Desemprego dos jovens do Brasil:os efeitos da estabilização da inflação em um mercado de trabalho com escassez de informação

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Efeito da Economia no Desemprego de Jovens no País.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA

ARTIGO: Desemprego dos jovens do Brasil:os efeitos da estabilizao da inflao em um mercado de trabalho com escassez de informao.

GRADUANDOS:

Marco Tlio Faria-

Viosa-MG20111. INTRODUOO A taxa de desemprego no Brasil, sofreu um aumento acentuado nos anos noventa, principalmente entre os trabalhadores mais jovens na faixa etria entre 18 e 20 anos, com aumento de cerca de 15 pontos percentuais entre os anos 90 e 2000. Entretanto, no mesmo perodo, foi constatada uma taxa de desemprego consideravelmente menor para o grupo entre 24 e 59 anos. A estabilizao da inflao ocorrida a partir de 1993 pela implantao do Plano Real e conseqentemente a maior rigidez salarial pode ser um dos fatores que levaram ao aumento do desemprego nesse perodo, principalmente dos trabalhadores mais jovens. De acordo com as referencias citadas pelos autores os empregadores possuem certa incerteza quanto as caractersticas produtivas desse grupo e quando a rigidez dos salrios se torna mais elevada, ocorre uma impossibilidade da diminuio do custo desses trabalhadores e portanto a demisso dos mesmos em tempo menor do que o necessrio para analisar sua capacidade produtiva.O objetivo do artigo analisado como dito pelos autores : investigar empiricamente a hiptese de que a estabilizao da inflao teria aumentado a taxa de desemprego dos jovens de maneira mais intensa do que a dos adultos, e que esse aumento teria ocorrido atravs de uma reduo na durao do emprego.O artigo est disposto em quatro sees. A primeira diz respeito ao comportamento da inflao e a evoluo do desemprego para diferentes faixas etrias. A segunda descreve os dados e a abordagem metodolgica utilizados na analise emprica do trabalho e na terceira so analisados e interpretados os resultados da pesquisa. Na quarta e ultima seo apresentada a concluso do trabalho.

2. REFERENCIAL TERICO2.1. Anlise DescritivaNa anlise descritiva, primeiramente os autores utilizam dados e grficos do ndice Nacional de Preos do Consumidor (INPC), calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), para mostrar o comportamento da inflao no perodo de 1981 a 2002.

A partir da analise de tais dados observa-se que no incio da dcada de oitenta a taxa de inflao mensal estava em torno de 10%. Em meados da mesma dcada, com o Plano Cruzado ocorreu um congelamento de preos, reduzindo assim a taxa de inflao, porm, tal estabilizao gerou um excesso de demanda e portanto escassez generalizada de bens ocasionando o fim de tal estabilizao e a volta da inflao de forma ainda mais acentuada . A partir da, vrios planos de estabilizao foram implantados, porm apenas o Plano Real (1993) conseguiu manter uma taxa inflacionria relativamente baixa.Na segunda parte, apresentada a evoluo da taxa de desemprego no Brasil no mesmo perodo de tempo.

Nota-se a partir dos dados, uma tendncia acentuada do aumento de desemprego durante a dcada de noventa, principalmente para os indivduos entre 18 e 23 anos.Aps a apresentao dessas informaes, ou autores apontam que o desemprego apresentado na dcada de noventa pode estar associado a queda do nvel de atividade nesse perodo. Ainda de acordo com os mesmos isso explica o aumento do desemprego mais intenso entre os jovens do que entre os adultos, isso porque quando cai o nvel de atividade, os trabalhadores mais novos, com menos capital humano especfico, so demitidos com mais facilidade do que trabalhadores com mais experincia.Outra analise feita no estudo, a taxa de desemprego a partir do nvel de escolaridade. Pra isso foram definidos trs grupos de qualificao: os no-qualificados( com 3 anos de estudo), os semi-qualificados (entre 4 e 10 anos de estudo) e os qualificados ( com 11 anos ou mais de estudos).

A partir da analise do grfico, pode-se perceber que as trajetrias de aumento da taxa de desemprego em cada um dos grupos de qualificao foram maiores para os trabalhadores mais jovens. Alm disso, as diferenas nas variaes ao longo do tempo das taxas de desemprego entre os trabalhadores jovens e adultos foram mais acentuadas para os qualificados e os semi-qualificados do que para os no qualificados.

