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DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO MARCOPOLO Vicente Giurizatto da Silveira Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Instituto COPPEAD de Administração Mestrado em Administração ORIENTADORA: DENISE LIMA FLECK, Ph.D. Rio de Janeiro – Brasil 2008

DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO … · período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo. No entanto, diversas foram as empresas

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DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O

CASO MARCOPOLO

Vicente Giurizatto da Silveira

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Instituto COPPEAD de Administração

Mestrado em Administração

ORIENTADORA: DENISE LIMA FLECK, Ph.D.

Rio de Janeiro – Brasil

2008

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DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O

CASO MARCOPOLO

Vicente Giurizatto da Silveira

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.).

Aprovada por:

___________________________________________ - Orientadora

Profª. Denise Lima Fleck, Ph.D. (COPPEAD, UFRJ)

___________________________________________

Prof. Agrícola de Souza Bethlem, D.Sc. (COPPEAD, UFRJ)

___________________________________________

Prof. Donaldo de Souza Dias, D. Sc.

Rio de Janeiro – Brasil

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2008

FICHA CATALOGRÁFICA

Silveira, Vicente Giurizatto da.

Desafios para a Longevidade Saudável: O caso Marcopolo / Vicente Giurizatto da Silveira. – Rio de Janeiro, 2008.

530f.: il.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2008.

Orientadora: Denise Lima Fleck

1. Estratégia Empresarial. 2. Crescimento da Firma. 3. Indústria de Carroceria de Ônibus. – Teses. I. Fleck, Denise Lima (Orientadora). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Trajetória de Crescimento da Marcopolo.

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AGRADECIMENTOS

Segundo a sabedoria popular, só temos uma vida completa quando

plantamos uma árvore, temos um filho e escrevemos um livro. Plantar uma

árvore foi algo que fiz ainda pequeno. Ter um filho é um sonho que espero

realizar em breve. Mas escrever um livro é algo que imagino ter concretizado

ao realizar este estudo repleto de sacrifício e com ajuda de diversas pessoas

queridas. Para aqueles que não tiveram a honra em estudar em uma escola

renomada como o Coppead talvez seja difícil entender quanto significa concluir

um curso de mestrado nessa instituição.

Para chegar até o dia de hoje, tenho que reconhecer, sem dúvida

alguma, que não fiz nada sozinho. Faltam palavras para agradecer o apoio da

minha família em todos esses anos. Meu pai Vinícius, minha mãe Nadja, meus

irmãos Andreza, Gabriel, Matheus e Thomás são os grandes responsáveis pela

realização desse sonho. Mas é minha namorada, amiga, companheira e

confidente, Viviane, a pessoa que sabe, como ninguém, como foi sacrificante,

porém recompensadora, minha vida de estudante de mestrado. Agradeço-lhe

principalmente por entender e me apoiar incondicionalmente.

Sinto-me também um privilegiado por fazer parte da turma de mestrado

2006. Uma turma muito especial que viveu momentos muito especiais tanto

dentro como fora da sala de aula. Agradeço meus colegas estrategistas Renato

e Rafael pela amizade e apoio em todas as horas. Agradeço também aos meus

professores, e aos mestres Agrícola Bethlem e Donaldo Dias pelas criteriosas

contribuições para minha dissertação. Quanto à minha orientadora e mestra

Denise Fleck não há palavras para tal agradecimento. Sua competência, ética

e doação pela escola representam o que de melhor existe no Coppead e no

ensino brasileiro. Sua coragem e autenticidade influenciam todos nós,

orientandos e alunos.

Não posso deixar de agradecer também aos funcionários da Marcopolo

que me receberam excepcionalmente bem em Caxias do Sul, e a todos os

funcionários do Coppead, em especial da secretaria acadêmica e da biblioteca,

que contribuem diariamente para o ótimo funcionamento da escola.

.

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RESUMO

Silveira, Vicente Giurizatto da. Desafios para a Longevidade Saudável: O

caso Marcopolo, Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação (Mestrado em Administração).

A literatura em geral sugere que tamanho seja um dos principais

indicadores de sucesso para avaliar e comparar as organizações. De fato, o

quanto maior o porte da organização, maiores são suas possibilidades de

aproveitar as oportunidades existentes no ambiente e maiores são as chances

da empresa neutralizar as ameaças.

No entanto, o tamanho também produz efeitos colaterais. Inspirado no

framework proposto por Fleck (2007), o qual relaciona institucionalização

organizacional e sucesso organizacional de longo prazo, buscou-se, por

analogia, relacionar tamanho organizacional e sucesso organizacional.

O presente estudo teve o objetivo de investigar os desafios que

enfrentam as organizações e como lidam com eles para superar os efeitos

colaterais ocasionados pela mudança positiva em seu tamanho, tendo por

objetivo se manterem firmes em direção à longevidade saudável.

A Marcopolo, maior encarroçadora de ônibus do Brasil, foi selecionada

como objeto de estudo. Trata-se de uma empresa brasileira com sede em

Caxias do Sul (RS) e que atua no segmento desde 1949. Ao longo desse

período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de

ônibus no mundo. No entanto, diversas foram as empresas que não resistiram

às mudanças da economia, a concorrência do mercado e fecharam as portas.

A análise da trajetória de crescimento da Marcopolo indica que a firma,

ao longo dessas quase seis décadas, apresentou respostas satisfatórias aos

desafios de crescimento, fortemente ligadas ao pólo da autoperpetuação, ou

seja, em direção à longevidade saudável. Eis porque a empresa conseguiu

crescer de forma consistente, superar as diversas adversidades encontradas,

se destacar no cenário internacional e se consolidar como umas das principais

fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo.

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ABSTRACT

Silveira, Vicente Giurizatto da. Desafios para a Longevidade Saudável: O

caso Marcopolo, Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação (Mestrado em Administração).

The broad literature suggests that size is one of the best indicators to

evaluate success and compare organizations. In fact, how bigger is an

organization, the greater are the possibilities to benefit from the available

opportunities in the environment and the greater are chances to neutralize

impending threats.

However, size also provokes side effects. Inspired in the framework

proposed by Fleck (2007), which relates organizational institutionalization and

long term success, this study intends, analogically, to connect organizational

size and success.

It aims to investigate the challenges that organizations face and how they

deal with them to surpass the side effects of positive change in size, to keep

going in the health longevity direction..

Marcopolo, the largest manufacturer of bus bodies in Brazil, was

selected as the object of this study. This is a Brazilian company founded in

1949, and headquarters established in Caxias do Sul (RS). Throughout these

years, the industry grew up and Brazil became one of the main players of the

world. On the other hand, many companies have not resisted the economy

changes and broke down.

The analysis of Marcopolo´s growth path suggests that the firm,

throughout six decades, presents satisfactory responses to growth challenges,

strongly connected to self-perpetuation pole, which means, in the direction of

health longevity. It explains why the firm grew in a consistent way, overcame

several obstacles, highlighted in the world scenario and consolidated as one of

the largest manufactures of bus bodies in the world.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1.1 – Evolução da Posição da Marcopolo no Ranking Melhores & Maiores

(Exame) ................................................................................................................ 5 Gráfico 1.2 – Evolução do Market Share da Marcopolo na Produção Brasileira de

Carrocerias de Ônibus ........................................................................................... 9 Gráfico 4.1 – Evolução da Produção de Veículos no Brasil das Principais

Encarroçadoras de Ônibus (1971-2006) ............................................................... 74 Gráfico 4.2 – Produção de Veículos da Marcopolo entre 1949 e 2006 ......................... 84 Gráfico 4.3 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1949 e

1967 .................................................................................................................... 87 Gráfico 4.4 – Produção do Número de Carroçarias pela Marcopolo entre os anos 1949 e

1967 .................................................................................................................... 89 Gráfico 4.5 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1968 e

1986 .................................................................................................................. 129 Gráfico 4.6 – Produção do Número de Carroçarias pela Marcopolo entre os anos 1968 e

1986 .................................................................................................................. 130 Gráfico 4.7 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1987 e

2006 .................................................................................................................. 176 Gráfico 4.8 – Produção da Marcopolo entre os anos 1987 e 2006 .............................. 178 Gráfico 4.9 – Produção da Marcopolo Anual e Acumulada (1949 - 2006) ................. 183 Gráfico 5.1 – Curva de Crescimento da Marcopolo entre 1981 e 2006 ...................... 251 Gráfico 7.1 - Produção Brasileira de Veículos (1957-2005) ....................................... 271 Gráfico 7.2 – Produção Mundial de Ônibus (1997-2005) .......................................... 275 Gráfico 7.3 – Produção Mundial de Ônibus por País (1997-2005) ............................. 276 Gráfico 7.4 – Participação na Produção Mundial de Ônibus por País (2003-2005) .... 278 Gráfico 7.5 – Frota Circulante de Ônibus por Região do Brasil em 2006 ................... 284 Gráfico 7.6 – Produção e Exportação de Carrocerias de Ônibus (1978-2006) ............ 286 Gráfico 7.7 – Evolução da Produção no Brasil das Principais Encarroçadoras de Ônibus

(1971-2006) ...................................................................................................... 290 Gráfico 7.8 – Participação na produção brasileira de ônibus em 2005 e 2006 ............ 291 Gráfico 7.9 – Evolução da Produção no Brasil por Tipo de Carroceria (1971-2006). . 292 Gráfico 7.10 – Comparação da Produção Total de Veículos e Ônibus no Brasil (1957-

2005) ................................................................................................................. 311 Gráfico 7.11 – Comparação do Crescimento (%) Ano a Ano - Veículos vs Ônibus

(1957-2005) ...................................................................................................... 313 Gráfico 7.12 – Evolução da Exportação de Ônibus pelo Brasil (1957-2005) ............. 319 Gráfico 7.13 – Evolução da Produção no Brasil de Carrocerias e Monoblocos (1971-

2006) ................................................................................................................. 321 Gráfico 7.14 – Evolução da Exportação de Carrocerias por Encarroçadora (1996-2006)

.......................................................................................................................... 324 Gráfico 7.15 – Participação da Exportação na Produção das Encarroçadora (1996-2006)

.......................................................................................................................... 326 Gráfico 7.16 – Evolução da Produção e Market Share da Marcopolo na década de 1970

.......................................................................................................................... 358

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Gráfico 7.17 – Evolução da Produção e Market Share da Marcopolo na década de 1980 .......................................................................................................................... 360

Gráfico 7.18 – Evolução do Market Share por Segmento de Ônibus da Marcopolo de 1983 a 2006 ....................................................................................................... 383

Gráfico 7.19 – Participação dos Mercados Interno e Externo na Receita da Marcopolo .......................................................................................................................... 387

Gráfico 7.20 – Número de Funcionários da Marcopolo (Controladora) entre 1988 e 2005 .................................................................................................................. 393

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Efeitos do Tamanho Organizacional no Sucesso de Longo Prazo............... 2 Figura 1.2 – Participação Acionária do Grupo Marcopolo em 2006 ............................... 7 Figura 2.1 – Estrutura Geral do Motor de Crescimento Contínuo ................................ 27 Figura 2.2 – Estrutura Geral Motor de Co-evolução de Todo e Partes.......................... 30 Figura 2.3 – Contínuo de Estados Organizacionais ...................................................... 33 Figura 2.4 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à Auto-

Perpetuação ......................................................................................................... 48 Figura 4.1 – Marcopolo no Mundo em 2007................................................................ 77 Figura 4.2 – Esquema de Desenvolvimento de uma First Mover ................................. 80 Figura 4.3 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à Auto-

Perpetuação ......................................................................................................... 83 Figura 7.1 – Ônibus do tipo "mamãe me leva" construído pela Grassi ....................... 299 Figura 7.2 – Marcopolo no Mundo em 2007.............................................................. 394

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Os Cinco Desafios Organizacionais ........................................................ 32 Tabela 2.2 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais. .............................. 39 Tabela 3.1 – Situações Relevantes para Diferentes Estratégias de Pesquisa ................. 52 Tabela 3.2 – Entrevistas Realizadas Durante a Visita na Sede da Marcopolo ............... 57 Tabela 3.3 – Lista de Classificações para Análise ........................................................ 66 Tabela 3.4 – Planilha para Análise de Entrevistas ........................................................ 67 Tabela 3.5 – Tipo de Resposta aos Desafios do Crescimento ....................................... 69 Tabela 3.6 – Quadro de Análise das Fases da Marcopolo por Desafio de Crescimento 71 Tabela 4.1 – Características dos Investimentos Necessários ........................................ 81 Tabela 4.2 – Produção de Ônibus da Marcopolo ao longo das 3 .................................. 86 Tabela 4.3 – Sócios Fundadores da Nicola & Cia ........................................................ 90 Tabela 4.4 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1949 e 1967 ...................... 93 Tabela 4.5 – Resumo das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase I) ........ 102 Tabela 4.6 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais ............................. 103 Tabela 4.7 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus

stakeholders entre 1949 e 1967.......................................................................... 107 Tabela 4.8 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase I) 112 Tabela 4.9 – Resumo das Respostas ao Desafio da Gestão da Diversidade (Fase I) ... 117 Tabela 4.10 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais

(Fase I) .............................................................................................................. 124 Tabela 4.11 – Resumo das Respostas ao Desafio da Gestão da Complexidade (Fase I)

.......................................................................................................................... 127 Tabela 4.12 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1968 e 1986 .................. 133 Tabela 4.13 – Resumo das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase II) ..... 146 Tabela 4.14 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus

stakeholders entre 1968 e 1986.......................................................................... 153 Tabela 4.15 – Certificados, Diplomas e Prêmios entre 1967 e 1986 ........................... 156 Tabela 4.16 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase II)

.......................................................................................................................... 159 Tabela 4.17 – Resumo das Respostas ao Desafio da Diversidade (Fase II) ................ 163 Tabela 4.18 – Diretoria da Marcopolo entre 1969 e 1980 .......................................... 166 Tabela 4.19 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais

(Fase II) ............................................................................................................ 171 Tabela 4.20 – Resumo das Respostas ao Desafio da Complexidade (Fase II) ............. 175 Tabela 4.21 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1987 e 1999 .................. 184 Tabela 4.22 – Resumo das Respostas ao Desafio da Empreendedorismo (Fase III) .... 196 Tabela 4.23 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus

stakeholders entre 1986 e 2006.......................................................................... 204 Tabela 4.24 – Certificados, Diplomas e Prêmios entre 1987 e 1999 ........................... 209 Tabela 4.25 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase III)

.......................................................................................................................... 211 Tabela 4.26 – Resumo das Respostas ao Desafio da Diversidade (Fase III) ............... 218 Tabela 4.27 – Alguns Números Referentes aos Treinamentos Realizados pela

Marcopolo entre 1995 e 2006 ............................................................................ 225 Tabela 4.28 – Lista de Funcionários da Marcopolo com Elevado Tempo de Casa ..... 229

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Tabela 4.29 – Quadro de Pessoal e Índice de Rotatividade entre 2000 e 2006 ............ 230 Tabela 4.30 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais

(Fase III) ........................................................................................................... 231 Tabela 4.31 – Dados Relativos à Atuação dos Grupos de Melhoria (1987 – 1997)..... 234 Tabela 4.32 – Alguns Indicadores de Produção e Emprego (1987 – 1997) ................. 235 Tabela 4.33 – Resumo das Respostas ao Desafio da Complexidade (Fase III) ........... 240 Tabela 5.1 – Resumo das Respostas da Marcopolo aos Desafios de Crescimento ...... 243 Tabela 7.1 – Produção Total de Veículos por País em 2005 ....................................... 269 Tabela 7.2 – Produção Total de Veículos por Fabricante em 2005 ............................. 270 Tabela 7.3 – Produção Acumulada de Veículos (1957-2005)..................................... 272 Tabela 7.4 – Produção Mundial de Ônibus por Fabricante e País em 2005 ................ 282 Tabela 7.5 – Empresas Associadas à Fabus em 2006 ................................................. 288 Tabela 7.6 – Evolução do market share das encarroçadoras por segmento de ônibus . 295 Tabela 7.7 – Data de vigência e índices determinados para a nacionalização de

caminhões ......................................................................................................... 309 Tabela 7.8 – Exportação de Ônibus Brasileiros por Continente de Destino (2003 – 2004)

.......................................................................................................................... 327 Tabela 7.9 – Alguns Países onde a Marcopolo exportou através de CKD/MKD ........ 357 Tabela 7.10 – Produção da Marcopolo Minas S.A. entre 1981 e 1984 ....................... 363 Tabela 7.11 – Freqüência das falas por Desafio e Período ......................................... 396 Tabela 7.12 – Análise das Entrevistas ....................................................................... 396 Tabela 8.1 – PIB, Receita Líquida e Lucro Líquido da Marcopolo (1981 – 2006) ...... 515 Tabela 8.2 - Produção de Veículos no Brasil de 1957 a 2005 ..................................... 516 Tabela 8.3 - Lista dos Ex-Presidentes da Fabus (em ordem cronológica) ................... 521 Tabela 8.4 – Evolução do Market Share das encarroçadoras por segmento de ônibus

(1971 – 2006) .................................................................................................... 522 Tabela 8.5 – Exportação de Autoveículos por Segmento pelo Brasil (1961 – 2005) ... 523 Tabela 8.6 – Exportação de Carrocerias de Ônibus por Encarroçadora e Categoria (1996

– 2006) .............................................................................................................. 524 Tabela 8.7 – Exportação de Autoveículos Brasileiros por País de Destino – Continentes:

América do Sul, América Central, América do Norte, Europa, África, Ásia e Oceania (2003 – 2004) ...................................................................................... 525

Lista de Equações

Equação 3.1 – Indicador de Tamanho de uma Firma ................................................... 63 Equação 3.2 – Indicador de Desempenho de uma Firma .............................................. 64

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres

ABRATI – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros

ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

BACEN – Banco Central do Brasil

BEFIEX – Programa de Benefícios Especiais para o Financiamento às Exportações

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito

CDC – Crédito Direto ao Consumidor

CDI – Conselho de Desenvolvimento Industrial

CKD – Completely Knocked Down

CSN – Companhia Siderúrgica Nacional

CTG – Centro de Tradições Gaúchas

FABUS – Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus

FAN – Fundação Assistencial Nicola

FENABRAVE – Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores

FNM – Fábrica Nacional de Motores

GAN – Grêmio Atlético Nicola

GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística

GEIMEC – Grupo Executivo da Indústria Mecânica

GEIMOT – Grupo Executivo da Indústria Automotora

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MKD – Medium Knocked Down

NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos

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OICA – Organisation Internationale des Constructeurs d'Automobiles

PIB – Produto Interno Bruto

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SIMEFRE – Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários

SIMPS – Sistema Integrado Marcopolo de Produção Solidária

SINDIPEÇAS – Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos

SUMAM – Sugestões de Melhoramentos no Ambiente Marcopolo

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1

1.1. Breve Apresentação da Marcopolo ...................................................... 3

1.2. Objetivo do Estudo ............................................................................... 9

1.3. Contribuições do Estudo .................................................................... 10

1.4. Organização do Estudo ...................................................................... 12

2. Revisão de Literatura ......................................................................... 13

2.1. A Firma .............................................................................................. 15

2.2. Crescimento e Sucesso ..................................................................... 17

2.3. Os Motores de Crescimento .............................................................. 24

2.3.1. Motor de Crescimento Contínuo ................................................. 25 2.3.2. Motor de Co-evolução ................................................................. 28

2.4. Arquétipos de Sucesso e Fracasso Organizacional ........................... 30

2.4.1. Empreendedorismo ..................................................................... 34 2.4.2. Navegação no Ambiente ............................................................. 38 2.4.3. Gestão da Diversidade ............................................................... 40 2.4.4. Formação de Recursos Gerenciais ............................................. 43 2.4.5. Gestão da Complexidade ........................................................... 44

2.5. Modelo de Requisitos para o Desenvolvimento da Propensão a

Autoperpetuação Organizacional .................................................................. 46

3. Metodologia ....................................................................................... 49

3.1. Definição do Site e do Tema .............................................................. 49

3.2. Método de Pesquisa .......................................................................... 51

3.3. Coleta de Dados ................................................................................ 53

3.3.1. Dados Secundários ..................................................................... 53 3.3.2. Visita à Marcopolo ...................................................................... 56

3.4. Análise dos Dados ............................................................................. 61

3.4.1. Indicadores de Tamanho e Desempenho ................................... 63 3.4.2. Análise das Entrevistas e Ferramental Utilizado ......................... 65 3.4.3. Sumarização das Respostas aos Desafios por Fases ................ 70

4. Análise da Trajetória .......................................................................... 73

4.1. Fase 1 – Os Primeiros Anos: 1949 a 1967 ........................................ 86

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4.1.1. Desafios do Empreendedorismo ................................................. 87 4.1.2. Desafios da Navegação no Ambiente ....................................... 102 4.1.3. Desafios da Gestão da Diversidade .......................................... 112 4.1.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais ....................... 118 4.1.5. Desafios da Gestão da Complexidade ...................................... 124

4.2. Fase 2 – As Primeiras Expansões: 1968 a 1986 ............................. 128

4.2.1. Desafios do Empreendedorismo ............................................... 129 4.2.2. Desafios da Navegação no Ambiente ....................................... 146 4.2.3. Desafios da Gestão da Diversidade .......................................... 159 4.2.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais ....................... 164 4.2.5. Desafios da Gestão da Complexidade ...................................... 171

4.3. Fase 3 – As Técnicas Japonesas e a Internacionalização: 1987 a 2006

176

4.3.1. Desafios do Empreendedorismo ............................................... 177 4.3.2. Desafios da Navegação no Ambiente ....................................... 196 4.3.3. Desafios da Gestão da Diversidade .......................................... 212 4.3.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais ....................... 218 4.3.5. Desafios da Gestão da Complexidade ...................................... 232

5. CONCLUSÃO .................................................................................. 241

5.1. Conclusões gerais............................................................................ 241

5.2. Sugestões para pesquisas futuras ................................................... 249

6. REFERÊNCIAS................................................................................ 253

7. APÊNDICES .................................................................................... 265

7.1. A Indústria Automobilística ............................................................... 265

7.1.1. Indústria de Ônibus Mundial ..................................................... 275 7.1.2. Indústria de Ônibus no Brasil .................................................... 283 7.1.3. A História da Indústria ............................................................... 296 7.1.3.1 Os Primórdios do Ônibus ...................................................... 297 7.1.3.2 Surgimento da Indústria de Autopeças ................................. 302 7.1.3.3 A Formação da Indústria Automobilística .............................. 305 7.1.3.4 A Evolução da Indústria de Ônibus ....................................... 314

7.2. A História da Marcopolo ................................................................... 330

7.2.1. Fase 1: De 1949 a 1970 – Os primeiros passos ....................... 331 7.2.2. Fase 2: De 1971 a 1980 – A 1ª Expansão ................................ 350 7.2.3. Fase 3: De 1981 a 1990 – Os Piores Anos e a Onda de Diversificação .......................................................................................... 359 7.2.4. Fase 4: De 1991 a 2006 – A Internacionalização ..................... 373

7.3. Análise das Entrevistas .................................................................... 396

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xvi

8. ANEXOS .......................................................................................... 515

8.1. PIB, Receita Líquida e Lucro Líquido da Marcopolo (1981 – 2006) . 515

8.2. Produção de Veículos no Brasil de 1957 a 2005 ............................. 516

8.3. Classificação por Tipo de Carroceria e/ou Serviço .......................... 517

8.4. Encarroçadoras fundadoras da Fabus ............................................. 520

8.5. Lista dos Ex-Presidentes da Fabus (em ordem cronológica) ........... 521

8.6. Evolução do Market Share das Encarroçadoras por Segmento de

Ônibus (1971-2006) .................................................................................... 522

8.7. Exportação de Autoveículos por Segmento pelo Brasil (1961 – 2005)

523

8.8. Exportação de Carrocerias de Ônibus por Encarroçadora e Categoria

(1996 – 2006) ............................................................................................. 524

8.9. Exportação de Autoveículos Brasileiros por País de Destino –

Continentes: América do Sul, América Central, América do Norte, Europa,

África, Ásia e Oceania (2003 – 2004) ......................................................... 525

8.10. Diretoria da Marcopolo no período de 1949 a 1998 ......................... 527

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1

1. INTRODUÇÃO

A literatura em geral sugere que tamanho seja um dos principais

indicadores de sucesso para avaliar e comparar as organizações. É válido dizer

também, que o tamanho está intimamente ligado com a questão do crescimento,

que nada mais é que a mudança de tamanho da organização ao longo do tempo.

De fato, o tamanho constitui uma importante medida de referência, pois, de

maneira geral, quanto maior o porte da organização, maiores são suas

possibilidades de aproveitar as oportunidades existentes no ambiente, e também

maiores são as chances da empresa em levantar fundos, aprovisionar recursos

gerenciais, neutralizar as ameaças do ambiente entre outros.

No entanto, o tamanho também produz efeitos colaterais. Inspirado no

framework proposto por Fleck (2007), o qual relaciona institucionalização

organizacional e sucesso organizacional de longo prazo, buscou-se, por analogia,

relacionar tamanho organizacional e sucesso organizacional de longo prazo. A

Figura 1.1 ilustra tal relação.

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2

Figura 1.1 – Efeitos do Tamanho Organizacional no Sucesso de Longo Prazo

Fonte: Fleck (2007)

Nota-se a presença de uma série de pontos negativos – como rigidez,

inércia e resistência à mudança – associados ao tamanho da organização. À

medida que a empresa cresce e ganha estabilidade, ela tende a perder

flexibilidade, porque a estabilidade dá lugar a hábitos que tornam difícil a

implementação de mudanças administrativas (Selznick, 1957).

Posto isso, a presente dissertação tem o objetivo de investigar a seguinte

questão:

Quais desafios enfrentam as organizações e como lidam com eles

para superar os efeitos colaterais ocasionados pela mudança positiva em

seu tamanho ao longo de suas trajetórias, para se manterem firmes em

direção à longevidade saudável?

Existência Continuada da Organização

Tamanho da Organização

Sucesso Organizacional de

longo prazo

Renovação Organizacional

CN

CN

CN: Condição Necessária

+

-

Estabilidade & Permanência

Rigidez & Resistência a

mudança

Existência Continuada da Organização

Tamanho da Organização

Sucesso Organizacional de

longo prazo

Renovação Organizacional

CN

CN

CN: Condição Necessária

+

-

Estabilidade & Permanência

Rigidez & Resistência a

mudança

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3

Para tal, a Marcopolo foi selecionada como objeto de estudo desta

dissertação, pois se trata da maior encarroçadora de ônibus do Brasil e uma das

maiores do mundo. Outros fatores que influenciaram a escolha da Marcopolo

como objeto de estudo serão apresentados no capítulo de metodologia.

1.1. Breve Apresentação da Marcopolo

A Marcopolo é uma empresa brasileira com sede em Caxias do Sul (RS) e

atua no segmento de carrocerias de ônibus desde 1949. Ao longo desse período a

indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo.

No entanto, nesse mesmo período, diversas foram as empresas que não

resistiram às mudanças da economia, a concorrência do mercado e fecharam as

portas.

A Marcopolo não foi a primeira encarroçadora de ônibus a funcionar no

Brasil, muito menos iniciou sua trajetória liderando o setor no qual esteve inserida.

Seu domínio na indústria de carrocerias de ônibus só foi ocorrer anos após sua

entrada nesse negócio. Segundo Chandler (1990), as empresas “first movers” são

aquelas que passam a dominar de forma rápida os setores onde atuam e nesta

posição se mantém durante décadas. Na visão de Chandler (1990), as empresas

“first movers”, assim são denominadas, pois investem primeiro em:

• Marketing e distribuição no nível nacional e internacional;

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4

• Capacidade produtiva;

• No recrutamento de pessoas para integrar os níveis de baixa, média e alta

gerência.

Desde 1989, quando superou a Caio-Induscar (antiga Caio), a Marcopolo

se mantém como a maior fabricante de carrocerias no Brasil. Ao longo da década

de 1990, a Marcopolo se solidificou, também, como uma das maiores fabricantes

de carrocerias de ônibus do mundo. Nos últimos anos, a Marcopolo passou a

atuar, também, nos segmentos de LCV (Veículos Comerciais Leves), e peças e

componentes e no de produtos plásticos.

Em 2006, a Marcopolo era a 231ª maior companhia em faturamento no

Brasil de acordo com a publicação Melhores & Maiores da Revista Exame. O

Gráfico 1.1 apresenta as posições obtidas pela Marcopolo desde 1976 – ano

quando obteve sua primeira aparição. Nos anos que não apresentam dados, a

empresa não foi listada pela publicação.

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5

Gráfico 1.1 – Evolução da Posição da Marcopolo no Ranking Melhores & Maiores (Exame)

Fonte: Revista Exame - Melhores & Maiores entre 1976 e 2006

As exportações da Marcopolo foram iniciadas em 1961, mas foi a partir de

1991, quando a empresa inaugurou sua primeira fábrica no exterior, que o

processo de internacionalização ganhou importância dentro da empresa.

Em 2006, a fabricação de ônibus era executada em oito unidades fabris,

sendo três no Brasil e cinco no exterior - duas fábricas estavam localizadas em

Caxias do Sul (RS), uma em Duque de Caxias (RJ) e uma no México, Colômbia,

Portugal, África do Sul e Argentina, esta última desativada. Em 2007, a empresa

contava com fábricas em construção na Rússia e na China.

A Marcopolo possui em São José dos Pinhais (PR) a controlada MVC -

Componentes Plásticos Ltda., produtora de componentes plásticos de alta

tecnologia, com duas unidades fabris no Brasil e uma no México. A Companhia

231

188

227

339

268300

280255

318

235215

186

232 223 230

285

355

444

401

512

457

492511

522547

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

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6

detém, também, o controle integral do Banco Moneo, unidade que suporta o

financiamento dos produtos Marcopolo.

De acordo com a publicação Valor Grandes Grupos 2007 – 200 maiores

Grupos, do Jornal Valor Econômico, o Grupo Marcopolo era o 120º maior grupo

brasileiro em 31 de dezembro de 2006, com receita bruta de R$ 2.034,3 milhões

em 2006. De acordo com a publicação de 2006, a participação societária do grupo

seguia a estrutura apresentada na Figura 1.2, na qual se nota que os Srs. Paulo

Bellini, José Martins e Valter Pinto detinham 52,08% do controle acionário.

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7

Figura 1.2 – Participação Acionária do Grupo Marcopolo em 2006

Fonte: Valor Grandes Grupos – Edição 2006

Investidores Pessoas Físicas

(Bellini)

52,08%

Partibell Part. e Adm. Ltda

7,96%

15,20%

99,99%

Fundos FRTem. ValorLíq. II FIA

Centrus

17,92% Outros

6,84%

Marcopolo S.A.

100%

Investidores Pessoas Físicas

(Bellini e Outros)*

99,99% 99% 99,99%

Marcopolo Trading S.A.

Ciferal Ind. de Ônibus Ltda.

Polo Serviços em Plásticos Ltda.

Syncroparts Com. e Distrib. de Peças Ltda.

100% 99,99% 99,99% 40%

MoneoInvestimentos

S.A.

MVC Componentes Plásticos Ltda.

Marcopolo Latinoamerica S.A

SpherosClimatizacao do

Brasil S.A.

100% 99.99% 100%

Banco MoneoS.A.

PoloplastComponentes S.A. de C.V.

Marcopolo Intl. Corp.

Marcopolo Ind. de Carrocerias

Ltda.100%

Polomex S.A. de C.V.

Ilmot Intl. Corp. S.A.

Superpolo S.A.Laureano S.A.Marcopolo South

Africa Pty Ltd.

3,61% 100%

70,39%

99,99% 100% 50%

Data do organograma: out/06. *Paulo Pedro Bellini (28,83%), José Antônio Martins (12,28%) e Valter Antônio Gomes Pinto (10,97%).

Investidores Pessoas Físicas

(Bellini)

52,08%

Partibell Part. e Adm. Ltda

7,96%

15,20%

99,99%

Fundos FRTem. ValorLíq. II FIA

Centrus

17,92% Outros

6,84%

Marcopolo S.A.

100%

Investidores Pessoas Físicas

(Bellini e Outros)*

99,99% 99% 99,99%

Marcopolo Trading S.A.

Ciferal Ind. de Ônibus Ltda.

Polo Serviços em Plásticos Ltda.

Syncroparts Com. e Distrib. de Peças Ltda.

100% 99,99% 99,99% 40%

MoneoInvestimentos

S.A.

MVC Componentes Plásticos Ltda.

Marcopolo Latinoamerica S.A

SpherosClimatizacao do

Brasil S.A.

100% 99.99% 100%

Banco MoneoS.A.

PoloplastComponentes S.A. de C.V.

Marcopolo Intl. Corp.

Marcopolo Ind. de Carrocerias

Ltda.100%

Polomex S.A. de C.V.

Ilmot Intl. Corp. S.A.

Superpolo S.A.Laureano S.A.Marcopolo South

Africa Pty Ltd.

3,61% 100%

70,39%

99,99% 100% 50%

Data do organograma: out/06. *Paulo Pedro Bellini (28,83%), José Antônio Martins (12,28%) e Valter Antônio Gomes Pinto (10,97%).

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Em 2006, a capacidade de produção no mundo era de cerca de 110

ônibus/dia, o que a colocava na liderança do mercado brasileiro em seu ramo de

atividade e como uma das maiores fabricantes internacionais. De sua fundação

até 2006, a Marcopolo acumulou uma produção de aproximadamente 176 mil

unidades, que podem ser encontradas no Brasil e em mais de 100 países

(Relatório de Administração 2006).

Em 2006, a Marcopolo foi responsável por aproximadamente 39,0% da

produção brasileira e 44,9% quando são incluídos os miniônibus do tipo Volare.

Tamanha produção correspondeu a aproximadamente 6,5% da fabricação mundial

em 2006 (Relatório de Administração 2006).

No entanto, como se pode observar no Gráfico 1.2, desde 2002, ano em

que alcançou sua maior participação na produção brasileira de ônibus, a

participação da Marcopolo vem reduzindo. Nos últimos anos, novos fabricantes

surgiram estimulados principalmente pelo crescimento da demanda interna e a

perspectiva de conquistar mercados no exterior, o que elevou a capacidade

instalada no setor e acirrou a competição com as encarroçadoras tradicionais.

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9

Gráfico 1.2 – Evolução do Market Share da Marcopolo na Produção Brasileira de Carrocerias de Ônibus

Evolução Market Share da Marcopolo na Produção Brasileira

38.05%

42.39%

48.70%

35.50%36.40%

25.50%27.90%

29.90%28.06%28.51%

31.5%30.3%

28.8%

32.7%

37.3%38.7%

43.4%46.0% 45.3%

49.8%47.0%

45.8%

42.8%

39.2%

1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Fonte: Relatórios Anuais de 1983 a 2006

1.2. Objetivo do Estudo

Quando se considera a origem da Marcopolo, numa pequena cidade do

interior do Rio Grande do Sul, a trajetória de crescimento da empresa e a

sustentabilidade do seu desempenho ao longo do tempo tornam a história da

empresa ainda mais instigante para investigação. Como já mencionado a

Marcopolo é maior encarroçadora de ônibus brasileira, uma das maiores do

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10

mundo e com fábricas espalhadas por quatro continentes (Américas, Europa,

África e Ásia).

Não só atingir, bem como manter uma operação desse porte é algo que

gera algumas reflexões. Afinal, como já mencionado, a Marcopolo não só assumiu

a liderança nacional da indústria de carrocerias de ônibus, como também,

despontou como uma das maiores fabricantes do planeta.

Em virtude disso, a presente dissertação se apóia na história da Marcopolo

com o objetivo de investigar em que medida a empresa driblou os efeitos

colaterais do tamanho que foi assumindo, e de que forma tem desenvolvido

capacitações organizações em direção a longevidade saudável.

1.3. Contribuições do Estudo

Segundo Bethlem (1996), no Brasil não existe um grupo de profissionais

que se dedicam a estudar a histórias das empresas brasileiras e dos setores

econômicos nos quais elas estão inseridas. A partir disso, esse trabalho é mais

um tijolo para a formação de um acervo de trabalhos históricos sobre empresas

brasileiras, sendo também um trabalho de pesquisa sobre as indústrias

automobilística e de carrocerias de ônibus, e principalmente sobre a história dos

59 anos da Marcopolo.

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11

Bethlem (1999) defende, ainda, que no Brasil faltam modelos teóricos que

possam ser aplicados à realidade do País. Em linha com isso, o presente trabalho

também contribui para reforçar o arcabouço teórico desenvolvido por Fleck (2006)

para avaliação da longevidade em empresas brasileiras.

Uma questão chave dos estudos de Fleck (2006) é diferenciar mera

sobrevivência de sobrevivência saudável. Para a autora, a sobrevivência saudável

é a capacidade da firma se autoperpetuar, por meio de crescimento contínuo e da

existência continuada.

Esta dissertação, assim como outras que se baseiam no conceito de

sucesso e longevidade saudável proposto por Fleck (2006), busca investigar como

e por que algumas empresas atingem o sucesso, ou crescimento contínuo e a

existência continuada, enquanto outras fraquejam e acabam sucumbindo ao longo

do tempo.

Analisar a trajetória percorrida por uma empresa, principalmente uma firma

brasileira do porte da Marcopolo, oferece elementos que contribuem para a

construção de uma teoria que contemple questões em debate no mundo

acadêmico e corporativo, como crescimento, longevidade saudável e perpetuidade

de empresas.

Por fim, espera-se para a Marcopolo que o estudo contribua na promoção

de um debate sobre o grau de conhecimento que a empresa detém sobre sua

história, seus valores, seu caráter e quanto isso poderá acarretar em mudanças

dentro da empresa.

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12

1.4. Organização do Estudo

O presente estudo está organizado em seis capítulos. Este capítulo inicial

introduz o estudo, explicita seu objetivo e as contribuições esperadas, e informa a

estrutura empregada. No segundo capítulo é apresentado o referencial teórico

utilizado para a fundamentação da pesquisa. Tal arcabouço tem como alicerce os

arquétipos do sucesso e do fracasso organizacional (Fleck, 2006). Há, também,

referência a diversos outros estudos, como Fleck (2003), Penrose (1980),

Chandler (1962, 1977, 1990 e 1992), Selznick (1957) e Oliver (1991 e 1992), por

se tratarem da base conceitual dos arquétipos.

O terceiro capítulo traz a metodologia empregada, o processo de coleta de

dados, o detalhamento da visita realizada na Marcopolo bem como das entrevistas

realizadas, e a metodologia de análise dos dados obtidos. O quarto capítulo é a

análise da trajetória da Marcopolo, dividida em três fases, sob a luz do arcabouço

teórico oferecido por Fleck (2006).

O quinto capítulo conclui a pesquisa, sintetizando o resultado da análise da

trajetória da Marcopolo, e aponta, também, algumas limitações e sugestões para

estudos futuros. Nos apêndices 7.1 e 7.2 podem ser encontradas, com maior

detalhamento, as histórias da indústria de ônibus no Brasil e da Marcopolo.

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13

2. Revisão de Literatura

Quem se interessa por estudos organizacionais, provavelmente acredita

que é na estratégia onde moram as respostas para uma série de perguntas e,

principalmente, a solução para todos os problemas. No entanto, antes de pensar

quais seriam estas principais inquietudes, o que, afinal, seria estratégia?

Sem dúvida, há uma vasta literatura que se apropriou deste termo e tem

contribuído com os mais variados significados. Em linha com isso, Mintzberg

(1987) disse a palavra estratégia tem sido utilizada implicitamente de maneiras

diferentes, mesmo tendo seu significado formalmente definido de apenas uma

forma. Alguns autores, como Ansoff (1965) e Christensen, Andrews & Bower

(1974), há mais de três décadas já davam as primeiras pinceladas sobre o

assunto.

No entanto, não é o objetivo aqui explorar todas suas definições, muito

menos chegar a um consenso sobre o que, afinal, significa estratégia. Assim,

vamos utilizar a definição dada por Chandler em seu livro Strategy and Structure

(1962). Segundo Chandler (1962), as decisões estratégicas estão relacionadas

com a saúde da firma, no horizonte longo prazo. Uma estratégia estruturada seria,

então, a determinação das metas e objetivos básicos no longo prazo, como

também a adoção de um plano de ação e a alocação dos recursos necessários

para se atingir tais metas estipuladas.

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Já o termo estrutura foi definido como o desenho da organização pelo qual

cada empresa é administrada (Chandler, 1962). O desenho para autor, seja formal

ou informalmente definido, apresenta dois aspectos importantes: as linhas de

autoridade entre os escritórios administrativos e os chefes; e o conjunto de

informação e dados que circulam pelas linhas de comunicação e autoridade. Em

outro extremo encontra-se Mintzberg (1985), que acredita que a estratégia pode

surgir de duas formas – deliberada, como a proposta por Chandler (1962), e

também, emergente.

Define-se como estratégia deliberada a existência de intenções precisas na

organização, articuladas em um nível concreto de detalhe, pela qual se evita

qualquer tipo de dúvida no que se deseja alcançar antes que alguma ação seja

tomada (Mintzberg, 1985). Por outro lado, uma estratégia emergente é aquela

que se opõe a estratégia deliberada. Ou seja, em uma estratégia emergente deve

existir ordem, ou seja, consistência ao longo do tempo, porém ausência de

intenção em alcançar algo (Mintzberg, 1985).

Dessa forma, qual seria o principal objetivo da estratégia, seja ela

deliberada ou emergente? Segundo Porter (1991) a questão central da estratégia

possivelmente seja identificar as razões pelas quais as firmas têm sucesso ou

fracasso. Mas antes, para entender o que leva uma firma ao sucesso, é primordial

entender quais são os objetivos da firma, e se sucesso seria, portanto, a conquista

de tais objetivos.

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15

2.1. A Firma

Segundo Coase (1993), o objetivo básico da firma de acordo com a teoria

econômica é a maximização dos seus resultados por meio da realização de sua

atividade produtiva. No entanto, para o autor, alguns questionamentos surgem a

partir da fragilidade que envolve a teoria das firmas sob uma perspectiva

econômica. Um dos objetivos dos estudos de Coase (1993) é justamente criar

uma ponte entre a lacuna existente da teoria econômica, onde a alocação de

fatores é determinada pelos mecanismos de preços, com a idéia de que a

alocação depende da coordenação do empreendedor.

Para tratar o objetivo das organizações, Cyert & March (1963) apresentou o

termo coalizão de indivíduos. Em organizações de negócios, como exemplificado

pelo autor, os membros de coalizão podem incluir gerentes, trabalhadores,

acionistas, fornecedores, clientes, advogados, agências regulatórias e etc. Para

Cyert & March (1963), desenhar os limites de uma coalizão organizacional de

imediato é muito difícil, já que as regiões de análise podem ser diversas

dependendo das variáveis funcionais ou temporais.

Segundo Cyert & March (1963) nenhuma das duas soluções econômicas

clássicas ao problema dos objetivos da organização – objetivos definidos por um

empreendedor ou consensual – são inteiramente felizes em explicar os objetivos

das organizações, pois eliminam o conflito (por meio de consenso) que

naturalmente existe.

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16

Neste trabalho são levantadas três maneiras pelas quais os objetivos de

coalizão são determinados: o processo de negociação pelo qual a composição e

os termos gerais de coalizão são fixados, o processo organizacional interno de

controle pelos quais os objetivos são estabilizados e elaborados e o processo de

ajustamento de acordo com a experiência que os acordos de coalizão são

alterados em resposta às mudanças do ambiente (Cyert & March, 1963).

Segundo Barnard (1938), uma organização, simples ou complexa, é

sempre um sistema impessoal de esforços humanos coordenados e estas

pessoas devem: ser capazes de se comunicar entre si, estar dispostas a contribuir

e ter um propósito em comum. Segundo Barnard (1938), a combinação destes três

elementos é necessária e suficiente para o surgimento das firmas.

Para Barnard (1938), uma vez estabelecidas, as organizações mudam o

propósito que a une. Elas tendem a se perpetuar; e no desejo de sobreviver

podem mudar as razões para existência. Dessa forma, estabelecer objetivos se

torna um processo ininterrupto dentro da firma, e caso a empresa não alcance seu

objetivo e seja incapaz de determinar novos objetivos, ela caminhará em direção

ao fracasso (Barnard, 1938).

Para Penrose (1980), a firma é uma organização administrativa e uma

coleção de recursos produtivos. Seu principal propósito é organizar o uso dos

seus recursos junto com os recursos adquiridos externamente, para a produção e

venda de bens e serviços com lucro. Para Penrose (1980) a lucratividade não é

um benefício que se restringe aos donos das empresas. A autora acredita que

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através da retenção de maiores lucros, os gestores passam a ganhar maiores

salários, bônus, como também, ter maior poder.

Para Doyle (1994), alto desempenho não é atingir resultados excepcionais

em uma ou duas medidas, mas sim obter resultados satisfatórios em critérios

variados. Para ele as firmas geralmente focam em uma ou duas medidas de

desempenho, como lucro por ação ou crescimento, o que não é sustentável ao

longo do tempo. Para alcançar o sucesso, Bethlem (1998) destaca que a empresa

deve almejar lucro, crescimento, sobrevivência e prestígio.

2.2. Crescimento e Sucesso

Dentro os diversos indicadores de sucesso organizacional, o objetivo de

crescer talvez seja o mais comum. Para Sloan (1990), ex-presidente da General

Motors, não existe um lugar para descanso para uma empresa em uma economia

competitiva. Para Sloan (1990), crescimento e progresso estão intimamente

relacionados. E o progresso não pode ter um teto. Ele acredita que crescimento e

a luta por ele são essenciais para a boa saúde da empresa.

Quando era presidente da GM, ele não fazia previsões do tamanho da GM

ou impunha tamanho como objetivo. Na visão de Sloan (1990), parar o

crescimento é se sufocar. Ele acredita que crescimento não é uma barreira e sim

um problema de gerenciamento.

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De acordo com Tully (1995), outro defensor do crescimento é Larry

Bossidy, ex número 2 na hierarquia da General Eletric. Bossidy prega que a

redução de custos por si só não leva a prosperidade, e acredita que com

economias mais desaceleradas, as companhias têm de encontrar caminhos

alternativos para crescer e sair do sufoco. Bossidy vê dois benefícios principais em

crescer.

O primeiro tem um significado moral, que é capaz de afetar diretamente as

pessoas. É por meio do crescimento que empregos são gerados, os funcionários

são motivados e são atraídos os melhores executivos do mercado (Tully, 1995). O

segundo é que por meio do crescimento que os números das empresas são

direcionados, pois se ganha escala. Segundo Bossidy, a lucratividade só aumenta

com eficiência, que por sua vez fornece a matéria-prima para o crescimento (Tully,

1995).

Nessa linha, Starbuck (1965) defende que crescimento é mais um meio

para se alcançar outros objetivos que um fim por si só. Entre alguns objetivos que

podem ser alcançados por meio do crescimento o autor destaca, com base em

estudos empíricos, a realização pessoal, aventura, prestígio, aumento de salário

dos executivos, o lucro, redução do custo unitário, aumento de receita, aumento

do poder monopolista, estabilidade, sobrevivência, etc.

Para Starbuck (1965) o crescimento da firma não é um processo

espontâneo. Ele é conseqüência de conjunto de decisões, que pode compreender

decisões de contratar, de não despedir, de aumentar a produção em resposta à

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demanda, de estimular a demanda, etc. Uma forma de medir o crescimento para

Starbuck (1965) é através do número de funcionários da empresa. Isso não

implica que as organizações e seus membros são racionais. Para Starbuck (1965)

o crescimento pode até funcionar contrário aos interesses de alguns, ou até

mesmo a maioria dos membros da organização.

Outra forma de medir crescimento é proposta por Fleck (2006). Em seu

estudo que comparou as trajetórias de crescimento das rivais General Eletric e

Westinghouse, Fleck desenvolveu um indicador de tamanho da firma que funciona

como uma medida relativa. Este indicador de tamanho é bem adequado a firmas

diversificadas, pois compara a firma com a economia inteira e é calculado como

uma porcentagem do faturamento da firma em relação ao PIB de seu país de

origem.

Outro ponto que deve ser levado em consideração é o horizonte de tempo

que se está analisando. Para Weitzel & Jonsson (1989), é possível que uma

empresa se contraia para, mais tarde, crescer. Dessa forma, crescimento pode

não ser o indicador mais acurado para assinalar sucesso. Fleck (2006) apóia a

afirmação ao salientar que existem empresas que crescem, às vezes por décadas,

mas depois morrem. Para Weitzel e Jonsson (1989), algumas empresas ao

crescerem estão dando seus primeiros passos em direção ao declínio.

Foi tratando de declínio que Weitzel & Jonsson (1989) focaram sua

discussão. Eles fizeram um apanhado geral do trabalho de outros pesquisadores e

definiram que as organizações entram em estado de declínio quando falham em

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antecipar, reconhecer, evitar, neutralizar ou se adaptar às pressões internas ou

externas que ameaçam a sua sobrevivência num longo-prazo. Weitzel & Jonsson

(1989) destacam a necessidade de sensibilidade da organização frente às

condições dos ambientes internos e externos, tanto no presente quanto no futuro.

Para Weitzel & Jonsson (1989), o declínio pode ser entendido como algo

que ocorre em etapas. Por meio de características que podem ser observadas em

vários pontos ao longo de um declínio contínuo, os autores contextualizaram tal

processo e o dividiu em cinco estágios. Segundo Weitzel & Jonsson (1989) as

dificuldades organizacionais de cada estágio dependem da história e do nível de

desenvolvimento de cada organização, como também de sua eficiência em manter

recursos e concluir objetivos em relação a seus competidores.

Segundo Weitzel & Jonsson (1989) o declínio pode ser revertido até o

quinto estágio. Dessa forma, no quinto estágio, já não haveria mais maneiras que

permitissem uma recuperação. Nesse estágio a firma atinge o estado final do

declínio, ou seja, o fracasso. No que tange a sobreviver, Meyer e Zucker (1989)

criaram o conceito de Permanently Failing Organizations, que são organizações

que apesar de constantemente obterem fracos desempenhos, persistem em

existir.

Meyer e Zucker (1989) destacam o risco que a institucionalização pode

trazer para longevidade saudável de uma firma. Nestas firmas que beiram a

falência, os indivíduos persistem em se manterem apáticos, insistindo em

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soluções que evidenciam ineficiência e imediatismo, ao invés de pensarem em

soluções inovadoras e duradouras.

Sull (1999) sugere que o processo de tomada de decisão é diretamente

influenciado pelos métodos utilizados em experiências anteriores. Isto torna a

empresa incapaz de promover transformações radicais, quando colocada diante

de um novo cenário. Dessa forma, Sull (1999) aponta que mesmo as firmas que

tiveram sucesso no passado estão sujeitas às dificuldades de adaptação diante de

um novo ambiente.

Segundo (Teece, Pisano e Shuen, 1997), aquilo que uma empresa é capaz

de fazer costuma estar, até certo ponto, limitado por suas posições e sua trajetória

evolucionária, as quais são responsáveis por moldar as competências e

capacitações dinâmicas que residem nos processos organizacionais da empresa.

Entendido o processo de declínio, voltemos a tratar do sucesso. Segundo

Fleck (2006), o sucesso no longo prazo pose ser encarado como longevidade, e

significa a persistência e alta performance, fruto de um crescimento rentável e da

preservação da integridade. Antevendo a importância que o tema crescimento

ganharia nas corporações, Starbuck, em 1971, afirmou que sem tardar o começo

de uma teoria geral do crescimento aparecerá (Starbuck, 1971 apud Fleck, 2003).

Segundo Starbuck, o assunto crescimento organizacional estava pronto e

precisava desesperadamente de pesquisa empírica sólida e sistemática,

explicando hipóteses e utilizando métodos estatísticos sofisticados. No entanto,

porque uma teoria geral seria necessária?

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Segundo Bunge (1999, p. 115) as principais vantagens em se formular uma

teoria são:

1) A teoria unifica um número de hipóteses previamente dispersas;

2) Tal coalizão torna possível provar (deduzir) certas hipóteses em relação

a outras;

3) Algumas conseqüências podem ser novas, ou seja, desconhecidas até

que a teoria fosse proposta;

4) O suporte mútuo dos componentes de teria torna mais fácil examinar

cada um deles em profundidade em relação aos outros;

5) Cada confirmação de um dos componentes da teoria reforça

indiretamente todos os outros;

6) Cada contra-exemplo de um componente da teoria gera dúvida nos

outros.

Obviamente bem organizados, ou seja, axiomados, as teorias apresentam

todas essas virtudes no mais alto grau (Bunge,1999). Com isso em mente, ao

longo das últimas décadas, para se compreender melhor quais fatores explicam o

comportamento das organizações, teorias sobre crescimento organizacional

(Penrose, 1980; Starbuck, 1971) e sucesso e fracasso organizacional (Fleck,

2006) têm sido desenvolvidas.

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O sucesso organizacional, ao contrário do fracasso, não é simbolizado por

um estágio final (Fleck, 2006). Segundo Chandler (1977) o sucesso é um estado

em potencial no qual se aproxima à medida que a empresa cria uma propensão a

autoperpetuação. Segundo Fleck (2006), as organizações passam por um

processo dinâmico pelo qual a propensão a autoperpetuação pode ser

desenvolvida, aumentada, reduzida ou eliminada.

Muito parecido com o processo de crescimento descrito por Penrose,

(1980), o processo de autoperpetuação não ocorre de forma automática. Para

Chandler (1977), a autoperpetuação tem a ver com a capacidade que a

organização tem de viver sem seus membros. Dessa forma, o autor sugere que

para atingir a autoperpetuação, uma série de mecanismos é exigida à

organização, como, por exemplo, a formação de hierarquias gerenciais (Chandler,

1977, 1999).

Na visão de Fleck (2003) um motivo que contribui para a inexistência de

uma teoria geral do crescimento é a ênfase na investigação de relações causais.

Segundo Fleck (2003, p. 11), a causalidade implica uma relação necessária e

suficiente entre dois eventos, sendo obtida quando condições externas

determinam o resultado de forma única ou não ambígua.

Para Fleck (2003), a teoria em organizações, principalmente no que diz

respeito ao crescimento organizacional, deveria sistematicamente buscar

identificar relações diferentes das causais. Como alternativa, a autora destaca as

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relações de necessidade, que se baseiam em condições necessárias, porém

insuficientes.

2.3. Os Motores de Crescimento

Na tentativa de suplantar algumas limitações de abordagens anteriores e

colaborar para uma teoria de características dinâmicas sobre o crescimento da

firma, Fleck (2003) sugere a partir de um estudo detalhado da obra The Visible

Hand de Chandler (1977), a estrutura geral de dois motores atuantes nos

processos de crescimento. Para tal é adotada uma perspectiva de crescimento

orientada a processo, que visa a identificar cadeias de relações de necessidade

em processos associados ao crescimento da firma.

As duas estruturas propostas por Fleck (2003) foram denominadas de

motor de crescimento de crescimento contínuo e o motor de coevolução. O

primeiro, aponta os blocos que compõem um processo, no qual crescimento gera

mais crescimento. Por sua vez, o motor de coevolução relaciona o crescimento

concomitante de um todo e suas partes, a exemplo de firmas (partes) e indústrias

(todo) emergentes ou indústrias passando por importante processo de

transformação.

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2.3.1. Motor de Crescimento Contínuo

Na visão de Chandler (1977), a capacidade de autoperpetuação da firma

moderna é resultado de dois processos concomitantes: crescimento contínuo e

existência continuada. Pelo processo de crescimento contínuo que novas

oportunidades de expansão e renovação são trazidas a firma. Segundo Chandler

(1977) as expansões da firma possuem duas fontes principais de motivação:

Motivação Defensiva – São responsáveis por controlar mudanças. As

expansões defensivas visam à segurança do negócio. Seus objetivos incluem

desde inibir a entrada novos competidores até se fortalecer frente aos

fornecedores. Alguns exemplos são: verticalização, expansão para prevenir falta

de suprimento; expansão para prevenir falta de canal de distribuição.

Motivação Produtiva – São responsáveis por promover mudanças. As

expansões produtivas permitem um aumento de produtividade através de redução

de custo.

Para Chandler (1977) as expansões produtivas são mais rentáveis que as

defensivas, e determinam a direção na qual a empresa cresce. As expansões

produtivas podem resultar em: economias de escala, escopo ou tempo, aumento

de produtividade, redução de custos unitários e aumento a quantidade de recursos

subutilizados, ou em outras palavras, aumento da folga de recursos (Penrose,

1980).

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Ao se expandir, recursos ociosos ou transferíveis são produzidos, o que de

fato passa a ser a semente para mais crescimento (Chandler, 1977). Tal noção de

crescimento contínuo está alinhada com a visão de Penrose (1980), ao sugerir

que os recursos subutilizados constituem os agentes do crescimento contínuo, ou

seja, o crescimento surge de uma maior utilização dos serviços intrínsecos nos

recursos produtivos da firma, sejam eles físicos ou humanos.

Tal crescimento pode vir da aquisição de novos recursos ou da descoberta

de novos serviços referentes a recursos já existentes. Neste segundo caso,

supõe-se que os recursos da firma estão subutilizados, pois são explorados

conforme as características específicas do negócio, como também do nível de

experiência e maturidade. Penrose (1980) acredita que a existência de recursos

subutilizados na empresa funciona como um estímulo à descoberta de novas

formas de explorá-los.

Segundo Chandler (1962), além da utilização eficiente de recursos

produtivos, o processo de crescimento envolve também a ajustamento da

estrutura organizacional em virtude do aumento da complexidade das atividades

que são executadas pela firma. Para Chandler (1962), a estrutura organizacional é

desenho de como a firma é administrada, e compreende os níveis hierárquicos e o

fluxo de informações entre eles, e sua função é administrar atividades e recursos

de grande porte.

Fleck (2003) partiu do conceito de expansão produtiva de Chandler (1977)

e desenvolveu o motor de crescimento contínuo. Em suma, Fleck (2003) propõe

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que o crescimento é um processo resultante de cadeias de relações de

necessidade e as expansões produtivas produzem os mecanismos de reforço

necessários para oferecer tal continuidade ao crescimento. O processo de

crescimento é formado pelos estágios de desequilíbrio, de expansão e mecanismo

de reforço, como pode ser observado na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Estrutura Geral do Motor de Crescimento Contínuo

Fonte: Fleck (2003)

A base do motor parte do princípio que os recursos da firma, por serem

indivisíveis, estão sempre subutilizados, ocasionando um desequilíbrio natural. O

desequilíbrio, que pode ocorrer dentro ou ao redor da firma, exige uma melhor

utilização de recursos existentes na empresa (Chandler, 1977).

Tal utilização resulta em expansão, que por sua vez, gera algum tipo de

mudança produzida durante o processo de expansão, que pode intensificar o

desequilíbrio. Fleck (2003) apresentou quatro instâncias do motor de crescimento

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contínuo, sendo o de diversificação relacionada àquele que melhor corresponde

aos processos descritos por Chandler e Penrose:

• Inercial – crescimento quantitativo das mesmas coisas;

• Inovação – crescimento pelo refinamento de produtos novos;

• Horizontal – crescimento pela aquisição de rivais;

• Diversificação relacionada – crescimento orgânico pelo

desenvolvimento de atividades relacionadas.

2.3.2. Motor de Co-evolução

Em sua obra, Chandler (1977) estudou o crescimento de firmas e indústria,

simultaneamente, e sugeriu que o desenvolvimento da capacidade de crescimento

de uma indústria funciona como um requisito para que o crescimento da firma

ocorra. A partir desse trabalho, um relato histórico da formação da indústria de

transporte ferroviário nos EUA, Fleck (2003) desenvolveu o motor de co-evolução,

que busca relacionar o processo de crescimento de um todo com suas partes. Tal

processo, cuja estrutura geral está esquematizada na Figura 2.2, é formado por

cinco blocos:

1) Cooperação entre partes, que pode ocorrer espontânea ou

compulsoriamente;

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2) Padronização do todo, que pode abranger tecnologia, produtos e /ou

processos;

3) Homogeneização de ofertas de produtos e /ou serviços em decorrência

da padronização;

4) Competição entre partes em virtude da escassez de recursos vitais às

partes;

5) Crescimento do todo decorrente da padronização instituída.

A cooperação entre as firmas promove a padronização de toda a indústria,

que por sua vez é uma condição necessária para o desenvolvimento e

crescimento de toda a indústria. Devido à oferta de produtos e serviços

homogênea, a cooperação dá lugar a uma maior competição entre as firmas, pois

a padronização reduz a diferenciação entre as mesmas e as incertezas no que

tange à tecnologia, produto ou processo. Por final, a ação das firmas existentes e

das novas promove um estímulo do nível global de atividade da indústria. Na visão

de Fleck (2003), o motor de co-evolução pode se referir também a outros pares,

como indústria–firmas, unidades de negócio–firma, firma–funcionários e

economia–indústrias.

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Figura 2.2 – Estrutura Geral Motor de Co-evolução de Todo e Partes

Fonte: Fleck (2003)

Em resumo, o motor de crescimento contínuo designa um processo, no

qual crescimento gera mais crescimento, e expansões alimentam condições

favoráveis a novas expansões. Por outro lado, o motor de co-evolução é acionado

quando os processos de crescimento da firma e da indústria ocorrem de forma

relacionada e concomitante. Para (Fleck, 2003), ambas as abordagens reforçam a

idéia que o crescimento deve ser estudado como processo e não como evento.

2.4. Arquétipos de Sucesso e Fracasso Organizacional

Esta seção tem o objetivo de se aprofundar nos estudos de Fleck (2006)

que desenvolveu os arquétipos de sucesso e fracasso organizacional. O que

PARTES

TODO

COOPERAÇÃO

Voluntária ou Compulsória

HOMOGENEIZAÇÃO

Ofertas de Produtos e/ou

Serviços

Recursos Escassos

Tecnologia, Produtos e/ou

ProcessosViabilizado

COMPETIÇÃO

+

CN

+

PADRONIZAÇÃO CRESCIMENTO

Obs.: CN = condição necessária

CN

PARTES

TODO

COOPERAÇÃO

Voluntária ou Compulsória

HOMOGENEIZAÇÃO

Ofertas de Produtos e/ou

Serviços

Recursos Escassos

Tecnologia, Produtos e/ou

ProcessosViabilizado

COMPETIÇÃO

+

CN

+

PADRONIZAÇÃO CRESCIMENTO

Obs.: CN = condição necessária

CN

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fundamenta este estudo foi uma análise comparativa da General Eletric e

Westinghuse ao longo de doze décadas, a partir da qual a autora sugere que as

chances do sucesso de longo prazo de cada firma foi afetada pela maneira como

elas responderam a cinco desafios organizacionais do crescimento.

Para Fleck (2006) o sucesso (fracasso) organizacional tem a ver com a

habilidade (inabilidade) de gerenciar os desafios relacionados ao crescimento. Os

pólos de respostas à direita na Tabela 2.1 descrevem um conjunto de capacidades

e habilidades requeridas para um sucesso organizacional de longo prazo,

enquanto os pólos à esquerda caracterizam um conjunto de obrigações que levam

ao fracasso organizacional.

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Tabela 2.1 – Os Cinco Desafios Organizacionais

Baixo Alto(baixos níveis de ambição, versatilidade, imaginação, visão, engenhosidade em levantar recursos financeiros, julgamento e realização de expansões nulas ou defensivas)

(altos níveis de ambição, versatilidade, imaginação, visão, engenhosidade em

levantar recursos financeiros, julgamento e realização de

expansões produtivas ou híbridas)

Passivo Ativo(Monitoramento ruim, uso prematuro ou inadequado de estratégias de navegação)

(Monitoramento regular, uso preciso e adequado de

estratégias de navegação)

Fragmentação Integração(Fracasso no estabelecimento de relacionamentos de integração e de capacitações em coordenação)

(Estabelecimento bem sucedido de relacionamentos

de integração e de capacitações em

coordenação)

Atrasado Planejado(Ações tardias ou apenas no momento que existe necessidade)

(Ações planejadas comantecedência)

Ad Hoc Sistemático(Baixa capacitação para solução de problemas, utilizando-se de busca imediata de soluções e sem gerar aprendizado)

(Forte capacitação para solução de problemas,

promovendo uma abrangente busca por soluções e

fomentando o aprendizado)

Empreendedorismo

Promoção de contínuo empreendedorismo a partir da disposição da empresa de realizar expansões com mecanismos de reforço e criação de valor sem superexposição ao risco

Polo de Respostas aos DesafiosCategoria do Desafio Descrição do Desafio

Navegação no Ambiente

Gestão da Diversidade

Formação de Recursos Gerenciais

Gestão da Complexidade

Tratar com múltiplas partes interessadas para assegurar captura de valor e legitimidade.

Manter integridade da firma diante de aumento de conflitos organizacionais e rivalidades

Constantmente preparar a firma com os recursos humanos qualificados necessários

Gerenciar questões complexas e solucionar problemas de tamanha complexidade, como evitar riscos à existência da organização

Fonte: Fleck (2006)

O conjunto de capacidades/habilidades e obrigações constitui,

respectivamente, os arquétipos de sucesso e fracasso. Fleck (2006) idealizou dois

termos para designar estes arquétipos. As firmas que se comportam de acordo

com o conjunto de capacidades/habilidades (pólo de respostas à direita) são

chamadas de organizações autoperpetuantes. Por outro lado, aquelas cujo

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comportamento se encaixa no conjunto de obrigações (pólo à esquerda) são

chamadas de organizações autodestruidoras.

Na verdade, as organizações reais operam em estados intermediários entre

os dois pólos. Quanto mais capacidades/habilidades uma organização desenvolve

e faz uso, mais ela se aproxima do pólo da autoperpetuação, e quanto mais

obrigações ela desenvolve mais ela se aproxima do pólo da autodestruição. A

Figura 2.3 esquematiza essa realidade.

Figura 2.3 – Contínuo de Estados Organizacionais

Fonte: Fleck (2006)

Isso implica que quanto maior a propensão da organização em desenvolver

capacidades/habilidades de autoperpetuação, maiores são as chances dela em

experimentar sucesso, e quanto maior a propensão da organização desenvolver

capacidades/habilidades de autodestruição, maiores são as chances de declinar e

se colocar diante da extinção (Fleck, 2006).

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2.4.1. Empreendedorismo

Na visão de Fleck (2006), o desafio do empreendedorismo consiste em

desenvolver uma disposição em expandir de forma contínua. Isto compreende a

disposição em se arriscar, no entanto, buscando maneiras de evitar riscos e ainda

assim crescer, desenvolver uma habilidade de crescimento contínuo ao invés de

pontual. A lógica do desafio do empreendedorismo está alinhada com o motor de

crescimento contínuo (Fleck, 2003), no qual crescimento gera mais crescimento, e

expansões alimentam condições favoráveis a novas expansões.

De acordo com Penrose (1980) as atividades produtivas são governadas

pelas oportunidades produtivas. Estas oportunidades compreendem todas as

possibilidades produtivas que os empreendedores enxergam e apontam como

vantagens para a firma. Para Penrose (1980) a teoria de crescimento da firma é

essencialmente um exame das oportunidades produtivas que constantemente se

alteram

Segundo a autora, uma firma empreendedora, vai permanentemente

dedicar parte de seus recursos na tarefa de investigar possíveis caminhos para

uma expansão lucrativa, se suportando em experiências passadas. Tais

experiências apontam que sempre existem oportunidades para o aumento de

rentabilidade e/ou que uma expansão é necessária num ambiente competitivo.

Na visão de Penrose (1980), empreender é uma predisposição psicológica

por parte dos indivíduos em correr risco na esperança de ganhar, e em particular,

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empenhar esforço e recursos em atividades arriscadas. Por outro lado, muitos dos

serviços que um empreendedor de uma firma pode produzir não são resultados de

suas características temperamentais, mas são moldados e condicionados pela

própria firma. Segundo Penrose (1980) alguns aspectos temperamentais da

qualidade dos serviços empreendedores são:

� Ambição: A ambição é o que dá motivação ao empreendedor a

buscar novas oportunidades. Existem dois tipos de ambição

empreendedora. O primeiro tipo se relaciona com o interesse do

empreendedor em aumentar a rentabilidade e o tamanho de sua

empresa, através da produção e distribuição de mais produtos ou

serviços. Eles sentem orgulho da organização e na visão deles, a

melhor maneira de gerar lucro é através da melhoria e ampliação das

atividades da organização. O segundo tipo se relaciona aos

empreendedores chamados de “empire-builder”, que são indivíduos

empurrados por uma visão de criar um império industrial poderoso

sobre uma área ampla. O “empire-builder” elege a aquisição e a

eliminação de competidores como principal meio de ampliação de

sua empresa.

� Engenhosidade em levantar recursos financeiros: As firmas

novas, pequenas e desconhecidas não desfrutam da mesma

facilidade em levantar recursos financeiros que as firmas

estabelecidas, grandes e conhecidas. No entanto, muitas firmas

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pequenas, devido a uma habilidade especial do empreendedor, têm

êxito em levantar recursos financeiros. O tipo de serviço

empreendedor necessário para levantar recursos não está

intimamente relacionado com o tipo de serviço necessário para

gerenciar uma firma eficientemente. Levantar recursos exige uma

habilidade do empreendedor em transmitir, principalmente,

confiança.

� Versatilidade: Enquanto a versatilidade técnica e gerencial são

principalmente questões que envolvem a competência técnica e

administrativa, a versatilidade empreendedora é uma questão de

imaginação e visão, podendo ser ou não prática. A versatilidade está

relacionada com a capacidade do empreendedor em gerar idéias,

descobrir e reconhecer alternativas, utilizar o instinto para tomar

decisões no tempo correto e vislumbrar oportunidades não tão

óbvias.

� Julgamento: Ao contrário de versatilidade, engenhosidade e

ambição, o julgamento empreendedor é uma qualidade relacionada

exclusivamente às características pessoais ou ao temperamento do

indivíduo. O julgamento envolve mais que uma combinação de

imaginação, bom senso, autoconfiança e outras qualidades. O

julgamento está intimamente relacionado com a coordenação de

informações coletadas e instalações consultivas dentro de uma firma,

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que visão a uma melhor avaliação dos riscos e incertezas que

cercam o crescimento da firma. É através do bom julgamento que o

empreendedor evita que a firma se encontre em situações de perigo.

No entender de Penrose (1980), uma firma, para se expandir, deve ter um

forte incentivo interno provido pela presença de um enérgico e ambicioso

empreendedor com muitas idéias. No entanto, se ao mesmo tempo a firma não

possui habilidades gerenciais ou técnicas para levar essa idéia em ação, um

significante obstáculo interno para expansão vai existir e vai influenciar a direção

da expansão escolhida. Dessa forma, Penrose (1980) sugere que habilidades

empreendedoras e gerenciais constituem condições necessárias para o

crescimento da firma.

Enquanto os serviços empreendedores são necessários para gerar um

crescimento rentável, os serviços gerenciais são responsáveis por coordenar, de

forma rentável, a utilização de recursos diante do aumento da complexidade que a

expansão provoca. Os serviços gerenciais são frutos do aprendizado e do

acumulo de experiência dentro da firma.

Além dos serviços empreendedores (Penrose, 1980), a motivação para

crescer (Chandler, 1977) foi apontada por Fleck (2006) como elemento necessário

ao crescimento da firma, ou seja, é necessário promover expansões para

estabelecer mecanismos de reforço, e dessa forma permitir a continuidade do

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processo de crescimento. Em linha com tais motivações, Chandler (1977)

identificou as expansões produtivas e defensivas.

Fleck (2006) propõe outras duas formas possíveis de expansão: a híbrida e

a nula. A expansão híbrida é uma combinação entre as expansões produtiva e

defensiva. Tal expansão permite a firma, através do crescimento contínuo

melhorar sua eficiência, como também protege os negócios existentes por meio de

mecanismos defensivos.

Já a expansão nula alinha-se tipicamente às expansões dos “empire-

builders” (Penrose, 1980), não criando mecanismos de reforço para dar

continuidade ao crescimento e nem protegendo os negócios existentes. Na visão

de Fleck (2006), as firmas que optam somente por expansões defensivas ou

nulas, enfrentarão problemas de renovação no longo prazo.

2.4.2. Navegação no Ambiente

Segundo Fleck (2006), o desafio de navegação no ambiente é representado

tanto pela maneira como a firma lida com os diferentes stakeholders dentro de um

ambiente em mudança, como pela capacidade que a firma tem em capturar valor

e assegurar a legitimidade da organização. Para navegar de forma bem sucedida,

as respostas da firma a esse desafio devem compreender um satisfatório

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monitoramento das pressões ambientais, e um uso preciso e adequado de toda

gama de estratégias de navegação.

Oliver (1991) propõe cinco tipos de respostas estratégicas que as

organizações podem realizar em resposta às pressões institucionais. Estas são:

consentir, negociar, evitar, desafiar e manipular. Por meio destas respostas as

organizações sinalizam como elas reagem aos diferentes estímulos externos.

Tais respostas podem variam de uma conformidade passiva até resistência

ativa. As respostas estratégicas para processos institucionais de Oliver (1991) e

suas respectivas táticas podem ser observadas na Tabela 2.2 e estão listadas

seguindo uma ordem da mais passiva até a mais ativa.

Tabela 2.2 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais.

Estratégia Tática Exemplo

Aderir Seguir normas invisíveis, aceitas como padrão

Imitar Imitar modelos institucionalizados

Cumprir Obedecer regras e aceitar normas

Equilibrar Equilibrar as expectativas de múltiplos stakeholders

Pacificar Apaziguar e acomodar elementos institucionais

Barganhar Negociar com stakeholders institucionais

Ocultar Disfarçar a desconformidade

Proteger Desprender-se de compromissos institucionais

Fugir Mudar metas, atividades ou domínios

Destituir Ignorar normas e valores explícitos

Desafiar Contestar regras e requerimentos

Atacar Violar as fontes de pressão institucional

Cooptar Conquistar apoio de elementos influentes

Influenciar Moldar valores e critérios

Controlar Dominar elementos e processos institucionais

Manipular

Consentir

Negociar

Evitar

Desafiar

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Fonte: Oliver (1991)

As firmas que têm uma posição mais ativa procuram modelar o ambiente, e

consequentemente adotam as estratégias de manipular e desafiar. As firmas com

uma postura menos ativa buscam neutralizar as pressões do ambiente através da

estratégia de evitar. Em oposição a elas, existem as firmas que têm uma posição

mais passiva e procuram se ajustar as situações que vêem como longe de seu

alcance, através das estratégias de negociar e consentir.

Para se tornarem mais propensas a desenvolver novas oportunidades de

crescimento, as firmas devem buscar as estratégias de influenciar e realizar

mudanças no ambiente. Em contra partida, as firmas que adotam uma postura de

consentimento e negociação em relação às condições ambientais se tornam mais

propensas ao declínio ou à estagnação.

Segundo Fleck (2006), caso a organização fracasse em monitorar as

pressões do ambiente ou utilize as estratégias de navegação de forma

inadequada ou prematura, sua existência no logo prazo pode ser afetada, pelos

seguintes motivos: falha na captura de valor, redução da habilidade em promover

ou reagir a mudanças, e a ameaça da legitimidade.

2.4.3. Gestão da Diversidade

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Na visão de Fleck (2006), o desafio da gestão da diversidade está ligado à

manutenção da integridade da firma ao passo que a firma experimenta um

aumento da diversidade. À medida que a firma cresce, a diversidade

organizacional aumenta em diversos aspectos: mercado, produtos, tecnologias,

recursos humanos.

Tal aumento de diversidade pode fazer com que surjam conflitos e

rivalidade, ameaçando a unidade organizacional. Para se conseguir uma gestão

bem sucedida da diversidade é preciso saber distinguir elementos heterogêneos

dos homogêneos e fomentar laços sutis de união (Stickland, 1998 apud Fleck,

2006).

Segundo Fleck (2006) a criação de laços não ocorre somente através do

compartilhamento de bens comuns, instalações, pessoal e serviços, como também

de itens menos tangíveis, como a reputação da organização, os mitos da

organização (Selznick, 1957), e percepções que são compartilhadas em relação

aos fatores considerados ameaças a organização.

Esses laços podem existir na forma de compartilhamento de recursos para

aspectos homogêneos ou na forma de intercâmbio e/ou combinação de recursos

para aspectos heterogêneos. Devido à complexidade de interações e fortes

relações existentes que existem nessa segunda forma, é provável que a

organização se qualifique com processos que são difíceis e custosos de serem

imitados (Barney, 1997).

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Na visão de Fleck (2006), a construção de laços de união exige

capacidades de coordenação, que por sua vez, envolve a implementação

apropriada de mecanismos de coordenação. Uma implementação com êxito não

extingue a heterogeneidade. Ao contrário, esta implementação faz uso construtivo

dos elementos heterogêneos, estimulando a integração organizacional.

Por outro lado, uma fraca coordenação faz com que os membros da

organização abstenham-se da cooperação, buscando cada vez mais autonomia, o

que acaba produzindo a fragmentação da organização. Na visão de Barnard

(1938), a cooperação bem sucedida compõe importante desafio gerencial. O autor

acredita que como tal cooperação nas organizações constitui a exceção, são

poucas as organizações que de fato sobrevivem.

No entender de Selznick (1957) o mais importante problema da existência

das organizações é a rivalidade organizacional, devido sua capacidade de

ameaçar a unidade do todo. Dessa forma, uma má gestão da rivalidade pode

ocasionar o desaparecimento da organização. Segundo Selznick (1957), a

autopreservação de uma instituição requer a preservação da integridade

organizacional, condições necessárias para desenvolver a propensão à

autoperpetuação da organização (Fleck, 2006).

No que tange a processos de integração, como fusões e aquisições, para

Haspeslagh & Jemison (1991), a tarefa essencial é criar o maior valor possível

quando duas organizações são combinadas, um valor que não existiria se as

firmas operassem separadamente.

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Para se obter o melhor resultado os autores sugerem a utilização de três

tipos de abordagens de integração – preservação, simbiose e absorção – as quais

variam de acordo com a necessidade de interdependência estratégica entre as

firmas e autonomia organizacional. Estas abordagens discutem o trade-off entre

preservar e transferir as capacidades/habilidades estratégicas.

Além desses dois fatores, Haspeslagh & Jemison (1991) colocam a

qualidade e o tamanho da companhia como outros pontos importantes que

também devem ser analisados ao se escolher uma abordagem de aquisição. Por

considerar que cada caso é um caso, Haspeslagh & Jemison não acreditam que

exista uma receita de bolo para integrar cada aquisição.

2.4.4. Formação de Recursos Gerenciais

A folga de recursos produtivos é um componente necessário para o

crescimento (Fleck, 2006) e o desafio da formação de recursos gerenciais se dá

pela necessidade de manter constantemente a firma equipada com recursos

humanos qualificados. Assim, a firma tem um desafio de agir constantemente em

questões importantes como: antecipação de necessidades, formação, retenção,

desenvolvimento e renovação de recursos.

Na visão de Penrose (1980), a formação de recursos, a retenção, o

desenvolvimento e a renovação são vitais para crescimento contínuo da firma.

Segundo Chandler (1977), contratando e treinando empregados novos e

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existentes, a firma é capaz de regenerar suas capacidades. Além disso, o

comprometimento de longo prazo dos gerentes para com a firma é uma condição

necessária para que ela desenvolva uma perspectiva de longo prazo e uma

propensão à existência continuada.

Segundo Fleck (2006), falhar em providenciar os talentos gerenciais

necessários de forma planejada, além de inviabilizar expansões, enfraquece a

integridade organizacional, como é o caso de um recrutamento massivo. Sem

contar, como advertido por Penrose (1980), um gestor precisa de tempo para se

integrar à nova firma. Por outro lado, uma antecipação ao desafio, através de

ações planejadas, faz com que a firma consiga se equipar com os recursos

necessários sem passar por grandes transtornos.

2.4.5. Gestão da Complexidade

O desafio da gestão de complexidade afeta diretamente a qualidade das

respostas dos outros desafios. Para Fleck (2006), o desafio da gestão de

complexidade ocorre a partir da necessidade de gerir questões complexas e

solucionar problemas, que envolvem um vasto número de variáveis

independentes. É também através desse desafio que se evita colocar a existência

da organização em risco, como resultado de avaliação imperfeita da situação.

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Para se resolver problemas complexos são necessários procedimentos

sistemáticos de: coleta de dados, análise, tomada de decisão e implementação.

Resolver problemas de forma sistemática permite que a organização esteja

continuamente aprendendo e buscando soluções cada vez mais abrangentes.

Através deste continuo auto-aprendizado, a firma cria o hábito de resolver

problemas ao passo em que eles aparecem se tornando menos vulnerável a

eventuais adversidades. Tal aprendizado é essencial para o desenvolvimento de

capacidades/habilidades na firma, que por sua vez são requisitos necessários

quando a firma está diante dos desafios de empreendedorismo, navegação no

ambiente, gestão da diversidade e formação de recursos gerenciais.

Segundo Fleck (2006), quanto maior fica a organização se torna,

provavelmente, mais complexa ela também se torna. Quanto mais complexa a

organização, a resolução de problemas de forma sistemática passa a ser mais

vital. Através dessa forma sistêmica de solução de problemas, a organização

passa a se prevenir de avaliações superficiais e imediatistas, o que acaba por

contribuir para a preservação de sua integridade organizacional (Selznick, 1957).

Por outro lado, a firma que institucionaliza o estilo “apagar incêndios” para resolver

problemas (Winter, 2003 apud Fleck, 2006) coloca em perigo a continuidade de

sua existência.

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2.5. Modelo de Requisitos para o Desenvolvimento da Propensão a Autoperpetuação Organizacional

Como apresentado anteriormente, Fleck (2006) sugere que o sucesso

(fracasso) organizacional tem a ver com a habilidade (inabilidade) de gerenciar os

desafios relacionados ao crescimento. Na visão de Fleck (2006) as firmas que

respondem positivamente a esses desafios (pólo à direita) são denominadas

organizações autoperpetuantes, enquanto aquelas que respondem negativamente

(pólo à esquerda) são denominadas organizações autodestruidoras.

As relações entre os requisitos que levam à autoperpetuação foram

esquematizadas por Fleck (2006) através de um modelo de processos e por pode

ser observado na Figura 2.4. Através desse modelo Fleck (2006) sugere que as

duas condições necessárias para o sucesso organizacional de longo prazo são:

renovação continuada através do crescimento organizacional e preservação da

integridade organizacional.

A folga constitui um ponto extremamente importante no modelo de Fleck

(2006), pois ela é o ingrediente necessário ao crescimento contínuo, pois ela é

uma condição necessária a renovação da organização. Por outro lado, o

crescimento também gera folga, pois o processo de crescimento produz recursos

subutilizados que por sua vez, ficam disponíveis para novas expansões. Segundo

Fleck (2006), folga pode influenciar tanto positivamente como negativamente a

integridade organizacional. Quando desenvolve e implementa mecanismos de

coordenação é vista como positiva. Quando utilizada para compensar

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procedimentos operacionais imperfeitos, comunicação deficiente e conflitos

organizacionais mal negociados, a folga é vista como negativa.

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Figura 2.4 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à Auto-Perpetuação

Fonte: Fleck (2006)

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3. Metodologia

3.1. Definição do Site e do Tema

Como já apresentado no capítulo introdutório, inspirada em Fleck (2007),

esta dissertação tem por objetivo investigar os desafios enfrentados e as maneiras

utilizadas por uma organização para superar os efeitos colaterais de seu crescente

tamanho ao longo de sua existência, e de que forma desenvolve capacitações

organizações em direção a longevidade saudável.

Para auxiliar a responder tal pergunta, a Marcopolo, empresa de

carrocerias de ônibus brasileira, foi selecionada como objeto de estudo. Com

quase seis décadas de existência, a Marcopolo apresenta diversas características

que a tornam uma candidata qualificada ao estudo.

A Marcopolo integra a indústria automobilística brasileira, uma das maiores

do mundo (OICA, 2006). O parque automobilístico brasileiro é dominado

basicamente por grandes montadoras multinacionais. No entanto, ao longo dessas

mais de cinco décadas, que tem a data de nascimento atribuída ao ano de 1956,

toda uma indústria adjacente, em sua maioria formada por empresas brasileiras,

se desenvolveu para abastecer essas grandes montadoras.

Impulsionada pela instalação de grandes montadoras no Brasil e por um

grande mercado consumidor, a indústria de carrocerias de ônibus no Brasil

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também se desenvolveu, e hoje conta com algumas grandes empresas, tornando

o Brasil um dos maiores produtores mundiais de ônibus. Foi nesse cenário, que a

Marcopolo nasceu, cresceu e hoje é a maior encarroçadora de ônibus brasileira e

uma das maiores do mundo.

Dada sua importância para o País, a indústria automobilística brasileira é

bastante estudada o que facilita a obtenção de informações. A Marcopolo, devido

sua posição no seu segmento de atuação, não fica atrás, sendo bem estudada.

Além desta relevância, condição imprescindível para a seleção da empresa, outros

fatores corroboraram para a escolha da Marcopolo como o site de estudo:

� A fundação da empresa ocorreu em 1949, o que proporciona 58

anos (1949 – 2007) para análise de sua trajetória;

� A empresa apresenta capital aberto na Bolsa de Valores desde

1978, o que possibilita obter informações financeiras de um período

de quase três décadas;

� A empresa é bastante estudada, tendo em vista o número de

dissertações de mestrado e outros documentos produzidos sobre a

Marcopolo nos últimos anos, Tais materiais fornecem boa fonte de

dados secundários sobre a empresa;

� A empresa foi eleita diversas vezes nos últimos anos pela Revista

Exame como uma das melhores empresas para se trabalhar no

Brasil. A empresa, nos últimos dez anos, partiu para um movimento

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de internacionalização com a instalação de fábricas em diversos

países. Estes dois fatores ampliaram sua presença na mídia

especializada e a disponibilidade de informações.

� Por fim, porém não menos importante, a empresa abriu as portas de

suas instalações na cidade de Caxias do Sul para visitação, bem

como disponibilizou a agenda de diversos funcionários e ex-

funcionários para entrevistas.

3.2. Método de Pesquisa

Segundo Yin (1989), para se escolher o método de pesquisa, dentre os

diversos métodos existentes, deve-se levar em consideração, principalmente, 3

condições:

� O tipo da pergunta a ser aplicada;

� O nível de controle que o pesquisador deterá sobre os eventos

comportamentais;

� O nível de interesse para utilizar eventos históricos para contrapor os

eventos contemporâneos.

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A descrição de cada estratégia, segundo tais condições, é apresentada na

Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Situações Relevantes para Diferentes Estratégias de Pesquisa

Fonte: Yin (1989)

Por se tratar de uma pesquisa com caráter descritivo e exploratório, os

diversos tipos de pergunta foram utilizados para orientar a evolução da

dissertação. Alguns exemplos de perguntas utilizadas foram:

� Como a empresa conseguiu financiar seu crescimento nos primeiros

anos?

� Por que os irmãos Nicola se desligaram da empresa?

� Como ocorreu a introdução das técnicas japonesas de produção na

Marcopolo?

� Por que a Marcopolo iniciou um processo de internacionalização?

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A pesquisa tomou como base a utilização de eventos históricos, e não

necessitou controle sobre eventos comportamentais. Em virtude de tais

características, a pesquisa realizada foi resultado de um conjunto de análise de

arquivo, histórica e estudo de caso.

3.3. Coleta de Dados

Conforme já mencionado por Bethlem (1999 e 2003), a falta de informações

é um dos maiores entraves para o desenvolvimento de um conhecimento

verdadeiramente brasileiro. A coleta de dados, apesar de trabalhosa, foi de suma

importância para a condução da pesquisa, principalmente devido a seu caráter

histórico e longitudinal. Os dados foram obtidos por meio da própria empresa,

como também, através de fontes secundárias.

3.3.1. Dados Secundários

Apesar de seu inegável poder de armazenamento de dados e capacidade

de disponibilizar a informação em apenas alguns segundos e em poucos “cliques”,

a internet não foi a principal fonte de informação para a realização desse estudo.

As visitas às seguintes bibliotecas e instituições públicas se mostraram mais

produtivas:

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� Biblioteca do Coppead – Acervo com dissertações, artigos,

periódicos, coleções de revistas de negócios (Exame,

Conjuntura Econômica, Bolsa, Veja), além dos anuários

Exame Melhores & Maiores e Balanço Anual da Gazeta.

� Biblioteca do BNDES – Dispõe de diversas revistas

especializadas no setor automobilístico como de transportes.

Possui diversas publicações de entidades do setor, como a

Anfavea, além de estudos setoriais sobre as mais variadas

indústrias. Nesta biblioteca foi obtido o estudo setorial, com

três volumes, produzido pela Gazeta Mercantil em 1999 sobre

a indústria de carrocerias de ônibus.

� Biblioteca Nacional – Diversos livros que tratam de aspectos

da indústria automobilística e a historia do ônibus como meio

de transporte.

� As demonstrações financeiras da Marcopolo foram obtidas

através dos seguintes órgãos:

� Arquivo Nacional – Em seu acervo estão as demonstrações

financeiras, relativas ao período de 1983 a 1992, das

empresas brasileiras de capital aberto;

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� Biblioteca CVM – Em seu acervo estão as demonstrações

financeiras, relativas ao período de 1993 a 1996, das

empresas brasileiras de capital aberto;

� Site da Marcopolo (www.marcopolo.com.br) – Disponibiliza as

informações financeiras a partir de 1997.

A maioria dessas instituições (com exceção de seus domínios na internet)

funciona em dias e horários específicos. Recomenda-se pesquisar com

antecedência tais horários de funcionamento, como também a necessidade de

alguma documentação específica para solicitar documentos, revistas ou livros

emprestados. O BNDES, por exemplo, exige uma carta da Biblioteca do Coppead,

com os detalhes dos livros desejados, para que o empréstimo seja autorizado.

Já no caso de outras bibliotecas é necessário que os livros sejam

solicitados com certa antecedência, às vezes de alguns dias, para que o mesmo

possa ser disponibilizado para consulta. Caso o intuito seja fazer fotocópias de

alguns documentos, como o acervo da CVM localizado no Arquivo Nacional, às

vezes algumas semanas são necessárias para que o material seja entregue.

Dessa forma, recomenda-se um bom planejamento para que as visitas sejam mais

produtivas e outras atividades sejam realizadas simultaneamente, a fim de evitar

gargalos.

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No que tange à internet, a principal fonte de informação foi o site da própria

Marcopolo. No entanto, foram pesquisados diversos sites cujos conteúdos

estavam associados ao produto ônibus, como os concorrentes diretos da

Marcopolo, e o portal Milbus (http://www.milbus.com.br/portal/), um grande portal

de ônibus que presta assessoria para diversas fabricantes do país.

Os sites de outras entidades como Simefre, Fabus, OICA, Anfavea e

órgãos relacionados ao setor de transporte (NTU, Ministério dos Transportes,

Abrati, Fenabrave), também, constituem boa fonte de informação, pois fortalecem

principalmente o entendimento da indústria.

Foram obtidos dois outros livros sobre a história do ônibus no Brasil. Um

através da Caio-Induscar, e outro por meio da Fabus. Em ambos os casos, os

contatos foram estabelecidos graças aos números de telefone disponíveis no site

dessas instituições. Após uma introdução do objetivo do contato, da linha de

pesquisa e o interesse pelo setor, as duas instituições ofereceram cópias dos

livros e enviaram a minha residência.

3.3.2. Visita à Marcopolo

Um dos primeiros contatos com a Marcopolo foi obtido através do canal

para contato disponibilizado pelo site da empresa. Através desse contato, foi

possível conseguir os livros comemorativos da empresa de 50 e 55 anos, outra

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fonte de consulta. No entanto, a etapa de coleta de dados que considero mais

importante para minha pesquisa, a visita seguida de entrevistas realizadas na

sede da Marcopolo em Caxias do Sul, só foi possível graças a contatos pessoais

obtidos junto à associação de ex-alunos do Instituto Coppead.

Os contatos me encaminharam a duas secretárias da diretoria corporativa

da empresa, e graças a elas, a visita à empresa e as entrevistas com funcionários

se concretizaram. Estive em Caxias do Sul, no período de 25 a 29 de junho de

2007, porém devido à distância de Porto Alegre, cheguei a Caxias do Sul no meio

da tarde do dia 25, uma segunda-feira, e retornei a Porto Alegre no dia 29, no

início da tarde.

Na Marcopolo, estive em período integral de 8hs às 18hs, nos dias 26, 27 e

28 de junho de 2007. Nesse período, visitei as instalações das fábricas de Ana

Rech e Planalto, conheci e conversei com dezenas de funcionários, porém pela

indisponibilidade de tempo, priorizei realizar entrevistas formais, registradas com

gravador e mais tarde transcritas, apenas com parte das pessoas com quem pude

conversar. As informações referentes às pessoas entrevistadas estão na Tabela

3.2.

Tabela 3.2 – Entrevistas Realizadas Durante a Visita na Sede da Marcopolo

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Como pode ser observado, o principal objetivo na seleção dos

entrevistados era conversar com funcionários ou ex-funcionários que trabalham ou

trabalharam durante muitos anos na Marcopolo. Isso facilitou esclarecer diversos

pontos sobre a história do Grupo Marcopolo ao longo dessas quase seis décadas.

Não havia um questionário previamente fechado para ser aplicado. O

roteiro das entrevistas estava bem aberto, pois até chegar à empresa, não havia

uma programação definida para aqueles dias e não sabia com quais pessoas iria

conversar. Como a história de cada funcionário e o tempo disponível para

entrevista não eram os mesmos, procurei estruturar as entrevistas da seguinte

forma:

1. Fazia uma apresentação pessoal;

2. Fazia uma apresentação do Coppead e da linha de pesquisa;

3. Explicava os objetivos da minha visita;

4. Perguntava se poderia gravar a entrevista;

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5. Pedia que o entrevistado se apresentasse e contasse a história dele de

forma detalhada dentro da empresa;

6. Explorava pontos comentados pelo entrevistado com base na história da

empresa previamente estudada. Nesse momento procurava fazer

perguntas com base na literatura da linha de pesquisa para

identificar episódios relacionados aos desafios do crescimento, como

exemplificado a seguir:

a. Empreendedorismo – Ex: Por que a empresa abriu uma

fábrica em Minas Gerais?

b. Navegação no Ambiente – Ex: Como a empresa conseguia

levantar recursos financeiros?

c. Gestão da Diversidade – Ex: Como as filiais nos outros países

estão integradas ao Sistema Marcopolo?

d. Formação de Recursos Gerenciais – Ex: Por que os irmãos

Nicola se desligaram da sociedade?

e. Gestão da Complexidade – Ex: Como as técnicas japonesas

de produção foram implementadas na Marcopolo?

7. Antes de finalizar a entrevistas, realizava perguntas que poderiam não

ter sido respondidas, mas que acreditava que o entrevistado poderia

responder devido ao seu perfil;

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8. Ao final da entrevista agradecia pela entrevista e pelo tempo

disponibilizado.

Ao longo da semana que estive em Caxias do Sul, além de toda a

hospitalidade oferecida por seus funcionários ao longo das visitas às fábricas e

das entrevistas realizadas, também pude visitar o Memorial Marcopolo. Lá obtive

uma série de documentos, como cópias de periódicos internos dirigidos aos

funcionários da empresa ao longo de 58 anos, que constituíram um material

adicional de grande valor para a pesquisa.

Também nessa visita foi discutida a possibilidade de se obter mais dados

numéricos da empresa referentes às áreas de Produção, Recursos Humanos,

SUMAN, Financeira e etc. Os dados com os resultados financeiros para um

período anterior à década de 1980 e os dados referentes à evolução de

capacidade, produtividade, como a participação dos grupos de funcionários na

implementação das técnicas japonesas de produção não foram obtidos, pois não

existiam na empresa.

No entanto a empresa, ao final de novembro de 2007, enviou para minha

residência um CD, com arquivos.txt, que continham informações do cadastro de

funcionários da empresa e treinamentos realizados nos últimos anos. Devido ao

tamanho dos arquivos, tive que analisá-los por meio do software MS Office. Após

algumas consolidações, exportei os dados para planilha Excel, porém percebi que

muitos dados estavam confusos, ou seja, de difícil manuseio e interpretação.

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Por exemplo, calcular a rotatividade da empresa com base no dado de

cadastro de funcionários foi uma tarefa difícil, em virtude da forma como o dado foi

enviado. Aqueles funcionários que, por uma mudança de função ou por uma

transferência de fábrica, apareciam diversas vezes no cadastro, com diferentes

datas de admissão e desligamento. Para evitar que os indicadores de rotatividade

em muito divergissem daqueles apresentados pela empresa nos últimos relatórios

de administração, optei por não calculá-los.

Embora tenha aberto mão de realizar algumas análises, outras foram

possíveis, como o cálculo de treinamentos realizados nos últimos anos e o tempo

de permanência na empresa de grande parte dos funcionários.

3.4. Análise dos Dados

Acumular um grande volume de informações, apesar de ser fundamental

para a pesquisa, constitui um grande desafio quando entramos na etapa da

análise. As informações são muitas, e podem apresentar diversas formas

possíveis: gráficos, tabelas, números, fotos, vídeos, textos, gravações em áudio, e

etc.

Grande parte do material que obtive se encontrava na forma de texto, e

precisava ser organizado para que informações importantes não fossem

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esquecidas, e além do mais, organização sempre traz agilidade operacional e

reduz a necessidade refazer atividades.

A quantidade de informações coletadas cresce a cada dia de pesquisa e

parece assumir uma curva exponencial. No entanto, um grande volume de

informação não é condição suficente para uma boa dissertação. Além de ler o

material, é preciso projetar as principais partes para a dissertação. É

recomendável começar a escrever assim que determinado material for lido e

estudado.

Para se entender a empresa a qual se está estudando é preciso conhecer

sua história. Remontá-la é um passo básico neste tipo de dissertação. Para isso

foi necessário compilar em duas seções – a história do setor e história da firma –

todo o material pesquisado e lido. Ter a história bem documentada é o primeiro

passo para a estruturação da análise.

Como já mencionado, além de texto, uma boa análise é constituída de

números. Ao longo da minha pesquisa, sempre investiguei a existência de base de

dados, seja nas associações de fabricantes de carrocerias, estudos setoriais ou

até mesmo dentro da empresa. Infelizmente, no Memorial Marcopolo apenas

obtive a evolução da produção de carrocerias desde 1949.

Foi na CVM e no Arquivo Nacional, onde obtive parte da série histórica com

os resultados financeiros da empresa. Ao juntar as duas fontes pude consolidar e

calcular dois importantes indicadores, que analisados de forma longitudinal,

proporcionam indícios de como a empresa se comportou no período em questão.

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3.4.1. Indicadores de Tamanho e Desempenho

Nas coletas de dados na CVM e no Arquivo Nacional, como pode ser visto

no Gráfico 5.1 (página 251), dois indicadores foram utilizados para avaliar o

comportamento da Marcopolo, desde 1981, sob a perspectiva de tamanho e

desempenho. A forma de cálculo de tais indicadores foi sugerida por Fleck (2001)

como uma alternativa para quantificar os fenômenos pesquisados sobre a

longevidade de empresas.

O indicador de tamanho da Marcopolo é calculado dividindo-se a Receita

Líquida da Empresa pelo Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, como se observa

na Equação 3.1. Uma importante vantagem desse indicador é sua aplicação

independente das mudanças de moeda que ocorrem ao longo da história brasileira

e dos efeitos da inflação na economia. Por último, de acordo com o indicador de

tamanho, para evidenciar que está crescendo a firma necessita deve aumentar

sua receita em uma taxa superior ao aumento do PIB.

Equação 3.1 – Indicador de Tamanho de uma Firma

ianoPIB

ianoFirmadaLíquidaceitaianoTamanho

Re=

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O outro indicador utilizado, o de desempenho, é calculado dividindo-se o

Lucro Líquido da Empresa pelo Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, como se

observa na Equação 3.2.

A importância desse indicador é verificar a evolução do desempenho

operacional da empresa, o que não pode ser constatado através do indicador de

tamanho.

Equação 3.2 – Indicador de Desempenho de uma Firma

ianoPIB

ianoFirmadaLíquidoLucroianoDesempenho =

Como pode ser observado, neste estudo, além das informações financeiras

referentes aos resultados da Marcopolo nas últimas décadas, foi necessário um

levantamento da série histórica do Produto Interno do Brasil (PIB). A maneira

como a coleta desses dados foi realizada, bem como o método utilizado para

tratar essas informações, podem ser encontrados em Grigorovski (2004).

Os dados de PIB utilizados neste estudo foram extraídos de Grigorovski

(2004), entre os 1981 e 1993, e diretamente do site do Banco Central para o

período de 1994 a 2006, como mostra o anexo 8.1 .

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65

3.4.2. Análise das Entrevistas e Ferramental Utilizado

Além da bibliografia e dos números pesquisados, a visita à Marcopolo, e as

entrevistas realizadas, constituíram fontes adicionais para análise. Dessa forma, o

conteúdo das entrevistas realizadas durante a visita na empresa, foi transcrito e

devidamente analisado. Estimo que cada hora de entrevista tenha demandado,

aproximadamente, oito horas, ininterruptas, de transcrição. Outra recomendação

oportuna é ter em mãos um bom gravador e procurar realizar as entrevistas em

um ambiente com acústica favorável.

Apesar de fastidioso, é importante que a tarefa da transcrição de

entrevistas não deva ser delegada a terceiros. O fato de escutar a entrevista e

transcrevê-la permite que a atividade de análise ganhe velocidade, pois diversos

momentos da história podem ser relembrados, surgem as primeiras idéias, como

também as devidas associações com a literatura.

Após transcrever todas as entrevistas, a atividade seguinte foi estruturar um

formato para analisá-las. Os textos transcritos das entrevistas foram segmentados

e originaram 516 linhas de uma planilha Excel, com o objetivo de capturar

evidências da teoria nos depoimentos dos entrevistados. O passo seguinte foi

recorrer à teoria existente, para definir o ferramental teórico a ser associado nas

entrevistas.

