Desastres Naturais (Conhecer Para Previnir)

Embed Size (px)

Citation preview

  • DESASTRES NATURAISConhecer para prevenir

    DES

    AST

    RES

    NAT

    UR

    AIS

    : con

    hece

    r pa

    ra p

    reve

    nir

    Insti tuto GeolgicoSecretaria do Meio Ambiente

    Governo do Estado de So Paulo

    Organizadores:

    Ldia Keiko TominagaJair Santoro

    Rosangela Amaral

    O Livro Desastres Naturais: conhecer para prevenir busca disseminar o conhecimento sobre os diversos processos naturais ou induzidos pelo homem com possibilidade de ocorrncia no Estado de So Paulo, como escorregamentos, eroso, inundao, colapso e subsidncia, temporais, etc.

    Esta publicao foi elaborada por pesquisadores do Insti tuto Geolgico, agregando o conhecimento em estudos relacionados temti ca, bem como a experincia em atendimentos de situaes emergenciais de risco, avaliaes e mapeamento destes riscos.

    O contedo apresentado justi ca-se dada a tendncia atual de aquecimento global com consequente aumento de extremos climti cos. Esta con gurao torna o ambiente propcio ocorrncia de desastres naturais, especialmente quando se associam s condies de vulnerabilidade das ocupaes urbanas e a problemas relacionados ao gerenciamento de desastres.

    Esperamos que a leitura desta obra possa contribuir para reduzir e minimizar as consequncias dos desastres naturais e, assim, ati ngir o objeti vo proposto no t tulo: conhecer para prevenir.

    Os organizadores

    32085002 capa.indd 1 27/1/2010 13:12:45

  • Desastres Naturais: conhecer para prevenir

    32085002 miolo.indd 1 19/1/2010 10:59:06

  • Governo do Estado de So PauloJos Serra Governador

    Secretaria de Estado do Meio AmbienteFrancisco Graziano Neto Secretrio

    Instituto GeolgicoRicardo Vedovello Diretor-Geral

    32085002 miolo.indd 2 19/1/2010 10:59:06

  • Organizadores

    Ldia Keiko Tominaga Jair SantoroRosangela do Amaral

    1 edio

    So Paulo

    INSTITUTO GEOLGICO

    2009

    Desastres Naturais: conhecer para prevenir

    32085002 miolo.indd 3 19/1/2010 10:59:06

  • Catalogao na Fonte

    INSTITUTO GEOLGICO

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca do Instituto Geolgico

    T595d Tominaga, Ldia Keiko; Santoro, Jair; Amaral, Rosangela do (Organizadores)

    Desastres naturais: conhecer para prevenir / Ldia Keiko Tominaga, Jair Santoro, Rosangela do Amaral (orgs.) . So Paulo : Instituto Geolgico, 2009.

    196 p. : il. ; color. ; 24 cm.ISBN 978-85-87235-09-1 CDD 363.7

    1. Desastres naturais. 2. Preveno. 3. Gerenciamento. I. Ttulo.

    Foto da capa: rea de risco a escorregamentos em Santo Andr, SP, 2008. Fonte Acervo IG

    32085002 miolo.indd 4 19/1/2010 10:59:06

  • Dedicamos este trabalho aos agentes das defesas civis municipais e voluntrios que, a qualquer hora do dia ou da noite, mesmo diante de intempries, esto dispostos a atender aos chamados dos moradores de reas de risco para verificar as condies de segurana.

    32085002 miolo.indd 5 19/1/2010 10:59:06

  • EQUIPE TCNICA

    ORGANIZAO

    Ldia Keiko Tominaga

    Jair Santoro

    Rosangela do Amaral

    AUTORIA

    Celia Regina de Gouveia Souza

    Daniela Girio Marchiori Faria

    Jair Santoro

    Ldia Keiko Tominaga

    Renato Tavares

    Rodolfo Moreda Mendes

    Rogrio Rodrigues Ribeiro

    Rosangela do Amaral

    William Sallun Filho

    REVISO TCNICA

    Maria Jos Brollo

    Cludio Jos Ferreira

    DIAGRAMAO PRELIMINAR

    Vanessa Honda Ogihara (estagiria)

    ILUSTRAO

    Raphael Galassi Amorim (estagirio)

    Vanessa Honda Ogihara (estagiria)

    PRODUO EDITORIAL

    Sandra Moni de Souza

    COLABORAO

    Gisele dos Reis Manoel (estagiria)

    Jessika Flckiger Dupre Rabello (estagiria)

    Maiara Larissa dos Santos (estagiria)

    EDITORAO, CTP, IMPRESSO E ACABAMENTO

    Imprensa Oficial do Estado de So Paulo

    AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem Coordenadoria Estadual de Defesa Civil pelo fornecimento dos dados

    relativos aos atendimentos emergenciais do Estado de So Paulo, Giovana Parizzi (UFMG) pela

    disponibilizao de fotos referentes a escorregamentos em Minas Gerais e ao Ney Ikeda (DAEE)

    pela disponibilizao de fotos de inundaes ocorridas no Vale do Ribeira.

    32085002 miolo.indd 6 19/1/2010 10:59:06

  • SUmRIO

    APRESENTAO 9

    CAPTULO 1 Desastres Naturais: por que ocorrem ? Ldia Keiko Tominaga 11

    CAPTULO 2 - Escorregamentos Ldia Keiko Tominaga 25

    CAPTULO 3 - Inundao e Enchentes Rosangela do Amaral e Rogrio Rodrigues Ribeiro 39

    CAPTULO 4 - Eroso Continental Jair Santoro 53

    CAPTULO 5 - Eroso Costeira Celia Regina de Gouveia Souza 71

    CAPTULO 6 - Colapso e Subsidncia de Solos Rodolfo Moreda Mendes 85

    CAPTULO 7 - Subsidncia e Colapso em Terrenos Crsticos William Sallun Filho 99

    CAPTULO 8 - Clima, Tempo e Desastres Renato Tavares 111

    CAPTULO 9 - Anlise e Mapeamento de Risco Ldia Keiko Tominaga 147

    CAPTULO 10 - Gerenciamento de Desastres Naturais Daniela Girio Marchiori - Faria e Jair Santoro 161

    REFERNCIAS 179

    AUTORES 193

    32085002 miolo.indd 7 19/1/2010 10:59:06

  • 32085002 miolo.indd 8 19/1/2010 10:59:07

  • APRESENTAO

    Os Desastres Naturais constituem um tema cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, independentemente destas residirem ou no em reas de risco. Ainda que em um primeiro momento o termo nos leve a associ-lo com terremotos, tsunamis, erupes vulcnicas, ciclones e furaces, os Desastres Naturais contemplam, tambm, processos e fenmenos mais localizados tais como deslizamentos, inundaes, subsidncias e eroso, que podem ocorrer naturalmente ou induzidos pelo homem.

    Responsveis por expressivos danos e perdas, de carter social, econmico e ambiental, os desastres naturais tm tido uma recorrncia e impactos cada vez mais intensos, o que os cientistas sugerem j ser resultado das mudanas climticas globais.

    No Estado de So Paulo, e no Brasil de uma forma geral, embora estejamos livres dos fenmenos de grande porte e magnitude como terremotos e vulces, so expressivos o registro de acidentes e mesmo de desastres associados principalmente a escorregamentos e inundaes, acarretando prejuzos e perdas significativas, inclusive de vidas humanas.

    Embora o tema seja objeto de diversas publicaes em vrias partes do mundo, no Brasil ainda carecemos de uma obra que rena a questo de desastres em um mesmo material. A presente publicao constitui, assim, uma primeira contribuio no sentido de reunir, em um nico volume, os diversos aspectos que balizam as aes de preveno de desastres naturais. Para tanto, procurou-se reunir conceitos, terminologias, mtodos de anlise, e aplicaes que possibilitam um entendimento dos cenrios potencialmente favorveis ocorrncia de acidentes e desastres, bem como que sirva para subsidiar os agentes envolvidos na anlise, gerenciamento e intervenes de reas de risco ou potencialmente perigosas. Alm disso, foi dada nfase aos processos e fenmenos tpicos do Estado de So Paulo e do Brasil.

    A publicao, em seu capitulo inicial, aborda a conceituao e classificao dos desastres naturais e apresenta um panorama geral da ocorrncia de desastres naturais no mundo, no Brasil e no Estado de So Paulo. Na sequncia, nos captulos 2 a 8, so apresentados os principais fenmenos geoambientais relacionados aos desastres naturais, seus mecanismos e as medidas de preveno. No captulo 9, discorre-se sobre os conceitos bsicos de perigo e risco e os mtodos empregados na anlise e mapeamento de risco, instrumentos tcnicos fundamentais na preveno e na gesto de desastres naturais. Finalizando, no ltimo captulo, so tratadas as aes de gerenciamento de desastres naturais adotadas em mbito municipal, estadual e nacional, apresentando as diversas experincias de preveno e mitigao de desastres no Brasil com destaque aos planos desenvolvidos e adotados no Estado de So Paulo.

    O Livro Desastres Naturais: conhecer para prevenir resultado da experincia de tcnicos e pesquisadores do Instituto Geolgico, da SMA, que a cerca de vinte anos tem desenvolvido pesquisas e atividades sobre o tema. A atuao do IG no assunto tem se ampliado e consolidado a cada ano, permitindo que a Instituio atue de forma expressiva

    32085002 miolo.indd 9 19/1/2010 10:59:08

  • e aplicada em apoio preveno de Desastres no Estado e no Pas. Os trabalhos associados a escorregamentos j esto consolidados na regio da Serra do Mar, na regio do ABC, na regio de Sorocaba e mais recentemente nas regies do Vale do Paraiba e Serra da Mantiqueira, no Estado de So Paulo. Alm disso, o IG tem desenvolvido aes nos temas eroso, continental e costeira, subsidncias, e recentemente associados a inundaes nas regies de Ribeiro Preto e Araraquara. Esta experincia adquirida, ao longo de 20 anos, permitiu que o Instituto atuasse com destaque no Estado de Santa Catarina, em apoio aos desastres ocorridos em novembro de 2008.

    Alm das aes diretamente relacionadas ao gerenciamento e enfrentamento das situaes de riscos e dos acidentes, os trabalhos do IG no tema aplicam-se tambm s aes e instrumentos de gesto ambiental e de ordenamento territorial do Estado, implementados no mbito da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de So Paulo (SMA).

    Com esta publicao, esperamos contribuir para que, tcnicos, gestores e pblico em geral possam obter uma viso abrangente que envolva os processos perigosos, os impactos possveis, a forma de anlise, os instrumentos de gesto e as aes mitigadoras que se apliquem a preveno de Desastres Naturais.

    Ressaltamos, por fim, que esta publicao integra um conjunto de materiais de divulgao sobre o tema e que reflete a experincia acumulada no Instituto Geolgico, em trabalhos junto a SMA e a Defesa Civil do Estado de So Paulo.

    Francisco Graziano Neto Ricardo Vedovello Secretrio de Estado do Meio Ambiente Diretor do Instituto Geolgico

    32085002 miolo.indd 10 19/1/2010 10:59:09

  • 32085002 miolo.indd 11 19/1/2010 10:59:11

  • 32085002 miolo.indd 12 19/1/2010 10:59:13

  • CAPTULO 1

    DESASTRES NATURAIS: POR QUE OCORREm?

