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DESEMPENHO E MORFOMETRIA CORPORAL DE FÊMEAS DA RAÇA HOLANDESA PROVENIENTES DE REBANHOS ESPECIALIZADOS DA REGIÃO CENTRO ORIENTAL DO PARANÁ Equipe: Adriana de Souza Martins Profa. Departamento de Zootecnia-UEPG Pedro Guimarães Ribas Neto Superintendente do SRG APCBRH Victor Breno Pedrosa Prof. Departamento de Zootecnia - UEPG Izaltino Cordeiro dos Santos Gerente da pecuária da Fazenda Escola UEPG Leandro Lipinski Prof. Departamento de Medicina - UEPG Karina Barth Curso de Zootecnia. Bolsista PIBIC UEPG Thaísa Cristina Alves da Cruz Bolsista do CMETL UEPG Instituições envolvidas: Introdução A criação de bezerras e novilhas muitas vezes é vista pelo produtor como um custo adicional na propriedade, uma vez que as mesmas ainda não entraram em produção. No entanto, estes animais irão substituir as vacas do rebanho e ao mesmo tempo poderão constituir uma segunda fonte de renda ao produtor, por meio de sua comercialização, quando o rebanho leiteiro estiver estabilizado. Na composição do custo de produção, o custo da criação dos animais de reposição é considerado uma das maiores fontes de despesas (15 a 20%), atrás apenas das despesas com a alimentação do rebanho em produção (SILVA et al., 2011). Logo, os cuidados na fase de bezerra e novilha são fundamentais para antecipar a idade ao primeiro parto e com isso, a vida produtiva dos animais no rebanho. A produção de novilhas de tamanho e idade adequados ao primeiro parto pode otimizar a produção de leite de forma vantajosa, porém, para obter tal resultado é preciso adotar práticas de manejo alimentar de acordo com cada fase do desenvolvimento. Falhas na nutrição, nos cuidados com as instalações e saúde desta categoria resultam no aumento da idade ao primeiro parto e menor produção de leite durante a vida produtiva, quando comparado às novilhas manejadas adequadamente (BITTAR, 2012).

DESEMPENHO E MORFOMETRIA CORPORAL DE FÊMEAS DA … · fornecimento de concentrado, além das avaliações de ultra-som na GM. Foi avaliada a correlação do depósito de tecido adiposo

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DESEMPENHO E MORFOMETRIA CORPORAL DE FÊMEAS DA RAÇA

HOLANDESA PROVENIENTES DE REBANHOS ESPECIALIZADOS DA

REGIÃO CENTRO ORIENTAL DO PARANÁ

Equipe:

Adriana de Souza Martins – Profa. Departamento de Zootecnia-UEPG

Pedro Guimarães Ribas Neto – Superintendente do SRG – APCBRH

Victor Breno Pedrosa – Prof. Departamento de Zootecnia - UEPG

Izaltino Cordeiro dos Santos – Gerente da pecuária da Fazenda Escola – UEPG

Leandro Lipinski – Prof. Departamento de Medicina - UEPG

Karina Barth – Curso de Zootecnia. Bolsista PIBIC – UEPG

Thaísa Cristina Alves da Cruz – Bolsista do CMETL – UEPG

Instituições envolvidas:

Introdução

A criação de bezerras e novilhas muitas vezes é vista pelo produtor como um

custo adicional na propriedade, uma vez que as mesmas ainda não entraram em

produção. No entanto, estes animais irão substituir as vacas do rebanho e ao mesmo

tempo poderão constituir uma segunda fonte de renda ao produtor, por meio de sua

comercialização, quando o rebanho leiteiro estiver estabilizado. Na composição do

custo de produção, o custo da criação dos animais de reposição é considerado uma das

maiores fontes de despesas (15 a 20%), atrás apenas das despesas com a alimentação do

rebanho em produção (SILVA et al., 2011). Logo, os cuidados na fase de bezerra e

novilha são fundamentais para antecipar a idade ao primeiro parto e com isso, a vida

produtiva dos animais no rebanho.

A produção de novilhas de tamanho e idade adequados ao primeiro parto pode

otimizar a produção de leite de forma vantajosa, porém, para obter tal resultado é

preciso adotar práticas de manejo alimentar de acordo com cada fase do

desenvolvimento. Falhas na nutrição, nos cuidados com as instalações e saúde desta

categoria resultam no aumento da idade ao primeiro parto e menor produção de leite

durante a vida produtiva, quando comparado às novilhas manejadas adequadamente

(BITTAR, 2012).

O sucesso de um programa de criação de bezerras e novilhas pode ser avaliado

pelo acompanhamento no desenvolvimento dos animais, desde o período de aleitamento

até o primeiro parto, passando por toda a fase da recria. Fatores como fornecimento do

colostro (qualidade e quantidade), aleitamento, fornecimento de concentrado e

volumoso, bem como o sistema de criação adotado irão influenciar no desempenho e,

consequentemente, na idade ao primeiro parto e na produção de leite da futura vaca.

O sistema de criação pode implicar diretamente na qualidade do alimento

fornecido, nos custos de criação e no tempo que a novilha demanda para entrar em

produção. O oferecimento do colostro para as bezerras logo após o nascimento é

considerado como uma prática de manejo de fundamental importância para redução nas

taxas de mortalidade e morbidade. Bezerras dependem da ingestão de colostro para

aquisição de imunidade passiva, de forma a garantir bom status de saúde até que seu

próprio sistema imune se torne funcional (BITTAR e SILVA, 2012). O volume e a

qualidade do leite oferecido durante o aleitamento são essenciais para o

desenvolvimento satisfatório da bezerra, sendo que, na maioria das vezes, estes não

atendem os requerimentos nutricionais, causando comprometimento em seu

desempenho e refletindo em baixo potencial de produção futura (KHAN et al., 2007).

