Descrevendo o Licenciamento Ambiental

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    MOVENDO I d ia s - ARTIGOS1

    INTRODUOO Brasil desenhou sua lei de poltica

    ambiental no ano de 1981, trata-se da Lei n6.938. Essa lei considerada um marco naquesto ambiental, pois pela primeira vez o meioambiente passou a ser tratado como um todo,diferente das demais legislaes das dcadas de30 e 60, que trabalhavam de forma setorial, porexemplo com a gua, a flora, a fauna. Almdisso, a lei inseriu a necessidade das atividades

    econmicas serem viveis tambm sob osaspectos ambientais.

    A lei composta, como toda lei depoltica, de princpios, objetivos, instrumentos,estrutura administrativa, dispe ainda, sobre ofundo nacional de meio ambiente. Para essetrabalho selecionou-se o item referente aosinstrumentos, sendo estes usados paraimplementar a legislao, por isso consideradosde suma importncia.

    Os instrumentos somam doze, so eles:padres de qualidade ambiental; zoneamentoambiental; avaliao de impacto ambiental;licenciamento ambiental; incentivos produoe instalao de equipamentos e criao ouabsoro de tecnologias voltadas para melhoriada qualidade ambiental; espaos territoriaisespecialmente protegidos; sistema nacional deinformao sobre meio ambiente, cadastro

    tcnico federal de atividade e instrumento dedefesa ambiental; penalidades disciplinares oucompensatorias; relatrio de qualidade do meioambiente, garantia de prestao de informaes;e cadastro tcnico federal de atividadespotencialmente poluidoras e/ou utilizadoras derecursos naturais (Lei 6.938, art. 90, I a XII).

    Dentre estes instrumentos da polticaambiental, destaca-se o licenciamento ambiental

    DESCREVENDO O LICENCIAMENTO AMBIENTALNO ESTADO NO PAR

    SYGLEA REJANE MAGALHES LOPES*

    que Machado1 descreve como sendo o sistemade prvia interveno do Poder Pblico nodesenvolvimento de atividades e obras

    privadas e/ou pblicas, em suas fases deestudos de viabilidade, de instalao e de

    funcionamento.Trata-se, portanto, de instrumento que

    permite ao Poder Pblico intervirpreventivamente no desenvolvimento de obras,planos, programas e atividades que possam porem risco o meio ambiente, exigindo a previsodos possveis danos e criao de condies paraminimiz-los.

    Entretanto, em que pese sua importnciaverifica-se que muitos cidados, dentre elesprofissionais que trabalham com a questoambiental, assim como pessoas fsicas e jurdicasque desenvolvem atividades sujeitas aolicenciamento ambiental desconhecem seus

    procedimentos. Nesse sentido, o trabalhopretende identificar e descrever osprocedimentos para o licenciamento no Estadodo Par com base na legislao federal, pelofato de serem normas gerais que precisam serobservadas, e na legislao estadual.

    O mtodo adotado foi a pesquisabibliogrfica que centrou-se nos doutrinadoresmais renomados na rea do direito ambiental,tais como: Paulo Affonso Leme Machado, Paulo

    de Bessa Antunes, dis Milar, AntnioHermam Benjamim, Antnio Pacheco Fiorillo eMarcello Abelha Rodigues, Antnio Inag deAssis Oliveira. Alm disso, foi necessriapesquisa documental no Dirio Oficial do Estadopara completar algumas informaes. As leisfederais e estaduais referentes ao licenciamentoambiental tambm foram levantadas. Realizou-se entrevistas com alguns tcnicos do rgo

    * Advogada, mestre em Instituies Jurdicas e Sociais da Amaznia pela Universidade Federal do Par -UFPA. Professora de Direito

    Ambiental da Universidade da Amaznia - UNAMA e consultora do Projeto de Fortalecimento Institucional da Universidade FederalRural da Amaznia Pro-UFRA.1 MACHADO, P. A. L. Competncia dos rgos federais e estaduais referentes ao processo de avaliao de impactos ambientais. In:NINIO, A. (Org.) Aspectos legais e institucionais do estudo de impacto ambiental no Brasil e nos Estados Unidos. Washington, 1993.

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    ambiental estadual para esclarecer algumasdvidas, principalmente em relao as taxas.Contudo, prevaleceu a pesquisa bibliogrfica.

    O local escolhido foi o Estado do Parpelas riquezas que possui em termos de recursos

    naturais e por estar se transformando numatrativo para grandes projetos agrcolas eflorestais. Exigindo que a sociedade estejapreparada para a chegada dessas atividades afim de saber como proceder para licenci-lasou se for o caso fiscaliz-las, pois como se vermais a frente o procedimento tem que ser tornadopblico e o cidado pode acompanh-lo.

    O trabalho possui seis partes principais: i.trabalha alguns termos conflitantes; ii. define

    legalmente licena e licenciamento; iii. apresentaas atividades sujeitas ao licenciamento; iv.descreve as fases do licenciamento; v. abordasobre prazos; vi e vii descreve sobre asexigncias do rgo para quem deseja selicenciar e para o rgo ambiental.

    DIFERENA ENTRE OS TERMOS:AUTORIZAO, LICENA E LICENAAMBIENTAL

    H discusso doutrinria sobre os termos:autorizao, licena e licena ambiental2. Parteda doutrina3 considera haver uma aplicaoinadequada do termo licena ambientalentendendo tratar-se de autorizao. E esclareceisto definindo licena e autorizao, concluindoque esta ato administrativo discricionrio e aaquela ato administrativo vinculado. Da otermo licena ambiental ser inadequado, poisdizem tratar-se de ato discricionrio, portanto,o correto seria autorizao.