    A relao do homem com a natureza ao longo da histria evoluiu de uma total submisso e aceitao fatalista dos fenmenos da natureza a uma viso equivocada de dominao pela tecnologia. As inundaes que ultrapassaram e romperam diques e barragens em New Orleans, por ocasio do Furaco Katrina em 2005, nos Estados Unidos e o terremoto de Kobe no Japo em 1995, com milhares de vtimas e pessoas afetadas, so exemplos que demonstram que muitas vezes os fenmenos naturais surpreendem at mesmo as naes mais bem preparadas para enfrent-los. Obviamente os avanos tecnolgicos permitem hoje que a humanidade enfrente melhor os perigos decorrentes destes fenmenos. Assim, esta publicao visa destacar que, para a efetiva preveno dos fenmenos naturais, as leis da natureza devem ser respeitadas. Ou seja, estes fenmenos devem ser bem conhecidos quanto sua ocorrncia, mecanismos e medidas de preveno.

    Os desastres naturais podem ser provocados por diversos fenmenos, tais como, inundaes, escorregamentos, eroso, terremotos, tornados, furaces, tempestades, estiagem, entre outros. Alm da intensidade dos fenmenos naturais, o acelerado processo de urbanizao verificado nas ltimas dcadas, em vrias partes do mundo, inclusive no Brasil, levou ao crescimento das cidades, muitas vezes em reas imprprias ocupao, aumentando as situaes de perigo e de risco a desastres naturais.

    Alm disso, diversos estudos indicam que a variabilidade climtica atual, com tendncia para o aquecimento global, est associada a um aumento de extremos climticos. Nesta situao, os eventos de temporais, de chuvas intensas, de tornados ou de estiagens severas, entre outros, podem tornar-se mais frequentes, aumentando a possibilidade de incidncia de desastres naturais.

    1.1. O que so desastres naturais?

    Quando os fenmenos naturais atingem reas ou regies habitadas pelo homem, causando-lhe danos, passam a se chamar desastres naturais.

    A conceituao adotada pela UN-ISDR (2009) considera desastre como uma grave perturbao do funcionamento de uma comunidade ou de uma sociedade envolvendo perdas humanas, materiais, econmicas ou ambientais de grande extenso, cujos impactos excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com seus prprios recursos. Os critrios objetivos adotados no Relatrio Estatstico Anual do EM-DAT (Emergency Disasters Data Base) sobre Desastres de 2007 (Scheuren, et. al. 2008) consideram a ocorrncia de pelo menos um dos seguintes critrios:

    10 ou mais bitos; 100 ou mais pessoas afetadas; declarao de estado de emergncia; pedido de auxlio internacional.

    32085002 miolo.indd 13 19/1/2010 10:59:13

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir14

    No Glossrio da Defesa Civil Nacional, desastre tratado como sendo resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnervel), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuzos econmicos e sociais. A intensidade de um desastre depende da interao entre a magnitude do evento adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor afetado (Castro,1998).

    Desastres naturais podem ser definidos como o resultado do impacto de fenmenos naturais extremos ou intensos sobre um sistema social, causando srios danos e prejuzos que excede a capacidade da comunidade ou da sociedade atingida em conviver com o impacto.

    (Tobin e Montz,1997; Marcelino, 2008).

    1.2. Classificao dos desastres

    As classificaes mais utilizadas distinguem os desastres quanto origem e intensidade (Alcntara-Ayala, 2002; Marcelino, 2008).

    Classificao quanto origem

    Quanto origem ou causa primria do agente causador, os desastres podem ser classificados em: naturais ou humanos (antropognicos). Desastres Naturais so aqueles causados por fenmenos e desequilbrios da natureza que atuam independentemente da ao humana. Em geral, considera-se como desastre natural todo aquele que tem como gnese um fenmeno natural de grande intensidade, agravado ou no pela atividade humana. Exemplo: chuvas intensas provocando inundao, eroso e escorregamentos; ventos fortes formando vendaval, tornado e furaco; etc. Desastres Humanos ou Antropognicos so aqueles resultantes de aes ou omisses humanas e esto relacionados com as atividades do homem, como agente ou autor. Exemplos: acidentes de trnsito, incndios urbanos, contaminao de rios, rompimento de barragens, etc (Alcntara-Ayala, 2002; Castro, 1999; Kobiyama et al. 2006; Marcelino, 2008).

    Os desastres naturais podem ser ainda originados pela dinmica interna e externa da Terra. Os decorrentes da dinmica interna so terremotos, maremotos, vulcanismo e tsunamis. J os fenmenos da dinmica externa envolvem tempestades, tornados, inundaes, escorregamentos, entre outros.

    Classificao quanto intensidade

    A avaliao da intensidade dos desastres muito importante para facilitar o planejamento da resposta e da recuperao da rea atingida. As aes e os recursos necessrios para socorro s vtimas dependem da intensidade dos danos e prejuzos provocados (Tabela 1.1).

    32085002 miolo.indd 14 19/1/2010 10:59:13

  • Desastres naturais: por que ocorrem? 15

    Tabela 1.1. Classificao dos desastres em relao intensidade (modificado de Kobiyama et al, 2006).

    Nvel Intensidade Situao

    I

    Desastres de pequeno porte, tambm chamados de acidentes, onde os impactos causados so pouco importantes e os prejuzos pouco vultosos.(Prejuzo menor que 5% PIB municipal)

    Facilmente supervel com os recursos do municpio.

    IIDe mdia intensidade, onde os impactos so de alguma importncia e os prejuzos so significativos, embora no sejam vultosos.(Prejuzos entre 5% e 10% PIB municipal)

    Supervel pelo municpio, desde que envolva uma mobilizao e administrao especial.

    IIIDe grande intensidade, com danos importantes e prejuzos vultosos.(Prejuzos entre 10% e 30% PIB municipal)

    A situao de normalidade pode ser restabelecida com recursos locais, desde que complementados com recursos estaduais e federais.(Situao de Emergncia SE)

    IV

    De muito grande intensidade, com impactos muito significativos e prejuzos muito vultosos.(Prejuzos maiores que 30% PIB municipal)

    No supervel pelo municpio, sem que receba ajuda externa. Eventualmente necessita de ajuda internacional.(Estado de Calamidade Pblica ECP)

    1.3. Desastres naturais no mundo

    Em mbito mundial, tem-se verificado, nas ltimas dcadas, um aumento das ocorrncias de desastres naturais e dos prejuzos decorrentes (Figura 1.1). Constata-se uma tendncia global para o significativo incremento do nmero de desastres a partir da dcada de 70 que, conforme EM-DAT (2009) passou de 50 registros por ano para 350 em 2008, tendo chegado a 500 em 2005. Segundo esta mesma fonte, os prejuzos estimados, que em 1975, eram de aproximadamente 5 bilhes de dlares, passaram a 180 bilhes em 2008. Em 2005, ano do Furaco Katrina nos Estados Unidos, o prejuzo atingiu 210 bilhes de dlares.

    As populaes em risco tm apresentado um crescimento anual em torno de setenta a oitenta milhes de pessoas, sendo que, mais de noventa por cento dessa populao encontra-se nos pases em desenvolvimento, com as menores participaes dos recursos econmicos e maior carga de exposio ao desastre (Figura 1.2). Em teoria, os perigos naturais ameaam igualmente qualquer pessoa, mas na prtica, proporcionalmente, atingem os mais desfavorecidos, devido a uma conjuno de fatores: h um nmero muito maior de populao de baixa renda, vivendo em moradias mais frgeis, em reas mais densamente povoadas e em terrenos de maior suscetibilidade aos perigos. Assim, a estratgia de reduo de desastres precisa ser acompanhada do desenvolvimento social e econmico e de um criterioso gerenciamento ambiental. Portanto, deve ser construda com polticas de desenvolvimento sustentvel que levem em conta os perigos existentes e os planos para reduo dos riscos (Alcantara-Ayala, 2002; UN-ISDR, 2004).

    32085002 miolo.indd 15 19/1/2010 10:59:13

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir16

    Figura 1.1 - Evoluo do crescimento mundial (1975 a 2008) no nmero de ocorrncias de desastres naturais (a) prejuzos estimados em bilhes de dlares (b). Fonte: EM-DAT (2009).

    b

    a

    32085002 miolo.indd 16 19/1/2010 10:59:17

  • Desastres naturais: por que ocorrem? 17

    A dcada de 1990, declarada pelas Naes Unidas, como a Dcada Internacional para Reduo de Desastres Naturais (International Decade for Natural Disaster Reduction IDNDR), foi dedicada promoo de solues para reduo do risco decorrente de perigos naturais, fortalecendo os programas de preveno e reduo de acidentes naturais. Uma das aes derivada da IDNDR foi a implantao da Estratgia Internacional para Reduo de Desastres (International Strategy for Disaster Reduction ISDR), voltada para promover maiores envolvimentos e comprometimentos pblicos, disseminao de conhecimentos e parcerias para implementar medidas de reduo de riscos. Hoje, h um crescente reconhecimento que enquanto esforos humanitrios ainda so importantes e necessitam de ateno continuada, a avaliao e a mitigao dos riscos e das vulnerabilidades so fatores fundamentais a serem considerados na reduo dos impactos negativos dos perigos e desta maneira so essenciais para a implantao do desenvolvimento sustentvel (UN-ISDR, 2004).

    Uma das explicaes do grande desequilbrio entre preveno e resposta de urgncia, conforme observado por Veyret (2007), que as aes de reduo de riscos no oferecem a mesma visibilidade s polticas de organismos oficiais nacionais e internacionais, arrecadadores de fundos, em relao aos programas de atendimentos emergenciais, os quais normalmente tm grande exposio na mdia.

    Atualmente, as Naes Unidas por meio da ISDR, focam muito na questo da vulnerabilidade que um estado determinado pelas condies fsicas, sociais, econmicas e ambientais, as quais podem aumentar a suscetibilidade de uma comunidade ao impacto de eventos perigosos. Uma vez que o perigo de ocorrer um determinado desastre natural em geral, j conhecido e, muitas vezes inevitvel, o objetivo minimizar a exposio

    Figura 1.2 - Distribuio dos tipos de desastres naturais no mundo, perodo 1900-2006 (Marcelino, 2007). Legenda: IN inundao, ES escorregamento, TE tempestades (furaces, tornados e vendavais), SE secas, TX temperatura extrema, IF incndios florestais; TR terremoto; VU - vulcanismo; RE - ressaca.

    32085002 miolo.indd 17 19/1/2010 10:59:18

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir18

    ao perigo por meio do desenvolvimento de capacidades individuais, institucionais e da coletividade que possam contrapor-se aos perigos e aos danos. O papel da participao comunitria e da capacidade de enfrentamento da populao considerado elemento chave no entendimento do risco de desastre (UN-ISDR, 2004).

    1.4. Desastres naturais no Brasil

    No Brasil, os principais fenmenos relacionados a desastres naturais so derivados da dinmica externa da Terra, tais como, inundaes e enchentes, escorregamentos de solos e/ou rochas e tempestades (Figura 1.3). Estes fenmenos ocorrem normalmente associados a eventos pluviomtricos intensos e prolongados, nos perodos chuvosos que correspondem ao vero na regio sul e sudeste e ao inverno na regio nordeste.

    De acordo com EM-DAT, o Brasil encontra-se entre os pases do mundo mais atingidos por inundaes e enchentes, tendo registrado 94 desastres cadastrados (segundo os critrios j comentados) no perodo de 1960 a 2008, com 5.720 mortes e mais de 15 milhes de pessoas afetadas (desabrigados/desalojados). Considerando somente os desastres hidrolgicos que englobam inundaes, enchentes e movimentos de massa, em 2008 o Brasil esteve em 10 lugar entre os pases do mundo em nmero de vtimas de desastres naturais, com 1,8 milhes de pessoas afetadas (OFDA/CRED, 2009).