Considerando a importância das variáveis mencionadas, o monitoramento do

desenvolvimento de bezerras e novilhas por meio do peso, ganho em peso e altura e sua

comparação com a média da raça para cada idade, auxiliam na tomada de decisões

referentes ao manejo nutricional, podendo indicar estratégias de manejo a serem

utilizadas. Normalmente, os sistemas de criação de novilhas são conduzidos com o

propósito de se antecipar a puberdade e a idade à reprodução, visando reduzir a fase não

produtiva do animal no rebanho. Atualmente, recomenda-se a primeira inseminação de

novilhas da raça Holandesa aos 14 meses de idade, com peso vivo médio de 350,

porém, nem sempre este objetivo é alcançado (MOURA et al., 2010).

Animais com baixos ganhos de peso durante esta fase não atingem o peso ideal

para cobertura e, portanto, atrasam a idade ao primeiro parto e diminuem a possibilidade

de descarte de matrizes, trazendo efeitos negativos para o sistema de produção. Por

outro lado, ganhos de peso excessivos também podem comprometer a vida produtiva da

novilha na lactação subseqüente.

Devido à importância dos custos de criação, assim como o tempo que a novilha

demanda para entrar em produção, pesquisas vem sendo realizadas sobre o perfil do

crescimento na recria de novilhas leiteiras, visando maiores ganhos, bem como o

impacto sobre a produção de leite durante a vida produtiva (MOREIRA, 2012). Sabe-se

que o crescimento e o desenvolvimento da glândula mamária (GM) são afetados pela

alimentação e por mudanças hormonais que ocorrem à medida que o animal se

desenvolve, do nascimento até a puberdade e gestação (SEJRSEN e PURUP, 1997).

MARCONDES et al. (2009) mencionaram que o maior limitador do potencial de

produção de novilhas leiteiras relaciona-se com o número de células sintetizadoras de

leite na GM. Por muitos anos, estudos mostraram que o aumento na matriz adiposa

afetava o desenvolvimento do parênquima mamário (PIRLO et al., 1997; et al., 2000;

SEJRSEN e PURUP, 1997). No entanto, trabalhos posteriores indicaram que apesar de

as taxas elevadas de ganho de peso aumentarem o percentual de gordura na GM, este

não afeta o tecido secretor de leite (DANIELS et al., 2009; ESSELBURN et al., 2015).

Desta forma, avaliações que envolvam estes parâmetros são importantes para conhecer

os reais fatores que interferem no desenvolvimento da GM durante o crescimento da

novilha.

O estado do Paraná ocupa a segunda posição no ranking nacional de produção

de leite (IBGE, 2015). Entre as regiões mais produtoras destaca-se a Centro Oriental,

que é composta por 14 municípios, entre eles Arapoti, Carambeí, Castro, Ponta Grossa e

Palmeira, sendo que o município de Castro contempla uma das maiores e mais

tecnificadas bacias leiteiras do país (FAEP, 2008). Apesar do alto valor genético dos

animais e do alto nível tecnológico e produtivo dos rebanhos, a criação de bezerras e

novilhas leiteiras ainda constitui um desafio. Obter informações sobre o

desenvolvimento destes animais em função dos sistemas de criação e das práticas de

manejo adotadas é importante para definir as curvas de crescimento do nascimento ao

parto, identificando os animais fora do padrão da raça e analisar as prováveis causas.

Além disso, as avaliações de peso e altura de bezerras e novilhas permitem ao produtor

identificar precocemente os animais superiores, auxiliando no processo de seleção no

rebanho (VALLOTO et al., 2010).

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os parâmetros de

desempenho e morfometria corporal de fêmeas da raça Holandesa, provenientes de

rebanhos especializados da região Centro-Oriental do Paraná, e analisá-los de acordo

com as práticas de manejo adotadas nas propriedades.

Material e Métodos

Este trabalho foi desenvolvido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, a

Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH) e pelo

Centro Mesorregional de Excelência em Tecnologia do Leite (CMETL) da região

Centro-Oriental do Paraná. Foram avaliadas fêmeas da raça Holandesa Preto e Branco,

com idade entre 1 e 24 meses, no período de 15 de março à 20 de julho de 2014. Os

animais foram registrados pela APCBRH e provenientes de propriedades leiteiras

especializadas, localizadas nos municípios de Carambeí, Castro, Arapoti e Colônia

Witmarsum (Tabela 1).

Tabela 1 -Número de produtores, município e número de animais nos rebanhos

avaliados

Nº Produtores Município Nª animais

2 Castro 256

2 Carambei 140

2 Arapoti 243

1 Colônia Witmarsum 440

Total

1.079

Para cada produtor foi entregue um questionário visando obter informações sobre

a criação das bezerras e novilhas para posteriormente comparar as variáveis analisadas e

conhecer os fatores determinantes da curva de crescimento. De acordo com as

informações do questionário, as variáveis foram agrupadas e analisadas da seguinte

forma:

a) Sistema de criação: pastejo com suplementação ou confinamento. O sistema

de criação em pastejo foi retirado da análise, pois nenhum dos produtores

avaliados o utilizava;

b) Idade ao desmame: 60, 80 ou 90 dias;

c) Fornecimento de colostro: 3 a 4 litros/bezerra/dia; 5 a 6 litros/bezerra/dia e 6

a 8 litros/bezerra/dia;

d) Período de fornecimento do colostro: 1 dia; 2 dias; 3 dias;

e) Fornecimento de água: a partir da 1ª semana de vida; a partir da 2ª semana de

vida;

f) Fornecimento de concentrado: a partir do 1º ao 3º dia de vida; a partir da 1ª

semana de vida; a partir da 2ª semana de vida

g) Idade que se iniciou o fornecimento de forragem: 15 dias; 30 dias; 40 dias e

60 dias;

Figura 1 Sistemas de criação de novilhas nas propriedades avaliadas.

