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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS CURSO DE DIREITO Enerson Perpétuo Andrade DESCRIMINALIZAÇÃO DO USO DAS DROGAS Governador Valadares 2012

DESCRIMINALIZAÇÃO DO USO DAS DROGAS · 2014-06-05 · UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS CURSO DE DIREITO Enerson Perpétuo

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS

CURSO DE DIREITO

Enerson Perpétuo Andrade

DESCRIMINALIZAÇÃO DO USO DAS DROGAS

Governador Valadares

2012

ENERSON PERPÉTUO ANDRADE

DESCRIMINALIZAÇÃO DO USO DAS DROGAS

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito pela Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas, da Universidade Vale do Rio Doce. Orientador: Gilvan de Oliveira Machado

Governador Valadares

2012

ENERSON PERPÉTUO ANDRADE

DESCRIMINALIZAÇÃO DO USO DAS DROGAS

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas, da Universidade Vale do Rio Doce.

Governador Valadares, ____ de _______ de 2012.

Banca Examinadora:

____________________________________________________ Prof. Gilvan de Oliveira Machado - Orientador

Universidade Vale do Rio Doce

____________________________________________________ Prof. Guilherme Dutra Marinho Cabral – 1° Examinador.

Universidade Vale do Rio Doce

____________________________________________________ Prof. Roberto Jório Filho – 2° Examinador.

Universidade Vale do Rio Doce

Dedico: ao meu pai, à minha mãe, aos

meus irmãos, aos meus familiares e à

minha namorada, que sempre me

apoiaram. Em especial a Deus por está

sempre me guiando, e me dando forças

para a realização dos meus objetivos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pai, por conceder tantas bênçãos em minha

vida e por permitir que eu chegasse ao final dessa caminhada.

Aos meus queridos pais Edvardo e Zilda e aos meus irmãos Everton e

Cynthia, que sempre estiveram presentes em minha vida, incentivando-me nos

momentos mais difíceis.

À minha namorada por ser uma pessoa iluminada, por acreditar em minha

capacidade e por está sempre ao meu lado.

Aos demais familiares e amigos que sempre me apoiaram.

Ao meu orientador, professor Gilvan de Oliveira Machado pelo incentivo e

pela dedicação.

A todos, meu agradecimento.

“Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em

conquistá-la” .

Johann Goethe

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo trazer à luz do mundo jurídico a discussão sobre a descriminalização sobre o uso de drogas. Serão apresentados os riscos do uso, bem como fatores sociológicos, criminais e jurídicos, que levam ao legislador pátrio criar punições estatais para uma modalidade de delito, que em regra, é um autoflagelo. O desenvolvimento do presente trabalho monográfico esta dividido em três capítulos apresentados da seguinte forma: O primeiro capítulo através de vários autores trás definições e a finalidade do direito Penal. O segundo capítulo trás definições de drogas ilícitas e as principais drogas consumidas. O terceiro capítulo aborda a descriminalização da posse de drogas para consumo pessoal através da Lei 11.343/06. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que busca descrever através de doutrinas, artigos, legislação e decisões dos tribunais, sobre o tema proposto.

Palavras Chave: Descriminalização. Drogas. Crime.

ABSTRACT

This work aims to bring the light of the legal discussion on the decriminalization of the use of drugs. Will present the risks of use, as well as sociological factors, and criminal law, leading to the state legislature paternal punishments for creating a type of crime, which as a rule, is a self-flagellation. The development of this monograph is divided into three chapters presented as follows: The first chapter by several authors behind definitions and purpose of criminal law. The second chapter behind definitions of illicit drugs and the main drugs used. The third chapter discusses the decriminalization of drug possession for personal consumption by Law 11.343/06. This is a literature that seeks to describe through doctrines, articles, legislation and court decisions on the proposed topic.

Keywords: Decriminalization. Drugs. Crime.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9

2 NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE DIREITO PENAL ..................................................... 11

2.1 CONCEITO E FINALIDADE ........................................................................................... 11

2.1.1 Conceito .................................................................................................................... 11

2.2 CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES DOS CRIMES .......................................................... 13

2.3 CRIMES DE PERIGO .................................................................................................... 15

2.3.1 Crimes de Perigo Abstrato em face da Constituição ............................................. 16

2.4 O PRINCIPIO DA PROPORCIONALIDADE ................................................................... 17

2.5 PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO PENAL MINÍMA ....................................................... 18

3 DROGAS ILÍCITAS .......................................................................................................... 21

3.1 DEFINIÇÃO ................................................................................................................... 21

3.2 PRINCIPAIS DROGAS (ILÍCITAS) CONSUMIDAS ....................................................... 21

3.2.1 Heroína ..................................................................................................................... 21

3.2.2 Maconha .................................................................................................................... 22

3.2.3 Haxixe ........................................................................................................................ 23

3.2.4 Cocaína ...................................................................................................................... 23

3.2.5 LSD ............................................................................................................................ 24

3.3 EFEITOS DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICOS ENTORPECENTES .................................... 25

3.4 CLASSIFICAÇÃO DO DANO CAUSADO PELO USO DE SUBSTÂNCIAS

ENTORPECENTES (LÍCITAS OU ILÍCITAS). ...................................................................... 26

3.5 TRATAMENTO NORMATIVO ENFRENTADO PELA REPUBLICA FEDERATIVA DO

BRASIL. ............................................................................................................................... 27

3.6 ALTERNATIVAS MUNDIAIS ......................................................................................... 29

4 A DESCRIMINALIZAÇÃO DA POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL ........ 31

4.1 LEI Nº. 11.343/06 ........................................................................................................... 31

4.1.1 Principio da Proporcionalidade na Nova Lei do Usuário de Drogas ..................... 33

4.2 TRATAMENTO DADO AO USUÁRIO FRENTE À NOVA LEGISLAÇÃO ....................... 34

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 36

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 37

9

1 INTRODUÇÃO

Qual o verdadeiro motivo que leva o usuário a cair de braços abertos no

mundo das drogas? A oportunidade surgiu e o jovem experimentou? O uso de

drogas pode ser visto como algo excitante e ousado pelos jovens? O uso de drogas

pode ser uma tentativa de amenizar sentimentos de solidão, de inadequação, baixa

autoestima ou falta de confiança?

Quaisquer que sejam os motivos que levam ao uso de substâncias tóxico

entorpecentes, eles são muito subjetivos, mas o mal que as drogas causam é

semelhante e são esses problemas que devem ser observados.

Este trabalho tem como foco principal destacar as mudanças trazidas pela Lei

11.343/06, quanto ao usuário de drogas e mostrar a necessidade do tratamento

normativo dado aos usuários de drogas, como medida repressiva e coercitiva para

se evitar o uso, explicitando de forma específica o objeto jurídico protegido pelo

direito penal. É necessário trazer à luz deste trabalho definições sobre crimes de

perigo abstrato em face da constituição. Apresentar o princípio da proporcionalidade

no direito penal. Relacionar conceitos de diversas drogas, suas substâncias e males

que podem causar. Pesquisar todo tratamento jurídico que o Brasil já deu às drogas

e o atual.