    Quanto aos fenmenos da dinmica interna, o Brasil caracteriza-se por uma fraca atividade na ocorrncia de tremores, que em sua maioria, so de baixa magnitude variando entre 2 e 4 na escala Richter. No entanto, j foram registrados no pas, tremores de magnitudes maiores, como em 1955 no Estado do Mato Grosso, de 6,6 (escala Richter) e 6,3 no mesmo ano no litoral do Estado do Esprito Santo. Como ocorreram em regies desabitadas no provocaram danos. Em geral, no Brasil so pouco frequentes os danos associados a tremores. Porm, em 2007, no municpio de Itacarambi (MG), ocorreu um terremoto (4,9 na escala Richter) que provocou, provavelmente por falta de preparo para o enfrentamento destas situaes no Brasil, uma morte e pelo menos 6 feridos, alm de derrubar 5 casas e danificar

    Figura 1.3 - Distribuio por regio dos desastres atendidos pela Defesa Civil Nacional (SEDEC, 2009).

    32085002 miolo.indd 18 19/1/2010 10:59:19

  • Desastres naturais: por que ocorrem? 19

    outras 60. Outro exemplo, sem danos, foi o abalo ssmico que atingiu a cidade de So Paulo no dia 22 de Abril de 2008, cujo epicentro (local de projeo na superfcie de origem) ocorreu no Oceano Atlntico a 215 km do municpio de So Vicente, e foi sentido tambm nos estados do Paran, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Dos estados brasileiros, o Cear o que tem registrado maior nmero de ocorrncias de sismos (Hansen et al. 2008).

    Seguindo a tendncia mundial, constata-se tambm no Brasil um crescimento significativo das ocorrncias de desastres naturais a partir de 1960, uma vez que do total de 289 ocorrncias registradas pelo EM-DAT, no perodo de 1900 a 2009 (at o 1 trimestre de 2009), em torno de 70% so posteriores a 1.960. Entretanto, os dados do EM-DAT para o Brasil esto longe da realidade, como j haviam observado Marcelino et al. (2006) que apontaram discrepncias nestes dados. Nos registros do EM-DAT constam 89 eventos para o Brasil, no perodo de 1980 a 2003, enquanto somente no Estado de Santa Catarina foram computados 3.373 desastres naturais no mesmo perodo. No banco de dados da Defesa Civil de Santa Catarina so registradas apenas as ocorrncias que levaram os municpios a decretarem Situao de Emergncia (SE) ou Estado de Calamidade Pblica (ECP), os quais so compatveis com os critrios do EM-DAT. Portanto, se forem considerados tambm os acidentes que envolvem danos menores, estes nmeros podem ser muito maiores.

    Este aumento na incidncia de desastres naturais considerado por diversos autores como consequncia do intenso processo de urbanizao verificado no pas nas ltimas dcadas, que levou ao crescimento desordenado das cidades em reas imprprias ocupao, devido s suas caractersticas geolgicas e geomorfolgicas desfavorveis. As intervenes antrpicas nestes terrenos, tais como, desmatamentos, cortes, aterros, alteraes nas drenagens, lanamento de lixo e construo de moradias, efetuadas, na sua maioria, sem a implantao de infraestrutura adequada, aumentam os perigos de instabilizao dos mesmos. Quando h um adensamento destas reas por moradias precrias, os desastres associados aos escorregamentos e inundaes assumem propores catastrficas causando grandes perdas econmicas e sociais (Fernandes et al, 2001; Carvalho e Galvo, 2006; Lopes, 2006; Tominaga, 2007).

    Este fato tambm corroborado por Maffra e Mazzola (2007) que observaram que no Brasil h uma estreita relao entre o avano da degradao ambiental, a intensidade do impacto dos desastres e o aumento da vulnerabilidade humana.

    Os municpios mais atingidos por desastres naturais localizam-se nos estados de So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Esprito Santo, Santa Catarina, Paran, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraba e Cear (Kobiyama et al. 2006; Carvalho & Galvo 2006).

    1.5. Ocorrncias de acidentes e desastres naturais no Estado de So Paulo

    Os acidentes e desastres naturais no Estado de So Paulo esto associados predominantemente aos escorregamentos de encostas, inundaes, eroso acelerada e tempestades (ventanias, raios e granizo). A Figura 1.4 mostra que a maior parte do estado (poro central e oeste) apresenta suscetibilidade eroso, sendo que na regio oeste ocorrem tambm os colapsos de solos; na regio leste do estado predominam os processos de escorregamentos e inundaes. Enchentes e inundaes ocorrem em todo estado, ao longo dos principais cursos dgua. Entretanto, as regies do Vale do Ribeira

    32085002 miolo.indd 19 19/1/2010 10:59:19

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir20

    e Litoral Sul, por receberem mais chuvas do tipo frontal, que podem ser muito intensas e de longa durao, produzindo grandes volumes de escoamento superficial, atingem maior nmero de pessoas, entre desabrigados e desalojados. Alm disso, as caractersticas morfolgicas da bacia tambm favorecem a ocorrncia de grandes cheias. As inundaes nesta regio atingem vrios municpios, muitos dos quais j tiveram que decretar situao de emergncia ou estado de calamidade pblica (Ikeda & Bertagnoli, 2000). De acordo com informaes da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC, 2009), dos vinte e nove municpios paulistas que decretaram Situao de Emergncia, no primeiro semestre de 2009, sete (em torno de 25%) so da Regio do Vale do Ribeira. Por outro lado a Regio Metropolitana de So Paulo que, segundo dados da CEDEC, tem tido maior nmero de bitos em consequncia de enchentes e inundaes, provavelmente devido ao adensamento populacional, dentre outros fatores.

    Apesar de no se dispor ainda de um banco de dados de desastres naturais no Estado de So Paulo, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC) iniciou em 2000, a organizao dos dados de atendimentos efetuados durante as Operaes Vero (vide Cap. 10), implantada anualmente, durante os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e maro. Assim, no perodo de 2000 a 2008, foram cadastrados pela CEDEC os atendimentos e vistorias emergenciais relacionados a acidentes diversos, incluindo escorregamentos, eroso,

    Figura 1.4 - Suscetibilidade aos principais processos associados a desastres naturais no Estado de So Paulo. Fonte: fotos A, B, D e E Acervo IG; foto C Ney Ikeda (DAEE).

    32085002 miolo.indd 20 19/1/2010 10:59:20

  • Desastres naturais: por que ocorrem? 21

    inundao e processos similares (enchentes, transbordamentos de rios, alagamentos), dentre outros (raios, chuvas fortes, vendavais, desabamentos de casas, etc).

    No intervalo de 2000 a 2008, foram registrados 1.861 acidentes, relacionados aos vrios tipos de fenmenos, sendo: em torno de 50% (944) de inundaes (incluindo enchentes e alagamentos), 19% (367) de escorregamentos, 4% (65) de raios, 27% (485) de acidentes diversos (chuvas fortes, vendavais, desabamentos de casas e muros, etc) (Figura 1.5). Os danos identificados referem-se a nmero de bitos (225 registros) e nmero de pessoas afetadas que envolvem desabrigados e desalojados(50.347 registros) (Figuras 1.6 e 1.7). A Regio do Alto Tiet que engloba a Regio Metropolitana de So Paulo apresentou, neste perodo, o maior nmero de acidentes (567) e de bitos (77). Em relao ao nmero de pessoas afetadas, a Regio do Ribeira de Iguape/Litoral Sul envolveu 18.327 pessoas, na maior parte em consequncia de inundaes (Brollo & Ferreira, 2009).

    Figura 1.5 - Nmero e tipos de acidentes registrados no Estado de So Paulo, no perodo de 2000 a 2008 (CEDEC, 2009).

    Figura 1.6 - Nmero de bitos registrados no Estado de So Paulo, no perodo de 2000 a 2008 (CEDEC, 2009).

    32085002 miolo.indd 21 19/1/2010 10:59:20

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir22

    1.6. Consideraes finais

    As aes emergenciais de enfrentamento dos riscos decorrentes dos desastres naturais so coordenadas e executadas pelo Sistema de Defesa Civil, estruturado em nvel federal, estadual e municipal. Desta forma, h uma estrutura organizacional com diretrizes e planos de ao para os atendimentos emergenciais em todo territrio nacional. Entretanto, as aes de preveno aos desastres naturais no tm o mesmo tratamento, ficando em segundo plano. Como observado por Carvalho & Galvo (2006), no Brasil, apesar de j se dispor de conhecimentos tcnicos desenvolvidos por universidades e institutos de pesquisa para dar suporte tcnico s aes de preveno de riscos urbanos, ainda reduzido o nmero de municpios que contemplam a gesto de riscos em seus planos de desenvolvimento urbano.

    Em relao aos dados de ocorrncia de desastres naturais no Brasil, a ausncia de um banco de dados nacional, dificulta a compreenso do comportamento dos desastres naturais e suas consequncias, conforme j apontado por Marcelino et al. (2006). As falhas verificadas por estes autores nos dados brasileiros registrados pelo EM-DAT so bastante significativas. Isto mostra a urgente necessidade de se organizar os dados referentes aos desastres naturais em mbito estadual e nacional, para que se tenha um quadro da realidade brasileira e as informaes necessrias para a preveno e gesto destes desastres.

    Outra questo que deve ser enfatizada quanto necessidade de respeitar e fazer respeitar, por meio da fiscalizao, a legislao ambiental, uma vez que as reas de preservao permanente (APPs), que abrangem as margens de corpos dgua (rios, lagos, lagoas), as encostas ngremes e os topos de morros so naturalmente suscetveis inundao e escorregamentos, com potencial de se tornarem reas de risco, ao serem ocupadas.

    Esta publicao foi elaborada com o objetivo de disseminar o conhecimento dos fenmenos associados aos desastres naturais, bem como das medidas preventivas para evitar ou reduzir seus danos, procurando, assim, contribuir com as aes de gesto de risco e principalmente de preveno de riscos urbanos em mbito municipal e nas demais esferas do poder pblico.

    Figura 1.7 - Nmero de afetados (desabrigados/desalojados), no perodo de 2000 a 2008 (CEDEC, 2009).

    32085002 miolo.indd 22 19/1/2010 10:59:21

  • Desastres naturais: por que ocorrem? 23

    Bibliografia recomendada

    CARVALHO, C. S. & GALVO, T. (Org) 2006. Preveno de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaborao de Polticas Municipais. Braslia: Ministrio das Cidades; Cities Alliance, 2006.

    CASTRO, A. L. C.1999. Manual de planejamento em defesa civil. Vol.1. Braslia: Ministrio da Integrao Nacional/ Departamento de Defesa Civil.133 p.

    KOBIYAMA, M.; MENDONA, M.; MORENO, D.A.; MARCELINO, I.P.V.O; MARCELINO, E.V.; GONALVES, E.F.; BRAZETTI, L.L.P.; GOERL, R.F.;MOLLERI, G.S.F.; RUDORFF, F.M. 2006. Preveno de Desastres Naturais: Conceitos Bsicos. Curitiba: Ed. Organic Trading. 109 p. Disponvel em: http://www.labhidro.ufsc.br/publicacoes.html

    MARCELINO, E. V. 2008. Desastres Naturais e Geoteconologias: Conceitos Bsicos. Caderno Didtico n 1. INPE/CRS, Santa Maria, 2008.