Outros parâmetros foram incluídos no questionário, como a qualidade do leite

ofertado (integral, pasteurizado, de descarte ou sucedâneo), volume de leite

diário/bezerra, incidência de diarréia e outras doenças. No entanto, estes não foram

apresentados devido à semelhança nas informações descritas pelas propriedades (ex:

volume de leite ofertado) ou pela dificuldade na definição dos grupos dentro de cada

parâmetro (ex: um produtor fornecia leite de descarte pasteurizado, o outro sucedâneo e

leite de descarte).

Foram realizadas medidas de peso corporal, estatura e ganho de peso médio

diário. O peso corporal foi obtido utilizando-se uma fita torácica. Durante as avaliações,

as novilhas foram pesadas duas vezes, com intervalo de aproximadamente 28 dias, para

determinação do ganho de peso corporal diário. Devido ao grande número de variáveis,

neste artigo serão apresentados apenas os dados referentes às médias de peso corporal,

altura, ECC e ganho de peso diário e as correlações de peso corporal e ganho de peso

com o sistema de criação, fornecimento de colostro, quantidade de colostro fornecido e

fornecimento de concentrado, além das avaliações de ultra-som na GM.

Foi avaliada a correlação do depósito de tecido adiposo na GM com o peso,

ganho em peso e altura das novilhas, estimado por meio de ultra-som (probe linear de

SMHZ), na lateral direita do úbere de 100 novilhas de dois produtores, com idade entre

3 a 13 meses.

Figura 2 – Avaliações de peso com a fita torácica (A) e altura (B) nas propriedades.

Na Figura 3 encontra-se uma imagem do histograma utilizado para a avaliação

das imagens ultra-sonográficas e uma imagem de ultra-som do úbere de uma novilha. A

análise do percentual de gordura foi estimada por meio do programa Corel DRAW

Graphics Suite X7 sendo as imagens padronizadas em um mesmo tamanho, descartando

a gordura subcutânea.

Figura 3 - Histograma do Programa Corel DRAW x7 (Corel PHOTO PAINT) e imagem ultra-

sonográfica do úbere.

A porcentagem de gordura foi quantificada em pixels, a partir do histograma do

programa, convertido em preto e branco (8 bits), sendo a porcentagem avaliada como

gordura, medida no nível quase branco. Foram realizadas análises de correlações de

Pearson entre o percentual de gordura estimado na GM e o peso corporal, ECC, altura

da garupa e GMD, utilizando-se o procedimento PROC CORR do SAS (SAS, 2009).

O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, considerando as

variáveis sistema de criação, quantidade de colostro oferecido e dias de fornecimento e

idade ao desmame, monitoradas no período de 1 a 24 meses de idade. Para a análise de

variância foi empregado o procedimento GLM do SAS (SAS, 2009). A diferença entre

as médias foi testada por meio do teste de Tukey a 5%. Para as variáveis com apenas

dois parâmetros, utilizou-se o teste F a 5%.

Resultados e discussão

Na Tabela 2 encontram-se os dados de peso corporal e estatura das fêmeas em

função da idade, os dados recomendados de peso e altura pela ABCBRH (Regulamento

A B

do SRG) e os obtidos pela APCBRH, com animais de exposição (VALLOTO et al.,

2010).

Tabela 2- Médias e desvio-padrão do peso corporal (kg) e da estatura (cm) de novilhas

da raça Holandesa em função da idade (meses) nos rebanhos avaliados, recomendado

pela ABCBRH e de animais de exposição

Peso (kg)

Estatura (cm)

Idade

média

n Média

DP Recom.1

Exposição

APCBRH2 Média

DP Recom.1

Exposição

APCBRH2

1 50 55 7 64 - 81 6,3 84 -

2 49 65 14,1 94 - 88 4 89 -

3 41 98 14,7 119 - 97 4 94 -

4 35 119 13,1 144 - 99 5,4 98 -

5 43 143 21,1 169 185 105 4,2 104 114

6 49 168 21,4 194 203 108 29,2 107 118

7 69 197 22,4 219 235 114 27,3 110 122

8 89 216 26,2 241 249 116 13,6 113 126

9 64 255 29,8 261 332 120 3,3 116 128

10 59 275 28,5 281 310 124 3,5 119 128

11 81 305 32,2 301 342 127 15,5 122 130

12 68 325 31,7 321 329 129 3,3 124 137

13 40 341 30,2 340 384 132 4,2 126 142

14 19 372 26,6 367 406 134 2,0 128 136

15 18 395 29,6 389 398 136 3,7 130 135

16 27 445 42,4 411 407 138 2,9 132 144

17 49 448 42,2 433 463 139 3,6 134 144

18 36 474 29,2 451 451 140 3,3 136 136

19 37 501 43,9 469 521 142 2,6 137 148

20 37 532 42,1 487 518 144 2,8 138 150

21 26 557 40,2 505 518 146 3,6 139 149

22 24 559 42,7 523 512 146 3,6 140 148

23 20 560 32,1 538 565 145 2,2 141 151

24 24 568 32,5 553 528 147 2,7 142 144

DP: desvio-padrão. n: número de animais avaliados. 1Recomendação para a raça Holandesa -

ABCBRH(Regulamento SRG). 2Animais avaliados no Agroleite em 2010.