    Seguindo esta mesma linha de raciocnio,Machado4 alega que a preveno umacaracterstica das autorizaes. Faz refernciaao artigo 170, VII da Constituio Federal, quetraz o termo autorizao, e conclui:

    ... O emprego na legislao e na

    doutrina do termo licenciamentoambiental no traduz necessariamentea utilizao da expresso jurdicalicena, em seu rigor tcnico.Entretanto, a outra parte da doutrina5

    considera que h necessidade de se distinguirlicena administrativa de licena ambiental, pois,apesar do direito ambiental se socorrer emgrande parte no direito administrativo, entre elessubsistem diferenas que permitem, inclusive,utilizar o termo licena ambiental comoadequado, ainda que fuja aos critrios utilizadosno direito administrativo. Ou seja, a licenaambiental possui suas prprias caractersticasque, de acordo com Milar6 somam trs:

    A primeira diz respeito ao desdobramentoda licena em trs fases: Licena Prvia LP;Licena de Instalao LI; e Licena deOperao - LO. A segunda se refere obrigatoriedade da apresentao do EstudoPrvio de Impacto Ambiental e Relatrio deImpacto Ambiental - EPIA/RIMA, quandotratar de obras ou atividades capazes de causarum impacto ambiental significativo. E a terceira,considerada a mais importante por Milar:

    que a licena ambiental noassegura ao seu titular a manutenodo status quo vigorante ao tempo desua expedio, sujeita que se encontraa prazos de validade7. dizer,caracteriza-se por uma estabilidadetemporal, que no se confunde com a

    precariedade das autorizaes, nemcom a definitividade das licenastradicionais. Garante-se, numa

    palavra, no lapso temporal da licena,a inalterabilidade das regras impostasno momento da outorga, salvo, claro,se o interesse pblico recomendar ocontrrio. Pense-se por exemplo, ematividade que a despeito de licenciadaesteja, por emisso de odores, a

    2 H quem confunda, inclusive, com o alvar, porm, este, de acordo com DAWALIBE: a forma pela qual a Administrao Pblica expede uma licena ou uma autorizao, no se confundindo, pois, com elas. (op cit: 95).3 MACHADO, P. A. L. Direito ambiental brasileiro. 5 ed, rev., atual. e ampl. So Paulo: Malheiros, 1995; MUKAI, T.Direito ambiental sistematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1998.4 MACHADO, op cit, 1995:179.

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    provocar incmodos aos vizinhos, ouna hiptese de transformao darealidade por lei superveniente, quetorne mais restritivos os parmetros de

    proteo ambiental. Sustentar o

    contrrio, seria conferir aoempreendedor um cheque em branco, permitindo-lhe que, com base emlicena pretrita, pudesse causar todae qualquer degradao ambiental.

    No, felizmente os tempos mudaram..(Grifo Nosso)

    DEFINIO DOS TERMOS

    LICENCIAMENTO AMBIENTAL ELICENA AMBIENTAL

    Inicialmente no havia uma definiolegal de licenciamento ambiental. A lei 6.938/81 apenas fazia referncia, no seu artigo 10,s caractersticas das atividades quedeveriam apresent-lo, como sendo aquelasque ut i l izam recursos ambientais econsideradas efetiva ou potencialmente

    poluidoras.Somente em 1997, o legislador definiu,

    atravs da resoluo do Conama n. 237,artigo 1, I, o que se entende por licenciamentoambiental:

    procedimento administrativo peloqual o rgo ambiental competentelicencia a localizao, instalao,ampliao e a operao deempreendimentos e atividadesutilizadoras de recursos ambientais,consideradas efetivas ou

    potencialmente poluidoras oudaquelas que, sob qualquer forma,

    possam causar degradao ambiental,considerando as disposies legais eregulamentares e as normas aplicveisao caso.

    Esta mesma resoluo definiu tambmlicena ambiental como:

    ato administrativo pelo qual o rgoambiental competente, estabelece as

    condies, restries e medidas decontrole ambiental que devero serobedecidas pelo empreendedor, pessoa

    fsica ou jurdica, para localizar,instalar, ampliar e operarempreendimentos ou atividadesutilizadoras dos recursos ambientaisconsideradas efetiva ou potencialmente

    poluidoras ou aquelas que, sobqualquer forma, possam causar

    degradao ambiental.

    Para melhor compreenso dessas definies,convm conceituar procedimento e atoadministrativo. Procedimento administrativo :

    ... uma sucesso itinerria eencadeada de atos administrativos quetendem, todos, a um resultado final econclusivo. Isto significa que paraexistir o procedimento cumpre que haja

    uma seqncia de atos conectados entresi, isto , armados em uma ordenadasucesso visando a um ato derradeiro,em vista do qual se comps essa cadeia,sem prejuzo, entretanto, de que cadaum dos atos integrados neste todoconserve sua identidade funcional

    prpria, que autoriza a nelesreconhecer o que os autores qualificamcomo autonomia relativa.. Por

    conseguinte, cada ato cumpre uma funo especificamente sua, emdespeito de que todos co-participam dorumo tendencial que os encadeia:destinarem-se a compor o desenlace,em um ato final, pois esto ordenados,a propiciar uma expresso decisiva arespeito de dado assunto, em tornodo qual todos se polarizam.8.

    5 OLIVEIRA, A. I. de A. O Licenciamento ambiental . So Paulo: Iglu, 1998; MILAR, E. Direito do ambiente. doutrina prtica jurisprudncia glossrio. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.6 Ibidem: 3177 Em nota de rodap o autor complementa Art. 18 da Resoluo Conama 237/97. A seu turno, a Lei 6.938/81, ao prev a reviso do licenciamento(art. 9, IV), bem assim a sua renovao (art. 10, 1), referiu-se tambm, ainda que de forma indireta, emporariedade da licena ambiental.8 MELLO, C. A. B. de. Curso de direito administrativo. 11 ed, rev., atual. e ampl. So Paulo: Saraiva, 1999:348-349

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    E ato administrativo:Em acepo estrita pode-seconceituar ato administrativo [...]declarao unilateral do Estado noexerccio de prerrogativas pblicas,

    manifestada mediante comandosconcretos complementares da lei (ou,excepcionalmente, da prpriaConstituio, a de modo plenamentevinculado) expedidos a ttulo de lhe darcumprimento e sujeitos a controle delegitimidade por rgos jurisdicionais.(Ibidem: 272).

    Disto, infere-se que o licenciamento

    ambiental trata-se de procedimento administrativo,portanto, depende de atos administrativos que seencadeiam para a consecuo desse fim.Entretanto, cumpre trazer uma sutil diferenciaodo procedimento administrativo para olicenciamento ambiental. Naquele cada um dosatos integrados neste todo conserva suaidentidade funcional prpria, que autoriza aneles reconhecer que os autores qualificamcomo autonomia relativa.. J no

    licenciamento ambiental no h que se falar emautonomia relativa ou parcial, pois os atospraticados s permitem essa autonomia quandoconcludos, conforme ser visto quando se tratardas fases do licenciamento ambiental.

