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Desconsideração da personalidade jurídica nas modalidades inversa, indireta e expansiva, qual a diferença entre elas? Antigamente, bastava saber a diferença entre teoria maior e teoria menor na desconsideração da personalidade jurídica, hoje, porém, o tema ficou mais complexo. Conceito: Segundo o art. 1024 do Código Civil: “os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais”. Esse artigo consagra o que André Santa Cruz Ramos chama de “princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas”. Tal proteção, porém, não é absoluta. Para coibir a prática de atos ilícitos, abusos, confusão patrimonial, há a desconsideração da personalidade jurídica ou teoria da penetração, ou ainda “disregard of the legal entity”. Isso significa que, preenchidos os requisitos legais, é possível, ao juiz, desconsiderar, de forma episódica, o “véu” protetor da pessoa jurídica (=sua personalidade), chegando-se aos bens dos sócios.

DESCONSIDERAÇÃO

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Desconsiderao da personalidade jurdica nas modalidades inversa, indireta e expansiva, qual a diferena entre elas?

Antigamente, bastava saber a diferena entre teoria maior e teoria menor na desconsiderao da personalidade jurdica, hoje, porm, o tema ficou mais complexo.Conceito:

Segundo o art. 1024 do Cdigo Civil: os bens particulares dos scios no podem ser executados por dvidas da sociedade, seno depois de executados os bens sociais.

Esse artigo consagra o que Andr Santa Cruz Ramos chama de princpio da autonomia patrimonial das pessoas jurdicas.

Tal proteo, porm, no absoluta.Para coibir a prtica de atos ilcitos, abusos, confuso patrimonial, h a desconsiderao da personalidade jurdica ou teoria da penetrao, ou ainda disregard of the legal entity.Isso significa que, preenchidos os requisitos legais, possvel, ao juiz, desconsiderar, de forma episdica, o vu protetor da pessoa jurdica (=sua personalidade), chegando-se aos bens dos scios.Ex: dois scios, planejando dar um golpe na praa, zeram o caixa da sociedade, isto , colocam todos os bens da empresa em seus nomes. Dessa forma, quando os credores forem procurar patrimnio possvel de penhora, nada encontraro.Nesse caso, a utilizao de uma petio pelos credores requerendo a desconsiderao da personalidade jurdica ser muito til, pois o juiz, se concordar, determinar o resgate desses bens escondidos.

Requisitos legais:

Quanto aos requisitos, duas teorias se destacam na doutrina brasileira:A. Teoria Maior a desconsiderao, para ser deferida, exige a presena de dois requisitos: abuso da personalidade jurdica (desvio de finalidade ou confuso patrimonial) + prejuzo do credor. Essa teoria foi adotada pelo art. 50, CC.

B. Teoria Menor a desconsiderao da personalidade jurdica exige um nico elemento: prejuzo do credor. Foi adotada pela Lei 9.605/98 e art. 28, CDC.Desconsiderao Inversa:

O Enunciado n. 283 CJF/STJ esclarece que: cabvel a desconsiderao da personalidade jurdica denominada inversa para alcanar bens de scio que se valeu da pessoa jurdica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuzo a terceiros.O exemplo mais comum utilizado pela doutrina o caso em que um marido, scio de uma empresa, sabendo que em virtude do divrcio ter que partilhar seus bens com o cnjuge, decide esconder seu patrimnio no nome da empresa.Note que, nesse caso, o scio esconde seus bens decredores pessoaise no dos credores da empresa.Vale destacar que essa modalidade de desconsiderao admitida, inclusive, pelo STJ, confira:O art. 50, CC, sob a tica de uma interpretao teleolgica, legitima a inferncia de ser possvel a teoria da desconsiderao da personalidade em sua modalidade inversa, que encontra justificativa nos princpios ticos e jurdicos intrnsecos prpria disregard doctrine, que vedam o abuso de direito e a fraude contra credores (Informativo 444 REsp n. 948.117/MS).

Desconsiderao Indireta:

Nesta modalidade de desconsiderao da personalidade jurdica existe a figura de uma empresa controladora cometendo fraudes e abusos por meio de outra empresa que figura como controlada ou coligada (art. 1097- 1.101, CC).Assim, a empresa controlada configura-se como simples longa manus da controladora.No entanto, possvel, com a desconsiderao indireta, atingir o patrimnio da empresa controladora, levantando-se o vu da empresa controlada ou coligada.Desconsiderao Expansiva:

Rafael Mnaco, pioneiro desta nomenclatura em nosso ordenamento jurdico, explica que a desconsiderao expansiva tem a finalidade de atingir o patrimnio do scio oculto de determinada sociedade.Aqui, o individuo se esconde atrs de um terceiro (laranja) para no ser responsabilizado por eventual inadimplemento de qualquer obrigao da sociedade. Dessa forma, a responsabilidade por atos fraudulentos e ilegais recairia sobre essa terceira pessoa e no sobre o scio oculto.Desconsiderao x Despersonalizao

Esses conceitos no podem ser confundidos.O primeiro apenas desconsidera, de forma episdica (breve), a regra pela qual a pessoa jurdica tem existncia distinta de seus membros.J na despersonalizao, a pessoa jurdica dissolvida, exterminada.Resumindo:

Desconsiderao Comum atinge bens da empresa que esto em nome dos scios;Desconsiderao Inversa atinge bens dos scios que esto em nome da empresa;Desconsiderao Indireta atinge bens da empresa controladora que esto em nome da controlada/coligada;Desconsiderao Expansiva atinge bens do scio oculto que esto em nome de terceiro (laranja);Despersonalizao dissoluo da pessoa jurdica.