A pesquisa abordará a descriminalização sobre o uso das drogas, tentando

demonstrar a sua necessidade ou não do tratamento pelo direito penal, adotando

principalmente descrições contidas em diversos doutrinadores, como Greco (2008),

ressaltando que “a finalidade do direito penal é proteger os bens mais importantes e

necessários para a própria sobrevivência da sociedade”.

O desenvolvimento do presente trabalho monográfico será dividido em três

capítulos apresentados da seguinte forma:

O primeiro capítulo, através de vários autores, trás definições e a finalidade

do direito Penal, conceito e classificação de crimes, aborda-se o crime de perigo

concreto, o crime de perigo abstrato em face da constituição, o princípio da

proporcionalidade e da intervenção penal mínima.

O segundo capítulo aborda definições de drogas ilícitas e as principais

consumidas, os efeitos das substâncias tóxicos entorpecentes, os danos causados

pelo uso de substâncias entorpecentes, o tratamento normativo enfrentado pela

10

republica federativa do Brasil e as alternativas mundiais quanto ao uso de drogas

ilícitas.

O terceiro capítulo aborda a descriminalização da posse de drogas para

consumo pessoal através da Lei 11.343/2006

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que busca descrever através de

doutrinas, artigos, legislação e decisões dos tribunais, sobre o tema proposto.

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2 NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE DIREITO PENAL

Neste capítulo serão destacadas algumas definições de Direito Penal e a sua

finalidade, conceito e classificação de crimes. Serão abordados também o crime de

perigo concreto e o crime de perigo abstrato em face da constituição, e por último o

princípio da proporcionalidade e da intervenção penal mínima.

2.1 CONCEITO E FINALIDADE

2.1.1 Conceito

Nas precisas lições de Bitencourt (2010) o Direito Penal apresenta-se como

um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de

natureza penal e suas sanções correspondentes – penas e medidas de segurança.

Segundo Almeida (2009, p.3) o Direito Penal também chamado de Direito

Criminal, é “o ramo do Direito Público dedicado às normas emanadas pelo legislador

com a finalidade repressiva do delito e preservativa da sociedade”.

Alves (2012, p. 3) define Direito Penal como:

O ramo do direito público que trata do estudo das normas que ligam o crime a pena, disciplinando as relações jurídicas daí resultantes. Poderíamos defini-lo também como o conjunto de leis que pretende tutelar bens jurídicos, cuja violação denomina-se crime e importa uma coerção jurídica particularmente grave, cuja imposição propõe-se a evitar que o autor cometa novas violações.

Mirabette (2010, p.2) define direito penal como:

O conjunto de normas e disposições jurídicas que regulam o exercício do poder sancionador e preventivo do Estado, estabelecendo o conceito do crime como pressuposto da ação estatal, assim como a responsabilidade do sujeito ativo, e associando à infração da norma uma pena finalista ou uma medida de segurança.

A finalidade do Direito Penal, nos dizeres de Rogério Greco (Greco 2008), é

proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da

sociedade. Nessa lição, afirma Luiz Regis Prado (Prado 2003), que o pensamento

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jurídico moderno reconhece que o escopo imediato e primordial do direito penal

radica na proteção de bens jurídicos – essenciais ao indivíduo e à comunidade. Com

o Direito Penal objetiva-se tutelar os bens que, por serem extremamente valiosos,

não do ponto de vista econômico, mas sim político não pode ser suficientemente

protegido pelos demais ramos do Direito.

Para Almeida (2009) o Direito Penal visa a proteger os bens jurídicos

fundamentais (todo valor reconhecido pelo direito). No crime de furto, por exemplo, o

resultado é representado pela ofensa ao bem jurídico “patrimônio”; no homicídio, há

lesão ao valor jurídico “vida humana”; na coação, uma violação à “liberdade

individual”. Essa seria a tríade fundamental de bens jurídicos tutelados coativamente

pelo Estado: vida, liberdade e propriedade.

O direito penal garante os direitos da pessoa humana frente ao poder punitivo

do Estado.

Para Bitencourt (2001), o bem jurídico não pode identificar-se simplesmente

com a Ratio Legis1, mas deve possuir um sentido social próprio, anterior à norma

penal e em si mesmo decidido, caso contrário, não seria capaz de servir à sua

função sistemática, de parâmetro e limite do preceito penal e de contrapartida das

causas de justificação na hipótese de conflito de valorações. Conclui Bitencourt que

na verdade, o direito Penal protege, dentro de sua função ética social, o

comportamento humano daquela maioria capaz de manter uma mínima vinculação

ético-social, que participa da construção positiva da vida em sociedade por meio da

família, escola e trabalho.

Nessa seara, o postulado de que o delito lesa ou ameaça de lesão bens

jurídicos tem a concordância quase total e pacífica dos doutrinadores, mostrando ser

essa a finalidade precípua do direito penal.

Para Alves (2012) algumas doutrinas se apresentam tentando explicar a

finalidade da pena e do direito penal são elas:

- Teoria absoluta: pune-se porque pecou (punitiva).

- Teoria utilitária

- Teoria utilitária ou relativa: pune-se para que não peque (educativa)

- Teoria mista: pune-se porque pecou e para que não peque (punitiva /

educativa).

1 A razão de ser da lei ( definição dicionário Aurélio).

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Devolver a segurança jurídica à sociedade, reafirmando o prestígio da ordem

violada (credibilidade do ordenamento jurídico), através de uma ação socializadora

sobre o delinquente.

Para o autor a função do Direito penal pode ser definida como a segurança

jurídica.2

2.2 CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES DOS CRIMES

O conceito de crime passou por um enorme processo de evolução,

percorrendo conceitos clássicos, neoclássicos, de delito no finalismo, até chegar à

sua definição atual.

Pode se descrever o crime como um fato típico, ilícito e culpável. Quando se

pratica um delito, o processo de consumação é imediato, ou seja, analisando apenas

o objeto jurídico lesado, a exemplo, um corpo estirado ao chão com marcas de tiros,

chegar-se-ia a uma conclusão temerária, em regra, que naquele local ocorreu um

crime. Todavia, é necessário perpassar por todas as etapas do conceito analítico de

crime, para poder se concluir se houve ou não um delito. No fato típico, é necessário

analisar a conduta, o nexo de causalidade, resultado e a tipicidade. Na

antijuridicidade, entender se a conduta do agente foi ou não permitida pelo direito,

para se chegar à culpabilidade, onde se analisa se era exigível conduta diversa do

agente, a imputabilidade e a potencial consciência da ilicitude.

Deveras, chegando ao consenso que houve crime, para melhor elucidar este

trabalho acadêmico, de forma sucinta, para não destoar da finalidade essencial

desta monografia, insta salientar a classificação dos delitos proposta por Cesar

Roberto Bitencourt (Bitencourt 2010), como segue:

Crime doloso. De acordo com o Código Penal (art.18,l) , diz-se crime doloso,

quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

2 O conjunto de condições externas que criam o sentimento de certeza acerca da disponibilidade

de tudo o que se necessita para realizar a coexistência.

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Crime culposo. O Código Penal o definiu no artigo 18, dizendo que ocorre

crime culposo , quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,

negligência e imperícia.

Crime preterdoloso. Ocorre quando o agente pratica um dano inicial doloso,

mas incorre em um resultado culposo.

Crime Comissivo. É espécie de delito que exige do agente uma ação, ou seja,

um movimento corporal, uma inervação muscular, para produzir resultado no mundo

jurídico.