    Assim, infere-se que a licena ambiental ato administrativo como resultado doprocedimento administrativo, ou seja, dolicenciamento ambiental, sendo que este ato ster autonomia quando o procedimento estiver

    concludo.

    ATIVIDADES SUJEITAS AOLICENCIAMENTO AMBIENTAL

    Inicialmente a Lei n 6.938/81 definiaapenas as caractersticas das atividadessujeitas ao licenciamento ambiental. Em seuart. 10 afirmava que:

    A construo, instalao, ampliaoe funcionamento de estabelecimentose atividades utilizadoras de recursosambientais consideradas efetiva e

    potencialmente poluidoras, bem como

    as capazes, sob qualquer forma, decausar degradao ambiental,dependero de prvio licenciamento dorgo estadual competente, integrantedo Sistema Nacional de Meio Ambiente

    SISNAMA, e do Instituto Brasileirode Meio Ambiente e Recursos Naturais

    Renovveis IBAMA, em cartersupletivo, sem prejuzo de outraslicenas exigveis.

    a resoluo do CONAMA n237 /97que vai especificar quais so essas atividades.Em seu anexo, h uma lista com exemplos deatividades que devem realizar o licenciamentoambiental. Esta lista no exaustiva, poisqualquer outra atividade, ou empreendimento,que no esteja previsto na mesma, mas que utilizerecursos naturais ou seja considerada efetiva epotencialmente poluidora, dever submeter-se

    ao licenciamento ambiental. Exemplos dessasatividades: pesquisa mineral com guia deutilizao, fabricao de ao e de produtossiderrgicos, - fabricao de pilhas, baterias eoutros acumuladores.

    FASES DO LICENCIAMENTOAMBIENTAL

    Conforme assinalado pelos doutrinadores,o licenciamento ambiental depende deprocedimentos administrativos complexos9, quese dividem em trs fases progressivas. Aprimeira, Licena Prvia - LP, corresponde escolha do melhor local para o empreendimento;a segunda, Licena de Instalao - LI, a fasede implantao do empreendimento de acordocom projeto tcnico aprovado; a terceira, a

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    9 ANTUNES, P. de B. Direito ambiental . 4 ed, rev., ampl. e atual. So Paulo: Lumen Juris. 2000; SILVA, J. A. da.Direito ambiental constitucional. So Paulo:Malheiros, 1994; FIORILLO, C. A. P.& RODRIGUES, M. A. Manual de direito ambietal

    . Belo Horizonte: Del Rey Editora, 1998; OLIVEIRA, op. cit.; MILAR, op. cit, 2000.

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    Licena de Operao - LO, quando o usuriocomea a operar seu empreendimento. Estaltima fase dever ser renovada; trata-se daexigncia legal de Renovao da Licena deOperao RLO.

    Isto significa que o licenciamento ambientalpossui procedimentos interligados e dependentesentre si. Tem incio com a LP, sendo que esta,uma vez negada, encerra o licenciamentoambiental, pois este necessita da aprovao daLP para poder iniciar a prxima etapa LI -;ou seja, primeiro dever ser aprovado o projetopara depois ser implantado. E se oempreendedor no seguir o que estestabelecido no projeto no poder passar para

    a fase seguinte (LO). Nesta, ser verificado seo projeto foi inteiramente respeitado. Caso tenhasido, receber a LO; do contrrio, esta nopoder ser concedida. Disto infere-se que aobteno da LP e LI no do autonomia aosautores quanto obteno da licena, pois esta dependente de todas as etapas. Apenasquando concluda a ltima LO - que oempreendedor receber a licena ambiental.

    PRAZO PARA O LICENCIAMENTOAMBIENTAL

    Os prazos do licenciamento ambientalreferem-se a duas situaes distintas. A primeira,em relao ao rgo ambiental, pois este possuiprazo para concluir o licenciamento e emitir seuparecer favorvel ou no. E a segunda quantoao prazo de validade da licena ambiental.

    Prazo do rgo Ambiental paraConcesso do Licenciamento Ambiental

    Em relao ao prazo para o rgoambiental concluir o licenciamento, a resoluodo CONAMA N. 237/97 estabelece o prazomximo de 6 (seis) meses a contar do ato de

    protocolar o requerimento at seudeferimento ou indeferimento, ressalvados oscasos em que houver EIA/RIMA e/ouaudincia pblica, quando o prazo ser de

    at 12 (doze) meses.A lei ambiental do Par no prev prazo

    para concluso do licenciamento ambiental,apenas faz referncia em uma cartilha(SECTAM, s. d.) que, em condies normais,

    o prazo mdio de dois meses. Estas condiesnormais referem-se qualidade do projetoapresentado e do volume de processos delicenciamento a serem analisados pelo rgoambiental.

    Entende-se que se a norma federal passoua exigir prazo, este dever ser obedecido pelosrgos estaduais, retirando-se do administradora deciso de conceder com maior ou menorurgncia as licenas ambientais. Esta a opinio

    de Oliveira10 sobre o assunto:Esta demora para fixao dos prazos

    para exame dos requerimentos delicena produziu conseqncias

    desagradveis para muitosempreendedores. A no existncia de

    prazo administrativo para concessoou denegao da licena os deixava,injustamente merc dos humores daburocracia, que tinha condies de

    protelar indefinitivamente uma deciso. de se observar que esta protelao,em vrios casos, dificultou at que aquesto fosse submetida ao exame

    pelo judicirio.(grifo nosso).

    Disto infere-se que como o rgoambiental do Par no vem respeitando essesprazos11, est sujeito a ser questionado

    judicialmente quanto demora para conceder olicenciamento12. Antes de existir lei que definisseesses prazos, os rgos ambientais j poderiamser interpelados judicialmente, agora, comrespaldo legal podero sofrer freqentesinterpelaes judiciais, a fim de respeitaremo prazo estabelecido.