Os cinco desafios do crescimento propostos por Fleck (2006) são os

alicerces da análise da trajetória da empresa. Devido à complexidade que envolve

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cada desafio, alguns foram analisados também em um nível inferior de análise, em

um nível chamado de dimensão. Cada dimensão de um desafio recebeu um

código para facilitar os filtros da planilha Excel, como se observa na Tabela 3.3.

Tabela 3.3 – Lista de Classificações para Análise

Cada trecho das entrevistas foi codificado com uma dimensão de um

desafio. Alguns trechos foram associados a dois ou até três códigos, ou seja, eles

apresentavam fragmentos de mais de uma dimensão.

Ao final, a planilha estruturada estava composta por 516 falas, ou trechos

de entrevistas, que foram de grande valia para levantar as principais evidências

observadas para cada fase de análise e cada desafio de crescimento. O formato

da planilha criada pode ser observado na Tabela 3.4.

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Tabela 3.4 – Planilha para Análise de Entrevistas

Legendas:

1 2 3 4 5

6 7

1 2 3 4 5

6 7

Entrevistado

Carlos Zignani CZ

Jaime Bertelli JB

João Carlos JC

José Albino BI

Valter Gomes VG

SiglaEntrevistado

Carlos Zignani CZ

Jaime Bertelli JB

João Carlos JC

José Albino BI

Valter Gomes VG

Sigla

1

2

3

4

5

6

7

Entrevistado (Sigla)

Descrição

Trecho da Entrevista

Data do Evento

Codificação do Desafio / Dimensão

Resposta ao Desafio / Dimensão

Seleção de Filtros para Análise

Botões para Aplicação de Filtros

#

1

2

3

4

5

6

7

Entrevistado (Sigla)

Descrição

Trecho da Entrevista

Data do Evento

Codificação do Desafio / Dimensão

Resposta ao Desafio / Dimensão

Seleção de Filtros para Análise

Botões para Aplicação de Filtros

#

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Como pode ser observada na legenda abaixo da Tabela 3.4, a planilha

criada contém os seguintes campos: Nome do entrevistado (sigla); Trecho da

Entrevista; Data do Evento ao qual se refere o trecho; Codificação do Desafio /

Dimensão conforme Tabela 3.3; e Resposta da firma para aquele desafio /

dimensão, cuja definição será explicada mais adiante. A planilha criada também

permite que sejam realizados filtros por desafio de crescimento e fase de análise

da trajetória da empresa.

Como já mencionado, todos os trechos das entrevistas receberam a

atribuição do ano no qual o evento ocorreu. No entanto, nem todos os eventos

proporcionaram uma identificação precisa da data / ano em que ele ocorreu.

Nesses casos, ao invés do ano exato, foi atribuída a fase em que ele ocorreu,

podendo ser: 1ª Fase – 1949 a 1967, 2ª Fase – 1968 a 1986 ou 3ª Fase – 1987 a

2006. A explicação da forma como essas fases foram definidas será explicada no

no próximo capítulo, Análise da Trajetória da Marcopolo.

Para aquelas falas que retratavam toda a história da empresa, e não uma

fase específica, foi atribuído o período “Todas as Fases”. A título de exemplo,

segue uma fala na qual ocorreu tal associação: “Todos esses veículos sempre

foram desenvolvidos internamente. E a Marcopolo sempre buscou crescimento da

companhia com esses desenvolvimentos...” (Entrevista com o Sr. Carlos Zignani).

Além da data do evento e do desafio de crescimento, em alguns casos

assumindo um sub-nível de dimensão, já previamente explicados, a planilha

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utilizada para estruturar as entrevistas realizadas na Marcopolo contou, também,

com um campo denominado “Resposta”. O objetivo deste campo foi avaliar as

respostas da Marcopolo para cada um dos desafios identificados nas entrevistas

que remontam a sua trajetória.

Cada desafio / dimensão pode assumir um tipo de resposta. No caso de

uma resposta satisfatória ao desafio, foi atribuída uma “carinha” sorridente a este

par Desafio x Evento, ou seja, a célula da planilha Excel correspondente. No caso

de uma resposta insatisfatória ao desafio, optou-se por uma “carinha” triste. Para

aqueles trechos que se observa um desafio presente, porém não se pôde

determinar o tipo de resposta, se satisfatória ou não, decidiu-se por uma “carinha”

neutra, que nem feliz nem triste. A Tabela 3.5 apresenta, com mais clareza, os

tipos de respostas utilizadas para classificar os pares Desafio x Fala.

Tabela 3.5 – Tipo de Resposta aos Desafios do Crescimento

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Após gerar uma lista de todos aqueles fatos identificados nas entrevistas,

mesmo que ainda sob o formato de trechos “não-tratados” em fatos, grande parte

das idéias puderam ser manipuladas através de uma ferramenta funcional repleta

de filtros, passando, de fato, para o papel. Tais filtros em conjunto com a história

da firma e do setor previamente escrita, foram os elementos que sustentaram o

corpo da análise.

Todas as falas e suas respectivas associações e classificações podem ser

encontradas no apêndice 7.3 que também oferece um resumo com a freqüência

estatística das falas por desafio e período, que deve ser utilizada apenas como um

termômetro – e não como uma verdade definitiva – para a sumarização das

respostas, como veremos adiante.

3.4.3. Sumarização das Respostas aos Desafios por Fases

Como já comentado e será detalhada no próximo capítulo, a análise da

trajetória da Marcopolo foi dividida em três fases. A primeira fase teve início em

1949 e se estendeu até 1967, a segunda foi de 1968 a 1986 e a terceira de 1987 a

2006. Em cada fase de análise procurou-se identificar os principais eventos que

estiveram associados a cada desafio de crescimento. Os principais eventos foram

selecionados tanto da planilha de análise de entrevistas (apêndice 7.3) como da

história da indústria e da firma (apêndices 7.1 e 7.2.).

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Para aqueles desafios que mereceram uma subdivisão de análise, como

por exemplo, o Desafio do Empreendedorismo, dividido pelos serviços Ambição,

Engenhosidade Financeira, Versatilidade e Julgamento, os eventos foram

associados a cada serviço e análise do desafio foi feita separadamente, como se

observa na Tabela 3.6. Este quadro de análise está presente ao final de cada

desafio de crescimento, com o objetivo de sumarizar a resposta da empresa em

relação ao desafio naquela fase de análise.

Tabela 3.6 – Quadro de Análise das Fases da Marcopolo por Desafio de Crescimento

Este sumário pode assumir três expressões ou resultados diferentes, o qual

dependerá da análise em conjunto de todas as evidências que estiveram

presentes naquela fase. Esta sumarização é uma resultante da análise da

ferramenta de entrevistas, com seus respectivos filtros (vide apêndice 7.3), mais a

junção de outros eventos que podem não ter sido citados ou esclarecidos nas

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entrevistas, mas estiveram presentes na história do setor e da firma. Ambas as

histórias podem ser encontradas, respectivamente, nos apêndices 7.1 e 7.2.

Para esse sumário foram utilizados os mesmos critérios apresentados na

Tabela 3.5. Dessa forma, se na análise da trajetória da firma para aquele período

foram identificadas respostas positivas para o desafio, favoráveis à

autoperpetuação da empresa, o sumário apresentará o símbolo de uma “carinha”

verde sorridente ☺. Por outro lado, se a análise em conjunto das respostas indicar

o caminho da autodestruição, o sumário será representado por um símbolo com a

“carinha” vermelha triste �.

Caso com base nas evidências levantadas não seja possível determinar se

as respostas foram satisfatórias para a autoperpetuação nem insatisfatórias ao

ponto de levá-la a autodestruição, o sumário assumirá uma posição neutra,

representando a indeterminação, e sendo simbolizada pelo símbolo �. No caso

das evidências levantadas serem insuficientes para conclusão, nenhum símbolo

será apresentado.

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4. Análise da Trajetória

No dia 06 de agosto de 1949, quando nove sócios fundaram a Nicola & Cia,

eles não imaginavam que, em menos de seis décadas, essa pequena empresa de

Caxias do Sul (RS) se tornaria a maior encarroçadora de ônibus brasileira. Em

1971, vinte e dois anos mais tarde, a empresa alterou sua denominação social

para Marcopolo S.A. Carrocerias e Ônibus, em virtude do sucesso que o ônibus

Marcopolo, lançado três anos antes, obtivera tanto no cenário nacional como

internacional.

Outro fator que motivou a alteração do nome da empresa foi o

desligamento, em 1967, dos irmãos Dorval, Doracy e Nelson Nicola da empresa.

Naquele momento, a então Carrocerias Nicola S.A. Manufaturas Metálicas

carregava o nome da família Nicola, portanto, com a saída dos três sócios,

buscou-se desvincular o nome da empresa do nome da família, o que pode ser

interpretado como um indício da reformulação do caráter da empresa (Selznick,

1957). O Sr. Carlos Zignani, que ocupa os cargos de diretor de relação com

investidores e diretor-superintendente do Banco Moneo, lembra como, mesmo

após a saída dos Nicola, era difícil separar a empresa da família Nicola:

“Existiu aquela fase do Nicola e da Nicola. A Nicola éramos nós, a fábrica de carrocerias Nicola, e o Nicola era ele, que era o nome dele: o Dorval Nicola.” (Entrevista com Sr. Carlos Zignani, Caxias do Sul, 26/06/2007)

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Já com o nome Marcopolo, a empresa passou a crescer consideravelmente

nos anos seguintes. Segundo dados da Fabus, associação que congrega as

principais encarroçadoras do Brasil, a partir da década de 1970, a Marcopolo se

tornou a segunda maior encarroçadora de ônibus brasileira, como se pode

observar no Gráfico 4.1.

Ao longo dessa década, a empresa deu início às suas primeiras aquisições,

como a Carrocerias Eliziário de Porto Alegre, um importante fabricante de ônibus

da época, que atuava principalmente no segmento de urbanos. Na ocasião, a

Marcopolo se concentrava principalmente no segmento de rodoviários.

Gráfico 4.1 – Evolução da Produção de Veículos no Brasil das Principais Encarroçadoras de Ônibus (1971-2006)

Evolução da Produção - Principais Encarroçadoras de Ônibus (FABUS)

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

MARCOPOLO INDUSCAR (ex-CAIO) BUSSCAR CIFERAL COMIL

Fonte: Fabus

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Outra importante aquisição na época foi a Nimbus. A Nimbus, inicialmente

chamada de Furcare, foi fundada pelos irmãos Nicola após se desligarem da

Marcopolo. Em 1975, a Nimbus, também sediada em Caxias do Sul, foi adquirida

pela Marcopolo e em 1979, sua denominação passou a ser Invel. Nessa mesma

década, a Marcopolo, para aproveitar o bom momento da economia brasileira,

realizou também uma série de investimentos no Brasil, como a construção de

duas unidades fabris, uma em Caxias do Sul (Ana Rech) e outra em Minas Gerais.

No cenário internacional, a Marcopolo também deu seus primeiros passos.

Apesar de ter realizado em 1961 sua primeira exportação para o Uruguai, foi na

década de 1970 que as exportações ganharam mais força dentro da empresa.

Foram realizadas diversas exportações através de nova tecnologia que a

empresa começava a desenvolver, os sistemas CKD (completey knocked down) e

MKD (medium knocked down), que se caracterizavam pela venda de tecnologia e

de produtos desmontados (CKD) ou semi-desmontados (MKD). Alguns países que

importaram os produtos da Marcopolo por meio destas tecnologias foram:

Venezuela (1972), Gana (1974), Equador (1975) e Chile (1976).

A década de 1980, conhecida como a década perdida principalmente para

a indústria automobilística, foi também uma década marcante para a Marcopolo. A

crise da economia brasileira levou a Marcopolo a uma série de decisões, como o

fechamento da Marcopolo Minas (1984), a incorporação da Eliziário de Porto

Alegre (1987), e investimentos em empresas cujas atividades não se relacionavam

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com a fabricação de ônibus. A primeira metade da década de 1980 também foi

marcada por uma série de demissões.

Por outro lado, foi na década de 1980 que ocorreu uma das principais

transformações da história da Marcopolo. Em 1986, Paulo Bellini (presidente) e

Cláudio Gomes (então diretor industrial) visitaram o Japão, pois estavam

interessados em conhecer as técnicas japonesas de administração da produção.

Tal viagem constitui um marco para a história da Marcopolo, pois ela fez com que

os dirigentes da empresa se convencessem de que mudanças profundas eram

necessárias, sobretudo quanto ao envolvimento dos empregados. Dessa forma,

eles acreditavam que níveis mais elevados de produtividades poderiam ser

atingidos. Segundo as palavras de um dirigente da empresa:

“Nosso Presidente e nosso Diretor Industrial voltaram realmente maravilhados com aquele país, e viram que muita coisa podia ser aproveitada. Foi isso que se fez. A partir daí começou a ser criada uma consciência diferente, começou-se a buscar mais a participação das pessoas, a formar grupos de trabalho e foi a partir daí que se começou a revolucionar a Marcopolo.” (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA; REIS, HELVECIO. Marcopolo S.A. (A), 1999, p. 5)

Já nos primeiros anos seguintes, os efeitos das novas técnicas de

administração começaram a surtir efeito. Mais tarde, criaram-se duas siglas do

Sistema Marcopolo que fazem parte da empresa até o presente momento (2007).

O SUMAM (Sugestões de Melhoramentos do Ambiente Marcopolo) e o SIMPS

(Sistema Integrado Marcopolo de Produção Solidária) se baseiam na idéia

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japonesa de Kaizen (melhoramentos contínuos) e foram responsáveis pelas

principais mudanças ocorridas na empresa nas últimas décadas.

Mesmo tendo iniciado suas exportações em 1961, foi na década de 1990

que a empresa ganhou destaque em nível internacional, com a aquisição e

instalação de fábricas em diversos países. Em 2007, a Marcopolo contava com

fábricas em Portugal (1991), Colômbia (2000), México (2000) e África do Sul

(2001). Em 2007, a empresa iniciou a construção de duas fábricas, uma na Rússia

e outra na Índia, e ainda contava com uma fábrica desativada na Argentina, que

fucnionou entre 1998 a 2003, e um acordo de transferência de tecnologia na China

(2001). A Figura 4.1 mostra a atuação da Marcopolo no mundo.

Figura 4.1 – Marcopolo no Mundo em 2007

Fonte: Marcopolo – Fact Sheet 1º Trimestre 2007

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Cada vez mais, nos últimos anos, os mercados externos têm ocupado uma

fatia importante do faturamento da empresa, sempre superior a 40% a partir de

1999. No decorrer dos últimos anos, a empresa tem melhor se posicionado no

cenário global. Entre as empresas que são apenas encarroçadoras, em 2007, a

Marcopolo era a maior produtora de ônibus do mundo. Suas principais

concorrentes são Evobus (Alemanha), Irisbus (Itália/França), MAN (Alemanha),

Van Hool (Bélgica), VDL Bus (Holanda), Salvador Caetano (Portugal) e Alexander

Dennis (Inglaterra).

Vale lembrar que apesar destas empresas não apresentarem a mesma

escala da Marcopolo, algumas fazem parte de poderosos grupos automotivos,

cuja divisão de ônibus representa uma pequena parte do faturamento total. A

Mercedes-Benz, uma grande empresa da indústria automobilística mundial,

apesar de não produzir ônibus completos no Brasil desde 1996, mantém a

produção de ônibus completos em outros mercados, bem como detém

participação acionária em diversas encarroçadoras, como Setra e Salvador

Caetano. No Brasil, Mercedes-Benz, Scania, Volvo e Volkswagen são as

principais fornecedoras de chassis para as encarroçadoras de ônibus.

No Brasil, a Marcopolo, desde 1989, é maior encarroçadora de ônibus,

como pode ser visto no Gráfico 4.1. Em 1999, reforçando sua posição de

liderança, a Marcopolo adquiriu 50% da Ciferal, e dois anos depois, em 2001,

adquiriu 100% do controle. Neste ano, a Marcopolo passou a reorganizar parte de

sua produção, deixando grande parte dos ônibus rodoviários para serem

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produzidos na fábrica da Ciferal, no Rio de Janeiro. Tal fato aliado ao processo de

internacionalização pelo que a empresa passava, fez com que a marca Marcopolo

reduzisse a produção de veículos no Brasil, como indica o Gráfico 4.1.

Em março de 2007, ela adquiriu 39,6% do capital social da empresa San

Marino Ônibus e Implementos Ltda., conhecida principalmente através da marca

Neobus, também situada em Caxias do Sul. Em 2007, suas principais

concorrentes no Brasil eram duas empresas contemporâneas à Marcopolo, Caio-

Induscar (1946), Busscar (1946), e outra que surgiu na década de 1980, a Comil

(1985). A Ciferal, antes de ser comprada pela Marcopolo, foi também uma grande

fabricante de carrocerias de ônibus brasileira, e sua fundação data de 1955.

Apesar de contemporâneas, Caio (1946), Busscar (1946), Marcopolo (1949)

e até mesmo Ciferal (1955), tiveram trajetórias de crescimento diferentes entre si.

Cada uma delas apresentou suas peculiaridades. Tomando os estudos de

Chandler (1990) como base, seria a Marcopolo uma pioneira?

Segundo Chandler (1990), uma empresa pioneira ou first mover não é,

necessariamente, a empresa que primeiro desenvolve determinada idéia. Para

Chandler (1990), uma empresa fisrt mover é aquela que fez os investimentos

necessários em produção, marketing e distribuição e gestão a fim de desenvolver

determinada idéia, a qual pode ser gerada por ela ou não.

Para Chandler (1990), as empresas first movers têm que realizar

investimentos necessários em Marketing e Distribuição, Produção e Gestão.

Segundo o autor, para manter a vantagem competitiva de first mover, em paralelo,

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a empresa tem que estar continuamente investindo em Pesquisa &

Desenvolvimento para alimentar estas três áreas. A Figura 4.2 ilustra como

deveria ser o funcionamento de uma empresa first mover.

Figura 4.2 – Esquema de Desenvolvimento de uma First Mover

Fonte: Elaboração Própria inspirada em Chandler (1990)

As idéias do estudo de Chandler (1990) se concentraram basicamente nas

empresas manufatureiras, o que permite traçar alguns paralelos com a indústria

de carrocerias de ônibus e com a Marcopolo. A Tabela 4.1 apresenta as principais

características dos investimentos necessários para as encarroçadoras de ônibus:

Produção

Marketing e Distribuição

Gestão

Pesquisa & Desenvolvimento

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Tabela 4.1 – Características dos Investimentos Necessários

Produção Marketing e Distribuição Gestão • Capacidade produtiva

de unidades nacionais e internacionais

• Layout; • Otimização de

processos; • Relacionamento com

Fornecedores

• Representantes comerciais;

• Relacionamento com clientes;

• Assistência técnica; • Pesquisa com

clientes, fornecedores entre outros.

• Formação de pessoal; • Gestão de unidades

fabris; • Gestão de pessoas; • Gestão das áreas

corporativas; • Gestão da área

internacional

Fonte: Elaboração Própria inspirada em Chandler (1990)

Neste estudo não foram coletadas evidências específicas de como cada

empresa concorrente trabalhou cada investimento necessário de acordo com a

visão de Chandler (1990), então não é possível qualificar a Marcopolo como uma

first mover nesta ótica.

No entanto, o estudo indica que a Marcopolo tem realizado ao longo de sua

trajetória investimentos em Produção, Marketing e Distribuição e Gestão. Diversas

evidências desses investimentos são apresentadas ao longo da análise no

presente capítulo.

Ser pioneira não é condição suficiente para que a empresa mantenha sua

liderança no setor e muito menos garanta sua existência continuada. No caso da

Marcopolo, quando se examina sua trajetória de crescimento, percebe-se

claramente a liderança de mercado que ela atingiu dentro de sua indústria nas

últimas décadas.

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Enquanto diversas de suas concorrentes nacionais e internacionais foram

vendidas, abandonaram a operação no Brasil ou simplesmente faliram, a

Marcopolo se mantém ativa ao longo de quase seis décadas, sendo que desde o

final da década de 1980 é líder no mercado nacional de carrocerias de ônibus.

Inicialmente, ao que tudo indica, parece que apesar do tamanho assumido

e da complexidade operacional resultante da instalação de fábricas no Brasil e em

diversos continentes, a Marcopolo tem se mantido inabalável na posição de

dominante no setor no Brasil e segue figurando como uma das principais

encarroçadoras de ônibus do mundo. Em virtude disso, como já apresentado, esta

dissertação pretende responder a seguinte pergunta:

Quais desafios enfrentam as organizações e como lidam com eles

para superar os efeitos colaterais ocasionados pela mudança positiva em

seu tamanho ao longo de suas trajetórias, para se manterem firmes em

direção à longevidade saudável?

Para responder a tal pergunta que orienta este estudo, será utilizado o

estudo de Fleck (2006), cujo modelo pode ser observado na

Figura 4.3.

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83

Figura 4.3 – Modelo dos Requisitos para o Desenvolvimento de Propensão à Auto-Perpetuação

Fonte: Fleck (2006)

Na visão de Fleck (2006), quanto mais capacitações uma empresa

desenvolve e emprega para responder de forma construtiva aos desafios do

crescimento (Empreendedorismo, Navegação, Formação de RH, Diversidade e

Complexidade), mais propensa ela se torna para atingir o sucesso de longo prazo,

ou seja, a autoperpetuação. Como conseqüência, maiores são as chances de a

empresa conquistar posições de dominância nos negócios onde atua.

Segundo Langley (1999), uma das formas para realizar a análise

longitudinal dos traços de uma empresa, é a divisão por fases de análises. Tal

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divisão facilita a análise e permite a observação de diferentes respostas em cada

estágio da existência da empresa, permitindo uma comparação entre os estágios

e uma consolidação do todo. No caso da Marcopolo, sua trajetória foi divida em

três fases, que podem ser visualizadas no gráfico a seguir.

Gráfico 4.2 – Produção de Veículos da Marcopolo entre 1949 e 2006

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

1949

1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s*

3a Fase De 1987 a 2006

1a Fase De 1949 a 1967

2a Fase De 1968 a 1986

*Não inclui Volare e Furgões

Fechamento Marcopolo

Minas

Início Prod. Com Chassi

Brasileiro

Fundação da

Nicola & Cia.

LTDA

JK inicia expansão

da indústria automotiva no Brasil

InauguraçãoFábrica Planalto

1a Exportação

Criação da FAN

Ingresso Valter Gomes

Lançamento Ônibus

Marcopolo

Saída Irmãos Nicola

Ingresso José

Martins

Aquisição

Eliziário

Aquisição Nimbus

Mudança de nome

para Marcopolo

1o Contrato

CKD

Ações Bovespa

Fábrica Ana

Rech

Marcopolo Minas

Viagem ao Japão

Início Divers. Não

Relacionada

Crise no México

Plano Real

Desativação PlanaltoContrato

CKD para Gana

Técnicas Japonesas

Portugal

Escola Formação Profisiional

Criação da Fundação Marcopolo

Fim Diver. Não

Relacionada

Ônibus Volare

Argentina

México

Colômbia

50% Ciferal

100% Ciferal

Transf. Tecn. China

África do Sul

Desativação

Argentina

Avaliação Rússia e

China

Troféu Busbuilder of the Year

Fonte: Memorial Marcopolo (1949 – 1997) e Relatórios Anuais (1998 – 2006)

A primeira fase tem início em 1949, com a fundação da Nicola & Cia e se

estende até 1967, com a saída dos Nicola da empresa. Nessa primeira fase, que

engloba o início da indústria automobilística brasileira (1956), a empresa mudou a

localização da fábrica da Rua 18 do Forte para o pavilhão construído no Bairro

Planalto (1957). Nesse período a empresa realizou sua primeira exportação

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(1961), e os atuais diretores corporativos, Valter Pinto (1964) e José Martins

(1966), ingressaram na empresa.

A segunda fase tem início em 1968 e se estende até o ano de 1986, com a

viagem do presidente Paulo Bellini ao Japão, cujo objetivo era conhecer as

técnicas japonesas de administração. Nessa segunda fase, a empresa trocou sua

razão social para Marcopolo, três anos após o lançamento do ônibus de mesmo

nome e de grande sucesso. Nessa fase, também estabeleceu seus primeiros

contratos de exportação nos sistemas CKD/MKD (1972/74/75/76), realizou

investimentos em novas unidades fabris (Ana Rech e Marcopolo Minas), iniciou

sua estratégia de diversificação para negócios não-relacionados e, principalmente,

atravessou a maior crise de sua história, no período de 1982 e 1984.

Já a terceira fase, teve início com a implementação das técnicas japonesas

de produção, um marco dentro da empresa. Nessa mesma fase, a empresa

manteve, porém para mais tarde abandonar, a estratégia de diversificação em

negócios não-relacionados ao ônibus. Para crescer, a Marcopolo adotou, também,

uma estratégia de internacionalização com a implantação de fábricas e operações

em diversos países. Em 2007, tal estratégia ainda apresentava muita força dentro

da empresa. Ainda dentro dessa fase, houve uma reestruturação organizacional

dentro da empresa, na qual foi criada uma diretoria executiva e uma diretoria

corporativa.

A Tabela 4.2 apresenta um resumo dos volumes produzidos durante as três

fases, assim como uma média anual para cada período. Apesar de

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86

compreenderem aproximadamente a mesma quantidade de anos, é nítido o salto

de produtividade que a empresa deu ao longo das três fases. Enquanto em 1949 a

Nicola & Cia levava 90 dias para fabricar um único ônibus, em junho de 2007, a

produção mundial beirava o volume de 90 ônibus por dia.

Tabela 4.2 – Produção de Ônibus da Marcopolo ao longo das 3 Fases

Período 1949 a 1967 1968 a 1986 1987 a 2006 Total

No Anos Compreendidos

19 19 20 58

Ônibus Produzidos 3,143 41,760 142,659 187,562

Média Anual 165 2,198 7,133 3,234

Fonte: Memorial Marcopolo

A seguir, cada fase é analisada através de um relato das capacitações

organizacionais encontradas na empresa e suas respostas aos desafios do

crescimento propostos por Fleck (2006), integrantes do framework apresentado na

Figura 4.3.

4.1. Fase 1 – Os Primeiros Anos: 1949 a 1967

A primeira fase da análise tem início em 1949, ano da fundação da Nicola &

Cia e se estende até 1967, com o desligamento dos irmãos Nicola da empresa.

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Esta primeira fase marca também o início da indústria automobilística no Brasil, e

outras mudanças ocorridas na Marcopolo como mostra o Gráfico 4.3.

Gráfico 4.3 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1949 e 1967

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

1949

1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s*

3a Fase De 1987 a 2006

1a Fase De 1949 a 1967

2a Fase De 1968 a 1986

*Não inclui Volare e Furgões

Fechamento Marcopolo

Minas

Início Prod. Com Chassi

Brasileiro

Fundação da

Nicola & Cia.

LTDA

JK inicia expansão

da indústria automotiva no Brasil

InauguraçãoFábrica Planalto

1a Exportação

Criação da FAN

Ingresso Valter Gomes

Lançamento Ônibus

Marcopolo

Aquisição

Eliziário

Aquisição Nimbus

Mudança de nome

para Marcopolo

1o Contrato

CKD

Ações Bovespa

Fábrica Ana Rech

Marcopolo Minas

Viagem ao Japão

Início Divers. Não

Relacionada

Crise no México

Plano Real

Desativação PlanaltoContrato

CKD para Gana

Técnicas Japonesas

Portugal

Escola Formação Profisiional

Criação da Fundação Marcopolo

Fim Diver. Não

Relacionada

Ônibus Volare

Argentina

México

Colômbia

50% Ciferal

100% Ciferal

Transf. Tecn. China

África do Sul

Desativação

Argentina

Avaliação Rússia e

China

Troféu Busbuilder of the Year

Saída Irmãos Nicola

Ingresso José

Martins

4.1.1. Desafios do Empreendedorismo

Segundo Penrose (1980), os serviços empreendedores são condições

necessárias para a promoção do crescimento contínuo da firma ao invés de

crescimentos pontuais. Em linha com a noção de crescimento contínuo, Chandler

(1977) sustenta que a busca gerencial por uma utilização mais intensa e lucrativa

das instalações e das habilidades impulsiona a expansão da firma.

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Na visão de Penrose (1980), as principais qualidades dos serviços

empreendedores são: ambição, engenhosidade financeira, versatilidade e

julgamento. Cada um deles é examinado a seguir.

A) Ambição

Segundo Penrose (1959) é por meio do serviço empreendedor “ambição”

que a firma é motivada a crescer e buscar novas oportunidades. A ambição está

relacionada com o ímpeto em fazer.

Ao analisar a história da Marcopolo, já nos primeiros anos, é possível

identificar evidências das sementes da ambição, as quais mais tarde fariam seus

diretores declarar que o mercado da Marcopolo é o mundo. Apesar de todas as

dificuldades que serão descritas e marcaram esse período, a presença da

ambição na Marcopolo é sustentada pelos seguintes fatos principais:

• O seguido crescimento da produção de ônibus da empresa, como

pode ser observado no Gráfico 4.4;

• A expansão para uma unidade fabril mais ampla e com maior

capacidade produtiva, localizada no bairro Planalto;

• A busca de novos mercados, tanto no cenário nacional como

internacional;

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89

• Lançamento de diversos produtos, tanto no segmento rodoviário

como urbano.

Gráfico 4.4 – Produção do Número de Carroçarias pela Marcopolo entre os anos 1949 e 1967

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s*

1a Fase De 1949 a 1967

*Não inclui Volare e Furgões Fonte: Memorial Marcopolo

As Dificuldades Iniciais

O espaço geográfico de Caxias do Sul não facilitou o crescimento e

desenvolvimento da cidade, principalmente no que tange à localização e

topografia da região. Desde o início da colonização, as carretas tiveram que ser

adaptadas para superar as dificuldades do relevo. Naquela época, devido à falta

de tecnologia, produzir uma carroceria de ônibus era visto como um grande

desafio, pois exigia grande quantidade de tempo e de mão-de-obra.

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90

Apesar das dificuldades que deixavam esse ambiente pouco atraente, um

grupo de nove sócios, vide Tabela 4.3, decidiu montar uma empresa em Caxias do

Sul, cuja atividade principal seria a fabricação de carrocerias para ônibus. No dia

06 de agosto de 1949, a Nicola & Cia. Ltda foi fundada com nove sócios e quinze

funcionários. Em 1950, Paulo Pedro Bellini ingressou na empresa para cuidar do

almoxarifado e da contabilidade. Os sócios fundadores da empresa foram:

Tabela 4.3 – Sócios Fundadores da Nicola & Cia

Sócios FundadoresDorval Antonio NicolaDoracy Luiz NicolaNelson João NicolaArnoldo FabianArno Steffen,Arno Evaldo CornelJacob AckerAmérico Cunha CerqueiraNedy Maria Branco Cerqueira.

Já na constituição da empresa, dois grandes objetivos foram definidos para

toda a empresa: 1) Proporcionar máximo conforto e segurança ao público que se

utilizava dos transportes coletivos; 2) Oferecer aos proprietários de linhas de

transporte e frotistas carrocerias que, pelas suas credenciais de qualidade, se

tornassem realmente fatores de sucesso em seus negócios.

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91

Tais objetivos apresentam características que sugerem que o serviço da

ambição esteve presente na missão da Marcopolo, desde o nascimento da

empresa.

Nos primeiros anos, entre 1949 e 1957, a Nicola & Cia funcionou num

pavilhão localizado nas esquinas das ruas 13 de Maio e 18 do Forte, em Caxias

do Sul. Tal pavilhão com dois pisos e 290 m2 de área construída começou a se

tornar pequeno para os planos de expansão da empresa. Em 1954, a Nicola & Cia

almejou sua primeira expansão, transferindo sua atividade industrial para uma

fábrica mais ampla e com maior capacidade instalada.

Dessa forma, nesse mesmo ano de 1954, a construção da nova fábrica

teve início. A nova sede contou inicialmente com uma área de 3.100m2 e foi

estabelecida no então desabitado e mais tarde denominado bairro Planalto,

localizado em Caxias do Sul. Em 1957, a operação da empresa foi transferida

para essa nova fábrica.

Como decorrência do crescimento que a empresa vivia (vide Gráfico 4.4,

página 89), já no ano de 1965, a empresa realizou uma ampliação das instalações

da nova fábrica. Um segundo pavilhão com uma área de 2.240m2 foi construído

para suportar os índices de crescimento da produção que a empresa conquistava.

Em 1960, ocorreu o passo inicial para a conquista do mercado externo, com

a abertura da primeira representação comercial no exterior. Em 1961, a

Carrocerias Nicola vendeu duas carrocerias urbanas à Compañia de Omnibus

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92

Pando S.A. (COPSA), do Uruguai. A partir daí, os ônibus fabricados pela

Marcopolo começaram a rodar por todo o continente americano.

O prestígio de seus ônibus garantiu a participação em diversas

concorrências internacionais e os investimentos nas feiras internacionais foram

intensificados a partir de 1965. Nesse ano, a Nicola participou de exposições em

Montevidéu, Lima, Santiago, Bogotá e Caracas, além de enviar ônibus para a

África do Sul e Turquia. Esse movimento em direção à criação de novos mercados

foi comentado pelo Sr. Carlos Zignani:

“Mas o que nós temos que pensar um pouco é que nos anos 60, a Marcopolo começa então a exportar, começa a criar mercados aonde ela tem atuação então muito forte, cria a rede de representantes em cada estado, cria uma rede de representantes fora do Brasil, começa com o Uruguai e aí vai expandindo, para o Chile.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

Ao longo da década de 1960, com o objetivo de conquistar mercado no

Brasil e aumentar as vendas da empresa, a Marcopolo também iniciou a criação

da rede de representantes comerciais. Em 1963, instalou uma filial em São Paulo,

e com a entrada do Sr. Valter Gomes Pinto na empresa, em 1964, a criação de

filiais ganhou força. Nesse mesmo ano, a empresa instalou uma filial em Curitiba

(PR). No ano de 1965, o escritório do Rio de Janeiro passou a ser mais uma filial.

Com uma rede crescente de representantes comerciais, a Nicola foi criando

mecanismos para vender a série de produtos que foi lançando. Outro ponto que

merece destaque é a quantidade de produtos que a Nicola foi desenvolvendo nos

seus primeiros anos. Sempre incorporando inovações para a época, a Nicola

apesar de muito forte no segmento rodoviário, começou a dar seus primeiros

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passos também no segmento de urbanos. A tabela 4.4 apresenta os lançamentos

da empresa ao longo dessa primeira fase.

Tabela 4.4 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1949 e 1967

Fonte: Memorial Marcopolo

Com base nessas evidências, que envolvem desde a procura por novos

mercados como o desenvolvimento de novos produtos, as respostas da

Marcopolo, quanto ao serviço empreendedor da ambição, são vistas como

satisfatórias ao seu crescimento.

NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES

Nicola 1949 Rodoviário Ônibus com estrutura em madeira, capacidade para 26 passageiros.

Nicola 1950 Urbano Capacidade para 38 lugares, porta-pacotes e revestimento interno feito em Duratex.

Nicola 1953 Rodoviário Com estrutura em madeira e capacidade para 44 lugares.

Nicola 1955 Rodoviário 1º ônibus da empresa, com poltronas reclináveis.

Nicola 1957 Rodoviário Ônibus com estrutura metálica, revestimento de alumínio anodizado.

Nicola 1963 Rodoviário Capacidade média de 28 lugares, iluminação e cinzeiro individuais.

Nicola “Série Ouro”

1963 Rodoviário Capacidade entre 33 e 40 passageiros, poltronas reclináveis, parede de separação do motorista e opcionais de calefação e sanitário.

Nicola “Série Prata”

1963 Rodoviário Diferenciava-se do ônibus “Série Ouro” através dos itens opcionais.

Nicola 1963 Urbano Capacidade média para 32 passageiros sentados, equipado com catraca e mesa para cobrador.

Nicola 1967 Rodoviário Chassis LPO

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B) Engenhosidade em levantar recursos financeiros

Apesar das dificuldades presentes, principalmente nos primeiros anos da

empresa, a capacidade de levantar recursos financeiros é um traço marcante em

toda a história da Marcopolo. Segundo Penrose (1980), as firmas novas,

pequenas e desconhecidas não desfrutam da mesma facilidade em levantar

recursos financeiros que as firmas estabelecidas, grandes e conhecidas. Apesar

disso, muitas destas pequenas firmas, graças a uma habilidade especial do

empreendedor, são bem sucedidas ao levantar recursos financeiros.

Segundo entrevistas realizadas com os Srs. Carlos Zignani e Valter Pinto, a

Marcopolo já no seu início, tinha como praxe utilizar o capital da comunidade de

Caxias do Sul. Segundo os entrevistados, era corriqueiro as pessoas deixarem

como legado ações da Marcopolo para os filhos. Às vezes uma família tinha 4 ou 5

filhos, e todos eram acionistas da Marcopolo.

Em 1954, a empresa não contava com os recursos necessários para

construir a nova fábrica, então novos sócios são incluídos e Nicola & Cia. Ltda

passou a se denominar Carrocerias Nicola S.A. – Manufaturas Metálicas, uma

sociedade anônima. Nessa época, era comum o capital da comunidade integrar a

Marcopolo. Segundo Sr. Carlos Zignani o capital da comunidade era essencial

para permitir o crescimento da empresa.

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A nova sede, onde a fábrica passou a funcionar em 1957, contava com

3.100m2, e foi construída sobre um terreno cedido por Mário Sartor e sua esposa

Lida Scola Sartor, com o objetivo de incentivar a ocupação de um loteamento junto

a essa área.

Para levantar os recursos necessários a esse investimento, as ações da

Nicola foram vendidas por meio de uma estratégia “corpo-a-corpo” e não através

da bolsa. Para negociá-las, os sócios recorreram a familiares, parentes e amigos,

pois a empresa ainda não possuía projeção no mercado. Há relatos que o próprio

Paulo Bellini saiu à rua de maleta na mão vendendo ações da empresa, conforme

os trechos do depoimento abaixo indicam:

“Quando estávamos no fim da construção, em 1957, não tínhamos dinheiro nem para pagar o que estava feito, tínhamos muitas dívidas, não tínhamos capital de giro. Soubemos, então, que havia um movimento no estado para estimular a formação de empresas de capital aberto. Foi isso que fizermos, transformamos a Nicola em empresa de capital aberto e começamos a trabalhar para vender suas ações. Imagina a dificuldade que foi, naquela época, dar um passo como aquele! Nosso sucesso foi alcançado pela persistência e sobretudo pelo nosso entusiasmo.”(Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 26)

Em 1966, a Nicola transformou-se em Sociedade de Capital Autorizado,

para se enquadrar na nova Lei do Mercado de Capitais. Tal conjunto de

elementos indica que a empresa apresentou respostas satisfatórias no serviço de

engenhosidade de levantar recursos financeiros.

C) Versatilidade

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No entender de Penrose (1980), a versatilidade está relacionada com a

capacidade do empreendedor em gerar idéias, descobrir e reconhecer

alternativas, utilizar o instinto para tomar decisões no tempo correto e vislumbrar

oportunidades não tão óbvias. Ser versátil é ter habilidade em perceber

oportunidades produtivas.

Segundo o contrato de constituição da Nicola, a empresa tinha por objetivo:

“a exploração do ramo de FABRICAÇÃO DE CARROCERIAS, PINTURAS e

CHAPEAÇÃO DE AUTOMÓVEIS e tudo o mais que lhe convier”. O grupo inicial

foi formado de dois pintores, dois chapeadores, dois carpinteiros e um lustrador.

Tais formações diversas formavam habilidades indispensáveis ao processo de

encarroçamento do ônibus, o que acabou acelerando o aprendizado da produção

do ônibus e a troca de experiências entre as áreas (versatilidade técnica).

Nos primeiros anos, para se adaptar às circunstâncias do momento, as

vendas eram realizadas principalmente por Dorval Nicola e por Paulo Bellini, que

acumulavam outras funções na empresa. Quando não estavam negociando com

os clientes, Dorval estava na fábrica pintando, enquanto Paulo organizava a parte

administrativa (versatilidade gerencial).

Mais tarde, uma nova alternativa criada pela empresa para aumentar as

vendas foi a instalação de uma rede de filiais, representantes e escritórios nas

principais cidades do país (versatilidade empreendedora). Esta decisão já possuía

o intuito de prestar assistência, serviços de pós-vendas e fornecer peças de

reposição às empresas de transporte. Posteriormente, diversos outros países

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também foram englobados pela área de vendas e as feiras internacionais foram

vistas como uma grande oportunidade de vendas para a empresa como lembrou o

Sr. Valter Pinto:

“...mas o Uruguai e o Chile, com a presença nossa. Porque nossa idéia era sempre levar os ônibus para as feiras, aonde tínhamos facilidade com vendas... Não adianta, no nosso produto, mostrar um catálogo bonitinho e etc, porque você precisa sentar, precisa ver, precisa manobrar. Hoje o nome é test drive.” (Entrevista Sr. Valter Gomes Pinto)

Em 1964, dois representantes instalados, um em São Paulo e outro em

Curitiba, atendiam a diversos clientes e trabalhavam para ampliar o mercado em

nível nacional. Nesse mesmo ano, a empresa abriu uma filial comercial no Rio de

Janeiro, que era um mercado difícil, pois foi o primeiro a ter uma legislação para a

padronização do transporte coletivo, como também possuía vários fabricantes

locais de ônibus. Em seguida, para adequar o produto a esse mercado, foi

realizado um trabalho com a fábrica.

A Marcopolo, desde sua fundação, tem se preocupado com a criação de

estratégias comerciais (versatilidade empreendedora). Na década de 1950, época

em que o chassi não era específico para ônibus, o cliente já precisava conhecer

os procedimentos utilizados na produção de um ônibus para avaliar em que

aspectos esse produto se diferenciava dos da concorrência. Pensando nisso, a

empresa abria as portas de sua fábrica para clientes e fornecedores, para que

estes pudessem ver o processo de fabricação dos seus ônibus e assim comprovar

a qualidade e a confiabilidade do produto.

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No final da década de 1950, a empresa produzia peças publicitárias que

além de divulgar os produtos e suas características, realçavam o processo de

fabricação dos ônibus. O material apresentava máquinas e equipamentos de que

dispunha a fábrica para transmitir a imagem de uma empresa alinhada com o

avanço tecnológico da época.

Em 1960, a propaganda da empresa já era veiculada em todo o Brasil,

através dos folhetos distribuídos pelas filiais e representantes e de anúncios em

revistas da época, como a edição brasileira da Revista Seleções do Reader's

Digest, que publicava na contracapa um anúncio destacando o conforto, o

rendimento e a segurança das carrocerias urbanas e rodoviárias Nicola.

Em 1963, a empresa desenvolveu uma campanha bem original, ao oferecer

aos seus clientes, como brinde de final de ano, assinaturas das melhores revistas

em circulação no país. Ainda no ano de 1963, empresa lançou os ônibus Nicola

Série Prata e Nicola Série Ouro. Ao longo dos primeiros anos da Nicola, diversos

outros produtos foram lançados (vide a Tabela 4.4) com o objetivo de aumentar as

vendas e desenvolver o mercado de ônibus (versatilidade empreendedora).

Outro fato que ressalta traços de versatilidade, na então Nicola, foi a

inserção das mulheres no chão de fábrica, pois até aquele momento a mão-de-

obra era exclusivamente masculina (versatilidade gerencial). O processo produtivo

de uma carroceria envolve uma série de etapas e procedimentos, que englobam

desde a colocação de pesadas chapas de aço e alumínio até a finíssima costura

das capas das poltronas.

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Dessa forma, segundo depoimento de Paulo Bellini, como as mulheres

pensam mais nos detalhes, têm mais habilidades e são mais cuidadosas, foi

identificado que elas seriam muito bem aproveitadas nas atividades relacionadas

ao acabamento das carrocerias (versatilidade técnica). (Marcopolo: Meio Século

de uma História, 1999, p. 65).

Devido à habilidade em perceber oportunidades produtivas, que geraram

valor à companhia e eram legítimas perante à sociedade, a Marcopolo apresentou

respostas satisfatórias ao serviço da versatilidade.

D) Julgamento

Na visão de Penrose (1980) o julgamento como um serviço empreendedor

se relaciona com a habilidade de a empresa avaliar os riscos e incertezas que

fazem parte do processo de crescimento e buscar maneiras para mitigá-los.

Já no início da história da Marcopolo, há indícios de que a empresa foi

desenvolvendo uma habilidade em julgar seus movimentos em direção ao

crescimento de forma apropriada sem colocar sua existência em risco. A principal

evidência identificada nesse período é a transferência da fábrica localizada na Rua

18 do Forte para a nova unidade construída no Bairro Planalto.

Por não contarem com os recursos financeiros necessários, os sócios da

Nicola recorreram à comunidade de Caxias do Sul para levantar o montante

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necessário para viabilizar a construção de uma fábrica mais ampla e com maior

capacidade instalada. Tal fato indica que a direção da Nicola conseguiu reduzir a

exposição ao risco de uma expansão desse porte poderia causar.

A construção da nova fábrica teve início em 1954, dois anos antes da

criação do GEIA pelo Juscelino Kubitschek, data considerada como o nascimento

da indústria automobilística no Brasil. De certa forma, os sócios da Nicola já

vislumbravam que a indústria automobilística brasileira iria se desenvolver, fato

que os motivou a apostar na indústria de carrocerias de ônibus e investir no

crescimento da empresa.

Apesar de acreditarem que a nova fábrica inaugurada em 1957

proporcionaria o espaço adequado para atender a demanda por um período

bastante longo, oito anos mais tarde, em 1965, a empresa precisou, mais uma vez

ampliar suas instalações, através de um segundo pavilhão. Tal julgamento, fruto

de bom senso e autoconfiança por parte da empresa, fez com que a Nicola

ampliasse sua capacidade produtiva, ganhasse mercado e aumentasse seu porte

em relação às suas concorrentes nacionais.

Ao longo da primeira fase, há indícios de que a empresa começou a

desenvolver a habilidade de minimizar os impactos das oscilações da demanda

interna ou de determinados mercados específicos no faturamento. A instalação de

redes de representantes comerciais no Brasil e principalmente no exterior sugere

que a Nicola, desde o início, já buscava formas de conquistar novos mercados.

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Sua rede de representantes estimulava um maior relacionamento da empresa com

seus clientes, promovendo vendas regulares a esses clientes.

Outro mecanismo criado para diluir o risco do negócio, foi a entrada no

segmento de ônibus urbanos. Como pode ser visto na Tabela 4.4, apesar da

Nicola ter seu início marcado pelos ônibus rodoviários, dois modelos de ônibus

urbanos foram lançados nesse período.

Apesar do constante desenvolvimento de novas tecnologias e novos

produtos como elemento de crescimento, em 1963, a Nicola realizou dois

lançamentos que não atingiram o êxito esperado, porém serviram como

aprendizado para os lançamentos seguintes. Os dois ônibus rodoviários lançados

foram o Nicola Série Prata e o Nicola Série Ouro. A Série Prata era composta de

ônibus mais simples e mais baratos, enquanto a Série Ouro era composta por

ônibus luxuosos e mais caros.

Por não conseguir segmentar claramente o público que gostaria de atingir

com os dois produtos, apenas a Série Ouro apresentava vendas. Esse fato levou

a empresa a optar pela fabricação de modelos completamente diferentes. Apesar

desse fato, a análise do serviço julgamento nessa primeira fase indica que as

respostas da empresa foram favoráveis ao seu crescimento.

E) Sumário das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase I)

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Analisadas as quatro qualidades do serviço empreendedor, o resumo das

respostas da Nicola ao desafio do empreendedorismo, ao longo do período entre

1949 e 1967, segue na Tabela 4.5:

Tabela 4.5 – Resumo das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase I)

4.1.2. Desafios da Navegação no Ambiente

Segundo Fleck (2006), o desafio de navegação no ambiente é representado

tanto pela maneira como a firma lida com os diferentes stakeholders dentro de um

ambiente em mudança, como pela capacidade que a firma desenvolve de criar e

capturar valor, como também de assegurar a legitimidade da organização. Para

navegar de forma bem sucedida, as respostas da firma a esse desafio devem

compreender um satisfatório monitoramento das pressões ambientais, e um uso

preciso e adequado de toda gama de estratégias de navegação (Oliver, 1991).

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O ambiente no qual a Nicola iniciou suas atividades em 1949 pode ser

considerado como inóspito para a produção de carrocerias de ônibus. As

dificuldades eram enormes: não existia mão-de-obra especializada, não havia

tecnologia nem ferramental apropriados para a produção de ônibus, e para

agravar essa situação, não havia uma indústria de autopeças sólida no Brasil

capaz de suprir as necessidades das encarroçadoras de ônibus.

Até o final da década de 1950, os chassis de caminhões eram adaptados e

utilizados para a produção do ônibus no Brasil. Muitos desses chassis também

eram importados. Somente em 1957, após Mercedes-Benz, GM e Scania se

instalarem no Brasil, a Nicola produziu seu primeiro ônibus com chassi brasileiro.

Para analisar a forma como a Marcopolo desenvolveu habilidades para ser

bem sucedida ao navegar no ambiente, serão descritas as evidências que indicam

como a empresa fez uso das respostas estratégicas propostas por Oliver (1991),

vide Tabela 4.6, para capturar valor e assegurar a legitimidade da organização.

Em contrapartida, caso tal habilidade para navegar no ambiente não seja

desenvolvida ou se mostre ineficiente, a firma coloca sua legitimidade

organizacional em risco, podendo perder enormes oportunidades para capturar

valor e reagir a mudanças (Fleck, 2006).

Tabela 4.6 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais

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Estratégia Tática Exemplo

Aderir Seguir normas invisíveis, aceitas como padrão

Imitar Imitar modelos institucionalizados

Cumprir Obedecer regras e aceitar normas

Equilibrar Equilibrar as expectativas de múltiplos stakeholders

Pacificar Apaziguar e acomodar elementos institucionais

Barganhar Negociar com stakeholders institucionais

Ocultar Disfarçar a desconformidade

Proteger Desprender-se de compromissos institucionais

Fugir Mudar metas, atividades ou domínios

Destituir Ignorar normas e valores explícitos

Desafiar Contestar regras e requerimentos

Atacar Violar as fontes de pressão institucional

Cooptar Conquistar apoio de elementos influentes

Influenciar Moldar valores e critérios

Controlar Dominar elementos e processos institucionais

Manipular

Consentir

Negociar

Evitar

Desafiar

Fonte: Oliver (1991)

A) Captura de Valor

Como já comentado, os primeiros anos da empresa foram marcados por

diversas dificuldades. Não existiam chassis específicos para ônibus no Brasil,

então o chassi de caminhão precisava ser cortado e emendado tanto no

comprimento quanto na largura, a partir de um processo totalmente artesanal.

Como não detinha tecnologia inovadora, a empresa seguiu os padrões de

modelos que estavam sendo fabricados pela concorrência para lançar seus

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primeiros produtos no mercado e criar valor junto a seus clientes (estratégia de

consentir; tática de aderir).

Na metade da década de 1950, os chassis especiais para ônibus surgiram

no Brasil, o que agilizou o processo de fabricação das carrocerias. Contudo, a

maioria dos clientes seguia comprando os chassis de caminhão para serem

adaptados, o que obrigou a Nicola a seguir atendendo alguns de seus clientes

(estratégia de consentir; tática de cumprir) até o início da década de 1960,

quando, enfim, os chassis adaptados entraram em desuso.

Em alguns casos, após a realização do contrato de venda, a própria Nicola

financiava o valor total da carroceria para o cliente e o tempo de parcelamento

variava entre 24 e 30 meses. Tal modalidade de parcelamento, apesar de atender

os desejos de seus clientes, acabava por criar dificuldades financeiras à empresa,

pois afetava diretamente seu capital de giro (estratégia de consentir; tática de

cumprir). Tais práticas só foram descontinuadas, ou melhor, suavizadas com a

introdução de medidas governamentais como o Crédito Direto ao Consumidor.

Outra evidência que mostra como a empresa almejava criar e capturar valor

para seus clientes, pode ser vista pela sua preocupação em construir um

relacionamento com estes públicos. Na década de 1950, época em que o chassi

ainda não era específico para ônibus, o cliente procurava conhecer os

procedimentos utilizados na produção de um ônibus para avaliar em quais

aspectos os fabricantes diferenciavam entre si. Em linha com isso, a Nicola abria

as portas de sua fábrica para clientes e fornecedores, para que estes pudessem

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ver o processo de fabricação dos seus ônibus e assim comprovar a qualidade e a

confiabilidade de seus produtos (estratégia de manipular; tática de cooptar).

Nos primeiros anos da década de 1960, a introdução do Crédito Direto ao

Consumidor pelo governo brasileiro constituiu uma medida decisiva em prol do

desenvolvimento da indústria automotiva, pois oferecia boas condições de crédito

aos donos de frotas de ônibus. Pegando carona com o bom momento econômico,

a Nicola investiu em novas tecnologias, desenvolveu novos processos produtivos

para criar valor ao seu produto e à empresa. Com isso, ela cresceu e atingiu a

produção de 468 unidades no ano de 1967.

Junto com novas técnicas de produção, novos materiais começaram a ser

utilizados na produção do ônibus. Um desses novos materiais foi o aço que,

gradativamente, passou a substituir a madeira nos ônibus. A Nicola foi a primeira

empresa a montar carrocerias metálicas no Brasil (estratégia de desafiar; tática de

desafiar), substituindo a madeira pelo aço (Cardoso, 2000. pg 42).

Ainda na década de 1960, a partir de pesquisas técnicas e experiências

práticas, a empresa reestruturou todo o sistema de fabricação de carrocerias,

introduzindo algumas inovações, como maior curvatura no arco do teto, maior

profundidade nos perfis das laterais e dos arcos, maior espessura das chapas de

suas carrocerias. Tais melhorias proporcionaram mais resistência, durabilidade,

segurança e economia aos seus produtos e foram mais tarde adotados pela

concorrência (estratégia de manipular; estratégia de influenciar).

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Devido à localização geográfica de sua fábrica, longe dos tradicionais

centros comerciais, a conquista de novos mercados se mostrou uma tarefa

complicada nos primeiros anos da empresa. Com o objetivo de contornar este

obstáculo, em 1964, a Nicola abriu uma filial comercial no Rio de Janeiro, um

mercado bem complicado na época, pois além de ser o primeiro a ter uma

legislação para a padronização do transporte coletivo, já contava com vários

fabricantes locais de ônibus (estratégia de desafiar; tática de desafiar).

Enquanto diversas destas empresas locais foram fechando as portas nos

anos que seguiram, a Nicola foi ganhando espaço no mercado do Rio de Janeiro e

atingiu a liderança deste mercado.

No cenário internacional, em 1961 a Nicola realizou um feito inédito dentro

da indústria brasileira. Duas carrocerias urbanas foram vendidas a Compañia de

Omnibus Pando S.A. (COPSA), do Uruguai, se constituindo no passo inicial

daquele que viria ser, anos mais tarde, o grande projeto da empresa: a

internacionalização.

A título de ilustração, a seguir segue a Tabela 4.7 contendo uma lista não

exaustiva de evidências de criação e captura de valor, proporcionadas pela

Marcopolo, entre os anos de 1949 e 1967, para alguns stakeholders.

Tabela 4.7 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1949 e 1967

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Stakeholder Criação de Valor Captura de Valor

Comunidade (Caxias do Sul)

- Patrocínio de Festas e Exposições na cidade - Geração de Emprego e Renda na cidade

- Legitimidade perante a comunidade de Caxias do Sul

Fornecedores

- Atração de Fornecedores para a cidade - A empresa abria a porta de sua fábrica para seus fornecedores.

- Redução de custos logísticos - Legitimidade perante aos fornecedores

Clientes (Empresas de Ônibus)

- Financiamento de carrocerias para clientes - Criação de rede de representantes - A empresa abria a porta de sua fábrica para seus clientes. - Desenvolvimento de novos produtos através também de novos materiais e processos produtivos

- Aumento de vendas - Acesso a novos mercados no Brasil - Acesso ao mercado externo - Legitimidade perante aos clientes - Fortalecimento da marca

Funcionários

- Realização de cursos em diversas instituições de formação de mão-de-obra - Criação do Grêmio Atlético Nicola (GAN) - Criação da Fundação Assistencial Nicola (FAN)

- Funcionários mais motivados e preparados - Retenção de pessoal - Aumento de produtividade

Acionistas - Rentabilidade do capital investido

- Rentabilidade do capital investido

B) Legitimidade Organizacional

Um traço sempre marcante da Marcopolo, desde sua fundação, é a relação

que a empresa desenvolveu com a cidade de Caxias do Sul. Nos primeiros anos,

apesar da razão social da empresa ser Nicola & Cia. Ltda, ela era conhecida como

Carrocerias Caxiense, como referência a cidade de origem. Já nos primeiros anos

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da empresa, o apoio financeiro da comunidade foi essencial para financiar os

planos de expansão da empresa.

Nesse aspecto merece destaque o caminho adotado pela empresa para

levantar recursos financeiros, pois a empresa, ao contrário do que muitas outras

faziam, não recorreu às linhas de financiamento já estabelecidas pelos bancos na

época (estratégia de desafiar; tática de destituir). Como já salientado, as primeiras

expansões da empresa foram financiadas com capital captado junto à

comunidade, em virtude da legitimidade que a Nicola conquistou no seio da

comunidade caxiense (estratégia de manipular; tática de cooptar).

Ainda no que tange à cidade de Caxias do Sul, a Nicola sempre atuou de

forma presente nos assuntos da comunidade. Em 1958, a Nicola já participava das

exposições durante a maior festa promovida pela cidade: a Festa da Uva e a Feira

Agro-Industrial, criando valor para a cidade de Caxias do Sul (estratégia de

manipular; tática de cooptar). A Nicola sempre se preocupou em participar dos

eventos promovidos pela comunidade, como destaca o livro comemorativo de 50

anos da empresa:

“Certamente, participar de eventos promovidos pela comunidade caxiense ou criar outros para que a mesma participe, acreditando nos talentos que aqui germinam é uma forma particular de a empresa agradecer à sua terra, seu sucesso e sua projeção.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 94)

Outro mecanismo utilizado pela empresa para se promover dentro de

Caxias do Sul, foi sua atuação no âmbito esportivo através da criação do Grêmio

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Atlético Nicola (GAN), criado em 1956. O GAN, primeiramente, funcionou como

um time de futebol, mas depois se converteu numa instituição que reuniu outras

modalidades esportivas. Através do GAN, muitos familiares dos funcionários

passaram a acompanhar o time em jogos locais ou em outros municípios e os

mascotes da equipe eram os filhos dos próprios funcionários-atletas (estratégia de

negociar; tática de equilibrar). Os campeonatos municipal e estadual de futebol

amador foram algumas das conquistas do GAN, dando grande visibilidade à

empresa dentro do cenário nacional.

Em 1963, foi criada a Fundação Assistencial Nicola (FAN), cujo principal

objetivo era o de proporcionar aos seus colaboradores um melhor ambiente de

trabalho, levando em consideração a saúde, a educação, a recreação e a cultura.

Ainda no início da década de 1960, a diretoria da FAN assinou um contrato com a

Aliança Gaúcha Cia. de Seguros Gerais instituindo um seguro que cobria

acidentes dos funcionários fora do expediente de trabalho, pois já existia um

seguro obrigatório que cobria acidentes durante a jornada de trabalho.

Tal iniciativa foi bastante elogiada pela imprensa local e levou outros

empresários do município a seguirem a mesma atitude (estratégia de manipular;

tática de cooptar). O trecho a seguir foi retirado de um jornal da época e através

dele é possível perceber como a Nicola era percebida pela comunidade:

“A decisão dos diretores da Nicola, esta progressista indústria, mostra o desejo de proporcionar cada vez melhores condições para seus auxiliares, inclusive possibilitando-lhes meios de amparo aos familiares nos casos em que os mesmos venham a falecer ou ficarem impossibilitados de trabalhar em conseqüência de acidente sofrido fora do recinto da fábrica. Os industriais caxienses dão, assim, um magnífico exemplo de descortínio,

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demonstrando, por meios práticos, sua preocupação com o bem-estar e segurança daqueles que os auxiliam a construir a riqueza de nosso parque industrial." (Jornal Pioneiro, 26/05/62)

A logística envolvida na aquisição e recebimento dos insumos necessários

produção do ônibus, como a madeira que vinda do Paraná, constituíam outro

empecilho que afetava o tempo de produção. Naquela época, os poucos

fornecedores existentes raramente se localizam próximos à cidade de Caxias do

Sul. Aos poucos, a empresa foi conseguindo atrair fornecedores para Caxias do

Sul, muitos dos quais, mais tarde, se fixaram junto às suas fábricas. No entanto,

nessa primeira fase a empresa ainda dava seus primeiros passos para obter a

legitimidade da organização perante seus fornecedores fazendo com que mais

tarde Caxias do Sul se tornasse um dos principais pólos automotivos do Brasil

(estratégia de negociar; tática de barganhar).

Em 1959, a Fabus, a entidade que congrega os fabricantes de carroçarias

para ônibus no Brasil, cuja missão é defender os interesses da classe, é fundada

com participação da Nicola. (estratégia de negociar; tática de pacificar).

C) Sumário das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase I)

Analisadas as respostas da Nicola quanto ao desafio de navegação no

ambiente nota-se, ao longo da primeira fase, a existência de evidências que

indicam que a firma respondeu às pressões do ambiente em diversos momentos,

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seja através de estratégicas de maior vulnerabilidade (consentir e negociar)

quanto ativas (desafiar e manipular). A qualificação dessa respostas está

apresentada na Tabela 4.8.

Tabela 4.8 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase I)

4.1.3. Desafios da Gestão da Diversidade

Segundo Fleck (2006), a necessidade de sustentar a integração

organizacional aumenta à medida que a firma cresce, pois a diversidade tende a

crescer com o aumento de tamanho. Por exemplo, ao aumentar o quadro de

funcionários de uma empresa, aumenta-se, por mais que não se deseje, a

heterogeneidade das características das pessoas que fazem parte da

organização.

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Ao longo da primeira fase da Marcopolo, ainda na denominação Nicola,

nota-se a existência de indícios de que a firma foi desenvolvendo mecanismos de

integração organizacional, apesar da ocorrência de eventos que a fragilizaram, a

exemplo do desligamento da empresa, em 1967, dos sócios, Dorval, Doracy e

Nelson Nicola. Não foram encontradas informações esclarecendo o real motivo

deste desligamento, porém pelas entrevistas realizadas, pode-se supor que houve

algum desentendimento.

A fabricação do ônibus sempre foi um processo basicamente artesanal,

intensiva em mão-de-obra. Percebendo isso, desde seu início a Marcopolo se

preocupou em criar mecanismos que integrassem seus funcionários e os

comprometessem com o funcionamento da empresa. Como se observa no trecho

da entrevista com um diretor da empresa, criar comprometimento das pessoas

sempre foi peça fundamental para o sucesso da empresa.

“A gente depende muito da mão-de-obra artesanal, não somos uma indústria de processos, como é uma indústria química, uma siderúrgica. Nós dependemos das pessoas. Nossa linha de montagem são pessoas. Equipamentos nós usamos muito, mais para produzir os componentes. Mas na linha de montagem é manual, é basicamente mão-de-obra. E nós precisamos ter uma mão-de-obra que tenha qualificação e tenha comprometimento com o negócio.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

Nos primeiros anos de atividade da Nicola, eram oferecidos cursos e

encontros aos supervisores, chefes e colaboradores, visando à construção

também das relações pessoais entre os funcionários. Os dirigentes acreditavam

que se a fabricação de um ônibus era altamente dependente de pessoal

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especializado, essas equipes deveriam trabalhar satisfeitas e perfeitamente

entrosadas, o que para eles, não se restringia apenas ao aspecto profissional.

O fato de os próprios sócios trabalharem na fábrica junto aos demais

funcionários funcionou como estímulo à produção com maior qualidade e foi um

mecanismo eficaz de aproximação entre direção e funcionário. Tal entrosamento é

lembrado e valorizado por muitos funcionários daquela época como uma

importante prática que impulsionou o crescimento da empresa.

Ainda no que diz respeito ao entrosamento entre funcionários, nos

primeiros anos da empresa, ainda na Rua 18 do Forte, alguns funcionários

aproveitavam o tempo do horário de almoço para jogar bola na rua, em frente à

fábrica. Como conseqüência, foi criado um time de futebol que contava com os

sócios fundadores da empresa, Dorval Nicola, Doracy Nicola e Paulo Bellini, e

diversos outros funcionários.

Mais tarde o esporte foi se tornando, cada vez mais, um importante

mecanismo de integração organizacional, principalmente a partir de 1956, com a

criação do Grêmio Atlético Nicola (GAN). Num segundo momento, diversas

modalidades esportivas, além do futebol, passaram a fazer parte do GAN. Para

integrar ainda mais os funcionários, eles podiam levar suas famílias para assistir

aos jogos que ocorriam em Caxias do Sul e em outros municípios.

Além das atividades de integração desenvolvidas pelo GAN e pela

Fundação Assistencial Nicola (FAN), fundada em 1963 com o objetivo de

proporcionar aos seus colaboradores um melhor ambiente de trabalho, foi

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instituída em 1967 a Equipe Interna de Combate a Incêndios (EICI). Inicialmente

com 13 membros e destinada a atuar somente na empresa, em 2007, a Brigada

de lncêndios da Marcopolo contava com quase 300 homens distribuídos

estrategicamente em suas unidades fabris em diversos setores e turnos. Durante

a visita realizada na fábrica pode-se observar o orgulho que essas pessoas

sentem em servir a empresa, também, como bombeiros.

A Nicola, desde cedo, foi uma empresa que buscou a transparência e

compartilhamento de informações como mecanismos importantes de integração

com os funcionários. A empresa levava, para sua fábrica, clientes e fornecedores,

para que pudessem assistir ao processo de fabricação dos seus ônibus para

comprovar a qualidade e a confiabilidade do produto.

Em seguida, como ferramenta de marketing interno, as vendas realizadas

e os resultados das visitas eram divulgados aos trabalhadores. Tal gesto servia

como estímulo à produção, pois a gerência acreditava que para produzir com

qualidade, o funcionário deveria estar motivado e, principalmente, se sentindo

parte daquele sucesso. Desde cedo, a Nicola procurava compartilhar os êxitos e

as dificuldades com todos os funcionários.

Ao longo dessa primeira fase, a Nicola foi atingindo significativos índices de

crescimento, que a forçaram a realizar algumas reestruturações administrativas

para aperfeiçoar procedimentos técnicos, operacionais e de gestão. Para destacar

o bom trabalho que estava sendo realizado dentro da Nicola e mostrar como a

empresa estava conseguindo se manter integrada diante dos seguidos saltos de

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crescimento, a Revista Seleções do Reader's Digest trouxe em 1968 um

suplemento especial intitulado Perfis do Rio Grande do Sul, que ressalta a filosofia

de trabalho da empresa:

“Fazendo de sua filosofia de trabalho o lema ‘a organização é antes de tudo o homem’, os dirigentes de Carrocerias Nicola S.A. sabiam onde queriam chegar. A meta que se propunham atingir, a de fabricar somente produtos de alta qualidade, ao fundarem a empresa há 19 anos, só seria possível, assim admitiam, se constituíssem uma equipe verdadeiramente homogênea em todos os seus escalões, de dirigentes e comandados, do pessoal técnico e administrativo." (Revista Seleções do Reader’s Digest, Set,1968, no320, s.p.)

A homogeneidade destacada no trecho da Reader's Digest, de fato é um

importante traço da cultura da Marcopolo. A empresa, desde cedo, foi

desenvolvendo mecanismos que permitiram construir a homogeneidade dos

funcionários da empresa. Segundo Sr. José Albino, um ex-funcionário que

permaneceu na empresa por quase quatro décadas, a empresa, desde seu início,

conseguiu encaixar seus funcionários dentro de um mesmo padrão.

“É uma coisa que tu se sente muito bem. O pessoal gosta, e trabalha aqui por causa desse tipo de coisa. Então a Marcopolo pega os funcionários e bota eles numa integração, vários dias, e doutrina o cara para aceitar aquilo. E o cara entra, se adapta àquilo e se sente bem. ” (Entrevista Sr. José Albino)

A publicação periódica de informativos foi outro importante recurso para

promoção da integração da Nicola. Estes informativos serviam para divulgar a

imagem da empresa aos seus funcionários e o estreitar de laços com a

comunidade. O primeiro foi o Boletim Informativo Nicola (BIN), lançado em 1961.

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O BIN publicava matérias relativas à qualificação da mão-de-obra, às visitas que a

empresa recebia e aquelas que seus funcionários realizavam.

Este veículo também destacava os aniversários, os matrimônios e,

principalmente, os esportes. Algumas matérias eram publicadas com o objetivo de

auxiliar na formação ética, cultural e moral do leitor, como também enfatizar a

segurança no trabalho. O BIN era distribuído a todos os funcionários que

trabalhavam na empresa e segundo o Sr. José Albino, ele e a maioria dos

funcionários tinham o costume de ler esses informativos.

Dessa forma, ao analisar as respostas do desafio na gestão da diversidade,

é possível perceber que a Nicola foi desenvolvendo mecanismos de integração já

na primeira fase da empresa, como mostra a Tabela 4.9.

Tabela 4.9 – Resumo das Respostas ao Desafio da Gestão da Diversidade (Fase I)

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4.1.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais

Segundo Fleck (2006), o desafio da formação de recursos gerenciais

consiste em manter constantemente a firma equipada com recursos humanos de

qualidade. Para ser bem sucedida nesse desafio, a firma tem que desenvolver

habilidades em antecipar, formar, reter e renovar seus recursos gerenciais.

Como já mencionado anteriormente, a Marcopolo, chamada de Nicola

durante a primeira fase de análise, sempre dedicou uma atenção especial à

questão da mão-de-obra. Alguns motivos que fazem da mão-de-obra um tema

central já foram citados. No entanto, a seguir serão descritas as principais

evidências que indicam como a Nicola se portou perante aos principais aspectos

que compõem o desafio da formação de recursos gerenciais.

A) Antecipação

Não há muitas evidências que sugerem que o aprovisionamento antecipado

já era uma preocupação da empresa nos seus primeiros anos. Por outro lado,

quando se observa a constituição da Nicola & Cia em 1949, percebe-se que o

grupo que fundou a empresa detinha habilidades distintas, mas que se

completavam, sendo indispensáveis ao processo de fabricação de uma carroceria.

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Este grupo inicial era formado por dois pintores, dois chapeadores, dois

carpinteiros e um lustrador, o que indica que a firma já se preocupava em ter os

recursos necessários de forma antecipativa para realizar determinada atividade,

evitando qualquer enfraquecimento da integração organizacional da empresa.

Embora não se tenha podido identificar os reais motivos que levaram ao

desligamento dos irmãos Nicola da empresa no ano de 1967, é fato que a entrada

dos Srs. Valter Gomes Pinto e José A. Martins nos anos de 1964 e 1966,

respectivamente, viria a preencher os espaços que seriam criados pela saída da

família Nicola no negócio.

No entanto, não se pode afirmar que a saída dos Nicola já estava prevista

no momento da admissão dos Srs. Valter Pinto e José Martins, que mais tarde, se

tornaram controladores da empresa. Por outro lado, a entrada desses senhores

além de servir como um mecanismo de renovação, como será descrito mais

adiante, também foi motivada pelo fato de a empresa estar crescendo e precisar

de recursos para suportar tal processo de crescimento para os anos seguintes.

B) Formação

Formar a mão-de-obra necessária ao encarroçamento do ônibus foi uma

das principais dificuldades vividas pela Nicola naqueles primeiros anos. No

entanto, dois fatores merecem destaque por contribuírem para o nascimento da

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120

firma, principalmente no quesito mão-de-obra. O primeiro foi a existência da

Metalúrgica Abramo Eberle, empresa fundada em 1896 e o maior empregador de

Caxias do Sul na década de 1960.

A Metalúrgica Abramo Eberle foi fundamental no surgimento de pólo metal-

mecânico na cidade e uma importante formadora de mão-de-obra especializada

para outras indústrias que foram surgindo na cidade, como a Nicola. O segundo

fator foi a criação em 1942, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI), cujo objetivo era atender a uma carência do país: a formação de mão-de-

obra para a incipiente indústria de base que estava surgindo.

A Nicola, desde cedo, se aproveitou dessa mão-de-obra, que apesar de

apresentar alguma qualificação não tinha conhecimento técnico de uma indústria

que estava surgindo no Brasil, no caso a automotiva. Na época, não havia

ferramental apropriado e as dificuldades eram as mais variadas. Mesmo assim, os

funcionários iam desenvolvendo novos procedimentos e novas técnicas. Este

conhecimento tinha que ser pacientemente passado aos novos funcionários que

ingressavam na empresa, conforme contou um ex-funcionário da época.

“Aquilo foi indo, nós tínhamos a caixa de ferramentas e aquilo foi indo. A empresa foi crescendo um pouco, então a empresa foi lá, comprou uma guilhotina. Com uma guilhotina já facilitou, já economizou aquela mão-de-obra de cortar a chapa com facão. Depois foi aperfeiçoando, comprando outras dobradeiras, e foi comprando máquina. E chegou a um ponto que hoje tá a Marcopolo. E naquela época lá, tinha bastante solda, desta solda oxiacetileno, tinha solda elétrica, mas o oxigênio era bastante usado, soldar reforços e tinha uma série de coisas. E normalmente, quando entrava uma pessoa nova na empresa, um funcionário novo, tu tinha sempre que botar ele junto com outro, pra ele aprender né?.” (Entrevista Sr. José Albino, funcionário da Marcopolo entre 1954 e 1992).

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Como se nota, os ensinamentos eram transmitidos, primeiramente, dos

mestres para os aprendizes, que eram funcionários mais jovens ou com menor

experiência. Nesse período, o ônibus era um produto resultante muito mais da

mão-de-obra do que do maquinário utilizado e para ter os melhores ônibus, a

empresa acreditava que seus funcionários deveriam ser os melhores profissionais

do setor.

O próprio periódico interno, o Boletim Informativo Nicola (BIN), era também

um importante instrumento nesse processo, pois publicava artigos que

apresentavam instruções e novas técnicas para utilizar determinada ferramenta ou

matéria-prima.

Na década de 1960, a Nicola viveu uma implantação dos processos

produtivos e o desenvolvimento de programas de treinamento, os quais muito

contribuíram para o aumento da produção da empresa. Nesse mesmo período, a

empresa progrediu no nível de qualificação de pessoal, aumentando as

contratações de engenheiros e de técnicos para as diversas áreas.

A administração da empresa apoiava tanto os cursos técnicos como os que

abordavam as relações interpessoais. Para estimular seus funcionários a se

engajarem no processo de capacitação e qualificação, a Nicola divulgava o nome

dos participantes e os presenteava.

C) Renovação

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No que tange à renovação, ao longo da década de 1960, muitos

funcionários realizaram cursos em empresas localizadas fora do estado do Rio

Grande do Sul, com o objetivo de aumentar o grau de tecnificação da empresa.

Alguns convênios também foram realizados entre a Nicola e instituições de

qualificação profissional, como o SENAI. Outro ponto que sugere a preocupação

da empresa em se renovar foi a entrada dos Srs. Valter Gomes Pinto e José A.

Martins, conforme comentou Sr. Carlos Zigani:

“Como que a Marcopolo cresce? Nós tínhamos pessoas muito motivadas, mas ao mesmo tempo nosso presidente sempre teve muita preocupação de trazer gente especializada. Então nesta década de 60 entra esse senhor que comentei contigo, Walter Gomes Pinto, que foi buscado do mercado. Entrou também o Engenheiro Martins, que hoje é nosso controlador. Ele veio da Dana Albarus, é uma empresa que trabalhava com a fabricação de componentes para a indústria automobilística. Foi um engenheiro que veio aqui e agregou valor à companhia. Então sempre teve essa preocupação, e muita preocupação com comercialização também.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

O Sr. Valter Pinto, antes de ingressar na Nicola, trabalhava com publicidade

em uma agência em Porto Alegre e tinha a Nicola como uma de suas clientes. Ele

foi o grande responsável por ampliar a visão comercial da Nicola. Já, o Sr. José

Martins, um engenheiro com experiência no setor automotivo, realizou diversas

transformações na área industrial da empresa.

D) Retenção

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A Nicola, e mais tarde a Marcopolo, sempre é lembrada como uma

empresa, na qual as pessoas quando entram, dificilmente saem. Apesar de

existirem poucas evidências que comprovem a existência de mecanismos de

retenção na época, é possível encontrar funcionários na empresa, que entraram

na empresa nessa primeira fase (1949 a 1967) e seguem trabalhando até os dias

atuais (2007), apesar da idade avançada. Outros, por outro lado, se aposentaram

ou falecerem, porém fizeram da Nicola (ou Marcopolo) a única empresa em que

trabalharam.

Através das entidades que auxiliaram a formação de grande parte do

pessoal, diversos funcionários que começaram como alunos, trilharam carreiras

bem sucedidas na empresa, quando concluíram os cursos. Um desses casos foi

Nestor Perottoni, que chegou a ocupar o cargo de Titular da Assessoria Jurídica e

integrar o Conselho de Administração da empresa:

“Ingressei na empresa em 1963, foi meu primeiro e único emprego. (...) Fui um dos primeiros a ter o estudo pago pela empresa. Eu era auxiliar escriturário do almoxarifado. (...) A filosofia da empresa já era diferente." (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999, p. 64)

E) Sumário das Respostas ao Desafio da Gestão da Formação de Recursos

Gerenciais (Fase I)

Com exceção da antecipação (que não apresenta evidências suficientes),

nota-se que já na primeira fase da empresa, a empresa foi sendo bem sucedida

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em suas respostas ao desafio da formação de recursos gerenciais como

apresenta a Tabela 4.10.

Tabela 4.10 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase I)

4.1.5. Desafios da Gestão da Complexidade

Segundo Fleck (2006) o desafio da gestão da complexidade envolve a

gestão de questões complexas e a resolução de problemas que englobam um

amplo número de variáveis interdependentes, sem colocar a existência da

organização em risco. Este desafio afeta a qualidade das respostas dos outros

desafios do crescimento.

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Os principais mecanismos que tornam a firma bem-sucedida quanto ao

desafio da complexidade são a habilidade em solucionar problemas de forma

sistemática, a busca por soluções abrangentes e o fomento do aprendizado dentro

da firma. A Nicola, desde o início, teve que lidar com questões complicadas que

foram acompanhando seu crescimento, conforme depoimento do Sr. Paulo Bellini:

“Fomos tocando na base do peito e do trabalho. Atravessamos períodos difíceis e crises financeiras. Foi uma época de grande aprendizado. Nossa qualidade, apesar do esforço, ainda deixava a desejar. Convivemos com problemas administrativos; passamos por mais de uma reformulação de diretoria; enfrentamos atrasos significativos com fornecedores; ouvimos reclamações de clientes, justificadas ou não. Era difícil estruturar nosso corpo funcional. Tivemos que aprender a lidar com os assuntos ligados ao Fisco, nas diversas esferas; aprendemos a transitar nas esferas governamentais... realmente, o início da fábrica foi para nós um grande aprendizado.” (UEHARA, Alexandre; MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 113)

Diversas habilidades foram sendo desenvolvidas dentro da empresa que

envolveram tanto uma navegação no ambiente bem sucedida, seguida pela

integração e legitimidade organizacional, como por ser exemplificada pela criação

do Grêmio Atlético Nicola (GAN) e a Fundação Assistencial Nicola (FAN),

entidades que sistematicamente desenvolviam atividades para os funcionários e

com pleno envolvimento dos mesmos. Pode-se, ressaltar a criação de parcerias

longevas com insituições, como o SENAI, importante centro para desenvolvimento

de mão-de-obra especializada.

A questão do desenvolvimento de tecnologia sempre ocupou grande

importância dentro da empresa. Apesar de todas as dificuldades existentes nos

primeiros anos, a Nicola chega ao final da década de 1960 com completos

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serviços de corte, polimento, galvanoplastia, carpintaria, mecânica, ferramentaria,

estamparia, pintura, fabricação de janelas, serralheria e estofaria. Todos eles

orientados por Departamento de Engenharia, que também foi criado na empresa.

Como evidência de sua orientação sustentada para resolver problemas,

nesse período, suas oficinas e depósitos já estavam equipados com sistema de

numeração e catalogação o que permitia o atendimento de pedidos de peças

complementares para reposição.

Embora o primeiro ônibus tenha levado 90 dias para ser construído, a

Nicola foi nos anos seguintes, cada vez mais encurtando esse tempo de

fabricação. Como nota-se no Gráfico 4.4 (página 89), a firma foi continuadamente

aumentando sua produção, devido principalmente ao aprendizado sistemático da

atividade fabril e do desenvolvimento constante de procedimentos e técnicas mais

modernas. Entre os anos 1949 e 1967, a Nicola lançou 10 modelos diferentes,

tanto no segmento rodoviário como urbano.

Para melhorar as características de seus lançamentos, a empresa tomou

uma medida interessante para sistematizar o relacionamento entre clientes e

fábrica. Os escritórios comerciais, além da comercialização de carrocerias, tinham

que manter permanente contato com os clientes e transmitir à fábrica as opiniões

sobre o desempenho dos veículos. Após a abertura das primeiras filiais, a Nicola

foi desenvolvendo tal aprendizado e dessa forma conseguiu penetrar em diversas

cidades do Brasil, o que estimulou as vendas em todo o território nacional.

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Através da estrutura criada com FAN, a Nicola conseguiu sistematicamente

elaborar mecanismos para desenvolver a legitimidade da organização e

integração organizacional. Uma dessas atividades foi associar todos os

colaboradores e seus dependentes ao Círculo Operário Caxiense, instituição

prestadora de serviços médico-odontológicos, hospitalares, laboratoriais e de

treinamento, que na época, também oferecia cursos de datilografia e de corte e

costura.

Apesar de alguns indícios presentes na primeira fase da história da Nicola

(1949 – 1967), nota-se uma falta de elementos suficientes para sugerir que a

empresa apresentou respostas predominantemente satisfatórias no desafio da

gestão da complexidade. Pelo próprio depoimento do presidente Paulo Bellini,

esta foi uma fase na qual a empresa ainda trabalhava na base do peito e do

trabalho sem uma sistematização para a resolução de problemas.

A tabela a seguir (Tabela 4.11).apresenta o sumário das respostas da

Marcopolo ao longo da primeira fase de sua história, e indica que em suma a

empresa teve êxito quanto às respostas aos desafios do crescimento .

Tabela 4.11 – Resumo das Respostas ao Desafio da Gestão da Complexidade (Fase I)

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128

4.2. Fase 2 – As Primeiras Expansões: 1968 a 1986

A segunda fase da trajetória da Nicola compreende os anos de 1968 a

1986. Tal período tem início com o desligamento dos irmãos Nicola da empresa e

se estende até o início da implementação das técnicas japonesas na empresa.

Apesar de haver realizado sua primeira expansão no ano de 1957, com a

mudança para a nova fábrica no Bairro Planalto, foi a partir de 1970 que o

processo de aquisições e investimentos em novos negócios ganhou corpo dentro

da empresa.

Eis porque essa segunda fase foi intitulada de primeiras expansões. O

Gráfico 4.5 apresenta alguns eventos do período assim como a evolução da

produção de carrocerias da Marcopolo.

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Gráfico 4.5 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1968 e 1986

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

1949

1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s*

3a Fase De 1987 a 2006

1a Fase De 1949 a 1967

2a Fase De 1968 a 1986

*Não inclui Volare e Furgões

Fechamento Marcopolo

Minas

Início Prod. Com Chassi

Brasileiro

Fundação da

Nicola & Cia.

LTDA

JK inicia expansão

da indústria automotiva no Brasil

InauguraçãoFábrica Planalto

1a Exportação

Criação da FAN

Ingresso Valter Gomes

Aquisição

Eliziário

Aquisição Nimbus

Mudança de nome

para Marcopolo

1o Contrato

CKD

Ações Bovespa

Fábrica Ana Rech

Marcopolo Minas

Crise no México

Plano Real

Desativação PlanaltoContrato

CKD para Gana

Técnicas Japonesas

Portugal

Escola Formação Profisiional

Criação da Fundação Marcopolo

Fim Diver. Não

Relacionada

Ônibus Volare

Argentina

México

Colômbia

50% Ciferal

100% Ciferal

Transf. Tecn. China

África do Sul

Desativação

Argentina

Avaliação Rússia e

China

Troféu Busbuilder of the Year

Ingresso José

Martins

Lançamento Ônibus

Marcopolo

Saída Irmãos Nicola

Início Divers. Não

Relacionada

Viagem ao Japão

A seguir será realizada uma análise da segunda fase da Nicola, período no

qual a empresa abandona o nome Nicola e passa a se denominar Marcopolo,

nome que carrega até os dias atuais. O propósito da análise é encontrar

evidências que indiquem de que forma a empresa foi desenvolvendo capacitações

para responder aos cinco desafios do crescimento.

4.2.1. Desafios do Empreendedorismo

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A) Ambição

Ao contrário do que se observou na fase anterior, a produção de ônibus da

empresa não apresentou a mesma consistência nas taxas de crescimento, como

pode se observar através do Gráfico 4.6. Enquanto no final da década de 1960 e

toda a década de 1970, a produção de ônibus da empresa cresceu

consideravelmente, os primeiros anos da década de 1980 apresentaram os piores

resultados em toda a história da empresa.

Gráfico 4.6 – Produção do Número de Carroçarias pela Marcopolo entre os anos 1968 e 1986

0

500

1,000

1,500

2,000

2,500

3,000

3,500

4,000

1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s*

2a Fase De 1968 a 1986

*Não inclui Volare e Furgões Fonte: Memorial Marcopolo

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Apesar da crise vivida nos últimos anos desta fase, ao longo de seus 19

anos (1968 – 1986) há diversos indícios que apontam que a empresa ainda se

mostrava motivada a crescer e conquistar novas oportunidades. Os principais

fatos que fundamentam a existência da ambição nessa fase são: as seguidas

ampliações de capacidade, a construção de novas unidades fabris, o lançamento

de novos produtos, a aquisição de concorrentes, e o início da diversificação em

negócios não relacionados ao encarroçamento de ônibus.

Já na fase anterior, os planos de expansão e ampliação da capacidade

produtiva eram vistos como metas determinantes para o crescimento da empresa.

Em 1968, a fábrica teve o seu potencial produtivo aumentado, em um primeiro

momento, em 40% e, em um segundo, em 80% com relação ao ano anterior.

Em 1971, através do apoio financeiro do então BRDE (Banco Regional de

Desenvolvimento Econômico S.A.), a firma construiu adicionais 4.996m2, o que

compreendeu dois pavilhões industriais, a ampliação da área administrativa, além

da instalação da rede de hidrantes e a aquisição de novos equipamentos

industriais.

Um ano antes, em 1970, a Nicola deu início a seu plano de expansão por

meio de aquisições ao adquirir um forte concorrente de carrocerias de ônibus da

época, a Eliziário de Porto Alegre, que atuava principalmente no segmento de

urbanos. Mais tarde, no ano de 1977, uma outra concorrente, a Nimbus, foi

adquirida. A Nimbus, que em 1979, passou a se denominar Invel, foi a empresa

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montada pelos irmãos Nicola ao saírem da Marcopolo (ainda na época em que era

conhecida por Nicola).

Dando seguimento a um plano de expansão, e de olho no bom momento

que a economia brasileira atravessava, principalmente graças à fase do “Milagre

Brasileiro”, a Marcopolo decidiu realizar outros dois significativos investimentos

para viabilizar seu crescimento nos anos seguintes. O primeiro foi a construção de

uma fábrica maior em Caxias do Sul, localizado no Bairro de Ana Rech. A

construção dessa fábrica teve início em 1979 e foi concluída em 1981. O segundo

investimento foi a construção de uma nova unidade fabril, com 12.000 m2, na

cidade de Betim, em Minas Gerais.

No ano de 1968, o Sr. José A. F. Martins e o então Diretor Técnico, Fiorindo

J. Sartori, realizaram uma viagem a Europa, Estados Unidos e América Central

para analisarem o conceito dos ônibus presentes naqueles mercados. Como

resultado dessa incursão, um novo projeto passou a ser estudado. Um novo

produto foi desenvolvido unindo as idéias trazidas dos mercados estrangeiros com

as necessidades do mercado nacional. Nesse momento, em 1968, surgiu um novo

ônibus montado nas versões Rodoviário, Rodoviário com Toalete e Carro-Leito,

uma inovação naquele período.

Além do lançamento do ônibus Marcopolo em 1968, assim como na fase

anterior, a Marcopolo lançou diversos produtos (vide

Tabela 4.12), sempre levando novidades para o mercado, como o ônibus

Paradiso, pertence à Geração IV, que foi o primeiro ônibus high deck do Brasil.

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Tabela 4.12 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1968 e 1986

NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES

Marcopolo 1968 Rodoviário Nas versões Rodoviário, Rodoviário com Toalete e Carro-leito. A característica inédita dessa carroceria foi a colocação do itinerário sob o vidro do pára-brisa.

Nicola 2010

1968 Urbano Apresentou novo sistema de portas, com duas folhas.

Série 5500 1969 Urbano e Rodoviário

Marcopolo II

1970 Rodoviário As opções iam desde o luxuoso carro-leito, com 18 poltronas-cama, até modelos com 45 lugares.

Veneza 1970 Urbano

Bertioga 1971 Rodoviário Marcopolo

Júnior 1972 Microônibus Construído sobre duas versões do chassi LO 608 D

(3.500 3 4.500 mm entre eixos). Veneza

“Romeu e Julieta

1973 Urbano Tratava-se de um conjunto de duas unidades interligadas entre si. O veículo que fazia a tração possuía 9,76 m de comprimento, o traseiro 7,45 m, e entre os veículos a distância era de 1,24 m . Esse conjunto poderia transportar até 200 passageiros.

Marcopolo II Seletivo

1973 Rodoviário Ônibus equipado com ar condicionado.

Marcopolo III

1974 Rodoviário Permaneceu no mercado pelo período de dez anos.

Veneza Expresso

1974 Urbano Inicialmente, apresentado numa versão especial para utilização no transporte urbano de Curitiba.

Veneza II 1976 Urbano Haragano 1977 Urbano Produzido pela Nimbus, empresa adquirida pela

Marcopolo. Marcopolo

III - SE 1978 Rodoviário Ônibus rodoviário médio.

Sanremo 1978 Urbano Montado sobre chassi Scania B 111.

Marcopolo Articulado

1978 Rodoviário Primeiro ônibus rodoviário intermunicipal brasileiro.

Articulado Sanremo

1978 Urbano

Microvan 1979 Micro Produzido pela Invel, antiga Nimbus, para transporte de pequenas cargas.

Microbus 1979 Micro Produzido pela Invel. Veículo movido a álcool, para o transporte de passageiros, turismo e camping.

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Fonte: Memorial Marcopolo

Ao longo do lançamento do ônibus Marcopolo, a empresa continuou

participando de diversas feiras internacionais, como a Feira Internacional do

Pacífico, em Lima (Peru) e a Feira Internacional de Santiago (Chile), na qual

conquistou o Gran Premio na classe de veículos motorizados. A empresa também

participou de eventos no Paraguai, Uruguai, Venezuela, Argentina e Bolívia.

Em 1971, já sob a denominação social de Marcopolo S.A. Carrocerias e

Ônibus, a empresa investiu em concorrências na África do Sul e pela primeira vez

tentou entrar no mercado europeu. Na América do Sul, mesmo concorrendo com

grandes fabricantes europeus e americanos, firmou contrato para fornecimento de

carrocerias à ESCA (Ensamblaje Superior C.A.) uma empresa da Venezuela.

NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES

Trolebus 1979 Urbano Veículo elétrico.

Sanremo ST

1980 Microônibus Veículo concebido para ser adaptado ao transporte escolar, rural e rodoviário.

Articulado Sanremo II

1981 Urbano

Microônibus FB 4000

1983 Micro

Viaggio G IV 850

1983 Rodoviário A Greação IV, lançada neste ano, permaneceu no mercado durante dez anos

Viaggio G IV 1000

1983 Rodoviário

Viaggio GIV 1150

1983 Rodoviário

Paradiso G IV 1400

1983 Rodoviário O primeiro “high-deck” do Brasil, exclusivo sobre plataforma com 3º eixo.

Torino G IV

1983 Urbano

Senior 1984

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Na cidade de Caxias do Sul todo o layout industrial da fábrica venezuelana

foi desenhado e os técnicos da empresa venezuelana foram treinados para a

montagem das carrocerias na Venezuela. Em Guacara (Venezuela), a Marcopolo

acompanhou as instalações da fábrica para garantir que tudo operasse

perfeitamente. Esse tipo de contrato foi o primeiro do gênero realizado pelo Brasil.

Nos anos seguintes, a empresa foi cada vez mais se especializando nas

operações em CKD.

Em 1974, a experiência com o sistema CKD atingiu o continente africano. O

microônibus Marcopolo Júnior foi montado em Accra (Ghana). Este microônibus

foi também o primeiro ônibus brasileiro exportado para a Europa, no ano de 1973,

quando após participar da Brasil Export 73 em Bruxelas, uma empresa de

transportes da Bélgica adquiriu um desses modelos.

Em 1975, a empresa já contava com uma rede de representantes, atuando

na América do Sul, Central, África e Ásia, fato que aliado à montagem de

carrocerias urbanas modelo Veneza, na Empresa Metrobus Del Equador

(Equador), fez com que as exportações da Marcopolo crescessem mais de 100%

comparando-se ao ano anterior.

No ano de 1972, a empresa ambicionou produzir um chassi. Para isso foi

formada uma joint venture entre a Marcopolo, a Cummins Nordeste S. A. lndustial

(unidade brasileira da Cummins Engineering Company, dos Estados Unidos) e a

Van Hool lntemational S. A., da Bélgica. Nessa mesma década foi lançado um

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chassi do tipo tubular, com suspensão a ar e direção hidráulica, porém mais tarde

o projeto foi abandonado.

O período entre os anos de 1968 e 1986, apresenta diversas evidências de

que a Nicola, depois chamada Marcopolo, ambicionava crescer, seja através de

aquisições, exportações para o mercado externo ou investimentos no mercado

interno, como novos produtos ou novas fábricas. No final dessa fase, após

atravessar a pior crise de sua história, a empresa começou a voltar suas atenções

também para negócios não relacionados ao ônibus, também visando ao

crescimento.

Então, em 1986, com o objetivo de expansão na área de fiberglass, a

Marcopolo constitui a MVC Componentes Plásticos em São José dos Pinhais, no

Paraná. Tal unidade passou a produzir peças em fibra de vidro para a indústria

automobilística.

Ao analisar o conjunto de evidências apresentadas, pode-se dizer que a

Marcopolo seguiu demonstrando ímpeto em crescer o que indica respostas

satisfatórias no que diz respeito ao serviço da ambição nessa segunda fase.

B) Engenhosidade em levantar recursos financeiros

A habilidade da Nicola em levantar recursos financeiros foi uma marca da

primeira fase da empresa que prosseguiu nos anos seguintes. Para realizar os

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diversos investimentos que buscavam a expansão da empresa, primeiro como

Nicola, e mais tarde como Marcopolo, a empresa continuou utilizando o capital da

comunidade como um elemento importante para sua trajetória de crescimento.

Um fato que sustenta tamanha habilidade pode ser visto pelo depoimento

de um diretor da empresa, que descreve como eram realizadas as famosas

assembléias gerais da empresa, e os diversos outros mecanismos que a firma

implementou já para ganhar transparência, credibilidade e atrair o capital dos

acionistas da empresa.

“Inclusive se tu fores olhar aqui dentro do livro, olha por acaso abri na página certa, olha como é que era. Aqui é uma Assembléia Geral de 1972, a Marcopolo não era capital aberto, os acionistas estão assistindo uma demonstração dos resultados da companhia em 1972. Você vê: governança corporativa, busca de capital já fazia parte do DNA da companhia. Eu credito muito a força da Marcopolo a essa distribuição de capital. Distribuição que eu digo não era concentrada somente em uma pessoa, o grande capitalista. Eram várias pessoas que tinham ações, mas que também trabalhavam para a companhia. Então essa não-concentração nas mãos de um solo poder como um todo, eu acho que foi um grande sucesso da Marcopolo. Então, quando eu entrei em 1984, a Marcopolo ainda realizava uma Assembléia aos sábados de manhã e fazia um churrasco,...., era num Centro de Tradições Gaúchas, um local bem amplo, e participavam às vezes 1000, 1500 pessoas da assembléia e depois tinha um churrasco. Era comum as pessoas darem como legado ações da Marcopolo para os filhos. Então às vezes a família tinha 4, 5 filhos, e cada um era acionista da Marcopolo porque o pai dava não sei quantas ações para ti, então era comum nessa época o capital da comunidade fazer parte, integrar a Marcopolo. Nós tivemos que parar antes dos anos 90 porque foi ficando tão grande isso que não tinha mais lugar pra fazer essa Assembléia com esse almoço junto. Hoje nós fazemos a Assembléia, então só participam acionistas, mas a comunidade vinha toda anualmente aqui na Assembléia, porque também tinha o almoço. Era uma motivação para ganhar o almoço de graça” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

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Consta na sua história que ao longo na década de 1970, a empresa

também contou com o apoio governamental. Em 1971, com o apoio financeiro do

BRDE a firma realizou diversos investimentos dentro de seu plano de expansão.

Também no início da década de 1970, a empresa trocou de nome e passou

a se chamar Marcopolo. Esta nova marca passa a ser amplamente divulgada para

os diversos públicos ligados ao setor. Para o mercado de capitais, a empresa

montou um road show, que são apresentações para analistas, acionistas e

investidores em potencial. O road show foi realizado tanto no nível nacional quanto

internacional. Em 1978, a empresa passou a negociar suas ações na Bolsa de

Valores de São Paulo. Em suma, as respostas da Marcopolo se mantiveram

satisfatórias para o serviço de engenhosidade em levantar recursos financeiros.

C) Versatilidade

Talvez os dois principais acontecimentos que ocorreram no início dessa

segunda fase, tenham sido o lançamento do ônibus Marcopolo e mais tarde a

alteração da denominação social da empresa. O lançamento do novo ônibus foi

um marco na história da empresa dado seu grau de inovação para a época. Já a

troca do nome para Marcopolo fez com que a empresa, além de ganhar

notoriedade no cenário internacional, conseguisse desassociar o nome da

empresa de seus ex-sócios, os irmãos Nicola que se haviam desligado da firma

anos antes (versatilidade gerencial).

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Para chegar a desenvolver esse ônibus que se tornou um produto

revolucionário na indústria brasileira, a empresa promoveu, no início de 1968, uma

viagem de estudos aos mercados da Europa, Estados Unidos e América Central

(versatilidade técnica). Foram enviados os Srs. José A. F. Martins e o então

Diretor Técnico, Fiorindo J. Sartori, para analisarem o conceito de ônibus presente

em tais mercados. A partir desse projeto secretamente planejado, o novo produto

foi desenvolvido. Tal produto apresentou características totalmente novas, que

combinavam as tendências dos ônibus presentes na Europa, Estados Unidos e

América Latina com as necessidades do mercado nacional (versatilidade

empreendedora).

Para lançar este produto, a empresa também foi bastante inovadora. O

lançamento ocorreu ainda no ano de 1968, no VI Salão do Automóvel, repleto de

destaque para atrair a atenção de todo o setor de transporte. De forma inusitada,

a empresa adotou uma estratégia que envolveu muito suspense (versatilidade

empreendedora). Três peças promocionais foram enviadas pelo correio, cada uma

com um intervalo de vinte dias em relação a outra, para todas as instituições

brasileiras, públicas ou privadas, com as quais a empresa tivesse algum tipo de

negociação – transportadoras de passageiros, bancos, montadoras, fornecedoras,

prestadoras de serviço, órgãos governamentais (secretarias de transporte, de

turismo, de indústria e comércio), entidades representativas dos setores ligados ao

transporte (federações, associações), etc.

As mensagens que as peças traziam eram as seguintes:

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1. “Marcopolo já está com viagem marcada”;

2. “Você que é empresário, vai vibrar com as novidades que a

Marcopolo trará!”;

3. “No Salão do Automóvel você tem encontro marcado com a

Marcopolo”.

A nova marca lançada naquele salão de automóvel recebeu muita

dedicação por parte da empresa. O nome escolhido, fruto de indicações internas,

foi Marcopolo, uma adaptação do nome do notável navegador Marco Polo em

apenas uma palavra. O nome foi fortemente identificado com o produto ônibus,

pois fazia alusão a qualidades atribuídas ao navegador, como viagem, ousadia,

audácia e versatilidade, e que deveriam caracterizar o ônibus lançado

(versatilidade empreendedora).

Por outro lado, para o mercado internacional o ônibus Marcopolo se tratava

de um produto de origem italiana, em virtude da associação com o veneziano

Marco Polo e da popularidade dos carrozzieri, mestres no design de veículos.

Para desfazer o mal entendido, o slogan “O Ônibus Brasileiro” foi adotado nas

apresentações gráficas, contendo uma faixa nas cores verde e amarela. Para

consolidar a marca em todos os mercados, esse slogan também foi traduzido para

o espanhol, inglês e francês.

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Inserida em uma indústria, onde cada vez mais se exigia produtos com

qualidade e inovadores, a Marcopolo foi criando as bases que lhe permitiram um

avanço na tecnologia empregada. Ao decidir expandir seu parque fabril, um

minucioso projeto foi elaborado para que as novas instalações tivessem os

melhores sistemas de produção, capazes de tornar a fábrica altamente

racionalizada e produtiva, qualidades imprescindíveis para um alto grau de

customização (versatilidade gerencial).

Sempre disposta a mudar, desenvolver-se e encontrar soluções, muitas

vezes pouco usuais, a Marcopolo seguia desenvolvendo a habilidade de ser

versátil. Outros três episódios, não necessariamente em ordem cronológica,

ilustram bem tal habilidade. O primeiro foi o lançamento da Geração IV, no ano de

1983, no auge da crise pela qual a empresa passou.