Crime Omissivo. Esta modalidade de delito, por sua vez, exige que o agente

se abstenha de fazer o que a norma determina.

Crime consumado. É “quando nele se reúnem todos os elementos de sua

definição legal (Art. 14, I, CP)”.

Crime Tentado. Ocorre “quando, iniciada a execução, não se consuma por

circunstâncias alheias a vontade do agente”. (Art.14, ll)

Crime Comissivo-omissivo. É um delito que ocorre em situações descritas na

lei, como nos casos dos garantidores. É resultado produzido de maneira omissivo,

mas por determinação da lei, pune-se como conduta comissiva, pois o garantidor

tem o poder-dever de agir para impedir um resultado.

Crime permanente. O resultado do crime se protrai no tempo, ficando o

agente em estado de flagrância, até cessarem os efeitos da permanência.

Crime Instantâneo. O resultado ocorre simultaneamente com a consumação

do crime.

Crime material. Exige-se que haja modificação no mundo dos fatos, um

resultado material.

Crime formal. Consuma-se com a perfeita adequação da conduta, com o

preceito legal, não exigindo modificação no mundo dos fatos, mas ocorrendo

resultado formal.

Crime de Mera Conduta. Diferencia-se do crime formal, por este o legislador

prevê um resultado jurídico, mas o antecipa, enquanto no crime de mera conduta

não ocorre resultado. É a simples atividade do agente.

Crime unissubjetivo. Para sua ocorrência, é necessária a participação de

apenas um sujeito, mas pode ser praticado com concurso de pessoas.

Crime plurissubjetivo. São crimes que exigem a participação de, no mínimo,

duas pessoas, também conhecido como concurso necessário.

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Crime unissubsistente. Ocorre quando o delito de constitui em apenas um

ato.

Crime plurissubsistente. Sua consumação pode desdobrar-se em vários atos

sucessivos.

Crime comum. São delitos que a tipo penal não exige características

especiais do agente, ou seja, qualquer pessoa pode praticar o crime.

Crime Próprio. É aquele que o legislador ordinário forneceu alguns elementos,

que, para que o agente o pratique, reúna todos os elementos descritos no tipo penal.

Crime de mão própria. Os crimes de mão própria, segundo Damásio (apud

Bitencourt (2010), se diferenciam dos “crimes próprios, pois neste o sujeito ativo

pode determinar a outrem sua execução, embora possam ser cometidos apenas por

um número limitado de pessoas; nos crimes de mão própria, embora possa ser

praticado por qualquer pessoa, ninguém os comete por intermédio de outrem”.

Crime de ação única. É aquele que contém somente uma modalidade de

conduta, expressa pelo verbo núcleo do tipo (SANTOS 2011).

Crime de ação múltipla. O tipo penal prevê várias modalidades de condutas,

e, ainda que seja praticada mais de uma conduta, haverá somente um único crime

(SANTOS 2011).

Crime de ação dupla subjetividade. Ocorre quando são vítimas, ao mesmo

tempo, dois indivíduos.

Como a finalidade precípua deste trabalho é abordar os crimes envolvendo

drogas, que pela classificação doutrinária são considerados de perigo é necessário

abordar em tópico próprio a classificação sobre os crimes de perigo, como se segue.

2.3 CRIMES DE PERIGO

Antes de adentrarmos na classificação dos crimes de perigo é necessária

abordagem preliminar. Conceitua-se perigo, nas palavras de Miguel Reale Junior

(Reale 2000, p. 56), como “a aptidão, a idoneidade de um fenômeno de ser causa de

dano, ou seja, é a modificação de um estado verificado no mundo exterior com a

potencialidade de produzir a perda ou diminuição de um bem, o sacrifício ou a

restrição de um interesse”.

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Jesus (1997) afirma que os crimes de perigo são os que se consumam tão só

com a possibilidade do dano. Nos crimes de perigo, o delito consuma-se com o

simples perigo criado para o bem jurídico.

Noronha (1988) apresenta a mesma definição para crimes de perigo.

Segundo o autor crimes de perigo são os que se contentam com a probabilidade de

dano.

Romero (2004) afirma que o crime de perigo é, pois, aquele que, sem destruir

ou diminuir o bem jurídico tutelado pelo direito penal, representa uma ponderável

ameaça ou turbação à existência ou segurança de ditos valores tutelados, uma vez

existir relevante probabilidade de dano a estes interesses.

Podemos compreender elementos essenciais para considerar uma conduta

como de crime de perigo. Primeiramente a relevância do bem jurídico tutelado. Em

segundo, importa considerar o quanto à conduta representa de perigo ao bem

jurídico, sendo ponderável, ou seja, se realmente pode causar dano ou não,

verificando a provável causa de perigo ao bem jurídico.

Segundo informações da revista fundação Esc.Super (2006) há figuras penais

em que a descrição do fato típico dispensa a provocação de um dano, punindo tão-

somente a colocação do bem jurídico em perigo de lesão, pois o legislador entende

que o bem jurídico em perigo é elemento bastante para justificar uma pena criminal.

Pune-se a mera probabilidade, ainda que abstrata, de dano aos interesses

juridicamente tutelados.

Os crimes de perigo já é há muito tempo objeto de estudo pelo Direito Penal.

Afirmava-se serem eles a possibilidade objetiva de um acontecimento danoso. Após,

tornou-se necessária não somente a mera possibilidade, mas a probabilidade do

dano.

2.3.1 Crimes de Perigo Abstrato em Face da Constituição

Bottini (2007, p.111) define crime de perigo abstrato como:

A técnica utilizada pelo legislador para atribuir a qualidade de crime a determinadas condutas, independentemente da produção de um resultado externo. Trata-se de prescrição normativa cuja completude se restringe à ação, ao comportamento descrito no tipo, sem nenhuma referência aos efeitos exteriores do ato, ao contrário do que ocorre com os delitos de lesão ou de perigo concreto.

17

O perigo, via de regra, tem um caráter normativo, pois o legislador extrai da

realidade as situações de perigo que são relevantes para o mundo jurídico, as

recortam e colam no ordenamento jurídico, sem claro deixar de ressaltar o valor

ontológico.

O crime de perigo consuma-se com a simples exposição do bem jurídico ao

dano.

Os crimes de perigo abstrato ou presumido configuram-se figura ínsita, ou

seja, apenas necessita que o perigo seja presumido, observando claro, que essa

presunção gere perigo a algum bem jurídico, sob pena de inconstitucionalidade.

Segundo Gomes (2007) no Direito Penal da atualidade, muito se discute

sobre a recepção, pela vigente Constituição Federal, dos chamados crimes de

perigo abstrato, em razão da consagração do princípio da lesividade.

A doutrina moderna refuta o reconhecimento do perigo abstrato, em razão da

adoção, pela Constituição Federal, do princípio da lesividade, comando que pode

ser extraído, implicitamente, do artigo 98, I, do aludido diploma. Esse dispositivo

trata dos juizados especiais e determina a sua competência para as infrações penais

de menor potencial ofensivo, deixando evidente a exigência de ofensividade da

conduta, para que essa seja considerada fato típico.