    32085002 miolo.indd 23 19/1/2010 10:59:21

  • 32085002 miolo.indd 25 19/1/2010 10:59:23

  • 32085002 miolo.indd 26 19/1/2010 10:59:25

  • CAPTULO 2ESCORREGAmENTOS

    2.1. Introduo

    Os escorregamentos, tambm conhecidos como deslizamentos, so processos de movimentos de massa envolvendo materiais que recobrem as superfcies das vertentes ou encostas, tais como solos, rochas e vegetao. Estes processos esto presentes nas regies montanhosas e serranas em vrias partes do mundo, principalmente naquelas onde predominam climas midos. No Brasil, so mais frequentes nas regies Sul, Sudeste e Nordeste.

    Os movimentos de massa consistem em importante processo natural que atua na dinmica das vertentes, fazendo parte da evoluo geomorfolgica em regies serranas. Entretanto, o crescimento da ocupao urbana indiscriminada em reas desfavorveis, sem o adequado planejamento do uso do solo e sem a adoo de tcnicas adequadas de estabilizao, est disseminando a ocorrncia de acidentes associados a estes processos, que muitas vezes atingem dimenses de desastres (Tominaga, 2007).

    Movimento de massa o movimento do solo, rocha e/ou vegetao ao longo da vertente sob a ao direta da gravidade. A contribuio de outro meio, como gua ou gelo se d pela reduo da resistncia dos materiais de vertente e/ou pela induo do comportamento plstico e fluido dos solos.

    2.2. Tipologia dos movimentos de massa

    Os movimentos de massa podem ser de diversos tipos, pois envolvem uma variedade de materiais e processos. Uma das classificaes mais utilizadas internacionalmente, devido a sua simplicidade, a proposta por Varnes (1978) que se baseia no tipo de movimento e no tipo de material transportado. Dentre as classificaes brasileiras, destacam-se as de Freire (1965), de Guidicini & Nieble (1984) e de Augusto Filho (1992), das quais esta ltima apresentada no Quadro 2.1.

    Entretanto, como citado por Fernandes & Amaral (1996), qualquer esquema proposto apresenta limitaes, uma vez que na natureza os escorregamentos tendem a ser mais complexos, dificultando estabelecer limites entre classes ou ainda pela manifestao de vrias classes num mesmo movimento.

    32085002 miolo.indd 27 19/1/2010 10:59:26

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir28

    Tabela 2.1. Principais tipos de movimentos de massa em encostas (Augusto Filho, 1992).

    Processos Dinmica/Geometria/Material

    Rastejos

    vriosplanosdedeslocamento(internos) velocidadesmuitobaixas(cm/ano)abaixasedecrescentescomaprofundidade movimentosconstantes,sazonaisouintermitentes solo,depsitos,rochaalterada/fraturada geometriaindefinida

    Escorregamentos

    poucosplanosdedeslocamento(externos) velocidadesmdias(m/h)aaltas(m/s) pequenosagrandesvolumesdematerial geometriaemateriaisvariveis:Planares solos pouco espessos, solos e rochas com um plano de fraqueza;Circulares solos espessos homogneos e rochas muito fraturadasEm cunha solos e rochas com dois planos de fraqueza

    Quedas

    semplanosdedeslocamento movimentostipoquedalivreouemplanoinclinado velocidadesmuitoaltas(vriosm/s) materialrochoso pequenosamdiosvolumes geometriavarivel:lascas,placas,blocos,etc.Rolamento de matacoTombamento

    Corridas

    muitassuperfciesdedeslocamento movimentosemelhanteaodeumlquidoviscoso desenvolvimentoaolongodasdrenagens velocidadesmdiasaaltas mobilizaodesolo,rocha,detritosegua grandesvolumesdematerial extensoraiodealcance,mesmoemreasplanas

    2.2.1. Escorregamentos

    Dentre os processos de movimentos de massa, os mais frequentes na regio sudeste do Brasil e principalmente na Serra do Mar, so os escorregamentos. O termo escorregamento tem diversos sinnimos de uso mais generalizado na linguagem popular como deslizamento, queda de barreira, desbarrancamento, os quais equivalem ao landslide da lngua inglesa.

    Escorregamentos so movimentos rpidos, de pores de terrenos (solos e rochas), com volumes definidos, deslocando-se sob ao da gravidade, para baixo e para fora do talude ou da vertente.

    Em termos gerais, um escorregamento ocorre quando a relao entre a resistncia ao cisalhamento do material e a tenso de cisalhamento na superfcie potencial de movimentao decresce at atingir uma unidade, no momento do escorregamento (Guidicini & Nieble, 1984). Ou seja, no momento em que a fora gravitacional vence o atrito interno das partculas, responsvel pela estabilidade, a massa de solo movimenta-se

    32085002 miolo.indd 28 19/1/2010 10:59:26

  • Escorregamentos 29

    encosta abaixo. Normalmente, a infiltrao de gua no macio de solo provoca a diminuio ou perda total do atrito entre as partculas. Quando o solo atinge o estado de saturao com perda total do atrito entre as partculas, em processo conhecido como solifluxo, passa a se mobilizar encosta abaixo, formando os movimentos de escoamento do tipo corridas.

    A velocidade do movimento depende da inclinao da superfcie de escorregamento, da causa inicial de movimentao e da natureza do terreno. Variam de quase zero a alguns metros por segundo. Os movimentos mais bruscos ocorrem em terrenos relativamente homogneos, que combinam coeso com atrito interno elevado. Nestes terrenos a superfcie de escorregamento mais inclinada (Guidicini & Nieble, 1984).

    Levando em considerao a geometria e a natureza dos materiais instabilizados, os escorregamentos podem ser subdivididos em trs tipos: escorregamentos rotacionais ou circulares, escorregamentos translacionais ou planares e escorregamentos em cunha.

    Escorregamentos rotacionais ou circulares

    Os escorregamentos rotacionais caracterizam-se por uma superfcie de ruptura curva ao longo da qual se d um movimento rotacional do macio de solo (Figura 2.1). A ocorrncia destes movimentos est associada geralmente existncia de solos espessos e homogneos, como os decorrentes da alterao de rochas argilosas. O incio do movimento muitas vezes provocado pela execuo de cortes na base destes materiais, como na implantao de uma estrada, ou para construo de edificaes, ou ainda pela eroso fluvial no sop da vertente (Fernandes & Amaral, 1996).

    O escorregamento rotacional de solo um fenmeno frequente nas encostas do sudeste brasileiro, mobilizando geralmente o manto de alterao. Podem se tornar processos catastrficos, com o deslizamento sbito do solo residual que recobre a rocha ao longo de uma superfcie qualquer de ruptura, ou ao longo da prpria superfcie da rocha. Como exemplos desse tipo de escorregamento, pode-se citar o grande escorregamento do Monte Serrat, ocorrido em 1928 (Figura 2.2) e muitos dos sessenta escorregamentos simultneos que ocorreram nos morros de Santos em 1956 (Vargas, 1966).

    Figura 2.1 - (a) Esquema de escorregamento rotacional. Fonte: Lopes (2006). (b) Escorregamento rotacional em Jaragu do Sul, SC, dez.2008. Fonte: Acervo IG.

    ba

    32085002 miolo.indd 29 19/1/2010 10:59:28

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir30

    Escorregamentos translacionais ou planares

    Os escorregamentos translacionais so os mais frequentes entre todos os tipos de movimentos de massa. Formam superfcies de ruptura planar associadas s heterogeneidades dos solos e rochas que representam descontinuidades mecnicas e/ou hidrolgicas derivadas de processos geolgicos, geomorfolgicos ou pedolgicos.

    A morfologia dos escorregamentos translacionais caracteriza-se por serem rasos, com o plano de ruptura, na maioria das vezes, a 0,5 a 5,0 m de profundidade e com maiores extenses no comprimento. Ocorrem em encostas tanto de alta como de baixa declividade e podem atingir centenas ou at milhares de metros (Fernandes & Amaral, 1996; Guidicini & Nieble, 1984) (Figura 2.3).

    Os materiais transportados pelos escorregamentos translacionais podem ser constitudos de rocha, de solo e de solo e rocha.

    Nos escorregamentos translacionais de rocha, a movimentao se d em planos de fraqueza que correspondem s superfcies associadas estrutura geolgica, tais como, estratificao, xistosidade, gnaissificao, acamamento, falhas, juntas de alvio de tenses e outras.

    Escorregamentos translacionais de solo so movimentos ao longo de uma superfcie plana condicionada a alguma feio estrutural do substrato. Ocorrem dentro do manto de alterao, com forma tabular e espessuras que dependem da natureza das rochas, do clima e do relevo. Em geral, o movimento de curta durao, de velocidade elevada e grande poder de destruio. Os escorregamentos translacionais associados com maior quantidade de gua podem passar a corridas, ou podem se converter em rastejo, aps a acumulao do material movimentado no p da vertente.

    Nos escorregamentos translacionais de solo e rocha, a massa transportada pelo movimento apresenta um volume de rocha significativo. O que melhor representa tais movimentos a que envolve massas de tlus/colvio. Os depsitos de tlus/colvio que, em geral, encontram-se nos sops das escarpas, so constitudos por blocos rochosos e

    Figura 2.2 - Escorregamento rotacional do grande acidente do Monte Serrat, em Santos (1928), com 80 mortes e destruio de parte da antiga Santa Casa. Fonte: Arquivo e Memria de Santos, P. M. de Santos.

    32085002 miolo.indd 30 19/1/2010 10:59:29

  • Escorregamentos 31

    fragmentos de tamanhos variados envolvidos em matriz terrosa, provenientes do mesmo processo de acumulao.

    Os escorregamentos translacionais, em geral, ocorrem durante ou logo aps perodos de chuvas intensas. comum que a superfcie de ruptura coincida com a interface solo-rocha, a qual representa uma importante descontinuidade mecnica e hidrolgica. A ao da gua nestes movimentos mais superficial e as rupturas ocorrem em curto espao de tempo, devido ao rpido aumento da umidade durante eventos pluviomtricos de alta intensidade (Fernandes & Amaral, 1996).

    No Brasil, so frequentes os casos de escorregamentos translacionais, principalmente na Serra do Mar, como os ocorridos nas Serras de Caraguatatuba e das Araras em 1967. Em perfis de alterao como os da Serra do Mar, estes movimentos no transportam apenas materiais terrosos, mas envolvem tambm blocos rochosos mais ou menos alterados.

    Escorregamentos em cunha

    Os escorregamentos em cunha tm ocorrncia mais restrita s regies que apresentam um relevo fortemente controlado por estruturas geolgicas. So associados aos macios rochosos pouco ou muito alterados, nos quais a existncia de duas estruturas planares, desfavorveis estabilidade, condiciona o deslocamento de um prisma ao longo

    Figura 2.3 - (a) Esquema de escorregamento planar ou translacional de solos. Escorregamentos planares em: (b) Campo Limpo Paulista (2009); (c) Vrzea Paulista (2006) e (d) Nova Lima, MG. Fonte: a, b e c: Acervo IG; d: Giovana Parizzi.

    b

    d

    a

    c

    32085002 miolo.indd 31 19/1/2010 10:59:32

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir32

    do eixo de interseco destes planos. Ocorrem principalmente em taludes de corte ou em encostas que sofreram algum tipo de desconfinamento, natural ou antrpico (Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998) (Figuras 2.4 e 2.5).

    Figura 2.5 - Escorregamento em cunha em: (a) Quartizito em Rio Acima, MG; (b) Talude de filito alternado com quartzito da Formao Cercadinho em Belo Horizonte, MG. Fonte Parizzi, 2004.

    Figura 2.4 - Esquema de escorregamento em cunha

    Figura 2.6 - Queda de blocos rochosos em Santos, 1992 e 2009. Fonte: Acervo IG.