Comparando-se os valores de peso corporal com os recomendados pela ABCBRH

para novilhas da raça Holandesa, verificaram-se menores pesos nas idades de 1 a 10

meses, porém, a partir de 12 meses, o peso das novilhas foi superior. Ao comparar as

médias de peso e altura de 155 novilhas da raça Holandesa para julgamento na

Agroleite, em um trabalho realizado pela APCBRH em 2010 (Tabela 2), observou-se

que as médias de peso dos 5 aos 17 meses foram superiores às deste trabalho, porém,

dos 18 aos 24 meses, os animais de pista apresentaram pesos corporais inferiores (24

meses, com peso de 527,5kg v.s. 568 kg dos animais avaliados neste estudo). Baixos

pesos corporais podem indicar, entre outros fatores, problemas como falhas na

colostragem, qualidade e quantidade de leite fornecido, higiene nas instalações,

incidência de diarreias. Por outro lado, os maiores pesos corporais das novilhas a partir

dos 12 meses refletem o manejo adequado nesta fase, uma vez que a fase de

crescimento mais negligenciada ocorre entre 12 e 24 meses. As metas para a idade à

primeira cobertura para a raça Holandesa são de novilhas com peso médio de 350 kg

aos 14 meses de idade (MOURA et al., 2010). Nos rebanhos avaliados, as novilhas

atingiram este peso entre 13 e 14 meses.

De acordo com Aita et al. (2006), animais que recebem maior volume de leite

apresentam maior peso corporal devido a maior ingestão de gordura (aumento na

ingestão de energia). Restrições no consumo de leite causam redução no ganho de peso

e piora a conversão alimentar. No presente estudo, não foi analisado o desempenho dos

animais em função consumo de leite, pois os produtores forneceram quantidades

próximas, variando de 4 a 5,5 litros/animal/dia; apenas um produtor forneceu de 4 a 8

litros/animal/dia. Sendo assim, os baixos pesos corporais nos primeiros meses de vida

podem ser justificados, além de outros fatores, pelo volume reduzido de leite fornecido

para bezerras da raça Holandesa, considerando os produtores que ofertaram em média

4,7 litros/bezerra/dia. Quanto à qualidade do leite, não houve um padrão, sendo estas as

formas de fornecimento: apenas sucedâneo; sucedâneo + leite de descarte; leite de

descarte + leite pasteurizado; leite integral + sucedâneo; leite integral + leite de descarte

+ sucedâneo.

As médias de estatura dos 5 aos 24 meses foram maiores nos animais de

exposição comparados aos deste estudo, demonstrando que, apesar dos maiores pesos

com o avanço da idade, os animais dos rebanhos avaliados apresentaram menor estatura.

Porém, ao comparar com a estatura recomendada para a raça, as médias dos animais

deste estudo foram superiores. Segundo Santos et al. (2010), o ritmo de crescimento dos

bovinos jovens é determinado pelo padrão genético da raça e linhagem escolhida, ou

seja, cada animal tem seu potencial de crescimento, que pode ser limitado fortemente

pelo ambiente onde se encontra, sistema alimentar adotado, instalações, manejo

reprodutivo e sanitário. É importante lembrar que o comprometimento no

desenvolvimento da altura dos animais durante esta fase não pode ser recuperado

posteriormente.

Nos sistemas de recria de novilhas, os produtores visam reduzir a idade ao

primeiro parto com o propósito de tornar mais curta a fase de vida não produtiva da

novilha. No entanto, pesquisas conduzidas há mais de cem anos analisando o efeito de

diferentes dietas sobre o crescimento de novilhas e seu potencial produtivo na primeira

lactação (Eckles et al. 1915, citado por DANIELS, 2010), indicaram que sistemas de

criação que proporcionam rápido crescimento e antecipação da idade ao primeiro parto,

podem comprometer a produção de leite da futura vaca. Posteriormente, outros

trabalhos evidenciaram que não somente o aumento do peso corporal, mas também o

desenvolvimento dos órgãos internos pode interferir na capacidade de produção de leite.

O ECC das novilhas ficou próximo ao recomendado para a raça até a idade de 12

meses e inferior para as idades de 15, 18, 21 e 24 meses, com valores de 2,9; 3,2; 3,4 e

3,5, respectivamente, conforme Hoffman (1997) (Tabela 3).

Tabela 3- Médias e desvio padrão do escore de condição corporal (ECC) e do ganho de

peso médio diário (GMD), em kg, de fêmeas da raça Holandesa em função da idade

(meses), nos rebanhos avaliados

Idade

média (n)

ECC GMD (g/animal/dia)

Média DP Média DP

1 64 2 0,04 0,714 0,26

2 49 2,05 0,10 0,938 0,21

3 40 2,3 0,21 0,818 0,35

4 35 2,4 0,17 0,859 0,21

5 43 2,4 0,15 0,857 0,24

6 49 2,5 0,63 0,735 0,31

7 69 2,4 0,53 0,691 0,38

8 89 2,4 0,33 0,658 0,35

9 64 2,5 0,23 0,610 0,38

10 60 2,5 0,26 0,645 0,42

11 80 2,6 0,36 0,612 0,44

12 68 2,7 0,30 0,527 0,60

13 41 2,7 0,40 0,673 0,44

14 19 2,8 0,27 0,786 0,83

15 18 2,7 0,25 0,679 0,62

16 27 2,9 0,35 0,585 0,48

17 49 2,8 0,29 0,611 0,55

18 36 2,9 0,25 0,598 0,59

19 37 3,0 0,42 0,626 0,55

20 37 3,0 0,42 0,636 0,48

21 26 3,2 0,36 0,581 0,58

22 24 3,0 0,44 0,560 0,40

23 20 3,0 0,33 0,261 0,42

24 24 3,0 0,29 0,340 0,43

DP: desvio-padrão. n: número de animais avaliados.

