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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE
FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS
CURSO DE DIREITO
Enerson Perpétuo Andrade
DESCRIMINALIZAÇÃO DO USO DAS DROGAS
Governador Valadares
2012
ENERSON PERPÉTUO ANDRADE
DESCRIMINALIZAÇÃO DO USO DAS DROGAS
Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito pela Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas, da Universidade Vale do Rio Doce. Orientador: Gilvan de Oliveira Machado
Governador Valadares
2012
ENERSON PERPÉTUO ANDRADE
DESCRIMINALIZAÇÃO DO USO DAS DROGAS
Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas, da Universidade Vale do Rio Doce.
Governador Valadares, ____ de _______ de 2012.
Banca Examinadora:
____________________________________________________ Prof. Gilvan de Oliveira Machado - Orientador
Universidade Vale do Rio Doce
____________________________________________________ Prof. Guilherme Dutra Marinho Cabral – 1° Examinador.
Universidade Vale do Rio Doce
____________________________________________________ Prof. Roberto Jório Filho – 2° Examinador.
Universidade Vale do Rio Doce
Dedico: ao meu pai, à minha mãe, aos
meus irmãos, aos meus familiares e à
minha namorada, que sempre me
apoiaram. Em especial a Deus por está
sempre me guiando, e me dando forças
para a realização dos meus objetivos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pai, por conceder tantas bênçãos em minha
vida e por permitir que eu chegasse ao final dessa caminhada.
Aos meus queridos pais Edvardo e Zilda e aos meus irmãos Everton e
Cynthia, que sempre estiveram presentes em minha vida, incentivando-me nos
momentos mais difíceis.
À minha namorada por ser uma pessoa iluminada, por acreditar em minha
capacidade e por está sempre ao meu lado.
Aos demais familiares e amigos que sempre me apoiaram.
Ao meu orientador, professor Gilvan de Oliveira Machado pelo incentivo e
pela dedicação.
A todos, meu agradecimento.
“Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em
conquistá-la” .
Johann Goethe
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo trazer à luz do mundo jurídico a discussão sobre a descriminalização sobre o uso de drogas. Serão apresentados os riscos do uso, bem como fatores sociológicos, criminais e jurídicos, que levam ao legislador pátrio criar punições estatais para uma modalidade de delito, que em regra, é um autoflagelo. O desenvolvimento do presente trabalho monográfico esta dividido em três capítulos apresentados da seguinte forma: O primeiro capítulo através de vários autores trás definições e a finalidade do direito Penal. O segundo capítulo trás definições de drogas ilícitas e as principais drogas consumidas. O terceiro capítulo aborda a descriminalização da posse de drogas para consumo pessoal através da Lei 11.343/06. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que busca descrever através de doutrinas, artigos, legislação e decisões dos tribunais, sobre o tema proposto.
Palavras Chave: Descriminalização. Drogas. Crime.
ABSTRACT
This work aims to bring the light of the legal discussion on the decriminalization of the use of drugs. Will present the risks of use, as well as sociological factors, and criminal law, leading to the state legislature paternal punishments for creating a type of crime, which as a rule, is a self-flagellation. The development of this monograph is divided into three chapters presented as follows: The first chapter by several authors behind definitions and purpose of criminal law. The second chapter behind definitions of illicit drugs and the main drugs used. The third chapter discusses the decriminalization of drug possession for personal consumption by Law 11.343/06. This is a literature that seeks to describe through doctrines, articles, legislation and court decisions on the proposed topic.
Keywords: Decriminalization. Drugs. Crime.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9
2 NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE DIREITO PENAL ..................................................... 11
2.1 CONCEITO E FINALIDADE ........................................................................................... 11
2.1.1 Conceito .................................................................................................................... 11
2.2 CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES DOS CRIMES .......................................................... 13
2.3 CRIMES DE PERIGO .................................................................................................... 15
2.3.1 Crimes de Perigo Abstrato em face da Constituição ............................................. 16
2.4 O PRINCIPIO DA PROPORCIONALIDADE ................................................................... 17
2.5 PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO PENAL MINÍMA ....................................................... 18
3 DROGAS ILÍCITAS .......................................................................................................... 21
3.1 DEFINIÇÃO ................................................................................................................... 21
3.2 PRINCIPAIS DROGAS (ILÍCITAS) CONSUMIDAS ....................................................... 21
3.2.1 Heroína ..................................................................................................................... 21
3.2.2 Maconha .................................................................................................................... 22
3.2.3 Haxixe ........................................................................................................................ 23
3.2.4 Cocaína ...................................................................................................................... 23
3.2.5 LSD ............................................................................................................................ 24
3.3 EFEITOS DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICOS ENTORPECENTES .................................... 25
3.4 CLASSIFICAÇÃO DO DANO CAUSADO PELO USO DE SUBSTÂNCIAS
ENTORPECENTES (LÍCITAS OU ILÍCITAS). ...................................................................... 26
3.5 TRATAMENTO NORMATIVO ENFRENTADO PELA REPUBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL. ............................................................................................................................... 27
3.6 ALTERNATIVAS MUNDIAIS ......................................................................................... 29
4 A DESCRIMINALIZAÇÃO DA POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL ........ 31
4.1 LEI Nº. 11.343/06 ........................................................................................................... 31
4.1.1 Principio da Proporcionalidade na Nova Lei do Usuário de Drogas ..................... 33
4.2 TRATAMENTO DADO AO USUÁRIO FRENTE À NOVA LEGISLAÇÃO ....................... 34
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 37
9
1 INTRODUÇÃO
Qual o verdadeiro motivo que leva o usuário a cair de braços abertos no
mundo das drogas? A oportunidade surgiu e o jovem experimentou? O uso de
drogas pode ser visto como algo excitante e ousado pelos jovens? O uso de drogas
pode ser uma tentativa de amenizar sentimentos de solidão, de inadequação, baixa
autoestima ou falta de confiança?
Quaisquer que sejam os motivos que levam ao uso de substâncias tóxico
entorpecentes, eles são muito subjetivos, mas o mal que as drogas causam é
semelhante e são esses problemas que devem ser observados.
Este trabalho tem como foco principal destacar as mudanças trazidas pela Lei
11.343/06, quanto ao usuário de drogas e mostrar a necessidade do tratamento
normativo dado aos usuários de drogas, como medida repressiva e coercitiva para
se evitar o uso, explicitando de forma específica o objeto jurídico protegido pelo
direito penal. É necessário trazer à luz deste trabalho definições sobre crimes de
perigo abstrato em face da constituição. Apresentar o princípio da proporcionalidade
no direito penal. Relacionar conceitos de diversas drogas, suas substâncias e males
que podem causar. Pesquisar todo tratamento jurídico que o Brasil já deu às drogas
e o atual.
A pesquisa abordará a descriminalização sobre o uso das drogas, tentando
demonstrar a sua necessidade ou não do tratamento pelo direito penal, adotando
principalmente descrições contidas em diversos doutrinadores, como Greco (2008),
ressaltando que “a finalidade do direito penal é proteger os bens mais importantes e
necessários para a própria sobrevivência da sociedade”.