Mais uma vez, contando com eficientes campanhas de marketing, a

empresa conseguiu ter êxito no lançamento desse ônibus, que contou com uma

série de novidades. Segundo documentos da época, o material publicitário da

nova linha de produtos ressaltava a evolução tecnológica perseguida e

conquistada pela empresa e a função sócio-econômica desse avanço

(versatilidade técnica).

O segundo acontecimento envolve o desenvolvimento da tecnologia CKD,

que permitiu realizar exportações de veículos completamente desmontados

(versatilidade técnica). O primeiro contrato foi firmado com uma empresa

venezuelana no em 1971, e nos anos subseqüentes, a empresa foi cada vez mais

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desenvolvendo e dominando tal tecnologia, a qual lhe permitiu exportar para

diversos países no mundo (versatilidade empreendedora).

O terceiro episódio está presente no início da década de 1980, quando a

empresa atravessou sua pior crise. Como as encomendas de ônibus atingiram um

volume baixo, grande parte da mão-de-obra da Marcopolo encontrou-se ociosa.

As demissões foram inevitáveis. No entanto, para suavizar os efeitos da crise, a

empresa passou a utilizar alguns setores de que dispunha para realizar serviços

para terceiros (versatilidade empreendedora). Segundo a entrevista com o Sr.

João Carlos, naquela ocasião o setor de pintura prestou serviços para empresas

como a Madecenter, companhia sediada em Bento Gonçalves que fabricava

cadeiras, e Móveis Florence.

Ao analisar o conjunto de evidências que exploram as versatilidades

técnicas, gerencias e empreendedoras, todas relacionadas a habilidade da

empresa em perceber oportunidades produtivas, pode-se dizer que a Marcopolo

apresentou respostas satisfatórias para o serviço da versatilidade.

D) Julgamento

O período entre os anos 1968 e 1986, apresenta tanto evidências que

sugerem uma boa capacidade de julgamento da Marcopolo, como também

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decisões que, por sua vez, não impediram que a firma vivesse sua pior crise no

início da década de 1980.

Os principais fatos que sugerem uma boa capacidade julgamento da

empresa nessa fase são: o lançamento do novo produto em 1968, a mudança de

nome para Marcopolo três anos mais tarde, o investimento no mercado externo e

em tecnologias novas como o CKD, e a aquisição das concorrentes Eliziário

(1970) e Nimbus (1977), que permitiram grande crescimento da produção da

empresa ao longo da década de 1970.

Vale destacar que até a aquisição da Eliziário, a Marcopolo era uma

encarroçadora que atuava basicamente no segmento de rodoviários. Com a

aquisição da Eliziário, a empresa passou a dedicar a fábrica de Porto Alegre para

a produção de urbanos como lembra o Sr. Valter Gomes Pinto:

“O nosso DNA, vamos dizer assim, o sangue nosso, começou com o rodoviário. E depois nós tivemos que fazer opções. E isso começou quando começamos a adquirir outras fábricas. Primeiro foi a Eliziário de Porto Alegre. A Eliziário era uma fábrica que fazia, praticamente, rodoviários. Eles faziam o Bi-Campeão (referência ao bicampeonato de futebol no Chile em 1962) e nós fazíamos o Veneza naquela época. Aí, certa ocasião, nós tomamos certa decisão: fazer os urbanos em Porto Alegre e os rodoviários aqui, em Caxias.” (Entrevista Sr. Valter Gomes Pinto)

Outra importante decisão, ainda dentro dessa segunda fase, foi a

constituição da MVC Componentes Plásticos, cujo objetivo, inicialmente, era

produzir peças de plástico para a indústria automobilística, uma necessidade que

estava para aumentar cada vez mais, conforme foi explicado na entrevista com o

Sr.Carlos Zignani:

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“O que nós percebemos é o seguinte... O ônibus, cada vez mais, substitutos vão sair pelo plástico. Até o aço...isso é uma questão de tempo. A estrutura de aço, futuramente, deve ser com compostos de kevlar, não sei o que... São compostos de plásticos que vão substituir, e nós verificamos que internamente hoje, cada vez mais o plástico está sendo utilizado...a traseira já é plástico, o teto já é de plástico.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

No entanto, este período também foi marcado por decisões não tão bem

sucedidas. Em 1972, a empresa deu início a um projeto visando produzir não só

carrocerias, como chassis. Foi estabelecida uma joint venture com a Cummins

Nordeste S. A. lndustial (unidade brasileira da Cummins Engineering Company,

dos Estados Unidos) e a Van Hool lntemational S. A., da Bélgica. Um chassi do

tipo tubular com suspensão a ar e direção hidráulica foi lançado, no entanto

sucessivas mudanças na política governamental brasileira prejudicaram as

importações da Cummins, o que resultou no fim do projeto.

Na década de 1970, com a crise do petróleo, o governo federal deu maior

destaque aos meios de transporte coletivos. Por meio do II Plano Nacional de

Desenvolvimento, lançado em 1974, a economia brasileira criava condições para o

crescimento da indústria nacional e a realização de investimentos por parte das

encarroçadoras. Levada por esse bom momento, no final da década de 1970, o

então Ministro da Fazenda, o Sr. Delfim Neto, resolveu incentivar as exportações

brasileiras criando o Befiex, no qual o Bndes repassaria as linhas de

financiamento às empresas exportadoras. Dentro desse contexto, a Marcopolo

decidiu realizar novos investimentos, com a abertura de duas novas fábricas.

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A primeira fábrica foi construída em Caxias do Sul (Ana Rech) e a segunda

em Betim, Minas Gerais. Segundo entrevista realizada com o Sr. Carlos Zignani foi

implantada uma fábrica em Betim porque a Fiat havia se instalado nessa cidade. A

Fiat apesar de iniciante no mercado brasileiro, era vista como uma empresa muito

promissora. No entanto, com a crise financeira que atingiu o início da década de

1980, a Marcopolo Minas não conseguiu atingir os resultados esperados e suas

atividades foram encerradas em 1984.

A fábrica de Ana Rech, outra grande aposta da Marcopolo, também foi

inaugurada em meio à crise que a economia vivia. Dotada de processos e

tecnologias modernas, esta fábrica foi outra que não atingiu, nos primeiros anos,

os resultados esperados, e para piorar a situação da Marcopolo, havia diversos

empréstimos serem pagos.

Dessa forma, ao analisar como um todo as evidências que tratam o serviço

do julgamento, sugere-se que houve um predomínio de respostas insatisfatórias

nessa fase.

E) Sumário das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase II)

Em suma, no que diz respeito ao desafio do empreendedorismo, a

Marcopolo, com exceção do serviço do julgamento, cujas evidências apontam que

a empresa avaliou o ambiente ao longo da segunda fase de maneira bem otimista

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e consequentemente insatisfatória, seguiu desenvolvendo capacitações que lhe

permitiram responder positivamente a este desafio, conforme apresenta a Tabela

4.13.

Tabela 4.13 – Resumo das Respostas ao Desafio do Empreendedorismo (Fase II)

4.2.2. Desafios da Navegação no Ambiente

O ambiente inóspito vivido em parte da primeira fase da empresa, no qual a

mão-de-obra qualificada era algo escasso e o processo de produção do ônibus era

basicamente artesanal, com pouquíssima tecnologia atuante, foi cedendo lugar a

ambiente mais desafiador para toda a indústria automobilística, inclusive para as

encarroçadoras de ônibus.

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No cenário econômico nacional, o período que compreende os anos de

1968 a 1986, foi marcado por momentos de extraordinário crescimento da

economia brasileira, como no período entre os anos de 1969 e 1973, conhecido

por “Milagre Brasileiro”. No entanto, também foi durante essa segunda fase, que o

parque industrial brasileiro viveu sua pior crise, um período de estagnação

econômica que compreendeu quase toda a década de 1980, apelidada de década

perdida, fazendo com que diversas empresas brasileiras fechassem as portas.

A Marcopolo, apesar de todos os desafios e dificuldades enfrentados

chegou à segunda metade da década de 1980 avariada, porém pronta para

realizar uma das principais transformações de sua história. A seguir serão

apresentados os principais fatos que fizeram parte da história na Marcopolo nesse

período, e que indicam em que medida a empresa desenvolveu capacitações para

navegar no ambiente que ela estava inserida, possibilitando-a criar e capturar

valor e assegurar a legitimidade organizacional.

A) Captura de Valor

O início dessa fase é marcado pelo lançamento do ônibus Marcopolo, fruto

de um amplo projeto de pesquisa, que incluiu viagens de estudo aos principais

mercados estrangeiros e levantamento de informações com os principais clientes

da empresa do mercado interno (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Tal

sucesso fez com que a empresa trocasse sua razão social de Nicola para

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Marcopolo, aproveitando a popularidade e a reputação que o produto havia criado

e dessa forma também desassociando o nome da empresa dos irmãos Nicola, que

se haviam desligado da empresa anos antes (estratégia de evitar; tática de

ocultar).

O novo produto trouxe diversas novidades, principalmente quanto ao

design. Uma delas, marcante na época foi a modificação do local destinado à

exposição do itinerário, que passou a ser exibido internamente. Segundo

depoimentos da época, o lançamento do Marcopolo revolucionou o conceito

brasileiro de ônibus, tanto que mais tarde diversas das novidades apresentadas

por esse modelo passaram a ser incorporadas, também, pelos seus concorrentes

(estratégia de desafiar; tática de desafiar).

No início da década de 1970, na medida em que a empresa também ficava

conhecida internacionalmente por Marcopolo, foram realizados os primeiros

contratos de exportação através de uma nova tecnologia. Por meio da tecnologia

CKD, as carrocerias eram enviadas em peças (ou kits) e posteriormente eram

montadas no local de destino.

Ao realizar um contrato com uma empresa da Venezuela, a Marcopolo

tornou-se a primeira empresa da indústria automobilística brasileira a vender

tecnologia (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Devido a este contrato a

empresa conseguiu criar e capturar valor, vender produtos e tecnologia, seja

através de CKD ou MKD, a diversos clientes nos mais variados países (Gana,

Equador, Chile, etc) nos anos seguintes.

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Ao longo da década de 1970, a economia mundial foi assolada pela crise

do petróleo. A economia brasileira também foi afetada, principalmente no setor de

transportes. Assim, em 1974, o governo federal lançou o II Plano Nacional de

Desenvolvimento, cuja ênfase principal se concentrou nos meios de transporte

coletivos. Não há evidências de que tenha havido pressão por parte das

empresas ou as entidades ligadas para o lançamento de tal plano

desenvolvimentista.

No entanto, esse plano gerou entusiasmo por parte dos sócios da

Marcopolo em continuar investindo no crescimento da empresa (estratégia de

consentir; tática de aderir), pois se vislumbrava que somente através da

implantação de sistemas de transporte de massa, o governo atingiria os índices de

economia de combustível desejados.

Nessa década, a Marcopolo fez bom proveito das diversas oportunidades

geradas, principalmente trazidas pelas novas linhas para o transporte coletivo,

pela renovação e ampliação das frotas, como também pelo crescimento das

exportações (estratégia de negociar; tática de equilibrar). Em depoimento no livro

comemorativo da empresa o Sr. José Martins destaca alguns fatos que mostram a

forma como a Marcopolo foi navegando no ambiente e capturando valor nos

primeiros anos da década de 1970.

“Nos primeiros anos da década de 70, houve a primeira crise do petróleo e, por isso, o governo fez um apelo muito forte à população para que usasse veículos de transporte coletivo. O ano de 1970 foi, então, o momento de grandes lançamentos: surgiu o Marcopolo II, com motor dianteiro, com modificações em alguns componentes, nas janelas e em alguns detalhes na frente do ônibus. Concomitantemente, foi lançado o Veneza, urbano,

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com teto reto, que também era uma mudança significativa, pois até então o comum eram os ônibus de teto redondo. Não fomos os pioneiros no lançamento do teto reto, mas, como achamos bonito, pensamos que valia a pena investir. Deu excelentes resultados. Em 1972, lançamos o microônibus Marcopolo Júnior, com o qual a empresa ganhou o Prêmio Distinção Indústria; pelo design e funcionalidade do produto. O Marcopolo III, lançado no ano de 1974, era montado exclusivamente sobre chassis com motor traseiro, além de ter seu design modificado, de forma a introduzir o teto reto na linha de ônibus rodoviários. A linha de urbanos, no mesmo ano, foi inovada com o Veneza Expresso.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 41)

Ocorre também no início da década de 1970, uma primeira tentativa da

empresa em produzir, também, chassis para ônibus. Tal projeto foi desenvolvido,

em 1972, através de uma joint venture com uma empresa americana (Cummins) e

uma belga (Van Hool). Apesar de chegarem a lançar um chassi do tipo tubular, as

sucessivas alterações na política governamental do Brasil, no que se refere às

importações, acabaram por prejudicar o projeto e então foi decidido descontinuá-lo

(estratégia de evitar; tática de proteger).

Ainda que o contexto político brasileiro dos primeiros anos da década de

1970 fosse incerto e agitado, a Marcopolo lançou uma série de ônibus rodoviários

(Marcopolo II, Marcopolo III e Marcopolo SE), urbanos (Veneza, Veneza Expresso,

Sanremo e Sanremo ST) e o microônibus Marcopolo Júnior, com o objetivo de

conquistar clientes e aumentar sua participação de mercado (estratégia de

desafiar; tática de desafiar). No ano de 1975 a empresa quase dobrou seu

faturamento em relação ao anterior (Marcopolo: Meio Século de uma História,

1999, p. 42).

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Em 1975, a Marcopolo atuava no mercado brasileiro com outras nove

encarroçadoras de ônibus. Nesse momento, a empresa já era capaz de fabricar

em departamentos próprios, uma série de componentes que antes eram

terceirizados como poltronas, janelas, sanitários, cinzeiros, sistemas de bar e

geladeiras (estratégia de desafiar; tática de fugir). Segundo entrevistas realizadas

com os diretores da empresa, alguns dispositivos produzidos pela Marcopolo,

como a porta e o ar-acondicionado do ônibus, requerem grande investimento

tecnológico e conhecimento, em virtude da complexidade e importância que eles

representam para a qualidade do produto final.

Em 1977, a Marcopolo, em virtude de sua reputação e capacidade técnica,

liderou um consórcio (estratégia de manipular; tática de cooptar) que envolveu

diversas empresas para o lançamento de uma linha de trolebus, um veículo de

tração elétrica sobre pneus, que no início da década de 1980 ganhou fôlego no

Brasil, através de um programa criado pela Empresa Brasileira de Transportes

Urbanos (EBTU) em parceria com o Ministério dos Transportes e o BNDES. No

entanto, nos anos seguintes, tais veículos foram gradativamente sendo deixados

de lado e desativados no Brasil, dada à falta de interesse dos empresários de

ônibus nacionais, o que fez com que sua produção fosse abandonada (estratégia

de consentir; tática de aderir).

Ainda em 1977, surgem os ônibus articulados como uma outra opção de

transporte tanto para as cidades como para o transporte intermunicipal. A

Marcopolo foi a primeira empresa a produzir esse tipo de ônibus no Brasil

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(estratégia de desafiar), o que demonstra sua posição de vanguarda e constante

desafio no cenário nacional. Nesse final de década, para enfrentar a concorrência

internacional a Marcopolo foi aprimorando seus níveis de produtividade e assim

ganhou competitividade (estratégia de desafiar). Como resultado a empresa foi,

ano a ano, aumentando suas exportações, alcançando níveis expressivos para o

setor na época. No início da década de 1980, atingiu o valor de 20 milhões de

dólares em exportações.

Também deslumbrada pelo bom momento da economia nacional ao longo

da década de 1970, a Marcopolo decidiu construiu duas fábricas, em 1977, uma

em Caxias do Sul (Ana Rech) e outra localizada em Betim, Minas Gerais

(Marcopolo Minas). No entanto, as previsões de bons ventos para a década

seguinte não se confirmaram, e a economia brasileira entrou em crise justamente

no momento em que as novas fábricas foram inauguradas. Dessa forma em 1984,

a empresa decidiu interromper as atividades na fábrica de Minas Gerais, a qual

nunca mais voltou a operar (estratégia de consentir; tática de aderir).

O ônibus Paradiso foi um lançamento da Marcopolo, no ano de 1983,

inspirado nas tendências dos mercados internacionais, principalmente o europeu.

Este ônibus foi determinante para a retomada dos bons resultados da empresa.

Integrante da Geração IV, o Paradiso foi o primeiro ônibus high deck do Brasil,

consistindo em um ônibus com um design diferenciado e mais alto. Este conceito

de ônibus lançado pela Marcopolo revolucionou o mercado brasileiro, a ponto de

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diversas rodoviárias brasileiras precisarem ser adaptadas para comportar esse

tipo de ônibus (estratégia de moldar; tática de influenciar).

A título de ilustração, a seguir segue a Tabela 4.14 contendo uma lista não

exaustiva de evidências de criação e captura de valor, proporcionadas pela

Marcopolo, entre os anos de 1968 e 1986, para alguns stakeholders.

Tabela 4.14 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1968 e 1986

Stakeholder Criação de Valor Captura de Valor

Governo

- Investimentos alinhados com II Plano Nacional de Desenvolvimento, focado nos meios de transporte coletivos. - Contribuição na implementação de novas linhas para o transporte coletivo, ajudando na renovação e ampliação das frotas

- Venda de novos produtos e serviços

Comunidade (Caxias do Sul)

- Geração de Emprego, Renda e atração de novos investimentos para a cidade de Caxias do Sul.

- Legitimidade perante a comunidade mesmo nos momentos de maior dificuldade

Clientes (Empresas de Ônibus)

- Primeiro ônibus brasileiro exportado para a Europa (1973) - Primeira empresa a produzir ônibus articulados no Brasil - Consolidação da Tecnologia CKD

- Reconhecimento de seus produtos (como o ônibus Marcopolo) por clientes e por feiras internacionais - Venda de ônibus por meio da nova tecnologia

Acionistas

- Mudança de nome da empresa e rompimento do vínculo com os irmãos Nicola. - Constituição da MVC Componentes Plásticos em São José dos Pinhais, no Paraná.

- Solidificação da marca Marcopolo no Brasil e no mercado externo - Crescimento das exportações - Crescimento e integração da fábrica de componentes plásticos na operação

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B) Legitimidade Organizacional

A estreita relação da empresa com a cidade de Caxias do Sul, seguiu

sendo um traço presente na análise da segunda fase da trajetória da Marcopolo. A

comunidade caxiense sempre depositou seu capital na empresa. Como prova

disso, as assembléias gerais realizadas anualmente pela empresa eram sucessos

de público. Anos mais tardes tal assembléia, nos moldes em que funcionava,

deixou de existir e passou a ser dirigida somente aos acionistas da Marcopolo.

Antes a Marcopolo promovia um grande churrasco que levava toda a comunidade

para dentro da empresa (estratégia de manipular; tática de cooptar) como lembra

o Sr. Carlos Zignani.

Ao longo das décadas de 1970, os colaboradores da empresa e a

comunidade caxiense seguiam participando das diversas iniciativas promovidas

pela Marcopolo. O Grêmio Atlético Nicola passou a ser Grêmio Atlético Marcopolo

(GAM) e seguiu investindo nas equipes que participavam das diversas

competições municipais e estaduais e divulgavam o nome da empresa (estratégia

de manipular; tática de cooptar). Em 1982, foi fundada a Associação dos

Funcionários Marcopolo (AFM), que passou a englobar as atividades esportivas e

sociais, desenvolvidas respectivamente pelo GAM e pela FAN (Fundação

Assistencial Nicola).

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No ano de 1986, atendendo aos pedidos que surgiram em uma das

reuniões da AFM, foi criado o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) batizado de

Marco da Tradição. Tal instituição funcionou como um lugar onde os funcionários

da Marcopolo podiam se reunir, tomar chimarrão, dançar, cantar, promover festas

e principalmente, cultivar as tradições do estado do Rio Grande do Sul.

A Rústica Marcopolo foi uma atividade criada pela AFM, que era não

restrita apenas aos funcionários da empresa e se tornou um grande evento na

cidade de Caxias do Sul. A divulgação, que começou em 1986, virou tradição no

meio esportivo e passou a reunir significativo número de famosos atletas nacionais

e internacionais (estratégia de manipular; tática de cooptar).

Junto com as práticas esportivas desenvolvidas periodicamente pela

Marcopolo, quase que desde a sua fundação, a empresa criou, na década de

1980, um programa de apoio e patrocínio a atletas das mais diversas modalidades

esportivas, e mais uma vez estendeu tal programa à comunidade caxiense. A

título de curiosidade, segundo entrevistas realizadas com funcionários da

empresa, os corredores ou velocistas eram os principais beneficiados com estes

patrocínios, pois segundo os dirigentes da empresa, como os produtos da

empresa (os ônibus) “corriam”, os atletas patrocinados deveriam ser identificados

com o exercício da corrida.

A alteração, em 1971, de seu nome de Nicola para Marcopolo, além de

agregar ao nome da empresa toda a popularidade que os ônibus Marcopolo

estavam conquistando, fez com que a empresa, enfim, conseguisse desassociar

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seu nome dos irmãos Nicola que, em 1967, haviam se desligado da empresa

(estratégia de evitar; tática de ocultar). A marca, e consequentemente o nome

Marcopolo foi muito bem recebido pelas diversas empresas e entidades que

formavam o setor, e a marca Marcopolo foi se tornando mundialmente conhecida.

As estratégias de marketing foram determinantes na conquista de novos

mercados, sejam nacionais ou internacionais. Em 1974, devido ao empenho e

bons resultados da empresa no mercado externo, a ela foi entregue o Prêmio

Exportação da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil), do Rio

Grande do Sul. Ao longo dessa segunda fase, diversos foram os certificados,

prêmios e diplomas que a empresa recebeu dos mais diversos órgãos, como pode

ser observado pela Tabela 4.15.

Tabela 4.15 – Certificados, Diplomas e Prêmios entre 1967 e 1986

ANO DESCRIÇÃO ÓRGÃO EXPEDIDOR

1967 Certificado de Empresa de Capital Aberto, conforme processo nº GEMEC – R- 67/2189

Banco Central do Brasil

1968 Diploma de participação no VI Salão do Automóvel Salão do Automóvel 1968 Honra ao Mérito “Quem é Quem na Economia

Brasileira” Revista Exame – SP

1969 “Gran Prêmio” na classe veículos motorizados Sr. Paulo Bellini recebe o título de Industrial do Ano

Feira Internacional de Santiago – Chile

1970 Diploma Participação VII Salão do Automóvel Salão do Automóvel 1970 Honra ao Mérito “Quem é Quem na Economia

Brasileira” Revista Exame – SP

1972 Prêmio ao Sucesso em Marketing Souza Cruz 1972 Prêmio Distinção Indústria com o microônibus

Marcopolo Jr. FIERGS – Federação das Indústrias do Estado do R.G.S.

1973 Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Revista Visão 1974 Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Revista Visão 1974 Prêmio Exportação ADVB/RS – Associação dos

Dirigentes de Vendas do Brasil

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1974 Prêmio Jornal Externo ABERJE – São Paulo 1975 Prêmio Mérito Industrial, concedido ao Sr. Paulo Bellini FIERGS 1976 Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Revista Visão 1977 Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Revista Visão 1978 Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Revista Visão 1981 Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Revista Visão 1982 Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira”

Troféu Homem de Aço, conferido ao Sr. Paulo Bellini Revista Visão AARS

1983 Diploma “Quem é Quem na Economia Brasileira” Revista Visão 1983 Prêmio “Os Bem Sucedidos” Categoria Material de

Transporte Revista Bolsa – RJ

1985 Certificado “As Maiores do Transporte” Editora TM Ltda – SP 1986 Certificado “As Maiores do Transporte” Editora TM Ltda – SP 1986 Prêmio Distinção Indústria com o ônibus rodoviário

Paradiso FIERGS

Fonte: Memorial Marcopolo

Através das atividades publicitárias, a Marcopolo não só divulgava a

imagem de seus produtos, como também proporcionava campanhas para

estimular a conscientização coletiva, cujo principal objetivo era integrar a empresa

à sociedade. A primeira dessas campanhas foi intitulada “Não Seja um Perigo na

Estrada” e visava à redução da violência no trânsito rodoviário (estratégia de

manipular; tática de cooptar).

No auge da crise mundial do petróleo, mais precisamente em 1974, a

empresa lançou outra campanha com o objetivo de enfatizar seu produto,

principalmente em virtude do contexto econômico da época: “O mundo está

aprendendo a andar de ônibus novamente. Marcopolo está ensinando” (estratégia

de manipular; tática de cooptar). Já a Receita Marcopolo foi uma campanha de

lançamento de novos produtos – urbanos e rodoviários – que ofereciam maior

conforto. A finalidade era a mesma, e através dela a empresa conseguiu estimular

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que os proprietários deixassem seus automóveis em casa e passassem a usufruir

dos serviços dos ônibus (estratégia de manipular; tática de influenciar).

Os representantes da Marcopolo formaram um importante canal de

atendimento que permitiu que a empresa gerasse confiança nos mercados

internacionais (estratégia de manipular; tática de cooptar). Além disso, graças à

reputação da Marcopolo, que estava cada vez mais respeitada e sólida no cenário

internacional, a empresa foi capaz de desenvolver diversas parcerias com os

principais fabricantes de chassis de ônibus, como Mercedes-Benz, Scania e Volvo.

Tais parcerias foram fundamentais para o cumprimento de diversos pedidos e em

muito contribuiu para promoção e bons resultados de ambas integrantes da

cadeia, a fabricante do chassi e a encarroçadora (estratégia de manipular; tática

de cooptar).

Por outro lado, a crise pela qual a empresa passou no início da década de

1980 foi marcante em sua trajetória. No entanto, a mesma soube contornar a

situação com lançamentos de produtos bem sucedidos, como a Geração IV em

1984, e, principalmente com a introdução de técnicas de produção japonesas,

cujos primeiros estudos ocorreram entre 1985 e 1986.

C) Sumário das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase II)

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Esse conjunto de evidências presentes em sua história, entre o período de

1968 e 1986, indica que a Marcopolo possui elementos que lhe permitiram ser

bem sucedida ao navegar no ambiente no qual esteve inserida, principalmente

pelo uso de estratégias ativas (desafiar, manipular) em diversos momentos. Dessa

forma, a Marcopolo tem se mostrado capaz de responder o desafio da navegação

no ambiente de forma satisfatória, conforme indica a Tabela 4.16.

Tabela 4.16 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase II)

4.2.3. Desafios da Gestão da Diversidade

Ao longo da segunda fase, a Marcopolo realizou diversos movimentos de

expansão, seja através das aquisições realizadas, Eliziário e Nimbus, seja através

da implantação de novas fábricas, como foi o caso da unidade de Ana Rech e a

Marcopolo Minas. Ao experimentar essa mudança de tamanho, a firma, em teoria

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passou a estar mais exposta aos desafios da diversidade, cujas conseqüências

podem ser a fragmentação ou a integração.

Da mesma forma como observado na primeira fase de sua história, nesta

segunda fase, a Marcopolo buscou a criação e desenvolvimento de mecanismos

que estimulassem a integração organizacional. Já na escolha do nome do produto

que foi lançado em 1968, a empresa envolveu todos os funcionários da empresa,

inclusive os que trabalhavam nas fábricas. O nome do novo produto, resultado de

um trabalho coletivo da empresa, mostrou-se bem sucedido nos anos seguintes.

Tal aproximação entre diretoria e funcionários servia, também, como elemento de

motivação adicional, como lembrou um ex-funcionário em entrevista realizada.

Outro importante veículo de integração da empresa eram os boletins

informativos, já lançados na década de 1960. Com a mudança do nome da

empresa, o periódico passou a se chamar O Veneziano, outra referência ao

navegador Marco Polo. Em 1974, a empresa foi premiada pela ABERJE

(Associação Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de Empresas) no III

concurso nacional de revistas e jornais de empresas.

A partir de 1984, apesar de trazer outro novo nome, Polo Informativo, o

informativo interno seguia cumprindo o objetivo de manter o funcionário da

empresa atualizado sobre os assuntos que envolviam a Marcopolo, abordando

questões de segurança, saúde, esportes, economia e cultura. Em 1984, foi criada

uma publicação bilíngüe denominada Rota das Notícias, que passou a levar as

notícias da empresa aos clientes, fornecedores, acionistas, autoridades,

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organizações e instituições brasileiras ou estrangeiras, que mantinham alguma

relação com a Marcopolo.

Os esportes e diversas outras atividades sociais, que passaram a ser

coordenadas pela AFM (Associação dos Funcionários Marcopolo), seguiam

formando importante elemento de integração da Marcopolo. A AFM difundia a

prática e o desenvolvimento do esporte amador, organizava e patrocinava

reuniões e atividades artísticas, sociais e cívicas.

Em conjunto com a Marcopolo, a AFM realizava diversas iniciativas com o

intuito de treinar e desenvolver os recursos humanos da empresa, adequando-os

dentro de uma mesma cultura. Através da AFM também se prestava uma série de

serviços assistenciais como: assistência financeira, médico-farmacêutico-

hospitalar, educacional, cultural, recreativa e esportiva, e alimentar aos associados

e seus dependentes.

Os funcionários da empresa contavam com uma sede campestre, com

180.000 m2, que possuía quadras poliesportivas, uma cancha de bochas, um

galpão crioulo utilizado pelo Centro de Tradições Gaúchas, churrasqueiras,

restaurantes, parque de diversões, área de lazer, além do estádio Estádio Ody

Brito. Segundo as entrevistas realizadas, a maioria dos funcionários utiliza essa

estrutura de lazer oferecida pela empresa, levando com eles seus familiares, o

que contribuiu para um aumento da integração organizacional da empresa.

Também segundo depoimentos, vale ressaltar que grande parte dessas

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benfeitorias foi construída pelos próprios funcionários da empresa, nos fins de

semana, na forma de mutirão.

Quando se aborda a questão da integração organizacional no período que

compreende 1968 e1986, é necessário salientar os impactos que a crise vivida, no

início da década de 1980, tiveram sobre a empresa. Segundo depoimentos, foi um

período marcado por inúmeras demissões de funcionários. Dados internos da

empresa indicam que a Marcopolo contava com 3500 funcionários em 1978,

porém chegou ao ano de 1984 com 2330 funcionários, uma redução maior que

30% de seu quadro de pessoal. Segundo entrevistas realizadas, nesse momento a

diretoria da empresa se reuniu e promoveu encontros com os funcionários, para

explicar a difícil situação pela qual a empresa atravessava, e discutir e criar

mecanismos que ajudassem a Marcopolo sair dessa crise, conforme lembrou o

funcionário Jaime Bertelli:

“O lado negativo que eu vi dentro da Marcopolo foi lá, em 1981, 1983, quando a Marcopolo entrou numa profunda crise, não estou dizendo aqui que foi por causa da Marcopolo, administração, não. Você pode ver que tem até outras empresas em Caxias grandes que tiveram o mesmo problema ou pior, não quero fazer nome... Então, aquilo, como ser humano, também não estou falando por mim, o que me marcou muito, foram os nossos diretores, o Paulo Bellini, o Valter, o Martins, na época... quando fizeram uma janta, aí no Rincão da Lealdade, eu vi os diretores se comovendo, pedindo ajuda pra todos, todo mundo unido, trabalhando, não medindo esforços, acreditando na Marcopolo, e doía quando chamavam o pessoal, botava no pátio e dizia: – Vocês passam tal dia para acertar as contas!”

“Então, imagina o que aconteceu... Começou pelo seguinte, lá em 1983 ela tomou todas as forças e levantou vôo rapidamente, porque nós fomos muito felizes... vamos falar bem claramente, pelos nossos técnicos, pelo nosso poder de conhecer ônibus, que foi lançado um ônibus que aí... os nossos concorrentes sentiram. Então aí foi, lançou-se um produto...” (Entrevista Sr. Jaime Bertelli)

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Em suma, nesta segunda fase a Marcopolo continuou criando laços entre

os funcionários da empresa, que iam além de bens, instalações ou serviços. Ao

entrar na empresa, como alguns entrevistados apontaram, os funcionários eram

colocados diante de uma forte cultura e além de se adaptarem, passavam a gostar

da forma como a empresa funcionava.

Pode-se dizer também que devido à forma pela qual a empresa manteve

sua reputação e integridade, apesar das diversas demissões que ocorreram no

auge da crise do início da década de 1980, que a Marcopolo seguiu

desenvolvendo capacidades para responder de modo construtivo ao desafio da

diversidade, como indica a Tabela 4.17.

Tabela 4.17 – Resumo das Respostas ao Desafio da Diversidade (Fase II)

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4.2.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais

Mantendo uma das principais características presentes na primeira fase da

análise, a Marcopolo seguiu acreditando, ao longo da segunda fase, que a gestão

de pessoal era uma questão chave para a empresa ser bem sucedida. Como já

explicitado anteriormente, a indústria de carrocerias de ônibus, ao contrário de

diversas indústrias mais automatizadas, requer muita mão-de-obra no processo de

fabricação do produto final. Apesar dos avanços de ferramental e tecnologia em

relação à fase anterior, os procedimentos utilizados no processo produtivo ainda

eram substancialmente artesanais.

Dessa forma, antecipar, formar, reter e renovar, não só no nível gerencial,

como também no nível operacional, tornava-se uma questão vital para o

funcionamento da empresa, e a seguir serão apresentadas evidências que

descrevem de que forma a empresa respondeu ao desafio da formação de

recursos qualificados.

A) Antecipação

Ao longo da segunda fase da empresa, não foi verificado, em documentos

institucionais, a existência de práticas formalizadas ou deliberadas que visavam à

antecipação na contratação e formação de recursos humanos para prováveis

necessidades.

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No entanto, por meio de entrevistas com funcionários e ex-funcionários da

Marcopolo, foram identificadas diversas histórias de funcionários que se

deslocaram entre as diversas áreas funcionais e unidades de negócio, e

construíram carreiras bem sucedidas na empresa.

Dentre alguns exemplos de funcionários que foram assumindo posições em

novos negócios, pode-se citar o Sr. José Albino, funcionário que entrou na

empresa em 1954. Durante o período que esteve na empresa, ele participou de

projetos no Uruguai, Venezuela e diversos estados do Brasil, foi transferido para

Porto Alegre, no momento da aquisição da encarroçadora Eliziário, onde

permaneceu por alguns anos, como também participou de projetos em firmas

terceirizadas da Marcopolo no final da década de 1980 e início da década de

1990.

Caminho parecido percorreu outro entrevistado, o Sr. Jaime Bertelli, que

entrou na empresa em 1971, com 21 anos, passou por algumas unidades da

Marcopolo, assim como por diversas áreas funcionais como Informática,

Engenharia, Logística, muitas delas estruturadas por ele mesmo.

Em 1970, os Srs. José Martins e Valter Pinto foram eleitos diretores da

empresa e em 1973, o Sr. Raul Tessari foi contratado pela Marcopolo para o setor

administrativo-financeiro. Inicialmente, ele cuidou das áreas de recursos humanos,

jurídico, e gestão das relações da empresa com o mercado de capitais. Segundo

depoimentos coletados, o trabalho realizado pelo Sr. Tessari foi determinante para

que a empresa se mantivesse à frente das transformações que ocorriam, desde

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avanços de tecnologia a novas teorias de administração. Em 1977, o Sr. Raul

Tessari também se tornou diretor da empresa.

No período de 1964 a 1968, a Marcopolo, então Nicola, possuía a seguinte

diretoria: Dorval Nicola (Diretor Gerente), Paulo Bellini (Diretor Gerente), Fiorindo

Sartori (Diretor Técnico) e José Wilson T. Costa (Diretor Industrial). Mais tarde,

com a integração de novos membros no corpo diretivo da empresa, a Marcopolo

desfrutava da estrutura apresentada na Tabela 4.18, o que demonstra a

importância que os Srs. José Martins, Valter Pinto e Raul Tessari foram ganhando

dentro da empresa.

Tabela 4.18 – Diretoria da Marcopolo entre 1969 e 1980

Cargo 1969 1970 - 1974 1975- 1976 1977 - 1980Diretor-

PresidentePaulo Bellini Paulo Bellini Paulo Bellini Paulo Bellini

Fiorindo Sartori Fiorindo Sartori

José Wilson T. Costa

José A. F. Martins José A. F. Martins José A. F. Martins

Valter G. Pinto Valter G. Pinto Valter G. Pinto

Raul Tessari Raul Tessari

Diretores

Fonte: Livro Comemorativo 50 Anos

B) Formação

A Marcopolo iniciou essa fase com os mesmos princípios que nortearam a

fase anterior, ou seja, a empresa permanecia acreditando que seus funcionários

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deveriam ser os melhores profissionais existentes no setor em que ela estava

inserida. Para isso, a empresa continou com convênios com instituições de

qualificação profissional do setor, como o SENAI.

Juntamente com os aperfeiçoamentos nos procedimentos de produção e a

racionalização de layout de fábricas, os constantes treinamentos especializados

foram determinantes para os saltos de produtividade ao longo da década de 1970.

Em 1977, a Marcopolo registrou um número de 1.036 funcionários beneficiados

com treinamento, que iam desde a integração inicial e o TWI (Training Within

lndustry) até os cursos dirigidos aos supervisores.

A Associação dos Funcionários da Marcopolo (AFM) foi outro importante

meio utilizado na promoção de treinamentos e no desenvolvimento de recursos

humanos, através da divulgação e implantação de diversas atividades. Assim

como na fase anterior, os periódicos internos foram, também, instrumentos que

auxiliaram na formação e treinamento de pessoal. Tais boletins levavam

informações aos funcionários e os mantinham atualizados quanto a novas técnicas

ou procedimentos para manusear determinadas ferramentas ou matérias-primas.

C) Renovação

Embora não exista uma série histórica confiável sobre a evolução do

número de funcionários da empresa ao longo da década de 1970, alguns registros

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isolados apontam que em virtude do expressivo crescimento ao longo dessa

década, o ritmo na contratação de novos funcionários para seu quadro de pessoal

foi acelerado. Ao incorporar concorrentes como a Eliziário, de Porto Alegre, e a

Nimbus, de Caxias do Sul, a Marcopolo além de absorver novas técnicas que às

vezes não dominava absorvia, também, novos funcionários.

Em termos de pessoal, uma importante contratação nesse período, como já

mencionado, foi a do Sr. Raul Tessari. Desde o início, seu trabalho foi marcado

pela atualização e a mudança de conceitos nos sistemas administrativos e

financeiros da empresa. Como já mencionado também, sua atuação passou pelos

campos jurídicos, financeiros e de administração de pessoal.

Por outro lado, as boas contratações de pessoal ao longo da década de

1970, foram ofuscadas pela série de demissões que ocorreram com a crise dos

primeiros anos da década de 1980, quando a empresa sofreu uma drástica

redução de seus pedidos e teve que adequar sua estrutura de pessoal àquela

realidade. Tal processo de demissão envolveu profissionais de todos os níveis

hierárquicos.

Ainda no que diz respeito à renovação, entre 1985 e 1986 teve início um

dos movimentos mais marcantes na história da empresa, determinante para as

transformações que ocorreram na fase seguinte. Nessa época foram realizados os

primeiros estudos sobre as novas técnicas japonesas de produção. Foi, então,

realizada uma viagem ao Japão pelo Presidente Paulo Bellini e pelo Diretor

Industrial Cláudio Gomes, com o intuito de entender o sistema japonês com maior

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detalhe. O material trazido foi cuidadosamente estudado pela diretoria da

Marcopolo para que nos anos seguintes ocorresse uma grande transformação

daentro da empresa.

D) Retenção

No que se refere à retenção de pessoal, a segunda fase foi o momento

mais crítico de sua história. Tomando com base os 3500 funcionários que a

Marcopolo registrava em seu quadro de pessoal em 1978, e comparando com os

2330 registrados em 1984, nota-se uma redução de 33,4% no número de

funcionários.

A crise vivida na década de 1980 teve impacto direto no quadro de pessoal.

Segundo as entrevistas, tentou-se ao máximo segurar essas pessoas, porém

mesmo buscando novas formas de trabalho para evitar a ociosidade de pessoal,

não foi possível evitar inúmeras demissões.

Nos primeiros anos dessa fase, a Marcopolo realizou algumas aquisições e

novos funcionários foram incorporados a sua estrutura. A empresa cresceu em

capacidade e em número de funcionários. No entanto, a crise revevertou essa

trajetória e acarretou mudanças. No auge da crise, a fábrica da Eliziário que

funcionava em Porto Alegre teve sua estrutura levada para Caxias do Sul. A

unidade de Minas Gerais, com poucos anos de funcionamento, foi outra que

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sofreu as conseqüências da crise que afetou a indústria automotiva e foi

desativada, sem mesmo gerar lucros.

Apesar desses episódios, segundo as entrevistas realizadas, a

comunicação com os funcionários era franca por parte dos diretores e superiores e

a sensibilidade dos funcionários pela crise por que a empresa passava era

imensa. Os funcionários compreendiam o motivo das demissões, tanto que se

procurava demitir pessoas mais jovens, solteiras e sem filhos no lugar de pessoas

que já tinham família constituída.

Após a crise, diversos funcionários demitidos foram recontratados. Ao longo

da visita realizada na fábrica, e mais tarde comprovada pelos dados enviados pelo

Marcopolo, percebe-se a existência de muitos funcionários que entraram na

empresa ao longo dessa segunda fase (1968 – 1986) e que seguem na empresa

até os dias atuais (2007), muitos dos quais sem nunca terem trabalhado em outra

empresa.

E) Sumários das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais

(Fase II)

Dessa forma, apesar de todos os obstáculos atravessados ao longo dessa

fase, as evidências indicam que a Marcopolo prosseguiu desenvolvendo

habilidades que lhe permitiram ser bem sucedida apenas na formação de recursos

gerenciais. Por outro lado, mesmo ameaçada pela crise que marcou o início da

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década de 1980, a empresa apresentou respostas consideradas insatisfatórias na

Antecipação, Retenção e Renovação de recursos gerenciais.

No entanto, como houve um esforço da empresa, reconhecido pelas

entrevistas realizadas, também não é possível afirmar que as respostas da

Marcopolo também foram completamente insatisfatórias. A Tabela 4.19 apresenta

o resultado da resposta para tal desafio, mostrando que não há predominância de

respostas satisfatórias ou insatisfatórias para antecipação, retenção e renovação.

Tabela 4.19 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase II)

4.2.5. Desafios da Gestão da Complexidade

Nesta segunda fase, a empresa passou a ter planos bem mais ambiciosos,

adquirindo algumas concorrentes e realizando uma série de investimentos fora de

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Caxias do Sul. Existem alguns episódios que podem ilustrar a forma como a

empresa se portou perante questões complexas das mais diversas naturezas.

Para superá-las, foram desenvolvidos procedimentos sistemáticos, com os quais a

Marcopolo foi alimentando seu aprendizado e incorporando-os à empresa.

Um bom exemplo foi a decisão da empresa em investir em contratos de

tecnologia, principalmente nas tecnologias CKD e MKD. Ao formalizar um contrato

de tecnologia, o diretor Raul Tessari afirmou:

“No momento em que produzimos tecnologia para o exterior, essa tecnologia fica agregada ao nosso produto também no mercado nacional e isso justifica a posição de destaque que a Marcopolo ocupa em nosso mercado” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 46)

De fato, ao investir na tecnologia CKD, e dominá-la, a Marcopolo começou

a estabelecer contratos de exportação até então inimagináveis para a empresa e

inéditos para a indústria brasileira. As exportações por meio desse módulo

tornavam a empresa mais competitiva, afinal o frete era reduzido, e permitia que a

empresa atingisse mercados, cujas barreiras alfandegárias eram, até o momento,

impeditivas.

Ao longo dessa fase, a empresa começou a desenvolver habilidades em

adquirir empresas, como a Nimbus e a Eliziário, uma grande concorrente na

ocasião, e a realizar investimentos robustos, como foi o caso da construção de

duas novas fábricas, uma em Caxias do Sul (Ana Rech) e outra na cidade de

Betim, em Minas Gerais (Marcopolo Minas). Nessas expansões a empresa

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passou, também, a aumentar seu quadro de funcionários sabendo sustentar a

integração da organização.

Apesar do momento econômico no país não ser o mais adequado no

momento de inauguração das fábricas, o fato de desenvolver tal habilidade foi

importante para os planos de expansão que marcaram a fase seguinte.

A crise econômica da década de 1980, sem dúvida, teve forte impacto no

funcionamento da empresa. Por outro lado, ao contrário de muitas empresas que

fecharam as portas ou decretaram concordata nesse momento, a Marcopolo

manteve-se em funcionamento, porém com tamanho reduzido. A habilidade que a

empresa desenvolveu em navegar no ambiente e manter sua integração, como já

mencionado, foi determinante para a empresa recuperar-se.

Ainda no aspecto da navegação do ambiente, a Marcopolo passou também

a transitar de forma mais efetiva pelas esferas governamentais, deixando se ser

somente influente na cidade de Caxias do Sul e no estado do Rio Grande do Sul.

Passou, também, a participar ativamente de entidades do setor, como Fabus e

Simefre. Seu estande no Salão do Automóvel, que ocorria em São Paulo, tornou-

se uma parada obrigatória de políticos, empresários e pessoas ligadas ao setor de

transporte segundo relatos da época.

O mesmo ocorreu, em 1986, durante a Festa da Uva, em Caxias do Sul. O

estande que a empresa montou teve a visita do então presidente de república

José Sarney. Outro evento que demonstra o destaque que a empresa vinha

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ganhando nacionalmente foi a inauguração da unidade de Ana Rech que contou

com a presença do presidente da república João Baptista de Figueiredo.

Com a saída dos irmãos Nicola no fim da primeira fase, novos líderes

tiveram que surgir dentro da empresa. Nesse momento que a empresa um corpo

diretivo e projeta-se também no mercado de capitais brasileiro, promovendo o

lançamento de ações da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo.

Por fim, vale destacar a importância que a Associação dos Funcionários da

Marcopolo (AFM), tinha perante os funcionários e a comunidade caxiense. Além

dss diversas iniciativas sociais que objetivam o bem estar dos funcionários e seus

dependentes, através das inúmeras modalidades e competições esportivas, o

nome da Marcopolo era levado aos diversos cantos do país.

Apesar de ser claros alguns mecanismos criados para resolver questões

complexas, buscando a resolução de problemas de forma sistemática e fomento

do aprendizado, a empresa correu certo risco em fechar as portas no início da

década de 1980, que talvez pudesse ter sido evitado. Fábricas recém inauguradas

se tornaram ociosas e a empresa chegou ao ponto de desativar a fábrica de Minas

Gerais sem que a mesma chegasse a atingir lucro. Inúmeras demissões foram

realizadas, o que impactou claramente as respostas ao desafio da formação de

recursos gerenciais.

Dessa forma, mesmo com diversas evidências de respostas construtivas

para alguns desafios ao longo dessa fase, não há evidências suficientes que

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garantam que as respostas da Marcopolo foram de fato satisfatórias para o

desafio da complexidade.

Em suma, para esta segunda fase marcada pela crise vivida pela empresa,

houve um equilíbrio entre as respostas satisfatórias e insatisfatórias em relação

aos desafios de crescimento, o que é expresso por um símbolo de neutralidade,

como pode ser visto na Tabela 4.20.

Tabela 4.20 – Resumo das Respostas ao Desafio da Complexidade (Fase II)

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4.3. Fase 3 – As Técnicas Japonesas e a Internacionalização: 1987 a 2006

A terceira fase de análise da trajetória da Marcopolo teve início em 1987 e

se estende até o ano de 2006. Ao longo desse período, ocorreram profundas

mudanças na organização. A primeira delas ocorreu logo após a crise econômica

do início da década de 1980, sendo representada pela implantação das técnicas

ou filosofia japonesa de administração da produção, um marco dentro da empresa.

A segunda é marcada pelo processo de internacionalização que teve início

em 1991 e ganhou força dentro na empresa nos anos seguintes. Se em 1987,

13% do faturamento da empresa tiveram origem no mercado externo, em 2006,

esse valor saltou para 47%. Vale ressaltar, também, que por diversos anos (1993,

2000, 2001, 2002, 2004 e 2005) a participação da Marcopolo no mercado

brasileiro de carrocerias de ônibus foi superior a 50%.

A seguir os principais acontecimentos que marcaram essa terceira fase

serão apresentados, alguns podem já ser visulaizados no Gráfico 4.7. A partir

desses acontecimentos, será realizada uma análise da terceira fase com o intuito

de identificar de que forma a Marcopolo respondeu aos cinco desafios do

crescimento.

Gráfico 4.7 – Produção de Veículos pela Marcopolo e Principais Eventos entre 1987 e 2006

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0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

1949

1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s*

Início Divers. Não

Relacionada

Viagem ao Japão

Lançamento Ônibus

Marcopolo

Saída Irmãos Nicola

3a Fase De 1987 a 2006

1a Fase De 1949 a 1967

2a Fase De 1968 a 1986

*Não inclui Volare e Furgões

Fechamento Marcopolo

Minas

Início Prod. Com Chassi

Brasileiro

Fundação da

Nicola & Cia.

LTDA

JK inicia expansão

da indústria automotiva no Brasil

InauguraçãoFábrica Planalto

1a Exportação

Criação da FAN

Ingresso Valter Gomes

Aquisição

Eliziário

Aquisição Nimbus

Mudança de nome

para Marcopolo

1o Contrato

CKD

Ações Bovespa

Fábrica Ana Rech

Marcopolo Minas

Crise no México

Plano Real

Desativação PlanaltoContrato

CKD para Gana

Portugal

Escola Formação Profisiional

Criação da Fundação Marcopolo

Fim Diver. Não

Relacionada

Ônibus Volare

Argentina

México

Colômbia

50% Ciferal

100% Ciferal

Transf. Tecn. China

África do Sul

Desativação

Argentina

Avaliação Rússia e

China

Troféu Busbuilder of the Year

Ingresso José

Martins

Técnicas Japonesas

4.3.1. Desafios do Empreendedorismo

A) Ambição

A Marcopolo apresentou um crescimento vertiginoso ao longo dos anos que

compreendem esta terceira fase. Enquanto em 1987, a produção anual de ônibus

foi de 2.845 unidades, em 2006, foi de 12.815. Tais resultados, que podem ser

observados no Gráfico 4.8, não incluem os furgões e os ônibus Volare, modelo de

ônibus que a Marcopolo lançou na década de 1990, e que nos anos seguintes,

passaram a representar significativa participação na receita da empresa.

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Gráfico 4.8 – Produção da Marcopolo entre os anos 1987 e 2006

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

16,000

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s*

3a Fase De 1987 a 2006

*Não inclui Volare e Furgões Fonte: Memorial Marcopolo (1987 – 1997) e Relatórios Anuais (1998 – 2006)

A Marcopolo saiu da crise econômica da década de 1980, muito

determinada a crescer. Para isso, a empresa acreditou que um bom caminho seria

por meio da diversificação não relacionada. Em 1987, a MVC Componentes

Plásticos, localizada em São José dos Pinhais, iniciou suas atividades. Em 1988,

seguindo o programa de diversificação de investimentos, a Marcopolo participou

do projeto de privatização da Caraíba Metais S.A., única produtora de cobre

eletrolítico no Brasil.

Nesse mesmo ano, foi constituída a Polo Agenciadora de Negócios Ltda.,

cujo objetivo era agenciar negócios em geral. Em 1989, a Marcopolo entrou no

setor financeiro por meio de uma participação no capital do Banco Arbi, que

possuía sede em São Paulo, e filiais no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Ainda

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dentro dessa estratégia de diversificação, em 1995, a Marcopolo adquiriu 50% das

quotas de participação da Dinaço Ind. e Com. de Ferro e Aço Ltda, empresa

especializada na transformação e beneficiamento de aço.

Outro caminho traçado pela Marcopolo para crescer, conforme já

mencionado, foi o mercado externo. Seja através de exportações ou por meio de

unidades fabris espalhadas pelo mundo, a Marcopolo se tornou uma das maiores

encarroçadoras de ônibus no planeta.

Em 1991, a Marcopolo adquiriu sua primeira planta no exterior, em

Portugal, através de uma joint venture com o grupo Evicar, tradicional organização

portuguesa ligada ao ramo de veículos. O principal objetivo da Marcopolo através

dessa parceira era se aproximar da mais moderna tecnologia de ônibus do mundo,

a européia, e dessa forma trazer tal tecnologia para o Brasil para modernizar seus

produtos.

Em 1992, a Marcopolo firmou um contrato de exportação com a Dina

Autobuses, do México, no qual a Marcopolo fornecia a carroceria e a Dina, o

chassi. Essa parceria se manteve até 1994, ano em que o México entrou em crise

e, por conseqüência, a Dina acabou fechando as portas. A crise do México teve

um forte impacto negativo na Marcopolo, já que na época, esse país era um

grande mercado consumidor de seus produtos. Com isso, a empresa,

temporariamente reduziu seu foco no mercado externo, só retomando os

investimentos, em 1997 com a aquisição de todo controle da fábrica de Portugal.

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“Em 1997, o mercado externo voltou a ser enfocado como uma das prioridades da empresa, totalmente sintonizada com uma economia globalizada e competitiva. A Marcopolo Indústria de Carroçarias S.A. em Coimbra – Portugal, a partir do ano passado, passou a pertencer integralmente à Marcopolo S.A. Essa nova posição acionária está permitindo que sejam tomadas as medidas necessárias para o crescimento daquela unidade.” (Fonte: Relatório de Administração 1997).

Visando crescer, a empresa realizou uma série de investimentos no

mercado externo nos anos seguintes. Em 1998, foi inaugurada a Marcopolo

Latinoamérica S.A., na Província de Córdoba, cidade de Rio Cuarto, na Argentina,

com uma capacidade inicial de produção de 1.200 unidades por ano. Anos mais

tarde, em 2003, tal fábrica foi desativada devido à crise econômica que afetou a

Argentina.

Em 1999, ela constitui uma nova fábrica no México, Polomex S.A., em

Aguascalientes. Em 2000, a empresa constitui uma fábrica na Colômbia, em

conjunto com a Superbus de Bogotá S.A., denominada Superpolo. Nesse mesmo

ano, a Marcopolo comprou parte dos ativos da Volvo South África e constitui sua

primeira fábrica na África do Sul, em Johanesburgo.

Em 2001, a Marcopolo transferiu suas instalações de Aguascalientes para

Monterrey, no México, pois foi firmado um acordo com a Mercedes-Benz do

México que passou a deter 26% do capital social da Polomex. A Polomex passou

a montar, no México, os ônibus com carrocerias Marcopolo sobre chassis

produzidos pela Mercedes-Benz.

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Também em 2001, teve início o projeto de transferência de tecnologia com

a cidade de Chaugzson, China. A Marcopolo assinou acordos técnicos de

transferência de tecnologia para a IVECO, uma das empresas líderes, na Europa,

na fabricação e comercialização de ônibus e caminhões.

Em 2006, a Marcopolo decidiu expandir suas atividades para mercados do

oriente. Os países escolhidos foram a Rússia e a Índia. Na Índia, foi realizada uma

joint venture com o Grupo Tata, formando a Tata Marcopolo Motors Limited, para

a instalação, em Dharward, de uma fábrica cujo potencial de crescimento foi

estimado imenso.

No mercado interno, a Marcopolo passou a ser a maior encarroçadora de

ônibus brasileira já nos primeiros anos da terceira fase, superando a Caio em

1989. No entanto, foi no ano de 1998 que a empresa alcançou um outro objetivo

como informou o Relatório de Administração do mesmo ano:

“Na continuidade de seus esforços para atingir a liderança absoluta no mercado, a empresa logrou alcançar, em 1998, a participação maior em todos os segmentos do setor: rodoviários, micros e, pela primeira vez em sua trajetória industrial no Brasil, a maior produção também em ônibus urbanos.” (Fonte: Relatório de Administração 1998).

Para dar seqüência a esta trajetória de crescimento que envolvia desde a

liderança no mercado interno como a conquista de vários mercados externos, a

Marcopolo realizou, também, algumas aquisições no mercado brasileiro.

Em 1999, a Marcopolo adquiriu 50% da Ciferal, uma de suas principais

concorrentes, e dois anos mais tarde, 100% do controle. Na fábrica da Ciferal,

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localizada no Rio de Janeiro, passou a concentrar-se a maior parte da fabricação

de ônibus urbanos, historicamente a principal linha da Ciferal. No início de 2007, a

Marcopolo adquiriu 39,6% do capital da fabricante San Marino Ônibus e

Implementos Ltda, conhecida principalmente pela marca Neobus. A Neobus

localizava-se também na cidade de Caxias do Sul e atuava basicamente no

segmento de microônibus.

Ao longo da terceira fase, diversos foram os investimentos com o intuito de

elevar a capacidade, e principalmente os padrões de qualidade, segurança e

produtividade das fábricas. Em 2003, um investimento de R$ 10,0 milhões foi

destinado à fábrica de Ana Rech, que envolveu desde a elaboração de novo

layout das linhas de montagem, construção de túnel de acesso, novo sistema de

iluminação natural, avançadas cabines e estufas de pintura. Também foi

construída nesta unidade uma pista de testes, a primeira no gênero no país e uma

das mais equipadas do mundo, com circuito planejado para simular as mais

diversas condições de tráfego existentes no Brasil e no exterior.

A partir do ano 2000, a Marcopolo decidiu concentrar seus investimentos na

fabricação de ônibus (IAN, 2000). Diversas atividades não-relacionadas, como a

participação na Dinaço, foram abandonadas. No entanto, a empresa fez, também,

investimentos em negócios relacionados diretamente ao seu produto, como na

MVC, unidade responsável pela fabricação de componentes em plástico. Em

2003, a Marcopolo, com intuito de oferecer ao mercado equipamentos de

climatização integrados aos ônibus produzidos pela empresa, adquiriu 40,0% de

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participação na Webasto, fabricante de equipamentos de ar condicionado veicular,

localizada em Caxias do Sul.

Como se observa no Gráfico 4.9, em 1998, a Marcopolo atingiu a marca

dos 100.000 ônibus produzidos. No entanto, nota-se que a produção nas primeiras

cinco décadas de existência será, provavelmente, superada pela produção de sua

última década. Entre 1999 e 2006, a empresa já produziu 85.991 unidades, o que

reforça a trajetória de expressivo crescimento nesta última fase.

Gráfico 4.9 – Produção da Marcopolo Anual e Acumulada (1949 - 2006)

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

1949

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1969

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1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Pro

du

ção

de

Ôn

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ício

)

0

20,000

40,000

60,000

80,000

100,000

120,000

140,000

160,000

180,000

200,000

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s (A

cum

ula

do

)

Exercício Acumulado Fonte: Memorial Marcopolo (1949 – 1997) e Relatórios Anuais (1998 – 2006)

A título de ilustração, a centésima milésima unidade produzida foi um

ônibus modelo Paradiso Double Decker. Assim como em diversos outros

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lançamentos, a Marcopolo foi pioneira no país na fabricação desse tipo de veículo.

Outros lançamentos que marcaram a indústria brasileira e, por conseqüente esta

fase foram: o microônibus S&S (exportado para os EUA), o urbano Torino

Ligeirinho (para a cidade de Curitiba) e os miniônibus Volare e o Escolarbus. A

Tabela 4.21 apresenta os produtos lançados entre os anos 1987 e 1999.

Tabela 4.21 – Lançamento de Produtos da Marcopolo entre 1987 e 1999

NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES

Strada Cross 1987 Rodoviário Para terrenos difíceis

Microônibus S & S 1988 Micro Exclusivo para o mercado norte-americano.

Senior G IV 1989 Micro Articulado Torino 1991 Urbano Fratello 1991 Van Nas versões Massimo, Persona e Presto Torino Ligeirinho 1991 Urbano Especial para a cidade de Curitiba Viaggio GV 850 1992 Rodoviário Lançado na Expobus 92. Viaggio GV 1000 1992 Rodoviário Lançado na Expobus 92. Viaggio GV 1150 1992 Rodoviário Lançado na Expobus 92. Paradiso GV 1150 1992 Rodoviário Lançado na Expobus 92. Paradiso GV 1450 1992 Rodoviário Lançado na Expobus 92. Allegro GV 1993 Intermunicipal Torino GV Três portas

1993 Urbano

Torino GV Articulado

1993 Urbano

Torino GV Biarticulado

1994 Urbano Inicialmente produzido para o sistema de transporte coletivo da cidade de Curitiba.

Paradiso GV 1450 Low Driver

1995 Rodoviário Lançado na Expobus 94

Paradiso 1800 Double Decker 6x2

1995 Rodoviário Lançado na Expobus 94

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Fonte: Memorial Marcopolo

Em suma, a busca pelo mercado externo, e sua crescente participação no

mercado interno reforçam que a Marcopolo apresentou respostas satisfatórias no

serviço da ambição.

B) Engenhosidade em levantar recursos financeiros

Neste tipo de indústria, tão ou mais importante que levantar os recursos

necessários para a realização de investimentos em novas fábricas ou linhas de

montagem, os fabricantes de ônibus necessitam que existam fontes de

NOME ANO MODELO OBSERVAÇÕES

Torino GV Low Entry

1996 Urbano Lançado na Expobus 96

Torino Articulado GV

1996 Urbano Com motor traseiro

Torino GV Trolebus 1996 Urbano Lançado na Expobus 96 Paradiso GV 1800 DD/8x2

1996 Rodoviário Prêmio Distinção Indústria 1996.

Viaggio GV 1996 Rodoviário Com 14 metros. Paradiso GV 1450 1996 Rodoviário Com salão de jogos no piso inferior

traseiro. Senior GV 1996 Micro Fura-fila 1998 Urbano Veículo Leve sobre Pneus, especial

para a cidade de São Paulo. Volare 1998 Minibus Andare 1998 Rodoviário Viale Biarticulado 1998 Urbano Viale 1998 Urbano

Pesado

Escolarbus 1999 Minibus Torino 1999 Urbano

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financiamento para estimular os investimentos dos operadores de transportes de

passageiros. Ao longo das últimas décadas, a Finame (Agência Especial de

Financiamento Industrial do BNDES), o Crédito Direto ao Consumidor e o Leasing

se constituíram na maior parte das fontes de financiamento das empresas de

transporte de passageiros.

Além de contar com tais linhas de financiamento para estimular suas

vendas, a Marcopolo, ao longo da terceira fase, buscou, também, outras formas

para levantar recursos financeiros. Segundo entrevistas, além fazer uso do capital

da comunidade, a Marcopolo foi extremamente bem sucedida ao recorrer ao

mercado de capitais justamente no auge da crise econômica pela qual a empresa

passou.

“Então eu vim pra cá, mas vim como gerente financeiro, aí a primeira coisa nós tínhamos que capitalizar a empresa e fomos para o mercado de capitais. Fizemos um lançamento de ações na época, me lembro 3 milhões na moeda da época, não sei quanto é que era na época, e já conseguimos uma renegociação da dívida. A partir dali nós buscamos primeiro capital de risco, fizemos uma subscrição de capital, fomos ao BNDES buscar empréstimos para a renegociação de toda a dívida existente e tivemos sucesso nos dois pacotes. O BNDES fez um financiamento de longo prazo para a companhia, nós buscamos um mercado de risco. A partir dali, a Marcopolo de 1984 pra cá só deslanchou, e em 1986/87 com uma filosofia nova de produção, nós começamos a crescer, dinheiro não faltava, pegamos um período maravilhoso.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

Segundo os depoimentos relatados, ao sair da crise a empresa passou a

gozar de abundante acesso a capital para financiar seus investimentos, o que

viabilizou seus planos de expansão. Em 1996, a empresa instituiu seu programa

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de ADR’s (American Depositary Receipts), no entanto, como o volume de

negociações nunca foi alto, a empresa cancelou o programa em 2004.

No entanto, os investidores estrangeiros há tempos vêem a Marcopolo

como uma boa opção de investimento. Tanto que, segundo o Sr. Carlos Zignani,

diretor de relação com investidores da Marcopolo, mais de 50% das ações

preferenciais da empresa estão nas mãos de investidores estrangeiros. Em 2002,

a empresa aderiu ao nível de 2 de Governança Corporativa da Bovespa, sendo a

primeira empresa industrial brasileira a adotar tais padrões e regras, o que

proporciona maior transparência aos investidores.

Nesse mesmo ano, momento de profunda incerteza política devido à

eleição presidencial que se aproximava, a empresa realizou um novo lançamento

de capital, cujo resultado foi acima das expectativas da empresa, como contou o

Sr, Carlos Zignani.

“Fizemos um novo lançamento de capital em 2002, buscamos capital de risco, no pior momento, foi em setembro de 2002, quando o Lula, era uma ameaça, nos fizemos o lançamento de capital, foi o único do ano feito no Brasil. E a Marcopolo ainda teve sucesso captando 100 milhões de reais. Teve 30% a mais de procura. Destes, 20% foram lançados no exterior, e para efeito de mercado era a pior coisa que podia acontecer, e se o Lula ganhar naquela época, para o mercado externo. Mas a Marcopolo era muito, como é que eu vou dizer, é nome muito forte já porque nós tínhamos operações.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

A partir da terceira fase, a empresa também passou a desenvolver a

habilidade em realizar investimentos, principalmente aqueles feitos dentro de seu

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processo de internacionalização, por meio de joint ventures com grandes grupos

locais e grandes corporações multinacionais.

Em 2005, a Marcopolo, com a finalidade de reduzir a dependência dos

clientes por financiamento de terceiros, constituiu o Banco Moneo S.A. Este

banco, através de operações de crédito direto ao consumidor, capital de giro e

Finame, passou a possibilitar a aquisição de produtos Marcopolo, gerando, cada

vez mais, um impacto positivo no lucro da empresa.

Com base nas evidências apresentadas, pode-se dizer que a Marcopolo

manteve as respostas satisfatórias ao serviço da engenhosidade de levantar

recursos financeiros.

C) Versatilidade

Assim como nas fases anteriores, a Marcopolo se mostrou uma companhia

capaz de gerar idéias e se envolver em projetos inovadores, que foram se

transformando em alternativas bem sucedidas para a empresa.

No que tange à estrutura organizacional, a forma como as técnicas

japonesas foram implementadas, por si só, se constitui na principal evidência que

indica a capacidade da empresa vislumbrar oportunidades não tão óbvias,

implementá-las e ter êxito (versatilidade empreendedora). Uma viagem de estudo

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foi realizada ao Japão e diversas informações sobre o sistema japonês foram

coletas na forma de fitas-cassetes, anotações pessoais e etc.

A diretoria da empresa reuniu-se e foi constatado que tal sistema só

poderia ser implantado na empresa através da participação espontânea dos

funcionários. A implementação do sistema envolveu a participação da gerência,

dos funcionários e do Instituto de Movimentação e Armazenagem de Materiais

(IMAM), cujos professores ministraram palestras e cursos a diversas equipes da

Marcopolo (versatilidade gerencial).

O processo de internacionalização seguido pela empresa surge como outra

evidência nessa terceira fase, que indica a capacidade da empresa em vislumbrar

uma oportunidade, que além de proporcionar saltos de crescimento expressivos

nos últimos anos, deixou a empresa menos vulnerável às incertezas do mercado

interno. Também nesse sentido, a primeira fábrica instalada em Portugal,

funcionou como um grande laboratório para empresa, pois a partir dele saíram

diversas inovações que modernizaram os produtos da Marcopolo (versatilidade

empreendedora).

Ao longo da terceira fase, a Marcopolo, além investir no lançamento de

novos produtos, passou a vender, também, serviços. Dentre os principais produtos

lançados nesse período que mostram o intuito da empresa de entrar em novos

nichos de mercado, estão:

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• Os microônibus S&S, vendidos para o mercado, americano,

principalmente para locadoras de veículos e transportadoras de

turistas;

• O Ligeirinho, um ônibus especial, desenvolvido para atender às

características inovadoras do sistema de transporte coletivo

proposto para a cidade. Estes ônibus não possuem catracas nem

degraus, pois as portas de embarque são conectadas às estações-

tubo por uma plataforma móvel, facilitando o acesso dos

passageiros;

• O microônibus Volare, desenvolvido em parceria com Agrale, que

veio a se tornar uma alternativa atraente para diversas cidades

brasileiras, principalmente por se tornar uma opção ao transporte de

passageiros em vans.

Ao vislumbrar oportunidades em sistemas de transporte, como o Ligeirinho

de Curitiba, a Marcopolo abre seu leque de produtos não só para os ônibus

convencionais. A empresa acredita que não só no Brasil, como diversos em

diversos países da América Latina, tais sistemas seriam uma boa solução para

cidades cujo tráfego de veículos é intenso (versatilidade empreendedora).

A Marcopolo também acredita que serviços adicionais relacionados aos

transportes, como os de assistência técnica, além de agregar valor ao produto da

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Marcopolo, aumentam as vendas. A partir dessa perspectiva de criar negócios

relacionados ao seu produto principal, o ônibus, a Marcopolo constituiu o Banco

Moneo em 2005, para facilitar a venda de veículos, oferecendo linhas de

financiamento aos seus clientes (versatilidade empreendedora).

Nos últimos anos, a Marcopolo criou estrutura de fábricas em diversos

continentes no mundo, que têm lhe permitido, cada vez mais, desfrutar as

vantagens do global sourcing. Através deste regime, a empresa passou a produzir

ou comprar os componentes dos ônibus nas regiões que apresentam menor custo,

e enviá-los para as diversas linhas de produção espalhadas no exterior

(versatilidade gerencial).

Segundo as entrevistas realizadas, para o futuro, a empresa acredita que o

plástico é material que cada vez mais, substituirá as ligas metálicas e outros

materiais (versatilidade técnica e empreendedora). Além de seguir investindo

neste negócio, vislumbrando oportunidades para a indústria automobilística, a

Marcopolo, apesar dos resultados nos últimos anos, acredita que as fibras de

plástico, também serão aceitas em outros setores como, o de móveis e

residências.

O apanhado de evidências indica que a Marcopolo apresentou respostas

satisfatórias ao serviço da versatilidade, tanto nos aspectos técnico, gerencial e

empreendedor.

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D) Julgamento

Ao longo da última fase, é possível identificar que em diversos momentos a

Marcopolo tomou decisões que marcaram sua trajetória, contribuíram para seu

processo de crescimento, reduzindo possíveis ameaças que colocariam em risco

sua existência. A primeira delas foi a decisão de implementar um novo sistema de

produção, baseado na filosofia japonesa, principalmente quando considerado o

jeito como tal sistema foi implementado.

O sistema Marcopolo não proporcionou, apenas, mudanças nas linhas de

produção e montagem da empresa e de seus fornecedores. Criou uma nova

atmosfera dentro da empresa, onde cada funcionário se tornou parte fundamental

para o êxito coletivo. As técnicas japonesas implementadas visavam à

organização, limpeza, qualidade, e etc, e à redução dos estoques em conjunto

com os novos procedimentos de resolução de problemas. Isto permitiu que a

Marcopolo alcançasse excelentes resultados nas diversas áreas.

Ao longo dessa fase, a Marcopolo também tomou outras medidas para

ganhar sinergia administrativa e reduzir custos, e tentar reduzir os riscos no

negócio em que ela estava inserida. Em 1987, sua fábrica em Porto Alegre, a

Eliziário foi incorporada e toda a produção passou a concentrar-se em Caxias do

Sul, objetivando a redução de custos.

Nessa mesma época, a empresa iniciou um processo de diversificação,

que se por um lado mostrou-se bem sucedido no negócio de plásticos, através da

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MVC Componentes Plásticos, não teve o mesmo resultado nas empresas Caraíba

Metais, Banco Arbi e Dinaço. No início dos anos 2000, a empresa decidiu

abandonar os negócios não relacionados diretamente ao ônibus.

Como outra alternativa para mitigar o risco de seu negócio, e desta vez

sendo bem sucedida, a empresa a partir da década de 1990, deu início ao seu

processo de internacionalização, se lançando no mercado internacional. A idéia de

aumentar suas operações no mercado externo, iniciado com a fábrica instalada

em Portugal, em 1991, ganhou força após o baque econômico enfrentado pela

empresa em 1994 tanto no mercado brasileiro, como no México, um grande

mercado consumidor de seus produtos no momento, como relatou o IAN de 1994:

“A despeito do efeito negativo no desempenho de 1994 provocado pelo problema cambial a partir do inicio do segundo semestre, a estratégia mercadológica da Marcopolo seguirá dando ênfase a um continuado esforço, no sentido de direcionar parcela significativa da produção para tradicionais mercados no exterior, bem como ao desenvolvimento e penetração em novos, onde seja detectado potencial. O objetivo é estabelecer uma base de proteção contra as freqüentes flutuações nos níveis de demanda interna e, destarte, utilizar a capacidade instalada uniformemente. Esta política vem trazendo excelentes resultados, cabendo destacar os elevados negócios com o mercado mexicano durante os anos de 1992 e 1993.“ (IAN 1994)

No sentido de utilizar sua capacidade instalada de forma uniforme, e reduzir

custos, com a crise de 1994, a empresa manteve a unidade Planalto desativada

até ano de 1998, quando o microônibus Volare foi lançado, e a fábrica reativada

para produzir esta nova linha de ônibus menores que estavam surgindo. Nos

anos seguintes, uma nova reorganização da produção foi realizada com a

aquisição de uma grande concorrente nacional, a Ciferal.

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No início da década de 1990, a Marcopolo promoveu processo de

desverticalização da produção e terceirização de serviços, que envolveu uma série

de componentes, como poltronas e janelas, que passaram a ser produzidos por

terceiros. Toda a produção de produtos de resina também foi transferida a um

fornecedor que se instalou em um terreno vizinho à fábrica.

Em um primeiro momento tal processo pareceu vantajoso, pois além de

reduziu custos com pessoal e liberou espaços nas fábricas que permitiram a

unificação de atividades em uma só planta. No entanto, com o passar do tempo, a

empresa percebeu que para alguns componentes a terceirização se mostrou

desastrosa. Diversos fornecedores, muitos destes fundados por ex-funcionários da

Marcopolo, passaram a negociar, também, com concorrentes da empresa. Então,

a empresa tomou a decisão de voltar a fabricar alguns desses componentes

considerados estratégicos, como as poltronas e a fábrica de resinas,

internamente.

Ao longo da década de 1990, a Marcopolo decidiu, também, realizar uma

mudança organizacional da empresa com o objetivo de preparar a empresa para

as próximas gerações, através de um novo modelo de gestão. Para isso, foram

contratadas firmas de consultoria de gestão e consultores independentes, que

suportaram a empresa na promoção de mudanças e auxiliaram os controladores

da Marcopolo repensarem o futuro da empresa de uma forma diferente.

“Mas nada disso teria sido possível se a empresa não tivesse percebido, após a crise de 1994, que não bastava ter uma fábrica limpa, kanban, etc., que era preciso ter não só qualidade total, mas competitividade total, e que era necessário repensar o futuro da empresa.... E para isso foi fundamental

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a contratação de consultoria externa e a implementação de um plano de metas que permitiram orientar a empresa para resultados, aferir o desempenho e recuperar o crescimento da produtividade e o entusiasmo geral pela empresa. Os indicadores estabelecidos eram não apenas técnicos, como os vigentes até então, mas também voltados para as vendas e os lucros. Estes passaram a ser desdobrados na estrutura da empresa, permitindo o estabelecimento de uma política de remuneração variável para os empregados, de acordo com o seu desempenho.” (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA. Marcopolo S.A. (B), 1999, pg. 7)

Durante essas mudanças, os controladores passaram para uma diretoria

corporativa, saindo do dia-a-dia da companhia, e inclusive, passaram a trabalhar

fora no escritório da Marcopolo. Diretorias executivas foram criadas e formadas

por executivos para que a empresa também pudesse se desenvolver em termos

de gestão. Nos seguintes, um conselho de herdeiros foi constituído para preparar,

também, os filhos dos controladores da empresa.

De forma geral, a terceira fase da empresa, foi marcada por diversas

respostas positivas ao desafio do Empreendedorismo. Além de obstinada a

crescer, seja no mercado externo ou interno, a Marcopolo cultivou e desenvolveu

os serviços empreendedores que a tornam uma empresa versátil, hábil em

levantar recursos financeiros. No que tange ao serviço do julgamento, apesar de

diversas decisões acertadas, algumas ações como a estratégia de diversificação,

alguns parcerias firmadas, o investimento na fábrica da Argentina e uma tentativa

pouco exitosa de terceirização de atividades, fazem com que as respostas ao

serviço do julgamento não sejam plenamente satisfatórias.

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O resumo dos serviços empreendedores que indicam a forma como a firma

respondeu a este desafio estão na Tabela 4.22.

Tabela 4.22 – Resumo das Respostas ao Desafio da Empreendedorismo (Fase III)

4.3.2. Desafios da Navegação no Ambiente

Ao sair da crise vivida no início da década de 1980, a Marcopolo iniciou sua

trajetória em uma nova fase, repleta de aumentos expressivos em seu tamanho,

se considerarmos, principalmente, número de fábricas, capacidade instalada,

número de ônibus produzidos e número de funcionários.

Para atingir esse nível, a Marcopolo teve que superar as dificuldades

impostas pelo ambiente em que esteve inserida e desta forma foi, mais uma vez

desenvolvendo habilidades que visaram à criação e captura de valor e a

legitimidade organizacional. A seguir serão descritas as principais evidências que

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sugerem de que forma a Marcopolo fez uso das respostas estratégicas (Oliver,

1991), ao longo da terceira fase de análise, e quanto estas respostas contribuíram

ou não para que a empresa tivesse êxito no desafio da navegação no ambiente.

A) Captura de Valor

A terceira fase de análise teve início em 1987, ano seguinte à viagem que o

Sr. Paulo Bellini, e o então Diretor Industrial Cláudio Gomes fizeram ao Japão,

com o intuito de visitar empresas, assistir palestras e observar as instalações e

procedimentos que faziam parte das empresas japonesas. Até esse momento, a

situação da Marcopolo era a seguinte, como descreveu um dirigente da empresa:

“Era uma fábrica suja, desorganizada com layout funcional, com estoque excessivo jogado pelo chão. Quando não se encontrava uma peça porque ela estava perdida em meio da confusão, resolvia-se o problema requisitando à fabricação ou ao almoxarifado a peça desejada. Esta medida aumentava os desperdícios com a produção excessiva ou com estoques supérfluos porque a fabricação nunca produzia uma única peça nem o setor de compras adquiria uma única unidade. Prevalecia a concepção do lote econômico, sob a crença de que era necessário otimizar os custos de preparação de máquinas ou de pedido nas compras. A falta de planejamento e controle dos estoques ocasionava outros problemas. Assim, por exemplo, eu lembro que quando em 1983 se lançou a Geração IV, a fábrica estava cheia de peças da geração anterior, que foram desperdiçadas.” (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA; REIS, HELVECIO. Marcopolo S.A. (A), 1999, pg. 5)

Os resultados dessa visita estabeleceram um marco na história da

Marcopolo. Nos anos posteriores à viagem, a Marcopolo implementou um sistema

próprio, o Sistema Marcopolo, que contou com a participação de todos os

funcionários da empresa. A introdução da filosofia presente no Sistema Marcopolo

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foi orientada pela implantação de dois sistemas: o SUMAN, cujo objetivo era

aprimorar o local de trabalho e as condições de trabalho, e pelos elementos do

SIMPS, que visava a motivar o trabalho, otimizar o fluxo de materiais, evitar

desperdícios e diminuir o tempo dos processos produtivos.

Nos primeiros anos da implementação, a empresa enfrentou barreiras

internas, porém obteve êxito na nova filosofia, cujos resultados positivos foram

percebidos nas mais diversas formas, desde redução de desperdícios até a

redução da rotatividade de pessoal (estratégia de desafiar; tática de desafiar).

Nos primeiros anos da década de 1990, a empresa estava com o Sistema

Marcopolo implementado, e somando-se os problemas vividos no ano de 1994,

parte dos funcionários da empresa já não estava mais tão motivado. Nesse

contexto, a empresa realizou diversas mudanças e implementou uma série de

programas que visavam elevar a motivação de pessoal, como também, programas

que focavam a questão da qualidade total (estratégia de negociar; tática de

pacificar).

Neste sentido, a empresa passou a perceber a necessidade de buscar a

certificação pelas normas ISO, uma exigência que muitos clientes em potencial no

exterior, passaram a questionar (estratégia de consentir; estratégia de cumprir).

Segundo relatos, embora conhecida, a qualidade Marcopolo precisava ser mais

tecnicamente ordenada e padronizada para que a empresa pudesse se firmar no

contexto mundial. A certificação internacional, além de ser uma exigência do

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mercado, funcionou como uma forma de unificar as visões internas sobre

qualidade, as quais nem sempre convergiam.

Em 1994, a Marcopolo deu início à implantação do Programa de

Certificação ISO 9000. Em outubro de 1996, a Marcopolo recebeu a Certificação

ISO 9002 e, em abril de 1997, a Certificação ISO 9001, ambas conferidas pelo

órgão certificador holandês Det Norske Veritas. A Marcopolo foi a primeira

montadora brasileira de carrocerias a obter tal certificado, que a tornou

reconhecida internacionalmente. Mais tarde, a Marcopolo atingiu, ainda dentro de

seu Plano Global de Qualidade, a conquista da certificação ISO 14000, que trata a

questão da preservação do meio ambiente.

Algumas iniciativas foram surgindo através das normas ISO, e mais tarde

através da filosofia Kaisen, que almeja a melhoria contínua, fizeram com que a

questão da qualidade passasse a direcionar as ações da empresa, sempre

buscando a captura de valor para a empresa. Em 1995, a política da empresa foi

assim determinada visando fortificar sua reputação perante seus stakeholders: “A

Marcopolo tem como objetivo a melhoria do ambiente e dos processos, produtos e

serviços, a fim de satisfazer seus clientes e colaboradores” (estratégia de

manipular; tática de influenciar).

Ao longo dos últimos anos, a Marcopolo estudou o lançamento de novos

produtos e serviços, como os serviços de assistência técnica, para atender alguns

clientes. Tais produtos e serviços, além de ser fonte de receita, valorizam,

também, a marca Marcopolo.

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Já o sistema de transporte é considerado pela diretoria da empresa um

produto que possui um potencial enorme de crescimento no país. Para levar tal

projeto adiante, a Marcopolo, em conjunto com alguns parceiros, tramitou dentro

da espera pública, realizando palestras para prefeitos, vereadores e secretários

municipais de transporte, mostrando-lhes as vantagens de implementar um

sistema de transporte moderno (estratégia de manipular; tática de influenciar).

Muitas vezes a Marcopolo chegou a apoiar financeiramente parte destes projetos.

Realizar parcerias para agregar valor ao seu produto faz parte da

Marcopolo desde sua fundação. Ao longo da história da indústria de carrocerias de

ônibus, as montadoras de chassis sempre desempenharam um papel importante

na cadeia, pois além de fabricarem ônibus completos, também forneciam chassis

para as encarroçadoras. No entanto, ao longo da década de 1980 e 1990, estas

fabricantes de chassis foram, no Brasil, se concentrando apenas na fabricação de

chassis e plataformas para ônibus.

Em 1996, a Mercedes Benz, uma das maiores fabricantes de ônibus do

mundo, interrompeu, também, sua produção de ônibus completos no Brasil,

alegando não ser tão competitiva quanto uma encarroçadora de ônibus. Tal fato

indica a força das encarroçadoras de ônibus brasileiras, que passaram a fazer do

Brasil um dos principais produtores de ônibus do mundo, e a Marcopolo, como a

maior encarroçadora brasileira, se aproveitou da saída da Mercedes Benz para

ganhar mercado (estratégia de desafiar; tática de desafiar).

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Por depender da fabricação de chassis para seu funcionamento, no

momento de investir na operação em uma nova região, a Marcopolo segue

sempre a mesma receita, conforme relatado pelo Sr. Carlos Zignani. Segundo ele,

é muito importante se associar a um grande grupo da região, principalmente um

que produza chassis. Caso este parceiro não possua chassi, a Marcopolo

averigua quem é o fabricante local com maior penetração no mercado (estratégia

de negociar; tática de barganhar).

Por meio dessa estratégia a Marcopolo teve êxito ao entrar em diversos

mercados importantes, como México e Colômbia, sendo que neste último, até sua

entrada, não havia sequer um ônibus Marcopolo em circulação (estratégia de

desafiar; tática de desafiar). A Marcopolo realizou uma joint venture na Colômbia,

constituindo a Superpolo em 2000, e em 2007 já detinha 40% do mercado

colombiano. Em 2007, o parceiro colombiano propôs a mudança do nome

Superpolo para Marcopolo da Colômbia por, segundo as entrevistas com diretores

da Marcopolo, perceber que a Marcopolo além de se tornar uma grife de ônibus,

conseguiu criar e capturar valor em sua incursão na Colômbia (estratégia de

manipular; tática de cooptar)..

A importância de um parceiro de chassis é tanta que em 2000, a Marcopolo

acabou por adquirir duas empresas na Argentina, Laureano S.A. e Laureano

Gonzales S.A, que no momento detinham a exclusividade de concessão da

Mercedes-Benz Argentina em determinada região. Segundo o Relatório de

Administração 2000, as aquisições tiveram como objetivo estratégico, garantir a

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comercialização e o regular suprimento de chassi para ônibus à Marcopolo

Latinoamerica devido ao risco econômico eminente que a Argentina vivia

(estratégia de evitar; tática de ocultar).

Para agregar valor a sua marca, a Marcopolo, ao longo da terceira fase,

lançou uma série de modelos, agora também por meio das diversas fábricas

espalhadas pelo mundo. Em 2003, por exemplo, foram desenvolvidos

aproximadamente 30 novos modelos de ônibus para atender demandas

específicas de clientes, tanto do mercado interno quanto do externo.

Dar visibilidade aos produtos da empresa em competições esportivas

internacionais, tem sido um marca registrada dos últimos anos. Em 2004, a

empresa desenvolveu um ônibus especialmente para o transporte de atletas e

turistas durante os Jogos Olímpicos de Atenas. Em 2007, os ônibus da Marcopolo

foram vistos em competições como os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro e

a Copa América da Venezuela como sinal da reputação e força da marca da

empresa (estratégia de desafiar; tática de desafiar).

Ao longo da última fase de análise, a Marcopolo realizou duas aquisições

no cenário nacional. A primeira foi a Ciferal, grande concorrente da Marcopolo,

principalmente no segmento de urbanos, localizada no Rio de Janeiro. Em poucos

anos, a Marcopolo transformou uma operação até o momento deficitária em

lucrativa (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Em 2007, das fábricas da

Ciferal no Rio de Janeiro saem grande parte dos ônibus urbanos produzidos pela

Marcopolo no Brasil, sendo muitos em direção ao mercado externo.

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Em 2007, a Marcopolo adquiriu quase 40% da Neobus, uma concorrente,

também localizada em Caxias do Sul, que apresentou expressivo crescimento nos

últimos anos, principalmente no segmento de microônibus. Em 2007, as duas

fabricantes ainda operavam de forma separada, sem qualquer sinergia. Segundo

entrevista realizada com o Sr. Carlos Zignani, a aquisição da Neobus teve um

caráter defensivo, pois seria complicado para a Marcopolo o fato de ter um grande

fabricante europeu instalado na sua porta, com acesso a sua mão-de-obra, aos

fornecedores, e etc (estratégia de evitar;tática de ocultar).

A Marcopolo, nos últimos anos, também tem realizado algumas ações para

aumentar suas vendas e resolver um grave problema, característico de sua

indústria, a sazonalidade da demanda, que ocasiona a falta de cadência da

produção. Historicamente, o segundo semestre concentrava a maioria dos

pedidos, pois as empresas de transporte de passageiros se preparavam para

renovar suas frotas. Através da Fabus e das prefeituras municipais, foram criados

alguns mecanismos, como o ano de fabricação para estimular a renovação de

frota. Através desse mecanismo (estratégia de manipular; tática de controlar), os

donos de empresas de transporte passaram a renovar a frota no primeiro

semestre, pois isso lhe daria uma remuneração maior na tarifa cobrada.

Outra ação tomada pela Marcopolo que contribuiu para o balanceamento

da produção e tem criado e capturado valor para a empresa foi seu processo de

internacionalização (estratégia de desafiar; tática de desafiar). Em alguns países,

o período de férias não coincide com o Brasil, e isso permite cadenciar melhor a

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produção. O fato de a empresa estar presente em mais de 100 países, também,

contribui para que a produção da Marcopolo não seja afetada pelas oscilações e

pela sazonalidade da demanda brasileira.

A título de ilustração, a seguir segue a Tabela 4.23 contendo uma lista não

exaustiva de evidências de criação e captura de valor, proporcionadas pela

Marcopolo, entre os anos de 1986 e 2006, para alguns stakeholders.

Tabela 4.23 – Exemplos de criação e captura de valor da Marcopolo para seus stakeholders entre 1986 e 2006

Stakeholder Criação de Valor Captura de Valor

Governo

- A brigada de incêndio da Marcopolo atende também algumas cidades do RS, como auxílio do Corpo de Bombeiros local. - Implementação de sistemas de transportes em diversas cidades

- Legitimidade perante os governos municipal e estadual - Venda de soluções de transporte

Fornecedores

- Diversos fornecedores se instalaram em Caxias do Sul graças à Marcopolo e passaram a se integrar ao Sistema Marcopolo de Produção

- Redução de custos logísticos e maior qualidade dos componentes produzidos

Clientes (Empresas de Ônibus)

- Primeira encarroçadora brasileira a implementar a ISO - Lançamento do serviço de assistência técnica - Lançamento de novos modelos

- Diferencial em relação aos concorrentes - Venda de novos modelos - Venda de novos serviços

Outras Encarroçadoras

- Estabelecimento de parcerias para penetrar em alguns mercados, como na Colômbia (Superpolo)

- Entrada em novos mercados - Crescimento de vendas e aumento das exportações

Acionistas

- Estabelecimento de mecanismos para balancear a demanda evitando a sazonalidade na produção - Aquisição da Ciferal

- Redução de desperdícios e diminuição do tempo dos processos produtivos com as técnicas japonesas - Reestruturação da Ciferal

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e turnaround da operação - Aumento da sua linha de produtos (urbanos)

B) Legitimidade Organizacional

Ao longo da terceira fase, a Marcopolo não só tomou medidas para capturar

valor, mas também, para assegurar a sua legitimidade organizacional diante de

seus múltiplos stakeholders. A Marcopolo manteve sua posição como umas das

empresas mais influentes de Caxias do Sul, como do Rio Grande Sul. Em Caxias

do Sul, os dirigentes da Marcopolo estão envolvidos em atividades vão desde a

Câmara de Comércio até o maior time de futebol da cidade, o Esporte Clube

Juventude (estratégia de negociar; tática de pacificar).

Segundo entrevistas realizadas, o ritmo de funcionamento da Marcopolo

funciona como termômetro para a atividade econômica de Caxias do Sul. Há uma

preocupação coletiva da comunidade com o desempenho da empresa. Além de

movimentar grande parte do PIB da cidade, seja direta ou indiretamente, o parque

metal-mecânico que a Marcopolo ajudou a desenvolver em Caxias do Sul, é um

dos mais expressivos do Brasil (estratégia de desafiar; tática de atacar). No

momento da implementação do Sistema Marcopolo, graças à credibilidade e

reputação conquistadas, a empresa levou diversos fornecedores de outras regiões

a instalarem fábricas em Caxias do Sul (estratégia de manipular; tática de

controlar).

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Dessa forma, Caxias do Sul se tornou cluster de autopeças e de mão-de-

obra especializada para toda a indústria de ônibus e veículos pesados. Diversas

concorrentes da Marcopolo possuem fornecedores em Caxias do Sul. Outras

encarroçadoras, como Metalbus e a Neobus, se fixaram em Caxias do Sul, em

virtude da cidade contar com a toda a estrutura propícia à fabricação de ônibus

que a Marcopolo ajudou a desenvolver.

Em 1994, na tentativa de racionalizar atividades e reduzir custos na

fabricação de componentes, a Marcopolo passou a terceirizar diversos serviços, e

lançou também um forte programa de desverticalização da produção, passando a

terceiros a fabricação de diversos componentes que, antes, eram fabricados

internamente. Nesse processo, diversos funcionários foram demitidos, no entanto

muitos passaram a atuar, em empresas próprias, mas como fornecedores da

Marcopolo por orientação da própria empresa (estratégia de manipular; tática de

controlar) que queria reduzir custos, porém manter o controle sob todo o processo.

Mais tarde, tal programa de desverticalização foi revisto, pois se mostrou

desastroso para alguns componentes considerados estratégicos, então a

Marcopolo voltou a produzi-los internamente.

Com o intuito de aperfeiçoar os sistemas da empresa e qualificar seus

funcionários, a Marcopolo levou diversas técnicas mais modernas de produção

aos seus fornecedores. Tal fato era questão primordial para implementar o SIMPS

na Marcopolo (estratégia de manipular; tática de controlar) e foi plenamente aceito

por diversos fornecedores graças à reputação e aos resultados positivos

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apresentados dentro da empresa. Alguns fornecedores da Marcopolo, em linha

com o sistema implementado, chegam a entregar mais de uma vez por dia,

diretamente na linha de produção das fábricas. Muitos desses fornecedores

trabalham no conceito de qualidade assegurada, ou seja, a Marcopolo não confere

a mercadoria que é entregue.

A Marcopolo abre a porta de suas fábricas para visitação para os diversos

públicos (estratégia de negociar; tática de barganhar). Semanalmente, são

diversas empresas, escolas, universidades e associações das mais diversas

naturezas que entram em contato com a empresa, interessadas em conhecer o

processo de fabricação de um ônibus, e principalmente, o muito badalado Sistema

Marcopolo de produção. Por outro lado, os funcionários da Marcopolo têm,

também, a oportunidade de conhecer o funcionamento de diversas fábricas

localizadas no Brasil e no mundo, atrás de aprendizado e renovação do

conhecimento.

Em Caxias do Sul, a empresa tem uma ligação direta com as principais

entidades, associações comerciais e agremiações. A empresa também

desenvolve em parceria com a Universidade de Caxias do Sul diversos projetos.

Como exemplo, nos últimos anos, devido ao processo de internacionalização da

empresa, a Marcopolo levou a Universidade de Caxias do Sul a estruturar um

amplo programa de línguas (estratégia de manipular; tática de cooptar), pois havia

a necessidade de encontrar pessoas que dominassem idiomas como mandarim,

árabe, russo, e até o momento a universidade não oferecia esse tipo de formação.

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Além de patrocinar e participar de atividades culturais em Caxias do Sul,

como a Festa da Uva, e manter o Centro de Tradições Gaúchas, a Marcopolo,

sempre visando manter a reputação construída e o prestígio conquistado dentro

da cidade, apóia uma série de pesquisadores da comunidade caxiense. A eles

oferece incentivo à publicação e à exposição de seus trabalhos (estratégia de

manipular; tática de cooptar).

No que tange a projetos sociais, a Marcopolo presta auxílio à Associação

de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de Caxias do Sul (APADEV) e colaborou

na construção do Centro Educacional para Deficientes Visuais, uma instituição

capacitada e equipada para atender aos portadores desse tipo de deficiência. A

Marcopolo fornece, também, os recursos necessários para o funcionando desta

instituição.

Os funcionários da empresa que compõem a Equipe Interna de Combate a

Incêndios (EICI) são vistos por toda a Marcopolo como exemplos de dedicação,

coragem e orgulho. Eles constituem uma das mais valiosas Brigadas de Incêndio

particulares do Rio Grande do Sul, que devido à boa estrutura, atende também à

região nordeste do estado, como auxiliar do Corpo de Bombeiros local (estratégia

de manipular; tática de cooptar).

Ao longo dos últimos anos, a Marcopolo foi, cada vez mais, dando projeção

a sua marca e a sua organização no nível nacional. A empresa, a partir dos anos

2000, passou a fazer parte, anualmente, da lista das melhores empresas

brasileiras para se trabalhar, promovida pela Revista Exame. Em 2003, a

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empresa, a partir do reconhecimento de seus funcionários, ocupou a 4ª colocação.

Nove anos antes, em 1994, a Marcopolo foi destaque em uma edição da revista

americana Forbes, cujo título da matéria foi “Evoluindo para a Perfeição”. Esta

revista incluiu a Marcopolo no ranking das 100 melhores pequenas empresas do

mundo.

Nesse período a Marcopolo, mais uma vez, recebeu diversos prêmios. Um

dos mais importantes foi o troféu Busbuilder of the Year 2004, recebido na

Busworld, na Bélgica. A Tabela 4.24 apresenta os principais prêmios, diplomas e

certificados conquistados pela empresa entre os anos de 1987 e 1999.

Tabela 4.24 – Certificados, Diplomas e Prêmios entre 1987 e 1999

ANO DESCRIÇÃO ÓRGÃO EXPEDIDOR

1987 Certificado “As Maiores do Transporte” Troféu Mérito Industrial – Destaque Setorial – Transportes

Editora TM Ltda – SP FIERGS

1987 Prêmio Mérito Industrial, concedido ao Sr. Paulo Bellini

FIERGS

1990 Troféu Caxias 114, categoria Administrador, conferido ao Sr. José A. F. Martins

Jornal Pioneiro e Rádio São Francisco

1992 Troféu UNIVIDA Zero Hora e Unibanco – RS

1992 O Equilibrista do Ano, concedido ao Sr. Raul Tessari

IBDF

1992 O Administrador do Ano, concedido ao Sr. Paulo Bellini

AANERGS

1992 Prêmio Exportação - Pela Segunda vez ADVB/RS 1992 Destaque do Ano em Recursos Humanos ABRH – Serrana 1993 Diploma a Empresa do Ano Revista Exame – SP 1994 Diploma Honra ao Mérito ARCOL – RS 1994 Destaque Empresarial do Ano FEDERASUL

1994 Diploma de Agradecimento ADESG/RS 1994 Certificado de Participação na EXPO NORTE Associacion de Comerciantes e

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94 Industriales de Concepcion e Asociacion Rural del Paraguay

1995 TOP of MIND – 3º lugar - RS- (marcas mais lembradas)

Revista Amanhã – RS

1995 Certificado 7º ETRANSPORT ETRANSPORT – RJ 1996 Prêmio Distinção Indústria com o ônibus

rodoviário Paradiso DD FIERGS

1996 Certificado ISO 9002 DET NORSKE VERITAS – Certificadora Ltda. Brasil

1996 Prêmio Desempenho – Maior empresa no setor de Auto Peças e Material de Transporte do Estado do Rio Grande do Sul

Fundação Instituto Miguel Calmon de Estudos Sociais e Econômicos

1997 Certificado ISO 9001 DET NORSKE VERITAS – Certificadora Ltda. Brasil

1997 Prêmio Desempenho – Maior empresa no setor de Auto Peças e Material de Transporte do Estado do Rio Grande do Sul

Fundação Instituto Miguel Calmon de Estudos Sociais e Econômicos

1998 Prêmio Líder Empresarial Setorial, recebido pelo Sr. Paulo Bellini - Presidente

Gazeta Mercantil

1998 Prêmio Mérito do Transporte Urbano Brasileiro, concedida ao Sr. José A. F. Martins

NTU

1998 Prêmio Exportação ADVB/RS 1998 Prêmio Excelência Empresarial Fundação Getúlio Vargas – SP 1998 Diploma Destaque Especial Festa da Uva Festa Nacional da Uva Turismo e

Empreendimentos 1998 A Melhor entre as Melhores da Indústria Revista Transporte Moderno 1998 Prêmio Exportação Brasil AEB 1998 Melhor Empresa de Carrocerias de ônibus Revista Transporte Moderno 1998 Prêmio Líder Empresarial do MERCOSUL,

recebido pelo Sr. José A. Martins, Vice- Presidente Corporativo

Gazeta Mercantil

1998 Diploma de Agradecimento à Marcopolo S.A. Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra

1998 Certificado de Participação no 10º Festival de Turismo de Gramado

SEBRAE

1999 4º Prêmio Distinção Indústria FIERGS

Fonte: Memorial Marcopolo

No final de 2007, o então ministro da Comunicação Social, Franklin Martins,

anunciou o nome de José Martins, vice-presidente do Conselho de Administração

da empresa, como um dos 15 conselheiros escolhidos para compor o Conselho

Curador que vai fiscalizar a nova rede pública de TV. O Sr. José Martins é também

presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Carrocerias para Ônibus,

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da Associação do Aço do Rio Grande do Sul e do Sindicato Interestadual da

Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários. Tais evidências

sinalizam a atuação ativa que a Marcopolo tem buscado e tem conquistado dentro

esferas governamentais e políticas.

C) Sumário das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase III)

Em suma, o período entre 1987 e 2006, apresenta diversos fatos que

mostram que a Marcopolo seguiu navegando no ambiente no qual esteve inserida,

de forma mais ativa, buscando de forma contínua desenvolver novas

oportunidades de crescimento, através de monitoramento adequado das pressões

do ambiente. A Tabela 4.25 ilustra o resumo das respostas da empresa ao desafio

da navegação no ambiente para essa terceira fase de análise.

Tabela 4.25 – Resumo das Respostas ao Desafio da Navegação no Ambiente (Fase III)

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4.3.3. Desafios da Gestão da Diversidade

Um traço marcante da Marcopolo, que iniciou na fundação da empresa e se

estendeu ao longo das três fases é a relação de proximidade que os dirigentes da

companhia possuem com os funcionários, independente do nível hierárquico que

ocupam. O Sr. Paulo Bellini, por exemplo, no final de todos os anos, visita todas

as fábricas da Marcopolo, para cumprimentar e agradecer a todos os funcionários

o trabalho realizado naquele ano. Ele também entrega um souvenir, como um

broche ou uma caneta, como sinal desse agradecimento.

Em contrapartida, os funcionários se reúnem dentro dos setores onde

trabalham e também preparam uma surpresa ao Sr. Paulo Bellini. Há uma sala na

sede corporativa da empresa, somente para guardar esses mimos que são

entregues aos dirigentes da empresa. Sr. Paul Bellini, por exemplo, já recebeu

quadros, camisas com dedicatórias, e os mais diversos artefatos, como miniaturas

de ônibus, raquetes de tênis e etc, todos confeccionados pelos funcionários da

empresa, muitas vezes com as sobras de material utilizado na fabricação dos

ônibus.

