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UNESP – Universidade Estadual Paulista FAAC – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação DCHU – Departamento de Ciências Humanas DESCASO: Pobreza e falta de políticas públicas no Brasil João Paulo Monteiro Santos RA: 930997 Disciplina: Realidade Socioeconômica e Política Brasileira Docente: Maximiliano Martin Vicente BAURU 2011

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UNESP – Universidade Estadual PaulistaFAAC – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação

DCHU – Departamento de Ciências Humanas

DESCASO: Pobreza e falta de políticas públicas no Brasil

João Paulo Monteiro Santos RA: 930997

Disciplina: Realidade Socioeconômica e Política BrasileiraDocente: Maximiliano Martin Vicente

BAURU2011

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Introdução

No último mes de maio a ministra de Desenvolvimento e Combate à Fome, Tereza Campello, anunciou os dados de um levantamento feito pelo IBGE que aponta que 8,5% da população brasileira, ou seja, 16,27 milhões de pessoas, se encontram em situação de extrema pobreza. Para reverter tal situação, foi lançado o programa “Brasil sem miséria”. Afirmando que o pla-no consiste em o “Estado chegando aonde a pobreza está”, fica evidente que a situação de pobreza no país se dá por falta da presença do Estado e de po-líticas públicas mais efetivas.

Os oito anos do governo Lula promoveram significativas transformações sociais no país, sem dúvidas. 55 milhões de brasileiros foram tirados da po-breza e da miséria extrema desde 2003, e mais de 14 milhões conquistaram empregos com carteira assinada. Por estas mudanças, a ONU reconheceu o Brasil como um exemplo para o mundo na valorização dos seres humanos.Porém, houve de fato um desenvolvimento econômico, uma distribuição de renda justa e promoção de justiça social de fato? O governo registrou índices históricos na erradicação na miséria, mas, estes números são o suficiente?

Segundo os órgãos oficiais do governo, o Bolsa Família, por exemplo, foi criado para atender duas finalidades básicas: enfrentar o maior desafio da sociedade brasileira, que é o de combater a miséria e a exclusão social, e também promover a emancipação das famílias mais pobres. Antes de sua criação pelo governo Lula, haviam vários programas voltados à família de renda abaixo da linha de pobreza, tal como o Bolsa Escola, Bolsa Alimenta-ção, Cartão Alimentação e o Auxílio Gás. A unificação de todos esses pro-gramas deu origem ao Bolsa Família. Ou seja, o Estado definiu valores às necessidades da população, se livrou de suas responsabilidades, e passou a dar dinheiro para a população. A transferência de responsabilidade não foi propriamente notada pelos favorecidos pelo projeto, que recebiam dinheiro, tornando, assim, o programa aceito de forma imediata.

O que se nota diante de toda esta situação? O Estado não possui estrutura para aplicar reformas estruturais, como na educação, saúde, etc., então, pas-sou para a própria população a responsabilidade, com a idéia de que dando dinheiro para a população, o mercado naturalmente se ajustaria. Porém, o que se vê nos dias de hoje é um número muito elevado de pobres: 16,27 milhões. Cabe ao Estado direcionar corretamente suas políticas sociais, de modo a garantir uma situação de “não-pobreza”, diferente do que se vê nos dias de hoje, pura politicagem, onde o que se busca é a aceitação do povo, através de medidas populistas que não resolvem o problema.

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O Plano Brasil Sem Miséria é direcionado aos brasileiros que vivem em lares cuja renda familiar é de até R$ 70 por pessoa. O programa, assim como boa parte das políticas sociais do Governo Lula e agora do Governo Dilma que visam combater a pobreza, atua, principalmente, no Nordeste do país e nas periferias dos grandes centros urbanos, áreas de concentração da pobreza. Agregando transferên-cia de renda, acesso a serviços públicos, nas áreas de educação, saúde, assistência social, saneamento e energia elétrica, e inclusão produtiva, o projeto é um conjunto de ações que envolvem a criação de novos programas e a ampliação de iniciativas já existentes, em parceria com estados, municípios, empresas públicas e privadas e organizações da sociedade civil. Desse modo, o Governo Federal quer incluir a população mais pobre nas oportunidades geradas pelo crescimento econômico brasileiro, o qual beneficia poucos, não trazendo mudanças a grande parte da população.

Encontrar pobreza em nosso país, infelizmente, é algo fácil. A pobreza, concentrada no Nordeste e nas periferias dos grandes centros urbanos, está presente em todos os lugares. Basta dar uma volta por qualquer cidade do país que a pobreza é fácilmente notada. Aqui na cidade de Bauru muitos são os bairros carentes de políticas públicas, que vivem na pobreza, como o Núcleo Fortunato Rocha Lima, o Parque Jaraguá , o Parque Santa Edwirges, o Núcleo Residencial Beija Flor, o Ferradura Mirim e o Jardim Nicéia, entre outros.