O desenvolvimento do presente trabalho monográfico será dividido em três
capítulos apresentados da seguinte forma:
O primeiro capítulo, através de vários autores, trás definições e a finalidade
do direito Penal, conceito e classificação de crimes, aborda-se o crime de perigo
concreto, o crime de perigo abstrato em face da constituição, o princípio da
proporcionalidade e da intervenção penal mínima.
O segundo capítulo aborda definições de drogas ilícitas e as principais
consumidas, os efeitos das substâncias tóxicos entorpecentes, os danos causados
pelo uso de substâncias entorpecentes, o tratamento normativo enfrentado pela
10
republica federativa do Brasil e as alternativas mundiais quanto ao uso de drogas
ilícitas.
O terceiro capítulo aborda a descriminalização da posse de drogas para
consumo pessoal através da Lei 11.343/2006
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que busca descrever através de
doutrinas, artigos, legislação e decisões dos tribunais, sobre o tema proposto.
11
2 NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE DIREITO PENAL
Neste capítulo serão destacadas algumas definições de Direito Penal e a sua
finalidade, conceito e classificação de crimes. Serão abordados também o crime de
perigo concreto e o crime de perigo abstrato em face da constituição, e por último o
princípio da proporcionalidade e da intervenção penal mínima.
2.1 CONCEITO E FINALIDADE
2.1.1 Conceito
Nas precisas lições de Bitencourt (2010) o Direito Penal apresenta-se como
um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de
natureza penal e suas sanções correspondentes – penas e medidas de segurança.
Segundo Almeida (2009, p.3) o Direito Penal também chamado de Direito
Criminal, é “o ramo do Direito Público dedicado às normas emanadas pelo legislador
com a finalidade repressiva do delito e preservativa da sociedade”.
Alves (2012, p. 3) define Direito Penal como:
O ramo do direito público que trata do estudo das normas que ligam o crime a pena, disciplinando as relações jurídicas daí resultantes. Poderíamos defini-lo também como o conjunto de leis que pretende tutelar bens jurídicos, cuja violação denomina-se crime e importa uma coerção jurídica particularmente grave, cuja imposição propõe-se a evitar que o autor cometa novas violações.
Mirabette (2010, p.2) define direito penal como:
O conjunto de normas e disposições jurídicas que regulam o exercício do poder sancionador e preventivo do Estado, estabelecendo o conceito do crime como pressuposto da ação estatal, assim como a responsabilidade do sujeito ativo, e associando à infração da norma uma pena finalista ou uma medida de segurança.
A finalidade do Direito Penal, nos dizeres de Rogério Greco (Greco 2008), é
proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da
sociedade. Nessa lição, afirma Luiz Regis Prado (Prado 2003), que o pensamento
12
jurídico moderno reconhece que o escopo imediato e primordial do direito penal
radica na proteção de bens jurídicos – essenciais ao indivíduo e à comunidade. Com
o Direito Penal objetiva-se tutelar os bens que, por serem extremamente valiosos,
não do ponto de vista econômico, mas sim político não pode ser suficientemente
protegido pelos demais ramos do Direito.
Para Almeida (2009) o Direito Penal visa a proteger os bens jurídicos
fundamentais (todo valor reconhecido pelo direito). No crime de furto, por exemplo, o
resultado é representado pela ofensa ao bem jurídico “patrimônio”; no homicídio, há
lesão ao valor jurídico “vida humana”; na coação, uma violação à “liberdade
individual”. Essa seria a tríade fundamental de bens jurídicos tutelados coativamente
pelo Estado: vida, liberdade e propriedade.
O direito penal garante os direitos da pessoa humana frente ao poder punitivo
do Estado.
Para Bitencourt (2001), o bem jurídico não pode identificar-se simplesmente
com a Ratio Legis1, mas deve possuir um sentido social próprio, anterior à norma
penal e em si mesmo decidido, caso contrário, não seria capaz de servir à sua
função sistemática, de parâmetro e limite do preceito penal e de contrapartida das
causas de justificação na hipótese de conflito de valorações. Conclui Bitencourt que
na verdade, o direito Penal protege, dentro de sua função ética social, o
comportamento humano daquela maioria capaz de manter uma mínima vinculação
ético-social, que participa da construção positiva da vida em sociedade por meio da
família, escola e trabalho.
Nessa seara, o postulado de que o delito lesa ou ameaça de lesão bens
jurídicos tem a concordância quase total e pacífica dos doutrinadores, mostrando ser
essa a finalidade precípua do direito penal.
Para Alves (2012) algumas doutrinas se apresentam tentando explicar a
finalidade da pena e do direito penal são elas:
- Teoria absoluta: pune-se porque pecou (punitiva).
- Teoria utilitária
- Teoria utilitária ou relativa: pune-se para que não peque (educativa)
- Teoria mista: pune-se porque pecou e para que não peque (punitiva /
educativa).
1 A razão de ser da lei ( definição dicionário Aurélio).
13
Devolver a segurança jurídica à sociedade, reafirmando o prestígio da ordem
violada (credibilidade do ordenamento jurídico), através de uma ação socializadora
sobre o delinquente.
Para o autor a função do Direito penal pode ser definida como a segurança
jurídica.2
2.2 CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES DOS CRIMES
O conceito de crime passou por um enorme processo de evolução,
percorrendo conceitos clássicos, neoclássicos, de delito no finalismo, até chegar à
sua definição atual.
Pode se descrever o crime como um fato típico, ilícito e culpável. Quando se
pratica um delito, o processo de consumação é imediato, ou seja, analisando apenas
o objeto jurídico lesado, a exemplo, um corpo estirado ao chão com marcas de tiros,
chegar-se-ia a uma conclusão temerária, em regra, que naquele local ocorreu um
crime. Todavia, é necessário perpassar por todas as etapas do conceito analítico de
crime, para poder se concluir se houve ou não um delito. No fato típico, é necessário
analisar a conduta, o nexo de causalidade, resultado e a tipicidade. Na
antijuridicidade, entender se a conduta do agente foi ou não permitida pelo direito,
para se chegar à culpabilidade, onde se analisa se era exigível conduta diversa do
agente, a imputabilidade e a potencial consciência da ilicitude.
Deveras, chegando ao consenso que houve crime, para melhor elucidar este
trabalho acadêmico, de forma sucinta, para não destoar da finalidade essencial
desta monografia, insta salientar a classificação dos delitos proposta por Cesar
Roberto Bitencourt (Bitencourt 2010), como segue:
Crime doloso. De acordo com o Código Penal (art.18,l) , diz-se crime doloso,
quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
2 O conjunto de condições externas que criam o sentimento de certeza acerca da disponibilidade
de tudo o que se necessita para realizar a coexistência.
14
Crime culposo. O Código Penal o definiu no artigo 18, dizendo que ocorre
crime culposo , quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência e imperícia.
Crime preterdoloso. Ocorre quando o agente pratica um dano inicial doloso,
mas incorre em um resultado culposo.
Crime Comissivo. É espécie de delito que exige do agente uma ação, ou seja,
um movimento corporal, uma inervação muscular, para produzir resultado no mundo
jurídico.
Crime Omissivo. Esta modalidade de delito, por sua vez, exige que o agente
se abstenha de fazer o que a norma determina.
Crime consumado. É “quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal (Art. 14, I, CP)”.
