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Desconstruindo a estética cabralina: um relato didático do ensino de leitura de João Cabral de Melo Neto ALMEIDA, Lucas Rezende. 1 SANTOS, Janaína. 1) INTRODUÇÃO Este trabalho foi preparado para a disciplina Estágio Supervisionado II – Ensino de Língua Portuguesa como nota parcial para a aprovação. O presente relato é o produto das reflexões realizadas após a análise e os resultados colhidos das aulas dadas pelos estagiários em uma sala do segundo ano do ensino médio realizado no mês de novembro de 2013 em uma escola federal na cidade de Juiz de Fora/MG. As aulas dadas tem em comum o tema do letramento literário solicitado pela professora/orientadora do colégio devido a necessidade de preparar os alunos para o vestibular seriado da UFJF (faculdade a qual o colégio se vincula). Baseado no pensamento desconstrutivista de Derrida aliado a concepção de ensino interativa, procuramos 1 Graduando em Letras (Português e suas Respectivas Literaturas) pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestrando em Estudos da Linguagem pela Faculdade de Letras da PUC-RJ. Professor de Português para Estrangeiros. Email: [email protected] Graduanda em Letras (Português e suas Respectivas Literaturas) pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Email: j [email protected]

Desconstruindo a estética cabralina (ARTIGO RELATO)

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Desconstruindo a esttica cabralina: um relato didtico do ensino de leitura de Joo Cabral de Melo NetoALMEIDA, Lucas Rezende.[footnoteRef:1] [1: Graduando em Letras (Portugus e suas Respectivas Literaturas) pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestrando em Estudos da Linguagem pela Faculdade de Letras da PUC-RJ. Professor de Portugus para Estrangeiros. Email: [email protected] em Letras (Portugus e suas Respectivas Literaturas) pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Email: [email protected] ]

SANTOS, Janana.

1) INTRODUOEste trabalho foi preparado para a disciplina Estgio Supervisionado II Ensino de Lngua Portuguesa como nota parcial para a aprovao. O presente relato o produto das reflexes realizadas aps a anlise e os resultados colhidos das aulas dadas pelos estagirios em uma sala do segundo ano do ensino mdio realizado no ms de novembro de 2013 em uma escola federal na cidade de Juiz de Fora/MG. As aulas dadas tem em comum o tema do letramento literrio solicitado pela professora/orientadora do colgio devido a necessidade de preparar os alunos para o vestibular seriado da UFJF (faculdade a qual o colgio se vincula). Baseado no pensamento desconstrutivista de Derrida aliado a concepo de ensino interativa, procuramos analisar de que forma as aulas dadas foram teis na formao critico-literria desses alunos. 2) APRESENTAO DA ESCOLA, DA SALA E DOS ALUNOSO Colgio em que as aulas foram observadas foi fundado em 1965 sendo hoje uma Unidade Acadmica da UFJF localizado na Rua Visconde de Mau, nmero 300, no bairro Santo Helena. Atualmente, o Colgio conta com cerca de 1250 alunos segmentados em 28 turmas de Ensino Fundamental e 09 turmas de Ensino Mdio em que projetos de Pesquisa, projeto de monitoria desenvolvida entre professores e estagirios, oficinas, biblioteca virtual esto a disposio dos alunos. A escola possui biblioteca a qual no nos foi apresentada, pois durante todo o perodo do estgio os alunos a frequentaram apenas uma vez, em um horrio anterior ao nosso. Tambm no nos foi informado quantas salas de aula a escola possui, apenas tivemos acesso s salas de laboratrio de informtica, as salas da diretoria e coordenao, as dependncias sanitrias do colgio e as salas de aula do prdio do Ensino Mdio. A turma trabalhada foi o 2 ano do Ensino Mdio, denominada como turma B. Os alunos eram bem participativos, mas bastante agitados. A sala era majoritariamente masculina com uma mdia de 35 alunos. No havia um mapa de sala, os alunos podiam sentar em quaisquer carteiras, ocasionando uma segmentao de meninas nas carteiras frontais e meninos nas carteiras detrs. A relao entre a professora e os alunos era respeitosa de ambas as partes. Nossa orientao foi feita pela professora Lucilene Hotz Bronzato. Em nenhum momento foi levado para a sala de aula um livro didtico especfico, pois todas as aulas eram planejadas anteriormente pela professora que utilizava de seus planos de aula para lecionar. As aulas sempre foram prticas, didticas e com temtica livre de qualquer teoria mecanicista que vemos em outras escolas. Essas aulas so baseadas no trabalho desenvolvido contra uma formao terica excludente, mecnica, repetitiva.A escola conta com um processo seletivo em forma de sorteio para admisso de novos alunos e anualmente os alunos sorteados so encaminhados para escola para preencher o quadro de vagas abertas. Entretanto, o sistema ainda no abrange a parte perifrica da cidade, at onde observamos os alunos oriundos de periferias so minoria na escola e so nitidamente os que mais precisam de oportunidades.O que observamos tambm de interessante no colgio a falta de uma liberdade de expresso maior para os alunos e tambm para os professores. As atividades observadas so em sua maioria feitas para exposio, para que toda a comunidade escolar tenha acesso ao material e ao trabalho desenvolvido pelos professores em suas aulas. Muitas vezes, exposies interessantes que abordam temas que precisam ser levados ao conhecimento e a discusso crtica so retiradas dos murais sem o conhecimento da professora ou dos prprios alunos. Presenciamos exposies em que a temtica falava sobre corrupo, diversidade sexual, campanhas contra polticas sociais de nosso pas sendo retiradas das paredes sem um motivo plausvel, o que deixava os alunos e os professores desestimulados a exercer atividades desse tipo em suas aulas. Na maioria das vezes, aulas excelentes que deveriam expor as atividades dos alunos para que toda a comunidade escolar tivesse acesso ficavam guardadas como colagens nos cadernos de leitura da turma.