Ao longo da terceira fase, a Marcopolo desenolveu mecanismos que

fortaleceram a integração da empresa. O principal deles, o SUMAN (Sugestão de

Melhoramentos do Ambiente Marcopolo), funciona basicamente em pequenos

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grupos, com o objetivo de levantar problemas e buscar soluções para melhorar o

ambiente e o processo de trabalho. Os grupos são espontâneos, formados por

afinidade, nos quais qualquer funcionário da empresa pode participar, porém há

certa preferência para funcionários do mesmo setor ou de funções interligadas.

(UEHARA, Alexandre; MASIERO, GILMAR, 1996)

Para funcionar, o grupo designa um líder e um nome para se denominar. As

reuniões para discutir os problemas ocorrem durante o horário normal do

expediente. Os grupos utilizam o popular quadro “Espinha de Peixe” para levantar

problemas e indicar possíveis soluções. Embora o processo tenha começado

somente com a aplicação genérica dos 5 “S” (Organização, Ordem, Limpeza,

Conservação e Disciplina), aos poucos, os grupos foram ampliando sua atuação,

buscando, também, racionalização de métodos e processos.

Os grupos utilizam também um quadro conhecido como “Presença e

Estado Emocional” para facilitar as relações entre os mais diversos níveis, visando

à melhoria da comunicação, o entendimento e o respeito pelos sentimentos das

pessoas. Neste quadro, cada trabalhador registra sua presença e escolhe uma

placa com as cores, verde (bom), amarelo (regular) ou vermelho (ruim) para

designar seu estado emocional naquele dia.

Conforme o estado de espírito do funcionário varia ao longo do dia, a cor da

placa pode ser alterada, e dessa forma, todos que trabalham em determinada área

ficam sabendo como cada um se sente. Os supervisores têm o dever de oferecer

ajuda e soluções para aqueles que estão enfrentando problemas. Neste quadro

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também são indicados os funcionários responsáveis pela limpeza do banheiro

naquele dia. Esta sugestão partiu dos próprios funcionários, pois eles mesmos

perceberam que se fossem obrigados a limpar o banheiro, acabariam tomando

mais cuidado com sua preservação.

A questão da supervisão foi algo que sofreu grande modificação dentro da

Marcopolo. Se antes, eram necessários diversos níveis hierárquicos, após a

implementação do Sistema Marcopolo, a ênfase dada à chefia foi redirecionada

aos muitos grupos de trabalho. Em entrevista realizada com o Sr. João Carlos,

um dos responsáveis pela implementação do SUMAN na empresa, ele comentou

que os grupos de SUMAN se constituíram uma das melhores mudanças ocorridas

na empresa, pois, graças e eles, todos os funcionários passaram a participar da

supervisão da operação.

Tais iniciativas em busca de qualificação dos funcionários e melhoria do

ambiente de trabalho, não ficaram restritas somente aos funcionários das fábricas

localizadas em Caxias do Sul. Foram oferecidos treinamentos aos funcionários

das empresas controladas, aos representantes comerciais e aos prestadores de

serviços, cujo objetivo maior era a agilização do atendimento aos clientes e a

padronização do sistema de informações externas a fábrica.

Nos anos seguintes, o Sistema Marcopolo também foi implementado na

Ciferal, no Rio de Janeiro, e nas fábricas localizadas fora do país. Muitos desses

funcionários foram levados a Caxias do Sul e treinados dentro das instalações das

unidades de Ana Rech e Planalto. Todas as fábricas da empresa, com exceção da

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fábrica de Portugal, possuem os mesmos layouts, processos, sistemas integrados

e etc. Em 2007, a empresa estava terminando a implementação de seu Código de

Conduta para as unidades localizadas fora do Brasil.

O Código de Conduta na Marcopolo foi uma ferramenta de gestão, criada

em 2005, cujo objetivo era promover um relacionamento fundamentado no

respeito, na confiança e na transparência, e assim assegurar a perpetuidade das

empresas que fazem parte da Marcopolo (Relatório da Administração, 2005).

Segundo entrevistas realizadas, até o ano de 2005, ocorreram alguns

episódios na empresa que envolviam conflitos de interesses, como por exemplo,

funcionários que eram também fornecedores, filhos de diretores que eram também

representantes comerciais, o que pode representa um indício de fragmentação na

organização. O Código de Conduta na Marcopolo serviu para orientar a empresa

nesse tipo de questão.

No mesmo ano, em 2005, o Conselho de Administração da Marcopolo

aprovou a constituição de um Conselho de Herdeiros, com o intuito de preparar

seus componentes para o processo sucessório, entendendo a conveniência e

recomendações do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Neste

mesmo ano, 2005, a Marcopolo foi incluída pela sétima vez consecutiva no Guia

Exame - As Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil.

Antes, a Marcopolo instituiu diversos programas para reconhecer o

comprometimento e empenho de seus funcionários. Em 1986, foi criado o Prêmio

Honra ao Mérito Marcopolo, que homenageia os funcionários que completam

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qüinqüênios de trabalho na empresa. Os funcionários com menor tempo de

serviço na empresa recebem certificados e premiações em dinheiro, já os mais

antigos ganham viagens e broches de ouro. Entre 1986 e 1999, 7.500

colaboradores já haviam recebido essa premiação.

Já nessa época, os empregados da Marcopolo eram chamados de

colaboradores. Mais tarde, uma pesquisa interna foi realizada com toda a empresa

para identificar qual nome os funcionários da empresa gostavam de ser

chamados, e a denominação “colaborador” continuou apresentando a maior

simpatia pela maior parte da empresa.

Em 1987, foi implantado em toda a empresa o programa EFIMAR (Eficácia

Marcopolo), com o objetivo de beneficiar os colaboradores pelos resultados

positivos obtidos, através de um plano de remuneração variável. Já o Programa

Vida, teve o intuito de manter um ambiente de trabalho saudável e satisfatório

para seus funcionários, por meio de diversas atividades que também são

oferecidas suas famílias. Tal programa contou com a parceria do Serviço Social da

Indústria e da Organização das Nações Unidas. Algumas das atividades

desenvolvidas foram (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999):

• A família na empresa, com o objetivo de proporcionar às(os) esposas(os)

de colaboradores, o convívio com a empresa;

• Um dia especial na Marcopolo, momento em que filhos de colaboradores

participam de programação especial, realizada no período das férias

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escolares, tendo a oportunidade de conhecer as funções desenvolvidas

pelos pais;

• Chalheres, um encontro anual que promove a integração entre as

colaboradoras;

• Programa de prevenção e assistência a drogatização, cujos objetivos são

levar esclarecimentos, aos colaboradores e familiares, sobre temas como

alcoolismo, uso abusivo de alguns medicamentos e substâncias químicas, e

promover encaminhamentos quando necessários;

• Campanhas de vacinação.

A Associação dos Funcionários Marcopolo (AFM) manteve seu caráter

integrador ao longo da terceira fase de análise, promovendo diversas atividades,

como a organização da 1ª Olimpíada Marcopolo, realizada no ano em que a

empresa completou 40 anos, e criação de uma loja de vestuário, artigos esportivos

e material escolar.

Através dos diversos mecanismos desenvolvidos, a Marcopolo seguiu

demonstrando seu pioneirismo na concessão de benefícios, serviços aos

colaboradores e na busca pela qualidade de vida de seus funcionários. Tais

atitudes somadas à visão que envolvimento de seus funcionários era determinante

para fazer as transformações dentro da empresa, ajudaram a Marcopolo a

consolidar sua reputação perante seus funcionários e clientes.

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Devido a este conceito de participação que empresa imprimiu em suas

atividades, e acabou se tornando um traço marcante na empresa, tudo indica que

a Marcopolo seguiu desenvolvendo respostas satisfatórias ao desafio da

diversidade, como indica a Tabela 4.26.

Tabela 4.26 – Resumo das Respostas ao Desafio da Diversidade (Fase III)

4.3.4. Desafios da Formação de Recursos Gerenciais

A terceira fase de análise mostra que a questão da formação de recursos

qualificados manteve sua importância como um desafio a ser tratado pela

empresa. Ao longo desta terceira fase, conforme será apresentado, a Marcopolo

desenvolveu diversos mecanismos para levar seus planos de expansão adiante,

principalmente no que tange ao processo de internacionalização da companhia.

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A seguir seguem as principais evidências que mostram a forma como a

empresa tratou as questões da antecipação, formação, renovação e retenção de

recursos gerenciais.

A) Antecipação

Em 1989, a Marcopolo deu início ao planejamento de uma escola.

Inicialmente, esse investimento foi destinado aos filhos dos funcionários da

Marcopolo, porém em seguida se estendeu aos jovens em geral, mesmo que não

tivessem algum vínculo com a empresa. A escola foi inaugurada em 1991 a partir

de um convênio com o SENAI do Rio Grande do Sul, e ao longo desse período

formou muitos jovens (113 formados até o ano de 1999), que em seguida

passaram a integrar o quadro de funcionários da empresa.

Além da Escola, a Marcopolo desenvolveu outros mecanismos que visavam

à preparação e antecipação de recursos. A partir do momento que teve a idéia de

criar uma rede de representantes espalhada pelo Brasil, a Marcopolo passou a

preparar seus funcionários para assumir tais posições, que podiam ser tanto no

Brasil como também, mais tarde, no exterior. Segundo entrevistas realizadas com

os diretores da empresa, tal conhecimento prévio do funcionamento da empresa e

dos produtos da Marcopolo e era decisivo para a adaptação dos funcionários e o

bom resultado das vendas.

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Ao longo da terceira fase, a empresa também precisou estar preparada

para iniciar seu processo de internacionalização. No início, as equipes eram

enviadas sem muito respeitar a vontade do funcionário, pois a urgência falava

mais alto. Em seguida, a empresa foi se estruturando para que o processo de

internacionalização não fosse traumático para nenhum funcionário e fosse

encarado como uma oportunidade única que empresa estava oferecendo. Em

2007, diversos dos executivos que tocam as operações em fábricas, como a do

México e Portugal, são funcionários, cujas carreiras foram construídas em Caxias

do Sul.

Para estabelecer operações em culturas mais distintas da latino-americana

e portuguesa, o processo de internacionalização exigiu outras medidas da direção

da empresa. Há funcionários brasileiros espalhados pelas diversas fábricas da

Marcopolo. Para se instalar em países como Índia e Rússia, a Marcopolo procurou

formar alguém que tivesse, nestes casos, ascendência indiana ou russa. O

objetivo era que estes funcionários, que já dominavam a língua e conheciam a

cultura local, se tornassem mais tarde o gerente do projeto. Em entrevista

realizada, o Sr. Carlos Zignani comentou como funcinava esta estratégia:

“É claro, nós criamos um programa, desde a preparação na linguagem. Preparação na cultura para os países, aonde as pessoas iriam, e também nesse desenvolvimento nós trouxemos muita gente do exterior pra cá. Tem uma coisa que acho importante... Vamos para Rússia! O que nós fizemos primeiro? Quando pensar em Rússia, contrata alguém do país para ele já começar a fazer o levantamento socioeconômico do país. Aí ele faz tudo isso. Aí procuramos um parceiro, e ele vai sempre sendo envolvido. Depois no final, o que ele é? Ele é o gerente do projeto. Acabou-se, ele tá lá na Rússia. Ele é um descendente de russos, casou com uma russa, estudou na Rússia. Facilita tremendamente a entrada no país.... Nós tivemos com um chinês também... O indiano é o Chian (?). Ele trabalhou na

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Volkswagen, ele é um descendente de indianos, e isso facilita a entrada no país. Cultura já consegue facilitar, já faz o meio de campo, e ele já vai ser o gerente do projeto.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

Por ser tratar de uma indústria intensiva em mão-de-obra, a Marcopolo

precisa contar constantemente com funcionários preparados para desempenhar

determinadas funções. Ao longo da entrevista realizada com o Sr. João Carlos

Ferreira, gerente do SUMAN, foi identificado a existência de tal preocupação

dentro da Marcopolo. O Sr. João Carlos foi um dos grandes responsáveis pela

implementação do SUMAN entre os anos de 1986 a 1992, porém em 1992 ele se

desligou da empresa, retornando dez anos mais tarde. Segundo a entrevista

realizada, da mesma forma que havia pessoas aptas a substituí-lo naquela

oportunidade, o entrevistado comentou que a empresa tem essa preocupação de

sempre dispor de pessoas preparadas para assumir postos de trabalho que

surgem.

“Vicente: Quando você saiu, em 1992, tinha alguém preparado para assumir?

João Carlos: Sim. Alguém que trabalhava comigo, que eu coordenava. Essa preocupação a gente tem de preparar alguém para ficar no lugar da gente. Porque aqui, a nossa própria supervisão, o pessoal gira, o pessoal está em uma linha, daqui a pouquinho numa outra. Está na fabricação, daqui a pouquinho vem pra linha. Está numa área, daqui a pouquinho vai pra outra. Então, a gente gira. Então, a gente não tem essa preocupação de – ah essa área aqui é minha e ninguém bota a mão! – Não tem essa preocupação, porque a gente gira bastante.” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira)

No que tange à sucessão, a Marcopolo criou um conselho de herdeiros

para trabalhar nesta questão. Em 2006, por exemplo, os membros do Conselho de

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Herdeiros participaram de diversos eventos promovidos por IBMEC Educacional,

IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e FBN (Family Business

Network).

B) Formação

A questão da formação de recursos qualificados, bem como nas fases

anteriores, continuou ocupando importância dentro da Marcopolo ao longo da

terceira fase de análise. Diversos mecanismos, alguns já criados nos anos

anteriores, foram aperfeiçoados para que a empresa pudesse formar seus

funcionários dentro do maior nível de qualificação. Por meio da visita realizada à

sede da empresa em Caxias do Sul, notou-se que a empresa possui toda a

estrutura necessária para possibilitar a formação necessária. As entrevistas

realizadas confirmaram esta observação:

“Aqui pode entrar sem saber fazer nada. Vem gente da colônia, entra aqui, a Marcopolo ensina. Nós não temos esse problema. Na produção aqui, se o cara não souber fazer nada, melhor ainda. A gente ensina, e fica bom. Aqui, no trabalho que a gente faz, é muito difícil tu pegar um profissional já formado, a não ser que ele já trabalhou na nossa concorrente..... Só se trabalhou lá. Porque senão o pessoal vem aí sem saber fazer nada e a gente treina. Vem da colônia, a gente bota aqui, vai treinando, vai ajeitando, daqui a pouquinho o cara está bom. Inteligência todo mundo tem. É só você saber usar, pro lado positivo e aí vai embora. O elogio, ele é fundamental.” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira)

Ao longo da década de 1990, a Marcopolo criou duas escolas de

treinamento interno, ambas com auxílio do SENAI. Uma está situada na fábrica

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Planalto e outra na Ana Rech. Com um corpo docente formado por uma equipe de

instrutores da própria empresa, e com a supervisão pedagógica e a organização

do currículo por parte do SENAI, a Marcopolo, realizou os investimentos

(máquinas, equipamentos, espaço físico e salários) que possibilitaram a formação

de centenas de jovens.

Além da parte profissionalizante, disciplinas como Matemática, Segurança,

Relacionamento Interpessoal e Visitas Técnicas fizeram inicialmente parte do

programa, que constantemente passa por reformulações para acompanhar os

avanços tecnológicos e as transformações do mercado. A estrutura da escola é

também aproveitada na formação operacional dos demais colaboradores. Em

suas instalações também são realizados treinamentos aos clientes sobre a

operação e manutenção dos veículos adquiridos.

Por meio do Programa de Incentivo à Educação, que concede bolsas de

estudo aos colaboradores para realização de cursos nos níveis de ensino

fundamental e médio, graduação, pós-graduação e mestrado, a empresa estimula

também a formação acadêmica. Para isso, a empresa conta com diversos

convênios, inclusive com a Universidade de Caxias do Sul. Já o Projeto Caminhar

ofereceu aos colaboradores a oportunidade de conclusão dos estudos até a 4ª

série do ensino fundamental. Tal projeto é realizado dentro das dependências da

empresa e ao longo da década de 1990, concedeu certificados a mais de 100

funcionários.

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O Centro Marcopolo de Educação Corporativa (CEMEC) foi criado em 2001

com o objetivo de auxiliar na formação dos executivos na empresa. Segundo as

entrevistas realizadas, foi realizado um levantamento das principais competências

necessárias a cada função e com o suporte da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

foram elaborados módulos que contribuíram para a formação dos gestores da

empresa. Ao longo de um programa que levou quatro anos, mais de cem gestores

da Marcopolo, inclusive funcionários baseados em outros países, foram treinados.

O curso teve sua grade curricular especialmente desenvolvida com foco no

processo de internacionalização da empresa

Ao longo da terceira fase de análise, diversas outras atividades também

contribuíram para formação dos recursos da Marcopolo, como as visitas ao Japão

para aprendizagem, que iniciaram na década de 1980 e ainda são recorrentes

dentro da empresa. No início da implementação da filosofia japonesa, diversos

treinamentos foram oferecidos aos funcionários da empresa, por uma série de

instituições, como o Instituto de Movimentação e Armazenagem de Materiais

(IMAM). Visitas a outras empresas, principalmente as industriais, também fazem

parte da formação de muitos funcionários da Marcopolo.

De acordo com uma base de dados fornecida pela empresa, que contém

informações referentes aos treinamentos realizados pela Marcopolo entre os anos

de 1995 a 2006, foi possível obter alguns números que demonstram que a

questão da formação de recursos qualificados ocupa espaço importante dentro

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dos investimentos da empresa. A Tabela 4.27 apresenta alguns indicadores, que

englobam todos os funcionários das filiais brasileiras.

Tabela 4.27 – Alguns Números Referentes aos Treinamentos Realizados pela Marcopolo entre 1995 e 2006

Total de Treinamentos Realizados 278.496

Total de Funcionários Beneficiados 15.281

Total de Cargos que Obtiveram algum Tipo de

Treinamento

886

Tipos de Treinamentos Realizados 3.247

Fonte: Elaboração Própria, baseada em base de dados fornecida pela empresa.

C) Renovação

No que tange à renovação, o principal evento que marca a transformação e

a renovação dos recursos humanos da Marcopolo foi a introdução da filosofia

japonesa na empresa. Tal implementação, como já mencionado, só foi possível

graças à participação de todos os funcionários da empresa. Para isso também foi

contratado o serviço de consultores e professores especializados no assunto,

como José Maurício Banzato e Reinaldo A. Moura do IMAM. O Prof. Banzato

realizou diversos cursos e assessorias sobre Just-in-Time/Kanban, na Marcopolo,

entre o período de novembro /dezembro de 1986 e março de 1987.

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Alguns anos mais tarde, em 1994, a empresa se viu envolvida em mais

uma crise. Nesse momento, mais uma vez, a empresa recorreu aos serviços de

consultorias externas para implementar uma série de iniciativas que objetivavam

recuperar o crescimento da empresa:

“Mas nada disso teria sido possível se a empresa não tivesse percebido, após a crise de 1994, que não bastava ter uma fábrica limpa, kanban, etc., que era preciso ter não só qualidade total, mas competitividade total, e que era necessário repensar o futuro da empresa.... E para isso foi fundamental a contratação de consultoria externa e a implementação de um plano de metas que permitiram orientar a empresa para resultados, aferir o desempenho e recuperar o crescimento da produtividade e o entusiasmo geral pela empresa. Os indicadores estabelecidos eram não apenas técnicos, como os vigentes até então, mas também voltados para as vendas e os lucros. Estes passaram a ser desdobrados na estrutura da empresa, permitindo o estabelecimento de uma política de remuneração variável para os empregados, de acordo com o seu desempenho.” (FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA. Marcopolo S.A. (B), 1999, pg. 7)

Segundo a entrevista realizada com o Sr. Carlos Zignani, nesse período,

1994/95, a Marcopolo contratou uma consultoria americana de gestão, a Athur D.

Little, para redesenhar o modelo da organização. Em 1995, a estrutura da

companhia passou a sofrer as primeiras mudanças. Os controladores foram para

uma diretoria corporativa, saindo do dia-a-dia da companhia, passando a

trabalhar, inclusive, fora do escritório da Marcopolo. Nesse momento, também foi

criada a diretoria executiva, composta por executivos, que segundo o Sr. Zigani,

permitiu que a Marcopolo começasse a se renovar também em termos de gestão.

Nos anos seguintes, a companhia seguiu realizando mudanças em sua

estrutura organizacional de modo a buscar novas oportunidades de negócios e

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aprimorar o funcionamento da empresa, como se observa no Relatório de

Administração de 1999.

“Para fazer frente às novas oportunidades de negócios e perspectivas comerciais em fase de concretização, a empresa reformulou sua estrutura organizacional. Foram criadas as diretorias de Operações Internacionais e de Operações Comerciais no Brasil, com o objetivo de fortalecer as vendas e prestar um atendimento mais especializado aos clientes. Instituiu-se ainda a diretoria de Estratégia e Desenvolvimento, com a função de formular e direcionar as estratégias de longo prazo, acompanhar a evolução do setor, de novos mercados e de produtos. Foi também formalizada a diretoria de Engenharia, Aquisição e Logística, responsável, na sua área, pelo desenvolvimento de tecnologias e criação de contínuos diferenciais competitivos para a organização.” (Fonte: Relatório de Administração 1999).

No entanto, apesar dos elementos apresentados e principalmente da

introdução das técnicas japonesas de administração como elemento de renovação

na empresa, não há elementos suficientes que indicam que a empresa tem dado

respostas de fato satisfatórias na questão da renovação dos recursos gerencias.

D) Retenção

Segundo o Relatório da Administração de 2006, a Marcopolo estruturou um

plano de carreira para seus funcionários para promover o crescimento profissional

a partir da aquisição gradativa de competências e do domínio de novas

habilidades pelos colaboradores. Além de receberem treinamento e orientação

específica sobre o funcionamento do Plano, os colaboradores tiveram à sua

disposição os perfis de todos os cargos e os mapas de carreira (que demonstram

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as possibilidades de crescimento), em quiosques em diversos locais nas unidades

e também pela Intranet da empresa. A política da empresa era dar prioridade ao

aproveitamento do pessoal da casa via o Programa de Recrutamento Interno.

Por outro lado, um dos principais pontos negativos apontados pelos

funcionários da empresa em pesquisa realizada pelo Guia Você S.A./Exame - 150

Melhores Empresas Para Você Trabalhar 2007, foi que o plano de carreira da

empresa parecia não ser do conhecimento de todos os colaboradores.

Apesar de tal ponto negativo, a Marcopolo manteves-e presente em tal guia

ao longo dos últimos nove anos (1999 – 1997), tendo ocupando posições de

destaque entre as dez primeiras colocações. Mesmo tendo atravessado crises que

afetaram o ambiente de tarablho, os funcionários apresentam muita identificação

pela empresa.

Através da visita realizada à sede da empresa e consequentemente das

entrevistas e conversas realizadas com os funcionários, o carinho que os mesmos

demostram pela empresa, como também a vontade de fazer carreira dentro da

empresa, são sentimentos presentes na maioria dos funcionários. Segundo estas

entrevistas, os funcionários dificilmente trocam a Marcopolo por outra empresa,

como informou o Sr. Carlos Zignani.

“A Marcopolo, como eu vou dizer, utiliza muito a mão-de-obra e motiva muito, dá muito treinamento. Possibilita para quem quer crescer o seu desenvolvimento. Dá desafios, acho que até foi muito acentuado nos últimos quinze anos, até mais do que no período logo que eu entrei, mas a Marcopolo sempre tem um carinho muito grande com as pessoas, tanto é que as pessoas... isso é um diferencial. As pessoas não saem da Marcopolo. Às vezes até ganhando menos, mas preferem ficar aqui porque sabem que aqui tem uma valorização. Às vezes não é só o dinheiro que

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conta, mas a valorização pessoal, a oportunidade de se desenvolver, a oportunidade de apresentar propostas e ser ouvido, isso é importante.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

Devido a diversos mecanismos, muitos deles desenvolvidos desde seus

primeiros anos, a Marcopolo manteve ao longo da terceira fase a característica de

ser uma empresa onde a média de tempo de casa de seus funcionários é alta se

comparada a diversas empresas brasileiras. De acordo com o Guia Você

S.A./Exame - 150 Melhores Empresas Para Você Trabalhar 2007, o tempo médio

na empresa de seus funcionários é 8.5 anos.

A Tabela 4.28 abaixo apresenta uma listagem com alguns funcionários ou

ex-funcionários da Marcopolo, que possuem mais de 30 anos de empresa. De

acordo com o cadastro de funcionários disponibilizado pela empresa, verificou-se

que existem 14 funcionários (ou ex-funcionários) que têm (ou tiveram) mais de 40

anos de empresa, 202 entre 30 e 40 anos, 793 entre 20 e 30 anos e 2851 entre 10

e 20 anos. Tais números demonstram que a empresa detém uma habilidade de

retenção de pessoal.

Tabela 4.28 – Lista de Funcionários da Marcopolo com Elevado Tempo de Casa

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230

Fonte: Elaboração Própria, baseada em cadastro fornecido pela empresa.

No que tange à rotatividade de pessoal, a Marcopolo apresentou nos

últimos anos índices de rotatividade baixos, ao redor de 1% como se observa

através da Tabela 4.29.

Tabela 4.29 – Quadro de Pessoal e Índice de Rotatividade entre 2000 e 2006

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Fonte: Relatórios de Administração 2002 e 2006

E) Sumário das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais

(Fase III)

Em suma, ao analisar o desafio da formação de recursos qualificados, nota-

se que a Marcopolo, foi bem sucedida nas respostas a este desafio, tanto nas

questões de antecipação, formação, renovação e retenção, como a Tabela 4.30

apresenta a seguir.

Tabela 4.30 – Resumo das Respostas ao Desafio da Formação de Recursos Gerenciais (Fase III)

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4.3.5. Desafios da Gestão da Complexidade

A terceira fase de análise da Marcopolo é o período que contém maior

número de evidências em relação aos mecanismos desenvolvidos pela empresa

para lidar com a questão da complexidade de forma sistemática. Um grande

marco na forma como a empresa passou a tratar a resolução de problemas, sem

dúvida, se deu com a implantação das técnicas japonesas de produção. Com

implementação dessa nova filosofia, o ambiente da empresa mudou

completamente. Segundo depoimentos coletados, todos os funcionários passaram

a ser responsáveis pela supervisão e pela melhoria e aperfeiçoamento dos

processos da Marcopolo.

Grupos de melhorias foram montados, e a partir deles começaram a surgir

as soluções para os diversos problemas que eram apontados pela gerência ou

pelos próprios funcionários. Segundo entrevistas realizadas com diversos

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233

funcionários, a capacidade da empresa em implementar tal filosofia na

organização, com a participação voluntária de seus funcionários, foi determinante

para a renovação e retomada do crescimento ao final da década de 1980.

Segundo o Sr. João Carlos Ferreira, um dos principais responsáveis pela

implementação do Sistema Marcopolo na empresa, os próprios funcionários

passaram a perceber as melhorias que as novas técnicas e os procedimentos que

estavam gerando para a empresa:

“Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida! Daquele dia em diante, eu passei a não ter um olho só, eu tinha 52. Pra cuidar da qualidade, pra cuidar da limpeza, pra cuidar da organização. Minha vida facilitou um monte. Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. E aí o pessoal continuou trabalhando e eu passei a enxergar coisa que eu pisava em cima e eu não via. Quando você está em um trabalho que não tem um sistema de trabalho, e hoje a gente tem, e sabe disso, nós trabalhamos aqui e a gente sabe, tudo fica difícil.” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira)

O próprio Sr. João Carlos, relata alguns exemplos de problemas que a nova

filosofia ajudou a resolver dentro da empresa:

“Pode ser um problema até de vassoura. E isso aconteceu! Trabalhava numa área de pré-montagem e tinham 34 bancadas. Cada bancada tinha uma vassoura e o setor sujo pra caramba, porque ninguém limpava. Aí o grupo resolveu, conversou com o pessoal e resolveu fazer: nós vamos botar 15 vassouras – 5 vassouras aqui, 5 vassouras ali e 5 vassouras aqui com uma pá. E é para ela estar sempre ali. É até mais fácil para a supervisão cobrar. Quantas vassouras sobraram? Eram 34, nós usamos 15, sobraram 19... Além do que eu como supervisor, se eles resolveram colocar aqui, senão tiver ali eu vou perguntar, não foram vocês que escolheram, como é que pode, onde é que está a vassoura? Se ela tiver quebrada, por que está quebrada? Troque! Então tu visualizas melhor e parece que não é nada. Ah, problema da vassoura, isso aí não bota em cartão, não bota em nada, isso se resolve fácil... Não é assim, não resolve fácil. Tinham 34 e o setor sujo pra caramba, ninguém varria. Cada bancada tinha uma vassoura. Com 15 nós resolvemos o problema.” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira)

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“Deixa-me ver um que deu um problema de qualidade... Um painel! Nós tínhamos um painel que a gente colocava lá na montagem A. E aí com a mudança de sistema, ele vinha, passava pela pintura, o pessoal botava caixa em cima e sujava ele. Nós chegamos até isolar ele. Ele chegava aqui na hora de usar, tinha que repintar. O que a gente fez? A gente conversou com pessoal, que fizeram uma pré-montagem nele e hoje, a gente coloca no primeiro posto aqui. E aí, cuida todo ele pra trás... É uma coisa de qualidade que o pessoal coloca também pra melhora, pra reduzir desperdício. Montamos uma célula de chapa de alumínio, montamos uma célula de retalho de chapa de alumínio, de retalho de aço, de retalho de tudo. Hoje não botamos pra fora nada, só os pedacinhos pequenininhos. A gente aproveita tudo de material. Uma vez, nós botávamos um monte de coisa fora. Então, é você ir trabalhando a conscientização desse pessoal, porque aqui também nós temos que cuidar. Aqui também, nós temos que fazer isso, nós temos que fazer redução de custo, que nós dependemos daqui. Se a fábrica aonde eu trabalho vai mal, eu também vou mal. Se a fábrica aonde eu trabalho vai bem, e ela tem lucro, ela pode daqui a pouquinho dividir comigo alguma coisa. Nós temos aí o nosso. E se ela não der lucro o que vai acontecer comigo?” (Entrevista Sr. João Carlos Ferreira)

Com a introdução do Sistema Marcopolo, isto é o SIMPS e o SUMAN,

alguns indicadores foram claramente afetados, principalmente nos primeiros anos

da nova filosofia, como se observa nas Tabela 4.31 e Tabela 4.32.

Tabela 4.31 – Dados Relativos à Atuação dos Grupos de Melhoria (1987 – 1997)

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Fonte: FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA; REIS, HELVECIO. Marcopolo

S.A. (A) e (B), 1999

Nota-se na Tabela 4.31 o elevado número de problemas que foram

solucionados a partir dos grupos de melhoria, que englobavam boa parte dos

funcionários da empresa. Através da Tabela 4.32, que aborda indicadores de

produção e emprego, observa-se uma redução do absenteísmo médio e do

número total de acidentes e afastamentos. Vale ressaltar que houve, também,

uma redução do ciclo de produção dos ônibus, tanto rodoviários como urbanos.

Tabela 4.32 – Alguns Indicadores de Produção e Emprego (1987 – 1997)

Fonte: FIGUEIREDO, KLEBER; ARKADER, REBECCA; REIS, HELVECIO. Marcopolo

S.A. (A) e (B), 1999

Em 1994, a Marcopolo atravessou mais uma crise, por conta da valorização

do real e da crise de um grande mercado consumidor, o México. Nesse momento,

alguns bons indicadores da empresa foram abalados, como produtividade e

rotatividade, pois a empresa promoveu uma redução de pessoal e transferiu as

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operações da fábrica Planalto para Ana Rech. Nesse momento, foram

implementados novos programas para estimular a motivação dos empregados,

como o PROMASOL-PQI (segurança, organização e limpeza com produtividade,

qualidade e idéias).

Foi também nesse período que a Marcopolo percebeu a necessidade de

buscar a certificação pelas normas ISO, uma exigência que muitos clientes,

principalmente no exterior estavam apresentando. Ao contrário de muitas

empresas, a Marcopolo não contratou uma consultoria externa, e as certificações

ISO 9002 e 9001 foram alcançadas em 1996 e 1997, respectivamente.

Segundo relatos, em algumas áreas da Marcopolo os padrões eram até

superiores ao exigido na certificação, e apesar de alguns setores apresentarem

manuais bem precisos, outras áreas não os possuíam. Além se ser uma exigência

do mercado internacional, as certificações ajudaram a unificar as visões internas

sobre qualidade, que nem sempre convergiam (FIGUEIREDO, KLEBER;

ARKADER, REBECCA. Marcopolo S.A. (B), pg.3).

Por meio da comprovação da ISO, foi possível para empresa obter a

formalização e a equalização dos processos, ganhando um ritmo sistemático do

fluxo de produção, agilizando e aprimorando o atendimento aos clientes e

intensificando parcerias com os fornecedores. (Marcopolo: Meio Século de uma

História, 1999, p. 61). Com o passar do tempo, a Marcopolo foi conquistando

diversas outras certificações, como a ISO 14000, que trata a preservação do meio

ambiente.

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No que tange à qualificação de pessoal, a Marcopolo não beneficiou

somente seus funcionários. A empresa realizou treinamentos ao pessoal técnico

das empresas controladas, aos representantes comerciais, como também aos

prestadores de serviços, o que possibilitou a agilização do atendimento aos

clientes e a padronização do sistema de informações externas a fábrica,

demonstrando a habilidade da Marcopolo em navegar no ambiente ao capturar

valor e assegurar a legitimidade da organização.

Ao longo da terceira fase, a Marcopolo implementou outros dois

mecanismos que orientaram a gestão da empresa em questões bem complexas.

O primeiro foi a elaboração do Código de Conduta. Por meio desse código,

segundo as entrevistas realizadas, a empresa procurou disciplinar diversas

situações que ocorriam na vida da empresa.

“O Código de Conduta da Marcopolo está respaldado em princípios claros de boa Governança e se pauta em práticas que sejam do conhecimento de todos. Esse conceito tem a ver com a qualidade de atitudes e ações das pessoas, podendo se afirmar que o ser humano é o grande direcionador da Governança Corporativa... A base para o Código de Conduta é o relacionamento interpessoal, fundamentado no respeito, na confiança e na transparência, essenciais para garantir a perpetuidade das Empresas que fazem parte da Marcopolo.” (Código de Conduta)

Tais padrões de condutas passaram a refletir no relacionamento entre os

agentes que fazem parte do ambiente da Marcopolo, como colaboradores,

acionistas, clientes, fornecedores de produtos e serviços, representantes

comerciais, sindicatos, entidades de classe, governo, imprensa e a comunidade

em geral.

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Três anos antes, a Marcopolo implementou um programa denominado

Gestão de Valor Agregado (GVA), para orientar o foco dos objetivos estratégicos e

das ações operacionais para a agregação de valor ao negócio (Relatório de

Administração 2002). O sistema GVA foi desenvolvido com a participação da

Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo

(EAESP) e com o apoio da consultoria de gestão, The Boston Consulting Group

(BCG).

“Como instrumento de trabalho, facilita a simulação e a análise da eficiência na gestão do capital de giro e dos efeitos de novos investimentos na rentabilidade da Companhia. Rigidez nos controles de sucata, no retrabalho e no desperdício de materiais, eficiência da mão-de-obra e controle de horas extraordinárias permitiram uma melhoria nas margens. Igualmente, novos procedimentos de logística e gestão de estoques, contas a receber e investimentos de capital proporcionaram um aumento do giro do capital empregado no negócio. O sistema de remuneração variável adotado pela companhia utiliza, também, a metodologia do GVA para avaliação de desempenho dos colaboradores.” (Relatório de Administração 2002)

Além de implementar um sistema que facilitou a gestão das atividades da

empresa, ainda em 2002, a empresa aderiu ao nível de 2 de Governança

Corporativa da Bovespa, sendo a primeira empresa industrial brasileira a adotar

tais padrões e regras. Ao longo da terceira fase, a Marcopolo se manteve bem

sucedida nas questões de integração da organização e formação dos recursos

qualificados, como comentou o Sr. Carlos Zignani.

“Então nós temos muitos programas de suporte, de apoio, de treinamento, mas principalmente de participação nos resultados também, quer dizer, precisamos deixar as pessoas motivadas, depois nós para comentar para você, nosso pessoal ganha talvez quase dois salários por ano de participação nos resultados. São sistemas que nós estamos criando ao

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longo do tempo que comprometam as pessoas, dêem motivação e que as pessoas também estejam preparadas para assumir cargos, para assumir novos desafios.” (Entrevista Sr. Carlos Zignani)

Outras duas evidências que demonstram a forma como a Marcopolo foi

desenvolvendo habilidades para tratar questões complexas foram a introdução do

modelo de compras através do regime de Global Sourcing e as estratégias que

passaram a ser adotadas para o processo de internacionalização. As compras

através do Global Sourcing permitiram que a empresa se tornasse menos exposta

às oscilações de preços de seus fornecedores, muitas vezes impactadas pelas

variações cambiais, tornando seu produto mais competitivo em relação a seus

competidores em nível mundial.

Já o processo de abertura de novas operações, seja no Brasil ou no

exterior, por alguns momentos na história da Marcopolo não alcançou o

desempenho esperado, como nos seguintes casos: Marcopolo Minas (fase II),

parceria com a Dina no México, fábrica na Argentina que foi desativada, e contrato

de transferência de tecnologia para a China. Em seus últimos investimentos,

Colômbia, México, Rússia e China, a empresa tem sido mais cautelosa na análise

do mercado, na escolha de seus parceiros locais, na estruturação do modo de

operação, e na elaboração de planos de crescimento.

Por meio deste continuo auto-aprendizado proporcionado pelos diversos

mecanismos criados e aperfeiçoados, destacando principalmente a filosofia

japonesa de administração, pode-se dizer que Marcopolo, ao longo da terceira

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fase de análise, seguiu buscando a resolução de problemas de forma sistemática,

se tornando menos vulnerável a eventuais adversidades.

Através de tais mecanismos, como se observa na Tabela 4.33, a Marcopolo

foi bem sucedida em suas respostas em todos os desafios que compõem a gestão

da complexidade: empreendedorismo (com exceção do serviço julgamento),

navegação no ambiente, gestão da diversidade e formação de recursos

gerenciais.

Tabela 4.33 – Resumo das Respostas ao Desafio da Complexidade (Fase III)

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5. CONCLUSÃO

5.1. CONCLUSÕES GERAIS

A Marcopolo chega ao início do século XXI na posição de liderança na

indústria de carrocerias de ônibus. Mesmo não tendo seu nome associado aos

primórdios da indústria de ônibus no Brasil, como a Grassi que fechou as portas

na década de 1970 e a Caio, fundada em 1946 por José Massa, que trabalhou na

Grassi por 18 anos.

Seguindo a visão de Chandler (1990), a Marcopolo não foi a primeira a

primeira a investir na indústria de ônibus, e no início seus modelos não chegaram

a ser revolucionários. De acordo com as próprias entrevistas realizadas, admitiu-

se que era comum aproveitar as idéias da concorrência nacional, como dos

produtos feitos fora do Brasil para aperfeiçoar os modelos da Marcopolo.

No entanto, de acordo com as evidências levantadas, a Marcopolo desde

sua fundação tem realizado investimentos consideráveis em produção, gestão e

principalmente marketing e distribuição. Apesar disso, não se pode caracterizá-la

como uma first mover, pois neste estudo não foi pesquisada a história de suas

concorrentes em um nível profundo.

O apetite da Marcopolo pelo mercado externo é observado desde a

primeira fase da análise, sendo que seu pioneirismo em exportações de ônibus no

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Brasil culminou mais tarde com o domínio da tecnologia CKD e com o processo de

internacionalização.

A empresa, também, soube desenvolver estratégias interessantes de

marketing e distribuição, através das campanhas de lançamentos de seus

produtos, da participação de feiras de ônibus nacionais e internacionais e da

estruturação de uma rede de representantes no Brasil e mais tarde, por todo o

planeta. Os ônibus da Marcopolo circulam em mais de 100 países em todo o

mundo.

Apoiando-se também nos fatos expostos, esta dissertação teve o objetivo

de responder a seguinte pergunta e para isso tomou-se o ferramental proposto por

Fleck (2006) para fundamentação teórica:

Quais desafios enfrentam as organizações e como lidam com eles

para superar os efeitos colaterais ocasionados pela mudança positiva em

seu tamanho ao longo de suas trajetórias, para se manterem firmes em

direção à longevidade saudável?

A análise da trajetória de crescimento da Marcopolo indica que a firma, ao

longo dessas quase seis décadas, apresentou respostas satisfatórias aos desafios

de crescimento, em grande medida ligadas ao pólo da autoperpetuação, ou seja,

em direção a longevidade saudável. Eis porque a empresa conseguiu crescer de

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forma consistente, superar as diversas adversidades que encontrou e se destacar

no cenário internacional como umas das principais fabricantes de carrocerias do

mundo.

Para entender como a empresa se mantém na liderança do mercado e a

caminho da longevidade saudável, foi preciso analisar elementos que fazem parte

dos seus primórdios, como por exemplo sua habilidade em levantar recursos

financeiros, e a forma como a empresa respondeu ao desafio da diversidade de

maneira construtiva.

A Tabela 5.1 traz uma síntese das respostas oferecidas pela firma, a cada

um dos desafios de crescimento e suas dimensões de análise, ao longo das três

fases em que sua história foi dividida.

Tabela 5.1 – Resumo das Respostas da Marcopolo aos Desafios de Crescimento

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Quanto a cada desafio, vale destacar os seguintes comentários e que onde

residem os principais pontos fortes da empresa em direção a longevidade

saudável:

� Empreendedorismo: Ao longo de toda sua história a Marcopolo mostrou-

se com ímpeto em crescer. Em determinado momento tal ímpeto levou a

empresa a passar por riscos desnecessários, como os maciços

investimentos no final de década de 1970, que não foram revertidos em

lucros no início da década de 1980. No que tange à engenhosidade em

levantar fundos, talvez resida nesse quesito, uma grande particularidade da

Marcopolo em relação a diversas empresas brasileiras. A empresa sempre

se mostrou hábil em levantar fundos, mesmo nos ambientes inóspitos

vividos no início da empresa e no meio da década de 1980. O fato do

capital da comunidade de Caxias do Sul financiar os primeiros movimentos

da empresa fortaleceu sua imagem e reputação na cidade. Como já

mencionado, é no serviço do julgamento que as respostas da empresa se

mostraram menos satisfatórias. No entanto, em virtude das experiências

desastrosas parece que a empresa aprimorou, nos últimos anos, sua

maneira de avaliar o ambiente, dado uma análise mais sólida de seus

movimentos, como a entrada em países que a empresa há tempos estuda,

como Índia e Rússia.

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� Navegação no Ambiente: Com origem em uma cidade fora do eixo

econômico brasileiro, a Marcopolo desde cedo mostrou habilidade em

navegar no ambiente no qual esteve inserida, seja almejando criação e

captura de valor ou legitimidade organizacional. Atualmente a marca

Marcopolo é vista com sinônimo de ônibus em mercados onde ela está

presente. A cidade de Caxias do Sul se tornou um dos principais pólos

metal-mecânico do Brasil, muito devido à influência exercida pela

Marcopolo. A empresa, por meio das marcas Marcopolo, Ciferal e Neobus,

é líder em todos os segmentos de ônibus, e seu produto apesar de mais

caro é visto como diferenciado pelas empresas de ônibus, sejam elas de

transporte urbano ou rodoviário. Por último e não menos importante, vale

destacar a habilidade da empresa em criar mecanismos favoráveis a um

melhor balanceamento de sua demanda, evitando ociosidade em suas

fábricas e equilibrando sua produção ao longo do ano. Tais mecanismos

criados são em parte, também, pelo bom trâmite da empresa nas esferas

municipal, estadual e federal.

� Gestão da Diversidade: Mesmo antes de visitar a empresa, o volume de

publicações que destacavam os valores da empresa e a relacionamento

com seus colaboradores (essa é a forma que preferem ser chamados), já

impressionava. Após a visita, foi possível confirmar que a admiração pela

empresa, por parte dos habitantes de Caxias do Sul e principalmente os

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próprios colaboradores, transcendem o horário de expediente. A empresa

além de ser o primeiro empregador de muitos colaboradores, em muitos

casos é o único também. De acordo com entrevistas realizadas, o

funcionário ao ingressar na Marcopolo é rapidamente introduzido à cultura

da empresa e seus respectivos valores, se acostumando e se sentindo bem

com a filosofia da Marcopolo. Dificilmente deixa a empresa, mesmo por

uma remuneração mais atraente. A empresa, com a plena participação dos

colaboradores, oferece inúmeras atividades aos seus colaboradores e aos

seus familiares, o que fortalece a integração organizacional.

� Formação de Recursos Gerenciais: Mão-de-obra qualificada nunca foi

uma prerrogativa dos maiores centros econômicos do Brasil, não podendo

ser diferente em Caxias do Sul. No início a empresa passou por diversas

dificuldades. No entanto, graças a Metalúrgica Abramo Eberle, uma

insipiente, porém necessária mão-de-obra especializada esteve disponível

em Caxias do Sul nos primeiros anos de vida da empresa. Antevendo a

necessidade de recursos qualificados para seu crescimento, a empresa

firmou parcerias com diversas instituições, para oferecer boa formação para

seus funcionários. Atualmente, a empresa tem internamente uma escola

para formação de técnicos e um relacionamento muito próximo com a

Universidade de Caxias do Sul.

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� Gestão da Complexidade: No início, como ocorreu nas maiorias empresas

contemporâneas à Marcopolo, grande parte do aprendizado era empírico e

na “marra”. Com o passar do tempo, a empresa foi desenvolvendo

procedimentos, processos, e um sistema, para gerir seu processo produtivo

com eficiência. Sem dúvida, o grande salto da Marcopolo veio com a

implementação das técnicas japonesas de produção. Segundo

depoimentos, além de aperfeiçoar processos, reduzir custos de

desperdícios, o Sistema Marcopolo ofereceu uma forma de resolução de

problemas de forma sistemática. Pela visita realizada, foi possível ver em

campo o Sistema Marcopolo e seus inúmeros instrumentos regendo a linha

de produção da empresa. Quanto ao fomento do aprendizado, vale

destacar que a Marcopolo se tornou uma empresa internacional e metade

de seu faturamento tem origem no mercado externo. Embora a Marcopolo

tenha tropeçado em algumas parcerias e alguns investimentos, a empresa

tem se mostrado nos últimos anos mais cometida e com uma estratégia

sólida ao escolher os mercados que deseja entrar e os parceiros com os

quais vai se relacionar.

Ao retomar o framework proposto por Fleck (2007) (página 1) que aborda a

ambivalência que o tamanho pode trazer para a organização, vemos que a

Marcopolo conseguiu superar aspectos negativos desta ambivalência, sendo

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capaz de renovar suas rotinas e relações com o ambiente, escapando de efeitos

colaterais, como a inércia, rigidez e resistência a mudanças.

Quando se considera apenas a terceira fase de análise da empresa,

período também com maior disponibilidade de dados coletados, nota-se que foi

nesse período que a empresa se tornou líder no mercado brasileiro. Mesmo com

fábricas em diversas localidades, seja no Brasil ou exterior, percebe-se que

apesar de uma estrutura maior e uma operação mais complexa, a empresa não

tem apresentado sinais de inércia, rigidez e resistência a mudanças, como se

espera para uma organização deste porte.

A forma como foi introduzido o Sistema Marcopolo de Gestão é a principal

evidência que a empresa, que na ocasião já era uma das maiores encarroçadoras

do Brasil, não estava presa a práticas de gestão, ou hábitos enraizados, que

podiam obstruir a implementação de mudanças. Adotando uma estratégia

alternativa, a diretoria da Marcopolo não impôs a adesão do sistema por seus

funcionários. Por meio de palestras opcionais que ocorriam após o expediente, o

sistema foi atraindo a atenção dos funcionários e gradativamente foi abraçado

pela empresa.

Passados os anos, ele se tornou um dos pilares que sustentam o

funcionamento da Marcopolo, se constituindo no principal indício que a empresa

passou a responder de forma satisfatória o desafio da complexidade. A força

desse sistema na cultura da empresa é enorme, pois além de contribuir para uma

renovação constante dos processos produtivos que regem a empresa, tem papel

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fundamental nas respostas aos outros desafios do crescimento como na

navegação do ambiente, vide a influencia do regime produtivo da Marcopolo com

os fornecedores. O estudo dessas inter-relações por si só já merece ser objeto de

uma pesquisa futura.

5.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Assim como já defendido por Dantas (2007), a falta de uma metodologia

que permita empregar indicadores quantitativos para a avaliação de uma empresa

sob a ótica dos arquétipos de Fleck (2006), se constituiu no maior desafio para o

autor. Apesar de alguns trabalhos já buscarem caminhos menos subjetivos,

através da atribuição de notas para as respostas e somando-os para o cálculo de

um indicador, esta metodologia de análise ainda está bem fundamentada em

critérios qualitativos.

De fato, quando se mergulha em um estudo desta natureza, é difícil

mensurar com precisão o que, em minha opinião, parece ser imensurável.

Diversos outros autores conviveram com o mesmo desafio em seus trabalhos,

como Porter (1990), que não chegou a quantificar suas 5 forças, e nem por isso

esse ferramental perdeu seu importância e aplicabilidade para a literatura

acadêmica e para o ambiente corporativo. No entanto, de fato há um caminho

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amplo que pode ser percorrido para que as respostas das empresas aos desafios

do crescimento sejam mais bem quantificadas.

Outro desafio nesta pesquisa foi falta de estudos setoriais sobre a indústria

de carrocerias de ônibus. Se no caso da indústria automobilística (entenda-se

veículos leves) há ampla literatura disponível, no caso da indústria de ônibus, são

poucas as fontes de informação que contam a história da indústria de ônibus.

Nessa linha, outro desafio foi traçar comparação do tamanho da Marcopolo com

as maiores fabricantes globais. Não existe uma entidade internacional que

congregue apenas as empresas genuinamente encarroçadoras de ônibus.

As grandes fabricantes de chassis, que até o final da década de 1990

produziam monoblocos no Brasil, quase sempre são unidades de grandes

montadoras, como Volkswagen, Volvo, Scania e Daimler Chrysler. Essas

empresas reportam para a OICA sua produção de ônibus na forma consolidada

(monoblocos + chassis), o que impede um cálculo preciso da participação na

Marcopolo no mundo.

No entanto, esta dificuldade em apontar o tamanho da Marcopolo no

cenário mundial desperta uma curiosidade. Embora pareça uma grande empresa,

a Marcopolo poderia ser comprada por uma grande montadora internacional? Qual

seria de fato sua relatividade no ambiente global?

Utilizando uma base de dados que engloba apenas parte de sua história,

entre 1981 e 2006, construiu-se o Gráfico 5.1, que traz os indicadores de tamanho

(Receita/PIB), desempenho (Lucro/PIB) e a produção de ônibus da empresa

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251

nesse período. Percebe-se que apesar do crescimento de produção dos últimos

anos, como entre 1999 e 2005, a empresa não teve alterado seu tamanho na

economia como um todo, o que tira parte do brio do crescimento apresentado.

Gráfico 5.1 – Curva de Crescimento da Marcopolo entre 1981 e 2006

Curva de Crescimento do Grupo Marcopolo (1981 a 2006)

-0.05%

0.00%

0.05%

0.10%

0.15%

0.20%

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006Ind

icad

or

de

Tam

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0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

16,000

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s

Receita / PIB Lucro / PIB Produção

Fonte: Relatórios Anuais de 1983 a 2006, Grigorovski (2004), Banco Central e Memorial

Marcopolo

Olhando o ambiente brasileiro de negócios, seria interessante traçar curvas

e realizar estudos comparativos com outras encarroçadoras brasileiras, como a

Caio, a Busscar e até mesmo a Ciferal (antes de ser adquirida pela Marcopolo),

para entender os isomorfismos da indústria e desvendar em quais pontos estas

empresas realmente diferem entre si ao ponto da Marcopolo ter ocupado a

liderança do mercado.

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252

No que tange apenas a Marcopolo, vemos uma diretoria que comanda a

empresa há décadas. Nessa questão foi identificada uma falta de evidências

suficientes pra tratar a questão da renovação na última fase de análise. Será que

a empresa de fato estaria pronta para caminhar sem a presença de seu fundador

e dos outros controladores? Os valores da empresa estariam ameaçados?

Em linha com a segunda pergunta, há outra questão a ser estudada,

diretamente relacionada com o processo de internacionalização vivido

principalmente na última década. Os fortes valores que unem e fortalecem a

integração organizacional estariam ameaçados com a expansão da empresa para

países com culturas tão diferentes da brasileira?

Page 269: DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO … · período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo. No entanto, diversas foram as empresas

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Caxias do Sul, ano 11, n. 92, nov-dez. 1996.

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Marcopolo S.A, Caxias do Sul, ano 18, n. 156, dez. 2002.

MARCOPOLO, Polo Informativo, Jornal Interno de Divulgação das Empresas

Marcopolo S.A, Caxias do Sul, ano 18, n. 165, dez. 2003.

MARCOPOLO, Polo Informativo, Jornal Interno de Divulgação das Empresas

Marcopolo S.A, Caxias do Sul, ano 18, n. 174, dez. 2004.

MARCOPOLO, Polo Informativo, Jornal Interno de Divulgação das Empresas

Marcopolo S.A, Caxias do Sul, ano 21, n. 187, dez. 2005.

MARCOPOLO, Polo Informativo, Jornal Interno de Divulgação das Empresas

Marcopolo S.A, Caxias do Sul, ano 22, n. 199, dez. 2006.

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MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1984. Caxias

do Sul, 1985.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1985. Caxias

do Sul, 1986.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1986. Caxias

do Sul, 1987.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1987. Caxias

do Sul, 1988.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1988. Caxias

do Sul, 1989.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1989. Caxias

do Sul, 1990.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1990. Caxias

do Sul, 1991.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1991. Caxias

do Sul, 1992.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1992. Caxias

do Sul, 1993.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1993. Caxias

do Sul, 1994.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1994. Caxias

do Sul, 1995.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1995. Caxias

do Sul, 1996.

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260

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1996. Caxias

do Sul, 1997.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1997. Caxias

do Sul, 1998.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1998. Caxias

do Sul, 1999.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 1999. Caxias

do Sul, 2000.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 2000. Caxias

do Sul, 2001.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 2001. Caxias

do Sul, 2002.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 2002. Caxias

do Sul, 2003.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 2003. Caxias

do Sul, 2004.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 2004. Caxias

do Sul, 2005.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 2005. Caxias

do Sul, 2006.

MARCOPOLO. Relatório anual de atividades para o exercício de 2006. Caxias

do Sul, 2007.

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265

7. APÊNDICES

7.1. A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), em janeiro

de 2006, a frota brasileira era composta por 42,3 milhões de veículos. O órgão

considera para seus registros todos os veículos que estão emplacados, e os

segmenta em: automóvel, bonde, caminhão, caminhão-trator, caminhonete,

camioneta, chassi plataforma, ciclomotor, microônibus, motocicleta, motoneta,

ônibus, outros, quadriciclo, reboque, semi-reboque, sidecar, trator de esteira, trator

de rodas, triciclo e utilitários.

Apesar das diversas categorias, os automóveis, os comerciais leves, os

ônibus e os caminhões representaram 80% da frota nacional em 2006. Esta

nomenclatura é a mesma utilizada pela Associação Nacional dos Fabricantes de

Veículos Automotores (Anfavea), fundada em 15 de maio de 1956, que reúne as

empresas fabricantes de autoveículos (automóveis, comerciais leves, caminhões,

ônibus) e máquinas agrícolas automotrizes (tratores de rodas e de esteiras,

colheitadeiras e retroescavadeiras) com instalações industriais no Brasil.

A Anfavea foi criada no Brasil com três atribuições principais: estudar temas

da indústria e do mercado de veículos e máquinas agrícolas, coordenar e defender

interesses das empresas associadas e patrocinar exposições automotivas e outros

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266

eventos de caráter institucional. Essa associação iniciou as mais importantes

campanhas institucionais da indústria automotiva, como por exemplo, a primeira

Exposição Automobilística Brasileira, montada no Rio de Janeiro em 1957, e os

salões do Automóvel, realizados em São Paulo a cada dois anos, a partir de 1962.

Um mês após a fundação da Anfavea, no dia 16 de junho de 1956,

Juscelino Kubitschek assinou o Decreto 39.412, decretando a criação do Grupo

Executivo da Indústria Automobilística (GEIA). Este episódio faz com que se

considere o dia 16 de junho de 1956 como a data de nascimento da indústria

automobilística no Brasil.

O BNDES, fundado em 1952, era um dos órgãos do governo federal que

fazia parte do GEIA e com voz bem ativa na formulação do programa da indústria.

O GEIA tinha por objetivo instalar a indústria automobilística e promover a rápida

fabricação dos bens de consumo (carros de passeio) e dos bens de produção

(veículos de carga); estes últimos sendo prioritários no início da indústria. Outra

finalidade do GEIA era suavizar os efeitos sobre o balanço de pagamentos, em

virtude das crescentes importações tanto de carros de passeio como de veículos

de carga e transporte de passageiros. Os mecanismos utilizados eram as

definições de normas de instalação, de metas de produção e de planos de

nacionalização, como a autorização e acompanhamento dos projetos.

Por meio do GEIA, o governo federal lançou um conjunto de decretos que

inibiram a importação e estabeleceram incentivos de natureza cambial e fiscal.

Alguns exemplos dessas medidas foram: a concessão de cotas para importação

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267

de peças não produzidas no país, o câmbio favorecido para importação de

equipamento e a isenção tarifária para importação de componentes destinados a

automóveis.

Os direitos aos incentivos só eram dados aos projetos aprovados pelo

GEIA. Foi estabelecido também um programa de nacionalização rápida para as

peças: já em 1960, caminhões e veículos utilitários deveriam atingir 90% de

nacionalização, e jipes e carros de passeio, 95%. O esforço para produzir os

insumos no país incluía financiar e incentivar a indústria de autopeças pelo

BNDES, bem como estabelecer maior participação da manufatura nacional. Após

várias medidas governamentais, dezoito empresas apresentaram projetos, mas

apenas onze tiveram projetos implantados.

Não era proibido financiar empresas estrangeiras, porém era indispensável

analisar o grau de prioridade de investimento em setores específicos e apurar se

tal prioridade só poderia mesmo ser atendida por uma empresa estrangeira. A

indústria automobilística era vista como prioritária pelo governo e foi considerado

que sua criação deveria ter participação de capital externo, ou seja, dos

fabricantes internacionais de automóveis, no entanto, com um programa de

gradativa nacionalização.

No ano de 1967, o Geia foi substituído pelo Grupo Executivo da Indústria

Mecânica (GEIMEC), que em 1969 foi absorvido pelo Grupo Executivo da

Indústria Automotora (GEIMOT). O Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI)

foi também criado, e sua autorização era necessária para os investimentos. Era o

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268

CDI que coordenava as atividades de obtenção de recursos, como a concessão

de incentivos e os financiamentos do BNDES. Em 1970, com a reorganização do

CDI, oito Grupos Setoriais foram estabelecidos, entre os quais o GS-VI e então (a

partir de 1976) o GS-V, que cuidavam da indústria de veículos automotores e

componentes.

Ao longo desses cinqüenta anos, a indústria automobilística brasileira,

assim como o país, passou por diversas transformações; cresceu, se modernizou,

abriu fronteiras e em 2005, segundo dados da Organisation Internationale des

Constructeurs d'Automobiles (OICA), o Brasil apareceu como o 9º maior produtor

mundial de veículos (automóveis mais veículos comerciais, que engloba

comerciais leves, caminhões e ônibus), com quase 4% da produção mundial,

como pode ser visto na Tabela 7.1.

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269

Tabela 7.1 – Produção Total de Veículos por País em 2005

Rank Country CarsCommercial

VehiclesTotal

Market Share

Change to 2004

1 United States 4,321,272 7,659,640 11,980,912 18.0% 0%2 Japan 9,016,735 1,782,924 10,799,659 16.2% 3%3 Germany 5,350,187 407,523 5,757,710 8.7% 3%4 China 3,078,153 2,629,535 5,707,688 8.6% 9%5 South Korea 3,357,094 342,256 3,699,350 5.6% 7%6 France 3,112,961 436,047 3,549,008 5.3% -3%7 Spain 2,098,168 654,332 2,752,500 4.1% -9%8 Canada 1,356,198 1,332,165 2,688,363 4.0% -1%9 Brazil 2,009,494 518,806 2,528,300 3.8% 9%10 United Kingdom 1,596,296 206,753 1,803,049 2.7% -3%11 Mexico 989,840 680,563 1,670,403 2.5% 6%12 India 1,264,000 362,755 1,626,755 2.4% 8%13 Russia 1,068,145 283,054 1,351,199 2.0% -3%14 Thailand 277,603 847,713 1,125,316 1.7% 21%15 Italy 725,528 312,824 1,038,352 1.6% -9%16 Belgium 895,788 33,177 928,965 1.4% 3%17 Turkey 453,663 425,429 879,092 1.3% 7%18 Iran 725,000 92,200 817,200 1.2% 4%19 Poland 540,000 85,443 625,443 0.9% 4%20 Czech Rep. 599,472 5,458 604,930 0.9% 35%21 Malaysia 405,000 158,837 563,837 0.8% 19%22 South Africa 324,875 200,396 525,271 0.8% 15%23 Indonesia 233,492 261,059 494,551 0.7% 21%24 Taiwan 323,819 122,526 446,345 0.7% 4%25 Australia 316,414 78,299 394,713 0.6% -4%26 Sweden 288,659 49,919 338,578 0.5% 0%27 Argentina 182,761 136,994 319,755 0.5% 23%28 Austria 230,505 22,689 253,194 0.4% 2%29 Portugal 137,602 81,533 219,135 0.3% -3%30 Slovakia 218,349 0 218,349 0.3% -2%31 Ukraine 196,722 19,037 215,759 0.3% 15%32 Romania 174,538 20,264 194,802 0.3% 59%33 Netherlands 115,121 65,627 180,748 0.3% -27%34 Slovenia 138,393 39,558 177,951 0.3% 35%35 Hungary 148,533 3,482 152,015 0.2% 24%36 Uzbekistan 87,512 8,302 95,814 0.1% 19%37 Egypt 48,034 21,189 69,223 0.1% 40%38 Finland 21,233 411 21,644 0.0% 0%39 Serbia 12,574 1,605 14,179 0.0% -7%40 Other countries 299,266 116,847 416,113 0.6%

Grand total 46,009,207 20,456,561 66,465,768 100.0% 3,1%

Fonte: OICA

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270

A OICA foi fundada, em Paris, no ano de 1919 e é uma organização que

compreende 42 associações nacionais em todo o mundo, incluindo aquelas que

fazem parte dos principais países produtores. A organização mantém um comitê

permanente que conduz atividades nas áreas de tecnologia, políticas econômicas

e industriais, e consolida as estatísticas da indústria mundial. O Comitê também

coordena os salões internacionais de automóvel. Segundo os dados da OICA, os

cinco maiores fabricantes mundiais de veículos em 2005 foram General Motors,

Toyota, Ford, Volkswagen e DaimlerChrysler, nesta ordem. Abaixo é possível

visualizar na Tabela 7.2, a produção em unidades dos maiores fabricantes de

veículos neste ano.

Tabela 7.2 – Produção Total de Veículos por Fabricante em 2005

Rank FabricanteTotal

UnidadesRank Fabricante

Total Unidades

1 General Motors (Opel-Vauxhall-GM Daewoo) 9,097,855 27 Volvo-Renault Trucks-Mack 215,4202 Toyota 7,338,314 28 Gaz 214,7553 Ford (Jaguar-Volvo cars) 6,497,746 29 Chery Auto 185,5884 Volkswagen Group 5,211,413 30 Anhui Jianghuai Auto 167,4365 DaimlerChrysler (with Evobus) 4,815,593 31 Paccar-Daf 149,6296 Nissan 3,494,274 32 Zhejiang Geely 149,5327 Honda 3,436,164 33 Manhindra&Mahindra 125,9948 PSA Peugeot Citroën 3,375,366 34 Navistar 122,3269 Hyundai-Kia 3,091,060 35 Changhe Aircraft Industrie 115,65210 Renault-Dacia-Samsung 2,616,818 36 Nanjing Auto 111,39711 Suzuki-Maruti 2,071,707 37 Jinbei Auto Holding 109,50512 Fiat-Iveco-Irisbus* 2,037,695 38 Porsche 98,13513 Mitsubishi 1,331,060 39 Hino 97,38114 BMW 1,323,119 40 MAN-ERF-NEOMAN Bus 76,06615 Mazda 1,287,561 41 UAZ 68,68716 Daihatsu 1,011,249 42 Great Wall Motor 67,65717 Avtovaz 721,492 43 Kamaz 62,32418 Dongfeng (without Citroën) 593,055 44 Scania 59,50619 Fuji (Subaru) 591,825 45 Soueast Auto Industrial 58,64920 Beijing AIG (without Hyundai- Isuzu) 559,190 46 Ijmach-Avto 49,80321 FAW Group (without VW, Toyota, Mazda) 539,029 47 Nissan Diesel 41,07122 SAIC-Sangyong (without GM&VW) 518,353 48 MG Rover 29,14123 Isuzu 510,730 49 Evobus 7,30924 Chana Automobile Liability 422,168 Total Manufacturers shown 65,318,74425 Tata (Telco) 419,445 Others manufacturers (China, India, Russia, Poland, Turkey) 1,146,66426 Harbin Hafei Automotive 225,260 Total production 66,465,408

Fonte: OICA

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A OICA é representada pelo Brasil por meio da Anfavea, que conta com 24

fabricantes associados, os quais produzem automóveis, comerciais leves,

caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. Estes 24 fabricantes exportaram em

2005 um total de US$ 11,2 bilhões, um volume que correspondeu,

aproximadamente, por 10% das exportações brasileiras. Outro bom resultado para

o setor no Brasil em 2005, foi a produção de cerca de 2,5 milhões de veículos.

Essa foi a melhor marca da história, como pode ser visto no Gráfico 7.1

Gráfico 7.1 - Produção Brasileira de Veículos (1957-2005)

Produção de Veículos (1957 - 2005)

0

500,000

1,000,000

1,500,000

2,000,000

2,500,000

3,000,000

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006

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Neste mesmo ano, a indústria automobilística brasileira foi responsável por

106 mil empregos, 5,2% de acréscimo em relação aos postos de trabalho de 2004.

(ANFAVEA. Indústria Automobilística Brasileira: 50 Anos, 2006). No anexo 8.2,

encontra-se a produção total e por segmento de veículos no Brasil de 1957 a

2005.

Em 2005, incentivado pelo crédito do consumidor, 1,7 milhões de veículos

novos foram vendidos no Brasil, com uma participação de 5% de importados –

aproximadamente 88 mil unidades. Observa-se pelo Gráfico 7.1 que alcançar a

produção de 2,5 milhões de unidades não foi um resultado conquistado em um

curto espaço de tempo. Enquanto no ano de 1999, o Brasil atingiu sua menor

produção nos últimos 10 anos, com 1.356.714 unidades, a marca recorde obtida

em 2005 representa um acréscimo de 86,4% em relação a 1999.

Para se poder dimensionar o tamanho do parque automotivo brasileiro, a

Tabela 7.3 mostra a produção acumulada de veículos (automóveis, comerciais

leves, caminhões e ônibus) entre o período de 1957 a 2005.

Tabela 7.3 – Produção Acumulada de Veículos (1957-2005)

AUTOMÓVEIS 36,105,689COMERCIAIS LEVES 6,894,293CAMINHÕES 2,843,980ÔNIBUS 613,757TOTAL 46,457,719

Fonte: ANFAVEA

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273

Como já apresentado, na década de 1950 foram concedidos pelo governo

brasileiro uma série de benefícios para estimular a produção nacional. Estes

incluíam taxas de câmbio mais favoráveis apenas para a importação de peças que

não eram fabricadas localmente, e crédito para financiamento de máquinas e

equipamentos destinados à instalação e ampliação do parque fabril brasileiro.

Após a fase de implantação, o setor automotivo brasileiro cresceu no período de

1968 a 1974, a taxas médias de 20% ao ano.

Este crescimento é explicado graças aos mecanismos de crédito criados

pelo governo para consumidor adquirir veículos. Em 1978, o Brasil rompeu a

barreira de 1 milhão de unidades/ano. No entanto, as sucessivas crises

econômicas no Brasil e no mundo, mudaram o andamento do setor durante as

décadas de 1980 e início de 1990.

Entre 1990 e 1992, foram vendidas menos unidades que no período de

1978 a 1980. O setor automotivo apresentava baixa produtividade, defasagem

tecnológica, contava com altos custos ao longo da cadeia e era pouco competitivo

internacionalmente. Com o objetivo de reverter tal situação, governo, indústria,

concessionários e trabalhadores reuniram-se entre 1992 e 1993 e montaram um

acordo automotivo, que resultou em diversas metas para o setor.

Entre algumas medidas adotadas destacaram-se as reduções da carga

tributária, IPI e ICMS, e consequentemente do preço ao consumidor final, como

também a manutenção dos empregos existentes e a ampliação das linhas de

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financiamento. Embora não discutido nos acordos, mas por iniciativa governo

Itamar Franco, no ano de 1993, o carro popular chegou ao mercado. No ano de

1995 foi aprovada a política industrial para setor e no ano de 1997, como

resultado, foram produzidos 2 milhões de unidades (vide Gráfico 7.1), com o

recorde de vendas de 1,9 milhões de unidades, ao mercado interno.

Os bons números desse ano estimularam algumas montadoras, como

Renault, Peugeot Citroën e Honda, a instalar fábricas no país. As já existentes,

como Ford, General Motors e Volkswagen, optaram por ampliar e modernizar

antigas fábricas, como também abrir novas unidades fabris no país. A indústria

automobilística nacional, que engloba o setor de autopeças, investiu US$ 32

bilhões no período 1994-2005. Em 2005, a capacidade instalada permitia a

produção de 3,5 milhões de unidades/ ano. Nesse mesmo ano, a indústria

automobilística, sem o setor de autopeças, correspondia a 11,5% do PIB

industrial. O setor de autopeças correspondia a 3,5%.

Ao longo desses cinqüenta anos – período em que se considera a

existência da indústria automobilística nacional – foram desenvolvidos projetos

exclusivamente nacionais. Entre alguns exemplos estão a motorização 1.0, que

segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores

(FENABRAVE), em 2005, respondeu por 54,6% das vendas ao mercado interno.

Outra tecnologia desenvolvida no Brasil permitiu a criação dos veículos flex fuel -

que funcionam tanto com álcool como com gasolina. Em dezembro de 2005, estes

veículos representaram 73,2% das vendas do mercado interno (Anuário

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FENABRAVE 2005). No que se refere à arrecadação de tributos (IPI, ICMS, PIS e

Cofins), o volume arrecadado com a indústria automobilística foi de R$ 21 bilhões

em 2005.

7.1.1. Indústria de Ônibus Mundial

Um dos segmentos da indústria automotiva é constituído pelos veículos de

carga, como os ônibus e caminhões. A produção mundial de ônibus visa a atender

principalmente as regiões em desenvolvimento, onde se concentra a maior parte

da demanda. As regiões com forte crescimento populacional tendem a demandar

mais transportes coletivos, como, por exemplo, a China, Índia, Rússia, Paquistão,

Tailândia e Indonésia.

A indústria mundial de carrocerias de ônibus é bastante diversificada,

formada aproximadamente por 250 principais fabricantes, que utilizam chassis de

50 diferentes fornecedores. Segundo os dados da OICA, a produção mundial de

ônibus atingiu 256.758 mil unidades no ano de 2005, com um aumento de 15% em

relação a 2004. A evolução da produção mundial é apresentada no Gráfico 7.2.

Gráfico 7.2 – Produção Mundial de Ônibus (1997-2005)

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Evolução da Produção Mundial de Ônibus

115,933

168,896

139,521

188,220172,948

198,178

221,436

244,329256,758

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fonte: OICA

Segundo os dados da OICA, em 2005 o Brasil tornou-se o segundo maior

produtor de ônibus do mundo, ao atingir a produção de 35.266 unidades. Logo em

seguida, com a terceira posição e uma produção de 34.259 unidades, ficaram os

EUA. A China com uma produção de 77.138, se firma como o maior produtor

mundial de ônibus. O Gráfico 7.3 mostra o comportamento da produção mundial

entre 1997 e 2005 dos 8 países que em 2005, eram os maiores produtores de

ônibus.

Gráfico 7.3 – Produção Mundial de Ônibus por País (1997-2005)

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Evolução da Produção Mundial de Ônibus por País

0

10,000

20,000

30,000

40,000

50,000

60,000

70,000

80,000

90,000

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

CHINA BRAZIL UNITED STATES OF AMERICA SOUTH KOREA RUSSIA JAPAN GERMANY SWEDEN TURKEY

Fonte: OICA

Os dados consolidados pela OICA não apresentam séries contínuas para

todos os países, exemplo EUA, como também não considera a produção de

alguns mercados com grande volume de ônibus fabricados, como a Índia e alguns

países do sudeste asiático. Como nem todos os países são membros da OICA por

meio de alguma associação, não existe um número absolutamente preciso que

forneça a real participação mundial.

Por outro lado, mesmo com as informações disponibilizadas já é possível

identificar que a produção de ônibus tem se concentrado em alguns países. No

Gráfico 7.4 observa-se que, entre 2003 e 2005, mais de 80% da produção mundial

de ônibus foi determinada por 8 países. O Brasil, em 2005, obteve 13,7% da

produção mundial.

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Gráfico 7.4 – Participação na Produção Mundial de Ônibus por País (2003-2005)

Participação no Mercado Mundial - Produção Ônibus

30.1% 32.2% 30.0%

12.2%11.8% 13.7%

12.6% 11.9% 13.3%

7.8% 7.7% 8.2%

7.4% 5.7% 5.0%

5.0% 6.0% 4.7%

5.2% 5.0% 4.6%

4.7% 4.1% 3.4%

3.6% 3.3% 3.3%

11.5% 12.2% 13.6%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005

Outros

SWEDEN

GERMANY

JAPAN

TURKEY

SOUTH KOREA

RUSSIA

UNITED STATES OF AMERICA

BRAZIL

CHINA

Fonte: OICA

A participação no mercado de ônibus por montadora é outro dado difícil de

ser conseguido pela base de dados da OICA. A dificuldade surge da falta de

homogeneidade em relação à definição de ônibus pela OICA. Dessa forma, para

efeito de participação de mercado, acabam-se misturando dentro de um mesmo

grupo, veículos com capacidade de passageiros diferentes ou com pesos em

toneladas diferentes.

Com dados da OICA de 2005, foi montada a Tabela 7.4, cujo objetivo é

mapear quais são os maiores fabricantes de ônibus e em quais países estão

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instaladas suas fábricas. Pela coluna “Tipo de Ônibus” da Tabela 7.4, é possível

perceber que existem diferenças entre os veículos produzidos pelos diversos

fabricantes, discriminando basicamente a capacidade de passageiros e o peso em

toneladas.

Ao se considerar apenas os fabricantes que definem e especificam seus

ônibus como veículos de 5 ou 6 toneladas, percebe-se que no ano de 2005 a

Daimler Chrysler (Mercedes Benz) foi o maior fabricante, seguido pela FIAT

(Iveco). Vale destacar, pela Tabela 7.4, que ambos os fabricantes possuem

operação no Brasil.

Outro desafio em analisar os números da produção mundial de ônibus, é

explicitar quanto foi produzido pelas fabricantes de chassis, pelas encarroçadoras

e pelas fabricantes de monoblocos, já que a montagem do ônibus é dividida,

geralmente, em dois tipos de empresas. A parte mecânica do ônibus, que

compreende a plataforma de sustentação e o sistema motriz, que é denominado

chassi, em geral, é fabricada pelas grandes montadoras mundiais que fabricam

também veículos leves e pesados. Já a carroceria, é produzida pela

encarroçadora, que também se encarrega do acabamento e da montagem final do

ônibus.

As maiores encarroçadoras fabricam, ainda, diversas peças e componentes

para a confecção de um ônibus, como perfis e partes plásticas, poltronas, janelas,

e diversos outros itens, com o objetivo de atender a necessidade dos clientes. As

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280

fabricantes de monoblocos são aquelas que fabricam o ônibus a partir de uma

única peça que compreende tanto o chassi como a carroceria.

As principais marcas mundiais de fabricantes de chassis estão presentes

no mercado brasileiro: a Mercedes-Benz (líder do setor), a Scania, a Volvo, a

Volkswagen (que fabrica esse tipo de veículo apenas no Brasil), Iveco (retornou ao

país em 2000) e a Agrale (de capital nacional). Na Tabela 7.4, pode-se observar a

produção dessas empresas no Brasil em 2005.

A General Motors e a Ford já participaram do mercado brasileiro, mas o

abandonaram. No Brasil, estas grandes montadoras estão associadas a Anfavea e

no que tange ao segmento de ônibus, fabricam apenas chassis. No entanto, até a

década de 1990, grande parte destas empresas produzia, também, monoblocos

no Brasil. A última a encerrar a produção de monoblocos (ônibus completos) no

Brasil foi a Mercedes Benz, fato ocorrido no ano de 1996.

Ainda no que diz respeito ao Brasil, o registro de um ônibus no

Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) é feito, na maioria dos casos, pelo

fabricante de chassi. Desta forma, como são as associadas da Anfavea que

compõem as estatísticas da OICA, a participação mundial de ônibus não

especifica no detalhe, a fatia correspondente a cada encarroçadora.

Os principais fabricantes de ônibus mundiais são Mercedes-Benz, Scania,

Volvo, Evobus, Irisbus, MAN (Neoplan), Van Hool, VDL Bus Groep (VDL Berkhof

Heerenveen, VDL Berkhof Valkenswaard, VDL BOVA, VDL Bus International, VDL

Jonckheere, VDL Kusters, APTS, VDL Coach & Bus Center and Busland),

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281

Salvador Caetano e Alexander Dennis. Todas estas fabricantes são sediadas na

Europa. Algumas pertencem a grandes conglomerados industriais, como é o caso

da VDL Bus, divisão de ônibus do grupo VDL, com um faturamento, em 2005,

equivalente a 45% (ou 450 milhões de euros) do Grupo VDL.

Em 2002, o maior grupo europeu, era o Evobus, controlado pela Daimler

Chrysler, e formada pela união das marcas Mercedes-Benz e Setra em 1995.

Neste ano, esta empresa alcançou 28,8% do mercado. Em 2002, a Irisbus

apresentou-se como o segundo maior grupo industrial de ônibus acima de três e

meia toneladas da Europa, com participação de 27,4% no total do mercado

europeu. A Irisbus é controlada pela Iveco, que engloba a fabricação de ônibus

originalmente da Fiat (Itália), Renault (França), Karosa (Eslováquia) e Ikarus

(Hungria). (Revista Abrati, n.35, Brasília, Dez. 2003, p. 42.). No ano de 2005, esta

empresa produziu 8.512 ônibus.

Em 2002, a terceira posição pertencia ao MAN (Neoplan), com 11,6% do

mercado europeu. Outra grande empresa do setor é a portuguesa Salvador

Caetano, que possui uma joint-venture com a Mercedes-Benz e produziu 2509

unidades no ano de 2006.

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282

Tabela 7.4 – Produção Mundial de Ônibus por Fabricante e País em 2005

PAÍS

MONTADORA

Cor

éia

do S

ul

Japã

o

Est

ados

Uni

dos

da

Am

éric

a

Bra

sil

Rus

sia

Chi

na

Sué

cia

Ale

man

ha

Méx

ico

Tur

quia

Fra

nça

Itália

Esp

anha

Rep

úblic

a T

chec

a

Pol

ônia

Can

adá

Arg

entin

a

Por

tuga

l

Áus

tria

Aus

trál

ia

Tot

al Tipo de Ônibus Fabricado

Hyundai 99,629 99,629 16 Passageiros

Daimler Chrysler 8,054 16,854 20,391 5,360 2,298 393 53,350 6 Toneladas

Toyota 52,237 52,237 10 Passageiros

FIAT 337 12,615 1,851 2,430 3,069 1,262 23 21,587 5 Toneladas

Gaz , Uralaz and Paz (Sibal)

14,081 14,081 6 Toneladas

Navistar 13,943 13,943 5 Toneladas

GM - Daewoo 10,760 10,760 16 Passageiros

Volvo 2,141 6,177 591 625 872 10,406 5 Toneladas

EVOBUS 5,258 527 1,356 168 7,309 6 Toneladas

Scania 2,753 3,047 341 6,141 5 Toneladas

Nissan 6,053 6,053 10 Passageiros

MAN 3,532 1,560 695 132 5,919 6 Toneladas

Iribus 1,864 958 1,334 1,640 5,796 5 Toneladas

VW 5,102 397 5,499 6 Toneladas

HINO 5,269 5,269 -

Isuzu 3,176 3,176 10 Passageiros

Nissan diesel 1,524 1,524 16 Passageiros

Total 110,389 76,313 30,797 30,724 14,081 12,615 9,224 8,790 6,689 5,709 4,821 4,027 3,952 1,640 1,320 872 393 168 132 23 322,679

Nota: É possível que existam algumas distorções entre a tabela acima e o Gráfico 3.3 – Produção Mundial de Ônibus por País (1997-2005). Apesar de todos os dados partirem da mesma fonte (OICA), diferentes relatórios foram utilizados. No caso da China, não foi identificado no relatório por montadora qual fabricante, além da FIAT, contribui para a produção de 77.138 ônibus no ano de 2005, como pode ser observado no gráfico 3.3.

Fonte: OICA

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283

7.1.2. Indústria de Ônibus no Brasil

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), instituído pela Lei

9.503, de 23 de Setembro de 1997, os ônibus são classificados como: veículo

automotor de transporte coletivo com capacidade para mais de vinte passageiros,

ainda que, em virtude de adaptações com vista à maior comodidade destes,

transporte número menor. Já a classificação de micro ônibus é: veículo automotor

de transporte coletivo com capacidade para até vinte passageiros.

No anexo 8.3 encontram-se as definições dos diversos segmentos de

ônibus – Urbano, Intermunicipal, Rodoviário, Micro, Midi e Mini.

Dada tais definições, pode-se dizer que os fabricantes de carrocerias de

ônibus desempenham um papel fundamental dentro do Brasil. De acordo com um

estudo do IPEA de 2003, 90% da movimentação e transporte de pessoas no Brasil

é realizada por meio de ônibus. O Brasil conta com uma rede viária pavimentada

com aproximadamente 130 mil quilômetros sobre um território com dimensões

continentais de aproximadamente 8,5 milhões de Km2. Segundo o IBGE, a

população brasileira em 2006 era de 186,7 milhões de habitantes.

Segundo os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em

2003, a frota de veículos automotores no Brasil era de 36.658.501 veículos, e de

acordo com o Anuário 2006 da Fenabrave, em 2006, a frota de ônibus ativa no

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284

Brasil totalizou 395.393 veículos, o que, por estimativa, representaria cerca de 1%

da frota nacional.

Segundo o Fenabrave, em 2006, a região sudeste era a região que

compreendia a maior frota, com 208.088 ônibus, uma parcela de 52,6% do total de

ônibus. No que diz respeito à idade, pode-se dizer que em 2005 havia um

envelhecimento na frota de todas as regiões do país, sendo a média nacional de

13,6 anos, como se observa no Gráfico 7.5.

Gráfico 7.5 – Frota Circulante de Ônibus por Região do Brasil em 2006

Frota Circulante de Ônibus no Brasil

74,045

208,088

19,214

63,85630,190

395,39315.7

13.1

11.4

13.0

14.813.6

Sul Sudeste Norte Nordeste Centro-Oeste Brasil

Frota Idade (anos)

Fonte: Anuário FENABRAVE 2006

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No Brasil, existem três grandes associações que representam os

interresses das empresas que fabricam ônibus no país. Estas são: a Anfavea, o

Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e

Rodoviários (Simefre) e a Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus

(Fabus). A Anfavea, como já mencionado, congrega as grandes montadoras

globais de veículos, que no caso brasileiro, são as principais fabricantes de

chassis de ônibus.

O Simefre foi constituído em 17 de setembro de 1934 teve seu

reconhecimento como entidade sindical em 15 de maio de 1941, pelo Ministério do

Trabalho e desempenha diversas atividades como órgão de classe. Reúne

empresas de todos os portes, localizadas em quase todos os Estados do País,

representando assim o universo dos fabricantes de materiais e equipamentos

ferroviários, rodoviários e de duas rodas do Brasil.

As encarroçadoras que estão associadas ao Simefre são as seguintes:

Busscar Ônibus S/A, Ciferal Indústria de Ônibus Ltda, Companhia Manufatureira

Auxiliar (CMA), Induscar Ind. e Com. de Carrocerias Ltda, Irizar Brasil Ltda,

Marcopolo s/a , Mascarello Carrocerias e Ônibus, Metalbus Indústria Metalúrgica

Ltda (Maxibus) e San Marino Ônibus e Implementos Ltda.

De acordo com do Simefre, vide Gráfico 7.6, percebe-se que ao longo das

últimas 3 décadas (1978-2006) a produção e exportação de carrocerias têm

aumentado, apesar de apresentar alguns momentos recessão, como o vivido no

meio da década de 1980, quando diversas encarroçadoras fecharam as portas.

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286

Na década de 1990, o setor apresentou um bom crescimento na produção

e elevou a fatia destinada às exportações ano a ano. As encarroçadoras

brasileiras abriram escritórios comerciais em diversos países, e os ônibus

brasileiros podem ser encontrados nos cinco continentes do planeta. A Marcopolo,

uma das maiores encarroçadoras brasileira, já havia exportado, até 2005, para

mais de 80 países. A partir deste contexto, pode-se dizer que o Brasil consolidou-

se como um dos maiores players nesta indústria no mundo.

Por outro lado, segundo os dados do Simefre, apesar de em 2006 ter

ocorrido um aumento na produção de carrocerias em 9% em relação a 2005,

ocorreu um decréscimo das exportações da ordem de 23% em relação ao mesmo

ano. Enquanto em 2005 as exportações representaram 37% da produção, em

2006, este valor passou para 26,1%.

Uma das principais causas da queda das exportações foi determinada pela

valorização da moeda brasileira, o Real, que tornou o produto brasileiro mais

oneroso e desta forma menos competitivo – em 2005, o dólar fechou o ano em R$

2,32 e em 2006, a cotação final no ano foi R$ 2,13, registrando uma queda de

8,2% (Fonte: Bacen).

Gráfico 7.6 – Produção e Exportação de Carrocerias de Ônibus (1978-2006)

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287

Produção e Exportação de Carrocerias de Ônibus (1978-2006)

0

5,000

10,000

15,000

20,000

25,000

30,000

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Vo

lum

e em

Un

idad

es

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Par

t. %

do

Mer

c. E

xter

no

na

Pro

du

ção

Produção Exportação Part % Mercado Externo

Fonte: SIMEFRE

A Fabus, outra entidade do setor, é uma associação que congrega os

fabricantes de carrocerias para ônibus no Brasil. Foi criada em 02 de Junho de

1.959 na cidade do Rio de Janeiro por sugestão do Sr. Fritz Weissmann, que na

ocasião era diretor-presidente da encarroçadora de ônibus Ciferal. Caio, Carbrasa,

Cermava, Ciferal, Cirb, Grassi, Metropolitana, Pilares e Vieira foram as empresas

que estiveram presentes na ata de fundação. No ano seguinte (1960) as

Carrocerias Nicola (Marcopolo) se juntou ao grupo e em 1966, Nielson, Eliziário,

Bons Amigos e Furcare passaram a integrar a associação. Somente mais tarde

vieram as encarroçadoras: Striuli, Caio Norte, Iasa e Incasel.

No anexo 8.4, segue a lista das empresas que participaram da fundação da

Fabus e o nome dos funcionários que as representavam. A lista dos ex-

presidentes dessa associação pode ser encontrada no anexo 8.5.

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288

De acordo com o estatuto da Fabus, sua missão é defender a classe,

subsidiar tecnologicamente os órgãos gestores e oferecer produtos com

segurança e conforto. Em 2006, as principais encarroçadoras de ônibus estavam

associadas à Fabus. A Tabela 7.5 apresenta quem são essas empresas, suas

logomarcas e algumas informações sobre elas; como o ano de fundação, onde se

localiza a sede e outras observações relevantes.

Tabela 7.5 – Empresas Associadas à Fabus em 2006

Logomarca EncarroçadoraAno de

FundaçãoUF Cidade Observações

Busscar Ônibus S.A. 1946 SC Joinville Chamava-se Carroceria Nielson até 1990

Induscar - Ind. e Com. de Carrocerias Ltda. (Caio)

1946 SP Botucatu Entrou em concordata em 1999. Passou a chamar-se Caio Induscar em 2001.

Marcopolo S.A. 1949 RS Caxias do Sul Chamava-se Nicola & Cia até 1971.

Ciferal Comércio, Indústria e Participações Ltda.

1955 RJ Duque de Caxias

Em 1999, teve 50% do seu controle adquirido pela Marcopolo. Em 2001, os outros 50% foram adquiridos.

Comil Carrocerias e Ônibus Ltda.

1985 RS Erechim Massa falida da encarroçadora Incasel, leiloada em 1985.

San Marino Ônibus e Implementos - Neobus Ltda.

1991 RS Caxias do Sul Em 1999 a San Marino compra a Neobus (SP). Em Fev/2007, 39,59% do controle é adquirido pela Marcopolo.

Irizar Brasil Ltda. 1998 SP Botucatu Única estrangeira no Brasil. Pertence ao grupo espanhol Irizar.

Mascarello Carrocerias e Ônibus

2003 PR Cascavel Ex-controlada da Comil. Passa a ser uma empresa independente em 2003.

Fonte: Fabus, Panorama Setorial, Site das Empresas.

Em 2006, as carrocerias eram fabricadas por oito principais grupos: 1)

Marcopolo/Ciferal, 2) Caio-Induscar, 3) Busscar, 4) Comil, 5) Mascarello, 6) San

Marino/Neobus (em fevereiro de 2007, a Marcopolo adquiriu 39,59% do controle),

7) Irizar e 8) Metalbus (Maxibus) - empresa fundada em 1995, sediada em Flores

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da Cunha (RS), que não está associada à Fabus, mas ao Simefre. Além destas,

duas grandes empresas de transporte de passageiros e de cargas possuem

encarroçadoras próprias (CALANDRO, Maria; CAMPOS, Silvia, 2003).

Uma delas é a Viação Cometa, que passou a fabricar seus ônibus em 1985,

pois seu fornecedor, a Ciferal, havia falido em 1982. Desde então, sua própria

encarroçadora, a Companhia Manufatureira Auxiliar (CMA), associada ao Simefre,

tem fabricado ônibus exclusivamente para a Viação Cometa. (Panorama Setorial,

Gazeta Mercantil, v. II, p. 46, 1999). A Itapemirim foi outra companhia que montou

sua própria encarroçadora, cujo nome é Tecnobus. Apesar de encontrar-se inativa

em 2007, a Tecnobus, que começou a operar em 1983, fabricou grande parte da

frota do grupo Itapemirim.

Segundo a Fabus, no ano de 2006, a Marcopolo/Ciferal foi o maior produtor

de carrocerias no Brasil (não inclui a produção das fábricas sediadas em outros

países), atingindo a produção de 8.242 unidades, sendo 4.999 da Marcopolo e

3.243 da Ciferal. Tal produção consolidada equivale a equivale a 22,6 ônibus por

dia (8.242 ônibus/365 dias). Em segundo lugar esteve a Caio-Induscar com 5.964

unidades, e em seguida Busscar e Comil, com a produção de 3.996 e 2.221

unidades respectivamente.

No Gráfico 7.7, observam-se as produções brasileiras das cinco maiores, e

também, as mais antigas encarroçadoras de ônibus. Nota-se que ano de 2001, a

encarroçadora Caio-Induscar esteve desativada, o que elevou a fatia de mercado

de suas concorrentes naquele ano. Vale ressaltar que com a aquisição da Ciferal

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290

(2001) e com o processo de internacionalização, a Marcopolo vem remanejando

sua produção para outras fábricas – para a própria Ciferal e para fábricas

localizadas em outros países – o que explica a queda de produção nos últimos

anos.

Gráfico 7.7 – Evolução da Produção no Brasil das Principais Encarroçadoras de Ônibus (1971-2006)

Evolução da Produção - Principais Encarroçadoras de Ônibus (FABUS)

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

MARCOPOLO INDUSCAR (ex-CAIO) BUSSCAR CIFERAL COMIL

Fonte: Fabus

Em 2005, a San Marino/Neobus e a Mascarello, que são empresas mais

recentes (vide Tabela 7.5) associaram-se à Fabus. O Gráfico 7.8 mostra a

participação na produção brasileira das empresas associadas à Fabus nos anos

de 2005 e 2006, e por meio dele, observa-se que a encarroçadora San

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291

Marino/Neobus obteve expressivos 11% da produção nacional, em unidades, no

ano de 2006.

Entre 2005 e 2006, segundo os dados da Fabus, o crescimento da

produção nacional foi de 10,1%, passando de 22.231 para 24.478 unidades.

Nesse período, as empresas que obtiveram maiores crescimentos, nesta ordem,

foram: Busscar (38,5%), San Marino/Neobus (20,4%), Mascarello (18,1%) e Caio-

Induscar (7,7%). Por outro lado, as empresas que apresentaram menores taxas de

crescimento, ou até mesmo decrescimento na produção, foram: Ciferal (3,8%),

Marcopolo (3,1%), Comil (-5,2%) e Irizar (-6,8%).

Gráfico 7.8 – Participação na produção brasileira de ônibus em 2005 e 2006

Evolução - Participação Produção Nacional (FABUS)**O Volare e o Furgão não são computados para efeito de participação de mercado

25% 24%

22% 20%

13% 16%

14% 13%

10% 11%

11% 9%

4% 4%2% 2%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2005 2006

IRIZAR

MASCARELLO

COMIL

SAN MARINO - NEOBUS

CIFERAL

BUSSCAR

MARCOPOLO

INDUSCAR (ex-CAIO)

Fonte: Fabus

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Examinando a produção nacional de ônibus por encarroçadora, percebe-se

que estas empresas competem (ou competiram) em sete segmentos (ou

categorias) distintos de ônibus; sendo estes: Urbano, Rodoviário, Intermunicipal,

Micro, Mini-Ônibus, Especial e Trolebus. Essa distinção permite um melhor

entendimento do mercado brasileiro. O Gráfico 7.9 apresenta a evolução da

produção da indústria brasileira dividida pelos sete segmentos de ônibus, que

fazem ou fizeram parte da indústria.

Ao longo dos anos, nota-se que os ônibus urbanos, seguidos pelos

rodoviários foram os mais produzidos. No entanto, comparando os anos 2001 e

2006, nota-se que foram os ônibus micro que obtiveram o maior crescimento, com

incremento de 60%. Já no último ano (2006), foi o segmento de ônibus

intermunicipais, o qual apresentou maior crescimento dentro da indústria, de 90%,

atingindo 992 unidades. Já os segmentos Especiais e Trolebus, em nenhum

momento mostraram-se relevantes no total da produção de carrocerias no Brasil.

Gráfico 7.9 – Evolução da Produção no Brasil por Tipo de Carroceria (1971-2006).

Page 309: DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO … · período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo. No entanto, diversas foram as empresas

293

Evolução da Produção por Tipo de Carroceria

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

URB. ROD. MICROS INTER. MINI-ÔNIBUS TROL. ESPEC.

Fonte: Fabus

Nos últimos trinta e seis anos (1971 – 2006), é possível perceber diversos

movimentos das encarroçadoras dentro do mercado de ônibus. Nesse período,

aquisições foram feitas, fábricas foram montadas e marcas foram criadas com o

objetivo de ajustar a produção das encarroçadoras às mudanças na demanda. Na

Tabela 7.6 foram selecionados determinados períodos da produção nacional de

ônibus para ilustrar a atuação das encarroçadoras nos principais segmentos –

Urbano, Rodoviário, Micros e Mini-Ônibus. Empresas que atuam em todos os

segmentos são chamadas de full-liner.

A tabela completa, com a evolução entre os anos de 1971 a 2006 da

participação nacional, por segmento e encarroçadora, encontra-se no anexo 8.6.

No anexo 8.6, também foram apresentados os dados dos segmentos

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294

Intermunicipal, Especial e Trolebus, excluídos da Tabela 7.6, por refletirem

participações de menor relevância.

De acordo com a Tabela 7.6, o segmento de Urbanos teve seu auge na

participação nacional no início da década de 1990, porém apresentou um

decréscimo na participação nacional nos anos seguintes. Em 2006, este segmento

representou 51,8% da produção. Já a participação do segmento Rodoviário se

manteve estável, quase sempre entre 25 e 35%, ao longo da série. Vale ressaltar

que os ônibus rodoviários são aqueles de maior valor agregado e maior preço.

A partir do final da década de 1990, os segmentos Micro e Mini vêm

ampliando sua participação na indústria. Nota-se nesse período que algumas

empresas passaram a se posicionar também nestes segmentos. Em 2007, a

maioria das encarroçadoras atua em todos os segmentos, ou seja, são full-liners,

porém com intensidades diferentes.

Avaliando pela Tabela 7.6 a produção nacional de ônibus no ano de 2006,

nota-se que no segmento de Urbanos, a Caio –Induscar é líder com 38,6% da

produção, superando o grupo Ciferal e Marcopolo que possui 30,9% (Ciferal conta

com 24,1% e Marcopolo 6,8%). O segmento de Rodoviários é liderado pela

Marcopolo (42,6%), que é seguida pela Busscar (33,1%). O segmento de Micros

tem a San Marino/Neobus como líder (29,8%) e o de Minis é liderado pela

Mascarello (29,4%).

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Tabela 7.6 – Evolução do market share das encarroçadoras por segmento de ônibus

Década de 70 Década de 80 Década de 90 Anos 2000Segmento Encarroçadora 1971 1976 1981 1986 1991 1996 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Urbanos Marcopolo 16.1% 22.1% 18.9% 14.0% 18.5% 24.3% 35.7% 30.6% 27.6% 10.6% 10.6% 6.8%

Caio Induscar 38.8% 33.5% 41.8% 53.5% 32.3% 40.2% 0.0% 33.2% 43.5% 50.2% 40.0% 38.6%

Ciferal 6.9% 9.3% 8.0% 16.6% 15.3% 16.8% 22.3% 17.9% 18.6% 28.4% 22.9% 24.1%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.7% 15.3% 32.7% 10.7% 4.0% 4.5% 7.0% 11.2%

Comil 1.4% 1.9% 2.4% 0.5% 1.5% 3.3% 9.2% 7.6% 6.4% 6.3% 8.6% 7.1%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 6.9% 8.9%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 4.0% 3.3%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Urbanos na Indústria

61.1% 60.5% 53.6% 53.4% 71.6% 73.2% 52.1% 55.7% 54.7% 52.7% 55.3% 51.8%

Rodoviários Marcopolo 35.4% 38.9% 43.7% 44.0% 48.4% 52.8% 57.8% 65.0% 65.0% 54.5% 44.7% 42.6%

Caio Induscar 2.4% 7.8% 1.9% 1.5% 0.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.8% 2.9% 3.7% 3.5%

Ciferal 47.2% 22.4% 13.0% 4.3% 1.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Busscar 9.6% 15.7% 33.6% 44.1% 40.8% 35.5% 34.4% 15.0% 9.9% 16.0% 29.9% 33.1%

Comil 5.4% 7.3% 7.7% 4.8% 8.9% 11.6% 7.9% 10.6% 13.5% 17.6% 13.2% 12.2%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.3%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% 0.1%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.5% 10.7% 9.0% 8.4% 7.2%

Part % Rodoviários na Indústria

32.6% 31.6% 28.4% 37.7% 23.6% 22.1% 30.4% 25.8% 24.7% 29.8% 26.9% 26.3%

Micros Marcopolo 45.5% 18.2% 16.8% 45.7% 73.6% 65.8% 60.4% 52.3% 55.8% 53.3% 24.7% 22.9%

Caio Induscar 54.5% 77.4% 75.7% 54.3% 25.5% 34.0% 0.0% 23.2% 25.8% 23.6% 12.4% 19.0%

Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.9% 0.2% 0.0% 0.0% 0.0% 3.9% 2.4% 2.0%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 24.8% 6.9% 2.5% 5.3% 8.2% 11.8%

Comil 0.0% 4.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 14.9% 17.7% 15.9% 13.8% 10.5% 6.5%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 32.7% 29.8%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.1% 8.0%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Micros na Indústria

5.1% 5.7% 15.2% 7.8% 4.6% 3.0% 13.9% 13.1% 16.8% 15.4% 12.5% 15.2%

Mini-Ônibus Marcopolo 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 8.2% 12.8% 2.0% 0.5% 0.8% 0.0%

Caio Induscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 19.9%

Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 49.3% 60.5% 63.1% 57.9% 29.0% 18.5%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Comil 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 42.5% 26.7% 34.9% 41.5% 19.2% 10.3%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 37.9% 21.9%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 13.1% 29.4%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Mini-Ônibus na Indústria

0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 3.6% 5.4% 3.8% 2.1% 3.0% 2.6%

Notas:Os dados da Marcopolo incluem Carrocerias Elizário (comprada em 1971 e encerrada em 1986) e Marcopolo Minas (encerrada);Caio Inuduscar inclui Caio Norte e Caio Rio (ambas encerradas);Ciferal inclui Reciferal (encerrada)Os segmentos Intermunicipal, Especiais e Trolebus, com participações de mercado mais discretas, não foram incluídos nesta análise.

Fonte: Fabus

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7.1.3. A História da Indústria

O registro da história da indústria de ônibus no Brasil está descrito a seguir.