Crime Tentado. Ocorre “quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias a vontade do agente”. (Art.14, ll)
Crime Comissivo-omissivo. É um delito que ocorre em situações descritas na
lei, como nos casos dos garantidores. É resultado produzido de maneira omissivo,
mas por determinação da lei, pune-se como conduta comissiva, pois o garantidor
tem o poder-dever de agir para impedir um resultado.
Crime permanente. O resultado do crime se protrai no tempo, ficando o
agente em estado de flagrância, até cessarem os efeitos da permanência.
Crime Instantâneo. O resultado ocorre simultaneamente com a consumação
do crime.
Crime material. Exige-se que haja modificação no mundo dos fatos, um
resultado material.
Crime formal. Consuma-se com a perfeita adequação da conduta, com o
preceito legal, não exigindo modificação no mundo dos fatos, mas ocorrendo
resultado formal.
Crime de Mera Conduta. Diferencia-se do crime formal, por este o legislador
prevê um resultado jurídico, mas o antecipa, enquanto no crime de mera conduta
não ocorre resultado. É a simples atividade do agente.
Crime unissubjetivo. Para sua ocorrência, é necessária a participação de
apenas um sujeito, mas pode ser praticado com concurso de pessoas.
Crime plurissubjetivo. São crimes que exigem a participação de, no mínimo,
duas pessoas, também conhecido como concurso necessário.
15
Crime unissubsistente. Ocorre quando o delito de constitui em apenas um
ato.
Crime plurissubsistente. Sua consumação pode desdobrar-se em vários atos
sucessivos.
Crime comum. São delitos que a tipo penal não exige características
especiais do agente, ou seja, qualquer pessoa pode praticar o crime.
Crime Próprio. É aquele que o legislador ordinário forneceu alguns elementos,
que, para que o agente o pratique, reúna todos os elementos descritos no tipo penal.
Crime de mão própria. Os crimes de mão própria, segundo Damásio (apud
Bitencourt (2010), se diferenciam dos “crimes próprios, pois neste o sujeito ativo
pode determinar a outrem sua execução, embora possam ser cometidos apenas por
um número limitado de pessoas; nos crimes de mão própria, embora possa ser
praticado por qualquer pessoa, ninguém os comete por intermédio de outrem”.
Crime de ação única. É aquele que contém somente uma modalidade de
conduta, expressa pelo verbo núcleo do tipo (SANTOS 2011).
Crime de ação múltipla. O tipo penal prevê várias modalidades de condutas,
e, ainda que seja praticada mais de uma conduta, haverá somente um único crime
(SANTOS 2011).
Crime de ação dupla subjetividade. Ocorre quando são vítimas, ao mesmo
tempo, dois indivíduos.
Como a finalidade precípua deste trabalho é abordar os crimes envolvendo
drogas, que pela classificação doutrinária são considerados de perigo é necessário
abordar em tópico próprio a classificação sobre os crimes de perigo, como se segue.
2.3 CRIMES DE PERIGO
Antes de adentrarmos na classificação dos crimes de perigo é necessária
abordagem preliminar. Conceitua-se perigo, nas palavras de Miguel Reale Junior
(Reale 2000, p. 56), como “a aptidão, a idoneidade de um fenômeno de ser causa de
dano, ou seja, é a modificação de um estado verificado no mundo exterior com a
potencialidade de produzir a perda ou diminuição de um bem, o sacrifício ou a
restrição de um interesse”.
16
Jesus (1997) afirma que os crimes de perigo são os que se consumam tão só
com a possibilidade do dano. Nos crimes de perigo, o delito consuma-se com o
simples perigo criado para o bem jurídico.
Noronha (1988) apresenta a mesma definição para crimes de perigo.
Segundo o autor crimes de perigo são os que se contentam com a probabilidade de
dano.
Romero (2004) afirma que o crime de perigo é, pois, aquele que, sem destruir
ou diminuir o bem jurídico tutelado pelo direito penal, representa uma ponderável
ameaça ou turbação à existência ou segurança de ditos valores tutelados, uma vez
existir relevante probabilidade de dano a estes interesses.
Podemos compreender elementos essenciais para considerar uma conduta
como de crime de perigo. Primeiramente a relevância do bem jurídico tutelado. Em
segundo, importa considerar o quanto à conduta representa de perigo ao bem
jurídico, sendo ponderável, ou seja, se realmente pode causar dano ou não,
verificando a provável causa de perigo ao bem jurídico.
Segundo informações da revista fundação Esc.Super (2006) há figuras penais
em que a descrição do fato típico dispensa a provocação de um dano, punindo tão-
somente a colocação do bem jurídico em perigo de lesão, pois o legislador entende
que o bem jurídico em perigo é elemento bastante para justificar uma pena criminal.
Pune-se a mera probabilidade, ainda que abstrata, de dano aos interesses
juridicamente tutelados.
Os crimes de perigo já é há muito tempo objeto de estudo pelo Direito Penal.
Afirmava-se serem eles a possibilidade objetiva de um acontecimento danoso. Após,
tornou-se necessária não somente a mera possibilidade, mas a probabilidade do
dano.
2.3.1 Crimes de Perigo Abstrato em Face da Constituição
Bottini (2007, p.111) define crime de perigo abstrato como:
A técnica utilizada pelo legislador para atribuir a qualidade de crime a determinadas condutas, independentemente da produção de um resultado externo. Trata-se de prescrição normativa cuja completude se restringe à ação, ao comportamento descrito no tipo, sem nenhuma referência aos efeitos exteriores do ato, ao contrário do que ocorre com os delitos de lesão ou de perigo concreto.
17
O perigo, via de regra, tem um caráter normativo, pois o legislador extrai da
realidade as situações de perigo que são relevantes para o mundo jurídico, as
recortam e colam no ordenamento jurídico, sem claro deixar de ressaltar o valor
ontológico.
O crime de perigo consuma-se com a simples exposição do bem jurídico ao
dano.
Os crimes de perigo abstrato ou presumido configuram-se figura ínsita, ou
seja, apenas necessita que o perigo seja presumido, observando claro, que essa
presunção gere perigo a algum bem jurídico, sob pena de inconstitucionalidade.
Segundo Gomes (2007) no Direito Penal da atualidade, muito se discute
sobre a recepção, pela vigente Constituição Federal, dos chamados crimes de
perigo abstrato, em razão da consagração do princípio da lesividade.
A doutrina moderna refuta o reconhecimento do perigo abstrato, em razão da
adoção, pela Constituição Federal, do princípio da lesividade, comando que pode
ser extraído, implicitamente, do artigo 98, I, do aludido diploma. Esse dispositivo
trata dos juizados especiais e determina a sua competência para as infrações penais
de menor potencial ofensivo, deixando evidente a exigência de ofensividade da
conduta, para que essa seja considerada fato típico.
O tráfico de entorpecentes é um dos problemas crônicos da sociedade atual
e afeta a generalidade dos países e que seus danos são imensuráveis. Resta claro
que o só fato de traficar constitui conduta que traz em si uma ilicitude presumida, ou
seja, o tráfico de entorpecentes traz consigo um real perigo à saúde pública, bem
jurídico tutelado pela norma com base na expressa na constituição federal de 1988,
quando no seu art. 5°, XLIII, disse que o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins é insuscetível de graça e anistia e inafiançável.