O tráfico de entorpecentes é um dos problemas crônicos da sociedade atual

e afeta a generalidade dos países e que seus danos são imensuráveis. Resta claro

que o só fato de traficar constitui conduta que traz em si uma ilicitude presumida, ou

seja, o tráfico de entorpecentes traz consigo um real perigo à saúde pública, bem

jurídico tutelado pela norma com base na expressa na constituição federal de 1988,

quando no seu art. 5°, XLIII, disse que o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas

afins é insuscetível de graça e anistia e inafiançável.

2.4 O PRINCIPIO DA PROPORCIONALIDADE

De acordo com Barros (1996) o princípio da proporcionalidade insere-se na

estrutura normativa da Constituição, junto aos demais princípios gerais norteadores

da interpretação das regras constitucionais e infraconstitucionais. Uma vez que uma

visão sistemática da Constituição permite-nos auferir sua existência de forma

implícita, deverá guiar o magistrado na interpretação e o legislador na elaboração de

18

normas hierarquicamente inferiores, não obstante não se encontrar explicitamente

delineado.

O principio da proporcionalidade encontra-se concretizado em diversas

normas da Constituição Federal em relação aos direitos e garantias individuais, no

inciso V do artigo 5°, que constitucionaliza o direito de resposta proporcional ao

agravo. Em sede de Direito Penal, ao garantir a individualização das penas (artigo

5°, XLVI, caput), está implicitamente garantido que estas serão proporcionais ao

delito cometido.

De acordo com Silva (1998), na organização do Estado, a proporcionalidade

está presente dentre os requisitos necessários à decretação de intervenção, uma

vez que sua decretação depende do agravo cometido, conforme se observa a partir

da análise do § 3° do artigo 36 da carta magna de 1988, que exclui a intervenção por

considerá-la desarrazoada nas ocasiões ali explicitadas. Sua existência é ainda

prevista no tocante à composição da Câmara dos Deputados (artigo 45, caput e §1°

da CF/88), ao disciplinar a representação por Estado e pelo Distrito Federal,

afirmando ser proporcional à população, procedendo-se aos ajustes necessários.

O Código Penal visa proteger os bens que a sociedade considera essenciais.

Esses bens são considerados pela doutrina como bens jurídicos. As definições

desses bens jurídicos decorrem de vários doutrinadores. Noronha define como o

“bem-interesse protegido pela norma penal”. Zaffaroni (1982) considera como “a

relação de disponibilidade de uma pessoa com um objeto, protegida pelo Estado,

que revela seu interesse mediante normas que proíbem determinadas condutas que

as afetam, aquelas que são expressadas com a tipificação dessas condutas”, entre

outros. Não resta dúvida que apesar das diversas definições sobre bem-jurídicos,

todas recaem na necessidade do ser humano conseguir proteger aqueles bens

considerados essenciais para a manutenção ideal de uma sociedade estável. Dessa

forma, não é correto afirmar que os crimes de perigo abstrato ferem o princípio da

proporcionalidade só pelo fato de o perigo figurar de forma presumida. Isso porque

há situações em que a experiência revela que o perigo é inerente à conduta, como

ocorre com o tráfico de entorpecentes.

2.5 PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO PENAL MINÍMA

19

A intervenção penal em um Estado Democrático de Direito somente poderá

ser subsidiária, ou posto, doutra maneira, de intervenção mínima, na medida em que

se utilize o direito penal nos estritos limites da necessidade, quando outros meios de

controle social não forem aptos a proteger os bens jurídicos valorados como

essenciais. O mínimo aqui significa subsidiário, ultima ratio3, norteado pela

necessidade.

Dessa forma, se a norma não comportar um tipificação como delito de dano

ou, ainda, de perigo concreto, terá de ser de perigo abstrato, sob pena de, com a

inação estatal, punir-se toda a comunidade. Os crimes de perigo presumido

correspondem às exigências de tutela de um sistema penal liberal-democrático,

quando a tutela na forma de perigo concreto resulte insuficiente pela dificuldade de

precisar os termos de probabilidade da lesão, respeitando assim o principio de

subsidiariedade.

Para Rocha (2004) o princípio da intervenção penal mínima ocupa uma

função importante para assegurar as garantias individuais previstas na Constituição,

pois, como afirma Fernando Galvão, é a expressão do axioma da nulla lex poenalis

sine necessitate, que determina não ser possível a incriminação legal sem que haja

a necessidade de uma intervenção tão gravosa quanto a promovida pelo Direito

Penal.

De acordo com Cunha (1985) apesar do princípio da intervenção mínima não

se encontrar expresso na Constituição Federal, nem no Código Penal, a elaboração

e aplicação da lei penal devem se basear nele, pois, como afirma Cunha Luna, é um

princípio imanente, por sua compatibilidade e conexões lógicas com outros

princípios jurídico-penais, dotados de positividade, e com pressupostos políticos do

estado de direito democrático.

Para Prado (1997), o princípio da intervenção mínima (ultima ratio) limita o jus

puniendi, no sentido de que pressupõe que a tutela penal só deve tratar daqueles

bens jurídicos fundamentais da sociedade e caso não existam outros métodos

eficientes para assegurar as condições de vida, o desenvolvimento e a paz social,

tendo em vista o postulado maior da liberdade e da dignidade da pessoa humana.

3 A última razão, último argumento.

20

A intervenção mínima tem por objetivo garantir que o legislador, no momento

de escolha dos comportamentos a serem punidos, tenha cuidado para não

incriminar aqueles que possam ser resolvidos por outros ramos do Direito.

Para Capez (2003), tal princípio também alcançaria o intérprete do Direito,

para que este não tipificasse ações quando houvesse outras formas jurídicas de

resposta, menos danosas que o sistema punitivo estatal.

O Direito Penal também não deve intervir nas condutas em que sua atuação

se revele claramente ineficaz.

21

3 DROGAS ILÍCITAS

Neste capítulo serão destacadas as principais drogas ilícitas consumidas, os

principais efeitos das substâncias tóxicos entorpecentes, a classificação do dano

causado pelo uso de substâncias entorpecentes (lícitas ou ilícitas) o tratamento

normativo enfrentado pela Republica Federativa do Brasil e por último as

alternativas mundiais para o usário de drogas .

3.1 DEFINIÇÃO

Cabral (2010, p.2) define drogas ilícitas como “substâncias proibidas de

serem produzidas, comercializadas e consumidas. Tais substâncias podem ser

estimulantes, depressivas ou perturbadoras do sistema nervoso central”.

Para Araújo (2007) drogas ilícitas são as cuja comercialização é proibida pela

justiça, estas também são conhecidas como “drogas pesadas” e causam forte

dependência.

3.2 PRINCIPAIS DROGAS (ILÍCITAS) CONSUMIDAS

3.2.1 Heroína

De acordo com Araguaia (2010) a heroína derivada da papoula, sintetizada a

partir da morfina: substância bastante utilizada no século XIX pelas suas

propriedades analgésicas e antidiarreicas. Como outras drogas originárias desta

planta, a heroína atua sobre receptores cerebrais específicos, provocando um

funcionamento mais brando do sistema nervoso e respiratório.

Ainda de acordo com a autora após descoberta sua potencialidade em causar

dependência química e psíquica de forma bastante rápida, sua comercialização foi

proibida na década de vinte. Entretanto, principalmente no sudeste asiático e

Europa, essa substância é produzida e distribuída para todo o mundo

clandestinamente.