    2.2.2. Queda de blocos

    A queda de blocos um outro tipo de movimento gravitacional de massa comum nas escarpas da Serra do Mar. Define-se uma queda de blocos como uma ao de queda livre a partir de uma elevao, com ausncia de superfcie de movimentao. Nos penhascos ou taludes ngremes, blocos e/ou lascas dos macios rochosos deslocados pelo intemperismo, caem pela ao da gravidade (Figura 2.6). A queda pode estar associada a outros movimentos como saltao, rolamento dos blocos e fragmentao no impacto com o substrato. As causas das quedas de blocos so diversas: variao trmica do macio rochoso, perda de sustentao dos blocos por ao erosiva da gua, alvio de tenses de origem tectnica, vibraes e outras (Guidicini & Nieble, 1984).

    ba

    32085002 miolo.indd 32 19/1/2010 10:59:39

  • Escorregamentos 33

    Figura 2.7 - (a) Esquema de corrida detrtica (Fonte: Lopes, 2006). (b) Corrida detrtica no Morro do Ba, SC, dez.2008. Fonte: Acervo IG.

    Figura 2.8 - Diversidade de materiais transportados pelos processos de corridas de detritos nos desastres que assolaram o Estado de Santa Catarina em novembro de 2008, no municpio de Ilhota (Brao do Ba). Fonte: Acervo IG.

    2.2.3. Corridas

    Corridas so formas rpidas de escoamento de carter essencialmente hidrodinmico, ocasionadas pela perda de atrito interno das partculas de solo, em virtude da destruio de sua estrutura interna, na presena de excesso de gua. Estes movimentos so gerados a partir de grande aporte de materiais como solo, rocha e rvores que, ao atingirem as drenagens, formam uma massa de elevada densidade e viscosidade. A massa deslocada pode atingir grandes distncias com extrema rapidez, mesmo em reas pouco inclinadas, com consequncias destrutivas muito maiores que os escorregamentos (Guidicini & Nieble, 1984; Fernandes & Amaral, 1996; Lopes, 2006) (Figuras 2.7 e 2.8).

    ba

    32085002 miolo.indd 33 19/1/2010 10:59:46

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir34

    2.2.4. Rastejos

    Rastejos so movimentos lentos e contnuos de material de encostas com limites indefinidos. Envolvem, muitas vezes, grandes volumes de solos, sem que apresente uma diferenciao visvel entre o material em movimento e o estacionrio.

    A causa da movimentao nos rastejos a ao da gravidade, associada tambm aos efeitos das variaes de temperatura e umidade. O processo de expanso e contrao da massa de material, devido variao trmica, provoca o movimento, vertente abaixo.

    2.3. Fatores condicionantes dos escorregamentos

    Os fatores condicionantes dos escorregamentos correspondem principalmente aos elementos do meio fsico e, secundariamente, do meio bitico, os quais contribuem para o desencadeamento do processo. Estes elementos so parte da prpria dinmica dos processos naturais, aos quais Guidicini & Nieble (1984) denominaram de agentes predisponentes. No entanto, a ao humana exerce importante influncia favorecendo a ocorrncia de processos ou minimizando seus efeitos.

    As causas bsicas da instabilidade de vertentes, inclusive dos escorregamentos, so bem conhecidas. O que se procura sempre alcanar, por meio do entendimento dos processos envolvidos, respostas s questes: por que ocorrem os escorregamentos, quando, onde e quais so seus mecanismos, permitindo a predio da suscetibilidade (Varnes, 1978).

    Os agentes predisponentes correspondem ao conjunto de condies geolgicas, topogrficas e ambientais da rea onde se desenvolve o movimento de massa. So, portanto as condies naturais dadas pelas caractersticas intrnsecas dos materiais, sem a ao do homem. J os agentes efetivos referem-se ao conjunto de fatores diretamente responsveis pelo desencadeamento do movimento de massa, incluindo-se a ao humana. Podem ser agentes efetivos preparatrios como: pluviosidade, eroso pela gua ou vento, oscilao de nvel dos lagos e mars e do lenol fretico, ao de animais e ao humana como desmatamento, entre outros. Podem se tratar tambm de agentes efetivos imediatos como: chuva intensa, eroso, terremotos, ondas, vento, interferncia do homem etc. (Guidicini & Nieble, 1984).

    Assim, os principais fatores que contribuem para a ocorrncia dos escorregamentos so os relacionados com a geologia, geomorfologia, aspectos climticos e hidrolgicos, vegetao e ao do homem relativa s formas de uso e ocupao do solo (Wolle, 1980; Fernandes & Amaral, 1996; Augusto Filho, 2001; Fernandes et al., 2001; Tominaga 2007).

    A pluviosidade sem dvida um importante fator condicionante dos escorregamentos. Na regio tropical mida brasileira, a associao dos escorregamentos estao das chuvas, notadamente s chuvas intensas, j de conhecimento generalizado. Durante a estao chuvosa, que em geral corresponde ao vero, as frentes frias originadas no Crculo Polar Antrtico encontram as massas de ar quente tropicais ao longo da costa sudeste brasileira, provocando fortes chuvas e tempestades. Estas chuvas, muitas vezes, deflagram escorregamentos que, no raro, podem se tornar catastrficos (Guidicini & Nieble, 1984) (Figuras 2.9).

    32085002 miolo.indd 34 19/1/2010 10:59:46

  • Escorregamentos 35

    Ao analisarem os escorregamentos ocorridos por um perodo de 30 anos na Serra do Mar, em Cubato, Tatizana et al. (1987) estabeleceram uma correlao numrica entre a chuva acumulada que ocasiona a saturao do solo e as precipitaes horrias que provocam os escorregamentos. Os autores consideraram que as chuvas acumuladas de 4 dias seriam as mais efetivas na preparao do terreno ao processo de escorregamento, devido progressiva reduo da resistncia ao cisalhamento e aumento das foras solicitantes.

    O comportamento pluvial no Litoral Norte do Estado de So Paulo durante as ocorrncias de movimentos de massa no perodo de 1991 a 2000, foi analisado por Tavares et al. (2004) que consideraram os totais acumulados de chuva associados s instabilizaes. Estes autores concluram que a maior parte das ocorrncias de movimentos de massa, em torno de 70%, foi registrada com chuva acumulada igual ou superior a 120 mm em 72 horas. Verificaram tambm que os meses de fevereiro e maro, que normalmente correspondem ao perodo mais chuvoso do ano, registraram o maior nmero de ocorrncias de movimentos de massa.

    A ao do homem vista por diversos autores como importante agente modificador da dinmica natural do relevo e, por conseguinte, da estabilidade das vertentes. A ocupao desordenada das vertentes nas regies serranas brasileiras tem provocado inmeros acidentes. De acordo com Fernandes & Amaral (1996) as metrpoles brasileiras convivem com acentuada incidncia de escorregamentos induzidos por cortes para implantao de moradias e vias de acesso, desmatamentos, atividades de minerao, lanamento de guas servidas e de lixo, causando expressivos danos (Figura 2.10).

    No grande acidente ocorrido em Petrpolis (RJ) em 1988 que resultou em 171 mortes, Nunes et al. (1990) e Nakazawa & Cerri (1990) verificaram que mais de 90% dos escorregamentos foram induzidos pela ocupao desordenada das encostas do municpio.

    Fernandes et al. (1999), analisando o processo de ocupao no Macio da Tijuca (RJ), verificaram que cerca de 50% dos 242 escorregamentos existentes no macio

    Figura 2.9 - (a) Esquema ilustrando rupturas de terreno devido ao da gua das chuvas (Modificado de IPT/Min. das Cidades, 2004); (b) Escorregamento de talude de corte causado pela saturao do solo aps chuvas, agravado pelo lanamento de guas pluviais (canaletas brancas), Osasco, SP, 2006. Fonte: Acervo IG.

    a b

    32085002 miolo.indd 35 19/1/2010 10:59:48

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir36

    ocorreram em favelas, que cobrem somente 4,6% da rea total do macio. Os autores explicam que esta elevada frequncia de escorregamentos est intimamente relacionada ao aumento de intervenes com cortes para a construo de moradias precrias em encostas ngremes situadas no sop de afloramentos rochosos.

    Dentre os fenmenos envolvidos em desastres naturais no Brasil, os escorregamentos tm sido responsveis por maior nmero de vtimas fatais e importantes prejuzos materiais, com destaque para os desastres ocorridos em 1967, na Serra das Araras (RJ) e Caraguatatuba (SP), que resultaram em 1.320 mortes e destruio de centenas de edificaes (Augusto Filho, 1994). A Figura 2.11 mostra a distribuio anual de mortes por escorregamentos no Brasil no perodo de 1988 a 2008, cujo total atingiu 1.861 bitos.

    Figura 2.10 - (a) Esquema ilustrativo de escorregamento induzido em talude de corte; (b) escorregamento em talude de corte, Jandira, SP (2009). Fonte: Acervo IG.

    Figura 2.11 - Distribuio anual do nmero de mortes por escorregamentos no Brasil no perodo de 1988 a 2008. Fonte: IPT, 2009.

    a b

    32085002 miolo.indd 36 19/1/2010 10:59:49

  • Escorregamentos 37

    Os escorregamentos e demais movimentos de massa so processos que dependem de vrios fatores ambientais que atuam naturalmente na evoluo das formas de relevo de morros e serras.

    Entretanto, nos ltimos anos, o expressivo aumento do nmero de acidentes associados a escorregamentos nas encostas urbanas tem como principal causa a ocupao desordenada de reas com alta suscetibilidade a escorregamentos (Figura 2.12). Os estados brasileiros mais afetados so: Santa Catarina, Paran, So Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Esprito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraba (Kobiyama et al. 2006).

    Figura 2.12 - Exemplos de situaes que devem ser evitadas: (a) construo de moradias muito prximas ao talude de corte em Jaragu do Sul, SC, 2008; (b) moradias na crista de talude com altura e inclinao excessiva em Osasco, 2006; (c) construo em margens de crregos em Itapeva, 2007; (d) lanamento e acmulo de lixo no talude ou encosta em So Bernardo, 2005. Fonte: Acervo IG.

    2.4. Medidas de preveno dos escorregamentos

    Como visto anteriormente, o crescimento da ocupao desordenada em reas de encostas tem levado a um progressivo aumento no nmero de acidentes associados a escorregamentos, muitas vezes com dimenses catastrficas. Evitar que estes processos ocorram, segundo Kobiyama et al. (2006), foge da capacidade humana. No entanto, se forem adotadas medidas preventivas adequadas, seus danos podem ser evitados ou minimizados.