2.4 O PRINCIPIO DA PROPORCIONALIDADE
De acordo com Barros (1996) o princípio da proporcionalidade insere-se na
estrutura normativa da Constituição, junto aos demais princípios gerais norteadores
da interpretação das regras constitucionais e infraconstitucionais. Uma vez que uma
visão sistemática da Constituição permite-nos auferir sua existência de forma
implícita, deverá guiar o magistrado na interpretação e o legislador na elaboração de
18
normas hierarquicamente inferiores, não obstante não se encontrar explicitamente
delineado.
O principio da proporcionalidade encontra-se concretizado em diversas
normas da Constituição Federal em relação aos direitos e garantias individuais, no
inciso V do artigo 5°, que constitucionaliza o direito de resposta proporcional ao
agravo. Em sede de Direito Penal, ao garantir a individualização das penas (artigo
5°, XLVI, caput), está implicitamente garantido que estas serão proporcionais ao
delito cometido.
De acordo com Silva (1998), na organização do Estado, a proporcionalidade
está presente dentre os requisitos necessários à decretação de intervenção, uma
vez que sua decretação depende do agravo cometido, conforme se observa a partir
da análise do § 3° do artigo 36 da carta magna de 1988, que exclui a intervenção por
considerá-la desarrazoada nas ocasiões ali explicitadas. Sua existência é ainda
prevista no tocante à composição da Câmara dos Deputados (artigo 45, caput e §1°
da CF/88), ao disciplinar a representação por Estado e pelo Distrito Federal,
afirmando ser proporcional à população, procedendo-se aos ajustes necessários.
O Código Penal visa proteger os bens que a sociedade considera essenciais.
Esses bens são considerados pela doutrina como bens jurídicos. As definições
desses bens jurídicos decorrem de vários doutrinadores. Noronha define como o
“bem-interesse protegido pela norma penal”. Zaffaroni (1982) considera como “a
relação de disponibilidade de uma pessoa com um objeto, protegida pelo Estado,
que revela seu interesse mediante normas que proíbem determinadas condutas que
as afetam, aquelas que são expressadas com a tipificação dessas condutas”, entre
outros. Não resta dúvida que apesar das diversas definições sobre bem-jurídicos,
todas recaem na necessidade do ser humano conseguir proteger aqueles bens
considerados essenciais para a manutenção ideal de uma sociedade estável. Dessa
forma, não é correto afirmar que os crimes de perigo abstrato ferem o princípio da
proporcionalidade só pelo fato de o perigo figurar de forma presumida. Isso porque
há situações em que a experiência revela que o perigo é inerente à conduta, como
ocorre com o tráfico de entorpecentes.
2.5 PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO PENAL MINÍMA
19
A intervenção penal em um Estado Democrático de Direito somente poderá
ser subsidiária, ou posto, doutra maneira, de intervenção mínima, na medida em que
se utilize o direito penal nos estritos limites da necessidade, quando outros meios de
controle social não forem aptos a proteger os bens jurídicos valorados como
essenciais. O mínimo aqui significa subsidiário, ultima ratio3, norteado pela
necessidade.
Dessa forma, se a norma não comportar um tipificação como delito de dano
ou, ainda, de perigo concreto, terá de ser de perigo abstrato, sob pena de, com a
inação estatal, punir-se toda a comunidade. Os crimes de perigo presumido
correspondem às exigências de tutela de um sistema penal liberal-democrático,
quando a tutela na forma de perigo concreto resulte insuficiente pela dificuldade de
precisar os termos de probabilidade da lesão, respeitando assim o principio de
subsidiariedade.
Para Rocha (2004) o princípio da intervenção penal mínima ocupa uma
função importante para assegurar as garantias individuais previstas na Constituição,
pois, como afirma Fernando Galvão, é a expressão do axioma da nulla lex poenalis
sine necessitate, que determina não ser possível a incriminação legal sem que haja
a necessidade de uma intervenção tão gravosa quanto a promovida pelo Direito
Penal.
De acordo com Cunha (1985) apesar do princípio da intervenção mínima não
se encontrar expresso na Constituição Federal, nem no Código Penal, a elaboração
e aplicação da lei penal devem se basear nele, pois, como afirma Cunha Luna, é um
princípio imanente, por sua compatibilidade e conexões lógicas com outros
princípios jurídico-penais, dotados de positividade, e com pressupostos políticos do
estado de direito democrático.
Para Prado (1997), o princípio da intervenção mínima (ultima ratio) limita o jus
puniendi, no sentido de que pressupõe que a tutela penal só deve tratar daqueles
bens jurídicos fundamentais da sociedade e caso não existam outros métodos
eficientes para assegurar as condições de vida, o desenvolvimento e a paz social,
tendo em vista o postulado maior da liberdade e da dignidade da pessoa humana.
3 A última razão, último argumento.
20
A intervenção mínima tem por objetivo garantir que o legislador, no momento
de escolha dos comportamentos a serem punidos, tenha cuidado para não
incriminar aqueles que possam ser resolvidos por outros ramos do Direito.
Para Capez (2003), tal princípio também alcançaria o intérprete do Direito,
para que este não tipificasse ações quando houvesse outras formas jurídicas de
resposta, menos danosas que o sistema punitivo estatal.
O Direito Penal também não deve intervir nas condutas em que sua atuação
se revele claramente ineficaz.
21
3 DROGAS ILÍCITAS
Neste capítulo serão destacadas as principais drogas ilícitas consumidas, os
principais efeitos das substâncias tóxicos entorpecentes, a classificação do dano
causado pelo uso de substâncias entorpecentes (lícitas ou ilícitas) o tratamento
normativo enfrentado pela Republica Federativa do Brasil e por último as
alternativas mundiais para o usário de drogas .
3.1 DEFINIÇÃO
Cabral (2010, p.2) define drogas ilícitas como “substâncias proibidas de
serem produzidas, comercializadas e consumidas. Tais substâncias podem ser
estimulantes, depressivas ou perturbadoras do sistema nervoso central”.
Para Araújo (2007) drogas ilícitas são as cuja comercialização é proibida pela
justiça, estas também são conhecidas como “drogas pesadas” e causam forte
dependência.
3.2 PRINCIPAIS DROGAS (ILÍCITAS) CONSUMIDAS
3.2.1 Heroína
De acordo com Araguaia (2010) a heroína derivada da papoula, sintetizada a
partir da morfina: substância bastante utilizada no século XIX pelas suas
propriedades analgésicas e antidiarreicas. Como outras drogas originárias desta
planta, a heroína atua sobre receptores cerebrais específicos, provocando um
funcionamento mais brando do sistema nervoso e respiratório.
Ainda de acordo com a autora após descoberta sua potencialidade em causar
dependência química e psíquica de forma bastante rápida, sua comercialização foi
proibida na década de vinte. Entretanto, principalmente no sudeste asiático e
Europa, essa substância é produzida e distribuída para todo o mundo
clandestinamente.
22
Apresentando-se em sua forma pura como um pó branco de coloração
esbranquiçada, é utilizada mais frequentemente de forma injetável, após
aquecimento. Além disso, alguns usuários a inalam ou aspiram.