22

Apresentando-se em sua forma pura como um pó branco de coloração

esbranquiçada, é utilizada mais frequentemente de forma injetável, após

aquecimento. Além disso, alguns usuários a inalam ou aspiram.

Seus efeitos duram aproximadamente cinco horas, proporcionando

sensações de bem-estar, euforia e prazer, elevação da autoestima e diminuição do

desânimo, dor e ansiedade.

Como esta droga desenvolve dependência e tolerância de forma bastante

rápida, o usuário passa a consumi-la com mais frequência com o intuito de buscar o

mesmo bem-estar provocado anteriormente, e também de fugir das sensações

provocadas pela abstinência, que surge aproximadamente vinte e quatro horas após

seu uso. Essa droga pode provocar diarreia, náuseas, vômitos, dores musculares,

pânico, insônia, inquietação e taquicardia.

Assim, formas de obtê-la passam a ser o foco de suas vidas, gerando

consequências sérias. Constantes vômitos, diarreias e fortes dores abdominais,

perda de peso, depressão, abortos espontâneos, surdez, delírio, descompassos

cardíacos, incapacidade de concentração, depressão do ciclo respiratório, colapso

dos vasos sanguíneos, além de problemas relacionados às interações sociais e

familiares são algumas consequências que o usuário está sujeito, em médio prazo.

Além disso, no caso de pessoas que a utilizam na forma injetável, há chances de

ocorrer necrose de tecidos e de se adquirir diversas doenças, como AIDS, hepatites

e pneumonias, em decorrência da utilização de seringas compartilhadas.

A maioria dos casos de morte por overdose é consequência de paradas

respiratórias decorrentes de seu uso prolongado, ou de uso concomitante com

outras drogas (ARAGUAIA, 2007).

3.2.2 Maconha

Carlini e Galduróz(2005) destaca que a maconha é uma planta, o cãnhamo,

cientificamente chamad ade Cannabis sativa L.

23

É uma planta conhecida há mais de 5.000 anos antes de cristo. Os chineses,

naquela época, utilizavam a planta para extrações de dentes, colocando um

macerado da planta sobre o dente afetado até insensibilização e faziam a retirada.

Devido à variedade de potência das substâncias ativas, são raras as

alucinações e alterações de pensamento, porém com doses maiores surgem

perturbações da memória, alterações de pensamento e sentimentos de estranheza.

Indivíduos mais sensíveis podem manifestar ansiedade, ataques de pânico e

precipitar surtos psicóticos.

3.2.3 Haxixe

De acordo com Lima (2010) Haxixe é a resina que envolve as inflorescências,

em que concentra uma porcentagem muito maior do princípio psicoativo, o

tetrahidrocanabiol.

Ainda segundo a autora hoje, em função dos processos químicos e das

culturas inovadoras, a planta desenvolve-se várias vezes ao ano, com aumento

gradativo do princípio psicoativo o tetrahidrocanabinol (THC).

Segundo a Organização Mundial da Saúde, é a droga mais consumida no

mundo. Sob efeitos contínuos, o indivíduo pode ser levado a uma deterioração

psíquica, chegando à insanidade.

Em médio e longo prazo, age sobre os pulmões. Dilata os brônquios, em

seguida levando à bronquite, asma, faringite.

Haverá aumento das células macrófagos dos pulmões, comprometendo o

bom funcionamento desses órgãos, levando à bronquite obstrutiva crônica.

3.2.4 Cocaína

Para Murad (2010) a cocaína é a droga da euforia. É fumada como pasta

básica ou como crack, injetada ou cheirada, incute nos usuários fantasias de força,

poder e sedução.

Seus efeitos estimulantes eram utilizados pelos indígenas dos Andes em

rituais religiosos. Permitia aos mensageiros, que percorriam grandes distâncias,

suportar a jornada.

24

Recentemente, foi utilizado como anestésico local, além de ser agente

vasoconstritor. Em função dos efeitos colaterais, foi abandonado em favor dos

anestésicos sintéticos. É utilizado somente como droga.

Absorvida pela mucosa do nariz provoca destruição dessa parte do

organismo, com perfurações e até destruição do septo nasal. Este processo é

acompanhado de sangramento, o que serve de evidência do uso. A cartilagem do

nariz sofre um processo de erosão.

A anorexia é habitual, juntamente com alterações do olfato, da audição, da

visão e insônia.

3.2.5 LSD

Para Lopes ( 2011) o LSD , acrônimo de dietilamida ácido lisérgico, produz

grandes alterações no cérebro, atuando diretamente sobre o sistema nervoso e

provocando fenômenos psíquicos , como alucinações , delírios e ilusões. É uma

substância sintética, produzida em laboratório, que adquiriu popularidade na década

de 60, quando não era vista como algo prejudicial à saúde.

Pode ser consumida por via oral, injeção ou inalação, e se apresenta em

forma de barras, cápsulas, tiras de gelatina e líquida; seus efeitos duram de oito a

doze horas.

Os efeitos físicos dessa droga são: dilatação das pupilas, sudorese, aumento

da frequência cardíaca e da pressão arterial, aumento da temperatura, náuseas,

vômitos. Os sintomas psíquicos são alucinações auditivas e visuais, sensibilidade

sensorial, confusão, pensamento desordenado, perda do controle emocional, euforia

alternada com angústia, dificuldade de concentração.

É importante destacar que os efeitos do LSD dependem do ambiente, da

qualidade da droga e da personalidade da pessoa.

O LSD é mais usado por adolescentes e jovens, com intuito de ter visões e

sensações novas e coloridas, pois as formas, cheiros, cores e situações se

modificam, levando a pessoa a criar ilusões e delírios, como por exemplo, paredes

que escorregam, mania de grandeza e perseguição. Pode ocorrer também um

“flashback”, fenômeno onde são sentidos os efeitos da droga após um período de

semanas ou meses sem usá-la (LOPES, 2011).

25

O LSD é conhecido também com outros nomes como doce, ácido, gota,

papel, micro ponto.

3.3 EFEITOS DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICOS ENTORPECENTES

Quanto aos efeitos, as substâncias psicotrópicas são divididas em três

grupos. O primeiro é o dos psicoanalépticos, os quais são estimulantes psíquicos,

elevando ou aumentando a atividade mental, apresentando como principais

subgrupos as anfetaminas, os antidepressivos e também a cocaína. O segundo

grupo é o dos psicolépticos, os quais possuem como efeito a redução da atividade

mental, são os barbitúricos, os neurolépticos e os tranquilizantes propriamente ditos,

podendo ser hipnóticos (hipnossedativos) ou não hipnóticos. Os psicodislépticos

constituem o terceiro grupo. São os alucinógenos que geram uma desestruturação

da personalidade, acarretando anomalias da atividade mental.

De acordo com Sherer (2011, p.6) os efeitos das drogas são desagradáveis:

Embora inicialmente possam dar uma sensação de bem-estar. Os efeitos desagradáveis decorrem da dependência física e psíquica que elas provocam. A dependência física altera a química do organismo, tornando-se indispensável ao indivíduo e a psíquica, quando o individuo não usa a droga, deixa em lastimável estado de depressão, abatimento, desânimo e fossa, perdendo o interesse pelo trabalho, pelo estudo e pela vida.