    Usualmente, as medidas preventivas so agrupadas em dois tipos: estruturais e no estruturais. As medidas estruturais envolvem obras de engenharia, em geral de alto

    a

    c

    b

    d

    32085002 miolo.indd 37 19/1/2010 10:59:54

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir38

    custo, tais como obras de conteno de taludes, implantao de sistemas de drenagem, reurbanizao de reas. Quanto s medidas no estruturais, estas se referem s aes de polticas pblicas voltadas ao planejamento do uso do solo e ao gerenciamento, como o zoneamento geoambiental, planos preventivos de defesa civil, educao ambiental (Kobiyama et al. 2006; Vedovello & Macedo 2007). Estas medidas esto melhor detalhadas nos captulos 9 e 10 (Anlise e Mapeamento de Risco e Gerenciamento de Desastres). Entretanto, alm destas h outras medidas que podem ser adotadas tanto pelos moradores quanto pelas equipes de defesa civil municipais (Kobiyama et al. op.cit):

    Como prevenir Evitar construir em encostas muito ngremes e prximos de cursos dgua; No realizar cortes em encostas sem licena da Prefeitura, pois isto

    aumenta a declividade e contribui para a instabilizao do talude; Buscar informaes junto a rgos municipais, estaduais e federais,

    sobre ocorrncias de escorregamentos na sua regio, lembrando que os tcnicos locais so os mais indicados para avaliar o perigo potencial;

    Solicitar s prefeituras estudos sobre a regio, alm de planos de controle e de monitoramento das reas de risco;

    Promover junto a comunidade, aes preventivas para aumento da segurana em relao a escorregamentos;

    No desmatar as encostas dos morros; No lanar lixo ou entulho nas encostas e drenagens, pois eles retm a gua

    das chuvas aumentando o peso e causando instabilizaes no terreno; Verificar a estrutura de sua casa, muros e terrenos, observando

    se aparecem rachaduras e fissuras que podem ser indicativos de movimentaes do terreno com possibilidade de evoluir para a ruptura e queda da moradia. Neste caso deve-se procurar um tcnico competente ou a defesa civil local para fazer uma avaliao urgente;

    Acompanhar os boletins meteorolgicos e as notcias de rdio e TV de sua regio. Em geral, os escorregamentos so desencadeados por chuvas intensas.

    Bibliografia recomendada

    CARVALHO, C. S. & GALVO, T. (Org) 2006. Preveno de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaborao de Polticas Municipais. Braslia: Ministrio das Cidades; Cities Alliance, 2006.

    FERNANDES, N. F. & AMARAL, C. P. 1996. Movimentos de massa: uma abordagem geolgico-geomorfolgica. In: GUERRA, A. J. T. e CUNHA, S. B. (org) Geomorfologia e Meio Ambiente. Bertrand, Rio de Janeiro. p. 123-194.

    32085002 miolo.indd 38 19/1/2010 10:59:56

  • 32085002 miolo.indd 39 19/1/2010 10:59:57

  • 32085002 miolo.indd 40 19/1/2010 10:59:59

  • CAPTULO 3INUNDAES E ENCHENTES

    3.1. Introduo

    Inundaes e enchentes so eventos naturais que ocorrem com periodicidade nos cursos dgua, frequentemente deflagrados por chuvas fortes e rpidas ou chuvas de longa durao.

    Segundo UN-ISDR 2002, as inundaes e enchentes so problemas geoambientais derivados de fenmenos ou perigos naturais de carter hidrometeorolgico ou hidrolgico, ou seja, aqueles de natureza atmosfrica, hidrolgica ou oceanogrfica. Sabe-se hoje que as inundaes esto relacionadas com a quantidade e intensidade da precipitao atmosfrica (Souza, 1998). A magnitude e frequncia das inundaes ocorrem em funo da intensidade e distribuio da precipitao, da taxa de infiltrao de gua no solo, do grau de saturao do solo e das caractersticas morfomtricas e morfolgicas da bacia de drenagem. A figura 3.1 ilustra a diferena entre uma situao normal do volume de gua no canal de um curso dgua e nos eventos de enchente e inundao.

    Em condies naturais, as plancies e fundos de vales estreitos apresentam lento escoamento superficial das guas das chuvas, e nas reas urbanas estes fenmenos tm sido intensificados por alteraes antrpicas, como a impermeabilizao do solo, retificao e assoreamento de cursos dgua. Este modelo de urbanizao, com a ocupao das plancies de inundao e impermeabilizaes ao longo das vertentes, o uso do espao afronta a natureza, e, mesmo em cidades de topografia relativamente plana, onde, teoricamente, a infiltrao seria favorecida, os resultados so catastrficos (Tavares & Silva, 2008).

    Alm de inundao e enchente, existem tambm os conceitos de alagamento e enxurrada, usualmente empregados em reas urbanas.

    De acordo com Min. Cidades/IPT (2007), o alagamento pode ser definido como o acmulo momentneo de guas em uma dada rea por problemas no sistema de drenagem, podendo ter ou no relao com processos de natureza fluvial.

    Figura 3.1 - Perfil esquemtico do processo de enchente e inundao (Fonte: Min. Cidades/IPT, 2007).

    32085002 miolo.indd 41 19/1/2010 11:00:03

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir42

    A enxurrada definida como o escoamento superficial concentrado e com alta energia de transporte, que pode ou no estar associado a reas de domnio dos processos fluviais. comum a ocorrncia de enxurradas ao longo de vias implantadas sobre antigos cursos dgua com alto gradiente hidrulico e em terrenos com alta declividade natural.

    Inundao representa o transbordamento das guas de um curso dgua, atingindo a plancie de inundao ou rea de vrzea. As enchentes ou cheias so definidas pela elevao do nvel dgua no canal de drenagem devido ao aumento da vazo, atingindo a cota mxima do canal, porm, sem extravasar.O alagamento um acmulo momentneo de guas em determinados locais por deficincia no sistema de drenagem.A enxurrada escoamento superficial concentrado e com alta energia de transporte, que pode ou no estar associado a reas de domnio dos processos fluviais.

    Fonte: Min. Cidades/IPT (2007)

    O banco de dados Emergency Database - EM-DAT (OFDA/CRED, 2009), uma compilao de dados e informaes sobre a ocorrncia de desastres obtidos de diversas fontes, como agncias das Naes Unidas, organizaes no governamentais, companhias de seguros, institutos de pesquisa e agncias de notcias. No EM-DAT, o Brasil classificado como um dos pases do mundo mais afetados por inundaes e enchentes (Figura 3.2), com mais de 60 desastres cadastrados no perodo de 1974 a 2003.

    A Tabela 3.1 apresenta as estatsticas histricas de desastres causados por inundaes e enchentes cadastrados no Brasil, da dcada de 1940 at a atualidade.

    Tabela 3.1. Registros de Inundaes no Brasil no perodo de 1940 a 2008 (Fonte: EM-DAT/OFDA/CRED 2009)

    Perodo N de Eventos N de Mortes N de Afetados(Desabrigados/Desalojados)2000-2008 27 776 2.466.5921990-1999 20 386 317.7931980-1989 23 1598 8.789.6131970-1979 11 1142 2.902.3711960-1969 13 1818 825.9861950-1959 2 212 -*1940-1949 1 200 -*

    * sem registro

    32085002 miolo.indd 42 19/1/2010 11:00:03

  • Inundaes e enchentes 43

    Figura 3.2 - N de ocorrncias de desastres relacionados s inundaes e enchentes registradas no Brasil no perodo entre 1974 e 2003. Fonte: EM-DAT/OFDA/CRED 2009.

    Em 2008, o relatrio anual de estatsticas de desastres da OFDA/CRED aponta o Brasil em 10 lugar entre os pases do mundo com maior nmero de vtimas relacionadas aos Desastres Naturais. Foram 1,8 milhes de pessoas, todas afetadas por desastres hidrolgicos, que englobam inundaes, enchentes e movimentos de massa. (OFDA/CRED, 2009)

    Em relao aos impactos econmicos causados pelos desastres, o Brasil est em 7 lugar, com cerca de US$ 1 bilho em prejuzos em 2008 (Figura 3.3).

    Figura 3.3 - N de Vtimas e danos econmicos dos Desastres Naturais em 2008 (listagem dos 10 pases mais afetados). Fonte: EM-DAT/OFDA/CRED 2009

    32085002 miolo.indd 43 19/1/2010 11:00:07

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir44

    Legenda: IN Inundaes; Es Escorregamentos; TE Tempestades (Furaces, Tornados e Vendavais); SE Secas; TX Temperatura Extrema; IF Incndios Florestais; TR Terremoto.Figura 3.4 - Tipos de desastres naturais ocorridos no Brasil entre 1900 e 2006. Fonte: Marcelino (2007)

    Para Marcelino (2007), as inundaes representam cerca de 60% dos desastres naturais ocorridos no Brasil no sculo XX (Figura 3.4). Deste total de desastres registrados no pas, 40% ocorreram na regio Sudeste.

    Figura 3.5 - Proporo entre os eventos relacionados inundao, enchentes e alagamentos e os demais atendimentos realizados pela Coordenadoria de Defesa Civil Estadual (CEDEC) em Municpios do Estado de So Paulo, no perodo de 2000 a 2008. Fonte dos Dados: CEDEC (2009)

    No Estado de So Paulo, os eventos de inundao, enchentes e alagamentos representaram cerca de 60% dos atendimentos realizados pela Coordenadoria de Defesa Civil Estadual (CEDEC) no perodo entre 2000 e 2008, conforme representado na Figura 3.5. Do total de eventos registrados neste perodo relacionados inundao, enchentes e alagamentos (944 eventos), cerca de 40% ocorreram na UGRHI (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hdricos) Alto Tiet, que agrega a maioria dos municpios da Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP). Este resultado pode ser explicado, em grande parte, pelo fato de que a RMSP tem alta taxa de impermeabilizao do solo, alm de modificaes estruturais nos cursos dgua, como retificaes, canalizaes, entre outras.

    32085002 miolo.indd 44 19/1/2010 11:00:08

  • Inundaes e enchentes 45

    3.2. Condicionantes dos processos

    A probabilidade e a ocorrncia de inundao, enchente e de alagamento so analisadas pela combinao entre os condicionantes naturais e antrpicos.

    Entre os condicionantes naturais destacam-se: a) formas do relevo;b) caractersticas da rede de drenagem da bacia hidrogrfica;c) intensidade, quantidade, distribuio e frequncia das chuvas;d) caractersticas do solo e o teor de umidade;e) presena ou ausncia da cobertura vegetal.O estudo desses condicionantes naturais permite compreender a dinmica

    do escoamento da gua nas bacias hidrogrficas (vazo), de acordo com o regime de chuvas conhecido.

    A plancie de inundao, tambm denominada vrzea, uma rea que periodicamente ser atingida pelo transbordamento dos cursos dgua, constituindo, portanto, uma rea inadequada ocupao, como apresentado nas Figuras 3.6 a 3.8.

    De acordo com as caractersticas do vale possvel prever a velocidade do processo de inundao. Os vales encaixados (em V) e vertentes com altas declividades predispem as guas a atingirem grandes velocidades em curto tempo, causando inundaes bruscas e mais destrutivas. Os vales abertos, com extensas plancies e terraos fluviais predispem inundaes mais lentas (graduais), devido ao menor gradiente de declividade das vertentes do entorno, conforme demonstrado na Figura 3.9.

    Chuvas intensas e/ou de longa durao favorecem a saturao dos solos, o que aumenta o escoamento superficial e a concentrao de gua nessas regies. A cobertura vegetal tambm um fator relevante, visto que a presena de vegetao auxilia na reteno de gua no solo e diminui a velocidade do escoamento superficial, minimizando as taxas de eroso.

    Entre os condicionantes antrpicos citam-se:a) uso e ocupao irregular nas plancies e margens de cursos dgua;b) disposio irregular de lixo nas proximidades dos cursos dgua;c) alteraes nas caractersticas da bacia hidrogrfica e dos cursos dgua (vazo,

    retificao e canalizao de cursos dgua, impermeabilizao do solo, entre outras);

    Figura 3.6 - guas ocupam a plancie de inundao do Rio Itaja (SC), em 2008. Foto: Acervo IG.

    Figura 3.7 - Residncia localizada na plancie de inundao do Rio Ribeira de Iguape (SP), atingida pelas guas em 2005 Foto: Ney Ikeda (DAEE).