Portanto, o ECC médio das novilhas com idade entre 15 e 24 meses foi

considerado um pouco abaixo do recomendado.

A avaliação do ganho de peso médio diário (GMD) também constitui um

importante parâmetro para avaliar o desenvolvimento corporal de novilhas leiteiras

(Tabela 3). Foram verificadas variações no GMD nas diferentes idades, observadas pelo

alto desvio padrão. Isto pode estar relacionado às diferenças nas práticas de manejo

utilizadas em cada propriedade além da variação individual do próprio animal. Apesar

dos baixos pesos corporais nas idades entre 1 e 5 meses, foram observados altos ganhos

em peso, com média de 0,837 kg/bezerra/dia, sendo observado redução dos ganhos com

o aumento da idade (do 1º ao 8º mês, ganho de 0,783 kg/animal/dia e do 12º ao 24º

mês de idade, de 0,570 kg/animal/dia). Nas idades entre 23 e 24 meses, o GMD foi de

0,300 kg/animal/dia.

Animais em fase inicial de crescimento (primeiros seis meses de vida)

apresentam maior desempenho comparado com animais mais velhos (KERTZ et al.,

1998), provavelmente em função do menor requerimento de mantença dos animais com

menor peso vivo, sendo estes mais eficientes na conversão dos alimentos em ganho

(PERES, 2002). Segundo Quigley (2007), animais mais jovens são alimentados para o

máximo crescimento durante o período inicial, pois são muito eficientes na deposição

de proteína. Ressalta-se que os dados de GMD deste estudo foram obtidos em apenas

um período de 28 dias (apenas duas pesagens no mesmo animal) em várias idades.

De acordo com Pereira (2010) níveis de alimentação que resultem em taxas de

ganho de peso acima de 700g/animal/dia antes da puberdade estariam relacionados com

reduções no potencial de produção leiteira, maior incidência de problemas reprodutivos,

além de aumentar o custo de produção da recria. No presente trabalho, a média de

ganho de peso das fêmeas dos 3 aos 9 meses de idade foi de 0,747 g/animal/dia. Porém,

segundo estudos realizados, não se deve avaliar o ganho de peso isoladamente, pois os

animais podem apresentar altos ganhos sem haver o comprometimento do tecido

secretor de leite (MacDONALD et al., 2005; DANIELS et al., 2010). BROWN et al.

(2005) demonstraram que o aumento na ingestão de proteína e energia, em programas

de crescimento acelerado de bezerras, causou aumento do parênquima mamário, em

fêmeas com idade entre 2 a 8 semanas.

Nas Figuras 4 e 5 encontram-se as médias do peso corporal, do GMD e da altura

de bezerras e novilhas da raça Holandesa em função do sistema de criação. Três

produtores recriaram as novilhas em sistema de pastejo com suplementação e 4 em

sistema de confinamento.

Figura 4 – Médias do peso corporal e de ganho em peso diário de novilhas leiteiras em função do sistema

de criação (confinamento ou pastejo com suplementação). Confinamento: 4 produtores. Pastejo com

suplementação: 3 produtores. Médias seguidas de letras diferentes dentro de cada intervalo de idade,

diferem pelo teste F a 5%.

Não houve diferença no peso corporal dos animais em função do sistema de

criação, exceto entre 16 – 18 meses de idade, em que o peso das novilhas em pastagem

com suplementação superou o peso das novilhas confinadas (461,5 vs. 443,2 kg). Os

b a

b

a

b

a

b

a

a

a

a

b

b

b

resultados mostraram que mesmo com as diferenças no manejo nutricional dos animais

entre os sistemas, ambos proporcionaram desempenhos satisfatórios, evidenciando o

manejo adequado dos produtores no sistema de pastejo com suplementação, que

normalmente compromete o desenvolvimento das novilhas por não atender os

requerimentos nutricionais.

Conforme mencionado, as médias de ganho em peso apresentaram variações

devido às diferenças de manejo dentro e entre as propriedades, além do fator individual

do animal em responder às variações de ambiente. Diferenças significativas nos ganhos

de peso entre os sistemas foram observadas entre as idades de 7 a 24 meses, com

valores maiores para as novilhas criadas em pastejo com suplementação. Nos animais

confinados com idade entre 16 e 24 meses, os ganhos foram muito baixos (média de

0,347 kg/animal/dia) comparado com os animais em pastejo com suplementação (média

de 0,743 kg/animal/dia), podendo ser reflexo da baixa qualidade do volumoso

conservado, do balanceamento inadequado da dieta, não atendendo as exigências

nutricionais de fêmeas leiteiras em crescimento, além das diferenças de manejo. Sendo

assim, verificou-se que novilhas recriadas em pastagem com suplementação podem

apresentar desempenhos semelhantes ou até superiores aos de animais confinados,

desde que monitoradas e que recebam suplementação de acordo com seus

requerimentos nutricionais.

A altura de garupa foi semelhante entre os sistemas, diferindo apenas nas idades

entre 4 – 6 meses (maior nos animais confinados), 13 -15 meses (maior nos animais

suplementados em pastejo) e 16 – 18 meses (maior nos animais confinados) (Figura 5).

Figura 5 – Médias da altura de novilhas leiteiras em função do sistema de criação (confinamento ou

pastejo com suplementação). Confinamento: 4 produtores. Pastejo com suplementação: 3 produtores.

Médias seguidas de letras diferentes dentro de cada intervalo de idade, diferem pelo teste F a 5%.

As variações de peso e altura podem ser decorrentes das diferenças genéticas,

que condicionam o animal a um determinado nível de crescimento e da nutrição, pois

caso haja algum déficit nutricional pode ocorrer limitação no desenvolvimento do

animal. O tamanho da novilha tem grande importância em sua morfologia e pode afetar

a futura capacidade de produção de leite. Neste sentido, vacas mais altas e longilíneas

apresentam, normalmente, maior profundidade corporal, o que é desejável pelo reflexo

sobre as capacidades de ingestão, respiratória e circulatória (VIÉGAS, 2010).