Seus efeitos duram aproximadamente cinco horas, proporcionando
sensações de bem-estar, euforia e prazer, elevação da autoestima e diminuição do
desânimo, dor e ansiedade.
Como esta droga desenvolve dependência e tolerância de forma bastante
rápida, o usuário passa a consumi-la com mais frequência com o intuito de buscar o
mesmo bem-estar provocado anteriormente, e também de fugir das sensações
provocadas pela abstinência, que surge aproximadamente vinte e quatro horas após
seu uso. Essa droga pode provocar diarreia, náuseas, vômitos, dores musculares,
pânico, insônia, inquietação e taquicardia.
Assim, formas de obtê-la passam a ser o foco de suas vidas, gerando
consequências sérias. Constantes vômitos, diarreias e fortes dores abdominais,
perda de peso, depressão, abortos espontâneos, surdez, delírio, descompassos
cardíacos, incapacidade de concentração, depressão do ciclo respiratório, colapso
dos vasos sanguíneos, além de problemas relacionados às interações sociais e
familiares são algumas consequências que o usuário está sujeito, em médio prazo.
Além disso, no caso de pessoas que a utilizam na forma injetável, há chances de
ocorrer necrose de tecidos e de se adquirir diversas doenças, como AIDS, hepatites
e pneumonias, em decorrência da utilização de seringas compartilhadas.
A maioria dos casos de morte por overdose é consequência de paradas
respiratórias decorrentes de seu uso prolongado, ou de uso concomitante com
outras drogas (ARAGUAIA, 2007).
3.2.2 Maconha
Carlini e Galduróz(2005) destaca que a maconha é uma planta, o cãnhamo,
cientificamente chamad ade Cannabis sativa L.
23
É uma planta conhecida há mais de 5.000 anos antes de cristo. Os chineses,
naquela época, utilizavam a planta para extrações de dentes, colocando um
macerado da planta sobre o dente afetado até insensibilização e faziam a retirada.
Devido à variedade de potência das substâncias ativas, são raras as
alucinações e alterações de pensamento, porém com doses maiores surgem
perturbações da memória, alterações de pensamento e sentimentos de estranheza.
Indivíduos mais sensíveis podem manifestar ansiedade, ataques de pânico e
precipitar surtos psicóticos.
3.2.3 Haxixe
De acordo com Lima (2010) Haxixe é a resina que envolve as inflorescências,
em que concentra uma porcentagem muito maior do princípio psicoativo, o
tetrahidrocanabiol.
Ainda segundo a autora hoje, em função dos processos químicos e das
culturas inovadoras, a planta desenvolve-se várias vezes ao ano, com aumento
gradativo do princípio psicoativo o tetrahidrocanabinol (THC).
Segundo a Organização Mundial da Saúde, é a droga mais consumida no
mundo. Sob efeitos contínuos, o indivíduo pode ser levado a uma deterioração
psíquica, chegando à insanidade.
Em médio e longo prazo, age sobre os pulmões. Dilata os brônquios, em
seguida levando à bronquite, asma, faringite.
Haverá aumento das células macrófagos dos pulmões, comprometendo o
bom funcionamento desses órgãos, levando à bronquite obstrutiva crônica.
3.2.4 Cocaína
Para Murad (2010) a cocaína é a droga da euforia. É fumada como pasta
básica ou como crack, injetada ou cheirada, incute nos usuários fantasias de força,
poder e sedução.
Seus efeitos estimulantes eram utilizados pelos indígenas dos Andes em
rituais religiosos. Permitia aos mensageiros, que percorriam grandes distâncias,
suportar a jornada.
24
Recentemente, foi utilizado como anestésico local, além de ser agente
vasoconstritor. Em função dos efeitos colaterais, foi abandonado em favor dos
anestésicos sintéticos. É utilizado somente como droga.
Absorvida pela mucosa do nariz provoca destruição dessa parte do
organismo, com perfurações e até destruição do septo nasal. Este processo é
acompanhado de sangramento, o que serve de evidência do uso. A cartilagem do
nariz sofre um processo de erosão.
A anorexia é habitual, juntamente com alterações do olfato, da audição, da
visão e insônia.
3.2.5 LSD
Para Lopes ( 2011) o LSD , acrônimo de dietilamida ácido lisérgico, produz
grandes alterações no cérebro, atuando diretamente sobre o sistema nervoso e
provocando fenômenos psíquicos , como alucinações , delírios e ilusões. É uma
substância sintética, produzida em laboratório, que adquiriu popularidade na década
de 60, quando não era vista como algo prejudicial à saúde.
Pode ser consumida por via oral, injeção ou inalação, e se apresenta em
forma de barras, cápsulas, tiras de gelatina e líquida; seus efeitos duram de oito a
doze horas.
Os efeitos físicos dessa droga são: dilatação das pupilas, sudorese, aumento
da frequência cardíaca e da pressão arterial, aumento da temperatura, náuseas,
vômitos. Os sintomas psíquicos são alucinações auditivas e visuais, sensibilidade
sensorial, confusão, pensamento desordenado, perda do controle emocional, euforia
alternada com angústia, dificuldade de concentração.
É importante destacar que os efeitos do LSD dependem do ambiente, da
qualidade da droga e da personalidade da pessoa.
O LSD é mais usado por adolescentes e jovens, com intuito de ter visões e
sensações novas e coloridas, pois as formas, cheiros, cores e situações se
modificam, levando a pessoa a criar ilusões e delírios, como por exemplo, paredes
que escorregam, mania de grandeza e perseguição. Pode ocorrer também um
“flashback”, fenômeno onde são sentidos os efeitos da droga após um período de
semanas ou meses sem usá-la (LOPES, 2011).
25
O LSD é conhecido também com outros nomes como doce, ácido, gota,
papel, micro ponto.
3.3 EFEITOS DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICOS ENTORPECENTES
Quanto aos efeitos, as substâncias psicotrópicas são divididas em três
grupos. O primeiro é o dos psicoanalépticos, os quais são estimulantes psíquicos,
elevando ou aumentando a atividade mental, apresentando como principais
subgrupos as anfetaminas, os antidepressivos e também a cocaína. O segundo
grupo é o dos psicolépticos, os quais possuem como efeito a redução da atividade
mental, são os barbitúricos, os neurolépticos e os tranquilizantes propriamente ditos,
podendo ser hipnóticos (hipnossedativos) ou não hipnóticos. Os psicodislépticos
constituem o terceiro grupo. São os alucinógenos que geram uma desestruturação
da personalidade, acarretando anomalias da atividade mental.
De acordo com Sherer (2011, p.6) os efeitos das drogas são desagradáveis:
Embora inicialmente possam dar uma sensação de bem-estar. Os efeitos desagradáveis decorrem da dependência física e psíquica que elas provocam. A dependência física altera a química do organismo, tornando-se indispensável ao indivíduo e a psíquica, quando o individuo não usa a droga, deixa em lastimável estado de depressão, abatimento, desânimo e fossa, perdendo o interesse pelo trabalho, pelo estudo e pela vida.