    Prazos de Validade do LicenciamentoAmbiental

    10 OLIVEIRA, op.cit.: 4011 Houve depoimento de consultores quanto a prazo de licenas que esto pendentes h mais de um ano. Enquanto outra so conseguidas

    em prazos record de 15 a 20 dias. Entrevista realizada com consultor ambiental em 29/08/00.12 Assunto sempre muito questionado por parte dos empreendedores e dos consultores ambientais obrigados a obedecer prazos. Aocumpri-los, se viam sujeitos falta de prazo por parte dos rgos ambientais para concesso do licenciamento. No caso do Par, conformedepoimento de consultores e de tcnicos da Sectam, isto ainda continua acontecendo.

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    Quanto ao prazo de validade da licenaambiental, a lei federal 6.938/81 no fazpreviso. Ele s foi estabelecido a partir de1997, atravs da Resoluo do CONAMA n.237 que estabelece:

    Art. 18 O rgo ambiental competente estabelecer os prazos devalidade de cada tipo de licena,especificando-os no respectivo

    documento, levando em considerao osseguintes aspectos: I O prazo de validade da LicenaPrvia (LP) dever ser, no mnimo, oestabelecido pelo cronograma deelaborao dos planos, programas e

    projetos relativos ao empreendimento ouatividade, no podendo ser superior a 5(cinco) anos.

    II O prazo de validade da Licena deInstalao (LI) dever ser, no mnimo, o estabelecido pelo cronograma deinstalao do empreendimento ou

    atividade, no podendo ser superior a 6(seis) anos.

    III- O prazo de validade da Licena de

    Operao (LO) dever considerar osplanos de controle ambiental e ser, nomnimo, 4 (quatro) anos e, no mximo,10 (dez) anos.1 A Licena Prvia (LP) e a Licena

    de Instalao (LI) podero ter os prazosde validade prorrogados, desde que noultrapassem os prazos mximosestabelecidos nos incisos I e II. 2 O rgo ambiental competente

    poder estabelecer prazos de validadeespecficos para a Licena de Operao(LO) de empreendimento ou atividadesque, por sua natureza e peculiaridades,estejam sujeitos a encerramento ou

    modificao em prazos inferiores.3 Na renovao da Licena deOperao (LO) de uma atividade ouempreendimento, o rgo ambiental

    competente poder, mediante decisomotivada, aumentar ou diminuir o seuprazo de validade, aps avaliao dodesempenho ambiental da atividade ouempreendimento no perodo de vigncia

    anterior, respeitados os limitesestabelecidos no inciso III. 4 A renovao da Licena deOperao (LO) de uma atividade ouempreendimento dever ser requerida

    com antecedncia mnima de 120 (centoe vinte) dias da expirao de seu prazo

    de validade, fixado na respectivalicena, ficando este automaticamente

    prorrogado at a manifestao

    definitiva do rgo ambientalcompetente.

    H que se elogiar o legislador federal, poiseste foi prudente ao definir os prazos relacionando-os s exigncias de cada uma das fases. Na LP, aelaborao dos projetos; na LI, a instalao doempreendimento ou da atividade; e no caso da LO,o monitoramento. Ou seja, foi sensato namensurao dos prazos, visto que estes devem

    estar de acordo com o que lhes exigido em cadauma das fases do licenciamento.Isto no ocorreu no Par. Houve

    mensurao em prazo mnimo (1 ano) e mximo(5 anos) para cada uma das fases do licenciamento(LP, LI, LO), sem nenhum critrio. Apesar dosprazos destoarem daqueles previstos na Resoluo/Conama, n 237/97, no h que se falar em conflitocom a Lei estadual n 5.557/95, pois a competnciaconcorrente para legislar sobre o assunto,

    pressupe a hierarquia das normas, exigindo orespeito ao piso mnimo estabelecido pelasnormas gerais, neste caso o entendimentodoutrinrio de que os Estados no poderoser mais permissivos nas suas leis, pormpodero ser mais restritivos. E quando o Parexige prazo mximo de 5 anos e a Unio de 6 e10 para a LP e LO respectivamente, ele est

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    sendo mais restritivo, assim como quando a resoluoexige prazo mnimo de 4 anos para a LO e o Parexige 1, tambm entende-se uma atuao por partedo Estado mais restritiva, portanto no h conflito coma norma geral.

    Quanto s duas atividades de maior demandada Sectam - madeireira e agropecuria - verificou-seque, na prtica, a Sectam normalmente estabelece, nocaso da indstria madeireira, com um consumo de20m3por dia, e de uma atividade agropecuria a serimplantada em rea total de 1.000 ha, o prazo de 90dias para elaborao dos projetos - LP. Os prazossero diferentes para a implantao do projeto - LI:no caso da indstria madeireira, ser 90 dias e para aatividade agropecuria, 630 dias. Quanto LO e RLO,

    este prazo na maioria das vezes de um ano.

    EXIGNCIAS DO RGO AMBIENTALPARA QUEM DESEJA SE LICENCIAR

    Apresentao de DocumentosAs trs fases do Licenciamento Ambiental

    contm muitas exigncias em relao ao usurio. Dentreelas, a apresentao de documentos pessoais (Carteirade Identidade, CPF) e do empreendimento (CGC;

    Inscrio Estadual; Alvar da Prefeitura; cpia da atada eleio da ltima diretoria, quando se tratar desociedade annima ou do contrato social registrado,no caso de sociedade limitada; titulao da terra, plantada situao e localizao do empreendimento). Almde preenchimento de documentos especficos da

    Sectam (requerimento padro, anteprojeto conformeroteiro da Sectam, declarao de informaesambientais, termo de referncia para elaborao deprograma de educao ambiental).

    Preenchimento de Cadastro Ambiental

    Trata-se de documento elaborado pela Sectamcom o intuito de obter o maior nmero possvel deinformaes sobre as obras, empreendimentos ouatividades a serem licenciadas no Estado. Denomina-se de Cadastro Tcnico de AtividadesPotencialmente Poluidoras ou Utilizadoras deRecursos Ambientais. Existe tanto na esfera federalquanto na estadual. Este cadastro varia de acordocom o tipo de atividade, desta forma atualmenteencontram-se na Sectam os seguintes tipos de

    cadastros por atividade: carvo vegetal, palmiteira,agroflorestal e/ou pecuria, madeireira, este ltimotambm utilizado para atividades de infra-estrutura.