3) PRESSUPOSTOS TERICOSAs aulas abaixo analisadas so preparadas segundo um pensamento ps-estruturalista moderno que descontri, a moldes de Derrida, a consagrao do significado imanente do texto. Assim, o sujeito aqui no visto como dominador imparcial do objeto, mas sim como produtor desse objeto em um universo ilusrio de verdades nietzschianas.O aluno, sujeito ao qual o ato pedaggico pretende atingir atravs do letramento por meio da disciplina de Lngua Portuguesa visto, portanto, nessa proposta, como o produtor dos significados que sero, durante a atividade didtica, levantados e criados. O professor no ser, conforme nos cita Rosemary Arrojo, o escamoteador de ideologias, mas sim um animador (GOFFMAN, 1998) que provocar em momentos especficos da dinmica indagaes tanto sobre a concepo do poema quanto sobre a concepo da prpria atividade e seus fins literrios e didticos respectivamente. Conforme observado na citao a seguir: O professor que no se percebe enquanto sujeito ideolgico, produtor de significados, e que inadvertidamente transfere para o texto a autoridade que na realidade exerce sobre seus alunos presta um desservio a educao. Ainda que adote uma pedagogia aparentemente renovada, supostamente menos autoritria e centrada no aluno, que pretenda enfatizar a formao ao invs da mera transmisso de informao, esse professor estar, sem o saber, apenas desempenhando o papel de guardio, e de divulgador dos significados que aprendeu a aceitar como intrinsicamente corretos e verdadeiros. Esse professor ignora, portanto, sua condio de pea fundamental do jogo ideolgico que, alis, tem como objetivo principal sua prpria manuteno. Ao escamotear a origem ideolgica de todo e qualquer processo de significao, o professor serve principalmente e s cegas ideologia de que produto j que todo jogo ideolgico, para ser mais eficaz, deve exatamente escamotear seu carter de jogo e apresentar-se como verdade independente e comprovvel. Ao tentar ofuscar o interesse ideolgico que determina a leitura que elege como adequada ou correta, o professor se insere numa tradio pedaggica que sempre teve como base a escamoteao de seus prprios interesses. (ARROJO, 92: 2003)A sequncia didtica analisada consta de duas dinmicas com fins a facilitar a leituras de poemas do autor Cabral de Melo Neto. A escolha por dinmicas veio diante da tentativa dos estagirios de dar uma voz mais importante a fala do aluno como produtor e norteador do sentido da aula. Por meio das dinmicas os alunos seriam convocados opinarem, discutirem, apresentarem seu posicionamento social diante da atividade ali ensaiada. A dinmica, por excelncia, uma prtica na docncia que altera essa relao simtrica nas inter-relaes entre professor e aluno, ou seja, atribudo:[...] a cada parceiro da interao social, a possibilidade de constituir uma rede de potencialidades de iniciativas e de recursos indispensveis ao trabalho partilhado. Abandona-se, assim, a viso de aluno que ganha vida e espao de manifestao apenas quando solicitado pelo professor, para se adotar uma postura que salienta as possibilidades de um ensino mtuo, onde cada um atua como elemento formador do outro. O valor da simetria no est, portanto, em eliminar as desigualdades, mesmo porque isto seria uma impossibilidade prtica. Seu valor, ao contrrio, est no fato de garantir condies simtricas de participao [...] onde contribuies distintas so vistas como necessrias para se atingir o objetivo comum. (DAVIS et. al, 1989)Considerando a produo literria e a engenhosidade artstica de Joo Cabral de Melo Neto, a aula em anlise tem como base terica o ato criador e o permanente exerccio de Joo Cabral de Melo Neto em torno do ofcio de criar que pode ser visto como desejo ou necessidade de eliminar as distncias entre a sua poesia e o seu leitor. Para Joo Cabral, o leitor no apenas o consumidor do texto, mas parte ativa no processo da leitura, pois o homem que l quer ler-se no que l, quer encontrar-se naquilo que ele incapaz de fazer. (Melo Neto, 1998: 69)