METODOLOGIAA metodologia utilizada no artigo consiste na anlise emprica, utilizada para estimar os efeitos diferenciados da inflao sobre a taxa de emprego e a durao do emprego para os trabalhadores mais jovens em relao aos indivduos com mais experincia no mercado de trabalho.Os dados utilizados na anlise emprica so da PNAD de 1981 a 2002. A amostra inclui indivduos com idade entre 18 e 59 anos, residentes nas reas urbanas e participando da fora de trabalho. So obtidas informaes sobre escolaridade, idade e ocupao na semana de referncia para cada indivduo.A partir das informaes sobre a idade dos trabalhadores e o ano da pesquisa so definidas coortes baseadas no ano de nascimento. Em cada uma das clulas determinada pela coorte de nascimento e o ano da pesquisa calculada uma taxa de desemprego, posteriormente usada como varivel dependente nas regresses. A Outra varivel dependente utilizada a durao mdia do emprego para os indivduos ocupados em cada clula.Como medidas de inflao, so utilizados: o INPC, calculado pelo IBGE, e o ndice de Preos - Disponibilidade Interna (IGP-DI), que calculado pela Fundao Getlio Vargas (FGV). De acordo com o argumento proposto no artigo, no necessariamente a inflao corrente que deve estar associada ao desemprego. Perodos de inflao alta no passado, ao terem permitido ajustes no salrio real, tambm devem ser importantes para determinar a taxa de desemprego corrente, atravs do aumento na durao do emprego. No claro, porm, qual o intervalo de tempo relevante para avaliar esse efeito. Por isso, so usadas nas regresses as mdias das taxas de inflao para diferentes perodos de referncia. So calculadas as taxas de inflao mdias entre janeiro e setembro e nos 6 e 12 ltimos meses at setembro de cada ano, que o ms de referncia da PNAD. Outra varivel utilizada nas regresses o PIB per capita, calculado pelo IBGE, como medida do nvel de atividade da economia.So utilizadas as hipteses de que uma reduo da taxa de inflao produza aumento da taxa de desemprego, e este efeito seja maior para trabalhadores jovens. Alm disso, uma menor taxa de inflao deve reduzir a durao do emprego, principalmente para os jovens. Para testar essas hipteses utilizam-se regresses para a taxa de desemprego usando como varivel explicativa a interao entre inflao e uma variveldummyigual a 1 para indivduos jovens pertencentes determinada faixa de idade e zero para indivduos em faixas de idade mais velhas.A equao principal adotada na anlise emprica para a taxa de desemprego a seguinte:

Onde:uct= taxa de desemprego da coorte c no perodot.c= efeito fixo para a coortec.Itc= polinmios oudummiesde idade.t= logaritmo da medida de inflao no perodot.PIBt= variao do log do PIB per capita entre os anost 1 et.(tDJovens) = interao entre a medida de inflao e uma variveldummyigual a 1 para indivduos jovens e igual a zero caso contrrio.(PIBt) DJovens) = interao entre a variao do log do PIB per capita e uma variveldummyigual a 1 para indivduos jovens e zero caso contrrio.Com o objetivo de captar os efeitos de mudanas no nvel de atividade sobre a taxa de desemprego, utilizou-se a varivel taxa de variao do log do PIB per capita. Como as mudanas no nvel de atividade podem ter efeitos diferenciados sobre a taxa de desemprego de diferentes grupos etrios, a interao entre as variaes do PIB per capita e a variveldummypara os jovens includa nas regresses. As regresses tambm utilizam variveis dummypara os efeitos especficos das coortes de nascimento e polinmios de idade, para captar as variaes do desemprego ao longo do ciclo da vida.A seguir, investigada a relao entre a taxa de inflao e a durao mdia do emprego. Para isso, usada a mesma especificao da equao (1), mas com o log da durao mdia do emprego para os indivduos ocupados, representado porDurct, como varivel dependente.