É digno ressaltar que esta exposição não é uma completa reunião das

informações coletadas, sendo um filtro da variada bibliografia pesquisada. O

objetivo desta seção é identificar os acontecimentos que marcaram e

transformaram a economia e a indústria brasileira nas últimas décadas e assim

descrever a como foi a evolução do setor de carrocerias de ônibus no Brasil.

As principais fontes de informação utilizadas para a descrição do histórico

da indústria foram:

• Os estudos setoriais A Indústria do Ônibus da Gazeta Mercantil

(Análise Setorial: A Indústria de Ônibus, Volume I e Volume II;

Panorama Setorial, Gazeta Mercantil, Out. 1999);

• O livro comemorativo dos 50 anos da Anfavea (ANFAVEA. Indústria

Automobilística Brasileira: 50 Anos, 2006),

• O artigo Complexo Automotivo do BNDES (SANTOS, Angela;

BURITY, Priscilla. BNDES 50 Anos - Histórias Setoriais: O Complexo

Automotivo, Dez. 2002);

• O suplemento especial de 50 anos da indústria automobilística no

Brasil (Indústria Automobilística: 50 Anos de História; Suplemento

Especial, Gazeta Mercantil, 18 Set. 2006);

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• O anuário da Anfavea com os dados mais atualizados da indústria

(ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira, 2006);

• Livro comemorativo dos 50 anos da Marcopolo (Marcopolo: Meio

século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999).

7.1.3.1 Os Primórdios do Ônibus

A primeira vez que se utilizou a palavra ônibus foi na França em 1826. O

autor foi Stanislas Baudry, cidadão que fazia o transporte de pessoas, por meio de

veículos de tração animal entre a cidade de Nantes e o balneário de Richebourg.

A parada final, em Nantes, se localizava próxima a um armazém que se chamava

Omnibus, propriedade de um sujeito chamado Omnes.

A palavra omnibus tem origem no latim e significa para todos. Relata-se

que Baudry teria se apropriado da palavra com a intenção de associá-la a seus

veículos e ao local de saída. Em janeiro de 1828, Baudry, junto com seus sócios,

criou uma rede de serviços em Paris que se chamava L’Entreprise des Omnibus.

Após isso, esse nome foi adotado também por outros operadores para designar os

veículos de transporte.

Os primeiros ônibus datam do final do século XIX e início do século XXI, e

foram fabricados pela Mercedes-Benz, na Alemanha. Em 1895, foi Karl Benz

quem construiu o primeiro ônibus com motor a explosão que se tem notícia.

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Assim, com o passar do tempo, os ônibus foram se modernizando e segmentando,

e passaram a adquirir características específicas para atender às diversas

finalidades e aos mercados que foram surgindo.

Em 1837, começa a história do ônibus no Brasil com a chegada ao Rio de

Janeiro do ônibus com dois andares puxado por burros, importado da França. No

ano seguinte, ainda no Rio de Janeiro, foi fundada a primeira empresa de

transporte coletivo do País, a Companhia de Omnibus, cujos veículos também

eram puxados por burros.

Apenas em 1900, o transporte coletivo se moderniza com a instalação, em

São Paulo, da primeira linha de bondes elétricos, operados pela The São Paulo

Tranway, Light & Power Co. Ltda. Tais ônibus ainda não se assemelhavam

àqueles de motor de explosão e rodas de borracha maciça da Daimler-Motoren-

Gesellschaft, que em 1905 começaram a circular em Berlim e Paris, para mais

tarde se espalharam pelo mundo.

No Brasil, a presença dos primeiros veículos motorizados data de 1904,

com a importação dos automóveis modelo A, fabricados pela Ford dos Estados

Unidos. Nesse período, o transporte coletivo de passageiros era realizado por

veículos de tração animal. O primeiro ônibus, embora ainda sem esta designação,

foi construído pelos irmãos Luiz e Fortunato Grassi em 1911. Sua finalidade era

atender o transporte por carruagens. Este veículo foi montado com o chassi do

caminhão francês Dion-Bouton, além de uma carroceria aberta nas laterais e

bancos de madeira.

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Somente em 1924, treze anos mais tarde, tal experiência foi repetida por

Quirino, filho de Luiz Grassi. Ele construiu uma jardineira em madeira para 12

passageiros sobre o chassi do caminhão Ford T, com capacidade para 12

pessoas. Naquela época, já havia as primeiras indústrias de autopeças. Em 1927,

José Massa, italiano de 23 anos, ingressou como eletricista e mecânico na Grassi

S.A. Indústria e Comércio, e por lá permaneceu por 18 anos.

Após sua saída, junto com dois irmãos, ambos revendedores da Ford, José

Massa abriu uma fábrica de carrocerias, a Caio. A Figura 7.1 mostra uma foto de

um ônibus da década de 1930. Até 1970, quando encerrou suas atividades, a

Grassi era uma das mais importantes encarroçadoras de ônibus do País.

Figura 7.1 – Ônibus do tipo "mamãe me leva" construído pela Grassi

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Fonte: Museu Virtual do Transporte Urbano - http://www.museudantu.org.br/

Em 1932 a General Motors lança o primeiro ônibus com carroceria

fabricada no Brasil. Até a década de 1950 foram importados milhares de ônibus

montados e chassis, que foram encarroçados localmente. As primeiras

importações volumosas de chassis curtos de caminhões, adaptados para ônibus,

foram feitas em 1950 por Alfred Juzykowski, no Rio de Janeiro. Uma dos principais

empregos desses chassis leves, para caminhões de seis toneladas, era na

fabricação de lotações - microônibus que marcaram época no transporte urbano,

principalmente na cidade do Rio de Janeiro. O sucesso do negócio fez com que

Jurzykowski instalasse uma linha de montagem também em São Paulo e em 1953

fundasse a Mercedes-Benz do Brasil.

Em 12 de janeiro de 1946, a Companhia Americana Industrial de Ônibus

(Caio) iniciou suas atividades com 120 funcionários, em um barracão no bairro

industrial do Brás em São Paulo. Em 30 dias foi produzida a primeira carroceria e

um ano depois, a produção já era de 12 por mês. Em 1948, a empresa construiu

uma fábrica maior, que começou a operar em 1952.

Também no ano de 1946, em Joinville, Santa Catarina, os irmãos

marceneiros e de ascendência sueca Augusto Bruno Nielson e Eugênio Nielson

começaram a produzir móveis, esquadrias e balcões de madeira. No ano seguinte,

começaram a reformar carrocerias de ônibus, e logo em seguida, também

passaram a produzir cabines para caminhão e camionetas também em madeira.

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Em 1949, a Marcenaria Nielson & Irmão fabricou a primeira carroceria de madeira

para ônibus.

Em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, neste mesmo ano de 1949, surgiu a

Nicola & Cia. No ano seguinte, já contava com 16 funcionários que produziam

carrocerias de madeira sobre chassis de caminhão, pois não havia no mercado

brasileiro chassis especiais para ônibus. Seu primeiro ônibus levou 90 dias para

ser montado. Nessa época, as jardineiras de madeira possuíam bancos revestidos

de couro, motor isolado à frente da carroceria e as janelas com grade. Os modelos

rodoviários possuíam bagageiro externo no teto e o acesso era feito por uma

escada instalada na traseira do veículo.

As primeiras carrocerias de estrutura metálica surgiram em 1952,

desenvolvidas pelo projetista de Ruggero Cardarelli, cuja base de vigas em “U”

sustentava todo o conjunto. As ferramentas foram construídas internamente e as

chapas de 1,8 milímetros (mm) de espessura e os perfis em formato ômega eram

dobrados por viradeiras manuais. A madeira também foi substituída pelo plástico

no revestimento interno da carroceria. Com essas modificações, a carroceria ficou

50% mais leve em relação àquelas de madeira, o que acabou permitindo uma

ampliação da capacidade de passageiros. Na Nicola & Cia, as primeiras

carrocerias de aço também foram produzidas em 1952 sobre chassis de ônibus já

fabricados no Brasil.

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7.1.3.2 Surgimento da Indústria de Autopeças

Na década de 1920, tem início a fabricação de autopeças para prover a

reposição dos componentes dos veículos importados. As primeiras empresas de

autopeças produziam baterias e faróis. Em 1951, foi criada a associação industrial

do setor que, mais tarde, deu origem ao Sindicato Nacional da Indústria de

Componentes para Veículos (Sindipeças) - o representante oficial do setor. No

entanto, a indústria de componentes foi fortalecida no Brasil, somente após a

consolidação da produção de veículos automotores, que se deu no final da década

de 1950.

Inspiradas no modelo nacionalista vigente com o governo Getulio Vargas no

Estado Novo, as indústrias de autopeças foram atuantes na modernização da

legislação do setor, com a criação dos chamados acordos horizontais. Em 1952,

no segundo mandato de Getulio Vargas foi criada a Subcomissão para Fabricação

de Jipes, Tratores, Caminhões e Automóveis. Este decreto estabelecia o

predomínio do capital nacional para os fornecedores de autopeças como, também,

contratos de longo prazo para o fornecimento de componentes, o que beneficiou a

evolução do setor.

Essa proteção da indústria que era conduzida por um índice obrigatório de

nacionalização dos veículos, fez com que as montadoras transferissem tecnologia

e ensinassem novos métodos de organização às empresas brasileiras, o que

gerou diversos impactos favoráveis, como a profissionalização do setor. As

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indústrias de autopeças, por trabalharem para diversas montadoras, aprenderam a

produzir uma grande variedade de componentes em pequenos volumes e por

meio de diferentes estilos de produção. Tal versatilidade foi mais tarde decisiva

para a exportação de peças de reposição e componentes.

A década de 1960, que se iniciou com a posse e logo a renúncia do

presidente Jânio Quadros, continuou desfavorável pelo curto período do mandato

do presidente João Goulart. Foi um período de instabilidade tanto política quanto

econômica, com indicadores inflacionários altos, e que acabou culminando em um

golpe militar. Em conseqüência disso, a indústria automobilística acabou

passando por período difícil. Em 1964, a inflação chegou a 100%, e as

montadoras foram acusadas de praticar abusos de preços e de serem as

principais responsáveis pela inflação.

Nessa época, as montadoras forçaram o rompimento da tutela do Estado

sobre o setor de autopeças, e romperam contratos exclusivos e de longo prazo.

Isto lhes permitiu buscar novos fornecedores, e as empresas de autopeças foram

postas umas contra as outras para forçar a queda nos preços de componentes.

Em decorrência disso, as montadoras passaram a dividir com os fornecedores a

responsabilidade pelo controle de estoques e transferiram a eles parte do risco

dos investimentos.

No começo do regime militar, a política econômica adotada pelo ministro da

Fazenda Roberto Campos era claramente favorável ao capital estrangeiro, o que

implicou na fusão entre as montadoras com o objetivo de fortalecer a atividade

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industrial. Em 1967, de 11 montadoras restaram 7, e como efeito muitos

fornecedores acabaram perdendo seus clientes.

As montadoras se fortaleceram e conseguiram baixar o índice obrigatório

de nacionalização de seus veículos para 85% e em seguida aumentaram o grau

de verticalização. O então ministro da Fazenda Antonio Delfim Neto, oriundo da

mesma escola de Roberto Campos, aproveitou-se dessa conjuntura para criar o

Programa de Benefícios Especiais para o Financiamento às Exportações (Befiex).

O grau de verticalização aumentou, provocando o fortalecimento do cartel

da indústria automobilística. Os incentivos fiscais e as facilidades de importação

previstas no programa beneficiaram apenas grandes fábricas de autopeças de

capital nacional e multinacional e as próprias montadoras. No fim da década de

1960, o pequeno grupo de montadoras respondia por mais de 50% das autopeças

consumidas por elas mesmas.

A intervenção do Estado sobre o setor automotivo se fortaleceu via controle

de preços e trouxe a volta do sentimento nacionalista, em uma segunda fase do

regime militar. Com isso visava-se ao fortalecimento das empresas de capital

nacional. O Controle Interministerial de Preços (CIP) foi criado, e assim passou-se

a exigir que as empresas solicitassem aumento de preços. Esta solicitação podia

ser ou não autorizada.

Com a finalidade de proibir as montadoras de integrarem verticalmente os

produtos que vinham sendo adquiridos de fornecedores, em 1979, o presidente

Ernesto Geisel baixou a resolução 63. Depois de sentar com o setor de autopeças,

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o governo passou a dificultar os pedidos das montadoras e começou a limitar as

importações. Por outro lado, acabou provocando a formação de um cartel do

segmento de autopeças. A cartelização possibilitou às grandes empresas

expandir suas exportações, que atingiram 5% da produção.

A década de 1980 foi marcada pela estagnação de indústria

automobilística, com poucos lançamentos de produtos e contração da produção.

Em compensação, o início da década de 1990 foi marcado pela abertura das

importações pelo governo Fernando Collor de Mello, o que levou as montadoras e

indústrias de autopeças a modernizar seus produtos, implementar programas de

implantar de qualidade e desenvolver a produtividade. Tais iniciativas tinham como

finalidade colocar os produtos brasileiros no mesmo nível dos importados.

A modernização do parque automotivo exigia volumosos investimentos. No

entanto, por falta de recursos, as indústrias de autopeças começaram a ser

absorvidas por empresas maiores e, mais tarde, pelo capital internacional.

Empresas até então líderes em seus segmentos como Cofap e Metal Leve foram

adquiridas pela Fiat e Mahle, respectivamente.

7.1.3.3 A Formação da Indústria Automobilística

A importação de veículos antecedeu a indústria de autopeças. Em 1904,

inúmeros veículos da marca Ford já circulavam pelas ruas estreitas do Rio de

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Janeiro, em particular o modelo A, primeiro automóvel criado por Henry Ford. Em

1919, a Ford montou sua primeira linha de montagem no Brasil e começou a

importar veículos desmontados em kits completos (CKD) ou parcialmente

montados (MKD). A General Motors começou a importar veículos desmontados

em 1925.

O ritmo de importação e montagem só esfriou com a crise de 1929. No

entanto, o primeiro período Vargas mostrou interesse pela industrialização com a

construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para produzir aço e

estimular a indústria nacional. A CSN, construída em Volta Redonda (RJ), foi

inaugurada em 1941. A importação de veículos desmontados retornou no começo

dos anos 30 e persistiu até o final da década, quando se iniciou a Segunda Guerra

Mundial.

Durante a guerra, as importações foram interrompidas. Terminada a guerra,

foram retomadas e prosseguiram até 1959 - os veículos procediam também de

países europeus, além dos Estados Unidos. A partir daí, a produção local teve

início, com a indústria automobilística praticamente instalada. O mesmo Estado

Novo transformou a Fábrica Nacional de Motores (FNM), que produzia e

conservava motores de aviões durante a guerra, em uma montadora estatal de

caminhões. A produção de ônibus começou na década de 1940, com as primeiras

carrocerias de madeira montadas sobre chassis de caminhões. Estes chassis

foram primeiramente importados, mas depois passaram a ser fornecidos pela

indústria local.

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A construção do trecho da BR – 116, ligando o Rio de Janeiro (então a

capital da República) a São Paulo por Eurico Gaspar Dutra (1946-50), que depois

levou de rodovia Presidente Dutra, e as rodovias Anhanguera e Anchieta, pelo

governo paulista, unindo a capital paulista ao litoral a ao interior, foram mais um

estímulo ao desenvolvimento da indústria automobilística. A campanha de

nacionalização do petróleo do segundo período Vargas (1951-54) e a Comissão

de Desenvolvimento Industrial se somaram ao desejo de produzir veículos

automotores no Brasil. Em 1948, a CSN já produzia 480 mil toneladas de aço por

ano.

Em 1952, o presidente Vargas baixou as primeiras medidas restritivas às

importações, por meio do Aviso no 288 do Banco do Brasil, o qual proibia a

importação de componentes automotivos similares aos produzidos no Brasil. O

presidente tinha por objetivo conter o desequilíbrio da balança de pagamentos,

que se agravava com as importações. Em 1953, o Aviso no 311, da Carteira de

Comércio Exterior (Cacex), proibia a importação de veículos montados.

Em 1954, Vargas instituiu a Subcomissão para a Fabricação de Jipes,

Tratores, Caminhões e Carros, liderada pelo almirante Lúcio Meira, para

desenvolver uma estratégia de industrialização de veículos automotores no Brasil.

As tradicionais importadoras resistiram às ameaças do governo para não

instalarem fábricas no Brasil, o que gerou queixas por parte de Lúcio Meira. Ele

acreditava que ao obrigar as montadoras, as fábricas acabariam sendo instaladas.

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Ao assumir em 1956, o presidente da Republica, Juscelino Kubitschek,

baixou alguns decretos fixando a taxa de câmbio, racionando recursos para

importações de produtos automotivos e habilitando apenas as empresas que

atendessem às exigências do índice de nacionalização. Para fiscalizar o

cumprimento dessas determinações criou o Grupo Executivo para a Indústria

Automotiva (GEIA), com mais poderes do que a subcomissão criada por Getulio

Vargas em 1954.

O GEIA foi presidido pelo então ministro da Viação e Obras Públicas, o

almirante Lúcio Meira. O GEIA ganhou destaque no Plano de Metas do novo

governo. Além do ministro Lúcio Meira, o GEIA era composto pela

Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), pela Carteira de Comércio do

Banco do Brasil (Cacex), pelo Ministério da Guerra, pelo Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico (BNDE) e pelo Conselho de Política Aduaneira.

No momento da criação do GEIA, algumas montadoras já operavam no

Brasil, como a Fábrica Nacional de Motores (FNM), no Rio de Janeiro desde 1949;

a Willys Overland do Brasil e Vemag, de capital nacional; a Mercedes Benz, a

Scania Vabis e a Sinca, de capital misto, que eram associadas a empresas

brasileiras. Havia também Ford, General Motors, International Harvester,

Volkswagen e Toyota, todas de capital estrangeiro.

Essas montadoras tiveram que submeter seus projetos de produção e de

veículos ao GEIA. O consumo com importação girava em torno de US$ 200

milhões e o governo Kubitscheck se dispôs a diminuir essa quantia,

Page 325: DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO … · período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo. No entanto, diversas foram as empresas

309

nacionalizando os veículos por meio da substituição de componentes importados

por outras fábricas do Brasil.

Sua meta era obter em cinco anos 95% da nacionalização em peso dos

automóveis e 90% em peso dos caminhões. Não há menção quanto aos ônibus,

cujos fabricantes de carrocerias eram de capital nacional. No entanto, como os

chassis naquela época eram derivados dos caminhões, as regras deveriam ser as

mesmas desses veículos. O decreto no 39.568, de 12 de junho de 1956,

estabelecia prazos para os índices de nacionalização para os caminhões que

ficavam mais rígidos ano a ano. Os prazos e os índices determinados podem ser

vistos na Tabela 7.7.

Tabela 7.7 – Data de vigência e índices determinados para a nacionalização de caminhões

Data de Vigência Índice de Nacionalização

31 de dezembro de 1956 35%

1º de julho de 1957 40%

1º de julho de 1958 65%

1º de julho de 1959 75%

1º de julho de 1960 90%

Fonte: Panorama Setorial

Somente em 14 de maio de 1997, por meio da Medida Provisória no 1.532-

22 transformada em Lei no 9.449, o índice de nacionalização dos veículos

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310

produzidos no Brasil baixou de 90 para 60%. Nesse momento, terminava-se o

ciclo de proteção à industria nacional, vigente por 40 anos. Como efeito, a

indústria nacional inseriu-se no global sourcing – modelo de compras que permite

às montadoras se abastecerem com peças e componentes das mais diversas

origens, visando à redução de custos.

Em 1956 o parque industrial de autopeças produzia baterias e velas de

ignição, além de peças de reposição. Estes componentes não representavam 30%

do peso de um veículo. Para estimular a instalação das fábricas no Brasil, o

governo federal permitiu o ingresso de máquinas e equipamentos sem cobertura

cambial. As montadoras utilizaram-se por vários anos desta prerrogativa para

aumentar suas remessas ao exterior. Além disso, importavam componentes em

valores mais altos do que os praticados no mercado, o que impactava a balança

de pagamentos. As despesas de importação totalizaram US$ 70 milhões no

primeiro ano, justamente o dobro da quantia programada.

Em 1957 a ociosidade das fábricas chegou a 67%, o que encareceu os

preços dos veículos. Neste momento o GEIA abriu uma sindicância para apurar os

motivos dos altos preços dos veículos brasileiros. Por meio da Resolução no 41 do

GEIA, teve início a restrição de produção de dois veículos que competiam na

mesma categoria pela mesma fábrica.

Em 1964, foi alcançada a produção acumulada de um milhão de veículos

produzidos no Brasil (1957 – 1964). Essa marca foi atingida através das 11

montadoras e 1.600 fábricas de autopeças instaladas no ABC Paulista (Santo

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311

André, São Bernardo e São Caetano). Nessa época, esse parque automotivo

contava com 46 mil pessoas empregadas e formava a região com maior

concentração industrial do país.

No final da década de 1960, o país passou a deter o maior parque industrial

automotivo da América Latina e uma indústria de autopeças capaz de abastecer

99% das necessidades das montadoras. A produção, que em 1957 foi de apenas

de 30.542 veículos, saltou para 145.548 em 1961, vide Gráfico 7.10. A década de

1960 também foi marcada por fusões na indústria automotiva, como, a Chrysler

que comprou a Sinca; a Volkswagen, a Vemag; a Ford, a Willys; e a Alfa Romeo, a

FNM.

Gráfico 7.10 – Comparação da Produção Total de Veículos e Ônibus no Brasil (1957-2005)

Produção de Veículos (Total) vs Produção de Ônibus**Inclui ônibus completos, chassis e carroçarias

0

500,000

1,000,000

1,500,000

2,000,000

2,500,000

3,000,000

3,500,000

4,000,000

1957

195819

59196

019

61196

219

6319

6419

6519

6619

6719

68196

919

70197

119

7219

7319

7419

75197

619

7719

7819

7919

8019

8119

82198

319

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519

8619

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8919

9019

9119

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9319

94199

519

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719

9819

9920

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05

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ção

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0

5,000

10,000

15,000

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25,000

30,000

35,000

40,000

Pro

du

ção

de

Ôn

ibu

s

TOTAL ÔNIBUS

Fonte: Anfavea - Anuário 2006

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312

No período de 1968-73, conhecido como Milagre Brasileiro, a produção

automotiva saltou de 279.715 veículos para 750.376. Em 1978, foi ultrapassada

pela primeira vez a barreira de um milhão de veículos, com 1.064.014 unidades

produzidas neste ano. Em seguida, o governo federal criou o Controle

Interministerial de Preços (CIP) para evitar cartelização de preços em um

oligopólio, que se concentrava cada vez mais.

Por meio do Gráfico 7.10, pode-se observar que a indústria de ônibus

brasileira cresceu em um ritmo próximo à indústria automobilística. Apesar de

parecer ser mais sensível, ou seja, com taxas de crescimento mais voláteis, a

indústria de ônibus cresceu menos entre 1957 a 2005. Neste período enquanto a

indústria automobilística (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus)

cresceu a uma taxa de 9,6% ao ano, a indústria de ônibus, 5,9%.

O Gráfico 7.11 traça uma comparação das taxas de crescimento da

indústria automobilística e da indústria de ônibus, ano a ano. Ao todo, o período de

1957 a 2005 compreende 49 anos e 48 taxas de crescimento. Em 25 anos, o

ônibus cresceu mais que a indústria, e em outros 23 anos, cresceu menos.

Entretanto, como já mencionado, a indústria de ônibus cresceu menos que a

automotiva entre o período que compreende 1957 e 2005.

Pelo Gráfico 7.11 observa-se que a indústria de ônibus apresenta mais

momentos de quedas expressivas na produção que a automobilística. Além disso,

por 17 vezes a indústria de ônibus apresentou decréscimo na produção, contra 10

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313

vezes da automobilística. Também nota-se pelos Gráfico 7.10 e Gráfico 7.11 que a

indústria de ônibus sentiu mais os efeitos dos primeiros anos da década de 1980

que a automobilística como um todo.

A década de 1980 foi uma década muito ruim para toda a indústria de

autoveículos – ela cresceu apenas 4% em relação à década de 1970, sendo o pior

crescimento da sua história. Nesse período a produção de automóveis cresceu

1%; comerciais leves, 42%; de caminhões diminuiu 22%; e ônibus cresceu 22%. A

produção de ônibus só se recuperou a partir da segunda metade da década. O

anexo 8.2 apresenta a produção detalhada da indústria ano a ano.

Gráfico 7.11 – Comparação do Crescimento (%) Ano a Ano - Veículos vs Ônibus (1957-2005)

Crescimento (%) Ano x Ano - Veículos (Total) vs Ônibus**Inclui ônibus completos, chassis e carroçarias

-60%

-40%

-20%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

1957

1958

1959

1960

1961

1962

1963

1964

1965

1966

1967

1968

1969

1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Cresc % Veículos Total Cresc % Ônibus

Fonte: Anfavea - Anuário 2006

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314

Comparando-se a produção acumulada por década, percebe-se que aquela

de maior produção para a indústria de ônibus foi a de 1990, com uma produção

total entre 1991 e 2000 de 203.237 veículos. A segunda melhor década foi de

1980 com 118.012 veículos produzidos, apenas 15,8% superior à década de 1970,

com 101.897. A década de 1960 fechou com a produção de 40.808 ônibus.

Ademais, só nos primeiros 5 anos do século XXI (2001 – 2005), a indústria

brasileira de ônibus já havia produzido 137.003 unidades, o que a colocou de vez

como uma das maiores do mundo.

7.1.3.4 A Evolução da Indústria de Ônibus

A produção de ônibus no Brasil viveu seu primeiro grande momento na

segunda metade da década de 1960. Até 1966 a produção brasileira não havia

passado das 4 mil unidades por ano. A partir deste ano, o crescimento apresentou

uma curva ascendente por três anos seguidos (1966 – 67 – 68), chegando a 7.044

unidades em 1968. No entanto, nos dois últimos anos da década, a produção

voltou a cair. Segundo os dados da Anfavea, a produção média da década de

1960, foi de 4.081 ônibus.

Tal queda na produção no final da década levou ao fechamento de algumas

fábricas de chassis e de carrocerias, que não conseguiram sobreviver às

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315

oscilações do mercado de ônibus no Brasil, que prosseguiram pelas décadas

seguintes. Entre as sobreviventes dessa crise, porém não por muito tempo, estava

a Magirus, fábrica de chassis que registrou prejuízos operacionais nos dois últimos

anos da década de 1960. Para aproveitar a capacidade ociosa no início da década

de 1970, a Magirus resolveu produzir caminhões.

A Metropolitana, outra encarroçadora carioca, lançou em 1953, o

microônibus com estrutura de alumínio desenvolvida por Fritz Weissmann - sócio

da empresa que mais tarde dela se afasta para fundar a Ciferal. Mais tarde, a

Metropolitana adquiriu a Vieira e a Cermava, encarroçadoras cariocas que haviam

fechado as portas. Devido à ampliação do limite da idade dos ônibus urbanos do

Estado da Guanabara, imposta pelo governo local, a produção mensal da

Metropolitana, que era de 65 carrocerias baixou para 50. Após a aquisição da

Cermava e Vieira, sua participação no mercado de urbanos no Rio de Janeiro

aumentou de 45% para 80%.

Em 1972, a Metropolitana apresentou dois novos modelos de carrocerias,

sendo uma de alumínio e a outra de aço. Parte do processo seguia da seguinte

maneira: Os perfis extrudados de duralumínio de 3 milímetros (mm) de espessura

eram fixados às colunas da estrutura com rebites especiais. As vigas e colunas

eram unidas na parte inferior às longarinas, aparafusadas e ligadas ao chassi por

cantoneiras. As partes frontal e traseira eram em fibra de vidro. Internamente, teto,

colunas e painel tinham revestimento de fórmica, piso revestido em peroba com

forro de passadeira em plástico. Os assentos tinham contorno em tubos de aço e

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revestimento em plástico. As portas, do tipo sanfona, tinham acionamento

pneumático. A Metropolitana seguiu construindo carrocerias de alumínio até

janeiro de 1976, quando foi adquirida pela Caio.

A Striuli foi mais uma encarroçadora que faliu. Sua produção mensal

chegou a 45 carrocerias e caiu para 5 em meados de 1971. Neste momento, o

grupo Thomeu, que possuía duas operadoras de transporte urbano no Rio de

Janeiro e detinha 50% de seu capital da Striuli, incorporou-a por completo. Nos

meses seguintes, a produção para suprir as empresas do grupo aumentou para 8

ao mês, e mais tarde, em 1972, chegou a 15 unidades.

A partir de 1970, a Ciferal, empresa fundada em 1955 e que produzia

carrocerias rodoviárias, passou a produzir também carrocerias urbanas para

vender fora do Estado da Guanabara, já que na época este Estado era território

exclusivo da Metropolitana. Esse primeiro modelo urbano era todo de alumínio,

com linhas retas e ventilação natural através de aberturas no teto. A Carbrasa foi

outra encarroçadora carioca, que sofreu os efeitos da crise no final da década de

1960 e entrou em concordata em 1971.

Em 1970, na cidade de Caxias do Sul (RS), a Furcare, que mais tarde se

chamou Nimbus, enfrentou dificuldades devido a um incêndio em suas

instalações. Apesar disso, em 1971, lançou o modelo rodoviário Nimbus com

estrutura metálica, poltronas em couro, compartimento do motorista separado dos

passageiros, iluminação de ventilação com controle individual e a novidade do

serviço de som a bordo. Em 1976, a Marcopolo adquiriu a Nimbus. A Hennemann,

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317

de Novo Hamburgo (RS), foi outra encarroçadora gaúcha que acumulou

experiência ao longo de 25 anos na produção de carrocerias urbanas e para

microônibus.

Durante a década de 1970, Empresa Brasileira de Transporte Urbano

(EBTU) exerceu a regulamentação do transporte urbano. Em 1978, veio a

colaboração da Empresa Brasileira de Planejamento e Transportes (Geipot), que

ao lado da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), iniciou os

estudos para desenvolver uma padronização dos veículos urbanos. Foi criado o

Projeto Padron que estabelecia três categorias de ônibus:

• Pequeno: Com 10 metros e 75 passageiros. Para serviços de alimentação

de corredores;

• Médio: Com 12 metros e 105 passageiros. Para grandes centros urbanos;

• Articulado: Com 17 ou 18 metros de comprimento e 165 passageiros. Para

ser utilizado em corredores exclusivos para ônibus.

Algumas exigências básicas faziam-se presentes nos três casos: piso a 80

cm do solo (na Europa já se exigia altura de 45 cm) e ruído máximo de 83 decibéis

(na Europa o limite era de 75). O peso máximo para o veículo de dois eixos era de

18 toneladas, sendo 6 no dianteiro e 12 no eixo de rodado duplo traseiro. Os

pesos máximos excediam aos limites da Lei da Balança, que na época estabelecia

limite máximo no eixo dianteiro de 5 toneladas e traseiro de 10,5. Até essa época,

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318

os chassis de ônibus eram em grande parte, derivados de caminhões – com motor

traseiro, suspensão com feixes de molas e cambio mecânico.

Um dos defensores do ônibus Padron, argumentava que no Brasil, a

Mercedes-Benz utilizava 30 quilos de estanho na solda dos chassis, produto que

havia sido abandonado pela matriz alemã pelo menos dez anos antes. Outro

crítico do transporte público brasileiro afirmou que os veículos que rodavam no

país em 1979 estavam pelo menos 30 anos de atraso em relação aos que

circulavam na Europa. Por outro lado, a EBTU procurava um veiculo que

consumisse um combustível alternativo ao óleo diesel, não apenas por questões

ambientais, e sim porque o país enfrentava dificuldades decorrentes da segunda

crise do petróleo, que ocorreu no final da década de 1970.

A primeira empresa a apresentar um protótipo foi a Ciferal, cujo veiculo era

um trolebus de alumínio, com garantia de 8 anos e vida útil de 15. A Caio se uniu

à Villaris e à Massari e desenvolveu um trolebus com as características do Padron

da EBTU. Neste projeto a Caio fez a carroceria, a Villares o conjunto de tração

elétrica e a Massari, o chassi. A EBTU acabou não aprovando o projeto, pois

decidiu optar por um sistema mais moderno de tração elétrica por chopper.

A) Mercado Interno

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Desde a origem da indústria de ônibus, a produção de chassis e de

carrocerias tem sido feita sob encomendas prévias. No início, como quase não

havia exportações, vide Gráfico 7.12, a produção coincidia com as vendas ao

mercado interno. Assim, todas as oscilações na produção constatadas durante as

décadas de 1950 e 1960 eram conseqüências diretas do aumento ou redução da

demanda interna.

Gráfico 7.12 – Evolução da Exportação de Ônibus pelo Brasil (1957-2005)

Exportação de Ônibus* pelo Brasil

*Inclui ônibus completos, chassis e carroçarias

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

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16,000

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1961

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1979

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1981

1982

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na

Pro

du

ção

Ônibus Exportados Participação % na Produção

Fonte: Anfavea - Anuário 2006

Na década de 1960, o mercado de ônibus passou por uma ascensão,

seguida de queda, que se estendeu até a década de 1970. Algumas empresas

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320

começaram a exportar para conseguir sustentar o nível de produção. A Marcopolo,

antiga Nicola & Cia, com sede em Caxias do Sul (RS), deu um passo além na

exportação de veículos prontos.

Em 1970, um acordo com a Venezuela foi estabelecido pela Marcopolo com

o objetivo de construir 2 mil carrocerias, no período de 10 anos, na cidade de

Guanare, a 150 quilômetros da capital, Caracas. Segundo Paulo Bellini, diretor da

empresa na época, esse contrato foi decisivo para assegurar a sobrevivência da

empresa, que sofria os efeitos de uma retração do mercado interno (Análise

Setorial: A Indústria de Ônibus, Volume I; Panorama Setorial, Gazeta Mercantil,

Out. 1999, pág. 46).

No período do Milagre Brasileiro, no final dos anos 70, mercado de ônibus

teve seu ânimo retomado. Foram construídas novas rodovias e algumas

prefeituras passaram limitar a vida útil do ônibus em cinco anos, o que acabou

determinando a renovação da frota dessas cidades.

Naquela ocasião a frota brasileira de ônibus brasileira era composta por 72

mil ônibus (em 2006 era de 395.393), já uma das maiores do mundo. No entanto,

sua idade média era elevada, o que exigia das fabricantes uma produção anual de

10 mil veículos para atender as exigências de renovação. Desta forma, a produção

média anual nos últimos quatro anos desta década (1977/78/79/80) foi de 13.866

veículos.

Em 16 de fevereiro de 1971, veio outra contribuição para o crescimento do

mercado de ônibus interno. A Portaria GB-279 reduziu o Imposto de Produtos

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321

Industrializados (IPI) para os ônibus rodoviários de 12 para 6%. O BNDE oferecia

prazo de financiamento de 36 meses, o que beneficiou as vendas. Tal expectativa

nas vendas, fez com que as fábricas anunciassem novidades no que tangia ao

conforto e segurança nos veículos, principalmente no segmento rodoviário. A

Magirus introduziu suspensão a ar, ar condicionado e motores mais potentes

enquanto a Carbrasa, desenvolveu um chassi de motor traseiro.

O mercado de carrocerias de ônibus sofreu um grande golpe no início da

década de 1980, quando a produção saiu de 12.267 unidades em 1981, para

5.643, em 1984. Mesmo após resistir a duas crises do petróleo, em 1973 e 1979 e

à maxidesvalorização do cruzeiro em 1981, das 14 encarroçadoras de ônibus

restaram apenas 5 (Marcopolo, Caio, Ciferal, Busscar e Comil). O Gráfico 7.13

mostra a evolução da produção de carrocerias e monoblocos, segundo as

empresas associadas à Fabus.

Gráfico 7.13 – Evolução da Produção no Brasil de Carrocerias e Monoblocos (1971-2006)

Page 338: DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO … · período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo. No entanto, diversas foram as empresas

322

Evolução da Produção Nacional - Carrocerias e Monoblocos (FABUS)

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

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1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

CARROCERIAS MONOBLOCOS TOTAL

Fonte: Fabus

Ainda assim, alguns grupos empresariais, de relevância para a época, se

aventuraram dentro do mercado de carrocerias. A Cobrasma - fabricante de

vagões de trem e outros equipamentos ferroviários - introduziu no mercado o

ônibus em aço inoxidável, enquanto as outras encarroçadoras discutiam as

vantagens do alumínio em relação ao aço carbono. A principal vantagem do aço

era uma resistência total à corrosão. Esse ônibus rodoviário foi denominado Trinox

e possuía 13,29 metros de comprimento, três eixos e capacidade para transportar

42 a 50 passageiros.

Apesar do ingresso de novos fabricantes de carrocerias, a demanda do

mercado interno não se matinha crescente, e seguia oscilando. Isto fez da década

de 1980 um período ruim para a indústria, que, segundo os dados da Fabus,

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323

chegou ao fim com uma produção total de 88.805 carrocerias, com um aumento

de 8% sobre as 82.175 unidades produzidas na década de 1970. A década de

1990, por sua vez, obteve um incremento de 82% sobre a década anterior, com

um total de 161.890 carrocerias fabricadas.

O crescimento nas vendas da década de 1990 foi influenciado por diversos

fatores. Em 1991, houve uma correção das tarifas e a Agência Especial de

Financiamento (Finame), do BNDES, promoveu estímulos à renovação da frota

urbana. A obrigatoriedade do vale-transporte, que passou a garantir a arrecadação

da tarifa pelas empresas transportadoras, foi outro fator que alavancou as vendas

internas no início dessa década. Em virtude da manutenção das tarifas

remunerativas, da oferta de leasing, consórcio e outras modalidades de

financiamento, a produção de carrocerias cresceu 66% entre 1990 e 1991, e

16,2% entre 1991 e 1992, atingindo a marca de 17.830 carrocerias de ônibus

neste último ano, conforme se observa no Gráfico 7.13

B) O Mercado Externo

As exportações de ônibus completos, de chassis e de carrocerias se

constituíram a principal saída das fábricas brasileiras para escoar o excesso de

produção, principalmente porque o mercado interno sofre constantemente

profundas oscilações. Segundo os dados da Fabus, ao longo dos últimos 11 anos

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324

(1996 – 2006), as exportações de carrocerias de ônibus saltaram de 2.119

unidades em 1996, para 7.996 em 2004 - no auge de exportações. Em 2006 foram

enviadas 6.106 carrocerias ao mercado externo.

Pelo Gráfico 7.14, nota-se que as 8 encarroçadoras associadas à Fabus

têm exportado continuamente, sendo umas mais e outras menos agressivas –

Mascarello e Neobus são associadas somente a partir de 2005. A Marcopolo (sem

incluir os números da Ciferal, adquirida em 1999) tem se mostrado a maior

exportadora em volume de carrocerias, enquanto a Busscar se mantém na

segunda posição. Mais uma vez vale ressaltar que o processo de

internacionalização vivenciado pela Marcopolo reduz suas o volume de suas

exportações, pois as carrocerias passam a ser produzidas em fábricas localizadas

em outros países.

Em 2006, o rodoviário passou a ser o segmento de carrocerias com maior

volume exportado, 3.494, representando 57% das exportações de carrocerias. O

segmento de micros ficou com a segunda posição com 1.293 carrocerias

exportadas, e 21% do total. Já, os urbanos, segmento mais exportado em 2005,

teve 1.111 carrocerias exportadas, o que equivaleu a 21% do total.

Gráfico 7.14 – Evolução da Exportação de Carrocerias por Encarroçadora (1996-2006)

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325

Exportação de Carrocerias por Encarroçadora (1996 - 2006)

0

1,000

2,000

3,000

4,000

5,000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

MARCOPOLO C A I O CIFERAL BUSSCAR

COMIL IRIZAR MASCARELLO NEOBUS

Fonte: Fabus

O êxito do mercado externo dos ônibus brasileiros se mostrou tão grande,

que, para algumas encarroçadoras tem representado um componente importante

da receita total. O Gráfico 7.15 mostra a evolução da participação das exportações

na produção das principais encarroçadoras brasileiras. Empresas como

Marcopolo, Busscar e Comil, tradicionais encarroçadoras do mercado brasileiro,

chegaram a apresentar em alguns anos, participação das exportações superior a

40% da produção. Os anexos 8.6 e 8.7 apresentam, respectivamente, informações

mais detalhadas das exportações brasileiras de autoveículos, bem como, de

carrocerias de ônibus por segmento e encarroçadora.

Motivada pelo bom momento das exportações, a indústria brasileira de

ônibus tem dado novos passos dentro de uma estratégia de internacionalização.

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326

Desta forma, além de vender e prestar assistência técnica a seus clientes em

diversos lugares mundo, as encarroçadoras brasileiras têm se expandido para o

exterior por meio de instalações de filiais ou subsidiárias. Em outros casos, o

caminho escolhido tem sido através de parcerias em joint ventures com outras

encarroçadoras de ônibus ou com fabricantes de chassis.

Marcopolo, Busscar e Comil são exemplos de empresas que já possuem

fábricas no exterior, o que também pode explicar parte da queda na participação

das exportações na produção destas encarroçadoras como mostra o Gráfico 7.15.

Com a operação no exterior, o volume das exportações se reduz, uma vez que os

ônibus passam a ser fabricado perto de seus clientes.

Gráfico 7.15 – Participação da Exportação na Produção das Encarroçadora (1996-2006)

Participação da Exportação na Produção das Encarroçadora (1996 - 2006)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

MARCOPOLO C A I O CIFERAL BUSSCAR COMIL

IRIZAR MASCARELLO NEOBUS Total

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327

Fonte: Fabus

Outro motivo que pode explicar em parte a queda das exportações nos

últimos anos é a valorização cambial do Real. Com a moeda brasileira valorizada,

o ônibus brasileiro perde competitividade no mercado internacional. Desta forma,

algumas empresas já pensam em maneiras de se protegerem contra as

oscilações da moeda. Com a construção de fábricas em outros países, muitas

delas se colocam em condição de multinacionais, e passam a comprar dos

fornecedores que apresentam as melhores condições comerciais. Assim se o Real

valorizou, um fornecedor brasileiro pode ser preterido por um fornecedor russo,

por este apresentar uma proposta comercial mais atrativa.

A América Latina, com maior ênfase a América do Sul, sempre foi o melhor

mercado para as montadoras brasileiras de chassis e para as fábricas de

carrocerias de ônibus. Por diversos momentos, principalmente com o Real

desvalorizado alguns países da África e Oriente Médio optaram pelos ônibus

brasileiros, se constituindo também importantes mercados para os fabricantes

brasileiros. A Tabela 7.8 indica quais regiões foram as maiores importadoras dos

ônibus brasileiros. Estes números incluem ônibus completos, carrocerias e

chassis.

Tabela 7.8 – Exportação de Ônibus Brasileiros por Continente de Destino (2003 – 2004)

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2003 2004 Cresc. Export.

Continente Unidades % Unidades % 03 - 04

América do Sul 5,051 54% 8,623 67% 71%

América Central 751 8% 679 5% -10%

América do Norte 246 3% 316 2% 28%

Europa 250 3% 34 0% -86%

África 1,596 17% 1,689 13% 6%

Ásia 1,340 14% 1,519 12% 13%

Oceania 86 1% 87 1% 1%

Total 9,320 100% 12,947 100% 39%

Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006

Em 2004, dos 8.623 ônibus exportados para a América do Sul, 3.170 foram

destinados ao Chile, 1.935 à Argentina e 1.744 à Colômbia, o que fez dos três

países o principal mercado brasileiro. Neste mesmo ano, outros países como

Egito, Costa Rica, África do Sul, Peru, Arábia Saudita, Indonésia também se

mostraram atrativos, com importações superiores a 250 ônibus. O anexo 8.9 traz

o detalhe das exportações brasileiras de autoveículos, por país, nos anos 2003 e

2004.

As exportações de ônibus podem ser feitas sob três formas diferentes –

ônibus completos, carrocerias e chassis –, e em geral ocorrem através de

licitações internacionais, em que uma mesma montadora pode fazer parceria com

mais de uma encarroçadora, dependendo do tipo ou modelo da carroceria. Nada

impede que outro tipo de negociação ocorra, como quando as encarroçadoras

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vendem seus produtos no exterior – carrocerias – independente do fabricante de

chassi.

Em virtude dos diferentes modelos de negociação, a Fabus divide as

exportações de carrocerias em diretas ou indiretas, estas últimas sendo realizadas

por meio do fabricante de chassi. As exportações diretas são mais comuns, e de

acordo com os dados da Fabus, nos últimos 11 anos, sempre representaram mais

de 70% das carrocerias exportadas. Em 2005, representou das 85% das

exportações e em 2006, 96%.

Outra modalidade comum na indústria de ônibus ocorre quando as

encarroçadoras fazem parcerias para utilizar as instalações de fabricantes de

chassis de outros paises. Em 1992, no México, dois grandes negócios envolvendo

encarroçadoras brasileiras tiveram início - a Marcopolo firmou um acordo com a

Dina Autobuses para fornecer carrocerias e transferir tecnologia; enquanto a

Busscar, fez acordo semelhante com a Mexicana del Autobuses (MASA).

No ano seguinte, em 1993, a Mercedes-Benz juntamente com a Caio

decidiram construir uma fábrica de ônibus em Monterrey, também no México, com

investimento de 25 milhões. Enquanto a fabrica da Mercedes-Benz/Caio não ficou

pronta, foram exportados para o México 1.200 ônibus em 1994, sendo 560

completos e 640 carrocerias de microônibus desmontadas para serem montadas

sobre chassis Mercedes-Benz produzidos no México. Esses microônibus eram

destinados a substituir vans e peruas no transporte urbano da Cidade do México,

onde circulavam 96 mil desses veículos.

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Em 2001, após a Marcopolo rescindir seu acordo com a Dina Autobuses, e

a Mercedes-Benz fazer o mesmo com a Caio, que acabava de falir, ambas as

empresas, Marcopolo e Mercedes-Benz México firmaram um acordo de

associação e cooperação, envolvendo a Polomex S.A., controlada da Marcopolo.

7.2. A História da Marcopolo

O registro da história da Marcopolo, ao longo de seus 58 anos (1949 –

2007) está descrito ao longo desta seção. Assim como destacado na história da

indústria, vale ressaltar que esta descrição não é uma completa reunião das

informações coletadas. É apenas um filtro da variada bibliografia pesquisada, cujo

principal objetivo é reconstituir a trajetória da empresa, apontando os principais

acontecimentos que marcaram sua história.

As principais fontes de informação utilizadas para a descrição do histórico

da indústria foram:

� Livro comemorativo dos 50 anos da Marcopolo (Marcopolo: Meio século

de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999).

� Livro comemorativo dos 55 anos da Marcopolo (Marcopolo: 55 Anos,

2004);

� Relatórios de Administração de 1983 a 2006;

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� O estudo setorial A Indústria do Ônibus da Gazeta Mercantil (Análise

Setorial: A Indústria de Ônibus, Volume II; Panorama Setorial,

Gazeta Mercantil, Out. 1999);

� A dissertação de mestrado Expansão internacional para a china: estudo

de caso de uma empresa brasileira (DE GÓES, Bruno Barreto.

Expansão internacional para a china: estudo de caso de uma

empresa brasileira, Instituto COPPEAD de Administração, 2006).

� O artigo Marcopolo: A Japonização no Sul do País (UEHARA,

Alexandre;MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do

País, São Paulo, 1996)

� O artigo O Entendimento do Sucesso Internacional da Marcopolo: Uma

visão com Base em Recursos (HEXSEL, A.E. O Entendimento do

Sucesso Internacional da Marcopolo: Uma visão com Base em

Recursos. Apresentado no Congresso ENANPAD 2003)

7.2.1. Fase 1: De 1949 a 1970 – Os primeiros passos

Em 1910, a cidade de Caxias do Sul contava com 18.000 habitantes, 186

casas comerciais e 335 firmas fabris. Neste período, o trem surge como meio de

transporte de matéria-prima, mão-de-obra, produtos beneficiados oriundos do

exterior e do centro do país, e pessoas. A chegada do trem também ativou as

exportações dos produtos da região fazendo com que Caxias do Sul vivenciasse o

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crescimento urbano. Na década de 1920, os caminhões surgem como outra opção

para diminuir as distâncias. A chegada do automóvel faz com que uma viagem a

Porto Alegre passasse a levar um dia. Motivada por estas transformações, em

1942 é inaugurada a BR-1116, importante via que conectou Caxias do Sul com os

grandes centros fornecedores e consumidores.

No processo de consolidação político-econômica, Caxias do Sul foi

construindo uma economia focada no setor industrial, apesar da atividade

principal, até o final da década de 1950, ainda ser a vinicultura. Em 1950, Caxias

contava com 54.000 habitantes, 413 firmas fabris e 450 casas comerciais. O

espaço geográfico, como localização e topografia da região, não foi uma

característica que facilitou o crescimento e desenvolvimento de Caxias do Sul.

Desde o início da colonização, as carretas tinham que ser adaptadas para superar

as dificuldades do relevo. Ao superar esses desafios, a região começou a dar os

primeiros passos em direção ao desenvolvimento.

Devido à falta de tecnologia, produzir uma carroceria de ônibus naquela

época era um grande desafio, pois exigia grande quantidade de tempo e de mão-

de-obra. Um grupo de profissionais decidiu enfrentar este desafio e abriu uma

empresa em Caxias do Sul, cuja atividade principal seria a fabricação de

carrocerias para ônibus. O grupo era formado de dois pintores, dois chapeadores,

dois carpinteiros e um lustrador, habilidades indispensáveis ao processo de

encarroçamento.

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333

No dia 06 de agosto de 1949, a Nicola & Cia. Ltda foi fundada com nove

sócios, quinze funcionários e um capital inicial de Cr$ 240.000,00 (duzentos e

quarenta mil cruzeiros). Segundo o contrato de constituição, em sua cláusula

terceira, a empresa tinha por objetivo: “a exploração do ramo de FABRICAÇÃO

DE CARROCERIAS, PINTURAS e CHAPEAÇÃO DE AUTOMÓVEIS e tudo o

mais que lhe convier”.

Os sócios fundadores da empresa foram: Dorval Antonio Nicola, Doracy

Luiz Nicola, Nelson João Nicola, Arnoldo Fabian, Arno Steffen, Arno Evaldo

Cornel, Jacob Acker, Américo Cunha Cerqueira, na época gerente da agência

local do Banco do Brasil, e sua esposa Nedy Maria Branco Cerqueira. Em maio de

1950, Paulo Pedro Bellini, que segue exercendo suas atividades na empresa

(2007), ingressa na empresa cuidando do almoxarifado e da contabilidade. O Livro

Comemorativo dos 50 anos da companhia destaca uma declaração de Paulo

Bellini sobre seu ingresso na empresa:

“Eu tinha 22 anos quando comecei a trabalhar na empresa (...) Com a saída de três sócios dos oito que a iniciaram, o (Dorval) Nicola precisava de alguém que comprasse as quotas. O meu pai me deu o dinheiro para eu poder entrar na sociedade. (...) Ingressei nesse ramo, porque era uma coisa interessante, atrativa, pelo fato de que um ônibus até hoje impressiona. Isso foi muito positivo e, naquela época, um ônibus já era considerado uma maravilha.” (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999, p. 22)

Para constituir uma empresa para a fabricação de carrocerias, os

fundadores levaram em consideração algumas informações obtidas junto a

proprietários de empresas de ônibus que operavam naquela época em Caxias do

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Sul. Em 1950, circulavam 40 ônibus na cidade e havia um movimento diário de

entradas e saídas de 400 veículos entre automóveis, ônibus e caminhões.

O contrato social de constituição, datado de 06 de agosto de 1949, registra

a empresa como Nicola & Cia. Ltda, porém na época ela era conhecida como

Carrocerias Caxiense, nome que fazia referência a cidade de origem.

Na constituição da empresa, a estrutura administrativa foi definida em

função da profissão e das habilidades técnicas de seus sócios, desta forma, cada

um era responsável por um setor, como solda, pintura, chapeação e fabricação,

acabamento interno, serviços burocráticos e etc. Desde cedo, dois grandes

objetivos eram comuns a todos os setores da companhia (Marcopolo: Meio século

de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999, p. 29):

� Proporcionar máximo conforto e segurança ao público que se

utilizava dos transportes coletivos; e

� Oferecer aos proprietários de linhas de transporte e frotistas

carrocerias que, pelas suas credenciais de qualidade, se tornassem

realmente fatores de sucesso em seus negócios.

Num pavilhão próprio, na esquina das ruas 13 de Maio com Os 18 do Forte,

em Caxias do Sul, a idéia de montar ônibus começou a ganhar forma. O pavilhão

de madeira, com dois pisos e 290 m2 de área construída, abrigou a empresa de

1949 até 1957. Naquela época, no horário do almoço, alguns funcionários

aproveitavam o tempo para jogar bola na rua, em frente à fábrica. O primeiro time

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de futebol criado contava com Dorval Nicola, Doraci Nicola e Paulo Bellini (sócios

fundadores da empresa) e outros tantos funcionários da empresa.

Em 1956, foi criado o Grêmio Atlético Nicola (GAN), primeiramente como

time de futebol e depois como instituição que congregava diversas modalidades

esportivas. Os familiares dos funcionários também tinham oportunidade de

acompanhar o time em jogos locais ou em outros municípios. Muitas vezes os

mascotes da equipe eram os filhos dos próprios funcionários-atletas. Alguns dos

triunfos do Grêmio Atlético foram as conquista dos campeonatos municipal e

estadual de futebol amador.

Em 1949, a primeira carroceria de ônibus foi montada para a empresa de

transportes Pérola, uma das primeiras empresas de transporte coletivo de Caxias

do Sul. Como o processo de produção era basicamente manual, a montagem da

primeira carroceria consumiu todas as horas de trabalho durante quase três

meses.

A produção do ônibus era totalmente artesanal. O chassi de caminhão

precisava ser cortado e emendado tanto no comprimento quanto na largura -

nesse período não existiam chassis específicos para ônibus no Brasil. A estrutura

da carroceria e dos bancos era de madeira de lei (angico, cedro, canela, açoita-

cavalo; os vidros das janelas) e cortada uma a uma. As poltronas eram estofadas

com fibras vegetais acondicionadas em aniagem e revestidas em couro.

A adaptação do chassi consumia muita perícia e horas de trabalho e dos

operários e mestres. A madeira, em sua maior parte trazida do Paraná, era

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cuidadosamente trabalhada por um carpinteiro. As amarrações eram feitas com

ferragens produzidas no setor de ferraria da própria fábrica. A construção dos

pára-choques era auxiliada pela forja e ainda exigia um acabamento com o

esmerilho. A solda a oxigênio acompanhou a fabricação por um longo período e

exigia especialização do operador. A colocação de vidros nas janelas também

requeria cuidados. No início eram utilizados vidros de 4 e 5 mm, mas em pouco

tempo chegou de São Paulo a novidade do vidro temperado. A empresa fazia os

moldes das janelas e os enviava aos fornecedores de São Paulo ou Porto Alegre

onde eram cortados.

Por volta da metade da década de 1950, surgiram os chassis especiais

para ônibus, agilizando assim o processo de fabricação das carrocerias. Mas

apenas alguns clientes traziam os chassis especiais da Aclo, Mercedes-Benz ou

Scania. A maioria seguia levando chassis de caminhão para serem transformados

e por isso a fábrica utilizou esses chassis até o início da década de 1960.

Igualmente, a madeira com que era feita a estrutura de uma carroceria foi, aos

poucos, sendo substituída pelo metal. Desta forma, os novos procedimentos

utilizados para fazer uma carroceria de ônibus foram sendo gradativamente

adaptados com a utilização do ferro.

A redução de peso dos ônibus foi a grande vantagem trazida pelas

carrocerias metálicas. Com a chegada de novos equipamentos importados, como

a primeira solda a ponto e a máquina movida a ar comprimido para o corte curvo

de chapas, estimulava-se a modernização do produto.

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Os primeiros clientes da fábrica foram as empresas de transporte Pérola,

Santos, Grazziotin, Bressan, Expresso Rex (de Lages), e uma empresa da cidade

de Caçador. Estas empresas enviavam o chassi e assinavam o pedido que

também valia como contrato, já que ficavam registradas as características básicas

do ônibus, como o número de lugares, adaptações necessárias ao chassi, e a cor

das poltronas e da parte externa.

As vendas eram realizadas principalmente por Dorval Nicola e por Paulo

Bellini, que acumulavam outras funções na empresa recém constituída. Quando

não estavam negociando com os clientes, o primeiro estava na fábrica pintando, e

o segundo, organizando a parte administrativa. O material de divulgação para

apresentar o produto a um futuro cliente consistia em algumas fotografias, através

das quais eram mostrados padrões e características dos veículos.

Após a realização do contrato, a própria empresa deveria financiar o valor

total da carroceria para o cliente. O tempo de parcelamento poderia ser de até 24

ou 30 meses. Tal prática buscava atender às necessidades do cliente, mas

acabava criando dificuldades à empresa, pois o parcelamento afetava o seu

capital de giro. Em depoimento, Paulo Bellini registrou as dificuldades vividas no

início da empresa.

“Fomos tocando na base do peito e do trabalho. Atravessamos períodos difíceis e crises financeiras. Foi uma época de grande aprendizado. Nossa qualidade, apesar do esforço, ainda deixava a desejar. Convivemos com problemas administrativos; passamos por mais de uma reformulação de diretoria; enfrentamos atrasos significativos com fornecedores; ouvimos reclamações de clientes, justificadas ou não. Era difícil estruturar nosso corpo funcional. Tivemos que aprender a lidar com os assuntos ligados ao Fisco, nas diversas esferas; aprendemos a transitar nas esferas

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governamentais... realmente, o início da fábrica foi para nós um grande aprendizado.”(UEHARA, Alexandre;MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 113)

Em 1954, cinco anos após a constituição da empresa, a Nicola & Cia. Ltda

passou a se denominar Carrocerias Nicola S.A. – Manufaturas Metálicas, uma

sociedade anônima. Nesta ocasião já era necessário um espaço maior para

ampliar a fábrica. A nova sede, com 3.100m2, foi construída em 1957 sobre um

terreno cedido por Mário Sartor e sua esposa Lida Scola Sartor, com o objetivo de

incentivar a ocupação de um loteamento junto a essa área. Mais tarde, esta área

foi denominada Bairro Planalto.

Por contar com uma operação ampliada, suas ações foram vendidas por

meio de uma estratégia “corpo-a-corpo” e não através da bolsa. Para negociá-las,

os sócios recorreram a familiares, parentes e amigos, pois a empresa ainda não

possuía projeção no mercado. Segundo declarações de Paulo Bellini foi um

período bem difícil:

“Quando estávamos no fim da construção, em 1957, não tínhamos dinheiro nem para pagar o que estava feito, tínhamos muitas dívidas, não tínhamos capital de giro. Soubemos, então, que havia um movimento no estado para estimular a formação de empresas de capital aberto. Foi isso que fizermos, transformamos a Nicola em empresa de capital aberto e começamos a trabalhar para vender suas ações. Imagina a dificuldade que foi, naquela época, dar um passo como aquele! Nosso sucesso foi alcançado pela persistência e sobretudo pelo nosso entusiasmo.”(Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 26)

Realizada a transferência para o pavilhão, os sócios acreditavam que a

nova fábrica possuía espaço para atender a demanda por um período bastante

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longo. Tal decisão, associada à política de implementação da indústria

automobilística no país e a formação do GEIA, impulsionou os negócios da

empresa, que começou a produzir os primeiros ônibus com chassis brasileiros, já

fornecidos pelas primeiras fábricas do setor, Mercedes-Benz e Scania.

Com a mudança de local da fábrica, em 1957, foi possível ampliar a

produção já estimulada pelas vendas e pelos planos do governo federal. A

empresa chegou ao maior centro consumidor do país, São Paulo, que havia se

tornado um centro promissor para o produto. O ônibus chamado Nicolinha

despertou o interesse de empresários do setor de transportes, pois transmitia a

imagem de conforto e qualidade para motoristas, passageiros e proprietários de

veículos.

Os primeiros anos da década de 1960 contestaram aquilo que parecia

certo. A conjuntura político-econômica desse período trazia reflexos para os vários

setores da sociedade brasileira, contrariando o incentivo à industrialização

ocorrida na década anterior. No entanto, a introdução do Crédito Direto ao

Consumidor (CDC) foi uma medida decisiva para estimular o ramo da indústria

automotiva. Os problemas gerados pelos longos parcelamentos passaram a ser

amenizados pelo CDC, instituído pelo governo brasileiro. A partir desse momento,

os clientes passaram a fazer as operações de crédito diretamente com os bancos.

Em decorrência disso, em 1965 a empresa precisou ampliar suas

instalações e construiu um segundo pavilhão, com uma área de 2.240 m2. Em

1967, os irmãos Nicola se retiraram da sociedade e constituíram uma fábrica de

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furgões, chamada Furcare. Mais tarde a Furcare passou a se chamar Nimbus, e

em 1977 foi incorporada pela então Marcopolo.

Com a construção do segundo pavilhão a empresa seguia com planos de

expansão. Tais metas incluíam elevação da capacidade produtiva por meio da

ampliação da área construída, da introdução de máquinas e equipamentos

modernos e da admissão de novos colaboradores. Por exemplo, em 1968, a

fábrica teve sua capacidade produtiva aumentada em 40% e em um segundo

momento, em 80% com relação ao ano anterior.

Ainda em 1968, ocorreu a programação do lançamento de um novo modelo

de ônibus. O novo produto foi denominado Marcopolo. O produto e a marca

tiveram tanto êxito que a imagem da empresa passou a ser conhecida como

Marcopolo.

Devido à crescente conquista e consolidação dos mercados interno e

externo e ao rápido desenvolvimento, originaram-se várias reestruturações

administrativas as quais foram capazes de conferir maior agilidade às atividades

técnicas, operacionais e até mesmo de gerenciamento. A Revista Seleções do

Reader's Digest, já em setembro de 1968, em um suplemento especial intitulado

Perfis do Rio Grande do Sul, destacava o trabalho de Paulo Bellini, como Diretor-

Presidente de Carrocerias Nicola S. A. Manufaturas Metálicas, ressaltando a

filosofia de trabalho da empresa:

“Fazendo de sua filosofia de trabalho o lema ‘a organização é antes de tudo o homem’, os dirigentes de Carrocerias Nicola S.A. sabiam onde queriam chegar. A meta que se propunham atingir, a de fabricar somente

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produtos de alta qualidade, ao fundarem a empresa há 19 anos, só seria possível, assim admitiam, se constituíssem uma equipe verdadeiramente homogênea em todos os seus escalões, de dirigentes e comandados, do pessoal técnico e administrativo." (Set/1968, no320, s.p.)

A década de 1960 representou bastante em termos de qualificação de

pessoal. As contratações de engenheiros e de técnicos nas diversas áreas

cresceram. A atualização dos processos produtivos, a implantação de programas

de treinamento, assim como o apoio do GEIA, aumentou a produção da empresa.

Nessa época, a fábrica já possuía completos serviços de corte, polimento,

galvanoplastia, carpintaria, mecânica, ferramentaria, estamparia, pintura,

fabricação de janelas, serralheria e estofaria, orientados todos pelo Departamento

de Engenharia. Suas oficinas e depósitos estavam equipados para atender aos

pedidos de peças complementares para reposição, através do sistema de

numeração e catalogação.

Para a Nicola, a base da produção era formada por treinamento,

aperfeiçoamento e a pela qualificação dos colaboradores. Nesse período, o ônibus

era um produto resultante muito mais da mão-de-obra do que do maquinário

utilizado. Desta forma, a empresa desejava fazer de seus profissionais os

melhores do setor. Primeiramente, os ensinamentos foram transmitidos dos

mestres para os aprendizes, funcionários mais jovens ou com menor experiência.

O próprio periódico interno era usado nesse processo, publicando artigos que

apresentavam instruções e novas técnicas para utilizar determinada ferramenta ou

matéria-prima.

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Na década de 60, a busca da tecnificação levou muitos funcionários a

realizar cursos em empresas estabelecidas fora do estado do Rio Grande do Sul,

ou mesmo através de convênios firmados entre a empresa e instituições de

qualificação profissional, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI).

O apoio destas entidades auxiliou bastante na formação do maior número

de pessoas. Muitos começaram como alunos e ao concluírem os cursos

protagonizaram histórias de sucesso nos anos que se seguiram, como relatou

Nestor Perottoni, que alcançou o cargo de Titular da Assessoria Jurídica e

integrou o Conselho de Administração da empresa:

“Ingressei na empresa em 1963, foi meu primeiro e único emprego. (...) Fui um dos primeiros a ter o estudo pago pele empresa. Eu era auxiliar escriturário do almoxarifado. (...) A filosofia da empresa já era diferente." (Marcopolo: Meio século de uma história. Caxias do Sul: Conceitual, 1999, p. 64)

A administração da empresa apoiava os cursos tanto de área técnica como

na área de relações interpessoais. Os nomes dos participantes eram divulgados e

estes eram presenteados, como forma de estimular o quadro de colaboradores a

se engajar no processo de capacitação e qualificação do ambiente de trabalho.

Em 1964, dois representantes instalados, um em São Paulo e outro em

Curitiba, atendiam aos clientes e trabalhavam para ampliar o mercado em nível

nacional. Nesse mesmo ano, a empresa abriu uma filial comercial no Rio de

Janeiro, que era um mercado difícil, pois foi o primeiro a ter uma legislação para a

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padronização do transporte coletivo, como também possuía vários fabricantes

locais de ônibus. Desta forma um trabalho foi realizado com a fábrica, para

adequar o produto a esse mercado. A conquista de novos mercados se tornava

mais complicada devido à localização geográfica da fábrica, no extremo sul do

país, longe dos tradicionais centros comerciais.

Em 1966, a empresa transformou-se em Sociedade de Capital Autorizado,

ao se enquadra na nova Lei do Mercado de Capitais. Nesse mesmo ano, foi

registrado um índice de aumento do faturamento de 87%, em relação ao período

anterior. Para manter esse bom resultado, a empresa iniciou a instalação de uma

rede de filiais, representantes e escritórios nas principais cidades do país, já com o

plano de prestar assistência, serviços de pós-vendas e fornecer peças de

reposição às empresas de transporte. Mais tarde, vários países, também foram

englobados pela área de vendas.

Os profissionais envolvidos nesse processo tinham outras atribuições além

da comercialização de carrocerias, como manter contato permanente com os

clientes e transmitir à fábrica suas opiniões sobre a performance dos veículos.

No final da década de 1960, como resultado de pesquisas técnicas e

experiências práticas, a empresa acabou por reestruturar todo o sistema de

fabricação de suas carrocerias, introduzindo importantes melhoramentos: maior

curvatura no arco do teto; maior profundidade nos perfis das laterais e dos arcos;

maior espessura das chapas com que eram fabricadas as carrocerias.

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Com essas inovações, as carrocerias apresentavam mais características de

resistência, durabilidade, segurança e economia. Mais tarde, a empresa instalou

uma cabina especial para pintura, equipada com estufas mistas (elétricas e a

vapor), que permitiu uma secagem mais rápida e cores mais brilhantes e duráveis.

As carrocerias eram tidas como leves levando em conta sua capacidade de

passageiros, tamanho e resistência. A carroceria urbana média, para 32

passageiros, pesava 2.575 kg e a rodoviária média, para 28 passageiros, 2.790

kg.

Nessa mesma época, a empresa lançou a Série Prata, que era composta

por ônibus mais simples e mais baratos. Lançou também a Série Ouro, com

ônibus luxuosos e com um custo mais elevado. A experiência não teve o êxito

esperado, já que a maioria dos clientes não comprava os ônibus da Série Prata.

Quem os encomendava, solicitava algumas trocas ou acréscimo de alguns itens, e

no final acabava adquirindo um ônibus da Série Ouro. Esse fato levou a empresa

a definir-se pela fabricação de modelos diferentes.

Na ocasião, os ônibus rodoviários da Série Ouro eram montados sobre

chassis FNM com 20 poltronas-leito, chassis Scania Vabis com 33 lugares, ou

chassis Mercedes-Benz com 39 lugares. Poderiam ter geladeira, rádio, calefação,

cintos de segurança, toalete e iluminação individual.

Em 1968, a empresa promoveu uma viagem de estudos aos mercados da

Europa, Estados Unidos e América Central. Para analisarem o conceito dos

ônibus presentes naqueles mercados. Foram enviados o engenheiro José A. F.

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Martins, que havia integrado o quadro de profissionais da empresa em 1966, e o

então Diretor Técnico, Fiorindo J. Sartori.

Um novo projeto passou a ser cuidadosamente estudado após essas

visitas. Um produto com características totalmente novas foi desenvolvido

reunindo as idéias trazidas de mercados estrangeiros com as necessidades do

mercado nacional. Surgiu então um ônibus montado sobre chassi Mercedes-Benz

e Magirus Deutz, com três versões: Rodoviário, Rodoviário com Toalete e Carro-

Leito.

O desafio da escolha de um nome para o novo ônibus foi lançado a todos

os integrantes da fábrica. Após uma pesquisa, foi escolhido o nome Marcopolo por

ter sua origem no grande viajante Marco Polo. Para Valter G. Pinto, responsável,

nesse momento, pelo trabalho de marketing da empresa, foi um desafio encontrar

um nome para o ônibus, pois como o produto pretendia ser um marco na história

do transporte coletivo brasileiro, ele deveria sugerir ou lembrar um grande feito

histórico (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 40).

Em 1968, com essa denominação, o ônibus rodoviário foi exibido no VI

Salão do Automóvel, realizado em São Paulo. Como uma das novidades, foi

apresentada a modificação do local destinado à exibição do itinerário. Até aquele

momento, o itinerário aparecia fora, na parte superior do ônibus. A partir daí, o

itinerário começou a ser exibido internamente, no pára-brisa, permanecendo assim

até hoje. O lançamento do Marcopolo revolucionou o conceito brasileiro de ônibus

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e tal foi o seu sucesso que três anos depois a empresa adotou seu nome como

denominação social.

Em 1960, ocorre o passo inicial para a conquista do mercado externo, com

a abertura da primeira representação comercial no exterior. Em 1961, a

Carrocerias Nicola vendeu duas carrocerias urbanas à Compañia de Omnibus

Pando S.A. (COPSA), do Uruguai. A partir daí, os ônibus fabricados pela

Marcopolo começaram a rodar por todo o continente americano. O prestígio de

seus ônibus garantiu a participação em diversas concorrências internacionais e os

investimentos nas feiras internacionais foram intensificados a partir de 1965.

Em 1968, no período de lançamento do ônibus Marcopolo, a empresa

participou de várias feiras internacionais, como a Feira Internacional do Pacífico,

em Lima (Peru), e em 1969, a Feira Internacional de Santiago (FISA), no Chile,

onde obteve o Gran Premio na classe de veículos motorizados. Participou,

também, de eventos na Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela.

A Marcopolo, desde sua fundação, tem se preocupado com criação de

estratégias comerciais. Na década de 1950, época em que o chassi não era

específico para ônibus, o cliente já precisava conhecer os procedimentos

utilizados na produção de um ônibus para avaliar em que aspectos esse produto

se diferenciava dos da concorrência. Pensando nisso, a empresa abria as portas

de sua fábrica para clientes e fornecedores, para que estes pudessem ver o

processo de fabricação dos seus ônibus e assim comprovar a qualidade e a

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confiabilidade do produto. As vendas realizadas e os resultados das visitas eram

mais tarde divulgados aos trabalhadores.

No final da década de 1950, a empresa produzia peças publicitárias que

além de divulgar os produtos e suas características, realçavam o processo de

fabricação dos ônibus. O material apresentava máquinas e equipamentos de que

dispunha a fábrica para transmitir a imagem de uma empresa alinhada com o

avanço tecnológico da época.

Em 1960, a propaganda da empresa já era veiculada em todo o Brasil,

através dos folhetos distribuídos pelas filiais e representantes e de anúncios em

revistas da época, como a edição brasileira da Revista Seleções do Reader's

Digest, que publicava na contracapa um anúncio destacando o conforto, o

rendimento e a segurança das carrocerias urbanas e rodoviárias Nicola. Em 1963,

a empresa desenvolveu uma campanha bem original, ao oferecer aos seus

clientes, como brinde de final de ano, assinaturas das melhores revistas em

circulação no país.

Em 1968, quando ocorreu o lançamento no VI Salão do Automóvel do novo

ônibus, houve amplo destaque para marcar o acontecimento. O ônibus projetado

deveria chamar a atenção de todo o setor de transportes. Então, a empresa

adotou uma estratégia diferente, cheia de suspense, para instigar a curiosidade

das pessoas ligadas ao segmento de veículos.

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A campanha que antecedeu o lançamento do ônibus Marcopolo foi

composta por três peças promocionais, com as seguintes mensagens (Marcopolo:

Meio Século de uma História, 1999, p. 80):

1. “Marcopolo já está com viagem marcada”;

2. “Você que é empresário, vai vibrar com as novidades que a

Marcopolo trará!”;

3. “No Salão do Automóvel você tem encontro marcado com a

Marcopolo”.

Para causar impacto, a cada vinte dias, as peças foram enviadas uma a

uma pelo correio para todas as instituições brasileiras, públicas ou privadas, com

as quais a empresa tivesse algum tipo de negociação: transportadoras de

passageiros, bancos, montadoras, fornecedoras, prestadoras de serviço, órgãos

governamentais (secretarias de transporte, de turismo, de indústria e comércio),

entidades representativas dos setores ligados ao transporte (federações,

associações), etc. As mensagens também foram enviadas aos diretores, gerentes,

chefias, secretárias da empresa e pessoas da coletividade empresarial.

Como forma de aguçar ainda mais a curiosidade de todos e garantir o

elemento suspense, a postagem da correspondência foi feita nos mais diferentes

pontos do território nacional, impedindo qualquer tentativa de decifração do

enigma. Somente às vésperas da realização do VI Salão do Automóvel que as

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empresas receberam o convite para o coquetel de lançamento do Ônibus

Marcopolo, no estande de Carrocerias Nicola S.A..

A empresa investiu intensamente na marca lançada naquele Salão do

Automóvel: MARCOPOLO. A marca foi uma adaptação do nome do célebre

navegador veneziano Marco Polo em uma única palavra. O nome era adequado

ao produto, pois além de se associar à viagem, lembrava ousadia, audácia e

versatilidade, qualidades atribuídas ao navegador e que deveriam também

caracterizar o ônibus lançado. O sucesso foi tal que, em pouco tempo, a marca

Marcopolo se impôs fortemente no mercado.

No entanto, o mercado internacional achava que pelo nome Marcopolo se

tratava de um produto italiano, em virtude da fama que sempre tiveram as

atividades dos carrozzieri, mestres no design de veículos. Para desfazer a

questão, a empresa adotou o slogan "O Ônibus Brasileiro", utilizando-o nas

apresentações gráficas, e reforçando por uma faixa nas cores verde e amarela. Na

ocasião, o slogan foi traduzido para o espanhol, inglês e francês, ajudando a

consolidar a marca em todos os mercados. O periódico Polo Informativo (Ano I, Nº

03, p. 07) explicitava aos públicos da empresa a razão do novo slogan.

Outro novidade na empresa foi a implantação dos Sistemas CKD

(Completely Knocked Down) e MKD (Medium Knocked Down), caracterizado pela

venda de tecnologia e de produtos desmontados (CKD) ou semi-desmontados

(MKD).

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Em 1968, a organização técnica era o ponto alto da empresa. O

Departamento Técnico existente foi ampliado e a equipe evoluía nos desenhos,

acrescentando mais detalhes. A tecnificação foi dando uma nova dimensão ao

sistema. Nesse período, a empresa começou a desenvolver a operação de CKD.

Nesse processo, as carrocerias eram enviadas em peças, em kits, e

posteriormente armadas em outro local.

Além do Sistema CKD, a empresa desenvolveu o sistema MKD e, junto ao

know-how, preparou também os estudos para implantação, racionalização de

produção e orientação administrativa, até o fornecimento de equipamento especial

para produção em série.

7.2.2. Fase 2: De 1971 a 1980 – A 1ª Expansão

O sucesso do ônibus Marcopolo fez também com que a empresa adotasse

uma nova postura no que se refere à conquista de outros mercados, usando como

estratégia a diversidade de linhas para atingir os mais variados segmentos do

transporte coletivo. A marca "Marcopolo" passou a ser amplamente divulgada e

aceita pelos diversos públicos ligados ao setor, direta ou indiretamente. Para

atingi-los foram utilizadas diversas estratégias. Por exemplo, para abordar o

mercado de capitais, a empresa elaborou um road show, que é um conjunto de

apresentações feitas para analistas, acionistas, investidores em potencial e

interessados em conhecer a empresa.

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Em 1970, a Marcopolo iniciou sua primeira fase de expansão com a

aquisição da empresa Carrocerias Eliziário de Porto Alegre, uma das principais

encarroçadoras de ônibus da época. Em 1971, ocorreu a aprovação, em

Assembléia de Acionistas, da alteração da denominação social da empresa para

Marcopolo S.A. Carrocerias e Ônibus. Ao mesmo tempo, ocorreu a transformação

da sociedade de capital autorizado para sociedade de capital subscrito.

Ainda em 1971, teve início uma nova etapa de implantação do plano de

expansão da empresa, com a colaboração financeira do BRDE (Banco Regional

de Desenvolvimento Econômico S.A.). Visando à construção de mais 4.996m2,

este plano compreendia a construção de dois pavilhões industriais, a ampliação da

área administrativa, além da instalação da rede de hidrantes e da aquisição de

equipamentos industriais.

De olho em um crescimento acelerado e dona de produtos bem aceitos no

mercado, como o ônibus Marcopolo, a empresa buscou novos empreendimentos,

como a obtenção de licença de fabricação dos produtos da Monogran lndustries

lnc (indústria norte-americana especializada no fornecimento de sanitários

químicos para aviões, ônibus, trailers, camping) para a América do Sul. A partir de

1971, os primeiros ônibus equipados com as novas toaletes começaram a ser

produzidos e atingiram uma boa aceitação das empresas transportadoras.

Ao longo da década de 1970, a equipe administrativa sofreu significativas

alterações em virtude da expansão da empresa. Em 1970, José A. F. Martins e

Valter Gomes Pinto se integraram a equipe diretiva por convite de Paulo Bellini,

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diretor-presidente. Eles se juntaram a Fiorindo J. Sartori e José W. T. Costa. Em

1975, o convite foi estendido a Raul Tessari. No anexo 8.10 encontra-se a

composição da diretoria da Marcopolo entre os anos de 1949 a 1998.

Entre 1969 e 1973, período conhecido como “milagre econômico”, a

inflação estava sob controle e os bancos se transformavam em grandes

conglomerados. Nesta mesma época, a indústria acelerava seu processo de

concentração e o capital estrangeiro voltava a movimentar a economia nacional. O

governo brasileiro começou a realizar grandes obras de infra-estrutura, então

estradas e vias públicas passaram a receber grande parte dos investimentos.

A década de 1970 manifestou também os reflexos da chamada "crise do

petróleo" na economia nacional e mais precisamente no setor dos transportes. No

entanto, em 1974, foi lançado o II Plano Nacional de Desenvolvimento, que deu

ênfase especial aos meios de transporte coletivo pelo governo federal. Tal plano

deu ânimo aos sócios de continuar investindo na empresa, pois eles acreditavam

que para atingir os índices de economia de combustível esperados pelo governo,

a implantação em todas as cidades de sistemas de transporte de massa seria uma

grande solução.

As condições necessárias para um desenvolvimento seguro das fontes

produtivas foram proporcionadas pela criação de novas linhas para o transporte

coletivo, pela renovação e ampliação das frotas e pelo desenvolvimento das

exportações, além do clima de confiança transmitido pelas autoridades

governamentais.

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Ao final da década de 1970, a Marcopolo acelerou a ampliação de seu

parque fabril com base nesse conjunto de expectativas favoráveis e montou mais

duas unidades fabris, uma em Betim (MG) e outra em Caxias do Sul (RS). Em

1979, em Caxias do Sul, teve início a construção da nova fábrica da Marcopolo, no

bairro de Ana Rech. Foram construídos inicialmente 30.000m2 em uma área de

223.832m2. A transferência para as novas instalações projetava a implantação de

modernos sistemas de produção, planejados e desenvolvidos para conseguir um

alto grau de produtividade. Ambas as unidades foram inauguradas somente no

início da década de 1980

No bairro de Ana Rech, ficou a linha de montagem dos ônibus rodoviários e

na fábrica do Bairro Planalto, permaneceram todos os setores ligados à produção

de ônibus urbanos e de peças. O então engenheiro José A. F. Martins, atual vice-

presidente da empresa, relatou com detalhes os lançamentos que sucederam ao

Marcopolo e a estratégia adotada para atender ao mercado:

“Nos primeiros anos da década de 70, houve a primeira crise do petróleo e, por isso, o governo fez um apelo muito forte à população para que usasse veículos de transporte coletivo. O ano de 1970 foi, então, o momento de grandes lançamentos: surgiu o Marcopolo II, com motor dianteiro, com modificações em alguns componentes, nas janelas e em alguns detalhes na frente do ônibus. Concomitantemente, foi lançado o Veneza, urbano, com teto reto, que também era uma mudança significativa, pois até então o comum eram os ônibus de teto redondo. Não fomos os pioneiros no lançamento do teto reto, mas, como achamos bonito, pensamos que valia a pena investir. Deu excelentes resultados. Em 1972, lançamos o microônibus Marcopolo Júnior, com o qual a empresa ganhou o Prêmio Distinção Indústria; pelo design e funcionalidade do produto. O Marcopolo III, lançado no ano de 1974, era montado exclusivamente sobre chassis com motor traseiro, além de ter seu design modificado, de forma a introduzir o teto reto na linha de ônibus rodoviários. A linha de urbanos, no mesmo ano, foi inovada com o Veneza Expresso.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 41).

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A partir de 1972, a empresa deu seqüência à idéia de produzir um chassi. A

idéia foi desenvolvida através de uma joint venture entre a Cummins Nordeste S.

A. lndustrial (unidade brasileira da Cummins Engening Company, dos Estados

Unidos), a Van Hool lnternational S. A. (da Bélgica) e a Marcopolo. Ainda na

década de 1970, foi lançado um chassi do tipo tubular com suspensão a ar e

direção hidráulica. No entanto, as contínuas mudanças na política governamental

brasileira em relação às importações prejudicaram bastante a Cummins, e o

projeto não continuou.

Nos cinco primeiros anos da década de 1970, apesar de estar contexto

político incerto e turbulento, a Marcopolo lançou os ônibus rodoviários Marcopolo

II, Marcopolo III e Marcopolo SE; os urbanos Veneza, Veneza Expresso, Sanremo

e Sanremo ST; e o microônibus Marcopolo Júnior.

Em janeiro de 1975, o faturamento da empresa mostrava um crescimento

de quase 100% em relação ao ano anterior. O principal responsável por tal índice

de crescimento foi o aumento na produtividade, em virtude do treinamento

especializado dos colaboradores e da racionalização do layout da fábrica. Já

nesse período, poltronas, janelas, sanitários, cinzeiros, sistemas de bar e

geladeiras eram produzidos na própria empresa. Cada departamento equivalia a

uma fábrica. O departamento de poltronas, por exemplo, fabricava 144 a 150

poltronas/dia e a seção de janelas produzia de 100 a 150 peças/dia..

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Em 1975, a Marcopolo estava atuando no mercado brasileiro juntamente

com outras nove empresas encarroçadoras e na disputa pelo mercado ela realizou

diversos investimentos. Em 1976, adquiriu a concorrente Nimbus (ex-Furcare),

cujo nome mais tarde, em 1979, foi alterado para Invel.

Em 1977, uma nova linha de trolebus - veículo de tração elétrica sobre

pneus - começou a ser desenvolvida pela Marcopolo. Encarregada da

coordenação do projeto e da montagem do veiculo, a Marcopolo liderou o

consórcio de empresas envolvidas, que incluía a Ansaldo do Brasil Equipamentos

Eletromecânicos S.A., como idealizadora do Projeto e fornecedora de

equipamentos elétricos e de serviços, e as empresas SAAB - Scania do Brasil

S.A., INEPAR S.A. Indústria e Construções e Bardella Boriello Eletromecânica

S.A. (BBE), como fornecedoras dos componentes eletro-eletrônicos e

eletromecânicos necessários à fabricação do ônibus.

Ainda em 1977, os ônibus articulados foram lançados como uma nova

opção de transporte para algumas cidades e para as ligações intermunicipais. A

Marcopolo foi a primeira empresa a produzi-lo.

Em 1971, a Marcopolo investiu em concorrências na África do Sul e, pela

primeira vez, tentou o mercado europeu. Na América, mesmo concorrendo com

fabricantes europeus e americanos, firmou contrato para fornecimento de

carrocerias à ESCA (Ensamblaje Superior C.A), na Venezuela. Em Guacara

(Venezuela), a Marcopolo acompanhou as instalações de uma fábrica, cujo layout

industrial foi desenhado em Caxias do Sul e os técnicos da empresa venezuelana

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treinados para a montagem local das carrocerias. Esse tipo de contrato foi o

primeiro do gênero realizado pelo Brasil, especializando a empresa em realizar

operações em CKD, pois antes a Marcopolo só exportava unidades totalmente

montadas (CBU).

Em 1974, a experiência com o sistema CKD chegou a África. Em Accra,

Gana, foi montado o microônibus Marcopolo Júnior. Em Gana, uma equipe da

Marcopolo permaneceu por seis meses para implementar o projeto e treinar

técnicos africanos. As peças e materiais do conjunto CKD eram enviadas do

Brasil. Este foi um marco na história das exportações do Brasil. Nessa mesma

época, após participar da Brasil Export 73, em Bruxelas, um desses veículos foi

adquirido por uma empresa de transportes da Bélgica, tornando-se o primeiro

ônibus brasileiro exportado para a Europa.

Em 1974, a Marcopolo recebeu o Prêmio Exportação, conferido pela

Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB), do Rio Grande do Sul, em

virtude das estratégias de marketing para abrir novos mercados e aumentar o

número de exportações. Em 1975, as exportações cresceram mais de 100% em

relação ao ano anterior. Os principais fatores que contribuíram para este índice

foram a montagem de carrocerias urbanas modelo Veneza, na Empresa Metrobus

Del Equador, no Equador, como também a rede de representantes, que já

atuavam na América do Sul, América Central, África e Ásia.

Posteriormente a Marcopolo realizou exportações através dos sistemas

CKD/MDD, como Chile (1976) e Peru (1988). A Tabela 7.9 apresenta o ano, os

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grupos mecânicos que forneceram chassis e os países que adquiriram os ônibus

da Marcopolo através deste sistema.

Tabela 7.9 – Alguns Países onde a Marcopolo exportou através de CKD/MKD

EXPORTAÇÃO CKD/MKDAno Grupo Mecânico / Chassi País1972 Reo Mark - MB Venezuela1974 Hino Ghana1975 Cummins Equador1976 Pegaso - MB Chile1988 Volvo Peru

1992/93 Scania e Diva México

Fonte: Livro Comemorativo 50 Anos

Os sistemas CKD/MKD permitiram a Marcopolo ampliar suas transações no

mercado internacional, possibilitando-lhe avançar ainda mais nos processos de

aperfeiçoamento de seu pessoal e de desenvolvimento de suas técnicas de

produção. Essa política manteve-se no decorrer da década de 1970. Em certo

momento da formalização de um contrato de tecnologia, Raul Tessari, ex-diretor

da Marcopolo, relatou:

“No momento em que produzimos tecnologia para o exterior, essa tecnologia fica agregada ao nosso produto também no mercado nacional e isso justifica a posição de destaque que a Marcopolo ocupa em nosso mercado.“ (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 46)

Associado tal política, existia a participação da Marcopolo em várias feiras

nacionais e internacionais. Os estandes da empresa se tornaram paradas

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obrigatórias de ministros e chefes de Estado, diretores de entidades, industriais e

empresários ligados ao setor de transporte.

Em 1978, a Marcopolo participava com 41% do mercado nacional de

carrocerias rodoviárias, porém com 21% do mercado total. Juntamente com suas

subsidiárias, Carrocerias Eliziário S.A. e Nimbus S.A., foram produzidas 3.021

unidades do total das carrocerias fabricadas no país. O Gráfico 7.16 apresenta os

números relativos à década de 1970.

Gráfico 7.16 – Evolução da Produção e Market Share da Marcopolo na década de 1970

0

500

1,000

1,500

2,000

2,500

3,000

3,500

4,000

1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980

Pro

du

ção

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Mar

ket

Sh

are

%

Produção Marcopolo Part. de Mercado %

Fonte: Fabus

No final da década de 1970, as exportações da Marcopolo atingiram níveis

expressivos para o setor. Somente no primeiro semestre de 1979, a empresa

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359

exportou o equivalente a 12 milhões de dólares, volume superior ao exportado em

todo o ano anterior. Em 1980, a Marcopolo atingiu a cifra de 20 milhões de dólares

em exportações, um aumento de 106,7% em relação a 1979.

Através da rede de representantes no exterior, a Marcopolo gerava

confiança e proporcionava um amplo atendimento aos seus clientes. Em 1981,

esse grupo contribuiu para que o total das exportações da empresa chegasse aos

2 milhões de dólares. Para operar o processo de vendas no mercado

internacional, a Marcopolo buscou parcerias com os fabricantes de chassi, como

Mercedes-Benz, Scania e Volvo. Tais parcerias tinham a finalidade de definir

objetivos para a promoção de ambas as empresas (a fabricante do chassi e a da

carroceria), como também de realizar a entrega dos lotes de ônibus.

7.2.3. Fase 3: De 1981 a 1990 – Os Piores Anos e a Onda de Diversificação

No início da década de 1980, o desaquecimento da economia brasileira

afetou especialmente o setor industrial, agravando o nível geral de desemprego,

promovendo uma alta das taxas de juros e constantes aumentos nos preços dos

combustíveis. Esses elementos juntos influíram de forma negativa na renovação

das frotas das empresas de ônibus nacionais. A produção de ônibus, em 1981,

que foi de 15.267 unidades, foi decrescendo sucessivamente, e em 1984 atingiu

apenas 6.650 unidades. Essa redução em quase de 57% da produção nacional

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360

teve reflexos no envelhecimento da frota brasileira, que naquele período chegou a

ter 53,9% dos ônibus com idade superior a oito anos, idade considerada

exagerada na ocasião. O Gráfico 7.17 mostra a produção brasileira, a produção da

Marcopolo e a participação de mercado no Brasil ao longo da década de 1980.

Gráfico 7.17 – Evolução da Produção e Market Share da Marcopolo na década de 1980

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

16,000

18,000

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990

Pro

du

ção

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Mar

ket

Sh

are

%

Produção Nacional Produção Marcopolo Part. de Mercado %

Fonte: Fabus

Em 1983, o nível de emprego industrial na Grande São Paulo havia caído

19% em relação a 1980. A inflação fechou o ano em 211% e o PIB teve uma

queda de 3,4%. O período foi marcado por intensos movimentos nacionais como o

Diretas Já – mobilização nacional que reivindicava eleições diretas para

Presidente da República. As greves e as paralisações reuniram milhões de

pessoas nos grandes centros brasileiros.

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361

Em 1986, o lançamento de planos econômicos, como o Plano Cruzado,

aumentou a produção e fez cair a inflação. Em setembro de 1986, a indústria

nacional teve um crescimento da ordem de 29% em relação à média de 1981, e a

inflação no final do ano baixou para 62,36%.

Em 1987, com o fim do congelamento de preços, os efeitos inflacionários

reapareceram, assim como as greves e novos planos econômicos. O país vivia

uma forte recessão, com desemprego e taxas de juros elevadas, o que

inviabilizava novos investimentos por parte da iniciativa privada. Como observado

no Gráfico 7.17, nota-se que o setor de fabricação de carrocerias de ônibus

também sentiu os sentiu os reflexos da recessão, visto que apenas em 1981, a

produção de carrocerias no Brasil atingiu o número de 15.000 unidades

produzidas. A busca de soluções para as dificuldades do momento levou a

Marcopolo a lançar novos produtos e a comercializá-los através de novos

sistemas de financiamento, como consórcio e leasing.

No dia 20 de fevereiro de 1981, com a presença de João Baptista de

Figueiredo, Presidente da República, foi inaugurada a unidade fabril de Ana Rech,

cujas obras haviam iniciado em 1979. Esta unidade, dez anos mais tarde, chegou

a ocupar 52.199 m2 de área construída, quase o dobro da área inicial de 30.000

m2. Em 2007, a unidade de Ana Rech contava com 321.000 m2 de área física e

69.000 m2 de área construída.

Em 1983, foi realizado um investimento de mais de dois milhões de dólares

em pesquisa e desenvolvimento para lançar uma nova linha de produtos, que

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362

estivesse caracterizada pela mais alta tecnologia e segurança. Em 1984, ano

seguinte, a Marcopolo já produzia e comercializava nos mercados nacional e

internacional, a Geração IV de seus ônibus, que foi composta pelos rodoviários

Paradiso, Viaggio e Strada; pelos urbanos Torino (nas versões Standard, Padron,

XP - Expresso, Trolebus, Romeu e Julieta e Articulado); pelos microônibus Senior

(nas versões Executivo, Turismo, Urbano e Escolar) e FB-4000 (nas versões

Escolar, Turismo, Executivo e Urbano).

A Marcopolo, para superar esse período de crise nacional, reavaliou e

modificou seus processos e sistemas de gerenciamento e de produção. Tais

medidas cooperaram para que a empresa se recuperasse da crise sofrida no início

da década de 1980, quando diversas empresas fecharam as portas ou entraram

em concordata, como foi o caso do Grupo Randon, o maior grupo de Caxias do

Sul, com faturamento de US$ 1,2 bilhões em 2006. (Melhores & Maiores, EXAME,

2007).

Em 1984, foram encerradas as atividades da controlada Marcopolo Minas

S.A., unidade fabril inaugurada em Betim (MG) em 1981. Essa decisão foi

motivada pela forte recessão do mercado de ônibus urbanos no Brasil, e tal

unidade não havia operado com lucro desde sua fundação (Relatório de

Administração, 1984). A Tabela 7.10 apresenta o volume de carrocerias

produzidas pela Marcopolo Minas durante os quatro anos que esteve em

funcionamento:

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363

Tabela 7.10 – Produção da Marcopolo Minas S.A. entre 1981 e 1984

SEGMENTO 1981 1982 1983 1984 TOTALURBANO 295 258 430 288 1,271

INTERMUNICIPAL 18 45 14 30 107ESPECIAL 0 5 0 0 5

TOTAL 313 308 444 318 1,383

Fonte: Fabus

A partir de 1984, a empresa começou a dedicar parte de sua estratégia à

diversificação de atividades. Foi constituída a Marcopolo Distribuidora de Peças

Ltda, incorporando as filiais da Marcopolo instaladas em Recife, Rio de Janeiro e

São Paulo. Foi constituída também em novembro de 1984, a controlada

Marcopolo Agro-Florestal Ltda. para dedicar-se ao setor de reflorestamento e

agricultura da companhia. Em 1985, a Marcopolo Minas S.A. incorporou a

controlada Marcopolo Distribuidora de Peças Ltda. e transferiu sua sede para

Caxias do Sul (RS).

Em 1986, dando seguimento ao projeto de diversificação, foi instalada uma

unidade fabril em São José dos Pinhais, no Paraná, da MVC Componentes

Plásticos – empresa especializada inicialmente na fabricação de produtos

fiberglass. Numa área total de 55.000 m2, com 5.000 m2 de área construída, sua

implantação tinha por objetivo a produção de peças em fibra de vidro utilizadas

nos ônibus. Essa fábrica também abastecia as montadoras de caminhões, tratores

e similares, e fornecia componentes para outros segmentos da indústria, como a

de móveis e a construção civil.

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364

Em 1987, a Elizário S.A. Carrocerias e Ônibus foi incorporada com o

objetivo de melhorar o desempenho global do grupo. Neste mesmo ano, foi

constituída a Marcoveza e a MP – Participações e Administração Ltda., cujo

objetivo era controlar e administrar as participações da Marcopolo em outras

empresas.

Em 1988, foi constituída a Polo Agenciadora de Negócios Ltda., cuja

finalidade era agenciar negócios em geral. Ainda em 1988, dentro do programa de

diversificação de investimentos, a companhia decidiu participar do projeto de

privatização da Caraíba Metais S.A., única produtora de cobre eletrolítico no

Brasil. O cobre eletrolítico é a matéria-prima para a industrialização de fios e

cabos para energia e telecomunicações, radiadores, tubos, placas, vasilhames,

ligas metálicas (com destaque para o latão e o bronze), além de outras

finalidades.

Em 1989, ano de seu 40º aniversário, por meio da Polo Agenciadora de

Negócios Ltda., a Marcopolo iniciou uma participação no capital do Banco Arbi

S.A., com sede em São Paulo e filiais no Rio de Janeiro e Porto Alegre. Ainda em

1989, foi constituída a Marcopolo Paraná Veículos e Componentes Ltda., cujo

objetivo era fabricar e comercializar ônibus, veículos automotores, carrocerias e

componentes para a indústria automobilística.

Com a Geração IV, resultado de uma mudança significativa principalmente

nos setores de engenharia e de produção, a Marcopolo renovou sua imagem no

Brasil e no exterior. A empresa identificou que para lançar uma nova linha de

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365

produtos, o trabalho dos engenheiros e projetistas não eram condições suficientes.

Foi realizada uma grande mudança em todo o setor de produção, para que o foco

estivesse mais direcionado às necessidades apontadas pelos usuários.

Os produtos da Geracão IV foram criados a partir das necessidades

assinaladas pelos clientes e foram aprimorados seguindo o mesmo referencial. Tal

foco contribuiu para a consolidação da imagem da Marcopolo no mercado e para o

seu reconhecimento mundial como uma das maiores indústrias do ramo. Em 1986,

devido ao sucesso da Geração IV, a Marcopolo recebeu seu segundo Prêmio

Distinção Indústria com o ônibus rodoviário Paradiso.

Ainda na década de 1980, a Marcopolo vive uma das principais

transformações de sua história. Inspirada nas práticas japonesas, a Marcopolo

decidiu aprofundar-se na questão da qualidade, através da implantação de uma

nova mentalidade de administração e de produção. O processo teve início em

1986, numa viagem técnica ao Japão, organizada pelo Instituto de Movimentação

e Armazenagem de Materiais (IMAM), através dos professores Reinaldo A. Moura

e José Maurício Banzato.

Nesta visita, o Presidente Paulo Bellini, e o então, Diretor Industrial, Cláudio

Gomes, conheceram as políticas japonesas de administração e produção e seus

diversos programas nas áreas de segurança, organização, treinamento e

qualidade, e retornaram ao Brasil com 14 fitas-cassetes contendo palestras e

informações pessoais, alem de outras tantas informações escritas. De volta a

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366

Caxias do Sul, os viajantes reuniram a diretoria e a gerência e expuseram suas

conclusões.

Os métodos japoneses foram divulgados aos empregados e a eles foi

proposto que o método fosse implementado na Marcopolo. De acordo com

depoimentos de Paulo Bellini, a Marcopolo acreditava a implementação do

sistema japonês não ocorreria sem o comprometimento dos funcionários:

“Nós acreditamos no que vimos. E, embora não soubéssemos como implantar o sistema aqui, tínhamos uma certeza: nada aconteceria por imposição da direção, precisaria haver o convencimento e a participação espontânea de nossos colaboradores. Este era o grande segredo do sucesso e o grande desafio.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 30)

No período de novembro de 1986 a março de 1987, para dar seqüência ao

processo, o professor Banzato realizou diversos cursos e assessorias sobre Just-

in-Time/Kanban na empresa, com o envolvimento de colaboradores de diversas

áreas. A equipe da Marcopolo, a seguir, realizou diversas outras visitas ao Japão,

com a finalidade de aprofundar conhecimentos e buscar subsídios para a

implantação da filosofia japonesa de administração e produção.

As palestras intituladas “Conheça as Características da Indústria

Japonesa”, realizadas fora do horário normal de trabalho e com participação

espontânea, foram a forma encontrada para iniciar a implantação. A primeira parte

era dedicada à cultura japonesa. A segunda parte se discutia a parte mais técnica

do sistema produtivo japonês, incluindo o kanban, o uso de prateleiras e controles

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367

visuais. A terceira parte dava importância aos aspectos comportamentais,

envolvendo relacionamento e ambiente.

No final das palestras, ministradas pelo Diretor Industrial, estimulava-se o

espírito crítico, sugerindo que os participantes comentassem com seus colegas

suas impressões sobre o conteúdo da palestra. Isto funcionou como “marketing”

na empresa, que por fim resultou na participação de cerca de 90% dos

colaboradores. No encerramento, o Diretor-Presidente fazia a entrega de

certificados e fotos e aproveitava a oportunidade para exercitar a participação dos

empregados, solicitando sugestões sobre a forma de distribuí-los.

Em seguida, os princípios da nova filosofia tiveram início num primeiro

setor, o Setor de Pintura a Pó. Juntamente com seu supervisor, três grupos foram

organizados e dedicaram-se a melhorar o ambiente do local de trabalho. Os

primeiros grupos desenvolveram idéias que despertaram a curiosidade e o

interesse de outros setores, que começaram a ter iniciativas semelhantes. A

empresa passou a difundir os resultados do trabalho dos grupos através de fotos e

cartazes nos quadros murais. Isto fez com que todos os setores da empresa

ficassem mais motivados, o que estimulou um trabalho de integração.

Mais tarde, como declararam Reinaldo Moura e José Banzato, professores

do IMAM, a Marcopolo transformou-se em modelo de implantação para diversas

empresas em nacionais e internacionais:

“Receba, Paulo Bellini, e transmita a toda a sua diretoria a aos demais colaboradores da família Marcopolo, os nossos sinceros cumprimentos pela extrema dedicação, entusiasmo determinação e muito trabalho para

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obter esse reconhecido sucesso que é a Marcopolo, um belo exemplo brasileiro e mundial, hoje e no futuro.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 30)

Todo esse processo deu origem ao Sistema Marcopolo, um conjunto de

técnicas que objetivava a produção com qualidade, num bom ambiente de

trabalho, por pessoas satisfeitas. A filosofia do SUMAM (Sugestões de

Melhoramentos no Ambiente Marcopolo) e a técnica do SIMPS (Sistema Integrado

Marcopolo de Produção Solidária) são os princípios básicos do Sistema

Marcopolo, e estes foram os responsáveis pelas principais mudanças ocorridas na

Marcopolo neste período (UEHARA, Alexandre; MASIERO, GILMAR. Marcopolo:

A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 117).