Este último bairro, o Jardim Nicéia, será utilizado como exemplo do descaso do Poder público para com as classes menos favorecidas. O bairro não conta com políticas públicas eficientes, tem inúmeros problemas de infraestrutura e muitas vezes depende de ações de órgão não governamentais e de vo-luntários.

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Na praça central do bairro, as tubulações tomam o lugar, que deveria ser um espaço de lazer para os moradores

Basta caminhar pelo Jardim Nicéia e conversar com os moradores para constatar que a maior di-ficuldade enfrentada, entre tantos outros problemas, é a obra parada das galerias de drenagem de águas pluviais: “É o principal problema do bairro”, afirma Joana Miguel da Silva, líder comunitária.E, logo na entrada do bairro é possível observar o contraste social: de um lado ruas de terra, muito mato, falta de estrutura e as tubulações, ainda para serem instaladas. Logo atrás, um alto muro, cercas elétricas e câmeras de segurança cercam um condomínio de luxo

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Do campinho do bairro, é possível observar o condomínio de luxo, logo do outro lado da rua.

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O que aconteceu:No terceiro trimestre de 2010, foram iniciadas obras para insta-lação das galerias. Porém, durante o período de chuvas, no ve-rão, o trabalho foi interrompido e até agora não foi retomado. A Secretaria de Obras afirma que uma área destinada às obras foi ocupada de forma irregular por moradores do bairro e, com isso, não pode concluir a galeria: “acordos estão sendo feitos entre a Secretaria de Planejamento, a liderança da comunidade e o ocu-pante da área, quando o terreno for desocupado, a execução da obra será retomada”, garantiu, através da assessoria de imprensa a Sec. de Obras. Enquanto isso, o que se vê no local das obras é isso: lixo e água parada.

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O acúmulo de lixo, segundo os próprios mo-radores, é de responsabilidade da população do bairro: “Se a população colaborasse, não existiriam esses campos de lixo”.

Cícera Lima Pompeu, 54, do lar

E, há quase um ano parados, até mesmo os tubos de concreto começam a deteriorar.

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O terreno ocupado é resultado do bairro não ser regularizado. Há algum tempo a Prefeitura de Bauru, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e com a Associação dos Moradores do Jardim Nicéia, tenta alcançar a legalização de toda a região que abrange o bairro.

Natasha Lamonica, 31 anos, arquiteta da Seplan (Secretária de Planejamento de Bauru) explica que o processo está correndo na Justiça: “Os imóveis dos moradores serão regularizados e mantidos”. Assim, com o fim do processo, os moradores terão fnalmente os documentos dos terrenos que eles ocupam.

No entanto, o processo para a regularização é demorado por causa de obstáculos burocráticos. Para ultrapassar alguns desses empecilhos, a Prefeitura entrou em convênio com o projeto Cidade Legal, do Governo do Estado. Esse convênio compreende um conjunto de estratégias e ações judiciais para garantir a posse legal do lote aos moradores e a consolidação do loteamento pela prefeitura. Porém, até o momento, assim como as obras das galerias, tudo não passou de promessas.

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O bairro, além dos problemas de infraestrutura, sofre com a sujeira. Os moradores do bairro, porém, afirmam que grande parte da culpa neste caso, são deles próprios, mas a Prefeitura ainda assim deveria tomar alguma medida para imapedir o acúmulo de lixos grandes, como sofás, colchões e até mesmo corpos de animais de estimação mortos.

“Sofá, colchão, essas coisas grandes que o pessoal joga por aí, lixeiro não leva. Aqui só passa o caminhão de lixo. Papelão, coisa grande, não são coletados. Devia ter um caminhão de coleta desses lixos maiores”Marli Soares, 32, auxiliar de limpeza

“O problema maior é a própria população, jogando lixo onde não deve jogar. Se a população colaborasse mais, fizesse a parte dela, poderia ser uma solução”

José Mauro Lucas, 45

“O lixeiro passa e, mesmo assim, tem gente que joga lixo na rua. Cachorro morre e tem gente que joga na frente da casa dos outros. Isso é falta de educação, é problema dos moradores”

Severina Batista da Silva, 48, doméstica

“A coisa aqui tá feia. Tem que tomar providência. Tem coleta de lixo aqui no bairro, só que o povo enche sacola de lixo e joga tudo em qualquer lugar. Nin-guém colabora”