    32085002 miolo.indd 45 19/1/2010 11:00:10

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir46

    d) intenso processo de eroso dos solos e de assoreamento dos cursos dgua.As grandes cidades, particularmente as Regies Metropolitanas, apresentam

    graves problemas com inundaes decorrentes da ocupao das margens dos cursos dgua por pessoas de baixa renda, como a perda de vidas e de bens materiais (Figuras 3.10, 3.11 e 3.12). A ocupao dessas reas marginais pelo homem deve ser orientada pelo disposto na legislao brasileira, em especial nas Leis Federais n 4.771/65 (Cdigo Florestal) e n 6.766/79 (Parcelamento do Solo Urbano).

    A disposio inadequada de lixo e entulho nas proximidades dos cursos d guas (Fig. 3.13), acentua esses problemas.

    A impermeabilizao dos solos pelo asfalto impede a infiltrao e responsvel pelo aumento da velocidade do escoamento superficial. As retificaes, as canalizaes e o assoreamento tambm alteram a dinmica da vazo dos cursos dgua. Com a eliminao dos meandros (curvas) existentes em alguns cursos d gua, que reduzem gradualmente a velocidade da gua, ocorre a concentrao do fluxo em pouco tempo, e gera as chamadas inundaes relmpagos.

    A ONU (Organizao das Naes Unidas) recomenda uma taxa de rea verde por habitante da ordem de 12 m/hab. Considerando a rea urbanizada do municpio de So Paulo, essa taxa de 3,59 m/hab de reas verdes pblicas, e de 5,52 m/hab incluindo as reas verdes particulares (gramados, arborizao de quintais e caladas) (Ross, 2001).

    Dessa forma, a conjugao dos condicionantes acima listados, aliados a alta densidade populacional das plancies, um nico evento pode causar danos extensos em relao ao nmero de pessoas afetadas.

    O nmero de afetados relacionados aos processos de inundao, enchentes e alagamentos geralmente elevado, pois envolve efeitos diretos e indiretos. Dentre os efeitos diretos destacam-se as mortes por afogamento, destruio de moradias e danos materiais. Entre os efeitos indiretos destacam-se as doenas transmitidas por gua contaminada, como a leptospirose, a febre tifide, a hepatite e a clera (Min. Cidades/IPT, 2007).

    Figura 3.8 - guas ocupam a plancie de inundao do Rio Ribeira de Iguape (SP), em 2005. Foto: Ney Ikeda (DAEE).

    Figura 3.9 - Diferenas entre inundao gradual e brusca (Kobiyama et al. 2006).

    32085002 miolo.indd 46 19/1/2010 11:00:10

  • Inundaes e enchentes 47

    Figura 3.10 - Construes irregulares em margens de crregos no Municpio de Po/SP, em 2006. Fotos: Acervo IG

    Figura 3.12 - Construes irregulares em margens de crregos no Municpio de Po/SP, em 2006. Fotos: Acervo IG

    Figura 3.13 - Disposio de entulho e lixo em curso dgua no Municpio de Cotia/SP, em 2006. Fotos: Acervo IG.

    Figura 3.11 - Construo em palafita sobre curso dgua no Municpio de Cotia/SP. Fotos: Acervo do IG (2006).

    3.3. A gesto dos riscos associados a inundaes, enchentes e alagamentos

    Os desastres naturais relacionados s inundaes, enchentes e alagamentos causam grande nmero de pessoas afetadas, alm de impactos econmicos severos.

    O fluxograma a seguir prope uma sequncia de aes a ser executada nas diversas etapas da inundao, com a implementao de medidas para a reduo de perdas (modificado de Rodrigues et. al. 1997 apud Vestena 2008) (Figura 3.14).

    3.4. Aes e medidas preventivas

    As medidas preventivas so essenciais e devem considerar as fases sequenciais, que so pr-evento, evento e ps-evento, bem como as aes que incluem prontido, ao emergencial e recuperao (Kobiyama et. al. 2004).

    As medidas preventivas que visam minimizar os danos fsicos e riscos de contrair doenas, para todas as etapas da inundao, se do em trs momentos (Kobiyama et. al. 2006): antes, durante e depois.

    32085002 miolo.indd 47 19/1/2010 11:00:15

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir48

    Como prevenirAntes de comprar um imvel ou terreno, verificar se o local no se encontra em rea de risco.A educao ambiental uma das mais importantes formas de evitar os problemas relacionados inundao e enchentes. Deve-se respeitar a legislao de reas de Proteo Permanente (APPs) e no depositar lixo e resduos slidos no sistema de drenagem.A informao essencial segurana: em caso de chuvas fortes por muitos dias ou horas seguidas, acompanhar o noticirio e os boletins meteorolgicos. desaconselhvel o deslocamento por locais alagados ou inundados, seja a p, a nado ou no carro. H o risco de contrair doenas, afogamento ou de ser atingido por choque eltrico.

    Fonte: modificado de Kobiyama et. al. (2006)

    3.4.1. Antes da inundao

    A primeira providncia verificar os locais que so considerados como rea de risco. Esta informao pode ser obtida junto COMDEC Comisso Municipal de

    Figura 3.14 - Sequncia lgica na implementao de medidas para a reduo de perdas. (Fonte: modificado de Rodrigues et. al. 1997 apud Vestena 2008)

    32085002 miolo.indd 48 19/1/2010 11:00:17

  • Inundaes e enchentes 49

    Defesa Civil, Prefeitura Municipal ou aos moradores antigos da rea. Da mesma forma, a ocupao em reas de risco deve ser denunciada aos rgos competentes pela fiscalizao. Deve-se verificar a existncia de abrigos em reas elevadas para o caso de ocorrer uma emergncia com necessidade de alojamento de desabrigados.

    De acordo com a legislao no permitido construir em plancies de inundao, que so reas de Proteo Permanente APPs. Estas reas so sujeitas a inundaes peridicas, devido dinmica natural dos cursos dgua. importante que o Municpio fiscalize estas reas de forma a no permitir a ocupao, bem como manter a funo de permeabilidade e reteno de sedimentos em direo ao curso d gua. Os planos diretores municipais tambm constituem um instrumento restritivo ocupao destas reas. Quando incorporados por um mapeamento de reas de risco (escorregamento, inundao e eroso), estes planos permitem melhor gesto de aes estruturais e no estruturais na preveno e de desastres, como exemplificado na Figura 3.15.

    A educao ambiental outro instrumento muito importante. A populao deve ter conscincia de que a disposio inadequada de lixo e entulho causa problemas no sistema de drenagem e na vazo dos rios, causando alagamentos, enchentes e inundaes.

    Em casos de chuva forte por muitos dias ou horas seguidas, a populao deve ficar alerta ao nvel da gua nos rios, acompanhando boletins meteorolgicos e noticirios de sua regio.

    Figura 3.15 - Exemplo de delimitao de rea de risco inundao no Municpio de Po (A8/S2/R4: rea 8, Setor 2 e Risco 4 Muito Alto) (Fonte: IG, 2006).

    32085002 miolo.indd 49 19/1/2010 11:00:19

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir50

    Se as guas comearem a invadir as moradias e no for possvel sair, deve-se permanecer na parte mais alta e segura da casa. Da mesma forma deve-se colocar alimentos e objetos de valor em locais elevados para que no tenham contato com a gua. importante desligar a energia eltrica.

    3.4.2. Durante a inundao

    desaconselhvel o deslocamento por locais alagados ou inundados, seja a p, a nado ou no carro. Alm do risco de afogamento, h o perigo dos choques eltricos, relacionados queda de fios, postes e linhas de transmisso.

    O contato corporal, o consumo da gua de inundao ou o consumo de alimentos que tiveram contato com a gua, podem causar a leptospirose, a febre tifide, a hepatite e a clera.

    Os Planos de Contingncia a inundao, enchentes e alagamentos, elaborados principalmente pelas prefeituras e com a participao da comunidade, so importantes instrumentos empregados como medida preventiva e tambm como medida emergencial durante a ocorrncia de um determinado evento.

    Da mesma forma, os sistemas de alerta tm como objetivo informar a populao sobre a ocorrncia de cheias em tempo hbil. So instrumentos muito importantes para regies crticas e com inundaes e enchentes recorrentes, como o caso do Vale do Ribeira de Iguape (SP), cujas condies climticas e as caractersticas morfolgicas da bacia hidrogrfica favorecem as grandes cheias.

    Entretanto, so situaes em que se deve acionar a Defesa Civil (Telefone 199) e o Corpo de Bombeiros (Telefone 193).

    3.4.3. Depois da inundao

    Os moradores que tiverem sido retirados de suas casas no devem retornar at que tenham autorizao das autoridades competentes (Defesa Civil ou Corpo de Bombeiros). necessrio averiguar se as estruturas do imvel no foram comprometidas.

    Devem ser lavados e desinfetados todos os objetos que tiveram contato com as guas da inundao, assim como as caixas dgua. As casas devem ser abertas e ventiladas.

    totalmente desaconselhado o uso de fontes naturais e poos depois da inundao. Para beber e preparar alimentos, a gua dever ser fervida por no mnimo cinco minutos.

    importante limpar os disjuntores antes de ligar a energia eltrica.Deve ser removido todo o lixo da casa e do quintal e depositado em local

    apropriado para ser recolhido pelo rgo de limpeza pblica.

    3.5. Outras medidas para minimizar os problemas

    As vrzeas, cabeceiras de drenagem ou reas prximas aos cursos dgua, indubitavelmente, no podem ser cobertas pelo asfalto das ruas ou pelo concreto das construes, pois, medida que a cidade cresce, elas se tornam imprescindveis na defesa da rea urbana contra situaes chuvosas extremas (Tavares & Silva, 2008). No

    32085002 miolo.indd 50 19/1/2010 11:00:19

  • Inundaes e enchentes 51

    entanto, na maioria das grandes cidades, essa impermeabilizao j ocorreu. Desta forma, necessrio que os rgos gestores empreguem medidas alternativas para dissipar os problemas anunciados.

    Na Regio Metropolitana de So Paulo uma das solues mais adotadas tem sido a construo de piscines, que funcionam como reservatrios temporrios em perodos de inundaes. No entanto, tem como desvantagem o custo de construo e manuteno.

    A realizao de estudos climticos auxilia no processo decisrio sobre medidas estruturais a serem implantadas, na determinao de cotas de risco e no tempo de retorno, que essencial e deve ser executada de forma sistemtica nos municpios com problemas de inundao (Pinheiro, 2007).

    De qualquer forma, as aes governamentais e as pesquisas de novas solues para os problemas devem ser integradas e incluem o planejamento de novas reas de expanso urbana, a preservao e recuperao de reas de proteo permanente, a reteno e conservao da gua ao longo das vertentes (aumento da permeabilidade do solo) e a educao ambiental.

    Gonalves e Borges (2007) fizeram uma coletnea de propostas alternativas para os problemas de hidrologia urbana de forma a minimizar os efeitos das inundaes em

    Figura 3.16 - Coleta in situ: sistema de losangos. (Agostinho, 2001 apud Gonalves e Borges, 2007)

    Figura 3.17 - Pequenas bacias de reteno de gua. (Agostinho, 2001 apud Gonalves e Borges, 2007)

    Figura 3.18 - Exemplos de aplicao de microdrenagem. (Agostinho, 2001 apud Gonalves e Borges, 2007)

    32085002 miolo.indd 51 19/1/2010 11:00:19

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir52

    reas densamente ocupadas. No entanto, como o espao nas reas urbanas metropolitanas est amplamente impermeabilizado, as solues passam por pequenas contribuies para a infiltrao, em cada terreno, praa e rea verde, conforme as Figuras 3.16 a 3.18.