O SUMAM tem por objetivo levantar problemas e buscar soluções para

melhorar o ambiente e o processo de trabalho. Os grupos são espontâneos,

formados por afinidade, podendo participar qualquer colaborador da empresa.

Para funcionar, o grupo escolhe um líder e um nome para se autodesignar. As

reuniões ocorrem durante o horário normal de expediente. Embora o processo

tenha começado somente com a aplicação genérica dos 5 “S” (Seiri –

Organização, Seiton – Ordem, Seiso – Limpeza, Seiketsu – Conservação,

Shitsuke – Disciplina), gradativamente os grupos se inclinaram a ampliar sua

atuação, em nível de racionalização de métodos e processos.

O SIMPS alia a técnica conhecida como kanban com a filosofia just-in-time

e objetiva otimizar os processos produtivos, evitar desperdícios, além de reduzir

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estoques e melhor controlá-los. Segundo Luiz. C. Boff, Gerente de Produção da

época, de 1986 a 1994, o clico de produção foi reduzidos de 30 para 7 dias, e em

1994, se produzia o dobro pela metade do espaço (UEHARA, Alexandre;

MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996,

p. 117). Esse sistema envolve confiabilidade e boas relações entre fornecedores e

clientes internos e externos.

A empresa, por sua vez, investiu muito na implantação e implementação

dessa filosofia oferecendo as condições necessárias para que todos os setores se

engajassem nela. Em 1989, um novo desafio era lançado aos colaboradores da

Marcopolo: toda a energia deveria ser canalizada, agora, para a qualidade do

produto. Começa, então, o preparo para a produção da Qualidade Assegurada,

mais um passo que resultou em sucesso dentro e fora da empresa, projetando a

Marcopolo, seu produto e sua equipe no mercado.

No ano de 1977, a Marcopolo registrou um número de 1.036 funcionários

beneficiados com treinamentos, que incluíam desde a integração inicial e o TWI

(Training Within lndustry) até os cursos destinados aos supervisores. Em 1986,

após a implantação da filosofia japonesa, houve uma maior diversificação quanto

à oferta de atividades de capacitação, pois tiveram início os treinamentos voltados

ao SUMAM e ao KAIZEN, para a formação e o aperfeiçoamento constantes dos

líderes e das equipes atuantes.

Também foram oferecidos treinamentos ao pessoal técnico das empresas

controladas, aos representantes comerciais e aos prestadores de serviços, cujo

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grande objetivo era a agilização do atendimento aos clientes e a padronização do

sistema de informações externas a fábrica. O Sistema Marcopolo, através do

SIMPS, do SUMAM e do sistema de qualidade, foi implantado não só nas fábricas

de Caxias do Sul, mas também nas empresas controladas, e sendo mais tarde

estendido aos fornecedores, que receberam assistência para a implantação dessa

filosofia.

A Marcopolo iniciou o kanban internamente e, paulatinamente com seus

fornecedores externos. A preocupação central passou a ser a entrega de materiais

diretamente na linha de montagem sem inspeções previas de qualidade pelo

pessoal da empresa. Inicialmente as entregas passaram a ser semanais e para a

surpresa da Marcopolo alguns fornecedores sugeriram entregas diárias.

Em 1989, a Marcopolo começou o planejamento de uma escola. O

investimento no capital humano passou a ser direcionado àqueles que eram vistos

como as promessas de uma nova geração. Em um primeiro momento, tal

investimento de restringia aos filhos dos colaboradores, porém, mais tarde, esse

capital passou a ser investido nos jovens em geral, independente da existência de

qualquer vínculo com a empresa.

Antes, em maio de 1988, a Marcopolo instituiu a Fundação Marcopolo (FM),

entidade dotada de personalidade jurídica, sem fins lucrativos, com autonomia

patrimonial, administrativa e financeira que teve por objeto social promover o bem-

estar social de seus colaboradores. A Fundação oferecia benefícios variados

como: o Programa de Incentivo a Educação, coordenado pela Área de

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Treinamento, que custeia parte dos estudos dos colaboradores, nos níveis de 1o

grau, 2o grau, graduação ou pós-graduação; convênios com diversos

estabelecimentos comerciais e escolas de informática; e empréstimos para

colaboradores que necessitam de recursos para tratamento de saúde e para

construção. Os planos de saúde e o atendimento médico-odontológico são

oferecidos pela empresa, sendo o último feito nas próprias unidades fabris, o que

contribui para a segurança do colaborador.

Ainda em 1988, ônibus Marcopolo chegaram ao mercado norte-americano.

Foi a primeira vez que um fabricante latino-americano estabelecia exportações

regulares com os EUA. As primeiras unidades do microônibus S&S (Shuttle Bus)

tiveram grande aceitação no mercado, em virtude do design, acabamento e

conforto. Este microônibus foi especialmente criado para atender ao transporte de

passageiros em curtos e médios percursos, a uma fatia do mercado norte-

americano:

Comercializado por seu distribuidor exclusivo Stewart & Stevenson em

1988 e 1989, o microônibus S&S, produzido nos modelos S-25 e S-28, foi

considerado revolucionário para os padrões americanos da época. Para fabricá-lo,

a empresa precisou desenvolver uma série de materiais em conjunto com seus

fornecedores, além de uma rigorosa adaptação do projeto às normas técnicas

norte-americanas.

O microônibus apresentava características diferenciais como largura das

portas, maior do que a convencional, e a disposição das poltronas no formato de

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372

“U”, que tornava a circulação interna mais fácil. Esses modelos foram usados

principalmente em hotéis e aeroportos – na condução de locadores de automóveis

dos parques de estacionamento até às áreas de embarque – além de realizar o

transporte em passeios para pequenos grupos de turistas.

Por meio desse produto a Marcopolo ganhou força no mercado

internacional e deu um passo em direção a um mercado sofisticado, pois sua

equipe teve a oportunidade de conhecer novos materiais e processos, e uma outra

normatização internacional. Ao produzir o S&S para os EUA, a Marcopolo obteve

também grande repercussão no cenário internacional, deixando o produto

brasileiro em destaque.

Ainda em 1988, o Peru recebeu por dezoito meses, até 1989, uma equipe

de técnicos da Marcopolo para a capacitação de pessoal e a montagem de 300

ônibus Torino em parceria com a Volvo. As unidades, enviadas em MKD desde

Caxias do Sul foram montadas nas instalações das fábricas Etransa (em Lima) e

Morillas (em Trujillos).

Em 1988, houve uma redução da rotatividade da mão-de-obra de 37,9%,

em 1987, para 13,8%, principalmente devido aos programas de apoio e

assistência aos colaboradores e seus familiares. Em 1989, a rotatividade da mão-

de-obra atingiu 12,4%. (Relatório de Administração, 1989)

Em 1990, com a introdução do Plano Brasil Novo, mais conhecido como

“Plano Collor”, o mercado de transporte de passageiros foi severamente afetado.

Em 1990, a produção brasileira baixou de 12.658 para 11.076, uma queda de

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12,5%. De imediato, as mudanças estruturais e conjunturais implementadas pela

nova equipe provocaram cortes de investimentos para reposição das frotas devido

a diversos fatores, como o seqüestro de liquidez nas empresas, congelamento de

preços e salários, defasagem tarifária, aumento nos níveis de desemprego e falta

de financiamento a longo prazo, tanto ao mercado interno quanto ao externo.

Em junho de 1990, além dos problemas enfrentados pela indústria com a

mudança de governo, a Marcopolo enfrentou, também, uma greve geral dos

metalúrgicos. Neste ano, a rotatividade da mão-de-obra passou de 12,4%, em

1989, para 24,9%, em razão das mudanças governamentais na política salarial e

da reestruturação administrativa. (Relatório de Administração, 1990)

7.2.4. Fase 4: De 1991 a 2006 – A Internacionalização

Uma das maiores contribuições das exportações para a Marcopolo foi o

aperfeiçoamento técnico da própria atividade industrial. A empresa foi crescendo

junto com a industrialização e com o incremento das exportações do país.

Em 1991, a Marcopolo lançou o expresso Ligeirinho em Curitiba (PR),

cidade referência nacional da área do transporte coletivo. O Ligeirinho se tratou de

um ônibus especial, que foi desenvolvido por meio de parceria entre Marcopolo,

URBS (Urbanização de Curitiba S.A.) e IPPUC (Instituto de Pesquisa e

Planejamento de Curitiba).

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O Ligeirinho fez parte de um sistema de transporte coletivo e inovador que

foi proposto para a cidade. Os ônibus não possuíam catracas (elas ficavam na

entrada das estações de embarque e desembarque), liberando mais espaço

interno para os passageiros. Não existiam degraus: as portas de embarque,

localizadas no lado esquerdo do ônibus, eram conectadas às estações-tubo por

uma plataforma móvel, facilitando o acesso dos passageiros, inclusive de

deficientes físicos. Tais características tornaram a parada no ponto bem mais

rápida.

Pequenas obras de superfícies foram necessárias para sua implantação,

ocasionando poucos traumas para a cidade. Seu traçado pode ser alterado e

ampliado com facilidade, e seus usuários não são privados da paisagem urbana.

Em 1992, um ano após a implantação, tamanho foi o sucesso do novo ônibus que

Curitiba já contava com seis linhas regulares e outras 15 em fase de implantação.

Ainda em 1991, a coordenação do Projeto Megacidades conheceu o

Sistema Ligeirinho e o divulgou em Nova York, sede do projeto. Em 1992, o

sistema foi testado em uma linha de 7,5 km ao sul da ilha de Manhattan, em Nova

York. Em 1999, os ônibus Marcopolo participavam com 71% do total de 361

ônibus Ligeirinho em circulação na capital paranaense e na região metropolitana

integrada, mostrando o sucesso do projeto e a confiança em relação à Marcopolo.

O lançamento do Marcopolo Geração V foi outro projeto lançado na década

de 1990. Os primeiros modelos dessa nova linha de ônibus foram os rodoviários

Paradiso GV e Viaggio GV. O projeto partiu de um sistema produtivo mais ágil,

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capaz de fabricar veículos com melhores relações de consumo, aerodinâmica,

desempenho e eficiência. Também se buscou melhorar características de espaço

interno, conforto, segurança, economia operacional e facilidade de manutenção.

Em 1992, no momento de lançamento da Geração V, a produção nacional

no setor havia crescido pelo segundo ano consecutivo, superando em 15,1% o

ano anterior. A Marcopolo, nesse período, apresentou um crescimento de 18%,

acima da média nacional. Tal crescimento foi em razão da prática de tarifas

públicas realistas, ao financiamento de projetos integrados de transporte urbano,

por parte da FINAME, da intensificação do uso do leasing, do Crédito Direto ao

Consumidor, dos consórcios e à utilização do Vale Transporte como instrumento

de política social.

Nesse mesmo ano, o governo brasileiro criou o Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade (PBQP) para apoiar a modernização das empresas

brasileiras que precisavam se ajustar à abertura econômica e à forte concorrência

estrangeira. Para isso, contou com a assessoria do engenheiro japonês Kazuo

Tsuchia, especialista da Japan Productivity Center. Em visita oficial ao Brasil, ele

declarou-se impressionado com a Marcopolo, comentou que a fábrica da

Marcopolo era surpreendente e que a empresa possuía controle de qualidade

superior até ao de muitas empresas do Japão. (UEHARA, Alexandre;MASIERO,

GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 120)

A Marcopolo vem colecionando prêmios desde quando as carrocerias eram

feitas de madeira. O microônibus Marcopolo Jr., o Paradiso, o Paradiso Double

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Decker e o minibus Volare conquistaram o Prêmio Distinção Indústria da FIERGS

nos anos 1972, 1986, 1996 e 1999. Ao longo dos anos, os ônibus da Marcopolo

receberam diversos prêmios tanto de entidades nacionais como internacionais.

A qualidade dos produtos Marcopolo, apesar de reconhecida e comprovada

pelo mercado brasileiro, precisava ser mais tecnicamente ordenada e padronizada

para que pudesse definitivamente se firmar no contexto mundial. Dessa forma, em

1994, a Marcopolo deu início à implantação do Programa de Certificação ISO

9000.

Com a experiência no trabalho em equipe conquistada na implantação do

Sistema Marcopolo, a empresa seguia acreditando que as transformações só iam

ocorrer com sucesso se todos os colaboradores participassem, sendo ouvidos e

tendo suas opiniões respeitadas. Nesse contexto, a empresa iniciou a implantação

do programa de qualidade. A Marcopolo foi atravessando as etapas do programa

e em 1995 definiu sua política da seguinte forma: “A Marcopolo tem como objetivo

a melhoria do ambiente e dos processos, produtos e serviços, a fim de satisfazer

seus clientes e colaboradores”.

Em outubro de 1996, a Marcopolo recebeu a Certificação ISO 9002, e em

abril de 1997, a Certificação ISO 9001, ambas conferidas pelo órgão certificador

holandês Det Norske Veritas. Ao conquistar tais certificações, além de ter

garantida a qualidade de seus produtos e serviços, a Marcopolo se tornou a

primeira montadora brasileira de carrocerias a ser certificada e reconhecida

internacionalmente.

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Por meio da comprovação da ISO, a Marcopolo obteve a formalização e a

equalização de seus processos. A empresa também agilizou e melhorou o

atendimento a clientes e intensificou as parcerias com fornecedores. Outro

objetivo importante atingido pelo Plano Global de Qualidade foi certificação ISO

14000. Esta normatização tratou a questão de preservação do meio ambiente. A

partir de 1999, a empresa começou a realizar a separação de resíduos de acordo

com o respectivo destino.

Em 1991, a Marcopolo deu início a uma nova fase de expansão para

ampliar sua presença em outros mercados. Neste ano a empresa iniciou uma

joint-venture com o grupo português Evicar, forte distribuidor de veículos

industriais produzidos pela empresa holandesa DAF, entre outras. Através dessa

associação a Marcopolo iniciou o seu processo de internacionalização com a

instalação desta sua primeira fábrica fora do Brasil, localizada na cidade de

Coimbra, em Portugal. A Marcopolo S.A. participou com 66% do capital desta

nova empresa.

Em função da participação do país no bloco econômico da comunidade

européia, nos seus primeiros anos de atuação, a Marcopolo Portugal concentrou-

se na prospecção de mercados, pesquisando as necessidades do consumidor

europeu, para posteriormente desenvolver um produto que atingisse os índices de

satisfação do usuário. A fábrica de Portugal, inicialmente com pequena

capacidade de produção, possibilitou o acesso da Marcopolo aos mercados da

União Européia e o intercâmbio tecnológico entre as unidades industriais da

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empresa. De acordos com dados de 2006, a fábrica em Portugal ocupava uma

área de 28.000m2, dos quais 7000m2 são de área construída, e sua capacidade de

produção era de 250 unidades/ano.

Ainda em 1991, ocorre a cisão parcial da Marcopolo S.A. Carrocerias e

Ônibus, resultando na constituição da Companhia Marcopolo de Participações. A

companhia incorporou a controlada direta, MP Participações e Administração

Ltda., e indireta Polo Agenciadora de Negócios Ltda. A proposição dessa cisão foi

sugestão dos acionistas que entendiam que a Marcopolo S.A. devia dedicar-se ao

seu ramo de atividade. Eles argumentavam que os investimentos em outras áreas

traziam dificuldades ao mercado para melhor avaliar o desempenho da Marcopolo,

pois a empresa sempre estaria à mercê do resultado de outras companhias, como

a Caraíba Metais S.A. e o Banco Arbi S.A. (Relatório de Administração 1990).

Ainda em 1991, foi constituída a ILMOT Internacional Corporation S.A.

Em fevereiro de 1992, a Marcopolo estabeleceu um contrato com a Dina

Autobuses, do México. Esta operação envolveu a exportação de ônibus completos

(400 ônibus Paradiso e 2.500 unidades pelo sistema CKD) e a transferência da

tecnologia de fabricação. O contrato, com vigência de dez anos, estabelecia o

fornecimento de peças, componentes e técnicas de montagem de carrocerias.

Em 1992, devido às mudanças na legislação, foi preciso uma nova

alteração, porém o nome Marcopolo permaneceu e a denominação social trocou

Marcopolo S.A. Carrocerias e Ônibus para Marcopolo S.A. Neste mesmo ano é

constituída a Marcopolo Empreendimentos e Participações Ltda. e a Marcopolo

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International Corporation S.A, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, trading que

tinha como função buscar alternativas de financiamento aos importadores dos

produtos da empresa.

A partir de 1993 a Marcopolo passou a centralizar seus investimentos no

exterior na Marcopolo International Corporation. Então foram transferidas para

essa empresa a participação na Ilmot International Corporation S.A. e a

participação na Marcopolo Empreendimentos e Participações Ltda.

Ainda em 1993, a Revista Exame distinguiu a Marcopolo com o título de “A

Empresa do Ano” pelo melhor desempenho no setor de Material de Transporte. Na

edição de 07/11/1994, a Revista Forbes incluiu a Marcopolo no ranking das “100

Melhores Pequenas Empresas do Mundo” e neste mesmo ano a Marcopolo

recebeu o prêmio “Destaque Empresarial” conferido pela Associação Comercial e

FEDERASUL em Porto Alegre (RS).

Em 1994, foi Iniciado o programa de transferência das atividades de

montagem, administração e vendas da unidade Planalto para unidade Ana Rech,

o que gerou benefícios como redução de custos, integração das atividades e

melhor atendimento aos clientes. No primeiro ano de transferência, a unificação

dessas atividades contribuiu com uma economia superior a R$1.300.000,00

(Relatório de Administração, 1995).

Nesse processo que envolveu a racionalização das atividades de duas

fabricas em uma, cerca de 500 funcionários foram demitidos. Muitos deles, em

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torno de uma centena, tornaram-se parceiros da Marcopolo e exerceram

atividades que eram terceirizadas por ela. Segundo depoimento de Paulo Bellini:

“Essa foi a solução adotada para suprir a falta de fornecedores de alguns produtos, além de necessitarmos de terceiros confiáveis, que utilizem os mesmos sistemas que nós, pois precisamos receber peças para o dia, ou até duas vezes por dia e não para um mês.” (UEHARA, Alexandre;MASIERO, GILMAR. Marcopolo: A Japonização no Sul do País, São Paulo, 1996, p. 119)

Em 1995, a Marcopolo adquire 55% das quotas de participação da Dinaço

Ind. e Com. de Ferro e Aço Ltda, empresa especializada na transformação e

beneficiamento de aço, localizada em Caxias do Sul (RS). No mesmo ano, a

empresa lança o ônibus rodoviário Paradiso Double Decker, sendo pioneira no

país na fabricação desse tipo de veículo. Neste mesmo ano, foi autorizado

funcionamento da Marcoprev Sociedade de Previdência Privada, cuja finalidade

era a concessão de benefícios complementares aos da Previdência Social a todos

os funcionários da Marcopolo. A Marcoprev foi instituída para substituir e ampliar o

antigo Plano de Suplementação Previdenciária Marcopolo (PSPM) que empresa

mantinha desde 1991.

Ainda em 1995, a empresa encaminhou pedido de registro de programa de

ADR's (American Depositary Receipts) em nível 1, programa que passa a ser

instituído a partir de 1996. Em 1995, a Mercedes Benz do Brasil, comunicou iria

paralisar a produção de ônibus completos até o final do ano de 1996 para

concentrar-se na fabricação de chassis e plataformas para ônibus. Essa decisão

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fez com que as indústrias do setor, e principalmente a Marcopolo, agregassem um

volume significativo a seus programas de produção.

No Relatório de Administração do ano de 1996, foi destacado o seguinte

trecho que transmite o momento que a empresa vivia:

“A Marcopolo preocupada com a expansão de seus negócios e com o objetivo de sempre manter um elevado grau de atendimento aos seus clientes e um adequado retorno aos seus acionistas, está desenvolvendo intenso trabalho nos programas de redução de custos, melhoria da qualidade e produtividade, bem como a procura de novas alternativas. Isto tudo vem sendo realizado com base em um criterioso programa de Planejamento Estratégico, no qual estão engajadas todas as forças da empresa. De outra parte, a Marcopolo vem colaborando com grande empenho junto à Associação Nacional dos Transportes Públicos – ANTP, Associação Nacional dos Fabricantes de Carroçarias para Ônibus – FABUS e Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU, no sentido de sensibilizar e alertar as autoridades governamentais para a necessidade urgente e inadiável da PRIORIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO SOBRE O TRANSPORTE INDIVIDUAL. Para tal, essa será sua grande missão sócio-política em 1997.” (Relatório da Administração, 1996, p. 9)

Nesse ano, 1996, foi constituída a Polo Serviços em Plástico Ltda. e da

Polo Investimentos Ltda. Neste mesmo ano, em conseqüência de toda essa

transformação, uma reestruturação administrativa foi necessária, configurando a

direção da Marcoplo da seguinte forma: um Conselho de Administração,

constituído pelo Presidente e por dois conselheiros; uma Diretoria Corporativa,

composta pelo Presidente, pelo Vice-Presidente e por dois Diretores; e uma

Diretora Executiva, que conta com um Diretor Geral, um Diretor de Operações, um

Diretor Comercial e um Diretor Administrativo Financeiro.

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Segundo depoimentos de Carlos Zignani, atual Diretor de Relação com os

Investidores (RI), a profissionalização da empresa foi um marco na história da

Marcopolo.

“Um momento muito importante foi quando a alta diretoria da Marcopolo percebe que deveria haver mudanças na gestão dos negócios da organização, principalmente no sentido de profissionalizar a companhia. Essa mudança foi um marco na história da empresa.” (Marcopolo: Meio Século de uma História, 1999, p. 32)

Em 1997, a Marcopolo adquiriu o controle total da Dinaço lnd. e Com. de

Ferro e Aço, que passou a compor a estrutura corporativa da Marcopolo S.A. No

mesmo ano, o mercado externo voltou a ser enfocado como uma das prioridades

da empresa, pois desejava estar sintonizada com uma economia globalizada e

competitiva (Relatório de Administração, 1997). A Marcopolo Indústria de

Carrocerias S.A. em Coimbra, Portugal, passou a pertencer integralmente à

Marcopolo S.A.

Em 1998, foi inaugurada a Marcopolo e Latinoamerica S.A., na Província de

Córdoba, cidade de Rio Cuarto, na República Argentina, com uma capacidade

inicial de produção de 1.200 unidades/ano, destinada a produzir carrocerias

urbanas para o próprio mercado argentino e demais países do Cone Sul.

Na continuidade de seus esforços para atingir a liderança absoluta no

mercado, a empresa logrou alcançar, em 1998, a participação maior em todos os

segmentos do setor: rodoviários, micros e, pela primeira vez em sua trajetória

industrial no Brasil, a maior produção também em ônibus urbanos (Relatório de

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Administração, 1998). O Gráfico 7.18 apresenta a evolução da participação de

mercado da Marcopolo por segmento de ônibus entre 1983 e 2006.

Gráfico 7.18 – Evolução do Market Share por Segmento de Ônibus da Marcopolo de 1983 a 2006

Evolução Market Share - Tipo de Ônibus

0.0%

10.0%

20.0%

30.0%

40.0%

50.0%

60.0%

70.0%

80.0%

1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Rodoviários Urbanos Micros Minis (LCV)

Fonte: Relatórios de Administração de 1983 a 2006

Em 1999, a empresa reformulou sua estrutura organizacional para fazer

frente às novas oportunidades de negócios e perspectivas comerciais. Foram

criadas as diretorias de Operações Internacionais e de Operações Comerciais no

Brasil, com o objetivo de fortalecer as vendas e prestar um atendimento mais

especializado aos clientes. Foi instituída a diretoria de Estratégia e

Desenvolvimento, com a função de formular e direcionar as estratégias de longo

prazo, acompanhar a evolução do setor, de novos mercados e de produtos. Foi

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também formalizada a diretoria de Engenharia, Aquisição e Logística, responsável,

na sua área, pelo desenvolvimento de tecnologias e criação de contínuos

diferenciais competitivos para a organização. (Relatório da Administração, 1999)

Neste mesmo ano de 1999, em parceria com as empresas Volvo e Eletra,

foi desenvolvido um veículo com tecnologia de propulsão hibrida, por motores a

diesel e elétrico. A empresa também lançou o Volare, um minônibus integral,

direcionado ao sistema de transportes especiais, e o Escolarbus, projetado para

atender às necessidades especificas do transporte escolar. Ainda em 1999, a

Marcopolo passou a administrar a Ciferal, empresa sediada em Duque de Caxias,

Xerém, no Rio de Janeiro, ao adquirir 50% de seu capital votante e total.

Em 2000, a Marcopolo S.A. firmou acordo com a Superbus de Bogotá S.A.

(Superbus), líder na fabricação e comercialização de carrocerias para ônibus na

Colômbia, para constituir neste país uma sociedade com a denominação social de

Superpolo S.A.. Nesta sociedade, a Superbus participou com 50% do capital

social, e a Marcopolo participou, através de sua controlada Ilmot International

Corporation S.A., com os outros 50%.

Em 2000, por meio da subsidiária integral Ilmot International Corporation, a

Marcopolo concluiu a operação de aquisição, por US$ 4,2 milhões da totalidade do

patrimônio líquido das empresas Laureano Gonzales S. A. e Laureano S. A.,

estabelecidas na cidade de Rosário, Província de Santa Fé, Argentina. Essas

empresas detinham a exclusividade de concessão da Mercedes-Benz Argentina

em região demarcada. Estas aquisições tiveram como objetivo garantir a

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comercialização e o regular suprimento de chassi para ônibus à Marcopolo

Latinoamerica.

Em 2000, a Marcopolo e a Mercedes-Benz México de C.V., empresa do

grupo DaimlerChrysler AG, firmaram um acordo de Associação e Cooperação,

envolvendo a Polomex S.A. de C.V., controlada da Marcopolo. Na ocasião, por

intermédio da subsidiária Ilmot International Corporation, houve um aumento de

capital de US$ 6,2 milhões na Polomex.

A Mercedes-Benz México passou a deter 26% do capital social da Polomex

a partir de janeiro de 2001, mediante aumento de capital de US$ 2,2 milhões. A

Polomex teve como objetivo a montagem de ônibus com carrocerias Marcopolo

sobre chassis produzidos, principalmente, pela Mercedes-Benz. As instalações da

Polomex foram transferidas de Aguascalientes para Monterrey, no Estado de

Nuevo Leon, próximo à fabrica de chassi da Mercedes-Benz.

Em 2000, a Marcopolo iniciou a montagem do ônibus urbano intermunicipal

Torino na cidade de Pietersburg, África do Sul, em parceria com a Scania South

África Pty. Ltd.. Ainda em 2000, as empresas Polo Investimentos Ltda. (Polo) e

MVC Componentes Plásticos Ltda. (MVC), controladas da Marcopolo S.A., únicas

sócias quotistas da empresa Dinaço Indústria e Comercio de Ferro e Aço Ltda.

(Dinaço), iniciaram operação de venda da totalidade das quotas desta empresa

(Dinaço) para a Tyco Flow Control do Brasil Ltda. Com essa operação, a

Marcopolo visava a focar seus investimentos para a sua atividade principal no

setor de ônibus. (IAN, 2000)

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Nesse mesmo ano, 2000, a Marcopolo avançou nos planos de

reorganização administrativa para dar suporte à expansão dos negócios no Brasil

e no exterior. O Sr. José Rubens De La Rosa foi designado para ocupar o cargo

de Diretor Geral cumulativamente com as funções de Diretor Administrativo e

Financeiro, o Sr. Carlos Zignani passou a desempenhar funções estratégicas

junto à Diretoria Corporativa e o Sr. Carlos Casiraghi assumiu a Direção Geral da

Polomex.

Dando continuidade ao “Projeto África” foi instalada, em Johanesburg (na

África do Sul), uma fábrica própria, cujas atividades iniciaram em novembro de

2001. Tal fábrica fazia parte do complexo industrial foi da Volvo South África (PTY)

Limited, adquirido em parte pela Marcopolo. Paralelamente, continuava em vigor a

aliança estratégica realizada em 2000, com a Scania South Africa Pty. Ltd., com

fábrica na cidade de Pietersburg.

Em 2001, a Marcopolo assumiu o controle total da Ciferal. Ainda em 2001,

a Marcopolo seguiu buscando oportunidades em outros mercados. Neste ano teve

início do projeto de transferência de tecnologia com a cidade de Chaugzson –

China. A Marcopolo S.A. assinou acordos técnicos de transferência de tecnologia

para a Iveco, uma das empresas líderes, na Europa, na fabricação e

comercialização de ônibus e caminhões.

Em 2002, a Marcopolo implementou o programa Gestão de Valor Agregado

(GVA), cuja finalidade era orientar o foco dos objetivos estratégicos e das ações

operacionais para a agregação de valor ao negócio. O sistema GVA foi

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desenvolvido com a participação da Escola de Administração de empresas da

Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (EAESP) e com o apoio técnico do The

Boston Consulting Group. Ainda em 2002, a empresa aderiu ao nível de 2 de

Governança Corporativa da Bovespa, sendo a primeira empresa industrial

brasileira a adotar tais padrões e regras.

Mesmo com os problemas enfrentados com a crise na Argentina, em 2002

o resultado financeiro conquistado através do mercado externo foi responsável por

62,9% da receita da empresa, maior participação até então registrada. Gráfico

7.19 apresenta a evolução da participação do mercado interno e externo na

receita da Marcopolo no período de 1984 a 2006.

Gráfico 7.19 – Participação dos Mercados Interno e Externo na Receita da Marcopolo

Participação dos Mercados Interno e Externo na Receita

74.0%

91.3%87.0% 84.1%

89.2% 90.5%80.5%

49.2%59.3%

75.5%84.8%

71.6%65.3%

57.7%50.5%

43.3%37.1%

50.6% 47.3% 44.5%53.1%

26.0%

8.7%13.0% 15.9%

10.8% 9.5%19.5%

50.8%40.7%

24.5%15.2%

28.4%34.7%

42.3%49.5%

56.7%62.9%

49.4% 52.7% 55.5%46.9%

1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

% Mercado Interno % Mercado Externo

Fonte: IAN e Relatórios da Administração de1984 a 2006

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Em 2003, a Companhia destinou R$ 10,0 milhões na unidade de Ana Rech,

em nova linha de montagem, com o objetivo de elevar ainda mais os padrões de

qualidade do produto, segurança, ambiente de trabalho, produtividade e

preservação do meio ambiente. Esses investimentos envolveram desde a

elaboração de novo layout das linhas de montagem, construção de túnel de

acesso, novo sistema de iluminação natural, avançadas cabines e estufas de

pintura. Seguindo padrões internacionais, foi construída, na unidade Ana Rech, a

maior da companhia, uma pista de testes, a primeira no gênero no país e uma das

mais equipadas do mundo, com circuito planejado para simular as mais diversas

condições de tráfego existentes no Brasil e no exterior.

Neste ano, a Marcopolo adquiriu 40,0% de participação na Webasto. A

empresa, estabelecida em Caxias do Sul (RS), fabricava equipamentos de ar

condicionado veicular. O objetivo da operação era oferecer ao mercado

equipamentos de climatização integrados aos ônibus produzidos pela Marcopolo.

Durante o exercício de 2003, foram desenvolvidos aproximadamente 30 novos

modelos de ônibus para atender demandas específicas de clientes, tanto do

mercado interno quanto do mercado externo, como uma nova versão do rodoviário

Andare, que foi desenvolvido especialmente para o transporte de atletas e turistas

durante os Jogos Olímpicos 2004 de Atenas.

Em 2003, foram montadas 3.680 carrocerias no exterior, o que

correspondeu a aproximadamente 26,0% da produção total da companhia. Desse

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total, 46,0% foram montadas no México, 40,0% na Colômbia, 10,0% África do Sul

e 4,0% em Portugal. Na Argentina, as controladas Mapla e Laureano tiveram as

atividades paralisadas devido a situação vivida pela economia desse país. Ao final

de 2003, a Marcopolo retomou as exportações diretas para clientes localizados

naquele país, tendo embarcado 130 ônibus num montante de US$ 9,5 milhões,

sendo os pagamentos realizados de forma antecipada.

Ainda 2003, A MVC desenvolveu um conjunto de painéis estruturais

compostos a partir do plástico reforçado com fibra de vidro (fiberglass),

denominado “Wall-System”. Essa tecnologia possibilitou o lançamento da “Casa

Prática” - MVC. Em janeiro de 2004, o projeto recebeu aprovação técnica e

homologação do financiamento pela Caixa Econômica Federal, sendo habilitado à

comercialização. Neste mesmo ano, a Marcopolo conquistou a 4ª colocação no

ranking das 100 Melhores Empresas para Você Trabalhar no Brasil da Revista

Exame.

Em 2004, devido ao sucesso do modelo CITMAX, lançado pela Ciferal em

2003, o market share do segmento de urbanos voltou a ampliar-se em 2004,

atingindo a participação de 48,6% do mercado. Neste mesmo, também foram

desenvolvidos novos produtos, como os ônibus da família Viale Europa, voltada ao

segmento de ônibus urbanos, que foram montados na unidade de Coimbra

(Portugal) para disputar os mercados da comunidade européia. Em 2004, foram

montadas 4.349 carrocerias no exterior, o que representou 27,3% da produção

total da companhia.

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Ainda em 2004, além de receber o troféu Busbuilder Of The Year 2004, na

Busworld, em Kortrijk, na Bélgica, a Marcopolo teve sua nova linha de montagem

da unidade de Ana Rech inaugurada pelo Presidente da República Luiz Inácio

Lula da Silva.

Em julho de 2005, foi constituído o Banco Moneo S.A. com a finalidade de

reduzir a dependência dos clientes por financiamento de terceiros. Neste mesmo

ano foram contratadas por esse banco 143 operações de crédito direto ao

consumidor (CDC), capital de giro e FINAME, envolvendo mais de R$ 18 milhões,

que além de possibilitar a aquisição de produtos fabricados pela Marcopolo,

resultaram num lucro líquido de R$ 917 mil.

Em 2005, as controladas no exterior fabricaram 5.618 unidades, um

crescimento de 29,2% sobre as 4.349 fabricadas em relação a 2004, o que

representou 34,1% da produção total da companhia. O mercado doméstico sofreu

retração em 2005, registrando uma queda de 9,0%. Ao contrário, as exportações,

que em 2004 já haviam crescido 12,1%, avançaram outros 115,7% em 2005. Dois

negócios pontuais ocorridos em 2005, como o projeto Transantiago que absorveu

cerca de 1.600 unidades e o Catar que absorveu mais de 400, explicaram o bom

desempenho daquele ano. Por um conjunto de fatores ocorridos naquele ano, o

Relatório da Administração buscou retratar como a Marcopolo percebia o

segmento de carrocerias:

“(..) A fim de assegurar menores oscilações no nível das atividades e nos resultados, a Administração vem prosseguindo em estratégias que objetivam minimizar os riscos da concentração em mercados, especialmente o interno. A ênfase dada às exportações e a implantação de

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unidades fabris em blocos econômicos importantes são mecanismos utilizados na pulverização de mercados e clientes. As exportações para mais de oitenta países, aliadas às atividades desenvolvidas nos mercados onde a Companhia opera unidades fabris vêm gerando mais de 50,0% da receita líquida consolidada. As taxas de crescimento econômico brasileiro, e as dos principais mercados da Companhia no exterior, podem influenciar o nível da demanda dos produtos fabricados e comercializados pela Marcopolo. O governo tem forte influência na economia brasileira: alterações na política monetária, fiscal e tributária podem afetar os negócios, a condição financeira e os resultados da Companhia. Para diminuir possíveis impactos resultantes dessas variáveis, a empresa além de diversificar os mercados procura pulverizar a receita de clientes, de forma que nenhum desses represente mais de 5,0% das vendas. Os portos brasileiros, um dos gargalos da infra-estrutura, são uma ameaça real às exportações, porque sua capacidade está saturada e os custos não são competitivos. (...) A eficiência operacional da empresa decorre, dentre outros fatores, do emprego de tecnologias, métodos e processos desenvolvidos pela própria Companhia. Tais conhecimentos e o know how podem vir a ser copiados por concorrentes e, conseqüentemente, afetar a competitividade e os resultados. Consciente desse risco, a Companhia tem constantemente desenvolvido novos processos e sistemas de segurança para proteção de sua tecnologia (..).” (Relatório da Administração, 2005)

Em maio de 2005, O Conselho de Administração, entendendo a

conveniência e recomendações do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança

Corporativa), aprovou a constituição de um Conselho de Herdeiros com o objetivo

de preparar seus componentes para o processo sucessório. Neste mesmo ano,

2005, a Marcopolo foi incluída pela sétima vez consecutiva no Guia Exame - As

Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil. Outro destaque neste ano foi a

implantação do Código de Conduta na Marcopolo, uma ferramenta de gestão, cujo

objetivo era promover um relacionamento fundamentado no respeito, na confiança

e na transparência, e assim assegurar a perpetuidade das empresas que fazem

parte da Marcopolo (Relatório da Administração, 2005).

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392

Em 2006, foram destinados R$ 40,4 milhões às diversas unidades, contra

R$ 24,7 milhões em 2005. Do total, R$ 23,5 milhões foram aplicados em máquinas

e equipamentos produtivos; R$ 10,9 milhões em equipamentos de computação e

softwares; e R$ 6,0 milhões em instalações industriais, das quais R$ 3,8 milhões

na nova fábrica da Colômbia, R$ 1,7 milhões na fábrica da Rússia e o restante em

outras controladas (Relatório da Administração, 2006).

Em 2006, a Marcopolo decidiu expandir suas atividades para mercados do

oriente. Os primeiros passos foram nos territórios da Rússia e Índia. Na primeira

quinzena de janeiro de 2007, a joint venture Russian Buses Marco concluiu a

readaptação das linhas de montagem, instalações da rede de força e iluminação,

ar comprimido e assentamento dos MLJV e equipamentos de produção, na cidade

de Golitsin, onde iniciará a produção de ônibus.

Na Índia, a joint venture Tata Marcopolo Motors Limited localizada em

Dharward acenou com a possibilidade de tornar-se importante operação no

exterior, quando em plena produção. Os primeiros modelos de ônibus a serem

fabricados foram definidos e são do tipo “low entry” que serão utilizados nos

“Jogos da Commonwealth” a serem realizados na cidade de Nova Delhi, em 2010.

A produção de ônibus para o transporte urbano e escolar deverá iniciar no final de

2007, ou início de 2008, após a conclusão das instalações da fábrica. Na

Marcopolo, cerca de 50 colaboradores trabalham no projeto em regime de

dedicação exclusiva, enquanto a TATA alocou ao projeto outros 20 funcionários.

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393

Em 2006, os membros do Conselho de Herdeiros participaram de eventos

de aprimoramento promovidos pelo IBMEC Educacional, IBGC e FBN (Family

Business Network). O Plano de Carreira na Marcopolo foi estruturado para

promover o crescimento profissional a partir da aquisição gradativa de

competências e do domínio de novas habilidades pelos colaboradores (Relatório

da Administração, 2006). A política da empresa é dar prioridade ao

aproveitamento do pessoal da casa, via o Programa de Recrutamento Interno. A

Gráfico 7.20 apresenta evolução do número de funcionários pertencentes ao

quadro da Marcopolo (controlada) entre os anos de 1988 e 2005.

Gráfico 7.20 – Número de Funcionários da Marcopolo (Controladora) entre 1988 e 2005

Evolução do Número de Empregados (Maiores & Melhores)

3,6753,838 3,762

4,400

5,121

4,389

3,630 3,5823,295

3,5233,755

3,427

4,2534,541

5,055 4,969

5,460 5,549

1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fonte: Revista Exame – Publicação Melhores & Maiores (1988 a 2005)

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394

No primeiro trimestre de 2007, a produção de carrocerias foi prejudicada

pela irregularidade no suprimento de chassi que teve início no final de dezembro

de 2006 e perdurou até fevereiro de 2007. Foram penalizados os clientes que

aguardaram pelos chassis modelo 2007 e, conseqüentemente, as encarroçadoras

cuja produção dependia deles. Estas se viram na contingência de estender as

férias iniciadas no final de dezembro para janeiro e fevereiro e, em alguns casos,

forçando-as à temporária redução da jornada semanal de trabalho para quatro

dias.

Em 05 de março de 2007, a Marcopolo anunciou a aquisição de 39,6% do

capital social da empresa San Marino Ônibus e Implementos Ltda., situada em

Caxias do Sul, que também atua no segmento de fabricação de carrocerias para

ônibus. Embora atuem no mesmo segmento de negócios, tanto a Marcopolo como

a San Marino seguem com suas atividades de forma independente, porém

buscando o desenvolvimento de sinergias e o aumento da competitividade de

cada uma. A Figura 7.2 mostra os mercados no mundo onde a Marcopolo atuava

em 2007.

Figura 7.2 – Marcopolo no Mundo em 2007

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395

Fonte: Marcopolo – Fact Sheet 1º Trimestre 2007

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396

7.3. Análise das Entrevistas

Tabela 7.11 – Freqüência das falas por Desafio e Período

Tabela 7.12 – Análise das Entrevistas

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- - - - Desafio(s) Encontrado(s) Resposta # En

tr Trecho Entrevista Dat

a Desafio #1 Desafio #2 Desafio #3 Res

p. #1 Resp #2

Resp #3

1 CZ E nessa época, em 40, 50, nesta década aí, surge a Marcopolo, como uma empresa que tinha o objetivo de produzir ônibus. Ela começa com 17 pessoas, sendo que todos eram sócios e funcionários ao mesmo tempo.

1949

EMP - Ambição

EMP - Engenhosida

de Financeira

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

2 CZ Então começa como uma empresa que tinha o objetivo de produzir ônibus, mas que algumas pessoas entraram com capital e outras com trabalho.

1949

EMP - Versatilidade

EMP - Engenhosidade Financeira ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

3 CZ E desde o inicio a Marcopolo sempre utilizou muito capital da comunidade. As pessoas subscreviam ações da Marcopolo, a Marcopolo na época se chamava Carrocerias Nicola.

1949

NAV - Negociar

NAV - Legitimidade Organizacion

al

EMP - Engenhosida

de Financeira

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

4 CZ Eram 3 irmãos Nicola mais Paulo Bellini, e outras pessoas que eram todas sócias, então na década de 50 por aí, 60, ainda era muito comum, a medida que a empresa ia crescendo, ela tomava capital da comunidade.

1949

EMP - Engenhosidade Financeira ☺☺☺☺

5 CZ As pessoas aplicavam na Marcopolo em cotas, seja lá o que for, e recebiam anualmente um dividendo, juros, uma coisa assim

1949

EMP - Engenhosida

de Financeira

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

6 CZ Ela começa em 49 produzindo carrocerias de madeira, já em 54 ela passa a ser pioneira, passa a produzir a primeira carroceria metálica no Brasil.

1954

NAV - Desafiar

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

7 CZ Nessa década, também de 50 a 60, surge a industrialização no Brasil. O Governo Juscelino traz a Indústria Automobilística no Brasil, cria esse tal de GEIA , que era Grupo Executivo da Indústria Automobilística, e a partir daí então a Marcopolo, com 6 anos de existência, começa então um desenvolvimento da industria automobilística e a Marcopolo aproveita esse momento.

1957

NAV - Consentir

Ambiente Desafiante/Estimulante ���� ☺☺☺☺

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398

8 CZ já em 57 sai então desse local aqui da 18 do Forte, transfere a fábrica pra cá (Bairro Planalto) com muita dificuldade, investiu o dinheiro que não tinha, inclusive, e aí sempre foi buscando o dinheiro da comunidade pra crescer

1957

EMP - Engenhosida

de Financeira

EMP - Ambição

EMP - Expansão Produtiva

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

9 CZ Aqui é uma Assembléia Geral de 1972, a Marcopolo não era capital aberto, os acionistas estão assistindo uma demonstração dos resultados da companhia em 1972. Você vê: governança corporativa, busca de capital já fazia parte do DNA da companhia. Eu credito muito a força da Marcopolo a essa distribuição de capital

1972

EMP - Engenhosida

de Financeira

NAV - Legitimidade Organizacion

al

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

10

CZ Então, quando eu entrei em 1984, a Marcopolo ainda realizava uma Assembléia aos sábados de manhã e fazia um churrasco, na época se chamava Rincão da Gandaia (?), era um Centro de Tradições Gaúchas, um local bem amplo, e participavam às vezes 1000, 1500 pessoas da assembléia e depois tinha um churrasco. Era comum as pessoas darem como legado ações da Marcopolo para os filhos.

1984

EMP - Engenhosida

de Financeira

NAV - Legitimidade Organizacion

al

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

11

CZ Então às vezes a família tinha 4, 5 filhos, e cada um era acionista da Marcopolo porque o pai dava não sei quantas ações para ti, então era comum nessa época o capital da comunidade fazer parte, integrar a Marcopolo.

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Legitimidade Organizacion

al

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

12

CZ a Marcopolo se transfere em 1957 para esse novo local, um prédio pequeno, pouco capital e produzindo já, começa a indústria automobilística a se desenvolver no Brasil e começam a aparecer os primeiros chassis produzidos no Brasil e que também ao longo dos anos seguintes já começa a desenvolver um chassi para fazer ônibus efetivamente. Era um veiculo que não era mais um caminhão era um chassi.

1957

EMP - Ambição

Motor de Crescimento Contínuo ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

13

CZ Aí entra a Mercedes-Benz, logo em seguida, nos anos 60/61, entra a Scania, em 76 por aí entra a Volvo, e aí vem depois a Volkswagen.

1956

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺

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399

14

CZ E a Marcopolo sempre se especializando em termos de desenvolvendo a tecnologia porque tivemos que fazer tudo aqui dentro, design, engenharia, desenvolvimento de componentes, fábrica de poltronas, fábrica de portas, fábrica de janelas, e assim vai porque não existia no mercado alguém que fizesse

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Captura de

Valor

CPX - Fomento do Aprendizado

Motor de Crescimento

Contínuo

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

15

CZ A Marcopolo então buscando, imagina nós, as matérias-primas todas na época vinham de São Paulo, até hoje ainda vem, aço, qualquer matéria-prima vinha de São Paulo, tinha que trazer para Caxias, trazer para Caxias o chassi, monta a corroceria, e às vezes tinha que devolver para o mercado, de novo para São Paulo. Era distante dos grandes centros consumidores e distante dos grandes centros abastecedores de matéria-prima

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito

NAV - Consentir ���� ����

16

CZ A grande felicidade eu diria da Marcopolo foi estar em numa cidade, em uma comunidade que tinha mão-de-obra boa, formada, treinada, e que conseguia metalurgia, que conhecia marcenaria, que conhecia costura porque poltrona tem que ser costurada, nós tínhamos uma mão-de-obra na cidade que nos permitiu fazer isso. E uma mão-de-obra extremamente produtiva, além se ser especializada era uma mão-de-obra produtiva, uma mão-de-obra então que compensava então todos os outros custos de trazer todas as matérias primas, montar aqui e devolver, quer dizer, seria um custo adicional.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

17

CZ em função de todas essas condições que a cidade tinha e que a Marcopolo aos poucos foi também criando mão-de-obra. Nós criamos escolas, escolas de treinamento interno, usamos muitos recursos das escolas daqui da comunidade, como o próprio SENAI, nos anos 90 nós criamos duas escolas de formação profissional interna, com um convenio com o SENAI e até hoje funciona, uma aqui nessa fábrica e outra na Ana Rech, em que os meninos são formados e recebem um diploma como formandos do SENAI, a Marcopolo sempre teve muito cuidado com a mão-de-obra, treinamento e motivação,

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Formar

FRH - Renovar

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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400

18

CZ nosso presidente até hoje, as coisas que ele cuida, ele quer saber como estão as pessoas. Ele ainda hoje, todos os anos, no Natal e quinze dias antes do Natal, ele passa na fábrica toda, cumprimenta um por um, um ano ele dá um botton da Marcopolo, no outro ano ele dá uma canetinha, mas passa de um por um, cumprimentando, agradecendo o trabalho, ele faz questão de fazer isso porque nossa indústria é muito artesanal.

1949

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

19

CZ Depende muito da mão-de-obra artesanal, não somos uma indústria de processos, como é uma indústria química, uma siderúrgica, nós dependemos das pessoas, nossa linha de montagem são pessoas, e equipamentos nós usamos muito, mas para produzir os componentes, mas na linha de montagem é manual é basicamente mão-de-obra. E nós precisamos ter uma mão-de-obra que tenha qualificação e tenha comprometimento com o negócio.

Todas as

Fases

DIV - Integração

NAV - Legitimidade Organizacional ���� ����

20

CZ Então nós temos muitos programas de suporte, de apoio, de treinamento, mas principalmente de participação nos resultados também, quer dizer, precisamos deixar as pessoas motivadas, depois nós para comentar para você, nosso pessoal ganha talvez quase dois salários por ano de participação nos resultados. São sistemas que nós estamos criando ao longo do tempo que comprometam as pessoas, dêem motivação e que as pessoas também estejam preparadas para assumir cargos, para assumir novos desafios.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Busca de Soluções Abrangentes

DIV - Integração

FRH - Reter ���� ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

21

CZ Nós tínhamos pessoas muito motivadas, mas ao mesmo tempo nosso presidente sempre teve muita preocupação de trazer gente especializada. Então nesta década de 60 entra esse senhor que comentei contigo, Walter Gomes Pinto, que foi buscado de um mercado. Entrou também o Engenheiro Martins, que hoje é nosso controlador. Ele veio da Dana Albarus, é uma empresa que trabalhava com a fabricação de componentes para a indústria automobilística. Foi um engenheiro que veio aqui e agregou valor a companhia.

1964

FRH - Renovar

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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401

22

CZ Então sempre teve essa preocupação, e muita preocupação com comercialização também. Veja que já em 1961, a empresa tinha 10/11 anos, já fez a primeira exportação de ônibus, e conta aqui também aqui dentro da historia que a Marcopolo exporta o primeiro ônibus em 1961 para o Uruguai

1961

EMP - Ambição

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

23

CZ Este é o Sr. Walter Gomes Pinto, este é Martins, e este já saiu da companhia. Mas são dois que entraram na década de 60, buscados pelo Paulo Bellini, um engenheiro para cuidar da nossa área industrial e este era comercial/marketing.

1964

EMP - Julgamento

FRH - Antecipar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

24

CZ Então ali começa, fim de 1961 a Marcopolo realiza a primeira exportação.

1961

EMP - Ambição ☺☺☺☺

25

CZ Olha aqui como era a linha de fabricação na época, tudo, um artesanato o equipamento, extremamente modestos para época, não tinha nada.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito ����

26

CZ Em 1949 começou fazendo carrocerias de madeira. A estrutura era toda de madeira, como se faz uma janela, uma esquadria, como a gente diz. E já em 1952 começa a se produzir toda a estrutura de aço e toda a parte externa aqui era toda de aço, porque na comunidade, em Caxias, já existia uma indústria metalúrgica bem instalada que inicia com a Metalúrgica Abramo Eberle.

1a Fase:

1949 a 1967

Motor de Co-evolução ☺☺☺☺

27

CZ Aqui começa então todo o sistema. Acho que o grande salto da Marcopolo foi dado nessa ida e volta ao Japão. Aí trouxe toda uma tecnologia nova, efetivamente a Marcopolo deu um salto porque a filosofia japonesa de produção de encaixava exatamente no tipo de produto que nós fazemos e principalmente porque nós trabalhamos só com produtos customizados. Entendeu então, a forma de produzir, através do Just in Time e do Kanban caía como uma luva para a empresa.

1986

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento

Folga Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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402

28

CZ E nosso presidente teve uma felicidade muito grande de não impor de cima para baixo, a utilização dessa filosofia, e como que foi implementado? Assim que ele voltou do Japão, junto com o diretor industrial na época, ele começou a fazer palestras no auditório e foi espalhado na fábrica para quem quisesse assistir como é que funcionava, como é que era a filosofia japonesa de produção. Ao final do expediente as pessoas de candidatavam e ouviam a palestra no auditório. E aos poucos então, a partir dessas palestras que eram dadas eu sei que teve 50 turmas aí, porque no máximo eram 50 pessoas que davam no auditório, inscritas e era uma palestra por semana, começava na segunda-feira final da tarde, das 17 às 19hs. Era segunda e terça, quinta e sexta-feira. Então as pessoas ficavam aí para ouvir as palestras do presidente sobre técnicas japonesas de produção.

1986

EMP - Versatilidade

FRH - Formar

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

29

CZ E a medida que ele foi explicando, algumas pessoas vieram, e uma delas foi esse João Carlos, ele cuidava de uma área de pintura, de tratamento anti-corrosivo, e começou a fazer algumas coisas, começou a organizar, foi um dos pioneiros então a utilizar isso, por isso então que depois ele acabou virando um ícone. Por isso, ele foi um pioneiro, foi o primeiro. Ele era um mestre na fábrica e implementou isso na área dele e começou a melhorar, a criar quadros, sistemas. Primeiro começa com limpeza, organização e começou a criar. Quando ele fez, outros começaram a fazer e o movimento começou de baixo para cima e não de cima para baixo. Então isso facilitou tremendamente a utilização de todas as técnicas japonesas que envolviam 12 sistemas, desde troca rápida de ferramentas.

1986

EMP - Ambição

DIV - Integração

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

30

CZ Nós mudamos todos os equipamentos para produzir então não mais, antes nós trabalhávamos por lote econômico e depois passamos a produzir a unidade que efetivamente era consumida. Várias e várias épocas quando eu entrei ainda era assim. Produzia uma peça, tem que fazer por lote econômico, armazenava-se às vezes então peças para um ano. Imagina um ônibus, que temos mais de 500 modelos diferentes um do outro, quantas peças tínhamos que ter.

1986

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento

CPX - Busca de Soluções Abrangentes

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ����

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403

31

CZ A fábrica de Ana Rech foi projetada para produzir 10 ônibus por dia naquele sistema antigo, e hoje no mesmo tamanho nós estamos produzindo 30/40 por dia, sem ampliar a área, porque nós conseguimos racionalizar espaço, racionalizar estoque. Só produzir através do JIT, ou seja, produz carro por carro, individualmente, nosso sistema permite isso, e nós trocamos todos os equipamentos, que permitem então fazer grande variedade de peças com baixo volume. Essa é a característica da Marcopolo.

1986

EMP - Versatilidade

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

CPX - Resolução Sistemática

de Problemas

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

32

CZ Nós somos o contrário, grande variedade de peças com pequenos volumes, porque eu faço o ônibus individualmente. Então nós tivemos que trocar todos os equipamentos. Hoje nossos equipamentos são auto-programáveis porque eu não tenho como ter, cada peça tem que ter uma ferramenta para cortar, faço uma peça, boto a ferramenta, troco, faz de volta. Então nós temos equipamentos que são auto-programáveis pelo CAD, e que faz corte a laser, em de fazer por uma prensa, tem outro sistema,

1986

EMP - Versatilidade

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

33

CZ e isso foi então adaptado pela companhia, e isso deu para a Marcopolo uma competitividade muito grande, criamos uma tecnologia nova e isso começa com a introdução do Sistema Toyota de Produção ou Filosofia Japonesa de Produção.

1986

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

34

CZ Mas o que nós temos que pensar um pouco é que nos anos 60, a Marcopolo começa então a exportar, começa a criar mercados aonde ela tem atuação então muito forte, cria a rede de representantes em cada estado, cria uma rede de representantes fora do Brasil, começa com o Uruguai e aí vai expandindo, pro Chile.

1960

NAV - Desafiar

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

35

CZ Mas a Marcopolo sempre foi a pioneira em muitos desenvolvimentos e os outros sempre copiaram.

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Desafiar

NAV - Manipular ☺☺☺☺ ����

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404

36

CZ Outra questão, com a introdução da filosofia japonesa de produção, nós passamos a incorporar os fornecedores também ao Sistema Marcopolo. Então nós procuramos trazer fornecedores de São Paulo para Caxias do Sul. Nós trouxemos fornecedores de outras regiões que se instalaram em Caxias. Hoje nós temos fábricas de vidros em Caxias, fabricantes de borracha, de faróis, lanternas, luz de freio, tudo feito em Caxias. Fabricantes de limpador de pára-brisas, e nós fomos estimulando não só fabricantes externos como também nós utilizamos muito a terceirização.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Manipular

NAV - Legitimidade Organizacion

al

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

37

CZ A partir da terceirização dos anos 90, por aí começa. Primeiro nós terceirizamos os serviços que nós consideramos meio, como por exemplo restaurantes, transportes, atividades que não eram atividades fim, mas ao mesmo tempo nós também terceirizamos algumas tarefas da companhia que geraram companhias paralelas à Marcopolo ou sempre integradas à Marcopolo que fornecem, e Caxias do Sul virou um cluster produtor de autopeças para ônibus, mas também para veículos pesados.

1990

EMP - Julgamento

FRH - Reter DIV - Fragmentaçã

o

���� ���� ����

38

CZ Hoje basicamente quando se fala em ônibus se fala também em uma indústria de peças para ônibus que fica em Caxias do Sul. Os outros fabricantes de fora de Caxias, vem em Caxias buscar essas peças, porque a Marcopolo criou toda essa estrutura.

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Manipular

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

39

CZ E nós estimulamos esses fornecedores a também se desenvolverem. Então anualmente nós íamos e ainda vamos às feiras na Europa, e na ida a essas feiras, nós levamos os fornecedores juntos. Para se ter uma idéia, o que acabou acontecendo na cidade, várias joint ventures foram feitas por esses fornecedores com empresas européias.

Todas as

Fases

NAV - Captura de

Valor

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

40

CZ Muitas desses itens estratégicos do ônibus, ou são feitos por nós, ou são feitos por fabricantes muito próximos a nós, a nossa companhia.

3a Fase:

1987 a 200

EMP - Julgamento

NAV - Captura de Valor ���� ☺☺☺☺

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405

6

41

CZ Outra coisa, nosso fornecedor enxerga nossa linha de montagem através da internet, então ele sabe o momento adequado que ele tem que fornecer o pára-brisa para evitar que a gente tenha estoque, então ele já entrega no JIT também. Os fornecedores abastecem a nossa linha de montagem diretamente através do sistema JIT.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Captura de

Valor

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

42

CZ Toda essa tecnologia foi sendo desenvolvida ao longo da história da Marcopolo, e aí vem desde o desenvolvimento de produtos. Isso tudo é feito internamente.

Todas as

Fases

NAV - Captura de

Valor

Motor de Crescimento Contínuo ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

43

CZ Todos esses veículos sempre foram desenvolvidos internamente. E a Marcopolo sempre buscou crescimento da companhia com esses desenvolvimentos, mas ao mesmo tempo fez muitas aquisições.

Todas as

Fases

EMP - Expansão Produtiva

Motor de Crescimento

Contínuo

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

44

CZ Então nós compramos várias companhias, nós compramos a Eliziário em Porto Alegre, compramos uma outra em Caxias chamada Invel, tinha a Nimbus, adquirimos a Ciferal no Rio de Janeiro.

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Expansão Produtiva

EMP - Ambição

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

45

CZ Aí teve um momento nos anos 60 quando entra o Martins e Seu Walter na companhia, os Nicola saem da companhia e formam essa Furcare.

1961

DIV - Fragmentaçã

o

FRH - Antecipar

FRH - Reter ���� ☺☺☺☺ ����

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406

46

CZ Olha, certo eu não sei, mas o que eu tenho informações é que houve um desentendimento entre as famílias e aí eles resolveram sair e o Paulo Bellini adquiriu as cotas dos outros e aí que ele traz então o Martins e o Walter

1961

DIV - Fragmentaçã

o

FRH - Reter FRH - Antecipar ���� ���� ☺☺☺☺

47

CZ Esses dois aqui entram logo que saem os Nicola e o Tessari entra depois, ele entra uns 10 anos depois como administrativo e financeiro.

2a Fase:

1968 a 1986

FRH - Antecipar

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

48

CZ as Carrocerias Nicola eram conhecidas nessa época e no Salão do Automóvel de 1968, a Marcopolo faz um marketing muito grande em cima de um ônibus que ia ser lançado. Inclusive fez pesquisa nacional

2a Fase:

1968 a 1986

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

49

CZ o Walter conta a história de que era mandada correspondência do Brasil inteiro para várias empresas, dizendo “Marcopolo vem aí!”, algumas largavam de São Paulo, do Rio, e ninguém sabia de onde era, e olha no Salão do Automóvel você vai ver o Marcopolo chegando, mas ninguém sabia quem era o Marcopolo. O Marcopolo chega nesse Salão do Automóvel e o Marcopolo era o ônibus da Nicola, isso foi em 1968 se eu não to enganado. O ônibus teve tanto sucesso

2a Fase:

1968 a 1986

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

50

CZ que logo em seguida foi trocada a Razão Social da Carrocerias Nicola para Marcopolo Carrocerias e Ônibus, uma coisa assim. Então aí conta um pouco da saída dos Nicola.

1970

EMP - Julgamento ☺☺☺☺

51

CZ Aí entra a geração I de ônibus, a geração II, III, IV, V, hoje nós já estamos VI e já estamos pensando na VII também, e a Marcopolo sempre procurou desenvolver e fazer equipamentos na história dela. Nós fazemos carrocerias de ônibus, se é pequena, grande, média, urbana, rodoviária,

2a Fase:

1968 a

CPX - Fomento do Aprendizado

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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407

não interessava. 1986

52

CZ Nos anos 70, de 65 até 75, nós tivemos a revolução do Brasil, o País cresce muito, e a Marcopolo aproveita as oportunidades.

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Consentir

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

53

CZ Em 78/79, planejou fábricas novas. Planejou esta fábrica de Ana Rech e montou uma fábrica em Minas Gerais, chamada Marcopolo Minas.

1978

EMP - Ambição

EMP - Expansão Produtiva

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ����

54

CZ Foi em Betim, porque a Fiat se instalou em Betim, e a Fiat na época era iniciante, mas já tinha uma visão de que a gente ia crescer muito e a Fiat já fabricava no Brasil caminhões, que onde é a Ciferal hoje, no Rio de Janeiro. Fabricava caminhões Iveco/Fiat e também antes disso era FMN e depois virou Fiat, depois virou Iveco. Então nós montávamos carrocerias vindas do Rio de Janeiro e montávamos nessa unidade aqui.

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Negociar

EMP - Julgamento

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ���� ☺☺☺☺

55

CZ Só que em 81/82 o Brasil entra em uma crise financeira muito grande, várias empresas aqui em Caxias do Sul, inclusive a Randon pediu concordata,

1981

Ambiente Inóspito

NAV - Consentir ���� ����

56

CZ a Marcopolo teve muitas dificuldades como conta a história, e essa planta como mercado caiu tremendamente, a planta não teve sucesso e ela foi fechada e foi encerrada a atividade dela em 1984.

1984

EMP - Julgamento

NAV - Consentir ���� ����

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408

57

CZ Não, mas teve muitas dificuldades financeiras nos anos 80, até 83, de 82 a 84 foi um período muito crítico, a Marcopolo demitiu muita gente, eu inclusive entrei depois que tinha passada a crise, mas eu entrei no lugar de um gerente financeiro que havia sido demitido

1982

NAV - Consentir

EMP - Julgamento ���� ����

58

CZ Então eu entrei em 1984 quando o Brasil estava se recuperando, a indústria automobilística, a indústria de ônibus estava se recuperando.

1984

NAV - Consentir

Ambiente Desafiante/Estimulante ���� ����

59

CZ Em 82 por aí, em 83, a Marcopolo lança uma geração nova de ônibus, a geração IV, que teve muito sucesso. Foi um produto que foi desenvolvido, ele tinha vários atrativos, moderno, e teve muito sucesso o produto e a Marcopolo então deslancha

1983

EMP - Versatilidade

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

60

CZ Em 86/87 entra a filosofia nova de produção e ela ficou muito competitiva, e ela cresceu tremendamente.

1986

EMP - Versatilidade

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

61

CZ Nós chegamos de 15/20 a 37, quase 40% do mercado, então ela teve um crescimento bastante acentuado, e em 84 ela lança a geração IV, em 86/87 introduz a filosofia nova de produção.

1986

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺

62

CZ Nos anos 90 ela adquire a planta de Portugal......Ela faz uma joint venture não. Ela adquiriu uma fábrica, 100% Marcopolo.....Acho até que ela entrou com um sócio, tá certo.

1991

EMP - Ambição

EMP - Julgamento

EMP - Engenhosida

de Financeira

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

63

CZ Essa planta já tinha a visão de que a Marcopolo estava competindo no mundo inteiro, não só na América Latina. Nós já estávamos presentes nos países africanos, Oriente Médio, e nós começamos a perceber que nossos competidores não eram mais os brasileiros e sim muitos europeus que competiam conosco

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

NAV - Desafiar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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409

64

CZ e a nossa tecnologia apesar de ser ainda evoluída para Brasil, mas em termos europeus não era. Então, o que nós decidimos adquirir a planta de Portugal que tinha por objetivo estar mais próximo da melhor tecnologia existente no mundo que era a européia e dentro, logo depois, já se acenava Portugal vai estar na Comunidade Econômica Européia, 2 anos depois Portugal entrou na comunidade.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

65

CZ Também nós entramos pela facilidade de língua, mas o objetivo era estar próximo da melhor tecnologia de ônibus que era a européia. Então o objetivo não era produzir ônibus, vender ônibus, era estar próximo e trazer essa tecnologia mais moderna para modernizar os produtos na Marcopolo.....Ainda é muito pequena porque ela teve esse escopo principal que era absorver a melhor tecnologia, trazer e melhorar os produtos no Brasil.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Julgamento

NAV - Captura de

Valor

DIV - Fragmentaçã

o

☺☺☺☺ ���� ����

66

CZ Já na Geração V lançada em 1992 ela já conseguiu trazer boas inovações em termos de produto, e os produtos da Geração V já tem uma característica bem “europeuizada”, vamos dizer assim, com vários componentes que eram produzidos na Europa nós trouxemos para o Brasil e já produzimos aqui.

1992

NAV - Captura de

Valor

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

67

CZ Primeiro, vários equipamentos usados internamente, desde o ar condicionado. Nosso ar brasileiro era muito de má qualidade, equipamentos internos, Tv’s, geladeiras, bares, essas coisas todas nós trouxemos a tecnologia da Europa. Sistemas de revestimento internos que eram muito artesanais, nós conseguimos industrializar, outra coisa, modernizamos muito nossas janelas e portas internas, o porta-pacotes, que é esse que vai em cima da cabeça das pessoas, também foi modernizado através dessa tecnologia que trouxemos da Europa. Então a Geração V já teve muita característica que nós usamos, e introduzimos aqui através dessa cabeça de ponte que nós usamos com Portugal

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Captura de

Valor

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

68

CZ A Marcopolo então tem uma história de exportação e ao mesmo tempo de exportar tecnologia. Em 1974, a Marcopolo vendeu tecnologia para Gana, e aparece fotos aqui. Ela vende tecnologia para a montagem de uma fábrica em Gana.

1974

EMP - Versatilidade

EMP - Ambição

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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410

69

CZ Em 1979 foi para o Equador e Venezuela, 1979

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

70

CZ em 1992, a Marcopolo já tem com a geração V produtos que tem condição de competir a nível mundial,

1992

NAV - Captura de

Valor

NAV - Desafiar

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

71

CZ em 1992 ela vende tecnologia para a Dina, uma empresa mexicana, e essa empresa então ela monta os ônibus os ônibus Marcopolo no México, com chassi Dina e carroceria Marcopolo.

1992

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ���� ����

72

CZ De 1992 a 1994, nós vendemos ou comercializamos, alguns dos primeiros 500 ônibus foram montados aqui do Brasil completos e a partir dali foram montados na Dina e a Marcopolo então, com a presença na Dina, nós montamos as linhas de montagem da Dina e ela produz de 1992 a 1994, 3500 ônibus no México.

1992

EMP - Versatilidade

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ����

73

CZ Em 1994, o país quebra praticamente, o México desvaloriza a moeda 3 vezes praticamente, o dólar que tava 3 foi pra 10 e aí varias empresa mexicanas quebraram e a Dina quebra também. Ela tinha tentado adquirir uma empresa americana, mas não teve sucesso e com a quebra do mercado mexicano, de 1994 a 1998,

1994

EMP - Julgamento

NAV - Consentir ���� ����

74

CZ nós praticamente não vendemos nenhum ônibus pro México e nesse período para uma empresa que tinha um volume muito grande de exportação pro México, perder isso foi um baque bastante grande e claro que nós procuramos outros mercados, mas o mercado mexicano era extremamente pesado.

1994

NAV - Consentir

EMP - Julgamento

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

���� ���� ☺☺☺☺

75

CZ Nós fomos em busca de outros mercados. Nós fomos para a África do Sul, os fomos para os países africanos, o Oriente Médio foi um período que nós prospectamos muito esse mercado,

3a Fase:

1987 a

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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411

2006

76

CZ Nós, em 1994/95 com a crise do México nós tivemos uma redução muito grande na produção.

1994

NAV - Consentir

NAV - Captura de Valor ���� ����

77

CZ Também aqui no Brasil, que foi introduzido o Plano Real. Com essa introdução do Plano Real nós tivemos uma redução na produção, depois de você for olhar o histórico da produção brasileira, nessa época cai bastante a produção no Brasil e a Marcopolo também diminui muito a produção.

1994

NAV - Consentir ����

78

CZ Nesse mesmo período, 1994/95, a Marcopolo contrata uma consultoria externa, com o objetivo de redesenhar nosso modelo de organização. Então nós contratamos uma empresa chamada Arthur D. Little, americana, e neste ano, início de 1995, se muda um pouco a estrutura da companhia. Os controladores vão para uma diretoria corporativa, saem do dia-a-dia da companhia, inclusive vão trabalhar fora no escritório, fora da Marcopolo e criam-se diretorias executivas, formadas por executivos e nesse aspecto, a Marcopolo começa a se desenvolver bastante e vou chamar assim, também em termos de gestão.

1994

EMP - Julgamento

FRH - Renovar

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

79

CZ Sentiu-se a necessidade de criar um novo modelo de organização, até porque os controladores que estavam eram executivos ao mesmo tempo e estavam com uma idade avançada e entenderam que tinham que pensar no futuro.

1994

EMP - Julgamento

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

80

CZ E a partir dali com essa contratação dessa consultoria que se muda a figura deles

1994

NAV - Negociar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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412

81

CZ e eles passam a participar de uma diretoria corporativa que nada mais era quer uma preparação para o conselho de administração. E cria-se então diretores executivos e a partir então dessa mudança, a empresa começa a trabalhar também com planejamento estratégico.

1994

FRH - Antecipar

EMP - Julgamento

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

82

CZ . Contrata-o primeiro no final de 1995, início de 1996, um consultor externo, do Rio de Janeiro.... Ele é um consultor de planejamento estratégico que mora no Rio de Janeiro. Trouxemos ele pra cá e a Marcopolo desenvolve planejamento estratégico. E aí é que sai a idéia da internacionalização da Marcopolo.

1995

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

83

CZ Na verdade a internacionalização com Portugal não tinha o objetivo mercadológico, ela tinha o objetivo de absorver tecnologia para melhorar os produtos no Brasil, então não era dentro da mesma filosofia de hoje de internacionalização, tanto é que Portugal continua hoje naquele marasmo, produzindo 20 carrocerias por ano (?). Desde o escopo inicial não era o objetivo de ser uma produtora, a idéia era de absorver, melhorar e trazer tecnologia pro Brasil pra melhorar a produção brasileira.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Fragmentaçã

o

EMP - Versatilidade

EMP - Expansão

Híbrida

���� ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

84

CZ Então ali se decide pela internacionalização, então nós começamos a ver onde tinham oportunidades, até porque a Marcopolo já tinha nessa época, 1996 por aí, 1995, mais de 40% do mercado.

1996

EMP - Ambição

EMP - Julgamento

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

85

CZ Para nós crescer no Brasil ia custar muito caro, então a Marcopolo decide que o mercado da Marcopolo era o mundo.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

EMP - Julgamento

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

86

CZ Então nós desenhamos uma série de projetos e o objetivo principal era sempre estar presente em blocos econômicos.

3a Fase:

1987 a 200

EMP - Ambição

EMP - Expansão Produtiva

EMP - Expansão Produtiva

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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413

6

87

CZ Então a Marcopolo começa com a Argentina, com a primeira planta, muito embora já tivesse Portugal, mas dentro de um novo modelo que nós queríamos...

1998

EMP - Julgamento

EMP - Expansão Produtiva

NAV - Desafiar ���� ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

88

CZ Portugal, o que aconteceu, nós compramos uma empresa que funcionava como se fosse uma empresa portuguesa, não integrada ao Sistema Marcopolo.

1991

DIV - Fragmentaçã

o

NAV - Captura de

Valor

EMP - Versatilidade ���� ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

89

CZ Na Argentina não. Nós começamos na Argentina fazendo uma réplica da Marcopolo.

1998

EMP - Julgamento

CPX - Fomento do Aprendizado

DIV - Integração ���� ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

90

CZ Então nós fomos pra Argentina por quê? Primeiro porque era próximo, facilidade de língua e também na época tinha a história do Mercosul, que era extremamente importante, então nós em 1997/98 já foi inaugurada a primeira planta no exterior dentro dessa nova filosofia e a Marcopolo se instala na Argentina com uma planta para produzir ônibus replicando um modelo nosso, que teve realmente sucesso, foi a primeira planta onde nós conseguimos levar pessoas do Brasil e replicar uma operação no exterior.

1998

EMP - Julgamento

CPX - Fomento do Aprendizado

DIV - Integração ���� ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

91

CZ Em seguida nós decidimos, nós já estávamos presentes no Mercosul, pensamos no bloco econômico da América como um todo, nós tínhamos Pacto Andino e Nafta. Então já em 1999 nós resolvemos ter unidades próprias nesses dois países e formamos então uma joint venture no México e outra na Colômbia.

1999

EMP - Ambição

EMP - Expansão Produtiva

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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414

92

CZ No México nós começamos com uma unidade 100% Marcopolo, nós nos instalamos em Águas Calientes que é no interior do México.

2000

EMP - Expansão Produtiva

NAV - Desafiar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ����

93

CZ Passado um ano, um ano e pouco, a Mercedes nos procura para fazer uma joint venture, perguntando se nós tínhamos interesse em transferir nossa fábrica de Águas Calientes para a fábrica deles em Monterrey. Em 2001, nós fomos para Monterrey e ficamos dentro da fábrica da Mercedes Benz. Ela monta então os chassis e nós as carrocerias. A fábrica de Águas Calientes nós fechamos, transferimos tudo para Monterrey e nesse momento então, em 2001, a Mercedes Benz entra de sócia com 26% e a Marcopolo com 74%.

2001

NAV - Negociar

EMP - Engenhosida

de Financeira

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

94

CZ Nós produzimos com todos. Podia ser Mercedes, Scania, Volvo. Mas aí quando nós fechamos a parceria com a Mercedes, mas por quê? Porque ela era a maior fabricante local, maior de chassi, e nós achamos interessante a operação como um todo que tem uma participação interessante, e realmente a joint venture é uma ótima, só que nós ficamos meio bloqueados de produzir sobre Scania e Volvo.

2001

NAV - Negociar

EMP - Julgamento ���� ☺☺☺☺

95

CZ Aí o que aconteceu, a Volvo trouxe uma fábrica que ela tinha na Finlândia, o produto da Finlândia para o México, a Scania se “parcerizou” com a Irizar, que é um fabricante espanhol

2001

NAV - Consentir ����

96

CZ e além disso ainda foi um outro fabricante brasileiro, que é a Neobus, que se instalou no México. Então tem 4 fabricantes.

2001

NAV - Consentir

Ambiente Desafiante/Estimulante ���� ☺☺☺☺

97

CZ Mas hoje basicamente nós temos uma boa participação de mercado com a Mercedes Benz. Pra nós é importante essa joint venture porque facilitou nossa entrada no mercado, o conhecimento que a Mercedes Benz tinha do mercado, que era extremamente importante e conseguir uma parceria Mercedes/Marcopolo era tudo que nós queríamos. Bom pros

3a Fase:

1987 a 200

NAV - Negociar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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415

dois na verdade, porque a Marcopolo tem a melhor carroceria e o chassi Mercedes Benz é muito bem refutado, muito embora Scania e Volvo também sejam, mas o Mercedes tem um nome excelente

6

98

CZ pra nós é importante estar sempre no mercado, como estratégia nossa, com o maior fabricante local ou com o melhor fabricante de chassis porque nós precisamos do chassi para montar carrocerias então nós sempre buscamos a parceria com a fabricante de chassis.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Negociar

EMP - Julgamento

CPX - Resolução Sistemática

de Problemas

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

99

CZ Ah sim, isso conta, porque eu não estava aqui, mas a Marcopolo buscou uma tecnologia alemã. Era uma parceria Marcopolo, Cammus e ....eram 3 parceiros. Isso tem no livro. Eram 3 parceiros. Nós fizemos uma fábrica de chassi na Bahia, com incentivos fiscais de 100%, mas não deu sucesso o negócio e inclusive naquela época, o Schmidt que é da Randon, hoje diretor de relação com investidores, foi pra Bahia. Ele era Marcopolo. Na época, nos anos 70 acabou não dando certo e aí a empresa fechou o negócio.

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Julgamento

NAV - Consentir ���� ����

100

CZ V: A Marcopolo também tem uma parceria grande com a Agrale, né? Z: Hoje sim. Também isso fez parte do plano estratégico de nós termos em

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Negociar

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

101

CZ Começa em 1990 na verdade com a entrada do Colllor, o que ele começou a dizer, que aqui no Brasil só tinha carroça, então começa a se incentivar a importação de veículos mais modernos e aí entram várias, essas vans começam a entrar, eram pro transporte clandestino, e nós percebemos que nós deveríamos ter um veículo menos para combater as vans. Aí nós fomos em busca de uma parceria, primeiro fomos para a Coréia, visitamos a Kia, Hiundai, trouxemos vários chassis.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

EMP - Julgamento

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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416

102

CZ Montamos algumas carrocerias, só que a Kia já tinha assinado contrato com um grupo brasileiro aqui e que importaria os veículos da Kia e eles não quiseram ceder esses veículos para a Marcopolo e nós tivemos que procurar as montadoras e ninguém se interessou em fazer esse chassi, então nós procuramos a Agrale e ela desenvolveu o chassi para a Marcopolo para fazer o Volare e foi em 1998.

1998

NAV - Desafiar

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

103

CZ Junho de 1998 voltamos a reabrir a unidade que tínhamos fechado em 1994 com a crise. Essa unidade (Planalto) tinha encerrado. Transferimos toda a fábrica para Ana Rech e aí em 1998 com a introdução no Volare nós reabrimos essa planta para produzir.

1998

EMP - Julgamento

EMP - Versatilidade

NAV - Consentir ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ����

104

CZ Em 1994, com a crise que deu, nós transferimos tudo para Ana Rech, linha de montagem não tinha mais nada, inclusive todo os escritórios foram transferidos para Ana Rech e em 1998, quando passa basicamente a crise, nós começamos crescer com Argentina, com México, Colômbia. Tinha também esse plano do Volare e nós reabrimos a planta aqui com o Volare, com essa parceria com a Agrale.

1998

EMP - Julgamento

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ����

105

CZ Nós reabrimos a planta da Planalto. Então, nós reabrimos a planta com um novo produto. Hoje esse produto corresponde a 25% da nossa receita, 25 % da receita é o Volare, 25 % da receita global.

1998

EMP - Julgamento

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

106

CZ Como é que é nossa estratégia? Primeiro: estar presente em vários locais, vários blocos econômicos. Segunda estratégia: ter um parceiro importante, o melhor parceiro na região, sempre buscando. Principalmente o parceiro que tenha chassi. Se não tem chassi, nós procuramos sempre fabricante local que tenha melhor penetração no mercado.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Fomento do Aprendizado

NAV - Desafiar

CPX - Busca de Soluções Abrangentes

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

107

CZ No caso da Colômbia, quando nós fomos pra Colômbia e começamos a pesquisar o Pacto Andino, nós fomos na Colômbia por quê? Por que foi Colômbia? Exatamente porque nós nunca tínhamos vendido nenhum ônibus para a Colômbia, na história da Marcopolo. Era o único mercado da América do Sul que nós não conseguíamos vender, era um mercado que tinha fabricantes locais, e que era um mercado

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

NAV - Desafiar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

Page 433: DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: O CASO … · período a indústria cresceu e fez do Brasil um dos maiores produtores de ônibus no mundo. No entanto, diversas foram as empresas

417

bastante fechado em termos econômicos. Aí nós decidimos vamos pra Colômbia, é lá que nós temos que ir.

108

CZ Aí nós buscamos quem era o principal fabricante e fizemos uma joint venture com ele. Isso foi a Superpolo, em 1999/2000.

2000

EMP - Versatilidade

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

109

CZ Hoje nós temos 35-40% do mercado colombiano, o nosso parceiro está extremamente feliz, inclusive ele propôs a mudança do nome Superpolo para Marcopolo da Colômbia porque ele percebe que o nome Marcopolo hoje é uma grife em ônibus.

2007

EMP - Julgamento

NAV - Captura de

Valor

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

110

CZ Nós, dependendo do tipo de produto, temos várias alternativas de fornecimento. Eu posso fornecer o ônibus completo do Brasil, eu posso fornecer em PKD, em SKD ou CKD, completamente desmontado. Dependendo do produto, se é um produto de bom valor agregado, é até possível eu mandar ele completo do Brasil, porque o custo de transporte ele não vai...um produto de US$ 100 mil, eu pagar US$ 3 mil, é 3% do frete, então é possível eu remeter do Brasil. E depende também de volumes.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

CPX - Fomento do Aprendizado

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

111

CZ Quando é um produto de baixo valor agregado, como é um Urbano que vale 20 – 25 mil dólares, 3 mil dólares é quase 10% do frete. É muito caro. Então o que nós fazemos? Nós exportamos eles desmontados e montamos localmente. Então o custo do frete baixa muito porque dentro do contêiner eu posso levar de 3 até 6 unidades. Então o frete fica extremamente barato.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

NAV - Captura de

Valor

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

112

CZ Outra questão importante, quando nós mandamos um produto daqui para um mercado comum, se eu mandar ele desmontado eu não tenho impostos de importação porque eu vou utilizar mão-de-obra local e a partir desse local eu exporto pro bloco, também não tem impostos. Então a Marcopolo fica muito competitiva.

3a Fase:

1987 a 200

EMP - Versatilidade

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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418

6

113

CZ Foram colocando, mas que nós vamos quebrando as barreiras através de montagens, ou de joint ventures locais ou no sistema produtivo em si. No momento em que eu mando esses veículos desmontados, e monto lá, eu uso mão-de-obra, eu uso alguns componentes localmente e a tarifa de importação vai pra zero ou muito baixo. Então nós conseguimos ser competitivos através dessa estratégia.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento

NAV - Manipular ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

114

CZ Mesmo hoje com o cambio bastante... Aí, claro, o que nós fomos fazendo? Como o custo do Brasil ta ficando muito elevado, nós estamos nacionalizando os componentes, então hoje 70% do que nós produzimos na Colômbia, vem de lá, é comprado lá, adquirido lá. No México já estamos em 40%, então porque, isso fica pra nós bastante importante, fica flexível, porque um dia se mudar aqui, eu posso voltar a fornecer do Brasil de novo. Então essa é a estratégia.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

NAV - Desafiar

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

115

CZ Veja então, que em termos de Brasil e América Latina, nós estamos no Mercosul, Pacto Andino e Nafta, nossa planta no México também tem o objetivo de futuramente penetrar no mercado americano e canadense.

2007

EMP - Ambição ☺☺☺☺

116

CZ Em 1988/89, nós fizemos uma parceria com a S&S, Stweart & Stevenson, que era do Texas, uma empresa texana, que nós trazíamos o chassi americano, fazíamos o microônibus e devolvíamos o ônibus completo para ser comercializado lá, o microônibus. Nós vendemos mais de 500 de ônibus.

1988

EMP - Julgamento

NAV - Negociar ���� ☺☺☺☺

117

CZ Só que na época nós não havíamos desenvolvido uma tecnologia, que hoje já temos, o PKD, ou seja, eu consigo fazer o veículo, o ônibus todo, sem o chassi. E nós não tínhamos desenvolvido isso e isso nós desenvolvemos a partir de 1994.

1994

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento ���� ����

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419

118

CZ O PKD ele vai todo montado, a carroceria, menos os componentes mecânicos. E essa operação ela ficava muito cara trazer todo o chassi dos EUA, produzir a carroceria e devolver pra lá, o custo acabou inviabilizando a operação. Então nós comercializamos em 1989/90 uns 500 microônibus, pra várias empresas, desde National, Hertz, todas essas locadoras de veículos,

1989

NAV - Negociar ����

119

CZ mas também em 1994, quando o México quebra a Dina procurou uma saída que era exportar para os EUA, e nós, o chassi Dina e a carroceria Marcopolo foram colocados dentro na norma americana e ela conseguiu exportar em 1994, mesmo estando quebrada, uns 1000 ônibus para os EUA, mas mesmo assim não conseguiu se recuperar. Então tem muitos Viaggio Marcopolo rodando nos EUA com o chassi da Dina.

1994

EMP - Versatilidade

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

120

CZ O grande problema, e é porque não entramos porque a Mercedes não tem chassi dentro da norma americana, ela não tem chassi homologado, nós teríamos facilidade em fazer a carroceria homologar.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Consentir ����

121

CZ Aí vai até 1999/2001 quando entramos na Colômbia, México e 1999 adquirimos a Ciferal, dentro também de uma proposta estratégica de crescimento.

1999

EMP - Ambição

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

EMP - Expansão Produtiva

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

122

CZ mas já em 1998 eles já haviam perdido todo o patrimônio, não tinham ganham dinheiro, perderam um monte de dinheiro e aí procuraram a Marcopolo, na verdade nós também nos aproximamos pois sabíamos de todas as dificuldades e aí adquirimos 50% da Ciferal já em 1999, e entramos então com a gestão Marcopolo.

1998

NAV - Negociar

EMP - Julgamento

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

123

CZ Aí sim nós mudamos toda a planta, paramos 70/90 dias de produzir e introduzimos toda a tecnologia Marcopolo na Ciferal, final de 1999, já começou a produzir ônibus da Marcopolo, não mais Ciferal, com a marca Ciferal, mas com os ônibus da Marcopolo.

1999

DIV - Integração

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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420

124

CZ Mas ainda sim, em 2000, ainda perdemos dinheiro, era um negócio que não estava rendendo e em 2001, nós adquirimos os outros 50%, aí ficou 100% Marcopolo.

2000

EMP - Ambição

EMP - Julgamento

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ����

125

CZ Em 1998 houve uma crise bastante grande, me lembro 12/13 de janeiro, quando a moeda brasileira desvaloriza de 1,20 e vai pra quase 2 reais. Aí um monte de empresa entraram em dificuldades tremenda, a Caio e a Busscar que eram... Vicente: Mas por quê? A dívida estava em dólar? Zignani: A dívida tava dolarizada. Na época todo mundo tomava dinheiro em dólar porque era muito barato, aí terminou o primeiro governo FH, quando ele assume o segundo governo dele, 12 dias depois, aí ele decreta uma desvalorização e aí nas empresas, a dívida praticamente dobrou. A Caio estava muito endividada, quebrou e a Busscar, de Joinvile, entrou em dificuldades financeiras enormes. Em 2000, a Caio quebra.

1998

NAV - Consentir ����

126

CZ Em 1998, no caso da Busscar teve um outro fenômeno, foi o seguinte: o presidente, Sr. Haroldo morre em um acidente aéreo em 1998 e assume os dois filhos, de 34 anos e 32, e eles não tinham ainda preparado a sucessão, não tinham experiência, e eles começaram a fazer um monte de...seguir os passos da Marcopolo. Nós fomos para o México, eles foram para o México. Gastaram, compraram uma empresa na Noruega, sei lá, fizeram um monte de besteira, e ainda dá o problema, em 1999, do problema financeiro e a Busscar enfrenta uma dificuldade financeira muito grande, não quebrou, mas entrou em dificuldade financeira bastante grande, e agora, após 7 anos de dificuldades financeiras que estão se recuperando.

1998

NAV - Consentir ����

127

CZ Então ela quebra em 2000, nesse período, como ficou em dificuldades a Caio, e a Marcopolo tinha adquirido a Ciferal, nossa participação de mercado chegou a 50%, até mais de 50%. É claro, que depois que eles reativam, eles voltam e retomam o mercado.

2000

NAV - Consentir ����

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421

128

CZ Além disso, a Marcopolo continua então a estratégia de internacionalização. Nos adquirimos, fizemos uma joint venture na África do Sul, também foi em 2000/2001,

2000

EMP - Ambição

CPX - Fomento do Aprendizado

EMP - Engenhosida

de Financeira

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

129

CZ a empresa continua, e também estamos buscando oportunidades de crescimento. Em 2005 agora, anunciamos fábrica na Índia, fábrica na Rússia, em 2001 vendemos tecnologia para a Iveco na China.

2001

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ����

130

CZ Nós fizemos uma venda de tecnologia de 3 modelos de ônibus, uma urbano, um rodoviário e um micro. A nossa contratação foi para fornecer esses modelos, a tecnologia toda, montar a fábrica e dar o start up, botar a fábrica funcionando. Então foi 2001, 2002 e 2003, basicamente nós entregamos a planta funcionando para a Iveco, recebemos US$ 12 milhões pela venda de tecnologia, só que a Iveco, a CBC/Iveco quebrou, a empresa não funcionou porque era uma joint venture com uma empresa chinesa estatal.

2001

CPX - Fomento do Aprendizado

EMP - Versatilidade

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

131

CZ A empresa quebrou e nós ficamos então na China (1:10:00), até hoje nós estamos na China, primeiro porque tínhamos toda essa transferência para ser feita e depois porque nós tínhamos interesse em continuar tendo uma operação na China. Mas até o momento nós não conseguimos identificar um parceiro que seja adequado para nosso negócio. O risco é muito grande na China e nós transformamos essa unidade em uma trade de compras. Então nós estamos com uma unidade lá com mais de 20 funcionários só identificando fornecedores e trazendo esses fornecimentos para o Brasil.

2001

EMP - Julgamento

CPX - Fomento do Aprendizado

CPX - Busca de Soluções Abrangentes

���� ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

132

CZ Rússia começou a funcionar a planta agora em março de 2007 e na Índia ainda, nosso diretor está lá essa semana para definir o local no qual nós vamos ter a planta, mas provavelmente será em Dharward, já está anunciada inclusive, mas a confirmação deve estar acontecendo hoje, com o grupo Tata. Essa é uma joint venture para produzir volumes bastante elevados, 51% é Tata e 49% é Marcopolo.

2007

EMP - Engenhosida

de Financeira

EMP - Julgamento

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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422

133

CZ Porque o custo da China e da Índia são muito parecidos. E nosso parceiro é hoje um grande produtor de veículos pesados, fabrica chassi, fabrica automóveis, fabrica caminhonetes, tem um braço Tata Motors, mas além disso o Grupo Tata tem siderúrgicas, tem Telecomunicações, tem Alimentos... eu sei que há vários setores que eles atuam. Comenta-se inclusive que eles têm 7% do PIB indiano, é do Grupo Tata

2007

CPX - Fomento do Aprendizado

EMP - Versatilidade

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ����

134

CZ a Marcopolo sempre foi uma empresa que me atraía muito, eu tinha conhecimento...mas veja bem, que não foi só isso. Eu saí de uma outra empresa que eu era diretor financeiro e vim pra cá como gerente financeiro, ganhando menos que eu ganhava lá na outra. Mas eu acreditava que a empresa tinha potencial e que ela ia crescer.

1984

NAV - Legitimidade Organizacion

al

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

135

CZ Então eu vim pra cá, mas vim como gerente financeiro, aí a primeira coisa nós tínhamos que capitalizar a empresa e fomos para o mercado de capitais. Fizemos um lançamento de ações na época, me lembro 3 milhões na moeda da época, não sei quanto é que era, na época já conseguimos uma renegociação da dívida.

1984

EMP - Versatilidade

EMP - Engenhosida

de Financeira

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

136

CZ A partir dali nós buscamos primeiro capital de risco, fizemos uma subscrição de capital, fomos ao BNDES buscar empréstimos para a renegociação de toda a dívida existente e tivemos sucesso nos dois pacotes. O BNDES fez um financiamento de longo prazo para a companhia, nós buscamos um mercado de risco. A partir dali, a Marcopolo de 1984 pra cá só deslanchou,

1984

EMP - Engenhosida

de Financeira

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

137

CZ e em 1986/87 com uma filosofia nova de produção, nós começamos a crescer, dinheiro não faltava, pegamos um período maravilhoso.

1986

EMP - Engenhosida

de Financeira

EMP - Ambição

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

138

CZ Mas ao mesmo tempo, em 1994/95 quando nós fizemos aquela reestruturação administrativa, cria-se a figura da diretoria corporativa e depois cria-se... continua com a diretoria corporativa, mas começa a funcionar o conselho de administração, em que começa a participar pessoas de fora da companhia, indicados pelos acionistas minoritários e

1994

NAV - Legitimidade Organizacion

al

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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pelos preferencialistas. Aí então, depois entra pessoas indicadas pelo Banco Central, atualmente Bradesco/Trampton, em 2002 nós aderimos o nível 2 de governança corporativa

139

CZ Fizemos um novo lançamento de capital em 2002, buscamos capital de risco, no pior momento, foi em setembro de 2002, quando o Lula, era uma ameaça, nos fizemos o lançamento de capital, foi o único do ano feito no Brasil. E a Marcopolo ainda teve sucesso captando 100 milhões de reais, teve 30% a mais de procura, destes, 20% foram lançados no exterior, e para efeito de mercado era a pior coisa que podia acontecer, e se o Lula ganhar naquela época, para o mercado externo. Mas a Marcopolo era muito, como é que eu vou dizer, é nome muito forte já porque nós tínhamos operações.

2002

EMP - Julgamento

NAV - Desafiar

EMP - Engenhosida

de Financeira

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

140

CZ Nós fizemos em 1996 o lançamento de ADR, mas o projeto só teve custo, ninguém aderiu, aí nós cancelamos em 2004 o projeto de ADR. Mas hoje nós temos mais de 50% das ações PN estão no exterior.

1996

EMP - Julgamento

EMP - Engenhosidade Financeira ���� ☺☺☺☺

141

CZ Então a Marcopolo tem todo esse carisma, vamos dizer assim, por ser uma empresa exportadora, por ter presença em vários países com fábricas, por ter em mais de 100 países produtos rodando, por ter presença na Europa, por ter presença no mercado mexicano, tudo isso dá uma facilidade de penetração no mercado

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Manipular

CPX - Fomento do Aprendizado

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

142

CZ mas nós não temos tido dificuldades em ter acesso a capital.Toda hora estamos sendo procurados para absorver mais capital, mas a Marcopolo hoje já está muito capitalizada e temos recursos para continuar a internacionalização e crescer mais ainda.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Engenhosida

de Financeira

EMP - Julgamento

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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424

143

CZ Eu diria que o BNDES hoje não é um grande empecilho de dar crédito para empresas que tenham condições de dar garantias, às vezes tem até questões políticas,

3a Fase:

1987 a 2006

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺

144

CZ pega no caso da Busscar, a gente sabe de Joinvile que ela não paga impostos, tem endividamento bastante grande, não paga os bancos, renegocia, o próprio governador de Santa Catarina ele é de Joinvile, então protege muito a empresa, é uma empresa que dá 3 a 4 mil empregos, então é importante para a comunidade que ela continue ativa. Normalmente, a falência, como é que vou dizer, não paralisa a atividade, pelo contrário, ela volta como uma cooperativa, ela volta como outra, assim como aconteceu na quebra da Caio, a própria Ciferal quebrou várias vezes, ela quebrou no Rio de Janeiro, ela tinha uma Ciferal de São Paulo, quebrou, aí ela se transformou em Condor, quebrou, se transformou-se em Tancor, quebrou, transformou-se em Neobus, quebrou, e aí acabou vindo a Neobus para Caxias do Sul, os caras compraram todos os equipamentos e começaram a montar em Caxias, a Neobus.

Todas as

Fases

Ambiente Piedoso ☺☺☺☺

145

CZ Nós, recentemente, anunciamos que compramos 40% da Neobus, que é um fabricante bem na porta.

2007

EMP - Ambição

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

146

CZ Nós adquirimos por uma questão de uma barreira defensiva, imagina que um fabricante europeu viesse e adquirisse uma empresa na nossa frente, a 500 metros de distância, tendo nossa engenharia próxima, mão-de-obra, acesso a fornecedores, seria muito complicado ter alguém com mais potencial econômico que eles têm.

2007

EMP - Expansão

Híbrida

NAV - Evitar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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425

147

CZ Surgiu a oportunidade, nós fomos lá e adquirimos 40% da companhia, e claro que nós temos a intenção de adquirir mais, mas tudo é uma questão de tempo.

2007

EMP - Ambição ☺☺☺☺

148

CZ No início, claro, eu entrei como gerente financeiro, fui em busca de soluções para a companhia, principalmente na parte financeira, e realmente tivemos muito sucesso, em 1992/93, deu uma crise na área de compras e suprimentos, como eu tinha tido um bom sucesso na área financeira, bom agora tu vai lá pra área de suprimentos e compras, e resolve o problema. Fui pra lá, trabalhei dois anos nessa área.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Formar ☺☺☺☺

149

CZ Nós tivemos a crise, ela se originou nas terceirizações em que nós tivemos alguns terceirizados ocultos, e que ao mesmo tempo terceirizaram e eram sócios do negócio. Entendeu, isso trouxe uma crise até de confiança, e negociações ficaram muito complicadas. Fornecedores que tinham o preço extremamente elevado porque tinham gente com interesse por trás, entendeu? Então nós procuramos resolver todo esse problema, e em um ano e meio, por aí, já estava resolvido.

1993

DIV - Fragmentaçã

o

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

NAV - Consentir ���� ���� ����

150

CZ Voltei de novo para o financeiro, mas aí como diretor financeiro. Resolvida toda a crise, aí nós contratamos, na época era gerente de suprimentos e compras. Eu voltei para o financeiro, mas como diretor, e em 1994 ainda, entra toda a crise do Plano Real, crise do México, contratação de nova consultoria, que aí foi criada a diretoria, então eu passo a ser diretor, daí um ano e pouco depois eu passo a ser diretor geral, fiquei até o ano 2000,

1994

FRH - Formar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

151

CZ em 1998 nós fomos buscar outro diretor financeiro e era exatamente esse o objetivo de fazer uma transição pra ele, a intenção era essa de ser diretor geral. Então, em 2002 ele passou a diretor geral e eu fiquei como diretor de relação com investidores e também como coordenador entre os controladores e o executivo.

1998

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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426

152

CZ Então, hoje eu faço o papel também de secretário do conselho, sou eu quem organizo todas as pautas do conselho, as reuniões, coordeno o conselho fiscal.

2007

FRH - Reter ☺☺☺☺

153

CZ Nós criamos um banco, o Banco Moneo, eu sou o diretor-superintendente do banco também, mas eu acho que a atitude que eu tomei foi acertada, tanto é que mesmo vindo da outra empresa, de diretor para gerente, ganhando menos, no longo prazo foi uma boa troca. Eu já estou há 23 anos na Marcopolo, conheço um pouco da história, porque tenho que ficar contando toda hora

2006

FRH - Reter ☺☺☺☺

154

CZ Sou de Caxias do Sul, formado pela Universidade de Caxias do Sul, e na Marcopolo eu percebia que tinha muita oportunidade, então eu fiz muitos cursos, muitas imersões, a Marcopolo possibilitou um crescimento meu bastante grande, fiz INSEAD na França, visitas, ao Japão também fui, Coréia, tive muitas oportunidades mundo a fora.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Legitimidade Organizacion

al

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

155

CZ A Marcopolo, como eu vou dizer, utiliza muito a mão-de-obra e motiva muito, dá muito treinamento. Possibilita, pra quem quer crescer, o seu desenvolvimento. Dá desafios, acho que até foi muito acentuado nos últimos quinze anos, até mais do que no período logo que eu entrei,

Todas as

Fases

DIV - Integração

NAV - Legitimidade Organizacion

al

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

156

CZ mas a Marcopolo sempre tem um carinho muito grande com as pessoas, tanto é que as pessoas... isso é um diferencial. As pessoas não saem da Marcopolo, às vezes até ganhando menos, mas preferem ficar aqui porque sabem que aqui tem uma valorização. Às vezes não é só o dinheiro que conta, mas a valorização pessoal, a oportunidade de se desenvolver, a oportunidade de apresentar propostas e ser ouvido, isso é importante.

Todas as

Fases

FRH - Reter NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

157

CZ Vicente: Como é que foi isso, em relação a uma multinacional, pra enviar seus funcionários expatriados para outros países? Zignani: É claro, nós criamos um programa, desde preparação na linguagem. Preparação na cultura pros países, aonde as pessoas iriam, e também nesse

3a Fase:

1987 a 200

NAV - Negociar

FRH - Antecipar

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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desenvolvimento nós trouxemos muita gente do exterior pra cá.

6

158

CZ Nós trouxemos muitos chineses, que vieram para o Brasil, e os primeiros estágios eles fizeram aqui. Então nós tivemos que fazer aculturamento, em termos de alimentação, linguagem, cultura geral mesmo. Mas então, nós criamos por exemplo, eu me lembro, nos hotéis nós tivemos que ensinar o pessoal dos hotéis a fazer a alimentação adequada para os chineses, para os russos, árabes...cultura, o cara não come carne de porco, o outro não come não sei o que...