Cícera Lima Pompeu, 54, do lar

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A moradora Adelma Prates de Souza conta que desde que se mudou para o bairro já diziam que ele seria asfaltado e também aponta um problema comum às demais donas de casa: “você precisa limpar a casa várias vezes por dia, tirar a poeira dos móveis. Faz tempo que ouço falar que vão asfaltar as ruas, espero que aconteça logo. Que venha o asfalto!”.Há aproximadamente dois anos, a Prefeitura de Bauru, em parceria com a Secretaria de Obras, autorizou a abertura de licitação para execução de 513 novas quadras de asfalto em 36 bairros divididos em três lotes de obras. Em seu primeiro ano de mandato, o prefeito Rodrigo Agostinho anunciou o maior plano de pavimentação na cidade das últimas décadas. As obras incluíam a execução de guias e sarjetas, além da asfaltização, totalizando um investimen-to superior a R$ 16 milhões.O Jardim Nicéia foi um dos bairros contemplados no Plano de Pavimentação. Segundo Joana Miguel, presidente da Associação de Moradores, foram anunciados R$ 400 mil para os investimentos em infra-estrutura. Para o bairro, estava previsto o asfaltamento de 12 quadras padrão: rua Valdemar Ferreira dos Santos, quadras de 1 a 5, quadra 2 da rua Lucilia Alpino, quadras 1 e 2 da Rua Manoel Hermano, 3 quadras da ligação com a Avenida Antenor de Almeida e 2 quadras da mesma avenida.

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O resultado das obras paradas da galerias é que elas impedem novas obras. Com isso o bairro não pode ser asfaltado. Sem asfalto os postes e as novas fiações elétricas não podem ser instalados. Com os atuais postes, baixos, o caminhão de lixo da Prefeitura não con-segue atender todo o bairro. Um problema acaba criando outro problema.

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Asfalto é mais uma das rei-vindicações dos moradores.

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Muitos moradores do bairro lembram bem de cada promessa fei-ta pelos políticos em período de campanha e que ainda não foram cumpridas. Alguns poucos estão contentes com o bairro, a maio-ria, porém, lembra que só vão no bairro atrás de votos e logo após eleitos, esquecem das promessas, do bairro e dos moradores.

Começaram obras da tubulação no período das eleições, mas agora estão abandonadas. Ano que vem, com as eleições de novo, eles voltam a mexer. Política é sempre a mesma coisa, só se lembra dos pobres quando precisam de votos, depois eles se esquecem da gente e nem voltam para dar satisfa-ção. Aqui o bairro é abandonado”Fernanda Abreu, 27, aux. de enfermagem

“Não estou contente. Chega no dia da eleição e os políticos prometem tanta coisa e acabam não cumprindo. As obras da tu-bulação estão paradas, prometeram colocar postes de luz nas ruas, não tem rede de água. Não cumpriram, está tudo do mesmo jeito, e creio que não vão fazer nada. Isso aqui é um lugar abandonado”

Alexandra dos Santos Silva, 30, doméstica

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A ausência do Poder público no bairro é evidente. Esporadicamente, algumas ações são feitas pelas Secretarias, como a distribuição de mudas de plantas ou o Dia das Crianças. Porém, levar um pouco de lazer para os moradores acaba sendo tarefa da Associação de Moradores, que sempre precisa contar com a aju-da de voluntários. A Festa Junina do bairro, por exemplo, foi planejada pela As-sociação e contou com a ajuda de voluntários, entre eles, estudantes da Unesp, membros do projeto de extensão Voz do Nicéia, um jornal comunitário.

Festa Junina no Nicéia avançou pela fria noite de Bauru. Organizada pela própria Associação dos Mo-radores, a festa contou com fogueira, bandeirinhas, muita música, comes e bebes e até uma pescaria.

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Ações Comunitárias são de grande valor para o bairro. Porém, é impor-tante lembrar que o auxílio de voluntários, ONGs e empresas não pode ser encarado como substitudo do trabalho do Estado.Apesar de todo o esforço das pessoas bem intencionadas em ajudar o bairro e seus moradores, o Estado tem obrigações a cumprir para com os mora-dores e seus deveres somente podem ser cumpridos pelo próprio Estado.

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Crianças se divertem durante o Dia das Crianças. Evento foi organizado pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de Bauru, com parceria da ONG Periferia Legal e a Associação Bauru pela Diversi-dade

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Sem a presença do Estado, ONGs como a Periferia Legal acabam por assumir suas tarefas. Vanderlei Antonio de Oliveira, presidente da ONG Periferia Le-gal, afirma que realizando ações sociais nas periferias da cidade de Bauru, com atividades edu-cativas, culturais, esportivas e de lazer, sua ONG proporciona oportunidades para o desenvol-vimento destass comunidades locais.

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Mesmo convivendo com inú-meros problemas, os moradores não pretendem deixar o bairro. O descaso do Poder Público faz com que os próprios moradores tenham que correr atrás de seus direitos, como saúde, educação, transporte, violência, entre ou-tros. A época das eleições está chegando, e o povo anseia por novos governos, com um olhar mais atento e solidário para aqueles que realmente precisam.E, enquanto esperam por mu-danças, a vida continua.