4) DESCRIO DAS EXPERINCIAS E ANLISE DOS RESULTADOS4.1) SEQUENCIA DIDTICA 1: DINMICA DA FACAOBJETIVOS INICIAIS DA AULA: Debater a leitura de um poema do autor Joo Cabral de Melo Neto; Proporcionar um primeiro contato com a poesia do poeta em questo; Provocar a inquietao dos alunos perante o poema e perante a forma como ele debatido em sala.RECURSOS UTILIZADOS: trs envelopes, duas facas, poemas.O professor/interventor pediu aos alunos que sentassem em crculo para a leitura do poema Faca s Lmina (poema em anexo 01) . O poema constitudo de dez partes, segmentadas por letras de A at I e uma parte asterisco. Para a dinmica proposta, foram selecionadas a parte introdutria (sem letra), a letra B e a parte com asterisco. A seleo desses trechos visava provocar a curiosidade do aluno diante da indeterminao de um objeto descrito pelo poeta.As trs partes do poema foram separadas em trs envelopes lacrados com as respectivas perguntas sobre as partes (perguntas em anexo 02). O professor levou para a sala duas facas. No incio da dinmica, ele solicitou a um aluno que abrisse um dos envelopes e entregasse para a sala o trecho do poema contido nesse envelope. A quantidade de cpias no coincidia com a quantidade de alunos de tal forma que uma leitura conjunta se fazia obrigatria para o acompanhamento da poesia. Em seguida, foi feito duas leituras do poema: uma, em que apenas um aluno lia o poema, outra, em que cada aluno lia um verso do poema de forma que cada verso lido fosse mais rpido do que o anterior. A seguir, um aluno girava a faca posicionada no centro do crculo, ia at o envelope e selecionava uma pergunta que devia ser respondida para quem a lmina da faca apontasse. A resposta da aluna seria comentada pela sala. Aps os comentrios pertinentes, a aluna girava a faca novamente e fazia outra pergunta escondida dentro do envelope para quem a lmina da faca apontasse at que se esgotasse todas as perguntas do envelope e o mesmo processo ocorresse com o prximo pacote.Nesta primeira aula, o principal intuito era provocar na sala uma inquietao quanto as posies tomadas pelo professor como: por que o poema foi entregue de forma fragmentada ao invs dele inteiro? Por que foi proposto duas leituras do poema? Qual o intuito dessas leituras? Por que as perguntas eram individuais e partiam de um aluno para o outro, relacionando o cabo com a lmina?Essas perguntas foram esclarecidas na segunda aula, seguida da concluso da dinmica.Com o trmino da dinmica, o professor foi ao centro do crculo e , atravs das perguntas abaixo, procurou relacionar a forma como a dinmica tinha sido feita com a forma como o poeta escolheu para atribuir sentido ao seu poema.Os questionamentos feitos pelo professor e respondido atravs de uma discusso foram os seguintes: 1) Por que no foram feitas cpias para todos os alunos?O autor Joo Cabral de Melo Neto pretende atravs do seu poema causar justamente essa inquietao ao seu leitor, provocar essa mobilidade de um leitor que seja ativo na construo do significado do texto. No existe uma leitura nica para a sua escrita robusta e seca. Ao colocar o aluno como o responsvel pela entrega da poesia, o professor o torna o divulgador do poema/do conhecimento ali presente. Esse aluno, futuro leitor, antes mesmo da leitura, j um agente na produo do significado porque seleciona com quem e de que forma ele ser lido pela sala, assim como o poeta abre espao para diversos significados que podem ser atribudos a trplice comparao (faca, relgio e bala). 2) Por que o poema foi entregue de forma fragmentada?A indeterminao presente em uma primeira leitura do poema ressaltada pela sua entrega em fragmentos que impede o leitor de entend-lo como um todo. O intuito dessa etapa que o leitor/aluno pudesse expressar para a sala quais eram os sentimentos que o ocasionam ao decorrer da leitura. Pretende-se demonstrar como a leitura modificasse ao longo do poema. Como a indeterminao de trs objetos vo se consolidando ao longo do texto no enfoque da imagem da faca.3) Por que foi proposto duas leituras do poema? Qual o intuito dessas leituras?A proposta das duas leituras como tambm a iniciativa de trazer a faca para a sala de aula pretende dar vivacidade ao texto. A primeira leitura trata-se do primeiro contato com o texto. Quando esse texto lido de forma corrida por diferentes vozes, faz-se uma performance potica em que o corte que comea lento, vai se aprofundando, vai ficando mais afiado ao longo do que corta. O poema se faz presente na leitura que comea lenta e vai tornando-se mais rpida, mais veloz, ocupada por diversas vozes. As facas, como objeto concreto trago a sala, servem para auxiliar na interpretao do ttulo do poema. Faz-se no ambiente de leitura do poema um paradoxo que vai da presena do objeto faca at a sua representao metafrica no poema que trata sobre o ato da escrita cortante que est dentro, imbuda nos versos.4) Por que as perguntas eram individuais e partiam de um aluno para o outro, relacionando o cabo com a lmina?As perguntas inicialmente eram individuais e no destinadas para toda a sala para que