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

159

CZ Nós temos uma área, dessa escola de formação profissional, ela treina, além das nossas pessoas, nós treinamos pessoas de manutenção dos nossos clientes. Então vêm comitivas da Arábia, vêm comitivas da China, Índia, México, Colômbia. Uma vez por mês nós temos uma comitiva aqui.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Captura de

Valor

CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

160

CZ Para explicar como é que troca um pára-brisa, como é que troca um limpador de pára-brisa, se quebra uma janela, como é que faz a troca, como é que regula a porta... Tudo isso pra nós é marketing. Se o veículo funcionar bem, o cliente repete a compra. Mas se tiver uma boa assistência técnica, uma boa rede de distribuição de pecas, e um bom treinamento que a gente possa possibilitar, valoriza o produto.....Isso pra nós é um diferencial, é um argumento de venda. É um diferencial a princípio e um argumento de venda

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Captura de

Valor

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

161

CZ Vicente: O preço é um pouco mais acima também por isso? Zignani: É um pouco mais acima por isso, mas eles sabem que não vão ficar na mão nunca

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Manipular

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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162

CZ Pedroni: As duas coisas. Tu também não pode forçar ninguém a ir, porque a mudança é grande. Eu lembro, vou contar a passagem da China que foi logo quando eu entrei na empresa também, que nós começamos a escolher as pessoas que seriam monitores. Então, por exemplo, se você vai montar, vai vender tecnologia para um país, completamente diferente, cultura diferente, hábitos, costumes diferentes, nós tínhamos que escolher dentro da fábrica, pessoas que tivessem habilidades específicas. Olha, precisaria de um cara bom em solda, um cara bom em elétrica, então transformamos em monitores. Então bota esse pessoal em sala de aula, aí vai o Bisi conversar sobre cultura, explicar como é que funciona lá, para que as pessoas pudessem levar para suas famílias como é que funciona isso, como é que é lá, quais são os hábitos, como é que o povo chinês se comporta, o que é, por exemplo, um bom relacionamento com um chinês. Claro que nós também tivemos que aprender porque nós não conhecíamos. Então aonde é que a gente foi buscar?

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Negociar

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

163

CZ Tem um coisa que acho importante... Vamos para Rússia! O que nós fizemos primeiro? Quando pensar em Rússia, contrata alguém do país para ele já começar a fazer o levantamento socioeconômico do país, aí ele faz tudo isso, aí procuramos um parceiro, aí ele vai sempre sendo envolvido, depois no final, o que ele é? Ele é o gerente do projeto. Acabou-se, ta lá na Rússia. Ele é um descendente de russos, casou com uma russa, estudou na Rússia. Facilita tremendamente a entrada no país. Nós tivemos com um chinês também.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Antecipar

FRH - Formar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

164

CZ Zignani: O indiano é o Chian (?). Ele trabalhou na Volkswagen, ele é um descendente de indianos, e isso facilita a entrada no país. Cultura já consegue facilitar, já faz o meio de campo, e ele já vai ser o gerente do projeto. Pedroni: E vai alimentar a empresa com informações importantíssimas, facilita, encurta um monte de caminhos.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Antecipar

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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165

CZ Pedroni: Pra citar como exemplo, tem uma turma que vai agora dia 4, vão para a Índia. Inclusive tem um instrutor lá do escola de formação que o Carlinhos (Zignani) falou. Ele vai lá junto com o pessoal. Ele deve ficar lá por 3 – 4 meses, volta, fica um tempinho aqui porque tem família. Então, na nossa política de expatriado se faz o contrato por 2 meses, pode ser prorrogado, depois ele volta... vai outra pessoa.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Negociar ☺☺☺☺

166

CZ 25% a mais...é depende do contrato, mas normalmente é isso... A oportunidade é muito grande. Claro que tem outros fatores que tem que associar, a questão da língua.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Formar ☺☺☺☺

167

CZ Se você for lá fábrica de Ana Rech hoje, talvez nesse horário não, nós temos lá grupos lá no nosso centro de treinamento que estão em imersão no inglês. Nós temos um grupo que está aqui, que está aqui, tá em imersão, pelo menos aprendendo algumas expressões mais tradicionais, mais comuns, em russo. Tem pessoas que de repente nem falam inglês, mas nem adianta falar inglês, então vai direto pro russo. Então nós contratamos, nós temos um jovem hoje aqui, além do Yuri (?) que ta lá, Yuri é nosso homem da Rússia que ta lá. Nós temos um professor aqui, professor de russo que está ensinando o pessoal aqui... como é que cumprimenta... então está criando uma espécie de manualzinho, porque nós temos que fazer tudo traduzido, tem que fazer manuais em russo, tudo, tudo, tudo. A pessoa que vai pra lá, tem que aprender a linguagem deles.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Antecipar

FRH - Formar

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

168

CZ Com a China tivemos problema até de arrumar tradutor, intérprete, como é que nós íamos conseguir....graças a essa né, a própria Universidade de Caxias, ela se mexeu e montou aí um programa de línguas e a questão do mandarim que não tinha. Até a Marcopolo colocar os chineses aqui, não se ouvia falar em mandarim. E nós pressionamos... até o próprio árabe que não tem até em Caxias gente que fala árabe. Nós tivemos que buscar em São Paulo pessoas que falam árabe, para fazer tradução simultânea nos

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Manipular

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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treinamentos...

169

CZ Zignani: Ah, eu esqueci de comentar, além da escola, nós temos o Centro Marcopolo de Educação Corporativa, CEMEC. Explica o que é, o que faz isso aí...isso foi criado em 2001. Pedroni: Na verdade o CEMEC... quando a gente fala em negócios, em internacionalização, o que a empresa precisa saber, bom, pra mim continuar crescendo, pra mim perpetuar o negócio, eu preciso definir quais são as competências essenciais pro meu negócio. Definida as competências... o que é competência essencial. Defino quais são as competências, defino quais são as funções estratégicas e aí quem são as pessoas que estão ocupando essas posições estratégicas e quais pessoas eu vou preparar, eu enquanto estiver ocupando as funções estratégicas, eu vou preparar para me suceder...imagina assim, eu sou o diretor, e estou ocupando uma função estratégica, é uma competência essencial pro negócio, a partir daí eu preciso preparar alguém. Então foi criado esse centro exatamente pra isso, a tendência é que viesse a desenvolver essas pessoas para qu

2001

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

170

CZ Se eu não tenho então, eu tenho condições...eu estou considerado apto a entrar no processo ou vou ficar... aí nós buscamos então a Fundação Getúlio Vargas. É uma entidade de peso, tiveram outras... na época eu não participei dos processos...uma entidade que trouxessem, agregassem conhecimento, não que as outras não agreguem. Mas a FGV de São Paulo foi escolhida na época, aí foi feito todo um programa. Eram 135 pessoas escolhidas na época, que eram os participantes, foram 4 turmas, aí vinham pessoas que estavam lá na posição de gestores, que estavam no México, Portugal, em alguns módulos... em sua grande maioria vinham para o Brasil, era um encontro por

2001

FRH - Formar

FRH - Antecipar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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mês, com 4 grupos. Toda a semana tinha um módulo com 4 turmas. Foi um treinamento de 4 anos e o pessoal de qualificou...então hoje nós temos um grupo bem preparado... formação de gestores.

171

CZ Nós temos um conselho de herdeiros que está trabalhando na sucessão. Isso já está bem encaminhado. Agora na semana passada, foi apresentado no conselho todo um projeto, ainda não foi aprovado, mas a idéia é continuar a família Belini sendo.. Seu Paulo já está com 80 anos, e aos poucos ir se afastando, aí entra um dos filhos dele, mas só no Conselho de Administração, a companhia continua sendo...

2007

EMP - Julgamento

FRH - Antecipar

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

172

CZ Na África do Sul, isso, o Mauro. Ele teve na África do Sul. Nós também, em 2005 introduzimos um código de conduta na companhia, que acho que aí resolveu. Tinham umas questões de conflitos de interesses, vamos dizer assim, e um dos casos é que o filho do presidente era representante na África do Sul, até não se entendia que era muito...ele quem desbravou, mas aí a companhia resolveu terminar o assunto...e a Marcopolo adquiriu toda a representação. Nís tivemos aqui um outro caso, de um outro diretor, que era ao mesmo tempo fornecedor e diretor da companhia, nós resolvemos também. Então isso ficou resolvido também através do Código de Conduta, então hoje todo mundo sabe o que a empresa espera dele, o que nós queremos e como ele deve se comportar perante os vários públicos.

2005

DIV - Integração

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Fomento do Aprendizado

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CZ Vicente: A cultura da empresa, as fábricas são similares, são próximas. Zignani: São similares, talvez Portugal esteja mais fora do nosso padrão. Como Portugal começou fora, ela tem uma vida própria... os sistemas todos não são integrados conosco, é uma empresa pequena, ainda Portugal... mas o restante nós... Vicente: E a Ciferal, no Rio de Janeiro, mais recente. Zignani: Tudo igual. Vicente: E se um dia eu tiver a oportunidade de conversar com alguém que está lá também, eles se sentem Marcopolo mesmo? Zignani: Sim. Pedroni: Nós temos lá uma Escola de Formação, vai inaugurar uma escola de formação... Zignani: Filosofia de produção, é tudo igual... Pedroni: Modelo de fábrica, layout de fábrica, processos, tudo igual...

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração ☺☺☺☺

174

CZ Nós trouxemos um monte de gente quando nós adquirimos a Ciferal, o pessoal veio pra Caxias, quantos homens vieram? Trouxemos um pessoal do Rio de Janeiro, que passou várias semanas em Caxias trabalhando na linha de montagem, vendo como é que era, para depois poder replicar lá.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

175

CZ Pedroni: E hoje nós temos muito isso, acho que é importante isso, que hoje nós temos...essa semana agora voltaram ontem dois mexicanos...Então quer implementar o Simps e o Sumam com nossa filosofia, vieram duas pessoas de lá, ficaram duas semanas conosco. Ficaram aqui, voltaram, há todo um programa de treinamento pra eles, e voltam pra lá ainda mais aculturados com nosso sistema. Tem sempre gente nova entrando, gente nova assumindo novos postos, então o pessoal vem...

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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CZ Vicente: Ultimamente, bem, no último relatório trimestral, eu vi que o market share da Marcopolo está caindo no Brasil... Zignani: Sim, isso inclusive já tá..no segundo semestre..Tem um problema de abastecimento em janeiro e fevereiro. As montadoras não acreditaram que o mercado ia crescer, nós dizíamos que ia crescer, e o segundo aspecto, foi que nós superamos e introduzimos um produto novo, uma segunda geração de ônibus urbanos que foi introduzido na Ciferal. Nós sempre introduzimos em janeiro e fevereiro que são os meses mais fracos do ano, e aí teve toda uma curva de aprendizado que agora já tá resolvido. Então foi uma perda de market share.

2007

NAV - Consentir ����

177

CZ Normalmente, anos de eleições municipais... o ano da eleição e talvez o ano um pouco o ano anterior, são períodos, em que as prefeituras, que são o poder concedente, que na verdade...empresa pública hoje no Brasil de transporte, só tem uma em Porto Alegre chamada Carrife (?), mas é muito pequena. Então todas as empresas são privadas, só que o poder concedente é a prefeitura, e a prefeitura, ela faz normalmente, ela faz exigências quando ta próximo da eleição municipal...bota mais ônibus novo, porque o prefeito vai fazer a campanha em cima do transporte público, então um ano antes, começa mais ou menos, uma renovação das frotas. Mas isso pode não ser verdade em alguns períodos porque o produto, ele tem que ter financiamento. É importante para ter sucesso, um ano de eleições municipais que tenha financiamento, que a taxa de juros não esteja num patamar extremamente elevado, senão o cara não renova. E que as tarifas estejam, também, remunerando o investimento. Então tem períodos, como deve dar nesse período no a

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Consentir ����

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CZ Sim, nós temos duas instituições. Uma chamada Fabus e outra Simefre. No Simefre, o presidente é o Martins da Marcopolo. E na Fabus, também é. Dentro da Fabus, tem várias comissões, comitês na verdade, que trabalham no aspecto de padronização da frota, que a Marcopolo faz parte com o Paulo Mutter (?). Ele é o coordenador da comissão chamada Cotepa (?). Ele é o coordenador dessa comissão que trata de padronização de veículos, tanto urbanos, como rodoviários...mas é um trabalho que é feito pela Fabus. Além disso, ela faz também ações políticas. Por exemplo, renovação de concessões, aumento de prazo de financiamento, de taxa de juros, ações dentro do DNER, etc...a Fabus faz esse trabalho. Mas faz também em conjunto, ela se junta com uma instituição chamada Abrati...NTU, que é outra instituição. Uma é mais de rodoviário e outra é mais de urbano. Então nós pegamos essas instituições junto com a Fabus, o Martins então coordena tudo isso, promove ações nos ministérios, nos órgãos de governo, BNDES e outras instituiçõ

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Manipular ☺☺☺☺

179

CZ hoje o grande problema do ônibus é o pedágio. O pedágio encarece muito as viagens, porque é pago por eixo, paga como um caminhão. Às vezes o cara ta andando com o ônibus mais vazio e tem um custo muito caro de pedágio. Mas isso não se conseguiu resolver. Tem muitas outras questões.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Negociar ����

180

CZ Entidades reguladoras, aí cada estado, cada prefeitura cria uma norma do ônibus, é incrível. Pega no Rio de Janeiro, só pode ter ônibus com porta, sei lá, de 1,80 m.. não pode ter poltrona em estofado. Cada cidade, cada estado quer, gosta de criar uma norma. Cabe ao Simefre através das outras instituições procura padronizar um pouco isso, senão nós vamos ter cinco mil municípios e cada município resolve criar uma legislação especial pro ônibus...aí tem que ter, como é que se diz, elevador para os incapacitados...

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar ☺☺☺☺

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181

CZ Eu acho que ainda, nosso ônibus é ruim. Mas o problema é que o ônibus de piso baixo, é um veículo com portas amplas, fácil entrada e saída...só que é um veículo que custa mais caro, aí vai ter que ter uma tarifa maior, aí muitos empresários não colocam, a prefeitura... A tecnologia existe, mas ainda nós produzimos veículos que não são adequados...

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Consentir ����

182

CZ Curitiba criou um sistema de transporte que possibilita então a utilização de veículos articulados, bi-articulados, aonde tem estações que o passageiro não precisa subir degrau nenhum...essa aqui é uma foto antiga, mas é um sistema aonde cai uma plataforma e o passageiro já embarca sem subir nenhum degrau. Isso já tem no Brasil, na Colômbia...hoje o mais moderno sistema de transporte sobre pneus é o de Bogotá. Temos o Transantiago, no Chile, e agora ta saindo o Transcali, na Colômbia.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺

183

CZ Nós procuramos motivações para que as prefeituras façam esse sistema de transporte. Aí nós nos juntamos também com as montadoras de chassis, porque também têm interesse.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Manipular ☺☺☺☺

184

CZ Vicente: E a Marcopolo está de olho não só em ônibus, nas também em.. Zignani: Sistemas de Transporte. Nós, inclusive, temos parcerias com empresas que fazem isso. Não é da Marcopolo, mas tem várias empresas que projetam esses sistemas de transporte. Uma delas é do Cloraldino Severo, ex-ministro dos transportes. E que quando nós percebemos que há uma cidade que ta interessada, nós motivamos também.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

185

CZ Nós levamos eles para fazer palestras, pras câmaras de vereadores, pro prefeito, pro cara da área de transporte, pra secretaria de transporte, pra mostrar que pode implementar um sistema de transporte mais moderno, que dá pra fazer isso, que dá pra fazer aquilo...Então nós levamos uns consultores que fazem isso, então nós às vezes até

3a Fase:

1987 a 200

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

NAV - Manipular ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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colaboramos financeiramente para esses projetos...É um outro campo que a Marcopolo tem muito interesse, desenvolvimento de sistemas de transporte, que ajuda depois a vender produtos.

6

186

CZ Aqui em São Paulo, acho que já tem bastantes corredores... O Rio de Janeiro que ainda não está muito motivado para isso, mas eu diria até que a frota do Rio de Janeiro não é uma frota velha. É uma frota relativamente nova, só que é ainda meio bagunçado o sistema de transportes. Muitas empresas que atuam, não têm corredores... E muita van, muita van. Mas aí, acho também que tem muitas questões que quem não quer muito resolver o problema são as transportadoras...então tem muito interesse por trás, da própria empresa transportadora que não tem interesse em modernizar.

3a Fase:

1987 a 2006

Ambiente Desafiante/Estimulante ����

187

CZ Sim. Eu diria o seguinte, até quando eu entrei na Marcopolo, a grande preocupação era a cadência de produção. Pegava períodos de extremamente alta produção e outros períodos baixos. Principalmente pegava primeiro semestre, fraco. Segundo, fortíssimo. Porque era o período que todo mundo queria renovar os ônibus...ah, segundo semestre.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Consentir ����

188

CZ Nós conseguimos com várias ações modificar um pouco isso, através de que sistema? O segundo semestre é muito forte em rodoviários e nós precisávamos que no primeiro semestre fosse, então, de urbanos. Deixar mais, incentiva mais o segundo semestre pra produzir rodoviários, e produzir urbanos. O que nós, através de Fabus e etc, conseguimos fazer? Nós fomos nas prefeituras e incentivamos a renovação da frota, e que houvesse na formação da tarifa, uma motivação para renovar a frota através da idade média dos veículos. Quanto mais nova a frota ganha uma remuneração maior na tarifa. Então foi criado o ano de fabricação. Com isso o que acabou acontecendo, ninguém quer comprar ônibus no segundo semestre, porque já em janeiro ele tem um veiculo com um ano de uso, e a

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Manipular ☺☺☺☺

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remuneração dele fica menor na medida em que a frota vai envelhecendo. Então ta todo mundo com isso renovando a frota no primeiro semestre. Então é muito forte em urbanos no primeiro semestre, aí pra nós fica bom, porque o segundo semestre é o rodoviário.

189

CZ Segundas outras ações que foram tomadas: com a internacionalização da Marcopolo e com a busca de novos mercados, nós conseguimos, também, mudar em alguns países o período de férias. O período de férias não é o mesmo do período nosso aqui, dos latino-americanos, de janeiro a fevereiro. Então nós fomos em busca de mercados no Oriente Médio e outros mercados que não tem esse período. Então a gente consegue balancear um pouco mais isso com países que têm férias em julho, agosto. Então foi outra forma que nós conseguimos.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

190

CZ E a presença nossa em mais de 100 países também acaba dando uma...hoje 45% da nossa produção ela é exportada. Então a sazonalidade brasileira, com esse mercado aqui, eu consigo distribuir melhor os negócios no mundo e fazendo uma produção mais balanceada, mais constante.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

191

CZ Vicente: Eu vi que umas das iniciativas que a Marcopolo teve, foi exportar primeiro e depois internacionalizar com fábricas no exterior... Zignani: Essa foi a estratégia. Pra mitigar o risco e também teve esse problema, como é que vou dizer, a sazonalidade diminuir.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Julgamento ☺☺☺☺

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192

CZ Vicente: A outra que eu também vi, mas que ocorreu na década de 80, e agora está mais em stand by, foi a diversificação dos investimentos. Na década de 80, ela comprou a Caraíba Metais... Zignani: Tivemos a participação no Banco Arbi. A Dinaço, foi outra que nós compramos e vendemos. Aquela parceria que nós tivemos na Bahia foi com a Van Hool. Teve uma época, na década de 80, que o negócio era diversificar...

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Julgamento

EMP - Expansão Nula ���� ☺☺☺☺

193

CZ nós só dependemos do ônibus, estamos aqui com a produção cheia, fazendo hora extra, mas no mês seguinte tinha que demitir, reduzir quadro. Então nós tivemos uma serie de ações pra evitar essa sazonalidade. Nós começamos a trabalhar mais com hora extra, até bem com a filosofia japonesa. Até 10% de crescimento da produção nós podemos usar com hora extra. Quando isso ultrapassa muito os 10%, então ta na hora de começar a admitir gente.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Consentir ����

194

CZ Então na década de 80 foi diversificação, então nós compramos o banco, investimos em Caraíba Metais, buscamos Dinaço, que era outra atividade, mas depois nós percebemos que a nossa vocação era produzir ônibus, é isso que nós sabemos fazer e a partir dali então, desse planejamento estratégico, nós fomos olhar assim: Nós produzimos 10.000 ônibus, o mundo produz 200.000, pra nós, aumentar de 10 pra 20 mil no mundo, iria aumentar de 5% a produção pra cima, só aumentar isso, já dobrava o tamanho da Marcopolo. Por que se concentrar somente no Brasil?

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Julgamento

EMP - Expansão Produtiva ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

195

CZ Vamos buscar as oportunidades que tem fora do país. A partir dali que surge internacionalização, a busca de novos mercados. Vamos crescer fora do Brasil e não ficar só dependendo da economia brasileira, que no ano que tava a crise, em 1982, a Marcopolo dependia somente do mercado brasileiro e em 1994 de novo, apesar de ter buscado oportunidades no mercado, mas aí naquele ano quebra o México, que era o principal cliente da Marcopolo, ai o Brasil também entra em crise, e esses dois países representavam 80% da produção.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Julgamento

EMP - Expansão Produtiva ���� ����

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196

CZ Vicente: Por outro lado, um desses investimentos foi a MVC, foi em 1986. Mas essa, vocês não saíram porque era muito relacionado com o negócio... Zignani: Não saímos porque ela era...a tecnologia do plástico veio da MVC. O que nós percebemos é o seguinte... O ônibus, cada vez mais, substitutos vão sair pelo plástico. Até o aço...isso é uma questão de tempo. A estrutura de aço, futuramente, deve ser com compostos de kevlar, não sei o que...são compostos de plásticos que vão substituir, e nós verificamos que internamente hoje, cada vez mais o plástico está sendo utilizado...a traseira já é plástico, o teto já é de plástico.

1986

EMP - Julgamento

EMP - Expansão Híbrida ���� ☺☺☺☺

197

CZ Ele é mais barato, mais leve, mais fácil de trabalhar com esses materiais. Nós vimos que a evolução do plástico vai ser muito maior do que foi a do aço, e de outros componentes. Foi por isso que nós decidimos continuar com a unidade de plástico. E a fábrica de aço que era de tubos... mas a tecnologia do plástico está sempre em evolução, fazendo várias tecnologias novas...e outras que, peças que... com esse moldezinho aqui tu copia uma peça plástica sem nenhuma dificuldade....... Já existe a possibilidade de produzir um ônibus praticamente todo se plásticos, mas essa questão de compostos não... mas é uma questão de 10 - 15 anos, hoje praticamente um fórmula 1 é todo de fibra.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Julgamento

EMP - Versatilidade ���� ☺☺☺☺

198

CZ Então tem a história da casa ainda que não vamos falar não, esquece... Vicente: A casa não está dando certo, a casa de plástico? Zignani: É uma boa idéia, mas ainda...não sei se o País não está maduro, nós ainda não estamos maduros...é preconceito né? Uma casa de plástico. Mas na verdade ninguém diz que é plástico. Você pega uma fibra de vidro, tu bate é uma fibra de vidro... Na outra empresa que eu trabalhei, antes de vir pra cá, era uma empresa de casa pré-fabricada, e usava a fibra de vidro para revestimento interno. Então, é um negócio que tem mais de 25 anos, mas ainda é preconceito. É que ninguém a casa de madeira, como é que é, o lobo mau derruba a casa dele... A casa de alvenaria de

2007

EMP - Julgamento

NAV - Consentir

NAV - Desafiar ���� ���� ☺☺☺☺

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alvenaria é mais resistente. Tem uns mitos então.

199

CZ Zignani: Isso nós temos uma em Goiânia, que fica dentro da Mitsubishi, mas ela só produz para a Mitsubishi, toda a parte de plástico da L200 (?), da S4 (?) e da Pajero Full. Tem também uma no México. No México produz componentes pro ônibus, pra indústria automobilística. Vicente: E vende também pra concorrentes? Zignani: Algumas coisas pra concorrentes no caso do México sim, no Brasil não. Nós fornecemos alguns componentes para uma empresa chamada Aico (?).

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Negociar

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

200

CZ Na década de 80 então, teve um momento aí que se pensava em diversificação, diversificar as atividades da Marcopolo, buscar outras atividades, mas depois na década de 90, nós consolidamos que a Marcopolo tinha a vocação para ônibus e iríamos ficar em ônibus, e íamos crescer em ônibus mundo a fora. Então vem esse plano estratégico que a Marcopolo busca, e hoje estamos muito focados em ônibus, ou em algumas atividades paralelas, o banco...

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Julgamento ����

201

CZ Mas aquilo era banco... Naquela época o Banco Arbi tinha sede no Rio de Janeiro e não tinha essa finalidade.

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Expansão Nula ☺☺☺☺

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441

202

CZ Vicente: E o Banco Moneo ele veio.. Zignani: Esse veio para financiar produtos Marcopolo. Vicente: E já tem até uma certa contribuição no.. Zignani: Já tem uma boa contribuição. Nós estamos crescendo bastante. No dia 1º de julho ele completa dois anos de atividade. E o banco tem ajudado muito nas operações de rede. Nós estamos pensando em atividades que possam agregar valor ao negócio Marcopolo. Já tem o banco.

2005

EMP - Expansão Híbrida ☺☺☺☺

203

CZ Daqui a pouco pode ter uma empresa de serviços e assistência de transportes...mas eu estou sempre olhando para o negócio ônibus. Nós temos duas grandes divisões, do ônibus grande, e nossa divisão do ônibus pequeno, que pode ter mais espaço para crescer veículos menores. Como nós tínhamos falado que é um objetivo da Marcopolo, ter um veículo menor, tipo uma van, coisa assim. Que poderia também ser utilizada no transporte coletivo, mas isso pode demorar muito tempo ainda, até encontrar um...

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

EMP - Expansão Produtiva

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

204

CZ Nós temos o parceiro russo que produz van. Estamos olhando de repente, pode ser um novo nicho de mercado... Vicente: Aí é tudo fabricado aqui, ou o chassi de van também é por fora? Zignani: Não, é que nem fabricar um automóvel, é uma coisa única. Mas por exemplo o parceiro russo já tem alguma possibilidade. Ele trabalha com uma van, mas que tem a possibilidade de ter um chassi também. Ele poderia ou só trazer o chassi ou trazer o veículo completo da Rússia, mas aí é questão de análise. Até já trouxemos duas, fizemos uns testes, mas o veículo não está adequado às condições brasileiras...

2007

EMP - Julgamento

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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205

CZ Tem muita oportunidade ainda de crescimento da companhia, mas infelizmente hoje, do jeito que nós estamos com o câmbio desfavorável, a nossa saída é nacionalizar os componentes que nós mandamos do Brasil e produzir lá fora ou adquirir lá fora. Estamos num momento que nós chamamos de ter que talvez exportar emprego. Por que nós não exportamos empregos ainda? Porque nós diminuíamos as exportações de componentes, mas ao mesmo tempo a produção brasileira está crescendo. Nós estamos absorvendo essa mão-de-obra, e nós não temos diminuído. Ao contrário, como o consumo interno está crescendo, nós estamos absorvendo essa mão-de-obra internamente.

2007

NAV - Desafiar

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

206

VG

E eu entrei em 1964, continuaram me convidando então, aí eu acertei os problemas que eu tinha em Porto Alegre e vim pra cá em 1964.

1964

FRH - Reter ☺☺☺☺

207

VG

Eu achei que tinha uma perspectiva interessante, era um negócio que estava iniciando praticamente.

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺

208

VG

Porque, em 1949, demorava 90 dias para fazer uma unidade. Eram feitas em madeira, não tinha chassi no mercado nacional. Chassis eram caminhões que existiam aqui, adaptados. Era Ford,...,....,Acro, Leilan, aquelas marcas européias, americanas algumas, e nós não tínhamos.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito ����

209

VG

Então em 1957, a fábrica veio pra cá e vindo pra cá foi o ano que começou a indústria automobilística no Brasil. Mercedes Benz começou a produzir os primeiros chassis nessa época. Então, iniciou ali em 1957, uma visão nova de mercado e eu acompanhava isso.

1957

NAV - Consentir ����

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210

VG

Então quando eu vim pra cá, eu via que era um negócio com boas possibilidades, que tinha futuro. O relacionamento com o pessoal era muito bom, e eu logo quando decidi em vir pra cá, tive alguns problemas com as outras empresas que eu atendia aqui em Caxias

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺

211

VG

Zignani: Você foi convidado pelo Seu Paulo? Valter: Pelo Paulo e pelo Dorval. Dorval Nicola foi o iniciador e logo depois entrou Seu Paulo Bellini. Aí ta na história o ano certo, saiu Dorval Nicola. Aí ta na história o ano certo, saiu Dorval Nicola. Aí quando saiu Dorval Nicola, e eu vim trabalhar com ele,

1a Fase:

1949 a 1967

FRH - Antecipar ☺☺☺☺

212

VG

e aqui nós tínhamos um representante em todo país, só tinha um canal de vendas. Nem era canal... Zignani: Um vendedor. Valter: Um vendedor no Brasil inteiro, e toda a produção era canalizada por ele.

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Consentir ����

213

VG

Então nós ficamos em uma situação de bastante expectativa, porque nós estávamos começando a indústria automobilística, com crescimento.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺

214

VG

E saiu o sócio que era de vendas e o principal elemento de vendas. Apesar que logo que eu entrei, logo nos primeiros anos, eu já via que nós tínhamos que mudar essa questão de não ter um só para vender. Aí começou o Airton (?) lá em Curitiba. Zignani: Foi criada uma rede de representantes. Valter: Foi criada uma rede de representantes. Zignani: Isso a partir de 1967.

1967

NAV - Negociar

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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444

215

VG

Logo depois entrou o Martins. Então, nessa fase começou a crescer. Então, logo depois que o Nicola saiu, eu tive que ir pra São Paulo. Fui convidado, já que saiu sua excelência, que era nosso chefe supremo.

1966

FRH - Antecipar

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

216

VG

Então, eu tive que ir para São Paulo, e indo para São Paulo, o Antonio Carlos Wilker que estava em São Paulo, e ele veio dentro do nosso programa abrir o mercado do Rio Grande do Sul. A fábrica era aqui, mas não se vendia nenhuma unidade dentro do RS.

1a Fase:

1949 a 1967

FRH - Renovar ☺☺☺☺

217

VG

Aqui tinha a famosa Eliziário, de Porto Alegre. Uma fábrica mais antiga que a nossa, que depois veio a ser comprada por nós. Nós compramos a Eliziário mais tarde, como compramos mais tarde a Furcare, que virou Nimbus...

1970

EMP - Expansão Produtiva

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

218

VG

E o Antonio Carlos veio pra cá. Então estando em SP, de lá nós fizemos a abertura de várias frentes, lembra do Capeli (?)... nós fizemos Goiás, Espírito Santo, Distrito Federal, tava começando Brasília...Bahia, então nós criamos uma rede de representantes para escoar a produção que estava aumentando, em função de ter mais chassis, e etc. O nome do produto foi ficando mais conhecido e foi mudado.

2a Fase:

1968 a 1986

FRH - Antecipar

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

219

VG

Zignani: Existiu aquela fase do Nicola e da Nicola. A Nicola éramos nós, a fábrica de carrocerias Nicola, e o Nicola era ele, que era o nome dele, o Dorval Nicola.

1a Fase:

1949 a 1967

DIV - Fragmentação ����

220

VG

Naquele tempo nós tínhamos Série Ouro, era por série, agora é geração... Aí chegaram vários nomes, entre os quais chegou um nome que tava bem pro modelo do ônibus. Nós tínhamos um nome que pessoal tava gostando, que era Bertioga. Em função desse Bertioga surgiu, porque é uma praia no litoral paulista, surgiu a idéia do logotipo das seis pontas e com a rodinha laranja no centro que é o nosso logo até hoje. Nós tivemos alguns problemas no início, logo

1a Fase:

1949 a 1967

EMP - Versatilidade

EMP - Ambição

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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445

depois que nós lançamos isso, com uma empresa lá de São Paulo. Nossa criação, e naquele tempo quem nos ajudava muito era a AMPM (?). Era famosa, foi a maior agencia do Brasil, nascida em Porto Alegre, mas que fechou depois algum tempo

221

VG

Então, era segundo o publicitário... o que quer dizer isso? Então era um espectro solar, era a idéia do símbolo. Então nós tivemos alguns problemas com a empresa de Lustres Pelotas, de São Paulo, que tinha a mesma idéia, só que não tinha a bolinha laranja no meio. Discutimos bastante tempo até conseguir na justiça.

1968

NAV - Desafiar ☺☺☺☺

222

VG

Então, lançamos um dos modelos naquele Salão do Automóvel, no tempo que era no Ibirapuera. Lançamos um modelo de ônibus com o nome Marcopolo, unindo Marco Polo, que nós achávamos que era viajante, etc.

1968

EMP - Versatilidade

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

223

VG

Nós tínhamos problemas, já iniciando as exportações. Nós começamos a pesquisar mercado e etc. E logo depois fizemos o primeiro CKD que foi pra Gana, então nós tentamos traduzir isso carrocerias, e traduzindo para o inglês era bus body. Então, Bus Bodies Nicola era uma confusão louca e nós estávamos procurando. E nós conseguimos isso, botamos bem o nome Marcopolo no ônibus, no produto, e nós fomos levando até parar com essa história do Nicola e da Nicola que era... E hoje nós temos muito mais tempo Marcopolo do que Nicola.

1970

NAV - Evitar DIV - Integração ���� ����

224

VG

Então fui convidado, e o Martins estava aqui também, fomos convidados a ocupar um lugar de diretor, eu e o Martins, e voltei pra Caxias. Aí nós já tínhamos uma rede, nós tínhamos alguma coisa já montada em Caxias.

2a Fase:

1968 a 1986

FRH - Reter FRH - Antecipar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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446

225

VG

Eu voltei pra cá, então aqui continuando com isso, havia uma época que em todo setor de vendas era comigo... Fizemos um trabalho externo também, nós tínhamos já um representante de vendas no Uruguai, depois nós fomos pro Chile, pro Peru e fomos abrindo diversos representantes porque nós já estávamos iniciando as exportações como ponto significativo pras vendas

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Versatilidade

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

226

VG

Não vendíamos um ônibus para a Argentina, a Argentina tinha uma indústria forte...

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Evitar ����

227

VG

Mas o Uruguai e o Chile, com a presença nossa, que nossa idéia era sempre levar os ônibus para as feiras, aonde tínhamos facilidade com vendas... Não ainda, no nosso produto, mostrar um catálogo bonitinho e etc, porque você sentar, precisa ver, precisa manobrar. Hoje o nome é test drive...

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Versatilidade

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

228

VG

Pra isso nós tínhamos: ah vamos pro Chile? E a Mercedes: Ah, como é que isso vai ser a assistência técnica do chassi se comprar? Pó, nós tínhamos brigas com a Mercedes, com a Scania. Zignani: Dependia também do chassi. Se o cara não tivesse lá fora, não tinha como vender. Valter: E muitas vezes, nós tivemos casos sérios com a Mercedes. A Mercedes tinha um representante no Uruguai, e tudo tinha que passar pela mão dele. Mas nós atendíamos aqui, às vezes, diretamente o cliente com chassis e tudo, e o representante vinha saber depois, aí nós tínhamos que pagar. Sempre reservando a condição de assistência técnica, porque nós nunca dávamos a assistência técnica pra um motor..

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Negociar ����

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447

229

VG

Nossa área aqui, hoje ainda estava vendo..Nós fizemos um pavilhão em 1957, aumentamos em 1962.....chegou ao ponto que nós tivemos que sair daqui e agora o filme está se repetindo em Ana Rech. Quando nós fomos para Ana Rech, em 1981, também não tínhamos nada ali, e hoje basicamente aquela área de Ana Rech está todo construída.

Todas as

Fases

EMP - Expansão Produtiva

EMP - Julgamento

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

230

VG

O Carlinhos (Zignani) que é responsável por isso, de vez em quando, quando dá uma chance ele compra mais um terreno. Zignani: Tá ficando cada vez mais difícil né.. Valter: Porque a fábrica Marcopolo quer comprar, então o preço do terreno sobe. Porque somos nós que temos interesse.

Todas as

Fases

NAV - Negociar ☺☺☺☺

231

VG

... Mas desde que nós entramos, tanto eu como o Martins, a convite do Paulo. Eu entrei juntamente a convite do Dorval, mas hoje o Paulo que ficou... E desde aquela época, sempre fomos comprando as ações, porque as ações praticamente eram locais. Depois que cresceu, que abrimos o capital.

Todas as

Fases

DIV - Integração

NAV - Legitimidade Organizacion

al

EMP - Engenhosida

de Financeira

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

232

VG

Valter: Primeiro, lançamos ações na cidade. Tinha um grupo aqui. E nós, desde o inicio fomos fazendo. Por isso que todos, praticamente, no levantamento de capital, as novas ações... Zignani: Comprando e investindo, comprando, comprando...

1a Fase:

1949 a 1967

EMP - Engenhosidade Financeira ☺☺☺☺

233

VG

Como membro da diretoria nós tínhamos que suportar os problemas que existiam, não é mesmo? Não havia uma compra, naqueles tempos, que se não de devia dar um aval pessoal, pra conseguir. Eu comprava chassis em São Paulo, tinha que comprar alguns chassis e a Mercedes tinha um bolo de notas promissoras nossas assinadas antecipadamente. Quando faturava, já tinham duplicatas ali, eram duplicatas já aceitas e nós tínhamos que dar nossas garantias. Chegando em tempos que a situação era tão difícil, que até ordenados. Minha retirada mensal foi suspensa.

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Engenhosida

de Financeira

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ����

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448

234

VG

Tivemos um período... Zignani: A dificuldade foi em 1981... Vicente: Em qual ano? Zignani: 1982 deve ter sido? Valter: Foram uns anos aí difíceis, mas nós estávamos no barco, sem trocadilhos entre barco e ônibus. Nós estávamos aqui e fomos vencendo as dificuldades e tendo mais condições em penetrar em mercados, exportação.

1981

CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺☺☺☺

235

VG

O nome ajudou muito. E nós lançamos inclusive, uma das campanhas que fizemos quando surgiu aquele nome Marcopolo, então nós tivemos que fazer toda... o material que nós fazíamos as campanhas e etc era: Marcopolo, o ônibus brasileiro pra dizer que Marcopolo...Então aí fizemos de: de bus brasileno, de brazilian bus, de autobus brasilienne... Vicente: Achavam que Marcopolo era italiano? Valter: Marco Polo é italiano. E nós já tínhamos naquela ocasião um design interessante e os reis do design são os carrozzieri italianos, e sempre tiveram então... e nós procuramos dirigir... que Marcopolo era um ônibus brasileiro.

1970

NAV - Desafiar

NAV - Legitimidade Organizacion

al

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

236

VG

Vicente: Qual foi a grande novidade desse ônibus que causou esse alvoroço na época? Valter: As linhas que ele tinha, design já era bastante revolucionário pra época e chegando ao ponto, o design foi muito...Eu tava lembrando que a Geração V foi a que deu, mas nós já fomos muito felizes na Geração II, III e IV. A IV foi a última que foi feita aqui (Planalto).

1968

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺

237

VG

Mas high deck é o conceito do Paradiso que é o ônibus mais alto. E isso é inspiração dos nossos designers, coisas que eles estão sempre a par, visitando feiras na Europa e etc, nós sempre fomos muito abertos a isso. O pessoal sempre...Quando nós fizemos isso, revolucionou completamente o mercado, tanto é que as rodoviárias tiveram que ser adaptadas. Os portões de entrada das garagens tiveram que se adaptados, porque ele batia, era tão alto que nós tivemos.... Zignani: Não cabia nas coberturas das rodoviárias.

1984

NAV - Manipular

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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Valter: Batiam. Os primeiros ônibus, nós tínhamos que estacionar fora da cobertura na rodoviária de São Paulo porque o ônibus era alto.

238

VG

Então, nós sempre puxamos isso, puxamos essas coisas. Obviamente, nós tivemos casos de funcionários que saíram e foram fazer imitações. Então nós sempre tivemos a liderança, pode-se dizer, no design.

Todas as

Fases

CPX - Fomento do Aprendizado

EMP - Versatilidade

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

239

VG

Então como disse, outras fábricas, até fizeram alguns modelos até melhores que os nossos, nas suas épocas. E nós aí, tivemos que aperfeiçoar os nossos.

Todas as

Fases

NAV - Desafiar

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

240

VG

Então, nós estamos aí com a Geração VI vitoriosa, com uma aceitação de toda as empresas, não só aqui, mas nas exportações que nós fizemos, nos países onde nós trabalhamos, completamente aceito o modelo como atualizado.

3a Fase:

1987 a 2006

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺

241

VG

O nosso DNA, vamos dizer assim, o sangue nosso, começou com o rodoviário. E depois nós tivemos que fazer opções, e isso começou quando começamos a adquirir outras fábricas. Primeiro foi a Eliziário de Porto Alegre. A Eliziário era uma fábrica que fazia praticamente rodoviários. Eles faziam o Bi-Campeão (referência ao bicampeonato de futebol no Chile em 1962) e nós fazíamos o Veneza naquela época. Aí, certa ocasião, nós tomamos certa decisão: fazer os urbanos em Porto Alegre e os rodoviários aqui, em Caxias. Isso foi até certo tempo.

1970

EMP - Ambição

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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450

242

VG

Anos depois nós fomos adquirir a Ciferal no Rio de Janeiro. E hoje nós temos isso bem dividido: os rodoviários em Caxias, os micro e os minis nesta fábrica e os urbanos no Rio de Janeiro.

1999

EMP - Ambição

EMP - Julgamento

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

243

VG

E agora, nessa conjuntura atual, hoje, 2007, nós estamos com um excesso de demanda dos ônibus urbanos. O rodoviário continua também. Então, nós estamos socorrendo assim, estamos fazendo urbanos aqui. Uma parte, nós estamos fazendo uns 30 urbanos por dia? Zignani: 20 no Rio e 10 aqui. Valter: Então estamos dando uma mão aí.

2007

EMP - Versatilidade

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

244

VG

Então nós temos modelos na linha da Marcopolo. Nosso modelo chefe é o Paradiso, e temos os urbanos, que posso dizer que o modelo chefe seja o Torino, que é feito no Rio de Janeiro e um pouco aqui.

2007

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺

245

VG

Hoje não. Hoje nós já somos conhecidos em todos os segmentos e somos líderes em todos os setores. Microônibus, depois nós temos a fase Volare, mas isso é outra coisa. Ônibus urbanos, articulados.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Captura de

Valor

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

246

VG

Mas nós temos hoje, com esse conjunto, com essas famílias, um poder de fogo muito grande. O que quero dizer? Nós podemos atender grandes pedidos em reduzidos espaços de tempo. Nenhuma fábrica hoje instalada, posso até dizer em nível mundial, tem essa capacidade que nós temos. Nós chegamos a fazer 1000 ônibus articulados pro Chile, numa concorrência que houve lá, em questão de meses. Zignani: 3 – 4 meses. Não é qualquer empresa que consegue fazer altos volumes de produção rapidamente.

2007

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺

247

VG

Hoje uma fábrica que faça... acho que não existe na Europa hoje uma fábrica que faça 5000 ônibus. 5000 ônibus é 500 por mês. 500 por mês, em 20 dias de trabalho, imagina aí quantos tem que fazer. Então 5000 ônibus por ano é uma grande produção. Nós 16 mil e poucos ônibus no ano

2007

NAV - Captura de

Valor

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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451

passado no conjunto de fábricas Marcopolo.

248

VG

E essa aceitação do produto chegou ao ponto de hoje, nós estamos nessa liderança que nós exercemos no país, exercemos também em outros países, onde nós temos uma presença. O Chile é um mercado, eu diria de 6 – 7 mil unidades. Peru é outro país, que o escritor lá escreveu um livro, que quando saía de casa, a mãe dizia pro filho: Cuidado con los Marcopolos. Marcopolo é sinônimo de ônibus, não é mesmo. Aquela vez que nós fornecemos 300 ônibus pro Peru, montamos lá uma parte. Então o nome ajudou, (35:00) isso que o Carlinhos falou, o próprio ajuda por ser uma unidade que está sempre rodando. Nós temos aqui um outdoor ambulante, tá sempre na rua.

2007

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺

249

VG

Copa América, nós fornecemos 100 ônibus, para transportar todas as delegações. Valter: Todos os juízes do Panamericano são transportados em ônibus nossos. No ano passado, na Nigéria, naquele evento lá... Nos Jogos Olímpicos da Grécia, de Atenas, nós fornecemos também um volume grande, esses eventos assim... Vamos ver o que vai acontecer agora na África do Sul né, estamos trabalhando lá... Vicente: Com a Copa? Valter: A Copa. Mas nesse correr do tempo, por ser uma unidade que necessita muita mão-de-obra pra fazer um ônibus.

2007

EMP - Versatilidade

NAV - Negociar

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

250

VG

Nós temos, relativamente, poucos clientes. Não são milhões de empresas de ônibus. Nossos clientes... Nós procuramos atender então a essa demanda que existe, de uma maneira que, agora as unidades do exterior também têm as suas responsabilidades.

2007

NAV - Negociar

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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452

251

VG

Estamos fazendo agora....fizemos todo o início do projeto de Curitiba que deu frutos, sistemas de ônibus integrados que se aplicam a corredores e etc, nós começamos em Cutitiba. Fizemos o de Bogotá. Zignani: O Transmilênio. Valter: Fizemos esse o... Zignani: O Transantiago que nos obrigou fazer 1000 ônibus em pouco tempo. Agora estamos em Cali, na Colômbia. Zignani: O Transacali.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Expansão Produtiva

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

252

VG

E vamos chegar aos dias de hoje com novidades no exterior, entre as quais, uma que deve ter a perspectiva muito grande é a fábrica da Índia, que nem começou a construir a fábrica, mas ganhou um pedido de 500 ônibus. Antes dela ficar pronta, vamos ter que adaptar lá um local especial para poder atender quantidades assim, importantes.

2007

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺

253

VG

Zignani: Mas é claro, tem histórias aí. O primeiro ônibus demorou 90 dias para ser feito. Agora a próxima meta é fazer 90 num dia.

2007

EMP - Ambição

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

254

VG

Valter: E aí tem o número de colaboradores, que agora no mês passado chegou a 11 mil. Temos, em números redondos, 8500 aqui e 2500 lá fora. Zignani: Quando eu entrei tinham 2 mil, 2 mil e pouco.

2007

DIV - Integração ����

255

VG

E eu estava lhe dizendo naquele raciocínio anterior que não existem milhares de empresas de ônibus. Pois, então, cada empresa... Você vai lá na linha hoje e vê 5 linhas (?) diferentes. Aqui tem uns 10 carros Sênior para Santos. Então, quando dá 10, 15, 20 para um cliente, é um refresco na linha. Faz 20 iguais né. Então, apesar que as empresas têm seu marketing. As empresas que nós dependemos e sua excelência, o passageiro. O passageiro tem que pagar passagem para andar no ônibus, para eles comprarem ônibus...

Todas as

Fases

EMP - Versatilidade

Ambiente Desafiante/E

stimulante

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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453

256

VG

Hoje a gente faz uma foto dessa, que explode...É o conceito que se usa muito para a publicidade, os ônibus urbanos.

2007

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺

257

VG

Zignani: Seu Valter, ele perguntou, se pudesse escolher andaria de Marcopolo. Lembra que ele fez? Muitas rodoviárias aonde têm linhas complementares, complementares não, de mesmo percurso, muitas vezes o cara diz: eu vou México se for de Marcopolo. Escolhe o ônibus que ele vai. No México nós tivemos muito disso. O pessoal só queria andar de Marcopolo.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Captura de

Valor

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

258

VG

Pedroni: Nós tivemos uma visita agora, o pessoal aqui da Marcopolo pra Volvo no mês de junho. O cuidado que nós tomamos também. Claro, quando nós contratamos uma empresa, você tem olhas os ônibus que ela tem. Se não tiver Marcopolo, nós vamos pegar outra empresa. Marcopolo, nós viajamos de Marcopolo. Zignani: Contrata uma empresa terceirizada, tem que ter Marcopolo.

2007

DIV - Integração

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

259

VG

Zignani: Seu Valter, um pouco da história aí, como é que a Marcopolo arrumava dinheiro da comunidade? Como é que nós fazíamos? Vendia ações? Anunciava e os caras vinham aqui comprar? Valter: Sempre foi boca a boca, sempre era isso. E a confiança, não é mesmo... Zignani: O pessoal vinha aqui e comprava ações como se aplicasse dinheiro num banco? Faziam uma aplicação financeira em ações da Marcopolo.

1a Fase:

1949 a 1967

EMP - Engenhosida

de Financeira

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

260

VG

Nós tínhamos aí... uma assembléia nossa tradicional. Era feita num local aqui, e o local teve cada vez... era no Rincão da Lealdade. Mas vinha todo mundo. Nós fazíamos a assembléia e depois tinha um churrasco. O que valia mais, o churrasco ou assistir o demonstrativo?.. Eu não sei. No final sempre tinha mais gente. Aí vinham os familiares das pessoas.

1a Fase:

1949 a 1967

EMP - Engenhosida

de Financeira

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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454

261

VG

Zignani: Compravam para os filhos também, como se fosse também uma obrigação para os filhos. Valter: Puro orgulho das pessoas aqui.

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺

262

VG

E aqui tem...nós somos sim a maior empregadora da cidade. Emprego sim. Depois vem a Randon. Mas o comércio fica assim. Tem bastante serviço agora, o comércio fica tranqüilo, não é mesmo? Tá despedindo gente, não tem serviço, começa o ...isso é sintomático na cidade. Como é que tá a Marcopolo? Nós estamos lá na Câmara de Indústria e Comércio, segundas-feiras, o pessoal que às vezes nem é ligado a indústria. Mas todo o pessoal que é importantíssimo pra cidade. O plano de saúde é isso aqui, o comércio é isso aqui. Nós temos convênios com todos os ...., farmácias, ..., médicos, hospitais, livrarias. Caxias é segunda cidade do estado, marchando celeremente pros 500 mil habitantes, temos 420 sem os flutuantes. Com os flutuantes passa de 450 mil.

2007

NAV - Manipular

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

263

VG

E nós temos um pátio em Ana Rech onde tão os chassis. Visível não é escondido. Tá lá no pátio. Mas o pessoal que tá por ali, já pode ver: tá cheio o pátio, tá vazio o pátio. Se tá vazio o pátio, uma tarefa que ele pode fazer em 10 minutos, ele.... Zignani: Acomoda. Valter: Isso é sintomático.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração ☺☺☺☺

264

VG

Agora, estamos às vésperas de um dissídio coletivo, que sai essa semana. Zignani: Tá movimentado lá. Pedroni: Hoje na manhã não vieram. Eu cheguei lá, às 4 da manhã, e não apareceram por causa da chuva. Valter: Estão em grande movimento. Primeiro com o negócio da emenda 3, aquilo que eles estavam protestando. Chegaram a parar as fábricas aqui. Vicente: Teve uma greve esse ano. Pedroni: Sim, apareceu na televisão, no Jornal Nacional.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Fragmentação ����

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Zignani: E agora, tão de novo aqui. Agora nos próximos dias, até ir notando por aí, você vai ver...

265

VG

Mas por quê? As fábricas estão admitindo e tem muito serviço. Mesmo admitindo e sem serviço, vou reclamar de que? Não tem nem serviço! Tem muito serviço e estão admitindo, agora que vou fazer pedidos!

2007

DIV - Fragmentação ����

266

VG

É que nós precisamos, como eu disse, mão-de-obra pra nós...e manter essa turma incentivada e orgulhosa de fazer... e os indiretos que nós temos aí, não é mesmo.

Todas as

Fases

DIV - Integração ☺☺☺☺

267

VG

Inauguramos um ginásio de esportes agora que é um os maiores do estado. Temos uma sede aí. Plano de saúde com tudo que tem direito. Temos escolas pros filhos dos funcionários. Essa escola, o filho do funcionário fica dois anos lá, quando sai da escola tem emprego garantido. O pai tá trabalhando e vai lá dar uma olhada pra ver se o filho tá aprendendo...

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

NAV - Legitimidade Organizacion

al

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

268

VG

Vicente: Como é que foi essa evolução assim, que o senhor percebe, desde a década de 60, quando o senhor entrou, até hoje? Essa motivação, esse comprometimento... era difícil naquele momento? Valter: Sim, tudo, tudo equipe... Se tem uma condição, esse orgulho que eu falei, não é de quem dirigiu... É do pessoal que recebeu esse empuxe assim. É claro que tem alguém pra tocar

Todas as

Fases

NAV - Desafiar

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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269

VG

As normas...as novas...aquelas famosas normas japonesas, técnicas..que o Paulo esteve no Japão uma vez trouxe uma série de coisas. Senão mandamos uns 15, 20 pro Japão Pedroni: Foi até mais eu acho. No ano passado, foram 2, no ano passado foram 5 e esse agora, em setembro, vão mais 4. Nos últimos 3 anos, estamos mandando 11 Zignani: Mais de 20

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

FRH - Renovar

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

270

VG

Evoluiu muito aqueles princípios de Kanban e Just in Time, aquelas coisas. Hoje já são adaptados à ônibus... Naquele tempo não se falava em internet de jeito nenhum...Hoje está evoluindo. Então os ensinamentos que saem de lá são up to date, novos também. São ensinamentos que... vão 5 esse ano. Então nós precisamos manter sempre...E o pessoal é muito receptivo. Muitos nos perguntam como é que um tipo de indústria dessa, que necessita de muita mão-de-obra, floresceu nessa região aqui.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

271

VG

Na empresa Randon, não é tanto como nós, mas também precisa de mão-de-obra. Então, os que vieram aqui em 1875, os italianos que vieram, já traziam no sangue uma caixinha de ferramentas, uma coisa...essa aptidão. Hoje não sei como tá o nosso mix de pêlo-duro (?), italiano, alemão...já mudou.

Todas as

Fases

Ambiente Inóspito

FRH - Formar

DIV - Integração ���� ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

272

VG

Mas na origem é isso. Eu acho que outra condição interessante que devemos somar a isso tudo, é esse tempo. Nós estamos com 13oC lá fora e 20oC aqui. E nós tivemos uma fábrica na Bahia. Na ocasião lá, com um presidente. No Carnaval tiravam 15 dias de folga, porque ninguém aparece. Aqui, não tem feriado de Carnaval. Zignani: No Rio de Janeiro pára. Valter: Aqui não tem um dia: segunda, terça, tudo é dia útil. Mais esse clima ajuda o cara a se sentir melhor, ele come melhor. No final de semana, toma um vinhozinho e etc. Zignani: Trabalha mais para esquentar... Valter: O clima ajuda, o clima ajuda. Porque se fosse calor permanente, calor permanente... Hoje no futebol tava 37oC, lá em Portodaz (Venezuela) (?)... Então o clima aqui também nos dá uma certa condição...Então somando tudo isso, a gente chega num ponto aí, ainda sabendo que a

Todas as

Fases

NAV - Negociar ☺☺☺☺

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457

responsabilidade é muito grande, porque...

273

VG

Zignani: É uma cidade muito empreendedora. As pessoas investem...

Todas as

Fases

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺

274

VG

O mercado pra comprar ônibus... então nós temos o compromisso de atender. Chega no fim do ano... não posso entregar porque a fábrica tá cheia, não se o que mais. Tem que dar um jeito de atender. Mas nós estamos cumprindo nossos compromissos e etc. Estamos entregando aí os produtos aí, sempre com aquele grau de qualidade que é muito importante. Por ser um tipo de produto, daqueles que eu falei, que a mão-de-obra é importante. Não uma máquina (?) que faça sempre igualzinho. Nós temos que estar sempre acompanhando. A questão de qualidade aqui... Às vezes, você fecha uma lateral do ônibus e deixa algum fio frouxo lá dentro... daqui a um mês está estourado.

Todas as

Fases

DIV - Integração ☺☺☺☺

275

VG

Oriente Médio, eu tive várias vezes... Aí as equipes foram se formando.. Zignani: Nós sempre procuramos outra colocação, talvez seja importante. Tu viu que, quando Seu Valter falou, que o nosso representante era alguém da casa. Saía de dentro da Marcopolo e ia, porque ele tinha conhecimento da forma e funcionamento da companhia e sabia como vender o ônibus. O ônibus é customizado, o cliente escolhe do jeito que ele

Todas as

Fases

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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quer. E pra nós é sempre importante. Então toda a nossa rede, brasileira, praticamente são esses funcionários da Marcopolo. No exterior, alguns também são. Valter: Gente que trabalhou aqui conosco.

276

VG

Zignani: No Oriente Médio, nós temos gente daqui... Valter: XXXX (?) estava aqui agora está assumindo Goiânia. Zignani: O Vítor XXX (?) agora que está indo para a Bahia. O Cleimar (?) foi pro Rio... Lucena (?) que é ex-Marcopolo. Ferrari (?) que é ex-Marcopolo.......Tudo, basicamente, cada representante.... todos eram ex-Marcopolo, trabalhavam aqui dentro....oportunidades....E sempre assim, a Marcopolo sempre foi. É uma empresa muito geradora de oportunidades e as pessoas gostam disso.

Todas as

Fases

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

277

VG

Valter: Nós temos um lugar muito importante, quer dizer, o homem que vai conduzir uma fábrica. Que vai crescer extraordinariamente essa da Índia, que nós estamos começando. Zignani: E é o diretor industrial atual que vai pra Índia. Valter: Que teve uma temporada no México e agora vai pra Índia, não é mesmo? Gente nossa, que tem a nossa confiança, saber que ele vai tocar...

2007

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

278

VG

Tem o Toledo lá em Portugal 3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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279

VG

Por isso que disse, como o número de clientes, são poucos. Então eles têm que ter o conhecimento. O cliente tem essa confiança, o que tudo isso gera também, que é um ponto favorável ao nosso marketing, é o valor de revenda do produto. Isso que nós falamos é importante, porque amanhã ele vai trocar o ônibus. O cara que compra um de segunda mão, sabe que o Marcopolo tem um outro valor.... Zignani: Vende primeiro e apura um valor melhor que os outros competidores.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Manipular

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

280

VG

A empresa procurou se adaptar aquela condição. Um grande parêntese, procura se adaptar ao dólar baixinho agora.... temos que achar um jeito, porque o dólar vai a R$2,40, ai que bom. Vai talvez a R$1,93, que já tá bom. E naquela época foi isso. Nós tivemos aqui ...sabendo que as dificuldades eram grandes, que o mercado não estava comprando. Até havia um ditado naquela época que dizia assim: Ninguém comprava nada. Até os que não pagam, não estão comprando. Imagina... Redução no próprio salário, e cada um ...

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Consentir

CPX - Resolução Sistemática de Problemas ���� ����

281

VG

Zignani: Fechamos a Marcopolo Minas naquela época, mais ou menos.. Valter: Tivemos uma fábrica novinha... Vicente: Ela, nunca mais mexeram nela? Valter: Ela não. Fechamos, vendemos. Tivemos que tomar essas posições todas, difíceis na ocasião.

1984

EMP - Julgamento ����

282

VG

É, transferimos a Eliziário de Porto Alegre...veio pra cá. 2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Julgamento ☺☺☺☺

283

VG

Mas se superou aquilo, se superou o problema. Depois, em outras ocasiões, quando nós lançamos aumentos de capital, tivemos todo o sucesso. O último inclusive, foi em 2002. Porque demanda usa capital. Esses investimentos no

3a Fase:

198

EMP - Engenhosida

de Financeira

CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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exterior e etc, tudo isso aí, são valores que....isso é a venda que se faz, o dinheiro que volta, que se aplica.......

7 a 2006

284

VG

Nós ainda, meio estropiados, saíamos daquela fábrica. Zignani: Aquela fábrica lá eu lembro. Fecharam Minas. Tinha um avião, foi vendido. Nunca mais comprou avião. Valter: Nunca.

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Julgamento

CPX - Fomento do Aprendizado ���� ����

285

VG

Zignani: É que teve um momento Seu Valter, em 1977/78, quando o Delfim foi Ministro da Fazenda, que ele incentivou a exportação...era a solução. Criou o Befiex e o Bndes tava dando financiamento para as empresas se adaptarem e criarem novas fábricas, aí nós fizemos a Marcopolo Minas e a Marcopolo Ana Rech.

1977

NAV - Negociar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ����

286

VG

Quando ficou pronta as fábricas, aí o mercado, crise. Aí tinha os empréstimos a pagar e a produção desaparecendo. Aí dá o desespero em todo mundo. Foram anos duros até 1984, basicamente. Em 1984, que começa a economia brasileira a se recuperar.

1984

NAV - Negociar ☺☺☺☺

287

VG

Então nós temos ainda os dois mercados, o de exportação e o mercado nacional. Praticamente meio a meio para os dois. Então, a gente procura administrar isso de uma forma...porque esse tipo de produto também, você começa a comprar, comprar, e a tendência dele é ter uma frota padrão pra não estar tendo muito custo de manutenção, de peças, então aí se a gente não pode fornecer... Agora o dólar tá.... vou parar de fornecer um ano, dois, aí depois eu volto... Então a gente tem a obrigação de continuar fornecer, procura diminuir custos, isso tudo faz parte do jogo.

2007

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

288

BI E como eu sabia soldar, esse foi um dos motivos que eu fui convidado pelo Doracy Nicola para trabalhar na Nicola. E eu aceitei a proposta e vim a trabalhar com eles, em 1954. Entrei como auxiliar geral e no passar dos anos fui trabalhando, e na década de 60, em 61 mais ou menos, eu passei a ser mestre de setor. E trabalhei por muitos anos

1954

FRH - Formar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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como mestre até a década de 70, mais ou menos, e ali eu passei a supervisor de área, era um cargo um pouco mais elevado.

289

BI E viajei bastante pela Marcopolo, como assistência social. E viajei pela Marcopolo para vários estados do Brasil. Fui para a Venezuela, pra Montevidéu.. E em 1972, a Marcopolo fez uma venda para Venezuela de carros em CKD, e eu tive o privilégio de ser o primeiro cara, eu e mais um colega, o Santo XXXX (?)... Nós fomos os primeiros a sair, pela Marcopolo, para fora do Brasil, na montagem de carros. Depois eu fui mais duas ou três vezes pra Venezuela, e dei assistência técnica para a Marcopolo em Montevidéu, e outros estados do Brasil.

1972

FRH - Formar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

290

BI E, em 1976, eu fui transferido de Caxias para Porto Alegre. A Marcopolo tinha uma empresa em Porto Alegre que se chamava Eliziário. Então eu fiquei por um período, de mais ou menos 8 anos, trabalhando em Porto Alegre, pela Marcopolo. Só que troquei da Marcopolo para a Eliziário, porque era outra razão social, então eu fiquei lá em torno de 8 anos. Na década de 80, em 1983 mais o menos, eu voltei para Caxias.

1976

FRH - Formar

FRH - Antecipar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

291

BI Fiquei alguns meses parado porque eu me aposentei nesse período e depois eu retornei a Marcopolo novamente, aonde fiquei até 1994, trabalhando na Marcopolo.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Reter ☺☺☺☺

292

BI Quando, essa empresa que eu estou hoje, que é a Tuto (?) Transporte, pegou um trabalho grande da Marcopolo, preparação de chassis e terceiro eixo, articulações de carro e tal, um serviço grande. E esse trabalho eram duas ou três empresas que faziam fora daqui, terceirizadas pela Marcopolo. Então, eu passei junto a essa empresa que é a Tuto Transporte, que eu estou até hoje

2007

FRH - Reter NAV - Captura de Valor ���� ☺☺☺☺

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293

BI Aqui na Marcopolo eu fiz muitos bons amigos, grandes amigos. Eu gostei muito de trabalhar na Marcopolo, me orgulho até hoje da Marcopolo, mesmo não estando mais, mas me orgulho muito da Marcopolo porque é uma empresa muito grande, muito boa. E o pessoal é muito competente e sabem dar valor aos funcionários da Marcopolo.

Todas as

Fases

Integridade Organizacion

al

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

294

BI Inicialmente, sabe que a firma era pequena, eu não me recordo, mas éramos em torno de 40 e poucos funcionários na época. Então a gente tinha muitas dificuldades porque não se tinha o maquinário. O serviço era muito artesanal, né.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito ����

295

BI Então a gente tinha que ir aprendendo solda. Naquela época não existia essa solda mig, que existe hoje. Era solda eletrodo com máquinas mais comuns, e solda oxiacetileno (?) que era usado muito. Então, eu aprendi muito a soldar. Eu conhecia bastante dessa solda oxiacetileno, então eu soldava muito. E eu fui sempre assim, muito curioso no trabalho, eu queria aprender tudo, e fui me destacando dentro da empresa.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito

FRH - Formar ���� ☺☺☺☺

296

BI Em 1961, eu passei a mestre de setor já. Mais vontade de trabalhar e conhecimento

1961

FRH - Formar ☺☺☺☺

297

BI Naquela época, também não era muito fácil tu conseguir um emprego na cidade. Então, quando o cara adquiria um bom emprego, o cara tinha que manter aquilo.

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺

298

BI E eu tive um período muito bom dentro da Marcopolo, e eu não tenho assim um grau de estudo, mas eu tinha muita boa vontade no trabalho e fui me destacando na empresa,

1a Fase:

1949 a 196

FRH - Formar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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463

7

299

BI aonde em 1968, a Marcopolo lançou o carro Marcopolo. Eu trabalhei, por um período, eu acho que de 2 anos dentro do protótipo do Marcopolo, ali aonde estavam sendo construídos os carros novos e participei do Salão do Automóvel em São Paulo

1968

NAV - Desafiar

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

300

BI A gente subiu, questão de 15, 20 dias antes pra terminar o carro lá, porque foi onde a Marcopolo lanço o primeiro carro, o Marcopolo 1.

1968

NAV - Desafiar ☺☺☺☺

301

BI E depois veio o Marcopolo 2, eu participei também do protótipo, trabalhei nas linhas de montagem, como mestre depois como chefe de setor.

1970

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺

302

BI Depois fui a Porto Alegre, fiquei naquele período na Marcopolo, também como chefe de um setor grande lá, parte de acabamento... pintura e acabamento.

2a Fase:

1968 a 1986

FRH - Antecipar

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

303

BI Depois retornei a Caxias. Depois de um período parado, depois voltei para Marcopolo, e eu fiquei num trabalho nas firmas que tinham fora da Marcopolo, terceirizadas.

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺

304

BI Na Marcopolo, e ficava cuidando daquela parte como desenho, programação, entregando pro pessoal e cuidando da qualidade do produto. Então eu saía pra fora da empresa e voltava, controlava essas partes. Até 1994.

2a Fase:

1968 a 1986

FRH - Renovar ☺☺☺☺

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305

BI Dei assistência, na Marcopolo, em Montevidéu. Eu ia, ficava 15 dias lá, e voltava. Ficava mais uns dias aqui, voltava pra lá. A Marcopolo começou a fazer umas vendas bastante grandes para o Uruguai, então eu andei bastante nessa andança da Marcopolo.

1a Fase:

1949 a 1967

FRH - Formar ☺☺☺☺

306

BI Mas até hoje gosto da Marcopolo. E Tenho boas lembranças do que foi essa empresa.

Todas as

Fases

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

307

BI Ah não, naquela época quando eu entrei a firma era dirigida pelo Sr. Waldemar José Negrini, que era gerente, e tinha o Doracy Nicola, que eram os dois homens que administravam tudo ali, e tinha o Fiorindo Sartori, mas o Fiorindo Sartori já tinha mais um grau de...eu acho que ele era diretor industrial. E o Sr. Waldemar José Negrini era o gerente.

1a Fase:

1949 a 1967

FRH - Renovar ����

308

BI Eu sempre mantive boa relação com eles, porque eu aceitava aquilo que eles pediam e eu trabalhava. Eu era um funcionário assim, bom pra empresa. A prova tá que eu fiquei todos esses anos na empresa porque eu demonstrei que eu tinha vontade e qualidade no trabalho. Mas sempre fiz boas amizades com eles e me deva bem...fiz grandes amigos dentro da Marcopolo, que até hoje a gente é.

1a Fase:

1949 a 1967

NAV - Negociar

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

309

BI Depois ali na década de 50, em 55, a gente criou um time de futebol. O Paulo jogou com nós, o Paulo Bellini jogou com nós. O time rendeu uns 2, 3 anos jogando futebol, eu, Paulo e mais uma turma.

1a Fase:

1949 a 1967

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

310

BI E tive assim, bastantes amigos bons e sempre trabalhei bastante dentro da Marcopolo e sempre gostei muito da Marcopolo.

Todas as

Fas

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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es

311

BI Naquela época nós não tínhamos guilhotina pra cortar chapa, nós não tínhamos essa tecnologia que tem hoje. Tudo era feito à mão.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito ����

312

BI Tanto que usava muito a sabedoria do funcionário. Então, entrava um cara novo na empresa, tu levava um tempão pra ajudar ele, porque hoje é montagem, tu sabe com que é a empresa, hoje é montagem.

1a Fase:

1949 a 1967

FRH - Formar

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

313

BI O pessoal tá na linha de montagem, mas recebe essa peça pronta pra colocar. Antigamente não se tinha, se produzia a peça para colocar no carro. Não se usava alumínio, nós não tínhamos fibras na época. Não existia fibra, não existia alumínio. Quando eu entrei era só chapa de aço preta, então era tudo mais difícil para se produzir.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito

NAV - Desafiar ���� ☺☺☺☺

314

BI Não estou bem lembrado, mas eu acho que na época que eu entrei em 1954, se produzia dois ônibus por mês, no máximo três, e depois a firma foi crescendo, e foi aumentando a produção.

1954

EMP - Ambição

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

315

BI Na fábrica que era na 13 de Maio com a 18 do Forte, no centro. E em 1957, a firma se transferiu lá para a Planalto, onde hoje é a matriz lá embaixo. E em 1957 a firma foi transferida pra lá. Então, naquela época, você como é, a empresa não tinha refeitório... o ônibus que nós pegávamos no centro e vinha até.....na Planalto. Depois nós tínhamos que caminhar mais umas três quadras para chegar na empresa.

1957

Ambiente Inóspito

DIV - Fragmentaçã

o

CPX - Resolução Sistemática

de Problemas

���� ���� ����

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316

BI Vicente: Quem trazia era um ônibus da empresa? Bino: Era o ônibus da empresa, mas ele não ia até em frente da empresa. No início, nem ônibus da empresa. Quando eu ingressei não, lá na 13 de maio não. A gente apanhava ônibus de linha e saltava na parada e ia para a empresa.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito

DIV - Integração ���� ����

317

BI Não existia fardamento. Hoje na produção, o pessoal tá de fardamento, botinão,óculos...na época, não existia nada disso. Você trazia uma roupa velha de casa e trocava aqui. Não tinha...Para se ter uma idéia são 53 anos...

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito ����

318

BI Às vezes eu paro no tempo para pensar o que era aquela época, o trabalho e o que é hoje... Eu vi esse grupo fantástico que é hoje que é a Marcopolo crescer.

Todas as

Fases

Integridade Organizacional ☺☺☺☺

319

BI Então, eu vi esse grupo crescer, andei bastante pela Marcopolo, e até hoje quando eu vejo o nome Marcopolo, eu falo da Marcopolo, eu me orgulho da Marcopolo, porque eu passei boa parte da minha vida aqui dentro. E tu precisa gostar daquilo que tu faz. Eu acho que tu sempre cresce dentro de uma empresa, dentro de uma coisa, tu gostando daquilo que tu faz. Se tu não gostar, tu não tem como ficar também.

Todas as

Fases

Integridade Organizacion

al

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

320

BI Vicente: Vários funcionários também tiveram a oportunidade de crescer assim como o senhor na empresa? Bino: Vários.

Todas as

Fases

FRH - Formar ☺☺☺☺

321

BI Quando eu passei a mestre na Marcopolo, em 1961, então nós éramos um turma de amigos ali, e quando os gerentes me chamaram, o diretor era o Sartori e o Leivino (?) me chamaram oferecendo a oportunidade, depois eu desci na empresa e virei pra aquela turma lá e pedi pra eles: Olha, a

1961

FRH - Formar

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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firma está me oferecendo isso, isso e isso. Mas eu sozinho não vou conseguir nada, preciso do apoio de vocês. Nós tudo somos amigos, então eu preciso que vocês me dêem um apoio para eu provar para a empresa que eu posso fazer isso.

322

BI Então nós estávamos criando naquela época uma organização do almoxarifado, código de materiais e aquela coisa toda, aí custou um pouco mais, mas graças a Deus eu venci a parada e mostrei para o meu diretor e o meu gerente, que a gente podia fazer aquilo. Mas não eu sozinho, mas com o auxilio dos meus colegas de trabalho.

1a Fase:

1949 a 1967

CPX - Fomento do Aprendizado

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

323

BI E mais adiante eu fui promovido a outros cargos, transferido de um setor para outro, como eu te falei antes eu trabalhei no protótipo, trabalhei

1a Fase:

1949 a 1967

FRH - Antecipar

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

324

BI Depois, eu não se em 1970, ou por aí, a Marcopolo criou uma linha de montagem, uma linha de micros, que começou a surgir. A Mercedes lançou uns carros micros, que é o LO912 que existe hoje... Então a Marcopolo criou uma linha de montagem que era a linha de micros. E eu fui designado para montar essa linha. Então, começou-se com micro e devagarzinho, eu montei a linha de micro na Marcopolo. Fui o primeiro chefe da linha de micro, fui eu. A gente montou aquela linha e foi muito bem. Então eu fico muito orgulhoso do que a Marcopolo ofereceu pra mim dentro da Marcopolo, e o meu crescimento dentro da Marcopolo

1970

FRH - Formar

FRH - Renovar

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

325

BI O povo criou, eu não lembro a data a Fundação Marcopolo, que tem uma Sede Campestre bem grande aqui, fora da cidade aqui. E a gente usou bastante aquilo. Tem lá o campo de futebol, tem CTG lá que a gente aproveitou bastante. Eu hoje estou afastado, não vou mais. Mas antigamente a gente ia bastante. Baile, assistir futebol, esse tipo de diversão ...uma parquezinho.. Uma vez eu até levei meus netinhos pra

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Legitimidade Organizacion

al

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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brincar lá, a gente aproveitou bastante.

326

BI A Marcopolo criou há muitos anos também, uma loja pra vender roupa e calçado para os funcionários. Assistência para esse pessoal. A Marcopolo sempre foi muito boa, muito grande nesse sentido, por isso eu vou dizer uma coisa pra ti, que aqui dentro de Caxias hoje, a Marcopolo é a maior empresa que tem aqui... a Marcopolo e a Randon, duas... Mas o pessoal que trabalha se orgulha de trabalhar na Marcopolo e

Todas as

Fases

NAV - Legitimidade Organizacion

al

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

327

BI o pessoal da cidade busca ver se consegue trabalhar na Marcopolo. Porque a Marcopolo oferece uma boa assistência para os funcionários e deve ser uma das empresas que mais bem paga também os funcionários hoje em Caxias. Então todo mundo quer e vê se consegue trabalhar na Marcopolo, prova até que hoje a Marcopolo de Caxias deve estar com mais de 5000 funcionários, só em Caxias. Então é uma bela empresa, e muito boa. Apesar de eu estar fora já, eu falei pra ti, há 13 anos, mas faz... sempre junto

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Legitimidade Organizacion

al

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

328

BI Naquele tempo, era aquilo que falei pra ti, no início não existia maquinário, então pra ti cortar uma chapa... Aí, como fazia a porta do carro? Vou te dar um exemplo aqui pela porta, tinha que fazer a porta do ônibus. Naquele tempo nem trema nós não tínhamos, era metro. Você conhece aquele metro de madeira e de alumínio? Era aquilo, era metro... Então tu tinha tua caixa de ferramenta... Vicente: Cada um tinha uma caixa de ferramenta? Bino: Cada um com sua caixa de ferramenta. E a gente usava muito a tesoura pra cortar chapa. Então ... eu não usava a tua, tu não usava a minha, para não estragar... Então pra ti fazer essa porta, tu tinha que pegar uma chapa de ferro. Tu tirava toda a medida da porta, aí tu botava a chapa em cima de uma mesa grande e riscava toda ela com as medidas. Tu tinha todas as medidas, riscava toda ela ali. E depois tu levava aquela chapa, precisava de uns dois ou

Todas as

Fases

Ambiente Inóspito

EMP - Versatilidade ���� ☺☺☺☺

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três para levar aquela chapa... Tu conhece facão de cortar chapa? Cortava aquela chapa com facão. Depois tu tinha que dobrar e

329

BI Aquilo foi indo, nós tínhamos a caixa de ferramentas e aquilo foi indo. A empresa foi crescendo um pouco, então a empresa foi lá, comprou uma guilhotina. Com uma guilhotina já facilitou, já economizou aquela mão-de-obra de cortar a chapa com facão. Depois foi aperfeiçoando, comprando outras dobradeiras, e foi comprando máquina. E chegou a um ponto que hoje tá a Marcopolo. E naquela época lá, tinha bastante solda, desta solda oxiacetileno, tinha solda elétrica, mas o oxigênio era bastante usado, soldar reforços e tinha uma série de coisas. E normalmente, quando entrava uma pessoa nova na empresa, um funcionário novo, tu tinha sempre que botar ele junto com outro, pra ele aprender né.

1a Fase:

1949 a 1967

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

330

BI Foi em 1986, tá. Então, começou a viajar ao Japão, o Cláudio Gomes. A direção, vários deles viajaram ao Japão, e buscaram lá do Japão... eles trouxeram uns slides pra nós, e mostraram... Aí começou a ser implementado dentro da Marcopolo o Kanban. Aí, foi destinado uma série de pessoas aí, que devem estar até hoje na Marcopolo. O João Carlos foi uma das pessoas que foi. E vários foram. Então começaram a criar prateleiras, criaram kanban, criar coisas do sistema japonês. Foi aonde partiu assim uma grande organização dentro da Marcopolo e limpeza

1986

FRH - Antecipar

EMP - Versatilidade

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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470

331

BI Aqui tem nos corredores, até nos banheiros tinha… Agora faz um tempinho que eu não entro nos banheiros aqui. Tinha uns paninhos de lã, pra você pisar, e andar em cima. Porque o pessoal vem com um botinão de dentro da fábrica… e lá dentro da fábrica sempre tem um pó, uma sujeira, alguma coisa. Depois tu vai andar e vai ver. Até esses paninhos pro pessoal andar dentro dos banheiros.. tu não vê ponta de cigarro dentro da Marcopolo, não vê um palito de fósforo dentro dos corredores da Marcopolo.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

332

BI É uma coisa que tu se sente muito bem. O pessoal gosta, e trabalha aqui por causa desse tipo de coisa. Então a Marcopolo pega os funcionários e bota eles numa integração, vários dias, e doutrina o cara para aceitar aquilo. E o cara entra, se adapta aquilo e se sente bem.

Todas as

Fases

DIV - Integração

CPX - Fomento do Aprendizado

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

333

BI Então, a Marcopolo aí em 1986 começou a criar esse kanban e estabeleceu todas as prateleiras do mesmo tamanho, todos os corredores iguais, e assim ta até hoje. Ela começou a se destacar a organização bonita e bem feita na Marcopolo. E trabalhou uma equipe grande, foi montando, começou por um setor, foi pro outro… Nós tínhamos umas prateleiras ao longo da fábrica, que tinha peça lá que o pessoal não sabia… então tu leva tanto, aí faltou a peça tal, porque tu não achava naquela montoeira… Então depois dessa organização, até em economia de peça e matéria-prima tu tem

1986

EMP - Versatilidade

NAV - Captura de

Valor

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

334

BI Foi mostrado muitos slides para o pessoal, foi conversado, foram feitas muitas reuniões. Esse diretor, o Gomes, não está mais no grupo, mas ele foi um dos caras que batalhou bastante. O próprio Paulo fez muitas reuniões com o pessoal. Pegou a maestria, a chefia geral, e foi mostrando, foi colocando na cabeça de todo mundo, e exigindo... No começo foi mostrando, depois a Marcopolo exigiu, nós temos que partir para isso aqui…esse é o ponto final que nós precisamos ter. Aí o pessoal, começou a todo mundo aceitar aquilo e olha onde ta hoje a Marcopolo.

1986

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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471

335

BI Eu acho que é uma coisa boa porque todo mundo aceita aqui dentro, porque todo mundo gosta, gosta. A Marcopolo… se tu entrevistar 20 caras aqui dentro, 20 vão te dizer praticamente a mesma coisa que disse, que gostam de estar aqui…. Se o cara é demitido daqui, o cara fica louco.

Todas as

Fases

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

336

BI As duas grandes empresas daqui… tem mais empresas boas, mas eu não estou dizendo que são só essas duas. Caxias tem um monte de empresa boa. Todas devem ser boas…Mas o que tu vê na cidade assim, comentários de gente que não trabalha aqui, são fora daqui… o pessoal fala da Marcopolo, todo mundo fala bem… E esta evolução aqui ta cada vez melhor.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

337

BI A Marcopolo tem um centro médico aqui espetacular, dentário, aqui tem tudo, tem uma assistência pro pessoal que é uma barbaridade. Aqui dentro tem dois bancos, tem farmácia, tem uma assistência médica e dentária fantástica… Então você se sente bem trabalhando aqui. Tem um plano de médicos muito bom para os familiares. Quem não quer trabalhar numa empresa dessa?

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Legitimidade Organizacion

al

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

338

BI Vicente, tu deve conhecer muita empresa boa no Rio, tem empresas boas, todo mundo tem, todo o Brasil tem, mas tem saído numas revistas aí que diz quais são as empresas mais cobiçadas para trabalho. A Marcopolo deve estar situada dentro das primeiras 10 do Brasil. Tu já viu isso?

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Legitimidade Organizacion

al

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

339

BI Então, o nosso Brasil é grande, é imenso, e essa empresa já está colocada em 4o, 5o lugar, é porque.... tem algo bom e diferente de muita gente, porque tu olha quantas milhões de empresas tem no Brasil, e a Marcopolo de classificar no 4o lugar, 5o lugar, isso é uma coisa muito boa né. É porque todo mundo quer trabalhar. Então, o que eu podia te dizer?

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Legitimidade Organizacion

al

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

340

BI Em Caxias é. Caxias é uma cidade, ela tem a origem italiana. Bastante aqui nessa região da serra e o pessoal é bastante trabalhador, viu. Bastante responsável, bastante trabalhador….

Todas as

Fas

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺

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472

es

341

BI E é difícil tu encontrar um lugar, pode ser igual, mas mais batalhador que o pessoal aqui dessa região é difícil. Pessoal daqui é bastante trabalhador e aceita a coisa.

Todas as

Fases

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺

342

BI Vicente: O que o senhor chama de aceitar a coisa? Bino: Aceita assim, tu entrar numa empresa, as determinações da empresa. O pessoal aceita. É aqui também eu acho que os funcionários são bem pagos, em Caxias do Sul. Os salários aqui são bons em razão de outros lugares, o salário daqui é bom. Então o pessoal aqui ta contente.

2a Fase:

1968 a 1986

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

343

BI A Marcopolo fez uma venda.. porque tem CKD, MKD e PKD. São os três… CKD é peça por peça, o carro. MKD, seria assim uma lateral montada, uma frente, uma traseira e o teto montado. Então vai dentro de contêiner grande e lá você só junta as partes. E PKD é o carro pronto né. Quando sai daqui e vai pro México, só falta o chassi embaixo. E nós fomos montar CKD. Então, foram uns gabaritos grandes que a Marcopolo montou aqui, gabaritos. Fez todos os gabaritos da frente, traseira lateral e teto, e depois foi pra Venezuela. E lá foi chumbado e nivelado. Lá, tu tinha que pegar peça por peça, botar num gabarito, soldar ela ali, pra depois tirar do gabarito pra montar o carro. Aí tu começa a montar o carro. Tu coloca o chassi na linha, aí a primeira coisa que tu tem que fazer é nivelar ele, pra começar a trabalhar. Colocar o barroteamento (?), peça por peça. Com o desenho, tudo por medidas do desenho…trabalhar só com o desenho..

Todas as

Fases

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

344

BI O chassi era deles lá, lá da Venezuela. Mas nós fomos montar só a parte externa, a Marcopolo vendia a carroceria. Então, a gente foi lá. Começou do zero a montar uma fábrica muito bonita que fica lá em Valencia. Valencia é uma cidade industrial, é no estado de Carabobo, na Venezuela.

2a Fase:

1968 a

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺

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473

1986

345

BI Eu fiquei na primeira vez 72 dias. E depois na segunda vez, não sei… fiquei mais 36 dias, na outra vez, não lembro… coisas assim, eu tive 3 vezes lá. Na primeira vez nós montamos uma série de carros, que a Marcopolo tinha vendido primeiro, que era Série Ouro. Então, na segunda vez já foi montado o Veneza I

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Captura de

Valor

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

346

BI Vicente: E como é que foi? O senhor foi lá porque o senhor quis, o senhor pediu? Bino: Não, não… a firma pediu…

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Desafiar ☺☺☺☺

347

BI Eu aprendi muito dentro dessa empresa, muito mesmo, com o Martins, que é o superintendente do grupo hoje, José Antônio Fernandes Martins. Aprendi muito com esse homem. Esse homem é extraordinário. Vicente: Aprendia como assim? Bino: Tudo, tudo…Administração de empresa. Dentro da empresa, a administrar e …. Vicente: Mas como é que ele passava pra você Bino: Ela fazia reunião com nós. Ele veio de Porto Alegre, ele entrou na nossa empresa em 1964. Vicente: Em 1966.

2a Fase:

1968 a 1986

DIV - Integração

FRH - Formar

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

348

BI Quando o Martins veio pra Marcopolo, pra Nicola, o diretor industrial era o Fiorindo Sartori e o Waldemar José Negrini era o gerente geral da empresa. Era ele mais o Doracy Nicola, mas ele tinha se retirado da empresa. O Nelson e o Doracy se retiraram, mas eu não lembro o ano, em 1966/67. Vicente: Eles saíram aí entraram o José Martins e o … foi mais ou menos no mesmo período. Bino: É, quando o Nelson Nicola e Doracy Nicola se

2a Fase:

1968 a 1986

FRH - Renovar

FRH - Antecipar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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retiraram, eles montaram a empresa deles. Aí o Fiorindo Sartori ficou. Nessa época, o Martins e o Sartori eram diretores industrial.

349

BI Eu sei que eram três irmãos, o Dorval que era diretor-presidente, o Doracy e o Negrini eram gerentes, eles ali que comandavam toda a empresa e o Nelson Nicola era o homem, o terceiro irmão, comandava a pintura, o setor de pintura da Marcopolo. Mas eu não sei dizer por qual motivo que eles se retiraram não. A gente ficou assim… até tomou de surpresa na época…ah, o pessoal ta saindo. Eles montaram uma tal de Furcare, né,

2a Fase:

1968 a 1986

DIV - Fragmentaçã

o

FRH - Reter ���� ����

350

BI O Martins sempre foi um homem de muita vontade, inteligente, pra caramba. Um homem muito inteligente, tem uma visão extraordinária…e ele começou várias reuniões com nós e terminando, o homem estabelecia metas pra nós né… olha nós temos que buscar isso, buscar aquilo… ele incentivou, ele levou esse troço a uma explosão…muito bom, muito espetacular esse homem…uma maravilha. Todos! Mas sempre tu acha que tem um que se destaca. O Martins foi uma coisa. Muito bom.

2a Fase:

1968 a 1986

DIV - Integração

FRH - Formar

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

351

BI Ele tinha muito contato com nós da fábrica, com a chefia. Ele fazia muita reunião e descia muito para o piso de fábrica. E ele enxergava uma coisa ou outra, e ele fazia reunião, quando terminava, explicava pra nós, e ….. E foi embora, a empresa cresceu bastante. Essa empresa ta com cinqüenta e?

2a Fase:

1968 a 1986

DIV - Integração

FRH - Formar

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

352

BI Vicente: Mas lá então para esse primeiro Marcopolo do Salão do Automóvel. Eu li que esse Salão do Automóvel foi um alvoroço… Bino: Foi aonde explodiu a Marcopolo Vicente: E depois muda o nome da empresa para Marcopolo. Bino: Aí muda o nome…

1968

EMP - Ambição

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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475

353

BI E o Salão do Automóvel, a gente foi daqui lá uma equipe pra lá...esse carro saiu de Caxias... Sabe como é que ele sai de Caxias. Todo ele coberto com um pano, amarrado tudo, e esse carro viajava só à noite. Durante o dia ele ficava escondido na beira de estrada, em postos....viajava só de noite. O carro viajou assim.. Saía daqui de noite. Não sei até que ponto, porque a gente não foi com ele, foi com outro carro. Mas ele viajou.... era surpresa, né. Então ficava escondido num posto, de noite viajava, e foi pra SP assim. E nós fomos terminar o carro na garagem da Reunidas Paulista.

1968

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺

354

BI Vicente: Mas como é que era... era um carro que era muito novo mesmo? Era bem diferente? Bino: 100% diferente do outro. Vicente: Por que? Bino: Porque naquele carro já foi criado uma série de peças de fibras que não existiam, não existia fibra antes. A frente dele ficou completamente diferente. O Pasete criou um monte coisas...o carro ficou novo. Novo, novo, novo.

1968

EMP - Versatilidade

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

355

BI Vicente: Como eram essas criações de coisas novas? Bino: Tinha o pessoal de projetista, que ficava bolando, que até hoje tem. Vicente: Eles olhavam alguma coisa na Europa? Bino: O pessoal vai comprando tudo que é revista, vai olhando novidade na Europa. A Marcopolo tem um protótipo muito grande, que tem uma série de rapazes e projetistas, aí desenhistas, que trabalham em cima do produto, sempre para inovação.

Todas as

Fases

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

356

BI A empresa não pode parar. Tu pega um carro, bota ele no mercado, e tu fica com ele vários e vários anos, ele fica desgastado. Os outros lançam carros novos, então tu tem que ter sempre novidade pra poder mostrar pro cliente. Coisa nova e aperfeiçoamento. O carro tem que ser bom, produto bom,... Então essas empresas, a Marcopolo e outras encarroçadoras do Brasil, elas têm um protótipo grande e estão sempre trabalhando em cima de inovações, porta-pacotes, portas novas, porta-pacotes, bancos novos,

Todas as

Fases

Ambiente Desafiante/E

stimulante

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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476

oferecendo mais conforto para o passageiro, melhor qualidade do produto. Porque se ela parar no tempo, sabe... tem um desgaste grande, aí você não vende mais. E é um produto caro, você tem que ter coisa boa, e novidade para vender, não é isso?

357

BI Vicente: Tem muita diferença entre esses chassis? Bino: Tem. As fábricas de chassis cresceram muito, desenvolveram muito. Hoje tem a Mercedes, tem a Scania, tem a Volvo, tem a Volkswagen (?). Cada um vai cada vez lançando coisas novas... Vicente: E para vocês é igual aqui, se chegar. Ou tem alguma diferença? Bino: Tem. Todos eles são um pouco diferentes uns dos outros. Encarroçadora não tem novidade, ela se adapta a todos. Vicente: Quando é diferente, a adaptação é grande ou não? Bino: É tudo um diferente do outro. Não tem assim, tudo é igual. Porque a Volkswagen tem um sistema, a Mercedes, outro. A Mercedes tem vários e vários chassis. Tu tem um monte opção se tu quer comprar chassi... ela te oferece várias opções de comprar. Ela tem pequeno, médio e grande... então tu pode escolher...

Todas as

Fases

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

358

BI Era chassizinho de caminhão, Chevrolet, Ford... Depois começou a vir as primeiras unidades do Alfa Romeo.... Depois veio vários chassis, veio Acro...porque o Acro era um chassi inglês. Então começou a aparecer por aí o Acro, tinha o Acro hidramático, tinha outro, o Alfa Romeo. Depois começou a vir outros tipos de carro, a Mercedes... porque custou um pouco a vir chassi pro Brasil, acho que foi em 1959/60...

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito

NAV - Consentir ���� ☺☺☺☺

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477

359

BI Ainda era difícil naquela época. Mas o mercado, tinha essa Eliziário de Porto Alegre, que era um forte concorrente... Vicente: De urbanos? Bino: De urbanos e rodoviários, tinha tudo. A Nicola também fazia urbano e rodoviário. Ali pelos 60, por ali, a mais grande que tinha aqui na região era a Eliziário de Porto Alegre, ela era muito maior que a Nicola, mais conhecida, um potencial maior

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Desafiante/E

stimulante

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

360

BI Vicente: Como é seu senhor enxerga, sendo a Eliziário maior, a Marcopolo era menor, e a Marcopolo foi comprando outras empresas. Como é que o senhor vê isso? Porque? Bino: Eu acho que o pessoal da Marcopolo se antecipou, correu na frente, cresceu mais, desenvolveu mais, mostrou um produto melhor, e os outros foram parando no tempo. Alguma coisa aconteceu parecida, foi o que aconteceu, a Marcopolo cresceu... O que posso dizer é que hoje a Marcopolo está situada entre as maiores do mundo né, como fábrica de ônibus e na época que eu entrei, não era. E hoje tu vê o que é o Grupo Marcopolo.

2a Fase:

1968 a 1986

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

361

BI Eu vi uma crise muito grande na Marcopolo foi... o início da crise foi no inicio de 80, que durou uns 2, 3 anos, uma coisa meio difícil assim... a Marcopolo contornou a situação assim tá..

1981

NAV - Negociar ☺☺☺☺

362

BI Eu estava em Porto Alegre na época, quando começou essa crise, a gente dispensou gente lá, bastante em Porto Alegre, em 1983 a Marcopolo fechou a empresa em Porto Alegre. Então ela trouxe toda de lá pra cá, que lá era produzido o Torino, urbano, mais volume maior...e a Marcopolo trouxe pra cá porque achava que não tinha mais porque manter aquela fábrica, tão perto aqui de Porto Alegre...em 1983 ela fechou e trouxe tudo pra cá.

1983

EMP - Julgamento

NAV - Evitar FRH - Reter ���� ���� ����

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363

BI Vicente: Como é que os funcionários encaravam na fábrica, no chão que estava faltando trabalho? Bino: Todo mundo fica assustado. O pessoal procura fugir de perto de ti... Tu já sabe disso, tu tá estudando, tu sabe como é a situação. O pessoal quando te vê, tu aparecer perto, um chefe aparecer... o pessoal fica assustado, não é isso? Porque todo mundo quer...puxa, o cara tá vindo lá..será que ele vão chamar nós para demitir... então é uma situação muito ruim, muito triste.

2a Fase:

1968 a 1986

FRH - Reter ����

364

BI Eu estava em Porto Alegre quando foi inaugurada aqui. Eu estava em Porto Alegre naquela época. Mas a gente vinha seguidamente, eu e o engenheiro Carvalho (?), a gente vinha participar de reuniões aqui, então, nessas reuniões o Martins, o Paulo, todo mundo colocava a situação. Olha, nós temos que tomar esse rumo, isso, isso e isso. E a gente seguia instruções deles, que tu sabe, empresa é empresa. Empresa precisa viver, todos precisam viver, mas na empresa se der uma situação, digamos se der uma crise, a empresa não pode ficar com todo mundo senão cada vez se torna pior. Infelizmente acontece esse tipo de coisa, mas graças a Deus hoje, Caxias, faz muito tempo que nós não vemos que as empresas têm umas crises dessas...

2a Fase:

1968 a 1986

NAV - Evitar DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

365

BI É, a Marcopolo tem esses carros que vão em PKD, vão pro México. A Marcopolo tem Colômbia, que até saiu no jornal, não sei se foi antes de ontem, ou na semana passada, que a Marcopolo tá abrindo outra fábrica na Colômbia né. Então a Marcopolo manda muita peça daqui pra fora, então o setor de fabricação está sempre com bastante trabalho. E a Marcopolo hoje está sólida, tá bem firme. É um grupo hoje...

2007

EMP - Expansão Produtiva

EMP - Ambição

Folga Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

366

BI Olha, eu .... tive oportunidade, mas tive medo.... Eu fui convidado pelo Roger XXX (?) pra trabalhar com ele, até hoje trabalho com ele, mas tive muitos amigos meus, que tão aí fora, que trabalharam comigo aqui dentro que hoje são fornecedores da Marcopolo. Todos eles se deram bem. Todo mundo bem, bem situado,... tão com umas firmas maior outros menor, mas tão tudo aí, muito bem. Trabalham pra Marcopolo, trabalham pra Randon, trabalham pra outras,

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Reter NAV - Negociar ���� ☺☺☺☺

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mas todo mundo se deu bem.

367

BI Vicente: E também, quando foi implementado o JIT aqui, o Kanban, as técnicas japonesas, também foi passado para os fornecedores? Bino: Foi, foi...tem alguns que a Marcopolo tem fornecedores que a Marcopolo não confere a mercadoria deles. A responsabilidade de qualidade e de quantidade é deles. Se houver um problema no troço, ele é responsável por... Então, se ele chega aqui, traz 10 óculos e coloca na prateleira. Ninguém da Marcopolo vai examinar.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

368

BI Ah,... mudou 1000% da coisa. Naquela época, poxa, quando eu entrei, sabe o que nós tínhamos de condição? Nós tínhamos, um rapaz que é um grande amigo meu, serviu até o exército comigo, ela já morreu, faz anos..o Odir Brito (?), se faltava uns parafusos.... ele pegava a bicicleta e corria na ferragem pra buscar pra nós o que faltava. Era assim naquela época.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Inóspito

EMP - Versatilidade ���� ☺☺☺☺

369

BI Bino: Eu lia todos os boletins da Marcopolo, agora... 1a Fase:

1949 a 1967

DIV - Integração ☺☺☺☺

370

BI Era tudo mais difícil. Hoje você vê, tá tudo muito mais prático, mais fácil. Naquela época lá era tudo mais difícil, pra empresa e pro funcionário. Se não tinha muita coisa, não tinha...faltava um rebite lá... aí o Brito, falecido Brito....pegava o Brito, pegava a bicicleta, que corria lá na centro, leva meia hora, uma hora, voltava lá na ferragem e buscava...E faltou solda, vai buscar, sei lá... Então era tudo assim. Hoje não. Hoje um funcionário da Marcopolo não pede nada do que ele precisa, tá tudo na prateleira pertinho dele. E desce do carro,

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Desafiante/E

stimulante

EMP - Versatilidade

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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pega a peça e põe pra dentro do carro. Não tem mais nada desse tipo de coisa... Então foi criado o kanban, esse troço, facilitou tudo.

371

BI Ah, todo mundo. E o pessoal vai gostando, e vão se adaptando no sistema. Ferramenta também, surgiu parafusadeira, roscadeira. Hoje é uma facilidade. Antigamente era tudo com chave de fenda.

1a Fase:

1949 a 1967

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺

372

BI Vicente: Além disso o Sistema Marcopolo propõe que os funcionários dessem sugestões... Bino: Todo mundo...tem o nome aqui, como é que diz... Tu pode até criticar o teu colega se ele fizer coisa errada. Tu pode criticar teu colega, colocar o nome lá. Depois aquilo é examinado por umaa comissão aí da Marcopolo. Então é bom porque todo mundo trabalha livre. Se tu acha que aquele tipo de furadeira que tu tá trabalhando não é bom, não é adequada pro teu trabalho, tu pode escrever lá e botar lá, que tu precisa de uma furadeira maior, menor ou mais leve pra tu ter mais...

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

373

BI Vicente: Mas o pessoal faz isso? Bino: Faz, o pessoal faz. O pessoal gosta de fazer isso. Faz, pode crer que faz.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

374

BI Aquilo teve um incentivo muito grande dentro da empresa. Todo mundo quis participar. Todo mundo queria participar. Então o troço foi meio rápido porque todo mundo queria participar do kanban. Então aquilo foi embora...cada setor

3a Fase:

198

EMP - Ambição

DIV - Integração

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ���� ☺☺☺☺

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queria ganhar do outro, queria fazer melhor. Eu queria fazer melhor que tu, e tu queria fazer melhor que eu. Então quem levou vantagem nisso? Foi o global.... a empresa ganhou com isso porque o pessoal gostou de fazer a coisa.

7 a 2006

375

BI Naquela época não existia praticamente reuniões com grupos e coisas... Naquela tempo a chefia, tinha um cargo novo fazer uma coisa, eram determinadas duas, três pessoas... mas era difícil existir...poucos mestres e etc, mas era muita pouca reunião. Hoje não. Hoje todo mundo participa. Hoje a Marcopolo tem várias salas aí, que é determinado um grupo numa reunião aqui, e outro lá...então o negócio funciona muito bem. A organização da Marcopolo é muito boa.

Todas as

Fases

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

376

BI Eu acho que tu teve, tu foi premiado no teu negócio. Tu escolheu uma empresa muito boa. Tu foi premiado mesmo. Tu escolheu uma das melhores empresas do Brasil, pra tu fazer um trabalho pra ti. Tu vai ser premiado nisso!

2007

DIV - Integração ☺☺☺☺

377

BI E tu entrevistar outra pessoa assim do tempo passado, ele vai te dizer talvez alguma coisa diferente, mas muito pouca coisa. Ele vai te dizer a mesma coisa que eu, porque todo mundo que trabalhou aqui... existe, existe... o Pelé...o Pelé vai dizer que teve um time que ele não gostou também, mas se tu entrevistar 10 eu te digo que 9,8 vão dizer a mesma coisa que eu, que gostaram da empresa, que a empresa foi muito boa.

Todas as

Fases

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

378

BI Bino: Não, eu posso dizer que eu vivi tudo mil maravilhas aqui na Marcopolo, eu tive meus trancos e barrancos também, algumas divergências... Vicente: Como assim? Bino: Com um chefe, alguma coisa...não, coisas que acontecem, mas vamos dizer assim, 98% de alegria, 2% fica...porque não existe troço..tu vê, existe briga em tudo que é lugar, discussão... aqui dentro da Marcopolo só teve alegria, criei uma bela família...eu vivi, criei meus filhos trabalhando dentro da Marcopolo...