A experiência tem revelado todo o poder destruidor das substâncias
entorpecentes: o primeiro deles é a dependência, fato que gera efeitos maléficos
não só ao indivíduo acometido do vício como a saúde pública, configurando, assim,
uma danosidade social. E isso a par de outros problemas, configurando, como o
caminho criminoso em que invariavelmente incorre o viciado, para que se possa
manter o vício. O toxicômano, para satisfazer suas necessidades decorrentes da
dependência, furta, rouba, não raramente sem poupar sua própria família, além de
constituir fácil presa no incremento do tráfico. Para obter recursos, participa do
tráfico “mediante comissão”.
26
3.4 CLASSIFICAÇÃO DO DANO CAUSADO PELO USO DE SUBSTÂNCIAS
ENTORPECENTES (LÍCITAS OU ILÍCITAS).
De acordo com a revista The Lancet Medical Journal (UK), a classificação
dada para droga, de acordo com dano causado, do mais grave ao de menor
gravidade, ficou desta forma:
1. Heroína
2. Cocaína
3. Barbitúricos
4. Metadona (heroína sintética)
5. Álcool
6. Ketamina
7. Benzodiazepines
8. Anfetaminas
9. Tabaco
10. Buprenorphine (derivado do ópio)
11. Cannabis, Maconha
12. Solventes
13. 4-MTA (droga sintética)
14. LSD
15. Methylphenidate (remédio para falta de atenção em crianças)
16. Esteróides anabolizantes
17. GHB (boa noite cinderela)
18. Ecstasy
19. Nitratos alcalinos (poppers)
20. Mirra (aquela que Jesus ganhou quando nasceu)
Entre as drogas que maior dano causa aos seus usuários estão as que lhes
afetam o sistema nervoso central. Ocasiona distúrbios, tanto físicos como mentais.
E uma vez atingida a saúde mental, a capacidade de raciocínio do homem fica
perturbada e ele é capaz de praticar atos que podem prejudicar tanto a si mesmo,
como aos outros(REVISTA THE LANCET MEDICAL JOURNAL (UK).
27
3.5 TRATAMENTO NORMATIVO ENFRENTADO PELA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Não é de hoje que o Brasil, como mundo todo, tenta solucionar o problema
das drogas. Nosso País já reformulou por diversas vezes o tratamento normativo
concedido ao uso das substâncias entorpecentes, como para o traficante. A própria
Carta Magna inovou em seu art. 5º, XLIII, ao trazer que o tráfico de substâncias
entorpecentes é insusceptível de graça e anistia, além de ser crime inafiançável.
De acordo com Souza (2010) até o começo do século 20, o Brasil não tinha
qualquer controle estatal sobre as drogas que eram toleradas e usadas em
prostíbulos frequentados por jovens das classes média e alta, filhos da oligarquia da
República Velha. No início da década de 20, depois de ter se comprometido na
reunião de Haia (1911) a fortalecer o controle sobre o uso de ópio e cocaína, o Brasil
começou efetivamente um controle. Naquele momento, o vício até então limitado
aos “rapazes finos” dentro dos prostíbulos passou a se espalhar nas ruas entre as
classes sociais “perigosas”, ou seja, entre os pardos, negros, imigrantes e pobres, o
que começou a incomodar o governo.
Em 1921, surge a primeira restritiva na utilização do ópio, da morfina, da
heroína e da cocaína no Brasil, passível de punição para todo tipo de utilização que
não seguisse recomendações médicas. A maconha foi proibida a partir de 1930 e
em 1933 ocorreram às primeiras prisões no país (no Rio de Janeiro) por uso da
droga
A primeira lei antidrogas é a Lei nº 6.368/1976. Esse diploma legal vigorou por
quase 30 anos e se caracterizava pelo tratamento exclusivamente punitivo que dava
às drogas. No ponto que mais gera polêmicas, o da distinção entre usuário e
traficante, a lei nascida no regime militar punia com pena de seis meses a um ano o
usuário pego com pequena porção de droga e o traficante, com pena de 3 a 15
anos.
O problema é que a lei não continha critérios objetivos para distinguir o
traficante do usuário, cabendo quase sempre ao delegado de polícia enquadrar o
sujeito no artigo 16 (usuário) ou 12 (tráfico) da forma como melhor lhe parecesse.
Era muito comum usuários serem presos com pequena quantidade de droga e
tratados como traficantes até que provassem o contrário. A Lei nº 8.072/1990
28
agravou ainda mais a situação, ao equiparar o tráfico a crime hediondo, o que levou
a jurisprudência a entender que, dada a equiparação, o condenado não poderia
fazer jus a nenhum benefício, como substituição da pena de prisão por restritiva de
direitos e a progressão de regime prisional depois de cumprido um sexto da pena.
A mudança mais aguardada na lei de drogas era o estabelecimento de
critérios bem definidos que separassem de uma vez por todos os usuários de
pequenos traficantes e, ainda, estes últimos de traficantes maiores. Essa mudança
não ocorreu. A lei de 2001 foi mais um acidente de percurso do que propriamente
uma mudança, já que todo o capítulo de crimes e penas foi vetado, restando apenas
modificações processuais.
Com a entrada em vigor da Lei nº 11.343/06 houve alteração em quase todos
os dispositivos da Lei de 1976, abolindo a pena de prisão para o usuário e
aumentando a pena para o tráfico (em vez de três, a mínima passou a ser de cinco
anos). Contudo, não trouxe a diferenciação, de forma objetiva, da situação entre
usuário e traficante.
A Lei 11.343/06 ainda previu alguns institutos considerados inconstitucionais,
como a vedação de conversão da pena privativa de liberdade, em restritiva de
direitos, conforme art. 33 §4° da referida norma. Todavia, o Supremo Tribunal
Federal (STF), no habeas corpus 97.256/RS, em decisão definitiva, exercendo
controle difuso de constitucionalidade, declarou inconstitucional a eficácia da
expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”. Por se tratar de
controle difuso de constitucionalidade, seus efeitos foram inter partes. O Senado
Federal, com fundamento no art. 52, inc X, da Constituição Federal, suspendeu, no
dia 12 de fevereiro de 2012, com efeito ergga omnes, a execução da expressão
“vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, declarada inconstitucional
pelo STF, alcançando assim todo ordenamento brasileiro.
Vê-se com isso, o amadurecimento legislativo e jurisdicional por parte dos
poderes do Estado em prestar tratamento normativo diverso a comportamentos
distintos no que se refere às drogas. Para o usuário não se admite pena privativa de
liberdade. Aos traficantes, no que diz respeito àquele que comete tráfico privilegiado,
dá-se a ele um tratamento penal menos severo, passando o direito penal a focar
com força normativa completa àquele traficante que dissemina a droga, de forma
reiterada e constante, a todo território nacional.
29
3.6 ALTERNATIVAS MUNDIAIS
De acordo com Souza (2010) a legislação para tráfico e uso de drogas no
mundo varia muito. Enquanto, alguns países como Cingapura, Indonésia e Arábia
Saudita condenam à pena de morte os traficantes, outros, como alguns países da
Europa, têm leis amenas, principalmente para os usuários.
Portugal, a partir de 2002, descriminalizou as drogas ilícitas, ou seja, o
usuário não é mais tratado como um criminoso, mas as penas endureceram para os
traficantes, com multas e longos períodos de prisão.