assim fosse apresentado ao aluno o carter introspectivo, reflexivo ao qual a poesia cabralina tanto deseja alcanar. Ao solicitar apenas a um aluno a resposta inicial da pergunta, o professor pretendia tambm trazer a tona diferentes formas de enxergar o objeto ao qual o poeta tanto desejava descrever por meio dos seus diversos recursos lingusticos (metfora, comparao).Assim como a poesia de Joo Cabral de Melo Neto um retrato metalingustico da sua construo, a dinmica e a reflexo em torno da sua execuo se faz como efeito metalingustico didtico. Dessa forma, aula e poesia tornam-se em um nico corpo: um exerccio reflexivo sobre a sua prpria forma da sua existncia.Aps essa reflexo foi entregue aos alunos as questes debatidas na primeira aula para que eles pudessem respond-las por escrito, tendo-as aps como registro da dinmica. Por fim, o aluno teve acesso ao poema completo que foi lido por toda a turma4.1) ANLISE DOS RESULTADOSDurante as atividades, boa parte dos alunos ficaram inquietos, curiosos para saberem o motivo de certos procedimentos escolhidos pelo estagirio para o desenvolvimento da dinmica. Eles no entendiam o porqu da leitura repetida, a falta de cpias do poema para todos. Eram justamente esses questionamentos que o elaborador da atividade pretendia provocar para que, no final da dinmica, fosse feito o exerccio comparativo acima descrito. Na terceira e ltima aula em que essa reflexo foi feita, os alunos ficaram surpresos com o percurso e o paralelismo estabelecido entre a forma de composio da didtica com a forma de composio do poema. Entretanto, as atividades que viriam aps a dinmica que seria a resposta por escrito das perguntas debatidas em sala de aula no foram enviadas ao estagirio para que ele pudesse verificar o entendimento do poema. Isso ocorreu porque a professora possua um projeto maior em que os alunos colavam todas as atividades para casa em um caderno que funcionaria como um dirio de turma recolhido no final dos semestres. A proposta impediu que o estagirio tivesse acesso a essa resposta e pudesse verificar como foi compreendido a atividade pelos alunos. Nenhum aluno interessou-se por mostrar ao estagirio as atividades solicitadas na prxima aula, isso reflete a atitude da professora para com os alunos que durante as aulas se manteve mais preocupada com o desempenho e a preparao das dinmicas do que com a avaliao das mesmas. Assim, eles no possuam um acompanhamento dos resultados dos seus trabalhos (um feedback) continuamente e no viam, portanto, necessidade em mostr-los. . 4.2) SEQUENCIA DIDTICA 2: POEMA CATAR FEIJOOBJETIVOS INICIAIS DA AULA:-Estimular o gosto pela leitura- Desenvolver a competncia leitora- Desenvolver a sensibilidade esttica, a imaginao, a criatividade, e o senso crtico-Estabelecer relaes entre o lido e o vivido (conhecimento de mundo)- Demonstrar, dentro da poesia de Joo Cabral de Melo Neto, a importncia do outro.- Conhecer outras obras do autor, seu estilo e sobre o que escreve.RECURSOS UTILIZADOS: Cpias dos poemas par a toda a turma.Nestas duas aulas, primeiramente, foi feita uma retomada sobre o autor, falando um pouco sobre sua vida, o estilo de suas obras e suas principais temticas, apenas para recordar aos alunos as caractersticas do autor j estudadas.Aps esta abordagem, foi iniciada a leitura do poema Catar feijo (ANEXO 03) e em seguida foi feito um momento de reflexo sobre o sentido do texto, o que ele quis nos dizer, o que ele fala sobre a arte de escrever e criar, etc. Neste momento apenas os aspectos interpretativos foram abordados como proposta inicial. Feitas as reflexes necessrias para o entendimento do poema, partimos para a parte literria e lingstica do poema, sendo abordados os seguintes aspectos:*Como o poema nos apresenta uma concepo do ato criador? *Em que trecho est presente esta concepo? *Em que momento do poema o autor toma como referncia um ato cotidiano que se assemelha ao ato de escrever? Que ato esse?*O que necessrio para que se d a construo do poema?*O que o autor quis que fosse compreendido quando diz sobre jogar as palavras?*O que o artista faz para que sua obra, assim como o ato de catar feijo, seja construda de maneira que todos possam l-la e compreend-la?*O ttulo nos traz uma marca de conotao. Qual?*Qual o sentido do verbo catar no poema?Aps todas as abordagens sobre o poema foi iniciada uma atividade para que os alunos refletissem mais profundamente sobre o poema estudado. Foi entregue aos alunos duas folhas de ofcio em branco. Em seguida, pediu-se para que os alunos escrevessem em uma das folhas todas as palavras que estivessem pensando no momento, tanto boas quanto ruins. Aps a escrita das palavras, os alunos deveriam selecionar todas as palavras que julgassem boas e possveis de serem introduzidas em um texto. A partir da, os alunos j estavam selecionando, assim como catando feijo, as melhores palavras pra uma criao posterior. Por fim, os alunos foram conduzidos a criarem seus prprios poemas a partir das palavras que selecionaram na segunda folha de papel ofcio em branco disponibilizada para eles.