    Pagamento de TaxasA Lei 6.013/96 disciplina sobre taxas e

    tarifas referentes ao exerccio regular do poder depolcia da Sectam. Estas taxas referem-se s trsfases do licenciamento (LP, LI e LO) e autorizaode funcionamento. O valor a ser cobrado varia deacordo com: o porte do empreendimento, o

    potencial poluidor/degradador, a atividade e o tipode licena.A base de clculo o valor correspondente

    a 5.100 Unidades Fiscais. Na Tabela 1 encontram-se, as alquotas referentes s classes por tipo delicena constante na Lei de taxas.

    Fonte: Lei No 6.013, DE 27 de dezembro de 1996 , art. 8

    A

    LP

    LI

    LO

    AF

    B C D E

    I

    2%

    2%

    5%

    I I I III II II II IIIII III III III III

    10% 11% 13% 15% 17% 18%

    5%

    5%

    6% 7% 8% 8%

    9%

    10%

    8%

    8%

    7%

    7%

    6%

    10%

    15%

    10%

    11%

    20%

    21%

    11%

    13%

    30%

    30%

    12%

    15%

    40%

    40%

    14%

    20%

    50%

    50%

    16%

    25%

    60%

    60%

    18%

    30%

    70%

    70%

    20%

    35%

    80%

    80%

    25%

    40%

    90%

    90%

    30%

    50%

    100%

    100%

    CLAS

    SES

    Tabela 1. ART. 8oAlquotas a serem aplicadas em conformidade com as classes de atividades eos tipos de licena de autorizao.

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    Para, se calcular, o valor a ser pago, necessrio identificar o valor da UFIR1, multiplic-lo pela base de clculo, que 5.100, e aplicar aalquota referente ao tipo de atividade ouempreendimento desenvolvido. Por exemplo, em

    2000 uma atividade do porte B II que desejasseobter a LP precisaria realizar o seguinte clculo:(5.100 x 1,0641) 8% = R$434,15 .

    A Lei de taxas determina no pargrafo nicodo artigo 9 que O enquadramento dasatividades nas classes ser definido porresoluo do Conselho Estadual de Meio

    Ambiente.2 Entretanto, apesar da legislaosobre taxas ter sido regulamentada, h pessoas queaps conclurem os procedimentos no se dirigem

    Sectam para efetuar o pagamento e receber alicena3.

    Publicaes das Licenas LP, LI e LOTem ainda a exigncia das publicaes,no

    jornal oficial do Estado e em jornal de maiorcirculao, de todas as fases do licenciamentoambiental (LP, LI e LO), ao solicitar e ao recebercada uma delas, assim como as renovaes, no

    prazo mximo de 30 dias corridos subsequentes data do requerimento e/ou da concesso da licena(Lei 6.938/81, art. 10, 10 e CONAMA, res. n0

    006/86). Estas publicaes tm o objetivo demanter a sociedade informada sobre a deciso do

    rgo ambiental em relao a todas as fases dolicenciamento.O custo com a publicao das licenas

    bem significativo, pois s no Dirio Oficial do Estadoso obrigadas a serem publicadas seis vezes, nestecaso como cada publicao fica em torno deR$45,00 o usurio ter que desembolsaraproximadamente R$270,00. E no jornal de maiorcirculao, a lei exige inclusive o local, este deveser no primeiro caderno, neste caso cada

    publicao ficar aproximadamente em torno deR$430,00, e, como so seis, o total ser deR$2.580,00. Isto significa que o usuriodesembolsar s com as publicaes o valor totalde R$2.850,00.

    No Quadro 1, esto referidos os modelosexigidos para publicaes de LicenciamentoAmbiental.

    A) Requerimento de Licena: (Peridico, D.O.E./D.O.U.)(Nome da empresa - sigla) torna pblicoque requereu (nome do rgo onde requereu a licena), a licena (tipo da licena), para (atividadee local). Foi determinado estudo de impacto ambiental (ou, no foi determinado estudo de impactoambiental).B) Recebimento de Licena: (Peridico, D.O.E./D.O.U.)(Nome da empresa - sigla) torna pblico querequereu do (a) (nome do rgo que concedeu a licena), a licena (tipo da licena), para (finalidadeda licena), com validade de (prazo de validade) para (atividadee local).C) Pedido de renovao de Licena: (Peridico, D.O.U./D.O.E.)(Nome da empresa - sigla) tornapblico que requereu (nome do rgo onde requereu a licena), a renovao de sua licena (tipode licena), at a data X, para (atividade e local).D) Concesso de renovao de Licena: (Peridico, D.O.E./D.O.E.)(Nome da empresa - sigla) tornapblico que recebeu do (a) (nome do rgo que concedeu) a prorrogao da licena, (tipo delicena), at a data X, para (atividade e local).E) Pedido de Prorrogao de Licena: (Peridico,D.O.E./D.O.U.)(Nome da empresa - sigla) tornapblico que requereu (nome do rgo onde requereu a licena), a prorrogao de sua licena (tipode licena), pelo prazo ...., para (atividade e local).F) Concesso e Prorrogao de Licena: (Peridico, D.O.E./D.O.U.)(Nome da empresa - sigla) tornapblico que requereu do (a) (nome do rgo que concedeu), a prorrogao da licena (tipo delicena), at a data X, para (atividade e local).

    Fonte: Resoluo do CONAMA, N 006/86

    QUADRO 1:Modelos para as publicaes de licena ambiental

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    O Estudo Prvio de Impacto Ambiental e Relatrio deImpacto Ambiental EPIA/RIMA

    O EPIA o estudo elaborado com rigorestcnico e cientfico para avaliar a viabilidadeeconmica, social e ambiental da obra ou

    atividade com significativo impacto no meioambiente. E o RIMA uma sntese objetiva doEPIA e deve estar numa linguagem acessvel atodos, desprovida de termos tcnicos e commuitas ilustraes para facilitar sua compreensopela sociedade, porque esta, de maneira geral,no possui conhecimentos especficos sobrecada projeto apresentado.

    Este estudo ser exigido sempre que setratar de atividade capaz de causar um impactoambiental significativo. Em 1986, o CONAMA,atravs da resoluo 001/86, trouxe umalistagem com atividades consideradas capazes

    de produzir esse tipo de impacto. Mas almdesta resoluo, h outras leis que exigem aelaborao do EPIA/RIMA (Quadro 2).