A experiência tem revelado todo o poder destruidor das substâncias

entorpecentes: o primeiro deles é a dependência, fato que gera efeitos maléficos

não só ao indivíduo acometido do vício como a saúde pública, configurando, assim,

uma danosidade social. E isso a par de outros problemas, configurando, como o

caminho criminoso em que invariavelmente incorre o viciado, para que se possa

manter o vício. O toxicômano, para satisfazer suas necessidades decorrentes da

dependência, furta, rouba, não raramente sem poupar sua própria família, além de

constituir fácil presa no incremento do tráfico. Para obter recursos, participa do

tráfico “mediante comissão”.

26

3.4 CLASSIFICAÇÃO DO DANO CAUSADO PELO USO DE SUBSTÂNCIAS

ENTORPECENTES (LÍCITAS OU ILÍCITAS).

De acordo com a revista The Lancet Medical Journal (UK), a classificação

dada para droga, de acordo com dano causado, do mais grave ao de menor

gravidade, ficou desta forma:

1. Heroína

2. Cocaína

3. Barbitúricos

4. Metadona (heroína sintética)

5. Álcool

6. Ketamina

7. Benzodiazepines

8. Anfetaminas

9. Tabaco

10. Buprenorphine (derivado do ópio)

11. Cannabis, Maconha

12. Solventes

13. 4-MTA (droga sintética)

14. LSD

15. Methylphenidate (remédio para falta de atenção em crianças)

16. Esteróides anabolizantes

17. GHB (boa noite cinderela)

18. Ecstasy

19. Nitratos alcalinos (poppers)

20. Mirra (aquela que Jesus ganhou quando nasceu)

Entre as drogas que maior dano causa aos seus usuários estão as que lhes

afetam o sistema nervoso central. Ocasiona distúrbios, tanto físicos como mentais.

E uma vez atingida a saúde mental, a capacidade de raciocínio do homem fica

perturbada e ele é capaz de praticar atos que podem prejudicar tanto a si mesmo,

como aos outros(REVISTA THE LANCET MEDICAL JOURNAL (UK).

27

3.5 TRATAMENTO NORMATIVO ENFRENTADO PELA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Não é de hoje que o Brasil, como mundo todo, tenta solucionar o problema

das drogas. Nosso País já reformulou por diversas vezes o tratamento normativo

concedido ao uso das substâncias entorpecentes, como para o traficante. A própria

Carta Magna inovou em seu art. 5º, XLIII, ao trazer que o tráfico de substâncias

entorpecentes é insusceptível de graça e anistia, além de ser crime inafiançável.

De acordo com Souza (2010) até o começo do século 20, o Brasil não tinha

qualquer controle estatal sobre as drogas que eram toleradas e usadas em

prostíbulos frequentados por jovens das classes média e alta, filhos da oligarquia da

República Velha. No início da década de 20, depois de ter se comprometido na

reunião de Haia (1911) a fortalecer o controle sobre o uso de ópio e cocaína, o Brasil

começou efetivamente um controle. Naquele momento, o vício até então limitado

aos “rapazes finos” dentro dos prostíbulos passou a se espalhar nas ruas entre as

classes sociais “perigosas”, ou seja, entre os pardos, negros, imigrantes e pobres, o

que começou a incomodar o governo.

Em 1921, surge a primeira restritiva na utilização do ópio, da morfina, da

heroína e da cocaína no Brasil, passível de punição para todo tipo de utilização que

não seguisse recomendações médicas. A maconha foi proibida a partir de 1930 e

em 1933 ocorreram às primeiras prisões no país (no Rio de Janeiro) por uso da

droga

A primeira lei antidrogas é a Lei nº 6.368/1976. Esse diploma legal vigorou por

quase 30 anos e se caracterizava pelo tratamento exclusivamente punitivo que dava

às drogas. No ponto que mais gera polêmicas, o da distinção entre usuário e

traficante, a lei nascida no regime militar punia com pena de seis meses a um ano o

usuário pego com pequena porção de droga e o traficante, com pena de 3 a 15

anos.

O problema é que a lei não continha critérios objetivos para distinguir o

traficante do usuário, cabendo quase sempre ao delegado de polícia enquadrar o

sujeito no artigo 16 (usuário) ou 12 (tráfico) da forma como melhor lhe parecesse.

Era muito comum usuários serem presos com pequena quantidade de droga e

tratados como traficantes até que provassem o contrário. A Lei nº 8.072/1990

28

agravou ainda mais a situação, ao equiparar o tráfico a crime hediondo, o que levou

a jurisprudência a entender que, dada a equiparação, o condenado não poderia

fazer jus a nenhum benefício, como substituição da pena de prisão por restritiva de

direitos e a progressão de regime prisional depois de cumprido um sexto da pena.

A mudança mais aguardada na lei de drogas era o estabelecimento de

critérios bem definidos que separassem de uma vez por todos os usuários de

pequenos traficantes e, ainda, estes últimos de traficantes maiores. Essa mudança

não ocorreu. A lei de 2001 foi mais um acidente de percurso do que propriamente

uma mudança, já que todo o capítulo de crimes e penas foi vetado, restando apenas

modificações processuais.

Com a entrada em vigor da Lei nº 11.343/06 houve alteração em quase todos

os dispositivos da Lei de 1976, abolindo a pena de prisão para o usuário e

aumentando a pena para o tráfico (em vez de três, a mínima passou a ser de cinco

anos). Contudo, não trouxe a diferenciação, de forma objetiva, da situação entre

usuário e traficante.

A Lei 11.343/06 ainda previu alguns institutos considerados inconstitucionais,

como a vedação de conversão da pena privativa de liberdade, em restritiva de

direitos, conforme art. 33 §4° da referida norma. Todavia, o Supremo Tribunal

Federal (STF), no habeas corpus 97.256/RS, em decisão definitiva, exercendo

controle difuso de constitucionalidade, declarou inconstitucional a eficácia da

expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”. Por se tratar de

controle difuso de constitucionalidade, seus efeitos foram inter partes. O Senado

Federal, com fundamento no art. 52, inc X, da Constituição Federal, suspendeu, no

dia 12 de fevereiro de 2012, com efeito ergga omnes, a execução da expressão

“vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, declarada inconstitucional

pelo STF, alcançando assim todo ordenamento brasileiro.

Vê-se com isso, o amadurecimento legislativo e jurisdicional por parte dos

poderes do Estado em prestar tratamento normativo diverso a comportamentos

distintos no que se refere às drogas. Para o usuário não se admite pena privativa de

liberdade. Aos traficantes, no que diz respeito àquele que comete tráfico privilegiado,

dá-se a ele um tratamento penal menos severo, passando o direito penal a focar

com força normativa completa àquele traficante que dissemina a droga, de forma

reiterada e constante, a todo território nacional.

29

3.6 ALTERNATIVAS MUNDIAIS

De acordo com Souza (2010) a legislação para tráfico e uso de drogas no

mundo varia muito. Enquanto, alguns países como Cingapura, Indonésia e Arábia

Saudita condenam à pena de morte os traficantes, outros, como alguns países da

Europa, têm leis amenas, principalmente para os usuários.

Portugal, a partir de 2002, descriminalizou as drogas ilícitas, ou seja, o

usuário não é mais tratado como um criminoso, mas as penas endureceram para os

traficantes, com multas e longos períodos de prisão.

