devido às separações, também

contribuem para um novo modelo de gestão familiar, onde os valores e preceitos familiares já

possuem uma nova característica, o que condiciona a formação de uma empresa familiar

diferente, sem passar por nenhum tipo de reestruturação impactante e forte a ponto de por em

risco a manutenção da essência e aspecto familiar na organização.

O autor cita ainda que as transformações no modelo familiar vão além das novas

situações familiares, decorrentes de separação de casais, bem como a ocupação de excelentes

cargos das mulheres no mercado de trabalho, mas transcende até ao tamanho das famílias, aos

valores carregados por esta, que são embutidos na empresa, formando uma nova empresa

familiar.

Neste sentido, o presente artigo tem por finalidade explorar a nova gestão

familiar, originária de um modelo familiar diferenciado que acrescenta a empresa valores e

aspectos familiares condizentes com a realidade de mercado.

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6 CONCLUSÃO

Mediante explanações e análises bibliográficas, conclui-se que as empresas

familiares, apesar de pouco estudadas, são de grande relevância o conhecimento do cenário e

os aspectos que envolvem seu modelo de gestão, tendo em vista que, apesar deste tipo de

organização representar uma notável participação na economia, possui um emaranhado de

características próprias que garante uma vantagem competitiva, porém, essas mesmas

características podem ocasionar conflitos, e quase que comumente, os conflitos atingem

empresa e família, influenciando, neste sentido, nas relações familiares e estabilidade de seus

valores e nos processos administrativos, condicionando ao risco de a empresa não se manter

no mercado.

As empresas familiares são instituições administrativas que têm sua origem a

partir da idealização e empenho de dois ou mais integrantes de uma mesma família na

abertura e manutenção de uma organização. É constituída em sua grande maioria por

membros familiares, o que a condiciona a conceituação de empresa familiar, tendo, neste

sentido, a sua cultura organizacional formada a partir de valores e princípios oriundos de um

seio familiar, que são enraizados nos processos administrativos e norteiam a condução dos

negócios.

Neste sentido, há de se considerar que a empresa familiar possui uma gama de

vantagens e desvantagens, sendo destacados aqui como vantagens os valores familiares que

são inseridos na cultura organizacional, bem como a identificação dos membros familiares

com o negócio, que passa a representar não somente uma marca, mas um legado da família a

ser permeado por muitas gerações. Outro fator vantajoso é a cumplicidade e lealdade dos

membros familiares no desenvolvimento dos processos administrativos, características

presente nas relações familiares e que são enraizadas na empresa.

Mas, como nem tudo é vantagem, destaca-se como uma fragilidade na gestão

familiar, os conflitos ocasionados pelo choque entre valores familiares e empresariais,

principalmente quando a empresa atinge maiores dimensões. Atrelados vêm os atritos entre os

membros familiares, no que tange ocupação de cargos, remunerações e promoções, bem como

condução dos negócios. E, a forte resistência dos proprietários em aderirem a mudanças,

muito comum neste segmento de empresas. Onde, quase sempre, devido a estas resistências,

as empresas familiares não se mantêm no mercado, ficando à mercê de desapareceram antes

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de chegar à segunda ou terceira geração, que, quando conseguem chegar, deparam-se com os

desafios advindos da sucessão familiar, como a difícil escolha entre um talento disponível na

família ou fora dela, a falta de identificação do herdeiro com o negócio da família ou em

situação inversa, a resistência do fundador em passar o comando aos filhos ou algum membro

familiar que esteja mais apto a assumir o cargo.

Sendo assim, com grande potencial de desenvolvimento e para manter-se no

mercado, há de considerar que as empresas familiares precisam ser flexíveis e tomar decisões

que nem sempre são aceitas pelos membros familiares que ocupam cargos na organização.

Em virtude disso, fica a mercê de conflitos como o choque entre valores familiares e

empresariais, que arranham as relações humanas na empresa, choques na inserção de práticas

administrativas e profissionalização de membros familiares, bem como a inserção de

profissional de fora na condução de determinadas atividades administrativas. E, tende a

enfrentar um dos períodos mais conflitantes, que é o momento de transição da liderança

familiar, pois nem todas conseguem sobreviver quando submetidas ao processo sucessório,

algumas reformulam sua cultura organizacional e se tornam empresas não familiares. A este

ponto, são perceptíveis algumas fragilidades em sua gestão no que tange a centralização dos

processos administrativos e o desenvolvimento do profissional não-membro da família que

pode ser limitado. Porém, não há como negar que a gestão familiar apresenta um forte

comprometimento com o negócio, elevados padrões éticos, compromisso pessoal em servir os

clientes e a comunidade local e condições sólidas de sobrevivência, tendo em vista que ela

dispõe de conhecimento e informação, o que é fator de sucesso no novo mercado.

Neste sentido, é válido frisar que as empresas familiares têm grandes chances de

manter-se no mercado e moverem a economia, mas para isso, é necessário que as mesmas

sejam flexíveis às mudanças, e os fundadores e sucessores precisam está conectados a ponto

de serem reorganizadas as experiências e valores tradicionais no novo modelo administrativo,

que será formado a partir da profissionalização e reestruturação dos membros familiares. Só

assim, a empresa terá chances de permanecer com o perfil familiar, sobrevivendo às

transições de gerações e mudanças de mercado.

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