    3.6. Consideraes finais

    As aes voltadas gesto dos problemas geoambientais requerem intenso planejamento territorial, organizao institucional e participao da comunidade. Essas aes devem contemplar metas que respondam diversas situaes: antes, durante e depois dos eventos de inundaes, enchentes e alagamentos.

    Para alcanarem maior eficincia e eficcia, as sugestes e alternativas apresentadas neste texto devem estar intrinsecamente ligadas legislao e s Polticas Pblicas.

    Ressalta-se, finalmente, que as aes para a reduo de perdas e danos nos eventos de inundao, enchente e alagamento, bem como em outros problemas geoambientais, no so de responsabilidade apenas do poder pblico, mas tambm da sociedade como um todo. E isso j est devidamente definido em nossa Carta Magna (Constituio), conforme o art. 5:

    Art. 5 - Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.

    Bibliografia recomendada

    CANHOLI, A.P. Drenagem urbana e controle de enchentes. So Paulo: Oficina de Textos, 2005, 302 p.

    TUCCI, C.E.M. Controle de enchentes. In: Hidrologia Cincia e Aplicao. Porto Alegre: ABRH- Editora UFRGS, 3 ed., 2002, p. 621-58.

    32085002 miolo.indd 52 19/1/2010 11:00:21

  • 32085002 miolo.indd 53 19/1/2010 11:00:22

  • 32085002 miolo.indd 54 19/1/2010 11:00:24

  • CAPTULO 4EROSO CONTINENTAL

    4.1. Introduo

    O processo erosivo causado pela gua das chuvas ocorre na maior parte da superfcie da terra, principalmente nas regies de clima tropical, onde as chuvas atingem ndices pluviomtricos elevados. A eroso agravada pela concentrao das chuvas num determinado perodo do ano que, normalmente na Regio Sudeste do Brasil, corresponde primavera e ao vero.

    Enquanto a dinmica da eroso segue uma evoluo natural, o sistema ambiental mantm-se em equilbrio dinmico. Porm, a partir das intervenes antrpicas, medida que mais reas so desmatadas para a produo agrcola, o processo de eroso tende a se acelerar. Os solos que ficam desprotegidos da cobertura vegetal so submetidos ao das chuvas que passam a incidir diretamente sobre a superfcie do terreno (Santoro, 1991 e 2000). A partir deste quadro de desequilbrio, grande quantidade de solo perdida pela acelerao da evoluo dos processos erosivos. A eroso acelerada pelas atividades humanas conhecida por eroso antrpica.

    4.2. Conceituao do fenmeno de eroso

    Entende-se por eroso o processo de desagregao e remoo de partculas do solo ou de fragmentos e partculas de rochas pela ao combinada da gravidade com a gua, vento, gelo e/ou organismos (plantas e animais) (IPT, 1986).

    Com relao aos processos erosivos decorrentes da ao da gua destacam-se dois tipos principais, de acordo com a forma como ocorre o escoamento das guas superficiais: a eroso laminar ou em lenol produzida por escoamento difuso das guas de chuva, e a eroso linear, quando devido concentrao do escoamento superficial, resulta em incises na superfcie do terreno, em forma de sulcos que podem evoluir por aprofundamento, formando as ravinas. No entanto, se a eroso se desenvolve no somente pela contribuio das guas superficiais, mas tambm por meio das guas subsuperficiais, incluindo o lenol fretico, ocorre a presena do processo conhecido por booroca ou vossoroca1, incluindo fenmenos de piping (eroso interna ou tubular) (Figuras 4.1 e 4.2).

    O piping se d pela remoo de partculas do interior do solo, formando canais que aumentam em sentido contrrio ao do fluxo dgua, provocando colapsos do terreno, com desabamentos que alargam a booroca ou criam novos ramos. Devido a essa ao do fluxo de gua subsuperficial, a booroca um processo erosivo com alto poder destrutivo no qual atuam diversos fenmenos: eroso superficial, eroso interna, solapamentos, desabamentos e escorregamentos (Salomo & Iwasa, 1995). A conteno destes processos bastante difcil, em geral, necessitam de obras de grande porte.

    1 etimologicamente, a palavra booroca provm do tupi-guarani ibi-oroc, e tem o significado de terra rasgada, ou ento de mba-orogca, traduzvel por coisa rasgada, Santoro, 1991.

    32085002 miolo.indd 55 19/1/2010 11:00:24

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir56

    Eroso laminar acontece quando a gua escoa uniformemente pela superfcie do terreno, transportando as partculas de solo, sem formar canais definidos (Figura 4.3). Apesar de ser uma forma mais amena de eroso, responsvel por grandes prejuzos s terras agrcolas e pelo fornecimento de grande quantidade de sedimentos que assoreiam rios, lagos e represas.A eroso linear aquela causada pela concentrao do escoamento superficial e de fluxos dgua em forma de filetes. Sua evoluo d origem a trs tipos diferentes de eroso: Sulco - um tipo de eroso no qual o fluxo dgua ao atingir maior volume transporta maior quantidade de partculas, formando incises na superfcie de at 0,5 m de profundidade e perpendiculares s curvas de nvel;Ravinas - so formas erosivas lineares com profundidade maior que 0,5 m, neste caso as guas do escoamento superficial escavam o solo at seus horizontes inferiores; possuem forma retilnea, alongada e estreita;Booroca - a forma mais complexa de eroso linear, neste caso ocorre o aprofundamento da eroso at atingir o nvel fretico que aflora no fundo do canal. H, ento, ao combinada das guas do escoamento superficial e subterrneo, o que condiciona uma evoluo da eroso lateral e longitudinalmente

    (Proin/CAPES e UNESP/IGCE, 1999).

    4.3. Fatores naturais que influenciam a eroso

    De uma maneira geral, em quase todo solo removido pela eroso, h necessidade da presena da gua sobre o terreno. Esta gua que cai sob forma de chuva exerce ao erosiva sobre o solo. Estando desprotegido de vegetao ou mesmo das prticas conservacionistas, o solo sofre uma ao de desagregao com o impacto da gota de chuva, que depois o arrasta, principalmente nos primeiros minutos da chuva. A quantidade de solo removido depende muito das caractersticas do solo, da declividade do terreno e da intensidade da chuva.

    Os diferentes fatores intervenientes no fenmeno da eroso podem ser analisados dentro dos seguintes itens: clima, cobertura vegetal, relevo e tipo de solo.

    Clima

    Dos fatores climticos, o mais importante , sem dvida, a precipitao. A principal influncia da precipitao no processo erosivo no considerada apenas pela quantidade anual de chuva, mas principalmente pela distribuio das chuvas durante o ano, mais ou menos regular, no tempo e no espao, e sua intensidade (Santoro, 1991).

    32085002 miolo.indd 56 19/1/2010 11:00:25

  • Eroso continental 57

    Figura 4.1 - Modelo de evoluo de boorocas: (I) booroca conectada rede hidrogrfica; (II) booroca desconectada da rede hidrogrfica; (III) integrao entre os dois tipos anteriores. A seta na figura III aponta para o degrau formado no momento da integrao. (Fonte: Oliveira, 1989, modificado).

    Figura 4.2 - Processo erosivo na forma de booroca, na cidade de Rancharia - SP. (Fonte: Arquivo IG, 2001)

    Figura 4.3 - Eroso laminar em solo arenoso. (Fonte: Weill & Pires Neto, 2007).

    Assim, nas regies de precipitao abundante e regularmente distribuda, h geralmente a formao de solos profundos e permeveis que resistem bem eroso. Nestes solos desenvolvem-se florestas mais densas que os protegem totalmente do impacto das chuvas e retm facilmente os materiais removidos pelo escoamento superficial.

    Nas regies em que as chuvas so mal distribudas, havendo um perodo seco, como acontece nas regies subtropicais, onde se encontra a maior parte da rea cultivada

    32085002 miolo.indd 57 19/1/2010 11:00:28

  • Desastres naturais: conhecer para prevenir58

    do Brasil, bastante desastrosa a ao das chuvas da primavera e do vero, que encontram o solo desprotegido pelos cultivos, provocando bastante eroso. No Estado de So Paulo, as chuvas mais intensas acontecem no vero. Neste perodo do ano, em que so freqentes os temporais e pancadas de chuvas fortes, ocorre uma acelerao dos processos erosivos. reas desprotegidas desenvolvem eroso laminar e em sulcos. Ravinas e boorocas avanam rapidamente, podendo gerar situaes de risco ao atingirem reas urbanas, com danos a moradias e vias de acesso.

    Cobertura vegetal

    A cobertura vegetal a defesa natural de um terreno contra os processos erosivos. Entre os principais efeitos da cobertura vegetal na proteo do solo, Bertoni & Lombardi Neto (1990), destacam os seguintes:

    proteo do solo contra o impacto das gotas de chuva; disperso e interceptao das gotas dgua antes que esta atinja o solo; ao das razes das plantas, formando poros e canais que aumentam a

    infiltrao da gua; ao da matria orgnica que incorporada ao solo melhora sua estrutura e

    aumenta sua capacidade de reteno de gua; diminuio da energia do escoamento superficial devido ao atrito na

    superfcie.As gotas de chuva ao carem sobre a cobertura vegetal, so interceptadas pelas

    folhas, dividindo-se em diversas gotas menores, diminuindo, assim, seu impacto ao cair no solo. A vegetao tambm facilita a evaporao das gotas, antes destas chegarem ao solo. Na situao de um terreno descoberto, o impacto das gotas faz as partculas dos solos se desprenderem e serem facilmente transportadas pelo escoamento superficial, que por sua vez facilitado devido falta do atrito da vegetao no terreno, agravando a eroso. Alm disso, a vegetao, ao se decompor, adiciona matria orgnica e hmus, melhorando a porosidade e a capacidade de reteno de gua no solo (Bertoni & Lombardi Neto, 1990).

    Relevo

    Os fatores associados ao relevo que interferem nos processos erosivos so principalmente os relativos declividade dos terrenos, s formas das vertentes (encostas) e extenso da vertente.

    A declividade tem influncia decisiva na intensidade da eroso. A relao entre o aumento da declividade e o incremento da eroso, de acordo com as normas de conservao do solo, constitui, para certos terrenos, fator limitante da agricultura. Duley & Hays (apud Ayres,1976), em experincias feitas em estufas e no campo, observaram que o escoamento aumenta rapidamente entre 0 e 3% de declive e, da em diante, o seu aumento relativamente menor para cada 1% de acrscimo na declividade.

    O aumento da declividade de uma vertente provoca o aumento da velocidade do escoamento superficial e, como consequncia, cresce tambm a sua capacidade erosiva,

    32085002 miolo.indd 58 19/1/2010 11:00:28

  • Eroso continental 59

    passando a retirar do solo, partculas e materiais mais grosseiros que a argila e o silte. De acordo com Bertoni & Lombardi Neto (1990), o volume e a velocidade das enxurradas dependem diretamente do grau de declive da vertente. Por exemplo, se o declive do terreno aumenta quatro vezes, a velocidade do fluxo do escoamento superficial aumenta duas vezes e a capacidade erosiva quadruplica.

    A extenso da vertente ou comprimento da rampa tambm um fator importante, pois medida que aumenta a distncia percorrida pelo fluxo, h um acrscimo no volume de gua, bem como um aumento progressivo da velocidade de escoamento. Assim, quanto maior o comprimento de rampa, maior o volume da enxurrada, que, por sua vez, provoca aumento da energia cintica, resultando em maior eroso (Bertoni & Lombardi Neto, 1990).

    Quando se considera a forma da en