Na Suécia, o governo, depois de levar para a cadeia vários consumidores e

vendedores, decidiu investir na prevenção, tentando evitar que os jovens se iniciem

nas drogas. O país gasta 30% a mais em prevenção do que outros países da

Europa e o resultado é que há 30% menos usuários de drogas do que a média

europeia.

Nos Estados Unidos é permitido o uso medicinal da maconha em oito

Estados, mas as leis para o tráfico são duras. No Canadá, o consumo medicinal

também é permitido desde 2001.

No Japão, onde os jovens das classes médias e altas são os maiores

consumidores, desde 2006, a pena de prisão para usuários foi substituída por

tratamento e serviços comunitários. As leis para os traficantes endureceram e se

tornaram ainda mais rigorosas.

Na Alemanha, Bélgica, Espanha e Finlândia, o uso também foi

descriminalizado e a lei não impõe condenação para quem é só usuário.

Na Holanda, o consumo de maconha é liberado (com quantidades limites de

venda: até cinco gramas de maconha para cada cliente) e a droga é vendida em

cerca de 800 bares e cafés, desde 1976, para maiores de 18 anos. Esses locais não

podem se instalar próximos a escolas e não é permitido fumar maconha nas ruas, só

dentro dos cafés que oferecem uma infinidade de variedades da erva, inclusive com

cardápio. O governo holandês também permite que cada pessoa tenha em casa até

cinco pés de maconha plantados. Outras drogas como cocaína, heroína, ácidos e

anfetaminas continuam ilegais. O país oferece ainda aos seus jovens viciados que

encontram no sistema de saúde pública do Estado, todos os modernos métodos de

tratamento sem pagar nada.

30

Todo mês de novembro acontece na Holanda o “World Cannabis Cup”, um

torneio mundial de maconha. Gente do mundo inteiro se reúne lá para experimentar

e saborear as novas variedades da planta e votar pelas melhores.

Apesar de parecer um incentivo às drogas, uma pesquisa realizada pelo

Centro de Pesquisas de Drogas da Universidade de Amsterdã, após a

descriminalização, mostrou que o número de usuários não aumentou com a

liberação. Em 2007, na Holanda, eram 300 mil os usuários, ou seja, cerca de 3% da

população, índice que é igual aos de outros países da Europa e menor do que o dos

Estados Unidos, onde cerca de 5% da população consome ilegalmente a maconha

(SOUZA,2010).

31

4 A DESCRIMINALIZAÇÃO DA POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL

Neste capítulo será destacada a descriminalização da posse de drogas para

consumo pessoal de acordo com a Lei 11.343/06.

4.1 LEI Nº. 11.343/06

Um grande avanço da Lei nº. 11.343/06 foi distinguir, definitivamente, a figura

do usuário de drogas e do traficante.

Em relação ao usuário e / ou dependente a nova lei de drogas (Lei 11.343/06)

não mais prevê a pena de prisão (art.28).

Segundo Gomes (2006) a posse de droga para consumo pessoal deixou de

ser formalmente “crime”, mas não perdeu seu conteúdo de infração (de ilícito). A

conduta descrita no antigo art.16 e, agora, no atual art.28 continua sendo ilícita,

mas, continua sendo uma ilicitude inteiramente peculiar. Houve descriminalização

“formal”, a infração já não pode ser considerada “crime”, do ponto de vista formal,

mas não aconteceu concomitantemente a legalização da droga. De outro lado,

paralelamente também se pode afirmar que o art. 28 retrata uma hipótese de

despenalização. Descriminalização "formal" e despenalização (ao mesmo tempo)

são os processos que explicam o novo art. 28 da lei de drogas.

O artigo 28 da Lei nº 11.343/06, de 23-08-2006, traz o seguinte:

Art.28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - Advertência sobre os efeitos das drogas II- prestação de serviços à comunidade III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo

O artigo 28 da Lei nº 11.343/06, deixa claro que o infrator será punido apenas

com penas alternativas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de

comparecimento a programa ou curso educativo. Caso o agente, injustificadamente,

recuse-se a cumpri essas penas, o juiz poderá, conforme § 6° desse mesmo

dispositivo, submeter o usuário, sucessivamente, a admoestação verbal e/ou multa.

Para Oliveira (2006) o artigo 28 da lei nº 11.343/06 inovou ao atribuir aos

usuários de drogas penas mais brandas do que as imputadas nas leis anteriores. O

32

objetivo da lei é, principalmente, reprimir de forma mais rigorosa a produção não

autorizada e o tráfico ilícito de drogas, considerando os delitos que não estiverem

ligados ao tráfico, portanto, de menor potencial ofensivo.

Ainda segundo o autor o que de fato ocorreu foi uma adoção de nova

valoração das condutas, fundamentado em uma nova política criminal que visa

prevenir o consumo de drogas através da educação. A conduta continua sendo

crime, porque é prevista como tal no artigo 28 da Lei 11.343/06/06. Porém, crime

sem punição, pois sua pena não é castigo, mas um tratamento.

Para Leite (2010) pode se afirmar que a posse de drogras para o consumo

pessoal não configura crime, pois sanções como a advertência, prestação de

serviços à comunidade e comparecimento a programas educativos impostos, que

são aplicados ao portador de entorpecentes, não configuram as penas previstas na

Lei de Introdução ao Código Penal brasileiro, entende-se doutrinariamente que a

posse é um ilícito sui generis, 4pois não é taxado mais como crime, mas permanece

a ilicitude penal.

De acordo com Silva (2011) no Brasil, após 30 (trinta) anos de vigência de

uma legislação específica sobre drogas, que praticamente, não fazia distinção de

usuário de droga do traficante, tratando o usuário como um criminoso, promulgou a

Lei de Drogas, Lei n.º 11.343/06, com ideais prevencionista, baseando-se nas

políticas adotadas por países ocidentais da Europa.

As principais mudanças da legislação, além de retirar o caráter de criminoso

do usuário e dependente de droga, fora de inserir uma política de prevenção ao uso

de drogas, dando a devida assistência e reinserindo socialmente o usuário e

dependente, bem como eliminar a pena de prisão ao usuário, com penas mais

brandas a este e prevendo um tratamento mais punitivo ao traficante.

Para Capez (2009) a questão da descriminalização ou não da posse de

substância entorpecente não pode mais nem ser analisada apenas sob o enfoque da

saúde do usuário, por envolver questões muito mais abrangentes e complexas, dado

o impacto que tal medida poderá gerar no meio social, econômico etc. Basta que se

tenha presente que, quanto maior o número de usuários, maiores serão os gastos

do sistema público de saúde; maiores serão os crimes perpetrados para angariar

dinheiro para a compra da droga; e maior será o poder das organizações criminosas.

4 De seu próprio gênero (Palavra de origem Latim significado da palavra de acordo com o

dicionário).

33

Desse modo, a descriminalização não resolve o problema do consumo de drogas,

nem elimina o narcotráfico.

Quanto à discussão se houve ou não descriminalização, insta salientar a

posição do STF, confirmando ter ocorrido uma despenalização, tendo como relator o

Ministro Sepúlveda Pertence, que afirmou:

Assim, malgrado os termos da Lei não sejam inequívocos - o que justifica a polêmica instaurada desde a sua edição -, não vejo como reconhecer que os fatos antes disciplinados no art. 16 da L. 6.368/76 deixaram de ser crimes.