De acordo com o argumento apresentado no artigo, a interao entre a inflao e a variveldummypara os jovens deve apresentar um efeito positivo sobre a durao mdia do emprego. Assim como na equao para a taxa de desemprego, so includos controles para coorte, idade e PIB, esse ltimo tambm com efeitos diferenciados para os jovens.

RESULTADOSOs resultados esto apresentados em dois subitens. O subitem 4.1 so mostrados os resultados quanto a taxa de desemprego, tanto agregada quanto qualificao. No subitem 4.2 so apresentados valores referentes a durao mdia do emprego, separadas por profisso e pelo total de trabalhadores.4.1. Resultados para a taxa de desempregoComo iremos perceber a seguir, a taxa de desemprego no Brasil aumentou para todos os grupos etrios a partir dos anos noventa. Diversos outros fatores, alm da estabilizao da inflao, podem ter influenciado o comportamento da taxa de desemprego. Na constituio de 1988 foram aprovadas vrias medidas que aumentaram os custos da mo-de-obra e a rigidez do mercado de trabalho. Com a ampliao do processo de liberalizao comercial em 1990, aumentou a competio com bens importados no mercado domstico, assim como o progresso tecnolgico foi intensificado, o que deve ter aumentado o desemprego dos menos qualificados. A partir de 1994 tambm foi adotado um amplo programa de privatizaes.

A tabela 2 apresenta os resultados estimados usando a taxa de desemprego agregada como varivel dependente em diferentes especificaes. Os seus resultados mostram que a interao entre a taxa de inflao e a varivel dummy para indivduos com idade entre 18 e 20 anos negativa e significativamente diferente de zero, para o nvel de 5%, em todas as especificaes. A taxa de inflao sozinha tambm apresenta coeficientes negativamente significativos. Esses resultados indicam, portanto, que existe no apenas uma relao inversa entre inflao e desemprego, mas tambm que esta relao significativamente mais forte para os trabalhadores mais jovens. As evidncias mostram tambm que o crescimento do PIB per capita leva a uma reduo da taxa de desemprego, como deveramos esperar, mas a interao entre a variao do PIB e a dummy para trabalhadores entre 18 e 20 anos no significativamente diferente de zero.J na tabela 3, percebe-se que o efeito negativo da taxa de inflao sobre a taxa de desemprego persiste em todas as regresses feitas. Entretanto, os coeficientes das interaes entre grupos etrios e inflao no so significativos em nenhum dos casos analisados. Ou seja, os efeitos da inflao sobre a taxa de desemprego dos trabalhadores em cada um desses trs grupos de 21 a 29 anos no se mostraram mais acentuados do que o observado para trabalhadores mais velhos.Os efeitos da inflao sobre a taxa de desemprego tambm so analisados para cada grupo de qualificao separadamente, como observa-se na tabela 4. Sendo os resultados estimados para os trabalhadores no qualificados mostrados na tabela 5. A inflao e o PIB per capita possuem coeficientes negativos e a interao entre o PIB e a dummy para jovens de 18 a 20 anos no significativa, como no caso agregado.A tabela 6 considera apenas os trabalhadores semiqualificados nas regresses. As evidncias, nesse caso, mostram que a inflao reduz a taxa de desemprego dos trabalhadores entre 18 e 20 anos mais do que a dos trabalhadores mais velhos em todas as regresses. Conforme previsto pela hiptese apresentada neste artigo, este efeito parece ainda mais forte para os trabalhadores semiqualificados do que para os no qualificados.Os resultados apresentados nessa seo, portanto, so robustos a vrias especificaes, que incluem diferentes perodos de referncia para o clculo da inflao mdia, tanto para o INPC como para o IGP-DI. Em praticamente todos os casos, o efeito da inflao sobre o desemprego se mostra significativamente negativo, e mais intenso para os trabalhadores entre 18 e 20 anos do que para os adultos.