Segundo Bittar e Ferreira (2007), a altura insuficiente dos animais em

determinada idade pode, por exemplo, ser indicativo de baixa proteína na dieta, o que

a b

b a a b

ocorre geralmente com novilhas com mais de sete meses de idade, durante períodos em

que a pastagem apresenta baixa qualidade ou falta de suplementação protéica.

Na Figura 6 encontram-se os valores de peso corporal e ganho médio diário dos

animais em função da quantidade de colostro fornecida. Há muitos anos se conhece a

importância do fornecimento de colostro, porém, esta prática ainda é muito

negligenciada pelos produtores. O colostro é rico em anticorpos (imunoglobulinas), que

têm a função de combater os micro-organismos patogênicos que podem estar presentes

no organismo. Para aumentar a eficiência na transmissão da imunidade passiva, o

colostro deve ser fornecido imediatamente nas primeiras 6 horas de vida, no volume de

10 a 12 % do peso vivo.

Figura 6 – Médias do peso corporal e ganho de peso de novilhas leiteiras em função da quantidade de

colostro fornecido (2-3 litros; 3-4L; 5-6L ou 8 litros/animal/dia). 2 – 3 litros/animal/dia: 2 produtores; 3 –

4 litros/animal/dia: 1 produtor; 5 – 6 litros/animal/dia: 3 produtores; 8 litros/animal/dia: 1 produtor.

Médias seguidas de letras diferentes dentro de cada intervalo de idade, diferem pelo teste Tukey a 5%.

Foram observadas diferenças estatísticas quanto ao volume de colostro

consumido. O peso corporal do 1º ao 3º mês de vida foi maior nos animais que

consumiram de 2 – 3 litros de colostro (84,4 kg) em relação aos que consumiram de 5 –

6 litros (57,3 kg) e 8 litros (62,3 kg). Nas idades entre 7 e 15 meses, os animais que

receberam 8 litros de colostro apresentaram menores pesos corporais. Por razões de

imunidade passiva, o tempo e a quantidade de colostro ingerido são muito importantes

para saúde da bezerra. Por isso recomenda-se, para bezerras de grande porte, ingestão de

8 a 10 litros até 12 horas após o nascimento, garantindo a transmissão da imunidade

(SANTOS et al., 2010). Desta forma, esperava-se maior desenvolvimento corporal dos

animais que consumiram maior volume (8 litros), no entanto, isto não ocorreu

provavelmente em função de outros fatores como a qualidade do colostro (concentração

de imunoglobulinas), tempo de fornecimento após o nascimento e as condições de

ambiente das bezerras deste produtor. Sabe-se que bezerras em condições de estresse

térmico (temperaturas abaixo de 13º C ou acima de 26º C) ou doentes, há aumento nas

exigências nutricionais em 20 a 40%.

Sabe-se que a quantidade e a qualidade do colostro ingerido podem interferir na

produção de leite na lactação futura (FABER et al., 2005). Baixa concentração de

imunoglobulinas no soro de bezerras após o fornecimento do colostro induz o animal à

maiores desafios, comprometendo seu desempenho a longo prazo (DENISE et al, 1989).

Para o ganho em peso diário, houve grandes variações em função das quantidades

de colostro ofertadas. De modo geral, o consumo de 2 – 3 litros promoveu ganhos

a b b

b a

b b

b b a

b b

a a a

a a b

a a b

a

ab b

a

a

a

b

a

a

a

b

a

a

a

b

a

a

b

a a

b b

a

b

ab

semelhantes ao consumo de 5 – 6 litros e de 8 litros, sendo estes superiores aos obtidos

com os animais que receberam 3 – 4 litros, os quais apresentaram os menores GMD.

Este último grupo foi representado por apenas um produtor. Logo, estas diferenças

podem estar relacionadas com as práticas de manejo específicas de cada produtor e não

apenas com o volume de colostro ofertado.

Na Figura 7 estão os valores médios de peso corporal e ganho de peso dos animais

em função do período de fornecimento do colostro (1, 2 ou 3 dias).

Figura 7 -Médias do peso corporal e do ganho de peso de novilhas leiteiras em função do período de

fornecimento de colostro (1, 2 ou 3 dias de vida). 1dia: 1 produtor; 2 dias: 3 produtores; 3 dias: 3

produtores. Médias seguidas de letras diferentes dentro de cada intervalo de idade, diferem pelo teste

Tukey a 5%.

O peso corporal das novilhas com idade de 7 a 15 meses que receberam colostro

por apenas um dia foi significativamente menor (média de 277 kg) em relação às que

receberam por 2 e 3 dias (média de 300 kg). Por outro lado, maiores pesos foram

obtidos para os animais de 16 a 21 meses que consumiram colostro durante 1 (506 kg)

ou 2 dias (501 kg) em relação às que consumiram durante 3 dias (468 kg). A quantidade

de colostro dos produtores que forneceram por 1 ou 2 dias variou de 2 a 6 litros. Sendo

assim, além da qualidade, o volume ofertado também pode ter causado diferenças no

peso corporal em função dos dias de fornecimento, sendo estas variáveis de manejo

específicas para cada propriedade.

Devido à importância do colostro nesta fase, é necessário assegurar a recém-

nascida a sua ingestão o mais rápido possível, auxiliando se necessário. Após este

período, deve-se continuar o fornecimento pelo menos até o terceiro dia do nascimento.