4.2) ANLISE DOS RESULTADOSDurante as atividades desta aula, os alunos ficaram reflexivos quanto a forma de escrever, apreensivos quando foi pedido para que criassem seus prprios poemas, surpresos quando as duas folhas em branco tiveram de ser ocupadas com pensamentos e palavras prprias. Ao pedir para que o aluno criasse sua prpria forma de escrever, o ato criador deixou de ser limitado para ser transmitido ao mundo. Aps sondagem, os alunos chegaram concluso de que a aula foi muito produtiva pelo fato de os colocarem para criar, para exercitar e potencializar o ato criador individual. Todos os poemas criados foram colados nos cadernos de leitura para posterior avaliao. Nenhum aluno deixou de fazer a atividade e as indagaes surgidas durante a aula mostrou um interesse iminente daquela turma ao que diz respeito a escrita pois como observado por ns, estagirios, a turma muito unida e gosta bastante de transmitir o que sente.A dinmica serviu para que o ato de escrever deixasse de ser mecnico e obrigatrio para ser articulado e coeso. No caso deste poema de Joo Cabral de Melo Neto, todos os alunos tiveram uma pr-metodologia sobre como funciona a escrita e seu desenvolvimento. Assim, toda turma tambm participou da leitura do poema que por ser curto no pareceu cansativa a ponto de levar os alunos a desistirem da atividade proposta.