    A resoluo do Conama n 001/86ocasionou muitas discusses doutrinrias a respeitodas atividades ali includas. Primeiro, se essasatividades seriam exemplificativas podendo,portanto, serem includas outras. Segundo, se

    Resoluo 001/86 do Conselho Nacional de Meio Ambiente- Estrada de rodagem com duas vias de rolamento- Ferrovias- Portos e Terminais de minrio, petrleo e produtos qumicos- Aeroportos- Oleodudos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissrios de esgotos sanitrios- Linhas de transmisso de energia eltrica, acima de 250 Kv- Obras hidrulicas para explorao de recursos hdricos- Extrao de combustvel fssil- Extrao de minrio, inclusive minrio de classe II- Aterros sanitrios, processamento e destino final de resduos txicos e perigosos- Usinas de gerao de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primria, acima de 10 MW- Complexo de usinas industriais e agroindustriais- Distritos industriais e zonas estritamente industriais- Explorao econmica de madeira ou de lenha, em rea acima de 100 ha ou menores, quandoatingir reas significativas em termos percentuais ou de importncia do ponto de vista ambiental- Projetos urbansticos acima de 100 ha, ou em reas consideradas de relevante interesseambiental a critrio da SEMA e dos rgos municipais e estaduais competentes- Qualquer atividade que utilizar carvo vegetal, derivados ou produtos similares, em quantidadesuperior a 10 toneladas por diaResoluo Conama n0 011/1986- Qualquer atividade que utilizar carvo vegetal, derivados ou produtos similares, em quantidade

    superior a dez toneladas por dia- Projetos agropecurios que contemplem reas acima de 1.000 ha ou menores, neste caso,quando se tratar de reas significativas em termos percentuais ou de importncia do ponto devista ambiental, inclusive nas reas de proteo ambientalResoluo Conama n0 005/1987- Empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimnio espeleolgico1 nacionalLei n0 8.666/1993Obras licitadas pelo Poder Pblico

    Fonte: Resoluo 001/86, 011/86, 005/87/Conama e Lei 8.666/93

    QUADRO2 : Exemplos de atividades sujeitas apresentao do estudo prvio de impactoambiental - EPIA/RIMA.

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    naquelas atividades o impacto ambiental presumido, ou seja, uma vez includas nesta listaobrigatoriamente devem apresentar o EPIA/RIMA, tratando-se de ato vinculado. Predominoua corrente que considerou as atividades

    exemplificativas e de impacto significativopresumido, portanto a apresentao do EPIA/RIMA como ato vinculado.

    Porm, a discusso quanto a ser atovinculado, ou, como coloca Oliveira (1998:183-186), que h presuno absoluta quanto aoimpacto significativo das atividades ali listadas,comea a ser questionado na doutrina. Este autordiz que deve ser considerada a presuno relativa,pois esta inverte o nus da prova, cabendo ao

    empreendedor provar que a atividade noproduzir impacto significativo. Quem exemplificaclaramente a possibilidade da presuno relativa Bugalho5, quando cita a construo de uma:

    barragem diminuta para fins deirrigao de lavoura em uma pequena

    propriedade rural obra que certamenteno redundar em significativadegradao do meio ambiente, e, assim,

    embora prevista na resoluo em estudo,no dever ser exigido estudo prvio deimpacto ambiental para obteno dalicena. O mesmo pode se afirmar comrelao a instalao de um aterro

    sanitrio em uma pequena cidade, paradisposio final de resduos slidosdomsticos, em que o oneroso EPIA/

    RIMA poder ser substitudo por umestudo de avaliao de menorcomplexidade para sua elaborao eanlise, com vistas ao licenciamento.

    Porm, isso s prevaleceria, de acordocom Oliveira 6, quanto s atividades

    licenciadas pelos Estados, pois para asatividades de competncia federal obrigatria a apresentao do EPIA deacordo com o art. 3 da resoluo doConama n 001/86.

    Tanto o EPIA quanto o RIMApossuem formalidades para sua elaborao.O EPIA deve obedecer s seguintes diretrizesgerais e contedo mnimo (Quadro 3).

    Fonte: Resoluo n 001/86 do Conama.

    QUADRO 3. Diretrizes Gerais e Contedo Mnimo do EPIA

    Diretrizes gerais

    Contedo mnimo

    Alternativas tecnolgicas e locacionais xhiptese de no execuo.Identificar e avaliaros impactos nas fases de implantao eoperao.Definir os limites da reageogrfica a ser afetada.Considerar osplanos e programas governamentais.

    Diagnstico ambiental.Anlise dosimpactos. Medidas mitigadoras.

    Acompanhamento e monitoramento.

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    E o RIMA obedece ao seguinte contedo mnimo e forma, conforme o quadro 4 abaixo.

    QUADRO 4: Contedo mnimo e forma do RIMA

    Contedo mnimo

    Forma

    Objetivo e justificativa.

    Descrio do projeto e alternativas tecnolgicas elocacionais.Sntese dos resultados do diagnstico ambientalQualidade da caracterstica futura da rea deinfluncia do projeto.Descrio dos efeitos esperados das medidasmitigadoras.Programa de acompanhamento e monitoramento.

    Objetiva e adequada de sua compreenso.

    Linguagem acessvel ao pblico.Ilustrao: mapas c/ escalas adequadas, quadros,grficos e outras tcnicas visuais.

    Fonte: Resoluo n 001/86 do Conama

    No Par, a Constituio Estadual fazpreviso do EPIA/RIMA atravs do art. 225,VIII, 1 E 3. E a Lei 5.887/95, no captulo

    IX, trata da avaliao prvia de impactosambientais e define EPIA como: ...instrumento de anlise de processos emtodos sobre a viabilidade da implantaode obra ou atividade, pblica ou privada,tendo como objetivo deferir ou indeferir olicenciamento requerido (art. 99).

    Faz referncia tambm ao RIMA dizendoque ele:

    ... refletir as concluses do EPIA e

    visa a transmitir informaesfundamentais do mencionado estudo,atravs de linguagem acessvel a todosos segmentos da populao, de modoa que se conhea as vantagens do

    projeto, bem como todas asconseqncias ambientais decorrentesde sua implantao. (art.100)

    A Audincia Pblica noLicenciamento Ambiental1

    Audincia pblica a reunio feita com a

    sociedade para discutir a atividade, obra ouempreendimento que ser implantado, tendocomo base para a discusso o RIMA.