Embora a absorção intestinal de imunoglobulinas cesse em torno de 24 horas, a

administração do colostro até o terceiro dia tem como objetivo a proteção do trato

gastrintestinal, conferida pelas imunoglobulinas A (IgA). Kindlen et al. (2007)

relataram que a suplementação prolongada de colostro tem influência sobre a

morfologia da mucosa intestinal, havendo aumento significativo do tamanho das

vilosidades intestinais e, consequentemente, maior absorção dos nutrientes.

O ganho em peso dos animais na idade de 1 – 3 meses foi maior para os que

consumiram colostro por 2 dias (0,997 kg/animal/dia) em relação aos que consumiram

por 3 dias (0,736 kg/animal/dia). Dos 4 aos 24 meses de idade praticamente não houve

diferenças no ganho de peso. Sabe-se que os efeitos da colostragem estão relacionados

não somente com o período de fornecimento e volume ingerido, mas também, quanto ao

tempo de fornecimento após o nascimento e a qualidade do mesmo. Estudos

a b

a b b

b a b

b a a a a

b

a a b

a a b

a b b

a

b a

ab b

a

b ab

evidenciaram que bezerros com maior concentração de imunoglobulinas no organismo

são capazes de inativar micro-organismos patogênicos antes de desenvolver uma

resposta imunológica plena, disponibilizando maior quantidade de nutrientes para o

crescimento, enquanto que bezerros com baixa concentração de imunoglobulinas

provavelmente desviam os nutrientes para os mecanismos de defesa (BITTAR e

FERREIRA, 2007).

Na Figura 8 encontram-se as médias de peso e ganho em peso dos animais em

função do início de fornecimento do concentrado.

Figura 8 – Médias do peso corporal e do ganho em peso de novilhas leiteiras em função do fornecimento

de concentrado (a partir do 1º ao 3º dia, a partir da 1ª semana de vida ou da 2ª semana de vida).

Fornecimento de concentrado a partir do 1º ao 3º dia: 3 produtores; A partir da 1ª semana: 2 produtores;

A partir da 2ª semana: 2 produtores.

O propósito de se fornecer concentrado para bezerras já nos primeiros dias de

vida é devido ao estímulo do desenvolvimento ruminal, antecipando a transformação do

pré-ruminante em ruminante. Assim, a bezerra estará apta a se desenvolver com a

ingestão de alimentos sólidos (concentrado e volumoso).

Do 1º ao 6º mês de vida verificou-se maior peso corporal para os animais que

receberam concentrado entre o 1º e 3º dia e 1ª semana de vida em relação aos que

receberam ração a partir da 2ª semana. A partir dos 16 meses, não houve diferença no

peso corporal. As diferenças observadas podem estar relacionadas mais com as

variações de manejo entre as propriedades do que efetivamente com a variável em si,

pois a variação entre os períodos de fornecimento é pequena.

A nutrição na fase inicial da vida dos bezerros pode trazer efeitos em longo

prazo, em função da melhoria no sistema imunológico, aumento precoce do

desenvolvimento mamário, alteração do funcionamento e desenvolvimento endócrino,

maior deposição de tecidos magros e maior produção de leite na lactação subsequente

(STAMEY et al., 2005). O baixo consumo de concentrado pode comprometer o

desempenho da bezerra, levando em consideração que para o desenvolvimento do

rúmen (crescimento de papilas) é preciso a presença de AGV (CUNHA E

MARTUSCELLO, 2009), principalmente ácido butírico e propiônico, liberados com a

degradação de alimentos provenientes de grãos (OLIVEIRA et al., 2009).

Neste estudo, o fornecimento de concentrado no 1º ao 3º dia ou a partir da 1ª ou

2ª semana de vida demonstrou ser eficiente na transformação do sistema digestório,

proporcionando desenvolvimentos corporais satisfatórios que variaram nos primeiros

meses de vida, mas se equivaleram quando os animais atingiram por volta de16 meses

a a b

a ab b

b a b

b ab a b

a

b

a

b

a

b

ab

a

b

a

a

b

ab

a

b

a

a

de idade, apresentando médias de peso superiores ao recomendado (510 v.s. 485 kg dos

16 aos 24 meses).

Os dados de ganho em peso indicaram diferenças entre o fornecimento de

concentrado nos 3 primeiros dias ou a partir da 2ª semana de vida, sendo observados

maiores ganhos para animais consumindo concentrado a partir da 2ª semana, nos

animais com idade acima de 4 meses. Também foram obtidos baixos ganhos para os

animais que receberam concentrado do 1º ao 3º dia, nas idades entre 13 e 15 meses e

entre 19 a 24 meses, podendo estar relacionado com variações no manejo entre as

propriedades avaliadas durante esta fase.

Os valores da estimativa do depósito de gordura na glândula mamária (DGGM)

das bezerras/novilhas de 3 a 13 meses obtidos neste trabalho foram, em média, de

0,20% (tabela 4). Esta avaliação foi proposta em função dos resultados de pesquisa

sobre o desenvolvimento do tecido parenquimatoso e adiposo na GM e os efeitos sobre

a produção de leite na lactação subseqüente (CAPUCO et al., 1995; MAcDONALD et

al., 2005; PIANTONI et al., 2012).

Tabela 4 - Coeficientes de Correlação de Pearson da deposição de tecido adiposo na

glândula mamária (DTAGM), por meio de ultra-som, com o peso corporal, ganho médio

diário (GMD), escore de condição corporal (ECC) e altura da garupa das novilhas

Variáveis Coeficiente de correlação P

DTAGM x Peso 0,33 0,009

DTAGM x GMD -0,15 NS

DTAGM x ECC 0,25 0,01

DTAGM x Altura garupa 0,28 0,004

NS = não significativo. Número de animais avaliados: 100 novilhas na idade de 3 a 13 meses

A técnica do ultra-som foi utilizada por ser menos invasiva na avaliação tecidual

da glândula mamária, sem a necessidade de abate, permitindo a avaliação da lactação

subsequente. Esselburn et al. (2015), monitorando o parênquima mamário de bezerras

por meio de ultra-som, verificaram que esta técnica constitui uma ferramenta eficaz na

quantificação das mudanças deste tecido. Segundo os autores, são necessários estudos

que desenvolvam metodologias, visando à quantificação do parênquima mamário em

fêmeas jovens e sua relação com a capacidade de produção de leite.