5) CONSIDERAES FINAISA experincia de assistir as aulas no ltimo semestre da graduao, aps ter tido a oportunidade de entrar em contato com diferentes concepes tericas educacionais e lingusticas de ensino como tambm desempenhar atividades profissionais em ambientes extra-acadmicos (como estgios no-curriculares, aulas particulares e salas de aula de escolas pblicas e particulares), nos mostra como o estgio na Universidade ainda est distante da realidade vivida pelo professor no seu campo de trabalho. Durante o estgio, no foi proposto pela professora qualquer reunio em que ela nos apresentasse o material que pretendia trabalhar, qual era a sua inteno em us-lo e como ela poderia utiliz-lo, atravs de uma discusso com os estagirios. Ela apenas destacava pontos que precisavam de melhoria nas quatro aulas que demos e em uma aula a mais dada para o reforo escolar. Das quarenta aulas, trinta e seis foram apenas de observao. Em nossa experincia extra-acadmica, ousamos e aprendemos muito mais sobre o oficio da arte de ensinar do que enquanto assistamos s aulas do estgio.A proposta do estgio interessante, mas ela deveria vir acompanhada por reunies semanais em que fosse debatido o material que seria utilizado nas semanas seguintes junto com o estagirio. A ideia do acompanhamento de uma nica turma do estgio me parece limitada, porque nos impede de experimentar como uma mesma aula pode ser recebida de forma diferente de acordo com cada turma. O ganho em assistir uma mesma sequncia em salas diferentes parece maior do que o de acompanhar uma nica turma, mesmo porque o processo de letramento em uma sala no percebido de forma to imediata (em apenas quarenta aulas), mas sim durante todo o ensino e varivel para as experincias que cada aluno j vivenciou. Por exemplo, um aluno que possui pais envolvidos com a rea do jornalismo ter mais facilidade com os gneros que envolvem a revista e o jornal do que um aluno que possui pais mdicos, considerando ainda que esses pais sejam proativos na educao de seus filhos. O estgio deveria ser uma oportunidade reflexiva do acompanhamento do ato de ensinar de um professor e no apenas observaes individuais. A primazia dessa matria deveria ser por reunies com o professor e com os outros estagirios. A quantidade de aulas apenas observadas deveriam ser reduzidas e a entrada do estagirio na sala de aula deveria ser maior por meio do acompanhamento da professora, orientando o graduando na aplicao do material que primeiramente deveria ser produzido por ela e depois produzido pelo prprio estagirio.