O que houve, repita-se, foi uma despenalização, cujo traço marcante foi o rompimento - antes existente apenas com relação às pessoas jurídicas e, ainda assim, por uma impossibilidade material de execução (CF/88, art. 225, § 3º); e L. 9.605/98, arts. 3º; 21/24) - da tradição da imposição de penas privativas de liberdade como sanção principal ou substitutiva de toda infração penal.

A nova lei de drogas apresenta dois pontos importantes a destacar: de um

lado ela trata da prevenção do uso, a atenção e a reinserção social de usuários e

dependentes; e por outro, aumenta a repressão ao tráfico e a figura duvidosa do

“traficante”.

4.1.1 Principio da Proporcionalidade na Nova Lei do Usuário de Drogas

De acordo com Bonavides (2004) o principio da proporcionalidade protege o

cidadão contra os excessos do Estado e serve de escudo à defesa dos direitos e

liberdades constitucionais e acresce que é na qualidade de princípio constitucional

ou de princípio constitucional ou de princípio geral de direito, apto a cautelar do

arbítrio do poder o cidadão e toda a sociedade, que se faz mister5 reconhecê-lo já

implícito e, portanto, positivado em nosso Direito Constitucional.

Gomes (2007, p. 27) destaca que:

Prevenção é a propriedade. O mais sensato e responsável, de tudo que se pode extrair das experiências e vivências estrangeiras, consiste na adoção de uma política claramente preventiva em relação às drogas. Educação antes de tudo. E os pais e professores, dentre tantos outros, assumam sua responsabilidade de orientação e conscientização. Se o sujeito não cuida dele mesmo ou do seu filho, não deve esperar que o direito penal faça isso por ele e muito menos que essa tarefa seja desempenhada pelas autoridades policiais, que não contam com o mínimo de preparo para cuidar de quem necessita de atenção, reinserção, compreensão, não de prisão.

5 Necessário (definição do dicionário online de português)

34

Com a introdução da lei nº 11.343/06 no ordenamento, os dois diplomas

legais anteriores (Lei 6.368/76 e 10.409/02), foram revogados expressamente pelo

art.75 da nova lei. O art.74 cuja redação determinava que a lei entraria em vigor 45

dias após a sua publicação.

A nova lei trouxe diversas inovações tanto no aspecto criminal como no

processual, logo, foi aberta à crítica da doutrina, tendo a lei abandonado o uso da

terminologia “substância entorpecente” e adotou o vocábulo “droga”.

Leal (2007, p. 1) relata algumas mudanças propostas na nova Lei:

(...) de maior significado penal foi, sem dúvida a opção por uma política Criminal de rejeição da prisão como instrumento válido de resposta punitiva à conduta do consumidor de drogas. Assim é que, de conformidade com disposto no § 2º, do art.48, tratando-se de consumidor, “não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente". Portanto, em hipótese alguma, o usuário de drogas poderá ser levado à prisão.

A lei nº 11.343/06 traz, em segundo passo, a sua política contra drogas e seu

órgão representativo. Sobre a Política Nacional de Drogas, dispõe o Art. 3º:

Art. 3º O SISNAD (Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas) tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com: I - A prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas; II - A repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

4.2 TRATAMENTO DADO AO USUÁRIO FRENTE À NOVA LEGISLAÇÃO

Silva (2006, p.3) destaca que:

Dentre as medidas educativas apresentadas no artigo 28 da Lei 11.343/06/06 está uma pena restritiva de direitos – a prestação de serviços à comunidade. Assim, a nova legislação de drogas está em consonância com o Código Penal. A novidade é que o legislador antecipou-se na possível solução que o juiz daria ao caso concreto, cominando a prestação de serviço à comunidade como pena principal, o que seria autorizado, em caráter de substituição, nas hipóteses do artigo 44 do Código Penal.

35

Para Moraes (2010) a necessidade no problema casuístico do uso torna

importante a sistemática rumo à desintoxicação do usuário.O Estado, ao coibir o

caráter repressivo, afasta a onerosidade da manutenção do usuário no sistema

prisional, neste sentido abre-se a possibilidade de novas medidas, dentre elas a

implantação de hospitais psiquiátricos com o fundamento de tratar o dependente

químico.

Para o autor o que se torna importante é tratar o usuário em fase de

abstinência, com medidas a evitar a interrupção imediata, voltada ao livramento

definitivo da dependência, e o trabalho social que esse indivíduo poderá prestar a

futuras gerações em busca do não proliferamento agravante do uso de drogas

ilícitas, visto que essa é nossa proposta, o não proliferamento vertiginoso do mal que

flutua a margem da dependência.

Alvez (2009) relata que a nova Lei trouxe significativas mudanças em relação

à figura do usuário de drogas, cabendo ressaltar que a partir de sua entrada em

vigor, o usuário de drogas ficou sujeito apenas às penas de advertência acerca dos

efeitos das drogas, a prestar serviços a comunidade, a medidas socioeducativas,

onde deve comparecer regularmente aos referidos programas.

36

5 CONCLUSÃO

Diante de tais constatações, conclui-se que a nova legislação foi

extremamente favorável ao usuário, impossibilitando o seu recolhimento ao cárcere,

mas não teve o intuito de descriminalizar a sua conduta.

O artigo 28 da Nova Lei de Drogas, Lei nº. 11.343/06 apresenta diversas

mudanças e destaca uma nova política em relação ao tratamento jurídico a posse de

drogas para consumo pessoal.

Em relação à descriminalização da posse de drogas para consumo pessoal,

entende-se que o uso continua sendo crime, mas não leva o infrator à prisão.

Quanto à legalização das drogas percebe-se que a discussão que se versa

nos dias hodiernos sobre a legalização ou não das drogas parece não ter fim.

Todavia a sociedade não pode ficar à mercê de uma solução tênue e sim lutar por

um conquista definitiva.

Percebe-se que a luta repressiva no mundo das drogas fracassou e que os

gastos para combater essa guerra são estratosféricos.

Vê-se que nos países em que a saída foi encarar o problema das drogas deu

resultado, pois, nesses países onde o usuário passou a ser tratado como uma

pessoa que precisava de ajuda, a população passou a ter uma maior educação

sobre o assunto, a legislação que trata o traficante foi asseverada e o uso

regularizado. Viu-se uma queda acentuada no uso dessas substâncias. E é nessa

“onda” que o Brasil deve “surfar”.

É necessário que o país encare o usuário como uma pessoa que precisa de

ajuda para sair do mundo das drogas e não como criminoso. É preciso que o País

fortaleça a educação nas escolas e em todos os lugares, para que cada vez mais

seja demonstrado para as crianças desde cedo os males irreversíveis que o uso das

substâncias entorpecentes causa. Esta Nação deve buscar sanar o problema do

uso, regularizando-o e ao mesmo tempo tratar a pessoa responsável por fornecer de

forma ilegal, como um criminoso que deve sentir o peso da punição Estatal.

É nessa seara que o Brasil, como outros países, irá reduzir o consumo, pois,

diga-se de passagem, substâncias entorpecentes sempre serão utilizadas.

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REFERÊNCIAS

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