Todas as

Fases

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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379

BI Eu no Uruguai, por exemplo, antes da Venezuela, a Marcopolo começou a fazer exportação pra Montevidéu, então aqui pertinho... Eu andei muito em Montevidéu, muitas vezes... Tinha um problema, eu ia lá e resolvia o problema... o pessoal reclamava, não funcionava uma coisa, eu ia lá vê, consertar e ajudar, fazer isso, fazer aquilo, e instruir o pessoal e tal.

2a Fase:

1968 a 1986

FRH - Formar

FRH - Renovar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

380

BI E eu andei muito ali, e sempre gostei do serviço, e sempre fui muito pontual com a empresa Marcopolo. Viajei bastante, viajei de avião, viajei de ônibus, viajei de carro pra Marcopolo, e me orgulho bastante do que eu fiz pra Marcopolo. Me orgulho da Marcopolo comigo também.

Todas as

Fases

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

381

BI É, a prova tá aí que o Zignani...eu sou amigo do Paulo, me encontro com o Paulo. O Martins, o Zignani, o Valter, com todos esses caras que são os diretores, a gente se encontra, se abraça, conversa, bate um papo.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

382

BI E eu gostava do time da Marcopolo, eu fui um dos fundadores do time da Marcopolo também. Vicente: Do time de futebol? Jogava também? Eu li que o time ganhava bastante... Bino: Fizemos um time jóia. Eu, Paulo Bellini... jogava o Doracy Nicola, jogava o Cláudio Coltro, esse que era pra ti entrevistar também hoje aqui, fizemos um time...

1a Fase:

1949 a 1967

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

383

BI Bino: Sim, a Marcopolo hoje já anda sozinha. Isso aqui tá uma organização tão grande, tão bem montada, bem grande, que a Marcopolo anda sozinha... Ela tem uma equipe muito boa, que dirige a Marcopolo, muito boa, cuida que é a direção da Marcopolo...esse pessoal...muito boa e a Marcopolo hoje anda sozinha.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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483

384

BI Aí nós íamos jogar, e ganhamos o jogo deles de 1 a 0. Aquilo deu um incentivo, alavancou o time, todo mundo começou a ... Nós fomos vice-campeão no ano, em 1955. Fomos vice-campeão. Aí entrou o Brito, que não participou do primeiro ano. Aí o Brito incentivou, começou a jogar. Aí foi, fizemos um time bom. Fomos em muitos anos campeão. Fomos o primeiro campeão sul-brasileiro foi, aqui do sul, foi a Marcopolo, em 1967.

1a Fase:

1949 a 1967

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

385

BI A Marcopolo já foi no México disputar o campeonato mundial interclubes. A Marcopolo foi no México disputar já. Foi representando o Brasil no México. Foi vice-campeão lá México. E os poucos que foram, disse que o juiz até deu umas rafiadazinhas (?) contra a Marcopolo.... Disputou Brasil, México, e não tô lembrado mais...foi em 1997, foi no México disputar um título lá.

1997

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

386

BI Sempre. Tem uma sede campestre muito bonita ali. A empresa sempre apoiou. Hoje tá com um time muito bom. Marcopolo deve ter 4 sul-brasileiros já. A Marcopolo tem 4 sul-brasileiros e aqui na cidade nós fomos campeão numa época lá 8, 11 anos consecutivos. Com um time muito bom, o pessoal levava capricho. Depois, a Marcopolo disputa tudo, disputa basquete, vôlei... tudo que é tipo de competição.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

387

BI Marcopolo patrocinava corredores de maratona. Eu acho que até no Rio a Marcopolo patrocinava um corredor pra correr a maratona. Nós tínhamos uma guria que trabalhava aqui dentro, Rosa, ela participou de tudo que foi maratona em São Paulo, Rio, ela foi para o exterior correr também. Então a Marcopolo patrocinava corrida. Por que corrida? Porque ônibus corre né. Uma vez eu fiz uma pergunta pro Valter, por que a Marcopolo só patrocina corrida? Porque o que o ônibus faz, não corre? Então nós temos que patrocinar corredor. Ah, o esporte até hoje aqui tem bastante, aqui dentro da Marcopolo é bastante incentivado.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

Integridade Organizacion

al

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

388

JB entrei na Marcopolo dia 1º de setembro de 1970 foi meu primeiro e último emprego, estou imaginando isso aqui. Vicente – Você tinha quantos anos? Jaime – Tava com 21 anos. Aí, na época era mais difícil que hoje pra tu conseguir emprego.

1970

FRH - Reter ☺☺☺☺

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484

389

JB E aí, a Marcopolo me deu uma baita oportunidade dia 1º de setembro na função de Espírito Santo, trabalhava no Espírito Santo. A Marcopolo na época tinha comprado a Eliziário, que é de Porto Alegre, hoje é fechada. Então aí, nós, eu fiquei 4 anos no Espírito Santo carregando caminhão como estava estudando já na época a Marcopolo dava muita oportunidade pra quem está estudando

1970

FRH - Formar ☺☺☺☺

390

JB e em 1974 eu fui pra engenharia, fiquei na engenharia, nós montamos um setor, hoje seria o computador do produto, o que define os materiais que vão para fabricar cada ônibus

1974

FRH - Antecipar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

391

JB É, eu fiquei uns, não sei quanto tempo, dentro da engenharia, depois surgiu uma função nova lá, pros anos 80, que chamavam de Coordenador de Sistemas Industriais era o momento em que a Marcopolo começou o famoso computador Labor, então eu comecei a me deslocar, primeiro, dentro da engenharia a desenvolver um sistema operacional, como se trabalha, né, um programador, um cara que entende de informática, ah, mas sim um operador que conhece como a Marcopolo trabalhava, daí, eu saí, passei por todas as áreas: processo, vendas, compras, PCP, tudo voltado a implantação do sistema.

1980

FRH - Antecipar

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

392

JB Aí, eu passei 2 anos no CPD, larguei o CPD peguei logística, aí, trabalhei na logística, da logística eu voltei pra processos e hoje eu estou na engenharia, e isso foi... bem rápido.

1980

FRH - Antecipar

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

393

JB O que me marcou?! Me marcou mesmo na Marcopolo foi em 1986, eu diria que aí foi a virada da Marcopolo e onde é que o Paulo Bellini, Paulo Bellini que é nosso presidente, e o nosso diretor industrial, que era o Cláudio Gomes que foram pro Japão. Foram pro Japão pra ver o que tinha no Japão, qual era a tecnologia que usavam, aí foi a virada.

1986

EMP - Julgamento

EMP - Ambição

NAV - Legitimidade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

394

JB Que virada fizeram? Me recordo muito bem que o Cláudio Gomes reuniu todas as noites, depois da hora, dava palestra sobre Japão, começando a vender tecnologia japonesa pra todos os colaboradores da Marcopolo.

1986

EMP - Julgamento

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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395

JB E aí são coisas assim que começam a te marcar, tipo, na época nos chamavam de operários... operários, funcionários, e eu jamais pensava que nós íamos ser chamados de colaboradores, ai começou a ser somente colaboradores, e explicavam tudo que acontecia lá, o que eles viam de novo e tal, e no fim davam um certificado de participação, viu como me marcou. Quem participou da explanação de como o Japão funciona.

1986

NAV - Desafiar

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

396

JB Partindo daquele momento aonde o pessoal nosso não acreditava, a Marcopolo começou a mudar, mudar em tudo: em organização, nós usamos, não sei se tu ouviu falar, nós usamos a sigla SIMPS, tu vai falar com o João Carlos, João Carlos é o nosso especialista, então ele vai te explicar bem. Então esse SIMPS é um sistema japonês, mas adaptado a Marcopolo.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

397

JB É o sistema marcopolo de produção de produção integrada... aí tem várias ferramentas que trabalham nela, e a Marcopolo começou a trabalhar em cima delas, nas ferramentas, e aí, começou a nova sistemática de programação, famoso kanban. Começamos a trabalhar no kanban, começou a se reduzir estoque, nós praticamente não trabalhávamos com estoque, começou uma nova cultura muito difícil de ser implantada, por causa da nossa sistemática, isso impediu...

1986

NAV - Captura de

Valor

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

398

JB o mais complicado no ser humano é mudar, então é uma mudança cultural, ela foi muito complicado. Começou na época a ter respeito, não que não tivesse respeito antes, respeito ao ser humano, e assim, foi evoluindo, evoluindo.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

399

JB Aí, em um período sempre ia alguém pro Japão, ver novas tecnologias, ver novas sistemáticas, ver o que tinha de novo. Eu não posso deixar de falar que tive um convite em outubro do ano passado, fui pro Japão também.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Renovar ☺☺☺☺

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400

JB Então, eu diria sendo assim tão bairrista, mas Marcopolo é uma empresa muito semelhante, parecida, com a sistemática japonesa, mas também que nós estávamos em um grupo de 20, pessoal de humanas, um grupo bem estruturado. Esse ano vão mais quatro coordenados pela área do Pedroni e

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

401

JB todo mundo admirava o que a Marcopolo fazia e realmente nós aprendemos muita coisa, ainda, sempre temos o que aprender, mas o que nos deixou mais assim realizados, é que a Marcopolo já estava no caminho, tem algumas coisas que podem ser melhoradas, e é por isso que nós vamos pra lá... isso é o lado positivo da coisa.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Captura de

Valor

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

402

JB O lado negativo que eu vi dentro da Marcopolo foi lá em 1981, 1983, quando a Marcopolo entrou numa profunda crise, não estou dizendo aqui que foi por causa da Marcopolo, administração, não. Você pode ver que tem até outras empresas em Caxias grandes que tiveram o mesmo problema ou pior, não quero fazer nome.

1981

NAV - Consentir

DIV - Fragmentaçã

o

FRH - Reter ���� ���� ����

403

JB Então, aquilo, como ser humano, também não estou falando por mim, o que me marcou muito, foram os nossos diretores, o Paulo Bellini, o Valter, o Martins, na época... quando fizeram uma janta, aí no Rincão da Lealdade, eu vi os diretores se comovendo, pedindo ajuda pra todos, todo mundo unido, trabalhando, não medindo esforços, acreditando na Marcopolo, e doía quando chamavam o pessoal, botava no pátio e dizia “Vocês passam tal dia para acertar as contas”, então, imagina o que aconteceu.

1981

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

404

JB Começou pelo seguinte, lá em 1983 ela tomou todas as forças e levantou vôo rapidamente, porque nós fomos muito felizes... vamos falar bem claramente, pelos nossos técnicos, pelo nosso poder de conhecer ônibus, que foi lançado um ônibus que aí, quase reverteu os nossos concorrentes sentiram. Então aí foi, lançou-se um produto, na época dizia-se que nosso produto, realmente, o nosso produto não estava de acordo com o nome da Marcopolo, e foi lançado um ônibus novo e esse ônibus tomou as rédeas e tudo na

1983

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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vida o que te mostra como o negativo, que foi essa parte da crise aí, tu aprende pra tu administrar.

405

JB Então a Marcopolo partindo daí, partindo de 1986, começou a ter os pés no chão, e essa foi a grande tirada. E hoje a Marcopolo produz tudo isso aí, graças a... o que nós vimos no Japão?

1986

Crescimento e Renovação Organizacaional ☺☺☺☺

406

JB Primeiro, respeito pelo ser humano, eles trabalham muito com o processo, eles têm o controle visual, eles trabalham com o sistema kaizen, kaizen é melhoria continua. E por último treinamento, treinamento, treinamento,

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Renovar

FRH - Formar

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

407

JB e a Marcopolo, no meu modo de ver, ela está em cima desses 5 itens, antes de qualquer colaborador trabalhar na função dele, ele é treinado de 3 a 4 semanas pra executar a tarefa...

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Formar ☺☺☺☺

408

JB e Marcopolo tem isso aí, podia ser melhor, podia, evidente, tem coisas pra melhorar sempre

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição ☺☺☺☺

409

JB “A Toyota está usando SAP?”, responderam “Sim, está usando SAP”. Ele continuou a pergunta: “Quer dizer então que o kanban, ele é controlado pelo SAP?”. Responderam: “Não, não existe sistema melhor que o visual”. E a Marcopolo está utilizando sistema visual.

2006

NAV - Desafiar

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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410

JB Eu particularmente, tenho minhas dúvidas, se nós estaríamos produzindo o que nós estamos produzindo. E nós temos um ponto muito forte que a flexibilidade. Aumentou um produto, mistura ele aqui, passa ele pra cá, e produz ele, tá lá no fim.

2007

EMP - Versatilidade

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

411

JB Então, valorização ao colaborador, queira ou queira não queira, quem cuida do material é ele, ele é o dono, ele sabe o que tem aí... aciona ele, ele compra, ele compra entre aspas, não é emitir uma ordem de compra, é ele que tem que acionar, é ele que tem que vigiar a caixinha pra fazer. Então num momento, deixa a responsabilidade e o comprometimento, a participação. Quem não quer participar? Todos querem participar.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

412

JB Vicente – E foi sempre assim? Jaime – Não, essa veio evoluindo, veio evoluindo. Começou em 1986. Tem uma história por trás disso e cada vez melhorando mais. Tem uma história. Basta ver...

1986

Ambiente Inóspito ����

413

JB uma vez eu tive uma visita com o pessoal da Scania e eles perguntaram para nós qual a forma que a gente tinha para definir e calcular o kanban, qual o sistema de programação, qual é a forma. Aí, nós não temos forma. É tu conversar com a peça. Tu conversar. Todas as áreas têm que se envolver. Conversar como com a peça? Quanto que ela custa, qual o tamanho dela, de onde é que ela vem... tem processo, tem troca rápida de ferramenta, não tem. Qual a quantidade que tu tem que implantar... todos esses dados, peça a peça. Então, no momento que você definir, dificilmente erra. Tem ajustes? Claro que tem ajustes....

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

EMP - Versatilidade

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

414

JB Com os fornecedores, se não existir uma parceria, um treinamento, dentro do fornecedor, não funciona. Não funciona por quê? Eu to falando porque na época eu trabalhava na logística, agora eu to meio afastado, mas a lógica é essa, e não muda tanto. Existem fornecedores que entregam 2, 3 vezes por dia. Isso, se tu não treinar eles, vai te faltar peça aqui. E outra, e muito importante, que nós estamos batalhando e está acontecendo, e gradativamente vai melhorando, é a qualidade na origem, tanto dentro da empresa como fora. Porque se vem um lote de peças,

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

NAV - Negociar

NAV - Captura de

Valor

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aquele lote é pra um dia, meio dia ou duas horas. Se tiver problema, pára entre aspas, dependendo da peça. Então existe um trabalho quanto a isso. E a Marcopolo hoje é isso. Então, eu diria transparente, devido ao tempo, ao treinamento e ao comprometimento de todos os colaboradores e sabendo que é uma coisa boa e funciona.

415

JB Existe um programa mestre. Nós chamamos unidade padrão, UP. Nós temos produtividade. Existe a produtividade diária, quantos por centos, quantos carros nós devemos produzir, quantas portinhos nós devemos produzir, quantas janelas. Existe todo um trabalho quanto a isso.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição ☺☺☺☺

416

JB Isso nós começamos lá, depois da crise. Eu me recordo que contratado uma empresa de fora e ela começou a implantar a produtividade, a produção diária. De lá pra cá, foi melhorando cada vez, cada vez mais, e nós trabalhamos com ordem de serviço. Só pra você ter um idéia é simples de ver a produção diária, mas existe um trabalho com isso, além de um treinamento, um processo voltado, além de ferramentas, além de gabaritos. Porque são tomados tempos, pra produzir isso aqui, você vai precisar de tanto, então é horas disponível versus o que eu vou produzir, eu tenho a produção diária.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

417

JB Eu particularmente sou engatado em equipe kaizen, sou engatado. Simplesmente engatado. A grande diferença é essas equipes kaizen. Equipe kaizen, como trabalho dentro da Marcopolo, põe uma equipe dentro de uma fábrica de botão, e fica trabalhando 1.5 ano, 2 anos lá dentro, e cada dia tu vai melhorando.

2007

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

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JB Basta ver um trabalho que foi feito lá e me marcou, eu fazia parte dessa equipe, é que a monovia que transporta as estruturas de poltronas para entrar na pintura, para dar o tratamento anti-corrosivo, nós trocamos de rumo. É a mesma coisa que tu desviar um rio, nós desviamos ele. Ao invés do operador ir colocar na monovia, a monovia vinha até o colaborador. É, então são coisas desse tipo que a Marcopolo tá... Isso quem? O próprio colaborador que trabalha na... É evidente que tem os cabeças, tem o pessoal com formações diferentes, mas muita coisa é o chão de fábrica que criou e o João Carlos deve explorar bastante sobre isso, ele deve falar do SUMAN, que ele é o especialista.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

419

JB Se tu olhar... nós não falamos no lead time, o lead time de um ônibus. Lá trás, e não faz muitos anos não, lá pelos anos 90 ou coisa parecida, eu to falando que não faz muitos anos... E o ônibus ficava quase 35, 37 dias dentro da produção, entre o início e o fim, na produção. Não era o pedido, era início e fim. E foi reduzindo e tal, e eu diria o seguinte... falta material e não sei mais o que... No entanto, essas novas tecnologias que se chamam de modernas, porque elas não são assim com grande tecnologia e sim com comprometimento...trocar sistemática de programação, né Pedroni? Nós dizíamos assim: “Na época de crise nós precisamos subir na caixa d’ água, dar uma olhada lá em São Marcos, que é uma cidade aqui, tá chegando um chassi de lá, pode entrar direto.” Antes não, tinha que esperar. Agora pode entrar, porque o material tá disponível. Hoje deve demorar quanto? 5 dias, 6 dias? Na própria Ciferal, eu estive lá há pouco, deve demorar 4 dias, tu apertando 3 dias...

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

420

JB É isso, e outra coisa muito importante que nós fizemos ônibus personalizados. Se tu olhar, os ônibus não são iguais coisa nenhuma. Do pedido ainda pode ser igual, do próprio cliente, no próximo pedido pode pedir coisa diferente.

2007

EMP - Versatilidade

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

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JB Então deixa que eu vou falar da engenharia só um minuto. A engenharia é de onde parte as coisas, o projeto e tal. E três anos atrás, por isso que eu voltei para a engenharia para acompanhar um projeto. E nós falamos que a mudança na engenharia..... o que foi feito? Nós começamos a trabalhar montando o próprio, parte dentro, parte compramos, seria 3D tu compra, tu não desenvolve internamente.... em cima nós desenvolvemos um sistema interno que nós chamamos de paramétrico, que são regras que nós montamos dentro da engenharia, que no momento em que... esse ônibus aí, tá dentro de tudo aquilo que Marcopolo definiu, esse ônibus nem entra na engenharia, e sim no próprio computador, ele faz a peça.... sem ninguém colocar a mão. Isso não é sonho, é fato... É por isso que nós chamamos que para tu desenvolver um produto tem que ter escopo. No momento em que tu definir o escopo dele, aí é barbada fazer isso.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

422

JC Eu comecei na Marcopolo, eu entrei aqui garotão, tinha 16-17 anos, entrei trabalhando na linha de produção, meu primeiro trabalho foi colar tapetes, depois eu fui pro setor de janelas. Vicente: Em que ano isso? João Carlos: Isso foi, que eu fui pro setor de janelas foi em 1973... Vicente: Você entrou aqui em que ano? João Carlos: Em 1971. E eu fui pro setor de janelas. Tive oportunidade, fui trabalhando.......

1971

FRH - Reter ☺☺☺☺

423

JC torci aro, torci aro de janela que nem esse aqui. Trabalha com rolete (?) e fazia tudo a muque. Nós usávamos um cabo aqui assim e aí tinha o rolete, nós botávamos o perfil e fazíamos essas janelas que tem aí, você vai ver. Só pra você entender melhor... (Se levanta até a janela da sala e mostra. A entrevista não é gravada com nitidez) João Carlos: Então a gente colocava assim e entortava assim, cortava mais ou menos aqui, entortava aqui e levava até aqui. Aí entortava aqui e trazia até aqui. Nós era em dois. Um fazia força de manhã e o outro soldava. Aí de tarde eu ia soldar e ele ia fazer força. Quando apurava muito, então

1973

Ambiente Inóspito

EMP - Versatilidade ���� ☺☺☺☺

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ficava dois aqui e só um soldava. Nós trabalhava assim.

424

JC Aí depois eu passei para ajustador, aí eu tive oportunidade como líder. E aí, em 1978-79, no final de 1978, me convidaram para ser líder em uma outra área, na área de pintura, aonde a gente pintava as estrutura... de lá e eu fui, era um desafio. Aí fui pra lá, porque naquela época era mais difícil do que hoje. Hoje a coisa tá mais fácil para trabalhar. Aí eu fui pra lá, e em 1982 a Marcopolo começou um projeto novo de uma pintura a pó.

1978

FRH - Formar

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

425

JC E aí a gente começou a fazer a pintura a pó na Marcopolo e o pessoal de fora começou a fabricar. E era bem na frente do setor de pintura que eu cuidava, então eu tava sempre junto, ajudando, me metendo e querendo ajudar. E aí, como foi pegar alguém para trabalhar na pintura a pó, como eu já conhecia e tava fazendo testes...nosso engenheiro na época, na época nosso gerente, Sr. Bisi, Gilberto Bisi. E aí, na hora de escolher alguém pra ficar cuidando da área, ele pediu pra mim ficar, porque eu já tinha uma noção, porque eu tava fazendo os testes e tal, pra fazer os tratamentos na janela e pintar. Aí fiquei ali, trabalhando nas duas áreas. Aí, eu fui promovido, em 1983, 1984, eu fui promovido a supervisor, e fiquei trabalhando naquela área até fevereiro de 1987

1983

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Reter ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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JC Pêra aí ó um pouquinho (Interrompe para atender o telefone. Era uma faculdade querendo marcar uma visita à fábrica da Marcopolo) João Carlos:...É visita cara Vicente: Todo mundo quer conhecer? João Carlos: Todo mundo quer conhecer... é complicado. Aí dizer não na hora não pode. Aí depois com jeitinho e tal. Porque nós temos um limite para atender. Mas a gente procura atender o pessoal daqui, que estuda, que trabalha aqui, a aula deles, e alguns de fora... vai longe, na sexta-feira, e a gente atende. Depois eu vou te mostrar a fábrica.

2007

NAV - Negociar

NAV - Legitimidade Organizacion

al

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

427

JC Seu Paulo foi para o Japão no início de 1986. 1986

EMP - Ambição

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

428

JC Aí nós fizemos o curso do IMAM. O pessoal do IMAM veio aqui e deu o curso pra nós das características do Japão e tal.

1986

FRH - Formar

FRH - Renovar

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

429

JC Eu trabalhava nessas áreas lá e tinha um pessoal muito unido.

1986

DIV - Integração ☺☺☺☺

430

JC Aí quando terminou, isso na sexta e no sábado, eu passei o final de semana escrevendo, montando o que eu ia falar pro pessoal na reunião. Me empolguei com o sistema. E a gente sempre falou que no Japão as coisas aconteciam e tal...

1986

EMP - Ambição

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

431

JC e com aquele negócio de tu montar grupo dentro da tua área e a gente já tinha... na pintura nós já era o primeiro setor da Marcopolo que não precisava controle de qualidade. Era qualidade assegurada. Dentro daquele primeiro setor ali, a gente poderia entrar com qualquer coisa.

1986

EMP - Versatilidade

NAV - Captura de

Valor

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

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432

JC Vicente: Porque aquele setor já tinha e os outros não? João Carlos: Porque havia uma conscientização bastante grande. A gente conseguiu junto com o controle de qualidade, as pessoas que trabalhavam no controle de qualidade, que nós conseguimos implantar no setor lá, a qualidade assegurada. Cada pessoa que fazia, sabia o que estava fazendo, e fazia com qualidade. Então o controle de qualidade, naquela época lá, já fazia por amostragem. Então o controle de qualidade nosso o Claumir (?) era Josué e eles faziam por amostragem. Não olhavam mais as peças que as pessoas faziam.

1986

DIV - Integração

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

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433

JC Vicente: Só você participou? Poucos participaram... João Carlos: Não, participou toda a supervisão. Eles formaram vários grupos de todos os níveis dentro da fábrica. Vicente: Só supervisores? João Carlos: De supervisor pra cima. O pessoal de controle de qualidade também participou.

1986

DIV - Integração ☺☺☺☺

434

JC E aí, eu cheguei no setor na segunda-feira e falei pro pessoal o que tinha visto, e pedi pra eles formarem grupos, conversar entre eles, e formar uns três, quatro grupos e eu fui pra reunião. Na época nosso gerente era o Luiz Carlos Boff e aí esperei terminar a reunião, não falei nada na reunião, esperei terminar a reunião e conversei com nosso gerente, Luiz Carlos Boff. Não sei se eu fiz certo, mas eu conversei com o pessoal lá, e a essa hora eles já devem ter grupo de SUMAN lá montado. Grupo de melhoria, tinha um nome. Então vamos ver o que é que acontece.

1986

DIV - Integração

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

435

JC : Falei pra eles aquilo que a gente tinha escutado. Que era para eles se escolherem entre eles e formar grupo de 5 a 7 pessoas.

1986

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

436

JC E aí a gente começou... Quando eu voltei tinham 3 grupos formados já. Aí eu sentei com cada grupo e conversei com cada grupo, mais ou menos como era preciso trabalhar. Oh, primeiro nós vamos cuidar do nosso ambiente, limpeza e organização. Então tudo que for para limpeza e organização, vocês vão falando, levantam... Arrumei uma agenda pra cada grupo. Eram 3, arrumei 3 agendas, e começamos a

1986

FRH - Formar

DIV - Integração

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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acompanhar...

437

JC Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida! Daquele dia em diante, eu passei a não ter um olho só, eu tinha 52. Pra cuidar da qualidade, pra cuidar da limpeza, pra cuidar da organização. Minha vida facilitou um monte. Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida.

1986

NAV - Captura de

Valor

EMP - Ambição ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

438

JC E aí o pessoal continuou trabalhando e eu passei a enxergar coisa que eu pisava em cima e eu não via. Quando tu tá no trabalho que não tem um sistema de trabalho, e hoje a gente tem, e sabe disso, nós trabalhamos aqui e a gente sabe, tudo fica difícil.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

439

JC Tu passa a olhar só a produção e tu esquece de olhar e conversar com quem faz. Então a grande mudança, e eu digo por mim, que eu tive, foi que eu passei a cuidar e conversar com que faz. Não cobrar pra fazer. Essa é a grande mudança. Se eu cuidar, tiver paciência e conversar com as pessoas que fazem, tu não precisa olhar o trabalho delas. O trabalho delas é bem feito. Nós temos a mania de cuidar do trabalho, antes da pessoa. Nós temos que cuidar da pessoa, antes do trabalho.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

EMP - Versatilidade

NAV - Captura de

Valor

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

440

JC A Marcopolo é uma empresa que é artesanal, então nós temos que cuidar das pessoas, ter paciência com as pessoas. Porque a gente entendeu, desde aquela época, e é umas das coisas que a gente faz hoje. Por isso que a Marcopolo tem essa preocupação. E quem trouxe isso foi nós mesmos e o nosso presidente.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Fomento do Aprendizado

DIV - Integração

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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496

441

JC Depois desse sistema que a gente começou a trabalhar, aí nós começamos a reunir, duas vezes por semana, a supervisão. Aí um chegava lá e contava o que tinha feito. Aí outro chegava lá e contava o que tinha feito no setor dele, o que tava fazendo. Daqui a pouquinho, nós passamos a entender que... oh, vamos dar uma segurada porque um tá fazendo de um jeito, outro tá fazendo de outro... e sim nós não vamos ter um padrão. E para ter um padrão, nós vamos precisar de alguém para coordenar. E aí, o pessoal me escolheu para coordenar. Vicente: Tudo? João Carlos: Todo o sistema. De todas as áreas. Aí montamos. Aí nós escolhemos um nome

1987

CPX - Fomento do Aprendizado

DIV - Integração

FRH - Antecipar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

442

JC Na verdade eu comecei a trabalhar, a coordenar o sistema em 1987, em março de 1987. Porque foi o primeiro ano que a Marcopolo deu férias coletivas e eu fiquei trabalhando nas férias coletivas. E sempre tem alguém que não tem férias e tal, e eu fiquei junto com o grupo lá na Planalto, fazendo a manutenção. Aí, depois eu saí de férias no inicio de fevereiro. Aí quando eu saí de férias, não tinha gente escolhida. Aí quando eu voltei, tinham me escolhido. Aí eu comecei a trabalhar no sistema, e estou até hoje.

1987

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

443

JC O meu treinamento foi... a gente participou de alguns cursos, o Banzato vinha pra cá na época. Uma outra das coisas que facilitou bastante é o comprometimento da nossa equipe, diretoria, da nossa gerência. Os caras faziam as coisas, vinham, ajudavam, apoiavam, conversavam com a supervisão, estavam sempre comprometidos com o trabalho na época. Foi o grande giro da Marcopolo.

1987

EMP - Julgamento

DIV - Integração

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

444

JC João Carlos: Fui, agora fui pro Japão. Em 2006. Esperei 21 anos pra ir ao Japão. Vicente: Aí olhou lá... João Carlos: Olhei lá, e tudo que nós fizemos aqui, é aquilo que acontece lá. E hoje, nós já evoluímos algumas coisas que eles estão fazendo lá hoje, nós já estamos fazendo aqui. Ano passado também foi um colega nosso pro Japão, esse ano também parece que vai um colega nosso para o Japão.

2006

FRH - Renovar

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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497

445

JC Então, a Marcopolo a partir de 1986/7, ela virou. Então, com esses dois sistemas que implantou, o SIMPS e o SUMAN...

1987

NAV - Negociar

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

446

JC O SIMPS ele cuida do material. Tudo que é material: peça, ferramenta, máquina, equipamento, tudo. E o SUMAN, junto com o RH, cuida das pessoas. Então nós formamos nossa engrenagem. O material sem as pessoas não é nada. As pessoas, sem o material para trabalhar, não é nada. Então nós formamos a engrenagem pra girar esse mostro que hoje é a Marcopolo.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

447

JC Tudo nós fomos desenvolvendo conforme a nossa necessidade. Então, nós fomos atrás daquilo que o Banzato falou. A Marcopolo desenvolveu com orientação do Banzato, que era a pessoa que vinha aqui. Nós desenvolvemos a nossa própria identidade. E eu acho que funciona assim: cada empresa tem que implantar o sistema, ele pode ser o mesmo sistema que funciona igual, mas dentro das raízes da empresa.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

448

JC As raízes da Marcopolo... ela tem o sistema implantado já, que é o nosso SIMPS e SUMAN, que nós trabalhamos pra eles e ele envolve todas as áreas. Daquela época pra cá, uma coisa que ajudou muito, falando isso do nosso diretor, Seu Paulo na época e Seu Gomes (Cláudio Gomes), que era nosso diretor que foi junto com Seu Paulo pro Japão, eles desenvolveram umas palestras pro pessoal conhecer o Japão.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

449

JC Então, de início ajudou bastante. Então, era palestra vai quem quer. Era dois dias. Então o pessoal se inscrevia com a gente, já eu tava trabalhando no sistema... o pessoal se inscrevia com a gente, a gente montava palestra aqui, e montava na Planalto. O Seu Gomes fazia a palestra, a gente ajudava ele, falava da empresa, e ele fazia a palestra sobre o Japão. E o Seu Paulo, na última, o Seu Paulo vinha na palestra. E Seu Paulo dava o depoimento dele. Isso ajudou muito.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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498

450

JC Foi meio que paralelo. As palestras devem ter começado assim, em março, abril, e nós já estávamos com o sistema mais ou menos andando. Surgiu a idéia da palestra porque a gente se reunia, conversava e surgiu a idéia. Depois a gente entrava na palestra, conversei com Seu Paulo... então vamos fazer isso aí, foi feito aí umas 40 palestras.

1986

DIV - Integração

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

451

JC Vicente: Eu li um pouco sobre isso, que se tirava foto, tinha certificado... João Carlos: A gente dava certificado... Vicente: Como é que ficava a motivação dos funcionários? João Carlos: Muito boa, muito grande, muita gente participando... Junto com isso nós tinha grupos de SUMAN. Todas as áreas passaram a ter grupos de SUMAN . Tinha áreas que tinham 4 grupos. Nós chegamos a ter 210 grupos de SUMAN. Era uma coisa assim muito grande.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

452

JC Aí depois, que eu saí da fábrica em 1992, eu saí... Vicente: Você saiu da empresa? João Carlos: Saí da empresa. E voltei em 2002. Eu fiquei quase 10 anos fora. Vicente: Trabalhando... João Carlos: Trabalhei com assessoria nessa área.

1992

FRH - Reter ����

453

JC E aí depois fui convidado para voltar. Moroni (?) que era nosso diretor me convidou para voltar, ele e o Rogério Toledo, e eu voltei. A gente conversou em 2001, na metade do ano mais ou menos, e eu voltei em 2002, em janeiro de 2002 pra Marcopolo, e estou aí até agora.

2002

FRH - Reter ����

454

JC Vicente: E depois, vocês foram levando isso para outras fábricas? Você participou de algo? João Carlos: Sim, esse trabalho de organização, de prateleiras, kanban e grupo de SUMAN, a gente levou pro Rio de Janeiro... pra São Paulo, lá na filial. Pra Portugal... Vicente: Pra São Paulo? Qual? João Carlos: Pra filial de São Paulo. A distribuidora de peças. E aqui em Caxias, em todos os lugares...

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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499

455

JC Vicente: Fornecedores? João Carlos: Fornecedores não. Essa parte de trabalho... Fornecedor por enquanto a gente ... Vicente: Fornecedor ficou mais com a parte de kanban... João Carlos: É, a parte mais de kanban, que hoje tá com o pessoal da logística. O pessoal da logística que coordena isso. Mas também não é obrigado nossos fornecedores a fazer kanban. Vai fazer da melhor maneira para atender a gente. O cara que não fizer kanban... pra nós aqui, se o cara desenvolver lá as peças que ele fornece pra gente, e se ele tiver uma caixinha de cada uma, nunca vai faltar peça. Se o cara tiver fazendo um trabalho assim, ele vai trabalhar com a Marcopolo, o tempo todo, e nunca vai faltar peça.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

NAV - Captura de Valor ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

456

JC A maioria deles é em Caxias. Mas a gente não vai lá, na fábrica deles cobrar para implantar kanban ou coisa parecida. A gente não faz isso. A gente mostra pra eles que é uma boa, não cobra pra ele montar o sistema dentro da fábrica deles. Mas muito deles, eu diria pra ti, uns 70% trabalham com kanban

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

NAV - Captura de

Valor

NAV - Legitimidade Organizacion

al

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457

JC Eu diria que a grande virada nossa foi a participação. Nós tínhamos alto estoque. Nós baixamos nosso estoque. Nós tinha peça aí, que depois que nós implantamos o kanban, nós ficamos 12 meses, 14 meses, sem fazer a peça, dado o estoque que a gente tinha.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

Crescimento e Renovação Organizacaio

nal

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458

JC Vicente: A rotatividade de pessoal também? João Carlos: Melhorou muito. A Marcopolo passou a dar uma assistência maior pras pessoas. O RH nosso se transformou na época... remodelou nosso gerente de RH... foi a melhor fase que a gente teve. A Marcopolo se transformou. Passou a ser uma empresa limpa, organizada, muito bom de se trabalhar. E hoje retomou.... a Marcopolo tá de vento e poupa...

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

FRH - Renovar

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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500

459

JC Vicente: Também, você falou que implementou na Ciferal do Rio, na filial de São Paulo, e nas fábricas fora do país? João Carlos: Lá em Portugal... O SUMAN já existe lá. E tem um pessoal trabalhando, implantando na Colômbia, tem gente no México já...

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

460

JC Vicente: É também sua responsabilidade essa parte? João Carlos: Não, aí fica com cada gerente, coordenador de cada fábrica.... A gente vai lá, ajuda a implantar, mas eles que ficam responsáveis. Eu fui pra Portugal, Rio de Janeiro e São Paulo. E aqui, em todos as fábricas que eu sou responsável. Aqui nós temos 4. Temos a Marcopolo Filial Plástico, Filial 1, tem a Marcopolo Delare (?), Volare e a fabricação da Planalto, que eu sou responsável pelo SUMAN, pelo SIMPS.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

FRH - Formar

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

461

JC Vicente: Você tem algum, não sei se você tem esse controle, evolução na produtividade na produção pós implementação... antes... alguns números que eu consiga comparar... João Carlos: Não tenho... Vicente: Não tem. Mas você tem de atualmente? João Carlos: O que nós temos atualmente é os números do nosso...

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺

462

JC Esse é o nosso sistema que estamos trabalhando, SMCQ, Sistema Marcopolo de Competitividade de Qualidade, SIMPS e SUMAN. E aí, aqui é o trabalho que a gente desenvolve com eles. 5 S, Administração Participativa, com Treinamento e Liderança, Layout, Células de Produção, a Movimentação, o Balanceamento de Linha, a Logística, o SIMPS, o Carro-a-Carro...

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

463

JC O carro-a-carro são as peças que são feitas para fazer um carro. Diminui muito isso. Tu reduz o teu estoque. Tu tem a peça, a matéria-prima, e a peça do carro que tu vai fazer. Então, vamos dizer assim, o kanban já reduz o seu estoque, se tu fizer o carro-a-carro ele vai enxugar mais ainda o seu estoque intermediário. Tu faz a peça e já coloca no carro.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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501

464

JC Vicente: Alguns você consegue fazer carro-a-carro, outras peças, outros componentes não.. João Carlos: Não, mesmo porque não consegue fazer tudo carro-a-carro. Se tu fizer tudo carro-a-carro, tu mata tua fabricação. Então, tu tem que fazer carro-a-carro, tu tem que fazer kanban, e tem que fazer também por programação, porque entra coisa especial também pra fazer, aí tu não tem carro-a-carro, tu não tem kanban. Quando não é especial, tu trata diferente. Então, tu faz por programação, programa o carro pra tal semana, e aí aquelas peças especiais que vai naquele carro, tu bota pra fazer naquela semana. Porque tem dia que o carro entrar dentro da nossa programação, nós temos os dias que entra os carros na linha. Então tu programa o carro para aquele dia e pra aquele horário.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Versatilidade

EMP - Julgamento ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

465

JC Vicente: Minha pergunta é: imagina que dia 1º, dia 2, chega uma encomenda para ser atendida no dia 9. João Carlos: Não tem como. Não é, porque não tem peça pra ele, nem chassi. A não ser que o cara traga o chassi junto, aí a gente pode fazer uma programação diferente. Mas ele chegar na terça, não entra na segunda. Tem que ter uma programação. Ele entra dentro de uma programação, pra gente fazer.

2007

CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺☺☺☺

466

JC O pokaioke que é um dispositivo contra falhas humanas, gabaritos, dispositivos, para facilitar o trabalho. Isso aqui eles mesmos que fazem. Cada operador vai fazer aquilo que é mais fácil pra ele trabalhar e que dê segurança e qualidade. Então eles é que montam.

3a Fase:

1987 a 2006

EMP - Ambição

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

467

JC A segurança aqui, que a Marcopolo quer que as pessoas venham trabalhar, trabalhem do início da manhã até o final da tarde, e voltem para suas casas da mesma forma que chegaram aqui.

Todas as

Fases

DIV - Integração ☺☺☺☺

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502

468

JC Vicente: Nessa época que você entrou aqui, como é que era essa questão. Tinha muito acidente de trabalho? João Carlos: Não, não era muito acidente não. Não tinha muito acidente. A Marcopolo sempre se preocupou com isso, desde a época que eu entrei. Eu nunca me acidentei dentro da fábrica. Vicente: Mesmo fazendo no braço? João Carlos: Mesmo fazendo no braço, mesmo fazendo solda, na ajustagem. Nunca me acidentei dentro da fábrica, que fizesse que perder um dia de trabalho. Me machucava por outras coisas. Por jogar futebol pela Marcopolo, mas no trabalho mesmo, nunca me machuquei. A Marcopolo sempre deu uma condição boa pra gente, pra gente produzir....

2a Fase:

1968 a 1986

DIV - Integração ☺☺☺☺

469

JC E aí o desperdício. Essa é uma coisa que nós estamos fazendo, fazendo um trabalho de SMC (?) que pessoas falarem aonde é que ele vai pegar peça, na hora de aproximar mais a peça. A idéia é pra pessoa reduzir o próprio custo, que nós paga... então as pessoas estão falando de 8 custos, o pessoal de SUMAN.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

470

JC Hoje nosso grupo também trabalha nisso. Então, o espelho que a gente dá. Primeiro, o ambiente de trabalho. O pessoal de SUMAN. Primeiro o ambiente, de limpeza, de organização, de respeito um pelo outro. Que as pessoas venham trabalhar não só porque precisam do trabalho, mas sim pela satisfação de estar aqui dentro e fazer um produto que é nobre.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

471

JC Então as pessoas vim de manhã, dispostas a usar a inteligência. Eu diria que a maior perda que existe dentro das empresas é a perda de inteligência. As pessoas tem as idéias e essas idéias não são aproveitadas. Aqui a gente consegue aproveitar. Nosso grupo de SUMAN senta, uma vez por semana, tem grupo de 5 a 7 pessoas, e eles sentam e eles conversam sobre o que eles podem melhorar dentro da área de trabalho deles. Então é uma das coisas boas que eles têm..

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Fomento do Aprendizado

NAV - Captura de

Valor

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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472

JC Vicente: Desperdício, você tá botando mais na forma de inteligência... João Carlos: Não, desperdício geral. Pessoal, uma vez botava a peça fora. Aí botava a sobra de tubo.... Aos pouquinhos nós estamos fazendo com que as pessoa tenham cuidado aqui na empresa, o mesmo cuidado que eles têm na casa delas. E alguns que não têm na casa deles, eles estão aprendendo aqui na empresa pra levar pra casa. Isso é uma das coisas que a gente faz...

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

NAV - Captura de

Valor

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

473

JC Vicente: Vocês se revezam para limpar o banheiro. João Carlos: Começou em 1986. Primeiro setor que começou a limpar o banheiro foi a pintura a pó. O pessoal, a gente conversou com eles, vamos conversar, o que é que vocês acham... Vamos começar. É de dupla, mas nós vamos limpar em três, porque eu vou estar junto também, e eu também ajudei. As primeiras vezes que foi lavado o banheiro, eu ajudei. Aí depois, o legal foi o dia, nós chegamos lá na terça-feira, que a gente foi lavar o banheiro... Não, o João não vai mais lavar o banheiro, de agora em diante o João não precisa mais lavar o banheiro. Nós não queremos ver o nosso supervisor lavando banheiro. Nosso mestre lavando banheiro. Na época se chamava de mestre, nosso mestre lavando o banheiro. a gente parou. Daquela época pra cá... uma vez tinha gente que limpava e tava sempre suja. E então, a gente achou que se a gente limpar, a gente vai cuidar mais. E é verdade.

1986

NAV - Desafiar

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

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474

JC Hoje nosso pessoal limpa o banheiro e eles têm o quadro de presença e estado emocional, e eles colocam lá quem vai lavar o banheiro.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Desafiar

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

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475

JC Vicente: Como é que o senhor avalia esse quadro emocional? João Carlos: Depois nós vamos na fábrica e eu vou te mostrar. Vicente: Eu já vi, mas como o senhor avalia? É algo que...

3a Fase:

1987 a

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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João Carlos: É o melhor quadro que tem na fábrica. 2006

476

JC Vicente: O pessoal é sincero? João Carlos: O pessoal é sincero. Depende muito da área que é, mas se o supervisor for sincero e ir até, e falar com as pessoas, é a melhor coisa que tem. A gente implantou isso aí, a gente ainda não tinha falado sobre SUMAN. Não tinha os grupos de SUMAN ainda. Nós implantamos... isso aí é a melhor coisa que tem. Numa área que tem 25/20 pessoas pra cima, o supervisor não vai adivinhar quem tá bem e quem tá mal. Se a pessoa colocar lá, e tu ir conversar com ele, e resolver o problema, isso dá um crédito muito grande pra supervisão. Então esse quadro depende muito da supervisão. Se o cara for um cara atencioso, e ele conversar com pessoas e ir trás das coisas, é o melhor quadro que tem na fábrica. Não tem outro melhor

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Formar

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

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477

JC Vicente: Se o supervisor não está, tem algum treinado para substituir? João Carlos: Sem dúvida. A Marcopolo prepara as pessoas para isso.

Todas as

Fases

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

478

JC Vicente: Quando você saiu em 1992, tinha alguém preparado para assumir? João Carlos: Sim. Alguém que trabalhava comigo, que eu coordenava. Essa preocupação a gente tem, de preparar alguém para ficar no lugar da gente. Porque aqui, a nossa própria supervisão, o pessoal gira, o pessoal tá em uma linha, daqui a pouquinho numa outra. Tá na fabricação, daqui a pouquinho vem pra linha. Tá numa área, daqui a pouquinho vai pra outra. Então, a gente gira. Então, a gente não tem essa preocupação de, ah essa área aqui é minha e ninguém bota a mão. Não tem essa preocupação, porque a gente gira bastante.

1992

FRH - Antecipar

FRH - Formar

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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479

JC Trabalho é trabalho, e o nosso trabalho aqui ele é de apoiar a produção. Tudo aquilo que possa imaginar que eles possam pedir pra gente, eles pedem... Vicente: Como assim? João Carlos: Nós coordenamos aqui, toda a parte do SUMAN. E se tu quer fazer um trabalho, por exemplo, um supervisor quer fazer um trabalho pra mostrar pro pessoal dele como tá a área dele, as coisas boas e as coisas ruins. Aí nós vamos lá, juntos com ele, e tiramos foto e montamos uma palestra pra ele. E ele só vai lá dar a palestra. Entendeu? Isso é um apoio que a gene dá pra eles. Esse é o trabalho. Ajudar eles em tudo que tu possa imaginar e em coisas que tu nem imagina. A gente tá junto, ah tem que fazer a palestra, nós fazemos a palestra. Me ajuda João? Ajudo, dia e noite. Mesmo acompanhamento que a gente dá de dia, eu preciso de alguém pra dar o acompanhamento de noite.... Mesmo porque nós temos grupos de SUMAN também no noturno. E fizemos o trabalho SMC também no noturno.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

480

JC Não, nós temos o diurno, o noturno que começa às 17:18 e vai até às 02:28 da manhã. E o terceiro turno começa às 23:00 e vai até às 07:30 da manhã. É assim que funciona. Vicente: Mas nesse segundo turno são as mesmas atividades que durante o dia, no diurno. João Carlos: É igual, até no número de pessoas.

2007

DIV - Integração

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

481

JC João Carlos: No meu caso quem fica é a Ana. Normalmente eu fico aqui até mais tarde, normalmente eu saio daqui 20hs, 20:30. E a Ana fica até mais tarde. Aí a Ana ajuda o pessoal, o pessoal vem até aqui, nós coordenamos o grupo, vamos na reunião, fazemos o trabalho de acompanhamento, com todos esses grupos aqui, que aqui tem 57.

2007

DIV - Integração

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

482

JC E aqui é como é que funciona o SUMAN. Porque o SUMAN, as normas dele, porque é que ele existe, a reunião...tudo isso aqui é controlado, isso aqui é o mês de maio. Quantas reuniões era pra fazer, quantas aconteceu, quantos componentes têm, quantos componentes participaram.

2007

DIV - Integração

CPX - Fomento do Aprendizado

FRH - Formar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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506

483

JC Mais componentes, é que em cada reunião, eles convidam uma ou duas pessoas para participar do grupo deles. Então esse grupo aqui, ele é de 6 pessoas em cada grupo. Aqui é dia e noite. 6 pessoas em cada grupo. E na verdade apareceu um a mais aqui porque eles convidaram para participar da reunião.

2007

DIV - Integração

CPX - Fomento do Aprendizado

Integridade Organizacion

al

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484

JC Vicente: Você tem esse histórico aí, desde quando? João Carlos: Desde 2002. A gente tinha o histórico de desde quando começou. Mas como eu fiquei esse tempo fora, se perdeu tudo. Aí quando eu voltei em 2002, a gente refez tudo de novo e começamos com o histórico tudo de novo.

2002

CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺☺☺☺

485

JC Eu vou te mostrar aqui... então aqui a gente controla aqui os problemas levantados, solucionados por grupo. Aqui é por área. A (área) 401 levantou 19 problemas e solucionou 13. No total, nesse ano aqui, eles levantaram 58 e solucionaram 47, 81%. Aqui tem o 402, eles levantou 33 e resolveu...

2007

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

CPX - Fomento do Aprendizado

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486

JC Vicente: Você pode me dar o exemplo de um problema? Só pra ficar mais claro pra mim. João Carlos: Pode ser um problema até de vassoura. E isso aconteceu. Trabalhava numa área de pré-montagem e tinha 34 bancadas. Cada bancada tinha uma vassoura e o setor sujo pra caramba, porque ninguém limpava. Aí o grupo resolveu, conversou com o pessoal e resolveu fazer: nós vamos botar 15 vassouras – 5 vassouras aqui, 5 vassouras ali e 5 vassouras aqui com uma pasinha. E é para ela estar sempre ali. É até mais fácil para a supervisão cobrar. Quantas vassouras sobrou? Eram 34, nós usamos 15, sobrou 19. Além do que eu como supervisor, se eles resolveram colocar aqui, senão tiver ali eu vou perguntar, não foram vocês que escolheram, como é que pode, onde é que está a vassoura? Se ela tiver quebrada, por que tá quebrada? Troque. Então tu visualiza melhor e parece que não é nada. Ah, problema da vassoura, isso aí não bota em cartão, não bota em nada, isso se resolve fácil... Não é assim, não resolve fácil. Tinha 34 e o setor su

2007

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

DIV - Integração

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes

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507

487

JC Vicente: Mas por que você acha que não varriam? João Carlos: Porque não tava preparado para varrer. É a cabeça de cada um. É a conscientização.

2007

CPX - Fomento do Aprendizado

DIV - Integração ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

488

JC Deixa eu ver um que deu um problema de qualidade...um painel.. Nós tínhamos um painel que a gente colocava lá na montagem A. E aí com a mudança de sistema, ele vinha, passava pela pintura, o pessoal botava caixa em cima, sujava ele. Nós chegamos até isolar ele. Ele chegava aqui, na hora de usar tinha que repintar. O que a gente fez? A gente conversou com pessoal, que fizeram uma pré-montagem nele, e hoje a gente coloca no primeiro posto aqui. E aí, cuida todo ele pra trás.

2007

EMP - Versatilidade

CPX - Busca Abrangente de Soluçoes ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

489

JC É uma coisa de qualidade que o pessoal coloca também pra melhora, pra reduzir desperdício. Montamos uma célula de chapa de alumínio, montamos uma célula de retalho de chapa de alumínio, de retalho de aço, de retalho de tudo. Hoje não botamos pra fora nada, só os pedacinhos pequenininhos. A gente aproveita tudo de material. Uma vez, nós botava um monte de coisa fora.

2007

EMP - Ambição

EMP - Versatilidade

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

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490

JC Então é tu ir trabalhando a conscientização desse pessoal, porque aqui também nós temos que cuidar, aqui também nós temos que fazer isso, temos que fazer redução de custo, que nós dependemos daqui. Se a fábrica onde eu trabalho vai mal, eu também vou mal. Se a fábrica onde eu trabalho vai bem, e ela tem lucro, ela pode, daqui a pouquinho dividir comigo alguma coisa, nós temos aí o nosso....e se ela não der lucro o que vai acontecer comigo. Vicente: Ou não ganha nada ou vai perder... João Carlos: Vou perder o meu emprego.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

FRH - Formar

Integridade Organizacion

al

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491

JC E que as fábricas foram feitas para ganhar dinheiro. Não é instituição de caridade. Nós temos compromisso com nossa direção, nós temos compromisso com nosso cliente, nós temos compromisso com a nossa comunidade, com nosso acionista. E nós temos que ganhar dinheiro. Gira em torno disso.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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492

JC E nós temos aqui dentro, nós viemos aqui para trabalhar, obrigação, nós estamos ganhando pra isso. Não tem ninguém aqui de graça. Todos nós estamos ganhando. Bem ou mal, depende da visão de cada um, porque salário é assim. Pode tá bom pra ti, mas não tá bom pra mim. Tá bom pra mim e não tá bom pra mim. É relativo. Então tem que fazer aquele balanço quanto eu ganho e quanto eu gasto. Se eu gasto mais do que eu ganho, eu vou estar sempre com problema. Não é verdade? Tem que fazer esse balanço. Até nisso nossa supervisão ajuda o pessoal fazer, conversar até esse ponto com eles.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

493

JC Vicente: Eles participam de outras atividades fora daqui? João Carlos: Quem? Vicente: Os funcionários? João Carlos: Participa. Nós temos aí um grupo de apoio, nós temos um grupo de voluntários que fazem trabalho em creche, que fazem trabalho em comunidade. Então pessoal que dá apoio, nós temos um grupo aí que se reúne com pessoal drogado, que usa drogas, que bebe...dependentes químicos. Então, a Marcopolo tem tudo isso.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

NAV - Legitimidade Organizacion

al

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494

JC Aqui pode entrar sem saber fazer nada. Vem gente da colônia, entra aqui, a Marcopolo ensina. Nós não temos esse problema. Na produção aqui, se o cara não souber fazer nada, melhor ainda. A gente ensina, e fica bom. Aqui, no trabalho que a gente faz, é muito difícil tu pegar um profissional já formado, a não ser que ele já trabalhou na nossa concorrente. Que era nossa concorrente, a Neobus. Que trabalhou numa outra, tem a Metalbus aí. Só se trabalhou lá. Porque senão o pessoal vem aí sem saber fazer nada e a gente treina. Vê da colônia, bota aqui, vai treinando, vai ajeitando, daqui a pouquinho o cara tá bom. Inteligência todo mundo tem. É só você saber usar, pro lado positivo e aí vai embora. O elogio, ele é fundamental.

3a Fase:

1987 a 2006

FRH - Formar

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

495

JC A Marcopolo se ela lançar um carro hoje, daqui a dois, três meses tem um carro semelhante. O pessoal espera a Marcopolo lançar pra depois inventar... Ninguém lança carro antes da Marcopolo não. Aqui no Brasil, ninguém. Os caras copiam tudo, até a sombra. Tem que cuidar porque os caras

2007

NAV - Desafiar

NAV - Manipular ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

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copiam tudo.

496

JC O pessoal tenta fazer, mas primeiro, fazer que nem a Marcopolo faz aqui, que eu saiba tem algumas empresas aí que fazem. Mas hoje as empresas inventam algumas coisa diferente.

2007

Ambiente Desafiante/Estimulante ☺☺☺☺

497

JC Eu passei 17 dias e visitei 14 empresas. Das empresas que eu visitei, eu vi em todas elas o 5 S. Aí, tu vem aqui no Brasil, tem 6 S, 7S, 8 S, 10 S. Nós não conseguimos fazer o 5, pra que a gente vai inventar mais? Eu duvido a empresa que tenha o 5 S implantado e funcione 100%. Duvido. Nós aqui dentro da fábrica, não temos tudo implantado porque o 5 S abrange uma enormidade de coisa e nós não temos. Essa é uma das razões. No Japão é só 5 S. Não tem 7, 8. O que é bom pra um, ele vai lá e faz pra ele também. Visitamos fábricas, sai de uma entra na outra, é só o nome diferente. Tudo trabalha com kanban igual. Funciona assim. Aqui já é diferente, ah eu quero fazer alguma coisa diferente. Brasileiro é assim. Gosta de fazer as coisas um pouco diferente.

2007

Ambiente Desafiante/E

stimulante

FRH - Renovar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

498

JC A pior crise que a gente passou foi em 1983, não sei se já comentaram.... foi a pior crise que a gente passou. Nós na produção passamos por fases muito ruins. Eu tive um privilégio, vamos dizer assim, porque eu trabalhava na pintura a pó. E quando nós tivemos essa crise de ônibus, foi pegado o trabalho de terceiros pra gente pintar. Então nós pegamos, pra te dar um exemplo, nós pegamos cadeiras da Madecenter de Bento Gonçalves, pra classe, pra escola. Nós pintamos cadeiras pra Móveis Florence na época, aqui na Planalto. Então, nós naquela época tinha trabalho.

1983

Folga Organizacion

al

EMP - Versatilidade

NAV - Desafiar ☺☺☺☺ ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

499

JC Então, a gente passou por uma fase muito ruim, da gente chegar e ter que dispensar pessoas porque não tinha trabalho.... eu fiz isso, de pedi na reunião quando ia conversar com o pessoal, quem é que tinha um pai que morava lá fora, um irmão que morava lá fora, que dava pro cara sair daqui e ir pra lá, porque era uma fase, e nós ia

3a Fase:

1987 a 200

DIV - Fragmentaçã

o

EMP - Julgamento

FRH - Reter ���� ���� ����

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passar por isso. E a Marcopolo deu a volta por cima 6

500

JC Nós temos uma direção muito competente. Nossa direção, cara, é muito competente. E ela confia muito nas pessoas. E nós saímos dessa crise por causa disso.

3a Fase:

1987 a 2006

DIV - Integração

Integridade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

501

JC E foi lançado o Paradiso e o Viaggio, aí explodiu. Aí voltamos a vender, e a casa cheia. Aí tivemos que parar de fazer terceirização de pintura.

1984

EMP - Versatilidade

EMP - Ambição

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

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502

JC Logo que eu saí, em 1992/3, teve uma turbulência grande e depois, dali pra cá, a Marcopolo sempre se manteve.

1992

NAV - Negociar ����

503

JC Agora, graças a Deus, estamos bem, muito bem. Vicente: Apesar do dólar mais... João Carlos: Mas, se trabalha um pouco mais e se compensa. A Marcopolo fez um trabalho aí que é importante, pra manter a casa cheia. E hoje nós temos mais o mercado interno também. Trabalhamos mais com o mercado interno do que a própria exportação.

2007

Ambiente Desafiante/E

stimulante

NAV - Negociar ☺☺☺☺ ����

504

JC Vicente: Parece que esse ano... eu conversei com os diretores... parece que o mercado tá bom, muito bom.... Teve um problema no início do ano aqui, de fornecimento... João Carlos: Foi janeiro....mas janeiro normalmente é assim. A Marcopolo, em todos os anos.. em janeiro é falta de chassi, porque as montadoras não tem mais estoque. Então é falta de chassi e a gente sabe disso. Quem trabalha aqui há anos, sabe que em janeiro e fevereiro a coisa é meio complicada.

2007

NAV - Consentir ����

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JC Vicente: Teve uma greve também no início do ano. Uma paralisação... João Carlos: Ficou parado uns dias aí. Teve problema em uma outra empresa e eles resolveram fazer aqui também na Marcopolo. Mas o nosso pessoal aqui não deu problema... O nosso povo aqui é bastante consciente. A Marcopolo, eu acho que está num nível muito bom de conscientização do que se pode melhorar. Existe espaço para melhorar e muito, pra gente melhorar bastante. Existe bastante espaço pra isso.

2007

NAV - Consentir

DIV - Integração

EMP - Ambição ���� ���� ☺☺☺☺

506

JC João Carlos: Isso aqui, os grupos de SUMAN de 2002, que eu te falei, até agora. Vicente: Desde 2002, 5 anos e meio, 56 grupos, 17592 problemas levantados, 16872 problemas solucionados e 72 pendentes. Você tem algum problema pendente aí, pra eu ter uma idéia? João Carlos: Fica nos quadros... tá nos quadros. Vicente: Ah, fica nos quadros. João Carlos: Fica nos quadros os pendentes. Pendentes é aquilo que eles colocaram e eles estão trabalhando em cima. Tem um problema lá, eles colocaram lá e estão trabalhando para resolver. Então isso sempre vai ter.

3a Fase:

1987 a 2006

CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺☺☺☺

507

JC Isso aqui é quem fez a avaliação. Em maio, com os horários, que acompanhou. Essa aqui é a avaliação, quem ganhou, quem ficou em primeiro lugar, segundo, terceiro, quarto, quinto até o décimo. Aqui é o outro setor. E aqui é... estamos divididos em três áreas aqui nessa unidade

2007

CPX - Resolução de Problemas Sistemática ☺☺☺☺

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JC A integração que a gente faz. Aqui, a pesquisa que a gente faz, com as perguntas. Vicente: Com todo mundo? João Carlos: Com quem faz a integração

2007

CPX - Resolução

de Problemas Sistemática

CPX - Fomento do Aprendizado ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

509

JC Isso aqui nós mandamos pra cada pessoa que fez aniversário. A gente manda uma mensagem e dá um presentinho, uma lembrancinha... a pessoa que participa do SUMAN. A gente manda uma mensagem...

2007

DIV - Integração ☺☺☺☺

510

JC Vicente: Mas todo mundo participa, não? João Carlos: Não, cada setor tem um grupo de 5 a 7 pessoas. Vicente: Isso, percentualmente são quantos? João Carlos: Ah, tem área que é 30 pessoas, tem área que é 80 pessoas. Vicente: Mas percentualmente da área? João Carlos: Não sei... mas os grupos que a gente faz, são de 5 a 7 pessoas. Normalmente é 7. Então, cada setor tem um grupo de dia e um grupo de noite. E cada grupo, cada reunião que eles fazem, eles podem levar 2 convidados por reunião. Então, daqui a pouquinho, passou todo mundo pelo SUMAN. Correto? Hoje nós temos 86 grupos ao todo. Vicente: O convidado geralmente é alguém do próprio setor que não tá dentro. João Carlos: Que não está participando do grupo.

2007

FRH - Formar

Integridade Organizacion

al

CPX - Fomento do Aprendizado

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511

JC Vicente: Às vezes, o cara não está participando porque não tem espaço... João Carlos: Não participa porque já tem um grupo fechado. Já aconteceu da gente convidar as pessoas a participar do grupo, e de uma área de 45 pessoas, 32 querer participar. Aí tu reúne eles, e eles vão escolher as 7 pessoas que vão participar do grupo. Aí a gente reúne, e eles escolhem. Aí, um diz - eu quero participar. E o outro não, fulano vai participar, ciclano vai participar e a gente vai colocar a relação. Vicente: Quem não participar fica pior assim, em termos de... João Carlos: Não, porque ele sabe que é só 7. E isso não é de agora, é de tempos. E a pessoa sabe que daqui a

2007

FRH - Formar

Integridade Organizacion

al

CPX - Fomento do Aprendizado

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pouquinho ele pode participar. E eles fazem rodízio também. Um cara fica 4 meses, 3 meses, 6 meses, aí ele sai e vem outro para participar.

512

JC Isso eles fazem bastante....é dado um botton com os amigos do SUMAN, as pessoas que participam que ajudam os grupos, e participam assim, sem ser voluntário, então aqui nós...o botton, e tem o supervisor entregando, que o SUMAN está entregando pra ele. Daí ele bota um botton de Amigo do SUMAN pela participação que ele eu, ajudou.

2007

FRH - Renovar

DIV - Integração

Integridade Organizacion

al

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513

JC Isso aqui é visita. Nesse ano, que 536 pessoas já vieram. Isso aqui é as atividades... Vicente: Visitas de que, de fora? João Carlos: Visitas externas. Essa aqui é a visita de maio, e 536 pessoas até agora... Vicente: Como é que são essas visitas? Você faz uma apresentação? João Carlos: Se tu quiser uma palestra sobre o sistema, mostramos como é que funciona o sistema aqui, e depois levamos eles para a fábrica, para eles ver como é que funciona.

2007

NAV - Negociar

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺ ☺☺☺☺

514

JC Vicente: Todo mundo quer conhecer então isso aqui? João Carlos: Todo mundo quer conhecer. Nós estamos terminando esse mês. Amanha tem visita e sábado também tem uma visita. Até o clube de mães quer visitar... E esse aqui é pro mês que vem. Dia 3 tem... Vicente: O que vocês acham dessas visitas? Vocês ficam orgulhosos de ter gente querendo ver? João Carlos: Isso é bom pro nosso pessoal. O pessoal gosta, porque vindo gente vendo o trabalho deles, que eles estão fazendo. Isso motiva. Isso é bom, pra tu ver que até nisso é bom, porque dá uma satisfação pro nosso pessoal também.

2007

NAV - Legitimidade Organizacion

al

FRH - Renovar

Integridade Organizacion

al

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JC E a gente convida todos os líderes de SUMAN, e vem todos eles acompanhar também essas visitas. A gente não pega supervior, não pega... a gente pega o pessoal do grupo. E isso motiva eles. Eles que levam pra baixo as informações. Então tem a hora de perguntas e respostas, e eles ficam lá e eles ajudam a responder. Isso é um orgulho que tu não faz idéia.

2007

DIV - Integração

FRH - Renovar

NAV - Captura de

Valor

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516

JC Eu trabalhei, no tempo que tive fora, eu dei assessoria. Eu dei assessoria a várias empresas. Várias empresas grandes. Aí depois eu cansei. Depois me convidaram a vir trabalhar.. Vicente: Aí você falava que passou da Marcopolo e participou disso. Pela experiência que você contava... João Carlos: Não precisava nem falar. O pessoal deu... Eu nunca fui me oferecer para trabalhar em uma empresa, pra dar assessoria. Fiz muita coisa. Sempre fui chamado. De um cara que tu vai fazer um trabalho, ele fala...olha, tem um cara fazendo um trabalho lá na fábrica lá. Tá bom e aí, é assim que funciona.

3a Fase:

1987 a 2006

NAV - Legitimidade Organizacional ☺☺☺☺

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8. ANEXOS

8.1. PIB, Receita Líquida e Lucro Líquido da Marcopolo (1981 – 2006)

Tabela 8.1 – PIB, Receita Líquida e Lucro Líquido da Marcopolo (1981 – 2006)

Ano Moeda PIB Receita Líquida Lucro Líquido

1981 Cruzeiros 24,015,788,000,000 9,744,675,000 663,782,0001982 Cruzeiros 48,680,718,000,000 12,052,874,000 -512,779,0001983 Cruzeiros 109,386,334,000,000 17,371,153,000 -4,711,763,0001984 Cruzeiros 347,886,015,000,000 62,255,156,000 4,360,926,0001985 Cruzeiros 1,307,718,616,000,000 289,761,318,000 39,965,521,0001986 Cruzados 3,502,630,801,000 794,541,000 126,206,0001987 Cruzados 11,103,965,772,000 3,400,732,000 938,735,0001988 Cruzados Novos 80,782,983,199 90,290,553 11,834,6431989 Cruzados Novos 1,170,387,103,582 1,496,685,000 238,257,0001990 Cruzeiros 31,759,184,999,875 20,591,081,000 1,092,233,0001991 Cruzeiros 165,786,498,000,000 128,274,969,000 16,972,874,0001992 Cruzeiros 1,762,636,611,000,000 3,013,483,000,000 258,806,000,0001993 Cruzeiros Reais 38,767,064,000,000 68,739,596,000 5,281,742,0001994 Real 349,204,679,000 192,060,000 -1,978,0001995 Real 705,640,892,092 290,772,000 11,590,0001996 Real 843,965,631,319 293,263,000 22,130,0001997 Real 939,146,616,912 347,032,000 28,807,0001998 Real 979,275,748,883 443,666,000 30,134,0001999 Real 1,064,999,711,799 464,626,000 10,078,0002000 Real 1,179,482,000,000 833,517,000 17,204,0002001 Real 1,302,136,000,000 1,056,557,000 40,139,0002002 Real 1,477,822,000,000 1,481,607,000 53,809,0002003 Real 1,699,948,000,000 1,288,523,000 80,936,0002004 Real 1,941,498,000,000 1,605,445,000 85,022,0002005 Real 2,147,943,788,000 1,709,078,000 82,401,0002006 Real 2,322,818,376,000 1,750,285,000 120,841,000

Marcopolo

Fonte: Relatórios Anuais de 1983 a 2006, Grigorovski (2004) e Banco Central

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8.2. Produção de Veículos no Brasil de 1957 a 2005

Tabela 8.2 - Produção de Veículos no Brasil de 1957 a 2005

ANO AUTOMÓVEIS COMERCIAIS LEVES CAMINHÕES ÔNIBUS TOTAL1957 1,166 10,871 16,259 2,246 30,5421958 3,831 26,480 26,998 3,674 60,9831959 14,495 41,959 36,657 3,003 96,1141960 42,619 48,735 37,810 3,877 133,0411961 60,205 54,886 26,891 3,602 145,5841962 83,876 67,648 36,174 3,496 191,1941963 94,764 55,397 21,556 2,474 174,1911964 104,710 54,503 21,790 2,704 183,7071965 113,772 46,456 21,828 3,131 185,1871966 128,821 60,735 31,098 3,955 224,6091967 139,260 54,421 27,141 4,665 225,4871968 165,045 66,984 40,642 7,044 279,7151969 244,379 63,073 40,569 5,679 353,7001970 306,915 66,728 38,388 4,058 416,0891971 399,863 73,840 38,868 4,393 516,9641972 471,055 92,329 53,557 5,230 622,1711973 564,002 110,810 69,202 6,362 750,3761974 691,310 126,935 79,413 8,262 905,9201975 712,526 128,895 78,688 10,126 930,2351976 765,291 125,370 83,891 12,059 986,6111977 732,360 73,637 101,368 13,828 921,1931978 871,170 92,235 86,269 14,340 1,064,0141979 912,018 110,065 93,051 12,832 1,127,9661980 933,152 115,540 102,017 14,465 1,165,1741981 585,834 105,264 76,350 13,393 780,8411982 672,589 130,163 46,698 9,820 859,2701983 748,371 106,390 35,487 6,206 896,4541984 679,386 129,429 48,497 7,340 864,6521985 759,141 134,411 64,769 8,385 966,7061986 815,152 145,418 84,544 11,218 1,056,3321987 683,380 148,847 74,205 13,639 920,0711988 782,411 196,108 71,810 18,427 1,068,7561989 730,992 205,008 62,699 14,553 1,013,2521990 663,084 184,754 51,597 15,031 914,4661991 705,303 182,609 49,295 23,012 960,2191992 815,959 201,591 32,025 24,286 1,073,8611993 1,100,278 224,387 47,876 18,894 1,391,4351994 1,248,773 251,044 64,137 17,435 1,581,3891995 1,297,467 239,399 70,495 21,647 1,629,0081996 1,458,576 279,697 48,712 17,343 1,804,3281997 1,677,858 306,545 63,744 21,556 2,069,7031998 1,254,016 247,044 63,773 21,458 1,586,2911999 1,109,509 176,994 55,277 14,934 1,356,7142000 1,361,721 235,161 71,686 22,672 1,691,2402001 1,501,586 214,936 77,431 23,163 1,817,1162002 1,520,285 179,861 68,558 22,826 1,791,5302003 1,505,139 216,702 78,960 26,990 1,827,7912004 1,862,780 318,351 107,338 28,758 2,317,2272005 2,009,494 365,648 117,892 35,266 2,528,300

Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006

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8.3. Classificação por Tipo de Carroceria e/ou Serviço

• URBANO

o Ônibus de uso exclusivo no transporte público dentro do município.

o Possui: duas ou mais portas para embarque/desembarque;

o Corredor interno mais largo e salão de passageiros;

o Bancos duplos e/ou individuais sem reclinação, rígidos ou estofados;

De acordo com o chassi sobre o qual é encarroçado, pode ser:

o De piso baixo na região das portas (low entry) ou todo ele com piso

baixo (low floor). Também pode ter sistema de ajoelhamento

(knelling), o qual sob comando do motorista, rebaixa alguns

centímetros à frente (lado direito) do ônibus, facilitando o

embarque/desembarque.

o Pode ter como opcional, ar condicionado e outros

acessórios/equipamentos.

o O ônibus urbano pode ser também, Midi, Mini , Micro, Articulado ou

Bi-articulado.

• INTERMUNICIPAL

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o Ônibus para transporte público usado em linhas que unem dois ou

mais municípios em regiões metropolitanas e tem tarifa diferenciada

do ônibus urbano. Pode ser usado para realizar viagens entre

municípios vizinhos ou entre municípios dentro do mesmo Estado.

o Possui: Uma porta de embarque/desembarque;

o Poltronas estofadas com um ou mais estágios de reclinação, sem

conter necessariamente, os mesmos acessórios que o ônibus

Rodoviário;

• RODOVIÁRIO

o Ônibus para transporte intermunicipal, interestadual, internacional,

turismo ou fretamento;

o Possui: Uma ou duas portas; (poderá ter também uma porta

exclusiva para o motorista)

o Poltronas com vários estágios de reclinação, inclusive leito;

Opcionalmente, uma série de acessórios tais como: T.V. vídeo, DVD,

geladeira, ar condicionado, etc.

o Altura diferenciada, de acordo com o tipo de serviço que oferece; Um

ou dois pisos (double deck)

o Alguns modelos de chassis têm: ABS, TELMA, etc.

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• MICRO

o Ônibus com capacidade para até vinte passageiros que pode ser

construído para uso urbano, intermunicipal ou rodoviário;

o Possui: Uma ou duas portas;

o Poltronas simples ou duplas, em material rígido ou estofado, com ou

sem reclinação;

o Acessórios diversos tais como nos ônibus Rodoviários.

A FABUS estará pleiteando, em breve, junto ao CONTRAN, uma nova

classificação para os “Microônibus”, subdividindo-os em “micro ônibus” e

“mini ônibus”.

• MIDI

o Ônibus maior que o micro ônibus e o mini ônibus e menor que um

urbano convencional.

o Opcionalmente pode ter poltronas, acessórios e equipamentos iguais

aos urbanos ou aos Rodoviários, conforme o tipo de serviço que

oferece.

• MINI

o Ônibus com capacidade acima de 10, até 20 passageiros, construído

sobre chassis menores, que tem melhor performance no trânsito.

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o Possui: Opcionalmente, características de urbano ou luxo e conforto

conforme o ônibus Rodoviário ou o Intermunicipal, podendo conter

acessórios diversos.

8.4. Encarroçadoras fundadoras da Fabus

• CIFERAL COMERCIO E INDUSTRIA S/A, representada pelo sr. Fritz

Weissmann;

• CIA. AMERICANA INDUSTRIAL DE ÔNIBUS (CAIO SUL), representada

pelo sr.Luiz Massa;

• CIA. AUTOCARROCERIAS CERMAVA, representada pelo sr. Luiz Massa;

• CARBRASA CARROCERIAS BRASILEIRAS S/A, representada pelo sr. Gil

de Souza Ramos:

• CARROCERIAS VIEIRA COM° E INDª S/A, representada pelo sr. José

D'Abreu Campanario;

• CIRB S/A COM° E INDª, representada pelo sr. Luiz Carlos Capistrano;

• FÁBRICA DE CARROCERIAS PILARES LTDA, representada pelo sr.

Antonio Augusto Pereira;

• FÁBRICA DE CARROCERIAS METROPOLITANA S/A (posteriormente

CAIO RIO ), representada pelo sr. João da Silva e

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• GRASSI S/A INDª E COM°, representada pelo sr. Onaldo dos Santos

Galvão.

Fonte: Fabus

8.5. Lista dos Ex-Presidentes da Fabus (em ordem cronológica)

Tabela 8.3 - Lista dos Ex-Presidentes da Fabus (em ordem cronológica)

1°- Sr. Fritz Weissmann (CIFERAL)

2°- Sr. Cezar Orlando Salles ( CIFERAL)

3°- Sr. Luiz Massa ( CAIO)

4°- Sr. Alberto Caruso (MARCOPOLO)

5°- Sr. Cláudio Regina (CAIO )

6°- Sr. José A. F. Martins

(MARCOPOLO)

7°- Sr. Cláudio Regina (CAIO)

8°- Sr. Cláudio R. Nielson (BU SSCAR)

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8.6. EVOLUÇÃO DO MARKET SHARE DAS ENCARROÇADORAS POR SEGMENTO DE ÔNIBUS (1971-2006)

Tabela 8.4 – Evolução do Market Share das encarroçadoras por segmento de ônibus (1971 – 2006)

Segmento Encarroçadora 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Urbanos Marcopolo 16.1% 20.9% 23.3% 23.9% 19.6% 22.1% 22.1% 16.9% 16.7% 17.3% 18.9% 17.7% 20.7% 21.8% 21.1% 14.0% 13.8% 15.4% 14.7% 16.1% 18.5% 20.2% 22.0% 20.8% 19.3% 24.3% 28.8% 32.1% 39.1% 31.8% 35.7% 30.6% 27.6% 10.6% 10.6% 6.8%

Caio Induscar 38.8% 32.3% 32.0% 30.6% 33.1% 33.5% 33.3% 33.4% 33.0% 37.9% 41.8% 45.6% 41.0% 51.1% 54.0% 53.5% 44.5% 43.5% 38.4% 31.0% 32.3% 33.6% 31.1% 34.1% 38.5% 40.2% 35.1% 29.1% 11.4% 12.6% 0.0% 33.2% 43.5% 50.2% 40.0% 38.6%

Ciferal 6.9% 6.5% 6.3% 8.5% 11.3% 9.3% 7.7% 12.7% 14.6% 11.6% 8.0% 0.2% 0.0% 6.7% 15.1% 16.6% 15.9% 14.5% 19.0% 18.4% 15.3% 13.9% 21.6% 23.7% 17.8% 16.8% 15.9% 14.7% 13.3% 17.7% 22.3% 17.9% 18.6% 28.4% 22.9% 24.1%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.9% 5.7% 8.8% 9.8% 9.7% 14.1% 16.2% 13.7% 17.6% 15.3% 16.8% 18.5% 28.8% 31.2% 32.7% 10.7% 4.0% 4.5% 7.0% 11.2%

Comil 1.4% 1.1% 1.5% 1.7% 2.5% 1.9% 1.7% 1.3% 1.5% 2.1% 2.4% 2.9% 4.4% 1.2% 0.0% 0.5% 1.2% 2.1% 1.4% 1.6% 1.5% 1.5% 1.7% 2.6% 2.3% 3.3% 3.4% 5.5% 7.5% 6.6% 9.2% 7.6% 6.4% 6.3% 8.6% 7.1%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 6.9% 8.9%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 4.0% 3.3%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Urbanos na Indústria

61.1% 63.5% 63.0% 58.3% 60.9% 60.5% 57.4% 63.1% 58.5% 57.9% 53.6% 59.7% 63.6% 60.3% 64.7% 53.4% 53.9% 63.5% 60.0% 60.1% 71.6% 72.7% 68.9% 67.5% 66.9% 73.2% 65.5% 67.3% 60.5% 48.8% 52.1% 55.7% 54.7% 52.7% 55.3% 51.8%

Rodoviários Marcopolo 35.4% 36.2% 39.0% 41.8% 33.5% 38.9% 37.9% 41.4% 48.1% 42.9% 43.7% 43.3% 38.1% 41.7% 48.1% 44.0% 41.6% 42.4% 44.0% 48.7% 48.4% 52.1% 54.4% 49.4% 48.5% 52.8% 50.3% 52.2% 46.8% 47.5% 57.8% 65.0% 65.0% 54.5% 44.7% 42.6%

Caio Induscar 2.4% 2.2% 2.4% 7.7% 12.3% 7.8% 8.3% 5.1% 3.1% 2.9% 1.9% 1.8% 0.7% 1.5% 0.5% 1.5% 2.0% 0.5% 1.4% 1.1% 0.6% 0.0% 0.1% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.8% 2.9% 3.7% 3.5%

Ciferal 47.2% 42.3% 40.3% 26.4% 24.5% 22.4% 22.5% 21.2% 16.0% 15.1% 13.0% 0.3% 0.0% 1.7% 1.0% 4.3% 4.1% 3.6% 3.0% 1.7% 1.2% 0.8% 1.7% 0.9% 0.3% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Busscar 9.6% 12.5% 12.7% 14.0% 17.3% 15.7% 18.5% 23.3% 24.8% 30.7% 33.6% 44.1% 53.1% 48.4% 50.3% 44.1% 40.8% 40.7% 38.0% 39.2% 40.8% 37.9% 34.4% 39.5% 39.8% 35.5% 38.4% 35.7% 39.7% 40.7% 34.4% 15.0% 9.9% 16.0% 29.9% 33.1%

Comil 5.4% 6.7% 5.6% 5.3% 6.2% 7.3% 9.5% 9.1% 7.9% 8.2% 7.7% 10.1% 7.4% 6.6% 0.0% 4.8% 7.1% 7.4% 8.4% 8.6% 8.9% 9.1% 9.5% 10.1% 11.5% 11.6% 11.4% 12.1% 13.5% 11.7% 7.9% 10.6% 13.5% 17.6% 13.2% 12.2%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.3%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% 0.1%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.5% 10.7% 9.0% 8.4% 7.2%

Part % Rodoviários na Indústria

32.6% 29.8% 29.9% 28.6% 26.3% 31.6% 33.4% 26.8% 26.9% 28.2% 28.4% 31.0% 28.8% 29.8% 28.9% 37.7% 34.8% 28.9% 32.7% 33.9% 23.6% 24.2% 27.6% 29.8% 29.6% 22.1% 26.0% 24.2% 29.1% 32.7% 30.4% 25.8% 24.7% 29.8% 26.9% 26.3%

Micros Marcopolo 45.5% 40.4% 100.0% 21.4% 42.4% 18.2% 20.0% 15.4% 30.5% 36.8% 16.8% 0.3% 16.5% 61.0% 55.8% 45.7% 47.0% 56.2% 66.4% 61.7% 73.6% 63.7% 44.9% 62.3% 47.4% 65.8% 67.3% 59.5% 56.6% 49.7% 60.4% 52.3% 55.8% 53.3% 24.7% 22.9%

Caio Induscar 54.5% 59.6% 0.0% 73.4% 52.8% 77.4% 75.9% 76.8% 69.4% 63.2% 75.7% 43.2% 44.0% 39.0% 44.2% 54.3% 53.0% 43.8% 32.7% 37.3% 25.5% 36.3% 54.9% 37.7% 52.6% 34.0% 29.2% 18.7% 18.4% 17.6% 0.0% 23.2% 25.8% 23.6% 12.4% 19.0%

Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.9% 0.9% 0.9% 0.0% 0.2% 0.0% 0.0% 0.2% 3.6% 21.8% 6.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 3.9% 2.4% 2.0%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 7.9% 19.1% 24.8% 6.9% 2.5% 5.3% 8.2% 11.8%

Comil 0.0% 0.0% 0.0% 5.2% 4.8% 4.4% 2.6% 0.3% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 11.0% 13.6% 14.9% 17.7% 15.9% 13.8% 10.5% 6.5%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 32.7% 29.8%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 9.1% 8.0%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Micros na Indústria

5.1% 5.5% 1.8% 8.5% 8.1% 5.7% 7.2% 6.3% 9.2% 8.0% 15.2% 7.1% 5.7% 8.1% 6.2% 7.8% 9.8% 5.6% 7.1% 5.7% 4.6% 2.9% 3.3% 2.4% 3.2% 3.0% 7.7% 8.1% 9.9% 18.5% 13.9% 13.1% 16.8% 15.4% 12.5% 15.2%

Mini-Ônibus Marcopolo 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 8.2% 12.8% 2.0% 0.5% 0.8% 0.0%

Caio Induscar 0.0% 0.0% 100.0% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 19.9%

Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 49.3% 60.5% 63.1% 57.9% 29.0% 18.5%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Comil 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 42.5% 26.7% 34.9% 41.5% 19.2% 10.3%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 37.9% 21.9%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 13.1% 29.4%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Mini-Ônibus na Indústria

0.0% 0.0% 0.3% 0.8% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 3.6% 5.4% 3.8% 2.1% 3.0% 2.6%

Intermunicipal Marcopolo 71.2% 62.5% 21.0% 71.5% 41.7% 0.0% 0.0% 0.0% 2.0% 0.0% 7.4% 45.9% 18.8% 43.8% 0.0% 77.6% 84.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 35.5% 55.0%

Caio Induscar 0.0% 0.0% 69.1% 0.0% 12.3% 49.1% 53.1% 11.8% 15.0% 12.9% 21.9% 11.2% 12.5% 2.2% 75.0% 22.4% 15.4% 27.4% 50.0% 100.0% 97.1% 51.9% 20.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.3% 0.0%

Ciferal 23.1% 34.4% 9.0% 28.5% 30.5% 50.9% 16.8% 17.4% 27.1% 25.4% 8.7% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 6.3% 0.0% 2.9% 48.1% 60.0% 59.1% 97.9% 11.5% 13.5% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 11.7% 0.0%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 40.9% 2.1% 52.9% 71.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 3.8% 0.0%

Comil 5.8% 3.1% 0.9% 0.0% 7.5% 0.0% 0.7% 26.3% 24.4% 36.1% 41.3% 39.8% 65.6% 47.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 20.0% 0.0% 0.0% 35.6% 15.4% 100.0% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 17.1% 22.9%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 28.2% 12.6%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 2.3% 9.5%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Intermunicipal na Indústria

1.2% 1.2% 5.0% 1.9% 2.3% 0.6% 1.6% 3.6% 5.0% 3.9% 2.0% 1.1% 1.4% 1.6% 0.1% 1.0% 0.3% 0.8% 0.1% 0.0% 0.2% 0.2% 0.1% 0.2% 0.3% 0.5% 0.3% 0.2% 0.5% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 2.4% 4.1%

Especial Marcopolo 0.0% 0.0% 0.0% 34.0% 0.0% 16.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 62.5% 0.0% 6.7% 0.0% 0.0% 0.0% 21.6% 0.0% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Caio Induscar 0.0% 0.0% 0.0% 64.6% 100.0% 82.1% 93.5% 14.8% 88.4% 84.0% 0.0% 0.0% 0.0% 13.3% 0.0% 100.0% 100.0% 5.2% 43.8% 0.0% 100.0% 100.0% 66.7% 28.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 80.0% 0.0% 0.0% 0.0% 44.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 71.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Comil 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.7% 4.3% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Especial na Indústria

0.0% 0.0% 0.0% 1.9% 2.3% 1.6% 0.5% 0.3% 0.4% 0.8% 0.0% 0.1% 0.0% 0.3% 0.0% 0.1% 0.3% 1.0% 0.1% 0.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Trolebus Marcopolo 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.5% 14.8% 77.6% 100.0% 0.0% 100.0% 0.0% 46.5% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 100.0% 100.0% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Caio Induscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.1% 22.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Ciferal 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 98.5% 84.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Busscar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Comil 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

San Marino / Neobus 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Mascarello 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Irizar 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Part % Trolebus na Indústria

0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.1% 0.7% 1.0% 0.4% 0.0% 0.0% 0.0% 0.9% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.2% 0.6% 0.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0%

Notas:Os dados da Marcopolo incluem Carrocerias Elizário (comprada em 1971 e encerrada em 1986) e Marcopolo Minas (encerrada);Caio Inuduscar inclui Caio Norte e Caio Rio (ambas encerradas);Ciferal inclui Reciferal (encerrada)

Fonte: Fabus

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8.7. Exportação de Autoveículos por Segmento pelo Brasil (1961 – 2005)

Tabela 8.5 – Exportação de Autoveículos por Segmento pelo Brasil (1961 – 2005)

ANO AUTOMÓVEISCOMERCIAIS

LEVESCAMINHÕES ÔNIBUS TOTAL

1961 - - - 380 3801962 - - - 170 1701963 - - - - -1964 - - - 57 571965 - - 9 120 1291966 - - 3 207 2101967 - - 3 32 351968 - - 7 2 91969 3 - 4 18 251970 52 201 122 34 4091971 656 600 364 32 1,6521972 6,611 2,849 3,136 932 13,5281973 13,891 4,662 5,754 199 24,5061974 47,591 9,275 6,896 916 64,6781975 52,629 11,167 7,968 1,337 73,1011976 62,079 8,281 9,032 1,015 80,4071977 56,636 3,332 8,347 1,711 70,0261978 77,388 7,023 10,129 1,632 96,1721979 76,486 12,874 14,270 2,018 105,6481980 115,482 20,235 18,977 2,391 157,0851981 157,228 32,661 18,662 4,135 212,6861982 120,305 46,581 5,400 1,065 173,3511983 132,804 31,903 3,660 307 168,6741984 151,962 35,476 7,024 2,053 196,5151985 160,626 36,631 8,945 1,438 207,6401986 138,241 31,655 11,769 1,614 183,2791987 279,530 44,570 17,342 4,113 345,5551988 226,360 72,654 15,948 5,514 320,4761989 164,885 68,853 15,429 4,553 253,7201990 120,377 53,579 8,371 4,984 187,3111991 127,153 53,282 6,416 6,297 193,1481992 243,126 80,683 8,915 9,176 341,9001993 249,607 62,913 11,049 7,953 331,5221994 274,815 79,996 14,532 8,284 377,6271995 189,721 58,489 8,700 6,134 263,0441996 211,565 70,951 8,545 5,212 296,2731997 305,647 91,712 12,438 7,075 416,8721998 291,788 87,743 14,550 6,163 400,2441999 204,024 57,789 8,498 4,488 274,7992000 283,449 72,529 9,293 6,028 371,2992001 321,490 55,700 6,762 6,902 390,8542002 369,925 42,250 5,475 6,765 424,4152003 440,957 72,883 12,820 9,320 535,9802004 603,052 117,138 25,650 12,947 758,7872005 684,259 155,577 38,300 18,943 897,079

Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006

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8.8. Exportação de Carrocerias de Ônibus por Encarroçadora e Categoria (1996 – 2006)

Tabela 8.6 – Exportação de Carrocerias de Ônibus por Encarroçadora e Categoria (1996 – 2006)

Ônibus Exportados AnoEncarroçadora Categoria 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 TotalMARCOPOLO Rodoviário 436 776 907 714 1,612 1,755 1,866 1,676 1,921 1,099 1,475 14,237

Urbano 285 515 681 555 903 1,648 2,126 2,023 2,503 1,166 33 12,438Micro 101 97 121 180 405 431 3 377 579 374 321 2,989Mini 395 12 3 3 413Intermunicipal 54 78 132

MARCOPOLO Total 822 1,388 1,709 1,449 2,920 3,834 4,390 4,088 5,006 2,696 1,907 30,209C A I O Rodoviário 16 62 36 59 173

Urbano 562 805 289 228 34 278 283 157 1,252 350 4,238Micro 38 172 64 7 36 202 263 181 312 1,275Mini 51 53 104Intermunicipal

C A I O Total 600 977 353 235 70 329 501 482 1,522 721 5,790CIFERAL Rodoviário 2 2

Urbano 71 261 270 7 283 181 166 182 265 303 1,989Micro 1 131 2 28 50 212Mini 56 12 33 2 103Intermunicipal 2 1 61 64

CIFERAL Total 75 263 401 7 339 183 166 194 387 355 2,370BUSSCAR Rodoviário 472 677 600 482 972 727 260 316 704 893 1,216 7,319

Urbano 96 169 139 158 467 636 300 302 282 300 287 3,136Micro 10 161 134 61 103 171 290 930Mini 71 71Intermunicipal 4 2 20 26

BUSSCAR Total 572 848 739 650 1,600 1,497 631 679 1,089 1,384 1,793 11,482COMIL Rodoviário 49 87 188 126 124 38 88 186 502 311 413 2,112

Urbano 1 51 17 14 106 124 173 187 190 649 73 1,585Micro 12 5 10 126 106 73 67 399Mini 98 1 1 2 102Intermunicipal 2 31 52 85

COMIL Total 50 138 205 154 235 172 359 499 799 1,065 607 4,283IRIZAR Rodoviário 323 410 426 395 284 1,838

UrbanoMicroMiniIntermunicipal

IRIZAR Total 323 410 426 395 284 1,838MASCARELLO Rodoviário

Urbano 77 35 112Micro 90 135 225MiniIntermunicipal 13 13

MASCARELLO Total 167 183 350NEOBUS Rodoviário 47 47

Urbano 116 30 146Micro 138 118 256MiniIntermunicipal 42 61 103

NEOBUS Total 296 256 552 Total 2,119 3,614 3,407 2,488 4,832 5,842 6,215 6,343 7,996 7,912 6,106 56,874

Fonte: Fabus

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8.9. EXPORTAÇÃO DE AUTOVEÍCULOS BRASILEIROS POR PAÍS DE DESTINO –

CONTINENTES: AMÉRICA DO SUL, AMÉRICA CENTRAL, AMÉRICA DO NORTE, EUROPA, ÁFRICA, ÁSIA E OCEANIA (2003 – 2004)

Tabela 8.7 – Exportação de Autoveículos Brasileiros por País de Destino – Continentes: América do Sul, América Central, América do Norte, Europa, África, Ásia

e Oceania (2003 – 2004) AUTOMÓVEIS COMERCIAIS LEVES CAMINHÕES ÔNIBUS TOTAL

PAÍS 2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004Argentina 84,816 140,553 20,399 39,130 5,352 12,448 782 1,935 111,349 194,066Bolívia 130 180 11 12 41 156 9 12 191 360Chile 16,331 24,582 6,912 7,067 2,554 4,632 2,308 3,170 28,105 39,451Colômbia 11,596 18,163 7 154 262 435 1,003 1,744 12,868 20,496Equador 15,195 17,688 726 1,137 193 276 631 1,025 16,745 20,126Guiana - - - - - 1 - - - 1Paraguai 190 771 676 1,076 25 68 2 12 893 1,927Peru 1,241 2,105 4 96 410 676 290 450 1,945 3,327Uruguai 1,239 3,967 400 1,694 45 381 2 15 1,686 6,057Venezuela 5,717 24,293 3 169 78 739 24 260 5,822 25,461Total 136,455 232,302 29,138 50,535 8,960 19,812 5,051 8,623 179,604 311,272Aruba 430 51 150 - - - - 7 580 58Bahamas 1 15 - - - - 2 2 3 17Barbados - - - - - - 26 5 26 5Costa Rica 1,201 1,308 277 185 5 17 140 430 1,623 1,940Cuba 42 2 - - 8 69 133 43 183 114Curaçao 195 65 49 - - - - 2 244 67El Salvador 841 746 211 10 12 11 88 91 1,152 858Guadalupe - - - 16 - - - - - 16Guatemala 3,696 5,015 509 473 43 56 6 28 4,254 5,572Haiti 28 32 13 17 - - - - 41 49Honduras 235 498 54 10 2 3 13 26 304 537Ilhas Cayman 4 2 1 1 - - - - 5 3Ilhas Virgens - - - - - - - 11 - 11Jamaica 26 - 10 - - - - 3 36 3Martinica - - - 15 - - - - - 15Nicarágua 397 365 98 - 8 13 4 18 507 396Panamá 183 873 41 146 - 12 6 3 230 1,034Porto Rico 94 66 1 - - - - - 95 66República Dominicana 56 156 23 119 332 8 738 540Saint Barth - - 10 - - - - - 10 -Trinidad e Tobago - - - - 1 - 1 -Diversos Países 12 2,027 39 56 - 2 861 6,289Total 8,510 13,499 1,492 3,056 140 356 751 679 10,893 17,590Canadá 9,572 5,270 - - - - - - 9,572 5,270Estados Unidos 27,929 13,913 1 - 1 - - - 27,931 13,913México 165,418 176,708 24,791 41,385 - 375 246 316 190,455 218,784Total 202,919 195,891 24,792 41,385 1 375 246 316 227,958 237,967Alemanha 2,029 2,724 574 557 28 - - 3 2,631 3,284Áustria 45 - 122 203 - - - - 167 203Bélgica - - 31 35 4 - - - 35 35Bulgária - 25 - - - - - - - 25Cazaquistão - 99 - - - - - - - 99Eslováquia - - - 108 21 - - - 21 108Espanha 1 - - 178 103 - 165 31 269 209Estônia - - - 34 - - - - - 34Finlândia - - - 1 - - - - - 1França 17 19 269 146 10 - 17 - 313 165Grécia - - 428 800 - - - - 428 800Holanda 70 - 98 87 17 - - - 185 87Hungria 2 - 1 68 - - 1 - 4 68Inglaterra - - 88 28 - - - - 88 28Itália 750 109 3,556 3,252 87 - 22 - 4,415 3,361Malta 53 - - - - - - - 53 -Noruega - - - 30 - - 2 - 2 30Portugal 7 - 705 473 - - - - 712 473República Tcheca - - - - 9 - - - 9 -Romênia - - 1 1 - - - - 1 1Rússia - 1,609 - - 38 360 43 - 81 1,969Sérvia e Montenegro - 1 - - - - - 1Suécia - - - 734 10 1 - - 10 735Suíça 15 - - 4 - - - - 15 4Ucrânia - 334 - - - - - - - 334Total 2,989 4,919 5,873 6,740 327 361 250 34 9,439 12,054

Am

éric

a d

o S

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Am

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a C

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do

No

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Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006

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AUTOMÓVEIS COMERCIAIS LEVES CAMINHÕES ÔNIBUS TOTALPAÍS 2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004

África do Sul 13,412 59,108 5,989 9,970 845 666 223 342 20,469 70,086Angola 43 78 1 21 183 496 117 73 344 668Argélia - 8,712 - 93 - - 69 - 69 8,805Camarões - 4 - 2 - - - 20 - 26Congo - 20 - 10 - - 5 - 5 30Costa do Marfim - 73 - 11 39 1 - - 39 85Egito 6,355 3,083 - - 69 270 697 926 7,121 4,279Etiópia 20 20 - - - 10 33 59 53 89Gabão - 50 - 28 - - - - - 78Gâmbia - 11 - - - - - - - 11Gana - 265 - - - - 15 7 15 272Líbia 1,32 8 1 - - - 4 - 1,325 8Marrocos 110 5,551 4 136 72 148 68 87 254 5,922Moçambique - - - - - - - 1 - 1Nigéria - 447 - - 185 137 273 148 458 732Senegal - 36 - - - - - - - 36Sudão - 12 - 6 - - - - - 18Tunísia 1,63 1,988 - - 1 53 92 22 1,723 2,063Uganda - - - - - 2 - - - 2Zimbábue - - - - - - - 4 - 4Total 22,890 79,466 5,995 10,277 1,394 1,783 1,596 1,689 31,875 93,215Arábia Saudita - 2 - 1 95 180 300 276 395 459Azerbaijão - - 1 5 - - - - 1 5Barein - - - - - - 35 - 35 -China 57,507 65,192 2,616 - 7 458 1 36 60,131 65,686Cingapura - - - - 1 63 - 24 1 87Coréia do Sul - - - - 1,741 1,090 - - 1,741 1,090Emirados Árabes Unidos - - 10 235 64 392 90 112 164 739Filipinas 1 - 1 - - - 14 - 16 -Hong Kong - - - - 3 10 12 - 15 10Índia 8,592 7,321 - - - - - 2 8,592 7,323Indonésia - - - - - 30 378 502 378 532Irã - 2,580 - - - 447 24 - 24 3,027Líbano 172 701 25 - - - - - 197 701Japão - 2 8 30 - - - - 8 32Jordânia 50 70 - - - - 193 218 243 288Kuweit - - - - - - 44 36 44 36Malásia - - - - - - 156 84 156 84Omã - - - - - - 23 - 23 -Síria 190 684 1,358 1,186 - 150 5 5 1,553 2,025Tailândia - - - - - - 2 - 2 -Taiwan - - - 21 - 1 - - - 22Turquia - - 1 1,798 - 3 - - 1 1,801Vietnã - - - - - - 63 224 63 224Diversos Países 682 423 - - - 6 - - 682 429Total 67,194 76,975 4,020 3,276 1,911 2,830 1,340 1,519 74,465 84,600Austrália - - 1,573 1,869 61 117 67 70 1,701 2,056Nova Zelândia - - - - 26 16 - - 26 16Oceania Francesa - - - - - - 19 17 19 17Taiti - - - - - - - - - -Total - - 1,573 1,869 87 133 86 87 1,746 2,089Total Geral 440,957 603,052 72,883 117,138 12,82 25,65 9,32 12,947 535,98 758,787

Áfr

ica

Ási

aO

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Fonte: ANFAVEA - Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2006

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8.10. Diretoria da Marcopolo no período de 1949 a 1998

1949 – 1951

• Direção Geral

� Américo C. Cerqueira

� Arnoldo Fabian

� Arno E. Cornel

� Arno Steffen

� Doracy Nicola

� Dorval Nicola

� Jacob Acker

� Nelson J. Nicola

� Paulo Bellini

1953 – 1964

• Direção Geral

� Dorval Nicola

� Fiorindo Sartori

� Paulo Bellini

1964 – 1968

• Diretor Gerente - Dorval Nicola

• Diretor Gerente - Paulo Bellini

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• Diretor Técnico – Fiorindo Sartori

• Diretor Industrial – José Wilson T. Costa

1969

• Diretor Presidente - Paulo Bellini

• Diretores

� Fiorindo Sartori

� José Wilson T. Costa

1970 – 1974

• Diretor Presidente - Paulo Bellini

• Diretores

� Fiorindo Sartori

� José Wilson T. Costa

� José A. F. Martins

� Valter G. Pinto

1975 – 1976

• Diretor Presidente - Paulo Bellini

• Diretores

� Fiorindo Sartori

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� José A. F. Martins

� Valter G. Pinto

� Raul Tessari

1977 – 1980

• Diretor Presidente - Paulo Bellini

• Diretores

� José A. F. Martins

� Valter G. Pinto

� Raul Tessari

1980 – 1995

• Diretor Presidente - Paulo Bellini

• Diretor Superintendente - José A. F. Martins

• Diretores

� Valter G. Pinto

� Raul Tessari

• Diretor Adm. Financeiro (a partir de 01.08.95) – Carlos Zignani

1996 – 1998

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

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• Presidente - Paulo Bellini

• Conselheiros

� Dílson S. da Fonseca

� Nestor A. Perottoni

DIRETORIA CORPORATIVA

• Presidente - Paulo Bellini

• Vice-Presidente - José A. F. Martins

• Diretor Corporativo - Valter G. Pinto

• Diretor Corporativo / Diretor de Relações com o Mercado (até

01.02.98) – Raul Tessari

DIRETORIA EXECUTIVA

• Diretor Geral (a partir de 01.04.97) / Diretor de Relações com o

Mercado (a partir 02.02.98) – Carlos Zignani

• Diretor Comercial – Carlos A. Casiraghi

• Diretor de Operações – Moacir V. Moroni

Diretor Administrativo e Financeiro (a partir de 22.04.97) – José Rubens de La

Rosa