6) BIBLIOGRAFIASOUZA, Roberta da Costa de. Joo Cabral de Melo Neto e o estilo da faca. Disponvel no link: http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa14/robertacsousa_joaocabralde.pdfDELIMA, Adriandos. Joo Cabral de melo Neto: a percepo desautomatica ttil em Uma faca s lamina. So Paulo: Critica e Anticrita, 2011. Disponvel no link: http://partidodoritmo.blogspot.com.br/2011/11/adriandos-delima-joao-cabral-de-melo.htmlTEIXEIRA, Ivan. A teoria do poema em Joo Cabral. So Paulo: O Estado de So Paulo, 1969. Disponvel no link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-teoria-do-poema-em-joao-cabral,40996,0.htmMELO, Joo Cabral de. Uma faca s lmina. Disponvel em: http://usuarios.cultura.com.br/migliari/br_jc01.htmDAVIS, Claudia; SILVA, Maria Alice Setubal S. E; ESPSITO, Yara. Papel e valor das interaes sociais em sala de aula. Caed. Pesq: So Paulo, novembro 1989. Disponvel no link no dia 07 de janeiro de 2013: http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/812.pdf

ARROJO, Rosemary (org.) (1992). O signo desconstrudo: implicaes para a traduo, a leitura e o ensino. Campinas, SP: Pontes, 2003.

ANEXO 01

PRIMEIRO ENVELOPEUma Faca S Lmina ou Serventia das idias fixasPara Vincius de MoraisAssim como uma balaenterrada no corpo,fazendo mais espessoum dos lados do morto;assim como uma balado chumbo pesado,no msculo de um homempesando-o mais de um ladoqual bala que tivesseum vivo mecanismo,bala que possusseum corao ativoigual ao de um relgiosubmerso em algum corpo,ao de um relgio vivoe tambm revoltoso,relgio que tivesseo gume de uma facae toda a impiedadede lmina azulada;assim como uma facaque sem bolso ou bainhase transformasse em partede vossa anatomia;qual uma faca ntimaou faca de uso interno,habitando num corpocomo o prprio esqueletode um homem que o tivesse,e sempre, doloroso,de homem que se ferissecontra seus prprios ossos.SEGUNDO ENVELOPE:Das mais surpreendentes a vida de tal faca:faca, ou qualquer metfora,pode ser cultivada.E mais surpreendenteainda a sua cultura:medra no do que comeporm do que jejua.Podes abandon-laessa faca intestina:jamais a encontrarscom a boca vazia.Do nada ela destilaa azia e o vinagree mais estratagemasprivativos dos sabres.E como faca que ,fervorosa e energtica,sem ajuda disparasua mquina perversa:a lmina despidaque cresce ao se gastar,que menos dormequanto menos sono h,cujo muito cortarlhe aumenta mais o cortee se vive a se parirem outras, como fonte.(Que a vida dessa facase mede pelo avesso:seja relgio ou bala,ou seja faca mesmo.)TERCEIRO ENVELOPE:De volta dessa faca,amiga ou inimiga,que ais condensa o homemquanto mais o mastiga;de volta dessa facade porte to secretoque deve ser levadacomo o oculto esqueleto;da imagem em que maisme detive, a da lmina,porque de todas elascertamente a mais vida;pois de volta da facase sobe a outra imagem,quela de um relgiopicando sob a carne,e dela quela outra,a primeira, a da bala,que tem o dente grossoporm forte a dentadae da lembranaque vestiu tais imagense muito mais intensado que pode a linguagem,e afinal presenada realidade, prima,que gerou a lembranae ainda a gera, ainda,por fim realidade,prima e to violentaque ao tentar apreend-latoda imagem rebenta.

ANEXO 02

PRIMEIRO ENVELOPE1) possvel determinar qual o objeto do qual o autor est falando?2) Por que no possvel determin-lo?3) Qual o recurso linguistico feito que provoca essa indeterminaro?4) O autor se refere a um possvel leitor na sua poesia? Qual elemento lingustico demonstra isso?SEGUNDO ENVELOPE1) Qual a possvel relao entre os elementos bala, faca e relgio?2) Voc compreende o titulo? Por que uma faca com apenas lmina? possvel pegar essa faca?4) Qual a natureza/caractersticas da faca no poema?3) Aonde est a faca?TERCEIRO ENVELOPE1) Qual a sua sensao com a leitura do poema?2) A forma como o poema constitudo (verso, rima) relaciona com o seu tema?