    Apesar da resoluo n0 001/86 doCONAMA ter dado o primeiro passo emrelao participao social, quando previu arealizao de audincia pblica e a possibilidadeda sociedade poder comentar o RIMA, foi aResoluo n0 009/87 do CONAMA queestabeleceu os procedimentos para realizao

    desta audincia.Esta audincia pode ser determinada pelorgo ambiental ou solicitada por 50 ou maiscidados, pelo Ministrio Pblico e por entidades

    civis2. Ela poder ser solicitada por ocasio da

    entrega do EPIA/RIMA ao rgo ambiental.Este, ao receber o EPIA/RIMA obrigado ainformar sociedade, atravs do Dirio Oficial,

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    que recebeu o estudo e que o mesmo encontra-se disponvel para quem quiser consult-lo. Nestemomento, o rgo ambiental tambm informarque se encontra aberto o prazo para solicitaoda audincia, pblica, o qual pela legislao

    de 45 dias.No Par,a participao da sociedadeatravs das audincias pblicas s foi previstana Portaria n0 39 - Secretaria de Estado deCincia, Tecnologia e Meio Ambiente -SECTAM, de 27 de novembro de 1992. Nestesentido, tambm foi publicada a Lei 5.877, de21 de dezembro de 1994, dispondo sobre a

    participao popular nas decisesrelacionadas ao meio ambiente e d outras

    providncias. Esta lei previu vrias formas departicipao, dentre elas, a audincia pblica.Finalmente, em 1995, o Estado promulgou suaLei Ambiental n0 5.887. Esta lei contm trscaptulos importantes em relao temticadiscutida: a) o captulo VII prev a participaopopular e o direito informao; b) o captuloIX refere-se avaliao prvia de impactoambiental; e c) o captulo X trata exclusivamentedas audincias pblicas.

    Outros Instrumentos que Podem serSolicitados pelo rgo Ambiental

    Quando no h exigncia deapresentao de EPIA/RIMA, os Estadosnormalmente solicitam Projeto Tcnico3. NoPar, esta permissibilidade garantidaatravs do artigo 98 da sua lei ambiental que

    permite, quando da dispensa do EPIA/RIMA,a possibilidade do rgo exigir outros

    instrumentos. Por exemplo, no caso deindstrias de palmito, madeireira, como noh exigncia de EPIA/RIMA, a Sectam exigeo Projeto de Engenharia Ambiental - PEA,com base em alguns critrios. Para asindstrias madeireiras, ser levado emconsiderao sua localizao, ou seja, se

    estiver na zona urbana dever apresentar oprojeto e o consumo de 20m3/dia4.

    No caso da atividade agropecuria,consta a exigncia de EPIA/RIMA, para reasde atividade acima de 1.000 ha, na resoluo

    011/86 do Conama. Portanto, a Sectam sepreocupou com as reas de atividade abaixode 1.000 ha e passou a exigir, com base notamanho da rea, o Projeto de Controle

    Ambiental - PCA. Assim, para reas deatividade que medem entre 100 ha a 1.000ha, a Sectam exige o PCA. E reas deatividades menores de 100 ha no se exige

    projeto. Tanto o EPIA/RIMA quanto osProjetos Tcnicos tm o objetivo de subsidiar

    a deciso do rgo ambiental sobre olicenciamento.

    Para atividade de produo de carvo, exigido o Projeto de Central deCarbonizao, normalmente, para quem

    possui de cinco fornos em diante.

    H tambm a exigncia deapresentao do Projeto de Recuperao de

    reas Degradadas, quando identificadas pela

    Secretaria por ocasio do licenciamento, casoem que a pessoa receber a licena paradesenvolver a atividade solicitada, mas

    paralelamente ser obrigada a elaborar esseprojeto com o objetivo de recuperar a rea.

    Procurou-se identificar por quantoesses projetos vm sendo elaborados, houvedificuldade de conseguir essas informaes,

    pois os consultores so temerosos na hora deinformar. Entretanto, conseguiram-se valoresaproximados para os dois tipos de projetosmais demandados pelo usurio que so oPEA, este pode custar, dependendo dotamanho da indstria, de R$4.000,00 a

    R$5.000,00, e o PCA, dependendo dotamanho da rea, varia de R$2.500,00 a

    R$4.500,00.5

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    AS EXIGNCIAS LEGAIS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM RELAO AO RGOAMBIENTAL

    Anlise das Solicitaes das LicenasAmbientais: LP, LI e LO

    A Sectam, em um pedido delicenciamento que tenha incio desde a licena

    prvia at renovao da LO, realizar seteanlises. Quando o rgo ambiental receberequerimento solicitando licenciamento,

    junto com o cadastro ambiental contendoinformaes referentes atividade, obra ouempreendimento, feita a anlise do pedido

    e do cadastro (primeira e segunda) paraidentificar quais as exigncias a seremcumpridas. Caso haja necessidade deapresentao de projetos, estes devero seranalisados (terceira anlise). Alm disto,estabelecem o prazo para apresentaodesse projeto ou EPIA. Por ocasio dasolicitao da LI, os tcnicos realizam novaanlise (quarta) e verificam qual o prazo aser dado para implantao doempreendimento, alm de averiguarem seno h qualquer tipo de pendncia. Quandoda solicitao da LO, os tcnicos realizammais uma anlise (quinta). Neste caso, almde observarem se a obra est de acordo como proposto no projeto, estabelecem o prazoa ser dado LO, pois esta sempre ter queestar se renovando.

    Para renovao da LO RLO, preciso requerimento. Este ser analisado(sexta) pelos tcnicos que faro umareavaliao das atividades a fim deatualizar suas exigncias. Neste momento,verificam se h nova regulamentao sobrea obra, atividade ou empreendimento, paraque possam renov-la de acordo com os

    padres que estejam prevalecendo naocasio. O solicitante tambm deve

    preencher o cadastro a fim de atualiza-lo,o qual ser analisado pelo tcnico (stima).