Na Suécia, o governo, depois de levar para a cadeia vários consumidores e
vendedores, decidiu investir na prevenção, tentando evitar que os jovens se iniciem
nas drogas. O país gasta 30% a mais em prevenção do que outros países da
Europa e o resultado é que há 30% menos usuários de drogas do que a média
europeia.
Nos Estados Unidos é permitido o uso medicinal da maconha em oito
Estados, mas as leis para o tráfico são duras. No Canadá, o consumo medicinal
também é permitido desde 2001.
No Japão, onde os jovens das classes médias e altas são os maiores
consumidores, desde 2006, a pena de prisão para usuários foi substituída por
tratamento e serviços comunitários. As leis para os traficantes endureceram e se
tornaram ainda mais rigorosas.
Na Alemanha, Bélgica, Espanha e Finlândia, o uso também foi
descriminalizado e a lei não impõe condenação para quem é só usuário.
Na Holanda, o consumo de maconha é liberado (com quantidades limites de
venda: até cinco gramas de maconha para cada cliente) e a droga é vendida em
cerca de 800 bares e cafés, desde 1976, para maiores de 18 anos. Esses locais não
podem se instalar próximos a escolas e não é permitido fumar maconha nas ruas, só
dentro dos cafés que oferecem uma infinidade de variedades da erva, inclusive com
cardápio. O governo holandês também permite que cada pessoa tenha em casa até
cinco pés de maconha plantados. Outras drogas como cocaína, heroína, ácidos e
anfetaminas continuam ilegais. O país oferece ainda aos seus jovens viciados que
encontram no sistema de saúde pública do Estado, todos os modernos métodos de
tratamento sem pagar nada.
30
Todo mês de novembro acontece na Holanda o “World Cannabis Cup”, um
torneio mundial de maconha. Gente do mundo inteiro se reúne lá para experimentar
e saborear as novas variedades da planta e votar pelas melhores.
Apesar de parecer um incentivo às drogas, uma pesquisa realizada pelo
Centro de Pesquisas de Drogas da Universidade de Amsterdã, após a
descriminalização, mostrou que o número de usuários não aumentou com a
liberação. Em 2007, na Holanda, eram 300 mil os usuários, ou seja, cerca de 3% da
população, índice que é igual aos de outros países da Europa e menor do que o dos
Estados Unidos, onde cerca de 5% da população consome ilegalmente a maconha
(SOUZA,2010).
31
4 A DESCRIMINALIZAÇÃO DA POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL
Neste capítulo será destacada a descriminalização da posse de drogas para
consumo pessoal de acordo com a Lei 11.343/06.
4.1 LEI Nº. 11.343/06
Um grande avanço da Lei nº. 11.343/06 foi distinguir, definitivamente, a figura
do usuário de drogas e do traficante.
Em relação ao usuário e / ou dependente a nova lei de drogas (Lei 11.343/06)
não mais prevê a pena de prisão (art.28).
Segundo Gomes (2006) a posse de droga para consumo pessoal deixou de
ser formalmente “crime”, mas não perdeu seu conteúdo de infração (de ilícito). A
conduta descrita no antigo art.16 e, agora, no atual art.28 continua sendo ilícita,
mas, continua sendo uma ilicitude inteiramente peculiar. Houve descriminalização
“formal”, a infração já não pode ser considerada “crime”, do ponto de vista formal,
mas não aconteceu concomitantemente a legalização da droga. De outro lado,
paralelamente também se pode afirmar que o art. 28 retrata uma hipótese de
despenalização. Descriminalização "formal" e despenalização (ao mesmo tempo)
são os processos que explicam o novo art. 28 da lei de drogas.
O artigo 28 da Lei nº 11.343/06, de 23-08-2006, traz o seguinte:
Art.28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - Advertência sobre os efeitos das drogas II- prestação de serviços à comunidade III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo
O artigo 28 da Lei nº 11.343/06, deixa claro que o infrator será punido apenas
com penas alternativas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo. Caso o agente, injustificadamente,
recuse-se a cumpri essas penas, o juiz poderá, conforme § 6° desse mesmo
dispositivo, submeter o usuário, sucessivamente, a admoestação verbal e/ou multa.
Para Oliveira (2006) o artigo 28 da lei nº 11.343/06 inovou ao atribuir aos
usuários de drogas penas mais brandas do que as imputadas nas leis anteriores. O
32
objetivo da lei é, principalmente, reprimir de forma mais rigorosa a produção não
autorizada e o tráfico ilícito de drogas, considerando os delitos que não estiverem
ligados ao tráfico, portanto, de menor potencial ofensivo.
Ainda segundo o autor o que de fato ocorreu foi uma adoção de nova
valoração das condutas, fundamentado em uma nova política criminal que visa
prevenir o consumo de drogas através da educação. A conduta continua sendo
crime, porque é prevista como tal no artigo 28 da Lei 11.343/06/06. Porém, crime
sem punição, pois sua pena não é castigo, mas um tratamento.
Para Leite (2010) pode se afirmar que a posse de drogras para o consumo
pessoal não configura crime, pois sanções como a advertência, prestação de
serviços à comunidade e comparecimento a programas educativos impostos, que
são aplicados ao portador de entorpecentes, não configuram as penas previstas na
Lei de Introdução ao Código Penal brasileiro, entende-se doutrinariamente que a
posse é um ilícito sui generis, 4pois não é taxado mais como crime, mas permanece
a ilicitude penal.
De acordo com Silva (2011) no Brasil, após 30 (trinta) anos de vigência de
uma legislação específica sobre drogas, que praticamente, não fazia distinção de
usuário de droga do traficante, tratando o usuário como um criminoso, promulgou a
Lei de Drogas, Lei n.º 11.343/06, com ideais prevencionista, baseando-se nas
políticas adotadas por países ocidentais da Europa.
As principais mudanças da legislação, além de retirar o caráter de criminoso
do usuário e dependente de droga, fora de inserir uma política de prevenção ao uso
de drogas, dando a devida assistência e reinserindo socialmente o usuário e
dependente, bem como eliminar a pena de prisão ao usuário, com penas mais
brandas a este e prevendo um tratamento mais punitivo ao traficante.
Para Capez (2009) a questão da descriminalização ou não da posse de
substância entorpecente não pode mais nem ser analisada apenas sob o enfoque da
saúde do usuário, por envolver questões muito mais abrangentes e complexas, dado
o impacto que tal medida poderá gerar no meio social, econômico etc. Basta que se
tenha presente que, quanto maior o número de usuários, maiores serão os gastos
do sistema público de saúde; maiores serão os crimes perpetrados para angariar
dinheiro para a compra da droga; e maior será o poder das organizações criminosas.
4 De seu próprio gênero (Palavra de origem Latim significado da palavra de acordo com o
dicionário).
33
Desse modo, a descriminalização não resolve o problema do consumo de drogas,
nem elimina o narcotráfico.
Quanto à discussão se houve ou não descriminalização, insta salientar a
posição do STF, confirmando ter ocorrido uma despenalização, tendo como relator o
Ministro Sepúlveda Pertence, que afirmou:
Assim, malgrado os termos da Lei não sejam inequívocos - o que justifica a polêmica instaurada desde a sua edição -, não vejo como reconhecer que os fatos antes disciplinados no art. 16 da L. 6.368/76 deixaram de ser crimes.