4.2. Resultados para a durao do empregoNa tabela 8 so apresentados os resultados do efeito da inflao sobre a durao mdia do emprego para os indivduos ocupados.Os resultados so consistentes com o argumento proposto no artigo de que a inflao permite ajustes no salrio real medida que o empregador adquire informao sobre os trabalhadores, afetando positivamente a durao do emprego, principalmente para o grupo em que o grau de informao incompleta maior. Nota-se tambm pelos resultados que aumentos no PIB per capita esto associados a aumentos na durao mdia do emprego, mas esse resultado no diferente para os trabalhadores jovens em relao aos adultos.Na tabela 9 so consideradas regresses com interaes entre a inflao e dummies definidas para outros grupos etrios. Como no caso da taxa de desemprego, os coeficientes dessas interaes em termos absolutos com a idade e deixam de ser significativos.Na tabela 15 do apndice so mostrados resultados usando o IGP-DI como medida de inflao. As evidncias so semelhantes s apresentadas nas tabelas 8 e 9, reforando a hiptese de que uma taxa mais elevada de inflao aumenta a durao do emprego dos indivduos com idade entre 18 e 20 anos em relao aos trabalhadores mais velhos, e que esse efeito tende a diminuir com a idade. Na tabela 16 so includos trabalhadores com idade entre 15 e 17 anos. Os resultados, no entanto, mostram que a interao entre inflao e uma dummy para esse grupo mais jovem no tem efeitos significativos sobre a durao do emprego.Na tabela 10 so mostrados os resultados estimados para os indivduos no-qualificados. Pode-se notar que as interaes entre as medidas de inflao e a dummy para os trabalhadores com idade entre 18 e 20 anos so positivas, mas no significativas para o nvel de 10%.Os resultados para os trabalhadores semiqualificados mostram que, alm da inflao apresentar um efeito positivo sobre a durao do emprego, o impacto significativamente mais acentuado para os trabalhadores com idade entre 18 e 20 anos. Essas evidncias so encontradas em todas as quatro especificaes adotadas, conforme a tabela 11 mostra, e reforam as concluses encontradas na subseo anterior, que indicam um efeito mais intenso sobre o desemprego da interao entre inflao e a dummy para o grupo de 18 a 20 anos entre os semiqualificados.Os resultados para os trabalhadores qualificados so apresentados na tabela 12. No so encontradas, nesse caso, evidncias de que a inflao aumente a durao do emprego dos trabalhadores jovens de forma mais acentuada do que dos adultos.

CONCLUSOA partir da leitura do artigo e do entendimento dos dados e idias nele apresentados, conclumos que a implementao do Plano Real em 1994 estabilizou a inflao no Brasil e como conseqncia trouxe uma reduo da flexibilidade do salrio.Tal fato tambm influenciou de modo importante o comportamento da taxa de desemprego, principalmente dos trabalhadores mais jovens,onde a taxa se mostrou mais elevada.De acordo com o estudo, isso ocorre pelo fato de os trabalhadores mais jovens possurem um grau de estudo e experincia menor do que dos adultos, portanto, quando o nvel de atividade cai e como o salrio se encontra com grande rigidez, os funcionrios mais novos so demitidos com maior facilidade. Alm disso, uma maior taxa de inflao tambm deve levar a um aumento na durao do emprego, j que a possibilidade de ajustar o salrio real pode determinar a permanncia do trabalhador na firma. Esse efeito tambm deve ser mais acentuado para os jovens.Quanto produtividade, para os trabalhadores no qualificados, existem poucas incertezas. Ela considerada baixa, mas com pouca diferenciao entre os indivduos desse grupo. J os trabalhadores qualificados so mais heterogneos. No entanto, a capacidade das firmas de obter informaes sobre a qualidade dos trabalhadores deve ser maior medida que aumenta o seu grau de qualificao. Consequentemente, o impacto da estabilizao da inflao sobre o desemprego entre os jovens deve ter sido maior para os semiqualificados, pois alm desse grupo ser muito heterogneo, a incerteza das firmas sobre a produtividade desses trabalhadores parece ser elevada.Os resultados obtidos com o proposto artigo so consistentes a partir do momento que eles foram testados empiricamente de 1981 a 2002. Quando h redues na taxa de inflao consequentemente h aumento de desemprego, e esse aumento atinge de forma mais acentuada os jovens com idade entre 18 e 20 anos do que a trabalhadores mais velhos.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICASRev. Bras. Econ.vol.61no.4Rio de JaneiroOct./Dec.2007Desemprego dos jovens no Brasil: os efeitos da estabilizao da inflao em um mercado de trabalho com escassez de informao;Mauricio Cortez Reis; Jos Mrcio Camargo.