Para o peso corporal, a correlação com o depósito de gordura na GM foi

significativa e positiva, indicando que quanto maior o peso da novilha, maior o

DTAGM. O nível de alimentação é um fator determinante para a novilha entrar em

puberdade (SEJRSEN E PURUP, 1997; MEYER et al., 2006). Enquanto uma

alimentação deficiente em nutrientes atrasa a idade ao primeiro parto e reduz a vida

produtiva do animal, a alimentação em excesso (dietas ricas em grãos) pode aumentar o

crescimento esquelético e o peso corporal, porém, pode ter efeito negativo sobre o

desenvolvimento da glândula mamária no período que antecede a puberdade, podendo

diminuir a produção na lactação subseqüente (FERREIRA, 1995) e favorecer a

incidência de problemas reprodutivos.

Por outro lado, pesquisas têm mostrado que a alta ingestão de proteína e energia

na fase de aleitamento (do nascimento aos 2 a 3 meses de idade) pode aumentar o

parênquima mamário e também o tecido adiposo na glândula mamária, com aumento da

produção de leite na primeira lactação (MEYER et al., 2006). Portanto, o atendimento

dos requerimentos em energia e proteína nesta fase é fundamental para o

desenvolvimento da bezerra e sua produção na primeira lactação.

Não houve correlação do depósito de tecido adiposo na GM com o ganho em

peso diário. Em um estudo avaliando os efeitos do peso corporal e da nutrição no

desenvolvimento histológico da glândula mamária em novilhas leiteiras, Daniels et al.

(2009) verificaram que novilhas com peso entre 100 e 350 kg, com ganhos de peso

entre 650 e 950g/dia, não apresentaram variações no desenvolvimento do parênquima

mamário, não havendo comprometimento no desenvolvimento dos ductos lobulares.

Segundo Campos e Assis (2006), o ganho em peso como variável única não

representa corretamente o desenvolvimento corporal de novilhas, sendo importante

analisar em conjunto outros parâmetros de crescimento. Trabalhos conduzidos por

Lammers et al. (1999) e Radcliff et al. (2000) mostraram que novilhas que crescem mais

rapidamente não têm, necessariamente, seu desenvolvimento mamário prejudicado e

que a gordura corporal constitui uma forma mais eficiente de predizer o baixo

desenvolvimento da glândula mamária que a taxa de ganho de peso.

Mesmo com os altos ganhos em peso verificados nas idades entre 3 e 13 meses,

estes não implicaram no acúmulo de gordura na GM. Portanto, o comprometimento do

parênquima mamário das fêmeas pode não ter ocorrido, conforme mencionado pelos

referidos autores, pois nesta fase os animais estavam com peso abaixo do recomendado.

Para a complementação deste estudo, é necessário avaliar a produção de leite das

novilhas na lactação subseqüente e, posteriormente, comparar com os resultados das

correlações apresentados.

Daniels et al. (2007) avaliando o efeito do peso corporal e da nutrição sobre o

desenvolvimento histológico da GM de novilhas, verificaram a importância do peso e

da idade na determinação do desenvolvimento do parênquima mamário e sugeriram que

a taxa de ganho tem pequeno impacto sobre o desenvolvimento histológico da GM.

Portanto, não se deve sustentar a hipótese de que a taxa de ganho tenha efeito negativo

direto no desenvolvimento dos ductos mamários.

Embora significativa, a correlação do peso corporal, ECC e altura com o

DTAGM foi baixa, mostrando que nem sempre aumentos nestes parâmetros indicam

acúmulo significativo de gordura na GM de bezerras/novilhas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados refletiram as condições de manejo de cada propriedade e

permitiram caracterizar o desempenho das fêmeas leiteiras em diferentes idades. Assim,

os dados dão ênfase à importância do monitoramento do crescimento de bezerras e

novilhas com o propósito de promover programas de seleção no rebanho e definir

estratégias para melhorar o desempenho da futura vaca.

As medidas de peso corporal nas idades entre 1 e 8 meses foram inferiores ao

recomendado para a raça Holandesa, porém, dos 11 aos 24 meses, o peso das novilhas

foi superior ao recomendado. A estatura das fêmeas manteve-se superior nas diferentes

idades. Estes resultados indicam o efeito de fatores como a genética e o manejo dos

animais (nutricional, sanitário, instalações) nas diferentes fases de crescimento.

O peso e o ganho em peso variam em função do sistema de criação, da

quantidade de colostro e dias de fornecimento do colostro e do início do fornecimento

de concentrado. Os cuidados com a bezerra, como a ingestão de colostro (em

quantidade e qualidade), volume e qualidade do leite oferecido, fornecimento de

concentrado, além de um ambiente adequado para os animais, são fundamentais para

seu desenvolvimento.

Quanto ao depósito de tecido adiposo na glândula mamária estimado por ultra-

som, animais com maior peso, escore corporal e altura apresentaram maior percentual

de gordura na GM, porém, esta correlação foi baixa. Não houve correlação do ganho em

peso com o depósito de gordura. Para uma análise conclusiva da correlação destes

parâmetros com o potencial de produção de leite, é necessário avaliar a primeira

lactação dessas novilhas.

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