O que houve, repita-se, foi uma despenalização, cujo traço marcante foi o rompimento - antes existente apenas com relação às pessoas jurídicas e, ainda assim, por uma impossibilidade material de execução (CF/88, art. 225, § 3º); e L. 9.605/98, arts. 3º; 21/24) - da tradição da imposição de penas privativas de liberdade como sanção principal ou substitutiva de toda infração penal.
A nova lei de drogas apresenta dois pontos importantes a destacar: de um
lado ela trata da prevenção do uso, a atenção e a reinserção social de usuários e
dependentes; e por outro, aumenta a repressão ao tráfico e a figura duvidosa do
“traficante”.
4.1.1 Principio da Proporcionalidade na Nova Lei do Usuário de Drogas
De acordo com Bonavides (2004) o principio da proporcionalidade protege o
cidadão contra os excessos do Estado e serve de escudo à defesa dos direitos e
liberdades constitucionais e acresce que é na qualidade de princípio constitucional
ou de princípio constitucional ou de princípio geral de direito, apto a cautelar do
arbítrio do poder o cidadão e toda a sociedade, que se faz mister5 reconhecê-lo já
implícito e, portanto, positivado em nosso Direito Constitucional.
Gomes (2007, p. 27) destaca que:
Prevenção é a propriedade. O mais sensato e responsável, de tudo que se pode extrair das experiências e vivências estrangeiras, consiste na adoção de uma política claramente preventiva em relação às drogas. Educação antes de tudo. E os pais e professores, dentre tantos outros, assumam sua responsabilidade de orientação e conscientização. Se o sujeito não cuida dele mesmo ou do seu filho, não deve esperar que o direito penal faça isso por ele e muito menos que essa tarefa seja desempenhada pelas autoridades policiais, que não contam com o mínimo de preparo para cuidar de quem necessita de atenção, reinserção, compreensão, não de prisão.
5 Necessário (definição do dicionário online de português)
34
Com a introdução da lei nº 11.343/06 no ordenamento, os dois diplomas
legais anteriores (Lei 6.368/76 e 10.409/02), foram revogados expressamente pelo
art.75 da nova lei. O art.74 cuja redação determinava que a lei entraria em vigor 45
dias após a sua publicação.
A nova lei trouxe diversas inovações tanto no aspecto criminal como no
processual, logo, foi aberta à crítica da doutrina, tendo a lei abandonado o uso da
terminologia “substância entorpecente” e adotou o vocábulo “droga”.
Leal (2007, p. 1) relata algumas mudanças propostas na nova Lei:
(...) de maior significado penal foi, sem dúvida a opção por uma política Criminal de rejeição da prisão como instrumento válido de resposta punitiva à conduta do consumidor de drogas. Assim é que, de conformidade com disposto no § 2º, do art.48, tratando-se de consumidor, “não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente". Portanto, em hipótese alguma, o usuário de drogas poderá ser levado à prisão.
A lei nº 11.343/06 traz, em segundo passo, a sua política contra drogas e seu
órgão representativo. Sobre a Política Nacional de Drogas, dispõe o Art. 3º:
Art. 3º O SISNAD (Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas) tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com: I - A prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas; II - A repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.
4.2 TRATAMENTO DADO AO USUÁRIO FRENTE À NOVA LEGISLAÇÃO
Silva (2006, p.3) destaca que:
Dentre as medidas educativas apresentadas no artigo 28 da Lei 11.343/06/06 está uma pena restritiva de direitos – a prestação de serviços à comunidade. Assim, a nova legislação de drogas está em consonância com o Código Penal. A novidade é que o legislador antecipou-se na possível solução que o juiz daria ao caso concreto, cominando a prestação de serviço à comunidade como pena principal, o que seria autorizado, em caráter de substituição, nas hipóteses do artigo 44 do Código Penal.
35
Para Moraes (2010) a necessidade no problema casuístico do uso torna
importante a sistemática rumo à desintoxicação do usuário.O Estado, ao coibir o
caráter repressivo, afasta a onerosidade da manutenção do usuário no sistema
prisional, neste sentido abre-se a possibilidade de novas medidas, dentre elas a
implantação de hospitais psiquiátricos com o fundamento de tratar o dependente
químico.
Para o autor o que se torna importante é tratar o usuário em fase de
abstinência, com medidas a evitar a interrupção imediata, voltada ao livramento
definitivo da dependência, e o trabalho social que esse indivíduo poderá prestar a
futuras gerações em busca do não proliferamento agravante do uso de drogas
ilícitas, visto que essa é nossa proposta, o não proliferamento vertiginoso do mal que
flutua a margem da dependência.
Alvez (2009) relata que a nova Lei trouxe significativas mudanças em relação
à figura do usuário de drogas, cabendo ressaltar que a partir de sua entrada em
vigor, o usuário de drogas ficou sujeito apenas às penas de advertência acerca dos
efeitos das drogas, a prestar serviços a comunidade, a medidas socioeducativas,
onde deve comparecer regularmente aos referidos programas.
36
5 CONCLUSÃO
Diante de tais constatações, conclui-se que a nova legislação foi
extremamente favorável ao usuário, impossibilitando o seu recolhimento ao cárcere,
mas não teve o intuito de descriminalizar a sua conduta.
O artigo 28 da Nova Lei de Drogas, Lei nº. 11.343/06 apresenta diversas
mudanças e destaca uma nova política em relação ao tratamento jurídico a posse de
drogas para consumo pessoal.
Em relação à descriminalização da posse de drogas para consumo pessoal,
entende-se que o uso continua sendo crime, mas não leva o infrator à prisão.
Quanto à legalização das drogas percebe-se que a discussão que se versa
nos dias hodiernos sobre a legalização ou não das drogas parece não ter fim.
Todavia a sociedade não pode ficar à mercê de uma solução tênue e sim lutar por
um conquista definitiva.
Percebe-se que a luta repressiva no mundo das drogas fracassou e que os
gastos para combater essa guerra são estratosféricos.
Vê-se que nos países em que a saída foi encarar o problema das drogas deu
resultado, pois, nesses países onde o usuário passou a ser tratado como uma
pessoa que precisava de ajuda, a população passou a ter uma maior educação
sobre o assunto, a legislação que trata o traficante foi asseverada e o uso
regularizado. Viu-se uma queda acentuada no uso dessas substâncias. E é nessa
“onda” que o Brasil deve “surfar”.
É necessário que o país encare o usuário como uma pessoa que precisa de
ajuda para sair do mundo das drogas e não como criminoso. É preciso que o País
fortaleça a educação nas escolas e em todos os lugares, para que cada vez mais
seja demonstrado para as crianças desde cedo os males irreversíveis que o uso das
substâncias entorpecentes causa. Esta Nação deve buscar sanar o problema do
uso, regularizando-o e ao mesmo tempo tratar a pessoa responsável por fornecer de
forma ilegal, como um criminoso que deve sentir o peso da punição Estatal.
É nessa seara que o Brasil, como outros países, irá reduzir o consumo, pois,
diga-se de passagem, substâncias entorpecentes sempre serão utilizadas.
37
REFERÊNCIAS
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