REFERENTE AO TRABALHO PROPOSTO DE CONFRONTAR DECISES

ACRDOREGISTRO: 2014.0000195169AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISO QUE INDEFERIU A DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA.Agravante: Auto Posto Prncipe II Ltda.Agravada: Petroprime Representao Comercial de Combustveis LtdaJuiz de 1 Instncia: Ricardo Dal Pizzol

Nessa deciso, a corte no indeferiu o referido AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto pela Agravada, visto que ela no comprovou o cumprimento do artigo 526 do CPC.O pargrafo nico do art. 526 do CPC e o princpio da instrumentalidade das formas.O art. 526 do CPC dispe que o agravante deve no prazo de 3 (trs) dias juntar aos autos do processo cpia da petio do agravo e que o seu descumprimento enseja a inadmissibilidade do recurso desde que argudo e provado pelo agravado. Assim prescreve o referido dispositivo:Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (trs) dias, requerer juntada, aos autos do processo de cpia da petio do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposio, assim como a relao dos documentos que instruram o recurso. (Redao dada pela Lei n 9.139, de 30.11.1995)Pargrafo nico. O no cumprimento do disposto neste artigo, desde que argido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo. (Includo pela Lei n 10.352, de 26.12.2001)Para a doutrina mais abalizada o referido dispositivo tem o fim de possibilitar ao magistrado o juzo de retratao, bem como dar conhecimento ao agravado das razes do agravo e dos documentos acostados no referido recurso.Na lio de Fredie Didier Jr.: "Essa exigncia calca-se, pois, em dois interesses: a) do agravante: ensejar um juzo de retratao do magistrado a quo; b) do agravado: proporcionar o imediato conhecimento dos termos do agravo, sem a necessidade do deslocamento ao tribunal (aqui, a preocupao maior com os advogados que atuam em comarcas do interior, distantes da sede do tribunal). Protegem-se, assim, com esta formalidade, interesses estritamente particulares. No h nenhuma justificativa de ordem pblica a ensejar esta providncia, nem mesmo a de dar ao magistrado a quo a cincia do recurso interposto contra a sua deciso. que, ao ser intimado a prestar informaes ao relator, o magistrado tomaria conhecimento do agravo. Alm disso, se o intuito fosse apenas o de dar ensejo retratao (ou dar cincia ao magistrado), no haveria sentido de estabelecer-se prazo para isso. O prazo foi estabelecido como fator garantido do outro interesse: o do agravado" (Curso de Direito Processual Civil, Editora Podivm, vol. 3, ano 2007. p. 140).Sendo assim, a corte achou prematuro o pedido de desconsiderao inversa, com objetivo de atingir bens da empresa 101 Brasil Petrleo S/A, mas que dever ser analisado posteriormente, se ficar constatado a inexistncia de bens em nome dos scios e que estejam presentes os requisitos do art. 50 do CC, ou seja, deve ficar provado o desvio de finalidade ou a confuso patrimonial da empresa na pessoa dos scios.Artigo 50 da Lei n 10.406 de 10 de Janeiro de 2002Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurdica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confuso patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministrio Pblico quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relaes de obrigaes sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou scios da pessoa jurdica.

ACRDOREGISTRO: 2014.0000201288AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISO QUE DEFERIU A DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA.Agravante: Rosrio Pantalena.Agravada: Faria Silva Imveis e Administrao S/C Ltda.Juiz de 1 Instncia: Cesar Luiz de Almeida

Nessa deciso, h indcios de tentativa de fraudar credores, alm de que a empresa tem indcios tambm de ter sido desativada de forma irregular. uma ao inicial de execuo contra a empresa agravada, e que foram feitas inmeras tentativas desde 2003 para busca de patrimnio que pudesse satisfazer o crdito da ao.O agravo foi provido. Na ao inicial, a desconsiderao da personalidade jurdica havia sido indeferido (fl. 222 do processo).O recurso fundado no art. 50 do CC, que admite-se o recurso quando houver provado desvio de finalidade ou confuso patrimonial.Em relao ao recurso do processo acima REGISTRO: 2014.0000195169, nesse o agravo interposto porque em primeira instncia o pedido de Desconsiderao da Personalidade Jurdica foi indeferido, e no outro citado, o pedido de Desconsiderao da Personalidade Jurdica Inversa, mas que foi indeferido, com a incluso de outra empresa no plo passivo. Aqui, a responsabilizao na pessoa do scio gerente, e l, o pedido de responsabilizao de todos os scios.

FACULDADE ANHANGUERA DE DIREITOJUNDIA - SP

ATPSDIREITO COMERCIAL E EMPRESARIALPROFESSOR NEWTON NERY

ALESSANDRO EDUARDO FONSECARA: 7475695359