    VistoriasPara melhor compreenso do assunto,

    necessrio definir o termo vistoria, muitoutilizado nos rgos ambientais. Dos trsdicionrios consultados, nenhum se refere aeste vocbulo. Quanto a isto, nestadissertao, adotou-se o seguinteentendimento sobre vistoria: a inspeoobrigatria, de prazo certo, avisada comantecedncia, realizada em obras, atividadesou empreendimentos que desejam se licenciar.

    Devem ocorrer em trs etapas: por ocasioda concesso na LP, em razo da necessidadedo rgo de conhecer a rea onde aatividade, a obra ou o empreendimento irse desenvolver; na LO, pela necessidade dorgo ambiental de verificar se houveobedincia ao EPIA ou projeto tcnicoaprovado. Posteriormente, por ocasio das

    renovaes do licenciamento, no sentido deacompanhar os empreendimentos e

    atividades j licenciadas.

    Publicidade dos EPIAs/RIMAs

    H tambm a obrigatoriedade legal dapublicidade para os rgos ambientais,quando o processo de licenciamento ambientalenvolver a apresentao de EPIA/RIMA. A

    lei obriga a publicidade deste estudo, nomnimo, atravs do DOE ou DOU. Estapublicao de suma importncia, pois nestaocasio que ser aberto o prazo de 45 diaspara solicitao de audincia pblica e oRIMA ser colocado disposio, em localacessvel a todos, para ser comentado (Res.n0 001/86, art.11, 2, com redao dada pelaRes. n0 9/87). Ou seja, ela a base para que

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    o cidado possa participar do processo delicenciamento ambiental. Qualquer pessoapode solicitar acesso ao RIMA e analis-lo,podendo, inclusive, sugerir modificaes porescrito, resguardado o sigilo industrial.

    CONCLUSOO trabalho identificou e descreveu os

    procedimentos do licenciamento ambientalcom o objetivo de permitir que qualquercidado possa acompanh-lo. Porm, trata-se de procedimento complexo, difcil de seracompanhado, pois demanda tempo longo ecusto alto.

    necessrio que rgo ambiental e o

    Conselho Estadual de Meio Ambiente COEMA, faam uma reviso na legislao,quando da sua regulamentao, para identificarformas de simplificar esse processo e/oudesenvolver programas especficos visandoinformar a sociedade sobre o mesmo,procurando desmistific-lo, pois tudo que desconhecido e complexo afugenta o cidadoque optar pela ilegalidade.

    Ao levantar a lei federal como norma geral

    a ser seguida foi possvel observar que no geralo Par segue a lei federal, com exceo dosprazos e da exigncia do EPIA/RIMA. Emrelao ao prazo, mensura apenas o prazomnimo de um ano e mximo de cinco anos,independente da fase do licenciamento.Enquanto a legislao federal trabalha prazosdistintos de acordo com cada fase. Quanto aoEPIA/RIMA, foi mais restritivo, pois no exigeque a atividade cause um impacto significativopara poder exigi-lo. Apesar disso, na maioriadas vezes utiliza essa orientao.

    H tambm procedimentos especficosadotados no rgo ambiental tais como: uma listacom exigncias de documentos, vistorias, acobrana de taxas, procedimentos especficosem relao a audincia pblica. Indicando anecessidade de um acompanhamento constante

    junto ao rgo ambiental permitindo identificarqualquer alterao.

    H necessidade do Par rever seusprocedimentos visando sua simplificaoacompanhado de um programa de educao

    ambiental que permita conscientizar as pessoasquanto a importncia do meio ambiente e anecessidade de receber orientaes do rgoambiental para desenvolver suas atividades deforma preventiva evitando danos ao meioambiente, pois estes uma vez causados ensejaroaos infratores responsabilidades. Sendo melhorevitar o dano do que vir a repar-lo.

    REFERNCIASABSY, M. L. et al. (Cord./Org.). Avaliao deimpacto ambiental: agentes sociais,procedimentos e ferramentas (versoSTRONG, P. Y. et al.). 2. Braslia: IBAMA, 1995.ANTUNES, P. de B. Direito ambiental. 4 ed,rev., ampl. e atual. So Paulo: Lumen Juris. 2000.BRASIL. LEI N0 6.938 de 31 de agosto de 1981.Dispe sobre a poltica nacional do meio ambiente,

    seus fins e mecanismos de formulao e aplicao,e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio[da Repblica Federativa do Brasil], Braslia.02.09.81.BRASIL. Constituio da Repblica Federativado Brasil. Dirio da Unio [da RepblicaFederativa do Brasil], Braslia, 5 de outubro de1988.BUGALHO, N. R. Estudo prvio de impactoambiental. Revista de Direito Ambiental. n 15.So Paulo: RT, 1999.CONSELHO NACIONAL DE MEIOAMBIENTE (Brasil). Resoluo do CONAMAn0 001, de 24 de janeiro de 1986. Estabelececritrios bsicos e diretrizes gerais para o RIMA.CONSELHO NACIONAL DE MEIOAMBIENTE (Brasil). Resoluo do CONAMAn0 006, de 24 de janeiro de 1986. Institui e aprova

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    modelo para publicao de pedidos delicenciamento.CONSELHO NACIONAL DE MEIOAMBIENTE (Brasil). Resoluo do CONAMAn 011, de 18 de maro de 1986. Altera e

    acrescenta incisos na resoluo 001/86.CONSELHO NACIONAL DE MEIOAMBIENTE (Brasil). Resoluo do CONAMAn0 009, de dezembro de 1987. Regulamenta aquesto de audincias pblicas.CONSELHO NACIONAL DE MEIOAMBIENTE (Brasil). Resoluo do CONAMAn0 237, de 19 de dezembro de 1997. Regulamentao Decreto 99.274/90, de 06 de junho de 1990.DAWALIBE, M. O Poder de polcia em matria

    ambiental. Revista de Direito Ambiental. n.14.So Paulo: RT, 1999FIORILLO, C. A. P.& RODRIGUES, M. A.Manual de direito ambietal. Belo Horizonte: DelRey Editora, 1998.LOPES,S. R. M. L.A Participao popular nolicenciamento ambiental: uma avaliao daaudincia pblica no Estado do Par. Cadernode Ps-Graduao da UFPA. Belm, v. 2, n. 8/9,

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